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ALBERTO CAEIRO – O MESTRE INGÉNUO Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos”, que só se importa em ver de forma objectiva e natural a realidade, com a qual contacta a todo o momento. Daí o seu desejo de integração e de comunhão com a natureza. Para Caeiro, “pensar” é estar doente dos olhos. Ver é conhecer e compreender o mundo, por isso, pensa vendo e ouvindo. Recusa o pensamento metafísico, afirmando que “pensar é não compreender”. Ao anular o pensamento metafísico e ao voltar-se apenas para a visão total perante o mundo, elimina a dor de pensar que afecta Pessoa. Caeiro é o poeta da natureza, que está de acordo com ela e a vê na sua constante renovação. E porque só existe a realidade, o tempo é a ausência de tempo, sem passado, presente ou futuro, pois todos os instantes são a unidade de tempo. Mestre de Pessoa e dos outros heterónimos, Caeiro dá especial importância ao acto de ver, mas é sobretudo a inteligência que discorre sobre as sensações , num discurso em verso livre, em estilo coloquial e espontâneo. Passeando a observar o mundo, personifica o sonho da reconciliação com o universo, com a harmonia pagã e primitiva da natureza. É um sensacionalista a quem só interessa o que capta pelas sensações e a quem o sentido das coisas é reduzido à percepção da cor, da forma e da existência: a intelectualidade do seu olhar volta-se para a contemplação dos objectos originais. Constrói os seus poemas a partir de matéria não-poetica, mas é o poeta da natureza e do olhar, o poeta da simplicidade completa, da objectividade das sensações e da realidade imediata (“Para além da realidade imediata não há nada”), negando mesmo a utilidade do pensamento. Vê o mundo sem necessidade de explicações, sem princípio nem fim, e confessa que existir é um facto maravilhoso, por isso crê na “eterna novidade do mundo”. Para Caeiro o mundo é sempre diferente, sempre múltiplo, por isso, aproveita cada momento da vida e cada sensação na sua originalidade e simplicidade. FISICAMENTE A partir da carta a Adolfo Casais Monteiro Nasceu em Lisboa (1889); Morreu tuberculoso em 1915; Viveu quase toda a sua vida no campo; Só teve instrução primária; Não teve educação, nem profissão; Escreve por inspiração; Estatura média; Frágil; Louro, quase sem cor; Olhos azuis; Cara rapada;

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ALBERTO CAEIRO O MESTRE INGNUOAlberto Caeiro apresenta-se como um simples guardador de rebanhos, que s seimporta em ver de forma objectiva e natural a realidade, com a qual contacta atodo o momento. Da o seu desejo de integra!"o e de comunh"o com a nature#a.$ara Caeiro, pensar % estar doente dos olhos. &er % conhecer e compreender omundo, por isso, pensa vendo e ouvindo. 'ecusa o pensamento metafsico,a(rmando que pensar % n"o compreender. Ao anular o pensamento metafsico eao voltar-se apenas para a vis"o total perante o mundo, elimina a dor de pensarque afecta $essoa.Caeiro % o poeta da nature#a, que est) de acordo com ela e a v* na sua constanterenova!"o. + porque s e,iste a realidade, o tempo % a aus*ncia de tempo, sempassado, presente ou futuro, pois todos os instantes s"o a unidade de tempo.-estre de $essoa e dos outros heternimos, Caeiro d) especial import.ncia ao actodever, mas%sobretudoaintelig*nciaquediscorresobreassensa!/es, numdiscurso em verso livre, em estilo coloquial e espont.neo. $asseando a observar omundo, personi(ca o sonho da reconcilia!"o com o universo, com a harmonia pag"e primitiva da nature#a.0 um sensacionalista a quem s interessa o que capta pelas sensa!/es e a quem osentidodascoisas%redu#ido1percep!"odacor, daformaedae,ist*ncia2 aintelectualidade do seu olhar volta-se para a contempla!"o dos objectos originais.Constri os seus poemas apartir demat%rian"o-poetica, mas %opoeta danature#a edoolhar, opoeta da simplicidadecompleta, da objectividadedassensa!/es edarealidadeimediata3$araal%mdarealidadeimediatan"oh)nada4, negando mesmo a utilidade do pensamento.&* o mundo sem necessidade de e,plica!/es, sem princpio nem (m, e confessaque e,istir % um facto maravilhoso, por isso cr* na eterna novidade do mundo.$ara Caeiro o mundo % sempre diferente, sempre m5ltiplo, por isso, aproveita cadamomento da vida e cada sensa!"o na sua originalidade e simplicidade. FISICAMENTEA partir da carta a Adolfo Casais Monteiro Nasceu em Lisboa (1889); Morreu tuberculoso em 1915; Viveu quase toda a sua vida no campo; S teve instru!o prim"ria; N!o teve educa!o# nem pro$iss!o; %screve por inspira!o; %statura m&dia; 'r"(il; Louro# quase sem cor; )l*os a+uis; ,ara rapada;Filosofia de Caeiro - anti.reli(i!o; - anti.meta$/sica; - anti.$iloso$ia; CARACTERISTICAS TEMTICAS $aganismo6 Desvalori#a!"o do tempo enquanto categoria conceptual6 Contradi!"o entre a teoria e a pr)tica 7 apesar do poeta a(rmar que n"ose preocupa com o estilo dos seus versos, a verdade e que ele acaba por sepreocupar com o que escreve6 Objectivismo0pa(amentodosu1eito; 0titudeantil/rica; aten!o2eterna3novidadedomundo4; inte(ra!oecomun*!o com a nature+a# poeta da nature+a# poeta deambulatrio; Quem me dera que eu fosse o p da estrada (poema XVIII dO Guardador de Rebanhos)05nica maneira de n!o ter an(5stias & ser al(o concreto# simples e 5til 6 o poeta mani$esta o dese1o dese trans$ormar em coisas simples# de se dispersar pela nature+a7 o modo con1untivo indica apenas umdese1o de ser aquilo que n!o &. 8ma ve+ mais estamos perante um drama de 'ernando 9essoa que#atrav&s de ,aeiro# procura libertar.se da sua condena!o ao pensamento (se se reali+asse a vontadeele teria alcanado o son*o e era $eli+);e! depois de eu morrer! quiserem escrever a minha bio"rafia 0ceita!o calma da ordem naturaldascoisas;eucontroleiamin*avida# elapertence.meevividamaneiraquemecausavamenosso$rimento; predomin:nciadaob1ectividade(3Vi comoumdanado4); re1ei!odopensamento6nuncasedei;ouabsorver porele; import:nciadoreal edaobserva!o6pra+er dedescobrir adiversidade da nature+a< ensaciona#ismo9oeta das sensa=es tais como s!o# poeta do ol*ar# predom/nio das sensa=es visuais e auditivas;$u nunca "uardei rebanhos (poema I dO Guardador de Rebanhos) >uatro momentos (o poetacomprara.se a um pastor que deambula pela nature+a; re1ei!o do pensamento porque ele n!o dei;aque se aprecie verdadeiramente a nature+a e que se se1a $eli+; ele & um poeta espont:neo# natural# e sescreve aquilo que sente; diri(e.se aos leitores e transmite.l*es uma mensa(em de ob1ectividade eespontaneidade e que o ve1am como $a+endo parte da nature+a 6 quer que os leitores encontrem nanature+a a pa+ e $elicidade que ele prprio encontra); tal como o pastor# o su1eito vive so+in*o eisolado; a escurid!o tra+ consi(o o 3peri(o4 do pensamento 6 tra+ inquieta!o