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Escola Secundária D. Sancho I Escola Secundária D. Sancho I Escola Secundária D. Sancho I Escola Secundária D. Sancho I Vila Nova de Famalicão Vila Nova de Famalicão Vila Nova de Famalicão Vila Nova de Famalicão Prof.: Francisco Silva Prof.: Francisco Silva Prof.: Francisco Silva Prof.: Francisco Silva Ana Sofia Leal Araújo Nº2 1110

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Escola Secundária D. Sancho IEscola Secundária D. Sancho IEscola Secundária D. Sancho IEscola Secundária D. Sancho I Vila Nova de FamalicãoVila Nova de FamalicãoVila Nova de FamalicãoVila Nova de Famalicão

Prof.: Francisco Silva Prof.: Francisco Silva Prof.: Francisco Silva Prof.: Francisco Silva

Ana Sofia Leal Araújo

Nº2 1110

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1º Período

Sequência de Ensino Aprendizagem nº1

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Artigo Cientifico e técnico O artigo cientifico deve…

o ...ter uma estrutura coerente; o …apresentar critérios de validação científica; o …apresentar conceitos precisos; o …apresentar afirmações devidamente comprovadas; o …explicitar as fontes.

Estrutura do artigo cientifico e técnico: 1. Titulo; 2. Resumo 3. Corpo do trabalho: Introdução;

Corpo do Trabalho; Conclusão

4. Bibliografia

Finalidades de uma artigo cientifico e técnico o Comunicar resultados de pesquisas e ideias; o Clarificar ideias e assuntos; o Provar teorias ou confirmar hipóteses; o Contribuir para a produtividade (qualitativa/quantitativa); o Servir de medida em decisões; o Contribuir para o progresso científico e técnico; o Favorecer o intercâmbio científico; o … … …

Características da linguagem o Coerente; o Precisa; o Clara; o Correcta; o Objectiva;

Comunicado

Aviso ou informação que se divulga ou afixa em lugar público para der conta de algum acontecimento importante ou explicar a forma como decorrem os eventos ou evoluem as situações.

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Estrutura da Carta de Reclamação

Remetente

Destinatário

Local e data Formula de saudação

Assunto:

Objectivo da carta; Motivos de reclamação; Conclusão (regularização da situação)

Formula de despedida

Assinatura

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Carta de Reclamação Turma 11 10 Escola Secundaria D Sancho I 4760-021 Famalicão

Exmo. Sr. Presidente do Conselho Executivo Da Escola Secundária D. Sancho I

Vila Nova de Famalicão

Famalicão, 6 de Outubro de 2006 Assunto: sobrecarga nos balneários A turma 11 10 tem vindo a constatar que há uma sobrelotação dos balneários, desde o início do ano lectivo. Desta forma decidimos apresentar o nosso descontentamento pelos seguintes motivos:

1. Falta de espaço. 2. Por vezes, há falta de higiene. 3. Falta de privacidade. 4. Surgimento de conflitos entre discentes.

Pelo exposto, solicitamos a Vossa. Ex.ª uma rápida resolução deste problema que afecta o bom funcionamento das actividades escolares e a harmonia entre os discentes.

Sem outro assunto de momento, Subscrevemo-nos

A turma 11 10

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Correcção do teste de avaliação (página 43 do manual)

1- A autora analisou a forma como os media lidaram com a clonagem de Dolo, mostrando que o publico foi preparado para a ética da clonagem antes da existência da própria técnica. Referiu ainda que a comunicação deu mais relevo aos aspectos morais e ao futuro sem se deter muito na evolução científica que acompanha a técnica.

2- Para o autor “ a ética da clonagem veio antes da técnica da clonagem”, na medida em que os meios de comunicação social americanos atenderam mais aos aspectos morais da técnica. Os média preocuparam-se em fantasiar o futuro da clonagem, sobretudo humana.

3- No texto, a autora procura mostrar que Hopkins fez uma análise inteligente dos média ao dar conta da diferença do tempo histórico para estes e para a própria técnica da clonagem. Para clarificar a sua ideia recorre, constantemente, a citações e reflexões sobre o interesse dos média a propósito dos valores morais que a clonagem coloca, sem se importar muito com a evolução da técnica da mesma.

4- È possível acreditar no rigor científico ao observar a preocupação em citar as fontes de todas as afirmações.

5- HOPKINS, Patrick, Bad Copies: how popular media represent cloning as an ethical problem, in Hasting Centre Report, 1998

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Sequência de Ensino Aprendizagem nº2

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Texto Argumentativo

Dissertação : é a exposição minuciosa, oral ou escrita, de um assunto, geralmente doutrinário.

Estrutura

o Introdução: exposição do assunto. o Desenvolvimento: analise e demonstração da tese que pretende

defender; o Conclusão: confirmação do desenvolvimento.

Características

o O assunto deve ser delimitado e equilibrado; o Os argumentos devem estar organizados e comprovados através

de exemplos, acontecimentos e referências.

Tipos de dissertação o Expositiva (texto informativo-expositivo): tem como objectivo

apresentar, explanar, explicar ou interpretar ideias; o Argumentativa (textos expositivos-argumentativos): Procura

formar a opinião do receptor e persuadi-lo de determinada tese.

Regras para elaborar um texto argumentativo

o Encontrar o problema; o Seleccionar os elementos de prova; o Formular raciocínios argumentativos; o Procurar possíveis contra-argumentos – organizá-los de forma

coerente; o Formular juízos; o Chegar a uma conclusão precisa, o Permitir que os outros a aceitem facilmente.

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Características de um texto argumentativo

o Concreto e objectivo; o Evitar pormenores desnecessários; o Fazer raciocínios correctos e claros; o Incidir no que é realmente importante; o Evitar argumentos pouco explícitos; o Expor com clareza e precisão as razões que levam á defesa de

uma opinião sobre o tema tratado.

Oratória o O que é e quais são as partes que a constituem? A oratória é a arte de bem falar em público. É constituída pelo exórdio ou introdução a que se segue o discurso propriamente dito com a exposição do tema, pela confirmação ou argumentação e termina com a peroração.

Partes do Sermão

1. Exórdio: exposição do plano a desenvolver e das ideias a defender; 2. Invocação: pedido de auxilio divino;

3. Confirmação: exposição do tema, das ideias e seu desenvolvimento; 4. Peroração: utilização de um desfecho forte, capaz de impressionar o

auditório e levá-lo a pôr em prática os seus ensinamentos.

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Sermão de Santo António aos Peixes: Resumos

Capítulo 1 Exórdio: exposição do plano a desenvolver e das ideias a defender a partir do conceito predicável «Vós sois o sal da terra». O início do sermão é sem duvida um momento bastante delicado. Se o orador não estiver atento, o exórdio – com a divinii imploratio (imploração de ajuda divina) que terminará com uma Ave-Maria (importante em época de hereges) e com a introdução do tema – poderia converter-se num mini-sermão. Todavia um pregador avisado não dedicará demasiado tempo a estes preliminares, porque sabe que dispõe apenas de uma hora antes de o publico começar a impacientar-se.

Manuel Morán e José Antunes, «O Pregador», in o Homem Barroco.

Conceito predicável: «Vos estis sal terae». Diz-se «conceito predicável» o texto bíblico que serve de tema e que irá ser desenvolvido de acordo com a intenção e o objectivo do autor; assenta em «figuras» ou alegorias através das quais se pretende alcançar uma demonstração de fé, ou verdades morais, ou até juízos proféticos. O texto bíblico torna-se pretexto par construções mentais, jogos de conceitos e de palavras, pondo em destaque o virtuosismo do orador, de acordo, aliás, com a estética barroca: Vos estis sal terae. É muito bom o texto para os outros santos doutores; mas para Santo António vem-lhe muito curto. Os outros santos doutores da igreja foram sal da terra, Santo António foi sal da terra e foi sal do mar. Este é o assunto que eu tinha para tomar hoje. Mas há muitos dias que tenho metido no pensamento que nas festas dos santos é melhor pregar como eles que pregar deles. (cap.1)

� O conceito predicável

O conceptismo em Vieira residiu no emprego do método de argumentação dos «conceitos predicáveis». Este método tinha como ponto de partida uma máxima ou proposição de natureza moral, que urgia provocar de modo evidente para que o fiel a pudesse aceitar sem discussão. Para tal demonstração, recorria o orador, não a argumentos lógicos, por meio do raciocínio silogístico, mas ao artifício de apresentar uma frase ou conjunto de versículos bíblicos como sendo uma alegoria ou uma imagem daquilo que se ia demonstrar.

João de Almeida Dias, Padre António Vieira

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Que salga evita a corrupção O sal Que não salga é inútil e desprezado O pregador é como o sal. Se a palavra não chega aos ouvintes ou não produz os seus frutos é porque alguma coisa está mal.

� Invocação

Este capítulo termina com um pedido de auxílio divino, que pode ser entendido com invocação:

«Maria, quer dizer, Domina maris: “Senhora do Mar”: e posto que o assunto seja tão desusado, espero que não me falte com a costumada graça. Ave-Maria.» (cap.1)

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Capitulo 2 Exposição ou informação: referência ás obrigações do sal; indicação das virtudes dos peixes; critica aos homens.

� As duas qualidades de ouvinte: ouvir e não falar Retoma o conceito predicável: «Vos estis sal terae»

� As duas propriedades do sal: «Conservar o são e preservá-lo para que não se corrompa.»

� As propriedades das pregações de Santo António:

1. Louvar o bem («para o conservar») 2. Repreender o mal (« para preservar dele»);

O sermão aos peixes (e, obviamente, aos homens) será, pois, dividido em dois pontos:

1. Louvar as qualidades; 2. Repreender os vícios.

(a ironia: «e desta maneira satisfaremos ás obrigações do sal, que melhor vos está a ouvi-las vivos, que experimentá-las depois de mortos.»)

� Os louvores em geral

As qualidades e as virtudes dos peixes:

� A obediência; � «Ordem, quietação e atenção» com que ouviram as palavras de Santo

António; (por contraste: os homens perseguiram Santo António porque este os repreendia, porque não condescendia com os seus erros…; termina este contraste peixe/homens em relação a santo António, com ironia, servindo-se do quiasmo e da antítese: «poderia cuidar que os peixes irracionais se tinham convertido em homens, e os homens não em peixes, mas em feras. Aos homens deu Deus uso de razão, e não aos peixes; mas neste caso os homens tinham a razão sem o uso, e os peixes o uso sem a razão.»)

� Respeito e devoção ao ouvirem a palavra de Deus; � Seu «retiro» e afastamento dos Homens (de novo o aplauso ao

comportamento dos peixes e a ironia em relação aos homens: «Peixes! Quanto mais longe dos homens, tanto melhor; trato e familiaridade com eles, Deus vos livre!»);

� «Só eles entre todos os animais se não domam nem domesticam.»

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No contraste estabelecido entre os peixes e os outros animais, convém realçar a enumeração, a variedade verbal, a riqueza e a propriedade vocabular e a vivacidade da descrição:

Cante-lhe aos homens

O rouxinol

Mas na sua gaiola

Diga-lhe ditos

O papagaio

Mas na sua cadeia

Vá com eles á caça

O açor

Mas nas suas pioses

Faça-lhe bufonarias

O bugio

Mas no seu cepo

Contente-se de lhe roer um osso,

O cão

Mas levado onde não quer pela trela

Preze-se de lhe chamarem fermoso ou fidalgo,

O boi

Mas com o jugo sobre a cerviz, puxando pelo arado e pelo carro

Glorie-se de mastigar freios dourados

O cavalo

Mas debaixo da vara e da espora

E se comem a ração da carne que não caçaram nos bosques

Os tigres e os leões

Sejam presos e encerrados com grades de ferro

«E entretanto vós, peixes, longe dos homens e fora dessas cortesanias, vivereis só convosco, sim, mas como peixe na água.»

Santo António, para se aproximar de Deus, afastou-se dos homens (merecem destaque as repetições, as construções paralelisticas, os jogos de palavras e as antíteses que encerram este capitulo):

� «Se isto vos pregou também Santo António, e foi este um dos benefícios de que vos exortou a dar graças ao Criador, bem vos pudera alegrar consigo, que quanto mais buscava a Deus, tanto mais fugia dos homens. Para fugir dos homens deixou a casa de seus pais e se recolheu ou acolheu a uma religião, onde professasse perpétua clausura. E porque nem aqui o deixavam os que ele tinha deixado, primeiro deixou Lisboa, depois Coimbra, e finalmente Portugal.»

� «Para fugir e se esconder dos homens, mudou o hábito, mudou o nome, e até a si

mesmo se mudou, ocultando sua grade sabedoria debaixo da opinião de idiota». � De ali se retirou a fazer vida solitária em um ermo, do qual nunca saíra, se Deus

como por força o não manifestara, e por fim acabou a vida em outro deserto tanto mais unido com Deus, quanto mais apartado dos homens.»

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Capitulo 3 Exposição ou informação: indicação das virtudes dos peixes; critica aos homens. Confirmação: argumentação que se inicia com uma apóstrofe aos moradores do Maranhão e o retomar da alegoria com os peixes; crítica aos comportamentos; censura á prepotência dos grandes (crítica a aos colonos); crítica à vaidade dos homens; aos «parasitas», aos ambiciosos, aos hipócritas e traidores; censura às terras de missão onde «há falsidades, enganos, fingimentos, embustes, ciladas e muito maiores e mais perniciosas traições» …

Os louvores em particular

� O peixe de Tobias

As virtudes das suas entranhas: � O fel: para curar a cegueira; � O coração: para «lançar fora os demónios».

Vestido de burel e atado com uma corda: pareceria o «retrato marítimo de Santo António». Simbologia

� Santo António «abria a boca contra os hereges»; � Procurava alumiar e curar a cegueira dos homens; � Tentava lançar os demónios fora de casa, limpando a alma dos homens.

� A rémora (peixe marinho cuja cabeça funciona como ventosa, o que lhe permite fixar-se a peixes maiores ou a embarcações)

«(…) a virtude daquele peixezinho tão pequeno no corpo e tão grande na força e no poder, que, não sendo maior de um palmo, se se pega ao leme de uma nau da Índia, apesar das velas e dos ventos, e de seu próprio peso e grandeza, a prende e amarra mais que as mesmas ancoras, sem se poder mover, nem ir por diante?» Simbologia

«Oh se houvera uma rémora na terra, que tivesse tanta força como a do mar, que menos perigos haveria na vida, e que menos naufrágios no mundo!»

«Se alguma rémora houve na terra foi Santo António»: � Pegada ao leme de uma nau (procurando conduzir ao bom caminho); � Agarrada ao freio de um cavalo (travando o mal); � Santo António segurou os soberbos, os vingativos, os cobiçosos, os

sensuais.

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� O Torpedo (peixe parecido com a raia e capaz de produzir pequenas descargas eléctricas; tremelga, treme-treme)

«Está o pescador com a cana na mão, o anzol no fundo e a bóia sobre a água, e em lhe picando na isca a torpedo, começa a lhe tremer o braço. Pode haver maior, mais breve e mais admirável efeito? De maneira que, num momento, passa a virtude do peixezinho, da boca ao anzol, do anzol à linha, da linha à cana e da cana ao braço do pescador.» Simbologia

«Com muita razão disse que este vosso louvor o havia de referir com inveja. Quem dera aos pescadores do nosso elemento, ou quem lhe pusera esta qualidade tremente, em tudo o que pescam na terra!»

� Santo António com as suas palavras, também fez tremer os homens; no

entanto, assim como há pescadores que não sentem as descargas eléctricas da tremelga, também há homens que ouvem a verdade e continuam o seu caminho errado, indiferentes à palavra do pregador.

� Realça a importância desse peixes no sentido de fazerem tremer o braço daqueles que se desviam do caminho certo…

� O «quatro-olhos»

� Dois olhos «para se vigiarem das aves» (inimigos do ar); � Dois olhos «para se vigiarem dos peixes» (inimigos do mar);

«(…) como têm inimigos no mar e inimigos no ar, dobrou-lhes a natureza as sentinelas e deu-lhes dois olhos, que directamente olhassem para cima, para se vigiarem das aves e outros dois que directamente olhassem para baixo, para se vigiarem dos peixes.» Simbologia

«Oh que bem informara estes quatro olhos uma alma racional, e que bem empregada fora neles, melhor que em muitos homens! Esta é a pregação que me fez aquele peixezinho, ensinando-me que, se tenho fé e uso de razão, só devo olhar directamente para cima, e só directamente para baixo: para cima, considerando que há Céu, e para baixo, lembrando-me que há Inferno.» � Devemos olhar sempre «directamente», ou só para cima, ou só para baixo: -só para cima «considerando que há Céu»;

-Só para baixo «considerando que há Inferno». � Certamente, os dois pares de olhos seriam muito mais necessários aos

homens.

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� Os peixes em geral

«(…) ajudais a ir ao Céu e não ao Inferno, os que sustentam de vós.» � Servem de alimento:

� As sardinhas: sustento dos pobres; � Os solhos e os salmões: sustento dos ricos;

� Ajudam à abstinência nas Quaresmas (ao jejum); � Sustentam as Cartuxas (ordem religiosa da Cartuxa), os Buçacos (ordem

religiosa que estava instalada nas matas do Buçaco) e as famílias; � Com peixes, Cristo festejou a Páscoa; � Ajudam a ir ao Céu; � Multiplicam-se rapidamente (aquele que são consumidos pelos pobres).

Capitulo 4 Este capítulo pertence ainda à Confirmação, pelos argumentos apresentados, pela crítica aos comportamentos, pela censura à prepotência dos grandes, pela crítica aos homens ambiciosos, vaidosos, hipócritas e traidores.

(confirmação exposição do tema, das ideias e seu desenvolvimento)

As repreensões em geral

«Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora as vossas repreensões.»

� Os peixes, assim como ouviram as suas qualidades (ouvem e não falam), irão agora ouvir as repreensões:

1. Não só se comem uns aos outros como os grandes comem os

pequenos. 2. Ignorância e cegueira.

� A crítica e a repreensão aos peixes para melhor explicitar a condenação

dos homens:

Aspectos criticados: a «antropofagia social»; a «vaidade no vestuário».

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1. Não só se comem uns aos outros como os grandes comem os pequenos.

� A crítica à prepotência dos grandes que «se alimentam» do sacrifício dos mais pequenos, tal como os peixes.

� As repreensões que são dirigidas aos peixes:

- «Vos comeis uns aos outros»; - «Que os grandes comem os pequenos».

� Os homens: também «se comem uns aos outros». � A aproximação do orador com Santo António.

� O que é condenável nos homens:

- «Tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão-de comer, e como se hão-de comer»; - «Comem-no os herdeiros», os testamenteiros, os legendários, os credores; os oficiais dos órfãos, e dos defuntos e ausentes; o médico, (…); - «Enfim, ainda o pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra».

Momentos essenciais:

� 1ª Parte: crítica e repreensão aos «peixes» grandes que comem os pequenos � 2ª Parte: o escândalo: afinal os homens também se comem uns aos outros

(«Morreu algum deles, vereis logo tantos sobre o miserável a despedaçá-lo e comê-lo. Comem-no os herdeiros…»)

� 3ª Parte: escândalo, horror e crueldade maior: «também os homens se comem

vivos assim como vós». 2. Ignorância e cegueira

� Caracterização do homem da cidade: prepotente, vaidoso, parasita, ambicioso, hipócrita, traidor…

� As virtudes e os defeitos dos peixes surgem sempre associados, por

comparação, aos homens do Maranhão: - Ora por antítese (por contraste), opondo os peixes aos homens; - Ora por semelhança, identificando os peixes com os homens.

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O peixe:

O peixe é facilmente enganado (pela ignorância e pela cegueira) por um anzol e «um pedaço de pano cortado e aberto em duas ou três pontas» porque «arremete cego a ele e fica preso e boqueando, até que, assim suspenso no ar, ou lançado no convés, acaba de morrer»; «quanto me lastima em muitos de vós é aquela tão notável ignorância e cegueira» (ignorância – porque não entende o significado do pano; cegueira - porque se atira cegamente e fica preso). O Homem:

«Um homem do mar com uns retalhos de pano»; «quatro panos e quatro sedas»; «cada vez sobe mais o preço»; (…) e os homens «bonitos, ou os que querem parecer» não conseguem resistir á tentação e à vaidade, ficando por isso, «engasgados e presos, com dividas de um ano para o outro, e de uma safra para outra safra, e lá vai a vida». Ou seja, os homens endividam-se por causa de um «triste farrapo com que saem à rua, e para isso se matam todo o ano». Santo António

Os homens (pela vaidade) e os peixes (pela ignorância e pela cegueira) eram facilmente enganados e «perdiam a sua vida». Santo António abandonou as vaidades e, com as suas roupas simples e as suas palavras, «pescou muitos homens» para o bom caminho.

� A imaginação barroca procura a alegoria para o desenvolvimento das ideias e para estabelecer a passagem entre a razão e a realidade, o mundo humano e o divino, o material e o espiritual.

� Elementos que a nível do estilo e da linguagem valorizam este texto

argumentativo: a antítese e a adjectivação oxímora; a anáfora; as comparações e alusões metafóricas; o paralelismo anafórico; a expressividade das hipérboles; as apostrofes e as exclamações; as interrogações retóricas; a clareza e a precisão; o ritmo da frase; as enumerações; as imagens bíblicas; (…)

Capitulo 5 Este capítulo pertence ainda á Confirmação (exposição do tema, das ideias e seu desenvolvimento).

Quando Vieira se dirige aos peixes no Maranhão, em 1654, nós sabemos muito bem que ele está a falar com os homens. E assim, é como se tivéssemos uma dupla moralidade no caso: uma, próxima e aparente, o que diz aos peixes; e outra, adivinhada e real, a que se dirige aos homens (…) É certo que o Orador, depois, vai fazendo a aplicação aos homens, explicitamente, mas sempre como quem os dá pró exemplo aos peixes com quem fala - o que não faz mais que manter a ironia fundamental de todo o sermão.

JOÃO MENDES, literatura Portuguesa II, Editorial Verbo, Lisboa, 1982

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As repreensões em particular

A crítica aos peixes (e aos homens) prossegue, descendo agora ao particular. Os vícios: � Do Roncador (os soberbos e os arrogantes…): a acumulação de argumentos…; � Do Pegador (os parasitas…): quando morre o tubarão, também os pegadores

morrem…; � Do Voador (os ambiciosos, os presunçosos, os caprichosos…). A alegoria do POLVO: a propriedade de linguagem; o encadeamento das ideias; os recursos estilísticos para realçar as ideias (adjectivação rica e expressiva, por vezes antitética; as interrogações retóricas, as apostrofes e as exclamações; as comparações por contraste; o paralelismo anafórico…) As comparações sugeridas pela aparência do polvo:

� «Com aquele seu capelo na cabeça parece um Monge» (serenidade, santidade, mansidão);

� «Com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela» (beleza); � «Com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma

mansidão» Verifica-se, no entanto que, apesar desta «aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa», o polvo é o maior traidor do mar. Em que consiste esta traição do polvo?

� «As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia»; � «As figuras, que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e artifício»; � O polvo veste-se ou pinta-se «das mesmas cores de todas aquelas cores a que

está pegado»:

Capitulo 6 Peroração (utilização de um desfecho forte para impressionar o auditório): conclusão com uma ultima advertência aos peixes; retrato dele próprio como pecador; hino de louvor.

As cores do Polvo

Se está nos limos Faz-se verde Se está na areia Faz-se branco Se está no lodo Faz-se pardo Se está em alguma pedra Faz-se da cor da mesma pedra. Resultado da traição: o peixe «vai passando desacautelado» e o polvo «lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro». Comentário: nem judas foi tão traidor…

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A exclusão dos peixes dos sacrifícios consagrados a Deus (e a comparação peixes/outros animais):

� As razões (e o motivo da «grande desconsolação») – «os outros animais podiam ir vivos ao sacrifício, e os peixes geralmente não, senão mortos; e cousa morta não quer Deus que se lhe ofereça, nem chegue aos seus altares»;

� O que os peixes podem oferecer a Deus (quando comparados com os

outros animais):

Os outros animais Os peixes

«Ofereça, a deus o ser sacrificados» «Oferecei-lhe o não chegar ao sacrifício» «Sacrifiquem a deus o sangue e a vida» «Vós sacrificai-lhe o respeito e a reverência»

A comparação peixes/orador:

• «A vossa bruteza é melhor que a minha razão»; • «O vosso instinto melhor que o meu alvedrio».

Eu Os peixes

«Eu falo» «Vós não ofendeis a Deus com as palavras» «Eu lembro-me» «Vós não ofendeis a Deus com a memória» «Eu discorro» «Vós não ofendeis a Deus com o entendimento» «Eu quero» «Vós não ofendeis a Deus com a vontade» Deus «criou-me para servir a Ele» «Vós foste criados por Deus para servir o homem» «E eu não consigo o fim para que me criou»

«E conseguis o fim para que fostes criados»

«Eu espero que O hei-de ver […] não cesso de O ofender»

«Vós não haveis de ver a deus, e podereis aparecer diante dele muito confiadamente, porque o não ofendestes»

«Ah que quase estou por dizer que me fora melhor ser como vós»

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A comparação peixes/orador: «Louvai, peixes, a Deus»

� As razoes para o Louvor: «Louvai, peixes, a Deus, os grandes e os pequenos, e repartidos em dois coros tão inumeráveis, louvai-O todos uniformemente.»

Louvai a

Deus

porque vos criou em tanto número que vos distinguiu em tantas espécies; que vos vestiu de tanta variedade e formosura; que vos habilitou de todos os instrumentos necessários para a vida; que vos deu um elemento tão largo e tão puro; que, vindo a este mundo, viveu entre nós, e chamou para si aqueles que convosco e de vós viviam; que vos sustenta; que vos conserva; que vos multiplica; enfim, servindo e sustentando ao homem, que é fim para que vos criou.

«E assim como no princípio vos deu sua bênção, vo-la dê também agora.» • O quiasmo final: «Como não sois capazes de Glória, nem de Graça, não acaba o

vosso Sermão em Graça e Glória.»

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Resumo

As partes do Sermão de Santo António aos Peixes

� Exórdio (exposição do plano a desenvolver e das ideias a defender) – a

partir do conceito predicável «Vós sois o sal da terra»; «Santo António foi o sal da terra e foi o sal do mar.» (Cap. I)

� Confirmação (que pode subdividir-se em exposição ou informação propriamente dita, constituída pelo desenvolvimento da argumentação) (Cap. II a V)

« […] para que procedamos com clareza, dividirei, peixes, o vosso sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios.»

� Exposição ou informação – referência às obrigações do sal; indicação das virtudes dos peixes; crítica aos homens;

� Confirmação – argumentação que se inicia com uma

apóstrofe aos moradores do Maranhão e o retomar da alegoria com os peixes; crítica aos comportamentos; censura à prepotência dos grandes (crítica aos colonos); crítica à vaidade dos homens; aos «parasitas», aos ambiciosos, ao hipócritas e traidores; censura às terras de missão onde «há falsidades, enganos, fingimentos, embustes, ciladas, e muito maiores e mais perniciosas traições», …

� Peroração (utilização de um desfecho forte para impressionar o auditório) – conclusão com uma última advertência aos peixes; retrato dele próprio como pecador; hino de louvor. (cap. VI)

«Com esta última advertência vos despido, ou me despido de vós, meus peixes. E para que vades consolados do sermão, que não sei quando ouvireis outro, quero-vos aliviar de uma desconsolação mui antiga, com que todos ficastes desde o tempo em que se publicou o Levítico.»

Nota: Os sermões podem conter também uma Invocação (pedido de auxílio divino. Neste caso, podemos considerar como Invocação (a Maria) a parte final do Capítulo I.

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Processos interpretativos utilizados por Vieira: � Predomínio do Presente do Indicativo (atitude de certeza); � Uso de expressões com sentido apelativo (“Abri, abri”; “vede, vede”); � Modo Imperativo (ordens, pedidos, conselhos); � Discurso directo; � Alegorias; � Exemplos de santos e figuras sagradas; � Jogos de palavras e ideias; � Interrogações retóricas; � Exclamações retóricas; � Repetições; � Apóstrofes; � Paralelismo; � Polissíndeto; � Metáfora; � Aliterações; � Comparações; � Antíteses; � Enumerações; � Denotação / Conotação; � Gradação.

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Alguns Exemplos

Alegoria Conseguida através do jogo de metáforas e de comparações. Anacoluto «Porque os grandes que têm o mando das cidades e das províncias, não se

contenta a sua fome de comer os pequenos um por um.» (cap. IV)

Anadiplose

«[…] passa a virtude do peixezinho, da boca ao anzol, do anzol à linha, da linha à cana e da cana ao braço do pescador.» (cap. III) «E daqui que sucede? Sucede que o outro peixe, inocente da traição […]» (cap. V)

Antítese

«tanto mais unido com deus, quanto mais apartado dos homens» (cap. II) «No mar, pescam as canas, na terra pescam as varas[…]» (cap. III) «[…] deu-lhes dois olhos, que direitamente olhassem para cima […] e outros dois que direitamente olhassem para baixo […]» (cap. III) «[…] traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras.» (cap. V) «E porque tanto calou, por isso deu tamanho brado.» (cap. V)

Apóstrofe

«Estes e outros louvores, estas e outras excelências de vossa geração e grandeza vos pudera dizer, ó peixes…» (cap. II) «Ah moradores do Maranhão…» (cap. III) «Peixes, contente-se cada um com o seu elemento.» (cap. V) «Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, […]» (cap. V)

Comparação

«Certo que se a este peixe o vestiram de burel e o ataram com uma corda, parecia um retrato de Santo António.» (cap. III) «O que é a baleia entre os peixes, era o gigante Golias entre os homens.» (cap. V) «As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia […]» (cap. V) «[…] e o salteador, que está de emboscada […] lança-lhes os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas?» (cap. V)

Enumeração

«No mar, pescam canas, na terra pescam varas (e tanta sorte de varas); pescam as ginetas, pescam as bengalas, pescam os bastões e até os ceptros pescam […]» (cap. III) «[…] que também nelas há falsidade, enganos, fingimentos, embustes, ciladas e muito maiores e mais perniciosas traições.» (cap. V) «Eu falo, mas vós não ofendeis a Deus com as palavras; eu lembro-me, mas vós não ofendeis a Deus com a memória; eu discordo, mas vós não ofendeis a Deus com o entendimento; eu quero, mas vós não ofendeis a Deus com a vontade.» (cap. VI)

Exclamação

retórica

«Oh, maravilhas do Altíssimo! Oh, poderes do que criou o mar e a terra!» (cap. I) «Mas ah sim, que me não lembrava!» (cap. III) «Oh que boa doutrina era esta para a terra, se eu não pregara para o mar!» (cap. V)

Gradação

crescente

«[…] um mostro tão dissimulado, tão fingido, tão astuto, tão enganoso e tão conhecidamente traidor!» (cap. V) «em que os não comam, traguem e devorem» (cap. IV)

Interrogação

retórica

«[…] que se há-de fazer a este sal, e que se há-de fazer a esta terra?» (cap. I) «Que faria neste caso o ânimo generoso do grande Santo António? […] Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo?» (cap. I)

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«[…] onde permite Deus que estejam vivendo em cegueira tantos milhares de gentes há tantos séculos?!» (cap. III)

Ironia

«Ma ah sim, que me não lembrava! Eu não prego a vós, prego aos peixes.» (cap. III) «E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa […] o dito polvo é o maior traidor do mar» (cap. V)

Metáfora

«[…] pois às águias, que são os linces do ar […] e aos linces, que são as águias da terra […]» (cap. III) «[…] onde permite Deus que estejam vivendo em cegueira tantos milhares de gentes há tantos séculos?!» (cap. III)» «[…] e o polvo dos próprios braços faz as cordas.» (cap. V)

Paradoxo «[…] a terra e o mar tudo era mar.» (cap. II) «hipocrisia tão santa» (cap. V)

Paralelismo

e anáfora

«Deixas as praças, vai-se às praias; deixa a terra, vai-se ao mar» (cap. I) «Quantos, correndo fortuna na Nau Soberba […], se a língua de António, como rémora […] Quantos embarcados na Nau Vingança […], se a rémora da língua de António […] Quantos, navegando na Nau Cobiça […], se a língua de António […] Quantos, na Nau Sensualidade […], se a rémora da língua de António […]» (cap. III) «[…] com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura […]» (cap. V)

Quiasmo

«[…] os homens tinham a razão sem o usos, e os peixes o uso sem razão.» (cap. II) «[…] pescam os bastões e até os ceptros pescam […]» (cap. III) «Quem pode nadar e quer voar, tempo virá em que não voe nem nade.» (cap. V)

Trocadilho

«Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo» (cap. I) – Note-se o trocadilho patente no jogo verbal entre pregar (o Sermão) e pregar (apegar-se aos seus interesses). «E porque nem aqui o deixavam os que ele tinha deixado, primeiro deixou Lisboa, depois Coimbra e finalmente Portugal.» (cap. II) «[…] o peixe abriu a boca contra quem se lavava, e Santo António abria a boca contar os que não queriam lavar.» (cap. III) – trocadilho entre «lavava» (tomava banho) e «lavar» (purificar). «No dia de um santo menor, os peixes menores devem preferir a outros» (cap. III) – A Ordem de S. Francisco era uma Ordem dos Frades Menores. Note-se o trocadilho com menores (mais pequenos). «ainda o pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra» (cap. IV) «E porque tanto calou, por isso deu tamanho brado.» (cap. V) – Trocadilho entre «gritar» e «ser célebre».

Zeugma «Poderia cuidar que os peixes irracionais se tinham convertido em homens, e os homens não em peixes, mas em feras.» (cap. II) – Observe-se que a forma verbal é utilizada no primeiro elemento e omitida nos seguintes.

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2º Período

Sequência de Ensino

Aprendizagem nº3

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Texto Dramático o Texto principal: fala da personagem. o Texto secundário: indicações cénicas ou didascálicas (indicação do nome da

personagem; informações sobre o tom de voz, gestos, movimentos, atitudes das personagens, etc.)

Categorias do processo dramático

Exposição: permite a apresentação de personagens e dos antecedentes da acção.

Conflito: é o conjunto de peripécias, de acontecimentos

que fazem impulsionar a acção. Inclui: momentos de expectativa e emoção; momentos de retardamento da acção; clímax.

Desenlace: constitui o desfecho da acção dramática.

Actos: (divisão maior do texto dramático): geralmente há mudança de acto, quando há mudança de cenário.

Cenas: (divisão maior do texto dramático): há

mudança de cenário quando entra ou sai uma personagem.

Cénico: espaço representado.

Espaço aludido: pode resultar da chegada imprevista de uma personagem, da referência a um acontecimento algures.

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De representação: tempo que a peça demora a ser representada.

Representado ou aludido: tempo de acção

(história) representada.

� Processo de caracterização:

• Directa:

� Através dos elementos fornecidos pelas didascálias ou através da sua apresentação e vestuário;

� Através das palavras da personagem e das outras personagens;

� Pela descrição de aspectos físicos e psicológicos; � Pelo monólogo e pelo diálogo, que revelam problemas, as

intenções ou as ideias, quando as personagens actuam directamente.

• Indirecta:

� A partir das atitudes, dos gestos, dos comportamentos e dos sentimentos da personagem ou a partir dos símbolos que a acompanham; o espectador forma as suas próprias opiniões acerca das características físicas ou psíquicas da personagem.

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� Concepção e formulação:

• Planas ou tipo: personagens estáticas, sem vida interior, não alteram o seu comportamento ao longo da acção.

• Modeladas ou redondas: personagens dinâmicas, cheias de vida,

capazes de surpreenderem o espectador pelas suas atitudes e comportamentos.

� Papel que desempenham na obra:

• Individuais ou colectivas o Protagonista o Deuteragonista (secundária) o Figurante

Monólogo Dialogo Discurso argumentativo (sermão, oratória…) Aparte

Tragédia Drama Tragicomédia Comedia Farsa

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Frei Luís de Sousa

Acto I • Cena 1

� Cenário romântico; o espaço físico e o espaço social � Tempo: “É no fim da tarde”; numa sexta-feira, dia 28 de Julho de 1599. � Identificação da obra que Madalena lia e a importância da leitura desses

versos no inicio da peça: paralelo entre Inês de Castro e D. Madalena – os amores trágicos de D. Pedro e Inês de Castro; a felicidade que entre é subitamente interrompida, porque o destino assim o quis.

� Monólogo que põe em destaque o estado de espírito de Madalena:

preocupada com a filha; chorosa e atormentada; na parte final do excerto, manifesta a Telmo a sua amizade.

� Caracterização da sua feição romântica pela exaltação sentimental (frases

exclamativas, suspensas pelas reticências, interrogações retóricas, interjeições, repetição das palavras).

� A divisão do monólogo em duas partes – a conjunção adversativa “mas”

marca a oposição e a passagem para a expressão de emoções.

� Elementos românticos: a melancolia da personagem e o acto introspectivo; o gosto pelo isolamento; a presença de indícios fatalistas; a leitura como refúgio.

� Recursos estilísticos:

� A utilização da enumeração e gradação crescente, colocando em destaque o contínuo estado de receio e o crescente temor de D. Madalena («que não suspeite o estado em que eu vivo… este medo, este medo, este contínuos terrores, que ainda me não deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade que me dava o seu amor.»).

� A antítese (“Oh! Que amor, que felicidade… que desgraça a minha!”) que remete para o estado a felicidade presente.

� A enumeração, a adjectivação, as interjeições, as reticências, a construção anafórica e as repetições.

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• Cena 2

� «Desta seita nova d’Alemanha ou d’Inglaterra»: referencia às doutrinas religiosas protestantes (em franca expansão nos países anglo-saxónicos).

� Teor da acusação expressa por Telmo a D. Madalena. � Madalena como mãe, profundamente angustiada com a fraqueza da filha:

apesar de ausente, Maria está sempre presente no espírito das outras personagens, principalmente de Madalena, que manifesta preocupação com o crescimento, com as tendências e as crenças da filha (Maria defende a crença popular no regresso de D. Sebastião: o rei não morreu e encontra-se numa ilha “encoberta”, de onde surgirá, numa manha de nevoeiro, para salvar Portugal).

� Dialogo levado a cabo por Telmo, revelando-se num crescendo de emoção (reticências, frases curtas e exclamativas).

� Função de Telmo: conselheiro, mas pressagístico, representa o coro grego com os seus agoiros; a lealdade não impede a sua crença sebastianista e a fidelidade ao antigo Amo.

� O discurso apavorado, os agouros e pressentimentos. � Comparação das figuras de D. João de Portugal e de D. Manuel de Sousa

Coutinho do ponto de vista de Telmo. � Referencias a D. João de Portugal como um fantasma. � A criação da tensão dramática: � na segunda fala de Telmo, a hesitação e a correcção que ele próprio faz

ao considerar como seu «senhor» o antigo amo e referindo-se ao actual como o «o Sr. Manuel de Sousa Coutinho»;

� as hesitações de Madalena quando fala do seu primeiro casamento («quando casei a… a… a… primeira vez»);

� quando Madalena se refere ao «se4nhor D. João de Portugal, que Deus tenha em gloria» e Telmo, em aparte, lança a dúvida «Terá…», manifestando assim, a crença de que ainda esteja vivo.

� Maria revela-se precoce na capacidade de interpretar a desgraça e saber lidar com ela. Maria é retratada como «um anjo», menina viva e cheia de espírito, de bom coração… Tem «treze anos feitos» e «está uma senhora».

� A importância das didascálias nesta cena: para além das indicações das falas das personagens, surgem, a acompanhar as primeiras falas de Telmo e de madalena, indicações cénicas que apontam a atitude que se espera das personagens; mais adiante, as didascálias dão indicações acerca da necessidade de fazer uma pausa e mudar de tom («pausa; mudando de tom»); ao longo do excerto, servem ainda para destacar os comportamentos ou as atitudes que as personagens devem assumir («com as lágrimas nos olhos»; «enternecido»; «quase ofendida»); na parte final do excerto, a indicação de que a fala de Telmo funciona como um aparte.

� A simbologia dos números: o mistério e o fatalismo. � Características românticas: a tendência para o devaneio (D. Madalena); a

superstição; a sensibilidade; o mistério; o fatalismo

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• Cena 3

� Apresentação e caracterização de algumas personagens; � Referência a factos do passado que ainda provocam reacções emotivas; � Indicação de referências temporais, indispensáveis para a compreensão do

conflito; � Construção da cor epocal; � Apresentação das relações afectivas das personagens no presente; � Os primeiros presságios e construção da tensão dramática; � O sebastianismo: o sofrimento (causado pelo domínio filipino) como razão

para crença popular no regresso de D. Sebastião; � A doença de Maria.

• Cena 4

� Traços físicos e Morais de Maria: � Preocupação com a aflição da mãe; � Incapacidade para explicar a perturbação dos pais; � A doença física; � A tendência para o devaneio.

� Aproximação de D. Madalena a D. João de Portugal pela intuição de Maria. � Acção que se desenrola num campo predominantemente psicológico. � A linguagem: pontuação expressiva e variada; anacolutos; alterações de

ritmo.

• Cena 5

� A referência à peste em Lisboa (historicamente, Lisboa foi atingida pela peste entre 1598 e 1602).

� Intensificação do conflito dramático pela notícia trazida por Jorge (os governadores pretendem ocupar o palácio).

� O entusiasmo de Maria: a imaginação prodigiosa e o patriotismo. � As reacções à notícia. � Nova referência à doença de Maria: a capacidade auditiva acrescida (cf. A

expressão «ouvidos de tísica»).

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• Cena 7

� Observar a didascália de início de cena e a referência à «noite fechada»

(relacionar com o incêndio do final do acto; relacionar também com a previsível situação familiar.

� Agitação de Manuel de Sousa Coutinho: � (Maria, na cena 5, dissera que o pai vinha «afrontado»); � A linguagem e as atitudes da personagem manifestam a sua

perturbação; � Razoes para essa agitação e decisão tomada.

� Reacções opostas de Maria e de D. Madalena à decisão anunciada por Manuel de Sousa Coutinho.

• Cena 8

� A decisão de mudança de espaço e a sua influencia em D. Madalena (o tempo passado é trazido para o presente).

� O contraste das duas personagens:

Manuel de Sousa Coutinho D. Madalena

No início agitado, depois sereno e decidido; o patriotismo.

Hesitante, perturbada e agitada.

O herói clássico, comandado pela razão. Personagem comandada pelo coração (o herói romântico).

Dá mais importância a valores universais e intemporais (lealdade, patriotismo, liberdade, honra).

Valoriza a perspectiva individual e pessoal.

Desvaloriza os acontecimentos. Exagera as consequências previsíveis da decisão tomada.

Analisa o presente e não teme o futuro. Obcecada pelo passado, teme o presente e vive aterrorizada com o futuro.

• Cena 11

� O ritmo mais rápido dos acontecimentos. � A Prolepse: o indicio de desgraça previsível (referência de Manuel de

Sousa Coutinho à morte trágica do pai)

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Acto II

• Cena 1 � O paralelismo entre a segunda fala de Maria neste acto e a primeira fala de

Madalena no primeiro acto: � D. Madalena lia Os Lusíadas e os dois versos citados pertencem ao

episódio de Inês de Castro. Maria responde a Telmo com uma citação de Menina Moça de Bernardim Ribeiro;

� De notar que os dois autores citados pertencem ao século XVI e que quer o episódio de Inês de Castro quer a novela sentimental de Bernardim apontam para um fim trágico…

� No primeiro acto, D. Madalena nega a crença de Telmo em agouros («D. João ficou naquela batalha… com a flor da nossa gente» - acto I, cena II), procurando assumir uma racionalidade que é mais aparente que real, porque no fundo e com estas palavras de Maria demonstram («agora não lhe sai da cabeça que a perda do retrato é prognóstico fatal de outra perda maior…»), também ela sucumbe à crença nos agouros.

� Alteração da visão de Telmo sobre Manuel de Sousa Coutinho: � Telmo admirar as qualidades de Manuel Coutinho (recordar que, no

primeiro acto, reconhecia nele algumas qualidades mas não o admirava);

� O «generoso crime» (que leva Telmo a admirar agora Manuel Coutinho) pôs em destaque o patriotismo, a defesa da honra, a lealdade e a luta pela liberdade contra os tiranos espanhóis. Telmo lamenta mesmo não ter admirado sempre Manuel Coutinho como ele merecia.

� O uso de reticências e de exclamações; linguagem fortemente emotiva; coloquiadade; enumeração e assindeto: «Aquele palácio a arder, aquele povo a gritar, o rebate dos sinos, aquela cena toda»; dupla adjectivação: «tão graciosa e sublime»; hipérbole: «a devorar tudo com fúria infernal»; repetições: «há… oh! há»; metáfora ou imagem: «fúria infernal»; o vocabulário (riqueza e expressividade); os níveis de língua; tom predominante (…)

� A importância das didascálias para descodificar o valor simbólico dos retratos: � Retrato de D. Sebastião – símbolo do sebastianismo que percorre a obra; � Retrato de Camões – símbolo do nacionalismo, a defesa e exaltação da

pátria; � Retrato de D. João de Portugal – a carga simbólica deste está

relacionada com a destruição do retrato de Manuel de Sousa Coutinho. A casa e o retrato de Manuel sucumbem ao fogo enquanto a figura de D. João se torna mais presente por intermédio do retrato; evocação de um passado ameaçador.

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• Cena 2 � Manuel de Sousa Coutinho, que anda perseguido pelos governadores, em

consequência da atitude tomada no fim do primeiro acto, regressa a casa, de dia, mas escondido sob uma capa.

� Maria, fascinada perante o retrato de D. João de Portugal, não reconhece logo a voz do pai.

� Manuel de Sousa Coutinho refere-se a D. João de Portugal como «um honrado fidalgo e um valente cavaleiro».

• Cena 3

� Características fundamentais da personalidade de Manuel de Sousa Coutinho: a racionalidade (ao combater o espírito fantasista da filha) e a fé; o amor de pai e a forma carinhosa como se dirige à filha.

� A curiosidade de Maria. � O respeito que Manuel Coutinho nutre por D. João.

• Cena 4 � A chegada de Frei Jorge e a sugestão da ida a Lisboa para cumprimentar o

acerbispo. � O pedido de Maria. � Novo indício trágico: a referência a Joana de Castro.

• Cena 5 � A crescente aproximação de D. João de Portugal. � A simbologia da sexta-feira enquanto dia da paixão de Cristo: a redenção

do pecado da humanidade pelo sacrifício da cruz. � O paralelismo ao nível do tempo com o acto primeiro, já que em ambos a

acção tem, lugar numa sexta-feira. � A gradação «Meu esposo, meu marido, meu querido Manuel!» põe em

destaque o facto de D. Madalena viver completamente presa à figura de Manuel e considerar que estar separada dele é o sofrimento supremo.

� A hesitação demonstrada por Manuel Coutinho, visível no emprego da interrogativa retórica e na utilização de reticências.

� A forma como a pontuação traduz o nervosismo e o terror de D. Madalena face à sexta-feira.

� Frei Jorge enquanto figura mediadora e apaziguadora nas situações de maior tensão, assegura a D. Madalena o regresso antes de anoitecer, acalmando-a um pouco.

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• Cena 9

� As inquietações (íntimas) de Frei Jorge com o estado de espírito do irmão, da cunhada e da sobrinha: ele próprio começa a adivinhar a desgraça…

� O adensar da atmosfera trágica.

• Cena 10

� As referências ao presente e ao passado: � Presente: «este amor. Que hoje está santificado e bendito no céu»

(porque agora está casada com Manuel Coutinho); � Passado: «começou com um crime».

� Observe ainda o contraste entre as palavras de D. Madalena quando recorda D. João de Portugal («Já não guardava a meu marido, a meu bom… a meu generoso marido…») e a fala da cena V a respeito da Manuel: «Meu esposo, meu marido, meu querido Manuel!». � D. João de Portugal não chegou a ser amado por D. Madalena; a sua

figura aparece mais como a de um protector (observe-se os qualificativos utilizados: bom e generoso);

� Manuel é que surge como o amante; é a este que D. Madalena se dedica de alma e coração.

� D. Madalena manteve-se fisicamente fiel a seu marido, pelo constrangimento social a que estava sujeita uma mulher da sua linhagem.

� Importância que este extracto assume para o crescendo da atmosfera trágica: o receio de D. Madalena (sextas-feiras); a partida de Maria e Manuel Coutinho criou um ambiente propício para a chegada do Romeiro; o espaço da acção, que recordava o passado, criou as condições necessárias à sua identificação; D. Madalena está sobressaltada, assustada e com um mau pressentimento; o simbolismo do dia em que decorre a acção é fundamental para o aumento da tensão dramática, para o crescendo da atmosfera trágica.

• Cena 12

� O anúncio da chegada do Romeiro: a gradação de elementos fornecidos, que aumenta a expectativa.

� Preparação para o clímax da obra: a decisão de D. Madalena de mandar trazer o Romeiro à sua presença.

� Reacção de Frei Jorge.

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• Cena 15

� O estado de espírito do Romeiro quando fala dos seus familiares e amigos. � Reacção de D. Madalena à chegada do Romeiro. � D. João, de espectro invisível na imaginação das personagens, vai

lentamente adquirindo contornos até se tornar na figura do Romeiro, que se identifica como «Ninguém». É o momento do regresso de D. João de Portugal após vinte anos de ausência, vinte dos quais em cativeiro. O seu fantasma pairava sobre a felicidade daquele lar como uma ameaça trágica. E o sonho torna-se realidade.

� Nesta cena encontramos: � O reconhecimento (anagnórise), o clímax e o início do sofrimento (pathos)

das personagens; � A concentração de todas as emoções, de todos os sentimentos, de todos

os sofrimentos e angústias como resultado do acumular de presságios que já faziam adivinhar este desenlace trágico;

� A atmosfera de superstição, nomeadamente desenvolvida em redor de D. Madalena, que neste momento sente que o destino é impiedoso e que o castigo do seu pecado se abate sobre a sua família;

� O vocábulo «Ninguém» como a máxima concentração da acção: a fala do Romeiro transmite a sensação de vazio que lhe vai na lama: julgando morto, já não tem lugar naquela família; a sua própria mulher não o reconheceu e, no palácio que era seu, reconstituiu a sua felicidade… O Romeiro sente, por isso, que perdeu a sua própria identidade no momento em que D. Madalena acreditou na sua morte.

� A importância das indicações cénicas (destinadas ao leitor, ao encenador e ao actor): � Indicação do nome da personagem antes de cada fala; � Referências aos adereços que compõem o espaço cénico; � Informações sobre o tom de voz («com um grito espantoso», « em tom cavo

e profundo»), os gestos («apontando logo para o retrato»), as atitudes que a personagem/o actor deve tomar;

� O momento da entrada em cena, o percurso a realizar, a personagem a quem se deve dirigir;

� A associação de algumas indicações cénicas («em tom cavo e profundo»; «foge espavorida») à riqueza da pontuação (exclamações, interrogações, reticências) permite destacar a dimensão do sofrimento das personagens.

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Acto III • Cena 1

� Mudança de cenário. � Tempo: algumas horas após os últimos acontecimentos. � Manuel de Sousa Coutinho, considerando-se o homem «mais infeliz do

mundo», culpa-se por todos os acontecimentos: � Ter lançado a «infâmia» sobre D. João de Portugal; � Ter provocado a desonra da família; � Ter criado uma situação que conduzirá à morte da sua filha, que «não

resiste, não sobrevive a esta afronta» (preferia mesmo que Maria morresse de tuberculose).

� A confissão dos sentimentos mais íntimos de Manuel Coutinho ao irmão. � Neste momento da peça, Manuel Coutinho age emotivamente (em

contraste com o homem racional do primeiro acto).

• Cena 4 � Monólogo de Telmo marcado por sentimentos de profunda angústia: � Associada a uma atitude de perplexidade face aos confusos sentimentos

provocados pela notícia de que o amo desaparecido está vivo; � A descoberta interior de que também ele, afinal, não desejava que tal

acontecesse e fica angustiado, contrariamente ao que sempre julgara; � A angústia, a perplexidade e os remorsos (porque o seu amor a esse

amo fora suplantado pelo amor a uma «outra filha»); � Assume o amor que agora o domina. � Essa angústia surge associada a uma dor ainda mais profunda, pela

situação em que se encontra Maria (que ele ama acima de tudo). � Desesperado, suplica a Deus que salve a vida dela e aceite a dele em

troca. � Monólogo de Telmo: observar as exclamações, as interrogações

retóricas, as frases inacabadas, as repetições (mostrando a confusão, o turbilhão de sentimentos, o terror, a culpa de ter desejando tanto o regresso de D. João de Portugal).

• Cena 5

� Telmo encontra-se absorvido na sua oração, quando o Romeiro entra em cena sem ser visto.

� Telmo ouve aquela voz e reage comum sobressalto, expresso na exclamação «Que voz!», como se a reconhecesse.

� Ao encarar o seu interlocutor, Telmo vê, apenas, o Romeiro anunciando, que é para ele ainda um estranho e replica-lhe um pressentimento num tom de distância e de alguma animosidade.

� A réplica seguinte do Romeiro impõe de novo, no espírito de Telmo, o som dessa voz como algo familiar, suscitando-lhe um pressentimento sobre a

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identidade do seu interlocutor, que desencadeia a necessidade de conhecer a identidade do Romeiro.

� O reconhecimento (anagnórise): Telmo toma conhecimento da identidade do Romeiro.

� O conflito interior de Telmo: a emoção, o afecto e o respeito pelo seu amo desaparecido e longamente esperado/a preocupação com a situação vivida «pela outra filha»/sente que ainda devia pedir por D. João.

� D. João: a força trágica que provoca o sofrimento. � As didascálias, que constituem, no seu conjunto, um texto secundário ou de

suporte do texto dramático, cumprem, no excerto transcrito, as seguintes funções: � Definir a movimentação das personagens em cena: «(ajoelha)»; «(aparece

o romeiro à porta da esquerda, e vem lentamente aproximando-se de Telmo que não dá por ele.)»; «(tirando o chapéu e alevantando o cabelo dos olhos)»; «(deitando-se-lhe às mãos pra lhas beijar)»;

� Explicitar o sentimento ou a atitude que deve transparecer no comportamento da personagem «(sobressaltado)»;

� Marcar uma alteração no tom de voz «(à parte)», «(alto)»; � …

• Cena 9

� A preparação para o desenlace: a decisão tomada por Manuel Coutinho e aceite por D. Madalena conduzi-los-á à vida religiosa.

� Atmosfera de dramatismo (observar o som do órgão, o ambiente da capela, as frases em latim, o coro dos frades…).

• Cena 11 � O monólogo de Maria. � Na Memória ao Conservatório, Garrett afirma que «quis ver se era possível

excitar fortemente o terror e a piedade»: a situação dramática vivida conduziu, de facto, ao clima de terror e ao sentimento de piedade, proporcionando a catarse, ou seja, a purificação das almas.

� O destino (e «morte») das personagens: � D. João de Portugal e Telmo «que apareceram no fundo da cena, saindo

detrás do altar-mor» - o esquecimento; � Manuel de Sousa Coutinho – a vida religiosa (Frei Luís de Sousa); � D. Madalena – a vida religiosa (Soror Madalena); � Maria – morre e recebe a sua «coroa de glória» no céu.

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Espaço

Acto 1º

Palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada.

Descrição: Câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século XII. É, pois, um espaço sem grades, amplamente aberto para o exterior, onde as personagens ainda gozam a liberdade de se movimentarem guiadas pela sua vontade própria. Através das grandes janelas rasgadas domina-se uma paisagem vasta. – É o fim da tarde.

Acto 2º

Palácio que fora de D. João de Portugal, em Almada, que agora pertença a D. Madalena.

Descrição: Salão antigo de gosto melancólico e pesado, com grandes retratos de família, muitos de corpo inteiro; estão em lugar de destaque o de el-rei D. Sebastião, o de Camões e o de D. João de Portugal. Portas do lado direito para o exterior, do esquerdo para o interior, cobertas de reposteiros com as armas dos Condes de Vimioso. Deixa de haver janelas e as portas, ainda no plural, são já mais destinadas a cercar as personagens que a deixá-las escapar.

Acto 3º

Parte baixa do Palácio de D. João de Portugal, comunicando pela porta à esquerda do espectador, com a capela da Senhora da Piedade na Igreja de S. Paulo dos Domínicos de Almada: é um casarão sem ornato algum. Arrumadas às paredes, em diversos pontos, escadas, tocheiras, cruzes e outros objectos próprios para uso religioso. É alta noite.

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Qual é o tratamento dado ao espaço no Frei Luís de Sousa?

Progressão em termos negativos. Há um afunilamento quer a nível de luz, decoração ou amplitude. Ou seja, vai evoluindo no sentido da acção: vão surgindo acontecimentos que afectam a vida normal familiar e que culmina com a morte de Maria. A acção caminha no sentido da destruição, a par do tratamento que vai sendo dado ao espaço.

Espaço social (costumes e mentalidades que definem uma época)

Características do palácio de D. Manuel

Família da aristocracia

Madalena lendo Sendo mulher, usufrui de educação

A existência de Telmo, Doroteia, Miranda

Maria lendo “Menina e Moça” de Bernardim Ribeiro

D. João servia ao lado de D. Sebastião

Peste à população com más condições; a Almada não chega a peste

devido à falta de comunicação

Os casamentos não eram feitos por amor D. Madalena casa com D.

João por obrigação

D. Madalena fica com tudo o que era de D. João

Casamentos eram feitos com base na partilha

Maria é uma filha ilegítima por ser filha de um segundo casamento

Más comunicações: um cativo na terra santa não consegue fazer

saber-se que está vivo e a família também não o encontra

O marido funciona, muitas vezes, com pai da esposa, pois esta é

muito mais nova que ele.

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Tempo

Informações temporais dadas através das falas das personagens

Período vasto de tempo (21 anos) mas a acção representada tem apenas

uma semana

Batalha de Alcácer Quibir (1578) + 7 anos + 14 anos

Primeira sexta-feira (27 de Julho de 1599) + 8 dias Segunda sexta-feira (4 de

Agosto de 1599) – HOJE (2º acto)

5 de Agosto (consequências do hoje) - madrugada

Em cena temos apenas duas partes de dois dias

Tempo histórico (o desenrolar da acção está dependente da batalha)

Tempo da acção

Ao afunilamento do espaço corresponde uma concentração do

tempo dum dia especial da semana: 6ª feira

As principais cenas passam-se durante a noite.

De que forma o tempo e o espaço se relacionam com o desenrolar trágico da

acção?

O tempo vai caminhando para uma concentração no momento do clímax. É como que uma preparação para aquele momento.

O espaço é cada vez mais escuro e tem relação directa com o desfecho da acção que será no altar. Caminha-se de um espaço amplo para um espaço reduzido. Caminha-se de objectos confortáveis para objectos que são alusões cada vez mais nítidas à catástrofe. Do profano ao religioso/ da vida à morte.

Telmo cada vez faz mais agoiros. As personagens vão anunciando o aparecimento de um terror qualquer. Terrores e medos de D. Madalena que contribuem para um ambiente mais tenso; Maria que conta o que lê, o que sonha, o que pensa. Vão surgindo previsões do que se irá passar.

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Personagens principais

o Manuel de Sousa Coutinho (personagem principal e plana)

Nobre, cavaleiro de Malta

Construído segundo os parâmetros do ideal da época clássica

Racional

Bom marido e pai terno

Corajoso, audaz, decidido, patriota, nacionalista

Valores: pátria, família e honra

Excepções ao equilíbrio (momentos em que Manuel foge ao modelo clássico e tende para o romântico): cena do lenço de sangue/espectáculo excessivo do incêndio

D. João de Portugal (personagem principal, plana e central)

Nobre (família dos Vimiosos)

Cavaleiro

Ama a pátria e o seu rei

Imagem da pátria cativa

Ligado à lenda de D. Sebastião

Nunca assume a sua identidade

Exemplo de paradoxo/contradição: personagem ausente mas que, no desenrolar da acção, está sempre presente.

Telmo Pais (personagem secundária)

Escudeiro e aio de Maria

Tem dois amos: D. João e Maria

Confidente de D. Madalena

Chama viva do passado (alimenta os terrores de D. Madalena)

Provoca a confidência das três personagens principais

Considerado personagem modelada num momento: durante anos, Telmo rezou para que D. João regressasse mas quando este voltou quase que desejou que se fosse embora.

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Frei Jorge Coutinho (personagem secundária e plana)

Irmão de Manuel de Sousa

Ordem dos Dominicanos

Amigo da família

Confidente nas horas de angústia

É quem presencia as fraquezas de Manuel de Sousa

D. Madalena de Vilhena (personagem principal e plana)

Nobre e culta

Sentimental

Complexo de culpa (nunca gostou de D. João, mas sim de D. Manuel)

Torturada pelo remorso do passado

Ligada à lenda dos amores infelizes de Inês de Castro

Apaixonada, supersticiosa, pessimista, romântica (em termos de época), sensível, frágil

D. Maria de Noronha (personagem principal e plana)

Nobre: sangue dos Vilhenas e dos Sousas

Precocemente desenvolvida, física e psicologicamente

Doente de tuberculose

Poderosa intuição e dotada do dom da profecia

Encarnação da Menina e Moça de Bernardim Ribeiro

Modelo da mulher romântica: a mulher-anjo

A única vítima inocente

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Características trágicas em Frei Luís de Sousa

Existência de personagens com o papel de confidentes (personagens que existem para que as outras personagens digam o que sentem) e coro (conjunto de pessoas que cantava um cântico pesado que ia interrompendo a acção para comentar o desenrolar da mesma e profetizar

Existência da regra das três unidades: tempo, espaço e acção

A tragédia tem como objectivo provocar a piedade (pelas vítimas) e terror (por alguém que há-de vir dos mortos) nos espectadores

Estrutura do desfecho:

Presságios

(vários elementos, situações ou ditos das personagens que vão aumentando a tragédia

1 – Peripécia (momento em que o decorrer da acção é irremediavelmente invertido) à a chegada de alguém que trás notícias de D. João de Portugal

2 – Revelação (segredo/identidade que se revela) à o revelar da identidade do romeiro

3 – Catástrofe (morte violenta/final que vitima as personagens envolvidas) à morte figurada no caso de Manuel e Madalena e morte violenta de Maria.

No desfecho temos a presença do destino como castigo do amor de D. Madalena por D. Manuel

Destino: força superior que transcende a vontade das personagens e perante a qual as personagens se tornam indefesas

Presságios: Fogo (destrói a família e destrói o retrato); Leituras (Lusíadas e Menina e Moça)

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Phatos: crescente de aflição e de angústia que conduz ao clímax da acção através de uma precipitação de acontecimentos através dos presságios.

Hybris: desafio lançado aos deuses ou às autoridades (atitude de D. Madalena ao casar com D. Manuel)

Clímax: auge do sofrimento

Peripécias: mutação repentina da situação

Anagnorisis: reconhecimento ou constatação dos motivos trágicos

Moira ou fatum: força do destino

Catástrofe: desfecho trágico

Leitura simbólica de Frei Luís de Sousa:

Tragédia – sexta-feira (dia de azar); a noite (parte do dia propícia a

sentimentos de terror e parte escura do dia); os números:

7- Nº de anos de busca

14- Tempo de casamento (7 reforçado, 14=2x7)

21- Tempo da acção

13- Nº de azar, idade de Maria

3- Nº de elementos da família sujeitos à destruição, 3 retratos na sala dos

retratos.

Pátria – atitudes de Manuel de Sousa que se podem resumir num protesto

à tirania, defesa dos valores da pátria.

Incêndio símbolo patriótico

A família pode ser vista como a unidade da pátria, a destruição da

família é a destruição da pátria governada pelos estrangeiros.

Oposição entre D. Manuel e D. João entre Portugal velho e ultrapassado

e o novo e actual que se pretende (Manuel)

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Etapas em Frei Luís de Sousa

1ª Etapa: D. João existe apenas no domínio psicológico das

personagens (1º acto)

2ª Etapa: D. João torna-se visível no retrato (início do segundo acto)

3ª Etapa: D. João chega na forma de Romeiro (final do 2º acto)

4ª Etapa: Embora não esteja presente é D. João que provoca a morte das

3 personagens (3º acto)

Em nenhuma altura temos D. João assumido como tal.

Características românticas em Frei Luís de Sousa

Narcisismo/ hipertrofia do eu: as personagens dão construídas a partir de uma projecção. Almeida Garrett transporta o seu problema de amor para D. Madalena e transporta o problema da filha ilegítima para Maria

Preferência pelas horas sombrias: o desenrolar da acção passa-se essencialmente à noite ou de madrugada.

Culto da mulher-anjo: na personagem de Maria

Nacionalismo/ patriotismo: nas atitudes de Manuel de Sousa

Preferência por personagens imperfeitas: D. Madalena que se apaixonou ainda casada

Religiosidade

Mitos/superstição

Infracção e pecado

Individualismo versus sociedade: Manuel de Sousa Coutinho decide o que há-de fazer porque a sociedade aponta Maria como filha do pecado, o 1º casamento seria inválido

Liberdade versus destino: Ao escolher o amor, D. Madalena comete uma infracção à religião e costumes e o destino castiga essa acção. Será então o homem livre ou será dominado pelo destino? Tudo o que fará por escolha própria estará sujeito a castigo por parte do destino?

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1. Cenário

O Acto I passa-se numa «câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século XVII», no palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada. Neste espaço elegante parece brilhar uma felicidade, que será, apenas, aparente. O Acto II acontece «[…] no palácio que fora de D. João de Portugal, em Almada; salão antigo, de gosto melancólico e pesado, com grandes retratos de família […]». As evocações do passado e a melancolia prenunciam a desgraça fatal. O Acto III passa-se na capela, que se situa na «Parte baixa do palácio de D. João de Portugal […]». «[…] é um casarão vasto sem ornato algum.». o espaço denuncia o fim das preocupações materiais. Os bens do mundo são abandonados. 2. Atmosfera

Há ao longo da intriga dramática uma atmosfera psicológica do sebastianismo com a crença no regresso do monarca desaparecido e a crença no regresso da liberdade. Telmo Pais é quem melhor alimenta estas crenças, mas Maria mostra-se a sua mais crédula seguidora. Percebe-se também uma atmosfera de superstição, nomeadamente desenvolvida em redor de D. Madalena. Tal como na tragédia clássica, também o fatalismo é uma presença constante. O destino acompanha todos os momentos da vida das personagens, apresentando-se como uma força que as arrasta de forma cega para a desgraça. É ele que não permite que a felicidade daquela família dure muito.

3. Simbologia

Vários elementos estão carregados de simbologias, muitas vezes a pressagiar o desenrolar da acção e a desgraça das personagens. Apenas como referência, podemos encontrar algumas situações e dados simbólicos:

¤ A leitura dos versos de Camões referem-se ao trágico fim dos amores de D. Inês de Castro que, como D. Madalena, também vivia uma felicidade aparente quando a desgraça se abateu sobre ela;

¤ O tempo dos principais momentos da acção sugere o dia aziago: sexta-feira, fim da tarde e noite (Acto I), sexta-feira, tarde (Acto II), sexta-feira, alta noite (Acto III); e à sexta-feira D. Madalena casou-se pela primeira vez; à sexta-feira viu Manuel pela primeira vez; à sexta-feira dá-se o regresso de D. João de Portugal; á sexta-feira morreu D. Sebastião, 21 anos antes;

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¤ A numerologia parece ter sido escolhida intencionalmente. Madalena

casou-se 7 anos depois de D. João haver desaparecido na batalha de Alcácer Quibir; há 14 vive com Manuel de Sousa Coutinho; a desgraça, com o aparecimento do Romeiro, sucede 21 anos depois da batalha ( )7321 ×= . O número 7 é um número primo que se liga ao ciclo lunar (cada fase da Lua dura cerca de 7 dias) e o ciclo vital (as células humanas renovam-se de 7 em 7 anos), representa o descanso no fim da criação e pode-se encontrar em muitas representações da vida, do universo, do homem ou da religião; o número 7 indica o fim de um ciclo periódico. O número 3 é o número da criação e representa o círculo perfeito. Exprime o percurso da vida: nascimento, crescimento e morte. O número 21 corresponde a 73× , ou seja, ao nascimento de uma nova realidade (7 anos foi o ciclo da busca de notícias sobre D. João de Portugal e o descanso após tanta procura); 14 anos foi o tempo de vida com o Manuel de Sousa Coutinho ( 72× , o crescimento de um dupla felicidade: como esposa de Manuel e como mãe de Maria; 14 é gerado por 541 =+ , apresentando-se como símbolo da relação sexual, do acto de amor); 21 anos completa a tríade de 7 apresentando-se como a morte, como o encerrar do círculo de 3 ciclos periódicos. O número 7 aparece, por vezes, a significar destino, fatalidade (imagem do completar obrigatório do ciclo da vida), enquanto o 3 indica perfeição; o 21 significa, então, a fatalidade perfeita;

¤ Maria vive apenas 13 anos. Na crença popular, o número 13 indica azar. Embora como número ímpar deva apresentar conotação positiva, em numerologias é gerado pelo 1 1 3 5 4, um número par, de influências negativas, que representa limites naturais. Maria vê limitados os seus momentos de vida.

4. Sebastianismo

O mito sebastianista irrompe com o desaparecimento de D. Sebastião (1554-1578) em Alcácer Quibir, em 1578, numa batalhas contra os Mouros. Rei de Portugal, neto de D. João III, D. Sebastião ficou conhecido como «O Encoberto». O sebastianismo surge como crença no regresso, em manhã de nevoeiro, do rei D. Sebastião, na esperança que melhores dias viessem para um Portugal que estava em crise.

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Sequência de Ensino

Aprendizagem nº4

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Alguns apontamentos sobre Os Maias

O titulo: Os Maias

O romance os maias conta a historia da família Maia, através de três personagens masculinas que representam três gerações, correspondentes a momentos histórico-politicos e culturais diferentes:

Família Maia Politica Estética literária

Revoluções Liberais (absolutismo/Liberalismo)

Inicio do Romantismo

Regeneração (decadência do Liberalismo)

Romantismo

Afonso + Mª. Eduarda Runa Pedro + Mª. Monforte Carlos + Mª. Eduarda

Regeneração

Ultra-Romantismo Realismo

O trajecto da família Maia entrelaça-se com a história do séc. XIX, servindo

o conjunto das três gerações sucessivas para retratar a evolução de uma sociedade que continua a não encontrar um rumo certo de modernidade.

O subtítulo: Episódios das Vida Romântica (visão critica de uma época)

Os Episódios das Vida Romântica constituem-se com “flagrantes” da vida portuguesa onde estão representados os defeitos caracterizadores da sociedade portuguesa da segunda metade do séc. XIX, em múltiplos aspectos:

Literatura Portuguesa: Ega e Alencar Talento não reconhecido: Cruges Oratória “balofa”: Rufino Administração Publica: Sousa Neto Politica: Conde de Gouvarinho Corrupção/decadência moral: Dâmaso Sociedade Portuguesa Mulher Portuguesa: mulheres da alta sociedade Diplomacia: Steinbroken e filho de Sousa neto Jornalismo: Palma “Cavalão” e Neves Alta Finança: Cohen Educação Portuguesa: Eusebiozinho Aristocracia Inglesa: Craft

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Este subtítulo permite-nos o contacto com múltiplas cenas e casos típicos

da vida e da sociedade romântica da época da regeneração: - A sociedade lisboeta (costumes, vícios, virtudes..), representada por personagens que tipificam um grupo, uma profissão, um vicio…; - O mundo social e politico da sociedade lisboeta de grande parte do século XIX, através de cenas e quadros: actividades sociais, culturais, desportivas, lúdicas…; - Carácter estático; - Menos ficção, mais descrição; - Menor interferência do narrador, embora adopte frequentemente um tom irónico e pessimista.

Nestes episódios observam-se as acções, as atitudes e os comportamentos do protagonista da intriga principal – Carlos da Maia – e dos figurantes, representantes de diferentes aspectos da sociedade portuguesa da altura. Trata-se de uma tela viva, onde se movimentam figuras da elite portuguesa, pertencentes a diferentes sectores (Finanças, Politica, Diplomacia, Administração Publica, Jornalismo, Literatura, Aristocracia).

O leitor é conduzido por Carlos da Maia aos locais frequentados pelos importantes do Reino e, através do seu olhar, acede ao retrato desse Portugal medíocre, apático, atrasado, provinciano em que, por vezes, situações de personagens atingem a categoria de caricatura.

O narrador, ironiza, critica, satiriza e deforma em excesso um ou vários traços caracterizadores da Nação, exprimindo deste modo a necessidade urgente de reformar os hábitos, os costumes e sobretudo a mentalidade de uma gente tão tacanha, tão limitada, tão ridícula.

O romance Os Maias denuncia os vícios da Pátria para a qual Eça de Queirós olhava do Exterior. De facto, o afastamento de Portugal, por razoes profissionais, possibilitava-lhe realizar a análise objectiva, por vezes impiedosa, de uma sociedade ridícula. Decadente, tão distanciada da civilização estrangeira que ele tão bem conhecia. Jantar no Hotel Central (Cap. VI) Corridas de cavalos no Hipódromo (Cap. X) Chás e jantares na casa do conde de Gouvarinho (Caps.X e XII) Episódios No jornal A Tarde (Cap. XV) Sarau no teatro da Trindade (Cap. XVI) Passeio Final de Carlos e Ega (Cap. XVIII)

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A Acção

O plano da intriga apresenta uma acção secundária, que envolve Pedro e Maria Monforte; e uma acção principal centrada na relação de Carlos e Maria Eduarda. A intriga secundária, que surge como introdução e permite a apresentação de Afonso da Maia, como factor de unidade, e situa no tempo e no espaço o início da acção, centra-se na personagem Pedro, dando conta do seu nascimento, formação, paixão e drama. A intriga principal, que mantém a dimensão trágica e a amplifica, fazendo o desenvolvimento dos acontecimentos, incide nas relações incestuosas de Carlos da Maia e Maria Eduarda, culminado com a morte do avô. Com a degradação da família, o último capítulo constitui o epílogo, onde Carlos e o seu amigo Ega, regressando a Lisboa, admitem o fracasso de uma vida e verificam o atraso do Pais. Embora o regresso pareça traduzir a desilusão pessoal sobre o futuro de Portugal, é possível vislumbrar alguma catarse na reflexão que o mais importante e viver, mesmo falhando «sempre na realidade aquela vida que se planeou com imaginação». Em alternância com a intriga principal desenrolam-se múltiplos episódios a que se costuma chamar a crónica de costumes lisboeta. Intriga Secundária

Pedro, o único filho de Afonso da Maia e Maria Eduarda Runa, apaixona-se fatalmente por Maria Monforte, mulher bela que aparece em Lisboa, acompanhada pelo pai, que enriquecera com o tráfico de negros. Contra a vontade de Afonso, Pedro casa com Maria Monforte e dela tem dois filhos, Maria Eduarda e Carlos Eduardo. O casal vive faustosamente em Lisboa, no palacete de Arroios, e, um dia, Pedro traz para casa um belo príncipe italiano com quem Maria Monforte foge, levando consigo a filha, Maria Eduarda. Nesse mesmo dia, Pedro corre para o palacete de Benfica, reconcilia-se com o pai, após quatro anos de separação, entrega-lhe o filho que Maria lhe deixara, e suicida-se cobardemente. O palacete é fechado e Afonso da Maia parte com o neto para Santa Olávia.

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Intriga principal

Em 1875, Carlos Eduardo, após ter-se formado em Medicina, vem viver com o avô, Afonso da maia, no Ramalhete em Lisboa. Carlos tenta concretizar os seus projectos profissionais, mas acaba por falhar todos os seus planos. Entretanto, integra-se na elite da capital, frequentando espaços sociais requintados, onde priva com os importantes do reino. É no peristilo do Hotel Central, antes do jantar em honra do banqueiro Cohen, que Carlos, em companhia de Craft, observa a chegada de Maria Eduarda por quem se apaixona de imediato. Depois de várias tentativas para conhecer pessoalmente Maria Eduarda, Carlos convive com esta, envolvendo-se numa profunda paixão, plenamente correspondida.

É na Toca, situada na quinta dos Olivais, comprada por Craft, que os dois apaixonados cometem involuntariamente o incesto.

O amor de Carlos por Maria Eduarda é tão forte que resiste ao facto de saber que ela tivera um passado pouco recomendável, havendo mesmo uma filha – Rosicler. No entanto, a felicidade de Carlos será completamente destruída pelas revelações de uma carta de Maria Monforte na qual Maria Eduarda é identificada como filha de Pedro da Maia (irmã de Carlos).

Apesar de conhecer a verdade, Carlos comete incesto de forma consciente e Afonso morre de desgosto. Sentindo-se extremamente culpado e arrependido, Carlos separa-se de Maria Eduarda que parte para França.

Carlos viaja para o estrangeiro com o seu amigo Ega e fica a residir em Paris, regressando na Portugal apenas no ano de 1887.

Relação da Intriga principal e a Intriga Secundária

A intriga secundária é fundamental para o desenvolvimento da intriga principal. As consequências dos amores infelizes e trágicos de Pedro da Maia Monforte separam os dois irmãos que crescem sem terem conhecimento da verdade. Maria Eduarda desconhece a identidade do pai e pensa ter tido apenas uma irmã que morrera em pequenina. Carlos acredita que sua mãe e sua irmã estavam mortas, assim lho dissera Afonso. A intriga principal alicerça-se nos acontecimentos desse passado longínquo e no desconhecimento da verdade, apresentando-se como consequência directa da intriga secundária.

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Semelhanças entre intriga secundária e a intriga principal

O romance Os Maias conta a história da família maia aniquilada pelo Destino inexorável. É possível encontra, nas tramas das intrigas, algumas semelhanças:

Intriga Secundária Intriga principal - Pedro apaixona-se perdidamente por Maria Monforte (bela. loura, esbelta, uma deusa), quando a vê pela primeira vez.

- Carlos apaixona-se fatalmente por Maria Eduarda (bela. loura, esbelta, uma deusa), quando a observa pela primeira vez.

- Pedro casa com Maria Monforte contra a vontade de Afonso.

- Carlos vive com Maria Eduarda, desejando casar com ela, mas não confronta o avo com este desejo, por temer a sua oposição.

- Pedro suicida-se - Carlos comente incesto voluntariamente - Após a morte de Pedro, Vilaça afirma que Afonso não dura mais de um ano.

- Depois de saber que Carlos continua envolvido com Maria Eduarda, Afonso morre de desgosto.

Delimitação da narrativa

Considerando os dois níveis da historia, teremos n’Os Maias uma acção

fechada e uma acção aberta. O nível da intriga identifica-se com aquilo que se costuma chamar uma acção fechada, porque todos os seus acontecimentos se encadeiam numa sucessão causa-efeito e porque, até ao fim da obra, tudo se soluciona, não havendo possibilidades de continuação para além do desenlace. De acordo com esta ideia, pode considerar-se que a intriga d’Os Maias é constituída fundamentalmente pelos amores de Carlos e Maria Eduarda assim como pelo desfecho trágico, isto é, a descoberta do incesto e a morte de Afonso da Maia. Depois desta ultima, pode dizer-se que a intriga d’Os Maias se encontra praticamente concluída; o que não significa, no entanto, que, com isso se encerre a acção, pois todo o capítulo XVIII constitui ainda um prolongamento, embora ocorrido dez anos mais tarde.

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In

tro

du

ção

Localização no tempo: “Outono de 1875” Localização no espaço: O Ramalhete – “a casa que os Maias vieram a habitar em Lisboa”. A personagem central: Os Maias, “uma antiga família da beira”, “reduzida a dois varões, o senhor da casa, Afonso da Maia, um velho já, quase antepassado, mais idoso que o século e o seu neto Carlos que estudava medicina em Coimbra”.

Juventude, exílio e casamento de Afonso. Infância e educação de Pedro

I – II

Intr

iga

Se

cun

ria

Paixão de Pedro por Maria Monforte Namoro «à antiga, plantado a uma esquina» Casamento Traição e fuga de Maria Monforte Suicídio de Pedro

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pa

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a A

cçã

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rin

cip

al

III – IV

Infância e educação de Carlos em Santa Olávia Estudos em Coimbra Viagem de Carlos pela Europa

Carlos da Maia em Lisboa: o consultório; o laboratório IV – V O diletantismo de Carlos e Ega

VI

Apresentação de Carlos à sociedade lisboeta: jantar no Hotel Central Carlos vê Maria Eduarda.

VII

Carlos e as suas paixões: O romance com a Gouvarinho A obsessão pela “Brasileira” (Maria Eduarda)

VIII Viagem a Sintra

IX Carlos, como médico, visita, no Hotel central, Rosa, a filha de seis anos de Maria Eduarda.

X As Corridas

XI Carlos conhece Maria Eduarda

XII Jantar em casa dos Gouvarinho Declaração de Carlos a Maria Eduarda

XII

Intr

iga

Pri

nci

pa

l

A Toca – lugar dos encontros amorosos de Carlos e Maria Eduarda A consumação da relação Ruptura de Carlos com a Gouvarinho

XIV

Paixão de Carlos e Maria Eduarda Semelhanças de Carlos com a mãe de Maria Eduarda As revelações de Castro Gomes sobre a relação de Carlos e Mª Eduarda.

XV A vida e educação de Maria Eduarda Encontro de Maria Eduarda com Guimarães Episodio da Corneta do Diabo Episodio no jornal A Tarde

XVI Sarau no teatro da Trindade Revelações de Guimarães a Ega, entregando-lhe um cofre para Carlos ou para a “irmã”

De

sen

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lvim

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cção

XVII

Revelações de Ega a Carlos, entregando-lhe o cofre Revelações de Carlos a Afonso Incesto consciente de Carlos Encontro de Carlos com Afonso Morte de Afonso Revelações a Maria Eduarda Partida de Maria Eduarda

Ep

ílo

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XVIII Viagem de Carlos Regresso a Lisboa dez anos depois: Carlos e Ega desiludidos Estagnação de Portugal

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O Espaço Espaço Físico

Exterior

Santa Olávia - Infância e educação de pedro Coimbra - Estudos de Carlos

- Primeiras aventuras amorosas Lisboa: Baixa Aterro Campo grande Olivais

- Vida social de Carlos - Local onde se passa a intriga principal - Local privilegiado para a visão critica da sociedade portuguesa na 2ª metade do séc. XIX

Interior

O Ramalhete (espaço privilegiado)

- Salas de convívio e de lazer - O escritório de Afonso tem um aspecto de «uma severa câmara de prelado.» - O quarto de Carlos tem um ar de «quarto de bailarina» - O jardim tem um valor simbólico, explicado em lugar apropriado

A vila Balzac - Reflecte a sensualidade de Ega O consultório de Carlos - Revela o dandismo de Carlos

- A predisposição para a sensualidade A toca - Espaço carregado de simbolismo

- Revela amores ilícitos. etc. Conclusão:

O espaço físico exterior acompanha o percurso da personagem central e é

motivo para a representação de atributos inerentes ao espaço social. Os espaços interiores estão de acordo coma a escola realista/naturalista: interacção entre o Homem e o ambiente que o rodeia.

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Espaço social

O Maias é um romance de espaço (social) porque nele desfila uma galeria

imensa de figuras que caracterizam a sociedade lisboeta: as classes dirigentes, a alta aristocracia e a burguesia. Cumpre um papel eminentemente crítico. Espaço Psicológico

Constituído pelas zonas de consciência da personagem, manifesta-se em momentos de maior densidade dramática. É sobretudo Carlos que desvenda os meandros da sua consciência, ocupando também Ega lugar de relevo.

Carlos da Maia

- Sonho no qual evoca a figura de Maria Eduarda (Cap. VI) - Nova evocação de Maria Eduarda em Sintra (Cap. VIII) - Reflexões sobre o parentesco que o liga a Maria Eduarda (Cap. XVII) - Visão do Ramalhete e do avô, após o incesto (Cap. XVII) - Contemplação de Afonso da Maia, morto no jardim. (Cap. XVII)

João da Ega

- Reflexões e inquietações após a descoberta da identidade de Maria Eduarda (Cap. XVI)

Conclusão:

A representação do espaço psicológico permite definir a composição destas

personagens como personagens modeladas. A presença do espaço psicológico implica, como é óbvio, a presença da subjectividade. Uma vez mais a estética naturalista está posta em causa.

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O Tempo Tempo cronológico/tempo da história

A mudança do tempo contribuiu para a dinâmica d’Os Mais. De acordo com João Gaspar Simões, “o movimento de Os Maias é dado pela passagem do próprio tempo. O tempo, não a acção, é que move os acontecimentos: as personagens, no romance, envelhecem realmente”. Cerca de setenta anos é o tempo passível de ser datado n’Os maias, embora a acção central não ultrapasse os catorze meses, do Outono de 1875 ao Inverno de 1876/1877.

O tempo concreto de Os Maias é extremamente lento e carregado de

elementos significativos, e abrange o decurso de várias gerações, desde Afonso, o varão integro e forte, até Carlos, o diletante e ocioso, passando por Pedro da Maia, representante de uma época exacerbadamente romântica.

Tempo narrativo/tempo do discurso

Depois de situar a acção em 1875, Eça estabelece uma ordem para a pluralidade do tempo da historia, quer alternando a ordem dos factos e o ritmo temporal, com recurso a analepses (recuos no tempo) e reduções temporais (por intermédio de resumos, sumários e elipses), quer apresentando os acontecimentos em registos competitivos, ou, simplesmente, mantendo a ordem do discurso a acompanhar a ordem temporal (isocronias).

Analepse na diegese Acção principal Outono de

1875 1820 a 1875 Outono de 1875 Janeiro de

1877 Janeiro de

1887 - No Ramalhete

- Caetano da Maia - Juventude de Afonso - Juventude e amores de Pedro - Fuga de Maria Monforte - Suicido de Pedro - Educação de Carlos em Coimbra - Primeira viagem de Carlos

- Afonso no Ramalhete, espera a chegada de Carlos da sua longa viagem pela Europa

- Relação de Carlos e Maria Eduarda

- Morte de Afonso - Partida de Carlos

- Regresso de Carlos a Lisboa - Encontro com Ega e almoço no Hotel Bragança

Preparação da acção Acção Conclusão

Antes de 1800 1820 a 1822 1830, 1848, 1858 e 1870 1875 a 1877 1887 - Nascimento de Afonso («mais idoso que o século»)

- Afonso «a atirar foguetes de lágrimas à Constituição»

- Referencias ao Ramalhete e aos Maias - Relações de Pedro e Maria Monforte - Nascimento de Carlos e de Maria Eduarda - Morte de Pedro - Educação de Carlos (…)

- Relações de Carlos e Maria Eduarda - Morte de Afonso

- «Luminosa e macia manha de Janeiro de 1887» – Carlos regressa.

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Analepses Como vemos no esquema atrás representado, o início do romance situa-nos em 1875, no Outono. Estamos, por isso, na terceira geração, na história de Carlos. Apercebemo-nos, no entanto, que será necessário recuar no tempo para encontrar explicações para alguns factos do presente. Assim surgem analepses, de que destacamos: A história dos Maias até 1875

Quando se fala de Afonso da Maia, afirma-se que a sua «existência nem sempre assim correra com a tranquilidade larga e clara de um belo dia de Verão». Está criada a necessidade e encontrado o pretexto para uma longa analepse que vai recordar os cerca de sessenta anos anteriores: - Juventude, exílio e casamento de Afonso; - Juventude, educação e amores de Pedro; - Ruptura de Pedro com Afonso; - Fuga de Maria Monforte; - Suicídio de Pedro; - Educação de Carlos em Santa Olávia e estudos em Coimbra; - Viagens pela Europa. «E então Carlos Eduardo partira para a sua longa viagem pela Europa. Um ano passou. Chegara esse Outono de 1875: e o avô, instalado no Ramalhete, esperava por ele ansiosamente.» (Cap. IV) Maria Eduarda recorda o seu passado

A pergunta de Carlos «Onde nasceste tu, por fim?» provoca uma analepse sobre factos que, apesar de intrigados, em termos temporais, na anterior, tinham sido «esquecidos» e que só agora são explicados. Assim, num misto de discurso indirecto livre e de discurso directo, ficamos a conhecer os pormenores do passado de Maria Eduarda, contados pela própria personagem. Esta analepse escapa, por isso, á focalização omnisciente do narrador dado que Maria Eduarda apenas conhece o que a sua mãe lhe contara. E assim se mantém o mistério do passado da personagem… A Carta

A carta de Maria Monforte (lida por Ega a Vilaça) vem finalmente, revelar a verdadeira identidade de Maria Eduarda. Esclarecido todo o mistério do seu passado, o desfecho trágico dos amores incestuosos adivinha-se.

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Reduções temporais

O período compreendido entre 1820 e 1875 foi sujeito a anisocronias 8 o tempo narrativo é menor que o tempo da história), conseguidas através do recurso a resumos e elipses. Resumos ou sumários

Noção: redução do tempo da história, por síntese dos factos ocorridos. Exemplo:

«Seu pai morreu de súbito, ele teve que regressar a Lisboa. Foi então que conheceu D. Maria Eduarda Runa, filha do conde de Runa, uma linda morena, mimosa e um pouco adoentada. Ao fim do luto casou com ela. Teve um filho, desejou outros; e começou logo, com belas ideias de patriarca moço, a fazer obras no palacete de Benfica, a plantar em redor arvoredos, preparando tectos e sombras à descendência amada que lhe encantaria a velhice.» (Cap. I)

É através de sumários que ficamos a conhecer.

- Juventude, exílio e casamento de Afonso; - Crescimento, educação, crises e aventuras amorosas de Pedro; - Formação universitária e aventuras românticas de Carlos. Elipses

Noção: omissão de alguns factos ou mesmo de alguns períodos da história. Exemplos: «Outros anos tranquilos passaram sobre Santa Olávia. Depois uma manhã de Julho, em Coimbra…» «Mas, passado ano e meio, num lindo dia de Março, Ega reapareceu no Chiado». (Cap. III) Isocronias

Noção: tentativa de fazer corresponder o tempo narrativo ao tempo da história. Objectivo: realçar a importância de determinado facto.

Processos: - Utilização do discurso directo; - Descrições pormenorizadas de ambientes e de personagens. Exemplos: - Suicídio de Pedro; - O sarau; - O momento das revelações da verdadeira identidade de Maria Eduarda;- Etc.

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Tempo psicológico

A passagem do tempo influencia as personagens, não apenas no seu envelhecimento, mas também em mudanças comportamentais. Esse referencia l de mutações, que reflecte vivências e emoções das personagens, é o tempo psicológico. Exemplos:

• A noite em que Pedro da Maia se apercebeu do desaparecimento de Maria Monforte e o comunicou ao pai.

• As horas passadas no consultório, que Carlos considerava monótonas e «estúpidas».

• Carlos recorda o primeiro beijo que a condessa de Gouvarinho lhe dera: «O criado entrou com a bandeja – e Carlos, de pé junto da mesa, remexendo o açúcar no copo, recordava, sem saber porquê, aquela tarde em que a condessa, pondo-lhe uma rosa no casaco, lhe dera o primeiro beijo; revia o sofá onde ela caíra com um rumor de sedas amarrotadas… Como tudo isto era já vago e remoto.» (Cap. XVII)

• No último capítulo, Carlos e Ega visitam e contemplam o velho Ramalhete (em Janeiro de 1887) e reflectem sobre o passado e o presente; numa das suas intervenções, Carlos, com emoção e nostalgia, recorda, valorizando, o tempo aí passado:

«- È curioso! Só vivi dois anos nesta casa, e é nela que me parece estar metida a minha vida inteira!» (Cap. XVIII)

O Narrador Quanto à presença, o narrador d’Os Maias é heterodiegético, narra os

acontecimentos na 3ª pessoa. Quanto à ciência, a focalização é de dois tipos: omnisciente e interna.

A focalização omnisciente (= total conhecimento da diegese, caracteriza exaustivamente as personagens e os espaços e manipula o tempo segundo as suas opções ideológicas) predomina nos primeiros capítulos: renovação do Ramalhete; juventude de Afonso; educação de Pedro; suicídio de Pedro; formação de Carlos em Coimbra. A partir do capítulo IV, predomina a focalização interna (= contar a história de acordo com a capacidade de conhecimento de uma ou mais personagens – a informação é condicionada pela subjectividade e limitação de conhecimentos) sob o ponto de vista de algumas personagens, como Carlos e Ega, embora surja já no capítulo III sob a visão de Vilaça, quando visita santa Olávia. A focalização interna ganha particular significado com a visão de Carlos da Maia que dá um contributo fundamental na construção das personagens Afonso da Maia, Ega e Maria Eduarda. Pelos olhos Críticos de Carlos são dados a conhecer grande parte dos espaços sociais que a personagem passa a frequentar quando chega a Lisboa. A focalização interna de Ega ganha particular relevo nos episódios do jornal “A Tarde” e no sarau do teatro da Trindade.

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Índice 2º Período Sequência de Ensino Aprendizagem nº3…………………………………………………26 Texto Dramático…………………………………………………………………………27 Categorias do processo dramático…………………………………………………….27 Frei Luís de Sousa………………………………………………………………………30 Acto I……………………………………………………………………………………..30 Acto II……………………………………………………………………………………34 Acto III…………………………………………………………………………………..38 Espaço……………………………………………………………………………………40 Tempo…………………………………………………………………………………….42 Personagens principais……………………………………………………………………43 Características trágicas em Frei Luís de Sousa .................................................................. 45 Leitura simbólica de Frei Luís de Sousa:…………………………………………………46 Etapas em Frei Luís de Sousa…………………………………………………………….47 Características românticas em Frei Luís de Sousa ............................................................. 47 Sequência de Ensino Aprendizagem nº4………………………………………………….50 Alguns apontamentos sobre Os Maias………………………………………………51 O titulo: Os Maias………………………………………………………………………..51 O subtítulo: Episódios das Vida Romântica ....................................................................... 51 A Acção……………………………………………………………………………………53 O Espaço………………………………………………………………………………….57 O Tempo…………………………………………………………………………………..59 Tempo cronológico/tempo da história……………………………………………….59 Tempo narrativo/tempo do discurso…………………………………………………59 O Narrador……………………………………………………………………………….62

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3º Período

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O Jantar no Hotel Central

O jantar no Hotel Central é um episódio muito importante na relação que desempenha com a intriga principal: é aqui que Carlos vê pela primeira vez Maria Eduarda e é aqui também que nos é dado o retrato pormenorizado da sociedade lisboeta de então.

Eça de Queiroz criou este episódio no Hotel Central (capítulo VI), para focar mais um espaço social interior, tal como o Ramalhete. Este espaço social permite ao leitor, delimitar um nível de acção diverso do da intriga, este recolhe elementos preciosos que, mais tarde, lhe permitem resolver as duas questões mais relevantes: saber que ligação existe entre o nível da história e o do enredo, e relacionar a localização rigorosa dos Maias no que diz respeito ao preceito naturalista; ter uma visão clara dos elementos constitutivos da história que permitem integrar Os Maias no estatuto do roman-fleuve (romance-fresco), ligado ao polémico romance de família.

Este episódio favorece, de certo modo a obra, pois, Eça dá uma “radiografia” da situação do nosso país naquela altura, podendo assim criticar a situação financeira do país e a mentalidade limitada e retrógrada dos portugueses. Este também expõe alguns problemas discutidos, em jantares das classes mais abastadas e influentes, tais como, a Literatura, a Crítica literária, finanças e a história e política de Portugal, caricaturando, de certa forma, o ponto de vista dessas classes de alta burguesia através do modo diletante como se pronunciam sobre as diversas questões. Eça, com esta reunião com elementos fulcrais da sociedade, retrata uma Lisboa que se esforça para ser civilizada, mas que não resiste e acaba por mostrar a sua falta de cultura.

Hotel Central

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Relação com a intriga principal

- O jantar é uma festa de homenagem de Ega ao banqueiro Cohen; - Primeira reunião social da elite lisboeta em que Carlos participa; - Alencar reconheceu Carlos como filho de Pedro, seu amigo; - Primeiro “encontro” de Carlos com Maria Eduarda.

Aspectos da sociedade portuguesa criticados

- O estado deplorável em que se encontram as finanças publicas: irresponsabilidade e incompetência do responsável pelo banco nacional (Cohen); - Eterno endividamento do país e consequente necessidade de reformas (defende Ega); - Mentalidade retrógrada.

Ambiente que transparece da alta sociedade lisboeta

- Ociosidade; - Futilidade; - Valorização do que é estrangeiro.

Estéticas literárias em confronto - Ega defendia o Realismo/Naturalismo, envolvendo-se em disputa verbal e física com Alencar (protótipo do poeta ultra-romantico exagerado). - Alencar ataca ferozmente “a ideia nova”, dirigindo o seu ódio contra a nova estética literária do Realismo/Naturalismo.

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O Jantar em casa dos Gouvarinho

Na obra “Os Maias”, encontramos dois jantares em casa dos Gouvarinho, o primeiro situa-se no capítulo V.

Neste capítulo há a caracterização de uma certa camada social e da sociedade portuguesa em geral, principalmente a entrada interessante do Conde Gouvarinho, que é a personificação do político imbecil “O Conde passou os dedos pela testa, com um ar quase angustioso: não se lembrava de nada disso! Queixou-se logo amargamente da sua falta de memória. Uma coisa tão indispensável em quem segue a vida publica, a memória! E ele, desgraçadamente, não possuía nem um átomo”.

Outro jantar em casa dos Gouvarinho que assume grande destaque situa-se no capítulo XII, sendo este o jantar que vamos analisar de forma aprofundada.

O objectivo deste jantar (capítulo XII) é reunir a alta burguesia e aristocracia, apresentando a ignorância das classes dirigentes que revelam incapacidade de diálogo e manifestam falta de cultura, “Os desconfortos da vida, segundo ele, tinham começado com a libertação dos negros”.

Durante o jantar, Gouvarinho e Sousa Neto discutem. Sousa Neto desconhece o sociólogo Proudhon, é deputado, não entra nas discussões e acata pacificamente as opiniões alheias. Defende a imitação do estrangeiro, acompanha as conversas sem intervir e defende a literatura de folhetins, de cordel.

O jantar em casa do Conde Gouvarinho permite através das falas e atitudes das personagens, mostrar a degradação dos valores sociais, “Isto é um país desgraçado”, o atraso intelectual do país, “Creio que não há nada de novo em Lisboa, minha senhora, deste a morte do Senhor D. João VI”, a mediocridade mental de algumas figuras da alta burguesia e da aristocracia, principalmente o Conde Gouvarinho e também Sousa Neto, “Durante um momento o Sr. Sousa Neto ficou desorganizado”. Estas personagens emitem duas diferentes opiniões sobre a educação da mulher, a do Conde Gouvarinho, “o lugar da mulher era junto do berço, não na biblioteca…” e a do Sousa Neto, “Uma senhora, sobretudo quando ainda é nova, deve ter algumas prendas”.

Sousa Neto é representante da administração pública e demonstra-se superficial nas suas intervenções. Eça usa Sousa Neto para mostrar como se encontra a cultura dos altos funcionários do estado, “E de repente calou-se, embaraçado, levando a chávena aos lábios”. O exemplo disso é quando Ega percebe que Sousa Neto não sabe nada sobre o socialismo utópico de Proudhon, “Sr. Sousa Neto, sabe o que diz Proudhon? Não me recordo textualmente, mas…”, e que nem é capaz de manter um diálogo decente, “É meu costume, Sr. Ega, não entrar nunca em discussões, e acatar todas as opiniões alheias, mesmo quando elas sejam absurdas”. Sousa Neto ainda manifesta a sua curiosidade e interesse em relação

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aos países estrangeiros, mostrando o seu aprisionamento cultural confinado ás terras portuguesas.

Moda

Eça faz referência às vestimentas de algumas personagens, tal como mencionámos anteriormente, no jantar do Hotel central, pois, era uma forma de criticar aquilo que personagem simbolizava no enredo.

Em relação aos homens, estes usavam paletós, fatos e botas, “encontrou o Ega no seu quarto, metido num fato de cheviote claro”, “ deu um olhar descontente ao seu jaquetão claro e às botas com mau verniz”, “acabando de abotoar o paletó”. O monóculo era um acessório que fazia parte da rotina dos homens daquela época, “Ega de monóculo no olho”, que também possuíam barba e bigode, “Passou uma escova pelo bigode”, “um cavalheiro alto, grave, com uma barba rala”.

As mulheres eram requintadas, finas e vaidosas, usavam vestidos, jóias, luvas, leques e chapéus, “A condessa vestida de preto, com uma tira de veludo em volta do pescoço, picada de três estrelas de diamantes”, “perguntou ela, abrindo o seu grande leque preto” e “sentada no sofá, de chapéu, tirando as luvas”.

Os momentos de maior destaque são:

- O grande passo que se deu em frente na relação entre Carlos e Maria Eduarda.

- A intromissão de Dâmaso, cuja mesquinhez não pressagia nada de bom.

- O plano de vida de Carlos, que se supõe estável ao lado de Maria Eduarda.

- A atitude puramente romântica de Carlos face a Maria Eduarda

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Relação deste episódio com a Intriga principal

Ega regressou a Lisboa de uma viagem com os Gouvarinhos e queria saber como ia o namoro de Carlos com a Condessa, por isso, transmitiu-lhe o convite para jantarem na segunda-feira na casa dos Gouvarinhos.

Antes de ir para o jantar Carlos teve com a condessa, mas esse encontro não foi muito agradável, devido a beijos frios e recriminações inúteis. A caminho do jantar Ega pergunta a Carlos o que é que significava para ele aquele namoro com a condessa brasileira, mas Ega já tinha ouvido uma versão do Dâmaso que não era muito explícita. Carlos abre-se um pouco com amigo, mas não conta os seus verdadeiros sentimentos em relação à brasileira. No jantar, Carlos, fica com receio de Dâmaso e da condessa Gouvarinho, porque eles tentam esclarecer a relação que Carlos tem com a brasileira, mas ele consegue desviar as suspeitas, que vai originar uma manhã de forçado amor com ela no dia seguinte.

No dia seguinte Carlos vai para casa da condessa brasileira, que se chama Maria Eduarda para conversar com ela, e é ai que Carlos tem a certeza que os sentimentos que ele sente por ela são correspondidos. A conversa é interrompida com a chegada do Sr. Dâmaso, mas Maria Eduarda recusa-se a recebê-lo. Retomou-se a conversa e foi a ai que Maria Eduarda deu a perceber a Carlos que gostava de ter uma casa no campo, com um simples quintal, para que rosa pudesse brincar.

Carlos ficou logo com a ideia de comprar ao Craft as suas colecções, e também aluga-lhe a casa por um ano, e dá conta a Maria desse projecto onde ela iria passar o Verão numa bela quinta dos Olivais. Esta foi uma maneira de Carlos confessar o seu amor e saber que ele é correspondido. É ai que Carlos percebe que aquele amor iria ser definitivo.

No dia seguinte, tudo fica arrumado com o Craft, e é com euforia que Carlos anuncia as boas novas primeiro a Rosa, e a Maria Eduarda depois, afastando a hipótese de ser ela a pagar o aluguer da casa.

De isto tudo, Ega que sempre ouvira as confissões das aventuras de Carlos, não lhe disse uma palavra sobre o assunto, pois percebeu que aquele caso é em tudo diferente dos anteriores.

Os serões no Ramalhete

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Ao longo de todo livro d’Os Maias, podemos presenciar algumas actividades de lazer de famílias abastadas no século XVIII, tais como, corridas de cavalos, idas a teatro, jantares sociais e até serões no Ramalhete, à noite ou depois de almoço, onde senhores, como Afonso Maia, D. Diogo, General Sequeira, Vilaça, Carlos Maia, Marquês, Cruges, conde Steinbroken, o Silveirinha (o Eusebiozinho de Sta. Olavia) e mais tarde juntaram-lhes Craft e João Ega.

Passavam o seu tempo, jogando bilhar, xadrez e às cartas – partidas de whist, “No escritório de

Afonso da Maia ainda durava, apesar de ser tarde, a partida de whist … No Ramalhete, depois do almoço…Afonso da Maia e Craft jogavam uma partida de xadrez ao pé da chaminé já sem lume…”, fumando charutos, a sua “consolação de derrotas”, bebendo água casada, punch e chá, tocando piano, fazendo apostas e negócios pequenos, “Os senhores são muito viciosos, vou ver a gente do bilhar, disse Carlos. Deixei o Steinbroken engalfinhado com o marquês, a perder já quatro mil réis. Querem o punch aqui? … Era uma negociação que havia semanas se arrastava entre eles, a respeito duma parelha de éguas…”, discutindo literatura e questões políticas, criticando outros homens e mulheres por suas atitudes e opiniões, “Um asno, um caloteiro! disse o marquês com nojo…”, relembrando episódios e pessoas do passado, “Afonso interessara-se ansiosamente por aquela pneumonia; e agora estava realmente agradecido à Marcelina por ter sido salva por Carlos. Falava dela comovido … Depois falou-se do duelo do Azevedo da Opinião com o Sá Nunes…”.

Eça de Queirós utilizou o Ramalhete como palco dos mais importantes episódios da família Maia, era a residência desta família em Lisboa, situada na Rua de S. Francisco, às janelas verdes. Esta casa liga-se à decadência nacional da época, onde são descritas as salas de convívio e de lazer, o escritório de Afonso que se assemelha a “uma severa câmara de prelado”, o quarto de Carlos que era parecido a um “quarto de bailarina” e o jardim que era repleto de simbolismos.

Durante estes serões no Ramalhete não se faz muita referência ao traje das personagens, mas Eça descreve por vezes os seus vestuários para realçar a crítica ao que a personagem representa na história, como por exemplo, acerca do conde Steinbroken Eça descreve-o como “homem do norte aferrado ao dinheiro, conservava-se correcto, encostado ao taco, sorrindo, sem desmanchar a sua linha britânica, – vestido como um inglês, inglês tradicional destampa, com uma sobrecasaca justa de manga um pouco curta, e largas calças de xadrez sobre sapatões de tacão raso”, ou sobre Euzebiosinho de Sta.Olávia, “afogado numa gravata de viúvo de merino negro e sem colarinho… com as mãos enterradas nos bolsos – tão fúnebre que tudo nele parecia complemento do luto pesado, até o preto do cabelo chato, até o preto das lunetas de fumo”.

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Sarau do teatro da Trindade

O episódio consta no capítulo VXI e caracteriza-se pela superficialidade dos temas das conversas, a insensibilidade artística, a ignorância dos dirigentes, a oratória oca dos políticos e os excessos do Ultra-Romantismo.

Este episódio tinha como objectivos, ajudar as vítimas das inundações do Ribatejo; apresentar um tema querido da sociedade lisboeta: a oratória; reunir

novamente as várias camadas das classes mais destacadas, incluindo a família real; criticar o ultra-romantismo que absorvia o público e contrastar a festa com a tragédia.

As Corridas no Hipódromo

Este episódio representa também um novo contacto de Carlos com a alta sociedade lisboeta (incluindo o Rei) e representa o seu olhar crítico sobre essa mesma sociedade. Acaba por ser mais uma tentativa frustrada de igualar Lisboa às capitais

europeias, sobretudo a Paris, a capital francesa o que denunciava a mentalidade provinciana do povo português. Apresenta o cosmopolitismo (falso) da sociedade e mostra a desilusão de Carlos que acabara por não encontrar a figura feminina que vira à entrada do Hotel Central (Maria Eduarda).

Essa imitação é sintomaticamente reprovada, por Afonso da Maia, para quem “o verdadeiro patriotismo, talvez (...) seria, em lugar de corridas, fazer uma boa tourada”.

Este episódio tem lugar num domingo à tarde, em que Carlos no seu faetonte com Craft decidem ir ver as corridas que decorrem durante dois dias no Hipódromo em Belém.

Para os lados do Hipódromo, suponha-se um ambiente festivo “...já estalando foguetes”. Era um dia quente, ensolarado com uma massa poeirenta no ar, “Era um dia já quente, azul-ferrete, com um desses rutilantes sóis de festa que inflamam as pedras da rua, douram a poeirada baça do ar, põem fulgores de espelho pelas vidraças, dão a toda a cidade essa branca faiscação de cal, de um vivo monótono e implacável, que na lentidão das horas de Verão cansa a alma, e vagamente entristece.”..

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Neste episódio é de destacar o ambiente. Este deveria ser requintado mas torna-se um espelho da falta de gosto e de educação dos participantes. São alvos da critica queirosiana os seguintes aspectos:

- A falta de coerência entre o traje e a ocasião, o que fazia com que alguns cavalheiros se sentissem “embaraçados” e quase arrependidos do seu chic e com que as senhoras se apresentassem com “vestidos de missa”;

- O desinteresse generalizado;

- O espaço inadequado (entrada, as tribunas e o bufete);

- A desordem, a pancadaria e os insultos.

Relação deste episódio com a Intriga principal

- Carlos assiste às corridas com um único objectivo: ver Maria Eduarda, uma vez que se tratava de um acontecimento social;

- Ega, por seu turno, estava em Celorico e não participou nas corridas.

Aspectos da sociedade portuguesa criticados

- A sociedade lisboeta, num desespero de cosmopolitização, resolve promover um espectáculo que tem a ver com as tradições culturais do país; - É criticado o mau gosto postiço; - Tentativa de igualar à Europa e de estabelecer contacto com a alta sociedade.

Caracterização de Carlos da Maia

É o protagonista da história. É rico, bem-educado, culto, de gostos requintados e deveria encarnar o resultado de uma educação inglesa (ao contrario de seu pai). De facto é um gentlman, não teme o esforço físico, é corajoso e frontal. Amigo do seu amigo, generoso, afigura-se incapaz de uma canalhice, ao contrário de muitas personagens que o rodeiam. Sofre, no entanto, do diletantismo (incapacidade de se fixar num projecto sério). Os seus princípios morais toleram a sordidez do incesto, cuja ideia so respeita por repulsa física. Nos amores, foi sempre leviano.

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Com esta personagem, Eça terá querido personificar o seu ideal de juventude, a de Homem que fez a Questão Coimbrã e as Conferências de Casino e que acabou na geração dos vencidos da vida.

Aspectos relevantes da prosa Queirosiana ¤ Discurso indirecto livre: evita o abuso excessivo dos verbos introdutores do

diálogo, contribui para o tom oralizante, e confunde o leitor, propositadamente, para tornar as críticas feitas pelas personagens mais convincentes e persuasivas; criticas essas que são bem mais do que isso: são comentários do próprio Eça;

¤ Ironia; ¤ Hipálages, metáforas, onomatopeias, sinestesias, gradações, personificações,

repetições, comparações; ¤ Adjectivação; ¤ Diminutivo; ¤ Neologismos, estrangeirismos; ¤ Nome (“um cansaço, uma inércia...” – nome abstracto, com vários

significados); ¤ Verbo (“ele rosnou...”) – preferência pela fórmula gerúndio + conjugação

perifrástica para dar uma ideia de continuidade e muitas vezes, de arrastamento, no sentido de aborrecido;

¤ Advérbio de modo

Personagens

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Figurantes

Dão fisionomia ao espaço social em que se inserem, Documentam os hábitos, os vícios, a mentalidade, a ignorância de uma sociedade decadente. São normalmente dotados de esvaziamento psicológico e há desvalorização de elementos individualizantes, em benefício do realce; vícios, mentalidades, atitudes culturais.

Por oposição à personagem redonda, a personagem plana revela: � Ausência de densidade psicológica. � Ausência de atitudes inovadores. � Tiques, trejeitos, pormenores físicos � Sistematicamente repetidos sempre que intervêm

na acção...

☺ Eusebiozinho ¤ Identifica-se com a educação tradicional

"Quase desde o berço este notável menino revelara um edificante amor por alfarrábios (...). Ainda gatinhava e já a sua alegria era estar a um canto (...) curvado sobre as letras (...) da boa doutrina; e depois de crescidinho tinha tal propósito que permanecia horas imóvel numa cadeira (...) nunca apetecera um tambor ou uma arma. (...) tinha a sua carreira destinada: era rico, havia de ser primeiro bacharel, e depois desembargador."

☺ Alencar

¤ Representa o ultra-romantismo hiper sentimental, solene, exagerado. Surge na trama desde a Juventude de Pedro da Maia. Caracteriza-se pelas suas atitudes, modo de falar (adjectivos que lhe aplica o narrador - caricato, exagerado, langoroso, plangente, turvo e fatal), frases ressoantes, gosto cantante e arrastamento de frases. Nas suas posições estético-ideológicas confunde a arte e a moral.

" O naturalismo (...) ameaçava corromper o pudor social? (...). Ele Alencar, seria o paladino da Moral, (...)."

☺ Conde de Gouvarinho ¤ Representa o poder político, a retórica oca, o colonialismo, a estreiteza de

vistas.

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¤ “ (…) Progresso social nas colónias – fundação de um teatro lírico em Luanda. (…) Ginástica no colégio para quê? (…) As mulheres devem ser boas mães e a sua única prenda literária deve ser Feuillet."

¤ O seu nível de cultura era muito baixo, mas mesmo assim é dos melhores

políticos que existiam em Portugal nessa altura.

☺ Sousa Neto (conselheiro) ¤ Representa a Administração Pública.

Muito próximo do Gouvarinho; a ignorância, a incapacidade para o diálogo interessante e proveitoso.

" - Vossa Ex.ª de certo, Sr. Sousa Neto, sabe o que diz Proudhom? – Não me recordo textualmente, mas... – Em todo o caso vossa Ex.ª conhece perfeitamente o seu Proudhom? O outro, muito secamente não gostando decerto daquele interrogatório, murmurou que Proudhom era um autor de muita nomeada" Era " - Oficial superior de uma grande repartição do estado! – De qual? – Ora de qual! De qual há-de ser?.... Da Instrução Pública!"

☺ Palma Cavalão (jornalista) ¤ Representa o jornalismo, a sordidez dos meios jornalísticos portugueses, a

corrupção, a falta de dignidade profissional (princípios deontológicos). Anda sempre na companhia de Eusebiozinho, levam prostitutas espanholas a Sintra.

"Oh! Eusebiozinho! (...) Era ele, (...) acabando de almoçar, com duas raparigas espanholas. (...) Uma das espanholas era um mulherão trigueiro, (...) a outra, muito franzina, (...) vestiam de cetim preto e fumavam cigarro. (...) havia um outro sujeito, gordo, baixo, sem pescoço (...). Eusebiozinho apresentou o seu amigo Palma..." “ (...) o bom Palma estava furioso com o cavalheiro que lhe encomendara o artigo, por divergência na seríssima questão de pecúnia. De sorte que apenas ele propôs comprar a tiragem do jornal – o jornalista estendeu logo a mão larga, (...)"

☺ Steinbroken

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¤ Representa a diplomacia. Visão oca, palavras inofensivas que nada querem dizer.

¤ Tem uma voz de tenor. Não funciona segundo os esquemas mentais lisboetas.

"E que dizia o amigo Steinbroken às notícias da manhã? (...) – A queda de Mac-Mahon, a eleição de Grevy... (...). - É grave... é excessivamente grave..."

☺ Dâmaso Salcede ¤ Uma galeria de vícios. ¤ Repugnante física e moralmente. Invejoso, cobarde, intriguista, caluniador,

estúpido, exibicionista. ¤ Não se vincula a nenhuma profissão ou esquema cultural definido

"Dâmaso era interminável (...) a falar das suas "conquistas", naquela sólida fascinação (...) de que todas as mulheres, (...) sofriam a fascinação da sua pessoa (...). E em Lisboa (...) era exacto. Rico (...), com "coupé" e parelha, (...)"Tinha prestígio a valer". Desde moço fora célebre (...) por casas a espanholas; (...) e este fausto excepcional tornara-o bem depressa o D. João V dos prostíbulos"

☺ Taveira ¤ Representa a ociosidade crónica dos funcionários públicos.

" - Duas horas e um quarto! – exclamou Taveira (...). - E eu aqui, empregado público, tendo deveres para com o Estado, logo às dez horas da manhã. - Que diabo se faz no tribunal de contas? (...). Joga-se? Cavaqueia-se? - Faz-se um bocado de tudo, para matar tempo... Até contas!"

☺ Neves (Jornal “A Tarde”)

¤ Colega do Palma Cavalão. Os interesses políticos e a verdade da informação.

“...- O Dâmaso. (...) O Dâmaso, nosso amigo político! (...) - O Dâmaso Salcede (...). – O meu é o Guedes (...) Não há outro! (...) Irra, que me assustaste! (...) Não é um gordalhufo, um janota? (...). Perfeitamente, ás ordens..."

☺ Mulher do Cohen; Condessa de Gouvarinho ¤ Representantes femininos são encaradas como uma decoração da sociedade.

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☺ Cruges

¤ Talento artístico com uma ponta de génio

" O marquês, uma noite, levara-o ao Ramalhete, dizendo (...) que estava ali um génio. (...) encantara logo todo o mundo pela (...) sua arte maravilhosa ao piano; e todo o mundo começou a tratar Cruges por maestro, a falar também do Cruges como de um génio, (...)."

¤ Tímido, sem à vontade na sociedade mundana, influenciado pelos

condicionamentos do meio, idealiza música que nunca compõe porque não tem quem lha oiça e compreenda

“Um grande maestro, o Cruges. (...) e era composição dele, aquela coisa triste? - É de Beethoven (...) a "Sonata Patética". Uma das Pedrosos não percebera bem o nome da sonata. E a marquesa de Sou tal (...) disse que era a "Sonata Pateta"."

☺ Craft

¤ Formação britânica.

" (...) homem baixo, louro, de pele rosada e fresca, e aparência fria. Sob o fraque correcto percebia-se uma musculatura de atleta."

¤ Distanciamento e superioridade em relação à mentalidade e valores culturais

da sociedade portuguesa da Regeneração. ¤ É rico, pode dar-se ao luxo de não fazer nada. ¤ A degradação do meio em que vive acaba por influencia-lo.

“ (...) carrega demais nos álcoois."

☺ Cohen ¤ Representante da alta finança.

" (...) Cohen, hás-de conhecer, um que é director do Banco Nacional... (...) é uma besta (...)."

A Intriga Principal: A intriga do incesto

Acontecimentos Fases Núcleos principais - Carlos vê Mª Eduarda (Hotel - Aparição Indicadores

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Central) - Carlos visita Rosa - Carlos conhece Mª Eduarda

1ª Percepção que remetem - Procura para a tragédia - Encontro final

- Declaração de Carlos - Consumação

2ª Consumação - Incesto

- Encontro de Maria Eduarda com Guimarães; - Revelações de Guimarães - Revelações de Ega e Carlos - Revelações de Carlos a Afonso - Incesto consciente - Encontro de Carlos com Afonso - Morte de Afonso - Revelações de Mª Eduarda - Partida de Maria Eduarda

3ª: Conclusão

- Separação

Indícios que remetem para a Tragédia Final

• Coincidência do nome (destino semelhante); • “Murcharam três lírios brancos” (morte de três gerações); • Cor vermelha (paixão).

Personagens da Intriga principal • Carlos/ Maria Eduarda: relação desejo/querer (baseada nas qualidades físicas e

nas irregularidades familiares.

• Ega: comparsa de Carlos, acompanha-o, apoia-o, confidente, consultor e por vezes crítico;

- Anti-sujeito (conhecedor do incesto, entra em conflito com Carlos, suportando-se em razões morais que sustentam a sua forma de estar na vida); - Representante do destino. Desencadeia os acontecimentos que levaram à tragédia.

Características trágicas da acção principal

1. Superioridade: física e intelectual das personagens principais (Afonso, Carlos, Mª. Eduarda)

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2. O papel do destino da fatalidade e dos indícios:

Destino Indícios (fatalidade)

- “Fatalmente marchando um para o outro” - “Irreparável destino” - “Implacável destino”

- “Eram sempre fatais aos Maias as paredes do ramalhete” - “Semelhanças entre os dois nomes” - “Agouros e lendas (…) pois fatais foram” - Carlos: “ Pareces-te com a minha mãe.” Presságio de um futuro negro através da trovoada que acompanha a primeira noite de amor de Carlos e Mª. Eduarda

3. Hybris (desafios): - Pedro desafia o pai e casa com Mª. Monforte.

- Carlos desafia os sentimentos e a sociedade (relação ilícita)

4. Pathos (castigo): - morte de Pedro - Educação e vida de Mª. Eduarda; - A fragilidade sentimental de Carlos

5. Anagórise (reconhecimento): - Encontro de Mª. Eduarda com Guimarães. - Revelação de Guimarães a Ega. - Revelação de Carlos a Afonso. 6. Clímax: Incesto

7. Catástrofe: - morte de Afonso - Morte psicológica de Carlos - Morte social da família Maia.

8. Catarse (purificação dos males): Viagens de Carlos e Ega e suas reflexões.

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Sequência de Ensino

Aprendizagem nº5

Temáticas abordadas por Cesário Verde

� Poetização do Real Capta as impressões do quotidiano

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� Com subjectividade e pormenor; � Com subjectividade, graças à imaginação transfiguradora, transpõe a

realidade numa outra.

� Binómio Cidade/Campo Poeta-pintor descreve:

� Da cidade, as ruas soturnas e melancólicas, com sombras e bulício, a melancolia, a monotonia, o “desejo absurdo de sofrer”;

� Do campo, a vida rústica, de canseiras, a sua vitalidade e saúde.

� Inovação da Arte Poética Modelo de naturalidade e de “sereno realismo visual”:

� Realista, escolhe as palavras que reflectem a realidade: � A poesia está implícita, disfarçada sob a observação da realidade.

� Questão Social Realismo de intenção basicamente naturalista:

� Anatomia do homem oprimido pela cidade; � Integração da realidade comezinha no mundo poético.

� Subjectividade do Tempo e a Morte � Cidade de homens vivos, mas mórbida, doente, febril; � Presença da dor, da miséria, da decomposição; � Atracção da morte; � Ameaça da peste.

� Humilhação � A humilhação sentimental – a mulher formosa, fria, distante e activa; � A humilhação estética – a revolta pela incompreensão que os outros

manifestam em relação à poesia; � A humilhação social – povo oprimido e abandonado.

Analise do poema “contrariedades”

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Espaço

Casa do poeta

“À secretária”

Quarto da Vizinha

“Defronte”

Lá Fora

“pela calçada abaixo”

Tempo Hoje: “Deu meia-noite”

Analepse: à tarde “oiço-a” Prolepse: “depois, eu rico e noutros climas”

Personagens

O poeta

“cruel, frenético, exigente”; revoltado… termina “sem

azedume”

A Vizinha

“pobre engomadeira”; tísica, dente dos pulmões; infeliz,

sozinha

O Populacho

“Diverte-se na lama”

Índice Índice

Críticas à sociedade: � Desumana; � Injusta; � Decadente; � Depravada; � Insensível; � Pouco solidária…

Críticas à imprensa

e aos jornalistas

Causas do estado de espírito: � A depravação nos usos e nos

costumes. � As injustiças da vida: � A doença que destrói a vizinha; o

abandono; a exploração do seu trabalho de engomadeira…

� Os jornais que recusaram a publicação dos seus versos.

Preocupação com a

vizinha

(“ir-se-á deitar sem ceia?”, “inda

trabalha”)

Resignação do

sujeito poético

(“estou melhor”, “passou-me a

cólera”)

� A crítica à sociedade insensível e desumana dos finais do séc. XX.

� A denúncia das injustiças. � A acusação: há no mundo falta de solidariedade.

� As redacções dos jornais ignoraram a crítica naturalista (“segundo o método de Taine”).

� A imprensa “vale um desdém solene”.

� Os seus leitores querem novelas adocicadas.

� Nas letras, há “um campo de manobras/Emprega-se a reclame, a intriga, o anúncio, a blague”.

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3º Período O Jantar no Hotel Central………………………………………………………………...65 Relação com a intriga principal………………………………………………………..66 Ambiente que transparece da alta sociedade lisboeta................................................ 66 Estéticas literárias em confronto………………………………………………………66 O Jantar em casa dos Gouvarinho………………………………………………………...67 Os serões no Ramalhete…………………………………………………………………..69 Sarau do teatro da Trindade………………………………………………………………71 As Corridas no Hipódromo……………………………………………………………….71 Aspectos da sociedade portuguesa criticados............................................................. 72 Caracterização de Carlos da Maia………………………………………………………...72 Aspectos relevantes da prosa Queirosiana………………………………………………..73 Personagens………………………………………………………………………………73 A Intriga Principal: A intriga do incesto…………………………………………………77 Indícios que remetem para a Tragédia Final ...................................................................... 78 Personagens da Intriga principal…………………………………………………………78 Características trágicas da acção principal……………………………………………….78 Sequência de Ensino80 Aprendizagem nº5………………………………………………80 Temáticas abordadas por Cesário Verde………………………………………………80 Analise do poema “contrariedades”…………………………………………………81

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Actos de Fala Um acto de fala não è uma simples frase, remetida apenas ao seu conteúdo linguístico, mas um enunciado que é determinado pelo contexto em que se realiza.

o Actos locutórios: são os simples actos de dizer alguma coisa, afirmando ou negando.

o Actos ilocutórios: são actos conversacionais que acontecem enquanto se reproduz o discurso, mostrando como deve ser compreendido no momento em que é produzido. É o caso de um conselho, uma ordem, um aviso…

Categorias básicas dos actos ilocutórios

o Actos assertivos: expressam a relação entre o locutor e a verdade do enunciado.

Ex.: O Carlos limpou a casa. O dia amanheceu cinzento.

NOTA: afirmar, negar, informar, descrever, concordar, discordar, responder são actos ilocutórios assertivos

o Actos directivos: o locutor pretende levar o interlocutor a realizar uma acção.

Ex.: Seria melhor fazeres o exame. Calem-se!

NOTA: perguntar, ordenar, pedir, implorar, convidar, permitir, aconselhar, avisar, atrever-se a …, desafiar são actos ilocutórios directivos.

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Actos compromissivos: o locutor compromete-se com o desenrolar futuro de uma acção expressa no enunciado.

Ex.: Comprometo-me a estar atento nas aulas. Ser-te-ei fiel para sempre.

NOTA: prometer, comprometer-se, garantir; assegurar, afiançar, jurar, apostar, etc. são actos ilocutórios compromissivos.

Actos Expressivos: ao expressar as suas atitudes ou o seu estado psicológico, o locutor efectua um acto expressivo.

Ex.: Bom-dia! Estás linda!!!

NOTA: agradecer, congratular, pedir desculpa, dar boas-vindas, apresentar condolências, felicitar são actos ilocutórios expressivos.

o Declarações: a declaração coloca directamente locutor em termos de poder criar a realidade, isto é, de fazer com que o universo de referência coincida com o contudo do enunciado.

Ex.: declaro-vos marido e mulher. (é uma declaração, se o enunciado for proferido pelo oficial de registo ou pelo padre).

o Declarações assertivas: o locutor, pelo seu estatuto social ou profissional, esta em condições de criar uma nova realidade (como nas declarações), mas surge directamente implicado na verdade do enunciado que produz.

Ex.: esta resposta esta errada. (é uma declaração assertiva se o enunciado for proferido, por exemplo, por um professor).

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Referência deíctica Entende-se por deixis o fenómeno de referenciação que permite estabelecer a relação formal de enunciação de uma mensagem por um sujeito, num espaço e num tempo.

o Deixis pessoal: assinala os papéis dos participantes no acto comunicativo.

(a deixis pessoal é assinalada através dos pronomes pessoais e possessivos

Flexão verbal) Ex. Eu falo. (1ª pessoa) Tu dizes. (3ª pessoa) Estudamos. (3ª pessoa plural)

o Deixis Temporal: aponta para o momento da enunciação (deícticos temporais: tempos verbais, locuções adverbiais, temporais e advérbios temporais.

Ex.: Ontem fui a Viseu.

o Deixis espacial: indica o espaço da enunciação, especificando a localização a partir de um ponto de referência. (deícticos espaciais: advérbios e locuções adverbiais de lugar e demonstrativos)

Ex. Ele caiu ali. Traz esse livro.

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Relações entre palavras

Rel

açõe

s en

tre

pala

vras

Relações de hierarquia

o Hiponimia: (restrito) ex. o cão; rosa o Hiperonimia: (geral) ex.: mamífero; flor

Relações de inclusão:

o Holonímia: (todo) ex. Carro; casa o Meronímia: ( parte) ex. volante; cozinha

Relações de oposição: Antonímia o Antonímia contraditória : vivo/morto; presente/ausente. o Antonímia contrária ou graduável: quente/ frio (morno)

Alto/baixo (médio) o Antonímia conversa: pai/filho; senhorio/inquilino

Relações de equivalência: sinonímia

o Sinonímia total: marido/esposo; falecer/morrer o Sinonímia parcial: casa/ habitação; mulher senhora

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Funções Sintácticas

1. Sujeito: é o ser ou aquilo sobre o qual se faz uma afirmação.

o Simples: Eu sou teu amigo. Tipos de sujeito

o Composto: Eu e tu somos amigos. o Nulo Subentendido: Estou calado nas aulas.

Indeterminado: Diz-se que o FCP vai ser campeão!

o Expletivo (inexistente): Ontem choveu!

2. Predicado:

o Verbos transitivos directo/indirecto: O Carlos ofereceu um anel á Liliana.

Verbal o Verbos intransitivos (não precisam de

complemento): Os dias arrefeceram.

Predicado

Nominal: com um verbo copulativo (ser, estar, confirmar,

permanecer…) ou de ligação (precisa de ser acompanhado de um predicativo activo)

Ex.: A Beatriz é inteligente.

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Predicado: = grupo verbal + modificadores Directo, Indirecto Verbo + complementos Adverbial Proposicional Predicado

Eu moro aqui. Complemento adverbial.

Modificador adverbial

Predicado

O João ofereceu uma flor á Rita, ontem, na escola.

Grupo verbal modificador preposicional

Complemento indirecto

3. Complementos do campo Verbal: (são obrigatórios) pertencem ao grupo verbal e ao predicado. Sem eles a frase não teria sentido.

☺ Agente da Passiva: As batatas foram comidas pelo Carlos.

☺ Adverbial: Ela mora aqui. Complementos

☺ Directo: Ele entregou as fotografias

☺ Preposicional: A Carla foi a Paris.

☺ Indirecto: Ele deu um anel á Beatriz

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4. Modificadores do campo verbal: (são facultativos) a frase sem eles tem sentido. Fazem parte do predicado.

☺ Preposicional: O Renato levou a porca a passear no

jardim. Modificadores

☺ Adverbial: Ele encontrou o Carlos na escola ontem.

5. Modificador adverbial de frase: não faz parte do predicado. É a atitude do falante relativamente ao enunciado.

Ex.: Obviamente, o FCP é o melhor clube do mundo!

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Classe e subclasse das palavras

1. Nome: Palavra variável que designa seres reais ou acções, qualidades e estados em abstracto

.

Masculino gato

Género

Feminino gata

Singular

gato / gata

Número

Plural gatos / gatas

Normal gato

Aumentativo gatarrão

Nomes

Variáveis

Dizem-se variáveis os nomes que admitem mudança de género e grau e flexão em número.

Grau

Diminutivo gatinho

Quanto ao género

Epiceno

Nomes de animais que não sofrem contrataste em género.

a águia; a baleia, o corvo, o polvo Nota: para estabelecer contraste de género, juntam-se as palavras macho e fêmea: águia macho / águia fêmea

Sobrecomum

Nome que não sofre contraste em qualquer que seja o sexo da entidade referida.

a criança a vitima o individuo o cônjuge

Nomes

invariáveis

São invariáveis os nomes que não sofrem contrastes em género podendo referir entidades animadas ou não animadas.

Comum de dois

Nome ambíguo quanto ao sexo da entidade referida, desfazendo-se a ambiguidade através do contexto sintáctico.

o artista / a artista o estudante / a estudante o cliente /a cliente

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Subclasses do nome

Nome Próprio João

Concreto / Abstracto a janela / a beleza Contável / Não contável uma árvore / a areia

Nome Comum

Colectivo O cardume

Animado / Não animado

galo (animado) cadeira (não animado) prazer (não animado)

Nome Humano / Não humano

Maria (humano) relógio (não humano) galo (não humano)

2. Adjectivos: Palavra que se junta a um nome para o caracterizar, descrevendo qualidades, propriedades ou determinando circunstâncias. É por isso, um modificador do nome.

Masculino estudioso Género

Feminino estudiosa Singular lindo / linda Número

Plural lindos / lindas

� Normal belo � Comparativo de superioridade de igualdade de inferioridade

mais belo que tão belo como menos belo que

Adjectivos

biformes (variáveis)

Dizem-se biformes os adjectivos que admitem mudanças de género, grau e flexão de número.

Grau

� Superlativo absoluto sintético analítico relativo de superioridade de inferioridade

belíssimo muito belo o mais belo o menos belo

Adjectivos uniformes (invariáveis) – os que não admitem contraste de género. Alguns não aceitam, também, mudança de grau

Doce, inteligente, persa, azul, afável, virgem, … atmosférico; ruminante

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Subclasses do adjectivo

Adjectivo

Qualificativo

Exprime uma qualidade, surgindo como atributo do grupo nominal que complementa ou que modifica. Pode aparecer em posição pré-nominal ou pós-nominal. Tem flexão em género, numero e grau.

belo, inteligente, …

Adjectivo Numeral

Pertence à tradicional classe dos numerais ordinais. Aparece sempre em posição pré-nominal; pode também ser antecedido de determinantes: artigos, demonstrativos e possessivos.

primeiro, segundo, …

Formações particulares e irregulares de comparativo s e superlativos

Superlativo

Grau normal

Comparativo de

superioridade

Absoluto Relativo

bom mau grande pequeno

melhor pior maior menor / mais pequeno do que

óptimo péssimo máximo mínimo

o melhor o pior o maior o menor

Grau normal Comparativo Superlativo

alto baixo interno externo

superior inferior interior exterior

supremo ínfimo íntimo extremo

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3. Advérbios:

De negação Não, nunca, nada, jamais, menos, nem … De lugar

Aqui, aí, ali, acolá, além, aquém, abaixo, acima, fora, dentro, perto, longe, atrás, detrás, diante, adiante, algures, antes, onde …

De tempo

Agora, ainda, amanhã, antes, breve, cedo, depois, então, hoje, já, jamais, logo, nunca, ontem, outrora, sempre, tarde, …

Adjuntos

De modo

Aliás, assim, bem, como, debalde, depressa, devagar, mal, melhor, pior, e muitos terminados em – mente: amavelmente, …

Disjuntos (com valor de afirmação, dúvida ou outra forma de orientação para a atitude do falante)

Certamente, efectivamente, naturalmente, possivelmente, realmente, provavelmente, felizmente, francamente, obviamente…

Conectivos (com uma função de conexão entre elementos físicos)

Assim, contrariamente, consequentemente, depois, especificamente, finalmente, melhor, nomeadamente, primeiramente, primeiro, seguidamente, segundo, …

4. Preposições

Preposição simples

Locução prepositiva

a ante após até com contra de desde

em entre para perante per, por sem sob sobre

Trás (conforme) (consoante) (durante) (excepto) (mediante) (salvo) (segundo)

abaixo de acerca de a fim de além de antes de ao lado de ao pé de ao redor de

apesar de a respeito de atrás de através de defronte de depois de em cima de em direcção a

em torno de em vez de junto de graças a para com perto de por causa de …

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Recursos estilísticos

Alegoria

«Proposição de duplo sentido, com um sentido literal e um sentido espiritual todos juntos»; pode apresentar-se como uma forma de metáfora ou imagem que associa uma realidade abstracta a um termo metafórico. Estabelece dois planos: o da realidade e o do pensamento. (a associação de imagens no Sermão de Santo António aos Peixes, do padre António vieira, constitui uma alegoria.) Vós, diz Cristo, senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. […] (Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes)

Aliteração

Repetição insistente do mesmo fonema ou de fonemas semelhantes, para intensificar o ritmo e provocar uma certa harmonia expressiva ou imitativa. É lá que se vêem os cabelos claros cor de trigo. (Eça de Queirós) Na messe, que enlouquece, estremece a quermesse (Eugénio de Castro)

Anacoluto

Alteração da construção sintáctica no meio do enunciado, para adopção de uma outra, de acordo com um novo pensamento. Eu, que cair não pude neste engano (Que é grande dos amantes a cegueira), Encheram-me, com grandes abondanças, O peito de desejos e esperanças (Camões)

Anáfora

Figura de sintaxe que consiste na repetição de uma palavra ou expressão no início de diferentes versos (ou frases, ou períodos…). Pela insistência, põe-se em destaque o que se repete. É brando o dia, brando o vento. É brando o Sol, brando o céu. Assim fosse meu pensamento! Assim fosse eu, assim fosse eu! (Fernando Pessoa)

Anástrofe ou Inversão

Alteração da ordem natural das palavras na frase, por anteposição do determinante ao determinado. Estas sentenças tais o velho honrado Vociferando estava, […] (Camões)

Animismo Ver PERSONIFICAÇÃO

Antítese

Figura que consiste na utilização de termos contrários, aproximando-os e pondo-os em destaque, evidenciando desta forma o contraste entre duas ideias. Ali, àquela luz ténue e esbatida, ele exalava a sua paixão crescente e escondia o seu fato decadente. (Eça de Queirós)

Antonomásia

Substituição de um nome próprio por uma qualidade ou um epíteto, que o identifica ou define: Cessem do sábio grego e do troiano (Camões, Os Lusíadas, I, 3)

Apóstrofe

Invocação de alguém ou de alguma coisa (pessoas ausentes ou mortas, entre reais ou imaginários, coisa inanimadas…), normalmente sob forma exclamativa: Bem puderas, ó Sol, da vista destes, Teus raios apartar aquele dia./ […] (Camões)

Assídeto

Processo de encadeamento de enunciado, com supressão de elementos de ligação e, particularmente, de conjunções copulativas, produzindo um efeito «martelante» que confere ao discurso rapidez, força, energia: Sonho que sou um cavaleiro andante, Por desertos, por sóis, por noite escura, (Antero de Quental)

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Eu hoje estou cruel, frenético, exigente (Cesário Verde)

Assonância

Aproximação ou conformidade fonética entre vogais tónicas de palavras diferentes. É uma homofonia de sons vocálicos, que, muitas vezes, prolonga o efeito da rima. Enquanto a aliteração consiste na repetição de sons

consonânticos podendo ter uma função imitativa, a assonância recai sobre a repetição de sons vocálicos, podendo substituir o efeito da rima. Água fria fica quente Água quente fica fria Mas eu fico frio Sem a tua companhia (Manuel Bandeira)

Catacrese

Mudança da acepção de um nome, representando, com base numa pura analogia, um outro objecto ou, por vezes, confunde-se com a metáfora. Ex.: a perna da mesa; a folha de papel; dente de alho

Comparação

Figura que aproxima dois conceitos distintos, pondo em destaque as semelhanças que os unem. Pode servir-se de elementos gramaticais: como, como se, tal como, qual, assim como, parecer, lembrar, sugerir… … Eu toco a solidão como uma pedra (Sophia de Mello Breyner Andresen) O estabelecimento de analogias está na base de figuras como a imagem e a metáfora.

Disfemismo

(Opõe-se ao Eufemismo) Modo de expressar uma realidade desagradável de uma forma ainda mais rude e agressiva: Esticar o pernil; ir pra a sociedade dos pés juntos; bater a bota (em vez de morrer)

Elipse

Supressão de elementos do discurso, frásicos, vocabulares ou silábicos, de que resultam a rapidez, a sobriedade e espontaneidade do enunciado, logo a sua intensidade. No texto narrativo consiste na supressão de lapsos temporais mais ou menos longos. Os casos mais frequentes de elipse ocorrem com os verbos “ser” e “haver” e com a conjunção integrante “que”. No mar, tanta tormenta e tanto dano, Tantas vezes a morte apercebida; Na terra, tanta guerra, tanto engano, Tanta necessidade avorrecida! (Camões)

Enumeração

Apresentação de elementos em série. Se são do mesmo género, a enumeração é simples; se entre eles não há relação aparente, é caótica; se é apenas o último elemento da enumeração a revelar o aspecto comum que os aproxima, é recolectiva. Ocorrem-me em revista exposições, países: Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo! (Cesário Verde)

Epanadiplose Repetição semelhante à epanalepse, mas cujo emprego difere quanto à estrutura, pois implica duas proposições, e não apenas um (x…/…x). O natural é agradável só por ser natural (Fernando Pessoa)

Epanalepse Repetição de uma ou mais palavras em vários pontos do texto. E o ano acaba alguma coisa acaba acaba um homem para quem acaba uma viagem (Ruy Belo) São variantes da epanalepse: a anáfora, a epanadiplose e a epífora.

Epífora Repetição de uma mesma palavra ou grupo de palavras no final dos versos, das proposições ou frases. É uma repetição simétrica, em relação à anáfora. Não sou nada Nunca serei nada Não posso querer ser nada (Álvaro Campos)

Eufemismo Figura de estilo que atenua ou apresenta com delicadeza uma ideia mais desagradável. Tirar Inês ao mundo determina. (Camões)

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Exclamação Figura de pensamento (geralmente referenciada com um ponto de exclamação) que tem por objectivo intensificar e realçar a emoção. Meu amor! Meu amante! Meu amigo! Colhe a hora que passa, hora divina, Bebe-a dentro de mim, bebe-a comigo! Sinto-me alegre e forte! Sou menina! (Florbela Espanca)

Gradação Enumeração de elementos numa sequência determinada por uma ordem ascendente ou descendente, crescente ou decrescente. duro, seco, estéril monte… (Camões)

Hipálage

Figura de estilo do nível semântico pela qual atribuímos a certas palavras valores que pertencem a outras da mesma frase. Em geral, é um adjectivo que não diz respeito ao vocábulo a que se junta, mas a outro que o antecede. Na obra Os Maias, de Eça de Queirós, podemos encontrar imensos exemplos:

� O «gesto risonho» de Maria Eduarda, ao receber Carlos; � «Dá-me, cá esses ossos honrados» (Dâmaso dirigindo-se a Craft);

Hipérbato

Alteração violenta da ordem das palavras, pela transposição de algum membro da frase, criando intercalações. Aproxima-se da anástrofe. Serve para destacar um vocábulo ou expressão, para sugerir a beleza duma formulação. Que arcanjo teus sonhos veio Velar, maternos, um dia? (Fernando Pessoa) Casos que Adamastor contou futuros (Camões)

Hipérbole

Figura que consiste na utilização de termos excessivos (pelo exagero de qualidades, defeitos, acções ou capacidades); destaca uma realidade, exagerando-a. Se aquela mar foi criado num só dia, eu era capaz de o escoar numa só hora. Acredite. Era capaz de o beber só para me ver livre dele. (Agustina Bessa-Luís)

Imagem

Produto da imaginação ou do espírito que permite a representação sensível de uma ideia. Embora a metáfora, a comparação e a alegoria possam originar a imagem, esta é ampla e rica de sugestões. A metáfora é uma “falsa imagem” pois substitui conceitos, não os cria como a imagem. Abria em flor o Longe, e o Sul sidéreo (Fernando Pessoa) Para os vales, poderosamente cavados, desciam bandos de arvoredos (Eça de Queirós)

Interrogação

Retórica

Pergunta que se formula para se reforçar o que se está a dizer e não para obter uma resposta. Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho? (Camilo Pesssanha)

Ironia

Processo que sugere o contrário do que as palavras em si mesmas significam ou do que pensamos. Senhora de raro aviso e muito apontada em amanho da casa e ignorante mais que o necessário para ter juízo. (Camilo Castelo Branco)

Metáfora

Figura que consiste na transposição (comparação, sem utilizar o termo real e sem a partícula comparativa) de uma palavra para um campo semântico diferente, atribuindo a pessoas ou a coisas características que lhes não pertencem por direito. É uma espécie de comparação latente ou abreviada. A menina Vilaça, a loura, vestida de branco, simples, fresca, com o seu ar de gravura colorida. (Eça de Queirós)

Metonímia

Processo em que se designa uma realidade (ou conceito) por uma outra realidade próxima da primeira: produto – matéria; causa – efeito; abstracto – concreto; físico – psíquico e moral; continente – conteúdo; possuidor – objecto possuído; autor – obra… (ou vice-versa).

� «ele é uma grande cabeça» (em vez de ele é muito inteligente) � «Por desertos, por sóis, por noite escura» (Antero Quental) � «Cesse tudo o que a Musa antiga canta» (Camões)

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Onomatopeia

Repetição de sons, para imitar ruídos ou a voz natural de seres; pelo seu valor descritivo e pela sua expressividade, a onomatopeia pode ajudar a transmitir ao texto a afectividade e a sensibilidade ou a rejeição e o afastamento. A chuva faz ping… ping… ping… enquanto o relógio dizia cu-cu… cu-cu… cu-cu… e o telefone tocava trim… trim… trim…

Oxímoro

Aproximação de termos que mutuamente se excluem, numa intensificação do processo da antítese. Exprime um paradoxo e implica uma nova visão das coisas. O mito é o nada que é tudo (Fernando Pessoa) O semelhante sem semelhante (Padre António Vieira)

Paralelismo

Repetição de uma frase ou ideia em frases paralelas sucessivas: Ondas do mar de Vigo, Se viste o amigo, E ai Deus se virá cedo! Ondas do mar levado, Se viste o meu amado, E ai Deus se virá cedo! […] (Martim Codax, poesia mediaval )

Perífrase

Recurso que se caracteriza pelo emprego de muitas palavras para exprimir que se podia dizer Maios concisamente; circunlóquio. Pode aumentar ou velar a realidade a designar (eufemismo, enigma), ou descrevê-lo explicitamente (definição, descrição). … mísera e mesquinha Que depois de morta foi rainha (Camões) No tempo em que não tínhamos idade (= éramos jovens) (Manuel Alegre) A utilização de uma expressão ou de uma frase longa em vez de uma palavra ou de uma frase curta permite diminuir, por vezes, a carga negativa da mensagem a transmitir, tal como acontece no eufemismo.

Personificação

(Prosopopeia ou

Animismo)

Figura que consiste na atribuição de características humanas a seres inanimados ou a animais. Ouvi-o o monte Artabro, e o Guadiana Atrás tornou as ondas de medroso. (Camões) Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! (Fernando Pessoa)

Pleonasmo

Redundância. Repetição de uma palavra ou ideia, para realçar um pensamento: Vi claramente visto o lume vivo (Camões, Os Lusíadas, V, 18) Nota: O pleonasmo pode ser considerado um defeito de linguagem, quando não tem efeito literário: sair para fora, entrar para dentro

Polissíndeto

Emprego insistente de conjunções coordenativas (favorece a fluidez da frase e empresta-lhe um carácter mais afectivo e lento). Opõem-se ao assíndeto. E crescer, e saber, e ser, e haver E perder, e sofrer, e ter horror, De ser e amar, e se sentir maldito… (Vinícius de Moraes)

Prosopopeia Ver personificação Emprego de palavras ou expressões agrupadas duas a duas, cuja ordem se

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Quiasmo

inverte, num esquema de paralelos que se faz lembrar o X. Mais dura, mais cruel, mais rigorosa Sois, Lisi, que o cometa, rocha ou muro Mais rigoroso, mais cruel, mais duro. (Jerónimo Baía)

Repetição

Utilização repetida de palavras, expressões, frases, ideias, ou apenas sons, para dar mais força e intensidade à mensagem que se quer transmitir. A repetição pode adquirir formas próprias, com características e sentidos específicos: anáfora, aliteração, epanalepse, paralelismo, pleonasmo, onomatopeia… Porque os outros se mascaram mas tu não Porque os outros usam a virtude Para comprar o que não tem perdão. Porque os outros têm medo mas tu não. (Sophia de Mello Breyner Andresen)

Sinédoque

Caso particular da metonímia; tropo, fundado na ralação de compreensão, em que se emprega o todo pela parte ou a parte pelo todo, o plural pelo singular ou o singular pelo plural, etc. Que da Ocidental praia Lusitana (Camões)

Sinestesia

Recurso estético em que há a junção de percepções relativas a dados sensoriais diferentes. As horas cor de silêncio e angústia (Álvaro de Campos) Tinha um sorriso amargo (Eça de Queirós) Nota: a sinestesia consiste em as sensações de certos sentidos evocarem sensações de outra ordem, como a melodia que desperta sensações de cor ou as cores frias e quentes.

Sinonímia

Qualidade do que é semelhante ou com o mesmo sentido; emprego de palavras com o mesmo significado; figura de estilo que consiste em exprimir a mesma coisa por meio de palavras com o mesmo significado ou quase o mesmo sentido. Ó luz, ó luz abençoada e calma! Chamo-te em vão; debalde minha alma Pede um clarão ao deus das madrugadas (António Nobre)

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Discurso Directo VS Discurso Indirecto

Discurso Directo Discurso Indirecto

Usam-se sinais de pontuação como: : - “” ? ! .

Geralmente usa-se o ponto final.

Usam-se verbos introdutórios como: Dizer, afirmar, perguntar, etc. seguidos de : e –

Usam-se verbos como: Dizer, afirmar, declarar, etc. seguidos de “que” ou “se”

Tempos e modos verbais Presente do Indicativo Pretérito Perfeito do Indicativo Futuro do Indicativo Presente do Conjuntivo Futuro do Conjuntivo Modo imperativo

Tempos e modos verbais Pretérito Perfeito do Indicativo Pretérito mais que perfeito do indicativo Modo Condicional Pretérito Perfeito do Conjuntivo Pretérito Perfeito do Conjuntivo Pretérito Perfeito do Conjuntivo ou infinitivo

Usam-se a 1ª e 2ª pessoas gramaticais: nos pronomes pessoais; determinantes e pronomes possessivos:

Eu, tu, nos, vos Meu (s); minha (s)

Teu (s); tua (s) Nosso (s), nossa (s) Vosso (s); vossa (s)

Usam-se a 1ª e 2ª pessoas gramaticais: nos pronomes pessoais; determinantes e pronomes possessivos:

Ele (s); ela (s) Seu (s); sua (s) Seu (s); sua (s)

Dele (s); dela (s) Dele (s); dela (s)

Usam-se os determinantes e pronomes demonstrativos da 1ª e 2ª pessoas

Este (s); esta (s) Esse (s); essa (s)

Isto; isso

Usam-se os determinantes e pronomes demonstrativos da 1ª e 2ª pessoas

Aquele (s); aquela (s) Daquele (s); daquela (s)

Aquilo

Usam-se advérbios como: Aqui; cá Aí; lá; ali Agora; já

Hoje Ontem

Amanha Logo

Usam-se advérbios como: Ali; lá

Lá Então; naquele momento; logo

Naquele dia No dia anterior; na véspera

No dia seguinte Depois

Vocativo Complemento indirecto

Frase interrogativa directa Frase interrogativa indirecta

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Frase simples VS Frase Complexa Frase simples: é constituída apenas por uma oração, isto é por um só verbo. Ex.: o atleta corre. Frase complexa: é constituída por mais que uma oração. As orações desta frase podem ser coordenadas ou subordinadas. Ex.: o atleta corre se o publico bater palmas.

• Coordenação (Orações Coordenadas): aqui, as frases, porque têm significado independentemente, não dependem uma da outra. As frases coordenadas estabelecem relação entre si, podendo ser introduzidas conjunções coordenativas e locuções conjuntivas de coordenação.

Coordenativas Conjunções Locuções conjuncionais

Copulativas

(estabelecem uma ligação)

E Nem Também

Não só…mas também Não só…como também Tanto…como

Adversativas (indicam uma oposição)

Mas Porem Todavia Contudo

No entanto Não obstante Apesar disso Ainda assim

Disjuntivas (estabelecem uma alternativa os distinção)

Ou Ou…ou Nem…nem Quer…quer

Conclusivas

(exprimem uma conclusão)

Logo Pois Portanto

Por conseguinte Por consequência Por isso

Oração coordenada adversativa

Ex.: A turma 1110 é simpática, mas trabalha pouco! Oração coordenada Nota: quando na frase há mais que uma oração e estas são separadas por vírgulas estas chamam-se orações coordenadas copulativas assindéticas. Ex.: A Liliana riu-se, o Carlos chorou e a Sofia atirou-se para o chão a rir.

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Oração coordenada / oração coordenada copulativa assindética / oração coordenada copulativa

• Subordinação (Orações Subordinadas): neste caso, as frases subordinadas estabelecem uma relação de dependência entre si, havendo sempre a frase principal (subordinante) e a frase secundária (subordinada), que completa o sentido da primeira.

Subordinativas Conjunções Locuções conjuncionais

Causais (estabelecem uma relação de causa)

Porque Pois Porquanto

Visto que Já que Por isso que Pois que

Temporais (estabelecem uma relação de tempo)

Quando Enquanto Mal Apenas

Logo que Sempre que Assim que Depois que À medida que Antes que

Condicionais (estabelecem uma relação de condição)

Se A não ser que Desde que Salvo se Contanto que A menos que Excepto se

Finais (estabelecem uma relação de fim)

Que Para que A fim de que

Comparativas (estabelecem uma relação de comparação)

Como Segundo Conforme

Assim como…assim Assim como…assim também Bem como Mais…do que Menos…do que Tão (tanto) …como Ao passo que Como…assim

Concessivas (indicam uma circunstancia especial que não impede a realização da acção enunciada na oração subordinante, embora exista uma oposição.

Embora Ainda que Por mais que Mesmo que Nem que

Consecutivas (exprimem uma consequência)

Que (combinado com tão, tal ou tanto – na oração anterior)

De maneira que De modo que De forma que

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Ex.: Quando cheguei à aula, o Simão estava a dormir! Oração subordinada temporal / Oração subordinante

Orações Subordinadas

• Orações completivas integrantes São as que complementam o sentido da oração subordinante, podendo exercer funções sintácticas de sujeito ou complemento. (são também designadas por substantivas por serem equivalentes a nomes nessas funções sintácticas). Oração subordinada completiva integrante

Ex.: Ele afirmou que ela viria a tempo. Oração subordinante Conjunção subordinada completiva integrante

• Orações subordinadas relativas:

o Restritivas: limitam e restringem a ideia subordinante e o sentido da frase. A sua exclusão alteraria a ideia expressa.

Oração subordinada relativa restritiva

Ex.: Perdi o livro que me emprestaste. Oração subordinante

Pronome relativo

o Explicativas: fornecem uma ideia acessória e a sua supressão não altera a ideia fundamental da frase.

Oração subordinada relativa explicativa

Ex.: A Marta, que é muito simpática, decidiu convidar-nos. Oração subordinante Oração subordinante Pronome relativo

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A Narrativa

Narrar é apresentar uma sequência de acções, desempenhadas por personagens e que se localizam num espaço particular durante um certo tempo. Uma Narrativa é constituída por:

� Diegese / História: que é a ficção, aquilo que é contado, a sucessão dos acontecimentos, o conteúdo narrativo. Em suma, é o que o leitor tomou conhecimento disso.

� Discurso / Narração: que é o modo como esses acontecimentos são contados/narrados pelo narrador. É o acto narrativo que é constituído por elementos linguísticos e estilísticos.

� Acção: que é a história do que acontece às personagens, uma sucessão de factos e de eventos que as personagens vão realizando com as suas relações cronológicas e causais.

� Intriga: que é a organização dos elementos narrativos; a gestão da sequência dos factos e dos acontecimentos; a maneira de criar o enredo que se desenvolve segundo uma relação causa/efeito e de uma ordem cronológica. É constituída por técnicas de exposição, de construção e montagem da narrativa. A intriga constrói-se por sequências narrativas. Entre a acção e a intriga existe uma relação de solidariedade; interligam-se no fio narrativo.

1. Estrutura Geral

a) Introdução

Corresponde ao início e onde costumam aparecer já alguns enunciados, em termos gerais, o tempo e o espaço, e alguma ou algumas personagens.

b) Desenvolvimento

Apresenta uma sequência de eventos assinalados pela intervenção das personagens, e que poderá incluir descrições, reflexões, etc.

c) Conclusão

Situa-se no fim da acção narrativa, onde se resolvem as tensões, problemas ou complicações acumuladas ao longo da mesma.

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2. A Acção Apresenta o desenrolar de um ou de vários eventos. É constituída por:

2.1. Sequências Narrativas

São conjuntos de parágrafos que tratam a mesma matéria ou desenvolvem um raciocínio; são várias unidades autónomas que constituem uma sucessão de factos articulados logicamente; são conjuntos de pequenas unidades que formam um bloco de sentido – cada uma delas apresenta inevitavelmente uma pequena “história”. É uma sucessão lógica de núcleos entre os quais se manifesta uma relação de solidariedade. A sequência inicia-se quando um dos seus termos não tem antecedente lógico e fecha-se quando outro dos seus termos deixa de ter consequente. As sequências narrativas alternam em descrições de espaços, personagens ou ambientes, com todo o conjunto de elementos que constituem o universo narrativo.

As sequências, numerosas dentro de qualquer texto narrativo, podem combinar-se de diferentes formas:

a) Justaposição ou Encadeamento

Consiste na sucessão linear de uma sequência em relação a outra, isto é, uma é colocada após a outra e é assim que se desenrola o fio narrativo. É quando essas pequenas “histórias” se vão sucedendo segundo uma ordenação temporal.

b) Encaixe

É quando uma “história” (isto é, uma outra narrativa chamada de 2º nível) aparece introduzida dentro de outra.

c) Alternância

É quando várias “histórias” se desenrolam separadamente, alternando umas com as outras.

2.2. Núcleos e Catálises

Há uma implicação entre eles, pois uma catálise só pode existir se existir o núcleo a que se liga, não se verificando o inverso.

a) Núcleos

Correspondem a momentos de avanço, são unidades dinâmicas em que a acção progride; fazem progredir a “história”. Um núcleo implica outro e assim sucessivamente.

b) Catálises

Correspondem a momentos de pausa, geralmente concretizados em descrições, reflexões, explicações, etc.; que prefiguram, preparam e justificam os núcleos, relativamente às expectativas do leitor.

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3. As Personagens

São os agentes da acção. Agem, movem-se, têm comportamentos específicos, assumem atitudes, têm uma função a representar que cabe ao leitor descortinar.

3.1. Quanto ao seu Papel podem ser:

a) Principais

Porque é à volta delas, e por seu intermédio, que se desenrola o essencial da acção.

• Herói ou Protagonista – é o agente dos eventos mais significativos, fulcrais para a realização da acção e por ele passam as principais linhas de força da narrativa. Se há narrativas em que o narrador apresenta, elege e constrói inequivocamente, o seu herói apontando-o aos seus leitores como exemplo, como encarnação modelar de valores e actos positivos; há também, textos narrativos nos quais a caracterização do herói é ambígua, devido a estratégias do narrador. O herói ou protagonista pode ser uma pessoa, uma personagem colectiva.

b) Secundárias

São todas as personagens que são subsidiárias e servem para destacar o papel da personagem principal.

c) Figurantes

Têm uma intervenção mínima na acção, quase que se imiscuem com o cenário. São personagens acessórias ou episódicas.

3.2. Quanto à sua Construção podem ser:

a) Desenhadas ou Planas

São aquelas que mantêm os mesmos comportamentos ao longo de toda a ficção, sem surpreender ou evoluir, o que as leva também a ser:

• Personagens Tipo – representativas de figuras ou grupos sociais.

b) Modeladas ou Redondas

São aquelas cuja complexidade é evidente; têm uma caracterização acentuada e multifacetada, evoluem com o decorrer da acção indo, muitas vezes, ao ponto de deixar o leitor surpreendido com a dinâmica e o vigor das suas reacções.

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3.3. Quanto ao modo de Caracterização, esta pode ser:

a) Directa

Quando é feita pelo narrador, existindo assim, uma descrição estática.

b) Indirecta

Quando é feita através das informações que a própria personagem presta sobre si mesma ou que é fornecida por outras personagens. É o próprio leitor que constrói a personagem; existe então, neste tipo de caracterização, um processo dinâmico.

4. O Tempo A sucessão dos factos têm um tempo de ocorrência que o narrador determina e

delimita em referências exactas, cronológicas.

4.1. Tempo da História

Comporta um tempo objectivo, delimitado e caracterizado por indicadores estritamente cronológicos relativos ao calendário – anos, meses, dias, horas; por informações relacionadas ainda com este calendário – ritmo dos dias, das noites, das estações; por dados concernentes a uma determinada época histórica, etc.

Este tempo diegético pode ser muito extenso (ex.: a história de uma família) ou muito curto. Quer seja extenso, quer seja curto, é possível medir com suficiente rigor o tempo objectivo da diegese.

EXEMPLOS: “desde esse dia”; “grandes lampadários ardiam já”; “pela alvorada,

muito antes do nascer do sol”; “no dia seguinte”; “Era um dia do mês de Julho, duas horas depois da alvorada”; “Ora na Primavera, numa silenciosa manhã de domingo”; “Anoiteceu”; “Amanheceu”; etc.

4.2. Tempo do Discurso

É um tempo mais fluído e mais complexo – é o tempo subjectivo, o tempo que as personagens vivem, um tempo psicológico; diferente mas associado ao tempo objectivo, da história, é entretecido num presente que ora se afunda na memória, muitas vezes involuntária, ora se projecta no futuro, ora pára.

É um monólogo não pronunciado que se desenrola no interior da personagem e que vai fluindo há medida que as ideias e imagens vão aparecendo na consciência da personagem.

Ao contrário do tempo da história, o tempo do discurso narrativo é de difícil medição.

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Há vários processos/estratégias utilizados pelo narrador, que se inserem e contribuem para este tempo do discurso:

a) Analepses

São o artifício para narrar os antecedentes de uma determinada situação ou personagem.

b) Prolepses

São o processo de antecipação no plano do discurso, de factos ou de situações, em obediência à cronologia diegética, só deveriam ser narrados mais tarde. Por exemplo, quando se começa a história pelo meio (in media res) e se narra o seu fim sem antes ter contado o que se passou até aí.

c) Resumos

É quando o narrador relata velozmente acontecimentos diegéticos ocorridos em longos períodos de tempo.

Ex.: “E esse ano passou. Gente nasceu, gente morreu. Searas amadureceram, arvoredos murcharam. Outros anos passaram.” Os resumos avizinham-se das:

d) Elipses

Resultam do facto do narrador excluir do discurso determinados acontecimentos da história, dando origem assim, a vazios ou omissões narrativas.

São um processo fundamental da técnica narrativa, pois nenhum narrador pode relatar com estrita fidelidade, todos os pormenores da diegese. Omite, elimina um certo número de factos por serem irrelevantes, monótonos, maçadores, etc.

5. O Espaço Referências ao local onde decorre a acção.

5.1. Espaço Físico

Representa um espaço real (localidades, ruas, interiores de casas, paisagens, etc.).

5.2. Espaço Social

Representa a atmosfera social em que se desenrola a acção, onde existem e habitam as personagens que dão vida à narrativa. Informações sobre o espaço social permitem-nos detectar uma atmosfera, um ambiente de valores estéticos, sociais e políticos que o autor quer pôr em destaque.

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5.3. Espaço Cultural

As referências aos valores culturais caracterizam o ambiente que cerca a narrativa e dão informações que contribuem para que nela se defina um espaço cultural concreto.

6. O Narrador É a entidade (fictícia ou não) que conta a história. Pode não ser o autor. O narrador pode ser classificado:

6.1. Quanto à Presença:

a) Participante

Quando participa nos eventos narrados como personagem.

b) Ausente ou Não participante

Quando não participa, é apenas testemunha.

6.2. Quanto à ciência:

a) Omnisciente

Quando mostra conhecer tudo o que se passa, até ao pormenor.

b) Observador ou Não Omnisciente

Quando mostra conhecer apenas alguns aspectos (ou até mesmo nenhuns) da narrativa; limita-se a narrar tudo o que vê.

6.3. A voz

Todo o texto narrativo implica a medição de um narrador: a voz do narrador fala sempre no texto e é ele quem produz no texto literário narrativo, as outras “vozes” aí existentes – vozes de outros eventuais narradores de narrativas secundárias dependentes e relacionadas com a primeira e vozes das personagens.

A voz das personagens faz-se ouvir tanto em discurso directo, nos diálogos ou monólogos, como em discurso indirecto. Num caso como no outro, essa voz diferencia-se claramente, da voz do narrador quer pelos adequados sinais de pontuação, quer pela introdução de verbos específicos (ex.: “disse”; “perguntou”; “proferiu”; etc.), quer pela sua caracterização sociocultural que não pode ser atribuída ao narrador.

Assim, é classificado como:

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a) Heterodiegético

Se não se identifica com nenhuma das personagens da diegese, se não participa por conseguinte, na história narrada. Pode manifestar-se como um “eu” explícito ou como um narrador apagado, de “grau zero”, isto é, fundido com o autor textual.

b) Homodiegético

Se pelo contrário, é identificado com uma das personagens, participando na história narrada. Pode porém, identificar-se com uma personagem secundária ou com um mero observador que conhece pessoalmente as personagens, que com elas convive, fala, etc., sem que venha a influenciar o curso dos acontecimentos narrados.

c) Autodiegético

Quando se identifica como o protagonista do romance. 7. O Narratário É a entidade a quem é dirigida a narrativa. Em muitos casos, não aparece explicitamente mencionado pelo narrador. Não é a mesma coisa que leitor. É uma instância intratextual à qual o narrador conta a sua história. Apresenta-se como uma personagem, com caracterização psicológica, social, cultural, etc., que pode desempenhar apenas uma função específica de narratário ou acumular esta função com a de interveniente mais ou menos importante, na intriga do romance.

8. Narrativa Aberta / Narrativa Fechada

8.1. Narrativa Aberta

Pode admitir, por hipóteses, desenvolvimentos subsequentes, uma continuação da narrativa.

8.2. Narrativa Fechada

Pelo contrário, apresenta um desenlace irreversível, um fim efectivo da narrativa.

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O Verbo

• Tipos de conjugação verbal

o 1ª Conjugação: verbo de tema em –a; o 2ª Conjugação: verbo de tema em –e; (o verbo pôr pertence a esta

conjugação, assim como todos os seus derivados) o 3ª Conjugação: verbo de tema em –i.

� Tempos simples

Modo Indicativo

Presente Pretérito

perfeito

Pretérito

mais que

perfeito

Pretérito

imperfeito

Futuro

Canto Cantei Cantara Cantava Cantarei Escrevo Escrevi Escrevera Escrevia Escreverei Parto Parti Partira Partia partirei

Modo Conjuntivo

Presente Pretérito imperfeito Futuro

(que) eu cante (que/se) eu cantasse (se) eu cantar (que) eu escreva (que/se) eu escrevesse (se) eu escrever (que) eu parta (que/se) eu partisse (se) eu partir

Modo Imperativo

Canta tu Escreve tu Parte tu Cantais vós Escrevei vós Parti vós

Condicional

Cantaria Escreveria Partiria

Modo Infinitivo (pessoal)

Eu Cantar Escrever Partir Tu Cantares Escreveres Partires Ele Cantar Escrever Partir Nós Cantarmos Escrevermos Partirmos

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Vós Cantardes Escreverdes Partirdes Eles Cantarem Escreverem Partirem

Formas Nominais

Infinitivo Impessoal

Cantar Escrever Partir

Gerúndio

Cantando Escrevendo Partindo

Particípio Passado

Cantado Escrito Partido

� Tempos Compostos

Modo Indicativo

Pretérito imperfeito Pretérito mais que

perfeito

Futuro

Tenho cantado Tinha cantado Terei cantado Tenho escrito Tinha escrito Terei escrito Tenho partido Tinha partido Terei partido

Modo Conjuntivo

Pretérito imperfeito Pretérito mais que

perfeito

Futuro

Tenha cantado Tivesse cantado Tiver cantado Tenha escrito Tivesse escrito Tiver escrito Tenha partido Tivesse partido Tiver partido

Condicional

Teria cantado Teria escrito Teria partido

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� Conjugação pronominal simples

� Com os pronomes: o, a, os, as

Verbo Lavar

Presente Futuro Condicional

Lava-o Lavá-lo-ei Lavá-lo-ia Lava-lo Lavá-lo-ás Lavá-lo-ias Lava-o Lavá-lo-á Lavá-lo-ia Lavamo-lo Lavá-lo-emos Lavá-lo-íamos Lavai-lo Lavá-lo-eis Lavá-lo-íeis Lavam-no Lavá-lo-ão Lavá-lo-iam NOTA: 1) Quando a forma verbal termina em -s, -r ou -z, os pronomes o, a, os, as passam a lo, la, los, las. 2) Quando a forma verbal termina em som nasal, os pronomes o, a, os, as passam a no, na, nos, nas.

• Conjugação pronominal composta

Verbo Lavar

Presente Futuro Condicional

Lavo-me Lavar-me-ei Lavar-me-ia Lavas-te Lavar-te-ás Lavar-te-ias Lava-se Lavar-se-á Lavar-se-ia Lavamo-nos Lavar-nos-emos Lavar-nos-íamos Lavais-vos Lavar-vos-eis Lavar-vos-íeis Lavam-se Lavar-se-ão Lavar-se-iam

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Pedagógica da Escrita – Coerência e coesão textual

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Tipologias Textuais

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Preposição

Conjunção

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Registo e tratamento de informação

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Como fazer uma Referencia bibliográfica

Como apresentar a Informação

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Registo e tratamento de informação

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Produção e compreensão do texto: coesão e coerência

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Frei Luís de Sousa de almeida Garrett

Esta é uma verdadeira tragédia

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Definição de tragédia

Tragédia

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Elementos Essenciais da Tragédia Grega

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A importância d’ Os Lusíadas no início da peça

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O Romantismo na Obra

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Classificação da obra

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Sebastianismo

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Processo psicológico de auto-revelação e de desarticulação da personalidade de Telmo

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Categorias do processo dramático

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Os Maias: o espaço Social

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Escola Secundária D. Sancho I

Português

Docente: Francisco Silva Discente: Ana Sofia Leal Araújo

Nº 2 1110

Vila Nova de Famalicão Novembro 2006

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Introdução

O presente trabalho foi realizado no âmbito da disciplina de Português. A sua realização

surgiu pelo facto estar a estudar o “Sermão de Santo António aos Peixes” de Padre António

Vieira. O intuito da realização deste trabalho é ficar a conhecer um pouco mais a vida e obra do

Padre António Vieira.

O trabalho é constituído por três capítulos. No primeiro capítulo, consta a biografia do

Padre António Vieira, no segundo fala-se da relação de Padre António Vieira com a Inquisição.

Por ultimo, expõe-se o Barroco (época em que o Padre António Vieira viveu) e quais as

influências que esta época teve na maneira como Padre António Vieira escreveu as suas obras,

mais concretamente o Sermão de Santo António aos Peixes.

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I – Quem é Padre António Vieira?

António Vieira, um admirável prosador e o mais

conhecido orador religioso português, nasceu em Lisboa, a 6 de

Fevereiro de 1608. Quando tinha 6 anos, seus pais decidiram ir

para o Brasil e fixaram-se na Baía (Salvador). Como em

Salvador da Baía, naquela época, só existia o Colégio dos

Jesuítas, não teve mais nenhuma solução senão estudar nesse

colégio. Consta que no início era mau aluno mas que com o

tempo se tornou num óptimo aluno. No ano de 1623 iniciou o

noviciado na Companhia de Jesus.

Foi em 1635 que, após ter sido professor de retórica em

Olinda, ordenou-se sacerdote e começou a exercer as suas

funções de pregador nas aldeias baianas. Com tudo isto, começou a adquirir bastante

notoriedade como pregador. Nos seus primeiros sermões já se verificava as suas preocupações

socio-políticas devido ao facto da Baía lutar contra as invasões holandesas.

António regressou a Portugal em 1641, após a Restauração da Independência, iniciando

a carreira diplomática pela Europa (1646) e cativando o favor de D. João IV. Aquando da Invasão

Holandesa do Nordeste do Brasil (1630-1654), ele defensou que Portugal entregasse essa região

à Holanda, uma vez que entendia que Portugal gastava dez vezes mais com manutenção e

defesa da região do que o que obtinha em contrapartida, para além do fato que, naquela época, a

Holanda era um inimigo militarmente muito superior. Quando eclodiu uma disputa entre

Dominicanos (membros da inquisição) e Jesuítas (catequistas), António, que era um defensor dos

judeus, cai em desgraça, exaurido pela derrota da sua posição quanto à questão do Nordeste do

Brasil. Em 1644 deixou Portugal, para negociar com a Holanda a devolução do Nordeste. Esta

negociação correu com um grau de sucesso complexo, numa ocasião da nossa história que

quase acaba com Portugal como parte da Holanda.

O povo Português não gostava das pregações de António em favor dos judeus e após

estes tempos conturbados da política portuguesa, volta ao Brasil em 1653, para o estado do

Maranhão. No ano seguinte prega o " Sermão de Santo António aos Peixes”. Em 1656, com a

morte de D. João IV perdeu o apoio no Brasil acabando por ser expulso do Maranhão pelos

colonos, em 1661, e regressa a Lisboa. Preso e perseguido pela Inquisição de Coimbra, apenas

se veio a libertar do Santo Ofício pela sua própria acção, em Roma (1669-1675), obtendo um

salvo-conduto do próprio Papa. Regressou a Lisboa em 1675 mas agora sem apoios políticos e

desiludido pela perseguição aos cristãos-novos (que tanto defendera), retira-se de vez para a

Baía em 1681 onde se entrega ao trabalho de compor e editar os seus Sermões.

Já muito velho e doente teve que espalhar circulares sobre a sua saúde para poder

manter em dia a sua vasta correspondência. Em 1694 já não consegue escrever de próprio

punho. Passou os últimos dias na Quinta do Tanque (Baía). Faleceu a 18 de Julho de 1697, na

Baía, com 89 anos de idade.

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António tem uma classificação complexa quanto a nacionalidade, pois passou mais da

metade de sua vida no Brasil, o próprio povo, quando ele caiu em desgraça, chamava-o de

"Judas do Brasil"; mas foi uma importante figura para Portugal na política interna e externa, para

não falar na cultura.

O Padre António Vieira tem uma obra complexa que exprime suas opiniões políticas,

sendo não propriamente um escritor mas um orador. Pode-se dividir a sua obra em três distintas

partes:

Profecias – constam de três obras: História do futuro, Esperanças de Portugal e Clavis

prophetarum, em que se notam Sebastianismo e as esperanças de Portugal se tornar o

Quinto Império do Mundo, pois tal fato estaria escrito na Bíblia.

Cartas – são cerca de 500 cartas, que versam sobre o relacionamento entre Portugal e

Holanda, sobre a Inquisição e os cristãos-novos.

Sermões – são quase 200 sermões. De estilo barroco conceptista, o Padre António joga

com as ideias e os conceitos, segundo os ensinamentos da retórica dos jesuítas. Um de

seus principais sermões é o Sermão da sexagésima.

A sua prosa é vista como um modelo de estilo vigoroso e lógico, onde a construção frásica

ultrapassa o mero virtuosismo barroco. A sua riqueza e propriedade verbais, os paradoxos e os

efeitos persuasivos que ainda hoje exercem influência no leitor, a sedução dos seus raciocínios, o

tom por vezes combativo, e ainda certas subtilezas irónicas, tornaram a arte do Pedre António

Vieira admirável.

Considera-se que o melhor de sua obra encontra-se nos sermões que, em linguagem simples

e sem torneios de estilo, revelam extraordinário domínio da língua, imaginação, sensibilidade,

humanidade e convicções.

Folha de rosto do primeiro fascículo dos Sermões do Padre

António Vieira. Este foi o primeiro dos 12 volumes que foram

propositadamente preparados pelo autor juntamente para

publicar.

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II – Padre António Vieira e Barroco

� Breve definição de Barroco…

nome "barroco" (provavelmente derivado de barueco, a palavra espanhola que

designava uma pérola de forma irregular) foi atribuído nos finais do XVIII e possuía

alguma intenção pejorativa, uma vez que nessa altura este período era ainda considerado como a

fase de decadência do renascimento. Só nos inícios do século XX este estilo é reconhecido como

um dos mais importantes da história moderna.

Desenvolvida durante o século XVII, num ambiente dominado pelos progressos

científicos, pela consolidação das grandes monarquias absolutistas, pelo movimento da contra-

reforma da igreja católica e pela expansão protestante nos países nórdicos, a arte barroca

prolongou-se pelo século XVIII em muitos países. O estilo barroco nasceu em Itália, a partir das

experiências maneiristas de finais do século XVI e expandiu-se rapidamente para outros países

europeus, atingindo mais tarde as colónias espanholas e portuguesas da América Latina e da

Ásia.

Apesar das diferentes interpretações que se verificaram nos diferentes países e regiões,

determinadas por diferentes contextos políticos, religiosos e culturais, este estilo apresentou

algumas características comuns, como a tendência para a representação realista, a procura do

movimento e do infinito, a importância cenográfica dos contrastes luminosos, o gosto pelo teatral,

a tentativa de integração das diferentes disciplinas artísticas.

� O Barroco na Literatura: Principais características !

Continuidade em relação aos temas que eram tratados no século XVI: bucolismo,

petrarquismo, amor platónico…;

Forte reacção ao século XVI: reflexão moral, busca dos prazeres espirituais, evasão,

futilidade de variados temas…;

Acentuação do emprego dos recursos estilísticos, nomeadamente metáforas, paronímias,

hipérbatos, comparações, anáforas, hipérboles, antíteses, assíndetos, catacreses,

pleonasmos, perífrases, trocadilhos, a assimetria, o geometrismo, o predomínio da ordem

imaginativa sobre a lógica;

Conceitos com o seu engenho e finura com vista à novidade e ao estranho;

Jogos de palavras, de imagens e de conceitos que conferem, dinamismo;

A alegoria para o desenvolvimento das ideias e para estabelecer a passagem entre razão

e a realidade, o mundo humano e o divino, o material e o espiritual…;

Riqueza vocabular e alusão;

Elegância da subtileza;

Construção mental e alegoria analógica (que correlaciona realidade e pensamento).

(…)

O

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� O Barroco e Padre António Vieira

O Padre António Vieira pregou ao modo tradicional, tal como Santo António. O sermão

consiste em analisar um texto bíblico citado á cabeça do sermão – o conceito predicável.

Conforme a expositiva tradicional, o texto tinha quatro sentidos:

o Sentido literário (histórico);

o Sentido alegórico (forma como manifestar uma verdade da fé);

o Sentido moral (ensina da forma como comportar na vida);

o Sentido anagógico (relativo a outra vida).

Actualmente, a leitura dos sermões torna presente o autor e actor de um monólogo

dramático. Este monólogo é caracterizado pelas respostas paradoxais que o autor dava às

perguntas que ele próprio fazia ao texto pregado a si mesmo. O acto de interpretar um texto

bíblico exige um bastíssimo conhecimento das palavras, sua etimologia e seus diversos sentidos.

Uma atenção cuidada ao ser das palavras, contribui para uma das virtudes da eloquência

de Vieira. Ele tinha o “dom” de encontrar as palavras mais próprias para o queria significar. Para

Vieira, as palavras, não eram um instrumento para descobrir uma verdade ao entendimento; mas

sim para motivar a vontade de uma acção.

Utilizando-se da retórica jesuítica no trabalho das ideias e conceitos, Vieira mostrou-se

um barroco conceptista, no desenvolvimento de ideias lógicas, destinadas a persuadir o público, e

clássico na clareza e simplicidade de expressão. Os seus temas preferidos foram: a valorização

da vida humana, para voltar a aproximá-la de Deus, e a exaltação do sofrimento, porque nele está

o caminho da salvação. Em todos os seus sermões nota-se que possuem as características

Barrocas e que são obras intemporais, pois ainda hoje a mensagem enquadra-se à nossa

sociedade. Nas pregações proferidas, o Padre também procura criticar a outra facção do Barroco:

utilizar o púlpito como tribuna política.

Foi através de diversos métodos verbais que Vieira tratou os problemas Portugueses mais

prementes do seu tempo: tempo da guerra e da independência. A sua imaginação verbal e o

estilo de pensar, com os seus paradoxos, fizeram com que Fernando Pessoa, atribuísse-lhe a

alcunha de “Imperador da língua Portuguesa”.

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III – A Inquisição

A Inquisição, criada na Idade Média (século XIII), era dirigida pela Igreja Católica

Romana e era composta por tribunais que julgavam todos aqueles considerados uma

ameaça às doutrinas (conjunto de leis) desta instituição. Os suspeitos eram perseguidos e

julgados, e os que eram condenados, cumpriam as penas que podiam variar desde prisão

temporária ou perpétua até a morte na fogueira, onde os condenados eram queimados vivos

em plena praça pública.

� Padre António Vieira e a Inquisição

Vieira enviou ao Bispo do Japão, o escrito Esperanças de Portugal. Em Abril de 1660,

o Conselho Geral do Santo Oficio, mandou chamar o Bispo do Japão para lhes levar o

escrito para ser examinado pelo Tribunal.

A questão que se coloca é: de que forma é que o Santo Oficio teve conhecimento

dessa obra? Das duas uma! Ou o copista, na sua boa fé, tirou mais uma cópia para ele; ou

Vieira não fez questão de o esconder. O que é certo é que esta obra não demorou muito a

ser conhecida.

Nicolau Bourey, visionário que residia em Portugal, não tardou a acudir Vieira sendo

ele próprio também chamado á Inquisição. Foi mandado embora em paz, depois de todo o

interrogatório. Mas se o Tribunal não achou culpa alguma em Bourey e hesitou em relação

ao manuscrito de Vieira, o mesmo não se pode dizer em relação aos qualificadores

Romanos. Segundo estes, a obra de Vieira, estava repleta de congeminações doutrinais

falsas, abusos arrojados na interpretação dos textos, proposições suspeitas de ofensa… por

tais motivos era necessário interrogar o autor.

Em 21 de Junho de 1663, Vieira foi chamado para o “tão” esperado debate com os

Inquisidores. Debate que durou 4 longos anos! Embora muita das vezes este diálogo foi

acesso em duelo, e mesmo doente, esteve sempre com a sua galhardia determinada de

quem se comprazia na combatividade. Vieira estava convencido que apesar de nem sempre

a sua razão ser superior à dos Inquisidores, pelo menos estava seguro da sua inocência

ortodoxa dos seus intuitos e do valor da sua dialéctica.

Vieira foi acusado de anunciar que D. João IV cumpriria, ressuscitado, aquilo que

não pudera realizar enquanto vivo, isto é o Quinto Império (império temporal e espiritual,

simultaneamente). Esta acusação não era em nada falsa!

Após uns longos anos de prisão, acaba por libertar do Santo Ofício graças à sua

própria acção, em Roma (1669-1675), obtendo um salvo-conduto do próprio Papa.

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Conclusão

Com a elaboração deste trabalho, pude concluir que Padre António Vieira era um homem

do mundo – com uma poderosa riqueza humana, moral e literária. É considerado o maior orador

sacro do País. Durante quase toda a sua vida empenhou todo o seu poder de oratória a pensar e

a escrever sobre política, diplomacia, profecia, religião. Deixou 200 sermões, 500 cartas e uma

série de outros documentos.

A minha opinião em relação ao trabalho é que, no final de toda a elaboração, pude

esclarecer algumas dúvidas que tinha em relação à vida de Vieira assim como a sua obra. Acatei

mais conhecimentos relativos a ele, nomeadamente a sua relação com a Inquisição e a forma

como ele escrevia.

Para concluir o trabalho, posso dizer que a realização deste trabalho trouxe-me mais

conhecimentos e níveis literários e históricos.

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Bibliografias…

� …Electrónica http://www.google.com http://www.edusurfa.pt http://pt.wikipedia.org/wiki/Inquisi%C3%A7%C3%A3o http://www.suapesquisa.com/historia/inquisicao/

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Escola Secundária D. Sancho I Português

Docente: Francisco Silva Discente: Ana Sofia Leal Araújo

Nº 2 1110

Vila Nova de Famalicão

Fevereiro 2007

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Introdução

O presente trabalho foi realizado no âmbito da disciplina de Português.

A pergunta que se coloca logo de início é: porque a realização deste trabalho?

Este trabalho vem a propósito do estudo de uma das obras de Almeida

Garrett: Frei Luís de Sousa. Ora é sobre este tema que recai o trabalho.

Para tal dividi o trabalho em dois capítulos. No primeiro capítulo tratei a

vida e obra de Almeida Garrett, visto ser o autor da nossa obra em estudo. No

segundo capitulo, em primeiro lugar, falo do Romantismo, visto ser um drama

romântico cujo tema central é o Fatum; em segundo lugar, trato da analise

completa da obra Frei Luís de Sousa. Esta análise vai desde a caracterização

das personagens, do tempo, do espaço, da linguagem e do estilo.

Os principais objectivos pretendidos com a elaboração deste trabalho

são: em primeiro lugar conhecer melhor a vida e obra de Garrett e de seguida

analisar bem a obra por ser um excelente exemplo de um drama Romântico

escrito por ele.

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1º Capitulo

Vida e obra de

Almeida Garrett

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Biografia de Almeida Garrett

A 4 de Fevereiro de 1799 nasceu na cidade do Porto, na zona da Ribeira, João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett. Filho de António Bernardo da Silva (açoriano) selador-mor e de Ana Augusta de Almeida Leitão, foi buscar o apelido Almeida – à avó materna e o apelido Garrett, à avó paterna Irlandesa. Este ultimo, ter-lhe-á agradado pelo simples facto de lhe soar a um «estrangeirismo aristocrático». A sua infância foi repartida entre as duas quinta (pertencentes à família): a Quinta do Castelo (para

onde a sua família se transferiu) e a Quinta do Sardão ambas no sul do Douro (Gaia). Da sua estadia na Quinta do Sardão é de salientar a forte influência de duas criadas – a velha Brígida e a mulata Rosa de Lima de quem ouviu velhas historias e despertaram em si o gosto pelo folclore (modinhas, contos populares). Em 1809, devido ás invasões francesas, fugiu com a sua família para a ilha Terceira. Nos Açores João Baptista estudou Latim e Grego, Literatura Clássica e Filosofia. Os seus professores foram os seus dois tios: João Carlos Leitão e o poeta e humanista D. Frei Alexandre da Sagrada Família, que foi Bispo de Malaca e de Angra do Heroísmo, e bispo eleito do Congo e de Angola. Sob a forte influência dos tios e desejo dos pais, o jovem Garrett veio a pensar abraçar a carreira eclesiástica, ideia que depressa abandona por não se sentir vocacionado para sacerdote. Mesmo assim, Garrett compôs um sermão e várias odes.

Em 1816, regressando ao continente, Garrett matriculou-se em Direito na Universidade de Coimbra, e interessou-se desde cedo pelas ideias liberais. Em Coimbra fundou uma sociedade maçónica com Manuel da Silva Passos e José Maria Grande e um teatro académico. Aqui faz representar o seu drama Xerxes (que se perdeu) e a tragédia Lucrécia. Ainda na mesma época intenta a escrita de duas tragédias, Afonso de Albuquerque e Sofonisba, que deixou incompletas.

Após a conclusão da sua formatura em Direito, em 1820, parte para Lisboa onde, participa na revolução liberal. Em 1821, durante a representação da tragédia Catão, conhece aquela que virá a ser sua mulher, Luísa Midosi (com 14 anos) prima de seus amigos Luís Francisco e Paulo Midosi. Nesse mesmo ano, após a publicação do seu poema «Retrato de Vénus», Garrett é acusado nas páginas da Gazeta Universal pelo Padre José Agostinho de Macedo de ser “materialista, ateu e imoral”. Em Coimbra é suspeito de abuso de liberdade de imprensa, pelas respostas que deu em sua defesa no periódico Português Constitucional Regenerado, acusação da qual sairá ilibado no início de 1822. Este ano será muito fecundo para o jovem autor, que juntamente com o seu amigo Luís Francisco Midosi, fundam um jornal dedicado às senhoras portuguesas: O Toucador – periódico sem política. Apesar do subtítulo «periódico sem política», este jornal contém inúmeras referências mais ou menos subtis aos acontecimentos da política nacional.

No seguinte ano, na sequência do levantamento miguelista conhecido como Vila-francada e do restabelecimento do absolutismo, Garrett tem de abandonar o seu cargo na Secretaria dos Negócios do Reino e é preso na Cadeia do Limoeiro, em Lisboa, partindo daí a pouco tempo para o exílio político. Exilou-se (juntamente com sua esposa Luísa Midosi) primeiro em Inglaterra, na cidade de Birmingham.

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Aqui foram acolhidos pela família Hadley. Este seu contacto com o meio inglês marcaria para sempre o seu espírito: as doces paisagens, com os seus castelos em ruínas, ajudou-o a conquistar o espírito Romântico. A necessidade de ganhar a vida leva Garrett a exilar-se novamente, mas desta feita em França, no Havre. Aí foi cultivando a sua personalidade nacional, tentando introduzir o Romantismo em Portugal com a escrita de dois poemas: Camões (1825) e Dona Branca (1826).

Em 1826, regressa a Portugal e dedica-se ao jornalismo político. O poeta e os dois irmãos Midosi são presos em 1827 devido aos seus artigos defensores do liberalismo, mas é no ano seguinte que, com o retorno de D. Miguel a Portugal que Garrett se vê obrigado a partir para um segundo exílio inglês. Desta vez, tendo por emprego o cargo de secretário particular do Duque de Palmela, também exilado, fixa-se em Plymouth. Em Londres publica Adozinda e Bernal Francês (mais tarde inseridos no Romanceiro) e a Lírica de João Mínimo (1829), que reúne poemas escritos desde a juventude. No mesmo ano, de novo com Paulo Midosi, redige um jornal, O Chaveco Liberal e inicia a escrita de Da Educação, que visava a instrução da jovem rainha D. Maria II para o cargo que ocupava. As suas preocupações políticas levam-no a reunir no volume Portugal na balança da Europa (Londres, 1830) os artigos que publicara em O Português. O seu percurso jornalístico continua em 1831, desta vez nas páginas de O Precursor. Prepara em Paris, com outros exilados, a expedição que, partindo dos Açores, visa o fim do miguelismo.

Em 1832, integra com Alexandre Herculano o corpo académico de voluntários que constitui na Ilha Terceira a oposição liberal. Garrett é um dos expedicionários que em Julho daquele ano desembarcam no Mindelo e libertam o Porto. Inicia a escrita do seu primeiro romance, O Arco de Sant’Ana que, segundo diz, se baseia num antigo manuscrito encontrado no Convento dos Grilos, onde os expedicionários se aquartelavam. O primeiro volume de O Arco de Sant’Ana só foi publicado em 1845 e o segundo apenas cinco anos mais tarde, traçando o autor, no primeiro capítulo do tomo de 1850, os motivos que demoraram a edição, a que decerto não foi alheia a revolta da Maria da Fonte e a guerra civil patuleia de 1846.

Em 1834 Garrett vive na Bélgica onde é Consul-Geral e Encarregado de Negócios de Portugal. Naquele país Garrett entra em contacto com as obras dos grandes escritores românticos alemães, como Goethe e Schiller, que muito influenciaram o seu estilo literário e a sua concepção de arte.

De regresso a Portugal, em 1836, separa-se de Luísa Midosi e passa a viver com Adelaide Pastor Deville, com quem terá uma filha. Após a Revolução de Setembro é eleito deputado às cortes constituintes e nomeado por Passos Manuel Presidente do Conservatório de Arte e Inspector-Geral dos Teatros, tendo nesse mesmo ano dirigido à rainha D. Maria II o seu projecto para a criação de um Teatro Nacional. O projecto para a renovação da Arte em Portugal, é descrito no prefácio de Um Auto de Gil Vicente (1838), primeira das contribuições do autor para o reportório de peças com fundas raízes nacionais que crê serem imprescindíveis para criar no povo português o amor pelo teatro. A esta peça seguir-se-á Filipa de Vilhena, representado em 1840, no mesmo ano em que Garrett é nomeado Cronista Mor do reino. A sua vida divide-se entre a escrita e a política, mas é esta última que lhe causa maiores dissabores: o ministro António José de Ávila propõe em 1841 a dissolução do Conservatório: o deputado Almeida Garrett responde-lhe directamente – no dia seguinte é demitido de todos os seus cargos.

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Em 1843 a Revista Universal Lisbonense publica em folhetins a primeira

parte do romance Viagens na minha Terra (obra cuja edição só ficou concluída em 1846), inspirada por um passeio ao Ribatejo, numa visita a Passos Manuel, então na oposição ao governo de Costa Cabral. A primeira representação de Frei Luís de Sousa, com Garrett no papel de Telmo, acontece também em 1843, no Teatro da Quinta do Pinheiro. A

tragédia é publicada no ano seguinte, 1844, três anos após a morte de Adelaide Deville, quando o autor conhece Rosa Montufar Barreiros, viscondessa da Luz, por quem se apaixona, a quem dirige cartas de exacerbado desejo e que lhe inspira o volume Folhas Caídas.

Nos anos do cabralismo e seguintes, afastado da política, frequenta a sociedade elegante e escreve as peças Tio Simplício, Falar Verdade a Mentir, Um noivado no Dafundo. Em 1848 é representada no Teatro de D. Maria II A sobrinha do Marquês, logo a seguir publicada. Com Alexandre Herculano, Rodrigues Sampaio, Rebelo da Silva e José Estêvão, é nomeado para a redacção de um novo projecto de lei eleitoral em Maio de 1851. Em Junho é nomeado ministro plenipotenciário para as negociações junto à Santa Sé e feito Visconde de Almeida Garrett. O governo francês concede-lhe o diploma de Grande Oficial da Legião de Honra. O sonho do autor de ver publicada a sua obra de recolha etnográfica concretiza-se enfim naquele ano, com a publicação dos fascículos II e III do Romanceiro.

De novo eleito deputado em 1852, Almeida Garrett escreve, e lê na Câmara, o «Discurso de Resposta ao Discurso da Coroa», tendo logo a seguir sido nomeado Par do Reino. Com o início da Regeneração, assiste à publicação do Acto Adicional à Carta e é nomeado Ministro dos Negócios Estrangeiros, lugar do qual se demite pouco tempo depois. Publica diversos Estudos. No ano seguinte regressa à administração do Teatro Nacional, mas demite-se a pedido dos actores e autores. São de 1853 as duas edições de Folhas Caídas (a segunda com o título Fábulas: Folhas Caídas. Garrett está já muito doente quando começa a escrever aquele que seria o seu terceiro romance, Helena. Apesar de o seu estado de saúde se agravar de dia para dia, apresenta ainda o Relatório e Bases para a Reforma Administrativa e profere, na Câmara dos Pares a resposta ao Discurso da Coroa de 1854. Morre nesse ano, em 9 de Dezembro.

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Biblioteca Almeida Garrett

Poesia

⇒ O Retrato de Vénus, 1821 ⇒ Camões. Poema, 1825; 1986 ⇒ D. Branca, ou a Conquista do Algarve, 1826; 1984 ⇒ Adozinda. Romance, 1828; 1960 ⇒ Lírica de João Mínimo, 1829; 1984 ⇒ O Roubo das Sabinas, 1968; 1979 ⇒ Fábulas; Folhas Caídas, 1853; 1999 ⇒ Flores sem Fruto, 1845; 1988 ⇒ Lírica, 1853

Teatro

⇒ Catão (Tragédia), 1822 ⇒ Um Auto de Gil Vicente (com a Mérope) (drama), 1841; 1996 ⇒ O Alfageme de Santarém, 1842 ⇒ As Profecias do Bandarra, 1877 ⇒ O Noivado no Dafundo, 1857 ⇒ O Camões do Rocio (em colaboração com Inácio Maria Feijó), 1856 ⇒ A Sobrinha do Marquês, 1848; 1877 ⇒ Filipa de Vilhena, 1846 ⇒ Tio Simplício, 1846 ⇒ Falar Verdade a Mentir, 1846 ⇒ Frei Luís de Sousa, 1844; 2004

Ensaios Políticos

⇒ O dia vinte e quatro de Agosto, 1821 ⇒ Carta de Guia para Eleitores, 1826 ⇒ Portugal na Balança da Europa, 1830; 1970

Discursos políticos

⇒ Discussão da Resposta ao Discurso da Coroa, 1840 ⇒ Discurso do Sr. Deputado por Lisboa J. B. de Almeida Garrett na discussão

da Lei da Décima, 1841 ⇒ Discursos Parlamentares e Memórias Biográficas, 1871; 1984

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Romances

⇒ Helena, 1871; 1984 ⇒ O Arco de Sant'Ana, 1845; 2003 ⇒ Viagens na Minha Terra, 1846; 2004

Memórias

⇒ Memória Histórica da Excelentíssima Duquesa de Palmela, 1848 ⇒ Memória Histórica de J. Xavier Mouzinho da Silveira, 1849 ⇒ Memória Histórica do Conselheiro A. M. L. Vieira de Castro, 1843

Antologias

⇒ Miragaia: romance popular, 1844 ⇒ Romanceiro e Cancioneiro Geral, 1843; 1988

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2º Capitulo

Romantismo e a

análise de Frei

Luís de Sousa

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O Romantismo em Portugal

O Romantismo teve como assento a publicação do

poema “Camões”. Poema da autoria de Almeida

Garrett foi escrito em 1825, numa situação de exílio, em

Inglaterra, provocada pelos conflitos resultantes da

Revolução Francesa e pelos princípios liberais que

Garrett defendia. Então, devido ao clima político muito

conturbado, este movimento estético teve um maior

relevo após 1836, altura em que o combate entre liberais e absolutistas se

desvanece.

De acordo com Garrett, o novo público desejava assuntos

sentimentais e assuntos que focassem a recuperação de tradições e de

quimeras nacionais, que haviam sido postos de lado pela cultura clássica,

ou seja temas que compunham a fisionomia do romantismo. Segundo

Garrett, a função do escritor é comunicar ao povo o valor dos ideais e a

verdade objectiva, através das sua obras e com a ajuda de temas

substanciais, patrióticos e emotivos, assim se caracterizava o movimento

romântico.

Foi através da publicação de jornais de caris patriótico e literário, da

renovação do teatro em Portugal e da publicação de inúmeros romances

que Garrett mobilizou o desenvolvimento do romantismo em Portugal.

Existe assim um confronto entre as ideias Classicistas e as ideias

Românticas:

Classicismo Romantismo A razão, a inteligência O coração, a sensibilidade, a imaginação O geral, o universal O particular, o individual O objectivo, o impessoal O subjectivo, o pessoal A vontade, o heroísmo A melancolia, o abatimento A inteligência, as abstracções As sensações, a sensibilidade A clareza, a ordenação O mistério, o sonho, a meditação O paganismo O cristianismo

O culto da antiguidade greco-latina O culto da Idade Média e dos tempos modernos

O aristocrático, o nobre, o tradicionalista O popular, o pitoresco, a paisagem

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Características do Romantismo

$ Primado dos valores do sentimento e da sensibilidade;

$ Individualismo

$ Hipertrofia do eu: Egocentrismo

$ Inspiração livre

$ Arte desligada de valores éticos, utilitários e sociais. Autonomia dos valores estéticos

$ Arrebatamentos, exaltação desmedida, espontaneidade

$ Nacionalismo

$ Homem indisciplinado, revoltado, irrequieto, pessimista

$ Homem que procura a evasão do real: no espaço – fuga para locais que representem qualquer coisa de exótico/diferente; no tempo – fuga para o passado (nomeadamente para épocas histórias em especial para a idade média)

$ Homem revoltado contra a sociedade, perdido do seu eu

$ Culto da mulher-anjo (frágil, pura, vestida de branco) ou então da mulher-demónio (leva os homens à perdição).

$ Amor sentimental e sensorial

$ Natureza espontânea, selvagem, sombria, melancólica

$ Preferência pelas horas sombrias ou crepusculares ou da noite

$ Preferência pelas personagens imperfeitas

$ Vocabulário familiar, afectivo, popular, sintaxe próprio da fala

$ Versificação livre e variedade estrófica

$ Gosto pela quadra

$ Democracia. Simpatia pelo povo

$ Tom coloquial

$ Exploração das noções de originalidade e de génio

$ Subversão das formas clássicas

$ Interesse pelo excepcional e desmedido, procura do particular e do diverso

$ Interesse pelos anseios e enigmas profundos do homem; exaltação da energia criativa do sonho e da imaginação

$ Confessionismo evidente

$ Valorização do nacional e do popular, redescoberta do passado medieval.

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Frei Luís de Sousa Frei Luís de Sousa (escrito em 1844), é um drama romântico de Almeida Garrett cujo tema clássico fatum (destino), foi o tema em qual Garrett se baseou quando escreveu esta obra. Este assunto é aquele através do qual se desfazem as esperanças, os desejos e os remorsos humanos. Nesta obra, o fatum é representado pelo regresso de D. João de Portugal (na pele de Romeiro) sobrevivente da Batalha de Alcácer Quibir, contra todas as expectativas da mulher, D. Madalena de Vilhena e do próprio aio e escudeiro, Telmo Pais. Durante a sua ausência, a sua mulher, tinha se casado com Manuel de Sousa Coutinho e tivera uma filha deste seu novo casamento: D. Maria de Noronha. Telmo Pais afeiçoara-se a esta criança, muito embora proclamando a sua fidelidade a D. João de Portugal, cuja morte se recusara a reconhecer. Quando regressou, vestido de romeiro, só Telmo é que o reconheceu… «Telmo: meu amo, meu senhor…sois vos? Sois, sois. D. João de Portugal, oh, sois vos, senhor? Romeiro: teu filho já não? Telmo: Meu filho!...oh! É o meu filho todo; a voz, o rosto…só estas barbas, este cabelo não…mais branco já que o meu senhor!» …mas Telmo, sente que o traíra com a sua afeição a Maria. Dando conta da situação, D. João resolve regressar ao “país dos mortos” e ordena ao escudeiro que vá dizer que o romeiro era um impostor, ordem à qual, o fiel Telmo responde: «Senhor, senhor! Não tenteis a fidelidade do vosso servo!» O romeiro desaparece, mas tarde demais: já está tudo desfeito. O casal enterra-se em vida, indo Manuel de Sousa Coutinho para frade e D. Madalena de Vilhena para freira, no convento ao som do De Profundis clamavi ad te, Domine. E além disso, D. Maria de Noronha morre durante a ordenação dos seus pais.

Romantismo na peça…

« Madalena era uma pessoa muito supersticiosa e por consequência qualquer coisa que ela achasse fora do normal ela considerava isso como um sinal, e todos os objectos tinham um simbolismo;

« Para Madalena o retrato de Manuel de Sousa e o seu palácio tinham um significado de presença e afirmação dele mesmo na sua mente;

« A sua destruição pelo Inocêncio fez com que Madalena pressentisse que iria perder Manuel de Sousa tal como perdeu o seu retrato e o seu palácio

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Estudo da obra

Estrutura externa

Quanto à estrutura externa, esta obra, é constituída por 3 actos e 39 cenas. As cenas estão repartidas, pelos respectivos actos, do seguinte modo:

� 1ºacto:12 cenas � 2ºacto: 15 cenas � 3ºacto: 12 cenas

Estrutura interna

Quanto à estrutura interna desta obra, pode-se dividir nas seguintes partes:

Exposição: acto I. O incêndio do palácio de Manuel de Sousa e a destruição do seu retrato; A mudança para o palácio de D. João de Portugal Conflito: acto II Chegada de D. João de Portugal na pessoa do Romeiro;

Desenlace: acto III. A morte de Maria e a tomada de hábito de Manuel de Sousa e de D. Madalena

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Caracterização das Personagens

� Manuel de Sousa

« Homem corajoso

« Lutador

« Defensor dos seus ideais

« Apaixonado por Madalena

« Patriota

« Determinado

« Homem de ideias fixas

« Não tinha ciúmes do passado de Madalena

� Dona Madalena de Vilhena:

« Supersticiosa

« Cautelosa

« Amedrontada

« Insegura

« Vivia em pânico constante

« Aterrorizada

« Crente

« Remorsos da sua vida passada

� Dona Maria de Noronha:

« Terna

« Adorava D. Sebastião

« Dom da sibila

« Corajosa

« Pura

« Ingénua

« Sofre de Tuberculose

« Possuía olhos e ouvidos de tísica

« Curiosa

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« Supersticiosa

� Frei Jorge

« Irmão de Manuel de Sousa

« Ordem dos Dominicanos

« Amigo da família

« Confidente nas horas de angústia

« É quem presencia as fraquezas de Manuel de Sousa

� Romeiro (D. João de Portugal)

« Nobre (família dos Vimioso)

« Cavaleiro

« Ama a pátria e o seu rei

« Imagem da pátria cativa

« Ligado à lenda de D. Sebastião

« Nunca assume a sua identidade

« Embora ausente, no desenrolar da acção, está sempre presente.

� Telmo Pais:

« Tinha um carinho enorme por Maria

« Era contra o segundo casamento de Madalena

« Atencioso

« Prestativo

« Conselheiro

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171

Linguagem e Estilo Linguagem:

• Enorme riqueza e expressividade do vocabulário • Diferentes níveis de língua

• Tom de voz predominante

• No texto dramático, as falas das personagens, podem apresentar características do discurso oral:

o Frases incompletas, por hesitação ou interrupção «(…) De

nascer em melhor estado. Quisestes ouvi-lo…está dito.» (Telmo, cena II)

o Alteração da ordem lógica do discurso e consequente reformulação da frase. « (…) não sei latim como meu senhor…quero dizer como o Sr. Manuel de Sousa Coutinho - que lá isso!...acabado escolar é ele.» (Telmo, cena II)

o Uso de vocabulário corrente ou mesmo familiar ou, por vezes, popular. Na cena V, Jorge chama Maria de «louquinha» e na cena VII de «tontinha»

Estilo:

• Utilização de recursos estético-estilisticos características do romantismo

o Repetição: “ Meu Deus, Meu Deus “ – Madalena, Acto I, cena

XII

“ Fujamos, Fujamos ” – Todos, Acto I, cena XII

o Interrogação retórica: “ Quem sabe se eu morrerei nas

chamas ateadas por minhas mãos? “ – Manuel, Acto I, cena XI

o Enumeração: “ Parti já tudo, as arcas, os meus cavalos, armas

e tudo o mais.” – Manuel, Acto I, cena X

o Ironia: “ Ilumino minha casa para receber os muito poderosos

e excelentes senhores governadores destes reinos. Suas

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172

Excelências podem vir, quando quiserem.” – Manuel, Acto I,

cena XII

• Construções frásicas típicas.

Espaço

� Acto 1º

Palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada.

Descrição: Câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa

elegância portuguesa dos princípios do século XII. É, pois, um espaço

sem grades, amplamente aberto para o exterior, onde as personagens

ainda gozam a liberdade de se movimentarem guiadas pela sua

vontade própria. Através das grandes janelas rasgadas domina-se

uma paisagem vasta. – É o fim da tarde.

� Acto 2º

Palácio que fora de D. João de Portugal, em Almada, que agora

pertença a D. Madalena.

Descrição: Salão antigo de gosto melancólico e pesado, com grandes

retratos de família, muitos de corpo inteiro; estão em lugar de

destaque o de el-rei D. Sebastião, o de Camões e o de D. João de

Portugal. Portas do lado direito para o exterior, do esquerdo para o

interior, cobertas de reposteiros com as armas dos Condes de

Vimioso. Deixa de haver janelas e as portas, ainda no plural, são já

mais destinadas a cercar as personagens que a deixá-las escapar.

� Acto 3º

Parte baixa do Palácio de D. João de Portugal, comunicando pela

porta à esquerda do espectador, com a capela da Senhora da

Piedade na Igreja de S. Paulo dos Domínios de Almada.

Descrição: é um casarão sem adorno algum. Arrumadas às paredes,

em diversos pontos, escadas, tocheiras, cruzes e outros objectos

próprios para uso religioso. É alta noite.

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Tempo

� A acção acontece em 1599, durante o domínio filipino: Portugal estava

sobre o domínio dos Filipes de Espanha o que não agradava a diversos

senhores da grande carisma na sociedade;

� Um desses senhores era Manuel de Sousa;

Informações temporais dadas através das falas das personagens:

� 21 Anos após Batalha de Alcácer Quibir (4 de Agosto de 1578);

«A que se apegava esta vossa credulidade de sete…e hoje mais catorze…vinte

e um anos?» D. Madalena questiona Telmo (acto 1, cena 2)

� Referencia á peste (1598 e 1602): «Manuel: e os ares maus de Lisboa? /

Jorge: isso já acabou de todo; nem sinal de peste. Mas, enfim, a

prudência…»

� Em cena temos apenas duas partes de dois dias

� Tempo histórico (o desenrolar da acção está dependente da batalha)

� Tempo da acção

� Ao afunilamento do espaço

corresponde uma concentração

do tempo dum dia especial da

semana: 6ª feira

� As principais cenas passam-se

durante a noite.

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Conclusão

Com a elaboração deste trabalho, consegui alcançar os

objectivos propostos no inicio de todo este trabalho. Adquiri mais

conhecimentos acerca da vida e obra de Almeida Garrett.

Verifiquei que Garrett era um homem de vasta cultura,

pedagogo, dramaturgo, cronista e diplomata. Licenciado em Direito, teve

vários cargos junto da administração cultural do país. Mesmo assim, Garrett

não teve uma vida fácil: foi educado por um tio que “queria” que ele

seguisse a vida religiosa; teve de se exilar duas vezes em Inglaterra e em

França devido a perseguições…mas como recompensa alcançou um

enorme prestigio como escritor. Considerado o introdutor do Romantismo

em Portugal, Garrett foi incumbido de restaurar o teatro Português,

surgindo assim o Teatro D. Maria II.

Com o estudo da sua obra Frei Luís de Sousa, consegui

caracterizar as personagens intervenientes na obra, o espaço e o tempo e

até as características da linguagem.

Em jeito de conclusão, posso afirmar que este trabalho veio

enriquecer a minha cultura literária assim como o meu gosto pelo teatro e

literatura Romântica.

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175

Bibliografia

���� Electrónica…

• Http://google.com • Http://sapo.pt • Http://faroldasletras.no.sapo.pt/romantismo.htm • Http://www.notapositiva.com/trab_estudantes • Http://www.prof2000.pt/users/secjeste/DLRC/Portugues/Romantis/Pg000020.htm

���� Literária

• PIMENTA, Hilário, MOREIRA, Vasco, Dimensões da Palavra 11º ano, Carnaxide, Santillana-Constancia, 2003

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176

Elaborado por:

Ana Isabel Peixoto nº 1

Ana Sofia Araújo nº 2

Paulo André Campinho nº14

11º10

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Capa__________________________________________________________1

Índice_________________________________________________________2

Introdução______________________________________________________3

Dois tipos de edução tratados N’Os Maias___________________________4, 5

Confronto entre a educação tradicional e a educação à inglesa__________6, 7 Conclusão______________________________________________________8 Bibliografia_____________________________________________________9

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Este trabalho é sobre a educação portuguesa confrontada com a inglesa,

pois é um tema abordado pela livro que estamos a ler nas aulas de português,

esse livro chama-se Os Maias de Eça de Queirós.

Este trabalho foi-nos orientado pelo professor de português pois é uma

forma de ficarmos a conhecer melhor a obra de Eça e tudo o que está a volta

dela.

Estas duas formas de educar são retratadas por Eça como duas

educações muito distintas.

Neste trabalho vamos poder observar quais são essas divergências, o que

elas representam na sociedade, como formas os Homens para um vida comum.

Page 179: Portefolio Completo Portugues

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Dois tipos de edução tratados N’Os Maias

Os Maias surgem como um romance realista, ao reflectir os espaços

sociais da sociedade romântica, evocando, frequentemente, à estética naturalista

com algumas personagens como resultado de factores naturais, sobretudo do

meio, da hereditariedade e da educação.

Eça procura descobrir razões para a crise social, política e cultural a partir

da formação da pessoa. Factor de humanização, de socialização e de autonomia,

a educação produz ou reproduz modelos sociais que propõem um sistema de

valores e princípios base de uma sociedade

Na realidade, o tema da educação é frequentemente tratado por Eça de

Queirós e surge N’Os Maias como um dos fundamentais factores

comportamentais e da mentalidade do Portugal romântico por contraposição ao

Portugal novo, este, que estava voltado para o futuro.

Eça expõe dois sistemas educativos antagónicos: a educação

tradicionalista e conservadora, protagonizada por Pedro da Maia e Eusébiozinho,

e a educação inglesa aplicada a Carlos.

A educação à portuguesa caracterizou-se

pelo recurso à memorização, deu prioridade à

cartilha apenas com os conhecimentos e os

valores aí inscritos, à “moral do catecismo” e da

crença religiosa com a concepção punitiva do

pecado, ao estudo do Latim como língua morta,

à fuga ao ar livre e ao ligação com a Natureza. Menosprezou a criatividade e o

juízo crítico, desfigurou a vontade própria, constrangeu os indivíduos para a

decadência física e moral. Levou Pedro da Maia a uma devoção desequilibrada

pela mãe e levou-o ao suicídio por não encontrar uma solução para a vida

quando Maria Monforte o desamparou e tornou Eusébiozinho num fraco.

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A educação inglesa caracterizou-se pelo

crescimento da inteligência graças ao

conhecimento experimental, pelo desprezo da

cartilha, embora com a defesa do “amor da virtude”

e da “honra” como convém a um cavalheiro e a

“um homem de bem”, pela ginástica e pela vida ao

ar livre, pelo contacto directo com a Natureza, pelo gosto das línguas vivas. Esta

educação aplicada a Carlos da Maia preparou-o para a vida, fortificando o corpo

e o espírito.

Graças a ela, Carlos obteve os valores do trabalho e do conhecimento

experimental que o levaram a tirar o curso de Medicina e projectos de

investigação, de dedicação na vida literária, cultural e cívica.

A vida e ociosidade de Carlos e o consequente fracasso dos seus

projectos de trabalho útil e produtivo não originaram da educação mas da

sociedade em que se viu inserido. A falta de motivações no meio em que se

movimentou, o próprio estatuto económico que não lhe impunha qualquer

esforço, a paixão romântica que o seduziu foram razões suficientes para, apesar

de culturalmente bem formado, desistir, sentir o desencanto e afastar-se das

acções produtivas. Mas ao contrário de seu pai, Pedro da Maia, que perante o

desastre amoroso se suicidou, Carlos procura um novo rumo, formando uma

filosofia de vida a que chama “fatalismo muçulmano”: “Nada desejar e nada

recear”. Não se abandonar, a uma esperança nem a uma desilusão. Tudo aceitar,

o que vem e o que foge, com paz.

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Confronto entre a educação tradicional e a educação à

inglesa

Ao longo de toda a obra, podemos observar um enorme confronto entre a

educação tradicional de Eusébiozinho e a educação à inglesa de Carlos da Maia;

podendo construir um quadro síntese das características de cada uma das

educações:

Carlos da Maia – à Inglesa Eusebiozinho – Tradicional

Pedagogo Inglês – Brown Pedagogo Português – Abade Custódio

Contacto com a Natureza

“... Correr, cair, trepar às árvores, molhar-se, apanhar soalheiras, como um filho de caseiro...”

Permanecia em casa

“... Passava os dias nas saias da titi...”

Aprendizagem de línguas vivas: Inglês

“... Mostrou-lhe o neto que palrava inglês com o Brown...”

Aprendizagem de línguas mortas: Latim

“...a instrução para uma criança não é recitar Tityre, tu patulae recubans...”

Brincadeiras e divertimento

“Estou cansado, governei quatro cavalos...”

Contacto com velhos livros

“... Admirar as pinturas de um enorme e rico volume, «Os costumes de todos os povos do

Universo»...”

Rigor, método e ordem

“...tinha sido educado com uma vara de ferro!...”, “...não tinha a criança cinco anos já dormia num

quarto só, sem lamparina...”

Excessiva protecção

“...levava ao colo o Eusebiozinho, que parecia um fardo escuro, abafado em

mantas, com um xale amarrado na cabeça...”

“...nunca o lavavam para o não constiparem...”

Valorização da criatividade e juízo crítico Valorização da memorização

“...Que memória! Que memória... É um prodígio!...”

Submissão da vontade ao dever

“...Ainda é muito cedo, Brown, hoje é festa, não me vou deitar!... Carlos tenha a bondade de

marchar já para a cama!”

Suborno da vontade pela chantagem afectiva

“...e a mamã prometeu-lhe que, se dissesse os versinhos, dormia essa noite com ela...”

Desprezo da Cartilha e do conhecimento teórico

“... É saber factos, noções, coisas úteis, coisas práticas...”

“...e pedira-lhe que lhe dissesse o Acto de Contrição. ... Que nunca em tal ouvira falar...”

Estudo da Cartilha

“...a decorar versos, páginas inteiras do «Catecismo de Perseverança»...”

Exercício físico: ginástica ao ar livre

“...a remar, Sr. Vilaça, como um barqueiro! Sem contar o trapézio, e as habilidades de palhaço...”

Débil na sua saúde e não tinha actividade física

“...Não tem saúde para essas cavalgadas...”

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Como é de prever, cada uma destas educações teve diferentes

consequências em cada uma das personagens: enquanto que Carlos da Maia se

tornou um homem com imenso conhecimento prático, sociável, tolerante, um

homem com conhecimentos de línguas vivas: Inglês e um formado em medicina;

o Eusébiozinho apenas se tornou num homem intolerante e anti-social, um

homem que possuía apenas conhecimento teórico, que aprendera línguas

mortas: Latim – e um bacharelato em Direito.

Ainda é bom referir, quem é que aprovava e quem constatava cada uma

das diferentes educações:

Educação à Inglesa Educação à Portuguesa

Quem apoiava essa educação:

- Afonso da Maia

- Brown

Quem apoiava essa educação:

- Vilaça

- As Senhoras

- Abade Custódio

- Gertrudes e Teixeira

Quem era contra essa educação:

- Vilaça

- As Senhoras

- Abade Custódio

- Gertrudes e Teixeira

Quem era contra essa educação:

- Afonso da Maia

- Brown

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Com este trabalho nós conseguimos atingir o nosso objectivo, ficar a

conhecer melhor a obra e o que estava em redor dela sobre o nosso tema.

Este trabalho dá-nos uma perspectiva de duas culturas – duas maneiras

de educar completamente diferentes.

Assim, esperemos que o nosso trabalho também possa dar a conhecer

aos outros de forma clara estas duas educações.

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Para elaborar este trabalho utilizamos: Livros: - PESSOA, Luísa – “ Os Maias de Eça de Queirós: Introdução ao estudo da obra”. Edições Bonanza. Sites: - www.google.pt

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Índice Gramatical

Actos de Fala……………………………….. .................................................................. 85 Categorias básicas dos actos ilocutórios....................................................................... 85 oActos assertivos:…………………………. ........................................................ 85 oActos directivos:…………………………. ........................................................ 85 Actos compromissivos:…………………… ......................................................... 86 Actos Expressivos………………………….......................................................... 86 Declarações:……………………………….. .................................................................... 86 oDeclarações assertivas:…………………............................................................ 86 Referência deíctica……………………….. ..................................................................... 87 oDeixis pessoal………………………………....................................................... 87 oDeixis Temporal ....................................................................... 87 oDeixis espacial ....................................................................... 87 Relações entre palavras ....................................................................... 88 Funções Sintácticas ....................................................................... 89 Classe e subclasse das palavras ....................................................................... 92 1. Nome: ....................................................................... 92 Subclasses do nome ....................................................................... 93 2. Adjectivos: ....................................................................... 93 Subclasses do adjectivo ....................................................................... 94 Formações particulares e irregulares de comparativos e superlativos.................... 94 3. Advérbios:..................................................................................................................... 95 4. Preposições ................................................................................................................... 95 Recursos estilísticos ....................................................................... 96 Discurso Directo VS Discurso Indirecto..................................................................... 101 Frase simples VS Frase Complexa ..................................................................... 102 Orações Subordinadas ..................................................................... 104 A Narrativa ..................................................................... 105

Narrar ...................................................................................................................... 105 Uma Narrativa é constituída por: ....................................................................... 105 1. Estrutura Geral ................................................................................................ 105 2. A Acção............................................................................................................. 106 3. As Personagens ................................................................................................ 107 4. O Tempo ........................................................................................................... 108 5. O Espaço ........................................................................................................... 109 6. O Narrador ....................................................................................................... 110 7. O Narratário..................................................................................................... 111 8. Narrativa Aberta / Narrativa Fechada ............................................................. 111

O Verbo ..................................................................... 112

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Índice das fichas e Trabalhos Fichas Pedagógica da Escrita – Coerência e coesão textual................................................. 117 Tipologias Textuais ..................................................................... 118 Preposição ..................................................................... 119 Conjunção ..................................................................... 119 Registo e tratamento de informação ..................................................................... 121 Como fazer uma Referencia bibliográfica.................................................................. 122 Como apresentar a Informação ..................................................................... 122 Registo e tratamento de informação ..................................................................... 123 Produção e compreensão do texto: coesão e coerência ............................................ 124 Frei Luís de Sousa de almeida Garrett ..................................................................... 126 Esta é uma verdadeira tragédia ..................................................................... 126 Definição de tragédia ..................................................................... 127 Tragédia ..................................................................... 127 Elementos Essenciais da Tragédia Grega................................................................... 128 A importância d’ Os Lusíadas no início da peça ........................................................ 129 O Romantismo na Obra ..................................................................... 130 Classificação da obra ..................................................................... 131 Sebastianismo ..................................................................... 132 Processo psicológico de auto-revelação e de desarticulação da personalidade de Telmo ..................................................................... 133 Categorias do processo dramático ..................................................................... 134 Os Maias: o espaço Social ..................................................................... 138

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Trabalhos

Padre António vieira

Introdução ..................................................................... 148 I – Quem é Padre António Vieira? ..................................................................... 149 II – Padre António Vieira e Barroco ..................................................................... 151 Breve definição de Barroco… ..................................................................... 151 O Barroco na Literatura: Principais características! ..................................................... 151 O Barroco e Padre António Vieira ..................................................................... 152 III – A Inquisição ..................................................................... 153 Padre António Vieira e a Inquisição ..................................................................... 153 Conclusão ..................................................................... 154 Bibliografias… ..................................................................... 155

Almeida Garret

Introdução ..................................................................... 157 1º Capitulo ..................................................................... 158 Vida e obra de Almeida Garrett ..................................................................... 158 Biografia de Almeida Garrett ..................................................................... 159 Biblioteca Almeida Garrett ..................................................................... 162 2º Capitulo ..................................................................... 164 Romantismo e a análise de Frei Luís de Sousa.......................................................... 164 O Romantismo em Portugal ..................................................................... 165 Características do Romantismo ..................................................................... 166 Frei Luís de Sousa ..................................................................... 167 Estudo da obra ..................................................................... 168 Caracterização das Personagens ..................................................................... 169 Linguagem e Estilo ..................................................................... 171 Espaço ..................................................................... 172 Tempo ..................................................................... 173 Conclusão ..................................................................... 174 Bibliografia ..................................................................... 175

Os Maias: Eça de Queirós

Dois tipos de edução tratados N’Os Maias 179

Confronto entre a educação tradicional e a educação à inglesa 181

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Artigo Científico e Técnico

Doenças periodontais? Dentastix!

Resumo:

As doenças periodontais têm sido identificadas como as doenças mais frequentes nos cães domésticos. A doença inicia com a acumulação de placa bacteriana nos dentes, iniciando um estado inflamatório que afectará todos os tecidos de suporte, originando, por vezes, a perda dos dentes. Introdução:

Este artigo vem elucidar de forma clara e objectiva alguns dos aspectos gerais sobre as doenças periodontais e qual a solução para as atenuar. Notar-se-á dois tópicos principais, os quais estão intimamente ligados. Em qualquer cão…

As doenças periodontais ocorrem com mais frequência nos cães de raça pequena, embora que o aumento deste tipo de doença está fortemente associado ao avançar da idade em qualquer raça de cão. Com o agravar da doença, o cão fica com mais dificuldade ao comer, tornando-se dolorosa. Como resultado a remoção de dentes é frequentemente recomendada, e em cães de certa idade poderá ser bastante perigoso e traumático. Hoje em dia, para a redução do aparecimento deste tipo de doenças nos cães, recomenda-se que juntamente com uma boa alimentação diária deve-se dar ao cão algo para mascar, visto que só a boa alimentação não é o suficiente para prevenir a acumulação de comida nos dentes e gengivas dos cães. Por tal motivo lavar os dentes foi considerada a alternativa mais eficaz na prevenção de doenças periodontais nos cães. Este procedimento só resulta se for realizado pelo menos três vezes por semana, o que a maior parte dos donos não está disposto a fazer.

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Snacks de Higiene oral Vs Dentastix

O controlo de acumulação de depósitos dentários através de snacks oferece uma alternativa bastante realista e muita da pesquisa efectuada nos últimos anos, teve como base o desenvolvimento de texturas específicas na alimentação e em snacks de higiene oral. Os snacks têm como objectivo reduzir o aparecimento de doenças periodontais nos cães, através ou através da remoção da acumulação de restos alimentares. Está provado que 80% dos cães aos 3 anos de idade já têm doenças dentais como

a gengivite e a placa bacteriana. A Pedigree juntamente com o centro de investigação Waltham,

desenvolveu o Dentastix um snack para cães. Este tem como principal objectivo reduzir as doenças periodontais nos cães. Graças ao seu formato em X, bem como os seus componentes, usado diariamente torna-se bastante eficaz no combate as doenças periodontais. Para além disso, o Dentastix é um snack altamente palatável é facilmente aceite e poderá ser oferecido em adição á alimentação normal, em qualquer momento. Conclusão Após todos os estudos efectuados pela Universidade de New England na Austrália, ficou provado que os cães que tinham um Dentastix na sua alimentação, apresentam níveis significativamente menores de gengivite, placa bacteriana e tártaro em relação ao grupo dos cães que não mascou Dentastix. Esta eficácia foi determinada medindo a severidade da gengivite, placa bacteriana e tártaro em cães alimentados com diferentes regimes alimentares. Os regimes alimentares eram compostos por: 1- alimentação standard + snack; 2- alimentação standard sem snack. A alimentação standard era composta por parte de secos e outra parte de húmidos. Este regime foi administrado durante três meses. Fig.1 efeitos dos dois regimes alimentares utilizados nos três tipos de doenças dentais: Gengivite, placa bacteriana e tártaro.

Fontes: Fig. 2 Imagem de um Dentastix

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� Journal of veterinary dentistry vol.21, nº1, Março de 200 � Revista Cães e Gatos, nº 41