por uma geografia da música: um panorama mundial e vinte

10
Por uma geografia da música: um panorama mundial e vinte anos de pesquisas no Brasil Lucas Manassi Panitz Mestre em Geografia. Doutorando no Programa de Pós-graduação em Geografia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul et Université Bordeaux 3. E-mail: [email protected] Recebido em 04/2012. Aceito para publicação em 12/2012. Versã o online publicada em 01/02/2013 (http://seer.ufrgs.br/paraonde) ISSN 1982-0003 Para Onde!?, Volume 6, Nú mero 2, p. 1-10, jul./dez. 2012 Instituto de Geociências, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Resumo - A geografia da música, apesar de quase um século de existência oficial, só recentemente têm tido a devida atenção dos geó grafos interessados no estudo da cultura e das manifestaçõ es artıś ticas em sua dimensão espacial. A quantidade de materiais disponıv́ eis em formato digital atualmente permite um bom reconhecimento deste campo de estudo em geografia, e indica Estados Unidos, Inglaterra e França como centros de discussão avançada, além do Brasil como potencial âmbito ibero-americano, por sua considerável produção acadêmica. Neste sentido, é apresentado um panorama mundial nos estudos de Geografia e mú sica, e um balanço dos vinte anos de pesquisa da Geografia brasileira. Palavras-chave: Geografia. Mú sica. Geografia da Mú sica. Geografia Brasileira. -1- Introdução A música há algum tempo vem despertando um crescente interesse na Geografia, embora ainda incomparável a outras ciências humanas como a Antro- pologia, a Sociologia e os Estudos Culturais. Contudo, há de ressaltar que a gênese do interesse das ciências humanas pela música remete, justamente, à gênese da Geografia moderna, da Etnologia e da Arqueologia. A Geografia da música, apesar de quase um século de existência oficial, só recentemente têm tido a devida atenção dos geó grafos interessados no estudo da cultu- ra e das manifestaçõ es artıś ticas em sua dimensão espa- cial. A quantidade de materiais disponıv́ eis em formato digital atualmente permite um bom reconhecimento deste campo de estudo em geografia, e indica Estados Unidos, Inglaterra e França como centros de discussão avançada. No âmbito ibero-americano verifica-se sua pouca difusão, com exceção do Brasil, onde se encontra um considerável número de teses e dissertações pro- duzidas nos ú ltimos vinte anos, além de artigos e tradu- ções de artigos seminais na temática. Neste sentido, será apresentado um panorama global destes estudos, e uma apresentação destes vinte anos de pesquisa no Brasil, marcados pela diversidade de abordagens e pela valorização da cultura brasileira. As raízes da discussão Ao contrá rio do que se possa imaginar, quan- do tratamos de manifestações culturais e espaço geo- gráfico, o interesse geográfico pela mú sica não aparece no giro cultural dos anos 1980, quando decorridas as reorientaçõ es teó ricas nas ciências sociais, em especial nos paıś es anglo-saxões. As primeiras considerações que ligam a Geografia moderna à expressão musical podemseratribuıd́ asà FriedrichRatzeleseudiscıṕ ulo Leo Frobenius, etnólogo e arqueólogo africanista. Como observa Reynoso (2006), Ratzel influenciou deci- didamente a Escola Histórico Cultural alemã e austrıá - ca, sendo Frobenius o principal pesquisador que levou adiante as teorias do geó grafo alemão. Atento aos indı-́ cios materiais da cultura, Ratzel observou similarida- des entre os arcos da Africa Ocidental e da Melanésia, suas caracterıś ticas morfológicas, bem como as formas das flechas usadas junto com o arco. Frobenius levou a pesquisa adiante e relacionou similaridades entre os tambores e outros instrumentos musicais, que o levou a desenvolver a noçã o de Cıŕ culos Culturais (Kulturkreis) junto aos etnologistas austrıá cos Fritz Graebner e Wilhelm Schimidt, inspirados em Ratzel. Partindo dessa noção, a partir do estudo da distribuição espacial de instrumentos musicais, entre outros procedimen- tos, Frobenius estabeleceu regionalizações na Africa que remetem aos ciclos de difusão de etnias, propondo, por exemplo, a seguinte divisão: Negra, Melanésio- Negra, Indo-Negra e Semı́tico-Negra (MERRIAM, 1983). Estabelecendo áreas culturais a partir de uma espacialidade dos instrumentos musicais na Africa, Leo Frobenius pode ser considerado o primeiro sis-

Upload: others

Post on 02-Nov-2021

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Por uma geografia da música: um panorama mundial e vinte

Porumageografiadamúsica:umpanoramamundialevinteanosdepesquisasnoBrasil

LucasManassiPanitz

MestreemGeografia.DoutorandonoProgramadePos­graduaçaoemGeografia.UniversidadeFederaldoRioGrandedoSuletUniversiteBordeaux3.E­mail:[email protected]

Recebidoem04/2012.Aceitoparapublicaçaoem12/2012.

Versaoonlinepublicadaem01/02/2013(http://seer.ufrgs.br/paraonde)

ISSN1982­0003ParaOnde!?,Volume6,Numero2,p.1­10,jul./dez.2012InstitutodeGeociencias,ProgramadePos­GraduaçaoemGeografia,UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul,PortoAlegre,RS,Brasil.

Resumo-Ageografiadamusica,apesardequaseumseculodeexistenciaoficial,sorecentementetemtidoadevidaatençaodosgeografosinteressadosnoestudodaculturaedasmanifestaçoesartısticasemsuadimensaoespacial.Aquantidadedemateriaisdisponıveisemformatodigitalatualmentepermiteumbomreconhecimentodestecampodeestudoemgeografia,eindicaEstadosUnidos,InglaterraeFrançacomocentrosdediscussaoavançada,alemdoBrasilcomopotencialambitoibero­americano,porsuaconsideravelproduçaoacademica.Nestesentido,eapresentadoumpanoramamundialnosestudosdeGeografiaemusica,eumbalançodosvinteanosdepesquisadaGeografiabrasileira.Palavras-chave:Geografia.Musica.GeografiadaMusica.GeografiaBrasileira.

-1-

Introdução

Amusicahaalgumtempovemdespertandoum crescente interesse na Geografia, embora aindaincomparavelaoutrascienciashumanascomoaAntro­pologia,aSociologiaeosEstudosCulturais.Contudo,hade ressaltar que a genese do interesse das cienciashumanaspelamusicaremete,justamente,agenesedaGeografiamoderna,daEtnologiaedaArqueologia.AGeografia damusica, apesar de quase um seculo deexistenciaoficial, so recentemente temtidoadevidaatençaodosgeografosinteressadosnoestudodacultu­raedasmanifestaçoesartısticasemsuadimensaoespa­cial.Aquantidadedemateriaisdisponıveisemformatodigitalatualmentepermiteumbomreconhecimentodestecampodeestudoemgeografia,eindicaEstadosUnidos,InglaterraeFrançacomocentrosdediscussaoavançada.Noambitoibero­americanoverifica­sesuapoucadifusao,comexceçaodoBrasil,ondeseencontraumconsideravelnumerodetesesedissertaçoespro­duzidasnosultimosvinteanos,alemdeartigosetradu­çoesde artigos seminaisna tematica.Neste sentido,seraapresentadoumpanoramaglobaldestesestudos,eumaapresentaçaodestesvinteanosdepesquisanoBrasil,marcadospeladiversidadedeabordagensepelavalorizaçaodaculturabrasileira.

Asraízesdadiscussão

Aocontrariodoquesepossaimaginar,quan­

dotratamosdemanifestaçoesculturaiseespaçogeo­grafico,ointeressegeograficopelamusicanaoaparecenogiroculturaldosanos1980,quandodecorridasasreorientaçoesteoricasnascienciassociais,emespecialnospaısesanglo­saxoes.Asprimeiras consideraçoesque ligamaGeografiamoderna a expressaomusicalpodemseratribuıdasaFriedrichRatzeleseudiscıpuloLeo Frobenius, etnologo e arqueologo africanista.ComoobservaReynoso(2006),Ratzelinfluencioudeci­didamenteaEscolaHistoricoCulturalalemaeaustrıa­ca,sendoFrobeniusoprincipalpesquisadorquelevouadianteasteoriasdogeografoalemao.Atentoaosindı­ciosmateriaisdacultura,Ratzelobservousimilarida­desentreosarcosdaA� fricaOcidentaledaMelanesia,suascaracterısticasmorfologicas,bemcomoasformasdasflechasusadasjuntocomoarco.Frobeniuslevouapesquisaadianteerelacionousimilaridadesentreostamboreseoutrosinstrumentosmusicais,queolevouadesenvolveranoçaodeCırculosCulturais(Kulturkreis)junto aos etnologistas austrıacos Fritz Graebner eWilhelm Schimidt, inspirados em Ratzel. Partindodessanoçao,apartirdoestudodadistribuiçaoespacialde instrumentosmusicais,entreoutrosprocedimen­tos, Frobenius estabeleceu regionalizaçoes na A� fricaqueremetemaosciclosdedifusaodeetnias,propondo,por exemplo, a seguinte divisao: Negra, Melanesio­Negra, Indo­Negra e Semıtico­Negra (MERRIAM,1983).EstabelecendoareasculturaisapartirdeumaespacialidadedosinstrumentosmusicaisnaA� frica,LeoFrobeniuspodeserconsideradooprimeirosis­

Page 2: Por uma geografia da música: um panorama mundial e vinte

-2-

tematizador do estudo entre espaço geografico emusica,que ira influenciar toda uma geraçao deetnologosemusicologistas.Dessaforma,nabuscadeumagenesedointeressedaGeografiamodernapelamusica,ateopresentemomentoencontramosemRatzeloprincıpioinspiradordessadiscussao,bemcomoemFrobeniusodesenvolvimentoteori­coeempıricodamesma. E� bomlembrarqueanoçaodeKulturkreispostulavaquecertonumerodeciclosculturaissedesenvolviaemtodoomundo,emdistintosluga­res,emdistintasepocashistoricasesedifundiamnoespaço,dandoorigemanovasculturas;essasproposiçoes basearam­se em princıpios difusio­nistas,queinfluenciaramdiretamenteaAntropo­logia e a Geografia Cultural norte­americanas, apartirdaUniversidadedeBerkeley.CarlSauer,filhode imigrantesgermanicosradicadosnosEstadosUnidos,foiofundadordaGeografiaCulturalameri­cana, tambem chamada de Escola de Berkeley.Sauerfoiprofundamenteinfluenciadopelasteori­asdifusionistasdeRatzel,utilizando­sedanoçaode A� rea Cultural de seu colega, o antropologoAlfredKroeber(este,discıp ulodoprussianoFranzBoas,aquemsedeveacriaçaodanoçaodeA� reaCultural,eresponsavelporlevaraosEstadosUni­dosumaversaorenovadadaKulturkreis).CarlSau­er,profundoleitordaobradeRatzel,herdaointe­ressepelosestudosdedifusaoe, sobretudopelanoçaodeA� reaCultural,deBoaseKroeber,ampla­mente relacionada com os postulados de Ratzel.Vendoassim,naoseestranhaqueointeressegeo­graficopelamusicatenhasedadojustamentecomosdiscıp ulosdeSauer,eque,comoveremosadian­te,sejamosEstadosUnidoseoCanadaaquelesquedesenvolvematehojeboapartedaspublicaçoesnaarea. Porem, tal interessenao foiexclusividadedospaısesgermanicosedosEstadosUnidos.NasduasprimeirasdecadasdoseculoXX,naFrança,saodesenvolvidasreflexoesacercadeuma“Geo­grafiamusical”comodisciplinapropria.Nessesen­tido o etnologo, arqueologo e geografo francesGeorgesdeGironcourtpropoeessenovocampodeestudosparaageografianosAnnalesdeGéographiedaAssociaçaoFrancesadeGeografia(GIRONCOURT,1927),tendorealizadodiversosestudosnaTunı­sia,JavaeCamboja.Comaintençaodeestabelecerumnovo campode estudonaGeografia, o autorafirmaque “pode­seadmitirqueo repertoriodesonselesmesmosedesuasassociaçoesemcombi­naçoes musicais foram ate agora negligenciadospelosgeografos.”(ibidem,p.292).Segundooautor,aGeografiamusicaldeveriasedebruçarsobreasformas musicais atraves do espaço e do tempo,

permitindo analisar a fixaçao e amobilidade desociedades e civilizaçoes. A simples introduçao,por exemplo, de certo tipo de chocalho em umabandadejazznorte­americana,podedarinforma­çoesimportantessobreaorigemetnicaegeografi­cadedeterminadosgrupos,mastambemdeinstru­mentoseformasmusicaisquevaosetransforman­doe se adaptandoa cada sociedadeemque saoinseridos. E� assim que, em trabalho posterior,Gironcourt (1939) expoe alguns dos resultadospessoaiscoletadosaolongodedozeanosdedica­dosaotema,desdeseuartigoseminaladvogandopelanovadisciplinageografica.Noreferidotexto,oautorafirmaatravesdediversosestudosrealiza­dospelomesmo,queepossıvelrecomporamobili­dadedepopulaçoesesuasorigensatravesdasfor­masmusicais,poisestas formaspermanecemnotempoenoespaçoaolongodahistoriahumanaousemodificamlevandoalgumascaracterısticaspre­teritasparaoutroslugares:ouseja,haumcaraterdefixidadeeumcaraterdemobilidadedosgruposhumanososquaispodemserestudadosatravesdamusica. A principal diferença entre Frobenius eGironcourtequeenquantooprimeiroreconstituıaperıodos historicos e pre­historicos atraves daculturamaterial,aosegundotambeminteressavamas formas naomaterializadas como os ritmos, ocantoeasdançastradicionais.Gironcourtperma­nece desconhecido ate hoje, tendo sido o novocorpoeditorialdarevistaLaGeographieresponsa­velporresgataraimportanciadessesartigossemi­naisquandodaorganizaçaodeumaediçaoespecialsobregeografiaemusica.Dessaforma,considera­sequedesdeasultimaspublicaçoesdeGironcourt,ao finaldadecadade1930, a geografia francesapermaneceudistantedotema,atequegruposdegeografos retomaram seu interesse, e de formamaissistematica,dentrodeunidadesdepesquisasdoCNRS­CentreNationaldelaRechercheScienti­fique.

Asgeografiasmusicaisanglófonas

Nash&Carney(1996),doisdosprincipaisprecursoresdotemanaAmericadoNorte,fazemumretrospectodasultimastresdecadasdetraba­lhosnaarea,nomundoanglofono.Noesforçodeatribuirumaorigemageografiadamusica,esemcitaraFrobeniuseGironcourt,osautoresafirmamque

A pre­historia da geografia damusica foidominadaporetnomusicologiasefolcloris­tas, os quais focaram nao so nos tipos elocalizaçoes de instrumentos musicais,

Page 3: Por uma geografia da música: um panorama mundial e vinte

-3-

mas tambem em regioes musicais. CurtSachs,eseuGeistunWerdenderMusikins-trumente (Significado e Desenvolvimentode Instrumentos Musicais) publicado em1929[...]eoutrosprofundamenteinteres­sadosnosaspectosespaciaisdesuaspes­quisasetnomu­sicologicas(idem,p.70).

Osautoresaindaavaliamquedesdeadeca­dade1960ate1996,maisdequarentaartigoshavi­am sido publicados em revistas internacionais enacionais e quase o mesmo numero de paperssobreotemaforamapresentadosemencontrosdegeografiaecienciashumanas.Elesaindaatribuemaconferencia“ThePlaceofMusic”organizadopeloInstitutodeGeografosBritanicoseassessoesespe­ciaisdegeografiadamusicanaAssociaçaodeGeo­grafosAmericanos,ambosrealizadosnaprimeirametadedadecadade1990,comonotaveisindıciosda credibilidadedadisciplina, consideradapelosmesmoscomumsubcampodageografiacultural;essacredibilidade,segundoosautores,tambemfoicorroboradapelascitaçoesdospesquisadoresdaareaematlas,enciclopedias,bibliografias, livros­textos de geografia humana e livros academicos.InfluenciadospelaGeografiaculturaldaEscoladeBerkeley,osgeografosanglofonos(sobretudoesta­dunidensese cana­denses) focaram­seboapartedotempoemdescriçaodasrepresentaçoesespaci­aisnascançoes,nasanaliseslocacionaisededifu­saoderitmos,instrumentosepraticasmusicais,enaregionalizaçaodestes. Contudo,apartirdaaconferenciaThePlaceof Music em 1993, organizado pelo Instituto deGeografos Britanicos, surge uma renovaçao dosestudos,emdireçaoaabordagensmaiscrıticas.Defato, a conferencia aparece em ummomento defrancarenovaçaodageografiaculturalnospaısesdelınguainglesa,levadoadianteemgrandemedi­daporpesquisadoresbritanicos,ejapassadomaisdeumadecadadesdeoartigo“Osupra­organiconageografia culturalamericana”deDuncan (1980),ondeoautor fazumacrıtica a geografia culturalsaueriana,equeeconsideradoumdosmomentosmais importantesdaviradaculturalnageografiaanglo­saxa.AobraThePlaceofMusicreuneartigosde pesquisadores esta­dunidenses, canadenses e,sobretudobritanicos,docampodageografia,daetno­musicologia, da historia, dos estudos culturais,entreoutros.Logoemsuaintroduçao,seusorgani­zadorestratamdeexporaperspectivadacoleta­nea.Seopondoaotratamentodadopelamusicgeo-graphydeinfluenciasaueriana,comoGeorgeCar­ney,PeterNash,entreoutros,osautoresafirmam:

otrabalhogeograficosobremusicateveatepouco recentemente uma tendencia de

restringir­seaomapeamentodedifusaodeestilos musicais, ou analisar o imageticogeografico nas letras de cançoes, traba­lhando comumrestritodeliberado sensode geografia, oferecendo o angulo de umgeografo fincado ao chao, ao inves de seperguntaroquantoumaabordagemgeo­grafica pode reconfigurar o proprio chaoque pisa. Ao contrario, nos proce­demoscom uma compreensao que, ao injetargeografianamusica, podera produzirumefeitoanalogoaqueDavidHarveyadvoganarelaçaocomateoriasocial:“Aoinserirconceitos de espaço em qualquer teoriasocial, se produz um efeito de bor­rar/confundir as proposiçoes centraisdaquelateoria”.ThePlaceofMusicapresen­taespaçoelugarnaocomosimpleslocaisondeamusicaefabricada,oudeondeeleedifundida/aoinvesdisso,diferentesespa­cialidadessaosugeridascomofor­madorasdosom.[…]Considerarolugardamusicanaoereduzi­laasualocalizaçao,estabele­cerumpontoexatonoespaço,maspermitirumaabordagemricaemesteticas,culturas,economiasegeografiaspolıticasdalingua­gemmusical(LEYSHONetal1998,p.4).

Seguindo esta corrente de estudos e queganhounotoriedadeageografasingapurenseLilyKongesuatesededoutoradosobremusica,polıti­casculturais,identidadeeglobalizaçaoemSinga­pura.Kongfoiumadasprimeirasquesetemnotıciaquetrouxeparaodebateteoricodageografia–janesta fase de renovaçao – a formulaçao de umaanalisegeograficadamusicapopular.Kong(1995)afirma que, como interesse geografico, amusicanaofoiexploradalargamenteeosestudospublica­dosateentaomantiveramumadistanciadasques­toesteoricasemetodologicasdageografiaculturalrenovada. Em artigos posteriores, Kong (1996,1997)exploraaconstruçaodasidentidadeslocaisedos processos de trans­culturaçao em Singapuraatraves damusica popular, expondo sua tese nosentidodeque“apesardeummundocomtenden­ciasglobalizantes,asfronteirasnaoestaointeira­menteapagadas.Defato[...]ondeocruzamentodeforçasglobaisemaisforte,aafirmaçaodolocalemaior,conco­mitantemente”(1997,p.10). Analisando atualmente alguns dos princi­paisperiodicosdegeografiadomundoanglofono,epossıvelvisualizarumfertilpanoramadosestudosdamusicaemgeografia,combomnumerodegeo­grafostrabalhandonessaperspectiva–emmuitosdos casos relacionados com a agenda que Kongpropusera–taiscomoAnderson,Morton&Revill(2005),Connel&Gibson(2004),Finn(2009),Flo­rida&Jackson(2009),Gibson(1998,2009),Hogan(2007), Hudson (2006), Jazeel (2005), Kearney(2008), Kingsburry (2008), Kruse (2004), Revill

Page 4: Por uma geografia da música: um panorama mundial e vinte

-4-

(2000,2005),Saldanha(2005),entreoutros.Emgeralnessestrabalhos,eseguindoatendenciadageografiaculturalanglo­saxonica,obinomio“spa-ceandplace”continuasendoomaisutilizadoparaosestudosqueenvolvemgeografiaemusica.Nota­seigualmenteforteinfluenciadosestudoscultura­isnaformulaçaoteoricadostrabalhos.

Aperspectivafrancesaeofoconoterritório

Seosartigospioneirosdotemasaoatribuı­dosaGironcourt,osproximostextosencontradosqueretomamadiscussao­jacompropostasreno­vadas­datamdadecadade1990.Nessesentido,vemosemLevy(1994,1999)umaretomadacominteressantesobservaçoesteoricasefilosoficasaotema.Emseuartigo,Levyusaopanoramamusicaleruditoeuropeuparacontextualizarseusdistintosdesenvolvimentos,seuscondicionantespolıticoseculturaiseasdifusoesdeinovaçaomusicalporseuterritorio. Analisando os processos sociais­polıticos­economicosquecontribuıramparaumacenadevanguardamusicalnaVienadosinıciosdosec.XX,caracterizadapelaatonalidade,Levyafir­maqueaquestaodaidentidadedeumterritorioedesuasmanifestaçoesartısticastemavercomocruzamentodedistintasespacialidades­ interfa­ces complexas entre redes, territorios e regioes.Romagnan(2009),porsuavez,advogapelamusicacomoumnovocampodeestudosparaageografia.O autor nao remonta o interesse ate a epoca deGironcourt,massimaosartigosseminaisdeLevyeLechaume (1997), a abordagem cultural de PaulClavaleJean­PierreAugustin,edefendeodialogodacienciageograficacomasociologiadamusicaeaetnomusicologia. Romagnan introduz algunsaspectosimportantesdamusicacomoumaativida­dedegrandeimportanciaculturalesocial,explicaacontribuiçaode sociologos, antropologos e etno­musicologos,einsereaideiadaatividademusicalcomo umgeo-indicadordo territorio ao abordartemas como polıtica cultural, musica e espaçopublico,sistemasdeproduçaodessaatividade,usodoslugaresdepraticasmusicaiseseussignifica­dos,entreoutrostemas. OutrosautorescomoCalenge(2002,sobregeografiaeconomicadaculturaeredesdaindus­triacultural),Lamantia(2002,tratandodosefeitosterritorializantesdasmusicasdeambiente,comosupermercadoselojas),Gore(2004,sobreacons­truçaoterritorialeidentitariaapartirdamusicaedançatradicionais),reforçamaabordagemterrito­rialdageografiafrancesaatualnosestudossobreamusica.Na sistematizaçao desse campode estu­dos,temosGuiu(2006)eRaibaud(2008)comoos

principaisarticuladoresdeorganizaçaodeperio­dicos,coloquiosecoletaneasdeartigos.Raibaudafirmaque“amusicaaparececomoumarealidadecognitivapossıvelparacompreenderoespaçodassociedades,inclusivecomoumprincıpiodeorgani­zaçao territorial” (idem, p.2). Para este autor, amusica “borraosmapas: sua fluidez se adapta aorganizaçao em redes, conexoes, ramificaçoes(Amselle,2001),amusicasemultiplicacomastec­nologias da informaçao e da comunicaçao” (ibi­dem).

Dessaforma,verifica­sequemuitoemboraointeressedageografiafrancesapelamusicasejarecente,ostrabalhoscontemporaneosmostram­sebem organizados e tem no territorio, em suasdiversasabordagens,asuaprincipalcategoriadeanalisegeografica.

GeografiaemúsicanoBrasil:vinteanosdepes-quisasepluralidadedeinteresses

AocompletarvinteanosdepesquisasobremusicanaGeografiabrasileira,iniciadocomadis­sertaçaodeMello(1991),epossıvelfazerumbrevebalanço.Emboranaosejamnumerosas,aspesqui­sasrealizadasdemonstramumaheterogeneidadedeabordagens,usandoamusicaparatrabalhosdecaraterhumanistaeabordagensculturaisrenova­das,enfoquesdageografiasocial,oucomoferra­mentaparaoensino.Emtermosconceituais,tam­bem, encontramos diversidade nas abordagens,orafocando­senapaisagem,oranoespaçogeogra­fico,oranaregiao,oranoterritorio.Seraoexpostosnesta seçao os trabalhos contidos no banco detesesedissertaçoesdaCAPES,eartigosemperio­dicosecoletaneasdeGeografia. Considera­sequeJoaoBaptistaFerreiradeMellotenhasidooprecursordotemanageografiabrasileira,comsuadissertaçaodefendidanaUFRJem1991.E� apartirdeautores comoDavidSea­mons,DavidLey,AntoineBaillyeDouglasPocock,queMelloseinspiraparainterpretaracidadedoRiodeJaneirosobaoticadeseuscompositores,noperıodode1928a1991,trabalhandonaperspecti­vadacançaocomouma“literaturamusicada”.Massera somente apos uma decada do trabalho deMelloqueamusicapassaraaseruminteressecons­tanteecrescentenaGeografiabrasileira.Apartirdadecadade2000,ecommaiorprojeçaoaposasegundametadedamesma,seobservaumainten­sificaçaodamusicacomoobjetodeestudogeogra­fico. Nesse sentido serao mostradas possıveislinhasdeabordagemedeinteressetematico. Desde o trabalho percursor de Mello(1991), o interessepelamusica surgeatrelado a

Page 5: Por uma geografia da música: um panorama mundial e vinte

-5-

geografia humanıstica. Em sua tese (MELLO,2000),oautortratadosmundosvividosdacantoraMarlene,apoiadonasfilosofiasdosignificado(fe­nomenologia, existencialismo, hermeneutica) emdireçaoaumageografiadoindivıduo.Importanteressaltar que o mesmo passa posteriormente aorientar trabalhos sobre musica (Quadro 1),seguindoosinteressesqueinauguraraemsuadis­sertaçao:amusicapopularbrasileira(emespecialosamba)eoRiodeJaneiro.Assim,trabalhoscomoos de Guimaraes (2007), Santos (2009), Pizotti(2010) e Anjos (2011) reafirmam a tradiçao da

Geografiahumanıstica,bemcomoRibeiro(2006).Nestaabordagemtemosoespaçovivido,geografi­cidadeeolugarcomoconceitoscentraisdeanalise.Pelofatodequeestacorrentedepensamentogeo­grafico desenvolveu tradicionalmente diversosestudosdeobrasliterarias,nota­seumfoconotra­tamentodossignificadosconstruıdosatravesdasletrasdascançoes.

Visualizam­seoeixodasgeografiassocial

eculturalcomumapluralidadedeabordagens.Na

presenteinterpretaçaochama­seGeografiaCultu­

Quadro1.TrabalhosdefendidosnosPPG'semGeografia(Elaboraçao:LucasPanitz).

Page 6: Por uma geografia da música: um panorama mundial e vinte

-6-

raleSocialumgrandefilaodeinteressesetrata­

mentosteoricosmaisoumenosaproximados,que

visualizam a musica como um elemento que

envolve produçao do espaço, uso do territorio,

criaçaodeidentidades,territorialidades,regiona­

lidadeserepresentaçoesdoespaço.Nesta,vemos

interpretaçoesoramaisligadasasgeografiascrıti­

cas,oraemdireçaoageografiaculturalrenovada

debasefrancesaeanglo­saxa,ouaindaumacom­

binaçaodeambas.Osinteressesparticularessao

heterogeneos, porem concentram­se sobretudo

noestudodosambaedocarnaval(FERNANDES,

N., 2001; FERREIRA, 2002; MATOS, 2005;

FRANGIOTTI,2007;BELO,2008;DOZENA,2009,

XAVIER, C., 2010), dohip hop (LAITANO, 2001;

XAVIER,D.,2005;OLIVEIRA,2006;RODRIGUES,

2005)emusicaerudita(CASTRO,2009a;SOUZA,

2011).Alemdisso,sevisualizatrabalhossobrea

musicadonordeste–forro,maracatu,movimento

manguebit – (FERNANDES,G., 2001; SANTANA,

2006; PICCHI, 2011), musica eletronica

(CAMARGO,2008;COSTA,2011),alemdamusica

popularemumcontextomaisgeral,comoacena

musicalpaulistanaemAlmeida(2002),ofandan­

goemTorres(2009),eamusicapopulartrans­

fronteiriçaentreBrasil,ArgentinaeUruguai,em

Panitz(2010)Uma terceira abordagem, em Correia

(2009)eMachado(2012),indicaarelaçaoentrea

musicaeoensinodeGeografia.Nessaabordagem,

quenao exclui aproximaçoeshumanistas ouda

GeografiaSocialeCultural,ofocoeousodamusi­

caparaconstruirconceitosgeograficosemsalade

aula.AnalisandooGrafico1,epossıvelverque

80%dostrabalhosconcentram­seemtresareas

deinteresse:oSambaeoCarnaval,aMusicaPopu­

larBrasileiraemsuasdiversasmanifestaçoes,e

finalmenteorap eomovimentohiphop. Como

assuntosaindaperifericostem­seamusicaerudi­

ta,amusicaeletronicaeasfestasrave,eamusica

transfronteiriça. Nota­se, tambem, que 75% da

produçaoacademicanaareaprovemdasregioes

sulesudestedopaıs–estaultimacomdoisterços

daproduçaototaldostrabalhos.E� possıvelenten­

derqueaprimaziadostrabalhosemsamba,car­

navalehiphopestaoatreladosaessarelaçao(ver

Grafico2).

E� possıvelaindacitarproduçoesbiblio­

graficas em periodicos, livros e coletaneas de

Geografia. Encontramos em Mesquita (1994,

1997) algumas das primeiras publicaçoes no

Brasil,advogandoporumaGeografiadamusica

socialnosterritoriosfronteiriçosdoPrata.Cam­

pos(2006),porsuavez,ofereceopotencialda

musicapopularparaaanalisegeograficanoensi­

nofundamentalemedio,noquetocaasquestoes

doambienteedaculturanordestinadosemiari­

do. Ainda voltados ao ensino, Correia e Kozel

(2009)voltam­separaumageografiafenomeno­

logicaedasrepresentaçoessociais,paradiscutir

as ressignificaçoes dos conteudos geograficos

pormeiodamusica.Evangelistatrataemrecente

livroasdistintas“ambienciasespaciais”dosam­

ba, da bossa­nova, do rock e do funk. Cardoso(2009),porsuavez,realizouumaanalisedageo­

grafiaurbanadeSaoPauloatravesdascançoesdo

compositorItamarAssumpçao.Guimaraespropoe

reflexoes teoricas sobre a relaçao entre a escala

Grafico1.Distribuiçaodostrabalhosempercentualenumerosabsolutos(Elaboraçao:LucasPanitz).

Grafico2.DistribuiçaodostrabalhosporUniversida­de(Elaboraçao:LucasPanitz).

Page 7: Por uma geografia da música: um panorama mundial e vinte

-7-

musicaleaescalageograficacombaseemconside­

raçoesmusicologicasdopesquisadorecompositor

JoseMiguelWisnikeasconcepçoesdeescalageo­

grafica do geografo Roger Brunet. Em Castro

(2009b), por fim, reconhecemos um esforço em

remontar o interesse geografico pela musica,

sobretudoapartirdaGeografiaanglo­saxa.

GeografiaemúsicanoBrasil:algumasconside-rações

Vimos que nos paıses anglo­saxoes, porexemplo, ha doismomentos distintos: a aborda­gemdifusionistadaescolasauerianaearenovaçaocrıtica,inspiradanosestudosculturais.NaFrançamantem­seumpontodevistaterritorial:amusicanaconstruçaoenaafirmaçaodaidentidadeterrito­rial,aproduçaodepolıticasterritoriaisvoltasparaamusica,asterritorializaçoesefemerasdosfesti­vais,entreoutros.NoBrasil,contudo,nota­seumadiversidadedeabordagens,interessesetratamen­tosmetodologicos.Estastemvalorizadosignifica­tivamentenosultimosvinteanosumaparteconsi­deraveldadiversidademusicaldopaısesuasrela­çoes comas identidades regionais e nacionais, aconstruçaodeterritorialidadesedediscursosgeo­graficos, e as transformaçoes do espaço urbano.Paratantosevisualizamaomenostresabordagens(aindaqueestaenumeraçaosejaapenasexpositi­va,poisnapraticahanuancesentreasmesmas).Emumprimeiromomentotemosabordagenscal­cadasnasfilosofiasdosignificado(fenomenologia,hermeneutica,existencialismoeoutros)atravesdaGeografiaHumanıstica–estautilizoulargamentealetradacançaocomofontedesuaspesquisas.Tam­bem,abordagensemGeografiaSocialeCulturalasquaismantematradiçaocrıticadaGeografiabrasi­leiranas ultimasdecadas,utilizandoreferenciaisteoricosdasociologia,antropologia,historiacultu­raleestudosculturais­nestasutiliza­senaosoasletrasdascançoes,comotambemaperspectivadosom,asespacialidadesdaatividademusical eosdiscursos dos atores produtores da musica. Porfim,asabordagensvoltadasaoensinoemGeogra­fia,produzindocompreensoesparaa construçaodeconceitosgeograficos.

E� importante ressaltar o reconhecimentoporpartedaGeografiabrasileira,considerandoopapel damusica (seja ela popular, eletronica ouerudita)paraaproduçaodoespaçogeograficoemsuasmaisdiversasformas.Nessesentido,adiversi­dade de interesses apresentada e a indiscutıvelriqueza musical do paıs, fazem deste campo deestudoum lugar fecundoparaexploraroespaçogeograficoemsuasmaisdiversasabordagenseja

temoferecido,semduvidas,novosolharesparaasrelaçoesentreespaçoecultura.

Referências

ANDERSON, Ben;MORTON, Frances; REVILL, George.Practices of music and sound. Social & Cultural Geo­graphy, v. 6, n. 5, 2005, 639­644. <http: //tinyurl­.com/436e5nu>.[20dejulhode2011].

ANJOS,MelissaSouza.Lugaresepersonagensdouniver­soBuarqueano.DissertaçaodemestradodirigidaporJoaoBaptistaFerreiradeMello.RiodeJaneiro:Universi­dadeEstadualdoRiodeJaneiro,2011.

BELO,VanirdeLima.OenrododoCarnavalnosenredosdacidade:dinamicaterritorialdasescolasdesambaemSaoPaulo.DissertaçaodemestradodirigidaporMarıaMonicaArroyo.SaoPaulo:UniversidadedeSaoPaulo,2008.

CALENGE, Pierre. Les territoires de l'innovation: lesreseauxdel'industriedelamusiqueenrecompositionTerritories of innovation: the transformation of themusicindustrynetworks.Geographie,Economie,Socie­t e , C a c h a n , v . 4 , 2 0 0 2 , 3 7 ­ 5 6 .<http://tinyurl.com/3k4e8aq>.[20dejulhode2011].

CAMARGO,A.Festas.Rave:umaabordagemdaGeogra­fiaPsicologicana identificaçaodeTerritoriosAutono­mos. Dissertaçao de Mestrado dirigida por MarineteCovezzi.Cuiaba:UniversidadeFederaldoMatoGrosso,2008.<http:// tinyurl.com/3kr5tu3>. [20de julhode2011].

CAMPOS, Rui Ribeiro de. A Geografia da Semi­AridezNordestinaeaMPB.RevistaSociedade&Natureza,Uber­landia,18(35),2006,169­209.

CARDOSO,Eduardo.Schiavone.Ametropolenalinhadobaixo:ItamarAssumpçaoeageografiadacidadedeSaoPaulo.EspaçoeCultura25,2009,31­40.

CASTRO,Daniel.Geografiaemusica:aduplafacedeumarelaçao.EspaçoeCultura26,p.7­18,Jul/Dez,2009b.

CASTRO,Daniel.HeitorVilla­Lobos:aespacialidadenaalmabrasileira.DissertaçaodemestradodirigidaporRoberto Lobato Correa. Rio de Janeiro: UniversidadeFederaldoRiodeJaneiro,2009a.

CONNELL,John.GIBSON,Chris.Worldmusic:deterrito­rializing place and identity. Progress in Human Geo­graphy 28, 2004, 342. <http:// tinyurl.com/428jj9o>.[20dejulhode2011].

CORREIA,MarcosAlberto.KOZEL,Salete.Representa­çaoeEnsino:Ressignificaçaodeconteudosgeograficosp o r m e i o d a m u s i c a . D i s p o n ı v e l e m :<http://tiny.cc/srkid>.[20denovembrode2009]

CORREIA, Marcos Alberto. Representaçao e ensino, amusica nas aulas de geografia: razao e emoçao nasrepresentaçoes geograficas. Dissertaçao de MestradodirigidaporSaleteKozel.Curitiba:UniversidadeFederaldoParana, 2009.116p.<http://tinyurl.com/3e8ltoz>.[20dejulhode2011].

COSTA, Juliana Cunha. Segregaçao espacial e musicaeletronica:acenaculturaldeSalvadoreCamaçar.Dis­sertaçao deMestrado dirigida porMaria Auxiliadora.Salvador:UniversidadeFederaldaBahia,2010.89p.

Page 8: Por uma geografia da música: um panorama mundial e vinte

-8-

DOZENA,Alexandro.AsTerritorialidadesdoSambanaCidade de Sao Paulo. Tese deDoutorado dirigida porFranciscoCapuanoScarlato.SaoPaulo:UniversidadedeSaoPaulo,2009.266p.<http://tinyurl.com/3jyswyy>.[20dejulhode2011].

DUNCAN,James.ThesuperorganicinAmericanculturalgeography.AnnalsoftheAssociationofAmericanGeo­graphers1980,181­198.

EVANGELISTA,HelioAraujo.RiodeJaneiroeamusica.Umareflexaosobreadecadencia,acariocaeadapro­priamusica.RiodeJaneiro:ArmazemDigital,2005.

FERNANDES, Glauco Vieira. “Reterritorializaçao” DaCulturaSertanejaEmLuizGonzaga.CadernosdeCultu­ra e Ciencia, v. 3, n. 1, 2009. <http:// tinyurl­.com/3srvs9n>.[20dejulhode2011].

FERNANDES, Nelson da Nobrega. Escolas de samba:sujeitoscelebranteseobjetoscelebrados.RiodeJanei­r o : S e c r e t a r i a d a s C u l t u r a s , 2 0 0 1 . <http://tinyurl.com/3fzh4az>.[20dejulhode2011].

FERREIRA, Luiz Felipe.O lugardo carnaval: espaço epodernafestacarnavalescadoRiodeJaneiro,PariseNice(1850­1930).TesededoutoradodirigidaporScottWilliamHoefle.RiodeJaneiro:UniversidadeFederaldoRiodeJaneiro,2002.

FINN,John.Contestingculture:acasestudyofcommodi­fication in Cuban music. GeoJournal, v. 74, n. 3,2009,191­200. <http://tinyurl.com/3gxuqph>. [20 dejulhode2011].

FLORIDA,Richard.JACKSON,Scott.Soniccity:theevol­vingeconomicgeographyofthemusicindustry.JournalofPlanningEducationandResearch29,2010,310­321.<http://tinyurl.com/4xkqyzg>.[20dejulhode2011].

FRANGIOTTI,Nanci.OespaçodocarnavalnaperiferiadacidadedeSaoPaulo.Dissertaçaodemestradodirigi­daporGloriadaAnunciaçaoAlves.SaoPaulo:Universi­dadedeSaoPaulo,2007.

GIBSON,Chris.“Wesingourhome,Wedanceourland”:indigenousself­determinationandcontemporarygeo­politicsinAustralianpopularmusic.EnvironmentandP l a n n i n g D 1 6 , 1 9 9 8 , 1 6 3 ­ 1 8 4 .<http://tinyurl.com/3mumxfp>.[20dejulhode2011].

GIBSON, Chris. Place andMusic: performing'the regi­on'ontheNewSouthWalesFarNorthCoast.Transfor­m i n g C u l t u r e s e J o u r n a l 4 , 2 0 0 9 .<http://tinyurl.com/3dou7eq>.[20dejulhode2011].

GIRONCOURT, Georges. La geographie musicale. LaGeographie XLVIII, 1927, 292­302. <http: //tinyurl­.com/3e8shrk>.[20dejulhode2011].

GIRONCOURT,Georges.RechercesdeGeographiemusi­caledansleSudTunisien.LaGeographie,v.LXXL,n.6,1939,65­74.

GORE� , Olivier. L'inscription territoriale de lamusiquetraditionnelleenBretagne.ThesededoctoratdirigeparJeanPihan.Rennes:UniversitedeRennes,2004.421p.<http://tinyurl.com/3cl4fux>.[20dejulhode2011].

GUIMARAES,AnaCarolinaViana.Alegorias,requebros,memoriaeconstruçaodoslugaresdocarnavalcarioca.DissertaçaodemestradodirigidaporJoaoBaptistaFer­reiradeMello.RiodeJaneiro:UniversidadeEstadualdoRiodeJaneiro,2007.

GUIMARAES,RaulBorges.EscalaGeograficaePartituraMusical: Consideraçoes Acerca do Sistema Modal eTonal.In:CORRE�A,R.L.;ROSENDAHL,Z.Espaçoecultu­ra:Pluralidadetematica.EdUERJ,2008.

GUIU, Claire (dir.). Geographies etmusiques  : quellesperspectives?GeographieetCultures59,2006.

HOGAN, Ellen. 'Enigmatic territories': geographies ofpopular music. Critical Public Geographies WorkingPaper,DepartmentofAppliedSocialStudies,UniversityCollegeCork,2007.<http://tinyurl.com/3dsoysk>.[20dejulhode2011].

HUDSON,Ray.Makingmusicwork?Alternativeregene­rationstrategiesinadeindustrializedlocality:thecaseofDerwentside.TransactionsoftheInstituteofBritishG eog raphe r s , v. 2 0 , n . 4 , 1 995 , . 4 60 ­ 473 .<http://tinyurl.com/42j4m4u>.[20dejulhode2011].

JAZEEL,Tariq.Theworldissound?Geography,musico­logy and British­Asian soundscapes. Area, v. 37, n. 3,2005,233­241.<http://tinyurl.com/43qfuhm>.[20dejulhode2011].

KEARNEY,Daithı.CrossingtheRiver:ExploringtheGeo­graphyofIrishTraditionalMusic.JournaloftheSocietyfor Musicology in Ireland 3, 2008, 127­139.<http://tinyurl.com/3g45y8g>.[20dejulhode2011].

KINGSBURY, Aaron.Music in the Fields: ConstructingNarrativesoftheLate19thCenturyHawaiianPlantati­onCulturalLandscape.YearbookoftheAssociationofPacific Coast Geographers 70, 2008, 45­58. <http://tinyurl.com/3uhmdww>.[20dejulhode2011].

KONG,Lily.Making“musicatthemargins"?AsocialandculturalanalysisofXinyaoinSingapore.AsianStudiesR e v i e w 1 9 , 1 9 9 6 , 9 9 ­ 1 2 4 . <http://tinyurl.com/3r35bw4>.[20dejulhode2011].

KONG,Lily.Popularmusicinatransnationalworld:theconstructionoflocalidentitiesinSingapore.AsiaPacificV i e w p o i n t 3 8 , 1 9 9 7 , 1 9 ­ 3 6 . <http://tinyurl.com/4x4s2b4>.[20dejulhode2011].

KONG, Lily. Popular music in geographical analyses.Progress in Human Geography 19, 1995, 183­183.< h t t p : / / p r o f i l e . n u s . e d u . s g / f a s s / g e o­kongl/pihg19.pdf>.[20dejulhode2011].

KRUSE,Robert.TheGeographyoftheBeatles:Approa­ching Concepts ofHumanGeography. Journal of Geo­g r a p h y , v . 1 0 3 , n . 1 , p . 2 ­ 7 , 2 0 0 4 .<http://tinyurl.com/3pbn34g>.[20dejulhode2011].

LAMANTIA, Frederic. Les effets" territorialisants"dessons, reflets de la societe en ses lieux et de ses etatsd ' ame . G e o c a r re fou r 78/2 , 2003 , 173 ­175 .<http://tinyurl.com/43uweek>.[20dejulhode2011].

LECHAUME,Aline.Chanterlepays:surlescheminsdelachanson quebecoise contemporaine. Geographie etCultures,n.21,1997,45­58.

LEROUX, Xavier. Pour une Geographie de la musiquetraditionelle dans le nordde la France. Bulletin de laSociete geographique de Liege 49, 2007, 59­65. <http://tinyurl.com/3covpca>.[20dejulhode2011].

LE� VY, Jacques. Espace, contrepoints–Des geographiesmusicales.Espaces–Lescahiersdel'IRCAM/Rechercheetmusique,1994,145­166.

LE� VY,Jacques.Letournantgeographique.Paris:Belin,

Page 9: Por uma geografia da música: um panorama mundial e vinte

-9-

1999.

LEYSHON, Andrew.MATLESS, David. REVILL, George.Theplaceofmusic.NewYork:GuilfordPress,1998.

LIMA, Nilo. Dos territorios dos sentidos ocupados asintonia como entorno–umcantopara amusicanageografia.DissertaçaodeMestradoemGeografiadirigi­daporMariaAdeliaAparecidadeSouza.SaoPaulo:Uni­versidadedeSaoPaulo,2002.

MACHADO,CarlosGeovaniRamos.OEnsinodeGeogra­fiaeoHipHop.DissertaçaodemestradodirigidaporAntonioCarlosCastrogiovanni.PortoAlegre:Universi­dadeFederaldoRioGrandedoSul,2012.

MELLO,JoaoBaptistaFerreira.DosEspaçosdaEscuri­daoaosLugaresdeExtremaLuminosidade­OUniversodaEstrelaMarlenecomoPalcoeDocumentoparaaCons­truçao de Conceitos Geograficos. Tese de doutoradodirigidaporRobertoLobatoCorrea.RiodeJaneiro:Uni­versidadeFederaldoRiodeJaneiro,2000.

MELLO,JoaoBaptistaFerreira.ORiodeJaneirodosCom­positoresdamusicapopularbrasileira–1928/1991–umaintroduçaoageografiahumanıstica.DissertaçaodeMestrado dirigida porRoberto Lobato Correa. Rio deJaneiro:UniversidadeFederaldoRiodeJaneiro,1991.

MERRIAM, Alan. Antropologia dellamusica. Palermo:Sellerio,1983.

MESQUITA,Zila.AgeografiasocialnamusicadoPrata.EspaçoeCultura.3,1997,33­41.

MESQUITA,Zila.Apautamusicaldafronteira:umconvi­teaGeografiacultural.In:CASTELLO.I.R.etal.Praticasde Integraçao nas fronteiras: temas para oMercosul.Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 1994. p.176­182.

NASH,Peter.CARNEY,George.Theseventhemesofmusicgeography. Canadian Geographer 40, 1996, 69­74.<http://tinyurl.com/3qbz5ac>.[20dejulhode2011].

OLIVEIRA,DenilsonAraujo.TerritorialidadesnoMundoGlobalizado:outrasleiturasdacidadeapartirdaculturahiphop.DissertaçaodeMestradodirigidaporJorgeLuizBarbosa. Niteroi: Universidade Federal Fluminense,2006.169p.

PANITZ,LucasManassi.Porumageografiadamusica:asrepresentaçoesdoespaçogeograficonamusicapopularplatina. Dissertaçao de Mestrado dirigida por A� lvaroLuizHeidrich.PortoAlegre:UniversidadeFederaldoRioG r a n d e d o S u l , 2 0 1 0 . 2 0 0 p .<http://tinyurl.com/4ycfdmz>.[20dejulhode2011].

PANITZ,LucasManassi.Geografiaemusica:umaintro­duçaoaotema.Biblio3W.RevistaBibliograficadeGeo­grafıayCienciasSociales.[Enlınea].Barcelona:Univer­sidaddeBarcelona,30demayode2012,Vol.XVII,nº978.<http://www.ub.es/geocrit/b3w­978.htm>.[ISSN1138­9796].

PICCHI,Bruno.DehomensecaranguejosaoCarangue­joscomCerebro:aregiaoculturaldoMovimentoMan­guebiteoRecifecontemporaneo.Dissertaçaodemes­tradodirigidaporPauloRobertoTeixeiradeGodoy.RioClaro:UniversidadeEstadualPaulista,2011.

PIZOTTI, AlexandreMoura.Mangueira: um SimbolicoLugarForjadonoRitmodoSamboenoPassodeseusDesfilantes.DissertaçaodemestradodirigidaporJoao

BaptistaFerreiradeMello.RiodeJaneiro:UniversidadeEstadualdoRiodeJaneiro,2010.

RAIBAUD, Yves (dir). Comment lamusique vient auxterritoires.Bourdeaux:MSHA,2008.

REVILL,George.Musicandthepoliticsofsound:natio­nalism, citizenship, and auditory space. Environmenta n d P l a n n i n g D 1 8 , n . 5 , 2 0 00 , 5 9 7 ­ 6 14 .<http://tinyurl.com/3k9c45x>.[20dejulhode2011].

REVILL,George..Vernacularcultureandtheplaceoffolkmusic.SocialandCulturalGeography6,n.5,2005.693­706. <http://tinyurl.com/3bcvhhq>. [20 de julho de2011].

REYNOSO, Carlos. Antropologıa de la musica: De losgenerostribalesalaglobalizacion.VolumenI:Teorıa sdelasimplicidad.BuenosAires:EditorialSb,2006.

RIBEIRO,ClaudiaVial.Espaço­vivo:asvariaveisdeumespaço­vivo investigadasnacidadedeDiamantina,dopontodevistadosmusicos.TesedeDoutoradodirigidapor Oswaldo Bueno Amorim Filho. Belo Horizonte:PUCMG,2006.289p.

RODRIGUES,GlaucoBruce.GeografiasInsurgentes:umOlhar libertario sobre a Produçao do Espaço UrbanoAtravesdasPraticasdoMovimentoHipHop.Disserta­çaodemestradodirigidaporMarceloLopesdeSouza.RiodeJaneiro:UniversidadeEstadualdoRiodeJaneiro,2005.

ROMAGNAN,Jean­Marie.Lamusique:unnouveauterra­inpourlesgeographes.Geographieetcultures36,2000,107­126.

ROSADAS, Michel. Nascentes e tributarios de um Riomusical–salveEstacio,CidadeNovaeaPraçaOnzedosbambas!EaViladeNoel“soquermostrarquefazsambatambem”. Dissertaçao de Mestrado dirigida por JoaoBaptistaFerreiradeMello–InstitutodeGeografia,Uni­versidadedoEstadodoRiodeJaneiro,RiodeJaneiro,2009.161p.

SALDANHA,Arun.Tranceandvisibilityatdawn:racialdynamicsinGoa'sravescene.SocialandCulturalGeo­g r a p h y , v . 6 , n . 5 , p . 7 0 7 ­ 7 2 1 , 2 0 0 5 .<http://tinyurl.com/3hpk7kp>.[20dejulhode2011].

SANTANA, Paola Verri. Maracatu : a centralidade daperiferia.DissertaçaodemestradodirigidaporAnaFaniAlessandriCarlos.SaoPaulo:UniversidadedeSaoPau­lo,2006.

SANTOS,MichelRosadas.NascenteseTributariosdeumRioMusical–SalveEstacio,CidadeNovaeaPraçaOnzedosBambas!AViladeNoel“...soquerMostrarquefazSambaTambem...”.DissertaçaodemestradodirigidaporJoaoBaptistaFerreiradeMello.RiodeJaneiro:Universi­dadeEstadualdoRiodeJaneiro,2009.

SOUZA,FernandoLucciResende.Composiçaourbana,ritmosemelodiasdeumageografiadevida,Villa­Lobosomoderno compositor carioca:Na trilha dosChoros.DissertaçaodemestradodirigidaporMarcioPinondeOliveira. Niteroi : Universidade Federal Fluminense,2011.

TORRES,MarcosAlberto.ApaisagemsonoradaIlhadosValadares:percepçaoememorianaconstruçaodoespa­ço.DissertaçaodemestradodirigidaporSaleteKozelTeixeira. Curitiba : Universidade Federal do Parana,2009.

Page 10: Por uma geografia da música: um panorama mundial e vinte

-10-

XAVIER,Clarissa.Festasemicaretas­amisturaeletricadaalegria:pelasvias,veiasculturaisemodelagemturıs­tica.Dissertaçaodemestradodirigidopor CarlosEdu­ardo Santos Maia. Goiania: Universidade Federal deGoias,2010.

XAVIER,DenisePrates.Repensandoaperiferianoperıodo popular da historia: o uso do territoriopelomovimentoHipHop.DissertaçaodemestradodirigidaporSamiraPedutiKahil.RioClaro:Univer­sidadeEstadualPaulista,2005.

Abstract-GeographyofMusic,despiteitsabsencefromthecanonofthediscipline,hasgainedsuchanimportantdimensionforgeographersconcernedwithculturalstudiesandartisticexpressionsintheirspatial dimension. The increased availability of digital materials and archives allowed for therecognitionofthisfieldofstudyingeography,beingtheUnitedStates,theUnitedKingdom,FranceandBrazil (given its potential for ibero­american studies) important centers of debate and scholarlyproduction.Thisarticleoffersanglobaloutlookandfocusesonthetwentyyearsofbrazilianscholarlyproduction.Keywords:Geography.Music.GeographyofMusic.BrazilianGeography.

Geographyandmusic:anintroduction

Resumen-Lageografıadelamusica,enquepesepracticamenteunsiglodeexistenciaoficial,solorecientementetuvoladebidaatenciondelosgeografosinteresadosenestudiodelaculturaydelasmanifestacionesartısticasensudimensionespacial.Lacantidaddematerialesdisponiblesenformatodigitalpermiteunbuenoreconocimientodeestecampodeestudiosengeografıa,yapuntaEstadosUnidos, InglaterrayFranciacomocentrosdediscusionavanzada,ademaselBrasilcomopotencialambitoibero­americano,porsuconsiderableproduccioncientıfica.Enestesentido,eltextopresentaunpanoramaglobaldelosestudiosdeGeografıaymusica,yenfocaenlosveinteanosdeproducciondelaGeografiabrasilena.Palabras-clave:Geografıa.Musica.GeografıadelaMusica.Geografıabrasilena.

Geografíaymúsica:unaintroducciónaltema