Atuação do biólogo na área de

saneamento ambiental

Entrevista com o biólogo

Reginaldo Schiavi, chefe de

produção da SAAE de

Sorocaba (SP)

Páginas 6 à 9

CRBio-1 obtém importante

avanço na questão das

Análises Clínicas

Leia no Editorial e na Coluna

do CFBio, que traz o parecer

jurídico

Páginas 2, 4 e 5

Regina/doSchiavi na Estação de Tratamento de Agua de Sorocaba

Ponto de Vista

o biólogo Marcelo Cervini da

UFSCar escreve sobre

Biologia Forense na Pecuária

Página 12

CRBio-1 participa de debate..

sobre gestão de Conselhos

Página 11

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UMA VISÃO SOBRE O BiÓLOGOE O SANEAMENTO AMBIENTAL

A área de saneamento ambientaltem crescido e está mais exigentecom o profissional que nela atua.Empresas e órgãos públicos do se-tor buscam o aprimoramento dosseus serviços que visa atender me-lhor a população, causar o menorimpacto possível no meio ambientee cumprir novas exigências legais.O campo é amplo, e é disputado porvárias categorias profissionais, en-tre elas destaca-se a do biólogo, quepossui o aporte científico necessá-rio para explorar e se firmar comêxito nesse mercado que tende a sevalorizarcadavez mais.

Para abordar este tema fomos atéSorocaba, uma das principais cida-des do Estado de São Paulo, com565.180 habitantes (IBGE - 2005) edistante 96 km da capital, que pos-sui um dos considerados melhoresserviços de tratamento de água e es-goto do Brasil. Esse trabalho é de-senvolvido pelo Serviço Autônomode Água e Esgoto (SAAE),autarquiamunicipal,que tem abertoum impor-tante espaço para o biólogo atuar.Entrevistamos o biólogo ReginaldoSchiavi que desde do ano passado,ocupa um importantecargo:chefededepartamentodeprodução,responsá-vel por todas as estaçõesdetratamen-to de água e de esgoto de Sorocaba.Ele fala sobre a sua trajetória profis-sional, como o biólogo se encaixanaárea,dificuldadesqueenfrentou,aex-periência de Sorocaba e as novasobras para melhorar o sistema.

A trajetória

Reginaldo Schiavi conta que du-rante o 3° ano do curso de Ciências

Biológicas na PUC de Campinas,começou a se preocupar em focar. AnoXI-N2 141

Destaque

uma área de atuação. "Tinha a ex-pectativa que a área ambiental seriaum campo muito importante, e quedeveria ser bem trabalhado em ra-zão da degradação que estava ocor-rendo, então optei por essa área pro-fissional". Conseguiu um estágio naCETESB da regional de Campinas,onde passou por três laboratórios:controle de poluição, microbiologiae fisico-químico.Tambématuouforados laboratórios na fiscalização doprograma de qualidade das empre-sas de saneamento. Em 1990, sur-giu a oportunidade de trabalho nolaboratório de poluição da SAAE deSorocaba. "Estavam começando aoperar a estação de tratamento de es-goto, pois a de água já existia hámuito tempo. Como a minha maiorexperiência era na área de esgoto,comecei a atuar nesse laboratório".Depois de pouco tempo assumiu ocargo de chefia de controle e opera-ção da estação de tratamento de es-goto (cargoocupado atualmentepelatambém bióloga Clélia de Barros),

onde ficou até 2005. Na sua novafunção como chefe de departamen-to de produção é o responsável peladireção das duas estações de trata-mento de água e de cinco estaçõesde tratamento de esgoto, sendo queumajá está operando e as outras trêsestão em fase de construção.

Portas estão sendo abertas

Além dos biólogos ReginaldoSchiavi e Clélia de Barros, há qua-tro estagiários do curso de CiênciasBiológicas que desenvolvem traba-lhos específicosnos laboratórios dasestações de tratamento de água. Re-ginaldo conta que estão sendo con-tratados mais três biólogos aprova-dos em concurso recente. "Conse-guimos criar mais três cargos de bi-ólogos dentro das estações de trata-mento de água". Ele destaca a fun-damental atuação do biólogo frentea novas questões que surgem, comoa proliferação de cianobactérias,quese não forem monitoradas podem

Estação de Tratamento de Esgosto Sorocaba 1 (ETE S-1)

site: www.crbio1.org.br Agosto 2006

Estação de Tratamento de Agua"Dr. Armando Pannunzio" (Cerrado)

causarproblemasseriíssimosà saú-de, e cujo controle está previsto porlei (Portaria 518 do Ministério daSaúde). Schiavi diz que a biólogaClélia de Barros prepara-se para fa-zer mais um curso de especializaçãoem cianobactériasna CETESB, poissão análises específicas que reque-rem um treinamento especial.

A água tratada do SAAE: .

uma das melhores do Brasil

A SAAE de Sorocaba tem a res-ponsabilidade de controlar e melho-rar ospadrões estabelecidospelo Mi-nistério da Saúde em relação à águaque trata e distribui, e que é consi-derada uma das melhores do País. Oprocesso de tratamento começaquando' a água chega às estações epassa primeiro por uma pré-desin-fecção, que elimina os microrganis-mos; em seguida fluoretação; coa-gulação, floculação(etapa de forma-ção de floco de cargas das matériasem suspensão, para sedimentação);decantação; correção de pH e filtra-gem, só então é distribuída para os45 reservatórios da cidade. Reginal-do Schiavi afirma que a obtenção doalto padrão de qualidade da águadeve-se a um controle rigoroso. Di-ariamente de hora em hora, são fei-tas análises do teor de flúor, concen-tração de cloro, pH, turbidez, cor,al-calinidade, dureza, cloretos, ferro,oxigênio dissolvido e controle bac-

Destaque

teriológico. "Além disso, há umaequipe de motoqueiros que coletadiariamente 50 amostras em váriasregiõesda cidadepara análise",com-plementa.

Aprimorando o sistema detratamento de água

Para atender melhor a populaçãode Sorocaba que tem crescido aci-ma da média nacional, o governomunicipal através da SAAE conse-guiu recursos do Ministério das Ci-dades, dentro do Programa "Sanea-mento para Todos", para aprimoraro seu sistema de saneamento. Entreas obras que serão realizadas, há umplano de ampliação e automação daprincipal estação de tratamento deágua, a ETA Cerrado, que ampliaráa sua capacidade de tratamento dosatuais 1.800 litros por segundo para2.500 litros por segundo. Será cons-truída também uma nova estação,ETA Vitória Régia, que atenderá azona norte da cidade, que através detecnologia moderna tratará 1.500 li-

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B~,~,,,,O,,,~,,,,-(.~.~,,~.,,,,~,,"g'I>,,"','m,,,-(l.,-~,,,,~,~1":.~ ,tros por segundo, com captação di-retamente do rio Sorocaba. Será im-plantado o coletor tronco do córre-go Pirajibu (o único córrego que fal-tava ser saneado na cidade). Outraimportante obra prevista é a inter-venção na maior adutora de águabruta (500 mm de diâmetro)que teráalguns de seus trechos substituídos,em especial os que atravessam aSerra de São Francisco, em Votoran-tim, em cerca de sete km.

Rio Sorocaba e o projetode despoluição

O rio Sorocabaé o principal aflu-ente da margem esquerda do rio Ti-etê. Ele nasce no planalto de Ibiúna,a cerca de 900 metros de altitude, epercorre o sentido sudeste para no-roeste, totalizando 227 km de exten-são, suavazão é de 13m3/s.Até che-gar a Sorocaba é um rio de monta-nhas, e daí para frente o seu curso émais suave.Deságuano rio Tietê,nomunicípio de Laranjal Paulista. É oprincipal manancial da região de

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Laboratório da ETA Cerrado

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Sorocaba e suas águas são utiliza-das por 1,2milhões de pessoas, alémda agricultura e indústrias, benefici-ando as populações das cidadescomo Vargem Grande Paulista, Co-tia, Ibiúna, Piedade, Alumínio, Ara-çoiaba da Serra, Iperó, Mairinque,Votorantim, Alambari, Capela doAlto, Cerquilho, Cesário Lange, La-ranjal Paulista, Quadra, Salto de Pi-rapora, Sarapuí, Tatuí, Jumirim,Boituva, ltu, São Roque e Tietê. Orio Sorocaba também possui a suaimportância histórica, por ele passa-ram os tropeiros, a família real, na-turalistas, e os desbravadores quebuscavam o sertão. Com o passar dotempo, o rio passou a sofrer com apoluição, pois todo o esgoto de So-rocaba erajogado nele semtratamen-to. Esse quadro está sendo revertidograças a um grande plano de despo-luiçãodesenvolvidopelo SAAEcomrecursos próprios e financiamentosda Caixa Federal.

O projeto consiste na construçãode cinco estações de tratamento deesgoto,todascomcoletortronco.A

Destaque

primeira delas, a ETE-Sl, já estápronta e funcionando desde maio doano passado, sendo que 15 bilhõeslitros de esgoto, desde então, deixa-ram de ser despejados no rio Soro-caba. Reginaldo Schiavi explica:"Essa estação trata em tomo de 500litros por segundo, o que representa60% da carga da cidade". Foramimplantados também 18.300 metrosde emissários e construídas 12esta-ções elevatórias. Ele comenta queexiste a preocupação que todo o pro-cesso das obras seja feito de manei-ra não destrutiva, principalmente naregião central da cidade,minimizan-do os transtornos. O biólogo diz quea expectativa é que até 2008, a cons-trução das outras quatro estações detratamento de esgoto seja fmalizadae o projetojá esteja então, totalmen-te implantado e funcionando. Obser-va que o rio Sorocaba já apresentasinaisvisíveis de recuperação:"É in-crível o poder de reação que o rioteve. As águas mudaram de cor, e jánão há mais aquela carga maléficaao manancial. Livre da poluição, o

Represa de Itupararanga,manancial onde é captada a água tratada e distribuida em Sorocaba

11 Ano XI- N2141 site: www.crbio1.org.br

Diariamente são feitas análises na água

rio Sorocaba vai se transformar emum grande manancial, e sua águapoderá ser utilizada para consumohumano após o tratamento conven-cional. Sorocaba será a primeira ci-dade no País a despoluir 100% doseu esgoto".

Empregando tecnologia moderna

A rede coletora de esgoto de So-rocaba possui 1.030km de extensãoe pode ser ampliada na proporçãoque a cidade cresce. O biólogo ex-plica quea nova estaçãode tratamen-to de esgoto (e também as futuras)emprega um sistema totalmente au-tomatizado, moderno e de alta tec-nologia. Assim descrito: oprocessocomeça com um pré-tratamento doesgoto por meio de gradeamento,quando são retirados os sólidosgrosseiros dos esgotos. Depois o es-goto segue até os decantadorespri-máriospara a retirada departe dossólidos sedimentáveis, representan-do cerca de 30% da carga orgânicae em seguida enviados aos tanquesde aeração. Neste local, o materialé misturado ao oxigênio para pro-mover o crescimento da massa bio-lógica antes de ser conduzido aosdecantadores secundários, ondeocorre a separação da fase líquidada sólida. Afase líquida retorna aorio Sorocaba com mais de 95% deremoção de carga poluidora en-quanto a fase sólida passará pelo

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processo de tratamento especificopara sua disposiçãofinal.

Tantos as estações de tratamentode água como a de esgoto possuemuma infra-estrutura de manutençãoformada por equipes de funcionári-os especializadose equipamentoses-pecíficos prontas para atender a po-pulação 24 horas por dia. As esta-ções também são monitoradas pelosistema de telemetria, que capta econtrola os dados operacionais.

Intercâmbio

o Reginaldo Schiavi consideraque o tratamento de água e o esgotosão processos dinâmicos, que re-querem uma constante atenção àsmudanças. "Na prática acabei apren-dendoque cada estaçãotem um com-portamento diferente. É preciso tera visão extremamente aguçada paraver o que a estação está pedindo. Omaior desafio é ter o 'feeling' parasaber onde deve ser interferido paraacertar caso haja algum problema.".A busca constante por melhorar osíndices de qualidade de seus servi-ços, requer um intercâmbio de infor-mações e experiências com órgãossemelhantes de outros municípios,mas também com empresas que tra-tam a sua própria água e esgoto, "eprincipalmente com as que utilizamágua no seu processo industrial".Schiavi ressalta a importância dessetipo de colaboração ao tratar da lici-tação de novos produtos e equipa-mentos que entram no processo detratamento da água e esgoto. "É ne-cessário especificar muito bem oproduto na licitação, para garantir aqualidade. Esse intercâmbio é quefornece essas informações. A expe-riência é importante. Antes da aqui-sição,procuramosobter informaçõesonde e quem está usando, principal-mente o contato com a parte técnica

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Destaque

que lida diretamente com o produtoou equipamento".

Pronto para aprender

Ao assumir suanovaposição den-tro da SAAE, Reginaldo Schiaviconta que a maior dificuldade quesentiu foi lidar com as pessoas (sãocerca de 80 funcionários): "Sintofalta de não ter tidona faculdadeumamatéria ou esclarecimento sobre o

trato com pessoas, porque a partetécnica podemos dominar, mas o serhumano é complicado. A questão

BIOLOGIA'Áreapromissora e estabelecer um/oco

Com mais de 15 anos de experi-ência,Reginaldo Schiavi lembraquequando começou sua carreira existi-am pouquíssimos biólogos atuandona área. "Ouvi diversasvezes quebi-ólogo servia para trabalhar com bi-chos e não com saneamento. Feliz-mente isso mudou". Para ele a ativi-dade tem mostrado cada vez maiscomo é fundamental a participaçãode biólogos: "Por exemplo, a ques-tão de microrganismos no mananci-al, o profissional precisa ter habili-

Desde o funcionamento da ETE-S1, 15 bilhões de litros de esgotos deixaramde ser despejados no Rio Sorocaba

básica é estar sempre pronto e aber-to para aprender. Estar atento a to-dos desde o diretor até o operador,pois a informação que ele fornecepode ser a mais preciosa. Aqui asestações funcionam 24 horas, nãoposso estar presente o tempo intei-ro, então dependo de quem está aquioperando, e espero que ele cumpraa sua obrigação, assim como cum-pro a minha de departamento. Nes-sa relação é preciso criar um víncu-lo de respeito".

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dade microscópica e saber identifi-cá-los. O biólogo tem essa forma-ção." Ele acredita que o saneamentoambiental é um campo extremamen-te promissor,porém muito disputadopor diversos profissionais, e deixauma importanterecomendação:''Nãoterminem a faculdade esperando umemprego,já definamantesquala áreaque desejam atuar. Quanto antes de-finir melhor.É fundamentalo biólo-go focar o que deseja da sua carreiraantes de entrar no mercado."

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