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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ CENTRO DE TEOLOGIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DENISE DITTRICH VIEIRA SANTOS FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE ESPANHOL E O ENSINO- APRENDIZAGEM DAS VARIAÇÕES DA LÍNGUA: UM ESTUDO DE CASO CURITIBA 2008

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

CENTRO DE TEOLOGIA E CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

DENISE DITTRICH VIEIRA SANTOS

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE ESPANHOL E O ENSINO-

APRENDIZAGEM DAS VARIAÇÕES DA LÍNGUA:

UM ESTUDO DE CASO

CURITIBA 2008

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DENISE DITTRICH VIEIRA SANTOS

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE ESPANHOL E O ENSINO-APRENDIZAGEM

DAS VARIAÇÕES DA LÍNGUA: UM ESTUDO DE CASO

Dissertação de Mestrado apresentada à Pontifícia Universidade Católica do Paraná, como requisito parcial à conclusão do Mestrado em Educação.

Orientador: Prof. Dr. Sérgio Junqueira Co-orientadora: Profª.Drª. Joana Paulin Romanowski

CURITIBA 2008

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Para Luciana, Diana e Adriana.

E para meu netinho João Pedro.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Ronaldo e a meus irmãos pelo apoio em todos os momentos e a meus pais

educadores e amigos pela formação e exemplo.

Meus especiais agradecimentos aos professores Sérgio Rogério Junqueira e Joana Paulin

Romanowski, pela orientação segura e confiante nos resultados deste trabalho. Agradeço

também a eles, à coordenadora Profª. Marilda Behrens e demais professores do curso de

Mestrado em Educação da PUCPR, por sua mediação e produção científica na área

pedagógica, que instrumentaram esta dissertação.

À professora Marta Moraes Costa, agradeço por seu entusiasmo e competência na orientação

e formação de seus alunos em Literatura e em Leitura e pelo apoio no momento de ingresso

no Curso de Mestrado.

Agradeço à professora Terumi Koto Bonnet Villalba pelo interesse demonstrado pela

pesquisa que está sendo apresentada. Agradeço também pela presteza e alegria com que

aceitou contribuir com os trabalhos acadêmicos relacionados à apresentação e defesa dos

resultados da pesquisa e por sua competente atuação na Banca de Qualificação desta

dissertação.

Agradeço imensamente aos professores/especialistas e alunos/formandos do curso de Letras/

Espanhol da UFPR, que participaram atenciosamente desta pesquisa.

Ao Cel. Carlos Roberto Pinto de Souza, sou grata pela concessão de licença nos períodos de

pesquisa de campo e elaboração da dissertação, assim como por seu interesse e apoio.

Agradeço também a Rodrigo Sansana, por suas contribuições à pesquisa.

Agradeço a Gabriela Barrios, pelo seu trabalho em favor das línguas da fronteira Brasil-

Uruguai e que foi uma das inspirações para esta dissertação.

Agradeço, por fim simbolizando os amigos mais dedicados e presentes a Denise Mohr,

assim como a todos que, de alguma forma, tornaram possível a realização deste trabalho.

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RESUMO

O presente estudo tem como objeto a formação de professores para o ensino das variações da Língua Espanhola. Toma como objetivos conhecer e analisar as concepções e procedimentos metodológicos e didáticos dos professores do Curso de Letras da UFPR, sobre o ensino das variações da língua. A pesquisa teve o propósito também, de indagar sobre a adequação de uma teoria de gêneros aplicada a esse estudo. Compreende-se, nesta análise, o ensino de gêneros como elemento integrador para o ensino, capaz de proporcionar o tratamento da heterogeneidade da língua e evidenciando sua natureza social. O estudo tem respaldo teórico em concepções sobre a linguagem, de Vygotsky (1988) e Bakhtin (2002/2003) e em pesquisas sobre o conceito de gêneros do discurso deste autor, desenvolvidas por Rojo (2005), Faraco (2003), Bunzen (2004), entre outros autores. Sobre formação de professores, embasa-se nos conceitos de experiência de Thompson através das interlocuções realizadas por Martins (2006) e Faria Filho (2005) e de saberes docentes, de Tardif (2006), Romanowski (2006) e outros autores da área educacional. Na área de ensino de Línguas estrangeiras foram importantes para essa análise os estudos de Lopes (2002), Serrani (2005), Mascia (2003), Villalba (2007), Celada e González (2005). Sobre pluralismo cultural e formação de identidades sociais, os estudos de Serrani (2005), Lopes (2006) e Rajagopalan (2004). A análise teve como base as entrevistas realizadas com os professores de Língua e de Literatura espanholas e de Literatura Hispano-americana e os questionários aplicados para os alunos. Efetuou-se, também, breve análise documental a respeito da estruturação do curso de Letras, planos de aulas das disciplinas de Língua Espanhola e livros didáticos utilizados. Os resultados indicam a prevalência do gênero literário e das práticas para desenvolvimento da oralidade e de reflexão sobre as culturas, sobre a língua e a sociedade para o ensino das variações lingüístico-culturais no curso estudado. Nas disciplinas de Literatura espanhola e hispano-americana essa reflexão se dá pela comparação entre textos literários representativos de diversas culturas. Identificou-se uma tendência crescente, mas não através de organização curricular ou metodológica específicas, de utilização de textos de gêneros diversos. Essa tendência foi observada nos livros didáticos, nas observações feitas pelos alunos sobre as estratégias de ensino consideradas mais apropriadas ao ensino e nas reflexões dos professores sobre o ensino e metodologia utilizada – que se embasam em concepções estabelecidas no processo de formação acadêmica e na experiência profissional.

Palavras-chave: Formação de professores. Pluralismo Cultural. Gêneros. Língua espanhola.

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RESUMEN

Los objetivos de esta investigación, que tiene por objetos la formación de profesores de español y la enseñanza de las variedades de la lengua extranjera, fueron el conocimiento y el análisis de las concepciones y procedimientos metodológicos y didácticos de los profesores de Español de la UFPR, con respecto a la enseñanza y el aprendizaje de las variedades lingüístico-culturales de la lengua española, en este contexto de formación de profesores. Se indaga, además, sobre la adecuación de una teoría de géneros aplicada a ese estudio. Se comprende el estudio de géneros como factor de integración para el aprendizaje y capaz de proporcionar el tratamiento de la heterogeneidad de la lengua y evidenciándose su naturaleza social. El estudio toma como referencias las teorías sobre el lenguaje de Vygotsky (1988) y Bajtín (2002/2003) y los estudios respecto al concepto de géneros del discurso de este autor, desarrollados por Rojo (2005), Faraco (2003), Bunzen (2004) y otros autores. Sobre formación de profesores, se basa en los conceptos de experiencia, de Thompson, a través de las aportaciones teóricas de Martins (2006) y Faria Filho (2005); e de saberes docentes, de Tardif (2006), Romanowski (2006) y otros autores del área educacional. Em el área de Lenguas Extranjeras fueron importantes los estudios de Lopes (2002), Serrani (2005), Mascia (2003), Villalba (2007) , Celada y González (2005). Sobre pluralismo cultural y formación de identidades sociales, los estudios de Serrani (2005), Lopes (2006) y Rajagopalan (2004). Como instrumentos de recogida de datos se aplicaron cuestionarios para los alumnos y fueron realizadas entrevistas con los profesores del curso. La recogida de datos incluye también algunos documentos como planes de curso para las asignaturas de Lengua Española, sobre la estructuración del curso y breve análisis de los libros textos utilizados. Los resultados indican la prevalencia del género literario y de las prácticas de comprensión auditiva y de reflexión sobre las culturas, lengua y sociedad, para la enseñanza de las variedades lingüístico-culturales del Español. En las asignaturas de Literatura española e hispanoamericana, esa reflexión se hace por la comparación entre textos literarios representativos de las varias culturas. Se identifica una tendencia creciente, pero no como una organización curricular o metodológicas específicas, hacia la utilización de textos de géneros diversos. Esta tendencia se refleja en las actividades presentadas en los libros textos utilizados, en las informaciones de los alumnos sobre las estrategias que se consideran más apropiadas a la enseñanza; en los criterios y actividades apuntados por los profesores y en los aportes respecto a la enseñanza y la metodología – que se apoyan en concepciones establecidas en el proceso de formación académica y en la experiencia profesional.

Palabras-clave: Formación de Profesores. Pluralismo cultural. Géneros. Lengua Española.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 - Estratégias de ensino de LE

Gráfico 2 – Gêneros, Diálogos, Gramática e Estruturas da LE

Gráfico 3 – Exemplos de Tipos de Textos e Gêneros utilizados

Quadro 1 - Formação inicial e contínua - concepções e mudanças

Quadro 2 - Perfil dos alunos - objetivos e atividades profissionais

Quadro 3 - Práticas de leitura

Quadro 4 - Aprendizagem das variações do espanhol

Quadro 5 - Procedimentos didáticos para o ensino das variações

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

SIGLA - Descrição

A - Aluno/ formando

CELEM - Centro de Línguas Estrangeiras Modernas

DPU - Dialetos Portugueses do Uruguai

EnPLEE-

PR

- Encuentro de Profesores de Lengua Española del Estado de Paraná

LA - Lingüística Aplicada

LE - Língua(s) Estrangeira(s)

MEC - Ministério de Educação e Cultura

PE - Professor/ especialista entrevistado

PF - Participante formado no ano anterior ao da pesquisa

UFPR - Universidade Federal do Paraná

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................11

1.1 PROBLEMATIZAÇÃO.....................................................................................................11

1.2 JUSTIFICATIVA...............................................................................................................13

1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA............................................................................................15

1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO.................................................................................15

2 ENSINO DAS VARIAÇÕES LINGÜÍSTICO-CULTURAIS DO ESPANHOL..........18

2.1 PLURALISMO CULTURAL, MULTICULTURALISMO E

INTERCULTURALIDADE.....................................................................................................18

2.2 ESPANHOL COMO LE: ENSINO DAS VARIAÇÕES DA LÍNGUA-...........................22

3 A PERSPECTIVA DOS GÊNEROS DO DISCURSO....................................................29

3.1 O SÓCIO-CONSTRUTIVISMO (INTERACIONISMO)..................................................29

3.2 A TEORIA DOS GÊNEROS ............................................................................................32

4 FORMAÇÃO INICIAL E CONTÍNUA DE PROFESSORES .......................................37

4.1 EXPERIÊNCIA E SABERES EXPERIENCIAIS .............................................................39

5 METODOLOGIA ...............................................................................................................43

5.1 DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO ..................................................................43

5.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA ..................................................................................45

5.3 RELATO DA COLETA DE DADOS ...............................................................................46

6 ANÁLISE DO CORPUS.....................................................................................................49

6.1 ESTRUTURAÇÃO DO CURSO .......................................................................................49

6.1.1 Ambientação e análise preliminar ...............................................................................49

6.2 PERFIL DOS PARTICIPANTES ......................................................................................53

6.2.1 Professores: formação inicial e contínua - mudanças e concepções ........................ 53

6.2.2 Alunos-formandos: objetivos e atividade profissional ...............................................59

6.3 ENSINO DAS VARIAÇÕES DA LÍNGUA ....................................................................62

6.3.1 Leitura, textos autênticos e estratégias para o ensino.................................................62

6.3.2 Critérios para o ensino e seleção do material didático...............................................70

6.4 ENSINO DE GÊNEROS ...................................................................................................74

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS, LIMITES E TRABALHOS FUTUROS.........................85

REFERÊNCIAS......................................................................................................................89

LISTA DE APÊNDICES........................................................................................................96

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1 INTRODUÇÃO

Esta investigação inscreve-se na área de formação de professores, especificamente a

área de formação de professores em língua estrangeira (Espanhol). Focaliza o ensino e

aprendizagem da língua espanhola na formação inicial e na formação contínua efetivada

durante a prática pedagógica e especialização profissional.

O interesse pelo tema resultou de leituras e reflexões provenientes da prática em sala

de aula no ensino de Língua Estrangeira/Espanhol. A professora pesquisadora atua nessa área

há onze anos, como professora do Centro de Línguas Estrangeiras Modernas (CELEM),

durante três anos, e no Ensino Médio (oito anos). À experiência profissional na sala de aula de

línguas estrangeiras (LE) soma-se a formação contínua efetivada em curso de especialização

em Línguas estrangeiras Modernas e pesquisas realizadas na área de lingüística aplicada ao

ensino de LE, sobre leitura e análise de livros didáticos de Espanhol.

Nesses trabalhos foram analisados os critérios para a elaboração do material didático

e seleção de textos, para avaliar as vantagens e limites de sua utilização, pelo professor, para o

desenvolvimento da capacitação leitora de alunos de espanhol como língua estrangeira.

A disposição de trabalhar com textos autênticos em sala de aula e a consciência da

necessidade de levar o aluno a conhecer e utilizar os diversos gêneros, que são a

materialização das atividades sociais dos falantes da língua, conduziram as escolhas

posteriores e que resultaram na dissertação atual, que se refere à área educacional e de

formação de professores e tematiza o ensino/aprendizagem das variações lingüístico-culturais

da língua espanhola.

A expectativa, ao focalizar esta análise no curso de licenciatura Letras/espanhol de uma

universidade pública do Estado do Paraná, é por considerar que o meio acadêmico, em que a

pesquisa e a reflexão acontecem de forma sistemática, favorece a busca de informações que

podem gerar significados importantes para a compreensão do objeto deste estudo.

1.1 PROBLEMATIZAÇÃO

Considera-se para esta análise que os métodos tradicionalmente aplicados ao ensino de

línguas estrangeiras não oferecem respostas para muitos dos questionamentos atuais, realizados

a partir de análises e perspectivas diversas e que colocam em pauta o ensino de leitura e

produção textual.

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Considerando a organização do mundo atual, marcado pela globalização e o

multiculturalismo, discutem-se hoje, na área de Lingüística Aplicada (LA), os conceitos de

identidade lingüística, a dicotomia língua padrão/dialetos regionais (RAJAGOPALAN, 2006;

2004; CORACINI, 2003) e os conceitos de nação, nacionalidade, língua e falante ideais no

contexto do pluralismo cultural.

Especificamente no tocante ao espanhol há grande diversidade a ser considerada. Os

métodos e abordagens tradicionais caracterizaram-se pelo entendimento da língua como um

todo homogeneamente constituído e pela noção de aquisição como progressão em direção à

capacitação, pelo desenvolvimento de habilidades. Não levam em conta, em sua gênese, a

heterogeneidade da língua.

O material didático já se diversifica atualmente no sentido de abarcar as diferenças

regionais. Porém, de acordo com os resultados de pesquisas na área, as variações do espanhol

padrão são, muitas vezes, contempladas nos livros didáticos e nas salas de aula de línguas

apenas no seu sentido de diferença em relação à norma e de forma descontextualizada, como

em listas de “termos da Argentina/ termos da Espanha”, para dar um exemplo/limite, mas

bastante comum.

A hipótese deste trabalho é, portanto, a de que há necessidade de buscar alternativas

para o ensino, que contemplem a língua em seu contexto histórico-cultural e evidenciando a

sua natureza social. Argumenta-se, por essa razão, favoravelmente à aplicação de uma teoria

de gêneros discursivos para o ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras, enfocando o

ensino das variações do espanhol.

Esta pesquisa abarca os saberes da área de ensino de LE em sua relação com a

formação para a prática profissional. A análise, neste caso, foi orientada por conceitos

advindos de estudos sobre a formação inicial e contínua de professores e sobre saberes

docentes, de acordo com as proposições de Pimenta (2000), Romanowsky (2006), Tardif

(2006 ), Faria Filho (2005) e outros.

A pesquisa se realiza em um curso de licenciatura em Letras do Paraná e tendo em

vista o ensino de línguas estrangeiras e a formação para a prática profissional, busca

averiguar, junto a professores e alunos, que abordagens e que concepções norteiam o ensino

das variações do espanhol como LE. Investiga também sobre a adequação de ação pedagógica

com base em teorias que privilegiem os gêneros discursivos como fio condutor desse processo

de ensino-aprendizagem.

A problemática, assim conduzida, toma como referências, portanto, a formação para a

prática profissional e os parâmetros de uma teoria de gêneros do discurso (BAKHTIN, 2003)

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aplicada aos estudos lingüísticos de Língua Espanhola. Ou seja, a partir de uma abordagem

centrada na heterogeneidade da língua, na diversidade de gêneros e nas relações que os textos

mantêm com os contextos em que foram produzidos, com ênfase nos contextos sócio-

culturais.

A abordagem do ensino do espanhol, a partir do tema variações lingüísticas, traz

consigo uma outra questão: a do preconceito lingüístico e as relações de poder responsáveis

pelo estabelecimento da dicotomia línguas de prestígio/ variações regionais. Por essa razão, o

tema do preconceito lingüístico em relação às variantes da língua (ou variedade) estândar, que

não está posto como objetivo central desta investigação permeia a reflexão desenvolvida junto

aos professores e alunos do curso, co-participantes desta pesquisa.

Da mesma forma, aborda-se a questão de escolha, pelos alunos, de uma variedade para

a atuação profissional, do ponto de vista de sua maior ou menor importância em relação a

outros objetivos da formação. Porém, a centralidade da análise está na premissa da adequação

de apresentar ao aluno a diversidade no contexto da produção cultural dos povos.

1.2 JUSTIFICATIVA

A aplicação de uma teoria de gêneros dará ao professor a oportunidade de levar, para

a sala de aula, a linguagem usada pelos diferentes falantes da língua, a partir de seus contextos

histórico-culturais, levando em conta, nesse processo de ensino, a heterogeneidade da língua.

Segundo Moita Lopes (2002, p. 130-311), o ensino de uma língua estrangeira

priorizando a leitura

Centra-se na aprendizagem de uma habilidade que é útil para os aprendizes, que podem continuar a aprender em seu próprio meio, e que fornece a possibilidade de aumentar seus limites conceituais, já que, através da leitura em uma LE, pode-se ser exposto a visões diferentes do mundo, de sua própria cultura e de si mesmo como ser humano. (...) Acrescente-se também que [essa aprendizagem] fornece ao aprendiz uma base discursiva, através de seu engajamento na negociação do significado via discurso escrito. (LOPES 2002; p. 134)

O tema desta pesquisa assume maior importância nos dias atuais em razão da Lei

11.161 de 5 de agosto de 2005, tornando obrigatório o ensino do espanhol em escolas públicas

e privadas, em horário regular, no Ensino Médio.

Nas orientações curriculares para o Ensino Médio, do Ministério de Educação e

Cultura (MEC) para o ensino de espanhol, encontra-se a crítica ao ensino tradicional de LE

(gramatical, “sem a prática que deve precedê-lo”), assim como a crítica à abordagem

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comunicativa, que se atem à função comunicativa da língua “desconsiderando por completo a

complexidade do seu papel na vida humana, e deixando de lado o lugar da subjetividade na

aprendizagem de segundas línguas” (MEC: 2006; p.132).

A proposta é a de que se observem as práticas sociais, o contexto da língua meta em

sua relação com o da língua materna no processo de aquisição, já que “o papel da língua

materna nesse processo é inegável [e] está na base da estruturação subjetiva” do aprendiz. No

Ensino Médio, o ensino da língua estrangeira deverá conduzir o aluno a “ver-se e constituir-se

como sujeito a partir do contato e da exposição ao outro, à diferença, ao reconhecimento da

diversidade” (Ibid, p. 133).

Estudar uma língua estrangeira, como se lê no documento citado, além de dominar o

código lingüístico, significa também adquirir habilidades lingüísticas na língua meta, usar o

discurso com adequação nas diversas circunstâncias comunicativas e reconhecer a variedade

lingüística e cultural nos países em que se fala a LE. As várias habilidades não são vistas

isoladamente, mas sim como “modos culturais de usar a linguagem” (Ibid; p. 152).

O ensino de gêneros viria, então, como alternativa às práticas pedagógicas que

priorizam ora a sistematização da língua, ora a função comunicativa da linguagem. Esse

procedimento didático se realiza a partir de uma concepção mais ampla de língua e de

linguagem, já que se interessa pelas situações reais (não simuladas) de comunicação e pela

diversidade da manifestação lingüística e cultural.

Faraco (1997; 2000) entende que a comparação entre as duas culturas a da língua

materna e a da língua-meta é procedimento fundamental para o ensino da língua

estrangeira, considerada como fenômeno histórico e social. Ao tratar da formação do

currículo para o ensino de línguas, sugere que o material de apoio, formado de textos reais,

inclua pequenas notícias, histórias curtas, textos mais elementares de divulgação científica,

levando em conta os conteúdos das demais disciplinas.

Com o intuito de clarificar os conceitos de tipos e gêneros textuais, Marcuschi

analisa que, uma vez que os tipos textuais se realizam sempre num determinado gênero, é

importante conhecê-los, tanto para a compreensão como para a produção de textos.

O autor propõe essa alternativa de ensino já que, com ela, “tem-se a oportunidade de

observar tanto a oralidade como a escrita em seus usos culturais mais autênticos sem forçar a

criação de gêneros que circulam apenas no universo escolar” (MARCUSCHI, 2005; p. 36).

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1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA

A partir da contextualização do tema propõe-se, como objetivo geral, a identificação e

análise das concepções presentes nas propostas de ação pedagógica dos professores da

licenciatura de Letras, orientadas para o ensino das variações da língua/cultura dos falantes de

espanhol e a verificação de como são abordados os gêneros nessas proposições.

Desse objetivo geral, desdobram-se os seguintes objetivos específicos:

• Analisar procedimentos e mudanças em relação ao ensino de LE, considerando-se o

processo de formação inicial, contínua e experiência profissional dos professores

envolvidos.

• Levantar, entre os professores e alunos/formandos do curso de licenciatura, as

orientações/parâmetros existentes sobre o ensino das variações da Língua Espanhola.

• Averiguar sobre a pertinência e/ou obstáculos existentes para a utilização dos gêneros

do discurso para esse estudo em particular.

1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Para propiciar essas respostas, a pesquisa foi desenvolvida como um estudo de caso,

instrumentado por entrevistas com professores/especialistas da licenciatura de Letras, da área

de Espanhol/LE e com os alunos/formandos do curso (questionários). A análise do corpus

está apresentada no sexto e último capítulo da dissertação.

No capítulo subseqüente a esta introdução procura-se situar o tema da pluralidade

lingüística e cultural que caracteriza o mundo atual, esclarecendo conceitos e refletindo sobre

suas implicações para o ensino. Em seguida, analisa-se o tema a partir de perspectivas e

abordagens diversas sobre o ensino de línguas estrangeiras.

No terceiro capítulo da dissertação realiza-se a análise das questões teóricas sobre o

conceito e ensino de gêneros em relação à aquisição da língua estrangeira.

Essa análise inicia-se com o sócio-interacionismo, de Vygotsky e a teoria da

enunciação, de Bakhtin, que estão na origem da formação teórica dos participantes das escolas

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(australiana, de Genebra e Norte-americana), que desenvolveram pesquisas sobre gêneros e

sobre a aplicação desse conceito às ciências da linguagem e à aquisição de línguas. Essas

reflexões visam definir o conceito e sua adequação para essa abordagem da língua espanhola,

considerada em sua natureza heterogênea e plural.

O quarto capítulo refere-se aos temas formação de professores e saberes docentes, na

visão de autores da área educacional em que se inscreve esta pesquisa. Ao mesmo tempo,

avaliam-se os conceitos de experiência de Thompson e de saberes experienciais de Tardif

para definir o seu alcance para esta análise.

As questões metodológicas apresentadas no quinto capítulo referem-se à

caracterização das etapas do estudo de caso e às justificativas a respeito da escolha dessa

modalidade de pesquisa, assim como à seleção dos informantes, co-participantes desta

reflexão.

Estudos exploratórios anteriores à coleta de dados incluíram participação em simpósio

sobre o tema variações lingüísticas do Espanhol, em que estava envolvida uma das

professoras pesquisadas; encontros anuais realizados na Universidade Federal do Paraná

(UFPR) Semana de Letras 2006 e 2007 sobre estudos de línguas estrangeiras e

estruturação do curso de Letras que é objeto desta análise. Foram realizadas conversas

informais, anteriores às gravações, com professores do Departamento de Línguas Estrangeiras

Modernas da Universidade.

Essa investigação inicial propiciou direcionamento de conceitos e maior

aprofundamento sobre a literatura existente sobre o tema. Também foi realizado pré-teste dos

instrumentos de coleta de dados com um professor, formado na mesma universidade, no ano

anterior ao dos alunos participantes da pesquisa. Os resultados desse pré-teste serão

comentados adiante.

Diante das perspectivas de expansão do ensino da Língua Espanhola nos próximos

anos, este estudo pode trazer contribuições para a área de formação de professores de

Espanhol/ LE e os resultados da análise podem dar ensejo a mais pesquisa nessa área.

Na seqüência desenvolvem-se as questões teóricas e conceituais enfocando o ensino e

as variações da língua espanhola. Essa análise tem início com esclarecimentos sobre os

conceitos de multiculturalismo, pluralismo cultural e interculturalidade aplicados aos

fenômenos que caracterizam a realidade lingüístico-cultural no mundo atual e a

procedimentos relativos a esses fenômenos.

Nesse contexto o do pluralismo cultural situa-se esta pesquisa, que investiga

sobre as formas de tratar em sala de aula as variações do espanhol, compreendida essa

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diversidade em seu sentido de diferenças lexicais, sintáticas e fonológicas, mas

principalmente sócio-culturais e ideológicas entre os povos que falam a “mesma” língua.

Entende-se, portanto, língua e cultura como elementos indissociáveis neste estudo.

O termo variações da língua é utilizado no sentido genérico, dada a natureza desta

pesquisa, voltada para a prática em sala de aula de línguas. Esse conceito se refere, portanto,

às diferenças lingüístico-culturais presentes em regiões em que o espanhol é a língua oficial,

em regiões em que aparecem, devido à imigração, as chamadas línguas mistas ou em que se

desenvolvem as variedades dialetais. Os termos ou conceitos técnicos são usados, no entanto,

em citações ou em referências específicas sobre determinada variedade ou a determinada

variante, como ao voseo, por exemplo, presente em muitas variedades americanas.

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2 ENSINO DAS VARIAÇÕES LINGÜÍSTICO-CULTURAIS DO ESPANHOL

2.1 PLURALISMO CULTURAL, MULTICULTURALISMO E INTERCULTURALIDADE

Uma língua se define por seu caráter de heterogeneidade e pelo processo de

transformação contínua que a caracteriza. Esses aspectos são postos em evidencia nos estudos

sobre as línguas atualmente. Nessas interlocuções, os conceitos de pluralismo cultural,

multiculturalismo e interculturalidade são amplamente utilizados. A análise de Romero busca

definir as fronteiras de significação desses conceitos a partir dos contextos em que eles são

utilizados. Segundo ele

Pluralismo cultural connota, en primer lugar, la presencia, coexistencia o simultaneidad de poblaciones con distintas culturas en un determinado ámbito o espacio territorial y social, sea un área civilizatoria, una entidad supranacional, un estado nación, una nación sin estado, una región, un municipio, una comunidad local, una escuela. Pero por pluralismo cultural también se entiende [...] una determinada concepción de la diversidad cultural y una determinada propuesta sobre la forma legislativa, institucional, etc, en que debería abordarse en la práctica. (ROMERO, 2003)

O autor vê o multiculturalismo e o interculturalismo como duas versões, ênfases ou

modalidades dentro da mesma idéia a pluralista cultural. Distingue entre multiculturalidade,

referida à diversidade étnica, cultural, lingüística, religiosa, etc., e multiculturalismo, práxis

que parte do reconhecimento ativo social e institucional da diferença e que se concretiza em

modelos de política pública, de sistema educativo, etc.

A perspectiva intercultural ganha força, segundo Romero, a partir da constatação dos

limites no campo do multiculturalismo. Interculturalidade refere-se, portanto, às relações

interétnicas ou interlingüísticas, enquanto que interculturalismo englobaria a noção de

convivência na diversidade, pela aplicação dos princípios de igualdade, diferença e de

interação positiva.

Rajagopalan (2006) entende que critérios puramente lingüísticos não são suficientes

para distinguir uma língua de outra ou uma língua de um dialeto, o que é verdadeiro

principalmente, segundo o autor, para as línguas faladas em áreas contíguas. Da mesma

forma, a delimitação do conceito de falante de uma determinada língua também acarreta

problemas, uma vez que a maioria das pessoas pertence a comunidades lingüisticamente

pluralistas, o que torna mais significativo o enfoque do pluralismo lingüístico como um

fenômeno social (PANDIT 1975 apud RAJAGOPALAN, id p. 25).

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Analisa o autor que a lingüística tradicional precisa levar em conta as implicações do

multilingüismo e do multiculturalismo (conceito utilizado com a acepção de

multiculturalidade, segundo a proposta de Romero). Nesse processo, as identidades

individuais “entendidas como algo estável, não têm utilidade prática num mundo marcado

pela crescente migração de massas e pela entremesclagem cultural, religiosa e étnica, numa

escala sem precedentes” (Id p. 40).

Nesse contexto, em que as línguas passam, mais rapidamente, por um processo de

hibridização, tendência inerente a sua própria constituição, como atestam o “portunhol”, o

“franglais”, o “spanglish” línguas mistas, em constante processo de evolução é preciso

repensar, também, segundo o autor, as noções de competência comunicativa e de falante

nativo (RAJAGOPALAN, 2004 p. 69-70).

Para Rajagopalan, isso significa pensar, como Davies (1989; apud Id p. 70), em metas

mais exeqüíveis para o ensino de línguas estrangeiras e o principal objetivo, desse ensino, será

a formação de “indivíduos capazes de interagir com pessoas de outras culturas e modos de

pensar e agir, [ou seja], a formação de cidadãos do mundo”.

Essas considerações sobre a língua, sobre o pluralismo cultural e o ensino de línguas

estrangeiras são ilustradas a seguir, com dois artigos científicos, com o objetivo de situar as

questões da sala de aula multilíngüe e do preconceito lingüístico: o primeiro deles, publicado

na Revista de Educación /Espanha, analisa o ensino em cursos de espanhol para alunos

multilíngües de escolas espanholas de primaria, que correspondem ao nível fundamental no

Brasil; o segundo trata de políticas lingüísticas na fronteira Brasil/Uruguai.

Rojo e Mijares (2006) analisam as línguas imigrantes na prática educativa na Espanha:

pelos dados levantados, durante o curso de 2005-2006, mais de meio milhão (50%) dos alunos

utilizariam alguma variedade do espanhol, especialmente as variedades equatoriana,

colombiana, dominicana, peruana, equato-guineana ou cubana. Essas variedades têm cada vez

maior presença nos centros escolares, no contexto analisado, o que faz com que se possa

repensar, segundo as autoras, a orientação de se considerar correta apenas a norma peninsular,

ou até mesmo, local.

As autoras referem-se à necessidade de valorizar a diversidade, “como fonte de

riqueza que mantém vivos diferentes modos de entender o entorno e a experiência humana”

(Id. p. 97-8).

Vêem a necessidade de programas e medidas para gerenciar essa diversidade, que

garantam o acesso à língua veicular e que permitam a manutenção das línguas de origem.

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Nas escolas, porém, predomina a “submersão lingüística”, isto é, ao contrário dos

programas de imersão, em que a valorização da língua de origem é indispensável, o método

utilizado não leva em conta, segundo essa análise, a língua de origem dos aprendizes. Estes

são orientados a não utilizá-la durante o processo de aprendizagem da nova língua (ou nova

variedade). Essa orientação parte do princípio de que a língua dos aprendizes interfere

negativamente na aprendizagem da língua estrangeira.

Exemplificam com o Programa de Escuelas de Bienvenida, em que se agrupa ou

separa os alunos que não conhecem a língua da escola. Esse procedimento impede que os

alunos se familiarizem com a diversidade e marginaliza aqueles que não conhecem a

variedade local, problema que se resolveria com relativa facilidade no convívio com os

colegas.

O método favorece a competição entre as línguas – separa os âmbitos de uso e busca

substituir (em vez de compatibilizar) uma língua por outra e demonstra “que em muitas dessas

classes, os professores consideram que seus alunos, possivelmente já bilingües, partem do

zero, de uma ‘não-língua’” (Id. p. 101-2).

A valorização da variedade local afeta tanto as línguas como as outras variedades do

espanhol, diferentes da que se fala na região. Os estudantes são corrigidos com a justificativa

de que, uma vez suprimidos os sotaques ou pronúncias diferentes, assim como as diferenças

lexicais, eles se integrarão melhor, o que evidencia a crença de que, para integrar-se, não se

pode falar de maneira diferente.

O objetivo do professor é a substituição de uma forma por outra, segundo se conclui, o

que faz com que os estudantes de origem latina, por exemplo, participem menos em classe e

relatem que “se rechaza su manera de hablar” (Id, p. 105).

No segundo artigo, Barrios (2001) relata que, historicamente, as políticas lingüísticas

se caracterizaram, no Uruguai, pelo caráter homogeneizante, refutando todas as opções para

levar em conta a heterogeneidade lingüística existente em grande parte do país.

Desde 1877, pela Ley de Educación Común, o espanhol se impôs sobre as línguas

portuguesas da fronteira com o Brasil, cujo repertório lingüístico tem as seguintes

características, segundo a sociolingüista: é constituído por duas línguas estândares espanhol

e português; cada uma das línguas se constitui, por sua vez, de uma variedade estândar (rio-

platense e português estândar brasileiro) e diferentes variedades dialetais, com possibilidades

de variações estilísticas e sócio-dialetais; as duas línguas estândares entram em contato

através de suas variedades dialetais, conhecidas popularmente como portunhol e tecnicamente

como DPU (Dialetos Portugueses do Uruguai).

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Essas variedades do espanhol e do português são os dois pólos em que se localizam as

variedades dialetais, mais ou menos espanholizadas ou aportuguesadas, que os falantes

identificam predominantemente com o português (brasilero). A exposição dos falantes

fronteiriços ao espanhol estândar é muito mais forte que ao português estândar, porque aquela

língua é a língua ensinada nas escolas; os falantes estão expostos à variedade portuguesa

através dos meios de comunicação (imprensa oral e escrita), cartazes publicitários e

sinalização viária nas cidades brasileiras, etc.

A variedade estândar rio-platense é a língua prestigiada socialmente, descreve Barrios,

mas os DPU contam com o prestígio comunitário, orientado para a identidade, o que lhes dá

as características de uma língua étnica. A norma social entra em conflito com a norma da

comunidade, “através da qual os falantes manifestam sua solidariedade com o grupo”.

A autora prevê que o português estândar poderá ser um sucedâneo para os DPU, no

caso de que sua sobrevivência seja impossibilitada e funcionaria assim como língua

identificadora grupal. Isso porque, como parte dos acordos entre os países do Mercosul,

estende-se o ensino do Português para os habitantes da fronteira lingüística Brasil/Uruguai, o

que se constitui em um paradoxo, segundo a autora: a substituição da repressão tradicional ao

português pela instrumentalização oficial do ensino do português na região, como resultado da

política lingüística de integração regional, as duas realidades causando o mesmo efeito em

relação às variedades da fronteira.

A política lingüística atual, para Barrios, realiza-se em termos paternalistas e

corretivos, como atestam as justificativas do projeto e as sugestões de que seria melhor que os

falantes da fronteira aprendessem o português correto, ao invés de falar uma ‘mezcla’, que no

es ni una cosa ni la otra.

O resumo dessas duas comunicações teve o objetivo de caracterizar a situação descrita

sobre a questão lingüística no momento atual, a partir de duas visões diferenciadas: a

realidade do ensino em sala de aula com alunos multilíngües (Espanha) e a visão

sociolingüística em relação a línguas em região de contato.

O estudo de Rojo e Mijares caracteriza, também, a orientação do método

comunicativo de línguas para o ensino de línguas estrangeiras, anteriormente a sua crítica e

revisão: a indicação de que professores e alunos não utilizassem a língua de origem na sala de

aula de línguas estrangeiras. A revisão posterior do método incluiu, por exemplo, o ensino da

gramática da língua.

A comunicação de Barrios, publicada no Brasil, é um texto que, muito provavelmente,

provoca sentimentos diversos, caso a leitura seja feita por leitores falantes de espanhol ou de

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português. Para os professores de espanhol, os dois textos possibilitam reflexões a respeito da

prática e também o entendimento do porquê de muitas das orientações metodológicas que

encontramos no material didático utilizado ao longo da vida profissional.

A partir da conceituação apresentada e na seqüência desses encaminhamentos

metodológicos, analisam-se alguns aspectos relativos ao ensino do espanhol no Brasil.

2.2 ESPANHOL COMO LE: ENSINO DAS VARIAÇÕES DA LÍNGUA

No Manual de Becker (1955) pode-se ler, a respeito do voseo, que “este censurable

vicio de lenguaje – denominado voseo – adopta también, en general, formas verbales

incorrectas. Los que vosean dicen, por ejemplo: vos sos, vos tenés, vos andás (...) cuando lo

correcto es tú eres, tú tienes, tú andas” [destaques acrescidos]; (Id, p. 57).

O autor estima em dois terços as regiões da América em que se vosea:

La zona en que se vosea abarca, sobre todo, gran parte de la América del Sur. El voseo se encuentra arraigado en ciudades importantes como Buenos Aires, Montevideo, Asunción, Rosario y otras menores (...) Han quedado indemnes, casi en su totalidad, Méjico y las Antillas; y, en menor parte, el Perú, Colombia y Venezuela. En ese tercio de Hispanoamérica se tutea. [destaques acrescidos]; (Id, p.57)

No capítulo sobre divergências léxicas entre Espanha e América, Becker adverte que

não estará referindo-se, em sua análise, a “las voces groseras del habla vulgar”, mas sim aos

regionalismos “de buena ley y que son usados por los escritores y todas las clases sociales”

(Id. p.168).

O autor desautoriza o uso de tais voces groseras, assim como procura estabelecer a

norma correta em relação ao voseo, embora reconheça que é usado em praticamente toda a

América.

Os grifos no texto do autor procuram destacar a noção de língua presente no Manual e

mostrar como se difunde o preconceito lingüístico, que pode ser identificado em acepções e

abordagens de ensino atuais. As análises de livros didáticos ou sobre escolha de variedades

por professores e alunos apontam para a valorização do espanhol peninsular, que é

considerado sempre em relação dicotômica com o padrão hispano-americano, relacionado à

variedade rio-platense (LIMA, 2006; IRALA, 2004).

Esses estudos mostram a difusão da noção de inferioridade em relação às variantes,

associadas à fala vulgar ou coloquial. Os professores escolhem a variedade padrão mais

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difundida nos livros didáticos, mesmo em regiões em que, pela proximidade com os países em

que o espanhol é língua oficial, seria bastante compreensível a adoção de variantes presentes

na “variedade hispano-americana” (rio-platense), como o voseo, por exemplo (Id, p.102).

Celada e González (2005) desenvolvem uma reflexão histórica e interpretativa a

respeito de como se processa no Brasil o ensino do Espanhol/ LE. Essa crítica toma como

referências os estudos de Pêcheux, Orlandi e de Serrani, sobre lingüística aplicada, com base

nos conceitos da análise do discurso. Recorrendo a categorias de Pêcheux para essa análise a

autora observa que

‘aprender una lengua’ implica que esta será tomada ‘en redes de memoria, dando lugar a filiaciones identificadoras y no meramente a aprendizajes por interacción’. Evitamos así una identificación con la ilusión de cada uno de nosotros que, como sujetos pragmáticos, urgidos por una imperiosa necesidad de homogeneidad lógica, enfrentamos una lengua como un conjunto de cosas-a-saber que expresa un mundo semánticamente estabilizado. (p. 93)

Celada caracteriza, com essa afirmação, a visão veiculada no Manual de Becker

(1942 apud id, p. 81), que considera apenas o nível lexical de análise e entende a língua como

sinônimo de norma e de língua de determinada literatura (p.90).

A concepção de homogeneidade e estabilidade da língua é responsável, também, pelo

estabelecimento de alguns mitos relativos ao estudo do espanhol como língua estrangeira.

Entre eles, destaca-se o da semelhança entre o espanhol e o português, a ponto de se

considerar desnecessário estudar o espanhol, a não ser pelo cuidado que os alunos brasileiros

devem ter com os falsos cognatos.

Essas palavras são identificadas como compondo apenas 10% do léxico da língua (as

90% restantes, segundo essa interpretação, não ofereceriam riscos para a comunicação). A

expectativa de fazer frente a esses “inimigos” da comunicação explicam a grande quantidade

de dicionários de termos com as palavras correspondentes em português e as listas de falsos

amigos nos livros didáticos de espanhol para alunos brasileiros.

Em uma análise, porém, que se produza ao nível dos enunciados da língua e que

considere o tema em oposição à significação isolada e dicionarizada dos termos (BAKHTIN,

2002), qualquer palavra da língua estrangeira ou materna vai-se constituir, certamente, em

um obstáculo no caminho da aquisição ou da comunicação.

Sobre as variações do espanhol, observa-se que elas também são apresentadas, em

grande parte do material didático, como algumas poucas referências sobre diferenças

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lexicais, sintáticas ou fonológicas, segundo conclusões de Lima (2006), quase sem análise

sobre as ocorrências. Indica-se, dessa forma, a sua condição de desvio em relação à norma ou

são vistas como curiosidades, o que vem reforçar as noções de homogeneidade e de ausência

de conflitos no estudo e na constituição da língua.

Lima propõe que o professor apresente, aos alunos, material lingüístico variado e

autêntico para complementar esse estudo. Sugere que o aluno tenha acesso a textos

registrados em áudio, filmes em que predomine o espanhol coloquial, séries televisivas,

artigos de jornal e de revistas, comics, folhetos de propaganda e publicidade, obras que

realizam una elaboração literária da língua coloquial, etc. Observa que esse ensino deve se dar

num momento determinado da aprendizagem:

una vez que los alumnos han adquirido el saber idiomático (son capaces de expresarse correctamente en una lengua determinada) (...) el profesor debe darles cuenta de la existencia de las distintas variedades lingüísticas y de cómo el mismo contenido ha de expresarse de un modo distinto, según la situación y el tipo de comunicación deseada.

(p. 311)

No entanto, apesar do cuidado que se deve ter a respeito da noção de facilidade de

compreensão do espanhol pelo falante de português entende-se, em contraposição a essa

orientação da autora, que o estudo das variações lingüísticas compreendidas também como

tipos de comunicação ou de registros diferentes deverá ser efetivado já no início da

aprendizagem, uma vez que esse conhecimento é condição para a almejada capacitação na

língua estrangeira. Esse ensino/aprendizagem poderá ser implementado através da leitura de

textos autênticos ou de audições, como sugere a pesquisadora; porém, ao contrário de seu

posicionamento, compreende-se que o ensino das variações referentes aos contextos sócio-

culturais deverá nortear os programas educacionais, desde que se considere a adequação do

material para cada grupo de alunos, em fases diferentes do aprendizado da LE, mas abarcando

todas as etapas de aprendizagem da língua.

A proximidade entre as línguas, portanto, permite ao professor trabalhar com textos,

desde as classes iniciais. E é nesse sentido que se considera que os conceitos de enunciado e

de gêneros discursivos, assim como a argumentação de Bakhtin/Voloshinov (2002; p. 128-36)

sobre tema e significação, em sua análise sobre aquisição da língua materna, podem ser

bastante proveitosos para o ensino do Espanhol/LE.

Em continuidade a essas reflexões é importante acompanhar um pouco o debate atual

sobre os métodos de ensino de línguas estrangeiras e a identificação, em relação a eles, das

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noções de ausência de conflitos na constituição do sujeito e do caráter de homogeneidade da

língua, segundo análise de Mascia (2003) e Souza (2002).

Seguindo uma perspectiva de análise do discurso, Mascia analisa os discursos

fundadores das metodologias de ensino de línguas estrangeiras e entende que as mudanças de

métodos não se constituem apenas em mudanças de práticas pedagógicas: são práticas políticas

que veiculam não apenas conteúdos, mas “formas pelas quais nós ‘significamos a verdade’ a

respeito de nós mesmos e dos outros, por meio de relações de poder”.1 Relaciona os mais

conhecidos métodos de ensino de línguas, desde o método Tradicional, passando pelo método

Direto, Áudio-oral e Audiovisual, para concentrar maior atenção ao método Comunicativo, que

surge na década de 1970, na Europa, com o objetivo de ensinar línguas aos adultos imigrantes,

que chegam em razão da abertura do Mercado Comum Europeu.

Percebe a autora que os métodos aparecem sempre em condições históricas

determinadas, que precisam ser levadas em conta para a compreensão das concepções e dos

discursos que subjazem ao seu estabelecimento.

A metodologia comunicativa, que surge em oposição aos métodos Áudio-Oral,

Audiovisual e às abordagens estruturalistas, considera o erro como parte do processo da

aprendizagem e se direciona para o desenvolvimento da competência comunicativa, pelo

desenvolvimento das habilidades de compreensão oral e escrita e produção oral e escrita.

O professor é o mediador e facilitador do processo, selecionando o material de acordo

com as necessidades dos alunos, que são os responsáveis pela aprendizagem.

Mascia identifica, com base na literatura, três fases de constituição dessa metodologia:

a nocional-funcional; a fase ligada aos atos de fala, com incorporação de tendências sócio-

lingüísticas; e a terceira vertente, mais crítica e que considera a interação cultural.

A incorporação de aspectos como o da sistematização gramatical confere a essa

metodologia um caráter de ecletismo metodológico. Não questiona a heterogeneidade

constitutiva do sujeito, ou seja, apresenta, segundo essa análise, a tendência de “não-

problematização do sujeito e de seu dizer”, o que a aproxima dos métodos anteriores (p. 219).

_____________________________________________ 1 Para Lopes (2006, p. 310), as identidades sociais são construções históricas; formam-se na interação

com os outros, em determinados contextos histórico-sociais. Esse processo interativo implica a possibilidade de um contra-discurso, ou seja, as identidades não são fixas, estão em construção e podem ser re-posicionadas. A questão metodológica e as práticas educacionais, nesse sentido, consideram-se na experiência dos atores envolvidos no processo educativo e a análise desses fenômenos objetiva a identificação de como eles se expressam em situações históricas particulares (THOMPSON, apud MARTINS, p. 118).

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Com base na crítica de Bakhtin à visão saussuriana Souza (2002) explicita que

Na sala de aula tradicional (...) tanto os conteúdos quanto a metodologia são vistos como imutáveis, fixos, estáveis. Os conteúdos – a gramática, seja ela tradicional ou comunicativa – são pré-estabelecidos, de forma unilateral, pelo professor ou pela instituição, independente de qualquer grupo específico de aprendizes. A metodologia também é vista como imutável e unilateral, garantindo a naturalidade da autoridade do professor, sendo que o aprendiz é visto como um ser abstrato, desprovido de um caráter social (...) Essa visão aborda a sala de aula como um lugar neutro, objetivo e harmonioso. (p. 23)

Para Souza, a sala de aula, na visão bakhtiniana, pode ser, ao contrário, um lugar de

conflito de vozes e de embates entre valores concorrentes. Essa visão, da sala de aula como

heteroglossia conceito que, na análise do autor, está referido a todos os elementos que a

constituem, ou seja, a métodos, programas , alunos, professores , traz consigo a necessidade

de negociação e a consideração do aluno como sujeito híbrido, na acepção dada por Bakhtin.

Isso significa, segundo o autor, considerar a diferença de discursos sociais e coletivos que

formam cada sujeito, mas levando em conta a possibilidade de pontos em comum entre esses

discursos.

O autor sugere que se busquem maneiras de acomodar os conflitos e não eliminá-los

ou camuflá-los, atitude que acaba sempre por adiar o momento de conflito, que não pode, na

verdade, ser evitado. A negociação, portanto, deve dirigir todos os momentos da atividade

pedagógica, uma vez que, o aprendiz, como ser social e formado por discursos conflitantes,

não se adapta com facilidade a metodologias pré-estabelecidas e homogeneamente

constituídas (p. 24).

Considerando as análises apresentadas e retomando Celada (e Pêcheux), pode-se

formular algumas questões com o intuito de direcionar essas reflexões sobre a língua e o

ensino de LE. São elas: que alternativas tem o professor à concepção da língua estrangeira

como expressão de um mundo semanticamente estabilizado? E, também, como apreender a

heterogeneidade e instabilidade inerentes ao objeto de estudo e com que abordagens?

Esses pontos serão abordados no decorrer desta pesquisa no sentido de delinear

possíveis caminhos, prevendo as contribuições que a aplicação de gêneros em sala de aula

possam trazer para a solução dos problemas descritos.

No III Simpósio de professores de espanhol do Paraná (III EnPLEE –PR), realizado

em Foz do Iguaçú-Pr, Villalba (2007) discorreu sobre as variações lingüísticas no ensino do

espanhol. Referiu-se, nesta oportunidade, aos métodos para o ensino de LE, que destacaram,

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respectivamente, a gramática da língua e a tradução, a oralidade da língua e a gramática

comunicativa.

Refere-se a que o ensino das variações, assim como o ensino da leitura, não são

contemplados de maneira eficaz por meio dessas abordagens. Analisa a questão através dos

livros didáticos para o ensino da língua estrangeira e observa que os autores têm tratado a

variação, em geral, como curiosidades léxicas, o que revela o preconceito lingüístico: “lo

ajeno tratado como exótico”.

Revê o conceito de identidade, segundo o qual o indivíduo se constitui e se revela pela

língua e sua vinculação à cultura e à ideologia. Entende que há necessidade de mudanças de

concepção de língua e de postura do professor, valendo-se da experiência profissional.

Relata, nessa comunicação, que a tomada de posição frente às metodologias de ensino

e organização do material didático implica reconhecer a situação (localização) do curso, perfil

de professores e alunos e os objetivos do curso.

A análise de Serrani não é menos esclarecedora das indagações postas para a

realização deste estudo. Sua visão, neste caso, é sobre o enfoque intercultural no ensino da

língua.

Como membro do Ministério de Educação para avaliação dos cursos de Letras, no

período de 1998 a 2003, Serrani (2005) constata que o componente sócio-cultural e a

dimensão enunciativa da língua ocupam posição acessória nos currículos de Letras. Os

enfoques interculturais, que contemplem a diversidade cultural de forma efetiva, também são

raros nos programas dos cursos.

Sobre a formação do professor de línguas como interculturalista, observa que é

importante não entender a língua como “mero instrumento a ser dominado pelo aluno,

segundo progressões de complexidade”, trabalhando apenas com o sistema da língua ou com

apresentação de situações comunicativas. Importa que o professor “considere, especialmente,

em sua prática, os processos de produção-compreensão do discurso, relacionados diretamente

à identidade sócio-cultural” (p. 17-18).

Na proposta interculturalista de Serrani, os currículos ou projetos didáticos para o

ensino de línguas não partem de elementos do sistema da língua, mas organizam-se pelo

enfoque de determinados contextos sócio-culturais. Para a composição desses projetos são

considerados os gêneros discursivos produzidos nesses contextos, assim como textos que

possibilitem a identificação de visões externas sobre o tema e o contexto analisados. Propõe a

organização de programas com eixos temáticos, que contemplem os diferentes territórios

entendidos não só como espaços geográficos, mas principalmente como espaços sociais ,

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legados culturais e grupos sociais, observados sob diversas perspectivas discursivas a respeito

de diferenças raciais, étnicas, de classe ou atividades profissionais (p. 31-32). Esse enfoque

permitirá compreender os fenômenos em sua heterogeneidade social, lingüística e cultural.

Referindo-se a Freire, propõe que o método de ensino favoreça o estabelecimento de

pontes culturais com outras sociedades e culturas, partindo da língua de origem do aprendiz.

Coerente com essa abordagem, a autora admite que ela possa ser eficiente, também, no

ensino das variedades da língua. Apresenta sugestões de atividades para o ensino de espanhol

como língua estrangeira, com apoio em textos escritos e música, propiciando a comparação de

gêneros e de realidades regionais das duas esferas, a da língua materna (português) e a da

língua estrangeira. Essa abordagem da língua, além de garantir um lugar importante para o

componente cultural, “propicia a educação para a diversidade sócio-cultural e o

questionamento de etnocentrismos e exotismos” (p. 21). Na organização dos currículos para o

ensino da língua, propõe que se observe a inter-relação entre os campos teórico, político e o

de atividades concretas de ensino.

Na visão da autora, portanto, seria necessário que a concepção da pluralidade cultural,

assim como a noção de registros diferenciados organizassem o ensino da língua, considerando

a produção social de áreas diversas da atividade humana.

Com o propósito de refletir sobre a aplicação de uma teoria com base em gêneros para

o ensino das variedades do espanhol serão analisados, a seguir, os conceitos de gêneros do

discurso e de enunciado, de Bakhtin, e as formas de apropriação desses conceitos. Essa

análise passa pela consideração da teoria sócio-construtivista de Vygotsky, que constitui,

juntamente com a teoria da enunciação de Bakhtin, a fundamentação teórica dos estudos

tradicionais sobre gêneros e aquisição de línguas. Busca-se também situar a orientação deste

trabalho em relação às noções de gênero textual e de gêneros do discurso, segundo análise de

Rojo e a partir das considerações teóricas de outros autores que examinam essa questão.

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3 A PERSPECTIVA DOS GÊNEROS DO DISCURSO

3.1 O SÓCIO-CONSTRUTIVISMO (INTERACIONISMO)

Os principais conceitos da teoria sócio-interativista desenvolvida por Vygotsky (1987;

1988) dizem respeito à noção de que o indivíduo adquire conhecimentos através de sua

relação com o meio social, como resultado de um processo sócio-histórico. Nesse processo, a

linguagem e a aprendizagem têm lugar relevante.

Esses conceitos referem-se ao pensamento e à linguagem, à questão cultural no

processo de construção de significados pelos indivíduos, com destaque para o papel que a

escola representa para a sua formação: a transmissão de conhecimentos científicos, segundo

essa vertente, processa-se de forma diferenciada na escola e na vida familiar, cotidiana.

Importante conceito para a compreensão dessa teoria é o da relação mediadora que

exercem sobre o indivíduo a cultura e o meio social, que pode ser composto por outros

indivíduos, objetos que rodeiam a criança ou a forma como se organiza o espaço e o

ambiente. Essa motivação exercida pelo outro é responsável pela internalização do

conhecimento e dos conceitos e é pela linguagem que o indivíduo terá acesso a esse

conhecimento, uma vez que é por meio dela que se formam as funções sociais superiores.

Esse desenvolvimento cognitivo vai do social para o plano individual interno, ou das

relações interpessoais para o nível das relações intrapessoais. Com essa visão, os processos

pedagógicos são vistos como ação intencional, que visam à formação de conceitos; e o papel

do professor é o de intermediar esse processo, sendo a sua interferência maior do que aquela

que é prevista na teoria interacionista de Piaget.

Para Vygotsky

os sistemas simbólicos que se interpõem entre sujeito e objeto de conhecimento têm origem social. Isto é, é a cultura que fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade e, por meio deles, o universo de significações que permite construir uma ordenação, uma interpretação, dos dados do mundo real. Ao longo de seu desenvolvimento o indivíduo internaliza formas culturalmente dadas de comportamento. (LATAILLE; 1992)

Os estudos de Piaget e Vygotsky sobre o desenvolvimento da aprendizagem na criança

permitiram o tratamento renovador das práticas e teorias educacionais.

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Para Freitas (2006), a contribuição fundamental de Vygotsky para a Educação está “na

concepção de que as funções psíquicas do indivíduo são constituídas na medida em que são

utilizadas, sempre na dependência do legado cultural da humanidade” (p. 101). A criança se

apropria da cultura através do contato com os adultos e companheiros mais experientes.

Esse aprendizado é anterior à idade escolar e acontece desde o primeiro ano de vida da

criança. Na escola, ela passa por várias experiências, entre as quais se destacam a imitação de

comportamentos, a aquisição da linguagem e de informações e a realização de atividades com

quantidades e operações.

A formação de conceitos refere-se, portanto, sempre seguindo a análise da autora, aos

processos de conceitos espontâneos e de conceitos científicos, intimamente relacionados.

Vygotsky construiu um novo caminho para a Psiciologia, com base no materialismo

dialético que, para ele, não era um dogma, mas uma maneira de pensar. A relação entre

marxismo e Psicologia não supunha “uma vinculação imediata, mas mediata” (p.105),

portanto era preciso buscar um conjunto de categorias intermediárias, a exemplo da categoria

de mais-valia, intermediária na teoria marxista para a explicação dos fenômenos econômicos

e sociais.

Para Vygotsky, “o que se pode buscar nos mestres do marxismo, não é a solução da

questão, nem mesmo uma hipótese de trabalho (...) mas, o método de sua construção”

(VYGOTSKY, 1984, apud FREITAS, id p.108).

Pelo método dialético, ele desenvolve a compreensão dos fenômenos como processos

em movimento e em mudança.

Freitas aproxima Vygotsky e Bakhtin pelo interesse dos dois autores pela Linguagem,

entendida como chave para a compreensão das questões epistemológicas das ciências sociais

e humanas; e pelo embasamento de suas teorias no materialismo dialético:

Bakhtin analisou a estrutura da enunciação na língua corrente pela inter-relação entre significação, sentido e valor apreciativo. Vygotsky, da mesma forma, buscou apreender a estrutura do pensamento a partir do sentido e da intenção afetivo-volitiva presentes na interação verbal. Ambos distinguem sentido e significação da palavra compreendendo sentido em seu aspecto concreto, dinâmico, contextual. (Id, p.160)

O sócio-interativismo, na vertente de Vygotsky, cristaliza-se em várias opções teóricas

para os estudos do texto e da linguagem, como os estudos de Oliveira (2006), sobre

letramento, cultura e modalidades de pensamento e de Lopes, comentado mais adiante.

Também nessa vertente situam-se os trabalhos de Kleiman (2002a; 2006), sobre leitura

e letramento. Os trabalhos produzidos pela autora oferecem subsídios e direcionamentos

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importantes para a elaboração de currículos, organização de livros-didáticos e para a prática

pedagógica nas escolas, visando à formação do leitor crítico.

Na área de aquisição da linguagem, especificamente da segunda língua, Lima (1998),

a partir das proposições de Vygotsky sobre a participação conjunta de professores e alunos

para a construção do conhecimento comum, estuda o papel do professor na sala de aula de

línguas. Adotando visão diferenciada em relação ao ponto de vista tradicional (professor

transmissor do conhecimento, centro do processo educacional) e àquele que desloca essa

centralidade para o educando exclusivamente, propõe o “conhecimento compartilhado” nas

aulas de LE.

Lopes (2002) analisa os modelos não-interacionistas de leitura, centrados nos aspectos

mecânicos do ensino de línguas e voltados para o texto ou privilegiando a recepção para

estabelecer uma terceira visão de leitura, que abarcaria com mais propriedade o fenômeno da

compreensão escrita.

Nessa interpretação, o ato de ler envolve tanto a informação que está impressa como a

informação que o leitor traz para o texto. Apresenta, assim, uma reflexão que visa

problematizar os processos de ensinar e aprender a língua estrangeira, com ênfase em sua

natureza social e educacional.

A reflexão do autor centraliza a questão do professor de línguas como professor-

pesquisador. Lopes entende que a tomada de consciência do processo em que o professor está

envolvido fará com que ele possa submeter a sua atividade a uma crítica constante e gerar

progresso educacional, com base nas pesquisas conduzidas por ele na sala de aula.

Os estudos sobre leitura, compreensão e letramento, dos quais os exemplos dados

ilustram algumas das orientações existentes, norteiam-se pela noção de interação. Situam-se

na vertente construtivista, como os de Lopes, ou na vertente sócio-interacionista, que também

está na base dos estudos sobre gêneros e sua aplicação ao ensino de línguas, como os estudos

das chamadas Escola de Sidney, Escola de Genebra e Nova Retórica. As apropriações do

conceito de gênero e sua crítica serão analisadas a seguir, buscando sua formulação em

relação aos objetivos deste estudo.

3.2 A TEORIA DOS GÊNEROS

O termo gênero refere-se às atividades realizadas lingüisticamente em determinada

cultura ou meio social. O conceito de Bakhtin engloba as noções de dinamismo e de

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criatividade e o entendimento da linguagem como processo, em constante mudança, efetuada

pela ação dos falantes.

Para Bakhtin, a linguagem é fenômeno social e histórico; a unidade básica de análise

lingüística é o enunciado, ou seja, “elementos lingüísticos produzidos em contextos sociais

reais e concretos como participantes de uma dinâmica comunicativa [ e ] a mutabilidade da

linguagem consiste na inesgotável possibilidade de atribuir novos significados aos mesmos

elementos lingüísticos em contextos social e temporalmente novos” (2003; apud SOUZA, 2002

p. 21).

A respeito do conceito de enunciado de Bakhtin e sua importância para os estudos de

lingüística aplicada, lemos em Faraco e Castro (2004):

Para o autor, a relação lingüística entre os seres humanos se dá, portanto, por meio do enunciado (oral ou escrito), que é o processo básico de estabelecimento da interlocução e envolve, por isso, obrigatoriamente, um contexto específico e interlocutores correspondentes a esse contexto, com seus valores e interesses. (...) Do ponto de vista metodológico, [esse conceito] pode elucidar algumas de nossas ações que dizem respeito ao modo como conduzimos o trabalho de leitura em sala de aula.

Marcuschi (2005a) define e diferencia tipos e gêneros textuais. Com base nas

teorizações de Bakhtin e Bronckart, observa que os gêneros caracterizam-se, segundo o

primeiro autor, pelo fato de se constituírem em atividades sócio-discursivas, muito mais do

que por sua forma lingüística. Explicita, a esse respeito, que “quando dominamos um gênero

textual, não dominamos uma forma lingüística e sim uma forma de realizar lingüisticamente

objetivos específicos em situações sociais particulares”.

Citando Bronckart, para quem “a apropriação dos gêneros é um mecanismo

fundamental de socialização, de inserção prática nas atividades comunicativas humanas”,

entende que os gêneros agem como “formas de legitimação discursiva [porque] se situam

numa relação sócio-histórica com fontes de produção que lhes dão sustentação muito além da

justificativa individual”. Eles são “o reflexo de estruturas sociais recorrentes e típicas de cada

cultura” (Id p.32).

Em outro estudo sobre o tema, Marcuschi (2005b) observa também que existem

atualmente muitas teorias sobre os gêneros, mas que estão em crise aquelas que privilegiam a

forma e a estrutura. Isso ocorreria devido às características essenciais do gênero a

flexibilidade e a variabilidade e que também caracterizam a linguagem. Hoje, como aponta

o autor, o gênero é visto, na maior parte dos estudos, “pelo seu lado dinâmico, processual,

social, interativo e cognitivo” (Id p.18).

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Entende que, “quando ensinamos a operar com um gênero” estamos tratando de “um

modo de atuação sócio-discursiva numa cultura e não[de] um modo de produção textual” (id,

p.19). Referindo-se a Bakhtin e à afirmação de que toda a manifestação lingüística se dá

como discurso, avalia a categoria de gênero na visão de Maingueneau, para quem ela “permite

evitar vários tipos de reducionismos, tais como a ‘redução sociológica’ de ver o discurso sem

considerar a fala que o autoriza; ou a ‘redução lingüística’ de ver as palavras sem considerar

seu entorno enunciativo” (p. 21).

Os gêneros, portanto não podem ser classificados, segundo esta análise, como formas

puras, nem podem ser catalogados de forma rígida. Devem ser considerados em sua “relação

com as práticas sociais, os aspectos cognitivos, os interesses, as relações de poder, as

tecnologias, as atividades discursivas e no interior da cultura. Eles mudam, fundem-se,

misturam-se para manter sua identidade funcional com inovação organizacional.” (p.19).

Bunzen (2004) revê o conceito de gêneros do discurso para entender sua importância e

limites de aplicação para os estudos de língua materna. Analisa três tradições ligadas a esse

conceito: a escola australiana (de Sidney); a escola de Genebra e a Norte-americana ou Nova

Retórica, para reconhecer as concepções de ensino-aprendizagem subjacentes às diversas

propostas de ensino com gêneros.

Os pesquisadores da Escola de Genebra, Jean-Paul Bronckart, Bernard Schneuwly,

Dolz, Haller, Machado entre outros, da Universidade de Genebra, dedicam-se à constituição

do interacionismo sócio-discursivo e sua aplicação aos estudos do francês como língua

materna. Tomam como modelos teóricos a Teoria da Enunciação de Bakhtin e a Teoria da

Aprendizagem vygotskiana para identificar, no conceito de gênero, a articulação entre práticas

sociais e objetos escolares (SCHNEUWLY; DOLZ, [1997] 2004 apud BUNZEN, id ).

As unidades de análise, nessa escola, assim como na Escola de Sidney são os textos,

entendidos em uma acepção sócio-interacionista da linguagem, como “a ‘realização

semiótica’ de uma ação de linguagem situada, que se efetua tomando um dos modelos de

gêneros disponíveis no intertexto de uma determinada língua natural” (BRONCKART, 2000

apud Id).

No entanto, para os pesquisadores da “Escola de Genebra” os gêneros não se

constituem em objeto real, destinado ao ensino/aprendizagem. São utilizados como “quadros

da atividade social em que as ações de linguagem se realizam” no desenvolvimento de

capacidades de ação, discursivas e lingüístico-textuais, numa perspectiva textual de análise.

Na conclusão de sua análise o autor argumenta que esse conceito, nas tradições

analisadas, tem-se constituído em instrumento desestabilizador de práticas de ensino

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tradicionais ou que se mostraram pouco eficazes ao aprendizado. Entende que a utilidade do

conceito está em que ele poderá dar lugar ao heterogêneo e ao plurilingüismo, em oposição à

concepção de homogeneidade veiculada pelos métodos tradicionais. Adverte, porém, para os

riscos de se trabalhar com os gêneros priorizando aspectos formais, sem levar em conta os

elementos pragmáticos e discursivos.

A delimitação dos estudos que levam em conta os gêneros sob a perspectiva da

lingüística textual e dos que consideram o gênero em seu contexto de produção são

comentados a seguir, a partir da análise de Rojo (2005). A referência a Faraco (2003) tem o

objetivo de conhecer as formas de apropriação dos conceitos formulados por Bakhtin e a

crítica dessa apropriação, muitas vezes realizada sem a devida compreensão de suas

categorias de análise, segundo o autor.

Rojo analisa a produção científica sobre gêneros a partir da vertente teórica

bakhtiniana e identifica dois blocos de análise que ela denomina de teoria dos gêneros

textuais e de teoria dos gêneros do discurso: o primeiro bloco, composto pelos estudos que

se localizam no nível de análise textual, como os de lingüística textual, são direcionados

pelo conceito de gêneros textuais; o segundo é composto pelos estudos que se inscrevem na

perspectiva dos gêneros do discurso ou gêneros discursivos.

Identifica, na obra de Bakhtin, três dimensões essenciais e indissociáveis dos gêneros

discursivos: os temas, conteúdos ideologicamente conformados e comunicáveis através do

gênero; a forma composicional elementos das estruturas compartilhadas pelos textos

pertencentes ao gênero; e os traços da posição enunciativa do locutor e da forma

composicional do gênero marcas lingüísticas ou estilo do autor. Nessa abordagem a dos

gêneros discursivos não há como dissociar os enunciados de seu contexto de produção e é

essa orientação fundamental que a diferencia das abordagens textuais ou estruturais (p.196).

Faraco (2003) atribui a banalização dos conceitos de diálogo, interação e de gêneros

do discurso, usados sem a compreensão de sua complexidade conceitual, aos problemas de

recepção da obra de Bakhtin no Brasil. Entre esses problemas, relaciona os referentes à

tradução de sua obra e à identificação do pensamento bakhtiniano quase que

exclusivamente com o livro Marxismo e Filosofia da Linguagem, primeiro livro publicado

em português, em 1979 (p.16-17).

Considera que grande parte dos estudos realizados com os conceitos de diálogo e de

relações dialógicas, formulados por Bakhtin, não está em consonância com as proposições

do autor. Assim, exemplifica com o texto Problemas da poética de Dostoievski, em que

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Bakhtin afirma que, em abordagens realizadas por um viés estritamente lingüístico, não há

relações dialógicas entre elementos de um texto ou entre textos, nem entre unidades

sintáticas ou entre proposições:

Para haver relações dialógicas, é preciso que qualquer material lingüístico (ou de qualquer outra materialidade semiótica) tenha entrado na esfera do discurso, tenha sido transformado num enunciado, tenha fixado a posição de um sujeito social. Só assim é possível responder (em sentido amplo e não apenas empírico do termo), isto é, fazer réplicas ao dito (...). Em suma, estabelecer com a palavra de outrem relações de sentido (...) que geram significação responsivamente a partir do encontro de posições avaliativas. (1984; apud id p. 64)

Para Bakhtin, portanto, o enunciado completo, que assegura a possibilidade de

compreensão responsiva apresenta “exauribilidade semântico-objetal do tema do enunciado,

[fator] que é profundamente diverso nos diferentes campos da comunicação discursiva”;

“projeto de discurso ou vontade de discurso do falante” e “formas típicas composicionais e

de gênero do acabamento” (BAKHTIN, 2003 p. 281). A intenção discursiva do falante “se

realiza na escolha de um certo gênero de discurso” e é aplicada e adaptada a sua forma

específica. A escolha dos recursos lingüísticos é realizada em função da resposta antecipada

do destinatário.

Segundo Bakhtin, a língua possui uma grande quantidade de recursos: lexicais,

morfológicos, sintáticos; mas esses recursos só “atingem direcionamento real no todo de um

enunciado concreto” (p. 306). A “influência da resposta antecipável, as ressonâncias

dialógicas sobre os enunciados antecedentes dos outros, os vestígios (...) da alternância dos

sujeitos no discurso”, tudo se perde na consideração de uma oração isoladamente, porque

todos esses elementos só podem ser compreendidos no interior de um enunciado.

A grande diversidade de gêneros existentes explica-se “em função da situação,

posição social e das relações pessoais de reciprocidade entre os participantes da

comunicação” e o seu desconhecimento desfavorece a comunicação ou “o modo mais

acabado [do] livre projeto do discurso”.

A maioria dos gêneros permite reformulação livre e criativa, o que não se constitui

em nova criação de gênero, uma vez que, segundo o autor, é preciso dominar bem um gênero

para poder fazer uso dele de forma livre (p. 284). Essa reformulação torna-se possível

porque eles são maleáveis, precisam “ser capazes de responder ao novo e à mudança”,

acompanhando a dinamicidade das atividades humanas (FARACO, id p. 112).

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Seguindo-se a formulação de Bakhtin de que a produção cultural dos falantes se

realiza sempre em um determinado gênero, entende-se que o aluno, para que obtenha

capacitação na LE, precisa ter conhecimento sobre os gêneros produzidos na língua alvo. O

pressuposto é o de que esse conhecimento favorece a forma de agir com a linguagem e o

entendimento da língua (e de suas variações) de forma mais completa e eficaz.

Como se viu anteriormente, os métodos e abordagens para o ensino, organizados a

partir de uma concepção de homogeneidade, consideram as variações como desvios em

relação à norma, como curiosidades ou como formas incorretas, que devem ser evitadas. Os

gêneros do discurso podem, nesse caso, ser a alternativa para um ensino orientado por uma

concepção de língua como fenômeno heterogêneo e variável.

Jordão (2006) analisa que as formas do pensar no contexto pós-estruturalista se

caracterizam pela reflexividade permanente. Se na concepção estruturalista a língua era

entendida como código, nesse novo contexto ela é vista como discurso, indissociável dos

contextos em que se produzem: “Conceber a língua como discurso é [percebê-la] como

ideológica, perpassada por relações de poder [e] as marcas de determinações culturais nos

textos que produzimos; é perceber os gêneros discursivos como mecanismos de

estabelecimento de sentidos possíveis” (p. 30-31).

Em decorrência da compreensão de língua como discurso e em função dos objetivos

desta análise, este estudo orienta-se pelo conceito de gêneros do discurso, segundo a

classificação proposta por Rojo. Entende-se, também, que a abordagem intercultural, tal como

formulada por Serrani, fornece elementos importantes para o aprendizado porque considera a

língua (e suas variedades) nos contextos histórico-culturais e utiliza os gêneros discursivos

como instrumentos para o ensino. Os gêneros são trabalhados nessa proposta pedagógica em

sua ligação com as atividades sociais que eles expressam e em cujo contexto foram formados.

Na seqüência destes encaminhamentos teóricos serão analisados alguns aspectos

relativos à formação inicial e contínua de professores. Procura-se, também, integrar as noções

expressas pelos conceitos de experiência e de saberes experienciais da docência, conforme

formulação de Thompson e Tardif, para definir sua propriedade como categorias de análise

da situação concreta que se apresenta neste estudo.

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4 FORMAÇÃO INICIAL E CONTÍNUA DE PROFESSORES

Pimenta (2000) discute as questões da identidade profissional do professor e os

saberes que configuram a docência e reconhece a fragmentação e a desarticulação existente

entre os saberes da experiência, do conhecimento e saberes pedagógicos. Busca problematizar

as reflexões dos alunos e as identidades profissionais para “ressignificar os processos

formativos pela reconsideração dos saberes necessários à docência, colocando a prática

pedagógica e docente escolar como objeto de análise” (p. 17).

Sobre a formação inicial, entende que os cursos devem “formar o professor ou

colaborar para sua formação”, já que o exercício do magistério não se realiza em decorrência

de conhecimentos e habilidades técnico-mecânicas. Entende que esses cursos devem

“mobilizar os conhecimentos da teoria da educação e da didática necessários à compreensão

do ensino como realidade social” (p. 18), desenvolvendo nos futuros professores a habilidade

para investigar e compreender a sua prática, no processo de construção da sua identidade

profissional. A autora observa que esse processo depende de uma revisão constante dos

significados sociais da profissão.

Citando Libâneo, para quem a construção de novos saberes pedagógicos se faz

partindo da prática e para a prática e usando os conceitos de professor reflexivo de Shön e de

formação autoparticipada de A. Nóvoa, Pimenta (p. 27-29) teoriza a respeito da

transformação conseguida pela consideração dos problemas que a prática vai evidenciar.

Propõe, portanto, a investigação sistemática dos educadores sobre a sua prática, contribuindo

dessa forma com a teoria pedagógica.

Entende também a autora que a pesquisa a ser desenvolvida nas escolas precisa, em

primeiro lugar, levar em conta a realidade da escola e dos contextos sociais; precisa estar em

sintonia com os desejos e necessidades reais dos professores e alunos e orientar-se pela

reflexão sobre a prática desenvolvida.

Lopes (2003) trata ensino e aprendizagem como uma totalidade e discute a

necessidade de realizar uma ação transformadora nos atos de ensinar e aprender. Analisa que

a ação de ensinar engloba o contexto sócio-cultural da escola e dos alunos, a ação docente,

recursos didáticos disponíveis, conhecimentos e experiências de vida do professor e dos

alunos.

Destaca a opinião dos autores que entendem o ato de ensinar como atividade de

mediação, “pela qual são providos as condições e os meios para os alunos se tornarem

sujeitos ativos no processo de apropriação do saber sistematizado”. Essa concepção é

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vinculada ao entendimento do ensino como atividade de interação entre alunos e professores

em sala de aula.

A relação pedagógica é uma situação dialógica “como espaço de discussões,

descobertas e transformações”, cuja base teórico-metodológica é a dialética, na perspectiva

sócio-interacionista, que prevê “um sujeito que constrói seus conhecimentos e sua afetividade

na interação com sujeitos mais experientes de sua cultura” (p. 111).

Ajudar na formação do aluno como sujeito social é, nessa concepção, um processo

não-linear conduzido por conflitos e desafios, em que cabe ao professor promover o diálogo e

ser um mediador entre o conhecimento e os alunos. A socialização, que envolve reflexão

sobre o saber é a base para a elaboração do conhecimento novo.

Análogo ao conceito de formação autoparticipada, de Nóvoa, na área de Lingüística

Aplicada (LA), o conceito de professor-pesquisador de Lopes (2002, p.179-87) prevê um

professor envolvido na reflexão crítica sobre o seu próprio trabalho, o que implica na visão do

conhecimento como processo. A procura do conhecimento em sala de aula permite o

desenvolvimento da pesquisa sobre o que interessa mais de perto ao professor. É um

“programa de auto-formação contínua [que requer] familiarização com as tradições de

investigação em LA, notadamente as práticas voltadas para a investigação em sala de aula”,

em que se destaca a pesquisa-ação (p.185).

Referindo-se à formação continuada de professores, Romanowski (2006) analisa o

modelo de formação reflexão na ação, fundamentada nas propostas de Shön, Pimenta e

Ghedin e Zeichner. Identifica como as principais barreiras para o desenvolvimento dessa

reflexão na e sobre a prática, os saberes, a cultura escolar e a cultura universitária, uma vez

que há o pressuposto que é necessário primeiro fornecer o conhecimento, para depois realizar

a prática. Isto vai caracterizar, diz a autora, uma formação assimétrica, já que o ponto de

partida deve ser a prática e não a teoria, embora teoria e prática devam ser tratadas de forma

articulada (p. 148).

A autora propõe, também, que uma ação efetiva de reflexão sobre a prática deve

superar o individualismo e o praticismo e que sejam considerados no processo a linguagem,

sistema de valores, processos de compreensão e as concepções sobre os saberes (p. 149). O

sucesso de um curso de formação continuada depende da realização do “diagnóstico das

necessidades formativas dos professores”, ou seja, dar respostas aos problemas indicados

pelos professores ou relatados pelas pesquisas realizadas (p. 140-1).

No que diz respeito à formação inicial dos professores, analisa as tendências atuais na

formação e apresenta como um dos aspectos fundamentais para atingir o objetivo de

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promover uma atividade consciente e eficaz, compreender e saber avaliar os saberes que são

objeto do trabalho do professor e os processos de aprendizagem. Isso implica, segundo a

autora, em estabelecer alternativas de ação, promoção da pesquisa e articulação entre as

instituições.

O professor, segundo analisa, precisa estar atento às novas necessidades de formação

integral do ser humano: “as necessidades sócio-histórico-culturais, interferentes na definição

das prioridades educativas, acrescidas aos saberes pedagógicos, exigem uma permanente

ressignificação da profissionalização docente” (Id. p. 123).

As reflexões de Pimenta, Lopes e Romanowski, sobre o processo de construção das

identidades, formação do aluno como sujeito social e sobre formação inicial e contínua de

professores trazem subsídios importantes para a apreensão dos objetivos postos para este

estudo. Em seguida, serão considerados os conceitos de experiência e de saberes

experienciais, de Thompson e Tardif, respectivamente, para delimitação de sua utilidade para

esta análise.

4.1 EXPERIÊNCIA E SABERES EXPERIENCIAIS

A categoria experiência de Thompson é articulada à cultura, diferentemente da

perspectiva althusseriana. Para Thompson (apud Martins, 2006 p.118) a vivência da

experiência não reproduz obrigatoriamente a ideologia dominante. Os eventos econômicos

são também eventos humanos, entrelaçados por sua vez com os eventos sociais e culturais e

“imersos no mesmo nexo relacional”.

Nesse contexto e fazendo parte do mesmo nexo relacional entendem-se os valores da

sociedade, que resultam das experiências humanas:

Os valores são vividos e surgem dentro do mesmo vínculo com a vida material e as relações materiais em que surgem nossas idéias. São as normas, regras, expectativas (...) necessárias e aprendidas (e ‘aprendidas’ no sentimento) no ‘habitus’ de viver; e (...) em primeiro lugar, na família, no trabalho e na comunidade imediata. Sem esse aprendizado a vida social não poderia ser mantida e toda produção cessaria. (THOMPSON, 1981, p. 194 apud MARTINS, id p. 118-119)

Esses fenômenos só adquirem sentido se relacionados à experiência de homens e

mulheres reais e “analisá-los significa, por meio das evidências, investigar suas

particularidades e, ao mesmo tempo, perceber como se expressam em condições materiais

constituídas historicamente” (MARTINS, id. p. 118).

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A categoria permite considerar homens e mulheres reais “como pessoas que

experimentam suas situações e relações produtivas determinadas como necessidades e

interesses e como antagonismos, e em seguida ‘tratam’ essa experiência em sua consciência e

sua cultura [e] agem sobre sua situação determinada” (THOMPSON, id p. 182 apud

MARTINS id, p.117).

Estudando a obra de Thompson, para afirmar a sua utilidade para as pesquisas da área

educacional, Faria Filho (2006) refere-se à noção de experiência desenvolvida pelo autor e

reflete sobre as culturas escolares, para afirmar que elas “não são passíveis de reforma, de

mudanças e intervenções bruscas, justamente porque precisam ser construídas nas

experiências e nas práticas escolares” (p. 246).

Pensar as culturas escolares, diz Faria Filho, é pensar na maneira como os envolvidos

no processo escolar se apropriaram dessas experiências, culturas e tradições, ou seja, pensar

nas histórias de vida, no conjunto das relações político-sociais e nas ideologias que explicam e

orientam as práticas educacionais.

A esse respeito Romanowski (2006) também observa que os saberes da prática

profissional são construídos (e reconstruídos) no “processo dinâmico, contraditório e

conflituoso” da sala de aula.

Eles são formados no processo de escolarização, nos cursos de formação e na prática

profissional. Formam-se na relação com outros professores e com os alunos são

historicamente situados: “Os sujeitos em interação com o conhecimento, com a cultura, por

meio da linguagem, da ação, da experiência, dos processos internos de elaboração do

pensamento e do enfrentamento das contradições produzem outras respostas, em última

instância, conquistam, produzem conhecimentos” (p.58-9).

Para Tardif (2002), os saberes dos professores não podem ser tomados isoladamente

porque se relacionam com todas as demais instâncias do ensino e do trabalho cotidiano. Os

saberes da docência são sociais, uma vez que são produzidos socialmente, através da

negociação entre os diversos grupos e porque são partilhados por um grupo de agentes.

Os objetos desses saberes são práticas sociais; são manifestados pelas relações

complexas entre professores e alunos. Transformam-se com o tempo, acompanhando as

mudanças sociais. São, portanto, plurais e temporais, adquiridos no contexto da história de

vida e da carreira profissional (p. 20).

Os saberes são temporais, segundo Tardif, porque são provenientes em grande parte da

história de vida dos professores, sobretudo de sua história de vida escolar: é a fase de

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estruturação da prática profissional, em cujo processo são decisivos os primeiros anos de

prática profissional, que se constitui no momento de edificação dos saberes experienciais.

São temporais, também, porque se desenvolvem “no âmbito de uma carreira, de um

processo de vida profissional de longa duração”, do qual fazem parte “dimensões identitárias

e dimensões de socialização profissional”, além de fases e mudança que ocorrem nesse

período.

A respeito dessa caracterização dos saberes, o autor observa que muitos pesquisadores,

atualmente, interessam-se pela carreira dos professores, considerada nessa temporalidade,

uma vez que a identificação de mudanças e fases da vida profissional permite chegar a

significados importantes para a explicação dos contextos e realidades educacionais.

A pluralidade dos saberes docentes define-se pela justaposição de saberes provenientes

da formação profissional e dos saberes disciplinares que correspondem aos diversos

campos do conhecimento , curriculares e experienciais.

Os saberes experienciais originam-se no trabalho diário e do conhecimento do meio

profissional. São provenientes da experiência e são validados por ela. Relacionam-se às

funções dos professores e são mobilizados na prática.

Esse saber prático precisa ser adequado, portanto, à realização das funções e aos

problemas da prática e das situações específicas do trabalho. Ele é heterogêneo e plural

porque mobiliza “formas de fazer e conhecimentos diferenciados e adquiridos a partir de

fontes diversas” (Id, p. 109).

Ressalta ainda esse autor que os saberes experienciais são pouco formalizados e que se

constituem mais como consciência no trabalho do que consciência sobre o trabalho.

Implicam em socialização e aprendizagem da profissão: são temporais, evolutivos e

dinâmicos. São, por fim, existenciais, porque ligados às histórias de vida, à identidade, ao agir

e às maneiras de ser dos professores e situados, isto é, localizados no contexto de trabalho.

Para delimitar o campo de ação desta investigação em relação a esses conceitos

compreende-se, segundo a proposta de Tardif, que a experiência profissional e os saberes dos

professores devem ser considerados em qualquer análise sobre determinada realidade da área

educacional. Da mesma forma, assume-se que levar em conta as noções de temporalidade e de

pluralidade que caracterizam os saberes, implica que eles sejam vistos na confluência entre as

várias instâncias em que são produzidos: a formação inicial e contínua, a atividade

profissional e as relações que os professores estabelecem com os saberes ao longo do

processo.

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A análise de Faria Filho sobre a constituição das culturas escolares, utilizando o

conceito expresso por Thompson, chega a conclusões semelhantes, pelo entendimento de que

a investigação sobre os contextos escolares precisa abarcar as formas de apropriação das

experiências profissionais dos envolvidos no processo educativo.

Com essa compreensão é importante destacar que não é objetivo propor substituição

de métodos ou a localização dos problemas identificados em uma instância particular do

ensino, mas sim promover a reflexão, a partir de um ponto de vista sobre o ensino, junto a

professores e alunos do curso de espanhol que é foco desta análise.

A escolha desse curso e dessa universidade em particular se fez em razão da

representatividade da instituição e do curso de Letras/Espanhol para a formação de

professores no Paraná, lugar em que a pesquisa acontece de forma sistemática. Esse ambiente

é propício à reflexão e essa foi a oportunidade de realizá-la.

O estudo de caso teve, por isso, o propósito de chegar a significados importantes

sobre o ensino das variações do espanhol, pela descrição e análise de como dá o processo de

ensino na situação concreta observada.

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5 METODOLOGIA

5.1 DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

O estudo de caso foi desenvolvido, portanto, para identificar como ocorre a prática do

ensino das variações lingüísticas do espanhol no curso de licenciatura Letras/ espanhol da

UFPR.

Trata-se de pesquisa qualitativa e estudo interpretativo, mas que envolve quantificação

de alguns dados obtidos por meio de questionários.

A modalidade estudo de caso, seguindo os princípios das abordagens qualitativas,

mostrou-se adequada para esse estudo e a pesquisa se constituiu como estudo interpretativo de

dados obtidos por meio de entrevistas.

O estudo de caso possibilita maior liberdade de ação do pesquisador, mas também

segue algumas premissas. É necessário, então, compreender a natureza do instrumento de

análise, suas vantagens e limitações.

Importa também que haja uma percepção aprofundada do objeto estudado para a

apreensão de como se dá o ensino das variações lingüísticas no curso que está sendo

investigado, dos critérios e materiais usados para esse ensino em particular e das concepções

de ensino que direcionam essas atividades.

André (2005) aponta a capacidade, associada ao estudo de caso, de retratar o real,

levando em conta a sua complexidade e sua dinâmica natural e a possibilidade de trabalhar

com um esquema aberto, entre outros pontos favoráveis.

Refere-se, também, à crescente valorização do estudo de caso pelo seu potencial de

contribuição aos problemas da prática educacional e identifica como talentos necessários ao

pesquisador envolvido nessa pesquisa, o preparo para lidar com as situações de campo,

sensibilidade e capacidade de estabelecer uma relação de empatia com os envolvidos, assim

como, num primeiro momento, obter seu consentimento para a realização das entrevistas e

gravações, pela negociação e estabelecimento de acordos com eles.

André identifica e descreve três momentos para elaboração de um estudo de caso - a

fase exploratória, em que se delimitam os focos de estudo, a fase de coletas de dados e a

análise sistemática dos dados.

Analisa também as questões da validade, fidedignidade e generalização, referentes ao

estudo de caso etnográfico. A respeito das duas primeiras questões, observa que essa

modalidade de pesquisa oferece uma versão possível. Porém, desde que as interpretações

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sejam pertinentes e que haja provas ou indícios suficientes e aceitáveis, ela tem os requisitos

para ser considerada fidedigna ou válida, em oposição aos esquemas conservadores de

pesquisa, que exigiam provas “irrefutáveis” ou o estabelecimento de leis universais. Assim

constituído, o estudo de caso dá ao leitor a possibilidade de confirmar, contestar ou continuar

a investigação, a partir dos dados levantados e analisados.

As generalizações do estudo de caso, segundo André, realizam-se no âmbito do leitor,

que fará associações e relações com outros casos e fenômenos e não busca estabelecer leis

universais, mas oferece subsídios para a realização de outros estudos.

Este estudo de caso foi realizado pela análise de entrevistas e documentos, com o

propósito, portanto, de identificar concepções e metodologias que informam as crenças,

opções ou atividades desenvolvidas com respeito ao estudo das variações lingüístico/culturais

do espanhol, tendo em vista a formação dos professores.

Com o objetivo de conhecer a experiência dos docentes e as teorias que subjazem a

suas opções de direcionamento do processo de ensino, foram consideradas sua formação

inicial, contínua e experiência pessoal (profissional).

Para a análise dos dados recolhidos considerou-se, prioritariamente, que as condições

que serão objeto de análise são dadas historicamente e que são informadas por concepções de

ensino e aprendizagem provenientes da experiência profissional dos docentes.

Com relação aos princípios éticos que devem direcionar a pesquisa qualitativa, além

da garantia de anonimato dos alunos e professores que colaboraram na pesquisa e aqueles

que dizem respeito à ética da convivência, procurou-se seguir alguns dos princípios analisados

por Kleiman (2002b) sobre o consentimento no início do processo e de transparência em

relação aos objetivos da pesquisa.

Kleiman sugere também que faz parte da ética da pesquisa a devolução e restituição

dos resultados para o grupo, que se orientam por indagações sobre se a pesquisa está servindo

aos interesses dos grupos participantes.

Como essa restituição não significa devolver o conhecimento adquirido “uma vez que

o grupo já o possui”, a contribuição dos estudos na área de linguagem deve ser a de abrir

espaço de ação e de expressão, no caso de grupos minoritários ou menos poderosos.

Para esta pesquisa observaram-se alguns cuidados gerais referentes às pesquisas que

envolvem grupos de pessoas ou grupos de determinada área profissional. A restituição, neste

caso, pode ser pensada em termos da reflexão que foi possível realizar entre pessoas com

interesses comuns a respeito de problemas comuns, no momento das entrevistas e no diálogo

que esta investigação possa suscitar.

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Na seqüência, explicam-se os critérios para a escolha dos informantes, etapas e relato

da coleta de dados para este estudo.

5.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA

Em função do objeto de estudo, optou-se por levar em conta as disciplinas de Língua

Espanhola e as de Literatura espanhola e hispano-americana e seus respectivos professores; e

os alunos/formandos de 2007 do curso de Letras/ Espanhol ou Português e Espanhol.

A opção que se fez pelo curso de licenciatura, sem considerar os professores do

bacharelado, explica-se pela centralidade que assume para este estudo a questão da formação

para a prática do ensino de Espanhol. Todos os formandos em Letras/Espanhol da

Universidade que participaram desta pesquisa cursaram a licenciatura, com exceção de um.

No entanto, optou-se por considerar também esse participante, uma vez que as respostas

podem contribuir para esclarecer o contexto de ensino, da mesma forma que as dos demais

participantes.

A escolha recaiu sobre os alunos formandos porque se considerou que eles teriam

maior conhecimento do curso e mais tempo de reflexão sobre os aspectos analisados, além de

mais tempo para desenvolvimento de possíveis práticas profissionais com a língua estudada.

Uma das perguntas do questionário refere-se exatamente à prática no ensino do

espanhol. Essa questão torna-se uma variável do estudo entre os alunos participantes, uma vez

que o momento de desenvolver essas atividades também é a ocasião de refletir mais sobre o

ensino e sobre a língua, necessidade essa que a prática estabelece.

Foram entrevistados todos os professores do curso de licenciatura, das disciplinas de

língua e literaturas espanhola e hispano-americana.

As entrevistas, que buscaram ser informais, de forma a permitir uma reflexão conjunta

sobre o tema da pesquisa, apresentaram, no entanto, uma estruturação anterior, com perguntas

abertas e algumas questões de múltipla escolha a respeito de tipos de textos ou gêneros

utilizados pelo professor-participante. São entrevistas destinadas a professores especialistas,

de acordo com análise e recomendações metodológicas de Lüdke e André para as pesquisas

qualitativas (1997) e de Flick (2005) para entrevistas semi-estruturadas (p. 104).

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5.3 RELATO DA COLETA DE DADOS

Entrevistas informais com professores do Departamento de Línguas estrangeiras

Modernas foram realizadas anteriormente às gravações, com o intuito de obter informações

sobre o curso e disciplinas ofertadas e favorecer a ambientação no campo de pesquisa.

O pré-teste realizado chegou aos seguintes resultados, quanto à viabilidade do

instrumento de coleta de dados: o questionário mostrou-se adequado para a coleta de dados

em relação ao tema da pesquisa, com algumas perguntas que parecem repetitivas, mas a partir

das quais foi possível obter respostas que auxiliam a análise cruzada dos dados e por isso

foram mantidas. Optou-se por considerar as respostas desse questionário para a análise,

considerando-se que o participante realizou a sua formação inicial no mesmo contexto e que

os dados coletados podem ser comparados aos obtidos junto aos demais participantes da

pesquisa. As respostas desse questionário favorecem, também, o entendimento do curso como

processo (temporal), ainda que de curto prazo.

A pesquisa foi instrumentalizada por entrevistas semi-estruturadas com algumas

questões abertas e análise documental, realizada de forma não exaustiva, no momento em que

foi necessário complementar informações presentes nas gravações de entrevistas ou no

sentido de favorecer a compreensão de alguns pontos relativos a currículo, estruturação do

curso ou abordagens presentes em livros didáticos utilizados.

Para os professores de Língua espanhola e Literatura espanhola e hispano-americana

as perguntas foram pré-determinadas, mas essas entrevistas pretenderam ser informais, com o

objetivo de propiciar as reflexões sobre o tema desta pesquisa (Apêndice A).

Foram estruturadas entrevistas (questionários) diferenciadas daquelas envolvendo os

professores universitários para os alunos/formandos do curso de licenciatura em Letras/

espanhol.

A pesquisa em campo foi realizada durante um ano e meio, de julho de 2006, quando

foram realizados pré-teste e entrevistas informais, não gravadas, com alguns professores, a

dezembro de 2007, período em que foram gravadas as entrevistas e foram entregues

questionários para a população escolhida entre os alunos de Letras, ou seja, os formandos ou

prováveis formandos que cursavam espanhol como língua estrangeira.

A análise documental incluiu programas das disciplinas e breve análise de material

didático utilizado pelos professores de língua espanhola.

A análise dos dados, coletados de diferentes formas e envolvendo população

diferenciada, permitiu a análise cruzada de dados.

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Foram entregues ao todo onze questionários, para os formandos de 2007 do Curso de

Letras/espanhol, que cursavam licenciatura, bacharelado, licenciatura e bacharelado ou apenas

bacharelado em Letras. Destes, seis alunos devolveram os questionários preenchidos.

As questões do questionário visaram, em primeiro lugar, traçar um perfil dos alunos

participantes, indagando sobre objetivos para aprender espanhol e experiência profissional

como professor de espanhol até o momento da pesquisa.

Com esse diferencial, pergunta-se sobre metodologias, leitura, uso de textos

autênticos e particularmente sobre ensino das variantes do espanhol: como se realizou durante

o curso e opiniões de como esse ensino deveria ser conduzido na atuação profissional.

O questionário tem questões abertas e semi-abertas. Em algumas delas, o aluno precisa

escolher entre as alternativas ou marcar por ordem de importância, critério que visou

comparação dos dados analisados e alguns procedimentos quantitativos (Apêndice B).

As questões das entrevistas realizadas com os professores do curso referiram-se,

primeiramente, a sua formação inicial e contínua, para chegar a conclusões a respeito de

mudanças em relação a concepções e metodologias de ensino, considerando-se tempo de

atuação e experiência profissional.

Em seguida, pergunta-se especificamente sobre o ensino das variações da língua,

critérios na seleção de materiais e sobre a adequação de utilizar uma teoria que privilegie os

gêneros discursivos para esse ensino/aprendizagem.

Para a análise das entrevistas também foi considerada a variável professor de língua

espanhola/ professor de literatura.

Os professores e alunos tiveram perguntas semelhantes; as questões dos alunos,

mesmo quando fechadas, tinham a opção de respostas alternativas e abertas ao final.

Por focalizar o ensino e a formação de professores de espanhol, as perguntas

centralizam sempre a questão de como ensinar; como selecionar materiais ou como

apresentar ao aluno, de forma a conduzir as respostas para a prática profissional.

Os quadros demonstrativos dos questionários são apresentados separadamente em

relação às entrevistas, mas para o procedimento de análise foram comparadas as informações

provenientes de diferentes fontes. Essa comparação não se dá, portanto, sem que se

considerem algumas variáveis já estabelecidas para a análise, como as diferenças de formação

e de atividades, no caso dos professores e de experiência ou não em sala de aula, no caso dos

alunos.

Outro aspecto a ser levado em conta diz respeito à temporalidade do processo em

relação às informações coletadas. Assim, alunos e professores referem-se ao mesmo contexto,

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mas enquanto que, num dado momento das entrevistas, os professores relatam a sua atividade

atual, com base em livros didáticos adotados no ano em curso, etc., os alunos formandos

falam do curso realizado num período que varia de quatro a sete anos. Nesse período, os

livros adotados eram outros e provavelmente também alguns professores. Os enfoques

metodológicos, em conseqüência disso, poderiam priorizar ou não determinados aspectos da

aprendizagem.

Para a apreensão da realidade estudada foram importantes, portanto, os dados

secundários (documentais) analisados de forma conjunta com as informações prestadas nas

entrevistas e questionários.

Esse estudo de caso, por se tratar de um estudo particular, não teve o objetivo de

estabelecer generalizações a respeito do tema ou sobre o contexto analisado. A intenção foi

contribuir para o conhecimento na área de línguas estrangeiras e para o estudo/ensino das

variações culturais da Língua espanhola, focalizando o curso de Letras/ espanhol da

Universidade Federal do Paraná e a de trazer subsídios para o encaminhamento de novas

pesquisas na área.

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6 ANÁLISE DO CORPUS

6.1 ESTRUTURAÇÃO DO CURSO

6.1.1 Ambientação e análise preliminar de documentos

Como parte do programa de ambientação no local da pesquisa, a participação no

seminário Semana de Letras da UFPR, em dois anos consecutivos, teve o propósito de obter

dados sobre a estruturação do Curso de Letras, uma vez que os eventos têm o objetivo de

informar os alunos e demais interessados sobre as possibilidades oferecidas nessa graduação,

assim como sobre as perspectivas a respeito de especializações e pós-graduação.

No evento de 2006 os professores e coordenadores palestrantes relatam que o curso se

estrutura como uma multi-habilitação e com possibilidade de grande integração entre as áreas.

Isso pressupõe, segundo os organizadores do evento, garantir aos alunos as informações

necessárias para que eles organizem o seu percurso acadêmico de forma consistente.

As opções, para a área de línguas estrangeiras, são: licenciatura simples, apenas na

língua estrangeira; licenciatura dupla português/espanhol (italiano, inglês, francês, etc.) ou

português e uma língua clássica. (grego, por exemplo).

O bacharelado é uma opção para os alunos que não desejam cursar as licenciaturas ou

como possibilidade, para os estudantes das licenciaturas, de verticalização do curso em

direção a uma das três opções ou ênfases ofertadas: estudos lingüísticos, estudos literários ou

estudos de tradução.

A opção em estudos de tradução, no entanto, só pode ser feita pelos alunos da dupla

licenciatura. A licenciatura simples tem, portanto, as opções Estudos Literários e Estudos

Lingüísticos, para aqueles que pretendam obter também essa titulação.

Porém, como optativas livres, ou seja, desvinculadas das específicas da licenciatura, as

disciplinas do núcleo específico do bacharelado em tradução podem ser computadas entre as

optativas do curso, que devem ser cursadas necessariamente para complementação da carga

horária. Os objetivos do bacharelado em estudos da tradução é a formação de tradutores e o

ensino das técnicas de tradução como instrumento didático e constituindo uma nova

habilidade no processo de aquisição da língua estrangeira. Neste estudo, porém, não se

concretiza a observação de aulas e nem se entrevistou os professores do Bacharelado para

estipulação de como se dá na prática esse curso de formação.

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Na UFPR o bacharelado tem natureza acadêmica (conduziria ao Mestrado, Doutorado,

etc.) e não tanto profissionalizante, como em outras instituições brasileiras, segundo relata o

professor Mendonça (2006), um dos palestrantes na ocasião.

O currículo para o Curso de Letras em vigor no período desta pesquisa é o de 2001. Já

disponível no site da Universidade, um novo currículo entra em vigor em 2008. Nele

permanecem as disciplinas obrigatórias do Espanhol e incluem-se outras optativas.

Como novas optativas o curso de espanhol oferece para 2008 as disciplinas Prática

Textual I e II e leitura e conversação de nível avançado. Mantém duas opções para o ensino

das variações a referente à variedade espanhola e a referente à variedade americana.

As optativas dos currículos anteriores permanecem, porém, como possibilidades de

escolha pelos docentes na estruturação de cada semestre letivo.

Os planos para as disciplinas, que já estão sendo reelaborados, não acompanham a

realidade atual da sala de aula e as constantes mudanças que se produzem a cada ano, segundo

os dados obtidos nas entrevistas com os professores. São outros os livros didáticos utilizados

em 2007 em relação ao ano de início da coleta de dados e outros os encaminhamentos

pedagógicos. No entanto, para que se possa ter uma noção melhor do processo e das

mudanças efetuadas, esses planos também são apresentados aqui.

No site do Curso de Letras da UFPR e com o objetivo de orientar o percurso dos

alunos na graduação, escolhas de disciplinas e de ênfases no curso relata-se, a respeito do

mercado de trabalho, que a licenciatura em Letras destina-se à atuação na educação básica.

O objetivo é “licenciar professores conscientes de que a formação é processo contínuo” e a

formação de pessoas capacitadas a continuar construindo o seu percurso acadêmico e

profissional.

Os formandos do bacharelado, por sua vez, não têm um campo definido de atuação no

mercado, uma vez que objetivam principalmente a formação acadêmica, mas observa-se que

eles ingressam comumente no mercado para trabalhar com revisão, tradução ou organização

de textos.

Encontra-se também no site da instituição a referência a que o curso não se limita a

ensinar a língua estrangeira, mas abrange os estudos de lingüística e das literaturas nacional e

estrangeira. Os alunos aprendem a língua com a possibilidade de pensá-la em relação ao

cenário político mundial e “questões como a variação lingüística, o cânone literário e as

posições ocupadas pelas diferentes línguas no cenário político mundial são trabalhadas

durante o curso [para] desfazer preconceitos e humanizar os futuros profissionais no exercício

de suas carreiras”.

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O currículo do Curso de Letras/Espanhol da Universidade Federal do Paraná, em

validade desde 2001, apresenta as seguintes disciplinas de Língua Espanhola: 1) Espanhol

Básico e Língua espanhola I, semestral, obrigatória, com duas aulas teóricas e quatro aulas

práticas semanais total 04 créditos e sem pré-requisito. Ementa: Compreensão e produção

escrita e oral em nível básico e noções de gramática da língua e cultura espanholas.

No terceiro período o curso oferece a Língua Espanhola II, com seis horas semanais. A

disciplina é obrigatória e não tem pré-requisito. O objetivo da disciplina é oportunizar ao

aluno a comunicação escrita e oral em língua espanhola, trabalhando as estruturas gramaticais

e o vocabulário necessário para esse fim. Ementa: Compreensão e produção escrita e oral em

nível intermediário e avançado e noções de gramática de língua espanhola.

Em 2006, momento em que teve inicio a pesquisa em campo, que incluiu análise

documental, participação na Semana de Letras e entrevista informal e não gravada com

alguns dos professores, os livros utilizados eram Sueña e Gente, de enfoque comunicativo,

atendendo ao programa estipulado para as disciplinas de Línguas.

No caso da Língua II o conteúdo comunicativo proposto é: a) transmitir o que foi

dito/escrito por outro; b) expressar proibição, conselho e justificar; c) expressar desejo,

probabilidade e indiferença; d) opinar, garantir; e) expressar preferências, pena, frustração; f)

falar do futuro em contraste com o presente; g) expressar condições possíveis e impossíveis;

h) expressar causa e justificativa. O conteúdo gramatical inclui: a) estilo direto e indireto; b)

revisão dos pretéritos; c) revisão de pronomes pessoais; d) uso de subjuntivo e indicativo; e)

preposições. O terceiro item é leitura, que para essa disciplina refere-se à leitura de contos

hispano-americanos.

Os procedimentos didáticos são: aulas expositivas; atividades práticas de comunicação

oral e escrita (diálogos, discussões) e apresentação de vídeos. As formas de avaliação são

provas escritas, prova oral e trabalhos escritos de leitura de contos hispano-americanos.

Nos demais períodos, as disciplinas obrigatórias são Língua Espanhola III, IV e V e

Literaturas Espanhola e Hispano-americana I e II, além das disciplinas monográficas

referentes às duas literaturas. Língua III oferece leitura de contos espanhóis e hispano-

americanos. O livro didático utilizado será comentado adiante.

Assim estruturado, nesse momento da observação, o curso dá prioridade à

metodologia comunicativa para o ensino da língua.

O método comunicativo para o ensino de línguas substituiu, nas décadas de 70/80, o

ensino centrado no estruturalismo (concepção tecnicista). A partir de então aparecem os livros

didáticos, como os já citados Gente e Sueña e Para Empezar, Esto Funciona, Español sin

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Fronteras, etc., largamente utilizados nos cursos particulares de espanhol, assim como nas

escolas de ensino médio, públicas e particulares. Esses livros, importados dos países de língua

espanhola quase sempre Espanha foram seguidos de outros que buscavam a inserção na

cultura e estudo das variações lingüísticas dos países hispano-americanos ou de livros que

procuravam atender às particularidades e dificuldades apresentadas por alunos brasileiros.

Desenvolvem-se concomitantemente, com bastante expressão, os estudos sobre leitura

na sala de aula de LE, em defesa da apresentação ao aluno do texto autêntico, visando o

desenvolvimento da habilidade leitora e formação do leitor crítico. Esta postura é em alguns

casos crítica em relação aos métodos comunicativos, que trabalham com diálogos e situações

que simulam diálogos e situações “reais” de fala.

Em outros casos, porém, indicam formas de complementação do método, ou seja, o

desenvolvimento da habilidade leitora ao lado do das outras habilidades, de forma a permitir

aperfeiçoamento do aprendizado e capacitação do estudante da segunda língua.

Exemplo de uma das revisões incorporadas pelo método comunicativo de línguas é o

enfoque por tarefas, que surge com o objetivo de apresentar soluções aos problemas

observados na prática. Propõe, entre outras metas, o ensino do sistema da língua, pela

concretização de tarefas pedagógicas, que os alunos realizam com a mediação do professor de

LE.

No curso analisado, os livros didáticos utilizados em 2007 não são os mesmos

utilizados no ano anterior.

A escolha do material didático, realizada pelos docentes, é um indicativo, entre outros,

do processo de mudança de concepções de ensino da língua, segundo se comenta adiante.

A análise desses livros se dá sem a necessidade, para os fins desta pesquisa, de maior

aprofundamento a respeito de seu conteúdo. Evita-se, também, a referência a títulos e autores,

uma vez que esse material estará sendo tratado a partir do ponto de vista de sua escolha e

utilização pelos professores, que se referem a eles para exemplificação de atividades

relacionadas ao ensino das variações da língua.

Realiza-se, a partir de agora, a descrição e análise das informações prestadas nas

entrevistas e questionários pelos participantes da pesquisa, professores e alunos do curso de

Letras/Espanhol da UFPR.

A análise do corpus deste estudo tem início com a apresentação dos participantes, sua

formação inicial e contínua e mudanças identificadas no processo, no caso dos professores; e

objetivos em relação ao curso e atividades desenvolvidas, no caso dos alunos/formandos ou

do participante formado no ano anterior ao da pesquisa.

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6.2 PERFIL DOS PARTICIPANTES

6.2.1 Professores: formação inicial e contínua - mudanças e concepções

Os professores entrevistados são professores adjuntos ou assistentes da Universidade

Federal do Paraná, com graduação em Letras/Espanhol ou Letras Português/ Inglês e

Espanhol. Os primeiros professores entrevistados (PE1, PE2 e PE3) realizaram a formação

inicial na mesma universidade em que trabalham hoje. Os professores entrevistados em quarto

e quinto lugares (PE4 e PE5) graduaram-se em outras duas universidades, a primeira no

Estado do Paraná e a outra no exterior.

A primeira professora/especialista entrevistada (PE1) relata que realizou a sua

formação inicial com o método gramaticalista. Não havia, segundo ela, interação em sala de

aula e estudava-se gramática e tradução. Já nos primeiros tempos de sua atuação profissional

com a língua estrangeira trabalhava-se com a língua com uma abordagem que combinava os

métodos áudio-lingual e estruturalista.

De volta à universidade em que se graduou, começava-se a introduzir o método

comunicativo para o ensino de línguas. Porém, conforme sua observação, o material didático

precursor apresentava forte influência dos métodos anteriores, exercícios estruturais e ensino

de gramática aos moldes do método de sua formação inicial.

No decorrer de sua atuação profissional, sucedem-se os livros didáticos a que já se fez

referência, orientados pelo método comunicativo para o ensino de línguas.

A formação acadêmica de PE1 inclui especializações em Tradução Superior, língua e

literatura espanhola e hispano-americana, mestrado e doutorado em Letras, com atuação em

aquisição do léxico e espanhol como LE.

As professoras/especialistas PE2 e PE4 realizaram a graduação com o método

estruturalista e relatam estudo gramatical, com exercícios típicos propostos pela metodologia

e leitura de paradidáticos (PE2) ou leituras em que importava a imanência do texto, também

em relação ao texto literário (PE4).

PE 2 atua na área de metodologia de ensino de línguas estrangeiras e orientação de

produção de material didático e cursa mestrado em Literatura, em que desenvolve pesquisa

sobre as linguagens literária e cinematográfica.

PE4 tem mestrado em Letras, doutorado e pós-doutorado em Lingüística e atua nas

áreas de Linguagem e Cultura, semântica, pragmática e no ensino de línguas estrangeiras

(Espanhol).

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A respeito de sua formação inicial em Letras sob o método comunicativo, PE3 relata

que havia preocupação cultural na elaboração das aulas de língua estrangeira e que a leitura

era realizada, principalmente, com textos literários. A diretriz, nas aulas de língua espanhola,

era evitar a língua materna e não havia ênfase em atividades gramaticais.

Comparando com a sua graduação em Letras, PE3 observa que o curso oferece hoje

mais oportunidades para os estudantes, como a inserção nas áreas de formação acadêmica do

curso de bacharelado. Utiliza-se, segundo seu relato, o método comunicativo, que está hoje

mais complexo e inclui o ensino da gramática da língua.

Da mesma forma, PE5 também relaciona a sua formação inicial ao método

comunicativo para o ensino de línguas, com habilitação nas quatro destrezas, apontadas por

Mascia (2003) como o desenvolvimento de habilidades de compreensão oral e escrita e

produção oral e escrita (p. 217).

Observa que as aulas de leitura se faziam com utilização de textos autênticos.

Realizava-se, também, encenação de obras literárias, uma vez que a instituição de sua

graduação dispunha de um grupo de teatro.

As formações acadêmicas de PE3 e PE5 relacionam-se mais diretamente aos estudos

literários: PE3 tem mestrado em Letras e doutorado em Literatura e sua atuação, com ênfase

em Literatura Comparada, abrange a literatura espanhola, teoria literária, modernismo e pós-

modernismo. PE5 realizou mestrado e doutorado em Língua e Literaturas espanhola e

hispano-americana, atuando nessa área e na de metodologia de línguas estrangeiras.

Considerando-se a formação acadêmica dos docentes, que revela pesquisa sistemática

e produção intelectual intensa, compreende-se que esta análise se concentre nas mudanças e

reflexões produzidas no decorrer das trajetórias profissionais, mais do que nos significados ou

saberes provenientes da formação inicial.

Não é proposta desta pesquisa, portanto, identificar concepções de cada professor em

particular em relação ao ensino ou detectar o grau de influência de métodos de sua formação

inicial na atuação profissional, até porque não se dispõe de dados para tanto.

Melhor dizendo, os percursos individuais relativos à experiência profissional e às

mudanças no processo de formação importam na medida em que possam permitir a

compreensão sobre os saberes sociais (compartilhados), que de acordo com Tardif

desenvolvem-se na reflexão conjunta do grupo de atores envolvidos no processo educacional.

Isso não significa ignorar subjetividades e particularidades da formação de cada um

dos envolvidos, mas sim buscar pontos de encontro que permitam dar respostas às questões

propostas para este estudo.

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A respeito da atividade profissional atual PE2 considera importante conhecer os seus

alunos, saber de seus objetivos em relação ao curso e aspirações em relação ao aprendizado da

língua, assim como as dificuldades que ele está apresentando no percurso para a aquisição da

língua.

Sobre as mudanças que observa em sua atuação profissional, refere-se às concepções

anteriores de que bastava apresentar os conteúdos uma única vez para que os alunos

assimilassem o conhecimento. Entende agora, segundo seu relato, que a aprendizagem não se

dá desta forma e que os alunos precisam usar o conhecimento e a língua estrangeira em

contextos diferentes para que esse aprendizado se processe de forma adequada.

Relata também que acreditava que a língua materna não deveria ser utilizada na sala

de aula de línguas estrangeiras. Revê essa posição hoje no seu trabalho, por entender que o

conhecimento lingüístico anterior faz parte do aprendizado da segunda língua: “Eu estava

dizendo para meus alunos, na verdade, que deixassem fora da sala de aula um pedaço deles

mesmos; (...) eu reproduzia concepções e métodos aprendidos”.

Essa concepção está também descrita, por Rojo e Mijares (2007), no contexto

analisado pelas autoras, como caracterizando um processo de submersão lingüística, em

oposição ao processo de imersão que considera a língua de origem no processo de aquisição.

Está, como já se fez referência neste trabalho, na base da constituição da metodologia

comunicativa, ou pelo menos da apropriação que se fez dela em um primeiro momento de sua

aplicação.

Prosseguindo nessas reflexões, apresentam-se os dados relativos à formação inicial

dos professores, sua atividade atual e mudanças de concepções sobre o ensino.

A descrição e análise desses dados objetivam reconhecer as formas de apropriação dos

saberes e das experiências educacionais pelos envolvidos no processo educacional (FARIA

FILHO, id; TARDIF, id).

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Formação inicial Atividade Profissional Mudanças conceituais e sobre a

prática

PE1 método

gramaticalista

(gramática e tradução)

Letras

Português/

Inglês/

Espanhol

1) Gramática estruturalista

e áudio-lingual;

2) Método Comunicativo

3) Hoje a prática inclui a crítica

ao métodos anteriores que

considera inadequados para a

aprendizagem de leitura e

escrita por alunos

brasileiros que aprendem uma

língua estrangeira

Concepção de língua e linguagem:

de objeto lingüístico, na formação

inicial e primeiros tempos da

prática profissional, para a concepção

da língua como meio de comunicação,

inserida no contexto social em que

as identidades são formadas.

(Bakhtin e prática

com o método de Paulo Freire)

PE2 método

estruturalista

(gramática com exercícios

de preencher lacunas

e leitura de paradidáticos)

Letras - Espanhol

Método comunicativo

(inclui ensino da gramática

da língua)

Em sua prática, hoje,

considera importante

conhecer o aluno, seus objetivos

e aspirações em relação ao

aprendizado da língua

e dificuldades no processo de

aquisição

Compreensão de que o aluno precisa

ver as mesmas coisas de formas

diferentes;

Consideração do conhecimento

lingüístico anterior -uso da língua

materna nas aulas de LE faz parte

do aprendizado

PE3 método

comunicativo

(Diretriz: evitar a língua

materna nas aulas de

línguas;

não havia exercícios

gramaticais;

leitura de textos literários

principalmente;

preocupação cultural na

elaboração dos

planos de aula)

Letras Português/ Espanhol

Método comunicativo

(inclui revisões)

Audições/ situações reais de

fala;

leitura e produção de textos –

procura pensar as situações

de linguagem a partir das

dificuldades encontradas

nos textos dos alunos

Mudanças mais perceptíveis

na área de estudos literários

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PE4

método

estruturalista

leituras (imanência do texto)

Letras Espanhol- Inglês

Não trabalha com a prática

da língua.

Na instituição: alunos do nível

avançado (reflexão

metalingüística sobre a língua,

e a língua na cultura/

na sociedade).

Metodologia diversificada, que

abrange várias competências –

gramática da língua/

semântica/ estruturas da língua.

Não despreza metodologias

anteriores – o professor

escolhe o que é mais

adequado ao objeto de ensino

e levando em conta as

necessidades dos alunos

Cada vez mais inclinada para a

comunicação, entendida como

fenômeno complexo, que envolve

componentes cognitivos, sociais,

além do lingüístico, “que

não se joga fora jamais”.

PE5 método

comunicativo

(quatro destrezas)

leituras

de textos autênticos e teatro

(encenação de

textos literários)

Como professor de literatura,

o texto é visto no seu entorno

de produção.

Como professor de literatura

espanhola e hispano-

americana é possível trabalhar

o texto na perspectiva

da língua e do conteúdo.

É preciso saber qual é

a perspectiva do enunciador;

as concepções de língua

norteiam as escolhas didáticas

e metodológicas para a

elaboração do curso

Não há uma práxis determinada:

em função do objeto analisado

é possível saber qual a

metodologia mais adequada.

Para o estudo da língua o

enfoque comunicativo

apenas não é suficiente – a

língua tem que ser vista

também em sua dimensão

cultural.

Quadro 1: Formação inicial e contínua - concepções e mudanças

A experiência de PE1, já descrita anteriormente e apresentada no Quadro 1 permitiu a

reflexão sobre os métodos em relação à prática profissional. Da concepção de língua como

objeto lingüístico, na formação inicial, passa à compreensão da língua como meio de

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comunicação, fenômeno social e a partir do qual se formam as identidades. Essa reflexão se

dá pela experiência profissional com o método de Paulo Freire e com as leituras realizadas

durante o seu percurso acadêmico, em que se destacam as teorias sócio-interacionistas e a

teoria de Bakhtin sobre a linguagem.

Com essa compreensão, entende que o método comunicativo, mesmo considerando-se

as revisões por que passou, não é adequado aos estudos de leitura e escrita para os alunos

brasileiros que estudam a língua estrangeira.

A concepção de língua permite o entendimento de que alunos e professores, como

indivíduos, encontram-se em um “contexto sócio-cultural (e lingüístico naturalmente), cada

um com sua história particular”. Esse entendimento direciona escolha do material didático e

atitudes em sala de aula.

As entrevistas revelam restrições ou mudanças de concepção em relação ao método

adotado. Em alguns casos a proposta é a utilização de uma metodologia diversificada em

que não se despreza a contribuição e utilidade dos métodos anteriores , de acordo com as

necessidades dos alunos e em função do objeto de estudo (PE4; PE5).

Para PE2, a prática profissional voltada à formação de professores exige

encaminhamentos que fogem às orientações propostas pela metodologia, como o ensino da

gramática da língua. Dessa reflexão decorre a identificação do método utilizado como

comunicativo “moderado”.

A reflexão sobre o método está sempre presente, seja na constatação de sua

insuficiência para a compreensão da língua como fenômeno cultural (PE5) ou nas

considerações sobre o conceito de comunicação que, segundo PE4, deve ser entendido em sua

complexidade, que envolve elementos sociais e cognitivos, além do lingüístico.

Assim sendo, a professora refere-se a que está, em sua prática profissional, cada vez

mais voltada para a comunicação. Teórica “por formação”, não trabalha com a prática, mas

realiza, junto aos alunos do nível avançado (Língua Espanhola V), uma reflexão

metalingüística, em que se considera “não apenas a língua [como código lingüístico], mas a

língua na cultura (...), na sociedade”.

Essa reflexão na e sobre a prática acontece de forma constante: especializada em

Estudos Literários PE3 relata que, em relação à graduação, foram mais perceptíveis, para ela,

as mudanças de concepção na área de sua pós-graduação. Porém atua também com a prática

da língua, preferencialmente com audições e produção de textos e ressalta que procura

trabalhar as situações de linguagem pelos problemas identificados nos textos produzidos

pelos alunos.

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Atuando também na área de estudos literários, na graduação e pós-graduação, PE5

entende que não existe uma práxis determinada, mas que, nas Literaturas, trabalha-se o texto

no seu contexto de produção. Para ele é indispensável considerar “a perspectiva do

enunciador”, ou seja, reconhecer o lugar a partir do qual se analisa o contexto da obra

literária. Como professor de espanhol e de Literatura, é possível tratar o texto, segundo sua

reflexão, nas perspectivas da língua e do conteúdo.

A articulação entre teoria e prática (ROMANOWSKI, 2006) realiza-se nessa reflexão,

em que as pessoas envolvidas no processo “tratam [a] experiência em sua consciência e sua

cultura” para agir em uma situação determinada (THOMPSON, id apud MARTINS, id).

Seguindo as afirmações de Mascia e de Souza sobre os métodos tradicional e

comunicativo, a respeito da não-consideração da heterogeneidade do sujeito (e da língua),

assim como as análises de Villalba (2007) e Lima sobre o tratamento das variações nos livros

didáticos do espanhol, entende-se que a reflexão sobre a prática deva orientar-se no sentido de

oferecer respostas ou alternativas para essas questões.

Rajagopalan (2004; p.77-80) observa que a lingüística aplicada, que tem hoje

autonomia em relação à chamada lingüística “pura”, deve inspirar-se na prática para o

estabelecimento de teorias que atendam aos problemas detectados. O que não pode acontecer,

diz o autor, é o entendimento de que caberia à lingüística pura a formulação de teorias e à

lingüística aplicada a prática com os métodos estabelecidos, nem sempre adequados às

necessidades atuais.

Depois dessas reflexões, descrevem-se o perfil dos alunos participantes, seus objetivos

em relação ao curso e atividades profissionais realizadas. Em seguida, retomam-se as

entrevistas e questionários para o encaminhamento de reflexões sobre leitura, ensino das

variações do espanhol e ensino de gêneros.

6.2.2 Alunos-formandos do curso: objetivos e atividade profissional

Procura por conhecimento sistematizado na língua, ou ter contacto “direto” com a

cultura hispânica, música, livros, etc., aparecem nas respostas dos questionários dos alunos/

formandos, juntamente com objetivos mais gerais como “conhecer outro idioma” ou

“aprender mais sobre o idioma”. Dos sete participantes, apenas dois afirmam o objetivo inicial

de lecionar, embora três tenham realizado alguma prática de ensino da língua estrangeira em

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períodos de 1 mês (A5), 10 meses (PF) e 3 anos (A6) respectivamente e a maioria (menos

um) cursem a licenciatura em Letras, que se direciona à formação de professores.

No Quadro 2, a seguir, estabelecem-se esses objetivos dos alunos no momento da

escolha da língua estrangeira, tempo de estudo de espanhol em geral e no curso de Letras e

prática profissional com a LE.

Quadro 2 -Perfil dos alunos: objetivos e atividades profissionais

A diferença de tempo observada em relação à formação reflete as possibilidades que o

curso oferece, aos alunos, de saltar etapas de acordo com o seu conhecimento anterior na LE e

as opções que eles têm de permanência para complementação do curso com as disciplinas do

Bacharelado ou disciplinas optativas em geral, até um máximo de sete anos, de acordo com

suas necessidades ou interesses.

Aluno Formação - Objetivos Modalidade Tempo Atividade

profissional-

espanhol

A 1

Ingressei com o intuito de adquirir conhecimento

sistematizado e lecionar – atualmente não

pretendo mais lecionar, mas foi um bom

aprendizado

Licenciatura 4 anos (3 anos

no curso de

Letras).

não

A 2 Conhecer outro idioma Licenciatura 5 anos, no curso

de Letras

não

A 3 Ter acesso direto à cultura hispânica, música,

livros, etc. Dar aulas é a minha última alternativa

Licenciatura 5 anos no curso

de Letras

não

A 4 Ter uma graduação em bacharel e talvez

trabalhar com isso, em um futuro distante

Bacharelado 7 anos (5 anos

no curso de

Letras)

não

A 5 Para ensinar espanhol Licenciatura 7 anos (5 anos

no curso de

Letras)

sim- 1 mês

A 6 Dar aulas de espanhol Licenciatura 4 anos, no curso

de Letras

sim – 3 anos

PF Aprender mais sobre o idioma Licenciatura 7 anos e meio (6

anos no curso de

Letras)

sim – 10 meses

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Essas observações sobre as possibilidades que o curso oferece, ressaltadas por PE3 em

sua entrevista, também são referidas por PE2. Essa professora lamenta, no entanto, que o

aluno não possa fazer, até o momento, a opção por duas línguas estrangeiras na licenciatura

dupla espanhol e inglês ou espanhol e alemão, por exemplo , para aqueles que

pretendessem trabalhar com tradução entre os dois idiomas.

As noções a respeito de seus objetivos em relação ao curso, assim como a intenção ou

não de lecionar, relatadas pelos alunos, no entanto, devem ser consideradas como impressões

e expectativas iniciais, que muitas vezes não se confirmam na formação contínua, assim

como se aprofundam as reflexões sobre a língua e o ensino da LE, no caso de que se efetive

a prática ou se prolonguem os estudos e a pesquisa na área de Lingüística Aplicada.

A4 é o único aluno, desta amostragem, que cursa apenas o Bacharelado: manifesta o

desejo de “ter um diploma e trabalhar (...) num futuro distante” como justificativa de suas

opções em relação ao curso. Embora, para esse estudo, interesse a formação em licenciatura,

voltada para a prática profissional, os alunos a maioria com pouca ou nenhuma prática ,

respondem em condições de igualdade sobre as questões relativas à sua formação, de forma

que a decisão tomada foi a de manter as informações de todos os participantes.

A1, que aparentemente mudou de planos em relação a seu ideal inicial de lecionar com

a língua estrangeira, observa, no entanto, que foi um bom aprendizado, mostrando-se contente

com o curso em relação ao seu objetivo de adquirir conhecimento sistematizado sobre o

idioma.

A3 observa, por sua vez, que “dar aulas é a minha última alternativa” e o acesso à

cultura hispânica, através de músicas, filmes e literatura é o seu interesse maior em relação ao

curso, objetivo também informado por A2 e PF, que pretendiam conhecer o idioma ou

aprender mais sobre língua e cultura hispânicas.

Esse último participante, formado um ano antes em relação aos demais, foi

entrevistado, como já se fez referência anteriormente, no período de pré-teste dos

instrumentos de pesquisa. Trabalhava, no momento da entrevista, há dez meses com o ensino

da língua espanhola e foi dos entrevistados o que permaneceu mais tempo no curso de Letras

seis anos , embora estabeleça o período de sete anos e meio como o tempo total de estudo

do idioma estrangeiro. Os demais participantes estudaram espanhol um total de quatro, cinco

ou sete anos, apenas ou na maior parte do tempo no curso em questão.

O ensino das variações do espanhol como língua estrangeira será tematizado a seguir

pela análise das entrevistas e questionários que foram realizados. Sobressaem-se aqui, por

indicação nas entrevistas ou por terem sido comentadas de forma quase generalizada pelos

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docentes e alunos, as questões da leitura em LE e da escolha de uma variedade para ser

utilizada na prática profissional. Em seguida, analisam-se os critérios para esse ensino, tal

como foram estabelecidos pelos informantes e indaga-se sobre a relevância de destacar a

heterogeneidade lingüística pela utilização de textos autênticos de diversos gêneros no ensino-

aprendizagem da língua espanhola.

6.3 ENSINO DAS VARIAÇÕES DA LÍNGUA

6.3.1 Leitura, textos autênticos e estratégias para o ensino

Tradicionalmente o texto literário é tratado nas aulas de língua espanhola na

Universidade, no curso de Letras/espanhol. Referindo-se à sua formação inicial, PE3, uma das

três professoras entrevistadas que trabalham na mesma instituição de sua graduação, afirma

que “nas aulas de línguas, sob o enfoque comunicativo, havia preocupação cultural e tratava-

se principalmente da leitura de textos literários”.

Por sua vez, os alunos/participantes referem-se à leitura de textos literários, seja nas

aulas de literatura ou nas aulas de língua como a prática textual dominante, como se vê no

Quadro 3, apresentado a seguir.

Quadro 3- Práticas de leitura

ALUNOS Acontecem com textos de

literatura na maioria das

vezes

Não são feitas de

forma sistemática

São feitas com a utilização de grande

variedade de tipos e gêneros textuais para

leitura e interpretação

A1

X

A2 X

A3 X X

A4 X

A5

X

A6 X

PF X

X

(Curso de língua)

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Os alunos referem que as práticas de leitura realizam-se com textos de literatura, na

maioria das vezes e que não acontecem de forma sistemática nas aulas de Língua espanhola.

Dois entre os alunos apontam a alternativa sobre a prática de leitura com gêneros textuais

variados para leitura e interpretação.

Essas afirmações são complementadas pela pergunta do questionário sobre se os textos

lidos nas aulas de língua espanhola permitem reflexão sobre os aspectos culturais e sobre as

diferenças entre as línguas. Os alunos/formandos A3, A4, A5 A6 e PF relatam que não

trabalharam com textos em aulas de Língua espanhola, apenas nas de Literatura e que

geralmente não se trabalha com as diferenças culturais, porque são enfatizados a teoria e os

períodos literários.

A1 e A2 referem-se, por sua vez, a que os aspectos culturais e a diversidade lingüística

são ressaltados na leitura de textos e A1 observa que “nos textos de diversos autores

hispânicos tratados em sala, é possível perceber as diferenças até mesmo no modo distinto de

cada um escrever”, referindo-se provavelmente à leitura de textos literários.

Respondendo às questões específicas sobre o ensino das variações da LE, os

alunos/formandos apontam que aprenderam as variações por atividades de uso da língua,

diálogos e conversação (A1; A2; A3; A4), em que destacam o convívio com os colegas de

intercâmbio, músicas e filmes e audições de falantes do espanhol de vários países ou pela

gramática da língua (A5; PF). Apenas A6 refere-se a textos autênticos de outros gêneros para

essa aprendizagem, mas observa que esse conhecimento se deu, no seu caso, durante a sua

atividade profissional, em que utiliza textos jornalísticos, além dos literários.

PF dá conta do período imediatamente anterior e relata que não houve, no seu curso,

ênfase especial nesse aprendizado, uma vez que se dava maior destaque ao contexto da

Espanha na seleção do material didático.

O quadro seguinte refere-se ao relato dos alunos sobre como aprenderam as variações

da língua. É possível, então, perceber com mais clareza, pelas observações feitas, os

procedimentos geralmente usados pelos docentes para o ensino-aprendizagem das variações

do espanhol no curso estudado, segundo os formandos.

Considera-se, nesse tópico, a temporalidade mencionada antes, em relação aos relatos

dos alunos, no final do curso e a entrevista dos professores, que integram as mudanças

realizadas a cada semestre de aulas.

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Quadro 4: Aprendizagem das variações do espanhol

ALUNOS Textos de

literatura

principalmente

Atividades de

uso da língua,

conversação e

diálogos

Leitura de

textos

autênticos/

vários

gêneros

Gramática da

língua,

principalmente

Observações- especifique e

comente a alternativa que

você marcou

A1

X

Convívio com alunos de

intercâmbio. Proporciona

excelentes diálogos sobre as

variações.

A2

X

Músicas e filmes que

mostram a língua em uso

A3 X O contato com variantes

lingüísticos se dá

principalmente na interação

com colegas

estrangeiros/nativos e com

os diferentes professores

A4 X

Audições de falantes de

espanhol, de vários países

hispânicos

A5 X

A6 X Sou espanhola e conheci

outras variantes quando

comecei a dar aulas e

trabalhei com textos

jornalísticos e literários.

PF X Não há muita ênfase no

aprendizado das variantes: o

material era extraído de

textos e contexto da

Espanha – um ou outro

mencionava a América

Hispânica

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Observa-se que a orientação dominante para o ensino das variações, no curso

analisado, é através de audições de falantes de várias origens, música, filmes e reflexões sobre

as diferenças da língua. Essas reflexões acontecem principalmente pela comparação entre as

variedades faladas pelos colegas do intercâmbio, mas também a respeito das variedades dos

professores. Essas afirmações são corroboradas pela fala dos professores, nas entrevistas:

PE 3: O aluno tem que ter conhecimento[das variações]: o curso tem que oferecer esse conhecimento. Preferivelmente com materiais de compreensão auditiva, pronúncia principalmente. (...) Nas audições o aluno pode perceber, por exemplo, diferenças entre um uruguaio e um argentino falando. O método [livro didático utilizado] permite reflexão sobre essas diferenças: uso do vos; diferenças de vocabulário; variações lexicais. O professor precisa mostrar essa variedade para que os alunos tenham a oportunidade de, posteriormente, escolher. (...) Eu não sei como é isso na percepção do aluno: se ajuda ou se atrapalha [uso de variantes diferentes pelos professores do curso]. Acho que a variedade é rica, mas os alunos relatam algumas dificuldades nas aulas de línguas em razão disso. PE2: Sou a única aqui que utiliza vosotros. [Mas] o aluno precisa conhecer as variantes, saber um pouco de cada coisa: temos esse ano no curso alunos de intercâmbio e isso enriquece bastante as aulas. Comentamos e refletimos sobre a língua, as variações e os sotaques diferentes em sala de aula. Trabalho também muito com música, de diversos lugares e acredito que é um bom recurso para falar dos vários “acentos”, dada a nossa tendência à imitação da voz, do sotaque do cantor. PE4: Acredito em uma metodologia mista (...) porque eu parto do conceito de uma metodologia comunicativa que abrange várias competências. Então, não vou deixar de trabalhar com estrutura da língua, com semântica da língua, etc. É o que eu proponho para os alunos do último período do espanhol (...); a turma [é composta] não só de brasileiros, mas[também] brasileiros com alguma passagem por uma variante do espanhol, [além de] hispano-falantes, de variantes diferentes. Então, nessa reflexão sobre a língua, isso sempre está em jogo.

Complementando essa análise, os dados documentais referentes à estruturação do

curso mostram que, no caso das disciplinas de Língua Espanhola II e III, ao conteúdo

comunicativo soma-se a leitura, com avaliação através de trabalhos escritos, de textos

literários no caso de Língua II contos latino-americanos; e de Língua III, contos espanhóis e

hispano-americanos. Entre os autores escolhidos para os cursos semestrais realizados ou

planejados para as disciplinas, PE1 cita o argentino Cortázar e Roa Bastos, escritor paraguaio,

autor de Yo, el Supremo.

Os contos literários são, portanto, tratados nas aulas de Língua, de acordo com os

professores, que relatam atividades envolvendo esses textos, em várias oportunidades, durante

as entrevistas e que serão reportadas mais adiante nesta análise.

Porém, de modo geral, as disciplinas de Literatura acabam assumindo a questão da

leitura, conforme PE5, uma vez que têm uma carga horária maior.

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Nas disciplinas de Língua Espanhola utilizam-se, segundo relato dos professores, o

método Comunicativo e Enfoque por Tarefas. Porém, sobre a metodologia para o ensino de

línguas estrangeiras e estudos literários PE5 observa que os professores de Língua e Literatura

Espanhola têm à disposição muitos métodos e podem escolher entre eles, no momento de

elaboração de seu curso, de acordo com o objeto de ensino.

No caso do professor de espanhol, é possível trabalhar a perspectiva da língua e do conteúdo: a estrutura da obra analisada na sua parte lingüística e literária. Essas duas coisas vão sempre juntas. Em função do objeto que está sendo analisado, é possível saber qual é a teoria que vai se adequar melhor a esse propósito: essa seria uma possível práxis de abordagem dos objetos literários.

Para os Estudos Literários importa estabelecer qual é a perspectiva do enunciador:

No tratamento da Literatura, o locus de enunciação deve ser considerado. Penso o meu objeto a partir do lugar em que me encontro em relação a ele: se eu estou no Brasil, não faço parte daquela tradição em que a obra se insere, mas estou em um “entre-lugar”. A respeito dessa perspectiva do enunciador, Mário de Andrade diz: “Eu sou um tupi tocando um alaúde”. Essas concepções e essa perspectiva vão nortear as escolhas metodológicas para a análise literária.

O Quadro 5 complementar ao anterior retrata, na opinião dos alunos, as técnicas

consideradas apropriadas para ensinar/aprender as diferenças da língua estrangeira.

A respeito desse quadro realiza-se breve quantificação, que objetiva favorecer a

leitura e análise das informações presentes sobre o tema proposto.

Dos sete alunos envolvidos, cinco deles consideram muito importante que o professor

utilize uma variedade da língua como modelo para seus alunos, uma vez que apontam essa

alternativa como sua primeira ou como sua segunda opção. Esse mesmo número entende que

a apresentação de textos autênticos, em sala de aula, para ensino das variações lingüísticas e

culturais do espanhol é também procedimento didático bastante adequado.

Quatro entre os alunos dão destaque, para esse ensino-aprendizagem, aos diálogos e à

conversação.

Todos os alunos, menos um (que entende que esse procedimento é o mais adequado),

apontam como sua última opção a alternativa em que os termos diferentes sejam apenas

sinalizados pelo professor quando aparecem nos textos e tratados como curiosidades da

língua, ou seja, compreendidos como desvios em relação à norma.

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Quadro 5- Procedimentos didáticos para o ensino das variações

Destacam-se, nas questões abertas do questionário, as observações dos alunos que já

têm alguma experiência em sala de aula (A5, A6 e PF), pela relação que fazem com a sua

própria prática. Defendem como A2 e A3 a utilização de textos autênticos para o ensino em

questão, ao lado de audições, música, filmes e material audiovisual. A6 refere, por exemplo,

que é espanhola e procura deixar claro, a seus alunos, qual é a sua variedade e o seu próprio

desconhecimento das demais. Utiliza “exemplos reais de uso da língua para na medida do

possível apresentar aos alunos as diferentes variedades”.

ALUNOS Considero

importante que

o professor

escolha uma

variante da

língua, como

modelo para

os alunos

O ensino das

variações deve

ser conduzido

através de

diálogos e

conversação, pelo

método

comunicativo

Acho importante a

apresentação de

textos autênticos

em sala de aula,

para o ensino das

variações da língua

e da cultura dos

falantes do

espanhol

O aluno deve

escolher uma

variante do

espanhol para

utilizar em sua

vida

profissional

O espanhol a ser

ensinado deve ser o

padrão - os termos

diferentes serão

tratados como

curiosidades da

língua, com listas de

palavras e

expressões ou

destacados quando

aparecem nos textos.

A1

2 3 1

A2 3 1 2 4 5

A3 1 1 1

A4 1 2 3 4 5

A5 2 1 4 3 5

A6 2 4 1 3 5

PF 1 1 1 1

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67

PF observa que “desde o início do curso é preciso desmistificar (...) a questão da

pronúncia ideal e a partir disso introduzir noções das variantes [da língua espanhola]”. Esse

participante, que soma à sua formação inicial algum tempo de prática com a o ensino de

espanhol, entende que são igualmente importantes todas as alternativas – a referente aos

textos autênticos, conversação e escolha das variantes , excluindo apenas a noção das

variantes como desvios em relação à variedade padrão.

Para A3, as escolhas de variedades pelo professor e pelo aluno, juntamente com a

apresentação de textos autênticos para ensino da língua e cultura dos falantes do espanhol são

estratégias didáticas igualmente úteis para a aprendizagem.

Os discentes consideram, então, que são importantes para o ensino as estratégias que

desenvolvam a oralidade e o conhecimento de diferentes sotaques da língua, ao lado da leitura

de textos autênticos, que expressem a realidade dos contextos lingüístico/ culturais.

Incluem, entre as opções que envolvem o desenvolvimento da habilidade oral, a

escolha de variedades pelos alunos para a futura prática profissional. Os dados demonstram a

relevância atribuída, para a aprendizagem, do modelo expresso pelo professor.

A centralidade manifesta, pelos formandos, em relação ao modelo de variedade dos

professores e colegas do intercâmbio sugere, portanto, a preponderância - na prática efetivada

e na opinião dos alunos - das estratégias ligadas ao desenvolvimento das habilidades orais no

processo de aquisição. Remete, também, numa análise sob a perspectiva sócio-interacionista

da linguagem, à questão de construção do conhecimento, que se realiza na interação com os

sujeitos mais experientes da cultura (VYGOTSKY, 1987 e 1988; LOPES, 2002). No caso do

ensino de línguas estrangeiras, eles são representados pelo professor de LE e pelos falantes

nativos, em interação comunicativa ou através de audições, que oportunizam a reflexão sobre

a heterogeneidade e fluidez do fenômeno lingüístico, com a mediação do professor.

Para PE4, o aluno faz, necessariamente, escolhas entre as culturas, uma vez que elas

formam o indivíduo: “ele pode, inclusive, fazer a opção por um espanhol neutro, ‘fantasma’,

que eu não acredito que exista”, mas importa que o professor “permita a seus alunos essa

liberdade de escolha, mostrando a riqueza, as várias possibilidades. Deve ser, por parte do

professor, estratégia consciente e por parte do aluno escolha consciente”.

PE3 relata, por sua vez, que a consciência de linguagem que procura passar para seus

alunos é o estândar peninsular e o estândar meridional: “O aluno precisa conhecer as

variantes para fazer escolhas e isso depende de cada um. No meu caso sou latino-americana

faço a opção pelo estândar latino-americano”.

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Esse olhar, direcionado aos países latinos e o papel do professor como mediador no

processo de ensino fazem parte também da reflexão dos professores PE5 e PE1, nas

entrevistas:

PE5: Nós nunca vamos ser falantes nativos - a nossa língua tem a sua influência. Mas o que importa é a adequação - não como simples arremedo, no sentido de apagar a diferença, em função da metrópole ou de um outro modelo prestigiado. O importante é comunicar e é preciso ver quem é o seu interlocutor (argentino, espanhol, etc.), para fazer suas escolhas. O ensino das variantes está atrelado a essa problemática e o aluno tem que ser instruído nessas questões. No caso das variantes do espanhol, pode-se perguntar: existe a possibilidade de uma variante se sobrepor às demais? Existe uma variante estândar e as demais são obnubiladas em relação a ela? A questão é de postura em relação a isso. Existe um discurso hegemônico e é preciso desconstruir esse discurso, a partir do lugar de enunciação. PE1: A variação tem que ser considerada ou pensada a partir da postura assumida em relação à língua, em relação ao ensino da língua e em relação à cultura do povo que se enfoca. O papel do professor, como ele vai caracterizar o seu curso, objetivos da escola, da comunidade - isso vai influir também no tratamento das variações lingüísticas. Eu não preciso, por exemplo, ficar preocupada com a questão da ‘pureza lingüística’ ou da norma peninsular: eu acho que a gente continua sendo sempre professor brasileiro ensinando uma língua estrangeira - e essa língua é o espanhol. E nós temos contato muito próximo com os falantes hispânicos.

As proposições dos professores assim como as referências dos alunos sobre as

estratégias de ensino expressam concepções decorrentes do momento histórico, de

aproximação com os blocos econômicos do Mercosul, que caracteriza a realidade político-

ideológica e educacional brasileira, no que se refere principalmente ao ensino do espanhol;

assim como de fenômenos resultantes da globalização e do multiculturalismo, com influências

relevantes na formação das identidades sociais (RAGAGOPALAN, 2004, 2006; LOPES,

2006; PIMENTA, 2000) e na formação do professor de línguas em particular.

Revelam, também, a pesquisa e reflexão sobre a prática realizada, na formação

contínua, em que se destacam, como se viu anteriormente (QUADRO 1), a reavaliação dos

conceitos de comunicação, língua e cultura e de ensino de LE.

Os saberes resultantes dessa experiência profissional, historicamente situada

(TARDIF, id; ROMANOWSKI, id), manifestam-se também nas formulações sobre critérios

para seleção de material didático para o ensino das diferenças culturais do espanhol.

Analisam-se, em seguida, esses critérios utilizados pelos docentes para ensino das

variações, assim como as principais orientações dos livros didáticos utilizados nos cursos de

Língua Espanhola.

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6.3.2 Critérios para o ensino e seleção de material didático

Sobre as disciplinas de literatura, PE5 relata que utiliza como critérios para a escolha

de materiais para as aulas e especificamente para o ensino das variações

em primeiro lugar, a acessibilidade. Se você for trabalhar com uma obra de grande carga regionalista, ela não vende, não está acessível. O poder de divulgação desses livros diminui em relação a uma obra escrita no espanhol padrão. O professor pode combinar os textos (p ex Cela/ Cortázar), porque a literatura acaba tocando nessas variantes: talvez o ponto seja o contraste entre as duas literaturas (a espanhola e a hispano-americana). O importante é mesmo saber fazer as escolhas necessárias e que vão resultar em uma boa formação, em um curso bem estruturado. Em relação aos textos que tenham uma carga regionalista muito grande, é preciso saber lidar com essas diferenças. Não se pode tender à harmonia, sem conflitos, e sem tensões porque elas existem.

Para PE4, a reflexão metalingüística, que acontece em suas aulas, se faz a respeito das

“metodologias, sobre a língua e não só sobre a língua em si, mas também sobre a língua na

cultura, na sociedade”. Trabalha com o conceito de comunicação, tomado em sua

complexidade, que abrange componentes cognitivos, sociais e lingüísticos. Entende,

portanto, que as variações da língua “entram organicamente nisso”, já que não é possível

separar os componentes da comunicação:

em relação ao espanhol, falado em grandes extensões geográficas/ regionais/ sociais é preciso fornecer o máximo: o objetivo é fazer com que o aluno tenha idéia da cultura/ das culturas. Porém, nunca servindo [esse conhecimento] como prato exótico, mas refletindo, comparando. Então, eu costumo fazer isso nas aulas, aulas de gramática, de literatura, o que for. A convergência entre língua e literatura acontece nesse nível.

Destacando a importância desse ensino, PE4 vê a necessidade de sua ampliação no

curso universitário:

Como formadora de professores, acho absolutamente necessário, num curso superior, ter essa disciplina de variação lingüística, que não trabalhe o léxico exoticamente, mas que esse ensino considere todos os níveis lingüísticos, inseparavelmente (...) do sócio-psico-cultural; ou seja, da comunidade linguo-cultural. E ao mesmo tempo observando como isso acontece na cabeça dos falantes, porque aí se constroem as várias identidades nacionais, comunitárias, individuais. Portanto, eu acredito que, numa universidade, isso tem que acontecer, necessariamente. A nossa universidade é uma das poucas que oferta essa disciplina, ainda que optativa.

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Para Serrani (2005), nessa mesma linha de análise, e com o objetivo específico de

pensar a questão cultural na organização dos currículos dos cursos de Letras analisados por

ela, a enunciação em novas línguas ou em variedades diferentes mobiliza questões

identitárias, presentes em toda aula de línguas: “A experiência é mobilizadora também em

direção à língua ou variedade de origem, aquela que teceu o inconsciente, e as bases ou

memórias discursivas que constituem a denominada ‘identidade cultural’ de cada um de nós”

(p.19).

O perfil do professor interculturalista requer, portanto, segundo a autora, que “o

profissional considere, especialmente, em sua prática, os processos de produção-compreensão

do discurso, relacionados diretamente à identidade sócio-cultural” (p.17-18).

Com relação aos textos de vários gêneros primários e secundários, em que se inclui

o gênero literário eles podem ser tratados de forma integrada em sala de aula, uma vez que

as categorias que resultam de conceitos como linguagem e discurso, no entender de Beth

Brait (2002/ 2003 apud SERRANI, id p.58), permitem que os “textos literários e não-

literários, verbais e não-verbais se entrecruzem e se integrem”, na sala de aula de línguas.

Seguindo as conclusões parciais deste trabalho e retomando os conceitos de

experiência e de saberes da docência, de Thompson e de Tardif, respectivamente, verifica-se

que as formulações a respeito dos métodos e critérios para o ensino relacionam-se aos saberes

experienciais, advindos da formação e dos percursos acadêmicos dos docentes.

Nas afirmações de PE1, encontram-se essas reflexões a respeito do ensino e da

formação:

No momento em que se parte do princípio de que a língua é prática social, que é a idéia básica de Bakhtin, é preciso considerar também qual é a identidade sócio-lingüística do professor, a realidade sócio-lingüística dos alunos ou da comunidade em que está inserida a escola ou o curso que se vai ministrar. Assim, não é a mesma coisa ensinar espanhol em Curitiba e em Foz do Iguaçu, por exemplo. Lá existe outro tipo de contato, de acesso com a língua, com a cultura. Então, dessa forma, o papel do professor, como ele vai caracterizar o seu curso, objetivos da escola, da comunidade, isso vai influir também no tratamento das variações lingüísticas.

Para PE3, a responsabilidade social do professor assume papel relevante entre os

critérios citados, além do direcionamento em relação à realidade e à cultura hispano-

americana, como já foi referido anteriormente:

Também entendo que ensino de línguas é formação no sentido completo. O aluno vai ser um professor de espanhol e formador de opinião. Eu penso muito nisso e levo essa

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reflexão para meus alunos, para chamar à responsabilidade. E acredito que precisamos valorizar o nosso entorno.

Em suas proposições, os professores vinculam o ensino da língua à cultura dos povos

envolvidos, revelam sua compreensão da complexidade do objeto de estudo e da

heterogeneidade da língua e partem do princípio de que é preciso desmistificar as questões

relacionadas à prevalência de uma variedade lingüístico-cultural no ensino do espanhol como

LE.

Assim, como critérios para ensino das variações e escolha de material, PE1 refere-se à

questão da variedade e do preconceito lingüístico: “a partir dessa discussão vou expondo os

alunos a diferentes sotaques e pronúncias”.

Para PE2 é importante mostrar o máximo de diversidade entre as línguas e sotaques,

deixando claro que não existe uma variante melhor que a outra:

Faço essa observação porque alguns professores consideram que não se deve ensinar o espanhol peninsular; dizem que estamos sendo colonizados outra vez pela Europa, etc. Eu considero essas afirmações bastante complicadas (...). Se eu posso falar com pessoas de muitos países diferentes e se nos comunicamos bem, por que uma variante vai ser considerada melhor ou com mais prestígio que a outra? Porém, os alunos podem ter necessidades diferentes em relação ao aprendizado da língua espanhola. Eu, como profissional, tenho que saber disso para poder ensinar.

Como critério para escolha de material para suas aulas, PE3 entende que é preciso que

seja bem escrito e que tenha uma informação adequada ao objeto de ensino:

No caso do livro didático é importante que o livro ofereça conteúdo, mas também ofereça possibilidade de dinâmica em sala de aula. Critério histórico talvez... Alguma coisa que seja relacionada à nossa realidade, assim do dia-a dia, porque assim se perdem a falsidade e o distanciamento de textos e diálogos de alguns livros didáticos.

Os professores expressam a necessidade de levar, ao aluno, o conhecimento da

diversidade e heterogeneidade cultural, a partir da conscientização sobre o preconceito

lingüístico e sobre a responsabilidade social do professor de línguas e propõem que esse

ensino se realize pela avaliação constante sobre os métodos e em consonância com os

objetivos do curso, voltado para a formação de futuros professores. Conforme referência de

PE1, “as variações devem ser contempladas em relação à cultura dos povos e de acordo com

a postura assumida em relação à língua, à cultura e ao ensino de LE”.

Pela análise das entrevistas e questionários, identifica-se o papel do professor de LE

com a visão veiculada pelo conceito de professor-pesquisador (LOPES, 2002), pela reflexão

constante sobre a prática desenvolvida, em que os conhecimentos, resultantes da pesquisa

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desenvolvida nas diferentes áreas de atuação, são reaplicados em sala de aula. O professor

apresenta-se também como modelo para os alunos, que buscam, na variedade usada pelo

professor e na sua experiência em relação ao conhecimento almejado, o suporte necessário à

aprendizagem da língua.

Formador de opinião, o professor deve observar a responsabilidade político-social

inerente à sua profissão e orientar os seus alunos sobre essa responsabilidade.

O professor é também, na concepção dos docentes, mediador em relação ao

aprendizado e cabe a ele orientar os seus alunos a respeito de onde buscar e como desenvolver

os seus conhecimentos.

O gênero literário é privilegiado entre os textos autênticos utilizados nas aulas de

Língua Espanhola, segundo a análise dos dados obtidos e a leitura, os conteúdos culturais e a

produção textual são considerados instrumentos indispensáveis à capacitação na LE, além do

ensino da gramática da língua. Por isso, os professores se referem à necessidade de ampliação

de alguns desses cursos.

Nesse sentido, PE3 refere, por exemplo, que “os alunos precisam de muita prática de

leitura e escrita e essa convicção tem a ver também com a minha formação. Leitura e

produção textual poderiam ser tratadas separadamente hoje são disciplinas optativas”.

Com relação ao livro didático utilizado atualmente, PE3 diz que ele aumenta as

possibilidades de dinâmica em sala de aula, relacionando-se aos apartados ao final do livro,

com apresentação de audições de falantes da língua e pelas relações que se estabelecem

também com a Internet.

Nessas audições, segundo a professora, o aluno pode perceber, por exemplo,

“diferenças entre um uruguaio e um argentino falando. O método [livro didático] permite

reflexão sobre essas diferenças: uso do vos; diferenças de vocabulário; variações lexicais”.

Os livros apresentam textos de vários gêneros, a cada início de unidade, no caso de

Língua I e práticas de comparações entre gêneros no caso do livro utilizado para a

disciplina de Língua III, para os alunos de nível intermediário ou avançado.

PE1 cita como exemplo de atividade no livro didático a comparação entre contos de

fadas e uma notícia ou comparações entre gêneros em Português e em Espanhol. Porém,

nessas atividades, observou as dificuldades dos alunos para a identificação das características

textuais:

Os alunos têm dificuldades com relação à questão da leitura e de identificação dos tipos textuais e de suas características. No livro didático que utilizo atualmente, em algumas unidades são propostas atividades a partir de textos. Com relação ao texto

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publicitário, verifiquei que os meus alunos a metade do grupo tiveram dificuldades no momento de produzir um texto publicitário. Eles tinham conhecimento teórico sobre o assunto, mas como não têm essa prática, não realizaram bem a atividade proposta.

Os livros didáticos referidos nas entrevistas não são – principalmente em relação aos

adotados nos níveis iniciais os mesmos utilizados pelos alunos/formandos, que estudaram

pelos livros a que se fez referência no capítulo sobre a estruturação do curso de Letras, pelo

método comunicativo e enfoque por tarefas.

Os livros atuais têm também essa orientação metodológica, mas integrando “diferentes

enfoques metodológicos, sin plantear ningún dilema entre gramática y comunicación”, no

caso do livro utilizado para o nível inicial.

Apresentam diálogos e audições mais variados de falantes nativos e diferem dos

anteriores pela ampliação em relação à apresentação de textos “mostras autênticas da língua

e da cultura” e atividades propostas a partir de gêneros diferenciados.

Retomando aqui mais uma vez as considerações de Celada e González (2005) sobre as

concepções de estabilidade e homogeneidade da língua e a necessidade de pensar em novas

abordagens para o ensino, discute-se agora a questão de aplicação dos gêneros aos estudos da

língua estrangeira, levando-se em conta a análise feita até o momento.

6.4 ENSINO DE GÊNEROS

A pergunta do questionário destinado aos alunos sobre as estratégias consideradas

mais eficazes para o ensino da língua estrangeira conta com dez alternativas três delas sobre

gêneros.

Dessas três alternativas, a primeira refere-se à utilização de gêneros para realização de

atividades textuais – escrita e estruturas do texto.

Duas outras se referem ao estudo de gêneros para adquirir habilidades na língua e ter

o ensejo de refletir sobre a cultura do outro e sobre a própria cultura; e à identificação de

aspectos culturais e ideológicos, para desenvolver capacidades de crítica e de reflexão. Essa

última alternativa sobre gêneros difere da anterior por sua vinculação à análise do discurso.

Duas alternativas ligam-se ao método comunicativo de línguas a primeira delas

referindo-se ao desenvolvimento da oralidade e a outra destacando habilidades na língua e

capacidades práticas, através de diálogos que simulam situações reais de uso.

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As demais se referem aos exercícios estruturais, compreensão textual e gramática,

leitura em voz alta, tradução com atividades de escrita e exercícios gramaticais (Apêndice B).

Os objetivos em relação a essa questão foram os de conhecer as concepções dos alunos

sobre as estratégias de ensino relacionadas aos métodos gramaticalista, estruturalista,

comunicativo, etc., mas principalmente conhecer o seu posicionamento em relação ao ensino

com gêneros. Trabalha-se, neste caso, com quantificação de dados e algumas generalizações.

Os formandos teriam que numerar essas alternativas de um a dez, por ordem de

importância para o aprendizado da LE.

Cinco entre eles escolheram, em primeiro lugar, os diálogos, que simulam situações

reais de uso da língua, para desenvolvimento de habilidades lingüísticas e capacidades

práticas, com exceção de A5 e de A1, que não marcaram essa opção.

Esse último aluno entende que é prioritário trabalhar com gêneros para produção

textual (sua 2ª opção), ou para desenvolver no aluno capacidades lingüísticas e promover a

reflexão sobre as culturas envolvidas (1ª opção). A5 escolhe como igualmente importantes os

três enunciados referentes aos gêneros, além dos que se reportavam ao ensino da gramática da

língua.

Os gêneros, utilizados para desenvolver capacidades lingüísticas e reflexão sobre as

culturas foi a segunda ou primeira opção de seis dos formandos, sendo que dois deles

observaram que a maioria das alternativas são igualmente importantes para a aquisição.

As alternativas marcadas como menos importantes, pela maioria dos alunos, ou não

escolhidas por eles, referem-se aos exercícios estruturais, leitura em voz alta e tradução para

atividades de escrita, consideradas estratégias de ensino menos eficazes ao aprendizado.

Em um caso, porém, essas alternativas foram apontadas pelo aluno como necessárias,

da mesma forma que as demais, em diferentes momentos da aprendizagem, para o domínio da

LE. Outro participante observou, referindo-se ao método comunicativo, que ele “deve ser

acrescido de textos autênticos e exercícios, mesmo os estruturalistas”.

Os dados analisados estão no gráfico a seguir sobre as estratégias e métodos

apropriados ao ensino, no entender dos alunos participantes e em que se retrata a pontuação

geral obtida. Os diálogos destacam-se, na classificação geral de gêneros, por sua vinculação

aos textos que aparecem nos livros didáticos e que simulam situações reais de uso (Apêndice

B).

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Gráfico 1 – Estratégias de Ensino de LE

Esses dados confirmam, de maneira geral, aqueles presentes no Quadro 5, apresentado

anteriormente, sobre o ensino das variações da língua: os alunos entendem que os diálogos e

as estratégias ligadas à oralidade são importantes para o aprendizado de línguas e valorizam a

leitura, a utilização de textos autênticos de vários gêneros e os conteúdos culturais

trabalhados em sala de aula. Dão destaque à gramática da língua e relacionam a produção

textual também aos textos e à leitura.

Tradução relacionada à escrita, leitura em voz alta e exercícios estruturais são as

práticas menos escolhidas pelos alunos, porém o enunciado sobre compreensão textual, com

identificação de estruturas textuais ou sistematização gramatical, foi bem pontuado por eles.

Essas escolhas revelam, também, a noção de que as várias estratégias podem

complementar o ensino, o que se depreende de observações sobre a insuficiência do método

comunicativo, tomado isoladamente e que deve, então, ser acrescido de outras atividades –

estruturalistas, textuais, etc.

Considerando-se a alternativa mais escolhida entre as três sobre gêneros a referente

a leitura de textos de gêneros diversos para que o aluno tenha oportunidade de refletir sobre a

sua cultura e a do outro e as referentes aos diálogos, gramática e exercícios estruturais, para

cada aluno em particular, elabora-se o gráfico seguinte.

6052 52 50

42 4131

2215

4

0

10

20

30

40

50

60

70

Gêner

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Gêner

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Gêner

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Gram

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Por essa ilustração, observa-se que apenas A1 e A5 não se referem aos exercícios

estruturalistas e aos diálogos, que simulam situações de uso da língua relacionados, na

questão formulada, à oralidade e aquisição de habilidades práticas na LE como importantes,

em algum grau, para a aprendizagem. No entanto, três outros alunos relacionam as estruturas

da língua entre as suas últimas opções. Para A5 são igualmente importantes as práticas com

gêneros e o ensino gramatical.

Todos os alunos escolheram a alternativa sobre gêneros, considerada, geralmente, em

nível de igualdade com a alternativa sobre os diálogos, com destaque para a primeira na

contagem geral (Gráfico 1).

Nas entrevistas, pergunta-se também aos professores participantes sobre a adequação

de tratar a heterogeneidade da língua com gêneros diversificados apresentados em sala de

aula de línguas. Nessas entrevistas, os professores de Língua Espanhola dizem que não

trabalham com gêneros de forma sistemática ou através de um planejamento curricular

específico. Suas considerações sobre essa questão são contempladas mais adiante.

A breve análise dos livros didáticos utilizados a partir de 2007 nas disciplinas de

Língua Espanhola, referidos nas entrevistas, demonstram que existe um direcionamento no

sentido de ampliação de utilização de textos autênticos, de vários gêneros, como recurso

0123456789

10

A1 A2 A3 A4 A5 A6 PF

Diálogos Gêneros GramáticaEstruturas

Gráfico 2 – Gêneros, Diálogos, Gramática e Estruturas da LE

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didático. Essa tendência crescente, mas que já se processa há pelo menos uma década, é

também entrevista nos relatos de atividades realizadas ou propostas, pelos professores,

durante o curso e que são comentadas a seguir.

Como sugestão de atividade, PE1 refere-se à possibilidade de comparar, por exemplo,

as posturas de jornais com inclinações políticas e ideológicas diferentes, em relação a um

mesmo tema ou acontecimento, trabalhando com análise do discurso.

PE2 exemplifica com a atividade realizada junto a seus alunos, utilizando contos e

filmes, em que foi possível refletir sobre as diferentes linguagens – a literária e a

cinematográfica.

PE5 propõe a comparação entre as obras literárias espanholas e hispano-americanas, já

que é nessa confluência que se identificam as questões sobre a diversidade.

PE3 dá exemplo de atividade realizada com música e literatura mexicanas, em que se

favorece aos alunos a comparação entre as culturas estrangeira e materna.

Predominam, nesses exemplos, também, os textos literários, com exceção da primeira

atividade descrita e trata-se o gênero de forma criativa, para os propósitos da sala de aula.

Bunzen (2004) destaca que o diálogo entre os autores das várias tendências e

escolas, que estudaram e desenvolveram o conceito de gênero acontece pelos temas

comuns entre eles e que são o ensino explícito dos gêneros, a possibilidade de utilizá-los

como objetos de ensino e a possibilidade de criação de novos gêneros em sala de aula.

Os gêneros permitem a reformulação livre e criativa (BAKHTIN, 2002;

MARCUSCHI, 2005b), sem que isso signifique nova criação de gênero, já que para se possa

trabalhar de forma criativa com eles é indispensável conhecê-los bem. Eles acompanham a

dinâmica das atividades do homem em sociedade como referido antes neste estudo e essa

flexibilidade faz parte de sua constituição (FARACO, 2003, p.112).

Além da música e apresentação aos alunos de falantes nativos, para que tenham

contato com variedades diferentes, PE1 sugere também a utilização dos recursos

tecnológicos:

Outro instrumento é a internet, que pode ser utilizada não apenas para o aluno ter contato com os periódicos, vocabulário diferente e variações sintáticas. Ou o Messenger, que permite conversar diretamente com pessoas de vários países e regiões. Eu não tenho como levar para a sala de aula todas essas possibilidades, mas posso orientar os alunos na realização dessas atividades.

Ao lado da diversidade de opções para o professor, supõe-se também que o

tratamento de alguns gêneros em sala de aula permite que o aluno, diante de um gênero

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desconhecido por ele, tenha instrumentos para reconhecer suas características estruturais e

discursivas.

No Gráfico 3, apresentam-se os resultados da questão sobre tipos de textos utilizados

pelos professores. Nesses exemplos, não se distingue entre tipos e gêneros textuais e os

professores escolheram, de uma relação apresentada, os textos que costumam utilizar em sala

de aula.

Gráfico 3 – Exemplos de Tipos de textos e Gêneros utilizados

O gráfico ilustra a quantidade de professores que utilizam cada gênero ou tipo

textual. Destacam-se os textos literários e os conteúdos culturais1 e também os textos

informativos. Em seguida a esses textos aparecem as letras de música. Depois, os textos

científicos e diálogos.

_______________________________________________

1 Nessa questão das entrevistas entende-se como de conteúdos culturais os textos trazendo informações sobre a cultura dos povos, que foram diferenciados dos textos literários e dos textos informativos em geral. Da mesma forma, os poemas tiveram destaque em relação aos demais textos de literatura.

5

4 4

3

2 2

1 1

0

1

2

3

4

5

Lite

rário

s

Cultura

is

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Poemas

Anúnci

os

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Anúncios e poemas foram pouco apontados e o gênero carta, que também constava na

relação, não foi assinalado pelos docentes.

Porém, o ensino com gêneros encontra alguns obstáculos, segundo os professores.

Desconhecimento dos gêneros por parte dos alunos e falta de tempo disponível para

realização das atividades são reportados por eles.

PE2 - Para esse tipo de atividade, como essas que realizamos, é preciso ter tempo disponível e no momento eu que trabalho com os níveis iniciais tenho todas as questões gramaticais para resolver e também preciso revisar o básico, porque isso precisa ser feito também. Meus alunos, que estão aprendendo o pretérito, vão ter dificuldades nesta fase com leitura de textos. Então, entendo que é possível trabalhar, sim, mas a questão é: trabalho com formação de professores, meus alunos precisam adquirir o domínio da língua é diferente de se eles tivessem que apenas se comunicar na língua estrangeira. Talvez, num nível intermediário, isso seja mais fácil.

PE4 refere, também, a sua preocupação com as propostas de substituição de métodos:

A formação tem que ser repensada a cada passo, a cada ano. Por outro lado, fico preocupada com essa coisa (um pouco leviana) de seguir modas. O importante é que o professor (...) se pergunte constantemente sobre o porquê de trabalhar dessa ou daquela maneira, de propor esse ou aquele método ou estratégia de ensino, em substituição aos anteriores. Não acredito em abraçar um único método: o professor “pensante” vai entender as necessidades dos alunos e buscar métodos (estratégias de ensino) de vários tipos.

Entende que o ensino precisa ser realizado com textos autênticos, para evitar que se

considere a cultura do outro a partir de pontos de vista próprios. Ressalva, porém, que

qualquer leitura já é uma tradução que se faz e que isso acontece inevitavelmente – “em grau

menor, talvez”, em se tratando desse material.

PE3 observa que os professores do curso teriam interesse em uma área de estudos

envolvendo gêneros e análise do discurso, a exemplo do que acontece no curso de português e

na pós-graduação na Universidade: “Em relação ao espanhol, em razão de nossa realidade

particular – cinco professores, espaço físico insuficiente, não temos alguém que se dedique

exclusivamente a isso. Seria um campo de pesquisa interessante, importante – como outros

também”.

Vê como fator bastante positivo que os professores possam se dedicar, na

Universidade Pública, à sua área de atuação, no referente à pesquisa desenvolvida e às

escolhas em relação a seus cursos e entende que os alunos precisam de muita prática de leitura

e escrita, para uma boa formação:

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As pessoas aqui teriam muito interesse nisso. Mas acho que se trabalha pouco [com leitura]. Eu procuro trazer alguma coisa – eu gosto dessa linha, de informação cultural, principalmente. E acho que haveria necessidade mas a gente não tem condições mesmo [no momento].

No processo de sua formação acadêmica, no convívio diário com os alunos e na

elaboração dos cursos de Língua e Literatura os professores realizam reflexão constante sobre

a língua e sobre a metodologia de ensino, considerando os objetivos educacionais. Apontam

problemas e propõem novos caminhos para o ensino, referentes à sua área de atuação, em que

se destaca a priorização e ampliação do ensino das variações, leitura e produção textual

para a capacitação e formação de professores de espanhol.

A análise dos questionários dos alunos, realizada pela comparação com os outros

dados obtidos, revela também a compreensão de que a utilização de gêneros é estratégia de

ensino bastante adequada à aquisição e para o tratamento das diferentes variedades da língua

estrangeira em sala de aula.

Na análise de Bunzen (2004), sobre a língua materna, os gêneros são vistos como

“práticas de linguagem historicamente construídas”, na perspectiva textual da Escola de

Genebra ou como “ações em resposta a contextos sociais recorrentes numa determinada

cultura”, para os pesquisadores da Nova Retórica, que enfatizam a dinamicidade, a

plasticidade, criatividade e o movimento dos gêneros, utilizando as noções de dialogismo,

carnavalização e interação, de Bakhtin.

Para Bunzen, os gêneros são sempre usados nas três tradições enfocadas por ele (de

Sidney, de Genebra e Nova Retórica) como desestabilizadores de práticas problemáticas ou

tradicionais. Em seu entender, a partir deles é possível tratar em sala de aula o plurilingüismo,

ou seja, o heterogêneo. Estudar ou ensinar com os gêneros, nesse sentido, não se constitui,

para o autor, em modismo ou mera substituição metodológica (p.258).

A análise dos pensamentos de Vygotsky e de Bakhtin sobre a linguagem (FREITAS,

2006), que direcionam esta pesquisa, aponta também para esse encaminhamento a respeito

das ações pedagógicas com a LE: a língua (ou a palavra) modifica-se nos vários contextos

enunciativos, nos vários contextos histórico-culturais e está em constante transformação

(VYGOTSKY, 1988; BAKHTIN, 2002/ 2003); e é através de enunciados e de gêneros que os

falantes se expressam, seja oralmente ou através de textos escritos (BAKHTIN, 2003).

Nessa perspectiva da língua, entendida em seu caráter de heterogeneidade, os

componentes culturais e ideológicos, expressos nos textos representativos das atividades

sociais dos falantes, assumem papel relevante para o aprendizado.

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Para Serrani (2005), a formação do professor de línguas como interculturalista é a

formação do profissional apto a “realizar práticas de mediação sócio-cultural contemplando o

tratamento de conflitos identitários e contradições sociais, na linguagem da sala de aula”. Para

ela, é preciso que a formação do professor de línguas capacite o futuro profissional a agir em

sala de aula de forma a “propiciar nos seus alunos reacomodações subjetivo-emocionais,

cognitivas e sociais inerentes à produção discursiva de sentidos” (p.17).

A sensibilização em relação à discursividade e à heterogeneidade constitutiva da

linguagem é obtida, segundo a autora, pela mobilização da noção de gênero discursivo, já

que, segundo Bakhtin, a língua ou a enunciação se realiza sempre através da escolha, pelo

falante, de um determinado gênero.

Propõe, portanto, com base nos conceitos de Bakhtin e Freire, que os componentes

culturais deveriam direcionar os programas curriculares para o ensino das línguas materna e

estrangeira e que os gêneros discursivos, na língua alvo e na língua de origem, poderiam ser

instrumentos capazes de organizar esse ensino, de forma a proporcionar aos alunos a

capacitação na língua/cultura.

No contexto estudado, a questão metodológica esteve sempre em pauta: os docentes

entrevistados relatam que o método comunicativo, acrescido de ensino da gramática e

reflexão sobre a língua e a cultura são os meios utilizados nas aulas de línguas

estrangeiras/espanhol. Propõem a reflexão constante sobre a metodologia, sobre a relevância

das escolhas para cada curso, objeto de ensino e para a realidade dos alunos envolvidos.

Em algumas entrevistas, aponta-se a inadequação dos métodos tradicionais e do

método comunicativo para os estudos de leitura, escrita e para o tratamento das variações da

língua e avalia-se que, como instrumento à disposição do pesquisador, a metodologia precisa

ser sempre repensada, em função do objeto de estudos no caso da prática em sala de aula,

o objeto de ensino.

Os alunos formandos, por sua vez, revelam em suas respostas e observações, em

alguns casos, a sua compreensão sobre a capacitação na língua, entendida como somatória de

habilidades para atingir a língua alvo; ou sobre as estratégias de ensino, como acréscimos em

relação aos métodos utilizados.

Entende-se que o conhecimento e utilização dos gêneros poderia ser um fator

integrador para essa aprendizagem, uma vez que eles propiciam o ensino da leitura e da

produção textual e permitem o tratamento da língua como fenômeno heterogêneo e em

constante transformação.

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As audições de falantes da língua, tratadas de forma integrada com os textos

literários, letras de música, comunicações científicas, cartas de leitores, editoriais, etc.,

permitem, por sua vez, a identificação dos sotaques diferentes, mas principalmente, também,

das características próprias dos gêneros utilizados por eles e a reflexão sobre as atividades

sociais e sobre os contextos histórico-culturais a que se referem.

A abordagem dos gêneros que se pode prever para o ensino da língua, trabalhando

com as concepções de pluralidade cultural e de registros diferenciados e considerando-se a

produção de áreas diversas da atividade social (SERRANI, 2005; FARACO, 2003) é a

perspectiva dos gêneros do discurso, na classificação proposta por Rojo (2005),

indissociavelmente dos contextos sócio-culturais.

No momento em que se propõe a revisão de conceitos e em que se discutem as

questões identitárias envolvidas na aprendizagem de línguas estrangeiras (RAJAGOPALAN,

2004; LOPES, 2006; SERRANI, 2005) reconhece-se, em grande número de trabalhos

científicos, que é o momento também de repensar as metodologias e instrumentos de

pesquisa referentes ao ensino-aprendizagem de línguas.

Entende-se também e essa proposição orientou a pesquisa e análise realizadas

que a formação dos professores e o seu trabalho em sala de aula não reproduzem

obrigatoriamente as ideologias dominantes, conforme Thompson em sua crítica que resultou

no estabelecimento dos conceitos sobre experiência, retomados por autores como Martins e

Faria Filho.

Da mesma forma, Lopes (2006) referindo-se a Foucault, analisa que os discursos e

ideologias constituídos implicam na possibilidade de um contra-discurso e que as identidades

sociais formam-se e são compreendidas nos contextos históricos e em relação a esses

discursos antagônicos.

Como construções históricas e ideológicas, os métodos nem sempre serão

complementários em relação a um determinado objetivo educacional. A pesquisa sistemática

sobre a prática, em que se considere os aspectos históricos e sociais envolvidos na

constituição dos saberes docentes permite o encaminhamento das medidas necessárias para a

solução dos problemas identificados, de acordo com as análises de Tardif, Pimenta,

Romanowski e de Lopes e Rajagopalan referentes, no caso dos dois últimos autores, à área

de Lingüística Aplicada.

A análise dos contextos educacionais proporciona, portanto, o conhecimento das

formas de apropriação das experiências e das ideologias que orientam as práticas dos

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professores (FARIA FILHO, 2005, p. 246), ou seja, a verificação de como essa prática se

expressa em condições dadas historicamente (MARTINS, id. p. 118).

Esse repensar sobre os métodos e sua aplicação nas aulas de Línguas estrangeiras

precisa, então, necessariamente, partir da prática efetivada e nesse sentido a pesquisa

realizada, nas várias instâncias do ensino, assume papel preponderante (PIMENTA, 2000;

ROMANOWSKI, 2006).

Nas considerações finais busca-se relacionar as principais conclusões desta análise.

Este estudo de caso pretendeu contribuir para o conhecimento sobre o ensino das variações

da língua espanhola e propiciar outras pesquisas em contextos e realidades educacionais

diferentes que possam trazer novas reflexões sobre o tema deste trabalho.

Em relação ao curso observado, há a consciência de que as conclusões obtidas são

parciais. A formação do professor de espanhol, nesse contexto, é complementada pelas

disciplinas da área de Lingüística cursadas mesmo por aqueles alunos que fazem a opção

pela licenciatura simples e a importância do estudo da língua materna, pela comparação

constante que proporciona em relação à língua estrangeira, foi apontada, neste estudo, pelas

referências às análises de Serrani, Rojo e Mijares, entre outros autores.

Somam-se a essas disciplinas, as opções em relação ao Bacharelado direcionado

para a pesquisa em três áreas além das optativas oferecidas pelo curso. Trata-se de uma

formação “programada pelo aluno”, como esclarecem os profissionais da área de Letras,

ouvidos em diferentes oportunidades, em eventos e entrevistas.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS, LIMITES E TRABALHOS FUTUROS

Gabriela Barrios, autora de excelentes estudos, como o citado neste trabalho sobre

políticas lingüísticas na região de fronteira Brasil-Uruguai compara a atuação do professor

de línguas e a do sócio-lingüista e refere-se ao primeiro como o profissional da língua padrão,

uma vez que, segundo diz, “nadie va a enviar sus hijos a la escuela para que les digan que

hablen como quieran”. Para a Sociolingüística conclui a autora a variedade padrão é uma

variedade importante, da mesma forma que as demais.

No entanto (e não lhe tirando a razão, uma vez que o ensino da língua padrão nas

escolas relaciona-se à questão do prestígio social dessa variedade), observa-se que, na prática

em sala de aula com a língua estrangeira, a riqueza cultural do mundo hispânico, as questões

do preconceito lingüístico ou das “línguas mistas” estarão sempre em pauta e o conflito no

dizer de Souza pode apenas ser adiado.

Os estudos de Rajagopalan e de Serrani apontam para a necessidade de repensar a

formação do professor de línguas, como cidadão do mundo ou como interculturalista, capaz

de interagir com as diferentes culturas e com os diversos textos relacionados às diferentes

variedades, atividades e contextos sociais dos falantes.

Esta pesquisa teve como objetivo analisar abordagens e concepções norteadoras para o

ensino-aprendizagem das variações da Língua espanhola, no curso de Letras/Espanhol da

Universidade Federal do Paraná. Essas concepções referem-se aos saberes desenvolvidos na

prática em sala de aula e estabelecem-se no processo de formação inicial e contínua dos

professores, conforme conceitos de Tardif, Romanowski, Pimenta, entre outros autores.

Procurou-se também indagar sobre a adequação de um ensino com base em gêneros,

em que se contemplasse a língua em sua heterogeneidade e como fenômeno em constante

transformação. Utilizaram-se, para isso, as noções de gênero do discurso, de Bakhtin, além

das proposições do sócio-interacionismo, na visão de Vygotsky e de autores que seguem essa

abordagem na pesquisa realizada nas áreas em que se inscreve esta análise. Integram-se,

neste estudo, as áreas de Línguas estrangeiras e Educação, em que se centraliza a questão da

formação de professores.

A hipótese deste trabalho foi a de que há necessidade de buscar alternativas para o

ensino, que contemplem a língua em seus contextos histórico-culturais e evidenciando a sua

natureza social. Por essa razão, defendeu-se a aplicação de uma teoria de gêneros discursivos,

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segundo a classificação de Rojo, para o ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras,

enfocando o ensino das variações do espanhol.

Ao se fazer a opção por um estudo de caso para a realização da pesquisa, o objetivo

foi o de analisar e compreender o contexto de um curso de referência para a formação de

professores da Língua estrangeira/Espanhol. Os professores do curso e os alunos formandos

foram os informantes co-participantes da pesquisa e a partir de suas reflexões e dos

conhecimentos advindos de seus percursos acadêmicos e experiência profissional tornou-se

possível a realização desta dissertação.

Os objetivos específicos foram, portanto, o de considerar o processo de formação

inicial e contínua dos docentes e as mudanças ocorridas nesse processo e o de indagar sobre a

propriedade de uma teoria de gêneros aplicada ao ensino das diferenças da língua e da cultura

dos povos estudados.

Com relação ao primeiro objetivo específico, constatou-se que os professores do curso

realizaram a sua formação inicial sob as metodologias gramaticalista, estruturalista ou

comunicativa. Porém, a importância atribuída, nesta análise, à formação inicial dos docentes

foi menor do que a de sua formação contínua e acadêmica, em razão de se tratar de

professores especialistas em sua área de atuação.

As mudanças relatadas por eles, no processo de formação acadêmica, referiram-se às

concepções de língua, linguagem, comunicação e de ensino da língua estrangeira. A sua

atuação profissional inclui, em alguns casos, a crítica ao método comunicativo de línguas,

considerado insuficiente para os estudos relacionados à leitura, escrita e à cultura dos povos.

Essas concepções orientam a sua prática e os critérios para a elaboração de atividades,

escolha de livros didáticos, obras literárias ou material didático para as aulas de Língua e de

Literatura espanhola e hispano-americana.

Em suas proposições sobre os critérios para o estudo das variações da língua, os

professores partem do princípio de que não existe prevalência entre as línguas e as culturas e

que é papel do professor mostrar a riqueza cultural e as diversas variedades. Isso se dá através

de textos autênticos, música e audições e orientação aos alunos sobre as possibilidades de

utilização da internet e em relação a filmes, eventos culturais e científicos. Propõem também,

em disciplina para os alunos do nível avançado, a reflexão sobre a língua, em que se

consideram as culturas envolvidas e a relação com os contextos sociais. Destacam a presença

de alunos do intercâmbio, que favorece essa reflexão em sala de aula, desde os níveis iniciais.

Em relação à Literatura essas reflexões acontecem pela comparação entre as obras de

autores dos diversos países envolvidos.

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Os alunos valorizam as práticas de audições de nativos e estratégias ligadas à

oralidade, para o ensino da língua e das diversas variantes. Referem-se ao modelo expresso

pelo professor como estratégia importante para a aprendizagem, além da oportunidade de

conversar com falantes nativos, representados pelos colegas de intercâmbio.

Sobre o segundo objetivo específico, a análise documental e a dos questionários e

entrevistas apontam para a priorização do gênero literário para as atividades de leitura no

curso analisado. As atividades de leitura ocorrem, como se vê nas considerações sobre a

estruturação do curso além das Literaturas nas aulas de Língua Espanhola e nas optativas

do curso, principalmente através de contos literários de autores espanhóis e hispano-

americanos.

Os principais problemas referidos em relação ao ensino com gêneros são o despreparo

dos alunos, falta de tempo, espaço e pessoal. Os professores entendem que os alunos precisam

de mais práticas de leitura e escrita, não apenas como disciplinas optativas e que haveria

interesse no estabelecimento de área de pesquisa envolvendo análise do discurso ou estudos

sobre gêneros.

Observou-se a tendência crescente de utilização de gêneros diversos na orientação dos

livros didáticos escolhidos pelos professores e nas sugestões de atividades para as aulas de

línguas.

Da mesma forma, os alunos demonstram essa preferência, em observações sobre as

estratégias consideradas por eles como mais eficazes ao ensino das variações e ao ensino em

geral. Relacionam, em suas escolhas, o ensino gramatical e a produção textual aos gêneros,

diante de outras opções, como tradução e escrita ou exercícios gramaticais e estruturais

isoladamente. Destacam, porém, a opção sobre estudo de gêneros relacionado à cultura dos

falantes da língua.

Para os professores, que escolheram, entre os gêneros ou tipos textuais, aqueles que

utilizam mais freqüentemente, têm destaque os textos literários e os textos de conteúdo

cultural, além dos informativos, que se referem aqui às notícias de jornal de forma geral.

Trabalha-se também com músicas e filmes, às vezes relacionados aos textos ou aos contos

literários, propiciando a reflexão sobre as culturas e sobre as características de cada

linguagem ou gênero.

A apresentação dos textos nos livros didáticos e no curso analisado, porém, não diz

respeito a uma organização curricular ou metodológica específicas sobre gêneros: na

apresentação de um dos livros didáticos utilizados há a referência, por exemplo, a diversos

enfoques metodológicos, que permitem o ensino gramatical e a comunicação.

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Uma última questão que se aborda aqui e que se relaciona também aos limites do

trabalho ou à sua ligação com outras pesquisas, diz respeito ao método e aos livros didáticos

utilizados e que não chegaram a ser analisados com maior atenção no presente estudo.

Mascia propôs a análise dos contextos de formação das metodologias e entende que

ela traz esclarecimentos importantes sobre os métodos e sobre o ensino das línguas

estrangeiras. Refere-se ao caráter de ecletismo metodológico do método comunicativo, no

sentido de que, às habilidades a serem desenvolvidas foram acrescidas outras, referentes às

revisões por que passou: este é caso do estudo da gramática da língua e da interação cultural.

Nessas revisões não se leva em conta a heterogeneidade constitutiva do sujeito, na

análise de Mascia. Em outros estudos, questionam-se as concepções de comunicação e de

língua presentes nessa abordagem. As noções de discurso e de dialogismo, no sentido dado

por Bakhtin, são instrumentos importantes para essa pesquisa, assim como os saberes

provenientes da investigação sobre a prática em sala de aula.

Relacionam-se ao presente estudo, na área de Lingüística Aplicada, os referentes às

maneiras de explorar os gêneros em sala de aula e também as novas formas de apresentação

dos textos nos meios tecnológicos e as implicações dessas mudanças para a Educação e

para a formação do leitor.

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APÊNDICE A

ROTEIRO DA ENTREVISTA

Introdução: agradecer pela colaboração, esclarecer o objetivo da entrevista, pedir que no final

da entrevista faça sugestões/comentários.

Qual sua formação? (graduação, cursos de aperfeiçoamento e pós-graduação, cursos de

proficiência na língua).

Poderia falar sobre sua carreira como professora? (tempo de serviço, instituições em que

trabalhou, em que tipo de metodologia de ensino acredita).

Você aprendeu a Língua Espanhola a partir de que metodologia? (livro didático/ material de

apoio; prática de leitura/ tradução de textos/ tipo de exercícios, etc.).

Considerando experiência profissional e a sua formação contínua ou continuada, que

mudanças principais você identificaria em sua formação como professor(a) de línguas (novas

concepções de ensino, atitudes didáticas, etc.).

Gostaria que você falasse sobre o ensino do espanhol na instituição em que trabalha.

Objetivos

Metodologia (estratégias/freqüência)

Qual a carga horária de sua disciplina no curso de Letras/ UFPR?

_________ horas/aula por semana

Qual o sistema de divisão de períodos no Curso de Licenciatura?

( ) bimestral ( ) trimestral ( ) semestral

Outro: _______________________________________________________________

Número aproximado de alunos por turma: _________

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Em sua opinião, como devem ser tratadas em sala de aula as variações da língua espanhola?

Qual é, em sua opinião, a adequação de utilizar uma metodologia com base em uma teoria de

gêneros para esse ensino em particular? E que dificuldades o professor encontraria para

utilizar esse recurso?

Entre esses exemplos de gêneros e tipos textuais, quais você geralmente utiliza nas atividades

de leitura?

( ) informativos

( ) científicos

( ) diálogos

( ) poemas

( ) histórias / contos literários

( ) mensagens / cartas

( ) letras de música

( ) anúncios / propaganda

( ) culturais

Que critérios utiliza na escolha e aproveitamento de materiais para o ensino das variações

lingüístico-culturais do espanhol?

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APÊNDICE B

QUESTIONÁRIO

Data: ________ / ______/ ________

Prezado (a) formando do curso de Letras (espanhol) - (UFPR)

Respondendo este questionário você estará colaborando para o desenvolvimento da minha

pesquisa sobre o ensino de Espanhol – Língua estrangeira, na UFPR.

Instruções:

Responda com sinceridade cada questão (lembre-se que sua identidade será mantida no

anonimato)

Marque um X na(s) alternativa (s) de múltipla escolha ou numere as alternativas por ordem

de maior ou menor importância, se for o caso

Use os espaços para observações que julgar necessárias

Utilize o verso da folha se necessário.

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Nome (opcional)

______________________________________________________________________

Sexo:

( ) feminino

( ) masculino

Você estuda espanhol no Curso de Letras, UFPR, para:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Você vai se formar em

( ) licenciatura

( ) licenciatura e bacharelado

Você estuda espanhol há _____ anos. (em geral)

Especifique: _________ anos em outro estabelecimento de ensino.

_________ anos no curso de Letras, na UFPR

Você já lecionou ou leciona língua espanhola em alguma escola ou curso?

( ) não

( ) sim. Qual? Quanto tempo de atividade profissional na área de línguas estrangeiras?

Marque as afirmativas com as quais você concorda ou, em ordem de importância, numerando

de forma crescente:

Em relação ao ensino de LE, você considera mais importante

( ) o ensino comunicativo para que a habilidade oral tenha prioridade.

( ) o ensino de gêneros para que o aluno desenvolva habilidades de escrita, principalmente,

e conhecimento da estrutura dos textos.

( ) prática de tradução, visando principalmente a habilidade de escrita.

( ) leitura em voz alta, priorizando habilidade oral

( ) exercícios estruturais, que favorecem a escrita e compreensão das estruturas da língua.

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( ) exercícios a partir de textos para compreensão, sistematização gramatical ou estrutural da

língua.

( ) exercícios gramaticais de forma conjunta com outras atividades, de leitura ou tradução.

( ) desenvolvimento das habilidades comunicativas da língua a partir de diálogos que

simulam situações reais de uso da língua, porque o aluno aprende as habilidades lingüísticas

e desenvolve capacidades práticas em relação à LE.

( ) o ensino através de gêneros para que, através da diversidade e da leitura de textos

autênticos, o aluno desenvolva capacidades lingüísticas e ensejo de refletir sobre a cultura do

outro e sua própria cultura.

( ) ensino de gêneros que permite o desenvolvimento do espírito crítico e o hábito de

reflexão diante da leitura de qualquer texto pela identificação dos aspectos culturais e

ideológicos envolvidos.

Outros: (observações)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Como você aprendeu, em seu curso, as variações do espanhol?

( ) através de textos de literatura principalmente.

( ) atividades de uso da língua, conversação, diálogos.

( ) através de leitura de textos autênticos/ vários gêneros.

( ) aulas de gramática da língua, principalmente.

Observações: (especifique e comente a alternativa que você marcou).

___________________________________________________________________________

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___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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Marque as afirmativas com as quais você concorda:

As práticas de leitura através de textos nas aulas do curso de licenciatura (espanhol)

( ) são feitas com textos de literatura, principalmente

( ) não são realizadas de forma sistemática

( ) são realizadas com grande variedade de tipos e gêneros textuais.

Nas aulas de leitura em Língua Espanhola. a maioria dos textos apresentados ao

aluno para leitura permite a reflexão (comparação) entre as diferentes culturas e

diferenças da língua dos falantes de espanhol?

( ) sim ( ) não

Observações:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Como, em sua opinião, deve ser conduzido o ensino das variações lingüísticas do espanhol?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Numere de 1 (mais importante) até 5 (menos importante):

( ) considero que é importante que o professor de espanhol escolha e utilize uma variante da

língua, como modelo para os alunos.

( ) o ensino das variações deve ser conduzido através de diálogos e conversação, pelo

método comunicativo de línguas.

( ) acho importante a apresentação de textos autênticos em sala de aula, para o ensino das

variações da língua e da cultura dos falantes de espanhol.

( ) o aluno deve escolher também uma variante do espanhol para utilizar em sua vida

profissional.

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( ) o espanhol a ser ensinado deve ser o espanhol padrão e os termos diferentes serão

tratados como curiosidades (através de listas de palavras e expressões, por exemplo; ou

destacados quando aparecem nos textos).

Observações:

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___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Como você pretende lidar, na sua atividade profissional, com o ensino das variações

lingüísticas da língua estrangeira (Espanhol)?

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___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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