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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA E CIÊNCIAS DA SAÚDE ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA TESE DE DOUTORADO JULIA DE BARROS MACHADO AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE COTININA E HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS NO LÍQUIDO AMNIÓTICO E CORDÃO UMBILICAL AO NASCIMENTO PORTO ALEGRE 2014

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  • PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO S UL

    PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA E CIÊNCIAS DA SAÚDE

    ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA

    TESE DE DOUTORADO

    JULIA DE BARROS MACHADO

    AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE COTININA E HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS NO LÍQUIDO AMNIÓTICO E CORDÃO UMBILICAL AO NASCIMENTO

    PORTO ALEGRE 2014

  • PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO S UL

    FACULDADE DE MEDICINA

    PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA E CIÊNCIAS DA SAÚDE

    ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA

    NÍVEL: DOUTORADO

    JULIA DE BARR OS MACHADO

    AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE COTININA E HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS NO LÍQUIDO AMNIÓTICO E

    CORDÃO UMBILICAL AO NASCIMENTO

    PORTO ALEGRE 2014

  • PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO S UL

    FACULDADE D E MEDICINA

    PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA E CIÊNC IAS DA SAÚDE

    ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA

    NÍVEL: DOUTORADO AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE COTININA E HIDROCARBONETOS

    POLICÍCLICOS AROMÁTICOS NO LÍQUIDO AMNIÓTICO E CORDÃO UMBILICAL AO NASCIMENTO

    JULIA DE BARROS MACHADO

    Tese de doutorado apresentada como requisito para obtenção do Grau de Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Orientador: Prof. Dr. José Miguel Chatkin

    PORTO ALEGRE 2014

  • Dados Internacionais de Catalogação na Publicação ( CIP)

    M149a Machado, Julia de Barros

    Avaliação dos níveis de cotinina e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos no líquido amniótico e cordão umbilical ao nascimento / Julia de Barros Machado. – Porto Alegre, 2014.

    87 f. : il.

    Tese (Doutorado em Medicina e Ciências da Saúde, área de concentração Clínica Médica) – Faculdade de Medicina, PUCRS.

    Orientador: Prof. Dr. José Miguel Chatkin.

    1. Clínica Médica. 2. Obstetrícia. 3. Gestação. 4. Tabagismo. 5. Cotinina. 6. 1-hidroxipireno. 7. Benzopireno. I. Chatkin, José Miguel. II. Título.

    CDD 618.2 NLM WQ 200 NLM QY 335

    Ficha Catalográfica elaborada por

    Vanessa Pinent CRB 10/1297

  • Dedico a meu marido Lucas por todo apoio, am or e compreensão e a minha filha Laura que iniciou o Doutorado “dentro da minha barriga”, tendo que entender, desde bebê, que nada vem sem esforço e dedicação, e que sempre devemos transformar a adversidade em aprendizado.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeço inicialmente aos meus pais, Paulo e Flávia, por todo amor,

    dedicação e ensinamentos. Pela confiança e estímulo em alcançar todos os meus objetivos.

    Às minhas irmãs Paula, Bruna e Amanda, pelo apoio e ajuda com a minha

    filha. Só entendi o quanto o amor de um irmão é grande, no momento em que deixava a minha filha com uma delas e parecia que ela estava comigo.

    Ao meu Orientador Dr. José Miguel Chatkin, pela dedicação,

    disponibilidade, auxílio, confiança e acompanhamento exercido ao longo destes anos.

    Às Dras. Flávia Valladão Thiesen e Aline Rigon Zimmer, pela realização de

    todas as análises laboratoriais, verdadeiras coorientadoras deste trabalho, que, infelizmente, por questões burocráticas não puderam ser assim denominadas.

    À Ana Paula Goulart, pela ajuda nas coletas dos materiais, tentei motivar

    várias pessoas, mas a Ana foi a única que assumiu a reponsabilidade e ajudou-me muito neste processo trabalhoso.

    Às Dras. Letícia Paula, Bartira da Costa e Daniela Blanco, por terem

    participado do processo de qualificação e terem feito sugestões importantes para o crescimento da minha tese.

    À Comissão Científica do XXXVII Congresso Brasileiro de Pneumologia e

    Tisiologia, pelo prêmio de melhor trabalho na área temática do tabagismo e por terem me possibilitado apresentá-lo no Congresso.

    Às pacientes que concordaram em participar do trabalho, pois sem elas ele

    não seria possível. Enfim, a todas as pessoas que estiveram ao meu lado e souberam

    entender a minha ausência em alguns momentos, pois... “Todas as vitórias ocultam uma abdicação”. (Simone de Beauvoir)

  • RESUMO O tabagismo na gestação tem sido associado a inúmeras alterações, impactando em várias fases do desenvolvimento fetal, incluindo efeito teratogênico. O objetivo deste estudo foi avaliar se a exposição materna a algumas substâncias tóxicas existentes na fumaça do cigarro (cotinina, 1-hidroxipireno e benzopireno) são transmitidas ao feto. Através de delineamento transversal controlado, foram selecionadas 125 gestantes internadas no Centro Obstétrico do Hospital São Lucas da PUCRS, em Porto Alegre. As voluntárias foram classificadas conforme seu status tabágico: 37 tabagistas ativas, 25 tabagistas passivas e 63 não fumantes (controles). Foram realizadas as dosagens de cotinina e 1-hidroxipireno na urina materna e líquido amniótico; cotinina e benzopireno no sangue do cordão umbilical através de cromatografia líquida de alta eficiência. Para estimar a diferença proporcional das variáveis assimétricas entre os grupos utilizou-se a razão das médias (RM) e intervalo de confiança de 95%. Para o cálculo das diferenças entre os grupos foi utilizado o teste post-hoc de Tukey. Todas as variáveis estudadas apresentaram diferença estatisticamente significativa entre os grupos controle e tabagista. Não foi observada diferença significativa entre os grupos controle e tabagista passivo. A concentração de cotinina foi cerca de 6 vezes maior na urina das gestantes tabagistas, RM: 5,92 [2,59 - 13,55], p

  • ABSTRACT

    Cigarette smoking during pregnancy has several impacts on fetal

    development, including teratogenic effects. The objective of this study was to assess whether the toxic substances

    (cotinine and polycyclic aromatic hydrocarbons) found in pregnant smokers are transmitted to their fetuses. The outcomes were analyzed measuring cotinine and 1-hydroxypyrene in the amniotic fluid and maternal urine, benzopyrene and cotinine in the umbilical cord blood.

    Through a controlled cross-sectional design, 125 pregnant women were selected and classified according to their smoking status: 37 current smokers, 25 passive smokers and 63 non-smokers (controls). We performed high-performance liquid chromatography to measure substances’ concentrations. A post-hoc Tukey’s test was used to analyze the differences between the groups.

    All variables were significantly different between controls and smokers. The mean ratios between the concentration of cotinine in smokers compared to controls were as follows: 5.9 [2.5 - 13.5], p < 0.001 in the urine; 25 [11.9 - 52.9], p < 0.001 in the amniotic fluid; and 2.6 [1.0- 6.8], p = 0.044 in the umbilical cord blood.

    The mean ratios of 1-hydroxypyrene concentration between smokers and controls were 7.3 [1.6 - 29.6], p = 0.003 in the urine and 1.3 [1.0 - 1.7], p = 0.012 in the amniotic fluid, and of benzopyrene in umbilical cord blood was 2.9 [1.7 - 4.7], p < 0.001.

    There were no significant differences between controls and passive smokers. When comparing the three groups together, there were statistical differences between all variables.

    Thus, the fetuses of pregnant smokers are exposed to toxic and carcinogens substances. To our knowledge, this is the first study to measure 1-hydroxypyrene in the amniotic fluid and benzopyrene in umbilical cord blood by high-performance liquid chromatography when considering pregnant women in relation to smoking exposure only.

    Keywords: Pregnacy, tobacco, cotinine, polycyclic aromatic hydrocarbons

  • LISTA DE FIGURAS Figura 1: Principais causas de morte no mundo ................................................12 Figura 2: Detecção de cotinina em gestantes e fetos.........................................25 Figura 3: Mecanismos de mutagênese dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos............................................................................................................27. Figura 4: Recrutamento das gestantes ..............................................................36

  • LISTA DE TABELAS Tabela 1: Características da população em estudo ...........................................42 Tabela 2: Comparação de variáveis selecionadas entre os grupos segundo hábito tabágico ....................................................................................................43 Tabela 3: Médias geométricas e desvios padrões geométricos dos grupos ......44

  • LISTA DE ABREVIATURAS OMS: Organização Mundial da Saúde VIGITEL: Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico CO: Monóxido de carbono OR: Odds Ratio IC: Intervalo de confiança COex: Monóxido de carbono exalado DPP: Descolamento prematuro de placenta HPLC: High Performance Liquid Cromatography HPAs: Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos CIUR: Crescimento intrauterino restrito CLAE: Cromatografia líquida de alta eficiência RM: Razão das médias 1-OHP:1- hidroxipireno PUCRS: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

  • SUMÁRIO

    1. REFERENCIAL TEÓRICO ............................ .......................................... .......................11

    1.1. Tabagismo ............................... ............................................................................. 11

    1.1.1. Tabagismo no Mundo .............. ................................................................... 11

    1.1.2. Tabagismo no Brasil ............. ...................................................................... 13

    1.1.3. Epidemiologia do Tabagismo na Ges tação.............................................. ...15

    1.1.4. Efeitos do Tabagismo na Gestação ........................................................... 17

    1.2. Cotinina ................................ ................................................................................ 22

    1.3. Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos ........................................................ 26

    2. JUSTIFICATIVA E HIPÓTESE........................ .................................................................31

    2.1. Justificativa............................ ..................................................................................31

    2.2. Hipótese ................................ ............................................................................. ..32

    2.2.1.Hipótese Nula....................... .........................................................................32

    3. OBJETIVOS ...................................... ............................................................................ 32

    3.1. Objetivo Geral .......................... ............................................................................ 32

    3.2. Objetivos Específicos ................... ....................................................................... 32

    4. METODOLOGIA..................................... ....................................................................... 33

    4.1. Delineamento ............................ ........................................................................... 33

    4.2. População................................ ............................................................................. 33

    4.2.1. Critérios de Inclusão ........ ........................................................................ 33

    4.2.2. Critérios de Exclusão......... ...................................................................... 33

    4.3. Métodos ................................. ............................................................................... 34

    4.3.1. Recrutamento das Gestantes ... ............................................................... 34

    4.3.2. Procedimentos Laboratoriais .. ................................................................ 37

    4.3.2.1. Extração de cotinina na urina ............................................. .............. 37

    4.3.2.2. Extração de cotinina no líquido amniótico ................................. ..... 37

    4.3.2.3. Extração de cotinina no sangue do cordão umbilical .................... 38

    4.3.2.4. Análise de cotinina .... ........................................................................ 38

    4.3.2.5. Extração de 1-hidroxipir eno na urina ...................................... ........ 39

    4.3.2.6. Extração de 1-hidroxipir eno no líquido amniótico ......................... 39

    4.3.2.7. Análise do 1- hidroxipir eno ............................................... ............... 40

    4.3.2.8. Extração de benzopireno no cordão umbilical .............................. . 40

    4.3.2.9. Análise do Benzopireno................. ......................................................40

    4.4. Análise Estatística................... .............................................................................41

    4.5. Aspectos Éticos....................... .............................................................................41

  • 5.RESULTADOS....................................... ............................................................................42

    6. DISCUSSÃO.......................................................................................................................45

    7. CONCLUSÕES...................................................................................................................50

    8. BIBLIOGRAFIA.................................... ..............................................................................51

    9. ANEXOS ............................................................................................................................58

    Anexo 1: Aprovação do Comitê de Ética em Pesquis a...........................................59

    Anexo 2: Termo de Consentimento Livre e Esclarec ido.........................................60

    Anexo 3: Ficha de coleta de dados........ ...................................................................62

    Anexo 4: Resposta da Revista PLOS ONE.... ...........................................................63

    Anexo 5: Título de melhor trabalho por eixo temáti co de tabagismo do XXXVII

    Congresso Brasileiro de Pneumologia e Tisiologia... ................................................64

    Anexo 6: Artigo.......................... .................................................................................65

  • 11

    1. REFERENCIAL TEÓRICO 1.1. Tabagismo

    1.1.1. Tabagismo no mundo

    A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que um terço da

    população mundial adulta seja fumante; dos quais 80% vivem nos países em

    desenvolvimento e destes, 27% são mulheres. Cerca de metade dos fumantes

    morrem precocemente devido a condições associadas ao tabagismo 1.

    O tabagismo é a principal causa evitável de morte no mundo 2-4, mata

    cerca de 6 milhões de pessoas por ano, 200 mil no Brasil 1,5. O número

    representa uma morte a cada seis segundos 1.

    Até 2030, a estimativa da OMS é que 8 milhões de pessoas possam

    morrer em consequência do fumo. O tabaco foi classificado como um dos fatores

    que mais contribuem para a epidemia de doenças não contagiosas como

    cardiopatias, doenças vasculares, câncer e enfisema. O grupo é responsável por

    63% de todas as mortes no mundo 1.

    A prevalência é maior entre os homens, no entanto, a taxa está

    aumentando entre as mulheres, especialmente às jovens, em muitos países.

    Esse grupo frequentemente é vítima de exposição passiva, doença e morte 1. A

    exposição ao fumo passivo ocorre mais comumente em casa, local de trabalho e

    áreas públicas, sendo especialmente perigoso para bebês, crianças, gestantes e

    fetos, e é responsável por 600 mil mortes por ano 6.

    O tabaco causou 100 milhões de mortes durante o século XX e se a

    tendência atual continuar, cerca de um bilhão de pessoas vão morrer durante o

    século XXI devido ao uso do tabaco. É o produto tóxico com o maior efeito

  • 12

    teratogênico no desenvolvimento humano, além de apresentar impacto negativo

    na saúde pública e economia das nações 6.

    Exposição à fumaça do cigarro, voluntária ou involuntária, ocorre em

    todas as idades e vem de várias fontes, resultando na inalação de produtos

    químicos, causando efeitos negativos em praticamente todas as fases da vida,

    inclusive no desenvolvimento e sobrevivência do recém-nascido 7. As principais

    causas de morte no mundo tem o tabagismo como um dos fatores de risco

    (Figura1).

    Figura 1: Principais causas de morte no mundo

    O consumo de tabaco é responsável pela morte de cerca de 1 em cada

    10 adultos no mundo inteiro. Nos países de alta renda, sete em cada 10 mortes

    são de pessoas com 70 anos ou mais. Predominam mortes por doenças

    cardiovasculares, câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica ou diabete.

  • 13

    Infecções respiratórias inferiores permanecem a única causa infecciosa líder de

    morte. Apenas 1 em cada 100 mortes é de criança com menos de 15 anos 8. Em

    países de baixa renda, quase 4 em cada 10 mortes são de crianças menores de

    15 anos e apenas 2 em cada 10 mortes são de pessoas com 70 anos ou mais.

    Predominam as mortes por doenças infecciosas: infecções respiratórias

    inferiores, síndrome da imunodeficiência adquirida, doenças diarreicas, malária e

    tuberculose; sendo coletivamente responsáveis por quase um terço de todas as

    mortes nesses países. Complicações no parto, prematuridade, asfixia e trauma

    estão entre as principais causas de morte 8.

    Enfim, 8 das 10 principais causas de morte no mundo tem o tabagismo

    como um dos fatores de risco para o desenvolvimento da doença 8.

    1.1.2. Tabagismo no Brasil

    De acordo com o levantamento anual da vigilância de fatores de risco e

    proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico (VIGITEL- 2012), que

    traça perfil de hábitos que influenciam a saúde do brasileiro, a parcela da

    população acima de 18 anos que fuma caiu 20% nos últimos seis anos. A

    pesquisa aponta que 12% da população brasileira fuma, enquanto que em 2006

    o índice era de 15%. Apesar da queda, a frequência maior permanece entre os

    homens: o número passou de 19% (2006) para 15% (2012). Entre as mulheres

    caiu de 12% (2006) para 9% (2012) 9.

    Além disso, ocorreu redução na frequência de fumantes passivos, no

    domicílio e local de trabalho, de 12% para 10%. Continua em queda a frequência

    de homens que fumam 20 ou mais cigarros por dia, 6% para 5%. Em relação ao

    número de adultos fumantes por cidade, o levantamento mostra que a capital

  • 14

    com a maior concentração é Porto Alegre (RS) com 18%, que também detém a

    maior proporção de pessoas que fumam 20 cigarros ou mais por dia (7%). Já a

    capital com o menor índice é Salvador (BA), onde 6% da população adulta diz

    ser fumante 9. A pesquisa mostrou também que o hábito de fumar é maior entre

    pessoas com até oito anos de escolaridade (16%), quase o dobro da frequência

    observada entre as pessoas mais escolarizadas (12 anos ou mais), que atinge

    9% 9.

    No Brasil, as doenças crônicas não transmissíveis foram responsáveis por

    72,4% do total de mortes em 2012, com destaque para doenças do aparelho

    circulatório, neoplasias e diabete 9. De acordo com a OMS, um pequeno

    conjunto de fatores de risco responde pela grande maioria das mortes por

    câncer, doenças pulmonares e doenças cardiovasculares. Ainda hoje, o uso do

    tabaco continua sendo líder global entre as causas de mortes evitáveis 10.

    Apesar de estar ocorrendo um decréscimo no tabagismo, existe uma

    tendência proporcional de crescimento do tabagismo feminino em relação ao

    masculino ao longo das últimas décadas. Isso aponta para um quadro

    extremamente complexo, em que problemas emergentes se articulam aos

    anteriores e em que questões de saúde reprodutiva se associam às não

    reprodutivas. O uso do tabaco potencializa os riscos, por exemplo, das

    associações entre doenças cardiocerebrovasculares e a contracepção hormonal

    e em várias doenças relacionadas à gravidez e ao parto. As tendências

    epidemiológicas do tabagismo apontam para um problema que, dentro de

    poucos anos, será majoritariamente feminino 10.

  • 15

    1.1.3. Epidemiologia do tabagismo na Gestação

    O tabagismo antes e durante a gestação é a principal causa evitável de

    doença e morte entre gestantes e crianças. As mulheres que param de fumar

    antes de engravidar ou logo que sabem estar grávidas diminuem

    significativamente os riscos dos efeitos danosos do fumo 11.

    Estima-se que se todas as mulheres nos Estados Unidos parassem de

    fumar haveria redução de 11% nos natimortos e 5% nas mortes neonatais.

    Fumar ainda é frequente durante a gravidez, particularmente impactando

    gestações em mulheres mais jovens e menos instruídas 11. É maior a

    prevalência de tabagismo entre as mulheres que vivem abaixo da linha da

    pobreza 12.

    A literatura mundial mostra que a prevalência do tabagismo na gestação,

    embora venha diminuindo nas últimas décadas, ainda é alta, variando entre 12%

    e quase 40%. Em uma coorte realizada na cidade de Pelotas, RS, foi detectada

    prevalência de 35,6% de fumo na gestação em 1982 e posterior redução para

    25,1% em 2004 13. Outros estudos 14-16 mostram prevalência em torno de 23 a

    25%. Estudo realizado em Porto Alegre, incluindo 718 puérperas, encontrou um

    percentual de 23% de fumantes ativas 17.

    Estudo realizado em 2002, na Cantabria (Espanha), revelou um

    decréscimo importante dessas cifras em apenas 4 anos, em que as taxas caíram

    de 53.6% (em 1998) para 39.4% (em 2002), permanecendo, entretanto, como

    uma das mais altas da União Européia 18. Nos Estados Unidos também houve

    uma queda na prevalência do tabagismo na gestação, caindo de 20%, em 1989

    para 12% em 2000 19.

  • 16

    Na Inglaterra 38% das gestantes, convivem em casa, com no mínimo um

    fumante, sofrendo ela e o feto, os efeitos do tabagismo passivo 20. Somente um

    pequeno número das gestantes recebe ajuda para parar de fumar durante a

    gestação, pois os profissionais tem medo de que a abordagem desse tema

    interfira na relação médico-paciente 20. As gestantes que foram orientadas a

    parar de fumar obtiveram taxas de cessação efetivamente maiores (38%) do que

    aquelas que foram orientadas apenas a diminuir o número de cigarros (8%). A

    recomendação, portanto, é que sempre se oriente as gestantes a parar com o

    tabagismo e não apenas a reduzir o número de cigarros 20.

    Estudo recente avaliou a prevalência do uso de tabaco na gestação em

    países de média e baixa renda. A prevalência global do uso foi de 2,6% (IC 95%;

    1,8 - 3,6); a menor prevalência foi na região Africana (2,0%; 1,2 - 2,9) e a maior

    foi na região do Sudeste Asiático (5,1%; 1,3 - 10,9) 21.

    São fatores de risco para o uso de tabaco na gravidez: pessoas de pele

    branca, baixo nível socioeconômico, baixa escolaridade e não ser casada.

    Gestantes que fumam após a 20ª semana de gravidez costumam apresentar

    maior consumo de álcool do que as que pararam de fumar. Ainda, a condição de

    sobrepeso pré-gravídico também foi relacionada com a continuidade do

    tabagismo 16.

    Aproximadamente 10,7% das mulheres relatam fumar durante os últimos

    três meses de gravidez. Das mulheres que fumavam três meses antes da

    gravidez, 54% pararam durante a gestação. Entre as mulheres que param de

    fumar, 44% tem recaída dentro de 6 meses após o parto 22.

    Um dos grandes problemas enfrentados ao estudar a prevalência do

    tabagismo na gestação, refere-se ao fato da informação obtida pelos

  • 17

    pesquisadores ser fornecida pela própria gestante. Sabe-se que muitas se

    sentem constrangidas diante da forte pressão social e omitem dados a respeito

    do tabagismo. Assim, algumas vezes é necessário validar as informações

    recebidas para assegurar a qualidade científica dos estudos 23.

    1.1.4. Efeitos do Tabagismo na gestação

    Os efeitos mais estudados do tabagismo na gestação estão relacionados

    à nicotina e ao monóxido de carbono. Ambos atravessam rapidamente a

    placenta, e com a exposição crônica, os níveis dessas substâncias no

    compartimento fetal, podem exceder os do compartimento materno 7.

    A nicotina é claramente neuroteratogênica, impactando o cérebro em

    estágios críticos do desenvolvimento 24. Desse modo, é a mais provável causa

    de problemas cognitivos, emocionais e comportamentais observados em filhos

    de fumantes. Além disso, a exposição à fumaça do cigarro ao longo do

    desenvolvimento pré-natal e ou pós-natal aumenta a probabilidade de

    comportamento de dependência a drogas lícitas e ilícitas na adolescência ou

    idade adulta 25.

    O desenvolvimento de outros órgãos, incluindo o pulmão 26,27, também é

    prejudicado pela nicotina nessa fase da vida. O uso de tabaco, durante a

    gestação, confere aos descendentes, não apenas desta gravidez e sim por

    várias gerações, frequências aumentadas de inúmeras doenças, em

    demonstração clara dos fenômenos epigenéticos. Grávidas fumantes tem maior

    possibilidade de terem filhos e netos com asma, mesmo que não sejam

    asmáticas e que as mães de gestações posteriores não permaneçam fumando

    28-30.

  • 18

    O monóxido de carbono (CO), presente na fumaça do cigarro, é

    rapidamente absorvido e liga-se à hemoglobina, formando carboxihemoglobina

    no sangue materno e fetal. Relatos de casos de intoxicação aguda grave por

    monóxido de carbono em gestantes incluem morte fetal e malformações. A

    formação de carboxihemoglobina resulta em hipóxia fetal, que se for

    suficientemente grave, é teratogênica ao feto 31. A exposição ao CO tem sido

    consistentemente associada à diminuição do peso ao nascer e ao parto

    prematuro em estudos de exposição à poluição do ar ambiente durante a

    gravidez 32-38.

    O tabagismo tem sido associado também ao aumento de risco de aborto

    espontâneo. Em um estudo caso-controle de base populacional na Suécia,

    mulheres foram classificadas pela concentração de cotinina no plasma quanto à

    exposição tabágica. O risco de aborto espontâneo foi maior nos grupos de

    exposição passiva (OR 1,67 [IC 95% 1,17-2,38]) e fumantes (OR 2,11 [IC 95%

    1,36-3,27]) 39.

    O tabagismo materno também altera o fluxo de sangue na placenta e

    provoca alterações do equilíbrio entre proliferação e diferenciação do

    citotrofoblasto. Em relação ao fluxo, estudo encontrou um padrão de perfusão

    materno-fetal com características de hipóxia crônica nas fumantes. Foi realizada

    a quantificação objetiva do tabagismo em gestantes através das dosagens de

    cotinina urinária e monóxido de carbono exalado (COex) e avaliada a relação

    com os índices de resistência das artérias uterinas, umbilical e cerebral média

    fetal pelo estudo ecográfico dopplervelocimétrico. Ao estratificar as pacientes

    conforme a carga tabágica, dosada através do COex, observou-se aumento da

    resistência associado à elevação dos níveis de COex nas medidas das artérias

  • 19

    uterinas e umbilical e diminuição na resistência da artéria cerebral média, todos

    estatisticamente significativos. Quando foi avaliado em relação aos níveis de

    cotinina urinária, também detectou aumento dos índices de resistência vascular

    da artéria uterina esquerda e umbilical associado com os valores da cotinina,

    estatisticamente significativo. A artéria uterina direita mostrou tendência ao

    aumento da resistividade, porém não significativo. A artéria cerebral média

    evidenciou tendência de diminuição da resistência com o aumento da carga

    tabágica, não significativo 40.

    Em relação ao citotrofoblasto, alterações no gene e na expressão das

    suas proteínas, incluindo aqueles que orientam respostas celulares e a tensão

    de oxigênio, já foram relacionadas ao tabagismo. Observa-se também o

    espessamento da membrana basal trofoblástica, aumento de colágeno nas

    vilosidades e diminuição da vascularização da placenta 41.

    Outra complicação relacionada ao tabagismo na gestação é o

    descolamento prematuro da placenta (DPP) que ocorre em cerca de 1% das

    gestações e a recorrência é de 20 a 30 vezes maior em fumantes. Uma revisão

    sistemática e meta-análise sobre descolamento prematuro da placenta em

    relação ao tabagismo materno incluiu 13 estudos com um total de 1.358.083

    gestações 42. A incidência global de DPP foi de 0,64% e o tabagismo materno foi

    associado com um aumento no risco de 90% (OR 1,9 [IC 95% 1,8-2,0]).

    Tabagismo materno tem sido associado também com placenta prévia 43.

    Um estudo populacional em Taiwan também encontrou associação de placenta

    prévia (OR de 3,3 [IC 95% 1,2-9,1]) com o fumo 44. Maior incidência de parto

    pré-termo em tabagistas também tem sido observada 45-47, particularmente em

    multíparas 48.

  • 20

    Em 1957, Simpson reconheceu que o tabagismo materno provoca menor

    peso ao nascer 49. Estes resultados têm sido amplamente replicados e hoje se

    sabe que o tabagismo ativo 50,51 ou passivo 52,53 causa diminuição do peso ao

    nascer. Kramer 54 estimou redução do peso ao nascer de 5% para cada maço

    de cigarros fumados por dia, durante a gravidez. Meyer e Comstock 55

    estimaram decréscimo de peso de 150 - 300 g em prole de mães fumantes.

    Estudos que avaliaram somente a exposição à fumaça do tabaco durante a

    gravidez estimaram diminuição de 35-90 g de peso ao nascer nos filhos de mães

    expostas 53,56-58.

    Os efeitos da fumaça do tabaco sobre o peso ao nascer 7 são

    principalmente devido à restrição do crescimento fetal 54 e apresentam uma

    relação dose-resposta clara 50. Os mecanismos subjacentes aos efeitos do

    tabaco sobre o crescimento fetal não são totalmente compreendidos e

    provavelmente devem ser multifatoriais. Fetos de fumantes tendem a ter

    hemoglobina e hematócrito elevados 59 e respostas nitidamente relacionadas à

    hipóxia. Outro aspecto importante é o aumento da mortalidade intraútero e

    neonatal relacionada ao tabagismo materno 60.

    O tabagismo materno também pode ser teratogênico, afetando as

    estruturas em desenvolvimento. No entanto, a suscetibilidade exibida pode estar

    ligada à genótipos específicos do sistema de metabolização e à genes

    específicos do desenvolvimento 61.

    Para analisar o potencial efeito genotóxico do tabagismo materno durante

    a gravidez, de la Chica et al. 62 analisaram a instabilidade cromossômica em

    células de líquido amniótico coletadas de fumantes e não-fumantes durante

    amniocentese. Tabagismo materno de 10 ou mais cigarros por dia, durante pelo

  • 21

    menos 10 anos e durante a gravidez, foi associado com aumento da

    instabilidade cromossômica. A banda 11q23, implicada em doenças malignas

    hematopoiéticas, pareceu ser particularmente sensível. Zalacain et al. 63

    relataram significativa elevação no número de micronúcleos (marcador de dano

    cromossômico) no sangue do cordão umbilical de recém-nascidos de mães

    fumantes em comparação com não fumantes.

    O cigarro contém numerosos agentes cancerígenos que podem

    atravessar a placenta. Sasco e Vainio 64 revisaram a literatura sobre a

    associação entre a exposição pré-natal à fumaça do tabaco e aumento do risco

    de câncer infantil. Foram incluídos 50 estudos de base populacional de vários

    países, bem como 50 estudos adicionais sobre os mecanismos e metabolismos,

    sem encontrar nenhuma associação forte e consistente entre fumar durante a

    gravidez ou exposição ao fumo passivo e câncer na infância. No entanto, estudo

    de revisão encontrou aumento do risco relativo de alguns tipos de câncer na

    infância, incluindo tumores cerebrais, leucemia e linfoma 7. Em um estudo

    prospectivo de 1,4 milhões de nascimentos na Suécia, Brooks et al. 65

    encontraram risco aumentado de tumores cerebrais benignos e malignos.

    Relação entre tabagismo materno, sobrepeso e obesidade infantil tem

    sido também consistentemente relatada na literatura, incluindo aumento do

    índice de massa corporal 7. Mulheres que fumam no início da gestação

    apresentam maior frequência de diabete gestacional e obesidade nas suas filhas

    66. Morley et al. 67 acharam associação entre tabagismo materno e o aumento da

    pressão arterial nos filhos.

    O tabagismo passivo durante a gravidez também está relacionado com

    restrição de crescimento intrauterino 68, aborto 69, ruptura prematura de

  • 22

    membranas, descolamento prematuro da placenta e baixo peso ao nascer 70,71.

    As pessoas podem estar expostas à fumaça do cigarro em vários lugares tais

    como casa, trabalho ou áreas públicas 72. Mais de 95% das esposas dos

    fumantes são expostas à fumaça do cigarro durante a gestação 73.

    Enfim, o tabagismo tem sido associado a inúmeras alterações, impactando

    em várias fases do desenvolvimento, e esses efeitos não se restringem ao

    período gestacional e neonatal, seguem ao longo da vida e podem ser

    transmitidos às gerações seguintes por efeitos epigenéticos 24,25,28-30,66,67.

    1.2. Cotinina

    A cotinina é o principal metabólito da nicotina 74-76. Apresenta meia-vida

    mais longa do que a mesma 74,77; uma característica que a faz ser amplamente

    utilizada como marcador biológico para medir a exposição ao tabaco 78-80.

    A dosagem de cotinina é considerada o padrão-ouro para avaliar status

    tabágico, devido à capacidade de detectar baixo consumo ou mesmo uso

    esporádico de tabaco 81, mas tem como desvantagem: alto custo, necessidade

    de equipamento e equipe treinada. Sua meia-vida prolonga-se por 36 a 40

    horas, em média e, mesmo sendo coletada até dois dias após o último cigarro

    fumado, pode-se recuperar até 90% 82. Tanto em fumantes passivos quanto em

    ativos, seus níveis de concentração são lineares com a quantidade de tabaco

    inalada direta ou indiretamente 81.

    Esse método é útil para validação das informações prestadas pelo

    fumante. Porém, é preciso atentar para as variações individuais em relação à

    nicotina consumida, pois existem diferentes taxas de metabolização de nicotina

  • 23

    e de conversão em cotinina, podendo variar de 55% a 92%. Mesmo assim, a

    aferição da cotinina reflete com acurácia o grau de exposição tabágica 82.

    Uma vez absorvida a nicotina pelo trato respiratório, mucosa oral, trato

    gastrointestinal e até pela derme, a distribuição ocorre de forma livre para todo o

    organismo 83. Assim, a cotinina aparece em todos os fluidos biológicos de

    indivíduos expostos em poucos minutos por biotransformação da nicotina no

    fígado. Por sua vez, a cotinina é oxidada e o produto final é eliminado na urina

    durante cerca de 2 a 3 dias 83. A quantificação materna pode ser realizada na

    urina 84, plasma 85, cabelo 86 e saliva 87. Como a informação da gestante pode

    não ser verdadeira, a sua mensuração ajuda a avaliar a exposição, e até

    mesmo, confirmar o status tabágico 88.

    Os valores de referência para cotinina encontrados na literatura são muito

    variáveis. Os níveis usados como ponto de corte para a cotinina salivar são de

    15 µg/L, enquanto que para a urinária são de 50 µg/L 89. A Society of Research

    in Nicotine and Tobacco 90, em 2001, definiu os melhores pontos de corte da

    cotinina plasmática, concluindo que valores acima de 14 µg/L indicam tabagismo

    ativo, porém tais níveis tendem a subestimar o número de fumantes reais em

    inquéritos populacionais. Diante disso, sugerem baixar o ponto de corte para até

    3,0 µg/L, sendo que a sensibilidade e a especificidade passam a ser de 96% e

    97%, respectivamente.

    Assim como os outros marcadores, a dosagem da cotinina também possui

    limitações. O uso concomitante de certas medicações pode elevar seus valores,

    como as várias formas de reposição nicotínica e isoniazida 90. Além disso,

    existem alimentos que possuem nicotina como o tomate, batata, couve-flor e chá

    preto, que mesmo apresentando pequenas quantidades da substância, podem

  • 24

    interferir na análise do biomarcador. Entretanto, a quantidade consumida em

    uma dieta normal não ultrapassa 10% da nicotina consumida por fumantes,

    resultando em um adicional de 0,7 µg/L de cotinina na urina, não causando

    impacto que comprometa a interpretação do resultado 82.

    Os métodos de detecção nos fluídos biológicos são colorimétricos,

    imunológicos ou cromatográficos. O mais utilizado é o HPLC (high performance

    liquid cromatography) ou cromatografia líquida de alta eficiência. Essa é a

    técnica de eleição por apresentar alta sensibilidade e especificidade para a

    análise da cotinina 91.

    A dosagem da cotinina é também considerada o melhor preditor para

    analisar o status tabágico, mesmo durante a gestação 92. Gestantes

    metabolizam a cotinina mais rapidamente que as não gestantes, devendo então

    ser considerado que sua meia-vida fica reduzida 90. Há diferenças no seu

    metabolismo também entre diferentes etnias, sendo que em afro-americanos e

    chineses a metabolização se dá de forma mais lenta 93.

    A presença de nicotina e seus metabólitos já foram avaliadas também no

    líquido amniótico. Teoricamente, altas concentrações dessas substâncias

    poderiam se acumular no líquido amniótico, devido a capacidade de difusão

    através das membranas amniocoriônicas, adicionalmente à quantidade de

    nicotina que entra através da placenta. Após a passagem para o líquido

    amniótico, essas substâncias seguem circulando pelo processo de deglutição do

    feto e eliminação na urina fetal. O baixo pH, também propicia o acúmulo de

    substâncias como as estudadas 94.

    Em comprovação a este raciocínio, Jordanov et al. 86 observaram que a

    concentração de cotinina no líquido amniótico ao nascimento pode ser 2 vezes

  • 25

    maior que na urina materna. Köhler et al. 94 detectaram nicotina no líquido

    amniótico de todas fumantes, porém não nas tabagistas passivas.

    Também já foi quantificada cotinina no sangue do cordão umbilical, sendo

    que os níveis encontrados foram relacionados com tabagismo ativo, tabagismo

    passivo e com os efeitos do tabagismo no peso ao nascer, parecendo ser um

    bom marcador 76.

    Enfim, sabe-se que a cotinina pode ser utilizada como marcador de

    exposição ao tabaco em gestantes, na urina e sangue materno, mecônio do

    recém-nascido, líquido amniótico, urina fetal ou sangue do cordão umbilical 95.

    Figura 2: Detecção de cotinina em gestantes e fetos.

    NICOTINA

    COTININA

    Meia vida 36-40 horas

    Detectada na urina, cabelo, saliva, sangue, líquido

    amniótico, mecônio e sangue do cordão umbilical

  • 26

    1.3. Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos

    Os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) são uma classe de

    compostos orgânicos que contém dois ou mais anéis aromáticos condensados,

    constituídos de átomos de carbono e hidrogênio. À temperatura ambiente, os

    HPAs são sólidos e as características gerais comuns a essa classe de

    compostos são o alto ponto de fusão e de ebulição, a baixa pressão de vapor e a

    pouca solubilidade em água, a qual tende a diminuir com o aumento da massa

    molecular. Os HPAs são solúveis em muitos solventes orgânicos, altamente

    lipofílicos 96. São poluentes do ar gerados pela combustão de motor dos veículos

    e de fábricas, também são encontrados em algumas comidas, principalmente as

    defumadas, e pela combustão de folhas de tabaco, através do tabagismo 97.

    A maioria dos compostos HPA são metabolizados e excretados na urina,

    com meia vida de 18 horas 98,99, podendo ser todos utilizados como

    biomarcadores de exposição recente aos HPAs 100. Desde 1985, o 1-

    hidroxipireno, metabólito principal dos pirenos, tem sido usado como

    biomarcador dos HPAs 101. Llop et al. 102 mostraram que o 1-hidroxipireno é um

    bom marcador para avaliar a exposição ao cigarro, além da exposição recente a

    poluição aérea.

    Quando a dosagem é realizada no sangue, o biomarcador utilizado

    geralmente é o benzopireno. Está bem estabelecido que a exposição ambiental

    ao benzopireno causa múltiplos efeitos deletérios, dependendo da dose e do

    tempo de exposição 103. O benzopireno é rapidamente metabolizado pela

    placenta e acumulado no tecido fetal durante a gestação em ratos 104. Perturba

    os padrões de metilação do DNA em sistemas experimentais 105,106, o que está

    associado à instabilidade do genoma e ao risco de câncer subsequente 107,108.

  • 27

    Após a exposição, HPAs são metabolizados para formar produtos

    fenólicos e epóxidos reativos, que tem a capacidade de se ligar ao DNA,

    formando o complexo HPA-DNA adducts 109. O HPA-DNA adducts aumenta a

    probabilidade de mutações genéticas e por isso é associado com várias formas

    de câncer 110. Como hipótese, a via cancerígena para os HPAs, ou seus

    metabólitos, envolve a produção de espécies reativas de oxigênio, que gera

    stress oxidativo e pode levar à peroxidação de lípidios, modificação de proteínas

    e dano ao DNA 111.

    Figura 3: Mecanismos de mutagênese dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos

    Nos seres humanos, a exposição materna a determinados HPAs

    cancerígenos durante a gravidez pode provocar danos ao DNA, modificação de

    histona e anomalias cromossômicas fetais 112 em uma faixa de exposição

    ambiental relevante. DNA-adducts foram detectados no DNA do sangue do

  • 28

    cordão umbilical fetal humano, bem como no sangue materno, após a exposição

    aos HPAs em ar ambiente 113. A quantificação da exposição pré-natal aos HPAs,

    realizada por monitoramento de ar, prediz significativo aumento de aberrações

    cromossômicas em sangue do cordão umbilical, guardando relação dose-

    resposta 114. Assim, exposição pré-natal a HPAs pode aumentar o risco de

    câncer também em seres humanos 114.

    Os HPAs atravessam a placenta, e o feto por estar em desenvolvimento é

    até 10 vezes mais sensível do que a mãe para sofrer danos no DNA 113. O

    desenvolvimento embrionário precoce é um período particularmente sensível

    para a desregulação epigenética como consequência de exposições ambientais,

    porque as taxas de síntese de DNA são altas e os padrões de metilação do DNA

    estão sendo estabelecidos 115.

    Perera et al. 113 propuseram que a transferência transplacentária de HPA

    para o feto poderia ter impacto significativo sobre o desenvolvimento fetal. Essa

    afirmação foi feita com base em uma série de estudos que encontraram redução

    na circunferência craniana no nascimento correlacionada com um quociente de

    inteligência menor, além de pobre funcionamento cognitivo e desempenho

    escolar na infância 116,117. Além disso, encontrou-se associação com restrição do

    crescimento intra-uterino 118, pequeno para a idade gestacional 119, e parto

    prematuro119. Quando o grupo de recém-nascidos monitorados no pré-natal foi

    seguido na idade escolar, observou-se prejuízo no desenvolvimento neurológico

    112 e aumento na probabilidade de sintomas relacionados à asma 120.

    Jules et al. 103 sugerem que a exposição intraútero ao benzopireno

    predispõe os recém-nascidos a déficits funcionais no desenvolvimento

    cardiovascular , o que pode contribuir para disfunção cardíaca ao longo da vida.

  • 29

    Rundle et al. 121 sugerem que exposição pré-natal a HPAs causa aumento

    de ganho de massa gorda durante a infância e aumenta risco de obesidade.

    Langlois et al. 122 mostraram associação entre a exposição materna ocupacional

    a HPAs e aumento de risco de lábio leporino com ou sem fenda palatina.

    Estudo recente apoia as outras descobertas de que a exposição

    transplacentária ao benzopireno através da inalação materna produz danos ao

    DNA no feto em desenvolvimento. Ele também confirma que aumentou a

    suscetibilidade fetal à exposição pré-natal HPAs, devido ao DNA adducts

    representar um pró-carcinógeno na alteração do DNA 123. Isso deveria ser visto

    como uma questão de saúde pública, pois está relacionado essecialmente à

    exposição em áreas altamente poluídas.

    Topinka et al. 124 mostraram resultados que sugerem um efeito protetor

    significativo da barreira placentária contra o efeito genotóxico de alguns

    componentes do tabaco, entre a circulação materna e fetal,

    sob exposição mais intensa, representada por tabagismo ativo ou passivo.

    Em indivíduos expostos à poluição ambiental, sem significativa

    contribuição do fumo, o efeito protetor da placenta não foi observado.

    Outros estudos confirmaram essa hipótese de que a exposição aos HPAs

    durante a gravidez pode aumentar o estresse oxidativo, o que influenciaria os

    resultados do parto e a saúde da criança posteriormente 111,112,125,126. Karttunen

    et al. 127 confirmaram que a exposição materna ao benzopireno pode conduzir a

    sua transferência para o feto, bem como a ligação de seu metabólito ao DNA da

    placenta.

    Rappolee et al. 128 mostraram que benzopireno pode perturbar a

    diferenciação em células-tronco trofoblásticas placentárias, o que é importante

  • 30

    para produzir os primeiros hormônios placentários que surgem na implantação

    do concepto. Stejskalova e Pavek 129 confirmaram que o HPA-DNA aduccts na

    placenta também levaram à complicações na gravidez, tais como parto

    prematuro, restrição do crescimento intra-uterino (CIUR), anormalidades

    estruturais, morte fetal, descolamento de placenta, risco de baixo peso ao

    nascer, baixo comprimento ao nascimento e diminuição da circunferência

    craniana.

    Devido a essas alterações decorrentes da exposição aos HPAs, a rápida

    urbanização, o aumento do número de fábricas, a extensa rede de auto-estradas

    e a disponibilidade de carros e outros meios de transporte, que ocorrem no

    mundo, ocasionando o aumento na emissão de poluentes tem preocupado os

    pesquisadores 130. Apesar desses outros fatores de exposição aos HPAs, o

    tabagismo é o fator mais importante de exposição na população em geral, e

    principalmente, na nossa população.

    Estudo achou valores com diferença estatística significativa nos níveis de

    1-hidroxipireno urinário entre tabagistas e não tabagistas 131. Numa análise

    multivariada feita por Kawamoto et al. 132, o cigarro foi a variável que mais

    influenciou os níveis de 1-hidroxipireno, seguido pela dieta rica em carne e

    peixes. Merlo et al. 133 não achou associação entre dieta e excreção de 1-

    hidroxipireno na urina. Estudo realizado na Espanha mostrou que as pacientes

    que fumam tendem a ter também uma dieta rica em HPAs 134.

    Tabagistas excretam significativamente doses maiores de 1-hidroxipireno

    na urina que não tabagistas e esses valores correlacionam-se muito bem com o

    número de cigarros fumados 135. Apenas poucos estudos investigaram HPAs em

    mulheres grávidas e sua relação com os resultados do parto 136 ou fatores de

  • 31

    estilo de vida 102,135, a maioria foca na exposição ambiental. Sendo o cigarro o

    principal fator de exposição, esse também deve ser estudado.

    2. JUSTIFICATIVA E HIPÓTESE

    2.1. Justificativa

    O tabagismo na gestação expõe o feto à fumaça do cigarro, que contém

    milhares de constituintes químicos e aditivos, incluindo metais pesados tóxicos e

    agentes cancerígenos conhecidos, dentre eles os HPAs. Esses produtos

    reconhecidamente têm papel de toxicidade no desenvolvimento fetal, e os

    efeitos, provavelmente, seguem ao longo da vida e necessitam ainda ser melhor

    elucidados [6].

    Há uma preocupação crescente em relação à exposição das pessoas e

    gestantes aos HPAs via poluição ambiental 117,121-123, porém o fator que mais

    expõe o ser humano aos HPAs é o tabagismo.

    Em gestantes, o metabolismo de muitas substâncias é diferente, além de

    ser difícil avaliar a interferência de fatores alimentares e exposição ambiental.

    Assim, é interessante comparar em uma mesma população, com dieta similar, e

    mesmo ambiente de poluição, para isolar a verdadeira exposição dos fetos aos

    produtos químicos decorrentes do tabagismo, tanto ativo quanto passivo,

    diminuindo os possíveis fatores confundidores.

    Como a embriogênese é um período crítico para o desenvolvimento do

    feto, e sabe-se que exposição nesta fase pode ter efeitos ao longo da vida e em

    futuras gerações através da epigenética, pretende-se quantificar a exposição

    fetal a substâncias tóxicas, como os HPAs e nicotina, através de seus

  • 32

    marcadores (1-hidroxipireno, benzopireno e cotinina) dosados no líquido

    amniótico e no sangue do cordão umbilical.

    2.2. Hipótese

    Substâncias tóxicas da fumaça do cigarro inaladas pelas gestantes

    tabagistas, dosadas através da cotinina e os HPAs, passam para o feto através

    do líquido amniótico e do sangue do cordão umbilical.

    2.2.1. Hipótese Nula (H0)

    Substâncias tóxicas da fumaça do cigarro inaladas pelas gestantes

    tabagistas não passam para o feto através do líquido amniótico e do sangue do

    cordão umbilical.

    3. OBJETIVOS

    3.1. Objetivo Geral

    Estudar se a exposição materna a substâncias tóxicas do cigarro,

    dosadas através da cotinina, 1-hidroxipireno e benzopireno são transmitidas ao

    feto.

    3.2. Objetivos Específicos

    - Quantificar o 1-hidroxipireno e cotinina no líquido amniótico,

    - Quantificar a cotinina e benzopireno no sangue do cordão umbilical

    - Quantificar o 1-hidroxipireno e cotinina na urina materna

  • 33

    4. METODOLOGIA

    4.1. Delineamento

    Estudo transversal controlado.

    4.2. População

    Foram recrutadas, após assinatura de termo de consentimento, gestantes

    que internaram em trabalho de parto no Centro Obstétrico do Hospital São Lucas

    da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), entre julho

    de 2010 e julho de 2013, com idade entre 18 e 35 anos, sem doenças prévias ou

    gestacionais concomitantes.

    4.2.1. Critérios de inclusão

    - TABAGISTAS:

    Gestantes tabagistas por pelo menos 5 anos (mais de 100 cigarros na

    vida e fumando na atualidade).

    - TABAGISTAS PASSIVAS:

    Gestantes não tabagistas (não fumam desde o período pré-concepcional

    de 6 meses) que resida com um tabagista que fume dentro do domicílio.

    - CONTROLE:

    Gestantes não tabagistas (nunca fumantes).

    4.2.2. Critérios de exclusão

    Pacientes que não quiseram participar do estudo, história de psicopatias,

    analfabetas, trabalho de parto prematuro (antes das 37 semanas), ruprema,

    infecções e adição a outras drogas.

  • 34

    4.3. Métodos

    4.3.1. Recrutamento das Gestantes

    As gestantes foram recrutadas no momento da internação no Centro

    Obstétrico do Hospital São Lucas da PUCRS em trabalho de parto. Após

    aceitarem participar do estudo, responderam a um questionário em relação a

    dados demográficos, hábitos e tabagismo. No momento da internação, foi

    coletada urina materna. No momento da ruptura das membranas, foi coletado

    líquido amniótico e no parto, sangue do cordão umbilical.

    A coleta da urina foi realizada em frasco específico para coleta de exame

    qualitativo de urina, estéril e armazenado em 2 frascos (1 para análise da

    cotinina e outro para a análise do 1-hidroxipireno) em freezer a temperatura de -

    200 C. Os frascos eram identificados somente com o nome do material e o

    número da paciente.

    A coleta de líquido amniótico foi feita conforme a evolução da paciente,

    quando a ruptura das membranas era espontânea, conforme evolução do

    trabalho de parto, a coleta era realizada através de espéculo vaginal e seringa

    na saída do colo uterino e fundo vaginal. Quando a ruptura era realizada pelos

    médicos, o material era coletado em cuba rim estéril e a ruptura realizada com

    amniótomo. Após a coleta, o material era armazenado em 2 frascos (1 para

    análise da cotinina e outro para a análise do 1-hidroxipireno) em freezer a

    temperatura de -200 C. Os frascos eram identificados somente com o nome do

    material e o número da paciente.

    A coleta de sangue do cordão umbilical foi realizada após o nascimento,

    logo após o clampeamento do cordão e dequitação da placenta, sendo coletado

    por aspiração manual, agulha 18G (1,20 x 40 mm) e seringa de 20 mL.

  • 35

    Armazenamento em frasco vacuette com tampa vermelha de coleta de sangue

    que contém z serum clot activator, guardado em geladeira a 50 C por 6 horas,

    para separação do soro, e coletado com pipeta somente o soro e armazenado

    em 2 frascos de Eppendorf em freezer a -200 C, também identificados somente

    com o número da paciente (1 para a análise da cotinina e outro para análise do

    benzopireno). No processo de validação dos métodos verificamos que a análise

    do benzopireno não poderia ser realizada em sangue total, porque o mesmo

    coagulava e dificultava a análise.

    As gestantes foram subdivididas em 3 grupos conforme a informação por

    elas fornecidas em relação ao tabagismo: tabagista, tabagista passiva e grupo

    controle.

  • 36

    954 EN

    Figura 4: Recrutamento das gestantes

    954

    ENTREVISTADAS

    130 RECRUTADAS

    824 EXCLUÍDAS

    HIPERTENSÃO, PRÉ-ECLÂMPSIA, DIABETE PRÉVIO E

    GESTACIONAL, RUPREMA, PREMATURIDADE,

    INFECÇÕES, USO DE DROGAS

    5 PERDAS

    TABAGISTA PASSIVA

    25

    CONTROLE

    63

    TABAGISTAS

    37

  • 37

    4.3.2. Procedimentos laboratoriais

    4.3.2.1. Extração de cotinina na urina

    A extração foi realizada seguindo o método de Cattaneo e colaboradores

    137. Foram pipetados 2,0 mL de urina centrifugada. Posteriormente, foi

    adicionado 25 μL de NaOH 10 M, 100 μL de padrão interno (2-fenilimidazol,

    1,0μg/mL) e 4,0 mL de diclorometano. A seguir, essa solução foi agitada por 40

    minutos em homogeneizador e centrifugada por 10 minutos a 3000 rotações por

    minuto. Dois mL da fase orgânica foram transferidos para um frasco evaporador

    e colocados em termobloco (Pierce®, modelo 18940), sob corrente de nitrogênio

    e temperatura ambiente, até secagem. Posteriormente, o resíduo foi

    reconstituído com 200 μL de fase móvel e foram injetados 20 μL no

    Cromatógrafo Líquido de Alta Eficiência (CLAE) 137.

    4.3.2.2. Extração de cotinina no líquido amniótico

    Para a extração de cotinina do líquido amniótico, foram pipetados 1 mL de

    líquido amniótico, 25 µL de hidróxido de sódio, 25 µL de padrão interno 2-

    fenilimidazol (0,25 µg/mL) e após, foi adicionado 2,0 mL de diclorometano. Essa

    solução foi misturada por 40 minutos em um homogeneizador e centrifugada por

    15 minutos a 3000 rotações por minuto. A fase aquosa foi extraída novamente

    para maior recuperação, onde foram adicionados 2,0 mL de diclorometano e

    seguiu-se o mesmo processo de homogeneização e centrifugação. Quatro mL

    da fase orgânica foram transferidos para um frasco evaporador e colocados em

    um termobloco (Pierce®, modelo 18940) sob corrente de nitrogênio e

    temperatura de 37º C, até secura. O extrato foi reconstituído com 200 µL da

    fase móvel e foram injetados 20 μL no CLAE 137.

  • 38

    4.3.2.3. Extração de cotinina no sangue do cor dão umbilical

    Para a análise de cotinina no sangue foi utilizado o método desenvolvido

    por Petersen e colaboradores138. O sangue foi centrifugado e separado o soro.

    Desta forma, 600 µL de soro foram tratados com 25,0 µL de hidróxido de sódio

    10 M e 25,0 µL de 2-fenilimidazol (padrão interno, 5,0 µg/mL).

    Subsequentemente, a amostra foi extraída com 5,0 mL de diclorometano. Uma

    alíquota de 4 mL da fase orgânica foi separada e seca sob corrente de nitrogênio

    a temperatura ambiente. A amostra seca foi reconstituída com 100 µL de fase

    móvel e 20 µL foram injetados no CLAE 138.

    4.3.2.4. Análise de cotinina

    Foi utilizado um cromatógrafo líquido de alta eficiência Agilent® (Agilent

    Technologiess, Santa Clara, CA, USA) equipado com detector de ultravioleta,

    bomba isocrática e injetor manual de amostras. A separação cromatográfica foi

    realizada utilizando coluna Zorbax® Eclipse XDB-C8 (4,6mm x 150mm x 5μm

    Agilent) protegida por uma pré-coluna Zorbax® Eclipse XDB-C8 (4,6 x 12,5 mm,

    5 μm Agilent). A fase móvel foi constituída de uma mistura de

    Água:Metanol:Acetato de Sódio 0,1M:Acetonitrila (50:15:25:10). Cinco mL de

    trietilamina e 7,14 gramas de ácido cítrico foram adicionados para cada litro de

    fase móvel e o pH da fase móvel foi ajustado para 4,4 com ácido acético glacial.

    Foi mantido um fluxo isocrático de 0,5 mL/min com a detecção por ultravioleta

    em 260 nm, produzindo um tempo total de corrida de 10 minutos. Para

    determinação dos níveis de cotinina foi utilizado o software ChemStation obtido

    também da Agilent®.

  • 39

    4.3.2.5. Extração de 1-hidroxipireno na urina

    Para avaliação de 1-hidroxipireno na urina, 2,5 mL de urina foram tratados

    com 5,0 mL de tampão acetato pH 5,0 e 10 µL da enzima β-glicuronidase-

    arilsufatase. Subsequentemente a amostra foi incubada em banho-maria 37ºC

    por 2 horas. Após a incubação, a amostra foi submetida a extração em fase

    sólida sob pressão com cartuchos de sílica C18, ativados com 2 mL de metanol,

    seguido de 5 mL de água ultrapura. A amostra hidrolisada foi aplicada a um fluxo

    de aproximadamente 1,5 mL/min. O cartucho foi sequencialmente lavado com 6

    mL de metanol 40% e o analito eluído com 2 mL de isopropanol. O solvente foi

    evaporado a 37ºC sob corrente de nitrogênio e o resíduo foi reconstituído com

    200 μl de metanol, dos quais 50 μl foram injetados no CLAE.

    4.3.2.6. Extração de 1-hidroxipireno no líquido amn iótico

    Para a extração do 1-hidroxipireno do líquido amniótico, a 2,0 mL de

    líquido amniótico foram adicionados 2,0 mL de tampão acetato pH 5,0 e 20 µL

    de enzima β-glicuronidase-arilsulfatase. Os tubos foram agitados por 30

    segundos e incubados a 37°C por 2 horas para promover a hidrólise dos

    produtos conjugados. A seguir, as amostras foram resfriadas a temperatura

    ambiente e foram adicionados 4,0 mL de éter etílico. As soluções foram

    homogeneizadas por inversão e agitação durante 1 minuto e centrifugadas.

    Após, a fase orgânica foi transferida para frasco evaporador e o procedimento de

    extração foi repetido para aumentar o rendimento do processo de extração.

    Evaporaram-se as amostras sobre corrente de ar comprimido a 37°C, e após

    secas, as mesmas foram reconstituídas com 250 µL de metanol e 20 µL foi

    injetado no CLAE.

  • 40

    4.3.2.7. Análise de 1-hidroxipireno

    Foi utilizado um cromatógrafo líquido de alta eficiência Shimadzu® LC-

    Class 10 equipado com detector de fluorescência, bomba isocrática e injetor

    manual de amostras. A separação cromatográfica foi realizada utilizando coluna

    LiChospher® 100 RP-18 (4,6x150 mm, 5 μm) protegida por pré-coluna

    (4,6×12,5 mm, 5 μm RP-18 LiChospher® 100). A fase móvel foi constituída de

    uma mistura de Metanol:Acetonitrila:Água (35:35:30). Foi mantido um fluxo de

    1,0 mL/min e a detecção foi feita por fluorescência (Excitação=242nm,

    Emissão=388nm), produzindo um tempo total de corrida de 30 minutos.

    4.3.2.8. Extração de benzopireno no sangue do cordã o umbilical

    Na análise do benzopireno no sangue do cordão umbilical, para a

    extração utilizou-se 150 ul de soro/sangue, adicionando 850 uL de água e

    extraiu-se com 4 mL de ciclohexano, agitou-se em vortex e por

    inversão. Após centrifugar por 10 minutos, a 1500 rotações por minuto, retirou-se

    a fase superior para outro tubo. Repetiu-se o processo de extração novamente,

    retirando a fase superior e juntando com a anterior. A fase orgânica e seca e

    o resíduo ressuspendido em 250 ul de fase móvel, filtrou-se e injetou-se no

    CLAE.

    4.3.2.9. Análise do benzopireno

    As condições cromatográficas foram: cromatógrafo Líquido de Alta

    Eficiência com detector Fluorescencia, Shimadzu, fase móvel = ACN:H2O

    (750:250), coluna RP-18 (4.6x100mm e 5 micron), fluxo: 1ml/min, volume de

    injeção: 20μL - Injetor manual, detecção: Excitação=290nm, Emissão=430 nm.

  • 41

    4.4. Análise Estatística

    Dados quantitativos foram descritos por média e desvio-padrão. Para a

    comparação dos grupos as variáveis quantitativas receberam transformação

    logarítmica sendo apresentadas como médias geométricas e desvio padrão das

    médias geométricas. Para estimar a diferença proporcional das variáveis

    assimétricas entre os grupos, utilizou-se a razão das médias (mean ratio) e o

    intervalo de confiança (IC) de 95%. A razão das médias representa, em termos

    relativos, quantas vezes a média de um grupo é maior do que a de outro. Foi

    obtida em um modelo de análise de covariância de erro-padrão robusto aplicado

    aos logaritmos das medidas. Para localização das diferenças entre os grupos,

    utilizou-se o procedimento de post-hoc de Tukey. O nível de significância

    adotado foi de 0,05. Os dados foram analisados com o programa SPSS versão

    21.0.

    4.5. Aspectos Éticos

    Projeto aprovado no Comitê Científico do HSL em Maio de 2010,

    aprovado Comitê de Ética em Junho de 2010, número 10/05066. Aprovado em

    Abril de 2011 no Comitê Científico da Pós-Graduação.

    Os exames realizados não ofereceram riscos às gestantes e nem aos

    fetos. Somente foram incluídas aquelas pacientes que, após lerem o Termo de

    Consentimento, aceitaram participar da pesquisa, estando cientes de que

    poderiam sair do estudo a qualquer momento se assim desejassem.

  • 42

    5. RESULTADOS

    Foram incluídas 125 gestantes, sendo 63 no grupo controle, 25 tabagistas

    passivas e 37 tabagistas. Os grupos não apresentaram diferenças

    estatisticamente significativas em termos de idade e aspectos obstétricos (tabela

    1).

    Na tabela 2 são apresentados os resultados das variáveis cotinina na

    urina materna, no sangue de cordão umbilical e no líquido amniótico, seguidos

    das medidas 1-hidroxipireno na urina materna e no líquido amniótico, e

    benzopireno no sangue do cordão umbilical.

    Tabela 1 - Características da população em estudo

    Característica

    Controle (n= 63)

    Tabagista Passiva (n= 25)

    Tabagista (n = 37)

    P

    Idade, anos

    26 ± 5 24 ± 6 26 ± 5 0,24

    IMC, Kg/m 2

    27 ± 5 28 ± 5 28 ± 4 0,49

    Gestaç ões

    2 ± 1 2 ± 2 2 ± 1 0,17

    Idade gestacional, Semanas

    38 ± 1 38 ± 1 39 ± 1 0,15

    Peso, g

    3349 ± 409 3375 ± 433 3225 ± 528 0,33

    Apgar 5º minuto

    9 ± 0,7 9 ± 0,6 9 ± 1 0,09

    Os dados são apresentados como média ± desvio-padrão. IMC: Índice de massa corporal 139 .

  • 43

    Tabela 2 – Comparação de variáveis selecionadas entre os grupos segundo hábito tabágico

    Desfecho Controle Tabagista Passiva

    Tabagista RM (TP/C)

    RM (TxC)

    P

    n=56 Cotinina na urina, 0,64

    a

    µg/L (ND a 68)

    n=25 0,94

    a

    (ND a 21)

    n=35 3,77

    b

    (ND a 69)

    1,48 [0,59-3,72]

    5,92 [2,59- 13,55]

  • 44

    Tabela 3 – Média geométrica e desvio padrão geométrico dos gru pos

    Controles Tabagistas Passivas

    Tabagistas

    MG DPG MG DPG MG DPG

    Cotinina urinária

    (µg/L)

    0,64 4,33

    0,94 4,31

    3,77 6,90

    Cotinina no líquido amniótico

    (µg/L)

    1,47 2,56

    1,28 2,28

    36,87 9,07

    Cotinina no cordão umbilical

    (µg/L)

    3,36 6,34

    3,23 6,20

    8,79 7,83

    1-hidroxipireno na urina materna

    (µmol/mol creatinine)

    0,02 17,04

    0,05 9,44

    0,15 9,63

    1-hidroxipireno no

    líquido amniótico (µg/L)

    0,48 1,65

    0,51 1,65

    0,67 1,39

    Benzopireno no cordão

    umbilical (µg/L)

    0,39 2,71

    0,51 2,08

    1,13 1,99

    Os dados são apresentados por média geométrica (MG) e desvio padrão geométrico (DPG)

    Todas as variáveis estudadas apresentaram diferença estatisticamente

    significativa entre os grupos controle e tabagista. Não foram observadas

    diferenças significativas entre controles e tabagistas passivas.

    A concentração de cotinina foi cerca de 6 vezes maior na urina das

    gestantes tabagistas, RM: 5,92 [2,59-13,55], p

  • 45

    29,69], p=0,003. No líquido amniótico, o grupo tabagista apresentou

    concentração 30% maior que o grupo controle, RM: 1,34 [1,05-1,7], p=0,012. A

    concentração de benzopireno foi cerca de 3 vezes maior no sangue do cordão

    umbilical dos fetos de mães tabagistas RM: 2,9 [1,76-4,79], p

  • 46

    exposição à poluição ambiental. Estudo detectou DNA-adducts no sangue do

    cordão umbilical fetal humano, bem como no sangue materno, após a exposição

    aos HPAs em ar ambiente 113. Os HPAs atravessam a placenta, e o feto por

    estar em desenvolvimento é até 10 vezes mais sensível do que a mãe para

    sofrer danos no DNA 113. O desenvolvimento embrionário precoce é um período

    particularmente sensível para a desregulação epigenética como consequência

    de exposições ambientais, porque as taxas de síntese de DNA são altas e os

    padrões de metilação do DNA estão sendo estabelecidos 115.

    A concentração de cotinina nas gestantes tabagistas foi aproximadamente

    6 vezes maior na urina, 25 vezes maior no líquido amniótico e 2,6 vezes maior

    no sangue do cordão umbilical em relação ao grupo controle.

    A concentração de 1-hidroxipireno nas gestantes tabagistas foi 7 vezes

    maior na urina e 30% maior no líquido amniótico quando comparada ao grupo

    controle. As concentrações de benzopireno foi 3 vezes maior no sangue do

    cordão umbilical dos fetos das gestantes fumantes comparadas ao grupo

    controle.

    As substâncias encontradas em maior concentração na urina das

    gestantes tabagistas (cotinina e HPAs) passam para os fetos através do líquido

    amniótico e sangue do cordão umbilical. O processo de formação do líquido

    amniótico, em que os fetos urinam e deglutem a própria urina, forma um ciclo

    que aumenta a exposição a essas subtâncias. Isto justifica a concentração de

    cotinina ser maior no líquido amniótico. A concentração da cotinina ser mais alta

    do que a do 1-hidroxipireno no líquido amniótico pode estar relacionada a maior

    meia-vida da cotinina (36 horas) em comparação ao 1-hidroxipireno (18 horas),

    ou a solubilidade das substâncias nos diferentes fluidos. Não foi encontrada

  • 47

    diferença estatística entre as tabagistas passivas e controles. Provavelmente as

    tabagistas passivas não inalam uma quantidade suficiente das substâncias

    dosadas para transmitir aos fetos.

    As gestantes foram classificadas em relação ao status tabágico conforme

    o próprio relato, porque muitas delas ficaram longos períodos em abstinência,

    devido às horas de pródromo de trabalho de parto. Muitas relataram que já

    estavam há dias com contrações e dor, e por isso não estavam conseguindo

    fumar. Devido à meia-vida das substâncias, esse período de abstinência poderia

    alterar a classificação das gestantes baseada somente nos valores laboratoriais.

    No processo da coleta, tivemos 5 perdas, por não termos conseguido

    coletar todos os materiais da mesma gestante. No processo de análise

    laboratorial, alguns dos materiais armazenados não estavam em quantidade

    suficiente ou em condições adequadas para análise, o que justifica o n diferente

    conforme as substâncias nos diferentes grupos.

    Para a análise estatística, foram calculadas inicialmente as médias

    aritméticas e medianas, porém os resultados não foram satisfatórios devido à

    intensa assimetria dos dados. Foram calculadas as médias geométricas e razão

    das médias geométricas, utilizando ferramentas estatísticas específicas para

    dados assimétricos e próximos ao zero. Também foram calculados os intervalos

    de confiança das médias geométricas, porém para interpretá-las é necessário

    realizar uma transformação logarítmica e posteriormente Gauss (média +/-

    desvio padrão).

    Nossos resultados confirmam que a nicotina atravessa a placenta. A

    nicotina é uma substância que causa danos ao feto, é neuroteratogênica

    impactando o cérebro nas fases mais críticas do seu desenvolvimento 24. Isso

  • 48

    justifica os problemas emocionais, cognitivos observados nos filhos de mães que

    fumaram na gestação. Além disso, a exposição ao cigarro no período pré e pós-

    natal aumenta a probabilidade de dependência a drogas lícitas e ilícitas na

    adolescência e idade adulta 25. O desenvolvimento dos órgãos, incluindo os

    pulmões, pode ser adversamente afetado pela nicotina 26,27.

    Também encontramos aumento da exposição fetal aos HPAs, que são

    substâncias conhecidamente carcinogênicas. A via da carcinogênese dos HPAs

    e seus metabólitos envolve a produção de espécies reativas de oxigênio, que

    geram estresse oxidativo, peroxidação lipídica, modificações das proteínas, dano

    ao DNA e pode ter influência ao nascimento e ao longo da vida 111,112,125,126.

    Perera et al. 113 propuseram que a transferência placentária de HPAs aos

    fetos pode ter impactos significativos no desenvolvimento fetal. Vários estudos

    evidenciaram redução da circunferência cefálica ao nascimento, menor

    quociente de inteligência e pior desempenho na escola na infância 116,117. Além

    disso, os HPAs também estão associados à restrição de crescimento

    intrauterino118, trabalho de parto prematuro 119 e aumento na probabilidade de vir

    a desenvolver asma 120.

    Jules et al. 103, através de estudo realizado em ratos, sugerem que a

    exposição intraútero ao benzopireno predispõe os recém-nascidos a déficits

    funcionais no desenvolvimento cardiovascular, o que pode contribuir para

    disfunção cardíaca ao longo da vida. Rundle et al. 121 sugerem que exposição

    pré-natal a HPAs causa aumento de ganho de massa gorda durante a infância e

    aumenta risco de obesidade. Langlois et al. 122 mostraram associação entre a

    exposição materna ocupacional a HPA e aumento de risco de lábio leporino com

    ou sem fenda palatina.

  • 49

    Os efeitos dos HPAs nos fetos têm sido amplamente estudados, conforme

    mencionado acima. Entretanto, a maioria dos estudos foca na exposição

    ambiental 111-114.

    O que este estudo acrescenta é que estudamos a exposição fetal aos

    HPAs exclusivamente relacionada ao tabagismo, que é o principal meio de

    exposição. Avaliamos uma população com uma dieta semelhante, vivendo na

    mesma área geográfica, e sem variações significativas na exposição à poluição.

    Conseguimos identificar 1- hidroxipireno no líquido amniótico e medimos os

    níveis de benzopireno no sangue do cordão umbilical por cromatografia líquida

    de alta eficiência, um método simples e barato. Existem estudos que já dosaram

    o HPA-DNA-adducts, que mede a modificação no DNA causada pelo

    benzopireno, mas é um método caro e complexo 110,113,125.

    Enfim, nossos resultados confirmam que gestantes tabagistas tem uma

    concentração aumentada de cotinina na urina e transmitem aos seus fetos

    através do líquido amniótico e sangue do cordão umbilical. Confirmou que

    gestantes tabagistas apresentam maiores concentrações de HPAs na urina que

    não tabagistas e que o benzopieno passa para os fetos através do sangue do

    cordão umbilical. Conseguimos dosar 1-hidroxipireno no líquido amniótico e

    evidenciar maiores concentrações no líquido dos fetos das gestantes fumantes

    comparadas ao grupo controle.

  • 50

    7. CONCLUSÕES

    O estudo realizado permite chegar às seguintes conclusões:

    - As substâncias tóxicas da fumaça do cigarro inaladas pelas gestantes

    tabagistas, dosadas através da cotinina, 1-hidroxipireno e benzopireno são

    transmitidas ao feto.

    - A quantificação das substâncias estudadas permitiu identificar aumento

    da concentração de cotinina e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos na urina

    das gestantes tabagistas, no líquido amniótico e sangue do cordão umbilical de

    seus fetos quando comparadas ao grupo controle. Em nenhuma das análises foi

    encontrada diferença estatística quando comparados os controles com as

    tabagistas passivas.

    Desse modo, fetos de gestantes tabagistas estão expostos a substâncias

    conhecidamente tóxicas e carcinogênicas.

  • 51

    8. BIBLIOGRAFIA

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