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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO S UL
PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA E CIÊNCIAS DA SAÚDE
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA
TESE DE DOUTORADO
JULIA DE BARROS MACHADO
AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE COTININA E HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS NO LÍQUIDO AMNIÓTICO E CORDÃO UMBILICAL AO NASCIMENTO
PORTO ALEGRE 2014
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO S UL
FACULDADE DE MEDICINA
PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA E CIÊNCIAS DA SAÚDE
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA
NÍVEL: DOUTORADO
JULIA DE BARR OS MACHADO
AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE COTININA E HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS NO LÍQUIDO AMNIÓTICO E
CORDÃO UMBILICAL AO NASCIMENTO
PORTO ALEGRE 2014
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO S UL
FACULDADE D E MEDICINA
PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA E CIÊNC IAS DA SAÚDE
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA
NÍVEL: DOUTORADO AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE COTININA E HIDROCARBONETOS
POLICÍCLICOS AROMÁTICOS NO LÍQUIDO AMNIÓTICO E CORDÃO UMBILICAL AO NASCIMENTO
JULIA DE BARROS MACHADO
Tese de doutorado apresentada como requisito para obtenção do Grau de Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Orientador: Prof. Dr. José Miguel Chatkin
PORTO ALEGRE 2014
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação ( CIP)
M149a Machado, Julia de Barros
Avaliação dos níveis de cotinina e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos no líquido amniótico e cordão umbilical ao nascimento / Julia de Barros Machado. – Porto Alegre, 2014.
87 f. : il.
Tese (Doutorado em Medicina e Ciências da Saúde, área de concentração Clínica Médica) – Faculdade de Medicina, PUCRS.
Orientador: Prof. Dr. José Miguel Chatkin.
1. Clínica Médica. 2. Obstetrícia. 3. Gestação. 4. Tabagismo. 5. Cotinina. 6. 1-hidroxipireno. 7. Benzopireno. I. Chatkin, José Miguel. II. Título.
CDD 618.2 NLM WQ 200 NLM QY 335
Ficha Catalográfica elaborada por
Vanessa Pinent CRB 10/1297
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Dedico a meu marido Lucas por todo apoio, am or e compreensão e a minha filha Laura que iniciou o Doutorado “dentro da minha barriga”, tendo que entender, desde bebê, que nada vem sem esforço e dedicação, e que sempre devemos transformar a adversidade em aprendizado.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço inicialmente aos meus pais, Paulo e Flávia, por todo amor,
dedicação e ensinamentos. Pela confiança e estímulo em alcançar todos os meus objetivos.
Às minhas irmãs Paula, Bruna e Amanda, pelo apoio e ajuda com a minha
filha. Só entendi o quanto o amor de um irmão é grande, no momento em que deixava a minha filha com uma delas e parecia que ela estava comigo.
Ao meu Orientador Dr. José Miguel Chatkin, pela dedicação,
disponibilidade, auxílio, confiança e acompanhamento exercido ao longo destes anos.
Às Dras. Flávia Valladão Thiesen e Aline Rigon Zimmer, pela realização de
todas as análises laboratoriais, verdadeiras coorientadoras deste trabalho, que, infelizmente, por questões burocráticas não puderam ser assim denominadas.
À Ana Paula Goulart, pela ajuda nas coletas dos materiais, tentei motivar
várias pessoas, mas a Ana foi a única que assumiu a reponsabilidade e ajudou-me muito neste processo trabalhoso.
Às Dras. Letícia Paula, Bartira da Costa e Daniela Blanco, por terem
participado do processo de qualificação e terem feito sugestões importantes para o crescimento da minha tese.
À Comissão Científica do XXXVII Congresso Brasileiro de Pneumologia e
Tisiologia, pelo prêmio de melhor trabalho na área temática do tabagismo e por terem me possibilitado apresentá-lo no Congresso.
Às pacientes que concordaram em participar do trabalho, pois sem elas ele
não seria possível. Enfim, a todas as pessoas que estiveram ao meu lado e souberam
entender a minha ausência em alguns momentos, pois... “Todas as vitórias ocultam uma abdicação”. (Simone de Beauvoir)
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RESUMO O tabagismo na gestação tem sido associado a inúmeras alterações, impactando em várias fases do desenvolvimento fetal, incluindo efeito teratogênico. O objetivo deste estudo foi avaliar se a exposição materna a algumas substâncias tóxicas existentes na fumaça do cigarro (cotinina, 1-hidroxipireno e benzopireno) são transmitidas ao feto. Através de delineamento transversal controlado, foram selecionadas 125 gestantes internadas no Centro Obstétrico do Hospital São Lucas da PUCRS, em Porto Alegre. As voluntárias foram classificadas conforme seu status tabágico: 37 tabagistas ativas, 25 tabagistas passivas e 63 não fumantes (controles). Foram realizadas as dosagens de cotinina e 1-hidroxipireno na urina materna e líquido amniótico; cotinina e benzopireno no sangue do cordão umbilical através de cromatografia líquida de alta eficiência. Para estimar a diferença proporcional das variáveis assimétricas entre os grupos utilizou-se a razão das médias (RM) e intervalo de confiança de 95%. Para o cálculo das diferenças entre os grupos foi utilizado o teste post-hoc de Tukey. Todas as variáveis estudadas apresentaram diferença estatisticamente significativa entre os grupos controle e tabagista. Não foi observada diferença significativa entre os grupos controle e tabagista passivo. A concentração de cotinina foi cerca de 6 vezes maior na urina das gestantes tabagistas, RM: 5,92 [2,59 - 13,55], p
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ABSTRACT
Cigarette smoking during pregnancy has several impacts on fetal
development, including teratogenic effects. The objective of this study was to assess whether the toxic substances
(cotinine and polycyclic aromatic hydrocarbons) found in pregnant smokers are transmitted to their fetuses. The outcomes were analyzed measuring cotinine and 1-hydroxypyrene in the amniotic fluid and maternal urine, benzopyrene and cotinine in the umbilical cord blood.
Through a controlled cross-sectional design, 125 pregnant women were selected and classified according to their smoking status: 37 current smokers, 25 passive smokers and 63 non-smokers (controls). We performed high-performance liquid chromatography to measure substances’ concentrations. A post-hoc Tukey’s test was used to analyze the differences between the groups.
All variables were significantly different between controls and smokers. The mean ratios between the concentration of cotinine in smokers compared to controls were as follows: 5.9 [2.5 - 13.5], p < 0.001 in the urine; 25 [11.9 - 52.9], p < 0.001 in the amniotic fluid; and 2.6 [1.0- 6.8], p = 0.044 in the umbilical cord blood.
The mean ratios of 1-hydroxypyrene concentration between smokers and controls were 7.3 [1.6 - 29.6], p = 0.003 in the urine and 1.3 [1.0 - 1.7], p = 0.012 in the amniotic fluid, and of benzopyrene in umbilical cord blood was 2.9 [1.7 - 4.7], p < 0.001.
There were no significant differences between controls and passive smokers. When comparing the three groups together, there were statistical differences between all variables.
Thus, the fetuses of pregnant smokers are exposed to toxic and carcinogens substances. To our knowledge, this is the first study to measure 1-hydroxypyrene in the amniotic fluid and benzopyrene in umbilical cord blood by high-performance liquid chromatography when considering pregnant women in relation to smoking exposure only.
Keywords: Pregnacy, tobacco, cotinine, polycyclic aromatic hydrocarbons
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LISTA DE FIGURAS Figura 1: Principais causas de morte no mundo ................................................12 Figura 2: Detecção de cotinina em gestantes e fetos.........................................25 Figura 3: Mecanismos de mutagênese dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos............................................................................................................27. Figura 4: Recrutamento das gestantes ..............................................................36
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LISTA DE TABELAS Tabela 1: Características da população em estudo ...........................................42 Tabela 2: Comparação de variáveis selecionadas entre os grupos segundo hábito tabágico ....................................................................................................43 Tabela 3: Médias geométricas e desvios padrões geométricos dos grupos ......44
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LISTA DE ABREVIATURAS OMS: Organização Mundial da Saúde VIGITEL: Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico CO: Monóxido de carbono OR: Odds Ratio IC: Intervalo de confiança COex: Monóxido de carbono exalado DPP: Descolamento prematuro de placenta HPLC: High Performance Liquid Cromatography HPAs: Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos CIUR: Crescimento intrauterino restrito CLAE: Cromatografia líquida de alta eficiência RM: Razão das médias 1-OHP:1- hidroxipireno PUCRS: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
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SUMÁRIO
1. REFERENCIAL TEÓRICO ............................ .......................................... .......................11
1.1. Tabagismo ............................... ............................................................................. 11
1.1.1. Tabagismo no Mundo .............. ................................................................... 11
1.1.2. Tabagismo no Brasil ............. ...................................................................... 13
1.1.3. Epidemiologia do Tabagismo na Ges tação.............................................. ...15
1.1.4. Efeitos do Tabagismo na Gestação ........................................................... 17
1.2. Cotinina ................................ ................................................................................ 22
1.3. Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos ........................................................ 26
2. JUSTIFICATIVA E HIPÓTESE........................ .................................................................31
2.1. Justificativa............................ ..................................................................................31
2.2. Hipótese ................................ ............................................................................. ..32
2.2.1.Hipótese Nula....................... .........................................................................32
3. OBJETIVOS ...................................... ............................................................................ 32
3.1. Objetivo Geral .......................... ............................................................................ 32
3.2. Objetivos Específicos ................... ....................................................................... 32
4. METODOLOGIA..................................... ....................................................................... 33
4.1. Delineamento ............................ ........................................................................... 33
4.2. População................................ ............................................................................. 33
4.2.1. Critérios de Inclusão ........ ........................................................................ 33
4.2.2. Critérios de Exclusão......... ...................................................................... 33
4.3. Métodos ................................. ............................................................................... 34
4.3.1. Recrutamento das Gestantes ... ............................................................... 34
4.3.2. Procedimentos Laboratoriais .. ................................................................ 37
4.3.2.1. Extração de cotinina na urina ............................................. .............. 37
4.3.2.2. Extração de cotinina no líquido amniótico ................................. ..... 37
4.3.2.3. Extração de cotinina no sangue do cordão umbilical .................... 38
4.3.2.4. Análise de cotinina .... ........................................................................ 38
4.3.2.5. Extração de 1-hidroxipir eno na urina ...................................... ........ 39
4.3.2.6. Extração de 1-hidroxipir eno no líquido amniótico ......................... 39
4.3.2.7. Análise do 1- hidroxipir eno ............................................... ............... 40
4.3.2.8. Extração de benzopireno no cordão umbilical .............................. . 40
4.3.2.9. Análise do Benzopireno................. ......................................................40
4.4. Análise Estatística................... .............................................................................41
4.5. Aspectos Éticos....................... .............................................................................41
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5.RESULTADOS....................................... ............................................................................42
6. DISCUSSÃO.......................................................................................................................45
7. CONCLUSÕES...................................................................................................................50
8. BIBLIOGRAFIA.................................... ..............................................................................51
9. ANEXOS ............................................................................................................................58
Anexo 1: Aprovação do Comitê de Ética em Pesquis a...........................................59
Anexo 2: Termo de Consentimento Livre e Esclarec ido.........................................60
Anexo 3: Ficha de coleta de dados........ ...................................................................62
Anexo 4: Resposta da Revista PLOS ONE.... ...........................................................63
Anexo 5: Título de melhor trabalho por eixo temáti co de tabagismo do XXXVII
Congresso Brasileiro de Pneumologia e Tisiologia... ................................................64
Anexo 6: Artigo.......................... .................................................................................65
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1. REFERENCIAL TEÓRICO 1.1. Tabagismo
1.1.1. Tabagismo no mundo
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que um terço da
população mundial adulta seja fumante; dos quais 80% vivem nos países em
desenvolvimento e destes, 27% são mulheres. Cerca de metade dos fumantes
morrem precocemente devido a condições associadas ao tabagismo 1.
O tabagismo é a principal causa evitável de morte no mundo 2-4, mata
cerca de 6 milhões de pessoas por ano, 200 mil no Brasil 1,5. O número
representa uma morte a cada seis segundos 1.
Até 2030, a estimativa da OMS é que 8 milhões de pessoas possam
morrer em consequência do fumo. O tabaco foi classificado como um dos fatores
que mais contribuem para a epidemia de doenças não contagiosas como
cardiopatias, doenças vasculares, câncer e enfisema. O grupo é responsável por
63% de todas as mortes no mundo 1.
A prevalência é maior entre os homens, no entanto, a taxa está
aumentando entre as mulheres, especialmente às jovens, em muitos países.
Esse grupo frequentemente é vítima de exposição passiva, doença e morte 1. A
exposição ao fumo passivo ocorre mais comumente em casa, local de trabalho e
áreas públicas, sendo especialmente perigoso para bebês, crianças, gestantes e
fetos, e é responsável por 600 mil mortes por ano 6.
O tabaco causou 100 milhões de mortes durante o século XX e se a
tendência atual continuar, cerca de um bilhão de pessoas vão morrer durante o
século XXI devido ao uso do tabaco. É o produto tóxico com o maior efeito
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teratogênico no desenvolvimento humano, além de apresentar impacto negativo
na saúde pública e economia das nações 6.
Exposição à fumaça do cigarro, voluntária ou involuntária, ocorre em
todas as idades e vem de várias fontes, resultando na inalação de produtos
químicos, causando efeitos negativos em praticamente todas as fases da vida,
inclusive no desenvolvimento e sobrevivência do recém-nascido 7. As principais
causas de morte no mundo tem o tabagismo como um dos fatores de risco
(Figura1).
Figura 1: Principais causas de morte no mundo
O consumo de tabaco é responsável pela morte de cerca de 1 em cada
10 adultos no mundo inteiro. Nos países de alta renda, sete em cada 10 mortes
são de pessoas com 70 anos ou mais. Predominam mortes por doenças
cardiovasculares, câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica ou diabete.
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Infecções respiratórias inferiores permanecem a única causa infecciosa líder de
morte. Apenas 1 em cada 100 mortes é de criança com menos de 15 anos 8. Em
países de baixa renda, quase 4 em cada 10 mortes são de crianças menores de
15 anos e apenas 2 em cada 10 mortes são de pessoas com 70 anos ou mais.
Predominam as mortes por doenças infecciosas: infecções respiratórias
inferiores, síndrome da imunodeficiência adquirida, doenças diarreicas, malária e
tuberculose; sendo coletivamente responsáveis por quase um terço de todas as
mortes nesses países. Complicações no parto, prematuridade, asfixia e trauma
estão entre as principais causas de morte 8.
Enfim, 8 das 10 principais causas de morte no mundo tem o tabagismo
como um dos fatores de risco para o desenvolvimento da doença 8.
1.1.2. Tabagismo no Brasil
De acordo com o levantamento anual da vigilância de fatores de risco e
proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico (VIGITEL- 2012), que
traça perfil de hábitos que influenciam a saúde do brasileiro, a parcela da
população acima de 18 anos que fuma caiu 20% nos últimos seis anos. A
pesquisa aponta que 12% da população brasileira fuma, enquanto que em 2006
o índice era de 15%. Apesar da queda, a frequência maior permanece entre os
homens: o número passou de 19% (2006) para 15% (2012). Entre as mulheres
caiu de 12% (2006) para 9% (2012) 9.
Além disso, ocorreu redução na frequência de fumantes passivos, no
domicílio e local de trabalho, de 12% para 10%. Continua em queda a frequência
de homens que fumam 20 ou mais cigarros por dia, 6% para 5%. Em relação ao
número de adultos fumantes por cidade, o levantamento mostra que a capital
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com a maior concentração é Porto Alegre (RS) com 18%, que também detém a
maior proporção de pessoas que fumam 20 cigarros ou mais por dia (7%). Já a
capital com o menor índice é Salvador (BA), onde 6% da população adulta diz
ser fumante 9. A pesquisa mostrou também que o hábito de fumar é maior entre
pessoas com até oito anos de escolaridade (16%), quase o dobro da frequência
observada entre as pessoas mais escolarizadas (12 anos ou mais), que atinge
9% 9.
No Brasil, as doenças crônicas não transmissíveis foram responsáveis por
72,4% do total de mortes em 2012, com destaque para doenças do aparelho
circulatório, neoplasias e diabete 9. De acordo com a OMS, um pequeno
conjunto de fatores de risco responde pela grande maioria das mortes por
câncer, doenças pulmonares e doenças cardiovasculares. Ainda hoje, o uso do
tabaco continua sendo líder global entre as causas de mortes evitáveis 10.
Apesar de estar ocorrendo um decréscimo no tabagismo, existe uma
tendência proporcional de crescimento do tabagismo feminino em relação ao
masculino ao longo das últimas décadas. Isso aponta para um quadro
extremamente complexo, em que problemas emergentes se articulam aos
anteriores e em que questões de saúde reprodutiva se associam às não
reprodutivas. O uso do tabaco potencializa os riscos, por exemplo, das
associações entre doenças cardiocerebrovasculares e a contracepção hormonal
e em várias doenças relacionadas à gravidez e ao parto. As tendências
epidemiológicas do tabagismo apontam para um problema que, dentro de
poucos anos, será majoritariamente feminino 10.
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1.1.3. Epidemiologia do tabagismo na Gestação
O tabagismo antes e durante a gestação é a principal causa evitável de
doença e morte entre gestantes e crianças. As mulheres que param de fumar
antes de engravidar ou logo que sabem estar grávidas diminuem
significativamente os riscos dos efeitos danosos do fumo 11.
Estima-se que se todas as mulheres nos Estados Unidos parassem de
fumar haveria redução de 11% nos natimortos e 5% nas mortes neonatais.
Fumar ainda é frequente durante a gravidez, particularmente impactando
gestações em mulheres mais jovens e menos instruídas 11. É maior a
prevalência de tabagismo entre as mulheres que vivem abaixo da linha da
pobreza 12.
A literatura mundial mostra que a prevalência do tabagismo na gestação,
embora venha diminuindo nas últimas décadas, ainda é alta, variando entre 12%
e quase 40%. Em uma coorte realizada na cidade de Pelotas, RS, foi detectada
prevalência de 35,6% de fumo na gestação em 1982 e posterior redução para
25,1% em 2004 13. Outros estudos 14-16 mostram prevalência em torno de 23 a
25%. Estudo realizado em Porto Alegre, incluindo 718 puérperas, encontrou um
percentual de 23% de fumantes ativas 17.
Estudo realizado em 2002, na Cantabria (Espanha), revelou um
decréscimo importante dessas cifras em apenas 4 anos, em que as taxas caíram
de 53.6% (em 1998) para 39.4% (em 2002), permanecendo, entretanto, como
uma das mais altas da União Européia 18. Nos Estados Unidos também houve
uma queda na prevalência do tabagismo na gestação, caindo de 20%, em 1989
para 12% em 2000 19.
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Na Inglaterra 38% das gestantes, convivem em casa, com no mínimo um
fumante, sofrendo ela e o feto, os efeitos do tabagismo passivo 20. Somente um
pequeno número das gestantes recebe ajuda para parar de fumar durante a
gestação, pois os profissionais tem medo de que a abordagem desse tema
interfira na relação médico-paciente 20. As gestantes que foram orientadas a
parar de fumar obtiveram taxas de cessação efetivamente maiores (38%) do que
aquelas que foram orientadas apenas a diminuir o número de cigarros (8%). A
recomendação, portanto, é que sempre se oriente as gestantes a parar com o
tabagismo e não apenas a reduzir o número de cigarros 20.
Estudo recente avaliou a prevalência do uso de tabaco na gestação em
países de média e baixa renda. A prevalência global do uso foi de 2,6% (IC 95%;
1,8 - 3,6); a menor prevalência foi na região Africana (2,0%; 1,2 - 2,9) e a maior
foi na região do Sudeste Asiático (5,1%; 1,3 - 10,9) 21.
São fatores de risco para o uso de tabaco na gravidez: pessoas de pele
branca, baixo nível socioeconômico, baixa escolaridade e não ser casada.
Gestantes que fumam após a 20ª semana de gravidez costumam apresentar
maior consumo de álcool do que as que pararam de fumar. Ainda, a condição de
sobrepeso pré-gravídico também foi relacionada com a continuidade do
tabagismo 16.
Aproximadamente 10,7% das mulheres relatam fumar durante os últimos
três meses de gravidez. Das mulheres que fumavam três meses antes da
gravidez, 54% pararam durante a gestação. Entre as mulheres que param de
fumar, 44% tem recaída dentro de 6 meses após o parto 22.
Um dos grandes problemas enfrentados ao estudar a prevalência do
tabagismo na gestação, refere-se ao fato da informação obtida pelos
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pesquisadores ser fornecida pela própria gestante. Sabe-se que muitas se
sentem constrangidas diante da forte pressão social e omitem dados a respeito
do tabagismo. Assim, algumas vezes é necessário validar as informações
recebidas para assegurar a qualidade científica dos estudos 23.
1.1.4. Efeitos do Tabagismo na gestação
Os efeitos mais estudados do tabagismo na gestação estão relacionados
à nicotina e ao monóxido de carbono. Ambos atravessam rapidamente a
placenta, e com a exposição crônica, os níveis dessas substâncias no
compartimento fetal, podem exceder os do compartimento materno 7.
A nicotina é claramente neuroteratogênica, impactando o cérebro em
estágios críticos do desenvolvimento 24. Desse modo, é a mais provável causa
de problemas cognitivos, emocionais e comportamentais observados em filhos
de fumantes. Além disso, a exposição à fumaça do cigarro ao longo do
desenvolvimento pré-natal e ou pós-natal aumenta a probabilidade de
comportamento de dependência a drogas lícitas e ilícitas na adolescência ou
idade adulta 25.
O desenvolvimento de outros órgãos, incluindo o pulmão 26,27, também é
prejudicado pela nicotina nessa fase da vida. O uso de tabaco, durante a
gestação, confere aos descendentes, não apenas desta gravidez e sim por
várias gerações, frequências aumentadas de inúmeras doenças, em
demonstração clara dos fenômenos epigenéticos. Grávidas fumantes tem maior
possibilidade de terem filhos e netos com asma, mesmo que não sejam
asmáticas e que as mães de gestações posteriores não permaneçam fumando
28-30.
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O monóxido de carbono (CO), presente na fumaça do cigarro, é
rapidamente absorvido e liga-se à hemoglobina, formando carboxihemoglobina
no sangue materno e fetal. Relatos de casos de intoxicação aguda grave por
monóxido de carbono em gestantes incluem morte fetal e malformações. A
formação de carboxihemoglobina resulta em hipóxia fetal, que se for
suficientemente grave, é teratogênica ao feto 31. A exposição ao CO tem sido
consistentemente associada à diminuição do peso ao nascer e ao parto
prematuro em estudos de exposição à poluição do ar ambiente durante a
gravidez 32-38.
O tabagismo tem sido associado também ao aumento de risco de aborto
espontâneo. Em um estudo caso-controle de base populacional na Suécia,
mulheres foram classificadas pela concentração de cotinina no plasma quanto à
exposição tabágica. O risco de aborto espontâneo foi maior nos grupos de
exposição passiva (OR 1,67 [IC 95% 1,17-2,38]) e fumantes (OR 2,11 [IC 95%
1,36-3,27]) 39.
O tabagismo materno também altera o fluxo de sangue na placenta e
provoca alterações do equilíbrio entre proliferação e diferenciação do
citotrofoblasto. Em relação ao fluxo, estudo encontrou um padrão de perfusão
materno-fetal com características de hipóxia crônica nas fumantes. Foi realizada
a quantificação objetiva do tabagismo em gestantes através das dosagens de
cotinina urinária e monóxido de carbono exalado (COex) e avaliada a relação
com os índices de resistência das artérias uterinas, umbilical e cerebral média
fetal pelo estudo ecográfico dopplervelocimétrico. Ao estratificar as pacientes
conforme a carga tabágica, dosada através do COex, observou-se aumento da
resistência associado à elevação dos níveis de COex nas medidas das artérias
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uterinas e umbilical e diminuição na resistência da artéria cerebral média, todos
estatisticamente significativos. Quando foi avaliado em relação aos níveis de
cotinina urinária, também detectou aumento dos índices de resistência vascular
da artéria uterina esquerda e umbilical associado com os valores da cotinina,
estatisticamente significativo. A artéria uterina direita mostrou tendência ao
aumento da resistividade, porém não significativo. A artéria cerebral média
evidenciou tendência de diminuição da resistência com o aumento da carga
tabágica, não significativo 40.
Em relação ao citotrofoblasto, alterações no gene e na expressão das
suas proteínas, incluindo aqueles que orientam respostas celulares e a tensão
de oxigênio, já foram relacionadas ao tabagismo. Observa-se também o
espessamento da membrana basal trofoblástica, aumento de colágeno nas
vilosidades e diminuição da vascularização da placenta 41.
Outra complicação relacionada ao tabagismo na gestação é o
descolamento prematuro da placenta (DPP) que ocorre em cerca de 1% das
gestações e a recorrência é de 20 a 30 vezes maior em fumantes. Uma revisão
sistemática e meta-análise sobre descolamento prematuro da placenta em
relação ao tabagismo materno incluiu 13 estudos com um total de 1.358.083
gestações 42. A incidência global de DPP foi de 0,64% e o tabagismo materno foi
associado com um aumento no risco de 90% (OR 1,9 [IC 95% 1,8-2,0]).
Tabagismo materno tem sido associado também com placenta prévia 43.
Um estudo populacional em Taiwan também encontrou associação de placenta
prévia (OR de 3,3 [IC 95% 1,2-9,1]) com o fumo 44. Maior incidência de parto
pré-termo em tabagistas também tem sido observada 45-47, particularmente em
multíparas 48.
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20
Em 1957, Simpson reconheceu que o tabagismo materno provoca menor
peso ao nascer 49. Estes resultados têm sido amplamente replicados e hoje se
sabe que o tabagismo ativo 50,51 ou passivo 52,53 causa diminuição do peso ao
nascer. Kramer 54 estimou redução do peso ao nascer de 5% para cada maço
de cigarros fumados por dia, durante a gravidez. Meyer e Comstock 55
estimaram decréscimo de peso de 150 - 300 g em prole de mães fumantes.
Estudos que avaliaram somente a exposição à fumaça do tabaco durante a
gravidez estimaram diminuição de 35-90 g de peso ao nascer nos filhos de mães
expostas 53,56-58.
Os efeitos da fumaça do tabaco sobre o peso ao nascer 7 são
principalmente devido à restrição do crescimento fetal 54 e apresentam uma
relação dose-resposta clara 50. Os mecanismos subjacentes aos efeitos do
tabaco sobre o crescimento fetal não são totalmente compreendidos e
provavelmente devem ser multifatoriais. Fetos de fumantes tendem a ter
hemoglobina e hematócrito elevados 59 e respostas nitidamente relacionadas à
hipóxia. Outro aspecto importante é o aumento da mortalidade intraútero e
neonatal relacionada ao tabagismo materno 60.
O tabagismo materno também pode ser teratogênico, afetando as
estruturas em desenvolvimento. No entanto, a suscetibilidade exibida pode estar
ligada à genótipos específicos do sistema de metabolização e à genes
específicos do desenvolvimento 61.
Para analisar o potencial efeito genotóxico do tabagismo materno durante
a gravidez, de la Chica et al. 62 analisaram a instabilidade cromossômica em
células de líquido amniótico coletadas de fumantes e não-fumantes durante
amniocentese. Tabagismo materno de 10 ou mais cigarros por dia, durante pelo
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menos 10 anos e durante a gravidez, foi associado com aumento da
instabilidade cromossômica. A banda 11q23, implicada em doenças malignas
hematopoiéticas, pareceu ser particularmente sensível. Zalacain et al. 63
relataram significativa elevação no número de micronúcleos (marcador de dano
cromossômico) no sangue do cordão umbilical de recém-nascidos de mães
fumantes em comparação com não fumantes.
O cigarro contém numerosos agentes cancerígenos que podem
atravessar a placenta. Sasco e Vainio 64 revisaram a literatura sobre a
associação entre a exposição pré-natal à fumaça do tabaco e aumento do risco
de câncer infantil. Foram incluídos 50 estudos de base populacional de vários
países, bem como 50 estudos adicionais sobre os mecanismos e metabolismos,
sem encontrar nenhuma associação forte e consistente entre fumar durante a
gravidez ou exposição ao fumo passivo e câncer na infância. No entanto, estudo
de revisão encontrou aumento do risco relativo de alguns tipos de câncer na
infância, incluindo tumores cerebrais, leucemia e linfoma 7. Em um estudo
prospectivo de 1,4 milhões de nascimentos na Suécia, Brooks et al. 65
encontraram risco aumentado de tumores cerebrais benignos e malignos.
Relação entre tabagismo materno, sobrepeso e obesidade infantil tem
sido também consistentemente relatada na literatura, incluindo aumento do
índice de massa corporal 7. Mulheres que fumam no início da gestação
apresentam maior frequência de diabete gestacional e obesidade nas suas filhas
66. Morley et al. 67 acharam associação entre tabagismo materno e o aumento da
pressão arterial nos filhos.
O tabagismo passivo durante a gravidez também está relacionado com
restrição de crescimento intrauterino 68, aborto 69, ruptura prematura de
-
22
membranas, descolamento prematuro da placenta e baixo peso ao nascer 70,71.
As pessoas podem estar expostas à fumaça do cigarro em vários lugares tais
como casa, trabalho ou áreas públicas 72. Mais de 95% das esposas dos
fumantes são expostas à fumaça do cigarro durante a gestação 73.
Enfim, o tabagismo tem sido associado a inúmeras alterações, impactando
em várias fases do desenvolvimento, e esses efeitos não se restringem ao
período gestacional e neonatal, seguem ao longo da vida e podem ser
transmitidos às gerações seguintes por efeitos epigenéticos 24,25,28-30,66,67.
1.2. Cotinina
A cotinina é o principal metabólito da nicotina 74-76. Apresenta meia-vida
mais longa do que a mesma 74,77; uma característica que a faz ser amplamente
utilizada como marcador biológico para medir a exposição ao tabaco 78-80.
A dosagem de cotinina é considerada o padrão-ouro para avaliar status
tabágico, devido à capacidade de detectar baixo consumo ou mesmo uso
esporádico de tabaco 81, mas tem como desvantagem: alto custo, necessidade
de equipamento e equipe treinada. Sua meia-vida prolonga-se por 36 a 40
horas, em média e, mesmo sendo coletada até dois dias após o último cigarro
fumado, pode-se recuperar até 90% 82. Tanto em fumantes passivos quanto em
ativos, seus níveis de concentração são lineares com a quantidade de tabaco
inalada direta ou indiretamente 81.
Esse método é útil para validação das informações prestadas pelo
fumante. Porém, é preciso atentar para as variações individuais em relação à
nicotina consumida, pois existem diferentes taxas de metabolização de nicotina
-
23
e de conversão em cotinina, podendo variar de 55% a 92%. Mesmo assim, a
aferição da cotinina reflete com acurácia o grau de exposição tabágica 82.
Uma vez absorvida a nicotina pelo trato respiratório, mucosa oral, trato
gastrointestinal e até pela derme, a distribuição ocorre de forma livre para todo o
organismo 83. Assim, a cotinina aparece em todos os fluidos biológicos de
indivíduos expostos em poucos minutos por biotransformação da nicotina no
fígado. Por sua vez, a cotinina é oxidada e o produto final é eliminado na urina
durante cerca de 2 a 3 dias 83. A quantificação materna pode ser realizada na
urina 84, plasma 85, cabelo 86 e saliva 87. Como a informação da gestante pode
não ser verdadeira, a sua mensuração ajuda a avaliar a exposição, e até
mesmo, confirmar o status tabágico 88.
Os valores de referência para cotinina encontrados na literatura são muito
variáveis. Os níveis usados como ponto de corte para a cotinina salivar são de
15 µg/L, enquanto que para a urinária são de 50 µg/L 89. A Society of Research
in Nicotine and Tobacco 90, em 2001, definiu os melhores pontos de corte da
cotinina plasmática, concluindo que valores acima de 14 µg/L indicam tabagismo
ativo, porém tais níveis tendem a subestimar o número de fumantes reais em
inquéritos populacionais. Diante disso, sugerem baixar o ponto de corte para até
3,0 µg/L, sendo que a sensibilidade e a especificidade passam a ser de 96% e
97%, respectivamente.
Assim como os outros marcadores, a dosagem da cotinina também possui
limitações. O uso concomitante de certas medicações pode elevar seus valores,
como as várias formas de reposição nicotínica e isoniazida 90. Além disso,
existem alimentos que possuem nicotina como o tomate, batata, couve-flor e chá
preto, que mesmo apresentando pequenas quantidades da substância, podem
-
24
interferir na análise do biomarcador. Entretanto, a quantidade consumida em
uma dieta normal não ultrapassa 10% da nicotina consumida por fumantes,
resultando em um adicional de 0,7 µg/L de cotinina na urina, não causando
impacto que comprometa a interpretação do resultado 82.
Os métodos de detecção nos fluídos biológicos são colorimétricos,
imunológicos ou cromatográficos. O mais utilizado é o HPLC (high performance
liquid cromatography) ou cromatografia líquida de alta eficiência. Essa é a
técnica de eleição por apresentar alta sensibilidade e especificidade para a
análise da cotinina 91.
A dosagem da cotinina é também considerada o melhor preditor para
analisar o status tabágico, mesmo durante a gestação 92. Gestantes
metabolizam a cotinina mais rapidamente que as não gestantes, devendo então
ser considerado que sua meia-vida fica reduzida 90. Há diferenças no seu
metabolismo também entre diferentes etnias, sendo que em afro-americanos e
chineses a metabolização se dá de forma mais lenta 93.
A presença de nicotina e seus metabólitos já foram avaliadas também no
líquido amniótico. Teoricamente, altas concentrações dessas substâncias
poderiam se acumular no líquido amniótico, devido a capacidade de difusão
através das membranas amniocoriônicas, adicionalmente à quantidade de
nicotina que entra através da placenta. Após a passagem para o líquido
amniótico, essas substâncias seguem circulando pelo processo de deglutição do
feto e eliminação na urina fetal. O baixo pH, também propicia o acúmulo de
substâncias como as estudadas 94.
Em comprovação a este raciocínio, Jordanov et al. 86 observaram que a
concentração de cotinina no líquido amniótico ao nascimento pode ser 2 vezes
-
25
maior que na urina materna. Köhler et al. 94 detectaram nicotina no líquido
amniótico de todas fumantes, porém não nas tabagistas passivas.
Também já foi quantificada cotinina no sangue do cordão umbilical, sendo
que os níveis encontrados foram relacionados com tabagismo ativo, tabagismo
passivo e com os efeitos do tabagismo no peso ao nascer, parecendo ser um
bom marcador 76.
Enfim, sabe-se que a cotinina pode ser utilizada como marcador de
exposição ao tabaco em gestantes, na urina e sangue materno, mecônio do
recém-nascido, líquido amniótico, urina fetal ou sangue do cordão umbilical 95.
Figura 2: Detecção de cotinina em gestantes e fetos.
NICOTINA
COTININA
Meia vida 36-40 horas
Detectada na urina, cabelo, saliva, sangue, líquido
amniótico, mecônio e sangue do cordão umbilical
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26
1.3. Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos
Os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) são uma classe de
compostos orgânicos que contém dois ou mais anéis aromáticos condensados,
constituídos de átomos de carbono e hidrogênio. À temperatura ambiente, os
HPAs são sólidos e as características gerais comuns a essa classe de
compostos são o alto ponto de fusão e de ebulição, a baixa pressão de vapor e a
pouca solubilidade em água, a qual tende a diminuir com o aumento da massa
molecular. Os HPAs são solúveis em muitos solventes orgânicos, altamente
lipofílicos 96. São poluentes do ar gerados pela combustão de motor dos veículos
e de fábricas, também são encontrados em algumas comidas, principalmente as
defumadas, e pela combustão de folhas de tabaco, através do tabagismo 97.
A maioria dos compostos HPA são metabolizados e excretados na urina,
com meia vida de 18 horas 98,99, podendo ser todos utilizados como
biomarcadores de exposição recente aos HPAs 100. Desde 1985, o 1-
hidroxipireno, metabólito principal dos pirenos, tem sido usado como
biomarcador dos HPAs 101. Llop et al. 102 mostraram que o 1-hidroxipireno é um
bom marcador para avaliar a exposição ao cigarro, além da exposição recente a
poluição aérea.
Quando a dosagem é realizada no sangue, o biomarcador utilizado
geralmente é o benzopireno. Está bem estabelecido que a exposição ambiental
ao benzopireno causa múltiplos efeitos deletérios, dependendo da dose e do
tempo de exposição 103. O benzopireno é rapidamente metabolizado pela
placenta e acumulado no tecido fetal durante a gestação em ratos 104. Perturba
os padrões de metilação do DNA em sistemas experimentais 105,106, o que está
associado à instabilidade do genoma e ao risco de câncer subsequente 107,108.
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27
Após a exposição, HPAs são metabolizados para formar produtos
fenólicos e epóxidos reativos, que tem a capacidade de se ligar ao DNA,
formando o complexo HPA-DNA adducts 109. O HPA-DNA adducts aumenta a
probabilidade de mutações genéticas e por isso é associado com várias formas
de câncer 110. Como hipótese, a via cancerígena para os HPAs, ou seus
metabólitos, envolve a produção de espécies reativas de oxigênio, que gera
stress oxidativo e pode levar à peroxidação de lípidios, modificação de proteínas
e dano ao DNA 111.
Figura 3: Mecanismos de mutagênese dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos
Nos seres humanos, a exposição materna a determinados HPAs
cancerígenos durante a gravidez pode provocar danos ao DNA, modificação de
histona e anomalias cromossômicas fetais 112 em uma faixa de exposição
ambiental relevante. DNA-adducts foram detectados no DNA do sangue do
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28
cordão umbilical fetal humano, bem como no sangue materno, após a exposição
aos HPAs em ar ambiente 113. A quantificação da exposição pré-natal aos HPAs,
realizada por monitoramento de ar, prediz significativo aumento de aberrações
cromossômicas em sangue do cordão umbilical, guardando relação dose-
resposta 114. Assim, exposição pré-natal a HPAs pode aumentar o risco de
câncer também em seres humanos 114.
Os HPAs atravessam a placenta, e o feto por estar em desenvolvimento é
até 10 vezes mais sensível do que a mãe para sofrer danos no DNA 113. O
desenvolvimento embrionário precoce é um período particularmente sensível
para a desregulação epigenética como consequência de exposições ambientais,
porque as taxas de síntese de DNA são altas e os padrões de metilação do DNA
estão sendo estabelecidos 115.
Perera et al. 113 propuseram que a transferência transplacentária de HPA
para o feto poderia ter impacto significativo sobre o desenvolvimento fetal. Essa
afirmação foi feita com base em uma série de estudos que encontraram redução
na circunferência craniana no nascimento correlacionada com um quociente de
inteligência menor, além de pobre funcionamento cognitivo e desempenho
escolar na infância 116,117. Além disso, encontrou-se associação com restrição do
crescimento intra-uterino 118, pequeno para a idade gestacional 119, e parto
prematuro119. Quando o grupo de recém-nascidos monitorados no pré-natal foi
seguido na idade escolar, observou-se prejuízo no desenvolvimento neurológico
112 e aumento na probabilidade de sintomas relacionados à asma 120.
Jules et al. 103 sugerem que a exposição intraútero ao benzopireno
predispõe os recém-nascidos a déficits funcionais no desenvolvimento
cardiovascular , o que pode contribuir para disfunção cardíaca ao longo da vida.
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29
Rundle et al. 121 sugerem que exposição pré-natal a HPAs causa aumento
de ganho de massa gorda durante a infância e aumenta risco de obesidade.
Langlois et al. 122 mostraram associação entre a exposição materna ocupacional
a HPAs e aumento de risco de lábio leporino com ou sem fenda palatina.
Estudo recente apoia as outras descobertas de que a exposição
transplacentária ao benzopireno através da inalação materna produz danos ao
DNA no feto em desenvolvimento. Ele também confirma que aumentou a
suscetibilidade fetal à exposição pré-natal HPAs, devido ao DNA adducts
representar um pró-carcinógeno na alteração do DNA 123. Isso deveria ser visto
como uma questão de saúde pública, pois está relacionado essecialmente à
exposição em áreas altamente poluídas.
Topinka et al. 124 mostraram resultados que sugerem um efeito protetor
significativo da barreira placentária contra o efeito genotóxico de alguns
componentes do tabaco, entre a circulação materna e fetal,
sob exposição mais intensa, representada por tabagismo ativo ou passivo.
Em indivíduos expostos à poluição ambiental, sem significativa
contribuição do fumo, o efeito protetor da placenta não foi observado.
Outros estudos confirmaram essa hipótese de que a exposição aos HPAs
durante a gravidez pode aumentar o estresse oxidativo, o que influenciaria os
resultados do parto e a saúde da criança posteriormente 111,112,125,126. Karttunen
et al. 127 confirmaram que a exposição materna ao benzopireno pode conduzir a
sua transferência para o feto, bem como a ligação de seu metabólito ao DNA da
placenta.
Rappolee et al. 128 mostraram que benzopireno pode perturbar a
diferenciação em células-tronco trofoblásticas placentárias, o que é importante
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30
para produzir os primeiros hormônios placentários que surgem na implantação
do concepto. Stejskalova e Pavek 129 confirmaram que o HPA-DNA aduccts na
placenta também levaram à complicações na gravidez, tais como parto
prematuro, restrição do crescimento intra-uterino (CIUR), anormalidades
estruturais, morte fetal, descolamento de placenta, risco de baixo peso ao
nascer, baixo comprimento ao nascimento e diminuição da circunferência
craniana.
Devido a essas alterações decorrentes da exposição aos HPAs, a rápida
urbanização, o aumento do número de fábricas, a extensa rede de auto-estradas
e a disponibilidade de carros e outros meios de transporte, que ocorrem no
mundo, ocasionando o aumento na emissão de poluentes tem preocupado os
pesquisadores 130. Apesar desses outros fatores de exposição aos HPAs, o
tabagismo é o fator mais importante de exposição na população em geral, e
principalmente, na nossa população.
Estudo achou valores com diferença estatística significativa nos níveis de
1-hidroxipireno urinário entre tabagistas e não tabagistas 131. Numa análise
multivariada feita por Kawamoto et al. 132, o cigarro foi a variável que mais
influenciou os níveis de 1-hidroxipireno, seguido pela dieta rica em carne e
peixes. Merlo et al. 133 não achou associação entre dieta e excreção de 1-
hidroxipireno na urina. Estudo realizado na Espanha mostrou que as pacientes
que fumam tendem a ter também uma dieta rica em HPAs 134.
Tabagistas excretam significativamente doses maiores de 1-hidroxipireno
na urina que não tabagistas e esses valores correlacionam-se muito bem com o
número de cigarros fumados 135. Apenas poucos estudos investigaram HPAs em
mulheres grávidas e sua relação com os resultados do parto 136 ou fatores de
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estilo de vida 102,135, a maioria foca na exposição ambiental. Sendo o cigarro o
principal fator de exposição, esse também deve ser estudado.
2. JUSTIFICATIVA E HIPÓTESE
2.1. Justificativa
O tabagismo na gestação expõe o feto à fumaça do cigarro, que contém
milhares de constituintes químicos e aditivos, incluindo metais pesados tóxicos e
agentes cancerígenos conhecidos, dentre eles os HPAs. Esses produtos
reconhecidamente têm papel de toxicidade no desenvolvimento fetal, e os
efeitos, provavelmente, seguem ao longo da vida e necessitam ainda ser melhor
elucidados [6].
Há uma preocupação crescente em relação à exposição das pessoas e
gestantes aos HPAs via poluição ambiental 117,121-123, porém o fator que mais
expõe o ser humano aos HPAs é o tabagismo.
Em gestantes, o metabolismo de muitas substâncias é diferente, além de
ser difícil avaliar a interferência de fatores alimentares e exposição ambiental.
Assim, é interessante comparar em uma mesma população, com dieta similar, e
mesmo ambiente de poluição, para isolar a verdadeira exposição dos fetos aos
produtos químicos decorrentes do tabagismo, tanto ativo quanto passivo,
diminuindo os possíveis fatores confundidores.
Como a embriogênese é um período crítico para o desenvolvimento do
feto, e sabe-se que exposição nesta fase pode ter efeitos ao longo da vida e em
futuras gerações através da epigenética, pretende-se quantificar a exposição
fetal a substâncias tóxicas, como os HPAs e nicotina, através de seus
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32
marcadores (1-hidroxipireno, benzopireno e cotinina) dosados no líquido
amniótico e no sangue do cordão umbilical.
2.2. Hipótese
Substâncias tóxicas da fumaça do cigarro inaladas pelas gestantes
tabagistas, dosadas através da cotinina e os HPAs, passam para o feto através
do líquido amniótico e do sangue do cordão umbilical.
2.2.1. Hipótese Nula (H0)
Substâncias tóxicas da fumaça do cigarro inaladas pelas gestantes
tabagistas não passam para o feto através do líquido amniótico e do sangue do
cordão umbilical.
3. OBJETIVOS
3.1. Objetivo Geral
Estudar se a exposição materna a substâncias tóxicas do cigarro,
dosadas através da cotinina, 1-hidroxipireno e benzopireno são transmitidas ao
feto.
3.2. Objetivos Específicos
- Quantificar o 1-hidroxipireno e cotinina no líquido amniótico,
- Quantificar a cotinina e benzopireno no sangue do cordão umbilical
- Quantificar o 1-hidroxipireno e cotinina na urina materna
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33
4. METODOLOGIA
4.1. Delineamento
Estudo transversal controlado.
4.2. População
Foram recrutadas, após assinatura de termo de consentimento, gestantes
que internaram em trabalho de parto no Centro Obstétrico do Hospital São Lucas
da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), entre julho
de 2010 e julho de 2013, com idade entre 18 e 35 anos, sem doenças prévias ou
gestacionais concomitantes.
4.2.1. Critérios de inclusão
- TABAGISTAS:
Gestantes tabagistas por pelo menos 5 anos (mais de 100 cigarros na
vida e fumando na atualidade).
- TABAGISTAS PASSIVAS:
Gestantes não tabagistas (não fumam desde o período pré-concepcional
de 6 meses) que resida com um tabagista que fume dentro do domicílio.
- CONTROLE:
Gestantes não tabagistas (nunca fumantes).
4.2.2. Critérios de exclusão
Pacientes que não quiseram participar do estudo, história de psicopatias,
analfabetas, trabalho de parto prematuro (antes das 37 semanas), ruprema,
infecções e adição a outras drogas.
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4.3. Métodos
4.3.1. Recrutamento das Gestantes
As gestantes foram recrutadas no momento da internação no Centro
Obstétrico do Hospital São Lucas da PUCRS em trabalho de parto. Após
aceitarem participar do estudo, responderam a um questionário em relação a
dados demográficos, hábitos e tabagismo. No momento da internação, foi
coletada urina materna. No momento da ruptura das membranas, foi coletado
líquido amniótico e no parto, sangue do cordão umbilical.
A coleta da urina foi realizada em frasco específico para coleta de exame
qualitativo de urina, estéril e armazenado em 2 frascos (1 para análise da
cotinina e outro para a análise do 1-hidroxipireno) em freezer a temperatura de -
200 C. Os frascos eram identificados somente com o nome do material e o
número da paciente.
A coleta de líquido amniótico foi feita conforme a evolução da paciente,
quando a ruptura das membranas era espontânea, conforme evolução do
trabalho de parto, a coleta era realizada através de espéculo vaginal e seringa
na saída do colo uterino e fundo vaginal. Quando a ruptura era realizada pelos
médicos, o material era coletado em cuba rim estéril e a ruptura realizada com
amniótomo. Após a coleta, o material era armazenado em 2 frascos (1 para
análise da cotinina e outro para a análise do 1-hidroxipireno) em freezer a
temperatura de -200 C. Os frascos eram identificados somente com o nome do
material e o número da paciente.
A coleta de sangue do cordão umbilical foi realizada após o nascimento,
logo após o clampeamento do cordão e dequitação da placenta, sendo coletado
por aspiração manual, agulha 18G (1,20 x 40 mm) e seringa de 20 mL.
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35
Armazenamento em frasco vacuette com tampa vermelha de coleta de sangue
que contém z serum clot activator, guardado em geladeira a 50 C por 6 horas,
para separação do soro, e coletado com pipeta somente o soro e armazenado
em 2 frascos de Eppendorf em freezer a -200 C, também identificados somente
com o número da paciente (1 para a análise da cotinina e outro para análise do
benzopireno). No processo de validação dos métodos verificamos que a análise
do benzopireno não poderia ser realizada em sangue total, porque o mesmo
coagulava e dificultava a análise.
As gestantes foram subdivididas em 3 grupos conforme a informação por
elas fornecidas em relação ao tabagismo: tabagista, tabagista passiva e grupo
controle.
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36
954 EN
Figura 4: Recrutamento das gestantes
954
ENTREVISTADAS
130 RECRUTADAS
824 EXCLUÍDAS
HIPERTENSÃO, PRÉ-ECLÂMPSIA, DIABETE PRÉVIO E
GESTACIONAL, RUPREMA, PREMATURIDADE,
INFECÇÕES, USO DE DROGAS
5 PERDAS
TABAGISTA PASSIVA
25
CONTROLE
63
TABAGISTAS
37
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37
4.3.2. Procedimentos laboratoriais
4.3.2.1. Extração de cotinina na urina
A extração foi realizada seguindo o método de Cattaneo e colaboradores
137. Foram pipetados 2,0 mL de urina centrifugada. Posteriormente, foi
adicionado 25 μL de NaOH 10 M, 100 μL de padrão interno (2-fenilimidazol,
1,0μg/mL) e 4,0 mL de diclorometano. A seguir, essa solução foi agitada por 40
minutos em homogeneizador e centrifugada por 10 minutos a 3000 rotações por
minuto. Dois mL da fase orgânica foram transferidos para um frasco evaporador
e colocados em termobloco (Pierce®, modelo 18940), sob corrente de nitrogênio
e temperatura ambiente, até secagem. Posteriormente, o resíduo foi
reconstituído com 200 μL de fase móvel e foram injetados 20 μL no
Cromatógrafo Líquido de Alta Eficiência (CLAE) 137.
4.3.2.2. Extração de cotinina no líquido amniótico
Para a extração de cotinina do líquido amniótico, foram pipetados 1 mL de
líquido amniótico, 25 µL de hidróxido de sódio, 25 µL de padrão interno 2-
fenilimidazol (0,25 µg/mL) e após, foi adicionado 2,0 mL de diclorometano. Essa
solução foi misturada por 40 minutos em um homogeneizador e centrifugada por
15 minutos a 3000 rotações por minuto. A fase aquosa foi extraída novamente
para maior recuperação, onde foram adicionados 2,0 mL de diclorometano e
seguiu-se o mesmo processo de homogeneização e centrifugação. Quatro mL
da fase orgânica foram transferidos para um frasco evaporador e colocados em
um termobloco (Pierce®, modelo 18940) sob corrente de nitrogênio e
temperatura de 37º C, até secura. O extrato foi reconstituído com 200 µL da
fase móvel e foram injetados 20 μL no CLAE 137.
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38
4.3.2.3. Extração de cotinina no sangue do cor dão umbilical
Para a análise de cotinina no sangue foi utilizado o método desenvolvido
por Petersen e colaboradores138. O sangue foi centrifugado e separado o soro.
Desta forma, 600 µL de soro foram tratados com 25,0 µL de hidróxido de sódio
10 M e 25,0 µL de 2-fenilimidazol (padrão interno, 5,0 µg/mL).
Subsequentemente, a amostra foi extraída com 5,0 mL de diclorometano. Uma
alíquota de 4 mL da fase orgânica foi separada e seca sob corrente de nitrogênio
a temperatura ambiente. A amostra seca foi reconstituída com 100 µL de fase
móvel e 20 µL foram injetados no CLAE 138.
4.3.2.4. Análise de cotinina
Foi utilizado um cromatógrafo líquido de alta eficiência Agilent® (Agilent
Technologiess, Santa Clara, CA, USA) equipado com detector de ultravioleta,
bomba isocrática e injetor manual de amostras. A separação cromatográfica foi
realizada utilizando coluna Zorbax® Eclipse XDB-C8 (4,6mm x 150mm x 5μm
Agilent) protegida por uma pré-coluna Zorbax® Eclipse XDB-C8 (4,6 x 12,5 mm,
5 μm Agilent). A fase móvel foi constituída de uma mistura de
Água:Metanol:Acetato de Sódio 0,1M:Acetonitrila (50:15:25:10). Cinco mL de
trietilamina e 7,14 gramas de ácido cítrico foram adicionados para cada litro de
fase móvel e o pH da fase móvel foi ajustado para 4,4 com ácido acético glacial.
Foi mantido um fluxo isocrático de 0,5 mL/min com a detecção por ultravioleta
em 260 nm, produzindo um tempo total de corrida de 10 minutos. Para
determinação dos níveis de cotinina foi utilizado o software ChemStation obtido
também da Agilent®.
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39
4.3.2.5. Extração de 1-hidroxipireno na urina
Para avaliação de 1-hidroxipireno na urina, 2,5 mL de urina foram tratados
com 5,0 mL de tampão acetato pH 5,0 e 10 µL da enzima β-glicuronidase-
arilsufatase. Subsequentemente a amostra foi incubada em banho-maria 37ºC
por 2 horas. Após a incubação, a amostra foi submetida a extração em fase
sólida sob pressão com cartuchos de sílica C18, ativados com 2 mL de metanol,
seguido de 5 mL de água ultrapura. A amostra hidrolisada foi aplicada a um fluxo
de aproximadamente 1,5 mL/min. O cartucho foi sequencialmente lavado com 6
mL de metanol 40% e o analito eluído com 2 mL de isopropanol. O solvente foi
evaporado a 37ºC sob corrente de nitrogênio e o resíduo foi reconstituído com
200 μl de metanol, dos quais 50 μl foram injetados no CLAE.
4.3.2.6. Extração de 1-hidroxipireno no líquido amn iótico
Para a extração do 1-hidroxipireno do líquido amniótico, a 2,0 mL de
líquido amniótico foram adicionados 2,0 mL de tampão acetato pH 5,0 e 20 µL
de enzima β-glicuronidase-arilsulfatase. Os tubos foram agitados por 30
segundos e incubados a 37°C por 2 horas para promover a hidrólise dos
produtos conjugados. A seguir, as amostras foram resfriadas a temperatura
ambiente e foram adicionados 4,0 mL de éter etílico. As soluções foram
homogeneizadas por inversão e agitação durante 1 minuto e centrifugadas.
Após, a fase orgânica foi transferida para frasco evaporador e o procedimento de
extração foi repetido para aumentar o rendimento do processo de extração.
Evaporaram-se as amostras sobre corrente de ar comprimido a 37°C, e após
secas, as mesmas foram reconstituídas com 250 µL de metanol e 20 µL foi
injetado no CLAE.
-
40
4.3.2.7. Análise de 1-hidroxipireno
Foi utilizado um cromatógrafo líquido de alta eficiência Shimadzu® LC-
Class 10 equipado com detector de fluorescência, bomba isocrática e injetor
manual de amostras. A separação cromatográfica foi realizada utilizando coluna
LiChospher® 100 RP-18 (4,6x150 mm, 5 μm) protegida por pré-coluna
(4,6×12,5 mm, 5 μm RP-18 LiChospher® 100). A fase móvel foi constituída de
uma mistura de Metanol:Acetonitrila:Água (35:35:30). Foi mantido um fluxo de
1,0 mL/min e a detecção foi feita por fluorescência (Excitação=242nm,
Emissão=388nm), produzindo um tempo total de corrida de 30 minutos.
4.3.2.8. Extração de benzopireno no sangue do cordã o umbilical
Na análise do benzopireno no sangue do cordão umbilical, para a
extração utilizou-se 150 ul de soro/sangue, adicionando 850 uL de água e
extraiu-se com 4 mL de ciclohexano, agitou-se em vortex e por
inversão. Após centrifugar por 10 minutos, a 1500 rotações por minuto, retirou-se
a fase superior para outro tubo. Repetiu-se o processo de extração novamente,
retirando a fase superior e juntando com a anterior. A fase orgânica e seca e
o resíduo ressuspendido em 250 ul de fase móvel, filtrou-se e injetou-se no
CLAE.
4.3.2.9. Análise do benzopireno
As condições cromatográficas foram: cromatógrafo Líquido de Alta
Eficiência com detector Fluorescencia, Shimadzu, fase móvel = ACN:H2O
(750:250), coluna RP-18 (4.6x100mm e 5 micron), fluxo: 1ml/min, volume de
injeção: 20μL - Injetor manual, detecção: Excitação=290nm, Emissão=430 nm.
-
41
4.4. Análise Estatística
Dados quantitativos foram descritos por média e desvio-padrão. Para a
comparação dos grupos as variáveis quantitativas receberam transformação
logarítmica sendo apresentadas como médias geométricas e desvio padrão das
médias geométricas. Para estimar a diferença proporcional das variáveis
assimétricas entre os grupos, utilizou-se a razão das médias (mean ratio) e o
intervalo de confiança (IC) de 95%. A razão das médias representa, em termos
relativos, quantas vezes a média de um grupo é maior do que a de outro. Foi
obtida em um modelo de análise de covariância de erro-padrão robusto aplicado
aos logaritmos das medidas. Para localização das diferenças entre os grupos,
utilizou-se o procedimento de post-hoc de Tukey. O nível de significância
adotado foi de 0,05. Os dados foram analisados com o programa SPSS versão
21.0.
4.5. Aspectos Éticos
Projeto aprovado no Comitê Científico do HSL em Maio de 2010,
aprovado Comitê de Ética em Junho de 2010, número 10/05066. Aprovado em
Abril de 2011 no Comitê Científico da Pós-Graduação.
Os exames realizados não ofereceram riscos às gestantes e nem aos
fetos. Somente foram incluídas aquelas pacientes que, após lerem o Termo de
Consentimento, aceitaram participar da pesquisa, estando cientes de que
poderiam sair do estudo a qualquer momento se assim desejassem.
-
42
5. RESULTADOS
Foram incluídas 125 gestantes, sendo 63 no grupo controle, 25 tabagistas
passivas e 37 tabagistas. Os grupos não apresentaram diferenças
estatisticamente significativas em termos de idade e aspectos obstétricos (tabela
1).
Na tabela 2 são apresentados os resultados das variáveis cotinina na
urina materna, no sangue de cordão umbilical e no líquido amniótico, seguidos
das medidas 1-hidroxipireno na urina materna e no líquido amniótico, e
benzopireno no sangue do cordão umbilical.
Tabela 1 - Características da população em estudo
Característica
Controle (n= 63)
Tabagista Passiva (n= 25)
Tabagista (n = 37)
P
Idade, anos
26 ± 5 24 ± 6 26 ± 5 0,24
IMC, Kg/m 2
27 ± 5 28 ± 5 28 ± 4 0,49
Gestaç ões
2 ± 1 2 ± 2 2 ± 1 0,17
Idade gestacional, Semanas
38 ± 1 38 ± 1 39 ± 1 0,15
Peso, g
3349 ± 409 3375 ± 433 3225 ± 528 0,33
Apgar 5º minuto
9 ± 0,7 9 ± 0,6 9 ± 1 0,09
Os dados são apresentados como média ± desvio-padrão. IMC: Índice de massa corporal 139 .
-
43
Tabela 2 – Comparação de variáveis selecionadas entre os grupos segundo hábito tabágico
Desfecho Controle Tabagista Passiva
Tabagista RM (TP/C)
RM (TxC)
P
n=56 Cotinina na urina, 0,64
a
µg/L (ND a 68)
n=25 0,94
a
(ND a 21)
n=35 3,77
b
(ND a 69)
1,48 [0,59-3,72]
5,92 [2,59- 13,55]
-
44
Tabela 3 – Média geométrica e desvio padrão geométrico dos gru pos
Controles Tabagistas Passivas
Tabagistas
MG DPG MG DPG MG DPG
Cotinina urinária
(µg/L)
0,64 4,33
0,94 4,31
3,77 6,90
Cotinina no líquido amniótico
(µg/L)
1,47 2,56
1,28 2,28
36,87 9,07
Cotinina no cordão umbilical
(µg/L)
3,36 6,34
3,23 6,20
8,79 7,83
1-hidroxipireno na urina materna
(µmol/mol creatinine)
0,02 17,04
0,05 9,44
0,15 9,63
1-hidroxipireno no
líquido amniótico (µg/L)
0,48 1,65
0,51 1,65
0,67 1,39
Benzopireno no cordão
umbilical (µg/L)
0,39 2,71
0,51 2,08
1,13 1,99
Os dados são apresentados por média geométrica (MG) e desvio padrão geométrico (DPG)
Todas as variáveis estudadas apresentaram diferença estatisticamente
significativa entre os grupos controle e tabagista. Não foram observadas
diferenças significativas entre controles e tabagistas passivas.
A concentração de cotinina foi cerca de 6 vezes maior na urina das
gestantes tabagistas, RM: 5,92 [2,59-13,55], p
-
45
29,69], p=0,003. No líquido amniótico, o grupo tabagista apresentou
concentração 30% maior que o grupo controle, RM: 1,34 [1,05-1,7], p=0,012. A
concentração de benzopireno foi cerca de 3 vezes maior no sangue do cordão
umbilical dos fetos de mães tabagistas RM: 2,9 [1,76-4,79], p
-
46
exposição à poluição ambiental. Estudo detectou DNA-adducts no sangue do
cordão umbilical fetal humano, bem como no sangue materno, após a exposição
aos HPAs em ar ambiente 113. Os HPAs atravessam a placenta, e o feto por
estar em desenvolvimento é até 10 vezes mais sensível do que a mãe para
sofrer danos no DNA 113. O desenvolvimento embrionário precoce é um período
particularmente sensível para a desregulação epigenética como consequência
de exposições ambientais, porque as taxas de síntese de DNA são altas e os
padrões de metilação do DNA estão sendo estabelecidos 115.
A concentração de cotinina nas gestantes tabagistas foi aproximadamente
6 vezes maior na urina, 25 vezes maior no líquido amniótico e 2,6 vezes maior
no sangue do cordão umbilical em relação ao grupo controle.
A concentração de 1-hidroxipireno nas gestantes tabagistas foi 7 vezes
maior na urina e 30% maior no líquido amniótico quando comparada ao grupo
controle. As concentrações de benzopireno foi 3 vezes maior no sangue do
cordão umbilical dos fetos das gestantes fumantes comparadas ao grupo
controle.
As substâncias encontradas em maior concentração na urina das
gestantes tabagistas (cotinina e HPAs) passam para os fetos através do líquido
amniótico e sangue do cordão umbilical. O processo de formação do líquido
amniótico, em que os fetos urinam e deglutem a própria urina, forma um ciclo
que aumenta a exposição a essas subtâncias. Isto justifica a concentração de
cotinina ser maior no líquido amniótico. A concentração da cotinina ser mais alta
do que a do 1-hidroxipireno no líquido amniótico pode estar relacionada a maior
meia-vida da cotinina (36 horas) em comparação ao 1-hidroxipireno (18 horas),
ou a solubilidade das substâncias nos diferentes fluidos. Não foi encontrada
-
47
diferença estatística entre as tabagistas passivas e controles. Provavelmente as
tabagistas passivas não inalam uma quantidade suficiente das substâncias
dosadas para transmitir aos fetos.
As gestantes foram classificadas em relação ao status tabágico conforme
o próprio relato, porque muitas delas ficaram longos períodos em abstinência,
devido às horas de pródromo de trabalho de parto. Muitas relataram que já
estavam há dias com contrações e dor, e por isso não estavam conseguindo
fumar. Devido à meia-vida das substâncias, esse período de abstinência poderia
alterar a classificação das gestantes baseada somente nos valores laboratoriais.
No processo da coleta, tivemos 5 perdas, por não termos conseguido
coletar todos os materiais da mesma gestante. No processo de análise
laboratorial, alguns dos materiais armazenados não estavam em quantidade
suficiente ou em condições adequadas para análise, o que justifica o n diferente
conforme as substâncias nos diferentes grupos.
Para a análise estatística, foram calculadas inicialmente as médias
aritméticas e medianas, porém os resultados não foram satisfatórios devido à
intensa assimetria dos dados. Foram calculadas as médias geométricas e razão
das médias geométricas, utilizando ferramentas estatísticas específicas para
dados assimétricos e próximos ao zero. Também foram calculados os intervalos
de confiança das médias geométricas, porém para interpretá-las é necessário
realizar uma transformação logarítmica e posteriormente Gauss (média +/-
desvio padrão).
Nossos resultados confirmam que a nicotina atravessa a placenta. A
nicotina é uma substância que causa danos ao feto, é neuroteratogênica
impactando o cérebro nas fases mais críticas do seu desenvolvimento 24. Isso
-
48
justifica os problemas emocionais, cognitivos observados nos filhos de mães que
fumaram na gestação. Além disso, a exposição ao cigarro no período pré e pós-
natal aumenta a probabilidade de dependência a drogas lícitas e ilícitas na
adolescência e idade adulta 25. O desenvolvimento dos órgãos, incluindo os
pulmões, pode ser adversamente afetado pela nicotina 26,27.
Também encontramos aumento da exposição fetal aos HPAs, que são
substâncias conhecidamente carcinogênicas. A via da carcinogênese dos HPAs
e seus metabólitos envolve a produção de espécies reativas de oxigênio, que
geram estresse oxidativo, peroxidação lipídica, modificações das proteínas, dano
ao DNA e pode ter influência ao nascimento e ao longo da vida 111,112,125,126.
Perera et al. 113 propuseram que a transferência placentária de HPAs aos
fetos pode ter impactos significativos no desenvolvimento fetal. Vários estudos
evidenciaram redução da circunferência cefálica ao nascimento, menor
quociente de inteligência e pior desempenho na escola na infância 116,117. Além
disso, os HPAs também estão associados à restrição de crescimento
intrauterino118, trabalho de parto prematuro 119 e aumento na probabilidade de vir
a desenvolver asma 120.
Jules et al. 103, através de estudo realizado em ratos, sugerem que a
exposição intraútero ao benzopireno predispõe os recém-nascidos a déficits
funcionais no desenvolvimento cardiovascular, o que pode contribuir para
disfunção cardíaca ao longo da vida. Rundle et al. 121 sugerem que exposição
pré-natal a HPAs causa aumento de ganho de massa gorda durante a infância e
aumenta risco de obesidade. Langlois et al. 122 mostraram associação entre a
exposição materna ocupacional a HPA e aumento de risco de lábio leporino com
ou sem fenda palatina.
-
49
Os efeitos dos HPAs nos fetos têm sido amplamente estudados, conforme
mencionado acima. Entretanto, a maioria dos estudos foca na exposição
ambiental 111-114.
O que este estudo acrescenta é que estudamos a exposição fetal aos
HPAs exclusivamente relacionada ao tabagismo, que é o principal meio de
exposição. Avaliamos uma população com uma dieta semelhante, vivendo na
mesma área geográfica, e sem variações significativas na exposição à poluição.
Conseguimos identificar 1- hidroxipireno no líquido amniótico e medimos os
níveis de benzopireno no sangue do cordão umbilical por cromatografia líquida
de alta eficiência, um método simples e barato. Existem estudos que já dosaram
o HPA-DNA-adducts, que mede a modificação no DNA causada pelo
benzopireno, mas é um método caro e complexo 110,113,125.
Enfim, nossos resultados confirmam que gestantes tabagistas tem uma
concentração aumentada de cotinina na urina e transmitem aos seus fetos
através do líquido amniótico e sangue do cordão umbilical. Confirmou que
gestantes tabagistas apresentam maiores concentrações de HPAs na urina que
não tabagistas e que o benzopieno passa para os fetos através do sangue do
cordão umbilical. Conseguimos dosar 1-hidroxipireno no líquido amniótico e
evidenciar maiores concentrações no líquido dos fetos das gestantes fumantes
comparadas ao grupo controle.
-
50
7. CONCLUSÕES
O estudo realizado permite chegar às seguintes conclusões:
- As substâncias tóxicas da fumaça do cigarro inaladas pelas gestantes
tabagistas, dosadas através da cotinina, 1-hidroxipireno e benzopireno são
transmitidas ao feto.
- A quantificação das substâncias estudadas permitiu identificar aumento
da concentração de cotinina e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos na urina
das gestantes tabagistas, no líquido amniótico e sangue do cordão umbilical de
seus fetos quando comparadas ao grupo controle. Em nenhuma das análises foi
encontrada diferença estatística quando comparados os controles com as
tabagistas passivas.
Desse modo, fetos de gestantes tabagistas estão expostos a substâncias
conhecidamente tóxicas e carcinogênicas.
-
51
8. BIBLIOGRAFIA
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