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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA E CIÊNCIAS DA SAÚDE ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: CLÍNICA MÉDICA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO FABIANA SILVEIRA COPÊS AVALIAÇÃO DA ESTABILIDADE DE ANTICOAGULAÇÃO ENTRE A VARFARINA E A FEMPROCUMONA PORTO ALEGRE 2012

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA E CIÊNCIAS

DA SAÚDE

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: CLÍNICA MÉDICA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

FABIANA SILVEIRA COPÊS

AVALIAÇÃO DA ESTABILIDADE DE ANTICOAGULAÇÃO

ENTRE A VARFARINA E A FEMPROCUMONA

PORTO ALEGRE

2012

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FABIANA SILVEIRA COPÊS

AVALIAÇÃO DA ESTABILIDADE DE ANTICOAGULAÇÃO

ENTRE A VARFARINA E A FEMPROCUMONA

Dissertação apresentada como requisito para

obtenção do Grau de Mestre pelo Programa de

Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde

da Faculdade de Medicina da Pontifícia

Universidade Católica do Rio Grande do Sul

(PUCRS).

Orientador

Prof. Dr. Luiz Carlos Bodanese

Porto Alegre

2012

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FABIANA SILVEIRA COPÊS

AVALIAÇÃO DA ESTABILIDADE DE ANTICOAGULAÇÃO

ENTRE A VARFARINA E A FEMPROCUMONA

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________

Prof. Dr. João Carlos Vieira da Costa Guaragna

________________________________________

Profª. Drª. Ana Maria Brito Medeiros

________________________________________

Dr. Mário Wiehe

________________________________________

Suplente: Prof. Dr. Luiz Claudio Danzmann

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DADOS DE CATALOGAÇÃO

Isabel Merlo Crespo

Bibliotecária CRB 10/1201

C782a Fabiana Silveira Copês Avaliação da estabilidade de anticoagulação entre a varfarina e

a femprocumona / Fabiana Silveira Copês. Porto Alegre: PUCRS, 2012.

62 f.: il. tab. Inclui um artigo científico para publicação.

Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Bodanese.

Co-orientador: Eduardo Bartholomay.

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do

Rio Grande do Sul. Faculdade de Medicina. Pós-Graduação em

Medicina e Ciências da Saúde. Área de concentração: Clínica

Médica.

1. VARFARINA. 2. FEMPROCUMONA. 3. ANTICOAGULAÇÃO. 4.

ANTICOAGULANTES. 5. ESTABILIDADE. 6. COMPARAÇÃO. 7. ENSAIO

CLÍNICO, RANDOMIZADO DUPLO CEGO. I. Bodanese, Luiz Carlos. II.

Bartholomay, Eduardo. III. Título.

CDD 616.853

CDU 616.853:159.923.4(043.2) NLM WL 385

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Dedicatória

Dedico esta dissertação a minha mãe Maria, que sempre

me incentivou e acreditou no meu potencial, pessoa que

me dá o exemplo diariamente de força de vontade, caráter

e persistência para alcançar meus objetivos. Obrigada

por torcer para que eu chegasse até aqui. Essa vitória

não é somente minha ela também é sua.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus, por me dar estrutura e suporte para conseguir

realizar meu sonho, enfrentando todas as barreiras com dignidade e força, me fazendo

acreditar que sou capaz, e que iria conseguir.

Agradeço a todas as pessoas que de alguma maneira colaboraram para a conclusão

deste sonho. Obrigada às pessoas que estiveram ao meu lado durante esta jornada. Em

especial:

Ao meu orientador, Prof. Dr. Luiz Carlos Bodanese pela inestimável paciência,

disponibilidade confiança e por me incentivar nos momentos mais difíceis, tomando

possível a conclusão deste trabalho.

Aos meus pais, Maria e Jorge, pelo apoio, incentivo, compreensão,

companheirismo, em especial por todo o amor e todo o carinho ao longo da minha vida.

A minha mãe, pela estrutura necessária para concluir este sonho, e todas as

realizações, não medindo esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida,

sendo sempre o meu maior exemplo de luta e força.

A minha madrinha Verita, pela confiança e pelo apoio, para que pudesse continuar

meus estudos.

Aos meus queridos familiares, avós, tios, primos, primas, dindos, por tudo que

representaram na minha vida. Em especial, ao meu irmão Róger que alegra meus dias.

Ao meu primo Francisco, por ser minha família, quando todos os outros estavam

longe, e estar sempre ao meu lado fazendo meus dias mais cheios de alegria e sorrisos.

Ao meu colega Querino Haesbaert, que sempre foi incansável, me apoiando, me

ajudando e me dando suporte para todas as dificuldades encontradas ao longo desta pós-

graduação.

A minha querida amiga, e colega, Ana Letícia, pela amizade dedicada, pelos

conselhos, pelo apoio moral, e principalmente, por tornar real, meu sonho da docência.

Ao amigo Vinicius, que sempre esteve ao meu lado, acreditou em mim, no meu

sonho, e sempre me apoiou em tudo que precisei. Certamente, grande parte de minha

personalidade de luta e força aprendi contigo.

Aos colegas da Pós- Graduação em Medicina e Ciências da Saúde, pelas trocas de

experiências vivenciadas em todo o percurso.

Aos médicos, Dr. Eduardo Bartholomay e Dr. Carlos Kalil, pela oportunidade de

aprendizado, e também pelo apoio financeiro, com a bolsa.

A Dra. Carolina Pelzer Süssenbach, pelas inúmeras orientações e esclarecimentos,

sendo muito importante para meu aprendizado e minha conclusão.

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v

A amiga, Dra. Renata Etchepare, pelas palavras, pelo carinho sempre ofertado nos

momentos mais difíceis. Pelos conselhos, pelos ensinamentos, pelas orações, por todos os

dias, onde só sua presença me fazia ser mais alegre através da energia e paz que transmite.

A amiga Danúbia, que faz parte da minha família aqui nesta cidade, e que sempre

foi incansável nos momentos de maiores obstáculos.

Por fim, agradeço a todos que não foram citados, mas direta ou indiretamente

fizeram parte deste sonho e da conclusão dele. Saibam que a amizade de todos vocês

representou um estímulo de força, o que foi fundamental para minha formação pessoal e

profissional.

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RESUMO

A anticoagulação oral tem se mostrado efetiva na prevenção e no tratamento de

eventos tromboembólicos .Os antagonistas da vitamina K (AVK) são as drogas de escolha a

mais de 50 anos no tratamento para prevenção de eventos tromboembólicos e os mais

comumente utilizados são a varfarina e a femprocumona. Atualmente existem novos

anticoagulantes orais, os inibidores diretos do fator Xa, e os inibidores diretos da trombina

os quais demonstram eficácia semelhante aos AVK e baixo risco de sangramento e não

necessitam de monitoramento por apresentarem baixa interação com outras drogas e

alimentos. Apesar dessas vantagens, os AVK continuam sendo amplamente utilizado devido

à longa experiência de seu uso, possibilidade de monitorização através do controle da razão

normatizada internacional (RNI), pela existência de um antídoto para reversão de seu efeito

(vitamina K) e pelo baixo custo.

A principal diferença farmacológica entre os AVK é sua meia-vida, a qual é mais

curta para a varfarina, aproximadamente 30 horas, versus 216 horas para a femprocumona.

Existem poucos dados na literatura que comparem a eficácia, estabilidade e interações

medicamentosas dessas duas drogas. As variações dos níveis terapêuticos dos AVK e a

dificuldade de mantê-lo estável devido a interações com os medicamentos e com a

alimentação é um fator limitante da eficácia e segurança dessas drogas. Devido à ausência

de evidências comparando a estabilidade do nível terapêutico entre a varfarina e

femprocumona, é necessário que existam estudos que comparem essas duas drogas em

relação à manutenção de anticoagulação em nível terapêutico.

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ABSTRACT

Oral anticoagulation has been shown to be effective in the prevention and treatment

of thromboembolic events. Vitamin K antagonists (VKA) are the drugs of choice for over 50

years in treatment for prevention of thromboembolic events and the most commonly used

are warfarin and phenprocoumon. Currently there are new oral anticoagulants, the direct

factor Xa inhibitors, and direct thrombin inhibitors which demonstrate similar efficacy to

VKA and low bleeding risk and do not require monitoring because they have low interaction

with other drugs and foods. Despite these advantages, the AVK still widely used due to the

long experience of its use, the possibility of monitoring through the control of international

normalized ratio (INR), the existence of an antidote to reverse its effect (vitamin K) and at

low cost .

The main difference between the AVK is pharmacological half-life, which is shorter

for warfarin, approximately 30 hours versus 216 hours for phenprocoumon. There are few

data in the literature that compare the efficacy, stability and drug interactions of these two

drugs. Changes in therapeutic levels of AVK and the difficulty of keeping it stable due to

interactions with drugs and food is a limiting factor for the efficacy and safety of these

drugs. Due to the lack of evidence comparing the stability of the therapeutic level of

warfarin and phenprocoumon, it is necessary that studies comparing these two drugs in

relation to maintaining therapeutic level of anticoagulation.

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LISTA DE FIGURAS

FIFURA 1. Formação de trombo na corrente sanguínea ..................................................... 2

FIGURA 2. Esquema da cascata de coagulação.................................................................. 4

FIGURA 3. Fase de iniciação do sistema de coagulação .................................................... 6

FIGURA 4. Fase de amplificação do sistema de coagulação .............................................. 7

FIGURA 5. Fase de propagação do sistema de coagulação ................................................ 8

FIGURA 6. Ativação da pc e inativação dos fatores va e viiia .......................................... 9

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LISTA TABELAS

TABELA 1. Interações de significância maior dos anticoagulantes com medicamentos...16

TABELA 2. Interações de significância moderada dos anticoagulantes com medicamentos

............................................................................................................................................. 17

TABELA 3. Interações de significância menor dos anticoagulantes com medicamentos .

............................................................................................................................................. 18

TABELA 4. Principais interações de anticoagulantes com medicamentos ........................ 19

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LISTA DE TABELAS E FIGURAS DO ARTIGO

TABELA 1. Características da População .......................................................................... 41

TABELA 2. Comparação da razão normatizada internacional por variáveis e por pacientes

usuários de varfarina e femprocumona, estratificados por períodos de visita ..................... 43

TABELA 3. Eventos adversos provenientes do uso de anticoagulantes ............................ 45

FIGURA 1. Estabilidade de RNI ao longo do período da análise ...................................... 44

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

IAM Infarto agudo do miocárdio

AVC Acidentes vasculares cerebrais

TVP Trombose venosa profunda

EP Embolia pulmonar

TEV Tromboembolismo venoso

FA Fibrilação atrial

SCA Síndromes Coronárias Agudas

AT Antitrombina

FT Fator Tecidual

TFPI Inibidor da via do fator tecidual

vWF Fator de von Willebrand

TAFI Fibrinólise mediado pela trombina

TM Trombomodulina

PC Proteína C

PS Proteína S

ADP Adenosina difosfato

PCA Proteína C Ativada

AVK Anti-vitamina K

TP Tempo de Protrombina

INR International Normalized Ratio

FDA Food and Drug Administration

HBPM Heparinas de baixo peso molecular

IDT Inibidores diretos da trombina

IFXa Inibidores do Fator Xa

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SUMÁRIO

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 1

1.1 COAGULAÇÃO .................................................................................................................. 3

1.2 VIAEXTRÍNSECA .............................................................................................................. 3

1.3 VIA INTRÍNSECA .............................................................................................................. 4

1.4 FASES DA COAGULAÇÃO .............................................................................................. 4

1.5 ANTICOAGULANTES ORAIS .......................................................................................... 9

1.5.1 VARFARINA ................................................................................................................... 11

1.5.2 FEMPROCUMONA ......................................................................................................... 11

1.6 DIFERENÇAS ENTRE VARFARINA E FEMPROCUMONA ......................................... 12

1.7 INTERAÇÕES ..................................................................................................................... 13

1.7.1 INTERAÇÕES COM MEDICAMENTOS ....................................................................... 14

1.7.2 INTERAÇÕES COM ALIMENTOS ................................................................................ 17

1.8 EFEITOS ADVERSOS DOS ANTICOAGULANTES ....................................................... 18

1.9 INOVAÇÕES TERAPEUTICAS ........................................................................................ 19

2 OBJETIVOS ............................................................................................................................... 22

2.1 GERAL ............................................................................................................................... 22

2.2 ESPECÍFICO ....................................................................................................................... 22

3 CONCLUSÃO...............................................................................................................................23

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 24

ANEXO A- PROTOCOLO DE PESQUISA ........................................................................ 30

ARTIGO......................................................................................................................................... 32

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REFERENCIAL TEÓRICO

1 INTRODUÇÃO

Apesar do progresso no diagnóstico e tratamento, as doenças tromboembólicas

continuam a ser causas maior de morbidade e mortalidade a nível mundial.1,2,3

O eventos

arteriais mais comuns são o infarto agudo do miocárdio (IAM), os acidentes vasculares

cerebrais isquêmicos (AVC) isquemia das extremidades, os eventos da trombose venosa

profunda (TVP) a embolia pulmonar (EP) e a síndrome pós-trombótica.1,4,5

O sistema da

coagulação, em interação com a ativação plaquetária, está centralmente envolvido na

formação do trombo arterial e venoso.6

A hemostasia é resultante do equilíbrio entre proteínas pró-coagulantes e

anticoagulantes, na qual estão envolvidos os vasos, as plaquetas, as proteínas da coagulação

e da fibrinólise e os anticoagulantes naturais. Todos estes componentes estão

interrelacionados, constituindo os sistemas da coagulação e da fibrinólise7. Muitos fatores,

genéticos ou adquiridos, podem contribuir para romper este equilíbrio, levando a estados de

hipo ou hiper coagulabilidade. Como manifestação, de um estado de hipercoagulabilidade, a

trombose constitui um problema clínico de considerável gravidade e morte ocasional.2,6

Evidências têm mostrado que a trombose pode contribuir para a ocorrência da doença

cardíaca coronariana, não somente como uma complicação aguda do ateroma e da placa

rompida, mas também como uma causa contínua do processo crônico da aterogênese.8

Conforme e figura 1, o trombo arterial consiste num aglomerado plaquetário unido

por pequenas quantidades de fibrina (“trombo branco”). Devido à predominância de

plaquetas, as estratégias para inibir a trombogênese arterial centram-se no uso de agentes

antiplaquetários e, em certas circunstâncias, de anticoagulantes.4,5

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Figura 1- Formação de Trombo na Corrente Sanguínea.

O trombo venoso, ao contrário do arterial, raramente se forma em áreas de lesão

vascular evidente. É composto essencialmente por fibrina e hemácias retidas (trombos

“vermelhos”) e contém poucas plaquetas. Assim, os anticoagulantes são a base da prevenção

e do tratamento do tromboembolismo venoso (TEV).4,5

Os anticoagulantes são medicamentos utilizados em uma variedade de condições

frequentes na prática clínica.9 As indicações atualmente definidas para a anticoagulação

incluem a profilaxia e tratamento do TEV, a prevenção de eventos cardioembólicos nos

doentes com fibrilação atrial (FA) ou próteses valvulares mecânicas e a prevenção

secundária nos doentes com síndromes coronárias agudas (SCA) ou submetidos a

intervenção coronária percutânea (PCI).5,7,8,9,10

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1.1 COAGULAÇÃO

A formação do coágulo de fibrina envolve complexas interações entre proteases

plasmáticas e seus cofatores, que culminam na gênese da enzima trombina, que, por

proteólise, converte o fibrinogênio solúvel em fibrina insolúvel. Progressos significativos

ocorreram nas últimas décadas, concernentes à compreensão da fisiologia desse sistema e

dos mecanismos que o regulam.11,12

Conforme assinalado, tais conhecimentos tiveram

fundamental importância para a melhor compreensão da fisiologia da hemostasia e do papel

das reações hemostáticas em doenças hemorrágicas e trombóticas.12

Em 1964, Macfarlane e Davie & Ratnoff propuseram a hipótese da “cascata” para

explicar a fisiologia da coagulação do sangue.13,14

Nesse modelo (Figura 2), a coagulação

ocorre por meio de ativação proteolítica, seqüencial de zimógenos, por proteases do plasma,

resultando na formação de trombina que, então, converte a molécula de fibrinogênio em

fibrina. O esquema divide a coagulação em uma via extrínseca (envolvendo componentes do

sangue, mas, também, elementos que usualmente não estão presentes no espaço

intravascular) e uma via intrínseca (iniciada por componentes presentes no intravascular),

que convergem no ponto de ativação do fator X (“via final comum”).

1.2 VIA EXTRÍNSECA

A via extrínseca é o meio pelo qual a substância ativadora da protrombina é gerada

em resposta ao contato do sangue com os tecidos extravasculares.15

Ocorre quando a

ativação do fator VII, pelo fator tecidual, produz a ativação do fator X.16

O tecido

traumatizado libera um complexo de vários fatores, denominado fator tecidual ou

tromboplastina tecidual.17

O fator III, o cálcio e fator VII formam um complexo que age

enzimaticamente na presença de fosfolipídios para converter o fator X para fator Xá.15

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1.3 VIA INTRÍNSECA

A via intrínseca inicia-se pelo contato do sangue com uma superfície diferente do

endotélio normal e das células sangüíneas.16

A seqüência de reações enzimáticas produz o

coágulo sangüíneo nas diferentes etapas: (a) fase de contato; (b) a ativação do fator X; (c) a

formação de trombina; (d) a formação de fibrina insolúvel.18

Figura 2 - Esquema da cascata da coagulação, proposto na década de 1960, com a divisão

do sistema de coagulação em duas vias. CAPM: cininogênio de alto peso molecular; PK:

pré-calicreína.

Contudo, a coagulação tem sido descrita como um processo complexo cujo modelo é

baseado no papel das células intervenientes, nomeadamente as células apresentadoras de

fator tecidual e as plaquetas. Este sistema divide-se em três fases distintas mas interligadas:

iniciação (Figura 1), amplificação (Figura 2) e propagação (Figura 3).1,19

1.4 FASES DA COAGULAÇÃO

A fase de iniciação (Figura 3), classicamente denominada via extrínseca, ocorre nas

células que expressam fator tecidual (FT). Nos vasos sanguíneos íntegros, o FT localiza-se

maioritariamente na matriz extracelular entre e sob as células endoteliais, constituindo um

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revestimento protetor dos vasos sanguíneos pronto a ativar a coagulação após lesão vascular.

A associação fator tecidual - fator VIIa (complexo tenase extrínseca) acelera a ativação dos

fatores IX e X. O fator Xa localizado na superfície celular está relativamente protegido da

inativação mas, quando livre, é rapidamente inibido pela antitrombina (AT) e pelo inibidor

da via do fator tecidual. Pelo contrário, o fator IXa pode mover-se da superfície celular, onde

foi formado, para plaquetas próximas ou outras superfícies celulares (não sofre inibição pelo

inibidor da via do fator tecidual (TFPI) e a inibição pela AT é muito mais lenta). O fator Xa

associa-se ao fator Va (complexo protrombinase) e ao Ca2+, na superfície das células

portadoras de fator tecidual. O fator V pode ser ativado pelo próprio fator Xa, mas o fator

Va pode também ser secretado pelas plaquetas ativadas. A pequena quantidade de trombina

sintetizada pelo complexo fator Xa/ fator Va recém-formado, nas células portadoras de FT, é

crucial para garantir a eficácia da iniciação da coagulação e para a amplificação da

mesma.1,20,21

Figura 3 - Fase de iniciação do sistema da coagulação (adaptado de Monroe e Hoffman).21

Uma vez formada, a trombina pode deslocar-se das células portadoras de FT até às

plaquetas locais, onde se liga ao receptor GPIb, iniciando a fase de amplificação (Figura 4).

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A ligação da trombina às plaquetas permite a interação da mesma com outros componentes

da superfície plaquetária com a consequente clivagem da proteína PAR-1, levando à

intensificação da atividade procoagulante plaquetária iniciada durante o fenômeno de

adesão. Outra função da trombina formada inicialmente é a liberação e a ativação do fator

VIII que, na sua forma inativa, se encontra ligado ao fator de von Willebrand (vWF) (o qual

tem um papel importante na adesão plaquetária), e a ativação dos fatores V e XI na

superfície plaquetária.21

Figura 4 - Fase de amplificação do sistema da coagulação (adaptado de Monroe e

Hoffman).21

A fase de propagação, classicamente denominada via intrínseca, ocorre nas plaquetas

ativadas (Figura 5). O fator IXa, gerado na fase de iniciação e pelo fator XIa na superfície

plaquetária, liga-se ao fator VIIIa (complexo tenase intrínseca). Como o fator Xa não se

difunde livremente, tem de ser produzido diretamente na superfície plaquetária pelo

complexo fator IXa/ fator VIIIa. O fator Xa assim formado associa-se rapidamente ao fator

Va e ao Ca2+, na superfície da plaqueta. Este complexo protrombinase cataliza a conversão

da protrombina em trombina, a protease essencial do sistema da coagulação, produzindo-se

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7

grandes quantidades desta (para cada molécula de fator Xa formam-se, aproximadamente,

1000 moléculas de trombina).22

Figura 5 - Fase de propagação do sistema da coagulação (adaptado de Monroe e

Hoffman).21

A trombina gera reações pró-coagulantes e anticoagulantes. Além da conversão do

fibrinogênio solúvel numa matriz de fibrina insolúvel, a trombina também é responsável

pela estabilização do coágulo através da ativação do fator XIII (que favorece a formação de

ligações cruzadas covalentes entre as moléculas de fibrina).

A trombina dificulta a ação fibrinolítica pela ativação do inibidor da fibrinólise

mediado pela trombina (TAFI), que remove resíduos terminais de lisina e arginina da fibrina

(sítios de ligação das enzimas fibrinolíticas), pela ligação ao receptor PAR-4 (que assegura

uma desgranulação total das plaquetas) e pela sua própria incorporação na estrutura do

coágulo. Esta incorporação diminui a eficácia da inativação pela AT, a qual é a responsável

maior pela inibição de fatores livres (IIa, IXa, Xa e XIa), protegendo a circulação de

enzimas libertadas do local da lesão.14,19,21,23

Há vários mecanismos anticoagulantes naturais que auxiliam na restrição da

formação do tampão hemostático ao local da lesão, dos quais se incluem: o sistema

trombomodulina (TM) - proteína C e proteína S (Figura 4); os inibidores plasmáticos dos

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fatores da coagulação; uma ecto-ADPase que inibe a amplificação da ativação plaquetária

pela libertação de adenosina difosfato (ADP); os heparinóides na superfície endotelial que,

ao ligarem-se à AT, aumentam a sua atividade; e a própria sequestro dos fatores da

coagulação ativados no coágulo hemostático (incapazes de se difundir através da camada

sobrejacente de coágulo),21,23,24

como demonstrado na Figura 6.

A TM tem atividades anticoagulantes diretas e indiretas. Enquanto a direta envolve a

ligação, neutralização e degradação da trombina, a indireta atua por intermédio da ativação

da Proteína C pelo complexo TM-trombina (Figura 4). A Proteína C ativada (PCA),

suportada pela Proteína S, é assim capaz de clivar a ligação dos fatores VIIIa e Va aos

fosfolípidos de membrana das células endoteliais, mas não das plaquetas.21,24

A relevância

clínica deste sistema trombina- TM-A Proteína C-Proteína S é evidente pelo estado de

hipercoagulabilidade geralmente associado a indivíduos com deficiências funcionais das

proteínas C ou S ou com o fator V de Leiden (mutação no fator Va que o torna resistente à

inativação pela PCA).

Figura 6 - Ativação da PC e consequente inativação dos fatores Va e VIIIa (adaptado de

Wouwer et al).25

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1.5 ANTICOAGULANTES ORAIS

O uso dos agentes anticoagulantes iniciou-se em 1916, com o descobrimento do

efeito anticoagulante da substância heparan-sulfato, extraída do fígado de porcos por

McLean.32

A partir desta descoberta, iniciou-se a elucidação dos mecanismos da coagulação

e das possíveis terapias para o tratamento das doenças aterotrombóticas. Posteriormente, em

1933, Karl Paul Link descobriu o dicumarol, uma droga anti-vitamina K (AVK),

inicialmente utilizado como raticida. Após seu aperfeiçoamento como hidroxicumarina, na

década de 50, passou a ser usado como anticoagulante oral em seres humanos.

Há aproximadamente 60 anos, os AVK, varfarina e femprocumona têm utilização

clínica e eficácia no tratamento e prevenção de fenômenos tromboembólicos, mas se

associam a problemas que limitam sua utilização universal como uma janela terapêutica

estreita, imprevisibilidade de sua farmacodinâmica e farmococinética, importantes

interações medicamentosas, necessidade de monitorização laboratorial frequente, interação

alimentar, e, paradoxalmente, com indução de estados de hipercoagulabilidade (como, por

exemplo, necrose de pele induzida por varfarínicos), ocasionando eventos trombogênicos ou

hipocoagulabilidade sistêmica, além do risco de eventos adversos hemorrágicos.33,34

As drogas (AVK) são administrados para profilaxia de fenômenos tromboembólicos.

Sua ação é impedir a carboxilação dos fatores VII, IX, X e II da coagulação, levando à

síntese de fatores inativos. Sua ação deve ser monitorizada, de forma cuidadosa e periódica,

no sentido de se evitar a superdosagem e manter seu nível terapêutico.26

No entanto, existe

uma grande variabilidade individual na resposta a terapia por AVK, o que pode desencadear

um efeito não desejado, como sangramentos e trombos. Essa variabilidade da resposta aos

AVK relaciona-se a múltiplos fatores como: aos farmacocinéticos (relacionados aos

mecanismos de absorção e excreção), aos farmacodinâmicos (diferenças nas concentrações

plasmáticas da droga e seu efeito), bem como o não cumprimento terapêutico, as variações

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10

dietéticas, as interações farmacológicas, além de casos de resistência hereditária

adquirida.27,29

Assim, ao iniciar a terapia com os AVK, os indivíduos terão que controlar os níveis

de coagulação sanguínea, específicos para cada indicação do AVK, por meio da medida do

tempo de protrombina (TP), expresso pela International Normalized Ratio (INR). Para

indivíduos com trombose venosa profunda, fibrilação atrial isolada ou associada à doença

valvar reumática, ainda não operados, ou com prótese modelo biológico preconiza-se

valores de INR entre 2,0 e 3,0 e valores de INR entre 2,5 e 3,5, quando em uso de prótese

valvar cardíaca mecânica.30

Estudos discutem que o intervalo terapêutico único para o uso

de AVK pode não ser ideal para todas as indicações, entretanto, uma anticoagulação de

moderada intensidade (INR = 2,0-3,0) é efetiva para maioria das indicações minimizando o

risco de eventos hemorrágicos e tromboembólicos.30,31

Os AVK mais utilizados prática clínica são os AVK, os quais são representados pela

varfarina e a femprocumona, a opção pelo uso entre estas duas medicações, varia conforme a

necessidade de cada paciente, pois os medicamentos, apresentam algumas diferenças

farmacocinéticas, e farmacodinâmicas.

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1.5.1 Varfarina

Quando administrados por via oral, a varfarina tem absorção rápida e quase completa

pelo trato gastrintestinal, sofrendo redução na presença de alimentos48,49

. A concentração

máxima de varfarina no sangue é observada dentro de 1 hora após sua ingestão. Todavia, em

virtude de seu mecanismo de ação, esse pico não coincide com o efeito farmacológico

máximo, que ocorre cerca de 48 horas mais tarde.48

A varfarina, liga-se fortemente à

albumina plasmática.48,49

A varfarina é uma mistura racêmica de enantiômeros anticoagulantes R e S, sendo

estes cinco vezes mais potentes que a femprocumona. A S­varfarina é transformada em

metabólitos inativos pela isoenzima CYP2C9, enquanto a R­ varfarina é transformada pelas

CYP1A2, CYP2C19 e CYP3A4. Seus metabólitos inativos são excretados na urina e nas

fezes. A meia­vida varia de 25 a 60 horas, com média de cerca de 40 horas. A duração de

ação da varfarina é de 2 a 5 dias(1­6,10­16).50

1.5.2 Femprocumona

A femprocumona atua inibindo a coagulação sanguínea de forma espefífica,

antagonizando a vitamina K nos sistemas enzimáticos, que atuam no fígado na formação de

vários fatores de coagulação (Fator II = Protrombina, Fatores VII, IX e X). Seu efeito

anticoagulante não é imediato, ele se processa no espaço de um a dois dias. Sua eficácia

plena é observada após quatro a seis dias de tratamento, não existindo a possibilidade de

reduzir esse período de ação, mesmo aumentando a dosagem preconizada. A ação

prolongada e regular da femprocumona é obtida com doses bem baixas e desaparece

progressivamente, não apresentando efeitos tóxicos sobre o fígado devido à sua ação

específica exercida, exclusivamente, sobre os sistemas enzimáticos dependentes da vitamina

K.

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A femprocumona é rapidamente absorvida pelo trato gastrointestinal, sofrendo

hidroxilação no fígado, dando origem a metabólitos praticamente inativos, que são

eliminados por via renal. Em virtude da permanência prolongada da femprocumona no

organismo, ligada às proteínas plasmáticas, o estado de equilíbrio só é alcançado alguns dias

após uma modificação da dose de manutenção dessa droga.55

1.6 DIFERENÇA ENTRE VARFARINA E FEMPROCUMONA

Os anticoagulantes orais mais comuns em uso clínico são os antagonistas da vitamina

K varfarina e femprocumona. Ambos têm sido utilizados na prática médica por mais de 50

anos.5 A varfarina é o único ACO aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) para

prescrição nos Estados Unidos da América. A femprocumona tem uma meia-vida plasmática

mais longa que a varfarina, além de um início de ação um pouco mais lento e de uma

duração de ação mais longa, sendo administrada geralmente, de 0,75 a 6mg, diariamente.56

Tem seu uso disseminado em vários países como a Alemanha, Holanda, Itália e

Brasil6. A principal diferença farmacológica entre as coumarinas é sua meia-vida, a qual é

mais curta para a varfarina, aproximadamente 30 horas, versus 216 horas para a

femprocumona.7 Estudos na literatura comparando esses medicamentos são escassos. Além

disso, as principais diferenças entre usuários de varfarina e femprocumona, em relação à

taxa alvo do tempo de protrombina (INR) durante o seguimento e a incidência de eventos

adversos (embólicos e hemorrágicos), ainda não foram descritas. O efeito anticoagulante de

ambas as drogas é influenciado por fatores genéticos e ambientais.53

A femprocumona é

usada em aproximadamente 75% dos pacientes usando terapia com ACO na Holanda.54

As

propriedades farmacocinéticas da femprocumona, meia-vida prolongada quando comparada

à varfarina, gerando níveis mais estáveis da droga no sangue,54

podendo esta droga ser uma

opção atraente.

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1.7 INTERAÇÕES

A ação da anticoagulação oral pelos AVK pode ser influenciada por muitos fatores e

ultrapassar ou não atingir sua ação terapêutica, o que pode acarretar eventos hemorrágicos

ou tromboembólicos. Isto se deve ao fato de que a terapia com AVK, é influenciada por

numerosas condições que modificam a sua sensibilidade, dentre elas, as variações na ingesta

de alimentos contendo vitamina K, a dieta rica em gorduras, interações medicamentosas,

consumo de álcool, alterações no estado clínico, como a presença de hepatite, doenças virais

do trato respiratório e hipotireoidismo.57

O uso dos AVK é muitas vezes, subutilizado

devido a fatores sócio-econômicos, dificuldades na monitoração do efeito anticoagulante e a

preocupação com possíveis complicações tromboembólicas e hemorrágicas. Entre os efeitos

colaterais dos AVK estão às hemorragias, a necrose cutânea, os distúrbios gastrointestinais,

a púrpura, a dermatite urticariforme, a alopecia e a teratogenia.58

As interações podem ser divididas em efeitos farmacocinéticos e

farmacodinâmicos.41

Interações que modificam a farmacocinética da varfarina incluem

alterações na absorção, que diminui o efeito anticoagulante; no metabolismo, seja por

indução da isoenzima CYP2C9, que aumenta o clearance da varfarina, reduzindo a atividade

anticoagulante, seja por inibição enzimática, que aumenta o efeito anticoagulante e o RNI;

no transporte, pois um fármaco que também se liga à albumina plasmática desloca a

varfarina, provocando um aumento em sua concentração livre e na atividade

anticoagulante.42

Interações que modificam a farmacodinâmica da varfarina incluem

sinergismo (comprometimento da hemostasia e síntese diminuída de fatores da coagulação,

conforme observada nas doenças hepáticas), antagonismo competitivo (vitamina K) e

alteração da alça de controle fisiológico da vitamina K (resistência hereditária aos

anticoagulantes orais).41

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1.7.1 Interações com medicamentos

As interações medicamentosas podem ser divididas das seguintes formas:

Significância maior: ocorrem no dia-a-dia, estão devidamente documentadas e

podem causar danos ao paciente, exemplificados na Tabela 1.43

Tabela1. Interações de significância maior dos anticoagulantes com medicamentos.

Fonte: SOCESP, 2003.

Significância moderada: não são prescritas frequentemente, embora possuam boa

documentação e acarretarem riscos moderados, como mostra a Tabela 2.43

Medicamentos Interações

Ácido nalidixico Aumenta o efeito anticoagulante; Monitorar o paciente e diminuir

a dosagem do medicamento.

Amiodarona Aumenta os efeitos farmacológicos dos anticoagulantes.

Aspirina Aumenta o risco de sangramentos; Monitorar o paciente.

Cimetidina Há inibição do metabolismo do anticoagulante, podendo causar

sangramento.

Clofibrato Potencialização do efeito, sendo necessário reduzir em até 50% a

dosagem do anticoagulante para prevenir hemorragias.

Eritromicina Aumenta o efeito dos anticoagulantes. O Sangramento é pequeno.

Fenilbutazona Aumenta a concentração plasmática do anticoagulante. Diminui a

agregação plaquetária com sangramentos gástricos.

Fenobarbital Aumenta a atividade das enzimas hepáticas responsáveis pelo

metabolismo do anticoagulante, resultando na diminuição do

efeito.

Metiltestosterona Aumenta a ação do anticoagulante. Monitorar o TP.

Rifampicina Indução do metabolismo anticoagulante, resultando em

diminuição do efeito.

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Tabela 2. Interações de significância moderada dos anticoagulantes com medicamentos.

Fonte: SOCESP, 2003.

Significância menor: os riscos são pequenos, quase não são prescritos e há pouca

documentação, demonstrados na Tabela 3.43

Medicamentos Interações

Azatioprina Aumenta o efeito do anticoagulante.

Ciclosporina Diminui o efeito da Ciclosporina. Há necessidade de ajuste de

dose

Cisaprida Diminui o metabolismo do anticoagulante, podendo resultar em

sangramentos.

Colestiramina Diminui efeitos e meia-vida. Se for uso concomitante, administrar

a colestiramina três a seis horas antes do anticoagulante.

Fluconazol Potencialização do efeito do anticoagulante, resultado em

sangramentos.

Hidrato Cloral Por causa do aumento do efeito, é interessante o TP.

Ibuprofeno Aumenta o TP e sangramentos gastrointestinais.

Indometacina Aumenta o efeito anticoagulante, podendo causar ulceração

gástrica e hemorragia.

Propanolol Aumenta a concentração sérica e da anticoagulação pela inibição

do metabolismo.

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Tabela 3. Interações de significância menor dos anticoagulantes com medicamentos.

Fonte: SOCESP, 2003.

Medicamentos Interações

Arcabose Aumenta o efeito anticoagulante.

Clordiaepóxido O uso associado não demonstrou alterações nas concentrações

de ambos os medicamentos.

Clortalidona Diminui o efeito do anticoagulante, necessitando de ajuste na

dosagem.

Difenidramina Não há grandes modificações nos efeitos de ambos os

fármacos.

Espirinolactona Pode ocorrer diminuição do efeito anticoagulante.

Fluoxetina Diminui o efeito. É necessário ajuste da dosagem de ambos os

fármacos.

Hidróxido de

Magnésico

Alteração do pH intestinal, diminuindo a absorção do

anticoagulante.

Isoniazida Promove inibição das enzimas hepáticas responsáveis pelo

metabolismo o anticoagulante, aumentando o efeito deste com

necessidade de ajuste de dose.

Nortriptilina A teoria afirma que há interações farmacocinéticas, mas não

há relatos “in vivo”.

Omeprazol Aumenta o efeito anticoagulante pela inibição das enzimas de

citocromo P450

Sulfas Aumenta o efeito e risco hemorrágico. Há deslocamento dos

sítios de ligação.

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1.7.2 Interações com alimentos

São várias as substâncias que interagem com os AVK, sendo essencial a educação e

orientação do paciente. Alimentos ricos em vitamina K (como couve, brócolis, nabo, alface,

couve de Bruxelas, endívias, couve-lombarda, couve-flor) podem reduzir a resposta

anticoagulante. Isto não significa que o paciente deva diminuir a ingesta de alimentos ricos

em vitamina K, estes são importantes para uma alimentação saudável. Deve-se recomendar

uma dieta regular para evitar oscilações importantes do INR, ou então em alternativa, manter

uma dieta habitual e fazer o controle regular do INR e adaptar a dosagem dos AVK. O

álcool pode potenciar o efeito dos AVK se existir doença hepática concomitante, mas em

condições normais não interfere com a ação. Devido ao metabolismo hepático e à elevada

percentagem de ligação às proteínas plasmáticas, os AVK interage com inúmeros

fármacos,17, 36

como demonstrado na Tabela 4.

Tabela 4. Principais interações dos anticoagulantes com os alimentos.

Fonte: SOCESP, 2003.

Alimentos Interações

Alho Aumenta o risco de sangramento. Promove efeito

antiplaquetário.

Chá Verde Antagonismo do efeito anticoagulante.

Fígado de vaca ou porco Antagonismo do efeito anticoagulante.

Frutas ricas em Vitamina K (pêra,

abacate)

Antagonismo do efeito anticoagulante.

Proteínas Se a dieta for podre em proteínas, há aumento do

efeito.

Vegetais de folhas verdes (couve,

espinafre)

Antagonismo do efeito anticoagulante.

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1.8 EFEITOS ADVERSOS DOS ANTICOAGULANTES

As hemorragias são as principais causadoras da diminuição da qualidade de vida nos

doentes medicados com AVK, daí que a dose destes deva ser cuidadosamente adaptada de

acordo com a monitorização laboratorial (medições periódicas da RNI).44,45

Estes fármacos

também atravessam a barreira placentária, estando contra-indicados na gravidez, sendo as

HBPM os anticoagulantes de escolha nas grávidas.43

Contudo, os AVK continuam a ser os

anticoagulantes mais prescritos, devido, em grande parte, já conhecer seu uso crônico, bem

como suas interações, fácil monitoração, tornando-os os mais utilizados para uma

administração crônica.44.

As principais reações adversas incluem reações de hipersensibilidade, icterícia

colestática, hepatite, vasculites, náuseas e vômitos, diarreia, alopecia. Também computado

como complicação é o desenvolvimento de uma nova trombose ou retrombose na vigência

do tratamento, o que pode ocorrer nos casos de tromboembolismo venoso com uma

frequência de 3 a 15%47

.

O risco da terapia com AVK, ou seja, o risco de sangramento e eventos

tromboembólicos precisam ser rigorosamente acompanhados por uma equipe de saúde

capacitada, pois determina o direcionamento da anticoagulação. Ansell et al (2008)59

acreditam que para garantir o intervalo terapêutico e mantê-lo, isto é, que a terapia obtenha

sucesso, o melhor é quando o RNI é controlada por pessoas experientes, em clínicas de

anticoagulação oral e pelo uso de programas computadorizados para ajuste da dose. O

indivíduo que recebe a orientação para fazer uso de AVK, deve ser informado sobre a

necessidade de frequentes monitorizações sanguíneas para a avaliação da RNI, a qual

deveria estar na faixa desejável,60

para a adequação da dose do medicamento, caso

necessário, no intuito de que o indivíduo possa usufruir dos benefícios da terapêutica.

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A duração da terapia com anticoagulante pode variar de semanas, alguns anos, ou por

tempo indeterminado, dependendo da indicação. Todo cuidado que envolve tal terapêutica,

pode gerar certo desconforto ao usuário de AVK e muitas vezes, envolve seus familiares e a

equipe que o assiste. Esse desconforto pode ser gerado pelas mudanças que precisam ocorrer

no seu cotidiano para que a terapêutica medicamentosa seja eficaz. O tratamento com AVK

pode gerar um impacto aos indivíduos que se submetem a essa terapia, tais como a frequente

e, muitas vezes, complicada monitoração da coagulação sanguínea e dos efeitos colaterais da

droga que podem afetar a sua qualidade de vida.61

As implicações do uso de AVK interferem no grau de adesão dos indivíduos no uso

do medicamento e, consequentemente, no sucesso do seu tratamento. Há tempos, estudos já

evidenciavam que a insatisfação com o tratamento gera indícios de baixa adesão.62

Entre os

indivíduos portadores de doenças crônicas, ou seja, que farão uso de medicamento a longo

prazo, a baixa adesão pode acarretar em uma diminuição da efetividade do tratamento

gerando prejuízos ainda maiores a seus usuários.63,64,65

1.9 INOVAÇÕES TERAPÊUTICAS

Nas últimas duas décadas, o desenvolvimento de compostos sintéticos, tais como as

heparinas de baixo peso molecular (HBPM) e pentassacárides (fondaparinux), desencadeou

a busca pelo anticoagulante ideal. Estes novos agentes seriam mais efetivos, de

administração oral, posologia simplificada, farmacocinética e farmacodinâmica previsíveis e

sem necessidade de monitorização laboratorial.35

Atualmente existem dois tipos de

anticoagulantes orais além dos antagonistas da vitamina K, que são os inibidores diretos da

trombina, e os inibidores diretos do fator Xa.

Inúmeros estudos clínicos demonstram resultados animadores com agentes que

inibem seletivamente o fator Xa e a trombina. Tais agentes têm uma pequena estrutura

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molecular e inibem concomitantemente os fatores da coagulação livres no plasma (FX e

FII), porém com pouca ação quando estes complexos estão ligados ao trombo. Por outro

lado, não necessitam da antitrombina (ATIII) para que sua ação seja plena. Dentre estes

novos anticoagulantes orais em desenvolvimento, o dabigatran (inibidor direto oral da

trombina), o rivaroxaban e o apixaban (inibidores diretos orais do fator Xa), são os que

apresentam estudos clínicos em fase III e uso clínico já licenciado em alguns países,36,37

inclusive no Brasil (exceto o apixaban).

Os Inibidores diretos da trombina (IDT) agem através do bloqueio a atividade da

trombina em dois sítios, ou seja, livre no plasma e ligada ao trombo; consequentemente

impedem a conversão do fibrinogênio em fibrina, interferindo sobre as fases de amplificação

e propagação consideradas no modelo celular da coagulação pela diminuição da geração de

trombina.38,39

Já os inibidores do fator Xa ligam-se ao fator Xa, sem a necessidade de

participação da antitrombina III. Segundo a Figura 7, atividade antitrombótica destes

agentes é específica para o fator Xa, sem nenhuma interação ou efeito sobre outros fatores

da via intrínseca/extrínseca da coagulação e sem efeitos indesejáveis, como a

trombocitopenia. Estes compostos Inibidores do Fator Xa (IFXa) têm como principais

vantagens o tamanho de suas moléculas (baixo peso molecular), forma de administração

(uso oral) e sua capacidade de inativar formas circulantes e ligadas do fator Xa (complexo

protrombinase – Xa/Va).40

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21

Figura 7 - Mecanismo de ação dos inibidores diretos FXa, ligação ao sítio do fator Xa e ao

complexo protrombinase presente no coágulo.

Assim, considerando os aspectos referidos com os antagonistas da vitamina K,

planejou-se analisar os efeitos dos anticoagulantes mais utilizados na prática clínica, para

confirmar a não inferioridade de um frente ao outro na prática clínica.

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2 OBJETIVOS

2.1 GERAL

Comparar a varfarina e femprocumona quanto à estabilidade na manutenção de

anticoagulação em nível terapêutico, (razão normatizada internacional [RNI]

entre 2,0 e 3,0).

2.2 ESPECÍFICO

Avaliar incidência de complicações hemorrágicas e tromboembólicas decorrentes

de anticoagulação inadequada.

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3 CONCLUSÃO

De um modo geral, os pacientes em início de tratamento devem ser vistos com maior

frequência até que o RNI esteja adequado, e os pacientes estáveis devem ser avaliados com

intervalos que dependerão de cada patologia. A observação deste controle permite que

muitos indivíduos sejam beneficiados com o tratamento anticoagulante, reduzindo-se o risco

de tromboembolismo, sem que lhes seja imposto um risco inaceitável de sangramento. É

muito importante que estudos comparem a eficiências de diversas drogas quanto a esta

especificidade, pois os medicamentos agem diferentemente dependendo da dose, para que

assim, sejam feitos levantamentos, e conclusões de qual o melhor medicamento para uso

contínuo e em longo prazo.

Desta forma, estudos deste delineamento são muito importantes para fundamentar a

melhor opção de medicamento, para cada tipo de paciente, evitando assim, erros na

anticoagulação e na quantidade a ser administrada de medicamentos.

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ANEXOS

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ANEXO A- PROTOCOLO DE PESQUISA

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4 ARTIGO

AVALIAÇÃO DA ESTABILIDADE DE ANTICOAGULAÇÃO ENTRE

A VARFARINA E A FEMPROCUMONA

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AVALIAÇÃO DA ESTABILIDADE DE ANTICOAGULAÇÃO ENTRE A

VARFARINA E A FEMPROCUMONA

Fabiana Silveira Copês1, Eduardo Bartholomay

2, Carlos Kalil

3, Pablo Balbuena Nery

4, Renê

Baccin5, Manuela Cavalcanti

6, Luiz Carlos Bodanese

7

Endereço para correspondência: Fabiana Silveira Copês, Rua Carlos Von Koseritz, 15/apto. 23 –

CEP:90540-031 - Porto Alegre, RS – Brasil – CEP: 90610-000 – Telefone/Fax: (51) 9250 2151, E-

mail: [email protected]

1 Mestranda do Curso de Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde da PUCRS

2 Professor de Cardiologia e Fisiologia da Universidade Luterana do Brasil, Membro da Unidade de

Eletrofisiologia do Hospital São Lucas da PUCRS. 3 Mestre em Cardiologia pelo IC-FUC, Chefe da Unidade de Eletrofisiologia do Hospital São Lucas da

PUCRS. 4 Médico Cardiologista do Hospital São Lucas da PUC.

5 Eletrofisiologista pela University of Ottawa Hear Institut - Canadá. Professor adjunto of Institute de

Cardiologie de Universite D’Ottawa. 6 Doutorado em Medicina e Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

7Professor Titular da Disciplina de Cardiologia da Faculdade de Medicina da PUCRS e Professor do Curso de

Pós-Graduação em Clínica Médica da Faculdade de Medicina da PUCRS

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34

RESUMO

Fundamento: A varfarina e a femprocumona são os anticoagulantes orais mais utilizados,

no entanto, até o momento, não existem estudos randomizados comparando a estabilidade da

anticoagulação entre estes dois fármacos.

Objetivos: Comparar a varfarina e femprocumona quanto à estabilidade na manutenção de

anticoagulação em nível terapêutico, (razão normatizada internacional [RNI] entre 2,0 e

3,0). Avaliar incidência de complicações hemorrágicas e tromboembólicas decorrentes de

anticoagulação inadequada.

Métodos: Ensaio clínico, randomizado duplo cego, incluindo pacientes em tratamento

vigente com anticoagulante oral, porém com RNI abaixo do alvo terapêutico nas últimas 3

semanas. Randomizados para uso de varfarina ou femprocumona. O ajuste da dose da

medicação foi realizado conforme algoritmo pré-estabelecido.

Resultados: Foram randomizados 61 pacientes, sendo 31 em cada grupo, durante as 5

primeiras semanas de estudo, verificou-se que a femprocumona, se mostrou mais instável

comparada a varfarina. A partir da 6ª aferição de RNI, o grupo femprocumona apresentou

uma melhora na estabilidade do valor do RNI, porém não houve significância estatística.

Não houveram diferenças significativas em relação aos efeitos colaterais das drogas.

Conclusões: Em nosso estudo a varfarina demonstrou uma maior eficácia na estabilidade do

RNI em relação à femprocumona.

Palavras-chave: Varfarina, Femprocumona, anticoagulação, estabilidade, comparação.

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ABSTRACT

Background: Warfarin and phenprocoumon anticoagulants are the most used, however, to

date, there are no randomized studies comparing the stability of anticoagulation between

these two drugs.

Objectives: To compare warfarin and phenprocoumon in maintaining the stability of the

therapeutic anticoagulation (international normalized ratio [INR] between 2.0 and 3.0). To

evaluate the incidence of thromboembolic and hemorrhagic complications arising from

inadequate anticoagulation.

Methods: Randomized clinical trial double-blind, including patients on oral anticoagulant

effect, but with INR below the therapeutic target in the last 3 weeks. Randomized to use

warfarin or phenprocoumon. The adjustment of medication was performed according to

predetermined algorithm.

Results: 61 patients were randomized, 31 in each group during the first 5 weeks of the

study, it was found that the phenprocoumon, was more unstable compared to warfarin. From

the 6th measurement of INR, the phenprocoumon group showed an improvement in the

stability of the value of RNI, but there was no statistical significance. There were no

significant differences regarding the side effects of drugs.

Conclusions: In our study, warfarin demonstrated greater effectiveness in stability

compared to INR phenprocoumon.

Keywords: Warfarin, Phenprocoumon, anticoagulation, stability, comparison.

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INTRODUÇÃO

A anticoagulação oral tem se mostrado efetiva na prevenção e no tratamento de

eventos tromboembólicos 1,2

. Os antagonistas da vitamina K (AVK) são as drogas de

escolha a mais de 50 anos no tratamento para prevenção de eventos tromboembólicos e os

mais comumente utilizados são a varfarina e a femprocumona3. Atualmente existem novos

anticoagulantes orais, os inibidores diretos do fator Xa, e os inibidores diretos da trombina

os quais demonstram eficácia semelhante aos AVK e baixo risco de sangramento e não

necessitam de monitoramento por apresentarem baixa interação com outras drogas e

alimentos 4,5

. Apesar dessas vantagens, os AVK continuam sendo amplamente utilizado

devido à longa experiência de seu uso, possibilidade de monitorização através do controle da

razão normatizada internacional (RNI), pela existência de um antídoto para reversão de seu

efeito (vitamina K) e pelo baixo custo.

A principal diferença farmacológica entre os AVK é sua meia-vida, a qual é mais

curta para a varfarina, aproximadamente 30 horas, versus 216 horas para a femprocumona6.

Existem poucos dados na literatura que comparem a eficácia, estabilidade e interações

medicamentosas dessas duas drogas. As variações dos níveis terapêuticos dos AVK e a

dificuldade de mantê-lo estável devido a interações com os medicamentos e com a

alimentação é um fator limitante da eficácia e segurança dessas drogas. Devido à ausência

de evidências comparando a estabilidade do nível terapêutico entre a varfarina e

femprocumona, foi realizado um ensaio clínico randomizado duplo cego comparando essas

duas drogas em relação à manutenção de anticoagulação em nível terapêutico.

PACIENTES E MÉTODOS

Pacientes e desenho do estudo

Realizou-se estudo prospectivo, randomizado e duplo-cego envolvendo pacientes

com fibrilação atrial (FA) e indicação de uso de anticoagulantes, após a aprovação pelo

Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do

Rio Grande do Sul (HSL-PUCRS) e a assinatura no Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido por pacientes, ou responsáveis legais.

Os critérios de inclusão foram pacientes com FA e indicação de tratamento

anticoagulante, ou paciente já em tratamento com anticoagulante oral, porém com RNI

abaixo do alvo terapêutico (RNI < 2,0) nas últimas três semanas. Os critérios de exclusão

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37

foram: idade inferior a 18 anos e presença de prótese mitral metálica. Também foram

excluídos aqueles que não concordaram em assinar o termo de consentimento livre e

esclarecido, ou com impossibilidade de que seguir o protocolo do estudo.

No período de agosto de 2004 a agosto de 2005 foram incluídos no estudo 62

pacientes atendidos no Centro de Tratamento e Pesquisa de FA do HSL-PUCRS. Os

pacientes foram randomizados em dois grupos: varfarina (31 pacientes) e femprocumona (31

pacientes). A posologia inicial da varfarina foi de 5 mg, uma vez ao dia e da femprocumona

3 mg, uma vez ao dia. Os pacientes foram tratados de acordo com as recomendações atuais

da American Heart Association/American College of Cardiology (AHA/ACC)7.

A aleatorização dos grupos de tratamento de varfarina e femprocumona foi à

proporção de 1:1 em blocos com alocação igual de tratamentos dentro de cada bloco, sendo

que a geração de números foi obtida aleatoriamente. O acesso a esta ficha ficou restrito a

farmacêutica do estudo. As pessoas diretamente envolvidas na condução e/ou análise do

estudo não tiveram acesso à alocação ao tratamento até o encerramento da pesquisa. A

medicação do estudo foi preparada pelo Serviço de Farmácia do HSL-PUCRS e entregue

aos pesquisadores com as especificações de sequência da investigação e confeccionada de

tal maneira a manter aspecto homogêneo entre a varfarina e a femprocumona.

Após início da medicação do estudo os pacientes foram acompanhados

semanalmente até estabilização do RNI, e quinzenalmente até o final do estudo. A cada

visita foi realizado teste de protrombina, e o ajuste da dose da medicação foi baseado no

RNI, conforme algoritmo pré-estabelecido descrito na Tabela 1, modificado de Horton et

al.16

O valor ideal do RNI foi estabelecido entre 2,0 e 3,0. O período de acompanhamento

mínimo foi de três meses.

As informações sobre os eventos adversos foram coletadas a cada consulta. Os

eventos adversos foram classificados em eventos trombóticos, sangramentos maiores

(necessidade de tratamento, avaliação médica ou transfusão), e sangramentos menores (sem

necessidade de avaliação médica, exames complementares ou tratamento).

Análise Estatística

Dados quantitativos foram expressos por média e desvio padrão. Na presença de

assimetria foi-se utilizada mediana e amplitude interquartil. Dados categóricos foram

apresentados por contagens e percentuais. Para comparação de medias utilizamos o teste t de

Student de amostras independentes, e na situação de assimetria o teste U de Mann- Whitney.

Para comparação de informações categóricas usamos teste exato de Fisher. As variáveis

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referentes ao RNI foram definidas do seguinte modo: RNI médio observado no período,

intervalo entre medidas de RNI (RNI-i), RNI na faixa de 2 a 3 (RNI-f) e variância de RNI

ajustada por tempo.

Para determinar a variância de RNI ajustada por tempo, utilizamos a seguinte

fórmula:

Onde n é o número de todas as medidas de RNI obtidas para um determinado

paciente e é o intervalo entre as determinações de RNI em dias.

O nível se significância adotado no estudo foi de 5% bicaudal. Os dados foram

analisados com o programa de SPSS, versão 20.

Definição de desfecho

O desfecho principal foi à medida da estabilidade na manutenção de anticoagulação

em nível terapêutico e foi avaliado através do percentual de RNI-f durante o seguimento e da

variabilidade dos valores de RNI. Os desfechos secundários foram: sangramento maior ou

menor e eventos trombóticos.

Considerações Éticas

Este trabalho teve início após submissão e aprovação do Comitê de Ética em

Pesquisa com seres humanos, do HSL-PUCRS. O estudo não foi patrocinado por nenhuma

indústria farmacêutica, tendo sido financiado pelo próprio Centro de Tratamento e Pesquisa

da FA e Serviço de Cardiologia do HSL-PUCRS.

RESULTADOS

As características das populações estão expressas na tabela 1, não havendo

diferenças significativas entre as populações randomizadas para uso de varfarina, ou

femprocumona. Foram inicialmente incluídos 62 pacientes no estudo, com perda de 6 (9%)

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pacientes durante o seguimento, sendo 3 de cada grupo. Todas as perdas ocorreram por não

seguimento dos pacientes no ambulatório e nenhuma relacionada ao uso da medicação.

Dentre os pacientes estudados, 35 eram do sexo masculino, e a idade média foi de 58

± 12 anos.

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40

Tabela 1. Características da População

AVE: Acidente vascular encefálico; AAS: Ácido acetilsalicílico; ECA: Enzima

conversora da angiotensina.

O tempo médio de seguimento no grupo varfarina foi de 78±20 dias e no grupo

femprocumona de 79 ± 24 dias (p=0,908). Durante o estudo foram realizadas 481 medidas

de RNI, 266 no grupo varfarina e 255 no grupo femprocumona, com uma média de 7,5

Varfarina

n=26

Femprocumona

n=29

P

Idade média 59.5±9.8 56.6±14.2 0.381

Sexo masculino 14 (50%) 21(70%) 0.179

Diabetes melitus 4 (13%) 3 (10%) 0,999

Tabagismo 4 (13%) 0 (0%) 0,112

Doença coronariana 8 (27%) 4 (13%) 0,197

AVE isquêmico prévio 2 (7%) 3 (10%) 0,999

Insuficiência cardíaca 3 (10%) 3 (10%) 0,999

AAS 1 (3%) 2 (7%) 0,999

Estatina 4 (13%) 9 (30%) 0,117

Inibidor da ECA 23 (77%) 18 (60%) 0,165

Beta–bloqueador 20 (67%) 21 (70%) 0,781

Tiazídicos 7 (23%) 5 (17%) 0,519

Diuréticos de alça 6 (20%) 7 (23%) 0,754

Espirolactona 3 (10%) 4 (13%) 0,999

Digitálico 5 (17%) 5 (17%) 0,999

Amiodarona 3 (10%) 4 (13%) 0,999

Nitrato 2 (7%) 3 (10%) 0,999

Bloqueador canal cálcio 3 (10%) 4 (13%) 0,999

Anti-inflamatório 2 (7%) 2 (7%) 0,999

Metformina 0 (0%) 4 (13%) 0,112

Glibenclamida 0 (0%) 1 (3%) 0,999

Insulina 1 (3%) 1 (3%) 0,999

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medidas por paciente no grupo varfarina e de 8,5 medidas por paciente no grupo

femprocumona.

Os resultados principais em relação à estabilidade do RNI comparando as duas

drogas estão expressos na tabela 2. A média do valor do RNI no grupo varfarina foi de

2,4±0,4 e no grupo femprocumona de 2,8±0,5 (p=0,001). Quando analisados durante todo o

seguimento, a varfarina apresentou uma menor variância no balanço do RNI em relação à

femprocumona (p=0,006). Quando analisamos apenas as primeiras 5 visitas a varfarina

apresentou um menor intervalo entre os valores de RNI (p=0,007), um número maior de

RNI na faixa terapêutica (p=0,003) e uma menor variância no balanço do RNI em relação à

femprocumona (p<0,001). Analisando somente a partir da 5ª visita não encontramos

diferenças estatisticamente significantes em relação aos diferentes valores de RNI analisados

afim de aferir a eficácia das duas drogas.

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Tabela 2 - Comparação da Razão Normatizada Internacional por variáveis e por pacientes usuários de varfarina e femprocumona, estratificados por

períodos de visitas.

Todo Período Até 5º Visita Após 5º Visita

Características Varfarina Femprocumona P Varfarina Femprocumona P Varfarina Femprocumona P

RNI

2,4±0,4

2,8±0,5

0,001(a)

n=28

2,4±0,6

n=30

3,1±0,7

<0,001(a)

n=24

2,3±0,4

n=26

2,5±0,6

0,201(a)

RNI (i)

10,5±1,6

10,0±1,5

0,235(a)

10,5±2,0

9,0±2,0

0,007(a)

n=22

10,7±2,7

n=25

12,0±2,2

0,074(a)

RNI (r)

n=28

50,4±19,1

n=28

42,4±18,3

0,117(a)

n=27

49,0±20,1

n=23

32,4±17,4

0,003(a)

n=23

57,2±27,0

n=26

64,9±24,6

0,298(a)

RNI

0,26

(016 to

0,54)

n=30

0,47

(0,30 to 0,70)

0,006(c)

n=28

0,28

(0,15 to

0,56)

n=30

0,68

(0,40 to 0,90)

<0,001(c)

n=21

0,18

(0,14 to

0,36)

n=24

0,17

(0,10 to 0,25)

0,219(c)

RNI: Razão Normatizada Internacional, RNI (i):intervalo entre as mensurações, RNI(r): RNI entre (2 to 3), RNI: balanço da variância por RNI.

Dados foram apresentados com média ± desvio padrão, número (%), ou mediana (intervalo interquartil P25 to p75).

P: Significância estatística, (a) Teste T de Student, (b) Teste exato de Fisher, (c) Teste U de Mann-Whitney.

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A figura 1 apresenta a média dos RNI obtidos com a varfarina e femprocumona em

relação às visitas e seus respectivos IC 95%, onde verificamos uma maior estabilidade do RNI

em relação à femprocumona nas medidas iniciais (p=0,003) que diminui a partir da 5ª visita

(p=0,17).

Percebeu-se que nos primeiros 5 encontros a varfarina teve um número maior de

pacientes entre a faixa desejada de RNI entre 2 e 3, havendo desaparecimento dessa diferença

quando avaliamos as medidas a partir da 6ª visita.

RNI: Razão Normatizada Internacional

Figura 1 - Estabilidade de RNI ao longo do período de análise

Os eventos clínicos registrados estão expressos na tabela 3, não havendo diferenças

significativas entre o grupo varfarina, onde ocorreram 6 (26,7%) eventos no grupo da

warfarina e 9 (31%) no grupo da femprocumona. A taxa de eventos menores e maiores,

também não tiveram valores estatisticamente significativos, ocorrendo 4 (12%) sangramentos

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menores no grupo para varfarina e 6 (20,7%) no grupo femprocumona (p= 0,717). Em relação

aos sangramentos maiores, o grupo varfarina apresentou 2 (6%) eventos, e o grupo

femprocumona 2(6%) eventos (p=0,999).

Tabela 3 - Eventos adversos provenientes do uso de anticoagulantes

Varfarina Femprocumona p

n=6 n=8

Sangramento menor 2 (6%) 3 (10%) 0,664

Epistaxe 2 (6%) 1 (3%) 0,999

Hematúria - 2 (6%) 0,488

Sangramento maior - 1 (3%) 0,999

Hemorragia digestiva - 1 (3%) 0,999

Evento trombótico 1 (3%) - 0,999

AVE isquêmico 1 (3%) - 0,999

AVE: Acidente vascular encefálico

LIMITAÇÕES

Nosso estudo apresentou limitações que devem ser ressaltadas. O número pequeno de

pacientes e o seguimento curto, não permitem uma análise de desfechos clínicos; no entanto,

nosso objetivo foi avaliar a eficácia na manutenção do RNI. Não foi analisado o consumo

alimentar dos pacientes, que pode interferir diretamente na eficácia da manutenção do RNI;

porém, sendo um trabalho randomizado esperamos que também a dieta tenha sido semelhante

nos dois grupos, como foram as outras características avaliadas.

DISCUSSÃO

Os AVK são utilizados há 60 anos como profilaxia para eventos embólicos na clínica

médica. Vários estudos tem demonstrando sua eficácia em diferentes cenários, em relação ao

placebo e antiplaquetários.8,9

No entanto, a eficácia na manutenção do RNI é fundamental

para a manutenção dos efeitos dos AVK. No estudo ACTIVE-W, que comparou a varfarina

com uma combinação de clopidogrel e aspirina em pacientes com FA o efeito protetor para

AVC atingido com a varfarina foi perdido no grupo de pacientes que não atingiu um RNI alvo

em >65% das medidas.10

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Embora amplamente utilizados, não existem ensaios clínicos comparando os AVK em

relação à eficácia na manutenção do RNI. Este é o primeiro estudo, ao nosso conhecimento,

randomizado, duplo-cego que comparou dois AVK varfarina e femprocumona em relação a

sua eficácia na manutenção do RNI. A principal diferença farmacológica entre as coumarinas

é sua meia-vida, a qual é mais curta para a varfarina, aproximadamente 30 horas, versus 216

horas para a femprocumona11

. A varfarina é a droga mais utilizadas e estudada entre os AVK

e em nosso estudo foi superior a femprocumona na estabilidade do RNI. No entanto,

analisando somente as últimas visitas a superioridade da varfarina desaparece e encontramos

resultados semelhantes entre as duas drogas. Outro estudo em nosso meio, comparou a

estabilidade do RNI, em pacientes que utilizavam varfarina e femprocumona, onde usuários

de femprocumona estavam em intervalo de RNI terapêutico em 60,7% das consultas clínicas,

o que é um valor estatisticamente significativo mais alto do que 45,6% naqueles que usavam

varfarina12

. Possivelmente a maior meia vida da femprocumona seja responsável pela maior

dificuldade no controle do RNI nas medidas iniciais, obtendo resultados mais satisfatórios

com a sua utilização a longo prazo. Uma coorte histórica de 22.178 pacientes acompanhados

em uma clínica de anticoagulação, comparando acenocoumarol (meia-vida 8-10h) e

femprocumona mostrou que 50% dos pacientes tratados com femprocumona, contra 43%

usando acenocoumarol, apresentavam um intervalo de RNI terapêutico (OR 1,32; IC95%:

1,24-1,41) 13, 14

. Já em nosso estudo, encontramos uma média de 50,4% dos pacientes que

utilizavam varfarina, contra 49% que faziam uso de femprocumona, estavam dentro da faixa

desejada de RNI.

É importante ressaltar o consumo alimentar, onde fontes de vitamina K interferem

diretamente o controle do RNI. Um estudo randomizado, acometendo 230 análises de RNI de

pacientes em um hospital universitário, fez uma intervenção dietética de 4 dias, com aumento

e diminuição de alimentos fontes de vitamina K, em cinco vezes de sua ingesta habitual15

.

Assim, identificaram que após restrição de fontes de vitamina K, houve um aumento

significativo nos valores de RNI na faixa em relação ao grupo de ajuste exclusivo pela dose

do AVK (p=0,03). Com isso, este trabalho reforça o conceito de que a interação vitamina K e

fármacos cumarínicos é clinicamente relevante, devendo ser reconhecida como um fator

importante e independente que interfere com as estabilidade da anticoagulação oral e crônica.

Quando analisados quanto à presença de complicações provenientes do uso de

anticoagulantes, pode-se perceber que 5 pacientes tiveram sangramento menor, sendo que 2

(6%) pacientes receberam varfarina, e 3 (10%) femprocumona. Ao analisar todos os eventos

que poderiam surgir pelo uso de anticoagulantes orais, não se encontrou nenhuma diferença

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estatisticamente significativa entre os dois medicamentos, embora tenha se encontrado um

número de complicações mais elevada em pacientes com uso de femprocumona, o número

pequeno de pacientes e o seguimento curto limitam a análise desses dados.

Apesar do surgimento de novos anticoagulantes, como os inibidores direto da

trombina e os inibidores Xa no tratamento preventivo de eventos embólicos, os AVK ainda

possuem um papel importante nesse cenário.16,17,18

A longa experiência, possibilidade de

aferição do efeito e existência de antídoto específico são características superiores dos AVK

em relação aos novos anticoagulantes. O baixo custo também favorece a utilização dos AVK,

em especial em países com economia menos desenvolvida. Em um estudo recente, o

rivaroxaban demonstrou ser uma droga custo-efetiva em relação a varfarina no tratamento da

FA, somente após a 12º semana de uso 19

. Da mesma forma, a ausência de evidências em

pacientes com válvulas metálicas, doenças hepáticas e pacientes com clearance de depuração

da creatinina < 30mililitros/minuto asseguram o papel dos AVK na clínica diária. Sendo

assim, devemos perseguir a melhor forma de prescrever e a melhor droga a ser utilizada entre

os AVK.

CONCLUSÃO

Em nosso estudo a varfarina demonstrou uma maior eficácia na estabilidade do RNI

em relação à femprocumona. No entanto, essa superioridade desapareceu ao longo do tempo,

mais especificamente após a 6ª aferição do RNI, quando a femprocumona passa a apresentar

resultados semelhantes à varfarina na estabilidade do RNI.

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