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  • PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO

    FACULDADE DE DIREITO

    CARLOS AUGUSTO MARCONDES DE OLIVEIRA MONTEIRO

    O EFEITO RESCISRIO DO RECURSO DE REVISTA E O SEU CABIMENTO

    PARA QUE O TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO ATENDA SUA FUNO

    DE INSTNCIA EXTRAORDINRIA COM BASE NOS PRINCPIOS

    CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO

    DOUTORADO EM DIREITO

    SO PAULO

    2015

  • 2

    CARLOS AUGUSTO MARCONDES DE OLIVEIRA MONTEIRO

    O EFEITO RESCISRIO DO RECURSO DE REVISTA E O SEU CABIMENTO

    PARA QUE O TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO ATENDA SUA FUNO

    DE INSTNCIA EXTRAORDINRIA COM BASE NOS PRINCPIOS

    CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO

    Tese apresentada ao Departamento de Cincias

    Jurdicas, da Pontifcia Universidade Catlica -

    PUC/SP, como pr-requisito para a obteno do

    ttulo de Doutor em Direito, orientado pelo Professor

    Doutor Pedro Paulo Teixeira Manus

    DOUTORADO EM DIREITO

    SO PAULO

    2015

  • 3

    CARLOS AUGUSTO MARCONDES DE OLIVEIRA MONTEIRO

    O EFEITO RESCISRIO DO RECURSO DE REVISTA E O SEU

    CABIMENTO PARA QUE O TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO ATENDA

    SUA FUNO DE INSTNCIA EXTRAORDINRIA COM BASE NOS PRINCPIOS

    CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO

    Tese apresentada ao Departamento de Cincias Jurdicas, da Pontifcia

    Universidade Catlica - PUC/SP, como pr-requisito para a obteno do ttulo de Doutor

    em Direito, orientado pelo Prof. Dr. Pedro Paulo Teixeira Manus

    So Paulo, ____/_________________/_____.

  • 4

    Dedico este trabalho aos amores da minha vida. Minha esposa Deborah Regina Salari Prestrello Monteiro e minha filha Laura Perestrello Monteiro, com todo meu amor.

  • 5

    AGRADECIMENTO

    Me faltam palavras para agradecer a minha esposa Deborah pelo apoio e incentivo,

    no s na elaborao deste trabalho, mas durante todo o curso de doutorado, bem

    como pela compreenso das minhas ausncias. Foi ela quem acreditou primeiro que

    seria possvel.

    Agradeo em especial meu amigo Mrcio Mendes Granconato, que supriu minha

    ausncia, por muitas vezes, na coordenao do curso de ps-graduao da Escola

    Paulista de Direito para que eu pudesse me dedicar a este trabalho. Tambm o

    agradeo pelo apoio concedido ao longo dessa trajetria.

    Minha gratido especial ao meu orientador Dr. Pedro Paulo Teixeira Manus,

    exemplo de professor e pessoa de inteligncia contagiante. A cada encontro uma

    nova inspirao. Assim eu resumo a orientao deste grande mestre.

    Aos professores Dra. Maria Helena Diniz e Dr. Renato Rua de Almeida, cujas

    disciplinas ministradas foram fundamentais para a elaborao deste trabalho.

    Tambm quero registrar agradecimento ao professor italiano Dr. Francesco D

    Ippolito.

    Agradeo tambm aos amigos Ccera Pereira da Silva, Andr Cremonesi, Ivani

    Contini Bramante, Antnio Claudio da Costa Machado, Francisco Ferreira Jorge

    Neto, Antnio Carlos Marcato, Domingos Svio Zainaghi, Jairo Enrico Katsuda de

    Luca, Matheus Daniel Xavier, Augusto Grieco SantAnna Meirinho e Romeu Bicalho,

    que tiveram fundamental e importante participao na minha vida acadmica

    durante o desenvolvimento do curso e na elaborao deste trabalho.

    Especial agradecimento tambm a todos os integrantes da sociedade de advogados

    Monteiro, Dotto e Monteiro Advogados.

  • 6

    Finalmente, agradeo a DEUS, pela beno concedida de chegar at este momento

    na minha carreira profissional e de colocar pessoas to maravilhosas no meu

    caminho e ainda por me abenoar com uma famlia maravilhosa e mais

    recentemente com o nascimento da minha filha LAURA.

  • 7

    para a plenitude do acesso justia importa remover os males resistentes universalizao da tutela jurisdicional e aperfeioar internamente o sistema, para

    que seja mais rpido e mais eficaz de oferecer solues justas e efetivas Cndido Rangel Dinamarco.

    Se uma Justia lenta demais decerto uma Justia m, da no se segue que uma Justia muito rpida seja necessariamente uma Justia boa. O que todos devemos

    querer que a prestao jurisdicional venha a ser melhor do que . Se para torn-la melhor preciso aceler-la, muito bem: no, contudo, a qualquer preo. Jos

    Carlos Barbosa Moreira

  • 8

    RESUMO

    Este trabalho tem origem na crena de que os recursos so os principais responsveis pela morosidade dos processos, mormente na justia do trabalho, onde a parte se v obrigada, muitas vezes, a abrir mo de seus direitos em razo da demora judicial na soluo do processo. Discutiremos alternativas, no mbito do recurso de revista, a fim de adequ-lo aos princpios constitucionais do processo, pois o que se verifica na prtica a existncia de trs instncias judiciais, enquanto que defendemos que o TST deve se limitar sua natureza de instncia extraordinria. E isso no possvel quando os efeitos dos recursos de natureza extraordinria no se distinguem dos efeitos dos recursos de natureza ordinria. O recurso de revista cabvel para turmas do TST, contra as decises proferidas em grau de recurso ordinrio, em dissdio individual, pelos Tribunais Regionais do Trabalho, quando presentes as hipteses do artigo 896 da CLT. A limitao ao cabimento do Recurso de Revista insuficiente para transformar o TST em verdadeiro rgo de natureza extraordinria. O propsito deste trabalho estabelecer a exata funo do Tribunal Superior do Trabalho e sua eficcia, com base nos princpios constitucionais do processo, em especial o devido processo legal e o princpio da durao razovel, que engloba a efetividade e a celeridade processual, analisando os efeitos dos recursos de natureza ordinria e extraordinria. Palavras-chave: recurso de revista, processo de trabalho, princpios constitucionais do processo, durao razovel do processo, devido processo legal, efeitos do recurso de revista.

  • 9

    ABSTRACT

    This works derives from the certainty that judicial reviews are the main cause for the delays in lawsuits, specially at the Labor Courts, in which the plaintiff or the defendant are sometimes forced to waive their rights due to such lawsuits delays. It shall discuss alternatives, in the Extraodinary Review Procedure to adjust it to the constitutional procedural principles, since in practical terms one can verify 3 judicials instances, while we maintain that the Superior Labor Court should be restricted to its role as an extraordinary instance. This is not possible when one can not distinguish the effects of an Ordinary Review from that of the Extraordinary Review. The Extraordinary Review is subject to the competence of the panels of the Superior Labor Court and applicable to review the rulings of the Regional Labor Courts on Ondinary Reviews of individual claims whenever the requirements of CLT's article 896 are present. The limitation of the applicability of the Extraordinary Review is not enough to grant TST the status of a true Extraordinary Review Court. The scope of this work is to establish the exact function of the Superior Labor Court and its efectiveness, based upon the constitutional procedural principles, specially the due process of the law and the reasonable procedural length, which comprises the effectiveness and fast-track of the procedure by analysing the effects of both Ordinary and Extraordinary Reviews. Keywords Extraordinary Review; Labor Procedure Law; Constitutional Procedural Principles; Reasonable Procedural Length; Due Process of the Law; Effects of the Extraordinary Review.

  • 10

    SUMRIO

    INTRODUO..........................................................................................................................13

    1. PODER JUDICIRIO............................................................................................................16

    1.1. EVOLUO HISTRICA DO PODER JUDICIRIO............................................16

    1.2. ORGANIZAO DO PODER JUDICIRIO..........................................................22

    1.3. A EMENDA CONSTITUCIONAL N 45................................................................ 30

    1.4.. ORGANIZAO DA JUSTIA DO TRABALHO..................................................31

    1.5. TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO..............................................................35

    2. RECURSO DE NATUREZA EXTRAORDINRIA................................................................38

    2.1. FUNO DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO COMO INSTNCIA

    EXTRAORDINRIA FINALIDADE DO RECURSO DE REVISTA............................41

    2.2. EVOLUO HISTRICA DO RECURSO DE NATUREZA

    EXTRAORDINRIA.....................................................................................................43

    3. PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO...........................................................51

    3.1. DEVIDO PROCESSO LEGAL..............................................................................51

    3.2. DURAO RAZOVEL DO PROCESSO............................................................58

    3.3. DUPLO GRAU DE JURISDIO .........................................................................68

    4. PRINCPIOS INFRACONSTITUCIONAIS DOS RECURSOS..............................................80

    4.1. PRINCPIO DA IRRECORRIBILIDADE IMEDIATA DAS DECISES

    INTERLOCUTRIAS ..................................................................................................80

    4.2. PRINCPIO DA PROIBIO DA REFORMATIO IN PEJUS..............................86

    4.3. PRINCPIO DA FUNGIBILIDADE.........................................................................89

    4.4. PRINCPIO DA TAXATIVIDADE...........................................................................95

    4.5. PRINCPIO DA SINGULARIDADE E UNIRRECORRIBILIDADE.........................96

    4.6. PRINCPIO DA VARIABILIDADE E DA DIALETICIDADE..................................100

  • 11

    5. PRESSUPOSTOS GENRICOS DOS RECURSOS.........................................................106

    5.1. PRESSUPOSTOS EXTRNSECOS....................................................................108

    5.1.1. Recorribilidade do ato.........................................................................108

    5.1.2. Adequao..........................................................................................109

    5.1.3. Regularidade da representao..........................................................110

    5.1.4. Tempestividade...................................................................................112

    5.1.5. Preparo................................................................................................119

    5.2. PRESSUPOSTOS INTRNSECOS.....................................................................129

    5.2.1. Legitimidade........................................................................................130

    5.2.2. Capacidade.........................................................................................137

    5.2.3. Interesse..............................................................................................140

    5.2.4. Inexistncia de fato extintivo do direito de recorrer.............................146

    6. PRESSUPOSTOS ESPECFICOS DO RECURSO DE REVISTA NA FASE DE

    CONHECIMENTO..................................................................................................................150

    6.1. PREQUESTIONAMENTO..................................................................................150

    6.2. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE FATOS E PROVAS.............................161

    6.3. TRANSCENDNCIA..........................................................................................168

    6.4. NUS PROCESSUAL DO RECORRENTE E PROCESSAMENTO DO

    RECURSO.................................................................................................................169

    7. HIPTESES DE CABIMENTO DO RECURSO DE REVISTA NA FASE DE

    CONHECIMENTO..................................................................................................................184

    7.1. RITO ORDINRIO..............................................................................................186

    7.1.1. DIVERGNCIA JURISPRUDENCIAL NA INTERPRETAO DE LEI

    FEDERAL E DA CONSTITUIO FEDERAL...............................................186

    7.1.1.1. SMULA E O COMMON LAW..........................................205

    7.1.2. DIVERGNCIA JURISPRUDENCIAL NA INTERPRETAO DE

    NORMA COLETIVA, LEI ESTADUAL E REGULAMENTO DE

    EMPRESA.....................................................................................................209

  • 12

    7.1.3. VIOLAO DE LEI FEDERAL E DA CONSTITUIO FEDERAL.....218

    7.2. RITO SUMARSSIMO.........................................................................................227

    7.3. DA NECESSRIA AMPLIAO DAS HIPTESES DE CABIMENTO DO

    RECURSO DE REVISTA...........................................................................................230

    8. EFEITOS DOS RECURSOS..............................................................................................243

    8.1. EFEITOS DOS RECURSOS EM GERAL...........................................................244

    8.2. EFEITOS DO RECURSO DE REVISTA.............................................................254

    9. CONCLUSO.....................................................................................................................263

    10. BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................268

  • 13

    INTRODUO

    O presente trabalho visa analisar o Recurso de Revista na fase de

    conhecimento, abordando a sua eficcia e real funo enquanto recurso de natureza

    extraordinria.

    Para isso importante abordar no s a evoluo histrica da Organizao

    Judiciria brasileira, a fim de contextualizar o Tribunal Superior do Trabalho na sua

    funo precpua, mas tambm como confrontar o sistema atual com os princpios

    constitucionais contemplados pela Carta de 1988, bem como analisar os efeitos e

    pressupostos recursais existentes (sejam os genricos, sejam os especficos).

    No campo processual, a Constituio Federal adotou o princpio do devido

    processo legal, do qual decorrem todos os demais princpios, expressos ou no no

    texto constitucional, de forma a garantir aos jurisdicionados garantias mnimas e

    efetividade mxima.

    Disso resulta que a efetividade do processo passa, em primeiro lugar pela

    reformulao do sistema recursal, no de forma a limitar o cabimento com regras

    simplistas como ocorreu com a Lei do rito sumarssimo, que sem critrio cientfico

    limitou o cabimento ao Recurso de Revista visando to somente diminuir o nmero

    de recursos e com isso, o tempo de durao do processo.

    preciso diminuir o nmero de Recursos endereados ao TST, mas atravs

    de uma reformulao do processamento, adequando-o aos novos mandamentos

    previstos na Constituio Federal, em especial ao devido processo legal.

    Mais ainda, preciso remodelar o Recurso de Revista a fim de limitar sua

    utilizao para as reais hipteses de cabimento de um recurso de natureza

    extraordinria, o que no se verifica apenas nas hipteses trazidas no artigo 896 da

    CLT, mas tambm pela anlise de questes envolvendo princpios constitucionais

    como da dignidade humana.

  • 14

    Ou seja, o positivismo preconizado pelo artigo 896 da CLT insuficiente para

    se atingir a real funo do Recurso de Revista e extrair desta ferramenta a sua

    efetividade plena e desejada.

    A reformulao passa no pela limitao ao cabimento e ao processamento,

    atravs de reformas legislativas e criao de obstculos atravs jurisprudncia e

    instrues normativas do TST, mas sim pela adequao do sistema recursal ao que

    preconizado pela Constituio Federal de 1988, pois em que pese o devido

    processo legal ser uma garantia processual da ampla defesa, tambm uma

    garantia de celeridade e eficcia das decises, o que a Emenda Constitucional 45

    chamou de durao razovel do processo.

    A durao razovel no se implementa retirando das partes seus direitos e

    garantias fundamentais, como a ampla defesa e o contraditrio, como pode parecer

    crer em primeira anlise, mas sim reformulando o sistema recursal, rompendo o

    paradigma consolidado de eterno inconformismo das partes.

    preciso que o Tribunal Superior do Trabalho exera sua funo

    extraordinria. E para tanto, necessrio estabelecer um procedimento adequado

    de forma a permitir que apenas questes ditas extraordinrias mobilizem a

    interposio do recurso de revista.

    O primeiro passo nos parece que adequar os efeitos do recurso de revista

    aos princpios constitucionais do processo, razo pela qual neste trabalho, antes de

    adentramos s hipteses de cabimento e ao processamento do Recurso de Revista,

    passamos a analisar parte deles que importam fase recursal, em especial o devido

    processo legal, o duplo grau de jurisdio e a durao razovel do processo.

    Aps, nos dedicamos a anlise dos princpios recursais infraconstitucionais,

    de forma a demonstrar que no h nada no ordenamento jurdico que impede a

    limitao ou alterao dos efeitos pretendidos no Recurso de Revista.

  • 15

    Tambm se fez necessrio um estudo sobre os atuais efeitos do recursos

    que, se analisados com base na organizao judiciria e nos princpios

    constitucionais, conclumos pela necessidade de uma reformulao dos efeitos do

    Recurso de Revista a fim de tornar o Tribunal Superior do Trabalho uma verdadeira

    instncia extraordinria, como preconiza a organizao judiciria brasileira.

    Em suma, o que pretendemos com esse trabalho analisar a real funo do

    Recurso de Revista e as medidas para que tal espcie recursal atinja a sua eficcia

    dentro do ordenamento jurdico vigente.

  • 16

    1. PODER JUDICIRIO

    A anlise da organizao da Justia do Trabalho atualmente se faz

    necessria para adentrar ao estudo da real importncia do Recurso de Revista

    dentro do ordenamento jurdico vigente.

    Para isso, necessria a anlise da evoluo histrica da organizao

    judiciria como um todo, para posterior anlise da organizao judiciria da Justia

    do Trabalho, sua alterao trazida pela Emenda Constitucional 45, de forma a

    adequar o sistema recursal aos mandamentos constitucionais, sem deixar de lado a

    real finalidade da organizao judiciria.

    1.1. EVOLUO HISTRICA DA ORGANIZAO JUDICIRIA

    preciso recorrer Histria, para propiciar a contextualizao sociolgica e

    poltica do Poder Judicirio no Brasil. Antes de tratar do tema desta tese,

    propriamente dito, que a efetividade e a funo do Recurso de Revista, cremos

    necessrio abordar a consolidao de conceitos e princpios existentes em nosso

    sistema jurdico, desde a recepo do direito romano at a fase das codificaes,

    em benefcio da distribuio da justia. Por isso faremos breve apanhado antes de

    tratar da organizao do Poder Judicirio em nosso pas.

    Do ponto de vista jurdico, o Brasil no ganhou identidade prpria nem mesmo

    com a vinda da corte portuguesa, em 1808. O pas era regido pelo mesmo sistema

    jurdico utilizado em Portugal, chamado de Ordenaes Filipinas, preparadas em

    1595 pelo rei Filipe I, poca em que a Espanha dominou Portugal, mas impostas

    efetivamente em 1603, j no reinado de Filipe II. As Ordenaes Filipinas eram um

    conjunto de cinco livros, que apenas reuniram as leis esparsas vigentes no momento

    da sua elaborao: Direito Administrativo e Organizao Judiciria; Direito dos

    Eclesisticos, do Rei, dos Fidalgos e dos Estrangeiros (como se v pela simples

  • 17

    existncia desse livro, a lei no valia para quem gozava de privilgios de famlia ou

    de fortuna); Processo Civil; Direito Civil e Direito Comercial; Direito Penal e Processo

    Penal. O conceito de catalogao das leis era o mesmo definido ainda na Idade

    Mdia pelo papa Gregrio IX de triste memria, j que foi o fundador da Santa

    Inquisio, por meio da bula papal Licet ad capiendos, de 1233. O papa Gregrio IX

    estudou Direito nas universidades de Paris e de Bolonha. E importante lembrar

    que, nos pases catlicos como Espanha e Portugal, os casos omissos nas

    Ordenaes eram resolvidos com base no direito cannico ou no direito romano,

    se persistissem controvrsias. E mais: nos pases absolutistas, quando o rei proferia

    uma sentena, ela era transcrita na forma de lei, formando parte da jurisprudncia

    de que se valiam os julgadores da poca.

    As Ordenaes Filipinas s comearam a ser revogadas, no Brasil, depois da

    independncia, em 1822. Mas grande parte do seu contedo continuou a ser

    aplicado at mesmo durante o primeiro perodo da Repblica. O livro que vigorou

    por mais tempo foi o Livro IV, s definitivamente revogado pelo Cdigo Civil de 1916.

    No Brasil, a primeira notcia que se tem acerca da organizao do Poder

    Judicirio foi o Decreto de 16 de fevereiro de 1822, de Dom Pedro I, que criou o

    Conselho de Procuradores Gerais do Brasil. Reproduzimos um trecho do decreto,

    que leva a rubrica S. A. R. (Sua Alteza Real) e que vai assinado por Jos Bonifcio

    de Andrada e Silva, respeitando a linguagem da poca:

    Hei por bem mandar convocar um Conselho de Procuradores Geraes das Provncias do Brazil, que as representem interinamente, nomeando aquelas, que tm at quatro Deputados em Crtes, um; as que tm de quatro at oito, dous; e as outras daqui para cima, trs; os quaes Procuradores Geraes podero ser removidos de seus cargos pelas suas respectivas Provncias, no caso de no desempenharem devidamente suas obrigaes, si assim o requererem os dous teros das suas Cmaras em vereao geral e extraordinria, procedendo-se nomeao de outros em seu logar.1

    1 LOPES, Jos Reinaldo de Lima. Curso de Histria do Direito. So Paulo: Mtodo, 2009, p. 269.

  • 18

    Tal Conselho, instalado em 3 de junho de 1822, formou a Assembleia Geral

    Constituinte, convocada na mesma data, para elaborao da primeira Constituio

    Brasileira, a de 1824. Os 100 deputados convocados tinham a seguinte

    representao: Minas Gerais, 20; Pernambuco, 13; Bahia, 13; So Paulo, 9; Cear,

    8; Rio de Janeiro, 8; Alagoas, 5; Paraba, 5; Maranho, 4; Par, 3; Rio Grande do

    Sul, 3; Gois, 2; Provncia Cisplatina, 2; e, com um deputado, Santa Catarina, Mato

    Grosso, Capitania, Rio Grande Norte e Piau. A histria registra que a primeira

    assembleia foi dissolvida e um Conselho de Estado convocado para redigir a

    constituio (e mais dois, ao longo de 1823), afinal promulgada em 25 de maro de

    1824, sob o ttulo de Constituio Poltica do Imprio do Brazil, tendo o prncipe

    regente o papel de poder moderador. J nesse momento os livros I e II das

    Ordenaes Filipinas perdiam completamente o sentido de existncia, dada a

    independncia do Brasil.

    Poucos anos depois da promulgao da constituio, em 1827, os primeiros

    cursos acadmicos de cincias jurdicas no Brasil foram criados pelo prncipe

    regente. Antes disso, todos os advogados brasileiros estudavam na Universidade de

    Coimbra, em Portugal.

    O Brasil independente precisava ganhar identidade prpria. Para esse

    propsito, entre outras providncias, era fundamental a formao de uma cultura

    jurdica nacional, que fortalecesse o sistema jurdico inaugurado com a nossa

    primeira Constituio, outorgada em 1824. Os lderes brasileiros, de inclinao

    liberal, j discutiam a necessidade dessa formao em 1823, durante as reunies da

    Assembleia Constituinte. A primeira proposta de instalao de uma universidade

    brasileira foi apresentada por Jos Feliciano Fernandes Pinheiro, que mais tarde

    seria conhecido pelo ttulo de Visconde de So Leopoldo. A histria registra, na data

    de 19 de agosto de 1823, o primeiro projeto de lei que propunha a fundao de uma

    universidade no Brasil. Mas, com a dissoluo da Assembleia Constituinte, o projeto

    no prosperou.

  • 19

    Dom Pedro I chegou a decretar a instalao de um curso jurdico na capital,

    Rio de Janeiro, em janeiro de 1825, mas o decreto no foi cumprido. O assunto foi

    postergado por mais de um ano, tempo que um grupo de parlamentares levou para

    aperfeioar o projeto do Visconde So Leopoldo e o apresentar ao plenrio. Esse

    projeto foi votado e transformado na lei de 11 de agosto de 1827, que propiciou a

    criao de dois cursos superiores em Direito: o curso de Cincias Jurdicas e Sociais

    da Academia de So Paulo, que comeou a funcionar em 1 de maro de 1828 e o

    Curso de Cincias Jurdicas e Sociais de Olinda, inaugurado em 15 de maio de

    1828.

    A primeira gerao de juristas formados em terras brasileiras foi a

    responsvel pelo estabelecimento inicial das bases para o arcabouo jurdico do

    pas, j no incio do segundo reinado. Quase todos graduados nos cursos de Olinda

    e So Paulo, dedicaram-se advocacia e magistratura, e atuavam no Parlamento,

    em ministrios e no Conselho de Estado. Destacaram-se, entre outros, o carioca

    Tobias Barreto, o carioca nascido na Frana, Paulino Jos de Souza, conhecido

    como Visconde de Uruguai, o baiano Teixeira de Freitas, o mato-grossense Pimenta

    Bueno, o sergipano Slvio Romero e o alagoano Aureliano Cndido Tavares Bastos.

    Em 1828, conforme exigia a constituio, foi promulgada a lei que constitua o

    Supremo Tribunal de Justia, que era a instncia superior aos chamados Tribunais

    da Relao, e composto por 17 juzes letrados.

    Em 1830 foi promulgado o Cdigo Criminal do Imprio, elaborado para

    substituir o Livro V das Ordenaes Filipinas. O Cdigo criou a figura dos juzes

    municipais, escolhidos, de trs em trs anos, em lista trplice elaborada pelas

    cmaras municipais, dentre habitantes do municpio, formados em direito ou

    advogados hbeis, ou ainda entre quaisquer outras pessoas bem conceituadas e

    instrudas, ressalvado, em caso de faltas repentinas, a nomeao pela cmara de

    um juiz interino

  • 20

    Em 1832, j depois que Pedro I abdicara do trono em favor do regente Pedro

    II, foi editado o Cdigo de Processo Criminal de Primeira Instncia, que entre outras

    decises, regulamentava o habeas corpus e o tribunal do jri, reformando o

    processo e a magistratura. O cdigo foi reformado em 1841.

    Em 1838, era fundado o Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro, instituio

    que participaria decisivamente da construo da identidade nacional. A maioria dos

    membros era composta pelos novos juristas formados no Brasil, nos cursos de So

    Paulo e Olinda.

    Em 1843, sob inspirao de iniciativas semelhantes na Europa, notadamente

    Portugal e Frana, foi fundado o Instituto dos Advogados que se transformaria

    mais tarde na Ordem dos Advogados. A instituio tinha por objetivo regularizar o

    servio de administrao da justia e completar a organizao do Poder Judicirio.

    Segue o comunicado oficial (mantida a linguagem da poca) em que o imperador

    Dom Pedro II aprovava os estatutos da nova entidade.

    AVISO DE 7 DE AGOSTO DE 1843 Approvando os Estatutos do Instituto dos Advogados Brasileiros.

    Sua Magestade o Imperador, deferindo benignamente ao que lhe representaro diversos advogados desta Crte, manda pela secretaria de Estado dos Negocios da Justia, approvar os estatutos do Instituto dos advogados Brasileiros, que os supplicantes fizeram subir sua Augusta Presena, e que com esta baixo assignados pelo Conselheiro Official-maior da mesma Secretaria de Estado; com a clausula porm de que ser tambem submettido Imperial approvao o regulamento interno, de que trato os referidos estatutos. Palacio do Rio de Janeiro, em 7 de agosto de 1843. Honorio Hermeto Carneiro Leo ESTATUTOS DO INSTITUTO DOS ADVOGADOS BRASILEIROS Art. 1o Haver na capital do Imperio um Instituto com o titulo - Instituto dos Advogados Brasileiros -, do qual sero membros todos os Bachareis formados em Direito que se matricularem dentro do praso marcado no regimento interno, onde igualmente se determinaro o numero e qualificaes dos membros effectivos, honorarios, e supranunmerarios residentes na Crte e nas

  • 21

    Provincias. Art. 2 O fim do Instituto organisar a ordem dos advogados, em proveito geral da sciencia da jurusprudencia.

    Em 1850 surgiram o Regulamento 737 (que normatizava o processo civil) e o

    Cdigo Comercial.

    Praticamente unnime, entre os pensadores citados acima, era a inspirao

    da doutrina alem para a organizao do Poder Judicirio do Brasil, especialmente

    do jurista Rudolph Von Jhering e do seu livro O Esprito do direito romano, e do

    jurista Von Savigny e seu livro A codificao. Alguns livros nacionais se destacaram,

    como base para o pensamento jurdico brasileiro: Direito Pblico Brasileiro (Pimenta

    Bueno, o Marqus de So Vicente, 1857), Ensaio de direito administrativo (Visconde

    de Uruguai, 1862), A Provncia (Tavares Bastos, 1870). As leis que foram sendo

    promulgadas, nesse perodo, foram tratando de assuntos delicados para o governo e

    a sociedade, e, somadas, iam constituindo o manancial que seria organizado mais

    tarde. Uma delas foi a lei de terras (de 1850).

    Posto isso, e tendo j tomado a bno Histria, vamos esclarecer o

    funcionamento do Poder Judicirio brasileiro, que contemporaneamente est

    disciplinado em consonncia com os princpios previstos na Constituio de 1988. A

    nossa Constituio Cidad, como a apelidou o constituinte Ulysses Guimares,

    previu no seu artigo 96, I, a eleio dos rgos diretivos dos tribunais, premissa que

    lhes permitiu autonomia na elaborao dos regimentos internos, na organizao dos

    juzos e servios auxiliares, e no provimento dos cargos de cada jurisdio.

  • 22

    1.2. ORGANIZAO DO PODER JUDICIRIO

    O primeiro rgo de cpula da Justia brasileira foi instalado no dia 10 de

    maio de 1808. A Corte portuguesa, asilada no Brasil para escapar da invaso

    napolenica, criou um aparelho semelhante Casa da Suplicao de Portugal, e

    que se transformaria no Supremo Tribunal Federal. Estamos acostumados a pensar

    que esse foi o primeiro passo para a autonomia do poder Judicirio no Brasil. Mas,

    quase trezentos anos antes, um juiz pisava o solo brasileiro ento Terra de Santa

    Cruz. Foi o frei Henrique Soares de Coimbra, que funcionava anteriormente como

    desembargador do Pao em Lisboa. O Desembargo do Pao era como que uma

    corte suprema de graa e justia. Curiosamente, a primeira missa no Brasil foi

    rezada por um antigo magistrado.

    Como registra Carlos Fernando Mathias, o primeiro a chegar ao Brasil com

    poder judicante foi o fidalgo Martim Afonso de Sousa.

    Recorde-se que, por dois alvars de 1516, o rei Manuel I determinara medidas da maior importncia, para o incio da colonizao da terra que em tal maneira graciosa querendo-a aproveitar, dar-se- nela tudo, por bem das guas que tem (carta de Caminha). Os alvars integravam o elenco dos diplomas legais portugueses e continham, em geral, disposies que no deviam durar mais do que um ano, salvo excees. Voltando-se aos dois alvars do rei o venturoso, registre-se que foram dirigidos Casa das ndias (rgo da maior importncia, na organizao colonial lusitana), determinando que se fornecessem machados e enxadas e toda ferramenta s pessoas que fossem povoar o Brasil e, pelo segundo, el-rei mandava, ao feitor e aos oficiais da mencionada Casa da ndia, que procurassem e elegessem um homem prtico e capaz de ir ao Brasil dar princpio a um engenho de acar; a que se lhe desse sua ajuda de custo, e tambm todo o cobre e ferro e mais coisas necessrias. O homem prtico e capaz escolhido (quatorze anos aps os ditos alvars) foi, precisamente, Martim Afonso de Sousa a quem o rei, a essas alturas Joo III, dirigiu trs cartas-rgias, datadas de 20 de novembro de 1530. (...) Com efeito, continham as cartas as normas que a coroa portuguesa entendia indispensveis para que se desse incio a uma administrao colonial. Abrangiam elas todos os ramos da administrao (e, aqui, que ningum lembre Montesquieu, por

  • 23

    incabvel), como as de carter poltico, de direito pblico (direito penal e processual, por exemplo), de direito judicirio, de carter militar, etc.2

    Carlos Fernando Mathias comenta que a Martim Afonso foram conferidos

    poderes absolutos, no s de ditar leis, mas mandar aplic-las e execut-las, com

    poder e alada tanto no cvel como no crime, dando as sentenas que lhe

    parecessem de justia, at a morte natural sem apelo e sem agravo. Graas s

    cartas rgias, teve autoridade para, por exemplo, fundar a vila de So Vicente (em

    21 de janeiro de 1532), nomeando as autoridades municipais e judicirias, isto , os

    primeiros juzes do povo, alm de escrives, meirinhos, almotceis (inspetores

    encarregados da aplicao exata de pesos e medidas e da taxao de gneros

    alimentcios) e outros oficiais.

    No regime das capitanias, o capito-mor (ou governador) tinha seus poderes

    expressos em dois diplomas legais, baseados nas Ordenaes Manuelinas: a carta

    de doao e o foral da capitania, este tambm designado carta foral.

    Com o fracasso do sistema de capitanias, a partir de 1549 foi criada a funo

    de governador-geral. Comeava uma nova legislao para a vida coletiva do Brasil,

    no s de ordem administrativa (como normas referentes aos ndios e ao trfico dos

    escravos negros), mas tambm em relao atividade judiciria.

    Entre 1580 e 1640 (depois da morte, em curto perodo de tempo, do rei Dom

    Sebastio e do sucessor Dom Henrique), por uma questo dinstica o trono passou

    para o rei da Espanha, Dom Felipe II, que decretou em 1603 as Ordenaes

    Filipinas. Em boa parte, no Livro I, o rei Felipe II manteve a estrutura judiciria do

    reino que inclua o Brasil , j estabelecida nas Ordenaes Manuelinas

    2 MATHIAS, Carlos Fernando. Notas para uma histria do judicirio no Brasil. Braslia: Fundao Alexandre de Gusmo, 2009, p. 32.

  • 24

    Em 1652 (12 anos depois da restaurao do trono portugus, com a

    ascenso do rei Joo IV), foi estabelecida a Relao do Brasil, com sede em

    Salvador. Mathias informa que essa Relao compunha-se de oito

    desembargadores: um juiz da chancelaria; dois desembargadores dos agravos e

    apelaes; um ouvidor-geral dos feitos e causas crimes; um ouvidor-geral dos feitos

    e causas cveis; um juiz dos feitos da coroa e fazenda; um procurador dos feitos da

    coroa, com funo de promotor de justia, e um procurador das fazendas dos

    defuntos e resduos.

    No fim do sculo XVII foi introduzida na organizao judiciria do Brasil a

    figura do juiz de fora para cada municpio, isto , um juiz que vinha de fora, para

    fiscalizar os juzes ordinrios, integrantes da Cmara da respectiva vila, que eram

    eleitos, anualmente com os vereadores. Segundo Carlos Fernando Mathias

    magistrado imposto pelo rei a qualquer lugar, sob o pretexto de que administravam

    melhor a justia aos povos do que os juzes ordinrios ou do lugar, em razo de

    suas afeies (...)3.

    Desde a posse do Marqus de Pombal, em 1750, at a vinda da famlia real

    portuguesa para as nossas terras, o Brasil esteve submetido chamada Lei da Boa

    Razo. Entre outras coisas, essa lei tratou da organizao judiciria, com a criao

    do Tribunal da Relao do Rio de Janeiro e das Juntas de Justia e a das Juntas do

    Comrcio.

    No Brasil, o prncipe-regente tornou-se o rei Joo VI em 1816, com a morte da

    me, rainha Maria I. O novo rei criou tribunais ordinrios novos, como a Mesa do

    Desembargo do Pao e da Conscincia e Ordens, a Casa da Suplicao do Brasil,

    alm de nova Relao (a do Maranho) e Juntas de Justia. Carlos Fernando

    Mathias d notcia de que, a par disso, foram criados tribunais especiais novos,

    como o Supremo Tribunal Militar ou Supremo Conselho Militar de Justia, o

    Conselho da Fazenda, a Real Junta de Comrcio (ou simplesmente Junta de

    3 Id. p. 69.

  • 25

    Comrcio) e uma outra Junta de Justia Militar (para as capitanias do Maranho e

    Piau, com sede em So Luis do Maranho) e rgos singulares, como o juiz

    conservador da nao inglesa4.

    Durante esse perodo, os juzes brasileiros julgavam processos de modo

    verbal e de rito sumarssimo. Os principais magistrados eram o juiz superintendente

    geral dos contrabandos, o juiz conservador dos falidos (que julgava causas cveis e

    crimes referentes aos falidos e comerciantes matriculados), o juiz conservador dos

    privilegiados da Junta do Comrcio. Tambm havia a figura do Intendente Geral de

    Polcia, que julgava crimes de ordem penal.

    Com a proclamao da Repblica, foi criada a Justia Federal e o Supremo

    Tribunal Federal, em 1890, j que o Estado brasileiro passava de unitrio a

    federativo. Carlos Fernando Mathias informa o seguinte:

    A Justia Federal foi includa no texto da Constituio de 24 de fevereiro de 1891 (arts. 55 e seguintes) e funcionou at o advento da Carta de 1937 a polaca, que a extinguiu. Mais tarde, como se sabe, por efeito do Ato Institucional n 2 de 27.10.65 e da Constituio de 1967, foi restabelecida.5

    A ttulo de curiosidade, reproduzimos trecho da pesquisa de Carlos Fernando

    Mathias, recordando a primeira composio do Supremo Tribunal Federal:

    Procedida logo a eleio, ficou como presidente o ministro Joo Antnio de Arajo Freitas Henriques. Tambm o compuseram os ministros Joo Evangelista de Negreiros Saio Lobato (visconde de Sabar), Olegrio Herculano dAquino Castro, Tristo de Alencar Araripe, Joo Jos de Andrade Pinto, Joaquim Francisco de Faria, Incio Jos de Mendona Uchoa, Luis Corra de Queirs Barros, Antnio de Souza Mendes, Ovdio Fernandes Trigo de Loureiro, Joaquim da Costa Barradas (todos antigos integrantes do Supremo Tribunal de Justia), alm de Jos Jlio Albuquerque e Barros (baro de Sobral) e desembargadores Henrique Pereira de Lucena (baro de Lucena) e Luis Antnio Pereira Franco - baro de Pereira Franco (que foi nomeado em substituio a Bernardino de Campos, que

    4 Ibid. p. 91. 5 Id. p. 228.

  • 26

    recusou a nomeao) e o juiz de direito da Corte de Apelao do Distrito Federal Joaquim de Toledo Piza e Almeida.6

    Outras alteraes na organizao do Poder Judicirio brasileiro foram

    promovidas nas constituies seguintes, mas passaremos ao largo, neste trabalho,

    para nos concentrar nos mandamentos da atual constituio em relao ao assunto.

    A Constituio Federal de 1988 traz diretrizes bsicas para a Organizao do

    Poder Judicirio. Citaremos algumas, contempladas nos artigos 92 a 126.

    Ingresso na carreira - fica definido que o cargo inicial o de juiz substituto,

    mediante concurso pblico de provas e ttulos, com a participao da Ordem dos

    Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito no

    mnimo trs anos de atividade jurdica;

    Promoo de entrncia para entrncia de maneira alternada, por

    antiguidade e merecimento (o juiz mais antigo pode ser recusado por voto

    fundamentado de dois teros do Tribunal);

    Aferio do merecimento avaliao de desempenho por meio de critrios

    objetivos de produtividade, celeridade no atendimento, frequncia ao trabalho e em

    cursos de aperfeioamento;

    O sistema judicirio brasileiro composto pelos seguintes rgos:

    Supremo Tribunal Federal STF. a mais alta corte do pas. Est acima do

    Superior Tribunal de Justia. Tem como funo principal zelar pelo cumprimento da

    Constituio. Parlamentares federais, ministros de estado, o presidente da

    Repblica, entre outras autoridades, tm a prerrogativa de ser julgados pelo STF

    6 Ibid. p. 231.

  • 27

    quando processados por infraes penais comuns. rgo mximo do Judicirio

    brasileiro, o Supremo Tribunal Federal composto por 11 ministros indicados pelo

    presidente da Repblica e nomeados por ele aps aprovao pelo Senado Federal,

    em regime de maioria absoluta. Entre as diversas competncias do STF pode-se

    citar a de julgar as chamadas aes diretas de inconstitucionalidade, instrumento

    jurdico prprio para contestar a constitucionalidade de lei ou ato normativo federal

    ou estadual; apreciar pedidos de extradio requerida por Estado estrangeiro; e

    julgar pedido de habeas corpus de qualquer cidado brasileiro.

    Superior Tribunal de Justia STJ. Tambm um Tribunal Superior. Tem a

    responsabilidade de fazer uma interpretao uniforme da legislao federal e a

    instncia competente para julgar governadores. O STJ, que uniformiza o direito

    nacional infraconstitucional, composto por, no mmino, 33 ministros nomeados pelo

    presidente da Repblica a partir de lista trplice elaborada pela prpria Corte. Os

    ministros do STJ tambm tm de ser aprovados pelo Senado antes da nomeao

    pelo presidente do Brasil. O Conselho da Justia Federal (CJF) funciona junto ao

    STJ e tem como funo realizar a superviso administrativa e oramentria da

    Justia Federal de primeiro e segundo graus.

    Justia Federal - Composta pela Justia Federal (comum), que inclui os

    juizados especiais federais, e a Justia Especializada, que abrange trs ramos:

    Justia do Trabalho, a Justia Eleitoral e a Justia Militar, que atuam no mbito da

    Unio e dos estados, incluindo o Distrito Federal e Territrios. A Justia Federal da

    Unio (comum) composta por juzes federais que atuam na primeira instncia e

    nos tribunais regionais federais (segunda instncia), alm dos juizados especiais

    federais. Sua competncia est fixada nos artigos 108 e 109 da Constituio. Por

    exemplo, cabe a ela julgar crimes polticos e infraes penais praticadas contra

    bens, servios ou interesse da Unio (incluindo entidades autrquicas e empresas

    pblicas), processos que envolvam Estado estrangeiro ou organismo internacional

    contra municpio ou pessoa domiciliada ou residente no Brasil, causas baseadas em

    tratado ou contrato da Unio com Estado estrangeiro ou organismo internacional e

    aes que envolvam direito de povos indgenas. A competncia para processar e

  • 28

    julgar da Justia federal comum tambm pode ser suscitada em caso de grave

    violao de direitos humanos.

    Justia Eleitoral - A Justia Eleitoral integra a Justia Federal especializada.

    Regulamenta os procedimentos eleitorais, garantindo o direito constitucional ao voto

    direto e sigiloso. Compete-lhe organizar, monitorar e apurar as eleies, e diplomar

    os candidatos eleitos. Tem o poder de decretar a perda de mandato eletivo federal e

    estadual e julgar irregularidades praticadas nas eleies. composta por juzes

    eleitorais que atuam na primeira instncia e nos tribunais regionais eleitorais (TRE),

    e por ministros que atuam no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Est regulada nos

    artigos 118 a 121 da Constituio.

    Justia Militar - A Justia Militar composta por juzes militares que atuam em

    primeira e segunda instncia e por ministros que julgam no Superior Tribunal Militar

    (STM). A ela cabe processar e julgar os crimes militares definidos em lei (artigo 122

    a 124 da Constituio).

    Justia do Trabalho - Justia do Trabalho compete julgar conflitos

    individuais e coletivos entre trabalhadores e tomadores, incluindo aqueles que

    envolvam entes de direito pblico externo e a administrao pblica direta e indireta

    da Unio, dos estados, do Distrito Federal e dos municpios. composta por juzes

    trabalhistas que atuam na primeira instncia e nos Tribunais Regionais do Trabalho

    (TRT), e por ministros que atuam no Tribunal Superior do Trabalho (TST).

    regulada pelo artigo 114 da Constituio Federal

    Justia Estadual - Centradas nas capitais dos estados e do Distrito Federal, a

    Justia Estadual inclui os juizados especiais cveis e criminais. Os juizados especiais

    (tanto na Justia da Unio como na Justia dos estados) so competentes para

    julgar causas de menor potencial ofensivo e de pequeno valor econmico.

  • 29

    A Justia Estadual (comum) composta pelos juzes de Direito, que atuam na

    primeira instncia, e pelos chamados desembargadores, que atuam nos Tribunais

    de Justia (segunda instncia), alm dos juizados especiais cveis e criminais. A ela

    cabe processar e julgar qualquer causa que no esteja sujeita competncia de

    outro rgo jurisdicional (Justia Federal comum, do Trabalho, Eleitoral e Militar), o

    que representa o maior volume de litgios no Brasil. Sua regulamentao est

    expressa nos artigos 125 a 126 da Constituio.

    Como regra, os processos se originam na primeira instncia, podendo ser

    levados, por meio de recursos, para a segunda instncia, para o STJ (ou demais

    tribunais superiores) e at para o STF, que d a palavra final em disputas judiciais

    no pas em questes constitucionais. Mas h aes que podem se originar na

    segunda instncia e at nas Cortes Superiores. o caso de processos criminais

    contra autoridades com prerrogativa de foro. Cabe segunda instncia da Justia

    comum os Tribunais de Justia julgar prefeitos acusados de crimes comuns.

  • 30

    1.3. EMENDA CONSTITUCIONAL N 45

    Em dezembro de 2004, no sentido de racionalizar procedimentos previstos

    pela Constituio de 1988, a Emenda Constitucional n 45 promoveu reforma do

    Poder Judicirio, com importantes inovaes que tm o propsito de lhe aumentar a

    transparncia e a eficincia. Uma dessas inovaes foi a criao do Conselho

    Nacional de Justia (CNJ), rgo de controle do Poder Judicirio, composto por

    representantes da magistratura, do ministrio pblico, da advocacia e da sociedade

    civil, e encarregado de realizar a superviso da atuao administrativa e financeira

    do Judicirio.

    A referida emenda inclui, no artigo 5 da Constituio de 1988, o inciso

    LXXVII, com a seguinte determinao: a todos, no mbito judicial e administrativo,

    so assegurados a razovel durao do processo e os meios que garantam a

    celeridade de sua tramitao. Entende-se que, para atender a essa determinao, o

    servio pblico de prestao da justia, deve passar por contnua melhoria da sua

    gesto administrativa e financeira. Desse modo, h um esforo no sentido de que os

    diversos rgos jurisdicionais do pas sejam integrados, sob a coordenao de um

    organismo central no disciplinador, mas com atribuies de controle e

    fiscalizao, atravs de mecanismos de carter administrativo, financeiro e

    correicional. Sua funo aperfeioar e modernizar o sistema judicirio brasileiro.

    Entre as iniciativas de modernizao, podemos destacar a criao do Sistema

    CNJ de Processo Eletrnico (Projudi), que promoveu a tramitao totalmente

    eletrnica de processos judiciais; o BACEN JUD, sistema informatizado que permite

    aos juzes cadastrados no Banco Central reter judicialmente valores disponveis em

    qualquer instituio bancria por meio eletrnico, para execuo de ordens de

    penhora ou indisponibilidade; o Cadastro de Clientes do Sistema Financeiro

    Nacional (CCS), que substitui atos processuais realizados em papel pela consulta

    eletrnica para identificar possveis fraudes como a utilizao de laranjas em

  • 31

    crimes de lavagem de dinheiro; o RENAJUD, que possibilita a efetivao de ordens

    judiciais de restrio de veculos cadastrados no Registro Nacional de Veculos

    Automotores RENAVAM; o INFOJUD, que permite ao Poder Judicirio o envio

    Secretaria da Receita Federal de requisies judiciais de informaes protegidas

    pelo sigilo fiscal, bem como o acesso s respostas, por meio de ferramenta

    eletrnica segura e gratuita; o Cadastro Nacional de Improbidade Administrativa, que

    rene os dados de pessoas ou empresas que tenham sido condenadas, na esfera

    cvel, pela m administrao de recursos pblicos; o Sistema Nacional de Bens

    Apreendidos (SNBA), que permite o cadastro e o controle de todos os bens

    apreendidos em procedimentos criminais, tornando possvel uma melhor gesto

    desses bens pelos tribunais.

    Espera-se que essa modernizao concorra para a consolidao de um

    sistema judicirio clere e eficiente, que diminua as desigualdades, que preserve as

    garantias constitucionais e que, em ltima anlise, fortalea a sociedade.

    Contudo, de nada adianta a adoo de tais procedimentos se permanece em

    vigor um sistema recursal moroso, que milita contra o ideal de justia. No se

    pretende defender a extino dos recursos, mas sim a sua utilizao com

    efetividade, principalmente o Recurso de Revista, cuja finalidade de auferir a

    melhor justia.

    1.4. ORGANIZAO DA JUSTIA DO TRABALHO

    Todos sabemos os descalabros que foram cometidos na relao de trabalho,

    certamente herana maldita da Revoluo Industrial, a despeito dos avanos no

    sentido da mecanizao da produo e especialmente na eficincia na produo de

    alimentos e outros bens essenciais. Trabalhadores de todo o mundo precisaram se

    organizar para lutar por melhores condies de trabalho, no final do sculo XIX e

  • 32

    incio do sculo XX. Foi o perodo em que empregados de fbricas formaram os

    seus sindicatos, responsveis pela conquista de diversos direitos polticos para os

    trabalhadores, como a limitao de jornada diria que podia chegar, antes, a cerca

    de 16 horas, inclusive para crianas.

    Na esteira dos movimentos europeus, que pleiteavam mudanas estruturais

    nas relaes entre patres e empregados, surgiu, em 1919, a Organizao

    Internacional do Trabalho, que estimulou o estabelecimento de rgos jurisdicionais

    e a produo de normas de direito do trabalho em muitos pases, para resolver

    conflitos. O Brasil no era exceo, com enorme xodo rural.

    Em 1935, foi enviado ao Congresso brasileiro o anteprojeto de lei que institua

    e organizava o ramo especializado da Justia do Trabalho (que se transformaria

    quatro anos mais tarde no Decreto n 1.237/1939). Um dos autores do anteprojeto

    foi o socilogo e jurista Oliveira Viana, ao lado de Luiz Augusto de Rego Monteiro,

    Deodato Maia, Oscar Saraiva, Geraldo Faria Baptista e Helvcio Xavier Lopes. O

    grupo defendia a implantao de um ramo especializado para prover a Justia do

    Trabalho serviria para civilizar o Brasil. Oliveira Viana7 afirmava que a Justia do

    Trabalho era uma maneira de impedir que os desfavorecidos dependessem

    unicamente da boa vontade dos mais abastados".

    A Justia do Trabalho foi instalada, no Brasil, em 1941, quando entrou em

    vigor o Decreto-lei n 1.237/39, regulamentado pelo Decreto n 6.596/40, embora

    seus rgos no tivessem as garantias inerentes da magistratura, pois pretendente

    ao Poder Executivo.8 O mundo estava em plena Segunda Guerra Mundial, conflito

    do qual o Brasil participaria apenas um ano depois, em 1942.

    7 VIANA, Oliveira. Direito do Trabalho e Democracia Social O problema da incorporao do trabalhador no Estado. Rio de Janeiro: Jos Olmpio, 1951, p. 23. 8 BATALHA, Wilson de Souza Campos. Tratado de Direito Judicirio do Trabalho. So Paulo: Ltr, 1977, p.

    172.

  • 33

    Na Justia do Trabalho no h, na primeira instncia, rgos ou varas

    especializadas, como na Justia Comum. Todas as Varas do Trabalho julgam as

    mesmas matrias.

    A Justia do Trabalho, sua organizao e competncias, esto previstas no

    artigo 111 da Constituio Federal de 1988: So rgos da Justia do Trabalho: I -

    o Tribunal Superior do Trabalho; II - os Tribunais Regionais do Trabalho; III - Juzes

    do Trabalho.

    Portanto, so trs graus de jurisdio. Primeiro grau denominada varas do

    trabalho, segundo grau, denominado Tribunais Regionais e, em terceiro, o grau

    extraordinrio que o Tribunal Superior do Trabalho.

    Os rgos de primeiro grau so os Juzes do Trabalho que atuam nas Varas

    do Trabalho. A regra geral que a Vara do Trabalho a instncia competente no

    local da prestao dos servios, seja o empregado reclamante ou reclamado,

    independentemente do local da contratao dos servios. Curiosamente, quando a

    prestao de servios se d em localidades diferentes, a CLT no dispe sobre isso,

    o que configura lacuna da lei. Nesse caso, a tendncia majoritria basear o

    julgamento na localidade da ltima prestao de servios, com as devidas excees

    previstas pela CLT.

    A Emenda Constitucional n 24/1999 extinguiu a representao classista na

    Justia do Trabalho em todos os graus de jurisdio. Foram extintas as antigas

    Juntas de Conciliao e Julgamento, que passaram a denominar Varas do Trabalho,

    integradas por um juiz monocrtico (singular) conforme o teor do artigo 116 da

    Constituio de 1988: Nas Varas do Trabalho, a jurisdio ser exercida por um juiz

    singular. H a possibilidade de a jurisdio trabalhista ser exercida por juzes de

    direito naqueles locais no abrangidos pela jurisdio laboral, com recurso para o

    respectivo Tribunal Regional do Trabalho, de acordo com o disposto no artigo 112

    da Constituio: A lei criar varas da Justia do Trabalho, podendo, nas comarcas

  • 34

    no abrangidas por sua jurisdio, atribu-la aos juzes de direito, com recurso para

    o respectivo Tribunal Regional do Trabalho. O mesmo tema abordado pelo artigo

    895, I da Consolidao das Leis do Trabalho: Cabe recurso ordinrio para a

    instncia superior: I - das decises definitivas ou terminativas das Varas e Juzos, no

    prazo de 8 (oito) dias.

    Os rgos de segundo grau de jurisdio so os Tribunais Regionais do

    Trabalho, composto pelos seus juzes. Os TRTs so regulados pelo artigo 115 da

    Constituio: Os Tribunais Regionais do Trabalho compem-se de, no mnimo, sete

    juzes, recrutados, quando possvel, na respectiva regio, e nomeados pelo

    Presidente da Repblica dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta

    e cinco anos, sendo um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva

    atividade profissional e membros do Ministrio Pblico do Trabalho com mais de dez

    anos de efetivo exerccio, observado o disposto no art. 94; II os demais, mediante

    promoo de juzes do trabalho por antiguidade e merecimento, alternadamente.

    1 Os Tribunais Regionais do Trabalho instalaro a justia itinerante, com a

    realizao de audincias e demais funes de atividade jurisdicional, nos limites

    territoriais da respectiva jurisdio, servindo-se de equipamentos pblicos e

    comunitrios. 2 Os Tribunais Regionais do Trabalho podero funcionar

    descentralizadamente, constituindo Cmaras regionais, a fim de assegurar o pleno

    acesso do jurisdicionado justia em todas as fases do processo.

    Esses juzes, atualmente denominados desembargadores, no precisam ser

    submetidos a sabatina no Senado Federal nem aprovados por maioria absoluta

    daquela Casa, como acontece com os ministros do STF. Tambm se aplica aos

    TRTs a regra do Quinto Constitucional, que prev o preenchimento das vagas por

    membros advindos da advocacia, desde que possuam notrio saber jurdico,

    reputao ilibada e mais de 10 (dez) anos de efetivo exerccio profissional. Membros

    do Ministrio Pblico do Trabalho tambm se beneficiam do Quinto Constitucional,

    cumprida a exigncia de 10 (dez) anos de efetivo exerccio na carreira. O restante

    das vagas ser ocupado por juzes do trabalho, nomeados por promoo

    (antiguidade ou merecimento, alternadamente).

  • 35

    Alguns Tribunais Regionais do Trabalho outorgaram, via regimento interno, o

    ttulo de Desembargador Federal do Trabalho aos seus Juzes, entretanto, o projeto

    de lei que alterava a denominao dos Juzes de segundo grau para

    desembargadores ainda est em trmite no Congresso Nacional.

    A Emenda Constitucional n 45/2004 trouxe algumas novidades em relao

    aos Tribunais Regionais do Trabalho. Duas delas so especialmente importantes:

    - A determinao de que os TRTs instalem a Justia Itinerante, para a

    realizao de audincias em equipamentos pblicos e comunitrios.

    - A descentralizao dos TRTs, funcionando nas Cmaras Regionais, para

    assegurar o amplo acesso das pessoas Justia, em todas as fases do processo.

    O rgo de terceiro grau de jurisdio, que na verdade um rgo de

    jurisdio extraordinria, o Tribunal Superior do Trabalho, composto pelos

    Ministros do TST, cuja principal finalidade uniformizar a jurisprudncia nacional,

    conforme ser tratado do prximo captulo.

    1.5. TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO (TST)

    O TST o rgo de cpula da Justia do Trabalho e tem como atribuio a

    uniformizao Nacional da aplicao da Lei e da Constituio Federal. regulado,

    pela Constituio, no artigo 111-A:

    O Tribunal Superior do Trabalho compor-se- de vinte e sete Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, nomeados pelo Presidente da

  • 36

    Repblica aps aprovao pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministrio Pblico do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exerccio, observado o disposto no art. 94; II os demais dentre juzes dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da magistratura da carreira, indicados pelo prprio Tribunal Superior. 1 A lei dispor sobre a competncia do Tribunal Superior do Trabalho. 2 Funcionaro junto ao Tribunal Superior do Trabalho: I a Escola Nacional de Formao e Aperfeioamento de Magistrados do Trabalho, cabendo-lhe, dentre outras funes, regulamentar os cursos oficiais para o ingresso e promoo na carreira; II o Conselho Superior da Justia do Trabalho, cabendo-lhe exercer, na forma da lei, a superviso administrativa, oramentria, financeira e patrimonial da Justia do Trabalho de primeiro e segundo graus, como rgo central do sistema, cujas decises tero efeito vinculante.

    Na reforma do judicirio promovida pela Emenda Constitucional n 45/2004,

    algumas inovaes abrangeram o TST. Citaremos aqui duas delas: a criao da

    ENAMAT: Escola Nacional de Formao e Aperfeioamento de Magistrados do

    Trabalho, responsvel por cursos relacionados ao ingresso, formao e promoo

    na carreira, e a criao do CSJT: Conselho Superior da Justia do Trabalho, rgo

    central do sistema, responsvel por fazer a superviso administrativa, oramentria,

    financeira e patrimonial (no jurisdicional) da Justia do Trabalho de 1 e 2 graus.

    Historicamente, foi com a Constituio de 1946 que a Justia do Trabalho foi

    includa constitucionalmente no Poder Judicirio, em que pese ter sido constituda

    em 1939, conforme j mencionado.

    O TST composto pelos seguintes rgos: o Tribunal Pleno; o rgo

    Especial (quando o tribunal tiver mais de 25 julgadores, conforme o artigo 93, XI, da

    Constituio Federal de 1988); Seo Especializada em Dissdios Coletivos (SDC);

    Seo Especializada em Dissdios Individuais (SDI) com uma Subseo I que trata

    de questes gerais e uma Subseo II que trata de aes especiais como habeas

    corpus, habeas data, ao rescisria e mandado de Segurana; e 8 Turmas.

    Tambm fazem parte do sistema as Comisses Permanentes de Regimento Interno,

    de Jurisprudncia e Precedentes Normativos e de Documentao.

  • 37

    Complementarmente, a Justia do Trabalho conta com Ministrio Pblico do

    Trabalho, contemplado no artigo 128 da Constituio, como um rgo extra poderes,

    que o vinculado ao Ministrio Pblico da Unio (ao lado do Ministrio Pblico

    Federal; o Ministrio Pblico Militar; o Ministrio Pblico do Distrito Federal e

    Territrios e os Ministrios Pblicos dos Estados).

    O Ministrio Pblico do Trabalho especialmente regulado pela Lei

    Complementar n 75/93, que revogou os artigos 736 a 757 da Consolidao das

    Leis Trabalhistas a CLT. A carreira do Ministrio Pblico iniciada com o cargo de

    Procurador do Trabalho, e continua com a possibilidade de promoo para

    Procurador Regional do Trabalho e Subprocurador-Geral do Trabalho.

  • 38

    2. RECURSO DE NATUREZA EXTRAORDINRIA

    O ordenamento jurdico brasileiro, com a disposio de estabelecer

    segurana jurdica, tratou no Cdigo de Processo Civil de regulamentar o cabimento

    do recurso de natureza extraordinria no mbito civil. Indivduos ou grupos,

    inconformados com determinada deciso judicial, podem interpor recurso para

    reconsiderao de tal sentena. No entanto, segundo lio de Nelson Nery Jnior a

    proibio de utilizar-se discricionariamente um recurso dentre os vrios previstos na

    lei dada pelo princpio da singularidade, consoante o qual existe um nico e tpico

    recurso para cada deciso judicial impugnvel9.

    Com a CLT no foi diferente: em seu artigo 895 tratou de estabelecer o

    cabimento do Recurso Ordinrio, como meio de impugnao da parte descontente e,

    em seu artigo 896 as hipteses de cabimento do Recurso de Revista, que o

    recurso de natureza extraordinria no mbito da Justia do Trabalho.

    Contudo, em se tratando de recurso de natureza extraordinria, o

    inconformismo da parte insuficiente para seu processamento. Isto porque,

    conforme se ver adiante, justia ou no de uma deciso se discute to somente na

    instncia ordinria.

    Em se tratando de recurso de natureza extraordinria, o foco deixa de ser o

    direito da parte, que j foi apreciado por quatro juzes (um de primeiro grau e trs

    desembargadores). Na instncia extraordinria, o direito da parte pode ser atingido

    de forma reflexa, pois o que se est analisando uma questo supra partes.

    Fomos buscar, em Jlio Csar Bebber, melhor esclarecimento para a

    questo. Diz ele:

    9 NERY JR., Nelson. Teoria Geral dos Recursos. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 60.

  • 39

    Os recursos de natureza extraordinria (ou excepcional, ou estrita), tm por escopo a tutela do direito objetivo (voltada unidade do direito). Em outras palavras, buscam averiguar, unicamente, se a lei foi corretamente aplicada ao caso. Da por que: a) no se destinam a corrigir a injustia da deciso (GRINOVER, 1975, p. 141-2). Pode at ser que a correo se d e o direito subjetivo das partes reste protegido. Mas isso somente ocorrer diante da constatao de leso ao direito objetivo; b) no permitem a rediscusso da matria ftica, nem tampouco o reexame de provas. Somente a aplicao do direito em tese poder constituir o objeto dessa modalidade recursal. Da dizer-se que os recursos extraordinrios so recursos de estrito direito ou recursos de natureza excepcional; c) no admitem o reexame com fundamento no simples inconformismo. Exige-se, para admissibilidade dessa modalidade de recurso, o cumprimento de certos requisitos. Da dizer-se que o juzo de admissibilidade dos recursos excepcionais diferenciado e complexo.10

    Reforando: a classificao de um recurso na categoria de extraordinrio

    remete ao entendimento de que ele no ser rediscutido no tocante a fatos e provas,

    como se d no recurso ordinrio, mas apenas que sofrer anlise sobre eventual

    violao norma jurdica.

    Constituem recursos de natureza extraordinria no processo do trabalho os

    seguintes recursos: extraordinrio (Constituio Federal, art. 102, III); revista (CLT,

    art. 896) e; embargos (CLT, art. 894, II; Lei n 7.701/88, 3, III, b).

    Para efeito de fundamentao, o recurso pode ser livre ou vinculado. Livre,

    quando a lei no impe que a parte aponte vcio especfico na deciso que se

    pretende impugnar. Nesse caso, o mero inconformismo com a deciso suficiente

    para o cabimento. Vinculado, quando a lei impe que o recorrente aponte a

    existncia de vcio especfico na deciso que se pretende impugnar. No caso do

    recurso de revista, mandatrio apontar violao do direito em tese ou divergncia

    jurisprudencial.

    10 BEBBER, Jlio Csar. Recursos no Processo do Trabalho, So Paulo: Ltr, 2011, p. 49.

  • 40

    Alm do mais, o vcio apontado deve ser considerado relevante e deve ser

    comprovado, conforme se ver adiante.

    O que importa neste momento estabelecer e distinguir um recurso de

    natureza extraordinria de um recurso na fase ordinria.

    Antnio lvares da Silva ao distinguir a natureza de ambos os recursos, assim

    dispe:

    Lopes da Costa salienta que, para recorrer de uma sentena injusta, basta que a parte se sinta prejudicada. Abre-se assim a porta ampla da recorribilidade. A parte pugna contra o prejuzo que teve e apela instncia superior para corrigi-lo.

    A partir daqui o mecanismo complica-se porque, para recorrer, no se exige apenas do recorrente o sentir-se prejudicado. H questes intrnsecas prvias, como as j citadas, pois o legislador parte do pressuposto de que a justia j foi obtida com os dos julgamentos

    anteriores ou, pelo menos, foi dado a oportunidade de obt-la.11

    O termo Recurso de Revista teve origem no processo civil, com previso

    expressa no CPC de 1939, em seu artigo 853, cabvel no caso de haver divergncia

    entre decises finais das Cmaras, Turmas ou Grupos de um mesmo Tribunal,

    quanto interpretao do direito12.

    Segundo Vicente de Faria Coelho, muito antes da previso no CPC, a Revista

    apareceu nas Ordenaes do Reino e posteriormente na Constituio do Imprio, a

    qual foi abolida pela Constituio Republicana de 1891, ressurgindo no CPC de

    1939, com a idia de divergncia quanto ao modo de interpretar o direito em tese 13

    11 DA SILVA, Antnio lvares. Do Recurso Extraordinrio no Direito Processual Brasileiro. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 19. 12 COELHO, Vicente de Faria. Recurso de Revista. Rio de Janeiro: Editora Nacional de Direito, 1957, p. 41. 13 Id. p. 13-38.

  • 41

    O recurso de revista, tal como previsto na CLT, tem o propsito de uniformizar

    a jurisprudncia trabalhista em nvel nacional, portanto, destinado a proteger o

    direito objetivo. O que se pretende defender neste trabalho que, em razo do

    direito subjetivo da parte encerrar-se no Regional, no h justificativa para se

    aguardar o trnsito em julgado definitivo na instncia extraordinria.

    preciso estabelecer um procedimento onde se possibilite executar

    definitivamente qualquer julgado proferido por um Tribunal Regional, de forma a

    adaptar o sistema recursal vigente aos princpios Constitucionais do processo.

    2.1. FUNO DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO COMO

    INSTNCIA EXTRAORDINRIA FINALIDADE DO RECURSO DE REVISTA.

    A espcie recursal tem por finalidade corrigir deciso do TRT, dada em

    julgamento de recurso ordinrio em dissdios individuais, na eventualidade de que

    essa deciso viole lei federal ou a Constituio. A funo do TST, como instncia

    extraordinria, promover a uniformizao da jurisprudncia entre os Tribunais

    Regionais do Trabalho. Em suma, a finalidade a pacificao nacional.

    Tanto verdade que a divergncia apta a ensejar Recurso de Revista

    aquela entre Tribunais Regionais do Trabalho, sendo que divergncia do mesmo

    Tribunal no enseja tal recurso. Ou seja, uma controvrsia qual caiba recurso de

    revista aquela que tenha acontecido entre Tribunais Regionais do Trabalho, e no

    a que possa ter ocorrido entre rgos julgadores de um mesmo TRT.

    Na qualidade de instncia extraordinria, e conforme prescreve o art. 896 da

    CLT, os ministros do TST s podero julgar questes que se refiram a violao de

    lei federal, violao da constituio federal, contrariedade com smula ou orientao

  • 42

    jurisprudencial do prprio TST ou smula vinculante do STF e divergncia de

    interpretao de lei federal ou da Constituio. Portanto, o TST no poder rever

    injustia praticada na instncia ordinria, sem que haja relevncia nacional.

    Sobre a importncia da pacificao nacional pelo Tribunal Superior do

    Trabalho, assim a doutrina de Manoel Antnio Teixeira Filho:

    Conforme expusemos h instantes, da atuao da inteligncia interpretativa do juiz quanto norma legal apta para reger o caso concreto surgem, como resultado natural, as decises divergentes; no nos esqueamos de que aplicao do direito vida e a vida humana no se deixa racionalizar por inteiro. H casos em que esses pronunciamentos dspares subsistem ao longo dos anos, provocando mais do que uma inquietao, uma insegurana generalizada no esprito dos jurisdicionados; em outros casos, todavia, a cinca efmera, pois uma da correntes de opinio logo se torna prevalente, pacificando, a partir da, a matria, sob a perspectiva de sua interpretao em face do ordenamento jurdico.

    Mais do que qualquer outra queremos crer a jurisprudncia trabalhista destaca-se por uma imensa sucesso de pronunciamentos (tornando, sobremodo, tormentoso o cotidiano dos que exercitam as profisses forenses), no raro colidentes entre si, como consectrio da prpria natureza plstica e dinmica do direito material do trabalho. Embora o fato seja plenamente justificvel, imprescindvel que a contar de certo momento o Judicirio defina a sua posio, o seu entendimento diante da matria, luz do qual todos passaro a orientar-se. Ou quase todos.

    Constitui, sem dvida, tarefa difcil determinar-se at que momento essa dissenso pretoriana til e a partir de qual se torna desaconselhvel, porque danosa para o interesse das partes e para a prpria respeitabilidade do Poder Judicirio. A disseminao da dvida, da incerteza, como se sabe, tende a provocar uma desestabilizao das relaes sociais, em que cada indivduo acaba entendendo que o seu entendimento o nico acertado. E, assim, todos esto certos e todos esto errados, mesmo em assuntos de interpretao de norma legal; da, a importante tarefa de pacificao, que o TST exercita em divergncias dessa natureza.14

    14 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antnio. Sistema dos Recursos Trabalhistas. So Paulo: Ltr, 2011, p. 269-270.

  • 43

    Por essa mesma razo, o TST no considerado terceira instncia ou

    terceiro grau de jurisdio, mas apenas instncia especial, extraordinria, que

    analisa a justia do julgado de maneira indireta.

    Sobre a questo, assim a doutrina de Homero Batista Martins da Silva:

    Assim sendo, muito embora a presena do TST chegue a lembrar uma 3 instncia ou 3 grau de jurisdio expresses que devem ser combatidas porque no refletem o contedo jurdico desejado sua atribuio corresponde muito mais a um centro de uniformizao do direito disperso do que de reviso de fatos, provas e caos controvertidos.15

    E, a funo desta jurisdio de natureza extraordinria que se pretende

    analisar no presente trabalho.

    2.2. EVOLUO HISTRICA DO RECURSO DE NATUREZA

    EXTRAORDINRIA

    O recurso de revista, no Brasil, foi inicialmente denominado recurso

    extraordinrio pelo art. 203 do Decreto n 6.596/40. Esse decreto regulamentou o

    Decreto-Lei n 1.237/39, que apenas mencionava o termo recurso, no seu art. 76.

    Em obedincia, a CLT, quando foi elaborada, utilizou a expresso recurso

    extraordinrio no art. 896. Somente em 1949, com a Lei 861/49, assinada pelo ento

    presidente Eurico Gaspar Dutra, foi que a expresso recurso de revista passou a ser

    utilizada:

    15 DA SILVA, Homero Batista Mateus, Curso de Direito do Trabalho Aplicado Volume 8 Justia do Trabalho. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 251, 252.

  • 44

    Art 1 - Os artigos 893; 896, letras a e b e 1; e pargrafo nico do 899, do Decreto-lei n 5.452, de 1 de maio de 1943, passam a ter esta redao: "Art.893 - Das decises so admissveis os seguintes recursos: I - embargos; II - recurso ordinrio; III - recurso de revista; IV - agravo. Art. 896 - Cabe recurso de revista das decises de ltima instncia, quando: a) derem mesma norma jurdica interpretao diversa da que tiver sido dada pelo mesmo Tribunal Regional ou pelo Tribunal Superior do Trabalho; b) proferida com violao da norma jurdica ou princpios gerais de direito. 1 O recurso de revista ser apresentado no prazo de quinze dias, ao Presidente do Tribunal recorrido, que poder receb-lo ou deneg-lo, fundamentando, em qualquer caso, a sua deciso. Art. 899 - ................................................................... Pargrafo nico. Tratando-se, porm, de reclamao sbre frias, salrios ou contrato de trabalho, de valor at Cr$10.000,00 (dez mil cruzeiros) s sero admitidos recursos, inclusive o de revista, mediante a prova do depsito da importncia da condenao".

    preciso lembrar, porm, que a Constituio de 1824, ao criar o Superior

    Tribunal de Justia, outorgou-lhe competncia para anular os processos e sentenas

    que violassem leis, em causas cveis. Nos artigos 163 e 164, a constituio do

    Imprio previa a existncia do Supremo Tribunal de Justia, na capital, com a

    seguinte competncia:

    Art. 163. Na capital do Imprio, alm da Relao, que deve existir, assim como nas demais Provncias, haver tambm um Tribunal com a denominao de Supremo Tribunal de Justia- composto de Juzes Letrados, tirados das Relaes por suas antiguidades; e sero condecorados com o Titulo do Conselho. Na primeira organizao podero ser empregados neste Tribunal os Ministros daqueles, que se houverem de abolir. Art. 164. A este Tribunal Compete: l. Conceder, ou denegar Revistas nas Causas, e pela maneira, que a Lei determinar. II. Conhecer dos delitos, e erros do Oficio, que cometerem os seus Ministros, os das Relaes, os Empregados no Corpo Diplomtico, e os Presidentes das Provncias. III. Conhecer, e decidir sobre os conflitos da jurisdio, e das competncias das Relaes Providenciais.

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm#art893http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm#art896..http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm#art899

  • 45

    O Supremo Tribunal de Justia, no entanto, foi extinto pouco tempo depois de

    sua criao, e com ele o recurso de revista.

    O assunto seria retomado pouco depois da proclamao da Repblica, por

    meio do Decreto n 848, de 11 de outubro de 1890, que ordenava a organizao da

    Justia Federal e o recurso extraordinrio:

    Art. 9..... Pargrafo nico. Haver tambm recurso para o Supremo Tribunal Federal das sentenas definitivas proferidas pelos tribunais e juzes dos Estados: a) quando a deciso houver sido contraria validade de um tratado ou conveno, aplicabilidade de uma lei do Congresso Federal, finalmente, legitimidade do exerccio de qualquer autoridade que haja obrado em nome da Unio qualquer que seja a alada; b) quando a validade de uma lei ou ato de qualquer Estado seja posta em questo como contrario Constituio, aos tratados e s leis federais e a deciso tenha sido em favor da validade da lei ou ato; c) quando a interpretao de um preceito constitucional ou de lei federal, ou da clusula de um tratado ou conveno, seja posta em questo, e a deciso final tenha sido contrria validade do ttulo, direito e privilgio ou iseno, derivado do preceito ou clusula.

    Certamente inspirada nesse Decreto, a primeira Constituio da Repblica

    trouxe previso para o recurso extraordinrio, embora somente em 1894 tenha sido

    efetivamente consolidado. Aquela constituio, no art. 59, inciso II e pargrafo

    primeiro, atribua competncia do Supremo Tribunal Federal para julgamento em

    grau de recurso, das sentenas das justias dos Estados, em ltima instncia. Diz o

    texto: 1 - Das sentenas das Justias dos Estados, em ltima instancia, haver

    recurso para o Supremo Tribunal Federal: a) quando se questionar sobre a validade,

    ou a aplicao de tratados e leis federais, e a deciso do Tribunal do Estado for

    contra ela; b) quando se contestar a validade de leis ou de atos dos Governos dos

    Estados em face da Constituio, ou das leis federais, e a deciso do Tribunal do

    Estado considerar vlidos esses atos, ou essas leis impugnadas. Observe-se que

    no foi considerada a expresso recurso extraordinrio, mas apenas recurso.

  • 46

    Em 1926, a reforma da Constituio de 1891, entre outras alteraes que

    visavam a coibir abusos praticados pela Unio, restringiu o habeas corpus aos casos

    de priso ou constrangimento ilegal na liberdade de locomoo, e estendeu,

    expressamente, Justia dos estados, as garantias asseguradas magistratura

    federal. Foi essa reforma que reconheceu a hiptese de cabimento recursal com

    base em dissdio jurisprudencial.

    O texto da Constituio de 1891 foi alterado, ento, pela emenda de 3 de

    setembro de 1926, para a seguinte redao:

    Art. 60....... 1 Das sentenas das Justias dos Estados em ltima instncia haver recurso para o Supremo Tribunal Federal: a) quando se questionar sobre a vigncia ou a validade das leis federais em face da Constituio e a deciso do Tribunal do Estado lhes negar aplicao; b) quando se contestar a validade de leis ou atos dos governos dos Estados em face da Constituio, ou das leis federais, e a deciso do tribunal considerar vlidos esses atos, ou essas leis impugnadas; c) quando dois ou mais tribunais locais interpretarem, de modo diferente, a mesma lei federal, podendo o recurso ser tambm interposto por qualquer dos tribunais referidos ou pelo procurador geral da Repblica; d) quando se tratar de questes de direito criminal ou civil internacional.

    A Constituio de 1934 atribui Corte Suprema, no art. 76, III, a competncia

    de julgar em recurso extraordinrio as causas decididas pelas Justias locais em

    nica ou ltima instncia:

    Art. 76..... III em recurso extraordinrio, as causas decididas pelas Justias locais em nica ou ltima instncia: a) quando a deciso for contra literal disposio de tratado ou lei federal, sobre cuja aplicao se haja questionado; b) quando se questionar sobre a vigncia ou validade de lei federal em face da Constituio, e a deciso do Tribunal local negar aplicao lei impugnada;

  • 47

    c) quando se contestar a validade de lei ou ato dos Governos locais em face da Constituio, ou lei federal, e a deciso do Tribunal local julgar valido o ato ou a lei impugnada; d) quando ocorrer diversidade de interpretao definitiva da lei federal entre Cortes de Apelao de Estados diferentes, inclusive do Distrito Federal ou dos Territrios, ou entre um destes Tribunais e a Corte Suprema, ou outro Tribunal Federal.

    Foi a partir da que se adotou expressamente a expresso recurso

    extraordinrio, maneira como tem sido referida at a atual Constituio. Uma nova

    alterao s seria realizada com a Constituio de 1988, que fez constar a

    separao entre recurso especial e recurso extraordinrio, deixando ao STF uma

    funo ainda mais prxima da funo de corte constitucional.

    Registre-se, igualmente, a orientao do Decreto-Lei n 1.237, de 2 de maio

    de 1939, que organizou a Justia do Trabalho. O Decreto-Lei dispunha, no art. 76 do

    Captulo V, que trata dos recursos, o seguinte: Quando a deciso do Conselho

    Regional der mesma lei inteligncia diversa da que tiver sido dada por outro

    Conselho ou pelo Conselho Nacional do Trabalho, caber recurso para este. 16

    No ano seguinte, o Decreto-lei n 6.596 aprovou o regulamento da Justia do

    Trabalho, estabelecendo no art. 200 os recursos cabveis da deciso: Art. 200. Das

    decises so admissveis os seguintes recursos: I, embargos; II recurso ordinrio; III

    recurso extraordinrio; IV, agravo. [...]

    O ordenamento jurdico brasileiro, ento, passou a admitir duplicidade de

    recursos extraordinrios: um que deveria ser encaminhado ao Conselho Nacional do

    Trabalho (conforme estabelecia o art. 203 do citado decreto), e outro que deveria ser

    endereado ao Supremo Tribunal Federal (conforme o art. 76, III, da Constituio de

    1934).

    16 Como j vimos, o Conselho Nacional do Trabalho passou a denominar-se Tribunal Superior do Trabalho por meio do Decreto-Lei n 9.797, de 09 de setembro de 1946.

  • 48

    Em 1943, a Consolidao das Leis Trabalhistas, aprovada pelo Decreto-Lei n

    5.452, de 1 de maio, manteve a expresso recurso extraordinrio, no art. 896.

    Em 1946, uma confuso foi estabelecida. A Constituio de 1946 previa

    expressamente a possibilidade de recorrer para o STF sobre decises proferidas em

    desconformidade com o disposto das normas constitucionais. Ou seja, um mesmo

    processo trabalhista podia ter dois recursos, um para o TST e outro para o STF. A

    ambiguidade foi corrigida pela Lei n 861, de 13 de outubro de 1949, que alterou a

    redao de alguns artigos da CLT, entre eles o art. 896. A denominao recurso de

    revista foi dada pelo texto da Lei n 861/49.

    No entanto, persistia a ambiguidade quando a questo envolvia recurso de

    revista no processo civil (que apresenta finalidade diferente). A questo foi

    solucionada em 1973, quando foi eliminado recurso de revista do CPC.

    Novas alteraes do art. 896 da CLT foram dadas pelas Leis n 7.033/82, n

    7. 701/88, n9.756/98, n 9.957/00 e, mais recentemente pela Lei 13.015/14.

    Jos Afonso da Silva afirma: "Nos termos em que o Recurso Extraordinrio

    entrou na legislao nacional, reconhece-se, nitidamente, sua filiao ao Direito

    saxnico, atravs do Writ of error dos americanos."17

    Para apoiar a tese de Jos Afonso da Silva, observe-se que em 1789, apenas

    13 anos aps a sua independncia da Inglaterra, os Estados Unidos lanaram a Lei

    Judiciria (Judiciary Act), que j previa a reviso de cortes estaduais pela suprema

    corte. A lei foi sendo aperfeioada, ao longo do tempo, com o contributo da

    jurisprudncia, at atingir o estado atual, em que so separados o writ of certiorari

    (recurso que decorre, em geral, de divergncia de interpretao entre os tribunais

    17 DA SILVA, Jos Afonso. Do Recurso Extraordinrio no Direito Processual Brasileiro. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1963, p. 105.

  • 49

    estaduais) e o writ of error (que revisa as decises de tribunais inferiores aos

    estaduais).

    Mas possvel voltar muito mais no tempo. Jos de Vicente y Caravantes18

    menciona, em seu livro Tratado histrico, critico filosfico de los procedimientos

    judiciales de materia civil, segn la Nueva Ley de Enjuiciamiento, um trecho do Novo

    Testamento que evidencia j haver, poca, expectativa de obteno de novo

    pronunciamento de autoridade hierarquicamente superior: Se fiz algum agravo, ou

    cometi alguma coisa digna de morte, no recuso morrer, mas, se nada h das coisas

    que estes me acusam, ningum pode me entregar a eles; apelo para Csar.

    Ainda, se voltarmos para o sculo XVIII antes de Cristo, o Cdigo de

    Hamurabi tambm j previa, no pargrafo 5, o seguinte:

    Se um juiz dirige um processo e profere uma deciso e redige por escrito a sentena, se mais tarde o seu processo se demonstra errado e aquele juiz, no processo que dirigiu, convencido de ser causa do erro, ele dever ento pagar doze vezes a pena que era estabelecida naquele processo, e se dever publicamente expuls-lo de sua cadeira de juiz. Nem dever ele voltar a funcionar de novo como juiz em um processo.19

    Comenta Martha Rosinha que, muito embora no houvesse na Babilnia a

    previso de recurso como tal, fica demonstrada a no rigidez das decises face

    possibilidade de erro, ponto de partida para a reviso recursal.

    Portanto, a existncia de um recurso de natureza extraordinria se faz

    necessria no ordenamento jurdico a fim de garantir segurana jurdica nas

    relaes pelo pas afora, de forma a no permitir que uma determinada Lei ou que a

    Constituio Federal seja interpretada de forma diversa por cada um dos Tribunais

    Regionais distribudos pelo pas.

    18 Jos de Vicente y Caravantes, Tratado histrico, critico filosfico de los procedimientos judiciales de materia

    civil, segn la Nueva Ley de Enjuiciamiento apud ROSINHA, Martha. Os efeitos dos Recursos. Porto Alegre:

    Livraria do Advogado, 2012, p. 20. 19 Id. p. 20.

  • 50

    Contudo, os recursos de natureza extraordinria, devem ser manejados com

    base nos princpios constitucionais do processo, em especial o devido processo

    legal e a durao razovel do processo, donde se extrai a celeridade e a efetividade.

    Tambm preciso analisar o princpio do duplo grau de jurisdio (para alguns no

    se trata de princpio constitucional, posio com a qual no concordamos, conforme

    ser tratado em captulo especfico) para contextualizar o Recurso de Revista em

    uma nova sistemtica recursal.

  • 51

    3. PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO

    A palavra Princpio, na moderna cincia processual, refere-se doutrina ou

    ao entendimento que deve nortear outros entendimentos. Os princpios so os

    pilares que do forma e carter aos sistemas processuais, mas nem sempre esto

    classificados em previses legais expressas a maioria deles resultado de

    construo doutrinria. Isso porque inspiram a criao de normas, oferecem critrios

    de orientao e fornecem subsdios para o entendimento de questes no previstas

    em lei.

    Para se extrair do Recurso de Revista sua real funo necessrio se faz uma

    anlise de alguns dos princpios constitucionais do processo, em especial o princpio

    do devido processo legal, da durao razovel do processo e do duplo grau de

    jurisdio.

    Este ltimo princpio gerou grande discusso na doutrina e na jurisprudncia

    sobre a sua previso constitucional, o qual, desde j adiantamos a nossa posio no

    sentido de que tal princpio decorre do sistema constitucional vigente e que, se

    analisado em conjunto com os demais, possvel se concluir que o procedimento

    hoje vigente para o processamento do Recurso de Revista muito se distancia do que

    prega a Constituio Federal.

    3.1. DEVIDO PROCESSO LEGAL

    O devido processo legal, como expresso maior das garantias processuais

    fundamentais do cidado, completa todas as demais garantias processuais, por ser

    o princpio base da observncia do Estado Democrtico de Direito em qualquer

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    processo. Significa dizer em razo do devido processo legal que qualquer pessoa

    no ser privada de seus bens ou de sua liberdade sem a observncia de princpios

    como contraditrio e ampla defesa.

    Na lio de Nelson Nery Jr.: O princpio fundamental do processo civil, que

    entendemos como a base sobre a qual todos os outros se sustentam, o devido

    pro