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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Mestrado Profissional em Administração GESTÃO DO CONHECIMENTO DO CLIENTE (CKM): Proposição e Avaliação de um Modelo em um Grupo de Ensino Superior Privado Alessandro Henrique de Souza Miake Belo Horizonte 2014

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Mestrado Profissional em Administração

GESTÃO DO CONHECIMENTO DO CLIENTE (CKM):

Proposição e Avaliação de um Modelo em um Grupo de Ensino Superior Privado

Alessandro Henrique de Souza Miake

Belo Horizonte

2014

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Mestrado Profissional em Administração

GESTÃO DO CONHECIMENTO DO CLIENTE (CKM):

Proposição e Avaliação de um Modelo em um Grupo de Ensino Superior Privado

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós Graduação em Administração como

requisito parcial para a obtenção do título

de mestre em Administração

Linha de Pesquisa: Inovação e

Conhecimento

Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Baroni de

Carvalho

Alessandro Henrique de Souza Miake

Belo Horizonte

2014

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FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Miake, Alessandro Henrique de Souza

M218g Gestão do conhecimento do cliente (CKM): proposição e avaliação de um

modelo em um grupo de ensino superior privado / Alessandro Henrique de Souza

Miake . Belo Horizonte, 2014.

81 f.: il.

Orientador: Rodrigo Baroni de Carvalho

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Administração.

1. Gestão do conhecimento. 2. Marketing de relacionamento. 3. Serviços ao

cliente. I. Carvalho, Rodrigo Baroni de. II. Pontifícia Universidade Católica de

Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Administração. III. Título.

CDU: 658.011.8

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Mestrado Profissional em Administração

Alessandro Henrique de Souza Miake

GESTÃO DO CONHECIMENTO DO CLIENTE (CKM):

Proposição e Avaliação de um Modelo em um Grupo de Ensino Superior Privado

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós Graduação em Administração como

requisito parcial para a obtenção do título

de mestre em Administração

Linha de Pesquisa: Inovação e

Conhecimento

___________________________________________________________________________________________

Prof Dr. Rodrigo Baroni de Carvalho (Orientador)- Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

______________________________________________________________________ Prof. Dr. Alexandre Reis Graeml- Universidade Tecnológica Federal do Paraná

______________________________________________________________________ Prof. Dr. George Leal Jamil- Universidade do Porto

______________________________________________________________________ Prof. Dr. Marcelo de Rezende Pinto- Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Belo Horizonte, 19 de dezembro de 2014

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela dádiva da vida e pela existência de todas as pessoas que de forma direta ou

indireta, contribuem para minha sobrevivência, aprendizado e felicidade.

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“De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que estamos sempre

começando, a certeza de que é preciso continuar e a certeza de que

seremos interrompidos antes de terminar. Portanto, devemos fazer da

interrupção um caminho novo, da queda um passo de dança, do medo

uma escada, do sonho uma ponte, da procura um encontro”.

FERNANDO PESSOA

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RESUMO

Os pilares do processo de CRM são a orientação para os relacionamentos e a gestão do

conhecimento dos clientes por meio dos processos de captura e consolidação de dados, análise

das informações e a distribuição do conhecimento gerado para tomada de decisão. A interação

entre o CRM e a Gestão do Conhecimento (GC) é bastante intuitiva especialmente quando

ambas estão apoiadas por Tecnologia da Informação. O objetivo da presente dissertação é

elaborar um modelo teórico de gestão do conhecimento dos clientes (CKM), para assim

avaliar sua contribuição prática na gestão do relacionamento com os alunos de um dos

maiores grupos privados de ensino superior do mundo. Devido à escassez de estudos que

relacionem as áreas que compõem o modelo de CKM, foram evidenciadas as interfaces

teóricas entre a GC e o CRM para assim propor o modelo conceitual que suportou o estudo

empírico proposto. Para a comprovação de quanto o modelo proposto efetivamente contribuiu

na gestão do relacionamento com os alunos, criou-se um cenário de contrastes, por meio da

comparação de grupos de alunos expostos (aproximadamente 600 mil alunos) e não expostos

(aproximadamente 17 mil alunos) às campanhas de marketing, geridas pelo referido modelo.

Verificou-se que os alunos abordados pelas ações de marketing apresentaram um maior

percentual de rematrículas em seus cursos, comprovando a efetividade do uso do modelo na

gestão do relacionamento com os alunos. Foi possível também calcular o retorno do

investimento (ROI) das ações de gestão do conhecimento do cliente.

Palavras-chave: Gestão do Relacionamento com o Cliente (CRM), Gestão do Conhecimento,

Gestão do Conhecimento do Cliente.

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ABSTRACT

The CRM process is supported by the relationship orientation and the customer knowledge

management derived from data collection, data consolidation, data analysis and also

knowledge distribution to guide decision making. The interaction between CRM and

Knowledge Management (KM) is quite intuitive, especially when both are supported by

Information Technology. The goal of this dissertation is to develop a customer knowledge

management (CKM) theoretical model in order to assess its contribution to the relationship

management of students at one of the largest higher education private groups of the world.

Due to the scarcity of studies correlating the fields associated with the CKM model, the

theoretical interfaces between Knowledge Management (KM) and CRM were discussed,

resulting in a conceptual model that supported the empirical research. A state of contrasts

comparing groups of students exposed to CKM-designed marketing campaigns

(approximately 600,000 students) and unexposed ones (approximately 17,000 students)

demonstrated how the proposed model effectively contributed to CRM initiatives. It was

found that students exposed to marketing activities had a higher percentage of enrollment

renewals in their courses, proving the effectiveness the model usage in managing enrollment

relationships with students. It was also possible to calculate the return on investment (ROI) of

customer knowledge management activities.

Keywords: Customer Relationship Management (CRM), Knowledge Management, Customer

Knowledge Management (CKM).

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AAS- Amostragem Aleatória Simples

ACM- Association of Computer Machinery

BI- Business Intelligence

CBR- Sistemas Baseados em Casos

CKM- Customer Knowledge Management

CRM- Customer Relationship Management

DBM- Data Base Marketing

EaD- Ensino a Distância

ETC- Extração, Transformação e Carga

FIES- Fundo de Financiamento Estudantil

GC- Gestão do Conhecimento

GED- Gerenciamento Eletrônico de Documentos

IEEE- Institute of Electrical and Electronics Engineers

IESP- Instituições de Ensino Superior Privadas

INEP- Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

OLAP - Online Analytical Processing

P.P.- Pontos percentuais

PROUNI- Programa Universidade para Todos

SAC- Serviço de Atendimento aos Clientes

SCBIC- Sistemas para Construção de Bases Inteligentes de Conhecimento

SGBD- Sistemas Gerenciadores de Bancos de Dados

SMS- Short Message Service

TI- Tecnologia da Informação

TIC- Tecnologias da Informação e da Comunicação

4 P’s- Produto, Preço, Praça e Promoção

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Evolução da orientação para os relacionamentos ao longo das eras.........................18

Figura 2- Espiral do Conhecimento .........................................................................................32

Figura 3- Modelo de Gestão do Conhecimento dos Clientes ...................................................42

Figura 4- Etapas de um experimento de campo para comparação de distribuição de

frequências entre grupos randomizados .................................................................................. 47

Figura 5- Processo de ETC e Data Warehousing.................................................................... 55

Figura 6- Recorte do Workflow de relacionamento com alunos para o processo de rematrícula

...................................................................................................................................................56

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Evolução da orientação para relacionamentos e surgimento do marketing de

relacionamento como disciplina formal .................................................................................. 20

Tabela 2- Etapas do Processo de CRM ................................................................................... 25

Tabela 3- Tipos de CRM sob a ótica de diferentes autores .................................................... 26

Tabela 4- Categorias de conhecimento segundo sua origem ...................................................28

Tabela 5- Relação entre os tipos de conversão do conhecimento, tipos de CRM e categorias de

ferramentas de GC ................................................................................................................... 40

Tabela 6- Evolução do Mercado de IES privadas entre 1991 e 2012 ..................................... 48

Tabela 7- Evolução percentual do Mercado de IES privadas entre 1995 e 2012 ................... 48

Tabela 8- Exemplo de tabela de contingência para o caso de duas variáveis (dupla entrada).53

Tabela 9- Lista de ações de marketing para ensino presencial- onda 1 .................................. 57

Tabela 10- Exemplos de comunicações por perfil do aluno ....................................................58

Tabela 11- Resultados de matrícula e rematrícula para ensino presencial .............................. 60

Tabela 12- Resultados de matrícula e rematrícula para ensino EaD 1 .....................................60

Tabela 13- Resultados de matrícula e rematrícula para ensino EaD 2 .....................................61

Tabela 14- Resultados das estatísticas de teste χ² (qui-quadrado) para verificação de

dependência ..............................................................................................................................61

Tabela 15- Alunos incrementais pelas campanhas de marketing- Ensino Presencial ..............64

Tabela 16- Alunos incrementais pelas campanhas de marketing- Ensino EaD 1 ....................64

Tabela 17- Alunos incrementais pelas campanhas de marketing- Ensino EaD 2 ....................64

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................11

1.1 O problema de pesquisa .....................................................................................................11

1.2 Justificativa da pesquisa .....................................................................................................13

1.3 Objetivos.............................................................................................................................16

2 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................................17

2.1 Customer Relationship Management (CRM) ....................................................................18

2.1.1 A orientação para relacionamentos e o surgimento do marketing de relacionamento.

..................................................................................................................................18

2.1.2 CRM: Origem, Orientação para Clientes e Marketing de Relacionamento.............21

2.1.2.1 CRM Como Estratégia de Negócio .............................................................21

2.1.2.2 Etapas do Processo de CRM ........................................................................23

2.1.3 Conhecimento dos Clientes e suas Categorias ........................................................27

2.2 Gestão do Conhecimento ...................................................................................................29

2.2.1 Processo de criação de conhecimento .....................................................................30

2.2.2 Ferramentas de Gestão do Conhecimento ...............................................................33

2.3 Gestão do conhecimento dos clientes para a gestão do relacionamento com os clientes ..36

2.3.1 Sinergias entre o CRM e a GC para a gestão do conhecimento dos clientes ..........36

2.3.2 O modelo de gestão do conhecimento dos clientes .................................................40

3 METODOLOGIA DE PESQUISA..................................................................................45

3.1 Estratégia e método de pesquisa ........................................................................................45

3.2 Contextualização do setor de ensino superior privado .......................................................48

3.3 Unidade empírica de análise...............................................................................................50

3.4 Estratégia de coleta de dados..............................................................................................52

3.5 Estratégia de análise de dados ............................................................................................52

4 ANÁLISE DE DADOS ....................................................................................................54

4.1 Análise descritiva da aplicação do modelo ........................................................................54

4.2 Análise quantitativa do modelo ..........................................................................................59

5 CONCLUSÕES ................................................................................................................67

REFERÊNCIAS .....................................................................................................................75

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1. INTRODUÇÃO

1.1 O Problema de Pesquisa

Em um contexto competitivo, as organizações reconhecem gradualmente a

importância e a dificuldade de constituir, aumentar e renovar seu ativo de clientes. O processo

de conquista de uma clientela torna-se mais lento e mais trabalhoso do que manter os clientes

atuais (Davenport & Harris, 2007).

Tal cenário de negócios proporcionou aos clientes um papel de extrema importância

nas decisões e ações das organizações, fazendo com que as atenções, antes voltadas ao

produto, passassem a ser voltadas ao cliente. Esta orientação para relacionamentos é o cerne

do que se conhece como marketing de relacionamento (Bretzke, 2001).

Pinto e Lara (2010) afirmam que o marketing de relacionamento vem sendo defendido

como uma nova abordagem para as relações nos mercados consumidor e organizacional. Esta

nova abordagem é considerada um novo paradigma, em detrimento da orientação transacional

e de curto prazo normalmente apresentadas pelos adeptos dos 4P´s (produto, preço, praça e

promoção) que congregam todas as variáveis do marketing mix (Gronroos, 1994; Parvatiyar &

Sheth, 2000; Palmer, Lindgreen & Vanhamme, 2005). Essa abordagem ganha força a partir do

momento em que há um reconhecimento geral de que a retenção de clientes é muito menos

dispendiosa e significativamente mais lucrativa do que se concentrar na conquista de novos

clientes, ou seja, os clientes passaram a ser o ponto focal das empresas (Swift, 2001).

Diante deste contexto, o relacionamento individualizado ou o marketing one to one

tornou-se indispensável para as empresas, pois para se competir de forma eficaz, a empresa

precisa conhecer e se relacionar de forma produtiva com seus clientes (Bretzke, 2001). A

fusão entre essa nova visão de gestão e sua aplicação de forma automatizada e sistemática,

com o apoio da tecnologia da informação, dá origem ao que se conhece atualmente como a

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Gestão do Relacionamento com o Cliente (Gebert, Geib, Kolbe & Brenner, 2003), ou

simplesmente, CRM (Customer Relationship Management).

Trata-se de um processo sistemático de se gerenciar as interações entre a organização

e seus clientes, monitorando-os desde o primeiro contato, passando pelo período de

manutenção até o término desta relação (Reinartz, Krafft & Hoyer, 2004). Para tal, o CRM

captura dados de seus clientes e suas transações, consolida-os em um banco de dados único,

analisa estes dados em busca de informações relevantes sobre o negócio e distribui estas

informações às áreas e pessoas de interesse, bem como aos pontos de contato do cliente com a

empresa (Peppers & Rogers, 2001). Em suma, o CRM é capaz de analisar dados dos clientes e

gerar conhecimento, buscando identificar oportunidades focadas na satisfação e atendimento

às necessidades dos clientes.

Nota-se que os pilares do processo de CRM são a orientação para os relacionamentos,

proveniente da filosofia do marketing de relacionamento e a gestão do conhecimento dos

clientes, por meio do processo de captura e consolidação de dados, análise das informações e

a distribuição do conhecimento gerado para tomada de decisão. Esta necessidade de se

gerenciar o conhecimento sobre os clientes torna intuitiva a interação entre o CRM e a Gestão

do Conhecimento (GC) (Ferreira & Santos, 2007; Toriani & Angeloni, 2011; Sedighi, Mokfi

& Golrizgashti, 2012; Moreno & Meléndez, 2012). No entanto, apesar de intuitiva, ainda é

escassa a quantidade de estudos sobre a interação entre os dois temas, podendo ser listados

alguns que fazem a conexão entre esses dois campos: Gebert et al. (2003); Ferreira e Santos

(2007); Talet (2012), Moreno e Meléndez (2012); Khodakarami e Chan (2014).

Estudos interdisciplinares recentes sobre a interação entre os conceitos de CRM e GC,

deram origem a um novo conceito denominado CKM (Customer Knowledge Management). O

CKM é composto pela aquisição, desenvolvimento, compartilhamento e manutenção do

conhecimento do cliente, no intuito de se maximizar o seu valor (Sedighi, Mokfi &

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Golrizgashti, 2012). O principal objetivo do CKM é aumentar a satisfação do cliente por meio

da gestão do seu conhecimento (Talet, 2012), minimizando os riscos de fracasso de

implantação e de alcance dos objetivos, adotando esta abordagem integrada entre os conceitos

de CRM e GC. Os estudos sobre CKM são escassos e os existentes ainda são muito

conceituais e carentes de estudos empíricos, dificultando a averiguação e estudo de sua

aplicação, implantação e mensuração de resultados.

Na presente pesquisa, serão destacados os papéis do processo de “Conversão do

Conhecimento” (Nonaka & Takeuchi, 1997) e das “Ferramentas de Gestão do Conhecimento”

(Carvalho, 2000) no processo de descoberta de conhecimento sobre os clientes, visando

entender e antecipar suas necessidades (Reinartz, Krafft & Hoyer, 2004). Diante do cenário

exposto, o propósito da presente dissertação é propor e avaliar a aplicação de um modelo de

gestão do conhecimento dos clientes no processo de gestão do relacionamento com os

clientes, integrando os conceitos de CRM e GC.

Baseado neste contexto, a pergunta norteadora da presente pesquisa é: quanto um

modelo de gestão do conhecimento dos clientes pode contribuir nos esforços de marketing de

uma organização para a gestão do relacionamento com seus clientes?

1.2 Justificativa da Pesquisa

Vive-se uma época em que produtos e serviços fornecidos pelas empresas estão cada

vez mais similares, sendo que a preferência de um cliente por uma ou outra empresa se dá em

pequenos detalhes (Davenport & Harris, 2007). Por isso, torna-se extremamente importante

conhecer as preferências e monitorar o comportamento dos clientes, prevendo e antecipando

suas necessidades e anseios, no intuito de se maximizar o tempo de relacionamento com estes.

Isso se torna possível por meio da gestão do relacionamento com os clientes, utilizando-se do

monitoramento e gestão do conhecimento sobre eles.

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Esta forma de gestão do conhecimento das relações com clientes vem sendo

amplamente utilizada em alguns segmentos, tais como o bancário, o de telecomunicações e o

varejo. Segundo pesquisa do Gartner Group (2013), o mercado global de ferramentas de CRM

movimentou cerca de US$ 18 bilhões em 2012, apresentando alta de 12,5% sobre o

faturamento do ano anterior de aproximadamente US$ 16 bilhões. Foi realizado também um

estudo com 1,5 mil executivos em treze países, dentre eles o Brasil, que indicou que, para o

ano de 2013, as ferramentas de CRM estavam em primeiro lugar na lista de prioridades de

investimento. Em relação ao mercado brasileiro, uma pesquisa realizada pela E-Consulting

Corp (2010) mostra que o mercado de CRM cresceu 27,7% em quatro anos, fechando o ano

de 2009 com um faturamento de R$ 907 milhões. Estes números evidenciam a atual força do

mercado de CRM bem como seu potencial e tendência de crescimento.

No contexto da economia brasileira, um segmento vem se destacando ultimamente

devido ao seu rápido crescimento e às recentes fusões e aquisições ocorridas, acirrando a

competição entre os grandes players que vêm se formando neste mercado. Trata-se do

segmento educacional, em especial o de ensino superior privado. Segundo dados do Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), houve um aumento de mais de três

vezes na quantidade de instituições de ensino superior privadas (IESP) em dezessete anos,

saltando de seiscentos e oitenta e quatro instituições em 1995 para duas mil cento e doze

instituições em 2012 (INEP, 2012).

Diante deste cenário, a gestão do conhecimento dos clientes, neste caso em especial

dos alunos, se apresenta como um recurso para a gestão do relacionamento com eles, visando

minimizar os índices de evasão (abandono antes do término do curso) e maximizar os índices

de rematrículas (renovação semestral). Faz-se necessário ressaltar que os alunos, além de

consumidores de um serviço, são indivíduos em formação e, portanto, apresentam um

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comportamento distinto dos demais consumidores de bens e serviços de outra natureza, que

não o serviço educacional.

No entanto, percebe-se que apesar da proliferação de estudos sobre CRM e GC, a

maioria destes estudos abordam os temas de forma isolada (Ferreira & Santos, 2007; Talet,

2012). Diante disso, verifica-se uma importante lacuna teórica em relação ao emprego de

modelos que integrem o CRM e a GC, visando à gestão do relacionamento com os clientes

por meio da gestão do conhecimento dos clientes.

Para tal constatação, foram consultados periódicos internacionais relevantes no campo

do marketing, gestão do conhecimento, tecnologia da informação e computação, tais como

Strategic Management Journal, Academy of Management Journal, Journal of International

Business Studies, Journal of Marketing Communications, Journal of Knowledge

Management, International Journal of Information Management, IEEE e ACM com as

palavras-chave “customer relationship management and knowledge management”, “CRM

and KM”, “customer knowledge management” e ainda “CKM”. Foi realizado também,

levantamento bibliográfico em periódicos e bases de dados nacionais como a Revista de

Administração de Empresas (RAE), a Revista de Administração Contemporânea (RAC), a

Revista de Administração da USP (RAUSP), a base de dados Scielo e os anais de encontros

promovidos pela ANPAD (EnANPAD e EnADI), com as palavras-chaves “gestão do

relacionamento”, “gestão do conhecimento”, “CRM”, “GC” “gestão do relacionamento com

clientes”, “gestão do conhecimento dos clientes”, “CKM” e “CRM e GC”.

Diante do cenário exposto, constata-se que o problema de pesquisa se mostra relevante

e contemporâneo, justificando assim sua pesquisa e estudo. Suas contribuições serão o

entendimento e aprofundamento sobre interação entre o CRM e a GC, proposta e teste de um

modelo de gestão do conhecimento dos clientes, entender quanto este modelo pode melhorar

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os resultados das campanhas de marketing para a gestão do relacionamento com os clientes e

consequentemente, cobrir-se a carência de estudos empíricos sobre o tema.

1.3 Objetivos de Pesquisa

O objetivo geral é validar o modelo proposto de gestão do conhecimento dos clientes

(CKM) para assim avaliar sua contribuição na gestão do relacionamento com os clientes de

um grupo do setor educacional.

Os objetivos específicos são os seguintes:

Elaborar um modelo de gestão do conhecimento dos clientes (CKM);

Aplicar o modelo em uma campanha de marketing de um grupo de IESP

(Instituições de Ensino Superior Privadas);

Avaliar quantitativamente a aplicação do modelo proposto por meio dos

resultados obtidos nas campanhas de marketing.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

O presente referencial teórico tem por objetivo estabelecer as relações e sinergias entre

os conceitos sobre o CRM e a GC, na proposta de um modelo que integre ambos os conceitos,

explicitando e estruturando todas as etapas do processo de gestão do conhecimento dos

clientes para a gestão de seu relacionamento.

O conteúdo está organizado em três seções, abordando os seguintes temas: CRM, GC

e CKM. A seção sobre CRM é dividida em três partes, sendo que na primeira delas é

apresentado um panorama histórico das origens das práticas associadas ao marketing de

relacionamento e seu surgimento como disciplina formal na literatura de marketing. A

segunda parte aborda a origem do CRM por meio da sistematização dos conceitos pregados

pelo marketing de relacionamento com o advento da evolução tecnológica, bem como as

definições sobre o tema, as etapas do CRM, os tipos de CRM e a importância do patrocínio

interno para o sucesso da implantação e dos resultados alcançados por esta estratégia de

negócio. Na terceira parte, são apresentadas as categorias de conhecimento do cliente,

conforme sua origem e forma como é gerado.

A segunda seção, que aborda a GC, é subdividida em duas partes. Na primeira, é

apresentado o modelo de conversão do conhecimento, proposto por Nonaka e Takeuchi

(1997), conhecido como a “Espiral do Conhecimento”. Já a segunda parte apresenta as

ferramentas de GC, utilizadas como ferramentas tecnológicas e processuais de captura,

organização, transformação, análise e apoio ao compartilhamento de conhecimento.

Finalizando o referencial, na seção sobre o CKM, realiza-se uma síntese acerca da

teoria abordada nas duas seções anteriores, identificando as relações e sinergias entre o CRM

e a GC, a fim de se propor um modelo teórico de gestão do conhecimento dos clientes que foi

aplicado na investigação empírica da presente dissertação.

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2.1 Customer Relationship Management (CRM)

2.1.1- A orientação para relacionamentos e o surgimento do marketing de

relacionamento

Embora as práticas associadas ao marketing de relacionamento sejam amplamente

utilizadas atualmente, seu surgimento se deu há várias décadas, ainda na era pré-industrial.

Estas práticas apresentaram um declínio durante a era industrial e após este período, voltaram

a ganhar força (Figura 1) (Sheth & Parvatiyar, 1995).

Figura 1. Evolução da orientação para os relacionamentos ao longo das eras.

Nota. Fonte: Adaptado de Parvatiyar, A. & Sheth, J. N. (2000) “The Domain and Conceptual Foundations of

Relationship Marketing.” In J. N. Sheth & A. Parvatiyar (Eds.), Handbook of Relationship Marketing pp. 3-38.

Thousand Oaks, CA: Sage Publications.

O crescimento do marketing de relacionamento na era pós-industrial está relacionado

ao renascimento do marketing direto entre produtores e consumidores, sendo que os seguintes

fatores contribuíram para esta aproximação (Sheth & Parvatiyar, 1995): (i) rápido

desenvolvimento das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs); (ii) adoção dos

programas de qualidade total nas companhias; (iii) crescimento da economia baseada em

serviços; (iv) surgimento de processos de desenvolvimento organizacional voltados para o

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empowerment de indivíduos e equipes; (v) aumento na intensidade da competição que

provocou a preocupação nas empresas em reter clientes.

No entanto, somente em 1983, o termo ”marketing de relacionamento” surge

formalmente (Berry, 1983). Segundo o autor, marketing de relacionamento consiste na

atração e manutenção do cliente, por meio do relacionamento e da oferta de múltiplos

serviços. A retenção de clientes é vista como muito importante para a firma no longo prazo

tanto quanto a aquisição de novos clientes. A atração de clientes é somente o passo inicial nos

processos de marketing. Estreitar as relações, transformar clientes indiferentes em clientes

leais e servir bem consumidores são processos que também fazem parte da abordagem do

marketing de relacionamento. Esta evolução pode ser visualizada cronologicamente adiante

(Tabela 1).

A partir do trabalho de Berry (1983), o tema vem ganhando relevância, impulsionando

o desenvolvimento de novos estudos e trabalhos. Gronroos (1990) apresenta uma evolução no

conceito sobre o marketing de relacionamento, evidenciando a necessidade do trabalho de

identificação, estabelecimento e manutenção dos relacionamentos não só com os clientes, mas

também com os demais stakeholders. Para o autor, marketing de relacionamento deve atender

aos objetivos e anseios de todas as partes envolvidas no processo. Outro importante conceito

abordado no marketing de relacionamento é o do valor contínuo do cliente frente ao valor

individual e discreto das transações. Não se pode valorar um cliente somente em relação às

transações ocorridas, mas sim sobre todo o seu ciclo de vida e sobre as possíveis transações ao

longo do tempo (Morgan & Hunt, 1994; Palmer, Lindgreen & Vanhamme, 2005).

A afirmação de que a retenção de clientes atuais é muito menos custosa do que a

conquista de novos clientes dá forças à abordagem defendida pelo marketing de

relacionamento (Swift, 2001). Portanto, esta abordagem se apresenta como uma alternativa

em detrimento de outras abordagens (Pinto & Lara, 2010), tais como a dos 4P’s.

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Tabela 1

Evolução da orientação para relacionamentos até o surgimento do marketing de relacionamento como

disciplina formal

Período Marco Histórico Característica

Era Pré-Industrial

(Até meados do séc.

XVIII)

Orientação para

relacionamentos

Transações diretas entre produtores e

consumidores proporciona conhecimento

individualizado sobre os clientes

Era Industrial

(Até início dos anos 50)

Orientação para

transações

A mecanização da produção e reformulação da

concepção do trabalho impulsionam a produção

e consumo em massa. O marketing passou a se

interessar pelas transações comerciais em

detrimento dos relacionamentos

Era Pós-Industrial

(A partir dos anos 50)

Volta da orientação

para relacionamentos

A intensificação da competição devido ao

excesso de oferta volta a atenção dos pensadores

do marketing para a importância de se construir

relacionamentos duradouros

Década de 70

Primeiros estudos

formais sobre marketing

de relacionamento

A preocupação dos pensadores do marketing

com a qualidade da prestação de serviços

impulsiona os primeiros estudos como

disciplina formal.

Década de 80

1ª aparição do termo

marketing de

relacionamento na

literatura

O termo "marketing de relacionamento" surge

pela primeira vez na literatura de marketing no

artigo intitulado "Relationship Marketing", por

Leonard L. Berry em 1983.

Nota. Fonte: Elaborado pelo autor

Porém, a abordagem individualizada baseada no relacionamento entre as organizações

e seus clientes, necessária em um mercado cada vez mais competitivo, torna-se inviável

conforme a quantidade de clientes aumenta, dificultando a gestão do enorme volume de dados

dos clientes e suas transações. Por outro lado, com a constante evolução das TIC, torna-se

possível capturar, armazenar, manipular e consequentemente gerenciar os relacionamentos

entre as organizações e seus clientes. A esta nova forma de gerenciar se dá o nome de

Customer Relationship Management, ou simplesmente, CRM.

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2.1.2- CRM: Origem, Orientação para Clientes e Marketing de Relacionamento

Muitas das vezes os conceitos de CRM e marketing de relacionamento se confundem,

tornando-se sinônimos, tanto no meio empresarial quanto no acadêmico. Parvatiyar e Sheth

(2001) ressaltam que na literatura de marketing, CRM e marketing de relacionamento são

frequentemente utilizados de forma indistinta. De fato, tratam-se de temas altamente

correlatos, uma vez que o CRM pode ser visto como a aplicação, de forma sistemática e

automatizada, dos conceitos da referida escola de pensamento.

Levitt (1983) foi um dos primeiros autores a propor uma abordagem sistemática do

desenvolvimento das relações entre compradores e vendedores, que posteriormente, com o

avanço das TIC nas últimas décadas, resultaria nas definições atuais de CRM. Corroborando

esta ideia, Gebert, Geib, Kolbe e Brenner (2003) defendem que o CRM emergiu a partir da

fusão de uma diferente forma de se gerenciar e de uma abordagem dos sistemas de

informações, em particular entre o marketing de relacionamento e as tecnologias orientadas

para a gestão das transações e a automação da força de vendas.

2.1.2.1- CRM como Estratégia de Negócio

Zablah, Bellenger e Johnston (2004) verificam que ainda não existe um consenso

sobre a definição de CRM na literatura sobre o tema. Como resultado de uma sumarização

sobre a definição de seu conceito, pode-se concluir que se trata de uma estratégia de negócio

que visa desenvolver e estabelecer uma relação de geração de valor entre organização e

clientes, baseada no conhecimento sobre os clientes. Para tal, faz-se necessária uma

reformulação da organização e seus processos, orientando-os para os clientes, de forma que

personalizando seus produtos e serviços, as organizações possam satisfazer as necessidades de

seus clientes e assim criar uma relação de longo prazo, mutuamente rentável (Gebert et al.

2003; Moreno & Meléndez, 2011). Esta estratégia possibilita às organizações entender e

antecipar as necessidades dos clientes atuais e futuros, buscando satisfazê-los, fidelizá-los e

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retê-los, com a oferta certa, pelos canais certos e no momento certo (Peppers & Rogers, 2001;

Scott, 2001; Swift, 2001; Chan, Ip & Cho, 2010). Davenport, Harris e Kohli (2001) ressaltam

que para se construir um bom relacionamento com seus clientes, é necessário à organização

atender a cada um de deles da sua forma favorita, sendo necessário conhecê-los. Em um

contexto competitivo em que os produtos e serviços fornecidos se equiparam, para se

competir de forma eficaz, é vital criar um estreito relacionamento com os clientes (Davenport

& Harris, 2007).

Bretzke (2001) defende que um grande pilar de sustentação do CRM é a orientação

para os clientes. Todos os processos de trabalho em toda a organização bem como toda sua

cultura devem ser orientados para os clientes, tornando-se a filosofia da organização. Porém,

para a sua adoção como filosofia organizacional, faz-se necessária uma reavaliação dos

objetivos, valores e missão da empresa, ou seja, mudanças estruturais profundas. Para que

estas mudanças efetivamente ocorram, são necessárias modificações nos processos da

organização e na postura de todas as pessoas que a compõem, principalmente as lideranças

(Bambrilla, Sampaio, Perin & Espartel, 2007).

Processos e pessoas são de extrema importância para a correta prática do CRM

(Parvatiyar & Sheth, 2000; Buttle & Cox, 2004). Os novos valores implantados devem ser

assimilados, passando a fazer parte da cultura organizacional (Angelo & Giangrande, 1999),

sendo o principal deles, ter os clientes como o “centro da organização” (Hansotia, 2002).

Hansotia (2002) salienta ainda que o CRM não obterá sucesso, caso sua filosofia seja adotada

somente pela alta cúpula da organização ou somente pela média gerência e seus subordinados.

Um ponto relevante, no que tange a implantação do CRM, diz respeito a seu patrocínio

dentro da organização. Ele pode ocorrer nas formas bottom-up, no qual o CRM é implantado

em somente um setor ou em uma divisão de setores ou na forma top down, na qual o CRM é

implantado na organização como um todo, a partir da alta direção (Plebani & Silveira, 2009).

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Bohling et al.(2006) defendem que a primeira forma pode ser considerada como tática e a

segunda como estratégica, sendo que cada uma delas será adequada a objetivos distintos e

trará resultados também distintos. O CRM deveria ser considerado sempre sob o ponto de

vista estratégico, visto que o principal motivo de fracasso na sua implantação e nos seus

resultados é não integrá-lo à estratégia global da organização. Em outras palavras, o erro é

considerar o CRM exclusivamente uma ferramenta tecnológica e não aderir às várias

mudanças organizacionais e culturais que tal estratégia exige (Rigby et al., 2002; Starkey &

Woodcook, 2002).

As organizações vêm adotando estratégias centradas nos clientes e se valendo do uso

de programas, ferramentas e tecnologias que proporcionem uma gestão efetiva e eficiente do

relacionamento entre elas e seus clientes (Parvatiyar & Sheth, 2000). Neste sentido, o CRM

torna-se cada vez mais difundido como estratégia de negócio, visto que aperfeiçoa esta

relação, agregando valor para ambas as partes (Tiwary, 2010). Reconhecido como uma

estratégia de gestão das interações entre organizações e clientes no intuito de se obter a sua

fidelidade, o CRM é composto pela coleta dos dados sobre estas interações, visando melhorar

as relações entre as partes, por meio da gestão de todos os pontos de contato entre as partes,

desde o processo de captação até o término do relacionamento (Azani & Khorramshagol,

2005).

2.1.2.2- Etapas do Processo de CRM

Reinartz, Krafft e Hoyer (2004) definem CRM como um processo sistemático de

gestão do relacionamento com os clientes, desde seu início, passando pela sua fase de

manutenção até o seu término, no momento em que o cliente finaliza seu relacionamento com

a organização. Isso se dá por meio da gestão de todas as interações em todos os possíveis

pontos de contato entre clientes e organização, a fim de maximizar o valor destas interações,

para os clientes, para a organização e demais stakeholders envolvidos.

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Talet (2012) defende a existência de três estágios na gestão do relacionamento com os

clientes, que seriam a aquisição, a retenção e a expansão. Esses três estágios compõem um

fluxo dinâmico proposto por Park e Kim (2003), onde a junção dos conceitos do marketing de

relacionamento com as informações estratégicas dos clientes possibilita a gestão completa de

todo o seu ciclo de vida. Os autores descrevem cada um destes estágios (Park & Kim, 2003):

(i) Aquisição: é o momento em que a organização identifica o seu público alvo, coletando

informações a seu respeito, a fim de, por meio dos canais de comunicação, captá-los e torná-

los clientes; (ii) Retenção: neste momento, as organizações tem a missão de construir um

relacionamento sólido com seus clientes, tornando-os fiéis e engajados, aumentando assim o

seu valor para a organização; (iii) Expansão: é o momento em que os clientes fidelizados e

engajados passam a desempenhar o papel de defensores dos produtos e serviços da

organização, expandindo a base de clientes da organização por meio de referências.

Trata-se de um modelo orientado para o cliente em que a venda em si é apenas o início

de todo o processo, em detrimento da visão centrada em produtos, na qual a venda é o fim do

processo (Rygielski, Wang & Yen, 2002; Lin, Su & Chien, 2006). Neste sentido, as

organizações buscam maximizar o valor do cliente por meio da análise do seu ciclo de vida,

beneficiando-se de tecnologias de análise e gestão das informações dos clientes (Rygielski et

al., 2002; Sedighi et al., 2012).

Bretzke (2001) destaca que o uso intensivo de informações dos clientes, suportado

pelas TIC, é de extrema importância para a correta e eficiente gestão do relacionamento com

os clientes. Scott (2001), sob uma perspectiva tecnológica, define CRM como um processo de

captura dos dados de clientes ao longo da organização, consolidação de todos os dados em um

banco de dados centralizado, análise dos dados consolidados, compartilhamento dos

resultados com todos os pontos de contato com os clientes e uso desta informação para as

interações com os clientes. Em suma, este processo envolve adquirir os clientes, conhecê-los e

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compreendê-los bem para então antecipar e prover suas necessidades (Teo, Devadoss & Pan,

2006).

Por sua vez, Faed, Radmand e Talevski (2010) afirmam que o CRM é composto por

três fases: integração, análise e ação (Tabela 2). Uma fonte centralizada de dados relevantes

dos clientes é obtida na fase de integração. O segundo estágio, de análise, proporciona uma

gestão efetiva das relações com os clientes por meio da investigação de seus comportamentos

e padrões de compra e, por fim, na fase de ação são postas em prática as decisões estratégicas

definidas na fase anterior. Corroborando esta definição, Peppers e Rogers (2001) ressaltam

que CRM se trata de uma forma de gestão do relacionamento com o cliente, desde a obtenção

das informações sobre eles, passando pela análise destas informações, geração de valor

orientada ao atendimento das necessidades dos clientes e o recebimento do feedback sobre

estes valores.

Tabela 2

Etapas do Processo de CRM

Fase Descrição Obtenção e Integração Captura e consolidação dos dados em um banco de dados centralizado

Processamento e Análise Análise dos dados capturados em busca de padrões e tendências

Ação e Retorno Desenvolvimento de ações e interações com os clientes, bem como o

feedback das mesmas

Nota. Fonte: Elaborado pelo autor com base nas definições de Faed et al. (2010) e Peppers & Rogers (2001)

Ainda na literatura sobre CRM são encontradas divisões entre diferentes tipos de

CRM. No total, foram encontradas cinco diferentes classificações. São elas: (i) o CRM

operacional; (ii) o CRM analítico; (iii) o CRM colaborativo; (iv) o CRM estratégico; (v) o

CRM eletrônico (Schwede, 2000; Peppers & Rogers, 2001; Bose & Sugumaram, 2003;

Henning, Geib & Kolbe, 2003; Xu & Walton, 2005; Geib et al., 2006; Iriana & Buttle, 2007;

Richards & Jones, 2008; Ngai, Xio & Chau, 2009; Khodakarami & Chan, 2014). No entanto,

os tipos de CRM são classificados na maioria das vezes em três categorias (Tabela 3), que

foram consideradas na presente pesquisa.

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Tabela 3

Tipos de CRM sob a ótica de diferentes autores

Tipo de CRM

Autores Operacional Analítico Colaborativo Estratégico Eletrônico

Bose & Sugumaram (2003) X X

Geib et al. (2006) X X X

Henning et al. (2003) X X X

Iriana & Buttle (2007) X X X

Khodakarami & Chan (2014) X X X

Xu & Walton (2005) X X X X

Ngai et al. (2009) X X

Richards & Jones (2008) X X

Schwede (2000) X X X

Peppers & Rogers (2001) X X X

Nota. Fonte: Elaborado pelo autor

Dos dez autores listados (Tabela 3), todos citam o CRM operacional como um dos

tipos de CRM, seguido do analítico, com nove citações e do colaborativo, com seis. Além

disso, seis autores defendem que o CRM é composto pela combinação destes três tipos de

CRM. Os CRM estratégico e eletrônico foram citados apenas duas e uma vez,

respectivamente. As principais características e funções das três categorias mais consideradas

são (Peppers & Rogers, 2001):

CRM operacional: sua principal função é a de automatizar o processo de CRM no

intuito de melhorar sua eficiência e produtividade. Pontos de atendimento e suporte

aos clientes, como por exemplo, os call centers, automatização da força de vendas e

automatização das regras de negócio pertencem a esta categoria;

CRM analítico: trata-se da inteligência do processo de CRM, onde é analisado e

gerido o conhecimento dos clientes. Isso se dá por meio de modelos preditivos e de

segmentação, com base em seu comportamento e padrão de compra. Proporciona

uma melhor compreensão e entendimento sobre este comportamento e sobre suas

necessidades individuais. Exemplos de ferramentas que fazem parte desta categoria

são: Data Mining, Data Warehouse e o Online Analytical Processing (OLAP).

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CRM colaborativo: está relacionado com os pontos de contato da organização e seus

clientes. Seu objetivo é gerenciar, integrar e sincronizar estes pontos de contato

(canais de comunicação), facilitando a interação entre a organização e seus clientes. .

Exemplos de ferramentas que compõem o CRM colaborativo são os portais e

websites, e-mail, redes sociais entre outros.

Khodakarami & Chan (2014) ressaltam que os tipos de CRM e suas ferramentas

auxiliam na obtenção e geração de conhecimento dos clientes de forma contínua. O

conhecimento dos clientes é o insumo fundamental para a correta e eficiente gestão do

relacionamento com os clientes. Existem diferentes tipos de conhecimento dos clientes,

dependendo de sua origem e forma que são gerados. Estes tipos serão discutidos mais

detalhadamente adiante.

2.1.3- Categorias do Conhecimento dos Clientes

O conhecimento dos clientes é o insumo fundamental para a correta e eficiente gestão

do relacionamento com eles. Apesar desta importância, o conhecimento dos clientes tem

recebido relativamente pouca atenção nos estudos do campo da Administração da Informação

(Khodakarami & Chan, 2014). Alguns autores classificam o conhecimento dos clientes nas

três seguintes categorias (Garcia-Murillo & Annabi, 2002; Park & Kim, 2003; Smith &

McKeen, 2005; Geib, Kolbe & Brenner, 2006), dependendo de sua origem e da forma que é

gerado (Tabela 4).

Conhecimento sobre o cliente (knowledge about customer) são informações relativas

ao cadastro e registros das transações comerciais dos clientes. Esse tipo de conhecimento é

acumulado no intuito de se compreender suas motivações para então direcionar o

relacionamento de forma personalizada. Dados demográficos, padrões de compra,

preferências e históricos de pagamento são exemplos de conhecimento sobre o cliente.

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Conhecimento advindo do cliente (knowledge from customer) são informações obtidas

por meio do relacionamento entre a organização e seus clientes. Reclamações, sugestões,

elogios e ainda conhecimento sobre produtos, serviços e concorrentes que os clientes possuem

são exemplos deste tipo de conhecimento. A partir do acúmulo deste tipo de conhecimento, as

organizações podem prover processos de melhoria contínua, como por exemplo,

desenvolvimento de novos produtos ou processos de melhoria de serviços.

Por fim, o conhecimento para o cliente (knowledge for customer) são informações

direcionadas da organização para o cliente. Têm por objetivo suprir a demanda dos clientes

por conhecimento sobre produtos, serviços, canais de venda entre outras informações

relevantes. Este conhecimento pode ser direcionado aos clientes por diversos canais, tais

como e-mails, correspondências, mensagens por telefone celular, conteúdo web, call center,

SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente) entre outros.

Tabela 4

Categorias de conhecimento segundo sua origem

Nota. Fonte: Elaborado pelo autor

Portanto, os processos de CRM podem ser considerados processos orientados para o

conhecimento (Gebert et al., 2003). O conhecimento para os clientes e advindos dos clientes

são parte do capital intelectual da organização que os detêm (Gebert et al., 2003). Um dos

mais importantes desafios de um processo de CRM é gerir o fluxo destes dois tipos de

informação de forma correta e eficiente. A forma como este conhecimento é utilizado para

Categoria de

ConhecimentoOrigem Finalidade Exemplo

Sobre o Cliente

Cadastro e

transações dos

clientes

Utilizado na compreensão de suas

motivações para um relacionamento

personalizado

Dados demográficos e cadastrais,

histórico de pagamentos e características

dos produtos e serviços consumidos

Advindo do

Cliente

Relacionamento com

os clientes

Utilizado na provisão de melhorias à

produtos, serviços e processos

Reclamações, elogios, sugestões,

opiniões sobre produtos e serviços e

percepção sobre a concorrência

Para o Cliente Organização

Visa suprir as demandas dos clientes

por conhecimento sobre produtos e

serviços prestados pela organização

Informações sobre produtos e serviços,

alertas de pagamentos e promoções

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gerar novos conhecimentos bem como as ferramentas utilizadas para tal, são de extrema

importância e serão apresentadas e discutidas na próxima seção dessa dissertação.

2.2 Gestão do Conhecimento (GC)

Como o conhecimento desempenha um importante papel no competitivo e turbulento

mercado atual, as organizações atentaram para a necessidade de gerenciá-lo de forma efetiva

(Sedighi et al., 2012). Organizações bem sucedidas devem estar capacitadas a capturar,

integrar, criar e utilizar o conhecimento (Alavi & Leidner, 2001; Sambamurthy & Subramani,

2005; Wu, 2008). Eis que surge a gestão do conhecimento (GC), procurando desenvolver

mecanismos para que as organizações gerenciem o conhecimento como um ativo para o

desenvolvimento organizacional (Carvalho, 2000).

Na literatura sobre o tema são encontradas diversas definições para GC. Várias

perspectivas sobre o conhecimento levam a diferentes percepções sobre GC (Alavi & Leidner,

2001). No contexto da presente pesquisa, a definição adotada sobre GC é a de um método

para gerar, organizar e compartilhar o conhecimento (Davenport & Prusak, 1998; Sedighi et

al., 2012). Este processo visa alavancar a inovação por meio da aprendizagem organizacional

contínua (Nonaka, 1991; Quinn et al., 1996; Davenport & Prusak, 1998).

Outro ponto exaustivamente abordado na literatura sobre o tema trata da diferença

entre dado, informação e conhecimento (Carvalho, 2000; Alavi & Leidner, 2001;

Khodakarami & Chan, 2014). Alavi e Leidner (2001) apresentam uma visão hierárquica, onde

o dado é definido como “números e fatos brutos”, informação como “os dados processados” e

conhecimento como a “informação autenticada”. Esta visão é reforçada por Khodakarami e

Chan (2014) e Kakabadse e Kakabadse (2003) que definem dados como observações ou fatos

brutos, informação como o dado classificado e analisado visando “informar” e, por fim,

conhecimento como a acumulação significativa e organizada de informações por meio da

experiência, comunicação ou inferência. O conhecimento possui o maior valor agregado

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dentre eles, pois envolve experiência humana e crenças justificadas (Nonaka, 1994; Grover &

Davenport, 2001; Kakabadse & Kakabadse, 2003).

Apesar da diferença entre dados, informação e conhecimento, é difícil definir uma

linha de distinção clara entre estes conceitos (Khodakarami & Chan, 2014). Grover e

Davenport (2001) creem que, na prática, as organizações lidam com os três tipos de conceitos.

Na presente pesquisa foram considerados também os três tipos de conceitos, visto que para se

criar o conhecimento, inevitavelmente será necessário que informações e dados sejam

considerados e gerenciados pelas organizações.

2.2.1 Processo de criação de conhecimento

Para Nonaka e Takeuchi (1997), a criação de conhecimento organizacional reflete a

capacidade de a organização gerar novos conhecimentos, distribuí-los e incorporá-los. Os

autores distinguem este processo em duas diferentes dimensões, uma de cunho ontológico e a

outra de cunho epistemológico.

A dimensão ontológica diz respeito aos níveis de entidades criadoras de

conhecimento: individual, grupal, organizacional e interorganizacional. Modelos

ontologicamente orientados analisam a ligação entre o conhecimento e seu ambiente,

permitindo a avaliação do conhecimento baseado em um contexto de negócio específico

(Nonaka, 1991; Gebert et al., 2003; Schons & Costa, 2008).

Já a dimensão epistemológica diz respeito ao tipo de conhecimento, que se distingue

entre conhecimento tácito e explícito. O conhecimento tácito está arraigado nas pessoas, ou

seja, é de caráter pessoal, compreendendo as relações cognitivas do indivíduo, é físico e de

difícil transmissão. Já o conhecimento explícito é caracterizado pela capacidade de

transmissão por meio de linguagem sistematizada e formal, materializando-se em

documentos, bancos de dados, imagens entre outras formas de armazenamento de

conhecimento (Nonaka & Takeuchi, 1997, Meso & Smith, 2000, Bebert et al., 2003).

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A criação do conhecimento se dá por meio da interação entre os tipos de

conhecimento, o tácito e o explícito, em um modelo dinâmico, proposto por Nonaka e

Takeuchi (1997), denominado “espiral do conhecimento” (Figura 2). Dessa interação,

resultam quatro diferentes modos de conversão do conhecimento (Nonaka & Takeuchi, 1997),

explicados a seguir, por meio de exemplos contextualizados à temática da presente

dissertação:

Socialização: conversão de conhecimento tácito para tácito. Compreende o

compartilhamento de experiências pessoais, como por exemplo, em interações entre

atendentes de um call center, vendedores e representantes comerciais de uma

organização e seus clientes. Bem abastecidos pelo CRM, tais profissionais

potencialmente possuem conhecimento tácito sobre o portfólio de produtos e perfil

dos clientes, podendo prover um atendimento mais personalizado. Por outro lado,

parte do conhecimento tácito oriundo da escuta do cliente (reclamações, diferenciais

percebidos em produtos) também pode contribuir para a alimentação da base de

conhecimento do CRM;

Externalização: conversão de conhecimento tácito para explícito. Ocorre no

mapeamento de processos e regras de negócio, antes incrustrado nas pessoas e

posteriormente documentado, permitindo as suas automatizações. Ocorre também na

captação e estruturação do conhecimento advindo dos clientes, por meio de suas

interações com os canais colaborativos do processo de CRM. Após a externalização

do conhecimento, o mesmo se torna facilmente transmissível e aplicável;

Combinação: conversão de conhecimento explícito para explícito. Nesse processo

ocorrem trocas e arranjos de diferentes conjuntos de conhecimento explícito,

resultando na reconfiguração das informações existentes. No CRM Analítico, a

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combinação é suportada pelos repositórios de dados, ferramentas de mineração de

dados e sistemas de apoia a tomada de decisão;

Internalização: conversão de conhecimento explícito para tácito. Este processo

engloba o aprendizado proporcionado pelo estudo, análise e interpretação do

conhecimento disponível de forma explícita. Por meio dos sistemas de apoio a tomada

de decisão do CRM Analítico, gestores têm acesso ao conhecimento explícito, criando

oportunidades de internalização de novos aprendizados sobre os clientes. Este

processo também ocorre com os clientes ao internalizarem aprendizados derivados das

interações realizadas pelas organizações por meio de seus canais colaborativos.

Figura 2. Espiral do Conhecimento.

Nota. Fonte: Nonaka, I.; Takeuchi, H. Criação de Conhecimento na Empresa. Campus, 1997.

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2.2.2 Ferramentas de Gestão do Conhecimento

Conforme visto até o momento, a obtenção, armazenamento, análise e uso do

conhecimento relacionado aos clientes são essenciais para uma efetiva gestão do

relacionamento com os clientes. A GC foi definida como o processo de captura de

conhecimento e inteligência em uma organização de modo a utilizá-los na promoção da

inovação, por meio da aprendizagem organizacional contínua (Nonaka, 1991; Quinn et al.,

1996). Portanto, faz-se necessário garantir a coleta, estruturação, codificação, análise e

disponibilização do conhecimento (Davenport & Prusak, 1998).

As ferramentas tecnológicas de GC têm o objetivo de otimizar tais tarefas, uma vez

que utilizam os recursos oferecidos pela TI no suporte a estas atividades (Carvalho & Ferreira,

2000). A relação entre as organizações e seus clientes pode ser fortemente melhorada com o

emprego da TI (Karimi, Somers & Gupta, 2001).

Carvalho (2000) realizou um trabalho de levantamento e classificação de software de

GC. Como resultado, foi proposta uma classificação destas ferramentas em oito diferentes

categorias, conforme suas características e aspectos em comum. As categorias encontradas

foram as seguintes: (i) ferramentas baseadas na intranet; (ii) gerenciamento eletrônico de

documentos; (iii) groupware; (iv) workflow; (v) sistemas para construção de bases

inteligentes de conhecimento; (vi) business intelligence (BI); (vii) mapas de conhecimento;

(viii) ferramentas de apoio à inovação.

O autor apresentou a descrição de cada uma dessas oito categorias. Porém, para fins da

presente pesquisa, foram detalhadas cinco delas, utilizadas na composição do modelo de

gestão do conhecimento dos clientes que será apresentado na próxima seção. Estas cinco

categorias englobam as ferramentas que estão diretamente relacionadas ao processo de gestão

do conhecimento dos clientes. As demais categorias também são importantes para o processo,

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porém, não apresentam uma relação tão evidente com o modelo de gestão do conhecimento

dos clientes que será apresentado na próxima seção da presente dissertação.

São elas (Carvalho, 2000):

Workflow: permite a codificação dos processos intensivos em conhecimento em

conjuntos de regras de negócio. Visam determinar um fluxo de tarefas pré-definidas,

no intuito de facilitar a sua automatização por meio da padronização das etapas

necessárias para a execução e acompanhamento das atividades envolvidas. Para o

presente estudo, as ferramentas de workflow têm um papel fundamental no modelo

proposto, uma vez que um dos principais desafios é o de documentar em mapas de

processos e fluxogramas, parte do conhecimento tácito contido nas pessoas que se

relacionam com os clientes, facilitando assim processos de automatização da rotina;

Business Intelligence (BI): ferramentas de extração, transformação, carga (ETC),

análise de massas de dados operacionais em busca de informações úteis e de consultas

analíticas no suporte à tomada de decisão. Dividem-se em duas categorias: as

ferramentas de back-end e as de front-end. As ferramentas de back-end visam

capturar, tratar e armazenar os dados em grandes repositórios, conhecidos também

como data marts segmentados e data warehouses mais abrangentes e ainda analisar

esses dados, em busca de padrões ocultos e informações úteis para o negócio. As

ferramentas de front-end, também visam à exploração e análise dos dados, em busca

de padrões ocultos e informações úteis para o negócio. Porém, nesta camada, os

usuários constroem suas próprias consultas e relatórios conforme suas necessidades

individuais. Os sistemas gerenciadores de bancos de dados (SGBDs) e os mineradores

de dados são os principais exemplos de ferramentas de back-end. Em se tratando de

ferramentas de front-end, os sistemas de apoio à tomada de decisão e os de consulta

analítica (OLAP) figuram entre os principais exemplos desta categoria;

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Ferramentas baseadas em intranet/ Web: são ferramentas que visam disponibilizar o

conhecimento, facilitando a fluidez das informações entre áreas da organização.

Geralmente a comunicação se dá de forma passiva, ou seja, disponibiliza-se a

informação na intranet/ websites e os usuários/ clientes as buscam. Um exemplo deste

tipo de ferramenta são os portais web, que auxiliam atendentes e consumidores por

meio de consultas a catálogos de produtos e serviços e “perguntas mais frequentes”

(FAQs – Frequently Asked Questions).

Sistemas para Construção de Bases Inteligentes de Conhecimento (SCBIC): os

sistemas especialistas e sistemas baseados em casos (CBR- Case Based Reasoning)

são exemplos de ferramentas englobadas nesta categoria. Os sistemas especialistas

possuem uma base de conhecimento e algoritmos usualmente baseados em

Inteligência Artificial que evoluem sua capacidade de aprendizagem à medida que a

base é povoada pelas interações com usuários. Os sistemas CBR permitem a extração

e codificação do conhecimento por meio de narrativas de casos. Os sistemas de CRM

são um exemplo de SCBIC/ CBR, uma vez que trazem toda informação disponível

sobre os clientes de maneira consolidada, facilitando a customização no atendimento

às suas necessidades. As personalizações no atendimento e nas ofertas se dão de forma

dinâmica, de acordo com as características dos clientes, combinadas com informações

coletadas tanto historicamente quanto no momento do atendimento.

Groupware: conjunto de tecnologias colaborativas que propiciam um ambiente

compartilhado a um grupo de pessoas que possuam atividades e interesses em comum.

Esse tipo de ferramenta permite a formação de grupos de pessoas fisicamente

distantes, aumentando a cooperação e a comunicação interpessoal. As redes sociais e

as comunidades de consumidores são exemplos de groupware que constituem o cerne

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de novas abordagens de CRM, conhecidas como Social CRM (Woodcock, Green &

Starkey, 2011; Baird & Parasnis, 2011, Askool & Nakata, 2011).

2.3 Gestão do conhecimento dos clientes para a gestão do relacionamento com os

clientes

2.3.1 Sinergias entre o CRM e a GC para a gestão do conhecimento dos clientes

Na estrutura apresentada por Alavi e Leidner (2001) sobre o papel dos sistemas de

informação nos processos de gestão do conhecimento organizacional, os autores definem as

organizações como sistemas de conhecimento. Estes sistemas são compostos por quatro

grandes grupos de processos de conhecimento: criação/ construção, armazenamento/

recuperação, compartilhamento e, por fim, aplicação do conhecimento.

A criação do conhecimento organizacional envolve o desenvolvimento de novos

conceitos ou a substituição do conteúdo existente por meio da conversão do conhecimento

tácito e explícito da organização (Pentland, 1995). O armazenamento e recuperação do

conhecimento, também conhecidos como memória do conhecimento organizacional,

envolvem o conhecimento registrado de diversas formas, tais como documentos físicos,

informações estruturadas em bases de dados, conhecimento humano codificado e armazenado

em sistemas especialistas, procedimentos organizacionais, regras de negócio e ainda

conhecimento tácito adquirido de indivíduos ou redes de indivíduos (Tan, Teo, Tan & Wei,

1998). O compartilhamento do conhecimento, exercendo papel de extrema importância no

processo de gestão do conhecimento e podendo ocorrer em vários níveis, tais como de

indivíduos para indivíduos, de indivíduos para grupos, entre grupos e do grupo para a

organização (Alavi & Leidner, 2001). E por fim, a aplicação do conhecimento, apresentando

um importante aspecto da teoria baseada no conhecimento: a fonte de vantagem competitiva

não reside no conhecimento por si só, mas também na sua aplicação (Grant, 1996).

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Em suma, a GC pode ser definida como o processo de captura da experiência e

inteligência coletiva em uma organização e o uso delas na promoção da inovação, por meio

do aprendizado organizacional contínuo (Nonaka, 1991; Quinn et al., 1996). Uma vez que a

maior parte desta experiência e inteligência são sobre os clientes, pode-se concluir que o

CRM e a GC estão fortemente correlacionados (Stefanou & Sarmaniotis, 2003).

Davenport e Prusak (1998) defendem a importância de se combinar a GC com outras

estratégias de negócio. Os autores ressaltam a importância de se “estar próximo aos clientes”

e de como a GC pode melhorar uma série de coisas que as organizações já fazem. Gordon

(1998) destaca a importância das ferramentas de GC nos processos de captura, consolidação,

armazenamento, análise e recuperação do conhecimento sobre os clientes nos processos de

aprendizagem da organização sobre seus clientes. Trata-se de um método usado na captura,

criação, disseminação e aplicação do conhecimento, tornando o processo de CRM bem

sucedido. Além disso, pode ajudar as organizações na melhoria dos seus serviços,

respondendo rapidamente às necessidades de seus clientes, tornando-se essencial para o CRM

(Talet, 2012).

Com base nessas constatações, as organizações têm cada vez mais, integrado seus

processos de CRM e GC, uma vez percebido que a GC desempenha papel fundamental em

uma estratégia de CRM bem sucedida (Dous, Kolbe, Salomann & Brenner, 2005). Carvalho

(2000) destaca a existência de uma sinergia entre a GC e o CRM, já que a monitoração dos

contatos com os clientes, bem como suas expectativas, reclamações e padrões de consumo,

exercem um importante papel no desenvolvimento e melhoria do relacionamento entre

organizações e seus clientes. Esta relação pode ser comprovada em um levantamento

realizado por Skyrme e Amidon (1997) sobre as práticas de GC de organizações europeias e

norte americanas. Eles constataram que em 96% delas, o conhecimento do cliente foi

considerado o ativo mais importante para manter-se competitivo. Corroborando este achado,

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uma pesquisa realizada por Chase (1997) constatou que em uma amostra de organizações

engajadas nas práticas e filosofia da GC, a maioria delas tem o conhecimento dos clientes

como a principal atividade da GC.

Moreno e Meléndez (2011) consideram o CRM definitivamente relacionado à GC,

uma vez que, para os autores, CRM trata-se de como gerenciar o conhecimento dos clientes,

para entendê-los e servi-los melhor. Além disso, os autores vêm a GC como um subprocesso

do CRM, uma vez que para se gerenciar o relacionamento com os clientes de forma efetiva, as

organizações precisam desenvolver capacidades relacionadas à gestão do conhecimento dos

clientes.

Sedighi et al. (2012) também consideram o CRM e a GC abordagens correlatas.

Porém os autores apresentam uma visão antagônica à de Moreno e Meléndez (2011), uma vez

que consideram os tipos de CRM como suporte para a criação, compartilhamento,

armazenamento e aplicação do conhecimento (Sedighi et al., 2012).

Um terceiro ponto de vista é apresentado por Gibbert et al., (2002), para quem a

gestão do conhecimento do cliente, denominada por eles como CKM, é proposta como uma

nova abordagem em detrimento da GC e do CRM. Porém, apesar de não apresentar a nova

abordagem como um tipo de fusão entre os conceitos de CRM e GC, pode-se notar

claramente esta relação. Esta afirmação pode ser exemplificada no momento em que os

autores comparam os axiomas resultantes destas três abordagens: “se soubéssemos o que

sabemos” da GC, “retenção é mais barato que aquisição” do CRM e “se soubéssemos o que

nosso cliente sabe” do CKM.

Esta complementaridade entre a GC e o CRM, no que tange ao realinhamento da GC

aos processos de negócio é destacada por Gebert et. al., (2003), quando afirmam que a “auto-

orientação” da GC tem sido o principal motivo de vários modelos desta abordagem

apresentarem dificuldades de provar seu valor para as organizações. O realinhamento destes

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modelos, em particular pelo processo de CRM resulta em uma abordagem híbrida, centrada na

gestão do conhecimento sobre, para e advindo dos clientes, a qual também denominam CKM.

Neste sentido, Tiwana (2000) propõe um modelo de gestão do conhecimento dos

clientes a fim de gerar valor para eles, fortalecendo as relações e a colaboração mútua. O

autor claramente destaca a importância da GC e do CRM para as tomadas de decisão sobre o

negócio. A disponibilidade do grande volume de dados de clientes torna possível por meio

das novas ferramentas tecnológicas, a criação de oportunidades para as organizações por meio

da exploração destes dados em busca de conhecimento relevante (Lin, Su & Chien, 2006).

As TIC exercem papel decisivo, no sentido em que permitem a implantação dos

modernos sistemas baseados em conhecimento, fornecendo mineradores de dados, sistemas

de groupware, data warehouses, sistemas de apoio à tomada de decisão e consultas analíticas,

workflows e sistemas baseados em tecnologias web (Stefanou, Sarmaniotis & Stafyla, 2003).

No entanto, a gestão do conhecimento dos clientes requer mais do que somente a

disponibilidade e uso das TIC. Para se extrair valor para a organização, por meio da gestão do

relacionamento com os clientes ao longo do tempo, a organização deve em primeiro lugar

desenvolver uma cultura, motivar os funcionários em todos os níveis para a aprendizagem e

facilitar-lhes a captura, seleção, utilização e compartilhamento de conhecimentos, fornecendo

os meios e a tecnologia necessária para tal (Stefanou, Sarmaniotis & Stafyla, 2003; Faed,

Radmand & Talevski, 2010), pois ao contrário dos dados e informações, o conhecimento está

incorporado nas pessoas e não na TI (Davenport & Prusak, 1998). A forma como as pessoas

capturam, interpretam e compartilham o conhecimento acumulado nos repositórios de dados e

informações é muito importante para que as organizações obtenham e mantenham vantagem

competitiva em seus negócios (Moreno & Meléndez, 2011).

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2.3.2 O modelo de gestão do conhecimento dos clientes

Baseando-se nas abordagens previamente expostas sobre o CRM, a GC e também

sobre os modelos híbridos resultantes da fusão entre estes dois temas (CKM), foram

confirmadas e identificadas as relações e sinergias entre o CRM e a GC, bem como as

vantagens e ganhos em se utilizar ambas as abordagens em conjunto.

Tabela 5

Relação entre os tipos de conversão do conhecimento, tipos de CRM e categorias de ferramentas de GC

Modo de

Conversão

Tipo de

CRM

Ferramenta

de GC Descrição

Socialização

Colaborativo Intranet/

Web

Ferramentas de e-meeting (chats e salas de

conferências) facilitam a troca de experiências entre

funcionários e entre a organização e seus clientes

Operacional SCBIC/

CBR

A utilização dos sistemas de call center facilita a

interação entre atendente e clientes uma vez que

disponibiliza informações sobre e para os clientes

em tempo real

Externalização

Colaborativo

Intranet/

Web e

Groupware

Captura de conhecimento sobre e advindo do

cliente por meio de websites, marketing direto

interativo (marketing por e-mail e mensagens de

celular) e redes sociais

Operacional

SCBIC/

CBR

Inserção das informações sobre e advindas do

cliente, resultantes das interações entre clientes e

atendentes, por meio dos sistemas de call center

Workflows

Trata-se da automatização de regras de negócio e

processos. É uma importante ferramenta na

padronização de processos do negócio por meio da

externalização

Combinação Analítico

BI

Organização e armazenamento da informação dos

clientes em grandes repositórios de dados (data

warehouse e SGBDs).

Exploração e análise em busca de padrões ocultos,

em busca de conhecimento sobre os clientes, úteis

para o negócio (data mining e OLAP)

Internalização

Colaborativo

Intranet/

Web e

Groupware

Clientes podem aprender sobre produtos e serviços

da organização por meio de conhecimento

disponibilizado para os clientes. Websites, blogs,

comunidades online, redes sociais e e-mail

marketing são exemplos de ferramentas para tal.

Analítico BI

Gestores obtêm conhecimento sobre os clientes por

meio da leitura de análise de relatórios resultantes

das ferramentas analíticas

Nota Fonte: elaborado pelo autor

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Um dos resultados desta reflexão foi o estabelecimento das relações entre os tipos de

CRM (Schwede, 2000; Peppers & Rogers, 2001; Henning, Geib & Kolbe, 2003; Xu &

Walton, 2005; Geib et al., 2006; Khodakarami & Chan, 2014; ), os tipos de conversão do

conhecimento propostos por Nonaka e Takeuchi (1997) e as categorias de ferramentas de GC

(Carvalho, 2000) (Tabela 5).

A partir destas relações, estruturou-se um modelo de gestão do conhecimento dos

clientes, evidenciando as sinergias entre os conceitos do CRM e da GC e mais

especificamente as interfaces entre os tipos de CRM, os processos da espiral do conhecimento

e as categorias de ferramentas de GC (Figura 3). Trata-se de uma representação gráfica de

todo o processo de gestão do conhecimento dos clientes (CKM), desde a captura dos dados,

organização e armazenamento da informação, análise das informações em busca de

conhecimento sobre o cliente, geração de conhecimento para o cliente na forma de

campanhas e ações de relacionamento e, por fim, a monitoração das interações dos clientes

para a captura do conhecimento advindo do cliente. É um processo interativo de

relacionamento com os clientes e iterativo de conhecimento dos clientes.

O processo conhecido como data warehousing se inicia com a captura e integração

dos dados de interesse para o negócio. Além das fontes de dados sobre, para e advindo dos

clientes, fontes de dados referentes à concorrência, indicadores econômicos, financeiros,

demográficos, de fornecedores e de parceiros (representados por F1, F2, F3, Fn e Retorno

Interações na Figura 3) também se apresentam como relevantes para a gestão do

relacionamento com os clientes. Estes dados são organizados e armazenados em um armazém

de dados único (data warehouse). Posteriormente, tais dados serão analisados pelos

mineradores de dados, em busca de padrões e associações relevantes e ainda via sistemas de

suporte à decisão, no auxílio aos tomadores de decisão sobre dados e modelos solucionados

de problemas não estruturados (Sprague & Carlson, 1982). Nesta etapa, ocorre o processo de

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inteligência analítica do modelo de CKM proposto, quando são processados os conhecimentos

sobre e advindos dos clientes, gerando novos conhecimentos que suportarão o

relacionamento com os clientes. O processo descrito até esse ponto integra o CRM Analítico,

envolvendo sistemas de BI no suporte à combinação do conhecimento existente e na

internalização do conhecimento gerado (Figura 3).

Figura 3- Modelo de gestão do conhecimento dos clientes

Nota Fonte: elaborado pelo autor

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A etapa seguinte, o CRM Operacional, é suportada pelo workflow e pelos sistemas

de CRM. Sobre estas duas ferramentas de GC, deve-se ressaltar a importância do workflow na

externalização do conhecimento sobre os processos e regras de negócio arraigados nas

pessoas, bem como a dificuldade de tal tarefa, tornando-a um dos principais desafios a serem

enfrentados na implantação do modelo. A externalização se dá em forma de documentos

como mapas de processo e fluxogramas, facilitando a automatização destas regras e

processos, permitindo definir as campanhas e ações de relacionamento com os clientes e

minimizando o trabalho manual e ainda a chance de erros por falhas humanas.

Sobre os sistemas de CRM, é importante frisar que os mesmos não devem ser

confundidos com a estratégia de negócio de mesmo nome. Estes sistemas servem de suporte

para os atendentes dos canais de relacionamento a distância (call centers) e presenciais, por

meio da disponibilização de informações sobre e para os clientes, facilitando a socialização

entre as duas partes. Possibilitam ainda a externalização desta interação, pois as informações

advindas dos clientes são inseridas nestes sistemas que subsequentemente retroalimentam o

CRM Analítico.

O CRM Colaborativo é composto pelos portais web, redes sociais e canais de

marketing direto (marketing por e-mail e mensagens de celular) no modelo proposto. Estes

canais possuem a particularidade de disponibilizar (portais web) e ainda direcionar (redes

sociais e marketing direto) o conhecimento para os clientes. Atuam também na captura de

conhecimento advindo dos clientes, provenientes das relações entre a organização e seus

clientes, tornando-se uma das fontes de dados do processo de data warehousing. Estes canais

são exemplos de ferramentas de GC baseadas em intranet/ web e Groupware, auxiliando

na internalização do conhecimento por parte dos clientes e na externalização do seu

feedback.

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Por fim, vale ressaltar que assim como o CRM, o CKM exige uma adequação ao

contexto organizacional, sendo necessária a reavaliação dos objetivos, visão, valores e missão

da empresa. A adoção do CKM somente como uma ferramenta tecnológica implicaria em

limitações dos benefícios gerados e até mesmo em fracasso da iniciativa (Rigby, Reichheld &

Schefter, 2002; Starkey & Woodcook, 2002).

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3. METODOLOGIA DA PESQUISA

3.1 Estratégia e método de pesquisa

Um modelo de gestão do conhecimento dos clientes para a gestão do relacionamento

foi proposto a partir da junção dos conceitos da estratégia de CRM com as ferramentas de GC

e o processo de criação de conhecimento. Para tanto, foi necessária a construção de um

referencial teórico, buscando evidenciar as principais características dos temas, no sentido de

se sustentar uma forma produtiva de relacionamento entre as organizações e seus clientes. A

partir deste aprofundamento, foi possível identificar as relações e sinergias entre os temas,

resultando em um modelo teórico de gestão do conhecimento dos clientes, originado a partir

da fusão entre os temas estudados, respondendo parcialmente ao problema de pesquisa.

Uma vez definido o modelo, a próxima etapa configurou a sua implantação em uma

IESP (Instituição de Ensino Superior Privada) bem como a verificação da sua efetividade para

os esforços de marketing desta organização. Essa etapa visou responder quanto um modelo

de gestão do conhecimento dos clientes pode contribuir nos esforços de marketing.

No intuito de se responder quanto o modelo proposto contribui nos esforços de

marketing da organização em questão, ações de relacionamento com os alunos foram geridas

após a implantação do modelo. Estas ações denominadas “ações de marketing” consistiram

em interações com os alunos, baseadas na análise do conhecimento sobre e advindo dos

alunos para a geração do conhecimento para os alunos. Estas interações se deram por meio

dos portais web, marketing direto (SMS e e-mail), redes sociais (fan page no Facebook), call

center e atendimento presencial.

Pelas características acima mencionadas do problema e contexto da pesquisa, foi

adotada a estratégia de pesquisa quantitativa. Tal estratégia se caracteriza pelo emprego da

quantificação, durante as etapas de coleta, tratamento e análise dos dados (Richardson, 1989;

Rosental & Frémontier-Murphy, 2001; Diehl, 2004) no intuito de se mensurar os resultados

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da utilização do modelo proposto como suporte para a gestão do relacionamento com os

clientes. Já o método, definido por Fonseca (2002) como indispensável para qualquer

pesquisa científica, será o experimental, que é um dos três métodos de investigação social

empírica (Greenwood, 1973). A escolha deste método se deve à abordagem explicativa dos

objetivos da pesquisa, uma vez que visa à manipulação de variáveis independentes e sua

influência sobre variáveis dependentes, determinando assim as relações de causa e efeito entre

estes conjuntos (Greenwood, 1973; Fonseca, 2002; Gil, 2007). Vale frisar alguns pontos

importantes sobre o método experimental (Greenwood, 1973):

a) Requer um estado de contrastes, uma vez que a realização de um experimento

configura a existência de dois ou mais grupos ou conjuntos de unidades, sendo que

um destes conjuntos será exposto a um determinado fator (variável independente) e o

outro não. Com isso, a situação de contraste é configurada entre o grupo exposto e o

não exposto;

b) Requer uma identificação das consequências do contraste, uma vez que o

contraste esteja estabelecido, faz-se necessário o estabelecimento das suas

consequências diferencias. Em suma, trata-se da mensuração do efeito de um

determinado fator (variável independente) sobre um acontecimento pré-determinado,

chamado de variável dependente. Vale ressaltar a importância da clara definição da

ordem temporal das variáveis, garantindo assim que a variável independente

realmente anteceda a variável dependente;

c) Requer o controle de influências estranhas sobre os resultados, ou seja, garantir

que os efeitos e variações da variável dependente não sofrem influência de outras

variáveis independentes não identificadas no experimento. Na presente pesquisa,

serão utilizadas as técnicas da distribuição de frequências (caso versus controle) e de

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randomização por amostragem aleatória simples (AAS) para a formação dos referidos

grupos de controle.

Os experimentos são subdivididos em quatro principais categorias. Para o presente

estudo, o tipo de experimento a ser utilizado será o experimento de campo, já que é realizado

em um âmbito da vida real (Greenwood, 1973; Boente & Braga, 2004; Dalfovo, Lana &

Silveira, 2008).

Em linhas gerais, os passos para a realização do experimento de campo da presente

pesquisa foram (Figura 4): (i) Seleção do público elegível a uma determinada campanha de

marketing de relacionamento; (ii) Separação dos grupos caso e controle por amostragem

aleatória simples, garantindo a equivalência em relação à variável dependente

(proporcionalidade entre os grupos); (iii) Exposição à variável independente ou efeito, que no

caso da presente pesquisa foram as campanhas de marketing geridas via modelo de gestão do

conhecimento dos clientes; (iv) Mensuração das variações nas variáveis dependentes (índices

de matrícula e rematrícula) via distribuição de frequências; (v) Teste de significância entre as

diferenças. Foi usado o teste χ² (qui-quadrado) para verificação de dependência entre as

variáveis dependentes e independentes (Soares & Siqueira, 2002).

Figura 4. Etapas de um experimento de campo para comparação de distribuição de frequências entre grupos

randomizados.

Nota. Fonte: Elaborado pelo autor.

Clientes

(População)

Grupo exposto ao efeito ou

variável independente

(caso)

Grupo não exposto ao

efeito ou variável

independente (controle)

Separação

de grupos

por AAS

Mensuração

da variação

na variável

dependente

Mensuração

da variação

na variável

dependente

Teste de

significância

entre as

diferenças

Randomização Comparação de Distribuição de Frequências

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3.2 Contextualização do Setor de Ensino Superior Privado

O mercado de ensino superior privado sofreu um forte crescimento em relação à

quantidade de cursos oferecidos, vagas oferecidas, alunos matriculados, alunos concluintes e

quantidade de instituições nas duas últimas décadas (Tabela 6), demonstrados pelos números

apresentados pelo INEP, em um censo realizado no ano de 2012, bem como seu aumento

percentual ao longo dos anos (Tabela 7).

Tabela 6

Evolução do Mercado de IES privadas entre 1991 e 2012

Ano Cursos

Oferecidos

Vagas

Oferecidas Matriculados Concluintes

Quantidade de

Instituições

1991 2.769 354.157 959.320 155.106 -

1992 2.837 363.799 906.126 154.077 -

1993 2.987 377.051 941.152 155.387 -

1994 3.150 396.682 970.584 158.025 -

1995 3.470 432.210 1.059.163 159.450 684

1996 3.666 450.723 1.133.102 160.404 711

1997 3.434 505.377 1.186.433 168.302 689

1998 3.980 589.678 1.321.229 195.401 764

1999 5.384 740.923 1.537.923 212.283 905

2000 6.564 970.655 1.807.219 235.664 1.004

2001 7.754 1.151.994 2.091.529 263.372 1.208

2002 9.147 1.477.733 2.428.258 315.159 1.442

2003 10.791 1.721.520 2.750.652 359.064 1.652

2004 12.382 2.011.929 2.985.405 424.355 1.789

2005 14.216 2.122.619 3.260.967 522.304 1.934

2006 15.552 2.298.493 3.467.342 553.744 2.022

2007 16.892 2.494.682 3.639.413 563.268 2.032

2008 17.947 2.641.099 3.806.091 612.560 2.016

2009 19.599 2.770.797 3.764.728 639.124 2.069

2010 19.756 2.674.855 3.987.424 650.879 2.100

2011 20.587 3.921.942 4.966.374 798.348 2.081

2012 20.961 4.043.096 5.140.312 812.867 2.112

Nota. Entre os anos de 1991 e 1994 não foram encontradas informações acerca da quantidade de instituições.

Fonte: INEP (2012) Tabela 7

Evolução percentual do Mercado de IES privadas entre 1995 e 2012

Ano Cursos

Oferecidos

Vagas

Oferecidas Matriculados Concluintes

Quantidade de

Instituições

De 1995 à 2000 89,2% 124,6% 70,6% 47,8% 46,8%

De 1995 à 2010 469,3% 518,9% 276,5% 308,2% 207,0%

De 1995 à 2012 504,1% 835,4% 385,3% 409,8% 208,8%

Nota. Fonte: INEP (2012)

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Este crescimento se deve principalmente pela crescente demanda de mão de obra

qualificada e de empregos formais (Hoper, 2009). Outro fator importante foi o surgimento dos

financiamentos estudantis, dentre eles o FIES (Fundo de Financiamento Estudantil), PROUNI

(Programa Universidade para Todos) e o Educa Mais Brasil.

No entanto, esse rápido crescimento, bem como as recentes fusões e aquisições

ocorridas no segmento, acirraram a competição entre os grandes players formados nesse

mercado. Além da disputa pela captação de novos alunos pelas IESP, a fidelização e retenção

dos alunos matriculados são de suma importância para os resultados destas organizações.

Diante deste cenário, a gestão do conhecimento dos clientes, neste caso em especial

dos alunos, que apresentam um comportamento distinto dos consumidores de bens e serviços

de outra natureza, que não o serviço educacional, torna-se extremamente importante e útil na

gestão do relacionamento entre as IESP e seus alunos. Em setores onde há forte concorrência,

os pontos de diferenciação se dão nos processos de negócios distintivos.

Cabe ressaltar que os alunos, além de consumidores de um serviço, são indivíduos em

formação e isso traz especificidades importantes para a gestão do relacionamento com a IESP.

Não está no escopo desse trabalho analisar as deturpações derivadas do uso pejorativo da

expressão “aluno cliente”. Ao contrário, o trabalho advoga que a educação não é um produto,

mas sim um serviço complexo.

Potencialmente, um bom processo de CRM, em que há o tratamento do aluno como

cliente, trará profissionalismo na construção do relacionamento entre ele e a IESP, resultando

no aumento da exigência de ambas as partes e na melhoria da qualidade do ensino ofertado.

Nesse contexto, o CRM se apresenta como um recurso para a gestão do relacionamento com o

aluno, visando maximizar os índices de rematrícula (alunos continuarem os estudos ao fim de

cada semestre) e minimizar os índices de evasão (abandono antes do término do curso).

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3.3 Unidade Empírica de Análise

A unidade em questão se trata de uma organização, detentora de diversas marcas do

ramo educacional, mais especificamente do ensino superior privado, presencial e de ensino a

distância (EaD). Esta organização está presente em todas as unidades federativas do Brasil e é

atualmente a líder de mercado no segmento, com mais de 500 mil alunos matriculados até o

final do ano de 2013, em seus mais de 450 polos de ensino a distância e aproximadamente 50

unidades de ensino presencial, totalizando mais de 70 cursos. Trata-se de uma companhia de

capital aberto e tem suas ações negociadas na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São

Paulo (BM&F BOVESPA) desde o ano de 2007, tendo se destacado por sua valorização de

mais de 50% desde então, período no qual o mercado de ações como todo, vem apresentando

tendências de queda (BOVESPA, 2014). A escolha desta organização para a implantação do

modelo proposto se deu por conveniência, devido ao fato do autor fazer parte do quadro de

colaboradores desta organização e por atuar na área responsável pela gestão do

relacionamento com os alunos. Por questões de sigilo de pesquisa, o nome da IESP analisada

e informações mais detalhadas precisam ser preservados.

A organização estudada está dividida em nove vice-presidências, sendo uma delas a

vice-presidência de marketing e vendas, na qual está alocada a gerência de retenção e

fidelização, responsável pela coordenação de CRM e DBM (data base marketing) da

organização. Essa é a equipe responsável pelas campanhas de marketing junto aos alunos,

visando garantir os índices de rematrícula da mesma. É também a equipe responsável pela

implantação, aplicação e gestão do processo de CKM proposto. A gerência é composta pelos

seguintes membros:

Gerente Sênior de Marketing- responsável pela intermediação entre a alta direção da

organização e a coordenação de CRM, bem como pela definição das estratégias de

marketing;

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Coordenador de CRM (o autor) - responsável pela implantação e gerenciamento de

todo o processo de gestão do conhecimento dos clientes (CKM), definição das

estratégias de marketing e processo analítico (data mining);

Coordenador de Atendimento Presencial- responsável pela gestão do canal de

atendimento presencial (face a face) aos alunos. Cliente interno do processo de CKM;

Especialista de Call Center- responsável pela gestão do canal Call Center de

atendimento telefônico ao aluno. Cliente interno do processo de CKM;

Analista de Campanhas e Comunicação- auxilia o coordenador de CRM na gestão das

Regras e Processo de Negócio, canais de CRM Colaborativo, assim como na

elaboração das estratégias de marketing;

Consultor de CRM/DBM (consultoria terceirizada)- interface entre o coordenador de

CRM e o analista de DBM, traduzindo as necessidades do negócio para o linguajar

técnico de bancos de dados;

Coordenador de DBM (consultoria terceirizada)- responsável por garantir os processos

de ETC e consequentemente manutenção do Data Warehouse e ainda pela supervisão

técnica do analista de DBM;

Analista de DBM (consultoria terceirizada)- responsável pela execução dos processos

de ETC e pela operacionalização das estratégias de marketing definidas pela

coordenação de CRM.

Ainda na vice-presidência de marketing e vendas, estão as seguintes gerências: (i)

gerência de captação, responsável pelo processo de captação de candidatos desde o vestibular

até a efetivação de suas matrículas (alunos calouros); (ii) gerência de planejamento comercial,

responsável pelas projeções e metas da gerência de captação; (iii) gerência de produtos e

inteligência de mercado, responsável pelos estudos da concorrência e gestão do portfólio de

produtos da organização; (iv) gerência de BI, responsável pela gestão e divulgação dos

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indicadores da vice-presidência de marketing e vendas e ainda pela interação entre a TI e o

marketing. A gerência de BI exerce papel fundamental no processo de CRM e DBM, uma vez

que faz a interação entre as áreas de negócio e as de tecnologia da informação, garantindo o

funcionamento do fluxo de dados bem como a integridade do Data Warehouse

3.4 Estratégia de coleta de dados

Tal como esquematizado no modelo de gestão do conhecimento dos clientes, proposto

no fim do referencial teórico, a coleta dos dados envolveu a combinação do retorno das

interações com os alunos (conhecimento advindo dos clientes) com dados oriundos dos

sistemas transacionais dos alunos (conhecimento sobre os clientes). Vale ressaltar que esses

sistemas servem de apoio à monitoração de todas as transações, vida acadêmica, dados

cadastrais e financeiros dos alunos. Uma importante característica dos sistemas transacionais

é a alta taxa de atualização dos dados e a ausência de visibilidade histórica (empilhamento).

Em suma, dados gerados pela interação dos alunos com as campanhas de marketing foram

combinados com informações sobre o status de matrícula e rematrícula dos alunos,

permitindo assim mensurar os resultados destas campanhas.

Os índices de matrícula e rematrícula, resultantes dos alunos que participaram das

campanhas (grupo caso), foram comparados com os dos alunos que não participaram das

campanhas (grupo controle). Estes indicadores já estavam previamente implantados nos

sistemas de apoio a tomada de decisão, contemplados no modelo proposto.

3.5 Análise dos dados coletados

Nas referidas campanhas de marketing, os índices de matrícula e rematrícula

representam as variáveis dependentes do experimento. Já as campanhas de marketing

aplicadas são as variáveis independentes do experimento. Esta configuração do experimento

foi representada por meio de tabelas de dupla entrada, chamadas de tabelas de contingência

(Tabela 8).

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Tabela 8

Exemplo de tabela de contingência para o caso de duas variáveis (dupla entrada)

Nota. Fonte: elaborada pelo autor

O teste de χ² (qui-quadrado) (Soares & Siqueira, 2002) foi utilizado para verificar a

dependência ou independência entre as campanhas de marketing e os índices de matrícula e

rematrícula. A dependência entre as campanhas e os índices implica na comprovação da

efetividade das interações com os alunos e a independência na ineficácia da campanha.

Ao final dos testes das referidas campanhas, foi realizada uma análise descritiva destes

resultados em conjunto com indicadores de desempenho da organização (em relação às

rematrículas), auxiliando assim na avaliação de quanto um modelo de gestão do

conhecimento dos clientes pode contribuir nos esforços de marketing de uma organização

para a gestão do relacionamento com seus clientes.

Rematriculou Não Rematriculou TOTAL

Caso "X" alunos "Y" alunos "X" + "Y" alunos

Controle "Z" alunos "W" alunos "Z" + "W" alunos

TOTAL "X" + "Z" alunos "Y" + "W" alunos"X" + "Y" + "Z" + "W"

alunos

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4. ANÁLISE DE DADOS

4.1 Análise descritiva da aplicação do modelo

Conforme proposto, o modelo de gestão do conhecimento dos clientes (Figura 3) foi

implantado e aplicado na IESP em questão no período de Dezembro de 2013 a Setembro de

2014. Ele orientou o gerenciamento de todas as campanhas de incentivo à rematrícula dos

alunos ativos e também dos alunos inativos, termo utilizado para descrever alunos que

evadiram em algum momento anterior ao semestre atual (ex-alunos). A seguir, apresenta-se

uma descrição dos passos realizados para a implantação do modelo.

O primeiro passo, compreendido na etapa do CRM Analítico, foi o mapeamento e

integração das fontes de dados. Nesta etapa, realizada de dezembro de 2013 a fevereiro de

2014, foram mapeados os dados acadêmicos, financeiros, demográficos e cadastrais dos

alunos. Estas fontes de dados encontravam-se fragmentadas em departamentos específicos da

organização, sendo utilizadas de forma isolada por eles. Esse fenômeno é conhecido como

ilhas ou silos de informação. No contexto estudado, perdia-se a possível sinergia entre esses

dados, além de ocasionar abordagens excessivas e algumas vezes inapropriadas aos alunos,

gerando insatisfação por contatos redundantes. Todos estes dados foram capturados,

organizados e integrados em um único repositório de dados, denominado DBM Retenção.

Os dados acadêmicos e financeiros dos alunos são atualizados diariamente pelos

sistemas transacionais das respectivas fontes. Exemplos de informações destas fontes são

frequência diária às aulas, realização de provas e trabalhos, notas de provas, pagamentos de

mensalidades, informações sobre bolsas de estudo, entre outras. Já os dados demográficos e

cadastrais apresentam uma atualização em menor recorrência por se tratarem de informações

que caracterizam o aluno, tais como nome, idade, sexo, localidade de residência, curso, entre

outras. Para tal, os principais recursos utilizados foram as ferramentas de back-end de BI para

a realização dos processos de ETC (Extração, Transformação e Carga) (Figura 5).

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Figura 5. Processo de ETC e Data Warehousing

Nota. Fonte: Elaborado pelo autor.

Ainda na etapa do CRM Analítico, no período de fevereiro de 2014 a maio de 2014,

foi realizada a mineração desses dados (data mining), em busca de informações relevantes

sobre os alunos. Com base nas análises dos dados do DBM Retenção, foi possível a

identificação de padrões que determinaram o engajamento acadêmico e financeiro de cada

aluno, ou seja, o quão empenhado um aluno está em relação à sua vida acadêmica e em quitar

suas dívidas, dando continuidade aos seus estudos.

O conceito de engajamento acadêmico foi criado como forma de contextualizar para o

trabalho o conceito de fidelidade do cliente. Para o cálculo do engajamento acadêmico dos

alunos, foram analisadas as informações referentes à frequência às aulas, realização das

provas, frequência de acesso a conteúdos disponibilizados em ambientes virtuais (portais web)

e ainda, a quantidade de parcelas referentes às mensalidades que se encontravam sem

pagamento. Por meio da análise estatística multivariada destas informações, os alunos foram

classificados conforme seu engajamento acadêmico e financeiro. Alunos altamente engajados

e adimplentes (sem parcelas a pagar) foram considerados indivíduos com maiores

probabilidades de se rematricularem, ao ponto que os de baixo engajamento acadêmico e

inadimplentes (com parcelas a pagar), necessitariam de um maior esforço de marketing para

sua conversão.

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Estas informações foram disponibilizadas, por meio de sistemas de BI denominados

“Portais Analíticos”, à equipe interna de retenção e fidelização, responsável pelas ações de

marketing da organização. Estes portais suportam a combinação do conhecimento gerado na

etapa de mineração dos dados, bem como a internalização deste conhecimento pela equipe. A

estratégia se baseou na diferenciação das ofertas, canais, frequência e teor da abordagem

realizada aos alunos, conforme seu perfil.

O próximo passo, já compreendido na etapa de CRM Operacional, consistiu na

construção das réguas de relacionamento com o aluno. Em suma, trata-se da criação de

workflows (Figura 6), a fim de organizar as ações de relacionamento com os alunos de forma

sequencial e condicional. Sequencial porque distribui ao longo de um período predeterminado

as ações de relacionamento, determinando-se a cadência das abordagens. A forma é também

condicional pelo fato de existirem pontos de decisão, conforme o engajamento acadêmico/

financeiro do aluno e ainda, a resposta dos alunos a cada interação, para então se determinar

qual a ação de marketing mais adequada. As condições, que são representadas por losangos,

estão associadas às diferentes “respostas” por parte dos alunos no que se refere às ações de

marketing realizadas, influenciando assim na ação subsequente (Figura 6).

Figura 6- Recorte do Workflow de relacionamento com alunos para o processo de rematrícula

Nota. Fonte: elaborado pelo autor

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Convém destacar que foram realizadas mais de 30 ações de marketing distintas para

cada modalidade de ensino (Presencial e EaD), para cada tipo de aluno (ativos e inativos) e

para cada momento ao decorrer do período de rematrícula. Multiplicando-se as dimensões

descritas, totalizam-se quase 130 ações de marketing distintas para cada “onda” de ações, tais

como mostrado na Tabela 9:

Tabela 9

Lista de ações de marketing para ensino presencial- onda 1

Alunos Ativos Alunos Inativos

Adimplentes

Engajados

SMS 1A SMS 2ª

E-Mail 1A E-Mail 2ª

Torpedo de Voz 1A Torpedo de Voz 2ª

Mensagem Website 1A Mensagem Website 2ª

Abordagem Call Center 1A Abordagem Call Center 2A

Abordagem Presencial 1A Abordagem Presencial 2A

Post Facebook 1A Post Facebook 2ª

Mala Direta 1A Mala Direta 2ª

Não

Engajados

SMS 1B SMS 2B

E-Mail 1B E-Mail 2B

Torpedo de Voz 1B Torpedo de Voz 2B

Mensagem Website 1B Mensagem Website 2B

Abordagem Call Center 1B Abordagem Call Center 2B

Abordagem Presencial 1B Abordagem Presencial 2B

Post Facebook 1B Post Facebook 2B

Mala Direta 1B Mala Direta 2B

Inadimplentes

Engajados

SMS 1C SMS 2C

E-Mail 1C E-Mail 2C

Torpedo de Voz 1C Torpedo de Voz 2C

Mensagem Website 1C Mensagem Website 2C

Abordagem Call Center 1C Abordagem Call Center 2C

Abordagem Presencial 1C Abordagem Presencial 2C

Post Facebook 1C Post Facebook 2C

Mala Direta 1C Mala Direta 2C

Não

Engajados

SMS 1D SMS 2D

E-Mail 1D E-Mail 2D

Torpedo de Voz 1D Torpedo de Voz 2D

Mensagem Website 1D Mensagem Website 2D

Abordagem Call Center 1D Abordagem Call Center 2D

Abordagem Presencial 1D Abordagem Presencial 2D

Post Facebook 1D Post Facebook 2D

Mala Direta 1D Mala Direta 2D

Nota. Abordagens realizadas em uma das ondas de ações de marketing. Fonte: elaborado pelo autor

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O conteúdo e teor das comunicações realizadas por meio das abordagens (Tabela 9)

variaram conforme o perfil do aluno, composto por suas características demográficas,

cadastrais, acadêmicas, financeiras e ainda pela sua resposta a cada interação realizada

(Tabela 10):

Tabela 10

Exemplos de comunicações por perfil do aluno

Nota. Fonte: elaborado pelo autor

No passo seguinte, obedecendo ao workflow (Figura 6) supracitado, foram realizadas

as ações de marketing por meio dos canais de comunicação com os alunos. Foram utilizados

os canais Call Center e Atendimento Presencial (com o apoio dos SCBIC/ CBR), pertencentes

ao CRM Operacional e também os canais Portais Web, Redes Sociais e principalmente o

Canal de

AbordagemTipo Aluno Perfil Aluno Teor da Comunicação

E-Mail AtivoNão Engajado +

Inadimplente

"Renove sua matrícula com condições especiais! Negocie seus

débitos para contunuar estudando. Clique em QUERO INVERSTIR

EM MEU FUTURO e entraremos em contato com você"

SMS AtivoEngajado +

Inadimplente

"Você possui mensalidades a pagar. Responda SIM e entraremos em

contato com uma oferta especial para quitação e renovação de sua

matrícula"

Torpedo de

VozAtivo

Engajado +

Adimplente

" Você possui documentos pendentes a serem entregues. Consulte a

lista de documentos no portal acadêmico e regularize a sua matrícula

o quanto antes"

Mensagem

Web SiteAtivo

Não Engajado +

Adimplente

"Notamos que há 16 dias você não acessa o portal acadêmico. Entre

hoje para acompanhar novos conteúdos e atividades do seu curso"

Mala Direta AtivoNão Engajado +

Inadimplente

"Você sabia que um profissional ganha em média 3 vezes mais ao

concluir um curso superior? Não desista do seu sonho. Regularize

suas mensalidades e garanta já sua matrícula para o próximo

semestre!"

SMS Inativo Indimplente

"Você gostaria de quitar suas mensalidades atrasadas e voltar a

estudar conosco? Responda SIM para receber uma oferta especial

para quitação"

E-Mail Inativo Adimplente

"Investir em você é fazer a escolha certa. Volte estudar agora e

construa uma carreira de sucesso. Clique em QUERO VOLTAR À

ESTUDAR e entraremos em contato com você"

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Marketing Direto (SMS, e-mail e malas diretas), pertencentes ao CRM Colaborativo. As

interações aconteceram de forma concatenada, de acordo com o perfil de cada aluno e de suas

respostas a cada interação (Figura 6). Além do teor da comunicação, alternaram-se também a

frequência de abordagem e o canal utilizado. Todas as interações foram registradas e o

resultado delas (conhecimento advindo do aluno) enviado novamente ao DBM Retenção,

para que fossem analisadas e então determinada a próxima interação com cada aluno.

O total de alunos abordados nas campanhas, somando-se os ativos e inativos, totalizou

aproximadamente 600 mil alunos. Deste universo, foram retirados, por meio de amostragem

aleatória, grupos de controle no intuito de se mensurar o efeito das ações de marketing,

desconsiderando os alunos que se rematricularam naturalmente, sem a influência das ações.

Isso foi possível pelo fato dos alunos dos grupos de controle não terem recebido nenhum tipo

de abordagem por parte da organização, rematriculando-se de forma espontânea. Espera-se,

na etapa de análise quantitativa do modelo, que os alunos deste grupo apresentem um

percentual de rematrículas inferior aos alunos que forem impactados pelas ações de

marketing, sendo a diferença entre estes percentuais o resultado líquido das ações de

marketing apoiadas pelo modelo de gestão do conhecimento de clientes para os índices de

rematrícula. A soma dos grupos de controle totalizou aproximadamente 17 mil alunos.

4.2 Análise quantitativa do modelo

Para a análise quantitativa do modelo, mensuraram-se os índices de rematrícula dos

alunos para o 2º semestre de 2014. As rematrículas ocorreram no período de Junho à

Setembro de 2014, nas modalidades de ensinos presencial e EaD da organização. Estas

campanhas foram denominadas “campanhas de rematrícula”.

Foram mensurados ainda, os índices de ex-alunos, evadidos em semestres anteriores,

que voltaram a estudar, reativando suas matrículas junto à organização. Para este conjunto de

campanhas de marketing, foi dado o nome de “campanhas de winback”.

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Para verificação da efetividade das referidas campanhas, conforme descrito no capítulo

3 da presente dissertação, foi criado um cenário de contraste entre dois grupos: caso (alunos

expostos às campanhas de marketing) e o controle (alunos não expostos às campanhas de

marketing). Foi utilizado o teste χ² (qui-quadrado) para verificação de dependência entre as

variáveis dependentes e independentes (Soares & Siqueira, 2002), ou seja, se os percentuais

de matriculas (winback) e rematrículas são influenciados pelo fato do aluno receber ou não

abordagens de marketing da organização, com base no modelo proposto. As hipóteses que

foram verificadas pelo teste foram as seguintes:

: Percentuais Grupo Caso = Percentuais Grupo Controle

: Percentuais Grupo Caso ≠ Percentuais Grupo Controle

Os resultados serão apresentados de forma segmentada, por modalidade de ensino

(presencial, EaD 1 e EaD 2) e por tipo de aluno (alunos ativos nas rematrículas e ex-alunos

nas matrículas de winback), configurando-se seis frentes distintas. Essa segmentação se

justifica, no que tange a modalidade de ensino, pelo fato do modelo acadêmico, modelo de

negócio e perfil dos alunos entre o ensino presencial, EaD 1 e EaD 2 (diferentes marcas do

grupo da IESP para o EaD) serem muito distintos. Da mesma forma, justifica-se o perfil por

tipo de aluno, uma vez que o aluno ativo se trata de um “cliente” atual e o ex-aluno um “ex-

cliente”.

Tabela 11

Resultados de matrícula e rematrícula para ensino presencial

Nota. Fonte: dados da pesquisa

Tabela 12

Resultados de matrícula e rematrícula para ensino EaD 1

Nota. Fonte: dados da pesquisa

Público Matriculou % Matrícula Público Rematriculou % Rematrícula

Caso 54.206 8.388 15,47% 179.152 148.226 82,74%

Controle 2.235 373 16,69% 1.844 1.279 69,36%

Presencial- Alunos AtivosPresencial- Ex-Alunos

Público Rematriculou % Rematrícula Público Rematriculou % Rematrícula

Caso 83.781 7.043 8,41% 303.781 257.958 84,92%

Controle 2.936 242 8,24% 6.000 4.671 77,85%

EaD 1- Ex-Alunos EaD 1- Alunos Ativos

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Tabela 13

Resultados de matrícula e rematrícula para ensino EaD 2

Nota. Fonte: dados da pesquisa

As campanhas de marketing para as três modalidades de ensino (Tabelas 11, 12 e 13),

apresentaram resultados similares no que tange o tipo de aluno (ex-alunos e alunos ativos). No

cenário em que se abordaram ex-alunos, nota-se que o fato dos alunos terem sido impactados

pelas campanhas de marketing, não surtiu efeito significativo nos percentuais de matrículas

(Tabelas 11, 12 e 13), que veio a se confirmar por meio do teste χ² (qui-quadrado) para

verificação de dependência (Tabela 14). Para valores-p maiores que 0,05, não se rejeita

(Tabela 14), ou seja, os percentuais verificados (caso e controle) não são estatisticamente

diferentes. Em contrapartida, quando se tratam dos alunos ativos, nota-se que as campanhas

de marketing surtiram efeito nos percentuais de rematrícula do grupo caso (Tabelas 11, 12 e

13), comprovado estatisticamente pelo teste de χ² (qui-quadrado) (Tabela 14), uma vez que os

valores-p apresentaram valores menores ou iguais a 0,05, rejeitando-se , ou seja, os

percentuais apresentados pelos alunos abordados pelas ações de marketing (caso) e pelos

alunos não abordados (controle) são estatisticamente diferentes.

Tabela 14

Resultados das estatísticas de teste χ² (qui-quadrado) para verificação de dependência

Nota. O símbolo * indica diferença significativa

entre as proporções. Fonte: dados da pesquisa

Público Rematriculou % Rematrícula Público Rematriculou % Rematrícula

Caso 46.696 3.788 8,11% 75.954 57.222 75,34%

Controle 1.923 151 7,85% 2.156 1.269 58,86%

EaD 2- Ex-Alunos EaD 2- Alunos Ativos

Ex-Alunos 0,19

Ativos 0,00*

Ex-Alunos 0,77

Ativos 0,00*

Ex-Alunos 0,71

Ativos 0,00*

EaD 1

EaD 2

Valor PModalidade

de EnsinoTipo de Aluno

Presencial

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Em suma, em todas as campanhas que envolveram ex-alunos, as diferenças entre as

proporções não foram estatisticamente significativas (valor p > 0,05). Esses resultados

denotam que as campanhas de marketing para que ex-alunos voltem a estudar não surtiram

efeito nos indicadores (Tabela 14). Em contrapartida, todas as campanhas que envolveram

alunos ativos, apresentaram diferença estatisticamente significativa (valor p ≤ 0,05) entre os

alunos que foram abordados pelas campanhas de marketing e os que não foram (Tabela 14),

ou seja, os alunos ativos que foram incentivados a renovar suas matrículas, por meio das

campanhas de marketing da organização, apresentaram um maior percentual de rematrículas,

em relação aos que não foram incentivados por meio das campanhas de marketing.

O fato de as campanhas de marketing direcionadas aos ex-alunos não terem obtido o

mesmo êxito das direcionadas para os alunos ativos, reforça a importância da gestão do

conhecimento dos clientes na gestão do relacionamento com os mesmos, pois em se tratando

dos alunos ativos, foi possível monitorar sua rotina acadêmica, de pagamento de mensalidades

e satisfação com serviços prestados, além dos dados demográficos e cadastrais. Em

contrapartida, para os ex-alunos, as campanhas foram elaboradas e geridas baseando-se

somente em dados demográficos e cadastrais. O fato de se ter uma quantidade e variedade

maior de dados, informações e consequentemente conhecimento sobre os alunos ativos em

detrimento dos ex-alunos tornou as campanhas de marketing mais eficientes e bem sucedidas

para alunos ativos, visto que as mesmas são mais intensas no uso do conhecimento do cliente

em suas elaborações e execuções. Em suma, a disponibilidade de um maior repertório de

dados sobre os alunos facilitou a abordagem mercadológica, implicando em maior êxito para

as campanhas.

Os alunos ativos da faculdade EaD 2 da IESP que foram abordados apresentaram o

maior ganho percentual em relação ao grupo de controle. Foram aproximadamente 16 p.p.

(pontos percentuais) de diferença em relação ao grupo de controle, que representa um

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incremento de 28% no percentual de rematrículas para esta modalidade (Tabela 13). Em

seguida, os alunos ativos do ensino presencial apresentaram uma diferença de

aproximadamente 13 p.p., representando um incremento de 19,29% nas rematrículas (Tabela

11). Os alunos ativos da faculdade EaD 1 da IESP apresentaram uma diferença de 7 p.p. em

relação ao grupo de controle, representando um incremento de 9,1% nos índices de

rematrícula (Tabela 12).

Por meio dos índices de incremento no volume de rematrículas, devido às ações de

marketing, foi possível mensurar o retorno sobre o investimento (ROI) destas ações, no

processo de rematrículas observado. Para tal, foram calculados o Investimento em

Marketing e o Retorno Financeiro.

Para o cálculo do Investimento em Marketing, foram considerados os seguintes

valores: (i) custos salariais e encargos trabalhistas da equipe responsável pelas ações de

marketing durante o período de implantação e aplicação do modelo; (ii) custos de call center

durante o período das campanhas; (iii) custos com atendimento presencial durante o período

das campanhas ; (iv) custos com ações de marketing direto (e-mails e mensagens para celular)

no período das campanhas. A soma desses custos representa o total investido em marketing

para o processo de rematrícula.

Para o cálculo do Retorno Financeiro proporcionado pelas ações de marketing, foi

necessário se obter a quantidade incremental de alunos rematriculados, em decorrência das

ações de marketing realizadas. Esta quantidade foi obtida subtraindo-se do total de alunos

rematriculados (cenário caso), o total de alunos que se rematriculariam no cenário controle. O

total de alunos que se rematriculariam no cenário controle é dado pelo percentual do cenário

do grupo de controle sobre o público potencial (Tabelas 15, 16 e 17).

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Tabela 15

Alunos incrementais pelas campanhas de marketing- Ensino Presencial

Nota. O símbolo * denota o total de alunos que se rematriculariam caso não

ocorressem as ações de marketing (cenário controle). Fonte: dados da pesquisa.

Tabela 16

Alunos incrementais pelas campanhas de marketing- Ensino EaD 1

Nota. O símbolo * denota o total de alunos que se rematriculariam caso não

ocorressem as ações de marketing (cenário controle). Fonte: dados da pesquisa.

Tabela 17

Alunos incrementais pelas campanhas de marketing- Ensino EaD 2

Nota. O símbolo * denota o total de alunos que se rematriculariam caso não

ocorressem as ações de marketing (cenário controle). Fonte: dados da pesquisa.

De posse do total de alunos incrementais para cada modalidade, calculou-se o produto

destes totais pelo respectivo ticket médio (valor médio da mensalidade) de cada uma das

modalidades de ensino (Presencial, EaD 1 e EaD 2), em um período de seis meses (somatório

das seis mensalidades). O valor resultante desta multiplicação foi dividido pelo total investido

em marketing, conforme descrito anteriormente. Não houve investimentos adicionais em

tecnologia da informação (TI) por conta dessa iniciativa de CKM, pelo fato da organização

estudada já possuir, a priori, toda a estrutura tecnológica necessária. Esta estrutura já era

utilizada em outros processos da organização e foi aproveitada para a implantação do modelo

de CKM. Os valores do investimento em marketing e do retorno financeiro não puderam ser

Cenário Caso Cenário Controle Incremento

Público Potencial

% Rematrícula 82,74% 69,36% 13,38%

Rematriculados 148.226 124.260* 23.966

Presencial- Alunos Ativos

179.152

Cenário Caso Cenário Controle Incremento

Público Potencial

% Rematrícula 84,92% 77,85% 7,07%

Rematriculados 257.958 236.494* 21.464

EaD 1- Alunos Ativos

303.781

Cenário Caso Cenário Controle Incremento

Público Potencial

% Rematrícula 75,34% 58,86% 16,48%

Rematriculados 57.222 44.706* 12.516

EaD 2- Alunos Ativos

75.954

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apresentados por motivo de sigilo de pesquisa. Esta razão representa o ROI das ações de

marketing pesquisadas.

O resultado obtido foi de que para cada R$ 1,00 investido em marketing, obteve-se um

expressivo retorno financeiro de R$ 148,00. Vale ressaltar que foi considerado como retorno

financeiro, o valor bruto da mensalidade paga pelos alunos, desconsiderando os custos para

prestação do serviço de ensino.

Os resultados apresentados comprovam que o modelo proposto trouxe retornos

quantitativos, no sentido que incrementou os percentuais de rematrículas e ainda os resultados

financeiros da organização. As marcas obtidas pela gerência responsável pelo processo de

matrículas e rematrículas, com o auxílio do modelo proposto, atingiram todas as metas

acordadas com a direção da organização e seus investidores. Portanto, além de atender os

anseios de seus alunos, a IESP atendeu também os anseios dos demais stakeholders

envolvidos.

Convém destacar também resultados qualitativos das práticas de gestão do

conhecimento do cliente. Ao se praticar uma gestão do relacionamento com os alunos de

forma proativa e customizada, melhora-se a percepção dos alunos em relação à imagem da

organização, como sendo uma instituição que se preocupa com a vida acadêmica de seus

alunos, que adota uma comunicação mais personalizada e que oferece produtos e serviços

especialmente elaborados para cada indivíduo. Há também os ganhos relacionados à

qualidade e assertividade nas tomadas de decisão dos gestores de marketing e de

relacionamento com os alunos, devido ao modelo ser analiticamente orientado, baseando-se

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em fatos e dados. Por fim, há os ganhos de eficiência na implantação, execução e mensuração

das campanhas e ações de marketing geridas pelo modelo.

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5. CONCLUSÕES

De fato, a paridade entre os produtos e serviços fornecidos pelas empresas têm

acirrado cada vez mais a competição entre elas, dando ao cliente um papel de extrema

importância. Conhecer e entender os anseios dos próprios clientes e ainda os da concorrência

tornaram-se cruciais para a sobrevivência das organizações nesse cenário de competição

global sem fronteiras claramente definidas. Para isso, é necessário se relacionar de forma

efetiva e adequada com seus clientes bem como gerir as informações e o conhecimento sobre

eles. Esse cenário torna evidente a utilidade do processo sistemático de se gerenciar as

interações entre as organizações e seus clientes, oportunizada pela aplicação do CRM.

O fato do processo de CRM ser alicerçado na orientação para relacionamentos,

proveniente da filosofia do marketing de relacionamento e também na gestão do

conhecimento dos clientes, proporcionada pela captura, consolidação de dados, análise das

informações e distribuição do conhecimento gerado, faz com que o CRM a GC apresentem

um considerável potencial sinérgico. Conforme constatado, apesar da relação intuitiva entre

ambos os temas, pesquisas dessas interfaces são escassas e as existentes, carentes de estudos

empíricos que comprovem sua eficácia. A presente dissertação traz uma contribuição teórica

significativa, visto que o modelo de CKM proposto evidencia e integra as interfaces teóricas

entre a gestão do relacionamento com os clientes (CRM), os processos da espiral do

conhecimento e as ferramentas de gestão do conhecimento. Adicionalmente, o modelo

proposto é empiricamente avaliado para atestar sua eficácia.

O modelo proposto descreve de maneira abrangente todas as etapas do processo, desde

a obtenção e integração dos dados dos clientes, processamento e análise destes dados, ações e

interações com os clientes, até por fim, o retorno destas interações. Estas etapas foram

organizadas de forma iterativa, criando-se um processo que se retroalimenta, gerando

aprendizado contínuo sobre os clientes. Outra importante contribuição do modelo se refere à

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minimização dos riscos de implantação do CRM, uma vez que a GC supre a pouca

estruturação apresentada pelo CRM. Em contrapartida, o CRM provê alinhamento da GC aos

processos de negócio focados no cliente.

O modelo pode ser utilizado por organizações na orientação da implantação ou

evolução de projetos de CRM, tal como foi utilizado na IESP estudada. Para organizações que

já possuem uma infraestrutura de ferramentas de GC, o modelo pode ser ainda mais útil, pois

especifica as atividades de CRM que podem ser suportadas por ferramentas de GC. Na

organização estudada, foram aproveitadas a estrutura e ferramentas de GC existentes, além da

aquisição de novas ferramentas, necessárias para a implantação do modelo.

De fato, a interdisciplinaridade da GC constitui um fator favorável para diálogo entre

profissionais de diversas especialidades como profissionais de TI, gestores de RH (Recursos

Humanos), bibliotecários, administradores, engenheiros de produção, entre tantos outros. De

maneira particular, o aspecto processual do modelo (etapas do CKM) facilitou a interação

entre os profissionais de TI e do Marketing na especificação conjunta do projeto de

implantação do referido modelo na IESP em questão. Nos anos 80 e 90, as interações entre

profissionais de TI e Marketing estavam limitadas ao desenvolvimento de sistemas de mala

direta com correspondências personalizadas geradas a partir da base de clientes bem como ao

desenvolvimento de sistemas comerciais de automação de vendas. Com a evolução

tecnológica, as possibilidades de sinergia entre CRM e GC migraram do nível operacional

para os níveis tático e estratégico, requerendo contudo, o auxílio de modelos para ampliar os

benefícios advindos da implementação.

Importantes ganhos foram obtidos durante o processo de implantação do modelo

proposto na IESP estudada. No processo de data warehousing, compreendido na etapa do

CRM Analítico, fontes de dados de diferentes áreas da organização foram mapeadas e

integradas. Fontes de dados, que antes estavam fragmentas e isoladas nos respectivos

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departamentos, foram reunidas em um banco de dados único, gerando sinergia e uma visão

unificada dos alunos. Os principais ganhos dessa unificação foram a combinação das

diferentes fontes de dados na criação de conhecimento sobre os alunos e ainda a melhora na

gestão dos contatos com eles, evitando abordagens excessivas e inapropriadas, que geravam

insatisfação devido aos contatos redundantes.

Ainda na etapa do CRM Analítico, durante o processo de mineração de dados (Data

Mining), foi criado um novo conceito na organização, denominado “engajamento acadêmico”.

Em suma, trata-se de um score que quantifica cada aluno em uma escala numérica,

diferenciando-os entre alunos com alto, médio e baixo engajamento acadêmico. Essa

classificação, em conjunto com informações sobre o comportamento de pagamento das

mensalidades (conhecimento sobre os alunos) e a satisfação com os serviços prestados

(conhecimento advindo do aluno), disponibilizadas à equipe responsável pelas ações de

marketing da organização por meio dos sistemas de apoio a tomada de decisão, permitiram

diferenciação nas ações de marketing no incentivo a rematrícula. Vale ressaltar que essa

estratégia só pode ser adotada para os alunos ativos. Os ex-alunos, que também foram alvo

das ações de marketing, não possuem dados atualizados de comportamento acadêmico,

pagamento de mensalidades e satisfação com serviços prestados. As ações para os ex-alunos

foram elaboradas por meio de seus dados demográficos e cadastrais, da época em que ainda

eram alunos ativos.

Outro ganho do processo de implantação do modelo ocorreu na etapa do CRM

Operacional, mais especificamente no mapeamento, documentação e automatização dos

processos e regras de negócio. Foi realizada a externalização de diversos processos e regras de

negócios (conhecimento tácito), por meio de entrevistas e reuniões junto às pessoas detentoras

do conhecimento sobre eles, para a criação de mapas de processos e posteriormente

fluxogramas (conhecimento explícito), utilizados na automatização dos referidos processos e

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regras de negócio. Tal fato, além de mitigar os erros por falhas humanas, minimizou o

trabalho manual das pessoas envolvidas, que passaram a dedicar mais tempo às atividades

analíticas, ao se liberarem das atividades operacionais decorrentes do trabalho manual, antes

necessário, na execução das campanhas de marketing.

A interação junto aos alunos foi realizada por meio do CRM Operacional, com o call

center e o atendimento presencial aos alunos e ainda pelos canais colaborativos, na etapa do

CRM Colaborativo, por meio dos portais web das IESP da organização, fan page no

Facebook, e-mails e mensagens de celular. As ações foram coordenadas, baseando-se nos

processos e regras de negócio automatizadas que, por sua vez, basearam-se na etapa anterior

de CRM Analítico. As ações de marketing, por meio dos canais colaborativos, além de levar

informações relevantes aos alunos, no sentido de incentivá-los a se rematricular e continuar

seus estudos, capturaram o retorno das interações com eles (conhecimento advindo dos

alunos) , direcionando as ações subsequentes. Esse retorno tornou-se uma das fontes de dados

do processo de captura do CRM Analítico, no processo de data warehousing. Portanto, esse

trabalho evidenciou que a adoção de CRM que vise aprimorar a gestão do conhecimento

sobre, para e advindo do cliente requer não só a adequação da infraestrutura tecnológica, mas

principalmente a revisão de processos gerenciais e operacionais de relacionamento com o

cliente.

Foram abordados mais de seiscentos mil alunos nas campanhas de marketing, geridas

pelo modelo proposto, totalizando aproximadamente cento e trinta ações de marketing

distintas. Esse total de alunos foi classificado em seis diferentes frentes, conforme o tipo de

aluno (aluno ativo e ex-aluno) e a modalidade de ensino (EaD 1 e EaD 2). As três frentes que

envolveram alunos ativos apresentaram resultados estatisticamente significativos, quando

comparadas com seus respectivos grupo de controle. Em contrapartida, as três frentes que

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envolveram ex-alunos não apresentaram resultados estatisticamente significativos, quando

comparadas aos grupos de controle.

Estes resultados possibilitam a importante constatação de que o uso intensivo de dados

e informações na obtenção de conhecimento dos alunos, para o suporte ao relacionamento

com os mesmos, gera diferenciais na percepção dos alunos frente à organização. Ao se

abordar os alunos de forma segmentada e com a oferta de produtos e serviços adequados ao

perfil de cada um, gerou-se um incremento no percentual de rematrículas dos alunos. O

monitoramento da rotina acadêmica, do pagamento de mensalidades e da satisfação com

serviços prestados, das interações entre alunos e organização (conhecimento advindo do

cliente), além dos dados demográficos e cadastrais, possibilitou à equipe responsável pelas

ações de marketing uma abordagem diferenciada para cada perfil de aluno. Já para os ex-

alunos, pelo fato de terem pouco ou nenhum relacionamento com a organização, as ações

foram elaboradas apenas com base em dados demográficos e cadastrais. Apesar da

importância deste tipo de dado para as atividades operacionais, dados de tal natureza

possibilitam uma visão relativamente limitada, quando comparados aos dados e informações

chamadas de “comportamentais”.

Os alunos ativos abordados pelas ações de marketing, geridas pelo modelo proposto,

geraram incrementos de aproximadamente 7 p.p. para o EaD 1, 13 p.p. para o ensino

presencial e de 16 p.p. para o EaD 2. O retorno sobre o investimento (ROI) das ações de

marketing, que em suma, denota qual o retorno financeiro sobre os gastos com marketing,

apresentou um valor de R$ 148,00 para cada R$ 1,00 investido. São números que além de

responder o objetivo da presente pesquisa de quanto um modelo de gestão do conhecimento

dos clientes pode contribuir nos esforços de marketing de uma organização, mostram o quão

rentável é a presente abordagem gerencial Além dos ganhos quantitativos, vale ressaltar

também os ganhos qualitativos no que tange a percepção dos alunos em relação à imagem da

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organização como uma instituição preocupada com o desenvolvimento acadêmico dos alunos

e que oferece produtos e serviços “feitos sob medida” para cada um.

Uma das limitações da presente pesquisa é de não ser possível mensurar

quantitativamente e de forma direta a percepção dos alunos em relação à organização. O

ganho qualitativo citado foi inferido, baseando-se nos resultados quantitativos nos percentuais

de rematrícula. Uma sugestão de trabalhos futuros seria elaborar instrumentos de mensuração

para então quantificar como o uso do CKM contribuiu com a satisfação dos alunos com a

instituição e a subsequente propensão à lealdade. Não se pode inferir que os alunos que não se

rematricularam estão necessariamente insatisfeitos, pois existem questões tais como

conveniência, capacidade financeira do aluno e contexto econômico, que estão fora do escopo

da pesquisa.

Outra limitação, não só da presente pesquisa, mas de projetos e modelos de gestão do

dessa espécie como um todo é sua restrição de aplicação devido aos custos de implantação. O

alto custo de implantação é derivado da necessidade da obtenção de ferramentas tecnológicas

e mão de obra altamente especializada e multidisciplinar. Consequentemente, dificulta-se a

implantação desses modelos em médias e pequenas empresas. Pesquisas no sentido de

viabilizar modelos de gestão do conhecimento dos clientes para pequenas e médias empresas

seriam extremamente oportunas e de grande contribuição teórica e prática. Adicionalmente, o

modelo de CKM proposto nesse trabalho poderia ser avaliado em organizações de grande

porte de outros setores intensivos em relacionamento com clientes, tais como

telecomunicações, varejo eletrônico (e-commerce), redes de hotelaria, instituições financeiras,

planos de saúde, entre outros.

Vale ressaltar que a análise realizada entre os grupos “caso” e “controle”, na qual

foram constatadas as diferenças percentuais e ROI, consistiu na comparação entre alunos que

receberam uma abordagem de marketing gerida pelo modelo proposto e de alunos que não

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receberam nenhuma abordagem de marketing. Este ponto fica como outra limitação da

presente pesquisa e também como uma oportunidade de futuras pesquisas que comparem as

diferenças entre clientes abordados por ações de marketing de relacionamento, clientes não

abordados, e também, clientes abordados por ações de marketing genéricas (marketing de

massa que não utilizam o conhecimento mais elaborado dos clientes em sua concepção).

Por fim, as várias constatações das vantagens e ganhos obtidos com a utilização do

modelo proposto, comprovam a correlação positiva entre a utilização extensiva de dados em

modelos de gestão analiticamente orientados e o desempenho do negócio como um todo. No

entanto, esse tipo de prática, além de quase exclusiva das grandes organizações, por conta dos

investimentos em infraestrutura e existência de conhecimento especializada em análise de

dados, quando empregadas, se dá de forma restrita, limitando-se a funções de apoio. Elas

poderiam e deveriam ser utilizadas em todos os processos da organização. A organização

pesquisada, apesar de utilizá-las, ainda tem um longo caminho a percorrer, no sentido usufruir

de todo o potencial do modelo de CKM proposto.

Para se competir com ferramentas analíticas, são necessárias mudanças na cultura,

processos e habilidades de todas as áreas e pessoas envolvidas com a organização, por meio

do patrocínio da alta administração. Ter um corpo executivo que além de reconhecer o valor

desse modelo de gestão, realmente acredite e o adote como filosofia organizacional é

fundamental para seu êxito. Porém, esse é também o principal desafio encontrado. As

organizações que não se atentarem a isso, estarão deixando de ver e ouvir o que o mundo à

sua volta, incluindo seus clientes, estão lhe “mostrando e dizendo”. Em tempos de Big Data,

Social CRM e toda variedade de dados e informações trafegadas em todo o universo digital,

explorar e gerir as informações contidas em suas próprias bases de dados parece algo trivial e

básico a ser feito pelas organizações, mas que em sua maioria não o fazem. Os clientes estão

se cansando ao serem torpedeados pelas organizações com um estilo de comunicação

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impessoal e por serviços massificados. Para conhecer clientes em larga escala e oferecer um

atendimento personalizado, cada vez mais a Tecnologia da Informação se torna um

sustentáculo do Marketing de Relacionamento. É uma questão de escolha: inovar e sobreviver

ou ignorar as mudanças e sucumbir à concorrência e a dinâmica do mercado.

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