ponencia del p. pablo suess
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8/18/2019 Ponencia Del P. Pablo Suess
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COMUNICAÇÃO INTERCULTURAL DA FÉ1
Discernimentos e perspectivas no horizontea evan!e"iza#$o os povos in%!enas
Paulo Suess, Brasil1. Culturas marcam diferenças simbólicas, ideológicas, materiais e, às vezes,
também fronteiras geográficas entre povos e grupos sociais. Essas diferenças e
fronteiras nem sempre so bem n!tidas. E"istem fai"as de transiço cultural #ue
permitem uma comunicaço parcial ou plena entre os respectivos interlocutores$ %
pergunta aponta para uma dificuldade e para uma possibilidade. % dificuldade é a
comunicaço entre diferentes, e a possibilidade é #ue os diferentes no se&am
absolutamente diferentes e #ue e"istam pontos comuns #ue admitam falar de
semel'anças, fazer comparaç(es ou até afirmar uma compreenso correta, mesmoem se tratando de territórios culturais diferentes. % rigor, na comunicaço sempre
se tem por tema a comunicaço entre diferentes, mesmo no interior de uma
mesma cultura.
&' E"ementos antropo"(!icos
). *a vida real distinguimos entre o absolutamente diferente e o diferente. +essoas
'umanas entre si so diferentes, porém no absolutamente diferentes. Entre
culturas absolutamente diferentes no e"istiria a possibilidade de comparaço, de
compreenso rec!proca ou de comunicaço. diferente pode-se configurar pela
diferença de signos, de significados ou de signos e significados ao mesmo tempo.
+ara os gregos a cruz significou loucura/, para os cristos poder de 0eus/ 1Co
1,123. *esse caso e"iste uma identidade do signo cruz3, mas uma radical diferença
do significado loucura " poder de 0eus3. %pesar da diferença, 4o +aulo conseguiu
comunicar-se com os gregos.
5. 6osé de %nc'ieta, por e"emplo, no encontrou entre os 7upinambá a palavra
pecado. 4em pecado no e"iste a possibilidade de falar em salvaço. % 8boa-nova8pressup(e a 8má not!cia8. *a comparaço de l!nguas e universos simbólicos
diferentes sempre 8faltam8 e 8sobram8 palavras e signos #ue complicam a
comunicaço. E"iste, nesses casos, a possibilidade de introduzir na respectiva
cultura novos signos ou construir semel'anças. 7ambém nesse caso, a comunicaço
no é uma impossibilidade, mas um longo camin'o de m9ltiplos aprendizados.
estabelecimento e"terno de e#uival:ncias tornaria esse aprendizado desnecessário.
1 Este te"to foi apresentado no ;;; 4impósio uatemala,)?.1@.)@@A, convocado e organizado pelo Consel'o Episcopal
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4eria a negaço da diferença e a falta de recon'ecimento da alteridade. 4ignos
interculturalmente iguais no dispensam esse aprendizado, por#ue o significado
pode ser sempre diferente. *a apro"imaço à cultura do outro precisamos,
didaticamente, partir da possibilidade de #ue tudo #ue parece semel'ante pode ter
um significado muito diferente e, ao mesmo tempo, da possibilidade de consensossobrepostos/.
H. +ara caracterizar o mal-entendido, #uer dizer, o blo#ueio da comunicaço
intercultural, pode servir de e"emplo a 'istória de um missionário #ue c'egou com
seu gato numa aldeia ind!gena. 4egundo a crença da#uele povo, apenas bru"os
tin'am gatos, #ue usavam, para roubar a alma das pessoas en#uanto dormiam.
missionário com seu gato foi logo identificado como bru"o. *o dia seguinte à sua
c'egada, reuniu-se com o povo da aldeia. +erguntado sobre o ob&etivo de sua
vinda, o missionário declarou #ue veio para con#uistar a alma do povo para Cristo.+or algum tempo, obviamente, esse missionário correu risco de vida.
*o meio dos códigos próprios de cada cultura se encontram códigos comuns a
outras culturas, #ue permitem uma comunicaço intercultural inicial, porém
precária. % diversidade de linguagens e de universos simbólicos é atravessada pela
unidade do g:nero 'umano. Iuest(es essenciais comuns em torno da vida e da
morte, da conviv:ncia e da &ustiça, do indiv!duo e da comunidade encontram nas
diversas culturas estratégias diferentes para resolver problemas semel'antes. Entre
as culturas, #ue so pro&etos de vida, e"istem no só a semel'ança de problemasde fundo, mas também raz(es semel'antes para encamin'ar suas soluç(es.
?. % refle"o sobre a possibilidade da comunicaço intercultural da fé/ nos obriga
ainda a discutir previamente a possibilidade e os pressupostos da com)nica#$o
interc)"t)ra"/ como tal. Essa discusso, por sua vez, &á pressup(e um debate
sobre hermen*)tica e i+"o!o interc)"t)ra". % 'ermen:utica intercultural
compara os significados de um determinado s!mbolo em diferentes culturas. %o lado
da comparaço de fenJmenos religiosos, a 'ermen:utica intercultural observa
também as intervenç(es e"ternas em determinadas culturas e as transformaç(es
#ue essas produzem. Ela emerge da antropologia, da 'istória das religi(es e da
ci:ncia da religio.
A. % discusso sobre possibilidades e limites da comunicaço intercultural surgiu a
partir de #uestionamentos do paradigma ocidental com suas pretens(es de
representar uma cultura universal, a civilizaço européia, 'o&e amalgamada com os
padr(es de comunicaço do mundo moderno globalizado. Essa culturacivilizaço
globalizada, #ue alguns c'amam de 'ipercultura/, criou padr(es #uase comuns de
trabal'o trabal'o especializado, colarin'o-branco, trabal'o penoso, desemprego3,
de consumo Fc0onaldKs3, de roupas jeans e t:nis3, de divertimento hits,
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cinema, futebol, Fr. Bean3 e de linguagens playground , happy hour 3. 7rata-se,
nessa globalizaço, de uma nova colonizaço do mundo vivencial dos povos e
grupos sociais$
L. % comunicaço e o diálogo interculturais avançam da comparaço
fenomenológica e da análise de processos de intervenço, portanto, da'ermen:utica e da sociologia da religio, para a com)nica#$o pr+tica, com seus
riscos, blo#ueios, possibilidades e sucessos. debate da 'ermen:utica intercultural
&á produziu bibliotecas sobre o conflito das interpretaç(es/ 0ilt'eM, eidegger,
Bultmann, >adamer3. Esse debate desapareceu, temporariamente, nos anos de
1NA2, #uando os &ovens, através dos seus protestos, sinalizaramO c'ega de
interpretaç(es do mundo. %gora vamos mudá-lo.) Em seguida, a 'ermen:utica
voltou com muita força. o&e temos a impresso de #ue esse debate nunca
termina. *a comunicaço intercultural estamos inseridos nesse debate inconclusivoda 'ermen:utica intercultural num mundo cada vez mais comple"o.
,' L)!ar teo"(!ico
2. discurso teológico, #ue reivindica validade universal, surgiu, na dialética de
discurso cr!tico e ideológico, no interior de culturas eou civilizaç(es 'egemJnicas
#ue se consideravam universais, como, primeiramente, os impérios, depois a
colonizaço e, por 9ltimo, o mundo globalizado. Esse discurso teológico se impJs
como discurso 9nico, leg!timo e 'egemJnico. Iuem está ao lado do poder e visa,geograficamente, os confins do mundo, no tem necessidade de inculturaço.
0epois de con'ecer o paradigma da inculturaço, o discurso teológico 'egemJnico o
substituiu for&ando o paradigma da interculturalidade, um metadiscurso #ue estaria
acima de todas as culturas. Fas comunicaço e discursos so eventos e aç(es
culturais, e como tais, particulares. *os territórios culturais #uase tudo é particularO
o universo simbólico de sentido, as produç(es materiais e as normas para a
conviv:ncia social. Culturas so pro&etos espec!ficos de vida.
N. %dvertidos pela antropologia sobre essa especificidade de universos culturais,nas ci:ncias de comunicaço se confirmaram d9vidas a respeito da possibilidade de
discursos e comunicaço universais. *o e"iste um ponto ar#uimediano,
e"traterrestre e e"tracultural, a partir do #ual se poderia estabelecer uma
comunicaço universal ou construir um discurso suficientemente intercultural capaz
de ser compreendido por todos os ouvintes de uma maneira id:ntica.
1@. Paticano ;;, informado pelas ci:ncias sociais, permitiu, através de novos
tópicos como ;gre&a +ovo de 0eus/, ;gre&a local/, conte"tualizaço/, inserço/
inculturaço3, diálogo/, repensar muitos pressupostos da universalidade antes no
) Cf. a Q;a 7ese de Far" sobre Geuerbac'O s filósofos somente interpretaram o mundo de váriosmodosR agora a #uesto é de mudá-lo/.
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#uestionados. Em conse#S:ncia disso, as d9vidas sobre a relevTncia universal e a
possibilidade real de uma metateologia gan'aram força. Cresceu a consci:ncia de
#ue a antes c'amada teologia universal poderá ser também uma teologia regional.
Em seguida surgiram novos discursos teológicos a partir de determinados conte"tos
socioculturais, como as teologias afro, as teologias de libertaço, as teologias dodiálogo inter-religioso e as teologias !ndias. % unidade da teologia e da fé só poderá
ser, como a unidade da ;gre&a, uma unidade pentecostal na diversidade do Esp!rito
4anto. lugar teológico da comunicaço universalmente conte"tualizada da fé é
+entecostes.
11. % fé, antes de se realizar plenamente como opço de vida, passa pela mediaço
dos sentidos, pelos ouvidos, pelos ol'os, pela boca, como palavra, e pelas mos,
através das obras cf. 7g ),)) 3, +ois a fé vem da pregaço e a pregaço se faz por
causa da palavra de Cristo/, como nos diz 4o +aulo. E o apóstolo dos gentioscontinuaO %caso no ouviram$ Claro #ue simU +ela terra inteira correu a vozR até os
confins do mundo as suas palavras/ Do 1@,1Ls3. % fé é situada num determinado
lugar e tempoR é anunciada, recebida e assumida culturalmente, e isso significa #ue
é vivida sensitiva, espiritual, intelectual, material e 'istoricamente numa grande
multiplicidade de pro&etos de vida. +ode e"istir uma revelaço pré ou e"tracultural,
mas no e"iste recepço, comunicaço e viv:ncia da fé pré-cultural ou e"tracultural
nem pré ou e"tra-'istórica. salmista resume assimO Galei com uma voz,
responderam com duas/ 4l A),1)3.1). Com isso temos alguns dados importantes para a comunicaço da fé. 7odos
ouviram a voz de 0eus em suas respectivas culturas. +odemos compreender esse
ouvir a voz de 0eus/ como revelaço primordial, pré-cultural e unívoca, ou, &á
desde a origem, cultural e plurívoca. % resposta da 'umanidade, em todo caso, foi
cultural. Como as culturas e"istem somente no plural, as respostas da fé foram e
so plurais. V primeira fala de 0eus, a 'umanidade responde com as m9ltiplas
vozes de suas religi(es.
15. Essas m9ltiplas respostas no so um acidente de percurso, mas devem ser
positivamente interpretadas como participaço na criaço do mundo. E, nesse
mundo, povos e indiv!duos defendem sua identidade sempre em contraste com a
alteridade. 0esse contraste nasce o imperativo da pluralidade em unidade. Essa
unidade no é a da metaf!sica ou ontologia do g:nero 'umano, mas a unidade
constru!da através da razo, da verdade, do sentido 9ltimo presentes em m9ltiplos
pro&etos de vida e #ue se manifestam em m9ltiplas vozes. % vida é gerada no no
encontro consigo mesmo, mas no encontro com os outros. % emancipaço da
uniformidade identitária #ue acontece através das culturas no deve ser confundida
com conte"tualismo fec'ado ou com relativismo arbitrário.
H
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1H. % comunicaço intercultural dos fundamentos da fé, #ue insiste na univocidade
semTntica articulada com a plurivocidade lingS!stica, para os cristos é um ideal e
um 'orizonte. % univocidade semTntica só pode ser comunicada e verificada num
plural das linguagens culturais, em #ue perde a sua univocidade. *a busca da
comunicaço intercultural da fé, movemo-nos na construço de um 'orizonteregulativo. Entre a univocidade semTntica e a plurivocidade lingS!stica da fé e"iste
uma relaço dialética.
1?. Iuem carrega as tintas sobre a i-eren#a das culturas e sua incomparabilidade
relativismo e"tremo3 nega no só a possibilidade de uma comunicaço
intercultural, mas também a possibilidade de traduç(es ade#uadas. *esse caso, a
conviv:ncia intercultural aponta para colméias fec'adas, #ue constituem #uase
pris(es culturais, e para a incomunicabilidade intercultural. *essa situaço,
ninguém pode aprender algo do outro, por#ue a soluço de um determinadoproblema na cultura do outro no pode ser comparado a um problema na própria
cultura. Iuem, por outro lado, menospreza a diferença cultural universalismo
e"tremo3, e destaca a seme"han#a e comparabilidade entre culturas, corre o
perigo de confundir a semel'ança dos signos com a semel'ança dos significados e
des#ualifica a l!ngua do outro como um mero dialeto. próprio se torna, nesse
caso, um derivado inferior do al'eio.
1A. universalismo e"tremo corre o risco de se tornar uma forma de colonizaço
do mundo vivencial do outro. relativismo e"tremo, por sua vez, relativiza asafirmaç(es de verdade #ue poderiam nortear a açoR as relativiza, politicamente,
pelo voto democrático, cientificamente, pelo e"perimento, #ue pode ser repetido
em #ual#uer momento, e, vivencialmente, pela tolerTncia #ue pode dificultar a
construço de um pro&eto de vida comum. % diferença afirmada pelo relativismo
e"tremo favorece a indiferença intercultural e intersub&etiva e, com isso, também a
viol:ncia intercultural. Desta-l'e apenas um recon'ecimento intelectual do diferente
sem prática de solidariedade. % meta da evangelizaço, porém, é a de estabelecer
uma comunicaço intercultural da fé através de uma ponte sobre as duas colunas,
sobre a coluna da i-eren#a reconhecia e a coluna da )niae concretamente
poss%ve".
1L. documento 0iálogo e %n9ncio/ n. H)3, do +ontif!cio Consel'o para o 0iálogo
;nter-Deligioso, de 1NN1, apontou para #uatro formas diferentes de diálogo inter-
religioso e de comunicaço interculturalO 13 o diálogo da vida, )3 das obras, 53
dos intercTmbios teológicos e H3 da e"peri:ncia religiosa. s #uatro diálogos W o
da conviv:ncia, da prática solidária, da teologia e da m!stica orante W so
articulados em rede. %s #uatro comunicaç(es so imprescind!veis para #ue 'a&a
uma comunicaço intercultural da fé. Fas essa comunicaço é uma comunicaço
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#ue acontece na diversidade das respectivas compreens(es. % verificaço da
unidade semTntica da fé, em 9ltima instTncia, passa, porém, sempre pela prática
do amor cf. 1Co 15R 7g ),1L3. % refle"o sobre comunicaço intercultural da fé/
faz parte da teologia fundamental e da teo"o!ia pr+tica.
.' Com)nica#$o nos "imites o po"iticamente poss%ve"
12. % fé universal num 0eus Criador é o ponto de partida para uma comunicaço
intercultural da fé. *a obra de Gelipe >uaman +oma de %Mala El primer nueva
corónica y buen gobierno, terminada em 1A1H, encontra-se um e"emplo de
comunicaço intercultural dentro dos limites do politicamente poss!vel.5
*o se trata de uma evangelizaço colonizadora nem libertadora. Ela tem os
traços de ambas as possibilidades colonizaço e libertaço3 com suas práticas
de adaptaço e incorporaço, de conformismo e profecia. % cone"o evangélica
5 Gelipe >uaman +F% 0E %X%
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nesse conte"to politicamente limitado e"ige sacrif!cios da cultura recipiente, mas
permite também fazer cobranças e impor limites à cultura doadora/.
1N. >uaman +oma en"erta o passado andino na 'istória de salvaço crist, com
refer:ncia aos relatos b!blicos da criaço >n H3 e introduz os !ndios e"plicitamente
na descend:ncia de %do e Eva cf. os itens n. )) e )53. tempo da criaço domundo até *oé, +oma de %Mala c'ama de +rimeiro Fundo/ n. ))3. s povos
andinos pertencem, segundo o cronista, por serem descendentes de *oé, ao
4egundo Fundo/ n. )H3. %lguns afirmam #ue os !ndios se&am descendentes
diretos do próprio %do, diz o autor. >uaman +oma ac'a #ue um dos fil'os de *oé
foi trazido por 0eus às =ndias onde, por mandato de 0eus tiveram diferentes
l!nguas #ue antes tiveram uma l!ngua/ e se multiplicaram n. )?3. 6á a criaço do
+rimeiro Fundo/ aconteceu no conte"to andino, como mostra o desen'o.H
)@. %o en"ertar o mundo m!tico andino no mundo m!tico cristo da criaço domundo, >uamán +oma, !ndio #uec'ua cristo #ue camin'a pobre e nu/ n. 1@N?3,
aceita dessa maneira a universalidade do relato cristo da 'istória de salvaço. %
crJnica do Bom >overno/, com seu intuito de mostrar a universalidade, a
interculturalidade e a conectibilidade da 'istória de salvaço crist, afirma,
portantoO a 'istória ind!gena faz parte do %ntigo 7estamentoR a particularidade
cultura universal andina no é um obstáculo insuperável para uma participaço na
'istória de salvaço, prevista desde as origensR a vida dos povos ind!genas deve
ser considerada no interior da 'istória universal de salvaço do cristianismo, comdeveres a assumir e direitos a reivindicar. % estratégia de >uamán +oma, de
en"ertar a religio ind!gena no %ntigo 7estamento, era uma opço pol!tica #ue
permitiu evitar a demonizaço da religio e reduzir a destruiço da cultura do povo
andino. *o solucionou e nem discutiu a autonomia do mundo ind!gena, #ue seria
'o&e uma das finalidades da pastoral.
)1. % unidade do g:nero 'umano na diversidade de seus pro&etos de vida, #ue so
suas culturas, nos coloca diante da problemática da relaço entre 'istória universal
ou mundial e 'istória universal de salvaço, por um lado, e 'istórias particulares
salv!ficas e sua relaço de pro"imidade, identidade ou diferença com os
pressupostos ou afirmaç(es de uma 9nica 'istória de salvaço.? *a época de
4 desen'o representa um %do #ue utiliza um arado andino trabal'o-castigo3. *a es#uerda
encontramos Eva com seus fil'os nos braços. %do e Eva esto descalços e vestidos com peles de animalpecado original3, en#uanto as crianças aparecem nuas. 4obre %do se observa o sol e sobre Evaaparece a lua crescente. %mbos os astros esto com rosto 'umano. %do e Eva representam o primeirocasal 'umano e esto acompan'ados por um casal de animais. % dualidade andina está presente emtudoO no grupo dos tórtolas, #ue simbolizam a perpetuidade da relaço 'omem-mul'er, nos astros, solmasculino3 e lua feminino3R os seres masculinos esto na direita e os femininos na es#uerda. mundoceleste está no alto e o mundo terrestre está em bai"o. Cf. Gernando %maMa Garias, Indio y cristiano encondiciones coloniales. uaman
+oma de %Mala 7ese de doutorado em fase de concluso, niversidade de GranYfurt a.F.3.? Cf. Zarl D%*ED, [eltgesc'ic'te und eilsgesc'ic'te, emO Zarl D%*ED, Schriften zur Theologie, 5a
ed., vol. P, EinsiedelnZ\lnO Benzinger, 1NA2, p. 11?-15?.
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>uaman +oma, o pensamento do cristianismo colonial no admitiu uma 'istória de
salvaço fora da ;gre&a Católica. % leitura de >uaman +oma permitiu posturas
cr!ticas em face da colonizaço, sem re&eitá-la, cobranças do cristianismo, sem
#uestionar sua 'egemonia salv!fica, e, ao mesmo tempo, costurar uma
continuidade de práticas religiosas ind!genas andinas. Entre cr!tica, cobrança econtinuidade se estabeleceu uma comunicaço intercultural em vista da
sobreviv:ncia f!sica e ideológica dos próprios !ndios.
)). %s religi(es ind!genas participam, segundo >uaman +oma, da 9nica 'istória de
salvaço reivindicada pelo cristianismo. *essa perspectiva, os povos ind!genas so
cristos anJnimos. 4uas religi(es no so desvios da verdadeira religio, mas
representam uma preparaço evang!lica, uma espécie de %ntigo 7estamento, como
&á no tempo do ;mperador Constantino foi preconizada por Eusébio de Cesareia.
Depresentam uma continuidade da pregaço do apóstolo Bartolomeu. utrosautores falam da passagem de 4o 7omé pelas %méricas. %o fazer a cone"o do
%ntigo 7estamento andino com o *ovo 7estamento crito, >uaman +oma estabelece
uma comunicaço intercultural da fé, #ue para os dias de 'o&e &á no poderia ser
mais considerada satisfatória.
/' Discernimentos
)5. *a comunicaço verbal pode-se distinguir 'o&e "in!)a!ens "(!icas0
ana"(!icas e !erais. %o universo da comunicaço através de linguagens lógicaspertencem operaç(es numéricas, matemáticas e operaç(es de lógica formal. *essas
operaç(es podem acontecer erros, mas no mal entendidos semTnticos.
)H. E"istem também sistemas -)ncionais #ue t:m um alcance global. % técnica,
as c'amadas ci:ncias e"atas, o trTnsito, o sistema financeiro e a burocracia
funcionam mundialmente iguais. ma má#uina de vapor, um carro, a internet e a
bolsa de valores funcionam igual em todos os territórios do planeta. 7ambém o
mercado procura, através de uma padronizaço dos seus produtos e dos meios de
comunicaço, tornar-se independente de conte"tos culturais Coca-Cola3. mmecTnico shuar do E#uador, #ue sabe concertar um carro em sua aldeia,
certamente pode concertar um carro semel'ante também numa aldeia guarani . E
um grupo dos otomies saberá vender seu artesanato numa es#uina de
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pol!ticas e moraisR as mediaç(es e as funç(es dessas linguagens lógicas so
revers!veis e no representam problemas para uma comunicaço intercultural. *o
sero ob&etos dessa refle"o por#ue a comunicaço da fé se prop(e, e"atamente, o
contrárioO enraizar universalmente nos conte"tos os artigos e a viv:ncia da fé.
)A. outro grupo de linguagens, no sentido amplo, emerge da comple"idade dosconte"tos vivenciais, portanto, culturaisR so as linguagens analógicas. Essas so
inseridas em conte"tos e relaç(es.
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comunicam através de uma l!ngua C/. % l!ngua geral do mundo 'elen!stico de 5@@
a.C. até ?@@ d.C. foi a #$%&', a l!ngua grega na #ual o *ovo 7estamento foi
redigido. 4erviu para muitos +adres da ;gre&a como l!ngua padro e se tornou para
um amplo território e por um bom tempo a l!ngua oficial da ;gre&a. % partir do
século ;P, o latim tornou-se l!ngua geral do ;mpério Domano e l!ngua lit9rgica da;gre&a. o&e, no mundo globalizado, o ingl:s assumiu o papel de uma l!ngua geral.
0epois do Paticano ;;, as l!nguas vernáculas foram assumidas como l!nguas
lit9rgicas, sem afetar o rito como tal. %dministramos os sacramentos em l!nguas
regionais, mas os ritos dos sacramentos continuam ritos romanos.
51. *as %méricas, os missionários acostumados com a l!ngua geral da ;gre&a, #ue
teve, como l!ngua latina, uma certa pro"imidade com suas l!nguas de origem
espan'ol, portugu:s e italiano3, se #uei"aram sobre a multiplicidade, a alteridade
total das l!nguas ind!genas. padre 6osé de %costa, por e"emplo, em seu tratado(e procuranda indorum salute 1?LA3, constata com uma certa resignaçoO 80izem
#ue em outros tempos com L) l!nguas entrou a confuso no g:nero 'umanoR mas
estes bárbaros t:m mais de L@@ l!nguas ...38.A
5). 7ambém o padre %ntJnio Pieira, em seu Sermo da Epifania, aponta entre as
dificuldades para a cate#uese dos !ndios a #uesto lingS!stica. 8*a antiga Babel
'ouve setenta e duas l!nguasR na Babel do rio das %mazonas &á se con'ecem mais
de cento e cin#Senta, to diversas entre si como a nossa e a gregaR e assim,
#uando lá c'egamos, todos nós somos mudos e todos eles surdos.8L
+ara solucionaro problema, recorreram a l!nguas gerais ind!genas, ao nau'atl, #uec'ua e tupi-
guarani.
55. %té a#ui se oferecem tr:s alternativas de comunicaço com o outroO
13 a via colonial como incorporaço do outro no universo lingS!stico-cultural
da#uele #ue prop(e o an9ncio da palavra de 0eusR na via colonial, o colonizador
oferece a sua l!ngua como l!ngua geralR
)3 a via da inculturaço como aprendizado dos códigos culturais do outro, seguida
por um intento permanente de traduço au"iliada pelos ouvintes e
53 a via da l!ngua geral #ue e"ige um aprendizado de uma segunda
l!ngualinguagem para ambas as partes.
1' Novas per!)ntas
5H. s discernimentos acima propostos permitem formular mel'or desafios e
finalidades da comunicaço intercultural da fé. % ruptura entre o Evangel'o e a
A. 6osé de %C47%, (e procuranda indorum salute, emO )bras del padre *os! de +costa. FadridO %tlas
B.%.E. L53, 1N?H, p. 5NN liv. 1, cap. )3.L. %ntJnio P;E;D%, 4ermo da Epifania 1AA)3, emO Serm,es, vol. 1, tomo ), ;H, +ortoO
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cultura é/, segundo +aulo P;, sem d9vida o drama da nossa época/ Evangelii
nuntiandi , n. )@3. Essa ruptura aponta para um blo#ueio de comunicaço #ue tem
referenciais na vida urbana da modernidade como também na vida rural tradicional.
% proposta de uma comunicaço intercultural da fé/ procura costurar essa ruptura
em todos os n!veis e conte"tos.5?. +ara essa costura/ é importante no enfrentar a comunicaço intercultural
como técnicos de comunicaço ou como propagandista de um produto de mercado.
*o #ueremos nem podemos fazer passar uma determinada mensagem ou um
determinado produto W em nosso caso, um saber cate#uético-cultural ou um
depósito da fé/ W, funcional ou materialmente, para os povos ind!genas. Essa
funcionalidade, por sua vez, é cultural, portanto, particular. Gaz parte do paradigma
ocidental do poder, em #ue a interpretaço e a compreenso do outro so atos de
incorporaço e de dominaço do outro.5A. % interpretaço como fuso de 'orizontes, #ue >adamer prop(e, no acontece
num território neutro.2 %contece numa sociedade de assimetrias e cis(es sociais e
de lutas pela 'egemonia de mercados. % fuso de 'orizontes, como o paradigma da
aculturaço, acontece numa sociedade em #ue culturas 'egemJnicas imp(em seus
mitos, s!mbolos, leituras e produtos sobre o 'orizonte dos pobres e dos outros/.
+ara uma 'ermen:utica evangélica, con'ecimento significa recon'ecimento de
alteridade e igualdade. Decon'ecimento, na B!blia, significa amor. *o só nossa
mensagem, também o nosso método e os nossos meios so inspirados peloEvangel'o.
5L. % linguagem da fé se insere nas linguagens analógicas. *o tentamos
transformar a linguagem analógica da fé, #ue é conte"tual, numa linguagem lógica,
supraconte"tual, ou numa linguagem geral eou colonial. % opço por linguagens
analógicas na comunicaço da fé nos permite uma pro"imidade conte"tual
universalmente enraizada. % universalidade é geográfica, e a pro"imidade é
cultural. % partir do balizamento desses parTmetros, procuramos avançar através
de tr:s desafios #ue ao mesmo tempo so propostas indispensáveisO 13 unidade
plural, )3 relevTncia e 53 recepço do retorno.
52. 13 Como an)nciar a -2 crist$ em chave in%!ena na )niae ec"esia" o
Esp%rito 3anto0 4)e 2 )ma )niae no p")ra" e "in!)a!ens ana"(!icas$
7rata-se, portanto, de um conceito de unidade pós-colonial, plural e vivencial #ue
aponta para um bilingSismo. +ara unir pluralidade e unidade l!ngS!stica, podemos
pensar #ue a fé é transmitida e praticada em duas l!nguasO numa l!ngua analógica
e, ao mesmo tempo, numa l!ngua geral. rito romano pode ser pensado como
l!ngua geral #ue terá a sua importTncia em encontros supranacionais. Fas no dia-a-
2 ans->eorg >%0%FED, -erdade e m!todo. 7raços fundamentais de uma 'ermen:utica filosófica, Aa
ed., +etrópolisO Pozes, )@@H.
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dia, deve-se ter a possibilidade de celebrar a fé no só na própria l!ngua materna,
mas no respectivo universo cultural espec!fico de cada crente.
5N. )3 Como -azer esse an5ncio0 essa tra)#$o os c(i!os a -2 a partir
e inc)"t)ra#6es pro"on!aas0 n$o tecnicamente per-eita0 mas0 no ch$o as
a"eias in%!enas0 e7istencia"mente re"evante$ 6ustificar a relevTncia dessatraduço dos códigos aos povos ind!genas é mais dif!cil do #ue &ustificar para um
mundo secularizado e pós-moderno com seus ei"os de individualismo, pluralismo,
privatizaço, globalizaço #ue subordinam o campo religioso aos seus interesses
funcionais.
H@. 7udo #ue a cate#uese num mundo secularizado encontra como desafio W fazer
os ouvintes capazes de transcend:ncia e #uestionar a degeneraço da autonomia
para auto-sufic^encia fec'ada, de correlaç(es de solidariedade, reciprocidade e
altru!smo, de religio como tal, com sua inconformidade com um mundo sem son'oe esperança W no território ind!gena se pode pressupor. Galar de religio, para os
povos ind!genas, no significa se apro"imar a um território vazio ou falar em uma
l!ngua estrangeira, mas de algo muito familiar. 4e os povos ind!genas conseguiram
solucionar por mil:nios de anos os seus problemas básicos, eles t:m o direito de
nos #uestionar sobre a relevTncia da proposta crist.
H1. *ossa prática evangelizadora &unto aos povos ind!genas confirma a carta de 4o
+aulo #ue se refere ao salmista 4l 1N,?3 para falar da universalidade, portanto, da
interculturalidade de uma primeira fé em 0eus Criador, cu&a voz correu pela terrainteira e cu&as palavras foram ouvidas até os confins do mundo cf. Do 1@,1Ls3. % fé
em 0eus criador de todas as coisas, como origem e fim das pessoas e do mundo,
para os povos ind!genas, em seu con&unto, é vivida no cotidiano e no representa
nen'um problema.
H). % fé dos povos ind!genas no é atormentada pela d9vida de um evolucionismo
automático, por uma racionalidade contraditória #ue gira em torno de uma lógica
causal *e_ton3, mas e"clui a causa primeira, 0eus, ou pela tese da secularizaço
#ue prognosticou, como conse#S:ncia da modernidade, o desaparecimento da
religio. % fé ind!gena num 0eus criador é uma 'erança comunitária e cultural, um
ar#uétipo, dir!amos 'o&e, um fenJmeno universal #ue de uma maneira semel'ante
se encontra entre os pobres e também em outros povos, como na `frica e na `sia,
por e"emplo.
H5. 53 Como aco"her o retorno a mensa!em evan!2"ica !eraa nesse
processo e inc)"t)ra#$o no meio os povos in%!enas0 n$o s( "oca"mente0
mas na I!re8a !rane0 para 4)e os povos in%!enas ne"a se possam
reconhecer e para 4)e a I!re8a como )m too se8a enri4)ecia pe"a
e7peri*ncia a -2 in%!ena$
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HH. % Evangelii nuntiandi nos lembra #ue a ;gre&a tem necessidade de ouvir sem
cessar a#uilo #ue ela deve acreditar, as raz(es da sua esperança e o mandamento
novo do amor. ...3 Ela tem sempre necessidade de ser evangelizada, se #uiser
conservar frescura, alento e força para anunciar o Evangel'o. *o processo de
evangelizaço, o evangelizador é permanentemente evangelizado pelo destinatáriode sua mensagem8 n. 1?3. *a recepço do retorno do Evangel'o, #ue percorreu as
aldeias ind!genas, a ;gre&a universal está no só diante de um desafio, mas diante
de uma graça de 0eus. +recisamos no só saber dar, mas também aprender a
receber. +or#ue tudo #ue foi dado, antes foi recebido. +odemos aprender dos
pobres e dos outros, do leproso e do 4ulto, como 4o GranciscoO 0ando é #ue se
recebe8.
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