polÍticas pÚblicas na Área da saÚde da infÂncia no...

80
UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES JOSÉ EDUARDO CAVALCANTI TEIXEIRA POLÍTICAS PÚBLICAS NA ÁREA DA SAÚDE DA INFÂNCIA NO MUNICÍPIO DE MOGI DAS CRUZES Mogi das Cruzes, SP 2014

Upload: others

Post on 25-May-2020

5 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

    JOSÉ EDUARDO CAVALCANTI TEIXEIRA

    POLÍTICAS PÚBLICAS NA ÁREA DA SAÚDE DA INFÂNCIA NO

    MUNICÍPIO DE MOGI DAS CRUZES

    Mogi das Cruzes, SP

    2014

  • UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

    JOSÉ EDUARDO CAVALCANTI TEIXEIRA

    POLÍTICAS PÚBLICAS NA ÁREA DA SAÚDE DA INFÂNCIA NO

    MUNICÍPIO DE MOGI DAS CRUZES

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação da Universidade de Mogi das Cruzes como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Políticas Públicas Área de concentração: Realidade Regional, Qualidade de Vida e Dignidade Humana.

    Orientadora Profa. Dra. Ivone Panhoca

    Mogi das Cruzes, SP

    2014

  • FICHA CATALOGRÁFICA Universidade de Mogi das Cruzes - Biblioteca Central

    Teixeira, José Eduardo Cavalcanti

    Políticas públicas na área de saúde da infância no Município de Mogi das Cruzes / José Eduardo Cavalcanti Teixeira. – 2014.

    79 f.

    Dissertação (Mestrado em Políticas Públicas) - Universidade de Mogi das Cruzes, 2014

    Área de concentração: Realidade Regional: Qualidade de Vida e Dignidade Humana

    Orientador: Profª Drª Ivone Panhoca

    1. Políticas públicas 2. Saúde pública 3. Infância 4. Mogi das Cruzes I. Panhoca, Ivone

    CDD 614

  • “Nosso tesouro está na colmeia de nosso conhecimento. Estamos sempre voltados à

    essa direção, pois somos insetos alados da natureza, coletores do mel da mente”.

    (F. Nietzsche, 1886)

    “Aquele que deseja aprender a voar, um dia precisa, primeiro aprender a ficar de

    pé, caminhar, correr, escalar e dançar. Não se aprende a voar voando”.

    (F. Nietzsche, 1879)

  • DEDICATÓRIA

    Em primeiro lugar a Nossa Senhora Aparecida, minha santa protetora que sempre

    esteveao meu lado.

    À minha esposa Nana, companheira amada, pela sua compreensão, incentivo e

    auxílio constante.

    Aos meus filhos, Leandro e Raffaella, as forças propulsoras de minha caminhada.

    A meus pais, Júlio e Lena, pelo exemplo de vida .

  • AGRADECIMENTOS

    À minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Ivone Panhoca, pelos seus conhecimentos,

    competência, paciência , zelo e exigência na busca da perfeição.

    Aos professores do Curso de Mestrado da Universidade de Mogi das Cruzes, de

    forma especial, à Coordenadora Prof.ªDr.ª Luci de Melo Bonini, amiga

    incentivadora.

    À Prof.ªDr.ª Elza Maria Tavares da Silva pela revisão realizada

    .

    À amiga Simone Cristina de Mello de Carvalho pela competência e paciência para

    comigo.

    Aos colegas de classe pelos bons momentos vividos.

  • RESUMO

    É clara a necessidade de políticas públicas na área de saúde da criança, em especial aquelas que venham ao encontro das necessidades de famílias de baixa renda, assim, este trabalho teve como objetivo: identificar e descrever a situação da municipalização da saúde em Mogi das Cruzes, mais especificamente dos programas de assistência à criança e à gestante com o foco na prevenção e promoção da saúde em seus aspectos legais e comparar resultados locais com os resultados nacionais, com o grande índice de natalidade no país e as preocupações com a diminuição da mortalidade infantil como um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, tornam-se evidentes as necessidades de programas de saúde para população de 0 a 6 anos, visando à adequação fisiológica /orgânica /psicossomática, como suporte existencial. Ao identificar ações públicas de saúde, pretendeu-severificar se estas existem e, se têm o alcance que se espera e amparam a população-alvo no seu desenvolvimento corpóreo /fisiológico, para um adequado desenvolvimento. Para obtenção dos resultados, fez-se uma revisão da literatura acerca das políticas públicas e seu papel no desenvolvimento do país; buscou-se refletir sobre as ações públicas de saúde, no geral, com destaque para o SUS em suas duas décadas e meia de existência; em seguida foram buscados documentos que apresentassem dados sobre os programas de saúde voltados à infância no município de Mogi das Cruzes, bem como documentos legais que comprovassem as políticas existentes no município que são fornecidos pelos órgãos públicos locais, assim como dados obtidos em banco de dados como o DATASUS e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Fez-se uma análise dos programas de saúde implementados no município, de modo a comparar seus resultados aos resultados nacionais nos últimos anos.. Fez-se uma análise dos programas de saúde implementados no município, de modo a comparar seus resultados aos resultados nacionais nos últimos anosEstes resultados podem auxiliar na avaliação das políticas em andamento colocando-as à disposição dos pesquisadores a fim de que se construam indicadores locais mais acurados para se obteríndices melhorese mais específicos que possam auxiliar na tomada de decisões em planejamentos futuros.

    Palavras – Chave: Políticas Públicas, Saúde Pública, Infância, Mogi das Cruzes.

  • ABSTRACT

    It’s clear the necessity of public policies in the area of the health of children,

    especially those that meet the necessities of low income families. So, this work had

    the aim to identify and describe the situation of the municipalization of health in Mogi

    das Cruzes, more specifically of programs of support for children and pregnant

    women, focusing the prevention and promotion of health in its legal aspects and

    comparing local results with the national ones. Due to the great birth rate in the

    country and the concerns about the decrease of child mortality as one of the Goals of

    the Development of the Millenium, the necessity of health programs for children from

    0 to 6 years of age, become evident, aiming physiological/ organic/ psychosomatic

    adequacy, as an existential support. By identifying health public actions, we intend to

    check if they exist, if they reach what they are supposed to and if they support the

    target population so that their corporeal/ physiological development is appropriate. To

    obtain the results, we made a review of the readings about public policies and the

    role they play in the development of the country; we tried to reflect about health

    public actions in general, focusing at SUS in its two decades and a half of existence;

    afterwards we looked for documents that presented data about the health programs

    aimed at childhood in Mogi das Cruzes, as well as documents that showed the

    existing policies in the city that are provided by public bodies and data got from data

    banking like DATASUS and InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). We

    analyzed the health programs implemented in the city, in order to compare their

    results to the national ones in the last years.The results showed that a lot of efforts

    have been made to supply the demand of health in Mogi das Cruzes, mainly those

    aiming the children health, to reduce child mortality and ensure a better quality of life

    to them, not only within the family but also at school. These results can help in the

    evaluation of ongoing policies, putting them at the researchers disposal in order to

    have more accurate indicators for more specific results that will help in taking

    decisions for future plans.

    Key Words: Public Politics, Public Health, Childhood, Mogi das Cruzes.

  • LISTA DE ILUSTRAÇÕES

    FIGURA 1LINHAS DE CUIDADO PRIORITÁRIAS NA ÁREA TÉCNICA DE

    SAÚDE DA CRIANÇA E ALEITAMENTO MATERNO 33

    FIGURA 2 CALENDÁRIO DE VACINAÇÃO 38

    FIGURA 3 COBERTURA DA ATENÇÃO BÁSICA IMPLANTADA A

    PARTIR DE 2011 40

    FIGURA 4 PIRÂMIDE ETÁRIA - MOGI DAS CRUZES, SÃO E PAULO

    BRASIL 48

    FIGURA 5 TAXAS DE MORTALIDADE INFANTIL, SEGUNDO

    DEPARTAMENTOS REGIONAIS DE SAÚDE – DRS E

    MUNICÍPIOS DO ESTADO DE SÃO PAULO: 2007-2011 53

    FIGURA 6 NASCIDOS VIVOS EM 2010 – BRASIL POR REGIÃO 54

    FIGURA 7 NÚMERO DE ÓBITOS INFANTIS (MASCULINOS E

    FEMININOS) NOTIFICADOS EM 2013 E NOS ÚLTIMOS 9

    ANOS PRECEDENTES – MOGI DAS CRUZES 55

    FIGURA 8 NÚMERO DE ÓBITOS INFANTIS (MASCULINOS E

    FEMININOS) NOTIFICADOS EM 2013 E NOS ÚLTIMOS 9

    ANOS PRECEDENTES – BRASIL 55

    FIGURA 9 NÚMERO DE ÓBITOS INFANTIS (MASCULINOS E

    FEMININOS) NOTIFICADOS EM 2013 E ÚLTIMOS QUATRO

    ANOS PRECEDENTES – MOGI DAS CRUZES 56

    FIGURA 10NÚMERO DE ÓBITOS INFANTIS (MASCULINOS E

    FEMININOS) NOTIFICADOS EM 2013 E ÚLTIMOS QUATRO

    ANOS PRECEDENTES – BRASIL 56

    FIGURA 11 NÚMERO DE ÓBITOS DE TODAS AS CAUSAS EVITÁVEIS

    – BRASIL 58

    FIGURA 12 NÚMERO DE ÓBITOS EVITÁVEIS, SEGUNDO O TIPO DE

    EVITABILIDADE – BRASIL 59

    FIGURA 13 NÚMERO DE ÓBITOS DE TODAS AS CAUSAS EVITÁVEIS

    – MOGI DAS CRUZES 59

    FIGURA 14 NÚMERO DE ÓBITOS EVITÁVEIS, SEGUNDO O TIPO DE

    EVITABILIDADE – MOGI DAS CRUZES 60

    FIGURA 15 COBERTURA VACINAL BÁSICA (%) POR TIPO 61

  • IMUNOBIOLÓGICO – MENOS DE 1 ANO – MOGI DAS

    CRUZES

    FIGURA 16 COBERTURA VACINAL BÁSICA (%) POR TIPO

    IMUNOBIOLÓGICO – MENOS DE 1 ANO – BRASIL 61

    FIGURA 17 MAPA DE INDICADORES DOS OBJETIVOS DO MILÊNIO –

    2010 62

    FIGURA 18 NÚMERO DE ÓBITOS DE MULHERES EM IDADE FÉRTIL

    NOTIFICADOS EM 2013 – MOGI DAS CRUZES 68

    FIGURA 19 NÚMERO DE ÓBITOS DE MULHERES EM IDIADE FÉRTIL

    NOTIFICADOS EM 2013 – BRASIL 68

    FIGURA 20 NÚMERO DE ÓBITOS DE MULHERES EM IDADE FÉRTIL,

    NOTIFICADOS EM 2013, SEPARADOS POR IDADE - MOGI

    DAS CRUZES 69

    FIGURA 21 NÚMERO DE ÓBITOS DE MULHERES EM IDADE FÉRTIL,

    NOTIFICADOS EM 2013, SEPARADOS POR IDADE – BRASIL 69

  • LISTA DE TABELAS

    Quadro1. População residente em Mogi das Cruzes, São Paulo e Brasil por

    faixa etária e sexo – 2010 (para efeito comparativo) 47

    Tabela1. NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS POR TIPO DE SERVIÇO

    PRESTADO SEGUNDO TIPO DE ESTABELECIMENTO – DEZ

    2009 50

    Quadro 2. Síntese de desafios e potencialidades dos Municípios-

    Polo/Oficina de gestores SUS, estratégia Brasileirinhos, 2010.... 35

    Quadro 3. MORTES EVITÁVEIS 57

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AIS Ações Integradas de Saúde

    BIREME Biblioteca Regional de Medicina

    CAE Conselhos de Alimentação Escolar

    CAPS Sistema de Caixas de Aposentadorias e Pensão

    CCA Centro da Criança e Adolescente

    CLPS Consolidação das Leis da Previdência Social

    CMMC CâmaraMunicipal de Mogi das Cruzes

    CME Campanha de Merenda Escolar

    CNA Comissão Nacional de Alimentação

    CNAE Campanha Nacional de Alimentação Escolar

    CNME Campanha Nacional de Merenda Escolar

    CNRS Comissão Nacional de Reforma Sanitária

    CNS Conferência Nacional de Saúde

    CONASP Conselho da Administração de Saúde Previdenciária

    CONASS Conselho Nacional de Secretários de Saúde

    DAE Departamento de Alimentação Escolar

    D.O.U Diário Oficial da União

    DPE Desnutrição proteico – energética

    DPT-D1 Difteria, Tétano e Pertussis (coqueluche)

    EBBS Estratégia Brasileirinhas e Brasileirinhos Saudáveis

    E.S.F Estratégia de Saúde da Família

    FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations

    FGV Fundação Getúlio Vargas

    Fiocruz Fundação Oswaldo Cruz

    Firjan Federação das Indústrias do Rio de Janeiro

    FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

    IAPs Institutos de Aposentadoria e Pensão

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

    IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

    IDI Índice de Desenvolvimento Infantil

    IFDM Índice Federal de Desenvolvimento Municipal

    INPS Instituto Nacional de Previdência Social

  • IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

    LDO Lei de Diretrizes Orçamentárias

    LILACS Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde

    LOM Lei Orgânica do Município

    LOPS Lei Orgânica da Previdência Social

    MEDLINE Medical Literature Analysis and Retrieval System Online

    MDS Ministério do Desenvolvimento Social

    MS Ministério da Saúde

    Nupad Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico

    ODM Objetivos do Milênio

    OMS Organização Mundial da Saúde

    ONG Organização não Governamental

    ONU Organização das Nações Unidas

    PACS Programa de Agentes Comunitários da Saúde

    PCCN: Programa de Combate às Carências Nutricionais

    PIASS Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento

    PIB Produto Interno Bruto

    PME Programa de Merenda Escolar

    PMMC Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes

    PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar

    PNAN Política Nacional de Alimentação e Nutrição

    PNI Programa Nacional de Imunizações

    PNS Plano Nacional de Saúde

    PNTN Programa Nacional de Triagem Neonatal

    PRONAN Programa Nacional de Alimentação e Nutrição

    P.S.F Programa de Saúde da Família Nordeste

    RC Rede Cegonha

    SIM Sistema Integrado de Mortalidade

    SISNASC Sistema Integrados de Nascimentos

    SISPACTO Sistema de Informação ao Cidadão Pactuado

    SCIELO ScientificElectronic Library Online

    SEADE Sistema Estadual de Análise de Dados

    SAMDU Serviço de Assistência Médica Domiciliar de Urgência

  • SEADE Sistema Estadual de Análise de Dados

    SISPACTO Sistema de Informação ao Cidadão Pactuado

    SIM Sistema de Informação sobre Mortalidade

    SMS Secretaria Municipal de Saúde de Mogi das Cruzes

    SNS Sistema Nacional de Saúde

    SUS Sistema Único de Saúde

    TMI Taxa de Mortalidade na Infância

    UBS Unidade Básica de Saúde

    UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

    UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a

    Cultura

    UNICEF United NationsChildren's Foundation

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO........................................................................ 17

    1.1 POLÍTICAS PÚBLICAS: CONCEITOS E REFLEXÕES..................... 18

    1.2 FEDERALISMO E PROTEÇÃO SOCIAL: POLÍTICAS DE SAÚDE

    NO BRASIL........................................................................................ 20

    1.3 POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL: BREVE PANORAMA

    HISTÓRICO E ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS

    PROGRAMAS EXISTENTES................................................................... 24

    1.3.1. A ATENÇÃO À SAÚDE PARA A POPULAÇÃO DE 0 A 6 ANOS. 29

    1.3.1.1 DIRETRIZES NACIONAIS PARA AÇÕES CENTRALIZADAS

    PARA A SAÚDE DA INFÂNCIA............................................................... 33

    2 MÉTODO ............................................................................... 43

    2.1 NATUREZA DO ESTUDO................................................................... 43

    2.2CAPTAÇÃO DE DADOS..................................................................... 43

    2.3ANÁLISE DOS DADOS....................................................................... 45

    3POLÍTICASDE SAÚDE DESTINADAS À INFÂNCIA NO

    MUNICÍPIO DE MOGI DAS CRUZES...................................... 46

    3.1 O MUNICÍPIO DE MOGI DAS CRUZES.............................................. 46

    3.2 PROGRAMAS DE REDUÇÃO DA MORTALIDADE INFANTIL......... 51

    3.2.1 A BUSCA DA REDUÇÃO DA MORTALIDADE INFANTIL.............. 51

    3.2.2 COBERTURA VACINAL.................................................................. 60

    3.2.3 DEMAIS PROGRAMAS DA REDE MUNICIPAL DE

    ATENDIMENTO INFANTIL, PREVENÇÃO E CUIDADOS...................... 63

    3.2.3.1 PROGRAMA ACONCHEGO......................................................... 63

    3.2.3.2 PROGRAMA DE COMBATE ÀS CARÊNCIAS NUTRICIONAIS. 64

    3.2.4 OUTROS PROGRAMAS DE PREVENÇÃO E CUIDADOS............. 65

  • 3.2.5 PROGRAMAS DESTINADOS ÀS MULHERES............................... 67

    4CONCLUSÃO......................................................................... 72

    REFERÊNCIAS 75

  • 18

    1 INTRODUÇÃO

    Nas últimas duas décadas e meia, desde o advento da Constituição Federal

    de 1988, uma especial atenção à saúde da criança vem sendo dispensada pelos

    órgãos públicos nacionais, estaduais e municipais.

    Como gestor público na área da saúde, há mais de duas décadas, tenho

    assistido a diferentes tomadas de decisões neste setor com o objetivo de melhoria

    da qualidade de vida da população brasileira. Ao longo deste tempo, as políticas de

    Saúde no Brasil se fortaleceram com a criação do Sistema Único de Saúde

    (SUS),um dos mais bem projetados no mundo na área. Apesar de ineficiente, em

    muitos aspectos ainda, e tendo em vista uma crescente demanda por saúde no

    território nacional, em consequência do crescimento demográfico do país, os

    programas de saúde vêm se destacando pela capacidade de dar conta de inúmeras

    situações, quando há vontade política dos gestores nas diferentes esferas.

    É clara a necessidade de políticas públicas na área de saúde da criança, em

    especial aquelas que venham ao encontro das necessidades de famílias de baixa

    renda. E é importante, aqui, refletir sobre as ações públicas de saúde, pois há a

    necessidade de se verificar se elas satisfazem a população a quem se dirigem e se

    fornecem o amparo e o suporte desejado no que diz respeito ao desenvolvimento

    físico-mental-emocional do segmento da população ao qual se voltam. Assim, este

    trabalho teve como objetivo: identificar e descrever a situação da municipalização da

    saúde em Mogi Das Cruzes, mais especificamente dos programas de assistência à

    criança e à gestante como foco na prevenção e promoção da saúde em seus

    aspectos legais e comparar resultados locais com os resultados nacionais.

    Pretendeu-se compreender o papel do Estado na garantia nos direitos

    fundamentais do cidadão, na área da Saúde e refletir sobre o papel do Sistema

    Único de Saúde (SUS) como uma política de saúde que abriga inúmeros programas

    de saúde existentes nas três esferas administrativas: federal, estadual e municipal.

    A escolha da população-alvo se deu em função de que é neste curto período

    que as estruturas físicas e intelectuais e de aprendizagem emergem e estabelecem,

  • 19

    nas crianças, suas fundações para o resto da vida (AGUIAR; NASCIMENTO e

    BARKER, 2007).

    Com grande índice de natalidade no país e as preocupações com a

    diminuição da mortalidade infantil como um dos Objetivos de Desenvolvimento do

    Milênio, tornam-se evidentes as necessidades de programas de saúde para

    população de 0 a 6 anos, visando à adequação fisiológica /orgânica /psicossomática,

    como suporte existencial. Ao identificar ações públicas de saúde, pretende-se

    verificar se elas existem e, se têm o alcance que se espera e amparama população-

    alvo no seu desenvolvimento corpóreo /fisiológico, para um adequado

    desenvolvimento.

    Para obtenção dos resultados, fez-se uma revisão da literatura acerca das

    políticas públicas e seu papel no desenvolvimento do país; buscou-se refletir sobre

    as ações públicas de saúde, no geral, com destaque para o SUS em suas duas

    décadas e meia de existência; em seguida fez-se o levantamento de documentos

    que apresentam dados sobre os programas de saúde voltados à infância no

    município de Mogi das Cruzes, bem como documentos legais que comprovassem as

    políticas existentes no município que são fornecidos pelos órgãos públicos locais,

    assim como dados obtidos em banco de dados como o DATASUS e o Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso foi feita uma análise dos

    programas de saúde implementados no município, de modo a comparar seus

    resultados aosresultados nacionais nos últimos anos.

    1.1 POLÍTICAS PÚBLICAS: CONCEITOS E REFLEXÕES

    Tendo em vista que o tema desta dissertação está voltado às “Políticas

    Públicas na Área da Saúde”, as definições e conceitos adquirem relevância reflexiva.

    Para discorrer sobreeles partimos do pressuposto filosófico de Paulo Freire

    (FREIRE, 2007, p.60) de que “o ato de conhecer envolve um movimento dialético

    que vai da ação à reflexão sobre ela e desta a uma nova ação”.

    Política e Políticas Públicas estão relacionadas com o poder social. “Enquanto

    política é um conceito amplo, relacionado com o poder, as políticas públicas

  • 20

    correspondem a soluções específicas de como manejar os assuntos públicos”.

    (LAHERA, 2004, p.7). No idioma inglês, distinguem-se claramente dois termos

    politics e policies. Politics refere-se à política e seus engendramentos, suas

    articulações dentro ou fora do governo, a construção do consenso e luta pelo poder,

    enquanto policies são entendidas como ações de governo.

    Secchi (2010) afirma que seguidores da escola de pensamento sistêmico das

    ciências políticas entendiam as políticas públicas como um produto do processo

    político que transforma demandas e apoios em decisões e ações.Assim, a política é

    uma atividade humana, ligada ao exercício do poder sobre o homem, como afirma

    Secchi (idem) e vem conectada à obtenção e manutenção dos recursos necessários

    para a manutenção do contrato social, consequentemente, do poder.

    Para Rodrigues (2011, p.52):

    As Políticas Públicas são resultantes de atividade de política, envolvem mais de uma decisão política e requerem várias ações estratégicas destinadas a programar objetivos desejados.

    Claro está que como se tratam de ações de vários agentes que têm

    interesses nas políticas determinadas, seus resultados garantem, ou não, a

    permanência do poder. Embora a política possa ser a arte de unir os homens,

    segundo JohannesAlthusius(1603 apud DIAS e MATOS (2012), ela também pode ter

    o papel de desagregá-los se não entendida pelos seus atores como um

    conglomerado de procedimentos administrativos ou não, que mantém estreita

    relação com o poder (DIAS e MATOS,idem).

    O termo Política vem da Grécia antiga, de polis, que se refere à cidade, à vida

    em sociedade, e, também, empregado para definir o Estado como sujeito em seus

    atos de domínio, por meio da construção do consenso ou mesmo da luta pelo poder,

    já a Política Pública possui objetivos sociais, buscando a convivência pacífica entre

    pessoas diferentes napólis, na convivência pacífica entre todos, ou pelo menos na

    melhor forma de resolução dos conflitos, sempre visando ao bem comum

    (ARISTÓTELES, 2008).

    A Política e a Política Pública se apresentam como objetos reativos das

    reflexões das ações da sociedade, visando ao atendimento das necessidades

    geradoras de bem estar.

  • 21

    Não se pode subestimar a importância do papel da gestão de Políticas Públicas para a promoção da justiça social e a consolidação da democracia no país. É a gestão que traduz valor social, reproduz continuidades ou imprime mudanças na forma pelo qual o Estado e as sociedades se relacionam (RODRIGUES, 2011 contra capa).

    Outros conceitos enfatizam o papel da política pública na solução de

    problemas e todas convergem, basicamente, isto é, para o dilema em torno de ideias

    e interesses. Pode-se também acrescentar que, por concentrarem o foco no papel

    dos governos, essas definições deixem de lado o aspecto conflituoso e os limites

    que cercam as decisões dos governos.

    Jogar o jogo da política democrática, ética, e da justiça social é o desafio que os gestores de Políticas Públicas têm de enfrentar para planejar, administrar, extrair recursos e formatar políticas redistributivas que busquem promover sociedades mais iguais e mais livres, num contexto mundial de profundas mudanças econômicas, demográficas e ideológicas.(Rodrigues2011, p.78).

    Apesar de terem abordagens diferentes, as definições de políticas públicas

    assumem, em geral, uma visão abrangente do tema, sob uma perspectiva de que o

    todo, ou seja, a distribuição de bens e serviços públicos com igualdade é mais

    importante que para indivíduos isolados. Elas repercutem no desenvolvimento

    econômico e social, envolvendo, neste sentido, muitos estudiosos em diferentes

    áreas do conhecimento tais como: economia, ciência política, sociologia,

    antropologia, geografia, planejamento, gestão e ciências sociais aplicadas etc.–que

    vêm contribuindo para avanços teóricos e empíricos(SOUZA, 2005).

    O conceito de políticas públicas não se esgota, pelo contrário, reconstrói-se ao

    longo do tempo, na medida em que as noções de Estado e Sociedade vão ficando

    mais complexas, como apontado por Secchi (2010, p.2): “[...] política pública é uma

    orientação à atividade ou passividade de alguém, uma política pública possui dois

    elementos intencionalidade pública e resposta a um problema público”.

    1.2 FEDERALISMO E PROTEÇÃO SOCIAL: POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL

    Federalismo, conceitualmente, constitui uma divisão de poder entre as

    diversas regiões que compõem um país (LANGEMANN, 2011). Trata-se da relação

  • 22

    entre diversas unidades de uma Federação e como Governo Federal. Refere-se a

    um sistema político em que unidades federativas, Municípios, Estados, e Distrito

    Federal, apesar da independência entre si, formam um todo, caracterizando um

    governo central e federal que gerencia seus componentes. Este modelo,

    relativamente, recente de Estado, representa a unificação político/administrativa,

    mantendo a autonomia de cada Estado, tendo como característica a

    descentralização administrativa, pois a concretização dos direitos fundamentais e,

    consequentemente, os direitos sociais, partem do pressuposto que é necessário

    pensar globalmente e agir localmente.

    Para Barbosa (2013) a definição de Estado Federal é uma forma de

    organização e de distribuição do poder estatal onde um governo central não impede

    que sejam divididas responsabilidades e competências entre ele e os Estados-

    membros.

    Historicamente, o federalismo foi introduzido no Brasil com a proclamação

    da República (1889), mas foi com o advento da Constituição de 1988 que ocorreu a

    ampliação das competências dos Estados-membros estabelecendo um papel de

    destaque para os Municípios, além de conceder autonomia ao Distrito Federal,

    semelhante àquela adotada para as demais Unidades da Federação. O Federalismo

    no Brasil preserva o ideário da unidade na diversidade, sendo esse um fator

    determinante.

    A Constituição brasileira determina quais as competências de cada uma das

    partes que compõem a Federação. Ainda que um aspecto prejudicial do federalismo

    tenha sido a má repartição de competências entre os entes federativos,

    centralizando a maior parte dos poderes nas mãos da União, em detrimento dos

    estados membros e municípios, há um exemplo de resultado positivo, destacado por

    Castro (2012, p. 1022):

    Na área da política de Saúde, a instituição do Sistema Único da Saúde –SUS, promoveu a unificação dos serviços públicos da área, assim como a universalização do acesso a eles.Também organizou sua oferta de forma descentralizada, com a participação pactuada dos diversos níveis do governo: união, estados e municípios.

    Um exemplo de Federalismo positivo foi a implantação pelo Brasil do Sistema

    Único de Saúde (SUS), que transformou a saúde em dever constitucional partilhado

  • 23

    por todas as esferas governamentais, por meio de uma gestão participativa, com o

    envolvimento dos estados, municípios e comunidades locais, deixando de ser

    exclusividade da União.

    A regionalização do SUS adveio de uma necessidade de integrar arranjos

    institucionais estabelecidos entre entes federados, para garantir o direito á saúde da

    população, dando-se aí destaque para as figuras regionais como instâncias

    administrativas.

    O estado federalista divide-se em regiões, e estas por sua vez, podem ser

    conceituadas como um agrupamento de elementos linguísticos, interculturais e

    políticos em uma localização geográfica delimitada. O regionalismo desperta um

    sentimento de pertencimento, faz emergir determinadas características e certas

    demandas que tem suas raízes em fatores históricos.O Brasil, país com imensa

    extensão territorial, possui uma infinidade de regionalismos. Sua população foi

    formada pela miscigenação de diversas nacionalidades, que, por sua vez,

    misturaram-se com os nativos que o habitavam. O povoamento do país ocorreu de

    forma dessemelhante em várias áreas diversas e longínquas entre si (FRIAS;

    SZWARCWALD e LIRA, 2011).

    Assim, o federalismo, como já se expôs anteriormente, é a unidade na

    diversidade, e no marco referencial da saúde, exposto na Carta Magna expressa

    dois pontos importantes, os artigos 196 e 198, onde o primeiro afirma que o direito à

    saúde: “deverá ser garantido mediante políticas econômicas e sociais que visem à

    redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário

    às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação" , e o segundo

    expressa que:

    As ações e serviços públicos de saúde serão organizados em uma rede regionalizada e hierarquizada, constituindo um sistema único de saúde, de acordo com as seguintes diretrizes: 1) o atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; 2) a descentralização com direção única em cada esfera de governo e 3) a participação comunitária.

    Neste sentido, um dos grandes desafios no cenário federalista nacional é

    assegurar o cumprimento constitucional de descentralização, de garantir aos

    poderes locais o desenvolvimento de suas políticas de saúde, educação, segurança

  • 24

    entre outros, uma vez que o Brasil tem mais cinco mil municípios, em 27 unidades

    da federação, distribuídos num território de dimensões continentais, que

    consequentemente trazem características regionais desiguais. Um federalismo que

    não concentra, nem pulveriza (FRIAS; SZWARCWALD e LIRA 2011) (DOURADO e

    ELIAS, 2011).

    A descentralização traz novos modelos de negociações diretas entre

    governos locais, somando benefícios no que tange à aproximação dos cidadãos nos

    processos decisórios (DOURADO e ELIAS, 2011).

    Outra forma de endossar a participação maior da sociedade foi a criação dos

    Conselhos de Saúde (CS), em atendimento aos preceitos constitucionais, pois são

    eles que representam a participação democrática para o estabelecimento de

    Políticas Públicas, que atendam às necessidades da população.

    A criação dos Conselhos de Saúde (CS), como instância institucionalizada de participação social, sem dúvida significa uma conquista da sociedade civil em busca da construção de uma perspectiva mais democrática em saúde. Em realidade, espera-se que os C.S possibilitem novas formas de interação entre governo e sociedade, que resultem em novos padrões de governo baseados na gestão democrática com centro em três pilares fundamentais: maior responsabilidade dos governo sem formular políticas públicas consentâneas com as necessidades da população;reconhecimento dos direitos sociais;e abertura de canais para ampla participação da sociedade. Os C.S podem alcançar uma democracia de alta intensidade se contemplarem satisfatoriamente as seguintes dimensões : a partilha do poder, a reciprocidade o reconhecimento (SHIMIZU, 2012, p.2276).

    Os objetivos e resultados estabelecidos pela implantação do Sistema Único

    de Saúde no Brasil é um fenômeno que resultou das idéias de construção

    doWelfareState, ou o Estado de Proteção Social, que fundou a distribuição de

    serviços sociais, pois estava voltado à cobertura das várias formas de risco da vida

    da população, tornando-se, num mecanismo para assegurar direitos e garantias

    individuais à população trabalhadora.

    A esse tema, Arretche(1995, p.3) explica que:

    O fenômeno WelfareState experimentou incontestável expansão e até mesmo institucionalização no período pós-guerra, sendo que a partir daí se generalizou e ganhou dimensões quase universais, como um conjunto articulado de proteção social, assegurando o direito à aposentadoria, educação, saúde etc.

  • 25

    Nessa esteira da proteção, emergem políticas que garantem a saúde, a

    educação e outros bens e serviços públicos no seio da Constituição Federal, que em

    suas duas e meia décadas de existência, caminha, ainda, lentamente em muitas de

    suas propostas de garantir a igualdade e a proteção dos direitos aos cidadãos.

    Para tanto, amunicipalização dos serviços de saúde prevê uma maior

    racionalização administrativa, controle financeiro e participação democrática. Os

    contornos do modelo de atenção estão configurados nos princípios constitucionais

    da universalidade, equidade e integralidade da assistência, que se refletem nas leis

    orgânicas dos municípios em todo território nacional.

    1.3 POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL: BREVE PANORAMA HISTÓRICO E

    ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS PROGRAMAS EXISTENTES.

    De acordo com a Organização Mundial de Saúde, pode-se definir saúde como

    “um estado completo de bem-estar físico, mental e social e não meramente a

    ausência de doença ou enfermidade” (OMS, 1948).

    Como se vê, o conceito citado vai além da mera saúde do corpo, por isso

    quando se estudaas políticas públicas Rodrigues (2011) observa queelasdevem ser

    capazes de conter programas e ações que planejem adequadamente a oferta de

    bens e serviços públicos de qualidade, daí o papel do gestor na promoção da justiça

    social e na consolidação da democracia no país.

    A assistência à saúde em sua primeira grande inovação veio à luz em 1949,

    no segundo governo Vargas, ao ser criado o Serviço de Assistência Médica

    Domiciliar de Urgência (SAMDU). O marco se estabelece por suas características

    diferenciadas compostas por atendimento médico domiciliar, inexistente no

    atendimento de então pelo setor público anterior, que era fundamentado no Sistema

    de Caixas de Aposentadorias e Pensão (CAPs), criado em 1923 e substituídos mais

    tarde pelos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs) que congregavam

    trabalhadores por setores de atividades. Dada as diferenças entre as formas de gerir

    recursos para os trabalhadores, vozes se uniram para a criação de um sistema

    unificado (BERTOLLI FILHO, 2008).

  • 26

    Já em 1960, surge a Lei n. 3807, que criou a Lei Orgânica da Previdência

    Social (LOPS), regulamentada, no mesmo ano, pelo decreto número 48959/68,

    normalizando a uniformização do atendimento, embora persistissem problemas com

    o orçamento, já que havia diferenças entre institutos de classes trabalhadoras

    distintas. Mesmo com o crescimento significativo do número de categorias

    profissionais e a maior abrangência das coberturas em quatro décadas, a

    Previdência Social, no início dos anos 60, estava longe de alcançar a sua

    universalização. Para Bertolli Filho (2008),no final do período desenvolvimentista do

    governo de Juscelino Kubitschek, década de 60, os segurados da previdência

    somavam mais de 5 milhões (4 milhões ativos e o restante aposentados e

    pensionistas), um percentual de apenas 7,3% de um contingente populacional de 70

    milhões de pessoas.

    O modelo de sistema de saúde pós 64 criou a medicina preventiva e o Centro

    de Estudos Brasileiros de Saúde foi o principal agente de difusão desta nova

    consciência, pois se pretendia uma reforma sanitária adequada aos limites

    financeiros impostos pela crise econômica(MERTHY; QUEIROZ, 1993).

    O caminho percorrido em direção à consolidação das responsabilidades no

    setor da saúde entre 1966 a 1976, foi o fortalecimento da previdência social num

    trabalho conjunto entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Previdência Social.

    Assim, em 1966 foi criado, pelo Decreto de Lei n. 72, o Instituto Nacional de

    Previdência Social (INPS), que tinha como objetivo corrigir as distorções da

    segmentação institucional e aumentar a eficiência do sistema, introduzindo

    modificações na LOPS e no extinto SAMDU e, mais tarde, considerado o maior

    avanço em abrangência de cobertura (BERTOLLI FILHO, 2008).

    Já na década de 1970, em função de uma expansão acentuada de receitas e

    necessidade política de estender a preocupação social do regime autoritário, ocorreu

    a ampliação de direitos sociais da época, como a extensão da previdência ao

    trabalhador rural e a criação do benefício mensal aos idosos não contribuintes.

    Observam-se, então, os avanços da assistência à saúde, embora lentos, começam a

    dar mostras de uma tendência à reorganizaçãodo setor sob forma sistêmica, sendo

    então promulgada a Lei n. 6229 de 17 de julho de 1975, dispondo sobre organização

    do Sistema nacional de Saúde (SNS) que definiu dois grandes campos institucionais:

  • 27

    a) o do Ministério da Saúde, de caráter normativo, com ação executiva voltada para

    as medidas e os atendimentos de interesse coletivo, inclusive vigilância sanitária; e

    b) o do Ministério da Previdência e Assistência Social, com atuação voltada para o

    atendimento médico-assistencial individualizado. Era um novo espaço de atuação a

    partir da assistência médica individual e de medidas de alcance coletivo voltadas à

    população de baixa renda (BERTOLLI FILHO, 2008; MERTHY; QUEIROZ, 2011).

    Uma das preocupações que afeta a área da Saúde, sempre foi o saneamento

    básico e, segundo Bertolli Filho (2008), o Programa de Interiorização de Ações de

    Saúde e Saneamento (PIASS), aprovado pelo o Decreto n. 76307 de 1976, foi criado

    com linhas de ação ajustadas a esse propósito. O objetivo do PIASS era dotar as

    comunidades do Nordeste - de até 20 mil habitantes - de uma estrutura básica e

    permanente de saúde pública capaz de contribuir na solução dos problemas médico

    - sanitários de maior reflexo social. O Programa foi estendido às demais regiões a

    partir de 1979, marcando, desde seu começo, um ponto importante de inflexão na

    forma de atuação da previdência.

    Com o governo Geisel (1974-1979), em meio a uma crise econômica

    instalada, começa a emergir a denominada abertura política surgindo as demandas

    por reivindicações por melhorias e serviços e ações de saúde.Nesse momento,

    consolida-se no país o movimento pela Reforma Sanitária, com os seguintes

    propósitos: 1) a melhoria das condições de saúde da população; 2) o

    reconhecimento da saúde como direito social universal; 3) a responsabilidade estatal

    na provisão das condições de acesso a esse direito; 4) a reorientação do modelo de

    atenção, sob a égide dos princípios da integralidade da atenção e da equidade; 5)a

    reorganização do sistema com a descentralização da responsabilidade pela provisão

    de ações e serviços.Essas propostas foram legitimadas na VII Conferência Nacional

    de Saúde (CNS) em 1986.

    A década de 80, em particular a sua primeira metade, foi bastante fértil para o

    processo de articulação intra-setorial, configurando o que se pode chamar de 'fase

    das estratégias racionalizadoras’ (MERCADANTE, 2002). Em 1982 as Ações

    Integradas de Saúde (AIS) deslocaram recursos financeiros da previdência para o

    setor público e acentuou-se o processo de estruturação Sistema Unificado

    Descentralizado de Saúde (SUDS)que mais tarde se transformaria no SUS.

  • 28

    No mesmo ano, foi estabelecido o Plano de Reorientação da Assistência à

    Saúde no âmbito da Previdência Social (CONASP), que propunha controlar os

    gastos com saúde e buscava viabilizar a expansão da cobertura na assistência

    hospitalar, a eliminação da capacidade ociosa do setor público e a melhoria da

    operação da rede por meio do aumento da produtividade, da racionalização e da

    qualidade do serviço, Neste ponto, pensava-se na integração mediante convênios

    entre os sistemas públicos estaduais e municipais à prestação de serviços de saúde.

    A não implementação em sua totalidade, não impediu que se tornassem as bases

    para novas Políticas Públicas de expansão de cobertura, como observa BertolliFilho

    (2008).

    A partir de 1985 um amplo movimento político setorial crescia, tendo como

    pontos relevantes a realização da VIII CNS (1986). Os trabalhos técnicos

    desenvolvidos pela Comissão Nacional de Reforma Sanitária (CNRS-MS)

    estabeleceram a partir daí o reconhecimento da saúde como direito inerente à

    cidadania, o dever do Estado na promoção desse direito, a instituição de um Sistema

    Único de Saúde, tendo como princípios a universalidade e integralidade da atenção,

    a descentralização, atendendo as tendências internacionais de garantir acesso a

    bens e serviços públicos de modo equitativo.

    Esse foco estaria refletido no texto constitucional, em seu art. 194, tendo

    como conceito de seguridade social: “[...] um conjunto integrado de ações de

    iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinados a assegurar os direitos

    relativos à saúde, à previdência e à assistência social". O novo conceito impôs uma

    transformação radical no sistema de saúde brasileiro, primeiro reconhecendo a

    saúde como direito social; definindo um novo paradigma para a ação do Estado na

    área. Fonte –(BRASIL, 1988).

    As atribuições e competências das três esferas do governo foram

    regulamentadas pelas Leis n. 8080 de 1990 e n. 8142,também do mesmo ano, que

    demarcaram as linhas gerais de ação, assim, o Brasil passava a configurar no

    cenário mundial reorganizando-se e pautando-se nas políticas públicas voltadas à

    área de saúde como "[...] um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes

    públicos e da sociedade, destinados a dar suporte dentro de metas objetivadas pela

  • 29

    OMS assegurando os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social

    (BERTOLLI FILHO, 2008).

    O Brasil começa a acertar os ponteiros do relógio com a OMS ao adotar

    políticas públicas com foco nos cuidados de saúde primários, ensino sanitário, luta

    contra doenças sexualmente transmissíveis e não transmissíveis, campanhas de

    vacinação com maior amplitude, incentivo a pesquisas na área. O direito à saúde,

    mesmo após a Constituição Cidadã, ainda não se havia tornado uma realidade

    universal, como ainda não o é hoje, mas constava na constituição, denominada de

    cidadã. A população, ainda,está dividida entre os que têm planos de saúde, os que

    são atendidos pela rede pública e os que não têm acesso a nenhum tipo de socorro

    médico (PESSINI, 1998).

    Como se vê, nessa progressão histórica apresentada, houve uma tentativa de

    reversão do quadro de pobreza e das lacunas de atendimento de necessidades

    básicas tais como alimentação, vestuário, habitação e qualidade de vida, onde se

    incluiu a saúde preventiva como vetores de bem estar coletivo, antagônicos aos não

    atendimentos que nos remeteriam ao estado de pobreza. O binômio saúde/pobreza

    nos levou a crises econômica/educacional/moral/ecológicas que continuam cavando

    uma lacuna ainda maior na formação das gerações futuras. A proposta de um

    sistema de saúde que buscasse a igualdade colocava o país na contra história da

    pobreza e da segmentação a que o Brasil havia se submetido durante séculos

    (MENICUCCI, 2009).

    O SUS é a mais ambiciosa e abrangente política pública de saúde já

    formulada no país e vem se mantendo, mesmo num país que vive na periferia do

    capitalismo, marcado pelas desigualdades sociais. Mas há ainda uma longa estrada

    a percorrer, pois mesmo agasalhando todos os programas existentes e abrangendo

    uma ampla gama de cobertura desde o atendimento inicial ambulatorial até a ponta

    final (transplantes de órgãos)é necessário vontade política, incentivos econômicos e

    fiscais (ELIAS, 2004).

    O SUS, criado pela Constituição de 1988, traz um conceito amplo de

    atendimento à saúde ofertando consultas, internações, exames diagnósticos nas

    diversas áreas, promovendo campanhas de vacinação, prevenção e vigilância

  • 30

    sanitária. O atual projeto se fundamenta em ações de promoção, prevenção e

    assistência à saúde( MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1988/1990).

    O Pacto da Saúde, em 2006, ampliou o êxito do processo de

    descentralização, na tentativa de reduzir o protagonismo do Ministério da Saúde na

    sua relação direta com os municípios e fortalecendo a participação dos estados

    (DOURADO; ELIAS, 2011). Esta descentralização, trouxe novos desafios para os

    municípios, que buscaram, nas normas estabelecidas de distribuição e gestão dos

    programas e estratégias, as diretrizes para a criação dos programas locais.

    1.3.1. A atenção à Saúde para a população de 0 a 6 anos

    O Ministério da Saúde tem voltado suas atenções ao desenvolvimento da

    criança na faixa de 0 a 6 anos ao definir que a primeira infância constitui

    provavelmente o melhor investimento social existente, pois é nessa faixa de idade

    que a criança estabelece a arquitetura cerebral da vida. Pesquisas mostram que um

    bebê estabelece, em média, 700 conexões cerebrais por segundo, chegando a ter,

    aos 12 meses, o dobro de conexões de uma pessoa adulta, mas este

    desenvolvimento pode não ocorrer plenamente se essas conexões não forem

    utilizadas e estimuladas. Por isso é importante que governo e sociedade invistam na

    formação, na educação, na saúde e nos diferentes aspectos que cercam a vida das

    crianças brasileiras, em especial na primeira infância, com foco nos primeiros três

    anos, prioridade esta também integrante de seus programas(MINISTÉRIO DA

    SAÚDE, 2011).

    O objetivo primário das políticas públicas deve ser a promoção de ações para

    proteção e, para o cuidado com a população, estas devem ser estabelecidas no

    campo da ação social, educativa, preventiva e curativa, assim estabelecidas no

    Brasil a partir da Lei n.8080 de 90 que dispõe preliminarmente:

    Art.1º Esta lei regula, em todo o território nacional, as ações e serviços de saúde, executados isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurídicas de direito Público ou privado.

    Art.2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo oEstado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.

    §1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que

  • 31

    assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.

    §2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade.

    O SUS consagra a saúde como um direito universal, logo dentro do panorama

    federalista como se viu, o esforço de atingir este ideal deve advir de articulações de

    poder e de financiamento entre os entes da federação, mas não tem sido sempre

    assim. Sucupira (1998) afirma que na atenção à saúde aos menores de cinco anos,

    nas décadas anteriores, só eram valorizados os aspectos de crescimento e

    desenvolvimento apenas para os primeiros anos de vida. A autora ainda afirma que

    alguns hospitais universitários, nos seus prontuários, têm campos específicos onde

    se registram estágios de desenvolvimento e crescimento como os atos de sentar,

    andar falar e controlar os esfíncteres o que limita a formação do pediatra na

    compreensão da propedêutica do escolar e do adolescente.

    Alguns documentos internacionais, mesmo antes de emergir a preocupação

    com a redução da mortalidade infantil e com o desenvolvimento saudável da criança

    e do adolescente, surgem no cenário mundial debates que começam a caracterizá-

    los como sujeito de direitos específicos. Dentre os vários documentos internacionais

    que garantem os direitos das crianças temos: Declaração dos Direitos da Criança,

    de 1959, na qual a criança é reconhecida como ser vulnerável. A esta segue o Pacto

    Internacional Relativo aos Direitos Civis e Políticas (1966) que já enumerava os

    direitos e garantias das crianças e dos adolescentes. Em seguida o Pacto

    Internacional sobre os Direitos Econômicos expressam a proteção das crianças

    contra as diversas formas de exploração; já em 1969 a Convenção Americana de

    Direitos Humanos desenha a garantia da proteção da criança e da família e o

    recebimento de denúncias do não cumprimento ou violação dos direitos das crianças

    e, em 1989, a Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU em que a criança

    passa a ser sujeito de direito (PEDUTO et al., 2012).

    No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n.8069, veio a lume em

    1990, dele destacam-se os seguintes artigos:

    Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata

  • 32

    esta Lei, assegurando-se-lhes, por Lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades , a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, moral ,espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

    Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

    a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;

    b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;

    c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;

    d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.

    Art. 7º A criança e o adolescente têm direito à proteção, à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.

    Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a:

    I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;

    II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade administrativa competente;

    III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como prestar orientação aos pais;

    IV - fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato

    Art. 11. É assegurado atendimento integral à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, garantido o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde. (Redação dada pela Lei nº 11.185, de 2005)

    Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica e odontológica para a prevenção das enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil, e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e alunos.

    Parágrafo único. É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias.

    Como se vê, na esteira dos documentos internacionais, o Brasil reconhece os

    direitos da criança e do adolescente dando ênfase, entre outras prioridades, à

    saúde. Assim, muitos programas vêm buscando alcançar as necessidades de saúde

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11185.htm#art2

  • 33

    das crianças e consequentemente, de suas mães, de modo a garantir desde o

    nascimento as condições necessárias para o crescimento saudável do futuro

    cidadão.

    A Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno, do Ministério

    da Saúde, elabora diretrizes políticas e técnicas para atenção integral à saúde da

    criança de zero a nove anos e apoia a implementação delas nos estados e

    municípios, vindo ao encontro dos compromissos do Brasil com os Objetivos de

    Desenvolvimento do Milênio e do Pacto de Redução da Mortalidade Materna e

    Neonatal e,ainda, do Pacto pela Saúde e do Programa mais Saúde, conforme

    demonstra aFigura 1.

  • 34

    Figura 1. Linhas de cuidado prioritárias na Área técnica de Saúde da Criança e

    aleitamento Materno

    Fonte: Ministério da Saúde (2011)

    1.3.1.1 Diretrizes nacionais para ações descentralizadas para a saúde da infância

    A seguir, pontuam-se algumas dessas orientações advindas do Ministério da

    Saúde para as ações descentralizadas de estados e municípios:

    a) Incentivo e Qualificação do Acompanhamento, do Crescimento e

    Desenvolvimento: O acompanhamento do crescimento faz parte da atenção à

    saúde da criança e tem início pelo controle de vacinação por meio da

    Caderneta de Saúde da Criança – Passaporte da Cidadania, pois ela é um

  • 35

    instrumento de registro e orientaçõesque auxilia no acompanhamento do

    crescimento infantil e segundo o MS o uso adequado da caderneta mantém o

    vínculo da criança e sua família com os serviços de saúde;

    b) Atenção à Saúde do Recém-Nascido: que orienta a organização da

    rede integral de assistência à mulher, à gestante e ao recém-nascido;

    c) Promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno, que contempla as

    seguintes estratégias: Rede Amamenta Brasil, Rede brasileira deBancos de

    Leite Humano, Iniciativa Hospital Amigo da Criança, Proteção legal ao

    aleitamento materno e mobilização social, Monitoramento dos indicadores de

    aleitamento materno;

    d) Prevenção da violência e promoção da cultura de Paz: diretrizes e

    parâmetros de atenção à saúde, prevenção e cuidados de crianças em

    situação de risco;

    e) Vigilância à mortalidade infantil e fetal: medidas de prevenção de óbitos

    evitáveis. Aqui o MS recomenda a criação de comitês Estaduais e Municipais

    de prevenção do óbito infantil e fetal como estratégia de gestão da assistência

    à saúde e a redução da mortalidade infantil e fetal;

    f) Estratégia Brasileirinhas e Brasileirinhos Saudáveis (EBBS): este

    programa visa a fortalecer o conjunto de esforços desenvolvido para

    articulação, interação e desenvolvimento de ações voltadas à saúde da

    mulher e da criança até os seis anos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).Dessa

    forma,buscar integrar ações de modo a atender um número cada vez maior

    da população infantil.

    A seguir apresenta-se um quadro da orientação da gestão da primeira

    estratégia (Estratégia Brasileirinhas e Brasileirinhos Saudáveis)realizada em 5

    municípios brasileiros, no ano de 2010:

  • 36

    Quadro2

    Fonte:MINISTÉRIO DA SAÚDE( 2010)

  • 37

    g) Brasil Carinhoso: Segundo o Ministério da Saúde (2012), o programa

    BrasilCarinhoso foi lançado em 2012, pelo governo Federal e objetiva

    beneficiar cerca de dois milhões de famílias que possuam crianças de até 0 a

    6 anos em sua formação. O Programa tem caráter intersetorial, entre moradia,

    saneamento e outras, sendo uma delas melhorar os serviços de saúde

    preparando-os para atender famílias mais necessitadas. Na área da saúde,

    este programa expandiu a distribuição de doses de vitamina A para crianças

    entre 6 meses e 5 anos nas UBS e em campanhas de vacinação, e aumentou

    a oferta de sulfato ferroso para evitar a deficiência de ferro e a anemia, que

    prejudicamo desenvolvimento infantil. Este programa, também distribui

    gratuitamente medicamentos para asma, a segunda maior causa de

    internação e óbito de crianças, segundo o Ministério do Desenvolvimento

    Social (MDS; s/d).

    h)Triagem Neonatal - TESTE DO PEZINHO (PNTN): Os estados brasileiros,

    em sua totalidade, contam com os serviços de referência e postos de coleta

    de sangue para realização do Teste do Pezinho. Segundo a Rede Promenino,

    este programa já alcançou 83% de cobertura para crianças nascidas em

    2011, contra um índice de 56% em 2000, o que significa que já se avançou

    muito. (REDE PROMENINO, 2012).

    i) Triagem auditiva neonatal – TESTE DA ORELHINHA: Desde 2010 a Lei

    Federal 12.303 tornou obrigatória a realização gratuita do exame denominado

    Emissões Otoacústicas em todos os hospitais do território nacional. Este teste

    é um exame para detectar se o recém-nascido tem problemas de audição.

    Após a sua realização é possível iniciar o diagnóstico e o tratamento das

    alterações auditivas precocemente. O Conselho Federal de Fonoaudiologia e

    outras entidades brasileiras recomendam que o exame seja realizado na

    maternidade antes da alta hospitalar. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).

    (i).Calendário de Vacinação: Criado em 1973o Programa Nacional de

    Imunizações (PNI) estabelece normas e estratégias de utilização dos

    imunobiológicos.A partir de 2004, o PNI ampliou sua área de atuação junto à

    população brasileira e o Ministério da Saúde estabeleceu três calendários

    obrigatórios de vacinação: o Calendário Básico de Vacinação da Criança, o

  • 38

    Calendário de Vacinação do Adolescente e o Calendário de Vacinação do

    Adulto e Idoso. Estes calendários determinam as vacinas, o número de doses,

    a idade e o período em que devem ser tomadas para garantir uma proteção

    efetiva(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012).

    Da descrição acima, observa-se o avanço dos marcos legais e das políticas

    de saúde voltadas à infância. As diretrizes expostas demonstram que há ações a

    serem realizadas em todo o território nacional, o que se espera é que haja vontade

    política nos poderes locais para que a instituição de programas de saúde seja

    efetivada, porque nem sempre foi assim no Brasil.

    Um breve olhar para a história da organização do Estado Moderno Brasileiro

    demonstra que na área da saúde a população estava sujeita a um quadro que se

    caracterizava pelas chamadas `doenças pestilenciais´ como a cólera, febre amarela,

    tuberculose, tifo, malária, varíola, gripe espanhola e várias outras. As ações de

    saúde visavam a quase que exclusivamente ao controle das doenças epidêmicas,

    nas áreas fundamentais para a economia. Foi no governo de Rodrigues Alves, em

    1902, que surgiu o programa de saneamento do Rio de Janeiro e de combate à

    febre amarela em São Paulo, e foi Oswaldo Cruz, com um modelo trazido de Cuba,

    que implantou as campanhas sanitárias, buscando o combate às epidemias rurais e

    urbanas (BERTOLLI FILHO, 2008).

    Além dessas campanhas sanitárias e de ações de saneamento básico, com o

    objetivo de pesquisar e desenvolver vacinas, também foi criado o Instituto

    Soroterápico de Manguinhos, posteriormente denominado Instituto Oswaldo Cruz. A

    introdução da vacina contra varíola no Brasil em 1932 estabeleceu o primeiro

    instrumento legal de obrigatoriedade da vacinação antivariólica brasileira.

    (BERTOLLI FILHO, 2008)

    Da década de 30 para cá, o quadro de imunização foi se expandindo.

    Atualmente, entre as várias ameaças de epidemias que eventualmente surgem no

    cenário nacional ou mundial, há programas momentâneos de vacinação, mas é na

    carteirinha de vacinação da criança que se tem um bom exemplo de ações

    preventivas desde o nascimento.O calendário de vacinação de 2012 foi assim

    estabelecido como se observa na figura 3.

  • 39

    FIGURA 2 – Calendário de Vacinação

    Fonte: Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo

    j) Programa da Saúde da Família: o MS instituiu, em 1994, o Programa de

    Saúde da Família. A implantação do PSF tem como objetivo melhorar a saúde

    da população num modelo assistencial de atenção baseado na promoção,

    proteção, diagnóstico precoce, tratamento e recuperação da saúde. A

  • 40

    Saúdeda Família é entendida como uma estratégia de reorientação do

    modelo

    assistencial, operacionalizada mediante a implantação de equipes

    multiprofissionais em unidades básicas de saúde. Estas equipes são

    responsáveis pelo acompanhamento de um número definido de famílias,

    localizadas em uma área geográfica delimitada. As equipes atuam com ações

    de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e

    agravos mais frequentes, e na manutenção da saúde desta comunidade. A

    responsabilidade pelo acompanhamento das famílias coloca para as equipes

    saúde da família a necessidade de ultrapassar os limites classicamente

    definidos para a atenção básica no Brasil, especialmente no contexto do SUS.

    (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012)

    Este programa, iniciado em 1994, apresentou um crescimento expressivo

    nos últimos dez anos, no entanto precisa ser sustentada por um processo que

    permita a real substituição da rede básica de serviços tradicionais no âmbito dos

    municípios e pela produção de resultados positivos nos indicadores de saúde e de

    qualidade de vida da população (FREITAS,MANDÚ, 2009).

    Segundo o Departamento de Atenção Básica (MS, 2010) assim se descrevem

    as responsabilidades das esferas gestoras em Atenção Básica:

    Federal - Elaborar as diretrizes da política nacional de atenção básica; - Co-financiar o sistema de atenção básica; - Ordenar a formação de recursos humanos; - Propor mecanismos para a programação, controle, regulação e avaliação da atenção básica; - Manter as bases de dados nacionais. Estadual - Acompanhar a implantação e execução das ações de atenção básica em seu território; - Regular as relações inter-municipais; - Coordenar a execução das políticas de qualificação de recursos humanos em seu território; - Co-financiar as ações de atenção básica; - Auxiliar na execução das estratégias de avaliação da atenção básica em seu território. Municipal - Definir e implantar o modelo de atenção básica em seu território; - Contratualizar o trabalho em atenção básica; - Manter a rede de unidades básicas de saúde em funcionamento (gestão e

  • 41

    gerência); - Co-financiar as ações de atenção básica; - Alimentar os sistemas de informação; - Avaliar o desempenho das equipes de atenção básica sob sua supervisão.

    Como se vê, ao longo do processo histórico da universalização da saúde no

    Brasil, muitos avanços vêm sendo atingidos, embora ainda haja desafios a serem

    enfrentados. Na figura 4, tem-se a cobertura da atenção básica em todo o território

    nacional de acordo com os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio:

    Figura 3. Cobertura da atenção básica implantada a partir de 2011

  • 42

    Fonte: DATASUS/SAGE 2012

    As dimensões continentais brasileiras, a geografia do território nacional ainda

    são barreiras para a oferta de serviços de saúde de qualidade, embora o mapa

    acima mostre uma abrangência grande. Uma das questões que o país ainda

    enfrenta na redução das desigualdades é a corrupção que impede que programas

    sociais continuem atendendo as populações carentes.

    l)Programa de Merenda Escolar: a história da merenda escolar pode ser

    avaliada por uma trajetória longa, segundo o IPEA:

    Há cerca de meio século nasceu no Brasil o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), política pública contínua que representa um dos maiores programas de alimentação e nutrição do mundo e o maior da América do Sul (IPEA, 2012).

    Dessa forma, o programa cresceu e passou da sopa, para uma

    complementação alimentar, já que programas iniciados por organismos como a ONU

    e a FAO, desde a década de 50, já haviam detectado a carência alimentar em mães

    e crianças, o que poderia aumentar os índices de mortalidade infantil no mundo.

    A "sopa escolar" constituiu a primeira forma de suplementação alimentar; era preparada nas residências das famílias e transportada até as escolas. Nessa época, entretanto, não havia a preocupação com o estado nutricional da criança que recebia o alimento, pois, a desnutrição protéico-energética — DPE, deficiência só identificada na década de 30, ainda não se definia como tal. O que se pretendia era minimizar a fome das crianças que chegavam à escola sem ter ingerido qualquer alimento. (MAZZILLI, 1997, p.12)

    A partir de 1947 institui-se o Programa de Merenda Escolar (PME), adotando-

    se a partir desta data a expressão Merenda Escolar. Nas décadas de 1950 e 1960

    foi estendida a todo o território brasileiro a distribuição de leite em pó desnatado dos

    programas de ajuda alimentar implantados pela ONU/FAO/UNICEF (ARCANJO e

    HANASHIRO, 2010).

    A criação da Comissão Nacional de Alimentação (CNA) em 1954, na visão de

    Arcanjo e Hanashiro (2010), foi um avanço no sentido de racionalizar os Programas

    de Merenda Escolar existentes e ampliar seu espectro de abrangência. Foi

    substituída, em 1955, pela Campanha de Merenda Escolar (CME), subordinada ao

    Ministério da Educação, que editou a primeira Cartilha da Merenda Escolar tendo no

    texto de introdução de Josué de Castro. A inclusão do Programa Nacional de

  • 43

    Merenda Escolar com o objetivo de combate à fome e à desnutrição. Assim,foi

    considerado um marco histórico.

    O objetivo principal do programa é distribuir uma refeição /aluno do ensino Fundamental da rede pública de ensino nos 200 dias letivos de forma universalizada, suprindo as necessidades nutricionais referentes ao período em que o mesmo estiver na escola. Desta forma, pressupõe-se o estabelecimento de um estado fisiológico adequado à aprendizagem e, ao mesmo tempo, cria-se um forte atrativo à frequência do aluno(STOLARSKI,

    2005, p.16).

    Em 1994, por meio da Lei 8.913,teve início o processo de descentralização

    da Merenda Escolarque, segundo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da

    Educação (FNDE) em 1998, 70% dos municípios brasileiros já haviam consolidado a

    descentralização deste programa, sob o gerenciamento do FNDE.

    Como se observou, diversos programas de assistência à criança foram

    desenhados pela União para que eles se estruturem nos municípios. O MS organiza

    o sistema integrado, distribui recursos aos municípios, capacita gestores para

    implantação, gerenciamento e inserção dos dados no DATASUS.

    Com base nos programas descritos, até aqui, pretende-se demonstrar como

    eles se desdobram no município de Mogi das Cruzes.

  • 44

    CAPÍTULO 2

    MÉTODO

    2.1 Natureza do estudo

    Este estudo caracteriza-se como um estudo descritivo com base bibliográfica

    e documental. De acordo com Gil (2009), as pesquisas descritivas possuem como

    objetivo a descrição das características de uma população, fenômeno ou de uma

    experiência. A pesquisa bibliográfica voltou-se para a compreensão da história da

    institucionalização da saúde no Brasil, principalmente as políticas nacionais

    relacionadas à saúde da infância. Já a pesquisa documental se ateve , num primeiro

    momento ao levantamento de dados e legislação federal acerca da descentralização

    da Saúde e da criação do SUS, da elaboração das diretrizes básicas para a criação

    de programas de proteção à infância e à maternidade expostas nos documentos

    oficiais do Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde, e em seguida

    ateve-se à busca de documentos locais, do município de Mogi das Cruzes e seus

    arranjos locais para a elaboração de programas de proteção à infância que refletem

    as diretrizes nacionais.

    Optou-se por descrever a situação da municipalização da saúde da criança e

    da gestante, com o foco na prevenção e promoção da saúde em seus aspectos

    legais no município de Mogi Das Cruzes. Para tanto reuniram-se informações sobre

    os programas de saúde no município, suas características e o perfil da população

    atendida e dados oferecidos pelo DATA-SUS, comparou-se estes dados ao dados

    nacionais.

    2.2 Captação de dados

    Como o objetivo deste estudo é identificar e descrever a situação da

    municipalização da saúde em Mogi Das Cruzes, mais especificamente dos

    programas de assistência à criança e à gestante com o foco na prevenção e

    promoção da saúde em seus aspectos legais e comparar resultados locais com os

    resultados nacionais, buscou-se, inicialmente, uma revisão da literatura sobre o

    conceito de políticas públicas e o cenário brasileiro federativo na distribuição, o

    processo de descentralização ocorrido ao longo dos 25 anos de criação do SUS.

  • 45

    A revisão de literatura foi realizada por meio de pesquisas bibliográficas

    utilizando sites, livros e revistas eletrônicas enfocando temas relativos aos objetivos

    estabelecidos. A busca de dados científicos deu-se em bases virtuais de dados tais

    como: PORTAL CAPES, SCIELO, LILACS, BIREME e MEDLINE, utilizando-se como

    descritores: Políticas Públicas X Saúde, Políticas Públicas X Saúde na Primeira

    Infância, Políticas Públicas X Saúde Preventiva, Políticas Públicas X Saúde Curativa,

    Políticas Públicas X Descentralização; Políticas Públicas X Infância. Os dados

    obtidos passaram por um critério de seleção tendo como base objetividade,

    relevância científica e objetivos almejados no presente estudo.

    Foi feita análise de documentos emanados do poder público, conforme

    disposto na Constituição Federal Brasileira de 1988, que, dentre outros direitos,

    definiu como requisitos indispensáveis à aplicação de políticas públicas os princípios

    da universalidade e equidade na oferta e acessos de ações e serviços,

    administrados de maneira descentralizada, através de gestão integrada dos três

    poderes federativos, com participação em nível municipal da comunidade. Estes

    documentos foram buscados nos sítios do Ministério da Saúde, incluindo aí o DATA-

    SUS e o Departamento de Atenção Básica, Ministério da Educação e Ministério do

    Desenvolvimento Social. Buscaram-se dados demográficos e socioeconômicos no

    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Instituto de Pesquisa

    Econômica Aplicada (IPEA).

    Para os atos normativos do município de Mogi das Cruzes, foram consultados

    os arquivos disponibilizados pelo site da Câmara Municipal e da Prefeitura Municipal

    a fim de se conhecer os programas oferecidos pelo município e que o cidadão possa

    pesquisar para obter informações. No site da Prefeitura, há uma navegabilidade fácil

    e quando se buscam os programas na área da saúde as informações, embora

    breves, constam separadas em índices relativamente simplesde encontrar. Na

    Câmara Municipal há um mecanismo de busca de legislação por palavras chave e

    por assunto e quando se coloca o assunto ‘Saúde’ e as palavras-chave ‘criança’ ou

    ‘infantil’, obtém-semuitos resultados. Há leis arquivadas desde a elaboração da Lei

    Orgânica do Município (LOM), Plano Diretor, as políticas públicas e a Lei de

    Diretrizes Orçamentárias (LDO) e o Plano Plurianual (PPA).

  • 46

    Os documentos analisados dizem respeito às aplicações das Políticas

    Públicas no município de Mogi das Cruzes, visando aspectos de saúde preventivos e

    curativos. Os dados coletados mostram os processos de proposição das ações e os

    atores envolvidos, passam pelas matérias publicadas pelos órgãos públicos locais,

    estaduais e federais e chegam às formas pelas quais se deu, de forma efetiva, a

    implementação das ações.

    2.3 Análise dos dados

    Buscou-se uma forma de compreensão e interpretação dos fenômenos

    relacionados às Políticas Públicas, usando-se ferramentas descritivo-analíticas

    aplicadas a dados, considerados os objetivos deste estudo.

    A fim de se analisar o atual cenário das políticas municipais de saúde, optou-

    se por comparar resultados locais com os resultados nacionais, a partir de

    mecanismos oferecidos pelo DATASUS, por onde podem ser acessados os dados

    nacionais, regionais ou municipais acerca dos assuntos tratados, entre eles

    mortalidade infantil e mortalidade materna, abrangência dos serviços de assistência

    à saúde em todo o território nacional e local, e demais dados que assegurassem

    uma comparação segura.

    A grande dificuldade foi a obtenção dos dados num único ano, uma vez que

    cada órgão do governo publica dados referentes à população estudada em

    diferentes setores, a partir de diferentes recortes temporais. Em virtude desta

    dificuldade, optou-se por aproximar os dados em torno de 2010 em virtude da

    publicação do resultado do Censo nacional pelo IBGE. Para efeitos deste estudo, os

    resultados entre 2009 e 2011 foram os escolhidos, poisbuscam aproximar mais

    fielmente os resultados obtidos e facilitam a sua discussão.

  • 47

    CAPÍTULO 3

    POLÍTICAS DE SAÚDE DESTINADAS À INFÂNCIA NO MUNICÍPIO

    DE MOGI DAS CRUZES – RESULTADOS E DISCUSSÃO

    3.1 O MUNICÍPIO DE MOGI DAS CRUZES

    O município de Mogi das Cruzes está situado na região leste da Grande São

    Paulo, no Alto Tietê, é o maior município, em área, da Grande São Paulo, com 713,

    291 km².

    Mogi das Cruzes nasceu paralela às ações do bandeirantes rumo ao interior

    do Estado de São Paulo. O Rio Tietê, do tupi-guarani Mboygi – que significa rio das

    cobras, deu o nome à cidade, fundada em 1560. Gaspar Vaz Guedes foi

    responsável pela abertura da primeira estrada entre a capital do estado e a

    freguesia, iniciando o povoado, posteriormente elevado à "Vila", com o nome "Vila

    de Sant'Anna de Mogi Mirim". O fato foi oficializado em 1º de setembro, dia em que

    se comemora o aniversário da cidade (PMMC, 2013).

    O município de Mogi das Cruzes se encontra situado no Departamento

    Regional de Saúde-1(DRS-1) com abrangência na grande São Paulo e Alto Tietê,

    responsável por coordenar as atividades da Secretaria do Estado da Saúde neste

    âmbito, promovendo a articulação intersetorial, com os municípios e organismos da

    sociedade civil (PMMC, 2013).

    De acordo com o Censo IBGE (2010-2011), os dados sobre Mogi das Cruzes

    são apresentados na tabela 1.

  • 48

    Quadro 2. População residente Mogi das Cruzes, São Paulo e Brasil por faixa etária e sexo, 2010)

    FONTE: IBGE( 2012)

    Como se observa na tabela 1 esses dados apontam para um número menor

    da população objeto deste estudo, em relação ao número de adolescentes e jovens.

    A julgar pelos quase 60 mil habitantes de idade entre o a 9 anos, entende-se que as

  • 49

    políticas de saúde na área da prevenção e da cura precisam, numa certa medida

    estar em consonância com as diretrizes emanadas do sistema federal, como se viu

    no início deste estudo. É preciso esforço do poder local na implantação de

    programas na esteira das necessidades já identificadas e equacionadas pelo SUS.

    A seguir as pirâmides etárias mostram distribuição da população residente.

    Importante notar que a população é bem jovem em sua grande maioria e enfatiza-se

    aqui a população infantil de 0 a 9 anos, que é a segunda na escala populacional,

    ficando atrás apenas da população de 20 a 29 anos, muito próximo à tendência

    nacional, conforme se vê naFigura1

    Figura4. Pirâmide Etária Mogi das Cruzes, São Paulo, Brasil

    Fonte IBGE– 2010

    O grande contingente demográfico de crianças e adolescentes faz com que

    uma das grandes preocupações seja a Saúde. A redução da mortalidade infantil das

    crianças menores de 5 anos de idade é um dos objetivos do milênio adotados pelas

    Nações Unidas e o Brasil vem buscando, neste contexto, a redução dos índices,

    incentivando a criação de banco de dados como o Sistema de Informações sobre

    Mortalidade (SIM) e o Sistema de Informações Sobre Nascimentos (SISNAC)

    (SANTOS, et al., 2004). Tais informações auxiliam os gestores públicos na área da

    saúde na tomada de decisões e no planejamento de ações.

    Observa-se que a pirâmide populacional de Mogi das Cruzes está em

    consonância com o Estado de São Paulo e o país, tanto em nível municipal como

  • 50

    nacional o grande contingente de crianças em idade entre 0 a 9 anos torna evidente

    a relevância deste trabalho.

    Para consolidar a implantação de programas de saúde, o desenvolvimento

    econômico é uma chave importante. Entre os municípios da região, Mogi das Cruzes

    caracteriza-se como o mais desenvolvido economicamente. Segundo dados do

    IBGE de 2011, o PIB atingiu a marca de R$ 9.646.383.000,00, colocando o

    município entre os 62 mais ricos do país (IBGE, 2011).

    Os municípios mais desenvolvidos em termos sócioeconômicos destacam-se

    pelo sucesso significativo na implantação de sua rede de serviços e a

    descentralização favorece o município que estabelece mais direta e cotidianamente

    o contato com o cidadão e as instituições públicas, pois ela incentiva a participação

    social, envolve novos atores e novos arranjos locais que podem ser mais produtivos

    (MERTHY e QUEIROZ, 1993; BODSTEIN, SENNA eSOUZA, 1999).

    O município alavancou muitas ações políticas de proteção social mais

    acentuadamente na década de 90 quando foi promulgada a sua Lei Orgânica, que

    destina à saúde seus artigos 179 a 188, deixando claros os papeis de

    descentralização, da integração dos serviços com base na regionalização, na

    participação da população na gestão e formulação de políticas de saúde,de

    assistência à maternidade e à infância, à vigilância sanitária e epidemiológica,

    criando também o fundo Municipal da Saúde(PMMC, 2013).

    A intenção de alargamento da oferta de serviços no município vem expressa

    no Plano Diretor, Lei Complementar 46/2006, que descreve a Política Municipal de

    Saúde e aponta para a melhoria e ampliação da oferta de serviços de atendimento,

    a informatização e ampliação das unidades de atendimento, ampliação de recursos

    humanos, principalmente na estratégia de saúde da família. Destaca-se a ampliação

    de programas de planejamento familiar a integração com a Secretaria de

    Transportes para remoção e deslocamento de pacientes e a ampliação da oferta de

    atendimento 24 horas nas Unidades Básicas de Saúde entre outros pontos (PMMC,

    2013).

    A Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2013 destina R$ 2.215.700,00 para a

    assistência à criança e ao adolescente; R$ 25.535.700,00 para a Assistência

  • 51

    Médica; para a Merenda Escolar o orçamento é de R$ 1.579.800,00 e, para o Ensino

    de Crianças de 0 a 6 anos, o valor estimado pela lei é de R$ 1.571.940,00. A julgar

    pelo orçamento de 2013, observa-se que o desenvolvimento vem fortalecendo a

    gestão municipal, que, por sua vez, vem criando propostas de viabilizar e otimizar a

    implantação de programas de saúde, destacando-se: 22 Unidades Básicas de

    Saúde (três delas com atendimento 24 horas) e todas com atendimento pediátrico,

    ginecologia e obstetrícia e vacinação, 03 Centros Médicos Municipais - 2 Pró-Mulher

    e 1 Pró-Criança, ambulatório para as gestantes e recém-nascidos - Mãe Mogiana, 11

    do Programa de Saúde da Família, 02 Unidades Móveis, 01 Ambulatório de Saúde

    Mental, 1 ambulatório de especialidades (ÚNICA), além de 05 Consultórios isolados.

    Três hospitais atendem a população SUS dependente - 64,25% da população

    mogiana. Um deles é um hospital filantrópico - Santa Casa de Misericórdia e dois

    são hospitais estaduais (PMMC, 2013).

    A seguir, a tabela 2 apresenta a rede assistencial do SUS no município, que

    pode se considerar bem abrangente (dados de 2009).

    Tabela 1 Número de estabelecimento por tipo de prestador segundo tipo de

    estabelecimento – Dez 2009

    Número de estabelecimentos por tipo de prestador segundo tipo de estabelecimento

    Dez/2009

    Tipo de estabelecimento Público Filantrópico Privado Sindicato Total

    Central de Regulação de Serviços de Saúde 2 - - - 2 Centro de Atenção Hemoterápica e ou Hematológica - - - - -

    Centro de Atenção Psicossocial 1 - - - 1

    Centro de Apoio a Saúde da Família - - - - -

    Centro de Parto Normal - - - - - Centro de Saúde/Unidade Básica de Saúde 34 - - - 34 Clinica Especializada/Ambulatório Especializado 4 2 89 - 95

    Consultório Isolado - - 126 - 126

    Cooperativa - - - - - Farmácia Médica Excepcional e Prog Farmácia Popular 1 - - - 1

    Hospital Dia - - - - -

    Hospital Especializado - - 1 - 1

    Hospital Geral 2 1 4 - 7 Laboratório Central de Saúde Pública – LACEN - - - - -

    Policlínica - - 7 - 7

    Posto de Saúde - - - - -

    Pronto Socorro Especializado - - - - -

    Pronto Socorro Geral - - - - -

  • 52

    Secretaria de Saúde - - - - - Unidade Mista - atende 24h: atenção básica, intern/urg - - - - - Unidade de Atenção à Saúde Indígena - - - - - Unidade de Serviço de Apoio de Diagnose e Terapia - - 35 - 35

    Unidade de Vigilância em Saúde 3 - - - 3

    Unidade Móvel Fluvial - - - - - Unidade Móvel Pré Hospitalar - Urgência/Emergência - - - - -

    Unidade Móvel Terrestre 1 - - - 1 Tipo de estabelecimento não informado - - - - -

    Total 48 3 262 - 313 Fonte: CNES. Situação da base de dados nacional em10/04/2010.

    Nota: Número total de estabelecimentos, prestando ou não serviços ao SUS

    Após identificar as ações públicas de saúde, a pergunta estabelecida foi: as

    políticas públicas vigentes atendem à população do município de Mogi das Cruzes,

    na faixa etária de 0 a 6 anos, amparando-a em suas necessidades para com um

    adequado desenvolvimento corpóreo funcional?

    Como se vê na tabela anterior,o número de sete hospitais gerais pode ser

    considerado um indicador ainda pequeno para o contingente populacional, o que

    corrobora a afirmação de Menicucci (2009, p. 1622), que afirma ser ‘o calcanhar de

    Aquiles’ do SUS ainda a sua deficiência em leitos hospitalares.

    A seguir caracterizam-se os programas de saúde no município, que refletem

    as preocupações no cenário nacional, já apresentados anteriormente.

    3.2 PROGRAMAS DE REDUÇÃO DA MORTALIDADE INFANTIL E MATERNA NO

    MUNICÍPIO DE MOGI DAS CRUZES

    3.2.1 A busca da redução da mortalidade infantil

    As primeiras iniciativas para a melhoria da assistência à criança e ao

    adolescente se deu em Mogi das Cruzes, em 1997, com a promulgação da Lei 4602,

    que dispunha a política municipal de atendimento aos direitos da criança e do

    adolescente, criando o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do

    Adolescente, o fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e

  • 53

    programas de orientação e