politica nacional de saúde do trabalhador

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1 Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Ações Programáticas Estratégicas Área Técnica de Saúde do (a) Trabalhador (a)- COSAT POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO (a) TRABALHADOR (a). -Proposta para Consulta Pública - Documento em elaboração. Versão preliminar para discussão. Brasília. Janeiro de 2004.

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Page 1: Politica Nacional de Saúde Do Trabalhador

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Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Ações Programáticas Estratégicas Área Técnica de Saúde do (a) Trabalhador (a)- COSAT

POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO (a) TRABALHADOR (a).

-Proposta para Consulta Pública -

Documento em elaboração. Versão preliminar para discussão.

Brasília.

Janeiro de 2004.

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“A formulação de uma política pública

é o processo de transformação de demandas sociais

em escolhas políticas”

Roberto Guimarães, 1986.

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SUMÁRIO

1. ANTECEDENTES

2. JUSTIFICATIVA: POR QUE UMA POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR PARA O SETOR SAÚDE

3. MARCOS REFERENCIAIS DA POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR PARA O SETOR SAÚDE

4. PROPÓSITO

5. DIRETRIZES

� Atenção Integral Saúde dos Trabalhadores envolvendo a promoção de ambientes e processos de trabalho saudáveis; fortalecimento da vigilância de ambientes, processos e agravos relacionados ao trabalho; assistência integral à saúde dos trabalhadores; adequação e ampliação da capacidade institucional

� Articulação Intra e Intersetoriais

� Estruturação de Rede de Informações em Saúde do Trabalhador

� Apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas

� Desenvolvimento e capacitação de recursos humanos

� Participação da Comunidade na Gestão das Ações em Saúde do Trabalhador

5. RESPONSABILIDADES INSTITUCIONAIS do SETOR SAÚDE QUANTO À SAÚDE DO TRABALHADOR

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5.1 - Competências do SUS

5.2 Responsabilidades do SUS por Esfera de Governo

5.1.1 do Gestor Federal – Ministério da Saúde

5.1.2 do Gestor Estadual – Secretaria Estadual de Saúde

5.1.3 do Gestor Municipal - Secretaria Municipal de Saúde

6. FINANCIAMENTO

7. ACOMPANHAMENTO

8. BIBLIOGRAFIA

9. ANEXOS

I - Distribuição dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador Estaduais e Regionais – 2003/2004

II – Exemplos de temas para estudo das complexas relações entre trabalho e saúde

III - GLOSSÁRIO

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1. ANTECEDENTES

1. As políticas públicas no campo da saúde e segurança no trabalho constituem ações implementadas pelo Estado visando garantir que o trabalho, base da organização social e direito humano fundamental, seja realizado em condições que contribuam para a melhoria da qualidade de vida, a realização pessoal e social dos trabalhadores, sem prejuízo para sua saúde, integridade física e mental. Influem aqui aspectos gerais, como a garantia de trabalho, a natureza e relações de trabalho, a distribuição da renda, as questões diretamente relacionadas às condições e ambientes de trabalho, com o objetivo da promoção, proteção e recuperação da saúde e a reabilitação profissional.

2. Tais políticas têm dimensões sociais e técnicas indissociáveis. A dimensão técnica pressupõe a utilização dos conhecimentos e tecnologias mais adequados, a fim de dar respostas eficazes aos problemas e assegurar a credibilidade dos trabalhadores. Na sua dimensão social, as demandas por saúde são reivindicadas diretamente pelo trabalhador no serviço de saúde, aonde somam-se as ações preventivas e/ou curativas. Nesse sentido, o serviço de saúde configura-se como um micro espaço de luta política e de produção de informação e conhecimento, relacionando interesses com projetos distintos, que necessitam ser considerados no modelo de atenção adotado.

3. A política de saúde do trabalhador apresenta interfaces com as políticas econômicas, de indústria e comércio, agricultura, ciência e tecnologia, educação e justiça, além de estar diretamente relacionada às políticas do trabalho, previdência social e meio ambiente. A mesma deve estar articulada com as organizações de trabalhadores e as estruturas organizadas da sociedade civil, de modo a garantir a participação e dar subsídios para a promoção de condições de trabalho dignas, seguras e saudáveis para todos os trabalhadores. 1

4. Apenas a partir da Constituição Federal de 1988 e sua regulamentação, com a Lei Orgânica da Saúde (Lei 8080 de 1990), o Sistema de Único de Saúde – SUS passa a ter competência e atribuição legal sobre o processo saúde-doença relacionado ao trabalho. Desde então, o Ministério da Saúde, por meio da Área Técnica de Saúde do Trabalhador - COSAT, tem buscado formular uma Política Nacional de Saúde do Trabalhador - PNST. Entre 1998 e 2000 foi desenvolvido um processo participativo para a elaboração de uma proposta para a PNST, jamais implementada.

5. A ausência de uma política nacional para a área tem colaborado para que as ações em saúde do trabalhador venham sendo desenvolvidas de forma fragmentada e dissociada das demais ações no campo da atenção à saúde,

1 Foge aos objetivos deste texto, a retrospectiva do processo de formulação e implementação das políticas públicas de saúde e segurança no trabalho, no país. Diversos autores têm se ocupado do tema, na perspectiva dos distintos atores sociais envolvidos.

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inclusive as ações vigilância. Fica evidente a necessidade de incorporar um conjunto de decisões e ações coerentes, que contemplem os aspectos sanitários, ambientais, éticos, econômicos e sociais, incluindo questões étnicas e de gênero na Saúde do Trabalhador, contribuindo assim para o aperfeiçoamento do processo de construção do SUS.

6. Este documento pretende superar esta lacuna, viabilizando uma PNST articulada intra e a inter-setorialmente, definindo o modelo de atenção que lhe corresponda e estabelecendo as suas diretrizes, responsabilidades institucionais e formas de financiamento.

7. O acúmulo representado pelo desenvolvimento do conhecimento científico e pelas conquistas resultantes das lutas dos trabalhadores por saúde no Brasil e em todos os países do mundo, é a base do processo de constituição da área de saúde do trabalhador.

8. Coerente com a continuidade deste processo e com os seus atores sociais no

atual momento histórico, a PNST visa ampliar o espaço, para uma participação ativa desses atores e da sociedade, na formulação e implementação de políticas públicas e modelos de desenvolvimento sustentável, que incluam a preservação do ambiente e contemplem a promoção da saúde dos trabalhadores entre os seus objetivos.

9. JUSTIFICATIVA: POR QUE UMA POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR PARA O SETOR SAÚDE?

10. No Brasil, até 1988, a Saúde era apenas um benefício previdenciário (restrito

aos contribuintes) ou um serviço comprado na forma de assistência médica ou, por fim, uma ação de misericórdia oferecida aos que não tinham acesso à previdência e nem recursos para pagar a assistência privada, prestada por hospitais filantrópicos, como as Santas Casas.

11. Desse modo, a atenção à saúde era, rigorosamente, um serviço oferecido e regulado pelo mercado ou pela Previdência Social, por meio de uma política de Estado compensatória voltada aos trabalhadores contribuintes, formalmente inseridos no mercado de trabalho.

12. Naquela época, as ações de caráter mais coletivo ou as "ações de saúde pública" eram executadas pelo Ministério da Saúde e completamente dissociadas da atenção individual. Essas ações resumiam-se em campanhas e programas predominantemente de caráter preventivista, como as campanhas de vacinação e os programas verticais sobre doenças endêmicas, como tuberculose, hanseníase, doença de Chagas, malária, entre outras.

13. Tal modelo, que dissociava as ações individuais das ações coletivas e excluía grande parte da população da atenção à saúde, aliado aos níveis de desigualdade de distribuição da riqueza do país, contribuía incisivamente para perpetuar péssimas condições de saúde e qualidade de vida aos cidadãos.

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14. Objetivamente, até a década de 80, apesar de vivermos numa nação com uma riqueza natural e cultural invejável e uma economia ascendente, internacionalmente considerada "pujante", observava-se, paradoxalmente :

15. -elevado número de mortes de crianças, devido a diarréia, sarampo, meningite, entre outros agravos "preveníveis", com índices de mortalidade infantil em algumas regiões do país entre os piores do planeta;

16. -elevados índices de mortalidade materna e infantil perinatal, refletindo baixa cobertura na assistência à gestação e ao parto;

17. -índices recordistas de acidentes do trabalho, levando a Organização Internacional do Trabalho – OIT a pressionar o então governo militar por providências em curto prazo;

18. -baixíssima capacidade diagnóstica e de registro das doenças relacionadas ao trabalho.

19. A partir de meados dos anos 70 e durante toda a década de 80, o recrudescimento dos movimentos sociais levou o Brasil ao seu processo de redemocratização. Nesse contexto surge o Movimento de Reforma Sanitária, propondo uma nova concepção de Saúde Pública para o conjunto da sociedade brasileira, incluindo a Saúde do Trabalhador.

20. Dessa forma, a Saúde do Trabalhador reflete uma resposta institucional aos movimentos sociais que, entre a metade dos anos 70 e os anos 90, reivindicavam que as questões de saúde relacionadas ao trabalho fizessem parte do direito universal à saúde, incluídas no escopo da Saúde Pública. Entre os fatores que contribuíram para a institucionalização da Saúde do Trabalhador no âmbito do Sistema Único de Saúde, temos:

21. -o movimento de Oposição Sindical dos anos 70 e 80; 22. -o Movimento da Reforma Sanitária Brasileira; 23. -o movimento pelas eleições diretas e pela Assembléia Nacional

Constituinte e; 24. -a promulgação da “Constituição Cidadã” em 1988, com a

conquista do direito universal à saúde e o advento do Sistema Único de Saúde.

25. Em 1988 o povo brasileiro conquistou, após quase 500 anos de história, o direito universal à saúde, disposto na Constituição da República Federativa do Brasil

26. , em seu Art.196 como “...um direito de todos e um dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas ....”

27. .

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28. O texto da Carta Magna, em seu artigo 198, afirma ainda que “ ... As ações e serviços de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único...” e, em seu artigo 200, está definido que “... ao Sistema Único de Saúde compete... executar as ações de saúde do trabalhador...”, assim como “... colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho...” .

29. A Lei Orgânica da Saúde (Lei Federal 8080/90), em seu artigo 6º, parágrafo

3º, regulamenta os dispositivos constitucionais sobre Saúde do Trabalhador, da seguinte forma:

30. “ Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho, abrangendo:

I - assistência ao trabalhador vítima de acidentes de trabalho ou portador de doença profissional e do trabalho;

II - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), em estudos, pesquisas, avaliação e controle dos riscos e agravos potenciais à saúde existentes no processo de trabalho;

III - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), da normatização, fiscalização e controle das condições de produção, extração, armazenamento, transporte, distribuição e manuseio de substâncias, de produtos, de máquinas e de equipamentos que apresentam riscos à saúde do trabalhador;

IV - avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde;

V - informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade sindical e às empresas sobre os riscos de acidentes de trabalho, doença profissional e do trabalho, bem como os resultados de fiscalizações, avaliações ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos e de demissão, respeitados os preceitos da ética profissional;

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VI - participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços de saúde do trabalhador nas instituições e empresas públicas e privadas;

VII - revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no processo de trabalho, tendo na sua elaboração a colaboração das entidades sindicais; e

VIII - a garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao órgão competente a interdição de máquina, de setor de serviço ou de todo ambiente de trabalho, quando houver exposição a risco iminente para a vida ou saúde dos trabalhadores.”.

31. Dessa forma, a configuração da Saúde do Trabalhador se dá diretamente no âmbito do direito à saúde, previsto como competência do SUS. Devido à abrangência de seu campo de ação, apresenta caráter intra-setorial (envolvendo todos os níveis de atenção e esferas de governo do SUS) e inter-setorial (envolvendo a Previdência Social, Trabalho, Meio Ambiente, Justiça, educação e demais setores relacionados com as políticas de desenvolvimento), exigindo uma abordagem interdisciplinar e com a gestão participativa dos trabalhadores.

32. Nos últimos dez anos o SUS representou um considerável avanço no que tange ao acesso do cidadão às ações de atenção à saúde e à participação da comunidade em sua gestão, por meio das instâncias de controle social, legalmente definidas. Tal avanço tem se refletido na melhora substancial dos indicadores gerais de saúde, como por exemplo o da mortalidade infantil. Porém, é sabido que, para o direito pleno à saúde, requer ainda que o SUS alcance a melhoria da qualidade e da eqüidade em suas ações, incluindo as ações em Saúde do Trabalhador.

33. As ações em Saúde do Trabalhador, no âmbito do SUS, têm se desenvolvido de forma isolada e fragmentada das demais ações de saúde. Estas ações atualmente são desenvolvidas de modo desigual nos estados e municípios. Tal atraso no cumprimento constitucional para as ações em Saúde do Trabalhador no SUS, tem se refletido em alguns indicadores de mortalidade e gravidade elevados, como será explicitado neste texto mais adiante.

34. O Relatório Brasileiro sobre Direitos Humanos Econômicos, Sociais e Culturais de 2003, apresentado em abril p.p. na Conferência Mundial de Direitos Humanos (Genebra - 2003) e, posteriormente, na Conferência Nacional de Direitos Humanos (Brasília – 2003), denuncia casos de violação de direitos humanos, inclusive no que diz respeito à Saúde do Trabalhador2.

2Plataforma Brasileira de Direitos Humanos Econômicos, Sociais e Culturais. Relatório Brasileiro sobre Direitos Humanos Econômicos, Sociais e Culturais. Edições Bagaço, Recife – 2003; 109 –21.

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35. As condições encontradas no trabalho rural, como por exemplo, relações de trabalho à margem da legislação, ocorrência de mão-de-obra escrava e, muito freqüentemente, do trabalho de crianças, faz com que a população que vive e/ou trabalha no campo encontra-se mais descoberta e vulnerável aos problemas de saúde relacionados ao trabalho. A contratação de mão-de-obra temporária para os períodos da colheita gera o fenômeno dos “bóias-frias”, que vivem na periferia das cidades de médio porte e aproximam os problemas dos trabalhadores rurais aos dos urbanos. Os trabalhadores e as trabalhadoras estão inseridos em distintos processos de trabalho, desde a produção familiar em pequenas propriedades, acampamentos e assentamentos de reforma agrária, atividades extrativistas, até os grandes empreendimentos agro-industriais que se multiplicam em diferentes regiões do País.

36. A população rural ainda encontra dificuldades significativas de acesso ás ações do SUS. Vencer essas restrições significa pensar em um SUS que considere, em todos seus aspectos, as especificidades do trabalho rural e da vida no campo. Vale aqui destacar que na saúde dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais acirram-se as questões de saúde relacionadas com gênero, ciclos de vida e meio ambiente, com a exposição a diversos fatores de agravos à saúde, como os agrotóxicos e insumos contaminados com resíduos perigosos.

37. Assim, o direito à saúde e à vida, passa pela transformação do processo de produção, que de fonte de agravos e de morte deve ser um fator de proteção e de promoção da vida. Neste contexto, o Sistema Único de Saúde tem um papel fundamental, sendo racional e adequado que a rede de serviços públicos de saúde se qualifique e estruture para atender as demandas de saúde do trabalhador de forma integral.

38. Desta forma, demonstra-se a necessidade da formulação de uma Política Nacional de Saúde do Trabalhador para o SUS que atenda esta demanda. Política esta entendida como o instrumento orientador da atuação do setor saúde no campo da saúde dos trabalhadores, com o objetivo de:

39. -promover e proteger a saúde dos trabalhadores por meio de ações de promoção, vigilância e assistência;

40. -explicitar as atribuições do setor saúde no que se refere às questões de Saúde do Trabalhador de modo a dar visibilidade à questão e viabilizar a pactuação intra e inter-setorial;

41. -fomentar a participação e o controle social.

2. MARCOS REFERENCIAIS DA POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR PARA O SETOR SAÚDE

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42. Os trabalhadores e o princípio da universalidade

43. Para fins desta Política são considerados trabalhadores todos os homens e mulheres que exercem atividades para sustento próprio e/ou de seus dependentes, qualquer que seja sua forma de inserção no mercado de trabalho, no setor formal ou informal da economia. Estão incluídos nesse grupo todos os indivíduos que trabalharam ou trabalham como: empregados assalariados; trabalhadores domésticos; avulsos; rurais; autônomos; temporários, servidores públicos; trabalhadores em cooperativas e empregadores, particularmente os proprietários de micro e pequenas unidades de produção e serviços, entre outros. Também são considerados trabalhadores aqueles que exercem atividades não remuneradas, participando de atividades econômicas na unidade domiciliar; o aprendiz ou estagiário e aqueles temporária ou definitivamente afastados do mercado de trabalho por doença, aposentadoria ou desemprego. Este conceito de trabalhador, ampliado e abrangente, expressa o princípio do SUS de universalidade do acesso à atenção.

44. No Brasil, em 2001, a População Economicamente Ativa (PEA), segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2003), era de 83.243.239 pessoas, das quais 75.458.172 foram consideradas ocupadas. Os trabalhadores remunerados representavam 66.840.515 pessoas, sendo 5.891.227 em atividades domésticas e 60.949.288 na produção de bens e serviços. Destes, 40.932.487 estavam empregados, 16.832.995 trabalhavam por conta própria e 3.183.746 eram empregadores. Entre os empregados, apenas 22.179.855 trabalhavam com carteira assinada, com a cobertura da legislação trabalhista e do Seguro de Acidentes do Trabalho - SAT da Previdência Social. Os demais eram servidores públicos ou tinham outro tipo de vínculo.

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45. População Economicamente Ativa - PEA

83.243.239 pessoas

75.458.172 pessoas ocupadas

66.840.515 trabalhadores(as) remunerados(as)

5.891227 em atividades domésticas

60.949.288 em produção de bens e serviços

3.183.746 empregadores

16.832.995 trabalhadores por conta própria

40.932.487 empregados com salário

22.179.8555 trabalhadores com carteira registrada e com direito ao seguro de acidentes

de trabalho

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Segundo estimativa da OIT, cerca de 60 milhões de trabalhadores brasileiros estão inseridos no mercado de trabalho informal e/ou “precarizado”, descobertos da proteção da legislação trabalhista e do SAT - Seguro Acidente de Trabalho do Ministério da Previdência Social. Cumpre ainda assinalar a existência de 5,7 milhões de crianças e adolescentes entre 5 a 17 anos inseridos em atividades produtivas. Para estes, o SUS representa a única possibilidade de contar com ações de saúde que considerem sua inserção particular nos processos produtivos.

46. O princípio da universalidade pressupõe a responsabilidade do SUS sobre todos os trabalhadores, independentemente de seu grau de inserção na economia ou tipo de vínculo trabalhista.

47. O perfil de morbimortalidade dos trabalhadores brasileiros

48. Os determinantes da saúde dos trabalhadores compreendem, para além dos fatores de risco ocupacionais tradicionais - físicos, químicos, biológicos, mecânicos e ergonômicos -; outros além do conjunto de condicionantes biológicos, sociais, econômicos, tecnológicos e organizacionais responsáveis por situações de risco para a saúde e a vida.

49. De modo esquemático, pode-se dizer que o perfil de morbimortalidade dos trabalhadores no Brasil, na atualidade, caracteriza-se pela coexistência de :

50. -agravos que têm relação com condições de trabalho específicas, como os acidentes de trabalho típicos e as “doenças profissionais”;

51. -doenças que têm sua freqüência, surgimento e ou gravidade modificadas pelo trabalho, denominadas “doenças relacionados ao trabalho” e;

52. .-doenças comuns ao conjunto da população, que não guardam relação de causa com o trabalho, mas que também impactam a saúde dos trabalhadores.

53. A escassez e inadequação das informações sobre a real situação de saúde dos trabalhadores dificultam a definição de prioridades para o planejamento e intervenções em saúde, além de omitir à sociedade instrumentos importantes para a melhoria das condições de trabalho.

54. Como dado ilustrativo, no período de 1996 a 2000, a Previdência Social registrou entre 22 milhões de trabalhadores formais3 (35% da População Economicamente Ativa - PEA) um total de 1.963.955 acidentes de trabalho, sendo 102.321 com óbitos ou incapacidade permanente4, com uma media de 3.788 óbitos/ano. O coeficiente médio de mortalidade entre 1997 e 2001 foi de 17,39 por 100.000 trabalhadores (MS, 2002). Comparando-se o coeficiente de mortalidade do Brasil com o de outros países, estudados por Takala (1999),

3 com vínculo de trabalho regido pela CLT e cobertos pelo Seguro de Acidente do Trabalho – SAT 4 http://www.mte.gov.br/Temas/SegSau/estatisticas

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no início da década de 1990, observa-se que na Finlândia era de 3,2 , na França de 7,4 , Canadá 6,93 e Espanha 10,2 (por 100.000 mil trabalhadores) demonstrando que o risco de morrer devido os acidentes de trabalho no Brasil é cerca de duas a cinco vezes maior.

55. Entre 2000 e 2002, o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, concedeu 42.384 benefícios por incapacidade permanente para o trabalho (em média de quase 40 casos de aposentadoria por invalidez por dia) devido a seqüelas de acidentes e doenças do trabalho. No mesmo período, foram registrados 58.978 casos de doenças relacionadas ao trabalho. A atuação dos serviços de referência de saúde do trabalhador do SUS teve papel importante no aumento do número desses registros, ocorrido a partir do final da década de 80.

56. Apesar de elevados, estes números não refletem a realidade, que é ainda mais grave. Recente estudo epidemiológico de amostragem domiciliar realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista5, na cidade de Botucatu – SP, com padrão de vida e índice de desenvolvimento humano – IDH superiores à média nacional, mostrou a ocorrência de 4,1% de acidentes de trabalho na população, dos quais apenas 22,4% tiveram registro previdenciário. Segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde - OMS (ano), na América Latina, apenas 1% a 4% das doenças do trabalho são notificadas.

57. Cabe ressaltar que acidentes e doenças relacionados ao trabalho são agravos evitáveis e que trabalhadores jovens, idosos e excluídos do mercado formal são mais vulneráveis. Em 1997, na cidade de Campinas – SP (população de cerca de 1 milhão de habitantes), a vigilância em saúde do trabalhador do SUS local estimou incidência anual de aproximadamente 100 amputações traumáticas em menores de 18 anos, devido a acidentes de trabalho.

58. Considerando que, no Brasil, os segurados pelo SAT representam cerca 35% do total de trabalhadores, caso a exposição a fatores de riscos de acidentes presentes no trabalho seja semelhante para os demais trabalhadores, os números globais de acidentes de trabalho no País, poderiam de uma forma bastante simplificada, serem multiplicados por três. 6

59. As informações disponíveis mostram que a incorporação de novas tecnologias e de métodos gerenciais, nos processos de trabalho, modifica o perfil de saúde, adoecimento e sofrimento dos trabalhadores. Essas mudanças se expressam, entre outros, no aumento da prevalência de doenças relacionadas ao trabalho, como as Lesões por Esforços Repetitivos (LER), também denominadas de Distúrbios Ósteo-Musculares Relacionados ao Trabalho (DORT); os cânceres; formas de adoecimento mal caracterizadas, como o estresse, a fadiga física e mental; e outras expressões de sofrimento

5 Binder, MCP e Cordeiro, R. Ver. Saúde Pública 2003; 37 (4): 409-16. 6 Caso se considere a subnotificação demonstrada , entre outros, por Binder,(2003), Barata, (2000) e Conceição (2003), o índice a ser utilizado para “correção” das estatísticas de acidentes de trabalho deverá ser ainda maior

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relacionadas ao trabalho. Essas “novas” formas de adoecimento convivem com as já conhecidas doenças profissionais, como a silicose, as intoxicações por metais pesados, por agrotóxicos, entre outras.

60. Os acidentes de trabalho, conectam-se intrinsecamente ao problema da violência vivido hoje pela sociedade brasileira nos centros urbanos. As relações entre trabalho e violência têm sido enfocadas em múltiplos aspectos: a violência contra o trabalhador no seu local de trabalho, traduzida pelos acidentes e doenças do trabalho; a violência decorrente de relações de trabalho deterioradas, como no trabalho escravo e envolvendo crianças; a violência ligada às relações de gênero e o assedio moral, caracterizado pelas agressões entre pares, chefias e subordinados.

61. A violência urbana e a criminalidade estendem-se aos ambientes e às atividades de trabalho, traduzida em assaltos e roubo, que resultam em agressões por vezes fatais. Também são freqüentes agressões a trabalhadores em serviços sociais e de atendimento ao público, como motoristas, policiais, vigilantes e os trabalhadores da saúde. A violência também acompanha o trabalhador rural brasileiro, conseqüência dos seculares problemas envolvendo a posse da terra.

62. Se, por um lado, as inovações tecnológicas têm contribuído para a redução da exposição aos riscos ocupacionais em determinados ramos de atividade, tornando o trabalho menos insalubre e perigoso, também podem gerar novos riscos e danos para a saúde. O emprego de tecnologias avançadas na área da química fina, na indústria nuclear e nas empresas de biotecnologia que operam com organismos geneticamente modificados acrescenta novos e complexos problemas para o meio ambiente e para a saúde pública do País. Esses riscos são ainda pouco conhecidos e de difícil controle.

63. Para subsidiar as ações de diagnóstico, tratamento e vigilância e o estabelecimento da relação da doença com o trabalho, bem como as medidas daí decorrentes, o Ministério da Saúde, cumprindo a determinação contida no Art. 6o, §3o, inciso VII, da Lei 8.080/90, elaborou, para uso clínico e epidemiológico, uma Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho (Portaria MS N.º 1.339 de 18 de novembro de 1999) Nela estão relacionadas 198 entidades nosológicas, denominadas e codificadas segundo a 10ª revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10). Além das doenças assim codificadas, são relacionados na referida Lista, os agentes de risco e as situações de exposição ocupacional a elas relacionadas.

64. A mesma Lista foi adotada pela Previdência Social para fins da caracterização dos acidentes do trabalho e procedimentos decorrentes, para fins do SAT, nos termos do Decreto N.º 3.048, de maio de 1999.

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65. A Atenção Integral à Saúde do Trabalhador

66. Um modelo de atenção integral à saúde dos trabalhadores implica em qualificar as práticas de saúde, envolvendo o atendimento dos acidentados do trabalho, dos trabalhadores doentes, das urgências e emergências, às ações de promoção e proteção da saúde e de vigilância, orientadas por critério epidemiológico. Para que ocorra de modo efetivo, exige abordagem interdisciplinar e a utilização de instrumentos, saberes, tecnologias originadas de diferentes áreas do conhecimento, colocados a serviço das necessidades dos trabalhadores.

67. O processo de construção da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador – RENAST, pela Portaria MS Nº1679/02 no SUS, representou o aprofundamento da institucionalização e do fortalecimento da saúde do trabalhador, no âmbito do SUS, em nosso país, reunindo as condições para o estabelecimento de uma política de estado e os meios para sua execução, articulando:

68. -a concepção de uma rede nacional, cujo eixo integrador é a rede regionalizada de CRSTs, localizados em cada uma das capitais, regiões metropolitanas e municípios sede de pólos de assistência, das regiões e micro-regiões de saúde, com a atribuição de dar suporte técnico e científico às intervenções do SUS no campo da saúde do trabalhador, integradas, no âmbito de uma determinada região, com a ação de outros órgãos públicos;

69. -as diretrizes para o desencadeamento de políticas estaduais, que nortearão o processo de elaboração de um Plano Estadual de Saúde do Trabalhador, pré-requisito para a habilitação dos Estados aos investimentos definidos na Portaria;

70. -uma política permanente de financiamento de ações de saúde do trabalhador, alocando recursos novos, fundo a fundo para os estados e municípios.

71. A institucionalização viabilizou uma estratégia de disseminação das ações em

saúde do trabalhador em toda rede de serviços do SUS - Unidades Básicas de Saúde, Ambulatórios, Pronto-Socorros e Hospitais – distribuídos em todos os 5.561 municípios brasileiros (Quadro 1).

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72. Quadro 1 -- NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS DE SAÚDE PRÓPRIOS SEGUNDO O TIPO - SUS

Descrição Total

Posto de Saúde 13.384

Centro de Saúde/Unidade Básica 9.084

Unidade Móvel Terrestre 507

Clinica Especializada/Ambulatório de Especialidade

3.893

Policlínica 1.401

Unidade Mista 1.160

Unidade Móvel Fluvial 9

Unidade de Apoio de Diagnose e Terapia (SADT Isolado)

6.164

Pronto Socorro Geral 346

Pronto Socorro Especializado 100

Hospital Geral 4.229

Hospital Especializado 796

TOTAL 41.073

73. Esta estratégia está sendo implementada por uma rede regionalizada de 130 Centros de Referência em Saúde do Trabalhador - CRSTs (Anexo 1), que desempenha uma função de suporte técnico, de educação permanente, de coordenação de projetos de assistência, promoção e vigilância à saúde dos trabalhadores, no âmbito da sua área de abrangência. Até o momento, 21 CRSTs Estaduais e 39 Regionais já foram habilitados, estando previsto a habilitação dos 70 restantes para o ano de 2004.

74. Ainda segundo essa estratégia, os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador deixam de ser porta de entrada do Sistema, constituindo-se como centro articulador e organizador no seu território de abrangência, das ações intra e intersetoriais de saúde do trabalhador, assumindo uma função de retaguarda técnica e pólos irradiadores de ações e idéias de vigilância em saúde, de caráter sanitário e de base epidemiológica.

75. No âmbito da Atenção Primária e mais especificamente no bojo da estratégia de Saúde da Família, definido pelo MS como um dos eixos organizadores das ações do SUS, deverão ser concentrados esforços no sentido de garantir o acesso a

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uma atenção qualificada para estabelecer o nexo causal entre o quadro de morbimortalidade verificado no âmbito dos processos de trabalho de um determinado território.

76. Abordar as questões de Saúde do Trabalhador nessa perspectiva significa ampliar o olhar para além do processo laboral, considerando os reflexos do trabalho e das condições de vida dos indivíduos e das famílias, envolvendo uma abordagem integral do sujeito, a “resolutividade”, a responsabilização, o acolhimento e a integralidade. Nesse sentido, as ações de saúde do trabalhador são espaços privilegiados para o cuidado integral à saúde, assim como as demais ações da Atenção Básica são oportunidades para identificação, tratamento, acompanhamento e monitoramento das necessidades de saúde relacionadas ou não ao trabalho.

77. A expectativa frente a esta nova realidade é a de que seja respeitado todo o processo de programação e pactuação das atividades de organização regional da rede de assistência, previstos na NOAS, PDR e PDI; que os gestores possam ser fortalecidos e que os municípios ao se qualificarem como pólos da RENAST, possam garantir o processo de estruturação da rede de referências para os diversos municípios satélites, de forma consorciada, além de participar dos processos regulatórios de utilização dos procedimentos ofertados pela rede de atenção de média e alta complexidade do SUS.

78. As inter-relações entre a Saúde do Trabalhador e a Saúde Ambiental

79. A abordagem integrada das interrelações entre as questões de saúde do trabalhador e saúde ambiental representa na atualidade, um grande desafio para o SUS, uma vez que, em muitos casos, a degradação ambiental originada no processo de produção, armazenagem, expedição, distribuição e comercialização, expressas na poluição do ar, solo, água superficial e subterrânea, causam danos à saúde dos trabalhadores e da população do entorno.

80. Nessa perspectiva, as ações de saúde passam a ser orientadas pela necessidade de identificar os fatores de risco presentes nos processos de trabalho, buscando suprimir ou controlar a exposição, por meio de ações de vigilância em saúde, configurando uma atuação multiprofissional, interdisciplinar e intersetorial capaz de contemplar a complexidade das relações produção-consumo-ambiente e saúde.

81. No processo de construção desta PNST, foi pactuado que as Políticas de Saúde do Trabalhador e de Saúde Ambiental devem manter a sua identidade, buscando objetivos comuns, de modo a orientar e potencializar a atuação conjunta.

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82. Entre os pontos de convergência entre as áreas de saúde do trabalhador e saúde ambiental, a serem contemplados nessas políticas estão:

83. -a compreensão de que as ações de Saúde do Trabalhador e de Saúde Ambiental devem estar em sintonia com os modelos alternativos de desenvolvimento regional e local, norteadas pelos princípios da sustentabilidade e da viabilidade;

84. -a indissociabilidade ou a impossibilidade de separar os ambientes internos e externos ao trabalho;

85. -a integração de recursos para a operacionalização de ações conjuntas, envolvendo os Centros de Referência da RENAST credenciados ou em fase de credenciamento;

86. -a racionalização e potencialização dos processos de capacitação profissional; 87. -as parcerias estabelecidas com outros atores sociais e institucionais, em

particular o Ministério Público; 88. -a introdução de critérios de saúde ambiental e saúde dos trabalhadores nos

processos de licenciamento ambiental; 89. -o reforço das instâncias de participação e controle social.

90. 4 – PROPÓSITO:

91. A PNST tem por propósito a promoção da saúde e a redução da

morbimortalidade dos trabalhadores, mediante ações integradas, intra e intersetorialmente, de forma contínua, sobre os determinantes dos agravos decorrentes dos modelos de desenvolvimento e processos produtivos, com a participação de todos os sujeitos sociais envolvidos.

92. 5 - DIRETRIZES

93. Considerando o propósito estabelecido na Política Nacional do setor saúde, as seguintes diretrizes de ação deverão, no seu conjunto, garantir a integralidade da atenção aos trabalhadores:

I. Atenção Integral à Saúde dos Trabalhadores

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94. A atenção integral à saúde dos trabalhadores compreende a construção de ambientes e processos de trabalho saudáveis; o fortalecimento da vigilância de ambientes, processos e agravos relacionados ao trabalho; a assistência integral à saúde. Pressupõe a adequação e ampliação da capacidade institucional de modo a permitir que este conjunto de ações seja desenvolvido com competência e resolutividade pela a rede de serviços de saúde.

95. A atenção à saúde dos trabalhadores deverá ser prestada em toda a rede de serviços de saúde, tendo por base a hierarquização do atendimento e a integração efetiva dos níveis de atenção básica, especializada, ambulatorial e hospitalar, além do programa de urgência e emergência, de modo articulado entre os setores público e privado.

96. A vigilância em saúde do trabalhador deve ser compreendida como uma atuação continua, sistemática e com controle social ao longo do tempo, no sentido de detectar, conhecer, pesquisar e analisar os fatores determinantes e condicionantes dos problemas de saúde e dos fatores de riscos relacionados aos processos de trabalho, em seus aspectos sociais, organizacionais, econômicos, epidemiológicos e territoriais, com a finalidade de planejar, avaliar e executar as intervenções sobre os mesmos, de forma a eliminá-los;

97. As ações de vigilância de ambientes e processos de trabalho deverão estar integradas ao sistema de vigilância em saúde, em uma concepção intersetorial e interdisciplinar, que privilegia a idéia da “geração da informação para a ação”;

98. O pressuposto que orienta as ações de vigilância da saúde dos trabalhadores é a de que os agravos para a saúde decorrentes do trabalho são, por definição, passíveis de prevenção e controle. Deverão ser priorizadas as medidas de alcance coletivo, considerando que configuram mecanismos fundamentais para assegurar a qualidade das condições de vida e trabalho.

99. Entre as ações a serem implementadas estão: a caracterização dos processos de trabalho, com a identificação dos fatores e situações de risco, bem como as exigências fisiológicas, cognitivas e psíquicas a que estão expostos os trabalhadores em suas atividades de trabalho. Esta caracterização deve orientar as medidas preventivas, corretivas e coercitivas por exemplo: a adoção de tecnologias de produção adequadas à saúde dos trabalhadores e ao meio ambiente; a proteção e o enclausuramento de máquinas; a substituição de produtos; as modificações necessárias na organização do trabalho; e o desenvolvimento de ações de transferência de conhecimentos sobre as condições de trabalho tanto junto a empregadores quanto aos trabalhadores.

100. Na operacionalização das ações deverão ser utilizadas as concepções

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de território e análises de situação de saúde, incluindo, além dos moradores e usuários dos serviços, os trabalhadores e os ambientes de trabalho.

101. O planejamento das ações de vigilância e a definição de prioridades deverão levar em conta critérios epidemiológicos, como, por exemplo, a investigação de situações de risco, de casos notificados e casos-índice; a busca ativa de casos e os inquéritos epidemiológicos; a operacionalização do conceito de evento sentinela .

102. A implementação das ações de vigilância será realizada em estreita articulação com outros níveis de atenção e segmentos no interior do setor saúde, em um trabalho transdisciplinar e em equipe. Também deverá ser buscada a articulação com as instituições públicas que têm atuação na área, em especial com os Ministérios da Previdência Social, do Meio Ambiente e do Trabalho e Emprego, e as Promotorias e Procuradores de Justiça. Essa articulação deverá envolver, também, instituições privadas, com destaque para as organizações sociais de representação dos trabalhadores e de empregadores.

103. No licenciamento para instalação e ampliação de atividades e processos produtivos devera ser incluído previamente, alem do parecer dos órgãos ambientais, os pareceres do setor saúde e trabalho, que deverão apreciar a existência de situações de riscos e as medidas de prevenção e precaução dos danos e agravos à saúde dos trabalhadores advindos da atividade, incluindo a analise das atividades das empresas principais e terceirizadas;

104. Devera haver uma articulação intersetorial entre a Saúde, a Previdência Social e a Assistência Social para garantir o ressarcimento ao SUS das ações de assistência aos acidentados e doentes, bem como o financiamento permanente das ações de vigilância da saúde nos ambientes de trabalho, com recursos do SAT;

105. Para o fortalecimento das ações de vigilância, deverá ser implementada uma Rede Nacional de Laboratórios de Toxicologia e Avaliação Ambiental, capaz de fornecer o suporte necessário, em articulação com as redes de laboratórios em saúde pública existentes, incluindo a definição de mecanismos e critérios de certificação e proficiência.

106. Também deverão ser estimuladas a criação e ou atualização dos Códigos de Saúde estaduais e municipais, bem como de legislação ordinária ou complementar que se fizer necessária. Os Códigos deverão contemplar normas e padrões capazes de garantir a qualidade da assistência e da vigilância, em especial as ações de inspeção, fiscalização e monitoramento dos ambientes e processos de trabalho, bem como as penalidades a serem aplicadas em caso de inobservância. Também deverão estar contemplados a definição ou readequação de instrumentos jurídico-normativos, fundamentais para a vigilância em saúde a e epidemiológica e a notificação compulsória de

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agravos. Os estados e municípios deverão prover assessoria e defesa jurídica para os servidores no exercício de suas funções.

107. Deverão ser incorporados na atenção aos trabalhadores, quando necessário, os procedimentos de reabilitação / readaptação, com a finalidade de evitar ou diminuir as seqüelas e promover a reintegração social e ao trabalho. Para tanto, os serviços de saúde serão aparelhados para o adequado atendimento aos pacientes nessa fase da atenção e garantidos recursos de órteses e próteses, auxílios para locomoção e comunicação alternativos, segundo as necessidades respectivas.

108. Os serviços de saúde serão capacitados a reconhecer a relação do problema de saúde com o trabalho, de modo a adequar os procedimentos de assistência e demais ações decorrentes, entre as quais aquelas relacionadas à orientação do trabalhador, à comunicação à instância local de vigilância, à Previdência Social e demais atores sociais envolvidos.

109. No desenvolvimento das ações de saúde voltadas a áreas e grupos específicos da população, como por exemplo, de saúde mental, saúde ambiental, redução de acidentes e de violências, saúde da mulher, saúde da criança, saúde do idoso –, a contribuição do trabalho deverá ser contemplada como fator desencadeante ou agravante dos problemas de saúde.

110. As atividades desenvolvidas pelos serviços especializados em engenharia de segurança e medicina do trabalho – Seesmt – das empresas e seus equivalentes no serviço publico, constituirão objeto de atenção e controle pelo SUS, e deverão cumprir as determinações legais, quanto a proteção da saúde dos trabalhadores.

111. Atenção especial será dada igualmente à atuação dos seguros privados de saúde e serviços de assistência complementar, com o objetivo de assegurar a qualidade da assistência prestada aos trabalhadores cobertos por estes serviços, segundo o propósito estabelecido nesta Política, e evitar que sejam repassados ao SUS responsabilidades que, contratualmente, devem ser assumidas por eles. Nesse sentido, conforme definido pelo Art. 32 da Lei N° 9.656/98, deverá ser viabilizado o ressarcimento ao SUS dos gastos decorrentes do atendimento aos acidentados do trabalho e aos portadores de doenças relacionadas ao trabalho, beneficiários desses planos e seguros privados de saúde.

112. Também deverão ser implementados os procedimentos previstos nas Portarias Interministeriais MPAS/MS N° 11/95 – Programa Integrado de Assistência ao Acidentado do Trabalho – PIAT – e de N° 14/96, bem como a Portaria do MS N° 142/97, de modo a garantir o registro no Sistema de Informações Hospitalares do SUS – SIH/SUS – dos procedimentos realizados por ocasião do atendimento de urgência e emergência, de casos de acidente do trabalho, com a finalidade de calcular o montante de recursos financeiros

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do SAT objeto de transferência ao SUS. Ao lado disso, deverão ser estudados e propostos novos procedimentos voltados à assistência à saúde do trabalhador, com vistas a sua incorporação, por meio de códigos específicos a serem contemplados na tabela do SIA/SUS.

113. Para que o setor saúde possa cumprir efetivamente as diretrizes estabelecidas nesta Política, deverão ser providas as condições adequadas ao desenvolvimento das ações, mediante a organização institucional e a definição das competências técnicas e gerenciais, nos três níveis de gestão do SUS e por meio da inserção de indicadores de gestão definidos pela área técnica de Saude do Trabalhador pactuadas nas três instancias. Tal organização objetivará, essencialmente, a qualificação do SUS para a prestação de uma atenção à saúde digna e resolutiva aos trabalhadores.

114. Em relação ao nível central, será promovida a ampliação da competência técnico-científica, a profissionalização e resolutividade no enfrentamento de problemas de abrangência nacional ou que envolvam níveis de maior complexidade sob o ponto de vista técnico, científico e institucional.

115. Para o aumento da capacidade de resposta a problemas de maior relevância e complexidade, particularmente nos níveis central e regional, promover-se-á a organização e funcionamento de redes, integradas por centros de reconhecida competência técnico-científica, como instituições de pesquisa e universidades, os quais deverão ser credenciados, a partir de critérios previamente estabelecidos, para prestar colaboração na sua área de competência, contando, inclusive, com o apoio financeiro.

116. Dentre as estratégias de apoio a esse processo está a organização de uma rede de Centros Colaboradores em Saúde do Trabalhador (CCST). Por definição, um centro colaborador pode ser uma instituição, um departamento, serviço ou laboratório, de natureza púbica ou privada, que tenha a capacidade ou competência técnica-científica de desenvolver ou contribuir para o desenvolvimento de um ou mais objetivos definidos no Plano de Trabalho de operacionalização da Política Nacional de Saúde do Trabalhador (PNST) nos níveis central, estadual ou municipal.

117. Essa rede de CCST deverá apoiar o desenvolvimento de atividades de assistência e prevenção, bem como o acompanhamento de problemas específicos, entre os quais as LER/DORT, os acidentes de trabalho graves e fatais, o trabalho informal precarizado e a segurança química, particularmente o amianto, o benzeno, os agrotóxicos, os agentes cancerígenos, os metais pesados, saúde mental, e os acidentes químicos. Cabe enfatizar a importância e a prioridade a ser dada na organização da Rede Nacional de Laboratórios de Toxicologia e Avaliação Ambiental, de forma articulada com as redes de laboratórios em saúde pública.

118. Atenção especial deverá ser dada a questão dos recursos humanos e

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ao quadro de profissionais. Deverá ser estimulada a incorporação de técnicos de outras áreas do conhecimento, atualmente não previstos no elenco de servidores da saúde e viabilizar faturamentos de procedimentos e Saúde do Trabalhador; adotados instrumentos e estratégias que permitam equacionar a carência de recursos humanos capacitados e habilitados, e valorizada a composição de equipes técnicas multiprofissionais, viabilizando tanto a contratação quanto o estabelecimento de planos de cargos, carreiras e salários.

119. Deverá ser dada prioridade à educação permanente, à elaboração de normas e padronização de procedimentos e ao suporte clínico e laboratorial, garantindo, assim, as condições adequadas de trabalho para os profissionais, em uma perspectiva transdisciplinar.

II. Articulação Intra e Intersetoriais

120. A saúde do trabalhador exige que diversos setores do governo e da sociedade civil estejam envolvidos na construção e desenvolvimento das ações de saúde. Assim, a pactuação intra e intersetorial constitui uma diretriz fundamental desta PNST.

121. A articulação intra-setorial na atenção à Saúde do Trabalhador 122. No âmbito do Ministério da Saúde, identifica-se interfaces da Saúde do

Trabalhador em toda a estrutura organizacional :

123. -Secretaria de Atenção à Saúde/Departamento de Ações Programáticas Estratégicas, onde se insere a Área Técnica de Saúde do Trabalhador, bem como outras áreas afins, como a Atenção Básica, de Média e Alta Complexidade em Saúde, Saúde da Mulher, Saúde do Idoso, Saúde da Criança, Saúde do Adolescente, Saúde Mental, Portadores de Necessidades Especiais e Violência;

124. -Secretaria de Vigilância em Saúde, com ênfase na Coordenação Geral de Vigilância Ambiental;

125. -Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde;

126. -Secretaria de Gestão Participativa;

127. -Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos;

128. -ANVISA e FUNASA

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129. Entre os fóruns estratégicos para a pactuação intrasetorial no SUS estão :

CNS – Conselho Nacional de Saúde / Comissão Inter-setorial

de Saúde do trabalhador –CIST (ampliar a Cist para as questões de saúde ambiental em todas as esferas);

Colegiado de Secretários do Ministério da Saúde;

COPESA - Comissão Permanente Saúde, Ambiente, Produção

e Desenvolvimento Sustentável

GRUPO TERRA – Secretaria Executiva do Ministério da Saúde e demais secretarias do Ministério da Saúde, incluindo também o controle social.

CONASS – Conselho Nacional de Secretários Estaduais de

Saúde; CONASEMS – Conselho Nacional de Secretários Municipais

de Saúde.

130. A articulação inter-setorial na atenção à Saúde do Trabalhador

131. No que se refere às ações intersetoriais, será buscada uma efetiva inserção do setor saúde em programas de desenvolvimento que podem ter repercussão sobre a saúde dos trabalhadores, em todos os níveis de governo. Uma efetiva integração das ações evita a indefinição ou duplicidade de ações e potencializa os recursos de toda a natureza. Ele deve ocorrer mediante a participação do setor saúde em fóruns decisórios e intersetoriais, assim como o estímulo ao desenvolvimento de projetos conjuntos envolvendo os vários setores governamentais, instituições públicas, sindicatos e o conjunto da sociedade civil.

132. O setor saúde deverá participar de programas de desenvolvimento em andamento – como a implantação da Agenda 21 e de desenvolvimento local integrado e sustentável –, bem como dos comitês, visando a promoção de processos e ambientes de trabalho saudáveis. O setor deverá também participar ativamente das instâncias e processos decisórios relativos ao licenciamento e à implantação de sistemas de gestão ambiental, que garantam tecnologias menos lesivas ao ambiente e à saúde dos

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trabalhadores.

133. Para o desenvolvimento dessas ações de Saúde do Trabalhador considera-se necessária uma articulação e entendimento entre o Poder Judiciário, Executivo e Legislativo, considerando-se interlocutores (atores) privilegiados os Ministérios do Trabalho e Emprego, da Previdência Social, do Meio Ambiente, da Ciência e Tecnologia e outras instituições diretamente envolvidas com a qualidade dos ambientes e processos de trabalho, incluindo a Educação, Setores Econômicos e Ministério Publico. A articulação dessas ações está a cargo do Grupo Executivo Interministerial em Saúde do Trabalhador (GEISAT).

134. Outros fóruns de articulação intersetorial com interface com a Saúde do

Trabalhador são:

135. Fórum Permanente de Erradicação do Trabalho Infantil;

136. CONASQ – Conselho Nacional de Segurança Química;

137. Conselho Nacional de Direitos Humanos;

138. CTNBIO – Comissão Nacional de Biossegurança;

139. Movimentos Sindicais (Sindicatos, ONG’s, Associação dos Portadores de Agravos Relacionados ao Trabalho);

III. Informações em Saúde do Trabalhador

140. A atual Política do Ministério da Saúde para a Informação e Informática especifica a Saúde do Trabalhador entre as ações típicas de saúde coletiva, assim como as da Vigilância Sanitária e Vigilância Ambiental, destacando os enormes ganhos de eficiência e qualidade a serem obtidos pelo uso da informática.

141. A referida Política tem como propósito, “Promover o uso inovador, criativo e transformador da tecnologia da informação, para melhorar os processos de trabalho em saúde, resultando em um Sistema Nacional de Informação em Saúde articulado, que produza informações para a gestão, a prática profissional, a geração de conhecimentos e o controle social,

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garantindo ganhos de eficiência e qualidade mensuráveis através da ampliação de acesso, equidade, integralidade e humanização dos serviços”.

142. Assim a informação em saúde do trabalhador está sendo construída como parte do Sistema Nacional de Informação em Saúde, em sintonia com os novos paradigmas e as principais diretrizes desta Política, dentre as quais destacamos os 09 pontos de maior interesse para a área :

1) Registro Eletrônico de Saúde que permitirá recuperar, também por meios eletrônicos, as informações de saúde do indivíduo em seus diversos contatos com o sistema de saúde, com o objetivo de melhorar a qualidade dos processos de trabalho em saúde, incluindo a disponibilidade local de informações para a atenção à saúde; 2) sistema de identificação unívoca de usuários, profissionais e estabelecimentos de saúde, processo de integração dos sistemas de informação de saúde; O Cartão Nacional de Saúde, que identifica usuários e profissionais, é o passo inicial na construção deste novo paradigma; 3) Processo participativo, confidencialidade, privacidade e disponibilidade dos dados e das informações individualmente identificadas em saúde, autenticidade e integridade, através de certificação digital; 4) mecanismos de compartilhamento de informações de interesse para a saúde, colaborações intersetoriais, entre as esferas de governo e entre instituições nacionais e internacionais; 5) Investimento em infra-estrutura de comunicação, padrões abertos de software livre; 6)Ampliação, produção e disseminação de informações de saúde de forma a atender tanto às necessidades de usuários, profissionais, gestores, prestadores de serviços e controle social, quanto ao intercâmbio com instituições de ensino e pesquisa, outros setores governamentais e da sociedade e instituições internacionais; 7) Garantia do acesso a bases de dados em saúde, privacidade e confidencialidade de dados individuais identificados; 8) capacitação de recursos humanos para o uso da tecnologia da informação na operação do sistema de saúde e na utilização das informações de saúde, atendendo as necessidades específicas do controle social, da melhoria da capacidade de gestão e da geração de conhecimento em saúde; 09) Estabelecimento de rede de centros colaboradores na área de informação e informática em saúde, com ênfase para a formação e capacitação de recursos humanos, análise de situação de saúde, pesquisa e desenvolvimento, produção e disseminação de

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informações, avaliação de alternativas e controle de qualidade de produtos.

143. As ações e informações oriundas do nível local deverão alimentar os demais níveis do Sistema de Informação de Saúde, de modo a favorecer o desencadeamento de medidas efetivas de promoção nos âmbitos estadual e federal relativas a problemas de maior abrangência e complexidade. Para tanto, promover-se-á intenso trabalho de articulação no interior das diferentes esferas do SUS, envolvendo os Conselhos, as Câmaras Técnicas e os órgãos executores, inclusive de forma compartilhada com as demais políticas do setor que apresentam interfaces com a saúde dos trabalhadores, como as de Saúde Ambiental e de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências.

144. Em nível local, estimular-se-á a criação de outras bases de dados, tais como cadastros de estabelecimentos, relatórios de inspeção, termos de notificação e fichas de investigação, bem como a utilização de fontes de dados de serviços de saúde e Segurança de empresas, de instituições médicas, seguradoras de saúde e fundos de pensão, de sindicatos, associações patronais, instituições de medicina legal, universidades, associações, entidades civis e órgãos de governo.

145. Para o alcance do propósito da PNST é essencial integrar em um Sistema de Informação em Saúde todas as bases de dados, correlacionando-os entre si e captados em diversas fontes de informações, sobre a força de trabalho, as condições de saúde e de exposição aos fatores de risco gerados nos processos de trabalho.

146. Em conformidade com a atual Política de Informação de Saúde do MS, as informações geradas devem ser fidedignas e socializadas para orientar as ações em saúde do trabalhador. A análise das informações obtidas a partir da vigilância e do acompanhamento da situação de saúde dos trabalhadores deverá ser disponibilizada, em tempo oportuno, de modo a subsidiar o planejamento e a execução de ações de saúde, bem como permitir a ação conjunta e articulada entre os vários setores, órgãos, instituições e atores envolvidos, favorecendo, assim, o processo de controle social. Para tanto, será igualmente importante o estabelecimento de mecanismos permanentes de comunicação com a sociedade e com os trabalhadores em particular, garantindo a ampla difusão dessas informações, incluindo a sua disponibilidade contínua, via Internet e outros meios.

147. Recentemente o MS, juntamente com a OPAS, criou o Observatório Nacional de Saúde do Trabalhador e sua home page com a intenção de atender esta demanda.

148. A monitorização e a análise da situação de saúde dos trabalhadores estarão apoiadas na definição de indicadores específicos. Para isso, deverão ser consideradas as recomendações do Comitê Temático Interdisciplinar –Saúde, Seguro e Trabalho – da Rede Interagencial de Informações para a

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Saúde – RIPSA.

149. No âmbito do SUS, será definido um conjunto de instrumentos específicos para a vigilância de agravos relacionados ao trabalho, que deverá ser incorporado ao Sistema de Informações de Agravos Notificáveis –SINAN –, em conformidade com o proposto pelo Comitê Temático Interdisciplinar Saúde, Seguro e Trabalho da RIPSA. Deverão ser produzidos os critérios para a definição da listagem de agravos de notificação compulsória e investigação obrigatória, em todo o território nacional, com a subseqüente edição de portarias e normas técnicas para a vigilância.

150. No que diz respeito especificamente às informações ambulatoriais e hospitalares, deverá ser criado um instrumento único para o registro dos acidentes de trabalho que demandem atendimento dos serviços de urgência públicos ou privados, respeitando o princípio da universalidade do SUS.

151. A definição de agravos de notificação compulsória, a exemplo de acidentes graves e fatais e das intoxicações, deve viabilizar a informação necessária ao desenvolvimento das ações e a identificação de eventos prioritários para fins de vigilância. Especial atenção será concedida à definição e à atualização permanentes de normas técnicas específicas, parâmetros e padrões, de caráter nacional, visando, em especial, a padronização das ações de vigilância no âmbito do SUS. Entre outras, deverão ser adotadas e avaliadas as metodologias de intervenção propostas na Portaria MS N.º 3.120/98, que aprovou a instrução normativa de vigilância em saúde do trabalhador no SUS.

152. O sub sistema de informação em saúde do trabalhador é parte integrante desta Política de informação e Informática da atual gestão do MS, garantindo a identificação do trabalhador e sua ocupação e nível de exposição, correlacionando com o motivo do atendimento, gerando a partir daí um alerta para a unidade responsável, desenvolver a ação de vigilância. Criar um instrumento de notificação de acidente de trabalho para todos (Principio da Universalidade).

153. Esta base sistêmica, na prática, funcionará como o substrato para operacionalização do Observatório Nacional de Saúde do Trabalhador. A partir desta plataforma serão desenhados caminhos e integradas as instituições que desenvolvam trabalhos nesta área de interesse. Incluir a utilização da tecnologia do geoprocessamento para tratar as informações sobre saúde do trabalhador. Criar um banco de imagens e fotos na home-page do observatório; Levar, circular e retornar os conhecimentos utilizando de meios como: Radio Comunitárias, Radio Peão, Boletins, Mídia. Criar, a partir da Cosat, Grupo de Trabalho -GT para desenvolver a comunicação em Saúde do Trabalhador. Valorizar informações “extra-oficiais” na linguagem do trabalhador.

154. A linguagem dos diversos Sistemas da Saúde deverá ser unificada

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para que haja compartilhamentos, integrando os diversos bancos de dados, como por exemplo as informações entre os Sistemas da Saúde, Trabalho e Previdência.

155. Deve ser incluso neste sistema de informações os dados de laboratórios de toxicologia e sobre o trabalho infantil.

156. IV. Apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas

157. A produção de conhecimento na área de saúde do trabalhador deve estar orientada por critérios epidemiológicos, relevância social e capacidade das instituições de pesquisa. Todos os equipamentos da rede de serviços do SUS, em particular os Centros de Referencia em Saúde do Trabalhador devem estar envolvidos nessa construção de saberes, normas, protocolos, fluxos, dentre outros.

158. A implementação dessa diretriz implicará a articulação estreita com instituições de pesquisa, universidades e serviços, visando a identificação e execução de linhas de pesquisas e projetos que busquem fornecer respostas e subsídios técnico-científicos para a identificação e o enfrentamento de problemas prioritários no contexto da saúde do trabalhador.

159. A criação de uma rede de centros colaboradores em saúde do trabalhador deverá ser uma referência para a solução de problemas numa perspectiva regionalizada. Os centros também deverão facilitar e potencializar a produção do conhecimento local.

160. Os três níveis de gestão do SUS, além de investirem recursos próprios, deverão buscar linhas de financiamento de pesquisa para a saúde do trabalhador junto às agências de fomento, como Capes, CNPq, agências estaduais e internacionais, Ministério da Ciência e Tecnologia e bancos de fomento como o BNDES.

161. As pesquisas e seus resultados devem ser disponibilizados com transversalidade, incluindo temas de interface na social das doenças, novas tecnologias e identificação das demandas dos trabalhadores. Destaca-se também como prioridade para pesquisas aquelas que visam melhoria de serviços, em particular para as desigualdades de raça e gênero.

Não devem ser deixadas de lado as pesquisas em áreas não aplicadas na intervenção pelas necessidades de explicações em modelos teóricos para a melhoria da realidade assistencial e da promoção da saúde. A participação dos trabalhadores deve estar priorizada nas diferentes formas de controle social nas pesquisas e na aplicação dos desenvolvimentos já obtidos no SUS. A intervenção dos trabalhadores pode se dar desde o projeto, passando pelos comitês de ética, até a aplicação dos resultados para as intervenções. Deve-se exigir que qualquer investimento privado em pesquisa sobre trabalhadores e meio-ambiente,

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assim como nas mudanças de tecnologias, sejam controlados por meio de compra direta de pesquisa. Deveria ser criada a Lei de Incentivo à Pesquisa, a exemplo da Lei de Incentivo a Cultura para capacitação de recursos para a pesquisa sobre saúde previdência, trabalho, meio-ambiente, entre outros. São de interesse os diagnósticos sobre os agravos prevalentes dando a sua devida visibilidade. Há a necessidade de que se aplique o princípio de precaução em relação a problemas que não tem pesquisa com resultados conclusivos (como radiação de celulares e campos magnéticos) bem como novas tecnologias de produção e seus impactos.

Capacitação Permanente em Saúde do Trabalhador 162. A capacitação dos profissionais para o desenvolvimento das ações em

saúde do trabalhador tem importância estratégica na operacionalização desta política.

163. O processo de educação permanente em saúde do trabalhador devera contemplar as diversidade e especificidades regionais, incorporar os princípios do trabalho coorporativo, interdisciplinar e em equipe multiprofissional e as experiências acumuladas pelos estados e municípios nessa área. Propõe-se a preparar profissionais em quantidade suficiente e qualificados a desenvolver ações de diagnósticos de doenças e agravos relacionados ao trabalho e a propor um dialogo permanente com instituições responsáveis pelas ações em saúde dos trabalhadores, os empregados e os trabalhadores para que se efetue o controle social.

164. Esse processo – abrangendo as esferas cognitivas e das habilidades e atitudes – deverá proporcionar a preparação de profissionais, em quantidade suficiente e qualificados a desenvolver ações de diagnóstico de doenças e agravos relacionados ao trabalho, bem como as ações de vigilância dos ambientes e das condições de trabalho. Entre as habilidades a serem incentivadas, figurará a de permanente diálogo com as demais instituições responsáveis pelas ações de saúde dos trabalhadores, os empregadores e os trabalhadores, para que se efetive o controle social.

165. O processo de educação permanente em saúde do trabalhador compreenderá todos os profissionais vinculados ao SUS, independente da especialidade e nível de atuação – atenção básica ou especializada – aqueles inseridos em programas e estratégias especificas, como, por exemplo, agentes comunitários de saúde, saúde da família, saúde da mulher, saúde mental, vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, entre outros.

166. Com graus de prioridade distintos, serão contempladas as necessidades de outras instituições publicas e privadas – empresariais, ONG’s, sindicais, patronais e de trabalhadores que atuam na área de modo interativo com o SUS.

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167. Entre os múltiplos procedimentos de educação permanente a serem simulados e / ou desenvolvidos, destacam-se os que permitem maior participação dos profissionais da área, objetivando maior e melhor resultado no processo de aprendizagem, bem como do trabalho interdisciplinar e em equipe.

168. Propõe-se um programa integrado com órgãos de fomento de pesquisa, nacionais e internacionais e com instituições responsáveis pelo processo educativo como universidades, centro de pesquisa, organizações sindicais, ONG’s, entre outras.

169. É importante o estabelecimento da transversalidade e integração com os vários ministérios, como com o Ministério da Educação por meio do incentivo de inclusão de conteúdos temáticos em cursos de graduação e de programas específicos de pós-graduação em sentido amplo e restrito, possibilitando a articulação ensino / pesquisa / extensão.

170. Participação da Comunidade na Gestão das Ações em Saúde do Trabalhador

171. É importante considerar que as ações de saúde deverão ser desenvolvidas

em conjunto com representantes da sociedade civil: os trabalhadores e suas organizações, sindicais e de locais de trabalho, outras formas de representação social que congreguem os trabalhadores de setores da economia informal, de produção agrícola, autônomos e outros; dos empregadores; grupos sociais interessados no desenvolvimento sustentável, como os movimentos ambientalistas, com vistas à identificação de soluções e compromissos que favoreçam a promoção e a proteção da saúde dos trabalhadores.

172. O controle social, uma premissa básica do SUS ganha relevância na Política de Saúde do Trabalhador, uma vez que, a participação dos trabalhadores é essencial para a identificação dos fatores de risco presentes nos processos de trabalho, das repercussões sobre o processo saúde-doença e das transformações das condições geradoras de acidentes e doença.

173. Na atualidade, as mudanças nos processos produtivos e na estrutura sindical têm obrigado a busca de alternativas para a representação dos trabalhadores nos organismos colegiados. O crescimento das relações informais e precárias de trabalho fragiliza a prática sindical e exige a criação de novas modalidades de representação dos trabalhadores.

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174. Também é importante lembrar que os trabalhadores não são um grupo homogêneo, uma vez que os distintos modos de inserção no processo produtivo e na vida social determinam diferentes graus de consciência sanitária que se refletem nas formas de luta que empreendem por melhores condições de vida e de trabalho.

175. 5 - RESPONSABILIDADES INSTITUCIONAIS QUANTO À SAÚDE DO TRABALHADOR

176. Responsabilidade do Gestor Federal – Ministério da Saúde : 177. Cabe ao Ministério da Saúde a coordenação nacional da política de

saúde do trabalhador, assim como é da competência do SUS a execução de ações pertinentes a esta área, conforme determinam a Constituiçao Federal e a Lei Orgânica da Saúde.

178. Ações de responsabilidade dos estados:

• Controle da qualidade das ações em saúde do trabalhador desenvolvidas pelos Municípios, conforme mecanismos de avaliação definidos em conjunto com as Secretarias Municipais de Saúde;

• Definição, em conjunto com os Municípios, de mecanismos de referência e contra-referência, além de outras medidas para assegurar o desenvolvimento de ações de assistência e vigilância;

• Capacitação de recursos humanos para a realização das ações em saúde do trabalhador;

• Estabelecimento de rotinas de sistematização, processamento e análise dos dados sobre saúde do trabalhador, gerados nos Municípios e no seu próprio campo de atuação e, de alimentação

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regular das bases de dados estaduais e municipais;

• Elaboração do perfil epidemiológico da saúde dos trabalhadores no estado, a partir de fontes de informação existentes e, se necessário, por intermédio de estudos específicos, com vistas a subsidiar a programação e avaliação das ações de atenção à saúde do trabalhador;

• Prestação de cooperação técnica aos Municípios, para o desenvolvimento das ações em saúde do trabalhador;

• Instituição e manutenção de cadastro atualizado das empresas, classificadas nas atividades econômicas desenvolvidas no estado, com indicação dos fatores de risco que possam ser gerados para o contingente populacional, direta ou indiretamente a eles expostos;

• Promoção de ações em saúde do trabalhador articuladas com outros setores e instituições que possuem interfaces com a Área, tais como a Previdência Social, Ministério do Trabalho e Emprego, Sindicatos, entre outros;

• Elaborar e dispor regulamentação e os instrumentos de gestão, no âmbito estadual, necessários para a operacionalização da atenção à Saúde do Trabalhador;

• Promoção da pactuação regional das ações de atenção à Saúde do Trabalhador.

179. Ações de Responsabilidade das Regiões e dos Municípios:

• Garantia do atendimento ao acidentado do trabalho e ao suspeito ou portador de doença profissional ou do trabalho, dentro dos diversos níveis da atenção, tendo a atenção básica e os serviços de urgência/emergência como portas de entrada no sistema, assegurando todas as condições, quando necessário, para o acesso a serviços de referência;

• Implementação da notificação dos agravos à saúde, na rede de atenção do SUS, e os riscos relacionados com o trabalho, alimentando regularmente o sistema de informações dos órgãos

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e serviços de vigilância, assim como a base de dados de interesse nacional;

• Estabelecimento de rotina de sistematização e análise dos dados gerados na assistência à saúde do trabalhador, de modo a orientar as intervenções de vigilância, a organização das ações em saúde do trabalhador, além de subsidiar os programas de capacitação, de acompanhamento e de avaliação;

• Implementação da emissão de laudos e relatórios circunstanciados sobre os agravos relacionados com o trabalho ou limitações (seqüelas) dele resultantes;

• Criação de mecanismos para o controle da qualidade das ações em saúde do trabalhador desenvolvidas pelos municípios, conforme procedimentos de avaliação definidos em conjunto com os gestores do SUS;

• Instituição e operacionalização das referências em saúde do trabalhador, capazes de dar suporte técnico especializado para o estabelecimento da relação do agravo com o trabalho, a confirmação diagnóstica, o tratamento, a recuperação e a reabilitação da saúde;

• Apoio à realização sistemática de ações de vigilância nos ambientes e processos de trabalho, compreendendo o levantamento e análise de informações, a inspeção sanitária nos locais de trabalho, a identificação e avaliação de situações de risco, a elaboração de relatórios, a aplicação de procedimentos administrativos e a investigação epidemiológica;

• Instituição e manutenção do cadastro atualizado de empresas classificadas nas atividades econômicas desenvolvidas no município, com indicação dos fatores de risco que possam ser gerados para o contingente populacional direta ou indiretamente a eles expostos;

• Promoção de ações em Saúde do Trabalhador articuladas localmente com outros setores e instituições que possuem interfaces com a Área, tais como a Previdência Social, Ministério do Trabalho e Emprego, Sindicatos, entre outros;

• Elaboração e disponibilização da regulamentação e

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dos instrumentos de gestão, no âmbito regional e municipal, necessários à operacionalização da atenção à Saúde do Trabalhador;

• Pactuação com os gestores regionais e municipais das ações de atenção integral à Saúde do Trabalhador.

180. 6. CUSTOS E FINANCIAMENTO

181. Cálculos econômico – Para cerca de 400 mil acidentes registrados anualmente no Brasil, as empresas tem uma despesa de aproximadamente 12,5 bi ( contando os custos segurados e os não segurados); os familiares dos acidentados ou lesionados bancam mais de 2,5 bi para acudir os que se acidentam e adoecem no mercado informal e nada contribuem para a formação do fundo previdenciário que garante o seguro dos acidentes do trabalho. Em suma: teoricamente o número se aproxima de 20 bilhões de reais por ano, isso daria para gerar 500 mil empregos. O mais grave é o sofrimento das vítimas de acidentes e doenças profissionais.

182. Os acidentes do trânsito ocorridos no trajeto do trabalhador para o emprego estão também incluídos nos índices de acidentes do trabalho ( acidentes de trajeto), assim como as doenças provocadas pelo exercício de determinada atividade.

183. Os bancos aparecem como um dos setores que geram mais doenças do trabalho, as doenças de movimentos repetitivos chamadas LER / DORT

184. O número de dias de trabalho perdidos em razão dos acidentes aumenta o custo da mão de obra no Brasil, encarecendo a produção e reduzindo a competitividade do país no mercado externo.

185. Em 2001 a Previdência Social pagou mais de 2 bilhões em benefícios a trabalhadores acidentados. A média de gastos calculada no triênio 1997/1999 foi de 1,7 bilhão por ano. O tempo laboral perdido anualmente por causa dos acidentes de trabalho é de 106 milhões de dias, acumulando-se os períodos de afastamento de cada trabalhador.

186. A extração do carvão mineral foi a que apresentou maior periculosidade segundo dois indicadores: freqüência dos acidentes e a gravidade dos custos indenizatórios pagos para o trabalhador e sua família.

187. Para o desenvolvimento da PNST será necessário a definição de fontes de financiamento específicos para a execução de suas estratégias e ações. As especificidades desta área apontam para agravos “preveniveis”, cujas responsabilidades são atribuídas a atores sociais definidos.

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188. A área da saúde do trabalhador deve ser contemplada, de modo adequado e permanente, nos orçamentos da saúde, da União, Estados e Municípios. As modalidades de financiamento e custeio previstas pela Norma Operacional do SUS e portarias posteriores não contemplam várias ações de saúde do trabalhador já desenvolvidas. Também, não estão estabelecidos parâmetros para dimensionar o custo das ações de vigilância em saúde do trabalhador, de forma a complementar a Tabela de Procedimentos do Sistema de Informações Ambulatoriais do Sistema Único de Saúde (SIA/SUS).

189. Embora a quase totalidade da assistência médica, hospitalar e ambulatorial, para as vítimas dos agravos relacionados ao trabalho, inseridos ou não na economia formal, com ou sem planos privados de saúde, seja realizada pelos serviços da rede pública de saúde, não há qualquer tipo de repasse de recursos do SAT7 para o SUS. Tampouco, os planos de saúde privados fazem ressarcimento ao SUS pelo atendimento de acidentes e doenças do trabalho aos seus segurados.

190. Uma fonte importante de recursos para as ações de saúde do trabalhador deverá resultar do repasse de um percentual da arrecadação do SAT para o setor saúde, a ser destinado ao atendimento hospitalar dos acidentados, à realização dos procedimentos ambulatoriais e de reabilitação, dos serviços de suporte laboratorial e terapêutico e ações de vigilância.

191. É importante destacar que o financiamento das ações de saúde do trabalhador apresenta especificidades, que podem ser exemplificadas no princípio: “quem gera o risco deve ser responsável pelo seu controle e pela reparação dos danos causados”. Dessa forma, a responsabilidade do empregador que gera o risco, que produz o acidente ou o adoecimento é similar ao princípio “poluidor-pagador” existente na área ambiental. Apesar de aceita e difundida, essa premissa não tem gerado, a não ser de modo eventual, a penalização e punição dos empregadores negligentes com a saúde e segurança de seus empregados, nem adotado seu corolário, o reconhecimento e as facilidades para aqueles que investem na melhoria das condições de trabalho.

7 O SAT – Seguro de Acidente do Trabalho é recolhido compulsóriamente das empresas num percentual de 4% a 7% da folha de pagamento.

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8 . BIBLIOGRAFIA -

192. ATLAS - Brasil – Ministério do Trabalho/Portaria 3214 de 08 de junho

de 1978). Aprova as Normas Regulamentadoras -NR – do Capítulo V do Título II da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas à Segurança e Medicina do Trabalho. in: ATLAS Manual de Legislação. 42 ed. São Paulo, 2003.

193. Barroso, V. G. Relatório de Atividades de Consultoria – julho 2003.

Brasília, 2003. (mimeo). 194. Braga Jr. D. Elementos para implementação de uma Política Nacional

de Saúde para os Trabalhadores. Brasília. 2003. (mimeo)

195. Dias, E. C. & Melo, E.M. Políticas Públicas em Saúde e Segurança no Trabalho. in: Mendes, R. (org.) Patologia do Trabalho. 2nda. Atheneu. Rio de Janeiro, 2002. p. 1683-1720. vol. II

196. Gonçalves, E.L. Política Global de Saúde na Empresa: Implementação

e Gerenciamento. In: ___ O Serviço Médico de Empresa. São Paulo, Edusp. P. 207-263.

197. Guimarães, R. Politics and Environment in Brazil: The ecopolitics of

development in the Third World. [PhD Thesis] Connecticut: the University of Connecticut, 1986.

198. ILO – Encyclopaedia of Occupational Health and Safety. 4th ed. Genéve.

ILO, 1998.

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199. Organização Internacional do Trabalho (OIT) Diretrizes sobre Sistemas

de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho – Programa de Saúde no Trabalho. Genebra-Brasilia, 2002. disponível in: Erro! Indicador não definido..

200. Organização Pan Americana de Saúde- OPS/OMS. Relatoría Taller

Estrategia de Promoción de la Salud en los lugares de trabajo de America Latina y El Caribe. San José, Costa Rica. OPS/OMS. Marzo 2000

201. Starfield, B. Atenção Primária: equilíbrio entre necessidades de saúde,

serviços e tecnologia. Brasília: UNESCO, Ministério da Saúde, 2002. 726 pag.

ANEXO I.

202. A saúde, como decorrência do direito à vida, é assegurada a qualquer indivíduo no exercício ou não de uma atividade laboral. Mas quis o legislador garanti-la de modo especial a determinadas pessoas, como os deficientes, a criança e o adolescente, a gestante, o idoso, o trabalhador, por entender que essas pessoas estão expostas, de um modo mais sensível, ao risco de doença. Assim, o indivíduo em sua atividade de trabalho tem o direito de não ser submetido a riscos, pouco importando se a atividade é executada no mercado formal ou informal, com ou sem carteira de trabalho, em ambiente urbano ou rural etc. As questões relativas às relações de trabalho importam, sim, mas ao Ministério do Trabalho, cabendo à saúde os cuidados com os riscos que o ambiente do trabalho pode encerrar.”

203. Síntese do Estudo de Lenir Santos: 204. Um dos fundamentos da República repousa no direito à dignidade da

pessoa humana. 205. Assegura-se ao indivíduo o direito à saúde e ao trabalhador, em

especial, o direito à redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança.

206. A União tem competência privativa para organizar, manter e executar a inspeção do trabalho e legislar sobre direito do trabalho.

207. Quem edita normas sobre saúde são a União e os Estados no âmbito de sua competência concorrente para legislar sobre saúde. A União legisla sobre normas gerais e os Estados as suplementam.

208. A União, os Estados e Municípios têm competência exclusiva para cuidar da saúde.

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209. Os Municípios têm competência para cuidar da saúde, legislar sobre assuntos de interesse local e suplementar a legislação federal e estadual, no que couber;

210. A saúde pública é executada de forma descentralizada, com direção única em cada esfera de governo;

211. Inserem-se nas atribuições do Sistema Único de Saúde a execução da vigilância sanitária e epidemiológica, bem como a saúde do trabalhador e a colaboração na proteção ao meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

212. A saúde do trabalhador está abrangida pela vigilância sanitária pelo fato de esse sistema compreender um conjunto de medidas capazes de eliminar, prevenir, fiscalizar, induzir e intervir nos problemas sanitários que possam prejudicar a saúde do indivíduo e da coletividade e, de modo especial, a do trabalhador.

213. Constituições estaduais, leis estaduais, códigos de vigilância sanitária dos Estados e leis específicas dos Municípios tratam da saúde do trabalhador como atribuição do Sistema Único de Saúde.

214. O Ministério da Saúde vem regulando o tema saúde do trabalhador, tendo editado as Portarias ns. 1565, de 26.8.94, 3.908, de 30.10.98 e a Instrução Normativa de Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS, Portaria n. 3.120, de 1.7.98, Portaria n, 1679 de 20.9.02.

215. O trabalhador acidentado do trabalho tem o direito de ser atendido nos serviços de saúde que integram o SUS, conforme o disposto no art. 6º, § 3º, I, da Lei 8.080/90.

216. A competência privativa da União para legislar sobre direito do trabalho não se sobrepõe nem entra em conflito com a competência dos Estados e dos Municípios ao editar, de forma suplementar, normas de proteção e defesa da saúde, em especial do trabalhador, por se situarem em campos distintos, autônomos, ainda que conexos pelo bem jurídico que se pretende proteger.

217. A fiscalização do cumprimento dessas normas em todos os ambientes de trabalho – públicos ou privados, formal ou informal – deverá ser realizada pelos agentes da vigilância sanitária dos Estados e Municípios, conforme estiver definido em cada Estado, uma vez que, por força do art. 18, IV, “e” e art. 17, III, IV, “d”, VII da Lei 8.080/90, a competência se reparte entre as duas esferas de governo, cabendo ao Estado coordenar e, em caráter complementar, executar ações de vigilância sanitária, de controle e avaliação dos ambientes de trabalho e de saúde do trabalhador.

218. O termo inspeção do trabalho, renovado, rejuvenescido pela nova ordem social e jurídica, deve ser entendido como todo e qualquer tipo de fiscalização a respeito das relações individuais e coletivas de trabalho, devendo excluir-se do poder de polícia administrativa dos agentes federais inspetores do trabalho as ações referentes às questões que envolvam o cumprimento de normas de saúde e higiene, uma vez que se encontram

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inseridas no campo de atuação do poder de polícia sanitário dos Estados e Municípios.

219. A assistência ao trabalhador vítima de acidente de trabalho ou portador de doença profissional e do trabalho se realiza no âmbito do SUS, conforme determinação constitucional e legal, devendo a saúde e a previdência social manterem protocolos, convênios e comissões intersetoriais diante da interligação das áreas, para discussão e ações comuns.