política moderna. maquiavel - professor rodolfo

4
POLÍTICA MODERNA: NICOLAU MAQUIAVEL (1469 - 1527). (3ª SÉRIE, 3º BIMESTRE 2015). NICOLAU MAQUIAVEL: A FUNDAÇÃO DA POLÍTICA MODERNA Fundador da Ciência Política Moderna Distancia-se das teorias políticas da antiguidade: interligação entre política e ética. Abandona as teorias políticas medievais: política e religião. Funda uma nova concepção política: Maquiavel rompeu o vínculo de dependência entre o poder político e a autoridade religiosa, desenvolvendo uma teoria que afirma a política como superior à ética e à religião. Para Maquiavel, o poder político é independente da moral e da religião, devendo ser conduzido por critérios restritos ao âmbito político. TEORIA POLÍTICA DE MAQUIAVEL. 2 Obras principais: O Príncipe (mais famosa) e Discurso Sobre a Primeira Década de Tito Lívio. O Príncipe: nesta obra é defendida a ideia de que a tirania seria um governo viável naquele momento na Itália, pois só assim se chegaria a Unificação Italiana. Discurso Sobre a Primeira Década de Tito Lívio: já nesta obra, Maquiavel elabora uma teoria política que defende o Estado Republicano como uma forma de governo viável e ideal. QUESTÕES CENTRAIS D’O PRÍNCIPE Quais as formas de conquista e de manutenção do poder. Quais os meios materiais e quais as condições de possibilidade da ação política. Quais as qualidades necessárias a um governante. Considerações sobre a natureza humana. Pano de fundo da obra: a preocupação com a conquista e a fundação de um novo Estado (Itália livre e unificada). ITÁLIA DE MAQUIAVEL Itália dividida: Reino de Nápoles, República de Florença, Ducado de Milão, República de Veneza e o Papado (Estados Pontifícios). Reinos rivais entre si: conflitos internos. País separado, dividido: poderia ser facilmente dominado. Indefesa contra os ataques de países fortalecidos pela centralização monárquica. Inglaterra, França, Espanha. O PRÍNCIPE Dedicado a Lorenzo (ou Lourenço) de Médici: visando reaproximação, exercer novamente funções políticas. Objetivo principal da obra “O Príncipe”: guia, manual com estratégias e ações capazes de promover a unificação italiana. Capítulo XXVI: Exortação Para Procurar Tomar a Itália e libertá-la das Mãos dos Bárbaros. FUNDAMENTOS DA OBRA (O PRÍNCIPE)

Upload: talita-vasconcelos

Post on 09-Dec-2015

217 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Sobre a política para Maquiavel

TRANSCRIPT

Page 1: Política Moderna. Maquiavel - Professor Rodolfo

POLÍTICA MODERNA: NICOLAU MAQUIAVEL (1469 - 1527). (3ª SÉRIE, 3º BIMESTRE 2015).

NICOLAU MAQUIAVEL: A FUNDAÇÃO DA POLÍTICA MODERNA

Fundador da Ciência Política Moderna

Distancia-se das teorias políticas da antiguidade: interligação entre política e ética.

Abandona as teorias políticas medievais: política e religião.

Funda uma nova concepção política: Maquiavel rompeu o vínculo de dependência entre o poder político e

a autoridade religiosa, desenvolvendo uma teoria que afirma a política como superior à ética e à religião.

Para Maquiavel, o poder político é independente da moral e da religião, devendo ser conduzido por

critérios restritos ao âmbito político.

TEORIA POLÍTICA DE MAQUIAVEL.

2 Obras principais: O Príncipe (mais famosa) e Discurso Sobre a Primeira Década de Tito Lívio.

O Príncipe: nesta obra é defendida a ideia de que a tirania seria um governo viável naquele momento na

Itália, pois só assim se chegaria a Unificação Italiana.

Discurso Sobre a Primeira Década de Tito Lívio: já nesta obra, Maquiavel elabora uma teoria política

que defende o Estado Republicano como uma forma de governo viável e ideal.

QUESTÕES CENTRAIS D’O PRÍNCIPE

Quais as formas de conquista e de manutenção do poder.

Quais os meios materiais e quais as condições de possibilidade da ação política.

Quais as qualidades necessárias a um governante.

Considerações sobre a natureza humana.

Pano de fundo da obra: a preocupação com a conquista e a fundação de um novo Estado (Itália livre e

unificada).

ITÁLIA DE MAQUIAVEL

Itália dividida: Reino de Nápoles, República de Florença, Ducado de Milão, República de Veneza e o

Papado (Estados Pontifícios).

Reinos rivais entre si: conflitos internos.

País separado, dividido: poderia ser facilmente dominado.

Indefesa contra os ataques de países fortalecidos pela centralização monárquica. Inglaterra, França,

Espanha.

O PRÍNCIPE

Dedicado a Lorenzo (ou Lourenço) de Médici: visando reaproximação, exercer novamente funções

políticas.

Objetivo principal da obra “O Príncipe”: guia, manual com estratégias e ações capazes de promover a

unificação italiana.

Capítulo XXVI: Exortação Para Procurar Tomar a Itália e libertá-la das Mãos dos Bárbaros.

FUNDAMENTOS DA OBRA (O PRÍNCIPE)

Page 2: Política Moderna. Maquiavel - Professor Rodolfo

Teoria Política Realista: o Estado e o governo como realmente são e não como uma imagem utópica,

perfeita.

Características e atitudes adotadas pelos grandes governantes do passado e do presente (erros e acertos).

Maquiavel fundamenta o seu pensamento político com base na experiência política real do seu tempo.

Para escrever O Príncipe, ele também levou em consideração a história da política da antiguidade greco-

romana, extraindo dela algumas ideias que poderiam auxiliar na construção do Estado Moderno.

Ele também observou o comportamento dos grandes governantes da sua época e a partir dessa experiência

retirou alguns princípios para sua obra.

Maquiavel tem uma visão do homem de como ele é e não de como deveria ser necessariamente.

O PRÍNCIPE: A NATUREZA HUMANA

Analisou as ações e o comportamento dos grandes governantes (políticos, governantes, imperadores da

antiguidade greco-romana e contemporâneos a ele).

Homens: ingratos, volúveis (mudam de opinião conforme a necessidade), simuladores (falsos,

mentirosos), covardes e ávidos de lucro (gananciosos, ambiciosos).

Maquiavel entende que o homem é um ser guiado por interesses, de modo que suas ações são

imprevisíveis e inconstantes.

Virtudes X Vícios: há virtudes que podem arruinar um estado (distribuir riquezas exageradamente;

perdoar ataques, ofensas) e vícios que podem salvá-lo (mentir, uso da força para garantir o poder).

Punir para manter a ordem.

ESTADO: SUPREMO CRITÉRIO POLÍTICO

Política: acima da ética e da religião.

As decisões e ações políticas: visam a conservação do Estado.

Teoria do poder: dois princípios básicos: legitimidade e organização.

Legitimidade: saber o príncipe ser aceito pelos dominados.

Organização: ter boas leis e boas armas.

MAQUIAVEL: FUNÇÕES DA POLÍTICA

Obras sobre política: O Príncipe (palavra que designa todos os governantes), escrito em 1513;

Poder político: regular o conflito e as tensões entre os grupos sociais.

Basicamente 2 grupos sociais: poderosos, ricos ou grandes (que visam dominar) e o povo (que visa não

ser dominado).

Na concepção de Maquiavel, o povo e os grandes formam dois grupos políticos distintos e opostos,

existentes em toda cidade.

O PRÍNCIPE: OBJETIVO DA POLÍTICA

Política: conquistar e manter o poder ou a autoridade.

Para manter o poder, o governante deve lutar com todas as armas possíveis: não é uma decisão moral.

Segundo Maquiavel, a conservação, os interesses do Estado é que devem determinar a atuação do

governante.

Page 3: Política Moderna. Maquiavel - Professor Rodolfo

Na ação política não são os princípios morais que contam, mas os resultados:

“Nas ações de todos os homens, especialmente os príncipes, os fins é que contam. Faça o príncipe tudo

para alcançar e manter o poder; os meios de que se valer serão sempre julgados honrosos e louvados por

todos, porque o povo atenta sempre para os resultados” (MAQUIAVEL, O Príncipe, p. 113).

OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS

“Para manter o poder político, a importância dos fins a se alcançar justifica o emprego de quaisquer

meios, desde que esses meios funcionem e sejam realmente necessários” (MAQUIAVEL, O PRÍNCIPE,

p.112).

Manter o poder político, proporcionando a segurança do Estado.

VIRTÙ E FORTUNA

Descreve a ação do príncipe através das expressões italianas: virtù e fortuna.

Virtù: virtude, no sentido grego de força, valor, qualidade de lutador e guerreiro viril.

Não segundo os preceitos da moral cristã: bom e justo, verdadeiro.

Príncipes de virtù: governantes especiais, capazes de realizar grandes obras e provocar mudanças na

história.

Ter a capacidade de perceber o jogo de forças da política, para então agir com energia a fim de conquistar

e manter o poder.

FORTUNA

Fortuna: em sentido comum, significa acúmulo de bens, riqueza. Mas, este não é o sentido empregado

por Maquiavel.

Sua origem é a deusa romana Fortuna: representa a abundância, mas também é aquela que move a roda da

sorte.

Fortuna, concepção de Maquiavel: ocasião, acaso, sorte, oportunidade.

Para agir bem, o príncipe não deve deixar escapar a ocasião oportuna.

Maquiavel entende que o príncipe deve ser flexível às circunstâncias, mudando com elas para dominar a

sorte ou fortuna.

O PRÍNCIPE: POLÊMICO

Escrito em 1513 (durante o exílio).

Publicado em 1531/1532 (após a morte de Maquiavel, que se deu em 1527).

Estado: acima da Igreja.

Virtudes do Príncipe: não eram virtudes cristãs (bondade, justiça), mas sim relacionadas à força,

qualidade de lutador, guerreiro, energia, empenho, vontade dirigida para um objetivo.

CARACTERÍSTICAS DO PRÍNCIPE:

Dois gêneros de combate: um, com as leis, outro, com a força.

O primeiro é próprio do homem, o segundo, das bestas.

Por vezes, o primeiro não basta, convém recorrer ao segundo.

Page 4: Política Moderna. Maquiavel - Professor Rodolfo

Príncipe: saber usar bem a besta e o homem.

Príncipe: saber usar bem da besta, levando em consideração a raposa e o leão.

Astúcia da Raposa: se defender dos laços (armadilhas, emboscadas), mas a raposa não sabe se defender

dos lobos.

A força do Leão: é necessário ser leão para amedrontar os lobos.

Força e inteligência: para a conservação do poder, é necessário admitir a insuficiência da força

representada pelo leão e a importância da inteligência e astúcia da raposa.

PRÍNCIPE: NEM SEMPRE HONRAR A PALAVRA DADA

“Aqueles que se preocuparem apenas com a natureza do leão não compreenderão que um senhor prudente

não pode nem deve observar a palavra dada quando esta voltar-se contra ele e quando as razões que o

fizeram prometer desaparecerem. Se os homens fossem todos bons, este preceito não seria necessário.

Como, porém, eles são maus e por isso não observarão a palavra dada em relação a ti, tu também não

deves observar a palavra dada a eles” (MAQUIAVEL, Antologia de Textos Filosóficos, p. 458).

PARA O PRÍNCIPE É MELHOR SER AMADO OU TEMIDO?

“A resposta é de que seria necessário ser uma coisa e outra; mas, como é difícil reuni-las, em tendo que

faltar uma das duas é muito mais seguro ser temido do que amado. Pois os homens têm menos receio em

ofender a alguém que se faça amar do que a quem se faça temer, posto que a amizade é mantida por um

vínculo de obrigação que, por serem os homens maus, é quebrado em cada oportunidade que a eles

convenha; mas o temor é mantido pelo receio de castigo que jamais se abandona” (MAQUIAVEL, O

PRÍNCIPE, p. 60-61).

PRÍNCIPE: DISSIMULADO

Características admiradas: piedoso, fiel, humano, íntegro e religioso.

A um príncipe não é necessário ter de fato todas as supramencionadas qualidades, mas é necessário

parecer tê-las.

Deve-se compreender que um príncipe não pode ter todas aquelas qualidades pelas quais os homens são

chamados de bons, por frequentemente necessitar, para manter o estado, agir contra a fé, contra a

caridade, contra a humanidade, contra a religião. (MAQUIAVEL, Antologia de Textos Filosóficos, p.

458).

Caso seja possível, não deve se afastar do bem, mas, se for necessário, deve saber praticar o mal.

REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: introdução à filosofia. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 1996.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

CHEVALLIER, Jean-Jacques. As grandes obras políticas de Maquiavel a nossos dias. 8ª ed. Rio de

Janeiro: Agir, 2002.

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Tradução de Maria Júlia Goldwasser. São Paulo: Martins Fontes,

2004.

MARÇAL, Jairo (Org.). Antologia de textos filosóficos. Curitiba: SEED – Pr., 2009.

WEFFORT, Francisco (org.). Os Clássicos da Política 2: Burke, Kantl, Hegel, Tocqueville, Stuart Mill,

Marx. 10ª ed. São Paulo: Ática, 2001.