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  • Centro de Documentao e Referncia Ita Cultural Catalogao na publicao (CIP)

    Polticas culturais : pesquisa e formao / organizao de Lia Calabre. So Paulo : Ita Cultural ; Rio de Janeiro : Fundao Casa de Rui Barbosa, 2012. 332 p.

    ISBN 978-85-7979-032-4

    1. Poltica cultural. 2. Pesquisa. 3. Formao. 4. Polticas pblicas. I. Ttulo.

    CDD 353.7

  • So Paulo, 2012

    Polticas culturais: pesquisa e formao

  • sum

    rio

    apresentao

    Leis de incentivo cuLtura via renncia fiscaL no BrasiL Csar Bolao, Joanne Mota e FBio Moura

    ecossistemas de informao compLexa - porque tomar decises em poLtica pBLica uma questo de informao de quaLidade! ana CeCilia Montilla rugeles

    avaLiao dos pLanos e aes de saLvaguarda de Bens cuLturais registrados como patrimnio imateriaL BrasiLeiro letCia Costa rodrigues vianna e Morena roBerto levy salaMa

    prticas e percepes soBre os espaos cuLturais e de Lazer FrederiCo augusto BarBosa da silva

    percursos metodoLgicos de um mapeamento na zona suL de so pauLo BrasiL ana Paula do val

    documento-Base para a rede de coLetivos cuLturais comunitrios Jos antonio MaCgregor

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  • programa de formao na rea da gesto pBLica de cuLtura: a experincia piLoto sai/minc e secretaria de cuLtura da Bahia lia CalaBre

    aes de formao do oBservatrio ita cuLturaL para gestores de cuLtura: desafios de motivao e continuidade selMa Cristina silva

    aprendizagem coLaBorativa: a educao a distncia como ferramenta de difuso de conhecimento Maria Helena CunHa

    o campo acadmico da produo cuLturaL histria e caractersticas leandro Jos Mendona

    o mercado de artes visuais: caractersticas e tendncias FaBio s earP e george Kornis

    economias das exposies de arte contempornea no BrasiL: notas de uma pesquisa ana letCia FialHo e ilana seltzer goldstein

    economia e cuLtura da moda no BrasiL: um estudo para poLticas pBLicas alessandra Meleiro, leandro valiati, liliana sousa e silva, luCia MaCiel BarBosa de oliveira e roBerto nunes

    ativismo musicaL e desenvoLvimento LocaL o estudo de caso do circuito da seresta de conservatria MiCael HersCHMann

    cadeia produtiva da msica em BeLo horizonte Marta ProCPio de oliveira

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    Com o objetivo de promover o debate sobre formao de gestores e a produo de informaes que possibilitem a elaborao de polticas pblicas para a cultura, a Fun-dao Casa de Rui Barbosa, em parceria com o Instituto Ita Cultural, realizou, nos dias 21, 22 e 23 de setembro de 2011, o seminrio Desafios: os Campos da Formao em Gesto Cultural e da Produo de Informaes. Organizado por Lia Calabre e Mau-rcio Siqueira, o II Seminrio Internacional de Polticas Culturais reuniu em suas mesas especialistas, tericos e gestores para discutir a teoria e a prtica das aes relacionadas ao setor cultural. Com o intuito de ampliar o debate para alm do prprio evento e registrar as discusses que se deram entre brasileiros e estrangeiros durante esses trs dias, esta publicao traz artigos de palestrantes presentes no seminrio cujo foco so as apresentaes que l se deram.

    Nesse sentido, torna-se possvel identificar trs aspectos que permearam as discusses presentes no evento: a aplicao de polticas para a cultura, a formao de profissionais responsveis pela gesto do setor e o fluxo econmico das reas culturais.

    Na constituio de polticas pblicas encontramos a ferramenta fundamental para am-pliao das atividades culturais e o acesso cultura. Mas, para traar novos planos de ao, faz-se necessrio mapear e avaliar as aes vigentes. Os primeiros artigos deste livro abordam esses dois aspectos a partir de estudos de casos. Buscando avaliar o fo-mento cultural no pas, Csar Bolao, Joanne Mota e Fbio Moura nos trazem um pa-norama histrico da lei de incentivo cultura atravs da renncia fiscal, aplicada no Brasil desde 1986. Tendo seu percurso iniciado na Lei Sarney, essa poltica sofreu alteraes ao longo das dcadas e das mudanas do cenrio poltico. Preocupados em abordar as principais transformaes pelas quais passaram as leis culturais do pas, com destaque para a Lei Sarney, a Lei Rouanet e a Lei Procultura (que tramita no Congresso desde 2010), os autores apresentam dados correlatos a cada um dos perodos discutidos.

    Por esse mesmo caminho da avaliao das aes brasileiras relacionadas ao setor, Letcia Vianna e Morena Salama analisam os Planos de Salvaguarda do Patrimnio Imaterial Bra-sileiro, proposto pelo Programa Nacional de Patrimnio Imaterial (PNPI), fruto da poltica para o patrimnio imaterial, consolidada em 2003 pela Unesco. Inaugurados h algum tempo no Brasil, os planos hoje oferecem dados suficientes para que sejam realizadas as primeiras investigaes das conjecturas nas quais tm se estabelecido e os desafios

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    a ser enfrentados para que sua atuao se torne ainda mais eficaz no resguardo de tal patrimnio. O texto apresenta as primeiras avaliaes dessa ao nacional.

    No entanto, para que haja avaliao necessrio que se tenha acesso aos dados por meio de um sistema de informao. Ao definir tal sistema como um espao de traba-lho e intercmbio, de gesto da informao e do conhecimento, a mexicana Ana Ceci-lia Montilla nos apresenta a ideia central de um Ecossistema de Informao Complexa (Esic). Com o exemplo do SIC-Conaculta (Mxico), seu ensaio evidencia a importn-cia desse tipo de sistema para elaborao de novas polticas para o campo da cultura e avaliao das polticas vigentes.

    Nessa tentativa de buscar dados para propor novas iniciativas, Ana Paula do Val relata a experincia de realizao de um mapeamento cultural na zona sul de So Paulo. O proje-to teve apoio do Sesc Santo Amaro e buscou fazer uma coleta de dados indicadores das atividades culturais presentes na regio. A princpio baseado nas aes institucionalizadas pela subprefeitura de Santo Amaro, o processo de coleta sofreu uma considervel expan-so resultante do prprio mapeamento, que permitiu a constatao das redes de relaes culturais que se estabeleceram na regio de maneira independente.

    Ainda nessa mesma linha, Frederico Barbosa apresenta a pesquisa a respeito da relao entre cultura e espao urbano, que se deu a partir da elaborao de um Sistema de Indicadores de Percepo Social (Sips). Com o objetivo de apontar a percepo social a respeito dos espaos da cidade e do tempo livre, e ainda as prticas culturais realiza-das em espaos pblicos e em domiclio, a pesquisa esteve ancorada na preocupao com a localizao dos equipamentos culturais e a frequncia do pblico, considerando renda e escolaridade. O autor analisa, atravs dos dados levantados, no s os espaos culturais em reas urbanas como tambm a relao desses espaos com a sociedade.

    To importante quanto avaliar o cenrio vigente para pensar as polticas, a preocupa-o com a formao de profissionais da rea ganhou destaque no seminrio. Nesse mbito, encontramos textos que refletem sobre diferentes processos de formao, como o de Jos Antonio MacGregor, que expe as ideias fundamentais do projeto de Rede de Coletivos Culturais Comunitrios, do Mxico. A rede rene coletivos que tm como objetivo capacitar jovens de comunidades perifricas para atuao

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    como agentes culturais, nos prprios coletivos, presentes nas comunidades nas quais esto inseridos.

    Lia Calabre analisa o curso piloto de formao de gesto pblica de cultura proposto pela Secretaria de Articulao Institucional (SAI), do MinC, ocorrido na Bahia em par-ceria com a Secretaria de Cultura local. Mais do que formar novos gestores, o projeto tinha como preocupao central a formao daqueles que j atuam no setor cultural do estado. Como contava com mdulos presenciais e a distncia, a partir de acompa-nhamento tutorial on-line, o curso possibilitou a participao de pessoas de diversas partes do estado. E sobre esse tipo de formao a distncia que Maria Helena Cunha se debrua em seu texto. Tendo como base a experincia da realizao de cursos de formao pela plataforma EAD/DUO (2005-2009), a autora discute o trabalho meto-dolgico e o papel da educao a distncia no Brasil.

    A gerente do Observatrio Ita Cultural, Selma Cristina Silva, relata a experincia do ncleo que busca oferecer instrumentos para formao de gestores que j atuam ou que tm alguma relao com a rea de cultura. O Observatrio tem trs linhas de atuao: o curso que se volta ps-graduao, realizado em parceria com a Ctedra de Polticas Culturais da Universidade de Girona, Espanha; a Semana de Gesto Cultural, que pro-move debates e intercmbio de informaes sobre temas contemporneos da cultura en-tre professores e profissionais da rea e realizada em parceria com instituies culturais locais; e as oficinas e cursos on-line, em parceria com o MinC e o Sesi, que visa instrumen-talizar agentes culturais. A autora reflete sobre a atual situao desse tipo de formao, bem como sobre o desenvolvimento dessas atividades do prprio Observatrio.

    O aumento da procura por cursos de formao de trabalhadores para a rea cultural vem mudando gradativamente o cenrio brasileiro. O reflexo imediato do aumento da demanda por esse tipo de formao o notvel crescimento da oferta desses cursos, que hoje adentram, lentamente, at mesmo os espaos reconhecidamente mais tradicionais, como o acadmico. Em seu artigo, Leandro Mendona, produtor cultural e professor no curso de produo cultural da Universidade Federal Flumi-nense (UFF), campus Rio das Ostras, explana sobre o desenvolvimento desse tipo de curso na academia e os obstculos com os quais tem se deparado na tentativa de implant-los satisfatoriamente.

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    O terceiro assunto de interesse, que, com os dois anteriores (consideraes sobre po-lticas para as artes e a formao de agentes do setor), forma o conjunto de discusses realizadas durante o Seminrio na Fundao Casa de Rui Barbosa, a economia do mer-cado das artes. Anlises desse mercado global e relatos de experincias e pesquisas lo-cais trazem tona uma amostra da atual situao dessa economia, dentro e fora do pas.

    Fabio S Earp e George Kornis apresentam sua pesquisa sobre o mercado da arte no Brasil e no exterior. Para faz-la, no entanto, os autores depararam, como relatam, com a grande dificuldade em efetivar a anlise tendo em vista a baixssima disponi-bilidade de dados para tal. Dificuldade essa ainda maior quando o foco recai sobre o Brasil. Se no exterior os dados disponveis so poucos, quase sempre relacionados s casas de leiles (como as de Nova York e Londres), no Brasil eles inexistem. Outra necessidade para realizar tal trabalho foi considerar a grande discrepncia entre os poucos pases responsveis pela existncia dessa economia e separ-los em blocos. Os autores analisam o mercado das artes global atravs do eixo centro (Estados Uni-dos e Reino Unido, que operam com 73% do total de recursos destinados ao mercado das artes); da periferia adiantada (formada por Frana, Alemanha, Itlia, China, Japo e ndia) e da periferia atrasada (que corresponde a Brasil, Argentina, Mxico e outros pases da Amrica Latina).

    No estudo piloto Economia das Exposies de Arte Contempornea, realizado em 2010, Ana Letcia Fialho e Ilana Goldstein objetivaram uma coleta de dados detalhados, qualitativos e quantitativos, sobre a programao voltada para a arte contempornea desde sua realizao at sua execuo, com o intuito de contribuir para a elaborao de polticas do setor. No artigo que integra este livro, elas apresentam a metodologia da pesquisa e analisam esses dados, que refletem o panorama artstico brasileiro.

    Ainda nesse contexto nacional, o texto de Alessandra Meleiro, Leandro Valiati, Lilia-na Sousa e Silva, Lucia Maciel Barbosa e Roberto Nunes apresenta a pesquisa reali-zada pelo Instituto Iniciativa Cultural e pelo Conselho Nacional de Polticas Culturais (CNPC), em parceria com as secretarias Executiva e de Polticas Culturais do Minis-trio da Cultura. Com o objetivo de aprofundar o que se tem de conhecimento sobre a economia criativa relacionada moda no Brasil, o trabalho se fundamentou a partir de aes conjugadas que consideravam a reflexo desde aspectos mais especficos da

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    moda at anlise de regulamentaes brasileiras que impactam diretamente no desen-volvimento do setor.

    No entanto, a discusso da relao arte e economia no Brasil no se d atravs, apenas, das anlises que focam o cenrio brasileiro geral. A partir de estudos de casos mais es-pecficos, tambm possvel formular novas reflexes a respeito dessa relao no Brasil. Nesse sentido, Micael Herschmann escreve sobre a experincia musical no distrito de Conservatria, no Rio de Janeiro. O local ficou conhecido por suas serestas popula-res de fim de semana. Os seresteiros se tornaram uma atrao e, consequentemente, atraram o turismo para o local, estabelecendo uma nova dinmica para a economia do distrito, o que provocou novas discusses entre os atores culturais locais a respeito da comercializao da seresta, cujo nascimento se deu sem o vis econmico. Hersch-mann traz em seu artigo diferentes pontos de vista dos diversos grupos que participam do movimento seresteiro de Conservatria.

    Tambm focada no setor musical, Marta Procpio se dedica anlise da produo da msica em Belo Horizonte, atentando para as peculiaridades do mercado fonogrfico local. Nessa cidade, que se encontra fora do eixo Rio-So Paulo, conhecido por con-centrar as grandes gravadoras, os atores musicais tiveram de reorganizar seus fluxos de trabalho, assumindo, simultaneamente, diversos papis na cadeia produtiva (criao, fomento, produo, divulgao, execuo etc.). Efetuando o levantamento dos elos que se estabelecem nessa cadeia produtiva, a autora analisa o panorama da realidade local, bem como o movimento econmico da msica belo-horizontina.

    Esta publicao tem, como notamos, o intuito de oferecer aos seus leitores a possi-bilidade de, num panorama geral, ter contato com as discusses que foram partes do seminrio ocorrido na Fundao Casa de Rui Barbosa, em 2011, e que, acreditamos, representam hoje as principais preocupaes dos envolvidos no debate sobre a cultura. Desejamos a todos uma boa leitura.

    Ita Cultural

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    leis

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    * Bolsista do programa Ctedras Ipea-Capes para o Desenvolvimento e atua na elaborao do trabalho O Conceito de Cultura em Celso Furtado.

    ** Graduada em comunicao social/jornalismo pela Universidade Federal de Sergipe, ps-graduanda em globalizao e cultura pela Fundao Escola Sociologia e Poltica de So Paulo e pesquisadora do Observatrio de Economia e Comunicao (Obscom/UFS).

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    As leis de incentivo cultura via renncia fiscal, inauguradas no ano 1986, como linha auxiliar da poltica cultural do Estado brasileiro, acabaram se tornando o eixo central de uma poltica de dinamizao de um mercado de bens simblicos concentrado e excludente, deixando para trs a perspectiva inicial de Celso Furtado, que se pode resumir no binmio cultura e desenvolvimento, em favor de uma viso economicista e mercantil da cultura, um bom negcio, na emblemtica expresso de Francisco Weffort. No atual debate em torno da reforma desse mecanismo nem sempre fica clara essa dicotomia.

    O presente texto trata de percorrer essa trajetria histrica, da Lei Sarney ao atual debate sobre o Procultura, explicitando a mudana de paradigma ocorrida a partir do governo Collor. Embora o governo Lula tenha trazido uma mudana fundamental na rea do Ministrio da Cultura (MinC)1, o mecanismo das leis de incentivo permaneceu, at o final do ano 2010, o mesmo do perodo Collor/Itamar/Cardoso. Juca Ferreira, seu ltimo ministro, no obstante, teve o mrito de encaminhar a proposta de mudana da lei que ora tramita no Congresso Nacional. Uma comparao entre os diferentes instrumentos legais adotados nos ltimos 25 anos, bem como uma anlise dos dados dos resultados obtidos em termos de captao e de investimento, servir para esclarecer o problema tal como ele se apresenta hoje.

    Lei Sarney

    A sano da Lei n. 7.505/86 (Lei Sarney), em 1986, pelo ento presidente faz parte do processo de redemocratizao do pas, iniciado com a eleio da dupla formada por Tancredo Neves (presidente) e Jos Sarney (vice), vindo este a assumir a presidncia da Repblica aps a convocao do Congresso Nacional Constituinte com o adoecimento de Tancredo poucos dias antes da posse. O ministro da Cultura, Celso Furtado, teve tambm destacada participao na articulao poltica na Constituinte.

    1 Sobre as mudanas fundamentais nas polticas culturais trazidas pelo governo Lula, vide BOLAO; GOLIN; BRITTOS; MOTA, J. Introduo: desafios s polticas culturais e ao campo artstico e intelectual no Brasil no final da primeira dcada do sculo XXI. In: BOLAO; GOLIN; BRITTOS (Orgs.). Economia da arte e da cultura. So Paulo: Ita Cultural; So Leopoldo: Cepos/Unisinos; Porto Alegre: PPGCOM/UFRGS; So Cristvo: Obscom/UFS, 2010. No presente texto nos limitaremos ao problema das leis de incentivo fiscal.

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    Com a promulgao da Constituio Federal, no ano 1988, a cultura passou a ser considerada direito cultural. Como bem lembra Silva (2006), a incluso dos artigos 2152 e 2163 na Carta Magna significa que o direito cultura exige a atuao positiva do Estado, cuja realizao efetiva postula uma poltica cultural oficial, de maneira que a ao cultural do Estado h de ser a ao afirmativa que busque realizar a equalizao dos socialmente desiguais, para que todos, igualmente, possam auferir os benefcios provenientes desse setor. Cunha Filho, por sua vez, problematizando a amplitude do conceito de cultura definido no referido artigo 216, afirma que pela primeira vez um texto constitucional reconheceu a importncia e plena abrangncia da cultura na formao da civilizao (CUNHA FILHO, 2000, p. 30)4.

    Dispondo sobre dedues do imposto de renda concedidas a operaes de apoio, por parte de pessoas fsicas ou jurdicas, a empreendimentos de carter cultural ou artstico, a Lei Sarney procurava reduzir o dirigismo estatal em matria de poltica cultural, com o objetivo de democratizar a produo e o acesso cultura no territrio nacional, abrindo os canais para a expanso da criatividade. Qualquer contribuinte do imposto de renda teria a possibilidade de fomentar a cultura atravs do mecanismo da renncia fiscal. O que se pretendia aoinserir novos atores no setor da cultura era uma mudana estrutural de fundo, inaugurando uma nova fase para a poltica cultural no Brasil, bem na perspectiva de Furtado das relaes entre cultura e desenvolvimento e de acordo com o esprito da nova Constituio Federal.

    2 Art. 215. O Estado garantir a todos o pleno exerccio dos direitos culturais e acesso s fontes da cultura nacional, e apoiar e incentivar a valorizao e a difuso das manifestaes culturais. (Ver: http://www.dji.com.br/constituicao_federal/cf215a216.htm.)3 Art. 216. Constituem patrimnio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referncia identidade, ao, memria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I as formas de expresso; II os modos de criar, fazer e viver; III as criaes cientficas, artsticas e tecnolgicas; IV as obras, objetos, documentos, edificaes e demais espaos destinados s manifestaes artstico-culturais; V os conjuntos urbanos e stios de valor histrico, paisagstico, artstico, arqueolgico, paleontolgico, ecolgico e cientfico. (Ver: http://www.dji.com.br/constituicao_federal/cf215a216.htm.)4 Na verdade, a avaliao do autor cujo objetivo especificar de forma rigorosa os direitos culturais a respeito da amplitude da definio positiva. Para ele, esses direitos so atinentes s artes, memria coletiva e transmisso de conhecimentos, havendo em todos eles um forte aroma feito com essncias de passado, presente e futuro (CUNHA FILHO, p. 33).

  • 18 // Polticas culturais: pesquisa e formao

    Assim, a lei estabelecia uma relao entre poder pblico e setor privado, na qual o primeiro abdicava de parte dos impostos devidos pelo segundo, em favor do investimento do montante em cinema, teatro, literatura, artes plsticas e patrimnio. O objetivo no era apenas estabelecer incentivos fiscais s produes culturais, mas, de modo mais substancial, criar um mercado cultural nacional, para alm dos limites das formas tradicionais de ao do Estado na rea sem, no entanto, desmontar o aparato institucional existente, como se far depois ou dos oligoplios que passaram a dominar o setor no pas desde os incios dos anos 1970, com a constituio do modelo oligopolista de organizao do sistema brasileiro de televiso (BOLAO, 1988).

    Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura (FURTADO, 1987), o ministro afirmava que a criao da Lei Sarney pretendia, entre outros objetivos, incitar a sociedade a assumir a iniciativa no plano do desenvolvimento cultural: Vocs, instituies culturais da sociedade civil, grupos etc., tomem a iniciativa, busquem recursos, os controlem, e o Estado est a para apoiar essas iniciativas, mas no para substituir a sociedade5. muito importante enfatizar que, para Furtado, a Lei Sarney a instrumentalizao do seu ponto de vista segundo o qual cultura, se tem uma dimenso econmica, no economia.

    Assim, as coisas essenciais em cultura valem por si mesmas, ao passo que na economia tudo vale como um meio. So duas lgicas totalmente diferentes, a lgica dos meios e a lgica dos fins. E a Lei Sarney veio no para canalizar recursos para a cultura, propriamente, mas para incitar a sociedade a assumir a iniciativa no plano da cultura (Idem). interessante reproduzir um exemplo dado pelo ministro, numa dada altura da entrevista, para esclarecer o esprito da proposta. A questo fazia referncia possibilidade de um pequeno empresrio, um quitandeiro da vizinhana, beneficiar-se da lei. Furtado responde:

    Bem, para participar da Lei Sarney necessrio que a pessoa seja contribuinte do imposto de renda. Digamos que esse seu quitandeiro seja contribuinte [...] Ele precisa, portanto, ser educado nessa direo, preciso que ele compreenda que uma iniciativa cultural que diz respeito a sua prpria

    5 FURTADO, C. Roda Viva, TV Cultura, 1987.

  • LEIS DE INCENTIVO CULTURA VIA RENNCIA FISCAL NO BRASIL // 19

    vida tambm passa a depender dele. Se ele est numa cidade pequena, por exemplo, e necessita de um espao cultural que no existe de uma biblioteca, de um setor, um lugar onde, por exemplo, se possa ter cinema amador, apoiar grupos de teatro local, qualquer atividade cultural ele pode tomar a iniciativa e se reunir com um grupo de pessoas e contribuir com seus prprios recursos para a efetivao desse projeto (Idem).

    Em seguida, afirma que a efetivao do projeto depender muito do mundo da cultura. Porque a Lei Sarney um desafio ao mundo da cultura. E explica:

    Ns queremos que na cidade onde est esse quitandeiro, as pessoas que fazem teatro, as que se interessam por cinema amador, as que se interessam por qualquer forma de vida cultural, que essas pessoas se organizem, apresentem seus projetos e faam uma campanha dentro de sua prpria comunidade como se diz, passem um pires e digam: Olha, voc que vive aqui, no quer melhorar as condies de vida dessa comunidade. Pois nos organizemos (Idem).

    Apenas uma ltima citao referente a uma pergunta de Milton Coelho da Graa, que denuncia o surgimento de corretores da Lei Sarney em So Paulo:

    Mas, Milton, pela primeira vez h uma lei de incentivos fiscais no Brasil que diz taxativamente que proibida toda forma de corretagem. Eu sou do ramo. Vi as leis que fiz de incentivos fiscais no Nordeste, que fui quem as iniciou, como foram desviadas em certos momentos [...] Portanto, quando voc encontrar algum por a fazendo corretagem, peo-lhe que denuncie ou que envie uma comunicao ao Ministrio da Cultura [...] Ns vamos saber quais so esses projetos que esto saindo desses processos de corretagem, e ns saberemos como glos-los l no Ministrio da Fazenda (Idem).

    Parece claro, portanto, o sentido democratizante da Lei: sua preocupao com a cultura represada que existe nas comunidades locais, nos contextos de vida das camadas populares; sua definio dos mecanismos de financiamento como instrumentais para algo maior, no econmico, para a cultura vista como fator de identidade e de recuperao da autoestima de uma populao recm-sada de duas dcadas de represso poltica.

  • 20 // Polticas culturais: pesquisa e formao

    Nessas condies, dizia Furtado, mais ou menos mesma poca, cumpre-nos pensar em desenvolvimento a partir de uma visualizao dos fins substantivos que desejamos alcanar, e no da lgica dos meios que nos imposta do exterior (FURTADO, 1984, p. 30). Assim, o debate sobre as opes do desenvolvimento exige hoje uma reflexo prvia sobre cultura brasileira, em que a questo essencial :

    Como preservar o gnio inventivo de nossa cultura em face da necessidade de assimilar tcnicas que, se aumentam nossa capacidade de ao, nossa eficcia, tambm so vetores de valores que com frequncia mutilam nossa identidade cultural? [...] Esse problema se coloca hoje um pouco por toda parte, na medida em que a produo de bens culturais transformou-se em ciclpico negcio e uma das leis que regem esse negcio a uniformizao dos padres de comportamento, base da criao dos grandes mercados (Idem, p. 31).

    A soluo de Furtado no passa obviamente pelo reforo do ciclpico negcio em que se transformou a produo cultural, mas pela inverso da lgica que preside as relaes entre a cultura como sistema de valores e o processo de desenvolvimento das foras produtivas, entre a lgica dos fins, que rege a cultura, e a dos meios, razo instrumental inerente acumulao (Idem).

    Da Lei Sarney Lei Rouanet

    O governo de Fernando Collor, no bojo de uma reforma administrativa de cunho neoliberal, promover, ao contrrio do anterior, um ataque radical institucionalidade prevalecente no campo da cultura:

    Nesse curto perodo de dois anos, foram extintos o Ministrio da Cultura, criado em 1987, responsvel pela organizao de festivais, prmios, realizaes de pesquisas, formao profissional na rea, conservao de pelculas; o Conselho Nacional de Cinema (Concine), criado em 1976 para regular e fiscalizar as atividades cinematogrficas e videogrficas e, principalmente, no que nos interessa, a EMBRAFILME, que, desde 1969, cumpria a funo primordial de financiamento da produo, distribuio e exibio do filme nacional (BOLAO, 2007, p. 35).

  • LEIS DE INCENTIVO CULTURA VIA RENNCIA FISCAL NO BRASIL // 21

    Sob a alegao de que havia desvios de verbas, a reforma fiscal do governo Collor suspendeu tambm o sistema de incentivos fiscais cultura, revogando a Lei Sarney, que voltaria, no entanto, sob nova roupagem, depois da substituio de Ipojuca Pontes pelo diplomata Srgio Paulo Rouanet como secretrio nacional de Cultura. Assim, em 23 de novembro de 1991, sancionada a Lei n. 8.313, conhecida como Lei Rouanet, que restabelecia mecanismos da Lei n. 7.505 (Lei Sarney), e institua o Programa Nacional de Apoio Cultura (Pronac)6. Em 1992, Collor empreende mais uma ao no setor de incentivo a produo cultural com a aprovao a Lei n. 8.4017, que dispe sobre o controle de autenticidade de cpias de obras audiovisuais em vdeo, que estimula a produo, distribuio, exibio e divulgao dessas obras no Brasil e no exterior8.

    Em 1993, o novo presidente, Itamar Franco, assina a Lei n. 8.685, conhecida como Lei do Audiovisual, uma releitura da Lei n. 8.401, especialmente no que se refere aos incentivos fiscais (BOLAO, 2007). Finalmente, uma vez destrudo o sistema anterior de financiamento estatal, com as reformas de Collor de Mello, a Lei Rouanet e a Lei do Audiovisual acabam se constituindo no mecanismo nico de financiamento da cultura, totalmente baseado no modelo de incentivos fiscais. No caso da Lei do Audiovisual as dedues chegam a 100%9 dos valores, e as empresas inseridas no processo participam dos eventuais rendimentos do negcio.

    6 O Pronac, na verdade, criava trs mecanismos de captao de recursos: o Fundo Nacional de Cultura (FNC), o Fundo de Investimento Cultural e Artstico (Ficart) e o sistema de incentivo fiscais via Lei Rouanet. O Ficart nunca saiu do papel, pois no possua mecanismo de incentivo fiscal, alm do que no foi regulamentado. O FNC uma releitura do antigo Fundo de Promoo Cultural, criado pela Lei n. 7.505/86, com objetivo de captar e destinar recursos para projetos enquadrados nos moldes do Pronac (LEI ROUANET, n. 8.313/91, Cap. II Art. 4). Assim, durante os governos Collor e FHC, o FNC funcionou como uma ferramenta de canalizao de recursos, geridos exclusivamente segundo critrios estabelecidos pelo MinC, para apoiar projetos no sustentveis via mercado atravs de mecenato privado a partir de incentivos fiscais (NOVA LEI DA CULTURA, 2011, p. 19). 7 Mesmo tendo mobilizado muitos atores sociais na sua elaborao, a Lei n. 8.401 foi assinada pelo Poder Executivo com 11 vetos (BOLAO, 2007, p. 36). 8 Ver: http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L8401.htm.9 A deduo permitida pelo Artigo 1 da Lei n. 8.685/93 est limitada a 3% do imposto devido, tanto para pessoas fsicas como para pessoas jurdicas. O limite mximo para o aporte de recursos objeto dos incentivos por projeto de 3 milhes de reais. As pessoas jurdicas tributadas com base no lucro real podero, ainda, abater o total dos investimentos efetuados como despesa operacional, com resultados positivos na reduo do imposto devido.

  • 22 // Polticas culturais: pesquisa e formao

    Segundo Manoel Rangel (2010), diretor-presidente da Agncia Nacional de Cinema (Ancine), a edio da Lei n. 8.685/93 criou para a atividade audiovisual um mecanismo especfico de incentivo fiscal. Sua ao veio a se somar aos mecanismos previstos na lei de incentivo cultura (Lei Rouanet), que se aplicavam atividade audiovisual (e ainda se aplicam). Assim, de acordo com a Lei n. 8.685/93, um projeto audiovisual pode beneficiar-se dos dois mecanismos concomitantemente, desde que para financiar despesas distintas, sendo vedado o apoio a projetos de natureza publicitria. Para o autor, a combinao da Lei Rouanet com a Lei do Audiovisual contribuiu para que o setor do audiovisual produzisse aes pontuais de relevncia, especialmente aps o ano 1995, com o chamado cinema da retomada.

    Porm, ainda na dcada de 1990, foi possvel perceber um ambiente de crise, evidenciado, primeiro, nos reduzidos recursos aplicados no setor; segundo, na inoperncia da Secretaria do Audiovisual e ausncia de articulao entre os agentes privados e o Estado. Diante desse cenrio, em dezembro de 1996, o presidente Fernando Henrique Cardoso, atravs da Lei n. 9.323, altera o limite de deduo no caso de pessoas jurdicas. Ampliava-se o limite de descontos permitidos s empresas patrocinadoras de projetos culturais de 2% para 5% de seu imposto devido. O governo Cardoso, sob o comando do ministro Francisco Weffort, procurou tambm desburocratizar os procedimentos, agilizando a autorizao para captao de recursos. Alm disso, tratou de estimular o desenvolvimento de um mercado de intermediao, isto , de apresentao dos projetos s empresas segundo padres profissionais (Weffort e Souza, 1998), em ntida oposio perspectiva anterior de Furtado, contra a corretagem, como vimos.

    No obstante o sucesso alegado pelo ministro em relao ao aumento da captao10, as crticas no se fizeram esperar. Simis (1998), por exemplo, sintetiza da forma mais adequada a essncia do modelo implantado no pas nos anos 1990, quando se estabelece

    10 Para Weffort e Souza essas reformas foram essenciais para ampliar o nmero de empresas, privadas ou pblicas, que compunham o sistema de mecenato privado. Segundo ele, no ano 1994 elas no eram mais do que 72, em sua maioria bancos e empresas multinacionais; no ano 1995 somaram 235, pulando para 640 em 1996 e chegando a 1.125 em 1997 (WEFFORT; SOUZA, 1998).

  • LEIS DE INCENTIVO CULTURA VIA RENNCIA FISCAL NO BRASIL // 23

    uma nova relao da produo cultural com o Estado, que passa a se comportar como uma espcie de mecenas na medida inclusive em que vrias das empresas beneficiadas pela iseno fiscal so pblicas , mas o contribuinte quem financia, de fato, uma poltica de financiamento que credita a iniciativa empresa privada. Assim, se por um lado j no h tutela do governo [como na poca do governo militar], com comisses que selecionam filmes aptos a obter recursos do Estado, o que conta a capacidade do produtor em atrair uma empresa contribuinte de impostos que, por sua vez, no corre qualquer risco (SIMIS, 1998, p. 7).

    Com isso, a autora aponta que a Lei Rouanet possibilitou iniciativa privada o controle do setor, de modo que as empresas podem gerenciar com toda a liberdade a escolha do projeto que mais lhes interesse, na medida em que existem muito mais projetos aprovados para patrocnio que dinheiro disponvel para os patrocinar. A gestora cultural Sheron Hess vai alm ao lembrar que, no Brasil, as leis de incentivo contrariam princpios republicanos, ao transferir para empresas a tarefa de definir, com base em critrios privados, individuais e no necessariamente qualificados, quais projetos culturais recebero recursos pblicos (HESS, 2009). Na mesma linha, o consultor Yacoff Sarkovas afirma:

    No Brasil, a Lei do Audiovisual permite deduo integral no imposto a pagar e, ainda, o abatimento como despesa, reduzindo o imposto acima do valor aplicado. O resultado um ganho real de mais de 130% ao investidor, sem risco. Espectadores cidados no se do conta de que as marcas que aparecem na abertura dos filmes brasileiros so de empresas que ganham dinheiro pblico para fingir que so investidoras culturais e decidir que aquele filme, e no outro, deva ser produzido (SARKOVAS, 2008).

    Na verdade, esse modelo de financiamento e de gesto da poltica cultural, de corte neo-liberal, iniciado no governo Collor e aperfeioado por Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, s aparentemente guarda semelhana com aquele implantado por Celso Furtado, quando esteve frente do Ministrio da Cultura, que introduziu um sistema de incentivos

  • 24 // Polticas culturais: pesquisa e formao

    fiscais, sem desmantelar a estrutura institucional existente, apenas parcialmente recomposta com a recriao do ministrio extinto por Collor. Ainda que neste texto nos detenhamos nas polticas de incentivo, salientar as diferenas algo fundamental.

    No que se refere ao processo de julgamento dos projetos, por exemplo, a Lei Rouanet, ao contrrio da lei anterior, veda a apreciao subjetiva dos projetos incentivados quanto ao seu valor artstico ou cultural, o que tira qualquer possibilidade de o Ministrio da Cultura escolher os projetos a ser financiados. H uma comisso de pareceristas, vinculada ao MinC, que define quais projetos podem ser incentivados, mas os critrios de julgamento referem-se apenas a mritos tcnicos, como a coerncia entre o oramento proposto e as realizaes previstas.

    Contudo, a ruptura com o projeto que, segundo Furtado, estava na base da Lei Sarney fica mais evidente com a deciso tomada no governo Collor de restringir o direito aos incentivos fiscais s empresas que operam em regime de lucro real, excluindo, portanto, as pequenas empresas que declaram o imposto de renda de acordo com a regra do lucro presumido11. Se somarmos a isso a mudana citada anteriormente, do governo Cardoso, no que diz respeito ao estmulo intermediao, conclui-se que houve uma reverso completa do esprito do projeto defendido por Furtado. De uma perspectiva no economicista, que entendia a cultura como fator de desenvolvimento, possuindo um valor intrnseco, no monetizvel, passa-se a uma viso da cultura como um bom negcio, nos termos do ministro Weffort12.

    Do privilgio s iniciativas locais, comunitrias, identitrias que se pretendia, passa-se ao grande jogo dos atores hegemnicos, em que as empresas oligopolistas ou

    11 As pequenas empresas podem optar pela utilizao do sistema de lucro presumido para o clculo do Imposto de Renda, o que proporciona vantagens, como a dispensa da escriturao contbil pelo fisco federal, desde que seja mantido o livro-caixa. A contabilidade mais simples e a fiscalizao, mais fcil, pois preciso apenas conhecer a receita bruta total para se obter o valor do tributo devido. As grandes empresas, ao contrrio, esto restritas ao regime de lucro real. Ao definir que apenas as empresas submetidas a este ltimo regime podem beneficiar-se do sistema de incentivos, a Lei Rouanet exclui justamente as pequenas empresas que a Lei Sarney pretendia priorizar. (Ver: http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/entrevistas/a-cultura-como-marketing-e-negocio. Acesso em: 23 abr. 2011.)12 WEFFORT; SOUZA, 1998.

  • LEIS DE INCENTIVO CULTURA VIA RENNCIA FISCAL NO BRASIL // 25

    monopolistas, pblicas ou privadas, passam a ditar a poltica cultural brasileira segundo critrios mercantis. Vence tambm, como se observar ao analisar os nmeros, a grande indstria cultural, em detrimento dos artistas e grupos amadores, independentes, populares etc. A concentrao regional dos incentivos, conforme podemos observar no grfico 1, decorre da prpria definio sobre os atores aptos a participar do processo, na medida em que as maiores empresas do pas, que operam em regime de lucro real, se concentram no eixo poltico-econmico do Sudeste.

    grfico 1: Captao de recursos por regio

    Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados do SalicNet

    Ainda que o Sudeste concentre aproximadamente 80% do total dos recursos captados, a Regio Nordeste apresenta grande destaque na concentrao de grupos culturais por municpios. Um exemplo disso observado quando avaliamos o percentual de municpios que realizam festivais ou mostras de manifestao tradicional.

    [...] a maior mdia regional no que se refere ao percentual de municpios que realizam festivais ou mostras de manifestao tradicional popular, com 60,69%, seguida pelas regies e Norte (59,49), Sudeste (47,97), Sul (39,8%)

    Mecenato:Captao de recursos no perodo 1993-2011 por regio

    Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul

    6.762.763.476,00

    871.989.483,75268.162.173,31 524.005.523,33

    82.208.952,31

  • 26 // Polticas culturais: pesquisa e formao

    e Centro-Oeste (37%) (BOLAO; AZEVEDO, 2011, p. 12). Alm da concentrao de recursos na regio Sudeste, nesta mesma regio onde se concentram tambm as cabeas de rede do oligoplio televisivo e as sedes dos grandes conglomerados de mdia e culturais do pas.

    A centralizao de recursos e incentivos pblicos no setor cultural [por exemplo] reflete-se na falta de infraestrutura cultural (principalmente capacitao e equipamentos culturais) em regies distantes dos principais centros econmicos do pas, [sobretudo quando olhamos] o caso da regio Nordeste (BOLAO; AZEVEDO, 2011, p. 21).

    Em todo caso, o volume da arrecadao ampliou-se consideravelmente entre os anos de 1993 e 2011, como mostra o grfico 2.

    grfico 2: FNC - Captao de recursos (1993-2011)

    Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados do SalicNet

    20112010200920082007200620052004200320022001200019991998199719961995

    Captao por ano

    0 142.981.076,82 60.865.512,85 79.855.897,66 212.437.773,13 76.078.590,73 162.908.252,86 80.766.311,67 31.476.012,83 106.609.316,16 74.484.718,49 130.711.726,02 55.429.434,36 34.556.318,74 43.267.972,36 25.450.357,81 8.645.484,40

  • LEIS DE INCENTIVO CULTURA VIA RENNCIA FISCAL NO BRASIL // 27

    Quando ocorreu a eleio de Luiz Incio Lula da Silva, o sistema de renncia fiscal j havia constitudo um mercado de dimenses nada desprezveis, confirmando a tese do ministro Weffort. A cultura era certamente um bom negcio. Um negcio para poucos.

    Contradies do governo Lula

    No ano 2003, o ministro da Cultura do governo Lula, Gilberto Gil, remodela a estrutura do MinC e promove uma srie de iniciativas a comear por dar maior visibilidade economia da cultura, envolvendo instituies de pesquisa, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), o Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (Ipea), a Fundao Getulio Vargas (FGV), a Faculdade de Campinas (Facamp), ou a Coordenao Geral de Economia da Cultura e Estudos Culturais (CGECEC), da Secretaria de Polticas Culturais do MinC com o objetivo de analisar o cenrio e contribuir na formulao das polticas pblicas culturais permanentes.

    Assim, a CGECEC supervisiona a elaborao de dezenas de pesquisas com o intuito de obter dados qualificados sobre temas que vo desde o impacto econmico da cultura e de seus diversos setores at a distribuio regional dos equipamentos culturais. O relatrio Cultura em Nmeros, publicado no ano 2010, destaca que o MinC inicia uma nova fase no planejamento das polticas culturais do pas. Segundo o relatrio, a sociedade civil assume uma nova posio, j que passar a ter acesso s informaes sobre o setor cultural, o que contribuir para avaliar os resultados das polticas, dos programas e das aes culturais e para formular propostas de construo para o setor.

    Por outro lado, o governo Lula empenhou-se na criao do Plano Nacional de Cultura (PNC) e do Sistema Nacional de Cultura (SNC). Segundo o MinC, o PNC13, idealizado no ano 2003 com a realizao do Seminrio Cultura para Todos, promovido

    13 No ano 2005 ocorreu a 1 Conferncia Nacional de Cultura, a partir da qual se props a Emenda Constitucional n. 48, prevendo a criao do PNC. Em 2006, tramitou na Comisso de Educao e Cultura da Cmara dos Deputados para detalhamento de suas diretrizes, sob a forma de Projeto de Lei n. 6835. No ano 2007, o MinC e a Cmara estabeleceram um quadro de audincias pblicas para discutir o PNC, a partir das quais se esperava agendar para o ano 2008 seminrios regionais e listas de discusso pela internet, visando aprimorar o plano e conferir legitimidade a ele (BOLAO; BRITTOS; GOLIN; MOTA, 2010, p. 24).

  • 28 // Polticas culturais: pesquisa e formao

    pelo MinC e consolidado no ano 2005 com a Conferncia Nacional de Cultura (CNC), objetiva reconhecer como parte de uma nova gerao dos direitos humanos a produo cultural no Brasil. Porm, para efetivar tal reconhecimento e incorpor-lo ao cenrio poltico e social, necessrio que um amplo acordo defina um referencial de gerenciamento.

    A primeira edio do caderno de diretrizes do PNC, publicada em 2008 pelo MinC, destaca que o plano busca abranger as demandas culturais do pas, fomentando o pluralismo e, sobretudo, investindo na promoo da equidade e universalizao do acesso produo e no usufruto dos bens e servios culturais. Para tanto, toma como ponto de partida um abrangente diagnstico sobre as condies em que ocorrem as manifestaes e experincias culturais e prope orientaes para a atuao do Estado no processo. Segundo o ministrio, o PNC possibilitar a abertura de caminhos para a concretizao do Sistema Nacional de Cultura (SNC), beneficiado pela efetiva integrao de fruns, conselhos e outras instncias de participao federal, estadual e municipal14.

    Os programas de fomento criados na gesto de Gilberto Gil e Juca Ferreira no MinC sinalizam um possvel fortalecimento na relao entre Estado e sociedade, especialmente no que se refere parcela produtora de contedo. Programas como Cultura Viva, Pontos de Cultura, Programadora Brasil, DocTV, Cultura e Cidadania ou Teia (re)configuraram o papel do ministrio, pois objetivavam ampliar o acesso para a realidade de cada regio produtora de cultura no Brasil, colaborando para qualificar o debate e fomentar uma nova compreenso do fenmeno cultural15. No entanto, tais iniciativas no chegaram a configurar-se como poltica de Estado, permanecendo sujeitas ao vai e vem das polticas macroeconmicas ou s idiossincrasias dos governos

    14 Segundo o MinC, o SNC deve funcionar como ferramenta de articulao, gesto, comunicao e promoo conjunta de polticas pblicas de cultura, mediante a pactuao entre agentes federados e sociedade civil. Dessa forma, o SNC contribuir para consolidar o PNC e implantar polticas pblicas de cultura democrticas e permanentes, promovendo, assim, o desenvolvimento social com pleno exerccio dos direitos culturais e acesso s fontes da cultura nacional (MOTA, 2010, p. 11).15 COSTA, Henrique. Plano Nacional traa diretrizes para polticas de comunicao. 2008. Disponvel em: http://www.direitoacomunicacao.org.br/content.php?option=com_content&task=view&id=3705. Acesso em: 18 mar. 2011.

  • LEIS DE INCENTIVO CULTURA VIA RENNCIA FISCAL NO BRASIL // 29

    de planto, o que dificulta uma mudana radical e efetiva em direo a uma poltica cultural entendida como poltica de desenvolvimento a longo prazo16.

    Alm disso, e esse o aspecto que nos interessa mais de perto neste artigo, no ocorreram mudanas nos mecanismos de incentivo, permanecendo o sistema, a esse respeito, o mesmo do perodo Collor-Franco-Cardoso. Assim, as leis de incentivo cultura, que possuem como principal fonte o mecenato privado, no foram alteradas durante o governo Lula. Elas continuam sendo o principal instrumento de incentivo cultura do ministrio. Se, por um lado, programas como o Cultura Viva sinalizam para uma democratizao da cultura, incorporando setores da sociedade antes excludos aos processos de produo, criao e difuso cultural, por outro, eles entram em contradio com uma gesto que preserva essencialmente o modelo anterior.

    O prprio MinC, sob o governo Lula, demonstrou conscincia do problema e certamente por isso que acabou encaminhando o projeto do Procultura. Assim, no ano 2010, o ministrio publicou em seu portal que 78% do volume de dinheiro aprovado pelo MinC para captao se referia a projetos da Regio Sudeste. De acordo com o MinC, apenas So Paulo ficou com 39% do total. Alm disso, ao analisar a relao total dos agentes captadores, observou-se que muitas regies do pas no conseguiram captar nenhum financiamento para projetos culturais pela Lei Rouanet. Clio Turino (2009), idealizador do programa Cultura Viva do MinC, lembra que 50% dos recursos captados concentram-se em apenas 3% dos proponentes, outros 20% ficam com o restante do recurso, sendo que 80% dos agentes envolvidos no processo no conseguem captar nenhum recurso17.

    16 Audincia pblica realizada em abril de 2011 discutiu os cortes oramentrios executados pelo governo Dilma. O veto presidencial Lei de Oramento Anual de 2011 (LOA) redefine o oramento proposto pelo Congresso, que ser reduzido de 2,1 bilhes de reais para 806 milhes de reais. De acordo com a ministra Ana Hollanda, que participou da audincia, essa ao obriga o Ministrio a agir com inteligncia e a realizar suas atividades atravs de nveis de prioridade. Segundo a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), o corte atinge diretamente vrias aes do MinC, especialmente o programa Cultura Viva, que teve seu oramento reduzido em 50%. Ela explica que os impactos dos cortes do oramento no MinC sinalizam a necessidade de pensar a estrutura geral do ministrio, sobretudo a viso de cultura como poltica de Estado. (AGOSTINHO; AFONSO, 2011).17 Turino denuncia que esses 3% mencionados se referem a apenas 100 pessoas, empresas ou instituies. (TURINO, 2009, p. 197).

  • 30 // Polticas culturais: pesquisa e formao

    O ministrio reconhece que o recurso pblico da renncia fiscal, via mecenato, acaba prejudicando a diversidade cultural do pas. Alm disso, a Lei Rouanet no conseguiu democratizar o acesso produo e fruio dos bens culturais18. De acordo com pesquisa realizada pelo IBGE e publicada no caderno de indicadores do MinC, Cultura em Nmeros19, apenas 14% da populao brasileira vai regularmente aos cinemas; 92% no frequentam museus; 93% nunca foram a uma exposio de arte; 78% nunca assistiram a um espetculo de dana; e 90% dos municpios do pas no possuem cinemas, teatros, museus nem centros culturais.

    Nessas condies, o MinC elaborar, no ano 2009, uma proposta para substituio da Lei Rouanet que nem sequer conseguir estimular o empresariado a investir em cultura, pois mesmo com a renncia fiscal de 100%, apenas 5% do universo de empresas que operam em regime de lucro real usam o mecanismo da lei que foi discutida em seminrios e audincias pblicas em 19 estados. Ela ficou disponvel na rede por 45 dias para consulta pblica e recebeu quase 2 mil propostas, sendo 925 contribuies individuais e 757 coletivas. O objetivo seria mudar uma situao em que somente 20% dos 6 mil projetos culturais aprovados por ano conseguem patrocnio. (NOVA LEI DA CULTURA, 2011).

    Anlise de dados

    Com o objetivo de sistematizar as informaes estatsticas das atividades do MinC, a Secretaria de Incentivo e Fomento Cultura (Sefic) tornou disponvel, no incio do ano 2009, os dados do Sistema de Apoio s Leis de Incentivo Cultura, o SalicNet20. O sistema permite o acesso a todos os projetos, proponentes e incentivadores que encaminharam suas propostas desde 1992, organizando as informaes consolidadas e os quadros comparativos relacionados ao Programa Nacional de Apoio Cultura (Pronac). Os grficos 3 e 4 apresentam, respectivamente, os dados referentes ao total geral dos valores captados e ao nmero de beneficiados, pessoa fsica.

    18 Nova Lei da Cultura: mais recursos, mais bem aplicados, para todas as dimenses da Cultura, em todas as dimenses do Brasil, 2011, p. 7. (Ver: http://blogs.cultura.gov.br/blogdarouanet/category/publicacoes/.)19 Ver: http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2009/10/cultura_em_numeros_2009_final.pdf.20 Ver: http://sistemas.cultura.gov.br/salicnet/Salicnet/Salicnet.php.

  • LEIS DE INCENTIVO CULTURA VIA RENNCIA FISCAL NO BRASIL // 31

    grfico 3: Captao de recursos via mecenato pessoa fsica (1993-2010)

    Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do Ministrio da Cultura, SalicNet

    Observa-se do grfico 3 que do total geral dos valores solicitados apenas 53% foram aprovados, sendo que, desse percentual, apenas 10% dos recursos foram efetivamente captados. O grfico 4, por sua vez, mostra que, do total de proponentes pessoa fsica que participaram de todo o processo, apenas 16% conseguiram efetivamente aprovar seus projetos.

    grfico 4: Proponentes pessoa fsica (1993-2010)

    Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do Ministrio da Cultura, SalicNet

    6.317.600.957,72

    3.347.719.270,64

    329.247.052,45

    3.018.489.156,20

    Solicitado

    Aprovado

    Captado

    Saldo

    Total geral de proponentes participantes

    Proponentes com captao

    Proponentes sem captao

    Proponentes com aprovao e sem captao

    Proponentes sem aprovao e captao

    15.858

    2.582

    13.276

    10.639

    2.637

  • 32 // Polticas culturais: pesquisa e formao

    Por outro lado, no que se refere captao por pessoa jurdica, como se pode observar no grfico 5, 0,93% dos captadores concentram 28,69% do montante captado, ou seja, menos de 1% dos proponentes receberam quase 30% do valor captado. Essa concentrao pode ser explicitada tambm ao relacionar os 200 maiores (entre os 5.364 captadores efetivos) que receberam aproximadamente 55% do total dos incentivos. Se considerssemos o conjunto dos projetos aprovados, essa concentrao seria ainda muito maior21.

    grfico 5: Concentrao dos recursos captados por pessoa jurdica (1993-2010)

    Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do Ministrio da Cultura, SalicNet

    O grfico 6 relaciona os 20 maiores captadores nos ltimos 20 anos de polticas de incentivo cultura. O Instituto Ita Cultural lidera a lista, com 3,5% do total, seguido da Fundao Roberto Marinho, com 1,1%. interessante notar que o Banco Ita , por outro lado, um dos principais patrocinadores. Lamentavelmente, o SalicNet no fornece dados a esse respeito, mas, verificando as relaes de patrocinadores das instituies que figuram entre os 20 maiores captadores, nota-se, por exemplo, que o referido banco apoia boa parte dos 18 principais captadores, abaixo da Fundao Roberto Marinho. Seria importante saber se esse apoio feito atravs de incentivo

    21 De acordo com informaes do SalicNet o total geral de propostas foi de 20.713, porm somente 5.364 conseguiram efetivamente captar os recursos para seus projetos.

    8.444.712.248,19

    4.226.118.853,33

    5.364 agentes formam o totalgeral de captadores

    Do total geral, 188 captadores concentraram

  • LEIS DE INCENTIVO CULTURA VIA RENNCIA FISCAL NO BRASIL // 33

    fiscal ou no, ou se apenas por iniciativa do Banco Ita. Porm, no nos foi possvel ter acesso a tais informaes at a elaborao do presente artigo.

    grfico 6: Os 20 maiores captadores pessoa jurdica (1993-2010)

    Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do Ministrio da Cultura, SalicNet

    Instituto Ita Cultural

    Fundao Roberto Marinho

    Fundao Orquestra Sinfnica Brasileira

    Associao Orquestra Pr Msica do Rio de Janeiro

    Museu de Arte Moderna de So Paulo - MAM

    Fundao Padre Anchieta

    Divina Comdia Produes Artsticas Ltda.

    Amigos do Teatro Municipal do Rio de Janeiro

    Associao Cultural da Funarte

    Danar Marketing Comunicaes Ltda.

    Museu de Arte de So Paulo Assis Chateaubriand

    Fundao Iber Camargo

    Amigos do Centro Cultural Banco do Brasil

    Corpo Ltda.

    Instituto Moreira Salles

    Fundao Bienal de So Paulo

    H. Melillo Comunicao e Marketing Ltda.

    Associao Sociedade de Cultura Artstica

    Mozarteum Brasileiro - Associao Cultural

    Fundao Orquestra Sinfnica do Estado de So Paulo

    294.014.526,81 94.904.986,76 93.668.671,28 86.206.479,51 80.130.239,31 77.598.982,38 73.019.955,23 69.903.221,66 64.734.599,43 64.599.534,19 59.520.206,55 55.546.519,21 53.906.580,40 53.206.940,53 52.341.625,53 51.693.646,67 50.312.896,83 47.127.710,0146.223.076,5643.708.332,69

  • 34 // Polticas culturais: pesquisa e formao

    O grfico 7 mostra a concentrao, ano a ano, das verbas entre os 5% maiores captadores, pessoa jurdica, mecenato privado. Observa-se um movimento fortemente ascendente nos seis primeiros anos, passando de 32% no ano 1994, para 50% nos anos 1999 e 2000. A partir da, h uma ligeira queda no ano 2002 (45%), mas se mantendo, em geral, at hoje, em torno dos 46%.

    grfico 7: Concentrao do valor total captado nos 5% maiores captadores anuais

    Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do Ministrio da Cultura, SalicNet

    20102009200820072006200520042003200220012000199919981997199619951994

    46% 48% 47% 45% 47% 46% 42% 46% 45% 48% 50% 50% 49% 43% 46% 35%32%

  • LEIS DE INCENTIVO CULTURA VIA RENNCIA FISCAL NO BRASIL // 35

    Na tabela 1, apresentamos a evoluo da posio daqueles 20 maiores beneficirios, ano a ano, entre 1993 e 2010, explicitando quantas vezes e em quais anos conseguiram captar incentivos para seus projetos. Assim, a agncia de marketing promocional H. Melillo Comunicao e Marketing Ltda., por exemplo, s captou recursos a partir de 2007, assumindo, no obstante, destacada posio no total dos 20 anos de possibilidade de captao na categoria pessoa jurdica.

  • 36 // Polticas culturais: pesquisa e formao

    Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do Ministrio da Cultura, SalicNet

    tabela 1: Colocao ao longo dos anos dos 20 maiores captadores

    Colocao CAPTADORES 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 20101 Instituto Ita Cultural - - - 1 1 1 1 1 1 1 1 4 2 2 1 1 2 12 Fundao Roberto Marinho - - 1 18 3 19 4 10 8 18 2 2 7 13 5 16 23 163 Fundao Orquestra Sinfnica Brasileira - - - 39 39 41 19 18 29 15 25 31 61 5 2 3 3 64 Orquestra Pr Msica do Rio de Janeiro - - - - - 43 27 7 12 97 12 5 3 10 22 7 9 95 Museu de Arte Moderna de So Paulo - - - 149 37 18 10 13 9 6 7 6 9 8 11 8 6 326 Fundao Padre Anchieta - - - - - 160 24 21 22 13 6 3 16 4 3 6 15 147 Divina Comdia Produes Artsticas Ltda. - - - 14 16 11 6 3 3 8 16 42 10 22 17 27 13 628 Amigos do Teatro Municipal do RJ - - - - 500 44 261 614 - 452 235 49 219 173 29 4 1 59 Associao Cultural da Funarte - - - - - - - - - - - 59 1 1 162 36 5 20910 Danar Marketing Comunicaes Ltda. - - - - 115 168 48 47 51 7 22 29 47 46 4 2 12 1511 Museu de Arte de So Paulo Assis Chateaubriand - - - 254 6 15 3 11 26 31 60 79 628 63 38 58 10 412 Fundao Iber Camargo - - - - - - - 169 147 64 10 1 4 16 18 12 27 2813 Amigos do Centro Cultural Banco do Brasil - - - - 2 3 2 5 4 3 3 307 177 359 - - - -14 Corpo Ltda. - - - 27 25 22 23 19 11 47 4 126 6 20 160 21 25 3415 Instituto Moreira Salles - - - 10 8 8 5 4 7 19 30 11 12 21 35 - - -16 Fundao Bienal de So Paulo - - - 3 60 6 17 436 188 40 53 87 118 53 313 100 7 217 H. Melillo Comunicao e Marketing Ltda. - - - - - - - - - - - - - - 20 5 4 318 Associao Sociedade de Cultura Artstica - - - 59 31 49 28 36 43 36 50 27 55 66 91 15 8 1119 Mozarteum Brasileiro - Associao Cultural - - - 43 124 31 8 9 16 9 19 17 25 38 54 30 56 4320 Orquestra Sinfnica do Estado de So Paulo - - - - - - - 794 - 1002 - - 57 15 7 10 14 7

  • LEIS DE INCENTIVO CULTURA VIA RENNCIA FISCAL NO BRASIL // 37

    tabela 1: Colocao ao longo dos anos dos 20 maiores captadores

    Colocao CAPTADORES 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 20101 Instituto Ita Cultural - - - 1 1 1 1 1 1 1 1 4 2 2 1 1 2 12 Fundao Roberto Marinho - - 1 18 3 19 4 10 8 18 2 2 7 13 5 16 23 163 Fundao Orquestra Sinfnica Brasileira - - - 39 39 41 19 18 29 15 25 31 61 5 2 3 3 64 Orquestra Pr Msica do Rio de Janeiro - - - - - 43 27 7 12 97 12 5 3 10 22 7 9 95 Museu de Arte Moderna de So Paulo - - - 149 37 18 10 13 9 6 7 6 9 8 11 8 6 326 Fundao Padre Anchieta - - - - - 160 24 21 22 13 6 3 16 4 3 6 15 147 Divina Comdia Produes Artsticas Ltda. - - - 14 16 11 6 3 3 8 16 42 10 22 17 27 13 628 Amigos do Teatro Municipal do RJ - - - - 500 44 261 614 - 452 235 49 219 173 29 4 1 59 Associao Cultural da Funarte - - - - - - - - - - - 59 1 1 162 36 5 20910 Danar Marketing Comunicaes Ltda. - - - - 115 168 48 47 51 7 22 29 47 46 4 2 12 1511 Museu de Arte de So Paulo Assis Chateaubriand - - - 254 6 15 3 11 26 31 60 79 628 63 38 58 10 412 Fundao Iber Camargo - - - - - - - 169 147 64 10 1 4 16 18 12 27 2813 Amigos do Centro Cultural Banco do Brasil - - - - 2 3 2 5 4 3 3 307 177 359 - - - -14 Corpo Ltda. - - - 27 25 22 23 19 11 47 4 126 6 20 160 21 25 3415 Instituto Moreira Salles - - - 10 8 8 5 4 7 19 30 11 12 21 35 - - -16 Fundao Bienal de So Paulo - - - 3 60 6 17 436 188 40 53 87 118 53 313 100 7 217 H. Melillo Comunicao e Marketing Ltda. - - - - - - - - - - - - - - 20 5 4 318 Associao Sociedade de Cultura Artstica - - - 59 31 49 28 36 43 36 50 27 55 66 91 15 8 1119 Mozarteum Brasileiro - Associao Cultural - - - 43 124 31 8 9 16 9 19 17 25 38 54 30 56 4320 Orquestra Sinfnica do Estado de So Paulo - - - - - - - 794 - 1002 - - 57 15 7 10 14 7

  • 38 // Polticas culturais: pesquisa e formao

    Procultura: uma nova lei de incentivo cultura

    O Projeto de Lei n. 6.722/2010, que substitui a Lei Roaunet (Lei n. 8.313/91), foi encaminhado ao Congresso pelo Ministrio da Cultura no incio do ano 2010. No final de 2010, a Comisso de Educao e Cultura (CEC) da Cmara dos Deputados aprovou o PL n. 1.139/07, que substitui o PL n. 6.722/10, alterado pela relatora da proposta, a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA). Segundo a relatora o substitutivo agrupa oito propostas sobre o tema22. Atualmente o texto encontra-se na Comisso de Finanas e Tributao (CFT)23 e ainda deve passar pela Comisso de Constituio, Justia e Cidadania (CCJC) antes de ir para o Senado.

    A deputada Alice Portugal destaca no relatrio24 da CEC que a nova lei ter como meta ampliar os recursos, fortalecendo o FNC, e reduzir a importncia relativa do mecenato privado como fonte de estmulo cultura. Segundo os dados apresentados, de cada 10 reais investidos na cultura atualmente 9 reais referem-se a dinheiro pblico ou a incentivos fiscais. Alm disso, procura-se reduzir a concentrao regional dos recursos. De acordo com o projeto, o governo federal pretende injetar 2% do Oramento Geral da Unio no Fundo Nacional de Cultura (FNC), que teria princpios de diluio de recursos entre diversos projetos, inclusive considerando a concentrao regional e seus nveis de impacto na sociedade.

    22 Durante sua tramitao o PL n. 6.722/2010 recebeu sete apensos: PLs 2.151/07, 2.575/07, 3.301/08, 3.686/08, 4.143/08, 6.722/10 e 7.250/10. Todos discutem propostas de mudana sobre as leis de incentivo cultura.23 Ver tramitao: http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=352711.24 Publicado no final do ano 2010. Disponvel em: http://www.camara.gov.br/sileg/integras/815293.pdf. Acesso em: 10 maio 2011.

  • LEIS DE INCENTIVO CULTURA VIA RENNCIA FISCAL NO BRASIL // 39

    Em abril do ano 2011, foi criada uma Frente Parlamentar Mista de Apoio Cultura, formada por mais de 300 deputados e senadores e presidida pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ)25. Foi apresentado ao presidente da Cmara, Marco Maia (PT-RS), um documento pedindo agilidade no exame das propostas de Emenda Constitucional n. 150/200326, que prev 2% do oramento da Unio para a cultura27, e n. 416/200528, que cria o Sistema Nacional de Cultura; alm do projeton. 5.798/2009, que cria o Vale Cultura.

    A tabela 2 compara as diferentes leis de incentivo cultura do Brasil, desde a extinta Lei Sarney at a proposta original de reforma da Lei Rouanet e o substitutivo, como j dito, em tramitao no Congresso Nacional.

    25 Ver: http://www.culturaemercado.com.br/cenario/politica/frente-parlamentar-mista-de-apoio-a-cultura-e-lancada-oficialmente/.26 Ver tramitao da PEC 150/2003: http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=131237.27 De acordo com informaes do Congresso, o Ministrio da Cultura possui o segundo menor oramento nacional. Disponvel em: http://www.youtube.com/watch?v=yRF1esZn_k8. Acesso em: 5 maio 2011.28 Ver tramitao da PEC 416/2005: http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=290677.

  • 40 // Polticas culturais: pesquisa e formao

    tabela 2: Principais diferenas entre as leis de incentivo cultura dos ltimos 20 anos

    LEI SARNEYLEI N. 8.313/91

    LEI ROUANETLEI N. 8.685/93

    PROCULTURAPL N. 6.722/10

    SUBSTITUTIVOPL N. 1.139/10

    RENNCIAFISCAL

    PESSOA FSICA - DOAO

    100% de iseno, at 2% do imposto devido

    80% de iseno, at 6% do imposto devido

    80% de iseno, at 6% do imposto devido

    entre 60% e 90% de iseno, at 8% do imposto devido

    PESSOA FSICA - PATROCNIO

    80% de iseno, at 2% do imposto devido

    60% de iseno, at 6% do imposto devido

    80% de iseno, at 6% do imposto devido

    entre 60% e 90% de iseno, at 8% do imposto devido

    PESSOA JURDICA - DOAO

    100% de iseno, at 2% do imposto devido

    40% de iseno, at 4% do imposto devido

    80% de iseno, at 4% do imposto devido

    entre 60% e 90% de iseno, at 6% do imposto devido

    PESSOA JURDICA - PATROCNIO

    80% de iseno, at 2% do imposto devido

    30% de iseno, at 4% do imposto devido

    80% de iseno, at 4% do imposto devido

    entre 60% e 90% de iseno, at 6% do imposto devido

    MECANISMOS DE FOMENTO

    FNCFundo de Promoo Cultural (FPC); similar ao FNC, mas sem muita relevncia

    ferramenta de execuo do Pronac; fonte secundria; sem diviso setorial e baixa diversidade de mecanismos

    ganha autonomia e torna-se a principal fonte de incentivo; cria oito fundos setoriais e integra o fundo setorial do audiovisual

    idem

    FICART no existiaferramenta de execuo do Pronac; no regulamentado

    regulamentado na Lei; com maior deduo fiscal

    idem

    INCENTIVO FISCAL/ MECENATO PRIVADO

    principal fonte de incentivo principal fonte de incentivo fonte complementar idem

    VALE-CULTURA no existia no existiaauxlio de R$ 50 com objetivo de ampliar consumo de bens culturais

    idem

    REPASSE PARA ESTADOS E MUNICPIOS

    no havia repasse no havia repasserepasse automtico de 30% dos recursos do FNC para estados e municpios

    idem

  • LEIS DE INCENTIVO CULTURA VIA RENNCIA FISCAL NO BRASIL // 41

    tabela 2: Principais diferenas entre as leis de incentivo cultura dos ltimos 20 anos

    LEI SARNEYLEI N. 8.313/91

    LEI ROUANETLEI N. 8.685/93

    PROCULTURAPL N. 6.722/10

    SUBSTITUTIVOPL N. 1.139/10

    RENNCIAFISCAL

    PESSOA FSICA - DOAO

    100% de iseno, at 2% do imposto devido

    80% de iseno, at 6% do imposto devido

    80% de iseno, at 6% do imposto devido

    entre 60% e 90% de iseno, at 8% do imposto devido

    PESSOA FSICA - PATROCNIO

    80% de iseno, at 2% do imposto devido

    60% de iseno, at 6% do imposto devido

    80% de iseno, at 6% do imposto devido

    entre 60% e 90% de iseno, at 8% do imposto devido

    PESSOA JURDICA - DOAO

    100% de iseno, at 2% do imposto devido

    40% de iseno, at 4% do imposto devido

    80% de iseno, at 4% do imposto devido

    entre 60% e 90% de iseno, at 6% do imposto devido

    PESSOA JURDICA - PATROCNIO

    80% de iseno, at 2% do imposto devido

    30% de iseno, at 4% do imposto devido

    80% de iseno, at 4% do imposto devido

    entre 60% e 90% de iseno, at 6% do imposto devido

    MECANISMOS DE FOMENTO

    FNCFundo de Promoo Cultural (FPC); similar ao FNC, mas sem muita relevncia

    ferramenta de execuo do Pronac; fonte secundria; sem diviso setorial e baixa diversidade de mecanismos

    ganha autonomia e torna-se a principal fonte de incentivo; cria oito fundos setoriais e integra o fundo setorial do audiovisual

    idem

    FICART no existiaferramenta de execuo do Pronac; no regulamentado

    regulamentado na Lei; com maior deduo fiscal

    idem

    INCENTIVO FISCAL/ MECENATO PRIVADO

    principal fonte de incentivo principal fonte de incentivo fonte complementar idem

    VALE-CULTURA no existia no existiaauxlio de R$ 50 com objetivo de ampliar consumo de bens culturais

    idem

    REPASSE PARA ESTADOS E MUNICPIOS

    no havia repasse no havia repasserepasse automtico de 30% dos recursos do FNC para estados e municpios

    idem

  • 42 // Polticas culturais: pesquisa e formao

    RGOS DE ACOMPANHAMENTO

    COMISSO NACIONAL DE INCENTIVO E FOMENTO CULTURA (CNIC)

    no existia

    cria a CNIC, ligada Secretaria da Cultura da Presidncia da Repblica; atribuies no muito claras

    com papel mais amplo na formulao de diretrizes e critrios do investimento;cria CNICs setoriais de composio paritria entre governo, sociedade civil e empresariado

    a composio da CNIC passa a ser detalhada na prpria lei, especialmente no que se refere a sua funo;ampliao das cadeiras de representao do rgo

    CONSELHOS DE CULTURA: FEDERAL, ESTADUAL E MUNICIPAL

    cria o Conselho Federal de Cultura,que tem funo de supervisionar e acompanhar as doaes, patrocnios e investimentos; os conselhosestaduais e municipais so vetados

    no determina criao de Conselho Federal, porm o governo federal estimula a criao de conselhos estaduais e municipais, sem, no entanto, atribuir suas funes

    no h nenhuma referncia criao de conselhos, mas o art. 21 3 estimula a criao de rgos colegiados estaduais para suporte das avaliaes dos projetos enviados ao MinC

    idem

    LEI SARNEYLEI N. 8.313/91

    LEI ROUANETLEI N. 8.685/93

    PROCULTURAPL N. 6.722/10

    SUBSTITUTIVOPL N. 1.139/10

  • LEIS DE INCENTIVO CULTURA VIA RENNCIA FISCAL NO BRASIL // 43

    RGOS DE ACOMPANHAMENTO

    COMISSO NACIONAL DE INCENTIVO E FOMENTO CULTURA (CNIC)

    no existia

    cria a CNIC, ligada Secretaria da Cultura da Presidncia da Repblica; atribuies no muito claras

    com papel mais amplo na formulao de diretrizes e critrios do investimento;cria CNICs setoriais de composio paritria entre governo, sociedade civil e empresariado

    a composio da CNIC passa a ser detalhada na prpria lei, especialmente no que se refere a sua funo;ampliao das cadeiras de representao do rgo

    CONSELHOS DE CULTURA: FEDERAL, ESTADUAL E MUNICIPAL

    cria o Conselho Federal de Cultura,que tem funo de supervisionar e acompanhar as doaes, patrocnios e investimentos; os conselhosestaduais e municipais so vetados

    no determina criao de Conselho Federal, porm o governo federal estimula a criao de conselhos estaduais e municipais, sem, no entanto, atribuir suas funes

    no h nenhuma referncia criao de conselhos, mas o art. 21 3 estimula a criao de rgos colegiados estaduais para suporte das avaliaes dos projetos enviados ao MinC

    idem

    LEI SARNEYLEI N. 8.313/91

    LEI ROUANETLEI N. 8.685/93

    PROCULTURAPL N. 6.722/10

    SUBSTITUTIVOPL N. 1.139/10

  • 44 // Polticas culturais: pesquisa e formao

    Tomando a primeira linha do quadro (renncia fiscal), as faixas de iseno determinadas pelas leis Sarney e Rouanet apresentam diferenas, mas isso no altera significativamente o problema. A grande mudana, j referida anteriormente, refere-se a um elemento que no est na tabela: a exclusividade de participao nos mecanismos de incentivo para as empresas declarantes do Imposto de Renda pelo lucro real, o que, como vimos, concentra o benefcio e ope-se perspectiva democratizante de Furtado.

    No governo Lula, em que pesem os avanos no sentido da democratizao da cultura, no houve reviso desse princpio, inclusive no caso do Procultura. O projeto encaminhado ao Congresso iguala as faixas de renncia, mantendo as porcentagens em relao Lei Rouanet. No substitutivo, atualmente em tramitao, as faixas de iseno fiscal so ampliadas com o objetivo de dilatar as possibilidades de incentivo29, porm o referido princpio no alterado.

    No que se refere segunda linha (mecanismos de fomento), com a reforma proposta (seja no projeto original, seja no substitutivo), o FNC se tornaria a principal fonte de incentivo cultura, o que significa uma mudana importante em relao a todas as polticas anteriores, como se pode observar. De acordo com o MinC, seus recursos viriam de dotaes oramentrias, doaes e auxlio de entidades de qualquer natureza, inclusive internacionais, 3% dos recursos da loteria federal, 100% dos recursos de uma loteria prpria, entre outros.

    Outra novidade o repasse da Unio, para os estados e municpios, de 30% dos recursos do FNC, com a condio de que exista, no governo local, um rgo colegiado para fiscalizar a aplicao dos recursos em cultura e arte, sendo que a representao da sociedade civil nesse rgo dever ser de no mnimo 50%. Alm disso, o novo FNC ser dividido em nove setores, visando contemplar todas as reas da cultura30.

    29 Para ver relatrio na ntegra: http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/151885-COMISSAO-APROVA-NOVOS-CRITERIOS-PARA-INCENTIVOS-CULTURAIS.html. Acesso em: 15 maio 2011.30 A saber: Fundo Setorial das Artes Visuais, Fundo Setorial das Artes Cnicas, Fundo Setorial da Msica, Fundo Setorial do Acesso e Diversidade, Fundo Setorial do Patrimnio e Memria, Fundo Setorial do Livro, Leitura, Literatura e Humanidades, Fundo Setorial de Aes Transversais e Equalizao, Fundo Setorial de Incentivo Inovao do Audiovisual e o Fundo Setorial do Audiovisual. Este ltimo (FSA) j existe e com a nova lei integrar o FNC.

  • LEIS DE INCENTIVO CULTURA VIA RENNCIA FISCAL NO BRASIL // 45

    Outras mudanas trazidas pela nova lei referem-se aos mecanismos de promoo do Procultura, como o Fundo de Investimento Cultural e Artstico (Ficart) e o Vale Cultura31, j aprovados pelo Congresso e com objetivo de fortalecer a economia da cultura no cenrio nacional32.

    Em relao terceira linha do quadro (rgos de acompanhamento), a Comisso Nacional de Incentivo Cultura (CNIC) tambm assumiria um novo papel, com atribuies previstas na lei e a responsabilidade de criar um plano de diretrizes e critrios para a distribuio dos recursos. Alm disso, a lei estimula a criao de CNICs setoriais que se articularo com os oito fundos setoriais j citados33. A nova lei define, ainda, que nenhum fundo ter menos de 10% ou mais de 30% do total do FNC (NOVA LEI DA CULTURA, 2011, p. 14).

    Alm disso, o projeto procura resolver uma grave distoro dos mecanismos atuais ao permitir ao governo, sob certas condies, dispor da produo cultural financiada com recursos pblicos. Dessa forma, o governo poder exibir e distribuir gratuitamente para a sociedade produtos financiados pelo Procultura. Outro aspecto importante aquele referente aos critrios de escolha dos projetos a serem financiados. O PL encaminhado ao Congresso institui um sistema pblico e transparente de critrios, tanto para o acesso aos recursos do FNC quanto do incentivo fiscal.

    31 A Lei n. 5.798/2009 institui o Programa de Cultura do Trabalhador, cria o vale-cultura e altera as Leis n. 8.212/91, n. 7.713/88 e a Consolidao das Leis do Trabalho-CLT, aprovada pelo Decreto-Lei n. 5.452/43, Em seu Art. 1 fica institudo, sob a gesto do Ministrio da Cultura, o Programa de Cultura do Trabalhador, destinado a fornecer aos trabalhadores meios para o exerccio dos direitos culturais e acesso s fontes da cultura.32 O primeiro define 100% de renncia para projetos culturais com potencial de retorno comercial e o segundo um benefcio similar ao carto vale-refeio, mas que deve ser usado na compra de livros e de ingressos de shows, cinema e teatro. 33 De acordo com o MinC os fundos setoriais baseiam-se na experincia do Ministrio da Educao, com o Fundo para Educao Bsica (Fundeb) e com a experincia do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), do MinC.

  • 46 // Polticas culturais: pesquisa e formao

    Algumas concluses

    Uma definio do projeto que acabou adquirindo carter inesperadamente polmico aquela que define trs dimenses (simblica, econmica e social) para as diretrizes de anlise dos projetos34. Turino explica que tais categorias pretendem compreender a cultura como processo, seja na quebra das narrativas hegemnicas e na incluso no dilogo cultural, seja na adoo de uma nova atitude cultural, abrindo caminho para uma economia solidria, de consumo consciente e trabalho colaborativo (TURINO, 2009). O substitutivo elimina essa categorizao e define critrios de seleo, supostamente mais objetivos, de acordo com um sistema de pontuao que tem como base os seguintes parmetros: acesso, natureza do projeto e alcance do projeto e seu impacto cultural. A soma da pontuao definir em que faixa de iseno os projetos aprovados sero classificados35.

    Trata-se de um tema da maior relevncia, com eventuais implicaes sobre as relaes entre Estado e mercado na definio das polticas culturais e destas com a poltica de desenvolvimento. Assim, a justificativa da objetividade parece demasiado simples para servir de argumento quando se trata de um elemento de tenso to fundamental. Se o sistema de editais, por exemplo, adotado pelo MinC garante maior transparncia

    34 Dimenso simblica: inovao e experimentao esttica; circulao, distribuio e difuso dos bens culturais; contribuio para preservao, memria e tradio; expresso da diversidade cultural brasileira; contribuio pesquisa e reflexo; e promoo da excelncia e da qualidade. Dimenso econmica: gerao e qualificao de emprego e renda; desenvolvimento das cadeias produtivas culturais; fortalecimento das empresas culturais brasileiras; internacionalizao, exportao e difuso da cultura brasileira no exterior; fortalecimento do intercmbio e da cooperao internacional com outros pases; profissionalizao, formao e capacitao de agentes culturais pblicos e privados; e sustentabilidade e continuidade dos projetos culturais. Dimenso social: ampliao do acesso da populao aos bens, contedos e servios culturais; contribuio para reduo das desigualdades territoriais, regionais e locais; impacto na educao e em processos de requalificao urbana, territorial e das relaes sociais; incentivo formao e manuteno de redes, coletivos, companhias e grupos socioculturais; reduo das formas de discriminao e preconceito; e fortalecimento das iniciativas culturais das comunidades (NOVA LEI DA CULTURA, 2011).35 A Comisso de Educao e Cultura, ao analisar o substitutivo da nova lei, avalia ser necessrio implementar critrios objetivos para avaliao dos projetos. analisado, por exemplo, se a produo independente ou no, gratuita ou no, se o projeto alcana mais de uma regio do pas, se possui natureza experimental etc. (ARTIGO 8 do PL n. 1.139/2007).

  • LEIS DE INCENTIVO CULTURA VIA RENNCIA FISCAL NO BRASIL // 47

    poltica de fomento, abrindo espao inclusive a novos atores, preciso ainda pensar com todo o cuidado no papel do mercado como agente definidor da cultura no pas.

    Nesse sentido, a cultura deve ser vista como uma poltica de Estado de maneira ampla. O objetivo deve ser descentralizar e democratizar os mecanismos de ao, visando contribuir para o fortalecimento da cultura como ferramenta de emancipao, o que exige reforo das instituies pblicas e dos mecanismos democrticos de controle social dessas instituies.

    Rubim (2010) lembra que o debate sobre a implantao de uma poltica nacional de cultura deve inserir-se, primeiro, no desafio de superar antigas tradies que contriburam para a construo do setor cultural no Brasil. A tentativa de abrangncia assumida como meta pelo MinC no perodo da gesto de Gilberto Gil e ratificada por Juca Ferreira configura-se como uma ao positiva e que colabora para a ampliao das aes culturais no pas. Todavia, o autor salienta a necessidade de avanar ainda na implantao de projetos de indiscutvel centralidade como o Plano Nacional de Cultura, o Sistema Nacional de Cultura ou o Sistema Nacional de Informaes Culturais e no aperfeioamento de mecanismos como os Pontos de Cultura, que materializam os avanos democrticos no setor.

    O modelo de renncia fiscal, principal fonte de financiamento, at aqui, no consegue abranger a diversidade cultural brasileira, que exige uma poltica de investimento governamental direta (BOLAO; AZEVEDO, 2011), base para uma efetiva democratizao da produo simblica, modificando a realidade social, de acordo com um projeto nacional emancipador.

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    * Agradeo a colaborao de Alfonso Flores, Eliud Silva e Sylvie Durn na preparao deste texto.** Coordenadora acadmica e idealizadora do modelo Esics para a Amrica Central.

  • 52 // Polticas culturais: pesquisa e formao

    De Sistemas de Informao (SIC) a Ecossistemas de Informao Complexa (Esic)

    Ao iniciarmos o presente texto, preciso que se esclarea que, como o referido subttulo indica, um sistema de informao cultural deve oferecer informao variada e atualizada, permitindo a um diversificado grupo de interessados pesquisadores, empresrios culturais, funcionrios pblicos, gestores culturais, assim como o pblico em geral dispor de dados vigentes para elaborar diagnsticos, orientar a tomada de decises, desenhar e avaliar polticas culturais, ou, at mesmo, gerar cenrios futuros. Entretanto, deve ser uma ferramenta que permita, em nveis variados, o desenvolvimento de informao de maior complexidade, seja no mbito de processos de aprendizagem, seja no mbito de pesquisas em profundidade, para descrio de tendncias ou caracterizao de populao com acesso a um bem ou servio cultural, por exemplo.

    por isso que um sistema de informao no se trata somente, por exemplo, de um cadastro mais ou menos complexo sobre cultura. Trata-se de um espao de trabalho e intercmbio, de gesto da informao e do conhecimento, onde gerada a informao necessria compreenso do fenmeno cultural.

    Nesse sentido, um sistema de informao cultural deve ter um carter inclusivo, diversificado e amplo. Por exemplo, um sistema pode e deve produzir, eventualmente, dados