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UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Bacharelado em Química Glauco Oliveira Santos Carlos Augusto de Jesus Xavier Luan da Silva Tomé POLÍMERO NATURAL DE FÉCULA DE MANDIOCA COMO AUXILIAR DE FLOCULAÇÃO EM TRATAMENTO DE ÁGUA PARA ABASTECIMENTO PÚBLICO LINS SP 2012

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UNISALESIANO

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Bacharelado em Química

Glauco Oliveira Santos

Carlos Augusto de Jesus Xavier

Luan da Silva Tomé

POLÍMERO NATURAL DE FÉCULA DE MANDIOCA

COMO AUXILIAR DE FLOCULAÇÃO EM TRATAMENTO

DE ÁGUA PARA ABASTECIMENTO PÚBLICO

LINS – SP

2012

GLAUCO OLIVEIRA SANTOS

CARLOS AUGUSTO DE JESUS XAVIER

LUAN DA SUILVA TOMÉ

POLÍMERO NATURAL DE FÉCULA DE MANDIOCA

COMO AUXILIAR DE FLOCULAÇÃO EM TRATAMENTO

DE ÁGUA PARA ABASTECIMENTO PÚBLICO

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Banca Examinadora

do Centro Universitário Católico

Salesiano Auxilium, curso de

Bacharelado em Química, realizado

sob a orientação do Prof. Me. Olayr

Modesto Júnior.

LINS – SP

2012

Santos, Glauco Oliveira; Xavier, Carlos Augusto de Jesus; Tomé,

Luan da Silva.

Polímero natural de fécula de mandioca como auxiliar de

floculação em tratamento de água para abastecimento público /

Glauco Oliveira Santos; Carlos Augusto de Jesus Xavier; Luan da

Silva Tomé. – – Lins, 2012.

45p. il. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico

Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP, para graduação em

Química Bacharelado, 2012.

Orientador: Olayr Modesto Junior

1. Polímero. 2. Fécula de Mandioca. 3. Tratamento de água. I. Título.

CDU 54

S235p

GLAUCO OLIVEIRA SANTOS

CARLOS AUGUSTO DE JESUS XAVIER

LUAN DA SILVA TOMÉ

POLÍMERO NATURAL DE FÉCULA DE MANDIOCA

COMO AUXILIAR DE FLOCULAÇÃO EM TRATAMENTO

DE ÁGUA PARA ABASTECIMENTO PÚBLICO

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Centro Universitário Católico

Salesiano Auxilium, como requisito obrigatório, para obtenção do título de

Bacharel em Química.

Aprovado em: 04/12/2012.

Banca Examinadora:

Professor Orientador: OLAYR MODESTO JÚNIOR.

Titulação: Mestre em Química.

Assinatura: ______________________________.

1º Professor (a): JOÃO ARTUR IZZO.

Titulação: Mestre em Comunicação.

Assinatura: ______________________________.

2º Professor (a): FRANCISCO DE ASSIS ANDRADE.

Titulação: Mestre em Ciência dos Materiais, Física da Matéria Condensada.

Assinatura: ______________________________.

DEDICATÓRIAS

À minha mãe Alcemira, à minha esposa Rosilei e

ao meu filho Lucas, pessoas que lutam diariamente ao

meu lado, transmitindo fé, amor, alegria,

determinação, paciência, e coragem, tornando os meus

dias mais felizes e bonitos. Sem vocês eu não seria

nada.

Glauco

À minha namorada Carla, que teve grande

participação em muitas das minhas conquistas, repito

aqui para que todos saibam “te amo hoje e sempre”.

Carla espero cada dia estar mais junto a ti; e à minha

mãe Maria com seu imenso carinho e amor sempre ao

meu lado me dando força quando foi necessário e

passando por todas as dificuldades comigo.

Luan

À minha esposa Cristiane que, durante os anos

em que levou esse curso, “segurou a barra” junto

comigo, lutou em casa para que eu pudesse alcançar

esse objetivo, “te amo muito“; e à minha mãe Ivany que

sempre deixou que eu estudasse mesmo passando

dificuldades nunca me tirou da escola, apoiando-me

para ser um homem de bem.

Carlos Augusto

AGRADECIMENTOS

À Deus, pela graça que nos concedeu de vencer todos os

obstáculos de nossas vidas que nos deu coragem para questionar

realidades e propor sempre um novo mundo de possibilidades.

Às nossas famílias, por sua capacidade de acreditar e

investir em nós.

Ao professor orientador Olayr Modesto Júnior por ter se

dedicado a nos ajudar, sempre trazendo melhorias ao nosso

trabalho, mostrando sempre o melhor caminho a seguir.

A todos os professores do curso de Bacharelado em Química,

por terem compartilhado seus conhecimentos.

Aos nossos amigos, pelas alegrias, tristezas e dores

compartilhadas. Podemos dizer que a nossa formação, inclusive

pessoal, não teria sido a mesma sem a ajuda de vocês.

A todos aqueles que de alguma forma estiveram próximos de

nós, fazendo a nossa vida valer a pena cada vez mais.

Glauco / Carlos Augusto / Luan

“A mente que se abre a uma nova ideia

jamais volta ao seu tamanho original.”

Einstein

“O homem fraco espera pela

oportunidade; o homem comum agarra-

-a quando ela vem; o grande cria-a

como ele a quer.”

Adolf Tàrneros

RESUMO

Este trabalho mostra como pode ser produzido e utilizado o polímero de fécula de mandioca (PFM) como auxiliar de floculação em tratamento de água para abastecimento público. Teve-se como objetivo, testar a eficiência do PFM em comparação ao polímero sintético poliacrilamida (PA), que hoje é o mais utilizado para este fim. O tratamento com PFM, evita que a PA possa deixar na água o seu monômero acrilamida que é altamente tóxico, e se a contaminação ocorrer por um período de tempo longo pode-se até ter um efeito cancerígeno em quem consome esta água. A grande dificuldade que se encontra na maior parte das Estações de Tratamento de Águas (ETA), do Brasil, é o crescimento populacional acelerado, ou seja, o rápido aumento na demanda de água tratada. Devido à falta de investimentos para ampliação dos sistemas, a maior parte delas trabalha acima da sua capacidade de produção, fazendo com que a água produzida perca qualidade em detrimento da quantidade. As alternativas para voltar a atender, adequadamente, as demandas atuais são: investimentos para ampliação da ETAs existentes ou construção de novas e modificação no processo para aumentar a velocidade de produção. Assim, é neste sentido que se buscou através deste trabalho, avaliar os benefícios da utilização do PFM para aumentar a velocidade de decantação de uma ETA, melhorando a qualidade da água tratada, através da substituição de um polímero sintético, por um natural e mais eficiente. Nos testes realizados com o PFM foi possível constatar a sua eficiência, mostrando que realmente é possível substituir a poliacrilamida pelo polímero natural de fécula de mandioca.

Palavras-chave: Química Industrial. Polímero de Fécula de Mandioca. Tratamento de Água. Poliacrilamida.

.

ABSTRACT

This work shows how can be produced and used the cassava starch polymer (PFM) as an aid to flocculation on treatment of water for public supply. Had as goal, test efficiency PFM in comparison to synthetic polymer polyacrylamide (PA), which today is the most widely used for this purpose. Treatment with PMF, prevents the PA can let in water its monomer acrylamide that is highly toxic, and if contamination occurs for a long period of time can even have a carcinogenic effect in those who consume the water. The great difficulty that is found in most water treatment plants (ETA), of Brazil, is the rapid population growth, the rapid increase in the demand for treated water. Due to the lack of investments for expansion of the systems, most of them works above its production capacity, causing the water produced Miss quality rather than quantity. The alternatives to meet current demand properly are: investments for extension of existing and construction of new ETAs and modification in the process to speed up production. It is in this sense that if sought through this work, evaluate the benefits of the use of the PFM to speed up settlement of an ETA, improving the quality of treated water through the replacement of a synthetic polymer, for a natural and more efficient. In tests conducted with the PMF, proved its efficiency, showing that it really is possible to replace the PA by natural polymer of manioc starch.

Keywords: chemical industries. Cassava starch polymer. Water treatment. Polyacrylamide.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Fluxograma de uma Estação de Tratamento de Água....................... 14

Figura 2: Corte transversal de um decantador de ETA. .................................... 18

Figura 3: Sulfato de alumínio ............................................................................ 22

Figura 4: Cloreto férrico .................................................................................... 23

Figura 5: Acacia mearnsii De Wild - Acácia negra. ........................................... 24

Figura 6: Moringa oleífera Lam. - Moringa ........................................................ 26

Figura 7: Sistema laboratorial para floculação. ................................................. 31

Figura 8: Gráfico da velocidade de decantação por análises de turbidez. ........ 32

Figura 9: Análises em meio de cultura Rapid Coliform Broth. ........................... 38

Figura 10: Análise de presença-ausência de Coliformes fecais com RCB, a)

água bruta, b) água tratada com PAC + PFM. ........................................... 38

Figura 11: Gráfico da velocidade de decantação por análises da cor aparente.

................................................................................................................... 40

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Velocidade de decantação por análise de turbidez (NTU/min). ........ 33

Tabela 2: Análise microbiológica com o meio de cultura Count Plante Agar. ... 36

Tabela 3: Velocidade de decantação por análise de cor aparente ( UC/min). .. 41

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ÁGUA B: Água Bruta

ETA: Estação de Tratamento de Água

NTU: Unidades Nefelométricas de Turbidez

PA: Poliacrilamida

PAC: (Poli Aluminium Chloride) Policloreto de Alumínio

PCA: Plat Count Agar – Agar para contagem bacteriana

PFM: Polímero de fécula de mandioca

RCB: Rapid Coliform Brth - Caldo para cultivo de Coliformes

UC: Unidade de cor

uH: Unidade Hazen

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11

CAPÍTULO I – ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA ................................ 13

1 PROCESSO DE POTABILIZAÇÃO DA ÁGUA DE RIOS .............................. 13

1.1 Etapas de tratamento em uma ETA ..................................................... 15

1.1.1 Sistemas de captação de água superficial ............................................... 15

1.1.2 Coagulação ou floculação .................................................................... 15

1.1.3 Decantação .......................................................................................... 17

1.1.4 Filtração ............................................................................................... 18

1.1.5 Desinfecção ......................................................................................... 19

1.1.6 Fluoretação .......................................................................................... 20

1.2 Coagulantes ......................................................................................... 20

1.2.1 Sulfato de alumínio............................................................................... 21

1.2.2 Cloreto férrico ....................................................................................... 22

1.2.4 Proteínas de Moringa oleífera Lam. – Moringa .................................... 25

CAPÍTULO II – POLÍMERO DE FÉCULA DE MANDIOCA ............................... 27

2 POLÍMERO DE FÉCULA DE MANDIOCA COMO AUXÍLIAR DE

FLOCULAÇÃO EM TRATAMENTO DE AGUA................................................. 27

2.1 Vantagens e desvantagens da utilização do polímero de fécula de

mandioca em relação à poliacrilamida .............................................................. 28

2.2 Produção do Polímero de Fécula de Mandioca ................................... 28

2.3 Análise de turbidez e velocidade de decantação ................................. 29

2.3.1 Avaliação da velocidade de decantação .............................................. 30

2.4 Análises bacteriológicas ....................................................................... 34

2.4.1 Análises microbiológicas com PCA ...................................................... 34

2.4.2 Análises microbiológicas com Rapid Coliform Broth ............................ 36

2.5 Análise da cor ...................................................................................... 39

CONCLUSÃO ................................................................................................... 42

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 43

INTRODUÇÃO

Nos dias atuais, quando se busca quantidade com qualidade, para se

diminuir os custos de tudo o que a sociedade consome, cada vez mais fica

claro que somente através de novas tecnologias aplicadas à produção podem-

se obter resultados neste sentido. Sendo assim, se faz necessário, cada vez

mais, investimentos em novos equipamentos ou produtos químicos, para

resolver velhos problemas que ainda hoje afetam a sociedade.

Um exemplo é o problema estudado neste trabalho, ou seja, buscar uma

solução para aumentar a quantidade de aguá tratada em uma Estação de

Tratamento de Água (ETA), sem diminuir a qualidade do produto servido à

população e sem ampliação da planta, ou seja, sem construir uma nova linha

de tratamento.

Devido à grande quantidade de água a ser tratada numa ETA, para dar

conta da demanda de consumo, que a cada dia só faz crescer, somente a

aplicação do floculante, policloreto de alumínio, não é suficiente, devido ao

tempo necessário para a decantação dos flocos formados. O floculante

necessita da ajuda de um auxiliar de floculação para aumentar a velocidade de

decantação e diminuir o tempo do processo, possibilitando um aumento na

capacidade de produção de água tratada pela ETA.

Na maioria das ETAs, vem sendo aplicado como auxiliar de floculação, a

poliacrilamida - PA, mas este polímero pode liberar na água seu monômero, a

acrilamida, que é altamente toxico e pode causar câncer se consumido por

longo período. Desta forma buscou-se encontrar um substituto para a

poliacrilamida, um composto que não fosse tóxico, de fácil produção e baixo

custo, que possa efetivamente aumentar a quantidade de água tratada sem

prejudicar a qualidade. Tendo isto em mente questionou-se: é possível

substituir a poliacrilamida pelo polímero de fécula de mandioca, já que este

atende aos requisitos de ser barato, natural e não tóxico.

No primeiro capítulo foi demonstrado como se faz o tratamento de água

para abastecimento público e os produtos que são utilizados para este fim,

explicando o que ocorre em cada etapa de uma ETA.

12

No segundo capitulo fala-se especificamente do polímero de fécula de

mandioca, bem como, mostra-se e discutem-se os testes realizados para

avaliação da eficiência desse material, como auxiliar de floculação.

CAPÍTULO I

ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA

1 PROCESSO DE POTABILIZAÇÃO DA ÁGUA DE RIOS

Existem dois tipos de fontes para captação de água para abastecimento,

os mananciais superficiais (rios, lagos, canais) e subterrâneos (lençóis freáticos

e aquíferos). As águas de superfície são as de mais fácil captação e por isso

acabam sendo uma tendência, para que sejam mais utilizadas no consumo

humano, no entanto, tem-se que menos de 5% da água doce existente no

globo terrestre encontra-se disponível superficialmente, ficando o restante

armazenado em reservas subterrâneas. Assim, tendo-se em vista que quanto

mais se perfuram poços, mais se criam pontos passíveis de contaminar estes

mananciais, pois cada perfuração é uma possível porta de entrada para micro-

organismos até os lençóis subterrâneos, devem-se tomar precauções para

evitar a contaminação (SHREVE; BRINCK JR, 1997).

O tratamento da água através de uma purificação ou potabilização tem o

objetivo de remover os contaminantes que eventualmente a água contenha,

tornando-a potável, isto é, própria para o consumo humano. De acordo com a

fonte de água, varias técnicas poderão ser empregada para esse fim, podendo-

se também, acrescentar a ela substâncias que trazem beneficio ao ser

humano, como exemplo o Flúor. O local onde se faz o citado tratamento

chama-se Estação de Tratamento de Água ou abreviadamente ETA (GAUTO;

ROSA, 2011).

Na Figura 1 é mostrado um croqui de uma Estação de Tratamento de

Água. Nela notam-se as seguintes partes:

1. Captação: estação elevatória por bombas centrífugas de captação de água

bruta;

2. Pré-alcalinização: adição, se necessária, de compostos alcalinos para

14

ajustar o pH a valores necessários para uma eficiente coagulação;

3. Coagulação: adição de coagulante e auxiliares de coagulação, seguido de

uma agitação enérgica da água para provocar a desestabilização elétrica das

partículas, facilitando sua agregação;

4. Pós-alcalinização: adição, se necessária, de compostos alcalinos para

ajustar o pH a valores necessários às demais fases do tratamento;

5. Floculação: agitação lenta da água para provocar a agregação das partículas

e formação de flocos;

6. Decantação: passagem lenta da água por grandes tanques permitindo que a

gravidade promova a decantação dos flocos de sujeira;

7. Filtração: passagem da água por tanques que contêm camadas de pedras,

areia e carvão antracito para retirar pequenos flocos que passaram pelo

decantador, bem como, cor e odor, se presentes na água;

8. Desinfecção: adição de desinfetantes à agua, normalmente a base de cloro,

para promover sua desinfecção e garantir um teor residual até a chegada à

casa do consumidor, atuando sobre contaminações do percurso;

9. Fluoretação: adição de flúor à água para a prevenção de cáries;

10. Amostragem: coleta de amostras para controle de qualidade.

Figura 1: Fluxograma de uma Estação de Tratamento de Água.

Fonte: RELATÓRIO ..., 2012.

15

1.1 Etapas de tratamento em uma ETA

1.1.1 Sistemas de captação de água superficial

Uma captação deve priorizar o menor custo sem o sacrifício da

funcionalidade. Para que se consiga isto, deve-se estudar com antecedência a

vazão que pode ser retirada, a estabilidade natural do ponto de captação, a

velocidade da correnteza, as consequências da utilização desse manancial e a

existência de apoio às estruturas a serem edificadas; deve-se ainda estimar a

vida útil do ponto de captação, a facilidade de acesso e de instalação de

equipamentos e construção das edificações necessárias para uma boa

captação da água de um rio para posterior tratamento (DI BERNARDO;

DANTAS, 2005).

A água é captada dos mananciais superficiais por meio de bomba

centrífuga e encaminhada por meio de uma adutora para tanques na ETA. A

extremidade onde ocorre a sucção da água é provida de grades para impedir a

passagem de detritos, plantas, peixes e quaisquer objetos que possam ser

sugados pelas bombas e adentrar na tubulação até o local de tratamento da

água. Se as condições geograficas favorecerem essa captação também poderá

ser feita aproveitando a ação da gravidade (DI BERNARDO; DANTAS, 2005).

A água, antes de entrar na ETA, passa por um equipamento para

medição de vazão, a CALHA PARSHALL. Esta é um canal com largura pré-

determinada, medindo-se a velocidade e a altura da lâmina de água. Através

de uma escala instalada na lateral do equipamento calcula-se a vazão, isto é

necessário para a dosagem correta dos produtos que serão adicionados para o

tratamento (DI BERNARDO; DANTAS, 2005).

1.1.2 Coagulação ou floculação

O processo de coagulação é realizado por meio da adição de um

produto coagulante, que pode ser sulfato de aluminio, policloreto de aluminio

ou outros. A finalidade deste primeiro composto adicionado à água é promover

a aglutinação de impurezas particuladas que se encontram na água, formando

16

uma suspensão fina ou coloidal, gerando flocos grandes, passíveis de

decantação por ação da gravidade.

Quando estas impurezas estão em um estado coloidal, ou seja, em um

estado de equilíbrio na água, elas não se sedimentam pela força da gravidade.

Isso pode ser explicado pelo fato das partículas presentes serem carregadas

negativamente e sofrerem repulsão mutua, isto impede que elas se aproximem,

se unam e formem partículas maiores que acabariam por se sedimentarem de

forma natural. Desta maneira, com a utilização de agentes químicos

coagulantes de carga elétrica oposta à das partículas, aqueles acabam

atraindo as partículas em suspensão, estabelecendo assim um processo

chamado de floculação, que nada mais é do que a transformação das

impurezas que estavam num estado coloidal para um estado de aglomeração,

provocando uma precipitação natural pela ação da gravidade (GAUTO; ROSA,

2011).

Para a escolha do produto coagulante adequado, cloreto férrico, sulfato

de alumino, policloreto de alumínio ou outro, deve-se levar em consideração

diversos parâmetros, entre eles: pH da água a ser tratada, composição das

partículas, e outros. Como a avaliação teórica é extremamente complexa,

ensaios laboratoriais são realizados para verificar qual coagulante se adequa

melhor àquele tipo de água (SHREVE; BRINCK JR, 1997).

Após a medida da vazão e a adição adequada de floculante, a água é

encaminhada para o tanque de floculação para que o agente de coagulação se

misture uniformemente na água, agindo de uma forma homogênea e efetiva

(SHREVE; BRINCK JR, 1997).

Na etapa de floculação, a água é submetida à agitação mecânica

branda, para possibilitar que os flocos agreguem cada vez mais partículas dos

sólidos em suspensão, isto proporciona a formação de flocos maiores e uma

decantação mais rápida. Em se tratando de tratamento de água, quanto mais

rapida e eficiente for a fase de decantação, melhor será o resultado final do

produto acabado, ou seja, tratar a maior quantidade possível de água em

menor tempo e espaço. O aumento da eficiência possibilita trabalhar em

espaços reduzidos, ou no caso da estrtutura já estar com seu espaço físico

delimitado. Ao ser mais eficiente no tratamento, pode se evitar a construção de

17

uma nova ETA para atender ao aumento natural da demanda (GAUTO; ROSA,

2011).

A equação 1, mostra, como exemplo, a reação de hidrólise do agente

coagulante mais utilizado em ETAs, o sulfato de alumínio.

Al2(SO4)3 + 12H2O → 2 Al(H2O)6 3+ + 3SO4

-2 (1)

Devido ao fato do íon hexa-aquo-alumínio, Al(H2O)6 3+, ser um ácido de

Lewis, este reage com as partículas em suspensão, na água a ser tratada, que

normalmente têm caráter de bases de Lewis e, por estas terem alcalinidade

mais forte que a da água. Devido a estas características o Al(H2O)6 3+ tem

reação preferencial com as sujidades da água, para só depois reagir com as

moléculas de água. Com isto ocorre a perda da alcalinidade e, também, uma

redução do pH, sendo desta maneira necessário, para águas que já possuíam

um pH baixo, a adição de um agente alcalinizante junto ao uso do floculante,

para que aja uma correção da alcalinidade da água e uma ação eficiente do

floculante, para uma posterior decantação (DI BERNARDO; DANTAS, 2005).

1.1.3 Decantação

A água que contém os flocos já formados ao entrar nos tanques, onde

vai ocorrer à decantação, ela o faz lentamente e o tempo de retenção é de

aproximadamente 4 horas.

O tempo de permanência neste equipamento deve ser suficiente para

que os flocos sofram sedimentação por ação da gravidade, devido à maior

densidade dos flocos em comparação com a água. Para favoreçer ainda mais a

decantação dos flocos, no tanque de sedimentação, água passa pelas

seguintes zonas: de turbilhonamento, decantação, repouso e ascenção. As

impurezas decantadas formam lama no fundo do tanque, composta

basicamente por matéria orgânica, argila e microorganismos que se

aglutinaram formando os flocos, esta lama por sua vez tem que ser retirada por

um sistema de purga periódico, não comprometendo a agilidade do processo

nem a qualidade da água (GAUTO; ROSA, 2011).

18

Figura 2: Corte transversal de um decantador de ETA.

Fonte: AQUASTORE, 2012.

Na Figura 2 mostra-se em destaque a ação do decantador, notar que ao

entrar no tanque, os flocos começam a se sedimentar, formando uma lama no

fundo do tanque, chamada zona de repouso.

A água que sai do decantador é encaminhada para os filtros.

1.1.4 Filtração

Praticamente isenta de flocos, a água que transborda do decantador

chega aos filtros de leito poroso, o qual tem em sua estrutura uma camada de

areia, com aproximadamente 75 cm de altura, que fica sobre uma camada de

cascalho com 30 cm de altura, apoiada esta sobre uma base de tijolos de

orifícios drenantes.

A água atravessa os poros destas camadas, onde ficam retidas todas as

impurezas, desde flocos menores que passaram pela decantação, e chegaram

aos filtros até micro-organismos e bactérias. Isto pode ser inferido devido à

formação de uma pelicula de material gelatinoso que se forma em torno dos

grãos de areia, em sua maior parte de material biológico, que ajuda a reter tudo

que vem com a água, inclusive as bactérias (GAUTO; ROSA, 2011).

A retenção destas impurezas que se fixam no entorno dos grãos de

areia vai criando uma obstrução dos poros, dificultando a passagem da água e,

19

desta maneira, faz-se necessário que seja feita uma retrolavagem dos filtros

para que seja feita a sua limpeza e retirada do material que ficou retido e que

agora obstrui a passagem da água (GAUTO; ROSA, 2011).

1.1.5 Desinfecção

A água que sai dos filtros ainda não está potável, mesmo tendo sido

retida no processo grande quantidade de bactérias. As barreiras formadas pelo

decantador e pelo filtro não eliminam a totalidade das bactérias e outros micro-

organismos presentes, uma pequena quantidade de bactérias e

microrganismos patogênicos podem passar e devem ser eliminados, por um

processo não mecânico. A desinfecção biológica se faz através da aplicação de

compostos químicos com poder desinfetante. O cloro gasoso é o mais usado

atualmente para este fim. Além da quantidade necessária para eliminar as

bactérias presentes na água, deve-se adicionar um excesso para manter na

rede de distribuição certa quantidade da substância desinfetante para evitar

que a água seja contaminada no trajeto da ETA até os seus consumidores

(SHREVE; BRINCK JR, 1997).

Segundo a Portaria Nº 2.914, de dezembro de 2011, em seu artigo 34º,

é responsabilidade da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal

a adoção das medidas necessárias para o fiel cumprimento desta Portaria, a

qual dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da

água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, fica estabelecido

que água fornecida seja obrigatória à manutenção de, no mínimo, 0,2 mg/L de

cloro residual livre, ou 2 mg/L de cloro residual combinado ou de 0,2 mg/L de

dióxido de cloro em toda a extensão do sistema de distribuição (reservatório e

rede), na rede de distribuição, para a desinfeção, manutenção e prevenção

contra micro-organismos patogênicos (BRASIL, 2011, p. 11).

Para um desinfetante poder ser utilizado para o tratamento de águas

para abastecimento público, este tem que ser capaz de eliminar micro-orga-

nismos patogênicos, na temperatura do lugar e em tempo curto de contato para

que a água ao sair da ETA já esteja descontaminada. Além disso, não deve

causar toxicidade e nem dar odor ou sabor a esta água, sendo possível

20

determinar facilmente a sua concentração na água. Deve permanecer um

residual nesta água a fim de se evitar que esta seja contaminada

posteriormente, ter um custo baixo, ser de fácil manuseio e obtenção, por todas

estas razões a cloração é, até hoje, a mais utilizada para a desinfecção de

águas. No entanto a desvantagem é que o cloro é corrosivo e na presença de

compostos orgânicos, pode reagir formando substâncias cancerígenas, como

as cloraminas. Por isso o processo de coagulação e decantação devem ser os

mais eficientes possíveis (GAUTO; ROSA, 2011).

1.1.6 Fluoretação

Para se diminuir a incidência de cárie dental são aplicados compostos

fluorados à água para que ao ser consumida por crianças com dentição em

formação fortalecendo o esmalte dos dentes e, ainda, permite a diminuição do

número e do potencial de micro-organismos bucais, sendo considerada como

uma concentração ótima na faixa entre 0,8 a 1,2 mg/L. Pesquisas recentes

nesta área indicam que a aplicação de flúor na concentração indicada traz

beneficios tambem aos adultos reduzindo a ocorrência de osteoporose e

prevenindo o endurecimento das artérias. Os compostos fluoretados mais

utilizados são o fluoreto de sódio (NaF), fluorsilicato de amônia - (NH4) 2 SiF6, e

o ácido fluorsilícico H2SiF6, após esta etapa a água pode-se ser considerada

potável, ou seja, dentro dos padrões de potabilidade exigidos atualmente no

Brasil (GAUTO; ROSA, 2011).

1.2 Coagulantes

Neste tópico, será abordada a ação dos diversos agentes coagulantes

que são utilizados no tratamento de água para consumo humano. Esses

agentes são adicionados na água com a função de reduzir as forças

eletrostáticas de repulsão, que mantém separadas ás partículas em

suspensão. Desta forma elimina-se ou se reduz a barreira de energia que

impede a aproximação entre as diversas partículas presentes (O

TRATAMENTO..., 2001).

21

Coagulação ou floculação é o processo de atração e adesão entre as

partículas dispersas de um coloide por ação de agente coagulante. Esse

processo é um das etapas mais importantes, pois ela facilita a remoção de

turbidez e cor, auxilia na eliminação de bactérias, vírus e muitos outros agentes

patogênicos, bem como, algas e plânctons (ARBOLEDA, 1991).

A coagulação é feita para a remoção de partículas que existem na água,

seja em suspensão ou na forma coloidal, onde o tamanho é aproximadamente

1 nm (10-9 m) a 0,1 nm (10-10 m), causando turbidez e mau cheiro, estas

partículas por sua vez não se sedimentam e devem ser tratadas por meios

físicos e químicos (DI BERNARDO; DANTAS, 2005).

Esse processo é importante, pois com a eliminação e/ou redução desta

barreira de energia possibilita a aglutinação destas partículas facilitando sua

remoção por sedimentação e/ou filtração. Os coagulantes mais usados nessa

etapa são o Sulfato de Alumínio e o Cloreto Férrico, pois liberam espécies

químicas de alumínio e ferro de alta densidade de cargas elétricas, de sinal

contrário às manifestadas pelas partículas presentes na água bruta. Eliminam-

se, assim, as forças de repulsão eletrostática originalmente presentes na água

bruta, o que faz com que se acelere de forma significativa a floculação, pois

assim tornam maiores esses sedimentos e assim mais densos, precipitando

mais rapidamente (O TRATAMENTO..., 2001).

1.2.1 Sulfato de alumínio

Acredita-se que desde 2000 a.C. os egípcios já utilizavam o sulfato de

alumínio no tratamento de água. Mas foi somente em 1881, na cidade de

Bolton, na Inglaterra que o mesmo começou a ser utilizado no tratamento de

água para abastecimento publico (GAUTO; ROSA, 2011).

O sulfato de alumínio é um sólido não inflamável, não explosivo e de

baixa toxidade. É o agente coagulante mais utilizado nas ETAs brasileiras, é

um acido de Lewis, reage com as bases que encontra na água, formando o

hidróxido de alumínio. O hidróxido de alumínio formado pela hidrólise do sal de

alumínio favorece a aglutinação das partículas coloidais permitindo assim sua

precipitação em forma de flocos (GAUTO; ROSA, 2011).

22

Figura 3: Sulfato de alumínio

Fonte: SULFATO ..., 2012.

Os hidróxidos gelatinosos formados pelo sulfato de alumínio são

insolúveis em água, eles desestabilizam, agregam e aderem às partículas do

coloide, transformando-os em coágulos. O que determina a quantidade de

reagentes a ser utilizada no processo são a turbidez e a coloração que tem que

ser removida da água. Esta quantidade é determinada após testes de

coagulação e floculação em laboratório. Os reagentes são aplicados na câmara

de mistura rápida e tudo é enviado para o tanque de floculação, onde ocorre o

crescimento dos coágulos formando flocos, os quais aderem uns aos outros,

formando flocos ainda maiores, aumentando assim sua densidade e

provocando a precipitação. Favorece, assim, a separação dessas partículas

(GAUTO; ROSA, 2011).

1.2.2 Cloreto férrico

Muitos acreditam que o tratamento de água com cloreto férrico é novo,

mas essa prática é utilizada há mais de cem anos, foi o primeiro coagulante

utilizado na cidade de Louisvile, no estado americano de Kentucky, em outras

regiões seu uso é recente. O cloreto férrico (FeCl3), assim como o sulfato de

alumínio, ao ser adicionado à água, em sua forma iônica, é convertido em

hidróxido férrico, por reagir com as bases contidas na água. Quando o íon

férrico interage com o material coloidal, a interação é tão forte que é difícil

23

encontrar desvantagem molar em seu uso sobre outros coagulantes (LIBÂNIO,

1995).

Figura 4: Cloreto férrico

Fonte: CLORETO ..., 2012.

A massa molar deste composto é maior que a do sulfato de alumínio,

assim sendo, seus flocos têm maior densidade, o que faz com que se

precipitem mais rapidamente e formem uma lama mais compacta, trazendo

algumas vantagens ao processo. A primeira, é que com essa forte interação é

necessário menos coagulante para a remoção das partículas, o que o torna

mais eficaz que o composto de alumínio; a segunda é que com flocos mais

densos, pode se ter espaços menores para esse processo, que ocorrerá com

maior agilidade quando comparado ao uso de sulfato de alumínio (LIBÂNIO,

1995).

1.2.3 Taninos de Acacia mearnsii De Wild - Acácia negra

Há entre 120 e 130 variedades de acácia negra cultivadas no mundo,

com uma expectativa de vida entre 10 e 15 anos para uso. A acácia negra é

originária da Austrália, foi inicialmente exportada para a Índia em 1843, e logo

em seguida foi para a África do Sul em 1868, com a finalidade de uso na

produção de energia. No Brasil as primeiras árvores foram plantadas no Rio

Grande do Sul em 1918. Porém, o cultivo comercial só teve início em 1930 com

a importação de 30 kg de semente da África do Sul (CALDEIRA, et al., 2003).

O principal objetivo da implantação da acácia negra no Brasil era para a

extração de tanino, presente na casca da árvore, que tem grande utilidade em

diversas aplicações industriais, como exemplo cita-se sua aplicação na

indústria de peles e couros para curtimento destas. Conforme citado no texto

24

intitulado “Quantificação de tanino em três povoamentos de Acacia mearnsi”.

Em muitos países o cultivo da acácia negra é utilizado para a fixação de

nitrogênio no solo, porém, no Brasil está sendo cultivada com duas finalidades,

para extração de tanino e produção de energia (MARTINEZ, 2006).

A Figura 5 mostra um exemplar adulto de acácia negra, da qual se extrai

um tipo de tanino que possui uma ampla utilidade em diversos segmentos

industriais. Nos curtumes, é utilizado pra tratar peles de animais com a função

de evitar que estas apodreçam. Isso ocorre por causa de uma reação deste

com as cadeias peptídicas da molécula de colágeno. As moléculas do tanino

são capazes de se ligarem por meio de pontes de hidrogênio com o grupo

funcional da cadeia polipeptídica da pele animal (SHREVE; BRINCK JÚNIOR,

1980).

Figura 5: Acacia mearnsii De Wild - Acácia negra.

Fonte: EMBRAPA, 2012.

Nos últimos anos vêm sendo estudados vários tipos de compostos

alternativos para ajudar o tratamento de água na parte da coagulação e

floculação, um deles é o tanino de acácia negra, visando à melhoria com a

redução de lodo e de metais (FONTOURA, 2009).

O tanino é um polieletrólito que combinado com sais metálicos adquire

propriedades para fazer a coagulação e floculação, assim ele consegue

desestabilizar os coloides, destruindo a camada de solvatação. Com isso, as

partículas podem se agregar, formando flocos e são retiradas tanto por

sedimentação como por filtração. Isto proporciona a clarificação da água,

25

retirando também uma grande parte dos microrganismos presentes, isso ocorre

porque é um processo físico-químico com o coagulante formando flóculos de

peso suficiente para separar da água na decantação (SILVA, 1999).

1.2.4 Proteínas de Moringa oleífera Lam. – Moringa

A moringa é uma árvore da família Moringáceae, do gênero Moringa, ela

é nativa do norte da Índia e possui um desenvolvimento bom em outros países

tropicais. A moringa produz como fruto vagens contendo várias sementes. A

moringa tem caule de grande diâmetro e altura aproximada de 10 metros, com

folhas pequenas de cerca de 3 cm de diâmetro, a folha e seus frutos são

comestíveis e a sua raiz tem efeito abortivo para o ser humano

(PARTERNIANI; MANTOVANI; SANT`ANNA, 2009).

Pode-se utilizar a moringa para várias finalidades na alimentação

humana, as folhas que têm 27% de proteínas, também são ricas em vitaminas

A e C, e podem ser consumidas como outros vegetais em época de seca; já a

semente tem de 35 a 40% de óleo e outros nutrientes, podem ser colocadas

em pequenas porções na alimentação de crianças atuando como complemento

alimentar, deixando as refeições mais nutritivas e variadas (FOLKARD;

SUTHERLAND, 2012).

Devido a sua versatilidade, a moringa é utilizada para produção de

remédios caseiros, como citado anteriormente. As raízes têm ação abortiva; as

folhas, também podem ser usadas para produção de fertilizantes e alimentação

do gado, os galhos aproveitam-se para fazer cercas, e a semente para

extração do óleo utilizado na cozinha, produção de sabão, cosméticos e em

iluminação a óleo (SANTANA et al., 2010).

As pesquisas mais recentes, tendo a moringa como objeto de estudo,

descobriram que na semente desta planta há proteínas de baixo peso

molecular, que quando em pó e misturadas com água suas partículas positivas

interagem com as negativas das sujidades presentes na água, tais como argila

e silte, promovendo a formação flocos densos que sedimentam.

(PARTERNIANI; MANTOVANI; SANT`ANNA, 2009).

Para a obtenção das proteínas, se faz necessária a extração do óleo,

26

que é abundante nas sementes da moringa, primeiramente são retiradas as

cascas, em seguida as sementes são trituradas, de forma que o material fique

homogêneo, o óleo é então extraído com n-hexano, após a extração separam-

se por filtração solvente-óleo da torta, a torta é então colocada em uma estufa

a 40°C, o limite de tolerância e de 60°C para que não degrade a proteína , por

um período de 24 horas. Desta forma a moringa tem um importante papel

podendo servir de base a estudos para descoberta de outros coagulantes, com

compatibilidades semelhantes na sua estrutura molecular e na sua eficácia no

tratamento de água para abastecimento público. (PAULA; PEREIRA; COSTA,

2009).

Na Figura 6, mostra-se uma imagem da moringa para visualização de

detalhes da planta.

Figura 6: Moringa oleífera Lam. - Moringa

Fonte: MORINGA. 2012.

CAPÍTULO II

POLÍMERO DE FÉCULA DE MANDIOCA

2 POLÍMERO DE FÉCULA DE MANDIOCA COMO AUXÍLIAR DE

FLOCULAÇÃO EM TRATAMENTO DE AGUA

Polímero é uma substância que, mesmo tendo estabilidade dimensional

no seu uso normal, acaba apresentando um comportamento plástico quando

da sua fabricação, pois esta tem uma elevada massa molecular que resulta de

reações químicas de polimerização. Assim os polímeros são macromoléculas

formadas a partir de unidades estruturais menores, chamadas de monômeros.

(DI BERNARDO; DANTAS, 2005).

A fécula de mandioca é um polissacarídeo, por hidrólise dá origem a

uma grande quantidade de monossacarídeos, ou açúcares. São polímeros

naturais, formados pela união de uma grande quantidade de monossacarídeos,

desta maneira estes compostos apresentam uma massa molecular muito

elevada dependendo do número de unidades de monossacarídeos que se

uniram (SOUZA, 2004).

Neste trabalho, o polímero de fécula de mandioca foi testado como

auxiliar de floculação, tendo-se como composto de referência para comparação

em termos de eficácia como auxiliar no tratamento de água, um polímero

sintético chamado poliacrilamida (GROSSL, 2009).

A poliacrilamida não é tóxica, porém, é obtida pela polimerização do

monômero acrilamida, que é toxico, exigindo um cuidado extra na sua

manipulação e utilização. Portanto, comparando-se o polímero feito de fécula

de mandioca, com o polímero poliacrilamida utilizado como auxiliar de

floculação na maioria das ETAs do Brasil, é possível verificar o imenso

potencial e as vantagens que a fécula de mandioca tem em relação com este

polímero sintético, figurando hoje como um dos melhores auxiliares de

28

floculação existentes no mercado (DI BERNARDO; DANTAS, 2005).

O polímero de fécula de mandioca foi preparado sem adição de nenhum

ácido ou base, pois desta maneira ele não influencia o pH da agua, evitando

posteriores correções e adições de mais produtos (MEIRA, 2004).

2.1 Vantagens e desvantagens da utilização do polímero de fécula de

mandioca em relação à poliacrilamida

A utilização do polímero de fécula de mandioca tem a vantagem de ser

um produto renovável, biodegradável e de fácil preparo, podendo inclusive ser

feito in-loco, o que facilitaria a sua utilização, pela ausência de necessidade de

transporte do produto (SOUZA, 2004).

Pelo fato da fécula de mandioca ser um produto natural e produzido em

larga escala no Brasil, não haveria desabastecimento do produto, não

comprometendo a sua produção e utilização por falta do mesmo. Outra

vantagem, o residual do polímero de fécula de mandioca que fica no fundo do

decantador, pela legislação vigente, tem que ir para o aterro sanitário, neste

caso não contaminará o meio ambiente, por não conter elementos que possam

provocar prejuízo ao mesmo (MEIRA, 2004).

2.2 Produção do Polímero de Fécula de Mandioca

A fécula de mandioca é misturada à água numa proporção de 1% em

massa, ou seja, 10g de fécula com um litro de água. Nesta proporção a solução

estará na concentração de 10.000 ppm, nada mais é adicionado nesta solução

polimérica a não ser a energia em forma de calor pois esta deve ser aquecida a

100°C, mantendo-se sob agitação constante por 20 minutos até que se dê por

completa a solubilização, após o esfriamento o produto já pode ser aplicado

(SOUZA, 2004).

Por ser um produto orgânico e natural, preparado sem a adição de

qualquer tipo de conservante, a validade desta solução é extremamente curta,

devendo ser utilizada em poucos dias, evitando a proliferação bacteriana e sua

degradação. Nos ensaios realizados, apurou-se que a solução permaneceu

29

estável por 72 horas sem percepção de alteração na cor ou em seu efeito como

auxiliar de floculação (GROSSL, 2009).

Para poder aumentar o tempo de validade do produto, preservando suas

características e qualidade, pode-se adicionar NaOH, numa proporção de 6

gramas por litro de solução, a elevação do pH, age como inibidor do

desenvolvimento bacteriano, promovendo um aumento na validade da solução

10 dias, mas a adição de hidróxidos, libera hidroxila na água o que pode elevar

o pH da mesma, porém sem maiores consequências devido à quantidade do

produto a ser aplicado ser pequena diante da quantidade de água tratada. A

quantidade aplicada no tratamento da água depende de ensaios laboratoriais,

pois depende fundamentalmente das características da água captada (SOUZA,

2004).

2.3 Análise de turbidez e velocidade de decantação

A análise de turbidez permite determinar se a aplicação do polímero de

fécula de mandioca traz ou não ganho na velocidade de decantação

possibilitando um aumento na produção de água de uma ETA.

A turbidez é uma das características físicas da água, decorrente da

presença de sólidos suspensos ou em estado coloidal e de micro-organismos.

A avaliação da turbidez é feita avaliando-se a quantidade de luz refletida

pelas partículas em suspensão (SHREVE; BRINCK JR, 1997).

Para esta análise foi utilizado um turbidímetro microprocessado digital

Del Lab, Modelo DLT-WV, com as seguintes características:

- Princípio de medição: NEFELOMÉTRICO;

- Faixas de medição: 0,00 a 1000 NTU;

- Resolução: 0,01 - 0,1 - 1 NTU;

- Seleção automática por faixa de trabalho;

- Resposta frente a partículas maior que 0,1 microm;

- Inserção de curva de calibração pelo usuário;

- Emissor em estado sólido (LED) 890 nm, Norma ISO-7027;

- Detector: fotocélula de silício;

- Sistema de medição que elimina a interferência da cor na amostra.

30

2.3.1 Avaliação da velocidade de decantação

O Departamento Autônomo de Água e Esgoto de Avanhandava –

DAAEA disponibilizou o laboratório de controle de qualidade da água, para os

testes de turbidez, cedendo gratuitamente equipamento, materiais e reagentes.

Foi utilizado como parâmetro para se determinar a velocidade de

decantação, análises de turbidez realizadas num prazo de 60 minutos, dividido

em quatro etapas, a primeira amostragem ocorreu no tempo igual a 0 min, a

segunda após 20 minutos, a terceira com 40 minutos e para concluir uma com

60 minutos.

Para as avaliações foi adicionado uma alíquota de 0,14 ml do coagulante

Policloreto de Alumino a uma concentração de 10.000 ppm, o que corresponde

a uma adição de 1,4 ppm na amostra analisada. A aplicação de Poliacrilamida

foi de 0,1 ml de uma solução com concentração de 600 ppm correspondendo a

uma adição de = 0,06 ppm desta solução na amostra. O polímero de Fécula de

Mandioca teve adição de 0,3 ml de uma solução com concentração de 10.000

ppm o que corresponde a uma adição de 3,3 ppm de polímero de fécula de

mandioca na amostra.

As amostras foram retiradas de águas em tratamento nas seguintes

situações:

1ª) Água bruta, sem nenhum coagulante ou auxiliar de floculação;

2ª) Água tratada com coagulante, policloreto de alumínio (PAC), mas,

sem auxiliar de floculação;

3ª) Água tratada com PAC e o auxiliar de floculação, poliacrilamida;

4ª) Água tratada com PAC e o auxiliar de floculação feito com o polímero

de fécula de mandioca.

A segunda condição, apenas com PAC, permite verificar quanto o

auxiliar de floculação colabora para aumentar a velocidade de decantação.

. Para garantir que as amostras não foram influenciadas pelo tempo de

coleta e transporte até o laboratório, as mesmas foram mantidas sob agitação

num aparelho JAR TEST MILAN MODELO. JTC/3P, por 5 minutos, numa

rotação de 100 RPM, quando então se iniciaram as análises de turbidez e

adição de compostos para sedimentação.

31

A velocidade de decantação é determinada pela diferença entre os

resultados obtidos com aqueles das análises de turbidez.

Após a agitação inicial da água, pelo aparelho Jar Test, por 5 minutos a

100 RPM, coletou-se as amostras iniciais, t0 = 0 min, adicionou-se então os

compostos para floculação e seus auxiliares, nas respectivas águas em

tratamento.

Após a adição dos compostos para tratamento, a agitação foi mantida

por 5 min. no mesmo equipamento, o qual promove uma agitação que simula

aquela que ocorre num tanque de floculação para a aglutinação das partículas

em suspensão e formação de flocos. Esse tempo é suficiente para que ocorra a

aglutinação das partículas presentes, formando os flocos, aumentando sua

densidade e causando precipitação.

A Figura 7 mostra uma foto tirada no inicio da formação dos flocos, onde

o PFM do Becker da direita exibe flocos maiores e mais nítidos.

Figura 7: Sistema laboratorial para floculação.

Fonte: SANTOS, 2012.

A foto, da Figura 7, mostra o que ocorre durante o tratamento com

floculante e auxiliares de floculação. Pode-se notar a aglomeração das

partículas em suspensão com a formação dos flocos. Até este momento a

atuação do PFM mostrou-se mais eficiente, pois gerou flocos visualmente

maiores.

Após o tempo de floculação, passou-se para o tempo de decantação

PAC + POLIACRILAMIDA

PAC + POLÍMERO DE

FÉCULA DE MANDIOCA

32

durante o qual, mais três amostras foram coletadas, t1 = 20 min, t2 = 40 min e t3

= 60 min; os resultados foram plotados no gráfico de turbidez em NTU

(Unidades Nefelométricas de Turbidez) por tempo em minutos, mostrado na

Figura 7, o qual possibilita uma visualização comparativa do desempenho dos

diversos processos de tratamento utilizado na avaliação.

Figura 8: Gráfico da velocidade de decantação por análises de turbidez.

Fonte: SANTOS, 2012.

No gráfico da Figura 8, é possível perceber que na água bruta sem

aditivos, a velocidade de decantação é extremamente baixa, pois houve pouca

mudança após o período completo de decantação, a diferença de turbidez foi

de aproximadamente 3 NTU. No tratamento apenas com PAC, já é possível se

notar uma significativa ação de coagulação e precipitação do material que

estava em suspensão na água. Pode-se notar também que decorridos os 60

minutos de avaliação a turbidez das amostras de água com aditivos de

coagulação eram muito próximas, com uma diferença de apenas 1 NTU em

favor das amostras com auxiliar de floculação.

Ainda na Figura 8, pode-se notar que nas amostras de água tratadas

com PAC mais poliacrilamida ou PAC mais polímero de fécula de mandioca em

comparação com a água tratada apenas com PAC, houve uma significativa

aceleração no processo de decantação. A maior velocidade de decantação fez

com que a turbidez, atingisse seu menor valor, aproximadamente 2,5 NTU, em

33

apenas 20 minutos.

Na comparação entre as amostras de água tratadas com PAC mais PA e

PAC mais PFM, nota-se que a velocidade de decantação promovida pela

combinação PAC-PA é maior nos primeiros 20 min, 0,79 UT/min, contra 0,76

UT/min da combinação PAC-PFM. Porém, no segundo intervalo, de 20 a 40

min, nota-se que a combinação PAC-PFM continua ativa promovendo uma

redução de 0,05 UT/min, enquanto a combinação PAC-PA se mantém quase

estável, promovendo uma redução de apenas 0,01 UT/min nesse mesmo

período.

Ambos os auxiliares de floculação, PA e PFM, têm suas ações

equiparadas por volta de 35 min após o inicio da decantação.

Segue abaixo, na Tabela 1, as velocidades de decantação, ou seja, as

reduções de unidades de Turbidez em NTU em função do tempo. As

velocidades foram determinadas com a equação 1, mostrada abaixo.

(2)

Tabela 1: Velocidade de decantação por análise de turbidez (NTU/min).

VELOCIDADE DE DECANTAÇÃO (UT/ min)

0 a 20 min 20 a 40 min 40 a 60 min

Água B* - 0,04 - 0,07 - 0,01

Água B + PAC** - 0,52 - 0,25 - 0,03

Água B + PAC + PA*** - 0,79 - 0,01 - 0,04

Água B+PAC + PFM**** - 0,76 - 0,05 - 0,04 * Água Bruta,** Policloreto de alumínio, *** Poliacrilamida, ****Polímero de Fécula de Mandioca. Fonte: SANTOS, 2012.

Na comparação de eficiência, a combinação PAC-PA foi mais eficiente,

já que imprimiu uma maior velocidade de decantação, promovendo a maior

redução de turbidez em aproximadamente 25 min. A combinação PAC-PFM,

nesse tempo, ficou atrás apenas 0,5 UT.

Outras considerações possíveis de serem feitas com base nesses dados

são que a PA tem eficiência de mais ou menos 30%, no aumento da velocidade

de decantação, portanto na produção de água. O mesmo valor é obtido com a

adição PFM, enfatizando a atuação semelhante de ambos, PA e PFM.

34

2.4 Análises bacteriológicas

A análise bacteriológica se faz necessária para verificar se o polímero de

fécula de mandioca, atuando como auxiliar de floculação, tem alguma eficácia

também na diminuição dos níveis de contaminação bacteriana presentes na

água. A avaliação foi feita em comparação ao também auxiliar de floculação

poliacrilamida.

Para essas análises, foi coletada água do rio Alambari em

Avanhandava/SP, a um 1 metro de profundidade, sendo que após a coleta, a

água foi levada para o laboratório de microbiologia do UNISALESIANO na

cidade de Lins/SP, preservada em caixa térmica com gelo sintético, onde foram

realizadas as análises.

A amostra de água bruta (sem tratar), foi divida em 5 sub-amostras,

sendo que cada uma delas foi tratada de uma forma diferente, a primeira não

recebeu tratamento, a segunda sofreu apenas diluição, a terceira foi tratada

apenas com PAC, a quarta foi tratada com PAC e PA e a quinta foi tratada com

PAC e PFM.

As análises de interesse, por serem as recomendadas na Portaria nº

2.914/2011 do Ministério da Saúde, foram: contagem total de bactérias

heterotróficas, presença ou ausência de Coliformes totais e presença ou

ausência de Coliformes fecais. Para realizar essas análises foram utilizados

dois meios de cultura, o Plate Count Agar (PCA) para contagem de bactérias

heterotróficas e o Rapid Coliform Broth (RCB) para a verificação da presença

ou ausência de Coliformes, tanto totais quanto fecais.

2.4.1 Análises microbiológicas com PCA

De acordo com a metodologia descrita no Standards Method for Water

and Wastewater efetuou-se a semeadura por profundidade, de alíquotas de 1,0

mL das amostras de água em placas de petri (20x100mm) com meio de cultura

Plate Count Agar em triplicata, para posterior cálculo da média e desvio padrão

(EATON et al., 2005). Todas as análises foram inoculadas em capela de fluxo

laminar, evitando assim a contaminação de bactérias provenientes do ar.

35

Depois de inoculadas as placas de petri, contendo o meio PCA, foram

incubadas em estufa por 24 horas a uma temperatura de 37 ± 1 ºC e após esse

período foram retiradas e fez-se a contagem das colônias formadas.

As amostras analisadas foram:

1) Água estéril para diluições;

2) PCA sem inoculação;

3) Água bruta;

4) Água bruta diluída na proporção de 1:100;

5) Água tratada com PAC;

6) Água tratada com PAC mais PA;

7) Água tratada com PAC mais PFM.

As análises das amostras 1 e 2 foram realizadas para se certificar de

que o processo de esterilização dos materiais utilizados para a quantificação

bacteriológica foi eficiente. Com os resultados obtidos pode-se verificar a

ausência total de formação de colônias tanto na água desmineralizada,

utilizada para a diluição da água bruta, quanto no PCA, meio de cultura

utilizado para o crescimento bacteriano, bem como nas placas de petri,

utilizadas para a inoculação do meio com as amostras. Todos estavam estéreis

resultando em ensaios mais confiáveis.

As amostras 3 e 4, água bruta e água bruta diluída em 1:100, foram

analisadas para uma quantificação inicial e avaliação da eficiência dos

processos de tratamento. Nas placas com a amostra 3, a proliferação

bacteriana foi intensa, como já era esperado, não sendo possível a

quantificação pelo excesso de colônias. Já nas placas com a amostra 4 obteve-

se uma média de 833 UFC/mL.

A amostra 5, composta por água tratada apenas com policloreto de

alumínio apresentou uma média de 143 UFC/mL

Já nas amostras 6 e 7, água tratada com PAC+PA e água tratada com

PAC+PFM respectivamente, obteve-se médias de 37 e 74 UFC/mL também

respectivamente.

A Tabela 2 resume os resultados obtidos na quantificação microbiológica

com PCA, e depois de realizadas as análises pôde-se comprovar que houve

uma maior redução da população bacteriológica, presente na água bruta, com

36

o tratamento feito pela combinação policloreto de alumínio mais poliacrilamida.

Porém, nota-se também que a substituição da poliacrilamida pelo polímero de

fécula de mandioca reduziu a população bacteriológica, presente na água

apenas com o tratamento com policloreto de alumínio, em aproximadamente

50%.

Tabela 2: Análise microbiológica com o meio de cultura Plate Count Agar.

AMOSTRAS

POPULAÇÃO BACTERIANA UFC/mL

1 Água de diluição 0

2 Meio + Placa 0

3 Água B sem diluição Incontável

4 Água B diluída 1:100 833 ± 116

5 Água B + PAC 143 ± 47

6 Água B + PAC + PA 37 ± 13

7 Água B + PAC + PFM 74 ± 10

Fonte: SANTOS, 2012.

Vale ressaltar que a etapa de desinfecção da água que será distribuída à

população ainda irá ocorrer no final do processo de tratamento após a filtração,

e ainda, que a legislação vigente preveja a possibilidade da existência de até

500 UFC/mL nas amostras coletadas nos pontos de consumo. O que mostra

que o tratamento apenas com PAC já surtiu os efeitos desejados.

2.4.2 Análises microbiológicas com Rapid Coliform Broth

A preparação e esterilização do Rapid Coliform Broth seguiram as

orientações do fabricante. Após o processo de esterilização aguardou-se até

que o meio de cultura estivesse à temperatura ambiente para se proceder à

inoculação. Como prevê a legislação vigente, foram analisados 100 mL de

cada amostra.

As amostras analisadas foram:

1) RCB sem inoculação;

37

2) Água bruta;

3) Água tratada com PAC;

4) Água tratada com PAC mais PA;

5) Água tratada com PAC mais PFM.

Utilizando-se a capela de fluxo laminar, para se trabalhar em ambiente

asséptico, fez-se a inoculação de cada frasco contendo o meio de cultura, com

100 mL de amostra.

Antes e após a inoculação o meio se mostrava de coloração amarelo-

palha. Os meios inoculados foram mantidos em estufa com a temperatura

controlada de 37 ± 1 ºC durante 24 horas.

Passado o tempo de incubação analisaram-se os resultados obtidos na

análise. A não alteração da coloração inicial indica um resultado negativo e

uma coloração verde-azulada, independente da intensidade indica resultado

positivo para Coliformes total. O mesmo meio de cultura, também fornece

resultados de presença-ausência de Coliformes fecais se colocado sob

iluminação ultravioleta (UV-A λ ≈ 366 nm), uma fluorescência azulada, significa

resultado positivo para coliforme fecal.

A amostra 1 foi feita apenas para se certificar de que o processo de

esterilização foi satisfatório. Após o período de incubação o meio não sofreu

alteração de cor, indicando a ausência de bactérias do grupo Coliforme.

A Figura 9 mostra os resultados obtidos com esta análise para as

demais amostras, de 2 a 5.

Como já era esperado, pela fonte de captação ser de água superficial,

ou seja, do rio Alambari, todas as amostras continham bactérias do grupo

Coliforme. Porém, é possível se perceber, pela diferença de tonalidade dos

frascos, que nas amostras 3 e 5, tratadas respectivamente com policloreto de

alumínio e policloreto de alumínio mais polímero de fécula de mandioca, a

população bacteriana desse grupo parece ter sido reduzida pelo tratamento,

em comparação com a tonalidade do frasco contendo a amostra 2, ou seja, a

água bruta.

O que chama a atenção na Figura 9 é o fato da água tratada com

policloreto de alumínio mais poliacrilamida exibir uma intensidade de coloração

equivalente à da água sem tratamento.

38

Figura 9: Análises em meio de cultura Rapid Coliform Broth.

Fonte: TOMÉ, 2012.

Na Figura 10, mostra-se uma foto tirada dos frascos contendo o meio

RCB + amostras de água após o período de incubação, sob iluminação

ultravioleta.

Figura 10: Análise de presença-ausência de Coliformes fecais com RCB, a) água bruta, b) água tratada com PAC + PFM.

Fonte: Tomé, 2012.

O frasco (a) contendo água bruta exibe fluorescência indicando a

a) b)

2) 3) 4) 5)

2) Água Bruta; 3) Água + PAC; 4) Água + PAC + PA; 5) Água + PAC + PFM

39

presença de Coliformes fecais, já o frasco (b) água tratada com policloreto de

alumínio e polímero de fécula de mandioca não produziu luminescência quando

sob luz ultravioleta, constatando que na água tratada com esses compostos a

presença de Coliformes fecais não era mais detectável. Desta maneira fica

claro que o polímero de fécula de mandioca é eficiente na remoção de

Coliformes fecais, diminuindo a população bacteriana e reduzindo a carga

orgânica residual que poderia reagir com o cloro, durante o processo de

desinfecção.

2.5 Análise da cor

Semelhante à avaliação feita através turbidez, fez-se também uma

avaliação na redução da cor da água como consequência dos diferentes tipos

de tratamento.

Foram avaliadas quatro tipos de amostras para determinação da cor da

água, sendo estas:

1) água bruta, sem nenhum coagulante ou auxiliar de floculação;

2) água tratada com o coagulante PAC (1,4 ppm), mas sem auxiliar de

floculação;

3) água tratada com PAC (1,4 ppm) mais o auxiliar de floculação, PA

(0,06 ppm);

4) água tratada com PAC (1,4 ppm) mais o auxiliar de floculação PFM

(3,3 ppm).

As análises da cor aparente da água foram realizadas com um aparelho

da PoliControl, modelo AquaColor, com faixa de medição de 0 a 500 Unidades

de Cor - UC1 ou unidades Hazen - uH.

Para avaliar a redução da cor aparente da água, ou seja, o quanto da

cor foi retirada em consequência da aplicação dos diferentes tipos de

tratamento, e em que velocidade isto acontece, realizou-se em cada amostra 4

avaliações. A primeira avaliação ocorreu no tempo inicial, antes da aplicação

dos diferentes tratamentos, a segunda, após 20 min do início da decantação, a

terceira após 40 min e a terceira após 60 min do início da decantação. O

1 1 UC é equivalente a coloração produzida por 1 ppm de Pt/Co em água.

40

gráfico da Figura 11 mostra os resultados obtidos nestas análises.

Figura 11: Gráfico da velocidade de decantação por análises da cor aparente.

Fonte: SANTOS, 2012.

Pôde-se observar que nas análises feitas após 20 min do início da ação

dos agentes de floculação houve uma drástica diminuição da cor. A ação dos

auxiliares de floculação fica clara nas curvas mostradas na Figura 9, tanto a PA

quanto o PFM realizam praticamente toda a possível redução de cor nos

primeiros 20 minutos. Novamente, pode-se perceber que a PA é pouca coisa

mais eficiente que o PFM, reduzindo a cor da água em 5 UC a mais que este.

As velocidades foram calculadas empregando-se a equação 3.

(3)

A Tabela 3 oferece uma comparação numérica da atuação dos agentes

de floculação em termos de velocidade de decantação avaliada pela redução

de cor aparente da água.

41

Tabela 3: Velocidade de decantação por análise de cor aparente ( UC/min).

VELOCIDADE DE DECANTAÇÃO (UC/ min)

0 a 20 min 20 a 40 min 40 a 60 min

Água B* - 0,27 - 0,42 - 0,10

Água B + PAC** - 2,85 - 1,40 - 0,20

Água B + PAC + PA*** - 4,33 - 0,06 - 0,26

Água B + PAC + PFM**** - 4,12 - 0,31 - 0,23

* Água Bruta, **Policloreto de alumínio, ***Poliacrilamida, **** Polímero de Fécula de Mandioca. Fonte: SANTOS, 2012

Na comparação da água tratada apenas com PAC e da água tratada

com PAC + PFM, no tempo de 0 a 20 minutos, a redução da cor aparente foi

de 30,9% maior com a adição desse auxiliar de floculação, mostrando que se

empregado em uma ETA, traria um ganho considerável na produção de água.

CONCLUSÃO

Após o estudo de produção e aplicação do polímero de fécula de

mandioca – PFM, como auxiliar de floculação no tratamento de água para

abastecimento público, e comparação deste com o desempenho da

poliacrilamida, foi possível concluir que apesar do PFM ser menos eficiente que

PA, exigindo a aplicação de uma maior concentração para promover um

desempenho equivalente ao da PA e, portanto não ser a solução para acelerar

o processo e aumentar a quantidade de água tratada, há outros fatores que

motivam a substituição da PA pelo PFM, sua produção é simples, barata, e

pode ser feita no local de uso. Além disso, acredita-se que o ponto mais

relevante a ser destacado é que o PFM não é tóxico e o monômero da PA o é,

e este pode ser liberado na água pela PA.

Ficou demonstrado que o PFM tem excelentes atuações na remoção de

turbidez e cor aparente da água.

O PFM também foi muito eficiente na remoção de bactérias, removendo

91,2% das bactérias presentes na água que foi tratada, como mostrou a

análise com Count Plate Agar. Nos ensaios com o meio de cultura Rapid

Coliform Broth verificou-se que o PFM também é capaz de diminuir a

quantidade de bactérias do Gênero Coliforme da água.

Por fim, pode-se afirmar que o PFM tem condições de substituir a PA

como auxiliar de floculação, trazendo economia e eficiência ao processo sem o

risco de liberar na água compostos tóxicos.

O tema não se esgota aqui, sendo passível de pesquisas futuras. Como

exemplo pode-se citar o estudo de comparação entre as cadeias poliméricas

de amido obtidas a partir de diferentes fontes, como arroz, batata e outros.

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