polaroid está a acontecer um casting aqui na agência para ... · polaroid que levou a uma outra...

MINDFUL EATING

21

Neste instante e enquanto os meus pais (que sempre me acompanharam) se enchiam de orgulho da sua obra (leia-se: eu), uma das pessoas que me avaliava levantou-se e saiu para voltar mais tarde. Pediu-me para tirar uma polaroid que levou a uma outra sala. Quando regressou, disse: está a acontecer um casting aqui na agência para a capa de uma revista jovem. O cliente pretende um casal. Já têm o rapaz e acabaram de te propor para a rapariga. Aceitas?Acho que o meu pai olhou para mim e a minha mãe olhou para mim e eu não olhei para mais nada a não ser para o chão. Fez-se silêncio e mais tarde aceitaram a proposta por mim. O processo foi todo ele muito rápido e sem tempo para pensar. Em poucos dias estava diante do meu primeiro trabalho. Desajeitada, nervosa, muito a medo como, de resto, são todas as primeiras vezes. Já não sei o que é que aconteceu a seguir (não me peçam para me lembrar de tudo porque isto da memória selectiva é tramado) mas em pouco mais de três meses já tinha sido capa de uma publicação e participado em comerciais. Em todos estes casos era o rosto que aparecia, pouco mais. Compreende-se. A brincadeira tornou-se assunto sério ao ponto de assinar o meu primeiro contrato de exclusividade e a minha primeira grande promessa. Qual? Começa tudo aqui.

“Tudo parece impossível até que seja feito.”

F i l o m e n a N a s c i m e n t o

22

Numa das já habituais idas à agência o inevitável aconteceu. Explicaram-me – a preparação para o que aí vinha - que tinha mesmo potencial. Um rosto, um sorriso, umas expressões que funcionavam quer em fotografia, quer em televisão. Mas (há sempre um mas, não é?) que o meu corpo curvilíneo não correspondia aos padrões do mundo da moda. Um universo distinto e muito exigente. E que, como podia comprovar, em todos os trabalhos feitos, o corpo mal aparecia sendo a cara o grande destaque. Se quisesse ser mais do que um rosto precisava emagrecer. Cada profissão tem as suas especificidades e esta não é diferente. Mas não, nunca foi um aconselhamento no sentido de deixar de comer ou fazer algum disparate com a minha saúde. Tive a sorte de encontrar pessoas fantásticas com quem hoje ainda me cruzo. Eu era muito pequenina como costumo dizer. Sem elas e a educação que tive, o meu simpático percurso talvez pudesse ter sido um desastre.E agora? É que entretanto, aquele foi o maravilhoso universo pelo qual tinha acabado de me apaixonar. As transformações que aconteciam nas grandes produções encantavam-me. O interpretar personagens tão diferentes daquilo que eu era fascinava-me. Poder tornar-me independente, também. E conciliar a escola com o resto até não era difícil: bastava alguma disciplina, a ajuda do carro da mãe e ter menos tempo livre para a minha vida pessoal (ir ao cinema com as amigas, a aniversários, a almoços de família, a ler ou, simplesmente, a atirar-me para o sofá).Acho que todas as meninas, nalgum momento da vida, sonham ser – para sempre – princesas. Eu não fui, nem sou, diferente. Não falo de vestidos cor-de-rosa ou coroas cintilantes. Falo da magia que a condição traz.

MINDFUL EATING

23

Sentirmo-nos (e fazerem-nos sentir) aquilo que na realidade somos, únicas, é experimentar uma das melhores sensações que a vida tem. Ser princesa é isso, independentemente de o príncipe chegar montado no seu cavalo branco ou não. Os flashes não me subiram à cabeça mas à alma. Nada que chegue perto da futilidade. Aos poucos, começava a sentir-me particular. De uma forma errada, talvez, mas neste caso não interessaram os meios para conseguir aquele que foi o bom fim (ou bom começo). Primeiro, comecei a sentir-me interessante porque os outros diziam que sim. E depois, fui aceitando os elogios (aqueles que antigamente reagia como se fossem agressões), os piropos, os olhares sorridentes de alguns miúdos da minha idade ou mais velhos, as imagens em vídeo ou papel a comprovar que aquela era eu, que existia, que estava ali num reconhecimento que nunca aceitei como meu, sem mais ninguém, só meu. Bem sei que o ideal teria sido começar por ser eu a transmitir aos outros essa imagem mas não foi assim que aconteceu. Foi como se precisasse da aprovação exterior para começar a senti-lo por dentro.Tudo isto foi o meu primeiro pequeno passo. Porque um dia, depois dos outros, comecei o maior de todos eles: a olhar para e por mim.

“Desistir é a pior derrota.”

Nem tudo é perfeito e nem tudo começa ou termina sempre desta ou daquela maneira. Por mais que tentemos,


24

há situações que não conseguimos controlar e é preciso aceitar que há dias assim. Depois temos outros muito bons e é com isso tudo somado que a vida segue. Este episódio faz parte de um momento verdadeiramente desastroso (obrigada desastre) mas que se revelou numa grande oportunidade.

Mais um casting e um folhado de maçã. Os olhos de uma das candidatas postos em mim. Não sei até hoje se ela não simpatizou comigo ou se, por sua vez, simpatizou demasiado com o que eu tinha na mão. A verdade é que no meio de um desabafo diz a palavra g-o-r-d-a. Ela chamou-me gorda. Gorda. Assim, do nada. Gorda.Pensar, tenho a certeza, muitas pessoas pensaram (várias vezes) mas atirar assim de rompante estes cinco caracteres na minha direcção, não, nunca tinha acontecido. Resultado, no fim daquele salgado fui comprar outro igual e adocei aquele momento tão amargo quanto a voz que, passado todo este tempo, nunca esqueci.Todas temos a capacidade de ver no mau algo bom. Temos. É olhar para dentro de nós próprias e procurar. Algures, encontramos. Verdade. Fiz o teste: o primeiro de muitos. O impacto foi gigante. Nessa noite não dormi. Parei de brincar às escondidas comigo. Enfrentei-me. Magoei-me para depois me curar. Deixei feridas emocionais sangrarem o suficiente para que pudesse apreciá-las. Chorei.Já pela madrugada tive uma conversa com o meu eu mais profundo e pus os pontos nos is. Não quis facilitar. Não facilitei. Precisei fazer de tudo um drama para passar a ser a comédia mais romântica da minha vida. O peso emocional era proporcional aos quilos que o meu corpo suportava. Naquela mesma noite descobri a fórmula mágica que me acompanha até hoje. Conta simples de fazer.

MINDFUL EATING

25

Pensamento positivo + amor próprio + saúde + alimentação equilibrada + exercício = balança amiga

Adormeci já quase de manhã, cansada mas determinada. Não queria continuar a fugir da minha realidade (quando só tinha bons motivos para recebê-la de braços abertos), do meu descontentamento, de arranjar desculpas para comer só mais um chocolate sem necessidade ou vontade. A fome emocional mata-se com alimentos feitos à base de ingredientes que não estão à venda: não têm preço de tão preciosos. Todas sabemos quais são só que às vezes não dá jeito lembrar, quando tudo aquilo que temos de fazer é não esquecer. Nenhuma de nós merece abaixo do óptimo e é preciso repetir esta frase baixinho muitas vezes a fim de nos recordarmos como na história da raposa e do principezinho do Saint-Exupéry. Eu, dali a umas horas acordava para a minha mais importante missão: ser feliz.

“A disciplina é a mãe do sucesso.”

Não aconteceu assim como que por artes mágicas. Nada nem ninguém muda de um dia para o outro, com teorias sem aplicação prática, sem esforço e pouca dedicação. É preciso uma boa dose de persistência e afastar a hipótese da desistência na primeira adversidade.


26

Estas servem para nos testarem e ninguém quer fazer feio numa prova nem experimentar a frustração, pois não? Um dos truques reside em dar a volta às nossas ideias e vontades antigas dando lugar às novas: abandonar o que nos faz mal e abraçar o que nos dá felicidade. É tudo o que buscamos. A harmonia do corpo e da mente. A beleza nos seus mais variados aspectos. Gostarmos de nós, apaixonarmo-nos todos os dias é uma das maiores e melhores aventuras. E das mais complicadas. Outra, é permitirmo-nos mudar. Aceitar e manter o que está bem, cortar pela raiz o que está mal: o que nos faz perder a vontade de sermos, a cada minuto, mais e melhor. E outra ainda, é estarmos atentas aos sinais para, se caso for, podermos combatê-los. Acordar a pensar mais do mesmo, não querer receber com alegria o novo dia, dormir sem pressa para acordar, deixar de rir de si mesma, levar-se demasiado a sério, não querer cuidar-se, abandalhar, fugir do espelho, pensar na própria existência sem admiração? Pára tudo. Passar à acção e JÁ.

“Acreditar é o ingrediente mais importanteda nossa mudança.”

A experiência mostrou-me que para acertarmos precisamos errar muitas vezes. No meu caso, digamos que durante uns três anos fui assim uma espécie de cobaia de mim própria.

MINDFUL EATING

27

“Vá em frente e enfrente.”

MINDFUL EATING

29

Lembram-se das aulas práticas de física/química no liceu? Foi mais ou menos isso. Armei-me em espertalhona. Ora experimentava as dietas mais badaladas, ora seguia uma alimentação equilibrada. Ora descansava de tudo o que era saudável, ora voltava a ser a menina certinha. Tanto sabia fazer as escolhas mais felizes para o meu prato como as mais tristes. Mas, no meio de tudo isto, percebia perfeita e felizmente quando estava no caminho correcto ou em contra-mão. Em perigo ou sã e salva. Acho que nasci com uma consciência simpática que em caso de SOS se activa e dá sinais que me põem em sentido de alerta.Conheci vários casos de pessoas com distúrbios alimentares. Todas conhecemos. E não, não foi só no mundo da moda. Foi dentro e fora dele. Meninas-mulher cuja cabeça não conseguia acompanhar o crescimento físico porque crescer não é fácil. Meninas-mulher que davam sinais claríssimos e pedidos de ajuda mas, na agitação dos dias, os mais próximos não conseguiam perceber. Há gritos de alerta silenciosos. Meninas-mulher fragilizadas, influenciáveis em grande escala por aqueles namorados que decidem fazer delas (à sua boa maneira destrutiva) as próximas miss mundo. E depois são o cérebro e o corpo que pagam. Caro.

“Nunca é tarde demais para ser aquiloque sempre se desejou ser.”


30

Lembrei-me agora. Quero esclarecer porque é importante. Ser magra é que é bom e bonito? Claro que não, nada disso. Cada um deve saber escolher a imagem com a qual se identifica, por forma a sentir a harmonia do corpo e da mente. Sempre saudável. Nós existimos enquanto a saúde quiser.Bom, mas também tenho a certeza que ninguém gosta que a balança acuse peso a mais. Não acredito. Mesmo que me venham com a história de que os gordinhos são uns bem-dispostos sempre com umas piadas cheias de humor. Até pode ser, mas não passa de uma manobra de disfarce: olha para a minha graçola e esquece este rabo e estas ancas que eu vou tentar fazer o mesmo. Alguém acredita no bom que é correr três minutos e parar sem fôlego? E aquele vestido que não entra porque já se vestem três números acima? A seguir, e para esquecer, um pacote de batatas fritas com um litro de refrigerante. Típico.Antes, durante e depois destes episódios há, mais uma vez e sempre, a questão saúde. Comer desenfreadamente (assim como o oposto) é doença e estas curam-se.

“A motivação faz-nos começar, o hábito faz-nos continuar.”

Sempre gostei de frases feitas porque acho que se existem é por alguma razão. E se são repetidas infinitamente, também. No meio está a virtude. Foi na busca desse meio

MINDFUL EATING

31

(nota: sou assim a atirar para o extremista) que, depois de tentativas solitárias em busca de um permanente estilo de vida saudável, decidi procurar pela primeira vez um profissional (aconselho vivamente. Nenhum livro ou testemunho o substitui). Depois das pesquisas na internet, da troca de experiências com amigas e conhecidas, dos livros (por cá em fraca escala na altura), eis aquele que deveria ter sido o meu começo: a consulta com um especialista na matéria.

Tinha 19 anos quando me sentei na sala de espera do consultório de uma nutricionista. Tive tanta sorte: com o tempo tornou-se muito mais do que isso. A Dra. Ana foi e é muito importante para mim. Enquanto esperava pela minha entrada pensava nas mil dúvidas e perguntas que queria ter tempo para fazer. Esperava sair dali cheia de respostas que servissem para aplicar, pelo menos, nas próximas décadas. Corrijo. A verdade é: para sempre.Chegou a minha vez e entrei. Uma experiência cheia de surpresas e muitas confirmações. Primeiro, o dentro e o fora estão mais ligados do que um bebé ao cordão umbilical. A mente comanda o corpo, a mente pode engordar sem doces, a mente dá saúde e faz crescer saudavelmente. Ou não. A escolha é nossa. Cabe-nos sempre o poder da decisão. Comandar os dias como se fossem momentos únicos. Aliás, todos os momentos são singulares, particulares, um. E é essa soma que faz a vida. A existência, a nossa, da qual nos podemos orgulhar. Na qual nos devemos orgulhar, assim é que é. Temos o poder e dever de sermos felizes. É uma obrigação


32

estarmos em uniformidade para o nosso bem-estar e o de quem nos rodeia: as pessoas que escolhemos para fazerem parte da nossa casa.Nesta primeira consulta falámos sem horas para acabar. Não foi um monólogo, antes, um encontro. Fiz perguntas com direito a respostas, fui interpelada e escolhi ser verdadeira. Mesmo que me confrangesse assumir asneiradas (confesso que custou verbalizá-las) e ouvir daqueles responsos valentes. Mas também não foi só isso, porque há rituais que devem manter-se pela vida fora e nalguns acertei à primeira (sem saber exactamente)!Em momento algum senti que estava perante um julgamento e a permissão que me foi entregue para ser apenas (e tanto) eu própria tornou-se libertadora. Percebi a diferença entre fome e vontade de comer, a necessidade física de ingerir comida e a emocional. Ah, e que o apetite pode ser sede.Estava a ser uma forma diferente, mas não menos impor-tante, de me conhecer. Os comportamentos alimentares associados aos comportamentos sociais. A mesa e tudo o que roda à volta dela. A sociedade. A nossa cultura e as outras. Os povos e a obesidade.Conheci o erro e as consequências pelas horas em jejum, a importância na variedade dos alimentos, o exercício físico como aliado, a hidratação básica e fundamental que a água nos fornece. Pois, e também (re)conheci o metabolismo lento com o qual não me dou bem e a genética pouco simpática que decidi contrariar de uma vez por todas. Acreditar que é possível, só por si, já é meio caminho andado para a sua concretização. Mas é preciso fazê-lo acontecer com muita força.Descobri um outro corpo mesmo continuando a ser o mesmo: o meu. Descobri como é fantástica a transformação que lhe podemos dar. Descobri como é mágica esta simbiose

MINDFUL EATING

33

entre o eu interno e o eu externo. E como é engraçada a ideia que temos da nossa existência e a que os outros, à nossa volta, têm. Algures no meio deve estar a verdade. Saí dali com uma nova atitude, com a coragem reforçada, com a vontade de lutar por mim e vencer. E o bom foi saber que se me fosse dada a hipótese, não me trocava por ninguém. Com todos os defeitos (muitos) e qualidades que me compõem. Afinal, se não começar por lançar o mote para a minha valorização, quem pode fazê-lo? Se não preencher a minha vida com energias positivas, quem é que irá fornecê-las? Se não cuidar de mim, quem vai cuidar? É evidente que todos precisamos de uma rede que nos ampare quando a vida nos prega uma partida. Quando a saúde ou uma daquelas perdas irreparáveis nos enfraquece até ao fundo da alma. Amparam-nos os amigos, a família, o homem ou a mulher que temos a felicidade de encontrar para partilhar a vida, os irmãos, os sobrinhos, os filhos. Nalguns casos o cão ou o gato. A vizinha do primeiro andar ou a senhora - sempre tão simpática - do mercado. Então, depois, a energia e a coragem voltam com o tempo. Aos poucos. Connosco sempre de vigília atentas a nós mesmas. Voltar a adoptar uma filosofia optimista, cultivando o riso e os sorrisos, o bom humor que se contagia. Outro verbo de ordem: relativizar. A importância das coisas más esvai-se com o tempo, morre se a não alimentarmos, vai chatear para outra freguesia se não lhe dermos guarida. É preciso acreditar que merecemos mais e melhor e que o pior pode ir andando. Para nós, a melhor das alfaces, dos iogurtes, do tomate, da gelatina, das maçãs, dos morangos, dos alperces. Das frutas em geral, dos legumes em particular. Do peixe fresco,


34

dos grelhados, cozidos, crus. Os sabores típicos das estações do ano. Os chás e as sopas. E três quadrados de chocolate, porque não? Um dia não são dias, uma vez não são vezes. O importante são as quantidades e as qualidades.

E é assim que com o tempo e a devida dedicação, o corpo reage (bem), adapta-se (bem) e agradece. Já não quer outra coisa. Já não pede mais nem pior. Depois de aprender a lição, decora-a e deixa de desejar diferente. E nós também não. Porque reconhecemos os sinais de aprovação. Gosto em versão físico.

“Para ter algo que nunca se teve, é preciso fazer algo que

nunca se fez.”

CMCMCMCMCNCCNNCNBBBNMMCMCMCMMMMMMMMMMMMCMCMMCCCCMMM



















Notas:

g

37

A minha partilha, hoje em jeito de livro, está longe de funcionar como substituta de qualquer profissional especializado na área, apesar de, confesso, ter-me apaixonado pela nutrição. A minha partilha é mesmo só esta: fazer acreditar para fazer acontecer. Aconteceu-me.O objectivo é mesmo o de contar uma história que é real, que é a minha. É o deitar cá para fora um percurso similar ao de muitas mulheres e homens. Eu não sou sempre feliz nem sempre uma desgraçada que vida a minha. Tenho os meus dias, os meus momentos. Aqueles em que não posso ver ninguém e os outros em que o Sábado vira uma festa. Para ela existir não precisa ser à volta da mesa com travessas de carne cheia de gordura, batatas fritas e aquela sobremesa que se soubéssemos como foi confeccionada nem lhe tocávamos. Confesso que esta é uma ideia que me irrita desde que pisei pela primeira vez o consultório da Dra. Ana. Porque é que o convívio tem de ser feito sempre entre pratos e degustações?A imagem desses festejos sem motivo (realmente não precisamos deles) é qualquer coisa de indescritível e à qual continuo a torcer o nariz. Exactamente a mesma expressão que grande parte das pessoas faz quando recebe as análises recomendadas pelo médico.

g


38

Cansam-me as desculpas para se comer alarvemente em casa da amiga. Aquela de quem não podemos sê-lo por duas razões: deixá-la afundar-se no seu poço de emoções vazias decoradas com bolos e salgados é provar que o que nos liga pode ter muitos nomes mas não este. Na amizade, como no amor, o verbo cuidar persegue-nos a todo o instante; por outro lado, participar mais e outra vez nestas overdoses alimentares é faltarmo-nos ao respeito, é pormo-nos a jeito para um daqueles valentes sustos como são os índices demasiado altos que os exames clínicos apresentam ou, até mesmo, as doenças que ajudámos a entrar pelo nosso corpo adentro.Celebrar a amizade e o amor é muito mais do que uma mesa decorada como a descrevi. Pode ser um sofá acolhedor com um chá, uma refeição equilibrada com direito a um mimo, pode até nem ter qualquer alimento. Basta-nos aquele tão importante como se de uma maçã saudável se tratasse: a partilha.

“Para o corpo conseguir a mente tem de acreditar.”

MINDFUL EATING

39

O processo é muito rápido. Quando se dá por ela já foi. Chocolates, bolos, biscoitos, o que se apanha pela frente. É a sensação que estamos fora do nosso consciente. Conhecem, não é? Na realidade nós podemos estar dentro do nosso controlo mantendo bem vigiado o pensamento matreiro. Convém ter presente aquilo que é mais importante para nós. Estarmos magras ou sentir o sabor doce de meia dúzia de bolas de Berlim? O que é que de facto nos faz mais sentido? O prazer que dura minutos ou o gostinho bom de nos passearmos em frente ao espelho por tempo indeterminado? Está, literalmente, nas nossas mãos decidir. E a cada resistência, uma conquista. E a cada vitória, um novo sorriso. Porque esta aquisição também satisfaz (bem mais que um banquete). Tenho mesmo vontade que alguém se inspire e ganhe o ânimo que precisa para, de uma vez por todas, dar aquele empurrão que a sua própria vida merece. Já contei com isso e não omitirei essa importância. Eu desesperei, consegui. Voltei a desesperar, desisti. Levantei-me, tentei, dediquei-me à causa que sou eu própria e ganhei. Passaram-se muitos anos. E se consegui, eu, igual a qualquer uma de vós, porque é que não há-de acontecer-vos o mesmo?

Cérebro: o primeiro




















Notas:

g

MINDFUL EATING

41

“O melhor ainda está para vir.”

polaroid está a acontecer um casting aqui na agência para ... · polaroid que levou a uma outra...

Documents