poetas populares do concelho de beja 1987 001 049 albernoa

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    POETAS POPULARES

    CONCELHO DE BEJA

    BEJA 1987 (1989)

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    TituloPoetas Populares do Concelho de Beja

    Coordenao, apoio e colaboraoConcelhia DGAEE (Direco-Geral de Apoio e Exteno Educativa)

    ADPCRB (Associao para a Defesa do Patrimnio Cultural da Regiode Beja)Cmara Municipal de Beja / Diviso Scio-Cultural da Cmara Municipal deBeja

    Coordenao da recolhaAblio Teixeira, da Concelhia da DGAEE

    Arranjo grfico, paginao, trahalho em processador de textoe revises do original

    J. R. Gaspar, M. P. Salgado e F. Fanhais

    Introduo, seleco e intr. Anexos e Estudo final (Dcimas)Jos Rabaa Gaspar

    Processamento de texto e impresso do originalAmstrad PCV82S6 JORAGA Penedo Gordo Beja

    Direitos de AutorCmara Municipal de Beja e Coordenao Concelhia da D.G.A.E.E.

    Autor da Capa e arranio grficoAntonio Carrilho

    TipoprafiaAssociao de Municpios do Distrito de Beja

    EditoraCmara Municipal de Beja

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    POETAS POPULARES

    CONCELHO DE BEJA

    BEJA

    1987

    CONCELHIA DGAEE (DIRECO-GERAL DE APOIO E EXTENSO EDUCATIVA) - REJA/1987

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    NDICE

    Introduo .................................................................................. 7FREGUESIA DE ALBERNOA ............................................................2ILus Correia ...............................................................................23

    Perptua das Dores Mateus .......................................................... 27Isabel Guerreiro .....................................................................3I

    Bartolomeu Arsnio .................................................................... 35Ana Rita da Graa .....................................................................39BEJA - SEDE DOCONCELHO (com 4 freguesias) ........................... .....43

    Maria Guiomar Rodeia Peneque ................................................... 45Florival Peleja............................................................................ 55

    Carlota Ramos Caixinha ...........................................................61Ana Maria das Neves .................................................................................................... 71Iolanda Guerreiro ...................................................................... 77

    FREGUESIA DE BERINGEL ...........................................................81Rosa Helena Moita Rodrigues .................................................83FREGUESIA DA CABEA GORDA .................................................... 91

    Alfredo Sebastio Jos .............................................................. 93PENEDO GORDO (Freguesia de Santiago Maior- Beja) .................... 111

    Joaquim Silva ......................................................................... 111FREGUESIA DE QUINTOS ............................................................ .117

    Francisco Manuel Luis ............................................................... 119Jos Mestre ............................................................................. 123

    FREGUESIA DE SANTA CLARA DE LOUREDO (BOAVISTA) ................. 129Maria Helena Severino .............................................................131Mrio da Conceio .................................................................. 133Jose Joaquim Incio ................................................................. 139Brbara dos Santos Madeira ..................................................... 145

    Jos Jacinto .............................................................................. 151

    FREGUESIA DE S. MATIAS ................................................... ... 155Joaquim Antnio Piriquito Junior. ........................................ ...... 157Joaquim Antnio Ruaz ................................................................ 163FREGUESIA DE SANTA VlTRIA ................................................... .167

    Francisco de Encarnao .......................................................... 167

    CONCURSO 85 - OBRAS OBRIGADAS A UM MOTE"Que importa perder a vida ................................................173

    Joo Batista Cavaco (Beringel) .................................................. 175Alfredo Sebastio Jos (Cabea Gorda) ...................................... 179Jos Jacinto (Santa Clara de Louredo / Bosvista) ......................... 180Maria Guiomar Rodeia Peneque (Beja. Freg. de Santiago Maior) .... 181

    Ana Rita da Graa (Albemoa) .................................................... 182ANEXOS - (Nota explicativa) ........................................................183

    Quadras do Cancioneiro PopularPortugus .................................. 185Poesia "0 PRETO", recolha de M. Joaquim Delgado ..................... 187Lista de Poetas Populares de Albemoa, recolha de A. Barros ......... 188

    BREVE ESTUDO SOBRE A ORIGINALIDADE E VALOR DAS DCIMAS .. 189ndice dos Poetas por ordem alfabtica ......................................... 195NDICE GERAL DOS POETAS E POEMAS ......................................... 197

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    INTRODUO

    A poesia inspiradaTem atraente beleza;Inspiraes cativames

    Encerras tu, Natureza.

    Francisco da EncarnaoSanta Vitria

    Em tudo sinto poesiaDesde oinsecto planta...Tudo me diz sinfonia

    E tudo me prende e encanta.

    Manuel de CastroCuba

    Alguns POETAS POPULARES do CONCELHO DE BEJA procuram uma forma de se fazer OUVIR.Este LIVRO, portanto para OUVIR, caro leitor.No, no procure odisco no final, nem a cassete inccluda, porque no tem.

    isso mesmo. Isto um LIVRO que voc vai OUVIR se voc do Alemejo ou est noAlentejo e/ou capaz de se deixar penetrar pelo "halo mgico" que envolve oAlentejo e pro-duziu e produz: estes CANTADORES do CANTE alentejano que cantam com oventre comoque sugando a vida do seio da terra, como o trigo e as flores; estes CONTADORES deHISTRIAS que captam da Terra e da Vida e do Espao a sua arte de encantar; e os

    DEZEDORES de quadras, de dcimas, de poesia, que como os outros cantarn e encantamporque as criam, encarnam e/ou DlZEM como artistas e, com os outros, so expresso daCULTURA POPULAR do ALENTEJO.

    Os poetas populares, como, alis, a cultura oral e tradicional, so como a terra, ou a gua,ou osol... Ou se ignoram e desprezam, embora toda a gente saiba que existem e se contecom eles como indispensveis vida da comunidade; ou so objecto de investigao eanlise, at de estudiosos ou investigadores srios, mas que depois usam a sua arte, depoisde convenientememe "expurgada"-"seleccionada", para promoo, exibio ou proveitopessoal.H tentativas no sentido de fazer mudar as coisas.

    Os artistas populares tomam conscincia do seu valor e querem ser reconhecidos e respeitados,ouvidos e vistos como tal;

    O Patrimnio cultural duma determinada Regio no tesouro perdido disposio dequalquer explorador com esprito patemalista ou intenes mais ao menos colonizadoras quedo bolinhas de vidro e panos coloridos em troca do ouro e das fabulosas riquezas indgenas.

    Estes parecem-me ser os pontos base, para alicerar a introduoque me pediram. Trata-se pois de uma introduo/prefcio para uma recolha de POET AS POPULARES do CONCELHODE BEJA que foi e est a ser realizada por um grupo de professores encarregados-e-empenhados na ALFABETlZAO, neste concelho, desde 1979.

    So analfabetos esles poetas? Pode ser analfabeto quem sabe, assim, ler a realidade equem sabe usar com esta arte a linguagem que tm sua disposio? O que seranalfabeto?

    Mais grave. O que ento alfabetizar? Se for para matar essa cultura e essa arte, ento,podemos chamar-lhe - urn crime.

    Com esta inlroduo, a mim, compete-me abrir pistas ou sugerir linhas de leitura quepossam ajudar os interessados a tomar parte nesta festa de poesia.

    No aceitei propriameme o papel de juiz. No tinha que ser rigoroso e exigente na

    seleco, armado de erudio e de saber dogmtico. um mundo especial esle oda poesiapopular para nos atrevermos a ser juzes implacveis que decidem com segurana oque bom e o que no presta.

    Como diz a poeta Carlota Caixinha, de Beja: "Eu no quero ser poeta / No tenho tal pre-tenso. / Apenas quero exprimir / A minha imaginao". E, como diz Francisco daEncamao, de Santa Vitria, que anda agora pelos 65 anos, em poema desta antologia e opoeta Manuel de Castro da Cuba que morreu por volta de 1973 com uns 81 ou 82 anos,estes poetas populares, como, alis, os poetas, sentem, bebem, vem a poesia nas"inspiraes cativantes" que "encerras tu, Natureza", ou para melhor dizer: em tudo, "Desdeoinsecto planta / Tudo me diz sinfonia / E tudo me prende e encanta".

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    este afinal, mais ou menos, opensamento de todos eles. Cantam como as fontes; do cor comoas flares do campo; fazem poesia para dizer oque vivem... para dizer que vivem.

    A CULTURA E 0 ANALFABETISMO

    Estamos na regio do pas com a mais elevada taxa de analfabetismo, e num pas em que o ndicede analfabetismo ronda ainda mmeros escandalosos, para um pass que, na era de quinhentos, foi"cabea da Europa" e que em finais do sculo XX se empenha para entrar na Comunidade EconmicaEuropeia! (Econmica?!)

    Que vai ser deste pas e desta regio, se no souber, se no puder afirmar os seus valores e a suacultura?Que problemas e que esta pergunta levanta?

    O ndice de analfabetismo oficial , de facto, indicador da falta de Cultura? Indica, de facto , faltade capacidade para saber ler a realidade e intervir decisivameme no desenvolvimento? e de o fazerde um modo correcto sem agredir omundo-universo que nos "foi dado de emprstimo" e vamos terde iegar aos nossos filhos?

    E, no meio da complexidade deste problema, quem e que afinal tem autoridade e poder para dizeroqu?O que e oque no Cultura? O que tem e no tem valor?

    Normalmeme, como e verificvel pela Histria, a cultura dominante, so os que detm o poder epor conseguinte dominam a cconomia (ou vice-versa), que dominam por sua vez a Cultura. Mesmo emregimes democrticos, em que receberam omandato de a pr ao servio da comunidade, so elesque tm os instrumentos de recolha, de seleco, de estudo e de divulgao. Os instrumentos e osmeios...

    A CULTURA POPULAR /SUAS LEIS E MECANISMOSOra apesar de tudo isto, a CULTURA POPULAR TRADICIONAL, existiu, sobreviveu, manteve-se e

    reproduziu-se pelas suas prprias leis at que o ritmo do progresso e a ruptura da cullura erudita aameaou, como se pudesse prescindir dela, como se a Cullura pudesse sobreviver, se dividida!

    Aparece ento com os romnticos ogrande grito de alerta para "salvar ogrande livro nacionalque o povo e as suas tradies" no dizer do genial Almeida Garrett, esse mesmo que dizia:"Romntico?! Deus me livre de o ser!" e nos legou o Romanceiro e aquela "ingnua menina dos

    rouxinis" incrustada nas "Viagens da minha Terra" que do Vale de Santarm e do pinhal daAzambuja espera a hora de tomar "outra vez o bordo de romeiro, e v peregrinando por essePortugal fora, em busca de histrias para te contar....

    No ser Garrett a continuar a Viagem. J o fizeram muitos e muitos outros esto a fazlo.Citamos Tefilo Braga e Jos Leite de Vasconcellos para citarmos s os que nos deixaram essamilagrosa panormica do grande Livro Nacional que est a ser organizada pelos seus continuadores evo desde oDr. Orlando Ribeiro, ao Dr. M. Viegas Guerreiro, ao Dr. A. Machado Guerreiro, aos Drs.AIda e Paulo Soromenho e Dr M. A. Zaluar Nunes.

    Quantos, na linha destes, esto a dar conta que nos est a faltar o ar e a gua, e a terra!?Muitos j deram conta, e h muito tempo, que oDesenvolvimemo no se pode fazer sem a

    Cultura e que oDesenvolvimento e a Cultura no podem continuar numa corrida desenfreada semdarem conta que nao se pode progredir perdendo as razes ou destruindo as fontes!

    O ALENTEJO E OS SEUS VALORES CULTURAIS

    Situando-nos aqui e agora, no Alentejo, em vez de palavras minhas, passo a citar Manuel JoaquimDelgado in "Subsdio para oCancioneiro Popular do Baixo Alentejo" II vol. que na introduo p. 8diz:

    " a nossa provncia uma das mais ricas e caractersticas por sua fonte inesgotvel de materiaisfolclricos". To rica que podem ainda ser observveis / audveis no seu ambiente.

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    Sublinha depois, esse autor, como a poesia e o cante esto ligados vida "que no seno manifestao externa da prpria vida, forma de expresso dos sentimentos epensamentos do povo que a cria, reflexos da alma que sente, pensa e quer".

    E no s a poesia e o cante que reflectem a alma deste povo. So os provrbios,anexins, contos, lendas, adivinhas, romances, oraes... a pronncia especial de certosvocbulos, as expresses prprias... os nomes locais, os nomes de famlia, as alcunhasperpetuadas j oficialmente em muitos apelidos de registo... que revelam as caraclersticas eas maneiras de ser de um povo e nos do as bases para sabermos como se situam narealidade, como pensam e a analisam e como podem caminhar para o dcsenvolvimento.

    Vale a pena citar ainda mais urn pargrafo de M. Joaquim Delgado que nos alerta para o"misterioso" processo que oregisto das manifestaes da Cultura Popular-oral.

    O QUE SELECCIONADO, COMO E PORQU?

    " possvel, em dado momento, inquirir do ror de produes que o povo h criado.Criaes que sero recentes, umas; outras antigas, e que pela fora da tradio chegaramat nossos dias por via oral, transmitidas de pais para filhos, de avs a netos, de gerao emgerao no decurso dos tempos. Passado, porm, esse momento, surgem novas criaes,outras se perdem, (outras "esquecidas" se recuperam) tudo isto numa evoluo contnua,

    que no cessa, e de que no se pode precisar bem nem ocomeo nem ofim. Eetee poderde criao contnuo, to ligado est vida que, integrando-se em si prprio, outra coisa no seno aquilo que Bergson chamaria com justificada razo "L'evolution cratrice".

    Parece-me que no demais citar M. Joaquim Delgado, quando se trata de umacolectnea de Poetas Populares do Concelho de Beja, pois, a meu ver, no Ihe tem sido dadaa importncia a que tem jus. No possvel medir por enquanto, ovalor da obra que temlevado a cabo, em recolhas, estudos, comentrios e notas que este amante das tradies doseu povo tem feito sobre esta regio. Ser fundamental recorrer a ele quando se quiser teruma viso completa deste fenmeno da manuteno ou desaparecimento das manifestaesda Cultura Tradicional.

    Porque aparecem e desaparecem estas manifestaes? Quem as regista e porqu? Quaisas consequncias destes registos e recolhas actuais?

    Ever como opoeta Joaquim Silva, do Penedo Gordo, em quatro dcimas, prefere dizerduas do conhecido poeta Manuel de Castro, da Cuba, que ele aprendeu de cor e reproduz

    com fidelidade espantosa como se estivssemos a ouvir oprprio autor!A que leis obedece este lipo de gravao, como o de Joaquim Cabaa, da Cuba que, em

    80/81, 7 anos depois da morte do saudoso poeta da Cuba, diz as suas dcimas de cor comose oestivesse ainda a ouvir: "Em todo omomento a gente ogostava de ouvir, fosse denoite, fosse de dia, fosse na taberna, fosse na rua, a gente "entretia-se" com esse homemaqueles "cadinhos" que no dvamos por mal empregados". Foi atravs dele que nos chegoua dcima cujo mote escolhemos para abrir esta introduo.

    Urn pouco, como isto, aconlece com Alfredo Sebastio Jos, da Cabea Gorda, que, paraalm de inmeros poemas seus, repele, inventa, reproduz outros do Cancioneiro Popular oude outros poetas, sem que seja muito possvel discernir onde comea a originalidade ou acriatividade... e, sem nos podermos atrever a falar de plgio porque se trata de difundir eperpetuar a poesia popular que patrimnio comum e no costuma ter honras depublicao... Podemos dizer que se trata do fenmeno da interlextualidade e/ou da

    divulgao acessvel e possvel aos que no tm acesso aos meios de comunicao, cujosmecanismos no dominam.

    A ALFABETIZAO / INSTRUOou A ALFABETlZAO / CONSCIENTlZAO

    J houve algum - um ilustre alfabetizado que tinha muito para dizer e para escrever -que afirmou no se atrever a escrever e a publicar, enquanto a percentagem de anaJfabetosfosse to grande no seu pas. Para que publicar, se a grande maioria no opodia ler?!

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    Perante esta colectnea de Poetas Populares do Concelho de Beja, feita a partir de umaturado trabalho de alfabetizao, podemos talvez afirmar que estamos a tocar o cerne doproblema.

    Nao se trata de dar voza uns quantos Poetas Populares que, "coitadinhos" no tmacesso aos meios de difuso. Nao se trata de substituir o trabalho de abnegados carolas,aventureiros ou especialistas que esforadamente recolheram e publicaram PoetasPopulares. Quem somos ns para criticar oseu meritrio trabalho?

    Trala-se da publicao de poemas de 24 poetas de 8/9 localidades / freguesias doConcelho de Beja: Albernoa, Beja (Santiago Maior e S. Joo Batista), Beringel, CabeaGorda, (Penedo Gordo), Quintos, Santa Clara do Louredo, S. Matias, Santa Vitria. Alm dasfreguesias da cidade, Santa Maria da Feira e Salvador, faltam aqui ainda representantes deBaleizo, Mombeja, Neves, Salvada, S. Brissos, Trigaches e Trindade.

    Porque citamos os que fatam? Por causa do ttulo desta colectnea e porque os poetasora publicados no se consideram nicos nem suficientes. Porque preciso e urgente quecada povo / regio tome conscincia dos seus valores culturais, as assuma e divulgue e, apartir da, crie incentivos para um progresso / desenvolvimento devidamenle enraizado.

    Estes poetas que constam desta publicao, situam-se entre os 48 e os 86 anos.Cantam-nos histrias que vm desde a prirneira Grande Guerra. A maioria so jareformados, como que considerados j fora da vida activa e interventora, mas que so parteintegranle e vlida da Comunidade como reservas da memria e da sabedoria acumuladas ao

    longo dos tempos.So uma amostra das Bibliotecas vivas que andam espalhadas no s pelo concelho deBeja, como por todo o Alentejo e pelo pas e pelo Mundo e imperioso que essas Bibliotecasno ardam devoradas par incndios que cada vero destriem milhares de hectares deflorestaa, ou so destrudas par buldozeres que desastradamente pretendem abrir caminhosde inviesado progresso.

    ESTE LIVRO - UMA HOMENAGEM AOS POETAS QUE SOMOS

    Desde os primrdios da nossa lngua como nao que somos um pas de poetas quevo de reis a campaneses abrangendo todas as classes sociais e temos a rara felicidade dever isto incarnado no rei-poeta-lavrador dos cantares de amigo e que sabia sermos melhoresque os poetas provenais.

    Perante esta mostra de 24 poetas com uma centena de poemas, em que predominam

    as dcimas (52 dcimas em 107 - vide estudo final) considerada a arte maior, pelo menospara os poetas populares situados mais ao Sul do pas, no sei, sinceramente, o que maisdevo salientar.

    Primeiro evidentemenle, a arte espontaneameme encantatria a atingir muitas vezes ognio/ingnuo da performance que muilos apelidaro de palavrrio sem sentido, de gente dopovo que se atreve a artes que no domina, e que muitas vezes tem de interromper odiscurso e meter uma qualquer palavra s porque rima para obedecer mais cada do que aoconsoante. ver quantas insinuaes esto, por vezes, escondidas nessa aparente falta dedestreza, onde afinal a vida se cruza na sua inextrincvel e indizvel complexidade.

    E que dizer da arte do povo que sabe como ningum dizer oque Ihe convm e sabe oque os outros gostam/querem ouvir, sobretudo quando se sentem deles dependentes! E soeles, na sua grande maioria, considerados anaIfabetoos!

    Permito-me citar aqui a ttulo de exemplo"o

    gravador" de Lus Correia, de Albernoa"onde eu gravo as propagandas / sejam feitas por quem for.... e a liberdade potica de AnaMaria Neves, de Beja, que no obedece a estruturas formais, com mtricas caticas e rimasespordicas, mas que, por exemplo em "O Jardim de Beja" desenha magistravelmente avariedade de canteiros, de flores... com arte semelhante do jardineiro que sabe que abeleza no pode ficar encerrada oa monotonia de formas esteriotipadas...

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    Podamos citar exemplos de todos, como por exemplo, Guiomar Peneque, de Beja, quevai desde a histria da sua vida e da sua poesia, sua viuvez e profisso, at passar pelacidade e pelas festas populares e chegar emigrao e reforma agrria num mpetodesesperadamente pico.

    Nem sequer nos atrevemos a excluir (no somos os donos dos poetas) o nico pequenopoema de Maria Helena Severino, da Boavista "Eu quero quando morrer" em que se despededa vida, no temendo a morte "pois s morrendo se pode / viver oeterno sonho". E isto aos22 anos!...

    Tern-me impressionado sempre a segura autoridade dos mestres que trn feito recolhas eafirmam ter excludo poemas, por falta de qualidade, ou por serem demasiadoautobiogrficos! Juzo de quem? Cedencias a quem?

    alias esse osegredo de todos. Cantando a sua autobiografia, a sua vida, sabem quecantam a vida dos que os ouvem. a arte do imortal autor / artista / actor de "o poeta eum fingidor" - finge dor - que leva os leitores / ouvintes / espectadores a ler "no as duasque ele teve / mas s a que eles no tm"... a poesia que "Assim, nas calhas da roda/gira aentreter a razo...

    Se homenagear estes poetas importante, conhec-Ios e d-Ios a conhecer comcerteza obra meritria, um servio prestado Comunidade.

    Esta introduo tem de sublinhar, por isso, otrabalho desinteressado dos professores

    / animadores empenhados na alfabetizao que, ao descobrirem o Tesouro de Poesia,leitura, escrita, anlise da sociedade e da vida que anda na boca do povo-poeta, no temdescansado at odar a conhecer.

    Fica por isso, aqui, em segundo lugar, a homenagem a estes POETAS, em que acultura dita erudita no matou a capacidade de ver, de olhos e ouvidos bem abertos, essemanancial de clareza, pureza, verdade e revolta com que os olhos desses poetas popularesolham omundo e a realidade que os rodeia, e omodo como exercem esta arte cada vezmais difcil de comunicar, encantando.

    Neste grupo de POETAS, alm dos j citados, cabe evidentemente voc, caro leitor,que, mesmo que viva na cidade e absorvido pela engrenagem trepidante da vida, aindasente, de vez em quando, ao menos em frias, odesejo irreprimvel de regressar um poucosua terra e s suas razes, para que, ao regressar, Iimpo e desintoxicado, a vida tenha outro sabor eoutro sentido.

    Aqui fica, por tudo isto, a minha homenagem a TODOS OS POETAS que podem fazer

    esta terra mais humana e, de mos dadas, construir oprogrcsso urgente e gratificante semter de eliminar minorias e destruir os poetas.

    A HISTRIA DESTA COLECTNEA

    Como foram recolhidos e escritos estes poemas uma histria que compete aosprofessores que nela estiveram empenhados com a coordenao do professor Ablio Teixeira. uma histria bem simples e normal - dizem eles.

    Ser importante cont-Ia porque a sua normal simplicidade talvez contenha osegredo quenos d a conhecer a fronteira entre o paternalismo do instrudo que d uma ajuda qual osanalfabetos ficam veneradamente gratos e obrigados e ogesto libertador do animador que,comprometendo-se, "ensina a pescar" mesmo que tenha dado opeixe pescado, uma vez. a diferena / tnue / infinita, entre o ensino instruo instrumentalizao

    domesticao, que cria dependncias e a educao - tomada de conscincia - Ieitura crticada realidade que, dando origem expresso-palavra, vai levar oseu autor/poeta a agir eintervir na sociedade e no seu meio, transformando-o e, por vezes, subvenendo-o.

    A mim, que no estive directamente empenhado neste trabalho e sou oriundo doutrasserras e doutros montes, mas como professor de portugus aqui no Alentejo, cumpre-me tos sentir opeso e tentar medir ovalor e a dimenso deste trabalho a que muitos outrostero de se seguir, neste e noutros campos da Literatura Oral Tradicional.

    Cumpre-me dar conta da vacuidade e hipocrisia do ensino da Lngua Materna armado deGramticas e Literaturas, sem ter em conta, como base fundamental, indiscutivel, as bases e

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    os fundamemos da Lngua Materna profundamente enraizados porque bebidoscom o leitematerno.

    Durante quanto tempo ainda ser possvel ouvir, no ensino oficial, alunos responderem, quando selhes pergunta pelas modas, pelo cante, pelas dcimas, contos e lendas traclicionais... "Ah issoso coisas de analfabetos incultos que no tmnada a ver com a Escola"!

    Permito-me lembrar aqui a histria / smbolo / figura que tem servido como base dediscusso em vrios encontros com professores com a misso de "ensinar" a Lngua Materna e atserve para "chumbar" e marginalizar.

    Do-nos uma flor, uma roseira; confiam-nos uma pequena rvore silvestre para que a tor-nemos mais bela e produtiva. Que fazemos? Que temos feito? Que tem feito a Escola, o En-sino Orieial? Corta-a. Desenraiza-a. Metemo-la talvez num belo vaso... "Isso no se diz! Isso no valenada! Vocs so uns burros! Aqui s se fala mal!"... e depois... tentamos colar belos ramospreciosos da nossa mais hela literatura em hastes desenraizadas e mortas!

    Resultado? Embutidos preciosos numa estrutra que j no existe. s vezes prolas autn-ticas em armaes de plstico ou de barro mal amassado que se esboroa.

    No simples o problema. No basta armarmo-nos em cultores ou defensores do popular, como sea estivesse a soluo mgica dos problemas. No h solues mgicas, sobretudo nestapoca em que os desafios do desenvolvimento so urgentes e as sedues de facilidades so

    tremedamente ilusrias e enganadoras.Mais complexo ainda o problema, quando cada um, na sua especialidade, se d conta doslimites e incapacidade de, sozinho, encontrar solues vlidas e eficazes. At para a TeoriaLiterria, dizem os entendidos, preciso recorrer a especialidades que vo da epistemologia, filosofia epsicologia e s cincias sociais, para eitar s os principais campos de inter-relao.

    por isso que a hislria desla recolha, no um princpio, porque muitos desde a Tradioao Arquivo de Beja ja desbravaram muito terreno, mas no pode ser urn fim porque h umimenso trabalho a realizar e podia tomar forma no que chammos o INSTITUTO ALEN-TEJANO DE CULTURA / DESENVOLYIMENTO (IACD) e no pode nascer por decreto dos deuses,sob pena de ser mais um agente de colonizao ou decorao do que de valorizao e afirmao dosnossos valores culturais.

    Em que consistiria afinal um IACD? Encontrar, organizar e coordenar um grupo queabranja as vrias especialidades do saber humano que, num trabalho cclico, coordenadocom associaes, escolas, animadores locais, organize por sua vez um trabalho sistemtico,

    cientificamente seguro, de recolha, estudo, divulgao, recolha, estudo... para que atravsdos elementos coligidos se possam ler correctamente as caractersticas reais duma regio e de um povoe, a apartir da, se abram caminhos para um acertado e global descnvolvimento sem ter de parar a vidaque no pra, mas devidamente enquadrado ao ritmo do progresso que a Humanidade deHoje precisa.

    Material de estudo para ponto de partida? S o lavantamento do que h publicado desde aTradio, de Serpa, ao Arquivo de Beja com os legados de Abel Viana e das recolhas e estu-dos de M. Joaquim Delgado, ao Cancioneiro Alentejano de Vtor Santos e diversasMonografias como a de V. V. Ficalho, de Francisco M. Machado que guarda nos seus arquivos aindarnuitas preciosidades, e a "Literatura Popular do Distrito de Beja" da DGEA, como tantos etantos... outros. 0 material de base para o arranque espera s por uma correctametodologia... urgente este trabalho no Alentejo para no se correr o risco de um genocdio cultural.

    Para no ser preciso fazer cedncias humilhantes a povos e culturas ditas mais dcsenvolvi das. Sem terde obrigar "povos" e "regies" ditas "em desenvolvimento" (quais que no esto?) a perdera sua identidade.

    O importante, como j disse, que as populaes tomem conscincia dos seus valores eda sua cullura, at dos seus defeitos; se exprimam e progridam, reforando e valorizando asua identidade.

    Da variedade polcroma de cada regio e de cada povo, A CULTURA UNIVERSAL, em vezde um padro nico, homogeneizante, montono, aparecer, nesta Era do Espao, como ummosaico de espantosa beleza.Compete Comunidade defender estes valores. preciso que haja pessoas que o faam.

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    H trabalhos de tal envergadura que no basta boa vontade ou mesmo s a vontade para osfazer. No podemos viver eternamente dependentes, espera de milagres como os do Prof.J. Leite de Vasconcellos, Giacometti, ou entre ns, como os do Prof. Abel Viana, M. J. Delga-do, etc.

    Cabe s Autarquias, Escolas, e Autoridades por imposio e misso; e s Associaes,Grupos Corais e outros por vocao, uma responsabilidade inalienvel.

    JUZO DE VALOR SOBRE ESTA COLECTANEA?

    ALGUMAS CARACTERSTICAS GERAIS E TEMAS PRINCIPAlS

    Tentar urn juzo de valor sobre esta colectnea arriscado, embora, como evidente notenha feito outra coisa. arriscado porque, quer se queira quer no, est-se constantemente ajogarcom uma ambgua escala de valores, como gostos e sensibilidades diferentes... com opopular e o erudito como se fossem opostos... com o peso maior da oralidade que umapublicao partida no contempla e por isso se apela para a criatividade e imaginao doleitor/ouvinte...

    Tentarei deixar aqui no final urn resumo das caractersticas gerais e uma espcie de ndice dosprincipais temas e deixar ojuzo de valor a cada um.

    Tada a colectnea foi gravada em diskette num processador de textos para arquivo, poss-veis emendas que os autores reclamem, para futuros estudos que se julguem oportunos...ou modificao de paginao ou outros trabalhos que a leitura em visor permite e aspossibilidades da mquina facilita.

    DADOS GERAIS

    1. A colectnea est servida com trs ndices: Freguesias e poetas, p. 5; poetas por ordemalfabtica, p. 195; ndice geral com todos os poemas, p. 197.As freguesias do concelho que no esto representadas esto indicadas atrs, p. 11.

    2. Esto aqui poemas de 24 Poetas, sendo 14 Homens e 10 Mulheres. A diferena no significativa e no de arriscar comparaes sendo ntido que os despiques e rambias somais dos homens e oencanto perante a Natureza e osofrimento tem nas mulheres maissensibilidade, embora no exclusiva.

    3. Os poetas tm idades compreendidas entre os 48 e 86 anos. Na sua maioria soreformados, alguns a viver em lares da 3 ldade. Do significado disto e da importncia das"velhas amas", dos avs, dos velhos contadores de histrias, que so referidas por grandenmero de grandes escritores como tendo exercido influncia decisiva na sua arte podemosavaliar opoder e importncia destes "avs" na formao da Lngua dos "netos".

    CARACTERISTICAS GERAIS DOS POEMAS

    Total de poemas podemos considerar: 107, embora alguns sejam por exemplo quadrassoltaS, ou conjuntos de estrofes no subordinados ao mesmo tema.

    I - ESTRUTURA FORMAL

    Desses 107 poemas:- 52 DCIMAS (Mote + 4 dcimas - versos de 40/44 pontos; Ver Estudo final).

    - 34 poemas de QUADRAS (uns constitudos por quadras soltas: 20/25 sendo a maioria doCanc. Popular; e outras subordinadas a um tema que variam entre 3/4 e 10/11 quadras).- 4 poemas so de QUINTILHAS (dois so de 8 quintilhas; "0 Preto em regalia" tem 5quintilhas e 4 quadras (?); e um de 4 quintilhas;

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    - 3 poemas sao de SEXTINAS (SEXTILHAS) (poemas com 6, 6, 7 estrofes, todas de RosaHelena de Beringel);- 2 poemas so em OITAVADAS (OITAVAS) (um de 3 outro de 2 oitavas);- 12 so poemas de construo estrfica irregular, com estrofes que vo dos dsticos,tercetos, quintilhas, sextinas, oitavas, dcimas, aparecendo mesmo urn monstico, e stimas e nonase, estncias que chegarn a 14 versos. Ver especialmente os poemas de Ana Maria Neves deBeja que, em todos os poemas usa omais variado leque de estrofes com mtrica e rimairregulares, liberdade potica pouco comum em poelas populares.

    2 - ASPECTO FNICO (mtrica e rima)

    MTRICA - A grande maioria dos versos das Quadras como das Dcimas, so, como TRADICIONAL, "0 portuguesssimo verso de sete slabas" a redondilha maior.

    E uma caracterstica digna de nota a ter em conta como fenmeno lingustico, a "forte ma-neira como se encontra arreigada a REDONDILHA MAIOR na expresso popular" que alm dapoesia usada quase na maneira comum de falar, verificvel em muitos provrbios,expresses e at anncios e reclames. Citando Afonso Lopes Vieira, isto j sublinhado pelaDr M. A. Zaluar Nunes nas notas ao Cancioneiro Popular em Portugal.

    Acontece que em muitas quadras, e sobreludo nas dcimas, aparecem versos hiprmetros

    (com slabas a mais) e alguns, menos, com falha de slabas. Este fenmeno de somenosimportncia para os poetas populares, que suprem esta falha na musicalidade, com elipsesou prolongamento da entoao medida que as vo declamando.

    Os que no obedecem a esta regra geral so dois poemas de Florival Peleja que utilizaquadras com versos de dez slabas e outro poema com versos que vo de 9 a 13 slabas, co-mo acontece com Alfredo Sebastio Jos em "O Antnio que marchara para a Guerra".

    O que acontece nas quadras e dcimas acontece nas quintilhas e sextinas. Das sextilhas,s "O vagabundo" de Rosa Helena, de Beringel de Redondilha Menor (cinco slabas). Asoitavas de Maria Guiomar Peneque em "Lusadas do Alentejo" tentam evidentemente a cadncia dosversos hericos de dez slabas, com oacento rtmico na 6 e 10, mas vai frequentemente,como e natural, at s doze slaabas.

    A RIMA - Como diz oProf. Joo Correia "a rima domina opoeta, opopular como oculto,obrigando-o a criar palavras, a adulterar construes, a torcer sentidos".

    A rima mais frequente das QUADRAS a popular cruzada no 2 e 4 versos, com o 1 e 3beancos: ABCB.

    S cinco poetas conseguem a chamada QUADRA QUADRADA de rima ABAB em diversospoemas, e mesmo nos MOTES das dcimas, s as do Aleixo e Manuel de Castro so Quadrasde rima ABAB.

    Nas QUINTILHAS, a rima normal e ABAAB, mas notam-se falhas. S no poema dedicado aBeringel que Rosa Helena consegue a rima perfeita desde oprincpio ao fim.

    Nas trs SEXTILHAS, que so tambm de Rosa Helena, ela consegue ojogo mais melodiosoque consisle em ABBAAB.

    Nas OITAVAS, poucas e dispersas, no vale a pena assinalar as irregularidades. Nenhumasegue a escolha de Cames dos seis primeiros versos cruzados com as dois ltimos emparelhados:ABABABCC.

    As DCIMAS, como consta do Estudo final, seguem a regra geral: ABBAACCDDC, havendo

    s a assinalar ocaso de Ana Rita da Graa, de Albernoa que nas suas duas Dcimas, usa o

    esquema rimtico ABABBCCDDC.As consideraes que se poderiam fazer a partir destes dados sobre a estrutura formal e

    fnica, s teriarn significado a respeilo de cada poema. Duma maneira geral, verifica-se queos poetas populares se exprimem preponderantemente atravs de quadras e dcimas e comversos de Redondilha Maior, com a cadncia mais ao gosto da musicalidade da nossa lngua.

    Apesar de tudo, apesar do perigo da monotonia que se pode tomar cansativa, h umarazovel variedade. Podemos recorrer afinal imagem sugestiva da plancie alentejana: unsraros campos ou tufos de papoilas, azedas ou margaridas, a pincelar os extensos eondulantes campos de imensas searas.

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    Os TEMAS /algumas expresses e smbolosTentar abordar os temas desta centena de poemas e um atrevimento, pois precisaria deoutro lempo e outro espao. Fica entretanlo um esboo dum futuro trabalho correndo oriscode no citar os poetas todos oque poder parecer menos correcto. Apresento desde j asdesculpas antecipadas preferindo pr em relevo algumas expresses e smbolos que deixamadivinhar a frescura com que estes poetas abordam temas como: a ALFABETIZAO, aCRTICA SOCIAL, a EMIGRAO, a GUERRA e a PAZ, a HISTRIA DE PORTUGAL, a NATU-REZA, o RELATO DE CASOS INSLITOS e os TOPONMICOS, os que so EXPRESSO DESENTIMENTOS LRICOS, os AUTOBIOGRFICOS, a prpria POESIA...POESIA oque ? Donde, e como vem a inspirao e para que serve?

    "Um poema inopinado / Encerras tu Natureza"."Os meus versos a ningum / Conseguiram convencer / S eu que sinto bem / O que bem

    no sei dizer".Nos AUTOBIOGRFICOS cada poeta sabe que conta: "a vida do povo cantada pelo povo",

    como diz Alves Redol. "Descubro a qualquer pessoa": o nome, as agruras da vida, asrambias pelas feiras e balhos, e a vida dos pobres... "Manifesto a toda a gente / ... Porqueeu sempre fui roubado / Pelo fascismo avarento / Desde omeu procedimento / At datapresente". "... como era... como sou... como estava... como estou".

    A ALFABETlZAO pode resumir-se em expresses como "Eu mal aprendi a ler... / Ao meupai ouvi dizer / Tens qu'ir ganhar p'ra comer... / Fui umas cabras guardar... Mas para quem" pobre e no sabe ler", aprender um ARCHOTE, "j no sou um moribundo"... " sair daobscuridade... / Transformar a noite em dia /... No sou pedra que rebola"... "No tem limitede idade / Para se valorizar /"... "Eu sou um analfabeto... / Nao sou esperto nem bruto ...A CRTICA SOCIAL que aparece nos autobiogrficos e nos anteriores, aparece tambm aretratar em trs, quatro pinceladas: "No tempo de Zalasar/ Nesse tempo at os mortos / Eraquem ia votar / Ningum podia piar / Reinava este organismo.../ Punha a guardaperseguindo / Os que pediam esmola... / Alguns que tinham mais vista / A pide no osdeixava / O patrot lhe chamava /Refilo e comunista / Muitas vezes terrorista...

    Mas como era dantes, agora: "H muito dinheiro mal gasto / Em apitos e flautas / Levamouro e trazem latas... / Todos anos um padrasto / E todos se querem encher..." ou ento "Hquem queira ser senhor / Da luz divina do sol..." mas para isso opoeta diz: ".. .J eu tenhoum gravador / Onde eu gravo as propagandas / Sejam feitas por quem for".

    E no se critica s o governo, mas tambm "A voz do sino indolente... / Repicadasvibraes/ S trazem desiluses / Ao triste povo indigente... Teu hino celeslial / Aviva-lhesdor aguda / Para eles to absurda...

    Vem tambm a stira m-lingua e s faladeiras "Eu sou Perptua de nome / E perptuano falar..." ...e as que se dedicam m-lingua: "Parecem umas telefonias /, ...Qualquerdaquelas senhoras / Parecem umas emissoras / ...So das tais estrelas de rabo / Que do cuchegam ao cho... Todas so abelhas mestras / Para mandar no exame... "; e a dennciados abusos dos senhores que abusaram das criadas e enjeitaram os filhos: "Sou bisneta dumVisconde / ...Enjeitaram omenino / Sendo pessoa nobre / Como se fosse dum pobre."; e oretrato do "homem carrasco" e do "homem fera"; e o retrato cheio de fora, ternura, revolta,dio (?) da "Mulher multi facetada / Mae, madrasta / amante e ama / Esfrego panelacama..."

    E a Reforma Agrria pode ser retratada em 4 versos: Antes eram "Cardos, coutadas,

    aramados, ortiges" mas "A gente transtagana num lampejo / De liberdade e justia, torce afome / E lana terra que o suor ganhou... " E pode retratar assim a opresso dum povo: "Ador, o pranto, a opresso e a mgoa / Sentidas na carne criada a pao e gua / Cheirando aalhos coentros e poejos / Da aorda toda a vida repisados..."; e podemos ver ainda pessoasque passam... "pisando a fome no cho".

    A EMIGRAO - "Abalei como emigrante /...Vejam o que um homem pena / Para a vidamelhorar..."; um outro glosa a conheeido fado de frei Hermano da Ciimara; mas convm vera mestria com que outro poema relata: "... parti... chorei... TRISTEZA.. SAUDADE... TOR-MENTO... AMBIO... ILUSO... NOSTALGIA... SAUDADE... regressei ... de alegria chorei..."em sete sextilhas.

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    A GUERRA E A PAZ - "P'ra que existe tanta guerra? //...Deve-se louca ambio / ...Emvez de distribuir po / Semeia apenas rancor..." "Maldita seja a guerra / Maldita, cheia dehorrores / ...Lgrimas, tormentos e dores / ...Perdio de muita gente" ... ou ento ocomovente caso do "Antnio que marchara para a guerra / ...Levava oseu pombimho decorreio / Para saber notcias de Leanora... "; ou o caso "Estando um preto em regalia / Num pas altivoe forte... ou o retrato de "0 exrcito dos 'tados unidos /Chegou todo em avies... e "A bordodum submarino alemo / Estava o maior obuz do mundo/ ...Fazia tremer o cho so as imagens daGrande Guerra que ficaram no nosso imaginrio.

    A HISTRIA DE PORTUGAL serve aqui para trs ou quatro poetas falarem por exemplo dosReis e dos cognomes dos Reis de Portugal, das Grandes Figuras, da Ptria, dos Descobri-mentos e do 25 de Abril. "Houve ilustres portugueses / Que se notabilizaram / ...O primeirorei de Portugal / Chamou-se "conquistador"... ou aparecem-nos avisos de uma Sibila: "Nestaterra Lusitana /Eu vejo dos altos montes..."e anuncia desconexas profecias. "Pelos maresflutuou / A bandeira portuguesa..."; e vem "O vinte e cinco de Abril / Desvendando sonhosmil.." que pela voz de outro poeta da Liberdade "Como uma flor do Prado / Que d cheiro atoda a geme..."

    A NATUREZA - "Inspiraes cativantes / Encerras tu, Natureza / ...Um poema inopinado"

    ...e ento os poetas cantam oAlentejo: "s obra da natureza / Que no se pode igualar /...As searas a bailar / ...So como o mar baloiando..."; depois interpelam o MAR:"sedutor... inconstante... Bero gigante... assobiando... ceifando vidas... Espelho demagia..." "A onda conta segredos /Se a tentamos apanhar / Esvai-se por entre os dedos... "enas mars "Vai outras praias beijar..." ou "Fui-me um dia a ver omar / ...Das ondas semprea bater/ Em contnuo, sem cessar / Eu tenho ouvido contar.../

    E h quem diga que no se pode pintar o vento mas opoeta diz: "Pus-me a espreitar ovento /Seus mistrios desvendando..." e d-nos todo urn poem a de dana e movimentopara nos mostrar que "Os ramos se iam beijando / Como pares de namorados...", tudo porartes do vento.

    Das Estaes do Ano, estes poetas falam-nos d"o Outono e muito triste... / rvores despi-das / Folhas que morrem... " e " to linda a Primavera / ... cor... flor... espigas douradas...O campo s tem beleza / Para quem osabe ver...eum paeta de etrofes e versos irregulares, enche-nos a Primavera de flores, de aves, e jovens a falar de amores... com cor, som, amor... vida; e canta-

    nos a variedade dos canteiros e dos cantos do jardim de Beja com a variedade das estnciase da mtrica; aparecem-nos ainda "As papoilas encarnadas / A brilhar entre os trigais..." e oSol nascente que "D vida, cor, calor" e o poente "Faz nuvem de toda a cor...; e socantadas as "Andorinhas negras", a Seca dos ltimos anos em que "A gua osangue daterra..." e "As plantas sem alegria...", e se cantam ainda "O pastor", "O campo", "aenxada"...

    Os RELATOS DE CASOS INSLITOS, que apareciam em folhas volantes pelas feiras, osdesafios e inlerpelaes para DESPIQUES OU DESGARRADAS, tm aqui alguns exemplos evale a pena salientar os que o poeta chama de QUADRAS DE UM S P, em que, com duplo jogo de Dcimas ele se despede dos filhos e os filhos dele; noutro, o antigo namoradodesinquieta a rapariga casada e a rapariga responde... numa aproximao de teatro emverso.

    Poemas que exprimem SENTIMENTOS so todos ou no fosse poesia lrica. Numa rpidaleitura, talvez seja importante ver como so manifestados:A DESGRAA, A SOLIDO, A AMARGURA, A PERDIO, por exemplo, num fato roto; oimaginrio das crendices populares trazendo-nos odiabo bbado a fugir de medo, ottricoespanto do terror que pe uma caveira a falar no cemitrio onde tambm aparece urnesquelrio que toma o ttrico, quase cmico no fosse a carga de ultrarromantismo...; oespanto perante os paradoxos da vida; mas tambm o fatalismo e o conforrnismo; o amor, aadmirao, a comtemplao perante "As mais belas coisas do Mundo / Msica, Luar,Mulheres e rosas..."; a solido, amargura, trissteza, esquecimento, ingratidao... sinais de morteperante a velhice; mas tambm "No tenho medo da morte / Nem ela de mim suponho..."; 0sonho; a saudade e a ansiedade pelo regresso; a ternura pelos filhos e pela beleza; ...araiva, a revolla at o dio de morte frente s injustias acumuladas; e at a ingenuidade atrevida,aliradia, do velho poeta perante a graa simptica da enfermeira jovem; enfim... urn vasto

    mar de sentimentos como as searas do Alentejo.

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    TOPONMICOS - Os poemas que falam das tenas, ruas e lugares, so evidentementerelratos do Alentejo, de Portugal, de Festas...

    Vale a pena assinalar talvez algumas imagens /signos do Alentejo: "O pastor, Orebanho eo co" ... " meu povo campons / Levas a vida cansada / Agarrado a um arado / Ou aocabo de uma enxada"... "Fui nova cortante enxada"... "O frio... OCalor"... a j citada "Carnecriada a po e gua / Cheirando a alhos coentros e poejos / Da aorda toda a vidarepisada..." ..."O teu cante compassado"... "As tuas casas caiadas / Parecem pombaspousadas / beirinha da estrada /..." ... "O castelo de sonho / Em sonhos lembrado... eainda as festas como o "O Mastro de S. Joo, onde aparecem barrtes, mentrastosperfumados, cana verde e faia, ginjas, seromenhos e popias caiadas..."

    Desejaria saber pintar, para tentar apanhar a alma deste povo. Como no sei, tento, maneira dos poetas populares, em duas quadras com leixa-pren (a deixa), dizer o resto queno consegui:

    A poesia popularSe canta a alma durn Povo;Quem 'na souber encarnarVai criando um Mundo Novo.

    Vai criando um Mundo NovoPar'integrar no UniversoA Regio, este PovoQue vive p'r'Aquem do Tejo.

    Penedo Gordo

    BEJA1987Maio/Junho

    Jos Rabaa Gaspar

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    ALBERNOA

    LUS CORREIA

    PERPTUA DAS DORES MATEUS

    ISABEL GUERREIRO

    BARTOLOMEU ARSNIO

    ANA RITA DA GRAA

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    Nome - Lus Correia

    Morada - Albernoa

    Idade - 76 anos em 1987 (nasceu em 1911)

    Habilitaes - Aprendeu a ler e a escrever com urn colega detrabalho. L bastante bem.

    Profisso - Trabalhador Rural

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    MoteDescubro qualquer pessoaSem responsabilidadeOnde foi meu nascimento

    E a minha natumlidade.DcimasSou natural de MombejaBeja seu concelho e distritoSer feio, ser bonito?A mim no me mete invejaSe a sorte que nos protejaPode haver outra mais boaNa aldeia de AlbernoaE a minha residnciaCom a pouca inteligenciaDescubro a qualquer pcssoa.

    H mais de quarenta anosMudei de freguesiaOnde estava no podiaDescobrir certos planosQue ainda hoje no so enganosPorque h muita falsidadeEse no h mentalidadeNo se chega perfeioDigam se assim ou noSem responsabilidade.

    Eu poderei ser atrasadoEm muitas sou concerteza

    Mas no conto por flnezaHaver quem tenha avanadoPorque eu sempre fui roubadoPelo fascismo avarentoDesde oseu procedimentoAt data presenteManifesto a toda a genteOnde foi meu nascimento.

    Amigos e camaradasOperrios, camponesesNunca esqueam as vezesDos seres e madrugadasCom alfaias preparadass ordens da autoridadeMesmo sem haver vontadeAntes de romper auroraTambm no fica de foraA minha naturalidade.

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    MoteNa minha fraca memriaJ eu tenho um gravadorOnde eu gravo as propagandasSejam feitas por quem for.

    DcimasA primeira a ser gravadaFoi a do ehefe de EstadoFez urn pas libertadoCom um pouco mais que nadaA guerra foi terminadaIstoj est na histria uma nao de glriaO povo foi p'ro comandoEu estou ouvindo e gravandoNa minha fraca memria.

    Segundo as gravaturasOuve-se constantementeMas cada vez mais diferenteE aparecem mais torturasH muita falta figuraFrente no interiorH quem queira ser senhorDa luz divina do solPara gravar o controlJ eu tenho urn gravador.

    Alerta foras armadasEu alerta tambm estou

    Se eu poder tambm l vouPrestar a minha brigadaCom ordem hem terminadaVencendo vrias demandasVigilando altas brandasIgualmente outros lacaisSo pontos dos principaisOnde eu gravo as propagandas.

    Quem entrou para o comandoTaambm mostra a ser perfeito Estado, manda com jeitoQue opovo vai ajudando

    Todos nos auxiliandoTorna-se urn pas de amorMas para mim s tem valorPalavras lindas e discretasUmas leis justas e rectasSejam feitas por quem for.

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    Dcimas dedicadas ao 25 de Abril de 1974

    MoteA 25 do 4C no nosso continente

    Foi uma flor dispostaQue deu cheiro a toda a gente.

    DcimasJantes esta florNo pas era habitadaMas para no ser cultivadaNo mostrava a sua corBendita a hora ao disporCom a terra fez contactoNeste pais democratoNo brilhava tal planta

    Mas a vontade foi tantaA 25 do 4...

    Oh! flor da saudadeCom prazer e alegriaBrilha de noite e de diaAfirmando a liberdadeAldeia, vila, cidadeSorrindo alegrementeMas h quem seja diferenteCom diversas condiesH falta de opinies

    C no nosso continente.Formaram varios partidosComo esto publicandoMas vamos ns combinandoPara sermos mais unidosNingum preste a dar ouvidosAo termos uma propostaH uma seita que no gostaE s pcnsa em dar o fimMas no centro deste jardimFoi uma flor disposta.

    A flor j vai brilhandoE a rama permanecendoOs povos vo combatendoE o cheiro contaminandoMas assim de vez em quandoD-se um eco resistenteVamos todos para a frenteFazer urn pas sagradoCom uma flor do pradoQue d cheiro a toda a gente.

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    Nome - Perptua das Dores Mateus

    Morada - Albernoa

    Idade - 79 anos em 1986 (nasceu em 1907)

    Habilitao - Reformada. Foi costureira

    Naturalidade - Albernoa

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    UMA HISTRIA QUE ERA PARA ESCREVER UMA CARTA E DEU UNSVERSOS...

    Havia uma rapariguinha com 16 anosque foi servir para casa do senhor Visconde,para a torre de S. Brissos...E oque foi que ele fez? Arranjou-lhe urn menino.E no fim no sabe que fizeram?A rapariga morreu e foram enjeitar omenino, dentro de uma alcofa, na aldeia deS. Brissos.Prentaram, tramela duma porta, o menino que era filho do senhor Visconde.Mas a feitora teve pena e ficou com omenino.A rapariguinha morreu!Bom. O certo que foi assim, e ento essa mulher, coitadinha, criou o menino.Ele uma vez tratou de vir a Albernoa, sentou-se no pial de uma porta dumassenhoras que havia aqui - umas senhoras Saramagas. Eram duas raparigas jassim idosas e um irmo.E foi omenino sentou-se ali, dizem-lhe elas assim: - Olha l, menino! Tu no s daquida aldeia?- No sou, no senhora, minhas senhoras. No sou.- Ento, donde que tu s?- Eu sou de S. Brissos.- Ento vieste com a tua me?- No senhora. Ento, eu no tenho me!- No tens me? Ento e pai?- O meu pai senhor Visconde da Corte.- Ah! coitadinho! EE . No vs que tal equal ele! ...Coitadinho! ...Olha l menino,queres ficar com a gente?- Ora, fico.

    - Olha, mando-te fazer uns sapatos... mando-te fazer um fatinho... Tu ficas com agente...

    Bom. Ao fim de trs dias, a mulherr que criou o menino veio, mais outra vizinha.Vieram pergunta dele...As senhoras disseram:- Sim senhora, t aqui .. Olha l, menino, ato mas tu queres ir com a tua me?...Ou queres ficar com a gente? ...O mocinho... Coitadinho!...Diz ela:

    - Minhas senhoras, se quiserem ficar com ele, eu dou-lhe de melhor vontade, queeu tenho uns poucos de filhos...- Bom!... Sim senhora.

    E vai, e ficou. Ficou com elas. Ali foi criadinho... Criado com elas... Mas depoishouve uma rapariga que foi p'r'ali... J se sabe! ... Rapazes e raparigas!... O que que se deu?... Casaram... E depois, o homenzinho, tinha a uns quarenta anos,tinha dois cabrnculos e morreu....e a minha me morreu, tinha eu trs anos... edepois coitadinha...(Deixe l ver se eu sei o que tou dizendo. Pode falhar o prioncpio...)

    E depois eu fui morar para Ervide!. ... Via alm as terras dele... mas o viscondenunca casou... Deixou a fortuna a uma sobrinha, e essa sobrinha era a me doVisconde da Boavista e da mulher do senhor Lus Vilhena, e csses que ficaramcom a fonuna desse tal Visconde.Eu fui para Ervidel... Tive l treze anos... E apois via a fazcnda....E o gajo passava sempre minha rua... e eu cosendo costura e dizendo: Ai...

    Olha. H! Olha l tu! Orase eu soubesse escrever, escrevia-te uma carta. Masnunca escrevi. Mas fiz unsversos, assim:

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    H oito anos que pensoNa maneira de pensarPensei assim desta formaP'ra com V Ex falar

    Tou avistando as suas terrasD-me pena e prazerEu por mim no perco nadaEm me dar a conhecer

    Eu sou bisneta de um ViscondePosso-me dar por felizPerteno gentc nobreDeixem l dizer quem diz!

    Quando o meu av era filhoDo Sr. Visconde da Corte

    Mas foi infeliz ao nascerComo posso de eu ter sorte?

    Enjeilaram o meninoSendo pessoa nobrePuseram-no esmolaComo se fosse dum pobre

    E faleceu com 40 anosMinha me trs anos faziaNascem pessoas no mundoP'ra viver em agonia

    Mas quem tem padrinho (no morre moiro...)Tudo quer ser baptizadoEu fiz este requerimentoPeo que venha assinado

    Eu peo apenas trababalhoSe me quiser auxiliarO meu marido competenteDe qualquer lugar ocupar

    E um fulano Antnio RochaDa aldeia d'AlbernoaE pergunte ocomportamentoA uma qualquer pessoa

    Manuel Jorge da misericrdiaSaber lhe dar notciaOu qualquer dos seus servosQue moram na Boavista

    Trabalhou p'r Sr. SousaEm vida de almocreve um homem completoQu's patres nada deve

    E eu sou de boas famliasCom' verdade no tenho falta

    Mas quem arranja bons empregosSo esses que tm lata

    S'houver algum dos seus servosQue na minha conversa queira desfazerD-Ihe logo de respostaNem s tu queres viver

    S'eu Dver uma boa respostaTenho prazer e glriaQue todos ns q'remos viverNesta vida transitria

    Cumprimentos aos meninos senhora ViscondessaTambm o Sr. ViscondeE deseulpe V Ex

    Eu por fazer estes versosNo padeo de doenaFoi deixa do meu avQue de sua descendncia

    D a ler a quem tem luzNo d a algum tigelinoQu'eu no mereo censuraPerguntar bom caminho

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    QUADRAS SOLTAS

    Eu sou Perptua de nomeE sou perptua no falarE sou uma portuguesaDa nao de Portugal

    s vezes dou atenos mulheres na ribeiraParecem umas telefoniasTocando na quinta feiraPor certo no tm espelhoQualquer daquelas senhorasQue na vida de qualquerParecem umas emissoras

    Ali no h defeitosNem nas filhas e nem nelasMas difamam outrasdonzelasOu mesmo casadas so

    Mulheres de presunoCom elas no se comparam

    E do a falar em latimO mais longe de claroQuem falar duma qualquerReparem quem elas soSo das tais estrelas de raboQue do cu chegam ao cho

    Em havendo algum anncioP'ra gabar qualquer pessoaFiquem em duas ou trsMas que isso no se soa

    So scmpre de m lnguaFazem mais de mil conversasTodas soabelhas mestrasPara mandar no enxameQuando as coisas so mentiraAo mundo nunca difame!

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    Nome - Isabel Guerreiro

    Naturalidade - Albernoa

    Morada - Centro da 3 Idade de Albernoa

    Idade - 79 anos (em 1987)

    Habilitao - No sabe ler nem escrever

    Profisso - Reformada

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    QUADRAS SOLTAS de Isabel Guerreiro

    1Em ouro, letra chinesaTeu nome mandei gravar

    Com pena d'oiro assenteiFirmeza para te amar

    2Se eu quisesse amar bonecosMandava vir de EstremoresVergonha me dava a mimSe eu contigo tinha amores

    3Nao sei se te diga adeusSe te diga vou-me embora

    Quem se despede vai tristeQuem c fica sempre chora

    4Mandei uma carta em brancoSem nenhuma letra dentroPodia-te fazer darMil voltas ao pensamento

    5Calem-se a, meus netosDeixem cantar a av

    Que para ver se ainda cantaComo algurn dia cantou

    6Se algum dia cantei bemHoje quero, no pode ser como aquele que querFazer fora sem a ter

    7A alegria abandonou-mePcrdi todo o meu prazerEm me ver abandonadaMais valia eumorrer

    8Dizes que no pode serErva fina dar pragana muito m de encontrarAmor firme em terra estranha

    9Eu j vi nascer osolNa manh de S. JooEra vsperas de Natal

    Quinta-feira d'Ascenso

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    10Tu dizes que me no queresEu acho-te loda a razioComo que tu hs-de quererAquilo que te no do?

    11Manuela, tu passa bemJ no ouves minha falaHei-de fazer-te uma ausnciaComo o fumo quando abala

    12Ausente mas sempre firmeMeu amor no faz mudanaQuanto mais ausente vivoMais te trago na lembrana.

    13A mulher comparo euCom a folha da cevadaPor fora uma saia novaPor baixo uma esfarrapada

    14Euj no tenho alegriaSou um vaso de paixoAnda cheio de tristezaO meu pobre corao

    15Euj no tenho alegriaVivo no mundo sem gostoNasce osol, torna a nascerPara mim sempre sol posto

    16Vistam-se os campos de lutoE as estrelas ponham vuEste nosso apartamentoFaz chegar o luto ao cu

    17Eu queria-te bem deverasAmava-te seriamenteConheci como eras falsoRecolhi-me airosamente

    18Por cima se acerta otrigoPor baixo fica orestolhoQuem namora sernpre alcanaUma piscadela d'olho

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    19Ames que o lume se apagueNa cinza fica ocalorAntes que ocoraro se arranqueNo corao fica a dor

    20Se eu quisesse bem podia

    Fazer odia maiorDava um n na fita azulFazia parar osol

    21Eu lenho 40 amoresS em 4 freguesias10 em Serpa, 10 em Moura10 em Quintos, 10 em Pias

    22No h ribeira sem gua

    Nem rvore sem a verdosaNem donzela sem amorNem velha sem ser manhosa

    23Hei-de amar ovale verdeEnquanto verde estiverAinda no fiz escrituraHei-de umar quem eu quiser

    24Se eu soubesse cantar bemAndava sempre cantando melhor que nem andarNa vida doutrem falando

    25Eu um dia guardei porcosOh! que dia to tiranoAndava l um porco coxoEras tu se no me engano.

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    Nome - Bartolomeu Arsnio

    Naturalidade - Serpa

    Morada - Lar da 3 idade Albernoa

    Idade - 86 anos em 1987 (nasceu em 1901)

    Habilitao - No sabe ler nem escrever

    Profisso - Trabalhador rural reformado

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    Versos que eu fiz quando abalei e fui emigrante...(Glosa do fado "SER FADISTA FOI MEU SONHO de Frei Hermano da Cmara)

    1Emigrar era meu sonho

    Inda eu era crianaConhecer muitos pasesPassar una dias felizesE o maior sonho era Frana

    2Umn dia chegou a horaDespedi-me e fui partirDeixei tudo o que gostavaS odestino guiavaO que havia de seguir

    3Quando cheguei a fronteira

    Clandestina ia passarDeus traou o rneu destinoCom muito amor e carinhoE livremente fui ficar

    4Quando cheguei a ParisEra tudo diferenteEu no sabia falarNada pude perguntarNo entendia talgente

    5

    E a saudade que sentiDescreve-la eu no seiTanta fortuna que viE o mundo que conheciNada vale oque deixei6E a vida do emigranle s cheia de ilusoAhandonar seu pasOnde tem vida felizE voltar com decepo

    7

    Oh meu belo PortugalNo h no mundo como tuOnde o sol mais beloSeja de Vero ou de InvemoTens um calor em comum

    8Oh meu belo Portugal! cantinho da saudadeQue oemigrante velhinhoJ cansado e pobrezinhoChora a sua mocidade.

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    Quadras Soltas

    1Se as sentidos procuraresEu c te vou explicarPrimeiro sentido verEu sem ver no passo amar

    2Ao passar o barranquinhoParti a corda violaEra outro que no viaCoitado de quem namora

    3Hei-de amar ovale verdeEnquanto tiver verduraHei-de amar quem eu quiserQu'inda no fiz escritura

    4Adeus cidade de voraAdeus d'vora cidadeAdeus quartel dos cincoOnde passi'a mocidade

    5Adeus cidade de BejaEram velas de navioAs lgrimas eram tantasSem chover encheu orio

    6Eu semii arnor no rioPara mais verde nascerA amizade que t'eu tenhoJ tu no podes perder

    7Mas se o beijo no se regaDeita-lhe gua na raizNao te gabes que me deixasQue fui eu que te no quis

    8Eu gosto muito de ouvirCantar a quem aprendeuSe houvesse quem me ensinasseQuem aprendia era eu

    9Quem canta seu mal espanlaIsso ano verdadeMinh'alma com a tua cantaE eu choro de saudade

    10Se fores urn dia a Serpa

    Vai passar s passadeirasVamos ao ramal da GraaNamorar as costureiras

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    11Tenho 22 amoresContigo so 23Uns falsos outros fingidosS tu lindo amor, no s

    12Adeus que me vou emboraP'ra terra das andorinhasMete carta no correioSe queres ter novas minhas

    13A estrela do norte guiaDos marinheiros do marCompara-te a ti com elaQue me fazes variar

    14 Serpa melhor das vilasTambm d'algumas cidadesQuem me dera j l irPara matar as saudades

    1SAdeus que me vou emboraPara a semana que vernQuem me no conhece choraQue far quem me quer hem

    16Sexta-feira d'AscensoQuinta-feira de comadresFoi a vez que eu ouviMais mentiras que verdades

    17Se em ser recto ofendoNo te quero ofender maisSe obem-querer divididoNossos cimes so iguais

    18Debaixo do cho mil metrosOnde osol no tem entradaAbre-se uma sepulturaEu morro d'apaixonada

    19Meu corao de terraHei-de manda-la cavarPara semear desejosQu'eu tenho de conversar

    20Tinha eu 16 anosQuando ami uma infelizUni(mos) coraes humanosVeio a morte, apartar quis

    21 tempo, j tive tempoBem tempo de ser felizAgora quero e no possoQuando podia, no quis.

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    Nome - Ana Rita da Graa

    Naturalidade - Albernoa

    Morada - Albernoa

    Idade - 59 anos em 1987 (nasceu em 21/11/1928)

    Habilitaes 4 Classe

    Profisso - Costureira

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    MoteComprar boneca que choraPara a menina brincar opo que deita foraQue a outras podia dar

    DcimasSercriana e brincar o comeo da vidaMas quando vem a sonharJ no encontra sadaA sua sentena est lidaE oseu sonho de outroraE a luta comea agoraPois a fome a vai renderE nunca poder fazerComprar boneca que chora

    Tanto brinquedo caroTanto bocado de poTanta gente de carroPisando a fome no choO mundo que um vulcoE a chama no vai pararE ofogo sempre a girarMas orico no tem medoE h sempre tanto brinquedoPara a menina brincar

    O mundo s vai mudarCom oadulto em crianaE aroda sem pre a girarA todos dando uma espcranaNo ser lida a sentenaE tu ters a tua horaQuem forte tambm choraE to mal que o mundo andouGastando oque no ganhou o po que deita fora

    Morrem milhares de crianasPorque no as deixam viverNeste mundo cheio de crenasE a forne sempre a vencerBastava o homem quererPara este mundo mudarTanta rvore a plantarDiz opoeta na sua obraTanto que a ti te sobraQue a outras podia dar.

    Poema dedicado aos "meninos pobres" ...

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    Mote pobre e no sabe lerNo conheceu a EscolaNo precisa de saberDizia quem dava esmola

    DcimasE opobre nada diziaPensava na triste sorteE consigo consumiaLutarei at mortePegava no seu archotePara alguma coisa verMas como compreenderQue uma vida sem luzE ele que tudo produz pobre e no sabe ler

    Aos sete anos trabalhavaO inocente pobrezinhoCom sua idade brincavaO filho do patrozinhoE o pobre pelo caminhoAo ombro sua sacolaPara meter uma esmolaQue algum lhe quisesse darFaz a vida a mendigarE no conheceu a Escola

    Desde criana que sofreA tortura do patroNo defeito ser pobreDiz aquele que no tem poO mundo desde entoVem mudando sem quererE ohomem com seu poderConsegue sempre mandarO pobre no vai estudarNo precisa de saber

    Mas um dia ao despertarDo seu sono to profundoO homem ps-se a chorarContente do novo mundoJ no sou omoribundoQue andava com a sacolaJ posso ir EscolaGosto tanto de aprenderNo tem falta de saberDizia quem dava esmola