poesia o ofício de escrever
TRANSCRIPT
O ofcio de escrever
Para Tenrio Telles
Lendo que fico sabendo:
o que escrevi j caiu
na vida. No me pertence.
Leio e me assombro: as palavras
que arrumei com pacincia,
severo de inteligncia,
cuidando bem da cadncia,
perseverante, escolhendo,
no escondo, as mais sonoras
e as que gostam mais de mim,
dando a cada uma o lugar
merecido no meu verso
(que desta cincia os segredos
me deu o tempo de ofcio,
um exerccio de amor),
pois as palavras comeam
a dizer coisas que nunca
ousei pensar nem sonhar,
pssaros desconhecidos
pousando no meu pomar.
quando descubro: a rosa
rosa em carne de palavra,
no a rosa da roseira
que chamei para o meu poema,
rosa linda, venha c,
venha enfeitar o meu canto,
se transmuda, mal a leio,
num sonho que vai se abrir,
no espinho que vai ferir.
S nesse instante descubro
que a rosa, para ser rosa,
no esplendor da identidade
com qualquer rosa do mundo
precisa ser inventada
pelo milagre do verbo.