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Poemas roubados da livraria Shauara David

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Poemas roubados da

livraria

Shauara David

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“ O café é tão grave, tão exclusivista, tão definitivo que não admite

acompanhamento sólido. Mas eu driblo, saboreando, junto com ele, o cheiro

das torradas na manteiga que alguém pediu na mesa próxima.”

Mário Quintana

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Aos anônimos corriqueiros da livraria, aos amantes das letras, aos assíduos

escritores, aos que nem sabe que são poetas, e essencialmente aos loucos.

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ÍNDICE Quando conheci a poesia Fragmento Maturando Compatibilidades Geminiano O amadurecimento do tédio Acaso o piano Propagandista Café com poesia Realismo fantástico Poetizar Imprevisível Suposições Música silenciosa Não hesite meu bem Destilados A puta amada Raridade Roubos Engano Dessituada Interesse Mais do mesmo Desafinados

Grande questão Arrítmicos Retórica Imunidade Tédio Orientação Vitrais Singulares O diluir dos anos Fatalidade Onde te suponho Do que fui serei Balancear Manchas Desvio Solidão acompanhada Ditos profundos Ela( a personificação da poesia) A volta do que não foi Poema contemporâneo Metalingüística (de nós) Su-realidade Multipersonalidades Bonança

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Quando conheci a poesia

Não entendia nada de pedras nuvens, cores, não diferenciava nomes, não admitia as mazelas do mundo; depois, porém, que tomei mão à dama os sentimentos fecundaram, deram flor, mas permaneci um vagabundo: Observando as pedras, nuvens, cores querendo ser, das belezas, o inventor, dos caminhos, o rumo.

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Fragmentos

Estou espalhada nos livros, bibliotecas e casas. Cada leitura tem-se um pouco de átomo a anti matéria vinda da criação; letras vagarosas, de força ou ranzinzas, escolhidas especialmente com toda a delicadeza que exige a poesia. Estou fragmentada entre vocês resignada às interpretações roubando um pouco de suas vidas. Por que quem ler, morre um pouco; bravo instante de febre deve renascer e devolver-me o reconhecimento vazio que me sustenta.

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Maturando

Demorei a chuva caindo para me convencer que derreti lentamente o sentimento hostil de envernizar os móveis, como se trouxesse a sepultura em flores duma árvore rebentada e triste. Foi triste enquanto durou a chuva meu coração parecia pedra de amolar faca as mãos tremiam sem se incomodar com a possível e iminente queda; e a vida ia tornando miúda, insistente no escuro dos tediosos dias, o tempo assumindo faminto o nada e nada mais.

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Compatibilidades

Gatos, galos, sapos e primos; todos compõe uma certa noção de equilíbrio e espaço. Gatos cuidam das ruas, galos cuidam dos pratos sapos assustam mulheres normais, (além do desprezo na semana 22) e os primos; esses convergem nas datas marcadas de poucos eventos e alguma compaixão. Quando não, dormem silenciosamente sobre os grãos castigados da renúncia beirando à ancestralidade como deve forçosamente ser; intentar a moral. Todo esse refluxo natural avisa: As lagoas mais lindas também morrem afogadas na própria beleza.

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Geminiano

Dois rostos me fitam; um congestionado sorriso pretensioso, outro inquieto, tropeçando indiferente e impetuoso, embora vague circunspecto. Olho tu, olhas a mim. Agora somos ímpares: Eu, tu e teu outro eu. Três cruéis dissolvendo integralmente tuas duas faces frente a frente refletindo o mesmo espelho.

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O amadurecimento do tédio

No passado se quebraram taças matrimoniais em desesperos aos arrependidos geravam novos perdidos desde então, sucessivamente. Mas isso era no passado. Panelas voavam de agressões descontroladas, fazendo o medo (palavra por si só pronunciada produz o aumento da sensação) substituir as juras destroçadas, tal qual os cacos. Porém já foi. O infantil cresceu envergonhado procurando ao máximo, não incomodar. O adulto se consolidou firme e no entanto, fraquejava pelas paralelas para manter o caminho do meio sem más precedentes emocionais. Desde então tudo estagnou de repente trabalho, saídas forçadas, conversas ligeiramente cansadas. Tédio absoluto. O medo do passado, apenas mais amadurecido, claro, com o mesmo cheiro frio de vento (mais amargo mais gélido). Uma tristeza infinita mergulhada no trago de uísque aquela brandura inerte no tempo. Ingênua, nem imaginava; tudo cabia no futuro.

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Acaso o piano

Ele dançava as mãos suaves pelo piano empurrava crédulo e inteiro os dedos como se não houvesse plateia. Era vazio de pensamento, experimentava a si. Atingiu os meus sentidos destoados, perdi o chão. Tão leve passei a sobrevoar feito pássaro proibido; pessoas jantando pareciam imóveis, feitos de cera, mas moviam-se sincronicamente com a melodia. Comungávamos da mesma sagacidade: Eu, minhas asas e a música. Apenas ele dançava, nem alegre nem triste, indecifrável e conformado. Logo pensei atravessar a nado os ritmos da música: O músico me embevecia, enquanto contemplava o acaso.

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Propagandista

Ah aurora! Esses mortos incandescentes envolvidos na lástima da inconsolação... Santa aurora; refaz os descrentes desta arte que soa entre aspas poemas mal feitos treinadamente fiéis a si mesmos. Glórias infames, sem tato, sem alma o que cala saber das palavras: Poeiras grossas compostas invisivelmente de imagens recortadas, indecisas.

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Café com poesia

Dois casais na minha frente. Cada par numa mesa paralela, apenas dois, ou seriam quatro? Individualmente fazem os pedidos: Ele vai de espumone, ela milk shake Do outro lado, cerveja para ele, chocolate quente ela. Sussurram tão baixo que revelam seus segredos, bem os conheço, não me cabem surtos; um casal foi embora, o outro me observa. Finjo não perceber que os criei, porque os observo? Enquanto espero ninguém em silêncio, o teu olhar dual me fita, (noutro lado da cidade) em vultos.

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Realismo Fantástico

Um brinde aos sonhos os quais dispensam realidade; já que a verdade é um realismo fantástico! Como Gabriel García, os nossos cem anos de solidão...

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Poetizar

Um Manoel de Barros me honra o deleite; ao lado de minha perna esquerda descansa, atento, meu cão. De quando em vez passam carros para desmistificar minha solidão. Aqui tudo é avesso de vento, motores e buzinas distantes; casas madrugam à entrega inquieta a cada novos abrigados. A rua me reconhece sem remorso, mas com a possível nostalgia do que ali não habitamos, mas sabemos; sentimos imemorialmente o contrário. A poesia me é palpável no espelhamento da leitura. Humanamente limitada, corrompem-me as conversas submersas de mundos alheios. Sinto assim porque pego as minhas chaves e a saudade transcende o material. Enquanto nos olhos caninos concentram-se almas audíveis do bairro mal estrelado, bem recuado, triste. Porque poetizar é expor silêncios; ver ruir os tijolos empilhados da evolução.

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Imprevisível

Conversas clichês me animam incomodamente, papos ‘cabeça’ me entediam o refinamento. Como se o chato mesmo fosse encarar convicção nos olhos febris infelizmente enganados pela verdade absoluta. Tudo derretido e transformado no brilho que deslumbra a retina; emocionadíssima pelas veredas de o ser, menos que pela doçura da dor colecionada.

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Suposições

Se porventura nesses dias eu morresse, de repente, no sofá da casa ao lado, caísse meio corpo de bruços pernas cruzadas e alvoroço, iria sem nunca ter assistido a um filme chileno. Triunfando entre os dentes e mandíbulas das línguas desconhecidas, rememorada nas horas remotas do dia em que me lanço não temer o tempo, pois meu nome continuaria mais forte que eu! Enquanto há horas me resta vinho; lilás e encorpado, o corpo estendido na sala, denota os livros onde soberbamente devorei por puro egoísmo e inconstância... Faz sentido exigir da solidão um brinde à noite revestida de brisa; O amanhecer torna mais noturno.

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Música silenciosa

Lembro-me quando as palavras eram jogadas na mesa, espalhavam-se como um incêndio pelos ares das praias vizinhas, barulhos de confusões soavam tiros às renúncias da prisão. Todos estávamos escondidos em tempo, não escaparíamos do futuro. O instante cavalga cegamente em círculos de forma que o passado, mastigado entre os vidros da casa da vovó, dando sinal de partida mais uma vez, transformava em tornado quem por perto passasse e tão logo a poeira esquivava em miúdos não escapávamos ao medo e à culpa; tais tormentos bons o foram em amadurecer frutos, leitos e gentes. Tanto que o amor tornou-me necessário o silêncio, desde então expulso máscaras para desvestir ilusões. Concluo árvores genealógicas enquanto a música torna líquida a energia emanada. Sou feita de música respeitosa de noite, além de fantasias. São verdadeiras as paixões, as palavras sobre a mesa. E pensar como é boba essa vida prevista, tantos pássaros, e eu aqui versejando.

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Não hesite meu bem

Não devias evitar convite, café, companhia; já que teu rosto me confunde a poesia.

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Destilados

São pessoas comuns que me atormentam os ouvidos, o temível trovão expõe a alegria dos últimos dias... Tão reconfortante! Imponente, a chuva domina cores; os mortos ressuscitam preguiçosamente e as famílias se fecham em ordens individuais. Sessam os gritos de minha mãe ao entardecer da madrugada. Ninguém mais se espanta frente às invenções tecnologias estão ultrapassadas, o raro verde traduz os dias, branco-negros destinos (será negra a ausência de destino?) condensados em tímpanos de problemas. Ah, mãe, quantos problemas carregas nas varizes! Evapora a beleza de teus olhos claros vaporiza tuas graças ao estado invisível, portanto, convicta, lhe digo: Longe das artes só podes seguir a multidão! Não percebes um ciclo imaturo de dependência? Em intransponíveis abraços, não ouço o desamor de teu passado de mimos. Não se concerta a batedeira com um parafuso: Não há concerto ao mundo, ousa minha língua ferina que não machuca ninguém. É perigoso destilar os sentimentos maternos ao calor incurável que contraí; ingratidão, tirania, carência e quem sabe até, um tanto distraída, essa vida se esquece de ti.

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A puta amada

(poema escrito por um poeta que nem sabe que é poeta, e nem sabe que existo!) A filosofia tentaria explicar, mas só a poesia seria capaz de sintetizar. Ela é burra, imbecil, ignorante; uma verdadeira puta. Sou extremamente angustiado, porque muito penso (nisso) não tem cura a filosofia a poesia, a melancolia, não tem cura o amor. Ela é inferiormente trágica, sou politizado; chamar-me de doido seria original pois estou certo de que minha loucura faz bem ao país. Olham-me atravessado porque sou, de fato, meio torto, como uma puta, mas meu preço foge ao convencional. Desqualifico-me por assim gostar dela; a puta é triste, feia, esquisita e eu envergado de amor por ela.

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Raridade

Eu era feita de diamante desses raros, que brilham em poças de lama mas sem exigir, tão diretamente, proteção. Era desses pouco esculpidos caracterizadamente fora do padrão. Dias desses orgulhava-me o fato; ser precioso e impreciso caso perdido, meu Deus, na vida! Não tardou salvar-me os devaneios Deus não se impacienta com minha indecisão tomei uma definitiva (em sua brevidade) acreditando ser capaz de comandar meus passos, mais independentes que eu: O sol podia nascer no amanhã eterno mas eu, pedra rosa, permaneceria me transformando em noite desobedecendo, reavaliando valores querendo pulsar distante, ser estrelas iluminar em retaguarda, independendo o tempo. Ah! Se bem me lembro... Já fui diamante, coisa rara!

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Roubos

Fui à livraria; peças verticais e coloridas na infinidade de prateleiras junto à indecisão, fez-me optar em ler pessoas. Escolhi não tão aleatoriamente alguns livros, (no risco de não haver loucura nos outros, devoraria as páginas...) então escudos a render serviços da psicopatia à criminologia, ou, quem sabe, esconder-me atrás das capas ilustradas enquanto desenho politicamente uma solidão; espelhada linguagem de gente.

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Engano

De onde foi que mandaste o recado, em sonho? Não vês o quanto é egoísta voltar à vida como se não fosse frágil o despertar enganado? Tu me mentia, ou eu te criava? Acordo acreditando no que me dizias, ponho os pés na água fria sem saber quem de nós desenluarou o dia.

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Dessituada

Porque me vulgarizo ao preencher-me em poesia, as horas mortas que compõem o dia. Porque me satisfaço ao sentenciar-me gay, esposa da lua capaz de entregar amor ao vão abandonado e não em vão me perco em dose cafeinada poses combinadamente descompassadas, se assim me dessituo liquidamente... Porque me esclareço turva, timidamente aconchegada nessas águas mornas de sabedoria, porque me envolvo tanto que descanso rosa em pedra para poupar a tirania de si mesma.

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Interesse

Não vivo mais perdida. Nesse mundo cheio de vidas encontrei, confortavelmente, a medida do deslumbre; (a rotina revestida de novas experiências) parisienses transeuntes aéreos, horizontais acima de tudo, transcender à chuva. Não vivo mais aqui, o pequeno cômodo de letras permite as mil e uma companhias -imagine só caro leitor- em cem lampejos de solidão. Noticias surreais - as quais realmente interessam- velejam embargadas nessa lucidez maltrapilha, sem chão.

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Mais do mesmo

Acolhe-me os ventos da noite, hoje ninguém mais me procura, ao contrário, sinto que necessitam distanciamento de minha face, sempre a mesma sorriso imóvel, duro, lembra abismo; É proposital. Sei o quanto me vale a solidão; estando de tocaia, flor decorativa de vitrine fácil, disponível, vulnerável aos desejos fúteis escorrendo valores doce-amargos... Ainda bem que a chuva lavou tais sentidos veio agorinha aconchegar-me dá as caras, esfriar o mormaço. Pasmei ao ver o mundo se renovando acostumada a me distrair da vida não percebi as roupas secando, não é fácil ser a mesma todo dia! As ideias soam incessantemente aos almejos, digerindo categoricamente as mesmas frutas. Doer é culpa da mesmice; o abandono dos outros foi escolha minha, se não fosse dor, não seria aprendizado.

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Desafinados

Quase sempre desafinados de garganta, o poeta sofre por não saber cantar mas em outro estilo traz ritmo, melodia no afã de assobiar livremente os versos... Por isso são tristes e enlanguescidos os livros; empoeirados, esquecidos e eternos!

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Grande questão

Envolvida com as letras, questiono, que são, senão mágoas recém curadas? Rastro silencioso arrancado de uma pessoa movida na multidão? Emagrecida, pálida, comovida. É perigoso escrever... Linha tênue entre enclausurar-se à vida normal e estagnar-se num inseto kafkaniano. Apenas uma ideia de contrariedade, ou uma grande questão: Pra que solução, se o mundo tem as próprias pernas?

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Arrítmicos

Tomei o cuidado de ler-te madrugada adentro; miseravelmente embebedar-me de cautela, banhar-me nessas calmas águas de maio equivalente ao tumultuado vão; uma lembrança qualquer ou lágrima presa, sem querer desmamar. Não me importa se me ignoras, nem imaginas! Quando te busco, sôfrega de paixão, é por puro egoísmo: Devolver-te as mentiras que fingimos crer dançar ironicamente desmedida até cair feliz, adoecida de saciedade esvaziando o pensamento de ti e outras tolices do dia.

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Retórica

Como a idade dá sentido de firmeza a uns poucos e enclausuram outros, em endurecidas frustrações... Respiro desassossegada de humanidade é realmente inútil a nostalgia; some quando a lembrança vira dia. (inclusive a dúvida também se acostuma à rotina.) Sabe como é. Ou não? Pois bem, se não insistiram, insisto eu, que significa tempo nesse vão incoerente? O que ser a tal vida, nessa discussão em que cada um combate com si mesmo? Sem preocupar-se o entendimento do outro (evitaria o guerrear por guerrear) quando todos, na verdade, espelham o mesmo objetivo, mas é insuportável a parceria de ideias. Nação solitária por escolha, mais sábio falar aos passarinhos ouvi-los cantar cedinho e sentir a verdade: Acessível e cadenciada na espontaneidade de cada um.

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Imunidade

Não se sinta atraído pela minha entediante mania de jogar nos livros a capacidade de amadurecer sentada, inerte na ideia, apenas para organizar meus retalhos. É uma bagunça me repartir solenemente boca a boca, faz sentido que seja fidedigno quanto mais fragmentado o espaço. O quarto em desordem, meu bem, deixa-me inteirada dos pedaços aquieta meu espírito desarmado e a tua imagem, parte decorativa desse cômodo verde. Aqui sou capaz de jogar objetos na lua obrigar às estrelas uma ríspida seleção colecionar vestígios do nada; dulcíssima mania de criar mundos. Desconhecendo a ética dos vícios torno minha salvação imune.

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Tédio

Existe uma inquietude severamente controlada. Vira e volta, para e mexe, como se um galinheiro cheio procurasse descansar as penas da prisão que são condicionados e os condena.

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Orientação

Me cansei de você, você e você! A demanda é grande, na escadaria antiquada cabeças modernas vão rolando ao contentamento soberbo das datas e horas marcadas, das consultas e compras desnecessárias. Com o mínimo vivo em abundância e a vida segue livremente. Me cansei de todos vocês, se exilem, ilusões à parte, a juventude é uma arma que lança faísca. Mas no fundo ninguém sabe.

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Vitrais

Não entenda tão plasticamente olhos de vidro; Torna-se também genérico desviar o comum, facas amoladas alojadas na minha língua, regam flores. A noite espreita impaciente mas só agora, nessa fase de desordem, enfrento as noites mal dormidas. Não se arme de perigo nem fortaleça os muros pois teus escudos, são todos de vidro.

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Singulares

Os suicídios dos poetas devem ser perdoados; porque não lhes cabe a normalidade apenas como um grande absurdo, não lhes cabe a beleza a um só deslumbre; não lhes cabe o mundo. É pouco, gentalha, sofrer por muito quase nada quando convém. Na pele pulsa um tempo diferente só ao próprio cabe definir o presente, a sanidade lhes escapa. Tudo dói. Os gases, a sala, o ócio machucam tanto quanto não colher as horas crescem os lírios, limpam os céus e novamente europeu, nostálgico as nuvens voltam a contemplar os mortos; que nos regem, exaustos, entregues em favor da aurora.

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O diluir dos anos

É sono ou o quarto tornou-se bolas azuis frenéticas , espelhadas, dançando farpas e beijos? Pensei que era festa quando tive meu primeiro cartão de crédito mas as luzes apagam antes do amanhecer. Ainda me chamam moça aqui dentro, invertebrada, fios e cacos cortantes. Inútil enganar meus companheiros invisíveis; somos sós. Quando custo a crer nos mil anos em que nasci! Quando estiver deitada na cama de madeira por favor, não me cubram os pés, formalizar despedidas é agonizante. Na irretocável lembrança torno-me como as crianças; atemporais, inteiras, entregues doídas. Com os pés desnudos, imundos de brancura.

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Fatalidade

Mais irrecuperável que um sorriso? A verdade instantânea da paixão. Porque vos digo, só se vale recuperar o bom porque o choro salva e o riso ilude o problema é que existe uma ponte entre o sim e o não; no mínimo, trágico.

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Onde te suponho

Nada aqui existe. Mas porque mesmo dedico a madrugada em espantar particularidades alheias? Abusos a parte, só me perco quando me canso é aí que a paixão se apresenta no poder de seduzir momentos: Uma desculpa para manter a vaidade na transparência de meu egoísmo. Tudo flutua, é o desejo da poeta: O que se vê é preguiçoso para imaginar, se não posso te ter, posso supor onde não estás.

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Do que fui serei

Minha velhice tem mania de juventude, e como todas as manias tem efeito inútil fui me olvidando de memórias: Segredos que as pedras da rua contavam (as pedras tinham pensamentos) bem me importava com o que sentiam porque tudo tinha vida, e fazia todo o sentido; Falta do que fazer ou vontade de esvair, raspei as sobrancelhas: então soube a importância delas. Por vezes quis partir numa parceria silenciosa com Deus pela sublime sensação de estar em seu colo, (bem como havia sonhado). Mas Ele nunca me levou ainda... Então desafiava o mal, com a faca na barriga, uma dramaticidade enraizada na inocência! Minha idade nunca foi de fato, a mesma. A juventude tem cadência de velhice, catedráticos vinte e cinco anos em busca de aventura e sossego. Ainda me desassossegam as paixões, só me sinto presa quando a loucura esquece de permitir sua presença, me escondo em livros para embalsamar a nostalgia do que fui (é saber como serei) A solidão é uma escolha de mil companhias.

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Balancear

Em torno de mim as mesmas pessoas. Através da fechadura da rua é possível tomar um suco de maracujá sem importar ser visto. Aqui, não há muito que distinguir: Todos dilatados na moda comum ávidos por coisa alguma no dia de amanhã. Logo pareço dona da própria cor um bolo de limão e um misto-quente com guardanapo verde confirmam minha descrição; mando versos para alguéns e me sinto tão bem vestindo tais mentiras! É que ando apaixonada em não sentir nada por ninguém. Que posso, então, contra o mundo? A paz sustenta meu coração e isso é tudo.

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Manchas

Embora frio, o vapor do café quente embaça a lente de meus óculos invisíveis. Havíamos te esperado, onde estás além das retinas de meus olhos imensos? A cidade pequena, menor que a livraria da esquina não abriga qualquer expectativa, mas minha alma secular não se precipita, retalha a dor no vício de organizar rastros, tudo para não comprometer teus egos; esse parto é só meu. É preciso ser previsível para não tentar nada sobra de culpa, menos de admiração o ano passa, e tu é passado manchado na sombra da inspiração.

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Desvio

Toda fala restringe a ideia (por isso escrevo) e me amplio.

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Solidão acompanhada

Que solidão é essa, a dos poetas? Discorrem sobre vários temas importando-lhes compartilhar a falta de sentidos, colocar o silêncio numa taça de vinho, e brindar aos novos labirintos o amplo limitado das palavras; Convidar discretamente o leitor para uma dança tímida, meio encabulada em cortejos brancos nas praças; transeuntes febris caminhando em círculos, reunindo os seus na feijoada de domingo. Mas que solidão festiva, a dos poetas! escondidos na multidão interna tingem de cores diversas a vida -obstinada à tanta indiferença- ecoando um super saudosismo ou quem sabe, meus caros, apostando a ‘cara’ de imediato na indignação perpetuada das Amélias! Talvez o louco tropece em meus calos e ouse resignar-se às feridas se for, cuide dos meus pobres poemas! Descobrindo-os inúteis, antes do porvir guarde-os numa gaveta, solitários com Calisto, Rimbaud e Pitágoras, deixe-os gratinar às boas músicas para não amarelecerem em lágrimas... Deixe-os descansar sóbrios a exemplo dos ébrios (religiosamente carentes); surdos aos gritos dos homens em máxima solidão.

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Ditos profundos

Tomara que essa palavra saia, destemida. Como um movimento felino, firme, não precisa ser triste, nem desconsolada mas que brote da alma uma graça que tive. Pudera eu explicar esse dom? em cada porto, cada parte da Terra a letra revela-se e se desfaz bela. Traz meu Deus, essa palavra, de forma livre e absurda e a torna uma letra de música, daquelas que não se abandona nunca. Arranca das prateleiras empoeiradas os antigos discos, as rimas mortas as boas novas dos velhos costumes absorve seu lume e em sumo; esquece os ditos mais profundos.

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Ela

(ou personificação da poesia) A boca babando regava a rotina dos próximos dias. Só agora pude entregar o cansaço ao deleite horizontal do desligamento; restos de ontem saboreiam a sensação de nunca mais. Aqui, nesse instante de vida prendi os joelhos para amenizar a dor, ao meu lado, o caderno aberto capta a realidade que me encara nos sonhos enquanto me entrego às suas inomináveis estranhas histórias reais; Porque não repousam os tais movimentos? Do outro lado foi possível voar na suprema aparição! Eis que ela surge! A poesia com silhueta de nuvens me condena ao paraíso incorporado das letras, enfim pude exercitar sobre a inutilidade emaranhada dos registros para tropeçar, angustiosamente, em sua nudez branca, musa sem rosto! Elegantemente silenciosa não profere alguma voz senão através da música, como um cordão vibrando transparente para reger os ventos na maestria delicada da sensibilidade ( mais adotada que imposta). Só agora pude dividir meu eixo olhar, conversar com Ela, sem porém vê-la ou fitá-la de fato, mais uma empatia absoluta da filha diante a deusa desavisada dos sentidos.

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A volta do que não foi

Voltava daqueles lados pouco acostumada; homens narigudos tinham olhar mais penetrante mulheres de veludo, menos interessadas em observar o horizonte. Podia-se dizer que tudo ia bem; adolescentes não gostavam de falar do mar, casais começavam decadentes. Aos apaixonados, nada importavam-se à lua, as meninas mais lindas e delicadas usavam shorts curtos, sapatilhas baixas e jamais esqueciam de tomar água, fizesse sol, cólica ou tédio. Os velhos, ao contrário do restante, eram comoventes, atrevidos fumando para o alto um bloco desfigurado de adeuses (estes sim, liam!) Adultos mais amadurecidos logo aprendiam que livraria não é padaria, mas podia ser.

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Poema Contemporâneo

É poema pequeno! faz parte da idade, nova era. Antes eram folhas e tintas; hoje basta na mesa uma pinga. Já era... Fez-se um poema.

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Metalinguística (de nós)

O poema não espera respostas, não faz pressão não sente saudade, não deseja afetar. O poema entende tua superficialidade. O poema não é seu, apenas se apropria de sensações inventadas para existir independendo nós. O poema conhece tua distância teu silêncio, e protege o meu, embora grite. É conformado como as plantas, acontece desacontecendo. O poema é espontâneo, é verdadeiro é fantasioso; é uma contradição. Limita-se no infinito, supera a falta restante compartilha sentidos, ou não.

Algo em mim permanece resignado esse pedaço sempre te encara, invisivelmente, noutros instantes lembramo-nos do outro então a lua se retira para dormir levando consigo a ilusão do emblema: O mundo é grande e não cabe na missa da tarde, nem no poema;

Inconcluso, como quem vira as costas e vai porque nada mesmo se conclui, nem a vida, nem a morte (avalie o poema!) Destino e acaso de mãos dadas com as próprias asas, desconhece a busca e a reza. Livre de culpas percebi a vida dispersa, fazendo mais sentido na junção dos pedaços: Faça o que queres deles, talvez nem creia, fico feliz que assim seja! O poema torna a nós singulares sentimentos plural às tantas interpretações condenados à clausura do momento, de cada um de nós, de quem lê o poema.

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Sur-realidade

Vivo para te reconstruir em sonho foste embora, sei o quanto não queres me abandonar. Sei o quanto me custa tua ausência; por isso te recrio, não nos largamos. Falta-nos descobrir antídotos desenvenenar laços e vícios para que não venha tão sombriamente feliz o inviolável destino das marés, pois no vai e vem sorteamos a saudade do dia; são teus olhos que me procuram no lacrimejar da poesia.

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Multipersonalidades

Pessoas conversam no livraria. Sequer em pensamento as entendo... São vultos despretensiosos de outros momentos. Tempos modernos estes!

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Bonança

É preciso consolidar algumas coisas: nada se consolida porque tudo se transforma é preciso não precisar (a proteção também gera a violência!) algumas não são todas todas não são, necessariamente todas “coisas” imprecisas. Nada é tudo e tudo é porque é falha a comunicação; é como nadar, nadar, e morrer na praia. Então relaxa que a vida flui.