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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES CAMPUS DE ERECHIM
DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA, LETRAS E ARTES
GIVANILDO BONETI GODINHO
POEMAS NO DESENVOLVIMENTO DA PRONÚNCIA
EM LÍNGUA INGLESA
ERECHIM2011
GIVANILDO BONETI GODINHO
POEMAS NO DESENVOLVIMENTO DA PRONÚNCIA
EM LÍNGUA INGLESA
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Letras, Departamento de Linguística, Letras e Artes da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões Campus de Erechim.
Orientadora: Profª. Ms. Maria Paula S. Brock
ERECHIM2011
“/maɪ eˈkɪpe preɪ ˈvɜri ˈnaɪsɪ dj ˈfɜːrɪstɪ ˈtaɪmj //
ɜɜɜ // jrak ɜːndjjj / ɜːndjjj saʊdjˈafrɪka preɪ seɪm // bʌt
ˈseguːndiˈtaɪmj aɪ ˈhɜvi de konˈtrow de mɜtʃ/.”1
Joel Santana (2009)
1 “may equipe prei véri náici di fãristi taimi, ééé, Irak ãndiii, ãndiii saudi áfrica prei seim, bãt ségundi táimi ai hévi de contrôu de méti”
RESUMO
As diferenças fonológicas entre o português e o inglês assim como a falta de regularidade entre som e grafia na língua inglesa acabam gerando vícios difíceis de serem corrigidos, tais como a pronúncia de palavras inglesas baseadas na ortografia do português. Para amenizar essas interferências, faz-se necessário o uso de práticas que oportunizem ao estudante do ensino médio perceber e internalizar as novas relações entre pronúncia e escrita, assim como os sons da nova língua. Neste trabalho, procuramos, através de uma busca pelas abordagens de ensino, descobrir quais são as estratégias mais funcionais para o ensino da pronúncia e aplicá-los ao gênero poema, devido as suas características rítmicas, dinâmica das rimas e entonação. A metodologia baseia-se nas informações do marco teórico e em toda uma investigação que discutiu a relação da pronúncia com a escrita, leitura e cultura, assim como no uso de recursos audiovisuais e da transcrição fonética. Elaboramos no final, alguns exercícios que ilustram o resultado do trabalho. Esses exercícios também estão disponíveis na versão on line em um site na internet para a apreciação e avaliação de professores e interessados em usar o texto poético como ferramenta de ensino.
Palavras-chave: Pronúncia em língua inglesa. Poema. Fonética.
SUMMARIO
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................5
2. MARCO TEÓRICO..................................................................................................6
2.1.O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA..........................................................................62.2.PRONÚNCIA E PRONÚNCIA.................................................................................92.3.PRONÚNCIA E LEITURA ....................................................................................112.4.PRONÚNCIA NATIVA...........................................................................................132.5.PRONÚNCIA E ESCRITA.....................................................................................152.6.QUEM TEM MEDO DO CÓDIGO FONÉTICO?...................................................172.7.POESIA: UMA FERRAMENTA NO ESTUDO DA PRONÚNCIA.........................192.7.1. RIMA.................................................................................................................192.7.2. RITMO...............................................................................................................202.7.3. ENTONAÇÃO...................................................................................................212.8.ATIVIDADES DE PRONÚNCIA............................................................................233. METODOLOGIA...................................................................................................26
4. ATIVIDADES PROPOSTAS...................................................................................28
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................34
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS.....................................................................35
ANEXOS....................................................................................................................37
1. INTRODUÇÃO
Acreditamos que devido à característica rítmica dos poemas, dinâmica de suas
rimas e entonação dos versos, exercícios com este gênero textual possam fazer o
estudante perceber diferenças e semelhanças entre som e grafia das palavras
empregadas no inglês e consequentemente seus contrastes com sua língua
materna. Portanto, focalizado nas habilidades de leitura e fala da língua inglesa, este
trabalho visa propor se atividades com o texto poético ajudam no desenvolvimento
da pronúncia de estudantes do ensino médio.
Para isso, fizemos um levantamento teórico, exposto no capítulo 2, com o
objetivo de investigar que estratégias usadas pelas abordagens de ensino
contemplam o ensino da pronúncia, e dentre estas, quais as que se mostram mais
eficazes junto ao gênero poema. Definidas estas estratégias, discorremos da seção
2.2 a 2.5 questões sobre a pronúncia e sua relação com a leitura, comunicação e
escrita, buscando refinar o tema.
Ainda dentro da revisão teórica, na seção 2.6 alguns pontos básicos sobre o
uso da transcrição fonética foram discutidos: o porquê de usá-la e que benefícios ela
traz para o estudante.
Antes de passarmos para as atividades com poemas, foi necessário definir
alguns conceitos básicos sobre o texto poético como a rima, a entonação e o ritmo,
os quais estão distribuídos ao longo da seção 2.7 e que, junto às estratégias
extraídas da base teórica, serviram de suporte para a elaboração das atividades. Na
seção 2.8 exemplificamos estas questões com atividades de modelo.
A metodologia está descrita no capítulo 3 e consiste na seleção dos poemas e
aplicação das estratégias para a elaboração das atividades. Essa aplicação se deu
de modo a explorar um aspecto de cada vez: rima, entonação e ritmo.
As atividades resultantes deste trabalho estão expostas no capítulo 4. As
mesmas não foram testadas por grupos de alunos. Elas servem para reflexão,
inspiração e avaliação por professores, estudantes e demais interessados pelo
tema. No entanto, uma versão on line, gratuita e funcional está disponível no
endereço http://www.shakespeaks.com.br.
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2. MARCO TEÓRICO
2.1. O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA
No Brasil, dentre todas as abordagens para o estudo de inglês, desde a
adaptação do ensino das línguas clássicas para as línguas modernas até o atual
modelo comunicativo, o estudo de uma segunda língua sempre teve uma
conturbada relação com o ensino da pronúncia. Celce-Murcia (2001) traça um
resumo das principais abordagens de ensino onde podemos fazer um recorte no que
diz respeito a esta habilidade. A primeira abordagem listada é a da Gramática e de
Tradução, onde a autora pontua que além de não haver necessidade de o professor
falar na língua que está ensinando, a metalinguagem é feita na língua materna do
estudante, ou seja, muita gramática e quase nada de pronúncia.
Na Abordagem Direta é conveniente que o professor seja falante nativo da
língua alvo, ou pelo menos que tenha proficiência suficiente para tal, pois o ensino é
feito diretamente na língua em que o aprendiz está estudando. Aqui percebemos
que a pronúncia é a chave para o sucesso dessa abordagem, porém, na época em
que estava em vigor havia poucos professores preparados para a sala de aula como
frisa Richards (2001: 13), “It required teachers who were native speakers or who had
nativelike fluency in the foreign language.”2 Aliado a isso, poucas pessoas
costumavam viajar para o exterior onde poderiam aproveitar habilidades de fala
supostamente adquiridas.
Surgiu então outro tipo de abordagem, a Abordagem para Leitura; e como o
próprio nome sugere, a ênfase está na leitura. O professor nessa abordagem não
precisa ser proficiente em termos de pronúncia, mas precisa entender a gramática
necessária para a aplicação na leitura.
Por volta de 1945, quando deflagrou-se a Segunda Guerra Mundial, a
comunicação oral em outras línguas tornou-se uma necessidade para os Estados
Unidos, cujo governo convocou linguistas que desenvolvessem rapidamente um
modelo de ensino em torno da pronúncia. Surgiu então a Abordagem Audiolingual,
que foi uma espécie de retomada da Abordagem Direta, na qual os problemas de
insuficiência de pronúncia dos docentes foram supridos com o uso de materiais
2 "Era necessário que os professores fossem falantes nativos ou que tivessem fluência na língua estrangeira”
6
rigorosamente controlados e com recursos de áudio que reproduziam a fala nativa,
“tape recorders and audiovisual equipment often have central roles in an
audiolingual course.“3 (RICHARDS 2001: 63). O professor só precisava ser
proficiente na estrutura e no vocabulário.
Paralelamente, a versão britânica da Abordagem Audiolingual se chamava
Abordagem Oral-Situacional a qual assim como na Abordagem Direta, tudo era
ensinado na língua alvo e, oralmente, para depois passar para a leitura e escrita.
Percebemos aí que a exigência da pronúncia é novamente retomada, com o
agravante de que a Abordagem Audiolingual não tinha compromisso com contexto
ou significados, enquanto que a versão britânica contextualizava o ensino em razão
de situações reais de uso da língua. Porém essas abordagens utilizavam técnicas
cansativas tanto para os alunos quanto para os professores, pois enquanto o
audiolinguismo preconizava a repetição, inspirado nos estudos de Skinner em que,
“(...) many found the experience of studying through audiolingual procedures to be
boring and unsatisfying.”4 (RICHARDS 2001: 65), a abordagem Oral-Situacional
supervalorizava o estruturalismo de Bloomfield, onde se esperava que estruturas
aprendidas em sala de aula fossem projetadas fora dela pelos alunos (RICHARDS
2001: 41).
Como reação a esse procedimento behaviorista, começou-se a pensar em
abordagens mais cognitivas, pois os seres humanos não poderiam aprender como
robôs; o que ficou comprovado na prática, quando se percebeu que estudantes das
últimas abordagens citadas, ao se deparar com situações reais de fala, não tinham
desempenho superior ou diferente de estudantes de abordagens anteriores.
Na Abordagem Comunicativa todas as habilidades são ensinadas ao mesmo
tempo. É a abordagem corrente e que tem preocupação direta com a comunicação.
Dentre todas as abordagens, notamos que a Direta, a Audiolingual, a Oral-
Situacional e Comunicativa são as que mais deram espaço à pronúncia sendo que
dessas, apenas a Comunicativa não se ocupou com a busca da pronúncia perfeita,
mas colocou seu posicionamento com relação ao problema: ao invés de desistir da
pronúncia por ser difícil de chegar à perfeição, acolheu essa habilidade sem tal
3 "Gravadores e equipamentos audiovisuais, muitas vezes têm um papel central em um curso Audiolingual".4 "(...) Muitos acharam chata e insatisfatória a experiência de estudar por meio de procedimentos audiolinguais."
7
exigência, bastando que o aprendiz alcançasse o nível da comunicação. As
abordagens mais antigas, inclusive, chegaram à conclusão de que fixar-se na
pronúncia era perda de tempo, já que seria impossível para o aprendiz chegar à fala
“nativa”, mesmo assim podendo aprender com elas. Em suma, encontramos
algumas estratégias presentes nestas abordagens que nos parecem plausíveis de
serem canalizadas para um programa que focalize o ensino da pronúncia. São elas:
-o uso da leitura, o que é matéria discutível;
-o código fonético da Abordagem Direta;
-os recursos audiovisuais, que se limitados à época do audiolinguismo, hoje
são populares e abundantes com o advento do computador.
Antes de discutirmos o porquê de aplicar estas estratégias ao texto poético,
vamos fazer algumas considerações sobre pronúncia, erro e suas relações com a
leitura, comunicação e escrita.
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2.2. PRONÚNCIA E PRONÚNCIA
O julgar de uma pronúncia como certa ou errada deve vir acompanhado de
cautela, porque o grau de aceitabilidade nem sempre tem limites claros e estanques
devido a enorme difusão do inglês dentre os mais variados povos e influências que
essa língua recebe. Existem palavras com pronúncias diferentes que, no entanto,
não devem ser discriminadas ou ignoradas. A palavra “either”, de acordo com o
dicionário on line da Cambridge University Press, pode ser pronunciada /ˈaɪ.ðər / ou
/ˈiː.ðɚ/. São pronúncias bem diferentes a qualquer ouvido e mesmo assim, ambas
estão corretas. Discrepâncias sonoras, portanto, não devem ser rotuladas como
erro, pois podem se tratar de variantes conhecidas, como no caso, do inglês
britânico e americano, respectivamente. O fato é que questões dessa natureza,
dentre outras, tendem a gerar desconfortos durante o ensino de inglês quando não
são explicitadas por uma boa aula introdutória. Por outro lado, alguns sons são tão
parecidos que as diferenças passam despercebidas por usuários dessa ou daquela
língua. Nos dizeres de Brown (2000: 177), “what appears to you to be an accurate
and objective perception of an individual, a custom, an idea, might be “jaded” or
“stilled” in the view of someone from another culture.”5 Assim os pares sonoros /iː/ e
/ɪ/, que parecem ser iguais para os brasileiros, têm grande tendência de serem
trocados um pelo outro na pronunciação. A palavra “heat”, por exemplo, pode
facilmente ser confundido por “hit” em sua elocução, o que inevitavelmente deve ser
considerado erro, pois afeta diretamente o significado. Esse tipo de erro certamente
é percebido com estranheza pelos falantes de língua inglesa porque as palavras não
vêm isoladas, mas acompanhadas de um contexto na cadeia da fala, portanto,
passíveis de serem deduzidas e compreendidas numa situação real. No entanto, o
erro não deixa de existir. Mesmo que não interfira na comunicação, ele vai revelar
muito da identidade do falante, que pode ser colocado em situações, por vezes, não
muito cômodas.
Daí a importância da busca de uma boa pronúncia que, neste trabalho, refere-
se àquela que pode ser compreendida pelo falante estrangeiro, mas que também
disponha de inteligibilidade, ou seja, que o locutor não tenha de fazer inferências a
toda hora para deduzir a intencionalidade do falante. Este conceito não tem relação
5 "Aquilo que para você parece ser uma percepção exata e objetiva de um indivíduo, um costume, uma ideia, pode ser "impreciso" ou "turvo" na visão de alguém de outra cultura." (trad. minha).
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nem com sotaque e nem com a pronúncia que encontramos hoje nos alunos de
ensino médio que já tiveram muitos anos de estudo do inglês e ainda não adquiriram
uma pronúncia inteligível. Eles não precisam perder suas identidades com sotaques
americanos, ingleses ou australianos, mas precisam compreender essas variações e
serem compreendidos através de uma pronúncia padrão, aceitável pela comunidade
que se comunica em inglês.
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2.3. PRONÚNCIA E LEITURA
Um dos aspectos fundamentais a ser analisado num trabalho sobre pronúncia
é a sua relação com a leitura. Ler é diferente de falar. O processo de leitura envolve
basicamente a decodificação, compreensão e armazenamento de informações
significativas. Essas informações depois de transformadas em conhecimento terão
de ser, um dia, exprimidas através da linguagem. Ler para si, portanto, acaba por se
tornar uma tarefa transparente para o estudante quando ele não conhece a
pronúncia das palavras, mas sabe o significado delas. Se ele não precisa discursar,
sua atenção está toda voltada à compreensão do texto. Ler em voz alta, no entanto,
envolve falar. É o momento em que a imagem mental do código escrito ganha
expressão. Caso o aluno não tenha o domínio da linguagem em sua forma oral,
mesmo que ele tenha facilidade em entender o que está escrito quando lê para si,
tropeços e erros de pronúncia irão ocorrer. Estudantes do ensino médio que já
dominam pelo menos os textos didáticos têm problemas com a pronúncia das
palavras. Isso reflete a falta de integração da pronúncia com a habilidade de leitura.
É consenso que estes alunos saem da escola sem a capacidade de se comunicar
fluentemente em inglês. Como destaca Almeida Filho (2005: 47), “(...) hoje em dia se
constata uma ausência generalizada entre pais, alunos e professores de LE da
expectativa de desenvolver uma competência de uso da língua-alvo dentro do
contexto escolar de 1º e 2º Graus.” Essa competência de uso exige uma estreita
relação com a prática. Mas será que praticar a leitura delibera a boa pronúncia?
Para Cagliari (2002: 28), “É interessante notar o que acontece quando uma pessoa
encontra-se diante de uma língua estrangeira. Quando ela desconhece o
funcionamento do sistema fonológico dessa língua, sua tendência é julgar o que
encontra em função do sistema fonológico de sua própria língua.”. Portanto, praticar
a leitura sem ter um suporte ou uma técnica adequada pode ser desastroso e o
aprendiz poderá internalizar inconsistências difíceis de serem corrigidas depois,
como a fixação de pronúncias erradas.
Mesmo que o estudante execute uma boa leitura através de uma boa
pronúncia, será que esta pronúncia delibera a competência de uso da língua?
Acreditamos que ela seja necessária, mas não suficiente para tal. Elementos
naturais e de costume que conectam intimamente a língua com a comunidade
linguística que a usa parecem ter mais relevância que a pronúncia, uma determina a
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outra, mas não significa que a oralidade deixe de contribuir com sua parte no
processo de comunicação.
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2.4. PRONÚNCIA NATIVA
O inglês, assim como todas as línguas modernas, é um idioma vivo. Tanto a
escrita quanto a fala variam com o tempo e espaço. Além disso, as línguas estão
intimamente ligadas com a cultura do seu povo. No caso do inglês, que é falado por
vários povos ao redor do mundo, adquire várias roupagens, mas não perde seu
status. Cada comunidade linguística que usa o inglês como língua oficial adapta-o
instintivamente para as necessidades de sua cultura. No que tange à pronúncia,
podemos deduzir que ela vai variar de um lugar para o outro, assim como
percebemos diferenças entre o português do Brasil e de Portugal. Essas variações
não prejudicam a comunicação entre pessoas de mesmo idioma, e ainda, nos dão
margem para identificar a origem do interlocutor através da fala. Elas vão sendo
adquiridas desde criança pelos falantes e sua relação com o meio, e são
responsáveis pelos traços peculiares que caracterizam a língua nativa desta ou
daquela comunidade linguística. A pessoa cresce, pensa e sonha no idioma que
adquiriu naturalmente e com ele as variações existentes em seu país, em sua
comunidade. As variações linguísticas, e em particular, de pronúncia, são referentes
às de outros falantes que também dominam o inglês como língua nativa. Mas qual
seria a diferença entre adquirir e aprender uma segunda língua? Para o professor
Leffa (1988):
Entende-se por aprendizagem o desenvolvimento formal e consciente da língua, normalmente obtido através da explicitação de regras. Aquisição é o desenvolvimento informal e espontâneo da segunda língua, obtido normalmente através de situações reais, sem esforço consciente. Na aprendizagem, o enunciado tem origem na língua materna, podendo conscientemente passar para a segunda língua. Na aquisição, o enunciado já se origina diretamente na segunda língua.
(p.212).
Ao aprender uma segunda língua, portanto, há um aspecto novo: a influência
da primeira, o que faz com que alguns estudiosos concluam que aprender uma
segunda língua não é como adquirir a primeira. “Second languages researchers and
foreign language teachers began to recognize the mistakes in drawing direct global
analogies between first and second language acquisition”.6 (BROWN 2000: 51). De
6 "Pesquisadores de L2 e professores de línguas estrangeiras começaram a reconhecer os erros em fazer analogias diretas e globais entre a aquisição da primeira e segunda língua."
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fato, vários fatores que interferem no aprendizado da segunda língua não se
manifestam na aquisição. Além dos aspectos culturais da nova língua, que não
estão inculcados no aprendiz, ele tenderá a associar os novos sons com sons já
conhecidos de sua língua materna. Portanto, “Ao se fazer uma análise fonológica, é
preciso estar sempre atento para evitar as interferências da própria língua ou do
próprio dialeto na interpretação dos fatos de uma outra língua ou dialetos diferentes
daquele usado pelo analisador.” (CAGLIARI 2002: 28). Ainda, em termos mais
abrangentes, percebe-se que apreender a língua de qualquer povo vai muito além
do estudo das quatro habilidades,
“Both learners and teachers of a second language need to understand cultural differences, to recognize openly that people are not all the same beneath the skin. There are real differences between groups and cultures. We can learn to perceive those differences, appreciate them, and above all to respect and value the personhood of human being.” 7 (BROWN 2000: 180)
7 “Tanto os alunos quanto os professores de uma segunda língua precisam entender as diferenças culturais reconhecer abertamente que as pessoas não são todas iguais sob a pele. Existem diferenças reais entre os grupos e as culturas. Podemos aprender a perceber essas diferenças, apreciá-las, e acima de tudo respeitar e valorizar a personalidade do ser humano.”
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2.5. PRONÚNCIA E ESCRITA
Our strange lingo 8
When the English tongue we speak
Why is break not rhymed with weak?
Won't you tell me why it's true
We say sew, but also few?
And the maker of a verse
Cannot rhyme his horse with worse?
Beard is not the same as heard,
Cord is different from word,
Cow is cow, low is low,
Shoe is never rhymed with foe.
Think of hose and dose and lose,
And think of goose and yet of choose,
Think of comb and tomb and bomb,
Doll and roll and home and some.
And since pay is rhymed with say,
Why not paid with said I pray?
Think of blood and food and good;
Mould is not pronounced like could.
Why is done, but gone and lone –
Is there any reason known?
To sum it up, it seems to me
That sounds and letters don't agree.
Lord Cromer (1902)
Este poema de Lord Cromer, publicado em 1902, mostra que não é recente a
discussão de que “a escrita do inglês não tem praticamente relação com a
pronúncia” (tradução minha), como defende Harold Cox, ex-editor da revista
britânica Edinburgh Review em seu artigo English as a world language. O poema
sugere também que mesmo os falantes que usam o inglês como primeira língua têm
dúvidas e erram na fala devido a influência da escrita.
Massini-Cagliari (1999: 31) faz uma observação interessante acerca da escrita
e sua relação com a pronúncia: “A escolha de qual seja a forma ortográfica de cada
palavra é, em geral, arbitrária. Às vezes, nem sequer corresponde a uma das
8 THE ENGLISH SPELLING SOCIETY. Poems showing the absurdities of English spelling. Disponível em: <http://www.englishspellingsociety.org/news/media/poems.php>. Acesso em: 05 março 2011.
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possíveis pronúncias da palavra na língua.”. Logo em seguida, eles exemplificam
com a palavra “muito”, a qual, apesar de todo falante de língua portuguesa nasalizar
o ditongo “ui”, na escrita isso não aparece.
No inglês, a pronúncia /ed/ da palavra “said” não é arbitrária por não coincidir
com /eɪd/ de “paid”, “maid” ou “laid”, é arbitrária porque assim foi convencionada.
Portanto, apesar de a escrita poder guiar a fala ela não pode ser considerada
como a representação gráfica da mesma. Primeiro, porque a mesma palavra pode
ter pronúncias diferentes: “either” pronunciado /ˈaɪ.ðər / ou /ˈiː.ðɚ/. Logo, “(...) a
ortografia não representa a fala de ninguém, pois tem a função de anular a variação
linguística, na escrita, no nível da palavra.” (MASSINI-CAGLIARI 1999: 31). É a
escrita que busca a unidade para diferentes pronúncias. Segundo, não é possível
predizer uma pronúncia com base na forma ortográfica das palavras em inglês, já
que ela não é uma representação direta da fala:
“Para evitar o caos social, oriundo das diferentes pronúncias que as palavras têm em diferentes dialetos, foi inventada a ortografia com a finalidade de congelar certas formas de escrita, neutralizando a variação linguística e dando ao nosso sistema de escrita um forte caráter ideográfico.” (grifo nosso) (MASSINI-CAGLIARI 1999: 9).
Entendendo por ideográfico a representação de ideias por meio de sinais
gráficos, já que a propriedade ortográfica é por vezes falsa, ou já perdeu sua relação
com a pronúncia, a alternativa mais lógica seria considerar as palavras como
imagens, portanto said seria uma imagem, representando uma ideia, paid seria
outra, independentemente de sua forma ortográfica. É natural que crianças e adultos
que se alfabetizaram em inglês quando perguntados sobre como eles sabem a
pronúncia de suas palavras eles respondam: “I Just know it.” Isso não é tão
admirável se considerarmos que em um bom leitor depois de anos de leitura faz-se
saltar aos olhos uma palavra escrita errada como “ouzado” ou uma palavra em
português pronunciada de um jeito diferente ao ouvido de um brasileiro. Mas essas
habilidades somente são adquiridas se praticadas e no caso da língua estrangeira,
se praticadas desde cedo, antes de serem apreendidas de modo errado.
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2.6. QUEM TEM MEDO DO CÓDIGO FONÉTICO?
Em meados de 1886, estudiosos ingleses e franceses da Associação
Internacional de Fonética (Henry Sweet, Wilhelm Viëtor e Paul Passy) criaram o
Alfabeto Fonético Internacional, o IPA. Como resultado de seus estudos, eles ainda
preconizaram que a forma falada de uma língua deveria ser ensinada antes da
escrita e que para isso a fonética deveria ser aplicada. De acordo com Celce-Murcia
(2001: 4), professores de línguas deveriam ser versados no novo código e, para o
bom desenvolvimento do discurso, aos alunos também deveria ser ensinada a
fonética. Também, de acordo com a autora, esta foi a primeira contribuição científica
para o ensino de línguas. Como suporte científico para o estudo dos sons que
ouvimos e falamos, ele nos possibilita um recorte entre como é tal som na realidade
e o que são sensações pessoais. Era de se esperar, portanto, que o código
realmente fosse anexado às abordagens de ensino, mas não é o que se vê na
prática. É inconcebível que ainda hoje a fonética não seja massiçamente ensinada
nas escolas de primeiro e segundo graus. O aluno do ensino médio deve, desde o
primeiro contato, ter consciência de que as letras de sua língua materna possuem
sons diferentes na língua alvo, mas mais do que isso ele precisa ver essas
diferenças. A transcrição fonética é a maneira de o aprendiz “ver o som”; é um
insumo a mais que vai ajudá-lo a lidar com as palavras, visto que sua idade de
aquisição de língua já passou e ele está em processo de aprendizagem, numa
situação onde apenas ouvir não garante a fixação dos sons. Além disso, o código
fonético pode ser usado para o aprendizado de uma terceira, quarta língua com
muito mais facilidade.
Porém é um recurso temido, talvez pela quantidade de caracteres estranhos,
mas acreditamos que os problemas de pronúncia encontrados nos alunos do ensino
médio sejam os reflexos da falta de fonética e do uso de abordagens de ensino
ultrapassadas. Nas escolas, praticamente, ensina-se língua estrangeira moderna da
mesma maneira que se ensinavam línguas mortas: gramática e tradução. Cabe ao
professor mostrar ao aprendiz que o dicionário não serve só para mostrar o
significado das palavras e que saber usar o código fonético dará a ele mais
autonomia.
Iremos basear este trabalho na tabela do IPA, International Phonetic Alphabet
(ANEXO A). Nesta tabela estão representados todos os símbolos que reproduzem a
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fala humana de línguas orientais e ocidentais. Nem todos os símbolos são usados
no inglês, portanto, optamos em nos guiar por uma tabela simplificada conforme o
(ANEXO B).
O IPA não é o único sistema para transcrição fonética. Por exemplo, compare
a transcrição da palavra “absence” em três dicionários:
Cambridge………………………………………/ˈæb.sənt s/Oxford……………………………………………/’æb.səns/Amadeu Marques & David Draper…………/’æbsns/
Essas diferenças não devem intimidar o aprendiz, pois elas apenas reforçam a
realidade de que assim como existem diferentes pronúncias, alguns dicionários
fazem algumas adaptações, que são poucas, basta seguir a chave de pronúncia do
dicionário usado para o estudo. Trata-se da sequência dos símbolos fonéticos
seguidos por uma palavra de uso corrente na língua vernácula, ou em português no
caso dos dicionários bilíngues, geralmente monossílabas:
æ = hat /hæt/
Logo, se soubermos falar “hat” em inglês, saberemos conduzir a pronúncia de
“handle” através da transcrição dessa palavra em comparação com “hat”.
Dicionários bilíngues tentam explicar sua chave através de descrições como é
o caso do dicionário de Amadeu Marques & David Draper (1995):
e bait /bet/ Semelhante ao ditongo ei, como em lei.
ɛ bet /bɛt/ Som de é, semelhante ao é em pé.
Como nosso trabalho se propôs a publicar um site com exercícios de
pronúncia, optamos por nos basear nos códigos de um dicionário também on line.
Usaremos o dicionário da Cambridge University Press encontrado atualmente no
endereço http://dictionary.cambridge.org/help/phonetics.html, que além de fornecer a
transcrição fonética das palavras, dá a variante britânica e americana, o que pode
ser útil para esclarecer possíveis dúvidas. Uma cópia da chave de pronúncia desse
dicionário encontra-se no ANEXO B.
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2.7. POESIA: UMA FERRAMENTA NO ESTUDO DA PRONÚNCIA
O professor de ensino médio E. M. Robinson (2007), em seu artigo How to
use poetry as an aid for pronunciation, afirma que “rima, ritmo e repetições todas
feitas com cuidado deliberam a pronúncia. Rima e repetições são especialmente
efetivas para a pronúncia porque o leitor cria uma expectativa que pode antecipar a
audição de certos sons.” (minha tradução). Também concordamos com esta
afirmação, o que nos levou a usar o texto poético como plataforma para a aplicação
das estratégias abordadas no desenvolvimento deste trabalho. É neste texto que
encontramos com ênfase características implícitas no discurso verbal: ritmo e
entonação. Além destas, a rima, que também tem seu papel no que diz respeito ao
vocabulário e reconhecimento dos sons.
2.7.1. RIMA
A rima se dá quando duas ou mais palavras comungam do mesmo som em
suas terminações.
Vejamos um fragmento deste poema de Robert Frost:
Stopping By Woods On A Snowy Evening
Whose woods these are I think I know. /nəʊ/His house is in the village though; /ðəʊ/He will not see me stopping hereTo watch his woods fill up with snow. /snəʊ/My little horse must think it queerTo stop without a farmhouse nearBetween the woods and frozen lakeThe darkest evening of the year......................................................
“Know” é uma das primeiras palavras que o estudante brasileiro aprende.
Porém, “though”, é raro para o aprendiz, e o segmento -ough tem quase meia dúzia
de pronúncias diferentes:
Thought /θɔːt/
Through /θruː/
Enough /ɪˈnʌf/
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Though /ðəʊ/
Bough /baʊ/
Ao ler esta poesia em voz alta, o aprendiz além de estar vendo a palavra, terá
como referência para sua pronúncia as palavras “know” e “snow”. Essas mesmas
relações podem ser feitas entre as palavras here, queer, near e year. O código
fonético pode confirmar essas assertivas.
2.7.2. RITMO
O ritmo flui em uma linha supra-segmental e relativamente regular na cadeia da
fala. Na linguagem ele pode tomar as sílabas como unidade, ou formar pés
separados por sílabas tônicas reduzindo ou não as vogais, em particular, na busca
de amplitudes regulares. Segundo Cagliari (1992), o uso dos termos ritmo silábico e
ritmo acentual é controverso, assim como a definição de que o português do Brasil
pertence a esta ou aquela tipologia. O fato é que o ritmo da fala em inglês é acentual
e, também, diferente do português brasileiro. Considerando estes critérios, o modo
como essas duas línguas lidam com o ritmo resulta em dificuldade para o brasileiro
fazer escolhas sobre em qual sílaba colocar o acento tônico quando está falando em
inglês. Para ampliar essa ideia de ritmo é conveniente usar sintagmas ao nível da
frase como neste exemplo do livro Total English de Antonia Clare e JJ Wilson
(2008):
“Listen to the rhythm of the sentence.
If I had left home earlier, I wouldn’t have missed the train.
Do the stressed words fall with a regular beat in the sentence?….................................................……”(p.112).
Fizemos um teste reproduzindo a frase do CD em um programa de computador
e imprimindo as ondas geradas. Verificamos que as maiores amplitudes coincidem
com as palavras tônicas da oração (mais precisamente com a sílaba) em uma
frequência relativamente regular. Desta forma, durante a fala algumas sílabas
átonas são “esticadas” e outras “comprimidas” dentro da cadeia, de maneira que
20
cada sílaba tônica tome seu lugar em um tempo rítmico determinado que os
linguistas chamam de pé, classificando o inglês na categoria dos idiomas de ritmo
acentual.
Os falantes do português-brasileiro têm a oportunidade de experimentar o ritmo
acentual quando recitam uma poesia metrificada, onde o ritmo é regido pela sílaba
poética cuja unidade rítmica também é o pé.
2.7.3. ENTONAÇÃO
“Entonação é a melodia do discurso. Estudando entonação nós estudamos
como o tom da voz sobe e desce, e como o falante usa essa variação de tom para
transmitir significados linguísticos e pragmáticos.” (WELLS 2006: 1) (minha
tradução). Quando Wells fala em melodia ele está de fato abarcando grande parte
das propriedades da entonação. É a melodia que age em favor de uma direção para
o significado. Como supra-segmento da fala, a entonação é uma espécie de
portadora que prende a expectativa do ouvinte preparando-o não ao quê se fala,
mas como se fala. Em seu artigo The case for intonation teaching in the EFL
curriculum, Iria Werlang Garcia (2005: 167) exemplifica a implicância da entonação
no efeito do significado:
a. who? John left two books on his desk.b. how many? John left two books on his desk.c. what? John left two books on his desk.d. whose? John left two books on his desk.
21
e. where? John left two books on his desk.
Isto é, o mesmo discurso no plano da forma exprime coisas diferentes no plano
de expressão.
Com efeito, a comunicação fica prejudicada quando a tônica recai sobre a
palavra errada. “While native speakers allow for the mistakes of a foreigner in
grammar, vocabulary and segmental pronunciation, mistakes in intonation are not
accepted.” 9 (TOMITCH 2005: 166). Segundo o artigo citado, pesquisas mostram que
o problema da entonação está entre os primeiros motivos que causam a falta de
compreensão da fala dos brasileiros e muitos traços característicos dos vários
dialetos da língua portuguesa são facilmente detectados quando o brasileiro fala em
inglês. Ainda, esses traços são corrigidos pela abordagem audiolingual, com
algumas restrições, segundo a autora, o que nos faz crer em sua eficácia em
atividades como listening de poemas. Em geral, a entonação transfere atitude e por
isso traz parte do significado consigo. É uma propriedade inerente à fala, mas
geralmente esquecida nos exercícios de pronúncia.
9 "Enquanto os falantes nativos permitem os erros de um estrangeiro no vocabulário, gramática e pronúncia segmentar, erros na entonação não são aceitos".
22
2.8. ATIVIDADES DE PRONÚNCIA
É praticamente impossível para o aprendiz de uma língua estrangeira
desenvolver uma boa pronúncia sem ouvir os sons da língua. Por esse motivo,
exercícios de pronúncia devem usar, primordialmente, o listening de material
autêntico.
Uma das atividades mais comuns é a dos tradicionais pares de palavras, na
qual o aprendiz ouve uma de duas palavras parecidas e deve identificá-la.
Geralmente esses exercícios trabalham um aspecto de cada vez. Nesta atividade
proposta por Gilbert (1993), pretende-se exercitar e explicar o comportamento do som
das vogais verificando se a última sílaba apresenta uma parada súbita ou não, stop
ou continuant, na terminologia deste autor. Inicia-se a atividade ouvindo um padrão
com pares mínimos, e depois se pratica com as palavras que seguem:
Listen and then practice saying these words. Think about the length. Stretch a wide rubber band to help you concentrate on lengthening the words in list 2 (p. 25):
1 2meat me
1 2 . _
bite buywhite whylight lieheat hekeep key...................
Para Gilbert (1993) esse exercício ajuda o aprendiz a desempenhar melhor o
ritmo da fala quando compreende o porquê das sílabas longas e curtas. Porém deixa
dúvidas se analisamos alguns casos, como é o exemplo de “heat” no exercício.
Verificamos pela transcrição fonética que se trata de uma vogal longa enquanto que
no exercício é tratado como curta, parecendo um “hit”. Portanto deve ser explicado
ao aluno que o som /i:/ continua sendo longo, o caso é que em “heat” a sílaba “trava”
em /t/, (stop) por isso é curta, enquanto que em “he” a passagem de ar continua
após a pronúncia do “e”, alongando a sílaba.
Com relação ao ritmo, exercícios de listening como o apresentado na subseção
Ritmo, deste trabalho, são comuns nos livros que são acompanhados de CD. Este
tipo de exercício descreve exatamente a abordagem áudiolingual. Ele pode ser
23
repetitivo, mas para brasileiros parece funcionar, conforme a experiência de Garcia
(TOMITCH 2005, apud GARCIA 1983: 173), “I have demonstrated decades ago that
some mistakes detected are easily corrected by means of the audio-oral, also
referred to as the audio-lingual method.”10. Neste artigo ela refere-se aos vários
dialetos brasileiros detectados no “Brazilian spoken English”.
O estudo gramatical também contribui, uma vez que, verbos irregulares, o “s”
no final de algumas palavras, sufixos adverbiais, superlativo, etc. são elementos
segmentais que se modificam com a pronúncia numa regularidade que pode ser
acompanhada pelas regras de gramática. Gilbert (1993) comenta, na abertura de
seu livro, que “os sons no final das palavras são frequentemente difíceis de ouvir e
ainda carregam importantes informações gramaticais.” (minha tradução). No
retrovisor dos termos, afirmamos que as informações gramaticais dessas palavras
também podem deliberar a pronúncia, como nesse exercício do livro English
Pronunciation For Brazilians de Sonia Godoy (2006: 151):
Identify the number of syllables in the following pairs of verbs:
work ( )worked ( )
study ( )studied ( )
need ( )needed ( )
smile ( )smiled ( )
want ( )wanted ( )
help ( )helped( )
Identificando o número de sílabas o aprendiz será capaz de reproduzir as
pronúncias corretas para /niːd/ e /ˈniː.dɪd/, por exemplo. Para esse exercício o uso
de um dicionário com o código fonético é imprescindível.
Para encerrar esta seção, Gilbert (1993: 26) propõe um exercício com um
poema:.
10 "Eu tenho demonstrado décadas atrás (Garcia 1983) que alguns erros detectados são facilmente corrigidos por meio do método áudio-oral, também conhecido como áudio-lingual."
24
1. Practice lengthening one-syllable words ending in continuant sounds: “saw, cow, see, one, how, be.”2. One good way to practice the following poem is by whispering instead of speaking. Whispering will help you concentrate on the lengthening.
The Purple Cow
I never saw a purple cow,I never hope to see one.
But, I can tell you anyhow,I’d rather see than be one.
(Gelett Burgess)
O objetivo é praticar o alongamento das sílabas que, segundo a autora, é maior
quando a sílaba final da palavra bloqueia a passagem do ar.
Com base nessas atividades, vamos desenvolver e propor outras usando como
plano de fundo o texto poético. O objetivo não é completar todo o rol de
possibilidades do tema, mas sugerir caminhos que inspirem e projetem mais
atividades que facilitem o ensino e a aprendizagem da língua inglesa.
25
3. METODOLOGIA
Três estratégias importantes para o ensino da pronúncia serão usadas nesse
trabalho:
A leitura oral acompanhada por áudio: Esta estratégia é oriunda das
abordagens audiolingual e oral-situacional. Por ser eficiente no exercício da
entonação, pretendemos usá-la no contexto poético.
A exploração do código fonético: Esta estratégia é oriunda da abordagem
direta. Apesar de rejeitada no ensino regular de inglês atualmente, pode ser muito
útil no ensino médio, onde os jovens já passaram da idade de aquisição e precisam
de mais insumos para fixar a pronúncia.
O uso de equipamentos audiovisuais: não é exatamente uma estratégia,
mas sim um recurso. É indispensável no ensino das habilidades de ouvir e falar.
As atividades estão divididas em duas partes:
A primeira é apresentada no capítulo 4.0 deste trabalho e consiste em
exercícios com três poemas, sendo que no primeiro as rimas são exploradas, no
segundo a entonação e no terceiro o ritmo.
A segunda é uma versão destas mesmas atividades adaptadas para o
formato on line e podem ser acessadas em: www.shakespeaks.com.br.
Todas as atividades possuem determinadas propriedades: Os poemas
possuem áudio; o andamento é feito na maioria das vezes através de perguntas ao
estudante.
Primeiramente reunimos o material e instrumentos necessários:
α. Os poemas: foram escolhidos textos curtos, com rimas e inglês de uso
corrente. Os poemas utilizados neste trabalho são:
Dust of Snow de Robert Frost
Trees de Sarah Coleridge
The Bells de Edgar Allan Poe (fragmento)
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β. Equipamentos: Um computador com internet foi usado para obtermos os
arquivos de áudio correspondente aos poemas selecionados. Usamos um
editor de som para recortar os áudios conforme a necessidade e um editor
de páginas HTML para fazer a versão on line da atividade.
Em seguida os passos abaixo foram desenvolvidos:
1. De posse do poema, buscamos a sua versão em áudio. Tentamos usar
poemas gravados por estrangeiros exclusivamente para este propósito, mas
esbarramos na questão da qualidade sonora. Ruídos de background
atrapalhavam a transcrição e, a pronúncia do falante nem sempre era clara.
Para contornar estes problemas, optamos por usar vídeos baixados do site
You Tube, com os devidos créditos ao autor, os quais foram convertidos
para o formato de áudio. Esses arquivos foram salvos no computador em
pastas com os mesmos nomes de seus títulos.
2. A preparação do áudio: consistiu em usar um software de edição de som
para recortar o poema em versos e salvá-los em arquivos separados. Para
facilitar a identificação, usamos o verso gravado no arquivo como nome
para esse arquivo.
3. Atividades off line: Todas as faixas de áudio necessárias para testar os
exercícios a seguir estão disponíveis no site já citado.
No capítulo 4, exporei as atividades propostas por este trabalho.
27
4. ATIVIDADES PROPOSTAS
Neste capítulo exponho as atividades propostas para este trabalho. As mesmas
estão baseadas na pronúncia britânica do dicionário da Cambridge University Press
(2011).
PRIMEIRA ATIVIDADE
Poem: Dust of Snow by Robert FrostTheme: Rhymes Objectives: Introduce the students to some phonetic symbols.
1. Listen to the poem, reading the text.
Nesta etapa os alunos terão uma cópia do poema e o professor colocará o áudio.
Dust of SnowThe way a crowShook down on meThe dust of snowFrom a hemlock tree
Has given my heartA change of moodAnd saved some partOf a day I had rued
Is there any unknown word?
2. Listen to it again. Pay attention towards the rhymes.
Dust of SnowThe way a crowShook down on meThe dust of snowFrom a hemlock tree
Has given my heartA change of moodAnd saved some partOf a day I had rued
3. Are there any other rhymes among the poem? Shall we do a list of pairs that
rhyme?
Os alunos farão uma lista de palavras que supostamente rimam. As seguintes palavras podem aparecer:crow snowme tree
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heart partmood ruedday waydown crowshook mood
4. Let's check in the dictionary the phonetic transcription of these pairs?
Enquanto se faz esta verificação, o professor vai registrando no quadro no formato que segue abaixo:crow /krəʊ/snow /snəʊ/
me /miː/tree /triː/
heart /hɑːt/part /pɑːt/
mood /muːd/rued /ruː/
down /daʊn/crow /krəʊ/
shook /ʃʊk/mood /muːd/
day /deɪ/way /weɪ/
6. How many pairs have the same rhyme spelling?
crow /krəʊ/snow /snəʊ/
day /deɪ/way /weɪ/
Do you know any other word with the /əʊ/ sound?
Look at these sentences and listen to the underlined words.
Robert saw the snow on his sh ou lder .It was c o ld and wet his c oa t .
All of them have the /əʊ/ sound? Observe the bold letters.
Shall we check them in the dictionary?
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Let’s try this sentence.
C ou ld you g o back to your c ou ntry ?
Check the dictionary for these underlined words.
7. How many pairs rhyme with a different spelling?
me /miː/tree /triː/
heart /hɑːt/part /pɑːt/
mood /muːd/rued /ruːd/
8. How many pairs do not rhyme at all?
down /daʊn/crow /krəʊ/
shook /ʃʊk/mood /muːd/
Why do you think these worlds don’t rhyme?
In your opinion, they really don’t rhyme or they are just bad rhymes?
9. Copy the correct transcription to the end of each verse and listen to the poem
again. At this time, look to the word’s transcriptions.
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SEGUNDA ATIVIDADE
Poem: Trees by Sarah ColeridgeTheme: Intonation Objectives: Introduce the students to the notion of intonation.
1. Listen to the poem, reading the text.
Nesta etapa os alunos terão uma cópia do poema e o professor colocará o áudio para que eles
ouçam.
Trees
The Oak is called the king of trees,The Aspen quivers in the breeze,The Poplar grows up straight and tall,The Peach tree spreads along the wall,The Sycamore gives pleasant shade,The Willow droops in watery glade,The Fir tree useful in timber gives,The Beech amid the forest lives.
Is there any unknown word?
2. Shall we try other possibilities of intonation? Repeat the poem stressing the
underlined words.
The poem affirms that:
The Oak is called the king of trees, not the princessThe Oak is called the king of trees, not of animals
The Aspen quivers in the breeze, not bendsThe Aspen quivers in the breeze, not in the water
The Poplar grows up straight and tall, how much?The Poplar grows up straight and tall, not fades down
The Peach tree spreads along the wall,The Peach tree spreads along the wall,
The Sycamore gives pleasant shade, don’t sell itThe Sycamore gives pleasant shade and fresh eitherThe Sycamore gives pleasant shade, not apples
Do the sentences express the same content?
They express the same intention?
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TERCEIRA ATIVIDADE
Poem: The Bells by Edgar Allan Poe (fragment)Theme: Rhythm Objectives: Introduce the students to the notion of rhythm.
1. Listen to the poem, reading the text.
The Bells…………………………………………Hear the mellow wedding bells,Golden bells!What a world of happiness their harmony foretells!Through the balmy air of nightHow they ring out their delight!From the molten-golden notes,And all in tune,What a liquid ditty floatsTo the turtle-dove that listens, while she gloatsOn the moon!……………………………………………………….Is there any unknown word?
2. Listen to it again. Pay attention towards the bold syllables.
The Bells…………………………………………Hear the mellow wedding bells,Golden bells!What a world of happiness their harmony foretells!Through the balmy air of nightHow they ring out their delight!From the molten-golden notes,And all in tune,What a liquid ditty floatsTo the turtle-dove that listens, while she gloatsOn the moon!……………………………………………………….Did you get the rhythm? Try again, this time, tapping your hand on the desk in
each bold syllable.
3. It became easier to get the rhythm now? Shall we analyze some verses?
We can add an extra accent between the syllables in order to double the
rhythm. Look how the strong and weak syllables alternate.
Hear / the /mel / low / wed / ding / bells,Gol / den / bells!
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We also can find other patterns of rhythm inside the poem. Here there are three
weak syllables to each stressed one. Observe:
What / a / world of / happ / i / ness / their / har / mo / ny / fore / tells !
4. In the next verses we can find a powerful rhythm sequence. Listen to them.
Pay attention to the strong and weak syllable stress and try to discover a rhythm
pattern. Some syllables are already bold, it can help you:
Aqui o professor pode deixar o aluno a vontade para fazer experiências. Oriente-o para marcar o som com o pé e exemplifique, com um verso simples, como ele deve fazer a notação no caderno usando traços para as sílabas fortes e pontos para as fracas.
Through the balmy air of nightHow they ring out their delight!From the molten-golden notes,And all in tune,
5. Look to the pattern we have found:
º º ---- º º º ----
º º ---- º º º ----
º º ---- º º º ----
º º º ----
Did you get something near? Try this pattern listening to the poem again
6. Let’s make a list of words that were stressed in the poem:
Balmy
Night
Ring
Notes
Tune
What do they have in common? We have verbs, nouns, adjectives, what do this
kind of words represent to us?
No inglês, geralmente as palavras lexicais, ou seja, que possuem conteúdo semântico, recebem acento tônico nos enunciados, em oposição às palavras que formam um conjunto finito de itens, as chamadas estruturais, como artigos, pronomes, preposições, etc. Este é um conceito de Judy Gilbert (1993).
It seems that, if you want to improve your pronunciation, you should make
choices of what word or syllable you need to stress to get the rhythm.
33
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Admitindo que aprender é um ato volitivo, qualquer trabalho deve partir da
hipótese de que o aluno que deseja aprender inglês, em sua forma oral, não pode
fugir do que precisa que é a leitura e o suporte para essa leitura. As atividades que
propusemos fornecem essas ferramentas. Após todo o trabalho de pesquisa
bibliográfica para a composição das atividades, nossas considerações são de que
em parte atenderam a hipótese do projeto. Dizemos em parte, porque durante o
processo de pesquisa descobrimos uma complexibilidade não prevista no projeto.
Percebemos a necessidade de que a “aquisição da segunda cultura” pode ser mais
eficaz que a própria preocupação com a pronúncia. A identidade do falante não é
desvelada apenas por vícios típicos de pronunciação, mas também pela seleção das
palavras, formação gramatical do sintagma e outros aspectos. Esta assertiva baseia-
se na grande preocupação dos teóricos com relação à entonação e ritmo que são
bem mais inerentes ao ser humano que a pronúncia em si. De qualquer modo, uma
pronúncia inteligível continua tendo importância no processo da fala e as atividades
aspiradas, foram realizadas. Os exercícios com ritmo e entonação precisariam ser
mais elaborados, mas para isso seria preciso um aprofundamento teórico melhor e
um trabalho à parte sobre esses aspectos, quem sabe, uma continuidade deste.
O envolvimento dos símbolos fonéticos nesse estudo nos fez perceber sua
importância no processo, e uma das principais dificuldades encontradas foi a
tentativa de trabalhar separadamente as habilidades de falar, ouvir, ler e escrever.
Trabalhar as quatro habilidades juntas não só é mais salutar como torna mais fácil a
elaboração de exercícios e atividades.
Com relação ao uso da tecnologia, concluímos até aqui que ainda estamos nos
primeiros passos. Dispositivos e softwares que reconheçam sem restrições a fala
humana e retornem uma avaliação de pronúncia ainda não são tão populares quanto
os kits multimídia, portanto, o estudo da pronúncia através destes aparatos só pode
ser realizado indiretamente através das atividades de listening. Além disso, a
facilidade de comunicação com pessoas de outros paises pela web é outra maneira
de termos uma avaliação de nossa pronúncia, porém, isso demanda certo
investimento de engenharia social e desprendimento de tempo para essas
interações.
34
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ALMEIDA FILHO, José Carlos de. Dimensões comunicativas no ensino de línguas. 3ª edição Campinas – SP: Pontes, 2002.
BROWN, H. Douglas. Principles of language learning and teaching. 4ª edition NY: Lomgman, 2000.
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CAMBRIDGES DICTIONARIES ON LINE. The most popular online dictionary and thesaurus for learners of English. Disponível em: <http://dictionary.cambridge.org/help/phonetics.html>. Acesso em: 05 março 2011.
CELCE-MURCIA, Marianne. Teaching English as a Second or Foreign Language. 3ª edição: Heinle & Heinle , 2001.
CLARE, Antonia, JJ Wilson. Total English. : Edinburgh UK Pearson Longman, 2008.
COX, Harold. English as a world language. Disponível em:<http://www.spellingsociety.org/journals/pamflets/ses3.php>. Acesso em: 05 março 2011.
GILBERT, Judy B. Clear Speech – Pronunciation and Listening Comprehension in North American English. Second Edition New York – NY: Cambridge University Press, 1993.
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MARQUES, Amadeu; DRAPER, David. Dicionário: inglês-portugues, português-inglês. 13ª Edição São Paulo: Ática, 1995.
MASSINI-CAGLIARI, Gladis. Diante das letras: a escrita na alfabetização. Campinas – SP: Mercado de Letras; ALB; Fapesp, 1999.
_______________________. Acento e Ritmo. São Paulo: Contexto, 1992.
RICHARDS, Jack C. Approaches and methods in languages teaching / Jack C. Richards and Theodore S. Rodgers. 2ª edition: Cambridge University Press, 2001.
35
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THE ENGLISH SPELLING SOCIETY. Poems showing the absurdities of English spelling. Disponível em: <http://www.englishspellingsociety.org/news/media/poems.php>. Acesso em: 05 março 2011.
TOMITCH, Lêda Maria Braga et tal. A Interculturalidade no ensino de inglês. Florianópolis – SC: UFSC, 2005.
WELLS, J. C. English Intonation – An introduction: 1ª Edição São Paulo – SP Cambridge do Brasil, 2006.
36
ANEXOS
37
ANEXO A – Alfabeto Fonético Internacional
FONTE: http://www.langsci.ucl.ac.uk/ipa/IPA_chart_(C)2005.pdf
38
ANEXO B – Tabela simplificada da Cambridge University PressFONTE: http://dictionary.cambridge.org/help/phonetics.html
Long Vowels
sheep
farm
cool
horse
bird
Diphthongs
day
eye
boy
mouth
nose (UK)
nose (US)
ear (UK)
hair (UK)
pure (UK)
Short Vowels
ship head
hat above
foot mother (US)
sock (UK) worm (US)
cup
Voiced Consonants
book
day
give
very
the
zoo
vision
jump
look
run
yes
we
moon
name
sing
Voiceless Consonants
pen
town
cat
fish
think
say
she
cheese
39