poder revisão

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Garantia da Constituição e Revisão Constitucional Na Constituição Portuguesa de 1976 todo o Título II da Parte IV é dedicado ao problema de Revisão da Constituição. Com a leitura dos Artigos 284º da C.R.P. e seguintes conclui-se que a Constituição é do tipo semi-rígida, pois exige para a sua modificação um processo agravado em relação ao processo de formação das leis ordinárias. No entanto, esta rigidez da Constituição, sendo os meios de da revelação da escolha feita pelo Poder Constituinte de modo a impedir a livre http://apontamentosdireito.atspace.com/index.html [Apontamentos Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra] 23

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Page 1: Poder Revisão

Garantia da Constituição e Revisão Constitucional Na Constituição Portuguesa de 1976 todo o Título II da Parte IV é dedicado ao problema de Revisão da Constituição. Com a leitura dos Artigos 284º da C.R.P. e seguintes conclui-se que a Constituição é do tipo semi-rígida, pois exige para a sua modificação um processo agravado em relação ao processo de formação das leis ordinárias. No entanto, esta rigidez da Constituição, sendo os meios de da revelação da escolha feita pelo Poder Constituinte de modo a impedir a livre http://apontamentosdireito.atspace.com/index.html [Apontamentos Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra] 23

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modificação da lei fundamental pelo legislador ordinário, considera-se uma Garantia da Constituição.

Então, O que é esse Poder de Revisão?

Poder de Revisão – Poder de alterar ou modificar a Constituição de acordo com as regras estabelecidas na própria Constituição. Esta Revisão pode ser:

Revisão Total da Constituição

Formal – em que todo o texto da Constituição é alterado

Material – em que só algumas normas são alteradas. No entanto, essas são as normas mais importantes da Constituição (Princípios Fundamentais).

Revisão Parcial da Constituição

Apenas algumas normas constitucionais são alteradas.

Revisão Expressa

Processo da Revisão que preconiza a introdução das alterações dentro do próprio texto da Constituição (aditamentos, supressões, substituições) – Artigo 287º da C.R.P.

Revisão Tácita

Processo de Revisão em que as alterações são colocadas no final do Texto Constitucional, mantendo o texto originário.

Exemplo: – Constituição Americana, vigente desde 1787 Revisão e Revisionismo

Revisão em sentido processual – modificação de um ou vários pontos específicos de um Constituição

Revisionismo (ou Revisão em sentido ideológico) – movimento político-social que reivindica a revisão global da Constituição para operar uma mudança de regime (programa de oposição ao regime instituído). Revisão e Desenvolvimento Constitucional

Desenvolvimento Constitucional – conjunto de formas de evolução da Constituição, como uma nova compreensão, por exemplo, dos Direitos Fundamentais, das formas de procedimento e de processo, http://apontamentosdireito.atspace.com/index.html [Apontamentos Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra] 24

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etc. ; e para exprimir aquilo que se poderá chamar a Garantia de identidade reflexiva, que significa dotar a Constituição de capacidade de prestação em face da sociedade e dos cidadãos

Limites ao Poder de Revisão

Limites Formais

Segundo o Artigo 284º da C.R.P., em Portugal só a Assembleia da República é que pode rever a Constituição

Segundo o Artigo 285º da C.R.P. a iniciativa de revisão compete exclusivamente aos Deputados, e nunca a um grupo parlamentar.

Limites relativos às maiorias deliberativas

a) Para assumir poderes de Revisão

Revisão Ordinária – Basta um deputado para iniciar o processo de Revisão Constitucional (5 em 5 anos)

Revisão Extraordinária – É necessário que quatro quintos dos deputados em efectividade de funções demonstrem essa vontade de revisão.

b) Maioria requerida para aprovar o texto de Revisão

Maioria de dois terços dos deputados em efectividade de funções (Artigo 286º n.º 1 da C.R.P.)

Limites Temporais

Revisões Ordinárias – intervalo mínimo de cinco anos para se poder rever a Constituição.

Revisões Extraordinárias – podem ser feitas em qualquer momento (Artigo 284º da C.R.P., n.º 2), desde que se satisfaçam os restantes requisitos (maioria qualificada de quatro quintos)

De notar que as Revisões Extraordinárias não alteram as datas das Revisões Ordinárias. Limites quanto à legitimidade do órgão com Poder de Revisão – Limites Materiais http://apontamentosdireito.atspace.com/index.html [Apontamentos Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra] 25

Page 4: Poder Revisão

Limites Circunstanciais

Proibição da alteração da Constituição na vigência de um Estado de Sítio ou de Emergência. Se por acaso o processo de Revisão já se tiver iniciado, é necessário suspender o processo, reiniciando-se quando tiver passado esse período de excepcionalidade constitucional.

Limites Materiais

Limites Inferiores

Normas de reserva de matéria constitucional que podem ser revistas

Limites Superiores

Normas que, por constituírem o cerne da Constituição, nunca podem ser objecto de Revisão.

Limites expressos ou textuais Artigo 288º da C.

Limites expressos ou textuais Artigo 288º da C.R.P.

Limites previstos no próprio texto constitucional que retiram determinadas matérias à disponibilidade do Poder de Revisão.

Limites Tácitos

Limites que apesar de não estarem consagrados na Constituição vinculam o próprio Poder de Revisão

Limites Absolutos

São todos os limites da Constituição que não podem ser superados pelo exercício de um Poder de Revisão

Limites Relativos

São os limites que se destinam a condicionar o exercício do Poder de Revisão, mas não a impedir a modificabilidade das normas constitucionais, desde que cumpridas as condições agravadas estabelecidas por esses limites.

Revisão Constitucional e Inconstitucionalidade http://apontamentosdireito.atspace.com/index.html [Apontamentos Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra] 26

Page 5: Poder Revisão

Leis de Revisão e Incompetência do Órgão

Nos casos de falta de competência absoluta dos órgãos dos quais emanou a lei de revisão é evidente que a lei está viciada de Inexistência, pois só a Assembleia da República é constitucionalmente competente para fazer as Leis de Revisão.

No entanto, existem casos em que as próprias Leis de Revisão emanadas pela Assembleia da República sofrem de inexistência. É o caso de:

1) Leis de Revisão aprovadas pela Assembleia da República, mas fora dos casos em que esta, nos termos constitucionais, tem poderes de revisão Exemplos: – Lei de Revisão aprovada durante o Estado-de-sítio – Lei de Revisão aprovada antes de decorridos cinco anos (excepto em caso de revisão Extraordinária) 2) Leis de Revisão votadas pela Assembleia da República no uso de poderes de Revisão, mas não aprovadas pela maioria qualificada constitucionalmente exigida (Artigo 286º n.º 1 da C.R.P.)

Artigo 286º da C.R.P. – Aprovação e Promulgação n.º 1 – As alterações da Constituição são aprovadas por maioria de dois terços dos Deputados em efectividade de funções. Leis de Revisão e ausência de causa ou intenção constituinte

Nunca se pode atribuir intenção de revisão às leis de revisão que não indiquem taxativa e expressamente as alterações a introduzir no texto constitucional.

Nulidade das Leis de Revisão

Todas as leis que não respeitem os limites formais e materiais de revisão serão inconstitucionais.

Exemplo: – Leis de revisão que violam o processo estabelecido no Artigo 285º n.º 1 da C.R.P., como seriam as leis aprovadas mediante proposta do Governo ou de uma Assembleia Regional; – Leis de Revisão que violam os limites materiais do Artigo 288º da C.R.P. http://apontamentosdireito.atspace.com/index.html [Apontamentos Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra] 27

Page 6: Poder Revisão

A Inconstitucionalidade material e formal das leis de Revisão pode e deve ser apreciada pelos Tribunais (Artigo 204º da C.R.P.) e pelo Tribunal Constitucional nos termos dos Artigos 280º e 281º da C.R.P., ou seja, segundo o processo de Fiscalização Sucessiva, havendo algumas dúvidas quanto à possibilidade de controlo preventivo.

As Rupturas Constitucionais

Traduzem-se na quebra de certas normas da Constituição para os casos excepcionais, permanecendo o texto em vigor para os restantes casos. A Ruptura Constitucional abriria ao legislador de Revisão a possibilidade de criar uma disciplina especial contrária à Constituição para determinados casos concretos, mantendo-se, no entanto, a validade geral das normas constitucionais. Exemplo: – Artigo 194º da C.R.P., que ainda mantém em vigor a lei incriminatória dos agentes e responsáveis da ex-PIDE/DGS, em excepção ao Artigo 29º da C.R.P. (aplicação da Lei Criminal).