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Poder Judiciário do Estado do Tocantins Comarca de Gurupi 1º Vara Criminal Av. Rio Grande do Norte, entre Ruas 3 e 4 Centro CEP 77.410-080 Gurupi 1 Autos: 5003007-50.2012.827.2722 Acusados: EZEMI NUNES MOREIRA E OUTROS O Ministério Público ofereceu denúncia contra Ezemi Nunes Moreira, brasileiro, servidor público, nascido aos 22.06.69, filho de Ernesto Nunes Sobrinho e Francisca Moreira Nunes, Ercílio Bezerra de Castro Filho, brasileiro, advogado, nascido aos 18.02.64, filho de Luzina de Souza Bezerra, Celma Mendonça Milhomem Jardim, brasileira, advogada, nascida aos 16.11.74, filha de Ulisses Moreira Milhomem e Maria da Pureza Mendonça Milhomem, Ceila Mendonça Milhomem, brasileira, nascida aos 05.04.68, filha de Ulisses Moreira Milhomem e Maria da Pureza Mendonça Milhomem, e Walace Pimentel, brasileiro, casado, advogado, nascido em 10.05.66, filho de Alfredo Pimentel da Silva Sobrinho e Maria Madalena F. Pimentel, narrando, em suma, o que se segue. 1ª Parte (do uso de documento público falso, da falsidade ideológica, e da falta de licitação para contratação de um advogado privado pela Fundação Pública UNIRG): Narra a peça acusatória que em meados de abril de 2009, nas dependências da Fundação UNIRG, na cidade de Gurupi/TO, o denunciado Ezemi (à época Presidente da mencionada fundação), fez uso de documento falso, consistente em um parecer materialmente falsificado, indevidamente numerado com o nº 020/2009. Também em meados de abril de 2009, no mesmo local, Ezemi inseriu em documento público (portaria indevidamente numerada com o nº 05/2009), declaração falsa, com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. Ainda em meados de março e abril de 2009, no mesmo local, Ezemi, na qualidade de Presidente da Fundação UNIRG, previamente ajustado e em unidade de desígnios com os denunciados Walace e Celma, deixou de observar as formalidades pertinentes à inexigibilidade de licitação, e inexigiu licitação, fora das hipóteses da lei e sem prévio procedimento administrativo, para estabelecer um contrato de prestação de serviços técnicos especializados entre a Fundação e o denunciado Ercílio, no valor R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), para que este representasse a Fundação em juízo. Consta que após a outorga de poderes a Ercílio, o denunciado Ezemi, visando conferir ares de legalidade à contratação, forjou o procedimento administrativo de nº 087-A/2009, usando, para tanto, o parecer jurídico materialmente falso de nº 020/2009 e a portaria falsificada de nº 05/2009 (citados anteriormente). O parecer nº 020/2009 externava a possibilidade de contratar o denunciado Ercílio sem exigibilidade de licitação, enquanto que a Portaria nº 05/2009 inexigia a licitação para a contratação de Ercílio, mencionando-se o parecer falso. Narra-se que no dia 08.05.2009, o acusado Ezemi, ainda na qualidade de Presidente da UNIRG, invocando a inexigibilidade de licitação (sem observar as exigências legais para tanto), estabeleceu com o denunciado Ercílio contrato de prestação de serviços técnicos especializados, no valor de R$75.000,00 (setenta e cinco mil reais), sob o fundamento de que os serviços eram de natureza singular, e que este denunciado era profissional de notória especialização na área tributária. Entretanto, o denunciado Ercílio não era especialista de fama notória em causas tributárias, sendo que ainda substabeleceu os serviços para o acusado Walace, que também não era especialista notório.

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Page 1: Poder Judiciário do Estado do Tocantins Comarca de Gurupi ...£o-Judicial.pdf · UNIRG e do desvio de dinheiro público) Narra-se que nos meses de maio, junho e julho de 2009, nesta

Poder Judiciário do Estado do Tocantins Comarca de Gurupi – 1º Vara Criminal

Av. Rio Grande do Norte, entre Ruas 3 e 4 – Centro – CEP 77.410-080 – Gurupi

1

Autos: 5003007-50.2012.827.2722

Acusados: EZEMI NUNES MOREIRA E OUTROS

O Ministério Público ofereceu denúncia contra Ezemi Nunes Moreira, brasileiro,

servidor público, nascido aos 22.06.69, filho de Ernesto Nunes Sobrinho e Francisca Moreira

Nunes, Ercílio Bezerra de Castro Filho, brasileiro, advogado, nascido aos 18.02.64, filho de

Luzina de Souza Bezerra, Celma Mendonça Milhomem Jardim, brasileira, advogada, nascida

aos 16.11.74, filha de Ulisses Moreira Milhomem e Maria da Pureza Mendonça Milhomem,

Ceila Mendonça Milhomem, brasileira, nascida aos 05.04.68, filha de Ulisses Moreira

Milhomem e Maria da Pureza Mendonça Milhomem, e Walace Pimentel, brasileiro, casado,

advogado, nascido em 10.05.66, filho de Alfredo Pimentel da Silva Sobrinho e Maria

Madalena F. Pimentel, narrando, em suma, o que se segue.

1ª Parte (do uso de documento público falso, da falsidade ideológica, e da falta de

licitação para contratação de um advogado privado pela Fundação Pública UNIRG):

Narra a peça acusatória que em meados de abril de 2009, nas dependências da Fundação

UNIRG, na cidade de Gurupi/TO, o denunciado Ezemi (à época Presidente da mencionada

fundação), fez uso de documento falso, consistente em um parecer materialmente falsificado,

indevidamente numerado com o nº 020/2009. Também em meados de abril de 2009, no

mesmo local, Ezemi inseriu em documento público (portaria indevidamente numerada com o

nº 05/2009), declaração falsa, com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamente

relevante.

Ainda em meados de março e abril de 2009, no mesmo local, Ezemi, na qualidade de

Presidente da Fundação UNIRG, previamente ajustado e em unidade de desígnios com os

denunciados Walace e Celma, deixou de observar as formalidades pertinentes à

inexigibilidade de licitação, e inexigiu licitação, fora das hipóteses da lei e sem prévio

procedimento administrativo, para estabelecer um contrato de prestação de serviços técnicos

especializados entre a Fundação e o denunciado Ercílio, no valor R$ 1.000.000,00 (um milhão

de reais), para que este representasse a Fundação em juízo.

Consta que após a outorga de poderes a Ercílio, o denunciado Ezemi, visando conferir

ares de legalidade à contratação, forjou o procedimento administrativo de nº 087-A/2009,

usando, para tanto, o parecer jurídico materialmente falso de nº 020/2009 e a portaria

falsificada de nº 05/2009 (citados anteriormente). O parecer nº 020/2009 externava a

possibilidade de contratar o denunciado Ercílio sem exigibilidade de licitação, enquanto que a

Portaria nº 05/2009 inexigia a licitação para a contratação de Ercílio, mencionando-se o

parecer falso.

Narra-se que no dia 08.05.2009, o acusado Ezemi, ainda na qualidade de Presidente da

UNIRG, invocando a inexigibilidade de licitação (sem observar as exigências legais para

tanto), estabeleceu com o denunciado Ercílio contrato de prestação de serviços técnicos

especializados, no valor de R$75.000,00 (setenta e cinco mil reais), sob o fundamento de que

os serviços eram de natureza singular, e que este denunciado era profissional de notória

especialização na área tributária. Entretanto, o denunciado Ercílio não era especialista de fama

notória em causas tributárias, sendo que ainda substabeleceu os serviços para o acusado

Walace, que também não era especialista notório.

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Por sua vez, os denunciados Celma e Walace concorreram para os delitos acima

narrados, vez que participaram diretamente das tratativas referentes às contratações ilegais,

beneficiando-se das mesmas, sendo que Walace recebeu a quantia de R$ 179.032,11 (cento e

setenta e nove mil e trinta e dois reais e onze centavos), Ercílio recebeu R$ 45.000,00

(quarenta e cinco mil reais), e as denunciadas Celma e Ceila receberam a quantia de R$

18.000,00 (dezoito mil reais).

2ª Parte (Da contratação desnecessária de advogado privado para a Fundação

UNIRG e do desvio de dinheiro público)

Narra-se que nos meses de maio, junho e julho de 2009, nesta urbe, o denunciado

Ezemi, na qualidade de Presidente da Fundação UNIRG, desviou dos cofres públicos a

quantia de R$ 75.000,00 (setenta e cinco mil reais) de que tinha posse em razão do cargo, em

proveito dos denunciados Ercílio, Walace, Celma e Ceila.

Em dezembro de 2010, a denunciada Celma, na qualidade de Presidente da Fundação

UNIRG, desviou dos cofres públicos a quantia de R$194.470,45 (cento e noventa e quatro mil

e quatrocentos e setenta reais e quarenta e cinco centavos), de que tinha posse em razão do

cargo, em proveito dos denunciados Ercílio e Walace.

Por último, no ano de 2010, a denunciada Celma, ainda na qualidade de Presidente da

UNIRG, previamente ajustada com Walace e Ercílio, realizou um acordo judicial em uma

ação de execução de título extrajudicial (movida pelo escritório de advocacia pertencente a

Walace), na qual concordou que a Fundação pagasse a quantia de R$ 1.024.067,71 a Walace,

sem questionar nem oferecer qualquer embargo à cobrança. Apurou-se que deste acordo,

chegou a ser repassado a Walace a quantia total de R$ 194.470,45 (cento e noventa e quatro

mil, quatrocentos e setenta reais e quarenta e cinco centavos), por meio de cheques que foram

depositados na conta de Walace. O restante do valor do acordo somente não foi repassado a

Walace porque o intento criminoso foi descoberto e obstado pela ação do Ministério Público.

Ao final, o Ministério Público pugnou pelas seguintes condenações: a) Ezemi como

incurso no art. 89, caput, da Lei nº 8.666/93, art. 304 c/c art. 297, art. 299, parágrafo único, e

art. 312, caput, todos do CP, na forma do art. 69 do mesmo diploma; b) Ercílio, Celma e

Walace como incursos no art. 89, caput, da Lei nº 8.666/93 c/c art. 29 do CP, e art. 312,

caput, c/c art. 29, também do CP, na forma do art. 69 do mesmo diploma; c) Ceila como

incursa no art. 312, caput, c/c art. 29, ambos do CP.

A denúncia foi oferecida em 09.12.2011 e recebida no dia 19 seguinte. Todos os

denunciados foram citados pessoalmente e apresentaram suas respostas à acusação, sendo que

Ceila e Ercílio o fizeram por meio de advogados constituídos (distintos), enquanto os demais

denunciados advogaram em causa própria.

No dia 27.3.13 (ev. 6), a juíza titular da 1ª Vara Criminal se declarou suspeita por

motivo de foro íntimo, tendo determinado a remessa dos autos ao substituto automático.

Porém, os dois substitutos seguintes também se declararam suspeitos por motivo de foro

íntimo (eventos 8 e 14), razão pela qual me vieram os autos (IN/TJ 5/08).

No evento 21 o Ministério Público manifestou-se pelo afastamento de todas as teses

defensivas arguidas pelos denunciados e consequente prosseguimento do feito.

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Na decisão acostada ao evento 24 deliberou-se pelo não acolhimento das teses

defensivas, caso que foi designada audiência de instrução e julgamento.

No dia 02.08.2013 realizou-se a primeira audiência de instrução e julgamento (evento

89), na qual foram inquiridas as testemunhas Antônio Sávio Barbalho do Nascimento,

Idelfonso Gomes Parente Júnior e Manoel Moraes dos Reis Filho.

Através de cartas precatórias foram inquiridas as testemunhas Uliana Barroso Menezes

Fleury (evento 108), Tânia Regina dos Santos Mendes (0000335-04.2014.827.2717) e Siléia

Maria Rodrigues Facundes (5021649-16.2013.827.2729).

No dia 28.04.2014 realizou-se a inquirição da testemunha Wellington Magalhães,

sendo que a audiência ocorreu na cidade de Cristalândia, uma vez que a testemunha é juiz de

direito titular daquela comarca (evento 238).

A audiência de instrução teve continuidade no dia 12.08.14 (evento 301), oportunidade

em que houve inquirição das testemunhas de defesa Nair Rosa Freitas Caldas, Geraldo

Cordeiro da Silva, José Idejar Viana, Vilma Alves de Souza Bezerra, Hagton Honorato Dias e

Ercílio Bezerra de Castro Filho.

Por fim, no dia 06.08.2015 realizou-se a última audiência, na qual houve a inquirição

das testemunhas Antônio Carlos Barbazia e Vilma Pereira da Silva Brito, bem como o

interrogatório dos denunciados (evento 379).

Nas alegações finais o Ministério Público requereu o seguinte (evento 384): a)

condenação do acusado Ezemi nas penas do art. 89, caput, da Lei nº 8.666/93 e art. 312,

caput, do Código Penal, em concurso material de crimes; b) condenação de Ercílio nas penas

do art. 89, parágrafo único, da Lei nº 8.666/93 e art. 312, caput, do Código Penal c/c artigo 29

do mesmo diploma, por duas vezes, em concurso material de crimes; c) condenação de

Walace nas penas do art. 89, parágrafo único, da Lei nº 8.666/1993 e art. 312, caput, do

Código Penal c/c artigo 29 do mesmo diploma, por duas vezes, em concurso material de

crimes; d) condenação de Celma nas sanções do art. 312, caput, do CP; e) absolvição de Ceila

no tocante em relação à prática do crime de peculato (cheque no valor de R$18.000,00); f)

absolvição de Celma em relação ao crime previsto no art. 89, parágrafo único, da Lei nº

8.666/1993 e artigo 312, caput, do Código Penal, c/c artigo 29 (peculato da época da

celebração do contrato – cheque na importância de R$ 18.000,00).

O MP requereu ainda, por fim, a aplicação da multa prevista no art. 89 da Lei n.

8666/1993, observando-se a diretriz prevista no art. 99 da mesma lei, bem como a perda do

cargo, função pública ou mandato eletivo dos réus que possuam vínculo funcional com o

Poder Público, nos termos do art. 92, I, “b”, do Código Penal.

As defesas requereram o seguinte:

a) Ceila (evento 391) – a absolvição de todas as imputações, com fundamento no art.

386, incisos III e IV, do CPP, bem como a cessação dos efeitos das medidas

assecuratórias de arresto/sequestro e hipoteca legal de bens proferidas nos autos nº

5003332-25.2012.827.2722 e 5000343-80.2011.827.2722, com a restituição dos

valores sequestrados;

b) Celma (evento 392) – absolvição em relação ao crime de fraude à licitação, com

fundamento no art. 386, IV, do CPP, e absolvição da imputação de peculato, nos

termos do art. 386, III, do CPP. Requereu, ainda, a cessação dos efeitos das medidas

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assecuratórias de arresto/sequestro e hipoteca legal de bens proferidas nos autos nº

5003332-25.2012.827.2722 e 5000343-80.2011.827.2722, e que sejam restituídos os

valores sequestrados nas suas contas correntes, bem assim que seja ordenado ao

Cartório de Registro de Imóveis que promova a baixa da Hipoteca Legal no imóvel

pertencente à denunciada.

c) Walace (evento 393) – preliminarmente, sustentou que a acusação está incoerente com

uma recomendação do CNMP e com o entendimento do STF, caso que deve ser

improvida. No mérito, requereu absolvição de todas as imputações, em razão da

atipicidade das condutas e por não existirem provas suficientes para a condenação.

Pugnou, ainda, pela revogação das decisões proferidas nos processos de medidas

assecuratórias números 5003332-25.2012.827.2722 e 5000343-80.2011.827.2722,

determinando a restituição dos valores arrestados/sequestrados e baixa no registro no

CRI local.

d) Ercílio (evento 394) – preliminarmente, sustentou que a acusação está incoerente com

uma recomendação do CNMP e com o entendimento do STF, caso que deve ser

improvida. No mérito, requereu a absolvição de todas as imputações, em razão da

atipicidade das condutas e por não existirem provas suficientes para a condenação.

Pugnou, ainda, pela revogação das decisões proferidas nos processos de medidas

assecuratórias números 5003332-25.2012.827.2722 e 5000343-80.2011.827.2722,

determinando a restituição dos valores arrestados/sequestrados e baixa no registro nos

respectivos CRI’s;

e) Ezemi (evento 399) - absolvição de todas as imputações, em razão da atipicidade das

condutas e por não existirem provas suficientes para a condenação.

DECIDO

No tocante à preliminar sustentada pelos acusados Ercílio e Walace, observo que não

merece acolhida, uma vez que a peça acusatória não questiona a inexigibilidade de licitação

para a contratação de um advogado, mas sim a legalidade do processo licitatório e os

consequentes prejuízos ao erário. Portanto, não houve desrespeito à recomendação do CNMP

apresentada pelos acusados.

No tocante ao mérito, para melhor entendimento, deliberarei sobre os fatos

separadamente.

1) FALSIDADE IDEOLÓGICA, USO DE DOCUMENTO FALSO, FRAUDE À

LICITAÇÃO E PECULATO (FATOS OCORRIDOS EM MEADOS DE ABRIL DE

2009)

a) Das condutas atribuídas a Ezemi e Ercílio

O conjunto probatório demonstrou que no dia 16 de abril de 2009, a Fundação UNIRG

contratou, com inexigibilidade de licitação, o escritório de advocacia do acu representante

da UNIRG no dia 13.04.2009, antes de ser publicada a portaria que autorizava a

contratação de Ercílio. Tal fato foi admitido por Ezemi e Ercílio ao serem interrogados em

juízo, os quais alegaram que a outorga da procuração antes de encerrar o processo licitatório

se deu em virtude da suposta urgência em ingressar com a referida ação.

O processo administrativo que deu ensejo à contratação de Ercílio, autuado sob o nº

087-A/2009 (acostado aos autos nº 5000147-13.2011.827.2722, evento 1, anexo 13, p.

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324/356), iniciou-se no dia 10/03/2009 com a proposta de trabalho formulada por Ercílio, a

qual fora instruída com o contrato social do escritório de advocacia e respectivas alterações, e

uma certidão da Prefeitura de Paraíso do Tocantins/TO, atestando que Ercílio havia prestado

serviços na área jurídica junto àquele ente. Na sequência, foi acostado o Parecer de nº

20/2009, datado de 15.04.2009, no qual a Procuradoria Jurídica da UNIRG teria se

manifestado pela inexigibilidade de licitação para contratação de Ercílio. Após o parecer,

consta a Portaria nº 050/09, assinada por Ezemi, na qual declara a inexigibilidade de licitação

para a contratação de Ercílio, seguido do Contrato de Prestação de Serviços Técnicos

Especializados, no valor de R$75.000,00 (setenta e cinco mil reais), assinado em 08.05.2009.

Ocorre que o Parecer nº 20/2009 e a Portaria nº 50/2009 que formam o referido

processo foram numerados indevidamente, vez que tais números já haviam sido utilizados em

documentos anteriores, conforme demonstram as fichas de controle de pareceres e portarias

acostadas aos autos nº 5000147-13.2011.827.2722, evento 1, anexos REQ5 e OUT8.

O Parecer nº 20/2009 teria sido elaborado pela servidora Siléia Maria Rodrigues

Facundes. Entretanto, no dia 15.04.2009, Siléia não era mais servidora da UNIRG, pois fora

exonerada em 20.03.2009. Ao ser inquirida, Siléia afirmou que não elaborou, tampouco

assinou o referido parecer. A declaração de Siléia foi corroborada pelo laudo pericial criminal

federal documentoscópico, acostado ao evento 1, INQ6, o qual atestou que a assinatura no

Parecer não era de Siléia.

Ademais, o referido laudo comprovou ainda que o documento fora produzido por

impressora diferente da que era utilizada na Procuradoria Jurídica da UNIRG.

Cumpre salientar que a outra servidora que trabalhava na Procuradoria Jurídica da

UNIRG na data do mencionado parecer Nair Rosa Freitas, também afirmou que não fora

consultada quanto à contratação de Ercílio.

Assim, restou comprovado que o Parecer nº 20/2009 acostado ao processo

administrativo nº 087-A/2009 é materialmente falso, vez que não fora produzido pela

Procuradoria Jurídica da UNIRG.

Não obstante, o referido parecer foi utilizado para embasar a Portaria nº 050/2009,

assinada por Ezemi. Na Portaria nº 050/2009, consta a informação inverídica de que a

Procuradoria Jurídica Administrativa da fundação UNIRG teria se manifestado favorável à

contratação direta do advogado Hercílio Bezerra de Castro Filho, quando, na verdade, aquele

órgão não chegou a ser consultado sobre o tema.

Assim, restou inconteste que Ezemi fez uso do parecer materialmente falso para inserir

em documento público (Portaria) informação inverídica, a fim de viabilizar a contratação de

Ercílio.

Ressalto que o laudo pericial supra mencionado comprovou que o Parecer nº 20/2009

(falsificado materialmente) e a Portaria nº 050/2009 (falsificada ideologicamente) são

oriundos da mesma impressora (diferente das que eram utilizadas na Presidência e na

Procuradoria Jurídica da Fundação UNIRG), e que ambos contêm o mesmo erro gráfico no

cabeçalho (um risco sobre o timbre da fundação).

Ademais, o perito criminal federal atestou ainda que “com base no resultado do

levantamento de marcas latentes e na análise das sujidades no reverso da última folha do

Parecer nº 020/2009 (acostado às fls. 19/21 no Processo 087-A/2009), depreende-se que no

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ato da assinatura deste documento, a Portaria nº 050/2009 de fl. 22, juntada ao mesmo

Processo, havia sido impressa há poucos minutos e estava posicionada abaixo da folha do

Parecer, motivo pelo qual concluo que ambos os documentos foram produzidos

concomitantemente.”

Assim, a partir da conclusão acima, percebe-se que documentos que deveriam ter sido

redigidos por setores diferentes, em datas distintas, foram produzidos concomitantemente, o

que evidencia o intento criminoso de forjar um processo administrativo.

As testemunhas Siléia Maria e Uliana (Secretária do Gabinete da Presidência à época

da contratação) afirmaram em juízo que o trâmite do processo administrativo nº 087-A/2009

não obedecia ao padrão dos processos da UNIRG, pois não havia encaminhamento entre os

órgãos internos, justificativa, nem dotação orçamentária, não foi impresso em papel timbrado,

e que as rubricas nas folhas do processo são todas iguais, o que não era usual, já que cada

setor enumerava as folhas à medida em que eram juntadas. Cumpre salientar que Siléia e

Uliana somente tiveram acesso ao referido processo durante a fase investigativa.

Como se vê, o processo administrativo nº 087-A/09 não seguiu o rito de um processo

regular da UNIRG, além de conter documentos materialmente e ideologicamente falsos,

ficando evidente que o referido processo fora forjado para conferir ares de legalidade à

contratação de Ercílio.

Com efeito, não foi possível descobrir a autoria material da falsificação do Parecer nº

20/2009, contudo restou inconteste que Ezemi subscreveu a Portaria nº 50/09, a qual se

baseou no parecer falso. Portanto, foi o próprio Ezimi ou alguém a seu mando que redigiu o

Parecer 20/2009. Por sua vez, se mostra insubsistente a afirmação de Ezemi no sentido de

que a referida Portaria fora minutada pela Procuradoria, o que foi negado. Inclusive, utilizou-

se número no utilizado noutra Portaria. Ademais, nem mesmo o Parecer fora produzido

naquele setor, conforme demonstrado acima.

Evidente, portanto, a conduta criminosa de Ezemi, o qual dolosamente praticou os

crimes de uso de documento público falso e falsidade ideológica, além de ter outorgado

procuração ao réu Ercílio para que este atuasse em juízo defendendo os interesses da UNIRG,

sem prévio e regular processo de inexigibilidade de licitação.

Deve-se ponderar, contudo, que os crimes de uso de documento falso e de falsidade

ideológica, praticados por Ezemi, destinaram-se à execução de um crime fim, qual seja,

inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei. Assim, conforme anotado pelo

Ministério Público, aplicável ao caso o princípio da consunção, porquanto o fim almejado

pelos agentes era dar aparência de legalidade ao procedimento licitatório, caso que o uso de

documento falso e a falsidade ideológica encontram-se absorvidos pelo crime do art. 89,

caput, da Lei nº 8.666/93.

Além de não terem sido observadas as formalidades pertinentes à inexigibilidade, as

provas carreadas aos autos demonstraram que a contratação de Ercílio se deu fora das

hipóteses de inexigibilidade de licitação.

A inexigibilidade de licitação para contratação de serviços é prevista no art. 25 da Lei

nº 8.666/93, que assim determina:

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“Art. 25. É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição,

em especial:

(...)

II - para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 desta Lei, de

natureza singular, com profissionais ou empresas de notória especialização,

vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação;

(...)

§ 1º Considera-se de notória especialização o profissional ou empresa cujo

conceito no campo de sua especialidade, decorrente de desempenho anterior,

estudos, experiências, publicações, organização, aparelhamento, equipe técnica,

ou de outros requisitos relacionados com suas atividades, permita inferir que o

seu trabalho é essencial e indiscutivelmente o mais adequado à plena satisfação

do objeto do contrato. (...)”

Por sua vez, o art. 13 da mesma lei traz a relação dos serviços técnicos profissionais

especializados, dentre os quais inclui-se a contratação de advogado para patrocínio ou defesa

de causas judiciais.

Contudo, extrai-se do dispositivo legal acima transcrito que, para haver a

inexigibilidade de licitação, o serviço deve ter natureza singular, ou seja, não pode ser algo

usual, corriqueiro, e por essa razão justifique a contratação de um profissional de notória

especialização.

Conforme dito alhures, o único documento juntado por Ercílio para justificar sua

notória especialização foi uma declaração da Prefeitura de Paraíso do Tocantins/TO. Ocorre

que tal declaração não é suficiente para comprovar a notória especialização, nem permite

inferir que seu trabalho é essencial e indiscutivelmente o mais adequado à plena satisfação do

objeto do contrato. Com efeito, o contratado deveria demonstrar ao menos que possuía

especialização acadêmica na matéria, ou deveria ter comprovado documentalmente que

logrou êxito em ações judiciais semelhantes, pois, de acordo com o § 1º do art. 25, acima

transcrito, a comprovação da notória especialização e da natureza singular de seu trabalho

deve ser feita de forma objetiva.

Ademais, o próprio Ercílio em seu interrogatório (ev. 379, INTERR16) admitiu que

não possui nenhum título acadêmico de especialização na área tributária. O único título que

diz possuir é uma pós-graduação em Direito Processual Civil. E estaria cursando um

Mestrado, porém, em Direito Processual Civil.

Na data em que foi contratado, Ercílio exercia o cargo de presidente da Ordem dos

Advogados do Brasil na Seccional Tocantins. Em que pese o prestígio e a importância do

cargo que exercia, tal circunstância também não lhe confere o título de especialista em

matéria tributária, de modo que não poderia constituir-se em argumento para justificar a

singularidade de seus serviços.

Ademais, para que haja inexigibilidade de licitação, deve-se comprovar a

inviabilidade de competição. Hely Lopes Meirelles ensina que “a impossibilidade jurídica

de competição decorre da natureza específica do negócio ou dos objetivos visados pela

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Administração, não cabendo pretender-se melhor proposta quando só um é proprietário

do bem desejado pelo Poder Público ou reconhecidamente capaz de cumprir

adequadamente determinado contrato” (in ALEXANDRINO, Marcelo. Direito

administrativo descomplicado. 17 ed. São Paulo: Método, 2009).

No caso em testilha, tal elemento também não restou caracterizado, tanto é que

durante o curso da ação ajuizada por Ercílio, houve substabelecimento para o acusado

Walace, que também é advogado. Ora, se a contratação de Ercílio se deu intuitu personae, em

virtude de sua notória especialização e prestação de serviço singular, não caberia o

substabelecimento de quaisquer atos judiciais. Observando-se que Ercílio foi constituído em

15.3.09 (data da procuração), tendo substabelecido para o acusado Walace em 2.6.09, cuja

procuração e termo de substabelecimento estão acostados no ev. 1, INQ7, fls. 29 e 38,

respectivamente.

Assim, é possível concluir que o fato de Ercílio ter substabelecido para Walace

constitui prova de que seu serviço não era singular, bem assim que a competição era viável,

tendo em vista que o próprio Walace, a princípio, possuiria aptidão para ajuizar a referida

ação.

Ora, diante do farto conjunto comprobatório de que as formalidades pertinentes à

inexigibilidade de licitação foram desrespeitadas, bem assim que a inexigibilidade se deu fora

das hipóteses previstas no art. 25 da Lei nº 8.666/93, restou caracterizada a prática do crime

previsto no art. 89 da Lei nº 8.666/93, perpetrada pelo acusado Ezemi.

Por sua vez, o parágrafo único do art. 89 prevê que “Na mesma pena incorre aquele

que, tendo comprovadamente concorrido para a consumação da ilegalidade, beneficiou-

se da dispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público.”

No caso em tela, não remanesce qualquer dúvida de que Ercílio fora beneficiado com a

contratação ilegal, haja vista que recebeu o valor de R$75.000,00 (setenta e cinco mil reais)

em decorrência do contrato com a UNIRG, caso que sua conduta se amolda ao tipo do

dispositivo legal acima transcrito.

Ademais, não se sustenta a alegação de Ercílio no sentido de que não tinha

conhecimento acerca do andamento do processo administrativo que inexigia a licitação para

sua contratação, pois em seu interrogatório admitiu que Ezemi outorgou-lhe procuração antes

de haver a contratação formal, a pretexto da suposta urgência que o caso demandava.

Frise-se que a procuração outorgada a Ercílio fora assinada em 15.03.2009, e a ação

judicial somente fora protocolada em 13.04.2009, ou seja, quase um mês depois. Ora, se a

demanda era tão urgente, não se justifica aguardar tanto tempo para ajuizá-la.

As defesas de Ezemi e Ercílio sustentaram que o crime de fraude à licitação não restou

configurado, sob o argumento de que não houve dano ao erário, já que a ação judicial

intentada pelo escritório de Ercílio logrou êxito em extinguir os débitos que a UNIRG possuía

com o INSS, beneficiando a fundação.

Entretanto, o êxito na ação judicial não afasta o prejuízo ao erário decorrente da

contratação ilegal. A Fundação UNIRG conta com uma Procuradoria Jurídica, a qual, à época

dos fatos, já era formada por servidores públicos concursados, os quais certamente detinham

conhecimento acerca da matéria da ação judicial. Embora o acusado Ezemi tenha afirmado

que a Procuradoria Jurídica da UNIRG não possuía a devida aptidão para ajuizar a ação,

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verifica-se que a Procuradoria sequer chegou a ser consultada acerca desta

possibilidade, conforme se infere dos depoimentos de Siléia Maria e Nair Rosa

(observando-se que Siléia ainda exercia o cargo de Procuradora Jurídica Geral Administrativa

da Fundação quanto houve a outorga da procuração ao acusado Ercílio).

Importante salientar que a testemunha Siléia afirmou em juízo que em 2007 foi

solicitado à Procuradoria que fizesse a defesa da UNIRG perante o INSS, haja vista a

necessidade de obter uma certidão negativa de débitos, caso que aquele órgão reconheceu a

natureza pública da UNIRG e cancelou o lançamento de um débito, observando-se que o

processo administrativo em questão encontra-se encartado no evento 1, anexo 10. Relatou,

ainda, que em meados de fevereiro de 2009 a UNIRG recebeu uma notificação do INSS

informando o cancelamento do parcelamento de débitos, em razão da defesa promovida pela

Procuradoria Jurídica da UNIRG. Frisou, portanto, que a Procuradoria da UNIRG tinha

plenas condições de ajuizar a ação com a mesma matéria, que já havia sido objeto de demanda

no âmbito administrativo.

Ademais, constata-se que no Procedimento de Investigação Criminal nº 1/11,

CONJUNTO – 1ª e 2ª PJCrim (ev. 1, INQ3, fls. 11/15), existe a comprovação da existência de

diversos advogados concursados integrantes da Procuradoria da Fundação Unirg. Dentre eles,

duas com Pós-Gradução: Nair Rosa de Freitas Caldas, especialista em Direito Público,

Constitucional, Administrativo e Tributário; e Patrícia Mota Marinho Vichmeyer, especialista

em Direito Público, presumindo-se, pois, que detinham um conhecimento mínimo acerca da

matéria debatida na ação judicial subscrita por Ercílio.

Portanto, mais uma prova da desnecessidade de contratação do acusado Ercílio,

porquanto, a própria Fundação Unirg contava em seu quadro diversos advogados, inclusive,

mais preparados academicamente que o acusado Ercilio. Isto porque Ercílio não possui tais

especializações.

Evitando adentrar-me no mérito acerca da complexidade das petições elaboradas por

Ercílio, mas fazendo uma comparação com a petição elaborada pela UNIRG no processo

administrativo nº 13123.000115/2007-34, fica evidente que a causa de pedir e o pedido eram

semelhantes, tendo em vista que ambas as petições visavam o cancelamento de um débito

tributário sob o fundamento de que a UNIRG era fundação de natureza pública, caso que a

alíquota de cobrança do tributo deveria ser menor.

Inclusive, na decisão que concedeu a medida liminar nos autos nº 2009.43.00.002235-

1, o juiz federal Adelmar Aires Pimenta da Silva consignou em relação à natureza da

Fundação UNIRG o seguinte: “A requerente não instruiu a petição inicial com elementos

capazes de elucidar essas questões, o que seria facilmente demonstrado com cópias dos atos

constitutivos e de gestão da fundação demandante. A despeito da negligência da própria

autora, constata-se que a própria UNIÃO já reconheceu a natureza pública da

demandante.” (grifos do autor)

Na aludida decisão, relatou-se que foi necessário emendar a petição inicial no tocante

à legitimidade passiva, valor da causa, adequação da via eleita e formulação de pedido

determinado, bem assim que a petição não estava assinada e que faltavam documentos

relacionados aos parcelamentos objetos da demanda, situação que fora sanada posteriormente.

Com o devido respeito à atividade profissional do acusado Ercílio, extrai-se da decisão

supra mencionada que sua petição não se reveste da excepcionalidade e singularidade que

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justificaram sua contratação com inexigibilidade de licitação, pois embora tenha se

autodeclarado conhecedor e experiente na matéria, precisou sanar alguns defeitos formais e

materiais comezinhos para que a ação fosse recebida.

Ora, em que pese o êxito na ação judicial nº 2009.43.00.002235-1, não restou

demonstrada a imprescindibilidade da contratação de advogado privado para garantir o

resultado pretendido pela UNIRG, porquanto os próprios servidores da Procuradoria Jurídica

da UNIRG possuíam condições de debater igual matéria em juízo, não havendo necessidade

de se criar tamanha despesa ao erário.

Deixo consignado que o prejuízo aos cofres públicos não se limitou ao pagamento dos

R$75.000,00 (setenta e cinco mil reais) decorrentes da contratação ilegal, haja vista que

posteriormente entabulou-se acordo eminentemente ilegal com base no referido contrato

fraudulento, implicando em vultoso dano ao erário, conforme será melhor explanado adiante.

Ora, inconteste a ocorrência de prejuízo ao erário, decorrente do conluio criminoso

entre Ezemi e Ercílio.

Por conseguinte, tem-se que essa apropriação indevida de verba pública caracteriza o

crime de peculato, na modalidade desvio. Isso porque Ezemi, na qualidade de funcionário

público (presidente da fundação UNIRG) dolosamente conferiu destinação diversa a dinheiro

público, em benefício de Ercílio.

Conforme fartamente relatado, a contratação de Ercílio se deu de forma ilegal e

fraudulenta, portanto tem-se que a verba pública teve destinação ilegal, haja vista que a ação

judicial poderia e deveria ter sido elaborada pelos servidores da Procuradoria da UNIRG.

Ademais, está evidente que Ercílio concorreu para a consumação do crime de

peculato, pois confeccionou a procuração ad judicia e ajuizou ação na Justiça Federal antes

mesmo de haver um processo de inexigibilidade de licitação concluído, celebrando contrato

fraudulento e ilegal com a Fundação UNIRG.

A jurisprudência dos Tribunais Superiores e a doutrina dominante classificam o

peculato como crime próprio, ou seja, a princípio, só pode ser cometido por funcionário

público (no sentido amplo trazido pelo art. 327 do CP).

Entretanto, o particular que tem conhecimento da qualidade funcional do agente, e

concorre, de qualquer modo, para a prática do delito, responderá como coautor do peculato.

Isto ocorre por força do disposto no art. 30 do CP.

Neste sentido, transcrevo julgado do Superior Tribunal de Justiça, o qual menciona

diversos precedentes acerca da matéria, in verbis:

HABEAS CORPUS. CRIME DE PECULATO-FURTO (§ 1º DO ART. 312 DO

CP). FUNCIONÁRIO PÚBLICO. CONDIÇÃO ELEMENTAR DO TIPO.

COMUNICAÇÃO AO PARTICULAR, CO-AUTOR DO DELITO (ART. 30

DO CP). PRESCRIÇÃO ANTECIPADA: IMPOSSIBILIDADE. O particular

pode figurar como co-autor do crime descrito no § 1º do art. 312 do Código Penal

(Peculato-furto). Isto porque, nos termos do artigo 30 do CP, "não se comunicam as

circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do

crime". Se a condição de funcionário público é elementar do tipo descrito no artigo

312 do Código Penal, esta é de se comunicar ao co-autor (particular), desde que

ciente este da condição funcional do autor. Precedentes: HC 74.588, Relator o

Ministro Ilmar Galvão; e HC 70.610, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence. A firme

jurisprudência do Supremo Tribunal Federal repele a alegação de prescrição

antecipada, por ausência de previsão legal. Precedentes: HC 88.087, Relator o

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Ministro Sepúlveda Pertence; HC 82.155, Relatora a Ministra Ellen Gracie; HC

83.458 e RHC 86.950, Relator o Ministro Joaquim Barbosa; RHC 76.153, Relator o

Ministro Ilmar Galvão; entre outros. Habeas corpus indeferido.” (HC 90337/SP.

Relator: Min. Carlos Britto. Julgado em 19/06/2007). Destaquei.

Assim, considerando que estando evidenciado que Ercílio tinha conhecimento de que

Ezemi era Presidente da UNIRG, bem assim que contribuiu diretamente para o desvio da

verba pública, obtendo proveito financeiro ilegal, tem-se que também praticou o crime de

peculato.

Importante ressaltar que a potencialidade lesiva do crime do art. 89 da Lei nº 8.666/93

não se exauriu neste peculato, pois a contratação ilegal de Ercílio acarretou mais uma prática

de peculato, que será melhor explicada adiante. Desta feita, não há que se falar em

aplicabilidade do princípio da consunção neste caso.

b) Das condutas imputadas a Walace, Celma e Ceila (referente aos fatos de abril

de 2009)

A denúncia narra que os acusados Walace e Celma concorreram para os crimes de

Ezemi e Ercílio, vez que teriam participado das tratativas acerca da contratação ilegal de

Ercílio, em reuniões diárias com Ezemi na sede da Fundação UNIRG. Consta ainda que

Walace e Celma beneficiaram-se da inexigibilidade de licitação, “na medida em que Walace

prestou serviços como advogado substabelecido, recebendo em sua conta bancária nada

menos que R$179.032,11 (cento e setenta e nove mil, trinta e dois reais e onze centavos por

via do cheque nº 327883), enquanto o próprio contratado como especialista (ERCÍLIO)

recebeu somente R$ 45.500,00 (quarenta e cinco mil e quinhentos reais, por via de cheques nº

324.426 de R$ 25.500,00 e cheque nº 324.134 de R$ 20.000,00), e Celma e sua irmã Ceila

receberam outros R$ 18.000,00 por via de uma conta bancária de Ceila, tudo conforme

microfilmagem dos cheques a fls. 336/337, 339/340, 342/343 e OUT34 fls. 357/358 dos

Autos de Quebra de Sigilo Bancário nº 2011.0002.4361-9/0 em apenso” (atualmente autos

nº 5000145-43.2011.827.2722, evento 1, OUT31).

Primeiramente, há que se distinguir os crimes imputados em decorrência da

contratação fraudulenta de Ercílio (art. 89 da Lei 8.666/93 e peculato), do delito decorrente do

acordo estabelecido entre a UNIRG e o escritório de Ercílio (peculato ocorrido em dezembro

de 2010), que será analisado adiante.

Nas alegações finais, o Ministério Público ratificou o pedido de condenação de

Walace nas penas do art. 89 da Lei nº 8.666/93 e de peculato (duas vezes). Em sua

argumentação, mencionou o depoimento da testemunha Uliana, a qual trabalhava como

secretária de Ezemi e relatou que, em certa oportunidade, usaram sua impressora para

imprimir um documento relativo à contratação de Ercílio, sendo que, na ocasião, Walace

estava na sala de Ezemi. Questionada acerca do documento, disse que se tratava de umas

planilhas e que tinha relação com a contratação de Ercílio.

O MP embasou o pedido de condenação, ainda, no fato de Walace ter recebido

substabelecimento de Ercílio para atuar na ação judicial nº 2009.43.00.002235-1, o que

revelaria o conluio criminoso com Ercílio e Ezemi.

Em que pesem os indícios colhidos durante a investigação, entendo que na fase

judicial não se formou um conjunto probatório robusto para evidenciar que Walace tenha

participado ou colaborado, de alguma forma, para a contratação ilegal de Ercílio e o

consequente desvio de verba pública.

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No que tange às declarações de Uliana, observo que a depoente não teve certeza

quanto ao documento que visualizou, possivelmente em decorrência do lapso temporal entre o

ocorrido e a data de seu depoimento. Outrossim, o fato de Walace estar na sala de Ezemi no

momento da impressão do documento constitui, a princípio, mero indício de participação na

contratação fraudulenta, o qual deveria ter sido corroborado pelos demais elementos

probatórios coligidos.

Por conseguinte, o fato de Ercílio ter substabelecido para Walace não conduz à ilação

de que este conhecia a origem criminosa da contratação de Ercílio, ainda mais porque não se

comprovou que Walace tenha subscrito alguma petição nos autos nº 2009.43.00.002235-1,

sendo plausível sua declaração no sentido de que praticava atos processuais simples.

Ademais, o próprio Ministério Público assentiu que a frequência de Walace no

gabinete de Ezemi não constitui prova de que tratavam sobre a contratação de Ercílio, ainda

mais porque Walace era membro da Comissão Própria de Avaliação da UNIRG, sendo

verossimilhante a alegação de que se encontrava algumas vezes com Ezemi para tratar de

assuntos referentes à administração da Fundação.

A propósito, o mesmo pode se dizer em relação a Celma. Em sua resposta à acusação,

Celma apresentou documentação comprobatória de que em 2009 exercia o cargo de

Presidente da Associação dos Professores Universitários de Gurupi (APUG), sendo que em

razão de suas atribuições, se reunia com Ezemi com certa frequência, não havendo evidências

robustas no sentido de que interviu de qualquer forma para a contratação fraudulenta de

Ercílio.

Cumpre salientar que os acusados Ezemi e Ercílio foram uníssonos em afirmar que as

negociações a respeito da contratação de Ercílio se deram apenas entre eles dois, não havendo

qualquer interferência de terceiros.

Em relação à denunciada Ceila, a peça acusatória aponta como indício de participação

no crime de peculato o fato de ter sido depositado em sua conta um cheque emitido pela

Fundação UNIRG nominal ao escritório de Ercílio, no valor de R$18.000,00 (dezoito mil

reais), circunstância que também configuraria indício contra Celma, já que são irmãs.

Com efeito, restou demonstrado que o referido cheque fazia parte do pagamento da

UNIRG a Ercílio, decorrente de sua ilegal contratação. Entretanto, Ceila e Ercílio relataram

que a primeira nada sabia a respeito dos detalhes da contratação, sendo que o depósito do

cheque na conta de Ceila tratou-se de um mero favor.

Ercílio narrou que ao receber o cheque da UNIRG, dirigiu-se ao banco com a intenção

de depositá-lo em sua conta, oportunidade em que encontrou Ceila, sua conhecida de longa

data. Sabendo que Ceila já havia trabalhado no referido banco por alguns anos, o acusado

pediu que ela sacasse o cheque, pois ela teria fácil acesso ao caixa e assim ele não precisaria

enfrentar fila. Ceila dirigiu-se ao caixa, onde foi atendida por uma gerente, que era sua amiga,

a qual informou que por ser cheque nominal, precisaria apresentar o contrato social do

escritório de advocacia para efetuar o saque, mas apresentou-lhe outra solução: depositar o

cheque na conta de Ceila e em seguida sacar o numerário, para entregá-lo a Ercílio, o que foi

feito por Ceila.

A depoente Tânia Regina dos Santos Mendes, gerente citada por Ceila, corroborou as

declarações dos acusados. Por sua vez, o extrato da conta bancária de Ceila comprova que o

mencionado cheque foi depositado no dia 26.06.2009, cujo valor foi sacado na mesma data

(documento acostado ao evento 1, anexo 15, p. 2).

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Frise-se que Ceila e Ercílio foram consonantes em afirmar que todo o valor sacado foi

entregue a Ercílio, não havendo qualquer indício de que Ceila tenha se beneficiado

financeiramente com a transação. Embora seja muito estranho o fato de Ercilio não ter

depositado o cheque na própria conta do escritório e sacado em seguida, providência esta que

não seria exigido o contrato social, mas apenas uma folha de cheque para efetuar o saque.

Entretanto, não restou comprovado que Ceila tenha agido em conluio criminoso com

os demais acusados, pois não há evidências de que ela tinha conhecimento acerca da

ilegalidade da contratação de Ercílio.

Desta feita, a partir das ponderações acima, entendo que o conjunto probatório não

possui a robustez necessária para demonstrar que Walace e Celma aderiram à conduta

criminosa de Ercílio e Ezemi para a perpetração dos crimes imputados a estes, estando

ausente, portanto, o liame subjetivo. Tampouco, demonstrou-se que Ceila tenha participado

do crime de peculato, haja vista que o suposto indício existente em seu desfavor não foi

corroborado por qualquer prova judicial.

Assim, por não haver provas suficientes da existência do liame subjetivo com as

condutas criminosas perpetradas por Ezemi e Ercílio, entendo que não subsistem as acusações

de peculato imputadas a Ceila, Celma e Walace (referente à primeira parte da denúncia), e

nem o crime do art. 89 da Lei nº 8.666/93 atribuído a Celma e Walace.

2) DO CRIME DE PECULATO DECORRENTE DO ACORDO JUDICIAL

FIRMADO EM DEZEMBRO DE 2010

Narra a denúncia que em dezembro de 2010, a acusada Celma, na qualidade de

Presidente da Fundação UNIRG, previamente ajustada com os acusados Ercílio e Walace,

realizaram, no bojo de uma ação de execução de título extrajudicial movida por Ercílio contra

a UNIRG, um acordo judicial, no qual avençaram o pagamento de R$1.024.067,71 (um

milhão e vinte quatro mil, sessenta e sete reais e setenta e um centavos) pelo ente público ao

escritório de Ercílio. Na peça acusatória narra-se que Celma agiu contra os interesses da

UNIRG, vez que não questionou a cobrança, não exigiu apresentação de embargos à execução

e, sem maiores digressões, concordou em efetuar um milionário e lesivo acordo na ação de

execução (conforme termo de audiência de conciliação acostado ao evento 1, INQ13).

Com efeito, as provas carreadas aos autos demonstram que o escritório de Ercílio

efetuou cobrança administrativa à UNIRG, referente a uma cláusula do contrato ilegal já

mencionado, a qual previa o pagamento de 10% (dez por cento) sobre o montante recuperado

em cada ação judicial protocolada. Em resposta, a fundação UNIRG, agora sob a presidência

da acusada Celma, informou a Ercílio que o valor cobrado não poderia ser pago naquele

momento, em virtude da existência de outros débitos não liquidados (conforme expedientes

acostados ao evento 1, anexo 24, p. 20 e 21).

Em seguida, o escritório de Ercílio, representado judicialmente pelo acusado Walace,

ingressou com ação de execução de título extrajudicial do contrato, pleiteando o pagamento

do montante aludido.

Pois bem, conforme mencionado Celma, na qualidade de presidente da UNIRG,

informou administrativamente que a fundação não dispunha de verba para o pagamento do

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valor cobrado por Ercílio, embora reconhecesse a legitimidade da cobrança, pois que

decorrente de cláusula contratual.

Não obstante, extrai-se do termo de audiência de conciliação realizada no dia

07.12.2010 (acostado ao evento 1, anexo 13, p. 11/13), que Celma não só concordou em

efetuar pagamentos do valor previsto na cláusula quinta do malfadado contrato, como também

assentiu em pagar 10% sobre um pedido administrativo de parcelamento que ainda seria

protocolado, ou seja, tratava-se de um serviço ainda não realizado e que não era objeto de

ação judicial, extrapolando, portanto, os termos do contrato.

Participaram da referida audiência os acusados Walace, na qualidade de advogado de

Ercílio; Celma (como presidente da UNIRG), Vilma Alves de Souza Bezerra (então

Procuradora da UNIRG) e Manoel Moraes dos Reis Filho (Diretor Administrativo e

Financeiro da UNIRG). Na oportunidade, Ercílio pleiteava o pagamento de R$1.297.237,19

(um milhão, duzentos e noventa e sete mil, duzentos e trinta e sete reais e dezenove centavos).

Entretanto, na audiência de conciliação ficou avençado que a UNIRG pagaria o valor de

R$388.940,91 (trezentos e oitenta e oito mil novecentos e quarenta reais e noventa e um

centavos) referente à ação judicial que tramitou na Justiça Federal, e mais R$635.126,80

(seiscentos e trinta e cinco mil cento e vinte e seis reais e oitenta centavos) pelo processo

administrativo de parcelamento, que ainda seria protocolado junto à Receita Federal,

cujo valor seria pago depois que Ercílio apresentasse à fundação UNIRG o comprovante

de protocolo do pedido de parcelamento. Ou seja, apenas com a apresentação do

protocolo de requerimento de parcelamento junto à Receita Federal já seria suficiente

para Ercilio receber esta grande soma de dinheiro.

Conforme salientado pelo Ministério Público, o referido acordo demonstra claramente

o intento da acusada Celma em causar prejuízo aos cofres da fundação UNIRG, haja vista que

concordou em pagar um valor que não estava previsto no contrato, por um serviço ainda não

realizado pelo então exequente.

Embora a acusada tenha sustentado que estabeleceu o acordo após debater com Vilma

e Manoel, estes foram enfáticos em afirmar que Celma era quem tinha o poder da decisão

final, uma vez que era a presidente da instituição. A própria acusada Celma, bem como Vilma

e Manoel mencionaram, ainda, que não era comum a UNIRG estabelecer acordos judiciais.

Além disso, não se sustenta a alegação de Celma no sentido de que desconhecia a

ilegalidade da contratação de Ercílio, tendo em vista que dias antes da audiência, o Ministério

Público oficiou à Vara dos Feitos da Fazenda e Registros Públicos solicitando o adiamento da

audiência de conciliação, em virtude da investigação ministerial acerca da contratação ilegal

de Ercílio (evento 1, anexo 24). Ora, diante de tal informação, esperava-se, no mínimo, que a

acusada Celma, no exercício de seu dever de zelar pelos interesses da Fundação UNIRG,

buscasse informações a respeito do referido contrato, verificando-o integralmente, ainda mais

diante do altíssimo valor cobrado. Não obstante, menos de uma semana da audiência, o MP

solicitou à UNIRG a cópia integral do processo administrativo que deu ensejo à contratação

de Ercílio, o que foi atendido no dia anterior à audiência. Portanto, não poderá alegar

desconhecimento.

Assim, verifica-se que a acusada Celma teve acesso ao processo de contratação de

Ercílio antes da audiência, e mesmo sabendo da suspeita acerca da legalidade do contrato,

aceitou um acordo milionário absolutamente ilegal, na medida em que assentiu que a

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Fundação UNIRG pagasse um vultoso valor a Ercílio, que não estava previsto no contrato,

e por um serviço ainda não realizado.

Bem aponta o Ministério Público que “chama a atenção a extrema cautela de CELMA

em convidar Manoel para participar da audiência de conciliação, de se reunir com Manoel e

Vilma na véspera da audiência de conciliação, mas de não ter lido o contrato de prestação de

serviços objeto da ação de execução e de não saber que a recuperação administrativa de

verbas não estava prevista do contrato, e por isso não poderia ser objeto de acordo judicial”.

Com efeito, um dos princípios basilares da Administração Pública, consagrado na

Constituição Federal, é a legalidade, a qual é sucintamente explicada por Hely Lopes

Meirelles da seguinte forma: “Na Administração Pública não há liberdade nem vontade

pessoal. Enquanto na administração particular é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na

Administração Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza”.

No caso em testilha, a denunciada Celma, na qualidade de gestora, deveria no mínimo,

ter se restringido às cláusulas do contrato, contudo aceitou que a UNIRG pagasse uma dívida

não contemplada no contrato de prestação de serviços advocatícios, ficando patente a ofensa

ao princípio supra mencionado.

Outro fator incomum que não se pode ignorar foi a rapidez com que a primeira parcela

do acordo foi paga, haja vista que na data da audiência foram entregues a Walace dois

cheques emitidos pela UNIRG em favor do escritório de Ercílio, sendo um no valor de

R$179.032,11 (centro e setenta e nove mil, trinta e dois reais e onze centavos) o qual foi

depositado na conta do acusado Walace (fato admitido por este e comprovado

documentalmente na microfilmagem acostada aos autos da quebra de sigilo bancário nº

5000145-43.2011.827.2722), e o cheque nº 327883 de R$15.438,34 referente a taxas

judiciárias da ação de execução.

As declarações prestadas em juízo por Antônio Sávio Barbalho do Nascimento, atual

presidente da UNIRG e membro do Conselho Curador da Fundação à época do acordo

judicial, demonstram a ilegalidade do acordo firmado por Celma, na medida em que informou

que os pagamentos realizados pela UNIRG dependem de um processo administrativo, que

passa previamente pela contadoria e diretoria administrativa, para somente ao final, o(a)

presidente analisar o procedimento e autorizar o pagamento. Salientou não ser comum realizar

um empenho de pagamento a posteriori, mas poderia ocorrer em caso de urgência.

Com efeito, no caso em tela não foi apresentada qualquer justificativa plausível que

reclamasse a urgência para o pagamento autorizado por Celma, ficando cada vez mais claro o

intento criminoso de desviar o dinheiro dos cofres da UNIRG.

Desta feita, entendo que há provas suficientes de que a acusada Celma, então

presidente da UNIRG, agiu dolosamente para desviar dinheiro público em proveito de Ercílio,

causando prejuízo aos cofres da fundação.

Por sua vez, o acusado Walace sustentou em seu interrogatório e também em suas

alegações finais, que, na qualidade de advogado constituído por Ercílio, estava apenas

atuando na defesa dos interesses deste, e que detinha poderes para transigir e firmar acordo.

Entretanto, não se pode olvidar que Walace também teve acesso ao contrato entre

Ercílio e a UNIRG, pois, por consectário lógico, teria que analisá-lo antes de elaborar a

petição inicial da ação de execução. Assim, conhecendo as cláusulas e os limites do contrato,

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certamente observou que o acordo estabelecido com a UNIRG determinou o pagamento de

um volumoso valor que não estava previsto no contrato.

A partir do momento em que Walace espontaneamente concorda em receber tal valor

em benefício de seu constituinte (Ercílio), consequentemente está aderindo à conduta

criminosa de Celma, colaborando diretamente para a prática do crime de peculato. Conforme

mencionado na primeira parte da sentença, por força do art. 30/CP o particular que tem

conhecimento da qualidade funcional do agente, e concorre, de qualquer modo, para a prática

do delito, responderá como coautor do peculato.

Cumpre salientar que o cheque no valor de R$179.032,11 foi depositado na conta de

Walace, não havendo nos autos documento comprovando que o dinheiro chegou a ser

repassado para Ercílio. Ainda que houvesse prova documental neste sentido, tal circunstância

não afasta a materialidade do delito cometido por Walace, o qual participou e colaborou

ativamente para a prática do delito, participando da transação ilegal e recebendo o pagamento

indevido.

Ressalto que Ercílio também participou e colaborou para o cometimento do crime de

peculato, pois embora este acusado não estivesse presente na audiência onde se estabeleceu o

acordo, executou contrato que sabia ser ilegal e fraudulento, sendo beneficiado com o valor

desviado. Portanto, fica evidente o dolo de Ercílio de influir diretamente para a prática do

peculato.

Anoto que os demais pagamentos de outras parcelas do acordo, que totalizariam

R$1.024.067,71 (um milhão e vinte quatro mil, sessenta e sete reais e setenta e um centavos)

somente não ocorreram em razão da intervenção do Ministério Público, que enviou a

Recomendação Conjunta nº 01/2011 à UNIRG, recomendando a suspensão do pagamento das

demais parcelas (evento 1, anexo 6, p. 5 e 6), e o Ofício nº 29/11 – 2ª PJ/Gurupi enviado à

Prefeitura Municipal (evento 1, anexo 8, p. 1 e 2), o que chamou a atenção para os crimes e

impediu que os acusados continuassem desviando dinheiro público decorrente do acordo

fraudulento.

Sendo assim, diante do farto conjunto probatório, tenho que restou demonstrado que

Celma, Walace e Ercílio agiram com unidade de desígnios para praticar o crime de peculato,

causando prejuízo à UNIRG no valor de R$ R$179.032,11.

Deixo consignado, por fim, que a ilegalidade da inexigibilidade da licitação, bem

como da cláusula contratual que previa o pagamento de 10% (dez por cento) sobre o montante

“recuperado” na ação movida pelo escritório de Ercílio, foi reconhecida no Acórdão nº

534/2014 do Tribunal de Contas do Estado, processo TCE/TO nº 6492/2012 (acostado no

evento 236), que assim decidiu, mutatis mutandi:

EMENTA: PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO. ACÓRDÃO EXARADO EM

PROCESSO DE APRECIAÇÃO DE ATO LICITATÓRIO.

INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO. UNIRG. PRELIMINAR ACOLHIDA.

NULIDADE RECONHECIDA. PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL.

TEORIA DA CAUSA MADURA. POSSIBILIDADE DE EMISSÃO DE NOVO

JULGAMENTO FACE À NULIDADE APENAS DO JULGAMENTO.

CONTRATAÇÃO IRREGULAR DE ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA POR

INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO. CARACTERIZAÇÃO DE PRÁTICA

DE ATO DE GESTÃO ANTIECONÔMICO QUE JUSTIFICA A

APLICAÇÃO DE SANÇÃO A OUTRO RESPONSÁVEL. RECOMENDAÇÃO

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AO ÓRGÃO. TUTELA DE INTERESSE PARTICULAR TANGENTE A

COBRANÇA DE CRÉDITO PENDENTE DE DECISÃO JUDICIAL. ATO

CONSIDERADO ILEGAL. APLICAÇÃO DE MULTA AOS

RESPONSÁVEIS. ENVIO DA DECISÃO AOS RESPONSÁVEIS, À

CONTRATADA, AO MPE E A UNIRG. CONTAS DO EXERCÍCIO DE 2009

JÁ JULGADAS. JUNTADA DE CÓPIA DA DECISÃO ÀS CONTAS ANUAIS

DE ORDENADOR DO EXERCÍCIO DE 2010. ENVIO DOS AUTOS À

COORDENADORIA DO CARTÓRIO DE CONTAS PARA COBRANÇA

ADMINISTRATIVA DAS MULTAS APLICADAS. DEVOLUÇÃO À

ORIGEM.

(...) Considerando que a ausência de cumprimento da fase interna da licitação

inviabiliza o conhecimento integral do objeto que se pretende contratar e as

estimativas de custos a ele inerentes; (...) Considerando que não restaram elididas

ilegalidades relativas a formalização do procedimento de contratação direta por

inexigibilidade (art. 25, II, da Lei n. 4.320/64), especialmente as relativas habilitação

jurídica da contratada, comprovação da notória especialização, publicação, previsão

contratual do valor estimado dos honorários, justificativa do preço, outorga de

procuração anteriormente a contratação, ausência de informação de dotação

orçamentária, prévio empenho e de parecer jurídico, caracterizando infração as

prescrições da Lei n. 8.666/93 e 4.320/64; (...) Considerando que é possível a

contratação de honorários por êxito, como remuneração pelos serviços prestados,

devendo constar do contrato o valor estimado dos honorários e a dotação

orçamentária própria para o pagamento; Considerando que nas contratações em que

são pactuadas cláusula de êxito, deve haver a correspondência direta entre o esforço

e a dificuldade esperados do contratado e o prêmio acordado, sob pena de se

configurar situação de desproporcionalidade entre serviço prestado e preço;

ACORDAM, os Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, reunidos em Sessão

Plenária, ante as razões expostas pela Relatora, com fundamento no art. 48 e

seguintes, da Lei Estadual no 1.284/2001, de 17 de dezembro de 2001 c/c art. 234 do

Regimento Interno do TCE e art. 1o, VI, § 1o, da Lei Estadual no 1.284, de 2001 c/c

92, inciso II, art. 104 do Regimento Interno e Instrução Normativa TCE/TO no

002/2008, em:

(...) 9.4. Considerar ilegal o Contrato no s/no (fls. 35/38), celebrado entre a UNIRG e

o escritório Advocacia Bezerra de Castro S/S, objetivando a contratação dos

seguintes serviços: a) levantamento e análise da situação da Fundação UNIRG junto

ao passivo do INSS; b) revisão do parcelamento junto ao INSS; e, c) propositura de

ação judicial para anulação de cobrança de multas e juros sobre o valor da

contribuição auferida, compensação de créditos já pagos e expedição da Certidão

Positiva (com efeito negativo) de Débitos, decorrente da Inexigibilidade de Licitação

expressa por meio da Portaria no 050/09, de 16 de abril de 2009 (fls. 34), com

fundamento no artigo 25, inciso II, da Lei no 8.666/93.

9.5. Aplicar ao Senhor Ezemi Nunes Moreira, a multa prevista no artigo 39, inciso II,

da Lei no 1.284/2001, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), pela prática de ato

com grave infração à norma legal, conforme irregularidades analisadas no voto,

consistentes em: (i) outorga de procuração anteriormente a abertura de prévio

procedimento administrativo de declaração de inexigibilidade e contratação; (ii)

ausência de fixação de valor estimado de preço e respectiva justificativa; (iii)

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ausência de certidões de regularidade fiscal por parte da contratada; (iv) ausência de

análise obrigatória do setor jurídico; e, (v) ausência de publicação do ato e extrato do

contrato.

9.6. Aplicar a Senhora Celma Mendonça Milhomem Jardim, a multa prevista no

artigo 39, inciso III, da Lei no 1.284/2001, no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais),

pela prática de ato de gestão antieconômico em razão de formalização de acordo

judicial lesivo ao patrimônio da UNIRG”.

Assim, o acórdão acima reforça o caráter ilícito das condutas dos acusados, não

deixando dúvidas quanto à materialidade dos delitos.

Ante o exposto, julgo parcialmente procedente a acusação para:

a) Absolver, com fundamento no art. 386, VII, do CPP:

- Ceila Mendonça Milhomem da imputação do crime de peculato;

- Celma Mendonça Milhomem Jardim e Walace Pimentel do crime previsto no art.

89, parágrafo único, da Lei nº 8.666/93 e do primeiro crime de peculato (referente à

contratação de Ercílio);

b) Condenar:

- Ezemi Nunes Moreira pela prática dos crimes previstos no art. 89 da Lei nº

8.666/93 em concurso material com o art. 312, caput, do Código Penal c/c art. 29 do

mesmo diploma;

- Ercílio Bezerra de Castro Filho pela prática do crime previsto no art. 89, parágrafo

único, da Lei nº 8.666/93 e do delito tipificado no art. 312, caput, do Código Penal,

por duas vezes (em concurso material), todos c/c art. 29 do mesmo diploma;

- Celma Mendonça Milhomem Jardim e Walace Pimentel pela prática do crime

tipificado no art. 312, caput, c/c art. 29, ambos do CP (decorrente do acordo ilegal

estabelecido em juízo).

Passo à dosimetria das penas, fazendo-a individualmente por cada um dos condenados.

1) EZEMI

a) Do crime tipificado no art. 89 da Lei nº 8.666/93

1ª Fase - Circunstâncias judiciais (art. 59 do Código Penal): o acusado demonstrou

culpabilidade elevada para o tipo, uma vez que também é advogado e, por ser conhecedor da

legislação, tinha maiores condições de entender o caráter ilícito do seu ato; não há registro de

antecedentes1; sua personalidade e conduta social devem ser consideradas normais, já que não

foram suficientemente avaliadas; o motivo é peculiar ao tipo; as circunstâncias prejudicam o

condenado, vez que para atingir seu intento criminoso fez uso de documento público falso e

ainda praticou falsidade ideológica; a consequência mais gravosa foi a prática dos sucessivos

crimes de peculato perpetrados a partir da contratação ilegal, implicou em grande prejuízo

financeiro à UNIRG; não há que se analisar, in casu, o comportamento da vítima.

Pena-base: Considerando que há circunstâncias que desfavorecem o acusado, a pena-base será

fixada acima do mínimo legal, ou seja, em 3 anos e 6 meses de detenção.

1 Assim considerada a sentença penal condenatória transitada em julgado, relativa a crime anterior ao fato em

julgamento e que não constitua reincidência.

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2ª fase – Atenuantes e agravantes: Reconheço a incidência da agravante prevista no artigo 61,

"g", do Código Penal, vez que praticou o crime com violação de dever inerente ao cargo.

Ressalto que esta agravante não se encontra descrita ou mesmo implícita no tipo do artigo 89,

da Lei 8666/93, não se constituindo em bis in idem a sua aplicação. Assim, elevo a pena do

acusado em 6 meses.

3ª fase - causas de diminuição e aumento de pena: Não há.

Pena final: Fica assim estabelecida a pena final deste crime em 4 anos de detenção.

A pena de multa prevista no art. 89 é fixada em 3% (três por cento) sobre o valor do contrato

fraudulento (R$75.000,00) estabelecido entre a UNIRG e Ercílio, cujo valor apurado deverá,

após o trânsito em julgado, ser revertido em prol da Fundação UNIRG, nos termos do art. 89

c/c art. 99 ambos da Lei nº 8.666/93.

b) Do crime de peculato

1ª fase - Circunstâncias judiciais (art. 59 do Código Penal): o acusado demonstrou

culpabilidade elevada para o tipo, uma vez que é advogado e, por ser conhecedor da

legislação, tinha maiores condições de entender o caráter ilícito do seu ato; não há registro de

antecedentes; sua personalidade e conduta social devem ser consideradas normais, já que não

foram suficientemente avaliadas; o motivo é peculiar ao tipo; as circunstâncias lhe são

prejudiciais, uma vez que forjou um processo licitatório a fim de alcançar seu intento; as

consequências do delito são gravosas, tendo em vista a elevada quantia desviada dos cofres da

fundação UNIRG; não há que se analisar o comportamento da vítima.

Pena-base: Considerando que algumas circunstâncias prejudicam o acusado, a pena-base será

fixada acima do mínimo legal, ou seja, em 5 anos de reclusão.

2ª fase – atenuantes e agravantes: Não há.

3ª fase - causas de diminuição e aumento de pena: Reconheço a aplicação da causa de

aumento de pena prevista no art. 327, §2º, do CP e aumento a pena-base em 1/3, equivalente

a 1 (um) ano e 8 (oito) meses, tendo em vista que o acusado ocupava cargo em comissão

junto à fundação lesada (praticou o delito na qualidade de presidente do órgão).

Pena final: Fica assim estabelecida a pena final deste crime em 6 anos e 8 meses de reclusão.

A pena de multa é fixada em 150 (cento e cinquenta) dias-multa, mantida a proporção com a

pena restritiva de liberdade, cujo valor unitário arbitro em 3% (três por cento) do salário

mínimo vigente à época do fato, considerando o poder aquisitivo do acusado.

PENA TOTAL: Considerando o concurso material de crimes, fica estabelecida a pena

definitiva de Ezemi em 6 anos e 8 meses de reclusão e 4 anos de detenção, além das

multas acima referidas.

Regime inicial e local de cumprimento da pena: Embora o quantum total da pena fixada

ultrapasse 8 anos, cumpre ressaltar que a pena de detenção não pode ser inicialmente

cumprida no regime fechado. Considerando ainda, que a pena de reclusão é inferior a 8 anos,

determino que a sanção seja cumprida inicialmente em regime semiaberto, no CRSLA ou

outro local definido pelo juízo da execução.

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Sursis e substituição da pena: Deixo de conceder a suspensão condicional da pena privativa

de liberdade e a substituição da pena, por conta da quantidade da sanção

2) ERCÍLIO

a) Do crime tipificado no art. 89, parágrafo único, da Lei nº 8.666/93

1ª fase - Circunstâncias judiciais (art. 59 do Código Penal): o acusado demonstrou

culpabilidade elevada para o tipo, porquanto trata-se de advogado militante neste Estado há

vários anos e tinha melhores condições de entender o caráter ilícito do seu ato, ainda mais

quando se intitula especialista em Direito Público (lato sensu). Ademais, gozava de prestígio

no cenário público em virtude do eminente cargo que ocupava à época (presidente da

Seccional da OAB do Tocantins – embora não tenha praticado o delito nesta qualidade), caso

que deveria demonstrar maior apreço pela coisa pública, o que torna sua conduta ilícita

altamente reprovável; não há registro de antecedentes; sua personalidade e conduta social

devem ser consideradas normais, já que não foram suficientemente avaliadas; o motivo é

peculiar ao tipo; as circunstâncias prejudicam o acusado, haja vista que, para alcançar o

intento criminoso houve o cometimento dos crimes de uso de documento público falso e

falsidade ideológica; a consequência mais gravosa foi a prática dos sucessivos crimes de

peculato perpetrados a partir da contratação ilegal, resultando em graves prejuízos financeiros

à UNIRG; não há que se analisar, in casu, o comportamento da vítima.

Pena-base: Considerando que há circunstâncias que desfavorecem o acusado, a pena-base será

fixada acima do mínimo legal, ou seja, em 3 anos e 6 meses de detenção.

2ª fase – Atenuantes e agravantes: Não há.

3ª fase - Causas de diminuição e aumento de pena: Não há.

Pena Final: Fica assim estabelecida a pena final deste crime em 3 anos e 6 meses de

detenção. A multa é proporcionalmente fixada em 3% (três por cento) sobre o valor do

contrato fraudulento (R$75.000,00), cujo valor apurado deverá, após o trânsito em julgado,

ser revertido em prol da Fundação UNIRG, nos termos do art. 89 c/c art. 99 ambos da Lei nº

8.666/93.

b) Do primeiro crime de peculato (apropriação da quantia de R$75.000,00)

1ª fase - Circunstâncias judiciais (art. 59 do Código Penal): o acusado demonstrou

culpabilidade elevada para o tipo, porquanto trata-se de advogado militante neste Estado há

vários anos e tinha melhores condições de entender o caráter ilícito do seu ato, ainda mais

quando se intitula especialista em Direito Público (lato sensu). Ademais, gozava de prestígio

no cenário público em virtude do eminente cargo que ocupava à época (presidente da

Seccional da OAB do Tocantins – embora não tenha praticado o delito nesta qualidade), caso

que deveria demonstrar maior apreço pela coisa pública, o que torna sua conduta altamente

reprovável; não há registro de antecedentes; sua personalidade e conduta social devem ser

consideradas normais, já que não foram suficientemente avaliadas; o motivo é peculiar ao

tipo; as circunstâncias prejudicam o acusado, haja vista que o crime foi praticado a partir de

uma contratação ilegal, oriunda de um processo licitatório forjado; as consequências do delito

são gravosas, tendo em vista a elevada quantia desviada dos cofres da fundação UNIRG; não

há que se analisar, in casu, o comportamento da vítima.

Pena-base: Considerando que, algumas circunstâncias prejudicam o acusado, a pena-base será

fixada acima do mínimo legal, ou seja, em 5 anos de reclusão.

2ª fase – Atenuantes e agravantes: Não há.

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3ª fase - Causas de diminuição e aumento de pena: Não há

Pena final: Fica assim estabelecida a pena final deste crime em 5 anos de reclusão. A multa é

proporcionalmente fixada em 150 (cento e cinqüenta) dias-multa, cujo valor unitário arbitro

em 20% (vinte por cento) do salário mínimo vigente à época do fato, considerando o poder

aquisitivo do acusado. Mantendo-se a proporcionalidade da pena pecuniária com a restritiva

de liberdade. Observando-se que o mesmo declarou em seu interrogatório que possui

propriedades rurais, grande volume de negócios e, pelo menos, 100 (cem) empregados,

portanto, presume-se que tenha altos rendimentos com sua atividade rural (ev. 379,

interrog16), além de ser um advogado conceituado e com grande clientela. Logo,

presumidamente, aufere grandes somas em honorários.

c) Do segundo crime de peculato (decorrente do acordo judicial)

1ª fase - Circunstâncias judiciais (art. 59 do Código Penal): o acusado demonstrou

culpabilidade elevada para o tipo, porquanto trata-se de advogado militante neste Estado há

vários anos e tinha melhores condições de entender o caráter ilícito do seu ato, ainda mais

quando se intitula especialista em Direito Público (lato sensu). Ademais, gozava de prestígio

no cenário público em virtude do eminente cargo que ocupava à época (presidente da

Seccional da OAB do Tocantins – embora não tenha praticado o delito nesta qualidade), caso

que deveria demonstrar maior apreço pela coisa pública, o que torna sua conduta altamente

reprovável; não há registro de antecedentes; sua personalidade e conduta social devem ser

consideradas normais, já que não foram suficientemente avaliadas; o motivo é peculiar ao

tipo; as circunstâncias prejudicam o acusado, haja vista que o crime foi praticado a partir de

uma contratação ilegal, oriunda de um processo licitatório forjado; as consequências do delito

são gravosas, tendo em vista a elevada quantia desviada dos cofres da fundação UNIRG; não

há que se analisar, in casu, o comportamento da vítima.

Pena-base: Considerando que, algumas circunstâncias prejudicam o acusado, a pena-base será

fixada acima do mínimo legal, ou seja, em 5 anos de reclusão.

2ª fase – Atenuantes e agravantes: Não há.

3ª fase - Causas de diminuição e aumento de pena: Não há

Pena final: Fica assim estabelecida a pena final deste crime em 5 anos de reclusão. A multa é

proporcionalmente fixada em 150 (cento e cinqüenta) dias-multa, cujo valor unitário arbitro

em 20% (vinte por cento) do salário mínimo vigente à época do fato, considerando o poder

aquisitivo do acusado. Mantendo-se a proporcionalidade da pena pecuniária com a restritiva

de liberdade. Observando-se que o mesmo declarou em seu interrogatório que possui

propriedades rurais, grande volume de negócios e, pelo menos, 100 (cem) empregados,

portanto, presume-se que tenha altos rendimentos com sua atividade rural (ev. 379,

interrog16), além de ser um advogado conceituado e com grande clientela. Logo,

presumidamente, aufere grandes somas em honorários.

PENA TOTAL: Considerando o concurso material de crimes, fica estabelecida a pena

definitiva de Ercílio em 10 anos de reclusão e 3 anos e 6 meses de detenção, além das

multas acima referidas.

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Regime inicial e local de cumprimento da pena: Diante do que foi considerado na aplicação

da pena-base, e considerando que a pena de reclusão é superior a 8 anos, determino que a

sanção seja cumprida inicialmente em regime fechado, no CRSLA ou outro local definido

pelo juízo da execução.

Sursis e substituição da pena: Deixo de conceder a suspensão condicional da pena privativa

de liberdade e a substituição da pena, por conta da quantidade da sanção.

3) Da dosimetria de CELMA – Peculato 1ª fase - Circunstâncias judiciais: a acusada demonstrou culpabilidade elevada para o tipo,

uma vez que é advogada militante e professora universitária e, por ser conhecedora da

legislação, tinha maiores condições de entender o caráter ilícito do seu ato; não há registro de

antecedentes; sua personalidade e conduta social devem ser consideradas normais, já que não

foram suficientemente avaliadas; o motivo é peculiar ao tipo; as circunstâncias prejudicam a

acusada, haja vista que o crime foi praticado a partir de uma contratação ilegal, oriunda de um

processo licitatório forjado; as consequências do delito são gravosas, tendo em vista a elevada

quantia desviada dos cofres da fundação UNIRG; não há que se analisar, in casu, o

comportamento da vítima.

PENA-BASE: Considerando que, algumas circunstâncias prejudicam a acusada, a pena-base

será fixada acima do mínimo legal, ou seja, em 5 anos de reclusão.

2ª fase – Atenuantes e agravantes: Não há.

3ª fase - Causas de diminuição e aumento de pena: Reconheço a aplicação da causa de

aumento de pena prevista no art. 327, § 2º, do CP e aumento a pena-base em 1/3 (1a8m),

tendo em vista que a acusada ocupava cargo em comissão junto à fundação lesada (praticou o

delito na qualidade de presidente do órgão).

Pena definitiva: Fica assim estabelecida a pena definitiva de Celma em 6 anos e 8 meses de

reclusão.

A pena de multa é fixada em 150 (cento e cinqüenta) dias-multa, sendo proporcionalmente à

pena restritiva de liberdade, cujo valor unitário arbitro em 3% (três por cento) do salário

mínimo vigente à época do fato, em virtude do poder aquisitivo da acusada.

Regime inicial e local de cumprimento da pena: Diante do que foi considerado na aplicação

da pena-base, e considerando o quantum da pena, determino que a sanção seja cumprida

inicialmente em regime semiaberto, no CRSLA ou outro local definido pelo juízo da

execução.

Sursis e substituição da pena: Deixo de conceder a suspensão condicional da pena privativa

de liberdade e a substituição da pena, por conta da quantidade da sanção.

4) Da dosimetria de WALACE

1ª fase - circunstâncias judiciais: o acusado demonstrou culpabilidade elevada para o tipo,

porquanto exerce o cargo de Procurador do Município de Palmas, advogado militante, e já foi

Delegado de Polícia, tendo melhores condições de entender o caráter ilícito do seu ato; não há

registro de antecedentes; sua personalidade e conduta social devem ser consideradas normais,

já que não foram suficientemente avaliadas; o motivo é peculiar ao tipo; as circunstâncias

Page 23: Poder Judiciário do Estado do Tocantins Comarca de Gurupi ...£o-Judicial.pdf · UNIRG e do desvio de dinheiro público) Narra-se que nos meses de maio, junho e julho de 2009, nesta

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Av. Rio Grande do Norte, entre Ruas 3 e 4 – Centro – CEP 77.410-080 – Gurupi

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prejudicam o acusado, haja vista que o crime foi praticado a partir de uma contratação ilegal,

oriunda de um processo licitatório forjado; as consequências do delito são gravosas, tendo em

vista a elevada quantia desviada dos cofres da fundação UNIRG; não há que se analisar, in

casu, o comportamento da vítima.

PENA-BASE: Considerando que, algumas circunstâncias prejudicam o acusado, a pena-base

será fixada acima do mínimo legal, ou seja, em 5 anos de reclusão.

2ª fase – atenuantes e agravantes: Não há.

3ª fase - causas de diminuição e aumento de pena: Não há.

PENA DEFINITIVA: Fica assim estabelecida a pena definitiva de Walace em 5 anos de

reclusão.

A multa é proporcionalmente fixada em 150 dias-multa, mantida a proporcionalidade com a

pena restritiva de liberdade, cujo valor unitário arbitro em 10% (dez por cento) do salário

mínimo vigente à época do fato, em virtude do poder aquisitivo do acusado, sendo o mesmo

renomado advogado em Gurupi o que, presumidamente, traduz em maior renda decorrentes

dos seus serviços advocatícios.

Considerando que os acusados responderam o processo em liberdade, bem assim que

compareceram a todos os atos processuais, concedo-lhes o direito de recorrer em

liberdade.

Condeno os acusados ora condenados ao pagamento das custas processuais, na

proporção de 1/4 para cada qual. Concedo aos acusados o prazo de 10 (dez) dias para o

recolhimento, sob pena de inscrição na dívida ativa.

Fixo os valores para reparação dos danos da seguinte forma (art. 387, IV/CPP): a) R$75.000,00 para Ercílio e Ezemi;

b) R$194.470,45 para Celma, Ercílio e Walace

Deixo de determinar a “perda do cargo, função pública ou mandato eletivo dos réus

que possuam vínculo funcional com o Poder Público, conforme previsão do artigo 92, I, “b”

do Código Penal”, porquanto não existe comprovação nos autos do exercício de cargo, função

ou mandato eletivo.

Determino a suspensão dos direitos políticos de todos os condenados enquanto

perdurar os efeitos da condenação.

Do arresto e da hipoteca legal. Verifica-se que nos autos nº 5000343-80.2011.827.2722 (pedido de arresto) e

5003332-25.2012.827.2722 (especialização de hipoteca legal), os acusados tiveram valores

bloqueados e imóveis hipotecados, a fim de garantir o ressarcimento do dano causado ao

erário. Considerando que os acusados foram condenados, não há que se falar, ao menos por

ora, em levantamento ou cancelamento do arresto e da hipoteca. Conforme determina o art.

143 do CPP, deve-se aguardar o trânsito em julgado desta sentença, se for o caso, para então

remeter aqueles autos ao juízo cível, onde será resolvida a questão patrimonial e de

ressarcimento do dano.

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Determino à serventia: 1) Imediatamente:

a) Oficiem-se à Fundação UNIRG, à Prefeitura Municipal de Gurupi e à Procuradoria

Geral do Município de Palmas/TO, dando-lhes conhecimento desta sentença

2) Após o trânsito em julgado e sendo mantida esta sentença:

a) Expeçam-se os mandados de prisão;

b) Expeçam-se as respectivas de recolhimento, remetendo-se uma via à VEP e a outra à

autoridade carcerária;

c) Encaminhem-se os autos à Contadoria para apuração dos valores das custas

processuais e das penas pecuniárias (multa), intimando-se em seguida, os condenados

para satisfazerem a obrigação, no prazo de 10 (dez) dias. Caso contrário, adotem-se as

providências pertinentes, conforme previstas em Provimento e CNGC;

d) Remetam-se os autos nº 5000343-80.2011.827.2722 e 5003332-25.2012.827.2722 a

uma das varas cíveis desta comarca, via Distribuidor;

e) Providencie-se a liberação do valor bloqueado da acusada Ceila Mendonça

Milhomem;

f) Comunique-se à Justiça Eleitoral;

g) Façam as demais comunicações de estilo – CNGC.

h) PRI. Gurupi, 1º de junho de 2016.

Ademar Alves de Souza Filho

Juiz de direito em substituição automática