pneus descartados no brasil – subsÍdios para uma … · destinação final adequada a um pneu...

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LAÍS PESSÔA DE LACERDA PNEUS DESCARTADOS NO BRASIL – SUBSÍDIOS PARA UMA REFLEXÃO SOBRE O PROBLEMA NA BAHIA Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais na Indústria – Ênfase em Produção Limpa – da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia, como requisito para conclusão do referido curso. Orientador: Prof. Dr. Asher Kiperstok Salvador 2001

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LLAAÍÍSS PPEESSSSÔÔAA DDEE LLAACCEERRDDAA

PNEUS DESCARTADOS NO BRASIL – SUBSÍDIOS PARA

UMA REFLEXÃO SOBRE O PROBLEMA NA BAHIA

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais na Indústria – Ênfase em Produção Limpa – da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia, como requisito para conclusão do referido curso. Orientador: Prof. Dr. Asher Kiperstok

Salvador

2001

“Conhecimento e coragem se alternam na grandeza. Sendo imortais, imortalizam. Você é o tanto que sabe, e se for sábio é capaz de tudo. Homem sem informações, mundo às escuras. Discernimento e força: olhos e mãos. Sem coragem, a sabedoria não dá frutos.”

Baltasar Gracián

A Pedro, pródigo em incentivo e amor.

Agradeço a Vera, Marita e Seiko que colaboram, cada um com seu talento, na

concretização deste trabalho.

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................6

2 O PROBLEMA DE PNEUS DESCARTADOS NO BRASIL..................................7

3 ALTERNATIVAS TECNOLÓGICAS ...................................................................10

3.1 Recauchutagem ............................................................................................11

3.2 Uso como combustível (Snyder, 1998) ......................................................15

3.3 Uso na pavimentação e recuperação de pistas e estradas (Snyder, 1998).. ....................................................................................................................20

3.4 Tapetes, Revestimentos, Pisos de Proteção e Usos Agropecuários.......25

3.5 Compostagem de lama de esgoto e correção de solo ..............................29

3.6 Estudos de engenharia civil e aplicações (Snyder, 1998).........................33

3.7 Pirólise de Pneus..........................................................................................35

3.8 Recifes para peixes e misturas de borracha/plástico para moldagem ....37

4 AS PRINCIPAIS SOLUÇÕES ADOTADAS........................................................39

4.1 As principais soluções adotadas - nos Estados Unidos .........................39

4.2 As principais soluções adotadas - na Europa ...........................................41

4.2.1 Plantas Termoelétricas............................................................................41

4.2.2 Plantas de Cimento Portland...................................................................42

4.3 As principais soluções adotadas - no Japão e na Coréia.........................42

4.4 As principais soluções adotadas - no Brasil .............................................44

4.4.1 A Indústria da Recauchutagem ...............................................................44

4.4.2 A Indústria Cimenteira .............................................................................44

4.4.3 A Indústria de Petróleo através do Xisto – Projeto PETROBRAS (Paes,

2001)... ................................................................................................................45

5 AS POSSÍVEIS ESTRATÉGIAS PARA O BRASIL............................................49

6 AS POSSÍVEIS ESTRATÉGIAS PARA A BAHIA ..............................................53

7 CONCLUSÕES ...................................................................................................55

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................58

ANEXOS ...................................................................................................................59

6

1 INTRODUÇÃO

Um dos muitos problemas sérios que a humanidade deverá enfrentar no século 21 é,

sem dúvida, o gerenciamento e a destinação final dos resíduos gerados pela

sociedade.

Em todo o mundo, os pneus descartados constituem uma parte significativa deste

problema já que:

• São de difícil compactação, ocupando muito espaço tanto na armazenagem

quanto no transporte;

• Quando dispostos em aterros, tendem a subir e reaparecer na superfície;

• São inflamáveis;

• Representam uma ameaça à saúde pública porque servem como ambiente

perfeito para a proliferação de insetos e ratos, dois grandes agentes de

transmissão de doenças.

No Brasil, esta preocupação resultou na aprovação da Resolução Nº 258 (CONAMA,

1999) que delibera a respeito da coleta e destinação final dos pneus descartados

considerados inservíveis, ou seja, aqueles pneus sem possibilidade de

reaproveitamento por meio de recapagem, recauchutagem e remoldagem.

Como esta Resolução determina a coleta e a destinação de pneus “inservíveis” de

forma progressiva e proporcional à produção e importação a partir de janeiro de

2002, este trabalho dedicou-se à pesquisa de alguns aspectos relacionados ao

problema de pneus descartados, à luz da experiência de outros países e do que já

acontece no Brasil, para então, gerar subsídios que possibilitem refletir sobre o

cenário apresentado pelo Estado da Bahia.

Em tempo, este trabalho procurou focar-se na disposição de pneus inservíveis; por

isso, não se aprofundou na pesquisa e análise de alternativas de reaproveitamento,

tal como a recauchutagem. Porém, devido a sua importância econômica, esta

alternativa, que é mencionada apenas como informação complementar, certamente

mereceria ser tema de um trabalho específico.

7

2 O PROBLEMA DE PNEUS DESCARTADOS NO BRASIL

Seguem alguns números (ABRAPNEUS, 2000) que podem dar uma idéia da

dimensão do problema de pneus descartados no Brasil:

• A produção anual declarada é da ordem de 40 milhões de unidades, podendo

chegar a algo entre 45 a 48 milhões em 2002;

• Estima-se que sejam descartados pelo menos 25 milhões de pneus por ano.

Quanto ao passivo ambiental existente no Brasil, pode-se dizer que ele é

desconhecido ou que, as informações existentes são, no mínimo, conflitantes.

Segundo entrevista concedida por Gerardo Tommasini, presidente da Associação

Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), a estimativa de que existem entre 100

e 200 milhões de pneus inservíveis não pode ser comprovada. (ABRAPNEUS,

2000).

Estas diferenças são decorrentes da intensa utilização deste material como

combustível em fornos de cimento na década de 80, cujo volume de pneus

inservíveis consumido é desconhecido (Almeida et al., 2001).

Tendo em vista este cenário, a Resolução Nº 258/99, mencionada anteriormente,

considera que:

• “ Os pneumáticos inservíveis abandonados ou dispostos inadequadamente

constituem passivo ambiental, que resulta em sério risco ao meio ambiente e à

saúde pública;

Não há possibilidade de reaproveitamento desses pneumáticos para uso veicular

e nem para processos de reforma, tais como recapagem, recauchutagem e

remoldagem;

• Uma parte dos pneumáticos novos, depois de usados, pode ser utilizada como

matéria prima em processos de reciclagem;

8

• A necessidade de dar destinação final, de forma ambientalmente adequada e

segura, aos pneumáticos inservíveis.”

Por isso, “ RESOLVE:

Artigo 1º - As empresas fabricantes e as importadoras de pneumáticos ficam

obrigadas a coletar e dar destinação final, ambientalmente adequada, aos pneus

inservíveis no território nacional, na proporção definida nesta Resolução

relativamente às quantidades fabricadas e/ou importadas.”

A Tabela 1 apresenta, resumidamente, os prazos e as quantidades a serem

dispostos segundo o que está estabelecido na Resolução Nº 258/99.

9

Tabela 1 - Prazos e quantidades de pneus inservíveis a serem dispostos

Prazo (a partir de )

Quantidades

01/01/2002 Para cada quatro pneus novos fabricados no País ou pneus

importados, inclusive aqueles que acompanham os veículos

importados, as empresas fabricantes e as importadoras deverão dar

destinação final adequada a um pneu inservível.

01/01/2003 Para cada dois pneus novos fabricados no País ou pneus

importados, inclusive aqueles que acompanham os veículos

importados, as empresas fabricantes e as importadoras deverão dar

destinação final adequada a um pneu inservível.

01/01/2004 • Para cada um pneu novo fabricado no País ou pneu novo

importado, inclusive aqueles que acompanham os veículos

importados, as empresas fabricantes e as importadoras deverão

dar destinação final adequada a um pneu inservível;

• Para cada Quatro pneus reformados importados, de qualquer tipo,

as empresas importadoras deverão dar destinação final adequada

a cinco pneus inservíveis.

01/01/2005 • Para cada quatro pneus novos fabricados no País ou pneus

novos importados, inclusive aqueles que acompanham os

veículos importados, as empresas fabricantes e as importadoras

deverão dar destinação final adequada a cinco pneus inservíveis;

• Para cada três pneus reformados importados, de qualquer tipo, as

empresas importadoras deverão dar destinação final adequada a

quatro pneus inservíveis.

Fonte: (CONAMA, 1999)

Portanto, esta Resolução é um instrumento oportuno e importante para disciplinar

coleta e destinação final dos pneus descartados no Brasil.

10

3 ALTERNATIVAS TECNOLÓGICAS

Neste capítulo, serão apresentadas alternativas tecnológicas para disposição de

pneus descartados encontradas na literatura. Antes, porém, seguem algumas

informações gerais sobre pneus.

Todo pneu é formado de 4 partes principais (PIRELLI, 2000), a saber:

CARCAÇA: é a parte resistente do pneu, constituída de lona(s) de poliamida,

poliester ou aço. Retém o ar sob pressão que suporta o peso total do veículo. Nos

pneus radiais, as cintas complementam sua resistência.

TALÕES: são constituídos internamente de arames de aço de grande resistência e

têm por finalidade manter o pneu acoplado ao aro.

BANDA DE RODAGEM: é a parte do pneus que entra diretamente em contato com

o solo. Formada por um composto especial de borracha que oferece grande

resistência ao desgaste. Seus desenhos constituídos por partes cheias (biscoitos) e

vazias (sulcos), oferecem desempenho e segurança ao veículo.

FLANCOS: protegem a carcaça de lonas. São dotados de uma mistura especial de

borracha com alto grau de flexibilidade.

De acordo com a literatura pesquisada, as funções básicas do pneu são (PIRELLI,

2000):

• Suportar a carga;

• Assegurar a transmissão da potência motriz;

• Garantir a dirigibilidade do veículo;

• Oferecer respostas eficientes nas freadas e aceleradas;

• Contribuir com a suspensão do veículo no conforto.

Quanto à borracha empregada na sua fabricação, ela é geralmente constituída

(Sharma, 2000) por:

• Elastômeros (borracha natural ou sintética);

11

• Agentes reforçantes (carbon black – negro de fumo);

• Plastificantes;

• Agentes vulcanizantes (enxofre e compostos de enxofre);

• Agentes acelerantes;

• Agentes protetores (ex.: anti-oxidantes, anti-ozonizantes, estabilizadores).

A Tabela 2 apresenta informações sobre a composição de pneus novos.

Tabela 2 - Composição de pneus novos

Composição Automóvel (%) Caminhão (%)

Elastômero 48 45

Carbon black 22 22

Aço 15 25

Fibras têxteis 5 -

Óxido de zinco 1.2 2.2

Enxofre 1 1

Outros óleos 8 6

Fonte: (Sharma, 2000)

É importante mencionar que a reciclagem de pneus, ou seja, usar o resíduo como

matéria prima na produção de novos pneus é praticamente impossível devido à

vulcanização da borracha. A vulcanização transforma o elastômero numa substância

não fundível e insolúvel. (Sharma, 2000).

A seguir, serão descritas possíveis alternativas tecnológicas para disposição de

pneus descartados encontradas na literatura.

3.1 Recauchutagem

Como já dito anteriormente, a recauchutagem, que é uma possibilidade de

reaproveitamento de pneus, é considerada como a melhor alternativa para o

consumidor; porém, a maioria dos pneus descartados não pode ser recauchutada,

por limitações técnicas ou econômicas (Snyder, 1998).

12

Este é o único processo de recuperação que tira plena vantagem do valor

remanescente nos pneus usados e isto torna os processos de recauchutagem ainda

atrativos, apesar dos custos envolvidos. Além de cada pneu recauchutado significar

uma carcaça reusada, a recauchutagem de pneus representa um menor consumo

de energia - são necessários 26 litros de petróleo para fazer um pneu de passeio

novo, mas apenas 9 litros para recauchutá-lo; recauchutar um único pneu pesado

pode significar a economia de pelo menos 40 litros de petróleo (Ferrer, 1997).

Um pneu de passeio padrão pesa entre 6 e 10 kg, sendo que perde até 10% do seu

peso até ser descartado. Usualmente, o pneu está em bom estado mesmo que a

banda de rodagem esteja desgastada. Todavia, o estresse físico ou a fadiga

acumulada limita o número de recauchutagens que um pneu pode receber. Durante

a primeira vida útil, menos de 20% do valor da matéria prima é consumida. Mesmo

considerando-se o pneu como um artigo de consumo, 80% do valor original do

material continua disponível para reuso ao final de sua vida (Ferrer, 1997).

Ainda segundo Ferrer (1997), a maioria das pesquisas com pneus de veículos

relaciona-se ao desenvolvimento de revestimentos que possam durar mais por meio

de um grande número de recauchutagens. Um pneu bem tratado pode ser

recauchutado pelo menos duas vezes, durando 500 000 km sob as condições

existentes nos Estados Unidos. Contudo, fabricantes de pneus estão trabalhando no

desenvolvimento de pneus cuja carcaça possa chegar a um milhão de km, com a

ajuda de duas ou três recauchutagens.

Continuando, Ferrer (1997) descreve as duas tecnologias de recauchutagem - o

processo de vulcanização com molde e o processo de pré-vulcanização. Eles

diferem na seqüência de operações, a aplicação da banda de rodagem pode ocorrer

antes ou depois. A maior parte dos recauchutadores e fabricantes de pneus

envolvidos no negócio preferem o processo de vulcanização com molde. Neste

processo, todo o pneu é aquecido enquanto uma câmara aquecida aplica e

vulcaniza a banda de rodagem. A recauchutagem constitui-se de sete etapas,

conforme segue (Ferrer, 1997):

1. Pré-inspeção: numa inspeção inicial são escolhidos os pneus descartados com

melhor potencial para a recauchutagem. O objetivo é escolher os pneus com

13

menor custo de recauchutagem e maior expectativa de duração da carcaça. É

um processo onde a padronização é difícil e que afeta diretamente na

lucratividade da empresa.

2. Retirada da banda de rodagem: o restante da banda desgastada do pneu é

raspado num equipamento semelhante a um torno. É um processo que requer o

estabelecimento de limites para cada tipo e tamanho de pneu para que seja

retirada a correta quantidade de borracha. Um pneu de passeio gera

aproximadamente 0.8 kg de borracha fragmentada, que pode ser vendida para a

indústria de borracha.

3. Preparação da carcaça: reparam-se todos os danos que permaneceram após a

retirada da banda de rodagem. Um operador pode rejeitar um pneu nesta etapa,

caso sua estrutura esteja muito danificada.

4. Aplicação da banda de rodagem: há dois processos diferentes. No processo de

vulcanização com molde, a banda de rodagem é aplicada no pneu da mesma

forma que na manufatura original. No processo de pré-vulcanização, a banda é

moldada e vulcanizada antes de ser aplicada no pneu.

5. Vulcanização: é o processo que garante a união da carcaça com a nova banda

de rodagem e que provê dureza e resistência à abrasão requerida da nova

banda. No processo de vulcanização com molde, é neste estágio que a superfície

do pneu é conformada (constituída de partes cheias e vazias) e que ocorre a

vulcanização da banda de rodagem. O molde é aquecido a uma temperatura e

pelo tempo necessário para que a vulcanização ocorra. No processo de pré-

vulcanização, uma banda vulcanizada com sua superfície já feita é aplicada.

Portanto, neste processo apenas garante-se a completa vulcanização entre a

nova banda e a carcaça.

6. Inspeção e acabamento: o inspetor então observa os defeitos ocorridos no

processo de recauchutagem e, se o pneu atende aos requerimentos de

segurança, vai para o processo de acabamento. O excesso de borracha é

retirado e a lateral do pneu é pintada é etiquetada para dar uma aparência de

pneu novo.

14

7. Testes externos: laboratórios especializados dão suporte à indústria de

recauchutagem. Um dos maiores objetivos é melhorar as condições de

recauchutagem. Alguns destes testes são: testes de adesão, determinação da

taxa de vulcanização, análise de falha, análise da banda de borracha, análise da

seção reparada.

Logicamente, a recauchutagem de pneus não significa eliminar o problema porque,

naturalmente, ocorrerá o desgaste, talvez até em menor tempo que um pneu novo e

haverá necessidade de disposição; além disso, o número de pneus permanece o

mesmo (Snyder, 1998).

A Tabela 03 apresenta informações sobre a economia atribuída ao processo de

recauchutagem.

Tabela 3 - Economia de petróleo atribuída ao negócio de recauchutagem

Estados Unidos 1995

Pneus recauchutados

(unidades)

Economia por pneu

(litros)

Total economizado

(litros)

Carros de passeio 5 300 000 17 90 000 000

Caminhões leves 7 200 000 36 259 000 000

Caminhões médios

e pesados

15 900 000 63 1 000 000 000

Especiais 870 000 140 121 000 000

Total 29 270 000 50 1 470 000 000

Fonte: (Ferrer, 1997)

Sabendo-se que um barril de petróleo contém 159 litros (PETROBRAS, 2001), o

total economizado mencionado acima equivale a mais de 9,2 milhões de barris. Para

ter-se uma idéia, a produção diária brasileira é de 1.324 milhões de barris

(PETROBRAS, 2001); logo, esta economia significaria quase 7 dias de produção.

A seguir, serão apresentadas alternativas descritas em literatura americana, que são

idealmente adequadas para pneus inservíveis, ou seja, para aqueles que não

apresentam condições para serem recauchutados.

15

3.2 Uso como combustível (Snyder, 1998)

Se um pneu (ou uma pilha deles) é queimado a céu aberto, origina-se uma fumaça

mal cheirosa, cheia de fuligem que contém dióxido de enxofre, vários

hidrocarbonetos e outros produtos químicos.

Então por que pneus queimados podem ser considerados como bom combustível?

As indesejáveis conseqüências da queima de pneus à céu aberto ocorrem

primariamente devido à combustão incompleta: partículas de carbon black (negro de

fumo) e muitos produtos químicos resultantes da pirólise escapam da zona de

combustão sem estarem completamente queimados.

Em caldeiras adequadas, pneus ou fragmentos de pneus queimam completamente,

emitindo gases normais de combustão que incluem pequenas quantidades de

dióxido de enxofre. Em média, pneus apresentam em média por volta de 1.2% de

enxofre; durante a queima, parte deste enxofre converte-se em dióxido e é emitido.

Porém, pneus contêm significativamente menos enxofre que a maioria dos carvões

usados como combustível nos Estados Unidos.

É bom lembrar que, com exceção do aço e de pequena quantidade de matéria

inorgânica, o restante do pneu pode ser considerado como derivado de petróleo,

apresentando poder calorífico compatível (vide Tabela 4).

Tabela 4 - Poder calorífico de vários combustíveis

Combustível BTU/lb kcal/kg (aprox.)

Madeira de carvalho 8.300 4.600

Madeira de pinho 9.100 5.000

Linhita 6.000 3.300

Carvão betuminoso 11.000 – 14.000 6.100 – 7800

Óleo combustível 18.000 – 19.000 10.000 – 10.600

Fragmentos de pneu 13.000 – 14.000 7.200 – 7.800

Fonte: Snyder,1998

16

Portanto, pneus podem ser um excelente combustível; mandá-los para um aterro

pode significar estar enterrando um combustível melhor que o carvão que está

sendo retirado das minas nos Estados Unidos.

Pneus também contêm quantidade significativa de ferro e zinco, que usualmente não

estão presentes no carvão. O nível de zinco nos pneus modernos é

aproximadamente 1.5%. Na combustão, algum zinco pode ser encontrado nas

cinzas, mas outra parte entra como particulado nas emissões da chaminé, podendo

aumentar a opacidade se emitido. Normalmente, o zinco poderia ser coletado

através de filtro ou outro dispositivo presente nas caldeiras modernas, junto com a

cinza em suspensão.

Além disso, pneus apresentam maiores quantidades de ferro que o carvão, podendo

variar de acordo com o tipo de pneu. Todos os pneus têm arames de aço em seus

talões, o que significa talvez 3 a 4% do peso do pneu. Pneus radiais têm

substancialmente mais arame na sua carcaça – aproximadamente 10% do total.

No processo de cortar um pneu e convertê-lo no chamado Combustível Derivado de

Pneu (CDP), uma parte do arame pode ser separada magneticamente e removida. O

destino do arame contido no pneu durante a combustão varia, dependendo do tipo

de processo que está sendo utilizado.

Se pneus inteiros são queimados, o aço fundido é coletado como escória e vendido

como resíduo de ferro. Quando o CDP é queimado como suplemento de carvão, o

aço também queima e contribui com uma quantidade de energia significativa (aprox.

1900 kcal/kg). A combustão de arame de aço exige uma alta temperatura de

ignição, que pode ser conseguida numa caldeira a carvão, mas não numa caldeira

que queima madeira. Por isso, quando o CDP é usado numa caldeira como

suplemento de madeira, o arame suporta totalmente o processo de combustão e é

coletado nas grelhas, o que pode gerar problemas operacionais tais como a

obstrução das grelhas.

Outra importante diferença de composição entre o carvão combustível e o CDP é

que o carvão é carbono com impurezas. Já o pneu de borracha é uma mistura de

carbon black com aproximadamente o dobro de hidrocarbonetos; portanto, como os

17

hidrocarbonetos são combustíveis com maior poder calorífico (mais energia por

unidade de massa), para uma dada quantidade de energia produzida, pneus emitem

significativamente menos dióxido de carbono que o carvão.

Seguem as principais alternativas de uso de pneus descartados como combustíveis:

a) Pneus inteiros como combustível de caldeira (Snyder, 1998)

Talvez o primeiro processo prático e significativo de queimar pneus inteiros como

combustível foi desenvolvido na Alemanha por Gummi Mayer, o maior recauchutador

europeu. Em operação normal, o recauchutador compra pneus usados, inspeciona e

escolhe os que presume serem passíveis de recauchutagem. Os que não têm

condições de recauchutagem e aqueles que são rejeitados após terem sido

recauchutados deverão ser dispostos de alguma forma; por isso, Gummi Mayer,

projetou e construiu uma pequena planta para geração de vapor usando pneus

inteiros descartados como único combustível. Esta planta, visitada por Snyder em

1977, operava combustão completa e gerava apenas óxido de zinco não totalmente

branco e com 90% de pureza que era coletado através de filtro. O arame de aço

fundido reunido era coletado e vendido como escória metálica. As emissões das

chaminés eram baixas e atendiam aos padrões alemães. Apesar do seu pequeno

tamanho, esta planta serviu como protótipo para uma planta de 14.4 MW construída

pela General Eletric e que está operando atualmente em Modesto, Califórnia,

próxima à maior pilha de pneus descartados nos Estados Unidos.

Porém, na opinião de Snyder (1998), caldeiras dedicadas ao uso de pneus como

único combustível, tanto inteiros como CDP, não parecem ser uma alternativa

promissora porque requerem um alto investimento inicial quando comparadas com

os tipos de caldeiras padrão alimentadas por carvão porque, como não há caldeiras

padrão para consumir pneus, elas devem ser projetadas individualmente. Além

disso, a limitada disponibilidade de grandes quantidades de pneus em certas

localidades impõe severas limitações ao tamanho da planta. A planta de Modesto

produz 14.4 MW, enquanto que as maiores plantas a carvão construídas hoje em dia

têm usualmente uma capacidade de 500 MW.

18

b) CDP como suplemento do carvão combustível (Snyder, 1998)

O CDP pode ser excelente suplemento se os fragmentos usados tiverem tamanho

comparável ao do carvão utilizado. Em geral, as plantas maiores queimam carvão

em pó de 200 mesh; porém, é economicamente impraticável reduzir fragmentos de

borracha a este tamanho. Mas pode ser usado CDP com tamanho variando de 1.3 a

5.1 cm; neste tamanho, o CDP pode ser produzido a um custo razoável.

Como o CDP apresenta baixo nível de enxofre e alto poder calorífico, ele pode ser

utilizado para melhorar a qualidade do combustível, mas há dois inconvenientes

práticos no seu uso que devem ser superados. Primeiro, o CDP deve ser misturado

ao carvão de forma muito uniforme para evitar pontos quentes localizados que

poderiam produzir escória ou danificar as grelhas, o que encarece os custos de

produção. Em segundo lugar, caldeiras velhas, que não possuem filtros ou outros

dispositivos meios de coletar particulados, emitirão pequenas quantidades de

partículas de zinco, o que aumentará a opacidade da fumaça da chaminé.

c) CDP como suplemento da madeira

Indústrias madeireiras geralmente usam seus próprios resíduos (cascas, ramos e

serragem) como combustível primário. O calor contido neste tipo de material é

aproximadamente 3.300 kcal/kg; este número é seriamente reduzido após chuvas

longas, mas pode ser aumentado com o uso de CDP como suplemento. Esta foi a

primeira alternativa surgida nos Estados Unidos com volume significativo para o uso

de pneus como combustível. O uso de CDP tem sido largamente aceito pela

indústria madeireira e está bem consolidado nos EUA. O uso fica limitado

basicamente pela disponibilidade de fornecimento constante a preço competitivo e

de fornecedores. Como está sendo usado com suplemento de um combustível com

um custo essencialmente negativo, há sempre pressão sobre o seu preço.

Geralmente, é vendido a no máximo US$ 20/t.

19

d) CDP na indústria de Cimento Portland (Snyder, 1998)

A produção de cimento requer grandes quantidades de energia, são requeridos

aproximadamente 230 kg de carvão para produzir 1 tonelada de cimento Portland.

Portanto, o custo do cimento Portland é totalmente dependente do custo do

combustível utilizado, o que representa uma oportunidade atrativa para CDP.

Casualmente, dois dos ingredientes usados em menor quantidade na receita do

cimento Portland, óxido de ferro e enxofre, podem ser fornecidos pelo CDP. O aço

contido no CDP é convertido em óxido de ferro e o dióxido de enxofre, que não

consegue escapar porque é arrastado pelo calcário quente, converte-se em sulfato

de cálcio. Segundo Snyder (1998), do ponto de vista ambiental, tem-se quase que

uma situação ideal para a disposição de pneus.

O uso de pneus como combustível para fornos de cimento foi iniciado na Alemanha.

A Dyckerhoff Zement apresentou a maior adoção desta alternativa e, nos anos 70,

desenvolveu um processo usando pneus de caminhão médios como único

combustível. Um problema associado com a queima de pneus inteiros injetados

intermitentemente dentro do forno era a pulsação de gases quando o pneu era

vaporizado, mas a decisão de queimar pneus inteiros foi tomada porque não havia

nenhum processo prático para cortar pneus naquele tempo. Em 80, Dyckerhoff tinha

três plantas, queimando 30.000 toneladas de pneus descartados anualmente.

Depois, outras empresas de cimento alemãs adotaram pneus como combustível,

mas na forma de CDP, o que simplifica consideravelmente o processo. O uso de

CDP em fornos de cimento tornou-se e continua sendo um mercado comprador de

pneus descartados na Alemanha. Este largo uso de CDP baseia-se parcialmente no

fato que os fornos de cimento recebem este material gratuitamente; os custos da

coleta, corte e entrega do produto é assumida pela indústria de pneus.

A produção de cimento Portland é um negócio global que envolve grande produtores

internacionais e depois de algum tempo, produtores americanos que tinham parceria

com empresas européias começaram a avaliar pneus como combustível. De acordo

com Snyder (1998), até Outubro de 1997, 36 plantas estavam queimando pneus nos

Estados Unidos, muitas outras estavam fazendo testes e aproximadamente mais 30

20

estavam planejando testes. Algumas queimam pneus inteiros, outras CDP. Os pneus

estavam sendo fornecidos gratuitamente ou os produtores de cimento estavam

cobrando uma pequena taxa por pneu.

3.3 Uso na pavimentação e recuperação de pistas e estradas (Snyder, 1998)

a) Borracha no asfalto

Um dos mais interessantes e promissores usos de larga escala para borracha de

pneus descartados é como material de construção de estradas.

Hoje, materiais asfálticos comerciais são produzidos em grandes quantidades por

refinarias de petróleo. Como o asfalto é relativamente solúvel em outros

hidrocarbonetos, era usado como massa barata em compostos de borracha muitos

anos antes de sua aplicação em estradas.

Durante a II Guerra Mundial, os alemães usaram borracha natural, de que eles

tinham abundante fornecimento, como suplemento na construção de estradas

devido à falta de asfalto. Do lado dos americanos, devido à escassez da borracha,

foi necessário desenvolver borrachas sintéticas e processos economicamente

viáveis para produzi-las. Após a II Guerra Mundial, tanto a pesquisa como o

desenvolvimento de borracha sintética começaram a declinar e o declínio

contemporâneo da indústria de recuperação de borracha promoveu uma mudança

de foco, da borracha recuperada para borracha finamente fragmentada.

Atualmente, há interesse por misturas de asfalto, não com massa mas com

fragmentos de borracha, que consistem de partículas de borracha vulcanizada. O

processo de vulcanização converte uma massa de moléculas mais ou menos linear

numa rede tridimensional, o que confere conformação permanente aos objetos.

A função primária do asfalto é formar uma estrutura integral, preenchendo os

espaços vazios em volta da pedra agregada para que a superfície pavimentada

possa resistir à penetração de umidade e permanecer flexível durante toda variação

de temperaturas a que uma estrada deve suportar. Asfaltos comerciais com

propriedades bem conhecidas e grades padrão estão disponíveis em várias

21

refinarias; portanto, a escolha deve ser feita dependendo basicamente das

condições climáticas a serem encontradas.

Logicamente, a adição de fragmentos de borracha à massa asfáltica pode afetar

estas propriedades.

b) Fragmentos de borracha na selagem de rachaduras

Segundo Snyder (1998), a primeira e mais simples aplicação de fragmentos de

borracha é para selar rachaduras. Quando rachaduras aparecem numa estrada de

asfalto, é conveniente fechá-las para impedir a entrada de água. Em pistas de

concreto, também é necessário reajuntar os blocos vizinhos e o asfalto, é o material

adequado para este tipo de tarefa.

De acordo com Snyder (1998), adicionar fragmento de borracha (com tamanho

aproximado de 20 mesh) ao asfalto resultará num grande aumento na viscosidade a

elevadas temperaturas sem afetar adversamente o ponto de congelamento. Asfaltos

modificados pela adição de fragmentos de borracha para a selagem de rachaduras

são largamente utilizados na maioria dos Estados americanos.

c) Fragmentos de borracha em membranas reparadoras (Snyder, 1998)

Outro emprego bem sucedido para fragmentos de borracha é a utilização de uma

membrana de mistura de asfalto aplicada como um adesivo numa área de pista

rachada e/ou danificada. Após a limpeza, o composto de asfalto e borracha é

aplicado como um adesivo coberto com uma fina mistura de asfalto e pedra e então

liberada para uso. A natureza flexível e elástica da membrana pode impedir o

crescimento de pequenas rachaduras adicionais e prevenir a propagação das

rachaduras existentes. Esta tecnologia é chamada Stress Absorption Membrane

(SAM) e tem sido largamente usada em algumas áreas com grande sucesso. A

utilização de fragmentos de borracha significa mais custo; contudo, nestas

aplicações, é aparentemente economicamente viável.

22

d) Fragmentos de borracha na pavimentação de pistas

Segundo Snyder (1998), num ano normal, aproximadamente 480 milhões de

toneladas de asfalto são usadas em pavimentação no mundo. Portanto, se

fragmento de borracha fosse adotado mundialmente a um nível moderado de 3%

(aprox. 27 kg / tonelada de asfalto), quase 13 bilhões de quilos de fragmento seriam

requeridos. Assumindo que, em média, podem ser obtidos 4.5 quilos de fragmento

de borracha de um pneu de passeio, seriam necessários mais de 2 bilhões de pneus

anualmente. Esta quantidade excede em muito o fornecimento total disponível. Para

o autor, o uso substancial de fragmento de borracha em pistas asfaltadas poderia

resolver o problema de pneus descartados.

Uma das questões centrais relativas a esta aplicação gira em torno da habilidade do

fragmento de borracha nivelar a curva de temperatura x viscosidade do asfalto.

Asfaltos de baixa viscosidade podem ter pontos quebradiços. A adição de borracha

aumenta a viscosidade do asfalto e produz uma liga mais rígida, que adere melhor

ao agregado a elevadas temperaturas e também resiste à formação de sulcos. Além

disso, há menor tendência da liga escorrer sobre a superfície e sua elasticidade é

melhorada, o que ajuda a prevenir o aparecimento de rachaduras na pavimentação

durante o inverno. Finalmente, asfalto não modificado endurece com o tempo,

parcialmente devido à oxidação; portanto, a modificação pela adição de fragmento

de borracha melhora a resistência ao envelhecimento da massa asfáltica, isto pode

ser atribuído à presença de carbon black na borracha.

Porém, há certas desvantagens nesta modificação. A maior objeção é o aumento de

custo. Fragmento de borracha é caro (aproximadamente US$ 0.29 / kg) e o seu uso

usualmente requer um volume de massa maior. Também, um considerável

investimento em equipamento é necessário para garantir medição e mistura

apropriada de borracha. A mistura de asfalto e borracha é instável; portanto,

geralmente certa quantidade de tempo é requerida para a estabilização; porém, esta

mistura não pode ser armazenada indefinidamente à altas temperaturas sem

deteriorar severamente. Por último, algumas das melhores técnicas são patenteadas

e foram largamente licenciadas o que adiciona custos de royalties ao processo.

23

Na prática, os processos que estão sendo usados podem ser divididos em dois

grupos principais: processo úmido e processo seco.

O Processo Úmido envolve a medição e mistura de fragmento de borracha e asfalto

num reator, permitindo que eles reajam por um tempo apropriado antes de adicionar

agregado à mistura. Este é o processo mais comum.

No Processo Seco, o fragmento de borracha, geralmente uma mistura de partículas

de vários tamanhos, é misturado previamente com agregado (pedra quente) antes

de receber o asfalto aquecido.

O Processo Úmido é mais antigo e tem maior aplicação que qualquer Processo

Seco. Muitos trechos de estradas em diversos estados americanos atestam o valor

potencial da mistura de borracha às massas asfáticas. Contudo, nem todos os

projetos foram bem sucedidos, alguns falharam visivelmente (vide a seguir).

Todavia, há crescente e constante interesse e aceitação do uso de fragmento de

borracha na composição de asfalto para pavimentação. No Arizona, onde tudo

começou, o uso de modificação pela adição de borracha chegou a aproximadamente

20% da construção de pistas de alta velocidade.

e) Problemas recentes devido ao uso de fragmentos de pneus na construção de estradas

Snyder (1998) relata que durante a década de 80, mais de 70 projetos de construção

de estradas nos Estados Unidos, aparentemente bem sucedidos, tinham usado

substanciais quantidades de fragmentos de pneus em substituição de materiais

convencionais mais pesados. Como resultado deste sucesso, havia grande

esperança no uso em aplicações de construção civil como uma das maiores

alternativas na solução do problema de pneus descartados e muitos novos projetos

foram planejados. Todavia, três projetos apresentaram pontos de aquecimento

devido à reações exotérmicas na massa de borracha, que acabaram culminando em

incêndios. Estas construções tiveram de ser abertas para dispersar gases, resfriar a

massa de borracha e apagar as chamas existentes. Depois, tiveram que ser

reparadas com materiais mais convencionais com despesas bastante consideráveis.

24

Devido a estes eventos, todos os projetos similares foram cancelados. A

Administração Federal de Estradas dos Estados Unidos anunciou que não seriam

aprovados novos projetos até que os problemas tivessem sido entendidos e

resolvidos.

Foi criado um comitê para analisar o assunto, os locais foram visitados, mas o

material resultante dos incêndios não proveu resposta clara sobre a origem do

problema. Pilhas de pneus ou de seus fragmentos não são normalmente sujeitos à

combustão espontânea; no entanto, processadores que cortam pneus percebem que

ocorrem reações exotérmicas em pilhas de fragmentos recentemente cortados e

associam este fenômeno ao contato de pedaços de arame quentes com finas

partículas de borracha superaquecidas. Também aparentemente, em pelo menos

um destes projetos ocorreu mistura com materiais orgânicos ou fertilizantes, o que

pode ter gerado oxidação bacteriológica. Portanto, o problema é identificar eventos

químicos ou biológicos capazes de elevar a temperatura da massa até a ignição da

borracha que ocorre aproximadamente a 500 º C.

As possíveis causas são:

1. Oxidação do aço em óxidos de ferro pode ter ocorrido. Em pilhas antigas de

pneus velhos, o arame de aço exposto reconhecidamente oxida-se numa reação

moderadamente exotérmica.

2. Materiais orgânicos podem ter sido incluídos acidentalmente e a mistura elevou a

temperatura até o ponto de oxidação da borracha.

3. Inclusão de pequenas partículas de borracha provenientes da operação de corte

no aterro junto com fragmentos de metal recém cortados.

4. Oxidação biológica da borracha causada por micróbios (leveduras, fungos etc)

em associação com materiais fertilizantes lixiviados.

f) Borracha nos cruzamentos de ferrovias

Em cada cruzamento de ferrovia com uma pista ou estrada, há o problema de

encontrar um material de pavimentação adequado para ocupar o espaço entre e em

25

volta da linha do trem. Este material de pavimentação deve permitir a passagem

suave do veículo, mas não deve interferir na segurança da passagem das rodas do

trem sobre a linha.

Nos anos recentes, quantidades crescentes de peças de borracha estão sendo

usadas para revestir os cruzamentos de ferrovias, satisfazendo também as

necessidades de manutenção.

Snyder (1998) cita três grandes produtores de material para cruzamentos de

ferrovias nos Estados Unidos: Omni Products of Portland (Oregon), Kraiburg of

America (Iowa) e Goodyear Tire and Rubber Company of Akron (Ohio).

3.4 Tapetes, Revestimentos, Pisos de Proteção e Usos Agropecuários

a) Tapetes de Borracha

Segundo Snyder (1998), um dos usos mais atrativos e de mais rápido crescimento

para fragmento de borracha de pneus descartados nos Estados Unidos são os

tapetes de borracha. É um produto antigo e houve, um tempo, em que virtualmente

todos automóveis tinham pisos de borracha pretos como equipamento padrão.

Durante os anos 50, estes pisos de borracha foram largamente substituídos por

tapetes de vinil, mais atraentes, coloridos e baratos.

O advento de quantidades substanciais de fragmento de borracha a baixo custo

significou novas oportunidades. Grandes e crescentes quantidades de tapetes de

borracha estão sendo produzidas agora nos Estados Unidos e Canadá para uma

variedade de produtos finais, muitos dos quais novos.

Técnicas têm sido desenvolvidas para combinar grandes quantidades de fragmentos

de borracha com pequenas quantidades de borracha virgem para produzir tapetes e

outros produtos de alta qualidade. Ainda de maior importância comercial é o fato que

compostos de poliuretano, cuja vulcanização ocorre a temperatura ambiente, podem

ser usados para moldar borracha de pneu em tapetes com excelentes propriedades

físicas sem ser necessário recorrer a prensas com placas aquecidas.

26

b) Tapetes para uso agropecuário

Um novo desenvolvimento é o uso de grandes tapetes de borracha, conhecidos

como agrimats, em estábulos para gado e cavalos. A idéia é tirar proveito da baixa

condutividade térmica da borracha para prover um leito quente para os animais. Nos

Estados Unidos, esta idéia está sendo bem sucedida, relata-se que é difícil retirar os

animais de cima dos tapetes, dia ou noite, exceto para retirada de leite e

alimentação. No caso do gado, é economicamente viável porque pode aumentar a

produção de leite; algumas grandes fazendas de gado leiteiro estão conseguindo

ordenhar três vezes por dia e um aumento de 10% na produção de leite. Em outro

desenvolvimento, pallets constituídos de um envelope plástico recheado de

fragmentos de borracha com uma espessura adequada estão sendo vendidos para o

mesmo propósito.

Estas técnicas de fabricação também são adequadas para produção de tapetes para

reboques de cavalos, revestimentos de caminhões e pequenos capachos para

máquinas automáticas de venda (refrigerantes, chocolates etc) ou locais onde

operadores devem ficar muito tempo em pé. Isto se transformou num negócio

multimilionário envolvendo aproximadamente uma dúzia de empresas americanas e

canadenses.

Em adição ao crescimento de vendas de tapetes convencionais de borracha,

desenvolvimentos comerciais substanciais estão ocorrendo envolvendo tapetes em

que os fragmentos de borracha são revestidos com um filme de poliuretano. A

mistura é pressionada no formato desejado e a vulcanização é feita à temperatura

ambiente e essencialmente à pressão atmosférica. Diversos tipos de produtos

podem ser feitos desta forma. Se as partículas de borracha são pequenas e

uniformes e a quantidade de poliuretano é adequada para preencher os espaços,

consegue-se produzir objetos moldados em poliuretano, mas recheados de

borracha. Estas estruturas são de particular interesse devido às suas características

de absorção de impacto, sendo que isto tem se tornado uma grande preocupação

nos playgrounds infantis localizados nos Estados Unidos.

27

c) Revestimento de borracha para superfície de playground

Dez anos atrás, os Estados Unidos definiram que asfalto, concreto e solo

compactado eram superfícies inseguras para playgrounds e que deveriam ser

substituídas por serragem de madeira, areia ou revestimento de borracha.

Uma decisão judicial que estabeleceu US$ 15 milhões de indenização a um menino

de 10 anos que sofreu danos cerebrais ao cair sobre uma superfície de asfalto,

gerou preocupação significativa e considerável atividade em reduzir a

responsabilidade dos fabricantes de equipamentos para playgrounds.

Revestimentos de borracha e poliuretano podem ser projetados para prover níveis

adequados de segurança para os atuais equipamentos de playground. Na prática,

protege-se em volta do equipamento com um tapete de poliuretano composto de

partículas de borracha grossas (1.3 cm) numa espessura adequada à altura do

equipamento (usualmente de 7.6 a 15.2 cm). Na superfície deste tapete é colocada

uma cobertura de poliuretano de alta densidade que pode ser colorido.

Na opinião de Snyder (1998), o volume potencial de vendas para este tipo de

revestimento para playground nos Estados Unidos é enorme e, em 1997, já havia 33

empresas produzindo este tipo de tapetes com fragmentos de borracha.

d) Pisos de proteção compostos de fragmentos de borracha

Conforme mencionado anteriormente, ocorreu rápido crescimento no uso de tapetes

de borracha para superfície de playgrounds. Fragmentos de borracha com 1.3 cm

de tamanho também podem ser utilizados como um excelente piso para

playgrounds, melhor que areia ou lascas de madeira. Numa típica instalação, a

profundidade é de 7.6 cm ou mais, chegando a 15.2 cm perto de equipamentos de

subir onde as quedas provavelmente ocorrem. A resiliência ou elasticidade e a

absorção de energia são virtudes predominantes dos fragmentos de borracha. Além

isso, eles são limpos, não absorvem poeira e, a depender da idade dos pneus, não

mancham (pisos feitos de pneus novos produzem manchas).

28

Snyder (1998) comenta que esta aplicação de fragmento de borracha como piso de

playgrounds tem baixa taxa de penetração nos Estados Unidos porque várias

preocupações interferiram neste desenvolvimento.

A primeira preocupação, referia-se ao potencial problema de lixiviação devido ao

armazenamento de produtos provenientes de pneus descartados diretamente sobre

o solo. A maior autoridade neste tipo de questão nos Estados Unidos, a

Environmental Protection Agency (EPA), recusou-se a declarar que pneus

descartados é resíduo de risco e não tomou nenhuma posição sobre o assunto até

1994 quando publicou um documento aprovando o uso de fragmento de borracha

para usos tais como, piso para playground e correção de solo.

Outra preocupação para a adoção em larga escala é o risco de incêndio; um

playground não é espontaneamente combustível, mas pode inflamar-se com um

fósforo aceso; vários casos de vandalismo foram registrados. Este tipo de piso

queima com uma chama de 10.2 a 12.7 cm de altura e avança muito lentamente; por

isso, um incêndio pode ser facilmente controlado jogando-se água de uma

mangueira e afastando-se os fragmentos da chama.

e) Borracha em arenas de rodeios

Fragmentos de borracha também estão sendo usados em arenas de rodeios. Este

tipo de arena, especialmente as cobertas, onde se usa freqüentemente areia, são

poeirentas e, normalmente, requerem um sistema de sprinklers para controlar a

poeira. Um crescente número de arenas está adotando uma camada de 7.6 a 15.2

cm de fragmentos de borracha com 1.3 cm de tamanho, sendo considerada uma

superfície satisfatória. Em caso de queda, o cavaleiro corre menor risco de

machucar-se porque a queda é suavizada pela superfície de borracha. Para este

uso, assim como para os playgrounds, não deve haver pedaços de arame nos

fragmentos de borracha; resíduos de lona de fibra têxtil são admitidos.

29

Um dos maiores obstáculos no uso de fragmentos de borracha em arenas é o alto

custo. Nos Estados Unidos, para cobrir a maioria das arenas, o preço pode variar de

US$ 5.000 a US$ 10.000.

3.5 Compostagem de lama de esgoto e correção de solo

(a) Compostagem de lama de esgoto

Um grande número de estações de tratamento de esgoto remove primeiramente

metais, plástico, vidro e outros objetos inorgânicos e depois confinam o esgoto

doméstico em tanques anaeróbicos (em ausência de ar) onde ocorre fermentação. O

esgoto é então transferido para outro tanque onde ocorre oxidação biológica na

presença de ar (aeróbica). Após a sedimentação, uma grande quantidade de

efluente tratado é liberada, mas sobra um resíduo espesso e viscoso, conhecido

como lodo e que requer tratamento final.

Geralmente, este lodo é descarregado em campos abertos, o que é ambientalmente

questionável devido ao mau cheiro exalado, à presença de sementes de ervas

daninhas e à lenta decomposição. Preferencialmente, o lodo é queimado; contudo,

devido à grande presença de água (75%), esta queima torna-se muito cara devido à

grande quantidade de combustível requerida. Além disso, se não for realizada de

forma apropriada, esta queima pode gerar muito mau cheiro e incomodar a

vizinhança.

Segundo Snyder (1998), por volta de 1975, foi desenvolvido pelo Departamento de

Agricultura dos Estados Unidos um processo para tratar lodo de esgoto. Este

processo consiste em misturar este lodo rico em nitrogênio com um material

carbonífero (geralmente lascas de madeira) para aumentar o volume e então passar

ar através da mistura. As lascas de madeira têm duas funções: primeiro, como

agente de volume porque devido ao seu formato laminar força o ar a se dispersar

por toda a massa; qualquer porção de lodo que não for convenientemente aerada irá

fermentar anaerobicamente, causando mau odor. Em segundo lugar, a natureza

orgânica das lascas de madeira provê energia para o processo de fermentação.

Uma vigorosa reação de fermentação ocorre, gerando uma grande quantidade de

30

calor e, incidentalmente, eliminando muita água. Quando a reação termina,

geralmente após várias semanas e ocorre o resfriamento, a massa resultante é

quebradiça e relativamente seca (25 a 35% de umidade). Esta massa é peneirada

para recuperar a sobra de madeira, que pode ser reutilizada e o produto final é um

composto de alto valor para uso agrícola.

Durante os anos 70, estes processos de compostagem foram consideravelmente

desenvolvidos em plantas localizadas no Canadá. Nas operações iniciais, o lodo,

com aproximadamente 25% de parte sólida, era misturado com três partes de lascas

de madeira.

Para reduzir custo, começou-se a substituir um pouco de lascas de madeira por

fragmentos de pneus de 5.1 a 7.6 cm de tamanho. Durante o ano, a quantidade de

borracha foi progressivamente aumentada, chegando a 50% de substituição. Com a

substituição da madeira conseguiu-se uma economia substancial e durante um ano,

esta economia pagou o gasto com a compra de fragmentos de borracha, que podem

ser usados indefinidamente. A maior desvantagem associada ao uso de fragmentos

de pneus era o relativamente alto nível de ferro e zinco presente no composto, que

provinha da dissolução de pequenos pedaços de arame presentes nos pneus. Os

altos níveis de ferro e zinco declinam rapidamente após o primeiro ciclo de uso e

chega a níveis normais após aproximadamente três ciclos.

Em adição à considerável economia de gasto, os fragmentos de borracha foram de

significativo benefício para o processo. Conforme a fermentação prossegue, a altura

do material em decomposição diminui devido à evaporação da água e à liberação de

gases. Todavia, quando se coloca quantidade substancial de fragmentos de

borracha não ocorre compactação como acontece quando se usa lascas de

madeira, o que facilita a saída da água e, consequentemente, o composto resultante

geralmente não requererá secagem posterior.

Um segundo benefício é devido a baixa condutividade térmica da borracha. O

material retém melhor o calor e mantém-se quente no inverno. Isto permite que a

reação de compostagem continue durante demorados períodos de frio, quando a

compostagem teria parado se fossem usadas apenas lascas de madeira como

agente de volume.

31

Porém, a compostagem de lodo de esgoto não deve tornar-se um grande mercado

para os fragmentos de pneu simplesmente porque apenas uma compra é necessária

e pode ser usada indefinidamente. De acordo com Snyder (1998), converter a

operação atual das plantas de compostagem de lodo ao uso apropriado dos

fragmentos de borracha requereria o fornecimento total de um ano de pneus

descartados. A economia produzida seria enorme porque para cada tonelada de

fragmento de pneu reusada, uma tonelada de lascas de madeira seria substituída, o

que significaria um ganho de aproximadamente US$ 10 por tonelada.

b) Correção de solo agrícola

Diversas universidades americanas, entre elas, Missouri, Iowa, Arkansas e

Mississipi, têm programas em andamento para determinar os efeitos de enterrar

fragmentos de borracha para várias espécies de plantas. Algumas vezes, são

encontrados efeitos negativos, especialmente em solos com pH menor que 5.3;

neste tipo de solo, significativas quantidades de zinco são extraídas dos fragmentos

de borracha. Não foram observados benefícios relevantes nas colheitas

investigadas.

Nos anos 80, cientistas americanos iniciaram estudos sobre os efeitos observados

em gramados em que houve adição de fragmentos de borracha. Verificou-se que a

velocidade de penetração das raízes era mais rápida e que a penetração de água no

solo aumentava. Além disso, e ainda mais importante, percebeu-se que o solo

tratado desta forma era mais resistente à compactação nas superfícies de alto

tráfego. Estes cientistas perceberam as implicações práticas desta observação e

obtiveram uma patente nos Estados Unidos.

Um caminho extensivamente usado produz uma trilha onde não cresce mais grama;

este fato deve-se não apenas ao dano físico a que a grama é submetida mas,

principalmente, à progressiva compactação do solo e à conseqüente exclusão do ar.

As raízes das plantas precisam de ar tanto quanto de água. Isto explica porque a

maioria das plantas não cresce em áreas inundadas e porque as árvores morrem

devido a enchentes demoradas.

32

O desenvolvimento comercial de fragmento de borracha como corretivo de solo está

patenteado por uma empresa americana e é vendido com a marca REBOUND. Este

produto consiste de uma mistura de partes aproximadamente iguais de compostos e

partículas de borracha com tamanho variando de 0.6 cm até 10 mesh. REBOUND

não é uma panacéia porque alguns solos apresentam problemas que devem ser

avaliados por especialistas. Porém, freqüentemente, os resultados são

espetacularmente bem sucedidos.

Um projeto realizado em 1994 na Califórnia envolveu a construção de dois campos

de softball vizinhos e idênticos, a não ser pela aplicação de REBOUND num deles.

No campo tratado com o produto, as sementes de grama perene germinaram uma

semana antes; o que ocorreu, presumivelmente, devido à temperatura do solo.

Medições em duas profundidades demonstraram que a temperatura era

consistentemente mais alta do que no outro campo. A penetração das raízes foi mais

rápida e também alcançou maiores profundidades do que no campo sem tratamento.

Também, as medições de infiltração de água mostraram que o campo contendo

REBOUND era mais permeável e drenava mais rapidamente. Esta característica é

particularmente importante em campos esportivos abertos.

Testes de absorção de impacto e dureza do solo também demonstraram que

campos contendo REBOUND eram consideravelmente mais macios com diversos

níveis diferentes de mistura. Estes números indicam um campo esportivo mais

seguro.

Todos os tipos de campos esportivos são candidatos ao uso de fragmentos de

borracha como corretivo de solo. Campos de futebol e baseball são particularmente

apropriados por causa da alta concentração de tráfego nas áreas em frente ao gol.

Campos de golfe, parques públicos com alto volume de tráfego de pedestres são

também adequados a este tipo de tratamento.

Diversas outras vantagens justificam o uso de fragmentos de borracha para correção

de solo. Redução na necessidade de aguar é freqüentemente registrada e a

penetração da água é grandemente aumentada em campos com drenagem

insatisfatória.

33

Alguns estudos definitivos para o desenvolvimento de REBOUND foram também

realizados em Michigan. Mais recentemente, o interesse tem sido concentrado na

utilização de fragmentos de borracha como cobertura de gramados. Estes

fragmentos não umedecem facilmente e nem absorvem água, por isso, servem

como cobertura ideal. A proteção não é perfeita e, logicamente, a grama sofre

quando há alto tráfego; porém, aguando normalmente estas áreas, a recuperação é

rápida. Também, o peso específico (1.13) do fragmento de borracha é suficiente

para prevenir que ele seja carregado pela chuva.

3.6 Estudos de engenharia civil e aplicações (Snyder, 1998)

Algumas das propriedades dos fragmentos de pneu têm especial interesse em

aplicações na engenharia civil, particularmente, a baixa densidade e durabilidade,

que sugerem o seu uso como agregado de baixo peso e material de preenchimento.

a) Uso como agregado de baixo peso para preenchimento

Um dos primeiros trabalhos relacionados ao uso de fragmentos de pneus como

agregado foi realizado em Minnesota nos Estados Unidos, onde as estradas foram

construídas sobre a turfa. O uso de materiais convencionais de preenchimento, com

uma densidade de aproximadamente 2.5 resultaria no afundamento da pista com a

passagem do tempo. O uso de fragmentos de borracha como preenchimento, com

uma densidade de aproximadamente 1.15, resolveu os problemas mais deixou

algumas questões sobre lixiviação. Foram realizados vários estudos que concluíram

que este material era aceitável como preenchimento, mas não deveria ser usado a

um nível inferior ao aqüífero.

Quando uma estrada deve ser construída numa encosta onde o terreno tem declive

lateral e a aplicação de preenchimento é necessária para conseguir a superfície da

pista. Dependendo do grau do declive e da estabilidade do terreno, há a

possibilidade de deslizamento de terra. Esta possibilidade pode ser

consideravelmente reduzida através do uso de agregado de baixa densidade.

Em 1993, o estado do Maine iniciou a avaliação de fragmento de pneu como

preenchimento de estradas pavimentadas. Esta avaliação tinha dois objetivos:

34

verificar os índices de deflexão do pavimento e determinar os efeitos da lixiviação

na qualidade da água quando fragmentos de pneus são colocados abaixo dos

aqüíferos existentes. Indicações preliminares indicaram que a deflexão do pavimento

não era um problema e que a lixiviação não tinha excedido os limites aplicáveis para

pureza da água.

b) Uso como isolante térmico subterrâneo

Em 1991, a Universidade do Maine iniciou uma investigação sobre o uso de

camadas de fragmentos de borracha como isolante sob estradas de cascalho. Todos

testes demonstraram redução na penetração do congelamento e mostraram que o

uso de fragmentos de borracha melhoram significativamente as condições de tráfego

de estradas de cascalho em regiões sujeitas a temperaturas muito baixas onde

ocorre degelo.

c) Uso como suporte de muros de contenção

Devido a baixa densidade de compressão, fragmentos de borracha permitem muros

mais finos e de construção mais simples. Apesar de ter sido aprovado o uso, foi

relatado problema em muro de contenção usando fragmento de borracha.

d) Uso em aterros

Snyder (1998) comenta que talvez o mais amplo e rápido crescimento do uso de

fragmentos de borracha na engenharia civil é em aterros. As atuais normas

ambientais nos Estados Unidos requerem que os aterros sejam limitados por

paredes de argila ou camadas de filme plástico para proteger aqüíferos vizinhos de

indesejáveis compostos lixiviados. Além disso, para evitar riscos de rupturas, são

usados geotêxteis como proteção suplementar. Aterros também estão sendo

revestidos com diversas polegadas de fragmentos de borracha para proteger a

camada de geotêxtil e prover boa drenagem no aterro. Sob cargas normais de

compressão, fragmentos de borracha têm excelente permeabilidade (similar ao da

pedra britada) e nos declives, permanecem mais no lugar que areia, talvez devido às

35

suas propriedades de fricção. Uma simples compra pode significar 30.000 toneladas

de fragmentos de pneu, que equivale a mais de três milhões de pneus de passeio.

e) Uso em aterros sanitários

Um estudo realizado em 1990 demonstra que fragmentos de pneus podem

efetivamente substituir pedras britadas no sistema de drenagem de aterros

sanitários. A permeabilidade e a capacidade de armazenamento seriam satisfatórias

e, segundo análises disponíveis, não havia problemas com lixiviação. Também se

percebeu que o menor peso dos fragmentos de pneus seria uma vantagem em

relação ao custo de transporte.

3.7 Pirólise de Pneus

Um dos processos mais estudados e discutidos para a disposição de pneus

descartados é a pirólise. O processo consiste no aquecimento dos pneus, ou mais

convenientemente, dos fragmentos de pneus a temperaturas acima de 315 º C em

espaço confinado. A estas temperaturas, a borracha dos pneus começa a se

decompor gerando uma variedade de produtos gasosos e líquidos, basicamente

hidrocarbonetos. Estes produtos podem ser coletados, deixando um resíduo não

volátil composto de carbon black, pedaços de arame de aço e vários materiais

inorgânicos, tais como pigmentos de óxido de titânio, sílica e talvez alguma argila ou

talco.

As quantidades de líquido e gás são consideravelmente influenciadas pelas

temperaturas empregadas, mas pode-se esperar obter um terço de gás, um terço de

líquido e um terço de resíduo. Algum gás gerado será requerido como combustível

para o processo e o restante, em princípio, pode ser vendido. Similarmente, a fração

líquida leve pode ser vendida como gasolina. O considerável volume de óleo

resultante pode ser usado como massa de borracha por fabricantes de pneus. O aço

pode ser coletado magneticamente e vendido como resíduo de aço e o resíduo

carbonífero pode ser vendido como combustível.

Para Snyder (1998), apesar da pirólise de pneus ser tecnicamente viável, quando

analisada cuidadosamente, percebe-se que não é economicamente interessante

36

pelo menos por dois motivos. Primeiro, se uma tonelada de fragmentos de pneu for

processada para ser vendida como combustível, o poder calorífero de seus produtos

será inferior ao obtido com a queima direta dos fragmentos. Portanto, os produtos

resultantes têm menor valor no mercado que os fragmentos de pneus.

Prospectos de negócios relativos à pirólise, freqüentemente evitam este problema

apresentando o resíduo carbonífero, não como combustível, mas como carbon

black. Na verdade, este resíduo contém pequena quantidade de carbon black e

considerável quantidade de materiais inorgânicos; fabricantes de pneus não utilizam

materiais de tão baixa qualidade, logo este mercado seria bastante limitado.

O segundo problema com as propostas de pirólise é que os custos operacionais

destas plantas são típicos da indústria de petróleo. Recomenda-se que os pneus

descartados sejam usados próximo ao ponto de origem devido ao alto custo de

transporte. Numa área urbana de 2 milhões de habitantes, poderiam estar

disponíveis por volta de 5.500 pneus de passeio por dia, o que significaria menos de

1.000 barris por dia. Este número está abaixo da maioria das plantas piloto numa

refinaria de petróleo e dificilmente poderia produzir em escala economicamente

viável. Snyder (1998) considera difícil imaginar outra localização que não a região

metropolitana de Nova Iorque para fornecer o volume necessário de pneus requerido

a uma planta de pirólise eficiente.

Adicionalmente, a operação de uma planta de pirólise deve ser conduzida com os

mesmos padrões de segurança exigidos para refinarias de petróleo devido ao seu

alto risco.

Pode-se dizer que a pirólise pode converter grandes quantidades de pneus

descartados em subprodutos úteis; porém, para ser rentável deve ser altamente

subsidiada. Isto parece improvável em vista de alternativas mais atrativas

disponíveis hoje em dia.

37

3.8 Recifes para peixes e misturas de borracha/plástico para moldagem

Segundo a literatura pesquisada, duas das mais inovadoras propostas para aliviar o

problema com pneus descartados seriam:

a) Pneus descartados como recifes para peixes

Esta idéia surgiu na Goodyear Tire and Rubber Co. e, em resumo, consiste em

amarrar pneus descartados, enchê-los de cimento para superar sua tendência a

flutuar e afundá-los em águas quentes próximas à costa para servir como refúgio

para pequenos peixes e aumentar a população de adultos.

Onde pode ser convenientemente implementada, esta idéia foi bem sucedida.

Observou-se que após três anos, os fardos de pneus foram cobertos com cracas e

outros tipos de vida marinha que efetivamente fundiram os pneus em grandes e

estáveis blocos. Além disso, devido ao refúgio encontrado, a população de peixes

adultos realmente aumentou nas estações seguintes. Vários recifes bem sucedidos

foram produzidos nos Estados Unidos (Flórida, Maryland e até Nova Jersey). Já em

outras localidades mais ao norte, de águas mais frias, o crescimento de peixes não

ocorreu e o atrito dos fardos com a areia, causado pelas correntes marítimas acabou

por soltar os pneus.

Snyder (1998) comenta que em 1985, a Goodyear concluiu que o uso de pneus

descartados como recife para peixes era economicamente inviável.

b) Misturas de borracha/plástico para moldagem

Alguns dos melhores plásticos de engenharia são misturas de polímeros

termoplásticos com pequenas quantidades de borracha apropriada. Nos anos 40,

pentes de bolso e brinquedos para crianças eram quebradiços, o que deu má

reputação aos plásticos. Misturas com adequadas quantidades de borracha

eliminaram totalmente estes problemas e tornaram-se comercialmente importantes

nos anos 40 como plásticos de engenharia.

38

A possibilidade de utilizar partículas de borracha vulcanizada nestes compostos

nunca foi totalmente verificada sendo que as patentes só começaram a aparecer nos

anos 60. Contudo, esta atividade não persistiu devido a falta de disponibilidade de

fragmentos de borracha de baixo preço. Nos últimos anos, em virtude do grande

interesse público na reciclagem, este quadro mudou porque há acesso ao

fornecimento de uma variedade de plásticos já classificados e disponibilidade de

fragmentos de borracha de alta qualidade, limpos e baratos. Além disso, novas

extrusoras e moldadoras para plásticos estão instigando a tirar proveito da situação.

Estão sendo produzidos diversos tipos de produtos tais como blocos para

estacionamentos (bem mais leves que os de concreto e que também podem ser

pintados), estacas e mourões para cercas e jardins, caixas de correio, caixas para

alimentar pássaros, postes de indicação para estradas.

Está sendo aguardada uma grande explosão na produção de artigos moldados e

extrudados de misturas borracha/plástico nos próximos anos. Acredita-se que a

maior causa pela demora é o alto custo de investimento necessário para a compra

de equipamento de extrusão, prensas e moldes.

Fica então demonstrado que há uma grande variedade de alternativas possíveis

para a disposição de pneus inservíveis e que, algumas delas, podem significar

oportunidades de negócio bastante atrativas.

39

4 AS PRINCIPAIS SOLUÇÕES ADOTADAS

4.1 As principais soluções adotadas - nos Estados Unidos

Dos 283 milhões de pneus usados nos Estados Unidos em 1995, apenas 30

milhões foram recauchutados (Ferrer, 1997). Três razões podem ser citadas com

principais causas pelo declínio da reciclagem de pneus de passeio nos Estados

Unidos (Snyder, 1998):

A enorme queda no uso de pneus para neve, dos quais uma grande quantidade

era recauchutada;

O surgimento dos pneus radiais, que não podem ser recauchutados usando os

mesmos equipamentos e processos usados para os pneus convencionais; além

disso, a qualidade de alguns pneus radiais produzidos nos Estados Unidos não

era adequada para proporcionar recauchutagem satisfatória;

A importação maciça de pneus radiais baratos da Ásia.

A Tabela 5 apresenta dados sobre a recauchutagem nos Estados Unidos de 1982 a

1997.

Tabela 5 – Pneus Recauchutados nos EUA (milhão)

ANO PASSEIO CAMINHÃO MÉDIO

1982 25.5 -

1985 15.5 13.1

1988 15.1 14.1

1991 8.4 14.8

1993 6.6 15.4

1994 5.9 15.9

1995 5.0 16.0

1996 4.2 16.5

1997 3.9 (Estimado) 16.7 (Estimado)

Fonte: Snyder (1998)

40

Como pode ser comprovado pelos dados apresentados acima, a recauchutagem de

pneus de passeio apresentou grande declínio neste período (1982 – 1997),

enquanto que a recauchutagem de pneus de caminhão médio mostrou aumento

discreto. Pneus para caminhões grandes não são mencionados porque

representam um baixo volume (Snyder, 1998).

Portanto, fica claro que a recauchutagem não está entre as soluções adotadas nos

Estados Unidos. A Tabela 6 mostra quais foram as principais aplicações nos

Estados Unidos em 1996.

Tabela 6 – Aplicações para pneus descartados nos Estados Unidos em 1996

Aplicação Quantidade (milhões)

Peso (toneladas)

%

Geração de calor 101 1 087 500 40.0

Engenharia civil 13.5 145 500 5.3

Exportação 12.5 134 500 4.9

Uso direto (furado, cortado, estampado) 8.0 86 000 3.2

Borracha moída 3.4 36 500 1.3

Agricultura 2.5 27 000 1.0

Pirólise (destilação térmica) 0.5 5 500 0.2

Diversos 1.0 11 000 0.4

Recuperação (SUBTOTAL)

(não recauchutados)

142.4 1 533 500 56.3

Aterros 110.6 1 191 500 43.7

Pneus descartados (TOTAL) 253.0 2 724 000 100.0

Fonte: Ferrer (1997)

Portanto, a solução mais utilizada para lidar com o problema de pneus descartados

nos Estados Unidos é a geração de energia. Em 1991, havia uma planta

termoelétrica de 14 MW na Califórnia e outras três plantas, totalizando 86 MW

estavam planejadas ou em construção nos Estados Unidos. Como regra, estas

41

plantas produzem 20 kWh de energia elétrica para cada pneu consumido. A energia

gerada é vendida para a companhia local por valores que vão de 6 a 8.3 centavos

de dólar por kWh. O que significa que um pneu usado contribui em média com uma

receita entre US$ 1.20 e US$ 1.66; portanto, um pneu de passeio descartado implica

numa contribuição de US$ 0.80 a US$ 1.10 (Ferrer, 1997).

Outro aspecto que pode ser observado, ainda há muitos pneus descartados em

aterros à espera de destinação final.

4.2 As principais soluções adotadas - na Europa

Um breve resumo sobre as aplicações adotadas pelos principais países europeus é

apresentado na Tabela 7.

Tabela 7 – Situação do Resíduo de Borracha em 1996 (%)

Método França

Alemanha

Itália

Inglaterra

Bélgica

Holanda

Suécia

Recauchutagem 20 17.5 22 31 20 60 5

Reciclagem 16 11.5 12 16 10 12 12.5

Energia 15 46.5 23 27 30 28 64

Aterro 45 4 40 23 5 0 5

Exportação 4 16 2 2.5 25 NA 7

Fonte: Adhikari et al. (2000)

Como pode ser observado, com exceção da França e Itália, o descarte de pneus em

aterros está em desuso, ou já foi banido nos países europeus. Enquanto a Holanda

é campeã da recauchutagem, a Suécia e a Alemanha estão usando pneus

descartados basicamente para a geração de energia.

Seguem alguns exemplos europeus (Ferrer, 1997):

4.2.1 Plantas Termoelétricas

Esta aplicação tem alguns aspectos interessantes porque os pneus podem ser

usados sem nenhum pré-tratamento ou corte. Esta oportunidade tem sido explorada

por diversas plantas termoelétricas. A planta Wolverhampton, localizada na

42

Inglaterra, queima 94 000 toneladas de pneus descartados para produzir 144 000

MWh de eletricidade. Considerando um preço de mercado conservador de US$ 50

por MWh, cada tonelada de pneu descartado usado na planta pode gerar US$ 76

em eletricidade. Este processo é uma alternativa economicamente viável para os

pneus descartados que não possam ser efetivamente recauchutados. Cada tonelada

de pneu descartado usada como alimentação produz 287 kg de resíduo sólido

constituído de óxido de zinco, escória metálica e gesso, cada um deles com

mercados bem definidos.

4.2.2 Plantas de Cimento Portland

Ainda segundo Ferrer (1997), várias plantas de cimento européias têm queimado

pneus desde os anos 70. A planta Heidelberg Zement na Alemanha consome 50 000

toneladas por ano, o que representa 20% de sua necessidade de combustível.

A planta Lafarge na França, que é a primeira experiência no país, começou com

uma capacidade de queima de 20 000 toneladas de pneus descartados por ano,

mas este número nem sempre é alcançado. A companhia tem dificuldade de obter

um fluxo contínuo de pneus descartados, o que sublinha a importância da

localização da planta numa posição onde pneus descartados estão facilmente

disponíveis, como perto de uma pilha.

4.3 As principais soluções adotadas - no Japão e na Coréia

De acordo com a literatura pesquisada (Jang et al., 1998), tanto o Japão quanto a

Coréia importam a maior parte de seu combustível; portanto, o uso de pneus

descartados como combustível é considerada interessante para estes países. Para

se ter uma idéia, 37% do total de pneus descartados gerados no Japão em 1992 foi

usado como combustível em cimenteiras, fundições e indústrias de papel. O uso de

pneus descartados inteiros em fornos de cimento é a alternativa mais popular no

Japão. Contudo, tem aumentado o interesse pelo uso pneus descartados cortados

como combustível devido ao alto custo de transporte dos pneus inteiros.

Como o uso de automóveis é mais recente no Japão, a quantidade de pneus

descartados armazenados ainda não alcançou um nível tão crítico como nos

43

Estados Unidos e, desde a crise de petróleo dos anos 70, o uso de pneus

descartados como combustível nas indústrias de cimento e metalúrgica tem ganhado

aceitação. A queima de pneus descartados em fornos de cimento tem uma

vantagem sobre a pirólise já que não gera resíduos a serem dispostos em aterros;

com o uso de dispositivos apropriados, as emissões podem ser mantidas dentro de

limites ambientalmente aceitáveis. Com um fornecimento estável, o uso de pneus

descartados pela indústria cimenteira no Japão passou de 40 000 toneladas em

1983 para 169 000 toneladas em 1994. Das 45 plantas operando fornos no Japão,

20 estão queimando pneus inteiros e 5 pneus cortados. Aplicação de misturas com

asfalto para pavimentação, não está sendo considerada no momento. Atualmente,

93 % dos pneus descartados no Japão estão sendo reaproveitados de alguma

forma, o uso dos 7% restantes não é conhecido.

Assim como no Japão, a Coréia também apresenta uma breve história

automobilística; por isso, não tem sérios problemas de armazenamento de pneus

descartados. Durante a última década, a construção civil usou a maior parte dos

pneus descartados; em 1992 aproximadamente 5 milhões de pneus descartados

foram usados para o controle de erosão na Coréia, o que significa 43% do total

gerado. Mais de 70% da área da Coréia é montanhosa; portanto, muitas estradas,

casas e construções civis localizam-se nestas áreas ou próximo delas. Porém,

espera-se que a quantidade de pneus descartados usada no controle de erosão

decresça dentro de alguns anos e então, outras alternativas de uso deverão surgir.

Nenhuma cimenteira na Coréia utiliza pneus descartados como combustível até o

momento e não ainda há legislação orientando a queima. Além disso, o uso de

asfalto/borracha em estradas está ainda em estágio experimental.

Ainda segundo o autor (Jang et al., 1998), tanto no Japão quanto na Coréia, a

disposição de pneus descartados em aterros nunca foi considerada como solução

para o problema de armazenamento e a população colabora no controle de aterros

ilegais. Os custos de transporte dos pontos de coleta até os usuários são pagos pelo

governo no Japão e na Coréia.

44

4.4 As principais soluções adotadas - no Brasil

A seguir serão mencionadas algumas alternativas de grande volume já disponíveis

no Brasil.

4.4.1 A Indústria da Recauchutagem

Conforme dito anteriormente, a recauchutagem é o único processo de recuperação

de pneus que tira plena vantagem do valor remanescente nos pneus usados.

Portanto, recauchutagem de pneus apresenta a oportunidade de reaver todo seu

valor agregado a um certo custo de recuperação.

Segundo informações disponíveis, a recauchutagem no Brasil atinge 70% da frota

de transporte de carga e passageiros (CEMPRE, 2001) e o volume anual de pneus

recauchutados é de menos 12 milhões (A.B.R.,2001).

Um aspecto interessante, o Brasil ocupa o 2° lugar no ranking mundial de

recauchutagem de pneus (RECICLOTECA,2001).

4.4.2 A Indústria Cimenteira

A Indústria Cimenteira brasileira obteve uma receita líquida de R$ 1,7 bilhão em

1999 (VOTORANTIM, 2001), sendo que a produção e o consumo encontram-se

distribuídos por região conforme mostrado na Tabela 8.

Tabela 8 – Produção e Consumo de Cimento por Região em 2000

Janeiro – Dezembro / 2000 Região

Consumo (%) Produção (%)

Norte 5,29 2,95

Nordeste 18,03 18,56

Sudeste 53,22 53,51

Sul 15,65 14,97

Centro-Oeste 7,82 10,02

Fonte: Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (2001)

45

A utilização de pneus usados como combustível na indústria de cimento já é

conhecida a muito tempo, em todo mundo 78 fábricas de cimento já fazem o co-

processamento. No Brasil, esta técnica ainda está começando. Apenas a Ciminas,

empresa do grupo multinacional HOLDERCIM, de origem suíça, localizada no

Estado de Minas Gerais, realiza este tipo de processo (Folha de São Paulo, 2000).

De acordo com entrevista concedida pelo engenheiro Francisco Alberto Souza

(Jornal Hoje em Dia, 2000), Gerente de Combustíveis Alternativos, as temperaturas

são tão altas dentro do forno que até a parte metálica dos pneus se desintegra e fica

agregada à parte cristalina do clínquer - cimento seco antes de ser triturado.

Ainda segundo ele, esta utilização significa uma vantagem econômica porque

quando pneus inteiros são usados, pode-se substituir de 5 a 8% do combustível

tradicional, que é mais caro. O pneu picado, que ainda não é utilizado pela

CIMINAS, possibilita uma substituição de até 15%. Como 45% do custo de produção

do cimento é gasto com energia térmica e o combustível é uma das três matérias-

primas que elevam o custo do cimento, além da argila e do calcáreo; portanto a

economia conseguida com a queima de pneus descartados pode ser bastante

significativa.

Continuando, ele declara que se todas as 64 fábricas de cimento brasileiras

usassem pneus como combustível, o problema de pneus descartados seria

facilmente controlado. Além disso, seria possível economizar recursos naturais não

renováveis, como óleo e carvão e diminuir a poluição do ar, porque ocorre a

combustão total da borracha e pode-se controlar a emissão de gases através de

filtros.

4.4.3 A Indústria de Petróleo através do Xisto – Projeto PETROBRAS (Paes, 2001)

O interesse pela potencialidade do xisto é antigo. Desde o final do século XVIII, nos

Estados Unidos, cerca de 200 instalações extraíam querosene e óleo desta rocha.

Como o Brasil possui um dos maiores volumes mundiais de xisto: reservas de 1,9

bilhão de barris de óleo, 25 milhões de toneladas de gás liqüefeito, 68 bilhões de

metros cúbicos de gás combustível e 48 milhões de toneladas de enxofre só na

46

formação Irati, a PETROBRAS tem pesquisado esta fonte geradora de

hidrocarbonetos.

A maior parte do xisto localizado em território nacional pertence a formação Irati, que

abrange os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e

Goiás.

A PETROBRAS concentrou suas operações na jazida de São Mateus do Sul no

Estado do Paraná. A Usina Protótipo do Irati (UPI) entrou em operação em 1972;

em 1991, o processo PETROSIX consolida-se quando o Módulo Industrial (MI) entra

em operação em plena escala. Hoje a UN-SIX processa diariamente 7.800

toneladas de xisto betuminoso gerando:

• 3.870 barris de óleo de xisto;

• 120 toneladas de gás combustível;

• 45 toneladas de gás liqüefeito;

• 75 toneladas de enxofre.

O processo PETROSIX com pneus

Devido a capacidade tecnológica desenvolvida na exploração do xisto, a

PETROBRAS resolveu transformar esta planta industrial também num centro

avançado de pesquisa. O co-processamento de pneus usados com xisto segue os

mesmos estágios que o processamento do xisto pirobetuminoso.

O pneu já adequado em sua dimensão, cortado em pequenas tiras ou pedaços de

100 x 100 mm, é alimentado pelo topo da retorta onde segue um fluxo descendente

atravessando as zonas de secagem, retortagem, resfriamento até ser descarregado

pelo fundo da retorta juntamente com o xisto.

O resíduo final, xisto retortado e pneu retortado, caso não seja reaproveitado, será

retornado às cavas da mina, onde será disposto por processo de reabilitação de

áreas mineradas.

O processo PETROSIX, apresentado na Figura 01, admite o processamento do xisto

em conjunto com pneus picados em valores superiores a 5% da vazão total de xisto,

o que permite uma capacidade de processamento de pneus da ordem de 17

toneladas/hora, representando aproximadamente 3 400 pneus/hora.

47

48

Figura 01 – Processo PETROSIX

49

5 AS POSSÍVEIS ESTRATÉGIAS PARA O BRASIL

Antes de mencionar possíveis estratégias para o Brasil, é interessante saber que, no

momento, algumas universidades e centros de pesquisa brasileiros estão

pesquisando alternativas de disposição de pneus inservíveis.

A Tabela 9 apresenta alguns trabalhos em andamento que, certamente, podem dar

a sustentação tecnológica necessária, caso algumas destas alternativas venham a

ser implementadas futuramente em larga escala no país.

50

Tabela 9 – Linhas de Pesquisa no Brasil

Instituição/Departamento Linhas de Pesquisa

Instituto de Química/Universidade

de Campinas – São Paulo/

Departamento de Físico Química

• Uso de borracha de pneu finamente triturada

como adição de cimento;

• Uso de borracha de pneu finamente dividida

na fabricação de compósitos com sisal;

• Uso de borracha para melhorar o fator de

rugosidade em pavimentos de concreto

Pontifícia Universidade Católica –

Rio de Janeiro / Departamento de

Engenharia Civil

• Utilização de pneus em muros de contenção;

• Utilização de pneus para reforço de solo.

Escola de Engenharia de São

Carlos – Universidade de São

Paulo / Departamento de

Transportes

• Avaliação do “Processo Seco”: substituição de

parte dos agregados pétreos de uma mistura

asfáltica por borracha de pneus;

• Avaliação do “Processo Úmido”: incorporação

de borracha de pneus ao ligante asfáltico

usado em obras de pavimentação.

Escola Politécnica – Universidade

de São Paulo – São Paulo /

Departamento de Engenharia

Metalúrgica e de Materiais

• Pirólise e combustão de pneus inservíveis.

Universidade Federal de São

Carlos – São Paulo / Núcleo de

Informação Tecnológica

• Localização, recuperação, análise e

monitoramento de informações sobre

reciclagem e reutilização de pneus, além de

outras relações desse produto com o meio

ambiente.

Fonte: Almeida et al (2001)

Por outro lado, deve-se lembrar que a Resolução 258/99 determina a coleta e a

destinação de pneus “inservíveis” de forma progressiva e proporcional à produção e

importação a partir de janeiro de 2002.

Gerardo Tommasini, presidente da Associação Nacional da Indústria de

Pneumáticos (ANIP), em entrevista concedida (ABRAPNEUS, 2000), afirma que o

51

setor pretende cumprir esta Resolução 258/99; portanto, alternativas de disposição

em larga escala já deverão implementadas.

A estratégia a ser adotada pela indústria de pneus pretende mobilizar a rede de

distribuidores, revendedores e consumidores finais e realizar campanhas educativas

para convencer o consumidor a deixar na loja o pneu velho, quando da compra do

novo.

Por isso, parece certo que atuação será conjunta, utilizando uma rede com quatro

mil pontos de venda no País autorizados pelas grandes empresas do setor

(Bridgestone Firestone, Goodyear, Michelin e Pirelli) para “capturar” pneus velhos,

porque conforme declarado, o consumidor brasileiro não está habituado a deixar na

revenda (Gazeta Mercantil, 2000).

Logo, parece razoável imaginar que este trabalho deverá iniciar-se nos grandes

centros urbanos onde se localiza a maior quantidade de consumidores, produtores e

importadores. Especialmente na região Sudeste, estes esforços poderiam ser mais

concentrados e, consequentemente, os gastos com transporte seriam menores.

Seguindo esta linha de raciocínio, é possível que, apenas quando as alternativas de

coleta e disposição mais atrativas economicamente estiverem esgotadas ou

equilibradas na região Sudeste, este movimento se expanda para o restante do país.

Por isso, enquanto os fabricantes procuraram desenvolver estratégias para a coleta

dos pneus descartados inservíveis, deve-se pensar também em quem poderá

utilizar o material coletado. Pode-se citar dois grandes consumidores potenciais:

A Indústria de Cimento: lembrando que a Região Sudeste responde por 53% da

produção brasileira;

• A Indústria de Petróleo através do Xisto – Projeto PETROBRAS: planta

localizada no Paraná que possui capacidade estimada para consumir de 50 a

55% dos pneus descartados gerados no Brasil;

Outra alternativa que poderia ser verificada é o uso de pneus descartados como

combustível complementar em termoelétricas no Brasil, como já é feito em outros

52

países. Porém, deve-se mencionar que, caso esta alternativa verifique-se viável, o

consumo ficaria praticamente restrito às regiões Sudeste/Centro Oeste e Sul, onde

se localiza a maior capacidade instalada (Tabela 10).

Tabela 10 – Balanço Semanal de Energia – 30/Junho a 06/Julho de 2001

REGIÃO TIPO DE GERAÇÃO Sudeste +

Centro Oeste

Sul Nordeste Norte

TOTAL

Hidráulica 8967 6510 3036 2999 21512

Térmica 914 737 30 - 1681

Angra I 560 - - - 560

Angra II 1356 - - - 1356

ELO-CC 4535 - - - 4535

Itaipú 60 Hz 3069 - - - 3069

TOTAL 19401 7247 3066 2999 32713

Fonte: ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico (2001)

Naturalmente, a recauchutagem de pneus permanece sendo a alternativa mais

interessante para os pneus que apresentam as condições técnicas necessárias;

porém, a relação custo X benefício decorrente deve ser atrativa e segura o bastante

para ter a aceitação maciça dos consumidores de carros de passeio.

Outra possibilidade, com grande potencial num País como o Brasil, onde o

transporte é eminentemente rodoviário, é o uso na recuperação da pavimentação ou

recuperação de rodovias. Conforme já mencionado anteriormente, há um grupo de

pesquisa trabalhando no desenvolvimento desta aplicação na Escola de Engenharia

de São Carlos – Universidade de São Paulo.

Até agora se comentou apenas estratégias de baixo valor agregado para o uso de

pneus descartados, mas já existem inúmeras possibilidades economicamente

interessantes no Brasil, tais como (BORCOL, 2000):

• Tapetes automotivos;

53

• Estrados para indústrias, clubes e academias, lavanderias, balcões, câmaras e

balcões frigoríferos, cozinhas industriais etc;

• Tapetes e capachos;

• Pallets;

• Sinalizadores para estrada;

• Solados para calçados em geral.

6 AS POSSÍVEIS ESTRATÉGIAS PARA A BAHIA

A produção de pneus no Estado da Bahia resume-se a uma planta da Pirelli,

localizada em Feira de Santana, que fabrica pneus convencionais para camionetas e

caminhões. A produção média diária, de 70 toneladas, equivale a aproximadamente

54

2 500 pneus sendo considerada pequena, quando comparada com outras plantas

existentes no Brasil (Ferreira, 2001).

Por isso, pode-se supor que o trabalho de coleta e destinação de pneus inservíveis

de forma progressiva e proporcional à produção e importação só deverá alcançará o

Estado da Bahia a partir de 2005. Nessa ocasião, para cada para cada quatro pneus

novos fabricados no País ou pneus novos importados, inclusive aqueles que

acompanham os veículos importados, as empresas fabricantes e as importadores

deverão dar destinação final a cinco inservíveis; portanto, provavelmente, toda a

produção (localizada eminentemente na região Sudeste) estará sob controle e se

passará a consumir o passivo ambiental.

No entanto, é bom lembrar que a região Nordeste é responsável por mais de 18% da

produção brasileira de cimento Portland; portanto, também possui plantas que

poderiam utilizar pneus descartados em sua linha de produção, desde que possuam

o devido licenciamento ambiental.

Como alternativa local em curto prazo, pode-se citar que a Cimentos de Portugal

(CIMPOR), terceira empresa do ramo cimenteiro no Brasil, possui uma planta

localizada em Campo Formoso, Bahia. A capacidade nominal instalada desta

unidade, a partir de 1997, é da ordem de 400.000 t/ano; o mercado atendido

concentra-se no Estado da Bahia, mas estende-se até os Estados do Maranhão,

Piauí, Ceará e Pernambuco (CIMPOR, 2001).

Porém, para que este cenário possa concretizar-se no Estado da Bahia, seria

necessário que:

• A rede de revendedores coletasse os pneus descartados;

• A indústria cimenteira local fosse licenciada para utilizá-los;

• Relações comerciais vantajosas para ambas as partes fossem acordadas;

• Poder Público estivesse preparado para disciplinar, controlar e fiscalizar as

operações de coleta e destinação.

Dentre as vantagens representadas por esta opção poder-se-ia mencionar que, além

de ser uma alternativa que não demandaria grandes investimentos, uma vez que a

55

planta já está instalada, também significaria uma grande otimização do transporte da

indústria cimenteira porque o mesmo caminhão usado para trazer cimento poderia

ser utilizado para levar pneus descartados no seu retorno à planta. Isto sem contar

com a economia com os gastos de combustíveis.

Há outras aplicações que, se viáveis, poderiam ser interessantes para um Estado

como a Bahia. Uma poderia ser o uso de pneus descartados para a construção de

recifes, aproveitando-se assim as condições naturais para aumentar a

disponibilidade de peixes na região. Outra possibilidade, por sinal bastante

apropriada, poderia ser a recuperação das rodovias baianas.

Naturalmente, outras alternativas de maior valor agregado, tais como fabricantes de

tapetes automotivos e acessórios de borracha, poderão surgir com a instalação da

unidade da FORD no estado da Bahia, desde que haja disponibilidade e fluxo

constante de pneus descartados a um preço competitivo, dinheiro para bancar a

instalação deste tipo de indústria no Estado da Bahia e suporte tecnológico.

7 CONCLUSÕES

Ao concluir, reafirmamos que este trabalho teve como objetivo avaliar alguns

aspectos que compõe o quadro de pneus descartados no País, compará-los com o

56

que está sendo feito em outros países e então, gerar dados para reflexão sobre os

possíveis cenários para o Brasil, como para o Estado da Bahia.

Isto posto, em primeiro lugar, pode-se afirmar que é importante que o Poder Público

desempenhe um papel relevante neste quadro, focando sua atuação basicamente

em duas frentes:

• Na regulamentação de um mercado aparentemente bastante vantajoso que irá

desenvolver-se a partir do cumprimento da Resolução 258. Por isso, deverá estar

preparado para arbitrar o provável conflito entre o grupo representado pelos

fabricantes e importadores, responsáveis pelos gastos decorrentes da coleta e da

destinação e o mercado consumidor, que espera beneficiar-se do uso dos pneus

descartados para reduzir seus custos de operação.

• No controle e fiscalização do gerenciamento dos pneus descartados. Deverá

definir áreas e métodos adequados para o armazenamento, licenciar

transportadoras para evitar o aparecimento de novas pilhas sem controle,

fiscalizar as pilhas existentes, entre outros.

Em segundo lugar, pode-se concluir que a estratégia proposta pela indústria de

pneus de disponibilizar sua rede de revenda para coletar os pneus inservíveis, é

bastante realista e poderá funcionar eficientemente uma vez que já está consolidada

e espalhada por todo País. Esta estratégia eliminaria a necessidade de criar uma

estrutura extra para executar este trabalho.

Quanto ao mercado consumidor de pneus descartados, pode-se deduzir que já se

encontra bastante desenhado, principalmente na região Sudeste, onde existe um

maior potencial de consumo imediato e mais alternativas de aplicação com

tecnologias já consolidadas e/ou em consolidação.

Na região Nordeste, especificamente na Bahia, percebe-se que as alternativas

disponíveis atualmente são mais escassas, o que talvez demande investimentos em

novas plantas que possibilitem o uso de tecnologias com maior valor agregado, tais

como a indústria de tapetes automotivos.

57

Uma coisa é certa, a partir do momento que o passivo ambiental tenha sido

consumido das mais diferentes formas e que o mercado consumidor passe a contar

apenas com o descarte resultante da frota disponível, talvez ocorra uma mudança

neste panorama causada pelo aumento de preço dos pneus descartados, talvez até

inviabilizando usos de menor valor agregado.

58

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Mensagem recebida por <[email protected]> em 23 jul. 2001.

ADHIKARI, B. et al. Reclamation and recycling of waste rubber. Progress in Polymer

Science, n. 25, p. 909 – 948, 2000.

ALMEIDA, M.C. et al. Pesquisa e desenvolvimento sobre a disposição final de pneus

inservíveis no Brasil. In: XI Simpósio Internacional de Engenharia Automotiva: “A

Engenharia Automotiva para o Desenvolvimento Sustentável. São Paulo, junho

2001.

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CEMPRE. Compromisso Empresarial para Reciclagem. Apresenta artigos sobre

reciclagem. Disponível em: <www.cempre.org.br/fichas/ficha8.html>. Acesso em: 22

jul. 2001.

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CIMPOR. Apresenta informações sobre a empresa Cimentos de Portugal. Disponível

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CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução N° 258, de 26 de

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ANEXOS