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  • Prxis Educacional Vitria da Conquista v. 7, n. 11 p. 73-93 jul./dez. 2011

    DOSSI TEMTICO:Polticas Pblicas em Educao

    EDUCAO BSICA NO BRASIL: POLTICAS PBLICAS E QUALIDADE

    Ana Sheila Fernandes Costa 1Abdeljalil Akkari2

    Rossana Valria Souza Silva3

    Resumo: Este artigo apresenta os resultados da pesquisa de campo realizada com professores em exerccio em escolas pblicas e privadas nos estados de Gois e Minas Gerais. O estudo teve como objetivo analisar a questo da qualidade da educao em duas perspectivas complementares: a anlise das polticas para educao bsica implementadas nas duas ltimas dcadas e a viso dos professores em exerccio sobre a qualidade da educao bsica. A coleta de dados privilegiou a realizao de entrevistas com professores distribudos na diferentes redes e estados. O estudo evidenciou que, para se atingir uma 1 Mestre em Educao pela Universidade Federal de Uberlndia. Doutoranda em Cincias da Educao na Universidade de Genebra. Vinculada ao grupo de pesquisa: Dimenses Internacionais em Educao (ERDIE). Coordenadora de Projetos e Programas do Grupo Coimbra de Universidades Brasileiras. E-mail: [email protected] Doutor em Cincias da Educao pela Universidade de Genebra. Psdoutor pela Universidade de Baltimore. Consultor da Unesco e diretor de Pesquisas na Haute cole Pedagogique. E-mail: [email protected] Doutora em Educao pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ps-Doutorado em Cincias da Educao na Universit Paris 8, Frana. Professora da Universidade de Braslia (UnB) e Secretria Executiva do Grupo Coimbra de Universidades Brasileiras. Colaboradora da Universidade de Roma 4 no Dottorato di Ricerca Internazionale in Culture, Disabilit e Inclusione: Educazione e Formazione. Coordena programas internacionais de mobilidade acadmica com Portugal, Frana, Mxico, Canad, Sua e participa de misses voltadas para a internacionalizao da Educao Superior organizadas por Embaixadas e Ministrios do Brasil e de diferentes pases.

  • Ana Sheila Fernandes Costa, Abdeljalil Akkari e Rossana Valria Souza Silva74

    educao bsica de qualidade, preciso contemplar, de forma articulada: uma poltica de valorizao dos trabalhadores da educao; maior investimento em recursos humanos e infra-estrutura para as escolas; elaborao de um projeto poltico pedaggico apropriado ao trabalho docente e sala de aula e mtodos pedaggicos coerentes com as necessidades dos alunos.

    Palavras-chave: Educao Bsica. Professores. Qualidade da Educao.

    1 Introduo

    Neste artigo apresentamos os resultados da pesquisa intitulada O papel da formao e do trabalho docente na qualidade da educao bsica nos estados de Minas Gerais e Gois, realizada como parte das atividades previstas no Acordo de Cooperao entre a Haute cole Pdagogique BEJUNE e a Universidade Federal de Uberlndia. A pesquisa foi financiada pela Confrence des Recteurs des Hautes Ecoles Spcialises Suisses (KFH) dentro do programa Research Partnerships between Swiss Universities of Applied Sciences and Developing and Transition Countries (KFH, Sua).

    O estudo teve como objetivo geral analisar a questo da qualidade da educao bsica no Brasil, em duas perspectivas complementares. Inicialmente buscamos avaliar as polticas educacionais nacionais e seu impacto na melhoria da qualidade da educao bsica. Em seguida, investigamos a opinio dos professores em exerccio sobre as dimenses que contribuem para a qualidade da educao bsica.

    Para a realizao da pesquisa definimos alguns critrios, etapas e procedimentos bsicos para o processo de coleta e anlise dos dados. Ao todo foram pesquisadas seis escolas no estado de Minas Gerais e Gois. Buscamos contemplar escolas que refletissem a diversidade dos sistemas educacionais nas regies investigadas. Tal diversidade concerne dependncia administrativa (estadual, municipal e privada) e localizao das escolas (urbana e rural).

    No estado de Minas Gerais, uma escola faz parte da rede municipal de ensino, trs da rede estadual e uma da rede privada. No estado de Gois, investigamos uma escola da rede municipal de ensino.

  • 75Educao bsica no brasil: polticas pblicas e qualidade

    Dentre as escolas selecionadas, duas situam-se na zona rural e quatro na zona urbana. Para a coleta de dados juntos aos professores da educao bsica, um dos procedimentos adotados foi a realizao de entrevistas. Foram entrevistados 28 professores dentre os quais 4 ocupavam o cargo de diretor, conforme descrito no quadro a seguir:

    Quadro 2 Escolas investigadas, segundo o nmero de alunos, total de professores e professores entrevistados

    UF Cidade N de escolasN de alunos

    N total de professores

    N de professores

    entrevistados

    GOIS Catalo 1 (escola rural) 82 8 4

    MINAS GERAIS

    Ira de Minas

    1 (escola rural) 78 8 6

    Ituiutaba 1 (escola urbana)- 660 55 3

    Uberlndia

    3 (escolas urbanas sendo 1 privada)

    1568 104 15

    Total6 (2

    rurais e 4 urbanas)

    2388 175 28

    As entrevistas, do tipo aberta, foram realizadas em maio de 2008, com durao entre 30 e 40 minutos. Estas tiveram como principais eixos orientadores: a) Os motivos da escolha da profisso; b) A qualidade do ensino na escola onde trabalham; c) O papel do professor na melhoria da qualidade da educao; d) A importncia dos recursos materiais; e) A importncia da colaborao famlia-escola; f) A importncia do reconhecimento do papel do professor por parte da sociedade; g) Os mtodos pedaggicos mais utilizados em sala de aula e h) A importncia do projeto poltico pedaggico e sua contribuio para a qualidade da educao.

  • Ana Sheila Fernandes Costa, Abdeljalil Akkari e Rossana Valria Souza Silva76

    A entrevista com os diretores das escolas, alm das dimenses supracitadas, contemplou questes sobre as caractersticas de organizao e funcionamento das escolas: 1) localizao e dependncia administrativa das unidades escolares; 2) nmero de alunos matriculados; 3) nmero de docentes; 4) o valor das mensalidades no caso das escolas privadas; 5) o salrio mdio dos professores; 6) infra-estrutura existente nos prdios escolares; e 7) a existncia de Projeto Poltico Pedaggico.

    Para a realizao das entrevistas obtivemos a autorizao do (a) diretor (a) de cada escola. Os critrios para seleo dos professores foram, principalmente, a disponibilidade e o interesse demonstrados pelos professores em contribuir com o estudo.

    Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas na ntegra. Posteriormente, foram organizadas em oito itens conforme os seguintes critrios: 1) A escolha da profisso; 2) A qualidade da escola; 3) A qualidade da educao nas diferentes redes de ensino; 4) A importncia do Projeto Poltico Pedaggico; 5) A contribuio dos mtodos pedaggicos para a qualidade da educao; 6) A colaborao famlia-escola; 7) A imagem e o reconhecimento da profisso de professor; 8) As prioridades para a melhoria da educao pblica.

    2 A Educao Bsica no Brasil e as dimenses da qualidade

    A atual configurao da educao bsica brasileira reflete, em grande medida, as mudanas desencadeadas pelas reformas dos anos de 1990. A partir da aprovao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996), uma srie de alteraes aconteceu. Novas propostas de gesto da educao, de financiamento, de programas de avaliao educacional, de polticas de formao de professores, dentre outras medidas, foram implementadas com o objetivo de melhorar a qualidade da educao.

    Com a promulgao da LDB, observou-se a ampliao da obrigatoriedade da educao bsica, composta pela Educao Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Mdio, e a maior responsibilizao do Estado pela educao pblica. Aps mais de uma dcada da aprovao desta Lei, verifica-se a quase universalizao deste nvel de ensino.

  • 77Educao bsica no brasil: polticas pblicas e qualidade

    Todavia, este aumento quantitativo em termos de acesso no implicaria em uma melhora automtica na qualidade do sistema.

    Assim, a temtica da qualidade da educao tem suscitado um intenso debate entre os pesquisadores e gestores polticos acerca das dimenses definidoras de uma educao de qualidade. Entratanto, como aponta Enguita (1997) deve-se considerar que se trata de um tema polissmico, dinmico e mobilizador de diferentes interesses.

    Em nvel internacional, verifica-se, que na dcada de 1990, a educao bsica ganhou destaque por ocasio da Conferncia Mundial de Educao para Todos (EPT) em Jomtiem. Esta enfatizou a importncia da temtica da qualidade na educao enquanto elemento central nas polticas educacionais de diversos pases. Em 2004, o Relatrio Mundial da EPT (UNESCO, 2004) apresentou um quadro terico que permite definir a qualidade da educao pela articulao das seguintes dimenses:

    Quadro 1: Quadro conceitual elaborado pela Unesco (2004) para se analisar a qualidade da educao

    Fonte: Quadro adaptado do relatrio EPT 2004.

    O quadro elaborado neste relatrio aborda diferentes parmetros internos e externos escolas que permitiriam atingir a qualidade na educao, dentre eles fatores relacionados s caractersticas dos alunos, aos elementos facilitadores da aprendizagem, aos elementos do contexto nacional e aos resultados do processo.

  • Ana Sheila Fernandes Costa, Abdeljalil Akkari e Rossana Valria Souza Silva78

    O estudo realizado por Oliveira, Dourado e Santos (2007) buscou identificar as condies, dimenses e fatores fundamentais de uma educao de qualidade. Analisando relatrios e documentos elaborados por pases membros da Cpula das Amricas e de organismos internacionais (Unesco e Banco Mundial), os autores buscaram evidenciar a concepo destes sobre as dimenses definidoras de uma educao de qualidade. O estudo mostrou que a qualidade da educao envolve dimenses extra e intra-escolares.

    As dimenses extra-escolares que afetariam os processos educativos e os resultados escolares envolvem dois nveis:

    1) a dimenso socioeconmica e cultural dos entes envolvidos concerne influncia do acmulo de capital econmico, social e cultural das famlias e dos estudantes no processo de ensino-aprendizagem e, ainda, a necessidade do estabelecimento de polticas pblicas e projetos escolares para o enfrentamento de questes como fome, drogas, violncia etc.;

    2) a dimenso dos direitos dos cidados e das obrigaes do Estado que faz referncia ampliao da obrigatoriedade da educao bsica; definio e garantia de padres de qualidade, incluindo a igualdade de condies para o acesso e permanncia na escola; definio e efetivao de diretrizes nacionais para os diferentes nveis etc.

    No que se refere s dimenses intra-escolares, sua importncia se deve sua influncia direta nos processos de organizao e gesto, nas prticas curriculares, nos processos formativos, dentre outros. Estas dimenses so apresentadas em quatro nveis: do sistema, da escola, do professor e do aluno.

    1) Nvel do sistema: condies de oferta de ensino. Refere-se, dentre outros aspectos, garantia de instalaes gerais adequadas aos padres de qualidade definidos pelo sistema nacional de educao em consonncia com a avaliao positiva dos usurios.

    2) Nvel da escola: gesto e organizaco do trabalho escolar. Trata da estrutura organizacional compatvel com a finalidade do trabalho pedaggico.

  • 79Educao bsica no brasil: polticas pblicas e qualidade

    3) Nvel do professor: formao, profissionalizao e ao pedaggica. Relaciona-se ao perfil docente (titulao/qualificao adequada ao exerccio profissional), s formas de ingresso e condies de trabalho adequadas e s polticas de formao e valorizao do pessoal docente.

    4) Nvel do aluno: acesso, permanncia e desempenho escolar. Refere-se ao acesso e s condies de permanncia adequadas diversidade socioeconmica e cultural, e garantia de desempenho satisfatrio dos estudantes. Considera a viso de qualidade entre pais e estudantes e as prticas de processos avaliativos centrados na melhoria das condies de aprendizagem que permitam a definio de padres adequados de qualidade educativa.

    Segundo Oliveira, Dourado e Santos (2007), as dimenses intra e extra-escolares afetariam de forma significativa a aprendizagem dos alunos, o que exigiria a considerao dessas dimenses, de forma articulada, para o estabelecimento de polticas educativas, programas de formao e gesto pedaggica. Conforme os autores, tais medidas seriam imprescindveis para a garantia do sucesso dos estudantes e de uma educao de qualidade para todos.

    Os quadros apresentados so convergentes ao evidenciarem a necessidade de se analisar a qualidade da educao baseando-se na articulao de parmentros intrnsecos e extrnsecos escola. No presente artigo, a fim de contribuir para o debate sobre a qualidade da educao, optamos por analisar alguns desses parmetos (a conjuntura poltica, as metodologias de ensino, a gesto da escola, o reconhecimento e valorizao docente, a relao escola-famlia) tomando por base a concepo dos professores. Consideramos que estes so atores fundamentais nos processos de ensino e aprendizagem e na melhoria da qualidade educacional.

    3 Educao Bsica no Brasil: ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica (IDEB)

    A perspectiva adotada neste artigo leva em considerao que os aspectos quantitativos precedem os qualitativos. Assim verificamos

  • Ana Sheila Fernandes Costa, Abdeljalil Akkari e Rossana Valria Souza Silva80

    que todos os sistemas educacionais reconhecidos internacionalmente por sua qualidade, com destaque para os pases da Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE), iniciaram por um acesso massivo escola. Assim alguns dados quantitativos permitem evidenciar os progressos na educao bsica brasileira na tlima dcada.

    O ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica (IDEB), enquanto instrumento utilizado na atualidade para mensurar a qualidade das escolas pblicas e privadas em nvel nacional, permitiu identificar o ndice das escolas que compuseram a amostra com base no clculo realizado no ano de 2007, em 48.497 escolas distribudas nos 5.533 municpios brasileiros. Os resultados de cada escola, municpio ou unidade da Federao foram calculados considerando o desempenho obtido pelos alunos que participaram da Prova Brasil/Saeb e as taxas de aprovao globais, calculadas com informaes do Censo Escolar.

    O Grfico 1 apresenta o IDEB do ensino fundamental (anos iniciais) realizados nos anos de 2005 e 2007, nas dependncias administrativas (pblica federal, estadual e municipal) e na rede privada e os ndices projetados para essas redes de ensino brasileiras.

    Os ndices do ensino fundamental apresentados em 2007 permitem verificar que as metas projetadas para este ano foram atingidas em quase sua plenitude. Os maiores ndices foram observados na rede federal de ensino (6,2). Todavia, quando confrontados os ndices gerais da rede pblica e privada de ensino, os ndices dos anos iniciais da rede privada (6,0) aparecem mais altos em relao ao da rede pblica de ensino (4,0).

    No concernente s redes municipais e estaduais de ensino brasileiras, os ndices mais altos foram encontrados nos anos iniciais do ensino fundamental: 4,3 e 4,0 respectivamente.

  • 81Educao bsica no brasil: polticas pblicas e qualidade

    Grfico 1: ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica anos iniciais do Ensino Fundamental

    Fonte: INEP 2008

    No concernente aos ndices dos estados pesquisados, verificamos que, apesar de Minas Gerais apresentar ndice mais alto (4,7), as diferenas no so to significativas quando comparada com o ndice encontrado em Gois (4,3). Em relao s escolas pesquisadas, os maiores ndices, em 2007, foram encontrados nos anos iniciais do ensino fundamental. A rede estadual urbana de Utuiutaba apresentou o maior ndice (EE2: 5,9) seguida pelas escolas da rede municipal (EM1: 5,1) e estadual (EE1: 4,7) de Uberlndia, conforme demonstrado no grfico 2. Ressaltamos que o IDEB da Escola Municipal Rural de Catalo e da Escola da rede particular de ensino de Uberlndia no estavam disponveis no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP).

    Grfico 2: IDEB observado nas escolas pesquisadas nos anos de 2005 e 2007, anos iniciais e finais do Ensino Fundamental

    Fonte: INEP 2008

  • Ana Sheila Fernandes Costa, Abdeljalil Akkari e Rossana Valria Souza Silva82

    Os ndices demonstrados acima se configuram em um dos critrios que avaliam a qualidade da educao e que servem para ratificar a proposio de que, apesar dos progressos obtidos, os nveis qualidade da educao ainda so mais altos em escolas da zona urbana.

    Apesar de fazermos referncias a escola situadas em somente duas diferentes regies (sudeste e centro-oeste), ressaltamos que, no Brasil, ainda persiste uma diferena significativa quanto aos ndices verificados nas redes de ensino (pblica e privada) e incontestvel a existncia de diferenas regionais, especialmente se considerada a qualidade da educao nas regies norte e nordeste.

    4 A qualidade da educao bsica na percepo dos professores da rede pblica e privada de ensino

    A seguir, apresentamos a concepo dos professores das redes pblica e privada acerca da qualidade da educao seguindo os critrios e eixos mencionados anteriormente.

    4.1 A escolha da profisso

    A anlise sobre os motivos que levaram escolha da profisso nos permitiu constatar que, para muitos professores, a profisso de professor no foi necessariamente uma escolha, mas o fruto de circunstncias particulares ou mesmo a falta de outras opes mais valorizadas. Trs principais trajetrias teriam conduzido esses professores profisso docente. A primeira diz respeito a uma vocao precoce, a segunda falta de opo, a terceira necessidade de uma segunda profisso ou por uma escolha tardia. Fazemos referncia a um pequeno grupo de professores que afirmam que a escolha da profisso deve-se influncia da famlia visto que havia alguns membros que j exerciam a profisso de professor.

    Foi vocao mesmo! Essa j veio desde criana, eu dava aula at para as bonecas, como se diz, o instinto mesmo de vocao. (ENTREVISTADA 2).

  • 83Educao bsica no brasil: polticas pblicas e qualidade

    A minha escolha porque eu amo de paixo dar aula e eu me sinto muito gratificada quando eu consigo transmitir um pouco do que eu sei para os meus alunos. E assim, alm do mais, eu acho assim que o professor, de certa forma, um formador de opinio e os profissionais desta rea eles tm que dar aula por paixo porque se for olhar pelo aspecto financeiro ele tem que casar bem para executar a funo por prazer. (ENTREVISTADA 12).

    Foi por vocao mesmo, desde criana gostei muito, foi vocao e no acidente. (ENTREVISTADA 23).

    Um grupo de professores relatou que, apesar da falta de vocao, quando comearam a lecionar foram se apaixonando pela profisso e hoje no se imaginam exercendo outra atividade. Entretanto, h aqueles que so questionados pela prpria famlia pela escolha da profisso de professor, fato que desperta um sentimento de culpa e insucesso por parte dos professores que fizeram esta opo.

    Eu no escolhi, foi o nico curso que tinha segundo grau era o magistrio, no queria fazer de forma alguma, minha me disse que eu tinha que fazer. A escola era muito bonita, de freira e da eu fiz. Ao terminar o magistrio comecei a fazer servio social na zona rural e da eu me interessei pela populao, mas eu no escolhi ser professora. (ENTREVISTADA 24).

    Primeiramente foi uma falta de oportunidade de trabalho que tinha na minha regio, antigamente ou a mulher era professora ou dona-de-casa, eu prefiro ser professora [...] a escola foi a nica opo que eu tive. (ENTREVISTADA 25).

    Quando indagados se a formao que receberam contribuiu para a qualidade do ensino que oferecem, verificamos algumas divergncias quanto a essa contribuio. Para os professores que j tinham o magistrio, uma experincia prtica e que fizeram o curso superior somente mais tarde, a formao acadmica recebida contribuiu muito para o trabalho em sala de aula. Uma professora que tem 40 anos de idade e 17 anos no exerccio do magistrio afirmou que atua na rede particular e municipal contribui muito, demais, em todos os sentidos precisa do embasamento terico para dar suporte prtica (ENTREVISTADA 7).

  • Ana Sheila Fernandes Costa, Abdeljalil Akkari e Rossana Valria Souza Silva84

    Entretanto, como apontavam alguns professores, existe uma desconexo entre a formao acadmica e o trabalho cotidiano. Afirmam que s a teoria, desvinculada da prtica, no tem sentido e que, na maioria das vezes, so os cursos de formao continuada e capacitao que ajudam a suprir as lacunas deixadas por essa formao.

    No, a formao acadmica contribui pouco, muito longe da realidade que tem em sala de aula. A formao que tenho foi muito mais com o curso de capacitao do que curso de pedagogia. muito mais prtico do que o curso de pedagogia. O curso de pedagogia, para prtica em sala de aula, quase nada. Muito longe fica muito na teoria. Amplia o horizonte como profissional, estuda autores, momentos da educao do pas, mas, a realidade dos meus alunos, aprendi fora, nos cursos, no dia-a- dia. (ENTREVISTADA 8).

    Quando questionados sobre o papel do professor na melhoria da qualidade da educao, os professores foram unnimes em afirmar que o professor tem importante papel na melhoria da qualidade da educao. Apontam, contudo, que esse papel no depende s deles. preciso que sejam criadas condies para que eles possam exercer seu papel nessa melhoria o que inclui a valorizao do professor, melhores salrios, mais recursos para a escola, maior colaborao dos pais e, finalmente, um maior apoio por parte do governo.

    4.2 A qualidade da escola

    Ao serem solicitados a avaliarem a qualidade da educao na escola onde trabalham, verificamos algumas divergncias entre as escolas pblicas e escolas pblicas. Na rede privada, os entrevistados foram unnimes em apontar a qualidade do ensino em sua escola, em relao s outras redes. A maioria dos professores (que tambm possuem um cargo na rede pblica) opta pela escolarizao de seus filhos na rede privada. Os poucos professores que optaram pelo ensino pblico, em algum momento, o fizeram por falta de recursos financeiros.

  • 85Educao bsica no brasil: polticas pblicas e qualidade

    H um consenso, tanto na rede pblica quanto na rede privada, sobre a importncia dos recursos materiais para a qualidade da educao. Em relao escola pblica, identificamos que esses recursos so necessrios, antes de qualquer coisa, para a sobrevivncia da escola. Verificamos, nessas escolas, uma grande carncia de recursos, em especial na zona rural, onde os recursos enviados para as escolas so insuficientes para suprir suas necessidades. Muitas vezes a escola tem que buscar outras fontes de recursos apelando para os pais e para a prpria comunidade.

    Muito importante, a escola pblica recebe pouco recurso. Na escola pblica, o recurso que vem no suficiente para manter a escola: nem lanche, nem com material. O que vem aqui eu gasto com os prprios alunos. As verbas que vm para manter o mnimo possvel e a gente trabalha muito com recurso assim: voc pede ajuda para outras pessoas. Para comunidade no pede tanto, pois no tem muitos recursos tambm. uma comunidade pobre. Mas a gente vai e anda atrs. Mas o que vem dos rgos pblicos muito pouco. Tanto os salrios dos professores... eu acho que uma das maiores desmotivaes que os professores tm justamente o baixo salrio porque no ensino pblico, em Minas Gerais e no Brasil, de modo geral, os recursos so poucos. (ENTREVISTADA 1).

    4.3 A qualidade da educao nas diferentes redes de ensino

    Tratando especificamente dos depoimentos dos professores da rede pblica, eles avaliam que a educao boa, mas que tem muito a melhorar. Verificamos que, apesar das restries para realizarem seu trabalho, alguns so muito empenhados em melhorar a qualidade do ensino em sua escola. Entretanto, quando questionado sobre qual rede de ensino tem qualidade, a grande maioria afirma que esta qualidade encontrada na rede particular e que seus filhos s vo para essas escolas por falta de recursos.

    Observamos uma grande tenso entre os professores da rede pblica, entre a vontade de melhorar a qualidade do ensino pblico e a escolha do privado para a escolarizao de seus prprios filhos.

  • Ana Sheila Fernandes Costa, Abdeljalil Akkari e Rossana Valria Souza Silva86

    Escola particular. Manteria meu filho na escola pblica porque d mais vivncia, s colocaramos na particular porque ela prepara, em termos de contedo, para ingressar entrar na faculdade pblica. Para os filhos estarem na universidade pblica, eles tem que estar, hoje, na escola particular, pois ela tem mais contedo e prepara melhor o aluno. Acreditamos na vivncia da escola pblica, mas para ingressar na faculdade pblica preciso ir para a particular [...]. Eu acredito e invisto na escola pblica, meu corao da escola pblica. Fazemos debates, mas no conseguimos ser ouvidos. (ENTREVISTADO 12).

    4.4 A importncia do Projeto Poltico Pedaggico

    Questionamos os professores sobre a importncia do projeto poltico pedaggico na qualidade da educao oferecida em suas escolas. Os professores foram consensuais ao afirmarem que o Projeto Pedaggico imprescindvel para os rumos da escola, para oferecer as diretrizes a serem seguidas. Este projeto, em grande parte das escolas investigadas, foi concebido mediante uma mobilizao coletiva de professores.

    Como relatado pelos prprios professores, o projeto um parmetro e grandes melhorias na escola foram conseguidas por meio desse projeto melhorando, consequentemente, o nvel dos alunos.

    Todavia, tambm evidenciam que o processo de produo do Projeto, apesar da autonomia atribuda ao coletivo docente, ainda ocorre de forma verticalizada, ou seja, com base em exigncias determinadas pelas Secretarias de Educao, inspetores e diretores de escolas. Os professores apontam para a necessidade de operacionalizar o Projeto Poltico Pedaggico na sala de aula e no trabalho cotidiano do professor.

    Imprescindvel. Com ele sentimos os anseios da comunidade escolar em que vamos trabalhar, quais as competncias dos nossos professores para atender essa clientela e o que tiver faltando ns buscaremos outros meios. (ENTREVISTADO 12).

  • 87Educao bsica no brasil: polticas pblicas e qualidade

    Sim, ele d uma direo para o professor que chega na escola, ele direciona o caminho que queremos seguir. (ENTREVISTADA 21).

    4.5 A contribuio dos mtodos pedaggicos para a qualidade da educao

    Em relao s teoria e mtodos pedaggicos adotados na sala de aula, quando questionados se existem mtodos mais eficientes para contribuir para a melhoria da qualidade da educao, verificamos que uma diversidade de mtodos utilizada e adaptada aos contextos de cada sala.

    Segundo os professores, no existe receita nem mtodos apropriados. Todos trazem vantagens e desvantagens e dependem da turma e do contexto. Fatores como a realidade dos alunos e o interesse devem ser levados em conta, pois no existe um mtodo pronto ou um mais eficiente. O que mais funciona aquele que melhor se adapta ao que se tem na sala de aula.

    Contribuem, no existem mtodos apropriados, pois todos trazem vantagens e desvantagens. Ento voc tem que ter conscincia da situao em sala para ver qual mtodo voc vai ter que usar. Tem que conhecer todos os tipos de mtodos, quais as vantagens de um e de outro e as desvantagens e ver como seu aluno reage diante do mtodo que voc adota. Trabalhar [...] usando todos os mtodos possveis para atingir seu aluno. (ENTREVISTADA 7).

    4.6 A colaborao famlia-escola

    No que se refere colaborao famlia-escola, os professores apontam uma omisso por parte de algumas famlias, especialmente nas escolas pblicas, onde os professores relatam haver um descaso por parte dos pais: a educao dos filhos tem sido entregue aos professores. Este seria mais reconhecido como o profissional responsvel por formar o cidado.

    J na escola da rede privada, a relao que tem se desenvolvido entre escola e pais uma relao de clientela, de terceirizao dos filhos. Ao contrrio do que ocorre na escola pblica, na rede privada, os pais esto mais presentes e cobram mais, pois esto pagando por um

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    servio e querem ver o retorno. Conforme relato da professora de 45 anos de idade e que tem 18 anos de experincia no magistrio:

    Ns estamos vivendo um tempo assim, em que a escola est desempenhando papel muito importante na educao das crianas, ento os filhos so terceirizados. As escolas que tem tomado conta. [...] As famlia queixam porque no tm tempo, porque trabalham muito. [...] Nas pblicas tambm [...] assim: quem ganha pouco est numa luta muito grande e realmente se ausenta muito de casa, os meninos esto mais soltos. (ENTREVISTADA 9).

    4.7 A imagem e o reconhecimento da profisso de professor

    Indagamos sobre o reconhecimento dos professores na sociedade atual. Foi unnime, entre os professores, a opinio de que esses profissionais so muito desvalorizados e que a profisso de professor seria uma profissozinha. Existiria, na atualidade, uma imagem negativa da profisso. A identificao, como professor, traria automaticamente uma imagem de pessoa cansada, que recebe pouco, sem opo, uma professo sem status social.

    Acho que vista como uma profissozinha, que no tem uma grande importncia, que ela no est altura de um mdico de um [...] cirurgio qualquer a. Ento isso: uma profisso que est a menos. [...] Eu acho que uma profisso que no to bem paga [...] o salrio j discrimina o profissional no mercado, ento, [...] j determina uma discriminao na profisso. (ENTREVISTADA 10).

    Os professores com mais experincia no magistrio relatam que, com o passar dos anos, a profisso docente perdeu seu prestgio social. E que se formar professor, na atualidade, no seria to reconhecido com h 20 anos.

    Alguns relatos demonstram que os professores no se sentem bem em dizer que so professores. At no prprio crculo familiar o professor tem sido desvalorizado, especialmente quando comparado a

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    outras profisses. Alm disso, os professores entrevistados relatam que os prprios alunos no valorizam e no respeitam o professor.

    Ao perguntarmos sobre a existncia da relao entre o salrio do professor e a educao que ele oferece, e qual seria o salrio justo para o trabalho que ele desempenha, percebemos que a insatisfao com a remunerao do professor geral entre os entrevistados. Em mdia, o salrio dos professores na rede municipal e estadual de ensino, no Estado de Minas Gerais, de R$ 870,00 e na rede particular R$ 1.100,00. J na rede municipal, no Estado de Gois, os professores da zona rural recebem cerca de R$1.400,00 para trabalharem 30 horas semanais.

    A baixa remunerao dos professores tem, muitas vezes, os obrigado a ocupar dois cargos, a dobrar a jornada de trabalho e at a ter um bico para conseguir sobreviver. Fatores que acabam afetando a qualidade do ensino que oferecem.

    Um dos professores entrevistados, que h 10 anos trabalha na rede estadual de ensino, quando questionado sobre a relao salrio e qualidade da educao oferecida, afirma:

    Existe muita relao. A principal: para se cobrar alguma coisa tem que oferecer. O nosso governo atual est cobrando muito, mas no oferece, no paga bem seu profissional. O profissional, para no ter um salrio muito baixo, tem que ter dois cargos e dois cargos no funciona para a pessoa trabalhar 36 aulas. Ento o certo seria o professor ter um cargo, ficar o dia todo na escola para recuperar os alunos, pagar melhor o profissional professor. (ENTREVISTADO 3).

    Os professores relatam que tem havido muita cobrana por parte do governo, mas sem nenhuma contrapartida financeira. Cada vez mais a responsabilidade pelo sucesso ou insucesso escolar tem sido atribuda ao professor, entretanto, no tm sido criadas as condies necessrias para o desenvolvimento de seu trabalho na escola. exigido, diariamente, que os professores se atualizem e que busquem novos caminhos para melhorar a qualidade de seu ensino, mas desde que seja por sua conta.

    Um salrio justo, segundo os professores entrevistados, seria aquele que desse para manter a famlia, ter condies de comprar uma

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    casa, comprar livros, sair para fazer cursos fora, que permitisse ter um plano de sade e alguma forma de lazer.

    Alguns entrevistados so mais incisivos ao apontarem que os professores deveriam ganhar como outros profissionais, como mdicos, juzes e at deputados e questionam a inexistncias de um rgo, como um conselho, que poderia ajudar a melhorar as condies salariais dos professores.

    4.8 As prioridades para a melhoria da educao pblica

    Na ltima questo da entrevista, solicitamos aos professores que citassem, por ordem de prioridade, algumas medidas que garantiriam uma educao de qualidade para todos. Dentre as medidas que aparecem como prioritrias nos discursos dos professores para melhorar a qualidade da educao esto: a valorizao do professor, melhores salrios e mais investimentos na escola.

    Ao indicarem essas prioridades, os professores objetivam ter condies mais dignas para a realizao dos seus trabalhos; mais investimentos na formao inicial e continuada; possuir mais reconhecimento social; acabar com as jornadas duplas de trabalho e a possibilidade de se dedicarem integralmente a um nico cargo.

    Alm dessas prioridades citadas, a colaborao entre pais e escola tambm foi bastante ressaltada. Os professores tm buscado um maior envolvimento da famlia com a escola e almejam que os pais participem mais ativamente da educao dos filhos incentivando-os a estudarem em casa e oferecendo suporte nos momentos extra-classe. Manifestam, ainda, a expectativa de que a educao dos estudantes no fique entregue somente aos professores.

    A primeira coisa seria salrio para dar competncia famlia e ter tempo disponvel de pesquisa e preparao para sua aula. A escola quer uma prova digitada e os professores no tm tempo e nem equipamento para fazer seu material. A escola oferece o espao, mas no temos tempo fora do nosso horrio para ir l. O principal seria, o meu sonho seria moral, financeiro, e acompanhamento da famlia e populao. (ENTREVISTADA 12).

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    Em primeiro lugar seria o investimento na formao de professores, em seguida recursos materiais de acordo com o desejo e dificuldade de cada aluno, recursos humanos para trabalharmos melhor. Aqui precisamos de mais professores. A colaborao dos pais para incentivarem as tarefas de casa e a melhoria do nosso salrio para sermos mais motivados. (ENTREVISTADA 25).

    5 Consideraes finais

    As reformas educacionais desencadeadas a partir dos anos de 1990 deram visibilidade aos professores enquanto agentes centrais de mudana, todavia estes se vem, muitas vezes, responsabilizados pelo xito ou insucesso dos programas. Por outro lado, as medidas de natureza econmico-administrativa, que tm por objetivo a racionalizao dos servios e o controle dos gastos, relativos gesto de pessoal, na rea pblica, tm exercido grande influncia nas condies de trabalho dos professores, no funcionamento das escolas e na organizao pedaggica (OLIVEIRA, 2003).

    No que concerne s polticas educacionais implementadas nas ltimas dcadas, no Brasil, possvel verificar um avano quantitativo nos sistemas, especialmente no que se refere ao acesso, e alguns avanos no concernente s avaliaes. Todavia trata-se de um sistema ainda muito heterogneo em que as diferenas regionais so marcantes (INEP, 2008).

    Por meio das entrevistas realizadas neste estudo, verificamos que os professores so cobrados pela melhoria da qualidade da educao. Entretanto, muitas vezes, fatores externos escola e ao trabalho docente tm influenciado de forma negativa em seu trabalho. As falas dos professores so esclarecedoras quando afirmam que as condies de trabalho proporcionadas no correspondem s necessidades da escola para desenvolvimento de um trabalho de qualidade.

    A anlise das entrevistas tambm tornou evidente uma contradio no mbito da escola. Exige-se dos docentes, atualizao, disposio e adaptao para enfrentarem e se adequarem s mudanas, todavia, no so proporcionadas as condies para que isso se efetive. A formao inicial no os prepara significativamente para os desafios do trabalho docente e, no concernente formao continuada, na maioria dos casos fica sob a responsabilidade do prprio professor.

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    A falta de reconhecimento social e o sentimento de desvalorizao, to evidenciados nas entrevista, tm sido constatados em outras pesquisas, a exemplo do estudo realizado por Campos (2008) que investigou as opinies de professores brasileiros sobre questes concernente qualidade da educao. A autora conclui que os projetos de melhoria da qualidade da educao bsica, no pas, devem ter em conta os desajustes que ainda subsistem na organizao do ensino, dentre eles: o desprestgio social da profisso docente, as deficincias de infra-estrutura das escolas, a necessidade de aproximar as propostas pedaggicas s necessidades e interesses dos alunos, bem como uma maior aproximao entre entre escola e famlias.

    Ficou evidente, nas falas dos professores, que no se pode pensar em qualidade da educao bsica sem pensar na melhoria das condies de trabalho dos professores, as quais incluem medidas a serem adotadas em nvel das polticas educacionais como: a) valorizao profissional e salrios mais dignos que permitam uma formao constante; b) maior investimento por parte dos governos em recursos humanos capacitados e infra-estrutura para as escolas; c) no nvel da escola, um projeto poltico pedaggico conectado ao trabalho em sala de aula e maior acompanhamento por partes das famlias; d) no que concerne mais especificamente sala de aula, mtodos pedaggicos mais apropriados aprendizagem dos alunos.

    LDUCATION DE BASE AU BRSIL: LES POLITIQUES PUBLIQUES ET LA QUALIT DE LDUCATION

    Rsum: Cet article prsente les rsultats dune recherche de terrain mene avec les enseignants travaillant dans les coles publiques et prives dans les Etats de Gois et du Minas Gerais. Ltude visait exam politiques dducation de base mis en uvre dans les deux dernires dcennies et les opinions des enseignants en exercice sur la qualit de lducation de base. Notre collecte de donnes sest concentre sur les entretiens avec les enseignants. Pour parvenir une ducation fondamentale de qualit, ltude a montr quil est ncessaire de mettre en uvre plusieurs mesures prioritaires: une politique de valorisation de la profession enseignante, plus dinvestissements dans les infrastructures scolaires, le dveloppement dun projet politique pdagogique (PPP) adapt au

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    travail lenseignement et la ralit des classes et des mthodes denseignement en classe compatibles avec les besoins des lves. Mots-cls: ducation de base. Enseignants. Qualit de lEducation.

    Referncias

    BRASIL. Cmara dos Deputados. Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educao nacional. MEC. Braslia, 1996. Disponvel em: . Acesso em: 23 nov. 2008.

    CAMPOS, Maria Malta. A qualidade da educao sob o olhar dos professores. So Paulo: OEI, 2008.

    ENGUITA, Mariano Fernndez. O discurso da qualidade e a qualidade do discurso. In: GENTILI, Pablo; SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Neoliberalismo, Qualidade Total e Educao. Petrpolis:Vozes, 1997. p. 93-110.

    INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS EDUCACIONAL INEP. Sinopse estatstica da educao bsica: censo escolar. 2008. Disponvel em: . Acesso em: 23 jul. 2009.

    OLIVEIRA, Dalila Andrade (org.). Reformas Educacionais na Amrica Latina e os trabalhadores docentes. Belo Horizonte: Autntica, 2003.

    OLIVEIRA, Joo Ferreira de; DOURADO, Luiz Fernandes; SANTOS, Catarina de Almeida. A qualidade da educao: conceitos e definies. Braslia: MEC/INEP, 2007. Disponvel em: . Acesso em: 20 ago. 2008.

    UNESCO. Rapport mondial de suivi sur lEPT. ducation pour tous: Lexigence de qualit. 2004. Disponvel em: < http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001374/137403f.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2009.

    Artigo recebido em: 30/08/2011Aprovado para publicao em: 23/11/2011