plano urbano de são joão del-rei
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3 1. PREFCIO7 2. INTRODUO11 3. SO JOO DEL REI E A FORMAO DAS CIDADES MINEIRAS ENTRE OS SCULOS XVII E XIX17 4. DISPOSITIVOS, REQUISITOS E ORIENTAES TCNICAS E ESTTICAS PARA PLANEJAR MOBILIRIO URBANO
AS CONTRIBUIES DAS CARTAS PATRIMONIAIS E DAS TIPOLOGIAS PROJETUAIS
27 4.1. Como adequar o desenho do mobilirio s caracterscas urbanas, arquitetnicas e ambientais30 4.2. Principais pos de mobilirio e suas condicionantes tcnicas e materiais, ao se considerar a elaborao
dos respecvos projetos
35 4.3. Contextualizao e anlise de locais histricos internacionais com insero de mobilirio urbano
53 5. DIAGNSTICO E DELIMITAO DO PLANO DE INTERVENO EPLANEJAMENTO TURSTICO DE SO JOO DEL REI E ENTORNO
54 5.1. Apresentao e Metodologia63 5.2. A leitura da paisagem77 5.3. Proposta de delimitao da rea de interveno79 5.4. Interpretao tursca: conjuntos arquitetnicos/ edicios/ monumentos95 5.5. Diagnsco da situao atual da rea de interveno112 5.6. Recomendaes de interveno para a melhor qualicao tursca
da era delimitada do Centro Histrico de So Joo del Rei
1177. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS E NORMATIVAS
SUMRIO
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Aqui dEl-Rey. E h que andar por estas ruas e descobrir belezas insuspeitadas. H que
se surpreender em cada esquina entre o colonial e o ecltico, entre o barroco e o neoclssico.
H que se ver mais do que com olhos, enxergar com o corao, ampla retina que aambarca
sculos e transborda espanto e susto.
Aqui dEl-Rey, com apstrofe e hipsilo, de d. Joo e Thom Portes, do garimpeiro Joo
Barcelos faiscando ouro no Arraial Novo e da crnica pioneira de Jos Mattol, escrita nas
primeiras dcadas dos setecentos.
Aqui dEl-Rey, Comarca do Rio das Mortes, nascido no Vale do Linheiro, entre as betas
aurferas do alto das Mercs e o Morro da Forca, ironicamente chamado do Bonfim. Entre o
contraforte rochoso, de um lado, e os morrotes, do outro, dEl-Rey espraia-se s margens docrrego que a atravessa, tmido regato que se avoluma revoltoso e irado nas cheias e preenche
o vo de cais a cais. Os antigos sabiam os mistrios deste riacho surpreendente, por isso as
pontes monumentais que o transpem, do Rosrio e da Cadeia, com arcarias espores de
pedra, pronto a resistirem impetuosidade das guas.
E porque vale montanha, os arredores da cidade estimulam passeios ecolgicos e o
encanto das cachoeiras compensa a aspereza das caminhadas. Vale a pena explorar a cercania
para encontrar a natureza em festa. Pois tudo festa para quem nasceu em meio a rituais
barrocos.
Aqui dEl-Rey. Tudo convite aos olhos e emoo, como quem chega de longe e a gua
quente o espera para o banho reconfortante, a mesa posta, a palavra amiga.
No basta se encantar com os templos, portadas magnficas como as do Carmo e So
Francisco, simplicidade retilnea do Rosrio, Catedral do Pilar e Mercs.
No basta louvar entalhadores e mestres do pincel que fizeram das naves e capelas-mor
o umbral de um paraso imaginrio. Nem admirar-se da dourao profusa dos altares ou das
volutas e concheados nas quais se retorce a madeira bruta de plpitos ornados com dossis.
preciso tambm ouvir a sintonia de bronze destes sinos, o dobre festivo ou fnebre,
nico no pas, que desperta, avisa, alerta, anuncia, dialoga com a populao em sons, repiques
e terentenas.
Aqui dEl-Rey, ritualstica e musical. Por esta razo, preciso ouvir os acordes de orquestras
bicentenrias, como a Ribeiro Bastos e a Lira Sa njoanense, em Te Deum, novenas, motetos ematinas.
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A elaborao dos Projetos para Mobilirio Urbano para o stio histrico de So Joo del Rei
representa uma iniciativa do Instituto Estrada Real e da Federao das Indstrias do Estado de
Minas Gerais (FIEMG). Tanto estes como os poderes pblicos estadual e municipal tm como
meta principal recuperar, requalificar e revalorizar os espaos pblicos do seu centro histrico.
O projeto configura-se como mais uma relevante iniciativa em torno da dinamizao turstica,
social e cultural das regies e municpios inseridos no circuito da Estrada Real. Como descreve
do Governador do Estado de Minas Gerais, Acio Neves
Como uma caprichosa linha, a Estrada Real, hoje redimensionada no seu papel histrico quer ligado
economia, quer ligado s artes restabelece a majestade do perodo colonial mineiro, que a extrao
do ouro permiu, como o erguimento, sobretudo, de ediciosreligiosos, que marcaram a genialidade dos
arstas nos mais importantes ncleos urbanos da poca.
Mas no somente a arte barroca das igrejas seculares que compor o acervo setecensta. Os pequenos
povoados, os lugarejos adjacentes Estrada Real, formados por populaes de parcos recursos, tambm
parciparam desse momento de criao com uma arte despojada, mas rica em smbolos, porque, ausentedas fontes europias, se inspira na fuso de crenas e na simplicidade da rona domsca (SEBRAE,
2006).
O programa da Estrada Real que incorpora o municpio de So Joo del Rei, representado
atravs do seu Instituto objetiva operacionalizar o sonho de transformar os legados do passado
histrico, cultural e paisagstico das regies vinculadas aos seus caminhos em iniciativas de
desenvolvimento sustentvel. Assim, o programa tem se destacado em mbito nacional e mundial
pelo seu empreendedorismo cultural, social e econmico sintetizado principalmente na insero
do segmento turstico de todos os locais envolvidos nos caminhos denominados Estrada Real. O
termo portanto sinnimo de um riqussimo acervo do patrimnio de bens tangveis e imateriais
que est salvaguardado ao longo dos antigos caminhos que ligam as reas de minerao ao litoral
fluminense.
Nessa acepo, o conjunto das minas de ouro se transforma em Estrada Real, que hoje representa mais
de um caminho especco: o Caminho Velho de Para, o Caminho Novo dooRio de Janeiro e o chamado
Caminho dos Diamantes que se entrelaam em Ouro Preto (RENGER, 2007:136).
Desde a sua fundao pela Federao das Indstrias do Estado de Minas Gerais o Instituto vem
registrando nas suas iniciativas a nfase na responsabilidade social para viabilizar um turismo
sustentvel legtimo. Neste contexto, o Instituto prioriza nos seus empreendimentos uma via
de mo dupla potencializar, valorizar e respeitar o patrimnio e as ambincias naturais, a
cultura material e imaterial e costumes locais integrando-os a uma dinmica de desenvolvimentomoderno, inovador, coanudado com a contemporaneidade.
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Rei e objetivam assegurar os detalhes e aspectos dos patrimnios material e imaterial a serem
preservados mediante as necessidades de inovaoinseridas no processo de desenvolvimentosocioeconmico e turstico locais.
Ao lado dessa orientao conceitual e tcnica, os contedos propositivos e projetuaisde mobilirio para So Joo tem como referncia fundamental as reflexes e atuaesdo Instituto Estrada Real. Estas tm sido delineadas no sentido de preservar os patrimniosdessas regies e simultaneamente criam polticas e estimulam empreendimentos modernizadores,
que assegurem desenvolvimento econmico e turstico com sustentabilidade social. Portanto,
os projetos de mobilirio corporificando uma hamonia dinmica entre o antigo e o novo.
Contemplam, assim, a valorizao e o bem estar das histricas ambincias citadinas, respeitando
o cotidiano dos seus moradores ao mesmo tempo que cria uma permeabilidade entre os mesmos
e os visitantes. Considera-se neste aspecto que ambincias agradveis de se viver so tambm
lugares atrativos para o turismo so naturalmente lugares agradveis de se viver.
A primeira parte do projeto est organizada de acordo com os aspectos relacionados aos
conceitos e modalidades de mobilirio urbano, seguido de orientaes, dispositivos, normatizaes
e ferramentas, que norteiam a sua planificao projetual no municpio de So Joo del Rei.
Ressaltam-se os aspectos conceituais e seus vnculos com os princpios do patrimnio natural,
artstico e cultural daquele municpio. Nesses tomos, a salvaguarda, bem como o papel histrico
dos stios, so analisados, tendo como parmetro as renovaes enunciadas na implementao
estratgica do conjunto de mobilirios destinados s reas livres de cada local. H tambm uma
contextualizao no mbito internacional das reflexes sobre o patrimnio e sua relevncia
no contexto de uma conjuntura de inovao e renovao, que vise o desenvolvimento social e
urbano. Nestes locais as principais modalidades de mobilirio urbano podem ser observadas e
relacionadas com as cidades histricas mineiras.
Em seguida apresentado um diagnstico de anlise da rea do Centro Histrico de So Joo
del Rei, baseado em trs nveis de leitura e anlise do espao: ambientao do stio; leitura da
paisagem e diagnstico da situao atual do stico em questo em relao infra-estrutura para
o turismo. O estudo pretende ainda definir um permetro de interveno para a implantao de
um novo Projeto de sinalizao turstica interpretativa a ser doado pela FIEMG cidade. Alm
disso, conformam relatrios tcnicos qualitativos relacionados s diversas recomendaes, que
possam proporcionar cidade uma melhor ambientao como plo turstico, histrico e cultural
da regio do Campo das Vertentes.
Mileto Engenharia e Equipe
Belo Horizonte, junho de 2009.
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As cidades e suas formaes na experincia ocidental se traduzem como espaos de linguagem, de evocao e sonhos, e
so constitudas de imagens que abrigam vrias escrituras (SILVA, 2001). Como registros da imagem do mundo, ao longo
das suas histrias, os espaos citadinos vo se compondo de maneira lenta e coletivamente. Assim, vo se constituindo e
voltam a constiturem-se incessantemente (SILVA, 2001). De acordo com os processos contnuos e descontnuos dos stios,
as histrias so elaboradas, imaginadas, e se constituem em cenrios do patrimnio material e imaterial. As cidades se
fazem, alm dos seus constructos, no espao e no tempo, por suas expresses, valores, hbitos, e alcanam coletivamente
uma mentalidade urbana (SILVA, 2001). Entre seus fragmentos e transformaes, nascem os palimpsestos, como registro
daquilo que se conquistou; conferem a marcao, a permanncia e encontram-se dispersos nos espaos, lugares, que
interrompem a noo cronolgica. Integrados ao estilo das localidades, os palimpsestos, ou seja, as alegorias do passado,
instituem-se como lugares dotados de representao da memria social. Para Jeudy (1990:49), uma vez que o patrimnio
tradicional assegura uma reproduo da ordem simblica das sociedades, as relaes entre o objeto, a imagem e o relato
encontram sua harmonia e finalidade na manuteno de uma perenidade de smbolos.
Nos tempos recentes, a introduo de novos patrimnios significa uma reviso das imagens que se edificaram no passado.
A elas, so incorporadas novas referncias, palimpsestos, vivncias, construes, reinaugurando o papel social e culturalda imagem do lugar. De acordo com essas reflexes, o patrimnio das cidades se define e se redefine a partir dos seus
prprios cidados, vizinhos e visitantes. Assim, as cidades se edificam e se reedificam, do ponto de vista de construes
imaginrias. Nelas, esto presentes as condies fsicas e naturais, as referncias fsicas construdas, os costumes sociais;
as modalidades de expresso dos seus habitantes conformam um tipo especial de cidados com relao aos de outros
contextos, e por uma mentalidade urbana que lhe so prprias (SILVA, 2001). As cidades adquirem as caractersticas dos
seus criadores, e so os cidados das localidades que habitam o mundo. Os smbolos que os prprios habitantes constroem
ao longo do tempo fazem com que uma cidade seja diferente da outra. Neste passo distintivo e citadino, de gerao em
gerao, os smbolos mudam, como mudam as fantasias (SILVA, 2001). O objetivo de se criar medidas de identificao e
valorizao do patrimnio deve ser sempre reinserido nos processos de gesto local e a pontam para uma nova categoria
do urbano, situando-o como sujeito real e imaginrio de uma cidade. E a concepo das paisagens e cenrios se faz por
segmentos e plats imaginrios dos seus habitantes. A dimenso da subjetividade emerge nessas experincias e habita`
a cidade vivida, interiorizada, projetada e construda. As suas relaes de uso e os processos de valorizao dos espaos
impregnam seus intertscios, percorrendo-a e interferindo dialogicamente, o que a reconstri como imagem urbana (SILVA,
2001).
A formao histrica das cidades mineiras se deu de forma peculiar e se configura nos palimpsestos de suas imagens
contemporneas. Para Vasconcellos (2004), a formao das povoaes em Minas Gerais a partir do sculo XVIII foi um
fenmeno de grande impacto, devido principalmente rapidez e predominncia das concentraes de carter urbano. No
s as povoaes se objetivaram espontaneamente, ao sabor do fundamento econmico, e se desenvolveram igualmente em
razo das condies naturais, como no geral prescindiram de sujeies, autogovernando-se (VASCONCELLOS, 2004:145).
Essas formaes tinham uma semelhana com as cidades europias do Renascimento, visto que o poder real estava muito
longe, da mesma forma que as lideranas das congregaes religiosas. Nas Minas Gerais do perodo colonial, apenas Mariana
conquistou ttulo de cidade e atuou como sede do bispado, o que a dotou de prerrogativas e privilgios, como foi ter direito
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A espacializao da vila tambm foi condicionada pela topografia recortada pelo vale do crrego do Lenheiro. A regio
do Morro da Forca e Matola situada no vetor do territrio, devido ausncia de reservas aurferas e a sua posio estratgica
em relao s minas, foi eleita como uma rea propcia instalao de habitaes (MALDOS, 2003). O historiador Andr
Joo Antonil afirma que os arraiais que tiveram ocupao e adensamento antes da regulamentao das vilas rgias eram
freguesias mveis e o bom sucesso das lavras era a garantia de permanncia e expanso dos mesmos (CUNHA, 2007).
Neste contexto, houve uma superposio do cho da produo com o cho da reproduo da vida. Apesar do registro de
concentrao das reas de comrcio e oferta de servios no arraial sanjoanense, as atividades de minerao tiveram uma
funo preponderante nos ritmos e particularidades da formao urbana (CUNHA, 2007:23).
Em 1713 o arraial novo de Nossa Senhora do Pilar foi elevado categoria de vila quando o ento governador da Capitania
de So Paulo e Minas Gerais Dom Brs Baltazar da Silveira manifestou inteno de mudar a teritorializao do ncleo das
proximidades das proximidades das encostas da serra e da margem direita do crrego para a esquerda. O local apresentava
melhores condies para a expanso e centralizao da vila. No entanto, esta deliberao no surtiu efeito, uma vez que
o cotidiano citadino e as identidades elucidadas aseguraram a permanncia e a valorizao da tradicional rea (CUNHA,2007).
De acordo com as reflexes de Vasconcellos (2004), os ncleos urbanos assumiram simultaneamente um conjunto de
atribuies: alm do casario, as condies de entreposto, local de suprimento e das trocas comerciais. O autor mostra que,
ao contrrio das cidades litorneas, as mineiras tinham seus templos erigidos no centro dos largos, circundados por praas
ou ruas, e independentes das quadras urbanas deles vizinhas. Os templos poderiam ser tambm implantados em outeiros,
o que valorizou bastante os edifcios religiosos, acrescentando s povoaes um incipiente paisagismo e bons efeitos
de perspectiva (VASCONCELLOS, 2004). O processo de ocupao espontneo e longilneo definiu uma configurao mais
orgnica, onde as condies do terreno eram respeitadas. Distanciadas das formas de ocupao mais racionalizadas, os
traados das cidades mineiras resultaram em arranjos plsticos singulares, gerando uma perfeita harmonia com a paisagem
circundante ou natural.
O povoado cresce como lhe convm, espicha e encolhe, conforme seu estgio de dese nvolvimento; ameniza os aclives com traados coleantes,
absorve os terrenos mais favorveis e rejeita os imprprios, parcipando da vida dos seus habitantes, como uma endade tambm viva e livre
das contenes determinadas por regras xas ou tentavas de racionalizao divorciadas da realidade (VASCONCELLOS, 2004:147).
Apesar das evidncias de autonomia urbanstica nos processos de ocupao do territrio mineiro, observa-se tambm
que parte dessa ao criativa foi exercida por aqueles que chegavam Capitania. Considerando-se costumes, literatura,
msica, artes, arquitetura e o prprio urbanismo, a histria cultural mineira registra uma abertura s influncias de outras
capitanias brasileiras e at mesmo de cidades europias. A contribuio de mestres, artfices, engenheiros militares, entre
outros competentes artistas, foi decisiva para conformar a paisagem cultural mineira. Segundo Mello (1985), a paisagem
foi tambm enriquecida pelos equipamentos e mobilirios urbanos, como pontes, fontes, chafarizes, escadarias, marcos,
obeliscos e jardins.
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Para a elaborao do Guia do Mobilirio Urbano de So Joo del Rei, os pressupostos normativos nos mbitos estadual,
federal foram respeitados e incorporados, quando necessrio, ao escopo das diretrizes, orientaes e definies de
ferramentas inseridas no Guia do Mobilirio Urbano a ser publicado que representa uma iniciativa entre o Governo do
Estado, o SEBRAE-MG e a Associao das Cidades Histricas de Minas Gerais.
As cidades histricas so caracterizadas pela interseo das paisagens natural e cultural que edificaram suas
caractersticas e referncias na preservao e na poltica de conservao dos seus patrimnios urbanos (GUIA..., 2009).
Segundo a recomendao da Conferncia Geral da UNESCO de Nairobi
Em cada Estado-membro dever-se-ia formular, nas condies peculiares a cada um em matria de distribuio de poderes, uma polca
nacional, regional e local, a m de que sej am adotadas medidas jurdicas, tcnicas, econmicas e sociais pelas autoridades nacionais, regionai s
e locais para salvaguardar os conjutos histricos ou tradicionais e suas ambincias e adapt-los s exigncias da vida contempornea
(IPHAN..., 2004:221).
No sentido de se fazer cumprir a conservao do patrimnio, medidas de salvaguarda foram definidas por essa
conferncia, com o objetivo de se assegurar iniciativas locais vinculadas s inovaes no planejamento e gesto urbanas.
Com base nessas abordagens, os projetos vinculados renovao dos espaos pblicos configuram uma das importantes
atribuies dos gestores locais, que esto conscientizados da importncia do patrimnio. Valorizar um bem histrico ou
artstico equivale a habit-lo com as condies objetivas e ambientais que, sem desvirtuar sua natureza, ressaltem suas
caractersticas e permitam seu timo aproveitamento (IPHAN..., 2004:111).
As Normas de Quito destacam, entre outros pontos, a importncia do patrimnio cultural: [...] a valorizao se realiza
em funo de um fim transcendente [...], que seria em ltima instncia a contribuio para o desenvolvimento econmico
da regio (IPHAN..., 2004:111). Outro ponto no detalhamento dos projetos diz respeito s recomendaes definidas
na Conferncia da UNESCO em Paris, quando da execuo de obras pblicas e privadas. As principais esto listadas
abaixo:
[...] as autoridades locais (estaduais, municipais ou outras) deveriam tambm dispor de servios encarregados da preservao e do salvamento
dos bens culturais ameaados por obras pblicas ou privadas. Esses servios deveriam dispor da possibilidade de obter ajuda dos servios
nacionais, ou de outros rgos apropriados, de acordo com suas atribuies e necessidades; os servios de salvaguarda dos bens culturais
deveriam contar com pessoal qualicado, especialistas competentes em matria de preservao dos bens culturais ameaados por obras
pblicas ou privadas: arquitetos, urbanistas, arquelogos, historiadores, inspetores e outros especialistas e tcnicos; deveriam ser tomadas
medidas administravas para coordenar as avidades dos diversos servios responsveis pela salvaguarda dos bens culturais e as de outros
servios encarregados de obras pblicas ou privadas e as dos demais servios cujas funes tenham relao com o problema de preservar
ou salvar os bens culturais ameaados por obras pblicas ou privadas; deveriam ser tomadas medidas administravas para designar uma
autoridade ou uma comisso encarregada dos programas de desenvolvimento urbano em todas as comunidades que possuam bairros
histricos, sos e monumentos de interesse, protegidos ou no pela lei, que seja preciso defender contra a ameaa de obras pblicas ou
privadas (IPHAN..., 2004:131).
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Um cuidado especial deveria ser adotado na regulamentao e no controle das novas construes, para assegurar que sua arquitetura se
enquadre harmoniosamente nas estruturas espaciais e na ambincia dos conjuntos histricos. Para isso, uma anlise do contexto urbano
deveria preceder qualquer construo nova, no s para denir o carter geral do conjunto, como para analisar suas dominantes: harmonia
das alturas, cores, materiais e formas, elementos constuvos do agenciamento das fachadas e dos telhados, relaes dos volumes
construdos e dos espaos, assim como suas propores mdias e a implantao dos edicios. Uma ateno especial deveria ser prestada
dimenso dos lotes, pois qualquer modicao poderia resultar em efeito de massa, prejudicial harmonia do conjunto. No se deveria
autorizar o isolamento de um monumento atravs da supresso de seu entorno; do mesmo modo, seu deslocamento s deveria ser decidido
excepcionalmente e por razes de fora maior. Os conjuntos histricos ou tradicionais e sua ambincia deveriam ser protegidos contra a
desgurao resultante da instalao de suportes, cabos eltricos ou telefnicos, antenas de televiso ou painis publicitrios de grande
escala. Se j exisrem, devero ser adotadas me didas adequadas para suprimi-los. Os cartazes, a publicidade luminosa ou no os letreiros
comerciais, a sinalizao das ruas, o mobilirio urbano e o revesmento do solo deveriam ser estudados e controlados com maior cuidado,
para que se integrem harmoniosamente ao conjunto. Deveria ser feito um esforo especial para evitar qualquer forma de vandalismo. [...]
Dado o conito existente na maior parte dos conjuntos histricos ou tradicionais entre o trnsito automobilsco, por um lado, e a densidade
do tecido urbano e as caracterscas arquitetnicas, por outro, os Estados-membros deveriam esmular e ajudar as autoridades locais a
encontrar solues para esse problema. Para consegui-lo e para favorecer o trnsito de pedestres, conviria estudar com extremo cuidadoa localizao e o acesso dos parques de estacionamento, no s dos perifricos como dos centrais, e estabelecer redes de transporte que
facilitem ao mesmo tempo a circulao dos pedestres, o acesso aos servios e o transporte pblico. Numerosas operaes de reabilitao,
tais como, entre outras, a instalao subterrnea de redes eltricas e de outros cabos, que seriam demasiadamente onerosas se fossem feitas
separadamente, poderia ser, ento, coordenadas fcil e economicamente com o desenvolvimento da rede viria. A proteo e a restaurao
deveriam ser acompanhadas de avidades de revitalizao. Seria, portanto, essencial manter as funes apropriadas existentes e, em
parcular, o comrcio e o artesanato e criar outras novas que, para serem viveis a longo prazo, deveriam ser compaveis com o contexto
econmico e social, urbano, regional ou nacional em que se inserem. O custo das operaes de salvaguarda no deveria ser avaliado apenas
em funo do valor cultural das construes, mas tambm do valor derivado da ulizao que delas se possa fazer. Os problemas sociais
decorrentes da salvaguarda s podem ser colocados corretamente se houver referncia a essas duas escalas de valor. Essas funes teriam
que se adaptar s necessidades sociais, culturais e econmicas dos habitantes, sem contrariar o carter especco do conjunto em questo.
Uma polca de revitalizao cultural deveria converter os conjuntos histricos em plos de avidades culturais e atribuir-lhes um papel
essencial no desenvolvimento cultural das comunidades circundantes (IPHAN..., 2004:227-228).
No encontro do Conselho Internacional de Monumentos e Stios foi definida a Carta de Burra. Esta contm as definies
que orientam as anlises e procedimentos inseridos nas deliberaes projetuais de patrimnio. As definies principais so
as seguintes:
o termo bem designar um local, uma zona, um edicio ou um conjunto de edicaes ou outras obras que possuam uma signicao
cultural, compreendidos em cada caso, o contedo e o entorno a que pertence; a expresso signicado cultural designar o valor estco,
histrico, cienco ou social de um bem para as geraes passadas, presentes ou futuras; o termo conservao designar os cuidados a serem
dispensados a um bem para preservar-lhe as caracterscas que apresentem uma signicao cultural. De acordo com as circunstncias, a
conservao implicar ou no a preservao ou a restaurao, alm da manuteno; ela poder, igualmente, compreender obras mnimas
de reconstruo ou adaptao que atendam s necessidades e exigncias prcas; o termo manuteno designar a proteo connua da
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Em casos de restaurao e reconstituio orienta, entre outros pontos, os seguintes:
Qualquer restaurao e, com mais forte razo, qualquer reconstuio de um jardim histrico s sero empreendidas aps um estudo
aprofundado, que v desde as escavaes at a coleta de todos os documentos referentes ao respecvo
jardim e aos jardins anlogos, suscevel de assegurar o carter cienco da interveno. Antes de qualquer execuo, esse estudo dever
resultar em um projeto que ser submedo a um exame e uma aprovao colegiados. A interveno ou restaurao deve respeitar a
evoluo do respecvo jardim. Em princpio, ela no deveria privilegiar uma poca custa de outra, salvo se a degradao ou denhamento
de certas partes puderem, excepcionalmente, dar ensejo a uma reconstuio fundada sobre vesgios ou sobre uma documentao
irrecusvel. Podero ser, mais parcularmente, objeto de uma reconstuio eventual as partes do jardim mais prximas do edicio, a m
de fazer ressaltar sua coerncia (IPHAN..., 2004:255:266).
Visando a proteo legal e administrativa esclarece:
Cabe s autoridades responsveis adotar, sob a orientao de peritos competentes, as disposies legais e administravas apropriadas a idencar,
inventariar e proteger os jardins histricos. Essa proteo deve ser integrada aos planos de ocupao dos espaos urbanos e aos documentos
do planejamento sico-territorial. Cabe igualmente s autoridades responsveis assumir, conforme orientao de peritos competentes, a
conservao, a restaurao e, eventualmente, a reconstuio dos jardins histricos. Os jardins histricos constuem um dos elementos do
patrimnio cuja observncia, em razo de sua natureza, exige o mximo de cuidados connuos por parte de pessoas qualicadas. Convm, pois,
que uma pedagogia apropriada assegure a formao dessas pessoas, quer se trate de historiadores, de arquitetos, de paisagistas, de jardineiros
ou de botnicos (IPHAN..., 2004:257-258).
Ao abordar a revitalizao das pequenas aglomeraes a Declarao de Tlaxcala adota alguns aspectos importantes:
Rearmam que as pequenas aglomeraes se constuem em reservas de modos de vida que do testemunho de nossas culturas, conservam
uma escala prpria e personalizam as relaes comunitrias, conferindo, assim, uma idendade a seus habitantes. Lembram que a conservao
e reabilitao das pequenas aglomeraes so, por um lado, uma obrigao moral e uma responsabilidade dos governos de cada Estado e
das autoridades locais; por outro, um direito de as comunidades parciparem das decises que dizem respeito conservao do seu habitat,
intervindo diretamente no processo de realizao. [...].
Rearmam a importncia dos planos de ordenao sico-territorial e de desenvolvimento para diminuir o processo de abandono dos pequenos
lugares de habitat e a superpopulao das mdias e pequenas cidades, fenmeno que ameaa a prpria existncia dessas localidades. Recomendam
que qualquer ao que tenda a preservar o ambiente urbano e os valores arquitetnicos de um lugar deve parcipar, necessariamente, da
melhoria das condies scio-econmicas dos habitantes e da qualidade de vida dos centros urbanos. Pensam que, para preservar a atmosfera
tradicional nas localidades rurais e nas pequenas aglomeraes e para permir a connuidade de manifestaes arquitetnicas vernaculares
contemporneas, necessrio dispor no apenas dos materiais, como tambm da tcnica tradicional e, quando isso no for possvel, propem a
ulizao de elementos de substuio que no ocasionem alteraes notveis na forma resultante e que correspondam s condies psicolgicas
locais e aos modos de vida dos habitantes da regio (IPHAN..., 2004:265-267).
Alm disso, entre outros detalhes, enunciam-se as ponderaes seguintes:
Que qualquer ao que vise conservao e revitalizao das pequenas localidades seja inserida em um programa que leve em conta osaspectos histricos, antropolgicos, sociais e econmicos da regio e as possibilidades de revitaliz-la, sem o que a referida ao ser condenada
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Essa recomendao prope tambm:
meios tericos e operacionais para conservao e evoluo controladas das reas de paisagem cultural em cuja estrutura se incluam as polcas
de uso da terra e da paisagem como um todo. [...]
A nalidade do desenvolvimento econmico sustentvel implicando uma relao harmoniosa entre as necessidades da propulso, o uso dos
recursos naturais e a organizao das avidades humanas em determinada rea; a busca de um meio ambiente que contemple tanto a herana
cultural quanto a natural e que leve em conta a natureza evolucionria da paisagem como um todo; a necessria adaptao do desenvolvimento
econmico s necessidades de uma sociedade que d a devida considerao qualidade das
relaes humanas e solidariedade entre setores da populao (IPHAN..., 2004:334).
Com relao s medidas de proteo legal e conservao das reas de paisagem cultural, como parte de polticas de
paisagem, aconselha:
Dependendo do valor das reas de paisagem cultural protegidas, o projeto de proteo deveria estabelecer a superviso de uma autoridade
responsvel no territrio no que diz respeito concesso de autorizao para construes, demolies ou realizao de obras (includos projetos
de silvicultura, agrcolas ou de infra-estrutura) que resultem na transformao das paisagens. Em algumas reas ou em partes de reas a proteopode acarretar a proibio de construir (IPHAN..., 2004:340).
As medidas especficas para conservao e evoluo controlada sugerem
As reas de paisagem cultural consistem em recursos scio-econmicos que podem ser empregados no desenvolvimento local. Trata-se, contudo,
de recursos no renovveis e seu uso deve ser planejado no sendo de preservar sua integridade e seu carter peculiar. O emprego das reas
de paisagem cultural para esmular o desenvolvimento local mais ecientemente planejado no interior de uma estratgia regional, para evitar
a repeo de pos de desenvolvimento dentro de uma nica rea. As autoridades locais deveriam trabalhar conjuntamente, nos termos de
programas estabelecidos em acordo. [...].
importante incenvar o acesso pblico a reas de paisagem cultural, embora o uxo de visitantes e turistas deva ser mando sob controle.
As autoridades deveriam promover uma apresentao clara e apropriada da histria e da importncia de cada local, atravs de promoo
de projetos de pesquisa e de programas de estudos centrados nos diferentes aspectos do local; cooperao dos departamentos adequados
das universidades locais ou dos instutos de pesquisas e das autoridades ligadas conservao e administrao; administrao controlada
da visitao, que encoraje o acesso a locais situados fora das maiores rotas turscas e que restrinja o nmero de visitantes a locais que os
estejam recebendo em nmero muito elevado; viabilidade do fornecimento de informao adequada e de publicaes desnadas aos visitantes
(IPHAN..., 2004:340-341).
Junto das Cartas Patrimoniais, que orientam e definem os procedimentos voltados para as polticas de preservao,
conservao e interveno do patrimnio, as medidas inseridas nessas aes devem ter como meta o desenvolvimento
sustentvel. Os setores organizados mundialmente em torno da questo da relao da sociedade civil e o meio natural afirmam
que o desenvolvimento sustentvel quando procura fazer justia e criar oportunidades para que todos os seres humanos do
planeta, sem privilgio de algumas espcies, possam se desenvolver sem destruir os recursos naturais finitos e sem ultrapassar
a capacidade de carga do s istema (BELLEN, 2007). Algumas orientaes podem ser consideradas no planejamento e implantaodo mobilirio urbano. As principais so:
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Infelizmente, para a maioria dos autores anteriormente citados, sem uma denio operacional minimamente aceita torna-se impossvel traar estratgias e
acompanhar o sendo e a direo do progresso.
Todas as denies e ferramentas relacionadas sustentabilidade devem considerar o fato de que no se conhece totalmente como o sistema
opera. Pode-se apenas descobrir os impactos ambientais decorrentes de avidades e a interao com o bem-estar humano, com a economia e
o meio ambiente. Em geral se sabe que o sistema interage entre as diferentes dimenses mas no se conhece especicamente o impacto dessas
interaes.
Todos os aspectos anteriormente apresentados mostram a diversidade e a complexidade do termo desenvolvimento sustentvel. Apesar da
diculdade que essas caracterscas conferem ao estudo do desenvolvimento sustentvel, a diversidade desse conceito deve servir no como
obstculo na procura de seu melhor entendime nto, mas, sim, como fator de movao e tambm como criador de novas vises sobre ferramentas
para descrever a sustentabilidade (BELLEN, 2007:37-39).
Princpios da Educao Ambiental indicados pela Conferncia de Tbilisi:
integravo, envolvendo a comunidade;
parcipavo, considerando a opinio da comunidade;
transformador, esmulando mudanas de hbito, atudes e comportamento;
globalizante, considerando o ambiente global em seus mlplos aspectos;
permanente, promovendo e fortalecendo o senso crco;
contextualizador, privilegiando a realidade local sem perder a dimenso planetria;
transversal, j que o meio ambiente se enquadra em todas as reas do conhecimento (MATHEUS, 2005:XXVII).
Princpios de Sustentabilidade Turstica:
uso sustentvel dos recursos naturais;
manuteno da diversidade biolgica e cultural;
integrao do turismo no planejamento;
suporte s economias locais;
envolvimento das comunidades locais;
consulta ao pblico e aos atores envolvidos;
capacitao de mo-de-obra;
markeng tursco responsvel;
reduo do consumo supruo e desperdcio;
desenvolvimento de pesquisas (MATHEUS, 2005:3-4).
Dessa forma, o espao turistificado somente poder alcanar um desenvolvimento auto-sustentado partindo de suas bases
e sendo protagonizado pelas decises comunitrias sobre seu prprio destino. A adoo de um modelo de desenvolvimento
sustentvel como esse exigir uma reformulao geral, bem como reorganizao das atividades tursticas, com base na eficincia
econmica, na diminuio das desigualdades sociais e na responsabilidade ambiental, sempre considerando as especificaes
locais e sua capacidade de carga. O ser humano tem se colocado como um ser parte da natureza e no se submete a suas leis
(MATHEUS, 2005:4-5).
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Ao atender critrios formais, estticos, de funcionalidade e respeito a valores ambientais,
paisagsticos, culturais e sociais, o mobilirio urbano consegue valorizar e preservar os espaos
urbanos, promovendo um melhor ordenamento e qualidade do espao pblico, satisfazendo
s exigncias dos cidados. A elaborao dos projetos condicionada pelo conhecimento das
caractersticas do seu local de insero, com a identificao de suas vocaes e da intencionalidade
dos espaos urbano e arquitetnico que o envolvem, assim como as sensaes que ele transmite. O
mobilirio sintetiza o sentido do preservar e intensificar as potencialidades do espao e se constituir
em um elemento que auxilie na correo e melhoria de suas deficincias.
fato que muitos ambientes no stio histrico sanjoanense se apresentam aprazveis, com
localizaes convenientes, que oferecem sombra e/ou uma vista de uma paisagem privilegiada, so
propcios a se constiturem espaos de permanncia. A insero de um mobilirio adequado intenciona
fortalecer essa vocao do espao. A utilizao de mesas, bancos, abrigos, praas e escadarias,
por exemplo, viabiliza a permanncia do usurio nesses lugares, conferindo-lhes um carter mais
humano. O mesmo oferece, assim, suporte para locais de reunio e possveis encontros. O seu
design tambm viabiliza diferentes maneiras de apropriao pelo usurio. Bancos que apresentam
desenhos em linhas cncavas e convexas, por exemplo, encerram em sua forma possibilidades de
atitudes agregadoras e individuais dos usurios, respectivamente. preciso ressaltar que o mobilirio
destinado a locais de permanncia deve ser confortvel, possibilitar perspectivas interessantes para
o usurio e no obstruir as vistas privilegiadas.
Quanto s visadas, destaca-se que o traado de vias sinuosas e a prpria conformao arquitetnica
podem proporcionar perspectivas e enquadramentos de paisagens surpreendentes. Cabe ao objeto
ou espao projetado no interferir na fruio dessas perspectivas. Os marcos verticais so pontos
focais, de convergncia e referncia no espao, e indicativos de locais de destaque dentro do contexto
urbano. Eles podem ser esttuas, obeliscos, colunas, marcos de fundao, entre outros. O mobilirio
a ser instalado em regies onde existem esses marcos no deve diminuir a sua visibilidade nem
se destacar a ponto de concorrer em ateno com o marco. A perspectiva em direo a ele deve
ser liberada, e o espao ao seu redor deve ser o mais livre possvel, sem elementos que dividam a
ateno do espectador. A sobreposio de elementos transforma o conjunto num caos inexpressivo.
Da a importncia da clareza, limpeza e discrio do mobilirio urbano para cidades histricas. O
design das peas deve ser discreto e limpo, para no tumultuar o ambiente.
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4.2.PRINCIPAIS TIPOS DE MOBILIRIOSSUAS CONDICIONANTES TCNICAS
E MATERIAIS, AO SE CONSIDERAR
A ELABORAO DOS RESPECTIVOS PROJETOS
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O mobilirio de iluminao acumula funes de orientao, segurana e de destaque.
A iluminao deve se integrar ao ambiente de forma harmnica, respeitando a escala e a
conformao do espao. Os dispositivos de iluminao so em sua maioria construdos de
metal e concreto.
A altura dos postes varia de 2,10 a 21 m. Essa dimenso deve ser escolhida em funo
do objetivo da iluminao: postes mais altos para iluminar vias, ou mais baixos para iluminar
caminhos de pedestres.
As arandelas so normalmente utilizadas para iluminar o caminho de pedestre; suas
alturas de fixao ficam entre 2,10 e 3,0m.
Tanto a iluminao de parede - instalada aproximadamente a 30 cm do cho - quanto
a iluminao de piso, so usadas como balizadores de caminho e como forma alternativa ao
uso de postes e arandelas.
Os spots so usados para iluminao de destaque de edifcios e monumentos.
O mobilirio de proteo consiste em gradis, pilastras e barreiras arquitetnicas. Ele deve
garantir a segurana do usurio e evitar que o pedestre circule em regies indesejadas.
Os elementos utilizados para proteo de pedestres contra veculos podem ser
implantados em locais onde existe um grande fluxo de pessoas; devem ter altura entre 60 e 90
cm, sendo preferencialmente construdos em ao, mas podendo tambm ser em concreto. H
possibilidade da barreira ser retrtil, permitindo uma maior variedade de usos.
Existem barreiras que so apenas delimitadoras de espaos, indicando reas com usos
diferenciados. Podem ser de concreto ou metal.
As barreiras tambm so usadas para impedir travessias perigosas de pedestres,
tendo alturas prximas a 1,05 m; e para impedir o acesso de pessoas a reas restritas. Essas
barreiras podem ser preferencialmente fsicas, e no visuais. Os materiais usados so metal,
vidro (vedao) e concreto.
Entre os mobilirios de comunicao, esto os suportes para publicidade, indicadores
de hora, temperatura e data. Esses dispositivos devem ser implantados cuidadosamente, de
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O mobilirio urbano concebido e projetado em resposta a um conjunto de condies
existentes. De natureza funcional, refletem tambm a atmosfera social, poltica e econmica
apresentando-as como um diagnstico criteriosamente elaborado. O cenrio recebe propostas
de projeto e a riqueza do vocabulrio de imagens essencial para tornar essa experincia mais
proveitosa.
Os exemplos que se apresentam a seguir foram colhidos ao longo dos anos mais recentes
de estudos e investigaes sobre os espaos pblicos, o mobilirio urbano, sua convenincia e
adaptao ao lugar onde se instalaram. Em sua maioria, so elementos de design contemporneo
inseridos em um contexto de importncia histrica e preservao do patrimnio arquitetnico
e urbanstico.
Em diversos pases, as cidades histricas tm sido alvo de revitalizaes e novos projetos
que adequem sua riqueza patrimonial ao uso contemporneo. O desenho do mobilirio urbano
uma das faces mais visveis desse processo, mas outras alteraes e padronizaes so
elaboradas para que se obtenham a harmonia esttica e a coerncia entre os elementos dapaisagem urbana.
Portugal, ustria, Noruega, Frana, Inglaterra, Hungria e Sua so apenas alguns dos pases
que oferecem exemplos pelos quais faremos um passeio nas prximas pginas. A proposta de
uma nova configurao da paisagem faz uso de idias inovadoras e tecnologias atualmente
disponveis atendendo as principais preoupaes das cidades histricas: preservar o melhor
do passado, responder positivamente s necessidades atuais e vislumbrar um futuro adaptado
a essas condies.
Os elementos analisados foram classificados em grupos semelhantes ao modo como sero
apresentados na proposta final deste trabalho. Abrigos em Pontos de nibus, Balizadores
de trnsito, Bancos de praas, Bicicletrios, Cabines telefnicas, Lixeiras, Passeios, Placas
Comerciais e de Sinalizao Turstica. Nenhum desses grupos se abstem de uma anlise
combinada de todos os componentes da paisagem. Esse o objetivo: a primazia dos elementos
em prol da harmonia do conjunto.
Londres conhecida pela simplicidade e naturalidade de seus espaos pblicos. O modo
como esto integrados ao dia a dia da comunidade um desafio e objetivo a ser alcanado em
outras localidades. Braga recentemente implementou uma nova configurao arquitetnica dos
espaos pblicos de seu centro histrico. Chartres fez o mesmo e contribui com realizaes
importantes, assim como diversas das cidades visitadas com o propsito de fomentar o
vocabulrio imagtico deste trabalho.
con
da p
As
har
de s
des
ess
dev
ter
fot
do
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7.Lisboa 8.Paris
9.Braga
Na foto 7, os abrigos de nibus unem-se aos postes, s janelas e aos
vasos para conferir ritmo ao conjunto. Individualmente discretos, cada
elemento contribui de maneira favorvel harmonia da paisagem.
Os anncios so um desao para a paisagem urbana; por isso devem
ter tamanhos denidos e ocupar espaos designados para esse m. Na
foto 8, pode-se perceber o impacto do anncio no observador que est
perto.
Na foto 9, os abrigos de nibus no desviam a ateno da
arquitetura. Os bancos e a lixeira destoam desse objevo. O anncio
est desproporcional ao conjunto.
A
so
priv
B
estr
cam
O
arqu
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14.Coimbra 15.Coimbra
16.Coimbra 17.Coimbra
A convivncia do novo com o ango evidenciada pela arquitetura e
favorece o encontro. Eis a praa cvica.
Elementos construdos e simblicos inspiram a aglomerao de
pessoas. Harmonizados com a distribuio das janelas, balizadores
delimitam e imprimem ritmo paisagem. A paginao do piso pode
potencializar essa marcao (foto 14) ou fazer-se neutra para realar os
volumes.
mat
con
de o
resp
so
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Desenho limpo e seqencial estabelece forma, ritmo e unidade ao
conjunto.
O design harmnico de banco e lixeira convivem to bem com a
arquitetura de poca quanto com a escultura contempornea.
A qualidade do assento classica o espao pblico e viabiliza seu uso.
A posio determina a frequencia em que estar ocupado. Um banco
deve garanr conforto, privacidade, segurana e um bom microclima.
No se pode esquecer a beleza, que fundamental.
Algumas solues ram proveito da topograa e usam os muros de
arrimo para erguerem bancos connuos e de iluminao embuda.
A paginao do piso favorece a compreenso do espao. Bancos,
luminrias e jatos dgua marcam o ritmo.
22.Chartres 23.Chartres
24.Chartres 25.Chartres
26.bidos 27.bidos
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CABINES TELEFNICAS
33.Chartres 34.Chartres
A exemplo dos abrigos em pontos de nibus, as cabines telefnicas
precisam fazer-se notar com a mxima discrio. Vidro e ao inox so
materiais que, contemporneos, servem a esse objevo.35.Ponte de Lima 36.Praga
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Foto 40. Passeio-ponlho: permite cruzar as margens com deleite
e segurana.
Foto 41. Passeio-ornamentao: dene seu espao por meio da
paginao. Atribui beleza e cuidado paisagem.
Foto 42. Passeio-vegetao: ra pardo do microclima e torna o
caminhar um prazer.
Foto 43. Passeio-observao: possibilita ver a cidade de pontos de
vista inusitados.
40.Porto 41.Porto
42.Porto 43.Porto
PASSEIOS
T
mate
Ju
de ga
nece
P
sobre
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A posio de insero mais favorvel paisagem urbana perpendicular
fachada do edicio. O tamanho e a forma de xao tm limites
padronizados. Em Salzburg os suportes so rebuscados, mas opes mais
simples cumprem plenamente sua funo (Viena).
48.Chartres
49.bidos 50.bidos
PLACAS COMERCIAIS
p
c
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59.Chartres57.Braga (Designer Philippe Starck)
58.bidos
As placas de bidos combinam dois pos de ao: inox e corten.
A
paisa
desta
fund
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APRESENTAO
E METODOLOGIA
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anlise de preservao do centro histrico.
O primeiro refere-se anlise dos vrios estilos arquitetnicos existentes na rea em
estudo e objetiva a compreenso global da evoluo urbana da cidade. As edificaes foram
classificadas de forma genrica, segundo critrios de estilo: colonial, correspondente ao
sculo XVIII e primeira metade do sculo XIX; ecltico-neoclssico, tpico do perodo que
compreende o final do sculo XIX e as duas primeiras dcadas do sculo XX; ecltico proto-
modernista, assim denominado posto que engloba tanto as manifestaes futuristas e art
dec dos anos 30 quanto a arquitetura ecltica dos anos 40; modernista, que se estende pelas
dcadas de 50 e 60; e contemporneo, que corresponde diversidade de estilos que constituiu
a arquitetura a partir dos anos 70, no significando, porm, construes bem caracterizadas
e proporcionadas. Dada a inexpressividade das edificaes nesse ltimo perodo, inserimos
ainda o critrio integrado, para os casos em que o edifcio em questo demonstra insero
correta em seu conjunto, quaisquer que sejam as caractersticas do mesmo. Optamos por tal
soluo ainda que estejamos correndo o risco de valorizao dos pastiches.
O segundo parmetro refere-se anlise da volumetria do Conjunto, onde os pisos trreos
contriburam para a contagem do nmero de pavimentos, mesmo nos casos em que h pilotis.
As igrejas no foram classificadas quanto ao nmero de pavimentos; um critrio mais razovel
teria sido a especificao da altimetria o que no foi realizado uma vez que o controle
da volumetria das demais edificaes objetiva a manuteno das visadas dessas mesmas
igrejas.
O terceiro parmetro levou em considerao os usos predominantes, que foram mapeados
segundo a atividade predominante, especialmente nos casos em que ocorre o uso misto.
Tambm foi adotada a metodologia utilizada por Lynch em A Imagem da Cidade que
foi de extrema importncia, uma vez que permitiu estabelecer a conexo entre a realidade
existente (levantada nos trs mapas anteriores) e a compreenso mental da estrutura urbana
da cidade.
As figuras de 1 a 4 sero referenciadas mais de uma vez ao longo do texto. Isso ocorre
porque a anlise aqui elaborada expe abordagens diversas na leitura dos elementos ilustrados
nesses mapas.
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SENTIDO DO TRAJETO
INCIO: Escadaria da Igraja Nossa
Senhora das Mercs
LOCAIS PERCORRIDOS: Largo das
mercs, Lago da Cmara, Praa
Francisco Neves, Rua Monsenhor
Gustavo, Igreja da matriz de N.S.
do Pilar, Rua Getlio Vargas, Largo
do Rosrio, Rua General Osrio,
Ponte do Rosrio, Rua P. J. Maria
Xavier, Largo So Francisco, Rua
Balbino da Cunha, Rua Ministro
Gabriel Passos, Ponte da Cadeia,
Rua Arthur Bernardes, Rua Mal
Deodoro, Rua Sebaso Sete,
Largo do Carmo, Rua Getlio
Vargas.
FIM: Igreja Matriz de Nossa
Senhora do Rosrio
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01 C02 H03 R04 So05 Pa07 Ca08 M09 C10 Cr11 So(C1)12 Ce
13 Ru14 Ca15 R16 Pa17 C18 Pe19 C20 Pa21 Fo22 B23 Ig24 C25 H26 M27 CPilar 28 R29 C(A3)30 B31 C32 C33 C(B3)34 O35 Li36 Ig37 So38 So39 Pa40 M41 C42 M
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O STIO NATURAL
O termo topografia designa descrio do lugar, para denotar a configurao fsica.
Em toda a regio dos Campos das Vertentes o stio natural pitoresco e variado: morros
suavemente ondulados, serras escarpadas, rios caudalosos, cascatas. O encantamento nos
Campos das Vertentes provm da surpresa do viajante que, aps caminhadas por serras
ngremes como fez Saint-Hilaire se depara com a plancie verde e extensa. Vertentes
porque esta regio, alcandorada nos contrafortes da Mantiqueira, representa o divisor de
guas que dela partem formando as quatro bacias hidrogrficas constitudas pelos rios: Doce,
So Francisco, Paran e Paraba do Sul. (SOBRINHO, p.14).
Ao aproximarmo-nos do Vale do Rio das Mortes, os elementos naturais ganham maior
expressividade, e podemos ler claramente, em So Joo del Rei, a conformao do espao
natural.
A posio geogrfica de So Joo del Rei no Vale do Rio das Mortes contribuiu, como
vimos, para a formao de um entreposto comercial parada obrigatria do Caminho Velho
que unia Parati e Taubat s Minas. Sua paisagem natural, composta por vales, cachoeiras,serras, matas e campos constituiu verdadeiro elemento-base para a formao da urbe, sob seu
aspecto morfolgico.
A estrutura do relevo estabelece caminhos, elementos que direcionam o espao, formados
pelo conjunto montanha-vale, bem como um padro espacial extenso e uniforme que se
contrape aos primeiros e conforma domnio a como a Vrzea do Maral.
Era meio-dia quando avistamos, num frmito de prazer, l muito abaixo, o vale do Rio das Mortes.
nossa direita, elevavam-se a cerca de seis milhas, as linhas da Serra de So Jos. esquerda, estava
So Joo del Rei, ostentando uma dzia de igrejas e estendendo-se, como se fora um leno branco,
sobre uma encosta irregular e severa. A nossos ps, na pequena plancie ribeirinha estava o Arraial de
Matosinhos, um lindo subrbio. (BURTON, p.56).
A leste, corre o Rio das Mortes, testemunha de tantos fatos histricos. A seu lado se ergue,
imponente, a Serra de So Jos, limite preciso entre os municpios de Tiradentes e So Joo, os
arraiais Velho e Novo de outrora. Ao norte, a Serra do Lenheiro rivaliza com aquela primeira
sob o aspecto geomorfolgico, mas surge como cenrio para assentamento de So Joo del
Rei, pois foi ao sop da mesma que as primeiras veias aurferas foram encontradas, fixando o
homem terra. Uma pequena elevao ao sul, o Morro do Bonfim, determina juntamente com
a serra e um vale, e com ele o afluente esquerdo do Rio das Mortes, que por ter suas nascentes
na serra ficou denominado Crrego do Lenheiro. Ainda hoje, os habitantes da cidade param
para admirar o pr-do-sol sob a serra, l para os lados do Lenheiro...
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A determinao de cada conjunto dar-se- a partir da percepo das caractersticas especficas de cada espao. Tomando
o contedo terico estudado, estabelecem-se reas de carter prprio nossos conjuntos urbanos constituem, ento,
lugares. O carter exige uma maior articulao formal para ser expresso do que uma simples organizao espacial porque
pressupe um estilo linguagem de formas simblicas, constituda por elementos bsicos combinados de diferentes modos.
O carter determinado pela constituio material e formal do lugar (NORBERG-SCHULZ, p.14). Um grupo de edifcios
com caractersticas semelhantes, ou seja, que apresentam os mesmos motivos arquitetnicos propenso a constituir um
carter.
A delimitao de um ncleo histrico a partir de um tombamento federal realizado nos anos 40 no significa abandono
do patrimnio existente no restante da cidade. Fica clara a necessidade de estabelecer um parmetro geral na cidade que
inclua estas reas.
1 CONJUNTO RUA SANTO ANTNIO
A rua Santo Antnio foi um dos ncleos iniciais de desenvolvimento da cidade, constituindo-se em um caminho-tronco
que unia as freguesias do Rosrio, Pilar e Carmo a um povoado separado do ncleo principal. Seu traado espontneo,caracterstico do perodo colonial; estreita e s inuosa nas proximidades da igreja do Rosrio, a caixa da rua logo se amplia.
A pavimentao ainda em p-de-moleque, tendo sido asfaltada em 1988 a partir do cruzamento com a rua Alfonsina
Alvarenga, fora dos limites de tombamento; ainda assim, gerou uma ao judicial da Unio contra o ento Prefeito Municipal,
por danos ao patrimnio histrico nacional.
Com relao ao uso, predomina o residencial, com a presena de alguns atelis junto s residncias. A presena da capela
de Santo Antnio, construda no sculo XIX, e das sedes da Orquestra Ribeiro Bastos e da Banda Teodoro de Faria instauram
o uso institucional, perfeitamente integrado no carter predominante da rua, conferindo-lhe ainda uma atmosfera especial
de religiosidade e musicalidade. O sobrado do Padre Gustavo, adjacente capela, foi um centro de medicina natural na
cidade, com propaganda nos anurios; o pomar e a horta permanecem inalterados, embora no cumpram mais a funo
social de outrora.
A particularidade de seu conjunto lindeiro corresponde a uma significativa preservao das caractersticas inicias das
construes (salvo algumas excees destoantes) e tentativa de insero coerente das novas edificaes (ao tambm
isolada, fruto da iniciativa de um proprietrio de diversos imveis no local). O casario remanescente, em geral, trreo,
com poucos sobrados, construdos em pau-a-pique e estruturados em madeira, telhados em duas guas e beirais em
cachorro ou beira-seveira. A homogeneidade permanece at o cruzamento com a rua Alfonsina Alvarenga, a partir de onde
se mantm a volumetria, mas se alteram as caractersticas originais das edificaes o que estabelece uma coerncia com a
iniciativa de pavimentao do Poder Municipal. Neste trabalho, optamos por no incluir tal rea, uma vez que o processo de
descaracterizao , no nosso entender, irreversvel. Alm disso, a rea s e encontra em uma situao geo-topolgica tal que
no interfere nas visadas da rua Santo Antnio, se tomadas a partir da outra margem do crrego do Lenheiro prejudicada
pela rua General Osrio, que ser discutida adiante.
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4 CONJUNTO LARGO DA CRUZ
O largo da Cruz corresponde a um exemplo caracterstico da urbanidade do perodo colonial. Uma praa, denominada
Paulo Teixeira e caracterizada pela presena de um Passo da Paixo e de um cruzeiro da seu nome popular ,
corresponde a um espao amplo que acessado atravs de diversas vielas e ruas estreitas e sinuosas, tal como o beco
do Cotovelo, que a conecta praa do Baro de Itamb. O casario, de uso residencial, trreo, embora existam alguns
sobrados. Algumas edificaes comeam a apresentar o uso residencial misto.
5 CONJUNTO DO CARMO
Este conjunto apresenta estilos arquitetnicos e ambincias diversas, reunidos em torno da forte presena da igreja
do Carmo. Sua insero na malha com relao rua Direita j havia sido descrita; seu entorno propriamente dito
formado por ruas de casario homogneo, quer sejam representativos do perodo colonial como o caso do beco da
Escadinha e da rua da Cachaa, atual rua Marechal Bittencourt, antiga zona bomia e de prostituio da cidade, descrita
por Richard Burton como rua da Alegria quer sejam caractersticos do ecletismo do princpio do sculo XIX, nas
ruas Resende Costa, Santa Teresa e Santo Elias.
Em termos de traado urbano, destaca-se o largo do Carmo, anteriormente formado por um adro com diferena
de nvel e hoje de trfego indiscriminado de veculos, e a praa Carlos Gomes, lindeira ao conjunto ecltico, onde se
localiza um chafariz em ferro fundido do sculo XIX e o cemitrio do Carmo, do mesmo perodo e tombado pelo IPHAN
pela sua singularidade fechado com altos muros e constitudo por um ptio. O solar da Baronesa de Itaverava uma
construo imponente, do sculo XIX, que se destaca neste mesmo largo; sua aquisio pela Universidade Federal de
So Joo del Rei em 1996 indica o desejo desta instituio no sentido de preencher a lacuna cultural, fomentando
atividades desta natureza na rea.
6 CONJUNTO RUA SANTO ELIAS
Assim como a rua Santa Tereza, a rua Santo Elias desemboca no largo do Carmo. A denominao de ambas demonstra
a religiosidade da populao, que transps para o plano urbano os nomes dos dois santos de devoo carmelita.
O conjunto da rua Santo Elias caracteriza-se por seu papel de conexo entre os conjuntos do Carmo, do largo da
Cruz e da praa Francisco Neves. Embora esteja inserido no permetro de tombamento, a descaracterizao um dado
constante, assim como a presena de tipologias caractersticas tanto do sculo XVIII (embora no se possa afirmar
serem originais) quanto do sculo XIX e princpio do sculo XX; da a conexo qual nos referimos.
O casario predominantemente trreo e de uso quase que exclusivamente residencial. O casario, de uso residencial,
trreo, embora existam alguns sobrados, dentre eles a casa mais antiga de So Joo del Rei. Sua tipologia recorda
os sobrados de varanda paulista, com a projeo do segundo pavimento avarandado sobre a calada, e evidencia o
processo de formao da cidade bandeirantes paulistas a caminho das Minas. Destaca-se, ainda, a chcara conhecida
como Fortim dos Emboabas, edificao tombada isoladamente.
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(estes instalados na casa de Brbara Heliodora) e no Mosteiro So Jos. A predominncia do uso institucional se refora
pela presena da Universidade Federal de So Joo del Rei (ainda conhecida como FUNREI), a ser descrita posteriormente.
Tambm encontra-se na rua da Prata uma capela de Passo.
9 CONJUNTO DA MUXINGA/RUA DAS FLORES
Palavra de origem africana, utilizada nos quilombos, muxinga significa aoite. Na cidade de So Joo del Rei, um lugar
que corresponde a uma depresso seguida de uma elevao, situado nas proximidades da Matriz. Sua topografia favorece
as visadas de grande parte do ncleo histrico.
Isolada socialmente do centro histrico, a Muxinga caracteriza-se pela conservao das edificaes originais, muito
simples se comparadas com o elitismo dos sobrados da rua Direita e com o preciosismo das casas de pequenas dimenses
da rua Santo Antnio, mas bem proporcionadas em seus elementos. A especulao imobiliria existente nos conjuntos do
entorno parece no ter ainda alcanado a rea em questo, o que favorece a manuteno das residncias trreas inseridas em
um parcelamento de grandes lotes. Em contrapartida, muitas das edificaes vm sendo alteradas em suas caractersticas.
A Muxinga dominada, em seu ponto de cota mais alta, pela presena dos cemitrios da Matriz e do Rosrio, construdos
em meados do sculo XIX; o segundo pertence irmandade de mesmo nome, tradicionalmente constituda pela populao
de baixa renda, em geral da raa negra o que a remete s suas origens no tempo da escravatura.
10 CONJUNTO ESTAO FERROVIRIA
O conjunto definido pela Estao Ferroviria datado, provavelmente, da poca da implementao da Estrada de Ferro
Oeste de Minas, que ocorreu no ano de 1881, por iniciativa dos prprios habitantes da cidade, dando a ela novo alento em
termos econmicos. Tal afirmativa fundamenta-se nas caractersticas estilsticas e tipolgicas das construes existentes
nas quadras do entorno da estao que se estendem para a outra margem do crrego do Lenheiro, como o caso das
imediaes do Hotel Brasil: casas trreas ou sobradadas, com platibandas e varandas laterais, preenchidas de uma rica
decorao ecltica. Compe-se, ainda, de conservado conjunto da chamada arquitetura ferroviria, situado rua Antnio
Rocha, formado por casas de um ecletismo simplificado, construdas para os funcionrios da ferrovia.
Com o fim do transporte por trilhos, alteraram-se no os usos originais residencial para os funcionrios da ferrovia,
ou de servios, constituindo uma So Joo del Rei Ferroviria mas o pblico destinatrio. No momento, as residncias
no so mais exclusivas da Rede Mineira de Viao ou da RFFSA, atingindo todo o pblico da cidade e inserindo a rea no
contexto da especulao imobiliria; do mesmo modo, armazns e restaurantes que subsistiam em funo do movimento
original, hoje destinam-se populao local que trabalha no centro ou, quando muito, aos turistas que nos finais de semana
desfrutam da pitoresca viagem de Maria-Fumaa de So Joo del- Rei a Tiradentes.
11 CONJUNTO RUA BALBINO DA CUNHA
Inserida em uma regio onde predominam construes relativamente recentes, a rua Balbino da Cunha se destaca pela
presena do conjunto que agora descrevemos, constitudo por sobrados erguidos na dcada de 40, representantes do
ltimo surto de desenvolvimento econmico da cidade, ligado a s fbricas de tecido.
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O Teatro Municipal e o Banco Bradesco (adaptado nos galpes em estrutura metlica da antiga leiteria)
constituem-se excees. Destacam-se, ainda, a ponte da Cadeia, que conecta os Quatro Cantos Prefeitura, e a
do Teatro, em ferro fundido e que instaura uma bela visada do monumento Percebe-se a inexistncia de um uso
predominante na rea, sendo que o residencial, embora minoria, convive com o institucional (talvez em maior
nmero), o servio e o comrcio. Entretanto, podemos considerar que este seja um processo em desenvolvimento,
haja visto as modificaes descritas anteriormente.
14 CONJUNTO VALE DO LENHEIRO
Esta rea (no podemos consider-la um conjunto) se carateriza por uma diversidade tal que no permite a
integrao de seus edifcios componentes em nenhum dos conjuntos descritos. Compreende as edificaes situadas
margem esquerda do crrego do Lenheiro. A diversidade se estende volumetria e aos estilos arquitetnicos,
sendo que uma maior unidade somente obtida no uso comercial e de servios a saber bancos e hotis que se
concentram nesta rea com uma ou outra insero de uso institucional.
O Plano de Diretrizes para o Desenvolvimento da Estrutura Urbana e Preservao do Centro Histrico de So
Joo del Rei, elaborado em 1982 pela Fundao Joo Pinheiro, confere especial destaque a esta rea, considerando-a
como representativa do processo histrico vivido pela cidade em virtude do registro arquitetnico dos sculos
XVIII ao XX. Mesmo que aquele trabalho considere as duas margens do Rio Lenheiro aqui ns o subdividimos
em margem Direita, denominado o conjunto da avenida Hermlio Alves, e esquerda, que descrevemos agora no
podemos concordar com a afirmao de que rea mais importante da cidade. Talvez, em termos de movimentao
de pessoas, mercadorias e moedas, sim; entretanto, quando se prope valorizar as principais caractersticas da
cidade, promovendo o desenvolvimento econmico via atividade turstica, o grau de descaracterizao e poluio
visual desta rea (mais do que na margem direita) no abona a opinio dos tcnicos da Fundao Joo Pinheiro.
15 CONJUNTO DO KIBON
O Kibon compreende uma rea de uso predominantemente misto, quer seja residencial/comercial ou residencial/
servio, onde se concentra a maior parte dos bares e restaurantes da cidade e que se caracteriza pela freqncia
do pblico jovem nos finais de semana. Sua denominao tem origem na sorveteria que, atraindo diversas pessoas
para o local, acabou por dar-lhe o nome. As edificaes so de tipologia comum em rea de uso misto, com uso
comercial e de servios no pavimento trreo e residencial nos dois ou trs pavimentos superiores, e geralmente
datados da dcada de 40.
Uma outra iniciativa da construo nos anos 40 o Edifcio So Joo. Sua volumetria compromete as visadas
da cidade, pois interfere substancialmente nas linhas visuais. Felizmente, outras iniciativas desta natureza no
foram promovidas, e o edifcio fica como marco de interferncia que deve ser evitado. Ainda assim, devemos ter
em mente o risco futuro a que a cidade est sujeita em virtude da inexistncia de legislao Municipal quanto ao
uso do solo.
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18 CONJUNTO AVENIDA OITO DE DEZEMBRO
Tal como os demais conjuntos que foram descritos, o da av enida Oito de Dezembro tambm representa
um momento histrico-econmico da cidade, talvez de amplitude e importncia mais significativa, pois
corresponde a uma iniciativa dos cidados de So Joo del Rei para implantarem uma estrada de ferro at a
cidade.
Este conjunto assemelha-se, ento, ao que foi descrito como Estao Ferroviria. Casas, de uso
predominantemente residencial, tpicas do perodo ecltico que compreendeu o final do sculo XIX e as
duas primeiras dcadas do sculo XX, ricamente decoradas em estuque, trreas mas com pores habitveis,
de varandas laterais e platibandas que ocultam os telhados em duas guas cobertos por telhas cermicas
importadas da Frana.
Sua insero como conjunto de interesse se deve ao fato de que o tombamento estadual realizado na
dcada de 80 incorpora somente o conjunto lindeiro estao, localizado rua Quintino Bocaiva, relegando
a segundo plano as edificaes existentes na rua Comendador Costa e na avenida Oito de Dezembro. Outro
fato que conduziu a esta alternativa foi o de que os bairros no entorno desta avenida esto em ampla
expanso, o que poderia acarretar uma descaracterizao ou mesmo o desaparecimento do conjunto.
19 CONJUNTO RUA GENERAL OSRIO
Situada paralelamente, embora uma cota inferior, rua Santo Antnio, a rea da rua General Osrio
caracteriza-se pela substituio de grande parte das construes originais e pelo estado de degradao das
remanescentes.
Em termos volumtricos, a substituio no ultrapassa trs pavimentos, concentrados no princpio da
rua, prximo ao edifcio do antigo Clube Teatral Arthur Azevedo, que hoje abriga um supermercado. A
predominncia de sobrados de uso misto, embora grande parte das edificaes se constitua em galpes ou
construes adaptadas para abrigar depsitos de materiais de construo.
20 CONJUNTO DA FUNREI
Havamos nos referido rua da Prata como um local de uso institucional marcante, reforado pela
presena da Universidade Federal de So Joo del Rei. Esta presena, porm, data de um perodo anterior
federalizao da Universidade, e corresponde ao papel fundamental de uma das principais instituies de
ensino do Estado: o Colgio Santo Antnio.
A rea do Colgio, hoje campus universitrio, abrangente, alcanando o crrego do Rio Acima, um dos
afluentes do crrego do Lenheiro. Em funo do seu carter institucional, consegue-se estabelecer uma zona
de vegetao no centro da cidade, permitindo, assim, uma linha de visada at a igreja de So Francisco a
partir do morro do Guarda-Mor, situado na margem esquerda do crrego do Rio Acima. Algumas edificaes
particulares de uso residencial, exceo de uma casa ecltica da Cria, compem o conjunto sem, contudo,
interferir em sua amplitude.
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ocupao do bairro a partir dos anos 50 e na existncia de diversos vazios que permitiram um aumento na volumetria,
j que nenhum tipo de legislao restritiva engloba esta rea. A anlise poderia ter se estendido aos demais quarteires
vizinhos avenida Nossa Senhora do Pilar, o que no foi efetuado em virtude da uniformidade da rea, bastando assim
descrever um de seus trechos.
A caracterstica de uma regio puramente residencial, com alguns usos mistos de servios acoplados s prprias
habitaes, como escritrios de advocacia, consultrios mdico-odontolgicos ou bares. A tipologia bsica de casas
trreas, datadas dos anos 50, com alpendre, telhados em duas guas e empena fronteiria. Na avenida Nossa Senhora do
Pilar, a tipologia se altera para construes mais novas, inclusive edifcios de at quatro pavimentos, demonstrando que o
arruamento tem origem nos anos 70.
24 CONJUNTO DO MATOLA
O conjunto, embora profundamente renovado por edificaes residenciais unifamiliares e multifamiliares de classe
mdia e alta, caracteriza-se por compor uma transio entre os conjuntos da Estao Ferroviria e da avenida Oito de
Dezembro, constituindo importante quadro de entorno.
Apresenta, junto a este ltimo conjunto, pequeno nmero de exemplares eclticos, de amplos pores, alteados em
razo da adaptao topografia em aclive. A renovao urbana para tipologias pilotis-trs pavimentos impe risco preservao da paisagem, dada a proximidade com conjuntos significativos como o da Estao Ferroviria.
25 CONJUNTO DO SENHOR DOS MONTES/CRISTO REDENTOR
Constitui, como o conjunto anterior, importante marco paisagstico, especialmente se considerarmos a proximidade com
o centro histrico tombado e a densificao da regio por habitaes de baixa renda. Isto significa que a preservao das
encostas e dos quintais encontra-se ameaada, exigindo a insero deste conjunto como entorno imediato.
H que se lembrar, ainda, a existncia da capela de Nosso Senhor dos Montes, tpica construo oitocentista, que pontua,
juntamente com o monumento do Cristo Redentor e a capela do Bonfim, na outra margem do vale do Lenheiro, os limites da
antiga urbis. O Cristo Redentor, por si s, exige uma discusso paisagstica, no em virtude do adensamento populacional,
mas da instalao de equipamentos de telefonia celular e transmisso de rdio e televiso, que impuseram o esmagamento
de sua escala frente ao contexto urbano.
26 CONJUNTO DO GUARDA-MOR
O ltimo dos conjuntos que compem a paisagem do entorno do centro histrico o conjunto do morro do Guarda-
Mor. Vizinho imediato da igreja de So Francisco de Assis, foi deste ponto que Andr Bello, em 1905, registro a paisagem
sanjoanense, imagem-sntese que vem sendo resgatada pelos moradores para compor um quadro sobre o patrimnio
ambiental e edificado da cidade.
Em si, o conjunto em nada oferece, visto que as construes no remontam seno dcada de 60 do sculo XX. Porm,
como mirante privilegiado em relao aos demais, em virtude do fcil acesso e do descortinamento que propicia de todos
os pontos anteriormente descritos.
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O Centro Histrico de So Joo Del Rei pode ser compreendido como o resultado de um processo dinmico da evoluo
econmica, cultural e urbana da cidade. Ao contrrio do ocorrido em outras localidades mineiras do perodo colonial, a
estagnao de seu desenvolvimento no aconteceu como conseqncia imediata do declnio da sua produo aurfera.
Dessa forma, a rea em questo foi urbanizada ao longo dos anos e, atualmente, abrange edificaes de diversos estilos
arquitetnicos, representantes dos vrios perodos histricos vividos pela cidade. Entre eles: o colonial, que se refere ao
perodo da explorao do ouro; o ecletismo, presente tanto no princpio do sculo XX, em funo da implantao da estrada
de ferro, da intensificao da produo cafeeira do sul de Minas Gerais e da instalao das tecelagens, quanto nos anos de
1940, quando tambm surge o proto-modernismo e modernismo, relativo ao ltimo surto industrial na regio: o da extrao
de cassiterita.
importante ressaltar que o Centro Histrico de So Joo Del Rei tombado em nvel federal, pelo Instituto do Patrimnio
Histrico e Artstico Nacional (IPHAN), e em nvel municipal. O tombamento federal, definido pelo Processo n. 68-T-38,
identifica vinte e trs logradouros, especificados a seguir: Rua Duque de Caxias (atual Rua Getlio Vargas), Rua Santo
Antnio, Rua Resende Costa, Rua Marechal Bittencourt, Rua do Carmo, Rua Santo Elias, Rua Santa Tereza, Rua Joo Mouro,
Rua Jos Mouro, Rua Vigrio Amncio, Rua Monsenhor Gustavo, Rua Padre Jos Maria Xavier, Rua Jos Bastos (at a Rua
Mouro Filho), Rua Arthur Bernardes, Praa Baro do Rio Branco (atual Praa Doutor Salatiel), Praa Carlos Gomes, PraaFrancisco Neves, Praa Embaixador Gasto da Cunha, Praa Paulo Teixeira, Praa Frei Orlando, Largo do Carmo, Beco do
Cotovelo e Beco do Salto. Especifica tambm vinte e nove imveis, entre monumentos e edificaes particulares, alm de
trs outros edifcios, demolidos, sem autorizao do IPHAN. O tombamento municipal, estabelecido pela lei municipal n.
3531, de 06 de junho de 2000, delimita reas de proteo e de entorno que excedem ao permetro federal.( Figura 1)
Do ponto de vista de uma metodologia que delimite com grande propriedade a rea de interveno de um projeto
que vise a estruturao turstica do Centro Histrico de So Joo Del-Rei, optamos por utilizar como uma condicionante
fundamental o estudo do percurso das procisses centenrias da cidade que praticamente definem os limites dos trechos
nobres do Centro Histrico e que coincidentemente perpassam por quase todos os conjuntos Urbanos definidos pela leitura
ambiental do Conjunto arquitetnico e Urbanstico. (Figura 2), definindo assim uma baliza bastante segura sobre as reas
de interveno, e buscando assim definir com clareza a aglomerao dos subconjuntos surgidos da leitura ambiental em
conjuntos mais coesos que reforam e auxiliam o Turista a ter uma percepo interpretativa mais fcil do Centro Histrico
da cidade. Seguindo essa metodologia os 26 conjuntos originais puderam ser re-agrupados em nmero de 11, seguindo uma
metodologia j adotada e debatida por ns por ocasio da formulao do Plano Diretor Turstico da Cidade de So Joo Del-
Rei. Dentro dos Conjuntos tambm selecionamos individualmente para marcar com informaes prprias atravs de selos
de interpretao turstica, os edifcios civis mais representativos, quer pelas suas caractersticas arquitetnicas execpcinais
dentro da histria da arquitetura so-joanense, quer por terem sido moradas de importantes personalidades ligadas a
histria da cidade. O mesmo critrio tambm foi utilizado em relao a arquitetura monumental e marcos simblicos da
urbes colonial como Cruzeiros e Passos que geraram um mapa geral de sinalizao e um guia turstico interpretativo da
cidade que ajude os cidado e os turistas a desfrutarem melhor de imperdvel passeio na histria de Minas que conhecer
So Joo del-Rei. (Figura 3)
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1 CONJUNTO LARGO DO CARMO
A imagem urbana e arquitetnica, a atmosfera e o contexto peculiar em que vivia a sociedade
mineradora ainda podem ser percebidos ao se percorrer estas ruas e becos. Neste espao a
seqncia do casario e a evoluo dos caminhos so definidos pela presena solene da Igreja
de Nossa Senhora do Carmo.
Iniciada no sculo XVIII, sua construo estendeu-se at os princpios do sculo XX,
percorrendo diferentes fases da arquitetura religiosa mineira. Em 1894, a torre do sino foi
parcialmente destruda por uma fasca eltrica e sua rpida reconstruo um exemplo da
participao de uma comunidade na defesa de seu patrimnio.
O Cemitrio da Ordem Terceira do Carmo est protegido por porto de ferro com as iniciais
de seu autor Jesuno Jos Ferreira. Sua pequena capela morturia e seus claustros lembraram
ao viajante ingls Richard Burton, no sculo XIX, o Campo Santo da cidade italiana de Pisa. Este
um dos locais onde se realiza a Encomendao das Almas, cerimnia de origem portuguesa,
muito comum na Minas colonial, que se mantm viva em So Joo del-Rei. Durante a Quaresma,
nas noites de Sexta-feira, um cortejo de fiis e msicos da Lira Sanjoanense percorre a cidade,
parando junto s portas dos cemitrios, igrejas, cruzeiros e encruzilhadas, para cantar e rezarpelos mortos, sob a marcao das matracas.
A praa, com seu chafariz de ferro importado da Europa, conduz ao colorido casario ecltico
da Rua Santo Elias. A antiga Rua do Tanque leva a uma mina de ouro ainda em atividade. Pelo
Beco da Escadinha chega-se Rua da Cachaa que, no sculo XIX, foi denominada da Alegria,
com muitas tavernas e local de vida bomia.
O Solar da Baronesa, onde funcionou a Hospedaria do Imigrante em 1888, distingue-se
pelo mirante e por um longo balco em ferro rendilhado. Ao lado uma oficina latoeira ainda
preserva, com suas forjas e bigornas, as origens seculares deste ofcio.
2 CONJUNTO LARGO DA CRUZ
Este largo um exemplo das mudanas ocorridas no centro histrico da cidade no sculo
XX. Resultado da demolio de uma quadra, em 1914, manteve as caractersticas urbansticas
da vila colonial. Em uma rea densamente ocupada, atravs de becos sinuosos e ruas estreitas
surge um espao amplo, mas aconchegante. O uso das cores e os relevos em estuque das
fachadas, do s casas uma fisionomia alegre e vaidosa, criando um ambiente buclico.
Integrada parede externa de uma residncia a cruz antiga d nome ao largo. Em torno do
cruzeiro, na praa enfeitada com arcos de bambu e bandeirinhas de papel, realizava-se, a festa
da Santa Cruz, no dia 3 de maio, tradio que perdurou at meados do sculo XX. Nas trs
primeiras sextas-feiras da Quaresma, o Passo da Via Sacra aberto para que os fiis cantem
motetos ancestrais, oraes com acompanhamento de orquestra.
ConjuntoLargo do Carmo
ConjuntoLargo do Carmo
ConjuntoLargo do Cruz
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No centro do Largo, o Pelourinho evoca a autonomia administrativa da Vila e o local onde a
justia era exercida sobre os escravos, na base de castigos e aoites.
4 CONJUNTO LARGO DO ROSRIO
Embora a cidade tenha vivido, ao longo dos anos, muitas transformaes urbanas, o
passado est sempre presente em seus largos, ruas, becos e praas.
No Largo do Rosrio destacam-se as casas geminadas apoiadas umas s outras sob telhado
comum, as portas altas, as guilhotinas nas janelas, com vergas retas ou arqueadas. Algumas
delas tm beiral simples, outras beirais duplos, as beiras-seveiras. Segundo o ditado
popular de origem portuguesa, aquele que no possusse em sua casa pelo menos uma beira,
demonstrava no ter posses, era, pois, um indivduo sem eira nem beira.
No sculo XIX as fachadas dos sobrados recebem novos materiais, vidraas substituem
rtulas e sacadas ganham balces de ferro trabalhado. A iluminao dos lampies criava
um ambiente mgico, cheio de sombras e mistrios. O solar dos Neves e o dos Lustosa so
belos exemplares da arquitetura requintada que expressava a opulncia da sociedade so-
joanense.A casa trrea, com cinco janelas entre duas portas, onde hoje funciona o Museu de Arte
Sacra, foi tambm cadeia da Vila. Do outro lado est a Capela de Nossa Senhora da Piedade
e do Bom Despacho, construda em 1743, para proporcionar consolo e sustento aos presos
que, postados nas grades, assistiam missa de domingo. Prximo a ela um Passo da Via Sacra
confunde-se entre as casas.
A Igreja do Rosrio, com sua primeira capela construda em 1719, a mais antiga da cidade.
Apesar das diversas reformas que, ao longo de trs sculos alteraram significativamente sua
arquitetura, ela ainda mantm a simplicidade das linhas originais e a beleza de suas imagens
barrocas. Atravs da Irmandade de Nossa Senhora do Rosrio e So Benedito dos Homens
Pretos os escravos fortaleciam sua f, veneravam seus santos e afirmavam-se como criaturas
humanas.
No centro do Largo a igreja interrompe a seqncia do casario e abre outros caminhos.
5 CONJUNTO DA SANTA CASA DE MISERICRDIA
Situada no entroncamento dos principais caminhos da antiga Vila, esta rea dava acesso ao
Porto Real da Passagem, lugar onde se instalou Thom Portes del Rey, primeiro a se fixar na
regio, nos fins do sculo XVII.
A Casa de Fundio e a Intendncia do Ouro funcionaram neste local, de 1735 a 1833, onde
era recolhido o quinto devido Coroa Portuguesa. Com sua extino, os prdios sofreram
Conjunto da SantaCasa de Misericrdia
Conjunto da SantaCasa de Misericrdia
ConjuntoLargo do Rosrio
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Apolo, o deus das artes, das musas da poesia e da msica e trs mscaras que simbolizam a
comdia, o drama e a tragdia. Tambm so homenageados msicos, poetas e dramaturgos
mineiros. Mantendo vivas as lembranas da Segunda Guerra Mundial, o Museu da FEB guarda
fotos, equipamentos e armas de variados tipos.
Na amplitude deste espao, as torres das igrejas coloniais emolduram fachadas de
construes neoclssicas e eclticas. Essa diversidade expressa a principal caracterstica da
cidade, a convivncia entre diferentes estilos arquitetnicos.
7 CONJUNTO PRAA DA ESTAO
Nos fins do sculo XIX, uma nova era se abria para a cidade. Em 1881, o Imperador D. Pedro
II inaugurava o trecho da Estrada de Ferro Oeste de Minas que possibilitou a ligao de So
Joo del Rei ao Rio de Janeiro. Como em outros momentos de sua histria, os so-joanenses
participavam da realizao de um projeto de interesse pblico, contribuindo com o capital
necessrio para sua implantao.
O progresso chegava pelos trilhos, modificando a paisagem e o cotidiano dos moradores.
As estruturas de ferro da imponente estao, em estilo ecltico, proporcionavam um certoar europeu. A chegada do trem, o movimento de passageiros e mercadorias agitavam este
novo ponto de encontro da cidade. Era comum a presena dos donos de hotis e penses,
oferecendo seus estabelecimentos e suas charretes para os provveis hspedes. Em 1898, do
outro lado do Lenheiro, era inaugurado o Hotel Brasil.
A ferrovia abriu caminho para a implantao de novos armazns, depsitos e fbricas,
como a Companhia Txtil Sanjoanense, inaugurada em 1891. Tambm chegaram os imigrantes,
sobretudo italianos, inovando hbitos e costumes e dinamizando a economia da regio. Hoje
resta apenas o percurso que liga So Joo del-Rei a Tiradentes. A Maria Fumaa encanta turistas
de todas as idades, percorrendo o sop da Serra de So Jos, serpenteando o Rio das Mortes.
O Museu Ferrovirio, inaugurado em 1981, conta a histria da ferrovia, atravs de seus
diversos objetos. A rotunda abriga locomotivas do sculo passado e, entre outros, um vago
fnebre. O complexo ferrovirio funciona como espao para realizao de espetculos e eventos
culturais. O Museu do Estanho exibe peas variadas e mostra como uma tcnica de fundio
e desenho importada da Inglaterra passou a ser reinterpretada pelas mos habilidosas dos
artesos de So Joo del-Rei.
8 CONJUNTO RUA DIREITA
Considerada a via pblica principal da antiga So Joo del Rei, foi o primeiro caminho
dos mineradores que desciam da Serra do Lenheiro. Sua denominao, comum s cidades
coloniais, repete a tradio das vilas crists de chamarem direita a principal rua de acesso
ConjuntoPraa da Estao
ConjuntoRua Direita
ConjuntoRua Direita
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Passo da Via Sacra que abre suas portas para as cerimnias da Quaresma e para a procisso
do Setenrio das Dores de Nossa Senhora, quando o andor enfeitado com ervas aromticas
da Serra do Lenheiro.
No Memorial Tancredo Neves, a histria recente do Brasil narrada atravs da trajetria
poltica desse estadista. No sculo XIX funcionou neste local uma firma de crdito conhecida
pela populao como casa de alugar dinheiro.
O nome oficial da rua homenageia o compositor sacro Padre Jos Maria Xavier, que nela
residiu at sua morte, em 1887. Percorr-la atravessar tempos diversos no mesmo