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XI IRCSA CONFERENCE -- PROCEEDINGS PLANO DE CONVIVÊNCIA COM A SECA ABASTECIMENTO DA POPULAÇÃO RURAL DIFUSA NO SEMI-ÁRIDO DO NORDESTE DO BRASIL DALVINO TROCCOLI FRANCA BRASÍLIA MAIO 2003

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XI IRCSA CONFERENCE -- PROCEEDINGS

PLANO DE CONVIVÊNCIA COM A SECA

ABASTECIMENTO DA POPULAÇÃO RURAL

DIFUSA NO SEMI-ÁRIDO DO NORDESTE DO BRASIL

DALVINO TROCCOLI FRANCA

BRASÍLIA MAIO 2003

XI IRCSA CONFERENCE -- PROCEEDINGS

XI CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE SISTEMAS DE CAPTAÇÃO DE ÁGUAS DE CHUVA

SUMÁRIO

PARTE I

O NORDESTE, O SEMI-ÁRIDO E O POLÍGONO DAS SECAS

PARTE II PLANO DE CONVIVÊNCIA COM A SECA ABASTECIMENTO DA POPULAÇÃO RURAL DIFUSA NO SEMI-ÁRIDO DO NORDESTE DO BRASIL

ALTERNATIVAS TECNOLÓGICAS -CONVIVÊNCIA COM A SECA Aproveitamento das águas de chuva

1 CISTERNAS RURAIS2 SISTEMAS SIMPLIFICADOS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA

PARA COMUNIDADES RURAIS3 DESSALINIZAÇÃO DE ÁGUAS4 BARRAGENS SUBTERRÂNEAS5 MOBILIZAÇÃO E CONTROLE

SOCIAL,CAPACITAÇÃO,PESQUISA E DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO

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PARTE I

O NORDESTE, O SEMI-ÁRIDO E O POLÍGONO DAS SECAS Região Semi-árida do Brasil e o Polígono das Secas

MA

PI

CERN

PB

PE

AL

SE

BA

MG

ES

Seçã o de C arto grafia e G eopro cessam ento

POLÍGONO DAS SECAS

SEMI-ÁRIDO ( isoieta 800mm )

Fonte: SUDENE - CPE/EEP/SRU

O Nordeste brasileiro está situado logo abaixo da linha do Equador, ocupando a posição norte-oriental do País, entre 1º e 18º30’de latitude sul e 34º 20’e 48º 30’de longitude Oeste de Greenwich. Abrange um total de 1.787 municípios, distribuídos por nove Estados: Maranhão, com 217 municípios; Piauí, com 221; Ceará, com 184; Rio Grande do Norte, com 166; Paraíba, com 223; Pernambuco, com 185; Alagoas, com 101; Sergipe, com 75 e Bahia, com 415.

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Também faz parte desta área, o Distrito Estadual de Fernando de Noronha, em Pernambuco. Das capitais estaduais, três delas, representam as Regiões Metropolitanas do Nordeste: Fortaleza, Recife e Salvador. Em 2000, a população total do Nordeste era 47,7 milhões de habilitantes, o que correspondia a 28 % da população brasileira. Deste total 32,9 milhões representavam a população urbana, e 14,8 milhões a rural. A densidade demográfica da Região era de 30,5 hab/ Km2. O NORDESTE

ÁREA: 1.561.177 km2 18,3% doTerritório Nacional POPULAÇÃO: 47.741.711 Habitantes 23.413.914 Homens 24.327.797 Mulheres POPULAÇÃO URBANA : 32.975.425 POPULAÇÃO RURAL : 14.766.286 IDH – M (1996) = 0,608 Fontes: 1- Censo Demográfico 2000 IBGE 2- IDH: IPEA/ FJP – Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil A Região Nordeste ocupa 18,27% do território brasileiro, com uma área de 1.561.177,8 Km2. Deste total, 962.857,3 Km2 situam-se no Polígono das Secas, delimitado em 1936, através da Lei 175, e revisado em 1951. O Polígono abrange oito Estado nordestino – o Maranhão é a única exceção -, além da área de atuação da Sudene em Minas Gerais, com 121.490,9 Km2 , e compreende as áreas sujeitas repetidamente aos efeitos das secas.

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No contexto intertropical do Brasil, o Nordeste é a região que possui a maior diversidade de quadros naturais. Dentre os domínios de paisagem ou de condições morfo climáticas do país, praticamente todos eles ocorrem no Nordeste. Há, porém, um fato que singulariza o Nordeste em comparação com as demais regiões brasileiras. Trata-se da vasta porção do seu território que está submetida aos efeitos do clima semi-árido. Já o Semi-Árido ocupa 841.260,9 Km2 de área no Nordeste e outros 54.670,4 Km2 em Minas Gerais e caracteriza-se por apresentar reservas insuficientes de água em seus mananciais.

REGIÃO DO SEMI-ÁRIDO DA BAHIA (Casa Nova-BA -julho 2002) As secas são influenciadas por diversos fatores, dentre os quais vale destacar: diferença de temperatura superficial das águas do Atlântico Norte, que são mais quentes, e do Sul, frias; deslocamento da Zona de convergência intertropical para o Hemisfério Norte, em épocas previstas pelo aumento da temperatura no Sul; e o aparecimento do fenômeno conhecido como El Niño, caracterizado pelo aumento de temperatura no Oceano Pacífico Equatorial Leste. A topografia acidentada do Nordeste e alta refletividade da crosta são os principais fatores locais inibidores da produção de chuvas.

As chuvas caem com totais pluviométricos irregulares e inferiores a 900 mm. Normalmente são superadas pelos elevados índices de evapotraspiração, configurando taxas negativas no balanço hídrico. A irregularidade das chuvas pode ir a condições extremas de que resultam os anos de seca. O caráter espasmódico dessas chuvas e sua excessiva concentração condiciona a vida agro-pastoril que é maçada pela incerteza. Disso resulta a debilidade e vulnerabilidade da economia rural do semi-árido. O SEMI-ÁRIDO

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O Semi-Árido Brasileiro se estende por uma área que abrange a maior parte de todos os estados da Região Nordeste (86,48%), a região setentrional do estado de Minas Gerais (11,01%) e o norte do Espírito Santo (2,51%), ocupando uma área total de 974.752 Km2. Apenas uma pequena parcela da região tem uma média pluviométrica anual inferior a 400mm. No semi-árido como um todo, essa média sobe para 750mm por ano. Elevado potencial de perda de água por Evapotranspiração, que chega a 2.500mm ao ano;

REGIÃO DO SEMI-ÁRIDO DA BAHIA(Casa Nova -BA julho 2002) O desenvolvimento sócio-econômico da região semi-árida tem sido negativamente influenciado por essas condições climáticas, que têm gerado, historicamente e nos anos recentes, com freqüência, episódios de seca de média e longa duração. Aliada às adversidades climáticas ressalte-se a inexistência de uma política eficiente e continuada de gestão dos recursos hídricos da região. Esses aspectos têm contribuído sensive1mente para aumentar a vulnerabilidade do semi-árido brasileiro, com graves conseqüências para a população, trazendo prejuízos econômicos e sociais de incalculável montam. Em 1980, o censo do IBGE apontou uma distribuição eqüitativa da população do Nordeste em que 50,46% viviam na zona urbana e 49,54%, na rural. No entanto, entre 1980 e 2000, houve uma redução na população rural, que emigrou para as grandes cidades, devido às secas ocorridas neste período. De acordo com o censo de 2000 (47.741.711 hab.), 69,07% dos nordestinos estavam nas áreas urbanas e 30,93% permaneciam no interior. Em 2000, a população total do semi-árido era 19.1 milhões de habilitantes. Deste total 10.8 milhões representavam a população urbana, e 8.3 milhões a rural.

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SEMI–ÁRIDO – População do Semi-Árido em 1991 e 2000 Ano População – Semi-Árido 1991 2000

Urbana 14,9 10,8 Rural 11,4 8,3 Total 26,3 19,1 Fonte: Ano de 1991 – Projeto Áridas Ano de 2000 – IBGE É verdade que a oferta de água no semi-árido brasileiro aumentou, inicialmente através da ação desenvolvida pela Inspetoria de Secas e, posteriormente, pelo DNOCS, pela CHESF, pelo DNOS, pela CODEVASF, pela SUDENE, pelos governos estaduais, e até pela iniciativa de particulares. Mas é forçoso reconhecer que a acumulação de águas pura e simples não pode assegurar o desenvolvimento de uma região pois, se assim o fosse, as planícies ribeirinhas do São Francisco, ricas em água, também ricas seriam em termos econômicos e sociais, o que não condiz com a realidade.

Fonte: Censo Demográfico IBGE 2000 – Municípios do Semi-Árido – MDA

UF POPULAÇÃO (2000)TOTAL URBANA RURAL

PI 855.078 379.238 475.840CE 3.735.542 2.173.353 1.562.189RN 1.352.320 935.233 417.087PB 1.963.959 1.231.534 732.425PE 3.182.862 1.867.518 1.315.344AL 746.622 405.099 341.523SE 414.032 215.072 198.960BA 6.320.019 3.327.533 2.992.486

MG (NORTE) 596.755 320.706 276.049TOTAL 19.167.189 10.855.286 8.311.903

PROGRAMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA POPULAÇÃO RURAL DIFUSA NO NORDESTE DO BRASIL

REGIÃO SEMI-ÁRIDO – NE

POPULAÇÃO

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Reservatórios de Grande Porte

0,05 PiripiriPé de SerraLongá

0,59 CaracolCaracolCanindé

0,60 Campo MaiorCampo MaiorLongá

0,91 Simplicio MendesDos PoçosCanindé

1,28 PiripiriAnajásLongá

3,82 BonfimBonfimPoti

4,29 BeneditinosBeneditinosPoti

7,24 S. Raimundo NonatoAldeiaCanindé

9,02 Dom InocêncioNonatoCanindé

10,67 Pedro IIJoanaLongá

24,70 Pio IXCajazeirasCanindé

25,72 PaulistanaIngazeirasCanindé

51,00 CocalAlgodõesLonga

52,80 FronteirasBarreirasCanindé

54,60 PiripiriCaldeirãoLonga

106,00 BocainaBocainaCanindé

181,00 S. Raimundo NonatoPetrônio PortelaCanindé

185,00 S. João do PiauíJenipapoCanindé

216,00 Conceição do CanindéPedra RedndaCanindé

5.000,00 GuadalupeBoa esperançaA. Parnaíba

CAPACIDADE (hm3)MUNICÍPIORESERVATÓRIOBACIA

Nessa mesma linha de raciocínio não deveria, por exemplo, o Estado do Piauí apresentar o baixo nível de desenvolvimento que apresenta, assim como desenvolvida e rica deveria ser a região do entorno do açude Eng° Armando Ribeiro Gonçalves, no Rio Grande do Norte, tanto quanto a região da bacia do rio Vaza-Barris, na Bahia, onde está situado o açude Cocorobó, apenas para ficar nessas poucas ilustrações. Não há como se negar o esforço governamental, apesar das dificuldades, no sentido de minorar o déficit hídrico no semi-árido, tanto pelos recursos aplicados na implantação de açudes, quanto pela produção, ainda que não muito bem ordenada, de conhecimentos relativos à realidade concreta do semi-árido Aqui se justifica a ressalva pela qual se sustenta a falta de ordenação desses esforços em razão da multiplicidade de organismos, em épocas diversas, que desenvolveram estudos sobre a região e/ou implementaram ações na mesma. Aliado a esse fato é de considerar-se, também, a prática da descontinuidade de ações após cada qüinqüênio ou quatriênio de gestão de governo. Por outro lado, a principal política aplicada ao semi-árido por décadas, e que tomou a denominação de açudagem, conquanto tenha produzido inúmeras coleções de água espalhadas por todo o território dessa região, não se mostrou capaz o suficiente para dar inicio, e, sobretudo sustentabilidade, ao desenvolvimento.

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Faltava-lhe –e hoje se reconhece essa lacuna - a integração da grande obra acumulação de água com as intervenções e equipamentos que lhes dessem conseqüência. colocando os recursos hídricos ao alcance do usuário. Vem-lhe faltando, também, isso já em anos mais recentes, um consistente programa de gerenciamento dos recursos hídricos, tendo em vista o crescimento alarmante da demanda exercida por usuários competidores, com o conseqüente florescimento do chamado princípio dos usos múltiplos, até há pouco menos de uma década atrás inteiramente ignorado no País. Esse fenômeno ficou bem evidenciado pelo comportamento dos usuários da água, cuja disputa tem dado lugar à ocorrência de conflitos de uso.

REGIÃO DO SEMI-ÁRIDO –PERNAMBUCO (Petrolina-PE julho 2002) São, portanto, de duas origens, basicamente, os problemas que a sociedade brasileira que habita o semi-árido enfrenta em relação aos recursos da água. Em primeiro lugar está a filosofia dos projetos de aproveitamento desse recurso natural, que, tradicionalmente, não integram, desde sua concepção, as faces de acumulação e de utilização de água. Não se pretende, com isso, afirmar, que os investimentos para as obras e intervenções do segmento de utilização da água devam ser realizados pelo poder público. Aqui não se discute esse mérito, pois a questão de o empreendimento ser de responsabilidade pública ou privada depende tanto mais das características e da evolução de cada setor usuário. Em segundo lugar, mas não menos importante, está a questão do planejamento do uso e da gestão da água bruta. A moderna gestão dos recursos hídricos impõe a prática de determinados princípios. Aí se alinham: (i) adoção da bacia hidrográfica como unidade fisico-territorial de planejamento; (ii) usos múltiplos da água; (iii) reconhecimento da água como bem econômico e, como tal, dotado de valor econômico; e (iv) gestão descentralizada e participativa. Quanto ao primeiro princípio, é relevante assinalar que a relação do semi-árido brasileiro com o desenvolvimento econômico e social é comandada pela existência de bacias hidrográficas importantes, as quais devem ser aproveitadas de forma racional, delas extraindo-se o máximo beneficio social-econômico -nesta ordem -aí considerada a valoração do componente ambiental .

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No que se refere ao principio dos usos múltiplos, afigura-se, no contexto do semi-árido brasileiro, um compromisso prioritário, e vital, com o abastecimento humano. Fato que, no entanto, não retira da agricultura irrigada e da geração de energia elétrica a importância que estas atividades detêm na base produtiva da região. Também não se deve omitir, em se tratando dos vários usos da água, o relevante papel da navegação em algumas calhas fluviais da região, destacando-se os rios São Francisco e Parnaíba, importantes eixos de transporte intermodal do País. O reconhecimento do valor econômico da água indicação do terceiro princípio encontra no semi-árido brasileiro o seu terreno de eleição. Em verdade, a assimilação desse princípio não pode ser tão óbvia quanto o é no semi-árido Primeiramente em razão da flagrante dicotomia entre procura e oferta de água observada na região. Aliado a esse fator, a experiência do governo brasileiro, através da execução de grandes obras e empreendimentos no semi-árido faz com que a apropriação dos custos para a obtenção da água, associada ao próprio confronto entre demandas e disponibilidades, sirvam de elementos balizadores do mecanismo de formação do preço pelo uso da água em cada bacia hidrográfica, base do sistema de cobrança que o País como um todo já se prepara para implantar. A cobrança pelo uso da água constitui uma das ricas ferramentas indutoras do uso racional da água. É verdade que outros instrumentos, como as campanhas educativas, os apelos de civilidade, tanto quanto o proselitismo no sentido do cumprimento do dever são úteis na formulação de um consistente programa de gestão de recursos hídricos. Reconhece-se, todavia; que tudo isso não é capaz de fomentar consciência entre os usuários quando eles competem entre si por determinado recurso. É necessário que, de um lado a autoridade competente adote medidas administrativas que estabeleçam as normas de uso e, de outro, que essa mesma autoridade, encarregada da gestão dos recursos hídricos, implante a cobrança pelo uso da água, como instrumento regulador da repartição do uso entre os interessados.

Esse mecanismo de cobrança cresce em importância sobretudo em situações de escassez da água, esta aliás a forma mais eloqüente de se definir semi-árido, pois, toda vez que um recurso se torna escasso é necessário estabelecer critérios de repartição que compatibilizem as disponibilidades com as demandas, com a condição suplementar de satisfazer os usuários. Esse problema não é novo na história da economia que é a ciência que lida com o escasso. Em verdade, lidar com o escasso é a essência da experiência do homem que, com o tempo, transformou essa experiência em ciência econômica, com conceitos regras e princípios próprios. Daí porque a ênfase no instituto da cobrança pelo uso da água no semi-árido brasileiro

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. Por fim, o princípio segundo o qual a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e participativa constitui uma imposição dos dias atuais, como que decretando que todos os atores presentes ou interessados no uso dos recursos da bacia hidrográfica devem se fazer presentes, também, diretamente ou por meio de representação, no processo de decisão. Nesse sentido, não apenas a governos se deve atribuir responsabilidades no que concerne á decisão sobre o uso dos recursos naturais da região. Também os usuários e a sociedade civil organizada devem ser ouvidos e devem tomar parte nas discussões que darão balizamento às decisões das autoridades encarregadas do planejamento e da gestão dos recursos hídricos.

Aprender a conviver com a seca 02-01-99 [ Velho problema do Nordeste pode ser resolvido a partir do acúmulo de capital social ] [ Região Sul dá o exemplo com seu “pacto territorial” ] Ao entrevistar Celso Furtado,Na Revista Econômica do Nordeste 28. “Uma das suas grandes contribuições foi pensar diferentemente no problema que atingia o Nordeste. Defendia que a questão era mais econômica, com um processo histórico envolvido, do que propriamente físico-geográfica, onde a seca apenas acionava as fragilidades ali existentes. Essa visão permanece?”

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Celso Furtado: “Sim permanece. (...) O que percebi é que a seca era engendrada por uma crise social. A verdadeira crise era social, e não econômica. (...) Todavia, a compreensão de que a seca é um problema ecológico foi para mim definitiva, pois percebi o que iria ocorrer mais tarde: o Nordeste se enriquece e continua com esse ponto fraco.”

Essa visão de que o problema é mais de escassez de confiança que de escassez de água coincide com o consenso que vem se formando no âmbito de organizações internacionais como o BIRD, BID, FAO, e CEPAL, sobre o ‘capital social’ como turbina do desenvolvimento. O que aumenta a eficiência da sociedade, facilitando ações coordenadas, são características como confiança, normas e convenções.

Uma tese que ganhou muita força com a ampla pesquisa sobre o contraste entre o norte e o sul da Itália coordenada por Robert Putnam: Comunidade e Democracia: a experiência da Itália moderna (RJ:FGV,1996).

Infelizmente ninguém sabe direito o que é preciso fazer para criar capital social onde ele quase não existe. Trata-se, no fundo, da construção de um novo sujeito coletivo do desenvolvimento que deve exprimir a capacidade de articulação das forças dinâmicas de uma determinada micro/ mesorregião , como sugere o trabalho do professor Ricardo Abramovay intitulado “Capital social dos territórios: repensando o desenvolvimento rural”. O que é possível dizer é que essa capacidade de articulação depende de pelo menos cinco requisitos: a mudança do ambiente educacional; a formação de redes que extrapolem os limites setoriais; a formação de associações ou consórcios inter-municipais; a criação de novos mercados que valorizem as potencialidades regionais territorializadas; e o apoio organizado de instituições de ensino superior (principalmente universidades) da própria região.

Essa capacidade de articulação vem se revelando no Sul do Brasil em torno do que tem sido chamado de “pacto territorial”. Isto é, um consenso que permite conseguir outros cinco trunfos: mobilizar os atores em torno de uma ‘idéia guia’; contar com o seu apoio não apenas na execução, mas na própria elaboração do projeto; fazer com que esse projeto seja orientado para o desenvolvimento das atividades de um território; realizá-lo em um tempo definido; e criar uma entidade gerenciadora que expresse a unidade (sempre conflituosa) entre os protagonistas do pacto.

Só quando esse tipo de articulação ocorrer pelo semi-árido afora é que o Nordeste poderá se livrar de seu terrível “ponto fraco”, para usar a curiosa elocução de Celso Furtado.

Em vez de teimar em “combater” a seca, o acúmulo de capital social certamente indicará quais são as melhores maneiras de com ela conviver.

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Assentamento de Reforma Agrária noPIAUÍ 2002

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Breves considerações sobre o espaço URBANO e o RURAL

“O Brasil verdadeiramente urbano” [Cidade com apenas 18 habitantes tem o mesmo peso de metrópoles, em estatísticas oficiais] [É preciso combinar população, densidade demográfica e localização] José Eli da Veiga é professor titular da FEA-USP e secretário do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS). www.fea.usp.br/professores/zeeli O que impede um bom entendimento do processo de urbanização do Brasil é uma regrinha muito peculiar, que talvez seja única no mundo. Este País considera urbana toda sede de município (cidade) e de distrito (vila), sejam quais forem suas características. O caso extremo está no Rio Grande do Sul, onde a sede do município União da Serra é uma cidade na qual o recenseamento de 2000 só encontrou 18 habitantes. Nada grave se fosse extravagante exceção. No entanto, é ignorância supor que se trate de algumas poucas aberrações, incapazes de atrapalhar a análise da configuração territorial brasileira.

Em 2000 havia 1.176 sedes de município com menos de 2 mil habitantes, 3.887 com menos de 10 mil, e 4.642 com menos de 20 mil, todas com status legal de cidade idêntico ao que é atribuído aos inconfundíveis núcleos que formam as regiões metropolitanas, ou que constituem evidentes centros urbanos regionais.

E todas as pessoas que residem em sedes, inclusive em ínfimas sedes distritais, são oficialmente contadas como urbanas, alimentando esse disparate segundo o qual o grau de urbanização do Brasil teria atingido 81,2% em 2000.

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Muitos estudiosos procuraram contornar esse obstáculo pelo uso de uma outra regra, ou convenção. Para efeitos analíticos, não se deveriam considerar urbanos os habitantes de municípios pequenos demais, com menos de 20 mil habitantes.

A grande vantagem desse critério é a simplicidade. Todavia, há muitos municípios com menos de 20 mil habitantes que têm altas densidades demográficas, e uma parte deles pertence a regiões metropolitanas e outras aglomerações. Dois indicadores dos que melhor caracterizam o fenômeno urbano. Ou seja, para que a análise da configuração territorial possa de fato evitar a ilusão imposta pela norma legal, é preciso combinar o critério de tamanho populacional do município com pelo menos outros dois: sua densidade demográfica e sua localização. Não há habitantes mais urbanos do que os residentes nas 12 aglomerações metropolitanas, nas 37 demais aglomerações e nos outros 77 centros urbanos identificados por pesquisa que juntou excelentes equipes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), e da Universidade de Campinas (Unicamp). Nessa rede urbana, formada pelos 455 municípios dos três tipos de concentração, estavam 57% da população em 2000. Esse é o Brasil inequivocamente urbano. O problema, então, é distinguir entre os restantes 5.052 municípios existentes em 2000 aqueles que pertenciam ao Brasil rural e os que se encontravam no meio-de-campo, em situação ambivalente. E para fazer este tipo de separação, o critério decisivo é a densidade demográfica, pois é ela que está no âmago do desejável, mas ainda inexistente, índice de pressão antrópica, o indicador que revelaria o grau de artificialização dos ecossistemas e, portanto, do efetivo grau de urbanização dos territórios. Quando se observa a evolução da densidade demográfica conforme diminui o tamanho populacional dos municípios, não há como deixar de notar duas quedas abruptas. Enquanto nos municípios com mais de 100 mil habitantes, considerados centros urbanos pela citada pesquisa IBGE /Ipea /Unicamp, a densidade média é superior a 80 habitantes por quilômetro quadrado (hab/km2), na classe imediatamente inferior ela desaba para menos de 20 hab/km2. Fenômeno semelhante ocorre entre as classes superior e inferior a 50 mil habitantes, quando a densidade média torna a cair, desta vez para 10 hab/km2. Esses dois tombos permitem que se considere de pequeno porte os municípios que têm simultaneamente menos de 50 mil habitantes e menos de 80 hab/km2, e de médio porte os que têm população no intervalo de 50 a 100 mil habitantes, ou cuja densidade supere 80 hab/km2, mesmo que tenham menos de 50 mil habitantes. Com a ajuda deste tripé analítico, percebe-se facilmente que 13% dos habitantes não pertencem ao Brasil indiscutivelmente urbano, nem ao Brasil essencialmente rural, no qual residem 30% dos habitantes. Ao contrário da absurda regra em vigor, criada no ápice do Estado Novo pelo Decreto-lei 311/38, esta tipologia permite entender que cidades de fato só existem nos 455 municípios do Brasil urbano.

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As sedes dos 4.485 municípios do Brasil rural são vilarejos, e as sedes dos 567 municípios intermédios são vilas, das quais apenas uma parte se transformará em novas cidades, como indicam as tendências ilustradas na tabela.

A configuração territorial do Brasil em 2000 População (milhões)

Brasil

Número deMunicípios 1991 2000

Peso relativoem 2000 %

Variação 1991-2000 (milhões)

Urbano 455 80,2 96,3 57 16,1

Intermédio 567 18,9 21,7 13 2,8 Rural 4485 47,7 51,6 30 3,9 Total 5507 146,8 169,6 100 22,8

Os resultados do Censo Demográfico de 2000 contradizem o senso comum a respeito do Brasil rural. Mostram como é esquisita a unanimidade sobre um “êxodo” populacional supostamente generalizado. Só que antes de comentá-la é preciso explicar o procedimento utilizado para dividir o território em cinco níveis de rarefação, o último dos quais é rural Tudo começa com os 58% dos habitantes que se aboletam em três maciços urbanos. O primeiro é formado por 23 Regiões Metropolitanas (inclusive a Ride brasiliense) e seus respectivos colares ou áreas de expansão. Nelas residem 41% da população brasileira. Apesar de incluírem municípios pequenos, e de baixa densidade populacional, estes devem ser considerados urbanos por causa de sua localização. O mesmo ocorre em 26 outras aglomerações não-metropolitanas, que compõem o segundo elo do Brasil urbano, contendo 8% de sua população total. E outros 9% da população brasileira vivem na terceira teia, formada por 77 centros urbanos que não pertencem a aglomerações.

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Configuração Territorial do Configuração Territorial do Brasil em 2000Brasil em 2000

Tipos Nº de Municípios População (Milhões) Peso Relativo em 2000(%)

Densidade Média(hab/ Km2)

1991 2000

12AglomeraçõesMetropolitanas

200 48,5 57,4 34 773

37Aglomerações

Não Metropolitanas

178 18,5 22,7 13 261

77Centros Urbanos

77 13,2 16,1 10 61

SUBTOTALURBANO

455 80,2 96,3 57 -

INTERMÉDIO 567 18,9 21,7 13 23RURAL 4.485 47,7 51,6 30 7BRASILTOTAL

5.507 146,8 169,6 100 20

Fonte: Dados IBGE 2000 – Estudos Professor José Eli da Veiga - USP Nesses 421 municípios híbridos, chamados aqui de “rurbanos”, a população cresceu 7% no período. E nos restantes 4.990 municípios, que só podem ser considerados rurais, a população aumentou somente 5% - metade do salto urbano - em aparente confirmação do generalizado “êxodo”. Todavia, quando se presta mais atenção nas taxas de crescimento populacional desse oceano de municípios rurais, se percebe enorme freqüência de um mesmo padrão em todas as unidades da Federação (UF). Um grupo de municípios rurais vê suas populações crescerem a um ritmo superior ao da respectiva UF. Em outro grupo também há aumento populacional, mas em cadência inferior à da UF. E, no terceiro, há queda. Como cada um desses grupos oscila em torno de um terço dos municípios da respectiva UF, há interesse em que a totalidade dos municípios rurais seja separada em três partes iguais. Ao fazê-lo, o que mais impressiona é que o aumento populacional do terço superior foi de 16%. Muito maior, portanto, que o do Brasil urbano. Mais intrigante ainda é que em cada uma das 5 grandes regiões, e em todas as 27 UFs, está ocorrendo esse firme adensamento demográfico de significativa parcela dos municípios rurais. Raras são as microrregiões geográficas discrepantes. Além disso, os perfis dos três terços são bem próximos. Por exemplo, os municípios com menos de 20 mil habitantes constituem 80% nos dois grupos superiores, e 90% no terceiro. E a população mediana dos dois primeiros está próxima de 10 mil habitantes, enquanto a do terceiro já caiu para 6,5 mil. Trata-se, portanto, de um verdadeiro processo de coagulação, espalhado por quase todos os recantos rurais do território brasileiro.

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Dito de outro modo, os resultados do Censo Demográfico de 2000 revelam os três compassos do Brasil rural. Há realmente êxodo, tanto nos municípios que estão em marcha ré, como em uma parte dos que engataram uma primeira, ou uma segunda, mostrando-se incapazes de acompanhar o ritmo urbano, que está em terceira. Só que os mais acelerados, ou mais atraentes, estão em quarta, ou até em quinta, com velocidades bem superiores à dos três maciços do Brasil urbano. São coágulos de dinamismo que continuam obscurecidos pela fantasmagórica ilusão de que o Brasil rural está condenado à míngua. Pois, segundo os nebulosos cálculos oficiais, ele se extinguiria em menos de 30 anos, contrariando a evolução histórica de todos os países desenvolvidos. OS CINCO ANÉIS Rarefação populacional, Brasil 1996-2000 ANÉIS

MUNICÍPIOS

POPULAÇÃO (milhões)

AUMENTO 1996-2000

Número 1996 2000 (milhões) % Regiões Metropolitanas (23) 403 62,9 68,9 6,0 10 Aglomerações Urbanas (26) 116 12,3 13,5 1,2 10 Centros Urbanos 77 14,6 16,0 1,4 10 Centros “Rurbanos” 421 17,2 18,5 1,3 7 BRASIL RURAL 4 490 50,1 52,6 2,5 5 TOTAIS 5 507 157,1 169,5 12,5 8

População Rural no Nordeste e no Semi-Árido

AGROVILA ASSENTAMENTO DE REFORMA AGRÁRIA –ESTADO DO PIAUÍ 2002 TRÊS NORDESTES E TRÊS RURAIS Evolução Territorial do Nordeste entre 1991-2000 Nordeste

Número de Microrregiões

População (milhões)

Variação 1991-2000

1991 2000 (milhões) % Urbano 18 16,2 19,1 2,9 18 Rurbano 25 5,6 6,2 0,6 11

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Rural 145 20,7 22,3 1,6 8

Total 188 42,5 47,7 5,2 12 Rural esvaente 51 7,4 7,5 - 1 Rural letárgico 58 8,5 9,2 0,7 8 Rural atraente 36 4,7 5,6 0,9 18

Nordeste Rural 145 20,7 22,3 1,6 8

As populações dos três blocos urbanos tiveram idêntico aumento, de 10% , no período 1996-2000. Diferente do que ocorreu nas encostas desses maciços, formadas por espaços que não chegam a ser urbanos, mas também não são rurais. São municípios com população relativamente elevada (entre 50 e 100 mil), ou ainda com população bem inferior mas com altas densidades demográficas (100 hab/km2 ou mais). Nesses 421 municípios híbridos, chamados aqui de “rurbanos”, a população cresceu 7% no período. E nos restantes 4.990 municípios, que só podem ser considerados rurais, a população aumentou somente 5% - metade do salto urbano - em aparente confirmação do generalizado “êxodo”. Todavia, quando se presta mais atenção nas taxas de crescimento populacional desse oceano de municípios rurais, se percebe enorme freqüência de um mesmo padrão em todas as unidades da Federação (UF). Um grupo de municípios rurais vê suas populações crescerem a um ritmo superior ao da respectiva UF. Em outro grupo também há aumento populacional, mas em cadência inferior à da UF. E, no terceiro, há queda. Como cada um desses grupos oscila em torno de um terço dos municípios da respectiva UF, há interesse em que a totalidade dos municípios rurais seja separada em três partes iguais. Ao fazê-lo, o que mais impressiona é que o aumento populacional do terço superior foi de 16%. Muito maior, portanto, que o do Brasil urbano. Mais intrigante ainda é que em cada uma das 5 grandes regiões, e em todas as 27 UFs, está ocorrendo esse firme adensamento demográfico de significativa parcela dos municípios rurais. Raras são as microrregiões geográficas discrepantes. Além disso, os perfis dos três terços são bem próximos. Por exemplo, os municípios com menos de 20 mil habitantes constituem 80% nos dois grupos superiores, e 90% no terceiro. E a população mediana dos dois primeiros está próxima de 10 mil habitantes, enquanto a do terceiro já caiu para 6,5 mil. Trata-se, portanto, de um verdadeiro processo de coagulação, espalhado por quase todos os recantos rurais do território brasileiro.

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Dito de outro modo, os resultados do Censo Demográfico de 2000 revelam os três compassos do Brasil rural. Há realmente êxodo, tanto nos municípios que estão em marcha ré, como em uma parte dos que engataram uma primeira, ou uma segunda, mostrando-se incapazes de acompanhar o ritmo urbano, que está em terceira. Só que os mais acelerados, ou mais atraentes, estão em quarta, ou até em quinta, com velocidades bem superiores à dos três maciços do Brasil urbano. São coágulos de dinamismo que continuam obscurecidos pela fantasmagórica ilusão de que o Brasil rural está condenado à míngua. Pois, segundo os nebulosos cálculos oficiais, ele se extinguiria em menos de 30 anos, contrariando a evolução histórica de todos os países desenvolvidos.

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PARTE II

ALTERNATIVAS TECNOLÓGICAS -CONVIVÊNCIA COM A SECA Aproveitamento das águas de chuva

1 CISTERNAS RURAIS2 SISTEMAS SIMPLIFICADOS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA

PARA COMUNIDADES RURAIS3 DESSALINIZAÇÃO DE ÁGUAS4 BARRAGENS SUBTERRÂNEAS5 MOBILIZAÇÃO E CONTROLE

SOCIAL,CAPACITAÇÃO,PESQUISA E DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO

DALVINO TROCCOLI FRANCA

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PLANO DE CONVIVÊNCIA COM A SECA ABASTECIMENTO DA POPULAÇÃO RURAL DIFUSA NO SEMI-ÁRIDO DO NORDESTE DO BRASIL

CONCEITOS / FUNDAMENTOS

Segurança Alimentar,Água para Famílias do Semi-Árido

Breve Histórico

No processo de construção do Plano, foram resgatadas as experiencias desde os idos do final da década de 70, quando a Igreja Católica já trabalhava, na perspectiva de soluções para a questão da água de beber, e mais fortemente a partir de 90, quando grandes mobilizações foram encampadas em todo semi-árido.

Aconteceram diversas ações e iniciativas em Rede com a Contag, Cáritas, Rede PTA, Articulação Água, Fórum Ambientalista, Mutirão Nordeste, etc. A sociedade civil encaminhou ao governo federal, em 1993, o Programa de Ações Permanentes que abordava aspectos de desenvolvimento para o semi-árido. Nesse período surgiram alguns fóruns estaduais, tais como: Focampo-RN, Articulação do Semi-Árido Paraibano-PB, Fórum Seca-PE, dentre outros.

De 15 a 26 de novembro de 1999, Recife foi sede da 3a Conferência das Partes

da Convenção de Combate à Desertificação e à Seca – COP3, patrocinada pelas Nações Unidas. Na ocasião, a sociedade civil organizada e atuante na região do semi-árido brasileiro, reproduzindo a experiência da RIO 92, promoveu o Fórum Paralelo da Sociedade Civil à COP3. Lá aconteceram seminários, exposições, encontros, oficinas, conferências, exibições de vídeos, apresentações artísticas e culturais, com a participação de diversas entidades dos cinco continentes. A repercussão do evento

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assumiu grandes proporções nos níveis local e nacional, dando visibilidade às questões do semi-árido brasileiro.

Esse processo foi coordenado pela Articulação no Semi-Árido Brasileiro – ASA, criada em julho de 1999, que tomou como base para a sua missão o documento-síntese das discussões da COP3, intitulado Declaração do Semi-Árido que foi elaborado com o consenso dos diversos segmentos ali representados, tais como: ONGs de desenvolvimento e ambientalistas, movimento sindical de trabalhadores e trabalhadoras rurais, igrejas católicas e evangélicas, agências de desenvolvimento, pesquisadores, etc.

Em fevereiro de 2000 a ASA promoveu um encontro visando a constituição e o funcionamento da articulação onde se definiu a sua identidade enquanto espaço de articulação política da sociedade civil. O encontro permitiu, ainda, estabelecer a formatação da Articulação, sendo redigida e aprovada sua Carta de Princípios

A experiência das Organizações da Sociedade Civil que trabalham no semi-árido

com ações como a construção de cisternas têm mostrado que, tanto as instituições quanto as comunidades, necessitam de experimentos demonstrativos antes de adotarem qualquer nova tecnologia ou novos comportamentos.

Nesse sentido,o Convênio ASA com o Ministério do Meio Ambiente teve como objetivo principal a elaboração do P1MC-– Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semi-Árido: Um Milhão de Cisternas Rurais dentro de uma ótica efetivamente participativa, capaz de envolver um número significativo de atores nesse processo, de forma que eles se sentissem co-responsáveis pelo Programa. A implementação de 500 cisternas permitiu realizar experimentos muito úteis para o processo de mobilização e sensibilização de comunidades e instituições governamentais e não-governamentais.

Posteriormente, em fins de 2001 foi celebrado convênio entre a Agência Nacional de Águas – ANA e a ASA, para o atendimento de 12.400 famílias. A implantação dessas 12.400 cisternas permitiu também testar e confirmar hipóteses e modelos operacionais de atendimento, além de promover a capacitação de técnicos, pedreiros e mestres-de-obras, das instituições e das famílias beneficiadas pelo Programa, bem como capacitações para os gestores NÃO GOVERNAMENTAIS em administração e gestão de politicas públicas.

Esta proposta expressa o que foi acordado pelo conjunto da sociedade civil mobilizada na ASA. Para um período de cinco anos, à base de um processo dinâmico e altamente participativo, foi estabelecida a meta de capacitar famílias e parceiros e construir um milhão de cisternas rurais.

É necessária a compreensão de que, para o momento inicial no desenvolvimento do trabalho de mobilização social, capacitação, construção e gestão de cisternas, foi necessário proceder ao fortalecimento institucional das organizações de base parceiras, durante a implementação do programa já no primeiro ano, uma vez que serão elas as responsáveis pelo suporte técnico e operacional do P1MC, garantindo sua eficiência e eficácia.

.O Programa está previsto para ser implementado em 5 anos( 2003 / 2002007) com custos totais de 424,3 milhões de dólares americanos. Deste custo total, 354,0 milhões são referentes à construção das cisternas (83,5% em benefício material direto para as famílias), para os quais estas contribuirão com o valor não financeiro estimado em 90,0 milhões, (21% do custo total, contrapartida em trabalho e materiais), derivando-se

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assim um custo financeiro unitário de U$ 334,27 por família. Os componentes de mobilização, capacitação, fortalecimento institucional, gestão e contingências (este último de 20 milhões) respondem pelos 90 milhões de dólares restantes.

O desencadeamento do Programa criou no semi-árido a grande expectativa

de que a parceria entre sociedade civil e governo pode, efetivamente, transformar as políticas públicas voltadas ao bem-estar social.

Com a sociedade mobilizada, as ações voltadas ao desenvolvimento regional poderão ser passíveis do "controle social" e, desta forma, beneficiar todos os segmentos, eliminando o domínio secular de grupos que se apropriam dos recursos públicos voltados àquele fim.

Esse processo de construção participativa tem ampliado o contato e estreitado as relações entre as organizações sociais no semi-árido, promovendo uma maior discussão a respeito das possibilidades regionais. É visível que a mobilização resultante da construção participativa criou uma aproximação entre os atores sociais e induziu a organização para o desenvolvimento regional.

O Programa conta, hoje, com o apoio incondicional da sociedade civil, no sentido de fazer com que as relações Governo/Sociedade sejam mediadas por critérios éticos e transparentes na construção de um futuro digno para a população local, destacando-se o combate a miséria, a fome e a pobreza, buscando a garantia dos direitos básicos de cidadania e segurança alimentar.

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No semi-árido brasileiro, a escassez de água para o consumo humano ainda é um drama social, principalmente, durante as secas. Nesses períodos, a necessidade diária de se buscar água para o consumo doméstico obriga, sobretudo as mulheres e crianças, a longas caminhadas. Dos 3,3 milhões de domicílios rurais do Nordeste, indicados pelo PNUD, é provável que mais de dois terços se encontrem nesta situação. Na maioria dos casos, sem outras alternativas, é utilizada água imprópria e por vezes contaminada para o consumo humano. Há ocasiões em que se esperam dias, e até semanas, pelo abastecimento do caminhão-pipa.

2.200.000DOMICÍLIOS RURAIS DO NORDESTE NÃO DISPÕEM DE ÁGUA

DE BOA QUALIDADE

1 HORA / DIA

(mulheres e crianças)

Deslocamento e tempo gasto na obtenção de água

FONTESDE ÁGUA

3 km média

Pesquisa realizada em 1999 pela DIACONIA na região do Alto Pajeú-PE1 demonstra que, durante todo o ano, as famílias despendem mais de 1 hora/dia na obtenção de água para seu consumo. O que sinaliza para uma média de, pelo menos, 30 horas/mês, ou quatro dias de trabalho/mês.

Segundo a EMBRAPA, na época da seca, uma família com cinco pessoas despende uma média mensal de três dias-homem para obter água. Registram-se, ainda, perdas de cinco semanas por ano de trabalho, em decorrência de diarréias contraídas pelo consumo de águas contaminadas.

O Fundo das Nações Unidas para Infância – UNICEF, a partir de dados do Ministério da Saúde, alerta para o fato de que, a cada quatro crianças que morrem na região, uma deixa a vida acometida por diarréia, conseqüência indesejável do consumo de água imprópria.

1 DIACONIA. Diagnóstico da Situação Hídrica de 22 Comunidades do Sertão do Pajeú. Recife, Diaconia, 1999.

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Os custos diretos ou indiretos desta situação, financeiros e sociais, são imensos e se repetem com uma freqüência inaceitável, principalmente, quando se considera que, segundo a Constituição Federal, a saúde é dever do Estado e direito de todos.

ABASTECIMENTO DA POPULAÇÃO RURAL DIFUSA NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO

Por outro lado, o trabalho de diversas organizações da sociedade civil vêm mostrando, na prática, que é possível mudar esse quadro. Já existem centenas de experiências bem-sucedidas de captação e armazenamento de água de chuva, por meio de cisternas rurais, integradas a um processo educativo para um bom gerenciamento no uso da água. Os impactos desses trabalhos, vivenciados na última grande seca (1998/1999) foram, indiscutivelmente, marcantes, no que diz respeito ao acesso à água de qualidade para o consumo humano e, conseqüentemente, à melhoria da saúde das famílias, principalmente, das crianças.

Pesquisa informal realizada pelo MOC-BA, constatou que, após o consumo da

água da cisterna pela família, os casos que apresentavam um ano antes (conforme exames realizados) contaminação, principalmente por coliformes fecais, e após tratamento, nenhum deles apresentavam qualquer indicio de contaminação, de acordo com exames realizados um ano após a intervenção.

Outro indicativo da importância das cisternas rurais no fornecimento de água para o consumo humano pode ser observado na pesquisa realizada pela DIACONIA. Revelou-se que os gastos com água de beber, cozinhar e fazer higiene bucal (consumo humano) são, em média, da ordem de 8,9 litros/pessoa/dia, ou 16.000 litros/família/ano.

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Tomou-se como referência o ano de 1999, que foi de seca severa na região do Pajeú, e ainda o município onde menos choveu nessa região – Iguaracy, com 344,6mm. A partir dessa pluviometria, multiplicando-se pelo potencial médio de captação de água da chuva dos telhados residenciais das famílias da referida pesquisa (78m2), subtraindo-se 10% de perdas, pode-se concluir que seria possível uma captação mínima de 24.000 litros de água por residência.

Fonte: Diagnóstico da Situação Hídrica de 22 Comunidades do Sertão do Pajeú. Recife, Diaconia, 1999.

O argumento central que justifica a implementação de um Programa da natureza

deste ,é justamente o aproveitamento máximo dos recursos hídricos numa região onde a água é ponto de estrangulamento ao bem-estar humano.

Logicamente, esse aproveitamento só será possível mediante ações concretas de educação, capazes de dar aos atores regionais uma nova visão a respeito do ambiente em que vivem.

Por isso, essa proposta busca, primordialmente, o estabelecimento de uma nova organização social no semi-árido, onde as políticas públicas sejam efetivamente voltadas a soluções definitivas, fortalecendo e afirmando a região como viável do ponto de vista sócio-econômico.

Estimativa do volume de água captado durante a seca segundo vários indicadores de pluviosidade Grupos de

m2 de Telhados

Área Média 220mm (em

30% da área)

358 mm (em 40% da área)

461 mm (em 20% da área)

604 mm (em 10% da área)

Até 40 29 4,78 7,78 10,00 13,13 40,1 a 50 47 7,75 12,62 16,25 21,29 50,1 a 60 54 8,91 14,50 18,67 24,46 60,1 a 70 67 11,05 17,99 23,16 30,35 70,1 a 80 75 12,37 20,14 25,93 33,97 80,1 e mais 106 17,49 28,46 36,65 48,02 Média 84 13,86 22,55 29,04 38,05

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Em outras palavras, é fundamental uma (re)educação capaz de levar o sertanejo a uma nova relação/interação com o ambiente. Várias são as experiências que, partindo de soluções simples e não raro cotidianas, podem melhorar a vida do povo do sertão.

Mesmo em anos de seca, em condições normais, chove em média 250mm no semi-árido, o que é água suficiente para, se devidamente armazenada, abastecer as famílias nos períodos críticos de seca. Ante o fenômeno da seca, é preciso fortalecer a população local para uma relação de convivência e não de combate. A proposta é a ampliação das experiências das organizações sociais. Durante anos, elas vêm trabalhando junto às comunidades locais do semi-árido na busca de soluções para o convívio salutar Ser Humano-Natureza. A captação e o armazenamento da água da chuva têm se mostrado uma experiência bastante promissora, não apenas pelo estoque d'água para os períodos críticos de seca, mas, principalmente, por permitir e facilitar a introdução de um processo efetivo e permanente de organização e mobilização social e de formação para a gestão de recursos hídricos.

ABASTECIMENTO DA POPULAÇÃO RURAL DIFUSA NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO

SEGURANÇA ALIMENTAR

ÁGUA UM DIREITO ESSENCIALDA VIDA E DA CIDADANIA

OBJETIVOS

Contribuir, através de um processo educativo, para a transformação social, visando a preservação, o acesso, o gerenciamento e a valorização da água como um direito essencial da vida e da cidadania, ampliando a compreensão e a prática da convivência sustentável e solidária com o ecossistema do semi- árido.

Os Fundamentos do Programa I – Contribuir com o desenho e a implementação de políticas públicas focadas na mitigação dos efeitos da seca e na identificação de modelos de desenvolvimento sustentável destinados ao atendimento de famílias rurais, localizadas no semi-árido a partir do aproveitamento das águas de chuva; II- Ofertar alternativas tecnológicas para o aproveitamento das águas de chuva, para solucionar ou amenizar o problema de escassez ou falta de água potável nas áreas rurais do semi-árido brasileiro;

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III - Desenvolver e disponibilizar, para pequenas comunidades rurais difusas, técnicas e métodos de dimensionamento, construção e manejo de sistemas de abastecimento d’água de chuva (cisternas rurais); IV - Desenvolver um processo educativo e de mobilização social, visando ampliar a compreensão e a prática de convivência sustentável com o semi-árido e a valorização da água como direito de vida, minimizando os problemas de saúde e eliminando os casos de doença por veiculação hídrica;

A prioridade do Programa é a família rural. Para tanto, o Programa nortear-se

pelos seguintes princípios:

� Gestão Compartilhada O programa é concebido, executado e gerido pela sociedade civil organizada. As ações fazem parte de uma política ampla e processual.

� Parceria

As parcerias para a execução do programa envolvem os Governos, Empresas, ONGs, OSCs etc.), a partir de critérios pré-estabelecidos.

� Descentralização e Participação

O programa será executado através de uma articulação em rede, segundo os princípios de descentralização e participação.

� Mobilização Social A natureza do Programa é de educação-cidadã, mobilização social e fortalecimento institucional para a convivência com o semi-árido brasileiro.

� Educação-Cidadã

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O Programa busca a educação-cidadã que situa criticamente a realidade histórico-cultural, visando a convivência com o semi-árido brasileiro.

� Direito social Afirmar os direitos da população de acesso e gestão dos recursos hídricos.

� Desenvolvimento Sustentável Afirmar a viabilidade do Semi-árido, desmistificando a fatalidade da seca.

� Fortalecimento Social O Programa deve ser uma ferramenta de fortalecimento e consolidação dos Movimentos Sociais.

� Emancipação

O Programa busca a construção de uma nova cultura política, rompendo com a dominação secular das elites sobre o povo, a partir do controle da água.

ABASTECIMENTO DA POPULAÇÃO RURAL DIFUSA NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO

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Programa de Abastecimento de Água da População Rural Difusa do NordesteINDICADORES DE DEMANDAS

Programa de Abastecimento de Água da População Rural Difusa do NordesteINDICADORES DE DEMANDAS

CONSUMO HUMANO

População Rural Difusa� 70 A 100 litros/ per capita/ dia

----------------------------------------------------------------------------------DISCRIMINAÇÃO NECESSIDADE

l/dia----------------------------------------------------------------------------------ÁGUA DE BEBER 2 A 3.PREPARO DE ALIMENTOS 3 A 5.ASSEIO CORPORAL 25 A 32.LAVAGEM DE ROUPA 20 A 30.LIMPEZA DE CASA EUTENSÍLIOS DE COZINHA 20 A 30----------------------------------------------------------------------------------TOTAL DIÁRIO 70 A 100

----------------------------------------------------------------------------------

Programa de Abastecimento de Água da População Rural Difusa do NordesteINDICADORES DE DEMANDAS

Programa de Abastecimento de Água da População Rural Difusa do NordesteINDICADORES DE DEMANDAS

� BOVINO Boi (Gado Vacum) (45 a 50 litros/dia)� EQUINO Cavalo/ Égua (45 a 50 litros/dia)� ASININO Burro/ Asno/ Jumento (45 a 50 litros/dia)� OVINO Ovelha/ Carneiro (8 a 10 litros/dia)� CAPRINO Cabra/ Bode (8 a 10 litros/dia)� SUÍNO Porco (12 a 15 litros/dia)

� Galinha/Guine/Pato (100 cabeças) 15L/dia� Peru (100 cabeças) 25L/dia

CONSUMOANIMAL

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ALTERNATIVAS TECNOLÓGICAS CONVIVÊNCIA COM A SECA Aproveitamento das águas de chuva

1 CISTERNAS RURAIS2 SISTEMAS SIMPLIFICADOS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA

PARA COMUNIDADES RURAIS3 DESSALINIZAÇÃO DE ÁGUAS4 BARRAGENS SUBTERRÂNEAS5 MOBILIZAÇÃO E CONTROLE

SOCIAL,CAPACITAÇÃO,PESQUISA E DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO

Área de abrangência do Programa :

Região Semi-Árida do Brasil -1.038 Municípios Lei Nº 7.827 de 27 de setembro de 1989 , Portaria SUDENE Nº 1.182 de 14 de setembro de 1999.

Cisternas Rurais Aproveitamento das águas de chuva

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TECNOLOGIA= Captação e conservação de água de chuva para consumo humano.

A Cisterna Rural de Placas é conhecida como um tanque de alvenaria para armazenar a água de chuva que escoa dos telhados das casas e é canalizada através de calhas.Área média de telhado para captação =

40 m2;•Precipitação média 600 mm/ano;•Raio médio da cisterna = 2,40 m;•Altura média = 1,30 m;•Volume de água armazenada - 16 m3;•Consumo médio :

família - 45 litros/dia= 16.200 l/anopessoa - 9 litros/dia = 3.240 l/ano

•Custo médio:-carro pipa - R$ 5,0 /m3 ; - cisterna rural R$ 3,0/m3

PROGRAMA DE CONVIVÊNCIA COM A SECACISTERNAS RURAIS

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TECNOLOGIA /DADOS REFERÊNCIAIS•Precipitação média anual 600 mm/ano

1 m2 600 l/ano

1 mm 1 litro/m2

40 m224.000l/ano

Área do telhado

600 mm/ano 600 l/m2

40 m2 x 600 l/m2

24.000 l/ano

Volume de água captada armazenada X área do telhado (captação)Volume de água armazenada

em m3 /anoCaptação /Áreado telhadoem m2 Precipitação média

600 mm/anoPrecipitação média

400 mm/ano20 12 830 18 1240 24 1650 30 2060 36 2470 42 2880 48 3290 54 36

ÁGUA PARA 1.000.000 FAMÍLIAS RURAIS DO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO. UM DIREITO ESSENCIAL DA VIDA E DA CIDADANIA

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Área de abrangência.

O P1MC abrange os estado da região Nordeste onde clima semi-árido se apresenta com maior intensidade e, consequentemente, os efeitos das secas são mais danosos à população sertaneja (Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará e Piauí), e mais o Norte do estado de Minas Grais e Nordeste do Espírito Santo.

CRONOGRAMA DE IMPLANTAÇÃO DE CISTERNAS

Ano Total de cisternas

Nº de UGs AL BA CE ES MG PB PE PI RN SE

1o 45.000 47 1.100 9.500 6.600 600 1.200 7.800 6.700 4.000 6.400 1.100

2o 138.500 54 6.000 30.000

18.000

1.500 3.000 24.000

24.000

10.000

16.000

6.000

3o 275.400 64 9.700 83.800

53.000

1.500 6.000 38.700

38.700

15.000

24.000

5.000

4o 299.100 64 9.700 109.200

53.000

2.000 6.700 39.700

39.700

19.000

15.400

4.700

5o 242.000 64 13.400

104.500

44.400

2.000 5.300 4.800 36.900

14.000

12.000

4.700

TOTAL

1.000.000

39.900

337.000

75.000

7.600 22.200

115.000

146.000

62.000

73.800

21.500

Na atualidade, a ASA congrega 611 entidades em 12 estados, na sua maioria (59%) organizações de base comunitária, sindicatos de trabalhadores rurais (21%), entidades ligadas as Igrejas católica e evangélicas (11%), ONGs (6%) e cooperativas de trabalho (3%). Trata-se, sem dúvida, da maior rede de organizações da sociedade civil (OSCs) cujos componentes estão majoritária e voluntariamente voltados para a consecução de objetivos públicos de alta relevância. O Programa está previsto para ser implementado em 5 anos com custos totais de 1,1 bilhão de Reais, segundo o seguinte cronograma: Ano 1 = 60 milhões de reais; Ano 2 = 150 e, para os anos subsequentes acima de 250 milhões de reais. A distribuição das metas anuais foi pensada de acordo ao crescimento da capacidade operativa das entidades participantes.( 1 US$ = R$ 2,499) Deste custo total, 885 milhões são referentes a construção dos tanques (benefício material direto para as famílias), dos quais estas contribuirão com o valor estimado de 225 milhões de reais (22% do total, contrapartida em trabalho e materiais), derivando-se assim um custo unitário de R$ 660,00 por família. Os componentes de mobilização, capacitação, fortalecimento institucional, gestão e contingências (este último de 50 milhões) respondem pelos 215 milhões de reais restantes.

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CISTERNA RURAL

PROCESSO CONSTRUTIVO-CISTERNA RURAL

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ABASTECIMENTO DA POPULAÇÃO RURAL DIFUSA NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO

PROJETO DEMONSTRATIVO DE 12.400 CISTERNAS RURAIS

NO SEMI-ÁRIDO

CONVÊNIO ANA / DIACONIA / UNICEF

MUNICÍPIOS BENEFICIADOS

ABASTECIMENTO DA POPULAÇÃO RURAL DIFUSA NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO

TERMO DE RECEBIMENTO

DO PROJETO

DEMONSTRATIVO

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Barragens Subterrâneas Aproveitamento das águas de chuva

Barragem Subterrânea

Poço Amazonas

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PROGRAMA DE CONVIVÊNCIA COM A SECABARRAGENS SUBTERRÂNEAS

Barragem Subterrânea

TECNOLOGIA

O barramento subterrâneo consiste em construir um septo no depósito aluvial com a finalidade de impedir que a água nele acumulada continue a escoar durante o período de estiagem.

Vista em seção vertical longitudinal

Nível da água montante

Nível de água jusante

Poço Amazonas

Depósito Aluvial

PROGRAMA DE CONVIVÊNCIA COM A SECABARRAGENS SUBTERRÂNEAS

TECNOLOGIA

CARACTERÍSITCAS BÁSICAS E CUSTO DE UMA BARRAGEM SUBTERRÂNEA

VOLUME DE ÁGUA ACUMULADO

• Largura média do depósito aluvial - 100 m

• Extensão da área a montante - 1 Km(área de influência da barragem)

• Espessura saturada média do depósito aluvial - 2 m• Coeficiente de porosidade eficaz médio do

sedimento aluvial - 15 %

VOLUME DE ÁGUA DISPONÍVEL - 30.000 m3

30.000 m3Volume de

água disponível

Atendimento de 200 famílias por ano 60 litros/hab./dia

ou

Irrigar 5 ha durante 8 meses

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PROGRAMA DE CONVIVÊNCIA COM A SECABARRAGENS SUBTERRÂNEAS

ANTECEDENTES

•Tecnologia registrada a mais de 60 anos

regiões agrícolas -Calábria e Sicília e “ dique subterrâneo” no rio Sauces e na Argentina.•Tecnologia pouco utilizada no brasil como obra hídrica estruturadora;

experimentos nas universidades federais de Pernambuco e paraíba (UFPE/UFPB), IPT/SP e EMBRAPA/CPATSA E ONG-CAATINGA-PE.

ESTUDO NO BRASIL

•O primeiro visando o bastecimento de água e que indicou a alternativa de barragem subterrânea, foi executado pela UNESCO para o 1º Batalhão de Engenharia do Exército, em 1959, no município de “Carnaúba dos Dantas no estado do RN ( a obra não foi realizada);

•A primeira barragem subterrânea (que se tem notícia no brasil) foi construída pelo DNOCS em 1965. No depósito aluvial do Rio Trici, para o abastecimento d’água da cidade de Taua, no estado do Ceará;•No início da década de 80, dois grupos de pesquisa, iniciaram simultaneamente estudos sobre o tema, o centro de tecnologia UFPE e o CPATSA/EMBRAPA.•Em meados da década de 80, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT-SP) elaborou estudos e construiu barragens subterrâneas nos estados do Ceará (Rio Palhano bacia do rio Jaguaribe) e do Rio Grande do Norte (Rio das Cobras e dos Quintos na bacia hidrográfica do Rio Seridó)

PROGRAMA DE CONVIVÊNCIA COM A SECABARRAGENS SUBTERRÂNEAS

EXPERIÊNCIAS EXITOSAS

•Em 1986 - modelo aplicado na “Fazenda Pernambucana”no município de São Mamede no estado da Paraíba (construção de 2 barragens com, oito poços Amazonas a montante - irrigando até hoje, 45 há com plantações de fruteiras;

•Em meados de 1990, experiências bem sucedidas na construção e manejo de pequenas barragens subterrâneas foram implantadas pela ONG -CAATINGA, no município de Ouricuri-PE;

•Em 1997 a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente - SECTMA - do Governo do Estado de Pernambuco, construiu 6 unidades experimentais no município de Caruaru, face às excelentes perspectivas do empreendimento, o Governo do Estado incorporou e implementou, pelo Programa de Convivência com A seca, a construção de barragens Subterrâneas no agreste e sertão do estado;

•Em 1998, o Governo do Estado de Pernambuco no 6ambito das frentes de trabalho-seca, a construção de 500 barragens.

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BARRAGENSSUBTERRÂNEAS

PROGRAMA DE CONVIVÊNCIA COM A SECA

TRANSFORMANDO "DESERTOS" EM "OÁSIS" José Almir Cirilo1, Waldir Duarte da Costa2, Margarida Regueira3,Gustavo Abreu4, Patrícia Maia5 e Giselle Ramos5

Como resultado de décadas de exploração desordenada do solo para fins agrícolas ou simplesmente em função da retirada da cobertura vegetal, sem reposição, para aproveitamentos diversos, a paisagem do semi-árido nordestino tem mudado continuamente, em crescente estado de degradação ambiental. Nas regiões mais íngremes, os solos tem sido carreados pela força da erosão durante as chuvas mais intensas, deixando a rocha a descoberto e destruindo a fertilidade. Os milhares de riachos no fundo dos vales tem sido assoreados e o escoamento, antes perene em muitos deles, passou a ocorrer durante poucos dias do ano, às vezes apenas poucas horas. Como resultado, a agricultura de vazante também vem desaparecendo.

Duas formas de tentar recuperar essas áreas degradadas tem sido aprimoradas

em Pernambuco: a primeira consiste em reter o solo, com enrocamento de pedra. Esse tipo de experiência foi desenvolvida na região do município de Afogados da Ingazeira pelo Engenheiro Arthur Padilha, em áreas de declividade acentuada. O sucesso da técnica, denominada de Base Zero pelo autor, expandiu a experiência pelo sertões de Pernambuco, Paraíba e Ceará, com muitas centenas de obras desse tipo executadas. Os melhores resultados obtidos, em áreas onde a perda de solo era muito acentuada,

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mostraram a retenção de solo, de umidade e a recuperação da fertilidade em muitos locais.

A figura 1 mostra exemplos do tipo de barragem citado. A segunda forma consiste na retenção da umidade do solo com a construção de

barragens subterrâneas. Esse último tipo de obra foi discutido em número anterior desta revista e é apropriado para implantação em formações de sedimento depositado sobre rocha cristalina, principalmente nos aluviões de rios e riachos temporários. Neste artigo busca-se mostrar resultados obtidos recentemente, em campus experimental instalado pelo GRH/UFPE - Grupo de Recursos Hídricos da Universidade Federal de Pernambuco, nas proximidades da localidade de Mutuca, município de Belo Jardim, região agreste do Estado, a pouco mais de 200km da cidade de Recife. Nesta área foram implantadas 19 barragens subterrâneas, com profundidades entre 4 e 12m e extensão do eixo entre 50 e 120m, a maior parte delas em série ao longo do riacho Mimoso, afluente do alto curso do rio Capibaribe, que se estende até o litoral.

A região do agreste de Pernambuco, zona semi-árida do centro do Estado, é

caracterizada por solos rasos e índices de precipitação extremamente variados. Até alguns anos passados, uma atividade constante da população rural difusa, localizada próximo aos leitos de rios e riachos quase sempre secos, consistiu no aproveitamento da água acumulada nos aluviões logo após a época das chuvas para a implantação de pequena agricultura irrigada de ciclo curto: hortaliças, batata, cenoura e beterraba, entre outras. Surgiram cooperativas de pequenos produtores e geração de renda, com conseqüente melhoria da qualidade de vida da população. Entretanto, tais atividades foram aos poucos desaparecendo em função da exaustão dos aluviões, da demanda crescente por água e da inconstância climática, com períodos freqüentes de seca.

Com a implantação de barragens subterrâneas sucessivas na região do campus

experimental de Mutuca, iniciou-se o retorno da produção agrícola por parte da população beneficiada. Terminado o período das chuvas no local (que acontece normalmente em torno de fevereiro/março a maio/junho) a água acumulada nas barragens subterrâneas tem suprido as necessidades dos cultivos de forma bastante satisfatória. A qualidade e quantidade das águas tem sido monitorada sistematicamente por equipe do GRH/UFPE, em particular no que diz respeito ao teor de sais.

As figuras 2 e 3 mostram aspectos da "bacia hidráulica" a montante de algumas

das barragens do campus experimental de Mutuca, mostrando a irrigação com água retida no solo pelas barragens e bombeada de poços amazonas.

O trabalho em desenvolvimento pelo GRH/UFPE, além de buscar o

aprimoramento dos aspectos técnicos sobre a construção e aproveitamento das barragens subterrâneas, tem como objetivo integrar a comunidade com o processo, buscando ampliar o alcance da experiência. Uma etapa em início consiste em analisar e monitorar amostra maior das mais de 500 barragens subterrâneas construídas em Pernambuco, com o objetivo de avaliar o impacto sócio-econômico que esse tipo de pequena obra hídrica pode trazer para a população do semi-árido nordestino.

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Figura 1 - Aspectos de barragens de enrocamento, para retenção de sedimentos, logo após a construção no município de Afogados da Ingazeira, sertão de Pernambuco.

Figura 2 - Diferentes fases e tipos de irrigação sobre o leito aluvionar de duas barragens subterrâneas a partir da água armazenada pelo barramento

Figura 3 - Cultivos de beterraba e cenoura mantidos no leito seco do riacho Mimoso, em Mutuca

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Sistemas Simplificados de Abastecimento de Água para Pequenas Comunidades

Aproveitamento das águas de chuva

O semi-árido nordestino enfrenta grandes restrições na disponibilidade hídrica

obrigando as comunidades a se abastecerem de forma comedida nas precárias fontes de água existentes.

Tal conjuntura leva fatalmente a disseminação de doenças de veiculação hídrica,

acarretando altas taxas de mortalidade infantil. Em 1996, quando se considera as crianças menores de 5 anos, observa-se que 14,2% das hospitalizações no sistema público de saúde ocorreram nesta faixa etária. As doenças infecciosas e intestinais representaram em 1996, cerca de 20,9% do total das internações no País.

No Nordeste, esta proporção foi mais alta, 26,4%.Em menores de 1 ano, o grupo de

mais alto risco de mortalidade, a diarréia foi responsável por 21,8% das internações. A cólera, outra doença de veiculção hídrica, já atingiu 1226 municípios brasileiros.

A provisâo de água suficiente e de boa qualidade, além de intervenção educativa

culturalmente adequada e viável para a população, é essencial para o controle da doença.

A OMS cita, como ex. do que se pode obter com a melhoria no abastecimento de

água e destino adequado dos dejetos na redução da morbidade: redução de 80-100% nos casos de febre tifóide e paratifoide, 60 a 70% nos casos de tracoma e esquitossomose e de 40 a 50% dos casos de desinteria bacilar,

P LA N O D E C O N V IV Ê N C IA CO M A S E C A

S is t e m a s S im p li f ic a d o s d e A b a s t e c im e n t o

• Abrangência - R egiões -N orte 15%

- N ordeste 70%

-C entro Oeste 15 %

• Benefícios Diretos

•Peq uenas C omun idades Rurais D ifusas

1 .200.000 pes soas = 230.000 famílias

(60 litros/pessoa/d ia)

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amebíase,gastroenterites e infeccções cutâneas,etc. É uma situação que se agrava ciclicamente, provocando ações de mitigação por parte do poder público que por muitos anos tem buscado formas de prover água àquelas comunidades . Na atualidade procura-se formas mais efetivas de atendimento às pequenas comunidades .

Nos últimos três anos o MMA e o Ministério da Saúde, vem realizando ações nas

regiões nordeste e em algumas comunidades da região norte, implementando em parcerias com prefeituras e organizações não governamentais, em torno de 240 projetos demonstrativos de Sistema Simplificado de Água que constam essencialmente de: poço profundo revestido, casa de máquinas, reservatório,chafariz, lavanderia e banheiros públicos de forma a preservar a qualidade da água do poço instalado em local estratégico das pequenas comunidades rurais (entre 60 e 100 famílias), beneficiando em média 500 pessoas por cada sistema instalado.

PROGRAMA DE CONVIVÊNCIA COM A SECASISTEMA SIMPLIFICADO DE ABASTECIMENTO

LAYOUT DO SISTEMA

Chafariz

LavanderiaBanheiros/Sanitários

Rede de Abastecimento

•População atendida por sistema

60 e 100 famílias (300 / 500 pessoas)

•Consumo Humano

60 litros/hab./dia

300 litros/família/dia

•Gestão do Sistema

Conselho de moradores da comunidade/Prefeituras Municipais

Poço e bomba

Caixa d’água 5000 litros

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Sistemas de Dessalinização de Águas Dessalinizadores Aproveitamento das águas de chuva

DEÁGUAS

PROGRAMA DE CONVIVÊNCIA COM A SECA

DESSALINIZAÇÃO

PROGRAMA DE CONVIVÊNCIA COM A SECA

DESSALINIZAÇÃO DE ÁGUASDESSALINIZADOR Custo Médio R$

TIPO Nº Membranas

Volume deÁgua

Produzidam3/dia

PopulaçãoAtendida (*1) em

Nº pessoas Equipamento (*2)Total doSistema

Instalado (*3)

A 3 12-15 750 - 1000 10.000 - 14.000 20.000B 6 25 1200 - 1500 17.000 - 20.000 27.000C 9 50 2500 - 3000 25.000 - 30.000 37.000D 15 75 3500 - 4000 33.000 - 40.000 45.000Nota:*1) -População atendida – consumo 20 l/hab./dia; - Custo médio – R$ 0,30/m3

*2) - Custo médio do equipamento inclusive custo de projeto e análise físico química e bacteriológica daágua.

- A variação depende da qualidade e do volume da água a ser tratada.*3) – Custo médio do sistema instalado – inclui o dessalinizador as obras do abrigo, reservatórios,

chafariz, instalações elétricas e hidráulicas (não inclui perfuração de poço)

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PROGRAMA DE GESTÃO DE SISTEMAS DE DESSALINIZAÇÃO DE ÁGUAS PDA - ÁGUA DOCE

O Programa de Gestão de Sistemas de Dessalinização de Águas aportará recursos da ANA, consignados no Orçamento Geral da União, na forma de pagamento pelo fornecimento de água potável e disposição adequada de rejeitos, aos Governos dos Estados que investirem na implantação de Sistemas de Dessalinização de Águas para abastecimento de comunidades situadas na Região Nordeste, norte de Minas Gerais e Espírito Santo, que não disponham de abastecimento de água na quantidade e qualidade adequadas, cumpridas as seguintes condições previstas em Contrato específico:

� certificação do efetivo fornecimento de água potável; � certificação da qualidade da água potável entregue.

� certificação de disposição adequada do rejeito.

O PDA-ÁGUA DOCE visa garantir a Gestão Sustentável de Sistemas de Abastecimento de Água Potável obtida a partir da utilização de dessalinizadores, nas comunidades situadas no Nordeste, norte de Minas Gerais e Espírito Santo, tendo como objetivos:

� garantir a gestão sustentável dos sistemas de dessalinização para o abastecimento de água potável a pequenas comunidades de populações urbanas e rurais na região abrangida pelo Programa;

� induzir a implementação de sistemas de gestão sustentável para os projetos de abastecimento de água potável em pequenas comunidades ;

� garantir o funcionamento normal e a correta operação e manutenção dos dessalinizadores instalados na região abrangida pelo Programa;

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� garantir a inclusão e o desenvolvimento de um processo educativo e de mobilização social, visando ampliar a compreensão e a prática de convivência sustentável com o semi-árido e a valorização da água como direito de vida.

Na Região Semi-Árida Nordestina, o problema do não atendimento da demanda

está relacionado ao binômio quantidade /qualidade dos recursos hídricos. Durante as épocas de seca, as águas subterrâneas passam a ser, geralmente, o único manancial disponível e os poços, a única forma de ter acesso a essas águas. Contudo, a maior parte do Semi-Árido está localizada em áreas cristalinas, que exploram aqüíferos fissurais, cujos poços têm baixa vazão média, cerca de 2.000 l/h, e salinidade elevada, média de 3.000 ppm.

Dos cerca de 70.000 poços tubulares perfurados no Nordeste, aproximadamente 30% não estão sendo utilizados devido ao elevado teor salino de suas águas. Com freqüência, o grau de salinidade destas águas não se enquadra nos padrões de potabilidade para o atendimento da demanda de consumo doméstico da população.

TECNOLOGIA E CUSTOS

OSMOSE NATURAL -Na natureza quando duas soluções de concentrações diferentes são separadas por uma membrana semipermeável, na busca do equilíbrio de energia, ocorre um fluxo natural orientado no sentido da solução menos concentrada para a solução de maior concentração salina. A diferença de nível que se estabelecerá corresponde a pressão osmótica.

OSMOSE INVERSA -Quando se aplica na solução de

maior concentrado uma pressão

gerada mecanicamente de

magnitude maior do que

a pressão osmótica,

inverte-se o sentido natural

do fluxo. Gera-se, assim a OSMOSE INVERSA.

PROGRAMA DE CONVIVÊNCIA COM A SECADESSALINIZAÇÃO DE ÁGUAS

• A tecnologia utilizada no processo de dessalinização de águas salinas é as osmoses inversas, aplicadas para concentrações salinas com um valor de STD ( Sólidos Totais Dissolvidos) variando de 1.000 a 15.000 ppm;

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• A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera água potável para consumo, aquela com concentração de sais inferior a 500 ppm;

• O custo do m3 da água tratada por sistema de dessalinização por osmose inversa varia de US$ 0,20 a US$ 1,30.

Os primeiros equipamentos de osmose inversa no Brasil foram instalados em meados dos anos 80. Dos cerca de 1.000 equipamentos instalados, com capacidades de 12.000 a 50.000 l/dia, 80% estão situados na Região Semi-Árida, ou seja: 50% nos Estados da Bahia e Pernambuco e, em torno de 30%, nos Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

No Nordeste, a água doce produzida pelos sistemas de dessalinização implantados,destina-se a atender,principalmente, às necessidades de água potável para beber e cozinhar,com um consumo estimado em 20 l /hab/dia.Os equipamentos propostos para atender a esta demanda são,em geral, de porte pequeno a médio, com uma produção igual ou inferior a 50.000 litros /dia.

Um sistema de purificação de águas do tipo Osmose Inversa, é composto por um conjunto moto-bomba centrifuga de alta pressão, membrana(s) osmótica(s), catalisador,pré-filtros,válvulas,registros de pressão e de vazão e conexões,montados em uma plataforma /estrutura que ocupa uma área média de 6 m2.

PRODUTOS

Os Sistemas de Dessalinização por osmose inversa produzem, como resultado, dois efluentes ou produtos. Um é a água potável, com concentrações de STD abaixo de 500 ppm, e o outro é o rejeito com alto teor salino. Normalmente, a produtividade do equipamento não ultrapassa 75%, ou seja, no mínimo, cerca de 25% do volume da água bruta poderá ser lançado de volta para os ecossistemas, mesmo apresentando teor salino bem mais concentrado do que havia originalmente.

Por exemplo, na Região Semi-Árida, durante o período de um ano, no caso de um poço tubular em área cristalina (aqüífero

fissural), com vazão de 2.000 l/h e água com STD de 3.000 ppm, serão produzidas cerca de 10 toneladas de sal.

Alternativas tecnológicas para aproveitamento desse rejeito estão sendo desenvolvidas no Brasil, algumas com resultados significativos nos experimentos de campo. Destacam-se três soluções :

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1. o despejo do rejeito em tanques evaporadores: a água evapora e os sais resultantes podem ser aproveitados para o consumo humano e animal, bem como para a fabricação de ácido clorídrico e de soda cáustica;

2. A criação de peixes, como, por exemplo, a tilápia rosa e o camarão marinho;

3. O cultivo de Atriplex, uma espécie de herbácea, que absorve o sal do solo e serve de alimentação ao gado.

Entretanto, falta a disseminação dessas técnicas ou, pelo menos, daquelas mais facilmente implementáveis, diminuindo os impactos ambientais negativos de diferentes magnitudes e proporcionando o aproveitamento econômico desse rejeito.

Logo, é necessário implementar ações para difusão dessas técnicas nos locais onde existem dessalinizadores, como também naqueles onde eles poderão ser instalados, minimizando possíveis impactos ambientais gerados pela inadequada estocagem dos resíduos .

ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL

O modelo institucional de Gestão dos Sistemas de Dessalinização de Águas e, em particular, da operação e manutenção dos equipamentos de dessalinização instalados em poços tubulares na Região Nordeste, deve garantir a sua sustentabilidade. Portanto, é fundamental que se monte uma estrutura operacional para assegurar a operação e manutenção regular dos equipamentos, de modo a proporcionar seu funcionamento sem interrupções prolongadas, mantendo a qualidade da água em níveis aceitáveis.

O desenho de uma estrutura gerencial sustentável para os sistemas de dessalinização passa, necessariamente, pela definição de uma instituição que assuma a responsabilidade pela operação, manutenção e monitoramento dos equipamentos e dos sistemas. Nesse processo, essa instituição será responsável, formalmente, por proporcionar as condições para que os sistemas funcionem e tenham sustentabilidade técnica, econômica, social e institucional.

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PROGRAMA DE CONVIVÊNCIA COM A SECADESSALINIZAÇÃO DE ÁGUAS

PRINCIPAIS ETAPAS E PERCENTUAIS DE CUSTOS DE IMPLANTAÇÃO DE UMSISTEMA DE DESSALINIZAÇÃO POR OSMOSE INVERSA.

Especificação/etapas Ações % do

Custo Total

Planejamento edimensionamento

Fonte de água –tipo vazão, etc; análise físico-químicabiológica; projeto executivo, dimensionamento e seleção demembranas

3

Aquisiçãoequipamento (*1) Dessalinizador /acessórios 65

InstalaçãoAssistência técnica –montagem/energia/abrigo/reservatórios/chafariz 7

Operação (*2)Seleção/treinamento/salários/recursos humanos/custoenergia/produtos químicos 3

Distribuição Otimização e manejo/uso /consumo médio hab./l/dia 2

Manutenção (3*)Capacitação/treinamento/salários/recursoshumanos/membranas/filtros/peças/produtos químicos 15

Monitoramento eavaliação

Qualidade da água/desempenho doequipamento/rejeito/pesquisa/índices de qualidade devida- saúde

5

TOTAL - 100 %(*1) – Valor do equipamento por tipo/variação de R$ 10.000 a R$ 40.000;(*2) -O custo de energia consumida pelo dessalinizador é da ordem de 2,0 a 4,0 KWH/m3 de águapotável;(*3) – A vida útil de uma membrana é de 3 anos e a manutenção é em média de 3 meses.

Isso englobará: a construção e manutenção dos abrigos, dos equipamentos de dessalinização, dos reservatórios de água bruta e tratada, a efetivação das ligações elétricas, o pagamento das respectivas contas de energia, a capacitação e a disponibilização de pessoal para gestão e operação dos sistemas e a mobilização e envolvimento das comunidades, participando das decisões e ações adotadas.

Entretanto, para garantir o funcionamento adequado de cada sistema de dessalinização implementado, é imprescindível definir e estabelecer uma remuneração adequada, a ser paga à instituição mencionada anteriormente, pelo serviço de fornecimento de água à população das comunidades beneficiadas.

Dessa forma, a implantação de novos Sistemas de Dessalinização de Águas, bem como a recuperação daqueles com problemas, somente deve ser apoiada se, previamente, for estabelecido e adotado um Modelo de Gestão, definindo inclusive a instituição responsável pela garantia da sustentabilidade, pela capacitação de recursos humanos e pela sistemática de operação, manutenção e disposição adequada dos rejeitos salinos que são gerados no processo de purificação das águas. Está claro que não há apenas uma solução única, mas necessariamente, ações associadas e complementares que envolvam o fornecimento de água potável e o tratamento e destino final dos resíduos gerados, inclusive para geração de atividades

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produtivas bem como aquelas que promovam o engajamento e a capacitação das comunidades beneficiadas, no processo de gestão dos sistemas.