plano de combate à violência contra a juventude...

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Brasília 2018 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Secretaria de Governo Secretaria Nacional de Juventude Novo Plano Juventude Viva 2018 Plano de Combate à Violência Contra a Juventude Negra

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  • Braslia2018

    PRESIDNCIA DA REPBLICASecretaria de Governo

    Secretaria Nacional de Juventude

    Novo Plano Juventude V

    iva2018

    Plano de Combate Violncia Contra a Juventude Negra

    DE JUVENTUDE NACIONALARIASECRET

    SNJ

    A NOSSA GERAo

    CONSTRUINDO O AGORA

    C

    M

    Y

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    MY

    CY

    CMY

    K

    Capa.pdf 1 25/04/2018 10:30:38

  • Expediente Institucional

    PRESIDNCIA DA REPBLICA

    Michel TemerPresidente da Repblica

    SECRETARIA DE GOVERNO

    Carlos Eduardo Xavier MarunMinistro Chefe da Secretaria de Governo

    Ivani dos SantosSecretria-Executiva

    SECRETARIA NACIONAL DE JUVENTUDE

    Francisco de Assis Costa FilhoSecretrio Nacional de Juventude

    Kcio da Silva RabeloChefe de Gabinete

    Hlber Augusto Reis BorgesCoordenador-Geral de Polticas Transversais

  • PRESIDNCIA DA REPBLICASecretaria de Governo

    Secretaria Nacional de Juventude

    Braslia 2018

    NOVO PLANO JUVENTUDE VIVAPlano de Combate Violncia Contra a Juventude Negra

  • 2018 Secretaria Nacional de JuventudeEsta obra licenciada sob uma licena Creative Commons - Atribuio CC BY 4.0, sendo permitida a reproduo parcial ou total desde que mencionada a fonte.

    Diretor do ProjetoKcio da Silva Rabelo

    Coordenadores ResponsveisHlber Augusto Reis BorgesJos Victor da Costa Alecrim Bisneto

    Gerente de ProjetosJos Victor da Costa Alecrim Bisneto

    Analista de Polticas SociaisNatlia Cassanelli

    Reviso de textoJacqueline Bogdezevicius

    Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP)

    Brasil. Secretaria de Governo. Conselho Nacional de Juventude. Novo Plano Juventude Viva: Plano de Combate a Violncia Contra a Juventude Negra / Secretaria Nacional de Juventude. Braslia: SNJ, 2018.

    120 p.

    1. Participao social. 2. Jovens. 3. Vulnerabilidade juvenil. 4.Protagonismo juvenil. I. Ttulo. CDD 320.60835981

    Ficha catalogrfica elaborada pelo Centro de Documentao e Pesquisa em Polticas Pblicas de Juventude (Cedoc PPJ) da Secretaria Nacional de Juventude (SNJ)

    Esta publicao tem a cooperao da UNESCO no mbito do Projeto 914BRZ3018: Desenvolvimento da Demo-cracia Participativa, que tem por objetivo prestar servios tcnicos especializados voltados atualizao do Plano Juventude Viva, que visa reduzir a violncia contra jovens negros no Brasil: um desafio que persiste na edio do Novo Plano Juventude Viva, cujo foco ser nas questes relacionadas segurana pblica e no acesso justia. As indicaes de nomes e a apresentao do material ao longo deste livro no implicam a manifestao de qualquer opinio por parte da UNESCO e da SNJ a respeito da condio jurdica de qualquer pas, territrio, cidade, regio ou de suas autoridades, tampouco da delimitao de suas fronteiras ou limites. As ideias e opinies expressas nesta publicao so as dos autores e no refletem obrigatoriamente as da UNESCO ou as da SNJ, nem comprometem a Organizao ou a Secretaria

    DistribuidoraSecretaria Nacional de JuventudeEndereo: Pavilho das Metas, Via VN1 - Leste - s/n Praa dos Trs Poderes - Zona Cvico AdministrativaCEP:70150-908Telefone: (61) 3411.4366E-mail: [email protected]: www.juventude.gov.br

    B823d

    DiagramaoDiego BarretoNuielle Medeiros Equipe TcnicaAndr Rocha LemosCarmem Da MasocoIgo Gabriel dos Santos RibeiroRaissa Menezes de Oliveira

    Apoio TcnicoWeslley da Costa ArajoJuliana Maris Peixoto BonatoLucas Emmanuel Costa NascimentoLuzia Pereira da SilvaMario Vitor

    Impresso no Brasil

  • SUMRIO

    1. PREFCIOUNESCOSecretrio Nacional de Juventude

    2. INTRODUO3. HISTRICO DO PLANO JUVENTUDE VIVA4. POR QUE UM PLANO PARA A JUVENTUDE NEGRA?5. O QUE H DE NOVO NO PLANO JUVENTUDE VIVA?6. NOVO PLANO JUVENTUDE VIVA

    a. REFERENCIAL TERICOb. EIXOS ESTRUTURANTES, OBJETIVOS E ESTRATGIASc. OFICINAS TCNICAS DE AVALIAO DO PLANO JUVENTUDE VIVA E PROPOSTAS DE REESTRUTURAO

    i. OBJETIVOS DAS OFICINAS TCNICASii. DESENVOLVIMENTOiii. MOTIVOS QUE IMPULSIONARAM A ADESO AO PLANOiV. PROPOSTAS APRESENTADAS NAS OFICINAS TCNICAS

    7. METAS PARA O NOVO PLANO JUVENTUDE VIVA8. DIRETRIZES PARA A IMPLEMENTAO DO NOVO PLANO JUVENTUDE VIVA9. EIXO 1 GESTO DO NOVO PLANO JUVENTUDE VIVA

    a. EMBASAMENTO TERICOb. METAS E AES

    10. EIXO 2 DIREITOS E PROTEO NOS TERRITRIOSa. EMBASAMENTO TERICOb. METAS E AES

    11. EIXO 3 JUSTIA E SEGURANA CIDAD PARA JOVENS NEGROSa. EMBASAMENTO TERICOb. METAS E AES

    12. DELIMITAO DE COMPETNCIAS PARA O CUMPRIMENTO DAS METAS TRAADAS PARA A EXECUO DO NOVO PLANO JUVENTUDE VIVA

    a. COMPETNCIAS DA UNIOb. COMPETNCIAS DOS ESTADOSc. COMPETNCIAS DOS MUNICPIOS

    13. ATORES E ARRANJOS INSTITUCIONAISa. O ARRANJO INSTITUCIONAL DO PLANO JUVENTUDE VIVA NO MBITO FEDERAL

    i. ATRIBUIES DO GOVERNO FEDERALii. O COMIT GESTOR FEDERAL DO PLANO JUVENTUDE VIVA CGJuViii. O FRUM DE MONITORAMENTO PARTICIPATIVO INTERCONSELHOS FOMPI

    b. O ARRANJO INSTITUCIONAL DO PLANO JUVENTUDE VIVA NO MBITO ESTADUALc. O ARRANJO INSTITUCIONAL DO PLANO JUVENTUDE VIVA NO MBITO MUNICIPAL

    99111317212527273434

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  • d. REDE JUVENTUDE VIVA14. AES E PROGRAMAS MINISTERIAIS RELACIONADOS AO NOVO PLANO JUVENTUDE VIVA15. RESULTADOS ESPERADOS16. CONSIDERAES FINAIS17. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS18. ANEXOS

    a. ETAPAS DE IMPLEMENTAO DO NOVO PLANO JUVENTUDE VIVAb. TERMO DE ADESO ESTADUAL AO NOVO PLANO JUVENTUDE VIVAc. TERMO DE ADESO MUNICIPAL AO NOVO PLANO JUVENTUDE VIVAd. PORTARIA INTERMINISTERIAL N 29, DE 22 DE MAIO DE 2013e. TERRITRIOS PJV COM ADESO PACTUADA POR DATA DE LANAMENTO NA PRIMEIRA VERSO DO PJVf. DIVISO DA EQUIPE DO ANJV POR NCLEO NA PRIMEIRA VERSO DO PJVg. COMPARAO ENTRE OS PRODUTOS PACTUADOS NO TERMO DE COOPERAO 02/2012 E OS PRODUTOS REPACTUADOS APS AJUSTES NO PLANO DE TRABALHOh. APRESENTAO DA METODOLOGIA POR EIXO E ATIVIDADES DO PLANO DE AO DO ARTICULADORi. DISTRIBUIO DOS ARTICULADORES POR UNIDADE FEDERATIVA E MUNICPIOS DE ATUAO EM NOVEMBRO DE 2014j. DISTRIBUIO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELOS ARTICULADORES COM BASE NOS EIXOS DA METODOLOGIA E NOS PRODUTOS PACTUADOS NO TERMO DE COOPERAO 02/2012

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    UNESCO

    Mais de 20 mil jovens negros so mortos por ano no Brasil, como mostram as estatsticas ela-boradas pela Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia, e a Cultura (UNESCO) e a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ). Com esses ndices alarmantes de violncia contra essa parcela da populao, vemos como necessrio enfrentar esse problema de forma sistematizada e planejada, abarcando polticas que envolvam as diversas dimenses da vida dos jovens, bem como garantindo igualdade racial e oportunidades iguais para todos. com esse intento que a UNESCO e a SNJ apresentam o Novo Plano Juventude Viva (PJV), para prevenir a violncia e proteger a vida dos jovens negros.

    A UNESCO trabalha com a temtica da juventude em vrios pases do mundo, apoiando governos na formulao de polticas pblicas para essa populao. No Brasil, temos a satisfao de atuar em cooperao com o Estado, desde a nossa contribuio para a criao da SNJ, em 2005, at o desenvolvimento de projetos conjuntos ao longo dos anos. O Plano Juventude Viva foi criado com o objetivo de prover subsdios para o enfrentamento da violncia contra os jovens negros que, historicamente, esto mais expostos violncia. O foco do Juventude Viva consiste em prevenir a violncia por meio da articulao de programas de governo, facilitando o acesso aos servios e direitos nos territrios com maiores ndices de homicdios.

    Esta atualizao do Plano mantm a sua proposta inicial de estruturar aes para a defesa da vida desses jovens, sobretudo daqueles que se encontram em situao de maior vulnerabi-lidade social e econmica, mas tambm incorpora novas dinmicas e discusses sobre a atual realidade da nossa juventude. O Novo Plano Juventude Viva , portanto, um aprimoramento de uma iniciativa que visa a transformar a realidade dos jovens negros de nosso pas. Tambm busca fortalecer a gesto do Plano, tornando vivel o seu monitoramento e a sua avaliao; combater o racismo institucional, promovendo acesso universal s polticas pblicas; alm de garantir juventude negra brasileira o acesso Justia, de modo a reduzir a impunidade e garantir condies de segurana.

    Uma das novidades do PJV a utilizao do ndice de Vulnerabilidade Juvenil (IVJ) como parmetro para a avaliao dos municpios com maiores ndices de homicdios e vulnerabilidades em relao aos jovens negros. Resultado do esforo conjunto entre a UNESCO no Brasil, a SNJ e o Frum Brasileiro de Segurana Pblica, o IVJ oferece dados importantes, capazes de nortear a formulao e a implementao de polticas pblicas para a preveno e o enfrentamento dos altos ndices de violncia contra os jovens.

    Essa prioridade de acabar com a violncia contra os jovens negros no apenas da UNES-CO, mas de todo o Sistema das Naes Unidas no Brasil. Em 2017, seus 26 organismos se reu-niram para lanar a campanha Vidas Negras, que busca sensibilizar a sociedade brasileira sobre a importncia da preveno e do enfrentamento discriminao racial. A campanha ocorre no mbito da Dcada Internacional de Afrodescendentes, que se iniciou em 2015 e se estender at 2024. Reforamos, assim, o compromisso assumido por todo o Sistema ONU no Brasil com a juventude negra e com a ideia de que todas as vidas so igualmente importantes.

    O Novo PJV tambm tem como meta estabelecer o enfrentamento do racismo como uma das prioridades da gesto pblica, nos mbitos municipal, estadual e federal, para que sejam de-senvolvidas novas polticas pblicas para a juventude negra. A UNESCO no Brasil, preocupada em mobilizar os municpios no enfrentamento ao racismo, lanou, em abril de 2017, a Coalizo

    1. PREFCIO

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    Latino-americana e Caribenha de Cidades contra a Discriminao, o Racismo e a Xenofobia. A Coalizo busca fortalecer a cooperao com organismos especializados na luta contra o racismo e a discriminao, bem como sensibilizar a opinio pblica latino-americana e caribenha para os valores que promove.

    Sendo assim, a UNESCO reitera a importncia do Novo Plano Juventude Viva como um importante vetor de transformao da situao dos jovens negros na sociedade brasileira. Afeta-dos histrica e estruturalmente pelo racismo, compromisso de todos garantir que esses jovens no sejam apenas nmeros em estatsticas de homicdios, mas sujeitos de mudana rumo a uma sociedade mais inclusiva e igualitria.

    Marlova Jovchelovitch NoletoRepresentante a.i. da UNESCO no Brasil

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    Secretrio Nacional de Juventude

    A juventude brasileira da atualidade enfrenta um dos momentos mais crticos no que diz respeito violncia. O Brasil perde 30 mil jovens por ano. O ndice de Vulnerabilidade Juvenil e o Atlas da Violncia utilizados como base para o Novo Plano Juventude Viva, mostrou que 71% dessas mortes de jovens negros. A vulnerabilidade vivida por essa juventude, constitui-se como violao dos direitos humanos no Brasil. Atentos a esta realidade, ns da Secretaria Nacional de Juventude reformulamos um plano de enfrentamento violncia contra a juventude negra, que estava suspenso h quatro anos.

    O Novo Plano Juventude Viva uma iniciativa do Governo Federal que tem como objetivo transformar a dura realidade de jovens em situao de vulnerabilidade social, principalmente negros e negras. Sua principal meta reduzir 15% em 4 anos, os ndices de violncia nessa camada da populao, por meio de estratgias que estimulem a incluso social destes jovens. O Plano tem o compromisso de ampliar o acesso educao, lazer, trabalho e capacitao profissional, buscando emancipar a juventude negra.

    Como parte das aes de reformulao do Plano, a SNJ realizou uma consulta pblica sobre os principais eixos temticos do Juventude Viva, bem como sugestes de aes de implementao das polticas de enfrentamento violncia contra a juventude negra. Conseguimos obter direcio-namentos e sugestes da sociedade civil, de movimentos sociais e instituies interessadas nessa temtica e por meio de uma consulta tcnica da SNJ com a UNESCO, ns reformulamos o Plano.

    O Juventude Viva representa um esforo coletivo, sensibilizando as vrias esferas do go-verno e da sociedade para a questo da violncia contra a juventude. Esperamos o envolvimento de diferentes setores governamentais, no s no governo Federal, mas, sobretudo, por territrios, com os governos municipais e os governos estaduais, para a reduo da violncia/genocdio contra a juventude negra. Essa iniciativa mais um passo rumo a uma sociedade mais igualitria, com uma juventude forte e emancipada, capaz de garantir o futuro do pas.

    Francisco de Assis Costa Filho Secretrio Nacional de Juventude

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    Segundo o Guia de Implementao para Estados e Municpios da Secretaria-Geral da Pre-sidncia da Repblica e Secretaria Nacional de Juventude Braslia, (2014) hediondo o encontro da violncia com a juventude negra brasileira como se tem enxergado nos ltimos anos. Em meio a essa violncia, por um olhar radiogrfi co possvel colher um laudo por meios de estatsticas assustadoras que revelam o racismo, o preconceito, o estigma a condio social e outros deter-minantes como a gnesis do problema.

    O jovem, sobretudo o negro, que no consegue se destacar como o modelo social aprovado por uma sociedade com seus devidos padres e observado no mais alto nvel quando se trata de violncia no Pas. O homicdio de 30 mil jovens entre 15 a 29 anos no ano de 2012 demons-trou a vulnerabilidade de uma juventude que tem cor, pois destes indivduos assassinados, 23 mil eram jovens negros. Isso signifi ca que, em um ms, so mais de 1.900 indivduos negros exterminados no Brasil.

    Pesquisas demonstram que so os jovens negros, principalmente os moradores das perife-rias e comunidades carentes so as principais vtimas de violncia policial no pas, pois de cada 10 mortos pela polcia, sete so negros; e esse grupo populacional ainda se destaca como a maior parcela da populao carcerria, onde 38% tem idade entre 18 e 29 anos, sendo tambm formada por 60% de negros. Observa-se que a polcia selecionou o jovem negro de periferia como o sus-peito principal de distintas investigaes, atribuindo-lhe o esteretipo de modo discriminatrio, classifi cando esse grupo como o inimigo padro da sociedade.

    No ano de 2003 foi criada a Secretaria Especial de Polticas de Promoo da Igualdade Racial SEPPIR e tambm, a Poltica Nacional de Promoo da Igualdade Racial, que fundamentada em acordos e documentos internacionais. Alm disso, em resposta a presses da sociedade, no ano de 2012 foi criado o Plano Juventude Viva (PJV), com a fi nalidade de amortizar os altos ndices de violncia e extermnio de jovens, especialmente jovens negros, por meio do incremento de aes e polticas sociais especfi cas. No entanto, em algumas localidades do pas no se observou a esperada reduo. O fato de o PJV ter sido implantado de modo universal pode ter relao com a no aceitao de alguns dos 142 territrios pactuados com o Plano.

    A reconstruo de um Novo Plano Juventude Viva (PJV), no desconstri o modelo inicial por completo, e sim agrega novos mtodos de avaliao de territrios para uma compreenso do fenmeno do genocdio da juventude negra como um problema de Estado. Dessa maneira ser possvel realizar a desconstruo da violncia e entrega de direitos aos jovens por meio de uma srie de programas executados pelos ministrios participantes do Comit Gestor do Plano Juventude Viva, e deste modo, utilizar o PJV como um dos moldes da gesto pblica em defesa dos jovens negros, em mbitos Municipal, Estadual e Federal, com a fi nalidade de desenvolver e efetivar um Plano que demonstre a efi ccia das polticas pblicas.

    O Novo PJV est sendo trabalhado em parceria da Secretaria Nacional de Juventude com a Secretaria de Polticas de Promoo da Igualdade Racial (SEPPIR), utilizando como fontes de pesquisa o Mapa da Violncia e o ndice de Vulnerabilidade Juvenil Violncia, que focaliza a evoluo dos homicdios por armas de fogo no Brasil, e tambm estuda incidncia de fatores como o sexo, a raa/cor e as idades das vtimas dessa mortalidade. As necessidades para reduo da violncia de cada lugar foram descritas em reunies, rodas de conversas e grupos focais rea-lizados nos Estado/Municpios visitados pelos consultores durante o trabalho de campo.

    Os conhecimentos adquiridos nas buscas bibliogrfi cas, agregados as propostas, acordos, desacordos e parcerias criadas no decorrer do trabalho realizado em campo por cada profi ssional da consultoria trazem valores de base para o prprio redesenho do Plano. A parceria com a SEPPIR e outras instituies fortifi ca os dados e contribuem de modo expressivo com a desconstruo

    2. INTRODUO

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    da violncia e o racismo institucional que o alvo primordial do Plano Juventude Viva. Neste sentido, o presente trabalho apresenta o Plano Juventude Viva em sua reestruturao em padro de compilao sistemtica consolidado nos produtos prestados por cada consultor onde exps informaes organizadas de modo a colaborar com a sua implementao nos Estados/Municpios que aderirem o Plano.

    Sendo assim, uma reestruturao do Plano Juventude Viva faz-se essencial devido os eleva-dos nmeros de violncia ocorridos contra a juventude negra no Pas como demonstra estudos realizados pelo: Atlas da Violncia, Mapa da Violncia, Anurio Brasileiro de Segurana Pblica e pelo ndice de Vulnerabilidade Juvenil Violncia. Deste modo, o redesenho do PJV no exaure outras possibilidades de transformaes que possam surgir no decorrer das implementaes em cada localidade ou novas parcerias institucionais e governamentais.

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    3. HISTRICO DO PLANO JUVENTUDE VIVA

    A expresso juventude apresenta diferentes defi nies conforme o contexto histrico, cul-tural, social, e econmico. Entretanto, o sentido mais usualmente encontrado aquele que a determina como uma fase de transio entre a puberdade e a vida adulta. No entanto, o apro-fundamento nos estudos sobre a juventude, nos obriga a levar em considerao que essa frao da populao compe identidades e singularidades (SILVA, 2011).

    Conforme o livro Polticas pblicas de/para/com as juventudes publicado pela UNESCO, (2004), os jovens alm de suas particularidades, alguns encaram distintas vulnerabilidades. Nas ltimas duas dcadas, os enfoques sociolgicos e polticos vm sendo adotados de forma cres-cente, bem como outras contribuies provenientes de perspectivas culturais e antropolgicas. Outras peculiaridades inquietantes relacionam-se com a violncia/brutalidade, acidentes de trn-sito, infeces sexualmente transmissveis (ISTs), o consumo e abuso de substncias psicoativas e a gravidez inesperada. Mas so escassos os pases que encontram respostas consistentes com a grandeza e a complexidade ajustadas a esses tipos problemas.

    Quando se debate sobre nmero de homicdios no Brasil, diversas pesquisas apontam que morrem mais jovens negros do que jovens brancos. Uma anlise realizada pelo Governo Federal apresentada ao Conselho Nacional de Juventude CONJUVE desvenda informaes signifi can-tes sobre a violncia entre jovens que vo alm dos fatores socioeconmicos como a condio geracional e a condio racial dos jovens executados no Brasil. Em 2010, 26.854 jovens entre 15 e 29 foram assassinados no Brasil; 74,6% dessas vtimas eram negras, e 91,3% delas eram do sexo masculino. Em relao aos homicdios entre jovens de 15 a 29 anos obedecem a 53% do total, e a diferena entre jovens brancos e negros salta de 4.807 para 12.190 homicdios, entre 2000 e 2009 (WAISELFISZ, 2011).

    Em um artigo publicado pela Revista Carta Capital em agosto de 2012 com o tema: A violncia contra jovens negros no Brasil, o especialista em anlise poltica e ex- consultor da Or-ganizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (UNESCO), e da Fundao Perseu Abramo para a questo das relaes raciais e de juventude, Paulo Ramos, assinalou que o diagnstico apresentado ao Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) pelo Governo Fede-ral, baseado no DataSUS/Ministrio da Sade e no Mapa da Violncia 2011 , mostrou que em 2010 morreram no Brasil 49.932 pessoas vtimas de homicdio, um total de 26,2 para cada 100 mil habitantes. Dessas vtimas, 70,6% eram negras. No mesmo ano, 26.854 jovens entre 15 e 29 sofreram homicdio, ou seja, 53,5% do total de vtimas em 2010. Destes 74,6% eram negros e 91,3% do sexo masculino (Ramos, 2012).

    A questo da violncia desenfreada contra os jovens negros e negras foi acolhida pelo governo a partir do Frum Direitos e Cidadania no ano de 2011. O Frum foi coordenado pela Secretaria-Geral da Presidncia da Repblica, com a co-coordenao das Secretarias de Direitos Humanos, Polticas para Mulheres e Promoo da Igualdade Racial, alm dos Ministrios da Cultura e do Esporte. Nessa ocasio a violncia contra jovens negros foi eleita uma das questes sociais prioritrias mais desafi antes a serem enfrentadas pelo Pas, e o Plano assumido como pauta de responsabilidade compartilhada pela Secretaria Nacional da Juventude, da Secretaria--Geral da Repblica (SNJ/SG/PR) e pela Secretaria de Polticas de Promoo da Igualdade Racial (SEPPIR/PR).

    Conforme o Guia de Implementao para Estados e Municpios da Secretaria-Geral da Presidncia da Repblica e Secretaria Nacional de Juventude Braslia, (2014), o Plano Juventude Viva (PJV) - Plano de preveno violncia contra a juventude negra foi criado pelo Governo Federal em 27 setembro de 2012, no Estado de Alagoas, que traz um histrico dos maiores ndi-ces de homicdios contra jovens registrados no pas. Ainda no ano de 2012, quando foi lanado

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    o Plano Juventude Viva, os dados j davam conta de que os crimes violentos eram a principal causa de morte de jovens no Brasil e que a maioria dos homicdios eram empreendidos contra jovens negros.

    O Plano surgiu para combater a violncia que na poca j demonstrava os jovens brasileiros como alvo principal e, de maneira caracterstica, os jovens negros e pobres, nas ltimas dcadas. Esta iniciativa se associou a outras que buscavam a efetivao dos direitos de uma juventude plural e diversa, do combate ao racismo e da promoo da igualdade racial, contribuindo para que padres de violncia consolidados ao longo da histria e que estigmatizam a juventude negra sejam superados.

    Ainda segundo o Guia Juventude Viva (2014), o Plano foi elaborado por meio de um processo vastamente participativo, e seu escopo estaria alicerado no enfrentamento violncia contra a juventude negra como primazia mais votada pelos jovens na 1 Conferncia Nacional de Juventude (2008) e reforada novamente nas resolues da 2 Conferncia Nacional de Juventude de 2011. A partir destes respeitveis marcos, iniciou-se um extenso processo de mobilizao, em que foram cumpridas consultas a atores e organizaes da sociedade civil para formulao desta primeira resposta articulada no Governo Federal para o problema da crescente violncia contra a juventude negra.

    Os programas do Plano j se direcionavam aos jovens negros de 15 a 29 anos, do sexo masculino, em sua maioria com baixa escolaridade, que residiam nas periferias dos centros urbanos e encontrava-se em situao de maior vulnerabilidade. Assim o PJV foi dividido em quatro eixos de aes:

    I - Desconstruo da Cultura de Violncia Articular atores sociais para a promoo dos direitos da juventude a partir de aes previstas no Plano. Sensibilizar a opinio pblica sobre a banalizao da violncia e a valorizao da vida dos jovens, por meio de uma campanha de preveno violncia;

    II - Transformao de Territrios: Atuar sobre os territrios afetados pelos maiores ndices de homicdio dos municpios, por meio da ampliao dos espaos de convivncia, da oferta de equipamentos, servios pblicos e atividades de cultura, esporte e lazer;

    III - Incluso, Emancipao e Garantia de Direitos: Destinar programas e aes especficas para os jovens de 15 a 29 anos em situao de vulnerabilidade, para que possam construir suas trajetrias de incluso e autonomia; Criar oportunidades de atuao dos jovens em aes de transformao da cultura de violncia e reconhecimento da importncia social da juventude;

    IV - Aperfeioamento Institucional: Enfrentar o racismo nas instituies que se relacionam com os jovens, como a escola, o sistema de sade, a polcia, o sistema penitencirio e o sistema de justia; Contribuir para reverter o alto grau de letalidade policial por meio de formao, for-talecimento do controle externo e reduo da impunidade.

    Os alicerces para construo do PJV foram a Constituio Federal 1988, o Estatuto da Juventude, o Sistema Nacional de Juventude e demais normativas integrantes, que reconhecem o papel ardiloso da juventude no desenvolvimento do pas e assinala a garantia de direitos como princpio que sustenta a Poltica Nacional de Juventude, ainda que este segmento apresente es-pecificidades e recortes, como o caso da juventude negra.

    As bases do Plano tambm tm afinidade s grandezas constitucionais de participao e democracia que permeiam as polticas pblicas no Brasil. O degrau que tornou vivel a imple-mentao, foi o aprofundamento da participao, com realizao de ambientes de trocas como rodas de conversas, oficinas, atividades de formao, fruns de debates online. Portanto, foram

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    relevantes os intercmbios realizados entre os agentes pblicos e jovens negros de diversas co-munidades do pas (BRASIL, 2014).

    A implicao do governo, no desenho intersetorial sucedeu no momento imediato s am-plas mobilizaes sociais desempenhadas. Assim, a afirmao das lutas e da resistncia densa-mente pautadas pelo Movimento Negro no pas autenticou o protagonismo dos atores sociais e foi decisivo para tornar cada vez mais slido o problema da violncia contra a juventude negra.

    A fim de dar contedo pauta, foram praticadas uma cadeia de campanhas realizadas no mbito nacional, estadual e municipal que auxiliaram a alargar a visibilidade do Problema, com vistas a mover a sociedade para os ideais do Movimento Negro, alm de pressionar e exigir aes dos poderes Executivo e Legislativo.

    Como estratgias para disseminao do Plano foram realizadas Campanhas e aes como: A Juventude quer Viver; Eu pareo Suspeito?; Jovem Negro Vivo; Juventude Marcada para Vi-ver; Por que o Senhor Atirou em Mim?; Reaja ou ser Morto, Reaja ou ser Morta; A Marcha contra o Genocdio contra o Povo Negro; O Movimento Mes de Maio. Alm disso, a crescente participao popular em Conferncias; Conselhos de Juventude municipais, estaduais e Federal e Fruns de Juventude Negra municipais, estaduais e Federal, foram e ainda so as razes para os avanos na institucionalizao de intervenes face ao racismo e a violao de direitos da juventude vulnerabilizada pela violncia (BRASIL, 2014).

    Deste modo, o PJ, que teve a adeso de 183 municpios de forma voluntria e 52 de forma prioritria, obteve sucesso e insucesso em distintas partes solicitando assim uma investigao em todo territrio nacional para que se possa corrigir suas possveis falhas e descontinuidades. A reestruturao do Plano Juventude Viva exige o aprofundamento cada vez maior da democracia na sua essncia, o pertencimento, o respeito vida e aos direitos humanos e uma nova articulao entre igualdade e diversidade dos jovens negros e negras do Pas.

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    Aps mais de 120 anos da abolio formal da escravatura no Brasil ltimo pas no mun-do tornar a escravido ilegal - considera-se um consistente avano do Estado Democrtico de Direito o reconhecimento dos jovens como sujeitos de direitos e o enfrentamento violncia letal na agenda das polticas pblicas, embora seja urgente tanto sua consolidao quanto seu aperfeioamento. De acordo com o Censo de 2010 h mais de 51 milhes de jovens de 15 a 29 anos no Brasil, o que representa um percentual de 27% sobre a populao total. Desses, 53,7% se declaram negros, com 27,5 milhes de indivduos. Os homicdios so hoje a principal causa de morte dos jovens no Brasil e atingem especialmente jovens negros do sexo masculino, mora-dores das periferias e reas metropolitanas dos centros urbanos. Dados do Ministrio da Sade mostram que mais da metade (53,3%) dos 49.932 mortos por homicdios em 2010 no Brasil eram jovens, com maior incidncia na faixa etria entre 20 e 25 anos, dos quais 76,6% negros (pretos e pardos) e 91,3% do sexo masculino. O ndice de Vulnerabilidade Juvenil (IVJ) mostrou que os dados no mudaram tanto nos ltimos anos: 71% dos jovens assassinatos continuam sendo negros e 92% do sexo masculino (2017).

    O homicdio tem aumentado no Brasil desde meados da dcada de 1970. Esse aumento dinmico em cada perodo a depender de vrios fatores, tendo em vista que a violncia letal um fenmeno complexo, dentro de um cenrio marcado pela criminalizao da pobreza e da populao negra. A conteno da violncia atravs da militarizao das aes governamentais tem sido a estratgia para vrias polticas de segurana pblica. Diante do elevado gasto que tais aes demandam, a efetividade dessa estratgia tem sido questionada em termos de sua efi ccia e efi cincia. Alguns estudos e crticas apontam, inclusive, para hiptese de que tais aes repressivas fazem parte do ciclo de violncia, apresentando ainda, uma inefi cincia investigativa e preventiva, alm de ligaes perigosas com o crime organizado e o desrespeito sistemtico aos direitos humanos (SOARES, 2003, p.76).

    Em 1993, a Organizao Pan-Americana de Sade (OPAS), publicou uma resoluo que recomendava que os governos criassem planos nacionais para prevenir a violncia, fortalecendo assim, uma perspectiva diferente s polticas repressivas que estavam sendo implementadas em muitos pases. A Organizao Mundial de Sade (OMS) em seu Relatrio Mundial sobre Vio-lncia de 2002, recomendou a vrios pases das Amricas e outras regies do mundo, a criao de propostas preventivas que deveriam ser inseridas nas agendas governamentais.

    O aumento dos homicdios de jovens negros se tornou mais evidente nas ltimas dcadas e entrou para a agenda pblica governamental, muito em funo da atuao dos movimentos sociais, especialmente aqueles protagonizados pela populao negra organizada. Exemplo disso so os dados publicizados pelo Atlas da Violncia, os quais revelam que a cada 100 pessoas as-sassinadas, 71 so pessoas negras, sendo 23,5% maior a chance de uma pessoa negra sofrer um assassinato do que uma pessoa branca (CERQUEIRA et al, 2017).

    Outras pesquisas realizadas nos ltimos anos chegaram a resultados semelhantes. De acor-do com o ndice de Vulnerabilidade Juvenil Violncia (2017): desigualdade racial e municpios com mais de 100 mil habitantes, em 2015, o estado com taxas e indicadores mais preocupantes eram o de Alagoas e Cear, com ndice de vulnerabilidade violncia de 0,48, seguido do estado do Par (0,47) e Pernambuco (0,45). Esses quatro estados apresentam situaes de alta vulnera-bilidade juvenil violncia em quase todos os componentes do IVJ Violncia e Desigualdade Racial, com destaque para o maior risco de mortalidade por homicdio entre jovens negros. Em Alagoas o risco de morte de um jovem negro 12,68 vezes maior do que o observado para um jovem branco (BRASIL, 2017).

    4. POR QUE UM PLANO PARA A JUVENTUDE NEGRA?

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    As regies Nordeste e Norte concentram as maiores taxas de vitimizao letal e homic-dios de jovens negros, onde h tambm maior diferena de risco relativo entre jovens negros e brancos. Conforme demonstram os dados presentes no IVJ 2014, reiterados pelo IVJ 2017, h uma tendncia.

    [...] j verificada no indicador de 2014, quando os estados das regies Norte e Nordeste se mostraram com taxas de vitimizao bastante supe-riores mdia nacional, e na qual a desigualdade entre jovens brancos e negros se mostrou mais contundente. A maior discrepncia na taxa de mortalidade por homicdio foi verificada no Nordeste, onde enquanto a taxa de jovens brancos foi de 27,1 por 100 mil, a de jovens negros foi de 115,7, ou seja, mais de 4 vezes superior. (BRASIL, 2017, p. 33).

    O agravamento do fenmeno da violncia ao longo dos ltimos anos tem levado sociedade

    a demandar, cada vez mais, aes que possam incidir diretamente na diminuio da violncia contra jovens negros e pobres. Nesse sentido, as principais pautas e necessidades apresentadas por grupos organizados, tangenciam a necessidade de formao de gestores sobre o tema da violncia, sobretudo da rea da Segurana Pblica e do Judicirio, visando incorporar a juventude como p-blico prioritrio de aes preventivas, desde uma perspectiva cidad e antipunitivista; a superao da associao entre juventude e violncia pelas quais a rua e o bairro so compreendidos como potencialmente perigosos e responsveis pelo envolvimento da juventude com a violncia; bem como o enfrentamento imediato do racismo institucional na abordagem e no trabalho policial; entre outros. Buscando reverter esse quadro dramtico a curto, mdio e longo prazo, o governo brasileiro criou o Plano Nacional de Preveno da Violncia contra a Juventude Negra Plano Juventude Viva, implementado desde o ano de 2012 nas regies e estados onde jovens negros e pobres tem sido alvo principal da violncia letal.

    O Plano Juventude Viva (PJV) foi formulado em resposta aos alarmantes ndices de homi-cdios que historicamente atingem a juventude brasileira, principalmente a juventude negra, teve o seu foco na preveno da violncia atravs da articulao de programas de governo, facilitando o acesso aos servios e direitos nos territrios com maiores ndices de homicdios. Seu objetivo era reduzir as vulnerabilidades que atingem principalmente juventude negra. Assim suas aes estavam voltadas para o acesso polticas universais dos diversos ministrios, para a conscienti-zao sobre racismo institucional, acompanhamento das pautas legislativas sobre propostas que atingiam principalmente a juventude negra e atravs de campanhas contra a cultura da violncia.

    A Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) e a Secretaria de Nacional de Polticas de Promo-o da Igualdade Racial (SEPPIR), assumiram a coordenao conjunta do PJV e, aps o recente perodo de instabilidade poltica que afetou a continuidade de diversas aes institucionais, per-manecem com o desafio e desejo de retomar e priorizar as aes de enfrentamento a violncias juvenil. Em 11 de agosto de 2017, por meio da Portaria Interministerial N 44, de 29 de Junho de 2017 foram retomadas as reunies do Comit Gestor Federal. Com o objetivo de avaliar e propor uma reestruturao do PJV foram contratados 5 consultores, por meio de um Acordo de Cooperao Tcnica Internacional entre SNJ e UNESCO e a realizao de consulta virtual a gestores e trabalhadores da Rede de Ateno a Jovens e Sociedade Civil.

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    O objetivo central da nova fase do PJV a reduo dos ndices de homicdios contra jo-vens negros/as atravs de aes de enfrentamento aos principais condicionantes desse tipo de violncia e s demais violaes de direitos. Assim, os eixos, metas e aes a serem organizadas, articuladas ou desenvolvidas pelo Juventude Viva passam a ter um vnculo mais estreito com os objetivos capazes de prevenir, enfrentar e intervir sobre os fatores da violncia letal praticada contra jovens negros/as, sendo primordial para isso, o dilogo mais prximo s instituies do poder judicirio e da segurana pblica.

    Tambm a promoo de valores da igualdade e da no discriminao, o enfrentamento ao racismo institucional e cultura de violncia permanecem como parte importante do Novo Plano Juventude Viva (PJV), dando continuidade e implementando estratgias capazes de transformar a realidade de violncia e vulnerabilidade dos territrios, com a oferta de servios e benefcios do conjunto das polticas pblicas.

    Foi avaliada a necessidade de construo de metas para a execuo do Plano, tendo em vista essas duas frentes de ao, considerando os prximos quatro anos. Alm disso, foram ela-boradas metas especfi cas para a gesto, com o objetivo de concretizar a retomada do Plano nos mbitos federal, estadual e municipal. Os eixos foram divididos em: i) Gesto do Novo Plano Juventude Viva; ii) Direitos e Proteo nos Territrios; e iii) Justia e Segurana Cidad para Jovens Negros.

    Outra alterao do novo plano foi a opo por utilizar o ndice de Vulnerabilidade Juve-nil (IVJ) como parmetro para a avaliao dos municpios com maior ndices de homicdios e vulnerabilidades aos jovens negros. O IVJ um indicador sinttico, calculado a partir de cinco dimenses: violncia entre jovens, frequncia escola, situao de emprego, pobreza no muni-cpio, e escolaridade. Tambm faz parte da produo do IVJ, o indicador especfi co de mortes por homicdios e o risco relativo de um jovem negro ser vtima de homicdio em relao a um jovem branco.

    Por fi m, os princpios utilizados foram a participao social, a perspectiva do jovem negro como sujeito de direitos, o combate ao racismo e cultura da violncia, sendo temas transversais de todas as aes do Plano.

    5. O QUE H DE NOVO NO PLANO JUVENTUDE VIVA?

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    a. REFERENCIAL TERICO

    Embora muitas pessoas digam que as prticas da discriminao, do racismo e do estigma se exprimam particularmente em cada sujeito, agindo somente nas afi nidades interpessoais, estudos demonstram que o estigma (fruto do preconceito e do racismo), descarregado no sujeito no uma questo restrita ao mbito individual.

    Erving Goff aman em Estigma notas sobre a manipulao da identidade deteriorada pu-blicada sua verso original em 1891, j nos alertava que a coletividade constitui os elementos para classifi car cada indivduo segundo aquilo que essa sociedade acha normal. Nesse sentido os ambientes sociais instituem as categorias de pessoas que tm expectativa de serem neles encon-tradas. As rotinas de relao social em recintos institudos nos admitem um relacionamento com outros indivduos previstos sem ateno ou refl exo caracterstica. Ento, quando um estranho apresentado para uma sociedade padro , a primeira atitude uma avaliao da exterioridade desse sujeito, pois essa viso permite que a coletividade modelo antecipe a sua hierarquia e a sua qualidade, a sua identidade social - para empregar um termo melhor do que status social, j que nele se compreendem caractersticas como honestidade, do mesmo modo que atributos estruturais, como ocupao e classe social (Goff man, 1891, p. 5).

    Garantir aos/s jovens negros o acesso justia condio para o enfrentamento vio-lncia contra as juventudes no Brasil. Segundo defi nio do Ministrio da Justia, alm de um direito humano, esse o percurso para a reduo da pobreza por meio da promoo da equidade econmica e social. Assim, onde no h largo acesso a uma justia efi caz e lmpida, a democra-cia est em risco e o desenvolvimento sustentvel no possvel. Apesar de uma caracterizao avanada de acesso justia assumida por um rgo do poder pblico brasileiro, sabido que ainda convivemos com enormes desafi os para efetivar esse direito.

    A Declarao Universal sobre Biotica e Direitos Humanos (DUBDH), homologada por 191 pases, Estados-Membros da Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (UNESCO), reconheceu os Direitos Humanos como referencial mnimo universal para a Biotica. A Declarao em si, expe eixos estruturais como: a justia, o reconhecimento da dignidade da pessoa humana, o respeito aos direitos humanos e s liberdades fundamentais (UNESCO, 2006). Em seu artigo 11 a Declarao, ao exprimir que a discriminao e a estigma-tizao compem formas de violaes dignidade humana, expede concepo de que estigma e dignidade humana esto intrinsecamente coligados; um s se manifesta no indeferimento do outro. O estigma se materializa quando se destri a dignidade do outro, quando o outro ate-nuado naquilo que o compe como ser humano, quando inferiorizado e julgado abaixo dos demais seres humanos. (GODOI e GARRAFA, 2014).

    Goff man (1975) expressa que a pessoa estigmatizada possui duas identidades: a real e a virtual. A identidade real o grupo de categorias e atributos que um sujeito prova ter; e a iden-tidade virtual o conjunto de categorias e atributos que os indivduos tm para com o estranho que aparece a sua volta, logo, so exigncias e atribuies de carter, feitas pelos normais, quan-to ao que o estranho deveria ser. Deste modo, uma dada particularidade pode ser um estigma, principalmente quando existe uma discrepncia particular entre a identidade social virtual e a identidade social real.

    Neste olhar de alteridade, Goff aman, (1891) revela que a identidade social de um sujeito divide o seu mundo de pessoas e ambientes, o que o faz tambm a sua identidade pessoal, ainda que de carter distinto. Conforme indicadores do Programa das Naes Unidas para Desenvol-

    6. NOVO PLANO JUVENTUDE VIVA

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    vimento (PNUD/2005) o desenvolvimento social brasileiro elimina a populao negra, o pas guarda pendncias evidentes quando este indicador avaliado de modo diferenciado entre as populaes negras e brancas. Se o racismo do pas escamoteado no dia-a-dia dos brasileiros, os mltiplos desenhos e pesquisa do RDH (2005) publicam a existncia de uma circunstncia de dessemelhana em diferentes nveis: sade, instruo, ocupao, residncia e renda. Entre os fato-res de reproduo das disparidades raciais no Brasil, educao ocupa um espao em evidncia.

    Assim, ao analisar outros dados como o da criminalidade noticiados em 2012 pelo De-partamento Penitencirio Nacional (Depen) do Ministrio da Justia, observa-se que naquela poca havia 548.003 indivduos presos e mais de 500 mil mandados de priso expedidos. Ainda na estimativa sobre o massacre da juventude negra, observou-se que 55% dos presos eram jovens com idade entre 18 e 29 anos, 46% possuam at ensino fundamental completo e mais de 60% deles eram negros como demonstram as figuras abaixo.

    Essa representao demonstra que a maior parte da populao privada de liberdade do Brasil constituda por jovens, negros e de periferia. Essa caracterstica de preso no pas refora estudos que demonstram barreiras quanto ao acesso justia. Outra insulta a dignidade humana o tempo de transio dos processos e o abuso de decretos de priso sem fundamentos.

    Essas estatsticas comprovam que o acesso justia resumido dimenso judicial torna-se excludente, sendo que essa excluso abrange dois elementos essenciais: o perfil dos sujeitos co-mumente criminalizados e os comportamentos tipificados como crime. No primeiro elemento, observa-se uma alternativa poltica pela priso em massa, que no leva em considerao os problemas sociais vividos por esses sujeitos como a exposio marginalidade, o subemprego e

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    a deficincia de acesso a servios sociais fundamentais, alm de descuidar de fatores como raa, faixa etria e territrio.

    Ainda segundo os dados do Departamento Penitencirio Nacional (Depen), o ndice de detentos do pas obteve um aumento de 400% nas duas ltimas dcadas, e como agravante, no houve reduo da violncia. possvel indagar que ainda prossegue um artifcio de criminalizao da pobreza, sustentada por um fantasioso mito social que aponta a juventude negra, pobres e moradores de periferias, favelas e comunidades como futuros criminosos ou infratores da Lei em potencial.

    Outro ponto que bloqueia o acesso justia para esses jovens a burocratizao da m-quina pblica. A infraestrutura problemtica nas varas de execuo penal (VEP), sobretudo o investimento escasso nas defensorias pblicas e a carncia de defensores que deprecia o acesso da populao que no encontra condies financeiras para pagar os benefcios de um advogado particular. Tambm se pode mencionar a relao embrionria entre os estabelecimentos que formam o sistema de justia; procedimentos demasiadamente complicados e, por vezes, impene-trveis no campo da administrao pblica, a deficincia no treinamento das polcias no sentido dos conflitos com a sociedade, pois age de forma agressiva com jovens negros e de periferia, o que coopera para abordagens extremamente violentas e reaes na mesma medida.

    Assim, deve-se analisar o presente eixo como uma ferramenta para democratizao do acesso Justia, cabendo s polticas para juventude negra conferir condies de acesso justia e expedir para essa populao cincia e apropriao dos seus direitos fundamentais e sociais.

    Leite (2016) descreve que constitucional que se marque a radicalidade da ruptura com a cultura do aprisionamento e com os desenhos habituais de preparar e conduzir a segurana pblica e da justia brasileira. Destaca ainda que o atual Sistema Penitencirio Nacional deman-da uma mltipla transformao de estruturas que est h tempos engavetada nos armrios dos governos. Tais mudanas so de diversos planos e esto sujeitas mobilizao de distintos atores, exigindo diferentes tempos de amadurecimento tambm.

    Ainda em Leite (2016), diante a todos os dados contemplados, entende-se por alternativas penais os mecanismos de interveno em conflitos e violncias, distintos do aprisionamento, no domnio do sistema penal, norteados para o reparo das relaes e ascenso da cultura da paz, a partir da responsabilizao com dignidade, autonomia e liberdade desses jovens. Assim, o que se avalia como fato reconhecido e caminho de partida, subentendido ou explcito, de uma arguio premissa para a desconstruo de uma penitenciria formada por jovens negros e pobres seguem os postulados:

    Figura 3 - Postulados

    Fonte: Leite (2016).

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    Os rgos do processo penal e as polcias devem ter completa harmonia com os princpios constitucionais do direito liberdade, independente de raa, cor, gnero sexual, incolumidade fsica, legtima defesa, presuno da inocncia e interveno mnima. A discricionariedade dos empenhos do sistema penal deve se afixar aos limites impostos em Lei, respeitando os direitos humanos constitucionais dos sujeitos danificados pela norma penal (LEITE, 2016).

    Ainda um fato corriqueiro reportar-se aos sujeitos comprometidos pelo direito penal como personagens desviantes, o que lembra uma discordncia com o ordenamento jurdico penal, que deve se ater ao ato.

    O Novo Plano Juventude Viva pode ser guiado pela Declarao Universal sobre Biotica e Direitos Humanos da UNESNO (2006), que tem por intuito:

    i. Prover uma estrutura universal de princpios e procedimentos para orientar os Estados na formulao de sua legislao, polticas ou outros instrumentos no campo da biotica;

    ii. Orientar as aes de indivduos, grupos, comunidades, instituies e empresas pblicas e privadas;

    iii. Promover o respeito pela dignidade humana e proteger os direitos humanos, asseguran-do o respeito pela vida dos seres humanos e pelas liberdades fundamentais, de forma consistente com a legislao internacional de direitos humanos;

    iv. Promover o dilogo multidisciplinar e pluralstico sobre questes bioticas entre todos os interessados e na sociedade como um todo;

    v. Salvaguardar e promover os interesses das geraes presentes e futuras.

    Em seu artigo 3 a Declarao destaca que:A dignidade humana, os direitos humanos e as liberdades fundamentais devem ser respeitados em sua totalidade. b) Os interesses e o bem-estar do indivduo devem ter prioridade sobre o interesse exclusivo da cincia ou da sociedade (DHBDH, 2006).

    Entende-se que por meio do respeito dignidade da pessoa humana alcana-se a liberda-de e o protagonismo da pessoa encarcerada, j que os holofotes estaro direcionados para o principal ator e interessado em sua sada desse sistema. Ainda devem-se analisar os obstculos enfrentados pelos egressos, pois infelizmente, v-se que a coletividade, as instituies pblicas e privadas, perante da violncia e criminalidade, se deixa levar pelo sensacionalismo da mdia escrita e falada aumentando o preconceito e o estigma para com esses sujeitos, e assim adota-se uma postura nada humanista em relao aqueles jovens que buscam seguir uma vida distante da criminalidade.

    Um dos princpios citados por Leite (2016) baseia-se na presuno de inocncia dos indi-vduos detidos como suspeitos de crimes, neste sentido, deve-se principalmente assegurar a essas pessoas o direito defesa e ao devido processo legal e ser capaz de desfigurar substancialmente o etiquetamento penal que se petrifica em determinado grupo social como o caso de jovens negros e pobres construindo de forma assombrosa uma identidade criminal altamente seletiva, racista e discriminatria. Reserva basilar a este princpio precisa se ater o juiz nos casos das cautelares e da transao, dando primazia pelo trnsito do processo com o sujeito suspeito em liberdade.

    Quanto poltica pblica estatal, imperativo que o governo estude mtodos para atenuar

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    o problema da lotao carcerria, deve-se investir em polticas pblicas direcionadas no somente ao cumprimento penal, mas tambm nas reas de educao, sade, segurana, habitao e gera-o de emprego como forma de diminuir as desigualdades sociais existentes na sociedade, para que todos tenham mais oportunidades e para que ao trmino do cumprimento da pena o preso encontre o apoio necessrio para refazer sua vida de forma digna.

    Com inmeras dificuldades relacionadas ao desencarceramento da juventude negra brasileira, o desenvolvimento intelectual e consequentemente o profissional dessa populao retarda e confirmam as estatsticas do Departamento Intersindical de Estatstica e Estudos Socioeconmicos (Dieese), expressadas em 2014. Os indicadores demonstram que48% dos brasileiros que trabalham so negros, entretanto a mdia salarial deles 36,1% menor que a dos trabalhadores brancos. Esse um fato enfrentado por mais de 50% da populao brasileira, que constituda por negros.

    Deste modo, para que se construa um Novo Plano Juventude Viva que traga transforma-o para este quadro cruel primordial que os novos Eixos de sustentao para implementao estejam completamente conectados e transformem os indicadores do passado.

    Expectativas de seguimento

    I. Quebra do racismo institucional por meio de treinamento para funcionrios pblicos e privados no sentido de desconstruo dos esteretipos da juventude negra;

    II. Consolidao e aumento de defensorias pblicas;

    III. Edificao de uma poltica de Justia nacional Restaurativa e Inclusiva;

    IV. Instalao de assistncia judiciria constante em todas as instituies prisionais e siste-mas e estabelecimentos de privao de liberdade de jovens em conflito com a lei;

    V. Ateno ao processo de apurao de atos infracionais, operacionalizado na Justia de Infncia e Juventude negra;

    VI. Abolio dos modos de revista humilhante contra pessoas que visitam familiares en-carcerados no sistema penitencirio brasileiro;

    VII. Expor a situao inaceitvel que se encontra a juventude negra brasileira;

    VIII. Reconhecer que existe um genocdio de jovens negros no pas e deste modo, atribuir tal situao como um problema de Estado;

    IX. Determinar urgentemente o enfrentamento do racismo como uma das primazias da gesto pblica, em mbitos municipal, estadual e federal, para que se possam desenvolver novas polticas pblicas para juventude negra;

    X. Dar visibilidade as distintas situaes de vulnerabilidade dos jovens nos mltiplas at-mosferas sociais;

    XI. Desempenhar audincias pblicas que debatam da temtica nas distintas cidades brasileiras;

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    XII. Implementar e fortalecer o Novo Plano Juventude Viva, inclusive com alargamento de infraestrutura, equipe de pesquisa e oramento;

    XIII. Aprovar e efetivar o Projeto de Lei (PL) 4471/2012 altera o Cdigo de Processo Penal e prev a investigao das mortes e leses corporais cometidas por policiais durante o trabalho, pois estes casos ainda so registrados pela polcia como autos de resistncia ou resistncia seguida de morte e no so investigados;

    XIV. Descentralizao das polticas de acolhimento para preveno e ateno s vtimas de preconceitos e agresso fsica ou verbal relacionadas ao racismo;

    XV. Formar polticas horizontais e articuladas entre as diferentes culturas das periferias brasileiras;

    XVI. Maior participao da sociedade civil na construo ou reconstruo de planos vol-tados para juventude negra de cada localidade;

    XVII. Colocar em pauta propostas da sociedade civil organizada que oferecem alternativas aos modelos existentes de atividades realizadas nas periferias nacionais;

    XVIII. Descentralizar e democratizar o acesso cultura e lazer juventude negra, oferecen-do opes gratuitas e/ou a preos subsidiados para eventos, servios e atividades dessa natureza;

    XIX. Acabar com a prtica de operaes policiais violentas dirigidas s ocupaes popula-res de comunidades, reconhecendo como abuso qualquer ato de violncia, seja fsica ou verbal;

    XX. Aumentar e estimular a apropriao dos espaos pblicos urbanos para eventos cul-turais no intuito de socializao e de formao cidad.

    Segundo a Plataforma Poltica Juventude contra a violncia - Garantir aos jovens ne-gros o acesso justia um condio intrnseca para que se possa encarar desconstruo da violncia nas periferias do Brasil. Segundo definio do Ministrio da Justia (MJ), alm de um direito humano, essa uma porta para o abatimento da pobreza por meio da aplicao de equidade social. De tal modo, observa-se que onde no existe o amplo acesso a uma justia eficaz e transparente, a democracia est em risco e a ampliao de sustentabilidade no con-segue atingir os objetivos.

    Conforme Pires e Lyrio (2012), o acesso a uma justia adequadamente preparada e constituda por juzes introduzidos na realidade social e empenhados com o objetivo de re-alizao da ordem jurdica justa, demanda dos rgos que formam o Sistema de Justia uma carter de enfrentamento real do problema racial com a juventude negra brasileira, por meio de respostas incisivas e adequadas s violaes de direito e violncia identidades que a ato racista produz.

    Como obrigao constitucional, o Estado deve fornecer segurana aos cidados, de modo independente de sexo, idade, classe social ou raa, uma extensa estrutura de proteo contra a probabilidade de tornarem-se vtimas de violncia. Apesar disso, a segurana pblica um dos campos da ao estatal onde o processo de seleo racial se torna mais latente.

    Existe hoje no Brasil uma larga disparidade entre brancos e negros quando se trata de distribuio da segurana pblica. Essa dessemelhana mencionada pelas maiores taxas de

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    homicdio da populao negra. Podem-se tomar como referncia os estudos que confirmam o genocdio dessa populao no pas, pois a cada trs assassinatos, dois so de negros como confirma o Atlas da Violncia (2011).

    Conforme o Programa de Reduo da Violncia Letal contra Adolescentes e Jovens (2010), no conjunto da populao residente nos 226 municpios brasileiros com mais de 100 mil habi-tantes, estima-se que a probabilidade de um jovem negro ser assassinado 3,7 vezes maior em comparao com os brancos.

    Neste perfil de violncia evoca-se uma poltica social onde a segurana e a justia cidad tenham um espao para resoluo desses problemas. Segundo a Plataforma Poltica Juventude contra a violncia, quando se refere ao acesso a justia e segurana da populao negra jovem e se destrincham suas bases de sustentao, possvel reconhecer a urgncia da necessidade de implementao de novos modelos de reduo de violncia.

    De acordo com a histria analisada por dcadas, a populao negra vivencia at os dias atuais condies de vida extremamente inferiores aos de pessoas brancas. Tal fator pode ser na-turalmente desenhado por identificadores sociais, como os que demonstram que 73% da popu-lao mais pobre no pas a comunidade negra; 79,4% dos indivduos brasileiros considerados analfabetos so negros; 62% das crianas que esto longe das escolas so negras; em mdia o salrio dos negros 40% menor que a de indivduos brancos.

    Silva e Panta (2014) explicam que os dados citados fazem parte da histria da populao negra do Brasil, pois mesmo com a abolio da escravatura no houve preocupao com seu processo de integrao na sociedade de classes, nem reparao dos anos de escravido e nem to pouco com seu desenvolvimento socioeconmico. Como sequela das mazelas do passado, o contingente negro, em sua maior parte, tem se ancorado, historicamente, as periferias mais ausentes e pobres das cidades do pas.

    Contudo, residir em locais estereotipados, discriminados e distinguidos por consecutivas ci-taes negativas impactam essa massa populacional, no exclusivamente no que diz respeito renda familiar e s dificuldades de obteno de emprego, mas, sobretudo no que se alude s suas subjetivi-dades como: esperanas, perspectivas, costumes, acomodao, motivao (SILVA e PANTA, 2014).

    Silva e Panta (2014) levantam questionamentos comuns em meio a nossa sociedade: De que maneira crianas e jovens negros, vivendo em comunidades estigmatizadas e repletos de cdigos negativos, tm as suas esperanas e motivaes balanadas todos os dias? De que modo as famlias negras tm suas expectativas de obteno de um trabalho que lhes garanta direitos, destrudos? Qual a percepo da criana negra que comea a perceber o mundo por meio de estigmas que acompanharo a sua vida na escola e fora dela?

    Goffman, (1891), responde de modo expressivo: a identidade social de um sujeito se compe no seu mundo de pessoas e lugares, o que o faz tambm a sua identidade pessoal, ainda que de maneira diferente, pois so esses quadros de identificadores que devem ser aplicados ao esboo da rotina diria de um sujeito estigmatizado em particular. Uma ttica vastamente empregada pelo indivduo desacreditvel manipular os riscos, repartindo o mundo em um amplo grupo ao qual ele no diz nada, e um grupo reduzido ao qual ele relata tudo e sobre o qual, ento, ele se ampara. Assim, ele escolhe exibir sua dissimulao justamente queles sujeitos que, em geral, formariam o maior perigo.

    Analisando de maneira horizontal, v-se que essa juventude no possui um acesso aos di-reitos fundamentais, a segurana efetiva e se destaca por esteretipos territoriais. De certo modo, a violncia no Brasil possui uma cor, possui uma geografia e uma faixa etria encaixada em uma classe social. Quando se destaca o presente eixo como uma das bases de sustentao do Novo Plano Juventude Viva, admite-se que os jovens das periferias brasileiras esto sendo cada dia mais abandonados ao estigma, a discriminao, aos preconceitos e aos esteretipos, destacando

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    ainda que todos esses atributos so as razes do genocdio dessa populao. O maior desafio a ser encarado pelo Novo Plano Juventude Viva o de superar a separao

    existente no campo social e econmico, das juventudes do territrio nacional para de certo modo, extinguir ou amortizar as desigualdades sociais e a violncia sofrida por estes sujeitos.

    b. EIXOS ESTRUTURANTES, OBJETIVOS E ESTRATGIAS

    Para uma melhor compreenso sobre o fenmeno da violncia contra o grupo populacio-nal da juventude negra, torna-se necessrio que se leve em considerao fatores arrolados ao contexto da violao, a representao das vtimas e atuao do Estado e da sociedade mediante ao genocdio desses jovens. Afrontar esse fato demanda empenho integral entre governos e sociedade civil nos mbitos: Municipal, Estadual, Nacional, alm de organismos internacionais.

    A pesquisa em questo teve como objetivo realizar um levantamento do contexto histrico das polticas pblicas de combate e preveno violncia juvenil. Por meio da pesquisa biblio-grfica e visitas tcnicas com oficinas de avaliao e propostas de reestruturao em distintas cidades do pas, buscou-se apresentar experincias e iniciativas de instituies pertencentes s esferas governamentais, adotando como marco metodolgico para a investigao, premissas e critrios que possibilitassem a limitao das iniciativas a serem investigadas, entre esses o critrio de tempo de criao e de ter sido objeto de estudo de pesquisa a nvel nacional.

    As discusses em torno da proposta de reestruturao do Plano Juventude Viva foram acompanhadas pelo CGJuv e tambm durante as Oficinas de Avaliao. O ponto de partida das formulaes o registro documental que j havia sido escrito desde o ano de 2015, pela ento equipe de coordenao do Plano. Assim, continuou sendo enfatizada a interlocuo com a Po-ltica de Segurana Pblica, avanando no entendimento de que o Juventude Viva tenha uma dimenso no apenas preventiva, mas tambm interventiva e de enfrentamento violncia. Esta dinmica ser possvel de ser estabelecida pela via desta interface, no sentido de que os homic-dios so uma realidade que alm de ser evitada com aes preventivas, deve ser enfrentada com aes interventivas.

    Assim, o objetivo central do Juventude Viva agregaria dimenso da reduo da vulne-rabilidade e da violncia, tambm a dimenso interventiva violncia letal de jovens negros/as. As aes a serem organizadas, articuladas ou desenvolvidas pelo Juventude Viva passariam a ter um vnculo mais estreito com os objetivos capazes de prevenir, enfrentar e intervir sobre os fatores da violncia letal praticada contra jovens negros/as. Alm desses, tambm a promoo de valores da igualdade e da no discriminao, o enfrentamento ao racismo institucional e cultura de violncia. Assim, a dimenso interventiva passaria a reunir as estratgias capazes de transformar a realidade de violncia e vulnerabilidade dos territrios, com a oferta de servios e benefcios do conjunto das polticas pblicas.

    c. OFICINAS TCNICAS DE AVALIAO DO PLANO JUVENTUDE VIVA E PROPOS-TAS DE REESTRUTURAO

    As oficinas foram realizadas no decorrer do ms de fevereiro de 2018, nos Estados de So Paulo, Bahia, Alagoas, Esprito Santo e Paraba. Diversos Municpios participaram. A equipe tcnica constituda pelos consultores: Carmem Da Masoco, Igo Gabriel dos Santos Ribeiro, Raissa Menezes de Oliveira sob a superviso tcnica do coordenador Helber Augusto Reis Borges, trabalhou em busca dos resultados aqui descritos.

    A Oficina foi conduzida por cada Consultor(a), com apoio da equipe de gesto estadual - Coordenao de Poltica de Juventude e Subsecretaria de Poltica de Promoo da Igualdade

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    Racial. No Estado Do Esprito Santo tambm contou com a participao da Sociloga Rafaela Cavalcante (que atuou na consultoria at o ms de dezembro de 2017)

    i. OBJETIVOS DAS OFICINAS TCNICAS

    Conhecer experincias referentes implementao do Plano Juventude Viva, desde o incio da adeso pactuada at o estgio atual, em cada regio, a fim de obter informaes re-levantes para a reestruturao.

    I. Conhecer as experincias de articulao do PJV nos territrios por parte dos Ncleos de Articulao Territorial NATs, em cada municpio;

    II. Compreender o impacto das aes do PJV no quadro de violncia e homicdios de jovens negros, em cada regio, desde a implementao;

    III. Analisar o conjunto de aes que integram o PJV;

    IV. Avaliar os eixos e diretrizes do Plano, visando sua adequao para a nova edio.

    Para o alcance desses objetivos foi estabelecido dilogo avaliativo entre gestores e con-selheiros municipais e estaduais, movimentos sociais, organizaes no governamentais e so-ciedade civil, com enfoque no processo de implementao do Novo Plano Juventude Viva nos territrios prioritrios.

    ii. DESENVOLVIMENTO

    A oficina teve ampla participao de gestores governamentais e no governamentais de juventude e de igualdade racial dos municpios. As atividades de grupos foram realizadas e por meio delas foram elencadas as anlises acerca da implementao do Plano, com pontuaes sobre xitos, lacunas e desafios, alm das proposies para o redesenho.

    Considera-se que os dilogos com os representantes da sociedade civil, conselheiros muni-cipais, gestores estaduais e dos municpios, os mobilizadores, os movimentos sociais de represen-tao da juventude negra nos Estados foram fundamentais para o enriquecimento da proposta de reestruturao do Plano Juventude Viva.

    iii. MOTIVOS QUE IMPULSIONARAM A ADESO AO PLANO JUVENTUDE VIVA

    I. Estudos e diagnstico sobre a violncia praticada contra jovens negros no municpio/estado;II. Articulao com o Sistema de Justia e Segurana Pblica;III. Implementao de Ncleo de Articulao Territorial;IV. Parceria com organizaes da sociedade civil ou outras instituies;V. Situao do aporte tcnico, organizacional para o desenvolvimento de aes/ projetos

    para cumprimento do Novo Plano Juventude Viva;VI. Situao do aporte oramentrio/financeiro para o desenvolvimento de aes/ projetos

    para cumprimento do Plano Juventude Viva;VII. Plano Municipal/ Estadual de Preveno Violncia contra Jovens Negros;VIII. Instituio do Comit Gestor Municipal/Estadual do Plano Juventude Viva;IX. Aes do PJV previstas no PPA do municpio/estado.

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    iv. PROPOSTAS APRESENTADAS NAS OFICINAS TCNICAS

    I. Renomeao Plano Juventude Negra Viva;II. Agregar o eixo Acesso Justia no eixo Direitos;III. Como lidar com as faces e crimes organizados?; IV. Priorizao das articulaes territoriais; V. Possibilidade de qualificao dos ndices e base de dados com categorias mais especficas

    (indicador de homicdios: racismo); VI. Proposta para eixos: 1) aperfeioamento institucional e articulao territorial, 2) ga-

    rantia de direitos, 3) acesso justia e segurana cidad; VII. Positivao da identidade negra com jovens negros nas escolas (empoderamento)/

    ampliao do conhecimento do PJV por jovens negros; VIII. Realizao de oficinas sobre racismo institucional com segurana pblica e sistema

    de justia;IX. Perspectiva da segurana cidad e dilogo com as comunidades; X. Fortalecimento da Lei 10.639 formao continuada de professores/as (valorizao da

    cultura e identidade negra/afro); XI. Qualificao da lei de crimes de racismo e injria racial; XII. Valorizao da produo de cultura local produzida por jovens negros (editais de

    fomento SEPPIR/ Fundao Palmares NUFAC (?) para movimentos que j trabalham com juventude;

    XIII. Academia da sade;XIV. Como inserir a juventude negra nos programas de sade que j existem para a po-

    pulao negra;XV. Impacto do contigenciamento dos gastos do Governo Federal para os municpios na

    promoo e garantia de sade da populao negra/ no agravo de doenas; XVI. Rediscusso do pacto federativo;XVII. Dilogo com ateno bsica e vigilncia em sade/ insero da questo do racismo

    institucional nas prticas de sade e nas prticas de mobilizao/ sensibilizao/ formao per-manente dos trabalhadores/as do SUS E SUAS;

    XVIII. Incluso da juventude negra como pblico prioritrio das Redes de Ateno em Sade, ex RAPS/ CAPS;

    XIX. Encaminhamento de servios de sade (tecnologia de exames) aos jovens e s jovens mulheres de assentamentos, LGBT e comunidades tradicionais: quilombolas, indgenas, ribeiri-nhas, pescadoras e ciganas;

    XX. Fomento para valorizao da cultura produzida por comunidades quilombolas, com foco nos jovens negros;

    XXI. Disponibilizao de modo transparente dos dados estatsticos sobre violncia; XXII. Redes de Proteo/ Frum de enfrentamento das violncias do MPF/PB com GT

    genocdio da populao negra: participao de diversas instituies negras, NEABI;XXIII. Continuidade e sinergia entre as polticas da criana, adolescente e jovens;

    Mediao de conflitos nos territrios com maior incidncia de violncias (pode integrar as redes de proteo): abordagem participativa na direo contrria da judicializao ncleos de mediao comunitria; formao de adolescentes e jovens para que possam atuar no espao escolar como mediadores de conflitos a partir da perspectiva dialgica.

    Em meio s investigaes realizadas pelos consultores, verificou-se a importncia de trs pontos de partida para edificao dos novos Eixos do Novo Plano Juventude Viva.

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    I - Garantia de Direitos, Proteo Social e Transformao de Territrios Vulnerveis

    Objetivo: Reduzir a vulnerabilidade da juventude negra, garantindo incluso em polticas pblicas essenciais.

    Aes Esperadas:I. Realizar Formao Continuada dos Operadores das Polticas Pblicas;

    II. Reestruturar o Projeto Rede Juventude Viva; Reeditar ou Recriar a Campanha Juven-tude Viva;

    III. Promover a Articulao Nacional Juventude Viva por meio da contratao de mobili-zadores regionais e locais;

    IV. Instituir instncia de Acompanhamento Regional das aes nas trs esferas (nacional, estadual e municipal) e Instituir Sistema de Monitoramento e Avaliao do Juventude Viva. Es-tao Juventude; Inova Jovem; Campanha Juventude Viva; Projovem Urbano; Pronatec; Servios de Convivncia e Fortalecimento de Vnculos; Academias de Sade; CRAS; CREAS; Unidades Escolares (Fundamental e Mdio); CEU das Artes; Rede De Ateno Psicossocial (RAPS); Con-sultrio de Rua; Ncleo de Formao e Criao Artstica e Cultural (NUFAC); Cultura Viva: Pontos de Cultura; Programa Ensino Mdio Inovador PROEMI; Programa Mais Educao; EJA e EJA Integrado Qualificao Profissional; Programa Sade na Escola; Capacitao para operadores das polticas pblicas.

    II - Acesso Justia e Segurana Cidad

    Objetivo: Ampliar o acesso justia, reduzir a impunidade e garantir condies de segu-rana nos territrios.

    Aes Esperadas:

    I. Promover aprimoramento de instituies e processos, bem como a integrao de aes e a incorporao de novos parmetros para as formaes dos agentes de segurana pblica com vistas a ampliar a resolutividade dos casos de homicdios, reduzir a criminalidade, a impunidade policial e ampliar o acesso justia para jovens em situao de vulnerabilidade e seus familiares;

    II. Repactuar Protocolo de Intenes para a Reduo de Barreiras de Acesso Justia para a Juventude Negra em Situao de Violncia;

    III. Realizar formao continuada dos operadores das polticas pblicas;IV. Instituir sistema de acompanhamento Legislativo;V. Instituir com fora de Lei o Protocolo de Reduo de Barreiras;VI. Fortalecer Mecanismos de Controle Externo como as Ouvidorias nas trs esferas de

    Governo;VII. Investigao de Homicdios; Instituir Sistema de Acompanhamento do Sistema Pri-

    sional e Socioeducativo e Fortalecer os Servios de Inteligncia e Investigao na Esfera Federal e Estadual;

    VIII. Notificao Compulsria de Violncia Domstica, Sexual e outras Violncias; Ncleo de Preveno de Violncias e Promoo da Sade (NPVPS); Protejo; Mulheres da Paz; Servio de Proteo Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade

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    Assistida (LA) e de Prestao de Servios Comunidade (PSC); Capacitao permanente para profissionais operadores das polticas pblicas; PPCAAM; PRVL; CREAS e Viva Jovem.

    III - Aperfeioamento Institucional e Enfrentamento ao Racismo

    Objetivo: Reduzir as iniquidades no acesso s polticas pblicas universais por meio do enfrentamento do racismo nas instituies

    Aes Esperadas:I. Formao continuada dos operadores das polticas pblicas;II. Reeditar Campanha de Enfrentamento ao Racismo (Campanhas SUS sem racismo, SUAS

    sem racismo e Sistema de Ensino sem racimo) e Fortalecimento da Rede de Proteo juventude Negra e suas Famlias. Campanha Juventude Viva;

    III. Rede Juventude Viva; Programa Educao Inclusiva: direito diversidade; IV. Capacitao para profissionais de Segurana Pblica;V. Pacto pela Vida da Juventude Negra no Sistema de Justia; VI. Oficinas para o Enfrentamento Violncia Contra a Juventude Negra no Sistema de

    Sade e Oficina de Identificao e Abordagem do Racismo Institucional.

    importante destacar que as discusses em reunies com as esferas envolvidas na reformulao do Novo Plano Juventude Viva foram indispensveis para construo dos novos Eixos. notrio o legado do Juventude Viva no contexto das polticas pblicas nacionais, mesmo que tenha tido curto perodo de durao, no entanto, o alcance dos resultados perseguidos e a correo de percurso, embasada pela avaliao da experincia, tambm depender da produo de dados mais detalhados e padronizados sobre os homicdios de jovens negros nos municpios e estados que aderirem ao Plano. Esta condio primordial para que o Novo Plano Juventude Viva seja avaliado em sua efetividade, eficincia e eficcia, nos momentos futuros.

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    I. Articular aes e servios disponibilizados pelos equipamentos pblicos atuantes no terri-trio; articular aes afi rmativas do conjunto das polticas pblicas e Produzir Editais de Fomento.

    II. Articular aes de formao permanente capacitao dos operadores das polticas p-blicas; produzir e/ou fomentar aes focalizadas a fi m de efetivar a incluso social de grupos especiais, como por exemplo, jovens egressos/as do sistema socioeducativo.

    III. Articular aes de formao permanente, capacitao dos operadores das polticas pblicas; produzir e/ou fomentar aes focalizadas para atendimento psicolgico e proteo s famlias de Vtimas e Produzir Editais de Fomento.

    Neste seguimento, a reestruturao do Plano Juventude Viva expe trs eixos indispensveis para a eliminao ou reduo do racismo/estigma - um dos principais responsveis pelo grfi co de violncias que abrange toda juventude negra brasileira. Os Eixos aqui apresentados contemplam um amplo trabalho realizado pela equipe de consultores que esquadrinhou, recuperou e reuniu as principais ideias largamente discutidas em encontros agenciados pela Equipe Juventude Viva, por meio da Secretaria Nacional de Juventude.

    A produo dos Eixos que nortearo o Novo Plano Juventude Viva foi alicerada sobre o problema da violncia contra a juventude negra brasileira em todo o territrio Nacional, envol-vendo programas e aes capazes de solucionar/amortizar o problema.

    EIXO I - GESTO - Articular e manter ativo o Novo Plano Juventude Viva nos trs nveis de governo da federao - Estratgias: Garantir articulao intragovernamental e intergover-namental, bem como promover a articulao nacional e territorial por meio da coordenao e ativao da Rede Juventude Viva, dos Ncleos de Articulao Territorial (NATs) e do Frum de Monitoramento Participativo Interconselhos (FOMPI), em parceria com organizaes governa-mentais, internacionais e da sociedade civil.

    EIXO II - DIREITOS E PROTEO NOS TERRITRIOS Reduzir as iniquidades no acesso s polticas pblicas universais por meio do enfrentamento do racismo nas instituies - Estratgias: Promover aprimoramento de processos e a formao permanente de profi ssionais no mbito das polticas pblicas de educao, sade e assistncia social, visando construo de novos parmetros de atuao na direo na oferta de servios com equidade, na garantia de acesso de jovens negros aos servios essenciais observando suas especifi cidades.

    EIXO III - ACESSO JUSTIA E SEGURANA CIDAD DE JOVENS NEGROS - Ampliar o acesso justia, reduzir a impunidade e garantir condies de segurana nos territrios - Estratgias: Promover aprimoramento de instituies e processos, bem como a inte-grao de aes e a incorporao de novos parmetros para as formaes dos agentes de segurana pblica com vistas a ampliar a resolutividade dos casos de homicdios, reduzir a criminalidade, a impunidade policial e ampliar o acesso justia para jovens em situao de vulnerabilidade e seus familiares. Repactuar Protocolo de Intenes para a Reduo de Barreiras de Acesso Justia para a Juventude Negra em Situao de Violncia.

    Estimular a participao da sociedade civil no debate para a reconstruo e implementao do Plano foi de extrema importncia. A cooperao entre governos municipais, secretarias, ministrios e a consultoria contratada no desenvolvimento dos Eixos trouxeram sustentao para esta etapa.

    7. METAS PARA O NOVO PLANO JUVENTUDE VIVA

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    Os trs eixos possuem um quadro de aes especfi cas para cada um, as quais so regidas por cinco diretrizes:

    RECONHECIMENTO DO JOVEM NEGRO COMO SUJEITO DE DIREITOS

    De acordo com a histria, a populao negra brasileira tem tido seus direitos violados. Essas transgresses foram alimentadas por teorias racistas elaboradas no sculo XIX. Tal dis-curso transcorre a histria do Brasil, produzindo relaes dessemelhantes entre as condies de direitos. A assinatura da Lei urea no garantiu aos negros o ingresso s riquezas sociais, ao avesso disso, um passado de lutas e de exigncias sociais distinguem a histria do negro brasileiro (RAIMUNDO, 2014). Assim, essa histria continua, contudo, reconhecer o jovem negro como um sujeito de direitos fazer justia a uma populao esquecida por sculos.

    DEFESA DO DIREITO VIDA E MEMRIA

    Tidos como meios efi cazes da justia de transio, os direitos memria e vida so linhas centrais na modifi cao democrtica de coletividades que abdicaram regimes ditatoriais como a escravido no Brasil. Tais direitos so expressados neste documento como elementos essenciais da integridade ao jovem negro brasileiro, pois permitem a concretizao de justia histrica impondo-se a satisfao de comprometimentos pelo Estado, o qual deve possibilitar aos sujei-tos negros no apenas o conhecimento documental retratando acontecimentos passados, mas igualmente deve sim, consentir e promover a imputao de responsabilidades pelas violaes de direitos humanos que tenham sido verifi cadas durante perodo de escravido, pelo racismo, pela discriminao entre outros fatores destruidores dessa juventude.

    ENFRENTAMENTO AO RACISMO, AO RACISMO INSTITUCIONAL, CRIMI-NALIZAO DA JUVENTUDE NEGRA E RESSIGNIFICAO DA POLTICA DE DROGAS

    O Brasil no pode ser distinguido como uma democracia racial, mas qualifi cado por um racismo institucional, em que hierarquias raciais so culturalmente aceitas, conforme o Relatrio da ONU do dia 4 de setembro de 2017. O documento relata que a participao dos afrodescendentes na economia nacional de somente 20% do PIB, embora representem mais da metade da populao do Brasil. O desemprego 50% maior entre os afro-brasileiros do que entre os descendentes de europeus, enquanto a mdia salarial entre os afrodescendentes de US$ 466, quase metade dos US$ 860 dos descendentes de europeus.

    O relatrio afi rma que existe um crculo de misria, habitao e educao imprprias, oca-sies de emprego restringidas. O documento conclui que uma Lei que incrimine o racismo um caminho para promover a luta contra o racismo a grupos marginalizados. A presente Diretriz ob-serva as informaes aqui citadas de modo claro e objetivo fundamentando os eixos do Novo Plano Juventude Viva para que se possa transformar uma realidade desprezada por um padro social.

    8. DIRETRIZES PARA A IMPLEMENTAO DO NOVO PLANO JUVENTUDE VIVA

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    FOCALIZAO DE AES NOS TERRITRIOS COM MAIORES NDICES DE LETALIDADE

    Conforme o Projeto de Lei 2438/2015 que Institui o Plano Nacional de Enfrentamento ao Homicdio de Jovens, os homicdios intencionais figuram o principal apontador de localidade para o reconhecimento da criminalidade e do grau de violncia descarregado na juventude negra do Pas. Em todo o globo, as principais fontes de informao para avaliao da letalidade violenta so os registros administrativos das organizaes componentes dos sistemas de justia criminal, bem como os dados de sade pblica.

    Deste modo, o Novo Plano Juventude Viva possui o desafio de reduzir os altos ndices de homicdios contra a juventude negra, acompanhando os territrios mais afetados pelos altos ndices de homicdios, e assim desconstruir essa cultura por meio da criao ou reconfigurao de espaos de convivncia para a juventude e para toda a comunidade.

    FORTALECIMENTO DAS REDES DE PROTEO DE JOVENS NEGROS

    Sensibilizar as distintas esferas de governo e a populao brasileira sobre o significado e aspectos do genocdio da juventude negra a finalidade desta Diretriz no mbito do Novo Plano Juventude Viva, pois a falta de proteo a essa juventude constitui-se como violao dos direitos humanos no Brasil, porquanto se mais da metade dos homicdios atinge a populao jovem, 75% dessas mortes de jovens negros. respeitvel destacar ainda que muitos desses homicdios so as sequelas da violncia policial.

    Portanto, o conceito desta Diretriz produzir substncias que mostrem a violncia e o genocdio de jovens negros (as), para que se possa debater o racismo enquanto problema social, alm de oferecer para a coletividade as propostas e aes requeridas e articuladas pelas redes que lutam pela equidade racial no Brasil.

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    9. EIXO 1 GESTO DO NOVO PLANO JUVENTUDE VIVA

    O objetivo desse eixo rearticular e manter a atuao do PJV, alm de defi nir metas para tornar vivel o monitoramento e a avaliao da implementao e dos impactos de execuo do Plano Juventude Viva. Isto demanda, inicialmente, a reativao dos Comits de Gesto Federal, Estadual e Municipal, bem como os Ncleos de Articulao Territorial (NATs), a contratao de articuladores locais e o estabelecimento das aes interministeriais que faro parte do Plano, sendo esses os primeiros passos para a reativao do PJV.

    Em seguida, deve-se retomar o dilogo com a sociedade civil, principalmente com a Rede de Articuladores e com os Conselhos de Juventude e de Igualdade Racial e junto com eles realizar a mobilizao necessria para produzir os Planos Municipais e Estaduais de Enfrentamento aos Homicdios contra Jovens Negros. Simultaneamente, necessrio realizar o Diagnstico Municipal ou Estadual, em acordo com o ente pactuado.

    Em sntese, esse eixo concentra aes destinadas gesto, ao fi nanciamento, articulao, ao monitoramento e avaliao do Novo Plano Juventude Viva. As aes devem ocorrer em sinergia com os demais eixos. Deve garantir, igualmente, a articulao territorial por meio da coordenao dos NATs e da parceria com organizaes governamentais, internacionais e da sociedade civil, buscando fortalecer a Rede Juventude Viva e outras Redes Sociais ativas. Deve garantir articulao intragovernamental e intergovernamental, alm da participao da sociedade civil por meio da articulao do Frum de Monitoramento Participativo Interconselhos (FOMPI).

    a. EMBASAMENTO TERICO

    A metodologia utilizada para o Diagnstico consiste na construo de uma base de dados sobre os ndices de homicdios de adolescentes e jovens, na forma como est sistematizada no Guia Municipal de Preveno da Violncia Letal contra Crianas e Adolescentes (2012). Essa base de dados deve ser construda pelos rgos gestores municipais e estaduais e disponibilizada para a sociedade civil e para os rgos gestores federais, que por sua vez constituiro uma Base de Dados Nacional, como parte do trabalho de acompanhamento e monitoramento do Plano.

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    Eixo 1. Gesto do Novo Plano Juventude Viva

    Objetivo especfico

    Rearticular e manter a atuao do PJV, observando a articulao entre poder pblico e sociedade civil

    Metas Aes Respons-veis

    1 Mobilizao e ca-pacitao

    Formao para gestores estadu-ais e municipais sobre racismo no Brasil e a construo simb-lica do negro no Brasil, racismo institucional e apresentao de indicadores da multidimensiona-lidade das violaes de direitos da juventude negra, atravs de oficinas preparadas pelos articu-ladores ou em parceria com as Universidades pblicas.

    Unio

    Formao para gestores esta-duais e municipais sobre gesto oramentria, incluindo a ca-pacitao para participao em editais e prestao de contas, atravs de oficinas realizadas pelos articuladores ou em par-ceria com ONGs que trabalhem na rea do oramento pblico, ou ainda atravs do Ministrio do Planejamento, Desenvolvi-mento e Gesto

    Unio

    2

    Instalao dos Comits Gestores estaduais e muni-cipais.

    Criao dos Comits de acordo com a portaria Portaria Intermi-nisterial n 44, de 29 de junho de 2017

    Unio, esta-dos e munic-pios

    Articulao e criao de Conse-lhos de Juventude e Igualdade Racial

    Estados e municpios

    b. METAS E AES

    Quadro 1. Eixo 1. Gesto do Novo Plano Juventude Viva

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    Eixo 1. Gesto do Novo Plano Juventude Viva

    Objetivo especfico

    Rearticular e manter a atuao do PJV, observando a articulao entre poder pblico e sociedade civil

    Metas Aes Respons-veis

    3

    Elaborao dos Planos de En-frentamento Violncia contra a Juventude Negra nos municpios e estados, tendo como referncia o Guia Municipal de Preveno Violncia Letal de Adolescentes e Jovens (2012)

    Articulao com a sociedade civil organizada, movimentos sociais, conselhos de juventude, igualdade racial e segurana pblica

    Estados e municpios

    4 Ativao da Rede de articuladores

    Contratao de articuladores e mobilizadores, prioritariamente jovens negros dos territrios selecionados para a implemen-tao das aes

    Unio, estados e municpios

    5Implementao dos Ncleos de Articu-lao Territorial.

    Capacitao da comunidade e sociedade civil para a participa-o em editais e prestao de contas

    municpios

    Mobilizao da comunidade e sociedade civil para o controle social da implementao do PJV

    municpios

    Mobilizao da comunidade e sociedade civil para a realizao de formao sobre racismo no Brasil e a construo simbli-ca do negro no Brasil, racismo institucional e apresentao de indicadores da multidimensiona-lidade das violaes de direitos da juventude negra.

    municpios

    Criao dos NATs Estados e municpios

    6

    Avano e consoli-dao da articula-o interministe-rial.

    Criao de agenda de reunies bilaterais Unio

    Reunies bimestrais do CGJuV Unio

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    Eixo 1. Gesto do Novo Plano Juventude Viva

    Objetivo especfico

    Rearticular e manter a atuao do PJV, observando a articulao entre poder pblico e sociedade civil

    Metas Aes Respons-veis

    7

    Garantia de re-cursos financeiros para o funciona-mento adequado dos programas.

    Insero do Plano no PPA Unio

    8

    Garantir a criao da Coordenao Geral do Novo Pla-no Juventude Viva

    Contratao de equipe tcnica, constando servidores, estagi-rios e consultores

    Unio

    9Reativao da Rede Juventude Viva.

    Articulao com estados e mu-nicpios Unio

    10

    Rearticulao do FOMPI e fomento da participao social.

    Organizar encontros nacionais anuais Unio

    11

    Acompanhamento e monitoramento da implementao do Plano.

    Criao do Sistema de Moni-toramento pela Coordenao Geral do PJV

    Unio

    12

    Acompanhamento e monitoramento dos dados sobre homicdio

    Sistematizar e alimentar banco de dados sobre ocorrncias de homicdios de jovens negros nos municpios, tendo como referncia o Guia Municipal de Preveno da Violncia Letal contra Adolescentes e Jovens (2012).

    Unio e muni-cpios

    13

    Normatizao do PJV, transforman-do em poltica de Estado.

    Criao do Programa Juventude Negra Viva Unio

    Entre as metas centrais do eixo Gesto est a de normatizar o Novo Plano Juventude Viva, estabelecer recursos financeiros prprios e meios de repasses para os municpios e para iniciativas da sociedade civil, que j realizam trabalho de preveno violncia com jovens de territrios vulnerveis. Assim ser estabelecido um arranjo institucional compartilhado entre as trs esferas

  • 51

    de governo, com a interface da sociedade civil, por meio das iniciativas em curso e outras que venham a ser constitudas. O estmulo e a construo permanente da dimenso participativa continuam a ser um dos pilares da gesto do Plano Juventude Viva.

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    Esse eixo d continuidade ao eixo do Plano anterior, chamado Eixo 2 Incluso, oportu-nidade e garantia de direitos que buscava efetivar os direitos garantidos constitucionalmente e historicamente negados aos jovens negros. Ao mesmo tempo, esse eixo aprimora seu objetivo ao buscar fortalecer as redes de proteo e dar ateno especial aos jovens em situao de rua, de dentro ou egressos do Sistema Socioeducativo e Penitencirio.

    Partindo da concepo do jovem como sujeito ativo de sua vida e de seu mundo, a pers-pectiva dessas aes no deve ser estigmatizadora nem assistencialista. No deve-se partir do pressuposto de que os jovens negros moradores da periferia sejam portadores de infi nitas ca-rncias e que por isso sejam potenciais trafi cantes ou criminosos. Assim, as aes no devem ter a funo de preencher o tempo ocioso desses jovens, mas sim de oferecer possibilidades de construo de alternativas sustentveis para suas vidas, de forma que eles possam se apropriar das experincias sociais, gerando acmulos positivos e consistentes em suas trajetrias pessoais.

    a. EMBASAMENTO TERICO

    Em sntese, esse eixo rene diversas pesquisas e aes destinadas a jovens negros em situao de vulnerabilidade social e vtimas de violncia fsica e simblica, e por meio do entendimento do sofrimento dessa populao busca garantir o acesso aos direitos fundamentais por meio da oferta de aes nas reas de educao, sade, assistncia social, cultura, trabalho e renda. Inclui tambm aes voltadas para a promoo e incentivo ao desenvolvimento e participao em aes governamentais ou da sociedade civil organizada, destinadas proteo, transformao dos territrios e superao da cultura de violncia contra a juventude negra, por meio da reconfi -gurao ou criao de novos equipamentos e servios pblicos.

    b. METAS E AES

    Quadro 2. Eixo 2. Direitos e Proteo nos Territrios

    10. EIXO 2 DIREITOS E PROTEO NOS TERRITRIOS

    Eixo 2. Direitos e Proteo nos Territrios

    Objetivo especfi co

    Garantir a incluso em polticas pblicas essenciais para jovens negros nos territrios mais vulnerveis e fortalecer as Redes de Proteo.

    Metas Aes Respons-veis

    1

    Articular aes espec-fi cas que incentivem a permanncia de jovens negros na esco