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Fatores facilitadores e dificultadores do fluxo de atendimento para a prevenção e o
controle do câncer de mama na perspectiva de usuárias de uma unidade terciária da
rede pública de saúde de Goiânia-GO*
Thuane Bandeira Cortes1, Nilza Alves Marques Almeida2, Silvia Rosa Souza Toledo3, Marta
Rovery de Souza4
Faculdade de Enfermagem /UFG, Goiânia-GO 74605-080, Brasil
Email: [email protected]
Descritores: Câncer de mama. Sistema Único de Saúde. Saúde Pública.
INTRODUÇÃO
O câncer de mama é uma das doenças de maior impacto devido à elevada incidência
entre as mulheres de todo o mundo. Segundo dados divulgados pela Organização Mundial da
Saúde, estima-se que no ano 2030, ocorra 27 milhões de casos incidentes de câncer, 17
milhões de mortes por câncer e 75 milhões de pessoas vivas, anualmente, com câncer em todo
o mundo (OMS, 2012). É um problema de saúde pública pelo aumento consistente nas taxas
de morbidade, mortalidade e pelo seu elevado custo no tratamento (PAULINELLI et al.,
2003).
No Brasil, o câncer de mama ocupa o segundo lugar em incidência, sendo ultrapassada
apenas pela neoplasia de pele do tipo não melanoma. É a maior causa de mortalidade por
câncer na população feminina nas regiões Sudeste, Sul, Nordeste e Centro-Oeste e a segunda
na região Norte, nesta última precedida apenas pelo câncer do colo uterino (BRASIL, 2011).
*Revisado pelo orientador. 1 Acadêmica da Faculdade de enfermagem Universidade Federal de Goiás. Orientanda do Programa Institucional de Iniciação da UFG, modalidade PIVIC. E-mail: [email protected] 2 Doutora em Ciências da Saúde. Professor Adjunto da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás (FEN/UFG). Membro de Grupo de Pesquisa do Programa de Mastologia do Hospital das Clinicas da UFG. E-mail: [email protected] 3 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFG. 4 Doutora em Ciências Sociais. Professor Associado do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da UFG.
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Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8571 - 8580
Estima-se que para 2012/2013 ocorrerão 52.680 casos novos de câncer de mama, com
risco estimado de 52 casos para cada 100 mil mulheres. Na região Centro-Oeste, a taxa de
incidência estimada é de 48/100.000 mulheres. No estado de Goiás, a estimativa de casos
novos para 2012 é de 1.320 e para Goiânia 450 novos casos. Nas últimas três décadas, notou-
se aumento de sua taxa de mortalidade com a estimativa de ocorrência de 15,6 óbitos por
100.000 mulheres/ano (BRASIL, 2011).
As condições socioeconômicas, o confinamento geográfico e étnico, além das diversas
formas de acesso das usuárias aos serviços de saúde tem dificultado o diagnóstico precoce de
doenças, em especial das neoplasias (OLIVEIRA et al., 2011). Diante desse contexto, as taxas
crescentes de mortalidade por câncer de mama no Brasil, em parte, devem-se a descoberta
tardia, pois o câncer de mama quando diagnosticado e tratado precocemente possui melhor
prognóstico (BRASIL, 2010).
Embora as neoplasias malignas sejam a segunda causa de morte no país, as estratégias
para seu controle enfrentam problemas que afetam desde os mecanismos de formulação de
políticas, até a mobilização da sociedade, incluindo a organização e o desenvolvimento das
ações e serviços e as atividades de ensino e pesquisa (OLIVEIRA et al., 2011).
Dois aspectos caracterizam o câncer como um problema de saúde pública no Brasil.
Primeiro, o aumento gradativo da incidência e mortalidade por câncer, proporcionalmente ao
crescimento demográfico, o envelhecimento populacional e ao desenvolvimento
socioeconômico. Segundo, o desafio que isso representa para o sistema de saúde no sentido de
garantir-se o acesso pleno e equilibrado da população ao diagnóstico e tratamento dessa
doença (OLIVEIRA et al., 2011).
A Organização Mundial de Saúde ressalta a importância da detecção precoce do
câncer e enfatiza, também, que para um efetivo controle deve ser garantida uma atenção
integral ao indivíduo em todos os níveis, desde a prevenção, detecção precoce, diagnóstico e
tratamento até os cuidados paliativos (OMS, 2002). Nessa perspectiva, para melhor
compreender e controlar as doenças malignas os serviços de saúde devem ser eficientes,
eficazes e efetivos de forma a utilizarem os recursos disponíveis para o planejamento,
execução e avaliação das estratégias de controle do câncer (BRASIL, 2009).
Diante dos recursos disponíveis para o tratamento do câncer, um fator facilitador foi à
lei 11.664/2008 que garante acesso gratuito à mamografia reforçando o estabelecido pelo
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princípio do SUS: Direito universal a saúde. Democratizando o acesso ao tratamento
(BRASIL, 2010).
A mamografia é considerada o principal método diagnóstico do câncer em estágio
inicial, por possibilitar a detecção de alterações ainda não palpáveis, favorecendo um
tratamento mais efetivo e menos agressivo (SCLOWITZ et al., 2005).
O recomendado para controle do câncer da mama é o exame clínico anual das mamas,
a partir dos 35 anos, para mulheres que possuem riscos elevados (história familiar de câncer
de mama) e, a partir dos 40 anos, para as mulheres que não possuem história familiar de
câncer de mama e o exame mamográfico, a cada dois anos, para mulheres de 50 a 69 anos
(BRASIL, 2009).
O contexto atual do sistema de saúde evidencia como a rede de serviços de saúde no
país tem sido construída e implantada ao longo dos anos. No decorrer desse processo foi
considerada a lógica da oferta e não da necessidade de saúde da população. Isso resultou na
estruturação fragmentada da rede, caracterizada por comunicação insuficiente entre os
diferentes pontos de atenção, o que tem interferido na eficiência, eficácia e efetividade das
ações e serviços de saúde (CONASS, 2008).
A eficiência do sistema de saúde esta relacionada com a competência para se produzir
resultados com dispêndio mínimo de recursos e esforços. Eficácia, por sua vez, remete aos
resultados desejados de experimentos obtidos em condições controladas. Quanto à
efetividade, essa se relaciona com a capacidade do sistema em alcançar resultados pretendidos
(RIBEIRO, 2006).
Diante destas evidências, torna-se relevante conhecer as dificuldades e as facilidades
do fluxo de atendimento de usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS) a fim de colaborar
para o fortalecimento de seu ordenamento e consequentemente promover mudanças positivas
para a redução da mortalidade por câncer de mama.
OBJETIVO
Descrever os fatores facilitadores e dificultadores do fluxo de atendimento para a
prevenção e o controle do câncer de mama, na perspectiva de usuárias de uma unidade
terciária da rede pública de saúde de Goiânia-Go.
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METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa transversal analítica de abordagem quantitativa, executada
em uma unidade terciária de referencia no atendimento de doenças mamárias da rede pública
de saúde do município de Goiânia-GO, no período entre janeiro a abril de 2012.
Este estudo foi realizado como sub-projeto do projeto de pesquisa “Fluxo de
atendimento para a prevenção e o controle do câncer de mama na perspectiva de usuárias de
uma unidade terciária da rede pública de atenção a saúde de Goiânia-GO”, aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás
(HC/UFG), sob o protocolo n. 162/2011.
Foram incluídas no estudo as usuárias do serviço, que atenderam aos seguintes
critérios: idade maior de dezoito anos; residência no município de Goiânia; diagnóstico de
câncer de mama; tratamento ambulatorial ou cirúrgico para o câncer de mama. Foram
considerados os seguintes critérios de exclusão para seleção dos sujeitos de pesquisa: ter
deficiência cognitiva e mental e ter abandonado o tratamento no período vigente da coleta de
dados da pesquisa.
Os procedimentos de operacionalização da pesquisa envolveram: 1) teste piloto para
ajustamento do instrumento de coleta de dados; 2) triagem dos sujeitos de pesquisa baseada
nos critérios de elegibilidade, por meio de leitura dos prontuários das usuárias agendadas no
ambulatório do PM; 3) convite às usuárias do PM para participação voluntária no estudo por
meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE, em conformidade com o que
estabelece a legislação vigente na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde
(BRASIL, 1998); 4) preenchimento, juntamente com a participante, do questionário referente
dificuldades e facilidades do fluxo de atendimento para a prevenção e o controle do câncer de
mama; e 5) Análise e discussão dos dados.
Para atingir o objetivo proposto foram selecionadas as seguintes variáveis para o
estudo:
1) acessibilidade e acesso ao fluxo de atendimento – idade da 1ª consulta ginecológica
(anos), meios de agendamento de consulta na atenção básica;
2) Facilidades, dificuldades e fatores considerados indiferentes no fluxo de
atendimento – local de referência para exames, deslocamento para realizar exames, acesso
aos resultados dos exames, retorno ao médico, acesso à consulta especializada, tempo
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agendamento/consulta especializada, tempo para realizar os exames, início do tratamento,
tempo inicio/continuidade do tratamento, apoio do governo, continuidade do tratamento,
realizar exames na unidade hospitalar.
Para a análise dos dados utilizou-se como ferramenta os programas Microsoft Excel
2003 e SPSS Statistics 15.0. Os dados foram categorizados e apresentados em tabelas, com
frequência simples e percentual, sendo analisados por meio de procedimentos de estatística
descritiva.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período de coleta de dados foram elegíveis 107 usuárias da unidade de estudo, que
atenderam aos critérios de inclusão. Dentre essas, 102 consentiram voluntariamente em
participar na pesquisa e 5 se recusaram. Das 102 que aceitaram, as 10 primeiras fizeram parte
do teste piloto e as outras 7 foram excluídas em decorrência de perdas de informações durante
o procedimento de coletas de dados. Ao final, para a análise dos dados, totalizaram-se 85
participantes no estudo.
Entre as 85 usuárias da unidade de estudo que foram entrevistadas a idade média foi
de 56,26 anos idade, sendo que a menor faixa etária foi de 29 e maior de 82 anos. A maioria
delas apresentou entre 40 a 59 anos de idade (48 – 56, 4%).
Ao serem questionadas sobre a acessibilidade e ao acesso aos serviços de saúde, 87%
das participantes apontaram que realizaram avaliação ginecológica em idade fértil, entretanto,
menos da metade realizou avaliação das mamas na atenção básica. Sabe-se que o exame
clínico da mama (ECM) é parte fundamental da propedêutica para o diagnóstico de câncer.
Deve ser realizado como parte do exame físico e ginecológico, e constitui a base para a
solicitação dos exames complementares (BRASIL, 2009).
Para mulheres com idade entre 40 a 49 anos a rotina de rastreamento preconizada é a
realização anual do clínico da mama (ECM) e, nos casos alterados, a complementação com o
exame mamográfico. Mulheres de 50 a 69 anos a rotina de rastreamento preconizada é a
realização anual do ECM e da mamografia a cada dois anos (BRASIL, 2009).
À medida que as mulheres têm acesso mais fácil à consulta ginecológica e aos exames
complementares como a mamografia, preocupam-se menos com a prática do auto-exame e do
exame clinico das mamas (SCLOWITZ et al., 2005).
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Na figura 1 estão apresentadas as facilidades e as dificuldades percebidas pelas
entrevistadas em relação ao fluxo de atendimento para prevenção e o controle do câncer de
mama, assim como os fatores que foram considerados indiferentes por elas no processo de
atendimento.
Figura 1. Facilidades, dificuldades e fatores considerados indiferentes no fluxo de
atendimento na perspectiva das usuárias para prevenção e o controle do câncer de mama em
Goiânia-Go, 2012.
O tempo de início e continuidade do tratamento foi considerado a principal facilidade
e o acesso ao benefício previdenciário foi à dificuldade mais apontada pelas usuárias.
Com base em dados disponíveis em registros hospitalares, 60% dos tumores mamários
em média são diagnosticados em fases avançadas. Por isso a importância de obter facilidades
no início e continuidade do tratamento, para reduzir os estágios avançados da doença
(FOGAÇA, GARROTE, 2004).
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O SUS por tratar-se de um sistema novo, vem buscando estruturar-se, tanto do ponto
de vista organizacional, quanto dos recursos humanos (FADEL et al., 2009). O grande desafio
é proporcionar maior efetividade.
Identificou-se que uma das dificuldades apresentadas pela maioria das entrevistadas
em relação a seu fluxo de atendimento na rede de saúde tem relação com a baixa renda, pois o
apoio do governo no que tange a benefício previdenciário como auxílio doença foi apontado
como meio de garantia de deslocamento para realização de exames, consultas e tratamento e
compra de remédios. Esse fator foi apontado por 69,41% das entrevistadas.
O fluxo de atendimento de usuárias com câncer de mama ocorre da seguinte maneira:
através das unidades básicas de saúde, respeitando a área que a usuária habita e na ausência da
mesma o agendamento deverá ser realizado por telefone (FADEL et al., 2009). A consulta
poderá ser realizada por clínicos gerais, e o encaminhamento deve ser para o ginecologista ou
mastologista, caso os resultados dos exames apresentem alguma alteração, como sinais de
malignidade.
Os fatores apontados como principais facilitadores do fluxo de atendimento foram o
acesso à consulta especializada (69,41%), realização de exames na unidade hospitalar
(63,52%), acesso aos resultados dos exames (69,41%), início do tratamento (60%), tempo
entre inicio e continuidade do tratamento (74,1%) e continuidade do tratamento (61,17%). A
realização de exames na unidade hospitalar torna–se um fator facilitador, pois, o SUS
disponibiliza acesso gratuito à mamografia. Democratizando o acesso ao tratamento
(BRASIL, 2010).
Quanto aos fatores de deslocamento para realização de exames nas clínicas de
referência e localização geográfica das mesmas, chamou atenção o fato de haver um
percentual aproximado entre estes no que refere a facilidades (40% e 42,3%) e a dificuldades
(43,5% e 36,4%), respectivamente. Isto pode representar uma variação nos trajetos, realizados
pelas usuárias na rede de atenção a saúde, quanto ao fluxo de atendimento associado à
acessibilidade e ao acesso para prevenção e controle do câncer de mama.
Neste sentido, a localização do serviço e dos usuários, os meios de transporte
disponíveis, à distância, o tempo e o as dificuldades financeiras para o deslocamento devem
ser considerados, pois afetam a continuidade do tratamento (OLIVEIRA et al., 2011). Vale
destacar que a identificação precoce é um requisito importante para a redução das taxas de
mortalidade por câncer de mama.
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Os resultados revelam que as usuárias encontram dificuldades no fluxo de
atendimento. Entre as dificuldades apontadas estão àquelas relacionadas a fatores financeiros,
de deslocamento e negligência dos profissionais na realização do exame clínico das mamas
nas consultas ginecológicas. Porém de acordo com os dados das entrevistadas as facilidades
no fluxo de atendimento foram mais evidentes. Isso retrata que o SUS necessita de alguns
reajustes para um funcionamento eficiente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar dos dados analisados retratarem que o programa de prevenção ao câncer mama
em Goiânia-GO, encontra-se estruturado quanto ao fluxo de atendimento, ainda apresenta
grandes desafios no sentido de proporcionar maior efetividade.
O estudo mostra que a maior parte das dificuldades quanto ao atendimento foram
sobrepostas pelas facilidades identificadas pelas entrevistadas com menor influência de
fatores indiferentes no atendimento.
Isto reforça a relevância da integração entre os diferentes níveis de atenção para o
adequado funcionamento da rede de atenção a saúde, com vistas a garantir a efetividade do
Sistema Único de Saúde e a integralidade das ações de prevenção e o controle do câncer de
mama a todas as usuárias.
Nessa perspectiva, tornam-se necessárias abordagens inovadoras que levem a
conscientização profissional e a transformação da realidade do SUS que tem prosperado, mas
que ainda precisam ser melhoradas para obtermos o SUS que queremos e que cotidianamente
vem sendo construído por aqueles que nele acreditam.
REFERÊNCIAS
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SCLOWITZ, M. L. et al. Condutas na prevenção secundária do câncer de mama e fatores
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Estudo estrutural da infecção por Candida albicans no epitélio urogenital do gerbilo
Meriones unguiculatus por microscopia de luz
Thálitta Hetamaro Ayala Lima1, Lucia Kioko Hasimoto Souza2, Fernanda Cristina Alcantara
dos Santos3, Josiane Faganello4
1Bolsista PIVIC, acadêmica do curso de Biomedicina, Instituto de Ciências Biológicas,
Universidade Federal de Goiás, Goiânia – GO; 2 Docente do Instituto de Patologia Tropical e
Saúde Pública/UFG, Goiânia – GO; 3Docente do Instituto de Ciências Biológicas/UFG,
Goiânia – GO, 4∗ Orientadora, docente do ICB/UFG, Goiânia – GO
Endereços eletrônicos: [email protected] e [email protected]
PALAVRAS – CHAVE : candidíase vulvovaginal, Candida albicans, modelo de infecção.
INTRODUÇÃO
A candidíase vulvovaginal (CVV) é causada principalmente por Candida
albicans, um fungo oportunista, que habita de forma comensal o trato gastrointestinal e
vaginal. A infecção pelo fungo pode estar relacionada com alguns fatores de predisposição
tais como: oscilações hormonais, gravidez, uso de contraceptivos orais, uso de antibióticos,
terapia de reposição hormonal, fase lútea do ciclo menstrual dentre outros (Sobel, 1992). A
infecção resulta de um crescimento anormal da levedura no trato genital.
A CVV afeta cerca de 75% das mulheres em idade reprodutiva e já é considerada
um problema de saúde pública sendo considerada a segunda infecção vaginal mais freqüente,
perdendo apenas para vaginites causadas por bactérias (Sobel, 1993; Sobel, 2007). A
candidíase vulvovaginal recorrente (RVVC) atinge de 5% a 10% das mulheres e consiste na
manifestação da doença mais de uma vez ao ano, sendo que geralmente a paciente apresenta
de 3 a 4 episódios/ano.
C. albicans apresenta a capacidade de se desenvolver em diferentes formas
(levedura, pseudo-hifa e hifa), enquanto C. glabrata apresenta forma de levedura e foi
demonstrado até o momento que pode formar pseudo-hifas apenas em condições de redução
de nitrogênio (Kaur et al ., 2005; Wells et al., 2007). Informações como genes expressos pelas
diferentes formas do fungo e características bioquímicas da parede celular têm sido de grande
∗ Texto revisado pela orientadora
Capa Índice 8581
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8581 - 8594
valia para o melhor entendimento dos mecanismos de adesão e invasão do fungo, bem como
da patogenicidade (Zhu e Filler, 2010).
Diversos estudos têm analisado os fatores relacionados com a patogenicidade da
levedura. Observou-se até o momento que a transição de levedura para hifa é essencial para a
virulência do fungo (Melo et al., 2003). A hifa mostra-se mais agressiva para causar danos nas
superfícies celulares do que as leveduras e isso ocorre devido a produção de enzimas líticas
como aspartil proteinases (SAPs) (Hube et al., 1997; Naglik et al., 2003). A presença de
estradiol estimula a transição da forma de levedura para hifas, podendo aumentar assim a
virulência do fungo (White e Larsen, 1997).
Pequenos mamíferos, principalmente os ratos Wistar e camundongos, foram até o
momento os animais mais utilizados como modelo de infecção por C. albicans devido à
similaridade morfofuncional com a espécie humana (Samaranayake e Samaranayake, 2001;
Yano e Fidel, 2011). O estabelecimento da candidíase vulvovaginal nos roedores depende de
um pseudoestro prolongado, geralmente induzido com 1,7-β – estradiol, o que demonstra uma
similaridade importante entre humanos e os modelos utilizados na experimentação animal
(Dennerstein e Ellis, 2001). Um dado importante a ser considerado é que na ausência dos
fatores de predisposição a CVV costuma ocorrer na fase luteal, quando a concentração de
estrógeno e progesterona estão altos (Carrara et al., 2010).
O roedor gerbilo (Meriones unguiculatus) tem sido adotado em experimentos
biológicos e biomédicos devido às semelhanças morfológicas e fisiológicas quanto ao sistema
reprodutor feminino deste animal com a espécie humana (Nolan et al., 1990). Contudo, até o
momento, nenhum estudo utilizou o gerbilo como modelo de infecção vaginal por C.
albicans. Em decorrência das semelhanças morfofuncionais, o presente estudo dedicou-se
também à análise da próstata do gerbilo fêmea. A próstata humana feminina foi
primeiramente descrita por Reinier de Graaf no século XVIII, demonstrando a homologia
com a próstata masculina (Zaviacic, 1999). Nas fêmeas essa glândula está localizada na
parede uretral e exibe as mesmas estruturas que a versão masculina: epitélio colunar
pseudoestratificado e os componentes celulares, enzimáticos e estromais necessários à sua
função (Custodio et al., 2004; Santos et al., 2006; Zaviacic et al., 2000).
Considerando o que há descrito na literatura sobre modelos de infecção com C.
albicans, este estudo procurou estabelecer um novo modelo de CVV in vivo, utilizando
fêmeas do gerbilo, que apresenta sistema reprodutor com características mais próximas ao de
humano, e avaliou os efeitos da interação do fungo com os tecidos do hospedeiro.
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OBJETIVOS
Objetivos gerais:
• Estudar os aspectos estruturais da adesão de C. albicans ao epitélio do trato urogenital
utilizando como modelo de infecção in vivo fêmeas do gerbilo Meriones unguiculatus.
Objetivos específicos:
• Desenvolver um modelo de infecção experimental por Candida albicans em sistema
reprodutor feminino utilizando fêmeas do gerbilo M. unguigulatus;
• Avaliar a adesão, a internalização de células e a formação de pseudo-hifas por C.
albicans no epitélio urogenital de fêmeas do gerbilo empregando microscopia de luz;
• Estudar os efeitos provocados sobre os tecidos dos diferentes órgãos do tratao genito-
urinário do hospedeiro após a interação com o fungo.
MATERIAIS E MÉTODOS
Migrorganismos e condições de cultivo
Foi utilizado um isolado de C. albicans proveniente de CVV humana e
identificado previamente por métodos bioquímicos. Os isolados foram cedidos pelo
Laboratório de Micologia do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade
Federal de Goiás, onde também foram mantidos. Os isolados foram cultivados em ágar
Sabouraud dextrose suplementado com 50 µmg/mL cloranfenicol e incubados a 30° C por 48-
72 horas.
Animais
As fêmeas de gerbilo (Meriones unguiculatus), utilizadas no experimento foram
provenientes do Centro de Bioterismo da Universidade Estadual Paulista, campus de São José
do Rio Preto (SP). Foram mantidas em caixas de polietileno, com substrato de maravalha, sob
condições controladas de luminosidade e temperatura média de 23°C, sendo fornecidas água
filtrada e ração “ad libitum”. Esta pesquisa foi aprovada pela Comissão de Ética no Uso de
Animais da UFG (Protocolo Nº 330/2010). Foram utilizadas 17 fêmeas adultas (com
aproximadamente 120 dias de idade) pesando em torno de 50-60 g.
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Infecção experimental do trato urogenital
Para estabelecer a infecção, foi feita uma aplicação intravaginal de 20 µL da suspensão
da levedura em cada animal. Essa suspensão foi preparada em solução salina estéril na
concentração de 5x108 células/mL. A manutenção da infecção foi monitorada semanalmente
por três semanas depois da indução da infecção. Com o auxílio de micropipeta, foram
introduzidos 100 µL de solução salina estéril na vagina e imediatamente removidos. Parte
deste volume foi espalhado em placas de Petri contendo ágar Sabouraud dextrose com
clorafenicol, que foram incubadas por 48-72 h a 30°C. Considerou-se infecção positiva
quando pelo menos uma colônia cresceu em cada contagem e a média de todas as culturas de
cada gerbilo foi maior ou igual a 100 UFC/mL (Damke et al.,2010). Também foi realizado
espalhamento de 10 µL do lavado vaginal das fêmeas em lâminas de vidro semanalmente
durante o período de infecção e antes do sacrifício. O material foi corado com azul de
toluidina e observado em microscópio de luz para visualizar as características das células
descamadas e verificar a presença de leveduras, hifas e leucócitos.
Os animais foram eutanaziados três semanas após a infecção com overdose de
anestésicos (Cetamina e Xilazina). A vagina, a uretra, a bexiga, o útero e a próstata foram
coletadas e devidamente fixados, conforme descrito a seguir, para análise em microscopia de
luz.
Grupos experimentais
As fêmeas de gerbilo foram divididas em três grupos:
• Grupo 1: Quatro (04) fêmeas foram utilizadas. Os animais deste grupo foram
inoculados (aplicação intravaginal) com C. albicans uma vez por semana, durante 21 dias. A
primeira inoculação foi durante a fase de estro. Os animais foram eutanasiados após este
período.
• Grupo 2: Nove (09) fêmeas foram utilizadas. Os animais deste grupo receberam uma
aplicação semanal subcutânea de 0,1 mg de beta-estradiol por 4 semanas e foram inoculados
apenas uma vez com C. albicans, uma semana após a primeira aplicação de hormônio. Os
animais foram eutanasiados 21 dias após a inoculação com a levedura.
• Grupo 3 (controle) : Quatro (04) fêmeas foram utilizadas. Estes animais receberam
uma aplicação semanal de 0,1 mg de beta-estradiol por 4 semanas mas não foram inoculados
com a levedura.
Capa Índice 8584
Análise em microscopia de luz
O material coletado foi fixado por 3 horas em solução contendo 60% de metanol,
30% de clorofórmio e 10% de ácido acético. Após desidratação do material em concentrações
crescentes de etanol, o material foi diafanizado em xilol e incluído em parafina histológica
(Histosec - MERK). Foram produzidos cortes de 5µm em micrótomo rotativo a partir do
material incluído. Estes cortes foram coletados em lâminas de vidro.
Após desparafinização as lâminas foram coradas com hematoxilina e eosina (HE)
ou com ácido periódico e reativo de Schiff (PAS). As lâminas foram montadas com lamínula
usando bálsamo do Canadá ou Entellan (Merck). O material foi analisado em microscópio
Leica CME com sistema de captação de imagens Leica DFG 300 FX e as imagens
digitalizadas com o software Leica Application Suite V 2.8.1.
RESULTADOS
Observação do lavado vaginal e cultivo para controle da infecção
O espalhamento do lavado vaginal das fêmeas dos grupos 1 e 3 foi sempre negativo
para a presença de hifas ou leveduras. No grupo 2 foi observada a presença de hifas
juntamente com células epiteliais características da fase estro (células queratinizadas e sem
núcleo) nos diferentes momentos de coleta de material (Figura 1A).
Para o grupo 1, todas as culturas realizadas a partir de lavado vaginal foram negativas.
As culturas do lavado vaginal foram positivas (UFC ≥ 100 leveduras/mL) para as fêmeas do
grupo 2, que receberam hormônio beta-estradiol. O exemplo de um cultivo positivo está
representado na Figura 1B.
Figura 1. Confirmação da infecção por C. albicans. A partir de lavado vaginal foram observadas inúmeras colônias em cultivo (A) e a presença de hifas e esporos (setas amarelas) e células epiteliais da vagina (setas pretas) na lâmina corada com azul de toluidina (B, objetiva 40x).
Capa Índice 8585
Análise dos tecidos por microscopia de luz
Foram realizadas análises comparativas entre os três grupos experimentais para cada
um dos órgãos estudados: vagina, útero, uretra, bexiga e próstata.
O grupo 1, constituído de fêmeas apenas inoculadas com C. albicans, sem tratamento
hormonal, não apresentou alterações significativas nos tecidos dos órgãos estudados, sendo
observadas apenas características histológicas normais, conforme exemplos ilustrados na
Figura 2.
O grupo 2, constituído de fêmeas tratadas com hormônio e inoculadas com C.
albicans, apresentou algumas alterações histológicas importantes. O útero apresentou
polimorfonucleares em grande quantidade no tecido conjuntivo e no epitélio de revestimento
(Figura 3A e 3B). O epitélio estratificado pavimentoso da vagina apresentou grande
quantidade de queratina na superfície, indicativo da presença de estro no momento do
sacrifício dos animais, mantido com a aplicação de estradiol, além de polimorfonucleares no
epitélio e na luz do órgão (Figura 3C e 3D).
Figura 2. Cortes histológicos de vagina (A), útero (B), bexiga (C) e próstata (D). Observar o aspecto normal dos epitélios estratificado pavimentoso, cilíndrico, misto ou polimorfo e colunar pseudoestratificado, respectivamente, em A-D. HE, objetiva 40x.
Capa Índice 8586
Na próstata foi observada a presença de leucócitos na secreção dos alvéolos
prostáticos, além de espessamento do epitélio e intensa vascularização (Figura 4). Em todos
estes órgãos citados foi observada vascularização maior no tecido conjuntivo adjacente ao
epitélio de revestimento interno do órgão, bem como um número maior de capilares
sanguíneos.
Nos órgãos vagina e útero dos animais do grupo 3, somente tratados com estradiol,
foram observadas algumas características histológicas semelhantes àquelas observadas no
grupo 2, conforme visualizado na Figura 5 (A-C). Porém, observou-se que o processo
inflamatório foi mais intenso no grupo de animais tratados com hormônio e infectados com C.
albicans (grupo 2, figura 3). Na próstata das fêmeas deste grupo 3 não foi observada a
presença de leucócitos na secreção (Figura 5D).
Figura 3. Micrografias representativas do útero (A e B) e vagina (C e D) das fêmeas tratadas com estradiol e infectadas com C. albicans. Observar a presença de muitos polimorfonucleares no epitélio uterino e no tecido conjuntivo (setas pretas) em A –B e os polimorfonucleares presentes na cavidade vaginal (setas pretas, C) e no epitélio de revestimento do órgão (setas pretas, D). Presença de queratina espessa na superfície do epitélio vaginal (seta branca). A, B e C: HE, D: PAS.
Capa Índice 8587
Figura 4. Cortes histológicos representativos da próstata das fêmeas tratadas com estradiol e inoculadas com C. albicans. Em A, imagem em menor ampliação mostrando os alvéolos prostáticos. Em B e C é possível observar a presença de grande quantidade de leucócitos na secreção (setas vermelhas). Em C e D, intensa vascularização, com capilares grandes (setas amarelas) e o espessamento do epitélio alveolar com presença de leucócitos (setas pretas). PAS.
Figura 5. Micrografias representativas da vagina (A), útero (B e C) e próstata (D) das fêmeas tratadas apenas com estradiol. A presença de queratina na luz da vagina (seta branca, A) indicativa do estado de estro, presença de polimorfonucleares no epitélio uterino (setas pretas, B e C) e a ausência de leucócitos na secreção prostática (seta vermelha, D). HE (A, B e D), PAS (C).
Capa Índice 8588
Em bexiga e uretra dos animais dos três grupos estudados, não foram observadas
alterações histológicas significativas. Na Figura 6 estão ilustrados os cortes histológicos da
bexiga dos grupos 2 e 3. As variações morfológicas observadas nas imagens da Figura 6 entre
os grupos são normais para este tecido.
Nos cortes histológicos obtidos até o momento, não foi observada a presença de
leveduras ou hifas nos tecidos dos animais estudados, portanto ainda não foi possível avaliar
as características de interação do fungo com o hospedeiro. A metodologia de coloração por
ácido periódico e reativo de Schiff (PAS), empregada para a observação de polissacarídeos e
que ajudaria na identificação de hifas ou leveduras, demonstrou resultados semelhantes aos
obtidos com hematoxilina e eosina (HE).
DISCUSSÃO
Considerando-se a importância dos estudos a respeito de CVV, este trabalho, buscou
desenvolver um modelo de infecção in vivo utilizando fêmeas do gerbilo Meriones
unguiculatus, importante modelo de estudo do sistema reprodutor. Com base no modelo
desenvolvido, procurou-se também avaliar as alterações histológicas presentes nos tecidos do
hospedeiro frente à presença do fungo, a adesão de células e a formação de pseudo-hifas por
C. albicans utilizando microscopia de luz.
As características de inflamação de tecidos, como a presença de polimorfonucleares no
epitélio e aumento da vascularização do tecido conjuntivo, observada nos tecidos da vagina,
Figura 6. Cortes histológicos de bexiga das fêmeas do grupo 2 (em A) e grupo 3 (em B). Observar o epitélio misto ou polimorfo e o tecido conjuntivo com características normais. Os capilares sanguíneos observados no tecido conjuntivo também apresentam aspecto normal. HE.
Capa Índice 8589
útero e próstata das fêmeas do grupo tratado com estradiol e inoculado com C. albicans
(grupo 2) é indicativo de que a interação do fungo com os tecidos do hospedeiro provocou um
processo inflamatório maior do que aquele observado em decorrência do uso apenas de
hormônio estradiol (grupo 3). A diferença entre os efeitos do hormônio e do hormônio
associado à infecção pôde ser observada mais claramente nas análises histológicas da próstata.
Segundo Harriott et al. (2010), nas mulheres suscetíveis, a CVV sintomática está
associada com uma migração agressiva de neutrófilos para a vagina e uma subsequente
resposta inflamatória se inicia pela interação de C. albicans com as células epiteliais vaginais.
Tal resposta inflamatória não desempenha papel protetor, mas parece estar relacionado com o
aparecimento de sintomas da infecção. A proteção contra a infecção é não inflamatória,
enquanto a susceptibilidade a infecção está associada com resposta inflamatória mediada por
polimorfonucleares que está diretamente correlacionado com o aparecimento de sintomas nas
vaginitis (Fidel, 2005).
Os dados obtidos para estes grupos descritos ainda foram comparados com as análises
realizadas anteriormente em outro trabalho para fêmeas não tratadas com hormônio e não
inoculadas com C. albicans (dados não mostrados). Essa análise comparativa reforçou as
observações descritas acima sobre as alterações histológicas provocadas em presença de
estradiol e, principalmente, estradiol e inoculação com C. albicans.
Neste trabalho observou-se que, na ausência de estradiol, não houve positividade para
o cultivo do lavado vaginal. Com a aplicação semanal subcutânea de 0,1 mg de beta-estradiol
foi possível manter a infecção nas fêmeas de gerbilo por 4 semanas e houve recuperação de
células a partir do lavado vaginal. Estudos prévios descreveram que a infecção em
camundongos persiste por períodos maiores apenas em presença de estradiol, e que a infecção
é suprimida quando o tratamento com hormônio cessa (Fidel et al., 2000). Acredita-se que o
estrógeno seja o fator primário na suscetibilidade à vaginite durante a fase luteal do ciclo
menstrual, mesmo com altos níveis de progesterona presentes neste momento (Fidel et al.,
2000). Além disso, altos níveis de hormônios femininos aumentam a disponibilidade de
glicogênio no ambiente vaginal, o qual serve como excelente fonte de carbono para o
crescimento e a germinação das leveduras (Sobel, 1990).
Na análise das imagens ao microscópio de luz não se encontrou nenhuma indicação de
adesão do fungo ao epitélio, nenhuma hifa foi visualizada, sendo a confirmação da infecção
feita através do resultado positivo para o cultivo do lavado vaginal, conforme já descrito em
outros trabalhos (Damke, et al., 2010; Yano e Fidel, 2011). Em análises realizadas com
Capa Índice 8590
microscopia eletrônica de varredura observou-se a presença de hifas na luz da vagina de
fêmeas de gerbilo tratadas com estradiol e infectadas com C. albicans (dados não mostrados).
A observação de hifas é importante porque as hifas têm maior capacidade de aderir e
penetrar nas células epiteliais humanas do que os blastoconídios (Hammer et al., 2000; Odds
et al., 1988). Segundo estudos, apenas as pontas das hifas em crescimento e não os
blastósporos parecem penetrar diretamente na superfície das células epiteliais (internalização)
e em suas junções (tigmotropismo) (Jayatilake et al., 2005 ; Vitkov et al., 2002). Percebe-se
então, que há a necessidade de aprofundar os estudos de microscopia de luz e utilizar outras
metodologias como imunohistoquímica e microscopia eletrônica de transmissão.
CONCLUSÕES
Até o momento não se observou a presença de C. albicans nos cortes histológicos
estudados. Porém, mais cortes histológicos do material preparado precisam ser analisados
para que se possa avaliar a viabilidade da técnica para o estudo da interação do fungo com os
tecidos. O uso de métodos imunohistoquímicos que identifiquem o fungo nos tecidos também
poderá auxiliar na caracterização dos achados histológicos.
Este foi o primeiro estudo que investigou os efeitos da infecção por C. albicans sobre
a próstata feminina e que avaliou características dos tecidos do hospedeiro durante a infecção.
O modelo de infecção foi desenvolvido e com os dados obtidos neste trabalho verificou-se
que, apesar do uso de estradiol provocar alterações nas características do epitélio vaginal que
podem atrapalhar os estudos de interação patógeno-hospedeiro, o desenvolvimento de
infecção no modelo experimental depende do uso deste hormônio também em fêmeas de
gerbilo. Além disso, este modelo poderá ser utilizado para desenvolver estudos mais
aprofundados sobre CVV e a próstata feminina.
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Capa Índice 8593
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Goiânia, 01 de julho de 2012.
Aos examinadores do relatório final PIBIC/PIVIC,
Venho por meio desta justificar as alterações realizadas no projeto da aluna Thalitta
Hetamaro Ayala Lima, bolsista PIVIC, no decorrer das atividades e consequente alteração do
plano de trabalho inicial da aluna.
1. No plano de trabalho inicial, estava prevista a realização de análises por microscopia
eletrônica de transmissão. Como a instalação do microscópio eletrônico de
transmissão no Laboratório Multiusuário de Microscopia de Alta Resolução da UFG
foi concluída somente no mês de junho deste ano, a aluna Thalitta Hetamaro Ayala
Lima desenvolveu as atividades previstas inicialmente para o plano de trabalho de
Camila Vilela de Oliveira (que foi desvinculada do programa logo no início do
periodo), sem prejuízos para o seu desempenho e aprendizado como iniciação
científica.
2. O estudo comparativo da infecção por Candida albicans e C. glabrata não foi
realizado em função da dificuldade inicial e demora para estabelecer o modelo de
infecção, dados estes não mostrados em detalhes no relatório.
Se necessário, estou à disposição para maiores esclarecimentos.
Atenciosamente,
Profª Josiane Faganello
Instituto de Ciências Biológicas
Capa Índice 8594
VARIABILIDADE ESPACIAL DE PROPRIEDADES QUÍMICAS DE SOLOS SOB
PASTAGEM
ANDRADE, Tiago Henrique de(1); NUNES, Guilherme Henrique da Costa(2); SANTOS,
Felipe Corrêa Veloso dos(3); CORRECHEL, Vladia(4)
Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos – Universidade Federal de Goiás
[email protected]; 2guilhermenunes. [email protected]; [email protected];
Palavras-chave: Fertilidade do solo, Latossolo Vermelho Distrófico, Geoestatística.
___________________________
Revisado pela orientadora
Identificação dos autores:
1Orientando: Graduando do curso de Agronomia da Universidade Federal de Goiás.
PIVIC/CNPq. 2Graduando do curso de Agronomia da Universidade Federal de Goiás. PIVIC/CNPq. 3Doutorando do Curso de Pós-Graduação em Agronomia (Solo e Água). Bolsista CNPq e
Capes. 4Orientadora: Engenheira Agrônoma, Drª., Professora Adjunto III da Área de Solos da Escola
de Agronomia e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Goiás. Caixa Postal
131, CEP: 74690-900, Goiânia, GO.
Capa Índice 8595
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8595 - 8606
1 Introdução
Uma característica importante da pecuária brasileira é ter a maioria de seu rebanho
criado a pasto (Ferraz e Felício, 2010), que se constitui na forma mais econômica e prática de
produzir e oferecer alimentos para os bovinos. Em função dessa realidade, o Brasil tem um
dos menores custos de produção de carne do mundo (Carvalho et al. 2009; Deblitz, 2009;
Ferraz e Felício, 2010).
Com o decorrer do desenvolvimento de novas técnicas de manejo do rebanho e uso de
áreas que antes eram consideradas inutilizáveis para agricultura, a pecuária se instalou no
cerrado brasileiro. Atualmente a área ocupada por pastagens cultivadas é cerca de 54,2
milhões de hectares na região do Cerrado, isso representa 26,4% da superfície desse bioma
(Sano et al., 2008).
Apesar da grande importância para o sucesso da criação de bovinos, as áreas
destinadas à produção de pastagens vêm sofrendo rápida e acentuada diminuição em seu
potencial produtivo, isso devido à aceleração dos processos de degradação do solo que muitas
vezes inviabilizam o cultivo de forrageiras na área e consequentemente a atividade pecuária,
onde 80 % das pastagens do Brasil Central apresentarem-se com algum grau de degradação
(Yokoyama, 1995).
Após pastejo intensivo, Tanner & Mamaril (1959) encontraram redução de 20% na
produção de pastagens. Isso se dá pelo fato de o sistema radicular das plantas responderem a
valores críticos, a partir dos quais se iniciam restrições ao seu crescimento.
A produtividade agropecuária é influenciada, dentre outros fatores, pelas propriedades
químicas, físicas e biológicas dos seus solos, ou seja, pela fertilidade dos mesmos, podendo o
solo ser naturalmente fértil ou se tornar fértil através do manejo adequado (SANTOS et al.,
2010). Assim se torna fundamental o manejo correto do solo a fim de se manter a fertilidade
natural ou até mesmo promover incremento de fertilidade a esses solos onde são cultivadas as
forrageiras.
A geoestatística pode ser definida como conjunto de técnicas estatística que visam a
solução de problemas de estimativa envolvendo variáveis espaciais (ASCE, 1990). O uso da
geoestatística pode apontar pontos falhos dentro de uma área de pastagem possibilitando
assim uma correção pontual, seja física ou química, com maior eficiência na utilização de
insumos e consequente redução nos custos de recuperação e manutenção de pastagens
degradadas. Por isso, compreender o comportamento e a distribuição espacial da fertilidade
Capa Índice 8596
do solo (Silva et al., 2010) sob pastagens pode auxiliar as tomadas de decisão sobre o manejo
mais adequado das mesmas pelo pecuarista ou produtor.
2 Objetivos
O trabalho realizado teve como objetivo caracterizar e avaliar a variabilidade espacial da
fertilidade de um Latossolo Vermelho distrófico sob pastagens e mata em Goiânia – GO.
3 Metodologia
As amostragens foram realizadas em uma pastagem localizada na Escola de
Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás, no município de Goiânia – GO,
nas coordenadas geográficas: latitude 16°35’12” S, longitude 49°21’14” W, altitude 730m. O
clima da região se caracteriza pelo tipo Aw (quente e semi-úmido, com estação seca bem
definida de Maio à Setembro), temperatura média em torno de 22,3ºC, umidade relativa do ar
média 87%, de acordo com a classificação de Köppen.
O solo em que foram realizadas as amostragens foi caracterizado com Latossolo
Vermelho distrófico, com textura média e relevo suavemente ondulado (Brasil, 1992;
Embrapa, 1999).
Para realização das amostragens, na área foram delimitadas dez transeções paralelas
(figura 1) entre si, acompanhando o declive da área no sentido do ponto mais alto ao mais
baixo finalizando assim no interior da mata, na área experimental há uma voçoroca que se
iniciou nos dois primeiros pontos da terceira transeção até o terceiro ponto da quarta
transeção, cada transeção possui 5 pontos de coleta de solo, totalizando assim 50 pontos de
amostragem, sendo esses 40 localizados na pastagem e voçoroca e 10 localizados no interior
da mata.
Em todos os pontos das transeções foram coletadas as coordenadas geográficas com
auxílio de técnicas de localização através do sistema de posicionamento global (GPS), nesse
caso um aparelho de navegação para posteriormente gerar os dados de variabilidade na área,
para obtenção de uma malha regular e paralela foi usado uma trena para demarcação dos
pontos distantes 21 metros entre si, por fim foram obtidos 50 pontos com coordenadas X e Y.
Em cada ponto das transeções foram coletadas duas amostras deformadas, sendo uma
amostra na profundidade de 0-20 cm e outra 20-40 cm onde as mesmas foram armazenadas
em saco plástico, e logo em seguida encaminhadas ao Laboratório de Física do solo da
Capa Índice 8597
Universidade Federal de Goiás, com isso totalizando a quantidade de 100 amostras coletadas
na área.
Figura 1. Esquema de amostragem nos diferentes usos do solo.
Após coletadas e secas ao ar, as amostras de solos foram destorroadas e passadas em
peneiras de 2 mm de abertura de malha, obtendo-se a terra fina seca ao ar (TFSA), após esse
processo as amostras foram encaminhadas ao Laboratório de Análise de Solo e Foliar da
Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos – UFG, a partir da qual foram realizadas as
análises químicas, como preconiza o Sistema manual de Métodos Analíticos da Embrapa
(1997). Obtendo-se assim os resultados dos teores de Cálcio (Ca), Magnésio (Mg), Fósforo
(P), Potássio (K), Saturação por bases (V%) e Capacidade de troca de cátions (CTC).
A variabilidade dos atributos químicos foi avaliada pela análise exploratória dos
dados, onde foi calculado média, máximo, mínimo, amplitude e coeficiente de variação,
sendo as profundidades de 0-20 cm e 20-40 cm calculadas separadamente. A dependência
espacial foi analisada por meio de ajustes de semivariogramas (VIEIRA et al., 1983;
ROBERTSON, 1998), com base na pressuposição de estacionariedade da hipótese intrínseca,
a qual é estimada por:
Capa Índice 8598
Em que N (h) é o número de pares experimentais de observações Z(xi) e Z (xi + h) separados
por uma distância h. O semivariograma é representado pelo gráfico versus h. Do ajuste de um
modelo matemático aos valores calculados são estimados os coeficientes do modelo teórico
para o semivariograma (o efeito pepita, C0; patamar, C0+C1; e o alcance, a). Os modelos de
semivariogramas considerados foram o esférico, o exponencial, o linear e o gaussiano. Para
realização desses cálculos foi utilizado o software GS + 7 (Geostatistcs for the Environmental
Sciences).
3 Resultados e Discussão
Na tabela 1, são apresentados os dados da análise exploratória que foi realizada, sendo
estes: média, valor mínimo, valor máximo, amplitude e coeficiente de variação (CV%), dos
seguintes atributos químicos: Cálcio, Magnésio, Fósforo, Potássio, V% e CTC.
Foi observado que os teores de cálcio foram maiores nas duas profundidades
amostradas no solo de voçoroca, sendo a média 1,1 cmolc/dm3 na profundidade de 0-20 cm e
0,9 cmolc/dm3 na profundidade de 20-40 cm, os valores de máximo e mínimo nas
profundidades de 0-20 e 20-40 cm foram de 0,2 cmolc/dm3 e 2,6 cmolc/dm3 e 0,2 cmolc/dm3
e 4,2 cmolc/dm3 respectivamente.
O menor teor de cálcio encontrado foi no solo de mata onde foi encontrado a média
de 0,5 cmolc/dm3 à 0-20 cm de profundidade e 0,4 cmolc/dm3 na profundidade de 20-40 cm.
Resultado que entra em desacordo com encontrado por Gomide et al. (2011), que verificou
que a remoção da camada superficial e subsuperficial do solo e, consequentemente, da
vegetação, os teores de P, K, Ca, Mg e MOS e os valores de soma de bases (SB), CTC total
(T) e CTC efetiva (t), foram significativamente reduzidos pelo processo erosivo.
Os maiores valores de magnésio encontrados nas amostras foram relacionados aos
pontos situados no solo de voçoroca obtendo a média de 0,8 cmolc/dm3 na profundidade 0-20
cm, 0,6 cmolc/dm3 a 20-40 cm de profundidade, os menores valores foram encontrados no
solo de mata sendo 0,3 cmolc/dm3 em média a 0-20 cm e 0,2 cmolc/dm3 a 20-40 cm,
condizendo com encontrado por Carneiro et al. (2009), que encontrou 0,2 cmolc/dm3 em
Latossolo Vermelho distrófico sob vegetação nativa, os valores encontrados na pastagem
foram próximos ao encontrado por Moreira et al. (2004), que verificaram em pastagem
Capa Índice 8599
degradada teores de Ca + Mg na média de 0,6 cmolc/dm3 na profundidade de 20-40 cm.
Tabela 1.Valores médio, mínimo e máximo das propriedades químicas do Latossolo Vermelho
sob pastagem no campus experimental da Escola de Veterinária da UFG.
Pastagem (profundidade 0-20 cm) Estatística Ca¹ Mg² P³ K4 V%5 CTC6
Média 0,8 0,4 0,5 33,7 31,7 3,9 Mínimo 0,2 0,2 0,3 26 13,4 2,6 Máximo 2,6 1,1 0,8 72 65,2 6,3
Amplitude 2,4 0,9 0,5 46 51,8 3,7 CV, % 0,7 0,6 0,4 0,3 0,41 0,2
Pastagem (profundidade 20-40 cm) Média 0,6 0,3 0,5 29,5 28 3,6
Mínimo 0,2 0,1 0,3 25 12 2,6 Máximo 4,2 0,7 1,7 42 77,3 7,5
Amplitude 4,0 0,6 1,4 17 65,3 4,9 CV, % 1,07 0,44 0,5 0,11 0,41 0,25
Mata (profundidade 0-20 cm) Média 0,5 0,3 0,5 38,9 21,3 3,9
Mínimo 0,1 0,1 0,3 26 7,1 2,8 Máximo 1,5 0,7 0,8 59 43,1 5,5
Amplitude 1,4 0,6 0,5 33 36,0 2,7 CV, % 0,97 0,62 0,43 0,28 0,41 0,25
Mata (profundidade 20-40 cm) Média 0,4 0,2 0,4 38,4 17,8 3,9
Mínimo 0,1 0,1 0,3 27 10,2 2,3 Máximo 1,1 0,5 0,6 77 40,1 4,8
Amplitude 1,0 0,4 0,3 50 29,9 2,5 CV, % 0,88 0,52 0,36 0,38 0,51 0,2
Voçoroca (profundidade 0-20 cm) Média 1,1 0,8 0,4 39,3 55 3,6
Mínimo 0,9 0,7 0,3 28 51 3,5 Máximo 1,3 0,8 0,6 54 59,9 3,7
Amplitude 0,4 0,1 0,3 26 8,9 0,2 CV, % 0,18 0,07 0,43 0,33 0,08 0,03
Voçoroca (profundidade 20-40 cm) Média 0,9 0,6 0,6 34,7 52,9 3,1
Mínimo 0,8 0,5 0,3 26 49,7 2,8 Máximo 1,1 0,7 0,8 45 57,8 3,3
Amplitude 0,3 0,2 0,5 19 8,1 0,5 CV, % 0,16 0,17 0,45 0,27 0,08 0,08
CV,% = Coeficiente de variação. 1 Cálcio. 2 Magnésio.3 Fósforo. 4 Fósforo. 5 Potássio. 6 Saturação por bases. 7 Capacidade de troca de cátions. Os valores de fósforo encontrados na profundidade de 0-20 cm foram maiores na
pastagem e pontos da mata sendo 0,5 mg/dm3, na profundidade de 20-40 cm foram maiores
nos pontos situados na voçoroca sendo 0,6 mg/dm3, valores parecidos foram encontrados por
Capa Índice 8600
Pereira et al. (2011), que obtiveram em média 0,86 mg/dm3 de fósforo em voçoroca instalada
em Latossolo Vermelho distrófico típico.
Os teores de potássio encontrados a 0-20 cm de profundidade foram parecidos quando
comparamos as amostras do solo de mata com as amostras da voçoroca sendo em média 38,9
mg/dm3 e 39,3 mg/dm3 respectivamente, logo na profundidade de 20-40 cm os teores foram
maiores no solo de mata com 38,4 mg/dm3, sendo maiores que os teores na pastagem 29,5
mg/dm3 e na voçoroca 34,7 mg/dm3.
Os valores médios de saturação por bases (V%) encontrados no solo de pastagem
foram de 31,7 % a 0-20 cm e 28 % a 20-40 cm, Segundo Raij et al. (1996), é classificado
como baixo valor para cultivo de forrageiras, que possivelmente foi causado pelas altas taxas
de lotação e falta de manejo da pastagem aliado à falta de correção do solo. Os maiores
valores encontrados foram nas amostras da voçoroca sendo 55% de 0-20 cm e 52,9 % de 20-
40 cm de profundidade, os menores valores foram encontrados na mata com 21,3 % de 0-20
cm e 17,8 % de 20-40 cm. Carneiro et al. (2009), também encontraram valores baixos das
bases cálcio, magnésio, potássio em mata nativa, sendo 0,14 cmolc/dm3, 0,2 cmolc/dm3, 23,0
mg/dm3 respectivamente, consequentemente resultando em baixa saturação por bases.
A capacidade de troca de cátions corresponde à soma das cargas negativas no solo
retendo os cátions, tais como cálcio, magnésio, potássio, sódio, alumínio e hidrogênio. No
presente trabalho os valores encontraram foram próximos quando comparados entre si, visto
que as amostras da mata apresentaram valores maiores (tabela 1), isso possivelmente devido a
área não apresentar manchas de solo, assim possuindo a mesma classe textural que é um dos
fatores determinantes na constituição da CTC, quanto ao valor da mata pode ser devido ao
acréscimo de matéria orgânica que ocorre na área com a deposição de folhas aumentando
assim os valores da CTC.
O uso dos semivariogramas para a análise geoestatística permitiu verificar a presença
de dependência espacial nas propriedades analisadas, a partir de parâmetros de ajuste do
modelo matemático que melhor ilustrasse o comportamento espacial da variável em função da
distância. Os semivariogramas experimentais apresentaram patamares definidos e ajustaram-
se em todos os modelos (Esférico, Gaussiano, Exponencial e Linear).
Segundo Cambardella et al. (1994), considera-se dependência espacial forte quando a
razão é inferior ou igual a 25%, dependência espacial moderada, quando a razão é superior a
25% e inferior ou igual a 75%, e dependência fraca, quando a razão é maior que 75%. As
análises do grau de variabilidade dos atributos químicos mostraram grau de dependência
espacial variando entre forte e moderado, apenas fósforo na profundidade de 0-20 cm e 20-40
Capa Índice 8601
cm mostrou fraca dependência espacial, o que é observado nas Tabelas 2 e 3, também na
Figura 1 que mostras os semivariogramas gerados.
Tabela 2. Parâmetros dos modelos (Co, Co + C1 e alcance), grau da variabilidade [(Co/(Co + C1)x100] , R2 e modelos dos semivariogramas ajustados aos atributos químicos de um Latossolo sob pastagem, mata e voçoroca na profundidade de 0-20 cm.
Atributo Efeito Pepita (C0)
Patamar (C0+ C1)
[C0 /(C0 + C1)] x 100 IMA Alcan
ce Modelo R²
Ca1 0,027000 0,356000 7,58 9,644E-04 41,40 Exponencial 0,591
Mg2 0,023500 0,076300 30,8 2,669E-05 104,80 Esférico 0,965
P3 0,036043 0,036043 100 1,444E-05 113,66 Linear 0,085
K4 82,800000 205,600000 40,27 215, 822,60 Exponencial 0,729
V%5 89,600000 241,300000 37,13 686, 94,80 Esférico 0,888
CTC6 0,009000 0,614000 1,46 0,0211 42,90 Exponencial 0,164
1 Cálcio. 2 Magnésio.3 Fósforo. 4 Fósforo. 5 Potássio. 6 Saturação por bases. 7 Capacidade de troca de cátions.
Tabela 3. Parâmetros dos modelos (Co, Co + C1 e alcance), grau da variabilidade [(Co/(Co + C1)x100] , R2 e modelos dos semivariogramas ajustados aos atributos químicos de um Latossolo sob pastagem, mata e voçoroca na profundidade de 20-40 cm.
Atributo Efeito Pepita (C0)
Patamar (C0+ C1)
[C0 /(C0 + C1)] x 100 IMA Alcance Modelo
R²
Ca1 0,068000 0,440000 15,45 0,0103 43,6 Esférico 0,245
Mg2 0,012380 0,029160 42,45 3,637E-06 100,7 Esférico 0,951
P3 0,009100 0,068800 13,22 3,309E-04 21,30 Gaussian
o 0
K4 59,222914 83,049161 71,31 1067, 113,66 Linear 0,118
V%5 89,000000 201,800000 44,10 1406, 95,00 Esférico 0,676
CTC6 0,112000 0,848000 13,20 1,665E-03 48,90 Exponen
cial 0,892
1 Cálcio. 2 Magnésio.3 Fósforo. 4 Fósforo. 5 Potássio. 6 Saturação por bases. 7 Capacidade de troca de cátions.
Capa Índice 8602
Figura 1. Semivariogramas das variáveis (profundidades de 0-20 e 20-40 com): Cálcio, CTC, Fósforo,
Magnésio, Potássio e Saturação por bases em um Latossolo Vermelho Distrófico.
Capa Índice 8603
Nas Tabelas 2 e 3 pode-se observar que o alcance da dependência espacial foi superior ao
adotado na amostragem que foi de 21 x 21 m, o que mostra a validade da malha utilizada nas
amostragens, visto que o alcance da dependência espacial representa a distância máxima a
qual um atributo está correlacionado espacialmente, ou seja, o seu valor garante que todos os
vizinhos situados dentro de um círculo, com raio igual ao alcance, sejam similares, e que
possam ser usados para estimar valores em qualquer ponto entre eles (Vieira & Lombardi
Neto, 1995).
Como as análises geoestatísticas mostraram dependência espacial, sugere-se a utilização
do alcance destes atributos na realização de futuras amostragens. Segundo McBratney &
Webster (1983), o conhecimento do alcance é importante na definição da ótima intensidade de
amostragem, visando reduzir o esforço de trabalho e o erro-padrão da média, além de
aumentar a representatividade da amostra. Por isso, recomendam um intervalo entre pontos
amostrais superior ao dobro do alcance da dependência espacial, o que, associado ao número
de pontos amostrais estimado pela estatística clássica, permite maximizar a eficiência da
amostragem.
3 Conclusões
Os atributos químicos variaram entre os tratamentos, havendo assim diferença entre
seus valores;
Não foram encontradas diferenças dos valores de CTC entre os tratamentos;
A grade utilizada para amostragem foi suficiente, visto que a dependência espacial foi
menor que a grade utilizada;
O estudo de variabilidade química se faz necessário para exata determinação dos
atributos químicos da área de cultivo.
O uso de ferramentas de geoestatísticas se mostrou de grande importância para a
execução do trabalho e para formulação de dados para uso na agropecuária no geral.
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Capa Índice 8606
AVALIAÇÃO BROMATOLÓGICA E DA DEGRADABILIDADE DO
RESÍDUO DO PEQUI
Tiago Ronimar Ferreira Lima1; Thiago Moraes de Faria2; Deibity Alves Cordeiro2;Ana Luisa Aguiar de Castro3
1 – acadêmico do curso de Zootecnia – Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí, bolsista PIBIC. Email: [email protected]
2 – acadêmico do curso de Zootecnia – Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí.
3 – professora do curso de Zootecnia – Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí, orientadora.
Palavras-chave: composição química; fruto do cerrado; resíduo agrícola; resíduo de pequi
1. Introdução
O cerrado possui grande área ocupacional no território brasileiro, resultando assim em
variedade de climas e solos e culminando em rica biodiversidade de fauna e flora (Silva et al.
1994, Ribeiro & Walter 1998, Klink et al. 2003). Árvores frutíferas presentes nesse bioma são
usadas com frequência na alimentação da população na forma in natura ou em preparações
culinárias (Almeida et al. 1987, Almeida et al. 1998). Dentre essas espécies frutíferas, se
destaca o pequizeiro (Caryocar brasiliense camb.) devido seu grande potencial econômico
(Vera et al.,2005).
O pequizeiro ocorre em áreas do cerrado e em zonas de transição para a Caatinga e a
Floresta Amazônica (Lorenzi , 2002). Apresenta safra entre os meses de setembro e fevereiro
(Araújo, 1995; Almeida et al., 1998; Lorenzi, 2000) e, o fruto (pequi) pode ser separado em
pericarpo ou exocarpo, mesocarpo externo e mesocarpo interno, de coloração amarelada,
sendo a parte comestível do fruto (Lima et al. 2007).
O fruto do pequizeiro é do tipo drupa globular, grossa, áspera, verde acinzentada de
aspecto lobulado em função da presença de até quatro caroços reniformes em seu interior. É
constituído pelo exocarpo ou pericarpo, de coloração esverdeada ou marrom esverdeada, pelo
mesocarpo externo, com polpa branda de coloração parda acinzentada e pelo mesocarpo
interno (“caroço”), com coloração amarelada e separada facilmente do mesocarpo externo. O
endocarpo, espinhoso, protege a semente ou amêndoa, revestida por um tegumento fino e
marrom, sendo também porção comestível (Lima et al. 2007).
Capa Índice 8607
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8607 - 8620
O produto primário do pequi é o fruto (“caroço”) que apresenta em sua composição
bromatológica elevados teores de extrato etéreo e baixos de proteína. Almeida (1998) e Vilas
Boas (2004) encontraram os seguintes valores de composição química do caroço do pequi:
2,64% de proteína; 20% lipídios; 13% de fibra bruta; 19,6% de carboidratos; 2,23% de
pectina; 7,46% de caroteno/100mg; 78,72 mg de vitamina C/100g.
Após a extração do caroço do pequi para consumo humano, descarta-se o pericarpo e o
mesocarpo externo, fração denominada de “resíduo”. Se não tratada de forma correta, este
resíduo entra em deterioração e rancificação, devido à quantidade de lipídios presente na
mesma. Como apresenta elevado teor de nutrientes, serve de ambiente favorável à
proliferação de microrganismos, podendo acarretar em danos à saúde da população. Além
disso, o cheiro desagradável produzido pelo processo de putrefação pode trazer desconforto
aos habitantes que moram perto aos vários locais de descarte desse resíduo.
Em cenário paralelo, a bovinocultura vem utilizando co-produtos da indústria e da
agricultura para a alimentação dos rebanhos, uma vez que não só a produtividade está sendo
buscada, mas também sustentabilidade ambiental (Euclides Filho, 2004). A utilização de co-
produtos preserva o meio ambiente e fornecem nutrientes aos animais à menores custos para o
produtor, tornando, possivelmente, a atividade mais rentável.
2. Objetivo
Objetivou-se determinar a composição bromatológica do pericarpo e mesocarpo
externo do pequi (resíduo do pequi) e a degradabilidade desse resíduo.
3. Material e Métodos
O experimento foi realizado na Fazenda Experimental Santa Rosa do Rochedo e no
Laboratório de Nutrição Animal da Universidade Federal de Goiás – Campus Jataí. Foram
coletados resíduos de pequi na cidade de Jataí – GO no período de dezembro de 2011 e
janeiro de 2012, pois em 2011 o comércio do fruto no Município de Jataí iniciou-se em
novembro/2011 e findou no início de fevereiro/2012.
A cada mês, coletou-se amostras em cinco diferentes pontos da cidade. Após
coletados, os resíduos de pequi foram acondicionados em sacos plásticos e identificados. Os
mesmos foram cortados em pedaços menores para pré-secagem em estufa de ventilação
Capa Índice 8608
forçada (65 °C) e moídos em moinho tipo Willie para obtenção de partículas de tamanho 1
mm.
Após seu processamento e posterior identificação, foram realizadas as análises de
matéria seca (MS), extrato etéreo (EE), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro
(FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (Hcel) e cinza (MM) segundo
metodologia descrita por Silva e Queiroz (2002). Os carboidratos totais foram calculados
segundo Sniffen et al. (1992), em que os CT das amostras foram obtidos pela fórmula:
CT = 100 – (PB+EE+MM)
As médias obtidas das coletas 1 e 2 foram analisadas através de modelo descritivo.
Para o ensaio de degradabilidade in situ foram utilizados três bovinos adultos, da raça
Nelore, com peso médio de 800 kg, fistulados no rúmen, mantidos em base de ração total
contendo silagem e concentrado à base de milho e soja grão, simulando teor lipídico
semelhante ao consumo de 3 kg de resíduo de pequi/animal/dia. A composição bromatológica
dos ingredientes da ração encontra-se na Tabela 1. A ração foi fornecida à vontade, uma vez
ao dia, no período da tarde, sendo a quantidade ajustada em período de adaptação de 10 dias.
Tabela 1. Composição percentual dos ingredientes utilizados na ração experimental
Alimentos MS PB¹ EE¹ FDN¹ FDA¹
Milho 87,00 9,11 4,07 13,98 4,08
Soja grão 91,18 39,01 19,89 17,52 13,18
Silagem de milho 31,26 7,27 2,80 55,41 30,63 ¹ Porcentagem da MS
A determinação da degradabilidade in situ foi realizada segundo Mehrez e Orskov
(1977), obedecendo a recomendações propostas por Nocek (1988). Os tempos avaliados
foram 0, 4, 8, 12, 24, 36, 48, 72, 96 e 120 horas. Para cada tempo de incubação, foram
colocadas em cada animal, amostras do alimento com três repetições. Para o cálculo do
material imediatamente solúvel (tempo zero), os sacos de náilon foram introduzidos no rúmen
e retirados imediatamente. Para os demais tempos de incubação, os sacos foram
Capa Índice 8609
gradativamente colocados em ordem reversa, pelo qual o foram introduzidos primeiramente
aqueles que permaneceram mais tempo no rúmen e retirados todos de uma só vez.
A degradabilidade da matéria seca (MS) e da matéria orgânica (MO) foram estimadas
pela técnica de in situ de saco de náilon. Os sacos lacrados à quente, confeccionados de
náilon, com porosidade de, aproximadamente, 50,0 µm e dimensão 7 x 12 cm para os tempos
0, 4, 8, 12 e 24 e de 14 x 12 cm para os tempos 36, 48, 72, 96 e 120 foram utilizados para
incubação ruminal. As amostras com peso na matéria pré-seca, de aproximadamente 2,0 e 4,0
gramas para os sacos menores e maiores, respectivamente, foram acondicionadas nos sacos,
que foram fechados com argolas e elásticos.
Após o término do tempo de incubação, os sacos de náilon contendo o material não
degradado foram imediatamente colocados em balde contendo água gelada para cessar a
atividade dos microrganismos e lavados manualmente até o total clareamento. Na sequência
foram secos em estufa de ventilação forçada (65 °C/72 horas) e em estufa não ventilada (105
°C/45 minutos), acondicionados em dessecador e pesados.
Após a pesagem, foram obtidas amostras compostas formadas pelas três repetições por
animal, que foram utilizadas para as análises de MS e MO. Para ajustamento dos dados na
curva de degradação dos nutrientes será utilizada a equação proposta por Oskov & Mc Donald
(1979):
DEG = a + b (1 – e – c*t), onde:
DEG = degradabilidade acumulada do componente nutricional, após um tempo t;
a = intercepto da curva de degradabilidade quando t = 0, correspondendo à fração solúvel (FS)
do componente nutritivo analisado;
b = degradabilidade potencial da fração insolúvel do componente nutritivo (FI), que é
degradado a uma taxa (TD);
c = taxa de degradação (TD) por ação fermentativa da fração FI;
t = tempo de incubação (h); a soma de a + b, corresponde a degradabilidade potencial, a
degradabilidade máxima alcançada se o alimento permanecer por tempo indeterminado no
rúmen.
Capa Índice 8610
A degradabilidade efetiva (DE) da MS (DEMS) e da matéria orgânica (DEMO) foi
estimada de acordo com a equação proposta por Orskov e Mc Donald (1979):
DE = a+ (b x c)/(c + k), onde:
DE = degradabilidade ruminal efetiva do componente nutritivo analisado;
a, b, e c = como descritos anteriormente;
k = taxa de passagem ruminal do alimento (%/h).
Para o cálculo de passagem será adotada taxa de passagem de 5% por hora, como
sugerido pelo ARC (1984) e AFRC (1993).
O ajustamento dos dados ao modelo não-linear será realizado pelo método interativo
de Gauss-Newton. A qualidade do ajustamento das equações não-lineares será avaliada por
intermédio do desvio-padrão assintótico (DPA) e do resíduo padronizado (RP) conforme
Draper & Smith (1966). A comparação entre os parâmetros dos modelos será realizada por
variável dummy (Schabenberger, s/d) e pelo método de comparação descritivo.
Capa Índice 8611
4. Resultados e Discussão
Os valores da composição bromatológica do pericarpo e mesocarpo externo
(“resíduo”) do pequi encontram-se na Tabela 2.
Tabela 2. Composição bromatológica do pericarpo e mesocarpo externo do pequi
(Caryocar brasiliense camb.) amostradas nos períodos dezembro 2011 (coleta
1) e janeiro 2012 (coleta 2), no Município de Jataí – GO.
MS1 MM MO EE PB FDN FDA HCel CT
Coleta 1
1 10,87 3,09 96,91 15,52 2,36 46,23 41,33 4,90 79,03 2 12,99 3,05 96,95 15,98 2,03 46,44 40,79 5,65 78,94 3 10,78 3,03 96,97 14,26 2,23 43,96 37,12 6,84 80,48 4 15,80 3,23 96,77 14,94 1,38 42,23 33,86 8,37 80,45 5 11,75 2,77 97,23 14,77 2,13 44,35 41,15 3,20 80,33
Médias 12,44 3,03 96,97 15,09 2,03 44,65 38,85 5,80 79,85
Coleta 2
1 14,47 2,90 97,10 16,16 1,47 41,79 35,19 6,60 79,47 2 13,82 3,68 96,32 15,40 1,48 36,62 27,71 8,91 79,44 3 14,88 3,72 96,28 14,97 1,45 39,60 37,48 2,12 79,86 4 14,67 2,78 97,22 15,65 1,79 40,91 34,7 6,21 79,78 5 14,92 3,73 96,27 15,72 1,83 36,84 31,21 5,63 78,72
Médias 14,55 3,36 96,64 15,08 1,61 32,63 27,72 4,91 79,45 1MS = matéria seca; MM = matéria mineral; MO = matéria orgânica; EE = extrato etéreo; PB = proteína bruta; FDN = fibra detergente neutro; FDA = fibra detergente ácido, HCel = hemicelulose; CT = carboidratos totais
O resíduo de pequi apresentou valores de matéria seca (MS) de 12,44 e 14,55%,
respectivamente, nas coletas 1 e 2. Não foi encontrado, na literatura consultada, artigos que
contivessem a composição bromatológica do pericarpo e mesocarpo externo do pequi,
(“resíduo” do pequi) sendo, portanto, os valores relatados na presente pesquisa, referência
inédita para posteriores estudos na área.
Valores relatados por Vera et al (2007), para matéria seca do caroço do pequi variaram
de 45,66 a 51,87%. Outros autores (Vera, 2005; Ferreira et al., 1987 e Miranda et al., 1987)
observaram teores médios de umidade maiores, 58,82%, 76,00% e 48,74 %, respectivamente;
enquanto Ramos Filho (1987) obteve valor inferior de umidade, 57,50% . Cabe salientar que
os autores citados trabalharam com o caroço do pequi e a variação observada entre a literatura
e os dados desse estudo deve-se à diferente natureza entre o “resíduo” e o caroço do pequi.
Capa Índice 8612
Comparando os teores de MS com os frutos abacate (Persea americana), observa-se
que Tango et al (2004), relataram valores de umidade da polpa de diversas variedades de
abacate entre 57,2 e 87,9% (CV = 10,6%). Gondim et al (2005), avaliando o teor de nutrientes
das partes comestíveis do abacate (polpa), relataram valores de MS de 16% (sem considerar a
casca do fruto).
Almeida (1998) relatando trabalho de avaliação de várias espécies nativas do Cerrado
brasileiro (Araticum, Baru, Buriti, Cagaita, Jotobá e Mangaba), comentou que a polpa do
pequi se destaca com 2,64% de proteína bruta, valor inferior apenas ao Jatobá (6,00%) e ao
Baru (3,87%). Em relação ao conteúdo de lipídios, a polpa de pequi apresenta o maior valor
(20 %) em relação às demais espécies que variaram de 5 % a menos de 1 %. Segundo o autor,
o teor de gordura compara-se ao do abacate, açaí e buriti. Cabe ressaltar que Almeida (1998)
avaliou a composição bromatológica do o caroço do pequi (denominado, no trabalho, como
polpa do pequi) e, comparando, respectivamente, a composição bromatológica do caroço com
o resíduo do pequi, observa-se valores próximos de proteína bruta (2,64 e 1,82%) e extrato
etéreo (20,00 % e 15,34%).
Em relação ao teor de EE no fruto do pequi, Vilas Boas (2004) relatou teor de lipídios
de 20 % para o caroço do pequi, diferente dos valores obtidos no resíduo tanto para a primeira
(15,09%) quanto para a segunda coleta (15,08%). Como, fisiologicamente, a deposição de
lipídios é mais concentrada no caroço dos frutos, os valores observados no estudo estão de
acordo com a literatura. Tango et al (2004), relataram valor médio de extrato etéreo nas
variedades de abacate de 16,00%. Já Gondim et al (2005) relataram valores de 11,04% e
8,00% de lipídios na polpa e casca do abacate, respectivamente.
Observam-se diferentes valores nas médias de PB obtidas na primeira coleta (2,03%) e
na segunda coleta (1,61%). Além da variação de composição devido à falta de domesticação
do pequizeiro, o fato da segunda coleta ter passado um tempo maior exposta ao ar, sofrendo
deterioração e rancificação, pode ter afetado a composição das amostras.
Cabe salientar que, no presente estudo, são desconhecidas informações sobre a origem
do fruto (local de coleta), do tempo transcorrido entre a coleta no campo e a comercialização e
do tempo exato transcorrido entre o descarte e a coleta dos resíduos para a avaliação (“essa
casca é de hoje”). Também merece destaque que o armazenamento do resíduo do pequi, nos
locais de venda, é feito em sacos de alvenaria, sem cuidado com a conservação ou
preservação das qualidades do resíduo. Esses fatores, juntamente com relato de Vera et al.
Capa Índice 8613
(2005), que explicam a variação da composição qualitativa e quantitativa dos pequis pelo
pequizeiro ser uma cultura nativa, apresentando grande variação nas características físicas de
seus frutos, podem explicar a variação descrita na composição bromatológica do resíduo do
pequi entre e dentro as coletas.
Também observou-se variação no teor minerais (MM) entre as amostras da primeira
coleta (3,03%) e segunda coleta (3,36%), e, por conseqüência, nos valores de MO da primeira
(96,97%) e segunda (96,64%) coletas.
Não foram observados na literatura valores de hemicelulose, FDN, FDA e
carboidratos totais para o resíduo do pequi ou frutos semelhantes, portanto os valores
relatados no presente estudo, respectivamente, 5,84%; 41,90%; 36,05%; e 79,65% servirão
para referencias futuras. Observa-se teor de carboidratos totais interessante, indicando,
provavelmente alto teor de amido nesse resíduo.
A utilização de resíduos agrícolas é regional e muitas vezes, não documentada ou
fundamentada em estudos científicos e não foram encontrados relatos na literatura científica
dos parâmetros de degradação ruminal do pequi, seja na forma do caroço ou do resíduo. Há
descrição da cinética ruminal de algumas polpas de frutas (manga, maracujá, caju) e de
alimentos ricos em extrato etéreo, tradicionalmente utilizados na alimentação de rebanhos
(caroço de algodão, soja grão e tortas de oleaginosas de forma geral).
Os valores das frações solúvel (a) e insolúvel potencialmente degradável (b), da taxa
de degradação (c), degradabilidade potencial (DP) e degradabilidade efetiva (DE) com taxa de
passagem variáveis (2, 5 e 8%/h) estão apresentados na Tabela 3.
Tabela 3. Parâmetros da degradação ruminal da matéria seca (MS) do resíduo do pequi.
Parâmetros1 Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 Amostra 4 Amostra 5 Médias
a (%) 29,151,84 30,042,13 29,232,26 35,832,17 27,422,25 30,33
b (%) 61,282,08 59,032,49 60,262,62 53,772,52 62,112,57 59,23
c (%/h) 0,0480,0044 0,0410,005 0,0420,005 0,0420,0056 0,0450,005 0,04
DP (%) 90,43 89,76 89,49 89,60 88,53 89,56
DE2 (%) 72,33 70,14 70,14 72,31 69,76 70,94
DE5 (%) 59,07 56,91 56,84 60,44 56,40 57,93
DE8 (%) 52,04 50,24 50,07 54,40 49,45 51,24 1a = fração solúvel; b = degradabilidade potencial da fração insolúvel; c = taxa de degradação da matéria seca da casca do pequi; DP = degradabilidade potencial; DE2, DE5, DE8 = degradabilidade efetiva considerando a taxa de passagem de 2, 5 e 8 %/h, respectivamente
Capa Índice 8614
Para as frações solúveis (a), o resíduo do pequi obteve uma média de 30,33%,
diferente do encontrado por Fortaleza et al (2009) que, ao estudarem a degradabilidade in situ
de diversos concentrados energéticos, encontraram valores da fração solúvel de 53,67% para
o grão de girassol, de 25,48% para o caroço de algodão integral e de 34,18% para a torta de
nabo forrageiro. Todos os alimentos avaliados pelos autores possuíam, em sua composição,
elevados teores de EE, respectivamente, 32,65%; 15,42%; 14,26%, sendo a torta de nabo
forrageiro semelhante, em teor de EE, ao resíduo do pequi (15,85%). Estudo realizados por
Beran et al (2005), avaliando a degradabilidade ruminal in situ de alguns suplementos
concentrados usados na alimentação de bovinos, relataram valores da fração solúvel de
32,47%; 30,45% e 35,64% para caroço de girassol parcialmente desengordurado, caroço e
farelo de algodão, respectivamente.
Em relação à fração insolúvel potencialmente degradável (b), relata-se valor de
59,23%, sendo consideravelmente superior ao observado por Fortaleza et al (2009) para o
caroço de algodão integral e grão de girassol (36,01% e 19,43%, respectivamente) e
semelhante ao da torta de nabo forrageiro (57,90%). Cunha et al (1998) relataram valores da
fração b para o caroço de algodão quebrado de 48,11%, valor inferior ao obtido no presente
estudo para o resíduo de pequi. Já Beran et al (2005), relataram valores da fração insolúvel
potencialmente degradável de 58,90% para soja parcialmente desengordurada.
Salienta-se que a composição bromatológica dos alimentos comparados difere entre si,
bem como a resposta de aproveitamento de seus nutrientes no ambiente ruminal, sendo
somente utilizados para comparação devido seu elevado teor de lipídios.
Para a taxa de degradação da matéria seca do resíduo de pequi (c), o valor encontrado
de 0,44% assemelhou-se ao obtido por Cunha et al (1998) que obtiveram valores de 0,057 e
0,058% para caroço de algodão integral e quebrado, respectivamente, mas diferiu dos valores
observados por Fortaleza et al (2009), que encontraram valores de fração c de 39,57% para
caroço de algodão, 26,89% para grão de girassol e 10,83% para torta de nabo forrageiro.
Para a degradabilidade potencial (DP) do resíduo de pequi, o valor calculado de
89,56% foi superior aos relatados por Fortaleza et al (2009) para caroço de algodão, grão de
girassol e torta de nabo, que apresentaram valores de 59,57%; 72,86% e 82,36%,
respectivamente. Também foram superiores ao obtidos por Cunha et al (1998), que obtiveram
valores de 21,16% para o caroço de algodão e 54,17% para o caroço de algodão quebrado.
Capa Índice 8615
Também Beran et al (2005), não relataram degradação potencial semelhante à do estudo para
alimentos ricos em EE. A DP atingida com 120 horas de incubação demonstrou que, mesmo
com o elevado teor de lipídios na amostra em estudo, o aproveitamento dos nutrientes foi
satisfatório.
Mir et al (1984) relataram que o elevado teor de óleo de um alimento pode obstruir os
poros do saco de náilon resultando assim, numa menor degradação do mesmo. Apesar da
casca do pequi apresentar um valor elevado de lipídios (15,08%), não se observou
interferência do mesmo na degradabilidade potencial.
Para as degradabilidades efetivas (DE) nas taxas de passagem 2, 5 e 8%/h, os valores
encontrados de 70,94; 57,93 e 51,24%, respectivamente, foram superiores ao obtidos por
Fortaleza et al (2009) para caroço de algodão integral, que apresentou valores de DE para 5 e
8%/h de 40,93 e 36,93%, respectivamente; mas foi inferior ao obtidos do grão de girassol
(63,38% e 61,18% para DE 5 e 8%/h, respectivamente) e da torta de nabo (63,65% e 54,79%
para DE 5 e 8%/h, respectivamente). O autor não utilizou a DE para 2%/h, impossibilitando a
comparação com a mesma. Comparando os resultados com os obtidos por Beran et al (2005),
a degradabilidade efetiva do resíduo de pequi foi semelhante ao farelo de algodão (58,76%) e
torta de girassol com 1 prensagem (58,38%), para taxa de passagem de 5%/h e semelhante ao
farelo de algodão (54,6%) para taxa de passagem de 8%/h.
5. Conclusões
O resíduo de pequi, pelos valores de composição bromatológica e cinética ruminal
observados, tem potencial para ser utilizado como alimento concentrado em bovinos. O
mesocarpo precisa de mais estudos, para obtenção de valores nutricionais não abordados
no projeto, podendo assim ser efetivamente incluído na dieta de bovinos de corte.
6. Considerações Finais
1) Sugere-se a continuação da pesquisa com a utilização do resíduo de pequi avaliando
consumo, ganho em peso, características de carcaça e custo da alimentação para
bovinos, recebendo dietas à base desse resíduo.
2) Considerando que não foram encontrados, na literatura consultada, artigos científicos
sobre a utilização do resíduo de pequi como alimento para animais ruminantes, foi
Capa Índice 8616
necessária a utilização de resumos para realizar comparações com os resultados obtidos
na presente pesquisa.
7. Referencial Teórico
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“revisado pelo orientador”
Capa Índice 8620
1
Atividade ovicida e larvicida de IP 46 em formulado aquoso e oleoso em
Amblyomma cajennense
Tavares, Tássio Lima a, c, 1; Barreto, Macsuel Corado b, c; D’Alessandro, Walmirton Bezerra c;
Luz, Christian c, 2.
a Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Goiás. b Instituto de Ciência Biológica, Universidade Federal de Goiás. c Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública, Universidade Federal de Goiás.
Endereço eletrônico: [email protected]; [email protected]
Palavras-chave: carrapatos, Metarhizium anisopliae, controle microbiano.
1. INTRODUÇÃO
Amblyomma cajennense é um carrapato de ciclo trioxeno (BARROS-BATTESTI,
TUCCI E GUIMARÃES, 2001) passando por quatro estágios: ovo, larva, ninfa e adulto. Esta
espécie é considerada como uma praga de grande importância em áreas rurais atuando como
espoliadora dos rebanhos equinos e bovinos (LOPES et al., 1998). Também é um importante
transmissor da febre maculosa em humanos.
A maior parte da vida desse artrópode é passada no meio ambiente onde está
exposto a inimigos naturais (CAMARGO-NEVES et al., 2004). O combate de carrapatos no
meio ambiente visa reduzir a exposição, tanto dos animais como do homem, a acaricidas.
O surgimento de resistência de carrapatos a acaricidas químicos, os danos que
esses produtos causam ao meio ambiente e a baixa eficácia de vacinas anti-carrapato
requerem novas medidas eficientes para o combate (MENDES et al., 2011).
Medidas de controle microbiano especialmente com fungos que tem grande
capacidade de sobrevivência no ambiente do seu hospedeiro, penetram a cutícula e matam
1 Aluno de Iniciação Científica (PIVIC) 2 Professor Orientador
APROVADO E REVISADO PELO ORIENTADOR (06/09/2012)
Capa Índice 8621
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8621 - 8634
2 vários estágios do ciclo de vida de ixodídeos são promissores para um controle biológico de
carrapatos.
Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana infectam ovos, larvas, ninfas e
fêmeas ingurgitadas de carrapatos em condições de laboratório (FERNANDES e
BITTENCOURT, 2008; GARCIA et al., 2004,2005; OJEDA-CHI et al., 2011). A atividade
ovicida e larvicida do isolado M. anisopliae IP 46foi relatada recentemente em Rhipicephalus
sanguineus quando formulado em água é aplicado em solo e papel filtro e testado a umidade
perto de saturação (BARRETO, D’ALESSANDRO e LUZ, 2010; D’ALESSANDRO e LUZ
dados não publicados).
Muitos fungos são suscetíveis a raios UV e precisam de umidade elevada para
germinar e esporular sobre o hospedeiro morto. Aditivos a formulações fúngicas visam
melhorar o desempenho de fungos.
Novos conhecimentos sobre a atividade de IP 46 formulado em água e óleo-água
e aplicado direta e indiretamente em ovos de A. cajennense em condições de laboratório e a
sobrevivência de larvas eclodidas irão esclarecer melhor o potencial desse fungo para um
combate biológico desse carrapato importante no Centro-Oeste do Brasil.
2. OBJETIVOS
Objetivo Geral: Contribuir com o desenvolvimento de novas medidas para controle de
carrapatos.
Objetivos Específicos: Avaliar o efeito ovicida e larvicida de IP 46 formulado em óleo e água
em A. cajennense, inicialmente com conjunto de 25 ovos, e posteriormente, ovipostura
completa.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Origem, obtenção e preparação de ovos: Fêmeas ingurgitadas de A. cajennense foram
coletadas em cavalos numa fazendo próxima a Terezópolis, Goiás. No laboratório, as fêmeas
foram lavadas com água estéril e secas em papel. Depois foram acondicionadas em placas de
Petri (100 x 15 mm) sobre papel e incubadas a 25 ± 1ºC e umidade relativa (UR) 75 ± 10%
para oviposição (Fig. 1). Nos testes foram utilizados ovos com idade de 1 a 3 dias, para o
Capa Índice 8622
3 estudo envolvendo 25 ovos, e 7 a 9 dias, no estudo com a ovipostura completa. Conjuntos de
25 ovos foram preparados com ajuda de uma lupa e pincel desinfetado (D’ALESSANDRO e
LUZ dados não publicados). Oviposturas completas foram retiradas e transferidas das placas
de Petri, sem modificações (Fig. 2).
3.2 Origem, cultivo do fungo e preparação dos formulados: IP 46 foi isolado em 2001 de
amostra de solo coletada no cerrado do estado de Goiás, Brasil e está armazenado na Coleção
de Fungos do IPTSP/UFG. Antes dos testes será passado em fêmeas de A. cajennense,
reisolado e cultivado em placa de Petri com meio de cultura BDA (batata, dextrose, ágar)
durante 15 dias a 25ºC, UR 70 ± 10% e fotofase de 12 h.
Para preparação das suspensões de conídios, eles foram raspados na superfície de
cultura com uma espátula e suspendidos em 0,1% de Tween 80. A suspensão foi agitada com
pérolas de vidro em vórtex por 3 minutos, filtrada por algodão hidrófilo e os conídios,
quantificados com câmara de Neubauer. A partir da suspensão Mãe, foram obtidas as
concentrações finais adicionando água destilada para o formulado aquoso e água destilada
mais óleo vegetal emulsionável (Graxol® a 10%) para o formulado óleo-água. Para o estudo
com a ovipostura completa, testou-se apenas o formulado óleo-água, por ter se mostrado o
formulado mais eficiente no estudo com 25 ovos.
Fig. 1: Fêmeas de A. cajennense em
placa de Petri com papel filtro, após
terem sido lavadas e secadas.
3.3 Aplicação do formulado aquoso e óleo-água: 50 μL dos formulados foram aplicados
com auxilio de uma micropipeta semiautomática. Foram testados dois tipos de aplicação:
aplicando diretamente o formulado sobre os ovos (1) e tratando o papel filtro e expondo o
conjunto de ovos sobre papel tratado, aplicação indireta (2) (Fig. 3). No grupo controle foi
utilizado somente água para o formulado aquoso e óleo-água para o formulado oleoso. Após o
Capa Índice 8623
4 tratamento os papéis filtro com os ovos foram transferidos, cuidadosamente, para tubos de
cultura de células (TPP, Suíça), permeáveis para ar, com áreas totais de 63,6 cm2 de superfície
(Fig. 4). Os tubos foram incubados em umidade de >98% e a 250C, por 45 dias. O
desenvolvimento de micélio e conídios na superfície dos ovos, a eclosão e a sobrevivência de
larvas foram avaliados diariamente. Realizadas quatro repetições independentes.
Fig. 2: Transferência da ovipostura completa de A. cajennense das placas de Petri
para o papel-filtro do teste, sem modificações em forma e quantidade.
Fig. 3: Aplicação direta (A) e indireta (B) do formulado óleo-água nas Oviposturas
completas de A. cajennense.
A
B
Capa Índice 8624
5
Fig. 4: Papéis-filtro com as oviposturas dentro dos tubos de
cultura de célula.
4. RESULTADOS
4.1 Desenvolvimento de micélio e conídios nos ovos
No estudo com amontoado de 25 ovos, o desenvolvimento do fungo nos ovos foi
mais rápido testando formulação óleo-água do que formulação aquosa de conídios
independentemente da aplicação. Os primeiros micélio e conídios visíveis na superfície
apareceram na base dos conjuntos de ovos para os dois tipos de tratamento testados. Micélio e
conídios de IP 46 apareceram na superfície dos ovos a partir de 6,5 e 8,5 dias de incubação,
respectivamente, na concentração mais alta testada (3,3x105 conídios/cm2) e aplicando os
conídios diretamente sobre os ovos (Tabela 1). O tempo entre tratamento e aparecimento de
micélio e conídios sobre os ovos aumentou em concentrações mais baixas de conídios
formulados em água aplicados direta ou indiretamente e para conídios formulados em óleo-
água e aplicados indiretamente sobre os ovos. Testando conídios em óleo-água sobre os ovos
(aplicação direta) não teve efeito da concentração de conídios sobre o tempo (Tabela 1).
Para o estudo envolvendo a ovipostura completa, a concentração de 3,3x105
conídios/cm2 em formulação óleo-água foi a concentração escolhida por ter se mostrado mais
eficiente nos 25 ovos. Houve o aparecimento de micélio e/ou conídios nas oviposturas em
92,6% dos amontoados de aplicação direta, e 88,9% dos amontoados de aplicação indireta.
Dos amontoados em que ocorreu emergência do IP 46, essa emergência ocorreu nos dias 8,2 e
Capa Índice 8625
6 8,7 e formação de conídios nos dias 13,5 e 12,1 para as aplicações diretas e indiretas,
respectivamente (Tabela 1). A análise estatística mostrou que não há diferença entre as
aplicações (p = 5,1).
4.2 Eclosão e sobrevivência de larvas
No estudo com 25 ovos aglomerados, testando conídios formulados em óleo-água
a eclosão foi <20% e 100% das larvas morreram em até 10 dias após a eclosão
independentemente do tipo de aplicação (Fig. 5 a-d). No controle com óleo-água estéril a
eclosão foi de 88% e 78%, respectivamente, para a aplicação indireta e direta, e todas as
larvas eclodidas sobreviveram até os 45 dias avaliados. Conídios formulados em água e
aplicados diretamente em ovos apresentaram maior efeito ovicida e larvicida comparado com
conídios aplicados indiretamente sobre os ovos. A eclosão chegou até 84% quando conídios
formulados somente com água foram aplicados diretamente e 20, e 42% de larvas
sobreviveram, respectivamente, na maior e menor concentração (Fig. 6 a,b). Na aplicação
indireta de formulado aquoso a eclosão mínima foi de 60% com sobrevivência de grande
parte das larvas eclodidas >36% (Fig. 6 c,d) até o último dia de observação. A eclosão no
controle com água foi maior que o controle com óleo-água. No controle somente com água a
eclosão foi de 96% e 98% na aplicação direta e indireta, respectivamente, com 100% das
larvas vivas até o final do experimento. Micélio e conídios também apareceram sobre todas as
larvas mortas independentemente da aplicação e tipo de formulação de conídios testada (Fig.
7). A concentração de conídios teve efeito significativo sobre a eclosão quantitativa de larvas
a partir de ovos (entre 24 e 34 dias de exposição) independentemente do tratamento para a
formulação aquosa e óleo-água. Os valores de CIE50 e CIE90 para conídios formulados em
água e aplicados diretamente foram 4,6x104 (IC 2,6x104-8,3x104) e 7,7x105 (IC 3,1x105-
4,6x106). Para a formulação oleosa os valores de eclosão encontrados para as diferentes
concentrações de conídios foram insuficientes para calcular os valores de CIE50/90. Para
conídios formulados em água e aplicados indiretamente não foi encontrada relação entre
concentração de conídios e a eclosão.
Para o estudo com ovipostura completa, as eclosões foram de 90% para o grupo
controle, 68,9% para as oviposturas tratadas com a aplicação direta e 66,7% na aplicação
indireta (Fig. 8a). Aplicação indireta mostrando uma leve vantagem frente à aplicação direta,
fato não observado com o estudo dos 25 ovos, mas essa diferença estatisticamente se mostrou
Capa Índice 8626
7 irrelevante. Das larvas eclodidas no grupo controle, 100% se encontravam vivas, após os 45
dias de observação. Para a aplicação direta, a sobrevivência de larvas foi de 65,2% ao fim dos
45 dias, enquanto na aplicação indireta, a sobrevivência foi de 68,1% (Fig. 8b), novamente a
diferença é insignificante estatisticamente.
Fig. 5: Eclosão (a,c) (%) e sobrevivência (b,d) (%) de larvas de Amblyomma cajennense após aplicação direta (a,b) e indireta (c,d) de Metarhizium anisopliae formulado em óleo-água em cinco concentrações (3,3x103 a 3,3x105 conídios/cm2).
(b)
(c) (d)
(a)
Aplicação indireta
Aplicação direta
Capa Índice 8627
Estudo Conídios
/cm2 nível
Tratamento
direto indireto
aquoso oleoso aquoso oleoso
M C M C M C M C
25 ovos
0 - - - - - - - - -
3,3x103 - 17,5±10,6 19,0±11,3 9,0±1,4 11,5±2,1 - - 10,5±0,7 16,0±4,2
1,0x104 - 17,5±9,1 19,0±8,4 11,0±5,6 17,0±0,0 18,0±0,0 19,0±0,0 9,5±0,7 13,5±0,7
3,3x104 - 15,0±8,4 17,0±8,4 11,5±3,5 16,0±0,0 15,0±0,0 17,0±0,0 8,0±1,4 13,5±2,1
1,0x105 - 8,0±1,4 10,5±0,7 14,5±9,1 16,5±9,1 22,5±0,7 26,5±4,9 7,0±0,0 14,0±7,0
3,3x105 - 6,5±0,7 8,5±2,1 8,0±1,4 11,5±2,1 12,0±4,2 17,0±0,0 7,0±0,0 13,0±0,0
Ovipostura
completa 3,3x105
2 * * 9,7±4,9 14,2±3,0 * * 8,7±4,8 15,8±5,7
1 * * 8,2±5,6 13,5±4,1 * * 9,4±6,2 12,1±2,9
0 * * 9,4±4,4 14,3±3,9 * * 8,9±5,4 12,1±3,9
Legenda: - Dados nulos; * Estudo não realizado.
Tab.01: Inicio (dias de exposição) da visualização de micélio (M) e conídios (C) nos conjuntos de ovos de Amblyomma cajennense tratados diretamente ou indiretamente com conídios de Metarhizium anisopliae IP 46 formulados em água ou óleo-água em diferentes concentrações, para o estudo com 25 ovos e para o estudo de ovipostura completa.
Capa Índice 8628
(a) Aplicação direta
Fig. 6: Eclosão (a,c) (%) e sobrevivência (b,d) (%) de larvas de Amblyomma cajennense após aplicação direta (a,b) e indireta (c,d) de Metarhizium anisopliae formulado em água em cinco concentrações (3,3x103 a 3,3x105 conídios/cm2).
(b)
(c) (d) Aplicação indireta
Fig. 7: Larvas mortas de Amblyomma cajennense por infecção de Metarhizium anisopliae.
Capa Índice 8629
Dias de incubação20 22 24 26 28 30 32 34 36
Eclo
são
(%)
0
20
40
60
80
100
Controle
Aplicação direta
Aplicação indireta
Dias de incubação28 30 32 34 36 38 40 42 44
Sobr
eviv
ênci
a (%
)
0
20
40
60
80
100 Controle
Aplicação direta
Aplicação indireta
Fig. 8: Eclosão (a) e sobrevivência (b) das larvas de A. cajennense do grupo controle,
aplicação direta e aplicação indireta.
5 DISCUSSÃO
Este é o primeiro estudo com formulação oleosa de conídios em ovos e larvas de
A. cajennense. Até o momento existe apenas um único trabalho com atividade ovicida de B.
bassiana e M.anisopliae em A. cajennense. E nesse trabalho os conídios foram preparados em
(a)
(b)
Capa Índice 8630
água e os ovos foram tratados por submersão na suspensão por cinco minutos (SOUZA et al.,
1999), o que resultou numa exposição mais alta aos conídios comparada com os dois métodos
de aplicação no presente trabalho. Em condições reais de campo a exposição mais provável
dos ovos é quando uma fêmea grávida ovipõe numa área previamente tratada com conídios
(aplicação indireta).
Conídios formulados com óleo-água foram mais ativos independentemente da
aplicação do que conídios formulados somente com água, em condições de umidades>98% a
25°C. Estes se desenvolveram mais rapidamente sobre ovos de A. cajennense mostrando
maior eficiência em infectar os ovos e impedir a eclosão de larvas. Para impedir 100% da
eclosão o fungo teve que desenvolver-se rapidamente e cobrir, com micélio e conídios, o
conjunto de 25 ovos antes da eclosão o que foi encontrado apenas com formulado de IP 46
preparado em óleo-água e não com conídios formulados em água. O óleo, portanto, acelerou o
desenvolvimento do fungo sobre ovos de A. cajennense impedindo a eclosão significativa de
larvas.
O tipo de aplicação não interferiu no desenvolvimento de micélio e conídios para
a formulação óleo-água mostrando favorável para uso tanto em aplicações indiretas, como,
por exemplo, tratando uma área com conídios em que posteriormente a fêmea irá colocar
ovos, ou aplicando diretamente sobre os ovos.
A eclosão mais baixa no controle com óleo-água, comparada com o controle somente com
água não está relacionada com um efeito ovicida do óleo, mas sim a um efeito mecânico. O
óleo interfere no filme na superfície dos ovos reduzindo a adesão, entre os ovos, favorecendo
uma desestruturação do conjunto de 25 ovos preparados, contribuindo para que alguns deles
ressecassem.
O estudo com a ovipostura completa simula uma situação mais próxima da real,
onde a quantidade de ovos postos por fêmeas (5-10 mil ovos) (OLIVIERI E SERRA-
FREIRE, 1984b) é muito superior aos 25 ovos testado no primeiro experimento. Este estudo
foi realizado com apenas uma concentração de conídios (3,3x105 conídios/cm2) por ter se
mostrado a mais eficaz nos 25 ovos. Porém, como visualizado nos resultados, os valores de
eclosão e sobrevivência são altos, mostrando uma eficiência muito baixa do IP 46 como
ovicida/larvicidas, nessa concentração. Entretanto, o tempo de incubação dos ovos é
possivelmente maior em condições naturais, com temperaturas inferiores a 25°C,
possibilitando ao fungo mais tempo para agir e infectar um maior número de ovos, como
ocorrido em alguns casos isolados no experimento (Fig. 8), onde o crescimento de micélio e
Capa Índice 8631
conídios foi efetivo, levando a uma sobrevivência de 0% para as larvas que conseguiram
eclodir.
A conidiogênese de M. anisopliae nos ovos e larvas mortas contribui para a
disseminação de novos conídios no habitat do carrapato, podendo contaminar e infectar outros
indivíduos em diferentes fases de desenvolvimento (Fig. 9) (ALVES, 1998).
Fig. 8: Micélio e conídios de M. anisopliae IP 46
crescendo sobre uma ovipostura completa de A.
cajennense, aumentando ainda mais a disseminação do
fungo e seu efeito ovicida/larvicidas.
Fig. 9: Eclosão de larvas de A. cajennense de uma ovipostura
integra que apresenta crescimento de micélio e conídios de IP
46, mostrando a possível contaminação das larvas com o fungo,
pelo simples caminhar pelo papel-filtro e amontoado.
Capa Índice 8632
6. CONCLUSÃO
Os resultados do estudo com 25 ovos deixaram claro que apenas a formulação
óleo-água de M. anisopliae IP 46 consegue eliminar um conjunto de número reduzido de ovos
de A. cajennense. Formulações aquosas desse fungo provavelmente não têm efeito
significativo contra ovos em condições de campo e não deveriam ser utilizadas.
Seguindo a ideia anterior, e realizando o estudo com o amontoado completo,
utilizando apenas a formulação óleo-água do fungo, na maior concentração efetiva do estudo
anterior (3,3x105 conídios/cm2), verificou-se que não há efeito significativo do fungo sobre a
eclosão e sobrevivência das larvas, mostrando-se ineficiente para o controle do vetor.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O efeito ovicida do IP 46 foi verificado para amontoados pequenos de ovos de A.
cajennense, mas para a ovipostura completa, já se mostrou ineficiente em condições de
laboratório. Recomenda-se então novos testes de laboratório utilizando-se maiores
concentrações do fungo em formulado óleo-água, seguidos de testes de campo, se essa se
mostrar eficiente.
8. REFERÊNCIAS
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larvas de Rhipicephalus sanguineus a solo tratado com conídios de Metarhizium anisopliae
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66, 2004.
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Capa Índice 8633
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LOPES, C. M. L.; LEITE, R. C.; LABRUNA, M. B.; OLIVEIRA, P. R.; BORGES, L.
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(Boophilus) microplus (Acari: Ixodidae) from small farms of the State of São Paulo, Brazil.
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OJEDA-CHI, M. M.; RODRÍGUEZ-VIVAS, R. I.; GALINDO-VELASCO, E.;
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(Hypocreales: Clavicipitaceae). Revista Mexicana de Ciências Pecuárias, v.2, n.2, p.177-192,
2011.
Revisado e aprovado pelo orientador
Wolf Christian Luz
06 de setembro de 2012
Capa Índice 8634
SELETIVIDADE DE HERBICIDAS APLICADOS EM PRÉ E PÓS-EMERGÊNCIA
NA CULTURA DO CRAMBE
Valdiney Ferreira Alves1, Paulo César Timossi2, Elias Brod3, Uadson Ramos da Silva4
1 Discente do Curso de Agronomia do Campus Jataí/UFG – Bolsista PIVIC 2 Docente do Curso de Agronomia do Campus Jataí/UFG – Orientador 3 Discente do Curso de Agronomia do Campus Jataí/UFG 4 Discente de Mestrado em Agronomia/Produção Vegetal do Campus Jataí/UFG
Universidade Federal de Goiás - Campus Jataí, CEP 75800-000, Brasil
e-mail: [email protected]; [email protected]
Palavras-chave: Crambe abssynica, fitotoxicidade, controle químico, manejo.
INTRODUÇÃO
O crambe (Crambe abssynica) é uma oleaginosa pertencente à família Brassicaceae,
nativa do Mediterrâneo (Weiss, 2000). É uma cultura que apresenta características
importantes como ciclo curto, tolerância a seca e as baixas temperaturas (Roscoe et al., 2010),
possibilitando adoção no cultivo de segunda safra.
Segundo Pitol & Roscoe (2010), as pesquisas com crambe iniciaram-se a partir de
1995 no Estado Mato Grosso do Sul, pela Fundação MS, quando desenvolveram a cultivar
FMS Brilhante, objetivando-se a produção de biodiesel e avaliação da mesma como planta de
cobertura (Casão Júnior et al., 2006), com a finalidade de proteção superficial, assim como a
manutenção e melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.
Estudos em várias culturas agrícolas, para a avaliação de seletividade de herbicidas,
são de extrema importância para o desenvolvimento de programas de controle de plantas
daninhas em culturas anuais e de rotações de culturas (Souza et al., 2001). Conforme relatam
Velini et al. (2000), para serem recomendados de forma definitiva e indiscriminada para uma
determinada cultura, um herbicida deve demonstrar seletividade aos cultivares mais comum
dessa cultura. Entende-se por seletividade a capacidade de um determinado herbicida eliminar
as plantas daninhas que se encontram em uma cultura sem reduzir-lhe a produtividade. Ainda,
de acordo com os autores, há a necessidade de avaliar os efeitos de tais sintomas visualmente
Capa Índice 8635
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8635 - 8645
detectáveis e de outros imperceptíveis, sobre o crescimento e produtividade da cultura. Para a
cultura do crambe, essas informações ainda são raras, carecendo de mais pesquisa científica.
OBJETIVOS
Objetivou-se nesta pesquisa avaliar a seletividade de herbicidas aplicados em pré e
pós-emergência na cultura de Crambe abssynica, cultivar FMS-Brilhante.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na área experimental do Campus Jataí da Universidade
Federal de Goiás, entre os meses de agosto de 2011 a junho de 2012.
O projeto foi composto por ensaios realizados em casa de vegetação, no período de
Setembro à Dezembro (estação primavera/verão) e, a campo, no período Fevereiro à Junho
(estação outono).
Ensaios em casa de vegetação
A partir do levantamento feito no sistema AGROFIT do Ministério da Agricultura,
Pesquisa e Abastecimento, selecionou-se herbicidas com possibilidade de extensão de uso na
cultura do Crambe. Dos 136 grupos químicos de herbicidas, apenas seis apresentaram
características almejadas para a pesquisa (AGROFIT, 2012).
No ensaio em casa de vegetação, as unidades experimentais foram constituídas por
vasos com capacidade de 2,8 kg. O substrato para enchimento dos vasos foi constituído por
solo e composto orgânico na proporção de 3:1 (v/v). Foram semeadas 20 sementes por vaso
da cultivar FMS Brilhante a 2 cm de profundidade no dia 18 de novembro de 2011. O
experimento foi disposto em delineamento inteiramente casualizado (DIC), com quatro
tratamentos e cinco repetições para herbicidas de pré e pós-emergência (tabela 1 e 2).
Tabela 1. Descrição dos tratamentos com herbicidas de PRE e respectivas doses ministradas no ensaio em casa de vegetação. Jataí, GO, 2012.
Tratamentos Nome Técnico Nome Comercial Dose
(L.ha-1)
Dose
(g i.a. ha-1)
1 Diuron Diuron Nortox 4,8 2400
2 Sulfentrazona Boral 1,0 500
3 Trifluralina Trifluralina Gold 1,8 800
4 Testemunha --- --- ---
Capa Índice 8636
Tabela 2. Descrição dos tratamentos com herbicidas de POS e respectivas doses ministradas no ensaio em casa de vegetação. Jataí, GO, 2012.
Tratamentos Nome Técnico Nome Comercial Dose
(L.ha-1)
Dose
(g i.a. ha-1)
5 Haloxifope-P-metílico Verdict R 0,4 50
6 Nicossulfurom Sanson 1,25 50
7 Tembotriona Soberan 0,24 100
8 Testemunha --- --- ---
Nos tratamentos um a três, os produtos foram aplicados em pré-emergência, um dia
após data da semeadura e nos tratamentos cinco a sete foram aplicados em pós-emergência,
aos 20 DAS (Dias Após a Semeadura da cultura).
Em ambos os ensaios conduzidos em casa-de-vegetação, as aplicações foram
realizadas com pulverizador costal pressurizado a CO2, utilizando barra com um bico e ponta
DG9502E, à pressão 2,1 bar e taxa de aplicação a 200 L ha-1. Na aplicação em pré-
emergência, as condições atmosféricas no momento da aplicação (19/11/11 entre 9h e 10h)
foram: temperatura do ar de 24,6 ºC; umidade relativa do ar 62%; ventos intermitentes de até
1 ms-1; cobertura por nuvens com 30%. Na aplicação em pós-emergência, as condições
atmosféricas no momento da aplicação (06/12/11 entre 11h e 11h30min) foram: temperatura
do ar de 29ºC; umidade relativa do ar 63%; ventos intermitentes de até 1 ms-1; cobertura por
nuvens com 90%.
Ensaio de Campo
No ensaio a campo, a semeadura do crambe foi realizada em 22 de março de 2012, em
plantio direto, a até 3,0 cm de profundidade, no espaçamento de 0,45 metros entre linhas. A
adubação de plantio foi realizada a lanço com 360 kg ha-1 da fórmula comercial 02-20-18. O
tratamento das sementes foi realizado com o inseticida Cropstar a 0,5 L por 100 kg de
sementes.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com quatro
tratamentos e cinco repetições. As dimensões das parcelas experimentais foram 3 x 5 m,
totalizando 15m2. Na tabela 3, estão descritos os herbicidas testados.
A dessecação da área experimental foi realizada com o herbicida Roundup Ultra® a 2,5
kg ha-1, antecedendo em 7 dias a semeadura da cultura de crambe. Os herbicidas diuron e
Capa Índice 8637
trifluralina foram aplicados em pré-emergência da cultura, por época da semeadura, enquanto
que o herbicida haloxifope-P-metílico foi aplicado em pós-emergência, aos 20 DAS.
Tabela 3. Descrição dos tratamentos com herbicidas de PRÉ e POS e respectivas doses ministradas no ensaio a campo. Jataí, GO, 2012.
Tratamentos Herbicidas Dose
(L ha-1)
Dose
(g i.a. ha-1)
1 Testemunha --- ---
2 Diuron 4,8 L 2400
3 Trifluralina 1,8 L 800
4 Haloxifope-P-metílico 0,4L 50
Em ambas as aplicações, foram realizadas com pulverizador costal pressurizado a
CO2, utilizando barra com seis bicos e ponta DG11002, à pressão 210 kPa e taxa de aplicação
a 120 L ha-1. As condições atmosféricas inerentes ao momento da aplicação dos herbicidas de
PRE e POS são apresentadas na tabela 4.
Tabela 4. Dados referentes às condições atmosféricas no momento da aplicação dos herbicidas. Jataí-GO, 2012.
Condições atmosféricasAplicação pré-emergência
(22/03/12 entre 12h e 14 h)
Aplicação pós-emergência
(21/04/12 entre 11h e 11h30min)
Temperatura do ar 33°C 27,3 °C
Umidade relativa 45% 82%
Ventos Intermitentes de até 2 m s-1 Intermitentes de até 1 a 2 m s-1
Cobertura por nuvens 20% 90%
Umidade do solo Úmido à superfície Úmido à superfície
Avaliações
Ensaios em casa-de-vegetação
Nos ensaios conduzidos em vaso, para o grupo de herbicidas aplicados na pré-
emergência (PRE) das plantas de crambe, foi realizada a contagem de plantas emergidas aos
15 e 30 dias após aplicação dos herbicidas (DAA). Aos 30 DAS, coletou-se as plantas de
cada vaso, cortando-as rente ao solo, com acondicionamento do material coletado em sacos de
papel e levando-as para secagem em câmara de circulação forçada de ar a 70ºC por 72 horas.
Em seguida, foi pesado o material para a determinação do acúmulo de massa seca das plantas.
Capa Índice 8638
Para o ensaio com herbicidas de POS (pós-emergência das plantas), aos 7, 14, 21 e 28
DAA foram feitas avaliações visuais dos sintomas de fitotoxicidade, em porcentagem, onde
0% significa efeito nulo de dano às plantas e 100%, morte total das mesmas. Ainda, aos 30
DAA, também foi determinado o acúmulo de massa seca das plantas, seguindo os mesmos
procedimentos supracitados.
Ensaio de campo
As avaliações basearam-se na determinação dos estandes inicial e final de plantas, aos
30 e 90 dias após a semeadura (DAS) respectivamente. Para tal, foi feita contagem do número
de plantas normais emergidas em 2,5 metros de duas linhas de plantio (totalizando 5 metros),
dentro da área útil da parcela. Aos 60 DAS, foi determinado o acúmulo de massa seca de
plantas. Para essa avaliação, adotou-se quadro metálico com dimensões de 0,5 x 0,5 m, o qual
foi disposto sobre uma linha central, por duas vezes, coletando as plantas de crambe
existentes, dentro da área útil de cada quadro, totalizando 1,0 m.
Aos 90 DAS, foram coletadas as plantas existentes em duas linhas centrais, em 2,5
metros, totalizando 5 metros, na área útil da parcela. Para a estimativa de produtividade (kg
ha-1) de crambe, as plantas foram trilhadas, separando os frutos e pesando-os.
Os dados obtidos nas avaliações de controle foram submetidos à análise de variância
pelo teste F e, para comparação das médias utilizou-se do teste de Tukey ao nível de 5% de
probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSAO
Foi feito um levantamento de todos os herbicidas registrados no sistema AGROFIT
do Ministério da Agricultura, Pesquisa e Abastecimento, de acordo com o mecanismo de
ação, de quais os possíveis herbicidas que poderiam ser adotados na cultura do crambe, com o
intuito de selecionar um herbicida por mecanismo de ação, visando extensão de uso. Dos 136
grupos químicos existentes, apenas seis mostraram potencial seletivo para o crambe, dentre os
quais diuron (grupo químico uréia), sulfentrazona (grupo químico triazolinona), trifluralina
(grupo químico dinitroanilina), haloxifope-P-metil (grupo químico ácido
ariloxifenoxipropiônico), nicossulfuron (grupo químico sulfoniluréia) e tembotriona (grupo
químico tricetona), foram os que apresentaram possibilidade de serem testados na cultura.
Com o intuito de dinamizar a discussão dos resultados obtidos nos ensaios realizados
em casa de vegetação e á campo, os mesmos são apresentados em subcapítulos.
Capa Índice 8639
a) Ensaios conduzidos em casa de vegetação
Na tabela 5 são apresentadas as médias de plantas crambe emergidas, obtidas nas
avaliações de 15 e 30 DAA.
Tabela 5. Médias do número de plantas de crambe emergidas, obtidas aos 15 e 30 dias após aplicação (DAA). Jataí-GO, 2012.
Tratamentos Herbicidas* Plantas por vaso
15 DAA 30 DAA
1 Diuron 12,2 a(1) 9,2b
2 Sulfentrazona 3,4 b 3,4 c
3 Trifluralina 12,0 a 10,6 ab
4 Testemunha 13,2 a 13,4 a
F Trat. --- 23,53** 22,75**
Dms --- 3,81 3,58
CV (%) --- 20,6 21,6
*Herbicidas aplicados em pré-emergência da cultura. (1) Médias seguidas por mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Foram observadas, nas duas épocas, que o tratamento com sulfentrazona resultou na
redução acentuada no número de plantas de crambe, demonstrando a baixa seletividade desse
herbicida para a cultura. Já o diuron e trifluralina, aos 15 DAA, não apresentaram diferenças
significativas em relação à testemunha. Esses resultados corroboram com os encontrados por
Oliveira Neto et al. (2011), onde também foi caracterizada a tolerância do crambe para
aplicação de trifluralina em pré-emergência.
Aos 30 DAA, o diuron apresentou redução no número de plantas. Tal resultado
confirma a ação do produto aplicado, atuando no processo fotossintético, interrompendo o
transporte de elétrons até a plastoquinona (Rodrigues & Almeida, 2011). Desse modo, a
planta emergiu, consumiu seu material de reserva na fase de plântula e, após iniciar o
processo fotossintético, ocorreu o efeito fitotóxico do herbicida, causando a morte de plantas.
Na avaliação de massa seca, realizada aos 30 DAS (Tabela 6), verifica-se reduções na
massa seca das plantas que foram submetidas aos herbicidas sulfentrazona e trifluralina, sem,
no entanto, diferenciar-se estatisticamente da testemunha.
Capa Índice 8640
Tabela 6. Médias do acúmulo de massa seca de plantas de crambe, obtidas aos 30 dias após a semeadura (DAS). Jataí-GO, 2012.
Tratamentos Herbicidas* Matéria seca (g)
1 Diuron 14,3 a(1)
2 Sulfentrazona 8,6b
3 Trifluralina 9,3b
4 Testemunha 12,0 ab
F Trat. --- 8,49**
Dms --- 3,68
CV (%) --- 18,4
*Herbicidas aplicados em pré-emergência da cultura. (1) Médias seguidas por mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Para os herbicidas de PÓS, na avaliação de massa seca, realizada aos 30 DAA (Tabela
7), os herbicidas nicossulfurom e tembotriona, proporcionaram significativas reduções na
massa seca das plantas, caracterizando esses herbicidas como não seletivos à espécie
estudada. O herbicida haloxifope-P-metílico apresentou comportamento semelhante a
testemunha, mostrando ser seletivo para a cultura
Tabela 7. Médias do acúmulo de massa seca de plantas de crambe, obtidas aos 30 dias após a aplicação (DAA). Jataí-GO, 2012.
Tratamentos Herbicidas* Matéria seca (g)
5 Haloxifope-P-metílico 43,5 a
6 Nicossulfurom 3,2 b
7 Tembotriona 7,7 b
8 Testemunha 46,8 a
F Trat --- 120,73**
Dms --- 8,49
CV (%) --- 18,5
*Herbicidas aplicados em pós-emergência da cultura. (1) Médias seguidas por mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Os tratamentos com nicossulfurom e tembotriona proporcionaram os mais elevados
níveis de fitointoxicação à cultura, durante todas as fases de avaliação (Tabela 8). Aos 7
DAA, o tembotriona apresentou 74% de injuria, significativamente superior aos demais.
Como sintoma constatou-se a intensa coloração esbranquiçada nas folhas, evoluindo, em
Capa Índice 8641
alguns casos, aos 21 DAA, para uma seca e morte subsequente das plantas, sintomas
considerados típicos dos herbicidas inibidores da síntese de carotenos (Rodrigues & Almeida,
2011). No caso do nicossulfurom, aos 7 DAA, apresentou 60% de injuria, e no decorrer das
avaliações os sintomas foram aumentando chegando a 100% de injuria a partir dos 21 DAA,
ocasionando morte de todas plantas. Os sintomas observados foi amarelecimento das
estruturas novas, folhas mais desenvolvida com manchas de coloração marrom.
Ao contrário dos resultados encontrados para nicossulfurom e tembotriona, o
haloxifope-P-metílico proporcionou menor nível de injuria (8%) aos 21 DAA, não
apresentando diferença significativa quando comparado a testemunha. O crambe mostrou-se
bastante tolerante a esse herbicida, podendo-se afirmar que não foram constados efeitos
negativos no desenvolvimento das plantas de crambe.
Tabela 8. Porcentagem de fitointoxicação nas plantas de crambe aos 7, 14, 21 e 28 DAA, submetidas à aplicação em pós-emergência.
Herbicidas % de fitointoxicação
7 DAA 14 DAA 21 DAA 28 DAA
Haloxifope-P-metílico 0,0 c(1) 0,0 b 8,0 c 8,0 c
Nicossulfurom 60,0 b 68,0 a 100,0 a 100,0 a
Tembotriona 74,0 a 76,0 a 83,0 b 89,8 b
Testemunha 0,0 c 0,0 b 0,0 c 0,0 c
F Trat 158,6 ** 132,47 ** 242,88 ** 541,83 **
Dms 12,57 14,67 13,28 9,18
CV (%) 20,7 22,5 15,4 10,3 (1) Médias seguidas por mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
b) Ensaios cultivados a campo
Quanto à avaliação do estande de plantas (Tabela 9), aos 30 DAS, dentre todos os
tratamentos, apenas o herbicida diuron apresentou efeito fitotóxicos e consequente redução no
estande inicial em comparação com os demais tratamentos. Entretanto, pode-se constatar
resultado semelhante entre os tratamentos na avaliação do estande final, realizada aos 90
DAS, não se diferindo estatisticamente.
Capa Índice 8642
Tabela 9. Médias do estande iniplantas de crambe.
Herbicidas Estande Inicial
(plantas
Testemunha
Diuron
Trifluralina
Haloxifope-P-metílico
F Trat.
Dms
CV (%) (1) Médias seguidas por mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Aos 60 DAS foi determinada a massa seca de plantas de crambe
verificar que não houve diferenças estatísticas entre os tratam
demonstrando pouca influência dos herbicidas testados no estabelecimento da cultura do
crambe. Isso demonstra que a cultura apresenta alto
Na figura 1, são apresentados os resultados de produtividade de frutos de crambe.
Figura 1. Médias da produtividade de frutos de crambe, obtidas aos 90 dias após a semeadura, submetidas aos seguintes tratamentos herbicida: T1 – Diuron; T3 – Triflural
Verifica-se que os tratamentos herbicidas assemelharam
testemunha, o que nos possibilita afirmar que os herbicidas testados são seletivos para a
Médias do estande inicial (30 DAS), final (90 DAS) e massa seca. Jataí-GO, 2012.
Estande Inicial
(plantas m-1)
Estande Final
(plantas m-1)
30,6 ab(1) 19,0 a
16,6b 14,0 a
31,0 ab 16,4 a
32,4 a 21,8 a
3,88* 1,52 ns
15,79 11,44
30,4 34,2
Médias seguidas por mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de
Aos 60 DAS foi determinada a massa seca de plantas de crambe (Tabela 9). Pode
verificar que não houve diferenças estatísticas entre os tratamentos herbicidas e a testemunha,
demonstrando pouca influência dos herbicidas testados no estabelecimento da cultura do
Isso demonstra que a cultura apresenta alto fator de compensação.
Na figura 1, são apresentados os resultados de produtividade de frutos de crambe.
Médias da produtividade de frutos de crambe, obtidas aos 90 dias após a semeadura, submetidas aos seguintes tratamentos herbicida: T1
Trifluralina; T4 – Haloxifope-P-metílico. Jataí-GO, 2012.
se que os tratamentos herbicidas assemelharam-se estatisticamente a
testemunha, o que nos possibilita afirmar que os herbicidas testados são seletivos para a
e massa seca (60 DAS) de
Massa Seca
(kg ha-1)
2706,8 a
3200,4 a
3217,4 a
3305,0 a
0,34 ns
1957,91
33,6
Médias seguidas por mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de
(Tabela 9). Pode-se
entos herbicidas e a testemunha,
demonstrando pouca influência dos herbicidas testados no estabelecimento da cultura do
Na figura 1, são apresentados os resultados de produtividade de frutos de crambe.
Médias da produtividade de frutos de crambe, obtidas aos 90 dias após a semeadura, submetidas aos seguintes tratamentos herbicida: T1 – testemunha; T2
GO, 2012.
se estatisticamente a
testemunha, o que nos possibilita afirmar que os herbicidas testados são seletivos para a
Capa Índice 8643
cultura. Tais resultados confirmam os obtidos por Oliveira Neto et al. (2011), que
demonstraram a seletividade de trifluralina ao crambe.
CONCLUSÃO
Os herbicidas diuron, trifluralina e haloxifope-P-metílico, embora tenham apresentado
sintomas iniciais de intoxicação, mostraram-se seletivos a cultura do crambe.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Capa Índice 8644
VELINI, E. D.; MARTINS, D.; MANOEL, L. A.; MATSUOKA, S.; TRAVAIN, J. C.;
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WEISS, E.A. Oilseedcrops. London: Blackwell Science, 2000. 364p.
“Revisado pelo Orientador”
Prof. Dr. Paulo César Timossi Docente de Agronomia / CAJ
Capa Índice 8645
1- Aluno bolsista de iniciação científica 2- Aluno de Mestrado 3- Professor colaborador do projeto 4- Orientadora Revisado pela orientadora
Capa Índice 8646
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8646 - 8654
-
Capa Índice 8647
Capa Índice 8648
Capa Índice 8649
Capa Índice 8650
Capa Índice 8651
Capa Índice 8652
Capa Índice 8653
Capa Índice 8654
GOIANOS(AS) PELO MUNDO: DIAGNÓSTICO DOS PROCESSOS MIGRATÓRIOS
INTERNACIONAIS
DIAS, Vivian Maria da Silva1
DIAS, Luciana de Oliveira2
Palavras-chave: Diagnósticos, Fluxos Migratórios, Goiás.
1 – Introdução
Migração internacional é o movimento de entrada e saída de indivíduos, ou grupos de
indivíduos, de um país para outro, geralmente em busca de melhores condições de vida, tornando-se
parte das estratégias que este grupo migrante cria em sua experiência de viagem, que vão se
construindo desde a partida da terra natal, da travessia das fronteiras, da chegada e tentativa de
permanência em um lugar estranho.
O fator estabelecido para a interpretação relacionada aos diagnósticos fornecidos pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do censo 2010 indica que a emigração de
brasileiros não apresenta algo de novo para um país que teve como referência a formação de
emigrantes, e que a cada dia aumenta significativamente o número de pessoas entrando e saindo do
país, sendo que as pessoas migram por vários motivos. Para Néstor García Canclini,
As imigrações não são um fator recente. No final do século passado, aproximadamente 52
milhões de pessoas deixaram a Europa em direção aos Estados Unidos, América Latina e
Austrália. Uma diferença entre esta imigração realizada no final do século e a que
presenciamos agora em direção à Europa diz respeito ao fato de que os primeiros
imigrantes permaneciam desconectados de sua terra, enquanto que os imigrantes atuais
conseguem manter uma comunicação razoavelmente fluida com seus lugares de origem.
Em grande medida, isto é possível em função dos avanços da tecnologia informacional,
permitindo a um imigrante ter acesso aos fatos ocorridos em sua terra natal quase
simultaneamente (CANCLINI,1998, p.4).
Desta perspectiva, foi realizado no âmbito do projeto de iniciação científica o
mapeamento dos processos migratórios de goianos (as) que se encontram no exterior. Vale destacar
que a proposta foi buscar interlocução com emigrantes, familiares de emigrantes, consulados,
Ministério Público, Ministério das Relações Exteriores, associações etc. Estimativas atuais, do
IBGE, indicam que se encontram na condição de emigrantes mais de três milhões de brasileiros. A
1 Acadêmica do curso de Ciências Sociais da UFG/CAC. Pesquisadora de Iniciação Científica PIVIC/CNPq. Endereço eletrônico: [email protected]
2 Doutora em Ciências Sociais pela UnB. Professora Adjunta do Curso de Ciências Sociais UFG/CAC. Orientadora de iniciação Científica. Endereço eletrônico: [email protected]
Capa Índice 8655
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8655 - 8666
América do Norte recebe a maior quantidade de emigrantes brasileiros, depois encontram a Europa
e os países da América Central são os menos procurados brasileiros. Por isso os países de origem e
destino estão distribuídos da seguinte forma:
- EUA - principal destino da população oriunda de todos os estados, especialmente de
Minas Gerais (43,2%), Rio de Janeiro (30,6%), Goiás (22,6%), São Paulo (20,1%) e Paraná
(16,6%);
- Japão - segundo país que mais recebe emigrantes de São Paulo e Paraná,
respectivamente 20,1% e 15,3%;
- Portugal - segunda opção da emigração originada no Rio de Janeiro (9,1%) e em
Minas Gerais representa 20,9%;
- Espanha – notório que os indivíduos que partiram de Goiás elegeram a Espanha como
o segundo lugar preferencial de destino, o que representou 19,9% da emigração. Esse país aparece
como segunda ou terceira opção de uma série de outras unidades da Federação, o que, segundo o
IBGE, permitiria concluir que a proximidade do idioma estaria entre as motivações da escolha.
Países vizinhos:
- Guiana Francesa - o principal destino da emigração proveniente do Amapá;
- Venezuela - recebe a maior parte dos fluxos que partem de Roraima;
- Bolívia - atrai maior volume de emigrantes do Acre;
Apresenta-se também que nas fronteiras do centro-sul do País, Argentina, Uruguai,
Paraguai e Bolívia figuram como quinta opção preferencial dos emigrantes. Ressalte-se que o
resultado do Censo 2010 indica que haveria 4.926 brasileiros residentes no Paraguai, número muito
inferior às estimativas do MRE e da rede consular. Apenas nas jornadas de regularização migratória
dos últimos dois anos, foram atendidos mais de 10 mil nacionais naquele país, o que comprova forte
subestimação do número real. Outro dado relevante que demonstra a subestimação dos números do
IBGE seria o caso do Japão. Segundo dados oficiais do Ministério da Justiça daquele país, havia,
em setembro de 2011, 215.134 brasileiros residentes no arquipélago. As respostas dadas pelos
entrevistados ao IBGE, no entanto, indicam que haveria apenas 36.202 nacionais no Japão em 2010,
o que representa 1/6 do número real.
As experiências migratórias chamam a atenção e fazem problematizar e pensar em
outros tipos de experiências da contemporaneidade e que gravitam em torno da migração
internacional. Assim adentramos em um conjunto de territórios construídos no movimento
cotidiano, nas relações existenciais, dado em sua forma funcional ou simbólica na transposição de
limites e fronteiras.
As rotas em que os brasileiros, e em especial os (as) goianos (as) se encontram divididos
no mundo, também possibilitam identificar faixas etárias tendenciais, o que permite afirmar que a
Capa Índice 8656
maioria dos imigrantes é mais jovem com idades oscilando entre 20 e 34 anos de idade. Em relação
ao sexo, observamos que as mulheres adquiriram certa vantagem em relação aos homens e
verificamos também as regiões do estado que mais migram para outros países.
No estado de Goiás as pessoas embarcam em busca da tão sonhada viagem como
experimento, o caminhar e o permanecer, os encontros e as conversas, o ato de falas etc. No caso da
migração de goianos (as) para os Estados Unidos da América, por exemplo, chama a atenção um
fato que implica consideráveis mudanças demográficas e sócio espaciais em Goiás, pois este se
tornou o segundo estado da federação em número de origem dos migrantes internacionais, para a
necessidade de melhor apreciação de vínculos existentes entre migração internacional,
desenvolvimento e direitos humanos.
Considerando-se a população dos estados nacionais e sua relação com indivíduos
emigrantes, Goiás foi o estado de origem com a maior proporção de emigrantes (5,92 pessoas para
cada mil habitantes), seguido por Rondônia (4,98 por mil habitantes), Espírito Santo (4,71 por mil
habitantes) e Paraná (4,39 por mil habitantes). Sobrália, São Geraldo da Piedade e Fernandes
Tourinho (cidades mineiras) foram as cidades brasileiras com maiores proporções de emigrantes
(88,85 emigrantes por mil habitantes; 67,67 por mil; e 64,69 por mil, respectivamente).
2 - Objetivos
Para diagnosticar os processos migratórios internacionais envolvendo goianos (as) no
mundo, foi realizado um criterioso levantamento bibliográfico além de levantamento e leitura dos
dados do Censo 2010. Esta última atividade foi realizada no portal do site do IBGE. O diagnóstico
dos processos migratórios internacionais foi alcançado após o levantamento de dados bibliográficos.
Perceberemos que Goiás é o estado mais representativo quanto à migração juvenil.
94,3% da emigração brasileira encontram-se (na data de partida do Brasil) na faixa etária de 15 a 59
anos, e na 20 a 34 anos corresponde a 60% do total, a maior parte deles saindo do estado de Goiás.
As mulheres representam a maioria em todas as faixas etárias. Com base nesses resultados, o IBGE
infere que a principal motivação pelo deslocamento de brasileiros ao exterior foi a busca de
emprego de forma individual, em grande medida sem o acompanhamento de outros membros da
família.
Um dos objetivos anunciados, todavia ainda não alcançados a partir das atividades
desenvolvidas, foi analisar as demandas sociais que contribuem para a formulação de políticas
públicas para a migração. Os argumentos analíticos foram sustentados em afirmações como a de
Mary Garcia Castro (2001), coordenadora do Grupo de Trabalho de Migrações Internacionais da
Comissão Nacional de População e Desenvolvimento - CNPD, que diz que “o migrante é, antes de
tudo, uma construção social”.
Capa Índice 8657
3 – Metodologia
A metodologia proposta compreendeu um criterioso levantamento bibliográfico para a
consolidação de um estado da arte das migrações internacionais. Todavia o recurso metodológico
mais recorrente foi a leitura de dados obtidos junto ao IBGE. A leitura do material bibliográfico
utilizado e dos dados estatísticos selecionados colaborou fortemente para mapear e diagnosticar as
rotas escolhidas pelos (as) goianos (as) que se encontram no exterior. Além do IBGE, o Ministério
das Relações Exteriores (MRE) também colaborou para a consolidação do banco de dados que foi
montado. O MRE reconhece que suas estimativas talvez não representem exatamente a realidade
devido a diversos fatores, dentre eles o fato de muitos brasileiros estarem em situação de
irregularidade no país receptor e terem receio de se expor.
Diante de uma considerável bibliografia sobre processos migratórios internacionais, e
diante também dos bancos de dados construído iniciou-se a atividade de interpretação e análise que
culminou na elaboração deste documento que informa sobre uma conexão feita entre fenômenos
migratórios ligando goianos (as) a outros países, abordando expectativas, desejos, sonhos e
imaginações sobre lugares, pessoas, culturas, eventos.
Especialmente quando se trata da sonhada viagem daqueles que partem em busca do seu
principal destino, destacam-se como principais destinos: Estados Unidos (23,8%), Portugal
(13,4%), Espanha (9,4%), Japão (7,4%), Itália (7,0%) e Inglaterra (6,2%). Esse grupo de países
representa 70% do total. Laços históricos e redes sociais previamente estabelecidas explicariam a
preferência por esses países mais distantes em detrimento de países fronteiriços. Cabe ressaltar que,
somados, os primeiros 10 países europeus na lista de preferências (Portugal, Espanha, Itália,
Inglaterra, França, Alemanha, Suíça, Irlanda, Bélgica, Holanda) representam 49% do total, mais do
que o dobro da cifra referente aos EUA. Este diagnóstico dos processos migratórios internacionais
foi tornado possível graças à metodologia selecionada que, destacamos mais uma vez, compreende
levantamento bibliográfico e construção de um bando de dados estatísticos que tiveram como fonte
primária o IBGE e o MRE.
4 – Resultados
O mapeamento do perfil dos(as) emigrantes goianos(as) quanto às variáveis
demográficas, socioeconômicas, de contexto e de rede social, pelos resultados dos dados copilados
demonstrou as causas e motivações que levaram os brasileiros (as) goianos (as) para o exterior.
Merece destaque o desejo de consumo de automóveis e da casa própria, sendo que também
apareceram como motivadores o casamento, o estudo, o trabalho regulamentado no exterior.
Os dados do IBGE, a seguir apresentados, apontaram a estrutura por sexo e idade dos
Capa Índice 8658
emigrantes e revela uma faixa etária que vai de 15 a 59 anos de idade (como dito anteriormente),
segmento das pessoas em idade ativa, reunindo cerca de, 91,3% da emigração. Já os emigrantes
com idade entre 20 a 34 anos representaram com 60% do total de emigrantes. Vale destacar que o
IBGE não inclui nesse resultado os domicílios em que todas as pessoas do núcleo familiar podem
ter emigrado.
Por meio da análise dos dados coletados, percebemos que o principal destino dos
brasileiros foram: os Estados Unidos, seguido de Portugal, Espanha, Japão, Itália e Inglaterra, que
juntos receberam 70,0% dos emigrantes brasileiros. Este diagnóstico possibilita a visualização das
rotas preferenciais e pode ser observado mais detalhadamente na tabela abaixo.
Tabela 1 - Principais destinos de emigrantes brasileiros, 2010
Destino dos brasileiros Porcentagem (%)
Estados UnidosPortugalEspanhaJapãoItáliaInglaterra
23,813,49,47,47,06,2
Fonte: Elaboração própria com base em dados do IBGE, 2010.
Uma análise dos fluxos migratórios envolvendo a distribuição de brasileiros (as) no
exterior apresenta a seguinte configuração em ordem decrescente: 1º América do Norte, 2º Europa e
3º América Central, totalizando 2.146.394 pessoas que saem do seu lugar de origem em busca de
sucesso no exterior. Uma consideração importante é que esses emigrantes jamais esquecem seus
traços de cultura mesmo nos lugares mais distantes (MONTEIRO, 1994). Atenção para a tabela
abaixo que demonstra as afirmações neste parágrafo apresentadas.
Tabela 2 - Total de emigrantes para exterior, brasileiros, 2010
Emigrantes Brasileiros no Exterior Total de pessoas
América do Norte 1.325.100
Europa 816.257
América Central 5.037
Fonte: Elaboração própria com base em dados do IBGE, 2010
A seguir apresentamos as regiões demográficas e alguns estados brasileiros de onde
mais saíram pessoas, ainda de acordo com os dados do IBGE, foram as seguintes:
Capa Índice 8659
• Região Sudeste - 49% do total (240 mil). Sendo 21,6% provenientes de São Paulo
(106 mil, primeiro lugar), 16,8% de Minas Gerais (82,7 mil, segundo lugar) e 7,1%
do Rio de Janeiro (34,9 mil, quinto colocado);
• Região Sul - 17,2% do total. Desse total 9,3% (46 mil pessoas) saíram do Paraná
(terceiro estado na classificação geral);
• Região Nordeste - 15% do total. Destaque-se que 1/3 desse percentual saiu do Estado
da Bahia (5,3%);
• Região Centro-Oeste - 12% do total. Merece destaque o estado de Goiás que contou
com 35,5 mil emigrados (7,2%), quarto lugar na classificação dos estados;
• Região Norte - 6,9% do total.
Somados, os primeiros seis estados da classificação acima apresentada (São Paulo,
Minas Gerais, Paraná, Goiás, Rio de Janeiro e Bahia) representam 67,3% do total de emigração no
Brasil. Uma atenção especial para o fato de que, no que tange à região norte do país, a Venezuela
recebe a maior parte dos fluxos que partem de Roraima; e a Bolívia atrai o maior volume de
emigrantes do Acre.
Outro diagnóstico curioso possibilitado pela análise dos dados foi o fato de o Japão ter
se tornado o segundo país a receber emigrantes oriundos de São Paulo (20,1%) e Paraná (15,3%). O
Rio de Janeiro (9,1%) e Minas Gerais (20,9%) são os estados que apresentam como rota
preferencial Portugal. Demais dados revelam que as pessoas que saíram do Estado de Goiás e que
tiveram como lugar de chegada a Espanha ocupam o segundo lugar de preferência, os (as) goianos
(as) que escolhem a Espanha para morarem representam de 19,9% do total de emigrantes. Análises
apresentadas por Benito, Silva e Monsueto (2010) indicam que o fator motivador dessa preferência
está relacionado à proximidade dos idiomas português e espanhol. Os EUA parecem emergir como
lugar de mais vantagens financeiras, enquanto que a Itália ofereceria para aqueles que tem
ascendência italiana o encontro com suas raízes e maiores garantias social pela possibilidade de
trabalharem como cidadãos e conseguirem inclusive uma aposentadoria.
A tabela a seguir apresenta dados percentuais que indicam quais os estados brasileiros
que mais enviam brasileiros(as) para o exterior e ajuda no exercício de diagnosticar os processos
migratórios internacionais possibilitando visualizar a colocação ocupada pelo Estado de Goiás neste
ranking nacional.
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Tabela 3 - Percentual de emigrados por estado, Brasil, 2010
Estados Brasileiros que mais emigraram Porcentagem (%)
Minas GeraisRio de JaneiroGoiás
43,230,622,6
São PauloParaná
20,116,6
Fonte: Elaboração própria com base em dados do IBGE, 2010
Quanto à variável sexo, destacamos que dos 491.243 mil brasileiros (as) residentes em
193 países do mundo no ano de 2010, 264.743 eram mulheres, o que representa 53,8% e 226.743
homens (46,2%). Esse índice de mulheres migrantes é inovador para o IBGE que pela primeira vez
divulga informações mais pontuais como origem, destino, perfil etário e sexo dos emigrantes.
O perfil dos emigrantes em relação ao sexo com a alta incidência de mulheres em todos
os grupos de idade é um indício de insegurança ao se pensar em emigrante ilegal que envolve um
risco ainda maior de exploração. Se mais da metade dos (as) emigrantes brasileiros (as) são
mulheres são estas que aumentam sua vulnerabilidade no exterior.
De acordo com o IBGE essas variáveis se tornam presentes no momento em que o
censo desenvolve pesquisas para buscar o verdadeiro número de brasileiros (as) no exterior,
mostrando como as relações de sexo estão presentes e descritas. Uma explicação possível é o fato
de as mulheres terem se tornado protagonistas das famílias e buscarem trabalho fora de seu país. As
relações de gênero no âmbito das migrações internacionais demandam por maior reflexão sobre as
mudanças nas relações entre homens e mulheres. O MRE reconhece que suas estimativas talvez não
representem exatamente a realidade, mas enfatizam a necessidade de maiores reflexões acerca das
relações de gênero quando analisamos o fenômeno migratório.
Continuando a pensar sobre a variável sexo nos processos de migração internacional
apresentamos a tabela a seguir que indica o total de emigrantes internacionais, por sexo, segundo os
continentes e os países estrangeiros de destino.
Tabela 4 - Emigrantes internacionais por sexo no mundo
Continentes países estrangeiros de destino Emigrantes internacionais
Total Sexo
Homens Mulheres
Total 491 645 226 743 264 902
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ÁfricaÁfrica do SulAngolaOutrosAmérica CentralAmérica do NorteCanadáEstados UnidosMéxicoAmérica do SulArgentina
8 2862 4793 6962 1113 199129 94010 450117 1042 38638 8908 631
5 8491 6172 9501 2822 09864 0045 06157 8571 08620 8203 875
2 4378627468291 10165 9365 38959 2471 30018 0704 756
ContinuaBolíviaChileGuiana FrancesaParaguaiSurinameUruguaiVenezuelaOutrosÁsiaChinaJapãoOutrosEuropaAlemanhaÁustriaBélgicaEspanhaFrançaHolandaIrlandaItáliaNoruegaPortugalReino UnidoSuéciaSuíçaOutrosOceaniaAustráliaNova ZelândiaOutrosSem declaração
7 9192 5333 8224 9263 4161 7032 2973 64343 9122 20936 2025 501252 89216 6371 4855 56346 33017 7435 2506 20234 6521 39865 96932 2701 72312 1205 55013 88010 8362 98064646
4 4341 1652 1562 8632 0148291 4062 07825 3411 27921 1892 873101 0175 7196072 41316 8337 4761 7683 29111 98138228 77115 4195923 1942 5717 2335 5811 62329381
3 4851 3681 6662 0631 4028748911 56518 57193015 0132 628151 87510 9188783 15029 49710 2673 4822 91122 6711 01637 19816 8511 1318 9262 9796 6475 2551 35735265
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.
O espírito empreendedor de muitos (as) brasileiros (as) chama a atenção. A dissertação
de doutorado do geógrafo Alan Patrik Marcus, defendida em 2010, revelou que muitos brasileiros
de Goiás estão se instalando no estado de Massachusetts (EUA), ocupando o segundo lugar em
termos de imigração brasileira à Massachusetts, esse resultado surpreende já que Governador
Capa Índice 8662
Valadares - Minas Gerais, sempre foi tida como a maior exportadora de imigrantes brasileiros para
os Estados Unidos.
A proximidade geográfica do Estado de Goiás com a cidade mineira pode explicar o
fenômeno. De acordo com a pesquisa do geógrafo (MARCUS, 2010) Goiás está ocupando o
segundo lugar em termos de imigração brasileira à Massachusetts, com os valadarenses liderando a
lista. A maioria dos brasileiros que moram em Framingham, cidade com grande número de
brasileiros, é originária de Governador Valadares. Ainda de acordo com aquela dissertação, a
Irlanda tem sido o destino da maioria dos goianos, onde trabalham como empacotadores de carne. A
fim de entender melhor o fenômeno envolvendo goianos (as) destacamos a cidade de Piracanjuba
com 24.000 habitantes. Esta cidade goiana está se tornando o símbolo de goianos (as) que tentam a
vida no exterior. Segundo autoridades locais, 12% da população estariam vivendo fora do Brasil.
No caso da migração internacional de goianos (as) para os Estados Unidos da América,
ganha notoriedade o fluxo direcionado para o Estado da Califórnia, pontualmente para a cidade de
San Francisco (iniciado nos anos 1960). Um destaque especial é para os imigrantes oriundos de
Goiânia, capital do Estado de Goiás, que a partir desse processo migratório recebe notória atenção
como espaço onde se desenlaça a vida, os encontros, as possibilidades de subversão, de transgressão
das fronteiras e limites que se configuram em determinados contextos metropolitanos.
5 - Discussão
A mais recente estimativa do MRE de brasileiros (as) no exterior vem sendo revisada
para incluir dados referentes ao retorno, considerando o bom momento que vive a economia do
Brasil em contrate com países ricos, onde reside o maior percentual de brasileiros. Por esse motivo,
acredita-se que o número de brasileiros (as) no exterior tenha caído de 3 milhões em 2008 para
cerca de 2,5 milhões atualmente. O IBGE também reconheceu o desafio de estimar o número de
brasileiros (as) no exterior, à luz da significativa variação das cifras de uma economia que se
robustece.
Ao divulgar o resultado do Censo referente ao número de nossos conacionais no
exterior em 2010, o IBGE destaca 491.645 (residentes em 193 países) número muito inferior às
estimativas apresentadas no parágrafo acima. Autores dos relatórios do instituto fazem a ressalva de
que já se sabia previamente que o volume de emigrantes internacionais estaria subdimensionado. Os
relatórios apontam algumas limitações que poderiam explicar esse subdimensionamento, entre as
quais a possibilidade de todas as pessoas que residiam em determinado domicílio terem emigrado,
eventual falecimento, ao longo dos anos, dos parentes daquelas que permaneceram em território
brasileiro e a existência de pessoas que emigraram rumo ao exterior há muito tempo e que foram
desconsideradas nas respostas. O Censo 2010 também não inclui os filhos de brasileiros nascidos no
Capa Índice 8663
exterior, dados que os Consulados podem estimar melhor devido aos registros de nascimentos.
A complexidade que envolve a temática objeto deste trabalho demanda por estudos mais
aprofundados inclusive nas demandas por políticas públicas tanto nas sociedades de origem e de
destino, a migração internacional no contexto goiano pode ser um instrumento para se pensar e
planejar as cidades, conhecer os modos de vida, humanizar o trabalho, a saúde e amparar
subjetivamente estes sujeitos que estarão de partida ou que irão chegar, em busca de melhores
condições de vida, em direção a outros países.
Um desafio a ser enfrentado em um futuro próximo diz sobre a necessidade de traçar o
perfil do (a) emigrante goiano (a), verificando suas demandas por políticas públicas nas sociedades
tanto de origem quanto de destino, adensando as reflexões com destaques para os principais
deslocamentos realizados, os grupos sociais a que se vinculam, as rotas escolhidas e também a faixa
etária, todavia interrelacionando-os com ações direcionadas para este segmento em foco que
argumenta migrar sobretudo para trabalhar.
Elie Chidiac (2011) informa que nos dez últimos anos chegaram ao Estado de Goiás, em
forma de divisas dos emigrantes goianos (as), bilhões de reais. O secretário de assuntos
internacionais do Estado de Goiás informa ainda que, em relação à ocupação profissional dos (as)
goianos (as) no exterior, há casos muito particulares, como o dos açougueiros de Piracanjuba
concentrados na Irlanda. Mas, em geral, as principais ocupações são as de pedreiro, entregador de
pizzas, arrumadeiras (faxina em geral), garçonetes, cabeleireiras e cabeleireiros, dançarinas e,
prostituição. Um caso que merece destaque ainda é o dos jogadores de futebol, que vão para a
Europa ou para Oriente Médio, para a Arábia, sobretudo.
As discussões ensaiadas no âmbito deste documento são ainda merecedoras de
aprofundamento investigativo, analítico e reflexivo, sobmaneira se considerarmos que um
diagnóstico dos fluxos migratórios internacionais envolvem complexidades conceituais e
investigatórias que extrapolam os limites de um relatório de iniciação científica. Fica, portanto, o
registro da instigante curiosidade acerca das temáticas que envolvem goianos (as) no mundo e a
promessa de futuramente estudar de maneira avançada e interdisciplinar tão envolvente área
temática.
6- Considerações Finais
O secretário de assuntos internacionais do governo do Estado de Goiás, Elie Chidiac,
estima, em entrevista (2011), que há 300.00 goianos (as) no exterior. Desses, algo menos de
200.000 estão nos Estados Unidos e algo mais 100.000 estão na Europa. Na Europa, os principais
destinos são Portugal, Espanha, Itália, Inglaterra e França; nos Estados Unidos, as cidades de
Atlanta, São Francisco, Nova Iorque e Boston. Na eleição dos destinos há uma inflexão no final de
Capa Índice 8664
2005, início de 2006, sendo que até aquele momento, os Estados Unidos eram, claramente, o
principal destino.
Os (As) goiano (as) chegavam aos EUA por via terrestre, através do México. A partir de
2006 o México começou a exigir visto, com esta ação, o destino principal se converte para a União
Europeia, com a qual o Brasil mantém um acordo que permite que o visto se obtenha ao chegar, no
aeroporto. Elie Chidiac (2011) destaca que essa circunstância reflete-se nas ocorrências, de qualquer
tipo, que chegam à Secretaria. Antes de 2006, 80% das ocorrências tinham a ver com trabalhadores
(as) goianos (as) nos EUA; a partir daquele ano, de 80% a 90% dos casos de ocorrências partem da
Europa.
A crise econômica internacional, bem como o desenvolvimento da economia brasileira,
afeta o fluxo migratório internacional. Por isso apresentamos como proposta de continuidades
desses estudos, alinhada com as preocupações do IBGE e do MRE desenvolver estudos sobre os
retornados. Sobremaneira nos interessa os que entre 2009 e 2010 retornaram a Goiás, ou por
regresso voluntário ou via deportação, o que soma 20.000 pessoas (CHIDIAC, 2011). Por ora,
ficamos com o diagnóstico apresentado que apresenta um bom panorama das rotas preferências, das
causas e motivações apresentadas como justificativa para o ato de sair do país, das principais
tendências quanto à sexo e faixa etária e atividades de trabalho desenvolvidas.
O diagnóstico realizado dos fluxos migratórios de brasileiros (as), e em especial dos
goianos (as), no exterior, permitiu o mapeamento e análise das variáveis demográficas, de contexto
e de rede social. Ainda que consideremos desencontros nos números apresentados por diferentes
institutos e órgãos competentes que colaboraram para montar o banco de dados, fato é que as
análises dos processos migratórios de goianos (as) que saem do Estado para viverem em outros
países demandam por discussões aprofundadas e interdisciplinares capazes de capturar toda a
complexidade que o fenômeno abriga.
7 - Referências Bibliográficas
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Salário dos Imigrantes Brasileiros na Espanha. Cadernos PROLAM/USP. Ano 9, Vol. 2, 2010. pp.
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CASTRO, Mary Garcia (coord). Migrações Internacionais – Contribuições para Políticas.
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RIBEIRO, Miriam Bianca; MEDEIROS, Domingos Ferreira. Redescobrindo Goiás: geografia e
cultura. São Paulo: FTD, 2006.
“Revisado pela orientadora”.
Capa Índice 8666
ANÁLISE DO PROCESSAMENTO DE PEDIDOS DE EMPRESAS DE UMA
MESMA CADEIA DE SUPRIMENTOS – ESTUDO DE CASO
Wagner França Quadros – [email protected]
Maico Roris Severino (orientador) – [email protected]
Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão (UFG–CAC)
Palavras-chaves: Gestão da Cadeia de suprimentos, Processamento de pedidos, Indústria
Automobilística.
1. Introdução
A gestão da cadeia de suprimentos (GCS) é um tema de bastante relevância na
atualidade. O objetivo da GCS é de suprir todas as exigências do consumidor com o menor
custo possível. Para tanto, uma das atividades primárias é o Processamento de Pedidos. O
tempo despendido no processamento de pedidos está diretamente relacionado com o tempo de
resposta ao cliente, e um bom gerenciamento desta atividade implica alcançar um nível eficaz
de serviço prestado ao cliente. Dentre algumas tarefas que devem ser realizadas temos:
preparação de documentos para embarque, coordenação de liberação de crédito, verificação
de erros nos pedidos, transmitir informações aos clientes e interessados, situação de pedidos e
dispersão da informação do pedido para vendas, atualização de registros de estoque, dentre
outros (PRUSAK, 1994).
Buscando vantagens competitivas sobre seus concorrentes as empresas vêm tratando a
gestão do fluxo informacional como algo de muita importância, pois é essencial para alcançar
o grau de competência relativa ao desempenho de atendimento aos pedidos e a eficiência
oferecida com a redução dos custos e melhoria dos processos internos a empresa. A (TI)
tecnologia de informação é a ferramenta de auxilio que busca garantir o fluxo de informações
eficiente. O processamento de pedidos necessita das informações referentes a todo o ciclo do
negócio, de modo a caracterizar procedimentos e parametrizar eventuais sistemas de
informação. Com isso, o uso de Sistemas de Informação proporciona informações de forma
rápida, completa e eficiente.
Este estudo tem como objetivo analisar como são realizados os processamentos de
pedidos em uma cadeia de suprimentos, bem como, desenvolver uma proposta de
processamento mais efetiva aos olhos da coordenação de fluxo da cadeia de suprimentos.
Este é focado no processamento de pedidos realizados por empresas de uma mesma
cadeia de suprimentos. Assim são analisadas as práticas de algumas empresas de tal cadeia e
Capa Índice 8667
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8667 - 8681
após a coleta de dados é elaborada uma proposta de processamento de pedidos e avaliação da
mesma.
Quando se fala em processamento de pedidos tem-se que levar em consideração tudo
que engloba um pedido, qual frequência se realiza estes pedidos, se há a utilização de alguma
tecnologia de informação no auxilio ao acesso e controle das informações, aos relatórios e
quais camadas da cadeia ele engloba, conhecer quais os procedimentos para a transformação
dos pedidos em uma ordem de produção, quanto tempo se leva entre a realização de pedidos
pelo cliente e a entrada da ordem de produção pelo fornecedor, qual o tempo entre a
realização do pedido pelo cliente ou entrada da ordem de produção e a entrega do mesmo e
quais os critérios que são utilizados, considerados para a aceitação, alterações ou recusa dos
pedidos.
Para melhor compreensão deste trabalho, ele está organizado do seguinte modo: na
seção 1 foi apresentada uma contextualização, o objetivo e justificativa do estudo; na seção 2
é apresentada a metodologia utilizada; na terceira seção é apresentada uma revisão
bibliográfica do tema; na seção 4 é apresentado o estudo de caso; e por fim na última seção
são apresentadas as considerações finais.
2. Metodologia
Para a realização deste trabalho foi utilizada como metodologia a pesquisa teórico-
empírica. Em termos da parte teórica foi realizada uma busca em artigos científicos dos
principais congressos de engenharia de produção, o Encontro nacional de engenharia de
produção (ENEGEP), no Simpósio de engenharia de produção (SIMPEP) e no Simpósio de
administração da produção, logística e operações internacionais (SIMPOI) nas edições dos
anos de 2001 a 2011. As buscas foram focadas em artigos que tratavam dos seguintes temas:
processamento de pedidos, gestão da cadeia de suprimentos e logística. Os artigos
pesquisados tratavam tanto de cunho teórico quanto de aplicação e análise da prática (estudos
de casos) dos temas mencionados. Destacam-se artigos que relatavam a competitividade das
empresas na área logística, outros que abordavam utilização de TI (tecnologia de informação)
para melhores desempenhos.
A partir do aporte bibliográfico, em termos empíricos, foi realizado um estudo de caso
em uma empresa montadora de automóveis localizada fora da grande São Paulo. Estudo de
caso é definido como uma abordagem metodológica de investigação especialmente adequada
quando procuramos compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos
complexos, nos quais estão simultaneamente envolvidos diversos fatores (YIN, 1994). Este
Capa Índice 8668
estudo visa entender como é realizado o procedimento de processamento de pedidos da
empresa junto aos seus diversos fornecedores e clientes, qual a relação da empresa com os
mesmos, para a realização destes quais sistemas são utilizados, quais as dificuldades
enfrentadas pela empresa/funcionários e os fornecedores. Ou seja, um estudo do
processamento de pedidos em uma cadeia de suprimentos específica.
Para a coleta de dados foram realizadas visitas com entrevistas e acompanhamento da
rotina de trabalho, tendo assim observação direta de alguns relacionamentos da cadeia de
suprimentos estudada. A partir da coleta de dados e do diagnóstico da situação da cadeia de
suprimentos estudada, realizou-se uma análise comparativa entre o caso estudado e o que a
literatura propõe como melhores soluções. A partir disto, foi feito um levantamento de
propostas e ações para melhoria no processamento de pedidos da cadeia de suprimentos em
questão.
3. Revisão Bibliográfica
Por definição logística é a “parte da gestão da cadeia de suprimentos responsável por
planejar, desenvolver e controlar de forma eficiente e eficaz o fluxo e a armazenagem de
produtos, bem como os serviços e informações relacionados” (CSCMP, 2010), avaliando
desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com a finalidade de atender as necessidades
e exigências do consumidor. Christopher (2002) e Novaes (2001) acrescentam ainda que a
logística tem como objetivo aumentar a lucratividade e a redução dos custos ao longo do
processo, tendo em vista o atendimento das necessidades e preferências do consumidor final.
Uma vez que cada elo da cadeia logística é cliente de seus fornecedores, torna-se necessário
conhecer as necessidades de todos os componentes do processo, para proporcionar total
satisfação. Para Moura (2003) “consiste em dispor dos materiais necessários no momento
apropriado e no lugar certo, ao menor custo global para a empresa.” “O processo de gerir
estrategicamente a aquisição, a movimentação e o armazenamento de matérias, peças e
produtos acabados (e os fluxos correlatos) por meio da organização e de seus canais de
marketing, de modo a poder maximizar a lucratividade presente e futura com o atendimento
dos pedidos de baixos custos” (GOMES & RIBEIRO, 2004).
As organizações vêm em busca de diferenciação, competitividade, buscam participar
de cadeias produtivas competitivas, onde todos os elos queiram buscar a excelência. A
logística permeia esse cenário como importante elemento enquanto considerada o estágio
avançado da gestão. A logística empresarial, segundo Ballou (2006), é dividida entre a
administração de materiais e a distribuição física. Esta última tem especial importância ao
Capa Índice 8669
nível de serviço por tratar-se da etapa que o cliente observa. Bertaglia (2003, p.170) descreve
que “a vantagem competitiva de uma empresa pode estar na forma de distribuir, na maneira
com que faz o produto chegar rapidamente, na qualidade de seu transporte e na eficiência de
entrega de um material”.
Bowersox e Closs (2006, p.80) afirmam que “é a função marketing que determina o
desempenho logístico apropriado”. Portanto, o estabelecimento do nível de serviço ao cliente
reflete diretamente nos resultados na organização, onde a busca por resultados positivos é
aguardada por todos os envolvidos (stakeholders).
Uma atividade inicial e de vital importância no planejamento logístico de distribuição
de uma empresa é o processamento de pedidos, este é caracterizado pelo conjunto de
atividades relacionadas à coleta, verificação e transmissão de informações sobre as vendas
efetuadas, sendo o ponto inicial para o atendimento das requisições dos clientes. Neste ponto
ocorre a entrada e a manutenção dos pedidos dos clientes através do uso de tecnologias de
comunicação (BOWERSOX e CLOSS, 2006). Os sistemas de processamento de pedidos são
projetados de modo a interagir diretamente com o cliente, a fim de elevar o nível de qualidade
do serviço oferecido. O processamento eficaz dos pedidos reduz o tempo de resposta ao
cliente, aumentando a confiabilidade deste em relação ao serviço, além de auxiliar na
organização do fluxo das mercadorias (BALLOU, 1993).
Para o varejo virtual, o processamento de pedidos necessita de equipamentos de
telecomunicação e sistemas capazes de administrar uma grande quantidade de pedidos,
compostos de um pequeno número de itens, e efetuados muitas vezes por novos clientes em
qualquer lugar do planeta, conectados com os portais de venda de produtos.
Na opinião de Lee e Whang (2002), os dois conceitos centrais para tornar eficiente a
conclusão dos negócios on-line são: Utilizar mais os fluxos de informação do que os fluxos
físicos e capitalizar ao máximo os meios e infraestruturas físicas atuais para a reta final da
entrega. Esse aumento de importância do e-atendimento para o varejo virtual acontece devido
a diversas características como: a quantidade de vendas que o varejo virtual realiza em um
único dia, a quebra das barreiras geográficas, as exigências dos consumidores virtuais, que
tendem a ser maiores, as operações de devoluções, que podem ser onerosas, e outros.
Processamento de pedidos é uma das três atividades primárias da logística, e o tempo
despendido nesta atividade pode influenciar diretamente nos custos e níveis de serviços
oferecidos ao cliente. Com base neste contexto pode-se perceber a importância de um sistema
eficaz. As atividades primárias são consideradas o “ponto crítico” das operações logísticas, os
clientes buscam o produto certo na hora e no lugar desejado, e a missão da logística é
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promover isso aos clientes. Fleury (2003) considera que a velocidade, a abrangência e a
qualidade do fluxo de informações ao longo do processo interferem diretamente no custo e na
qualidade das operações logísticas. Percepções conflitantes sobre o real desempenho do ciclo
do pedido, ocorrência de variabilidades significativas nos tempos de ciclo e flutuações
exageradas da demanda ao longo do tempo são problemas que ocorrem com frequência
durante o ciclo do pedido. Tais situações podem ser amenizadas ou resolvidas ao desenvolver
o senso de cooperação entre clientes e fornecedores, além da troca contínua de informação,
em projetos conjuntos.
O principal desafio da gestão da cadeia de suprimentos é atingir os requerimentos do
cliente em relação ao pedido que foi feito. Atender o suposto pedido requer integração da
manufatura, da logística e do marketing. A empresa deve desenvolver parcerias com os
principais membros da cadeia na intenção de atender os requerimentos do cliente de forma
que consiga reduzir o custo ao cliente final. Responder pela entrega precisa e no tempo
correto dos pedidos, com o objetivo de atender as datas das necessidades dos clientes.
Lambert (1998, p.518) diz o seguinte sobre o ciclo do pedido: “O ciclo do pedido
consiste dos seguintes componentes: (1) preparação e transmissão do pedido; (2) recebimento
e entrada do pedido; (3) processamento do pedido, (4) resgate no estoque e embalagem; (5)
expedição do pedido e (6) entrega e descarregamento no cliente”.
Segundo Ballou (2005) e Fleury (2012) são inúmeros os fatores com peso suficiente
para acelerar ou retardar o tempo de Processamento de Pedidos, dentre eles pode-se citar:
Prioridades no processamento, processamento paralelo versus sequencial, exatidão no
atendimento de pedidos, padrão das condições dos pedidos, atrasos na transmissão dos
pedidos, aprovação de créditos, descontos, estabelecimento de prioridades, falta de Estoque.
Uma ferramenta que tem se destacado e está sendo tomada como indispensável para
aumentar o desempenho das empresas no desenvolvimento tanto de seus processos produtivos
quanto na gestão empresarial é a Tecnologia da Informação - TI, como um conjunto
tecnológico constituído de hardware, software, redes de comunicação eletrônica de dados,
redes digitais de telecomunicações, protocolos de transmissão de dados e outros serviços. A
competição, a necessidade de conquistar mercados, atender às demandas por produtos, a
busca de melhores margens, melhoria da qualidade e da produtividade tem levado as
empresas a investirem ao longo do tempo em processos informatizados, que melhorem a
gestão da produção.
Capa Índice 8671
Com a nova geração de tecnologias da informação, mais precisamente os sistemas de
gestão empresarial – ERP – Enterprise Resource Planning, esse descompasso da informação
entre as áreas da empresa poderia ser solucionado.
Resta então resolver uma ligação crucial, aquela entre as tecnologias da informação e
de automação implantadas no chão de fábrica e o ERP, cuja falta ou deficiência se evidencia
entre os processos automatizados e informatizados do chão de fábrica com as demais áreas,
indo da gestão da produção (PCP, Logística, suprimento) à área comercial, passando por
recursos humanos (RH) e finanças.
Drucker (1995) argumenta que o mundo está migrando para uma sociedade do
conhecimento, devido à automação dos processos de trabalho. Nessa nova sociedade, a TI
pode trazer um diferencial para as organizações que souberem utilizá-la de forma adequada,
sendo mais um recurso para competir e permanecer no mercado.
Desse modo a presença cada vez maior da tecnologia da informação nas empresas
tem-se dado por razões estratégicas fundamentais: a competitividade crescente leva à
necessidade de maior domínio sobre os parâmetros que estão em jogo, maior flexibilidade
para adaptar-se às novas condições do mercado e maior capacidade de absorção de novas
técnicas e tecnologias. (SPINOLA; PESSOA, 1997). A TI passa a ter a função de estabelecer
uma estratégia integrada de negócios, da organização e da tecnologia propriamente dita.
O sucesso de uma organização depende da habilidade de gerenciamento para integrar
outras organizações da cadeia, ou seja, formar e coordenar sua rede de relacionamentos
(LAMBERT & COOPER, 2000; MENTZER et. al., 2001). Assim, insere-se a necessidade de
desenvolvimento de relações mais próximas e colaborativas entre fornecedores e clientes,
sendo tais relações enquadradas no conceito ou paradigma de Gestão da Cadeia de
Suprimentos, um conceito holístico de gestão de relacionamentos, relativo a uma série de
atividades de gerenciamento interconectadas (MOURITSEN, SKJOTT-LARSEN &
KOTZAB, 2003).
Comparando os fatores que influenciam no tempo de processamento de pedidos, pode-
se concluir que estes podem ser minimizados ou resolvidos com o auxilio dos sistemas de
informação e também com o estabelecimento de controles e parâmetros desenvolvidos pelo
gestor de logística.
As organizações buscam competitividade, buscam participar de cadeias produtivas
competitivas, onde todos os elos fomentem a busca por excelência. A logística permeia este
cenário como importante elemento enquanto considerada o estágio avançado da gestão.
Capa Índice 8672
São diversos os casos de busca pelos melhores desempenhos logísticos como:
aquisição de ERP’s para acelerar o fluxo de informações, integrações verticais entre outros,
tudo visando um diferencial. Varias empresas buscam melhorias devido a competitividade dos
mercados.
A partir da revisão bibliográfica apresentada, nota-se que para um processamento de
pedidos efetivo têm-se alguns elementos principais, estes estão expostos na primeira coluna
da TABELA 1 apresentada na seção 4.
Estes elementos comprovam o quanto a integração da etapa de processamento de
pedidos é importante dentro de uma cadeia de suprimento. A partir destes tem-se um controle
total de todo o processo dos pedidos e dos ciclos dos mesmos. As empresas normalmente se
preocupam somente com seus processamentos individuais e esquecem que dependem do bom
funcionamento de todos os demais elos da cadeia e que é necessário ter esta preocupação,
fazer uma análise completa de como está o andamento deste processamento nos diversos elos.
O processamento de pedidos engloba desde o cliente até os fornecedores da empresa,
então tem que haver um cuidado com todo o processo e verificar constantemente como está
sua execução em cada setor, para que isso não interfira no processo produtivo e este possa
fluir normalmente, acarretando no cumprimento dos prazos.
A seção a seguir apresenta um estudo de caso detalhado onde se analisa como é
realizado o processamento de pedidos em uma cadeia de suprimentos, levando em
consideração alguns dos elos da cadeia, montante e jusante, desde os pedidos dos clientes,
como esses pedidos são recebidos pelos fornecedores da empresa, como são realizadas essas
trocas de informações até a entrega dos mesmos.
4. Estudo de caso
Tem-se como estudo de caso a cadeia de suprimentos de uma montadora de
automóveis. Localizada fora da grande São Paulo, a unidade em questão está em
funcionamento desde o ano de 1998 e em 2012 empregava 3000 funcionários. Neste mesmo
período a produção variava entre 180 à 210 unidades por dia. Para tanto, a empresa contava
com cerca de 160 fornecedores de material direto (material que é utilizado na produção).
Dentre eles, alguns estavam localizados dentro da sua própria planta (in plant), sendo
fornecedores exclusivos que recebem pedidos e entregam produtos diariamente.
Faz parte também desta cadeia uma unidade central, a comercial que cuida de toda a
parte burocrática da empresa, dos pedidos junto às concessionárias. É esta que realiza as
previsões de vendas anuais e mensais que é encaminhada à montadora.
Capa Índice 8673
Outro elo dessa cadeia são as redes de concessionárias, estas lidam diretamente com o
atendimento aos clientes e oferecem os produtos aos mesmos. São 182 unidades, dentre elas
estão as centrais que gerenciam todas as filiais, sendo responsáveis tanto pelas questões
burocráticas como no contato direto com a montadora que é a fornecedora de seus produtos.
O processamento de pedidos da cadeia estudada se inicia nas concessionárias, é
através delas que os clientes têm acesso aos produtos e podem realizar seus pedidos. Para as
analises escolheu-se uma das unidades de uma das redes de concessionárias que trabalham
diretamente com a montadora estudada e pode-se assim iniciar a coleta dos dados.
A rede de concessionárias em questão possui 4 unidades, cada uma em uma cidade
distinta. Por estarem em áreas de atuação diferentes, é natural que as unidades lidem com
mercados e demandas distintas. Considerando essa diferença cada filial tem um contrato de
concessão junto à montadora, contrato este que é estabelecido pela direção geral das
concessionárias e área comercial da montadora, e então recebem atribuições fixas mensais, ou
seja, quantidades fixas de cada modelo de carro para serem vendidos por mês.
A unidade visitada trabalha com estoques de 50 a 60 veículos, visa sempre atender a
pronta entrega os clientes. Quando não há o produto que o cliente quer a pronta entrega,
através de um sistema de comunicação interno entre as unidades o vendedor tem acesso aos
estoques das outras lojas da rede de concessionária e caso ele encontre o veículo que procura
solicita a entrega imediata do mesmo a respectiva unidade, esse lead time é de no máximo 1
dia.
Se os produtos não forem encontrados em nenhuma das unidades os vendedores então
realizam os pedidos junto a central, através de telefonemas e e-mails, os pedidos chegam às
mãos do gerente geral. É através da direção geral que os pedidos chegam à área comercial da
montadora e esta repassa via e-mails a montadora para serem fabricados. Pedidos feitos
diretamente a montadora tem um lead time de entrega de 30 a 45 dias.
O setor de planejamento e controle da produção (PCP) da montadora é responsável por
todo o funcionamento da linha de montagem, e o encarregado de fazer toda a programação da
produção (Scheduling). A partir das previsões anuais, e posteriormente as mensais enviadas
via e-mail pela unidade comercial, o PCP vai tem um panorama inicial do que terá que ser
produzido. Porém estes números oscilam muito, a variação de produção da fábrica chega a
70% em um mês o que força o Planejamento a buscar sempre números diários.
Trabalhando com esses números mensais o PCP realiza via o sistema ERP da empresa
seus pedidos ao pessoal do Planejamento de Compras e Materiais (PCM), para que eles
realizem as compras das peças e reabasteçam os estoques.
Capa Índice 8674
Já com os números diários vão ser executadas as ordens de produção junto aos
fornecedores que entregam produtos direto na linha de montagem e ao setor de pintura que
trabalha no fornecimento das carrocerias pintadas direto na área de seletividade (área onde
ficam as carrocerias prontas para a montagem), são enviados e-mails de 30 em 30 minutos
com o sequenciamento atualizado da linha, para que o fornecimento seja na ordem correta e a
linha flua normalmente.
Esse sequenciamento é realizado levando em consideração os pedidos via comercial,
os modelos já pintados que estão na seletividade, as peças que se tem em estoque e o Takt-
Time da linha. Para o balanceamento ideal da linha, os modelos são montados de forma
intercalada levando em consideração os tempos de montagem de cada um.
O departamento de PCM também trabalha diretamente com o setor de logística para
selecionar os melhores fornecedores, aqueles que são pontuais para não prejudicar a produção
e que seus produtos sejam de qualidade. O setor de suprimentos, que faz parte do PCM que é
responsável pelas negociações com os fornecedores, determinando assim os lotes mínimos, as
datas de entrega dos pedidos.
A partir da consulta da programação da produção mensal de cada produto, o PCM
realiza as compras do mês junto a cada fornecedor. Os pedidos são realizados baseados nas
necessidades, nos estoques de segurança, estes que variam de acordo com cada
produto/espaço/preço e duram cerca de 4 a 8 dias. Destaca-se que o controle dos fornecedores
é realizado via planilhas eletrônicas.
Um mecanismo de controle de pedido que merece destaque é com o fornecedor de
peças usinadas. Pelo fato de fornecer uma grande quantidade de itens utiliza-se o sistema
KANBAN eletrônico. Este sistema é atualizado manualmente o que facilita na prevenção de
erros nos pedidos. É uma ferramenta de fácil controle porque é visual, considera a quantidade
de peças em trânsito, quais foram as compras realizadas, emite as necessidades de compras
(baseadas nos estoques), mostra a pontualidade de cada fornecedor (se as peças estão sendo
entregues dentro dos prazos) e se a qualidade está dentro das especificações. Para auxiliar o
sistema kanban e ter uma visão geral de como está a variação de entregas de cada fornecedor
o sistema gera histogramas e estes auxiliam na tomada de decisões quanto a pontualidade,
qualidade e outros.
Dentre os 160 fornecedores, cerca de 10 a 12 são de total confiança da empresa. Estes
conseguem exatamente seguir o padrão de qualidade estipulado pela marca. Assim, são
autorizados a entregar suas peças diretamente na linha de montagem e não passam por
conferências. Destes fornecedores de confiança, escolheu-se o que fornece peças plásticas
Capa Índice 8675
para estudar como é realizado seu processamento de pedidos. Só este fornece cerca de 120
itens como: para-choques, painel dos veículos, protetores laterais da lataria, retrovisores, forro
de teto interno entre outros. É um fornecedor de grande importância e foi integrado a planta
da montadora visando facilitar, agilizar esse fornecimento.
Para que o fornecimento destas peças seja em quantidades e tempos corretos o
processamento de pedidos é realizado mensalmente pelo PCM através de e-mails, e
atualizados após 15 dias baseando-se nos estoques. No caso de peças como os painéis, os
pedidos também são realizados via e-mails, mas são gerados diretamente do PCP como uma
ordem de produção. De 15 em 15 dias o pessoal do planejamento passa uma visão do que vai
ser produzido nos próximos dias e suas respectivas quantidades para que o fornecedor se
programe. Mas há também uma comunicação diária via intranet, onde é passado todas as
informações da produção diária juntamente com o sequenciamento da produção atualizado.
Isto é realizado para que um pequeno estoque seja formado na linha de montagem e não haja
paradas na produção por falta de peças.
Para conseguir atender aos pedidos da montadora, o fornecedor de peças plásticas
conta com 10 fornecedores nacionais e 2 do exterior. Os pedidos junto a estes são realizados
via e-mails diretos, para as peças importadas é adotado um lead time de 60 dias, para as peças
nacionais o lead time é bem menor e varia de cada fornecedor. A principal matéria prima
utilizada é a fibra de vidro, esta é trazida da unidade principal e seu lead time é de 15 dias. Por
mês a unidade consome cerca de 120 toneladas deste material.
Para a realização dos pedidos respeita-se além das ordens do PCP da montadora
também seus estoques que possuem um giro de uma semana, o que vai depender do mix de
produção estipulado. Utiliza-se também de estoques de segurança para atender pedidos extras
que não estavam programados (o que ocorre com grande frequência). Logo as ordens de
produção variam de acordo com a demanda e os pedidos são realizados de acordo com as
necessidades e dos estoques que são sempre mantidos.
Para melhor compreensão, a FIGURA 1 apresenta a configuração da cadeia de
suprimentos estudada, a FIGURA 2 apresenta como é realizado o processamento de pedidos
neste estudo de caso e a TABELA 1 apresenta uma síntese da análise realizada na pesquisa de
campo.
Capa Índice 8676
FIGURA 1: Configuração da cadeia de suprimentos estudada. Fonte: Elaborado pelos autores.
FIGURA 2: Representação do processamento de pedidos na cadeia de suprimentos estudada. Fonte: Elaborado pelos autores.
Capa Índice 8677
TABELA 1: Análise dos elementos do processamento de pedidos na cadeia estudada. Elementos de Análise Concessionárias Montadora Fornecedor
Verificação e transmissão de informações sobreas vendas efetuadas, transmissão dos pedidos; Via e-mail e telefone. Via e-mail e telefone. Via e-mail e telefone.
Recebimento, entrada e manutenção dospedidos; Os pedidos são feitos pelos clientes. As concessionárias realizam os pedidos de
acordo com as necessidades. Recebe as previsões de vendas.
Expedição dos pedidos; Via email e telefone. Via email e telefone. Via email e telefone.
Situação do pedido e dispersão das informações; Acompanhamento on line sem dispersão.Acompanhamento via ERP. Dispersão quando
não é realizada a baixa no estoque dos componentes.
Quanto o acompanhamento: para importados rastreamento via código de importação; para nacionais não há. Dispersão insignificante.
Atualização de registros de estoques; Em tempo real. Em tempo real. Em tempo real.
Entrega e descarregamento no cliente; A cada 2 dias. Para painéis diariamente. Para demais itens semanalmente
Para importados semanal. Para nacionais a cada 2 dias.
Frequência dos pedidos; Atribuição fixa mensal e mais pedidos extras. Para painéis diária. Para demais itens quinzenlmente.
Para importados mensais. Para naciais quinzenalmente.
Há a utilização de TI? Utilizam um sistema interno de controle de estoque entre as lojas da concessionárias
Entre a àrea comercial e o PCP não existe um sistema integrador. Entre o PCP e o PCM utiliza-
se um ERPComunicação via e-mails
Quais os procedimentos para transformação dopedido em uma ordem de produção; Não há
Através da análise do PCP sobre a vendas realizadas e a disponibilidade de materiais
inserem a ordem no ERP
Para painéis gera a ordem de produção baseada no sequenciamento da montadora. Para os
demais itens gera a ordem de produção baseado nos pedidos, capacidade produtiva e estoques.
Quanto tempo entre a realização do pedido pelocliente e a entrada do ordem de produção pelofornecedor;
30 dias Para painéis 1 dia. Para os demais itens 10 dias. Para importados 15 dias. Para nacionais 10 dias.
Quanto tempo entre a realização do pedido pelocliente e a entrega do mesmo; 45 dias Para painéis 1 dia. Para os demais itens 15 dias. Para importados 60 dias. Para nacionais 15 dias.
Quanto tempo entre a entrada da ordem deprodução do pedido e a entrega do mesmo; 15 dias Para painéis 12 horas. Para os demais itens 5
dias. Para importados 45 dias. Para nacionais 5 dias.
Quais os critérios para aceitação, recusa oualteração do pedido;
O pedido tem que estar de acordo com as opções disponíveis.
O pedido tem que estar de acordo com as opções disponíveis.
O pedido deve estar de acordo com os projetos de componentes desenvolvidos conjuntamente.
Fonte: Elaborado pelos autores
Capa Índice 8678
5. Considerações finais
O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo de caso onde se analisava como são
realizados os processamentos de pedidos em uma cadeia de suprimentos, bem como,
desenvolver propostas de processamento mais efetivas aos olhos da coordenação de fluxo da
cadeia. O estudo foi direcionado no processamento de pedidos realizados por empresas de
uma mesma cadeia de suprimentos.
Após a realização do estudo pode-se concluir que na cadeia analisada há muitos
pontos a serem pensados e modicados. O principal deles é coordenação do fluxo de
informações entre os elos, todo o sistema é interligado via e-mails e estes atualizados
manualmente várias vezes ao dia, isso retarda o processamento dos pedidos e as chegadas de
informações aos seus destinos finais. A solução para este e muitos outros problemas seria a
aquisição de um sistema que integrasse toda a rede, ou pelos menos entre a montadora (PCP,
PCM), os fornecedores mais diretos que recebem pedidos e entregam peças diariamente e a
rede de concessionárias.
Um ERP para fazer essa ligação entre esses elos é o ideal e fará com que todos eles
tenham acesso às informações em tempo real: vendas das concessionárias, quantidades de
peças ainda em estoque, o que foi pedido aos fornecedores e o que eles têm em estoque, entre
outros. Existe uma série de vantagens na utilização da tecnologia da informação e no caso de
processamento de pedidos é de grande importância, pois, da agilidade ao processo, passa
informações atualizadas e acaba sendo um diferencial competitivo para a empresa.
As principais limitações do estudo foram devido à consideração de apenas alguns elos
da cadeia em questão, foi analisado o processamento de pedidos de apenas um dos 160
fornecedores e apenas uma das 182 lojas de concessionárias que trabalham com a marca. Tal
fato pode levar ao questionamento se tais comportamentos se repetem para os demais. Desta
forma, sugere-se como estudos futuros, aumentar a abrangência de um estudo desta mesma
natureza, podendo ter uma visão mais ampla do processamento de pedidos em uma cadeia de
suprimentos.
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“REVISADO PELO ORIENTADOR”
Capa Índice 8681
Uso da goma de caju em substituição ao ágar em meio de cultura
Wendell Jacinto Pereira, Karla de Aleluia Batista e Kátia Flávia Fernandes
Instituto de Ciências Biológicas (ICB II), Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular
Endereços eletrônicos: [email protected] (autor principal);
[email protected] (orientadora)
Palavras-chave: polissacarídeos, cultivo microbiológico, Anacardium occidentale.
Introdução
As gomas podem ser definidas de forma ampla como substâncias incolores, inodoras,
insípidas e não tóxicas, sendo substâncias poliméricas que em solvente apropriado podem
formar soluções altamente viscosas ou até mesmo géis (ALI, ZIADA e BLUNDEN; 2009)
termo goma denota especificamente um grupo de polissacarídeos (glicanas) e seus derivados,
que hidratam em água quente ou fria, formando uma solução viscosa ou dispersão de baixa
concentração (ZOHURIAAN E SHOKROLAHI, 2004). São substancias químicas de elevada
massa molecular, hidrofílicas, com propriedades coloidais, produzindo em solventes
orgânicos como clorofórmio, acetona, etanol suspensões altamente viscosas, com funções
espessantes, gelificantes, emulsificantes, estabilizantes e aglutinantes (LIMA, 2001). Vários
vegetais possuem a capacidade de exsudar estas gomas que atuam como material selante,
além de possuírem agentes com atividade biocida. Das plantas que apresentam exsudato,
merece destaque o cajueiro (Anacardium occidentale, L.), cuja goma e rica em
monossacarídeos e oligossacarídeos (LIMA, 2001).
O cajueiro da espécie Anacardium occidentale pode ser encontrado em várias regiões
do país, produzem exsudato com grande número de polissacarídeos. Anderson e Bell, 1975,
caracterizaram o exsudato gomoso de cajueiro como contendo 61% de galactose, 14% de
arabinose, 7% de ramnose, 8% de glicose e 5% de ácido glicurônico, além de traços de
manose, xilose e ácido 4-O-metilglicuronico (menor que 2%). O principal ácido
aldobiuronico presente é o ácido 6-O-β-D glicopiranosiluronico-D- galactose; pequenas
amostras de análogos de 4-O-metil também estão presentes. Uma banda da hidrólise ácida
mostrou somente duas galactobioses, 3-O- β -D- galactopiranosil-D-galactose (maior
componente) e 6-O- β - D- galactopiranosil – D- galactose (menor componente). A analise da
goma de Anacardium occidentale L. indica uma estrutura de galactana altamente ramificada
consistindo de cadeia com ligacoes β- (1-3) e β- (1-6) Dgalactose. A arabinose esta presente
Capa Índice 8682
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8682 - 8693
como grupo terminal ou em ramificacoes curtas (1- 2) ligadas com cinco unidades longas.
Glicose, ramnose, manose, xilose e acido urônico estão presentes como grupos terminais.
A caracterização estrutural por cromatografia gasosa e ressonância magnética mostra
que o polissacarídeo e composto por três tipos de unidades de galactana ligadas por C1 e C3,
C1 e C6 e C1, C3 e C6, estando à glicose presente na cadeia lateral, com cinco unidades.
Estão presentes no heteropolissacárideo sais de cálcio, magnésio, potássio e sódio, conferindo
a goma uma massa molecular media de 1,5 x 104 kDa (MONTHE E RAO, 1999). A Figura 1
apresenta uma possível estrutura da goma de cajueiro (ANDERSON E BELL, 1975).
A estrutura e composição da goma do cajueiro, repleta de carboidratos, sugere que
assim como outras gomas já descritas na literatura, esta possui grande potencial para
utilização como fonte de polissacarídeos de aplicação biotecnológica (WU et al, 2009)
(KASHYAP et al, 2001). Contudo, a grande disponibilidade de espécies desse gênero no país
e sua ampla faixa geográfica de obtenção fazem com que o polissacarídeo presente em seu
exsudato seja uma alternativa de substituição a outros polímeros cuja obtenção é mais
onerosa. É o caso do ágar, mistura dos polissacarídeos agarose e agaropectina, sendo um
produto utilizado em laboratórios de cultivo de microbiologia como gelificante para a
elaboração de meios de cultura sólidos (WU, et al., 2009). Todo o ágar consumido nos
laboratórios do Brasil é importado, o que agrega mais custo às pesquisas tornando-se fator
limitante, além de provocar evasão de capital de pesquisa.
O grande numero de sacarídeos presentes na goma de cajueiro indica uma boa
capacidade de formar soluções com alta viscosidade e possivelmente a formação de géis.
Partindo dessa constatação, o trabalho em questão testou os polissacarídeos da goma do
cajueiro da espécie Anacardium occidentale e como colóide em meio de cultura visando
diminuir a dependência e custos com ágar.
Objetivos
Objetivo geral
Avaliar a viabilidade de substituição do ágar por goma de cajueiro em meios de
cultura sólidos.
Objetivos específicos
Extração de polissacarídeo de exsudato de plantas do gênero Anacardium, buscando
obter o melhor rendimento;
Capa Índice 8683
Avaliar a substituição de ágar por goma de cajueiro em diferentes meios de cultura:
Batata Dextrose Ágar (BDA);
Yeast Peptone Dextrose (YPD);
Luria-Bertani (LB);
Caracterizar os meios substituídos quanto a capacidade de armazenamento, dureza e
capacidade de permitir o crescimento dos microorganismos.
Testar os meios de cultura contendo goma de cajueiro para crescimento de fungos,
leveduras e bactérias.
Avaliar por microscopia ótica se o meio promove alterações morfológicas nos
microrganismos testados.
Material e Métodos
1. Origem e purificação do PEJU
A goma bruta foi coletada de cajueiros na fazenda da CIALNE, município de Pacajus no
estado do Ceará. Os nódulos foram triturados e dissolvidos em agua destilada na proporção de
20% (p/v) e a mistura mantida em temperatura ambiente por 24 horas para completa
dissolução. A solução obtida foi filtrada em nylon (90 fios) e em seguida foi adicionado
etanol absoluto, na proporção de 1:3 e a suspensão obtida mantida em temperatura ambiente
por 24 horas. Após decantação, o sobrenadante foi descartado e o precipitado (PEJU) lavado
com etanol absoluto, para em seguida, ser filtrado em nylon (110 fios). O PEJU obtido foi
seco, triturado e armazenado em frascos hermeticamente fechados, em temperatura ambiente
até a sua utilização.
2. Substituição em meio de cultura
Os meios selecionados para avaliação da substituição foram: Luria-Bertani (LB), Yeast
Peptone Dextrose (YPD) e Ágar Batata Dextrose (BDA). Foram testadas substituições de ágar
por PEJU de forma que a porcentagem final da mistura ágar + PEJU atingisse 1,5% (m/vol)
do volume total do meio de cultura. O delineamento de substituição e os meios avaliados esta
representado na tabela 1. Para o teste inicial utilizou-se 3 placas de petri para cada meio de
cultura relacionado na tabela. Os meios foram autoclavados a 120ºC por 15 min e em seguida
foram vertidos em 3 placas de petri medias, sendo que cada placa recebeu 25 mL de meio.
Como critério de seleção inicial observou-se o tempo para solidificação do meio, o aspecto
Capa Índice 8684
visual comparando-se os meios alterados com o controle e o aspecto da textura ao perfurar o
meio com alça de platina.
A substituição com características mais próximas do meio controle foi à selecionada para
a realização dos demais testes para validação do PEJU como substituinte ao ágar na
formulação dos meios de cultura sólidos.
Tabela 1- Meios avaliados quanto à capacidade de substituição ao ágar.
Meio de cultura % ágar* %PEJU* Massa ágar + PEJU para
100 ml de meio. (g)
LB CONTROLE 100 0 1,5
LB PEJU 25 75 25 1,5
LB PEJU 50 50 50 1,5
LB PEJU 75 25 75 1,5
LB PEJU 100 0 100 1,5
YPD CONTROLE 100 0 1,5
YPD PEJU 25 75 25 1,5
YPD PEJU 50 50 50 1,5
YPD PEJU 75 25 75 1,5
YPD 100 0 100 1,5
BDA CONTROLE 100 0 1,5
BDA PEJU 25 75 25 1,5
BDA PEJU 50 50 50 1,5
BDA PEJU 75 25 75 1,5
BDA PEJU 100 0 100 1,5
*% em relação à massa final utilizada como agente gelificante (ágar + PEJU).
3. Avaliação das características do meio selecionado.
3.1 Textura.
Capa Índice 8685
Para as concentrações de substituição selecionadas foram preparados a cada dois dias
placas contendo os meios LB, YPD e BDA controles e PEJU substituídos .Os meios foram
armazenados a 4 °C pelo período de doze dias, sendo que no décimo segundo dia foram
submetidos ao teste em aparelho texturômetro TA-XT (Extralab Brasil), com probe cilíndrico
de 6,0 mm de diâmetro e velocidade de movimentação de 1,0 mm/s. O ponto de parada da
probe foi fixado em 3,0 mm após a tensão de ruptura e a grandeza analisada foi força máxima
de resistência à penetração (CARUSO, 2009).
3.2 Capacidade de manutenção higroscópica (umidade).
Para as concentrações de substituição selecionadas foram preparadas três placas contendo
os meios LB, YPD e BDA controles e PEJU substituídos. Os meios foram armazenados a 4°C
pelo período de doze dias. A cada dois dias as placas foram pesadas em balança analítica e a
perda da umidade foi calculada de acordo com a equação, onde n é o dia após a confecção do
meio.
100)100*inicial dia no Peso
n dia no Peso( = X% de perda na umidade.
4. Avaliação da capacidade de promover o crescimento de microrganismos.
Utilizando os meios de cultura com a % de substituição selecionada anteriormente,
avaliou-se a capacidade de crescimento dos microrganismos comparando-se com os meios
controles. Os testes para crescimento de microrganismos foram realizados com culturas já
disponíveis no laboratório. Foram testadas varias espécies de microrganismos que se
enquadram nas categorias: bactérias, fungos filamentosos e leveduras. As bacterias foram
inoculadas em meio LB, os fungos filamentosos e a espécie de levedura Candida albicans
foram inoculados em meio BDA, e as leveduras (exceto C. albicans) em meio YPD,
conforme Tabela 2. O crescimento de cada espécie no meio contendo a substituição de ágar
por PEJU foi comparado ao respectivo meio controle utilizando a técnica de unidades
formadoras de colônia (UFC) e/ou medição do crescimento do halo (média de duas medições
do diâmetro em eixos transversais) como critérios de avaliação.
Tabela 2. Organismos utilizados para avaliação do crescimento, meio utilizado, método de
avaliação e tempo de crescimento.
Espécie Categoria Meio de Tempo Análise de
Capa Índice 8686
cultura crescimento
Staphylococcus aureus Bactérias LB 24 h UFC
Eschericcia coli
Bacillus subtilis
Saccharomyces
cerevisiae
Leveduras YPD 48 h
Pichia pastoris 96 h
Candida albicans BDA 48 h
Aspergillus niger Fungos
filamentosos
96 h Diâmetro do halo
Penicillium sp.
5. Analise estatística.
Todos os testes foram realizados em triplicata, com repetições. Os dados obtidos
foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e teste Tukey para comparação das
médias, utilizando nível de significância de 0,05. O programa utilizado para a análise dos
dados foi o Statistica 6.0 (StatSoft Inc, Tulsa, OK, USA).
Resultados e Discussão
Após a extração obteve-se o polissacarídeo denominado PEJU conforme visualizado
na imagem abaixo:
Capa Índice 8687
Figura 1. Coma do cajueiro (esquerda) e polissacarídeo extraído (PEJU [direita]).
Ao avaliar-se as características de o tempo para solidificação do meio, o aspecto visual
comparando-se os meios alterados com o controle e o aspecto da textura ao perfurar o meio
com alça de platina dos meios contendo substituição por PEJU constatou-se que os meios
PEJU50% foram os que apresentaram maior capacidade de substituição mantendo
características próximas as características dos meios controle.
Os meios contendo 75 % de substituição apresentaram capacidade de solidificação do
meio de cultura, no entanto, apresentaram tempo elevado de solidificação (>40min) quando
comparado com os meios controles (< 10min). Além do tempo de solidificação, os meios
com 75% de PEJU apresentaram baixa resistência ao manuseio com alça de platina, portanto
não seriam práticos quanto a inoculação de microrganismos. Já os meios contendo 100% de
PEJU não foram capazes de solidificarem.
Quanto à perda de umidade, os meios BDA, LB e YPD contendo a substituição não
apresentaram diferença significativa quando comparados com os meios controles em nenhum
dos pontos avaliados (Tabela 2, figura 1).
Tabela 2. Perda de umidade nos meios contendo a substituição e nos meios controles.
Meio de
cultura
Perda de
umidade até
o dia 2 (%)
Perda de
umidade até
o dia 4 (%)
Perda de
umidade até
o dia 6 (%)
Perda de
umidade até
o dia 8 (%)
Perda de
umidade até
o dia 10 (%)
Perda de
umidade até
o dia 12 (%)
BDA PEJU
50%
3,22i±0,27 5,75g±0,44 9,45e,f±0,65 12,23d±0,84 14,76b,c±1,12 17,34a±1,54
BDA 4,15i,g±0,18 5,92g±0,29 8,88f±0,05 11,27d,e±0,29 13,20c,d±0,57 15,34a,b±0,74
Capa Índice 8688
CONTROLE
YPD PEJU
50%
2,47g±0,22 4,75f±0,43 8,26e±0,44 10,88d±0,69 13,18b,c±0,81 15,52a±1,01
YPD
CONTROLE
2,70g±0,33 4,94f±0,41 8,55e±0,68 11,40c,d±0,91 13,47b±0,84 15,91a±0,72
LB PEJU
50%
2,67f±0,43 4,99e±0,49 8,34d±0,24 10,86c±0,34 12,92b±0,43 15,13a±0,52
LB
CONTROLE
2,77f±0,12 5,16e±0,28 8,59d±0,40 11,16c±0,32 13,51b±0,18 15,87a±0,36
Letras minúsculas na mesma coluna indicam que não houve diferença significativa.
Figura 2. Gráfico da perda de umidade durante os dias para os meios contendo substituição e
para os meios controles.
Quanto a textura os meios BDA, LB e YPD contendo a substituição apresentaram
textura significativamente menor quando comparados com os meios controles em todos os
períodos avaliados. Contudo esta diminuição na textura não ocasionou dificuldades nos
procedimentos de manuseio e inoculação dos microrganismos (Tabela 3, figura 2).
Tabela 3. Textura dos meios contendo a substituição e meios controles após armazenamento.
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
16,00
18,00
20,00
dia 2 dia 4 dia 6 dia 8 dia 10 dia 12
BDA PEJU 50%
BDA CONTROLE
YPD PEJU 50%
YPD CONTROLE
LB PEJU 50%
LB CONTROLE
Capa Índice 8689
Meio de
cultura
BDA PEJU
50%
BDA
CONTROLE
YPD PEJU
50%
YPD
CONTROLE
LB PEJU
50%
LB
CONTROLE
Força máxima
24h (N)
6,09f±0,08 20,80d±0,66 6,72e±0,12 26,67b,c,d±0,38 6,10c±0,08 26,83a,b±1,35
Força máxima
72h (N)
6,09f±0,21 22,02c,d±0,22 5,94e±0,01 25,14d±0,50 5,87c±0,15 31,12a±0,24
Força máxima
120h (N)
6,36e,f±0,10 21,71c,d±0,32 6,30e±0,06 25,27c,d±0,41 6,42c±0,30 24,21b±0,43
Força máxima
168h (N)
6,30e,f±0,10 24,63b±1,15 6,71e±0,18 26,96b,c,d±0,27 6,26c±0,10 27,97a,b±0,61
Força máxima
216h (N)
6,42e,f±0,50 23,18b,c±1,24 7,57e±0,48 30,50a±0,41 7,12c±0,46 29,71a,b±0,45
Força máxima
264h (N)
7,99e±0,53 27,52a±0,84 6,55e±0,49 28,50a,b,c ±0,99 6,46c±0,43 28,11a,b±1,90
Força máxima
312h (N)
7,31e,f±0,09 27,31a±0,52 6,55e±0,49 29,68a,b±3,82 7,33c±0,12 29,07a,b±7,79
Letras minúsculas iguais na mesma linha indicam que não houve alteração significativa.
Figura 3. Textura dos meios contendo a substituição e meios controles após armazenamento.
Todos os microrganismos utilizados para o teste mostraram capacidade de
desenvolvimento semelhante aos seus controles (Tabela 4), de modo que não houve
demonstração de inibição ou dificuldade de crescimento nos meios contendo a substituição de
ágar por PEJU (Figura 4).
Tabela 4 – Crescimento das culturas microbiológicas nos meios substituídos e controles.
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
24h 72h 120h 168h 216h 264h 312h
BDA PEJU 50%
BDA CONTROLE
YPD PEJU 50%
YPD CONTROLE
LB PEJU 50%
LB CONTROLE
Capa Índice 8690
Espécie Meio de cultura Critério Tipo do meio Valor médio
(número de colônias
ou diâmetro)
Staphylococcus
aureus LB UFC Controle 3,0 ± 1,0
Substituído 5,7 ± 3,0
Eschericcia coli LB UFC Controle 7,0 ± 1,0 Substituído 9,0 ± 5,0
Bacillus subtilis LB UFC Controle 3,7 ± 2,1 Substituído 4,7 ± 1,5
Saccharomyces
cerevisiae
YPD UFC Controle 5,0 ± 1,0 Substituído 4,3 ± 2,3
Pichia pastoris YPD UFC Controle 7,0 ± 2,0 Substituído 6,7 ± 3,0
Candida albicans BDA UFC Controle 2,7 ± 1,2 Substituído 3,3 ± 0,6
Aspergillus niger BDA Diâmetro halo Controle 4,4 ± 0,1 Substituído 5,0 ± 0,4
Penicillium sp. BDA Diâmetro halo Controle 5,2 ± 0,3 Substituído 4,6 ± 0,1
Figura 4. Comparativo do crescimento de microrganismos nos meios substituídos e meios
controles.
De cima para baixo T. asperellum, S. cerevisae, E. coli
Capa Índice 8691
Conclusões
A substituição parcial do ágar por polissacarídeo de PEJU mostra-se viável para a
formulação de meios de cultura sólidos. Com excessão da textura avaliada pela forma máxima
de rompimento os meios de cultura contendo a substituição a 50% não tiveram alterações
significativas nas características estudadas. Os meios substituídos demonstraram não
interferirem no crescimento dos microrganismos sendo, portanto adequados para a utilização
em atividades que exijam o cultivo de bactérias, fungos filamentosos e leveduras. A
substituição de ágar por PEJU é uma alternativa viável para reduzir os custos com a
fabricação de meios de cultura, proporcionando ainda valorização de matéria prima abundante
no Brasil em detrimento do consumo de ágar que é um produto de alto valor agregado de
origem extrangeira.
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Dissertação (Mestrado em Ciências) – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, São
Paulo, 2009.
Revisado pelo orientador.
Capa Índice 8693
DESSECAÇÃO DE CAPIM-BRAQUIÁRIA EM DIFERENTES QUANTIDADES DE
MASSA FRESCA COM GLYPHOSATE
Werley Soares Silva1, Paulo César Timossi2, Uadson Ramos da Silva3, Dieimisson Paulo
Almeida 3
1 Discente do Curso de Agronomia do Campus Jataí/UFG – Bolsista PIVIC. 2 Docente do Curso de Agronomia do Campus Jataí/UFG – Orientador. 3 Discente de Mestrado em Agronomia/Produção Vegetal do Campus Jataí/UFG.
Universidade Federal de Goiás - Campus Jataí, CEP 75800-000, Brasil
e-mail: [email protected]; [email protected]
Palavras-chave: Herbicida, Brachiaria ruziziensis, plantas de cobertura.
INTRODUÇÃO
A Brachiaria ruziziensis hoje e considerada, por muitos produtores, como a cobertura
vegetal mais adequada para a execução do sistema plantio direto em regiões de clima tropical.
Esta espécie possui crescimento prostrado, com menor entrouceiramento, o que facilita o
desempenho das semeadoras. É sensível ao glyphosate, com morte rápida, o que favorece as
operações de dessecação e plantio mecanizado. A planta apresenta alta relação C/N, o que
garante a presença da cobertura por um longo período (Giancotti, 2012). Alguns
pesquisadores como Franco et al. (2010) e Brighenti et al. (2011) afirmam que a Brachiaria
ruziziensis apresenta maior viabilidade para a implantação de sistemas sustentáveis, uma vez
que necessita de menor quantidade de glyphosate para seu controle.
Segundo Kluthcouski et al. (2003), espécies do gênero Brachiaria levam em torno de
vinte dias para morrer, requerendo maior antecipação da dessecação em relação a semeadura.
Entretanto, Nunes et al. (2010), constataram que para Brachiaria decumbens o manejo químico
pode ser entre 7 e 14 dias anterior à semeadura da soja, sem causar danos na produtividade. A
velocidade com que ocorre a morte das plantas pode variar de acordo com a espécie (Brighenti
et al., 2011) e também com a quantidade de massa acumulada pelas plantas (Timossi et al.,
Capa Índice 8694
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8694 - 8702
2006). Entretanto, ainda são poucas as pesquisas que demonstram essa premissa, sendo
necessário, mais pesquisas científicas.
OBJETIVOS
O objetivo deste trabalho foi avaliar a quantidade do herbicida glyphosate a ser
adotado na dessecação de Brachiaria ruziziensis em diferentes quantidades de massa, na
estação de primavera/verão (safra) e verão/outono (safrinha).
MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi realizado na Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí,
situado as margens da BR-364. A região conta com uma altitude de cerca de 680 metros e
uma precipitação pluviométrica anual de cerca de 1800 milímetros, distribuída entre os meses
de Setembro a Abril e a temperatura media deste período está em torno de 25 ºC. O solo do local
de estudo é considerado Latossolo Vermelho distroférrico.
O projeto foi realizado a campo, durante o período de safra (estação primavera/verão),
sendo repetido no período de safrinha (verão/outono). Para a implantação dos ensaios, fez se a
escolha de área com cobertura homogênea de B. ruziziensis, a qual parte foi manejada com
roçadora tratorizada, simulando áreas de pastagens superpastejadas e parte foi mantida
natural, ou seja, sem pastejo, as quais apresentavam respectivamente média de altura de 10 e
35 cm. O acúmulo de massa vegetal de capim-braquiária foi determinado com o lançamento
ao acaso, por duas vezes por parcela de quadro metálico com dimensões de 0,25 m2, por
época de implantação do ensaio. No primeiro ensaio, a massa seca encontrada no rebaixado
foi de 1,4 t ha-1, no natural 2,3 t ha-1. No segundo ensaio a massa seca encontrada foi de 0,8 t
ha-1 e 3,2 t ha-1 respectivamente.
No experimento utilizou o delineamento de blocos ao acaso num esquema de parcelas
subdivididas 2x4, totalizando oito tratamentos, com quatro repetições (parcelas de 3,5m x
7,5m). As parcelas foram divididas em plantas em pleno desenvolvimento (natural) e
rebaixadas (simulação de superpastejo). Quanto às subparcelas, foi utilizado Roundup Ultra®
nas dosagens 1, 2, 3 kg ha-1, além de testemunha mantida sem aplicação de herbicidas. A
formulação de Roundup Ultra apresenta 650 g e.a. kg-1 do produto comercial (Agrofit, 2012),
além de possuir a vantagem de rápida absorção pelas plantas, o que impede perda por chuvas
torrenciais, após uma hora de aplicação (Monsanto, 2012).
As condições climáticas encontradas na implantação dos ensaios 1 e 2 estão
mencionadas na Tabela 1.
Capa Índice 8695
Tabela1. Condições atmosféricas inerentes ao momento da aplicação do herbicida.
ÉpocaT1
(ºC)T2
(ºC)UR1
(%)UR2
(%)HA1
(h)HA2
(h)VV
(km/h)CN(%)
Primavera/Verão 24,3 26 70 68 08:40 09:10 0 5Verão/Outono 27 29 75 70 15:40 16:30 6 75
Temperatura (T), Umidade Relativa (UR), Horário de Aplicação (HA), Velocidade do Vento (VV), Cobertura de Nuvens (CN). (1) Inicial, (2) Final.
As avaliações foram feitas aos 7, 14, 21, 28, 35 dias após a aplicação dos herbicidas,
baseando-se na porcentagem de controle de 0% a 100%. A nota zero equivale ao não controle
da cobertura vegetal, e 100 a morte total da mesma. Após á ultima avaliação (35 DAA) em
ambos os ensaios foi realizado registro fotográfico da massa vegetal remanescente (rebrotes),
dando nota de 0 a 100 da área da parcela que havia de plantas apresentando rebrotes.
Com as informações obtidas realizou-se análise de variância pelo teste F e para
comparação de médias adotou o teste de Tukey a 5% de probabilidade (Banzato & Kronka,
1989), adotando-se o programa estatístico ESTAT.
As médias mensais das condições climáticas inerentes ao período de condução
experimental, obtidas no INMET, estação de Jataí, são apresentadas na Figura 1.
Figura 1. Médias mensais das condições climatológicas inerentes à precipitação pluviométrica,
temperatura máxima e temperatura mínima, obtidas durante os meses de novembro de 2011
a junho de 2012 na estação meteorológica de Jataí-GO.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos para os ensaios desenvolvidos em suas respectivas épocas,
primavera/verão e verão/outono, são apresentados e discutidos em subcapítulos.
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
0
50
100
150
200
250
300
350
nov dez jan fev mar abr mai jun
Tem
pera
tura
(°C
)
Prec
ipit
ação
(mm
)
Precipitação Temperatura máxima Temperatura mínima
Capa Índice 8696
a) Ensaio Primavera/Verão (Safra)
Na tabela 2, pode-se verificar interação significativa aos 7 e 14 DAA, as quais são
apresentadas nas tabelas 3 e 4. Nota-se na tabela 3, que a eficácia de controle aos 7 DAA foi
mais lenta quando a cobertura vegetal apresentava-se no estágio natural a partir de 2 kg ha-1 de
Roundup Ultra. No entanto, aos 14 DAA tal diferença foi inexistente, com bom nível de
controle para ambos os estágios testados.
Tabela 2. Valores de F calculado, coeficientes de variação (CV%) das porcentagens de eficácia do
controle das diferentes coberturas nas dosagens de 0, 1, 2 e 3 kg ha-1 do herbicida Roundup
Ultra, conduzido na estação Primavera/Verão. Jataí - GO, 2011.
Variável 7 DAA 14 DAA 21 DAA 28 DAA 35 DAA
FCoberturas (C) 5,25 ns 10,49* 1,12ns 67ns 05ns
Dosagens (D) 372,20** 1035,4** 793,18** 713,31** 450,07**C x D 8,22** 8,67** 1,40ns 77ns 03ns
CoberturaRebaixada 70,31 a 71,13 a 69,63 aNatural 68,00 b 69,56 a 69,06 a
DMS 6,95 6,08 8,06CV(%) parcelas 8,93 7,68 10,33
Dosagens
0,0 kg ha-1 00,00 c 00,00 c 00,00 c1,0 kg ha-1 77,87 b 81,88 b 77,88 b2,0 kg ha-1 99,00 a 99,50 a 99,50 a3,0 kg ha-1 99,75 a 100,00 a 100,00 a
DMS 6,70 7,14 8,93CV(%) Subparcelas 6,86 7,17 9,11
(1)Médias na mesma linha, seguidas de letras maiúsculas iguais e, na mesma coluna, seguidas de letras minúsculas iguais, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P≤0,05).
Tabela 3. Desdobramento da interação significativa para os resultados obtidos na avaliação visual de dessecamento das coberturas vegetais, realizada aos 7 dias após a aplicação do herbicida Roundup Ultra. Jataí-GO, 2011.
Dosagem do HerbicidaRoundup Ultra
Dessecamento das coberturas vegetais
Rebaixada Natural
0 kg ha-1 00,00 d A1 00,00 c A 1 kg ha-1 52,50 c A 55,00 b A 2 kg ha-1 83,70 b A 71,25 a B 3 kg ha-1 97,25 a A 75,00 a B
DMS (5%)Herb. dentro de Coberturas 11.36
11.02Cob. Dentro de herbicidas(1)Médias na mesma linha, seguidas de letras maiúsculas iguais e, na mesma coluna, seguidas de letras minúsculas iguais, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P≤0,05).
Capa Índice 8697
Tabela 4. Desdobramento da interação significativa para os resultados obtidos na avaliação visual de dessecamento das coberturas vegetais, realizada aos 14 dias após a aplicação do herbicida Roundup Ultra. Jataí-GO, 2011.
Dosagem do HerbicidaRoundup Ultra
Dessecamento das coberturas vegetais
Rebaixada Natural
0 kg ha-1 00,00 c A1 00,00 c A1 kg ha-1 85,00 b A 66,25 b B2 kg ha-1 98,75 a A 92,75 a A3 kg ha-1 100,0 a A 98,25 a A
DMS (5%)Herb. dentro de Coberturas 8,13
6,97Cob. Dentro de herbicidas(1)Médias na mesma linha, seguidas de letras maiúsculas iguais e, na mesma coluna, seguidas de letras
minúsculas iguais, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P≤0,05).
Verifica-se que aos 21 DAA há diferença significativa entre as médias de controle das
vegetações pesquisadas, indicando maior rapidez no controle da cobertura rebaixada. A partir
de 28 DAA, os resultados se igualam. Constata-se também que a dose de 1 kg ha-1 de
Roundup Ultra mostrou-se ineficiente no controle da cobertura. Verifica-se ainda na tabela 2
que o controle eficiente da cobertura vegetal ocorreu a partir de 28 DAA, com a aplicação de
2 kg ha-1 de Roundup Ultra, para ambas as situações pesquisadas.
b) Ensaio Verão/Outono (safrinha)
Na tabela 5 pode-se verificar a interação significativa aos 7, 21, 28 e 35 DAA. Tais
interações são apresentadas nas tabelas 6, 7, 8 e 9. Aos 7 DAA (tabela 6), constata-se que a
vegetação natural apresenta controle inicial mais lento. No entanto, a partir dos 21 DAA, tal
diferença assemelha-se a vegetação rebaixada. Verifica-se também que a dose de 1 kg ha-1
mostra-se inferior as doses de 2 e 3 kg ha-1 respectivamente. O mesmo pode ser constatado
aos 21, 28 e 35 DAA.
Pode-se observar que tanto no ensaio safra quanto no de safrinha, o controle da
Brachiaria, em ambas as situações (rebaixado e natural), o controle foi satisfatório a partir dos
14 DAA atingindo medias maior que 90% de controle, a partir de 2 kg ha-1 do produto
comercial utilizado. Tais resultados corroboram com Nunes et al. (2009) que afirmam que
para um bom manejo da Brachiaria decumbens torna-se necessário realizar o manejo
químico entre 7 e 14 dias antes da semeadura da soja. Nepomuceno (2011), também sinaliza
que para o manejo da B. ruziziensis, torna-se necessário realizar o controle químico entre 10 e
20 dias antes da semeadura para maiores produtividades de soja RR. Para o Girassol, segundo
Giancotti (2012), a partir dos 7 dias do controle químico não causa efeito na produtividade.
Capa Índice 8698
Para o Milho, segundo Silva (2011), para o plantio direto, em campo, recomenda-se o plantio
com 22 dias após o controle químico na Brachiaria ruziziensis. Vários autores já pesquisaram
a influencia do período correto da dessecação para não afetar a produtividade de culturas. No
entanto, a influência da quantidade de massa vegetal na dosagem de glyphosate a ser aplicada,
ainda não havia sido pesquisada.
Tabela 5. Valores de F calculado, coeficientes de variação (CV%) das porcentagens de eficácia do controle das diferentes coberturas nas dosagens de 0, 1, 2 e 3kg ha-1 do herbicida Roundup Ultra. Jataí - GO, 2012.
Variável 7 DAA 14 DAA 21 DAA 28 DAA 35 DAA
FCoberturas (C) 176,33** 48,24** 16,16* 20,11* 19,26*Dosagens (D) 574,92** 65,89** 531,49** 408,69** 361,57**
C x D 13,15** 2,31ns 4,72* 4,72* 5,36**
CoberturaRebaixada 68,31 a Natural 62,63 b
DMS 2,61 CV(%) parcelas 3,54
Dosagens
0,0 kg ha-1 00,00 c 1,0 kg ha-1 71,25 b 2,0 kg ha-1 92,25 a 3,0 kg ha-1 98,38 a
DMS 7,04 CV(%) Subparcelas 7,60
Tabela 6. Desdobramento da interação significativa para os resultados obtidos na avaliação visual de dessecamento das coberturas vegetais, realizada aos 7 dias após a aplicação do herbicida Roundup Ultra. Jataí-GO, 2012.
Dosagem do HerbicidaRoundup Ultra
Dessecamento das coberturas vegetais
Rebaixada Natural
0 kg ha-1 00,00 c A1 00,00 c A1 kg ha-1 62,50 b A 47,50 b B2 kg ha-1 78,75 a A 56,25 a B3 kg ha-1 82,50 a A 62,50 a B
DMS (5%)Herb. dentro de Coberturas 7,86
5,51Cob. Dentro de herbicidas(1)Médias na mesma linha, seguidas de letras maiúsculas iguais e, na mesma coluna, seguidas de letras minúsculas iguais, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P≤0,05).
Capa Índice 8699
Tabela 7. Desdobramento da interação significativa para os resultados obtidos na avaliação visual de dessecamento das coberturas vegetais, realizada aos 21 dias após a aplicação do herbicida Roundup Ultra. Jataí-GO, 2012.
Dosagem do HerbicidaRoundup Ultra
Dessecamento das coberturas vegetais
Rebaixada Natural
0 kg ha-1 00,00 c A1 00,00 c A1 kg ha-1 83,75 b A 65,00 b B2 kg ha-1 99,75 a A 94,00 a A3 kg ha-1 100,0 a A 99,75 a A
DMS (5%)Herb. dentro de Coberturas 11,43
7,98Cob. Dentro de herbicidas(1)Médias na mesma linha, seguidas de letras maiúsculas iguais e, na mesma coluna, seguidas de letras minúsculas iguais, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P≤0,05).
Tabela 8. Desdobramento da interação significativa para os resultados obtidos na avaliação visual de dessecamento das coberturas vegetais, realizada aos 28 dias após a aplicação do herbicida Roundup Ultra. Jataí-GO, 2012.
Dosagem do HerbicidaRoundup Ultra
Dessecamento das coberturas vegetais
Rebaixada Natural
0 kg ha-1 00,00 c A1 00,00 c A1 kg ha-1 83,25 b A 62,00 b B2 kg ha-1 99,75 a A 94,75 a A3 kg ha-1 100,0 a A 99,75 a A
DMS (5%)Herb. dentro de Coberturas 13,04
8,88Cob. Dentro de herbicidas(1)Médias na mesma linha, seguidas de letras maiúsculas iguais e, na mesma coluna, seguidas de letras minúsculas iguais, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P≤0,05).
Tabela 9. Desdobramento da interação significativa para os resultados obtidos na avaliação visual de dessecamento das coberturas vegetais, realizada aos 35 dias após a aplicação do herbicida Roundup Ultra. Jataí-GO, 2012.
Dosagem do HerbicidaRoundup Ultra
Dessecamento das coberturas vegetais
Rebaixada Natural
0 kg ha-1 00,00 c A 00,00 c A1 kg ha-1 82,50 b A 58,75 b B2 kg ha-1 100,0 a A 96,75 a A3 kg ha-1 100,0 a A 99,75 a A
DMS (5%)Herb. dentro de Coberturas 13,92
9,46Cob. Dentro de herbicidas(1)Médias na mesma linha, seguidas de letras maiúsculas iguais e, na mesma coluna, seguidas de letras minúsculas iguais, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P≤0,05).
Os resultados obtidos em ambos os ensaios demonstra que houve necessidade da
aplicação de pelo menos 2 kg ha-1 de Roundup Ultra para alcançar 100% de controle da
Capa Índice 8700
cobertura vegetal. Entretanto, Vieira et al.(2008), obtiveram resultados semelhantes, porém
com dosagem inferior ao referendado nesta pesquisa. Vale salientar que na situação em que
foi desenvolvida esta pesquisa, a Brachiaria estava estabelecida por mais de 10 anos, o que
pode ter influenciado na necessidade de maior dosagem de glyphosate. Pôde-se observar
também que a dosagem de 1 kg ha-1 do produto comercial, não foi suficiente para controlar
totalmente a vegetação, possibilitando cerca de 6% de rebrote em ambos os ensaios.
Conclusões
Conclui-se que a dosagem de 1 kg ha-1 de Roundup Ultra, não foi suficiente para
proporcionar controle total das coberturas vegetais estudadas, ocasionando rebrotes. Até os 14
DAA a vegetação natural, ou seja, com maior quantidade de massa apresenta velocidade de
controle mais lenta que na rebaixada.
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“Revisado pelo Orientador”
Prof. Dr. Paulo César Timossi Docente de Agronomia / CAJ
Capa Índice 8702
Relações entre Transtorno Distímico, Atividades Laborais e Qualidade de Vida
Wesley Marques Ponte
Aluno do Curso de Psicologia da UFG (094500)
Prof.ª Drª. Mara Rúbia de Camargo Alves Orsini
Professora Orientadora
Curso de Psicologia
Faculdade de Educação/UFG
Introdução
Melancolia, do grego melagkholía, na atual edição do dicionário Michaelis (1998) é
definida da seguinte maneira, “estado de humor caracterizado por uma tristeza vaga e
persistente”. Vê-se que o atual significado da palavra melancolia não se alterou de forma
significativa desde o seu primeiro uso, por Hipócrates, para definir o estado de humor no qual
o sujeito se encontra em uma situação de letargia, humor decaído, redução de suas
capacidades de interação social e de trabalho (SPANEMBERG; JURUENA, 2004).
A personalidade “melancólica” do humor tem sido alvo de estudos e reflexões desde a
Grécia antiga, quando Hipócrates determinou quatro humores ou fluidos básicos que regiam,
segundo o seu equilíbrio, a personalidade humana, sendo eles o expansivo e otimista para o
sanguíneo, cujo fluido representativo é o sangue; pacífico e dócil para o fleumático, cujo
fluido atribuído é a linfa; ambição e explosões de humor para o colérico, que tem por fluido a
bílis; e o melancólico, que é triste e mal-humorado, sendo seu fluido a atrabílis ou bílis negra,
provavelmente o nome dado ao sangue coagulado (DALGALARRONDO, 2000). O tipo
melancólico na Grécia clássica era tido como característica comum aos intelectuais vista
como fonte de status social e imagem de inteligência e refinamento. Entretanto, com o passar
Capa Índice 8703
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8703 - 8714
do tempo, foi assumindo um caráter sintomático e, gradativamente, tomando o status de
síndrome, e mais tarde de transtorno (RODRIGUES, 1999).
O termo melancolia percorreu uma trajetória histórica, assumindo diversos
significados e, com isso, diversos impactos sociais em seu uso e significação. Surgiu na
Grécia, como uma forma de humor que correspondia a sujeitos de castas nobres e intelectuais,
depois seguindo pela idade média como uma influência maligna de forças místicas. Reaparece
no renascimento como um fenômeno cerebral multifacetado e digno de investigação, e hoje,
como um transtorno de humor a ser mais bem investigado e conhecido como depressão
(SPANEMBERG; JURUENA, 2004).
A partir dos estudos sobre melancolia, em 1863, o cientista Karl Ludwig Kahlbaum,
na Alemanha, determinou para a doença uma divisão definida por dois termos: a ciclotimia
para as flutuações do humor em suas formas mais leves e a distimia para a forma que se
apresenta de maneira contínua e atenuada (SPANEMBERG; JURUENA, 2004). Hoje, a
distimia é considerada pelo Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais
(DSM), atualmente em sua 4ª edição, uma depressão de sintomatologia leve e crônica.
Esses pacientes são tidos como indivíduos demasiadamente autocríticos que
apresentam baixo interesse, autoimagem distorcida, baixa autoestima, fraca concentração,
dificuldade em tomar decisões, manter e estabelecer relações sociais. Spanemberg e Juruena
(2004) afirmam, a partir dos estudos de Akiskal e colaboradores (1978), que o Transtorno
Distímico situa-se na categoria dos transtornos de humor, pois a “depressão neurótica”,
categoria dentro da qual a distimia era considerada anteriormente, não apresentava
características fenomenológicas suficientes para constituir-se como uma entidade nosológica
separada das demais formas transtornos de humor. Tal reconsideração da distimia representa
um avanço, uma vez que sendo considerada fora dos ditos transtornos de personalidade,
ocorreu a despatologização de traços que se constituem como algo possivelmente normal à
personalidade humana (SPANEMBERG; JURUENA, 2004).
O Transtorno distímico apresenta um diagnóstico relativamente complexo, devido à
forma como o portador assimila a ideia dos seus sintomas, de forma a criar uma autosugestão
que pode ser descrita como “É assim que eu sou”. Tal assimilação pode se relacionar ao fato
de que a apresentação do transtorno se dá de forma predominantemente subjetiva, com uma
maior presença de sintomas ao invés de sinais, oposto do que ocorre, por exemplo, com o
transtorno depressivo maior que apresenta nítidos sinais neurovegetativos (CASTEL;
Capa Índice 8704
SCALCO, 1997). Além disso, há o fato de, geralmente, o paciente com distimia procurar
auxílio com queixas pouco específicas como letargia ou mal humor. Outro fator complicador
do diagnóstico é a alta taxa de comorbidades, que deixam o quadro ainda mais sério, como o
caso em que o paciente distímico apresenta “depressão dupla”, quadro no qual transtorno
distímico e transtorno depressivo maior ocorrem simultaneamente (SPANEMBERG;
JURUENA, 2004).
Cavalheiro e Tolfo (2011) citam dados epidemiológicos sugerindo que a depressão
pode se constituir como um problema de saúde pública, dados o alto sofrimento pelo qual
passa o paciente depressivo, bem como a alta taxa de suicídios decorrentes da doença. Ainda
nesta via, Moraes et al (2006) citam alguns estudos que propõem que 75% dos suicídios
cometidos têm relação com a depressão e que, dependendo dos critérios diagnósticos, pode
chegar-se a 20% da população mundial o diagnóstico de depressão. Segundo dados da
Organização Mundial da Saúde (OMS)1, a depressão se associa à perda de, pelo menos,
850.000 vidas por ano. Lidera, também, como principal causa de incapacidade laboral no
mundo e se encontra na quarta posição como causa de perda de dias de produção.
Dados da Dataprev (BRASIL, 2011) evidenciam que, em 2009, transtornos mentais e
de comportamento ocuparam o terceiro lugar como causa dos auxílios-doença concedidos no
Brasil, sendo que 40% destes são depressões. Apresenta, também, dados dos anuários
estatísticos de acidentes no trabalho (BRASIL, 2006, 2007, 2008) que mostram um aumento
vertiginoso nos índices de sujeitos avaliados com depressão relacionadas com a sua situação
laboral, sendo que em 2006 eram 359 casos, após o aperfeiçoamento dos nexos técnicos
epidemiológicos em 2007 chegam à 3.601 casos de episódios depressivos e 291 de transtornos
depressivos recorrentes; e em 2008 eram 5.208 casos de episódio depressivo e 981 casos de
transtorno recorrente. Complementando estas estatísticas, Spanemberg e Juruena (2004),
afirmam que 3 a 6% da população, em geral, sofre com a distimia e que a mesma, como uma
forma subsindrômica, frequentemente aparece associada com outras formas de depressão,
dentre elas um vínculo de 40% de relação com o Transtorno Depressivo Maior.
Segundo Spanemberg e Juruena (2004), o paciente distímico pode investir em seu
trabalho ou atividades laborais a energia que antes seria colocada no estabelecimento de
relações sociais e manutenção das mesmas. Entretanto, por mais que sejam considerados
1WORLD HEALTH ORGANIZATION. Depression. Disponível em:
http://www.who.int/mental_health/management/depression/definition/en>.Acesso em: 08 jan. 2011.
Capa Índice 8705
excelentes trabalhadores, há de se ter em vista o típico grau de insatisfação com as próprias
atividades, como fruto de uma autocrítica exacerbada ou de um pronunciado perfeccionismo
que levaria o portador de distimia a não reconhecer como suficientemente boa ou relevante a
sua produção. Pode-se, ainda, analisar o trabalho, em geral, como função organizadora da
vida dos sujeitos, tornando-se necessário analisar de que forma as pessoas se colocam frente à
sua atividade laboral e como organizam a sua vida em torno dela (BORSOI, 2007).
O trabalho também apresenta uma interface complexa no que diz respeito a
psicopatologias. O sujeito que desenvolve alguma forma de transtorno mental, ou já é
portador quando inicia a sua atividade laboral, raramente relaciona-a com a sua atividade de
trabalho. Isso se dá pela presença de um pensamento generalizado de que a vida pessoal não
deve misturar-se ao trabalho, assim deixando tais assuntos fora da jornada laboral (BORSOI,
2007).
Segundo Cunha (2000), um dos principais aspectos a serem investigados na vida do
paciente, durante a formulação do psicodiagnóstico, é a sua situação ocupacional, suas
experiências anteriores e atuais com o trabalho, relações sociais estabelecidas durante o
mesmo, status do cargo, situação econômica, em suma, a construção do panorama mais
completo possível sobre os aspectos da vida laboral deste paciente. Isto indica o quanto a
atividade laboral é um setor relevante da vida do indivíduo. Pode-se mesmo dizer que o ser
humano apresenta um caráter comum de reconhecimento em suas produções, no sentido de
constituição de uma identidade, a partir de sua interação com o trabalho. Assim, justifica-se a
importância da investigação de tal campo na formação de um psicodiagnóstico.
O trabalho representa, então, parte integrante no que diz respeito à vida e dinâmica
psicológica humana, e como tal se apresenta como variável importante e significativa quando
se fala em qualidade de vida, uma vez que é parte constituinte do cotidiano da maior parte da
humanidade, bem como em sua história. Porém, nos dias atuais, há de se observar que abordar
o tópico “qualidade de vida” é algo complexo e, às vezes, controverso, uma vez que não se
pode, ainda, falar em uma determinação exata deste conceito. Existe uma série de modelos
que definem tal constructo. Tais modelos não necessariamente se contradizem, mas
apresentam semelhanças entre si que permitem delimitar as principais características desse
conceito (LIMA; FLECK, 2007).
Quando se fala em qualidade de vida, uma das dificuldades em sua definição está em
conceitos próximos que, porém, são por vezes confundidos como seus sinônimos, por
Capa Índice 8706
exemplo, estado de saúde e bem-estar. Tais termos se diferenciam no sentido de que estado de
saúde diz de como o sujeito encontra-se prejudicado ou disfuncional, e bem-estar de como o
sujeito encontra-se afetivamente ou emocionalmente (LIMA; FLECK, 2007).
A partir do que Lima e Fleck (2007) apresentam, pode-se inferir que, apesar da
indeterminação presente na construção do conceito de qualidade de vida, quatro premissas
perpassam os modelos já apresentados sobre este constructo que são: a sua variabilidade em
relação ao tempo; a subjetividade presente em sua medida, uma vez que a perspectiva de
qualidade de vida parte do paciente; varia conforme o estado do paciente na sua relação com
uma patologia, pois esta não depende da apresentação ou ausência de sintomas; e que a
qualidade de vida se apresenta como um espectro, pois pode ser avaliada globalmente como
constructo ou em campos específicos que a compõem.
Tendo em vista que a qualidade de vida de um sujeito é avaliada a partir de sua
subjetividade na sua relação com contexto que compõe a sua vida em um dado momento,
pode-se estabelecer uma relação entre patologias como a depressão, que afetam o
autoconceito e as formas de avaliação de si e do mundo, e a queda dos índices de qualidade de
vida de pacientes que portam tal doença (LIMA; FLECK, 2007).
Spitzer et al (1995) observaram que diversas psicopatologias, dentre elas a depressão,
aumentam as possibilidades de queda da qualidade de vida de sujeitos mais do que as demais
formas de patologia. Sugerem, também, que sujeitos que apresentam estados comórbidos,
assim como acontece com frequência no transtorno distímico, têm uma maior perda do que
sujeitos com um transtorno puro.
Sabe-se que a distimia se constitui como um fator limitante em diversas áreas da vida
do paciente. Este apresenta um autoconceito negativamente distorcido, bem como perda na
qualidade de vida, a partir do momento em que se sente cerceado nas suas possibilidades de
realização ou satisfação. Assim, percebendo como o sujeito distímico é afetado na sua relação
com a vida e com o mundo, é possível observar o quanto é importante a análise de qualquer
tema que possa relacionar esta forma de depressão com a qualidade de vida do paciente.
Tendo em vista o que foi apresentado, observa-se a relevância de estudos que
relacionem a variável depressão ao ambiente de trabalho, uma vez que a mesma se configura
como um problema de saúde pública, tanto no que concerne ao alto índice de suicídios, assim
como na incapacidade laboral gerada por seus sintomas em sujeitos trabalhadores. Dentro
Capa Índice 8707
deste aspecto, encontra-se a distimia que, devido à sua alta dificuldade de diagnóstico e ao
alto impacto em termos epidemiológicos (3% a 6% da população, em geral) demanda estudos
que abordem questões de como este transtorno se relaciona ao ambiente laboral do paciente,
bem como se dão os impactos deste em sua qualidade de vida.
Assim, com o presente estudo espera-se um maior entendimento sobre as relações
estabelecidas entre o paciente distímico e a sua vida ocupacional, tendo o objetivo de
possibilitar uma compreensão mais ampla dos fatores relacionados à qualidade de vida destes
pacientes, no que se refere ao impacto do transtorno nas atividades laborais.
Metodologia
Tratou-se de uma pesquisa de cunho exploratório e bibliográfico, que buscou um
maior conhecimento sobre o tema, tendo em vista a sua divulgação e possibilitando maiores
estudos sobre o mesmo. Consistiu no levantamento bibliográfico de informações pertinentes
já publicadas sobre o assunto e catalogação das mesmas, constituídas principalmente de
livros, artigos de periódicos e materiais disponibilizados na internet.
Foi feita, ainda, a partir das entrevistas de 24 sujeitos distímicos, uma inspeção dos
conteúdos relativos à relação do paciente e suas atividades laborais. Buscou-se, assim, o
levantamento e comparação de informações pertinentes às suas vidas ocupacionais, de forma
a se elaborar um panorama de como se dá a relação paciente e trabalho. Tais entrevistas são
parte integrante do projeto maior (Análise lexical das queixas relatadas por pacientes
distímicos e suas relações com o Transtorno Distímico) ao qual se vincula o presente trabalho
de Iniciação Científica.
Resultados e discussão
A partir das análises realizadas e do cruzamento de seus dados com o material
encontrado na bibliografia sobre o tema, foi possível se chegar a resultados que apontam para
a confirmação de informações presentes na bibliografia pesquisada.
Percebeu-se que parte dos sujeitos portadores de distimia investe de forma tão fixa em
seu trabalho que acabam por perder de vista a manutenção de relações sociais e familiares,
Capa Índice 8708
isso acarreta conflitos e isolamento, por vezes expressos em comportamentos irritadiços. Em
sua atividade laboral o distímico preenche o seu tempo e se ocupa de forma que possa evitar
tais contatos sociais, com isso apresentando um comportamento de fuga e antipatia com os
quais se relaciona. Ao colocar o trabalho como uma prioridade, acaba por investir muito de
suas forças nele, empobrecendo as demais áreas de sua vida.
Alguns exemplos de falas analisadas podem expressar tais comportamentos:
“A situação da empresa me preocupa demais e acabo não tendo toda a disposição que precisava para fazer outras coisas da minha vida de uma maneira mais tolerante.” (Paciente sexo masculino, 39 anos).
“Eu me envolvo tanto com uma coisa que eu esqueço da família, talvez seja uma fuga, não sei, mas eu costumo fazer isso, não deixo de fazer as minhas coisas no trabalho.” (Paciente sexo feminino, 46 anos).
“Eu achava que o fato de trabalhar com tantos homens me deixava com uma barreira. Eu criei uma barreira para poder fazer valer o meu trabalho, mas hoje eu percebo que não, eu tenho mesmo essa dificuldade de me relacionar.” (Paciente sexo feminino, 46 anos).
“Nos finais de semana às vezes eu descanso, mas sei que tenho que fazer muitas coisas, como trabalhos, e acaba que o final de semana, para mim, também não descanso.” (Paciente sexo masculino, 26 anos).
“Eu trabalhava de segunda a segunda e, ainda domingo, eu levantava três horas da manhã para sair para lanchonete onde também trabalhava e ficava quatro horas lá.” (Paciente sexo feminino, 43 anos).
“Eu quase não sou de sair, eu só trabalhava e vivia só por conta de trabalhar.” (Paciente sexo feminino, 54 anos).
“Eu visto mesmo a camisa da empresa, não interessa qual a empresa onde eu estou trabalhando.” (Paciente sexo feminino, 46 anos).
Também se observaram resultados que corroboram um autoconceito distorcido do
paciente distímico, esse fortemente aliado à demasiada autocobrança e a uma profunda
insatisfação com os resultados do próprio trabalho, normalmente executado com
predominante perfeccionismo, porém, raramente, reconhecido como suficientemente bom
pelo seu executor.
O que se pode observar é um sujeito que apresenta frágil autoconceito no tocante à
eficácia e eficiência, que sempre busca demonstrar perfeição para o outro e que, quando
criticado ou abalado de alguma forma, ao apresentar resultados ou ao analisar os próprios
Capa Índice 8709
produtos de sua atividade laboral, demonstra sofrimento condizente com o de uma situação
depressiva.
As falas, presentes nas entrevistas, que melhor demonstram tal situação são:
“Eu não podia ser criticada ou me chamarem a atenção que já ficava toda envergonhada e queria sair de onde estava, já pensava logo em abandonar o serviço, que eu não prestava, que minha família ia ter vergonha de mim e dos meus atos [...]” (Paciente sexo feminino, 52 anos).
“[...] quando eu olho e vejo que não estou sendo produtiva, aí eu começo a me sentir um peso pro meu marido, que dependo para tudo, dependo para remédio [...]” (Paciente sexo feminino, 33 anos).
“Todo lugar que eu trabalhava eu conquistava a confiança dos meus patrões porque eu sempre fui muito correta com as minhas coisas.” (Paciente sexo feminino, 55 anos).
“Sou muito detalhista e isso me prejudica, quando vejo algo errado fico cismada e acabo cobrando demais de mim mesma e de outras coisas, com outras pessoas.” (Paciente sexo feminino, 52 anos).
“Eu sou muito elétrica quando eu estou trabalhando, cumprindo meu trabalho, fazendo serviço para empresa [...]” (Paciente sexo feminino, 46 anos).
“Sei que nunca vou conseguir ser um profissional.” (Paciente sexo masculino, 26 anos).
“[...] aquela sensação de não ser tão boa igual aos outros fica vindo na cabeça e deixa a gente muito para baixo.” (Paciente sexo feminino, 43 anos).
Tendo em vista as situações acima como precipitadoras, bem como mantenedoras de
sofrimento, é possível observar-se o quanto os pacientes distímicos são cerceados em suas
possibilidades de realização frente ao trabalho, o que afeta diretamente a sua qualidade de
vida, transpassando a esfera do laboral e se manifestando em diversos outros aspectos de sua
vida. A insegurança presente nestes sujeitos assume uma característica que se generaliza não
somente no agora, mas também nos planos futuros o que pode acabar por levar estes pacientes
a um ciclo de insegurança, autocobrança demasiada e frustração, ocasionando assim ainda
mais sofrimento, caracterizando a típica dimensão de cronicidade deste transtorno.
“Eu tento sabe, Doutor? Mas sempre fico sem forças e quando já vejo, eu parei de tentar. Foi assim no meu casamento e está sendo assim na minha vida geral, com meus filhos e meu emprego [...]” (Paciente sexo feminino, 43 anos).
“[...] tenho muito medo de tudo em relação ao meu futuro. É o meu grande problema. Sou insegura, pessimista, acho que vai dar tudo errado. Isso tinha lá,
Capa Índice 8710
insegurança quanto ao futuro. Não esqueço a expressão porque ela diz direitinho de mim. [...]” (Paciente sexo feminino, 31 anos).
“Isso me causa sofrimento. São coisas simples, desde jogar bola, a faculdade, trabalho. Tudo me causa sofrimento, me causa tristeza.” (Paciente sexo masculino, 26 anos).
Pode-se também perceber as razões de tal transtorno caracterizar-se como um
problema referente à saúde pública, pois o mesmo se apresenta como limitador e, por vezes
incapacitante, no que diz às capacidades do sujeito para o trabalho o que, por sua vez, se
relaciona com as estatísticas da Dataprev (Brasil, 2011) de transtornos mentais como sendo a
terceira maior causa de auxílios-doença concedidos no Brasil, sendo que 40% destes
correspondem à depressão e da OMS de que, anualmente, 850.000 vidas são perdidas devido
à depressão.
“Olha, eu não conseguia mais trabalhar, eu não conseguia mais ter domínio de sala de aula, eu não tinha energia para ir, eu não tinha carro naquela época e não tinha energia física para andar.” (Paciente sexo feminino, 54 anos).
“Estava ficando sem condição de nada mais, tanto de trabalhar, quanto de estudar. Pessoalmente, de mim e das minhas coisas, dos meus filhos e de ter um dialogo com eles, de chegar na escola e expor para a diretora que eu não podia mais trabalhar [...]” (Paciente sexo feminino, 54 anos).
“Também perdi o trabalho e comecei a não ter rendimento na faculdade. Meu rendimento caiu para zero, não estava absorvendo, não estava aprendendo.” (Paciente sexo feminino, 33 anos).
Considerações Finais
Os dados observados no presente estudo revelam o quanto o sofrimento decorrente do
funcionamento distímico – com as formulações do sujeito sobre si e suas formas de vivenciar
a realidade – prejudica a qualidade de vida destes pacientes, perpassando o mundo do trabalho
e acabando por cerceá-lo em suas possibilidades de planejamento e realização pessoal.
Tal transtorno configura-se como um sério problema de saúde pública, devido à sua
prevalência epidemiológica (3% a 6% da população em geral), à sua incapacitância para o
trabalho e outras atividades cotidianas que compõem a vida de um sujeito, além do potencial
gerador de sofrimento subjetivo e do poder desagregador que exerce sobre as relações
pessoais do paciente distímico.
Capa Índice 8711
Faz-se relevante a ampliação da pesquisa sobre o tema, especialmente em âmbito
nacional, dado que a bibliografia a respeito do Transtorno Distímico, muitas vezes, limita-se a
uma descrição geral de suas características sintomatológicas. No entanto, o que se observa
nos poucos estudos da literatura da área, é uma ausência de referência à sua dinâmica e ao seu
desenvolvimento em âmbitos específicos. A análise de variáveis como trabalho, vivências
familiares, entre outros aspectos dinâmicos e históricos do sujeito, mostra-se necessária, de
forma que se possibilitem o desenvolvimento de novas estratégias que favoreçam um melhor
manejo do transtorno e ampliem as possibilidades de redução do sofrimento desses pacientes.
Capa Índice 8712
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REVISADO PELO ORIENTADOR
Capa Índice 8714
Suplementação de fósforo disponível em dietas para alevinos de Pacu (Piaractus
mesopotamicus)
Weslley Fernandes Braga1, Thiago Q. de Arantes1, Silvio L. de Oliveira², Igo G.
Guimarães3
1 Laboratório de Pesquisa em Aquicultura – LAPAQ, UFG, Jataí - GO
² Universidade Federal de Goiás – Campus Avançado de Jataí, Centro de Ciências Agrárias e
Biológicas - Depto de Biologia, [email protected]
3 Universidade Federal de Goiás – Campus Avançado de Jataí, Centro de Ciências Agrárias -
Depto de Zootecnia, [email protected]
Palavras chaves – nutrição, minerais, peixes nativos, fase inicial
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, no Brasil, tem sido crescente o cultivo intensivo e semi- intensivo
de espécies de peixes nativas tropicais. Dentre as espécies nativas cultivadas no Brasil, o pacu
(Piaractus mesopotamicus) vem sendo bastante comercializado nas regiões Centro-Oeste e
Sudeste do país. Apresenta grande potencial para a piscicultura intensiva, principalmente de-
vido a sua boa adaptabilidade ao sistema de cultivo, ao seu rápido crescimento, a sua facilida-
de na aceitação da alimentação artificial e também devido ser bastante utilizado para a pesca
esportiva (Castagnolli & Zuim, 1985). Outra vantagem é o fato de possuir uma carne de exce-
lente qualidade, aumentando ainda mais o seu valor comercial.
Na natureza, o pacu possui um espectro alimentar bastante amplo, variando sua dieta
alimentar de acordo com a sazonalidade. Segundo Medeiros (2009), os principais alimentos
observados no estômago do pacu na bacia do rio Cuiabá, no pantanal mato-grossense, são
constituídos por folhas, caules, frutos, sementes, restos vegetais, insetos e microcrustáceos,
demonstrando que se trata de uma espécie com hábito alimentar onívoro.
Apesar dos alimentos naturais proporcionarem bom desenvolvimento para as diversas
espécies de peixes que vivem na natureza, sua influência é muito pequena no crescimento dos
peixes mantidos em sistema de criação intensiva. Pois nesse sistema, os peixes são
alimentados com rações, que visam atender as exigências que cada espécie apresenta nas
diferentes fases da vida.
Capa Índice 8715
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8715 - 8725
A correta determinação das exigências nutricionais, bem como a disponibilidade dos
nutrientes em cada alimento a ser utilizado na ração das diferentes fases de criação dos peixes,
é necessária para se ter uma ração mais completa, melhor balanceada e ecologicamente
correta. Reduzindo assim custos na sua formulação, além de minimizar a descarga de
nutrientes em efluentes da piscicultura, promovidos principalmente pelo excesso de
alimentos, e o uso de alimentos na formulação das rações que não são digestíveis e que se
encontram na forma indisponível.
Peixes na fase inicial de desenvolvimento possuem uma elevada exigência nos níveis
de nutrientes. Dentre os nutrientes exigidos pelos peixes nessa fase, o fósforo (P), é um
macromineral importante para o adequado crescimento dos peixes e essencial como
constituinte estrutural do tecido esquelético (Roy & Lall, 2003), além de ser fundamental nos
processos metabólicos e na transferência de energia química no organismo através do ATP
(Lehninger et al., 1995).
Os peixes possuem a capacidade de absorver o fósforo da água, porém a concentração
desse mineral é baixa em água doce o que torna a ração a principal fonte desse mineral para
os peixes (Roy & Lall, 2003). O excesso de fósforo em rações comerciais pode aumentar as
perdas urinárias e fecais, comprometendo a qualidade da água de cultivo, já que o fósforo e o
nitrogênio são uns dos nutrientes que mais eutrofizam a água.
Assim são necessários mais estudos que determinem qual a exigência de fósforo para a
produção de peixes nas suas diferentes fases de produção. Esses estudos são necessários para
melhorar o desempenho produtivo de forma economicamente viável, por meio do adequado
crescimento dos peixes e com o menor impacto ambiental.
OBJETIVO
Este trabalho foi realizado com o objetivo de determinar a exigência de fósforo
disponível para alevinos de pacu (Piaractus mesopotamicus).
METODOLOGIA
Este estudo foi conduzido na Universidade Federal de Goiás – UFG, Campus de Jataí,
no Laboratório de Pesquisa em aqüicultura – LAPAQ. O experimento foi conduzido de
acordo com os princípios éticos de pesquisa em animais, após avaliação e aprovação pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás.
Capa Índice 8716
Foram utilizados 100 alevinos de pacu (Piaractus mesopotamicus), machos e fêmeas,
provenientes de uma piscicultura especializada na reprodução e venda de alevinos na região
de Jataí - GO. Estes foram selecionados de forma a apresentarem maior homogeneidade
possível. No sentido de se evitar o estresse provocado pela excessiva manipulação dos
alevinos que compuseram o estudo, os valores iniciais de peso foram determinados,
respectivamente, utilizando-se 20 alevinos do lote, com o emprego de balança analítica, sendo
esses peixes descartados posteriormente.
Os alevinos com o peso médio inicial de 1,31±0,04g foram distribuídos em um
delineamento inteiramente casualizado com cinco tratamentos e cinco repetições. Os alevinos
foram alojados em 25 aquários experimentais com capacidade de 3 litros numa densidade de
04 alevinos por aquário, sendo considerada como unidade experimental cada aquário com 04
alevinos.
Esses aquários foram ligados ao sistema de recirculação forçada de água com filtro
físico e biológico para manutenção da qualidade físico-química da água, assim como
termostato regulado para manter a temperatura em torno de 28 ºC. A temperatura da água dos
aquários foi mantida dentro da faixa de conforto para a espécie (28,0 ± 2,0°C).
As dietas que compuseram os tratamentos foram elaboradas com ingredientes
convencionais para conter aproximadamente 3250 Kcal ED/kg da dieta, 28% de proteína
digestível e 0,35; 0,60; 0,85; 1,10 e 1,35% de fósforo disponível na dieta (Tabela 1). Para
confecção dos grânulos experimentais, os alimentos utilizados nas rações experimentais foram
moídos em moinho de facas, com peneira apresentando diâmetro menor que 0,7mm. Os
alimentos foram homogeneizados em um balde utilizando a própria mão e, posteriormente,
submetidos à peletização utilizando moinho de carne adaptado, empregando-se matrizes para
obtenção de grânulos com os diâmetros de 3,5mm. Após a peletização os grânulos foram
desidratados a 55,0ºC por 12 horas em estufa com circulação de ar forçada e, após secagem
foram desintegrados e o tamanho do pélete ajustado ao tamanho do peixe, sendo armazenados
por resfriamento a -5,0ºC.
Foram utilizadas dietas práticas a base de farelo de soja, quirera de arroz, fubá de
milho e farinha de peixes, formuladas de forma a conter os níveis preestabelecidos de fósforo
e atender as exigências nutricionais do pacu para os demais nutrientes.
Os peixes foram arraçoados três vezes ao dia. O arraçoamento foi realizado
manualmente e à vontade até a saciedade aparente, de forma a não haver sobras excessivas
nos aquários. Realizou-se semanalmente o sifonamento manual dos aquários para retirada das
fezes acumuladas no fundo dos aquários.
Capa Índice 8717
Tabela 1. Composição centesimal e proximal das rações com diferentes níveis de fósforo
disponível na alimentação de pacu (Piaractus mesopotamicus)
Ingredientes (%)Níveis de P total (%) na Dieta0,35% 0,60% 0,85% 1,10% 1,35%
Composição centesimal
Farelo Soja 43,00 43,00 44,30 44,10 45,80Antifungico 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10Farelo Algodão 14,00 14,35 14,35 14,35 14,35Fubá Milho 26,81 22,71 17,31 13,81 10,41Farelo Trigo 4,05 4,00 4,00 4,00 2,00Quirera Arroz 5,00 5,00 5,00 5,00 4,20Farinha Peixe 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00Aglutinante 0,30 0,30 0,30 0,30 0,30Cr2O3 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10Óleo Soja 0,00 1,00 2,50 3,50 5,00Fosfato Bicálcico 0,00 3,10 6,00 9,00 12,10Calcário 1,00 0,70 0,40 0,10 0,00Vitamina C 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05Sal comum 0,07 0,07 0,07 0,07 0,07Premix vitam/min1 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50BHT2 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00Composição proximal2
Energ Dig (Kcal/kg) 2954,52 2926,36 2936,98 2912,96 2910,10Prot Dig (%) 27,40 27,22 27,37 27,04 27,15Prot Bruta (%) 30,94 30,73 30,87 30,49 30,60Fibra Bruta (%) 5,05 5,03 5,02 4,96 4,80Extrato Etéreo (%) 2,47 3,32 4,64 5,50 6,82Cálcio total (%) 0,85 1,50 2,10 2,72 3,44
Fósforo disp (%) 0,34 0,61 0,85 1,10 1,36Metionina (%) 0,39 0,38 0,38 0,37 0,37Fósforo total (%) 0,63 1,20 1,73 2,28 2,83Lisina (%) 1,73 1,72 1,74 1,72 1,74Triptofano (%) 0,41 0,41 0,41 0,40 0,41Treonina (%) 1,19 1,18 1,19 1,17 1,18
1Níveis de Garantia: PREMIX: ácido fólico 600 mg, biotina 24 mg, cloreto de colina 54 g, niacina 12000 mg, pantetonato de cálcio 6000 mg, vit.A 600000 UI, vitB1 2400 mg, vitB12 2400 mg, vitB2
2400 mg, viB6 2400 mg, vitC 24 g, vitD3 100000 UI, vitE 6000 mg, vitK3 1200 mg. Co 1 mg Cu 300 mg, Fe 5000 mg, iodo 10 mg, Mg 2000 mg, Se 10 mg, Zn 3000 mg.2Valores de exigências calculados de acordo com Abimorad et al. (2010), Bicudo et al. (2010), Robin et al. (1987). Valores de digestibilidade calculados de acordo com Abimorad et al. (2004;2008), Guimarães et al. (2012), Araújo et al. (2012).
As análises químico-bromatológicas das dietas e das carcaças foram realizadas no
Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de
Goiás – UFG, Campus de Jataí, segundo metodologia descrita por Silva (2006).
Capa Índice 8718
Ao final de 40 dias, foram determinados os resultados do consumo de ração aparente
(CRA), ganho de peso (GP), ganho de peso diário (GPD), peso final (PF), conversão
alimentar aparente (CAA), taxa de crescimento específico (TCE), taxa de eficiência protéica
(TEP), taxa de retenção protéica (TRP).
Os dados foram submetidos à análise de variância e quando observado diferença
significativa, as médias foram comparadas pelo teste de Student Newman Kews ao nível de
5% de probabilidade. Ainda, um modelo de regressão múltipla ou polinomial foi avaliado
para determinar o modelo que melhor se ajusta para os dados avaliados. O software utilizado
para as análises foi o SAS (versão 9.3).
RESULTADO
A qualidade da água manteve-se estável durante o experimento, e as médias dos parâ-
metros monitorados nos aquários durante o período experimental foram: pH = 6,8; temperatu-
ra= 27,4±0,68°C; oxigênio dissolvido = 7,4±0,35 mg/L e amônia = 0,05 mg/L.
Os valores médios dos parâmetros de desempenhos em função dos níveis crescentes de
fósforo disponível para alevinos de pacu estão apresentados na Tabela 2.
Tabela 2. Valores médios de peso final (PF), consumo de ração aparente (CRA), ganho de peso diário (GPD), conversão alimentar aparente (CAA), taxa de crescimento específico (TCE), taxa de eficiência protéica (TEP), taxa de retenção protéica (TRP) de pacu (Piaractus
mesopotamicus), alimentados com dietas contendo diferentes níveis de fósforo disponível (P)Nível de P (%)
PF CRA (g)GPD
(g/px/dia)CAA TCE (%) TEP (%) TRP
0,35 12,61±0,40 5,59±0,33 0,19±0,01b 0,75±0,02 2,99±0,13 3,75±0,11 65,62±4,87
0,60 13,20±0,46 5,21±0,35 0,20±0,01ab 0,66±0,02 3,01±0,13 4,36±0,15 76,05±6,67
0,85 13,85±0,47 5,71±0,27 0,21±0,01a 0,68±0,05 3,18±0,18 4,12±0,34 67,21±1,46
1,10 12,90±0,45 5,25±0,21 0,19±0,01b 0,68±0,05 3,03±0,12 4,16±0,31 72,51±8,07
1,35 13,02±0,30 5,41±0,23 0,20±0,01ab 0,69±0,04 3,11±0,08 4,40±0,28 79,42±8,18
EfeitoLinear NS NS NS NS NS (P<0,05) (P<0,05)Quadrático (P<0,05) NS NS (P<0,05) NS (P<0,05) NS
Médias seguidas da mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste SNK ao nível de 5%.NS – Não significativo
Pôde-se observar que o nível de fósforo disponível das dietas influenciou todos os
parâmetros de desempenhos produtivos do pacu, com exceção do consumo de ração aparente
e da taxa de crescimento específico que não apresentaram diferença entre os tratamentos
Capa Índice 8719
avaliados. Para o parâmetro ganho de peso diário, observou-se através do teste SNK, que os
melhores valores encontrados, foram para os peixes que receberam as dietas contendo os
níveis de 0,60; 0,85; 1,35 de fósforo disponível.
Após submissão dos dados à regressão, foi possível observar que o modelo polinomial
de segunda ordem foi o que melhor se ajustou aos dados de peso final, conversão alimentar
aparente e taxa de eficiência protéica. Para a taxa de retenção protéica o que melhor se ajustou
foi o modelo linear.
Para a conversão alimentar aparente (Figura 1), o nível de fósforo que proporcionou a
melhor conversão alimentar aparente foi o de 0,95%.
Figura 1. Efeito do nível de fósforo disponível da dieta sobre a conversão
alimentar aparente para alevinos de pacu.
De acordo com o gráfico e a equação de regressão apresentados na Figura 2, o nível de
fósforo disponível que proporcionou maior peso final do pacu após 40 dias experimentais foi
o de 0,86%.
Capa Índice 8720
Figura 2. Efeito do nível de fósforo disponível da dieta sobre o peso final
para alevinos de pacu.
Na Figura 3 é apresentada a correlação entre o nível de fósforo disponível e a taxa de
eficiência protéica. De acordo com a equação, o nível de P disponível que proporcionou maior
transformação da proteína em peso vivo dos peixes foi o de 1,27%.
Figura 3. Efeito do nível de fósforo disponível da dieta sobre a taxa de eficiência
protéica para alevinos de pacu.
Na figura 4 está apresentada a correlação entre o nível de fósforo disponível e a taxa
de retenção protéica.
Capa Índice 8721
Figura 4. Efeito do nível de fósforo disponível da dieta sobre a taxa de retenção
protéica para alevinos de pacu.
DISCUSSÃO
Normalmente, peixes alimentados com dietas que contêm baixos níveis de fósforo
apresentam piores respostas de desempenho (Tabela 2). Podemos observar que os peixes que
receberam dietas contendo valores baixos de fósforo disponível, apresentaram uma pior
conversão alimentar (Figuara1) e pior ganho de peso diário. Em estudo realizado por Pezzato
et al. (2006) com alevinos de tilápias, foi encontrado valores superiores ao deste trabalho,
onde eles observaram que níveis inferiores aos de 0,50% de fósforo disponível prejudicaram o
ganho de peso e a conversão alimentar dos peixes, recomendando a utilização de no mínimo
0,75% de fósforo disponível na dieta.
Para variável peso final foi observado efeito quadrático (Figura 2). Este resultado
demonstra que o fósforo é importante para fase inicial dos peixes, onde baixos níveis de
fósforo na dieta promovem baixo crescimento nos peixes, porém níveis muito elevados deste
mineral na dieta acabam alterando a relação de cálcio e fósforo no organismo do animal,
comprometendo também o seu crescimento. Portanto, uma adequada relação entre os minerais
cálcio e fósforo é importante para que os peixes possam obter adequado crescimento, sendo
observado neste estudo o nível estimado em 0,86% de fósforo disponível.
A piora no desempenho dos peixes alimentados com níveis baixos de fósforo nas
dietas pode ser explicada devido o fósforo estar intimamente associado ao metabolismo do
animal e a sua deficiência acaba ocorrendo perda de apetite e prejudicando a eficiência de
Capa Índice 8722
utilização do alimento, conseqüentemente há deficiência energética para o metabolismo e isto
leva as perdas de peso e redução do seu desempenho.
Em relação ao consumo de ração neste estudo, não houve redução no consumo pelos
peixes alimentados com a dieta com menor valor de fósforo disponível, entretanto, como foi
observado uma elevada conversão alimentar para os peixes que se alimentaram de dietas
deficientes em fósforo, isso pode indicar que estava ocorrendo sobras de ração nos aquários
que receberam este tratamento, em decorrência da perda do apetite dos peixes.
Os valores para taxa de crescimento específico em função dos diferentes níveis de
fósforo disponível, não foram diferentes (P>0,05) entre os tratamentos. Resultados
semelhantes foram encontrados, com alevinos de tilápia do nilo por Ribeiro et al. (2006),
onde também observaram que os peixes alimentados com diferentes níveis de fósforo nas
dietas, não tiveram influencia sobre a taxa de crescimento específico.
Foi observado uma menor eficiência de utilização da proteína da dieta, pelos peixes
alimentados com níveis de 0,35% de fósforo disponível (Figura3). Segundo Onishi et al.
(1982), tal resultado pode ser explicado devido o fósforo ser importante para ocorrência da ß-
oxidação dos ácidos graxos. Estando em baixas quantidades no organismo do animal, resulta
em um menor aproveitamento dos lipídeos para a produção de energia através da ß-oxidação,
fazendo com que os aminoácidos derivados da proteína da dieta seja direcionados para a
produção de energia, ao invés de ser utilizado para síntese corporal. O que pode explicar a
maior taxa de eficiência protéica pelos peixes alimentados com a dieta com 1,27% de fósforo
disponível.
Com relação a taxa de retenção protéica, foi observado efeito linear (Figura 4) em
função do crescentes níveis de fósforo na dieta. Porém, Ribeiro et al. (2006), estudando níveis
de fósforo em dietas para alevinos de tilápia do Nilo, obtiveram efeito quadrático, sendo o
melhor nível estimado de 1,10% de fósforo total na dieta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
São encontradas poucas informações sobre o requerimento de fósforo em dietas para
as espécies nativas. A determinação da exigência deste mineral para cada espécie é fundamen-
tal para a formulação de rações com menor custo de fabricação, que visa proporcionar o me-
lhor desempenho para o animal, sem agredir o meio ambiente.
Capa Índice 8723
CONCLUSÃO
Os níveis de fósforo disponível na dieta para alevinos de pacu (Piaractus
mesopotamicus) que mostraram melhores resultados no desempenho produtivo, nas condições
experimentais do presente estudo, foi entre os níveis de 0,85 a 0,95%.
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REVISADO PELO ORIENTADOR
Capa Índice 8725
ELETROFORESE DE PROTEÍNAS SÉRICAS E LIPIDOGRAMA EM BOVINOS
ALIMENTADOS COM FENO DE BRACHIARIA SP SUBMETIDOS A
TRATAMENTOS COM DIFERENTES ANTIOXIDANTES
Weyguer Cirilo FERNANDES1, Gustavo Lage COSTA1, Roberta Dias da SILVA1, Maria
Clorinda Soares FIORAVANTI1
1Escola de Veterinária, Universidade Federal de Goiás
E-mail: [email protected] / [email protected]
Palavras-chave: Bovino de corte, proteinograma, desempenho
INTRODUÇÃO
A pecuária de corte é extremamente importante para a economia brasileira
(LUCHIARI FILHO, 2000). Por outro lado, a baixa produtividade do rebanho brasileiro torna
parte importante dos criatórios inviáveis e despreparados para competir com rebanhos e
segmentos mais eficientes e organizados (CARNEIRO, 2001). Portanto, pesquisas que
procurem identificar os mecanismos envolvidos na baixa eficiência produtiva dos rebanhos
são de extrema importância para o país.
Uma vez que a suplementação na alimentação alguns minerais resulta em ganho
para os produtores (PILATI et al., 1997; PEIXOTO et al., 2005; WUNSCH et al., 2005), a
suplementação adicional de minerais com efeitos antioxidantes poderá ser benéfica, pois
muitas doenças e processos degenerativos estão associados a superprodução de espécies
reativas de oxigênio (EROs), incluindo inflamações, isquemia cerebral, mutagenecidade,
câncer, demência e envelhecimento (REN et al., 2001).
Isto ocorre devido à sobrecarga do organismo com radicais livres formados a
partir da resposta inflamatória. Em situações normais estes radicais livres são neutralizados
com antioxidantes naturais. Na ausência destes, a alta concentração de radicais livres irá
causar danos às células vizinhas, podendo ocorrer alterações em todas as estruturas da célula,
porém a mais susceptível e atacada é a membrana plasmática devido à peroxidação lipídica
(ALESSIO, 1993).
Capa Índice 8726
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8726 - 8738
Os antioxidantes são agentes responsáveis pela inibição e redução das lesões
causadas pelos radicais livres nas células. Uma ampla definição de antioxidante é “qualquer
substância que, presente em baixas concentrações quando comparada a do substrato oxidável,
atrasa ou inibe a oxidação deste substrato de maneira eficaz” - detoxificação (SIES & STAHL,
1995). Esses agentes que protegem as células contra os efeitos dos radicais livres podem ser
classificados em antioxidantes enzimáticos ou não-enzimáticos (SIES, 1993), em que o sistema
enzimático antioxidante parece ser o principal meio de remoção de EROs formadas durante o
metabolismo intracelular (YU, 1994). As enzimas antioxidantes, por sua vez, parecem possuir a
capacidade de se adequar ao aumento na produção de EROs, através do aumento na sua
atividade.
Dentre os antioxidantes que apresentam ação biológica pode-se citar: a catalase,
glutationa, glutationa peroxidase, vitamina C, vitamina E, microminerais (selênio, zinco) e
superóxido dismutase (HÖER et al., 2000; AMES et al., 1993; RIEGEL, 2002). O primeiro
mecanismo de defesa contra os radicais livres é impedir a sua formação, principalmente pela
inibição das reações em cadeia com o ferro e o cobre. Outro mecanismo de proteção é o reparo
das lesões causadas pelos radicais. Esse processo está relacionado com a remoção de danos da
molécula de DNA e a reconstituição das membranas celulares danificadas. Segundo TRABER
(1997), em algumas situações pode ocorrer uma adaptação do organismo em resposta a geração
desses radicais com o aumento da síntese de enzimas antioxidantes (superóxido dismutase,
catalase e glutationa peroxidase).
Acredita-se, de modo geral, que as doenças subclínicas, ou as ineficiências de
produção, que muitas vezes não determinam sinais clínicos reconhecíveis, são importantes
contribuintes para a redução da produção (FIORAVANTI, 1999). Algumas doenças estão
ligadas ao próprio sistema de manejo e criação, outras ligadas ao sistema de produção. Na
cadeia produtiva brasileira os bovinos são criados a pasto, o que gera uma importante
vantagem competitiva, contudo esse sistema de criação pode acarretar certas ineficiências na
produção pela presença de contaminantes nas pastagens, ou mesmo pelo desenvolvimento de
fungos.
A análise bioquímica é um importante método para traçar um perfil com relação
às atividades metabólicas do organismo, pois a mesma reflete de maneira confiável o
equilíbrio entre o ingresso, o egresso e a metabolização dos nutrientes nos tecidos animais
(GONZÁLEZ, 2000). Essa avaliação é também uma importante ferramenta para diagnosticar
enfermidades subclínicas que podem acometer o rebanho diminuindo assim a produtividade
(PEIXOTO, 2004).
Capa Índice 8727
A eletroforese de proteínas é um método mais eficaz de separação das proteínas
totais existente na patologia clínica (KANEKO, 1997). Dependendo da técnica e da espécie
utilizada, estas poderão ser divididas em até 15 frações. A técnica que utiliza gel de agarose,
fraciona as proteínas séricas de bovinos em seis bandas, denominadas de pré-albumina,
albumina, alfa1, alfa2, beta e gama (KANEKO, 1997; NAOUM, 1999).
A literatura científica é escassa quanto aos valores de referência de perfil lipídico
em bovinos, pois a maioria das pesquisas não tem como intuito estabelecer valores de
referência ou de avaliar fatores fisiológicos que possam interferir nos valores de normalidade
do lipidograma (POGLIANI & JUNIOR, 2007).
Com os resultados obtidos por meio da eletroforese das proteínas séricas e do
lipidograma é possível estabelecer perfil metabólico dos bovinos, que pode ser utilizado para
identificar possíveis alterações decorrentes do tipo de alimentação e de suplementos utilizado,
podendo assim fornecer parâmetros confiáveis para a avaliação do efeito dos tratamentos.
OBJETIVOS
Este projeto teve como objetivo a avaliação laboratorial de bovinos confinados
alimentados com feno Brachiaria sp, submetidos a tratamentos com diferentes antioxidantes,
por meio da eletroforese de proteínas séricas e lipidograma.
METODOLOGIA
O estudo foi desenvolvido na Fazenda Tomé Pinto de propriedade da Escola de
Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás, localizada no Município de São
Francisco de Goiás, Estado de Goiás, distante a 110 km da capital.
Durante o período de experimentação, os animais permaneceram alojados em
baias de confinamento e foram alimentados com volumoso (feno de braquiária) e concentrado
(ração). A dieta obedeceu à proporção entre volumoso e concentrado de 70:30, sendo que o
concentrado foi balanceado para atender as exigências nutricionais dos animais, de acordo
com o NRC (1996). O feno de B. brizantha foi produzido e armazenado em uma área da
Fazenda da Escola de Veterinária da UFG. O manejo, vacinação, tratamento com ecto e
endoparasiticidas foi similar para todos os grupos.
Capa Índice 8728
Foram utilizados 40 bovinos de peso aproximado de 360 kg e idade entre 24 a 36
meses, criados em pastos de Brachiaria sp. O delineamento experimental foi inteiramente
casualizado, com cinco tratamentos e oito repetições, em que cada repetição foi representada
por um animal. Os tratamentos foram representados pelos diferentes antioxidantes e pelo
grupo controle. Após um período de adaptação de 14 dias nas instalações e com a
alimentação, os animais foram divididos em cinco grupos, que receberam os tratamentos
seguintes:
QUADRO 1 - Tratamentos oferecidos individualmente para os bovinos dos diferentes grupos do experimento
GRUPO TRATAMENTO
Grupo 1 Controle (sem suplementação)
Grupo 2 Suplementação com 1000UI de vitamina E e 10mg de selênio (2g na forma de
acetato de α-tocoferol à 50% e 10g na forma de selênio metionina)
Grupo 3 Suplementação de 600mg de zinco/animal/dia (6g na forma de zinco metionina)
Grupo 4 Suplementação com selênio 10mg de selênio/animal/dia (10g na forma de
selênio metionina)
Grupo 5 Suplementação com 1000UI de vitamina E/animal/dia (2g na forma de acetato
de α-tocoferol a 50%)
Os antioxidantes foram pesados em uma balança de precisão da marca
Shimadzu®, modelo AY 220, diariamente em copos descartáveis, nas quantidades de 10g de
selênio, 6g de zinco, 2g de vitamina E, de forma a propiciar que cada animal recebesse a
quantidade de antioxidante diariamente conforme o seu tratamento no cocho. Para melhorar o
consumo, o antioxidante era ofertado individualmente e os demais animais eram impedidos de
se alimentarem no mesmo momento, garantindo o consumo total de cada animal. Os animais
foram mantidos confinados em grupo, de acordo com o tratamento, em baias providas de
bebedouros, comedouros e áreas de sombra. Após o período de adaptação, os animais
permaneceram confinados por mais 105 dias para determinação do consumo voluntário dos
grupos e desempenho animal.
Os animais foram alimentados duas vezes ao dia, às 8:00 e às 15:00 horas. A
alimentação foi fornecida sob a forma de dieta total. As sobras de alimentos foram pesadas e
descartadas diariamente antes do fornecimento matinal, para se determinar o consumo de
alimento pelo grupo e evitar que as sobras não ultrapassassem mais de 10% do total
Capa Índice 8729
fornecido. A água foi fornecida à vontade. As colheitas se sangue foram realizadas a cada 28
dias conforme o Quadro 2.
QUADRO 2 - Momento das pesagens
Pesagem 1ª (M0) 2ª (M1) 3ª (M2) 4ª (M3) 5ª (M4)
Colheitas
Colheita 1
Início
13/08/11
Colheita 2
28 dias
10/09/11
Colheita 3
56 dias
08/10/11
Colheita 4
84 dias
05/11/11
Colheita 5
105 dias
26/11/11
O sangue foi colhido por venopunção jugular em tubo sem anticoagulantes
previamente identificados, após as pesagens, para a realização das provas de função hepática e
proteinograma e lipidograma sérico. O sangue foi centrifugado após retração do coágulo. O
soro fora separado em alíquotas em tubos plásticos e congelado à –20°C até o momento da
realização dos exames.
As proteínas séricas foram determinadas pelo método colorimétrico, por reação
com o biureto (Labtest). A leitura foi feita em espectrofotômetro com comprimento de onda
de 545nm.
As frações proteicas albumina e globulinas foram separadas pela técnica de
eletroforese em gel de agarose, utilizando-se tampão tris pH 9,5 gelado (2o a 8°C), sendo
corados em negro de amido (amido black 10-B – art.1810 – CELM) a 0,1% em ácido acético
a 5%. A leitura do filme foi realizada por densitometria em 520nm, utilizando o sistema SE-
250 da CELM, de acordo com metodologia descrita pelo fabricante.
A concentração sérica de colesterol foi determinada pelo método enzimático
colorimétrico (Labtest), em uma reação catalisada pela colesterol oxidase e a dos
triglicerídeos pelo método enzimático colorimétrico, em uma reação catalisada pela
lipoproteína lípase (Labtest), ambos com leitura em analisador automático de química clínica.
Inicialmente, a análise dos dados foi realizada pela estatística descritiva (média,
desvio padrão e coeficiente de variação) dos parâmetros estudados. Posteriormente, foi
utilizado o teste de Kolomogorov-Smirnov para a verificação da normalidade, e o teste de
Bartlett para a verificação da homogenidade. Como todas as variáveis utilizadas seguiram a
distribuição normal e foram homogêneas, foi realizada a análise de variância (ANOVA), e
utilizado o teste de Tukey como pós-teste. Em todos os testes estatísticos o grau de
significância adotado foi de P=0.05.
Capa Índice 8730
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Até o momento foram avaliadas amostras obtidas até a 3ª colheita, em decorrência
de problemas técnicos na fonte e cuba de eletroforese, o que atrasou o cronograma de análise,
inviabilizando a execução da eletroforese das proteínas séricas das amostras das últimas duas
colheitas (4º e 5ª). Os resultados obtidos na eletroforese estão detalhados na tabela 1.
TABELA 1 - Valores médios ( X ), desvio padrão (S) e coeficiente de variação (CV) de proteína, albumina e globulina de bovinos da raça Nelore alimentados com feno de Brachiaria sp e diferentes antioxidantes, Goiânia, 2012
Colheitas Proteína total (g/dl) Albumina (g/dl) Globulina (g/dl)
X ±S CV X ±S CV X ±S CV
Gru
po
cont
role
1° 6,62 0,66 9,97 2,42 0,27 11,26 4,20 0,47 11,20
2° 7,78 0,91 11,72 2,87 0,25 8,82 4,91 0,73 14,88
3° 7,68 0,44 5,71 2,93 0,26 9,03 4,75 0,27 5,72
Gru
po
Se +
vit.
E
1° 7,19 0,49 6,76 2,63 0,20 7,61 4,56 0,37 8,18
2° 7,75 0,93 12,00 2,63 0,24 9,03 4,84 0,50 10,26
3° 8,00 1,37 17,17 2,86 0,41 14,50 5,15 1,11 21,6
Gru
po
Zn
1° 6,95 0,37 5,30 2,58 0,29 11,19 4,37 0,24 5,55
2° 7,63 1,63 21,42 2,77 0,57 20,73 4,82 1,22 25,27
3° 8,09 1,61 19,89 3,11 0,58 18,74 4,98 1,05 21,06
Gru
po
Se
1° 7,13 0,84 11,82 2,55 0,32 12,65 4,58 0,59 12,80
2° 7,69 0,63 8,17 2,81 0,19 6,77 4,88 0,59 12,03
3° 7,71 0,57 7,37 2,91 0,20 6,80 4,8 0,51 10,59
Gru
po
vit.
E 1° 7,36 0,55 7,51 2,68 0,17 6,22 4,78 0,45 9,38
2° 7,25 1,00 13,75 2,72 0,33 12,09 4,79 0.20 4,33
3° 8,62 0,94 10,95 3,30 0,38 11,47 5,32 0,58 10,94
Em todas as colheitas avaliadas não houve diferença significativa entre os grupos (p>0,05)
Os valores médios da proteína, da albumina e da globulina sérica ficaram
próximos aos obtidos por CANAVESSI (1997) e por SILVA (2003). Os valores médios de
proteína não sofreram alterações significativas entre os grupos, mas houve um aumento sutil
com o decorrer do experimento conforme observado na figura 1.
Capa Índice 8731
FIGURA 1 - Valores médios de albumina e globulina de bovinos da raça Nelore
alimentados com feno de Brachiaria sp e diferentes antioxidantes, Goiânia, 2012
Os valores encontrados para alfa1-globulina, alfa2-globulina, beta-globulina e
gama-globulina (Tabela 2) foram semelhantes aos citados por CANAVESSI (1997), SOUZA
(1997) e FIORAVANTI (1999).
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
1º 2º 3º
Albumina
Controle
Se+vitE
Zinco
SelÊnio
Vit E
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
6,00
1º 2º 3º
Globulina
Controle
Se+vitE
Zinco
SelÊnio
Vit E
Capa Índice 8732
TABELA 2 - Valores médios, desvio padrão (S) e coeficiente de variação (CV) de globulinas
(alfa-1, alfa-2, beta e gama) de bovinos da raça Nelore alimentados com feno de Brachiaria sp e diferentes antioxidantes, Goiânia, 2012
Colheitas
alfa-1 (g/dl) alfa-2 (g/dl) Beta (g/dl) Gama (g/dl)
X ±S CV X ±S CV X ±S CV X ±S CV
Gru
po
cont
role
1° 0,40 0,09 21,91 0,82 0,10 12,39 0,90 0,18 20,04 2,02 0,44 21,88
2° 0,42 0,04 9,95 0,98 0,04 9,95 0,94 0,16 16,99 2,56 0,44 17,01
3° 0,42 0,08 19,45 0,92 0,09 9,79 0,94 0,09 9,97 2,47 0,17 6,82
Gru
po
Se +
vit.
E 1° 0,44 0,07 14,93 0,87 0,07 8,48 0,82 0,09 11,24 2,43 0,25 10,48
2° 0,50 0,08 16,13 0,90 0,11 12,41 0,87 0,11 12,53 2,32 0,78 33,58
3° 0,38 0,08 21,43 0,92 0,06 6,04 0,98 0,16 16,55 2,64 0,35 13,14
Gru
po
Zn
1° 0,44 0,08 19,19 0,88 0,06 6,90 0,90 0,24 26,97 2,14 0,29 13,38
2° 0,47 0,19 40,65 0,97 0,24 25,01 0,87 0,13 15,19 2,52 0,68 26,88
3° 0,49 0,12 25,02 0,94 0,19 20,52 0,96 0,28 29,66 2,59 0,50 19,13
Gru
po
Se
1° 0,48 0,08 16,49 0,86 0,13 15,58 0,89 0,22 24,85 2,35 0,29 12,54
2° 0,42 0,07 16,54 0,91 0,11 11,93 0,89 0,11 12,29 2,67 0,44 16,55
3° 0,49 0,21 44,04 0,89 0,11 12,52 0,94 0,11 11,87 2,58 0,32 12,31
Gru
po
vit.
E 1° 0,48 0,09 18,71 0,94 0,09 9,38 1,05 0,53 49,99 2,31 0,43 18,55
2° 0,45 0,12 25,96 0,91 0,13 13,97 0,85 0,11 12,95 2,33 0,42 17,97
3° 0,44 0,09 19,28 1,05 0,15 13,94 1,03 0,14 13,36 2,80 0,23 8,37
Em todas as colheitas avaliadas não houve diferença siguificativa entre os grupos (p>0,05)
Os valores do colesterol (Tabela 3) são semelhantes ao valor de referência
utilizado nos estudos de FIORAVANTI (1999), SANDRINI (2006) e AMORIM et al. (2007).
Os valores dos triglicérides (Tabela 3) se encontram bem próximos aos observados por
FIORAVANTI (1999).
Capa Índice 8733
TABELA 3 - Valores médios, desvio padrão (S) e coeficiente de variação (CV) de triglicérides e colesterol de bovinos da raça Nelore alimentados com feno de Brachiaria sp e diferentes antioxidantes, Goiânia, 2012
Triglicérides Colesterol
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª
Gru
po
cont
role
X 15,67 15,16 15,31 11,14 16,02 85,42 68,58ª 90,62 70,54 77,94 ±S 3,30 3,34 3,30 4,82 4,40 12,56 10,37 15,41 9,78 15,20 CV 21,08 22,06 21,54 43,23 27,48 14,70 15,13 17,01 13,87 19,51
Gru
po
Vit.
E +S
e X 19,27 20,01 18,58 11,69 10,93 74,99 92,72b 80,44 73,38 71,25 ±S 3,88 4,36 2,78 3,87 3,96 15,41 17,18 12,56 7,89 19,02 CV 20,15 21,81 14,97 33,08 36,18 20,55 18,52 15,62 10,76 26,70
Gru
po
Zn X 16,03 19,35 14,51 12,74 16,86 84,59 75,44ª,b,c 97,64 70,76 73,36
±S 4,53 9,05 3,41 4,60 4,90 15,43 4,75 9,94 12,62 14,31 CV 28,25 46,74 23,47 36,08 29,05 18,24 6,30 10,18 17,84 19,51
Gru
po
Se X 15,57 19,98 16,21 10,26 15,71 95,33 81,90 ª,b,c 85,01 70,87 79,85
±S 2,61 4,39 3,18 3,77 6,11 16,81 17,26 27,77 4,08 10,71 CV 16,76 21,94 19,61 36,75 38,87 17,63 21,07 32,67 5,75 13,41
Gru
po
Vit.
E X 16,51 21,08 17,71 15,74 16,58 69,01 90,71c 65,48 75,66 77,80
±S 5,92 5,80 6,30 4,23 6,14 15,78 11,01 20,91 12,33 14,18 CV 35,88 27,50 35,58 26,89 37,04 22,87 12,14 31,93 16,30 18,23
Significância p=0,39 p=0,29 p=0,25 p=0,12 p=0,16 p=0,05 p=0,01 p=0,05 p=0,80 p=0,76
Foi observado aumento significativo com relação ao grupo controle na
concentração de colesterol, na segunda colheita, no grupo 2 onde houve a administração de
selênio e vitamina E, e no grupo 5 onde houve a administração apenas de vitamina E.
Praticamente não existem publicadas informações para bovinos que possam servir como
parâmetro de comparação, entretanto existe relatos, em humanos, de aumento de vitamina E
acompanhado de elevação de colesterol (STRANGES et al., 2009). Também em humanos foi
descrita a relação entre o aumento de selênio e a elevação do colesterol (PAN et al., 2004).
Como em ambos os grupos onde a diferença foi observada, os bovinos estavam recebendo
vitamina E, provavelmente a vitamina E é a responsável por essa alteração, tendo o selênio
menor efeito.
CONCLUSÃO
A administração de antioxidantes não altera o proteinograma e o lipidograma de
bovinos mantidos em regime de confinamento.
Capa Índice 8734
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Capa Índice 8738
1 Orientanda e graduanda em medicina pela Universidade Federal de Goiás 2 Orientador, professor doutor e médico oftalmologista responsável pelo Núcleo de Telemedicina e Telessaúde da Universidade Federal de Goiás
ESTUDO DE PREVALÊNCIA E TRIAGEM DE RETINOPATIA DIABÉTICA EM
MUNICÍPIOS GOIANOS ATRAVÉS DA TELEMEDICINA
Wildlay dos Reis Lima¹, Juliana Silva Dias1, Alexandre Chater Taleb2
Núcleo de Telemedicina e Telessaúde da Universidade Federal de Goiás
FACULDADE DE MEDICINA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIAS
CEP: 74000-‐000 Brasil
Email: [email protected]
Palavras-‐chave: Telemedicina, Retinopatia Diabética, Prevenção de cegueira, Diagnóstico à
distância, Tele-‐Oftalmologia.
Capa Índice 8739
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8739 - 8750
INTRODUÇÃO
O diabete melito (DM) é uma síndrome metabólica complexa em que ocorre uma deficiência
relativa ou absoluta de insulina afetando o metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas¹.
Cerca 85 a 90% dos pacientes portadores de DM possuem o chamado DM tipo 2, previamente
denominado DM não dependente de insulina¹. Uma das complicações microvasculares mais
importantes do DM é a retinopatia diabética (RD), que é hoje a principal causa de cegueira
legal em indivíduos de 25 a 74 anos nos países desenvolvidos¹,². A RD ocorre em algum
momento da vida de cerca de 95% dos pacientes com diabetes melito tipo 1 (DM1) e em mais
de 60% dos pacientes com diabetes melito tipo 2 (DM2)² . Estes dados explicam o risco 25
vezes maior de cegueira em pacientes com DM do que na população em geral².Quando a RD
culmina em perda visual é considerada trágica e constitui fator importante de morbidade de
elevado impacto econômico, uma vez que é a causa mais freqüente de cegueira adquirida3,4,
além de serias implicações pessoais e sociais. A RD se caracteriza por uma microangiopatia dos vasos da retina que determina alterações
típicas da RD. A hipóxia tecidual, acompanhada da perda da auto-regulação dos vasos
retinianos é o fator desencadeante da RD, que tem início nos capilares retinianos por meio do
comprometimento da barreira hematorretiniana. As alterações fundoscópicas seguem curso
progressivo, desde o aumento da permeabilidade vascular até a oclusão vascular e
conseqüente proliferação fibrovascular (neovasos na retina e face posterior do vítreo) e
cicatrização. Estas alterações ocorrem apenas na presença de hiperglicemia sustentada,
estando intimamente relacionada à RD3,4.
Recentemente, a incorporação de tecnologias de informação e comunicação na saúde tem
propiciado o desenvolvimento da Telemedicina, que pode ser definida como a oferta de
serviços ligados aos cuidados com a saúde, nos casos em que a distância é um fator crítico5.
Tais serviços são oferecidos por profissionais da área de saúde, usando tecnologias de
informação e de comunicação, visando o intercâmbio de informações válidas para pesquisas,
diagnósticos, prevenção e tratamento de doenças e contínua educação de provedores de
cuidados com a saúde6,7. A teleoftalmologia representa um setor emergente, é uma área que
Capa Índice 8740
pode possibilitar diagnóstico, tratamento, pesquisa, rastreamento de doenças, além de segunda
opinião médica especializada e educação médica continuada6.
Triagem, avaliação e tratamento de pacientes com retinopatia diabética são algumas das
aplicações mais populares da teleoftalmologia, por meio da análise de imagens obtidas por
câmeras de retina portáteis, em lugares remotos, e mostram eficácia semelhante aos métodos
tradicionais e presenciais8,9.
O uso de retinógrafo não midriático para triagem de RD foi validado, e mostrou a mesma
sensibilidade e especificidade no diagnóstico de RD com a tradicional oftalmoscopia. É um
procedimento, no qual fotografias do fundo de olho são capturadas para permitir o estudo das
alterações da retina, coróide e nervo óptico.
Considerando a RD uma das complicações microvasculares mais significantes da DM, assim
como suas repercussões para o sistema de saúde do país e qualidade de vida do paciente, é
fundamental a ampliação do acesso ao diagnóstico e aos tratamentos disponíveis, para que se
identifique melhor e o mais precocemente a doença, diminuindo as consequências sobre a
visão e qualidade de vida do paciente.
OBJETIVOS
1- Realizar, na atenção básica, exame de retinografia digital em pacientes diabéticos e envio
das imagens obtidas para segunda opinião médica (laudos à distância) com o uso dos recursos
da telemática.
2-Verificar a viabilidade do diagnóstico de especialidade mesmo em locais em que não há a
presença de um especialista.
3- Realizar o estudo da prevalência de retinopatia diabética na população atendida na atenção
primária à saúde em dezoito municípios goianos.
4- Fornecer informações que possam contribuir para implementar e/ou aperfeiçoar programas
e ações preventivas e de controle das retinopatias.
METODOLOGIA
Realizou-se um estudo epidemiológico descritivo transversal, com coleta e análise de imagens
retinográficas de pacientes diabéticos vinculados à Atenção Primária a Saúde de dezoito
municípios goianos, durante o período de agosto de 2011 a março de 2012.
Capa Índice 8741
População: A amostra foi composta de retinografias de 3.870 de pacientes cadastrados nas
áreas de abrangência do Programa de Saúde da Família dos municípios goianos de:
Abadiânia, Anápolis, Cachoeira Dourada, Cristalina, Edéia, Goianésia, Guaraíta, Itumbiara,
Joviânia, Montevidiu do Norte, Morrinhos, Palmeiras de Goiás, Paraúna, Piracanjuba,
Planaltina, Rio Quente, Rio Verde, São Francisco, São Simão, Senador Canedo.
Critérios de inclusão e exclusão do estudo: Critérios de inclusão: 1) pacientes sabidamente
diabéticos mediante comprovação, por receita médica ou exame de glicemia, 2) estar de
acordo com o consentimento livre e esclarecido (TCLE) desta pesquisa; Critérios de
exclusão: 1) pacientes analfabetos desacompanhados de um responsável que possa assinar o
TCLE.
Coleta de dados: A coleta de dados foi realizada pela equipe do NUTTs FM-UFG através da
realização do exame de retinografia (fotografia do fundo de olho) com um retinógrafo não-
midriático, o qual capta imagens oculares para posterior avaliação e laudo por oftalmologista,
de todo paciente diabético atendido pela Atenção Primária a saúde (APS) das áreas de
abrangência dos municípios selecionados que preenchiam os critérios de inclusão. A
acadêmica autora deste trabalho auxiliou no envio e transmissão dos dados para a análise das
retinografias à distância. Realizou-se um levantamento de todos os dados encontrados para
determinar a prevalência da retinopatia através de um estudo epidemiológico descritivo
transversal.
Análise das retinografias e dados encontrados: A equipe de oftalmologistas da unidade de
Retina e Vítreo do Centro de Referência em Oftalmologia (CEROF-UFG) avaliou as imagens
de cada paciente, para avaliar se as retinografias têm a qualidade adequada e se há algum grau
de retinopatia diabética, emitindo o devido laudo. Aos pacientes cujos exames serão
analisados pelos pesquisadores é assegurado o sigilo das informações. Os dados estatísticos
obtidos com os questionários foram analisados mediante teste qui-quadrado para o
diagnóstico. Os dados foram tratados estatisticamente com auxílio do programa Microsoft
Excel® e Biostat 5.0®.
Contrapartida para o paciente em estudo: Os laudos das retinografias de todos os pacientes
em estudo foram enviados ao médico de família do PSF que acompanha o respectivo
paciente. Nos casos em que o oftalmologista identificou patologia ocular que necessitasse de
uma investigação mais específica, foi sugerido no laudo oftalmológico, que o médico do PSF
Capa Índice 8742
encaminhasse o paciente ao oftalmologista de acordo com o sistema de referência-
contrarreferência do SUS.
RESULTADOS
Foram analisadas 3.671 retinografias de pacientes dos municípios de Abadiânia, Anápolis,
Cachoeira Dourada, Cristalina, Edéia, Goianésia, Guaraíta, Itumbiara, Joviânia, Montevidiu
do Norte, Morrinhos, Palmeiras de Goiás, Paraúna, Piracanjuba, Rio Quente, Rio Verde, São
Francisco, São Simão, sendo identificados 155 casos de pacientes com Retinopatia Diabética.
A Tabela 1 mostra o quantitativo de casos de retinopatia diabética por município em relação
ao número total de pacientes avaliados em cada município.
Tabela 1- Pacientes examinados e pacientes com Retinopatia Diabética
Cidades Pacientes Examinados
Pacientes Diabéticos
Pacientes com Retinopatia Diabética
Abadiânia 188 52 5 Anápolis 427 115 14
Cachoeira Dourada 251 95 8 Cristalina 130 44 5
Edéia 267 1 16 Goianésia 22 21 5 Guaraita 153 26 6
Itumbiara 281 102 16 Joviania 236 83 8
Montevidiu do Norte 166 22 2 Morrinhos 235 115 10
Palmeiras de Goias 318 129 11 Parauna 232 114 8
Piracanjuba 281 105 24 Rio Quente 166 39 2 Rio Verde 112 218 5
São Francisco 121 41 7 São Simão 85 30 3
Total 3671 1352 155
Todas as 155 retinografias compatíveis com RD foram classificadas quanto à localização
(olho direito e olho esquerdo); em proliferativas e não proliferativas e em relação à presença
Capa Índice 8743
de edema macular diabético (EDM), conforme ilustra a Tabela 2, a qual mostra em detalhes
os laudos de acordo às cidades. Foram encontrados 138 casos de RD no olho direito, destes 91
casos eram compatíveis com RD não proliferativa e 19 casos de RD proliferativas. Ainda
foram encontrados no olho direito 5 casos de RD com neovasos de disco óptico e nenhum
caso de edema macular diabético, dados estes representados pelo Gráfico 1.
Em relação ao olho esquerdo, a RD estava presente em 138 pacientes, dos quais 94 casos
foram classificados como RD não proliferativa e 20 casos de RD proliferativa. Foram
encontrados no olho esquerdo 3 casos de RD com neovasos de disco óptico e 46 casos de
edema macular diabético, como pode ser observado no Gráfico 2. Gráfico 1
Capa Índice 8744
Gráfico 2
Tabela 2- Número de laudos e número de casos de Retinopatia Diabética
n Retinopatia Diabética Retinopatia Diabética
Cidades OD NP P ND EMD OE NP P ND EMD Abadiânia 188 5 6 5 0 0 0 4 4 0 0 2 Anápolis 427 14 13 7 3 1 0 13 10 1 1 4
Cachoeira 251 8 9 6 2 1 0 8 6 2 1 3
Dourada Cristalina 130 5 5 4 1 0 0 4 3 1 0 2
Edéia 267 16 12 3 0 0 0 14 3 1 0 0 Goianésia 22 5 5 3 1 0 0 4 2 1 0 0 Guaraita 153 6 5 4 1 0 0 5 4 1 0 0
Itumbiara 281 16 12 8 3 2 0 15 13 2 0 7 Joviania 236 8 6 6 0 0 0 6 5 1 1 3
Montevidiu do Norte 166 2 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0
Morrinhos 235 10 12 10 1 0 0 11 10 1 0 6
Palmeiras de Goiás 318 11 10 10 0 0 0 9 8 1 0 4
Parauna 232 8 6 6 0 0 0 7 7 0 0 6 Piracanjuba 281 24 21 10 2 0 0 21 10 4 0 1 São Simão 85 3 3 3 0 0 0 2 2 0 0 2 Rio Quente 166 2 2 2 0 0 0 2 2 0 0 0 Rio Verde 112 5 6 1 4 0 0 6 1 4 0 3
São Francisco 121 7 4 3 1 1 0 6 4 0 0 3 Total 3671 155 138 91 19 5 0 0 138 94 20 3 0 46
Capa Índice 8745
No cálculo da prevalência o numerador abrange o total de pessoas que se apresentam doentes
num período determinado (casos novos acrescidos dos já existentes). Por sua vez, o
denominador é a população da comunidade no mesmo período. Dessa forma, o presente
estudo apresentou uma prevalência de 11,46% para RD entre os diabéticos e uma prevalência
de 4,22% sobre a população geral examinada, com 29,67% de edema macular diabético desse
total de pacientes com RD; o que justifica o uso da telemedicina como ferramenta importante
no processo de rastreamento e diagnóstico desta patologia, para posterior tratamento e
programas de prevenção. Itumbiara foi o município com maior numero de casos absoluto o e
Goianésia foi o município com maior numero de casos proporcional.
DISCUSSÃO
A RD é a complicação ocular mais importante de qualquer das formas de diabetes mellitus. A
retinopatia diabética é a manifestação retiniana de uma microangiopatia sistêmica
generalizada que pode ser observada na forma de edema de retina, exsudatos (os quais
refletem a quebra da barreira hematoretiniana) e hemorragias. Hemorragias intra-retinianas
apresentam-se em formatos variados e são características desta fase. O formato e o aspecto
clínico da hemorragia são determinados pela localização do extravasamento sangüíneo.
Estas alterações ocorrem apenas na presença de hiperglicemia sustentada, estando
intimamente relacionada à RD. A classificação da RD, adotada pela Academia Americana de
Oftalmologia considera a presença destes estágios evolutivos, conforme está descrito no
Quadro 1. Em qualquer estágio da RD pode ocorrer diminuição importante da acuidade visual
causada por edema macular.
OD: Olho direito
NP: não proliferativa
P:proliferativa
ND: Neovasos de Disco
EDM: edema macular diabético
OE: Olho esquerdo
Capa Índice 8746
A RD é clinicamente dividida em dois estágios principais, RD não-proliferativa (RDNP), e
RD proliferativa (RDP)10,11.
A RDNP é caracterizada por alterações intra-retinianas associadas ao aumento da
permeabilidade capilar e à oclusão vascular que pode ou não ocorrer nesta fase.
Encontraremos, portanto, nesta fase, microaneurismas, edema macular e exudatos duros
(extravasamento de lipoproteínas)11.
Quadro1. Classificação de retinopatia diabética
Classificação Características fundoscópicas Retinopatia diabética não proliferativa Mínima Raros microaneurismas Leve Poucas hemorragias dispersas e microaneurismas Moderada Moderadas hemorragias dispersas e microaneurismas,
podem estar presente exsudatos duros e algodonosos. Grave ou muito grave Veias em rosários em pelo menos 2 quadrantes.
Anormalidades microvasculares intra-cranianas em pelo menos 1 quadrante.
Retinopatia diabética proliferativa Baixo risco Neovascularizaçãoretiniana ou do disco óptico, sem
atingir característica de alto risco.
Alto risco
Neovasos no disco óptico maior do que 1/3 de sua área.
Hemorragia pré-retiniana ou vítrea acompanhadas de neovasos de disco óptico menores do que 1/³ de área de disco ou neovascularizaçãoretiniana maior do que ½ área de disco.
Em um estudo clássico, o EarlyTreatmentofDiabeticRetinophathyStudy (ETDRS), em que
foram estudados prospectivamente 3.711 pacientes com DM1 e DM2, as alterações no fundo
de olho foram avaliadas por meio de fotografias de campos visuais padronizados. A
classificação de RD utilizada neste estudo, embora complexa, passou a ser o critério de
referência para estudos sobre RD. NaTabela3 está descrita esta classificação que define cinco
estágios de acometimento retiniano com base na gravidade da RD.
Capa Índice 8747
Tabela 3.Diagnóstico e classificação da retinopatia diabética
Grau de retinopatia Achados observados à fundoscopia
Sem RD Ausência de anormalidades. RD não proliferativa leve Apenas microaneurismas. RD não proliferativa moderada Mais do que apenas microaneurisma, mas menos do
que RD não proliferatva grave. RD não proliferativa grave Aus~encia de RD proliferativa e qualquer das
alterações a seguir: mais de 20 hemorragias intra-retianians em cada um dos 4 quadrantes; dilatação venosa em 2 ou mais quadrante. Anormalidades microvasculares intra-retinianas em 1 ou mais quadrantes.
RD proliferativa Neovascularização, hemorragia vítrea pré retiniana
Os fatores de risco para de RD podem ser classificados como genéticos e não genéticos.De
forma sucinta, podemos citar como fatores não genéticos aqueles relacionados à presença do
DM, como duração do DM, controle glicêmico e nefropatia diabética, e fatores não
relacionados diretamente ao DM, como a hipertensão arterial sistêmica (HAS), dislipidemia,
fatores ambientais e fatores oculares. Níveis elevados de hemoglobina glicada (HbA1c) são
associados com a incidência e a progressão de qualquer tipo de RD e se correlacionam
positivamente com a presença de edema macular . Em relação à HAS, pode-se concluir que o
aumento dos níveis pressóricos é um importante fator de risco independente para o
desenvolvimento e a progressão da RD em pacientes com DM, visto que seu controle retarda
a evolução da RD. Já a hiperglicemia é um fator de risco modificável e existem várias
evidências que demonstram a importância do bom controle glicêmico para a prevenção da
RD.
O controle dos principais fatores de risco conhecidos para RD não é capaz de prevenir o
aparecimento ou progressão da RD na totalidade dos casos, como já foi demonstrado em
grandes ensaios clínicos multicêntricos tanto para pacientes com DM tipo 1 quanto para
pacientes com DM tipo 2. Ainda, alguns grupos étnicos têm maior freqüência de RD.
Pacientes hispânicos e afro-americanos apresentam maior freqüência de RD quando
comparados a pacientes caucasianos10. Estas observações sugerem a existência de fatores
genéticos relacionados à RD.
Não há dados na literatura sobre a prevalência de retinopatia diabética em nosso país
tampouco em nosso Estado. O presente estudo objetivou fazer este levantamento nos dezoito
Capa Índice 8748
municípios goianos auxiliando na estimativa mais próxima da realidade dessa prevalência em
nosso Estado.
Com os dados já apresentados nos resultados, e sabendo do impacto da RD na saúde mundial
e na qualidade de vida dos pacientes, o diagnostico precoce da RD é fundamental para iniciar
o tratamento e melhorar a qualidade de vida desses pacientes.
Estudos avaliam a eficácia da telemedicina como método diagnóstico encontra resultados
semelhantes ou inferiores ao método convencional, porém dentro de limites aceitáveis5.
CONCLUSÃO
A oftalmologia é uma área bastante propícia para o desenvolvimento da telemedicina, já que é
uma especialidade em que o diagnóstico pode ser feito, em muitos casos, apenas através de
imagens¹³, como por exemplo, no caso deste presente estudo, que propiciou o diagnóstico de
Retinopatia Diabética em pacientes residentes do interior do estado de Goiás através da
utilização da telemedicina.
No presente estudo, a prevalência foi de 4,18% para RD. Essa doença continua sendo um
grave problema de saúde pública e deve sempre ser entendida como uma doença de
abordagem multidisciplinar. A detecção precoce da RD é importantíssima para a eficácia dos
tratamentos, pois quanto maior sua gravidade pior é o resultado da terapia12, desta forma é
imprescindível o diagnostico precoce desta patologia e a telemedicina pode constituir um
mecanismo de atendimento contínuo para sua prevenção, diagnóstico e tratamento.
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Capa Índice 8750
A utilização de recursos não convencionais no aprimoramento da experiência de jogo
Wilson de Medeiros Sousa Cleomar Rocha (orientador)
Faculdade de Artes Visuais – FAV [email protected]
Palavras Chave: Jogos, sensor de movimento, game design, gameplay.
Introdução
O uso de recursos não convencionais em jogos tem sido uma constante desde o aparecimento do
Wii, da Nintendo. O Kinect, da Microsoft foi o passo decisivo para o uso de sensores de
movimento, recurso principal desta pesquisa. A pesquisa procurou compreender as
especificidades para este tipo de game, principalmente sobre os modelos de interação com o
sistema, controle e interface gráfica. Para isto foram realizadas análises de similares e leituras de
trabalhos, artigos e livros sobre o tema, aprofundando a pesquisa no objeto específico. Ao final
foi proposto um jogo, formatado enquanto documento de game design, que é o documento
técnico de concepção de um game.
Objetivo
Essa pesquisa teve como objetivo a aquisição de conhecimentos relacionados ao processo de
planejamento e construção de games, abrangendo desde a parte teórica e criativa até a parte
técnica, além de pesquisar os modos de interação usuário (jogador) / sistema (jogo) e,
finalmente, a criação de um jogo que utilize recursos não convencionais para aprimorar a
experiência de jogo.
Metodologia
A metodologia utilizada foi a metodologia de projeto, especificamente para projetos de game. A
orientação metodológica prevê as fases de conceitualização, problematização, análise de
Capa Índice 8751
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8751 - 8762
similares, geração de alternativas projetuais e desenvolvimento do documento de game design da
melhor proposta, seguindo para a prototipação do projeto.
Resultados e discussão - Documento de Game Design
O desenvolvimento da pesquisa teve início com a revisão bibliográfica, quando obras que
questionam os mais diversos aspectos envolvendo o jogo foram discutidas. A primeira foi Homo
Ludens, de Huizinga (2008) que, embora demonstre alguns conceitos duvidosos e se contradiga
em certos momentos, é referência quando se trata do aspecto filosófico do jogo, tanto em seu
aspecto lúdico como em seu aspecto competitivo. O autor relaciona o jogo à guerra , ao direito e
até mesmo à poesia, evidenciando tais aspectos.
Outra obra que foi de grande importância foi Videogame Arte, de Arthur Bobany (2008). Essa
obra trata do jogo como uma forma de arte, equiparando-o, e até mesmo tratando-o como
superior às outras manifestações da arte, como o cinema. O autor ainda desconstrói e analisa toda
a estrutura que compõe um jogo, desde seus personagens ao cenário, reservando um capítulo
para a análise de cada um. O livro conta ainda com a dica de vários profissionais da área para
começar a trabalhar com games.
Mas a obra mais completa com certeza foi Game design: theory and practice, por Richard Rouse
(2004). Essa é uma referência para o design de games, e conta com entrevistas de grandes nomes
como Will Wright (criador dos games The Sims e Sim city), Jordan Mechner (de Prince of
Persia) e Ed Logg (de Centípede), Sid Meier (de Civilization), além de fazer uma análise de
vários jogos de sucesso, mostrando porque eles são tão divertidos, analisando os diferentes
elementos que os compõe, como HUD, dificuldade, tecnologia usada, história, inteligência
artificial e gameplay. Conta ainda com uma sessão dedicada ao documento de game design.
A segunda parte observada na pesquisa aconteceu com o levantamento de processos interativos
com interfaces baseadas em movimento - análise de similares; Os seguintes jogos foram
analisados: Kinect adventures (fig. 1) e Gunstringer (fig. 2), ambos para o console Xbox 360. No
Capa Índice 8752
primeiro, o jogador participa de diversas atividades e aventuras, usando o movimento do corpo
como controlador de comandos para o sistema; no jogo, há um avatar que executa os mesmos
movimentos que o jogador, em um espelhamento de movimento executados. No segundo, o
jogador controla uma marionete em um cenário de velho oeste, usando a mão esquerda estendida
para controlar a direção que ela irá seguir e levantando-a para fazer a marionete saltar, e a direita
para mirar e atirar. Novamente os gestos são a base de interação, identificadas como sistemas
não-convencionais. Neste sentido apontam-se o teclado, mouse e joystick como sistemas
convencionais de interação, enquanto visão computacional, sensores e hardwares específicos de
games são classificados enquanto não convencionais.
Fig. 1 – Interface gráfica de jogo Kinect adventures Fig. 2 –Interface do jogo Gunstringer Finalizada a pesquisa bibliográfica, ocorreu a pesquisa tecnológica, explorando algumas
possibilidades de uso de ferramentas disponíveis. Nessa etapa foi escolhida uma game engine
para adquirir alguma noção do processo técnico que envolve a criação de um jogo, no caso a
engine escolhida foi o GameMaker. O jogo criado foi The eternal fight, um game multiplayer
onde dois jogadores controlam criaturas voadoras semelhantes a morcegos que devem se
enfrentar em vários níveis diferentes, coletando armas para se destruírem e kits médicos para se
curarem. Essa parte foi crucial para se ter uma noção do que seria possível fazer no protótipo do
jogo final. A instância tecnológica é base para a concepção de desenvolvimento de games
(BOBANY, 2008).
Depois desse primeiro contato com uma game engine, ocorreu o desenvolvimento de um
gamedesign - projeto de design de game propriamente dito. Enquanto resultado desta pesquisa,
apresenta-se resumidamente sua concepção, já na forma do game design document:
Let’s ride to Metal Land – Documento de Game Design
Capa Índice 8753
1. Visão Geral 1.1- Introdução – Let’s ride to Metal Land coloca o jogador em uma jornada para salvar Metal Land, a terra sagrada dos headbangers, da corrupção causada pelo PopMaster. Na pele de um misterioso personagem trajando uma máscara e um balde na cabeça, o jogador deve avançar por todos os setores de Metal Land, até finalmente se encontrar com PopMaster e salvar a terra sagrada da corrupção.
1.2- Descrição – Let’s ride to Metal Land é um jogo de plataforma para PC – personal computer -, cuja atmosfera faz com que o jogador se sinta na terra do metal, tanto a partir da trilha sonora como também dos personagens e cenário. O jogo possui as características e objetivos básicos de um jogo de plataforma: o jogador deve avançar através dos níveis (ou fases) cada vez mais difíceis, contando com diversos itens para ajudar no caminho, assim como muitos inimigos para dificultar a jornada. Poderá ser jogado tanto no teclado como no Kinect, o sistema não convencional baseado em sensores e visão computacional da Microsoft desenvolvido para o console Xbox 360..
1.3 – Gênero – Aventura/Plataforma.
1.4 – Público alvo – O jogo tem como audiência o público jovem: crianças e adolescentes.
1.5 – Aspectos visuais que conduzem a sensações – O jogo possui um clima comum a esse estilo de jogo (plataforma): cenários coloridos com cores saturadas, plataformas flutuantes e inimigos que ficam perambulando de um lado para o outro. A principal diferença acontece na trilha sonora (versões em 8 bit de músicas clássicas de metal) e na aparência dos inimigos. 2. Escopo do projeto 2.1 – Número de locais –7 Os locais são um conjunto de níveis com características específicas. Cada local possui uma média de 2 a 3 níveis.Os locais onde ocorrem lutas contra bosses possuem apenas um nível.2.2- número de níveis- 122.3 – Número de Itens – 5Alguns itens poderão ser encontrados ao longo do jogo, sendo eles: -Guitarra: permite ao jogador atirar notas musicais para destruir inimigos. Ao ser equipada, o Sprite do personagem muda. Cada vez que é coletada, ela concede ao jogador 10 notas musicais, e quando não há mais nenhuma restando, o sprite do personagem volta ao normal. -Cogumelos: aumentam o score do jogador. -Metal hand- deixa o jogador invulnerável por alguns segundos, fazendo com que os inimigos sejam destruídos ao contato. Ao ser coletado , o personagem fica com um campo de energia amarelo em volta. -Marcador de vida- aumenta a vida do jogador em um. -Dragonslayer- espada que permite matar dragões com um golpe.
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2.4 - Número de NPC - 12 Qualquer personagem que não seja controlado pelo próprio jogador é um NPC (Non Player Character). Esse termo abrange todos os inimigos e bosses (chefões) , além de qualquer outro personagem não combativo. Neste jogo os NPC se compõem de:: - Popboy: criatura sem grande poder, trajando roupas coloridas. - Flyer: criatura voadora que se assemelha a um dinossauro. - Troll: ser robusto e grande, trajando armadura, escudo e espada. - Metalhead: músico corrompido, de cabelos longos e roupas negras. - Skeleton: esqueleto humano que utiliza uma espada como arma . - Black Troll: versão mais poderosa do Troll, conta com uma coloração mais escura. - Epic Troll: versão épica do Troll, conta com equipamentos dourados e uma aura radiante. - Dragon: dragão vermelho, capaz de voar e soltar bolas de fogo. - Informer: únicos NPCs que possuem falas, e também os únicos não hostis. Usam vestes brancas. Além desses, o jogo conta ainda com 3 Bosses, descritos adiante.
3. Gameplay e mecânicas 3.1 – Gameplay 3.1.1 – Progressão no jogo – Enquanto os primeiros níveis apresentam apenas inimigos sem grande dificuldade para serem derrotados e o cenário não exige uma estratégia complexa para que se avance de nível, os níveis mais avançados são infestados por inimigos poderosos, sendo que muitas vezes o jogador não contará com os itens apropriados para derrotá-los. Além disso, outro marco de dificuldade são os bosses(chefões), no final de cada cenário.
3.1.2 – Objetivos do jogo – Destruir o Pop Master, acabando assim com a corrupção de Metal Land. Mecanicamente, o objetivo é avançar através dos níveis, alcançando a placa que funciona como um portal para o nível seguinte. Um objetivo secundário é acumular o máximo de pontos possível, mantendo o nome do jogador na tabela de high score.
3.2 - Mecânicas 3.2.2 Movimento geral – Há duas maneiras de o jogador se movimentar no jogo, sendo uma delas com o teclado, utilizando as setas para correr e pular e a barra de espaço para atirar. A outra é com o movimento do próprio corpo, movendo o personagem com a mão esquerda e atirando com a direita. O uso preferencial será do corpo, sendo utilizado o sistema convencional apenas quando houver problemas com o sistema principal.3.2.3 Física – Como na maioria dos jogos de plataforma, a física é bem surreal, com os personagens saltando várias vezes mais alto do que um humano normal, além de não morrer devido a quedas altas.3.2.4 Combate – Há três maneiras de se derrotar um inimigo: saltando em cima, atirando notas musicais (ação possível depois de coletar uma guitarra) ou enquanto está sob o efeito da invulnerabilidade proveniente da metalhand. Contato frontal faz com que o jogador perca uma vida (inicialmente o jogador possui o correspondente a 3 vidas, mas vidas adicionais podem ser coletadas ao longo do jogo através dos marcadores de vida) e renicie o nível atual, e nem todos os inimigos podem ser mortos saltando por cima. A
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nota musical e o salto reduzem em uma unidade de vida o quantitativo mantido por cada NPC. Todos os inimigos são afetados pela metalhand, com exeção dos bosses.
Inimigo Afetado por salto Unidade de vidaPopboy sim 1Flyer não 1Troll não 5
MetalHead, skeleton sim 2Black Troll não 7Epic Troll não 10
Dragon sim 10
3.2.5 – Coletando objetos – Para coletar qualquer item, o jogador deve posicionar o avatar acima do item desejado.
4.1 Descrição das telas – Propósito de cada tela 4.1.1 – Menu principal – A tela do menu principal consiste em uma imagem do personagem principal ao fundo e um botão de start no centro. Um pouco abaixo há o botão de ajuda. Nessa tela, toca-se ao fundo a música “cowboys from hell” em uma versão 8 bits.
4.1.2 Start- Ao clicar, o jogo inicia no Nível 1.
4.1.3 Ajuda- Aqui são explicados os comandos para movimento.
4.1.4 Mapa- um mapa aparece entre cada stage para que o jogador se situe e veja o quanto já avançou no game. Uma seta bem grande e brilhosa indica a localização do jogador. A tela fica presente até que o jogador aperte Enter ou levante os 2 braços para cima , caso esteja jogando com o Kinect.4.1.5 tela final - as palavras “the end” aparecem na tela, e o jogador pode apertar enter para colocar o nome no highscore. Enquanto permanecer ativa , a versão 8 bit de Stairway to heaven é tocada..
5. Ações5.1 escalar- a ação de escalar acontece quando o personagem entra em contato com o objeto escada. A Sprite do personagem muda para ele de costas, e o jogador, ao usar o Kinect, poderá mover a mão esquerda para cima e para baixo ou poderá apertar as setas do teclado para cima e para baixo, para mover o personagem.
5.2 conversar- Qualquer diálogo aparece automaticamente na tela , em uma caixa de texto , e o jogador tem a opção de apertar ‘’ok’’ ou ‘’enter’’ para fechar a conversa, ou levantar o braço direito, para ser mostrada a próxima fala.
6. Sessão 3 – Estória , narrativa e personagem.
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6.1. Estória e narrativa6.1.1. Estória de fundo- Há um terra chamada Metal Land , uma espécie de paraíso musical com vários setores dedicados para cada vertente do metal. O personagem principal está em uma jornada para lá , mas quando chega descobre que a região foi corrompida por um ser denominado ‘’PopMaster’’, fazendo com que os habitantes do local ficassem agressivos.
6.1.2. Progressão no jogo- O personagem não sabe da invasão da back story, até conversar com um NPC no nível 5. A partir daí , a história não progride.
6.2. Mundo de Jogo 6.2.1. Local #1 Road to metal Land 6.2.1.1.Descrição geral- Essa área é a única que não se passa em Metal Land, possui um clima bem colorido e como background um céu azul. 6.2.1.2.Características físicas - plataformas verdes e blocos de pedra formam a maior parte do cenário. 6.2.1.3.Níveis que usam esse local- 1, 2 e 3. 6.2.1.4.Inimigos- Popboy , flyer , troll. 6.2.2. Local #2 Metal Land Gate 6.2.2.1.Descrição geral- Essa área é onde acontece a luta contra o primeiro boss. No background pode ser visto o portão de ML.6.2.2.2.Características físicas- Possui alguns blocos de pedra que funcionam como proteção contra as bolas de fogo do dragão e também para ajudar a saltar em cima do mesmo.6.2.2.3.Inimigos - Guardian Dragon.6.2.2.4 - Níveis que usam esse local - 4
6.2.3. Local#3 Thrash Metal quarter- 6.2.3.1. Descrição geral - Essa é a primeira área em ML, possui uma aparência rústica. Possui um background de cor metálica. Logo no começo do nível 5, um NPC explica a back history para o personagem e, no final do nível 6, outro diz que Popmaster se encontra em outro quarter da ML.6.2.3.2 - Características físicas- Os blocos parecem todos feitos de metal ou ossos.6.2.3.3 – Inimigos - metalhead, troll.6.2.3.4 - Níveis que usam esse local - 5 e 6.
6.2.4 – Local #4 - Black metal quarter6.2.4.1 – Descrição geral - a parte mais sombria de ML, com um background totalmente negro. No final do nível 8, um NPC explica que Popmaster está tentando chegar na “stairway to heaven” e, para chegar até lá, o personagem deve antes passar pela power metal land.6.2.4.2 – Características físicas - Tudo parece feito de trevas, exceto pelos blocos, que são feitos de pedra para evitar que o jogador fique totalmente perdido.6.2.4.3 - Inimigos: Black Troll, Metalhead, Skeletons6.2.4.4 - Níveis que usam esse local: 7 e 8
Capa Índice 8757
6.2.5 - Local #5 Power Metal quarter-6.2.5.1- Descrição geral- Essa é a parte épica de ML, habitada pelas mais perigosas criaturas. No final do stage 10 , um dragão se oferece para levar o personagem até a stairway.6.2.5.2-Características físicas- tudo é feito de material dourado e brilhante, com muitas torres enormes.Essa área exige uma precisão grande nos saltos. 6.2.5.3- inimigos- Dragon , epic troll 6.2.5.4- Níveis que usam esse local: 9 e 10.
6.2.6 Local# 6 Through the fire and flames6.2.6.1 Descrição geral- nessa area ocorre a batalha contra o epic dragon, e é a única área aérea. O personagem está montado no dragão do stage 10, e deve lutar contra outro em uma batalha no ar. 6.2.6.2 Características físicas- não possui blocos de apoio, apenas os blocos que marcam os limites da room. 6.2.6.3-Inimigos: Epic dragon Níveis que usam esse local: 11
6.2.7 - Local# 7 stairway to heaven 6.2.7.1 Descrição geral- essa é a ultima área do jogo, possui como background algumas nuvens com uma espécie de luz sagrada saindo por detrás. Quando Popmaster é derrotado, a tela fica preta por alguns instantes e então é exibida a tela final. 6.2.7.2 Características físicas- blocos dourados colocados na disposição de uma escada. 6.2.7.3 Inimigos - Pop Master.Níveis que usam esse local: 12
6.3. Personagens6.3.1. Buckethead 6.3.1.1 - A personalidade não é desenvolvida na história , assim o jogador tem mais facilidade de se identificar com o personagem. Ele se demonstra prestativo em ajudar os habitantes de ML.6.3.1.2. Aparência 6.3.1.2.1 - Características físicas – Cabelos longos, usa um balde e uma máscara branca, além de uma capa de chuva amarela. Tamanho médio.6.3.1.2.2 - Animações- Andando , escalando , segurando guitarra, empunhando espada, envolto por um escudo protetor e montando dragão.6.3.1.3 - Habilidades especiais- Pulo alto.7. - Interface 7.1. Sistema visual 7.1.1. HUD - No canto superior esquerdo da tela, ficam as informações de vidas restantes, itens ativos e score.7.1.2. Câmera - A câmera segue o personagem, de modo que ele ainda tenha uma visão um pouco à frente e atrás.
Capa Índice 8758
7.2. Sistema de controle7.2.1 Comandos para teclado: setas esquerda e direita para movimentação do personagem, seta para cima para saltar e subir escadas , seta para baixo para descer escadas e barra de espaço para atirar.
7.2.2 Comandos para Kinect: o jogador deve ficar com a mão esquerda estendida à frente, movimentando um pouco para os lados para a movimentação do personagem, para cima e para baixo para saltar , subir e descer escadas. O alcance efetivo para a movimentação tem um raio de 25cm partindo da mão esticada. A mão direita , quando esticada à frente , atira as notas musicais.Nos menus , o jogador controla o mouse com a mão esquerda , enquanto executa o comando de clicar levantando a mão direita para cima. 7.3. Sistema de ajuda- A tela de ajuda pode ser encontrada clicando no botão ‘’Ajuda’’ no menu principal.
8. Inteligência artificial 8.1. AI inimiga – Monstros e vilões 8.1.1Bosses8.1.1.1 Guardian Dragon- Esse é o dragão que guarda a entrada de Metal Land. Na batalha, fica voando de um lado para o outro enquanto joga três bolas de fogo em direções aleatórias a cada 3 segundos. Quando ele perde metade de seus PVs, começa a voar mais rápido.8.1.1.2 Epic Dragon- Dragão dourado, o dragão mais poderoso de toda Metal Land. Fica voando para cima e para baixo soltando bolas de fodo explosivas.8.1.1.3 Popmaster- Um ser duas vezes maior que o personagem, trajando manto negro e que solta notas musicais pop.
8.2. Non-combat Characters os únicos NPC que não lutam são os informers, que ficam no começo ou final de níveis específicos para dar alguma informação ao personagem.9. Sonoridades9.1. Som9.1.1 -Sons dos itens Guitarra: ao atirar uma nota musical, um som dos instrumento é emitido.Metalhand: enquanto durar o efeito, uma versão 8 bit da música ‘’Jordan’’ é tocada.
9.2. Música 9.2.1.AmbienteLocal 1 Cowboys from hell (8 bit)Local 2 Bloodmeat (8 bit)Local 3 Killing is my business (8 bit)Local 4 Gateways (8 bit)Local 5 Emerald sword (8 bit)Local 6 Through the fire and flames (8 bit)Local 7 Rainning blood. (8 bit)
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Figuras 3, 4 e 5: estudos para cenários e personagens do game.
Para a elaboração desse Game design document , foram feitas as análises de jogos de plataforma,
como Super Mario, Demon’s Crest, Donkey Kong, Sonic e Contra, além da leitura de artigos
sobre game design.
Depois de feito o GDD, a prototipação do jogo pôde ser iniciada, utilizando a mesma engine
citada anteriormente. Para a utilização do kinect em um computador , foi necessário instalar
alguns drivers , sendo eles: OpenNI Unstable Build for Windows v1.0.0.25 , PrimeSense NITE
Unstable Build for Windows v1.3.0.18 e SensorKinect Module.
Resultados e considerações finais
Os resultados esperados eram que, no final do projeto, tivesse-se um protótipo de jogo completo,
que utilizasse os recursos propostos e ter um melhor conhecimento dos processos de criação de
jogos e como utilizar de forma adequada os diversos recursos citados. Ambos foram alcançados.
Mesmo tendo sido concluído, o jogo apresenta alguns resultados não satisfatórios: embora a
jogabilidade ocorra de maneira razoável, algumas questões não foram pensadas ao planejar o
game, como, por exemplo, a necessidade de um espaço grande para que o Kinect reconheça os
movimentos perfeitamente (de em média 3 metros), distância essa que faz com que detalhes do
jogo sejam perdidos, e, dependendo do tamanho do monitor e espaço disponível, pode-se dizer
que ao invés de ocorrer o aprimoramento da experiência de jogo, aconteça justamente o
contrário. Além disso, a escolha desse estilo de jogo (plataforma) não se mostrou muito
interessante ao ser relacionado com o sensor de movimento, pois os personagens são muito
pequenos para se enxergar a uma distância tão grande. Enquanto testava o protótipo, o Kinect foi
Capa Índice 8760
conectado a um notebook, e esse conectado a uma televisão através de um cabo HDMI, com isso
o gameplay melhorou consideravelmente, mas mesmo assim alguns detalhes (como quando
ocorre algum diálogo e o texto fica ilegível) se perderam, além da impossibilidade de escrever o
nome no highscore usando apenas o movimento corporal.
Como consideração final, gostaria de deixar registrada minha frustração em relação ao uso dos
equipamentos básicos necessários para a efetuação da pesquisa. Embora tenham sido adquiridos,
eles nunca chegaram ao laboratório, o que resultou em atraso no cronograma e na realização de
todos os testes com equipamento pessoal.
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Capa Índice 8762
Orientadora: Miriam C Leandro Dorta Aluna: Yasmim Natividade Fonseca Major Revisado pelo orientador
Avaliação da imunogenicidade das proteínas recombinantes TSA e LACK de
L.(V).braziliensis.
Yasmim Natividade Fonseca Major, Grazzille Guimarães Mato, João Pedro Torres
Guimarães, Miriam Leandro Dorta
Instituto de Patologia Tropical e Saúde Publica, Universidade Federal de Goiás
E-mail: [email protected]
Palavras-chave: Leishmania (V.) braziliensis, TSA, LACK, imunogenicidade
1 INTRODUÇÃO
As leishmanioses compreendem um grupo de doenças que apresentam características
clínicas, histopatológicas e imunológicas distintas, sendo uma protozoose causada por
parasitos intracelulares do sistema fagocítico mononuclear pertencentes ao gênero
Leishmania. Essa doença é uma zoonose primariamente de animais silvestres, sobretudo
roedores, sendo transmitido por flebotomíneos de florestas tropicais.(Gontijo & Carvalho,
2003; Ameen, 2010).
As espécies de Leishmania patogênica para o homem, presentes na América Latina,
pertencem a dois subgêneros: (1) Viannia representado por L. braziliensis, L. panamensis, L.
guyanensis e L. peruviana, causam lesões cutâneas e mucocutâneas e (2) Leishmania
representado por L. mexicana e L. amazonensis, causam envolvimento cutâneo localizado ou
difuso (Silveira e cols, 2009). Na leishmaniose Visceral (LV) os parasitos apresentam elevado
tropismo pelo sistema fagocítico mononuclear do baço, fígado, medula óssea e dos tecidos
linfóides. As espécies envolvidas são L.donovani, L.infantum e L.chagasi (Handman, 2000).
A doença é transmitida pela picada de fêmeas de insetos da subfamília Phlebotominae,
representados pelo gênero Phlebotomus e Lutzomia. A infecção se dá durante o repasto
sanguíneo, e a saliva do inseto desempenha um papel relevante na infecção.
Cerca de 90% dos casos de Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) no Brasil são
causados por L. (V.) braziliensis, e esta é a espécie que desenvolve as lesões mais graves e
que está frequentemente associada à invasão de mucosas (Degrave & Romanha, 1999;
Silveira e cols, 2009).
Capa Índice 8763
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8763 - 8777
Estudos têm demonstrado que o espectro clínico da doença está relacionado com as
diferentes espécies de Leishmania (Laisson & Shaw, 1987; Silveira e cols, 2009) e com a
interação entre o parasito e o hospedeiro (Ameen, 2010).
Os antimoniais pentavalentes são indicados para o tratamento de todos os tipos de
manifestações clínicas de leishmaniose, embora as formas mucosas e mucocutâneas exijam
maior cuidado, por apresentarem resposta mais lenta e maior possibilidade de recidivas. Não
havendo resposta satisfatória com o tratamento pelos antimoniais pentavalente, as drogas de
segunda escolha são a Anfotericina B e a Pentamidina (Stebut, 2007; Tuon e cols., 2008).
Podem ocorrer um ou mais efeitos colaterais, tais como artralgias, mialgia, inapetência,
náuseas e outros. Os antimoniais pentavalentes vêm sendo usado para tratar leishmaniose por
mais de 70 anos, e não surpreendentemente, resistência a essas drogas tem aumentado (Duthie
e cols, 2011).
A quimioterapia utilizada é severamente limitada por fatores como alto custo, toxidade
e vias de administração (Duthie e cols.; 2011). A ausência de medidas profiláticas eficientes e
de uma vacina efetiva justifica a necessidade de mais estudos sobre a resposta imune durante
a leishmaniose que sirvam como base para o desenvolvimento de novas formas de
imunoprofilaxia e imunoterapia (Silveira e cols, 2009; Modabber, 2010).
Se disponível, a vacinação poderia ser uma ferramenta promissora para o controle da
LTA. Com os avanços das técnicas moleculares, peptídeos e antígenos derivados de DNA
recombinante têm sido produzidos e estudos com estes têm se tornado um importante
instrumento para identificar possíveis candidatos para uma vacina protetora contra a
leishmaniose (Coler & Reed, 2005; Khamesipour e cols, 2006; Salay e cols, 2007).
Tentativas de vacinação profilática em seres humanos contra as leishmanioses têm
sido realizadas em diferentes partes do mundo (El-On, 2009; Nascimento e cols, 2010).
Durante os últimos vinte anos, MAYRINK e cols (1979; 2006; Botelho e cols, 2009) deram
sequência a estes estudos e desenvolveram a primeira geração de vacina composta de cinco
diferentes espécies de leishmânias mortas, que já foi submetida a triagens clínicas e
atualmente tem sido utilizada na imunoprofilaxia da LTA, associada ao tratamento
convencional (Cardoso e cols, 2003). Uma versão mais simplificada desta vacina foi
padronizada, utilizando apenas uma espécie de parasito, L. (L.) amazonensis
Capa Índice 8764
(IFLA/BR/67/PH8), vacina monovalente (BIOBRÁS) que está sendo testada e tem
apresentado resultados similares à fórmula original, porém estudos sobre o seu potencial
imunogênico e diferentes esquemas de imunização ainda estão sendo avaliados (De Luca e
cols, 1999; Armijos e cols, 2004)
A vacinação genética contra leishmaniose cutânea experimental em camundongos
BALB/c altamente suscetíveis à infecção por L.(L.)major foi descrita com um plasmídio
contendo o gene do antígeno LACK (“Leishmania Activated C Kinase”) de L.(L.)major,
L.(L.) amazonensis, L. infantum, L. mexicana, L donovani e L. chagasi (Dumonteil, 2007). Os
animais imunizados apresentaram uma resposta imune do tipo Th1 semelhante à de animais
imunizados com a proteína LACK recombinante, juntamente com IL-12 recombinante
(Gurunathan e cols, 1997, Perez-Jimenez e cols, 2006). Foi demonstrado que a vacinação
genética com plasmídios contendo os genes do antígeno TSA (“Thiol Specific Antioxidant”)
ou LmSTI1 (“Leishmania major Stress Inducible protein 1”) foi capaz de induzir resposta
imune protetora contra a infecção por L.(L.)major em camundongos altamente suscetíveis
BALB/c (Mendez e cols, 2001 e 2002; Badiee e cols, 2007).
Além da vacinação genética, os antígenos TSA, LmSTI1 e Leif (“Leishmania
elongation initiation factor”) de L.(L.)major estão sendo utilizadas em estratégias de
imunização em formulações separadas ou conjuntas de poliproteínas, mostrando-se em todos
os casos, capazes de conferir proteção (Cooler & Reed, 2005; Coler e cols, 2007; Chakravarty
e cols, 2011).
Dados demonstram que as diferentes leishmanioses cutâneas são distintas em sua
etiologia, epidemiologia, transmissão e distribuição geográfica e que durante o curso da
infecção, cada fase é desencadeada por interações de grupos distintos de moléculas do
parasito com um compartimento da resposta imune específico. Num segundo nível de
regulação estariam os fatores genéticos do hospedeiro e fatores ambientais (Chang &
Mcguire, 2002). Assim, é de grande importância para o controle da LTA no Brasil, que
estudos sejam realizados com o objetivo de identificar proteínas imunogênicas para que sejam
testadas e utilizadas como potenciais antígenos para o desenvolvimento de uma vacina
protetora e duradoura para a LTA.
2 OBJETIVOS
Capa Índice 8765
Avaliar a imunogenicidade das proteínas recombinantes LACK e TSA de
L.(V.)braziliensis.
2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Os objetivos específicos alcançados no presente projeto foram:
Produção em grande escala das proteínas recombinantes LACK e TSA de L.(V.)braziliensis.
Purificação das proteínas recombinantes produzidas em grande escala e quantificação das
proteínas recombinantes solúveis.
Caracterização da imunogenicidade das proteínas rLACK e rTSA pela imunização de
camundongos BALB/c.
Detecção de anticorpos específicos contra rLACK e rTSA produzidos por camundongos
imunizados utilizando Western Blotting.
3 METODOLOGIA
3.1 Produção de proteínas recombinantes (LACK e TSA) por bactérias E.coli em
grande escala
Inicialmente foi feito o pré-inóculo, colocou-se uma colônia de E.coli transformada em
50 mL de meio Lb (Invitrogen) contendo ampicilina (100 mg/mL) e este foi incubado por 18 hs
sob agitação (shaker) a 37ºC. Em seguida foi adicionado 3 mL do pré-inóculo em quatro (4)
erlenmayer de 250 mL contendo meio de cultura e este foi mantido sob agitação (shaker) por 2
hs a 37ºC. A D.O. foi aferida a cada 30 minutos no espectofotômetro, e depois de cerca de 2-3
hs, quando a D.O. atingiu entre 0,4-0,6 foi adicionado 200 μL de IPTG 1 M nos 4 erlenmayers.
Após incubação sob agitação a 37ºC por 3 hs, as bactérias foram colocadas em tubos de plástico
de 50 mL e centrifugadas a 5.000rpm por 20 min a 10ºC. O sobrenadante foi descartado e o
pellet ressupenso em 15 mL de solução de Binding Buffer Uréia 8 M. As amostras foram
preparadas contendo 900 μL das proteínas e 100 μL de Tampão de Amostra (5x) com β-
mercaptoetanol e fervidas por 3 minutos à 100°C. Foram feitos géis grandes de poliacrilamida
10% onde por meio de eletroforese durante 6 horas e 30 minutos à 110 V, purificou-se as
proteínas recombinantes. Para evidenciar a proteína no gel e extraí-la para sua eluição,
adicionou-se uma solução gelada de cloreto de potássio sobre o gel de poliacrilamida,
evidenciando uma banda opaca, onde foi cortada, macerada e colocada em um tubo de 50 mL
contendo 5 mL de água Milli-Q e este foi deixado sob agitação no shaker à temperatura de
Capa Índice 8766
20°C à 156 rpm por 18 hs. Em seguida coletou-se o sobrenandante e este foi colocado em um
saco de diálise e este foi colocado dentro de um béquer contendo 2 litros de PBS (1x). Deixou-
se a uma temperatura de 4°C, sob agitação, trocando-se a solução de PBS (1x) 3 vezes por dia,
durante 48 horas. As proteínas foram estocadas em eppendorfs de 500 μL contendo 10 μL de
“Inibidores de proteases”, as amostras foram congeladas a -20oC para posterior dosagem de
proteínas pelo método de Bradford segundo protocolo descrito pelo fabricante.
3.2. Imunizações:
Foram utilizados 24 camundongos, fêmeas, de linhagem BALB/C para as imunizações
com rLACK e rTSA. Estes foram divididos em 3 grupos com oito animais cada seguindo as
imunizações: Grupo 1= 100 ul de uma solução contendo Adjuvante de Freund Incompleto
(AIF) diluído em salina (G1); Grupo 2= 100 ul de uma solução contendo 10ug/ml rTSA
+AIF diluídos em salina (G2); Grupo 3= 100 ul de uma solução contendo 10ug/ml rLACK +
AIF diluídos em salina (G3). Os animais foram previamente imunizados com Adjuvante
Completo de Freund 21 dias antes de começar o esquema de imunização com as proteínas.
Após esses 21 dias, os animais foram imunizados três vezes pela via subcutânea (no dorso do
animal), com intervalo de 21 dias. A cada esquema de imunização dois camundongos eram
eutanasiados para a obtenção do sangue para a posterior avaliação da imunogenicidade.
3.3 Avaliação da imunogenicidade das proteínas recombinantes por Western blotting:
A avaliação da produção de anticorpos específicos para as proteínas recombinantes
utilizadas durante a imunização dos animais foi feita pela técnica de Western Blotting.
Inicialmente foi feito SDS-PAGE com as proteínas recombinantes rTSA e rLACK. Após
eletroforese as proteínas separadas no gel de poliacrilamida foram transferidas para membrana
de nitrocelulose através de uma cuba de transferência à 100 V. Após a transferência para a
membrana de nitrocelulose por meio de cuba eletroforética, contendo tampão de transferência, a
100 V durante 60 minutos. Em seguida esta foi corada com Ponceau Red 0,1% para evidenciar as
banda e cortada em tiras de acordo com as bandas demarcadas, especificadas para o tipo de
proteína que continha, se rLACK ou rTSA.
Capa Índice 8767
A membrana foi incubada em solução de bloqueio (PBS contendo 6% de soro fetal
bovino) durante 18 horas a temperatura ambiente (ta) sob agitação. Em seguida a membrana
foi incubada com o soro dos camundongos diluído na solução de bloqueio (PBS contendo 3%
de soro fetal bovino) na diluição de 1/100. A membrana foi lavada 6 vezes com PBS contendo
0,01% de tween 20 (PBS-T20), sendo que a duração de cada lavagem foi de 5 minutos. O
conjugado (anti-IgG de camundongo marcado com peroxidase – Bio-Rad), diluído na solução
de bloqueio, na concentração de 1/1000 foi adicionado e incubado por 1 hora sob agitação.
Novamente a membrana foi lavada 6 vezes com PBS/T20, sendo 5 minutos cada lavagem.
Após a última lavagem acrescentou a solução reveladora (H202 e DAB) sob agitação até que
as bandas fossem observadas. A reação foi parada com água.
4 RESULTADOS
4.1 Obtenção das proteínas recombinantes LACK-His e TSA-His produzidas por
bactérias competentes E.coli Bl-21 DE3
Segundo dados da literatura, a proteína LACK de L. major é expressa como corpos de
inclusão e apresenta peso molecular de 34 kDa (Gonzalez-Aseguinolaza et al, 1999). No
presente trabalho avaliamos a expressão da LACK recombinante tanto no sobrenadante
quanto no pellet das culturas e verificamos que a maior parte da proteína estava presente no
pellet e as amostras induzidas com IPTG expressaram uma concentração maior de proteína
(Fig 1).
A confirmação da produção em grande escala foi verificada através de SDS-PAGE
conforme mostra a Figura 1.
Segundo dados da literatura, a proteína TSA de L. major é parcialmente solúvel e
apresenta peso molecular de cerca de 22 kDa (Webb, John et. al,1998), podendo dessa forma
ser encontrada não só no “pellet” analisado, como também no sobrenadante. No presente
trabalho avaliamos a expressão da TSA recombinante tanto no sobrenandante quanto no
“pellet” das culturas e verificamos que as amostras induzidas com IPTG expressaram uma
concentração maior de proteína no pellet (Fig. 2).
O pellet das culturas de bactérias E. coli Bl 21 DE3 obtidas em grande escala foram
congelados e foram processados posteriormente para purificação das proteínas recombinantes,
rLACK e rTSA.
Capa Índice 8768
Figura 1. Avaliação da expressão da proteína recombinante, rLACK, por bactérias
competentes, E.coli, Bl21-DE3 através de SDS-PAGE. Gel de Poliacrilamida 12% foi
utilizado para analisar a expressão de rLACK em cultura produzida em grande escala.
Canaletas: 1- Padrão de peso molecular, 2- Proteína LACK, 3- Pellet da cultura tratada com
Uréia induzida com IPTG 0,1M. Gel corado com solução corante Comassie Blue.
Figura 2. Avaliação da expressão da proteína recombinante, rTSA, por bactérias
competentes, E.coli, Bl21-DE3 através de SDS-PAGE. Gel de Poliacrilamida 12% foi
utilizado para analisar a expressão de rTSA em cultura produzida em grande escala.
Canaletas: 1- Padrão de peso molecular, 2- Proteína TSA, 3- Pellet da cultura tratada com
Uréia induzida com IPTG 0,1M. Gel corado com solução corante Comassie Blue.
60-
kDa 1 2 3
20-
40-
kDa 1 2 3
20-
Capa Índice 8769
4.2 Purificação e eluição das proteínas recombinantes produzidas em grande escala.
As amostras obtidas foram submetidas a eletroforese em gel de poliacrilamida e as
bandas precipitadas com KCL foram cortadas e em seguida as proteínas foram eluídas. A
Figura 3 mostra as proteínas rLACK e rTSA obtidas.
Figura 3. Proteínas recombinantes, rLACK e rTSA de L.(V.) braziliensis. Gel de Poliacrilamida
12% foi utilizado para analisar a pureza das proteínas rLACk e rTSA obtidas em cultura produzida de
E. coli em grande escala. Canaletas: 1- Padrão de peso molecular, 2- Proteína rLACK, 3- Proteína
rTSA. Gel corado com solução corante Comassie Blue.
4.3 Avaliação da imunogenicidade das proteínas recombinantes LACK e TSA de
L.(V).braziliensis.
As proteínas rTSA e rLACK purificadas foram inoculadas no dorso de camundongos
BALB/c em três doses. Para as imunizações essas proteínas foram preparadas juntamente com
o Adjuvante Incompleto de Freund, uma emulsão que estimula a resposta inflamatória. Após
as imunizações, os soros dos camundongos imunizados foram obtidos para avaliar a presença
de anticorpos específicos para rTSA e rLACK. Foi feita a avaliação da imunogenicidade das
proteínas pela técnica de Western Blott.
A Figura 4 mostra a eficácia da transferência das proteínas rLACH e rTSA do gel de
poliacrilamida para a membrana de nitrocelulose.
29--
kDa 1 2 3
43-
66-
Capa Índice 8770
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Figura 4. Membrana de Nitrocelulose após transferência das proteínas rTSA e rLACK.
Canaletas: De 1 a 8 - Demarcações contendo a proteína rTSA-His, De 9 a 15 - Demarcações
contendo a proteína LACK-His impregnada. Membrana de nitrocelulose corada com solução
Ponceau Red.
Depois de transferir as proteínas para membranas de nitrocelulose, estas foram
cortadas em tiras e através de Western blott, avaliou-se a sua reatividade com o soro dos
camundongos imunizados com as respectivas proteínas. Os resultados podem ser observados
nas Figuras 5 e 6 para a proteína rTSA e rLACK, respectivamente.
Analisando as Figuras 5 e 6 observa-se que os anticorpos dos soros dos imunizados
com as proteínas rTSA e rLACK reconheceram de forma bastante específica as proteínas
produzidas e purificadas no presente projeto.
22 kDa 34 kDa
Capa Índice 8771
1 2 3 4 5
Figura 5. Reconhecimento da proteína recombinante TSA por anticorpos de
camundongos imunizados com rTSA pela técnica de Western Blott. Canaletas: 1
Controle positivo. Canaletas 2 a 4: Soro dos camundongos imunizados com a rTSA., 5-
Controle negativo da reação. Foi utilizado DAB para revelar a reação.
22 kDa
Capa Índice 8772
1 2 3 4 5
Figura 6. Reconhecimento da proteína recombinante TSA por anticorpos de
camundongos imunizados com rLACK pela técnica de Western Blott. Canaletas: 1
Controle positivo. Canaletas 2 a 4: Soro dos camundongos imunizados com a rLACK., 5-
Controle negativo da reação. Foi utilizado DAB para revelar a reação.
5 DISCUSSÃO
O presente trabalho teve como objetivo principal a avaliação da imunogenicidade das
proteínas recombinantes LACK e TSA de L.(V.)braziliensis e esta foi demonstrada pela
presença de anticorpos específicos contra estas proteínas no soro de camundongos imunizados
com as respectivas proteínas. Quando animais foram imunizados com as proteínas
recombinantes, detectamos por Western blotting que anticorpos específicos foram gerados em
todos os grupos de animais.
Houve um reconhecimento das proteínas recombinantes por anticorpos IgG
produzidos durante a imunização dos camundongos, o que corrobora dados da literatura que
relatam que essas proteínas de superfície da Leishmania são imunogênicas, o que as tornam
34 kDa
Capa Índice 8773
boas candidatas a vacina para leishmaniose. Segundo Ahmed (2008), vacinas com proteínas
recombinantes em comparação com vacinas inativadas são mais simples e baratas de se
produzir e foi desmontrado que são capazes de induzir uma resposta imune tanto de células T
CD4+ quanto CD8+.
Embora seja desmonstrado a sua capacidade de gerar anticorpos IgG não se sabe se
estas proteínas sejam capazes de gerar uma resposta imune completa e duradoura. A
Leishmania é composta por diversos antígenos que conseguem driblar o sistema imune. Por
isso a associação de diversos antígenos numa mesma vacina pode representar uma boa
estratégia para melhorar a resposta imune (Ahmed, 2008). A associação destas proteínas
recombinantes com adjuvantes pode melhorar a resposta imunológica, pois esses antígenos
quando administrados sozinhos propicia uma baixa atividade imunológica. Estudos anteriores
comprovam que o uso de adjuvantes aumentou em 82% a eficácia destes antígenos nas
vacinas (Mohammand e cols, 2011).
6 CONCLUSÕES/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foram obtidas proteínas recombinantes rLACK e rTSA através da produção em
grande escala, analisadas por SDS-PAGE.
A reação de Western Blotting demonstrou o reconhecimento das proteínas produzidas
e purificadas no presente projeto por anticorpos do soro de pacientes com LTA,
concluindo que as proteínas LACK-His e TSA-His produzidas são imunogênicas.
No presente estudo foi possível comprovar a imunogenicidade das proteínas
recombimantes TSA e LACK demonstrada pela reação de Western Blotting. Estas proteínas
são candidatas a vacinas, entretanto é necessário que sejam feitos mais estudos para se avaliar
melhor o perfil da resposta imune induzida e se são capazes de gerar uma resposta imune
protetora e duradoura.
7 REFERÊNCIAS
Capa Índice 8774
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Capa Índice 8777
METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DE DIAGNÓSTICO DE SISTEMAS
DE TRANSPORTES FERROVIÁRIOS DE CARGAS
1Ítalo Teles Machado, 2Cristiano Farias Almeida e 3Juliana Gomes Gularte
Palavras-chave: Planejamento de transporte, sistema de transporte ferroviário de carga,
diagnóstico, anamnese.
1. Introdução
Sabe-se que as atividades de uma sociedade sempre dependerão dos
deslocamentos de pessoas e mercadorias. Especialmente no Brasil, o qual é
caracterizado por ser um país de dimensões continentais, há um grande potencial em se
utilizar o modo de transporte ferroviário, especificamente no que se refere ao
deslocamento de cargas (IPEA, 2010).
Sendo o Brasil, um país com tal potencial, é pertinente lembrar que são poucos
os estudos voltados para SFTC. Para que um sistema de transporte funcione é
importante que seja feito um planejamento, o qual dependerá de um diagnóstico,
processo esse que identifica e aponta informações importantes que dão forma ao sistema
de transporte ao longo do tempo.
O processo de planejamento de transportes, atualmente desenvolvido, tem sido
criticado pela forma que vem sendo proposto, o qual tende a gerar um plano específico
para se ajustar a um particular uso de solo, negligenciando fatores econômicos,
populacionais, valores sociais, uso do solo e as funções dos diferentes modos de
transporte (BRUTON, 1979).
Com isso os STFC vêm sendo esquecidos pelos profissionais, e sendo o
diagnóstico a peça chave para se desenvolver um planejamento, sem o qual não é
possível traçar as metas e objetivos ou estabelecer a situação desejada, pois qualquer
decisão a ser tomada está calcada no resultado do diagnóstico. Só é possível identificar
os problemas e encontrar as soluções mais adequadas por meio de um diagnóstico que
reflita o estado do objeto (TEDESCO, 2008).
Assim, surge à necessidade de se propor uma metodologia, com o objetivo de
simplificar o estudo dos aspectos envolvidos em um planejamento de um STFC
(elaboração de um diagnóstico), metodologia essa baseada nas ciências da saúde,
1 Aluno, Escola de Engenharia Civil, UFG, e-mail: [email protected] 2 Professor Orientador, Escola de Engenharia Civil, UFG, e-mail: [email protected] 3 Pesquisadora, UnB, e-mail: [email protected]
Capa Índice 8778
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 8778 - 8791
especificamente na medicina. Ciência que já trata do assunto há muito mais tempo que
os estudos da área de transporte.
2. Objetivos
O objetivo principal desse estudo é desenvolver uma metodologia para a
elaboração de diagnóstico de STFC a fim de auxiliar no seu planejamento. Como
objetivos específicos, têm-se:
¥ Identificar os elementos do sistema ferroviário de cargas a serem diagnosticados;
¥ Elaborar a rede semântica do sistema ferroviário de cargas;
¥ Caracterizar o sistema de transporte ferroviário de cargas.
3. Metodologia da Pesquisa
A metodologia do trabalho é baseada em técnicas de documentação direta e
indireta. Quanto à técnica a ser aplicada é a documentação indireta, por meio de
pesquisa bibliográfica e documental, e documentação direta por meio de pesquisa de
campo, além do procedimento a ser realizado por meio de consultas exploratórias com
profissionais e técnicos da área relacionada ao objeto de pesquisa. A metodologia é
constituída pelas etapas seguintes.
Etapa 1: Revisão Bibliográfica
Com o objetivo de dar subsídios teóricos ao desenvolvimento do projeto, os
principais conceitos serão revisados sobre os temas: sistemas de transporte; sistema de
transporte ferroviário de carga; rede semântica; diagnóstico; e anamnese. Tais conceitos
permitem esboçar um cenário de compreensão do tema de pesquisa e subsidiar a
metodologia proposta.
Etapa 2: Metodologia para elaboração de diagnóstico de sistemas de transportes
ferroviários de cargas
Nessa etapa é desenvolvido uma metodologia para elaboração de diagnóstico de
sistemas de transportes ferroviários de cargas. Tal metodologia é baseado nos conceitos
estudados na revisão bibliográfica. Nessa etapa são realizadas as seguintes atividades:
¥ Subetapa 1: Definição do objeto de estudo;
¥ Subetapa 2: Definição do objetivo;
¥ Subetapa 3: Determinação área de estudo;
Capa Índice 8779
¥ Subetapa 4: Avaliação histórica do objeto em função da alteração dinâmica da
área de estudo;
¥ Subetapa 5: Avaliação dos sistemas das regiões adjacentes;
¥ Subetapa 6: Avaliação da operação.
Etapa 3: Conclusões e recomendações
Nessa etapa são identificadas as dificuldades encontradas durante a elaboração
do projeto, apresentadas e analisadas as limitações da proposta. Além disso, são
apresentados os objetivos alcançados, e sugestões e recomendações para trabalhos
futuros a serem desenvolvidos sobre o tema em análise.
4. Revisão Bibliográfica
Nessa seção são descritos os principais fundamentos teóricos que embasaram o
desenvolvimento da pesquisa. Inicialmente será introduzido conceitos relacionados ao
sistema de transporte, com ênfase no sistema de transporte ferroviário de carga,
posteriormente serão descritas as principais caraterísticas das rede semânticas de
estruturação do conhecimento, e finalmente, serão apresentados os conceitos referentes
a diagnóstico e anamnese.
4.1. Sistemas de transporte
A palavra transporte origina-se do latim, a partir da união de trans, que significa
“de um lado a outro”, e portare, que traz a ideia de “carregar”. O ato de transitar
extrapola o aspecto meramente utilitário da locomoção (CEFTRU, 2009).
Um sistema é definido como um conjunto de partes e/ou procedimentos
logicamente ordenados que se integram de modo a atingir um determinado fim, de
acordo com um plano ou princípio. Sua abordagem é um processo de análise no qual se
procura através do raciocínio lógico uma analise formal do problema, tendo como seus
principais elementos: entrada (recursos), saída (resultados) e retroalimentação (controle)
(KAWAMOTO, 1994).
Apesar de se conhecer varias abordagens do conceito de sistemas de transporte,
tanto conceitos filosóficos, quanto práticos, o importante é compreender que, as funções
de um sistema de transporte são definidas pela área geográfica na qual está inserido, e
onde todo tipo de deslocamento é realizado (ALMEIDA, 2008).
4.1.1. Estrutura dos Sistemas de Transportes e seus Componentes
Capa Índice 8780
Como abordado anteriormente um sistema é definido como um conjunto de partes
logicamente ordenadas. Analisando desta forma, as parte são os componentes dos
sistemas de transporte, que na visão clássica são classificados como: veículos, vias,
terminais e plano operacional. Definidos como: (CEFTRU, 2009).
¥ Veículos: são os elementos utilizados para movimentar pessoas e cargas de uma
origem a um dado destino. Exemplos: navios, trens, ônibus, caminhões, entre outros;
¥ Vias: compreendem as conexões que unem dois ou mais pontos, definindo o
trajeto a ser percorrido no deslocamento. É o caso das estradas, hidrovias e ferrovias;
¥ Terminais: são pontos da via em que os fluxos têm origem, destino ou sofrem
transferência de veículo (p.ex.: aeroportos, portos, terminais de ônibus);
¥ Plano operacional: refere-se ao conjunto de facilidades e procedimentos usados
para se obter um funcionamento eficiente e eficaz do sistema.
Com as definições citadas acima, vários autores criaram um série de conceitos a
respeito da classificação e o modo e interação entre as partes, a ideia é criar um modelo
que possa ser usado como base para o estudo. Com a Figura 1, pode-se compreender a
inter-relação entre as partes.
Figura 1: Sistema de transporte e seus componentes (ALMEIDA, 2008).
4.1.2 Sistema de Transporte Ferroviário de Cargas (STFC)
De forma geral, é possível definir uma ferrovia como um “caminho de ferro”.
Especificamente, é um caminho formado por trilhos paralelos de aço, assentados sobre
dormentes de madeira, concreto ou outros materiais (Figura 2). Sobre estes trilhos
correm máquinas de propulsão elétrica, hidráulica ou combustível que tracionam
comboios de passageiros acomodados em vagões-cabines e cargas acondicionadas em
caçambas, contêineres ou tanques (IPEA, 2010).
Capa Índice 8781
Figura 2: Seção transversal de uma ferrovia (RODRIGUES, 2008).
O sistema de transporte ferroviário de carga apresenta como uma das principais
características o alto custo fixo representado pelo arrendamento da malha e dos
terminais – quando eles são operados pelo setor privado, como no Brasil – e elevado
volume de capital imobilizado, com a compra de material rodante. Por outro lado, os
custos variáveis (mão de obra, combustível e energia) são relativamente baixos,
tornando-o eficiente para o transporte de mercadorias de baixo valor agregado e com
grande peso e volume específico.
Assim, o aumento constante na demanda do transporte ferroviário é fundamental
para a diluição dos custos fixos e o aumento da margem de lucro das ferrovias, uma vez
que os retornos são crescentes até que se atinja a capacidade máxima de operação (REIS
apud IPEA, 2010).
Considerando a definição clássica do sistema de transporte, podem-se apresentar
os componentes de um sistema de transporte ferroviário de carga da seguinte forma:
(LEITE, 2010).
¥ Veículos: são as locomotivas e os vagões, sendo a primeira o veiculo que faz a
propulsão para que haja movimento;
¥ Vias: são os trilhos, onde as locomotivas podem se deslocar, porém há uma
superestrutura para a instalação dos trilhos, dividida em: aterro/corte, sublastro, lastro e
dormentes (Figura 2);
¥ Terminais: local onde há entrada e saída de pessoas e cargas que utilizam o
sistema (elemento que conecta os mesmos ao sistema), local onde ocorre basicamente
embarque e desembarque de passageiros e cargas bem como acomodação dos mesmos,
venda de passagens, acomodação e manobra de veículos;
¥ Plano de operação: visa criar facilidades para coordenar e permitir o
deslocamento de cargas e pessoas;
Capa Índice 8782
¥ Eletrificação: em alguns casos, quando a locomotiva é movida à energia
elétrica, o sistema de eletrificação do sistema, que segue em paralelo aos trilhos, é um
dos elementos que faz parte do STF.
4.2. Redes semânticas
Para Real (2003), uma rede semântica é uma notação gráfica composta por nós e
links interconectados. As redes semânticas podem ser usadas para representação de
conhecimento, ou como ferramenta de suporte para sistemas automatizados de
inferências sobre o conhecimento.
Em 1968, Quillian tentou representar a semântica das palavras da língua inglesa
de forma esquemática, como as palavras ficavam armazenadas na memória. Assim ele
construiu uma rede, como um fluxograma mais aprimorado, de como o cérebro tratava
as palavras e chamou o modelo de hierarquia semântica, onde se tinha dois tipos de
correlação: relação hierárquica entre os conceitos e relação das características entre os
objetos (VILLELA; TEDESCO, 2011).
Uma rede semântica não é utilizado apenas para organizar conceitos e
características de certo objeto, vai mais além, ou seja, é usado para correlacionar as
informações, fazer uma ligação entre os aspectos e saber quais as relações entre si,
como mostrado na figura 3.
Figura 3: Rede semântica do fórum “Adolescente e os espaços de aprendizagem
virtuais” (PEPSIS, 2010).
Capa Índice 8783
4.3. Diagnóstico e planejamento de sistemas de transporte
Atualmente o diagnóstico é uma atividade que faz parte do planejamento de
sistemas de transporte, visto como uma das principais ferramentas para se obter
informações suficientes para se elaborar planos eficientes de forma a auxiliar nas
soluções de problemas de transporte.
No entanto, antes de realizar qualquer diagnóstico dentro, torna-se necessário
definir o objeto que se pretende planejar e consequentemente diagnosticar. Nesse
sentido, Galindo (2009) propõe que o diagnóstico deve apresentar uma visão completa e
detalhada de forma suficiente do estado do objeto do planejamento, para que seja
possível comparar o estado atual com a imagem-objetivo. O autor complementa dizendo
que a imagem-objetivo é o estado em que se deseja atingir com a aplicação do plano.
Para Tedesco (2008), o diagnóstico de um sistema de transportes é interpretado
como a avaliação das condições de atendimento das necessidades de transporte, a partir
de parâmetros de referência pré-estabelecidos. A autora afirma também que usualmente
considera-se apenas a oferta e a demanda manifesta (usuários atuais) como a base para a
elaboração do diagnóstico do sistema de transportes e para gerar os parâmetros segundo
os quais as propostas serão estruturadas.
Para Leite (2010) e Almeida (2008), o diagnóstico trata da análise das
características dos elementos contidos na área (geográfica) de estudo, dividindo-se esta
etapa do planejamento em quatro: definição de elementos; levantamento de dados;
descrição dos aspectos dos elementos; avaliação dos elementos (Figura 4). E a partir da
definição e conhecimento dos elementos é possível identificar quais os aspectos mais
relevantes a serem levantados, descritos e avaliados em relação às condições atuais dos
elementos inseridos na área de estudo.
Figura 4: Estruturação da etapa de diagnóstico (LEITE, 2010).
Capa Índice 8784
Analisando as definições citadas anteriores, percebe-se que todas as definições
levam em consideração o levantamento de dados e analise baseados na situação atual do
objeto a ser diagnosticado, sem se preocupar com as alterações dinâmicas que ocorrem
no objeto ao longo de um determinado horizonte de tempo, o que dificulta a
identificação exata dos problemas inerentes ao objetivo, afetando consequentemente o
seu funcionamento. Esse tipo de metodologia já vem sendo utilizada desde o início dos
estudos em planejamento de transporte.
4.4. Diagnóstico na medicina e anamnese
Sabe-se que uma das ciências pioneiras no estudo do diagnóstico é a medicina,
desde o início da convivência social entre os seres humanos, médicos estudam
diferentes formas de se diagnosticar diferentes enfermidades, o que denota um
conhecimento aprofundado nos métodos desenvolvidos para diagnosticar objetos
desconformes. Nesse sentido, nos próximos parágrafos busca-se entender com a
medicina trata o diagnóstico.
O que é saúde, o que é doença? Segundo definição da Organização Mundial de
Saúde (OMS), saúde é um estado completo de bem-estar físico, mental e social, e não
mera ausência de doença ou invalidez. Porto (2001) conclui que a saúde é resultante da
interação de fatores relativos ao indivíduo e à comunidade (resistência, condição de
trabalho, estilo de vida), ao ambiente (dimensões ecológicas e sociais) e ao agente
(físico, químico ou biológico).
Para se elaborar um diagnóstico da doença, como dito em parágrafos anteriores,
o profissional necessita de um método. A metodologia para diagnósticos na medicina é
chamada de semiologia, e a principal ferramenta proposta pelo método é a anamnese.
A palavra anamnese vem do latim e significa aná = trazer de volta e mnesis =
memória. Ou seja, significa trazer de volta à memória os fatos relacionados à doença e a
pessoa doente, que para Porto (2001), é a parte mais importante da medicina.
De forma sintética, pode-se resumir o processo de anamnese, como sendo um
diálogo entre o médico e seu paciente, uma entrevista pautada no conhecimento médico.
Deve ser realizada em um ambiente que traga calma e tranquilidade para o paciente,
pois se trata de uma entrevista que levanta aspectos técnicos e psicológicos. (SILVA,
2005).
Para Silva (2005), a entrevista feita com o paciente pode ser dividida em tópicos.
Em cada tópico são feitas perguntas que podem gerar respostas diretas e objetivas,
Capa Índice 8785
como também podem ser de forma que o paciente relate-a como uma estória.
Lembrando que todo o processo dependerá de como o médico irá conduzir a entrevista,
a autora propõe os seguintes tópicos, os quais podem ser compreendidos com sequencia
de atividades a serem realizadas pelo responsável:
1. Identificação: tem por objetivo identificar o paciente como um todo, são feitas
perguntas como: nome; idade; gênero; grupo étnico; estado civil; profissão/ocupação;
naturalidade/nacionalidade e procedência;
2. Queixa principal: é o motivo pelo qual o paciente procura assistência médica,
pergunta-se do que a pessoa está sentindo para precisar de um médico;
3. História da doença atual: considerado o tópico mais importante da anamnese,
descreve como os sintomas e sinais apareceram, seu comportamento e associação com
outras queixas do paciente.
4. Interrogatório sobre os diversos aparelhos e sistemas: o médico questiona o
paciente sobre inúmeros sinais e sintomas.
5. História mórbida pregressa: tem o objetivo de identificar manifestações
clínicas presentes tendo relação com acontecimentos passados, ou pela presença de
doenças crônicas, ou por condições fisiológicas, ou seja, tenta associar a doença
presente com uma doença ou manifestação do passado;
6. História mórbida familiar: questiona-se sobre doenças presentes em
progenitores, avós, irmãos e cônjuge.
7. História fisiológica e social do paciente: etapa onde são coletados dados sobre
os hábitos do paciente que possam ter repercussão em sua saúde. Hábitos como prática
de exercícios físicos, consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo e alimentação.
A partir do momento que o médico consegue executar os procedimentos
inerentes a anamnese seguindo a estruturação acima, pode-se passar para o exame
físico, e assim é possível obter condições de elaborar o diagnóstico. Deve-se ressaltar
que o processo de realização do diagnóstico na medicina utiliza fatos atuais tendo como
referência o passado do paciente em análise.
5. Metodologia para Diagnosticar Sistemas de Transportes Ferroviários de Cargas
O método foi desenvolvido a partir do comparativo entre as formas usuais de se
diagnosticar sistemas de transportes e a forma com que os médicos usam para se
diagnosticar um paciente, a anamnese, que tem como sua principal característica a
utilização de informações do passado. Com isso foi possível criar um paralelo e elaborar
uma metodologia baseada em técnicas e métodos elaborados na medicina para a
Capa Índice 8786
realização da anamnese. A metodologia elaborada é constituída por seis etapas, que são
e descritas detalhadamente a seguir.
1ª Etapa - Definição do objeto
Esta etapa consiste em identificar e definir qual o sistema de transporte que será
diagnosticado e seus principais componentes, o objetivo principal é deixar claro o que
vai ser estudado limitando-o, para que não haja desvio do foco. De maneira geral esta
etapa limita-se em descrever e identificar o objeto de estudo para tal é necessário
caracterizá-lo, descrevendo seus principais componentes e aspecto. Tal caracterização
será feita por meio de uma rede semântica do objetivo em estudo (figura 5).
Figura 5: Exemplo de estrutura semântica de um STFC.
2ª Etapa – Definição do objetivo
Defini qual objetivo final que pretende-se atingir com a elaboração do
diagnóstico. A definição do objetivo será feita de acordo com a necessidade do objeto,
como por exemplo, maior eficiência do sistema quanto a velocidade.
3ª Etapa – Definição da área de estudo
Essa etapa tem por objetivo delimitar o espaço geográfico onde será trabalhado.
Quando se elabora um diagnóstico é importante limitar a área e tratá-la como um
Capa Índice 8787
sistema fechado, pois é nessa área que serão coletados os dados. Assim é possível
mensurar os dados e criar indicadores, mesmo sabendo que o sistema pode sofrer
influencias das áreas adjacentes.
4ª Etapa – Avaliação histórica do objeto em função da alteração dinâmica da área
de estudo
Essa etapa é responsável por obter e tratar (avaliar) informações da região a
cerca do objeto estudado, visando criar uma correlação entre o objeto e suas regiões
adjacentes. O levantamento de informações não é feito meramente de como a região
está no momento. As informações são levantadas de forma cronológicas, e avaliadas
simultaneamente com as informações levantadas sobre o objeto. Tem por objetivo
buscar um padrão de desenvolvimento para região e como isso influenciou o sistema ao
longo dos anos.
5ª Etapa – Avaliação dos sistemas das regiões adjacentes
Esta etapa trata de um levantamento de informações para uma avaliação dos
sistemas que influenciam o objeto. Um sistema de transporte ferroviário de cargas não
funciona de forma independente, para que as cargas cheguem a um terminal, outros
sistemas ou diferentes modos são usados.
Para levantar as informações dos sistemas das regiões adjacentes, deve-se levar
em consideração quais características influenciam o sistema em estudo. Nesse sentido a
região é caracterizada como na etapa 4, porém não tem a mesma riqueza de detalhes,
apenas o que for relevante para o objeto que se deseja diagnosticar e planejar.
6ª Etapa – Avaliação da operação
Em um sistema de transporte de cargas, a operação é uma das atividades
essenciais para o bom funcionamento. No diagnostico a avaliação da operação é feita
com o objetivo de procurar os problemas e gargalos internos. Em muitos casos um
sistema é subutilizado de forma que não aproveite totalmente sua infraestrutural
instalada.
Nessa etapa são levantados dados sobre a rotina de operação do sistema, e como
nas etapas anteriores, os dados devem ser levantados de forma cronológica, pois é
importante saber como a operação sofreu mudanças ao longo do tempo. Em alguns
casos o problema pode ter origem em tomadas de decisões feitas no passado.
Capa Índice 8788
6. Conclusões
A proposta para a elaboração deste estudo nasceu da grande demanda por
planejamento de transportes que o mundo contemporâneo traz consigo. No entanto,
nota-se que o mesmo propôs uma metodologia voltada para o Sistema de Transporte
Ferroviário de Cargas, o porquê da escolha estão relacionados a dois fatores, a vontade
de aplica-la no corredor centro-norte que tem como um dos terminais o porto seco de
Anápolis-GO e o outro fator é que existe uma maior facilidade de se determinar os
fatores que contribuem para o diagnóstico de um sistema de transporte de cargas. A
ideia de se elaborar tal metodologia também foi para auxiliar no processo de
planejamento de sistemas de transportes.
Tal metodologia pode ser aplicado em qualquer SFTC, recomenda-se por esse
motivo que o método seja testado para que o mesmo seja validado e possa auxiliar o
desenvolvimento e crescimento do país. Assim, tal metodologia será aplicada no futuro
um estudo de caso referente ao porto seco da cidade de Anápolis-GO.
Como apresentado nos tópicos anteriores o diagnóstico é uma ferramenta usada
por várias ciências, cujo objetivo é apontar os problemas e suas possíveis causas,
através de métodos que evoluíram com o tempo. A tabela 1, a seguir, mostra o paralelo
de como esse estudo se baseou para elabora uma nova metodologia de diagnóstico de
STFC.
Tabela 1: Paralelo entre as metodologias usuais e anamnese.
Etapas Medicina (Anamnese) STFC (Metodologia)
1º Etapa Identificação Definição do Objeto
2º Etapa Queixa Principal Definição do Objetivo
3º Etapa História da doença atual / Interrogatório
sobre os diversos sistemas Definição da área de estudo
4º Etapa História mórbida pregressa
Avaliação histórica do objeto
em função da alteração
dinâmica da área de estudo
5º Etapa História mórbida familiar Avaliação dos sistemas das
regiões adjacentes
6º Etapa História fisiológica e social Avaliação da operação
A partir desse estudo percebe-se que a integração entre as ciências pode trazer
vários benefícios. Apesar da metodologia não ter sido aplicada em estudo de caso, isso
não a torna inválida assim como o estudo proposto, de forma oposta, a maior
Capa Índice 8789
contribuição obtida com a execução do trabalho foi justamente desenvolver uma
metodologia de diagnóstico baseada nos conceitos de anamnese das ciências sociais.
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