pitoresco, um pensamento de arte

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    COSTA, Thiago. Pitoresco, um pensamento de arte. Domínios da Imagem, Londrina, v. 9, n. 17,p. 2182!", #an.$#un. 2%1&.

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    )ece*ido em 17$%!$2%1& e aprovado em 2%$%+$2%1&

    Resumo 'ntrodu-ido ao repertrio conceitua/ da teoria da arte na segundametade do s0cu/o ''', o pitoresco a/can3ou autonomia en4uanto mode/oart5stico 6orma/ caracteri-andose como um tipo de composi3o 4ue no seade4uava ao idea/ c/ssico de *e/e-a. Com e6eito, o conceito est0tico dopitoresco constituiu um 6enmeno histrico comp/e:o, cu#as imp/ica3;esa*rangeram diversos esta maneira, o pitoresco contri*uiu decisivamentepara a edi6ica3o da sensi*i/idade rom

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    e6eitoH visua/. Assim, no come3o do s0cu/o ', Gisionomias, vestimentas,

    paisagens, podem ser pitorescas I...JH K@OFS M('O), 2%12, p. 1%9N.Q, pois, com este va/or de conota3;es amp/as 4ue o pitoresco 6oi

    incorporado = cu/tura art5stica e ao imaginrio ocidenta/, so*retudo, no

    decurso do s0cu/o ', em 4ue se 6oi gradativamente adicionando outros

    e/ementos e novos signi6icados em um universo temtico rico,

    6re4uentemente associado a um tipo de pu*/ica3o *astante em voga =

    0poca, as Gviagens pitorescasH.

    >e 6ato, nesse momento o GpitorescoH trans6ormouse em 6rmu/a deuso corrente nos t5tu/os de o*ras rea/i-adas por artistas e via#antes 4ue

    percorreram o interior europeu, *em como a Am0rica e o Oriente. n4uanto

    gEnero /iterrio, esses tra*a/hos sustentavam uma concep3o pedaggica,

    cu#a inten3o era a de o6erecer uma viso em con#unto de determinados

    espa3os num es6or3o de esta*e/ecer identidades cu/turais. Assim, as

    Gviagens pitorescasH encerravam um /e4ue temtico e:tenso, com motivos

    4ue iam desde a ar4uitetura e ar4ueo/ogia ind5genas, histria e mito/ogia,

    aspectos do cotidiano, retratos da popu/a3o, at0 representa3;es

    topogr6icas, de artigos da nature-a e constru3;es da paisagem. Suas

    imagens comumente gravuras dos /ugares e das gentes visitados se

    6a-iam acompanhar por te:tos e:p/icativos, e suas in6orma3;es eram

    apresentadas de 6orma didtica, /onge do rigor sistemtico das pu*/ica3;es

    cient56icas. seu antecedente imediato eram os 6amosos guias de viagem

    4ue tinham como 6un3o orientar o via#ante i/ustrado por um roteiro de s5tios

    de grande e6eito p/stico.

    (o Dictionnaire dês Beux-arts, de Fi//in, a inscri3o dedicada =

    Gviagem pitorescaH tra- uma conceitua3o em 4ue se con#uga a prpria

    e:periEncia da viagem 4ue, por si, deve se constituir em ato para a

    produ3o de conhecimento, e a reprodu3o pictrica desse sa*er

    ad4uirido, isto 0, dos eventos, personagens e cenrios vistos, em 6orma degravura ou pintura. >e acordo com Fi//in,

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    >evese entender por essa e:presso toda viagem 4ue umartista rea/i-a em 4ua/4uer regio, para estudar a nature-a

    /oca/ em todas as suas produ3;es, para registrar os /ugares, asvistas, as paisagens mais suscept5veis de *e/os e6eitos e,so*retudo, para o conhecimento dos costumes, dos usos, dasvestimentas e dos monumentos, tanto antigos como modernos.O resu/tado de ta/ viagem deve servir primeiro = instru3opessoa/ e, em segundo /ugar, para transmitir a representa3odos o*#etos mais curiosos nas descri3;es acompanhadas depinturas ou de gravuras e:ecutadas a partir de desenhosescrupu/osamente e:atos. KF'LL'( apud @OFS M('O), 2%12,p. 1%9N

    ao 6ina/ do s0cu/o ''', o mode/o das Gviagens pitorescasH era

    comum na uropa. (a d0cada de 178%, por e:emp/o, saiu a conhecida

    o*ra, Voyage pittoresque, ou descriptions des royaumes de Naples et de

    Sicile  KParis, 1781N, do a*ade de Saint(on. ntre 1782 e 1787, pu*/icaramse

    as narrativas do ar4uiteto e pintor 6rancEs, eanPierre Louis Laurente Roe/, o

    Voyage pittoresque dês Isles de Sicile, de Malte et de Lipari KParisN. m 1799,

    6oi a ve- do /*um Voyage pittoresque de la Syrie, de l!nicie, de la alestine

    et de la Basse "gypte, e em 18%2, o Voyage pittoresque et #istorique de

    l$Italie et de la Dalmatie, am*os de Cassas. (o

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    est0tico. Para Peter ure, a GI...J ideia de pitoresco i/ustra um aspecto gera/

    so*re a in6/uEncia das imagens na nossa percep3o do mundo I...JH KM)U,2%%+, p. &+N. >e 6ato, as imp/ica3;es do pitoresco a*rangeram diversos

    campos da cu/tura, desde os arran#os de #ardins = /iteratura e da moda =

    po/5tica. >esta maneira, o pitoresco contri*uiu decisivamente para a

    conso/ida3o de uma 6orma de apreenso e concep3o do mundo

    pautada pe/a visua/idade, em 4ue se interpretava a rea/idade por meio de

    re6erenciais 6ornecidos pe/a /inguagem art5stica.

    >e origem ita/iana, o ad#etivo pittoresco  a4ui/o 4ue chama aten3ope/a *e/e-a ou 4ue 0 digno de uma pintura ganhou no s0cu/o '' um

    sentido pr:imo = nossa compreenso atua/, correspondendo =s 4ua/idades

    p/sticas no interior das o*ras de artistas renascentistas, em especia/ no

    tratamento 4ue se 6a-ia das cores e na a/ternAFF)'CR, 1972, p. +&+N. Contudo, 6oi na 'ng/aterra de meados do s0cu/o

    ''' 4ue o conceito ganhou 6undamenta3o terica, vincu/ado a um tipo

    de 6ormu/a3o ar4uitetnica de muita popu/aridade os par4ues e #ardins.

    Et In Arcadia Ego ou nos jardins pitorescos

    (o in5cio do setecentos o arran#o de #ardinaria no )eino Mnido rece*eu

    uma 6orte in6/uEncia de tra*a/hos aos 4uais se atri*u5a os va/ores do

    pittoresco, particu/armente de pintores sensua/istas como os ita/ianos @iorgio

    ar*are//i da Caste/6ranco K1+771&1%N e Ticiano ece//io K1+7!$1+9%1&7"N, eos 6ranceses (ico/as Poussin K1&9+1""&N, @aspard >ughet K1"1&1"7&N e,

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    principa/mente, C/aude Lorrain K1"%%1"82N. >e 6ato, seus 4uadros go-avam

    de *oa aco/hida na4ue/e am*iente, onde tam*0m # era conhecida apintura paisagista de ho/andeses e 6/amengos, como a de aco* van

    )uisdae/ K1"281"82N e de Peter Pau/ )u*ens K1&771"+%N. Ravia na @r

    retanha da 0poca um pro6undo interesse pe/os assuntos do mundo natura/,

    cu#as representa3;es evocavam cenrios arcdicos e pastoris.

    Com e6eito, a re/a3o do homem com as matas constituiuse em

    importante e/emento da identidade cu/tura/ da e/ite *rit

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    sistemas rodovirios 6aci/itaram ao via#ante, adiciona/mente, o acesso =s 

    regi;es do interior. >e maneira gera/, o crescimento de um intenso mercadoconsumidor, em grande medida gerado pe/as inova3;es da revo/u3o

    industria/, co/a*orou para a vu/gari-a3o e a/cance e:traordinrios das

    ideias dos principais tericos da est0tica pitoresca. Tam*0m o progressivo

    desaparecimento de grandes reas verdes em 6un3o do novo mode/o de

    produ3o em /arga esca/a 6or#ou um sentimento de apego =s 6/orestas

    tradicionais da cu/tura *rit

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    (otase, portanto, a 6orma3o de um considerve/ pW*/ico interessado

    na aprecia3o de imagens 4ue transmitiam sensa3;es 6ortes, antecipandoas discuss;es so*re uma categoria est0tica importante para a su*se4uente

    de6ini3o dos sentidos do pitoresco, 4ua/ se#a, a do su*/ime.

    William Gilpin, Edmund ur!e e o Pitoresco

    ntre os mais 6amosos e re/evantes escritos so*re a est0tica do

    pitoresco est a o*ra /rês ensaios so0re a 0ele1a pitoresca, do reverendoang/icano ?i//iam @i/pin K172+18%+N. Os te:tos de @i/pin 6oram pu*/icados no

    mesmo ano de outros dois importantes tratados tericos 2nsaio so0re o

    pitoresco de Mveda/e Price K17+71829N e o poema  3 paisagem, de )ichard

    PaBne Unight K17&%182+N. stes tra*a/hos 6orneceram as *ases so*re as 4uais

    o pitoresco pde tornarse um corpo autnomo de ideias, com regras de

    composi3o e va/ores 6ormais prprios, contri*uindo, ademais, para o

    a/argamento dos seus sentidos de maneira a a*ranger igua/mente prticas e

    atitudes.

    (uma ava/ia3o gera/, a proposta destes trEs tericos tem um va/or

    6undaciona/.

    As pu*/ica3;es destes trEs escritores a#udaram a romper comas conven3;es esta*e/ecidas at0 ento e com ases4uemticas ideias so*re o esti/o ing/Es na #ardinaria I...JVademais, e/es propuseram a entrada da nature-a Xse/vagemYnos par4ues para dot/os com um to4ue misterioso, deacordo com a nova sensi*i/idade do romantismo. >estamaneira, a princ5pios do s0cu/o ' os conceitos de gosto epaisagem se encontram unidos na cu/tura europ0ia por meiode mani6esta3;es espec56icas na poesia, na pintura, na #ardinaria e na Xarte de via#arY, de ta/ 6orma 4ue acontemp/a3o da nature-a e seus e6eitos se entende comouma atividade pitoresca KFA>)MLO, 2%%+, p. !+N.

    em 1777, outro ing/Es, oseph Ree/B de 4uem pouco se sa*e ,usava o termo para 4ua/i6icar GI...J no apenas a composi3o de uma cena,

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    mas tam*0m a resposta do visitante I...JH. Assim, a rea3o su*#etiva diante

    de um cenrio natura/ tornouse tam*0m uma e:presso do pitorescoV isto 0,as sensa3;es provocadas no o*servador 4ue transitava em meio =s

    constru3;es paisagistas de #ardins ganharam conota3;es 4ue permitiram

    associ/as = categoria est0tica do pitoresco. Logo, os cenrios pastoris

    ing/eses constru5dos de modo a imitar Kpor representa3oN as paisagens

    c/assicistas de grandes pintores u/trapassaram os espa3os circunscritos

    privados dos par4ues e #ardins e come3aram a ser *uscados nos s5tios

    naturais no interior da i/ha *rit

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    guias de viagem. Os guias eram pu*/ica3;es 4ue visavam orientar o via#ante,

    com o roteiro para as mais esp/Endidas paisagens pitorescas. (a rea/idade, aprtica das viagens =s regi;es remotas dentro da uropa tradu-ia a *usca

    por paisagens 4ue coincidissem com as representa3;es da nature-a 6eitas

    por pintores como )a6ae/ e Poussin, e tam*0m Sa/vatore )osa. Mm dos mais

    conhecidos guias 6oi o escrito pe/o ing/Es Thomas ?est, 4uide to t#e La5es,

    pu*/icado em Londres em sete edi3;es di6erentes entres os anos de 1778 e

    1799. (este tra*a/ho, o caminhador pitoresco poderia veri6icar s5tios cu#os

    e6eitos visuais evocavam GI...J desde os de/icados to4ues de C/aude,o*servados em Coniston Lae, =s no*res cenas de Poussin, e:istentes em

    ?indermare ?ater, e tam*0m =s ideias do admirve/ romantismo de

    Sa/vatore )osa no Lae o6 >erDent I...JH K?ST apud >'(), 2%%8, p. "! e "+N.

    Assim, segundo destaca ?atin, GI...J podemos o*servar o 4uanto o

    pitoresco au:i/iou para a apro:ima3o /iterria e inte/ectua/ da aprecia3o

    da ar4uitetura, da #ardinagem e do cenrio I...JH paisagista natura/ K?ATU'(,

    1982, p. ''N.

    (o

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    Seu /ivro mais conhecido 6oi /rês ensaios so0re a 0ele1a pitoresca 

    KLondres, 179+N, um con#unto com trEs te:tos, a sa*er, 3 0ele1a pitoresca, 3%iagem pitoresca e, por W/timo,  3 arte de es0o6ar a paisagem, nos 4uais o

    autor procurou c/assi6icar a e:periEncia do pitoresco com *ase nas viagens

    4ue rea/i-ou, /ogo, por meio da percep3o individua/ da nature-a e do

    mundo.

    (o primeiro dos seus ensaios,  3 0ele1a pitoresca, @i/pin descreveu as

    propriedades pe/as 4uais os diversos arte6atos pretensamente naturais ou

    e:p/icitamente constru5dos sustentavam a 4ua/idade de pitorescos,en6ati-ando a inade4ua3o desses o*#etos com respeito = concep3o

    c/ssica do *e/o. Ao e/a*orar suas de6ini3;es so*re o tipo de *e/e-a 4ue o

    pitoresco apresentava, @i/pin tinha como re6erEncia as caracteri-a3;es

    empregadas por um conterr

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    o*servador, esta*e/ecendo ento correspondEncias entre as rea3;es

    su*#etivas com as ideias do su*/ime e$ou do *e/o. >e 6ato, tanto um 4uantoo outro 6ormam, em ure, sentimentos est0ticos. >este modo, o autor

    interpretou a *e/e-a en4uanto GI...J as 4ua/idades das coisas capa-es de

    despertar em ns um sentimento de a6eto e de ternura I...JH, considerandoa

    um predicado de socia*i/idadeV e chamou a *e/e-a de uma G4ua/idade

    socia/H, pois, na sua compreenso, diante de pe3as notadamente *e/as,

    GI...J gostamos de tE/as ao nosso /ado e iniciamos de *om grado uma

    esp0cie de intimidade com e/as I...JH KM)U, 199!, p. &8 e &1N. Assim, opo/5tico conc/uiu 4ue o *e/o residia em determinadas caracter5sticas as

    cores c/aras, a de/icade-a de a/gumas super65cies, a varia3o regu/ar e

    gradua/ , 4ue tinham o poder de envo/ver o su#eito em sentimentos de

    ama*i/idade e a6ei3o KM)U, 199!, p. 11812!N, emo3;es de todo

    contrrias =s do su*/ime. Por0m, 0 precisamente nas de6ini3;es do su*/ime

    4ue dmund ure 6orneceu sua maior contri*ui3o = 6i/oso6ia da arte, ao

    sistemati-ar uma categoria est0tica 6undada no medo e na i/uso da morte

    iminente. >e 6ato, GI...J o su*/ime I...J est sempre re/acionado aos o*#etos

    grandes e terr5veisH KM)U, 199!, p. 119N. Para o autor, as grandes dimens;es

    so prerrogativas necessrias para transmitir a e:cita3o do su*/ime, da

    mesma maneira 4ue as no3;es de in6inito e de vastido, de amp/as

    dist

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    e:aminar os o*#etos pitorescos mais 6aci/mente pode ser Wti/ c/assi6ic/os

    dentro do su0lime e do 0eloV ainda 4ue esta distin3o se#a *astante ine:ataI...JH. (o entanto, @i/pin 6ormu/ou seu idea/ de *e/e-a pitoresca a partir de

    uma posi3o cr5tica 4uanto =s considera3;es empregadas por ure. >e

    acordo com o pastor ing/Es, GO Senhor ure, ao enumerar as propriedades

    da *e/e-a, considera a  sua%idade  como uma das mais essenciais I...JH

    K@'LP'(, 2%%+, p. 8" e &8N. , para marcar uma atitude notadamente oposta,

    ?i//iam @i/pin reprodu-iu uma passagem da o*ra de ure em 4ue o autor se

    ocupava de um apangio particu/ar dos o*#etos *e/os, a sa*er, a lisura. Paraure,

    Mma outra propriedade norma/mente o*servada nos o*#etos*e/os 0 a lisura. Q uma 4ua/idade to essencia/ = *e/e-a 4ue,no momento, no me recordo de nenhuma coisa *e/a 4ueno se#a /isa. (as rvores e nas 6/ores, admiramos as 6o/hasacetinadasV nos #ardins, ondu/a3;es de terra maciasV napaisagem, regatos de guas tran4i/asV na 6auna, tegumentos

    acetinados de aves e de outras criaturas *e/as KM)U, 199!, p.119121N.

    = continua3o, conc/ui GI...J 0 a essa 4ua/idade da *e/e-a 4ue se

    deve grande parte de seu e6eito, dir5amos mesmo o maiorH KM)U, 199!, p.

    121N. @i/pin, todavia, 4uestiona a a6irma3o do patr5cio GTenho *astantes

    dWvidas de at0 4ue ponto o Senhor ure est certo ao 6a-er da suavidade a

    6onte de *e/e-a mais consider'%elH K@'LP'(, 2%%+, p. &8 e &9N. Para o

    reverendo, a *e/e-a do pitoresco no se apresentava segundo as

    considera3;es de ure, mas surgia precisamente do contrrio da aspere-a

    e do contraste. 'sto 0, do e6eito visua/ vincu/ado =s super65cies speras, e do

    contraste, 4uando da com*ina3o de e/ementos di6erentes na paisagem ou

    na composi3o pictrica de um cenrio.

    Suponhamos I...J 4ue a 4uesto Iposta por ure com re/a3o

    = *e/e-aJ 0 v/ida para os o0>etos 0elos em geral mas no 0assim na  representa6;o pitoresca, onde, por estranho 4uepossa parecer, ta/ve- dever5amos considerar como verdadeiro

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    precisamente o contrrio, va/e di-er, 4ue as id0ias de liso  epolido, ao inv0s de serem pitorescas, na rea/idade despo#am

    ao o*#eto em 4ue residem toda a pretenso de 0ele1apitoresca. 'nc/usive, no temos nenhum escrWpu/o em a6irmar4ue a aspere1a constitui o ponto de di6eren3a essencia/ entreo 0elo  e o pitoresco, # 4ue parece 4ue esta 4ua/idade emconcreto 0 a 4ue 6a- com 4ue os o*#etos se#amparticu/armente apropriados para a pintura K@'LP'(, 2%%+, p.&9N.

    Para avier Faderue/o, o pastor no GI...J *usca de6inir o pitoresco

    como uma categoria universa/ ou como um tipo de *e/e-a idea/ seno 4ue

    enuncia empiricamente os atri*utos dos o*#etos pitorescos como 4ua/idades

    art5sticasH KFA>)MLO, 2%%+, p. !+N. >e 6ato, a compreenso do pitoresco

    em @i/pin estava associada aos va/ores p/sticos, se#a em uma pintura, se#a

    na nature-a.

    m verdade, @i/pin havia e/egido o mundo natura/ como o grande

    c

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    "ma interpreta#$o est%tica do mundo

    >e acordo com ?i//iam @i/pin, Ga nature-a 0 o ar4u0tipoH por meio do

    4ua/ se 6ormu/ava o registro pitoresco K@'LP'(, 2%%+, p. 9!N. Ainda 4ue se

    a6aste do pensamento c/ssico com re/a3o ao *e/o, @i/pin era um

    c/assicista e, nessa 4ua/idade, re#eitava uma arte do tipo estritamente

    natura/ista. m seu processo de composi3o, a paisagem pitoresca ganhava

    conota3;es ideais. m ?0ser%a6:es so0re o rio @ye, o*ra pu*/icada em

    Londres no ano de 1782, o re/igioso chegou a dec/arar 4ue a nature-a eraGI...J uma co/orista admirve/, capa- de harmoni-ar suas tona/idades com

    in6inita variedade e inimitve/ *e/e-aV contudo, poucas ve-es 0 igua/mente

    correta na composi3o, ao e:tremo de 4ue di6ici/mente chega a produ-ir

    um con#unto harmonioso I...JH, pois, GI...J sempre e:iste a/guma coisa 4ue no

    deveria ser I...JH K@'LP'( apud >'(), 2%%8, p. "!N. A com*ina3o de

    e/ementos do mundo natura/ rece*ia o va/or de 4uadro pitoresco a partir de

    uma trans6orma3o Kinte/ectua/, pois su*#etivaN da concretude da e:istEncia

    materia/ = a*stra3o da /inguagem art5stica. Logo, o pitoresco assumia ares

    normativos, em 6un3o dos 4uais a nature-a e a rea/idade era

    aper6ei3oada por interm0dio de um idea/ est0tico.

    Sem dWvida, o e:erc5cio da imagina3o au:i/iava na e/a*ora3o do

    registro pitoresco, constituindo uma 6erramenta indispensve/ da

    composi3o, tanto para artistas pro6issionais 4uanto para via#antes

    ocasionais. @i/pin va/euse de di6erentes 6ontes para a inspira3o criativa,

    a/0m dos suportes imag0ticos, de6endendo tam*0m a /eitura de o*ras

    c/ssicas, como as de irg5/io. GO reverendo ?i//iam @i/pin, ensinaria seus

    a/unos a construir imagens desde suas /eituras, /endo para e/es trechos de

    irg5/io 4ue e/e considerou especia/mente pictricos I...JH KRM(T, 2%%!, p. 18N.

    Com o pitoresco inaugurouse um tipo de apreenso da nature-a

    6undada desde um pensamento de arte, em 4ue se ana/isava e criticava omundo ta/ 4ua/ numa grande pintura. Fas a nature-a no 6ormava o Wnico

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    COSTA, Thiago. Pitoresco, um pensamento de arte. Domínios da Imagem, Londrina, v. 9, n. 17,p. 2182!", #an.$#un. 2%1&.

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    componente da interpreta3o est0tica da rea/idade. Para ?i//ian @i/pin, GI...J

    o o/ho pitoresco InoJ se restringe s a nature-a, seno 4ue se estendetam*0m at0 os /imites da arte. As pinturas, as escu/turas e os #ardins so todos

    o*#etos de sua aten3o I...JH K@'LP'(, 2%%+, p. 88N. >este modo, a *usca pe/a

    *e/e-a pitoresca estendeuse a outros o*#etos, como as grandes 6ormu/a3;es

    ar4uitetnicas, as esttuas e escu/turas e:postas em a/gum s5tio rura/ e,

    inc/usive, a 6igura humana. Para avier Faderue/o, o GI...J via#ante pitoresco

    admirar os campos, os rios e as montanhas, mas tam*0m os animais, os

    pssaros e os homens I...JH, pois prossegue Faderue/o , GI...J situados nesteentorno rura/, se convertem igua/mente em o*#etos pitorescos I...JH

    KFA>)MLO, 2%%+, p. !7N. Para @i/pin, a nature-a assumia um importante

    pape/ re6erencia/ de va/or sem igua/, va/e di-er so*re a 4ua/ se e/a*orava

    a representa3o pitoresca, mas cu#os e6eitos p/sticos tam*0m poderiam ser

    encontrados a/hures, por e:emp/o, nas antigas constru3;es ou edi65cios

    parcia/mente consumidos pe/o tempo.

    O o/ho pitoresco 0 certo 4ue encontra seus o*#etos principais na nature-a, mas tam*0m se de/eita com as imagens da arte4uando estas esto marcadas com as caracter5sticasnecessrias.  3 nature1a ! para o pintor   4ua/4uer coisa 4ueeste copie, tanto se se trata de um o*#eto ha*itua/mentedenominado natura/ como um ha*itua/mente denominadoarti6icia/. R, acaso, me/hor adorno para uma paisagem 4ueas ru5nas de um caste/oZ [ue pintor re#eita as ru5nas por4ueso arti6iciaisZ K@'LP'(, 2%%+, p. 71N.

    Por meio da teoria do pitoresco, os monumentos em ru5nas ganharam

    estatuto de pe3as de arte, trans6ormados em GI...J um o*#eto de

    contemp/a3o apra-5ve/ I...JH dentro da composi3o paisag5stica

    K>AFF)'CR, 1972, p. ++9 e +&%N. Fas = 0poca o interesse pe/as ru5nas

    e:p/icavase tam*0m por outros 6atores pe/as desco*ertas ar4ueo/gicas e

    o prprio tra*a/ho da ar4ueo/ogia en4uanto discip/ina, so*retudo aps as

    escava3;es de Rercu/ano e Pomp0ia, na 't/iaV pe/as vrias associa3;eshistricas e$ou mito/gicas, 6undadas em grande medida num 6orte

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    COSTA, Thiago. Pitoresco, um pensamento de arte. Domínios da Imagem, Londrina, v. 9, n. 17,p. 2182!", #an.$#un. 2%1&.

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    c/assicismo to em voga no s0cu/o '''V e, no AFF)'CR, 1972, p. +&&N.

    Com e6eito, o pitoresco 6e- com 4ue determinados motivos

    ascendessem ao estatuto das *e/asartes 4ue ento a/can3aram autonomia

    est0tica em 6un3o de uma marcada p/asticidade e *e/e-a re/ativa. Por no

    atender ao c

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    COSTA, Thiago. Pitoresco, um pensamento de arte. Domínios da Imagem, Londrina, v. 9, n. 17,p. 2182!", #an.$#un. 2%1&.

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    Assim, os ensinamentos de @i/pin a de6esa do contato 5ntimo com as

    matas e as pradarias, e a necessria e:periEncia da viagem, 4ue6uncionavam como e:pedientes centrais para uma me/hor apreenso da

    nature-a e do mundo , serviram como mode/o tam*0m para os pro#etos de

    reconhecimento cient56ico da geogra6ia 65sica de di6erentes espa3os, se#a do

    interior do uropa, se#a de territrios e:traeuropeus. ntre os e:emp/os mais

    conhecidos da apropria3o de re6erenciais pitorescos #unto ao o65cio do

    cientista, podese citar o  3tlas i/ustrado  da narrativa de viagem, 8eise in

    Brasilien  KFuni4ue, 182!$18!1N, dos natura/istas *varos ohann aptist vonSpi: e Car/ riedrich Phi/ipp von Fartius, dedicado ao registro e c/assi6ica3o

    de artigos da nature-a *rasi/eiraV e, o Vue des .ordillAres et monuments des

    peuples indigAnes de l3m!rique  KParis, 181%$1!N, resu/tado do amp/o p0rip/o

    pe/a Am0rica espanho/a, empreendido entre os anos de 1799 e 18%+, do

    renomado pes4uisador natura/ista a/emo, A/e:ander von Rum*o/dt.

    Pu*/ica3;es de marcado teor cient56ico em 4ue se reconhece uma c/ara

    correspondEncia com as preocupa3;es de o*ras do

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    COSTA, Thiago. Pitoresco, um pensamento de arte. Domínios da Imagem, Londrina, v. 9, n. 17,p. 2182!", #an.$#un. 2%1&.

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    Ao e:pandir os sentidos do pitoresco, admitindo novos re6erenciais, o

    pastor ing/Es contri*uiu para o di/atamento do mundo atrav0s dainterpreta3o pitoresca da nature-a e da rea/idade, @i/pin incorporou os

    rinc;es mais distantes da Terra ao repertrio conceitua/ da cu/tura ocidenta/,

    instaurando um roteiro de vistas e /ugares 4ue o artista pitoresco isto 0, o

    via#ante i/ustrado perseguiu em sua marcha ininterrupta de amp/ia3o da

    cartogra6ia terrestre.

    Re&er'ncias

    M)U, dmund. =ma in%estiga6;o 9ilos9ica so0re as origens de nossas id!iasdo su0lime e do 0elo. Campinas, SP Papirus, ditora da Mniversidade deCampinas, 199!.

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    COSTA, Thiago. Pitoresco, um pensamento de arte. Domínios da Imagem, Londrina, v. 9, n. 17,p. 2182!", #an.$#un. 2%1&.

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