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" Ano VIII n? 4 s E M A N A L Jornal Laboratório - UFSC/CCE/COM - 17 a 24 de outubro de 1990 Jornalistas inventam uma forma de colocar no ar a notícia mais censurada dos últimos tempos /ttl OPERAÇAO PAPAGAIO DE PIRATA Página 3 ... DE LAMA A história real e cruel da pr.imeira invasão urbana dos sem.teto catarinenses Página central

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  • "

    Ano VIIIn? 4

    s E M A N A LJornal Laboratório - UFSC/CCE/COM - 17 a 24 de outubro de 1990

    Jornalistas inventam uma formade colocar no ar a notícia

    mais censurada dos últimos tempos/ttl

    OPERAÇAOPAPAGAIO DE

    PIRATAPágina 3

    ...

    DE LAMAA história real e cruel

    da pr.imeira invasão urbanados sem.teto catarinenses -

    Página central

  • 2.. EDITORIAL

    Oquefazerpara publicarsuasmatérias

    Paramanter-se semanal oZeroprecisa ter uma estruturamínima que lhe dê suporte editorial. Por isso, os alunos da disciplina Edição II foram convocados e terão suas atuações comoeditores do Zero a valiadas comoparte do conceito final do semestre. Assim, quem quiseroferecerpauta ou matéria pode procurardiretamente os editores das várias seções ou continuar entregandopara o supervisor do LabOrai Os editores são:geral (páginas 3 e centrais) Rosane Portoe Cláudio Toldo; UFSC (página2) aziasDeodato Jr.;gente eroteiro (página 6) Gisele Dias eChristiane Balbys; cultura (página 7)RaquelEltermann e última página Viviane NunezSommer.

    Todas as semanas outros alunos podem participar do fechamento, seja como repórteres, como editores assistentes (os destasemana foram IvaJdo Brasil Jr.,Pedro Saraiva e Ana CláudiaMenezes) ou como diagramadores (Ivan Rau e Nilva Bianconesta edição). Apareçam, sextafeira sempre tem serviço.

    ZERO***

    MelhorPeça GráficaI, /I e 11/ SetUniversiterioMaio 88

    Setembro 89Setembro 90

    Jornal Laboratório do Departamento de Comunicação do Centrode Comunicação e Expressão dauniversidade Federal de Santa Catarina. Editado sob a responsabilidade do Laboratório de JornalismoGráfico.Supervisão: Jornalista Prof. CesarValente (Reg. 706/SC)Colaboração: Jornalistas Professores Ricardo Barreto, Luiz A. Scotto de Almeida e Gilka Girardello.Redação: CCE/COM/UFSC, Campus da Trindade, 88035 - Florianópolis - SC - Brasil. Fone (0482)31-9215 e 31-9490. Fax (0482)33-4069.

    '

    quinzenal, participação em encontros estudantis e realização do III Set Interno, doconcurso Garota Caloura 91 e do calourootário do mês.Alguns CA'sjá realizaram eleições neste

    ano como o de Engenharia Elétrica, Farmácia e Odontologia. No C.A. de Odontoa eleição foi nos dias 29 e 30 de agostoonde a chapa "Rebuliço", única concorrente, foi eleita. A nova diretoria, constituídapor 15 pessoas, tomou posse no dia 27 desetembro.Outros centros acadêmicos vão realizar

    suas eleições como o de Matemática, nosdias 10 e 11 de outubro, Engenharia Sanitária, em 30 de outubro e da Medicina eQuínmica em novembro.Também em novembro deve acontecer

    a eleição para o Diretório Central dos Estudantes. O DCE convocou para o dia 17 um),reunião do CEB (Conselho de Entidadesde Base) visando a discurssão das eleiçõese formação de chapas. O coordenador geraldo DCE, Horácio Joaquim Perez, vai propor na reunião que os próximos CA's a realizarem eleições façam-nas junto com a doDiretório Central, pára que haja uma participação maior dos estudantes.

    Jornalismo daUFSC ganhamais

    , dois prêmiosCristina N. Gallo

    "Novos talentos estão nascendo" e foram apresentados no 3?SET Universitário - Festival deLaboratórios de Comunicação daRegião Sul, na PUC de Porto Alegre, entre os dias 25 e 28 de setembro. Foram 463 trabalhos inscritos nas categorias de vídeo, áudio,texto e peça gráfica. Segundo Nilva Bianco, aluna da UFSC, os trabalhos deixaram bastante a desejar e o festival foi mal organizado,talvez em conseqüência da greveda PUC que já dura mais de 50dias.Dezoito trabalhos foram pre

    miados, sendo 16 do RS e dois deSanta Catarina. O Paraná, queparticipou pela primeira vez nãolevou nenhum. Fomos premiadosem Vídeo-jornalismo e documentário com "João eMaria", deArleyMachado e tri-campeões em peçagráfica com o Zero: Janeiro 90 -Balanço da Década de 80".PREMIAÇÕES. Vídeo Publi

    citário: " Família", de Tales Bahú- Famecos ; Vídeo Exerimental:"Epilético" Felipe Garcia Vieira- PUC; Foto Experimental: "theRaven" de Édson Luís Gastaldo- Fabico/UFRGS; Foto Futurismo:"Santiago", de Ricardo Barcelos -PUC; Foto Jornalismo: "Marionética . Dança" de Eduardo RangelMonteiro - Unisinos; Foto Publicitária: "Dachstein III" de RicardoBarcello - PUC;' Áudio Experimental: "Evolução da Música noCinema", de Carlos Roberto Barbieri - Fabico/UFRS; Áudio Jorna.lismo: "A Era do Som", de LauroBons Santos - Famecos; Spot: "OAssalto", de Alexandre Lucas daCosta - Famecos; Jingle: "CalçasLee", de Flávio Luís Albuquerque- Famecos; Peça Gráfica Publicitária: "A KodakAjuda Você SaberDisso" de Cláudio PIetsch - Fame-

    .

    cos; Campanha Publicitária: "Primeira Mostra de Clássicos do Cinema", de Daniela Ferreira - Famecos; Reportagem: "Ilhas - OsSegredos do Guaíba", de ReginaDiehl - Famecos; Crônica: "TVAinda a Melhor Diversão", de Carolina Bahia - Famecos; Fera daSala de Aula com o Vídeo: "Amnésia", de Daniel Moreira - Unisinos.

    Os trabalhos serão apresentados ao público nas próximas semanas pela TVE e RBS TV do RioGrande de Sul e Prefeitura de Porto Alegre. Infelizmente, Santa Catarina e Paraná não poderão assistir às produções premiadas.

    Chapa que propõe aredecoração do C.A. é a"novidade" no Jornalismo

    Desmotivação estudantilLuciana Carvalho

    O Centro Acadêmico Livre de Jornalismo (C.A.L.S.) estaria realizando nos dias17 e 18 de outubro as eleições para a suanova diretoria. Masmodificações de últimahora obrigaram o adiamento para uma data ainda nãomarcada. É que a única chapa inscrita, a "Em Branco" recebeu novosconcorrentes no último minuto, fazendocom que todo o processo inicialmente previsto tivesse que ser modificado.A votação será realizada durante dois

    dias para que haja uma-maior participaçãodos estudantes, pois segundo José RicardoJacques, candidato a presidente, do C.A.L.J. pela "Em Branco", "o movimento estudantil está num processo de desânimo"causando um esvaziamento dos centrosacadêmicos. No caso do Curso de Jornalismo isto é comum e José Ricardo afirmaque é preciso dar uma "injeção política"no curso.

    A chapa "Em Branco", conforme declarao candidato, está lançando umas propostas"meio porra-loucas". As propostas são asseguintes: redecoração do C.A., festas, informativo e noticiário de rádio interno

    .

    Abstenção de 42% na APUFSCMárcia Outra

    A nova diretoria da Apufsc, eleita no dia10, tomou posse ontem à tarde. A únicachapa que concorreu foi a "Com-Posição",formada por integrantes da ex-diretoria.A chapa única recebeu 681 votos dos 776professores associados que votaram. Aocontrário das últimas eleições para os governos dos estados brasileiros, o númerode votos brancos (49) e nulos (46) não foigrande, o que foi expressive foi o númerode abstenções. Dos 1619 professores sóciosda Apufsc (dos quais aproximadamente150 estão afastados para pós-graduação),cerca de 624 professores não votaram. Segundo o professor Raul Valentim da Silva,presidente da Comissão Eleitoral, "a desmobilização e acomodação dos professores"foram, as causas de tantas abstenções. Eleacredita que os professores acharam "desnecessário votar devido ao fato de somenteuma chapa concorrer".Mesmo com quase 50% de ausência dos

    professores na eleição, o novo presidente,Marco Da Ros, professor do Centro de Ciências da Saúde, acredita que a chapa eleita"tem peso acadêmico e está bastante afinada com a maioria do movimento docenteem todo o Brasil". Para o novo presidenteos votos nulos e brancos "refletem que temos professores que discordam de nossapolítica, mas são poucos, como mostram osnúmeros". O grande número de abstençõestambém foi considerado pelo novo presidente como comodismo dos professores associados.A nova diretoria assume com vários com

    promissos de "campanha" a cumprir. Omaior número de propostas apresentadas

    no boletim de campanha é com relação aofuturo da própria entidade. A nova diretoria promete ampliar o patrimônio adminis,trativo da Apufsc, profissionalizar os funcionários que trabalham na entidade eprincipalmente redimensionar e ampliaros espaços da sede atual, através de captação de recursos extra-orçamentários. cA. chapa vencedora também apresenta

    propostas como a transformaç_ão da Apufséem Seção Sindical da Andes, Sindicato Na:cional, para que a entidade possa agir comprerrogativas sindicais plenas.

    HU PASSA MALA matéria sobre a situação do Hospital

    Universitário, publicada na edição da semana passada à página 2 recebeu, do médicoresidente Eliézer Silva, em nome da Comissão de Greve daquela categoria, alguns reparos. Ele afirma que não disse a frase "nóssomos escravos mal pagos".O médico também localiza duas informa

    ções incorretas na matéria: "não foi afirmadoque não tínhamos direito à alimentação" eo salário dos residentes, que não é do Cr$37 mil como foi publicado, mas de Cr$ 33mil.

    FOTOJORNALISMONa última página da edição da semana

    passada, por um erro de revisão, foi dadocrédito a Olívio Lamas em uma foto de LauroMaeda.

    ,.

  • Uma operação de "guerrilha"enfrenta com criatividade ebom humor a intransigência

    Sindicato dos Jornalistas

    Jornalistas lutampara poder informar

    que ganhammuito poucoos

    jornalistas de Santa Catarina descobriram, nas eleições de 3 de outubro, uma faceaté então desconhecida da

    "democracia" dos meios de comunicação.A Rede BrasilSul-RBS, principal empresa do setor no Estado usou polícia partiGular para impedir a veiculação de umanotícia escrita e censurada pelos donosda imprensa: "Jornalistas ganham salário de Cr$ 23 mil".A força paramilitar da RBS, recrutada

    entre lutadores de academias de artesmarciais e PMs inativos, porém, não conseguiu evitar sete inserções na TV, umaem rede nacional pela Globo. Quando umrepórter entrava com boletim ao vivo sobre a eleição, aparecia atrás dele um cartaz Com palavras de ordem dos jornalistas. Foi a primeira vez no Braril que ostrabalhadores da comunicação realizaram esta forma de protesto.- A-idéia da "operação papagaio depirata", como também ficou conhecida,nasceu na assembléia da noite anterior, .

    quando os jornãlistas decidiram entrarem estado de greve para cobrar a reposição de 175%, assegurada pelo TribunalRegional do Trabalho, no julgamento dodissído, em 3 de setembro; e uma dívidade Cr$ 122 mil decorrente desta decisãoaté a suspensão de seu efeitos, pelo TST,no dia 25 de setembro.A primeira tentativa de "emplacar" o

    .

    protesto eletrônico ocorreu por volta das7h30min,- quando os primeiros eleitoressaíam às ruas para votar. O repórterWalter Souza, 12 anos de RBS-TV, entrariaao vivo no "Bom Dia Santa Catarina" pára falar domovimento de eleitores no Terminal Urbano Cidade de Florianópolis.Um grupo de jornalistas enfeitaria o cenário cinzento do terminal com faixas ecartaser, na hora do boletim, que acaboucancelado "por problemas de antena". Aequipe de TV saiu em ziguezague pelacidade, para driblar os manifestantes ecumprir a pauta a qualquer custo. Foiparar em Ratones, sem aparecer no "BomDia", que terminou em alvoroço que reuniu a direção da empresa, às pressas, noMorro da Cruz.Depois de vários boletins cancelados,

    Walter Souza voltou à cena, ao meio-dia,na sede do Tribunal Regional Eleitoral.Convicto de que estava protegido pelainexpugnável fortaleza da Justiça Eleitoral, contou em meio a gargalhadas as peripécias dos colegas de profissão que, "deforma muito organizada", the haviamproporcionado uma "folga" em dia tãoagitado para a impresa, Só franziu o cenho para dizer que os "jornalistas estãoatrapalhando o trabalho de um jornalis-ta".

    -

    Quando "emplacou" uma entrevista aovivo com o corregedor eleitoral NapoleãoAmarante, às 12h50min, no Jornal do AI-

    A operação "papagaio de pirata" na Oktoberfestparticular em concorrência com a PM ea Polícia Civil. O juiz da P Junta Apura-dora, Fernando de Carvalho, cassou ascredenciais de dois repórteres-diretoresdo Sindicato e os expulsou do ginásio 3da UFSC, depois de ordenar à polícia querevistasse um deles, repórter do JornalO Estado, o mesmo que fora insultadopor Walter Souza.

    O Sindicato dos Jornalistas, que aindaenfrentou a truculência da RBS no diaseguinte, em frente ao Diário Catarinense, e no sábado, dia 6, no "Jornal do Almoço Especial" em Blumenau, registrouqueixa contra esses abusos no 1� DistritoPolicial de Florianópolis e junto ao TRE.Para o presidente do Sindicato, Celso Vizenzi, a repressão e a censura praticadaspelos donos dos meios de comunicação"desmascaram completamente a faláciada liberdade de expressão, de imprensa.Aparece só a verdade deles".

    Os empresários se assustaram com oprotesto eletrônico, mas continuam descumprindo o acordo coletivo, com as bençãos do TST, diz o Sindicato. E eles têmaliados entre os próprios jornalistas, -garante Vizenzi, - "Alguns com nívelprofissional tão baixo, que seriam capazes de tudo para aparecer na telinha".Repórteres que reagiam com uma expressão patética às manifestações da categoria no dia 3 de outubro: "Estragaram ami�ha matéria".

    moço, o sorridente repórter empalideceu.Atônito, ao perceber no monitor de vídeoque por detrás de sua própria cabeça alguém erguia um cartaz com os dizeres"RBS - Rede de Baixos Salários". Malterminou o boletim, ele descambou parauma reação preconceituosa: "Tinha queser nego! Tinha que ser nego! Tinha queser nego!", esbravejou, para espanto atédo corregedor. O cartaz, legível para ostelespectadores, encerrou a Rede Regional de Notícias.A tarde, o dirétor responsável pelo De

    partamento de Telejornalismo da RBS,Claiton Selistre, pediu "proteção" à PM,conforme registro do COPOM. A empresaainda armou um escudo de alterofilistas,comandados por um ex-policial gaúcho decodinome "Dinho" - informa o Sindicato-, ao redor dos repórteres descolados para as duas centrais de apuração do TRE,os 'ginásios da UFSC e o da Astel. Osagentes da RBS, usando credenciais deoperadores de VT e um deles com o crachádo coordenador geral de Telejornalismo,Anselmo Prada, agrediram jornalistasaos empurrões e rasgaram cartazes. Foram. ajudados por operadores das concorrentes, quando o protesto já freqüentavatodas as telinhas.A Justiça Eleitoral, que se curvou à

    programação da Globo, ao esperar que aemissora liberasse canal para a RBS esó então abrir a primeira urna daCapital,também permitiu a atuação da polícia

    Cláudio Silva da Silva

    Dois'dos "seguranças", com credenciais falsas

  • PORUMPEDAÇODE LAMA

    Geraldo Hofmann

    Eram duas horas damanhã e fazia um frio debater o queixo. Para rondamontada da PolíciaMilitar, que acabava decruzar o terreno baldio,estava tudo em ordem. Apoucos metros do rastro dacavalaria, lideranças doMovimento Sem-Teto

    ...

    serviam de baliza parademarcar os lotes, queestavam sendo sorteadosao redor de uma fogueira,num beco próximo dali.Assim que eram sorteados,os sem-teto recebiam umasenha, um número escritoem verde num pedacinhode cartolina, que servia depassaporte para cruzar afronteira entre o sonho deter o próprio teto e arealidade.

    Fotos: Geraldo Hofmann e Jacques Mick

    AtéO dia 29 dejulho de 1990,

    amaioria dos habitantes deFlorianópolis só conheciaos acampamentos de Sem

    Terra através da imprensa ou dosbarracos de lona que, de vez em quando, aparecem nas escadarias da Catedral ou em frente ao Palácio do Governo. Na madrugada daquele domingo, uma centena de famílias semterra, sem-teto e sem-medo ocuparamum terreno da COHAB-CompanhiaEstadual de Habitação, às margensda BR-282 (Via Expressa), na entrada da cidade. Foi aprimeira vez queum grupo de famílias se juntoupara ocupar terras urbanas emSanta Catarina. As outras ocupações da Capital aconteceram desordenadamenteSurgia um barraco aqui,outro ali, cada morador se instalavapor contra própria e, aos poucos, seformavam as favelas.Aquelas cem famílias tinham espe

    rado muito tempo para poder sonharsob o próprio teto. Muitas delas tinham chegado do interior de SantaCatarina, há quinze, vinte anos -quando as velhas casas açorianas daIlha começaram a ser demolidas paradar lugar aos grandes edificios -. Opedreiro Atílio, por exemplo, veio deChapecó. Desde 1972, constrói "casas, mansões e prédios na Ilha. De- Monte de tralhas, aos poucos, toma forma de casebres

    pois que os donos entravam, eu continuava lá, no meu barraco de zincona favela".Aquelas famílias, como as outras

    200 mil sem-eto de Santa Catarina,já tinham entreguemontanhas de documentos e abaixo-assinados às autoridades pedindo casa. Em troca, haviam recebido castelos de promessas.Apresentaram um projeto de lei aosdeputados na Assembléia Legislati-

    - va, para que 1% do ICMS fosse destinado à construção de casas populares.Mas os parlamentares o rejeitaram,com. a desculpa de que "o povo nãosabe escrever leis". O usucapião urbano foi aprovado pelo CongressoConstituinte. Se tivesse saído do papel, regularizaria a propriedade de 25mil moradores dos morros de Florianópolis.Agora, sob a penumbra das luzes

    da Via Expressa e de um céu a todahora riscado por estrelas cadentes, ossem-teto avançavam através da lamae do frio. Em silêncio, como formigascarregadeiras, transportavam a casae o coração aos pedaços. Atémulherescom crianças chorando no colo ajudavam a carregar a mudança. As lágrimas das crianças iam misturar-se aoterreno que cobria pedaços de madeira, tábuas, chapas de zinco, compensado, caixas de papel, trouxas de rou-

    Sem-teto constroem

    pequenos casebresnuma área da COHAB.É a primeira invasãode terra urbana emSanta Catarina

    pa, fogões antigos, botijões de gás,louças queimadas, gatos e cachorrosvira-latas, um monte de tralhas quemais tarde tomaria forma nos casebres.O vaivém de silhuetas era cada vez

    mais intenso na noite. Chegavam devários pontos da Capital, da casa deparentes onde se amontoavam háanos. O gari Derci tinha sido despejado de uma casa alugada na Costeira. O dono tinha destelhado a casapara que ele não voltasse. A fax:ineiraRosane, de 18 anos, com uma meninade nove meses nos .braços, vinha deum cortiço da Rua Conselheiro Mafra. Tem gente que dá uma risadinhamaliciosa quando se fala dessa "ruadas prostitutas", mas alimoram também faxineiras, pedreiros, vendedores ambulantes, vigias ...Veio a notícia de que um sem-teto

    tinha adormecido e caído na fogueira,enquanto esperava o caminhão demudança. Foi parar no hospital equando voltou a si deixou os médicosperturbados. "Tenho que ir pra ocupação, senão não ganho meu pedacinho de terra", gritava. Era uma baixa, mas não poderia deter aqueleexército que lutava contra o frio, anoite e a lama e erguia os primeirosbarracos de lona para abrigar os filhos. Vencidos pelo cansaço, alguns.deles adormeciam ao relento, embolados sob lonas e esteiras.De manhã, uma fina camada de

    geada cobria parte do acampamento,como o pó de farinha que embranquece os telhados dos engenhos nesses tempos de safra. Antes de clarearo dia, acenderam pequenas fogueirase o vapor que saía da boca dos-meninos misturava-se à fumaça. Moradores do Conjunto Habitacional acordavam de sobressalto com o ronco doscaminhões que traziam os novos vizinhos.Quando amanheceu, via-se as pri

    meiras casinhas de madeira. Mesmoos que não eram carpinteiros ajudavam a acelerar a construção como sea nova favela tivesse hora marcada

    para ser inaugurada. Mulheres estendiam cordas para secar as roupase preparavam o café no fogo de chão.Via-se agora os limites de cada terreno, indicados por tiras de roupas velhas e fitas que se usa para enfeitarpresentes. As crianças se enturmavam e aproveitavam a geografia acidentada do terreno para inventar novas brincadeiras. Pescavam lixo nasvalas cheias d'água, abertas pela CORAB para impedir a ocupação.Foi um domingo demuito trabalho,

    mas "dá gosto trabalhar no que é dagente". Houve bate-bocas entre osmoradores do Conjunto Habitacional.

    "Eu acho justo. Tem que ocupar mesmo. O governo não dá casa pra essagente mesmo", disse um homem barrigudo emeio careca. "Essa favela vaidesvalorizar meu apartamento. Jároubaram as cordinhas do meu varal", esbravejava uma mulher queveio pra dentro do acampamento ves

    . tindo um roupão que se usa dentrode casa.A Polícia Militar patrulhava o

    acampamento sem ensaiar qualquergesto de repressão contra os que plantavam seus barracos na terra vermelha. A bateria demartelos só foi inter

    rompida, perto do meio-dia, quandoapareceu uma equipe de TV. Houvecorre-corre. A repórter queria saberonde estavam as lideranças, mas aslideranças continuavam trabalhando. Diziam que não havia líderes, quetodos os que estavam ali vinham sereunindo nas estradas, debaixo deviadutos até fazerem a ocupação. "Evocês vão ficar aqui? Mas essa terraé da COHAB", repetia a jornalista,como se a terra fosse dela. Algunshomens ficaram indignados com ostrejeitos inquisidores da repórter.Nenhuma autoridade apareceu paraconversar com os ocupantes.A noite, eles se reuniram junto a

    uma cruz de madeira plantada nomeio do lote reservado à casa comunitária. O letreiro "CASA COMUNITÁRIA" já estava pronto. Só faltavaa casa. Rezaam sob um céu estrelado.amarraram um lenço branco na cruz.Os olhos de um casal de cabelos brancos como a geada da manhã, brilhavam à luz das velas e de uma lâmpadapendurada na cruz. Os olhos do pedreiro Atílio - aquele que veio deChapecó - também brilhavam. Elelembrava o dia em que uma kombise desgovernou na Via Expressa ecaiu em cima da casa do vizinho. Amulher desse vizinho foi levada àspressas para a maternidade e pariuum filho de setemeses. E, assim, cadaum lembrava os perigos e humilhações porque passaram até entrar na"terra prometida" a outros mil e tantos sem-teto que esperam nas filasda CORAB. Com as mãosmanchadasde barro, repartiram entre si doispães caseiros. Com este sinal, "seu"Atílio e sua mulher junto a outros

    .

    casais, abraçados, selaram o compro-.

    misso de conjugar o segundo verboque aparece no lema dos Sem Teto:ocupar, resistir e construir.No dia seguin\_e, a batalha passaria

    do terreno baldio para os gabinetesdo governo. Começava a luta porágua e luz. Com a timidez dos pobresque chegam à casa dos ricos, entraram no Palácio Santa Catarina. O governador prometeu quatro bicas d'água, que deviam servir para os ocupantes e a mais 600 famílias que moram na favela ao lado, o Pasto do Gado. "Luz, vocês podem esperar. Eu vivi 31 anos sem luz elétrica", disse ogovernador, que ainda não visitou aocupação, mas acha que émuita terrapara pouca gente. Quer engaiolar ali1.400 famílias num novo ConjuntoHabitacional.

  • RoteiroCinema do CIC

    De 17 a 21 de outubro,o cinema do CIC exibe,sempre às 19:30 horas, ofilme "Minha Pequena Aldeia", a comédia tcheca indicada para o Oscar do melhor filme estrangeiro de 87.A exibição deste filme visaa obtemção de recursos para a realização do Congres- .so Nacional de Professoresde Francês em Florianópolis, que será realizado em28 de fevereiro de 91.A promoção é da Embai

    xada da Tchecoslováquiaem Brasília.

    A programação seguecom o filme "O Cozinheiro,

    ,

    o Ladrão, .sua Mulher e oAmante", sempre às 21horas. O filme é uma polêmica direção do inglês Peter Greenaway, construídaem três atos e um prólogo,desenvolvendo-se num período de dez dias sob o simbolismo das cores e baseado no número sete.

    E numa promoção do Ins-,

    tituto Goethe de São Pauloe Aliança Francesa de Florianópolis, de 24 a 26 de outubro, às 19:30 horas, será,exibido o filme alemão,"Ce!este",do diretor Percy!Adlon. Nõdia 27, outra obrado mesmo diretor, "Bagdáe Café".

    Museu de Arte deSanta Catarina

    Em outubro, o MASC (Museu de Arte de Santa Catarina), apresenta os trabalhos de cinco artistas, comdestaque para o Rio Grande do Sul e Paraná.Paulina Laks apresenta

    suas pinturas e litografiasao lado de José Francisco

    -I Alves, Gaudêncio Fidelis,Paulo Roberto de Christo eCyntia Lorenzo que trabalham com esculturas.,

    ,A exposição inaugurada

    no dia 11 permanecerá atéo dia 4 de novembro, de segunda a sexta, das 9 às 12horas e das 13 às 21 horas.E nos sábados, domingose feriados, das 17 às 22 horas.

    Museu de Antr�pologia da UFSC

    .: Durante todo o mês de,

    outubro a sala de exposição

    temporária do museu deAntropologia da U FSCapresentará duas mostras,"Os Bororo - quando avida passa pela morte" .

    (vja O destaque nesta página) e"Tramas". Tramasexpõe tecidos de Luiz Costa com esculturas de Franklin Cascaes.

    Galeria de artes daUFSC

    Estreou no dia 16; terçafeira, a exposição de artese artesanato dos funcionários da UFSC, que vai atéo dia 4 de novembro,

    Teatro da UFSC.

    Integrando a mostra deCinema e literatura, serãoexibidos os filmes: O JovemTorless, O Pesso Falso eEffi Briest, O cavaleiro docavalo branco e o Abusodas cartas de amor. Os filmes vieram através de umconvênio do Departamentoartístico-cultural da UFSCcom o instituto Goethe.

    Aterro da Baía SulNum pavilhão de lona

    próximo ao mercado público você poderá assistir ao3� batismo de Capoeira Palmares Sul, no dia 20 de outubro às 9:30 horas.

    Cursos em OutubroDia 16 teve início o labo

    ratório experimental deTeatro de Animação quecontinua em funcionamentoaté novembro. O laboratório parte da experimentação das diversas formas,linguagens e técnicas, utilizadas no processo de criação de bonecos, máscarase sombras, através das eta-

    .

    pasque levam a realizaçãode uma prática teatral.AOficina de Arte do Masc

    promove também um cursode escultura em bronze,que teve início no dia 17 evai até o dia 26 de outubroe conta com a orientaçãode José Luiz Kinceler e Rafael João Rodrigues.

    E de 16 de outubro a 16de novembro, o CIC promo've um curso de interpretação para vídeo. Os orientadores são Lauro Goes (diretor de cena) e Ronaldo dosAnjos (diretor d� imagem).

    NÓS CHAMAMOS ATUDO ISSO DE· BLUES

    Cláudia RepsoldSe a perfeição existe, o he

    rói da guitarra Erica Claptona encontrou, porque perfeitoé omínimo que se pode dizerdo show do despretencioso"god ofguitar': que levou aoêxtasemais de 25milpessoasna noite de sábado no estádioOrlando Scarpelli.Quando o mágico do blues

    subiu ao palco e tocou osprimeiros acordes de "Pretending': som que abriu o show,a galera já estava delirando.Nem a chuva foi capaz de esfriar os ânimos da moçada,que dançou, cantou e vibrouao som de "Ishot the sheriff"(numa versão mais lenta),"Running on Faith': "Layla':"No Allibis" e, obviamente,"Coceine".A impressão que se tinha

    é que essemágico da guitarratinha saído de algum lugaralém de nossa imaginação.Ele cantou um blues cheio detoques sensuais, irresistívelàs nossas emoções de pobresmortais. Detonou solos nasua Fender Strstocester (aguitarra das feras) com tantaconcentração que chegou a ficar de costas para a moçada.Não tomem isso como um desrespeito ao público, mas simcomo um mago viajando noseu som. Tudo é apenas umaquestão de integração totalentre Clapton e a sua guitarra que chega a fumar juntocom elealguns dosseus trintacigarros diários.Mas é claro que não sepode

    talar de Eric Clapton sem falar de sua banda, formadaporinquestionáveis alquimistasda música. Começando pelasensualidade transparente

    das back vocals Katie Kissone Tessa Niles. A precisão daguitarra de Phil Palmer. Ossolos alucinantes do baixo deNatham East. A sutileza doteclado de GregPhiliganes. Ocompasso bem marcado daba tera deSteveFerrone e, para fechar, a percussão muitolouca de Ray Cooper. Mas este último é um show à parte.Cooper não só tocou divina- •mente, como deu solos depercussão, tocou um samba meiofunk, fez a moçada cantarjunto com ele, levando a galera à apoteose. É, realmenteeste meio v.elho, meio louco,meio cego foi mais um showno show de Eric Clap ton.Não faltou nada no estádi

    Orlando Scarpelli. Um sompotente, dois telões nas laterais do palco, gente interadae um toque sutil das drogas,que se tornou mais explícitoquando rolou o som "Cocaine". Seria legal alguém dizerque "Cocaine"é um hino an tidrogas e não o contrário, como possa parecer.

    Não houve ninguém quenão saísse do estádio com aimpressão de que viu umgrandiosos encontro dasgrandes feras damúsica. Sendo assim, o que nós, seres comuns, podemos dizer a�s deuses senão um emocionadoagradecimento pela sua presença?E talvez os fogos de artifício soltados no final doshow fossem uma espécie dereverência a esse mágico daguitarra, a esse percussionistas divinamente estranho, aessa banda nota dez, a tudoisso que nós chamamos deblues, a raiz dessa viagemque é o rock and roll.

    TangoseTragédiasRosane Porto

    Por duas noites Florianópolis virou a Esbórnia do Sul,uma ilha itinerante, desgarrada do continente, que navegandopelomundo acabou como uma lixeira cultural. Masninguém percebeu, excetoquem estava dentro do Centro Integrado de Cultura deitando e rolando ao som doTangos e Tragédias. Rolando de rir do jeito irreverentede Nico Nicolaiewsky e Hique Gomes, osdois de ,!O(tqAlegre, onde ha SeIS anos uuciaram uma cerreire demúsicos que virou o Rio Grandedo Sul quase inteiro de pernaspara o ar. Foina Esbórniado Sul (localizada num mapaimaginário), que nasceram oviolinista Kraunus (Hique) eo maestro ecordioniste Pletskaya (Nico), personagens quejá arrancaram g_argalha.ila�de gaúchos, paulzstas, mineiros e cariocas.E a platéia catarinense te

    ve estes personagens por umfinal de semana pela primeira vez. O show iio Tangos eTragédias foi despojado e repetiu a dose de sucesso anterior. Sem cenário, com apenas luz e som acústico, Nicoe Hique surgiram no palcodispostos a trazer diversão.Um contrasenso se levar emconta o repertório com algumas letras de Alverengt: eRenchinho e Vicente Celestino, a história das c1l1eirasa b . "que se emevsme o TIO .Mas tudo acaba empizza, melhor em pastelão. Com umaboa dose de humor, os doisacabaram treasiormendo otango em samba e a tragédiaem comédia.O show é uma mistura de

    música com teatro, que ficapor conta das caras e bocasde Nico e principalmente Hique, com a papada dos olhosescurecidas e os cabelos compridos que imitam vampiro:Kraunuséamargo, violinistaexotérico, cansado dos delírios proféticos. O maestroPletskaya é um homem sofrido, atordoado pelos amorésfrustrados. E foi da tristeza,da amargura dos dois que aplatéia se divertiu. Depois deuma hora em paleo, os doisacabam voltando com um bispré-combinado com o públicopara o desfecho que vem coma dança do Copérnico, aquelaque "você não pode mexercom as pernas e nem com asmãos': a dança da Esbórnia.Quem foi ao CIC viu e nãome deixe mentir. Dapróximavez que o Tangos e Tragédias estiver em Florianópolis, vale apena viajarpela Esbórnia, que dopaleo acaba nflporta do teatro, com os dOISmúsicos do tamanho dopúblico, cara a cara, com acordeãoe violino,porpelomenosmais.meis hora.

  • Depois de 32 anos,mais uma estréia deum filme catarinense

    "Manhã", a aventuraNilva Bianco

    ,'uma noite hollywoodia

    , na, com atores desfilando pelo palco, sob a luz

    ,

    , de refletores". Essa é aimagem que o escritor Salim Miguelguarda da estréia de "O Preço da Ilusão",

    - há 32 anos, no Cine São José. Apesar dedispensar o glamour, a pré-estréia do curta-metragem "Manhã", de Zeca NunesPires e Norberto Depizzolatti, representauma retomada do que foi iniciado peloGrupo Sul: o cinema catarinense em35mm.Em 1958, a iniciativa do Grupo Sul foi

    uma aventura de escritores nomundo audiovisual. "Só havia uma ou duas pessoasquejá haviam visto uma câmera na vida,os demais eram apenas encharcados deteoria", lembra Salim Miguel. "Manhã",por sua vez, é urna tentativa de dar continuidade e profissionalização ao cinemacatarinense. Além dos erros, acertos, experiência e amadorismo, existe muitomais por trás dos 10 minutos e 20 segundos do filme. É a tentativa de se criar'uma equipe de cinema no estado, reunindo desde atores até técnicos, visando a

    Jean Lacouture, na UFSC

    transformação da obra em um laboratóriode aprendizado e aprimoramento. Semteorias ou cursos disponíveis, a soluçãoé a prática.Felicidades - O curta "Manhã" teve '�

    origem quando Zeca Nunes Pires leu "A �Morte do Leiteiro", de Carlos Drummond i5de Andrade, e "viu um filme no poema". A luta pela profissionalização passou por Anitápolis'Em 1987, o roteiro, adaptado por Taba-jara Ruas, foi enviado ao poeta e recebeua seguinte resposta:

    "...Fico torcendo para

    que realize o projeto e ele seja bem sucedido. Felicidades". Foram várias interrupções até que, em 1989, junto com Norberto Depizzolatti, Zeca Pires começou aefetivar o projeto, com o apoio da UFSCe de empresas locais. Anitápolis foi o palco para oito dias de filmagem, escolhidopela beleza de sua localização, próximaao planalto catarinense. Apesar damaiorparteda equipe ser local e inexperiente,o filme acabou saindo.Valorizando experiências como essa,

    surge o projeto de um núcleo de cinema,integrado à Cinemateca, com autonomiatécnica para a realização de novas obras.A estrutura desse núcleo está baseadanas pessoas interessadas em fazer cine-

    ma, bem como nos equipamentos, que começam a ser adquiridos com verba doFuncine (arrecadação de 5%.sobre a renda, das bilheterias, realizada pela Secretaria de Cultura e repassada à Cinemateca). O núcleo, quejá possui equipamento de luz, em breve vai adquirir tambémum equipamento de som.Na opinião de Zeca e Norberto, apesar

    das tentativas em 16mm, durante muitotempo não se fez cinema em Santa Catarina devido à falta de apoio, e até mesmode insistência dos artistas, sendo os anos70 osmais representativos dessa situàçãono estado. Atualmente, não são poucosos que canalizam sua vocação cinematográfica através do vídeo, em virtude damaior facilidade de operação e pela própria falta de oportunidades de aprendi-

    ,

    Um jornal de jornalistas

    Ana Cláudia MenezesO jornal francês "Le Monde" elegeu

    no último dia 29 o seu 4? diretor, o ex-redator chefe Daniel Vernet, que deve darcontinuidade ao trabalho desenvolvidopelo diretor anterior, André Fontaine.A eleição, que teve a participação diretade 300 jornalistas e colaboradores do jornal, é feita desde 1951, quando o jornalenfrentou a sua primeira crise.Nesta ocasião, foi criada a primeira

    cooperativa dos jornalistas, conhecidana época como "sociedade dos redatores", em que os trabalhadores do "LeMonde" tornaram-se acionistas.Para Jean Locouture, ex-jornalista e

    historiador francês, "o resultado é positivo". Ele esteve na UFSC na quintafeira, dia 4, proferindo palestra sobrea vida e a carreira política do general

    ,

    Charles de Gaulle.Jean Lacouture foi articulista do "Le

    Monde" durante 20 anos, completadosem 1970 quando se desligou do jornalpara se dedicar à pesquisa. Acabou escrevendo 33 livros. Andou por paísesafricanos e achou que o texto de jornalera muito curto para que ele pudessedescrevê-los. "Como vou explicar o que

    se passa no Brasil em cem .linhas?". Aresposta veio nos livros e na série deconferências que vem dando em universidades européias e americanas.O "Le Monde", que vendeu 382 rriil

    exemplares diários em 1989, é um dosjornais que mais dispara críticas contrao presidente François Miterrand. Masnem sempre foi assim. Em 1981, quandoMiterrand foi eleito pela primeira vez,O jornal apoiou a plataforma socialistado então novo governo. Nessa época, o"LeMonde" foi acusado de distanciar-seda sua posição crítica e de independência, perdendo partes de seus leitores.Mesmo assim, um dia após a vitória deMiterrand, o jornal vendeu mais de ummilhão de exemplares.

    O engajamento político sempre conviveu nas páginas do "Le Monde". O primeiro exemplar foi lançado em 18 dedezembro de 1944, incentivado pelo general De Gaulle, que queria um jornalde importância estratégica internacional. O fundador, Hubert Beuve-Méry,morto no ano passado, dirigiu o jornalaté 1969, onde escreveu artigos defendendo a independência da Argélia.

    zado em cinema, Na carência de um cursoapropriado, o curso de Jornalismo daUFSC acaba recebendo futuros cineastas;'como foi o caso de Norberto e Zeca e,atualmente, de Chico Faganello, que estádirigindo um média-metragem em16mm. Apesar disso, ainda não é possível'comparar a instantaneidade do vídeo coma elaboração do cinema.Ainda esse ano, "Manhã" deve' passar

    por grandes provações qualitativas. Estáinscrito para o Festival de Brasília, emoutubro, e para oRioCine-Festival eMostra Internacional Mário Santos, em novembro. A partir daí, será distribuído pelas Organizações Mário Santos nos trêsestados do sul e só então enfrentará amaior prova para sua aceitação: o grandepúblico.

    Le Monde, a cooperativa que deu certo,

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    Bouve-Méry ficou no comando até oitomeses depois de De Gaulle ter deixadoo poder. Além da crise sofrida pelo "LeMonde" em 1951, uma outra, em 79, fezo jornal perder 600 milleitores em seisanos, além de dar um prejuízo perto deUS$ 20milhões. Nomeio de toda a crise,foram realizadas sele eleições internaspara a direção do jornal, entre 1980 e1982. Em 1985, o jornal se reergue, aumentando a sua tiragem e publicidade,mas tendo que demitir pessoal e aumentar o número de acionistas.Hoje, o "Le Monde" figura em quinto

    lugar no ranking dos jornais mais vendidos na França, mas mantém fama eprestígio. Para trocar de sede em maiodeste ano, o jornal aumentou o preçodo exemplar dos tradicionais 4,50 francos para 5 francos. Depois de 45 anosfuncionando num antigo prédio perto da ,Ópera, o "Le Monde" se instalou confortavelmente numa moderna sede nobairro de Montparnasse, em Paris. Amudança foi proposital para coincidircom a compra de uma nova impressora, _ 1'1em setembro do ano passado, e com areforma tecnológica pretendida pelo "LeMonde".

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  • ZERO

    Mesmo nos onze estados em que oequilíbrio entre 0S candidatos exigeuma nova eleição, o governo federalnão está mal: em cinco deles o presidente é apoiado pelos dois candidatosque disputarão o segundo turno no dia25 de novembro. Alagoas, de onde Collor decolou para Brasília, exemplificabem esta situação. Lá, os candidatosque voltarão às urnas no dia 25 sãoRenan Calheiros (PRN), o ex-líder dogoverno naCâmara Federal, e GeraldoBulhões (PSC), o candidato da primeira-dama Rosane Collor - Ambos amigos de juventude do presidente e colloridos de primeira hora nas eleiçõespresidenciais de 89. As brigas que estão acontecendo em Alagoas, COin Calheiros acusando Bulhões de fraudaras eleições e responsabilizando o tesoureiro da campanha presidencial deCollor, Paulo Cesar de Farias, pela articulação da "fraude", não são absolutamente brigas ideológicas. Antes pelocontrário, Calheiros e Bulhões disputam a posição de "preferido" de Collor.

    Aparentemente, os ocupantes do Palácio do Planalto deveriam estar dando risadas, no entanto as urnas deixaram dois problemas para o presidenteCollor. Primeiro porque entre os poucos lugares em que vai haver uma disputa acirrada com a oposição no segun-

    COLLOR SAIFORTALECIDO ESEM SUSTOS

    Pedro Saraiva

    Com as apurações oficiais chegandoao seu final, os resultados das eleiçõesde 3 de outubro aparecem por completo. São 27 estados escolhendo seusgovernadores e elegendo 31 senadores,503 deputados federais e 969 deputados estaduais. Junto com os nomes dosvitoriosos, os votos do dia 3 mostramquem é quem na política brasileira eacabam por fortalecer ou destruir ossonhos de possíveis presidenciáveispara 94. E um dos maiores interes-

    '

    sados neste processo é o atual presidente Fernando Collor.

    Curiosamente, apesar de Collor teroficialmente mantido a posição de nãoparticipar diretamente nas eleições, oúnico governador já eleito que, fazabertamente oposição ao governo federal é Leonel Brizola, no Rio de Janeiro.Nos outros dez estados em que comcerteza, não haverá segundo turno, todos os eleitos apóiam Collor ou, pelomenos, transitam sem maiores percalços pelo Planalto.

    o nó formado pela indigestacombinação �e votos brancos comvotos conservadores desafia o país

    do turno, estão alguns estados estratégicos, como Paraná, Rio Grande do Sule principalmente São Paulo - sem falarna vitória de Brizola no Rio. Segundo,porque mesmo dentro as hostes governistas Collor terá que lidar com a ambição de líderes regionais que têmidéias próprias sobre quem deve subira rampa do Planalto em 94, como oainda candidato Hélio Garcia em Minas e o virtual governador AntônioCarlosMagalhães na Bahia - sem falardo incansável Paulo Maluf.

    Aliás, é justamente em São Pauloque Collor terá a batalha mais árduano segundo turno. Mesmo porque SãoPaulo foi o estado responsável pelaúnica declaração de apoio explícito deCollor, quando o presidente manifestou publicamente sua preferência porPaulo Maluf. Mas, principalmente,porque lá Maluf enfrentará Fleury, ocandidato de Quércia. E Quércia éuma das poucas lideranças oposicionista que ainda assusta o Planalto.Não sem razão: deixando o governo deSão Paulo com um índice de aprovaçãopopular de 50%, Quércia conseguiu levar seu afilhado político, Luiz AntônioFleury, do quase anonimato às proximidades do Palácio Bandeirantes. Eno caminho esmagou as pretensões dotucanoMário Covas ao governo de SãoPaulo e à presidência da República.Diga-se de passagem que o PSDB

    é um dos partidos que mais chora oresultado das urnas. Em São Paulo seucandidato Mário Covas sequer passoupara o segundo turno. Em Minas Gerais os tucanos utilizam cálculo avançado para dizer que ainda há esperanças de que Pimenta da Veiga ultrapasse Hélio Costa (PRN) e conquisteuma vaga para o segundo turno. Maspelas projeções fe.itas com os votos queo Tribunal Regional Eleitoral de Minas já apurou, é muito provável queo segundo turno seja disputado entreHélio Garcia (PRS) e Hélio Costa. Assim, dois líderes tucanos que planejavam voar alto foram abatidos emplenadecolagem, justamente nos dois maiores colégios eleitorais do país.Também no Paraná o PSDB sofreu'

    uma derrota humilhante. Seu candidato, o senador José Richa, no inícioda campanha era tido como favoritoabsoluto para chegar ao governo do estado. Na reta final da disputa, Richadescobriu que ia ter que assistir ao segundo tempo fora do campo: no dia 25de novembro os paranaenses escolherão se querem Roberto Requião(PMDB) ou José Carlos Martinez(PRN) como governador. Junto comRicha afunda outro conhecido peessedebista, o candidato a vice e ex-líderdo PSDB na Câmara, Euclides Scalco,que agora fica sem mandato.

    Em Santa Catarina o senador tucano Dirceu Carneiro ficou em quartolugar. Não ganhou sequer em Lages,

    cidade na qual foi prefeito e fez umagestão considerada impecável. Mas isto não foi surpresa, aliás, não houvesurpresas no 3 de outubro catarinense:Kleinübing governador, EsperidiãoAmin no Senado e Ângela Amin deputada federal mais votada. As oligarquias catarinenses derrotadas naseleições de 86 voltam ao poder a partirde 91. Na verdade, o retorno ao governo das oligarquias regionais, com seuscoronéis e famílias tradicionais, nãoé um privilégio catarinense - está aío "Toninho Malvadeza" para confirmar.

    Quanto ao PT, o partido teve o desempenho previsto pelo seu presidenteLuís Inácio Lula da Silva. Dias antesdas eleições Lula afirmava: "O PT teráseu pior desempenho eleitoral desdesua fundação". De fato, apesar de aumentar sua bancàda na Câmara Federal de 17 para 30 deputados (de acordocom projeções) e de eleger o paulistaEduardo Suplicy para o Senado, o partido que chegou ao segundo turno daseleições presidenciais não conseguiuse firmar como o líder mais forte daoposição ao governo Collor. E o PTpaulista ainda teve o désprazer de assistir o candidato PauloMaluf em primeiro lugar nas urnas do ABC paulista.

    Se houve perdedores, houve ganhadores. Como disse o comentarista político Carlos Chagas, mesmo com oseventuais problemas que o Planaltovenha a ter em São Paulo e em outrosestados-chaves para a definição doquadro político nacional, "certamenteo vencedor destas eleições foi o PFC,Partido do Fernando Collor". A maisnova versão do Arenão, Centrão e outros partidos do poder, que já são velhos conhecidos da rotina política brasileira.

    Parece que o eleitorado decepcionou-se com a atuação de alguns deputados e resolveu dar um basta. Nomescomo Iraí Zílio, Neuzildo Fernandes,José Bel, Vânio de Oliveira, JorgeGonçalves da Silva, João Gaspar daRosa, José Luís Cunha, Raulino Rosskamp e João Romário Carvalho terãoque se conformar com a decisão do povoe trabalhar para garantirem suas vagas nas próximas eleições. Até mesmoo presidente da Assembléia, deputadoAloísio Piazza, não foi reeleito.Mas o apoio popular ficou mesmo

    com os 13 deputados estaduais que ficarão por mais quatro anos em suascadeiras. Destes reeleitos, a União porSanta Catarina elegeu oito: Pedro Bittencourt Neto, Wilson Wan DalI, Sidney Pacheco, Otávio dos Santos, Joaquim Lemos, Júlio Garcia, José Pedroso e Leodegar da Cunha Tiscoski. OPMDB recebeu o aval popular atravésde João BatistaMatos, Rivaldo Macarie Lírio Rosso. Mas quem continua comseu eleitorado fiel, mesmo com as mudanças de partido, são os deputadosMário Roberto Cavallazzi e Ivan Ranzolin eleitos pela coligaçãoNovaSantaCatarina, PRN-PTR.

    O que realmente surpreendeu foi areeleição de quatro candidatos doPMDB. Luiz Henrique da Silveira,Neuto de Conto, Renato Vianna eEduardo Pinho Moreira vão continuaremBrasília ocupando suas cadeiras naCâmara Federal. Outro que continuapor lá é o deputado Roberval Pilotto,reeleito pela União.Todos estes deputados farão compa

    nhia aos recém-eleitos. São 11 novosdeputados federais, que estão junto aoscinco reeleitos.E para trabalharemjunto com os 13

    estaduais foram eleitos 27 novos deputados.

    Para a Câmara Federal AngelaAmim, César Souza, e Paulo Bauer,os três candidatosmais votados, forameleitos pela União,juntamente com osoutros seis candidatos. O PMDB elegeu cinco, sendo que o mais votado dopartido foi o deputado Luiz Henriqueda Silveira. Para ocupar as duas vagasrestantes ficaram os candidatos daFrente Popular, Luci Choinaski, do PTe Dércio Knopp, do PDT.A União por Santa Catarina elegeu

    19 deputados estaduais. Coincidentemente em 1986, os três principais partidos dessa coligação elegeram seuscandidatos que somados, tambémpreencheram 19 vagas na Assembléia.Entre os mais votados em 1990 estãoReno Luiz Caramori e Witich Freitag.O PMDB, que em 1986 igualou-se aonúmero de vagas dos partidos hoje correspondentes à União, este ano preencheu somente II vagas. A Frente Popular elegeu seis deputados, o PRNtrês e o PSDB ocupou apenas uma dasvagas na Assembléia Legislativa.

    AVALANCHECONSERVADORATAMBÉMEMSC

    Jeanine K. Bellini

    As eleições de 3 de outubro demonstraram a insatisfação popular diantedo panorama atual. Com um percentual muito grande de votos brancos enulos, elas serviram de alerta: algonão vai bem com a democracia brasileira. Em Santa Catarina amaior prova de que o povo cansou de acreditarem palavras de políticos foi o baixonúmero de deputados reeleitos, Entreos 23 candidatos a reeleição para a Assembléia Legislativa apenas 13 garantiram sua vagas.