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, 'H , A mina dos mineiros "Eu e você num super papo nas páginas 14 e 15" Ribeirão da Ilha, Ontem e Hoje Páginas 10, 11 e 12 Jncques Mio. Sem terra escreve e Zero publica Página 3 Na Central

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A mina dos mineiros

"Eu e você num

super papo nas

páginas 14 e 15".

Ribeirão daIlha, Onteme HojePáginas 10, 11 e 12

Jncques Mio.

Sem terraescreve e

Zero publicaPágina 3

Na Central

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DIAS DE AGONIA

Diário de um. colono

o ZERO publica com exclu­sividade o diário de um acam­

pado da Fazenda Taitalo, emOaçador. O texto, manuscritoem caderno universitário porJoacir Trindade é o registro deum dos poucos aHabetizadosdo acampamento. Serviu de

roteiro, no último dia 27 de

outubro, quando mais de miltrabalhadores rurais sem-ter­ra dramatizaram "in loco" a

ocupação da área. Aqui trans­crevemos literalmente o textodo Joacir."Após dois anos de organiza­

ção nas comunidades nós parti­mos para uma ocupação de lati­fúndios no dia 30 de outubro de1987 as 11 horas da noite no

município deCampoErê e Irani.

Enquanto os companheiros se

reuniram um companheiro saiucom uma moto para envestigara estrada e ver se a area nãoestava guarnecida e ver se não

tinham companheiros prezo.Perto da entrada da area o

companheiro persebeu uma ba­reira de políciapassando 2 vezes

pela bareira e não foi reconheci­

do, voltando atras deu sinal aoscaminhões os quais os compa­nheiros se dirigiam.Vendo que a estrada esta­

va barada pegaram outra estra­

da, aonde se dirigiam a fazenda

Campo Grande.Por volta das 5 horas da ma­

nhã chegaram no local uma ca­

ravana de 27 caminhões e 4 ôni­bus.

Chegando ao local os. com­panheiros pediram permissãopara uma família que cuidava

para entrar, e a família não deuordem. Os companheiros se des­cidiram e abriram o portão comas próprias mãos. Além da can­seira do sono e da fome estavamtodos animados pela vitória de

conseguir realizar a ocupação.E ao amanhecer o dia realiza­

ram uma assembléia e começa­ram a armar os baracos.

Enquanto o tempo se pas­sava durante o dia escutamos norádio que 12 caminhões quetransportavam os companhei­ros estavam prezos desda noiteanterior com os companheirosno sol sem comer ficando prezosaté o meio dia.

.

N8; noite do dia 31 um grupo de

companheiros que foram bara­dos se deslocaram da linha ca­

margo as 9 horas da noite em

média de 700 pessoas percorren­do 24 K. a pés crianças com 6anos caregando irmanzinho nas

costa.Um senhor de idade de 68

anos caregando 60 K. nas costa e

mais uma criança de 5 anos.Um casal camsando na via­

gem acampam, de não poderseguirem frente. Foram obriga­do a pouzar na beira da estradano dia depois os companheirosvieram emcontrar.A comitiva chegando no rio

sargento com 20 metros de lar­

guras formaram uma comisão

Sem-Terra

de 30 homens em questam de

segurança parapasa as pessoasprincipalmente as crianças.Seguindo a caminhada todos

com sono e com fome e muitoscamsados fizeram uma paradapara descanso 8 K.ls longe daarea.

Seguindo em frente chegandoperto da area deram falta deuma menina com 8 anos de ida­de. Formaramuma comissão de3 companheiros e voltaram a

procura da menina. Encontra­ram amenina dormindo no localonde fizeram a parada a comis­são voltando no local onde esta­vam os companheiros esperan­do emtregaram a criança paraos pais.Entrando pelomato e se apro­

ximando da area por volta das 9horas damanhã do diaprimeiro.Os companheiros que já esta­vam na area foram encontrar acaravana abraçando os com­

panheirose ajudando trazer as

mochilas.

Enquanto os companheiros

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I,

Joacir registrou as ocupâções deterra

que fizeram a caminhada dor­miam os outros armavam os

baracos. Formamos uma co­

missãoparanegociar com o pre­feitoonde ficouprezoum compa­nheiro.E outra comissão foi a Floria­

nópolis para negoçiar onde não

foram recebidos pelo governa­dor Pedro Ivo Campos.No domingo as 11 horas da

noite o juiz de Campo Erê mais oprefeito Darci Furtado assina­

ram a eliminar de despejo.No dia 2 chegam no local

as primeiras imvestigas da poli­cia o delegado de Campo Erê e

um menbro da U.D.R. fazendo'varias perguntas.No dia 3 o oficial de justiça

I

acompanhado de dois policiaschegaram na area exigindo queos sem terra desocupasem a

area para evitar que o despejofose realizado, no mesmo dia

comesa as mobílizações da poli­cia.

Vindo alguns policias acam­

par 1000 métro longe da area

empedindo a entrada e saída dos

companheiros ou qualquer pes­soas que quisessem entrar. Os

companheiros foram impedidode levar crianças para o ospí­tal.Uma mulher que estava para

dar luz a uma criança foi obriga­da a ganhar a criança embaixo

do baraco. No dia 4 de novembro

por volta das 7 horas da manhã

chegaram no local1.8oo policiasarmados com fuzil baionetasbombas de gás e o Batalhão de

choque alguns policias com ca­

pas de asso e todo tipo de arma­

mento de gerra cercando toda aaárea.O oficial leu a eliminar de

despejo dando meia hora de

prazo para desocupar a area emtão pouco tempo, negociaramcom o juiz e o comandante da

brigada e pediram prazo mais

prolongado conseguindo prazoaté o meio dia para desocupar aarea numa base de 12.000 pes­soas nas quais 7.000 eram crian­

ças. Foram desmanchando os

baracos estragando as lonas e

alimentos saindo da area, sendo

obrigados a pasar por uma bar­reira de polícia, que revistaramtodas as mochilas tirando os

facãms facas de mesa e ferra­

mentas de trabalho. Varios

companheiros foramprezos em­

trevistado pela propria policialogo em seguida foram jogadoem sima dos caminhães e leva­dos de volta as comunidades de

origem.

Os companheiros de Irani em­formadoso fatoque estavaacon­

teçendo emCampoErê se reuni­

rão no acampamento com uma

assenbléia e disidiram de sairda

area para o assentamento vizi­

nho, para evitar que o despejoacontesesse onde permaneçe­ram acampado na area da co­

munidade do assentamento.Com o despejo de Campo Erê

ficou dividido os companheirospara Quilombo e Campo Erê,emquanto a UDR, as autortda-

des do município e do estado

faziam festa comemorando a

vitória que eles tiveram.Mais uma vesmostramos que

nossa organização foi mais for­te. Reorganizamos dois acam­

pamentos um em linha Conti­

Quilombo e outro em linha Tre­

visan em Campo Erê.Éramos três acampamentos

Campo Erê 600 Quilombo 200 e

Irani 400 durante 6 meses de

negociação fazendo caravanas

de companheir-os a chapecóFlo­rianópolis e até Brasilia 'não

conseguindo solução para o as­

sentamento das famílias acam­

padas dicidimos fazer a cami­

nhada pela reforma agraria.Os companheiros dos 3 acam­

pamentospercoreram um traje­to de mais de 150 K. a pé abaixode chuva e sol sairam dia 26 de

abril chegando emChapecó dia 1

de maio comemorando o dia

do trabalhador entre cidade e

campo.

Uma grande comsentraçãomais de 1.000 pessoas participa­ram permanesemos mais de 20

dias em negosiação com o Mi­rad. E não resolvendo o proble­ma voltamos para os acam­

pamentos e resolvemos nova

ocupação de latifundios.

No dia 24 de maio a noite

os companheiros dos acampa-o mentos de Irani eQuilombo fize­ram uma ocupação na FazendaVolta Grande em Abelardo

Luz.

No dia 25 de maio os com­

panheiros de CampoErê ocupa­ramaFazendaRoseiranomuni­

cípio de Romelândia.

Permaneçemosna areamais de30 dias e fomos despejados pelapolicia, aonde esses companhei­ros sofrerão mais de 30 horassem comer jogados amaiorianacomunidade de Vila União e os

demais na Linha Trevisan.Nós que estava na linha Trevi­

san prendemos a caçamba da

prefeitura até o meio dia ejigin-

do que soltassem 'os 5 compa­nheiros que estavamprezospelapolicia. Por volta das 13 ho­ras chegou um onibus com 60

policiais todos completamentearmados, para entrar no acarn­pamentoebaternopessoal:Masnós tudo o que já tinha sofrido

pegamos as foiçe e as ferramen­tas de trabalho e não deixa­mos emtrarno acampamento seeles não soltassem nossos-eom­

panheiros nós queimava o oní­bus: Soltaram nossos compa­nheiros quase mortosarancaram a barba os cabe­los e caminhavam em sima dascostas. Num breve momento se

retiram do acampamento e fo­ram pra cidade.

Os companheiros da VilaUnião tentaram negoçiar com o

prefeito de Campo Erê não con­

seguir-am caminhães para vol­

tar resolveram fazer uma pa­seata na cidade parando em

frente da prefeitura agradeçen­do por ele ser causador das 30horas que as familias ficaramsem comer prosegiram a pas­seata fazendomais de 30K. apésaté o acampamento de linhaTrevisan.

II{)lpois de 2 meses das ocupa­ções da Fazenda olta GrandeAbelardo Luz e da Fazenda Ro­seira - Romelândia resolvemos

ocupar a Fazenda Taitalo com

150 famílias .... "

N.R.: Aqui termina o diá­

rio, mas luta dessas familias

pelas terras continua. Atual­

mente, estão acampadas no as­sentamento Matos Costa, â es­

pera de que o Mirad libere a

Fazenda Taitalo.

••

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ESGOTO burguês tambémtemmau cheiro! Prova disso éo odor insuportável da BeiraMar Norte. Nem mesmo per­fumes importados conseguemdiSfarçar o fedor que, sem

pedir licença, invade os aparotamentos da Avenida Rubensde Arruda Ramos nos dias devento forte. Engenheiros da

FATMA,daCASAN, eaverea­dora .JalilaEIAchkartêmpro­postas para o tratamento de

esgotos, que atualmente são

despejados direto no mar em

Florianópolis.A FATMA (Fundação de

AIDparo à Tecnologia e ao

MeioAmbiente) é responsávelpelo controle de esgotos da

parte industrial e de empreen­dimentos. OprofessorDomin­gos Alberto Rocco, da gerên­cia regional da FATMA em

Florianópolis, acredita que a

contribuição dos efluentes in­dustriais para a poluição daBeira Mar é quase insignifi­cante se comparada com os

residenciais, que têm seus sis­temas de esgoto controlados

pelo Departamento de SaúdePública e pela CASAN.O engenheiro Ronald

Sotschnig, daFATMA, dispõede uma equipepequena, "

porisso damos prioridade às 52

pI"a.Ü\S que temos para fiscali­zar, onde os resultados sãomais compensadores".Sotschnig acredita que os es­

gotos da capital deveriam sertratados em uma lagoa de es­

tabilização.OengenheiroGrover,daCA­

SAN (CompanhiaCatarinensede Águas e Saneamento), ex­plica que estão construindo

OS FLUTUANTES

e Jalila garante que este gás é90% menos poluente e 75%mais econômico que os outroscombustíveis. Em São Pau­lo o uso de biogás foi aprovadona Câmara de Vereadores e o

Sindicato dos Taxixtas de Flo­

rianópolis tembém já aderiu àidéia. "Outra vantagem é queas fontes de biogás são inesgo­táveis, poque o lixo e esgoto,matérias-primas para esse

tratamento, são gerados per­manentemente pelo homem",enfatiza Jalila.

Grandes. avenidas,lindos edifícios eum cheiro horrível

Engenheiros da FATMA�da OASAN e rauta-ev,têm propostas paratratar o esgoto quevai direto pro mar.

uma lagoa de estabilização nocontinente. "Nós também te­mos um projeto para a cons­

trução de uma lagoa na ilha,perto do aeroporto, mas fal­tam verbas. A solução seria a

CASAN cobrar uma taxa da

comunidade, porque o trata­mento dos esgotos beneficia­ria a todos", conclui.

Pontos CriticosO departamento de química

da UFSC está trabalhando no

projeto "Determinação das

Condições Ambientais dasBaías Norte e Sul da Ilha deSanta Catarina" e tem convê­nio com a Universitá degliStudi di Venezía. Um dos re­sultados encontrados até ago­ra foi que os pontos mais crítí­cos são: onde entra o despejodaruaOthonGamaD'eça; soba ponteHercílíoLuz e perto daAssembléia Legislativa, na

Beira Mar Sul.A coordenadora do projeto é

a professoraDuartina Gos As­

sunção. O objetivo principal édeterminar a qualidade das

águas da Beira Mar e com os

resultados forçar autoridadese tomarem providências.Duartina afirma que "emmuitos locais pesquisados há

.

apenas dois mg de oxigêniopor litro de água, onde é im­

possível a vida para um ani­mal aquático". Ela explicaque onormal seria oitomg. "A

redução do nível de oxigênio édevido aos poluentes orgâni­cos e inorgânicos e aos deje­tos que vão direto para o mar,sem nenhum tratamento",completa a professora.

Ônibus à gásA vereadora Jalila El Ach-

o cheiro da Beira Mar não permite que se respire fundo

kar, eleita pelo Partído Verdeem 15 de novembro, tem a

proposta de reconstrução darede de esgotos na cidade. Eladefende a criação de pequenasestações de tratamento paraque dos dejetos retire-se bío­

gás, que é viável como com­

bustível epoderia serutilizadona cozinha ou como gerador deeletricidade. Como diz Jalila,"estas estações se auto paga­riam em cincoanos, e os recur­sos para sua construção pode­riam viT do Poder Público ou

de empresários interessadosno gás".

Outroprojetoque a vereado­ra pretende defender é a apro­vação do uso de biogás com

combustível em táxi e ônibus,

Energia e RespiraçãoRosemary M. M. Fabrin,

residentenaBeiraMarNorte e

criadora do MEHU (Movi­mentoEcológicoHumanitárioUniversal) lamenta que "oshomensnão entendemque têmuma natureza interdependen­te e que precisam de ajudamútua, por isso não tem o

direito de alterar a natureza,já que ela não nos pertence".Rosemary reclama que' 'pelamanhã, na hora do rush aos

banheiros, o cheiro fica insu­

portável, além de que nos diasde vento forte o mau cheiroentra nos apartamentos até

pelos ralos".

O engenheiro Grover nãoestá tão entusiasmado quantoa vereadora: " A coisa não étão simples assim, é muitomais técnica do que parece" .

diz.

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Ana Lavratti

4 c' ZERO ,

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ELETROSUL

Heróis da ResistênciaQuem faz

greve paga.

Quem não

faz ganha.

Filmes pornográficos, futuraspromoções, pagamento de diáriasantecipadas e transporte de gra­ça. Esses foram alguns dos privi­légios dos quais os funcionários daEletrosul que não aderiram a gre­ve, dispuseram nos últimos dias.Tudo vale quando se trata deman­ter a empresa em funcionamento,até mesmo a formação de gruposde operadores aposentados, esta­giários e pessoas da chefia queatendem pelo nome de "ComandoDelta". Desde o ínicio da greveesse grupo vem colocando preca­riamente as estações e usínas da

empresa em funcionamento.Enquanto isso, do lado de fora da

empresa, apesar das demissões,ameaças e suspensões, os grevis­tas contínuam unidos no movi­mento que já levaummês. Ao somdaRádioPantaneira, ummicrofo­ne e algumas caixas de som ínsta­ladas no Centro Comunitário doPantanal, os funcionários se dis­traem com as brincadeiras deJosé Carlos Leite, um locutor queusa de toda a suacriatividadeparaironicamente criticar a empresa.Nos intervalos comercias, Leitecapricha na entonação da voz e

solta o slogan já bastante co­

nhecido: "Tudo está tão bom,tudo esta tão bem, vem prá grevepelego vem".A programação da Pantaneira

começa cedinho com a "conversaao pé no saco". Depois vem o

jornalismo na greve que situa os

funcionários quanto .as negocia­ções através do "Bom dia grevis­ta" e "Informes Sindicais". Paraa descontração do pessoal Leiteapresenta o show do Xuxo. Comoqualquer rádio que se preze, a

Pantaneira também presta servi­ços de utilidade pública, como

informes dos horários dos ônibusKarla Bastos/Zero

Sem garantia de emprego eles não voltam ao trabalho.

da Pelegosul, nome oficial da Ele­trosul, dado pelos radialistas. Arádio criada na greve anterior, ésegundo Leite, uma maneira dos

grevistas "botarem a boca no

mundo". "É onde as coisas sériassão ditas na brincadeira", acres­centa.

Mentiras, mentirasApelos aos funcionários para

voltarem ao trabalho com garan­tias de atendimento com a chefia e

publicações de editais tranquili­zando a comunidade de que o siste­ma eletricitário não sofre riscos,são algumas das afirmações queconstroem o "castelo de men­

tiras" da Eletrosul. Amais absur­da, segundo os grevistas, foi a

declaração do presidente da Ele­

trosul, PauloMelro, de que o salá­riomédio dos funcionários é de 700mil cruzados. Irritado com a de­

claração, um engenheiro formadohá 25 anos, duas pós-graduações e

17 anos de Eletrosul, mostrou seu

contra-cheque de 624 mil cruza­dos: "Todos sabemos que o saláriomédio da empresa não chega aos

300 mil. Nem eu que já cheguei notopo da pirâmede ganho os 700mil afirmados por Paulo Mel­ro. Embora as pessoas tenhama impressão de que somos ma­

rajás, ao contrário somos a ralé dosistemaeletricitário", protestou o

engenheiro que não quis se identi­ficar temendo represálias da em­

presa.Negociações. Quando?

A greve que já completa um

mês se mantém pela garantiade emprego e não mais pelasquestões econômicas que já foramparcialmente atendidas.Os funcionários recusam-se a vol­tar ao trabalho enquanto as 15demisões e 50 punições foremmantidas. Esse impasse envolveu

Foto de Karla lItuJtos

políticos que como o senador Dir­ceu Carneiro (PMDB-SC), defen­de os grevistas na qualidade deintermediárionas negociações en­tre empresa, governo e funcioná­rios.

Além disso, uma comissão for­madapor representantes da inter­sindical dos quatro estados onde aempresa atua (Paraná, Santa Ca­tarina, Rio Grande do Sul e MatoGrosso) e parlamentares, espe­ram já há dias em Brasília uma

solução para o impasse. As infor­mações são de que falta ape­nas uma atitude do Ministro dasMinas e Energia, Aureliano Cha­ves, de quem se espera por fim à

intransigência dos diretores daEletrosul. O problem, é que numdia Aureliano está viajando, no

outro está com o pé machucado, e

por aí vai.. .. Como comenta um

grevista, na verdade ele está es-.

corregando como sabonete, já queuma decisão a favor dos funcioná­rios irá desmoralizar a chefia da

empresa. O grevista João JoséCascaes Dias acrescenta dizendo

que a questão no momento estámais para Freud do que para Sar­ney, já que o Ministro Aurelia­no procura uma maneira de nãodesautorizar a empresa publica­mente, apesar de concordar coma

reivindicação dos funcionários.

ReivindicaÇÕeSOs 29 dos 31 ítens da pauta de

reivindicações dos grevistas f0-ram deixados para serem discuti­dos quando-osiunéionârloS vólta­rem ao trabalho, O presidente daAssociação dos Profissionais da

Eletrosul, (APROSUL). CláudioCorradíni, diz que as reivindica­

ções visam acabar com os apadri­nhamentos e extinguir os privilé­gios.Os funcionáriosexigemo fimdas contratações e a convocaçãode eleições para díretoría.

Dka Goldscbmidt

DEZ-88 ZERO 5

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de onde muitos foram expulsos.

Os menores

recebem

alimentação e

treinamento

profissional

Quem visita a Escola do Me­nor Trabalhador pela primeiravez e espera encontrar algo pa­recido a um colégio convencio­nal deve se preparar para um

choque. Dentro do prédio antigopintado de cor creme, na rua

VictorKonder, 53, centro de Flo­

rianópolis, as crianças e adoles­centes entre 11 e 16 anos (todosdo sexomasculino) têm um pon­to em comum facilmente per­ceptível à primeira vista: a

agressividade latente.Ela servepara esconder a extrema carên­cia de afeto e as marcas impie­dosas do cotidiano de pobre­za.

Fundada em 1984, a Escola doMenorTrabalhadorde inicio eraadministrada pela SecretariaEstadual da Educação. Depoisfoi assumida pelas irmãs da

Congregação Salesiana (atual­mente três), que junto com 21funcionários - entre professores,vigias, assistentes sociais e cozi­nheiros - tomam conta de deze­nas de meninos considerados

"desajustados" pelo conceito­padrão da sociedade. Atualmen­te há 80matriculados, dos quais50 vêm sempre e uns 20, espora­dicamente. Não há lista de pre­sença na entidade, que é manti­da pela Fundação Vidal Ra­mos.Um dos grandes apelos quelevam os alunos a frequentar olugaré o doestômago: são servi­dos todos os dias, gratuitamen­te, café da manhã, almoço e

Aplicar um texto de Bertold

Brecht em garotos de rua que

mal sabiam ler, parecia uma

idéia meio absurda. Mesmo(

assim resolvemos insistir nela e

ver o que eles conseguiam

captar da história dos tubarões

e dos peixinhos, oque era

sociedade e, principalmente,como viam a escola tradicional,

EDUCAÇÃO DO MENOR

A vez do menorFotos de Maria Cristi'lUl Joshizato e Simone Dias

lanche. Um paraiso para crian­

ças que, inúmeras vezes, preci­sam fazer pequenos furtos em

supermercados para poder se

alimentar. A única exigênciapara usufruir da comida da es­

cola é participar de um dos "re­cantos" - atividades grupais de

alfabetização, arte, esporte ou

treinamento profissional."Mas a gente nota que eles

gostam da escola", diz a irmãMaria Teresinha Dalla Porta."É o unico espaço que eles têm

para extravassar. Às vezes atémesmo quando são suspensos. Asuspensão é o castigo mais gra­ve aplicado aos alunos, namaio­ria das vezes quando cometem

atos de violênciaexagerada con­tra os companheiros ou funcio­nários. A irmã Teresinha tem 26

anos, trabalha há quatro com

crianças e desde fevereiro últi­mo I1stá na Escola do MenorTrabalhador - única entidade do

gênero registrada em Santa Ca­tarina.Em fevereiro, o regimento in­

terno foi aprovado pela Secreta­ria da Educação, o que permiteaos alunos cursar o equivalenteàs quatro primeiras séries do

primeiro grau. Caso vença os

conteúdos básicos - transmiti­dos de maneira bem diversa doensino formal - o estudante esta­rá apto a entrar na quinta série

Leitura sem inocência"O tubarão é malvado para os

peixe. Os tubarão come ospeixe nomar. O peixe tem que fugir dostubarão. O tubarão maltrata os

peixe nomar. Oprefeito é tubarãogrande. Os peixe tem que respei­tar os mais grandes no mar. Ostubarão são malvados com os pei­xes. No mar chefe é o tubarão. Omeu sobrinho é peixinho e eu sou

tubarão. Nomar tem várias espé­cies de peixe. Se eu fosse peixinhoeu saia domar para longe daqui.Nós peixes vamos reunir uma tur-

'- ___' ma para espantar os tubarão".(Carlos)

"Eu sou.um peixinho, sou explo­radopela política. Os tubarões sãomaus porque acham que os peixi­nhos não servem para nada, sóservem para roubar, matar, an­

dar sujos. Na sociedade os peixi­nhos são descriminados porque a

maioria são negros. Eu sou um

peixinho Jiscriminado porque sou

negro". (André).

6 ZERO fi DEZ-88

quando sair. Isto não acontececom frequência, lamenta a ir­

mã, pois a maioria dos menoresentram na escola analfabetos,ou já vêm expulsos de outrosestabelecimentos de ensino pornão terem se adaptado. A linha

pedagógica é a dialética, quevisa preparar a criança paradesenvolveroespírito crítico emrelação à sociedade. O horáriode funcionamento é das 8h às17h, com férias de fim de ano e

atividades de lazer em janeiro e

fevereiro.Irmã Teresinha observa que, _

curiosamente, a agressividadedosmeninos é usada também co­

mo forma de demonstrar carí-

"O Sarney é o tubarão porquepõe a polícia pra cima de nós. Ospeixinhos são aqueles que não temalimento para comer. Os tubarõesquerem que os peixinhos obede­çam 'para eles poder comer. Ostubarões devia ensinar eles a brin­car, se divertir e não fazer artes.Os peixinhos devem agradecersuamãe. Eles devem teruma casafeliz e contente, muito longe da­

qui". (Marcos)

Dauro Veras

nho: "Teve uma época que eutava com o braço preto de tantolevar beliscão de um deles, quequeria chamar a minha aten­ção". De inicio o projeto daEscola previa o atendimentomisto, mas as condições precá­rias de trabalho, aliadas ao nú­mero pequeno de funcionáriospara tomar conta de toda a ex­

tensão do prédio, criaram pro­blemas ligados à sexualidade.Assim, as meninas deixaram deseratendidas. "às vezes surgemcasos de homossexualismo" ,

admite a religiosa, "e tambémde consumo de drogas". A nor­

ma é não fumar aqui dentro. Sealguém usa maconha lá fora a

gente nota. Eles vêm depressi­vos ou agressivos". Mas, segun­do ela, o furto tem sido um

problema bem maior.Os meninos não encaram o

furto como algomoralmente er­

rado. Para eles, como o super­mercado rouba, o que fazem ao

surripar algum objeto é sim­

plesmente um ajuste de contas."Temos o cuidado para não in­centivar a atitude nem recrimi­nar severamente", frisa. Nor­malmente, a preferência recaisobre chocolates e outros ali­mentos, ou então roupas tiradasde varais. A -questão é trabalha­da com tato, para não reforçarum comportamento delituosonem estimular a aceitação pas­siva das desigualdades sociais.Também quanto à religião, to­ma-se o cuidado de enfatizar a

formação espiritual de forma

ecumênica, sem dogmas e fór­mulas prontas.E o futuro? "Alguns saem da­

qui e conseguem trabalho ... ",diz a irmã, depois de uma pausaimais longa que o habitual. E os

outros? Reticências ...

"Da minha parte quem é tuba­rão é o José Sarney e Pedro Ivo. Ostubarão são os prizidente e os

prefeitos que gosta de nos maltra­tar os peíxínhos.que são nós ele faznós paga passagem". (Ema­nuel).

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A Escola do Menor Traba­lhador tenta dar aosmeninoscarentes uma visão críticasobrea realidade em que elesvivem. Fazer deles garotoscríticos e conscientes da in­

justiça social. "Agentes da

Transformação", define Jú­lio Cesár Broch, com sua

experiência de quatro anos

comoprofessor de EducaçãoFísica das crianças. Sãome­ninos carentes e a escolapre­tende orientar essa rebeldiapara algo positivo. Aqui co­meça a revolução.

Em seu apartamento no

Córrego Grande, Júlio con­

tou um pouco sobre os meni­nos e levou um susto quandose viu frente a uma pergun­ta: "E qual é o futurodeles?

"

"Queres um chimarão?",desconversou e foi para a

cozinha. "É difícil saber. Oque nós tentamos fazer é dara eles as condições para quepossam questionar a pobre­za".

Na relação que mantémcom os meninos, Júlio Césarsegue o sistema preventivoDom Bosco e tenta ser o

menos repressivo possível.

Nas aulas de educação físi­ca, ele jamais colocou osme-

Antônio Carlos de Souza tem 16

anos, mora no "Passo do Gado pertodaProcasa, pertodaMarinha, pra ládoEstreito".Mora longe,mas quasetodos os dias vem até à Escola doMenor Trabalhador, no centro dacidade. Ele é um desses garotosconhecidos como garoto de rua, ca­

rente, marginalzinho. É provávelque seja, mas muito mais porque os

outros garotos, os contextulizados,queiram assim.

Antônio é bonito? É Forte? Tam­bém. Talvez um pouco baixo para a

sua idade . 1m e 50 de altura. Étímido, calmo, um tipo de calmo

que ninguém gostaria de ver ner­

voso.

Sobre os seus dias, ele conta quea primeira sensação ao acordar é a

preguiça. Levanta, lava o ros­

to ... nem toma café e sai logo poraí, vai dar umas voltas.

Quando Antônio fica em casa duorante a manhã, gosta de soltar pipa

.

em cima da lage do banheiro. Solta

pipa, assiste televisão, brinca de. - dominó. Lembra dabicicleta (a bící­

cleta!) do primo e vai até a casa da

tia, afinal ele também tem uma tia.Resolve jogar umas partidas de sí­nuca com o primo, "quem perdepaga" - então os outros garotos esta­vam certos, o marginalzinho dosbares e da sinuca finalmente apare­ceu, heim?

Depois eles brincam de lutinha,capoeira, alguma coisa pra espanotar o frio. É hora do almoço. Airmã, Sônia Aparecína, que tarn­bém tem 16 anos, prepara o arroz,

PERFIL DO MENOR

ninos em fila e deu as ordens,1, 2, 3, 4, ..... SeguidamentelevaagarotadaparaoAterroda Baía Sul para jogar fute­bol. Mas nunca apita as par­tidas. Deixa que eles acusemas faltas e decidam regras.

Júlio logo começou a sentir arelação de poder entre eles.

Omais forte sempre domina­va. "Agora mudou muito.

Antes era uma brincadeiradanada. Pancadariageral. Afila do almoçoera uma grita­ria só." Muito rebeldes, os

meninos são agressivos a

primeira vista. "Ás vezes euficava puto com eles", admi­te esse gaúcho de 33 anos,natural de Espumoso. "Po­rém, é preciso diálogo, amore conquista".

Ferrugem, de 11 anos, bri­

gava muito. "Ele quebravatudo na escola", conta Júlio.

Ferrugemmora noMorro do

Horácio, mas já fugiu de ca­

sa e passoumeses vivendo narua. Hoje, ele cuida de carrosem frente a MacarronadaItaliana e todos os dias leva

Antonio frequenta a Escola doMenor

•o feijão, a carne.

Antônio descansada comida, esco­va os dentes - às vezes fica com

preguiça: não escova os dentes; masos tem, escova e dentes. Os outros

garotos se surpreendem com essas

coisas. Depois dá uma vontade desair:.. Antônio vai para a Escola.Fica lá até dar vontade de ir embora,lá pelas 4 horas da tarde. Pega o

ônibus do Monte Cristo e vai para a

casa.

Desce do ônibus encontra ami­

gos, bons de bola. Jogam. Brin­

cam até anoitecer no campo sa­

pé.Quase 9 horas da noite, Antônio

não gosta de chegar cedo em casa.

Está cansado, vai embora. Lá encon-

Na escola só entram crianças interessadas a ler e escrever

uma grana prà casa".

Júlio conta que logo que foifundada a escola, os profes­sores tinham apenas o co­

nhecimento teórico sobre o

trabalho com menores ca­

rentes. E haviam figurinhasainda mais difícieis que Fer­

rugem. Eram meninos que

tra a mãe, Enendina, faxineira. Elenãolembradaidadedamãenemado

pai. o Seu Sérgio, pintor de paredes.Os irmãos estão em casa também: a

. Cleusa, de 11 anos. a Eliane, com 9anos e o Paulo, de 12 anos,'além daSônia Aparecida. a que faz o almoçotodos os dias.

Depois de tomarem café . Antô­nio adora café com�ão doce - vãotodos assistir televisão. Os olhosde Antônio vibram quando come­

ça o filme do "Esquadrão ClasseA", na SBT. Estórias que prome­tem bons sonhos.Antônio tem um quarto onde dor­

mem ele e o irmão Paulo. Os doisirmãos dormem em um beliche. emcima ou em baixo. conforme a vonta­de. Este é um dos quatro quartos dacasa, "Tem banheiro. tem uma sala.cozinha, tem um pedacinho de cam­

pinho ali atrás. Casa de madeira.nova, grande, é boa demorar." Temgente lá dentro, tem comida, temcama, tem televisão, tem banhei­ro com laje! Tem mesmo?Dormir. Sonhar. O sonho impossí­veh a bicicleta. Possíveísr- Queria aprender a ser pintor.- Ah! UIlI pintor. um artista, um

pintor de quadros?- Não, pintor de parede.- Pintor de parede?- Como o pai, ele tem uma vidamelhor. Eu não queria ser rico,queira ser do mesmo tipo que sou,eu tenhoumaboa vida, alegre, nuncafui triste.

Milene Correa

Aprendendo a•

Jogar

viviam na rua, até uma gangda cidade foi ter aulas. "A

gente olhava para o lado e

tinha alguém cheirando colaou fumando maconha", re­vela. Nessa época acontece­ram 14 assaltos na escola e os

professores chegaram a con­

clusão de que' 'não era essa aclientela que nós quería-

Os menores

acham que a

capoeira instiga o

entendimento da

sociedade.

. 'Meu mestre me falou um dia/Meni­no preste atenção/Vou te ensinar a

capoeira/Tenha muita devoção". Aosprimeiros acordes do berimbau a rodase fecha, todos batempalmas e começaa paixão dos meninos da Fundação doMenor Trabalhador: a capoeira. To.das às terças e quintas feiras à tarde,Mestre Pop, dono da academia "Be­rimbau de Ouro". ensina esta arte queveio dos escravos africanos para umaplatéia sempre interessada. "Eu vimpara a Fundação por causa da capoeí­ra, que é uma dança legal e desenvol­ve o corpo", diz Edilson, 16 anos,com jeito tímido.Para estes garotos de origem sim­

ples, o ensino da capoeira instiga a

consciência social e o atendimento denossa sociedade. Roberto Carlos, 15anos. um animado cantor das letras decapoeira, demonstra conhecimento so­

bre ahistória desta dança noBrasil. "Orei da capoeira é Zumbi dos Pal­mares, o 10 capoeirista dentro da sen­

zala". afirma convicto. Beto, como éconhecido pelos companheiros da Fun-

fotos: Maria Cristina Joshizato e Simone Dias

o Futuro do país

o cotidiano de um

garoto marginalizado

mos". Após muitas discus­

sões, eles decidiram man­

dar a gang embora e sóaceitar meninos que quises­sem realmente aprender a

ler e escrever.

André Rohde

dação, diz que os negros jogavam ca­

poeira quando apanhavam dos bran­cos. "Nospalmares osnegrosusavama

capoeira para lutar contra os seus

inimigos. Que navio é esse/Que chegouagora/É o navionegreiro com os escra-

.

vos de Angola/Vinham di!' longe. de

Angola e Guiné/Trouxeram a macum­

ba olê lê/CapoeiraeCamdoblé" , cantaanimadamente Beto.Aos seus 13 anos, José Altino, Q

Ferrugem, não gosta de muito papo.Ferrugem prefere mesmo é mostrar oque sabe, desempenhando vários pas­sos de capoeira, como o rabo-de-arraiae o gato. Rosto sardento, estatura baí­xa, ele antende que "capoeira é só

para se defender" .

Acompanhado de um catuto, ba­se do berimbau, Guaraci, 15 anos,já é contra-mestrede capoeira, comum

ano de prática. Guaraci explica quetodo ano se faz exame para que os

capoeiristas passem de um cordão pa­ra outro, até chegar à posiçãomáximade mestre. O iniciante na capoeiracomeça com o cordão azul, seguindo-severde, amarelo e, finalmente o branco,para omestre. "Sabendo fazer todos osgolpes, o carapassade um cordão parao outro. Para chegaramestre é preciso7 anos de prática", completa Guara­ci.Roberto Carlos não pára de' can­

tar e batucar. O ritmo e a letra dasmúsicas é contagíants "Minha vida écapoeira/E eu sou capoeira/Olha a

manha,mandingae oração/Capoeira éreligião".

.

Rubens Vargas

DEZ"88 ZERO 7

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COOPERATIVISMO

Mina de carvão sai da falência na nlão dos trabalhadoresMineiro

trabalha

para siHá dois anos, a direção do

Sindicato dos Trabalhadoresna Indústria da Extração doCarvão passou às mãos de

lideranças ligadas à CUT e ao

PT. Começou então uma lutaque acelerou a falência de­uma das mais antigas mine­

radoras da região, a Compa­nhia Brasileira de Carvão

Araranguá (CBCA) e introdu­ziu a autogestão - administra­

ção dos trabalhadores.Os proprietários ÁlvaroCa­

tão e Sebastião Neto Camposestavam envolvidos num

rombo avaliado em Cz$ 1,3bilhão em dívidas com os go­vernos federal e estadual,credores particulares, e trêsmeses de salários atrasadosaos seus 765 empregados.

-" A falência estava progra­madapela empresapara den­tro de dois anos. Todo o patri­mônio da CBCA estava sendotransferido para a BarroBranco, carbonífera do mes­

mo grupo em LauroMuller. Osindicato da épocanão se opôsporque era dirigido por pes­soas de confiança da empre­sa. Quando assumimos, exigi­mos o recolhimento dos

encargos sociais atrasados e,com isso, apressamos a falên­cia", conta o atual presidentedo sindicato, José Paulo Sera­fim.

Essa estratégia frustou os

planos dos donos que queriamestatizar amina. Em julho de

1987, o juiz Francisco Borgesdecretou a falência e nomeou

o sindicato como síndico da

massa falida. Um ano e meio

depois, a "massa" saiu da

"lama", já aplicou Cz$ 300milhões na recuperação do

patrimônio (que havia sido

depenado pelos donos), pagaos melhores salários, estáabrindo novas fronteiras detrabalho e vira cooperativa.No último dissídio coletivo,

a CBCA se transformou em

carro-chefe para as reivindi­

cações dos trabalhadores. Osmineiros pediram 200%, o juizdeu 145% e o sindicato foi o

primeiro a pagar. Hoje os

salários variam deCz$118milà Cz$ 200 mil (mecânico pro­fissional). Para um fatura­mento de Cz$ 472 milhões, aMassa pagou, em outubro,Cz$ 127 milhões de salários e

encargos sociais.- Sempre defendemos que o

trabalhador tem capacidadede administrar uma empresae hoje temos um exemplo con­creto disso. O grande proble­ma é que o regime capitalistatenta boicotar e destruir esse

tipo de administração. Osmi­neradores sempre ameaça­vam fechar as empresas nas

negociações salariais. Hojenão têmmais como nos assus­tar com isso. Se estão tendo

lucro, que o repartam; senãopassem a mina para os 12.600

mineiros, que tem intenção derepetir a experiência da CB­

CA", diz Serafim.Cooperativa

A reativação da CBCA en­

volveu greves, combates coma polícia, prisões. Teve um

impacto social muito forte emCriciúma, cidade com 180milhabitantes e maior produtorde azulejos da América Lati­na. A mina ainda suscita cu­

riosidade na região e até em

outros estados. A populaçãolocal e os visitantes, na maio­ria, aprovam a experiência. O

antigo proprietário prefereesperar "para ver se dá cer­

to" .

A nova administração co­

meçou do zero. Recebeu do

governo apenasuma verba de

Cz$ 160 milhões para recupe­rar os equipamentos e pagaros salários atrasados. Em as­

sembléia no dia 7 de julho de

87, os trabalhadores elege­ram o engenheiro eletricistaMorvan Borges para gerentee formaram uma comissão de

mina, com 30 representantes(um de cada setor) que se

reúnem mensalmente paratraçar os planos de trabalho e

prestar contas. Morvan ga­nha o maior salário Cz$ 1

milhão ("abaixo do que ga­nha um engenheiro da minhagraduação em outramina"),mas já perdeu o cargo de

gerente.

,Juridicamente, o sindicatoainda é síndico da CBCA -

Massa Falida. Naprática, elajá funciona como cooperativados trabalhadores, em quecada um tem uma cota de

participação. Foi registradano último dia 25 de outubro e

agora está negociando as dí­vidas com os credores: Cz$1,5bilhão com o governo mais

Cz$ 400 milhões com os ban­cos.

Severiano Antônio Valen­

tim, o "Nego", eleito pelosmineiros para a presidênciada cooperativa, divide o tem­

po entre o escritório e amina,mas continua com o salário de

encarregado geral: Cz$ 221mil. Apesar de contar com a

assessoria técnica e jurídicade 30 funcionários, acha difí­cil "ser patrão e operário ao

mesmo tempo; ser da direto­ria e mandar nos donos. Aos

poucos, ! gente tira de le-tra".

.

Problemas de uma ilha do

socialismo no capitalismoEduardo Galeano, autor de

"Veias Abertas daAmérica Lati­. na", disse, certa vez, que o capi­talismo na América Latina tem

uma estranha peculiaridade: a

de monopolizar os lucros e socia­lizar as massas falidas. E mais:

os conquistadores achavam queesta terra tinhasidoamaldiçoadapelo diabo, porque não existia a

propriedade privada e os nativoscheiravam a enxofre.

Osmineiros daCBCA não chei­

ram a enxofre, mas trabalhamem propriedade coletiva. O fedorde ovo podre vem dos montes de

rejeitos piritosos que as grandesmineradoras jogam a céu abertoe entram em autocombustão,além de poluir OS rios. A Massa

Falida cobre as pontas de pedraque saem de seu lavador (comcapacidade para 500 tono de car­

vão bruto/dia) com barro e reflo­resta com eucalipto. "Essa é.mais uma pedrinha no sapatodos empresários que torcem pelonosso fracasso", diz o vice-presi­dente da cooperativa, LuizCarlosGomes França, um mineiro deOuro Preto-MG.

Da boca pra fora, os empresá­rios até reconhecem os resulta­dos da experiência de autoges­tão: "Eles estão fazendo uma

administração séria e, se conti­nuarem assim, não vejo incove­niências em serem do PT e da

CUT", declara o presidente da

Associação Catarinense das In­

dústrias de Extração do Carvão,JacyFretta, comquem o sindica­

to senta para discutir problemascomo cotas de mineração, trans­portes (a maioria dos mineiros

vai para o trabalho em paus de

arara) e dissídios salariais.

E problemas não faltam à CB­CA. A CAEEB-Companhia Auxi­liar de Empresas Elétricas Bra­sileiras (que está sendo

desativada) deve-lhe Cz$ 750 mi­

lhões. Pior: ainda há pessoasligadas aos antigos donos dentroda empresa, falta maior estoquede peças no almoxarifado;. otransporte de carvão é feito porempreiteiras ...Os problemas

Liquidação"Nego" está convicto de

que ninguém toma mais a

mina dos mineiros e apresen­ta um plano para saldar as

dívidas: pagar royaIties ou

doar terras da CBCA ao go­verno e quitar a metade dadívida bancária fornecendo500 tono de "moinha frotada

(cpl) em doze meses. Os Cz$200milhões restantes o antigoproprietário pagaria sozi-

nho.- Se o governo não aceitar

essas duas propostas, vamospedir a liquidação da empre­sa. Daí o governo tem queassumir ou deixa duas mil

pessoas sem comer", adver­te, confiante de que não seránecessário nem entregar os

700 hectares de terra da em­

presa aogoverno. "Queremosfazer um loteamento .para os

mineiros sem-terra".

Os mineiros da CBCA - MassaFalida não trabalham mais aos sá­bados. Já conseguiram reduzir a

jornada de 36 para 30 horas sema­

nais, no subsolo e de 48 para 40 na

superficie, antes que a Constituição

aprovasse as 44 horas. Mas no dia 18de novembro, "baixaram" à mina

para compensar a folga da vésperadas eleiçãos.Onze horas da manhã, centro de

Criciúma, eles surgem de todos os

lados. Botas, sandálias francisca­nas, capacetes, ,marmitas e palhei­ros acesos... Cai uma garoa e o

"puxado" de uma casinha aban­donada serve de marquise. Alguns"queimam" a marmita ali mes­

mo. É galinha com farofa, regata a

café com leite.O "Mosquito", Vilmar Pereira da

Fotos de Jacques Mick

Costa, cinco anos de mina, avisa queo pessoal pega junto. "Não tem issode "eu faço aquilo" . Quando não temencarregado que pega no pé, o caratrabalha à vontade". Mosquito tam­bém contaasvantagens de trabalharna mina administrada pelos minei­ros: pagam em dia, tem um "vale­zinho" no dia 20, ganha-se ordem

para farmácia, médico para a famí­lia, dois ônibus. Antes não tinha nadadisso. A segurança também melho­rou bastante.

Chega o ônibus. "É o nosso!"Vai para a mina B - Antônio deLuca, uma das menores e manual.No caminho, o clima é animado. Ocomentário do dia é a vitória do

"Gringo" (Antônio Sérgio de Li­ma) nas eleições. Um mineiro quesai da pá para a Câmara Munici­

pal. "Eu não pedi um voto sequer,só falei da consciência de que nóstemos que ter um representante":diz o vereador eleito.Boca da mina B, meio-dia, troca

de turno. A primeira turma pegaàs 6 horas, a segunda larga às 18 e a

terceira vai das 15 às 21 horas (é o

pessoal da manutenção). São 206homens ao todo. A cena lembra a

"Metrópolis" de Fritz Lang, com

uma diferença: a alegria. Apesarda água escassa para tomar ba­nho, há cantoria no banheiro.O encarregado da produção, An­

tônio Borges de Melo Neto, o "Gaú­cho" , de Soledade, explica toda essamotivação: Ninguém tá trabalhandopro-patrão. A produção mensal au­mentou de 1:0 mil toneladas para 22mil tono de carvão pré-lavado-cplmais 85 mil tono de rom".Cercado de mapas das minas e

do consumo de explosivos, "Gaú­cho" mostra que a mina B está na

carcaça. Tem carvão para mais

quatro anos. Em agosto de 89, resta­rão ali 40 homens. Os outros serãotransferidos e "vamos admitir mais150 para trabalhar no Verdinho e

Mina do Mato, duas minas em áreada CBCA em que há carvão paramais 10 anos", aponta, enquanto se

prepara para descer.- "Se o cara pensar na mina, não

baixa", alerta o encarregado da

segurança, José Ferreira. Ele .lem­bra a morte dos 31 mineiros numa

Produtividade

cresce muito

com autogestão

Sem capataz, mais motivação para o trabalho.

econômicos podem ser ameniza­

dos com o novo preço do carvão

(Cz$ 17.600,00 a tono de cpl) e a

livre negociação do minério com

as siderúrgicas e cimenteiras do

centro do País (sem intermedia­

ção rui. CAEEB). Os "rinoceron­tes" da era Catão-Campos serãoeliminados pela consciência polí-

(irmão de Álvaro), em 1950 -

época em que Neto Campos eraquímico doDepartamentoNacio­nal de ProduçãoMineral- jamaispoderiam imaginar que "isso

aqui seria uma ilha do socia­lismo no meio do capitalismo",conclui o funcionário Paulo Gon­

çalves FO.

tica dos mineiros, garante "Ne­

go".Quando Sebastião Neto Cam­

pos, o "TiãoMedonho" (ex-depu­tado estadual pela UDN, Arena e

PDS, que confinava líderes ope­rários e mandava atirar em jor­nalistas) eÁlvaro Catão compra­ram a CBCA de Francisco Catão

Eles mostram do que são capazes

vam água e lanche. A 200 metros da

superficie, 30graus centígrados, nin­guém tem nome, só apelido: "Cris­to", "Irmão", "Irmâozínho", "Mos­quito" ...Trocam "palavrões" e dis­cutem política pra tomar fôlego.Ferreira recorda como a jorna­

da de 12 horas foi reduzida paraoito na mineração: No começo deséculo, os vagonetes cheios de car­

vão eram puxados pra fora porburros. Emorriamuitoburro. Entãoos mineradores se flagraram que,diminuindo a jornada de trabalho,haveria menos mortes ...de burros.No fundo da mina não chove,

mas o chão é muito úmido. A águasome da superficie e reaparece,com alto nível de acidez, nos túneisminerados. E falta nos chuveiros.O suor e o pó do carvão (que provocadoenças do pulmão), formam uma

nata preta sobre a pele. E a minamanual produz menos pó do que a

mecanizada. Lá embaixo é impossí­vel reconhecer fisicamenteosminei­ros do ônibus. Viraram "pirita hu­mana". Mas a grande vantagem é"participar diretamente da admi­

nistração do que é nosso", conclui"Irmãozinho", no fim da linha.Geraldo Hoffmann

'.,

A entrada da "cidade" subterrânea

explosão da miná de Santana, emUrussanga, no dia 10 de setembro de1984. Aqui não ocorrem acidentes

graves há cinco anos. O número de

pequenos ferimentos pormês caiu de12 para uma média de três. "Quemfaz do trabalho um ato de amorevitaacidentes" .Iê-se numa plaqueta fin­cada à entrada da mina.Ao passar em frente do oratório

com a imagem de Santa Bárbara,padroeira dos mineiros, todos se

benzem. Olham no letreiro dum pe­daço de tábua, a recomendação dosfilhos: "Papai, estamos esperandovocê em casa. Trabalhe com cuida­do". É uma ida sem volta certa.Dois "tróleis" (vagonetes sem

carroceria), engatados num cabode aço, transportam equipe de repo­ratagem do ZERO para o interior daterra. São 1.200 metros de trilhos deferro pela viaprincipal (mãodupla),fora as transversais, os "ramais".As galerias são sustentadaspor colu­nas e vigas de madeira. É uma

minicidade, com água, luz elétrica,telefone e "ar condicionado" peloexaustor. O ronco abafado dos

exaustores, das bombas d'água e

brocas a compressão, o vaivém dos

vagonetes, carregados e vazios,criam o ambiente de indústria.Osmineiros entram por uma para­

lela, em uniformes simples: cuecas,botas e capacete com lanterna. Le-

Geraldo Hoffman

Igreja pelegaA Igreja de Criciúma sempre

se sustentou na aliança com a

classe burguesa, tanto que ago­ra está construindo uma cate­dral em homenagem aos mine­radores. O elemento religiososempre foi usado contra o traba­lhador. É a tendência de trazer omineiro pra dentro da Igrejapara dominá-lo.As declarações são do padre

Pedro Damásio, um dissidenteda Igreja católica local, que"leva a mensagem de liberta­

ção para o meio dos mineirospara legitimar a luta". Há doisanos e meio sem salário nem

lugar fixo, ele acredita que o

povo temmaturidade e indepen­dência para fazer a própriahistória.

'

Uma história em que o padretambém esteja no "front". Da­másio já morou em Vila Operá­ria, participou dos 38 dias de

greve dos mineiros em 1987. E

anotou, num livreto intituladoAlimento da Nossa Luta, '.'amemória dospobres, suas lutas,suas ousadias, suas vitórias e

seus fracassos. Tudo é lição pa­ra andarmos mais firmes parafrente", escreve.

- É a lição do trabalho, dosuor derramado, das reivindi­

cações, das greves, da organí-'zação, dos conflitos, dos depoi­mentos, dos piquetes, daconscientização, das eleições,das missas, dos riscos, do he­roísmo, da coragem, da forçadopovo ... o batismo de uma crian­

ça no piquete, a greve de fome."E greve de fome sem ami­gos, são duas fomes numa só.Dói a cabeça, mas a cabeça temque criar a história".O trabalho constante de 5anos

do padre Damásio entre os mi­neiros teve eco nas eleições mu­nicipais. Seu nome foi ventiladopara vice-prefeito pelo PT e

"Gringo" se elegeu vereador. Acúpula da igreja local não gostadepadres com a linhade ação deDamásio e o ameaça com trans­ferência.

-AIgrejaconservadoralegiti­ma o capitalismo pela hierar­

quia de poder. Ajuda a manterviva na cabeça do mineiro a

figura do capataz, incutindo-lheo seguinte raciocinio: "No fun­do, é melhor ser mandado, por­que não exige responsabilida­de", denuncia.

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Fotos: Maria Cristina JoshizaÚJ e Simone Dias

Ribeirão, desde o com.eçotipicamente açoriano.Vindos principalmente

das ilhas de Faial, São Mi­

guel e Terceira, os açoria­nos - gente de fé católica e

dedicada às atividades pes­queira e agrícola - come­

çam oficialmente a coloni­

zação do Ribeirão da Ilha

no ano de 1748.Comandados por Manoel

Vargas Rodrigues, os colo­nos açorianos logo se adap­taram à natureza local. A

semelhança geográficacom osAçores e o cultivo da

terra emminifúndios facili­

tarambastante anovavida.

Até porque, se voltar era

impossível, tiveram que fi­

car e gostar.A produção de farinha,

açúcar, cafée apresençadeengenhos, além da pesca

sempre boa, transformou o

distrito doRibeirão da Ilha,no século XVII, responsá­vel pelo parcial abasteci­mento da Ilha. Seus produ­tos - o cação sêco, o mar­

melo e o café - eram

exportadas para São Paulo,Rio de Janeiro e até para

países estrangeiros com a

Alemanha, a Itália, os Es­tados Unidos e Portugal.A mão de obra era escra­

va. As técnicas, rudimenta­res.Mas como a localizaçãoprivilegiada - desembarque

Resta a fachada típica, a telha feita na coxa do escravo.

fácil, águas calmas e pe­quenasenseadas-,enquan­to se pescava baleia na

praia da Armação, no Ri­

beirãoabundavaopescado.No século passado, é cla­

ro.

Se aportar era fácil, nemtão fácil era chegarpor ter­ra. Não haviam estradas, eembora o quase isolamento

propiciasse o desenvolvi­

mento interno, nem semprea autosuficiência na produ­ção de alimentos e nas tro­

cas prescinde de uma inte­

ração social mais ampla.Com a abertura da estra­

da que liga a Freguesia ao

centro - Ribeirão fica li 25quilômetros do centro, na

região sul da Ilha de Floria­

nópolis - intensificaram-se

as relações com o mun­

do exterior.Em troca dos

novos costumes abriu-se

mão de velhos costumes.

Persistem, ainda, algu­mas tradições, estórias e

histórias contadas e recon­

tadas, getação à geração.As festas religiosas e popu­

lares, a devoção a Santo

Antônio - o casamenteiro

e à Nossa Senhora da Lapa,a medicina caseira e as su­

perstições são característi­cas que conseguem se man­

ter.

São famosas também as

lendas e as estórias de bru­

xaria do Ribeirão, talvez o

maior reduto bruxólico da

Ilha, já disseram o pesqui­sador e artista plásticoFranklinCascaes. Estórias

de boitatá e fogo fátuo pai­ram, assim como os seus

entes e gases coloridos, so­bre as casas e cabeças do

Ribeirão. Alguém duvida?

Mas a tradição está desa­parecendo. A dependênciaecônomica do distrito à ca­

pital exige que amaiorpar­te da população - que hojeestá entre 8 e 10milhabitan­

tes - se desloqueaté o centropara trabalhar. As caracte­rísticas da comunidade

saem de cena, um conglo­meradode pessoas eopontode atração turística fazem

Ondepairã:V3.mas bruxas�éoncreto, postes, fios, transforma­dores.

as próximas falas.Mudam as pessoas, mu-·

dam as fachadas das casas,com retirada de telhas, por­tas e janelas. Demolem-secasas assim como demoli­

ram-se ancestrais. O calça­mento de pedras, nas ruaspor onde passouD. Pedro II

em 18('), deu lugar a um

calçamento de lajotas pré­fabricadas. A preservaçãoda cultura vai com as pe­dras e as casas e a memó­

ria, neste que é consideradoo mais belo e harmônico

patrimônio histórico e ar­

quitetônico da cidade.

Apopulaçãovaicomami­

gração, as famílias procu­ram trabalho na Grande

Florianópolis, ingressandona periferia urbana da ca­

pitale deixandoo lugar "emfrente à ilhota Garcia, umaenseada onde desagua um

pequeno rio, cuja fóz terá de

5 a 7 metros de largura e

onde se eleva omontemaisalto da ilha, que mede 600

metros e em cujo sopé se

aninha risonhamente a fre­

guezia do Ribeirão, com

suas casinhas alvas, dentreas quais se destaca a igrejaconsagrada àNossa Senho­ra da Lapa." (Virgílo Var­zea. Santa Catarina, parteprimeira - A llha. Publica­

da peloCentro Catarinensee auxiliada em parte peloGoverno do Estado. Rio de

Janeiro, Companhia Typo­graphica do Brasil, 1900).

Milene Corrêa

Dos Açores 'até

o nosso século:

mitos, história

Açores, oceanoAtlântico,meio caminho entre aEuro­

pa e aAmérica,mais exata­mente, a 1 mil e 300quilô­metros da costa

portuguesa. O arquipélagofoi descoberto no século XV

e é formado por nove ilhas.A religiosidade, caracterís­tica dos açorianos, chegoujunto com os primeiros co­

lonizadores no período das

capitanias hereditárias do

Brasil.

Entre 1748 e 1756, cerca deseis mil pessoas desembar­

caram no Porto de Nossa

Senhora doDesterro. Espa­lhando-se pelas várias fre­guesias - Santo Antônio de

Lisboa, Ribeirão da Ilha,Lagoa da Conceição - es­

tes colonizadoresaçorianossouberam particularizar oslocais onde se estabelece­

ram. A igreja matriz na

parte mais alta da cidade,voltadapara omar. Apraçaem frente à Igreja, entreruas paralelas, o casario

10 ZERO DEZ-88- --

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Um povo que acredita em milagresNo Ribeirão

as tradições

tentam

sobreviver

As casas enfileiradas ao longoda Freguesia do Ribeirão trans­

portam ao passado de um povo

que preserva suas raizes com o

esmero de quem preserva a pró­pria vida.

Mas as tradições não acabam

por aí, ou melhor, vão muito

alémdo concretoque emoldurao

casario açoriano àbeira dabaía.O cortejo do Divino e a devoção àNossa Senhora da Lapa se con­

firmam como as duas manifes­

tações populares demaior signi­ficado entre os moradores do

Distrito. Passam os anos, as dé­

cadas, os séculos, e estas duas

expressões da cultura do povo

permanecem.Histórias de milagres

A tempestade avançàva furio­sa mar a dentro. O barco já não

respondia ao controle e o convés

tinha desaparecido em meio à

fúria das águas.Não havia nortes por onde nave­

gar.- Valha-me, Nossa Senhora da

Lapa - gritou desesperado, o do­no da embarcação.Naquele momento a imagem

da santa apareceu na popa da

baleeira e, logo em seguida, os

tripulantes conseguiram anco­

rar o barco próximo a um roche­

do.De volta à calma, o dono da

embarcaçãoque seguiaparaLa-

guna, resolveu retomar o cami­

nho do Ribeirão. Segundo con­

tam os mais velhos, todas as

vezes que a baleeira passava

pela Ilha do Largo, bem em fren­

te ao Distrito, o homen tocava o

apito para saudar a Igreja da

Freguesia do Ribeirão, que não

sabia ser de Nossa Senhora da

Lapa. Ao chegar em terra, o

pescador quis ver a Igreja e

dentro dela apontou para a ima­

gem da Senhora da Lapa, dizen­do que ela tinhaaparecidono seubarco. Daí por diante, cada vez

que passava pelo Ribeirão, ao

invés do apito, o dono do "Barcoda Santa" atirava foguetes parasaudar a imagem que lhe tinha

salvo a vida.

Esta é uma das mais antigashistórias sobre os milagres de

Nossa Senhora da Lapa, a pa­droeira do Ribeirão da Ilha.

Adorada por todos os morado­

res do Distrito, a imagem foi

trazida para oRiberião emmea­

dos de 17.60, pelo português Ma­noel de Valgas Rodrigues. Ini­cialmente ele ficou na capelã da

Igreja do "Simplício" ,local hojeconhecido como Barro Verme­

lho do Ribeirão. Três anos de­

pois, por Provisão Episcopal de13 de setembro de 1763, Manoel

de Valgas Rodrigues mandou

construiruma capelanaFregue­sia do Ribeirão, para abrigarcomo padroeira Nossa Senhora

da Lapa. A Igreja, construída

por escravos, à base de pedras,cal e óleo de baleias, foi inaugu­rada somente em 1806.

Hoje, devidoàs constantes ten­tativas de roubo, a imagem não

fica mais na capela. De acordo

com Dona Lígia Fraga dos San­

tos, de 61 anos, há muito tempoum português tentou roubar o

Sacrário da Igreja.

DAQUI

A musa da fé

Ao colocar amão no Santíssimo,ele ficou preso no altar e des­

maiou.

Para soltá-lo, o padre do Ribei­

rão teve que benzer' o homen.

Agoraa imagem sóé expostanosdias da Festa da Lapa, que se

realiza normalmente no último

sábado de agosto.Todos os anos, uma multidão

de romeiros vem à festa pagar

promessas e participar da pro­cissão em homenagem à Nossa

Senhora da Lapa. Os enfeites doandor e as vestes da Santa, háseis anos são feitos por Dona

Anita, uma senhora quemora noRio Tavares. Desenganada pe­losmédicos, amulher recorreu à

milagrosa imagem e se curou de

um câncer. Depois depassarporuma cirurgia, Dona Anita pediu

outras localidades próximas re­colhendo oferendas dos devotos

que fizeram promessas e agora

querem pagar. Segundo Dona

Nilsa, "todos os Santos per­

doam, mas o Divino não perdoaaqueles que não pagam o quedevem". Na passagem da ban­

deira é costume asofertas serem

pães em forma de partes do

corpo e até mesmo de animais.

Dona Nilsa conta que um dos

filhos; quando tinha sete anos,

começou a ter ataques à noite.Para que as convulsões passas­

sem, ela prometeu ofertar ao

Espírito Santo um bGneco do

tamanho do menino quando ele

completasse dezoito anos. Ame­

dida do boneco foi tirada quandoo rapaz fez quinze anos, pois,segundo Dona Nilsa, "não have­ria forno para assar um pão do

tamanho do filho quando ele fi­

zesse dezoito".

No primeiro dia da festa, o

Imperador e sua mulher, corte­jados por pajens e damas, desfi­lam em procissão pelas ruas do

Ribeirão da Ilha em direção à

Igreja de Nossa Senhora da La­

pa. O casal imperial escolhido noano anterior normalmente veste

um dos seus filhos de rei parareceber a coroa, que foi doada

pelopróprioDomPedro II, numavisita aoRibeirão.Nodiaseguin­te,odomingo,acorteeopovovãopara p império, no salão paro­quial, onde o imperador recebeas massas ofertadas pelos devo­tos e depois coloca-as em leilão

entre os participantes da festa.Em seguidaéproclamadoonovoimperador, escolhido por sorteioentre as pessoas da comunidade,que vai ajudar os festeiros dafolia do próximo ano.

Sidnei Volpato

..

t t �t 1.1

DEZ-88 ZERO 11

A Igreja de Nossa Senhora da Lapa

aopadre doRibeirão que levasseNossa Senhora da Lapa até sua

casa. Lá, ela lavou a imagem,passou a água por todo o corpo e

depois se cobriu com o manto da

Santa. Até hoje a mulher não

deixamais departicipar da festada padroeira do Ribeirão.

A folia do Divino

A Festa do Divino remonta

todos os anos a promessa feita

pelaRainha Isabel, de Portugal,no século XI, para ímpedír quefosse deflagrada uma guerra en­tre um de seus filhos e o Rei

Diniz, seu marido. Alcançada a

graça, a rainha passou a coroar

anualmente umapessoa escolhi­da na comunidade. A cerimônia,

que contava com a presença dos

reis, era feita todos os anos na

Igreja do Divino Espírito Santo,construída pela Imperatriz em

Alenquer, depois que ela conse­

guiu impedir o fraticídio.A tradição de coroar plebeus

se espalhou por toda a Europa e

acabou chegando ao Brasil coma colonização lusitana. Hoje, al­guns estados como o Rio de Ja­

neiro, SãoPaulo, Goiás,EspíritoSanto, Bahia, Minas Gerais e,

principalmente Santa Catarina

realizam a folia.

,Com toda a pompa de coroa

portuguesa, o cortejo doDivino é

ativado anualmente noRibeirão

da Ilha em períodos que variamentre o final do mês de maio e

início de junho. O ritual de coroa­ção do Imperador conta com

váríos símbolos que consistem

na' bandeira de pano vermelho

bordado, o mastro segurando fi­tas de várias cores e a pomba -

que representa o Divino - a cor­

da, a espada easalva - espécie de

bandeja que recolhe prendas e

leva a coroa.

Antes da festa, abandeira pas­sa pelas casas do Ribeirão e de

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DAQUI

Puxando AlegriaA banda do Zé Pereira

é um patrimônio que

pode desaparecer

,

12 ZERO DEZ-88

A Banda do Zé Pereira está

morrendo. Em atividade desde

<Il' 1896, este patrimônio histórico

do Ribeirão da ilha, em Floria­

nópolis, vem sobrevivendo até

hoje emmeio àpenúria financei­ra, sem receber apoio significa­tivo das autoridades e nem mes­

mo da população, É um milagreque a cada ano desafia a Lei das

probabilidades: osmúsicos con­tinuam animando o carnaval -

inclusive com o tradicional ba­

nho de mar à fantasia - e vão

prosseguir enquanto houver for­ças.O grande inimigo da banda é

muito mais sutil e inexorável: o

tempo. A média de idade dos

músicos é 57 anos; dos 22 inte­

grantes, omaisnovo tem 22 anos

(rara exceção) e o mais velho,73. Um dos integrantes, AlécioHeidenreich, que participa des­

.de 1951 e agora em dezembro

vira sexagenário, faz um apelo:"Se a juventude nãoajudar, den­tro de quatro ou cinco anos a

.' banda vai deixar de existir." Ele

descreve o esforço que tem sido

feito nesse sentido: "No anopas­sado fomos de casa em casa no

Ribeirão da ilha incentivando

jovens a aprender música. Apa­receram 32, mas só ficaram dois', e mesmo assim, porque estão

pensando em seguir a carreira

militar."

Ahistória das bandas noRibei­

rão começa em 1870, quando foifundada a "Amantes do Pro­

gresso". Ela surgiu a partir deconversasentre osmoradores do

lugar, durante as noites frescasde lua, cheia em que o papo e a

música rolavam soltos até de

madrugada. Por que não? Em

pouco tempo o sonho se organi­zou. Os instrumentos musicais,velhos e em maus estado de

conservação, eram consertados

em cera de abelha. Isso fez com'

que ela passasse a ser conhecidac,

como' 'Banda daCera". Por cer­

ca de 20 anos foi a única, até que,em 1896, surgiu a "SociedadeMusical Nossa Senhora da La­

pa" - uma concorrente que de­

pois ganhou o apelido de BandadoZéPereira, emhomenagem a

um famoso carnavalesco. No

mesmo ano os instrumentosmu­

sicais foram importados da Ale­manha por 580 marcos, pois nãohavia ainda fábricas do gênerono Brasil.

Alécio conta uma das históriascuriosas sobre esse periodo em

que as duas rivais disputavam -

amístosamente, mas palmo a

palmo - a preferência dos habi­

tantes do lugar. Elas são passa­das de pai para filho e abrem

uma rápida frestana janelaparao passado.

',-. Os ensaios aconteciam de

madrugada, em segredo, para aoutra não descobrir o repertório.Uma noite, as duas bandas toca­ram até de madrugada, mesmo

depois que todo mundo já tinha

ido embora. Nenhuma da duas

queria sair primeiro e reconhe­

cer a derrota, e elas continua­

ram tocando até as 4h damanhã.

Depois foram tomar café e quan­do o sol nasceu, continuaram.

Fizeram intervalos pra missa e

pro almoço, masprosseguiramà

tarde. Teriam tocado a vida to­

da,mas asalvação foiuma trom­ba d'água que caiu e fez todoscorrerem pra casa prá se abri­

gar! Dizem que foi milagre de

Nossa Senhora da Lapa, pa­droeira do Ribeirão da Ilha.v.

em outras localidades, viajandode baleeira. Com o tempo e a

maresia, em 1950 os instrumen­

tos já não ofereciam mais condi­

ções de uso. Depois de um perío­do de marasmo, renascia a

banda no ano seguinte, com cin­coveteranos e cerca de 15 jovens.O intervalo entre essa época e o

presente estámelhor registradonas memórias das pessoas do

que através de documentos e

fotos.

tude, a SociedadeMusical NossaSenhora da Lapa comprou um

gravador para reproduzir algu­mas músicas modernas. As op­

ções vão das músicas infantis à

marcha, passando também pelosamba, frevo, baião, rumba eaté

pelo tango, se a platéia pedir. Osensaios acontecem todas as

quintas-feiras à noite na sede doCentro Social do Ribeirão. Alé­

cio, que é funcionário da Univer­sidade Federal de Santa Catari­

na, já se mudou para o centro há

algum tempo, mas sempre quepode, desce peloelevador dopré­dio ondemora e vai rever o local

onde foi criado. Ele atribui a

falta de interesse dos jovens de

hoje pela música à baixa remu­

neração dos profissionais daárea e à grande variedade de

diversões existentes: "Quem é

que vai querer ficar a noite toda

Durante uns 20 anos as duas

agremiações continuaram to­

cando no Ribeirão, até que porvolta de 1915 (não há registrosprecisos) , aBanda daCera desa­

. pareceu e vários de seusmúsicosforam incorporados pela Nossa

Senhora da Lapa. Em 1935 a

Banda do Zé Pereira, já a únicado lugar, comprou outro instru­mental, desta vez' 'made inBra­zil". Animava festas também

Estamos em 1988 e a decola­

gem de um ônibus espacial jáestá ficando quase corriqueira,assim como o uso cotidiano de

computadores e a inovação dasfibas óticas. Mesmo assim, per­manecem vestígios do século·XIX. Com algumas moderniza­

ções, é claro. Para tornar o re­

pertóriomais adequado à juven-

agarrado em um instrumento

enquantopode ficar com anamo­

rada?"

Este ano a banda já se apre­sentou 20 vezes - não mais nas

cidades do interior, pois a maio­ria dos músicos já estão cansa­

dos, alguns já doentes. "Por in­

crível que pareça, o pessoal quemenos valoriza a gente hoje é do

próprioRibeirão", lamentaAlé­cio. Dos órgãos públicos hámui­to incentivo salivar, mas poucaajuda concreta.Em 87 aFunarte

doou cinco instrumentos usados.A Base Aérea fez doação seme­

lhante. "A Prefeitura nunca deu

nada, só uniforme uma vez."

Alécio mostra um papel inútilemitido pelo governo federal,habilitando aBanda doZéPerei­ra a receber benefícios pela LeiSarney, que dá desconto no im­

posto de renda das empresas queinvestirem em cultura:Até hojeninguém se interessou. "Prati­

camente pagamos pra tocar",gracejaAlécio. Os músicos já se

ofereceram para ensinar de gra­ça nas escolas adisciplina inicia­ção para o trabalho, mas apesarde as autoridades terem achado

a idéia interessante, nunca a

puseram em prática.Quem quiser dançar ao som da

Banda do Zé Pereira tem uma

boa oportunidade em janeiro e

fevereiro próximos. Ela vai to­

car nas ruas doRibeirão todos ossábados até o último domingoantes do carnaval, quando have­rá o banho de mar à fantasia.

Aproveite, pode ser o último .

Dauro Veras e

Rubens Vargas

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GRITOS E GEMIDOS

Intercâmbio de Cultura

"me informei sobre a possibli­dade dela se apresentar tam­bém aqui em Florianópolis".No convênio das universida­des com a Fulbrigth Comis­sion, cabe à fundação forneceras passagens nacionais e in­ternacionais e uma bolsa parao viajante, e às universidades,a hospedagem, alimentação e

infraestrutura para as apre­sentações. É através desseacordo que Inetta Barris pas­sará, além doRio de Janeiro e

de Florianópolis, poruniversi­dades de Curitiba e Uberlân­dia.

. Com o sucesso deste ano, Made Lourdes promete um esfor­

ço ainda maior na segundaedição do espetáculo dessa ja­zista, "talvez para o ano quevem", arrisca.Muitos se perguntam por

que iniciativas desse tipo sãotão escassas em nosso estado,mas, para Ma de Lourdes, "aconquista está em aproveitaras oportunidades oferecidas",procurando e se interessandopor promoções como essa.

Chances para "aprimorar e

enriquecer os nossos valoreslocais". AUniversidade ofere­ce" espetáculos não só para acomunidade acadêmica, mastambém para todo o públicointeressado.

Voz MaravilhosaAMestre deMúsica pela Jul­

liardSchool eBacharel deArte

UFSC aproveitaa oportunidade e

divulga o jazzA soprano Inetta Barris difi­

cilmente escaparia de ter o seunome associado ao dom da

interpretação, principalmen­te poraqueles que assistiram a

suaapresentaçãona Igrejinhada UFSC, na última quarta­feira à noite.Usando asnotas de um piano

como único acompanhamentoda sua voz, Inetta Barris con­

seguiu atrair qualquer pessoaque a ouviu, e deixou umpúbli­co de aproximadamente du­zentos e cinquenta expectado­res, num autêntico clima deFree Jazz Festival.

Miss Harris: show de gogó e pianoA tournê deMissBarris pela

América do Sul foi descobertapor Ma de Lourdes de Souza,responsávelpelaPró-Reitoriade Cultura e Extensão daUFSC, quando checava a pro­gramação do segundo semes­

tre deste ano no calendáriode eventos da FULBRIGTBComission - fundação que pro­move intercâmbios culturaisentre universidades convenia­das. Assim, Ma de Lourdesentrou imediatamente em

contato com a Uni Rio, quereceberia a visita de Inetta, e

pectadores num demorado

aplauso e pedidos de bis. As­

sim, ela acabou por se despe­dir, definitivamente, com um.

carregado' 'muitoobrigada" e

oferecendo a música de BillyJoel, "Eu gosto de vocês comovocês são". Um show do mais

puro jazz.

pela Califórnia State Univer­

sity, ou simplesmente MissBarris como é conhecida porseus alunos, maravilhou a pla­téia da pequena Igrejinha, as­sim como o fez na Europa e na

América do Sul.Inetta conta com a versatili­dade de sua voz ao interpretarmúsicas de estilos bem dife­rentes que formam um dinâ­mico repertório.

Sem fugir do que se esperadamaioria dos jazistas, InettaBarris abusava de graves e

agudos intercalados, num

compasso contagiante. Ao in­

terpretar amúsicaNewYork,New York, Inetta mostrou o

que um critico europeu quisdizer quando afirmou que"Miss Barris detem uma voz

de soprano maravilhosamen­te lírica ... ", e levantou os ex-

Cláudia Astorga,

força trash em FlorianópolisEROICA:No atual contexto metálico de Flo­

rianópolis a galera headbanger já temuma banda à altura dos padrões dequalidade.Vindos dounderground deBarreiros,

quatro jovens homicidas detonam a

guilhotina da inquisição, executandofriamente o indesejável, medíocre e

escroto vírus- da Pop music ou NewWave que insiste em víver no panora­mamusical ilhéu feito de inexpressivosboyzinhos que se gabam de suas musi­quinhas(URGGGGGGGGGGGGG! ! !) de pa­drão estético e lírico comparado a deuma ameba.

Rápidos, víolentos e com gana devencer as dificuldades impostas pelocotidiano, quatro caras, alheios à me­

diocridade dasmusiquinhas FM, resol­veram implantar o Thrash Metal em

Florianópolis.Neri Bauer no baixo, Miguel Fon­

toura e Luciano Stimamiglio nas gui­tarras e Jeferson "Dudle" na bateria e

vocais formam atualmente oEROICA,que surgiu em abril deste ano e que tempor objetivo ditar as regras do que deveser um autêntico show metálico.Exemplo disso foi a primeira apresen­tação da banda. A Escola Técnica foisacudida pelos headbangers que mos­

traram sua força cantando o refrão de

Battle Hymns do Manowar: "VIC­TORY VICTORY". Ooooooooh!!! ...Com um excelente em bem entrosadoreportório, o EROICA foi capaz delevar a galera ao total del1rio, a tal

ponto que se a grade que estava em

frente ao palco não fosse forte o sufi­ciente, sem sombra de dúvída ela seriavítima damaterialização da força bru­ta, energética e infernal que assolou o

shaw. O Eroica provou que é digno deser considerada amelhor banda metá­lica de Florianópolis, opinião de Ale­xandre Camisão e Carluxo, editoresdo futuro fanzine NOISE GANG.O único que não está atualmente

na banda, mas que se apresentou no

shaw da Escola Técnica, é o vocalístaJorge "Pavão": ele foi substituido peloguitarristaMiguel Fontoura (Ex-Scaf­íoldeath). Na avaliação do Eroica, aentradadele representa o inicio de umanova fase da banda, que certamenteaumentará o nivel técnico-musical doconjunto.Miguel, que fez um excelente tra­

balho no Scaffoldeath, fala de seu

objetivo no Eroica: "Espero que nossabanda conquiste o espaço pela qual nóslutamos com honra e orgulho atravésde nossa música".Apesar da falta de shows, patro-

cinadores e aparelhagem, ao Eroicasobra coragem: "Se fôssemos tentarviver da música, passariamos fome.A única coisa que faz com que nãodesistamos é a força de vontade devencer as dIficuldades e nisso a genteencontra nosso incentivo e nossa dedi­

cação ao Metal".Noise Gang

Uma boa noticia para os headban­

gers de Florianópólis: deve sair agoraem dezembro, o primeiro número dofanzineNoiseGang, que tem porobjeti­vo ser um canal de divulgação sobre o

Metal, já que aquinão tem nenhum tipode publicação desse gênero. Com intui­to de fazer intercâmbios com outrosfanzines e com headbangers de qual­quer local do planeta, a NOISE GANGvai tentar, na medida do possível, darinformações sobre discos, shows e ban­das de qualquer estilometálico. No en­tanto, sua participação é importante.Envíe informações ou se formembro dealgumabanda, podeenvíarum release.A NOISE GANG se compromete a

divulgar.INFORMAçõES CfFANZINE NOISE GANGRua Belarmino Corrêa, 46Trindade· Florianópolis CEP 88025

EROICA em ação na ETFSC

Ozias Alves Júnior

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BLITZ, DOCUMENTO!

"Eu estou super agora"

'O

Zero: Oqueolevouaquererentrar no meio artístico?

Evandro: Desde garoto ti­nha a maior curiosidade

com teatro e cinema. Que­ria continuar brincando.

Eu era contra o pessoalmais velho que pegava on­

da com a gente e jogavabola, ia trabalharna cidadee voltava reclamando. Eu

tinha o maior grilo de pen­sar quando ia ser adulto e

começar a reclamar da vi­da. Prámim era uma coisachata ficar grande. O tea­

tro começou a estimular a

minha fantasia, o meu so­

nho.Eraum canal de idéiasonde eu podia jogarminhasdúvidas e minhas alegrias.Eu estava querendo desco­

brir o mundo. Desde cedo

comecei a ver que o meu

caminho era pela arte.

Zero: Como foi a sua parti-

Evandro: O Asdrúbal foimeugrandebatismono tea­tro e até na vida, eu fiqueioito anos com aquelas pes­soas. A gente começou a terumanoçãototaldoqueéum'espetáculo, desde pregar ocenário, distribuir filipetana rua de noite, a escrever otexto, a se dirigir, a musi­car. Foi uma vivência su-

"Ooni o Asdrúbal

eu tive o meu

grande batismo"

per intensa, fora do quintalde casa, pois a gente viaja­vamuito, de PortoAlegre aRecife. Era uma coisa gue-

rilheira, sfIper bonita. Ti­nha a Regina Casé; o LuísFernado Guimarães, o

Perfeito Fortuna (que de­

pois fundou o Circo Voa­

dor), aPatriciaTravassos,a Nina de Pádua, o Hamil­ton Vaz Pereira, que era o

diretor. Foi uma união su­

per feliz de cabeças com o

mesmo objetivo, as mes­

mas perguntas, na mesmaépoca.

Zero: Como surgiu a

Blitz?

Evandro: A Blitz começouquando uma menina per­guntou se eu tinhaumaban­da, porque ela ia inaugurarumbar lá noRio, com espa­ço para show. Falei quetinha urna banda que sótocavaeu o Ricardo Barre­

to. Mas nós conhecíamos o

Lobão, o Zé Luís e o Guto,que tocavam com a Mari­

na. Então quando eles co­

meçaram a tocar com a

Uma pessoa bastante acessível,simples, muito cativante e pai corujade uma menina de dois meses é a

melhor definição para o ex-vocalista

da Blítz, Evandro Mesquita, que fazagora uma carreira solo.

Mesmo estando muito cansado e

quase na hora de seu show na Feira

da Esperança, Evandro deu a

entrevista que tinha prometido ao

Zero.

De maneira informal e descontrída,ele falou de toda a sua carreira

artística, desde o Asdrúbal Trouxe o

Trombone, passando pela Blitz e

sobre atual fase, com as

participações em novelas e na

Armação Ilimitada.Apaixonado por Florianópolis, elediz ser a única cidade do sul onde

moraria. O show foi feito com muito

garra e entrosamento do conjunto, nasexta feira dia 25. Evandro arrasou e

conquistou o público. O único

problema foi a falta de divulgação,que fez com que muitas pessoas

perdessem uma grande perfomance.

gente, as musicas ganha­ram personalidade e cres­

ceram. Aí começou a ser

mundialmente famosa alino bairro. Tocávamos em

boates e noCircoVoador. A

galera ia toda e ficava fa­lando que tinha que ter umdisco e tocar no rádio. Foicrescendo a coisa, a gentegravou e tudo foi além do

que se imaginava.

"Melhor acabar

no auge do que na

decadência ))

Zero: Vocês pareciam tão

unidos, então por que veioaseparação numa época queeram mania nacional?

Evandro: O pior é que era

mesmo, mas é melhor aca­bar no auge que na deca­dência.Anossa relaçãonãoestava sendo revigorada, a

gente parou de .ser amigo e

ficamos sócios. A Blitz vi­

rou emprego e ela era umacoisa de energia, de che­

gar, arrasar e ir embora.

No começo, quando vocêtrabalha num grupo, você

lança meias idéias que es­

pera que somem com as

dos outros, para que hajaum resultado desse grupo.Chegou uma hora que cadaum tinha uma idéia, masera muito "essa é minha",então ficouuma coisa dura,não haviamais uma soma e

começou a ficardifícil. Não

por culpa de ninguém. Ca­da um entrou numa de tes­tar as coisas sozinho, de serresponsável pelas suas coi­sas, pelos seus erros e seus

acertos. É o mesmo que um

casamento, quando vocêentra nessa, ou na de namo­

rar mais firme, você juraque vai ser feliz para sem­

pre, ter 15 filhos, aí depoisde um mês ou dois você vê

que não era bem aquilo. Agente achou que ia ficar 27discos e acabou antes.

Zero: ABlitz esperava todo

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PAPEANDO

atrás. Nunca quis fazer

uma coisa realista, galãzi­nho, mas foi um desafio

legal.Você tem que sevirar

na hora para que o texto

ganhe uma certa verdade.

Aí eu fico crítico à pampa

quando vejo, falando "pôr­ra, que canastra!", e tem

outros que eu gosto. A Ar­

mação Ilimitada é mais a

minha praia ou os persona­

gens que fiz em Bebê aBor­

do.

aquele sucesso?

Evandro: A gente nã espe­rava aquele sucesso do jei­to que foi, mas tínhamos

confiança no trabalho. Ha­via um lance de palco tea­

tral, que na época não exis­tia. Eu achava feio show demúsica. O baixista não sa­

bia onde punha a mão, aípegava uma Coca Cola ou

um Whisky e bebia. Vocêvia o cara cantando e era

melhor levar o disco paracasa, não tinha nada de vi­sual. A Blítz deu uma inje­ção de ânimo. Até o Gilfalava na época que a Blitzpegou a MPB sem docu­

mento, deu uma blitz e atéeles começaram a se re­

pensar. Era um som pop,com uma energia pop, dasgrandes cidades, mas comum sotaque brasileiro.

Mais ou menos o que o

Tropicalismo pregava,mas não só o lado elitista e

universitário. ABlitz jogounuma coisa realmente po-

(lA Blitz virou

emprego"

..A Ilha é demais"

pular, da empregada gos­

tar, da filhadamadame, damadame e da criancinha.

Foi uma coisa de extensão

super bonita, social e de

idade. A gente enchia bai­les de subúrbio e as boates

chiques doRio e São Paulo.

Foi um lance que cresceu

numa progressão geomé­trica além da imaginação,até ficar incontrolável.

Zero: Todosachavam quea

Blitz tinhamuitoda tuaper­sonalidade. Isso realmente

aconteceu?

Evandro: Tinha um lancede eu e o Barreto sermos os

principais compositores,asmúsicaseram nossas, eu

cantava, mas cada um daBlitz era super forte, eraum tipo de beleza diferentedos galãzinhos da época, asmeninas tinham uma coisaforte. Era .um conjuntomesmo e tinha horas quecada um puxava um pouco,

que 11 gente estava sem

energia e um liderava

mais. Sempre foiuma coisameio flutuante. Eu nunca

quis esse rótulo de líder,

"Aqora eu sou o

meu patrão"

mento difícil.

Zero: Emmatéria de satís­

fação, a carreira solo ou

Blitz? Ou cada uma teve a

sua época?

Evandro: Eu estou superagora. Tenhoorgulho de terparticipado da Blitz, umasaudade distante. Não que­ria reviver agora, quer di­

zer, claro eu adoraria o

sucesso, vender disco prácacete, isso é genial, qual­quer artista quer isso. Mas

eu estou vivendomuito essemomento. Jé estou prepa­rando um outro disco. Gos­

todessa coisadoestúdio, daalquimia, da criação no es­

túdio, é uma coisa muito

solitária, frágil. Te dá àsvezes um pavor, "o que é

que eu tô fazendo aqui?",mas às vezes dá a maiorfissura de você mexer coma tecnologia super avança­da e ao mesmo tempo umacoisa primitiva, como um

pandeiro ou um berimbau.

Isso te dá uma possibili­dade de brincar, que nem

não gosto muito disso. Ago­ra eu sou o meu patrão, omeu líder, mas quando vo- "

cê está num grupo é paraA Blitz Virou e

jogar. Se o gol for do Zico o ,"pregO"goleiro tem que ficar con-

tente ou o lateral porque é

gol para o time. E isso co­

meçou a ficar meio estra­

nho. Começou a rolar uns

ciúmes. Mas isto já é roupasuja ...

Zero: E a carreira solo?

Evandro: A carreira soloestá super coletiva, eu es­

tou trabalhando mais em

grupo agora do que quandoeu estava num grupo. Par­

ceiros que você estava a

fim .de fazer música e quevocê agora faz,. músicos

que você queria que tocas­sem com você. Está le­

gal, porém difícil porque o

Brasil está vivendo ummo-

você entrar no quarto da­

quele amigo rico que tem

trenzinho, autorama e po­der brincar com tudo e àsvezes você até se perde e

acaba não brincando com

nada. Mas de vez em quan­do rola uns trenzinhos boni­tos.

Zero: Você espera entrarmais a fundo na carreira deator?

Evandro: A carreira deator está pintando aindameio na brincadeira, meionamorando. Eu fiz a novelaFera Radical, que era umacoisa que eu tinha um pé

((Às vezes rola uns

trenzinhos

bonitos"

Zero: Como está sendo a

sua Participação na Arma­ção Ilimitada?

Evandro: A Armação eu vi

nascer. Conheço oAndré deBiase desde criança, a gen­te cresceu junto. Eu sabia

da idéia. inicial dele e doKadu e eu namorava uma

das autoras. Acho que fui oconvidadomaisassíduo, fizuns cincoprogramas daAr­

mação. O diretor é legal, aequipe também. É o maior

recreio. Vamos brincar de

gangster ou vamos brincarde não sei o quê, levando a

sério, som roupa, arma queatira. E geniala velocidadedo programa, o poder críti­co dos textos de falar sériobrincando. Acho o piqueótimo.

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"Tenho orgulho de ter participado da Blitz"

DEZ·88 ZERO 15

Entrevista a

Marta Moritz

1 ",

Page 15: Ilha, - hemeroteca.ciasc.sc.gov.brhemeroteca.ciasc.sc.gov.br/jornais/Zero/ZERO1988DEZ.pdf · -1 ESGOTOburguêstambém temmaucheiro!Provadissoé oodorinsuportáveldaBeira MarNorte.Nemmesmoper

FIGURAS

-....

MAO GRANDE

Entre os notáveis da "Galeria Mão Grande", merece destaque a presençado ex-ministro Aníbal Teixeira.