florianópolis, -...
TRANSCRIPT
Florianópolis, Março, de 1988
Tributo a Adelmo Genro Filho. Na central
AIDSna bocado·povo
Na página 12
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���'"I-(J)QlE'"....,
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Pedro Ivo e seu diálogo em "alto nível"
Educação:a democraciado coronel
Na página 3
Temrolo no
BESCNa página 5
o
Os Editores
ZEROJornal Loboratório do
Curso de Comunicação So
cial da Universidade Fede
ral de Santa Catarina. Esta
edição foi executada na ma
drugada de 25 de março de1988.Textos: Ana Cristina, La
vratti, Analú Zidko, ArleyMachado, Carla Cabral,Carlos Augusto Locatelli,Carlos Eduardo Caê, Cláudia Carvalho, Dauro Veras,Denyris Rodrigues, Emerson O. Gasperin, EwaldoW. Neto, Geraldo Hoff
mann, Graziela Nunes, Ismail Ahmad Ismail, JoãoCarlos Mendonça, Júlio Cezar Pompeo, Monique Van
dresen, Nilva Bianco, Norberta V. da Silva, OlávioBiláquio, Ozias "Tormen
tor", Rozana de Moliner,Romir U. da Rocha, Roberta M. Miranda, SamuelPantoja Lima, SabrinaFranzoni, Salete Dalmoro,Éverson Faganello.Diagramação: Analú
Zidko, Carla Cabral, Carlos Augusto Locatelli, De-,nyris L. Rodrigues, IlkaGoldschmidt, Karla Bastos,Zulmar Bartolotta.
Fotografia: Sabrina Franzoni.Colaboradores: Hélio
Schuck, Francisco Karam,Tarso Genro (textos), Paulo Caruso (arte).Laboratório: Philippe Arruda
Ilustração: Frank.Edição, coordenação e su
pervisão: Professores Cinthia Nahra, Eduardo Me
ditsch, Luiz Alberto Scotto,Ricardo Barreto.
Edição Gráfica: RicardoBarreto.Telefone: (0482) 33-9215.Telex: (0482) 240 BRCorrespondência: Caixa
Postal 472, Departamentode Comunicação e Expressão, Curso de Jornalismo,Florianópolis/Se.Acabamento e Impressão:
Empresa Editora O Estado.
Distribuição Gratuita.Circulação Dirigida.
OPINIOES
(;s:cQ)(f)oen::J
ÕiÜo'Scua..
o'cuo-
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Seguir lutandoCaros amigos do Departamentode Comui'l'icação e do Curso deJornalismo da UFSC. Alunos,professores e funcionários:Ficamos sensibilizados e infini
tamente gratos pela solidariedadee carinho, nessa hora trágica denossas vidas. As generosas manifestações sobre o trabalho, a vidae ideais do Adelminho nos comoveram profundamente. Todos os e
que o amavam e com ele comunigaram dos mesmos sonhos, são
para nós, seus pais, pessoas muitoespeciais. Tentamos não perder a
esperança para poder continuarlutando por um Brasil com uma
sociedade em que todos tenhamdireito à terra, ao pão e à alegriade viver.Santa Maria, março de 1988.Os pais, Elly e Adelmo Genro.
R. Zero fala dá vida e obra do professor Adelmo Genro Filho na página central.
* * *
Morro do HorácioCom respeito ao artigo publi
cado sob o título "Morro do Horácio: a prisão na favela", de novembro/87, gostaria de esclarecer o se
guinte: não é inteiramente verdadeira a afirmação de que o discurso utilizado por "todas as igrejas"ali presentes tenha como tônica a
aceitação da miséria e conseqüente alienação.
Existe, no Horário, um trabalho realizado a partir de um grupode seminaristas que passa, porexemplo, pela luta que visa a possedefinitiva da terra, o que não significa, de forma alguma, conformismo.
Seria muito coerente da partede quem escreveu talmatéria, cujaessência é bastante correta, assumir uma atitude de busca e divulgação da verdade e não simplesmente pôr a público uma opiniãomal fundamentada, que descarac-,teriza uma tentativa de conscien-
.
tização quanto às situações de in
justiça social a que estão submetidos os moradores do morro.
Conscientização esta que assume,a cada dia, posturas mais firme na
luta em direção à Libertação, caminho oposto ao amém da passividade e da alienação. .
Catarina GewehrPsicologia - UFSC
R. Zero subestimou.
. Zero: uma bosta"oo .Desde o editorial - onde
se avisa na primeira linha qut setrata de uma tentativa de resgatara memoria de Florianópolis dosúltimos 50 anos' - até os port-Iolias, tudo na publicação protestacontra a existência de uma cidadecom vida. (oo.) As matas exterrninadas: em Florianópolis? Referem-se provavelmente a alguma
.
campina rala sem importância ou
ao próprio sítio onde se localizaa cidade. E inelutável: ou a matanativa ou a cidade, decidam-se!
Estamos em falta
•
(oo.) Nessa trilha de engamos e
equivocas, ensinam os jovens queo Palácio do Governo fica no anti
go 'Campo doManés', que a Capitania dos Portos limitava com o
Hospital de Caridade e que o sr.
Irineu Bornhausen é o avô do se
nador Jorge Bornhausen ... Eu, deminha parte, fico entristecido e
preocupado. Imaginar que é com
esse tipo de informação que a Universidade está formando meus futuros colegas ... Estou perplexo e
confuso (oo.)"Paulo da Costa Ramos - tre
cho de artigo publicado em O Es-o
tado em 13/3/88R.: Quanto às informações cita
das, ZERO errou. Quanto à perplexidade e confusão de nosso "futuro colega", atribuímos às preocupações com a situação de sua
eterna candidatura a prefeito de
Florianópolis.* * *
Sem ilusões/' É deveras lamentável que o Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social seja utilizadopor facções minoritárias inconformadas para veicular informaçõestotalmente distorcidas da realidade factual e comportamental vigente na Universidade Federal deSanta Catarina.Em artigo não assinado, intitu
lado "Sem ilusões", procura-sedeslustrar a vitória insofismável,limpa e legítima do atual Pró-Reitor de Ensino nas eleições paritárias diretas para Reitor da UFSC.A chamada de capa que caracte-
riza os integrantesda comunidadeuniversitária como "bobos" já éuma agressão gratuita e injustificada a todos os seus componentes,que só serve para desacreditar o
Jornal ZERO.Um professor de jornalismo,
consciente das responsabilidadeséticas associadas à utilização tão
inconsequente deste importantemeio de comunicação, daria realmente nota ZERO para alunosque escrevessem tal artigo. Certamente não é isto que esperamosdos futuros profissionais responsáveis pela relevante tarefa de veiculação de informações e idéias nasociedade. E preciso assegurarneste jornal laboratório um mínimo de isenção e imparcialidade,evitando-se envolvimentos emo
cionais que possam comprometero processo de formação profissional dos alunos. E necessárioaprende-r sobretudo que liberdadede imprensa não pode ser confundida com libertinagem ou licenciosidade.Nestas circunstâncias, solicito
que esta correspondência sejatranscrita na íntegra, com o mes
mo destaque do mencionado artigo, na próxima edição do JornalZERO. Esta providência permitiria descaracterizar a vinculação.deste Jornal a facções ideológicas,totalmente incompatíveis com o
espírito pluralista essencial no am
biente universitário.
Saudações -
Raul Valentim da SilvaProfessor da UFSC
R. Zero publicou.
CARTAS .
'
Mais uma vez chega às suas mãos o Zero, este experimento que desafiaa lei das probabilidades. O laboratório de fotografia do Curso de Jornalismo está desativado, por caduquice e falta de manutenção nos equipamentos. No entanto, você está vendo fotos. A Universidade está parandopor falta de professores, mas aqui restaram alguns' para passar umanoite em claro e viabilizar a edição deste jornal, alimentados pela ameaçade congelamento de seus salários e o calor do entusiasmo dos alunosem fazer jornalismo, que nunca faltou.
-
Uma falta, porém, precisa ser registrada. Faltou o professor AdelmoGenro Filho. Faltou a sua cordialidade no trato com os alunos e colegas,sua elegância de fazer política, sua valentia de enfrentar a adversidade,qualquer uma, até a última que foi a sua morte. O Zero saiu maisuma vez, mas o lugar de Adelmo no Curso de Jornalismo da UFSCé insubstituível.
Estranho país, triste país. No plano nacional, nossos honrados constituintes cederam às fortes argumentações do Urutu: veio o presidencialismo com um mandato, que o povo repudia, de cinco anos. Noplano interno, a Universidade vem sendo atacada desde o ano passado,numa orquestração regida pelo Planalto. As fraudes nos vestibulares,a lista dos "improdutivos" da USP e os decretos de janeiro do presidenteSarney, acabaram por sufocá-la. Milhares de alunos estão sem aulas'e sem professores no ensino superior. E como no caso das eleiçõespresidenciais: esperar até quando?No planointernacional uma má notícia isolada. Vinte e seis jornalistas
morreram em 87, cobrindo suas pautas, ao redor do mundo. Bem maisnobres, sem "pianistas", clientelismo ou jetons.
! P2 '. ZERO '.
'
MAR/88, I
PRENDO E ARREBENTO
Pedro Ivo impõe AI-5 à EducaçãoDemissões, cassação
de mandatos e fim dasdiretas nas escolas
Em apenas um ano, sob o slo
gan-compromisso "você decidee Pedro Ivo realiza", o governodo Estado conseguiu "revolucionar" o sistema educacional catarinense. Rasgou o Plano Estadual de Educação 1985 - 1988,demitiu 17 mil professores, cassou 98 diretores, acabou com as
eleições diretas nas escolas, extingiu os conselhos deliberativose decretou um plano de matrículas para superlotar as salas de
.
aula. O retrocesso imposto pelogovernador ao ensino básico e
médio, em Santa Catarina, chegou ao climax com a intervençãono Instituto Educacional deEducação e no' Colégio AníbalNunes Pires, em Florianópolis.'No mesmo período, por se re
cusar a negociar com os educadores, PedFO Ivo enfrentou "pequenos" revezes: teve que lan
çar mão de "cassetete democrático" da polícia para reprimiruma greve de 57 dias do Magistério e manifestações estudantis,em 1987, e colheu uma derrotaarrasadora no Judiciário, que,em fevereiro último, concedeuliminar de reintegração de posseaos diretores demitidos.
MAIS REPRESSÃOAs cenas de repressão à greve
e a intervenção autoritária nos
dois colégios (quatéis-Iaboratórios da política educacional do
governo) lembram os bons tem
pos de aplicação do Ato Institucional n? 5 e da Lei de SegurançaNacional, que teima em sobreviver a esta "transição sem fim".No entanto, ao quebrar o eixo
. democrático do PEE (eleição direta para diretor da escola e a
criação do COnselho Deliberativo, em cada uma delas), "Pedro Ivo aumenta o fogo sob uma
panela de pressão que está prestes a explodir" , adverte a profes-.sora Ideli Salvati, presidente da
Associação dos Licenciados deSanta Catatina.Segundo Salvati, até março
deste ano os professores da redeestadual acumularam uma perdasalarial de 156%. Não recebemreajustes desde de julho de 1987,nem mesmo a URP, que todosos trabalhadores vêm recebendo. Apostando na desarticulação da categoria, o governador
pagou o gatilho atrasado no último dia 14 de março, o que teveo efeito de um jato d'água dispersivo da manifestação marca
da para o dia seguinte, quandoele completou um ano de governo, e José Sarney três anos na
presidência da República.
AÇÃO NA JUSTIÇAA determinação do governa
dor, de levar a efeito um planode educaçao que ignora os, pontos fundamentais do "livro ver
de", discutido por centenas demilhares de catarinenses, durante a gestão de Esperidião Amim(a elaboração do PEE foi uma
conquista da greve dos professores em 1983), não intimida a
Alise, A entidade está .dispostaa ingressar com uma ação na Justiça para pedir a invalidação doano letivo de 1987, já que os 57dias de aulas repostas estão sen
do anotados nas UCRES -
Unidade de Coordenação' Regional de Ensino -;- como faltas
. não justificadas, informa a vice
presidente, Joaninha de Oliveira. Ela explica também que nas
escolas em que a greve de 87foi parcial, há distribuição dasfaltas entre todos os docentes
para não justificar a ausência dosgrevistas.As maiores aberrações', con-
.
forme a Alise, ocorrem no cam
po das demissões. Há casos em
que professores "formados" queforam demitidos ou transferidossão substituídos por funcionários de outros órgãos públicos,sem nenhuma qualificação paralecionar nos I? e 2? graus. Um
exemplo concreto dessas trocas
é o da Escola Básica Pedro VazCaminha, na Vila São João, emFlorianópolis. Um professor de
.Ciências (5� a 8� séries) foi substituíéo por um egresso do Supletivo de 2? grau, relata a professora de Educação Religiosa do
educandário, e estudante de Psi
cologia da UFSC, Catarina Gewerd. Demitida, ela continua lecionando no colégio, -"por um
comprornisso assumido juntosaos alunos". A professora conta
que os alunos' chegam a "fazer
vaquinha" para the pagarem a
passagem de ônibus, uma vez
que não rece�r salários.
Foto: James Tavares/JSC
.
Cassetete democrático agradecendo os votos
Governador não pede, decretaO ponto crucial do conflito
entre o governo do Estado e o
Magistério diz respeito às elei
ções diretas nos estabelecimentos de ensino. "O diretor da es
cola deve ser alguém de irrestritaconfiança do governo, porquesobre ele o governo pode execu
tar uma fiscalização plena. É um
cargo preenchido e esvaziado
quando o governador entenderpor bem", sustentou Pedro Ivo,ameaçador, diante das câmerasde TV, no dia 18 de fevereiro,quando usou a imprensa para re
velar duas outras conclusões brilhantes, baseadas em pesquisasde seus assessores especiais:"Há alunos em todas as cidadesdo Estado e não haverá maisgreve dos professores, porque o
governo não pagará os dias parados.A Alise, respondeu no dia se
guinte, com um documento queanalisa o pronunciamento do governador (a "grande mídia" deSC não publicou), que "o respeito à maioria se dá pelo cumprimento do que a maioria decide.Eleição direta nas escolas foiuma decisão de mais de meio milhão de catarinenses na colabo
ração do '?EE. O diretor de es
cola é cargo de confiança da co
munidade, para quem deve
prestar serviço e com quem deveestar sintonizado. Com a descul
pa de 'despolitizar a educação',não respeitando o processo eleitoral, legal, o governo quer, isso
. sim, transformar a escola em
curral eleitoral do PMDB.Quem não dançar conforme a
música é exonerado, a comunidade queira ou não".
Esta análise é aprofundadapela professora e doutorandaem Filosofia da Educação na
UFSC, Marli Auras, quandoquestiona se os anos e anos deprática de nomeação de diretores vinha garantindo a qualidadeda Educação em Santa Catarina."Onde está o direito de o governador nomear e exonerar o diretor da escola", queixa-se PedroIvo, acenando com a lei federal5.692, hierarquicamente superior ao PEE, que não é lei. Eleconsidera "intervenção políticopartidária" o processo de escõlha de diretores escolares.O governador não pode dizer,
é lógico - raciocina Marli Auras - que, com a volta das no
meações, pretende mesmo é queapenas o seu partido político, oPMDB, influa na escola dos diretores, restabelecendo, assim,a velha prática oligárquica. "Odiretor seria o delegado do governador dentro da escola e deixaria de ser o delegado da escola,
.
seu representante máximo juntoaos escalões administrativos",dispara.Como observa a professora
Marli, não é preciso ser muitointeligente pãra perceber ("até'mesmo pela pobreza da argumentação palaciana") que a ver
dadeira preocupação do governador não é com a qualidade doensino, como afirma reiteradamente mas, isso sim, com a p�emente necessidade de encontrarmeios para promover o "desmantelamento do movimentodos educadores, que vem contribuindo para desnudar a face au
toritária deste governo de 'oposição'''. Não basta punir com
transferência os professores quese destacaram na luta pela democartização escolar.Os sucessivos decretos do go-
vernador atingiram no cerne o
PEE: o de novembro de 87, queextingue os conselhos deliberativos, cria os conselhos comunitários, cujos presidentes serão os
diretores indieados pelo Executivo estadual; a exoneração dos98 diretores desrespeita a lei estadual6.709 e o PEE -que propõem eleições diretas para todasas chefias; sob a alegação de darvagas a mais de 200 mil criançascatarinenses em idade escolarque se encontram fora da escola,o Plano Anual de Matrícula -
1988, incha as salas de aula com
até 50 alunos por turma, dependendo da série, enquanto o número máximo permitido peloPEE é 35. O próprio documento-processo "Democratizaçãoda Educação - A Opção dosCatarinenses" condiciona a re
vogação Ou alteração de "livroverde" ao mesmo processo peloqual foi elaborado. Prevê também a renovação de 1/3 dosmembros do Conselho Estadualde Educação, o que ainda nãoaconteceu.
Os retrocessos aqui sucintamente analisados dão uma idéiade como o atual governo pretende colocar em prática aquiloque define como "a diretriz maisfundamental da educação" em
seus Cadernos de campanha"Rumo à Nova Sociedade": reorientar, repensar, melhorar, resgatar e reordenar o setor. Naspalavras da diretoria da Alise,o governador extrapola suas funções, coloca-se acima do Legislativo e do Judiciário e transformá a sua vontade em lei máxima, parodiando o Rei Luis XV,da França: "O Estado sou eu".
Geraldo Hoffmann
ALTOS E BAIXOS
Bolonha comemora 900anos de'Universidade
É a mais antigado mundo, masse moderniza
A universidade. mais antiga domundo está comemorando seus 900anos de existência. É a Universidadede Bolonha, Itália, na qual estudaram personalidades ilustres como
Dante Alighieri, Petrarca.ifirasmode Roterdã, Copérnico e muitos ou
tros, construindo toda uma históriade lutas e conquistas.
O aniversário vai ser abrilhantadocom uma série de manifestações en-
.
volvendo centenas de seminários e
conferências científicas, mostras de
arte, lançamentos de livros e de edições especiais, além de espetáculosde esporte, música, teatro e cinema ..
Fundada em 1088, sem nunca nes
se período ter interrompido suas atividades, a Universidade de Bolonhatem como atual reitor, Fabio Roversi Monaco, que para dar continuidade as atividades de comemo-
. rações convidou reitores de todo o
mundo para participarem das atividades e debates sobre o sistema universitário , entre eles o reitor da Uni-
Quatro dizemnão à greve.Tudo igual
Greve. se houver. só será decidida na próxima quarta-feira,dia cinco de abril, data-que fi-ocou marcada para a efetivaçãode nova Assembléia GeralAcadêmica. É que na tensa as
sembléia do dia 29 de março,por uma estreita diferença dequatro votos, foi decidida a
não-paralisação das atividadesda Universidade Federal deSanta Catarina. Ao longo das3h20min de duração, foram en
caminhadas e votadas duas propostas. A primeira indicava paralisação até o dia 5 de abrile a segunda pela não realizaçãoda greve geral. Venceu a segunda, com 663 votos (23 de professores) contra a greve. Foramderrotados 630 alunos e 29 professores.
Diante de uma diferença tãoreduzida, entre sua categoria,os professores exigiram nova
contagem de seus votos'; queconfirmou a primeira conta
gem. Antes, para evitar confusões, a assembléia foi divididaem dois grupos, com os favoráveis e os contários de cada um
dos lados do ginásio. Foram os
50 minutos mais tensos da Assembléia Geral Acadêmica.
Encerrada a AGA, e cumprindo outra decisão tomada, cercade 200 alunos invadiram a rei-.toria para exigir uma audiênciacom o reitor Rodolfo Pinto daLuz. Não perca a próxima as
sembléia.
tino, o Africano, marcam o inícioda ruptura com o ensino monástico,seguido pelas aulas de direito.
No século 13 já haviam dez milestudantes em Bolonha, a maioria
estrangeiros, sem direito à cidadania. Somente na segunda metade doséculo 14 é que a universidade passaa ser reconhecida. Até o século 16,Bolonha tem uma universidade governada pelos estudantes, que passapouco a pouco a se tornar uma insti
tuição estatal. Depois do século.14,-a universidade passa a explorar outras áreas de estudos, deixando o direito de ser seu único ponto de referência.
Palácio Poggi, sede
versidade de São Paulo, José Gol
demberg, que já confirmou presença.
UM POUCO DA mSTÓRIAA função da Universidade de Bo-
lanha marca o 'rompimento do· monopólio da Igreja na educação, instituindo o ensino livre e independentedas escolas eclesiásticas. As aulas demedicina ministradas por Constan-
Hoje, com dezoito mil estudantese vários centros de estudos avançados, a Universidade de Bolonha éuma das mais importantes de todaa Europa. Além de ter o título damais antiga universidade do mundo,procura transforrnar-se na universi.dade do futuro, associando à tradi
ção modernos sistemas de informa
ção. e automação. E tem tudo paraisso ...
Cláudia Carvalho
. Calouros entram sem ilusões1� de março de 1988. Antes
das 7 horas da manhã começaa invasão dos calouros que,como baratas tontas, arrastam-se pelo Campus daUF�C à procura de suas sa
las.
Tanto os que foram mere
cidamente aprovados quantoos que passaram por acaso novestibular, já vêm cientes dasdificuldades porque passa a
Universidade. Alguns já es
peravam um ensino falho, como a caloura Margareth, deJornalismo:' "Está melhor doque eu pensei. Esperava en
contrar uma Universidademais medíocre." Já seu cole
ga Fabiano vai mais longe:"A impressão que estou ten
do era a esperada: falta deprofessores, displicência deprofessores e alunos, inépcia". Como eles, a maioriados novos universitarios vêmde um 21trau defasado. "Essadefasagem é uma seqüêncialogica que não é culpa dessainstituição, mas do sistemade ensino em geral", afirmaMargareth. A décepção étanta que não são poucos os
calouros que, como menos deum mês de aulas, já pensamem mudar de curso.
Além das dificuldades diretamente ligadas ao ensino,outras como a falta de mate
rial, transporte coletivo, moradia estudantil e a semprelembrada comida do R:U.,só agravam a situação. Háquem não reclama. e esteja
achando tudo um baratodesde as aulas até a falta delas; a recepção calorosa, combanhos na lagoa do Centrode Convivência; os tradicionais trotes e tudo o mais.Dizer que os estudantes
vêm para a Universidadecheios de sonhos e perspectivas seria, no mínimo, ingenuidade. Mas também não éerrado afirmar que são poucos os que têm realmenteconsciência da situação e de.suas conseqüências. (Há significativa diferença entre es
tar ciente e estar consciente).Essa alienação fica claraquando se toca o assunto degreve, palavra maldita. Agrande maioria posiciona-secontrária sem antes questionar-se , sem estar a par dosfatos. E mais cômodo ter aulas "tapando buracos" doque reagir com posicionamento definido diante dosdisparates que denigrem a
educação em todo o país. Noscalouros o receio da greve émais explícito. O argumentoé que esta: greve g�e hora se
articula não atingirá seus objetivos.BUSCANDO OS DADOSSe as expectativas dos ca
louros em relação à Universidade ficam daras, o mesmonão acontece com o perfil sócio-econômico dos estudantes quando se tenta usar os
dados do questionário formulado pela COPERVE. Jánum primeiro mom e n to
constatam-se falhas gritantesno dados, como no caso deduas questões, uma delas so-
. bre a ocupação principal dopai do vestibulando e outrasobre a renda total da família. A resposta com maior
percentual à primeira pergunta apontava para proprietários e administradores- degrandes empresas; paradoxalmente, a segunda questãoassinalou "a predominância
. (56,7%) de famílias recebendo até um salário mínimo (naépoca, Cz$ 1.969,92).Revela-se uma grave falta
de sinceridade nas respostasdos vestibulandos, o que prejudica o trabalho de informação e pesquisa da Universidade. A quase totalidade doscandidatos, ao preencher o
questionário, parece não en
carar com a seriedade mere
cida.A falta de esclarecimento
quahto à finalidade, quemvai consultá-lo, como vai serutilizado, aliada ao fato de o
questionário caracterizar-sepor penetrar na individualiade dos candidatos de maneirapouco sutil, sem um mínimode bom senso, incitam a men
tir ou omitir informações.Convém discutir se esse
questionário não é propositadamente mal elaborado paraque a verdadeira situação douniversitário não apareça.
Julio C. Pompeo eGraziela S. Nunes
P4 ZERO MAR/8S
Para reitorCâmara só dáquatros anos
A Câmara dos Deputados já aprovou projeto de lei que determina a
nomeação de reitores das universidades federais, pelo presidente da
República, a partir de uma lista trí
plice escolhida em eleições diretasda qual todos participam - alunos,professores e servidores. O mandatodos novos reitores será de quatroanos, sem direito à recondução ao
cargo. Agora, o projeto de lei seráenviado ao Senado Federal para no·
vos estudos.
Com a aprovação, através de'
acordo de lideranças - já que à essa
.
altura é difícil conseguir quórum para boa parte das votações....,... foi derrotado o projeto de lei do deputadoVictor Faccioni (PDS-RS), que previa a reeleição dos reitores. As lideranças, ao optarem pelo substitutivode Ruy Nedel (PMDB-RS) - quedefendeu uma lista tríplice - e pelaemenda de Otávio Elísio (PMDBMG) - Suprimindo a recondução- acolheram pressões da esquerda,do Conselho de Reitores do Brasil(Crub), Associação Nacional dosDocentes do Ensino Superior (Andes) e Federação dos Servidores dasUniversidades Brasileiras (Fasubra). As entidades entendem que a
reeleição dos reitores é prejudicialaos propósitos de renovação em discussão nas universidades.
Caso a proposta de reeleição dodeputado gaúcho Iosse aprovada, o
.
reitor da Universidade Federal doRio Grande do Sui, Francisco Ferraz, convicto de que ela era "democratizante e avançada", tentariacumprir mais uma gestão dirigindoa UFRGS.
MEC estuda a'
Universidade
Aberta, é mole?O Conselho Federal de. Educação
aprovou um parecer criando um grupode trabalho para planejar e incentivara implantação da "universidade abertano Brasil". Segundo o conselheiro Arnaldo Niskier seria uma primeira ex
periência com, o ensino à ·distância a
ser implantado no País. Niskier aca
bou de .concluir um estágio na OpenUniversity da Inglaterra, que funcionapor correspondência -emitindo certificados, e considera viável a idéia, jáque o modelo da universidade no Brasil está sendo questionado e o momen
ta seria ideal para a implantação de
algo semelhante no Brasil.
Um dos objetivos da "universidade
aberta", seria a capacitação de professores que' já lecionam, como é o caso
'dos professores de 1? grau, cuja habilitação é feita a nível de 2? grau. Alémda capacitação de professores, também é possível dentro o projeto, o
treinamento de mão-de-obra e reciclagem, que poderia contar com o apoioe interesse da iniciativa privada. Nosdois casos ele defende a utilização dasuniversidades federais e estaduais para a coordenação do projeto.
A partir dessa idéia surge uma questão: dar diploma seria umaboa? Niskier sugere que na experiência pilotonão seja dado o diploma. (A.R.M).
Moacir fala de dependência da atuação faz um trabalho de melhor to? E o problema do díplo-
jornalismo, seu profissional. Mas eu vejo qualidade do que em FIo- ma obrigatório para exer-
que nós estamos cami- rianópolis. Se você for a cer a profissão de jornalis-livro, diploma ... nhando realmente para Joinville,Blumenau, Cri- ta?
uma profissionalização. ciúma, vai encontra jorna-�
Zero _ Fale do livro que Primeiro que as pessoas, lismo sério, rádio que faz M.P. _ Eu constato quevocê pretende publicar. os egressos das escolas de prestação de serviços, dá realmente os cursos de co-
Moacir Pereira _ Preten- comunicação, e os que já informação, dá orienta- municação não estão for-�
do examinar, a imprensaatuavam na profissão pas- ção, permanenternente ,
mando os profissionaissam a viver exclusivamen- com as grandes reporta- que o mercado deseja,
de Santa Catarina, ainda te do jornalismo. Hoje já gens, com as transmissões com uma boa formaçãoque, não com muita pro- existem empresas que es- diretas. Eu vejo o rádio e humanística, uma boafundidade - as quatro tão pagando salários que a TV como instrumento de qualificação técnica. Eetapas da nossa imprensa. permite esta situação. Há prestação de serviços, de agora, os cursos de medi-A etapa da instalação, com 20 anos atrás isso era im- informação, e de lazer, de cina também não estãoa característica político- possível. Eram apenas ca- elevação do nível educa- formando OS médicos departidária, a fase da ex-
sos excepcionais, que nós cional e cultural da popu- que o Brasil precisa. E issopansão dos meios, a fase encontrávamos nos meios lação. Em função, até vai se repetindo na enge-da modernização e agora, de comunicação de massa. mesmo do processo polí- nharia, na odontologia, naessa que eu considero a
Z. Você trabalhou durante tico brasileiro, do' regime filosofia. Então essa ca-rnais importante, que é a 6 anos no Jornal de Santa autoritário, nós vemos as rência não é uma carênciada profissionalização. Catarina e agora retorna emissoras de TV, transfor- doscursos de comunicação.Uma pequena nota histõ-
ao jornal O Estado. PorNa mudança, contentamento madas em redes nacionais Isso se torna mais eviden-rica sobre a imprensa em
que a mudança? que sufocaram manifesta-Santa Catarina, porque M.P. -:- Em primeiro lugar ções artísticas, culturais e
te, exatamente porque os
nós temos realmente uma'. porque o jornal O Estado folclóricas, em várias re- jornalistas que 'são forma-
memória muito fraca. Nós dos pelos cursos de comu-
não temos memória sobretinha um espaço aberto giões do Brasil, e o Brasil, nicação estão mais na vitri-
o
a imprensa ou sobre a polí- que não estava preenchi- mação. hoje, está uniformizadone. Os médicos e os dentis-
tica de Santa Catarina. Eudo. No momento em que Z. O Jornalista Estácio Ra- pelas redes nacionais de
tas estão atrás do balcão,gostaria até, se -tivesse .
eu aceitei o convite, do mos.deixa a RBS para assu- TV, lamentavelmente, ecada um no seu gabinete.Comelli e do Osmar para mir a superintendência da as estações. de rádio, em
mais tempo e condições, trabalhar no Jornal O Es-. RCE. Quem ganha e quem sua grande maioria, foram O que não se pode chegarde tentar resgatar a histó- tado, eu vi essa perspec- perde com isso? transformadas em toca- a concluir a partir dessasria da política catarinense,
M.P. _ Vi com muita sa- deficiências é que os cur-que realmente não existe.
tisfação, como jornalista e sos são dispensáveis. Eu
Z _ Os meios de comuni- como cidadão, essa trans- desafio alguém a me mos-
cação em SantaCatarinajá .
" Jornalistas ferência do Estácio Ra- trar de maneira lógica, ra-atingiram um boni nível formados estão mos, e o lançamento desse "O rádio do cional que os jornalistasprofissional? projeto novo, de instalção interior é formados no dia a dia da
na vitrine. Os de uma nova rede em SC, melhor. Na profissão - eu acho que.M.P. _ Eu creio que sim. médicos ficam que ainda não existe, que capital só se
estou muito à vontade praDo ponto de vista tecnoló-
no balcão" é a RCE, derádio e de falar sobre isso, porque eu
gico, está até na frente dos TV. Em segundo lugar de ouve música" , não sou formado em jor-outros estados. O DC tem
. executar um projeto alta: u nalismo. Eu sou formadohoje o equipamento mais mente profissional. Ganha em direito. - Mas um
moderno de composição tiva. Quer dizer, eu saio o público por que? porque quadro geral comparativo,que existe no Brasil, com do JSC, onde eu tenho em o Estácio Ramos vai lançar discos, E desgraçadamen- .
os jornalistas que salvo ex-
sofisticados equipamentos espaço, e eu que conquis- novos projetos na área jor- . te transmitindo músicas ceções, natur'almente ,, de computação, acoplados . tei, modéstia à parte, que nalística. Eu tenho infor- estrageiras, o rock paulei- aqueles que procuraram o
às centrais. Mas eu acho o jornal não tinha: também mação de projetos bastan- ra que faz sucesso na nove- seu aprimoramento técni-que só isso não basta. Eu colunista na época, em te ousados na .área jorna- la das oito. Quando o que co, pela sua formação hu-entendo que nós estamos 1982, e no momentto que lística. Pelo que eu conhe- nós deveríamos fazer é manfstica, a elevação donum bom nível, estamos eu deixasse o JSC, iria per- ço do ER e o que eu conhe- exatamente utilizar e ex- seu nível cultural - mas
caminhando para um bom mitir que um outro compa- ço do mercado catarinen- piorar o potencial das isso são exceções à regra.nível de profissionaliza- nheiro assumisse aquele se, a RCE não tem como emissoras de rádio, para Mas no geral os que saem
ção, na medida em que posto: Em segundo lugar competir com a Globo na levar orientação sobre no- dos cursos de comunicaçãoabandonamos a fase que porque me sensibilizei programação nacional. ções de higiene, levar saú- têm uma visão crítica daacompanhou a imprensa com o projeto de moderni- . Ela tem uma grande fatia de, levar lazer, levar a in- sociedade, muito mais am-catarinense no império e zação e de profissionaliza- do mercado, exatamente formação, a reportagern, pIa, têm uma formação hu-na república, que é a da ção do jornal O Estado, na programação local. debates e entrevistas para manística muito melhor,vinculação partidária. apresentado pelo Comelli, Z. Quat o meio de comuni- as emissoras de rádio. têm uma noção de. históriaVeio um segundo momen- pelo Cesar Valente e pelo cação, no estado, que você Z. Os cursos de comunica- muito mais aguda, muitoto, do início da censura po- Osmar, diretor. Eu senti classificaria como de me- ção não estão formando mais forte. E até mesmolítica. Veio mais outra eta- uma disposição firme deles Ihor qualidade profissio- jornalistas, já que os alu- uma certa preparação téc-pa, do exercício do jorna- de efetivamente ocuparem nal? nos só aprendem quando nica.lismo ou de uma maneira uma parcela do mercado M.P. _. No meio radiofô- ingressam no mercado deamadorística ou de um en- de Santa Catarina que está nico, eu tenho constatado ' trabalho. Você concorda,gajamento que levava à carente, sediosa de infor- que no interior de SC, se vê alguma solução à respei-
Entrevista a Carla Cabral
RADICAL DA CAUTELA
Regime autoritário presente na TV
MARISS- --�, - ZERO -
'
,
"
, PS I
COMVOZ
A garotadajá pode votarcom 16 anos
Eleitorado dá pau em Sarney
A constituinte aprovou o votofacultativo para os maiores de16 anos. Serão, segundo o IB
GE, 200 mil novos eleitores em
Santa Catarina e 5,7 milhões em
todo o país. Destes, 60 por centoexercem algum tipo de atividade
profissional remunerada. Polêmica, a proposta foi lançada pelaprimeira vez em 1985,' no con
gresso da União da JuventudeSocialista. Daquela data até sua
aprovação, a entidade desenvolveu um intenso trabalho paratornar lei sua reivindicação. Joaquim Perez, da coordenação na
cional da UJS, conta como foi. esta campanha e o lobby que garantiu a vitória do voto aos 16anos:
"Logo após o congresso, realizado em fevereiro, a entidadepassou a divulgar sua propostapor todo o Brasil. Uma das formas utilizadas foi a pichação em
muros, feita em tão grandequantidade que mereceu destaque na televisão nacional. Em1986 a campanha prosseguiu,com debates e outras atividdes.Neste ano, o deputado HermesZanetti (PMDB-RS), a .pedidoda UJS, apresentou um projetona Câmara dos Deputados."Mas a mesa manobrou, e nósfomos derrotados", diz Joaquim.
A derrota, contudo,. não con
seguiu abalar o ânimo do UJS.No mesmo ano ela voltava às'ruas com sua campanha. No en
tanto, segundo Perez, "a im
prensa iniciou uma contra-cam
panha por todo o país". O coor
denador da entidade conta queum dos argumentos utilizadosnesta "contracampanha", era a
possível redução da idade penalpara 16 anos. Um argumentosem consistência: "o prórpioBernardo Cabral, que iambém
'
é jurista, garantiu que este argu-
A solução para os problemas. brasileiros passa, segundo Evilásio Salvador - de 17 anos -
,
"pelo fim do governo Sarney e
a eleição de um governo ligadoao povo". Evilásio o é auxiliarde escritório em Criciúma, e trabalha desde os 14 anos de idade.
Acompanhando a vida políticado país pela imprensa, ele acre
dita que "sem a participação da
juventude nada mudará".Outro que também não sim
patiza com o "Zé Ribamar" -
vulgo Sarney - éMárcio Daniel
mento é falso".Quando a constituinte foi ins
talada, a UJS deu a ela uma
atenção especial. "Nós sabiamosque sua composição era demaioria conservadora", diz Perez, "mas nós não podiamos ignorá-la". Na primeira fase, dascomissões temáticas, o voto aos
16 anos foi rejeitado. Quandoteve inicio o trabalho da comissão de sistematização, começoua funcionar o lobby da UJS.Diferente do lobby de outras
entidades, como a UDR, estenão utilizou o poder econômico.A forma de pressão utilizada foia visita a todos os membros dacomissão. Alguns deles foram
procurados mais de uma vez, natentativa de serem convencidosa votar na proposta da UJS. Nofinal, a comissão de sisternati
zação aprovou o voto aos 16
da Silva. Eie tem 16 anos, e éauxiliar de escritório-em Floria
nópolis. Márcio considera-se su
ficientemente responsável paravotar, "afinal, eu trabalho o
mesmo tanto que um adulto e
ajudo a construir este país. "Este, aliás, foi o principal argu-mento da UJS.
<,
Cearense de nascimento, e
morando em Florianópolis desde 1984, o office-boy Andocides
Gomes considera o presidenteSarney "um inimigo'da juven-
anos. Aprovada naquela comis
são, a proposta apresentada pelos dep'utados Hermes Zanetti eEdimilson Valentim (PCdoBRJ) - iria para votação em plenário.
A partir daí todos os presidentes de partido, líderes de bancadas e de grupos foram visitados.Até mesmo o "centrão", cujaspropostas divergem das da UJS,foi procurado. "Nós apresentávamos os nossos argumentos,mas não negociavamos nossas
propostas", diz Joaquim".
Uma segunda etapa, realizadapor 40 membros da entidade, foia visita a todos os constituintes.O senador catarinense JorgeBornhausen (PFL) foi procurado oito vezes, mas em nenhumadelas foi encontrado no congresso. No dia da votação em plenário, a UJS e a União Brasileirade Estudantes Secundaristas co
locaram mais de 350 jovens nas
galerias. Uma nota dirigida aos
deputados, foi distribuída pelosjovens, minutos antes do inícioda seção. Defendido pelo sena
dor Afonso Arinos (PL-RJ) -
o constituinte mais idoso - o
voto aos dezesseis anos foi apro ..
vado.
Agora, a UJS pretende desencadear uma campanha por todoo Brasil esclarecendo o jovemde seu novo direito além disso,vai incentivá-lo a se inscrever na
Justiça Eleitoral- pois o alistamento não é obrigatório para os
menores de 18. A entidade também pretende lançar uma nota
denunciando os constituintes
que votaram contra a sua proposta. De Santa Catarina, apenas três parlamentares deixaramde votar na proposta da UJS.Além do senador Jorge Bor
nhausen, os deputados VitorFontana (PFL) e AlexandrePuzzina (PMDB).
tude brasileira". Ele que tem 17anos, lembra que um jovem declasse baixa não pode se divertire muitas vezes nem estutiar: "S�ele - o jovem - não trabalhar,a sobrevivência da família corre
um sério risco". Triste com o
presente, Andocides não perdeua esperança no futuro, "se de
pender de briga, as. futuras-gerações vão herdar um mundo me
lhor", diz ele.
Carlos Eduardo Caê
/
Com Imprensa,jornalista virou
pauta (sem morrer)
A melhor capa de março
A_ revista Senhor da terceirasemana de março (aquela quemostra uma "mãozinha" significativa na capa) traz uma matériasobre o declínio do PIB brasileiro. É mostrado que, não fosseo desempenho da agropecuáriaem 87, o nosso produto internobruto seria uma total desgraça.
A indústria, que mostrava' forçaem anos anteriores, mostra um
raquítico crescimento, e o setorde serviços continua patinando.A matéria não aborda, mas pode-se desconfiar de uma coisa:não foi apenas a agropecuáriague segurou as pontas de um
fiasco deprimente. A produçãoeditorial deve ter contribuído e
muito. Quem duvidar que passenuma banca de revistas e jornaise examine os títulos. Desde "como fazer cerveja em casa" atérevistas semanais de informaçãoexiste uma quantidade imensade publicações.
E certo que alguns títulos de
saparecem após uma ou duasedições, Quem (com mais de 30
anos) não se lembra dé uma re
vista chamada Repórter? Em
placou apenas três números. Eo Jornal da República? E bom
parar por aqui. Espera-se quea revista Imprensa, que tem o
próprio jornalismo 'como pautapermanente, tenha um melhordestino. Em fevereiro a revista
(publicação da Feeling Promo
ção e Comunicação, São Paulo)apresenta uma matéria de capasobre o livro "Minha Razão deViver" do jornalista SamuelWainer e um número seis juntoao logotipo. Quer dizer, está
agüentando ...
Mas o que se deve esperar deuma revista que tem o jornalismo corno matéria? Publicar o
que a grande imprensa não publica?' Entrevistas com jornalistas famosos? Ironizar as mancadas dos jornais?Mostrar o entrae-sai das redações? Apesar deter cativa uma das melhores pautas deste País - a imprensa brasileira - os leitores certamente
querem mais que folclore. Procuram nas bancas um produtoescasso, existente, mas raro, queé o prõprio jornalismo. Dissoninguém pode duvidar: à medi-
da que aumentou o número de
publicações o jornalismo defi-nhou. _
A questão não é ditar receitasde como deveria ser uma revista'
que trata do jornalismo. Masuma coisa é' certa: deve haverum diferencial entre uma revistacomo. Imprensa e os jornais e
revistas existentes. Isso porquehá o perigo demisturar, mesclar,este tipo de publicação com as
já existentes. Hoje, no Brasil,a publicação que pretende ter-a
imprensa como assunto, deveprocurar e praticar diferanças noestilo de trabalho. Do contrário,pode acontecer uma situação deatoleiro onde as referências queainda existem serão inevitavelmente perdidas. Pode acontecer
uma situação surrealista onde o
objeto de matéria (imprensa)torna-se exemplo para a revistaImprensa.
Se o futuromostrar que a direção foi esta, a revista lmprensaserá apenas "mais uma publicação". Bem intencionada, semdúvida, mas apenas mais uma
nas recheadas bancas e revistas.A imprensa brasileira, nos tempos que correm, precisa voltara praticar o jornalismo. Isto éo óbvio. Para isso, necessita sentir concorrência e diferenciação.A pior política agora (e mesmo
de marketing) é uma publicaçãocomo Imprensa não perceber isso.
A situação que se apresenta,como uma revista querendopautar a imprensa nacional, deve indicar novos caminhos parao jornalismo. Isso é fundamental, para que não descambe devez os últimos resquícios que se
têm de jornalismo. E alguma publicação precisa fazer ISSO. OUserá que tem gente pensandocomo Barão de Münchausen
que conta o seguinte em uma desuas famosas histórias: o mesmoestava caminhando quando caiuem um pantanal. A lama já esta
va cobrindo o Barão que desesperado não sabia o que fazer.Neste momento ele teve uma
idéia brilhante: agarrou seus
próprios cabelos e foi puxandoaté conseguir sair do pantanal.
Hélio A. SchuchProfessor e jornalista
"
. It.i I" - .. \
PEGA O LADRA0
,"
Besc: .mais roubo ':e
- impunidade, ;-
- ,. ,,," ".
-, ,-
Carlos Passoni, homenageadopelos interventores do BC,é justamente o envolvido
nesses documentos inéditosDecorridos os primeiros doze
meses, de intervenção federal noSistema Financeiro Besc, poucos catarinenses podem afirmarque conhecem o trabalho dos interventores do Banco Central.Até o momento, no melhor estilo do Brasil de Sarney/Centrão,aqui tem prevalecido a impunidade. Os deputados estaduaisMário Cavallazzi (PDS) e Júlio'Garcia (PFL), ex-diretores dobanco no governo Amin, que tiveram seus nomes levantadoscomo suspeitos 'em desvios derecursos do Finsocial e outros
programas oficiais de crédito,escondem-se hoje sob a capa daimunidade parlamentar. E como
em terra de cego quem tem um
mandato é rei, a imunidade foi
rapidamente transformada em
impunidade.,
Ao mesmo tempo, o principalenvolvido nessa história, o ex
presidente do banco, Carlos Passoni Júnior, recebeu diplomasde mérito das mãos dos interventores do BC, por "relevantesserviços prestados à sociedadecatarinense" .
ClientelismoFundado há vinte cinco anos,
o Banco do Estado de Santa Catarina sempre foi utilizado parafins políticos, pelos grupos oligárquicos que se alternaram no
poder. Concurso público é palavrão, onde o clientelismo sem-
pre foi a política de recursos humanos, da admissão às vanta
gens e promoções dentro do. quadrode carreira, em prejuízoda maioria dos funcionários. Atéaqui, tudo tem sido decidido porinteresses eleitorais.
,
No governo Amin, durante a
administração Passoni, o processo de crise f in a n c e i r oadministrativa do Besc chegoua extremos. Nas eleições municipais de 85 e no ano seguinte,nas eleições para governador,Assembléia Legislativa e Constituinte, os recursos públicos do
, banco foram utilizados na ma-
CO,,'tIIJ"ro 1)[ I-I<!:ST"�O I)� �L"VI�'O�
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�lIllJOAA De T1T!ll.OS L ""l.oou;� �.�Io!Li':'�lO� �/J., - t " CO'.;,;o, - c,,;:�u�-''OO<.I:S ...��OCI ... L>OS ur ;.L':U;":'O� >il;"'�
I. besc- oHcr,bu,o"," de 1i,u)<,. � \"�l,,,,,� Mot...l,:;"oo �/" •• S'c".c�a<, "e ba,�,buldora d� Titulo. 1- �·�,o,,,. ,..,,,,-,1,:,, ,<>�, rC�.
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Empresa fantasma se beneficia
SESC DIS1RI8c'lnORI. DE TITULOS E VALORES M081L1ARIDS S, A,Mo .... DoodOIQ 17 - f-o"o, PABI. �2·7Z�2 - ��-;:277 - el. po,'al 0-1t'_ - Fpoli, _ se
(tri,nta per cento) na data da assinatura
do presente contrato, a segunda de 262,50(duzentos e sessenta.e dois virgula cin
coen ta)- ORTN IS, cu seja, 35ft (trinta .e
cinco por cento) nad data da apresentaçãodo módulo PESQUISA SALARIAL, em 30/07/85e a terceira e última, também de 262,50. -
(duzentos e sessenta e dois 'virgula cin
coenta) ORTN1s, ou seja, 35% (trinta e
ci�co por cento) na data de apresentaçãoou entrega final do trabalho.
E assim, por estarem justos e contratados, firma o presént�contrato ern �üatro (O�) vias de igua) teor e forma.
Florianópolis, 'e�, 10 de rr.aio de 1985.
Diretor
��Vit'@"'" .
Nas assinaturas, o envolvimento da família
ASSOCIADOS DE RECURSOS HUMANOS'LTDh,
,
neira mais acintosa possível.Junho de 1985. Numa rápida
viagem a Araranguá, Sombrio,Turvo e Meleiro, o então presidente Passoni Jr. requer a líberaçõ de Cr$ 517 mil para cobriras despesas. Objetivo: reuniõescom lideranças comunitárias e
bancadas de vereadores do PDSe, de quebra, um jantar com a
administração da agência de Criciúma. Nada extraordinário, di'ria Passoni, apenas uma pontadesse iceberg que entrou em ro
ta de colisão com o Besc, culminando com a intervenção do BCem 25 de fevereiro de 1987.
Colarinho BrancoEm recente Assemlbéia Geral
de Acionistas, o governo do es
tado, representado pelaCompanhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (CODESC), levanta - em linhas gerais - as irregularidades apuradas na administração Passoni.Entre outras, a manutenção
de um contrato de prestação deserviço com a CONARH -
Consultores Associados de Recursos Humanos Ltda - dirigida por Carlos Melim Passoni, filho de Passoni Jr., que ocupavaa função de Superintendente deRecursos Humanos do Besc e..
Ernesto Augusto Ferreira, en
tão Diretor de Recursos Humanos do banco. A CONARHprestava serviços à empresas doSFE e também atuava em outros
estados, facilitada por "apoio lo-gístico" do banco, que custeava
" ,. '''''''0
"1425;485�passagens e liberava seus dire to- -
-_--_o,., '., 500.000
res para a prestação de consul-C:"
WOO", ""'''"''"•
,.,.
E.
d 85 CO TtOTAL C<£ II"" I"(ACO"RI005tonas. m mato . e ,a -
J TO'4l 4 �( .. I'fll1T4DONARH assinou um contra�o IF;Oii-;---'''' ; __
'�.'74.515
com a BESCVAL - Besc DIS- I�-'� .
17 06 'DlC. -
.-::�- J
tribuidora de títulos e Valores P_.:=�.o --"-'- o�"'.__� ._ . '::J,:çvnOJ"" _ I
Imobiliários S.A. -, que totali- edldo de diária para a camp;--nhd---- ....",.. " " ....____j
zava 750 ORTNs ou exatamente '
a o PDS ._=-.
636 mil cruzados em valores dehoje.Njl área-de operações, prosse
gue o voto da CODESC, há inúmeros casos de deferimentos irregulares.de Operações de Crédito, muitas vezes à empresasinexistentes, que foram todasbater nas contas de "prejuízo"nos balanços de 86 e 87. E finalmente, há ainda os casos deapropriação de recursos do banco para cobrir gastos de atividades do Partido Democrático e
Social (PDS), tais como reu
niões com bancadas de vereadores, congressos estaduais, cujaliberação era autorizada pelopróprio Carlos Passoni Jr.
Propostas do SindicatoOs sindicatos de bancários do
estado têm denunciado, insistentemcnte, todas estas questões, argumentando que o funcionalismo do Besc não pode ser
responsabilizado pelos desmandos administrativos e pela cor
rupção, que debilitaram, o banco. Os bancários defendem uma
posição baseada na punição dosculpados pelo rombo, não fechamento de agências, auditoria pública para apuração de responsabilidades e garantia de empregos. Nesta, última proposta, o
Departamento Intersindical deEstatística e Estudos Sócio-Eco-
• ReprOduçõeS/Zero,
'--1/r-JUN·1S8S_.
'JUN '19fJ5
a"f ";'''��".'.� 'II
.. ... , ,., "f , •• <""�.O"OA,
nômicos (DIEESE) apresentouum estudo comprovando a com
patibilidade entre o número defuneóonãrios do Besc - 6 mile 500 empregados e a sua estrutura de agências - 216 no total.Portanto, dizem os sindicalistas,não existe fundamento técnicoadministrativo para redução doquadro.
pressão, nos quais o banco pagaapenas 50% dos direitos. Alémdissó, o fantasma da demissãoem massa, propagado pelo próprio governador Pedro Ivo, temmorado em cada agência doBesc, no último ano.
Até q final de março o SistemaBesc volta ao controle do esta
do, com a nomeação de um novo
Conselho Diretor. A composição da nova diretoria - agorade 14 diretores e não os 44 daépoca de Passoni --:- deve colocar um ponto final na história.Pedro Ivo fica com a presidênciae com as diretorias que envolvem recursos humanos: ao BCcabe as diretorias operacionaise financeiras.
Diretoria MistaO resultado operacional do
Besc no ano de 87 foi superior '
a 1 bilhão e 200 milhões de cru
zados: No balanço que será publicado até o final de março, estevalor cai sensivelmente, em função das provisões para pagamento das multas aplicadas peloBanco Central do Brasil.
_
Esse lucro, lugar-comum no
sistema financeiro nacional, éresultado de toda uma políticade recuperação mercadológica- marketing ofensivo - financiada por polpudas injeções derecursos públicos, repassadospelo BC. E nessa história de altos lucros, os funcionários pagaram a conta convertida em cen
tenas de demissões indiretas -
transferências compulsórias para o interior -, aposentadoriasforçadas, acordos feitos'soh
Samuel p', Lima
O rombo não deu pano prasmangas como previam os arau
tos do PMDB. O momento é decosturar um velho paletó, coma participação de todas as partes,repartir os cargos e abotoar maisum golpe de colarinho brancoà sociedade catarinense. Alguém se importa?
NOVA POSrURA
Foto: Flávio CanalongaNeja
Traje recomendável para muitas mulheres
Delegacia da Mulherganha confiança e
amplia atendimentoso primeiro movimento de re
percussão social desencadeadopelas mulheres aconteceu dia 8de março de 1857, em Nova Iorque, quando 127 operárias foram incendiadas dentro de uma
fábrica, durante um protestocontra a jornada de 16 horas detrabalho diárias. Somente 53anos depois, na mesma data, foioficializado o Dia Internacionalda Mulher.
Este foi o começo de uma luta
que, com o passar dos anos, continua. Hoje a mulher ainda é vítima de preconceitos na sua vidapessoal e principalmente na área
profissional, onde o homem ganha em média 20% a' mais do
que amulher, exercendo as mes
mas ocup�ções técnicas.
Alguns historiadores, atravésda análise de desenhos feitos no
interior das carvernas, acreditam que na Idade da Pedra a
mulher, por gerar filhos, era
'considerada mais forte. O ho-mem era submisso à sua condição e, só quando descobriu ter
um papel fundamental na con
cepção dos filhos, ele desmitificou a mulher e, sob o uso docassetete da pedra, a intimidou.Vale lembrar que, apesar de
não estarmos na Idade da Pedra,. há homens que continuam usan--
do de violência contra a mulher.Com o propósito de baixar esteíndice e garantir os direitos femininos, foi criada a Delegacia daMulher. Em Santa Catarina, elafoi instalada na capital, em se-
tembro de 1983. A Delegacia (6?DP) fica na Av. Mauro Ramos,em frente ao banco redondo.A delegada Ester Coelho Car
doso Biz que seu trabalho "estáum pouco mais fácil", agora quepode contar com a confiança dasmulheres e da sociedade. "Antes as mulheres não procuravama Delegacia por medo de posteriores agressões, ou mesmo pelafalta de confiança na seriedadedo nosso trabalho. No entanto,as que nos procuram, hoje, ml¥\tas vezes retiram suas queixas nahora em que elas são levadas ao
Tribunal", explica Ester: O trabalho da Delegacia então é prejudicado e esse tipo de atitudeacaba contribuindo para o au-
mento da violência.'
O 6? DP conta com algunsPM's para dar apoio, mas o trabalho feminino se restringe à
parte de atendimento, registrode queixas, e situações burocráticas. Faltam carros e pessoal es-pecializado.
.
Entre janeiro e março, o 6? DPatendeu; em média, dois a trêscasos por dia, sendo a maioria(99%) agressões físicas. Os ca
sos de estupros raramente sãodenunciados. Segundo Ester, a
mulher não dá queixa de estupropor receio de ser ridicularizada
pela sociedade, além do medode ser violentada novamente.
Roberta M. Miranda
Cresce na Ilhabusca ao ensinoalternativoAumenta o número de pais que procuramnovas opções de ensino para seus filhos.Florianópolis oferece quatro chances
'uma das principais características das Escolas Alternativas éo respeito que elas têm pelo ritmo próprio do desenvolvimentoda criança. Além disso, nessas
escolas as professoras não sãochamadas de "tias", mas pelonome, tornando a relação alunoprofessor uma relação de amizade."Nas escolas tradicionais o
professor transmite o conhecimento aos alunos. As criançassão consideradas uma vasilha:Há uniforme, as professoras sãochamadas de tia, uma metodologia específica", explica um. osdiretores da Escola AlternativaSarapicuá, que fica no CórregoGrande. Essa escola surgiu em
1981 através da reunião de um
grupo de professores da universidade que não queriam colocarseus filhos nas escolas em queestudaram quando Crianças, e
além disso, queriam participardo processo educativo dos filhos.A escola, na verdade, é uma
Associação de Pais e Professores. Todas as decisões como sa
lário dos professores, demissões, aumento das mensalida
des, são tomadas em assem
bléia, e é feita também a eleiçãoda direção de ano em ano. Na
contratação de professores nãose exige uma formação superior.O professor se enquadra na me
todologia da escola participandodas reuniões pedagógicas e dos
grul?os de estudo. Os pais se_ orgarnzarn formando cormssoes.
Existe a Comissão da Saúde, dasFinanças e a que se ocupa da
organização das festas.A escola possui uma biblio
teca onde são guardados os livros de histórias, um museu on
de ficam animais dentro de vidros (ratos, cobras e outros) e
uma oficina onde se trabalhacom argila, madeira e sucata. Hádias em que as crianças vão paraa cozinha e fazem sopa, pizzaou outra comida para o lanche.Mas cada escora é alternativa
do seu jeito. A Associação daPraia do Riso que fica em Co
queiros, era uma escola particular e há um ano virou uma-asso
ciação de pais e professores. Aparticipaçã<;> d.os pais nã? é tãointensa.' Diariamente ha bate
papos no portão e sempre queé preciso os pais são chamadosna escola para conversar sobreos filhos. Há também reuniões
pedagógicas mensais ou qua�doos professores sentem necessidade de maior troca entre eles.A escola tem desde 1987 o pri
meiro ano, além da pré-escola,maternal e jardim. Agora já tem
o segundo .ano e logo-logo haverá o terceiro. No pnrneiro ano
Este modelo educacional está em xeque
o currículo é o mesmo das escolas comuns, o que é diferenteé o método conio é aplicado. Segunda Tânia, coordenadora dapré-escola, não há aulas expositivas e não se trabalha com as
tradicionais cartilhas. "As crian
ças aprendem através da pesquisa e da descoberta". Um, exemplo é a forma como é trabalhadaa questão da páscoa. "Tentamosresgatar o sentido histórico e folclórico. O lado religioso tambémexiste, mas não é colocado comouma verdade absoluta.""Não se agrada todo-mundo",
diz Bernadeti Zanetti, a Deti
nha, uma das diretoras da Escola Vivência. Ela conta que jáaconteceu de pessoas se desa
pontarem com a escola, acharem um absurdo e tirarem seus
filhos .. "Isso acontece com paisque não têm nada a ver com a
escola." Detinha, professora dehistória e Keka, pedagoga, fundaram a escola em 84. No inícioalém de administrar. eram também professoras e aos sábadose domingos ajudavam na limpeza. Desde o ano passado cuidamapenas da parte administrativa.Trabalham com crianças a partirde dois anos até os.seis.Eles possuem uma horta, mu
seu, viveiro, o oficina criativaalém de um professor de música.No ano passado, a Escola Vivên-
cia montou um projeto que foienviado para a prefeitura de Florianópolis na tentativa de conse
guir verbas para participar deum projeto piloto sob a orien
tação da Escola da Vida queatua lia cidade de São Paulo, desenvolvendo um trabalho de alfabetização na linha de EmíliaFerreiro. Emília Ferreiro faz umestudo sobre o processo de alfabetização tentando relacionar a
lógica da criança com níveis de
aprendiza,do.A Escola Vivência oferecia em
troca repassar os conhecimentosadquiridos em São Paulo paraos coordenadores das escolasmunicipais. A verba não foi liberada. Há o cuidado permanentede promover cursos para os professores que também se formamdentro da escola. Há um pai psiquiatra que trabalha a questãoemocional dando uma assistên'cia a nível idos professores. Osonho de Detinha é ter um terreno maior, onde haveria todo o
tipo de criação e fosse possívelcontinuar com a proposta da .es
cola: permitir que a criança te
nha um grande número de experiências e, através delas, capteos conhecimentos.
Arley R. Machado
"
-"Pl.Q,'· '. '
'
. '. .'. ZERO, '"_',.,, .. ", -: ',. " '. > .,:- MAR/88 .
SEGREGADOS
Movimentos negrosquestíonama festapela abolição oficial .."Decreto n� 3353, de 13 de
maio de 1888, que extinguea escravidão no Brasil"."A Princesa Imperial Re
gente, em nome do Imperador o senhor D. Pedro II,há por bem sancionar e �andar que se execute a seguJI�!eResolução da AssembleiaGeral:
_
"Art. 1�"""": E declarada dadata da presente lei, extintaa escravidão no Brasil"."Art. 2� - Revogam-se as
disposições em con�rário.Rodrigo Augusto da Silva doConselho de Sua Majestadeo Imperador, ministro e se
cretário do Estado dos negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, assimo tenha entendido e faça executar.Palácio do .Rio de Janeiro
em treze de maio de 1888 -
Izabel, Princesa Imperial Regente. Rodrigo Augusto daSilva".
.
Os 100 anos de Lei Aurea,essa comemoração toda',vem, de forma subjetiva, dividir o movimento negro. Elanão tem apenas um caráterfestivo do reconhecimento da
abolição, maspossui uma co-notação política. .
O movimento negro não é
umaorganização de ação úni-. ca. A meta de todas as organizações negras é o combateao racismo, embora cada grupo tenha um estilo de ação.Algumas-não estão festejando a abolição mas outros certamente vão comemorar, entrando dentro do projetão de
comemoração e isso causa 5lruptura do movimento. Euma ouestão ideológica.A nível nacional foi deter
minado por esses grupos umamarcha de protesto no diatreze de maio, como formade não comemorar o feriadoda Lei Áurea. A morte doúltimo líder do Quilombo dosPalmares, Zumbi, representaa resistência do povo negro.·Explica-se, então, o porquê.da escolha do dia vinte de novembro para o feriado. Dessaforma o que é passado através do treze de maio é uma
liberdade que não aconteceu.História
A história oficial do Brasilnão falha apenas' no que se
refere ao negro: A escoladentro de uma sociedade ca
pitalista tem como função re
produzir as relações de ex
ploração. Os dominados são
aqueles indivíduos que historicamente trazem o estigmade serem inferiores e que nãoé por coincidência que são
negros, mestiços, ·nordestinos e mulheres os premiados.Desde a pré-escola se tra
balha muito em cima da cor
Ele é maioria na pcpulação e sabe
negra. A criança não vê o an
jo negro, não vê a fada negra.No entanto, o boi que vem
pegá-la é de cara pretaja noite, é assustadora, e é preta.O indivíduo pobre não temcondições econômicas parase manter em uma escola, e
.o negro é pobre. No primeirograu existe um número con
centrado de negros, mas até
chegaram à universidade estenúmero se torna irrisório.
Jerusi, mestrada em educação, nos conta que quando,foi à biblioteca fazer sua car
teira; a funcionária não acre
ditou que ela, uma negra,cursava um mestrado e até
ameaçou ligar para a sécretaria de educação a fim deverificar. Paulino, estudantede história da UFSC diz quenegro é visto como pobre,feio, sujo, marg�l e vai poraí. .. Deixar de ser negro, ascender socialmente, significadeixar de ter comportamentonegro e para isso é necessário
passar a assumir todos os padrões de comportamento dasociedade branca. "Se vocênão corresponde a esses padrões, você passa a ser rejeitado" .
Ivan, integrante do Núcleode Estudos Negros fala queas pessoas tentam insistentemente despojá-lo de assumirsua posição como negro. "Eusempre fui encarado-moreno,
como forma de amenizar o
preconceito" .
MulherA mulher negra sofre uma
discriminação tripla, no sen
tido em que é pobre, negrae mulher. Durante o séculodezenove e todo o período de
• escravidão, as negras mantinham relações com seus se
nhores. Enquanto senhor hoje, ele continua mantendo relações com as negras, mas a
relação de casamento é com
amulher branca. No próximodia trinta de abril, vai acontecer uma reunião estadual
para refletir a questão da mulher negra no contexto social.O evento vai ser em Floria-
nópolis..
Seja para o homem ou paraa mulher negra continua a luta pelo direito de ser negro:
- "Nós não temos históriadentro do contexto brasileiroe o que passa do negro é queele ere pacato, passivo e aceitava com resignação a escra
vidão. O resgate da data devinte de novembro se deveao fato de que Zumbi não'morreu. Não vamos come
morar o dia de suamorte mas
o dia em que à gente fortalece. É urna-data de resistên-cia" .
Negros do Brasil
Rozana de Moliner eSabrina Franzoni
, J
09 de dezembro de 1987: grupos de palestinos revoltados coma repressão que vinham sofren
do, começaram uma série demanifestações nas ruas dos territórios palestinos ocupados portropas israelenses desde 167
(Faixa de Gaza e Cisjordânia).Em apenas 102 dias, já morre
ram 100 palestinos, vítimas dasbalas do Exército israelense.
Agora morreu O primeiro soldado de Israel com dois tiros, os
primeiros disparados pelos ma
nifestantes. E Israel reaje: "Vaihaver represálias".Mesmo assim, as'autoridades
israelenses começaram a temer
por ul)l levante armado dos árabes. E sabido que até agora os
palestinos haviam se defendido
apenas com paus, pedras e gasolina. Por este motivo, os soldados receberam ordens para atirar - não mais nas pernas -
em quem oferecer "ameaça" aoExército. Desta forma eles pretendem evitar uma "revolta ar'
mada", que, na verdade, nãotem a menor chance de acontecer. A população não possui armas de fogo. Além do territórioocupado, os palestinos não têmcomo .se defender, quanto maisatacar.
Dia da-Terra ,
.
Outro fato que vem preocupando os sionistas, é a greve gerai decretada dia 30 de março.
.
Neste dia os palestinos comemoram o Dia da Terra, que lembraos sangrentes distúrbios ocorridos na Galiléia em 1976 quandopalestinos protestam contra a
desapropriação de suas .terra�.Esta greve geral conta, inclusive, com o apoio do Partido Comunista Israelense (Rakha) e daLiga Progressista da Paz.
Enquanto isto, a repressãocontinua solta em Israel. Depoisde invadir o Hospital de Ramalah, com a desculpa de que aliestava montado um quartel general dos manifestantes. Isso tu-
Luta territorial ou raciál?
do. porque de seu telhado .foramvistos algumas pessoas agitandouma bandeira palestina. Foi decretada também a ilegalidade daA-Chabiba (juventude em ára
be), uma organização estudantil
palestina, sob a alegação de queeste grupo estava disseminandoa "subversão" nas escolas da
Cisjordânia e Gaza.Plano de Paz
Parte interessada no conflito, cisEstados Unidos mandaram ao
Egito o enviado especial Philip.Habib para buscar apoio dosárabes ao plano de paz feito pelos norte-americanos. Porém,antes mesmo que as negociaçõesesquentem, o plano já está fada-
_
do ao insucesso. Primeiro porque é época de eleição em Israele só o novo governo deverá to
mar alguma posição concreta.
Segundo que o órgão oficial palestino, a OLP, está sendo deixada de fora das conversações.Além disso, a situação do Oriente Médio só vai se resolver pacificamente caso Israel devolva os
'territórios ocupados aos palestinos. Como isto nunca acontece
rá, os árabes continuarão a se
manifestar cada vez com mais in-tensidade.
.
OLP, Ausente!O que mais chamou a atenção
no inicio das' manifestações foia ausência da OLP, que se man
teve afastada dos conflitos e quesó agora começa a entrar no
bonde, mais sem pagar passagem, de carona. O movimento
começou com a revolta da população, veio de baixo. Assim,tem-se a certeza de que o povoestá mobilizado e unido.Daqui para frente, ninguém
sabe o que pode acontecer. Sóuma coisa é certa: os conflitosdevem se arrastar até que uma
solução seja dada ao povo palestino.
Ismail Ahmad Ismail
Polêmica: beijo dá AIDS?
Na opinião de muitos infecto�logistas, as afirmações do casalMarsters e Johnson não tem ne-
Masters &
Johnsondizem sim
As revelações contidas no livro Crisis, dos pesquisadoresnorte-americanos William Masters e Virgínia Johnson, afirmamque através do beijo na boca pode se contrair AIDS. A célebredupla de terapeutas sexuais estásendo, agora, bombardeada porespecialistas que contestam a va
lidade científica do trabalho. Olivro causa polêmica, pois os
.
pesquisadores alegam que a contaminação pelo vírus não efetua
apenas através de relações se
xuais e uso compartilhado 'de
agulhas intravenosas. O bejio na
boca deu uma nova dimensão àAIDS.
O livro de Masters e Johnsonbaseia-se num estudo realizadoentre 800 voluntários, homens e
mulheres de 21 a 40 anos. Elesprocuraram pesquisar um con
tingente fora dos chamados"grupos de risco". As pessoasforam divididas em dois grupos,400 que tiveram relações monogârnicas e igual número que tiveram, no mínimo seis parceiros.
Os dados indicam que 7% dasmulheres e 5% dos homens he
terogâmicos estavam infectados,contra 0,25% de monogâmicosque têm probabilidade de con-.trair a doença. As conclusões a
que chegaram foram que as
chances de contágio entre os heterossexuais são·muito maioresdo que se pensa e a fragilidadedo tecido inferior da boca (sujeito a cortes e a outros ferimentos)faria do beijo um perigoso meiode transmissão do vírus.
NOV� AMEAÇA?
Foto: Chisson/Gamma-Liaison
cientes muito avançados.O estudante de Economia da
UFSC, Carlos Alberto, achaque é somente uma maneira en
contrada pelos dois pesquisadores de venderem mais livros. Para ele AIDS não é preocupação,"pois tenho minha companheiraa 2 anos e confio muito nela".E além do mais "os meios decomunicação sempre aumentammais do que é, dando uma visãosensacionalista dos acontecimentos".
Em entrevista com o presidente do GAPA (Grupo deApoio e Prevenção à AIDS),Rui Iwerstn, falou sobre a doença e a atuação da equipe no Estado. A entidade, que reúne profissionais em geral (principalmente ás da saúde) e outros vo
luntários que estejam interessados em trabalhar com portadores do vírus e com sua família.O GAPA funciona através dequatro subgrupos: prevenção,apoio, eventos, estudos e pesquisas.Mas há uma preocupação. A
entidade ainda não teve tempode chamar a imprensa e dar-lhemaiores informações sobre o as
sunto, para que injustiças não
sejam cometidas. E dizer-lhesque: "AIDS é uma doença quetem um estigma social muito
grande". Assim, o trabalho dedivulgação em Santa Catarina
Mas o debate em torno do"beijo na boca" não é de formaalguma sensacionalista. O casalfez muitos trabalhos sérios. Em1966 publicou o livro "ReaçãoSexual Humana" (estudo sobrea fisiologia e a anatomia da atividade sexual humana observadaem laboratório) leva o médicoWilliam Masters e sua esposa,a psicóloga Virgínia Johnson, aoreconhecimento internacionalda comunidade científica. Aoressaltarem, em 1979, conversão
está atrasado, dando margens a
manchetes que criam um falsomoralismo, como o que aconteceu em Itajaí. Lá uma notíciaveiculada por um jornal, fez comque os travestis e prostitutas passassem a ser apedrejados. Alémdisso a imprensa divulgou uma
lista com nomes e fotos de pessoas portadoras ou doentes deAIDS. E caça às bruxas - mes
mo.
TESTE NÃO É DEFINITIVOÉ necessário que todos' sai
bam que o-fato do primeiro testeter dado positivo não significaque a pessoa esteja doente. Paradetectar o vírus são necessáriostrês testes, o primeiro é o citado.anteriormente, após tem o deimunoflorecência e por último o
teste comprobatóno, que é o
wester plood.O Dr. Rui ressalta ainda que
a AIDS já é considerada uma
GAPA querflm do preconceito
de homossexuais em heterossexuais e surpreendem psiquiatrase psicoterapeutas com a declaração que "da mesma forma quea pessoa aprende a ser homossexual, a pessoa pode desaprender". As pesquisas do casal sempre foram polêmicas, mas com
o "beijo na boca" eles decola-:ram.
.P12 ZERO',
(/
-- -
MAR/88-
Masters & Johnson:oportunistas ou
equivocados?
nhum embasamento ou doeurnentação cieutífica. MortonSheinberg, imunologista, afirmaque os dados apresentados no
livronão levam a conclusão deque realmente "ocorra contaminação durante o beijo na boca" ..
O diretor interino da Divisãode AIDS do Ministério da Saúde,.Pedro Chequer fala que "está comprovada a existência dovirus da AIDS na saliva, suore lágrima" mas ressalta que a
contaminação só se daria ern.pa-
Analú Zidko e
Sabrina Franzoni
pandemia (uma doença queatinge. todo o globo terrestre).E declara: "Não há país que possa dizer que não tem AIDS."Quanto à questão do beijo o mé
dico diz que: "Para que a doençaseja transmitida é necessário queo vírus caia direto na.correntesangüínea, o que não é permitido pelas mucosas do corpo humano, inclusive a bucal."Para aliviar as críticas à im
prensa o Dr. Rui afirma que a
mesma tem ajudado e muito na
divulgação dos trabalhos preventivos. E os cita que são: "osque incluem as ações individuaiscomo o uso da camisinha; a açãodos grupos, com filmes e palestras e o geral, como a boa saúdeda população."
Denyris Rodrigues
Os espelhosdeformados dávida, em Genet,Fassbinder e.Pasolini
Um fabricante de chocolate planeja matar sua sósia para fugir como dinheiro do seguro e sua mulher
gorda. Um industrial grita desesperado no deserto depois de doar suafábrica aos operários. As duas damadrugada, em um bar do subúrbio,uma bicha toma calmamente um
chá. É a mesma atmosfera decadente, o mesmo amor à vulgaridade,rondando a obra de três criadores:Rainer Werner Fassbinder, PierPaolo Pasolini e Jean Genet. Doiscineastas e um escritor, três homossexuais, o mesmo mundo mórbidoe decadente."Cheira a intestinos e esperma é
leite", era o que o amigo Sartreachava da obra de Genet. Preso diversas vezes, em uma delas perguntou se seus livros não seriam sempreum pretexto para mostrar um soldado de azul, um anjo e um negro jogando dados em uma prisão. Acabou mostrando muito mais. Acabou
questionando, com seu mundo deprostitutas, cafetões e homosse-
.
xuais, as contradições e aberraçõesdo pensamento moderno.
.
Em todos os três, a paixão e a
Brigitte Bardot: costume não é de "país civilizado"
CADERNO
violência, o amor e a morte. Anjosque viram demônios e demônios queviram anjos. "E essa palavra me in
quieta, me seduz e me repugna. Seeles têm asas, também têm dentes?"Pergunta Genet. "Querelle" é sua
única obra levada às telas, pelo também maldito Fassbinder, que carre
ga de amargura e ironia os discursosdo escritor francês sobre o comportamento social.É a mesma paixão dominada por
obsessões. A decadência como um
triunfo sobre a sociedade que enter
ra, nos subúrbios, seus verdadeiros
desejos. São os mesmos marginaismachos, violentos e doces, beatificados em segredos no útero da mãe."Sou um escandaloso namedida em
que estendo um cordão umbilical en-'
tre o sagrado e o profano". Em"Teorema", talvez o mais polêmico .
de seus filmes, Pasolini fala de uma
nova civilização que se vai erguerdo deserto, de um homem quasedeus, que surge depois do aparecimento de um anjo que transa com
seus filhos, sua mulher e sua empregada. Italiano, processado várias vezes por baixeza moral, Pasolini morreu em circunstâncias estranhas em
75. Da crítica mais ferrenha a estestrês malditos, a de que mostram a
realidade através de seus espelhosdeformados. Será?
Monique Vandresen
Demônios'•
que viram•
anjos
i MAR/88.__
.
Z�RO Pt3
J
Diáriofaloubem ...
o número especial do Zero, o Do-� cumento, editado em dezembro de87, ganhou críticas severas de um
colaborador do jornal O Estado.Mas houve jornalistas que concluíram pelo contrário. Como demonstra o texto 'publicado dia 13 de janeiro nocaderno Variedade, do DiárioCatarinense, (cujo têxto reproduzimos) abaixo do título, "Os meninosprometem ... ": "Uma ótima safra denovos jornalistas está a caminho, a
julgar pela última edição do jornallaboratório do Curso de Comunicação Social da Universidade Federalde Santa Catarina, o Zero. Toda de-
'
dicada a realizar' "um mergulho no
passado, na gente, costumes e lugares de Florianópolis", o Zero-Documento está simplesmente o máximo, passando em revista todos os
lugares e aspectos que já entraram
para o folclore da cidade. Um trabalho de pesquisa digno do Globo Re
pórter. O jornal é elaborado pelospróprios alunos, com edição, coordenação e supervisão dos professores Henrique Finco e Ricardo Barreto, e distribuído gratuitamente na
Universidade". Aléfn da redação docaderno, o colunista Cacau Menezestambém elogiou esta edição e a ante-
.
rior. A equipe do Zero agradece.
A Farra do Boiincomoda atéBrigitte Bardot,
, .
A Farra do Boi cruzou fronteirase chegou aos ouvidos de urna das'maiores defensoras da preservaçãoda vida animal, a atriz francesa Bri
gitte Bardot. Segundo a'FrancePress, a atriz enviou uma carta ao
ministro Paulo Brossard, em abrildo �<ilO passado, protestando contra
a tradicional festa que acontece to
dos os anos em grande parte do litoral de Santa Catarina,
..
Brigitte Bardot criticou '!- festa dizendo que "isso não é digno de um
país que se diz civilizado", Mesmo'
generalizando, suas declarações surtiram efeitos e desde o ano passadoo governo proibiu a realização da
farra, embora os moradores do litoral continuem li sacrificar o boi, desrespeitando a medida.
A Farra do Boi é realizada todosos anos entre o Carnaval e a SemanaSanta. Originalmente era feita com
bodes, herança de um costume judeu que os espanhóis trouxeram para o Brasil - daí a expressão "Bodeexpiatório" - hoje, com a substi
tuição do animal, a festa se desenrola num ritual bastante sádico quetermina depois da tortura do boi,com um grande churrasco.
Ewaldo W. Neto
•
Heavy radical',ganha força .emFlorianópolis
Há algo diferente no ar... Amedida que nos. aproximamos.de uma pacata rua no Estreito,sentimos o som aumentandovindo de uma garagem. Lá, a
temperatura já passa dos limitesdo 'inferno, e .cinco gladiadoresestão num regozijo metálico.Estamos falando do Scaffol
death, banda heavy metal formada em janeiro deste ano, queconta em suas fileiras com Sandro (vocais), Richard (baixo),Alexandre e Miguel (guitarras)e um baterista anônimo. A banda faz um som poderoso, comvisiveis influências de grupos como o Metallica, Iron Maiden e
Helloween, e até um pouco demúsica clássica, o que torna o
Scaffoldeath diferente de tudoo que se fez até agora em matéria de som pesado em Florianó
polis.No começo, tudo foi difícil.
O grupo precisou tocar música
"pop" em bares da cidade, paraarrecadar algum dinheiro. Hojeisso faz parte do passado e a banda está em plena ascensão, mostrando muita garra e sintonia porparte de seus integrantes. A proposta do Schaffoldeath se ex
pressa muito bem nessa decla
ração do guitarrista Miguel:"Nossa banda e nossa músicanunca vão se prostituir a pontode executar temas fáceis e des
cartáveis, apenas. para agradarmaioria leigas no que se refereao conhecimento musical. Pretendemos agradar ao públicocom a nossa competência instrumental e com a fé no heavymetal, que é o estilo de rock quecontém os mais talentosos e
conscientes músicos".
Ozias Tormentor'
I • GELÉIA GERAL
Seção CardiológicaQuerida Madame Calandra,Sou solteira, 37 anos, filiada
ao PFL e estou atravessando.uma terrível crise: me apaixoneipor um membro do MR-8. Oque faço para atingir uma felizcoligação carnal com meu novo
amor? Conto com seu lobby.Ass.: Alzirinha Hermes' da
Fonseca Peixoto
R.: Querida Alzirinha,Sua' carta carece de informa
ções mais concretas para que eu
possa dar um conselho baseado,
pi� 6(/£ AliojElL fu11J�.. •
���
fininho e fundamentado. Me diga, fofa: o membro já se embrenhou em florestas úmidas? Eleé rígido ou flácido quanto aosconceitos políticos? Como elereage diante de uma Frente Liberal desinibida? Não se desespere, querida, a glasnost veiopara ficar. Pra você eu receitouma solução infalível que aprendi durante a Constituinte de 46e que continua válida até hoje:minha filha, o negócio é manipular. Vá com jeito, use o talentoda direitâ e boa sorte.
... t ES>é· fJlI1S �AíjJCX /.lESEAfff.
)
Nino Noya
Soneto do calouro
Queres ser jornalista polític� de primeira?Autor brasileiro do novo Watergate,derrubando ministros por simples deleíte'[Pois não passarás de Moacir Pereira!Ou, Cebolinha, é espolte o que plefek ,1?Ser mistula de Sandlo Moleyla e João Saldanha,esclever clônicas com elegância e manha?Pois semple selás urn J. B. Telles!Então é na cultura que entornarás o caldo?Lido como Paulo Francis, dos livros dando o caldo?Pois teu futuro é ser Janer Cristaldo!Não? ... apelas para a coluna social?Sonhas, tal qual �ózimo, dar a nota quente e atual?Pois morrerás igual Cacau!Olávio Bilaquio
Tumor Maligno-perde guitarrista,'mas vai à luta
Ano: 1986. Cenário: pátio doInstituto Estadual de Educação.Dois jovens, insatisfeitos com a
monotonia reinante no meiomusical ilhéu, resolvem criaruma banda punk.Para fazer a sua primeira
apresentação em púbhco, aproveitaram-se do clima de eleiçõesque havia se instalado no colégio, fazendo a cabeça do candidatei oposicionista para deixá-lostocar. Neste dia, eles contavam
apenas com os integrantes MWceIo Ricardo (guitarra) e Fernando Trevas (vocal), conhecidos respectivamente como Alemão Putrefação e Maligno (sendo este último, também, o nome'da banda) e com o apoio de doiscomponentes do grupo Vísceras- Andrei e Robson - que ao
ver o número de conhecidos na
platéia permitiram que o nervo
sismo falassem mais alto, deixando o então Maligno na mão.Na hora H eles tiveram que re
correr à "colaboração" de um
baxista de formação heavy,Gean, e de Keka, que de bateriaconhecia pouca coisa. Este fatídico e calamitoso show aconteceu no dia 27 de novembro de1986.Passado este episódio, a ban
da passou por um período de re
formulação, abrangendo novas
músicas e a inclusão de um baterista, Gordinho. Até que no dia16 de junho de 1987 o grupo participou de Juni Rock Festival,apresentando duas músicas deAlemão: "Vamo Fumá Barulho" e "total Destruição". Após
esta apresentação, o nome- dabanda mudou para Tumor Maligno e o seu guitarrista transferiu-se para o conjunto gaúchoAsgardh.No dia 13 de novembro, coin
cidentemente uma sexta-feira, oTumor Maligno cometeu maisum show, novamente no Instituto Estadual de Educação,mais uma vez com a sua forma
ção alterada: Dani (baixo), Trevas (guitarra e vocal) e BianoKill Masturb (bateria). O resultado foi uma debandada deaproximadamente 80% dos ou
vintes, na sua maioria boyzinhose new wavers .
As letras da banda abordaramos mais diversos temas sociais,Uma das que mais ilustram este
exemplo é "A Culpa é do Sarney": "Essa inflação/Eu não sei/O salário mínimo/Eu não sei/Dequem é a culpa?/A culpa é doSarney". Outra tendência dassuas letras é ridicularizar a atualsociedade, como em "Surfista deFloripalVocê é um ... artista".O Tumor Maligno está cons
ciente da situação punk no Bra
sil, sua não aceitação e poucadivulgação, mas espera vencer
as dificuldades e partir para uma
excursão em julho, pelas cidadesde Brasília, Goiânia, Rio de Janeiro e São Paulo, finalizandoem Porto Alegre, onde têm es
peranças de encontrar e recuperar o seu guitarrista dissidente.
O chiquérrimo casal Sampaiofoi visto nesta semana freqüentando os salões do CastelmarHotel. Acompanhado de um
grupo de amigos bissexuais, elesembriagavam-se com uma classefora do comum Na pauta dasconversas, Sérgio e Mara Sampaio combinavam as melhoresposições do Kamasutra, com o
intuito de alcançar a performance ideal na suruba daquela noite.Foi um luxo. Podre de chique.
Irradiando alegria depois devoltar de sua viagem ao Afeganistão, o socialite Marinho Veiga trouxe consigo uma perna deum oficial soviético que haviacaído de um helicóptero americano. Marinho pretende usá-Ia
como destaque de sua exposição, que conta ainda com outrastenebrosas surpresas. Quem viver verá.Maravilhosamente vestida
por Fabinho, que entendidosqualificam como a reencarnaçãodo nosso querido ex-aidéticoMarkito, Gan Gan Vidal, desfilava na Vidal com seu boy aus
. traliano que ela conseguiu raptardo último Hang Loose. O moço,devidamente algemado por GanGan, ainda tinha forças para falar de sua especialidade - o
"cut-back" cavadão. I am thebest.
Ulysses Ribamar
•
J
Emerson Gasperin
Fernanda arrebata outra vez
"Um trem de ferro é uma coisamecânica, mas atravessa a noite,a madrugada, o dia. Atravessouminha vida. Virei só sentímento". Com estas palavras, Fernanda Montenegro entrou no
palco do Teatro Alvaro de Carvalho, dias 21 e 22 de março, para apresentar Dona Doida - Uminterlúdio. O monólogo baseia-seem poemas e poesias de AdéliaPrado e tem direção de NaumAlves de Souza.Considerada a grande dama
do teatro brasileiro, Fernandaencheu o paleo com sua graçae tranqüilidade. Toda vestida de
'
azul e com a voz um pouco rou
ca, ela interpreta uma DonaDoida que dilacera seu corpo edeixa nú seus sentimentos. Fernanda veio para Florianópolisem homenagem ao tombamentodo teatro Alvaro de Carvalho.Para isso teve que alterar o ca
lendário de suas viagens com
Dona Doida, que só estavam
programadas para agosto. O interessante é que Fernanda também participou da reinauguração do TAC em 1955, após o
teatro tersofrido uma grande re
forma. Ela integrava o grupoTeatro Popular de Arte que interpretou a peça L'Alouette (OCanto da Cotovia). A estrela era
, "No palco nãotem sexo,
tem talento"
Maria bella Costa 'e Fernandatinha o terceiro ou quarto papel."Nesta época eu não imaginavao quanto avançariá em minhacarreira", diz a atriz.Dona Doída lotou o TAC nas
três apresentações. Foram colo-,
cadas cadeiras extras por todoteatro e ainda houve q,s que sentaram no chão e os que ficaramde fora por falta de ingresso. Opúblico de Florianópolis, que nãoé freqüentador assíduo de teatroe que pagou 600 cruzados pela'entrada, estava bastante eufóricoe ansioso na fila de espera. Dentro do teatro o calor era intensoe a maioria dos folhetos distribuídos na entrada transformaram-se em leques improvisados.Fernanda considera a profis
são de atriz "maldita e mágica".Para ela "o teatro é o umbigoda cidade, onde as coisas germinam, e é um lugar tão sagradoquanto à igreja". Ela tambémacredita que "no paleo não tem ,
homem nem mulher, tem talento".Em seu primeiro monólogo,
com o cenário improvisado mas
semelhante ao do Rio de Janeiro,Fernanda enaltece Dona Doida
DONA DOIDA
TAC só sentimentoNo reencon�ro com o ,
com uma interpretação singular. ,
A atriz não acredita que faltem bons autores de teatro atualmente, "exceto sesó pensarmosem teatro padronizado, semprecom dois ou três atos". Fernanda já interpretou peças de grandes autores como Bernard Shaw(A profissão da Sra. Warren),Rainer Werner Fassbinder (Aslágrimas amargas de Petra VonKant), Racine (Fedra) e MiIlôrFernandes (E ... e O Homem doPrincípio ao Fim). Para Fernanda "nada é fácil em teatro". "Noteatro não se pode contar só coma expressão facial, você tem querepresentar com, as costas tam-bém".
'
Em Dona Doida, Fernanda éAdélia. Seus olhos se enchem delágrimas e brilham como os as
tros que tiritam, azuis, em nossa
madrugada, Adélia fala: "Deusnão me fez até a cintura parao diabo fazer o resto ... " Ela querum jeito novo de viver: "Comere não fazer jejum. Amar e nãofazer jejum. Amar sem jejum desentimento". Adélia é sensível:"A poesia é triste. O que é bonito
enche os olhos de lágrimas". Elanão concorda que a coisa maisfina do mundo é ir à escola: "A.coísa mais fina do mundo é o sentimeIfto". Reclama: "Não queroser emancipada. Quero ser ama
da", o que foi uma afronta àsfeministas. Adélia falado amorde menina: "Eu amava o amor
e esperava-o sob árvores, virgementre lírios". Exalta seu amor
porAntônio Castro Alves. Adéliagosta da humanidade, "em particular da porção masculina dahumanidade" .
Dona Doida é um espetáculoliterário, muito profundo e querequer o máximo de atenção. Aexcelente iluminação conquistou o prêmio Moliere. As músicas de Lizt, Jessy Norman, Pacco de Lucia e Chico Mário e a
atuação de Fernanda, não permitem que a peça, geralmentemelancólica, se torne monótona. Com excelente utilização doespaço cênico e domínio total daentonação de voz, ela interpreta.uma Adélia que arrebata suas
lembranças e se perde em devaneios.
Adélia quer entender o muno
do: "É difícil entender as coisas.Um dia fiquei observando um
, abacaxi por muito tempo e che
guei _à conclusão de que enten�iamais Deus do que aquela coisa
cascuda". Adélia tem desejos:"Quero comer o mundo e ficar
grávida, ficar gigante". Ela amaa vida: "A vida é de ferro e nãose acaba nunca". "O mar éimenso. Meu amor é maior ... Avida é tão bonita, basta um beijoe a delicada engrenagem movi-,menta".A peça Dona Doida - Um
interlúdio, está em cartaz no Riode Janeiro sob a direção deNaum Alves de Souza, um artista que iniciou suas atividades em
1972 e já trabalhou como figurinista, cenógrafo, em artes plásticas e com seus próprios textos.A expectativa com a peça era
boa, mas segundo Fernanda,eles não esperavam tanto suces
so. Por sua atuação em DonaDoida, Fernanda recebeu maisum Moliere. Para ela a. importância de um prêmio está no afeto e incentivo que ele exprime."Minha vida não está melhornem pior por eu ter recebido es
te prêmio". Fernanda considerao paleo um lugar libertador:"Assim que a mulher pisa nele,
"Quero amar
semjejum desentimento"
"O palco épm lugarlibertador' ,
•
ela tem todo um espaço para si",diz ela.Na peça, Adélia comenta o ma
chismo: "A vida é servidão. Descubro isso olhando meus sapatos". Adélia reclama da idade:"Juventude de espírito eu nãoquero ... Acho muito ridículo a
alma fazendo trejeitos". "Hojeenchi os olhos de lágrimas. Nãosou mais jovem". Relembra o filho que saiu de casa para estudare escreveu para ela: "Mãe, estoudesesperado" . Recorda as noitesque passou com o marido limpando os peixes que ele pescou.Adélia ama o marido e fala: "Teamo, homem" , e chora. Recordasua mãe com nostalgia. Pensa nofuturo: "Não acredito que a humanídadese salvará por uma desuas classes ... Quero que me governe um homem bom, justo.Quero que chegue a noite e todomundo vá dormir cansado portanto trabalho que tinha para fazer e que foi feito". Adélia sonha:"O sonho encheu a noite ... Extravasou minha vida e é dele queeu vou viver, porque sonho nãomorre".
Entrevista a Ana Lavratti
MAR/88--� o
ZERO -
, PIS .,1
IMPRENSA LIVRE
Na guerra de contra-informaçãomontadapelas agências norte-americanas, a
.
Nicarágua rompe o bloqueio e chega àsbancas com o órgão oficial da Revolução
Há quase dez anos a Nicaráguaestá em guerra. Primeiro foi Somo
za, nas ruas e nos campos. Depoisvieram os contras nas montanhas de
Jinotega e, por último, a guerra da
informação, um inimigo que o fuzil
guerrilheiro não conseguiu enfren
tar. Mas o Sandinismo contra-ata
cou, o jornal "Barricada Internacio
nal" mostra a face desconhecida da
nova Nicarágua."Barricada Internacional chegou
ao Brasil para furaro bloqueio internacional das notícias nicaragüenses", comentou Leopoldo Saraiva,editor da versão em português, durante uma entrevista concedida no
Curso de Comunicação Social da
UFSC, no último dia 23. Em 24 páginas mensais, os brasileiros terão a
oportunidade de receber informa
ções que não passaram na triagemdas grandes agências de notícias.
"Barricada", que significa trinchei
ra, apresenta reportagens sobre o
povo, a economia e a guerra. Enfim,a versão sandinista da história ou se
ja, o outro lado da guerra.Até hoje o leitor ficou somente
com a versão apresentada na grandeimprensa. Em junho de 79,-quandoSomoza estava de joelhos e os guerrilheiros sandinistas corriam pelasruas de Manágua, os jornalistas de
aluguel reconheceram que havia
uma revolta popular e o brasileiro
ficou sabendo que a Nicarágua existia. "Veja': n� 563, dias após a revo
lução, estava mais preocupada com
o rumo ideológico do Sandinismo do
que' a realidade nicaragüense. Da
mesma forma, "Isto E" de 04.07.79questionava:
"... o que ocorrerá
após uma vitória sandinista? Umaditadura de proletariado? Um regime tipo chinês? Um socialismo ter
ceiromundista à argelina? .. Quemvai afinal suceder Somoza, se se confirmar sua derrota? ..
" A linha de
frente do jornalismo brasileiro dor
mia, novamente, em berço esplêndido.Somente alguns jornais alternati
vos falaram a verdade. "Movimento" foi um deles. Em plena ditadurabrasileira, o melhor alternativoabriu a boca denunciando a Guarda
Nacional de Somoza como responsável por "um dos mais bárbarosmassacres cometidos contra a população civil em toda a história daAmérica". E foi mais longe, ao afir-
mar que o Brasil estaria fornecendoannas para o regime do ditador.
Respondendo às antigas indagações da imprensa brasileira, Leopolde Saraiva é categórico: "A revolu
ção não é baseada em modelos res
tritos, dogmáticos. O modelo sandinista é sandinista. Não se pode falarem sandinismo como produto acaba
do, porque ainda o estamos cons
truindo". E construir é a palavra de
ordem na Nicarágua. A capital, Manágua, totalmente destruída por umterremoto em 72, com um saldo e
18 mil mortos, nunca mais se rer
gueu. A Guarda Nacional vendeuprodutos que chegavam do exterior,enquanto Somoza embolsava os 250milhões de dólares da reconstrução.Nessa época, 46% das crianças morriam antes dos quatro anos e 60%das mortes ocorriam sem qualquerassistência médica. Saúde e educa-.
o
"Nossas idéias é querepresentam perigopara os americanos"
ção são agora prioridades, junta-mente com a guerra. r-
A Nicarágua investe hoje 50% doseu orçamento na defesa. Este volu
me de recursos, se canalizados paraoutras áreas possibilitaria ao paísuma rápida reconstrução. "Temosque desviar metade de nossa mão
de-obra para a guerra e estamos pagando um preço muito alto em vidas
humanas. Mas agüentaremos as
pressões até o fim. Nosso povo tem
dignidade, tradição de luta, e comerá a metade do que precisar paravencer", explica Saraiva.
Nessa resistência, a imprensa ni
caragüense é um fator vital. Durantea guerrilha, a "Rádio Sandino" era
a voz oficia1 dos revolucionários.Além dela, dezenas de jornais e panfletos clandestinos orientavam a população. Saraiva relata outra forma
de comunicação muito peculiar daépoca: o "boca-a-boca", passadodas frentes de combate até os pontosmais distantes do país. E foi dos jornais clandestinos que surgiu o mais
importante veículo do sandinismo:
o Barricada, órJ?;� oficial da FrenteSandinista de Libertação Nacional.
Além dele, estava na rua o "La
Prensa" - jornal fundado por Pe
dro Joaquim Chamorro, jornalistaassassinado por Somoza - e que se
transformou num símbolo nacional.Em setembro de 87, após 15 meses
de censura, "La Prensa" voltou. O
governo sandinista, cumprindo um
acordo de paz, estabeleceu liberdade de imprensa e permitiu que seu
maior adversário interno retornasse."La Prensa" foi fechado num dosmomentos mais críticos da revolu
ção. Ele apoiava abertamente a ajuda de 100 bilhões de dólares que os
EUA estavam votando para ajudaros contras. O governo sandinista es
tava em guerra, precisava defenderse de seus inimigos:', disse Saraiva
justificando o fechamento do jornal.Ele exemplifica ainda que hoje háuma guerra de palavras entre o "LaPrensa" e o "Barricada". Os jornaissão baratos e os leitores assistem a
várias versõs sobre o fato.
No Brasil, onde os jornais são ca
ros e nem existem opções, a notíciaé manipulada para que o leitor assimile somente uma versão da realidade. Dentre os grandes, "O Estadode São Paulo" foi o que mais se em
penhou na contra-informação da si
tuação nicaragüense. Manchetes como "Sandinistas declaram guerracontra a Igreja" ou "Nicarágua gasta30milhões de dólares em obra faraô
nica" estavam freqüentemente em
suas paginas. A prova concreta da
associação do "Estadão" com os
contras é o jornal "Nicarágua Hoy",encartado como "informe publicitário", com tiragem de 250 mil exem
.plares, "Eles (os contras) têm dinheiro da CIA para gastar dessa forma" , revela Saraiva.Sem dinheiro, com dedicação e
"A revolução não ébaseada em modelosrestritos, dogmáticos"
criatividade. E assim que, desde a
clandestinidade, os jornais nicara
güenses sobrevivem. "Trabalhamosem qualquer condição. Filmes fotográficos são escassos, há pouco papei e o parque gráfico é obsoleto",conta Saraiva. Mesmo nestas condi
ções, "Barricada" circula com 80mil
exemplares diários em todo país.Como acontece a manipulação da
I informação? Para Saraiva ocorre dediversas formas. Se, por exemplo,umjornal americano publica que os
sandinistas montaram uma base militar na fronteira com Honduras, oleitor associa essa base ao modelo
americano, com centenas de solda
dos bem armados, tanques emísseis.'
Na verdade essas bases são apenas. algumas barracas com poucos solda-
dos. Diante desses fatos, a perguntase torna inevitável: Por que a maior
potência do planeta teme um paíscom apenas 130 mil quilômetrosquadrados e três milhões de habitantes?"Nossas idéias são as que repre
sentam perigo para eles" , afirma Sa.
raiva. As idéias sandinistas, segundo
os americanos, podem gerar o chamado "efeito dominó", no qual ospequenos países daAmérica Centralseguiriam os mesmos passos da Ni
carágua. Mas o editor de "BarricadaInternacional" não concorda com
essa tese, comentando que cada paísdeve achar seu modo particular, e
unicamente seu, de combater o im
perialismo. Sobre o futuro da Nicarágua após a guerra, Leopoldo Saraiva prefere não comentar. Res
ponde, ansioso, que quer apenas o
fim da guerra.
Enquanto ela não acaba, o trabalho desse jornalista de 46 anos, quedeixou a Argentina natal há nove
e se engajou na revolução, vai continuar. "Barricada Internacional" em
português já possui o apoio de diversos setores no Brasil, principalmentenas universidades, sindicatos, partidos políticos e da Prefeitura do Rio
deJaneiro.Em84, oRioe Manáguaforam declaradas cidades-irmãs.
Agora, a Prefeitura auxilia "Barricada" na divulgação e distribuiçãodos exemplares.
Com isso, Leopoldo Saraiva espera cumprir sua missão, que é tão ou
mais importante que a dos guerrilheiros que combatem os contras na
fronteira de Honduras. "Barricada
Internacional" espera solidariedade
para os problemas nicaragüenses. Éum grande passo nesta guerra de le
trinhas. ANicarágua ainda é um paísno zero, onde a única coisa que estáem todos os lugares é o entusiasmo
popular.
Carlos A. Locatelli
Campanha eleitora" (85)
OMARXISMO
Nos últimos cinco anos, o
companheiro Adelmo Genro Filho dedicou quatro. aos Cursosde Jornalismo da UniversidadeFederal de Santa Catarina. Háum ano licenciado sem remune
ração, entendia que neste período poderia dedicar-se com maisdeterminação a investigar e buscar, através de uma disciplina rigorosa consigo mesmo, a reno
vação do marxismo que o mantivesse dialético e revolucionário.Adelmo teria ainda mais um
ano de licença, mas sua morte,aos 36 anos, no Hospital Universitário de Florianópolis, às seteda manhã do dia 11 de fevereirode 1988, uma ensolarada quintafeira, poê em nossos ombros um
duplo peso difícil de suportar:o do teórico e militante, que am-
PERDE
parado numa sólida formação,apontava novos caminhos possíveis de percorrer no interior domarxismo e do .colega e amigoque, navegando entre uma postura generosa e cordial, conse
guia socorrer as pessoas em seus
mais.duros momentos existenciais e, ao mesmo tempo enfrentar os adversários políticos com
uma exemplar conduta ética e
política.
A morte de Adelmo deixauma vazio difícil de preencherno curso de jornalismo, nos debates, palestras e aujas em quesempre brilhavam sua lucidezteórica, clareza didática e cora
gem política, sem jámais abrirmão de uma sincera humildadepara tratar dos tem.as mais sim-
pies aos mais complexos.A lembrança de suapresença
amiga e sábia continuará povoando nossos dias, assim como
a sempre bela imagem de seu
coleguismo, combatividade e intervenções públicas.
Adelmo morreu no HospitalUniversitário, três dias após sua
internação de uma maneira, atéeste momento, inexplicável. Acausa mortis ainda não foi esclarecida pelo H. U.Neste número de ZERO nos
sa homenagem ao professor, co--
lega e amigo Adelmo Genro Filho, à sua vida e obra e a corno
vente despedida de seu irmão,Tarso Fernando Genro, publicada dia 22 de fevereiro no Jornal Diário do Sul, Porto Alegre.
Seu trabalho: de Hegel à LSN
�
UM REVOLUCIONARIO
Último livro publicado (87)
Adelmo Genro Filho nasceu
em São Borja, em 1951. Professor e jornalista, rormado em'1975 pela Universidade Federalde Santa Maria, trabalhou desdeestudante no jornal A Razão, deonde o Exército pediu sua demissão por denunciar a carne
podre servida no Restaurante'Universitário.
Eleito vereador pelo ex-MDB(atual PMDB), em 1976, dele foise afastando progressivamenteaté ingressar no Partido dos Trabalhadores em 1985. Entendiaque, já àquela altura, o PMDBpercorria um caminho sem voltarumo à conciliação nacional.
Em 1979, Adelmo foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional (LSN), por dizer na Tribuna da Câmara que o ex-presidente João Figueiredo não tinha
condições mentais de dirigir a
nação. Ele se referia ao incidente de Florianópolis, a novembrada, quando o ex-presidente res
pondeu com ofensas à população que o vaiava no centro dacidade. Na ocasião, sete estudantes catarinenses foram tam-
bém enquadrados na LSN e
Adelmo os defendeu da Tribuna.
Mas Adelmo não foi um jornalista preocupado somentecom a· especificidade técnica dojornalismo, a elaboração rotineira de matérias e a modernização tecnológica do setor.Também preocupava-se com a
importância e o papel do jornalismo na investigação da realidade e em sua transformação.Daí, resultou o trabalho de tesede mestrado em Sociologia na
UFSC, que originou o livro "OSegredo da Pirâmide, para uma
teoria marxista do Jornalismo"(Porto Alegre, 'Tchê!, 1987). Naabordagem, sustenta que o Jornalismo pode ser vislumbradocomo uma nova forma de conhecimento que se cristaliza no singular.
Preocupado com a totalidadedo Homem na História, expôssuas concepções em vários ou
tros livros, como "Hora do Povo, uma vertente para o fascismo", juntamente com MarcosRolim e Sérgio Weigert (São
Paulo, Brasif Debates, 1981);"Lênin, coração e mente", comTarso Genro (Porto Alegre,Tchêl, 1985); "Marxismo, filosofia profana" (Porto Alegre,Tchê l, 1986) e "Contra o Socialismo Legalista" (Porto Alegre,Tchê!, 1987). Foi um dos fundadores do Jornal Informação, dePorto Alegre, e fundador e
membro do conselho editorialdo jornal Fazendo o Amanhã, deSão Paulo. Escreveu outras tantas séries de artigos e ensaios para diversas publicações do país,como as revistas Teoria e Políticae Civilização Brasileira.Ultimamente, Adelmo estava
empenhado em estudar Hegel eaprofundar, sistematicamente, oestudo e a renovação do Marxismo revolucionário. Esta preocupação faz parte. de seu últimotrabalho publicado, "A filosofiamarxista e o legado dos hereges", uma extensa introdução ao
livro "Filosofia e praxis revolucionária" (São Paulo, Brasil Debates, 1988).
Francisco J. KaramProfessor e jornalista
ADELMO GENRO FILHO 1951-1988
"Não há nadamais ousado
•
-no universo
do que o homem"Adelmo Genro Filho
A vida retomará seu ciclo
A despedida doirmão, publicada no
Diário do Sul
A morte de Adelmo Genro Fi
lho, no amanhecer do dia 11 de
fevereiro, aos 36 anos, transtor-'nou a todos os que privavam doseu convívio, seja no âmbito desua família, seja no seu vasto círculo de relações políticas e intelectuais.Não reivindico dor maior do
que a de qualquer amigo ou familiar, mas como relacionava-mecom o Adelmo - e de forma intensa - em ambas as esferas, tenho clara a dimensão brutal dasua ausência prematura, para os
que tinham qualquer tipo de proximidade com ele. Com este pequeno texto quero resgatar, paraos que o admiravam, aquela partedos seus últimos momentos entre
nós, que me envolveram diretamente.Sem dúvida Adelmo Genro Fi
lho foi uma pessoa muito especial. Todas as pessoas que tiveram algum grau de relaciónarnento com ele sabem disso. Sua paixão pela filosofia e pela políticaoperária, comandaram a sua vidadesde os dezesseis anos. Esta paixão ele levou até as suas últimas
conseqüências, já que vinha estu
dando e escrevendo, ultimamente em tempo integral, sobre os
problemas cruciais que - na sua
opinião - o marxismo deveriaenfrentar, para retomar a sua
postura originária de filosofiaherdeira das principais conquistasteóricas da humanidade e rejeitara condição burocrática de "recei
ta", apta para responder a todasas indagações sobre o destino dohomem.'
.
Como intelectual foi o avesso
do academicismo. As glórias doascenso universitário não lhe se
duziam e tanto isso é verdadeiro
que interrompera a sua atividadede professor na UFSC, para poder dedicar-se plenamente a pesquisar e escrever sobre temas filosóficos que, pela sua incidênciana "praxis", seriam capazes de
constranger o movimento da história num sentido escolhido pelosujeito político moderno - a
.
classe operária.A última conversa que tive
mos, poucos dias antes da sua
morte, versou sobre o livro de
Serge, "Memórias de um revolucionário", que eu lhe recomen
dara um mês antes. Falamos também sobre seu último e ousado
No curso, com os colegas
trabalho teórico que recentemente terminara, "A Filosofia Marxista e o Legado dos Hereges",que brevemente será publicadopela Editora Brasil De6ãtes deSão Paulo: Trata-se de um longoensaio onde ele discute, entre ou
tras, as contribuições de Korche Bloch ao marxismo, de um pon-to de vista independente da tradição "clássica".Adelmo ficara tão impressio
nado como eu sobre o livro deVictor Serge e achava que o autor
dera o testemunho histórico da
quilo que ele vinha tentando formular na filosofia, a saber, quea paralisia teórica e a fossilizaçãodogmática pode ser o suporte da
tragédia política, dos limites e das.
deformações do primeiro ciclodas revoluções socialistas, que,no caso específico da RevoluçãoRussa, estavam sintetizados na
chacina de toda a velha guardabolchevique.Convínhamos que, se tínhamos
- ainda - algum -resquício deromantismo sobre o que é, de fato, uma revolução, o livro de Ser-_ge, soterrara-o definitivamente.De outra parte, nos animava verSerge, alguém que, mesmo tendo
.
vivido aquele período de irracio
nalismo, compreendia a grandepossibilidade que a Re,volução deOutubro abria para a humanidade, num" expectativa superior à
própria Revolução Francesa, noséculo XIX.A parte da conversa que girou
em torno do seu ensaio "A Filosofia Marxista e o Legado dosHereges" foi apenas uma prelirninar daquilo que combinamos
seria, mais tarde, uma conversa
"sem teto", já que eu tinha feito
apenas uma leitura rápida do tex
to, incompatível para responderàs necessidades de um debate filosífico que considerávamos demuita seriedade.Minha posição em relação aos
seus textos sempre foi "defensi
vista", já que, pelos meus com
promissos cotidianos não' tinha
condições de acompanhar, a sua
evolução e mesmo a totalidadedas fontes dos seus estudos.Não tenho dúvidas que ele es
tava a muitos quilômetros de distância e que a minha posição,mais chegada ao marxismo clássico, "via Lukacs", compunha um
contraponto.que ele checava per-
manentemente, como exercícioreflexivo que the era útil. Às ve
zes, nossa conversa tornava-se difícil e árdua. Era quando a política só poderia expressar-se comofilosofia e eu não conseguia lidarcom o seu sistema categorial.Neste pontó' não eram raros os
"acordos", no sentido de que eu
pelo menos declarasse "insuficiente" meu "marxismo-lukacsiano" para desafiar os problemasque ele revolvia.Creio que poucas vezes diver
gimos em problemas políticos de
fundo, embora não raro, na discussão de posições prévias a uma
postura mais consistente sobreum assunto importante, trocássemos um diálogo agudo e sem ne
nhuma concessão, inclusive em.
relação à quantidade de decibéisusados no confronto.Estivemos juntos em momen
tos importantes das nossas vidas.
Creio, até, que nos mais importantes. Jamais pairou entre nós
qualquer sombra de desconfiançaque tivesse a capacidade de abalar nossa amizade e o respeitomútuo que conseguimos dar solidez ao longo de nossa relação.Sei, que para ele, eu estava entre
as pessoas especiais. Para mim,ele era mais que isso: era uma
referência que estava muito maisadiante e que eu também, de al
guma maneira;ajudaria a estimular.É claro que a vida retomará o
seu ciclo e que às árvores secas
do inverno sucederão flores e frutos. Depois, as tardes quentes e
os crepúsculos adornados de co
res e de pássaros que se recolhem,continuarão a sua seqüência imemorial. A sabedoria do homemnão permite que ele permaneçaem crise porque a fatalidade damorte nos assedia sempre. É preciso superá-Ia. Mas cada dos queconheceram Adelmo terão sem
pre uma reserva de dor insuperada. Fina e pontuda como um
punhal mouro, nesta jornada delutas em que é preciso ousar sem
pre, atitude que Adelmo jamaisse negou, pois, como ele mesmo
escrevera certa vez, "não há nadamais ousado no universo do queo homem ... ".
Tarso G-enroAdvogado e escritor