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    Por uma UNIVERSIDADE INCLUSIVA: propostas alternativas aoPrograma de Incluso com Mrito no Ensino Superior Paulista -PIMESP1

    Em relao a esse Programa, a Congregao da Faculdade de Cincias eLetras da UNESP de Araraquara, reunida no dia 18/03/2013 deliberou porampla maioria aprovar a manifestao do Departamento de Didtica daunidade, com o seguinte teor:

    O diretor da FCL de Araraquara, Prof. Dr. Arnaldo Cortina, solicita,em e-mail enviado aos departamentos de ensino em 08/02/13, contribuiodos professores sobre o, documento por sua vez enviado s unidades daUNESP pela vice-reitora Prof Dr Marilza Vieira Cunha Rudge.

    Existe hoje uma forte aceitao, por grande parte da sociedadebrasileira, da importncia das polticas de cotas para a garantia de umamaior participao em certos setores da sociedade nas universidadespblicas. A incluso de alunos das escolas pblicas, de negros e indgenastem permitido ampliar o carter distributivo do acesso ao ensino superior eo reconhecimento das desigualdades sociais que atingem essa parcela dapopulao.

    O Departamento de Didtica da FCL concorda que essas polticasprecisam garantir a qualidade da educao nas universidades paulistas e darincentivo aos esforos pessoais pelo reconhecimento do mrito dos

    estudantes. No entanto, o Departamento questiona a estratgia central doPrograma Paulista de Incluso Social no Ensino Superior, por entender queesse processo no contempla uma proposta de incluso efetiva; pelocontrrio, cria um espao diferenciado, na forma desse Colgio Sequencial(College). Essa proposta pode contribuir para acirrar os conflitos epreconceitos j existentes, por no engajar as universidades paulistas nabusca de uma soluo para atender os alunos que chegam com deficinciasde formao escolar (incluindo alguns oriundos do sistema privado deensino).

    Entendemos que h alternativas para suprir as deficincias e lacunasdeixadas pela educao bsica, como os reforos em reas especficas, masestes devem ocorrer de modo concomitante e integrado ao curso degraduao, fortalecendo e valorizando os docentes das universidades ereforando as estruturas j existentes de apoio aos estudantes. Tambm sefaz essencial inserir no Programa o apoio com recursos financeiros para umconjunto de aes efetivas da Universidade voltadas para a melhoria doensino pblico fundamental e mdio (atuando, portanto, nas causas daexcluso e no s nos seus efeitos). (Departamento de Didtica)

    1 No documento recebido pela FCL/Araraquara o programa tambm denominado PROGRAMAPAULISTA DE INCLUSO SOCIAL NO ENSINO SUPERIOR (PPISES)

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    Diante da necessidade de detalhar as ideias apresentadassucintamente nesse documento, a fim de oferecer aos colegiados superioresmais subsdios para a anlise do tema, a Congregao da FCL deliberou acriao de uma comisso formada pelos professores doutores Francisco

    Jos Carvalho Mazzeu (Presidente Departamento de Didtica), Sebastiode Souza Lemes (Departamento de Cincias da Educao) e EdvandaBonavina da Rosa (Departamento de Lingustica) que apresenta asseguintes consideraes:

    1. O entendimento da FCL de que a adoo de cotas uma medidanecessria que h tempos vem sendo pleiteada por docentes daprpria unidade envolvidos com a luta pela igualdade tnico-racial(como o caso do NUPPE) e por amplos setores da sociedade civil.

    2. Aps amplo debate e ouvidos os Departamentos, a Congregaomanifestou o entendimento de que a sistemtica de estabelecer ascotas por meio dos Concursos Vestibulares, acompanhada de umrobusto programa de apoio aos estudantes e aes de melhoria doensino fundamental e mdio constitui a melhor alternativa para aconstruo de uma universidade pblica mais inclusiva no Estado deSo Paulo. Sendo assim, manifesta-se de modo contrrio estratgia de criao do Colgio Comunitrio de Ensino Superior(College).

    3. Portanto, a proposta da FCL de que as universidades estaduaispaulistas, a partir do prximo concurso vestibular, estabeleam osmecanismos para a criao de cotas em todos os seus cursos e turnos,para alunos oriundos de escolas pblicas de ensino mdio e grupostnicos historicamente excludos. Para tanto, podem servir comoreferncia fundamental as orientaes definidas pelo Decreto N7.824, de 11 de outubro de 2012, que regulamenta a Lei n 12.711,de 29 de agosto de 2012, bem como a Portaria Normativa n 18, doMinistrio da Educao, de 11 de outubro de 2012 (textos em

    anexo).

    4. Conscientes da necessidade de assegurar a ampliar os padres dequalidade e excelncia das universidades estaduais paulistas,entendemos que tal medida precisa ser necessariamenteacompanhada de um Programa Institucional de Monitoria,Tutoria e Nivelamento que oferea um suporte acadmico e estudoscomplementares aos alunos ingressantes para que possamacompanhar as atividades didticas e cumprir os crditos necessrios sua formao e de um Programa de Melhoria da EducaoBsica.

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    5. Naturalmente esses Programas devero ser propostos pelos rgoscompetentes e aprovados pelos colegiados superiores. A ttulo decontribuio indicamos algumas caractersticas que o ProgramaInstitucional de Monitoria, Tutoria e Nivelamento poder ter:

    a. Ser aberto a todos os estudantes que apresentem dificuldadede aprendizado em disciplinas ou contedos especficos,

    independente de serem ou no cotistas. Dessa forma, sereconhece um fato j constatado por muitos docentes dediferentes cursos: o de que vrios estudantes que venceram abarreira do vestibular, mesmo os oriundos do sistema privadode ensino, tambm apresentam lacunas na sua formao quedificultam o desempenho acadmico e comprometem aintegralizao dos crditos do curso sua formao profissional

    adequada.b. Incluir no incio do primeiro semestre letivo uma avaliao

    (que poderia ser preparada e aplicada pelos Conselhos de

    Curso) para verificao dos conhecimentos bsicos e

    especficos normalmente exigidos como pr-requisitos nocurso. Essa avaliao seria aplicada tambm a todos osestudantes. Assim como o ponto anterior, o objetivo evitarque os cotistas sejam identificados, rotulados ediscriminados no interior da universidade.

    c. Constituir uma equipe de Monitores e Tutores para apoiar eacompanhar os estudantes com desempenho insuficiente nessa

    avaliao. Sugere-se que os Monitores sejam graduandos dosanos finais de cada curso e os Tutores possam ser docentes dauniversidade ou estudantes de ps-graduao, pesquisadoresou mesmo servidores tcnicos.

    d. Integrado ao trabalho dos monitores e tutores, seriampropostos, pelos Departamentos e Conselhos de Curso,

    Cursos de Nivelamento, na modalidade de extenso,

    abordando tpicos especficos necessrios para determinados

    grupos de estudantes. Tambm podero ser oferecidos, sob aforma de extenso ou como disciplinas regulares, Cursos deNivelamento que abordem habilidades bsicas necessriaspara diferentes disciplinas (como por exemplo: leitura eproduo de textos acadmicos, matemtica).

    e. O programa de Monitoria e Tutoria seria integrado a

    programas j existentes de apoio ao estudante e permannciana universidade. As universidades j desenvolvem programas

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    e possuem estruturas para oferecer apoio a estudantes quenecessitam de bolsas e auxlio para alimentao e moradia.Essas estruturas deveriam ser integradas e fortalecidas,inclusive com uma coordenao central ligada s Pr-Reitorias

    de Graduao, que acompanhe e oriente uma polticapermanente de incluso acadmica e social que v alm de umprograma emergencial.

    6. Como parte de um esforo da sociedade brasileira e paulista parareduzir as histricas e profundas desigualdades scio-econmicas eculturais que permeiam a sociedade e se refletem nas instituieseducacionais de todos os nveis, as universidades estaduais paulistasdeveriam promover um amplo e permanente Programa de Melhoriada Educao Bsica voltado a fortalecer e ampliar sua atuao junto

    s escolas pblicas de ensino fundamental e mdio. Para tanto:a. Poderia ser criado um Fundo de Apoio a Projetos Educacionais

    que financiasse a implementao de solues em larga escalapara a melhoria do ensino pblico, bem como a formaocontinuada de professores da educao bsica. Esse fundopoderia ser gerido pelas Fundaes de apoio das universidadesem parceria com o programa Ensino Pblico da FAPESP.Uma ateno especial deveria ser dada a projetos de apoio aosex-alunos da universidade que ingressam no ensino pblicocomo professores e precisam de estmulo para permanecer nosistema.

    b. Tendo em conta o tamanho e a complexidade da rede deensino estadual e municipal, poderiam ser definidas sries etemticas especficas para direcionar os esforos dospesquisadores universitrios. Por exemplo, inicialmentepoderia ser priorizado o ensino mdio e as reas de linguagense matemtica, mas com extenso gradativa a outros nveis e

    reas e possibilidade de contemplar propostas inovadoras.c. Dentro dessa perspectiva de apoiar iniciativas j existentes,

    seria importante fortalecer e ampliar os cursinhos de cartercomunitrio e popular coordenados pelas universidades. OFundo j sugerido poderia financiar projetos de expanso, deformao de professores e de produo de material didticodesses cursinhos.

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    VANTAGENS DA PROPOSTA EM RELAO AO COLGIOSEQUENCIAL E CRIAO DE COTAS NO VESTIBULAR

    As principais vantagens da proposta aqui esboada (que certamentenecessita de melhorias e complementaes) so:

    Ao contrrio da simples criao de cotas, defende-se a implementaoimediata de um conjunto de aes para assegurar que esses estudantesoriundos de um sistema de ensino pblico com falhas e carncias possamatingir os nveis de desempenho mnimo exigidos pelas universidadesestaduais paulistas. Para tanto, ao mesmo tempo em que o Programa deMonitoria, Tutoria e Nivelamento fortalece a universidade, tambm

    envolve a comunidade acadmica em prticas coletivas e solidrias deincluso, evitando discriminaes e estimulando o apoio a todos osestudantes que enfrentam dificuldades acadmicas.

    A principal vantagem para os jovens que a proposta aqui defendida evitaque tenham que esperar mais dois anos para ingressar no ensino superior.Em relao sugesto do PIMESP de que os estudantes poderiam ao finaldo primeiro ano ingressar nas FATECs, a proposta alternativa evita reforaruma lgica dualista contra a qual muitos educadores tm se insurgido: a

    ideia perversa de que os jovens de baixa renda e de grupos sociaisexcludos deveriam priorizar os cursos tcnicos e tecnolgicos com oingresso mais rpido no mercado de trabalho, enquanto aos mais abastadoscaberia ambicionar a formao superior em carreiras de maior prestgio eremunerao. Esse dualismo acaba reforando as desigualdades quegeraram a necessidade de solues emergenciais como o sistema de cotas.

    A alternativa aqui sugerida, alm de propor aes que visam no s aoingresso, mas tambm permanncia dos estudantes na Universidade, pormeio Programa Institucional de Monitoria, Tutoria e Nivelamento, procuraatuar tambm nas origens e causas educacionais das distores no acesso suniversidades por meio do apoio para a melhoria do ensino pblicofundamental e mdio. Dessa forma contribui de modo significativo paraque o programa de cotas possa ser futuramente suspenso, uma vez quetenha sido superada a situao de desigualdade de oportunidades qual ascotas procuram responder.

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    CUSTOS DA PROPOSTA

    As ideias aqui propostas, caso encontrem ressonncia, devero ser objetode estudos tcnicos adequados quanto aos aspectos legais, acadmicos e

    financeiros. No entanto, a ttulo de contribuio, podem ser feitas algumasprojees dos custos envolvidos.

    Com relao oferta de bolsas assistenciais de permanncia nas IES parecerazovel a proposta dos reitores de oferecer a cada estudante uma bolsa de salrio mnimo (R$311,00). No entanto, considera-se tambm anecessidade de reforar os programas de permanncia estudantil(alimentao e moradia), cujos custos no foram estimados por falta deinformaes sobre a composio dessas despesas no gasto atual dasuniversidades. Dessa forma o valor de R$ 62.751.000,00 ao ano seriadestinado a bolsas assistenciais de permanncia nas universidades.

    Em relao ao Programa de Monitoria, Tutoria e Nivelamento podem serestimados os alguns dos custos principais:

    Bolsas para Monitores: Para atender a 16.815 estudantes (teto mximo nosexto ano) prevendo 01 Monitor para cada 10 estudantes, seriamnecessrios 1.682 monitores. Com uma bolsa mensal de R$ 400,00 paracada um, haveria um custo anual total de R$ 8.073.600,00 do sexto ano em

    diante.

    Bolsas para Tutores: Considerando tambm uma proporo de 01 tutorpara cada 10 monitores, seriam necessrios 169 tutores para acompanhar osmonitores. Com uma bolsa de R$ 1.200,00 haveria um custo total/ano deR$ 2.433.600,00.

    Ainda poderiam ser investidos recursos na reproduo e aquisio demateriais didticos e na realizao de eventos de formao dos monitores e

    tutores. Fazendo uma estimativa geral, o programa teria o seguinte custoanual total:

    Tabela 1 Custo Anual Total do Programa de Monitoria e Tutoria

    Bolsas para Monitores R$ 8.073.600,00Bolsas para Tutores R$ 2.433.600,00Aquisio de materiais didticos R$ 1.000.000,00Eventos R$ 600.000,00

    TOTAL R$ 12.107.200,00

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    Em relao ao Programa de Melhoria da Educao Bsica sugere-se acriao de um Fundo de apoio a projetos educacionais com pelo menos R$10 milhes ao ano para fortalecer e ampliar as aes das universidadespaulistas no aprimoramento do ensino pblico no estado.

    Resumindo, o custo total da proposta aqui apresentada pode ser estimadoda seguinte forma:

    Tabela 2 Custo anual total da proposta em funcionamento pleno

    Bolsas Assistenciais de permanncia R$ 62.751.000,00Programa de Monitoria, Tutoria e Nivelamento R$ 12.107.200,00Programa de Melhoria da Educao Bsica R$ 10.000.000,00

    TOTAL R$ 84.858.200,00Ainda assim, essa proposta teria um CUSTO ANUAL de cerca de R$10.000.000,00 a menos do que a proposta dos reitores, valor que poderiaser aplicado, por exemplo, no fornecimento de um tablet para cadaestudante, monitor e tutor envolvido no programa. A um custo de R$500,00 a unidade, esse incentivo a mais, custaria R$ 9.333.000,00, oequivalente economia obtida com um ano de execuo plena da proposta.Com o valor economizado anualmente tambm poderiam ser feitosinvestimentos significativos na melhoria da oferta de alimentao emoradia aos estudantes que necessitam desse apoio.

    Em suma, para alm de uma racionalidade mais clara, maioreconomicidade e fortalecimento de iniciativas j existentes no seio dacomunidade acadmica, a proposta aqui esboada, se adotada, constituiuma aposta na construo de uma cultura de acolhimento das diferenas ede democratizao real do acesso s universidades estaduais paulistas epermanncia nelas, contribuindo para criar uma verdadeiraUNIVERSIDADE INCLUSIVA.