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13ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MARABÁ Promotoria de Justiça de Direitos Humanos, Órfãos, Interditos, Incapazes, Pessoas com Deficiência e Idosos
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__ MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ Promotorias de Justiça de Marabá Rua das Flores, s/nº, Amapá, Marabá – PA CEP: 68502-290
Fone/Fax: 94 3312-9900 Email: [email protected] www.mppa.mp.br
Lílian Viana Freire Promotora de Justiça
EXCELENTÍSSIMO (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA 3ª VARA
CÍVEL E EMPRESARIAL DA COMARCA DE MARABÁ/PA
DISTRIBUIÇÃO POR CONEXÃO AOS AUTOS 0802321-26.2020.814.0028
PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO: ARTIGO 71 DA LEI N° 10.741/2003 (ESTATUTO DO
IDOSO) E ARTIGO 1.048 DO CPC- OS PROCEDIMENTOS JUDICIAIS QUE FIGURE
COMO PARTE OU INTERESSADO PESSOA COM IDADE SUPERIOR A 60 (SESSENTA)
ANOS DE IDADE, TERÃO PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO EM TODAS AS INSTÂNCIAS.
DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE – VEDAÇÃO À DISCRIMINAÇÃO DO IDOSO NOS
PLANOS DE SAÚDE PELA COBRANÇA DE VALORES DIFERENCIADOS EM RAZÃO DA
IDADE.
URGENTÍSSIMO
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ, por
intermédio da Promotora de Justiça com atribuições nesta Comarca, vem,
respeitosamente perante Vossa Excelência, no exercício de suas atribuições
constitucionais e legais, com fundamento nos artigos 196 e 197, da Constituição
Federal, artigo 2º, da Lei Federal n.º 8.080/90 (Lei Orgânica da Saúde), Lei n°
10.741/2003 (Estatuto do Idoso), Lei 8.625/93 e Lei 7.347/85 artigo 5º, I, e artigo 5,
I, II e 51, § 4º do Código de Proteção de Defesa do Consumidor ( Lei n.
8.078/1990), e artigo 300 do Código de Processo Civil, propor a presente AÇÃO
CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA em face da
Operadora de Plano de Saúde
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FEDERAÇÃO DAS SOCIEDADES COOPERATIVAS DE
TRABALHO MÉDICO DO ACRE, AMAPÁ, AMAZONAS,
PARÁ, RONDONIA E RORAIMA -UNIMED FAMA - registro
na ANS 313971, CNPJ 84.112.481/0001-17 – e-mail:
[email protected], endereço Conjunto Vieira
Alves, n.º 374, Bairro Nossa Senhora das Graças, Manaus/AM,
CEP: 69.053.150;
CACSS – CLUBE DE BENEFÍCIOS PARA COOPERATIVAS,
ASSOCIAÇÕES, CONSELHOS SINDICATOS E SEGUROS,
situada à Rua da Assembléia, 10 – 3811-A Centro - CNPJ/MF:
09.585.273/0001-10, classificada na modalidade de
ADMINISTRADORA DE BENEFÍCIOS junto a Agência Nacional
de Saúde Suplementar (ANS) com registro de nº 487891;
Pelas razões fáticas e jurídicas a seguir aduzidas.
Preliminarmente, o Ministério Público do Estado do Pará requer seja
assegurada prioridade na tramitação do feito, pois tratam-se de direitos afetos às
pessoas idosas, nos termos do artigo 71 da Lei n° 10.741/2003 (Estatuto do Idoso).
I- DOS FATOS
Extrai-se da Notícia de Fato nº. 000111-940/2020 a reclamação
formulada em face da UNIMED FAMA, em razão do aumento de 30% (trinta por
cento) no valor da mensalidade do plano de assistência à saúde coletivo por adesão
contratado pela beneficiária idosa, FÁTIMA RUFINO DE ARAÚJO FERREIRA, de 66
(sessenta) e seis anos de idade, junto à Administradora de Benefícios CACSS.
Preliminarmente, é importante esclarecer que a CACSS – CLUBE DE
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BENEFÍCIOS PARA COOPERATIVAS, ASSOCIAÇÕES, CONSELHOS SINDICATOS E
SEGUROS é Administradora de Benefícios e representa empresas, conselhos,
sindicatos ou associações, realiza trabalhos administrativos, como emitir boletos e
alterar dados de cadastros dos beneficiários, ou seja, na prática atua como
intermediário junto a operadoras de planos de saúde, representando uma
coletividade de usuários e nessa condição negocia com a operadora do plano de
saúde os reajustes de mensalidades, as alterações na rede credenciada e as formas
de controle de acesso aos serviços dos planos.
Por sua vez a UNIMED FAMA é operadora de Plano de Saúde, e quem
garante recursos humanos e a rede de serviços de saúde (hospitais, clínicas,
laboratórios) para atender aos beneficiários, bem como é responsável pela gestão do
plano de saúde contratado.
Dito isto, cumpre esclarecer que a Administradora de Benefícios
CACSS e a operadora do Plano de Saúde UNIMED FAMA entabularam Contrato de
Plano Privado de Assistência à Saúde Coletivo por Adesão.
Conforme previsão contratual, anualmente na data de aniversário do
plano, é negociado entre a operadora UNIMED FAMA e a Administradora de
Benefícios CACSS, o reajuste no valor das mensalidades.
O reajuste anual conforme entabulado entre as partes foi do valor de
30% (trinta por cento) e passará a vigorar em 01 de Abril de 2020.
Em razão do valor do reajuste, o Ministério Público foi acionado em
relação ao percentual aplicado para o reajuste da ordem de 30% (trinta por cento)
sobre os valores praticados anteriormente, considerando-o abusivo.
Diante da demanda apresentada, a administradora de benefícios CACSS
foi acionada pelo Ministério Público por meio do Ofício nº 081/2020-MP/7ªPJMAB,
para esclarecimentos acerca da reclamação formulada (fls. 25).
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Em resposta, a administradora de benefícios CACSS justificou que o
aumento foi proposto pela operadora do plano de saúde (fls. 37).
Foi expedido ofício à UNIMED FAMA, por meio do ofício nº 080/2020-
MP/7ªPJMAB para esclarecimentos acerca do reajuste da mensalidade dos planos de
saúde.
A reclamada UNIMED FAMA informou, em síntese, que o reajuste
anual dos contratos coletivos por adesão deve seguir os parâmetros avençados no
contrato, sem subordinação às diretrizes da ANS, destacando que o percentual fixado
anualmente pela agência reguladora é aplicável apenas aos contratos individuais.
Informou também que o reajuste ocorreu segundo a pactuação
prevista no contrato, após negociação com a Administradora de Benefícios, para
recompor o equilíbrio econômico-financeiro do contrato, apontando a sinistralidade
contratual da ordem de 93,38% (fls.25/32).
Foi oficiado ainda à Agência Nacional de Saúde, para informações
acerca da reclamação formulada pela idosa FATIMA RUFINO DE ARAUJO FERREIRA,
de 66 (sessenta e seis) anos de idade, cartão de plano de saúde nº
09853014000447008 (fls.42).
Cumpre esclarecer que, em razão do exíguo tempo para apurar os
fatos e a urgência da demanda, este Órgão Ministerial não concluiu as investigações
para apurar eventual abusividade no reajuste anual das mensalidades dos planos
coletivos, com vigência a partir de abril/2020, bem como não houve tempo hábil
para aguardar o parecer da Agência Nacional de Saúde Suplementar-ANS, quanto à
regularidade no reajuste da mensalidade do plano de saúde coletivo por adesão.
Entretanto, em razão dos inúmeros beneficiários idosos que terão
aumento considerável no valor da mensalidade do plano de saúde, com risco à
continuidade dos contratos celebrados com a administradora de benefícios CACSS,
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mormente no momento em que a manutenção da assistência à saúde é
INDISPENSÁVEL diante da pandemia do COVID-19, com risco iminente de colapso no
sistema público de saúde, decorrente de evento imprevisível (teoria da imprevisão
aplicável ao contrato de consumo), considerado caso fortuito ou força maior, sem
desconsiderar como pano de fundo a grave crise financeira mundial que se avizinha,
e que já atinge o Brasil, impactando a estabilidade do contrato, causando
desequilíbrio entre as partes celebrantes, fragilizando sobremaneira o lado
hipossuficiente do contrato, o consumidor, merecedor da especial tutela do Estado.
Sendo assim, neste cenário, o reajuste anual de 30% (trinta por
cento) da mensalidade do plano de saúde das pessoas idosas deve ser revisto,
impondo ao Ministério Público o dever de provocar o Poder Judiciário por meio da
presente ação, visando à imposição de obrigação de fazer, a fim de compelir o
demandado à adoção das providências necessárias, visando à aplicação, por
analogia, do reajuste anual autorizado pela ANS para os contratos individuais em
7,35% (sete vírgula trinta e cinco por cento), ou alternativamente, que o valor seja
reajustado pela variação acumulada do IPCA, ou seja 8,03% (oito vírgula três por
cento), nos termos da cláusula 15 do contrato de Plano Coletivo por Adesão-
Ambulatorial com Obstetrícia Apartamento e Enfermaria – Abrangência Nacional,
firmado entre as demandadas, assegurando a continuidade na prestação dos
serviços de assistência à saúde nos moldes pactuados.
II- DO DIREITO
LEGITIMIDADE AD CAUSAM DO MINISTÉRIO PÚBLICO
O Ministério Público é instituição permanente e dentre tantas
atribuições que lhe confere o texto constitucional, está a defesa aos interesses
coletivos, proteção ao patrimônio público, etc.
A Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica do Ministério Público) em seu artigo
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25 conferiu ao Ministério Público a legitimidade para a propositura de Ação Civil
Pública.
Vejamos.
Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na
Lei Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público:
(...)
IV - promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei (...)
No mesmo sentido, a Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) em
seu artigo 5º, estabelece ainda a legitimidade do Ministério Público para a
propositura de ação principal.
Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
I- O Ministério Público (...)
A legitimação do Ministério Público decorre, portanto, direta e
expressamente da lei maior. Sua atuação apresenta-se não como um "poder de agir" e
sim um dever de defender a ordem jurídica, o regime democrático e os interesses
sociais e individuais de natureza indisponível.
O artigo 129, III, da Constituição Federal, assegura também, a
legitimidade do Ministério Público para a promoção da Ação Civil Pública que objetiva a
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses
difusos e coletivos.
De tal dispositivo irradia para as normas infraconstitucionais a atribuição
do Parquet, tais como a Lei n.º 8.078 de 1990, o Código de Defesa do Consumidor, que
em seu Título III, disciplina as ações coletivas para a defesa dos consumidores em
juízo, e elenca o Ministério Público como um dos legitimados para tal, em seu artigo 82.
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Vale destacar ainda, que o Superior Tribunal de Justiça, em sede de
recurso repetitivo, considerou a legitimidade ad causam do Ministério Público para
pleitear, em demandas contendo beneficiários individualizados, tratamento ou
medicamento necessários à salvaguarda da saúde, tendo sido firmada a seguinte
tese:
“O Ministério Público é parte legítima para pleitear tratamento médico ou
entrega de medicamentos nas demandas de saúde propostas contra os
entes federativos, mesmo quando se tratar de feitos contendo
beneficiários individualizados, porque se refere a direitos
individuais indisponíveis, na forma do art. 1º da Lei n.
8.625/1993” (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público). (STJ,
Tema/Repetitivo 766, Órgão Julgador Primeira Seção).
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL SOB A
SISTEMÁTICA DOS REPETITIVOS. DEMANDAS DE SAÚDE COM
BENEFICIÁRIOS INDIVIDUALIZADOS INTERPOSTAS CONTRA ENTES
FEDERATIVOS. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. SUPOSTA
AFRONTA AOS DISPOSITIVOS DOS ARTS. 1º, V, E 21 DA LEI N.
7.347/1985, BEM COMO AO ART. 6º DO CPC/1973. NÃO OCORRÊNCIA.
DIREITO À SAÚDE. DIREITO INDIVIDUAL INDISPONÍVEL. ART. 1º DA LEI
N. 8.625/1993 (LEI ORGÂNICA NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO).
APLICABILIDADE. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
RECURSO JULGADO SOB A SISTEMÁTICA DO ART. 1.036 E SEGUINTES
DO CPC/2015, C/C O ART. 256-N E SEGUINTES DO REGIMENTO INTERNO
DO STJ. (…) 2. A discussão, neste feito, passa ao largo de qualquer
consideração acerca da legitimidade ministerial para propor
demandas, quando se tratar de direitos difusos, coletivos ou
individuais homogêneos, até porque inexiste qualquer dúvida da
sua legitimidade, nesse particular, seja por parte da legislação
aplicável à espécie, seja por parte da jurisprudência. De outra
parte, a discussão também não se refere à legitimidade de o Ministério
Público postular em favor de interesses de menores, incapazes e de idosos
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em situação de vulnerabilidade. É que, em tais hipóteses, a legitimidade
do órgão ministerial decorre da lei, em especial dos seguintes estatutos
jurídicos: arts. 201, VIII, da Lei n. 8.069/1990 e 74, II e III, da Lei
10.741/2003.3. A fronteira para se discernir a legitimidade do órgão
ministerial diz respeito à disponibilidade, ou não, dos direitos individuais
vindicados. É que, tratando-se de direitos individuais disponíveis e uma vez
não havendo uma lei específica autorizando, de forma excepcional, a
atuação do Ministério Público (como no caso da Lei n.8.560/1992), não se
pode falar em legitimidade de sua atuação. Todavia, se se tratar de
direitos ou interesses indisponíveis, a legitimidade ministerial já
decorreria da redação do próprio art. 1º da Lei n. 8.625/1993 (Lei
Orgânica Nacional do Ministério Público).4. Com efeito, a
disciplina do direito à saúde encontra na jurisprudência pátria a
correspondência com o próprio direito à vida, de forma que a
característica da indisponibilidade do direito já decorreria dessa
premissa firmada. 5. Assim, inexiste violação dos dispositivos dos arts.
1º, V, e 21 da Lei n. 7.347/1985, bem como do art. 6º do CPC/1973, uma
vez que a atuação do Ministério Público, em demandas de saúde, assim
como nas relativas à dignidade da pessoa humana, tem assento na
indisponibilidade do direito individual, com fundamento no art. 1º da Lei n.
8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público). 6. Tese jurídica
firmada: O Ministério Público é parte legítima para pleitear tratamento
médico ou entrega de medicamentos nas demandas de saúde propostas
contra os entes federativos, mesmo quando se tratar de feitos contendo
beneficiários individualizados, porque se refere a direitos individuais
indisponíveis, na forma do art. 1º da Lei n. 8.625/1993 (Lei Orgânica
Nacional do Ministério Público). (REsp 1682836/SP, Rel. Ministro OG
FERNANDES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/04/2018, DJe 30/04/2018).
Por outro lado, a Lei 10.741/03 (Estatuto do Idoso) estabelece que as
medidas de proteção do idoso são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos
nesta lei forem ameaçados ou violados por ação ou omissão da sociedade ou do
Estado, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento e em
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razão de sua condição pessoal.
Nesse sentido, o artigo 45 da citada lei dispõe que, constatada
qualquer das hipóteses previstas no artigo 43, o Ministério Público ou o Poder
Judiciário, a requerimento daquele, poderá requisitar para tratamento de sua saúde,
em regime ambulatorial, hospitalar ou domiciliar.
O artigo 74, inciso I do Estatuto do idoso, assegura ainda que
compete ao Ministério Público instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para a
proteção dos direitos e interesses difusos ou coletivos, individuais indisponíveis e
individuais homogêneos do idoso.
Desse modo, revela-se inquestionável a legitimidade do Parquet para
figurar no polo ativo da presente demanda, bem como que a tutela coletiva
requerida pelo Ministério Público visa à salvaguarda do interesse do consumidor
idoso, surpreendido com a comunicação do reajuste anual do plano coletivo por
adesão no percentual de 30% (trinta por cento), aplicável a partir da mensalidade do
mês de abril de 2020.
III- DA LEGITIMIDADE PASSIVA DAS REQUERIDAS
Exsurge contundente dos autos a legitimidade ad causam passiva das
demandadas, pois a responsabilidade é inconteste, não havendo que se perquirir as
eventuais razões pela ação/omissão que causou aumento excessivo no plano de
saúde coletivo por adesão, com risco à manutenção do contrato e à continuidade dos
serviços de assistência à saúde contratados.
Destaca-se que a legitimidade ad causam passiva das requeridas,
operadora do plano de saúde UNIMED FAMA e a administradora de benefícios
CACSS, se mostram evidente dos autos, pois a primeira requerida atua como
operadora do plano de saúde contratada pela administradora de benefícios, segunda
requerida, possuindo, portanto, responsabilidade para com os consumidores idosos
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que contrataram seus serviços, devendo garantir o equilíbrio do contrato, e a
aplicação de reajuste anual em valor razoável e proporcional, garantindo com isso a
continuidade da prestação de serviço aos beneficiários, de acordo com a Lei n.º
9.656/1998 e as normativas da ANS aplicáveis à espécie.
Vejamos o entendimento jurisprudencial acerca do tema.
DIREITO DO CONSUMIDOR, CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE
OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. PLANO COLETIVO DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE.
ADMINISTRADORA. INTERMEDIAÇÃO. CONTRATO. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO
DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ADESÃO APERFEIÇOADA. NOVA PROPOSTA DE
ADESÃO, IRRADIANDO NOVA CONTRAÇÃO. FRAUDE. VÍCIO DE ILICITUDE.
FALSIDADE DA PROPOSTA. ALEGAÇÃO. CORROBORAÇÃO DA LEGITIMIDADE
DO INSTRUMENTO NEGOCIAL. ÔNUS DA PROVA. ENCARGO AFETO À PARTE
QUEPRODUZIU A PROPOSTA (CPC ART. 429, II). DESINCUMBÊNCIA.
INEXISTÊNCIA. FRAUDE CORROBORADA. FALHA NA PRESTAÇÃO DOS
SERVIÇOS. COBRANÇA INDEVIDA. CADASTRO DE DEVEDORES. INSCRIÇÃO.
DÉBITO INSUBSISTENTE. INSCRIÇÃO INDEVIDA. DANOS MORAIS.
QUALIFICAÇÃO. COMPENSAÇÃO PECUNIÁRIA DEVIDA. QUANTUM. FIXAÇÃO
PROPORCIONAL E RAZOÁVEL. ADESÃO. APROVEITAMENTO DE CARÊNCIA.
PLANO DE SAÚDE COLETIVO. MENSALIDADES. PRESERVAÇÃO. NULIDADE DA
SENTENÇA. CERCEAMENTO DE DEFESA. DENUNCIAÇÃO À LIDE.
INDEFERIMENTO. INVERSÃO DO ONUS DA PROVA. FIXAÇÃO. QUESTÕES
EXAMINADAS. DECISÃO RECORRÍVEL (CPC, ART. 1.015, IX e XI). PRECLUSÃO.
REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. PRESERVAÇÃO. EFICÁCIA PRECLUSIVA.
SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. HONORÁRIOS RECURSAIS.
INCIDÊNCIA. MAJORAÇÃO DA VERBA HONORÁRIA ORIGINALMENTE FIXADA.
SENTENÇA E APELO FORMULADOS SOB A ÉGIDE DA NOVA CODIFICAÇÃO
PROCESSUAL CIVIL (NCPC, ART. 85, §§ 2º E 11). 1. Segundo o regime de
recorribilidade implantado pelo novo estatuto processual, a irrecorribilidade das
decisões interlocutórias no curso processual é a regra, sendo recorríveis via de
agravo de instrumento somente as decisões que versam sobre as matérias e
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questões expressamente ressalvadas pelo legislador, entre as quais estão
inseridas as decisões que versem sobre intervenção de terceiros na relação
processual e a redistribuição do ônus probatório (CPC, art. 1.015, IX e XI),
ensejando que, formuladas e resolvidas as questões no trânsito procedimental,
o silêncio da parte impacta o aperfeiçoamento da preclusão, tornando inviável
que sejam reprisadas na apelação. 2. O instituto da preclusão derivara da
necessidade de se assegurar efetividade ao processo e o alcance do seu
desiderato, resultando no impedimento do revolvimento de questões já
resolvidas através de decisão irrecorrida ou irrecorrível, daí porque o princípio
do duplo grau de jurisdição determina que a parte, se não conformada com
determinada decisão, contra ela se irresigne através do instrumento apropriado
para sujeitá-la ao reexame pela instância recursal, derivando que, resolvida
através de decisão intangível, a matéria resolvida não pode ser repristinada
(CPC, arts. 505 e 507). 3. O contrato de plano de saúde celebrado com a
interseção de administradora de benefícios que desenvolve atividade
econômica volvida ao lucro, encerra relação de consumo ante a
irreversível evidência de que tanto a administradora como a
operadora do plano contrato estão inseridas na cadeia de
fornecimento e se emolduram como prestadoras de serviço, e a
beneficiária da prestação, de seu turno, se enquadra como
destinatária final dos serviços fomentados, inscrevendo-se o liame
havido na dicção dos artigos 2º e 3º do Código de Defesa do
Consumidor. (....).(Grifo nosso).
CIVIL. CONSUMIDOR. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA REPELIDA.
PLANO DE SAÚDE. ALTERAÇÃO DA DATA DE VENCIMENTO DAS
MENSALIDADES, EM PREJUÍZO AO AUTOR. MANUTENÇÃO DOS TERMOS
CONTRATUAIS INICIALMENTE FIRMADOS. RECURSO CONHECIDO E NÃO
PROVIDO.
1) Não configurada a ilegitimidade das requeridas para figurar no
polo passivo da lide, vez que tanto a operadora Sul América Seguro
Saúde quanto a EV Administradora de Benefícios Ltda são
componentes da cadeia de fornecimento dos serviços, aquela como
efetiva prestadora dos serviços de saúde e beneficiária direta dos
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pagamentos, esta como administradora do plano e responsável pela
captação de usuários, devendo, pois, responder solidariamente por
todos os danos decorrentes da irregular execução do contrato de
saúde firmado com o autor. Preliminar repelida.
2) Há de ser mantido o decisum de primeiro grau que determinou a
manutenção das condições contratuais firmadas entre as partes, especialmente
no que tange a data de vencimento da mensalidade do plano de saúde pago
pelo autor, visto que a alteração unilateral levada a efeito pelas reclamadas
resultou-lhe, inequivocamente, em prejuízo. 3) Recurso conhecido e não
provido. 4) Sentença mantida. (TJ-AP - RI: 00514974120138030001 AP,
Relator: CESAR AUGUSTO SCAPIN, Data de Julgamento: 27/08/2015, TURMA
RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS). (Grifo nosso).
IV- DO REAJUSTE DOS VALORES DO PLANO DE SAÚDE COLETIVO POR
ADESÃO - DA PRÁTICA ABUSIVA - DA VANTAGEM MANIFESTAMENTE
EXCESSIVA
O presente pedido de Tutela de Urgência se fundamenta na
necessidade urgente de fazer cessar os efeitos nocivos decorrentes do reajuste de 30%
(trinta por cento) aplicado às mensalidades dos planos de saúde contratados pelos
consumidores junto à Administradora de Benefícios CACSS e UNIMED FAMA, pois
representa violação dos interesses dos beneficiários do plano privado de assistência à
saúde coletivo por adesão, posto que o Código de Defesa do Consumidor protege os
beneficiários, contra exigência de vantagem manifestamente excessiva, e elevações,
sem justa causa, no valor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas
(incisos V e X do art. 39 da Lei n° 8.078/1990).
Impende ressaltar que os contratos coletivos de assistência à saúde por
adesão devem ser reajustados em valor proporcional. O alegado desequilíbrio financeiro
depende de cabal demonstração por parte da operadora, sob pena de afronta aos
princípios da lealdade, da boa-fé, da função social do contrato, e, principalmente, sob
pena de conceder apenas a uma das partes contratantes (no caso, a operadora do
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plano de saúde) poderes soberanos, absolutos e ilimitados para a fixação de
percentuais de reajuste anual.
A demandada UNIMED FAMA justificou o reajuste de 30% das
mensalidades, em razão do aumento da sinistralidade contratual, alegando que foi
alcançado o percentual da ordem de 93,38%, entretanto não demonstrou o aumento
da sinistralidade, limitando-se a meras alegações. Portanto, merece ser revista em sede
judicial a alteração compulsória e unilateral do contrato, em razão da onerosidade
excessiva imposta ao consumidor, em virtude da aplicação de índice de reajuste da
ordem de 30% pela operadora UNIMED FAMA, sem a efetiva demonstração do alegado
desequilíbrio contratual, que represente justa causa para a aplicação do índice
pretendido.
Colhe-se na jurisprudência os seguintes precedentes sobre o tema.
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL. PLANO DE SAÚDE. CONTRATO
COLETIVO EMPRESARIAL FIRMADO ENTRE A ABMN (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE MASTERS DE NATAÇÃO) E A SOCIEDADE EMPRESÁRIA
UNIMED SÃO GONÇALO-NITERÓI. Operadora que pretende ver reajustado o
contrato das autoras em 711,81% referente ao período de 2015/2016, sob
mera alegação de aumento da sinistralidade, majoração dos custos de
manutenção do plano e desequilíbrio contratual. Discordância das autoras no
que tange ao vultoso índice praticado pela operadora contratada. Demanda
objetivando a continuidade dos serviços contratados e o reconhecimento da
abusividade praticada pela contratada. Sentença improcedente. Apelos das
autoras. Reforma do decisum. Aplicação do IGPM como índice de reajuste no
período de 2015/2016 e seguintes, nos termos da cláusula 9.9 do contrato
coletivo de fls. 52. Aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor no
presente processado, eis que no contrato coletivo em comento, o beneficiário
final é o consumidor, tal qual nos contratos individuais ou familiares. Aplicação
da Súmula 469 do STJ e do art. 35-G da Lei nº 9.656/98. Aumento
exorbitante e sem lastro probatório que viola o disposto no art 51, IX e XI,
do CDC. O nosso sistema jurídico pátrio possibilita a revisão de cláusulas
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contratuais em razão de eventuais desequilíbrios havidos entre as partes
no decorrer da relação jurídica de direito obrigacional ora estabelecida
(arts. 478 e 480 do CC e art. 6º, V, do CDC), inclusive, com a relativização
do "pacta sunt servanda". Todavia, mostra-se abusiva a majoração
"artificial" e "virtual" de preços pela operadora com base em meras
alegações de desequilíbrio, fundada em argumentos nebulosos e
obscuros. O reajuste por sinistralidade não é, em regra, abusivo, porém,
estará condicionado à efetiva demonstração e sopesamento do alegado
desequilíbrio contratual por parte da operadora, sob pena de afronta aos
princípios da lealdade, da boafé, da função social do contrato, e,
principalmente, sob pena de conceder apenas a uma das partes
contratantes (no caso, a operadora do plano de saúde), poderes
soberanos, absolutos e ilimitados para a fixação de percentuais de
reajuste que apenas satisfaçam o seu interesse, qual seja, a maximização
dos seus lucros. Impossibilidade de se admitir a alteração compulsória e
unilateral do contrato, com a majoração excessiva dos índices de reajuste
pela operadora UNIMED, sem a efetiva demonstração do suposto motivo
(desequilíbrio contratual) que justificasse a aplicação do índice
pretendido de 711,81%, ônus esse que lhe cabia. Afirmação do
desequilíbrio contratual por parte da operadora do plano de saúde que
não dispensa a sua comprovação por meio de critérios técnicos e
objetivos, seja no âmbito contratual, seja no âmbito processual, porque
quem detém a informação acerca da elevação dos custos assistenciais e
despesas, é a operadora do plano de saúde e não o contratante. APELO
CONHECIDO E PROVIDO A FIM DE POSSIBILITAR A CONTINUIDADE DO
CONTRATO MEDIANTE REAJUSTE ANUAL PELO IGPM, DECLARANDO-SE
ILEGAL O REAJUSTE DE 711,81%. (TJ-RJ - APL: 00783581220168190002,
Relator: Des(a). FERDINALDO DO NASCIMENTO, Data de Julgamento:
28/01/2020, DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL) (Grifo nosso).
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL. CONTRATO DE PLANO DE SAÚDE
DE NATUREZA COLETIVA. CDC. MAJORAÇÃO DO VALOR DA
MENSALIDADE EM DECORRÊNCIA DE REAJUSTE ANUAL.
DEMONSTRAÇÃO DOS CRITÉRIOS UTILIZADOS. ABUSIVIDADE. NÃO
CONFIGURAÇÃO. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. ANALOGIA.
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APLICAÇÃO DOS ÍNDICES ESTABELECIDOS PELA ANS NOS PLANOS DE
SAÚDE INDIVIDUAIS. Tratando-se de mensalidade de plano de saúde, a
jurisprudência pátria tem sido firme em coibir reajustes discriminatórios e
abusivos, notadamente quando pautado em critérios meramente aleatórios.
Tendo em vista a supremacia do interesse à saúde do beneficiário sobre o
interesse econômico da operadora de plano de saúde, não se pode olvidar que
todo e qualquer reajuste que se mostre abusivo e desprovido de causa
subjacente legítima deve ser impedido, na medida em que constitui obstáculo à
continuidade da contratação, configurando cláusula abusiva, nos termos do
artigo 51, inciso IV, do CDC. Assim, ainda que não haja fixação de
parâmetros de reajuste pela ANS nos contratos de plano de saúde
coletivos, os índices aplicáveis aos contratos individuais devem ser
utilizados de forma analógica para fins de apreciação de abusividade, nos
casos em que ausentes os critérios utilizados para definição da base
atuarial da contraprestação. No particular, não estando evidente o
reajuste abusivo, que demande onerosidade excessiva ao consumidor,
incabível a sua readequação. (TJ-DF 07026377520188070002 DF 0702637-
75.2018.8.07.0002, Relator: CARMELITA BRASIL, Data de Julgamento:
12/06/2019, 2ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE :
18/06/2019 . Pág.: Sem Página Cadastrada.) (Grifo nosso).
Conforme o exposto, restou evidenciado que o reajuste anual de 30%
(tinta por cento) do plano de assistência à saúde coletivo por adesão, exige do
consumidor vantagem manifestamente excessiva, em patamar muito superior ao índice
de reajuste anual autorizado pela ANS para os contratos individuais ou ao índice
previsto contratualmente.
Nesse mesmo sentido, outro não é o entendimento consagrado pelo
Superior Tribunal de Justiça.
"(...) Veda-se a discriminação do idoso em razão da idade, nos termos do
art. 15, § 3º, do Estatuto do Idoso, o que impede especificamente o reajuste
das mensalidades dos planos de saúde que se derem por mudança de faixa
etária; essa vedação não envolve, todavia, os demais reajustes permitidos
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em lei, os quais ficam garantidos às empresas prestadoras de planos de
saúde, sempre ressalvada a abusividade. - Agravo no recurso especial não
provido. (AgRg nos EDcl no REsp 1310015/AP, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 11/12/2012, DJe 17/12/2012)
"(...) A jurisprudência deste Tribunal consagrou o entendimento de ser
abusiva a cláusula contratual que prevê o reajuste da mensalidade de plano
de saúde com base exclusivamente em mudança de faixa etária, mormente
se for consumidor que atingir a idade de 60 anos, o que o qualifica como
idoso, sendo vedada, portanto, a sua discriminação. 5.- Agravo Regimental
improvido." (AgRg no REsp 1336758/RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 20/11/2012, DJe 04/12/2012).
Deste modo, a justificativa de que o reajuste objetiva manter o equilíbrio
econômico-financeiro do contrato coletivo em relação ao aumento dos custos médicos e
hospitalares, não se mostra razoável, posto que o ônus incumbe às requeridas, nos
moldes do inciso VIII do artigo 6º do CDC.
Assim, em razão da ausência de efetiva comprovação do aumento da
sinistralidade do a fim de resguardar eventual recusa no atendimento de assistência à
saúde das pessoas idosas, em razão da inadimplência das mensalidades, não resta
alternativa senão requerer a tutela de urgência visando à adoção das providências
urgentes pelas demandadas, para garantir a aplicação, por analogia, do reajuste
autorizado pela ANS para os contratos individuais em 7,35% (sete vírgula trinta e cinco
por cento), ou alternativamente, que o valor seja reajustado pela variação acumulada
do IPCA, ou seja 8,03% (oito vírgula três por cento), nos termos da cláusula 15 do
Contrato de Plano Coletivo por Adesão- Ambulatorial com Obstetrícia-Apartamento e
Enfermaria –Abrangência Nacional, firmado entre as demandadas, fazendo cessar e/ou
prevenindo a conduta lesiva consubstanciada pela suspensão do serviço de assistência
à saúde, em razão do inadimplemento das mensalidades pelo consumidor,
considerando que todas as pessoas físicas e jurídicas, sejam elas públicas ou privadas,
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que por ação ou omissão, causem prejuízo ao consumidor, devem ser responsabilizadas
a teor do art. 3º c/c art. 14 e art. 20 da Lei n.º 8.078/90.
V- DO DIREITO À SAÚDE DE PESSOA IDOSA - DIREITO FUNDAMENTAL –
INDISPONIBILIDADE
A nova ordem constitucional, construída sobre o pilar do Estado
Democrático de Direito, este por sua vez assentado sobre o fundamento da
dignidade da pessoa humana, busca nos princípios o seu verdadeiro requisito de
validade. Com efeito, pode-se dizer que as bases do constitucionalismo moderno
estão fundadas nos direitos fundamentais.
É justamente inserida nessa dimensão positiva do fundamento da
dignidade da pessoa humana que se encontra a noção do mínimo existencial a ser
resguardado pelos direitos fundamentais.
A preocupação com o mínimo existencial exige a garantia de meios que
satisfaçam as mínimas condições de vivência digna do indivíduo e de sua família.
Nesse aspecto, o mínimo existencial vincula as prestações estatais para que sejam
cumpridas as aspirações do Estado Democrático de Direito.
No âmbito infraconstitucional, a Lei n.º 8.080/90 que dispõe sobre as
condições para promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes e das outras providências, define a
saúde como direito fundamental, portanto, bem jurídico inalienável do ser
humano, intrinsecamente ligado ao direito à vida, dispondo em seu art. 2º, in verbis:
“Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo
o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.
§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e
execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de
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doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que
assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua
promoção, proteção e recuperação.
§ 2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das
empresas e da sociedade.” (Grifo nosso).
Vale ressaltar que os serviços privados de assistência à saúde, os
quais caracterizam-se pela atuação de profissionais liberais, legalmente habilitados, e
de pessoas jurídicas de direito privado que operam planos de assistência à saúde,
estão submetidos às disposições do Código de Defesa do Consumidor e no caso das
pessoas jurídicas, também aos comandos da Lei n.º 9.656/98.
O Estatuto do Idoso, em seu artigo 3º assevera ainda que é
obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao
idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à
liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária e garantia
de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais.
O citado estatuto prevê ainda que o idoso goza de todos os direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que
trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu
aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e
dignidade.
O artigo 4o do mencionado diploma legal, assegura ainda que,
nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência,
crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será
punido na forma da lei, sendo dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos
direitos do idoso.
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Ora, não há como deixar de reconhecer a ilegalidade do reajuste de 30%
(trinta por cento) da mensalidade dos planos de saúde, pois com advento do Estatuto
do Idoso, ficou vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de
valores diferenciados em razão da idade.
Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio
do Sistema Único de Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e
igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a
prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a
atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos.
§ 1o A prevenção e a manutenção da saúde do idoso serão efetivadas
por meio de:
I – cadastramento da população idosa em base territorial;
II – atendimento geriátrico e gerontológico em ambulatórios;
(....)
§ 3o É vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela
cobrança de valores diferenciados em razão da idade.
Frise-se ainda que o envelhecimento é um direito personalíssimo e a
sua proteção um direito social, nos termos desta Lei e da legislação vigente,
conforme previsão do artigo do Estatuto do Idoso.
A proteção jurídica dos interesses relacionados as áreas afetas a saúde
encontra-se estreme de dúvidas, bem como demonstrada a responsabilidade das
demandadas em proporcionar os meios necessários à garantia dos direitos dos
idosos.
VI- DO EXPRESSO PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA
O pedido nos moldes propostos têm por objeto a adoção de
providências urgentes pelos demandados visando à salvaguarda da saúde e da vida
dos beneficiários idosos do plano privado de assistência à saúde coletivo por adesão,
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diante do reajuste de 30% (trinta por cento) da mensalidade, conforme
exaustivamente exposto.
A urgência se justifica a fim de evitar a conduta omissiva, com risco
de perecimento do próprio direito à vida e à saúde dos beneficiários idosos do plano
privado de assistência à saúde coletivo por adesão.
A tutela ora requerida pretende evitar que a lesão se concretize ao
longo da duração do processo, o que se ocorrer, dificilmente ensejará tutela eficiente
ao direito fundamental, evidente, portanto, o perigo de dano ou do risco ao resultado
útil do processo.
As alegações esposadas nesta peça inicial estão inequivocamente
provadas pela documentação juntada, mormente, pelas cópias extraídas das Notícias
de Fato n.º 000111-940/2020. Necessária, portanto, a concessão da TUTELA DE
URGÊNCIA face à probabilidade de dano irreversível e grave a direito fundamental,
evidenciada a verossimilhança do direito invocado e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo (art. 300 do CPC/2015).
Destarte, não resta qualquer dúvida que o interesse mais relevante e
que merece proteção imediata é a saúde, sendo assim, não se mostra razoável
exigir-se que, constatada a violação aos direitos fundamentais, principalmente de
pessoa idosa, fique ela exposta, até o provimento jurisdicional definitivo, decorrentes
da conduta abusiva das partes demandadas.
DA PROBABILIDADE DO DIREITO E O PERIGO DE DANO
A probabilidade do direito é evidente na hipótese em tela, tendo em
vista todos os argumentos de fato e de direito expostos ao longo da peça vestibular,
pois as alegações contidas na inicial estão inequivocamente provadas pela
documentação juntada.
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Com efeito, o conjunto de elementos de convicção elencados na causa
de pedir confere lastro e plausibilidade jurídica suficientes ao requerimento,
impondo-se a condenação dos requeridos nas obrigações de fazer que serão
delineadas a seguir.
Do conjunto probatório que acompanha a presente exordial se extrai
o perigo do dano ante a inquestionável necessidade de assegurar a aplicação do
reajuste anual em patamar razoável e proporcional, assim considerado o índice de
reajuste autorizado pela ANS em 7,35% (sete vírgula trinta e cinco por cento) para
os planos individuais, ou alternativamente, que o valor seja reajustado pela variação
acumulada do IPCA, ou seja, 8,03% (oito vírgula três por cento), conforme a
cláusula 15 do contrato, visando à continuidade do atendimento dos beneficiários do
plano de saúde contratado, a fim de garantir o direito à vida e a saúde dos
beneficiários idosos.
O perigo de dano é real e previsível, já que o aumento decorrente do
reajuste de 30% da mensalidade do plano de saúde, que passa a vigorar no mês de
abril/2020, poderá impossibilitar a manutenção dos contratos celebrados pelos
beneficiários, resultando em sobrecarga para o serviço público de saúde, justamente
quando há prenúncio de colapso do SUS, em razão da pandemia do COVID-19
reconhecida pela Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde.
Portanto, a conduta das demandadas repercute negativamente na
esfera privada de interesse dos consumidores idosos, agravando ainda mais a já
caótica situação no país, visto que com a suspensão dos serviços, em razão da
inadimplência, o consumidor não terá alternativa senão recorrer ao sistema público,
na iminência de colapso, ante o cenário mundial decorrente da pandemia do COVID-
19.
DO RISCO AO RESULTADO ÚTIL AO PROCESSO
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O risco ao resultado útil do processo resta evidenciado diante do fato
de que se a tutela de urgência não for concedida, os beneficiários idosos do plano de
saúde serão penalizados em definitivo, deixarão de ter acesso aos serviços privados
de assistência à saúde, pelo qual pagam valores mensais, e não terão alternativa
senão submeter-se ao atendimento disponibilizado pelo SUS, interrompendo
tratamentos em curso, com risco concreto à vida/saúde e eventual agravamento da
sua condição atual, demonstrado, portanto, o receio de ineficácia do provimento
final.
Ressalte-se ademais que, não há, in casu, perigo de irreversibilidade
do provimento eventualmente antecipado, que pode ser cessado e revertido a
qualquer momento ao estado anterior, preenchidos, portanto, os requisitos
constantes no artigo 300, § 3º do NCPC.
Com efeito, Excelência, a demanda coletiva relacionada à saúde do
consumido idoso não pode esperar, sob pena de se tornarem inúteis as providências
tomadas tardiamente, diante da perda do próprio bem da vida que se procura
resguardar.
É evidente que há perfeita admissibilidade no pedido ora
apresentado, especialmente, porque estão carreadas as provas da necessidade, bem
como da urgência. Assim sendo, considerando preenchidos todos os requisitos para a
concessão da tutela de urgência requerida.
Desta forma, restam preenchidos os requisitos previstos no caput do
artigo 300 do CPC/2015 para a concessão da tutela de urgência pleiteada.
VII- DOS PEDIDOS
Ante o exposto, considerando os fundamentos fáticos, jurídicos,
constitucionais e legais apresentados, requer o Ministério Público do Estado do Pará:
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1) Seja assegurada prioridade na tramitação do feito, pois trata-se de direito afetos
às pessoas idosas, nos termos do artigo 71, da Lei n° 10.741/2003 (Estatuto do
Idoso);
2) Seja deferido o pedido de tutela de urgência, a fim de que seja sejam
garantidos os direitos à saúde das pessoas idosas residentes dos
Municípios de Marabá, Nova Ipixuna e Bom Jesus do Tocantins, nos termos
das garantias previstas nos artigos 2º e 3º, 4º e 15, § 3º da Lei n°
10.741/2003 (Estatuto do Idoso), para tanto, determinando-se as
seguintes medidas:
a) Seja determinada que as demandadas UNIMED FAMA e CACSS –
CLUBE DE BENEFÍCIOS PARA COOPERATIVAS, ASSOCIAÇÕES, CONSELHOS
SINDICATOS E SEGUROS adotem as providências imediatas visando à aplicação,
por analogia, do reajuste anual autorizado pela ANS para os planos individuais em
7,35% (sete vírgula trinta e cinco por cento), ou alternativamente, que o valor seja
reajustado pela variação acumulada do IPCA, ou seja 8,03% (oito vírgula três por
cento), nos termos da cláusula 15 do Contrato de Plano Coletivo por Adesão-
Ambulatorial com Obstetrícia-Apartamento e Enfermaria –Abrangência Nacional,
firmado entre as demandadas aos planos de saúde contratados por pessoas idosas
residentes dos Municípios de Marabá, Nova Ipixuna e Bom Jesus do Tocantins;
b) Seja determinado às requeridas garantam a continuidade da prestação
dos serviços de assistência à saúde das Pessoas Idosas residentes dos Municípios de
Marabá, Nova Ipixuna e Bom Jesus do Tocantins, que sejam beneficiárias do plano
privado de assistência à saúde, até ulterior sentença.
c) Seja fixada, já na concessão da tutela de urgência, multa diária à base de
R$ 10.000,00 (dez mil reais), em caso de descumprimento da medida judicial
determinada;
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__ MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ Promotorias de Justiça de Marabá Rua das Flores, s/nº, Amapá, Marabá – PA CEP: 68502-290
Fone/Fax: 94 3312-9900 Email: [email protected] www.mppa.mp.br
Lílian Viana Freire Promotora de Justiça
5) Ao final, sejam julgados procedentes os pedidos, confirmando-se aqueles
requeridos em sede de tutela de urgência, para a condenação das requeridas
visando à aplicação, por analogia, do reajuste anual autorizado pela ANS para os
planos individuais em 7,35% (sete vírgula trinta e cinco por cento), ou
alternativamente, que o valor seja reajustado pela variação acumulada do IPCA, ou
seja 8,03% (oito vírgula três por cento), nos termos da cláusula 15 do Contrato de
Plano Coletivo por Adesão- Ambulatorial com Obstetrícia-Apartamento e Enfermaria –
Abrangência Nacional, firmado entre as demandadas, aos planos de saúde
contratados por pessoas idosas residentes dos Municípios de Marabá, Nova Ipixuna e
Bom Jesus do Tocantins, sob pena do pagamento de multa diária, a ser satisfeita
diretamente pelos demandados que derem causa ao descumprimento da ordem
judicial, sem prejuízo da aplicação da multa prevista no art. 77 do CPC/2015;
Para tanto, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL
1) A designação de AUDIÊNCIA PRÉVIA DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO, com
fulcro nos artigos 3º, § 3º, 319 e 334 do Novo Código de Processo Civil;
2) A CITAÇÃO/INTIMAÇÃO das requeridas, para a audiência prévia de
conciliação, e, querendo, contestar a presente Ação, sob pena de revelia, sendo
presumidos como verdadeiros os fatos ora deduzidos, em tudo obedecidas as
formalidades legais (arts. 248, 334, 335 e 344 do NCPC);
3) A questão posta em juízo é tão somente de direito, reclamando JULGAMENTO
ANTECIPADO nos termos do art. 355, inciso I do Código de Processo Civil;
4) Condenação das requeridas, ainda, ao pagamento de custas e despesas
processuais;
5) A dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos, desde logo,
em face do previsto no artigo 18 da Lei nº 7.347/85 e do art. 87 da Lei nº 8.078/90;
6) Sejam as intimações do Autor feitas pessoalmente, mediante vista dos autos ao
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13º Promotor de Justiça, em face do disposto no art. 180, do Novo Código de
Processo Civil e no art. 41, IV, da Lei Federal nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do
Ministério Público);
7) A inversão do ônus da prova, conforme previsto no art. 6º, inciso VIII, do Código
de Defesa do Consumidor;
8) A publicação do edital previsto no artigo 94 da Lei nº 8.078/90, para
conhecimento dos interessados e eventual habilitação no feito como litisconsortes;
9) Protesta-se por provar o alegado por todos os meios de prova em direito
admitidos, requerendo-as, desde já, ad cautelam, notadamente o depoimento
pessoal dos idosos beneficiários do plano de saúde e familiares, a oitiva de
testemunhas, juntada de novos documentos, perícias e o mais que se fizer
necessário à perfeita elucidação dos fatos.
Apesar de inestimável, dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez
mil reais), considerando ser absolutamente inestimável o bem jurídico tutelado.
Marabá/PA, 03 de abril de 2020
LÍLIAN VIANA FREIRE
13ª Promotora de Justiça Titular de Defesa dos Direitos das Pessoas Idosas
DOCUMENTOS ANEXOS
1- Notícia de Fato: 000111-940/2020