peter durcker - o doutor management

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PETER DRUCKER O Doutor Management Este foi o título proposto pelo autor da primeira biografia sobre o homemque é considerado o pai da gestão. Peter Drucker deu mais uma lição de modéstia ao propor a sua alteração para O Mundo Segundo Peter Drucker. Nesta obra, o jornalista americano Jack Beatty revela uma faceta menos conhecida de Drucker, o seu moralismo social, e retrata o seu espírito de caça-tendências Por: Jack Beatty O presidente sabia que o homem em questão não precisava de grandes apresentações. Por isso, sem uma palavra de identificação especial, apenas comentou junto dos funcionários do Departamento americano de Saúde, Educação e Segurança Social que ali estavam reunidos para ouvir a conferência: "Peter Drucker diz que o Governo só consegue fazer bem duas coisas — a guerra e gerar inflação. O objectivo da minha administração é demonstrar que o Sr. Drucker está redondamente enganado!" E se há 30 anos Richard Nixon, o presidente americano deste episódio, pensava que não era preciso introduzir o homem, será que eu necessito de o fazer agora? A fama de Drucker é planetária. Segundo um livro recente sobre gurus de gestão (The Ultimate Business Library, de Stuart Crainer), ele é "um dos pouquíssimos pensadores que se podem dar ao luxo de reclamar ter mudado o mundo numa dada disciplina". Foi o inventor da (re) privatização, o apóstolo de uma nova classe de trabalhadores do saber, o campeão da gestão como uma disciplina respeitável. Peter e os generais A memória mais remota de Drucker captura um dos piores momentos do século. A I Guerra Mundial afectou duramente a sua infância. Para os jovens austríacos da época, a guerra era um estado permanente da condição humana: "Nenhum de nós poderia imaginar que a guerra acabasse. Na realidade, sabíamos que quando crescêssemos iríamos para a frente." Mas se a guerra gerava um medo permanente, a paz trouxe a fome. O Inverno de 1919-1920 foi duríssimo. "Como quase todos os miúdos de Viena", escreve Drucker na sua autobiografia Adventures of a Bystander, recordando os seus 10 anos, "fui salvo da fome mais negra por Herbert Hoover, cuja organização de ajuda nos dava uma refeição por dia na escola. Decididamente salvou a minha vida e a de milhões de miúdos na Europa." Uma "organização", como ele sublinha, fez tudo isso! Surgem aqui as raízes do seu conceito da organização como um instrumento de criatividade humana. A missão de Hoover foi também um triunfo da gestão, apesar do mundo ignorar então o sentido actual da palavra. Isso ficou registado no subconsciente de Drucker.Mesmo que ele nunca tivesse frequentado o liceu, teria sido educado num ambiente familiar marcado por uma tertúlia vienense muito rica. Aprender transformou-se para Peter num prazer da mente. Os Druckers criaram um intelectual, não um académico.Isso viu-se mais tarde. Ele foi o primeiro a teorizar o "trabalhador do saber" e a revelar a "sociedade baseada no conhecimento", contudo, sempre foi contra a aristocracia dos canudos. Mais tarde, escreveria ironicamente em The New Realities: "Nem Daimler nem Henry Ford teriam chegado hoje ao topo sem um canudo em Engenharia ou um MBA. Nenhuma empresa financeira de hoje recrutaria um excluído da universidade como J. P. Morgan. "O bichinho de auto-aprender levou-o ao longo de mais de 60 anos a agarrar um tema novo de três em três anos e a devorar tudo até ao limite da curiosidade. Drucker recomenda uma gula intelectual sem limites como forma de auto- renovação.Um forte espírito independente sempre o marcou. Aos 17 anos já queria deixar Viena para ir trabalhar e ganhar a vida. Assim começou o seu périplo pela Europa. De empregado numa firma de exportação em Hamburgo que vendia para a Índia, a jornalista económico em Frankfurt. Estávamos no princípio dos anos 30, numa Alemanha que começava a ver bandos de nazis à solta pelas ruas. "Tudo à minha volta colapsava", escreveria mais tarde na sua primeira obra, uma viagem à natureza do fascismo, publicada em 1939, já na América. Em The End of Economic Man: Página 1 de 5 Executive Digest: Edição Nº40 - Management - Em Foco I 2/9/2006 23:04:05 http://www.centroatl.pt/edigest/edicoes/ed40manf1.html

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Peter Durcker - O Doutor Management

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  • PETER DRUCKER

    O Doutor Management

    Este foi o ttulo proposto pelo autor da primeira biografia sobre o homemque considerado o pai da gesto. Peter Drucker deu mais uma lio de modstia ao propor a sua alterao para O Mundo Segundo Peter Drucker. Nesta obra, o jornalista americano Jack Beatty revela uma faceta menos conhecida de Drucker, o seu moralismo social, e retrata o seu esprito de caa-tendncias

    Por: Jack Beatty

    O presidente sabia que o homem em questo no precisava de grandes apresentaes. Por isso, sem uma palavra de identificao especial, apenas comentou junto dos funcionrios do Departamento americano de Sade, Educao e Segurana Social que ali estavam reunidos para ouvir a conferncia: "Peter Drucker diz que o Governo s consegue fazer bem duas coisas a guerra e gerar inflao. O objectivo da minha administrao demonstrar que o Sr. Drucker est redondamente enganado!" E se h 30 anos Richard Nixon, o presidente americano deste episdio, pensava que no era preciso introduzir o homem, ser que eu necessito de o fazer agora? A fama de Drucker planetria. Segundo um livro recente sobre gurus de gesto (The Ultimate Business Library, de Stuart Crainer), ele "um dos pouqussimos pensadores que se podem dar ao luxo de reclamar ter mudado o mundo numa dada disciplina". Foi o inventor da (re)privatizao, o apstolo de uma nova classe de trabalhadores do saber, o campeo da gesto como uma disciplina respeitvel.

    Peter e os generais

    A memria mais remota de Drucker captura um dos piores momentos do sculo. A I Guerra Mundial afectou duramente a sua infncia. Para os jovens austracos da poca, a guerra era um estado permanente da condio humana: "Nenhum de ns poderia imaginar que a guerra acabasse. Na realidade, sabamos que quando crescssemos iramos para a frente." Mas se a guerra gerava um medo permanente, a paz trouxe a fome. O Inverno de 1919-1920 foi durssimo. "Como quase todos os midos de Viena", escreve Drucker na sua autobiografia Adventures of a Bystander, recordando os seus 10 anos, "fui salvo da fome mais negra por Herbert Hoover, cuja organizao de ajuda nos dava uma refeio por dia na escola. Decididamente salvou a minha vida e a de milhes de midos na Europa." Uma "organizao", como ele sublinha, fez tudo isso! Surgem aqui as razes do seu conceito da organizao como um instrumento de criatividade humana. A misso de Hoover foi tambm um triunfo da gesto, apesar do mundo ignorar ento o sentido actual da palavra. Isso ficou registado no subconsciente de Drucker.Mesmo que ele nunca tivesse frequentado o liceu, teria sido educado num ambiente familiar marcado por uma tertlia vienense muito rica. Aprender transformou-se para Peter num prazer da mente. Os Druckers criaram um intelectual, no um acadmico.Isso viu-se mais tarde. Ele foi o primeiro a teorizar o "trabalhador do saber" e a revelar a "sociedade baseada no conhecimento", contudo, sempre foi contra a aristocracia dos canudos. Mais tarde, escreveria ironicamente em The New Realities: "Nem Daimler nem Henry Ford teriam chegado hoje ao topo sem um canudo em Engenharia ou um MBA. Nenhuma empresa financeira de hoje recrutaria um excludo da universidade como J. P. Morgan.

    "O bichinho de auto-aprender levou-o ao longo de mais de 60 anos a agarrar um tema novo de trs em trs anos e a devorar tudo at ao limite da curiosidade. Drucker recomenda uma gula intelectual sem limites como forma de auto-renovao.Um forte esprito independente sempre o marcou. Aos 17 anos j queria deixar Viena para ir trabalhar e ganhar a vida. Assim comeou o seu priplo pela Europa. De empregado numa firma de exportao em Hamburgo que vendia para a ndia, a jornalista econmico em Frankfurt. Estvamos no princpio dos anos 30, numa Alemanha que comeava a ver bandos de nazis solta pelas ruas. "Tudo minha volta colapsava", escreveria mais tarde na sua primeira obra, uma viagem natureza do fascismo, publicada em 1939, j na Amrica. Em The End of Economic Man:

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  • The Origins of Totalitarianism zurzia sobre o irracionalismo e o niilismo daqueles tempos. Depois de vrias peripcias com a ascenso de Hitler na Alemanha, Drucker sentiu que "deveria deixar o pas no prazo de quarenta e oito horas". E assim sucedeu. Sem conhecer ningum, chegou a Londres e empregou-se como analista numa seguradora e depois como economista, gestor de carteiras e secretrio-geral de um pequeno merchant bank na City. Um dia, em Piccadilly Circus, deu de caras com Doris Schmitz e foi amor primeira vista.

    Foi durante este interldio ingls que se apercebeu de que no era economista. Todas as semanas ia a Cambridge ouvir John Keynes. "Apercebi-me de que Keynes estava mais interessado no comportamento das mercadorias, enquanto eu estava interessado no comportamento das pessoas." Foi essa inclinao para as pessoas que o levou descoberta da gesto e consultoria.

    No incio de 1937 casaria com Doris e, poucos dias depois, embarcavam para os Estados Unidos.

    Um escritor na Amrica

    "Desde os meus 20 anos", escreveu Drucker aos 82 anos, "que a escrita se tornou na base de tudo o que fao, desde o ensino consultoria." Escreveu 29 livros, uma mdia de um de dois em dois anos. As suas obras podem catalogar-se em trs reas: livros de anlise poltica e social, como The Future of Industrial Man (1942) ou The Age of Discontinuity (1969); livros de gesto, como The Practice of Management (1954) e o monumental Management: Tasks, Responsibilities, Practices (1974); e livros prticos, como Managing for Results (1964) e The Effective Executive (1966).

    Mas os livros so apenas metade da sua vida. Durante o que ele considera terem sido os 20 anos "de maior produtividade", entre 1975 e 1995, escreveu uma coluna muito citada no Wall Street Journal e inmeros artigos para diversas revistas. Dedicou-se escrita de centenas de milhar de palavras num pequeno escritrio numa casa tipicamente americana perto de Los Angeles e ainda hoje usa uma mquina de escrever electrnica e no um PC com processador de texto.Apesar da idade, Drucker continua a fazer conferncias agora via satlite e consultoria. Continua tambm a dar aulas. Tem duas turmas grandes, uma no programa de gesto da Claremont Graduate School e outra no seu programa de MBA, sobretudo com alunos estrangeiros com muitos anos de experincia e responsabilidade nos seus pases. "Prefiro ensinar gente com experincia de gesto", explica.

    Um caa-tendncias nato

    Drucker no um observador, mas um moralista. Ele tenta raciocinar fora das relaes causais. Pensa em termos de procura de padres, de conceitos globais. "Precisamos de uma disciplina que explique os acontecimentos em termos da sua direco e do seu estado futuro, em vez de vasculhar as suas causas", justifica. Continua a faltar esta disciplina.

    No seu ensaio sobre Drucker na Harvard Business Review, Alan Kantrow escreveu: "A real contribuio dele para a compreenso da gesto reside no tanto na utilidade prtica das suas ideias, mas na forma rigorosa como as formula." Partindo da histria, da filosofia, da moral, da psicologia, da cincia, da literatura e tambm da medicina , o modelo druckeriano o de "identificar as constelaes com significado no fluxo catico de informao". Alm disso ele um "ps-poltico". Por incrvel que parea, quando ele olha para este sculo, as convulses polticas no so o mais importante.

    A corporao industrial

    Peter Drucker comeou a escrever The Future of Industrial Man no ponto em que deixou The End of Economic Man. Estvamos numa terra de ningum, sem um conceito que definisse a nova realidade. O homem econmico estava morto e o homem industrial lutava para nascer. Uma nova instituio social emergia para assumir o lugar em falta a "corporao" industrial. Com uma nova forma social a linha de produo em massa. Mas o industrialismo no avanou para alm destes rudimentos. Por isso falhou na criao de uma real sociedade industrial, segundo Drucker. E porqu? Aqui reentra o moralista social uma sociedade industrial daria ao trabalhador status e funo, tornaria o trabalho industrial em algo com significado.

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  • O terreno comeava a estar maduro para o choque entre os ideais humanistas de Drucker e as realidades empresariais. Em The Industrial Man concluiu "que precisava de estudar realmente uma grande empresa a partir do lado de dentro". Tentaria a Westinghouse: "O presidente foi muito simptico no incio, mas quando lhe contei o que queria fazer, ps-me fora do gabinete e deu instrues segurana para me manter distncia do edifcio, pois eu seria um perigoso bolchevique", conta. A oportunidade surgiria com um telefonema no Natal de 1943 para estudar a General Motors.Nenhuma disciplina ento estabelecida queria saber duma coisa dessas, como o estudo de uma empresa! Peter Drucker fez uma pesquisa na New York Public Library e nada encontrou: "Tenho vergonha de admitir quo pouqussimo eu sabia de gesto. Mas fiquei ainda mais espantado porque praticamente ningum sabia nada sobre este assunto."

    Contra ventos e mars, passou 18 meses pesquisando e escrevendo Concept of Corporation, visitando cada uma das divises da GM e muitas das suas fbricas. Assistiu a reunies de topo e entrevistou gente da ferrugem. O livro seria publicado em Novembro de 1945, no meio de uma declarao de greve do sindicato United Automobile Workers contra a GM. O timing no era o melhor para um livro que advogava, entre outras coisas, uma nova era de cooperao entre o trabalho e a gesto.

    A obra ficaria, no entanto, clebre por introduzir a "descentralizao" como princpio de organizao. A Drucker se credita o facto de cerca de 80% das empresas da lista das 500 da Fortune optar depois pela descentralizao. Por exemplo, tendo assumido o controlo da Ford em 1946, o jovem Henry Ford II reorganizaria a empresa seguindo os conselhos de Concept of Corporation. Tambm a General Electric usaria o livro e Drucker, inclusive, como consultor.

    Mas s no Japo a dimenso social profunda desta obra de Drucker seria assimilada realmente. A popularidade dele no Japo , alis, enorme. Uma traduo deste livro foi religiosamente aplicada. "S os Japoneses aceitaram a minha ideia de que as pessoas so um recurso e no um custo", disse a Bennis. No se sabe como uma cpia de My Job and Why I Like It, produzido internamente na GM, chegaria s mos da Toyota no princpio dos anos 50 e se tornaria na bblia da tica do "trabalhador responsvel" dentro da empresa japonesa.

    No fundo era um ideal de Peter Drucker este conceito do "trabalhador responsvel". Ele nunca concordou com a palavra empowerment, hoje em voga "nunca a usei e nunca a usarei". Drucker sempre tentou reconciliar a dignidade da pessoa com o quadro coercivo do trabalho industrial.

    Para o management, este livro teve um significado especial. Era olhado dum modo muito estranho. Lidava com negcios, mas no era economia. Tratava de estrutura, organizao, polticas, princpios constitucionais, relaes de poder, mas no era governao. Apesar de aconselhado por um crtico a dedicar-se a algo "mais respeitvel", Peter Drucker, de facto, havia descoberto um assunto que ele tornaria altamente respeitvel o management, ainda que no o explicitasse na altura. Concept of Corporation deu carreira de Drucker uma nova trajectria.

    Se este livro era ainda um pouco utpico, a meu ver, em The New Society comea a sentir-se a passagem de Drucker do reformismo para um criticismo pragmtico. Nele escreveu que a revoluo do industrialismo com a produo em massa foi a "perturbao bsica" do sculo xx. Comunismo e fascismo foram meras reaces a essa revoluo. O resto da obra faz jus ao ps-ttulo: "Anatomia da ordem industrial". E o primeiro ponto era a "empresa industrial", a instituio definidora da nova ordem. Ele tendia para um certo determinismo econmico-social.

    Inventando a gesto

    Talvez por volta de 6 de Novembro de 1954, Peter Drucker inventou o management. O momento era certo, como depois o demonstraria o boom da gesto no final dos anos 50 e nos anos 60. E como no havia nada para o explicar, Drucker supriu a falta com The Practice of Management.

    claro que a gesto j existia antes de Drucker dar conscincia dela a todos ns. Mas, sobre isso, ele faria esta clarificao subtil: "Veja bem, se voc no consegue duplicar uma dada coisa porque no a entende, ento ela no foi ainda inventada, apenas praticada."

    E o moralismo social nunca o largou, mesmo quando enveredou por este novo continente. "O capitalismo", escreveu

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  • ele naquele livro, "tem sido atacado no pela sua ineficincia ou desgovernao, mas pelo seu cinismo. Uma sociedade baseada na assero de que os vcios privados so pblicas virtudes no pode durar muito, por mais impecvel que seja a sua lgica e por maiores que sejam os seus benefcios.

    "Mas nos anos 60 ele j no tinha necessidade nenhuma de justificar a gesto. Bem pelo contrrio, podia agora transformar o management em coisas prticas mundanas. Isso f-lo com Managing for Results (1964).

    O visionrio

    No mago da crise de 1973, publicou o monumental (840 pginas) e consagrado Management: Tasks, Responsibilities, Practices. Aqui ele prometia ensinar ao gestor "tudo" o que necessitava para melhorar a sua performance. Nesta obra ele consagrou que a inveno da gesto "talvez seja o acontecimento-chave dos nossos tempos", e explicava-se: "Raramente na histria da humanidade uma instituio se afirmou to rapidamente como indispensvel." E sublinhava: "A gesto a histria de sucesso do sculo."

    Muito poucos livros de anlise social dos anos 60 sobreviveram ao obsoletismo. Mas a obra de Drucker de 1969, The Age of Discontinuity, continua a ser lida como se tivesse sido escrita ontem. O livro era um revelao das tendncias que se moviam por debaixo das tendncias visveis. Os seus temas eram, como ele dizia, "derivas continentais que formavam novos continentes, mais do que guerras que criavam novas fronteiras". Falava de quatro novas indstrias vista a da informao, a dos oceanos, a dos materiais e as que brotaro das megacidades. E a mover tudo isto estava o saber. "As novas indstrias so baseadas no saber", escrevia Drucker h quase 30 anos!Em 1976 revelaria uma revoluo silenciosa em The Unseen Revolution, depois reintitulado The Pension Fund Revolution. O mrito foi chamar a ateno para a anomalia de uma imensa concentrao de riqueza nos fundos que no tinha ainda exercido o seu poder na economia. Nos anos 80 ver-se-ia este poder a funcionar com efeitos que ningum esperaria e que abalariam a torre de marfim dos gestores. A crise comearia com a primeira vaga de takeovers hostis s grandes empresas. Os fundos de penses fizeram o papel de suporte aos carrascos, aos raiders.

    O regresso do empreendedor

    Foi neste contexto que Drucker desenterrou o capitalista empreendedor e as organizaes sem fins lucrativos. Para ele "a emergncia de uma economia verdadeiramente empreendedora nos Estados Unidos nos ltimos 15 anos o acontecimento mais significativo da histria recente". Em Innovation and Entrepreneurship, publicado no auge do crescimento do emprego, em 1985, ele canta esta nova vaga.Em The Age of Discontinuity, em The New Realities (1989) descobriria a ruptura entre a poltica de ontem, uma amlgama de interesses econmicos, e o pluralismo de interesses singulares de hoje.

    Desde The End of Economic Man que se falava na necessidade de uma sociedade no econmica forte. E ele no s teorizou este "terceiro sector", como o praticou. Para sistematizar esta viso, em 1990 publica Managing the Non-Profit Organization. Mas com Post-Capitalist Society (1993) que Drucker fecha com chave de ouro. "Apesar de acreditar no mercado livre, tenho reservas sobre o capitalismo." Ao longo de 70 anos de vida, ele sempre sonhou em extrair o capital do capitalismo como se faz a uma crie. E isso conseguiu-o com a sociedade ps-capitalista, em que aquele foi substitudo ... pelo saber! "O saber tornou-se o recurso, mais do que um dos recursos", sentencia Drucker.

    Os comentrios de Peter Drucker sua biografia

    0 pai da gesto est a caminho dos 89 anos. Fomos encontr-lo num ano 1997 em que deu "entrevistas de mais", confessa-nos logo a abrir a conversa. Uma delas, revista Wired, deixou a troupe da cibercultura de boca aberta, apesar do velho Drucker continuar a preferir a sua mquina electrnica de escrever ao processador word e de preferir o fax ou o telefone ao mundo do @. Sobre a obra escrita por Jack Beatty comentou a editores europeus que o "autor descobriu nele uma filosofia de que ele nem se tinha dado conta".

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  • Condensado de The World According to Peter Drucker, de Jack Beatty 1997, The Free Press (Estados Unidos); Orion (Reino Unido). Usado com permisso de Editora

    Civilizao, que detm os direitos de publicao para Portugal. Adaptado por Jorge Nascimento Rodrigues. Jack Beatty editor da revista The Atlantic Monthly.

    Trs perguntas revelam Drucker como a pessoa simples que nunca deixou de ser, que no d trguas ao stress nem velhice, que sempre pensou o management para alm dos muros do mundo empresarial.

    Ao fim de uma carreira longa de escritor, professor e consultor de gesto, como gostaria de ser recordado? Peter Drucker

    Desde h muito que decidi que gostaria de ser lembrado pelo impacte que tive nas pessoas e na sua vida concreta. Confesso-lhe que os meus melhores momentos acontecem quando recebo uma carta ou um telefonema que comea assim: Provavelmente no se lembra de mim fui seu aluno h 35 anos, ou sou seu leitor.... E concluem: O que disse h 35 anos ou o que li no seu livro mudou completamente a minha vida.

    Jack Beatty disse-me que sugeriu que o ttulo do livro sobre a sua vida e obra no fosse Dr. Management, como estava originalmente previsto, e que lhe deu a sensao de que no gostaria de ser identificado com o sistema capitalista. Porqu? P. D. Eu tenho escrito e dito, ao longo de mais de 40 anos, que a gesto no (s) gesto de negcios mas que o rgo genrico da organizao moderna, e, inclusive, que os sectores no empresariais necessitam da gesto ainda mais do que os negcios. Digo-lhe mais: pelo menos desde h 50 anos que metade da minha actividade tem sido com reas no empresariais, e sobretudo com instituies no governamentais nem lucrativas. Como, por exemplo, com instituies religiosas, tanto com igrejas protestantes como com dioceses catlicas (confesso-lhe que esto em muito mau estado do ponto de vista da gesto), hospitais, universidades, orquestras sinfnicas e peras, organizaes comunitrias, etc. Ajudei a criar, como sabe, a Fundao Peter F. Drucker para a gesto no lucrativa. Os meus dois livros mais vendidos de sempre no so sobre gesto de negcios O Executivo Eficaz (1966) e Gerindo a Organizao sem Fins Lucrativos (1990) (este ltimo est traduzido em Portugal pela Difuso Cultural).

    Mas qual o seu segredo, ao continuar perto dos 90 em plena actividade? P. D. No h segredo nenhum. Tanto eu como minha mulher (Doris) somos workaholics impenitentes e rivalizamos com o stress. Doris, que tambm j passou os 80, comeou agora a dirigir a produo e comercializao de uma inveno sua, e est a dar-se muito bem! (A histria deste projecto pode ser lida na revista Inc. de Outubro de 1997.) _____________________________________________________________________

    Entrevista conduzida por Jorge Nascimento Rodrigues. Os links para outras entrevistas de Peter Drucker podem ser consultados em www.cidadevirtual.pt/janela/manageme/biogur/beatty.html

    A histria de um guru no assumido

    O que mais impressionou Jack Beatty foi a integridade de Peter Drucker e a sua relao crtica com o capitalismo, a quem ele deu um sopro de vida decisivo, confessou-nos aquele experiente jornalista americano no seu gabinete da revista The Atlantic Monthly. Foi nesta revista de esquerda que Drucker publicou alguns dos seus ensaios que Beatty editou e que sempre o fascinaram, ao ponto de, aos 52 anos, ter decidido meter mos obra de desenhar o trajecto intelectual do homem que inventou o management nos anos 40/50.Devorou a obra de Drucker e os seus muitos escritos dispersos e descobriu aquilo que nem o prprio jamais explicitou um moralismo social, que Beatty classifica de mais idealista e reformista nos primeiros anos de escrita e de maior pragmatismo depois. Nesta obra, Beatty revela um guru que nunca se assumiu como tal, um homem que revela um faro incomparvel para nos revelar as tendncias profundas em curso. "O pensamento dele um modelo de procura de padres, ajuda-nos a navegar, faz-nos ver o que j l est mas permanecia invsivel para ns", remata Beatty (v. entrevista em http://www.cidadevirtual.pt/janela/manageme/biogur/beatty.html)

    _____________________________________________________________________

    Titulo: The World According To Peter Drucker (O Mundo segundo Peter Drucker) Autor: Jack Beatty Editora:

    The Free Press, Dezembro de 1997 (ser publicado em Portugal pela Civilizao Editora) Pginas:

    204

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