pesquisa mundial de saúde 2003 o brasil em números · pesquisa mundial de saúde 2003 o brasil em...

20
RADIS 23 JUL/2004 [14] Pesquisa Mundial de Saúde 2003 O Brasil em números E sta edição especial da revista Radis apresenta dados exclusivos da extensa Pesquisa Mundial de Saúde 2003, uma iniciativa da Organização Mun- dial de Saúde para 71 países, cuja execução no Brasil foi entregue a pesquisadores do Departamento de Informações em Saúde do Centro de Informação Científica e Tecnológica da Fiocruz — que assinam os comentários sobre os resultados. A pesquisa teve início em fins de 2002, com a tradução e a adaptação a nossas especificidades do questionário da OMS, que foi então submetido, entre janeiro e setembro de 2003, a 5 mil brasileiros com idade acima de 18 anos, em 250 setores censitários (locais visitados pelos entrevistadores) dentro de 188 municípios, em 25 estados (ficaram de fora Acre e Roraima). A Radis espera que esse precioso levantamento sirva como base para a implementação de políticas públicas que conside- rem as necessidades e o perfil epidemiológico da população. Feliz Natal — MT FOTOS: EQUIPES DE ENTREVISTADORES

Upload: nguyendieu

Post on 18-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

RADIS 23 � JUL/2004

[ 1 4 ]

Pesquisa Mundial de Saúde 2003

O Brasil em números

Esta edição especial da revista Radis apresentadados exclusivos da extensa Pesquisa Mundial deSaúde 2003, uma iniciativa da Organização Mun-dial de Saúde para 71 países, cuja execução no

Brasil foi entregue a pesquisadores do Departamento deInformações em Saúde do Centro de Informação Científica

e Tecnológica da Fiocruz — que assinam os comentáriossobre os resultados.

A pesquisa teve início em fins de 2002, com a tradução ea adaptação a nossas especificidades do questionário da OMS,que foi então submetido, entre janeiro e setembro de 2003, a5 mil brasileiros com idade acima de 18 anos, em 250 setorescensitários (locais visitados pelos entrevistadores) dentro de188 municípios, em 25 estados (ficaram de fora Acre e Roraima).

A Radis espera que esse precioso levantamento sirva comobase para a implementação de políticas públicas que conside-rem as necessidades e o perfil epidemiológico da população.

Feliz Natal — MTF

OT

OS

: E

QU

IPE

S D

E E

NT

RE

VIS

TA

DO

RE

S

RADIS 23 � JUL/2004

[ 1 5 ]

Por Célia Landmann Szwarcwald,

Francisco Viacava, Maurício Teixeira

Leite de Vasconcellos, Maria do

Carmo Leal, Luis Otávio Azevedo,

Rita Suely Bacuri de Queiroz, Marcelo

Felga de Carvalho, Maria Goretti

Fonseca, Paulo Germano de Frias,

Silvana Granado Gama, Paulo Roberto

Borges de Souza Júnior, Sonia Lansky,

Karin Regina Luhm, Marcia de Costa

Mazzei, Manoel C. S. de A. Ribeiro,

Simone dos Santos, Wayner Vieira de

Souza, Mariza Theme

Ametodologia para avaliar o desem-penho dos sistemas de saúde das

nações tem ocupado lugar de des-taque na agenda de organismos in-ternacionais e de instituições aca-dêmicas. Tal tema vem ganhandoimportância crescente, igualmente,entre os gestores e administradoresdo setor saúde, constituindo etapaessencial para o planejamento dasações voltadas para garantir a quali-dade da atenção à saúde e subsidiardecisões que atendam às reais neces-sidades da população.

Diante da relevância da questãono contexto atual, alguns países, comoCanadá, Reino Unido e Austrália, têmdesenvolvido, nos últimos anos, instru-

mentais para a avaliação do desempe-nho dos sistemas de saúde. No ano2000, a Organização Mundial de Saú-de (OMS) publicou o Relatório Mundi-al de Saúde (WHO, 2000), dedicado àproposição de uma metodologia paraavaliação de desempenho dos sistemasde saúde dos países-membros.

O Relatório 2000 trouxe à agen-da da OMS o comprometimento comos objetivos louváveis de avaliação dossistemas de saúde, monitoramento dasdesigualdades em saúde e alcance daequidade no financiamento da saúde.Entretanto, a metodologia utilizada,exposta a inúmeras críticas, tanto decunho metodológico como conceitual,foi objeto de amplo debate internaci-onal (Häkkinen & Ollila, 2000; Navarro,2000; Rosén, 2001; Ugá et al., 2001).

De forma sucinta, a metodologiaempregada para avaliar o desempe-nho do sistema de saúde foi baseadaem 5 dimensões: estado de saúde,medido pela esperança de vida ajus-tada pelas incapacidades — (DALE);desigualdade do estado de saúde,medida pela desigualdade na proba-bilidade de morte nos dois primeirosanos de vida; qualidade de respostado sistema de saúde (responsiveness)— nível médio de satisfação; desigual-dades na capacidade de resposta do

sistema de saúde; justiça na contri-buição do financiamento da saúde.Um índice-resumo, denominado “ín-dice geral de desempenho do siste-ma de saúde”, foi estimado pela mé-dia ponderada dos cinco indicadoresacima mencionados, com pesos, res-pectivamente, de 25%, 25%, 12,5%,12,5% e 25%. Os 191 países-membrosda OMS foram classificados em ordemascendente de magnitude do índice-resumo de desempenho, e os resul-tados foram publicados no Relatório2000 sob a forma de um ranking.

Várias questões foram levantadas,marcadamente pelo governo brasilei-ro, acerca da validade da metodologiautilizada pela OMS. As críticas referi-ram-se, principalmente, à falta de uti-lidade do instrumento para subsidiara definição das políticas de saúde, fa-zendo com que a avaliação fosse des-provida de significado. Compreendeu-se que a classificação dos países tinhasido feita a partir de um indicadorúnico, conceitualmente vago eempiricamente incorreto (Almeida etal., 2001; Navarro, 2002; Rosén, 2001).

A forma inconsistente de elabo-ração do Relatório 2000, a utilizaçãode procedimentos metodológicos ci-entificamente questionáveis e a au-sência de dados para a construção

Campo Grande — MS

RADIS 23 � JUL/2004

[ 1 6 ]

Mapa 1 — Distribuição geográfica dos municípios pesquisados

Lista de setores censitáriosselecionados por estado

Estado Quantidade

Alagoas 3Amapá 2Amazonas 3Bahia 17Ceará 12Distrito Federal 4Espírito Santo 3Goiás 6Maranhão 8Mato Grosso 5Mato Grosso do Sul 2Minas Gerais 23Pará 2Paraíba 7Paraná 17Pernambuco 12Piauí 4Rio de Janeiro 20Rio Grande do Norte 7Rio Grande do Sul 14Rondônia 3Santa Catarina 11São Paulo 60Sergipe 4Tocantins 1

Total geral 250

RADIS 23 � JUL/2004

[ 1 7 ]

dos indicadores promoveram reaçãonegativa na comunidade científicainternacional. Vários artigos científi-cos, elaborados por pesquisadoresde diferentes países, foram dedica-dos a apontar falhas metodológicase conceituais na avaliação empre-gada pela OMS (Almeida et al., 2001;Jamison & Sandbu, 2001; Mulligan etal., 2000; Navarro, 2000; Walt & Mills,2001; Williams, 2000; Williams, 2001).Como um dos grandes problemas en-contrados na construção dos indi-cadores propostos, enfatizou-se aausência de dados empíricos con-sistentes, necessários à construçãodos indicadores propostos. Para aconstrução do índice de desigualda-de no estado de saúde, os dados não

eram disponíveis em 70% dos 191 paí-ses-membros. Para construir as duasmedidas de capacidade de respostado sistema de saúde, os dados nãoeram disponíveis em 84% dos países epara aferir a justiça na contribuiçãodo financiamento, em 89% dos países(Almeida et al., 2001).

Sérios problemas metodológicosadicionais foram apontados na constru-ção dos indicadores. No que diz res-peito ao indicador da “qualidade deresposta” (responsiveness) do sistemade saúde, o questionamento maiorreferiu-se à composição da amostrade informantes, que não contemplouprincípios básicos de aleatoriedadee representatividade populacional(Blendon et al., 2001; Travassos,

2001). Quanto ao indicador de me-dida das desigualdades em saúde, oquestionamento dirigiu-se, principal-mente, à abordagem conceitual utili-zada, não sendo realizada compara-ção do estado de saúde entre grupossociais distintos, mas medindo-se va-riações individuais na população. Emconseqüência, o indicador propostoera mais influenciado pelas desigual-dades socioeconômicas do que pelasações no âmbito do setor saúde(Szwarcwald, 2002; Braveman et al.,2001; Houweling et al., 2001).

Em resposta às críticas, em janei-ro de 2001, o Conselho Executivo daOMS aprovou resolução com o reco-nhecimento da necessidade de estabe-lecer um processo de consulta técnica

Feliz Natal — MT

Catuípe — RS

Recife — PE

Macapá — AP

Marituba — PA

Marituba — PA

Blumenau — SC

RADIS 23 � JUL/2004

[ 1 8 ]

e a recomendação de formação de umGrupo Científico Consultor para avali-ar a metodologia empregada no Rela-tório de 2000. Foram feitas várias con-sultas regionais (América, Ásia, Áfricae Europa) para discutir a metodologiautilizada no Relatório 2000, todas dis-poníveis na internet (www.who.int/health-system-performance).

No ano de 2001, a OMS incorpo-rou parte das críticas recebidas pelacomunidade científica internacionale das consultas regionais e propôsmudanças metodológicas relevantes.Neste contexto, a OMS desenvolveu

a Pesquisa Mundial de Saúde,inquérito populacional parasuprir informações sobre o es-tado de saúde das populações,assim como sobre o desempe-nho dos sistemas de saúde dos

países membros (Ustun et al., 2001).A experiência de realização da

Pesquisa Mundial de Saúde em algu-mas nações em 2001, utilizando di-ferentes metodologias de aplicação,somada às críticas sobre os tama-nhos de amostra utilizados (não su-ficientes para a estimação dos indi-cadores), bem como sobre a faltade aleatoriedade e qualidade das in-formações coletadas, fez com que aOMS reformulasse todo o processo deaplicação do inquérito nos países. Oquestionário atual incorpora parte dascríticas e sugestões que foram feitaspelas consultas regionais e Grupo Ci-entífico Consultor, adicionando ques-tões relativas ao acesso, à coberturae à utilização de serviços de saúde,considerados objetivos intermediári-os dentro do marco referencial de ava-liação do desempenho dos sistemas desaúde. Além disso, existe um grandeesforço no sentido de ultrapassar asdificuldades de comparação de infor-mações coletadas entre diferentesníveis culturais de um mesmo país ouentre distintos países.

A PESQUISA MUNDIALDE SAÚDE NO BRASIL

Dando prosseguimento às discus-sões sobre a proposta da OMS paraAvaliação do Desempenho dos Siste-mas de Saúde, em janeiro de 2002,na 109ª Reunião do Conselho Execu-tivo, a delegação brasileira firmouacordo com a OMS para a realizaçãoda Pesquisa Mundial de Saúde no Bra-sil, cabendo a responsabilidade daexecução da pesquisa no Brasil à Fun-dação Oswaldo Cruz.

No sentido de assegurar a maiorqualidade na execução das pesquisas,a OMS delegou a responsabilidade deaplicação do inquérito nos países-

membros a cada Coordenadoria Re-gional. No caso do Brasil, a respon-sabilidade coube à Organização Pan-Americana de Saúde (OPS), quepromoveu a primeira reunião emCuernavaca, México, de 7 a 11 deoutubro de 2002. Neste seminário, foiressaltada a importância de realiza-ção desta pesquisa no país, princi-palmente pelo fato de a OMS estartransferindo aos países participantesum conjunto estruturado de méto-dos, compondo uma plataforma inici-al para o desenvolvimento de inqué-ritos sistemáticos no campo daavaliação do desempenho dos siste-mas nacionais de saúde.

De janeiro a setembro de 2003,foi realizado inquérito populacional,de âmbito nacional, em 5.000 domicí-lios escolhidos por amostragemprobabilística. A execução da pesqui-sa no Brasil significou a oportunida-de de desenvolver instrumental e su-prir informações para avaliar odesempenho do sistema nacional desaúde, além de possibilitar a compa-ração com o desempenho de outrospaíses, permitindo ao governo brasi-leiro permanecer no debate interna-cional sobre o tema.

METODOLOGIA

AmostraVisando à representatividade

nacional e diante do financiamentofornecido pela OMS, o tamanho deamostra foi estabelecido em 5.000indivíduos, com 18 anos e mais de ida-de. A amostragem foi realizada em doisestágios. No primeiro, foram selecio-nados 250 setores censitários, comprobabilidade proporcional ao tama-nho. Situação (urbano ou rural) eporte do município (até 50.000; 50.000até 400.000; 400.000 + habitantes)estratificaram explicitamente as uni-dades primárias de seleção. O nívelsocioeconômico, estabelecido pelarenda média dos chefes dos domicíli-os do setor, foi utilizado paraestratificação implícita.

Em cada setor, foram seleciona-dos 20 domicílios aleatoriamente. Emcada domicílio, foi identificado ummorador para responder às perguntasrelativas às características do domicí-lio. Apenas um indivíduo do domicílio(selecionado aleatoriamente) respon-deu ao questionário individual.

Trabalho de campoA Pesquisa Mundial da Saúde foi

aplicada no Brasil, de janeiro a se-tembro de 2003, subdividida em 10micro-pesquisas que foram coordena-

das por pesquisadores experientes naárea de Saúde Pública, os Coordena-dores Locais. Para cada micropesquisa,foi formada equipe por quatroentrevistadores, em média, e umsupervisor. Cada micropesquisa abran-geu de 300 a 500 entrevistas domicili-ares, distribuídas em 15 a 25 setorescensitários, em distintas áreas geo-gráficas. O treinamento dos coorde-nadores locais foi realizado na Fiocruz,consistindo tanto da aplicação doquestionário como da organização dotrabalho de campo em cada área ge-ográfica. O recrutamento e o treina-mento dos entrevistadores couberama cada coordenador local, nas res-pectivas áreas geográficas sob suacoordenação.

QuestionárioO questionário original da OMS foi

traduzido para o português e adapta-do para aplicação no nosso meio peloscoordenadores da pesquisa e peloscoordenadores locais. Alguns módulosforam excluídos, enquanto outros fo-ram acrescentados ao instrumento. Opré-teste do instrumento foi realizadoem todas as áreas sob responsabilida-de dos coordenadores locais.

O questionário utilizado foi mo-dular, abordando-se os seguintes as-pectos: condições socioeconômicas;descrição do estado de saúde; fato-res de risco (fumo, álcool, atividadefísica, nutrição, fatores ambientais);alguns problemas de saúde (situaçõescrônicas —diagnóstico, tratamento euso de medicamentos; situações agu-das — assistência); cobertura de pro-gramas de saúde, como saúde bucal,assistência pré-natal e saúde mater-no-infantil; avaliação da resposta dosistema de saúde do ponto de vistado usuário; gastos relativos das famí-lias em saúde, incluindo planos desaúde privados.

Análise dos dadosNesta primeira etapa, utilizando-

se as ponderações necessárias emacordo com o desenho de amostragem,foram analisados os seguintes módulos:estado de saúde, fatores de risco,morbidade auto-referida, cobertura deprogramas de saúde, e grau de satisfa-ção com os serviços de saúde do pon-to de vista do usuário.

As análises foram realizadaspor faixa etária, sexo e condiçãosocioeconômica. Para examinar asdesigualdades por nível socioeconô-mico, três variáveis foram conside-radas: grau de escolaridade; núme-ro de bens (medido pelo número debens no domicílio: televisão, geladei-

RADIS 23 � JUL/2004

[ 1 9 ]

ra, aparelho de som, microondas, te-lefone, telefone celular, máquina delavar roupa, máquina de lavar louça,microcomputador e número de car-ros, variando de 0 a 11 bens); e gastodomiciliar mensal.

Quanto ao gasto domiciliar men-sal, foram analisados os seguintes com-ponentes do gasto: alimentação; casa;educação; saúde; outros. Especifica-mente, em relação aos gastos em saú-de, foram analisados os gastos commedicamentos; com planos de saúdeprivados; com consultas médicas; comdentista; com internação; com exames;com óculos, aparelhos para audição,próteses etc; com terapias (fisiotera-pia, psicoterapia, fonoaudiologia); ou-tro serviço ou produto de saúde.

A análise do estado de saúde foibaseada em duas questões gerais —auto-avaliação do estado de saúde edificuldade no trabalho ou ativida-des habituais, em duas questões so-bre o grau em que sentiu dor ou mal-

estar físico nos 30 dias anteriores àpesquisa, bem como em questõesespecíficas sobre grau de dificulda-de em: se locomover (locomoção);se lavar e se vestir (autocuidado);adormecer e se sentir bem dispos-to no dia seguinte (sono); se socia-lizar na comunidade e lidar com si-tuações de conflito (sociabilidade);aprender coisas novas, se concen-trar e memorizar (concentração/memorização); ver de perto e de lon-ge (visão). Além disto, o estado deânimo foi mensurado pelo grau comque o indivíduo se sentiu triste oudeprimido e pelo grau em que sen-tiu ansiedade ou preocupação.

Quanto aos fatores de risco, fo-ram considerados:

i) Obesidade: Mensurada peloíndice de massa corporal, índice deQuetelet, dado pela razão entre opeso e a altura ao quadrado(kg/cm2).Foram consideradas as seguintes ca-tegorias para análise: abaixo do peso

<18,5; normal 18,5 até 25; sobrepeso25 até 30; obeso 30+.

ii) Fumo: Mensurado pela fre-qüência de fumo (não fuma; fuma, masnão diariamente; fuma diariamente).

iii) Bebida alcoólica: Mensuradopelo número de doses na última se-mana (nunca bebeu; não bebeu nasemana; 1-4 doses; 5+ doses).

iv) Atividade física: mensuradapor três tipos de atividade (vigoro-sa, moderada e caminhada) e pelafreqüência semanal e número deminutos durante a realização da ati-vidade física. Foram consideradastrês categorias na análise: sedentá-rios (não fazem nenhum tipo de ati-vidade física); atividade física insu-ficiente (menos do que 150 minutospor semana); suficiente (150+ minu-tos por semana).

Para a avaliação de situaçõescrônicas de saúde, foram feitas duasperguntas ao indivíduo: O sr(a) temalguma doença de longa duração ou

Sinop — MT

RADIS 23 � JUL/2004

[ 2 0 ]

incapacidade? Esta doença ou inca-pacidade limita de alguma forma suasatividades? A seguir, foram feitas per-guntas sobre problemas específicos— artrite, angina, asma, diabetes,depressão e esquizofrenia — ques-tionando-se se o indivíduo já tinhatido alguma vez diagnóstico e trata-mento de cada um destes proble-mas. Em relação às situações agu-das, foi perguntado se o indivíduosofreu lesões corporais provocadaspor causas externas, isto é, por al-gum envolvimento com acidente (detrânsito, afogamento, queda, into-

xicação) ou agressão (porarma de fogo, briga, faca),nos 12 meses que precede-ram a entrevista.

Nesta primeira análise,foram contempladas apenas as

coberturas de dois programas desaúde, o de saúde bucal e o exameginecológico entre as mulheres de18 a 69 anos de idade.

No que se refere à avaliação dodesempenho do sistema de saúde, fo-ram analisadas a utilização dos serviçosde saúde no ano que precedeu a pes-quisa e a avaliação do atendimento deacordo com as expectativas do usuá-rio. Para análise desta última, foramconsiderados todos os indivíduos quese internaram nos cinco anos anterio-res (atendimento com internação) ouno caso de ausência de internação no

período, todos os indivíduos que utili-zaram serviços de saúde no ano anteri-or (atendimento ambulatorial).

Primeiramente, analisou-se a sa-tisfação do usuário com as habilida-des e os equipamentos do profissio-nal de saúde, bem como com adisponibilidade de medicamentos noatendimento. A seguir, utilizando-seuma escala de 1 a 5, avaliou-se o graude satisfação com os seguintes aspec-tos: tempo de deslocamento; tempode espera; tratamento respeitoso; in-timidade respeitada; clareza nas ex-plicações dadas pelos profissionais desaúde; tempo para fazer perguntas;possibilidade de obter informações;participação na tomada de decisões;falar em privacidade com profissionaisde saúde; sigilo das informações pes-soais; liberdade de escolha do profis-sional de saúde; limpeza das instala-ções; espaço disponível das salas deespera e de exames. No caso de assis-tência com internação, consideraram-se, adicionalmente, “facilidade em tervisitas de familiares e amigos” e “con-tato com mundo exterior”.

Para efeitos da análise estatísti-ca, calculou-se um índice de avalia-ção do atendimento, atribuindo-se umponto para cada resposta “muito boa”ou “boa” relativa à avaliação de cadaum dos aspectos do atendimento, eutilizou-se escala variando de 1 a 100.A avaliação do atendimento foi reali-

zada de acordo com a forma de paga-mento: não pagou (SUS); pelo planode saúde; direto, sem reembolso.

Na avaliação da assistência porparte do usuário, considerou-se ain-da se ele se sentiu alguma vez dis-criminado (foi tratado pior) por al-gum dos seguintes motivos: falta dedinheiro, classe social, sexo, idade,raça/cor, nacionalidade ou tipo dedoença.

Para todos os entrevistados, inde-pendentemente de terem recebidoassistência com internação nos 5 anosanteriores ou assistência ambulatorialno ano anterior, perguntou-se sobre ograu de satisfação com o funcionamen-to da assistência no país, utilizando-seuma escala que variou de “muito satis-feito” a “muito insatisfeito”.

RESULTADOS

Estado de SaúdeEntre os 5.000 entrevistados, 9%

avaliaram sua saúde como “ruim” ou“muito ruim”, 53% como “boa” oumuito “boa”, e 38% como “regular”. Apercepção de saúde foi pior entreas mulheres quando comparadas aoshomens: o percentual de auto-avali-ação “boa” ou muito “boa” foi de 47%,para o sexo feminino, e de 60%, parao sexo masculino. Grande amplitudede variação do percentual de auto-avaliação “boa” ou muito “boa” foi

:1ALEBAT oãçailava-otuamocsoudívidnied)%(lautnecreP

snebedoremúneoxes,airáteaxiafropaobotium/aobedúasad

oxeS airáteaxiaF sneb3-0 sneb7-4 sneb+8 latoT

oninimeF

43-81 7,94 3,66 8,38 4,36

94-53 0,03 1,44 8,96 4,54

+05 3,02 8,42 4,15 2,72

latoT 0,63 3,74 8,96 5,74

onilucsaM

43-81 0,36 7,47 9,68 4,27

94-53 4,94 0,46 4,67 9,16

+05 7,03 3,04 2,95 9,04

latoT 9,94 8,16 1,47 2,06

latoT

43-81 7,55 3,07 2,58 7,76

94-53 9,83 0,35 7,27 7,25

+05 9,42 9,13 4,55 6,33

latoT 3,24 0,45 9,17 3,35

RADIS 23 � JUL/2004

[ 2 1 ]

encontrada por faixa etária, varian-do de 34%, entre os indivíduos com50 anos e mais de idade, a 68%, entreos jovens de 18 a 34 anos.

Chama a atenção, ainda, a variaçãoda percepção de saúde “boa” ou “mui-to boa” por condição socioeconômica.O percentual mostrou-se tanto menorquanto pior o nível socioeconômico(NSE), seja este representado pelo nú-mero de bens ou grau de escolarida-de. Entre os que possuem três bensou menos no domicílio, o percentualde respostas “muito boa” ou “boa” foide 42%, enquanto entre os participan-tes que possuem oito ou mais bens opercentual foi de 72%. Analisando-sepor grau de escolaridade, o percentualde auto-avaliação “muito boa” ou“boa” variou de 41%, entre os entre-vistados com primeiro grau incomple-to, a 72%, entre aqueles com segundograu completo. De forma geral, o pa-drão encontrado é o de percepçãopior da saúde entre os mais idosos,entre as mulheres quando são compa-radas com os homens em qualquer fai-xa etária, e entre os de NSE mais baixorelativamente aos de NSE mais eleva-do, constatando-se que o gradientesocial na auto-avaliação de saúde “boa”ou “muito boa” se repete em qualquerfaixa de idade ou sexo (Tabela 1).

No que se refere ao percentualde indivíduos que responderam quenão tiveram dificuldade no trabalho ou

nas suas atividades habituais no mêsanterior à data da pesquisa, o mesmopadrão por sexo e grupo etário foiencontrado: o percentual foi maiorentre os mais jovens bem como entreos homens, em todas as faixas de ida-de (Tabela 2). Porém, o gradiente so-cial não foi tão nítido quanto o evi-denciado para a auto-avaliação desaúde, sugerindo que há diferençasimportantes na percepção individualda saúde, que não se traduzem, pelomenos não totalmente, pelas limita-ções das atividades cotidianas.

Quanto às questões específicasrelativas ao estado de saúde nos 30dias que antecederam a entrevista, omaior percentual de problemas foiencontrado para estado de ânimo, es-tabelecido por perguntas sobre tris-

teza e depressão, bem como so-bre ansiedade e preocupação:26% dos participantes relataramgrau grave de problemas relati-vos ao estado de ânimo. O se-gundo maior percentual de proble-mas correspondeu ao mal-estar físicoou dores no corpo, de 18%, seguidopor dificuldades no sono, compercentual no mesmo patamar. A se-guir, foram evidenciadas dificuldadesde concentração e memorização, navisão (de perto ou de longe), e nasociabilidade (participação na comu-nidade e habilidade em lidar com si-tuações de conflito), respectivamen-te com percentuais de 14%, 10% e10%. Os menores graus de dificulda-de corresponderam à locomoção eao auto-cuidado (lavar-se e vestir-se),

ohlabartonedadlucifidmarevitoãneuqsoudívidnied)%(lautnecreP:2ALEBAT

snebedoremúneoxes,airáteaxiafrop,sêmomitlúon,sacitsémodsedadivitauo

oxeS airáteaxiaF sneb3-0 sneb7-4 sneb+8 latoT

oninimeF

43-81 7,77 3,38 3,58 9,18

94-53 2,85 7,86 2,77 7,76

+05 1,94 3,05 9,06 5,15

latoT 2,46 1,96 8,57 8,86

onilucsaM

43-81 7,18 4,88 7,38 8,58

94-53 5,77 3,08 3,77 0,97

+05 7,25 6,56 7,18 1,56

latoT 2,27 5,97 0,18 7,77

latoT

43-81 7,97 8,58 6,48 7,38

94-53 0,76 9,37 2,77 7,27

+05 7,05 3,75 4,17 8,75

latoT 9,76 0,47 1,87 9,27

Belém — PAMacapá — AP

RADIS 23 � JUL/2004

[ 2 2 ]

com menos de 6% dos indivíduos rela-tando problemas nestes dois aspec-tos (Figura 1).

O mesmo padrão encontradopara a percepção geral de saúde foievidenciado na análise por proble-ma específico do estado de saúde:as mulheres têm uma avaliação piordo que os homens; os mais velhostêm maior grau de dificuldades queos mais jovens; os mais ricos refe-rem grau menor de problemas queos mais pobres. Porém, é interes-sante notar que o gradiente socialfoi bem menos acentuado para os

problemas relativos à socia-

bilidade, ao estado de ânimo e às difi-culdades no sono. Os maiores diferen-ciais socioeconômicos se referiram aosproblemas de visão e de concentra-ção/memorização (Figura 2).

Fatores de riscoDe acordo com o critério inter-

nacional de obesidade (índice de mas-sa corporal maior ou igual a 30 kg porcm2), 10% dos brasileiros são obesos e28,5% estão acima do peso (Tabela 3).Entre os indivíduos com mais de 35anos de idade, a obesidade é maisprevalente no sexo feminino, desta-cando-se que o maior percentual de

obesidade, de 17%, foi encontradoentre as mulheres de 50 anos ou mais.

Já o fumo é hábito mais freqüen-te entre os homens, sobretudo entreos de menor NSE, para os quais opercentual de fumo diário chega a atin-gir 33% entre aqueles com mais de 35anos de idade (Tabela 4). Entretanto,destaca-se que, para ambos os sexos,as proporções de fumantes são meno-res entre os mais jovens, o que podeser um indício de diminuição do hábitode fumar na população brasileira.

Tal como o fumo, o hábito de be-bida alcoólica é predominante entreos homens. Enquanto 25% dos homens

RADIS 23 � JUL/2004

[ 2 3 ]

relataram ter tomado 5 doses ou maisde álcool na semana que antecedeu aentrevista, o percentual é de apenas6% entre as mulheres (Tabela 5). O con-sumo de bebida alcoólica por condiçãosocial obedece, no entanto, padrão in-

verso ao encontrado para o hábito defumar: quanto maior o número de bens,tanto maior é o percentual de uso deálcool. Adicionalmente, não há sinais deredução do hábito de beber na gera-ção mais jovem.

No que diz respeito à atividade fí-sica (no lazer ou relacionadas ao traba-lho), seja em atividades vigorosas, mo-deradas ou caminhada, 24% relatarammenos do que 150 minutos por sema-na, tempo considerado insuficiente de

assamedecidníodnuges)%(oãçiubirtsiD:3ALEBAT

oxeseairáteaxiafropaeróproc

oxeS airáteaxiaF osepodoxiabA lamroN oseperboS osebO

oninimeF

43-81 0,11 4,66 4,71 1,5

94-53 5,3 4,45 9,82 2,31

+05 6,3 5,34 6,53 2,71

latoT 7,6 5,65 0,62 9,01

onilucsaM

43-81 1,4 4,86 2,12 3,6

94-53 1,2 0,74 3,93 6,11

+05 2,3 9,74 9,73 0,11

latoT 2,3 2,65 3,13 2,9

latoT

43-81 7,7 4,76 3,91 7,5

94-53 9,2 0,15 7,33 4,21

+05 4,3 7,54 7,63 1,41

latoT 0,5 4,65 5,82 1,01

mamufeuqsoudívidnied)%(lautnecreP:4ALEBAT

snebedoremúneoxes,airáteaxiafropetnemairaid

oxeS airáteaxiaF sneb3-0 sneb7-4 sneb+8 latoT

oninimeF

43-81 1,71 5,9 5,9 8,11

94-53 9,42 2,12 2,12 8,02

+05 6,31 4,11 4,11 4,11

latoT 3,81 6,31 6,31 4,41

onilucsaM

43-81 8,52 3,71 3,71 2,91

94-53 1,33 2,42 2,42 5,52

+05 3,33 3,32 3,32 2,42

latoT 0,03 0,12 0,12 5,22

latoT

43-81 0,12 2,31 2,31 2,51

94-53 6,82 5,22 5,22 8,22

+05 7,22 8,61 8,61 4,71

latoT 5,32 0,71 0,71 1,81

RADIS 23 � JUL/2004

[ 2 4 ]

acordo com os critérios da OMS. Já opercentual de sedentários, que não re-alizam nenhum tipo de atividade física, éde 11% na população total, mas atinge opatamar de 20% entre os indivíduos maisidosos e de menor NSE (Tabela 6).

Problemas de saúdeEntre todos os participantes na

pesquisa, 29% responderam afirmati-vamente à pergunta sobre presençade doença de longa duração ou in-capacidade, sendo que 20% relataram

também limitação de suas atividadesprovocada pela doença (Tabela 7).Corroborando os resultados encon-trados para a percepção do estadode saúde, o percentual é maior parao sexo feminino do que para o mas-

adibebedsesod5sonemolepmaramoteuqsoudívidnied)%(lautnecreP:5ALEBAT

snebedoremúneoxes,airáteaxiafropasiuqsepàroiretnaanamesanacilóocla

oxeS airáteaxiaF sneb3-0 sneb7-4 sneb+8 latoT

oninimeF

43-81 8,5 6,6 1,01 8,6

94-53 3,2 2,9 3,9 4,7

+05 9,0 6,4 6,3 4,3

latoT 5,3 8,6 1,8 0,6

onilucsaM

43-81 4,92 8,82 3,33 5,92

94-53 9,91 0,82 4,63 2,72

+05 2,21 9,61 7,62 3,71

latoT 8,12 1,52 2,23 3,52

latoT

43-81 5,61 2,71 4,02 4,71

94-53 3,01 6,71 4,02 1,61

+05 9,5 1,01 4,51 4,51

latoT 8,11 3,51 0,91 8,41

mazilaeroãneuqsoudívidnied)%(lautnecreP:6ALEBAT

snebedoremúneoxes,airáteaxiafropacisífedadivita

oxeS airáteaxiaF sneb3-0 sneb7-4 sneb+8 latoT

oninimeF

43-81 9,4 3,7 7,21 3,7

94-53 5,7 6,8 9,9 5,8

+05 1,81 5,51 4,41 1,61

latoT 3,9 1,01 3,21 2,01

onilucsaM

43-81 6,5 1,8 2,21 9,7

94-53 4,8 3,9 5,61 3,01

+05 7,02 3,51 2,9 7,51

latoT 9,01 5,01 5,21 9,01

latoT

43-81 2,5 8,7 5,21 6,7

94-53 9,7 9,8 9,21 4,9

+05 5,91 3,51 7,11 9,51

latoT 1,01 3,01 4,21 6,01

RADIS 23 � JUL/2004

[ 2 5 ]

oãçarudagnoledaçneodedaçneserprop)%(oãçiubirtsiD:7ALEBAT

sedadivitasadoãçatimiledaicnêrrocoodnugesedadicapacniuo

airáteaxiafeoxesropsiautibah

airátEaxiaF oxeSedadicapacniuoaçneodedaçneserP

metoãN atimilemeT atimiloãnemeT

43-81

oninimeF 5,28 8,11 8,5

onilucsaM 8,58 0,9 2,5

latoT 0,48 5,01 5,5

94-53

oninimeF 1,96 6,12 3,9

onilucsaM 1,77 2,51 7,7

latoT 6,27 8,81 6,8

+05

oninimeF 0,84 0,53 0,71

onilucsaM 1,75 5,03 4,21

latoT 2,25 9,23 9,41

latoT

oninimeF 5,86 5,12 1,01

onilucsaM 8,47 1,71 1,8

latoT 4,17 5,91 2,9

culino, e aumenta com a idade. En-tre as mulheres de 50 anos e mais deidade, 52% relataram doença de lon-ga duração ou incapacidade, 35% comlimitação das atividades rotineiras.

Os achados relativos à auto-ava-liação de saúde validam as respostasdadas à ocorrência de doença de lon-ga duração ou incapacidade, já quepercentuais de auto-avaliação “ruim”ou “muito ruim” são bem menoresentre aqueles que respondem que

não têm doença, variando de 4%, en-tre estes, a 29%, entre os que têmdoença de longa duração ou incapa-cidade com limitação dela resultan-te. Os resultados são ainda mais pro-nunciados quando se analisa o graude dificuldade em realizar atividadescotidianas. Entre os indivíduos comdoença e ocorrência de limitação, opercentual de grau “grave” e “muitograve” de problemas é sempre supe-rior neste grupo quando comparado

aos demais, sendo que, dentre todosos aspectos considerados na pesqui-sa, as maiores diferenças são encon-tradas para o estado de ânimo e parao grau de dores no corpo ou mal-es-tar físico (Figura 3).

Em relação às questões sobreproblemas específicos de saúde,10,6% responderam que já tiveramdiagnóstico de artrite, 6,7% de an-gina, 12,1% de asma, 6,2% de diabe-tes, 19,3% de depressão e 1,7% de

RADIS 23 � JUL/2004

[ 2 6 ]

esquizofrenia. Para quase todos osproblemas, as proporções de indiví-duos que já tiveram o diagnóstico dadoença e se trataram por este moti-vo são ligeiramente inferiores aos quetiveram apenas o diagnóstico. Depres-são, entretanto, é uma exceção: opercentual de 19%, relativo aos indi-víduos que informaram diagnósticodesta doença, decresce para 14%,entre aqueles que relataram trata-mento além do diagnóstico.

Dentre os problemas crônicos desaúde considerados na pesquisa, a piorauto-avaliação da saúde foi encontra-

da entre os que relataram diag-nóstico de angina, para os quaiso percentual de auto-avaliação

“ruim” ou “muito ruim” é de 27%. Paraos que disseram ter tido diagnósticode esquizofrenia, artrite e diabetes, ospercentuais foram pouco menores, de26%, 24% e 24%, respectivamente, masbem mais elevados do que o percentualencontrado entre os indivíduos que nãotiveram diagnóstico de nenhum destesproblemas, de 5%.

No que se refere à saúde bucal,estima-se que 14% dos brasileiros per-deram todos os seus dentes naturais(Tabela 8). O gradiente social paraeste indicador é pronunciado: entreas mulheres com mais de 50 anos depior condição socioeconômica, opercentual alcança 56%, enquantoentre aquelas de melhor situação o

percentual é de 19%. As razões entreas proporções de indivíduos que per-deram todos os dentes naturais nacategoria de pior NSE (0 a 3 bens) eas encontradas na categoria de me-lhor NSE (8 e mais bens) são da or-dem de 3:1, qualquer que seja a faixaetária ou sexo. Igualmente, opercentual de indivíduos que tive-ram problema bucal no ano anteriore não receberam assistência foi de15,4%, entre os de pior condiçãosocioeconômica, de 10,1% na cate-goria intermediária, e de 4,6%, en-tre aqueles de melhor condição.

Quanto aos problemas provoca-dos por causas externas nos 12 mesesanteriores à pesquisa, chama a aten-

sodotmaredrepeuqsoudívidnied)%(lautnecreP:8ALEBAT

snebedoremúneoxes,airáteaxiafodnugessiarutansetnedso

oxeS airáteaxiaF sneb3-0 sneb7-4 sneb+8 latoT

oninimeF

43-81 2,3 0,2 7,0 3,2

94-53 6,41 8,01 3,4 5,01

+05 9,55 8,64 9,81 1,54

latoT 3,12 0,81 9,6 2,71

onilucsaM

43-81 2,3 4,2 - 3,2

94-53 7,6 6,5 8,1 2,5

+05 3,33 4,33 7,11 5,92

latoT 9,21 3,21 5,4 2,11

latoT

43-81 2,3 2,2 4,0 3,2

94-53 0,11 5,8 3,3 2,8

+05 6,54 7,04 6,51 8,73

latoT 5,71 4,51 9,5 4,41

snebedoremúneotsagodsetnenopmocroplasnemrailicimodoidém)$R(otsaG:9ALEBAT

oremúN

snebed

otsaGodsetnenopmoClatoT

oãçatnemilA asaC oãçacudE edúaS ortuO

otsaG

)$R(%

otsaG

)$R(%

otsaG

)$R(%

otsaG

)$R(%

otsaG

)$R(%

otsaG

)$R(%

3-0 45,961 35,75 61,17 51,42 13,31 25,4 78,83 91,31 97,1 16,0 86,492 00,001

7-4 68,382 79,14 19,802 98,03 39,54 97,6 35,021 28,71 40,71 25,2 72,676 00,001

+8 35,405 44,52 45,665 75,82 21,762 74,31 23,424 04,12 96,022 31,11 02,3891 00,001

latoT 72,482 81,73 93,322 22,92 61,07 81,9 01,341 27,81 46,34 17,5 65,467 00,001

RADIS 23 � JUL/2004

[ 2 7 ]

edúasmelasnemrailicimodoidém)$R(otsaG:01ALEBATsnebedoremúneotsagodsetnenopmocrop

otsaGodsetnenopmoC

snebedoremúNlatoT

3-0 7-4 +8

)$R(otsaG % )$R(otsaG % )$R(otsaG % )$R(otsaG %

sotnemacideM 88,22 9,85 24,34 0,63 38,88 9,02 72,44 9,03

edúasedonalP 96,1 3,4 16,81 4,51 46,061 9,73 51,53 6,42

atsitneD 87,2 2,7 94,02 0,71 82,56 4,51 80,22 4,51

cte,sesetórp,solucÓ 89,2 7,7 15,11 5,9 37,62 3,6 23,11 9,7

seõçanretnI 92,2 9,5 89,7 6,6 71,72 4,6 22,9 4,6

semaxE 72,2 8,5 60,7 9,5 23,9 2,2 99,5 2,4

sacidémsatlusnoC 93,2 1,6 39,5 9,4 73,01 4,2 75,5 9,3

edúasmocotsagodlatoT 78,83 0,001 35,021 0,001 23,424 0,001 01,341 0,001

ção o grande percentual de indivídu-os que sofreram lesões corporaisprovocadas por acidentes ou agres-sões, igual a 11%. Entre os entrevista-dos do grupo etário de 18 a 34 anosdo sexo masculino, o percentual do-bra de valor, alcançando 22%.

A cobertura de exame ginecoló-gico (nos três anos anteriores) comPapanicolaou, entre mulheres de 18a 69 anos, foi de 66%, variando de 54%,entre as mais carentes, a 81%, entreas que possuem oito ou mais bens nodomicílio.

Gastos em saúdeA média de gasto total mensal foi

de R$ 765, sendo que o gasto médiomensal em saúde foi de R$ 143, apro-ximadamente, correspondendo a 19%do gasto total (Tabela 9). Nos domicí-

lios com número precário de bens, ogasto médio domiciliar mensal foi decerca de R$ 295, e o gasto em saúde,de R$ 39, representou 13% do total.Nos domicílios mais ricos, o gastomédio mensal foi de quase R$ 2 mil, ea fração gasta com saúde, de 21%.

Do gasto mensal com saúde, osmedicamentos constituíram o prin-cipal componente, correspondendoa 32% do total, sendo que a médiamensal de gastos com medicamen-tos foi de R$ 44,27 (Tabela 10). Emsegundo e terceiro lugar, estão osgastos com plano de saúde (R$ 35,15)e com dentista (R$ 22,08), represen-tando, respectivamente, 25% e 16%do gasto mensal com saúde (R$ 143).Na categoria mais abastecida, a mé-dia de gasto em saúde foi maior doque R$ 400, sendo que a maior fra-

ção corresponde às quotas de segu-ro de saúde privado. O gasto médiomensal com plano de saúde privadofoi de R$ 160,64, e com medicamen-tos, de R$ 88,83, quatro vezes maiordo que a quantia gasta pelos maispobres. Entre estes, 61% do gastomensal em saúde (R$ 38,87) são con-sumidos com medicamentos, equiva-lente à quantia de R$ 22,88.

O percentual de indivíduos quetiveram que pegar empréstimo ou ven-der objetos de valor para pagar des-pesas com saúde foi de 9% na popula-ção brasileira, variando de 7% a 11%,dos menos aos mais carentes.Entre as pessoas que têm doen-ça de longa duração ou incapa-cidade com limitação dela resul-tante, o percentual alcança 16%.

Planos de saúdeOs resultados da pesquisa indicam

que 25,8% dos brasileiros têm planosde saúde, sendo que 2,2% de servidorpúblico, 21,2% plano privado, e 2,4% deservidor público e privado. Analisando-se por categoria de número de bens,o percentual de pessoas com plano desaúde privado varia de 4%, entre os depior NSE, a 64%, entre os de melhorcondição socioeconômica.

Desempenho do Sistema deSaúde

Entre os 5.000 indivíduos queparticiparam da pesquisa, 70% preci-saram de assistência de saúde no anoanterior. O percentual de utilizaçãofoi maior para o sexo feminino quan-do comparado ao masculino, e mais

Campo Grande — MS

RADIS 23 � JUL/2004

[ 2 8 ]

elevado na categoria de indivíduosmais abastecidos, para ambos os se-xos (Figura 4). A utilização é tambémmais freqüente entre os que têm pla-nos de saúde (81%) do que entre osque não têm (67%).

Somente 127 dos entrevistados(2,7%) responderam que não consegui-ram assistência de saúde na última vezque precisaram. Este percentual foide 3,3% entre os mais carentes, de2,8% na categoria intermediária e de0,8% entre os que possuem oito oumais bens no domicílio.

Em relação à obtenção dos medi-camentos prescritos no últimoatendimento de saúde que pre-cedeu o inquérito, 87% conse-guiram adquirir todos os medi-

camentos prescritos, 5% conseguiramadquirir grande parte e 8%, muito pou-cos ou nenhum. Na categoria de indiví-duos de pior condição social, 10,2% nãoconseguiram adquirir os medicamentosprescritos. A falta de dinheiro foi o mo-tivo mais freqüentemente alegado.

Avaliação do atendimentoambulatorial

Dos 2.396 indivíduos que rece-beram algum cuidado de saúde seminternação no ano anterior, 19% pa-garam diretamente o atendimento(sem reembolso), 21% pagaram peloplano e 60% utilizaram o SUS. Entretodos os usuários, 19% acharam quea disponibilidade de medicamentosnão era adequada, 9%, que os equi-

pamentos do profissional de saúdeeram inadequados e 8%, que as habi-lidades do profissional de saúde eraminadequadas. Já entre os usuários doSUS, estes percentuais se elevam, res-pectivamente, para 24%, 12% e 10%.

Uma proporção significativa deusuários se sentiu discriminada noatendimento ambulatorial: 9% senti-ram que receberam tratamento piordo que às outras pessoas por falta dedinheiro e 8%, devido à classe social(Figura 5). Entre os usuários do SUS,estes percentuais foram de 11% e 10%.Do total de usuários, 1,2% se sentiudiscriminado pela cor.

Dentre todos os aspectos doatendimento ambulatorial que foramavaliados pelos usuários, o “tempo de

RADIS 23 � JUL/2004

[ 2 9 ]

espera” foi o que teve maior grau deinsatisfação (21%), seguido, de perto,por “liberdade de escolha do profissi-onal de saúde” (20%) (Figura 6). Os as-pectos “participação na tomada dedecisões sobre o tratamento”, “pos-sibilidade de obter informações sobreoutros tipos de tratamento”, “espa-ço disponível das salas de espera e dosexames”, “tempo gasto de desloca-

mento” e “tempo para fazer pergun-tas” foram avaliados como “ruim” ou“muito ruim” por pouco mais de 10%dos usuários. Percentuais pequenos deinsatisfação, inferiores a 5%, foramobtidos para “clareza nas explica-ções”, “privacidade com os profissio-nais de saúde”, “respeito no tratamen-to”, “sigilo sobre as informaçõespessoais” e “respeito à intimidade”.

Comparando-se o percentualde usuários que fizeram uma avalia-ção “boa” ou “muito boa” por for-ma de pagamento do atendimento,invariavelmente para todos os as-pectos estudados, o percentual ésempre menor para os usuários doSUS (Tabela 11). Entre estes, menosda metade fez uma avaliação positi-va do “tempo de espera” (45%) e da

odnuges"aob"uo"aobotium"oãçailavamocsoudívidnied)%(lautnecreP:11ALEBAT

otnemidnetaodotnemagapedamrofroplairotalubmaaicnêtsissaàsovitalersotcepsa

otcepsA oteriD onalP SUS latoT

arepseedopmeT 8,47 1,27 4,54 7,65

edúasedlanoissiforpodahlocseededadrebiL 3,78 0,87 9,84 6,46

otnematartoerbosseõsicededadamotanoãçapicitraP 5,38 7,68 8,95 0,07

sotnematartsortuoerbosseõçamrofniretboededadilibissoP 2,58 3,68 1,06 5,07

semaxesodearepseedsalassadlevínopsidoçapsE 9,78 1,88 9,36 6,37

satnugreprezafarapopmeT 0,29 6,88 9,56 7,57

otnemacolsededotsagopmeT 1,87 3,87 9,86 6,27

edúasedsianoissiforpsodseõçacilpxesanazeralC 6,49 5,29 0,08 5,58

oçivresodseõçalatsnisadazepmiL 9,69 3,89 3,97 7,68

edúasedsianoissiforpsomocedadicavirP 2,29 1,69 3,38 7,78

osotiepserotnematarT 3,69 8,69 0,68 2,09

siaossepseõçamrofnisaerbosoligiS 2,69 0,79 0,98 2,29

adatiepseredadimitnI 0,69 1,89 0,49 2,59

RADIS 23 � JUL/2004

[ 3 0 ]

“liberdade de escolha do pro-fissional de saúde” (49%), emenos do que 70% da “parti-cipação na tomada de deci-

sões sobre o tratamento” (60%), da“possibilidade de obter informaçõessobre outros tratamentos” (60%), do“espaço disponível das salas de es-pera e dos exames” (64%), do “tem-po para fazer perguntas” (66%), bemcomo do “tempo gasto de desloca-mento” (69%). O índice médio de ava-liação do atendimento ambulatorial,numa escala de 0 a 100, foi de 77,variando de 70, entre os usuários doSUS, a 89, entre os que pagaram oatendimento pelo plano de saúde.

Avaliação da assistência desaúde com internação

Dos 5.000 entrevistados, 1.547(31%) relataram assistência de saúdecom internação nos cinco anos an-tes da pesquisa. Destes, 71,0% foram

atendidos pelo SUS, 22,5% pagarampelo plano de saúde e 6,5% pagaramdiretamente, sem reembolso.

Do total de usuários, 9% relata-ram insatisfação com as habilidadesdo profissional de saúde e 8% comos equipamentos, enquanto 7%acharam inadequada a disponibilida-de de medicamentos. Entre os usu-ários do SUS, estes percentuais seelevam para 10%, 10% e 9%, respec-tivamente.

Quanto ao tempo de espera paraa internação (desde o momento queo usuário precisou da internação), maisde 90% dos usuários conseguiram ainternação em menos de um dia, tan-to para os que não pagaram o atendi-mento (SUS) como para aqueles quepagaram pelo plano (Figura 7).

Fração considerável dos entrevis-tados com internação nos últimos 5anos se sentiu discriminada, em níveismais elevados ainda, em relação aos

usuários do atendimento ambulatorial:13% por falta de dinheiro e 11% pelaclasse social. Entre os que não paga-ram pela internação, 15% e 13% senti-ram que foram tratados de modo piorpor estes dois motivos, respectivamen-te. No total dos usuários, 1,5% se sen-tiu discriminado pela cor (Figura 5,na página 28).

Entre todos os aspectos dainternação avaliados pelos usuários,o maior percentual de insatisfaçãocorrespondeu à “liberdade de es-colha do profissional de saúde”, de25% (Figura 8). Em segundo lugar, foi“facilidade em estar em contato como mundo exterior”, para o qual 19%fizeram uma avaliação ruim. Cercade 15% avaliaram mal os seguintesaspectos: “tempo gasto com deslo-camento”; “tempo de espera até seratendido”; “possibilidade de obter in-formações sobre outros tipos de tra-tamento”; “participação na tomada dedecisões sobre o tratamento”; “tem-po para fazer perguntas”. Já a “priva-cidade com os profissionais de saúde”e “facilidade em ter visitas” foram ava-liadas como “ruim” ou “muito ruim”por aproximadamente 12% dos entre-vistados, enquanto “espaço disponí-vel na internação” e “clareza nas ex-plicações”, por 9%. A “limpeza dasinstalações” foi objeto de insatisfaçãopara 6%, e “sigilo sobre as informaçõespessoais”, “respeito no tratamento”,e “respeito à intimidade”, para me-nos de 5% dos usuários.

A análise comparativa das avali-ações dos usuários por forma de pa-gamento da internação indica que

Feliz Natal — MT

RADIS 23 � JUL/2004

[ 3 1 ]

,"aob"uo"aobotium"oãçailavamocsoudívidnied)%(lautnecreP:21ALEBAT

oãçanretniadotnemagapedamrofropoãçanretniàovitalerotcepsaodnuges

otcepsA oteriD onalP SUS latoT

edúasedlanoissiforpodahlocseededadrebiL 6,77 5,48 2,74 5,75

sotnematartsortuoerbosseõçamrofniretboededadilibissoP 2,77 8,58 3,85 7,56

otnematartoerbosseõsicededadamotanoãçapicitraP 2,87 0,48 0,95 9,56

otnemacolsededotsagopmeT 1,17 6,18 8,06 1,66

roiretxeodnumomocotatnocmeratsemeedadilicaF 5,67 9,28 2,95 6,56

satnugreprezafarapopmeT 2,77 2,98 9,26 8,96

odidnetaresétaarepseedopmeT 4,27 4,68 8,76 3,27

edúasedsianoissiforpsomocedadicavirP 2,78 6,09 9,76 3,47

oãçanretnianlevínopsidoçapsE 9,78 4,19 5,17 0,77

)sogimaeailímaf(satisivretmeedadilicaF 0,28 6,88 9,96 9,47

edúasedsianoissiforpsodseõçacilpxesanazeralC 3,68 5,09 3,87 5,18

oçivresodseõçalatsnisadazepmiL 4,98 7,19 0,87 8,18

siaossepseõçamrofnisaerbosoligiS 2,98 6,69 5,18 5,58

osotiepserotnematarT 6,09 8,39 8,58 9,78

adatiepseredadimitnI 2,59 8,69 2,09 0,29

os percentuais de satisfação entreos usuários do SUS são sempre in-feriores aos obtidos entre os usuá-rios que pagaram o atendimentopelo plano de saúde, para qualquerdos aspectos contemplados na pes-quisa (Tabela 12). Entre os usuári-

os do SUS, menos de 50% fizeramuma avaliação boa da “liberdade deescolha dos profissionais de saúde”(47%); menos do que 60%, da “pos-sibilidade de obter informaçõessobre outros tipos de tratamento”(58%), da “participação na tomada

de decisões sobre o tratamento”e da “facilidade de estar em con-tato com mundo exterior”; e me-nos do que 70% do “tempo gastocom deslocamento”, do “tempopara fazer perguntas”, do “tempode espera até ser atendido”, e da

RADIS 23 � JUL/2004

[ 3 2 ]

“privacidade com os profissionaisde saúde”. O índice médio de avalia-ção da internação, numa escala de0 a 100, foi de 73, para o total deusuários; de 88, para aqueles que pa-garam a internação pelo plano de saú-de; e de 68, para os usuários do SUS.

4.7. Grau de satisfaçãocom o funcionamentoda assistência

A todos os 5.000 entrevistadosfoi feita a seguinte pergunta: “Emgeral, qual o seu grau de satisfaçãocom o funcionamento da assistên-

cia de saúde no país?”. Opercentual de insatisfação foide 58% (22% insatisfeitos e 36%muito insatisfeitos) e o de sa-tisfação de apenas 27%, com19% satisfeitos e 8% muito sa-

tisfeitos (Figura 9).O grau de insatisfação foi ligei-

ramente superior entre as mulheresquando comparadas aos homens, e nafaixa etária intermediária (35 a 49anos), para ambos os sexos. Diferen-ças maiores foram encontradas porgrau de escolaridade, observando-seque o grau de insatisfação é tantomaior quanto melhor o nível de ins-trução (Figura 10).

Não houve diferença significa-tiva entre os percentuais de insa-tisfação quando os participantesque tiveram assistência de saúde noúltimo ano foram comparados aosque não tiveram. Por outro lado, ofato de não ter conseguido assis-tência quando precisou foi fatordeterminante da insatisfação. Entreos 2,7% do total de entrevistadosque não conseguiram assistência, opercentual de insatisfação atingiuquase 80%. Da mesma forma, pagarpor plano de saúde privado tambémse mostrou uma variável associada àinsatisfação. Entre os entrevistadosque têm plano de saúde privado, opercentual de insatisfeitos é 72%,percentual este que aumenta pro-porcionalmente aos gastos com saú-de, particularmente com a cota deseguro mensal de saúde (Figura 11).Para os que gastam mais de R$ 200por mês com plano de saúde, opercentual de insatisfação é 78%.

Variações pouco relevantes nopercentual de insatisfação foram en-contradas para o percentual do gas-to domiciliar mensal com saúde, evi-denciando-se que o valor absolutodo gasto foi bem mais importante doque o relativo. A presença de doen-ça de longa duração ou incapacida-de também não mostrou influênciana insatisfação.

RADIS 23 � JUL/2004

[ 3 3 ]

Ametodologia da nova PesquisaMundial de Saúde da OMS vem

correspondendo às expectativas deespecialistas como a epidemiologistaRita Barradas Barata, do Departamen-to de Medicina Social da Faculdadede Ciências Médicas Santa Casa SãoPaulo. Ela destaca o esforço exigidona elaboração de uma metodologiamais apropriada para a avaliação dodesempenho dos sistemas de saúde.“Foi um passo importante no desen-volvimento de metodologias de avali-ação de sistema de saúde”, acredita.“O desafio de aprimorar formas com-paráveis de avaliação não é peque-no, pois se trata de desenvolver es-tratégias sintéticas sem perder, noprocesso, a complexidade do objetoque se pretende analisar”.

A pesquisa 2003 incluiu mudan-ças de metodologia em relação à de2000, cujos resultados, lembra aepidemiologista, foram “polêmicos eincoerentes”. “A modelagem matemá-tica de um conjunto de indicadorespara produzir uma única nota, e comisso posicionar cada país e seu siste-ma de saúde num ranking, resultounum procedimento falho, artificial eenganoso”, sustenta. Na atual pesqui-sa, no entanto, essas lacunas forampreenchidas e o resultado agradou.“Não se procurou transformar aspec-tos tão distintos como a situação dasaúde, a satisfação dos usuários e os

gastos com saúde numa única medi-da”, afirma Rita Barradas.

Para ela, a manutenção das di-ferentes dimensões e seus indicado-res permite compreender melhor odesempenho de cada sistema avalia-do. “A pesquisa abarca dimensões re-lativas à situação de saúde (estadode saúde e prevalência de proble-mas selecionados), distribuição dedeterminantes de saúde e prevalênciade fatores de risco, acesso a serviçosde saúde e cobertura de ações desaúde, satisfação dos usuários e gas-tos com saúde. Assim, é possível terum panorama mais próximo da com-plexidade desse objeto, e aquilatar osesforços feitos em cada país para aten-der às necessidades de saúde da po-pulação”, analisa. Outro ponto positi-vo destacado por Rita Barradas é apossibilidade de troca de experiênci-as entre diferentes países, uma vezque a mesma metodologia foi utilizadapor todos eles.

A epidemiologista ressalta as infor-mações inéditas da pesquisa, como a

prevalência de fatores e situações derisco. “Até o momento, não se dispu-nha de informações com abrangêncianacional para esses aspectos”. Há tam-bém dois pontos relevantes para o SUS.“Várias informações relativas à cober-tura de atividades sugerem que a uni-versalidade do sistema é um fato real”,diz. Das pessoas que referiram proble-mas de saúde, 97,3% afirmaram ter obti-do algum tipo de assistência. Dessas,86,9% obtiveram todos os medicamen-tos prescritos. Apenas 13,1% das mu-lheres referiram nunca ter realizadoo exame de Papanicolau. “O grandedesafio para o sistema brasileiro pa-rece estar nos dois outros princípiosconstitucionais: a integralidade e aequidade”, avalia.

Os dados ainda permitem avaliaraspectos como a comunicação soci-al. “Aparentemente, apontam umacontradição entre a avaliação que osindivíduos fazem do atendimento par-ticular por eles recebido e a avalia-ção que fazem do sistema de saúdecomo um todo”, diz Rita.

— O grau de insatisfação é mui-to maior na avaliação do sistema doque na avaliação dos atendimentosrecebidos. O esclarecimento dessaaparente contradição exige pesquisasmais aprofundadas desses aspectos,inclusive, de possíveis preconceitosque podem perdurar na populaçãoem relação a políticas públicas e so-ciais. (W. V.)

Avanço na avaliação dos sistemas de saúde

Referências bibliográficas

Almeida CM, Braveman, P, Gold MR,Szwarcwald, CL, Ribeiro, JM, Maglionico, A,Millar, JS, Porto S, Costa NR, Rubio VO, SegallM., Starfield B, Travassos C, Ugá A, Valente J,Viacava F. Methodological concerns andrecommendations on policy consequences ofthe World Health Report 2000. Lancet,357:1692-1697,2001.

Blendon RJ, Kim M, Benson JM. The publicversus the World Health Organization on healthsystem performance. Health Affairs, 20(3):10-20, 2001.

Braveman P, Starfield B, Geiger HJ. WorldHealth Report 2000: how it removes equity fromthe agenda for public health monitoring andpolicy. BMJ. 22; 323(7314):678-81, 2001.

Häkkinen U & Ollila E (eds.). The World HealthReport 2000: What does it tell us about healthsystems? Analyses by Finnish experts.Helsinki: National Research and DevelopmentCenter for Welfare and Health (STAKES).[http://www.stakes.fi/english/publicati/Publications.htm], 2000.

Houweling TA, Kunst AE, Mackenbach JP. WorldHealth Report 2000: inequality index andsocioeconomic inequalities in mortality. Lancet,357(9269): 1671-1672, 2001.

Jamison DT & Sandbu ME. WHO ranking ofhealth system performance. Science Reprint,293: 1595-96, 2001.

Mulligan J, Appleby J, Harrison A. Measuringthe performance of health systems indicatorsstill fail to take socioeconomic factors intoaccount. BMJ, 321: 191-92, 2000.

Navarro V. Assessment of the World HealthReport 2000. Lancet, 356: 1598-601, 2000.

Navarro V. The World Health Report 2000: Canhealth care systems be compared using a singlemeasure of performance? American Journalof Public Health, 92(1): 31-34, 2002.

Rosén M. Can the WHO Health Report improvethe performance of health systems?Scandinavian Journal of Public Health, 29(1):76-80, 2001.

Szwarcwald CL. On the World HealthOrganization’s measurement of health

inequalities. Journal of Epidemiology andCommunity Health, 56:177-182, 2002.

Travassos C. Assessing health systemsperformance — a critical appraisal about theWHO World Health Report 2000 and futuredevelopments. Paper presented at Conferenceon Restructuring of Health Services andCorporate Public Health in the Era of Reforms.5-7-2001, Maastricht, The Netherlands, 2001.

Ugá AD, Almeida CM, Szwarcwald CL, TravassosC, Viacava F, Ribeiro JM, Costa NR, Buss PM,Porto S. Considerations on methodology used inthe World Health Organization 2000 Report.Cadernos de Saúde Pública,17(3):705-712, 2001.

Ustun TB, Chatterji S, Villanueva M, Çelik LBC,Sadana R, Valentine N, Ortiz J, Tandon A,Salomon J, Cao Y, Jun XW, Ozaltin E,Mathers C, Murray CJL. Multi-countrySurvey Study on Health andResponsiveness 2000-2001. Geneva:World Health Organization. (GPEDiscussion Paper 37), 2001.

WHO — World Health Organization. The WorldHealth Report 2000. Geneva: WHO, 2000.