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Pesquisa Em Comunicação Na Cásper Líbero

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  • 9Lbero So Paulo v. 16, n. 31, p. 9-16, jan./jun. de 2013Angela Cristina Salgueiro Marques Pesquisa em Comunicao: um panorama da produo discente do...

    Angela Cristina Salgueiro Marques

    Doutora em Comunicao Social pela UFMGProfessora do Departamento de Comunicao Social da UFMG

    E-mail: [email protected]

    Os relatos de pesquisa reunidos neste vo-lume trazem no s os resultados de inves-tigaes e descobertas acadmicas efetivadas pelos discentes no mbito do Programa de Ps-Graduao da Faculdade Csper Lbero, mas tambm uma reflexo terico-metodo-lgica que abrange diferentes teorias da co-municao. Na primeira parte do livro, o lei-tor toma contato com estudos que traduzem os principais quadros toricos que funda-mentam a linha de pesquisa Processos Midi-ticos: Tecnologia e Mercado. Destacam-se entre as temticas abordadas: as mudanas trazidas pelas novas tecnologias (processos de convergncia, globalizao, digitalizao de contedos, constituio de redes sociais e alterao constante das dinmicas do merca-do); os processos de constituio de esferas pblicas nas quais prevalecem conversaes cvicas e deliberaes; os novos contextos de cidadania e sua articulao com o discurso da sustentabilidade; a comunicao organi-zacional; a relao que pr-adolescentes es-tabelecem com a mdia; a cultura do ouvir, comunidades sonoras e memria; a socieda-de do espetculo.

    Pesquisa em Comunicao: um panorama da produo discente do

    Mestrado da Csper Lbero

    Resumo: Este texto um panorama da produo discente dospesquisadores do Mestrado em Comunicao na Contempo-raneidade da Csper Lbero. So explorados alguns aspectos dessa produo, focando especificamente as principais trilhas percorridas pelos pesquisadores. O principal destaque dos es-tudos de mdia feitos pelos pesquisadores a articulao entre a diversidade de objetos e a unidade das linhas de pesquisa do Programa, Produtos Miditicos e Processos Miditicos, em dilogo com a rea de Concentrao Comunicao na Contemporaneidade.Palavras-chave: Comunicao na Contemporaneidade, pro-duo discente.

    Investigacin en Comunicacin: una visin general de la produc-cin de estudiantes/investigadores de la Maestra en Casper LiberoResumen: Este texto es un panorama de la produccin de los estudiantes/investigadores de la Maestra en Comunicacin en la Contemporaneidad de la Facultad Csper Lbero. Se explo-tan algunos aspectos de la produccin, centrndose especfica-mente en las principales sendas recorridas por los investigado-res. El principal destaque de los estudios de los media hechos por los investigadores es la articulacin entre la diversidad de objetos y la unidad de las lneas de investigacin del Programa Productos Mediticos y Procesos Mediticos, en dilogo con el rea de Concentracin Comunicacin en la Contem-poraneidad. Palabras clave: Comunicacin en la Contemporaneidad, pro-duccin de los estudiantes.

    Communication Research: the MAs studies at Casper LiberoAbstract: This text is an overview of the graduate students re-searches developed at the Casper Libero MA Degree Course. It explores the some aspects of this production, and focus on the main academic trends that has been taken by researchers. The main aspect of media research followed by the students has been characterized by the diversity of subjects, but always related to the Media Products and Media Process, focusing on Contemporary Communication as the main research guide.Keywords: Contemporary Communication, graduate stu-dents researches

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    Lbero So Paulo v. 16, n. 31, p. 9-16, jan./jun. de 2013Angela Cristina Salgueiro Marques Pesquisa em Comunicao: um panorama da produo discente do...

    As assimetrias de poder e as desigualdades comunicativas per-duram nas interaes online dificultando a construo de interlocues paritrias

    Por sua vez, a segunda parte da obra rene os relatos das pesquisas realizadas no mbito da linha Produtos Miditicos: Jornalismo e Entretenimento. Entre os principais temas de investigao esto o jornalismo e seus as-pectos humanos, ticos e narrativos; a cons-tituio de atores polticos na cena miditica

    de visibilidade; o processo de configurao de identidades e celebridades na internet; formas de escrita e arte urbana; espetculo, corpo e imprensa feminina. No raro, os re-latos de pesquisa apontam intersees pos-sveis no s entre pesquisas pertencentes mesma linha, mas tambm entre relatos abrigados por linhas diferentes, o que revela uma coerncia e uma dialogicidade permi-tidas pela rea de concentrao do Progra-ma, Comunicao na Contemporaneidade. Esta abrange os avanos tecnolgicos, a di-namizao do mercado e as diferentes inte-raes sociais que atravessam e delineiam os processos miditicos, com sua importncia decisiva para os modos como hoje se cons-tri e se interpreta o campo da comunicao. Ela busca tambm reconhecer que os produ-tos miditicos adquirem novos contornos, tanto na esfera do jornalismo quanto do en-tretenimento, dimenses essas cada vez mais entrecruzadas nas manifestaes da mdia.

    As interaes que se estabelecem nas re-des sociais so objeto de estudo de pesquisas realizadas em ambas as linhas, desde uma reflexo terico-conceitual a respeito das redes sociais como meio at uma avaliao

    de como, no contexto das prticas comuni-cativas nas organizaes, o profissional de relaes pblicas deve lidar com as novas tecnologias e como a comunicao interna das organizaes pode ganhar maior dina-micidade e facilitar a prtica colaborativa. Ainda no mbito da comunicao organiza-cional, destaca-se a importncia adquirida pelas novas tecnologias para a publicizao das aes e projetos das instituies pblicas, que buscam sempre maior proximidade com seus pblicos atravs do investimento em si-tes que possuam uma arquitetura discursiva capaz de aproximar, em uma efetiva interlo-cuo, agentes do Estado e atores da socieda-de civil. A crescente produo acadmica em torno da cibercultura demonstra a centrali-dade do campo Comunicao na elaborao de conhecimento em torno de como as iden-tidades e relaes interpessoais vm se confi-gurando no ambiente online. Nesse sentido, encontramos aqui relatos que salientam a importncia das redes para: a) a estruturao e fortalecimento de prticas polticas online, como o ativismo e as conversaes cvicas, a formao de comunidades e estreitamento de laos de pertencimento; b) a configurao de esferas pblicas deliberativas que renam interlocutores espacialmente dispersos e possam ampliar os debates atravs da ampla circulao de argumentos e pontos de vista; c) a construo de identidades, celebridades e formas de sociabilidade.

    Com relao presena de esferas p-blicas e prticas polticas online, possvel perceber, em diferentes espaos da rede, uma dinmica de negociao e contestao de pontos de vista em busca de um melhor en-tendimento acerca de determinadas questes de interesse coletivo (Dean, 2003). Contudo, no se pode afirmar que a presena de di-ferentes pblicos e perspectivas em espaos discursivos online transformam, automa-ticamente, a internet em uma esfera pbli-ca (Papacharissi, 2002). Em primeiro lugar, no se pode esquecer que a natureza das trocas que constituem uma esfera pblica

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    Lbero So Paulo v. 16, n. 31, p. 9-16, jan./jun. de 2013Angela Cristina Salgueiro Marques Pesquisa em Comunicao: um panorama da produo discente do...

    de natureza conflitiva, nas quais o dissen-so no sinnimo de desconhecimento ou desconsiderao do outro e de sua perspec-tiva, mas revela que, a partir de uma reflexo sobre o ponto de vista do outro e, mesmo no concordando com ele, os interlocutores se dispem a dar continuidade ao dilogo. Em segundo lugar, no se pode pressupor a existncia online de um pblico ou de uma comunidade argumentativa que partilha a mesma base de pressupostos e valores desde o incio de uma conversao, como se esse pblico j estivesse de acordo de antemo.

    A cautela em apontar espaos online como esferas pblicas deriva tambm do fato de que os diferentes tipos de arquitetura dis-cursiva dos espaos online possuem tanto o potencial de constranger quanto de facilitar a abertura troca comunicativa, a criativida-de cultural, a auto-organizao e a solidarie-dade. Torna-se assim mais proveitoso pensar que, em vez de simplesmente oferecer uma esfera pblica aos sujeitos, a internet pode dar origem a esferas pblicas interconecta-das quando uma diversidade de indivduos e pblicos se engaja em uma atividade reflexi-va, conflitual e cooperativa (Bohman, 2004; Witschge, 2004).

    Todavia, a proliferao e a diversidade de pblicos e vozes no ciberespao podem acarretar alguns problemas. O primeiro de-les remete ao fato de que ainda que muitas vozes estejam presentes nos espaos de co-municao online, isso no significa que ato-res sociais estejam sendo percebidos como efetivos interlocutores nos debates. Ou seja, dar visibilidade a vozes no necessariamente conduz legitimao de sujeitos em intera-es nas quais se atribui igual status moral aos participantes. As assimetrias de poder e as desigualdades comunicativas perduram nas interaes online dificultando a cons-truo de interlocues paritrias, recpro-cas e pautadas pela igualdade. Alm disso, nas conversaes online pode acontecer de as pessoas falarem sem escutar, de atacarem pessoalmente os participantes em vez de

    questionarem seus argumentos, de confir-marem em vez de questionarem ideias pr--concebidas e reforarem convices em vez de evidenciarem as premissas que sustentam seus pontos de vista diante daqueles que de-les discordam (Wright e Street, 2007; Lev-on e Manin, 2009). Somado a isso, determina-dos tipos de moderao colocam em prtica formas ilegtimas de censura das mensagens, as quais desrespeitam ou ignoram as regras acordadas para a discusso, restringindo drasticamente a liberdade de expresso dos participantes (Wright, 2009).

    Diante desses obstculos, mais pro-missor evidenciar como as conversaes se definem em espaos virtuais, levando em considerao os estmulos e constrangimen-tos impostos pela materialidade tcnica dos suportes e cdigos informticos; a relao entre as prticas conversacionais online e offline (uma vez que as prticas comunicati-vas virtuais dos sujeitos no se dissociam de sua insero em contextos sociais, polticos e culturais definidos); e as formas criativas de apropriao e uso dos suportes tcnicos (Re-cuero, 2012; Graham, 2008; Witschge, 2008).

    Os processos relacionais de construo de identidades no ciberespao, por sua vez, per-mitem uma forma de encenar e dar sentido experincia que se distancia das referncias que antes sustentavam os sujeitos, sobretu-do o pressuposto do carter evolutivo e con-tnuo de uma identidade nica (Ribeiro, 2001:143).

    A comunicao via redes digitais cons-titui um sujeito mltiplo, instvel, mutvel, difuso e fragmentado: um projeto incabado, sempre em construo (Santaella, 2007:92).

    Percebemos nessas prticas um questio-namento do sujeito unificado, uma vez que no se pode mais pressupor uma separao ntida entre a realidade (fora do ciberespa-o), habitada por sujeitos unos e a realidade simulada no ciberespao, na qual proliferam identidades mltiplas (Santaella, 2007:89). O sistema dos media refora essa perspectiva ao construir a idia de identidade indissoci-

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    vel de marcas de estilo, imagem e forma de apresentao do indivduo (Bruno, 2004). Nesse sentido, somos confrontados com uma multiplicao infinita de microrelatos que so gerados em redes sociais especficas e que se deslocam de maneira entrecruza-da no Facebook, Twitter, blogs e Instagram, por exemplo, alimentando tambm diferen-tes tpos de mdias, inclusive as tradicionais (Martino, 2010).

    A identidade e sua articulao com a au-tenticidade devem ser revistas, uma vez que a verdade sobre algum revelada nos mi-crorelatos ou micronarrativas que ganham visibilidade, perdendo o vnculo com uma interioridade prvia que se revela aps refle-xo e ponderao. A interioridade seria, en-to, constituda no ato de se mostrar ao ou-tro. No se trata de afirmar que as identidades construdas por meio das novas tecnologias sejam menos autnticas e verdadeiras, mas de constatar que as identidades se expressam hoje principalmente por meio de uma sub-jetividade que se constitui prioritariamente na prpria exterioridade, no ato de se fazer visvel ao outro (Bruno, 2004:116). Com os novos dispositivos miditicos, o que est em jogo no mais o esforo dos sujeitos para inserirem suas histrias na mdia, mas sim a possibilidade de o indivduo ser sua prpria mdia e formar o seu prprio pblico.

    nesse contexto que se pode falar tam-bm na acelerada produo de celebri-dades nas redes sociais. Sabemos que as celebridades so um fenmeno tpico da indstria cultural, vinculado fora difu-sionista e aos interesses mercadolgicos da mdia de massa.

    A celebridade , acima de tudo, uma mer-cadoria, ou uma pequena parte visvel de um complexo mercadolgico construdo por uma quantidade de profissionais e equipes que atuam com lgicas prprias seguindo mecanismos sistmicos de operao e maxi-mizao de lucros.

    A celebridade s sobrevive porque est articulada a outras indstrias e produtos

    culturais, dos quais depende para manter seu sucesso (Primo, 2009).

    Para alm da lgica espetacular e indus-trial, a celebridade exerce uma influncia muito grande na configurao dos quadros valorativos e comportamentais de nossa so-ciedade. Muitas vezes o poder da celebridade est ligado ao modo como ela encarna valo-res que, compartilhados, tocam de maneiras diferentes a experincia coletiva. Tais valores constroem sua imagem pblica entre o hu-mano e o divino e ajudam a conquistar e a manter a devoo afetiva dos pblicos em re-lao celebridade (Braga, 2010). O status de celebridade, portanto, no uma construo individual, simples consequncia do talento prprio: ele depende, de um lado, do aparato industrial que sustenta sua imagem e a torna produto de consumo, de outro, depende da legitimidade atribuda pelos fs e pelo pbli-co em geral.

    No bojo da sociedade do espetculo en-contram-se no s as celebridades e as narra-tivas identitrias midiatizadas, mas tambm narrativas do futebol, permeadas do mesmo modo pelos constrangimentos e jogos de poder da indstria cultural e que revelam aspectos nacionais fundantes. O futebol permite constituir laos sociais, seja atravs da identidade nacional de origem, seja por meio do enraizamento em clubes e torcidas, que permite s pessoas de se encontrarem, de estar entre iguais, de discutir, de construir projetos, de viver emoes, de organizar as coisas (Raspaud, 2010). Alm disso, os sons produzidos durante partidas de futebol, den-tro do estdio, nos dizem algo sobre a dis-puta em si, sobre os afetos e a sociabilidade a envolvidos. As sonoridades presentes nos estdios durante os jogos de futebol podem nos ajudar a compreender as transformaes nos afetos, formas de torcer e dinmicas de agregao/disperso de torcedores produzi-das pelas condies da disputa futebolstica (Marra, 2011).

    Tanto a constituio identitria quanto a formao de celebridades online nos condu-

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    Lbero So Paulo v. 16, n. 31, p. 9-16, jan./jun. de 2013Angela Cristina Salgueiro Marques Pesquisa em Comunicao: um panorama da produo discente do...

    O que est em jogo no mais o esforo

    dos sujeitos para inserirem suas

    histrias na mdia, mas a possibilidade de ser

    sua prpria mdia

    zem a pensar sobre a estruturao dos vncu-los sociais, isto , das formas de sociabilida-de online que modelam a construo social dos sujeitos. A sociabilidade, como sabemos, diz da construo de um lugar comum, a partir do qual os sujeitos vo se relacionar com os outros e com o mundo, organizando suas aes recprocas (baseados em padres institucionais de comportamento e uso da linguagem) e elegendo afetos e formas mais fluidas de interao (Bretas e Silva, 2006).

    Os processos de sociabilidade instau-rados no ciberespao no devem ser disso-ciados dos processos existentes no mundo offline, uma vez que nossas trocas virtuais no dispensam os modelos tradicionais que regem nossas relaes face a face com fami-liares e amigos. Interaes sutis, mais fluidas e indiretas caracterizam grande parte das re-laes no ciberespao. Uma nova ordenao social e estrutural que pode comear a ser explicada pela aglomerao dificilmente pre-visvel de esferas sociais vrias que, por no serem hermticas ou isoladas encontram-se, chocam-se e se interceptam.

    Espaos conversacionais na rede so ma-joritariamente utilizados para trocar opini-es, esclarecer entendimentos sobre questes de interesse comum e para reafirmar discur-sos e quadros simblicos compartilhados responsveis pela unio de grupos e indiv-duos que se sentem vinculados por determi-nadas afinidades (Doury e Marccocia, 2007). Na web (e tambm fora dela), os cidados constroem e se apropriam cotidianamente de alguns contextos comunicativos nos quais podem sustentar conversaes a respeito de seus interesses e necessidades, desenvolven-do assim no s laos afetivos de proximida-de e pertencimento, mas tambm retoman-do e reformulando constantemente cdigos de pertencimento e unio.

    Os relatos de pesquisa aqui reunidos que se dedicam a explorar os conceitos de am-bientes sonoros, vivncias tecnopoticas vin-culadoras, comunidades sonoras e escritas urbanas (sobretudo o grafite) apresentam

    uma intensa proximidade com a abordagem da experincia esttica, sobretudo no que se refere dinmica comunicacional que nos possibilita vivenciar eventos, experimentar acontecimentos que se processam no inter-cmbio entre virtual/real; digital/analgico; corpo/mquina; material/imaterial; sens-vel/inteligvel. As sonoridades, as imagens e textos urbanos e miditicos se mostram, assim, importantes objetos de pesquisa para a investigao do papel da comunicao na

    produo de vnculos sociais, j que tocam o mundo e acariciam ou incomodam os nossos corpos (Menezes, 2007:121), produ-zindo um importante elo entre a dimenso esttica da comunicao e os processos co-municativos de coeso social.

    O estudo da experincia esttica, enquan-to processo comunicativo que envolve o au-todescobrimento e a revelao do universo do outro, confere importncia e destaque s mediaes que estruturam nossas experin-cias pessoais, nossas relaes com os outros e com o mundo concreto (Guimares e Frana, 2006). A experincia relacional, ela marca maneiras e possibilidades de compartilhar, de dialogar e de instaurar passagens entre diferenas e outros modos de experimentar o mundo (Guimares, 2002). A experincia esttica da ordem da transformao, uma vez que ela modifica o sujeito, suas relaes com mundo, com a cultura e com os outros atravs de uma constante recomposio de narrativas e cdigos culturais (Caune, 1997).

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    Lbero So Paulo v. 16, n. 31, p. 9-16, jan./jun. de 2013Angela Cristina Salgueiro Marques Pesquisa em Comunicao: um panorama da produo discente do...

    Se a experincia esttica uma fonte de des-cobertas e de intervenes sobre o mundo e sobre si mesmo, ela guarda a potencialidade de modificar aqueles que dela tomam par-te. Todavia, esse potencial de mudana s se concretiza mediante a confrontao dos su-jeitos com o Outro, com um texto, uma obra de arte, um acontecimento ou uma situao, seja permitindo-lhes se manter no limite do conhecido, seja reconfigurando suas atitu-des e formas de compreender o mundo. E, nesse confronto, estabelece um dilogo, uma interpelao recproca que instaura novas possibilidades de compreenso, interpreta-o e conhecimento da individualidade e da alteridade.

    Por fim, este livro traz tambm relatos de pesquisa que se dedicam a explorar as narra-tivas jornalsticas pelo vis da complexidade, da humanidade e da compreenso (Medina, 2006; Kunsch, 2011). Tal perspectiva enfrenta uma forma hegemnica do fazer jornalstico que afasta razo e emoo, racionalidade e afetividade. Ela incetiva a busca do humano, do outro, da complexidade atravs da cons-truo de noes e parmetros que permitam traar os contornos de uma prtica jornals-tica para a qual no h esquemas que ditem como narrar a complexa realidade. Por isso mesmo, busca-se investir nas formas narra-tivas que expressem como, por meio da ex-perincia vivida, da relao com o outro e da

    tolerncia, modificam-se o olhar do jornalista sobre seus entrevistados e vice-versa. As nar-rativas jornalsticas que apresentam as vidas, os corpos, as esperanas e os testemunhos de pessoas marginalizadas podem nos mostrar, por exemplo, como a precariedade tende a se constituir como resistncia a formas de vida prontas, nas quais o cidado executa pon-tualmente tudo o que lhe dito e deixa que os seus gestos cotidianos, sua sade, os seus divertimentos, suas ocupaes, sua alimenta-o e seus desejos sejam comandados e con-trolados por dispositivos at nos mnimos detalhes (Agamben, 2009:49). A precarieda-de um elemento inapreensvel justamente porque impele os sujeitos a procurar formas alternativas e criativas, por vezes, ingovern-veis, revoltadas e inconformadas de gerir seu cotidiano, dando-lhes uma maior margem de manobra para com elas lidar e escapar aos dis-positivos controladores.

    De forma densa, mltipla e amplamen-te rica, este livro revela como a produo de conhecimento em Comunicao deriva no s da interseo entre distintas teorias e autores, mas tambm do dilogo e da ne-gociao de sentidos que se estabelece nas salas de aula, nos corredores da Faculdade, entre aqueles que integram a comunidade cientfica e entre os amigos mais prximos de caminhada.

    (artigo recebido jun.2013/ aprovado jul.2013)

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    Lbero So Paulo v. 16, n. 31, p. 9-16, jan./jun. de 2013Angela Cristina Salgueiro Marques Pesquisa em Comunicao: um panorama da produo discente do...

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