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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PÓS-GRADUAÇÃO – NÍVEL DOUTORADO
PERCURSOS PARA A CONSTRUÇÃO DE INDICADORES
DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Autora: ANDRÉA PATAPOFF DAL COLETO
Orientadora: Profª. Drª. Orly Zucatto Mantovani de Assis
CAMPINAS – SP
2014
iii
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PERCURSOS PARA A CONSTRUÇÃO DE INDICADORES DA
QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL
ORIENTADORA: Prof. DRª. ORLY ZUCATO MANTOVANI DE ASSIS
AUTORA: ANDRÉA PATAPOFF DAL COLETO
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós- Graduação
em Educação da Faculdade de Educação da Universidade
Estadual de Campinas para obtenção do título de Doutora em
Educação, na área de concentração de Psicologia Educacional.
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE
DEFENDIDA PELA ALUNA ANDRÉA PATAPOFF DAL COLETO
E ORIENTADA PELO PROFª DRª.ORLY ZUCATTO MANTOVANI DE ASSIS
Assinatura do Orientador
________________
CAMPINAS
2014
vii
Dedico essa tese...
Ao meu marido Freide, por todo apoio, amor, compreensão e pela
companhia ao longo da trajetória que me levou à concretização desta jornada.
Caio Henrique, meu filho, fonte de toda força e vontade que trago comigo.
Vocês me fazem sentir que vale a pena viver!
viii
Eu tinha vontade de fazer como os dois homens que vi sentados na terra
escovando osso. No começo achei que aqueles homens não batiam bem. Porque
ficavam ali sentados na terra o dia inteiro escovando osso. Depois aprendi que
aqueles homens eram arqueólogos. E que eles faziam o serviço de escovar osso
por amor. E que eles queriam encontrar nos ossos vestígios de antigas
civilizações que estariam enterrados por séculos naquele chão. Logo pensei de
escovar palavras. Porque eu havia lido em algum lugar que as palavras eram
conchas de clamores antigos. Eu queria ir atrás dos clamores antigos que
estariam guardados dentro das palavras. Eu já sabia também que as palavras
possuem no corpo muitas oralidades remontadas e muitas significâncias
remontadas. Eu queria então escovar as palavras para escutar o primeiro esgar
de cada uma. Para escutar os primeiros sons, mesmo que ainda bígrafos.
Comecei a fazer isso sentado em minha escrivaninha. Passava horas inteiras,
dias inteiros fechado no quarto, trancado, a escovar palavras. Logo a turma
perguntou: o que eu fazia o dia inteiro trancado naquele quarto? Eu respondi a
eles, meio entressonhado, que eu estava escovando palavras. Eles acharam que
eu não batia bem. Então eu joguei a escova fora. Manoel de Barros –
Memórias Inventadas; As infâncias de Manoel de Barros
ix
AGRADECIMENTOS
Ninguém escapa ao sonho de voar, de ultrapassar os limites do
espaço onde nasceu, de ver novos lugares e novas gentes. Mas saber
ver em cada coisa, em cada pessoa, aquele algo que define como
especial, um objeto singular, um amigo é fundamental. Navegar é
preciso, reconhecer o valor das coisas e das pessoas, é mais preciso
ainda! Antoine de Saint-Exupéry
Agradeço à minha mãe que acreditou em mim e que mesmo em distância me acompanhou
até aqui. Aos meus familiares e amigos que pacientemente me esperaram vencer esta
jornada.
Ao meu amado esposo, Freide pelo inestimável apoio familiar que preencheu as diversas
falhas que fui tendo por força das circunstâncias, e pela paciência e compreensão reveladas
ao longo destes anos.
Ao meu filho, Caio Henrique, pela compreensão manifestada apesar da falta de atenção e
ausências, pela excitação e orgulho com que sempre reagiu aos resultados acadêmicos da
mãe ao longo dos anos. Espero que o entusiasmo, seriedade e empenho que dedico ao
trabalho possa lhe servir de estímulo para fazer sempre ―mais e melhor‖.
Muito especialmente, desejo agradecer a minha orientadora Profª Orly Zucatto Mantovani
de Assis, pela competência científica e acompanhamento do trabalho, pela disponibilidade
e generosidade reveladas ao longo destes anos de trabalho, assim como pelas críticas,
correções e sugestões relevantes feitas durante a orientação que me ensinou com prazer e
dedicação parte do que sei, bem como pela disponibilidade e amizade então demonstradas.
x
Agradeço no geral a todos os Professores que contribuíram para a minha formação
acadêmica pela disponibilidade, atenção dispensada, paciência, dedicação e
profissionalismo em especial à Profª Rita Lanoux de francês que acreditou em minhas
potencialidades ... um Muito Obrigado.
Agradeço o apoio, a partilha do saber e as valiosas contribuições para o enriquecimento do
trabalho apresentadas no processo de qualificação desta tese pelas professoras Jussara,
Rosely e Maria B.
Agradeço às colegas Mazeley, Roberta e Iramaia que abriram as portas das creches para
que eu pudesse concretizar as propostas de minha pesquisa.
Aos interlocutores da pesquisa, pela concordância em responderem o instrumento de
investigação e aos que participaram dos grupos focais.
Muito obrigada às colegas Talita e Daniela que tanto me socorreram em todos estes anos.
Agradeço as valiosas correções feitas por Kelber Abrão e Andréa de Ávila.
Agradeço à minha irmã Patrícia e ao meu sobrinho Nicholas que me apoiaram nessa
caminhada.
Aos funcionários da Secretaria de Pós-Graduação, da Biblioteca, da Faculdade de
Educação, da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, pelo caloroso atendimento
prestado.
À CNPQ pelo apoio financeiro.
Mais uma vez, a todos os meus sinceros agradecimentos.
xi
RESUMO
Pensar a educação para a primeira infância é reconhecer este período notável para o
desenvolvimento infantil. Todos os bebês e crianças pequenas precisam, de experiências de
vida de qualidade que promovam avanços em todos os aspectos: afetivo, social, intelectual
e físico em um clima relacional de confiança e afeto. Neste contexto, é imperativo discutir
os critérios de qualidade do ambiente educativo que é oferecido às crianças. A presente
pesquisa consiste em um estudo da avaliação da qualidade da Educação Infantil com
atendimento de 0 a 3 anos. Para tanto, discutiu-se as concepções de infância, a Educação
Infantil como direito, as políticas públicas que regem este segmento de ensino, avaliação
institucional, suas dimensões e modelos de avaliação da qualidade da Educação Infantil em
diversos países nesse contexto de ensino. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de natureza
exploratória-descritiva estruturada em duas partes. A primeira parte se constituiu em um
levantamento amostral (survey), com escala Likert que teve como objetivo conhecer as
concepções e o grau de satisfação dos dirigentes, professores, educadores e pais de alunos
no que se refere à qualidade da educação nessa modalidade de ensino por meio de um
instrumento construído para este fim. A segunda parte, foi a organização e realização de
grupos focais para a construção participativa de indicadores para avaliação da qualidade
nesse segmento de ensino. Participaram desse estudo professores, educadores, dirigentes e
pais de alunos de três Escolas de Educação Infantil com atendimento a crianças de 0 a 3
anos – segmento creche, totalizando 71 participantes. A análise dos resultados foi de
natureza quantitativa-qualitativa. A análise qualitativa foi realizada a partir da revisão
teórica e verificou-se que as concepções da qualidade da Educação Infantil no atendimento
às crianças de 0 a 3 anos apresentadas, de maneira geral, pressupõe a necessidade de levar
em consideração a realidade na qual a instituição está inserida e revelaram o desejo e a
conscientização dos participantes pela melhoria na qualidade dos recursos materiais e
humanos, indicando possibilidades de mudanças que favoreçam a efetivação de ambientes
educativos que promovam o bem-estar das crianças e a satisfação de suas necessidades
básicas. Constatou-se, também, que a prática refletida é ferramenta primordial para a
construção de um ambiente de qualidade e a participação de todos deve estar presente em
todas as instituições de Educação Infantil. Espera-se que este estudo possa contribuir para a
formação continuada dos profissionais de Educação Infantil que atuam com crianças de 0 a
3 anos, a fim de que estes tenham a oportunidade e de refletir sobre os ambientes
adequados e práticas destinadas a promover o desenvolvimento integral de crianças dessa
faixa etária e se conscientizem da importância de se oferecer uma Educação Infantil de
qualidade.
Palavras-Chave: Educação infantil. Formação continuada. Qualidade. Indicadores.
Avaliação.
xii
ABSTRACT
When thinking of early childhood education it is necessary to recognize that this is a
remarkable period for child development. Therefore, all babies and toddlers need quality
life experiences which promote advancements in the aspects of emotional, social,
intellectual, and physical development, within a trusting and affectionate environment. In
accordance with these necessities, it is imperative to discuss the criteria regarding the
quality of the educational environment which the children are provided. This research
consists of a study of an evaluation of the quality in early childhood education within the
ages of 0-3 years. Further discussions of childhood conceptions, the right to early childhood
education, public policies governing this segment of education, institutional assessments,
dimensions and models of evaluating early childhood education quality in various countries
regarding teaching also occurred. This is an exploratory-descriptive nature of qualitative
research structured in two parts. The first part consisted in a sample survey (survey), with
Likert scale that aimed to identify the concepts and the degree of satisfaction of leaders,
teachers, educators and parents of students with regard to the quality of education in these
services by using an instrument constructed for this purpose. The second part was the
organization and conducting focus groups for participatory construction of indicators for
assessing the quality of education in this segment. Participants in this study were teachers,
educators, leaders and parents from three daycare centers that care for children 0-3 years
old (kindergarten segment) totaling 71 participants. The analysis was quantitative and
qualitative in nature. Qualitative analysis was performed from the theoretical review. It was
found that the concepts of early childhood education quality, caring for children 0 to 3
years old, have the necessity to take into account the reality in which the institution is
located, the desire and awareness of participants by improving quality of material and
human resources, indicating possibilities for changes that favor the effectiveness of
educational environments promoting the welfare of children, and the satisfaction of their
basic needs. It was also found that the manner in which the care and education is delivered
is paramount to building a quality environment and the participation of all involved must be
present in all institutions of Early Childhood Education. This study has the intention of
contributing to the continuous education of early childhood education professionals,
working with children 0-3 years old, in which they have the opportunity to reflect on
appropriate environments and practices that promote the integral development of children,
and increase their awareness of the importance in offering a quality Early Childhood
Education.
Keywords: Early childhood education. Continuing education. Quality. Indicators.
Evaluation.
xiii
RÉSUMÉ
Penser l‘éducation pour la première enfance est reconnaître ce période notable pour le
développement infantile. Tous les bébés et enfants petits on a besoin donc, des experiences
de vie de qualité qu‘ils promeuvent avances pour les aspects: affectf, social, intellectuel et
physique dans un climat en rapport la confiance et l‘affection. Dans ce contexte, il est
impératif débattre les critères de qualité de l‘ambiance éducatif qui est offert aux enfants.
La présente recherche consiste d‘un étude de l‘évaluation de la qualité de l‘ Éducation
Infantile en faisant attention aux enfants de 0 jusqu‘à 3 ans. Pour tant, on a débattu les
conceptions de l‘enfance, l‘Éducation Infantile comme le droit, les politiques publiques qui
régissent ce segment d‘enseignement, évaluation institutionnel, ses dimensions et modèles
d‘évaluation de la qualité de l‘Éducation Infantile en plusieurs pays dans ce contexte
d‘enseignement. Il s'agit d'un caractère exploratoire-descriptive de la recherche qualitative
structuré en deux parties. La première partie a consisté en une enquête par sondage (de
l'enquête), avec échelle de Likert qui vise à identifier les concepts et le degré de satisfaction
des dirigeants, des enseignants, des éducateurs et des parents d'élèves à l'égard de la qualité
de l'éducation dans ces services par en utilisant un instrument construit à cet effet. La
deuxième partie a été l'organisation et la tenue de groupes de discussion pour la
construction participative d'indicateurs pour évaluer la qualité de l'éducation dans ce
segment. On a participié de ce étude professeurs, éducateurs, dirigeants et les parents de
trois Écoles d‘ Éducation Infantile avec attention aux enfants de 0 jusqu‘à 3 ans- segment
garderie, en totalisant 71 participants. L‘analyse des résultats a été d‘origine quantitative-
qualitative. L‘analyse qualitative a été réaliser à partir de la révision théorique et on a
vérifié que les conceptions de la qualité de l‘Éducation Infantile en faisant attention aux
enfants de 0 jusqu‘à 3 ans présentées d‘une façon génerale, elle suppose le besoin de
prendre en considération la réalité dont l‘institution est inséré et ils auront révélé le désir et
le prendre conscience des participants pour améliorer la qualité des ressources materiel et
humains, en indiquant les possibilités des échanges qui vont favoriser la concrétisation des
ambiences éducatifs qui promeuvent le bien-être des enfants et la satisfaction de leurs
besoins fondamentals. On a constaté, aussi, que la pratique réfléchie est outil principal pour
la construction d‘un ambience de qualité et la participation de tous doit être présente dans
toutes les instituition d‘Éducation Infantile. On attend, que ce étude, il puisse contribuer
pour la formation continuée des professionnels d‘Éducation Infantile qui travaillent avec les
enfants de 0 jusqu‘à 3 ans, a fin de qu‘ils puissent avoir l‘opportunité de réfléchir sur les
ambiences adaptés et aussi sur les pratiques qui sont destinées à promouvoir le
développement entier des enfants de cette tranche d‘âge et qu‘ils se conscientisent de
l‘importance de se offrir une Éducation Infantile de qualité.
Mots-Clés: Éucation infantile. Formation continuée. Qualité. Indicateurs. Évaluation.
xv
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................................................................................ xi
ABSTRACT ........................................................................................................................................................ xii
RÉSUMÉ ........................................................................................................................................................... xiii
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................. 2
CAPÍTULO I ................................................................................................................................................... 9
EDUCAÇÃO INFANTIL: UM DIREITO DA CRIANÇA ........................................................................ 9
1. 1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A INFÂNCIA ...........................................................................................11
1.1.1 MARCO LEGAL DA PRIMEIRA INFÂNCIA .................................................................................................17
1.1.2 A EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS NA PRIMEIRA INFÂNCIA ..........................................................................29
1.2 O DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA DA CRIANÇA .........................................................36
1.2.1 O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO INFANTIL: DO CAOS ÀS PRIMEIRAS REPRESENTAÇÕES
MENTAIS ............................................................................................................................................................39
1.2.2 PERÍODO SENSÓRIO – MOTOR .................................................................................................................42
1.2.2.1 FASE I – EXERCÍCIOS DOS REFLEXOS...................................................................................................43
1.2.2.2 FASE II - REAÇÃO CIRCULAR PRIMÁRIA: RUMO À CONDUTA INTENCIONAL INTELIGENTE - DA
REPETIÇÃO DE CONDUTAS À FORMAÇÃO DOS PRIMEIROS HÁBITOS. (DE 1 A 4 MESES) .................................45
1.2.2.3 FASE III - REAÇÃO CIRCULAR SECUNDÁRIA: AS CONDUTAS QUASE INTENCIONAIS ANUNCIAM A
INTELIGÊNCIA PRÁTICA (DOS 4 AOS 8 MESES) .................................................................................................46
1.2.2.4 FASE IV - COORDENAÇÃO DE ESQUEMAS SECUNDÁRIOS: AS CONDUTAS INTENCIONAIS
CONSTITUEM-SE NUM ATO INTELIGENTE (DOS 8 AOS 12 MESES) ...................................................................48
1.2.2.5 FASE V - REAÇÕES CIRCULARES TERCIÁRIAS: A CONDUTA DA VARA ANUNCIA A INTELIGÊNCIA
SISTEMÁTICA (DOS 12 AOS 18 MESES) .............................................................................................................50
xvi
1.2.2.6 FASE VI - REAÇÕES CIRCULARES TERCIÁRIAS: A INVENÇÃO MENTAL DE NOVOS MEIOS MEDIANTE
A COMBINAÇÃO MENTAL E DEFINE A INTELIGÊNCIA SISTEMÁTICA (DOS 18 AOS 24 MESES) ........................52
1.2.2.7 PERÍODO PRÉ-OPERATÓRIO ..................................................................................................................55
1.2.2.8 O PENSAMENTO PRÉ-CONCEITUAL ......................................................................................................56
...........................................................................................................................................................................61
CAPÍTULO II ...................................................................................................................................................61
O CONCEITO AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL ......................................61
2.1 O QUE É QUALIDADE DA EDUCAÇÃO? ...........................................................................................62
2.2 PARÂMETROS LEGAIS PARA AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL ..................................71
2.3 AVALIAÇÃO E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL .............................................................80
2.4 O PROCESSO DE AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL PARTICIPATIVA ...........................................90
CAPÍTULO III .................................................................................................................................................99
MODELOS DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL .....................................99
3.1 PROCEDIMENTOS E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO
INFANTIL ......................................................................................................................................................100
3.2. A AUTOAVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL .......................................106
3.3 MODELOS DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL ............................109
3.3.1 CRITÉRIOS PARA O ATENDIMENTO EM CRECHES QUE RESPEITEM OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DAS
CRIANÇAS (BRASIL, 1995) .............................................................................................................................109
3.3.2 INDICADORES DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL (BRASIL, 2009) .........................................112
3.3.3 AVALIAÇÃO PARTICIPATIVA DAS ESCOLAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO GOVERNO DO DISTRITO
FEDERAL. ........................................................................................................................................................117
xvii
3.3.4 EARLY CHILDHOOD ENVIRONMENTAL RATING SCALE (ECERS) - ESCALA DE AVALIAÇÃO DE
AMBIENTES DA EDUCAÇÃO INFANTIL E EARLY CHILDHOOD ENVIRONMENTAL RATING SCALE – REVISED
ESCALA DE AVALIAÇÃO DE AMBIENTES DA EDUCAÇÃO INFANTIL - REVISADA (ECERS-R) ....................122
3.3.5 A INFANT/TODDLER ENVIRONMENT RATING SCALE ESCALA DE AVALIAÇÃO PARA BEBÊS E
CRIANÇAS PEQUENAS (ITERS) E INFANT/TODDLER ENVIRONMENT RATING SCALE – REVISED EDITION
ESCALA DE AVALIAÇÃO PARA BEBÊS E CRIANÇAS PEQUENAS - EDIÇÃO REVISADA (ITERS-R)...............128
3.3.6 O PROJETO EFECTIVE EARLY LEARNING/DESENVOLVENDO A QUALIDADE EM PARCERIAS
(EEL/DQP) .....................................................................................................................................................132
3.3.7 ASPECTOS-CHAVE DE UMA EDUCAÇÃO INFANTIL DE QUALIDADE CRIADO POR ZABALZA (1998) ..139
3.3.8 MODELO TRIDIMENSIONAL DE M. WOODHEAD (1996) .......................................................................142
3.3.9 PIP - PERFIL DE IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA - (HIGH/SCOPE EDUCATIONAL RESEARCH
FOUNDATION, 1989) .......................................................................................................................................148
3.3.10 MODELO L‘ÉCHELLE D‘ÉVALUATION DE LA QUALITÉ (EEQ) ESCALA DE AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE .....................................................................................................................................................154
3.3.11 O MODELO SICS (ZIKO), WELL-BEING AND INVOLVEMENT IN CARE. A PROCESS- ORIENTED SELF-
EVALUATION INSTRUMENT FOR CARE SETTINGS .........................................................................................159
CAPÍTULO IV ...............................................................................................................................................169
AS DIMENSÕES DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL ........................................................169
4.1. AMBIENTE FÍSICO ..............................................................................................................................171
4.2 PLANOS E ROTINAS ............................................................................................................................181
4.3 INTERAÇÃO ADULTO-CRIANÇA .....................................................................................................187
4.4 INTERAÇÕES ENTRE AS CRIANÇAS ...............................................................................................193
4.5 EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS ..........................................................................................................199
4.6 CUIDADOS PARA UMA VIDA SAUDÁVEL .....................................................................................214
4.7 QUALIFICAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL .........................................................217
xviii
4.8 PARCERIA ESCOLA-FAMÍLIA ...........................................................................................................220
CAPÍTULO V ................................................................................................................................................227
A PESQUISA .................................................................................................................................................227
5.1 A PESQUISA ...........................................................................................................................................229
5.2 O PROBLEMA ........................................................................................................................................231
5.3 OBJETIVOS .............................................................................................................................................232
5.3.1 OBJETIVO GERAL ...................................................................................................................................232
5.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................................................................................233
5.4 PRESSUPOSTOS ....................................................................................................................................233
5.5 METODOLOGIA ....................................................................................................................................234
5.5.1 AMOSTRA ...............................................................................................................................................235
5.5.1.1 CARACTERIZAÇÃO DAS CRECHES PARTICIPANTES ...........................................................................236
5.5.1.1.1 CRECHE I .........................................................................................................................................236
5.5.1.1.2 CRECHE II ........................................................................................................................................237
5.5.1.1.3 CRECHE III ......................................................................................................................................238
5.6 PRIMEIRA ETAPA DA PESQUISA .....................................................................................................239
5.6.1 COLETA DE DADOS E INSTRUMENTOS ...................................................................................................241
5.6.2 CATEGORIZAÇÃO DAS RESPOSTAS ........................................................................................................246
5.7 SEGUNDA ETAPA DA PESQUISA .....................................................................................................247
5.7.1 GRUPO FOCAL .......................................................................................................................................247
5.7.2 GRUPO FOCAL COMO INSTRUMENTO PARA CONSTRUÇÃO DOS INDICADORES ....................................250
xix
5.8 CONDIÇÕES PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA .....................................................................254
CAPÍTULO VI ...............................................................................................................................................257
RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO ...............................................................................................257
6.1 RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO .........................................................................................258
6.1 1 CARACTERIZAÇÃO DEMOGRÁFICA - PRIMEIRA PARTE DO INSTRUMENTO ..........................................259
6.1.1.1 CRECHE I ............................................................................................................................................260
6.1.1.2 CRECHE II ...........................................................................................................................................260
6.1.1.3 CRECHE III .........................................................................................................................................261
6.2 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS RESULTADOS DO INSTRUMENTO –
SEGUNDA PARTE: PESQUISA DA QUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL ...............................265
6.2.1 AMBIENTE FÍSICO ..................................................................................................................................268
6.2.2 PLANOS E ROTINAS ...............................................................................................................................272
6.2.3 INTERAÇÃO ADULTO – CRIANÇA...........................................................................................................276
6.2.4 INTERAÇÕES ENTRE IGUAIS ...................................................................................................................279
6.2.5 EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS .................................................................................................................282
6.2.6 CUIDADOS PARA UMA VIDA SAUDÁVEL ...............................................................................................285
6.2.7 QUALIFICAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL .........................................................................288
6.2.8 PARCERIA CRECHE – FAMÍLIA ...............................................................................................................292
6.3 COMPARAÇÕES ENTRE CRECHES ..................................................................................................295
6.4 COMPARAÇÕES ENTRE AS CRECHES QUANTO À ESCALA DE ORDEM HIERÁRQUICA .297
6.5 COMPARAÇÕES ENTRE AS FUNÇÕES DOS RESPONDENTES QUANTO À ESCALA DE
ORDEM HIERÁRQUICA .............................................................................................................................308
xx
6.6 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DO RESULTADO DO QUESTIONÁRIO – TERCEIRA PARTE
.........................................................................................................................................................................318
6.6.1 PRIMEIRA PERGUNTA: O QUE SERIA UMA CRECHE DE QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL DE 0 A 3
ANOS? ..............................................................................................................................................................319
6.6.1.1 CATEGORIA 1 - DESENVOLVIMENTO INFANTIL .................................................................................321
6.6.1.2 CATEGORIA 2 – ESTRUTURA FÍSICA E MATERIAIS ...........................................................................323
ANALISANDO O CONJUNTO DAS RESPOSTAS, CONSTATA-SE QUE, SEM DÚVIDA, A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NAS
ESCOLAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL É EMERGENCIAL E FUNDAMENTAL UMA VEZ QUE INFLUENCIA A QUALIDADE
DAS INTERAÇÕES E DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS. TAL FATO OCORRE DEVIDO O MODO DE COMO O ESPAÇO
É ADMINISTRADO CONSTITUI-SE EM UMA MENSAGEM CURRICULAR QUE REFLETE O MODELO EDUCATIVO DA
INSTITUIÇÃO. ....................................................................................................................................................324
6.6.1.3 CATEGORIA 3 - FORMAÇÃO DO PESSOAL ..........................................................................................324
6.6.1.4 CATEGORIA 4 - QUANTIDADE DE CRIANÇA POR ADULTO .................................................................326
6.6.1.5 CATEGORIA 5 – PARCERIA COM AS FAMÍLIAS ..................................................................................328
6.6.2 SEGUNDA PERGUNTA: PARA QUE SERVE UMA CRECHE? .....................................................................329
6.6.2.1 CATEGORIA 1 – CUIDAR E EDUCAR ...................................................................................................330
6.6.2.2 CATEGORIA – ACOLHER AS CRIANÇAS ENQUANTO OS PAIS TRABALHAM: ......................................332
6.6.2.3 CATEGORIA – SOCIALIZAÇÃO ............................................................................................................334
6.6.2.4 CATEGORIA – ENSINAR ......................................................................................................................335
6.7 A CONSTRUÇÃO PARTICIPATIVA DOS INDICADORES .............................................................336
6.7.1 AS VOZES DE MUITOS OLHARES ...........................................................................................................338
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................375
REFERÊNCIAS .............................................................................................................................................392
APÊNDICES E ...............................................................................................................................................406
xxi
ANEXOS ........................................................................................................................................................406
APÊNDICE A ................................................................................................................................................407
CARTA DE ENCAMINHAMENTO ÀS SECRETÁRIAS DE EDUCAÇÃO DAS CIDADES ÀS REDES PÚBLICAS QUE
FORAM INVESTIGADAS, DIRETORES DAS ESCOLAS PARTICULARES E O TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE
E ESCLARECIDO ..............................................................................................................................................407
ASPECTO DA AUTORIZAÇÃO ...........................................................................................................................410
APÊNDICE B .................................................................................................................................................411
CARTA CONVITE PARA OS PARTICIPANTES DO GRUPO FOCAL ......................................................................411
APÊNDICE C .................................................................................................................................................413
PESQUISA DA QUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL - PQI ..........................................................................413
APÊNDICE D ................................................................................................................................................421
PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA ......................................................................................................................421
ANEXO I ........................................................................................................................................................424
CADERNO DE ORIENTAÇÃO PARA AS CRECHES INTERESSADAS EM APLICAR O INSTRUMENTO CONSTRUÍDO.
.........................................................................................................................................................................424
ANEXO II .......................................................................................................................................................431
xxii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Paradigmas de análise da qualidade na Educação Infantil 105
Quadro 2 Critérios para um atendimento em creches, que respeite os direitos
fundamentais das crianças
111
Quadro 3 Dimensões da Qualidade da Educação Infantil 113
Quadro 4 Sete dimensões da Qualidade da Educação Infantil 118
Quadro 5 Orientação para atribuição de pontos 121
Quadro 6 Modelo do Plano de Ação 122
Quadro 7 Perspectiva global das sub escalas e Itens da ECERS-R 126
Quadro 8 Amostra de Early childhood environment rating scale – revised,
updated edition
128
Quadro 9 Escala Infant/Toddler Enviroment Rating Scale (ITERS-R) Escala
Infant/Toddler Enviroment Rating Scale (ITERS-R) 130
Quadro 10 Amostra da Escala Infant/Toddler Enviroment Rating Scale
(ITERS-R)
131
Quadro 11 Dimensões da Qualidade 137
Quadro 12 Dez aspectos-chave de uma Educação Infantil de qualidade. 141
Quadro 13 Dez fases emergentes que podem auxiliar na promoção do
desenvolvimento da qualidade.
145
Quadro 14 Ambiente Físico 150
Quadro 15 Rotina Diária. 151
Quadro 16 Interação adulto-criança 151
Quadro 17 Interação adulto-adulto 152
Quadro 18 Escala de Bem-Estar Emocional 164
Quadro 19 Escala de Implicação 165
xxiii
Quadro 20 Adaptação dos períodos vitais de desenvolvimento do sistema de
vinculação apresentada por Portugal.
189
Quadro 21 Síntese das etapas do desenvolvimento em relação a socialização
intelectual segundo Tortella.
195
Quadro 22 Categorias encontradas por Grana (2011) 197
Quadro 23 Experiências - chave High/Scope para bebês e crianças pequenas 206
Quadro 24 Constituição da Instituição que compõe a Creche I 237
Quadro 25 Constituição da instituição que compõe a Creche II 238
Quadro 26 Constituição da instituição que compõe a Creche III 239
Quadro 27 Total dos participantes da pesquisa 240
Quadro 28 Questões dissertativas 245
Quadro 29 Categorias da primeira pergunta. 246
Quadro 30 Categorias da segunda pergunta. 247
Quadro 31 Organização do grupo focal das creches participantes da pesquisa 252
Quadro 32 Roteiro do pesquisador para realização do grupo focal 253
Quadro 33 Indicadores referentes a dimensão Ambiente Físico 269
Quadro 34 Indicadores referentes a dimensão Planos e Rotinas 273
Quadro 35 Indicadores referentes a dimensão Interação adulto – criança 277
Quadro 36 Indicadores referentes a dimensão Interações entre iguais 280
Quadro 37 Indicadores referentes a dimensão Experiências Educativas 283
Quadro 38 Indicadores referentes a dimensão Cuidados para uma vida
saudável
286
Quadro 39 Indicadores referentes a dimensão Qualificação e desenvolvimento
profissional
289
Quadro 40 Indicadores referentes a dimensão Relação com a família 292
xxiv
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Matrículas de creche por dependência administrativa 23
Figura 2 Múltiplas Perspectivas da Qualidade 85
Figura 3 Representação do processo de avaliação – plenária de discussões 115
Figura 4 Amostra do documento- Indicadores da Qualidade na Educação Infantil 116
Figura 5 As dimensões da qualidade da Educação Infantil. 119
Figura 6 Amostra do quadro demonstrativo da Avaliação Participativa – Qualidade
da Educação Infantil
120
Figura 7 As quatro fases do DPQ sistematizadas abaixo 135
Figura 8 Diagrama do Quadro Teórico de Qualidade. 136
Figura 9 Modelo tridimensional da qualidade adaptado por Woodhead,1996. 144
Figura 10 Modelo do Protocolo de Implementação do Programa (PIP) 153
Figura 11 Modelo da ficha de Escala de Avaliação da Qualidade 158
Figura 12 O Processo Dentro da Criança. 162
Figura 13 Modelo da ficha do Questionário: Qualidade da Oferta na Creche 163
Figura 14 Relações interdependentes da organização dos ambientes segundo Zabalza
e Forneiro
174
Figura 15 Caminho dos Planos e Rotina 183
Figura 16 Tríade das ações educativas 184
Figura 17 Roda da Aprendizagem High/Scope para bebês e crianças. Adaptado de
Hohmann e Post .
204
Figura 18 Mapa curricular do PROEPRE. 213
Figura 19 Etapas do processo de investigação. 235
Figura 20 Porcentagens da amostra por função 240
Figura 21 Oito Dimensões da qualidade da Educação Infantil 244
xxv
Figura 22 Escolaridade dos sujeitos da creche I. 260
Figura 23 Escolaridade dos sujeitos da creche II. 261
Figura 24 Escolaridade dos sujeitos da creche III 262
Figura 25 Escolaridade dos sujeitos por Creche. 263
Figura 26 Médias por função e dimensão 267
Figura 27 Porcentagens de respostas por Indicador para a Dimensão I – Ambiente
Físico
271
Figura 28 Número de respostas para a ordenação dos 3 itens mais importantes e
resultados da soma das pontuações por Indicador da dimensão Ambiente
Físico.
272
Figura 29 Porcentagens de respostas por indicador para a Dimensão II – Planos e
Rotinas
274
Figura 30 Número de respostas para a ordenação dos 3 itens mais importantes e
resultados da soma das pontuações por Indicador da dimensão Planos e
Rotinas.
276
Figura 31 Porcentagens de respostas por Indicador para a Dimensão III 277
Figura 32 Número de respostas para a ordenação dos 3 itens mais importantes e
resultados da soma das pontuações por Indicador da dimensão Interação
Adulto - Criança
279
Figura 33 Porcentagens de respostas por Indicador para a Dimensão IV 281
Figura 34 Número de respostas para a ordenação dos 3 indicadores mais importantes e
resultados da soma das pontuações por Indicador da dimensão Interações
entre iguais
281
Figura 35 Porcentagens de respostas por Indicador para a Dimensão V- Experiências
Educativas
284
Figura 36 Número de respostas para a ordenação dos 3 itens mais importantes e
resultados da soma das pontuações por Indicador da dimensão
Experiências educativas
285
Figura 37 Porcentagens de respostas por indicador para a Dimensão VI: Cuidados
para uma vida saudável
287
Figura 38 Número de respostas para a ordenação dos 3 indicadores mais importantes e
resultados da soma das pontuações por indicador da dimensão Cuidados
para uma vida saudável
288
Figura 39 Porcentagens de respostas por Indicador para a Dimensão VII 291
xxvi
Figura 40 Número de respostas para a ordenação dos 3 indicadores mais importantes e
resultados da soma das pontuações por indicador da dimensão Qualificação
e desenvolvimento profissional
291
Figura 41 Porcentagens de respostas por Indicador para o Indicador VIII: Relação
com a família
294
Figura 42 Número de respostas para a ordenação dos 3 indicadores mais importantes e
resultados da soma das pontuações por indicador da dimensão Relação com
a família.
295
Figura 43 Médias por creche e dimensão 296
Figura 44 Porcentagens para a escolha mais importante por creche para a Dimensão I 299
Figura 45 Porcentagens para a escolha mais importante por Creche para a Dimensão II 300
Figura 46 Porcentagens para a escolha mais importante por Creche para a Dimensão
III
301
Figura 47 Porcentagens para a escolha mais importante por Creche para a Dimensão
IV
302
Figura 48 Porcentagens para a escolha mais importante por Creche para a Dimensão
V
303
Figura 49 Porcentagens para a escolha mais importante por Creche para a Dimensão
VI
304
Figura 50 Porcentagens para a escolha mais importante por Creche para a Dimensão
VII
305
Figura 51 Porcentagens para a escolha mais importante por Creche para a Dimensão
VIII
306
Figura 52 Médias por função e fator 1 309
Figura 53 Porcentagens para a escolha mais importante por função para a Dimensão I. 310
Figura 54 Porcentagens para a escolha mais importante por função para a Dimensão
II.
311
Figura 55 Porcentagens para a escolha mais importante por função para a Dimensão
III.
312
Figura 56 Porcentagens para a escolha mais importante por função para a Dimensão
IV.
313
Figura 57 Porcentagens para a escolha mais importante por função para a Dimensão V 314
Figura 58 Porcentagens para a escolha mais importante por função para a Dimensão
VI.
315
xxvii
Figura 59 Porcentagens para a escolha mais importante por função para a Dimensão
VII.
316
Figura 60 Porcentagens para a escolha mais importante por função para a Dimensão
VIII.
317
Figura 61 Categorias das respostas da primeira questão: O que seria uma creche de
Qualidade da Educação Infantil de 0 a 3 anos?
320
Figura 62 Categorias das respostas da segunda questão: Para que serve uma creche? 329
xxviii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Número de Matrículas na Educação Infantil e população Residente
de 0 a 3 e 4 e 5 anos de idade – Brasil – 2007 – 2012 22
Tabela 2 Escolaridade dos sujeitos por Creche e no total 262
Tabela 3 Médias e desvios padrão para as 8 dimensões da escala 266
Tabela 4 Médias e desvios padrão para as 8 dimensões da escala por creche 267
Tabela 5 Frequências e porcentagens da ordenação de importância para a
Dimensão I: Ambiente Físico
269
Tabela 6 Frequências e porcentagens da ordenação de importância para a
Dimensão II: Planos e Rotinas
274
Tabela 7 Frequências e porcentagens da ordenação de importância para a
Dimensão III: Interação Adulto - Criança
277
Tabela 8 Frequências e porcentagens da ordenação de importância para a
Dimensão IV: Interações entre iguais
280
Tabela 9 Frequências e porcentagens da ordenação de importância para a
Dimensão V: Experiências Educativas
284
Tabela 10 Frequências e porcentagens da ordenação de importância para a
Dimensão VI: Cuidados para uma vida saudável
287
Tabela 11 Frequências e porcentagens da ordenação de importância para a
Dimensão VII: Qualificação e desenvolvimento profissional
290
Tabela 12 Frequências e porcentagens da ordenação de importância para a
Dimensão VIII: Relação com a família
294
Tabela 13 Médias e desvios padrão para as 8 dimensões da escala por creche 297
Tabela 14 Frequências e porcentagens do Indicador mais importante para as 8
dimensões da escala por creche para a Dimensão I: Ambiente Físico
298
Tabela 15 Frequências e porcentagens do indicador mais importante para as 8
dimensões da escala por creche para a Dimensão II: Planos e
Rotinas
299
xxix
Tabela 16 Frequências e porcentagens do Indicador mais importante para as 8
dimensões da escala por Creche para a Dimensão III: Interação
Adulto Criança
300
Tabela 17 Frequências e porcentagens do Indicador mais importante para as 8
dimensões da escala por creche para a Dimensão IV: Interações
entre iguais
301
Tabela 18 Frequências e porcentagens do Indicador mais importante para as 8
dimensões da escala por Creche para a Dimensão V: Experiências
educativas
302
Tabela 19 Frequências e porcentagens do Indicador mais importante para as 8
dimensões da escala por Creche para a Dimensão VI: para uma vida
saudável
303
Tabela 20 Frequências e porcentagens do Indicador mais importante para as 8
dimensões da escala por Creche para a Dimensão VII: Qualificação
e desenvolvimento profissional
304
Tabela 21 Frequências e porcentagens do Indicador mais importante para as 8
dimensões da escala por Creche para a Dimensão VIII: Relação com
a família
306
Tabela 22 Médias e desvios padrão para os 8 dimensões da escala por Creche 309
Tabela 23 Frequências e porcentagens do indicador mais importante para as 8
dimensões da escala por função para a Dimensão I: Ambiente Físico
310
Tabela 24 Frequências e porcentagens do indicador mais importante para as 8
dimensões da escala por função para a Dimensão II: Planos e
Rotinas
311
Tabela 25 Frequências e porcentagens do indicador mais importante as 8
dimensões da escala por função para a Dimensão III: Interação
Adulto Criança
312
Tabela 26 Frequências e porcentagens do indicador mais importante para as 8
dimensões da escala por função para a Dimensão IV: Interações
entre iguais
313
Tabela 27 Frequências e porcentagens do indicador mais importante para as 8
dimensões da escala por função para a Dimensão V: Experiências
educativas
314
Tabela 28 Frequências e porcentagens do indicador mais importante para as 8
dimensões da escala por função para a Dimensão VI: Cuidados para
315
xxx
uma vida saudável
Tabela 29 Frequências e porcentagens do indicador mais importante para as 8
dimensões da escala por função para a Dimensão VII: Qualificação
e desenvolvimento profissional
316
Tabela 30 Frequências e porcentagens do indicador mais importante para as 8
dimensões da escala por função para a Dimensão VIII: Relação com
a família
317
Tabela 31 Frequências e porcentagens das categorias referente a primeira
pergunta
320
Tabela 32 Frequências e porcentagens das categorias entre as funções referente
a primeira pergunta.
320
Tabela 33 Frequências e porcentagens das categorias referente a segunda
pergunta
330
Tabela 34 Frequências e porcentagens das categorias entre as funções referente
a segunda pergunta
330
xxxi
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
Análise de Variância ANOVA
Auxiliares de desenvolvimento infantil ADIs
Câmara de Educação Básica CEB
Centro de Seleção de Candidatos ao Ensino Superior do Grande Rio CESGRANRIO
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, Conselho Nacional de
Saúde, Ministério da Saúde
CONEP
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente COMDICA
Conselho Nacional de Educação CNE
Coordenação de Educação Infantil COEDI
Declaração Mundial de Educação para Todos EPT
Diretoria do Departamento de Política da Educação Fundamental DPE
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil DCNEI
Early Childhood Environmental Rating Scale – Revised Escala de
Avaliação de Ambientes da Educação Infantil - revisada
ECERS-R
Early Childhood Environmental Rating Scale Escala de Avaliação
de Ambientes da Educação Infantil
ECERS
Estatuto da Criança e do Adolescente ECA
Family Day Care Rating Scale FDCRS
Fundo das Nações Unidas para a Infância UNICEF
Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica FUNDEB
Governo do Distrito Federal GDF
xxxii
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica IDEB
Infant/Toddler Environment Rating Scale – Revised Edition Escala
de avaliação para Bebês e Crianças Pequenas - Edição revisada
ITERS-R
Infant/Toddler Environment Rating Scale Escala de avaliação para
Bebês e Crianças Pequenas
ITERS
Instituições Públicas de Educação Superior IPES
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira
INEP
Instrumento de Avaliação da Qualidade da Educação Infantil –
creche
IAQEI – c.
l‘Échelle d‘évaluation de la qualité - Escala de Avaliação da
Qualidade
EAQ
Laboratório de Psicologia Genética LPG
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDBEN
Ministério da Educação MEC
Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil MIEIB
Organização das Nações Unidas para a Educação UNESCO
Organização dos Estados Americanos OEA
Organização não governamental ONG
Perfil de Implementação do Programa PIP
Pesquisa da Qualidade na Educação Infantil PQI
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNAD
Plano de Desenvolvimento da Educação PDE
Plano Nacional da Primeira Infância PNPI
xxxiii
Plano Nacional de Educação PNE
Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica PARFOR
Programa de Educação Infantil e Ensino Fundamental PROEPPRE
Programa Nacional de Reestruturação e Aparelhagem da Rede
Escolar Pública de Educação Infantil
PROINFÂNCIA
Projeto Efective Early Learning PEEL
Desenvolvendo a Qualidade em Parcerias DQP
Projeto Político Pedagógico PPP
Rede Europeia para o Acolhimento de Crianças REAC
Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil RCNEI
Secretaria de Educação Básica SEB
Secretaria de Educação SE
Secretaria de Ensino Fundamental SEF
Self-Evaluation Instrument for Care Settings SICs
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior SINAES
Subsídio para Credenciamento e Funcionamento das Instituições de
Educação Infantil
SCFIEI
Universidade de Campinas UNICAMP
1
INTRODUÇÃO
Tenho um livro sobre águas e meninos. Gostei mais de um
menino que carregava água na peneira. A mãe disse que
carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento
e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
Manoel de Barros
2
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo situa-se na área da Educação Infantil e toma como tema central a
avaliação da qualidade do atendimento às crianças de 0 a 3 anos em creches. A
preocupação com este tema teve origem na minha participação como colaboradora no
processo de construção do instrumento de auto avaliação da qualidade na Educação
Infantil do Distrito Federal. Esse trabalho contribuiu para a reflexão de que avaliar a
qualidade de instituições deste segmento de ensino pode revelar aspectos de determinada
realidade e pode qualificar algo, portanto, não é tarefa fácil, visto que a cultura da avaliação
institucional não é vigente nesse segmento de ensino e o modelo de avaliação mais
centralizado pode dificultar a compreensão e legitimidade do processo.
Outro fator que me aproximou deste campo de estudo foi encontrar ao longo da
minha trajetória profissional, como formadora de professores e educadores de Educação
Infantil (0 a 3 anos), identificar entre os participantes as angustias e descontentamentos
quanto à qualidade dos serviços prestados nas creches em que trabalhavam. As queixas
apresentadas estavam sempre relacionadas com todo o contexto das instituições
educacionais, desde as ações pedagógicas que desenvolviam junto aos pequenos até as
simples necessidades de cuidados, como dar banho, horário de alimentação, entre outros.
Percebia-se que os participantes do curso demonstravam um bom entendimento quanto às
necessidade básicas para um bom atendimento, no entanto, não tinham possibilidades e
nem espaços para poder verbalizar suas ideias e percepções quanto às realidades
vivenciadas.
A análise desse cenário, engendrou muitos questionamentos, um deles compõe a
diretriz desta pesquisa: Quando professores, educadores, dirigentes e pais de alunos
participam ativamente da construção dos indicadores1 para avaliação da qualidade da
1 Indicadores são sinais que revelam aspectos de determinada realidade e que podem qualificar algo. Por
exemplo, para saber se uma pessoa está doente, usamos vários indicadores: febre, dor, desânimo. Para saber
3
Educação Infantil (0 a 3 anos), esse processo pode contribuir para que tais indicadores
sejam mais eficazes e próximos da realidade dessas instituições? Considerando que
participar de um processo avaliativo permite ao professor distanciar-se do seu trabalho e
tomar consciência dos seus acertos e erros pareceu-me muito oportuno realizar uma
pesquisa em que as pessoas que dela participassem estariam estabelecendo os padrões de
qualidade, a partir dos quais poderiam analisar o trabalho pedagógico na instituição em que
atuam.
Os primeiros três anos de vida são determinantes para o desenvolvimento do ser
humano em todos os aspectos: motor, cognitivo, social e afetivo. Esse conhecimento, em
um contexto educacional, amplia a responsabilidade de oferecer ambientes educativos de
elevada qualidade que favoreçam o pleno desenvolvimento de nossas crianças que são
construtoras ativas do seu conhecimento e de sua personalidade que esses espaços
educacionais favoreçam a garantia do direito de ser criança.
Ao longo das últimas décadas, as instituições, bem como o processo de educação
das crianças pequenas, foram se modificando. O que antes era unicamente responsabilidade
das famílias passou a ser compartilhada com instituições educacionais. Nesse novo
contexto, a creche, deixa de pertencer à rede de assistência social e passa a fazer parte do
sistema educativo. Com as mudanças legais, este segmento de ensino, assume
responsabilidades no que diz respeito às suas peculiaridades que deve conjugar o cuidar e o
educar em suas ações cotidianas. No entanto, ainda, deve ser vista como um direito não só
da mãe que trabalha, mas também da criança, e que este direito inclua, além do acesso, que
a criança possa encontrar nesse ambiente educativo tudo o que precisa para se desenvolver
plenamente todas as dimensões de sua personalidade a fim de que ela consiga ser tudo o
que ela poderia ser na faixa etária em que se encontra.
se a economia do país vai bem, usamos como indicadores a inflação e a taxa de juros. A variação dos
indicadores nos possibilita constatar mudanças (a febre que baixou significa que a pessoa está melhorando; a
inflação mais baixa no último ano diz que a economia está melhorando) (Brasil, 2009).
4
É imperioso envidar esforços para promover o direito a uma educação que considere
as peculiaridades da criança na faixa etária de 0 a 3 anos e atenda aos seus interesses e
necessidades. O desafio da qualidade passa por desenvolver uma cultura de avaliação,
pautada por princípios democráticos, em que o monitoramento da oferta não seja
compreendido como mera identificação de problemas, mas como um recurso valiosíssimo
para a gestão escolar, levando em conta as peculiaridades de cada realidade, o
envolvimento coletivo no planejamento e na execução de ações, bem como a necessidade
de intensificar o que já existe de bom em cada escola.
Reconhecendo a importância da construção dos indicadores da qualidade da
Educação Infantil, este trabalho compartilha a ideia de indicadores de maneira semelhante
ao conceito apresentado nos documentos oficiais do MEC: ―os Indicadores se constituem
numa proposta de auto avaliação dos estabelecimentos educacionais, que estabelece
critérios para análise do trabalho realizado em creches e pré-escolas‖ (BRASIL, 2009). O
processo apresentado nessa pesquisa, ocorreu de maneira compartilhada e negociada por
toda a comunidade escolar, tendo também como intenção, que esse trabalho constituísse
uma boa oportunidade para que os professores, educadores, dirigentes e pais de alunos
aprendessem a realizar a auto avaliação de suas instituições.
Isto porque, a ideia do trabalho é legitimar um paradigma essencialmente auto
regulador, isto é, consiste em reforçar a capacidade da própria comunidade escolar em gerir
todo o processo para aperfeiçoar e buscar mudanças frente à realidade em que está inserida.
A participação ativa acontece em todo o processo, desde a construção dos indicadores da
qualidade, levando em consideração o seu contexto específico; a avaliação propriamente
dita; sua análise e reflexão das situações que necessitam de aprimoramento e mudanças na
instituição educacional avaliada.
Assim, o papel de regulador deixa de ser feito por esferas totalmente externas e
superiores, advindos de documentos oficiais ou instrumentos internacionais que muitas
vezes mostram-se distantes da realidade das instituições educacionais avaliadas. Nesse
contexto, os educadores, professores, dirigentes e pais de alunos podem ter espaços
5
garantidos para a manifestação de suas expectativas, necessidades e interesses quanto a
complexidade do fenômeno educativo no atendimento à criança pequena.
Em suma, este estudo teve como ponto de partida o grande interesse em dar voz aos
educadores que trabalham em creches, procurando apreender o modo como eles
compreendem o significado de qualidade da educação ofertada e os princípios que lhes
servem de orientação para enfrentarem o cotidiano.
Nessa medida, pretender ―dar voz‖ significa ouvi-los para favorecer a criação de
sujeitos autônomos pelo exercício da participação no cenário em que cada escola constrói
seu próprio caminho, pautada em sua realidade, para assim, tornar um espaço reflexivo e
participativo.
Não há educação de qualidade sem a legitimidade conferida pela participação e
negociação. Desta forma, é preciso perceber a avaliação como um processo que permite
prever novas possibilidades de futuro, no sentido de refletir sobre a realidade em que está
inserida, interpelando-a, interpretando-a e negociando com todos os envolvidos no percurso
de todo o processo desde a construção dos indicadores à aplicação do instrumento que será
utilizado para avaliar, identificar os pontos fortes e também os eventuais pontos fracos de
uma instituição e, a partir disso, mapear os principais problemas, traçar um plano de ação
que vise a melhoria da qualidade da oferta de educação dessa faixa etária. Assim, é preciso
que a avaliação participativa contemple as características próprias das instituições, isto é,
que seja uma tarefa a ser executada no contexto das diferenças e não de ‗rankeamento‘ ou
classificação. Trata-se, portanto, da análise de recursos e princípios pedagógicos que
envolvem toda a comunidade escolar por meio de negociações para as transformações
desejadas e necessárias.
Uma perspectiva de avaliação desse tipo terá mais eficácia se os envolvidos no
processo tornarem-se participantes da negociação em busca da qualidade. Tal fato implica
que a mudança seja marcada pelo conceito de ―qualidade negociada‖, ou seja, qualidade
que tem por natureza o caráter negociável, participativo, autorreflexível, contextual/plural,
processual e transformador (BONDIOLI, 2004, p.232).
6
Trata-se de uma pesquisa-ação, por ser participante e se caracterizar pelo
envolvimento dos pesquisadores e dos pesquisados no processo de pesquisa (GIL, 1987).
Em um clima colaborativo e sistemático o processo de construção dos indicadores foi
apoiado e validado por todos os envolvidos na coleta de dados que se deu mediante a
utilização da técnica de grupo focal.
A revisão bibliográfica constou de estudos e reflexões sobre obras de autores que
evidenciam a importância da avaliação da qualidade das instituições destinadas aos bebês e
crianças pequenas em contextos de Educação Infantil, como MANTOVANI DE ASSIS
(1993, 1999, 2000 E 2002), CAMPOS E ROSEMBERG (1995), PORTUGAL (1998),
OLIVEIRA-FORMOSINHO (1996), DALBERG, MOSS E PENCE (2003), BONDIOLI
(2004), ZABALZA (1998), KATZ, (1997), COELHO (2004), CAMPOS E ROSEMBERG
(1995), SOUZA E CAMPOS-DE-CARVALHO (2005), BAIRRÃO (2007), RAMPAZZO
(2009), ZUCOLOTO (2011), dentre outros.
É imperioso envidar esforços para promover o direito a uma educação que considere
as peculiaridades da criança na faixa etária de 0 a 3 anos e atenda aos seus interesses e
necessidades. O desafio da qualidade passa por desenvolver uma cultura de avaliação,
pautada por princípios democráticos, em que o monitoramento da oferta não seja
compreendido como mera identificação de problemas, mas como um recurso valiosíssimo
para a gestão escolar, levando em conta as peculiaridades de cada realidade, o
envolvimento coletivo no planejamento e na execução de ações, bem como a necessidade
de intensificar o que já existe de bom em cada escola.
O interesse por essa temática também se constituiu em função da carência de
estudos, políticas públicas e visibilidade que se direcionam a este segmento de ensino que
compõe a Educação Básica desde 1996 com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional.
Este trabalho fundamenta-se nos princípios pedagógicos decorrentes da teoria de
Jean Piaget. A revisão bibliográfica constou de estudos e reflexões sobre obras de autores
que tratam da Educação Infantil destinada à crianças de 0 a 3 anos de idade.
7
A presente tese organiza-se de acordo com a estrutura que, na sequência se
descreve: O primeiro capítulo é iniciado com uma reflexão sobre o significado da infância e
o reconhecimento da educação como direito da criança, assim como o desenvolvimento
infantil até os 3 anos à luz da teoria de Jean Piaget. Outro aspecto relevante enfocado neste
capítulo são as políticas públicas direcionadas a este segmento de ensino.
Tendo por base a importância atribuída ao conceito de qualidade da Educação
Infantil, o segundo capítulo enfatiza este conceito, a partir de uma perspectiva democrática,
uma vez que a avaliação da qualidade é uma tarefa valorativa, sendo que a melhor forma de
executá-la é por meio do envolvimento ativo dos participantes no processo. A avaliação
institucional participativa é apresentada como o processo para realizar a avaliação.
Os diferentes modelos de avaliação da qualidade encontrados na literatura
relacionados à Educação Infantil de diversos países são apresentados no terceiro capítulo.
O capítulo seguinte destaca-se pela apresentação das dimensões que compõem o
processo de avaliação da qualidade da Educação Infantil (0 a 3 anos) desenvolvida nesta
pesquisa. São apresentados oito itens: Ambiente físico; Planos e rotinas; Interação adulto-
criança; Interações entre as crianças; Experiências educativas; Cuidados para uma vida
saudável; Qualificação e desenvolvimento profissional e Parceria escola-família.
O quinto capítulo deste trabalho apresenta a estruturação organizacional e
metodológica, e também o percurso investigativo caracterizando a pesquisa, assim como os
procedimentos metodológicos utilizados na coleta e análise dos dados.
A discussão dos resultados da pesquisa e a análise de dados se estruturam no sexto
capítulo, articulando os resultados das duas partes com o referencial teórico pesquisado,
tanto do instrumento construído para esta pesquisa (Pesquisa da Qualidade da Educação
Infantil) quanto o processo de construção dos indicadores por meio de grupos focais.
8
Nas considerações finais foram apontadas as conclusões e reflexões de todo o
percurso para a construção participativa dos indicadores da qualidade do atendimento à
criança de 0 a 3 anos.
9
CAPÍTULO I
EDUCAÇÃO INFANTIL: UM DIREITO DA CRIANÇA
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde
a criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um
verbo, ele delira. Manoel de Barros
10
Este capítulo apresenta uma reflexão sobre o conceito de infância e os direitos da
criança em seus primeiros anos de vida. Em seguida, é feita uma breve abordagem histórica
da Educação Infantil em contextos de atendimento de 0 a 3 anos, intitulada como creches.
Posteriormente, são feitas considerações referentes a importância da creche como uma
instituição educativa, eminentemente empenhada em promover o desenvolvimento integral
da criança e que, de maneira integrada, cumprem as funções de cuidar e educar. Por fim,
será apresentada a teoria de Jean Piaget sobre o desenvolvimento da criança e algumas
implicações pedagógicas. Tais ideias serão exploradas durante este capítulo.
11
1. 1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A INFÂNCIA
A relevância do significado da infância e dos direitos da criança em seus primeiros
anos de vida tem sido apresentada crescentemente em todo o mundo e vem sendo tratado
como assunto prioritário por governos, organismos internacionais e organizações da
sociedade civil, de modo significativo. Define-se infância como um conceito tanto cultural
quanto biológico. Segundo Mantovani de Assis e Assis (2002, p. 18):
O ser humano traz consigo ao nascer as possibilidades orgânicas de construir um
sistema de signos que lhe permite comunicar-se por meio da linguagem e de
construir também todo o conhecimento que durante milênios a humanidade
descobriu e inventou juntamente com um sistema de princípios e valores morais
vigentes na sociedade a qual pertence. Ao contrário dos animais, o homem ao
nascer não traz consigo mecanismos hereditários completamente montados que
são ativados ao contato com a experiência, os comportamentos que possibilitam
sua adaptação ao mundo são adquiridos a partir das trocas que o bebê começa a
estabelecer com o meio físico e social desde o seu nascimento.
O termo infância não possui um conceito universal e nem é vivido de forma idêntica
por todas as crianças. Por exemplo, entre nós, é possível pensar que a noção e realidade de
infância variam de acordo com a classe social a que a família desta criança pertence, ao
lugar onde ela vive (área urbana, rural, periferia de grandes cidades, pequenas cidades do
interior) diferenças culturais, religiosas, sociais, entre outros.
Infância e criança nem sempre tiveram o significado dos dias atuais.
Historicamente, essa valorização decorre de diversos fatores, sociais, políticos e
econômicos. Com o avanço do conhecimento na educação, Psicologia e Sociologia e áreas
afins, vive-se a necessidade de se mudar a visão tanto da infância quanto de criança e de se
preparar as instituições educativas para recebê-las de modo adequado, oferecendo uma
educação de qualidade.
As mudanças na concepção de infância podem ser percebidas numa perspectiva
temporal. O que se entendia por infância há 20 ou 30 anos atrás, bem como o que era
oferecido às crianças e como a escola era organizada, destoava de algo que conhecemos
hoje.
12
A noção da criança como um ser competente, implica pretender não apenas que ela
seja feliz e cuidada, mas como afirma Zabalza (1998, p. 20), ―fazer justiça ao seu potencial
de desenvolvimento durante esses anos da sua vida que são cruciais‖. A noção da criança
como um ser competente enaltece a ideia de que a criança é um ser humano em que suas
possibilidades devem merecer a máxima consideração.
Dahlberg, Moss, e Pence (2003, p. 72), defendem a perspectiva de que as ―crianças
têm uma voz própria e devem ser ouvidas, de modo que sejam consideradas com seriedade,
envolvendo-as no diálogo e na tomada de decisões democráticas‖. Nesta concepção, desde
o início da vida, a criança pequena emerge como co-construtora, do conhecimento, da sua
própria identidade desejando e reagindo a uma série ampla de relacionamentos, em casa e
fora dela, com outras crianças e adultos.
Na narrativa de Ariès (1981), o conceito de infância vem evoluindo e oscilando
entre polos distintos, ora a criança era vista como um ser incapaz, um ―bibelô de
paparicação‖, ora era considerada um ―adulto em miniatura‖. Para este autor, até o fim da
Idade Média pode-se considerar que não havia a formação social de uma concepção de
infância. A criança não era compreendida enquanto ser social, assim como, a infância não
era considerada fase de desenvolvimento do ser humano, tal como hoje. Para este, havia um
sentimento coletivo de indiferença para com a infância, sendo compreendida apenas
enquanto período de transição para a vida adulta, isso porque nesse período, existia um alto
índice de mortalidade infantil, advindo das precárias condições de higiene e saúde. Como
para as crianças pequenas a sobrevivência era improvável, então elas ―não contavam‖
(ARIÈS, 1981, p.157), só seriam reconhecidas a partir do momento que ingressassem no
mundo dos adultos.
O entendimento sobre as particularidades da infância surgiu apenas no final da
Idade Média e se modificou durante os séculos. Essas transformações foram fortemente
geradas na burguesia, em que as mudanças no sentimento de infância foram disseminadas
de forma diferente de acordo com o contexto social. Vale salientar que estamos relatando
fatos que ocorreram em classes distintas da sociedade, pois, Airès (1981) afirma que a
13
particularização do sentimento de infância ocorreu de forma tímida e limitada, restrita
apriori às crianças filhas da burguesia e da nobreza.
A partir dos séculos XVI e XVII surge no meio familiar, em companhia de crianças
pequenas, um novo sentimento da infância. As crianças passam a ser consideradas como
bonitinhas e engraçadinhas. De acordo com Ariès (1981, p. 162).
É entre os moralistas e os educadores do século XVII que vemos formar-se esse
outro sentimento da infância [..]) e que inspirou toda a educação do século XX
[...]. O apego à infância e à sua particularidade não se exprimia mais através do
interesse psicológico e da preocupação moral.
Com a Revolução Industrial, no século XIX, e o crescimento das cidades, tornou-se
cada vez maior a necessidade de mão-de-obra para trabalhar nas indústrias. Esta situação
convocou o trabalho feminino para as fábricas, afastando as mulheres dos cuidados
domésticos e as inserindo no mercado de trabalho.
A mudança do modo de encarar as crianças caminhou paralelamente com este novo
mundo industrializado. As transformações ocorridas em nossa sociedade levaram a uma
divisão de responsabilidades. A creche também passou a ser um lócus para o
desenvolvimento infantil.
A necessidade por instituições de cuidado infantil se fez cada vez mais urgente com
o passar dos anos, especialmente nos grandes centros urbanos. A história do atendimento à
infância no Brasil modificou após a Constituição de 1988, as creches passaram a ser
legitimadas como instituições educativas, pois anteriormente havia o predomínio da ação da
assistência social à infância desenvolvida por várias instituições sociais.
De origem francesa, a palavra ―creche‖ significa ―manjedoura‖, denominação dada
ao abrigo para bebês carentes socialmente que começou a surgir na França no século XVIII.
Com carácter basicamente assistencial, a creche guardava os lactentes para que as suas
mães pudessem trabalhar. As chamadas ―gardeuses d´enfants‖ retiravam das ruas as
crianças que, famintas, perambulavam sem rumo enquanto as suas mães trabalhavam nas
fábricas até 18 horas por dia. Segundo Rizzo (2003, p.19), este foi o objetivo inicial da
14
creche. A este agregou outro objetivo: ―Resguardar dos olhos da sociedade um segundo
estorvo que eram os filhos de uniões ilegítimas‖.
O interesse pela infância propagado pela modernidade inaugura, num certo sentido,
a preocupação com a criança e sua formação. O reconhecimento da infância enquanto etapa
do desenvolvimento humano, nos séculos XIX e XX, faz surgir a infância científica, com a
propagação de conhecimentos construídos por várias áreas, o que determinará um conjunto
de teorias e práticas a serem desenvolvidas para estudar essa fase da vida.
Neste contexto, o discurso predominante sobre a infância atribuiu-lhe o estatuto de sujeito
de direitos, imagem construída com base na elaboração de dispositivos legais e documentos
internacionais, entre os quais: a Declaração de Genebra (1923), a Declaração Universal dos
Direitos da Criança (1959) e a Convenção dos Direitos da Criança (1989).
A movimentação internacional em defesa dos direitos da infância, aliada à luta dos
movimentos sociais no país, contrapondo-se ao regime autoritário militar e pela conquista
da democracia, culminou com a instauração de um novo campo legal para as políticas de
atendimento à infância, em que a criança deixará de ser objeto de tutela para figurar como
sujeito de direitos. Nesse novo campo normativo, interessa-nos a discussão do
reconhecimento do direito da criança à Educação Infantil. No final do século XX, apenas
com a institucionalização da escola é que surge uma pedagogia que valoriza a atividade, a
participação infantil e evidencia o importante papel que o meio exterior desempenha no
desenvolvimento psicológico do ser humano. O conceito de infância começa lentamente a
ser alterado, surge a preocupação e a ideia de que a criança é portadora de direitos.
É preciso considerar a infância como uma condição da criança. O relatório
apresentado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância, UNICEF (2008) ―A transição
dos cuidados na primeira infância‖ destaca algumas implicações relevantes para os
cuidados e para a educação de crianças muito pequenas que se tem disseminado pelo
mundo industrializado em uma revolução paralela relativa à compreensão da importância
desta fase do desenvolvimento apresentado no domínio da pesquisa neurocientífica:
15
Há quatro conceitos centrais que são importantes para projetar uma política social
sólida relativamente à primeira infância, e que resultam de décadas de
investigação independente nos domínios da economia, da neurociência e da
psicologia do desenvolvimento. Em primeiro lugar, a arquitetura do cérebro e o
processo de formação de capacidades são influenciados pela interação entre a
genética e a experiência individual. Em segundo lugar, o domínio das
capacidades essenciais para o sucesso económico e para o desenvolvimento das
vias neurais que lhe estão subjacentes obedecem a regras hierárquicas. As
conquistas posteriores são construídas sobre alicerces anteriormente
estabelecidos. Em terceiro lugar, as competências cognitivas, linguísticas, sociais
e emocionais são interdependentes; todas elas são poderosamente moldadas pelas
experiências da criança em desenvolvimento e todas contribuem para o sucesso
em qualquer sociedade em geral. Em quarto lugar, embora a adaptação prossiga
ao longo da vida, as capacidades humanas são formadas numa sequência
previsível de períodos sensíveis, durante os quais o desenvolvimento de circuitos
neurais específicos e os comportamentos por eles mediados são extremamente
plásticos e, por conseguinte, muito receptivos a influências ambientais.
(HECKMAN, 2006, apud HOHMANN; POST, 2011, p. 7).
Tudo isto têm implicações claras para os cuidados e para a educação de crianças de
0 a 3 anos. Na transição para a educação e os cuidados na primeira infância, é essencial
para a formulação da política de Educação Infantil reconhecer o direito das crianças
pequenas à educação, valorizando o papel da infância no desenvolvimento do ser humano
e, sobretudo, a importância da educação na construção da cidadania.
No Brasil, apenas no começo do século XX é que surgiram as primeiras políticas
públicas para a infância, o atendimento à criança pequena tinha intenções totalmente
assistencialistas, ou seja, seu principal objetivo – senão o único – era cuidar das crianças
enquanto suas mães trabalhavam. Não havia interesses em acompanhar a saúde das
crianças, estudos para uma alimentação balanceada e preparada por profissionais, e,
principalmente, não se cogitavam a ideia de propostas pedagógicas para se trabalhar a
educação e os estímulos delas.
Portanto, a infância continuava a ser ignorada e muitas crianças abandonadas
ficavam vagando pelas ruas. Algumas pessoas, por filantropia, resolveram acolher os
―desvalidos‖ e, assim. ―[...] a sociedade aplaudiu, pois todos queriam ver as ruas limpas do
‗estorvo‘ e da ‗sujeira‘ provocados pelas crianças abandonadas‖ (RIZZO, 2003, p. 32). De
maneira que foi devido à essa preocupação, ou a esse ―[...] problema, que a criança
16
começou a ser vista pela sociedade e com um sentimento filantrópico, caritativo,
assistencial é que começou a ser atendida fora da família‖ (DIDONET, 2001, p. 13).
Enquanto para as famílias mais abastadas pagavam uma babá, as pobres se viam
na contingência de deixar os filhos sozinhos ou colocá-los numa instituição que
deles cuidasse. Para os filhos das mulheres trabalhadoras, a creche tinha que ser
de tempo integral; para os filhos de operárias de baixa renda, tinha que ser
gratuita ou cobrar muito pouco; ou para cuidar da criança enquanto a mãe estava
trabalhando fora de casa, tinha que zelar pela saúde, ensinar hábitos de higiene e
alimentar a criança. A educação permanecia assunto de família. Essa origem
determinou a associação creche, criança pobre e o caráter assistencial da creche.
(DIDONET, 2001, p. 13).
Kramer (1995, p. 24), ao discutir esse assunto, ressalta que o discurso do poder
público, em defesa do atendimento das crianças das classes menos favorecidas, parte de
determinada concepção de infância, já que o mesmo reconhece esse período da vida da
criança de maneira padronizada e homogênea. A ideia é a de que as crianças oriundas das
classes sociais dominadas são consideradas ―carentes, deficientes e inferiores na medida em
que não correspondem ao padrão estabelecido; faltariam a essas crianças privadas
culturalmente; determinados atributos ou conteúdos que deveriam ser nelas incutidos‖
(KRAMER, 1995, p. 11). Por esse motivo e a fim de superar as deficiências de saúde e
nutrição, assim como as deficiências escolares, são oferecidas diferentes propostas no
sentido de compensar tais carências.
Em decorrência da mobilização popular e política do final dos anos 70 e durante os
anos de 1980, em prol da mudança da ordem repressora para a institucionalização
democrática, que se possibilitou a conquista na Constituição de 1988, do reconhecimento à
educação em creches e pré-escolas, como direito da criança e dever do Estado. Nota-se que
até meados do final dos anos setenta em termos de legislação pouco se fez para que se
garantisse o direito de acesso à creche, o Estado começa a responder à necessidade de
atendimento a creche, por meio de ações paliativas e provisórias.
Já na década de 80 diferentes setores da sociedade uniram forças no sentido de
sensibilizar a sociedade sobre o direito da criança a uma educação de qualidade desde o
nascimento. A pressão desses setores sociais na Assembleia Constituinte possibilitou
incluir creche e pré-escola no sistema educativo.
17
Em resultado destas mudanças quanto ao atendimento à criança pequena, a creche
passa a ter o compromisso em assegurar seus direitos fundamentais, como seu bem-estar,
seu desenvolvimento, sua saúde, alimentação sadia e higiene, a brincadeira, o contato com
a natureza e a ampliação de seus conhecimentos. Por isso, espera-se que o governo tanto
garanta o cumprimento dos direitos da criança quanto crie políticas públicas e linhas
diretivas de implementações específicas para a primeira infância.
1.1.1 Marco legal da primeira infância
A partir das reflexões tecidas anteriormente, parte-se do pressuposto que os
conceitos de criança e infância foram social e historicamente construídos, assim como à
conquista de seus direitos. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 proclama em seu
artigo 227, o reconhecimento dos direitos da criança e da necessária proteção integral que
deve prestar toda a sociedade e poder público em cumprir tais direitos:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente,
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão
(BRASIL, 1998a, p.1).
Este foi um marco que inaugurou uma nova era na história do atendimento à criança
pequena em nosso país com a construção de políticas de educação às crianças de zero a seis
anos. As mudanças referem-se à pressão advinda dos movimentos sociais, principalmente
feministas, em defesa da expansão do atendimento; às mudanças no perfil
sociodemográfico da sociedade brasileira (diminuição no tamanho das famílias,
participação crescente das mulheres no mercado de trabalho e urbanização da população); e
aos estudos científicos sobre o desenvolvimento infantil.
Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDBEN –
Lei nº. 9.394/96, a Educação Infantil passou a ser incluída na educação básica, com a
finalidade de desenvolvimento integral da criança em seus aspectos físico, psicológico,
18
intelectual e social, complementando a ação da família e da sociedade. No artigo 30, a
referida lei, utiliza-se da nomenclatura creche e pré-escola apenas para designar a faixa
etária das crianças a serem atendidas pela Educação Infantil – de 0 a 3 anos em creches e de
4 a 6 em pré-escolas.2
A lei determinou ainda que todos os serviços de atendimento educacional para a
primeira infância fossem integrados ao sistema educacional e que as políticas para este
segmento fossem coordenadas pela área educacional que deverá levar em consideração a
criança como um todo, para promover o seu desenvolvimento integral.
As creches que até então eram de responsabilidade dos órgãos de assistência social,
deveriam ser alocadas nos órgãos do sistema de educação escolar. Segundo a lei 9.394/96,
no Art. 89: ―As creches e pré-escolas existentes ou que venham a ser criadas deverão, no
prazo de três anos, a contar da publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema de
ensino‖ (BRASIL, 1996, p. 1). Esta determinação gerou uma inquietação nas cidades, nos
órgãos municipais, nas creches, na vida das famílias e das crianças.
A creche, portanto, passa a ser subordinada à área de educação, configurando-se não
mais como uma ―agência de guarda e assistência‖ e sim como uma instituição educacional,
criando-se, assim, novas responsabilidades para o sistema escolar.
Com a nova LDBEN 9.394/96, a educação infantil passou a ser reconhecida como
parte do sistema municipal de educação, o Inciso V do Artigo 11, normatiza que é de
competência dos municípios:
Oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas e, com prioridade, o ensino
fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando
estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e
com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição
Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino. (BRASIL, 1996, p. 1).
2Em cinco de abril de 2013, a presidente Dilma Rousseff sancionou a nova redação da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB) que define e regulamenta o sistema educacional no Brasil em que estados
e municípios têm até 2016 para garantir a oferta de vagas a crianças a partir de quatro anos de idade na
Educação Básica, sendo dever dos pais e responsáveis por essas crianças efetuar a matrícula.
19
A partir dessa Lei, as creches, anteriormente vinculadas à área de assistência social,
passaram a ser de responsabilidade da educação. Tomou-se por orientação o princípio de
que ―essas instituições não apenas cuidam das crianças, mas devem, prioritariamente,
desenvolver um trabalho educacional que promova o desenvolvimento integral da criança
até seis anos de idade, complementando a ação da família e da comunidade‖ (BRASIL,
1996, p. 9).
Esse fato pode ser compreendido como um avanço na concepção e no
reconhecimento legal dos direitos da criança pequena. Além disso, esta lei define que os
profissionais que atuam na Educação Infantil devem ter formação para professores e
educadores de crianças pequenas, preferencialmente em nível superior, mas admitindo-se
ainda o curso de magistério em nível médio. Assim como afirma Campos, Füllgraf e
Wiggers (2006, p. 90):
Essa exigência vem sendo aceita com alguma dificuldade pelos sistemas de
educação, especialmente no caso das creches. Ao mesmo tempo em que, em
muitos estados e prefeituras, foram organizados cursos de formação para os
educadores leigos que já se encontravam trabalhando nessas instituições, muitas
prefeituras e entidades têm contestado a exigência e buscado subterfúgios, por
exemplo, contratando educadores como se desempenhassem atividades de
limpeza, para fugir ao requisito de formação prévia.
Desta forma, a formação dos profissionais que trabalham em escolas com
atendimento de 0 a 3 anos deve constar na agenda das políticas públicas, pois profissionais
qualificados favorece a melhoria da qualidade do atendimento em contextos coletivos,
tornando-se assim, uma exigência no campo da Educação Infantil. Neste contexto que a
infância brasileira também foi reconhecida e defendida pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente ECA, 1990 que contempla em seu artigo 3º:
A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à
pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei,
assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. (BRASIL, 1990, p.
12).
Assim como muitos documentos foram produzidos sob a liderança ou coordenação
do Ministério da Educação (Secretaria de Educação Básica - SEB e pela Coordenação de
Educação Infantil - COEDI) com ampla participação de especialistas e instituições
20
educacionais, movimentos e redes de organizações com comprovada experiência nos
diferentes campos da atividade educacional – pesquisa, avaliação, formação de professores,
atuação em creches e pré-escolas, políticas públicas de educação, legislação e gestão de
sistemas de ensino.
Em consonância com a legislação, o Ministério da Educação publicou em 1998,
dois anos após a aprovação da LDB, os documentos ―Subsídios para o credenciamento e o
funcionamento das instituições de educação infantil‖ (BRASIL, 1998a), que contribuiu
significativamente para a formulação de diretrizes e normas da educação da criança
pequena em todo o país, e o ―Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil‖
(BRASIL, l998b), com o objetivo de contribuir para a implementação de práticas
educativas de qualidade no interior dos Centros de Educação Infantil. Este último foi
concebido de maneira a servir como um guia de reflexão de cunho educacional sobre os
objetivos, conteúdos e orientações didáticas para os profissionais que atuam em instituições
de Educação Infantil destinadas às crianças de zero a seis anos de idade. ´
A Resolução nº 01/1999 da Câmara de Educação Básica (CEB) do Conselho
Nacional de Educação (CNE), instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil (DCNEI) (BRASIL, 2009b). Estas articulam-se às Diretrizes Curriculares
Nacionais da Educação Básica e reúnem princípios, fundamentos e procedimentos
definidos pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, para
orientar as políticas públicas e a elaboração, planejamento, execução e avaliação de
propostas pedagógicas e curriculares de Educação Infantil.
Ao reconhecer a importância da qualidade do atendimento das instituições de
educação infantil, as Diretrizes Curriculares reafirmam a necessidade de qualificação dos
profissionais envolvidos no trabalho educativo com as crianças, pois para transformar
espaços institucionais em espaços de exercício da cidadania das crianças é necessário que
os profissionais estejam qualificados para a defesa e promoção dos direitos da infância.
21
A resolução CEB Nº 1, de 7 de abril de 19993 do CNE, instituiu as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e apresenta em seu artigo 3º:
I – As Propostas Pedagógicas das Instituições de Educação Infantil, devem
respeitar os seguintes Fundamentos Norteadores:a) Princípios Éticos da
Autonomia, da Responsabilidade, da Solidariedade e do Respeito ao Bem
Comum;b) Princípios Políticos dos Direitos e Deveres de Cidadania, do Exercício
da Criticidade e do Respeito à Ordem Democrática;c) Princípios Estéticos da
Sensibilidade, da Criatividade, da Ludicidade e da Diversidade de Manifestações
Artísticas e Culturais. (BRASIL, 2009a, p. 19).
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil balizam as
orientações curriculares a serem definidas pelo Ministério da Educação - MEC e cujo
objetivo está voltado à elaboração de propostas pedagógicas de Educação Infantil pelos
sistemas municipais.
Apesar do avanço da legislação no que diz respeito ao reconhecimento da criança à
educação nos seus primeiros anos de vida, também é importante considerar os inúmeros
desafios impostos para o efetivo atendimento desse direito que podem ser resumidos em
duas grandes questões: a qualidade do atendimento e a de acesso.
Quanto à qualidade, o Ministério da Educação através da Secretaria de Educação
Básica/Coordenação de Educação Infantil elaborou o documento: Indicadores da Qualidade
na Educação Infantil a partir de vários encontros e debates com o movimento social e
pesquisadores. Esse documento ressalta o papel de proteção e atenção às crianças que deve
ser desempenhado por professores, gestores e outros profissionais das instituições de
Educação Infantil, espaço coletivo de convivência, onde as interações entre crianças e
adultos devem ser formadoras. A cidadania, a cooperação, o respeito às diferenças e o
cuidado com o outro são aprendidos na vivência cotidiana, atitudes que as crianças
desenvolvem quando os adultos que interagem com elas demonstram essas atitudes. As
interações entre crianças devem ser observadas pelos professores que precisam interferir
sempre que situações com maior grau de conflito ocorram, de forma segura e cuidadosa, em
especial, diante de expressões de racismo, preconceito, agressões físicas e verbais entre
3CNE. Resolução CEB 1/99. Diário Oficial da União, Brasília, 13 de abril de 1999. Seção 1, p. 18.
22
crianças. Por outro lado, as relações de cooperação e amizade infantil devem ser
incentivadas e valorizadas (BRASIL, 2009a).
No que diz respeito ao acesso, os dados do Censo Escolar 2012, realizado pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), publicados
no Diário Oficial da União pelo Ministério da Educação mostram que o atendimento em
creches no Brasil cresceu 10,5% na comparação com 2011. A etapa que atende crianças de
até 3 anos de idade chegou a 2.540.791 matrículas. A expansão do número de matrículas é
de 476 mil, desde 2010 — crescimento de 23% nos dois últimos anos. O aumento do
número de matrículas em creches pode ser atribuído ao reconhecimento desta fase escolar
como a primeira etapa da educação básica.
Tabela 1 - Número de Matrículas na Educação Infantil e população Residente de 0 a 3 e 4 e
5 anos de idade – Brasil – 2007 – 2012
Fonte: MEC/Inep/Deed; IBGE/Pnads 2007 a 2011 e Censo Demográfico 2010 (Dados do Universo)
Nota: Não inclui matrículas em turmas de atendimento complementar e atendimento educacional
especializado (AEE).
O percentual de crianças de zero a três anos matriculadas vem aumentando
consideravelmente nos últimos a0nos, passando de 9,4% em 2000 para 23,6% em 2010,
segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
23
Figura 1- Matrículas de creche por dependência administrativa
Fonte: Brasil, 2010, p.10.
Conforme podemos ver no gráfico, verifica-se que assim como em outros anos, a
maior parte das matrículas em creches está sob responsabilidade das redes municipais de
ensino que abrangem 65,2%, atendendo um total de 1.345.180 alunos, seguida pela rede
privada, com 710.917 matrículas (34,0%). Esses dados reforçam as ações sinalizadas pelas
atuais políticas do MEC, sobre a necessidade de ampliação da oferta na Educação Infantil,
inclusive com a edificação de novos estabelecimentos de ensino para atendimento da
população com até 3 anos.
No projeto de Lei N.º 8.035/2010 - Plano Nacional de Educação/2011-2020, a Meta
1 prevê:
Universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as crianças de
quatro a cinco anos de idade, e ampliar a oferta de educação infantil em creches
de forma a atender, no mínimo, cinquenta por cento das crianças de até três anos
até o final da vigência deste PNE. (BRASIL, 2010b, p. 20).
Este documento ainda contempla, dentre as estratégias, a avaliação da Educação
Infantil para realizar a cada dois anos; com base nos parâmetros nacionais de qualidade, a
fim de aferir a infraestrutura física, o quadro de pessoal, as condições de gestão, os recursos
pedagógicos, a situação de acessibilidade, entre outros indicadores relevantes. (BRASIL,
2010).
24
A partir desses indicadores, torna-se emergencial que haja políticas públicas
melhores articuladas e responsabilidades claras sobre a Educação Infantil para que este
atendimento seja feito de maneira adequada, eficiente, com qualidade e que, sobretudo,
sejam respeitados os direitos fundamentais das crianças de zero a três anos. E,
principalmente, que a Educação Infantil seja realmente compreendida como uma etapa
primordial no desenvolvimento e formação da criança, não de forma assistencialista, mas
que seja a base das demais etapas da vida escolar da criança.
O entendimento de políticas públicas é apresentado pelo pesquisador Aguilar
Villanueva (2003, p. 15) ―la política es um proceso que desenvuelve por etapas, cada una
de las cuales posee sus actores, restricciones, decisones, desarrollos y resultados propios,
influye em las demás y es afectada por lo que sucede em las otras‖.
Neste sentido, as políticas públicas não serão apenas destinadas a uma população
uniformemente constituída, mas sim como ações públicas articuladas por múltiplos atores
tanto governamentais quanto sociais que contribuem para uma decisão política que se
constituem como arenas reais de poder.
Um aspecto importante a ser considerado em estudos de políticas públicas é como
um determinado problema transforma-se em uma ação que comporá uma agenda. Nesse
sentido, Aguilar Villanueva (2003, p. 29) corrobora a ideia conceituando agenda política
como ―o conjunto de problemas, demandas, questões, assuntos, que os governantes
selecionaram e ordenaram como objeto de sua ação e, mais propriamente, como objetos
sobre os quais decidiram que devem atuar ou consideraram que têm que atuar‖.
Segundo Rosemberg (2007, p. 60), com a aprovação da Lei do Fundo de
Desenvolvimento da Educação Básica - FUNDEB, ―a sociedade brasileira reafirma seu
compromisso com a causa da Educação Infantil (apesar de situá-la em patamar inferior ao
do ensino fundamental haja visto o valor assignado)‖ que trás evidente, o que até então não
tinha sido garantido, o financiamento da Educação Infantil, destinando recursos de acordo
com o total de matrículas em todas as etapas da educação básica. Mesmo assim, os
municípios alegam dispor de poucos recursos para investimento nesta etapa de ensino.
25
Nos últimos anos a Educação Infantil passou a fazer parte da agenda nacional de
políticas públicas e obteve uma importante conquista após dez anos da LDBEN: a inclusão
da Educação Infantil no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica
(FUNDEB). O novo Fundo foi criado pela Emenda Constitucional nº. 53, publicada no
Diário Oficial da União do dia 20 de dezembro de 2006 e regulamentado pela Medida
Provisória nº. 339 de 28 de dezembro de 2006. A proposta do novo fundo, objetiva que a
educação básica e, consequentemente, a Educação Infantil (apesar de situá-la em patamar
inferior ao do Ensino Fundamental) avance no Brasil sob diversos aspectos.
A resolução 17/2013 que regulamenta a Lei nº 2.722/2012 torna obrigatório o apoio
financeiro suplementar da União para atendimento de crianças de zero a 48 meses, com
matrículas em creches públicas ou conveniadas, informadas no Censo Escolar, e de famílias
beneficiárias da Bolsa Família. Anteriormente, apenas os municípios tinham a
responsabilidade do financiamento da Educação Infantil e, consequentemente, de definir as
políticas e as práticas necessárias para implementá-las. O órgão federal fica imbuído da
responsabilidade de orientação sobre os padrões de atendimento que devem ser seguidos
pelos sistemas educacionais estaduais e municipais, incluindo-se aí as escolas privadas e as
instituições subvencionadas com recursos públicos.
Apesar deste importante subsídio oferecido por esses documentos oficiais, de fato,
pouco se avançou na busca por um atendimento de qualidade, uma vez que os municípios
não possuem planos de ações concretos, e acima de tudo ferramentas de supervisão e
avaliação das instituições educacionais, e a procura por vagas aumenta a cada ano:
O atendimento em creches e pré-escolas cresceu significativamente antes mesmo
de a legislação educacional preocupar-se com elas, ou seja, a partir do novo
marco legal a oferta de educação infantil já era significativa, porém organizada de
forma caótica com diversos órgãos oficiais atuando paralelamente, com
preocupações predominantemente assistenciais, de forma descontínua no tempo e
levando a percursos escolares distintos para crianças de diferentes grupos sociais,
sendo as creches voltadas para as famílias mais pobres. (CAMPOS; FÜLLGRAF;
WIGGERS, 2006, p. 2).
Assim, na medida em que se expande o atendimento e que cresce a demanda por
acesso à Educação Infantil, observa-se a preocupação com as questões relacionadas à sua
26
qualidade. Essas questões têm adquirido amplo destaque e despertado o interesse de
pesquisadores, a partir da década de 1990, acompanhando as mudanças políticas e legais
ocorridas no país.
A história da política nacional para a Educação Infantil acompanha, de certa forma,
a trajetória das instituições deste segmento de ensino no Brasil, no qual as políticas de
expansão do atendimento às crianças pequenas têm sofrido a influência de diversos
segmentos e diferentes concepções educativas. Desse modo, pelo menos no aspecto da lei, a
educação da criança brasileira é uma responsabilidade compartilhada, pela qual responde a
família, a sociedade e o Estado, para a garantia plena de seus direitos. Diante do aporte
legal posto, a Educação Infantil deixa de ser um ato assistencialista para ser um direito de
todas as crianças de zero a seis anos.
A lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007 regulamentou o FUNDEB para incluir
creches conveniadas no conjunto de instituições subvencionadas, uma vez que constatou
inúmeros convênios mantidos pelas prefeituras com tais instituições. Este favorece as
instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas
com o poder público. Fato esse que representa a contradição quanto ao princípio de que
recursos públicos devem ser destinados às instituições públicas.
Conforme estudo de Campos, Füllgraf e Wiggers (2006, p. 18) grande parte do
atendimento às crianças menores de sete anos consolidou-se aqui no Brasil ―por meio dos
convênios entre estabelecimentos privados filantrópicos, comunitários e /ou confessionais e
os inúmeros órgãos públicos responsáveis pelo repasse de recursos para sua manutenção‖.
A amplitude de tais convênios era tão expressiva que os autores chamaram a atenção para a
impossibilidade de sua supressão imediata, tendo em vista a limitada oferta de vagas nas
redes públicas que, como se sabe, ainda não está resolvida.
Diante a esta realidade, podemos constatar que a Educação Infantil brasileira
enfrenta inúmeros desafios, um deles é deserção dos municípios quanto ao atendimento à
criança de 0 a 3 anos. Aguilar (2000, p. 47) esclarece esse processo explicando que o:
27
O Estado desertor pode ser verificado através da dualidade público-privado,
principalmente porque o espaço público como um valor que caracteriza a
democracia, adquire uma significação carregada que, progressivamente, vai sendo
menor à medida que o Estado vai se fazendo mínimo e retirando-se dos setores
sociais essenciais. Neste sentido, a qualidade de desertar não significa privatizar o
público como imperativo imediato, mas a omissão, como efeito moral e jurídico
de algo que devia ser feito pelo Estado, provoca a degradação do público. Assim,
o público não é resguardado e a concessão assume o caráter de privatização do
público.
O autor ressalta ainda que a privatização está atrelada à qualidade desertora como
justificativa. Embora no sistema educacional brasileiro não se cogite a privatização das
instituições de Educação Infantil, verifica-se que a diminuição dos recursos públicos
destinados à implantação das políticas sociais interfere sobremaneira no fazer das
instituições de atendimento à infância de 0 a 3 anos, que passa a estabelecer critérios e
definir prioridades, cortar despesas, diminuir o número de crianças atendidas, dentre outras
medidas.
Há uma verdadeira deserção no que se refere a esta etapa de ensino, temos uma fila
considerável de crianças que esperam uma vaga na creche e/ou pré-escola mostrando a
desatenção ao direito de toda a criança em ter a garantia de matrícula neste segmento
educacional. Um levantamento feito pela Fundação Abrinq em 2010, baseado em dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD de 2009, mostra que 80% das
crianças brasileiras de 0 a 3 anos estão fora das creches. Tal situação, ao mesmo tempo em
que reflete as dificuldades enfrentadas pelas administrações municipais, apresenta-se como
justificativa para a opção de políticas governamentais que se apoiam na esfera privada,
subvencionando-a, em troca da transferência da lógica de organização privada para o setor
público, como por exemplo, a aquisição do ―sistema apostilado‖ para a Educação Infantil,
pois ao invés de reverter esses recursos públicos para a melhoria e/ou consolidação de uma
oferta de qualidade real o fazem com atividades em folhas de apostilas sem significado
algum às crianças dessa faixa etária, desrespeitando os seus reais interesses e necessidades.
A não disponibilização de vagas para a Educação Infantil, sem sombra de dúvidas, é
um fator preponderante para a perpetuação da miséria e da desigualdade social. Sobre este
ponto indispensável, se faz necessário citar a pesquisa elaborada pelo Centro de Políticas
28
Sociais vinculado ao Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas,
intitulada ―Educação da Primeira Infância‖, realizada em 5.500 municípios do país em
dezembro de 2005 destacou, em linhas gerais, que a ausência de investimentos em
Educação Infantil gera graves consequências para a sociedade (NERI; CUNHA;
HECKMAN, 2005).
Os coordenadores e expositores do referido estudo, Marcelo Cortes Néri, Flávio
Cunha e James Heckman (prêmio Nobel de Economia), afirmaram que as
crianças que tiveram oportunidade de frequentar a escola na primeira infância (até
os seis anos) apresentam menor risco no seu pleno desenvolvimento e, na idade
adulta, obtém renda mais e alta e probabilidades mais baixas de prisão e gravidez
precoce, além de menor dependência dos programas de transferência de renda do
Poder Público. Os referidos pesquisadores defendem que a educação na primeira
infância constitui provavelmente o melhor investimento social existente e quanto
mais baixa for a idade do investimento educacional recebido mais alto é o retorno
recebido pelo indivíduo e pela sociedade. Acrescentam que até os dez anos de
idade, a maior parte das habilidades cognitivas é formada, condicionando a
capacidade de ensino e trabalho por todo o ciclo de vida das pessoas. As
pesquisas de Heckman, Cunha revelam que nesta fase da vida (educação infantil)
os retornos do investimento são os maiores encontrados em relação a qualquer
faixa etária, dominando aqueles realizados em qualquer outra fase do ciclo de
vida em termos de ganho de capacidades cognitivas que vão determinar a
produtividade e o bem estar futuro das pessoas quando adultas. (CATTEIN, 2012,
p. 18).
Como forma de propiciar a expansão de rede de atendimento para a população de
até 3 anos de idade, o governo federal instituiu pela Resolução nº 6, de 24 de abril de 2007,
o Programa Nacional de Reestruturação e Aparelhagem da Rede Escolar Pública de
Educação Infantil - ProInfância. Este programa é parte das ações do Plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE) do Ministério da Educação para o fortalecimento
desta com o intuito de assegurar investimentos nas redes municipais por meio de
financiamento federal voltado para a construção, a reestruturação e a melhoria da
infraestrutura de creches, além da aquisição de equipamentos para o dia-a-dia das escolas.
De acordo com o Ministério da Educação, o tratamento dos vários aspectos como
dimensões do desenvolvimento e não áreas separadas foi fundamental, já que ―evidencia a
necessidade de se considerar a criança como um todo, para promover seu desenvolvimento
integral e sua inserção na esfera pública‖ (BRASIL, 2006a, p. 11).
29
É de suma importância que as instituições de Educação Infantil incorporem, de
maneira integrada, as funções de cuidado e educação, não mais diferenciando, nem
hierarquizando ações de cuidado para as crianças de 0 a 3 anos. Cabe compreendermos que
as novas funções da Educação Infantil devem estar associadas a ações integradas que
objetivem o desenvolvimento integral da criança, que promovam um efeito formativo tanto
na política quanto na prática da Educação Infantil.
Desse modo, verifica-se um grande avanço no que diz respeito aos direitos da
criança pequena, uma vez que a Educação Infantil com atendimento de 0 a 3 anos, além de
ser considerada a primeira etapa da Educação Básica, embora não obrigatória, é um direito
da criança e deve basear-se nos critérios fundamentais de qualidade que consideram a
organização de um ambiente solicitador ao seu desenvolvimento cognitivo, social, físico e
afetivo e que proporcione condições adequadas para assegurar o bem-estar infantil, e a
ampliação de suas experiências.
A trajetória das leis e dos documentos oficiais que regem a Educação Infantil de
atendimento de 0 a 3 anos no país demonstra que muitos avanços foram conquistados para
que este segmento fosse reconhecido no quadro das políticas públicas, porém muitos
desafios ainda se fazem presentes para que seja oferecida uma educação de qualidade às
crianças brasileiras nesta etapa da vida.
1.1.2 A educação das crianças na primeira infância4
Os três primeiros de vida representam o período de maior desenvolvimento
cognitivo, motor, emocional e afetivo. Portanto, vale ressaltar a relevância da educação da
criança de 0 a 3 anos, pois demanda um esforço e um olhar ampliado para as diversas
4 UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura foi fundada em 16 de
novembro de 1945, tem como objetivo contribuir para a paz e segurança no mundo mediante a educação, a
ciência, a cultura e as comunicações.
30
necessidades desta fase da vida. Esse requer uma mudança no entendimento sobre a criança
e uma ação efetiva do poder público e das instituições educacionais que atendem crianças
nessa faixa etária.
A Declaração Mundial de Educação para Todos (EPT), celebrada na cidade de
Jomtien, em 1990, organizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação -
UNESCO é um dos marcos mais importante na construção do ―direito à educação‖ na
primeira infância. A partir deste evento, difunde-se a diretriz internacional de que educação
é elemento constitutivo da pessoa e, portanto, deve estar presente desde o momento em que
ela nasce, como meio e condição de formação, desenvolvimento, integração social e
realização pessoal. Assim, a educação integra o conceito de bem-estar e aprendizagem que
se inicia com a própria vida.
O primeiro objetivo em relação ao cumprimento dos objetivos da EPT é ampliar e
aperfeiçoar os cuidados e a educação para a primeira infância, especialmente no caso das
crianças mais vulneráveis e em situação de maior carência.
A natureza crítica da educação e dos cuidados na primeira infância no
desenvolvimento físico e mental é enfatizada no Relatório de Monitoramento
Global de EPT 2008. Ao atender as necessidades de educação, saúde e nutrição,
os programas de Cuidado e Educação Infantil ajudam a reduzir as desvantagens
atuais e futuras das crianças, garantem direitos e podem abrir caminhos para os
demais objetivos de EPT. A despeito disso, as crianças pequenas, especialmente
aquelas com até três anos de idade têm sido negligenciadas. Os programas a elas
dirigidos estão presentes em apenas 53% dos países, a maioria deles na América
do Norte, Europa Ocidental, Ásia Central, América Latina e Caribe. Outra
característica em relação a ações destinadas a essa faixa etária é a carência de
dados sistematizados. (UNESCO, 2008, p. 12).
O desafio apresentado neste relatório afirma que a qualidade do atendimento nas
creches brasileiras também ainda está distante das recomendações do Ministério da
Educação no que tange aos espaços físicos, materiais e projetos pedagógicos e na formação
docente.
A educação da criança pequena, antes não entendida como uma necessidade, hoje é
reconhecida como direito e paulatinamente vem se ampliando a perspectiva de que esta é
essencial em seu processo de desenvolvimento. O direito à educação só é pleno quando alia
31
acesso à qualidade. O direito à creche, que envolve, consequentemente, a educação da
criança e o direito da família ao trabalho, por exemplo, é um elemento-chave para a
qualidade de vida. Portanto, as creches enquanto instituições de atendimento da criança não
devem fugir à dimensão de uma prática integradora requerida pelas funções do cuidar e do
educar. O objetivo a ser alcançado é o desenvolvimento integral da criança.
Gois (2004, p. 8), afirma que:
Foi só na década passada que os neurocientistas descobriram que há muito de
extraordinário no que se passa no cérebro do bebê quando ele recebe um estímulo
tão simples quanto um carinho da mãe. Como resposta ao gesto, em segundos,
milhares de neurônios se conectam. Essas conexões, as sinapses, podem durar
para sempre ou desaparecer. Se muitas forem criadas e fortalecidas no início da
vida, a criança terá mais chances de ser um adulto saudável, com bom
desempenho na escola, no trabalho e na vida afetiva
Nesse sentido, ressalta-se a importância fundamental da função dos pais e
educadores nesta etapa decisiva do desenvolvimento infantil, sobretudo nos primeiros anos
de vida, pois os estímulos sensoriais oferecidos às crianças são essenciais. Atitudes de
carinho, interações adulto–criança, criança–criança e criança–objetos, proporcionam um
intenso estímulo ao seu desenvolvimento.
O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil é um documento
elaborado pelo MEC (1998), que constitui uma política de ―formação‖ e qualidade do
atendimento prestado na Educação Infantil. Este documento direciona as relações
intrínsecas entre o cuidar e o educar às práticas na Educação infantil. Seus apontamentos
firmam-se na seguintes concepções:
Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e
aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o
desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar
com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o
acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e
cultural. Nesse processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das
capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais,
afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a
formação de crianças felizes e saudáveis. (BRASIL, 1998a, p. 23)
32
O documento enaltece o conceito de cuidar como o processo de estar atento e
comprometido com o crescimento e desenvolvimento da criança enquanto pessoa singular,
identificando e respondendo às suas necessidades e confiando em suas capacidades.
Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado é um ato
em relação ao outro e a si próprio que possui uma dimensão expressiva e implica
em procedimentos específicos [...] O cuidado precisa considerar, principalmente,
as necessidades das crianças, que quando observadas, ouvidas e respeitadas,
podem dar pistas importantes sobre a qualidade do que estão recebendo. Os
procedimentos de cuidado também precisam seguir os princípios de promoção da
saúde. Para se atingir os objetivos dos cuidados com a preservação da vida e com
o desenvolvimento das capacidades humanas, é necessário que as atitudes e
procedimentos estejam baseadas em conhecimentos específicos sobre
desenvolvimento biológico, emocional, e intelectual das crianças, levando em
conta diferentes realidades sociocultural. (BRASIL, 1998a, p. 24).
Portanto, vale ressaltar que nas creches, a criança tem necessidades e direitos de ser
cuidada e educada como um todo. Não se concebe uma Educação Infantil em que não
estejam presentes os cuidados com o seu corpo, sua alimentação, sua saúde, seu
crescimento e o seu desenvolvimento cognitivo, motor, social e afetivo. É importante
destacar que qualquer atividade que tenha como referência a criança, seja na família ou na
instituição, implica ações educativas e de cuidado.
No que se refere especificamente ao objetivo educacional e a organização dos
cuidados e educação destinados às crianças de 0 a 3 anos Didonet (2001, p. 2), afirma que
―a creche deve mediar o processo de construção de conhecimentos, promovendo o
desenvolvimento integral da criança por meio de ações educativas‖, sendo assim, é
importante considerar teorias pedagógicas que compreendam a criança como ser completo,
que favoreça suas necessidades, peculiaridades e diferenças culturais, étnicas e de gênero.
Em outras palavras, a creche deve objetivar-se em práticas de cuidado e educação as quais
devem impregnar ações pedagógicas de consciência, estabelecendo uma visão integrada do
desenvolvimento da criança com base em concepções que respeitem a diversidade e as
peculiaridades da infância.
Nesse sentido, deve-se cuidar e educar a criança como indivíduo que está em
contínuo desenvolvimento, compreendendo sua singularidade, identificando e respondendo
33
às suas necessidades. Isso inclui interessar-se sobre o que a criança sente, pensa o que ela
sabe sobre si e sobre o mundo, visando à ampliação desse conhecimento e de suas
habilidades, em prol da promoção da independência e autonomia, desenvolvidas através de
práticas pedagógicas que objetivem a especificidade de cada faixa etária.
A ação conjunta dos educadores e demais membros da equipe pedagógica da
instituição é essencial para garantir que o cuidar e o educar acontecem de forma integrada.
Torna-se necessário uma parceria de todos para o bem-estar da criança. Cuidar e educar
envolve estudo, educação, cooperação, cumplicidade e, principalmente, a consciência de
todos os responsáveis pelo processo que se mostra dinâmico e em constante evolução.
Desse modo, a creche efetivamente pode promover o desenvolvimento global de
criança, pois esta deixou de ter um caráter unicamente assistencial, passando a ter uma
identidade própria, sendo mesmo, nos dias de hoje, considerada um recurso essencial para a
comunidade, atendendo às famílias na busca de uma resposta educativa muito além de uma
simples substituição de papéis. A creche não é mais vista e sentida como um mal necessário
da família e da sociedade, como uma realidade inevitável para as famílias trabalhadoras ou
como uma consequência da modernização da sociedade industrializada, mas está
conquistando o reconhecimento como um espaço possível para o desenvolvimento e
estimulação das crianças.
Assim, a ação educativa nas creches, embora não deva negligenciar as necessidades
físicas e fisiológicas básicas (cuidar), deverá ser vista essencialmente como um espaço para
ações promotoras do desenvolvimento infantil, em todos os aspectos do desenvolvimento
(educar).
O caráter educativo da creche engloba, por isso mesmo, tudo o que acontece no seu
dia a dia organizado e planejado e leva em conta os interesses e as necessidades afetivas,
físicas, cognitivas e sociais das crianças.
Portugal (1998, p. 21).relata que:
34
Do ponto de vista das crianças, as relações interpessoais afiguram-se como
determinantes: em grande parte, a sua vitalidade, a sua atitude perante o mundo e
a vida estão relacionadas com a forma como foi ou não amada desde o início da
sua existência. As pesquisas no campo do desenvolvimento destacam a
importância crucial das relações sociais como fonte primária de variação no
desenvolvimento sócio emocional.
Desse modo, a legitimidade educacional das creches implica a transformação de
suas práticas institucionais e das concepções sobre sua função social além da sua
importância para o desenvolvimento infantil, tanto por parte das famílias quanto dos
profissionais que nelas trabalham.
Consideramos relevante a elaboração de práticas pedagógicas que, articulando
cuidados e educação, reconheçam os pequenos não como meros receptores de conteúdos,
mas como protagonistas desses espaços institucionais, sujeitos ativos e produtores de
conhecimento.
O trabalho dos profissionais que atuam nas creches deverá romper com os traços
assistencialistas, comprometendo-se na organização de vivências ricas em estímulos
destinadas à construção de novos conhecimentos. Observamos, ainda, a necessidade de
superação da distância existente entre os discursos legal e pedagógico propagados a partir
das últimas décadas e as práticas institucionais desenvolvidas com as crianças.
Portanto, cuidar não é um ato isolado, mas um conjunto de atitudes em benefício do
outro. Cuidar da criança não significa somente atender suas necessidades físicas
oferecendo-lhe condições de se sentir confortável em relação a sono, fome, sede, higiene,
dor, entre outros. Ele inclui criar um ambiente que garanta também a segurança psicológica
das crianças e apoios para elas explorem o ambiente e construam sentidos pessoais ao
mundo e a elas mesmas. Nesse processo, as crianças vão se constituindo como sujeitos
singulares com formas de agir, sentir e pensar culturalmente determinadas, embora
apropriadas de modo inovador.
Sob essa perspectiva, cuidar da criança requer planejar situações que ofereçam
acolhimento, conforto, segurança, atenção, estímulo, desafio, à criança de modo que esta
satisfaça suas necessidades de diversos tipos e aprenda a fazê-lo de forma cada vez mais
35
autônoma. Já educar a criança é criar condições para ela apropriar-se de formas de agir e de
significações presentes em seu meio social, formas estas que a levam a constituir-se como
um sujeito em pleno desenvolvimento. Neste sentido, e como uma questão de urgência,
seria fundamental que os educadores e demais profissionais da educação tenham
consciência do impacto positivo de um trabalho educacional de qualidade esteja integrado
entre o cuidar e o educar.
Sem dúvida é preciso considerar que a educação e os cuidados durante os três
primeiros anos de vida são vitais, conforme aponta Portugal (2009, p. 38):
As experiências mais precoces da criança são cruciais ao desenvolvimento
cerebral. A neurociência tem demonstrado que a interação com o ambiente não é
apenas um acidente de percurso no desenvolvimento cerebral, mas é um requisito
fundamental. As experiências vividas pelas crianças nos primeiros tempos de
vida têm um impacto decisivo na arquitetura cerebral e, por conseguinte, na
natureza e extensão das suas capacidades adultas.
Por outras palavras, as experiências físicas, afetuosas, estáveis, seguras e
estimulantes que as crianças têm com as pessoas que cuidam e a educam nos primeiros
meses e anos de vida são cruciais para o êxito de todos os aspectos do desenvolvimento
destas, assim como afirma o documento das Organizações dos Estados Americanos5:
A infância é, em definitivo, uma etapa para se cuidar: entendê-la transformará o
estilo de atenção e educação familiar ou institucional que serão brindadas a este
tão precioso momento da vida do ser humano. Várias investigações indicaram
que as experiências físicas, sociais, emocionais, cognitivas e sensoriais, as quais
estão expostas as crianças, são críticas e cruciais para a organização de seu
sistema nervoso e para o desenvolvimento do cérebro, podendo deixar sequelas
para toda uma vida. Neste sentido, pais, educadores, psicólogos, assistentes
sociais e toda pessoa que conviva com uma criança, leva uma enorme
responsabilidade sobre seus ombros: conhecer como se dá o processo de
desenvolvimento na infância para entender como atendê-lo e estimulá-lo.
(OEA/OEC 2010, p. 46).
5A Organização dos Estados Americanos- OEA é o mais antigo organismo regional do mundo. A sua origem
remonta à Primeira Conferência Internacional Americana, realizada em Washington, D.C., de outubro de
1889 a abril de 1890. A OEA utiliza uma estratégia quádrupla para programar eficazmente esses objetivos
essenciais. Os quatro pilares da Organização (democracia, direitos humanos, segurança e desenvolvimento).
36
Neste contexto, vale ressaltar a importância da solicitação do meio em ambientes
educacionais com atendimento de 0 a 3 anos, não apenas como apoio social à família, mas,
sobretudo, como um direito à criança que foi também defendido por Piaget (1973b, p. 34):
Afirmar o direito a pessoa humana à educação é, pois assumir uma
responsabilidade muito mais pesada que a de assegurar a cada um a possibilidade
da leitura da escrita e do cálculo: significa, a rigor, garantir para toda a criança o
pleno desenvolvimento de suas funções mentais e a aquisição dos conhecimentos,
bem como dos valores morais que correspondam ao exercício destas funções, até
a adaptação à vida social atual.
Nesse sentido, e sob um olhar direcionado pelos princípios da Epistemologia
Genética, não basta pura e simplesmente uma ―educação para todos‖ no sentido de apenas
dispor de espaços físicos em creches, as ações pedagógicas devem ter como fim o pleno
desenvolvimento das funções cognitivas das crianças desde muito pequenas, para isso é
importante o entendimento psicológico do desenvolvimento que apresentaremos a seguir.
1.2 O DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA DA CRIANÇA
Piaget (1973) em sua obra intitulada ―Para onde vai a educação?‖ afirma que o
direito à educação é, em primeiro lugar, reconhecer o papel indispensável dos fatores
sociais na própria formação do indivíduo passando para o processo de formação intelectual
do ser humano.
O autor expõe, muito claramente: somente ter o direito à educação não basta, é
necessário que esta educação tenha como fins o desenvolvimento pleno das funções
cognitivas do sujeito. Nesse sentido, as instituições educacionais necessitam buscar meios
de garantir ambientes que sejam solicitadores e adequados para promover o
desenvolvimento infantil em todos os seus aspectos.
As crianças atualmente vão à escola logo cedo, inclusive, desde os primeiros meses,
passam o dia todo em creches ou em instituições, porque pais e mães trabalham durante
37
todo o período. Até poucas décadas atrás, a criança, no primeiro ano de vida, era
considerada um ser imaturo. Pelo fato de não andar, não correr, não falar, pensava-se que
ela não sabia outras coisas. Fazia-se uma generalização inadequada, pois se estendia essa
incompletude para todos os outros processos. Enfatizava-se também a comunicação
linguística sobre a não-verbal, a cognição sobre o afeto, e se estudava a criança sozinha,
sem a preocupação com as experiências, com as estimulações e com as trocas sociais.
Em meio dessas duas concepções, a criança, já neste século, viu-se integrada em
uma noção de desenvolvimento cognitivo, social, afetivo e físico, com direitos que não se
reduz em simples conceitos históricos culturais, mas, sobretudo com ―respeito pelo direito
de viver, que é sentir o sabor de tudo pela boca da alma, com os sentimentos do coração e a
sabedoria contida na curiosidade dos caminhos percorridos‖ (PAIN, 1999, p. 99).
Vale ressaltar que Jean Piaget, desde 1936, relata em seus estudos, observações
críticas que apresentam a construção da inteligência e do pensamento a partir das ações
sensório-motoras. Por meio de observações e experiências de seus próprios filhos, ele
acompanhou o desenvolvimento cognitivo de crianças nos seus três primeiros anos de vida
e publicou as obras: O nascimento da Inteligência na Criança, A Construção do Real na
Criança e Formação do Símbolo. A teoria de Jean Piaget denominada de Epistemologia
Genética é a mais conhecida concepção construtivista da formação da inteligência, seus
pressupostos apontam que a criança começa a se desenvolver desde o seu nascimento, pois
vem ao mundo dotada de reflexos, como chupar e agarrar, e tendências inatas a exercitá-los
e a organizá-los. Em essência, essa reação consiste na capacidade de adaptação que
possibilita a construção de esquemas de ação que constituem as primeiras estruturas do
conhecimento que dão origem a outras estruturas típicas da inteligência representativa,
operatória concreta e operatória formal.
Piaget distingue três tipos de estruturas orgânicas, que são, conforme Ramozzi-
Chiarottino (1984, p.35): ―as programadas no genoma (como, por exemplo, as estruturas do
aparelho digestivo), as parcialmente programadas (como as do sistema nervoso) e as não-
programadas, que seriam as estruturas mentais‖. Portanto, as estruturas da inteligência não
38
são inatas, o que existe no genoma é um conjunto de possibilidades no que se refere a essas
estruturas, tais possibilidades se aperfeiçoam ou não em função da solicitação do meio.
Diante disso, vale ressaltar que no processo de interação com o ambiente, a criança
gradualmente desenvolve suas estruturas, que resulta também da estimulação do ambiente
que esteja inserida e que é essencial à sua progressão intelectual para níveis cada vez mais
complexos.
Piaget (1967, p. 12) considera a infância como um período paradoxal em que a
criança quando comparada ao adulto:
Ora se é surpreendido pela identidade de reações – fala-se então de uma ‗pequena
personalidade‘ para designar a criança que age, como nós, em função de um
interesse definido - ora se descobre um mundo de diferenças – nas brincadeiras,
por exemplo, no modo de raciocinar, dizendo então que ‗a criança não é um
pequeno adulto‘.
Como se pode observar, a criança tem um papel ativo em seu desenvolvimento ao
interagir com o ambiente e ao construir os instrumentos intelectuais elementares nos
primeiros anos de vida. Portanto, à medida que se desenvolve, adapta-se a uma sucessão de
ambientes e com crescente complexidade de organização. O autor, refere-se ao sujeito
(biológico e epistêmico) como um sistema aberto, isto é, um sujeito em contínua relação
com o meio e passível de conhecimento, por isso, a criança mesmo quando muito pequena
age como um cientista, por querer descobrir o mundo e explorar as coisas que estão ao seu
redor.
Segundo Kamii e Devries (1991, p. 20), ―a criança é um cientista, um explorador,
um pesquisador, um instrumental crítico na construção e organização do mundo e do seu
próprio desenvolvimento‖. Dessa maneira, a criança é encorajada a ser independente e
curiosa e ter autoconfiança para construir sua própria ideia das coisas e expressar-se com
convicção. Com base nos estudos de Piaget, a autora ainda afirma que a criança na teoria do
desenvolvimento cognitivo é entendida como um ser construtor. De acordo com esta teoria,
ela tem a possibilidade de desenvolver-se ao interagir com o meio em que vive, no qual a
aprendizagem acontece a partir da construção do conhecimento e da reinvenção do mesmo.
39
Nessa perspectiva, sujeito e objeto determinam-se mutuamente, através do jogo
duplo da assimilação e da acomodação: o sujeito age sobre os objetos transformando-os em
função dos esquemas de ação e das operações sobre esses esquemas de que dispõe. Por sua
vez, impõe-lhes modificações em função das variações dos objetos, para assim poder
incorporá-los. Neste processo, o mecanismo de equilibração configura-se decisivo para que
o sujeito se ajuste às novas informações e às necessidades de adaptação ao meio.
A ação do sujeito sobre o objeto é uma das chaves para o desenvolvimento. A
criança acompanha com os olhos os objetos, seu olhar explora o entorno, volta à cabeça;
com as mãos agarra, solta, joga, empurra, explora com os olhos e mãos, cheira, leva à boca
e prova. Estes são exemplos de exploração de mundo, no qual ela aplica seus esquemas de
ação sobre os objetos que tenta ―conhecer‖, aos poucos esses esquemas vão se coordenando
de modo a permitir que a criança resolva problemas práticos característicos da inteligência
sensório motora que se estende do nascimento até o aparecimento da linguagem,
aproximadamente até aos vinte e quatro meses de vida. À medida que as crianças se
desenvolvem, a estrutura construída em fase anterior evolui gradualmente para tornar-se
parte integrante da estrutura do período seguinte. O mundo da criança, na primeira infância,
acontece por meio de ações e percepções e posteriormente cada vez mais, ela conseguirá
representar mentalmente o mundo por meio de imagens, linguagens ou símbolos.
1.2.1 O desenvolvimento do pensamento infantil: do caos6 às primeiras
representações mentais
6 Piaget usa a expressão ‗caos‘ para descrever e explicar o que o estudo sobre a construção do real apresenta. A criança
nasce em um universo para ela caótico, constituído por objetos que desaparecem fora do campo visual, o tempo e o espaço
são subjetivos, e a causalidade reduzida ao poder das ações. Com o passar do tempo criança vai aperfeiçoando e
coordenado seus reflexos que passam a ser esquemas de ação. Assim sendo, o universo que circunda a criança é
conquistado mediante a percepção e os movimentos (como a sucção, o movimento dos olhos, por exemplo).
Progressivamente, a criança vai aperfeiçoando tais movimentos reflexos e adquirindo habilidades e chega ao final do
período sensório-motor já se concebendo dentro de um cosmo.
40
As pesquisas de Jean Piaget contribuíram para compreender o funcionamento da
mente da criança. Ao se verificar a importância de se conhecer, de forma mais específica, o
desenvolvimento cognitivo nos primeiros anos de vida das crianças e, consequentemente,
suas necessidades, a presente pesquisa apoia-se na teoria da epistemologia genética do
autor que explica de forma detalhada a construção da inteligência na criança.
Piaget (1970) concebe o desenvolvimento cognitivo como a sucessão de quatro
grandes períodos que têm início na ação reflexa e chegam ao pensamento formal, sendo que
cada período, por sua vez, anuncia o seguinte. O processo de desenvolvimento se expande
como uma espiral crescente, em que o sujeito vai resolvendo os problemas e desafios de
modo cada vez mais complexos e com mais competência para lidar com as adversidades e
desafios do mundo que o cerca. À medida que as crianças se desenvolvem, a estrutura
construída em idade anterior evolui gradualmente para tornar-se parte integrante da
estrutura do estádio seguinte. O primeiro período é chamado por ele de sensório-motor, que
se inicia logo que a criança nasce e vai aproximadamente até aos dois anos, subdividindo-se
em seis subfases.
As conquistas deste período ocorrem de modo extraordinariamente rápido e
constituem a base de todos os progressos cognitivos, sendo, portanto, de fundamental
importância, pois possibilita à criança elaborar um conjunto de estruturas cognitivas que
servirá de base para novas construções intelectuais ulteriores (PIAGET, 1975). Durante o
período sensório-motor a criança interage com o mundo por meio dos sentidos e das ações
e, progressivamente, busca novas conquistas. No entanto, interessa-se apenas por seu
ambiente imediato, coordena movimentos e percepções para atingir metas em curto prazo;
consegue superar e dominar as relações meios e fins; explora intensamente as
características dos objetos e age para alcançar uma meta distante no tempo ou no espaço.
Piaget (1975), em sua obra ―A construção do Real‖ explica que a criança ao nascer,
é possuidora de uma organização biológica que lhe permite adaptar-se ao meio. E do ponto
de vista da fisiologia do organismo, existem reflexos, atos involuntários, cujo
funcionamento e exercício aperfeiçoa, como por exemplo, o de sugar. Ao nascer o bebê não
41
mama da mesma maneira que irá fazê-lo após alguns dias de vida. Essas experimentações
constituem uma expressão direta da acomodação da sucção às circunstâncias assimiladas.
A esse respeito Piaget (1973, p. 16) explica:
Ora, se todo conhecimento, em todos os níveis, está assim ligado à ação,
compreende-se o papel da assimilação. As ações, com efeito, não se sucedem ao
acaso, mas se repetem e se aplicam de maneira semelhante a situações
comparáveis. Mais precisamente, reproduzem-se tais quais aos mesmos interesses
correspondem situações análogas, mas se diferenciam ou se combinam de
maneira nova se as necessidades e as situações mudam. Chamaremos esquemas
de ações o que, numa ação, é assim transponível, generalizável ou diferenciável
de uma situação à seguinte, ou seja, o que há de comum nas diversas repetições
ou aplicações da mesma ação.
Portanto, um esquema é a coordenação e a organização da ação adaptativa, de tal
maneira que o organismo consegue generalizar a ação para situações similares. A criança
assimila experiências novas a esquemas existentes ou acomoda outros esquemas a novos
objetos. O caminho da ação e das coordenações de ações auxiliam à criança desempenhar
um papel ativo no seu processo de desenvolvimento. O mundo da criança na primeira
infância apresenta esquemas só de ações e percepções, porém mais tarde, acaba por superar
estes limites e começa a representar uma coisa por outra, iniciando o período das
representações.
Piaget (1967, p. 11) explica o desenvolvimento como sendo uma ―equilibração
progressiva, uma passagem contínua de um estado de menor equilíbrio para um estado de
equilíbrio superior‖. A inteligência se desenvolve desde suas bases orgânicas até as formas
mais elevadas do pensamento formal, passando por quatro grandes períodos de
desenvolvimento: sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal.
Sua teoria mostra que a evolução destas fases está intimamente relacionada e seguem as
mesmas sequências em todas as crianças, independente do lugar, grupo e sociedade em que
vivem.
Cada fase apresenta a inteligência como função adaptativa, é como uma espécie de
ponto de chegada, implicando um percurso com regras a cumprir que tem por base a ação.
Nesta perspectiva, a inteligência é essencialmente transformadora do real, e este seu
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percurso comporta, para além de determinados fatores do desenvolvimento: fatores
biológicos, fatores sociais, fatores de experiências físicas e lógico-matemáticas e fatores de
equilíbrio no sentido de autorregulação.
O presente estudo limitar-se-á a apresentar o período sensório motor e o início do
período pré-operatório, pois ambos tratam, diretamente, das idades dos frequentadores do
segmento creche (0 a 3 anos) aqui estudado.
1.2.2 Período sensório – motor
O período sensório-motor começa no nascimento e dura até por volta de 18 meses
a 2 anos de idade, a atividade intelectual da criança é de natureza sensorial e motora. Este
período cronológico é caracterizado pela inteligência prática, durante a qual o bebê
organiza o mundo exterior, incluindo o seu próprio corpo. É um período decisivo para todo
o desenvolvimento psíquico ulterior e representa a conquista do espaço, do tempo e da
causalidade, por meio das sensações e dos movimentos no mundo prático que a cerca. Sua
inteligência é essencialmente prática, calcada no aqui e agora.
Quanto ao desenvolvimento sócio-afetivo, neste período, as crianças não
estabelecem trocas afetivas propriamente ditas, os afetos são indiferenciados e se
confundem com as trocas estabelecidas com o ambiente. O gostar e o não gostar de outras
pessoas dá origem aos primeiros sentimentos sociais de simpatia e antiapatia.
Nesse período há o aparecimento de afetos perceptivos que se resumem aos prazeres
e às dores ligados às percepções e aos sentimentos de agrado ou desagrado. Ao final desse
período os afetos começam a desempenhar um importante papel nas escolhas das ações.
Observa-se, então, que as interações sócio afetivas tornam-se mais elaboradas e
diversificadas tanto em relação as condutas (pré-colaborativas e imitativas, por exemplo)
quanto aos sentimentos (alegria, tristeza, felicidade e simpatia). Apesar de não existir ainda
43
a cooperação, que define a troca social propriamente dita, as interações presenciadas no
período sensório-motor ocorrem no âmbito da ação e, assim como acontece com as noções
de causalidade, tempo e espaço, pode-se dizer que constituem a base sobre a qual as
interações sociais dos níveis posteriores serão construídas. Por isso a importância das
interações positivas nos primeiros anos de vida (GRANA, 2011).
No desenvolvimento sensório-motor, Piaget constatou a existência de seis subfases,
publicadas na tríade piagetiana: O Nascimento da Inteligência (1987); A Construção do
real (1975); A Formação do Símbolo na Criança (1973). Esta etapa marca o
desenvolvimento de esquemas motores essenciais para a compreensão do mundo, expresso
por Piaget (1975) como a passagem do caos ao cosmo, apresentadas em seis fases nos
quais o bebê exibe desde os reflexos até a sua capacidade de representação.
1.2.2.1 Fase I – exercícios dos reflexos
No primeiro mês de vida, os comportamentos dos bebês são reflexos inatos em
respostas a estímulos específicos. Por exemplo, se você colocar um mamilo ou a chupeta
próximo da boca de um recém-nascido, ele automaticamente irá sugá-lo. Se você colocar
alguma coisa contra a palma de uma das mãos do recém-nascido, seus dedos irão fechar
automaticamente em torno dele. A criança logo começa a modificar alguns reflexos para
melhor adaptar-se ao ambiente, por exemplo, na medida em que exercita o sugar aprende a
distinguir entre um mamilo e arredores, áreas de um peito ou mamadeira, bem como outros
reflexos, tais como o da preensão dos dedos quando algo é colocado na mão, desaparece
com o tempo.
Sendo assim, o reflexo se consolida e se aperfeiçoa em decorrência de seu próprio
funcionamento. A experiência física, desde as primeiras horas de vida do bebê, passa ter
um papel fundamental, ou seja, o contato direto com o objeto modifica a atividade reflexa e
conduz às primeiras adaptações. Estas nos remetem aos processos de organização e
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adaptação, das quais a última está subdividida em dois componentes interrelacionados:
assimilação e acomodação. No entanto, não podemos ainda falar dos processos de
assimilação e acomodação separados. Falamos em assimilação, porque é o que predomina,
apesar de a possibilidade de mudança ser a repetição, o enfrentar situações com os
mecanismos que o bebê tem sem criar novos meios.
Por isso, a princípio não há uma generalização do uso dos reflexos, assim como
explica Piaget (1970, p. 43):
A ‗assimilação generalizadora‘, é a incorporação de objetos cada vez mais
variados ao esquema do reflexo. Quando, por exemplo, a criança tem fome, mas
não o bastante para ceder à cólera e aos gritos de protesto, e seus lábios foram
excitados por qualquer contato fortuito, assiste-se à formação de tal
comportamento, tão importante pelos seus próprios desenvolvimentos futuros
como pelos inúmeros casos análogos que serão observados a propósito de outros
esquemas. Assim é que, segundo o acaso dos encontros, a criança chupa, a partir
das duas primeiras semanas, os seus próprios dedos, os dedos que se lhe
oferecem, o travesseiro, o cobertor, os lençóis etc.: portanto, assimilou esses
objetos à atividade do reflexo.
Além da assimilação generalizadora, esse processo apresenta-se sob mais duas
formas: reprodutora e recognitiva.
A assimilação reprodutora é o próprio funcionamento do exercício reflexo, pois a
repetição do reflexo possibilita sua maior eficiência. Por exemplo, observa-se no bebê uma
sucção ao vazio. Entretanto, essa assimilação reprodutora conduzirá logo a uma assimilação
generalizadora que irá incorporar situações ou objetos variados ao esquema reflexo. Por
exemplo, a criança ao explorar o meio chupa os seus próprios dedos, os dedos que lhe
oferecem o travesseiro, o cobertor, os lençóis, entre outros. Essa assimilação que consiste
na aplicação de um mesmo esquema a objetos variados conduz a outra, a assimilação
denominada de recognitiva, que nada mais é do que o início do reconhecimento, trata-se do
reconhecimento prático e motor dos estímulos, que ocorre quando é acionado um
mecanismo reflexo - Inverso da generalizadora – portanto, se a criança está com bastante
fome, ao apresentar um dedo e um mamilo, ela irá rapidamente rejeitar o dedo em favor do
mamilo. Anteriormente não era assim, bastava estar chorando de fome que o dedo do seu
pai a fazia parar de chorar. Dessa forma, a criança passa a rejeitar o dedo do seu pai no
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momento, o que caracteriza um começo de reconhecimento prático ou motor, mas
suficiente para que se possa falar em assimilação recognitiva.
1.2.2.2 Fase II - Reação Circular Primária: rumo à conduta intencional
inteligente - da repetição de condutas à formação dos primeiros hábitos. (de 1 a
4 meses)
Nesta fase, os reflexos se aperfeiçoam e se transformam em esquemas de ação, ou
seja, as primeiras adaptações adquiridas em que a criança ajusta seu comportamento às
características do ambiente.
As reações circulares são repetições de uma conduta que tendem a se conservar e a
se aperfeiçoar, isto é, os reflexos tornam-se mais organizados convertendo-se em esquemas.
Assim, diferentemente do reflexo, um esquema supõe uma organização de ações para que a
criança possa responder melhor às estimulações do ambiente. Por exemplo, quando a
criança pega diferentes objetos, está modificando seu reflexo de preensão, se pode dizer
então que está se adaptando. Sendo assim, quando a criança modifica um reflexo, podemos
dizer que ela passou de uma resposta reflexa para uma adaptação adquirida. A acomodação
nesta fase começa a diferenciar-se da assimilação.
Nesta fase, a criança repete várias vezes suas adaptações adquiridas, estas repetições
foram caracterizadas por Piaget de reação circular primária. Recebeu este nome porque
frente a um objeto a criança responde e reage. O termo circular significa o
desencadeamento das reações repetitivas e o termo ‗primárias‘ advém das ações
espontâneas e não intencionais que são circunscritos a seu próprio corpo.
Um exemplo de reação circular primária seria o ato repetitivo de chupar o dedo, esta
conduta é apresentada por Piaget (1970, p. 68) ao relatar que ―essa reação constitui um
comportamento essencialmente ativo que prolonga o exercício reflexo, contando, além
disso, com um elemento adquirido de acomodação aos dados da experiência‖. A ação de
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chupar o dedo, será melhor realizada quanto mais vezes a criança repeti-la. Esta repetição
permite a criança descobrir as diferenças entre uma ação e outra descobrindo casualmente
novas ações. Portanto, à medida que o esquema que vai sendo generalizado a objetos e
condutas mais variadas, a criança vai estabelecendo a diferenciação, ou seja, a assimilação
torna-se recognitiva, fato que envolve um princípio de acomodação.
Durante as duas primeiras fases não se observa reação ativa da criança frente ao
desaparecimento dos objetos. Entretanto, as coordenações entre vários esquemas, preensão
/visão, preensão /audição, são passos fundamentais para a noção de único mundo externo.
Por exemplo, olhar para o que ouve seria o primeiro passo para a constituição do objeto
permanente. Nesta fase o objeto desaparecido deixa de existir, quando sai fora do campo
perceptivo da criança.
Piaget (1970, p. 141) apresenta a conclusão dessa fase ao afirmar:
Como sendo os primeiros hábitos sensório-motores, é idêntico, do ponto de vista
funcional, à da inteligência, embora sejam inteiramente diferentes pela estrutura.
Funcionalmente falando, a acomodação, a assimilação e a organização dos
primeiros esquemas adquiridos são plenamente comparáveis às dos esquemas
móveis de que a inteligência sensório-motora fará uso e mesmo às dos conceitos
e relações empregados pela inteligência refletida. Mas do ponto de vista
estrutural, falta intencionalidade nas primeiras reações circulares.
Portanto, nesta fase das primeiras adaptações adquiridas as condutas observadas
ainda não são intencionais, isto é, inteligentes no seu verdadeiro sentido. Elas fazem a
transição entre o orgânico e o intelectual, preparando a inteligência.
1.2.2.3 Fase III - Reação Circular Secundária: as condutas quase intencionais
anunciam a inteligência prática (dos 4 aos 8 meses)
Durante o período Sensório - Motor, a consciência infantil do meio externo se
expande e as ações da criança são marcadas por uma intencionalidade sempre crescente.
São dois os aspectos igualmente relevantes que diferenciam esta fase do anterior. Por um
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lado, o esquema já é de interação com o meio de correspondência entre conduta e efeito
externo, ao invés de enfocar primariamente as ações do próprio corpo, consequentemente as
reações são chamadas secundárias. Outro aspecto, sem ainda poder falar de ação
intencional, é a sua estrutura que já se dá de forma completamente independente da
condicionalidade biológica, isto é, os novos esquemas não são somente mais ricos e
variados, mas também possibilitam uma atividade maior no meio exterior e a criança repete
as atividades pelo intenso interesse do efeito provocado por sua ação.
A assimilação generalizadora com os objetos é muito ativa, a criança explora com
curiosidade suas propriedades aplicando-lhes esquemas conhecidos e associados a certos
efeitos que já é capaz também de antecipar (sacudir, chupar, bater ...). A criança nessa fase
coordena os esquemas de preensão e visão, facilitando assim a distinção entre meios e fins.
Desta forma, a criança começa a se dar conta de que existe uma relação entre aquilo que ela
faz e aquilo que ocorre com o objeto, quando ela faz algo (meio) ocorre um resultado (fim),
aparecendo o início da causalidade.
As primeiras relações de causalidade são confirmadas quando a criança apresenta
procedimentos para prolongar espetáculos interessantes, por exemplo, quando o bebê em
interação com um adulto que tamborila com os dedos sobre a superfície de uma mesa e
interrompe, este se agita, balbucia, mexe as pernas, etc., até que o adulto compreende o
pedido e reinicia a atividade solicitada. Esta primeira causalidade não é física, mas mágico-
fenomenista marca as aquisições desta fase, quando a causa da ocorrência de algo é
assimilada a uma intenção eficaz, sendo o efeito o fenômeno percebido. O bebê pode
repetir a ação de puxar para provocar barulho, como se a própria ação tivesse o poder
mágico de produzir eventos a distância e em qualquer situação.
A partir disso, Piaget (1967, p. 250) explica que:
Procedimentos para fazer durar um espetáculo interessante confirmam
inteiramente, do ponto de vista da causalidade, a interpretação que esboçamos
para as reações circulares secundárias. Com efeito, os movimentos próprios que
se revelam à criança, no decorrer dessas reações circulares secundárias, como
suscetíveis de engendrar um determinado resultado logo são utilizados fora desse
contexto particular e de qualquer contato material e espacial: portanto, essa é, em
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verdade, a prova de que a causalidade atribuída ao gesto ainda não é uma
causalidade física, fundamentada nos caracteres externos da ação, mas uma
causalidade por simples ‗eficácia‘[...] que podemos dizer que se trata de um puro
dinamismo interno, como quando a criança sente que está agindo sobre suas mãos
e seus pés sem saber, de forma alguma, como o faz. Além de suas impressões de
desejo, de esforço, de expectativa, de satisfação, etc., a criança experimenta
sensações cinestésicas, táteis e até visuais que dão a cada um de seus gestos uma
fisionomia própria
Os objetos desconhecidos causam pouca surpresa à criança, mas os objetos são
agora reconhecidos como tendo certas propriedades permanentes, embora o
reconhecimento se limite a situar os objetos em relação ao seu corpo em função de seus
atos, mas ela ainda não é capaz de situá-los em relação aos outros e não postula a
permanência deles fora do seu campo e ação, assim um objeto completamente coberto por
um lenço não é reconhecido pela criança. Entretanto, se o objeto for coberto parcialmente,
ela reconhece a parte do objeto, puxa o lenço e apanha o objeto para si.
A criança nesta fase demonstra o reconhecimento motor, isto é, frente a uma coisa
conhecida a criança não fala, mas esboça movimentos rápidos para demonstrar interesse
pelo seu objetivo. Antecipa futuras posições de objetos em movimento. Por exemplo,
quando o objeto cai no chão, inclina-se para olhar em vez de ficar olhando para o local de
onde caiu.
No campo espacial os grupos de deslocamentos transcendem os grupos puramente
práticos das fases anteriores, quando a criança tenta observar o que está fazendo chegando
assim a uma percepção elementar do grupo. Desse modo, como vimos em suas reações a
objetos, o espaço permanece limitado pelo terreno da ação da criança e, portanto, não pode
ainda consistir em um sistema de relações entre objetos, mas é apenas um conjunto de
relações, percebido praticamente e centralizado na própria criança.
1.2.2.4 Fase IV - Coordenação de esquemas secundários: as condutas
intencionais constituem-se num ato inteligente (dos 8 aos 12 meses)
49
Nessa fase, a criança apresenta um salto qualitativo no seu desenvolvimento
cognitivo, com a aparição de condutas classificadas como características da inteligência
prática (PIAGET, 1967).
Assim, a inteligência é definida como a busca intencional de meios para atingir um
fim, ou seja, a criança tem um propósito pelo qual orientará as suas atividades. Ela já é
capaz de coordenar intencionalmente os esquemas e este fato irá constituir-se em um ato
inteligente. Por exemplo, se a criança quer alcançar um brinquedo colocado atrás de um
anteparo, poderá empurrá-lo ou balançá-lo para ter acesso a ele.
A novidade essencial nesta fase é que a criança não tenta mais repetir ou prolongar
um efeito que descobriu ou observou por acaso, mas persegue um fim não imediatamente
atingível e procura chegar a ele por meios intermediários diferentes. As ações novas são
exploradas mais plenamente do que na fase anterior, pois as crianças utilizam as
descobertas intencionais para explorar ações executadas nos objetos. Meios e fins são
claramente diferenciados e estes meios são ações que a criança já conhece e utiliza em
situações novas.
Vejamos como explica Piaget (2001, p. 61):
A criança não se limita mais a procurar o objeto desaparecido só quando este se
encontra no prolongamento dos movimentos de acomodação: procura-o
doravante mesmo fora do campo de percepção, isto é, atrás das barreiras que
porventura se impuseram entre o indivíduo e o quadro percebido. Essa descoberta
se deve ao fato de que a criança começa a estudar os deslocamentos dos corpos
(pegando-os, remexendo-os, balançando-os, escondendo-os e encontrando-os,
etc) coordenando, assim, a permanência visual com a permanência tátil que,
como acabamos de ver, continuavam sem vínculo no decorrer do estágio
precedente.
Por exemplo: quando a criança vê um brinquedo sendo coberto (escondido) por um
pano, ela é perfeitamente capaz de compreender a existência do referido brinquedo. O pano
que o cobre é percebido como um obstáculo que não permite o alcance direto do brinquedo
e ao puxar o pano a criança está utilizando um meio para alcançar seu objetivo (fim): o
brinquedo (caracterizando assim, a intencionalidade na ação). Sendo assim, a criança já
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consegue localizar objetos escondidos, embora deixem de levar em conta os deslocamentos
visíveis.
Outra característica relevante nesta fase diz respeito à compreensão espacial, e o
conceito de tempo. Os progressos conquistados em seu conhecimento sensório-motor dos
objetos conduzem à elaboração do campo espacial. Quanto ao espaço, a princípio era
percebido em função do eu e não como um meio imóvel interligando todas as coisas. O eu e
o mundo se tornam progressivamente diferenciados. Por exemplo, quando a criança procura
agarrar um brinquedo, afastando um obstáculo ou mesmo fazendo uso das mãos de um
adulto para conseguir alcançar seu propósito, isto demonstra que as ações tornam-se cada
vez mais coordenadas e a criança já consegue fazer previsões de acontecimentos,
independente de sua própria ação. Estes indícios são concebidos como algo independente
de si e vinculados à atividade dos objetos.
A compreensão da sequência temporal amplia-se nessa fase. A criança lembra-se de
uma série de acontecimentos ordenados, em vez de lembrar-se apenas de suas ações. A
memória de ação ainda sobrepõe a de deslocamentos, como no caso quando a criança busca
o objeto escondido no mesmo lugar que o localizou anteriormente.
1.2.2.5 Fase V - Reações circulares terciárias: A conduta da vara anuncia a
inteligência sistemática (dos 12 aos 18 meses)
A fase das reações circulares terciárias se distingue das anteriores pela conquista da
descoberta de novos meios para resolver situações-problema, por meio da experimentação
ativa. Quando a criança não consegue assimilar certos objetos ou certas situações aos
esquemas até aqui encaixados, a mesma adota uma conduta imprevista: ela investiga, por
uma espécie de experimentação, em que sentido o objeto ou evento é novo. A criança
repete uma conduta e faz inúmeras variações para ver o que acontece. Ou seja, um efeito
obtido fortuitamente entre os objetos não é apenas reproduzido, mas modificado com o
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propósito de estudar a sua natureza. Por exemplo, a criança deixa cair inúmeras vezes o
carrinho no chão. Cada vez que o faz experimenta novas formas de jogá-lo para descobrir
diferentes resultados. A reação circular terciária é inovadora por dois motivos: há repetição
dos movimentos com variação e graduação, sendo que a repetição visa mais à compreensão
do resultado do que apenas chegar ao mesmo fim.
Portanto, nesta fase a criança já é capaz de resolver problemas novos, mesmo não
tendo esquemas para lidar com eles; pode-se dizer que a criança se empenha para assimilar
objetos novos em seus próprios esquemas, dessa maneira ela consegue se acomodar a essas
novas situações. Nessa fase, observam-se as formas mais elevadas da atividade intelectual,
antes do aparecimento da inteligência sistemática, que são as condutas relativas ao suporte,
ao barbante e a vara.
A conduta do suporte ocorre quando a criança percebe a relação ―posto sobre‖, em
que um objeto interessante é colocado e não é imediatamente acessível à criança pois está
sobre outro (almofada, pedaço de tecido, entre outros) e a criança utiliza-se deste para
alcançar aquele. A conduta do barbante consiste em puxar para si um objeto servindo-se do
seu prolongamento (barbante, corrente...). A conduta da vara é a utilização de um
instrumento (vara, bastão e semelhantes) para alcançar um objeto. As crianças descobrem
progressivamente as verdadeiras relações existentes entre esses e os prolongamentos
(suporte e barbante), descobrindo assim que pode utilizar o segundo para trazer para si o
primeiro. Desta forma, elas demonstram maneiras mais elevadas de atividade intelectual
antes do aparecimento da inteligência sistemática.
A relação que a criança estabelece entre o suporte, o barbante e o objeto que ela
deseja alcançar torna-se mais complexa quando descobre o uso do objeto como instrumento
para atingir seu objetivo. O exemplo apresentado por Piaget (1970, p. 283) ilustra esta
característica:
Quando Jaqueline [filha do autor] com um ano, três meses e doze dias descobre a
possibilidade de fazer os objetos deslizarem no chão por meio da vara e assim
atrai-los para si: para agarrar uma boneca caída por terra, fora do seu alcance
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começa por bater com a vara e, depois, verificando seus ligeiros deslocamentos,
empurra-a até poder alcançá-la com a mão direita.
Dessa forma, a conduta da vara anuncia assim a inteligência sistemática. O começo
de uma união interdependente entre as experiências cumulativas anteriores e atividade
assimiladora permitirá à criança uma invenção e dessa maneira ela utilizará a vara como
instrumento para atingir seu objetivo.
Na reação circular terciária, quanto ao conceito de permanência de objeto a criança
já leva em consideração os deslocamentos sucessivos do objeto. Procura-o ativamente em
um primeiro ou segundo lugar escondido. Já possui noção da permanência deste. (ele está
em algum lugar e não desapareceu), mas, ainda não leva em conta deslocamentos
invisíveis, como por exemplo, quando você esconde um objeto na mão e depois o coloca
embaixo de uma almofada sem que a criança veja. Ela irá procurar o objeto na sua mão, ou
seja, procurará o objeto no ponto em que ele foi visto da última vez. Nessa fase, a criança já
é capaz de imitar quando o comportamento do modelo já existe em seu repertório e cujos
resultados lhe são significativos.
1.2.2.6 Fase VI - Reações circulares terciárias: a invenção mental de novos
meios mediante a combinação mental e define a inteligência sistemática (dos 18
aos 24 meses)
Corresponde ao final do período sensório motor e à transição para o período pré-
operatório (ou inteligência representativa, com o aparecimento da função simbólica ou
semiótica) em que a criança já é capaz de representar o mundo exterior mentalmente em
imagens e símbolos.
A novidade cognitiva nesta fase é de que a criança já é capaz de chegar a novos
esquemas cognitivos, não por experimentação e tateio, mas por meio de descobertas e
invenções. As invenções já não se efetuam de um modo somente prático, mas de uma
forma mental. Graças a uma série ininterrupta de assimilações de diversos níveis anteriores
53
que os esquemas sensório-motores se tornam suscetíveis de novas combinações e
interiorizações que possibilitam, finalmente, a compreensão imediata em certas situações.
Piaget (1970, p. 320) menciona que ―inventar é combinar esquemas mentais, isto é,
representativos, e, para tornarem-se mentais, os esquemas sensório-motores devem ser
suscetíveis de combinarem-se entre si, de todas as maneiras, ou seja, de poderem dar lugar
a verdadeiras invenções‖.
Assim, os esquemas nessa sexta fase podem ser reorganizados espontâneamente em
resultado de suas numerosas experiências da fase anterior. O bebê que chegava ao
progresso de inventar novos meios para lidar com o ambiente, porém estava sempre restrito
aos dados da experiência, começa agora a usar símbolos mentais e palavras para se referir
aos objetos ausentes de maneira simbólica.
De posse da capacidade de representação, em sua forma mais elementar, a criança
passa a usar a invenção como maneira de solucionar seus problemas imediatos. Mesmo sem
ter experimentado concretamente as possibilidades de uso de um determinado objeto, o
sujeito pode então inventar e antecipar procedimentos para satisfazer seus interesses. Por
exemplo: retirar objetos de dentro de uma caixa ou empurrar uma cama para apanhar uma
bola que rolou para baixo dela.
A criança procura o objeto escondido mesmo que não o tenha visto desaparecer,
pois é capaz de mentalmente representar o trajeto percorrido pelo objeto. Quanto ao espaço,
ela já percebe como independente de si é capaz de representar mentalmente seus
deslocamentos no espaço, tendo inclusive capacidade de verbalizar os trajetos que
percorreu. Portanto, a criança já percebe que estes são permanentes, pode encontrá-los
quando ocorreram deslocamentos invisíveis para ela, mesmo depois de vários
deslocamentos sequenciais.
A invenção por dedução, também caracteriza a inteligência sistemática. É uma
reorganização espontânea dos esquemas precedentes que se acomodam à nova situação
através da recíproca. Segundo Piaget (1970, p. 323), a dedução sensório motora revela-se,
pois, nos primórdios, como o ―prolongamento direto dos mecanismos anteriores de
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assimilação e acomodação, mas em um plano que começa a diferenciar-se da percepção e
ações diretas‖. A criança consegue resolver problemas simples, lembrar-se das coisas,
planejar e pensar sobre estas, embora o seu pensamento ainda seja de forma bastante
elementar. A dedução é possível na criança pequena pela simples evocação prática dos
esquemas e independentemente de um sistema bem definido de representações.
As condutas das crianças quanto à noção de tempo nessa fase é representada nas
ações ordenadas, isto é, a criança sabe, por exemplo, que é preciso abrir a porta para sair,
em uma reação imediata a um fato ocorrido, mas é também capaz de estabelecer relações
temporais de situações já vivenciadas anteriormente. Portanto, a criança já consegue evocar
em pensamento as situações ausentes e está apta a situá-las em um tempo representativo
que engloba tanto a si mesma quanto ao mundo.
A evolução da causalidade apresenta-se nessa fase de maneira mais consistente, pois
permite que a criança faça inferências de uma causa a partir de seu efeito ou mesmo
antecipar um outro a partir da causa. Por exemplo, perceber que o cordão amarrado em um
carrinho ajuda a puxá-lo, assim como se jogar uma bola na direção do alvo de uma cesta,
ela pode acertar o alvo.
No final do período sensório-motor, a criança já e capaz de condutas bem mais
complexas, como a de dedução, que ultrapassa a experimentação efetiva, ou seja, a
invenção, evocação representativa por imagens-símbolo e tantas outras que assinalam a
superação da inteligência prática e segue para a inteligência representativa, com a aparição
da função simbólica ou semiótica. As invenções que aconteciam de modo prático passam a
ser efetuadas no plano mental. A criança agora tem a posse da capacidade de representação
mental, como, por exemplo, o aparecimento da linguagem, mesmo em sua forma mais
elementar. A criança também já é capaz de representar o modelo ausente por meio de
imitação, por exemplo: quando ela brinca de imitar os sons dos animais, de dormir, entre
outros. Esta forma de representação é a imitação diferida, pois não se dá somente na
presença do modelo a ser representado.
55
O desenvolvimento da criança inicia um novo período por volta de 2 anos de idade,
em que poderá colocar em prática tudo o que a inteligência sensório-motora organizou do
mundo no decorrer desse período, isto é, a criança vai reconstruir tudo o que adquiriu ao
nível das ações e reconstruir em termos conceituais o que construiu até então em termos de
esquemas.
Inicia agora a inteligência representativa, com a aparição da função simbólica. As
invenções que até então eram efetuadas no plano prático, agora são efetivadas no plano
mental.
1.2.2.7 Período pré-operatório
Este é o momento em que os pensamentos das crianças tornam-se muito mais
sofisticados em relação ao uso do pensamento simbólico. Entre outros avanços do período
pré-operatório estão os seguintes: a função simbólica, a compreensão de identidades, a de
causa e efeito e a compreensão dos números.
O período pré-operatório abrange, de modo geral, a evolução do desenvolvimento
que vai do final da fase VI do sensório-motor (1½ - 2 anos) até o início da construção das
operações concretas (6 – 7 anos). Neste período, a criança supera as ações sensório-motoras
e avança para inteligência representativa.
A criança deste período vai adquirindo maior segurança e independência de
movimentos. Amplia-se a sua capacidade de percepção, aumentando a capacidade para
combinar, novas situações em novos esquemas.
Este período é subdividido em duas subfases: o pensamento pré-conceitual (2 a 4
anos aproximadamente) e o pensamento intuitivo (por volta dos 4 aos 7 anos). Como dito
anteriormente, vamos focar a discussão apenas na primeira fase deste período que é que
corresponde à fase em que a criança frequenta a creche.
56
1.2.2.8 O pensamento pré-conceitual
A passagem da lógica da ação para a conceitual permite ao sujeito compreender e
representar o que ocorre na criança em torno do segundo ano de vida. A ação e a interação
permitem-lhes conhecer a realidade, representá-la, comunicá-la e modificá-la. As crianças
deslocam-se, manipulam, experimentam, brincam com os outros, comunicam-se: assim vão
construindo seu próprio conhecimento e convertendo-se em seres sociais.
A primeira fase do período pré-operatório corresponde à formação da função
simbólica ou semiótica e abrange um período cronológico, aproximadamente entre os dois
a quatro anos. Embora algumas das condutas que definem este período sejam já observáveis
nas duas últimas fases do período sensório-motor, essas condutas têm em comum um
aspecto que introduz alterações qualitativas no desenvolvimento intelectual da criança e
que se traduzem no fato desta ser capaz de representar objetos e situações. Esta
representação implica a utilização de significantes para representar algo. Por meio da
diferenciação significado-significante a criança ultrapassa os obstáculos impostos pelo
mundo físico dos adultos com as suas regras próprias. Por exemplo: em uma brincadeira de
faz de conta, uma criança de 3 anos brinca de cavalinho com um cabo de vassoura. Neste
exemplo existe o significado ―o cavalinho‖ (que é aquilo que a criança quer representar) e
um significante que é o cabo de vassoura, o objeto real.
Piaget e Inhelder (1966, p. 48) apontam cinco manifestações da função simbólica,
em ordem crescente de complexidade:
A imitação diferida, que é uma imitação que ocorre na ausência do modelo; o
jogo simbólico, ou jogo de ficção; o desenho, ou imagem gráfica; a imagem
mental, que surge como imitação interiorizada; e a evocação verbal de
acontecimentos não atuais, oriundo da linguagem nascente.
Juntamente com o surgimento da linguagem, desenvolve-se o primeiro tipo de
―pensamento conceitual, o pré-conceito, cujas características são de não atingir nem a
generalidade - inclusão hierárquica – tampouco a individualidade verdadeira-permanência
do objeto idêntico fora do campo de ação próximo‖ (PIAGET, 1946, p. 358).
57
Com a palavra, há possibilidade de exteriorização da vida interior e, portanto, a
possibilidade de corrigir ações futuras. A criança já antecipa o que vai fazer e passa a
procurar a razão causal e finalista de tudo (é a fase dos famosos ―porquês‖), a criança
pergunta o tempo todo.
Os primeiros raciocínios da criança são, portanto, inferências transdutivas, não
procedendo do particular para o geral (indução), nem do geral para o particular (dedução),
mas sim do particular ao particular. Assim, segundo Piaget (1946, p. 299):
A transdução é um raciocínio sem imbricações reversíveis de classes
hierárquicas, nem de relações. Sendo sistema de coordenações sem imbricações,
por conexão direta entre esquemas semi-singulares, a transdução será, pois, uma
espécie de experiência mental que prolonga as coordenações de esquemas
sensório-motores no plano das representações; como não constituem conceitos
gerais, e sim meros esquemas de ações evocados mentalmente, essas
representações ficarão a meio-caminho entre o símbolo-imagem e o próprio
conceito.
O autor menciona vários casos de transdução no raciocínio. A justaposição do
pensamento ocorre quando se dão julgamentos sucessivos e não relacionados; um barco
grande flutua porque é pesado, um pequeno porque é leve, uma agulha porque é fina, e
assim por diante.
O sincretismo, em contraste, consiste em ligar coisas que não são relacionadas. É
tendência espontânea da parte da criança absorver coisas por meio de um ato amplo de
percepção, em lugar de considerar pormenores; elas não conseguem fazer analogias,
tendem a ligar tudo com tudo. Por exemplo: se disser que não pode comer manga porque
está verde, e logo em seguida, enquanto vai se oferecer um kiwi, ela diz que não pode
comer, pois está verde.
Mantovani de Assis e Assis (2013, p. 35) quanto às pré-relações desse nível diz que:
O que o primeiro subestágio do pensamento pré-operatório (de 2 a 4 anos) nos
oferece é que, de uma parte, os únicos mediadores entre o sujeito e os objetos são
apenas pré-conceitos e pré-relações (sem norma para o ‗todos‘ e o ‗alguns‘ para
os primeiros nem a relatividade das noções para os segundos) e que, de outra
parte e reciprocamente, a única causalidade atribuída aos objetos se conserva
psicomórfica, pela indiferenciação completa com as ações do sujeito.
58
Portanto, a criança nessa fase apresenta uma incapacidade de identificar duas
classes de mesma extensão, e não compreende ainda a relação de subclasse da classe, por
falta de uma norma para o "todos" e "alguns", assim como, a criança não consegue inverter
mentalmente a direção da ação observada e, consequentemente, de compreender que se a
água do copo B fosse despejada novamente em A, a igualdade inicial seria obtida
novamente.
À medida que as crianças se desenvolvem, podemos observar uma evolução dos
comportamentos de classificação e seriação.
O nível mais elementar de classificação é o das coleções figurais, em que a
criança agrupa os elementos de um conjunto não apenas em virtude da
semelhança, mas porque são convenientes por quaisquer razões, por exemplo: o
menino e o cão porque vão passear, um quadrado e um triângulo porque juntos
fazem uma casa. Ela pode, ainda, ater-se, sobretudo às semelhanças, mas
primeiramente ajunta os elementos semelhantes e depois os heterogêneos,
fazendo com eles uma figura em determinado espaço (quadrados enfileirados ou
reunidos em um grande retângulo, etc.). Outro nível de classificação também
característico deste estágio é o das coleções não-figurais. Tais classificações
consistem simplesmente em distribuir em pequenos montes os objetos que se
assemelham. Além disso, depois de ter feito uma coleção de objetos (por
exemplo, de botões), a criança é capaz de dividi-la em subcoleções (grandes e
pequenos; ou vermelhos, azuis e brancos), ou, ao contrário, tendo feito uma
coleção, a criança vai reuni-la a outras (por exemplo, juntar os quadrados e os
retângulos porque são figuras de linhas retas). Observamos nesses
comportamentos nítidas classificações, porém ainda ao nível de coleções não-
figurais, porque a criança ao classificar os objetos emprega um método
descendente (primeiro, grandes coleções e, depois, subdivisões), ou um método
ascendente (reunião de subcoleções), sem chegar a incluir duas subcoleções numa
coleção maior que as contenha. Desta forma, após ter feito uma coleção B, a
criança a subdivide em A e A', mas pode ocorrer que ela somente compare A com
A' e não com o todo B, ou pode ser que ela pense no todo B e negligencie as suas
partes, ou ainda pense nas partes A e A' e esqueça-se do todo sem chegar à
inclusão de classes unindo A e B. (PIAGET, 1969, p. 134 apud MANTOVANI
DE ASSIS; ASSIS, 2002, p. 53).
Estas características do período pré-operatório confirmam que a criança ainda não é
capaz disso. As ações com sentido para ela são as que realiza ou vê realizar, por isso
confunde estados e não acompanha transformações irrelevantes para uma dada dimensão (a
quantidade, por exemplo).
A partir do momento em que as ações passam a ser interiorizadas, a criança pode
evocar objetos ausentes, reconstruir experiências e acontecimentos do passado, imitar
59
modelos não presentes, brincar de faz de conta e, mesmo, antecipar novos acontecimentos e
experiências. O pensamento é dominado pela imaginação, isto é, a relação da criança com a
realidade centra-se na sua imaginação, desejos e fantasias. Esta onipresença da imaginação
e da fantasia permite compreender que o pensamento pré-operatório seja essencialmente
um pensamento mágico que transforma o imaginário em realidade.
É também o período em que a criança ―dá vida‖ aos objetos, isto é, seu pensamento
é animista: tudo tem vida. É um pensamento em que a criança considera que os objetos e
elementos da natureza possuem sentimentos, reações, emoções e pensamentos iguais aos
seus. Exemplo: ―O sol foi dormir‖, ―A lua está correndo atrás de nós‖. A linguagem está no
nível de monólogo coletivo, ou seja, todos falam ao mesmo tempo sem que respondam as
argumentações dos outros. Duas crianças ―conversando‖ dizem frases que não têm relação
com a frase que o outro está dizendo. A criança pouco se preocupa em fazer-se entender
pelo interlocutor. Sua socialização é vivida de forma isolada, mas dentro do coletivo.
As diversas manifestações do pensamento nesta fase caracterizam-se por uma
assimilação deformada da realidade à atividade do sujeito, refletindo o egocentrismo
próprio dessa fase que impede a criança de colocar seu ponto de vista entre muitos outros.
A criança confunde o eu com o não-eu e sua própria atividade com a de outras pessoas.
Para Piaget (1975, p. 361):
O egocentrismo é, portanto, por um lado, o primado da satisfação sobre a
constatação objetiva [...] e, por outro lado, deformação do real em função da ação
e do ponto de vista propriamente ditos. Nos dois casos é naturalmente
inconsciente de si mesmo, sendo essencialmente indissociação do subjetivo e do
objetivo.
O egocentrismo presente nessa fase manifesta-se não apenas no pensamento, mas
também na linguagem, nos afetos e na moralidade. Até a idade de 4,5 anos a criança
encontra-se em um período pré-moral, ela desconhece regras, movimentando-se no mundo
de forma mais ou menos inconsciente. O primeiro sentimento moral relaciona-se ao dever,
à obediência, frutos do respeito unilateral. Em outras palavras, a primeira moral da criança
é a da obediência, cujo primeiro critério é a vontade dos adultos. Trata-se, portanto, da
60
moral heterônoma. A criança distorce a realidade para justificar seu ponto de vista, pois ela
ainda não consegue distinguir o subjetivo do objetivo.
A inteligência da criança deste período permanece pré-lógica, e essa falta é suprida
pelo mecanismo da intuição, o que quer dizer que diante de um problema prático em um
brinquedo ou jogo, as respostas da criança apoiam-se nas configurações perceptivas ou na
simples manipulação.
O objetivo desse quadro teórico baseado em obras de Jean Piaget reside em
fundamentar as necessidades e as características das crianças na fase do desenvolvimento
estudado nesta tese. Todas as características aqui apresentadas podem contribuir para
fundamentar a análise dos dados coletados durante a realização desta pesquisa e ter um efeito
positivo na construção de uma creche com atendimento de 0 a 3 anos de qualidade.
Considerando a relevância da creche na vida de crianças será apresentado a seguir
os conceitos de qualidade e a importância de avaliar os serviços oferecidos à população
infantil (0 a 3 anos).
61
CAPÍTULO II
O CONCEITO AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Se a gente cavar um buraco ao pé da goiabeira do quintal,
lá estará um guri ensaiando subir na goiabeira. Se a gente
cavar um buraco ao pé do galinheiro, lá estará um guri
tentando agarrar no rabo de uma lagartixa. Sou hoje um
caçador de achadouros de infância. Vou meio dementado e
enxada às costas a cavar no meu quintal vestígios dos
meninos que fomos. Hoje encontrei um baú cheio de
punhetas. Manoel de Barros
62
Iniciamos nossas considerações sobre avaliação da qualidade da Educação Infantil
com o esclarecimento da utilização da preposição ―da‖ apresentada no contexto desta
pesquisa que é explicado por Didonet (2012, p. 1):
A avaliação da educação infantil toma esse fenômeno sociocultural (―a educação
nos primeiros cinco anos de vida em estabelecimentos próprios, com
intencionalidade educacional, formalizada num projeto político-pedagógico ou
numa proposta pedagógica‖), visando a responder se e quanto ele atende à sua
finalidade, a seus objetivos e às diretrizes que definem sua identidade. Essa
questão implica perguntar-se sobre quem o realiza, o espaço em que ele se realiza
e suas relações com o meio sociocultural.
Em suma, a avaliação da qualidade da Educação Infantil não deve ser confundida
com a avaliação educacional que trata especificamente do desenvolvimento da criança, da
aprendizagem, currículo e desempenho escolar. A preposição ―da‖ provoca o
questionamento referente a oferta que é feita às crianças, confrontando-a com parâmetros e
indicadores da avaliação da qualidade. Essa avaliação é realizada pela comunidade escolar:
gestores, diretores, orientadores pedagógicos e outros especialistas, professores, pelos pais
e dirigentes de organizações da comunidade.
A compreensão do conceito de qualidade é o foco da fundamentação deste trabalho.
Nesse sentido, o presente capítulo visa apresentar algumas considerações a respeito desse
conceito dos serviços prestados na Educação Infantil com atendimento de 0 a 3 anos. Como
tal, inicialmente dar-se-á uma perspectiva abrangente da opinião de vários autores acerca da
qualidade (e dos seus critérios), bem como da importância desta para o desenvolvimento
das crianças e profissionais desse segmento de ensino.
63
2.1 O QUE É QUALIDADE DA EDUCAÇÃO?
A definição conceitual de qualidade, nos dias atuais é um tema recorrente nas
diversas áreas da sociedade. Vivemos na ―era da qualidade‖. Este vocábulo está ligado a
diversas atividades, bens e serviços. O significado coloquial da expressão é comumente
utilizado como algo ótimo, com um nível desejado. Qualidade de vida, nos tratamentos de
saúde, de moradia, da educação são exemplos de construções recorrentes no vocabulário do
mundo contemporâneo.
O conceito de qualidade constitui a base deste trabalho. Neste sentido, é de
fundamental importância trazer algumas concepções a respeito desta temática, a princípio,
bastante complexa. Portanto, não é um conceito neutro, conforme nos alerta Freire (1993),
existem concepções, finalidades e motivações vindas dos mais variados interesses.
De acordo com Moss (2003, p. 17), a palavra qualidade aparece diariamente em
muitos lugares, relacionada a várias atividades, ele sugere que existe um problema com seu
conceito e, afirma que ―o conceito de qualidade não é neutro nem isento de valores‖. É
resultado de um modo específico de ver o mundo e está permeado de valores e
pressupostos. Trabalhar com o conceito de qualidade é uma opção, não uma necessidade,
pois reflete ―valores e crenças, necessidades e prioridades, influência e aumento de poder
por parte daqueles que organizam esses serviços‖ (MOSS, 2003, p. 17).
A definição de qualidade no contexto desta pesquisa é acreditar que a discussão e a
procura de caminhos para realizar a sua avaliação podem levar à melhoria dos serviços
oferecidos. Fato este que já é uma importante contribuição, pois abre a possibilidade de
questionar, argumentar e analisar, ampliando conhecimentos científicos, bem como a
compreensão das experiências desenvolvidas na Educação Infantil com atendimento de 0 a
3 anos e não, simplesmente, como atributo ou condição de distingui-las de outras, isto é,
compará-las como sendo boas ou ruins, por isso, não é uma operação meramente
prescritiva. Trata-se de um processo dinâmico e participativo que envolve diferentes
64
integrantes da comunidade escolar, como professores, educadores, dirigentes, pais de
alunos e funcionários, isto é, requer constante atenção e compromisso de todos nos diversos
níveis da instituição, é um processo continuo.
A preocupação com a qualidade é expressa no texto da LDB 9394/96, quando
afirma:
Art. 4 º O dever de Estado com a educação escolar pública será efetivado
mediante a garantia de: [...] IX – padrões mínimos de qualidade de ensino,
definidos com variedade e quantidade mínima, por aluno, de insumos
indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.
(BRASIL, 1996, p. 2).
No cumprimento da constituição, este artigo da LDB que trata do direito à educação
e do dever de educar, acabou recebendo uma redação que garante se não plenamente, o
mínimo necessário de insumos para uma qualidade de ensino.
Nos últimos cinquenta anos, organismos como o Fundo das Nações Unidas para a
Infância - UNESCO, Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF e o Banco
Mundial têm participado ativamente do apoio técnico e da elaboração de projetos
educativos para os países em desenvolvimento. A UNESCO é o braço da Organização das
Nações Unidas (ONU) com foco na educação. O UNICEF faz da educação uma área
importante de atuação na medida em que promove a defesa dos direitos das crianças e
adolescentes, além de desempenhar um papel importante na discussão das políticas
educacionais brasileiras, especialmente por envolvimento na elaboração do Plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE), cujo objetivo é o melhoramento da qualidade da
Educação. O Banco Mundial influencia os rumos da educação no país na medida em que
―empresta volumes consideráveis de recursos à União, estados e municípios, cujos
empréstimos são vinculados a condições baseadas em suas próprias pesquisas e
recomendações sobre educação‖ (BRASIL, 2007, p. 12).
As concepções de qualidade que aparecem nos documentos dos organismos, ao
discutir a questão da qualidade, o relatório de monitoramento global de Todos pela
Educação - EPT 2005 - UNESCO/Orealc (Escritório Regional de Educação da UNESCO
65
para a América Latina e o Caribe) entende tratar-se de um fenômeno complexo e
multifacetário a ser compreendido por meio de diversas perspectivas. Nesse sentido, aponta
quatro dimensões que compõem a qualidade da educação, quais sejam a pedagógica, a
cultural, a social e a financeira. Para a UNESCO, a dimensão ou perspectiva pedagógica é
fundamental e se efetiva quando o currículo é cumprido de modo eficaz. No que se refere
ao aspecto cultural, os documentos advertem que os conteúdos precisam partir das
condições, possibilidades e pretensões das distintas populações às quais se dirigem. Do
ponto de vista social, a UNESCO sinaliza que a educação é de qualidade quando contribui
para a equidade.
O relatório ―Educação de Qualidade para Todos: um assunto de direitos humanos‖,
editado pela UNESCO em 2008, mais especificamente pelo Escritório Regional de
Educação para a América Latina e o Caribe, apresenta o resultado das discussões sobre
políticas educativas no marco da II Reunião Intergovernamental do Projeto Regional de
Educação para a América Latina e o Caribe (EPT/PRE), realizada nos dias 29 e 30 de
março de 2007, em Buenos Aires, garante que:
As qualidades que se exigem do ensino estão condicionadas por fatores
ideológicos e políticos, pelos sentidos que se atribuem à educação num momento
dado e em uma sociedade concreta, pelas diferentes concepções sobre o
desenvolvimento humano e a aprendizagem, ou pelos valores predominantes em
uma determinada cultura. Esses fatores são dinâmicos e mutantes, razão por que a
definição de uma educação de qualidade também varia em diferentes períodos, de
uma sociedade para outra e de alguns grupos ou indivíduos para outros
(UNESCO, 2008, p. 29).
Os resultados da pesquisa Caminhos do Direito de Aprender, realizada pelo
(UNICEF) apresentado em 2010 mostra 26 municípios que avançaram no Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica IDEB. O estudo nasceu com o objetivo de identificar
o que foi de fato relevante para a melhoria da qualidade da educação nas redes municipais
selecionadas entre as que mais avançaram em cada estado do país. Os motivos apontados
no relatório para a melhoria da qualidade da educação foram a gestão como ingrediente
fundamental para o sucesso, assim como as ações de formação e de apoio pedagógico
oferecido aos professores e alunos para que eles aprendam mais e melhor.
66
A universalização da educação de qualidade requer o entendimento amplo e
profundo da infraestrutura escolar e seus insumos como indispensáveis para a
garantia de aprendizagem. Dimensionar corretamente as redes escolares, tanto nas
áreas urbanas quanto nas rurais, assegurando acessibilidade e transporte a alunos
e professores, para distribuição, no tempo certo, de material didático e
alimentação escolar, e para a realização de ações de formação de professores e de
outros funcionários. (UNICEF, 2010, p. 212).
Nesse sentido, o compromisso e a participação efetiva de toda a comunidade escolar
pode fazer a diferença, pois qualidade é um conceito em permanente construção.
Outro organismo fundamental nesse processo é o Banco Mundial. A concepção de
qualidade presente nos documentos do Banco volta-se, em geral, para a mensuração da
eficiência e eficácia dos sistemas educativos, por meio, sobretudo, da medição dos
processos de ensino e aprendizagem. Para alcançar a qualidade em educação, Dourado e
Oliveira (2009, p. 11) explicam quais os mecanismos sugeridos pelo Banco Mundial:
O Banco indica que a melhoria da qualidade da educação efetivar-se-á por meio
da criação de sistemas nacionais de avaliação da aprendizagem e pela garantia de
insumos crescentes nas escolas, tais como: livros textos, equipamentos,
laboratórios e formação pedagógica.
A grande ênfase na busca dessa qualidade definida pelo Banco Mundial está nos
ambientes físicos onde a aprendizagem ocorre, incentivando constantes investimentos em
equipamentos e formações para os profissionais da educação. A concepção de qualidade
presente nos documentos do Banco volta-se, em geral, para a mensuração da eficiência e
eficácia dos sistemas educativos, por meio, sobretudo, da medição dos processos de ensino
e aprendizagem. Nesse sentido, vale destacar a influência considerável que o Banco
Mundial exerce na formulação das políticas educacionais.
Como visto, a qualidade pode ser definida e avaliada sob diferentes dimensões,
caracterizando-a como algo de caráter transitório e provisório. A definição conceitual e o
estabelecimento de critérios relacionam-se com os valores, opções e crenças das pessoas
envolvidas.
A preocupação com a qualidade no atendimento educacional nos diversos
segmentos de ensino tem sido largamente estudada por diversos autores, como Demo
(1994), Pascal e Bertram (1999), Dahlberg, Moss e Pence (2003), Oliveira e Araújo (2004),
67
Dourado e Oliveira (2009), Gadotti (2013), que não nos dão conceitos, mas apontam
dimensões que podem nos ajudar a entender esse tema que está presente nos dias atuais.
Demo (1994, p. 109) faz análise dialética quanto ao conceito de qualidade:
Distinguimos duas faces interligadas da qualidade: formal e política. Por
qualidade formal compreendo a versatilidade dos meios, de estilo metodológico,
processual, científico, com base no manejo e construção do conhecimento. [...]
Por qualidade política compreendo a intensidade democrática e ética frente ao
desafio dos fins e valores sociais. Sem qualidade política, conhecimento é apenas
arma, para o bem ou para o mal. É essencial saber discutir a função social e
política do conhecimento, sobretudo a sociedade e a economia que nos
interessam, solidárias e democráticas, éticas e humanas. É fundamental que não
se destrua o meio ambiente, em nome do direito das novas gerações, como é
fundamental que se imponha ao sistema produtivo, por ser meio, a
desconcentração da renda e, ao sistema político, o controle democrático.
Nesse caso, o autor associa qualidade com autonomia dos sujeitos envolvidos em
todo o processo e outros fatores inerentes ao mesmo, como responsabilidade, compreensão
do local, organização coletiva, reflexão e conscientização da participação política na
instituição educacional. Educação passa a ser o espaço e o indicador crucial de qualidade,
porque representa a estratégia básica de formação humana. ―Educação não será, em
hipótese alguma, apenas ensino, treinamento, instrução, mas especificamente formação,
aprender a aprender, saber pensar, para poder melhor intervir, inovar‖ (DEMO, 1994, p.
20).
Pascal e Bertram (1999, p. 13) analisam o conceito de qualidade como valorativo,
subjetivo e dinâmico: ―a qualidade não é uma essência abstrata e imutável, mas antes
contextual, isto é, referida ao espaço, tempo e às circunstâncias‖. Os autores salientam
ainda que os estudos realizados comprovam que o próprio processo de busca pela qualidade
é promotor do desenvolvimento e, portanto, um processo em construção.
De acordo com Dahlberg, Moss e Pence (2003, p. 15) um crescente número de
autores que escreve sobre qualidade tem:
Identificado a importância do processo de definir qualidade – quem está
envolvido e como isso é feito – e questionado como esse processo operou no
passado, declarando que ele foi dominado por um grupo pequeno de especialistas,
68
excluindo uma ampla série de outros interessados nas instituições dedicadas à
primeira infância;
entendido que a qualidade é um conceito subjetivo, baseado em valores, relativo
e dinâmico, com a possibilidade de perspectivas múltiplas ou de entendimento do
que seja qualidade;
defendido que o trabalho com a qualidade precisa ser contextualizado, espacial
e temporalmente, e deve reconhecer a diversidade cultural e as outras formas
importantes de diversidade.
Partindo desse pressuposto, qualidade é um conceito construído e relativo a
determinadas concepções subjacentes e não uma realidade objetiva ou algo abstrato, que
todos sabem exatamente o que significa. Percebe-se, que o conceito de qualidade está
sempre relacionado com o que precisa aperfeiçoar, as quais estão baseadas as convicções e
valores de cada um.
Em torno da qualidade na educação, reúnem-se diversos segmentos sociais, cada
qual com um interesse. Os pais, os professores, os alunos, os empresários, os partidos
políticos, os grupos financeiros internacionais e as organizações não governamentais
apresentam anseios em relação à qualidade. Porém, as suas estratégias e finalidades são
divergentes. As concepções e a definição também não são neutras.
Oliveira e Araújo (2005, p. 7) confirmam essa dificuldade de conceituar a qualidade
da educação relatando que os diversos significados atribuídos à qualidade educacional têm
um potencial para desencadear falsos consensos:
Qualidade é uma palavra polissêmica, ou seja, comporta diversos significados e
por isso tem potencial para desencadear falsos consensos, na medida em que
possibilita interpretações diferentes do seu significado segundo diferentes
capacidades valorativas.
Desse modo, podemos observar que o tema da qualidade educacional tem se tornado
um lema, uma bandeira de luta de diversos segmentos da sociedade, mas ao mesmo tempo
um conceito vazio, visto que não há consensos quanto ao seu real significado.
O emprego da palavra qualidade no contexto educacional remete, diretamente, aos
fins da educação como conceitua Gadotti, (2013, p. 2).
Qualidade significa melhorar a vida das pessoas, de todas as pessoas. Na
educação a qualidade está ligada diretamente ao bem viver de todas as nossas
69
comunidades, a partir da comunidade escolar. A qualidade na educação não pode
ser boa se a qualidade do professor, do aluno, da comunidade é ruim. Não
podemos separar a qualidade da educação da qualidade como um todo, como se
fosse possível ser de qualidade ao entrar na escola e piorar a qualidade ao sair
dela. Qualidade em educação refere-se à construção de sentidos. Porque o
conhecimento serve para nos conhecer melhor, conhecer nossas circunstâncias,
para tomar decisões na vida, para adquirir as habilidades e competências do
mundo do trabalho, para tomar par de da vida social, para compreender o
passado, o futuro, para se comunicar, para continuar aprendendo... e não para
fazer vestibular. Qualidade não se mede só pela reprodução de conteúdos, mas
pela criação de conhecimentos e esta se conquista pela pesquisa, pela leitura, pela
reflexão.
Não resta dúvida de que o discurso da qualidade, hoje, é algo atraente. Quem pode
ser contra uma escola que atenda a todos de maneira satisfatória? No entanto, todo esse
movimento de busca da qualidade tem interesses e necessidades distintas. O foco de
atenção e as características do discurso desta estão incluídos no contexto social, no da
produção industrial e dos interesses financeiros dos grupos detentores do poder político e
econômico.
Sob o ponto de vista conceitual, atribuído por especialistas em educação, o termo
qualidade tem oscilado entre investimentos em recursos humanos e materiais, eficácia do
processo, na medida em que se tem um resultado satisfatório com um custo mínimo, nos
moldes empregados pelas teorias clássicas de administração.
Por isso, a necessidade de definir o termo ―qualidade‖ é decorrência do fato de a sua
exata definição ser tão complexa e ter tão poucos estudos, discussões e literaturas acessíveis
aos professores e demais profissionais da educação. Evidentemente, a qualidade é um tema
extremamente importante, nomeadamente, porque tanto a investigação quanto a prática tem
demonstrado uma ligação estreita entre níveis de qualidade dos serviços de educação de
infância e os do desenvolvimento e bem-estar da criança.
Como afirma Portugal, (2000, p. 6) quanto ao tipo de experiência que as crianças
vivenciam em contextos educativos de elevada qualidade:
Desenvolvem sentimentos mais elevados de autoestima, motivações, sentimentos
de segurança e de auto eficácia, reúnem um conjunto de competências
indispensáveis ao desenvolvimento do apetite para aprender. As estruturas
afetivas da criança desenvolvem-se em paralelo com as estruturas intelectuais
70
(sentimentos, emoções, interesses, gostos, atitudes, valores…). Ambas se
adquirem, se modificam ou se constroem no decorrer de experiências vividas, de
interações estabelecidas num ambiente favorável e acompanhadas de estímulos
adequados.
Assim, construir e definir fatores de qualidade para a educação e, sobretudo, para a
creche não requer apenas a identificação de condições mínimas, mas de meios que
articulem a natureza da instituição, suas especificidades, os objetivos educativos e a fase de
desenvolvimento da vida das crianças pequenas.
As definições de qualidade de contexto educativo têm evoluído no sentido de
acompanhar os conceitos vigentes sobre o que são as boas práticas em Educação Infantil,
principalmente pelo fato de que nas últimas décadas as evidências empíricas desenvolvidas
pela neurociência comprovam a grande influência das experiências precoces no
desenvolvimento infantil (PORTUGAL, 2009). Sendo assim, é imperativo a necessidade de
desenvolver investigações que avaliem a qualidade dos serviços educacionais e de cuidados
prestados no atendimento às crianças de 0 a 3 anos.
A avaliação da qualidade da Educação Infantil tem como eixo principal uma
mudança de paradigma que exclui punições e almeja comprometimento. Compreende que
avaliar deve ser responsabilidade de todos, deve ser parte do fazer cotidiano da instituição,
pois cada indivíduo é capaz de buscar, em sua atividade, aquilo que pode e que deve fazer
para melhorar o seu desempenho e o da instituição como um todo, uma vez que a missão da
avaliação é sensibilizar para educar.
―A avaliação é essencial para oferecer o melhor atendimento às necessidades de
todos os alunos e fornecer os elementos necessários para auxiliar professores e dirigentes a
alcançarem os objetivos do currículo da Educação Infantil‖ (MANTOVANI DE ASSIS;
ASSIS, 1999, p. 289). Sendo assim, a qualidade do trabalho realizado pelas instituições de
Educação Infantil é de suma importância para o desenvolvimento da criança nos seus
primeiros anos de vida.
Nos últimos anos, a qualidade no segmento Educação Infantil é uma temática que
tem se destacado muito. Pesquisadores, professores e educadores precisam reconhecer a
71
importância da avaliação institucional conectada com a necessidade de mudanças na busca
da melhoria da qualidade para o contexto das instituições educacionais que contemplem o
desenvolvimento integral das crianças. Neste sentido, vamos abordar a seguir os
mecanismos legais de avaliação da qualidade desse segmento de ensino.
2.2 PARÂMETROS LEGAIS PARA AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO
INFANTIL
A partir da promulgação da Constituição Brasileira de 1988 e da nova lei da
educação, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN (9394/96) a
organização do atendimento à criança de 0 a 3 anos adquiriu um novo lugar: a educação.
Isso significa que o cuidado que envolve a atenção às crianças mais novas passou a ter uma
tarefa e uma atividade educativa. A creche passa a ser um direito da criança e um dever do
Estado, a quem cabe garantir o atendimento a todos que dela necessitam. Em consequência
desse novo dispositivo legal os Municípios passaram a aplicar no mínimo, 25% da receita
resultante de impostos, compreendida e proveniente de transferências, na manutenção e
desenvolvimento da educação. Dentre essas receitas, a mais importante para muitos
municípios brasileiros é o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), cujo aporte para o
FUNDEB é de 20% do total.
Apenas em 2007 as creches foram inseridas no Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Básico (FUNDEB), em função de ampla mobilização dos
movimentos sociais como os fóruns em defesa dos direitos das crianças (Movimento
Interfóruns de Educação Infantil do Brasil - MIEIB, Conselho Municipal dos Direitos da
Criança e Adolescente - COMDICA, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o
movimento ―Fraldas Pintadas‖, movimento ―FUNDEB PRA VALER‖, entre outros) se
manifestaram para assegurar pelo direito à Educação Infantil em instituições educativas de
qualidade, em especial, para as crianças pobres que são as que mais sofrem as
desigualdades na primeira idade.
72
Rosemberg (2007, p. 7) analisa as conquistas da Constituição de 1988, decorridos
21 anos, com a qual os componentes básicos da concepção da Educação Infantil foram – de
direito – conquistados: ―o direito à educação e ao cuidado às crianças pequenas e o direito
das mães de trabalharem‖. Desde a sua implantação, no entanto, para a autora, a conquista
desses direitos foi ameaçada por dois fatores: a escolarização precoce da criança de 0 a 6
anos na pré-escola e a ―assistencialização‖ das creches na oferta deficitária para crianças
pobres.
Nesse sentido, a creche é, atualmente, um contexto de vida de muitas crianças,
devendo cada vez mais tornar-se um local de qualidade excelente e que respeita suas
individualidades e favorece seu desenvolvimento.
Portanto, não basta a preocupação com a alimentação e com os cuidados de higiene
e segurança, a intencionalidade pedagógica deve fundamentar-se na qualidade das relações
afetivas estabelecidas, nos desafios propostos, no conhecimento que o professor tem sobre
o desenvolvimento infantil, relacionando suas características e suas necessidades para que
possa garantir que as experiências e rotinas diárias sejam ricas em possibilidades
educativas.
Abordar a avaliação da qualidade, neste segmento de ensino, transporta-nos para
duas perspectivas de análise: uma que nos conduz ao interior dos contextos educativos dos
espaços creches quanto à sua organização, funcionamento e programas e outra de carácter
mais abrangente que se refere a uma preocupação pedagógica e às políticas educativas.
Embora, não sendo análogas, estas duas abordagens são, no entanto, complementares na
criação de um quadro de qualidade no âmbito da educação, promotoras do bem-estar e bom
desenvolvimento das crianças.
Por isso, o processo de avaliação deve garantir sua característica permanente e
inclusiva. Permanente, porque deve ser feito em todos os momentos e não em dias e horas
marcados, até porque a avaliação da qualidade na Educação Infantil não é um apêndice
integrado aos processos educacionais, mas tem seu papel de orientação e planejamento aos
gestores, professores e alunos devendo assumir o caráter de uma atividade sistêmica,
73
totalmente integrada com a função educativa e que, por tais razões, deve ser contínua e não
apenas episódica. Inclusiva, porque parte do princípio de que todos são responsáveis pela
vida da instituição e os êxitos e fracassos precisam ser assumidos por todos e não apenas
por uma pessoa ou um ou outro segmento da comunidade escolar.
O interesse pelo debate a respeito da avaliação da qualidade da Educação Infantil no
Brasil teve uma grande influência do debate internacional, em função de documentos que já
haviam sido escritos no âmbito da Comunidade Europeia, os quais consideram uma visão
de Educação Infantil voltada ao desenvolvimento integral da criança e não só aos aspectos
cognitivos e de aprendizagem (CAMPOS, 2009).
Nos países membros da Comunidade Econômica Europeia, a Rede Europeia para o
Acolhimento de Crianças (REAC) estabeleceu-se o compromisso com a oferta de um
atendimento de boa qualidade a crianças pequenas antes da escolaridade obrigatória,
promovendo a igualdade entre homens e mulheres, no sentido de que atende a direitos
reconhecidos às famílias e a seus filhos. ―A rede considera que o conceito de qualidade é
relativo, fundamentado em valores e crenças‖ (Campanha Nacional pelo Direito à
Educação/MIEIB, 2006, p. 13).
A LDBEN não aborda a prática da avaliação da qualidade da Educação Infantil, mas
dos processos do desenvolvimento das crianças. O discurso acerca da qualidade começou a
ocupar um espaço mais significativo no debate educacional a partir das orientações oficiais
da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação e Cultura, por meio da
Coordenação Geral de Educação Infantil (COEDI) em 2006 pelo documento Parâmetros
Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil. Esse, assim como os demais publicados
pelo MEC, responde ao papel desse ministério como indutor e proponente de diretrizes para
a educação nacional e, consequentemente, para a Educação Infantil.‘
Os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil apresentam como
objetivo principal o estabelecimento de padrões de referência no tocante à organização e
funcionamento das instituições desse segmento de ensino. Quanto ao estabelecimento de
padrões, o documento especifica:
74
Sublinhamos que a finalidade de definir os parâmetros de qualidade se realiza
neste documento de modo a estabelecer não um padrão mínimo, nem um padrão
máximo, mas os requisitos necessários para uma educação infantil que possibilite
o desenvolvimento integral da criança até os cinco anos de idade, em seus
aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social. (BRASIL, 2006c, v. 1, p. 9).
Esse documento é composto por dois volumes: o primeiro apresenta a definição de
parâmetros, a concepção de criança e um breve relato da história da Educação Infantil no
Brasil. O segundo volume possui as atribuições federais, estaduais e municipais do sistema
de ensino e a caracterização das instituições de Educação Infantil, debatendo as práticas
pedagógicas, a função dessas instituições e o perfil do professor. Apresentam-se em tópicos
as características do sistema educacional brasileiro, afirmando que as instituições são:
gratuitas, laicas e apolíticas.
O Ministério da Educação publicou ainda em 2006, os documentos Parâmetros
Nacionais de Infraestrutura para as Instituições de Educação Infantil, é um documento que
trata de concepções, reforma e adaptações dos espaços onde se realiza a Educação Infantil.
No teor do documento tanto defende-se como recomenda-se a construção coletiva das
políticas públicas para a educação. Há orientação sobre como as construções devem ser
realizadas a partir da ideia de adequar os ambientes internos e externos (arranjo espacial,
volumetria, materiais, cores e texturas) com as práticas pedagógicas, a cultura, o
desenvolvimento infantil e a acessibilidade universal, envolvendo o conceito de ambientes
inclusivos (BRASIL, 2006b, p. 21).
Com o propósito de fundamentar a sistemática de avaliação da Educação Infantil
com a colaboração de segmentos da sociedade civil e de educadores, o Conselho Nacional
de Educação em 2009 (Parecer CNE/CEB nº 20/09 e Resolução CNE/CEB nº 05/09)
apresentou as novas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (DCNEIs). A
qualidade na educação aparece nesse documento como compromisso e fundamento,
devendo estar:
Comprometida com o crescimento, o desenvolvimento integral, o cuidado, o bem
estar, o contato com a natureza, a aprendizagem, a formação humana, o acesso ao
conhecimento culturalmente produzido, os direitos fundamentais, a participação e
a cidadania, a diversificação das experiências afetivas, sensoriais, lúdicas,
linguísticas, estéticas, cognitivas e sociais das crianças. (BRASIL,2009, p. 11).
75
Ao reconhecer a importância da qualidade do atendimento das instituições de
Educação Infantil, as diretrizes curriculares reafirmam a necessidade de qualificação dos
profissionais envolvidos no trabalho educativo com as crianças, pois, para se pensar em
espaços institucionais como espaço de exercício de cidadania das crianças, é necessário que
os profissionais estejam qualificados para a defesa e a promoção dos direitos da infância.
Torna-se fundamental que as creches sejam espaços de educação de qualidade,
comprometidos com esses direitos.
Na busca pela qualidade do atendimento nas instituições de Educação Infantil, ainda
em 2009, o Ministério da Educação publicou o documento: Indicadores de Qualidade da
Educação Infantil, o qual se propõe a avaliar a Qualidade da Educação Infantil das
instituições que atendem crianças com até os seis anos de idade fundamentado na
perspectiva da gestão democrática e participativa. Segundo este documento o conceito de
qualidade é elaborado por cada pessoa e depende de muitos fatores:
Os valores nos quais as pessoas acreditam; as tradições de uma determinada
cultura; os conhecimentos científicos sobre como as crianças aprendem e se
desenvolvem; o contexto histórico, social e econômico no qual a escola se insere.
No caso específico da educação infantil, a forma como a sociedade define os
direitos da mulher e a responsabilidade coletiva pela educação das crianças
pequenas também são fatores relevantes. (BRASIL, 2009, p. 12).
A proposta do documento é a de que as instituições públicas e conveniadas façam a
autoavaliação com base em indicadores, que são instrumentos orientadores para um debate
que deve contar com diretores, professores, servidores da escola, pais com e sem filhos na
Educação Infantil pertencentes à comunidade. Com o resultado da primeira etapa da
autoavaliação, é possível identificar os pontos fortes e também os eventuais fracos, para
que, a partir daí, a escola possa mapear os principais problemas e traçar um plano de ação
que vise a melhoria da qualidade da oferta de ensino.
Segundo esses indicadores a qualidade de uma instituição de Educação Infantil
depende de diversos fatores, quais sejam: valores subjetivos dos indivíduos, tradição de
uma cultura, conhecimentos científicos em relação à aprendizagem e desenvolvimento das
crianças, contexto histórico, social e econômico no qual a escola se insere e por fim, os
76
direitos adquiridos das mulheres e a responsabilidade coletiva pela educação das crianças
(BRASIL, 2009).
Ainda conforme o documento:
A qualidade pode ser concebida de forma diversa, conforme o momento
histórico, o contexto cultural e as condições objetivas locais. Por esse motivo o
processo de definir e avaliar a qualidade de uma instituição educativa deve ser
participativo e aberto, sendo importante por si mesmo, pois possibilita a reflexão
e a definição de um caminho próprio para aperfeiçoar o trabalho pedagógico e
social das instituições (BRASIL, 2009, p. 14).
Como muitos estudos têm apontado apenas a utilização de um bom sistema de
indicadores que constitui o documento da avaliação da Qualidade da Educação Infantil,
sem dúvida, é uma das estratégias que podem contribuir significativamente para sua
melhoria. Entretanto, os municípios em sua responsabilidade, alegam dispor de poucos
recursos para investimento neste nível de ensino, e acima de tudo, não dispõem de
ferramentas de supervisão e de acompanhamento das instituições.
Uma conquista importante foi a publicação do documento ―Critérios para um
Atendimento em Creches que Respeite os Direitos Fundamentais das Crianças‖ (2009),
neste são apresentados os direitos das crianças que devem ser respeitados pelas creches
além de serem descritas as situações que representam o atendimento destes direitos.
Diante do contexto de um grande conjunto de regulamentações com vistas a unir
forças em torno do fortalecimento da educação da criança de 0 a 3 anos, diversos
segmentos da sociedade civil, bem como dos órgãos públicos oficiais responsáveis pela
gestão da educação articularam-se nacionalmente e criaram o Movimento Interfóruns de
Educação Infantil do Brasil – MIEIB7, que desde o final da década de 1990, tem sido o
grande articulador das lutas e embates ocorridos nos diferentes níveis (federal, estadual e
7 O Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil-MIEIB, reúne, atualmente, 15 Fóruns de Educação
Infantil dos estados do Acre, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará,
Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe e do Distrito
Federal. O MIEIB vem, desde 1998, desenvolvendo ações pontuais para a discussão e o claro entendimento
de que a inclusão da Educação infantil como primeira etapa da educação básica implica em tomada de
decisões que levem a sua plena integração aos sistemas municipais de educação, a criação de estruturas físicas
adequadas às crianças na faixa etária de 0 a 6 anos, a ampliação e democratização dos recursos destinados à
educação básica.
77
municipal) e esferas (legislativo, executivo e judiciário) em defesa da Educação Infantil de
qualidade para todas as crianças de zero a seis anos. ―O MIEIB tem se configurado como
uma estratégia prioritária para que professores, pesquisadores, profissionais e militantes da
Educação Infantil possam desenvolver uma atuação transformadora à frente das
contradições do mundo social‖ (KISHIMOTO, 2002, p. 16).
Os fóruns proporcionam um lócus para a cidadania ativa por meio de uma ação
coletiva e de práticas democráticas. Esses fóruns demonstram um considerável poder de
mobilização e intervenção, tanto nas políticas educacionais quanto na produção de
conhecimentos na área, ao realizarem encontros para debater questões de seu campo
específico, efetuar levantamentos de dados sobre o atendimento ou acompanhar a atuação
de secretarias municipais ou estaduais quanto à educação da criança pequena.
Assim, reivindicar a melhoria da qualidade dos serviços oferecidos é uma tarefa
permanente do MIEIB. Uma das pautas muito discutidas é o aprimoramento da formação
de professores de equipes técnicas e do pessoal de apoio que atuam nas instituições infantis
para o desenvolvimento de práticas pedagógicas de qualidade.
A formação de professores é um dos pilares que sustentam uma Educação Infantil
de qualidade. Por isso, o Ministério da Educação criou o Programa de Formação Inicial
para Professores em Exercício na Educação Infantil (PROINFANTIL). Este programa
legitima as definições da LDB, explicitando que ―a formação inicial dos professores da
educação básica deve ser habilitação em licenciatura de nível superior, aceitando, para a
Educação Infantil e as primeiras séries do Ensino Fundamental, como mínimo, a formação
em nível médio em curso normal (magistério)‖ (BRASIL, 2005, p. 15) e também pela
constatação de que, de acordo com os dados fornecidos pelo INEP8 publicados em outubro
de 2009, as creches brasileiras atuam com 95.643 professores, 82,2% dos quais têm a
formação requerida pela atual legislação para o exercício do magistério: 45% apresentam o
magistério na modalidade Normal e 37,2% possuem nível superior com licenciatura. Do
8 Estudo exploratório sobre o professor brasileiro com base nos resultados do Censo Escolar da Educação
Básica 2007 / Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. – Brasília: Inep, 2009.
78
restante dos professores, 4,9% possuem nível superior sem licenciatura, 9,9% nível médio e
3,0% nível fundamental, o que representa em relação às outras etapas de ensino, o
percentual mais elevado de professores sem formação ou habilitação legal para o exercício
da docência. Além disso, dentre os docentes desta etapa de ensino, apenas 11,8% possuem
curso específico de formação continuada para atuar em creche.
Apesar de inúmeras leis, resoluções, decretos e pareceres que regulam a formação e
a profissão docente, esta ampla produção normativa ainda não foi capaz de transformar, de
maneira efetiva e sustentável, a realidade desses profissionais, em particular, do professor
que atua na educação básica com atendimento de 0 a 3 anos de idade.
Um trabalho de educação consistente e de qualidade requer uma política de
investimentos, de destinação de recursos, de viabilização de condições físicas e materiais,
ao lado do que consideramos de extrema importância: a existência de recursos humanos
qualificados. Para tanto, uma política de educação efetiva deve contemplar uma política de
formação profissional, de forma a instrumentalizar a práxis educativa dos agentes
mediadores de sua concretização. Rosemberg, (2009 apud PASCAL e BERTRAN, 1994, p.
52) afirmam que: ―há clara evidência de que a qualidade do professor é um determinante
central na qualidade e eficiência dos programas de Educação Infantil [...]. Se quisermos
melhorar a qualidade da educação de crianças pequenas, devemos nos preocupar com a
qualidade de seus professores‖.
Nessa perspectiva, a formação dos professores para este segmento de ensino
apresenta-se como um desafio para o país no que se refere à busca da qualidade, pois os
estudos apontam a formação do educador como condição necessária para a construção de
uma proposta educativa que contemple as especificidades da infância e das diversidades
contextuais, econômicas, do desenvolvimento integral e de valores que vivem as crianças
brasileiras.
A creche, centrada na criança como sujeito de educação, expressa, em seu objetivo
educacional, a importância da infância para o desenvolvimento do ser humano,
reconhecendo a amplitude do seu espaço educativo, aberto a todas as crianças,
79
independentemente do trabalho materno extradomiciliar. Nesse sentido, ―a creche organiza-
se para apoiar o desenvolvimento, promover a aprendizagem, mediar o processo de
construção de conhecimentos e habilidades, por parte da criança, procurando ajudá-la a ir
mais longe possível nesse processo‖ (DIDONET, 2001, p. 15).
A Educação Infantil brasileira tem, ainda, um longo caminho a trilhar no sentido de
programar medidas e garantir as conquistas para um atendimento à criança de 0 a 3 anos.
Um importante passo que vale destacar é a aprovação pelo Congresso Nacional em 2010 do
Plano Nacional de Educação - PNE - para o decênio 2011-2020, no que diz respeito aos
processos de avaliação da qualidade que articula as políticas públicas voltadas às crianças,
em vista de uma ação governamental integral e integrada, sugere políticas em direitos até
agora não contemplados, define diretrizes, objetivos e metas relativos aos direitos da
criança de até seis anos de idade. Diferentemente da LDBEN o PNE, não menciona a
avaliação do desenvolvimento das crianças, mas preconiza a avaliação da oferta.
No capítulo sobre a Educação Infantil, o Plano Nacional da Primeira Infância -
PNPI9 estabelece as seguintes diretrizes sobre a avaliação:
(a) A busca por fazeres pedagógicos cada vez mais qualificados deve constituir
uma decisão e um esforço permanente para todas as instituições de educação
infantil. Embora o conceito de qualidade se modifique ao longo do tempo, esteja
relacionado à cultura do grupo, da comunidade e da região, ele envolve
parâmetros mínimos nacionais e locais, tais parâmetros devem ser bem
conhecidos e utilizados como referentes para a avaliação da instituição, do
trabalho docente e da atuação das crianças, bem como para a construção de um
plano de busca permanente da qualidade.
(b) a avaliação ocorre permanentemente e emprega diferentes meios, como a
observação, o registro, a reflexão sobre o desenvolvimento das atividades e
projetos, sobre as hipóteses e descobertas das crianças: nunca como ato formal de
teste, comprovação, atribuição de notas e atitudes que sinalizem punição – [pois
esses são] processos externos e artificiais que bloqueiam a manifestação livre e
espontânea da criança. Ela (a avaliação) será sempre sobre a criança em relação a
si mesma e não comparativamente com as outras crianças, com objetivo de
melhorar a forma de mediação do professor para que o processo de aprendizagem
alcance níveis sempre mais elevados.
9 Documento Oficial em que estão traçadas as diretrizes gerais e os objetivos e metas que o País deverá
realizar em cada um dos direitos da criança afirmados pela Constituição Federal e pelo Estatuto da Criança e
do Adolescente, pelas leis que se aplicam aos diferentes setores, como educação, saúde, assistência, cultura,
convivência familiar e comunitária e outros que lhe dizem respeito.
80
E a meta: Estabelecer em todos os Municípios, no prazo de três anos, um sistema
de acompanhamento, controle e supervisão da educação infantil, nos
estabelecimentos públicos e privados, visando ao apoio técnico-pedagógico para
a melhoria da qualidade e à garantia do cumprimento dos padrões mínimos
estabelecidos pelas diretrizes nacionais e estaduais. (PLANO...2010, p. 46).
Desde quando a creche (0 a 3 anos) passou a fazer parte do sistema educativo
brasileiro, o Estado deparou-se com um desafio: buscar parâmetros de qualidade e critérios
de avaliação para o atendimento à criança de 0 a 3 anos. Infelizmente, o Brasil não possui
um instrumento direcionado às especificidades necessárias para uma creche de qualidade.
Portanto, dentre os inúmeros desafios da Educação Infantil no país, destaca-se a
importância de se construir uma prática pedagógica de qualidade e fundamentada em uma
visão ampla de educação que considere a infância como um ciclo de vida pleno em
possibilidades. Vale destacar, que uma política de avaliação da qualidade dos serviços
oferecidos deve ser parte constituinte do fazer pedagógico e institucional, além de
distinguir-se pela contribuição à compreensão crítica de seus impactos e usos dos resultados
como instrumento de exercício no campo educacional.
Assim, dentro desta perspectiva, a garantia da qualidade requer o desenvolvimento
de um currículo com uma oferta educativa rica que se focalize no bem-estar, livre
iniciativa, implicação nas atividades livres ou orientadas, visão holística do
desenvolvimento, interesses e necessidades das crianças, sendo estas participantes ativas e
autônomas em toda a dinâmica de uma creche.
2.3 AVALIAÇÃO E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL
O conceito de avaliação da qualidade na Educação Infantil é discutido por vários
autores que contribuem para uma melhor compreensão do tema. Seus trabalhos sinalizam a
necessidade de uma cultura avaliativa. Nesse conjunto de autores salientam-se, entre outros,
trabalhos como os de Moss, Balageur, Mestres e Penn (1992), Pascal e Bertram (1999),
81
Katz (1996), Zabalza (1998), Laevers (1998), Mantovani de Assis, Dal Coleto e Cantelli
(2009) e Oliveira-Formosinho e Araújo (2004). Deste conjunto de trabalhos podemos
evidenciar algumas características comuns para a definição da qualidade, como o fato de
constituir um processo problematizador, participativo, dinâmico, valorativo e situado. Tem-
se chamado a atenção para a ideia de que a noção de qualidade está relacionada com
desenvolvimento e, portanto, é um processo em construção. (PASCAL; BERTRAM, 2000).
Os primeiros anos de vida da criança são de primordial importância no que se refere
ao seu desenvolvimento. Cada bebê, cada criança tem o seu ritmo próprio, que deve ser
respeitado sem perder de vista a sequência normal do desenvolvimento infantil. A
qualidade dos seus contextos de vida e a relação estabelecida com seus pais e
educadores/professores são fatores fundamentais para o avanço de seu desenvolvimento.
No cenário brasileiro, alguns princípios de qualidade foram propostos por Campos e
Rosemberg (2005, p. 17) para um atendimento em creches que respeite os direitos
fundamentais da criança,
com critérios relativos à organização e ao funcionamento interno, que
possibilitem à criança ter direito à brincadeira, à atenção individualizada, a um
ambiente aconchegante, seguro e estimulante, ao contato com a natureza, às boas
e adequadas condições de higiene e saúde, a uma alimentação sadia, à
possibilidade de se expressarem das mais variadas formas, e à definição de
diretrizes e normas políticas, programas e sistemas de financiamento de creches,
comprometidos com o bem-estar e desenvolvimento da criança.
Assim, a avaliação da qualidade na educação infantil, precisa ser incorporada na
cultura das ações pedagógicas da escola, para tornar-se um poderoso instrumento tanto na
produção de conhecimentos quanto na busca de resolução dos problemas existentes entre a
instituição educacional e as políticas governamentais, provando a sua importância para a
sociedade, razão pela qual ela existe e é mantida.
Neste contexto, para favorecer o desenvolvimento das crianças que frequentam as
creches necessitam de profissionais com conhecimentos sobre o desenvolvimento das
crianças, capazes de compreender e reconhecer as suas diferentes necessidades e promover
experiências diversificadas e enriquecedoras.
82
Diante das argumentações da necessidade de um trabalho que seja reflexivo e ativo,
o professor de Educação Infantil necessita de reconhecimento da função educativa que
exerce nas instituições, por meio de remuneração digna e adequadas condições de trabalho.
Neste sentido, a Educação Infantil precisa ser vista sob três aspectos: social, educacional e
político - e como prioridade promover o desenvolvimento integral da criança.
Demo (1998, p. 70), comenta que a qualidade em Educação Infantil:
Precisa ir muito além dos cuidados assistenciais ou da mera guarda, por mais que
isso já seja relevante, inclusive para os pais poderem trabalhar. A noção de
educação infantil parece mais apropriada para designar a expectativa crescente de
interação das ações e políticas, por mais que a primeira parte se chame creche e a
segunda pré-escolar. Na verdade, em qualquer caso, a atenção precisa ser integral,
correspondendo à gama de necessidades básicas da criança e ao direito ao
desenvolvimento pleno. Quando se fala em educação de qualidade é o
investimento mais decisivo no futuro do país, essa expressão vale ainda mais para
educação infantil, tendo em vista os efeitos multiplicativos. Em relação à
qualidade, recai o desafio participativo e a exigência de profissionais altamente
preparados e valorizados.
Desenvolver serviços de boa qualidade parece, assim, ser um desafio a longo prazo,
um processo dinâmico em que o envolvimento dos participantes parece ser fundamental
para que a qualidade do serviço prestado aumente e se mantenha.
Considerando essa perspectiva, Oliveira-Formosinho e Araújo (2004, p. 85)
defendem que ―para criar qualidade é necessário monitorizar o processo‖, o que, desde
logo, nos remete para uma das funções da avaliação – a avaliação como função de
regulação do processo pedagógico.
A Educação de Infância não é apenas um bem social e educativo. É também um
bem cultural. Porque a cultura pressupõe aprender algo ao longo da vida, requer
curiosidade intelectual e capacidade de resolução de problemas, implica a
utilização estética inscrita no quotidiano, exige a radicalidade de uma postura
ética. Cultura quer também dizer e reconhecer a existência de sociedades
plurifacetadas, multiculturais, onde se afirma a diferença, mas se garante a
igualdade de oportunidades. É esta a realidade da sociedade pós-moderna
portuguesa, esta simultaneamente, a sua potencialidade. Daí considerarmos que a
qualidade da educação de infância num país pode ser caminho para uma
sociedade. (VASCONCELOS, 2000, p. 7).
A partir desta análise, pode-se inferir que, a avaliação da qualidade na Educação
Infantil supõe, necessariamente, a reflexão a respeito de sua função social, por isso, discutir
83
pedagogicamente a avaliação é reconhecer sua natureza política dentro de uma abordagem
construtiva e dialógica.
Em princípio, avaliar a qualidade pressupõe várias dimensões. Em sua
multidimensionalidade, várias perspectivas podem emergir para avaliar a qualidade. Katz
(1996) propõe cinco perspectivas da avaliação da qualidade em programas da Educação
Infantil. A primeira centrada em aspectos como profissionais, equipamentos, instrumentos e
ambiente. A segunda, centrada na percepção das crianças para as quais o programa se
destina. A terceira, na percepção das famílias. A quarta, na percepção dos profissionais
envolvidos e a quinta, na percepção da comunidade e da sociedade como um todo. Isso
revela a noção da complexidade presente ao tentarmos avaliar ou falar de qualidade.
Note-se, portanto, que para falar da qualidade de um sistema, é necessário que igualmente
se tenha uma visão macro, de todo este, de cada uma de suas partes, dimensões, e,
sobretudo, de como se articulam.
Pascal e Bertram (1999) se referem a uma perspectiva de avaliação para a qualidade,
visando desenvolver e melhorar a qualidade da aprendizagem das crianças. Esta perspectiva
de avaliação no desenvolvimento da qualidade decorre de investigações fundamentais que
demonstram que uma educação de elevada qualidade pode ter efeitos significativos a longo
prazo na aprendizagem das crianças. Outra perspectiva defendida pelos autores é o modelo
de avaliação da qualidade em uma ―abordagem colaborativa e democrática que valoriza a
participação de todos os envolvidos na prática educativa‖ (PASCAL; BERTRAM, 1999, p.
21), uma vez que põe à disposição destes, um conjunto de instrumentos e procedimentos
avaliativos, e defende que são os educadores, os profissionais ideais para aplicar estes
instrumentos e refletir sobre a sua própria prática a fim de avaliar a sua qualidade.
Mantovani de Assis, Dal Coleto e Cantelli (2009) chamam a atenção para que o
processo de avaliação da qualidade da Educação Infantil venha ao encontro da consolidação
de um projeto educativo autônomo e emancipatório que significa comprometer-se com sua
expansão para além dos muros da escola e levá-lo aos pais e à sociedade para que assim
84
possa, de fato, cumprir o seu fim último que é o de favorecer o desenvolvimento pleno da
criança.
Sendo assim, é importante a participação efetiva de todos, para que a avaliação não
se transforme em um meio de manipulação ou deturpação da realidade. Desse modo, o
processo de avaliação deve ser compartilhado para que todos que trilham o mesmo caminho
legitimem seu compromisso e sintam-se como participantes efetivos da construção da
Qualidade na Educação Infantil.
―A qualidade é a arquitetura das boas práticas realizadas pela escola‖ (BONDIOLI,
2004, p. 76). Estas são construídas pela reflexão dos diversos participantes sobre os
contextos, as ações, os usos, as relações, fins e valores no dia-a-dia da instituição. Aliás,
como ressalta Bondioli (2004, p. 76),
Qualidade é [...] debate entre indivíduos e grupos que têm interesse em relação à
rede educativa, que têm responsabilidade para com ela, com a qual estão
envolvidos de algum modo e que trabalham, para explicitar e definir de modo
consensual, valores, objetivos, prioridade, ideias de como é a rede [...] e sobre
como deveria ou poderia ser.
Assim, é preciso que a avaliação da qualidade na Educação Infantil contemple as
características próprias das instituições, isto é, que seja uma tarefa a ser executada no
contexto das diferenças e não de ranqueamento ou classificação. Com isso, a avaliação
busca auxiliar o aperfeiçoamento das insuficiências detectadas, orientando os gestores
quanto aos resultados. Trata-se, portanto, da análise de recursos e valores pedagógicos que
envolvem toda a comunidade escolar por meio de negociações para as transformações
desejadas.
A qualidade dos contextos educativos para a infância, segundo Katz (1998) pode ser
avaliada de diferentes perspectivas: perspectiva do adulto em geral – de cima para baixo
(top-down perspective) que identifica determinadas características do contexto, espaços,
dos equipamentos e do programa; perspectiva da criança – de baixo para cima (bottom-up
perspective) que leva em conta o modo como o contexto é vivenciado por ela, no que tange
ao bem estar, sentir-se aceita, divertir-se e sentir-se valorizada; uma terceira perspectiva de
85
fora para dentro (outside-in e perspective) tem a ver com o modo pelo qual o programa é
vivenciado pelas famílias e educadores, com as relações entre pais e escola; uma quarta
perspectiva – a partir do interior (inside perspective) tem a ver com o modo como o
programa vivencia as relações entre, colegas, entre educadores e os pais, relações com a
tutela e por último a perspectiva social ou do cidadão em geral e que tem a ver com a forma
pela qual a sociedade em geral avalia os recursos oferecidos.
Figura 2 - Múltiplas Perspectivas da Qualidade
Fonte: Adaptação de Katz, 1998, p. 176.
O termo qualidade possui significados complexos e controversos, podendo refletir
em diferentes entendimentos em função da área de atuação e da conjuntura econômica,
política e social. É necessário esclarecer, então, de que qualidade está se falando, quando
nos referimos a uma instituição educacional de alto padrão. Sabemos da importância
política da avaliação como um ―organizador‖ privilegiado e talvez a busca da qualidade
86
possa ser vista por este ângulo: qualidade como compromisso da instituição educacional
com a sociedade.
A proposta de uma Educação Infantil com atendimento de 0 a 3 anos de qualidade
inclui uma série de fatores, que vão desde as políticas públicas para a infância às condições
físicas dos espaços, assim como dos equipamentos educativos (jogos, brinquedos,...).
Inclui, ainda, principalmente, a formação de professores e educadores. São eles os
responsáveis pela organização do tempo e dos espaços institucionais, pelas propostas que
favorecerão a ampliação das experiências infantis, bem como pelo estabelecimento de
vínculos afetivos e pelas inúmeras interações que a instituição promove, visando ao
desenvolvimento integral da criança.
A qualidade da Educação Infantil é defendida por Bairrão e Tietze (1994), em seu
caráter polissêmico e pela relatividade do conceito, salientando, contudo, de que a
qualidade está relacionada com a formação e experiência das pessoas que nela trabalham,
assim como as características de cada programa e pelas as políticas educacionais atuantes
no processo.
Sobre os profissionais que trabalham com essa faixa etária, é importante destacar
que, em função das novas exigências previstas na Lei10
, faz-se necessário uma formação
inicial sólida e constante atualização em serviço. Em se tratando da criança pequena, a
realidade tem apontado que ambas as formações constituem as variáveis que maior impacto
causam sobre a qualidade desse tipo de atendimento. Essa preocupação é destacada por
Kishimoto (2002) ao tratar dos avanços e retrocessos na formação de profissionais de
Educação Infantil, porque um dos problemas encontrados na configuração curricular dos
cursos que formam professores no Brasil refere-se a falta de clareza sobre o perfil
profissional daqueles que vão atuar junto à criança pequena.
10
A Lei 12.796/2013, publicada em 5 de abril de 2013, alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), de 1996: Art. 62. - A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível
superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação,
admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na Educação Infantil, a oferecida em nível
médio, na modalidade Normal.
87
Estudos realizados em Portugal: ―A perspectivação pedagógica da qualidade da
Associação Criança – um olhar dialógico a partir do interior‖, dos autores Oliveira-
Formosinho e Araújo (2004, p. 84) enfatizam a concepção que sendo a qualidade um
processo em progresso, ela depende das pessoas que estão interligadas: professores,
dirigentes, funcionários e pais e ―sua principal finalidade consiste em identificar fatores de
qualidade para a educação da infância e melhorar os cuidados prestados às crianças e às
suas famílias‖.
O interesse pela qualidade tem conduzido à busca de uma melhor avaliação das
instituições e, também, a uma melhor verificação do seu funcionamento à luz de critérios de
qualidade. Consequentemente, a avaliação pode apontar para alguns caminhos de interesses
e de acordo com a concepção para a qual esteja voltada.
Deste ponto de vista, a reflexão sobre a ―qualidade da escola‖ por meio de um
contexto participativo de avaliação favorece a busca da qualidade compartilhada, definida a
partir da elaboração do projeto pedagógico, sua implementação e relações com a gestão
escolar. Fato este que implica ―uma forma de negociação, entre os atores sociais com vistas
a um acordo que resulte em um trabalho produtivo.‖ (BONDIOLI, 2004, p.14).
Zabalza (1998, p. 31) defende a existência de ―eixos semânticos‖ que permitem a
aplicação e análise do conceito de qualidade:
Qualidade vinculada pelos valores. Atribui-se qualidade àquilo que representa
algum dos valores vigentes;
Qualidade vinculada à afetividade. Esta perspectiva atribui qualidade àquele
tipo de instituição ou processo que alcança bons resultados;
Qualidade vinculada à satisfação dos participantes no processo e dos seus
usuários – faz parte daquilo que se entende como ―qualidade de vida‖.
Qualidade vinculada pelos valores é para Zabalza (1998) o componente mais
importante da qualidade em educação, na medida em que qualquer intervenção neste
domínio terá de considerar os valores dominantes da sociedade. Estes conceitos aplicados
diretamente à educação se complementam, e compõe uma escola de qualidade, apresentado
pelo autor como: valores formativos, que ofereçam possibilidades para favorecer o
88
desenvolvimento integral das crianças e da sociedade; resultados de sucesso e clima de
trabalho satisfatório para todos os integrantes da equipe escolar (pais, comunidade,
sociedade).
Observa-se assim que estas três dimensões estão sempre presentes quando se
busca uma educação de qualidade, independente do foco ao qual se atribui, se são os
professores, o ambiente, os materiais ou uma combinação de todos esses componentes.
Segundo o autor, para avaliar a qualidade é necessário que sejam estabelecidos eixos
organizacionais em torno do processo educativo que se vinculam à qualidade ou aos
aspectos funcionais de escolas ou serviços que atendem as crianças. Esses eixos são
denominados por Zabalza (1998, p. 31) de vetores e são os seguintes: ―Projeto; produto ou
resultados; processo ou função; e desenvolvimento organizacional‖. Além das dimensões e
dos vetores de qualidade apresentados pelo autor, o mesmo propõe dez aspectos-chave
fundamentais para se construir uma Educação Infantil de qualidade, são eles: Organização
dos espaços; equilíbrio entre iniciativa infantil e trabalho dirigido no momento de planejar e
desenvolver as atividades; atenção privilegiada aos aspectos emocionais; utilização de uma
linguagem enriquecida; diferenciação de atividades para abordar todas as dimensões do
desenvolvimento e todas as capacidades; rotinas estáveis; materiais diversificados e
polivalentes; atenção individualizada a cada criança; sistemas de avaliação, anotações e
registros que permitam o acompanhamento global do grupo e de cada uma das crianças;
trabalho com os pais e as mães e com o meio ambiente (escola aberta).
Para este autor, esses aspectos-chave podem ser utilizados em qualquer modelo ou
programa de Educação Infantil, ciente de que surgirão desafios e dificuldades a serem
enfrentados dentro desta proposta, além das especificidades existentes nos contextos
educacionais e condições de trabalho dos professores.
Desde essa perspectiva, a qualidade está sempre atrelada a uma avaliação, ou seja, a
qualidade de algo ou alguém é considerada e definida a partir de parâmetros que são
preestabelecidos ou juízos de valor. Com isso, ao se falar nesse termo, deve-se procurar
observar e perceber os objetivos a serem analisados e quais os indicadores da qualidade.
89
Outro aspecto de fundamental importância para a avaliação da qualidade da
Educação Infantil é a estrutura física (organização do espaço físico e estrutural) dessas
instituições de ensino, tendo em vista as necessidades relacionadas ao desenvolvimento
integral das crianças.
Um dos grandes desafios das instituições escolares é incorporar a avaliação a
cultura da escola, por isso, considera-se de fundamental importância o debate e o
entendimento sobre como conduzir o processo de avaliação sem ferir seus princípios
básicos.
Nesse contexto, vale ressaltar a importância de se discutir a participação e a
negociação, quanto, entender os objetivos da necessidade de uma educação de qualidade,
assim com afirma Bondiolli (2004, p. 14):
Perseguir a qualidade implica uma forma de negociação entre atores sociais, com
vistas a um acordo que resulte em um trabalho produtivo. A ideia de que a
qualidade tenha uma natureza negociável significa que não existe um ponto de
vista objetivo sobre a creche, talvez porque seja exterior a ele, significa, também,
que não existe um ponto de vista mais objetivo que outros, em função do papel
específico desempenhado por um determinado ator dentro da instituição.
Significa, ao contrário, reconhecer a natureza ideológica, valorativa da qualidade
e considerar o embate entre pontos de vista, ideias e interesses um recurso e não
uma ameaça.
Não há, portanto, qualidade sem a legitimidade do processo de participação e
negociação, é preciso perceber e compreender a avaliação como um processo, que pode
prever novas possibilidades de futuro, no sentido de refletir a realidade que lhes diz
respeito, interpelando-a, interpretando-a e negociando com todos os envolvidos no percurso
de todo o processo da avaliação.
Podemos concluir que a avaliação da qualidade não se traduz em um conceito único,
universal e absoluto, de tal modo que os diferentes setores da sociedade e os integrantes da
comunidade escolar poderão torná-lo real, em um processo democrático e participativo.
Nesta perspectiva, a avaliação institucional possibilita que cada grupo da comunidade
escolar possa olhar para o seu contexto, retirar informações e tomar decisões, permitindo,
90
ainda, que sua análise leve em consideração os fatores intervenientes na qualidade nas quais
se fundamentarão a construção das melhorias.
A partir dessas características da avaliação da qualidade do atendimento nas
instituições de Educação Infantil partiremos para uma aproximação ao foco do objeto dessa
pesquisa procurando discutir sobre o conceito e o processo da avaliação institucional
participativa.
2.4 O PROCESSO DE AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL PARTICIPATIVA
A palavra avaliação é utilizada em diversas situações cotidianas. Avaliam-se
possibilidades, condições, coisas, atributos, preços, enfim, quase tudo é avaliável, na
medida em que podemos atribuir valores e com isso dirigir nossas ações, escolhas e
preferências. A avaliação faz parte de um processo de reflexão do cotidiano sobre toda e
qualquer atividade humana, constituindo-se, assim, num instrumento que permite conhecer,
aprimorar e orientar as ações do indivíduo e das instituições.
A avaliação institucional é o processo que busca avaliar qualquer instituição
educacional de forma global, contemplando os vários elementos que a constituem em
função de sua Proposta Pedagógica, a partir da participação e da reflexão coletiva, a fim de
diagnosticar a realidade institucional e orientar a tomada de decisões. Assim, a avaliação
deve ser feita levando em consideração a realidade da instituição, para isso, é necessário
que se utilize componentes ou categorias que correspondem a realidade da escola
pesquisada. A discussão sobre avaliação institucional direcionada para a educação básica é
recente no Brasil. Os estudos nesta área centram-se mais no ensino superior cujo processo
de Avaliação Institucional está consolidado pelo Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Superior (SINAES).
91
Para Dias Sobrinho (1995), avaliação institucional, torna-se se um poderoso
instrumento na busca de resolução dos problemas existentes entre a universidade e as
políticas governamentais, provando a sua importância para a sociedade, razão pela qual ela
existe e é mantida.
A avaliação institucional apresenta em sua estrutura procedimentos e instrumentos
diversificados, dentre os quais a autoavaliação ou avaliação interna e a avaliação externa in
loco. (BRASIL, 2004).
Dias Sobrinho (2008, p. 820).conceitua estes procedimentos avaliativos:
Consiste em um amplo balanço que cada instituição deve fazer para conhecer-se
mais profundamente, refletir sobre suas responsabilidades, seus problemas e
potencialidades, enfim, planejar e estabelecer metas para melhorar a qualidade
em todas as dimensões institucionais e educativas. Nesse amplo e participativo
processo de reflexão e debate público, os atores da comunidade educativa devem
pôr em foco de questionamento os significados e os valores científicos, sociais,
éticos, estéticos, etc. dos conteúdos, produtos, atividades, meios, fins e resultados
que constituem o cotidiano da realidade concreta de uma instituição. Além de
aspectos técnicos, esses processos têm uma dimensão profundamente ética e
educativa, pois, contribuem para a melhora institucional e social. Por isso, a
avaliação deve ser um processo global e contar com a participação comprometida
de professores, estudantes e técnicos, além de representantes da comunidade
externa.
O conceito apresentado por Meyer Junior (1993, p. 6) é bem pertinente, quando
considera a avaliação institucional como um ―instrumento de gestão necessário para se
mensurar os esforços da organização, sua qualidade, excelência, utilidade e relevância,
visando a implementação de novas estratégias nas Instituições de Ensino Superior‖.
Segundo Belloni et al (1994), a avaliação é um processo sistemático na busca de
subsídios para o aperfeiçoamento institucional, de modo que a instituição que está sendo
avaliada possa desenvolver suas atividades em um nível de qualidade melhor.
Penna Firme (1994) argumenta que o maior desafio está nas verdadeiras avaliações
que devem captar não somente aquilo que nossas preocupações, os nossos propósitos
determinam, mas aquilo que aparece no caminho. O fato é que internamente as instituições
92
universitárias, apresentam uma resistência natural a respeito de qualquer forma de
avaliação, porque a concepção de avaliação está relacionada a prêmios e castigos.
Vianna (2000) define avaliação institucional como o processo de identificar e
coletar informações para permitir, entre várias alternativas, a tomada de decisões após a
realização do julgamento de valor. Para este autor, avaliação institucional nunca é um todo
acabado, mas uma das diferentes possibilidades de analisar e explicar fenômenos,
estabelecer prováveis consequências, discutir elementos e tomar decisões.
A avaliação não é um processo meramente técnico, implica uma postura política e
inclui valores e princípios, refletindo uma concepção de educação, escola e sociedade.
Repensar os fundamentos que norteiam as teorias avaliativas implica desvelar as ideologias
em que se apoiam na perspectiva de sua superação.
Essa função dada à avaliação não pode se esgotar em si mesma, devendo se articular
com a função de avaliação institucional educativa que, ―para além do mero controle, se
desenvolve como prática social voltada à produção da qualidade das instituições e da
emancipação social‖ (DIAS SOBRINHO, 2003, p. 42).
Ainda, os sujeitos precisam ter a noção e sentir ―que a avaliação tem valor,
consequências e utilidade não só para a instituição, mas, sobretudo, para todos os membros
da comunidade‖ (DIAS SOBRINHO, 2005, p. 31). Nesse sentido, quanto mais ampla e
organizada a participação dos sujeitos nos processos de avaliação, maiores serão as
possibilidades de se alcançar os resultados almejados pela instituição. A avaliação que é
reconhecida é aquela negociada entre os interesses individuais e a clareza de suas
consequências.
Concordamos que a avaliação é entendida como uma atividade estruturada que
permite a verificação da qualidade institucional, no sentido de sua responsabilidade com o
social e no redimensionamento das ações da própria instituição.
Segundo Bondioli (2004, p. 39), a qualidade negociada constitui‐se: ―da natureza
transacional, participativa, autorreflexiva, contextual e plural, processual e, por fim,
93
apresenta uma natureza transformadora‖. A qualidade, portanto, ultrapassa os limites
focalizados apenas no fluxo escolar e desempenho cognitivo. A avaliação da escola vai
além. Dentro dessa perspectiva, a ―natureza negociável ou transacional‖, segundo a autora
indica que é uma transação em que a participação e o debate entre indivíduos se
estabelecem com a visão de um bem comum. Portanto, uma prática coletiva, participativa e
plural na construção de processos para definir, legitimar e orientar as ações em busca da
qualidade pretendida é essencial.
Oliveira-Formosinho (2002) em uma abordagem reflexiva, destaca a escola como
uma organização que continuadamente pensa em si própria, na sua missão social e na sua
estrutura e se confronta com o desenrolar da sua atividade em processo heurístico
simultaneamente avaliativo e formativo. Assim sendo, uma escola que traz um conceito de
avaliação reflexiva, pensa no presente para se projetar o futuro.
Um conjunto de evidências mostra que hoje não é possível deixar de pensar na
questão da avaliação em creches. Intervir antecipadamente é prevenir futuros desajustes ou
estreitar as dificuldades criando condições adequadas para fazer ricas e produtivas
intervenções pedagógicas no processo de avanços na qualidade da oferta do atendimento à
criança de 0 a 3 anos.
É urgente que a escola de Educação Infantil com atendimento de 0 a 3 anos assuma
a constante atitude de reflexão, para que possa manter presente a importante questão da
função da creche entre o cuidar e o educar na sociedade. Avaliar é um ato pedagógico e,
neste sentido, para que esta seja eficaz na resolução de problemas concretos e para um
aprofundamento do pensamento sobre a escola é necessário voltar-se para uma perspectiva
formativa a sua intervenção, tanto para o ambiente quanto para os processos educativos e
para o desenvolvimento de cada criança e do grupo.
A perspectiva da participação extrapola o nível do controle ou do acompanhamento,
construindo-se então um consenso sobre o fato de que ela deva acontecer já na definição de
parâmetros do que seria uma creche de qualidade, seja com base em princípios ou
indicadores mais universais, seja considerando-se os diferentes contextos em que a creche
94
se situa. Desse modo, é importante se ter clareza do objetivo da avaliação, como apontado
por Bondioli (2004, p.74):
O controle da adequação das creches a padrões mínimos não é, porém, por si só,
uma garantia suficiente para assegurar um processo global de melhoria da
qualidade das creches, tanto do ponto de vista propriamente educativo e da
capacidade de satisfazer, de maneira particular e flexível, as exigências dos
usuários. A qualidade deve ser promovida. Para isso não bastam a definição de
padrão e a garantia do controle. É necessário estratégias diferentes para difundir
uma ‗cultura‘ da qualidade, entre as quais podemos citar: o treinamento para
formas de avaliação interna, a discussão participada dos dados das monitorações,
a definição, de forma cooperativa, de indicadores e de padrões.
Falar em qualidade implica saber sob quais critérios ela está sendo definida, se com
a participação de todos os envolvidos ou se unilateralmente. Isto porque, embora critérios
de qualidade mais universais devam ser considerados, especialmente no Brasil, onde ainda
não temos mínimos garantidos de forma generalizada, é preciso levar em consideração que
todos os sujeitos envolvidos na comunidade escolar têm muito a contribuir quanto ao que
seria uma educação de qualidade.
O princípio da participação no processo de avaliação institucional consiste em
corroborar para o processo de gestão democrática em que se coloca nas mãos de todos os
integrantes da comunidade escolar as decisões comuns. A avaliação institucional supõe
colocar em prática um conjunto de atividades que impulsionam a participação.
Discorrendo sobre a participação escolar como diálogo e ação cooperativa, Puig
(2000, p. 33) considera a importância da discussão de temas que interessam a comunidade
escolar:
Pensar, opinar, escutar pontos de vista diferentes, comparar as posturas
expressadas, buscar argumentos e posições melhores; assim como acordar
normas, soluções e projetos de ação. Nesse processo de diálogo, provavelmente
conseguirão analisar os fatos com que se preocupam e acordar soluções; porém,
acima de tudo, podem melhorar a compreensão sobre seus companheiros e suas
companheiras. Além da sua função de entendimento, o diálogo serve também
para ampliar a própria perspectiva sobre os temas que são tratados, graças à
melhor compreensão acerca das outras pessoas. Finalmente, o diálogo é também
uma ferramenta de compromisso. Dito de maneira rápida, aquilo a respeito do
que se fala é mais fácil de aceitar, de ver claramente e, acima de tudo, de se
95
comprometer para cumprir. O diálogo coletivo cria o sentimento de
responsabilidade diante dos companheiros e das companheiras.
O exercício da autonomia implica a coordenação dos diferentes pontos de vista no
momento em que o coletivo se reúne para refletir e para decidir agir da melhor maneira
para todos os envolvidos. ―Ora, a crítica nasce da discussão e a discussão só é possível
entre iguais: portanto, só a cooperação realizará o que a coação intelectual é incapaz de
realizar.‖ (PIAGET, 1932, p. 298).
Nessa perspectiva, a participação, num processo interativo apoia-se em maneiras de
negociação, transformação, transparência, legitimidade e decisão coletiva e contribui para
que os participantes reconheçam-se como um coletivo.
Bordenave (1994, p. 16) ressalta que a participação tem duas bases complementares:
―a afetiva – participamos porque sentimos prazer em realizar coisas com os outros – e a
instrumental – participamos porque realizar coisas com os outros é mais eficaz e eficiente
que fazê-las sozinhos‖. Isso nos conduz à compreensão de que para mobilizar o interesse
das pessoas para participar é preciso, inicialmente, entender as motivações que levam a
participação a atingir essa busca afetiva e instrumental.
A relevância da participação dos professores, educadores, dirigentes e pais de
alunos no processo de avaliação da qualidade deve-se ao fato de que, quando os sujeitos
participam da construção da política e/ou ação a ser implementada, trocando ideias,
oferecendo sugestões, apontando falhas, conquistas e tomando decisões por meio da
partilha e do diálogo. Isso estreita a distância para colaborar com a construção da qualidade
no atendimento às crianças pequenas.
Nesse aspecto, o processo participativo é ―fazer parte, tomar parte ou ter parte‖,
como afirma Bordenave (1994, p. 22), de modo que a participação possa favorecer não
apenas o desenvolvimento de alunos, como também das demais pessoas que nela atuam, via
interrelações humanas, sociais, profissionais e pedagógicas.
96
Na direção do debate quanto à participação das pessoas envolvidas no processo de
Avaliação da Qualidade na Educação Infantil, Sordi e Souza (2009) defendem o diálogo
entre os interessados, por isso os acordos deverão ser firmados, de modo transparente, e em
cada momento o processo deve ser revisto e aprimorado, conforme os interesses e
convicções do grupo.
A Avaliação da Qualidade na Educação Infantil participativa é um exercício de
releitura da realidade escolar a partir de seus atores locais, apoiado em distintas
evidências, parece-nos que a parada obrigatória e sistemática inerente ao processo
de avaliação possibilita que estes atores voltem a se reconhecer como coletivo e
como coletivo se interroguem sobre o projeto que pretendem construir e como
coletivo se desafiem e se amparem para o trabalho árduo que os aguarda, se de
fato se colocarem a serviço da aprendizagem das crianças (SORDI; SOUZA,
2009, p. 328).
Partindo dessa premissa, a avaliação participativa deve ser discutida como um
processo que realmente provoque transformações, que seja vivenciado e discutido por todos
do segmento avaliado - alunos, professores, funcionários, pais e representantes da
comunidade - pois as discussões são necessárias para a transparência das ações realizadas,
permitindo resultados representativos.
Tendo em vista o princípio de participação, vale transpor a reflexão que Leite
(2005) faz em um contexto universitário, para o segmento aqui estudado (creche). A autora
ressalta a importância do processo de avaliação e a valorização dos princípios da
democracia participativa para a construção da autonomia dos sujeitos por meio de um
trabalho em parceria com pais, professores, educadores e dirigentes. A autora Leite (2005,
p. 06) apresenta as características da Avaliação Participativa:
a) Avaliação Participativa exige sensibilização e pactuação ou negociação
política;
b) A Avaliação Participativa se constitui um instrumento epistemológico para
o pensamento e a ação política no espaço público;
c) Avaliação Participativa envolve a criação de uma comunidade do bem
público;
d) Avaliação Participativa se exerce através da co-gestão e do autogoverno de
diferentes atores;
e) Avaliação Participativa institui autonomias dos sujeitos, dos coletivos e da
instituição;
f) Avaliação Participativa nutre-se da auto-crítica, autovigilância e
autolegislação permanentes
g) Avaliação Participativa exige seu tempo próprio.
97
Desse modo, propor uma avaliação institucional participativa tem como finalidade
oferecer oportunidades para que todos os participantes do processo possam pronunciar suas
concepções de mundo e de qualidade, negociando perspectivas, e contribuindo, para a
melhoria da qualidade da educação. Somente por meio de uma avaliação legítima e
participativa da realidade avaliada que podemos constatar se o direito prescrito está distante
ou não de sua efetivação.
A proposta da avaliação participativa visa à transformação e não a mera apreciação
de indicadores advindos de esferas superiores aos envolvidos diretamente no contexto
educacional avaliado. Por isso, se faz necessário levar em consideração o envolvimento
direto de representantes da comunidade escolar (pais de alunos, dirigentes, professores e
educadores) no processo de avaliação, por meio de colaboração, negociação e da
compreensão da própria realidade que deseja transformar.
Diante da perspectiva deste estudo, a avaliação participativa pressupõe de alguma
forma, revelar concepções a partir da análise da realidade e, sobretudo, de negociação para
a construção de indicadores da qualidade pela própria comunidade escolar. Nessa direção, a
qualidade, vem articulada em um processo de formação dos envolvidos, que se colocam
comprometidos com o trabalho desenvolvido e, para tanto, a instituição coletivamente se
organiza para se auto avaliar, com isso, podem eleger as diretrizes para uma oferta de
atendimento de qualidade e ancorar o processo de tomada de decisões de acordo com o
contexto local.
No próximo capítulo apresentaremos alguns modelos de avaliação da qualidade da
Educação Infantil que fornecem informações importantes referentes à temática estudada,
pois existem muitas abordagens em torno da qualidade neste contexto educativo.
99
CAPÍTULO III
MODELOS DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Isto porque a gente foi criado em lugar onde não tinha
brinquedo fabricado. Isto porque a gente havia que
fabricar os nossos brinquedos: eram boizinhos de osso,
bolas de meia, automóveis de lata. Também a gente fazia
de conta que sapo é boi de cela e viajava de sapo. Outra
era ouvir nas conchas as origens do mundo.
Manoel de Barros.
100
Este capítulo apresenta diferentes modelos encontrados na literatura relacionados à
avaliação da qualidade da Educação Infantil de atendimento de 0 a 6 anos. Infelizmente no
Brasil há muito poucos instrumentos que avaliem as especificidades do atendimento à
criança de 0 a 3 anos. O tema da qualidade na Educação Infantil tem sido questionado nos
últimos anos, pois há evidências acumuladas de que a qualidade do atendimento à criança
pequena tem efeitos consideráveis o seu desenvolvimento cognitivo e social. A utilização
de instrumentos para avaliar escolas de atendimento infantil permite desenvolver um
processo de conscientização de educadores, professores, diretores e pais de alunos em torno
do tema qualidade de atendimento para favorecer a elaboração de planos e metas a serem
atingidos, por meio de intervenções planejadas com a comunidade escolar.
101
3.1 PROCEDIMENTOS E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Visto que a qualidade do atendimento das creches pode ter impacto no
desenvolvimento das crianças que as frequentam, os instrumentos de avaliação têm
merecido ampla atenção. Diversos estudos em diferentes países têm atestado a sua relação
com o desenvolvimento infantil.
De acordo com Lima e Nunes (2006, p. 633) existem correlações entre a qualidade
da Educação Infantil e ―níveis superiores de desenvolvimento da linguagem, melhores
possibilidades sociais, níveis de desenvolvimento em jogos e melhor capacidade de
autorregulação‖. Por outro lado, crianças que participam de programas que não satisfazem
os critérios de qualidade, apresentam mais problemas de comportamento, menor
competência de linguagem e níveis acadêmicos inferiores comparativamente aos seus pares
que frequentam programas de qualidade média ou superior. Dessa forma, os estudos
legitimam a influência da qualidade dos ambientes de atendimento à criança e o
desenvolvimento infantil.
Barros et al (2011) relatam no artigo ―Uma avaliação do impacto da qualidade da
creche no desenvolvimento infantil‖ a importância deste segmento de ensino para o
desenvolvimento infantil, em uma amostra aleatória de 500 crianças em 100 creches no
município do Rio de Janeiro, com o propósito de associar este com a qualidade das creches
por meio de uma função custo hedônica11
, permitindo uma avalição do custo e da
efetividade das creches de melhor qualidade.
Os resultados encontrados mostram, por um lado, que o custo de prover serviços
de alta qualidade é 72% maior que o de prover sua contraparte de baixa
qualidade. Por outro lado, também constatamos que a idade de desenvolvimento
das crianças (de 0 a 3 anos) que frequentam creches de alta qualidade é em média
1,2 meses maior do que o desenvolvimento que alcançariam se frequentassem
uma creche de baixa qualidade. Especificamente a qualidade das atividades e
estrutura do programa, tem um impacto considerável no desenvolvimento da
11
Expressão utilizada pelo autor para designar a participação prazerosa da criança por frequentar a instituição
educacional.
102
criança. E, de maior importância, em geral as dimensões com maior impacto no
desenvolvimento da criança são aquelas com menor impacto sobre os custos.
(BARROS et al 2011, p. 15).
As implicações citadas nessa pesquisa traduzem e evidencia os efeitos positivos da
alta qualidade dos programas de Educação Infantil. Os resultados também mostram que a
qualidade da creche pode ser avaliada por diferentes instrumentos e critérios.
Segundo Portugal (2002, p. 15) é primordial que um programa de elevada qualidade
na creche englobe:
Educadores sensíveis e calorosos, com formação específica sobre o
desenvolvimento e particularidades da criança muito pequena, que compreendam
a importância das relações precoces da criança e sejam capazes de estabelecer
verdadeiras parcerias com as famílias; Baixa rotatividade e mobilidade dos
técnicos, assegurando-se continuidade nos cuidados à criança; Grupos pequenos
de crianças e a relação de quantidade criança-adulto baixo.
Assim, a qualidade em contextos de Educação Infantil, referindo-se tanto ao
atendimento de 0 a 3 anos quanto de crianças de 4 a 6 anos, não pode se fixar a critérios
mínimos, como por exemplo, apenas oferecer a vaga, sem preocupar-se com as diversas
dimensões que integram uma instituição educacional de qualidade para este segmento de
ensino, mas garantir os direitos das crianças e conciliar a oferta com estratégias que
favoreçam o pleno desenvolvimento infantil.
Segundo o relatório global de monitoramento da Educação para todos (UNESCO,
2008, p. 39), "a interação entre a criança e o cuidador ou professor é o determinante-chave
da qualidade dos programas de Educação Infantil". Sabe-se que os professores que são
menos rígidos, mais encorajadores e em processo contínuo de formação elevada conferem
melhor qualidade aos programas. Assim, ter adultos bem formados, com bom nível de
conhecimento que recebam apoio em seu papel educacional, torna-se primordial.
Autores como Matos, Gil e Almeida (2005, p. 2) argumentam que a avaliação da
qualidade da Educação Infantil pode ser realizada por meio de procedimentos diversos,
intimamente relacionados entre si e influenciando uns aos outros. Envolvendo 3 aspectos:
103
• Legislação: estabelecimento de leis que asseguram a legitimidade de direitos
conquistados e o respeito a eles;
• Fiscalização: dos direitos, normas e critérios previstos por lei, através de
Conselhos de Direitos e Conselhos Tutelares;
• Avaliação.
Desse modo, vale acentuar a importância de todo o processo, isto é, concebê-lo de
maneira ecológica12
tanto nas relações interpessoais de todo o ambiente da creche quanto
nos aspectos organizacionais, políticos e ideológicos. Os autores supracitados afirmam que
a avaliação possui finalidades formativas ou de melhorias e que este processo favorece a
autoavaliação com a participação ativa de toda a comunidade escolar, isto é, que se realize
em um processo coletivo e dinâmico em longo prazo.
Com relação aos indicadores, Sousa (1998, p. 02) explica que subjacente à
qualidade, há sempre uma avaliação que é considerada a partir de parâmetros
preestabelecidos:
A qualidade de algo ou alguém é então considerada a partir de parâmetros
preestabelecidos ou de juízos de valor. Portanto, ao se falar em qualidade há que
se identificar e se explicitar critérios objetivos de análise e indicadores de
qualidade. Isto diminui os efeitos negativos das tendenciosidades ou dos
procedimentos ou avaliações subjetivas. Assim, se queremos analisar a qualidade
de um programa de educação infantil precisamos saber quais os nossos
parâmetros de análise e o que, na prática cotidiana, pode ser considerado os
indicadores dessa qualidade.
Nesse sentido, para se falar de qualidade, é necessário o estabelecimento de
indicadores para caracterizá-la, como a quantidade de adulto por crianças, as relações
interpessoais, as questões de higiene e cuidado, o tamanho do grupo, a formação do
professor ou do educador, a formação continuada, o ambiente físico, equipamentos,
materiais, planos e o currículo que são frequentemente referidos por vários pesquisadores
desta temática.
Ao referir-se ao discurso da qualidade, Dahlerg, Pence e Moss (2003, p. 132)
expõem três categorias a partir das quais podem ser organizados diferentes critérios de
12
A avaliação ecológica é concebida como ―um processo que acompanha processos‖ (OLIVEIRA-
FORMOSINHO, 2002, p. 152), está atenta à experiência de cada criança e à sua individualidade, da sua
família, da sua cultura, dos produtos, dos contextos e dos processos.
104
avaliação: ―estruturais (recursos e dimensões organizacionais das instituições), processuais
(o que acontece na instituição juntamente com as crianças) e de resultado (aspectos do
desenvolvimento da criança)‖. Essa classificação proposta mostra que se faz necessário
considerar não apenas os resultados, mas também as condições de oferta e a dinâmica
dessas instituições.
Para Bondioli (2004) o controle de adequação a padrões mínimos para avaliação
não é por si só uma garantia que assegure um processo de melhoria da qualidade das
creches, tanto pela perspectiva educacional quanto na ―capacidade de satisfazer, de maneira
particular e flexível, às exigências dos usuários‖. Nesse contexto, a qualidade deve ser
promovida:
Para isso, não bastam a definição de padrão e a garantia do controle. É necessário
estratégias diferentes para difundir uma ―cultura‖ da qualidade, entre as quais
podemos citar: o treinamento para formas de avaliação interna, a discussão
participativa dos dados das monitorações, a definição, de forma cooperativa, de
indicadores e de padrões. (BONDIOLI 2004, p. 74).
Assim a qualidade não é um produto, não é um dado. ―A qualidade constrói-se.
Fazer a qualidade é um trabalho que se decifra com o tempo, que não se pode dizer nunca
que esteja concluído, que cresce em si mesmo com um movimento em espiral.‖
(BONDIOLI, 2004, p. 16).
Nos últimos anos, alguns critérios/escalas são utilizados internacionalmente como
instrumentos para avaliar a qualidade dos ambientes das instituições de Educação Infantil.
Tais instrumentos situam-se em paradigmas diferentes, assim como apresenta Oliveira-
Formosinho (2001, p. 9) no quadro a seguir:
105
Quadro 1- Paradigmas de análise da qualidade na Educação Infantil
Paradigma 1 – Tradicional Paradigma 2 - Contextual
Externo Interno (em diálogo)
Universal Contextual
Comparativo Permite o cruzamento de
perspectivas.
Orientado para os produtos Orientado para os contextos, os
processos e as realizações.
Orientado para uma mediação
definida normativamente.
Orientado para verdades singulares
que podem emigrar para outros lugares
sócio cognitivos.
Orientado para as generalizações. Colaborativo
Não colaborativo Dinâmico
Estático Apoiado
Fonte: Oliveira-Formosinho (2001, p. 9).
Analisando o Quadro 1 verifica-se que o paradigma tradicional, estabelece que o
processo e o desenvolvimento sejam o foco principal da avaliação de produtos. Essa
avaliação é realizada por pessoas externas à comunidade escolar, de forma não
colaborativa, permitindo comparações perante notas e gera o ranqueamento entre as
escolas.
No paradigma contextual, o processo de avaliação e desenvolvimento da qualidade
centraliza tanto os processos quanto os produtos, reconhecendo-os como contextuais. A
comunidade escolar constituída por crianças, professores e pais são participantes de todo o
processo e reconhecem a necessidade de melhorias e mudanças, e colaboram na sua
construção contextual, dinâmica, evolutiva, pois acredita-se que as verdades singulares são
úteis aos próprios e àqueles que com eles queiram dialogar. Nesse caso, a comunidade
participa da análise do contexto de maneira dinâmica e evolutiva.
Por entender que ―as verdades singulares são úteis aos próprios e àqueles que com
eles queiram dialogar‖ (OLIVEIRA-FORMOSINHO; ARAÚJO, 2004, p.84) as autoras
explicam:
106
A qualidade é processo-em-progresso, ela depende dos atores que dinamicamente
são centrais para esse processo e para o seu progresso: educadores, crianças, pais.
Pensamos, assim, que é preciso procurar a qualidade desde dentro. Se remetermos
a procurar a qualidade para o interior do próprio processo em progresso, não no
isolamento, mas no diálogo, então torna-se evidente a importância do olhar da
educadora, da sua definição, da sua ação e reflexão. Naturalmente esse olhar,
como todo olhar criativo, é comunicativo, não se encerra em si mesmo. Isto é,
dialoga com as decisões políticas, dialoga com os dados da investigação, dialoga
com as teorias correntes, dialoga com a cultura envolvente, dialoga – antes e
depois de todos os outros diálogos – com a criança. (OLIVEIRA-
FORMOSINHO; ARAÚJO, 2004, p. 84).
Assim nesse contexto, qualidade diz respeito, em especial, a um trabalho
pedagógico que prioriza a construção conjunta a partir do que está acontecendo. Desse
modo, a qualidade não é algo que possa simplesmente ser mensurada por padrões, pois é
contextual.
A qualidade é um princípio e um conceito muito complexo, de difícil definição e,
consequentemente, de se avaliar. Apesar disso, não é possível esquecer que recai na
educação, no seu sentido mais amplo, a responsabilidade insubstituível de assegurar o
desenvolvimento pleno e integral do ser humano. Uma maneira eficaz de avançar na oferta
do atendimento da Educação Infantil é conceber e planejar sistemas e estratégias de
avaliação que a legitimem adequadamente e a assumam na sua complexidade e
abrangência.
3.2. A AUTOAVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL
A autoavaliação é um processo gerido pela própria escola com a participação da
comunidade escolar. Segundo Thurler (1998), a prática da autoavaliação é a maneira mais
pertinente e eficaz de avaliar a qualidade da educação, uma vez que ela é realizada pelos
sujeitos mais aptos a apontar os problemas e as soluções do ambiente educacional e, assim,
melhorar a escola. Ressalta ainda que a avaliação da qualidade da educação está
indissociavelmente atrelada à cultura da escola e seu ambiente de interações.
107
Neste sentido, trata-se de uma perspectiva de regulação a qual implica que a escola
se assuma como sujeito da sua própria avaliação, ou seja, que envolva os pais, alunos,
professores, educadores, funcionários e dirigentes na procura do sentido coletivo da
organização. Com este processo espera-se fomentar as práticas reflexivas, de cooperação e
de conciliação entre os diversos participantes da comunidade educativa, levando em conta a
investigação, conscientização e solução dos seus problemas. Além de sensibilizar e
valorizar a comunidade educativa para a participação ativa e crítica.
Segundo Perrenoud (1993, p. 97) a autoavaliação consiste em ―reforçar as
capacidades do sujeito para gerir ele próprio os seus projetos, os seus processos, as suas
estratégias‖ e, portanto, criar condições para que os professores sintam-se implicados na
construção do conhecimento sobre situações institucionais que estão inseridos.
Leite, Rodrigues e Fernandes (2006, p. 25) apresentam um modelo de autoavaliação
que segue as seguintes etapas:
1. Sensibilizar/negociar, de forma a que o grupo conscientize da necessidade do
exercício da autoavaliação e se defina o papel do assessor, facilitador dessa
autoavaliação;
2. Eleger as dimensões a avaliar, isto é, analisar os aspectos que justificam
serem objeto de mudança e selecioná-los em função da sua relevância e
necessidade de mudanças;
3. Rever o desenvolvimento real observando o desenvolvimento do objeto da
avaliação e identificando os fatores condicionantes da atividade;
4. Desenhar um plano de ação que concretize, em termos de plano, propostas de
melhoria;
5. Aplicar o plano de ação, isto é, concretizar o planejamento;
6. Rever as atividades, analisando as mudanças produzidas como consequência
das atividades desenvolvidas;
7. Refletir e configurar um novo plano, no sentido de valorizar mudanças e
inovações produzidas, modificar estratégias seguidas ou definir novas dimensões
e melhorar.
Trata-se, portanto, de uma estratégia de avaliação que tem como intenção o
aperfeiçoamento da oferta educacional. É um modelo de avaliação que assume a
característica formadora, ou seja, requer a reflexão dos envolvidos no processo e nas tarefas
de planejar, organizar e avaliar as próprias ações. A autoavaliação se coloca como
mediadora do crescimento da comunidade escolar.
108
Em defesa desta perspectiva, Guerra (2002, p. 17) apresenta os seguintes riscos
dessa avaliação realizada exclusivamente por participantes internos:
Não ser assumida e participada por todos da mesma forma, ser apenas assumida
pela direção, por um grupo de professores ou um grupo da associação de pais e a
perda de perspectiva crítica devido ao grande envolvimento dos participantes no
funcionamento interno da escola e traduzindo-se por isso, numa perda de
perspectiva e objetividade, o autor considera que a melhor opção é aquela que
combina a iniciativa interna com a participação de ―facilitadores‖, avaliadores
externos.
O autor chamou esta prática de ‗coavaliação‘ sendo esta mista (interna e externa)
não substituindo a participação ativa da comunidade educativa de pensar por si e de se
autoavaliar, mas auxilia a exercer essa capacidade de um modo mais rigoroso.
Do ponto de vista da melhoria da qualidade e da inovação, é, sem dúvida, o grau de
desenvolvimento da autoavaliação que irá determinar os contornos da avaliação externa.
Quanto mais a primeira for sistemática e autônoma, mais a segunda pode tornar-se legítima
e complementar. Vale ressaltar que o desenvolvimento de uma autoavaliação participativa
que examina de forma sistemática os pontos fortes e fracos da instituição educacional,
apoia-se tanto sobre os problemas identificados pelos diferentes participantes do processo
quanto sobre as fontes exteriores de informação.
No Brasil, a temática da aferição da qualidade por meio de processos
autoavaliativos ainda é um tema recente, não amplamente disseminado, diferentemente de
alguns países, como Portugal, onde as escolas são obrigadas por lei a realizar
autoavaliações.
De acordo com Riberio (2013, p. 72) a ―autoavaliação nas escolas de Educação
Infantil deve acontecer de forma compartilhada e negociada pelos diversos atores
envolvidos no cuidar/educar crianças pequenas‖. A autora também ressalta que:
Os empecilhos que pode encontrar durante o processo como a rígida organização
hierárquica das instituições, que geram relações e interações permeadas por
formas de controle e poder, sejam elas concretas, abstratas e/ou simbólicas e
acrescenta não basta ‗fazer parte‘ para ‗tomar parte‘, pois o desvelamento de
vozes, há tanto silenciadas, não é um processo que se dá de uma hora para a
109
outra. É preciso que esta prática seja fomentada no dia a dia das instituições para
que vá se fortalecendo e se consolidando. (RIBERIO, 2013, p. 73).
Este processo implica em ter um autoconhecimento profundo, uma análise e uma
reflexão constante das suas práticas e dos seus resultados, no sentido de encontrar novos
caminhos e novas soluções para melhoria dos serviços oferecidos. Entretanto, é preciso
ponderar se a autoavaliação sozinha dá conta do processo de avaliação da qualidade ou
necessita ser complementada com outras modalidades avaliativas que possibilitem ―Um
olhar mais descentralizado, [que levem à percepção de] implicações que podem prejudicar
ou condicionar negativamente o processo de avaliação no que diz respeito à definição da
qualidade‖. (BONDIOLI, 2004, p. 3).
Promover autoavaliação significa recolher um conjunto em longo prazo de
informações pertinentes, válidas e fiáveis, no sentido de examinar o grau de adequação
entre esse conjunto de informações e um conjunto de critérios definidos, com vistas à
ajudar e a fundamentar a tomada de decisões para a busca da qualidade.
Decorrentes destes princípios teóricos emergiram diversos instrumentos de
avaliação da qualidade da Educação Infantil tanto em fontes nacionais quanto
internacionais. Revela-se, portanto, pertinente, apresentar alguns destes instrumentos que
podem contribuir para a melhoria dos trabalhos desenvolvidos nesse segmento de ensino e,
consequentemente, promover o desenvolvimento adequado das crianças.
A seguir serão apresentados alguns instrumentos nacionais e internacionais nos
quais alguns utilizam da prática da autoavaliação, porém todos que serão relatados podem
identificar a existência ou não de qualidade em realidades diversas de instituições que
cuidam de crianças pequenas.
3.3 MODELOS DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO
INFANTIL
3.3.1 Critérios para o atendimento em creches que respeitem os direitos
fundamentais das crianças (Brasil, 1995)
110
Em 1994, o MEC, em sua Política Nacional de Educação Infantil, estabeleceu
diretrizes para a orientação do trabalho com as crianças pequenas, seguido mais tarde pela
publicação dos Critérios para o atendimento em creches que respeitem os direitos
fundamentais das mesmas tendo como principal objetivo:
Atingir, concreta e objetivamente, um patamar mínimo de qualidade que respeite
a dignidade e os direitos básicos das crianças, nas instituições onde muitas delas
vivem a maior parte de sua infância, nos parece, nesse momento, o objetivo mais
urgente. (CAMPOS, 2009, p. 7).
A partir da citação pode-se dizer que as crianças pequenas são o foco principal das
ações e decisões. O documento foi inspirado em exemplos internacionais e baseado em
situações brasileiras, podendo ser fonte para subsidiar a elaboração de material de avaliação
de qualidade para creches e pré-escolas, contribuindo para definição de metas de melhoria.
O documento13
está organizado em duas partes. A primeira apresenta os critérios
relativos à organização e ao funcionamento interno das creches que dizem respeito
principalmente as práticas concretas adotadas no trabalho direto com as crianças. A
segunda parte especifica critérios relativos à definição de diretrizes e normas políticas,
programas e sistemas de financiamento de creches, tanto governamentais como não
governamentais.
13
Sua primeira versão foi preparada no contexto de um projeto de assessoria e formação de profissionais de
creche de Belo Horizonte, financiado por Vitae. Posteriormente, foi discutido no 1° Simpósio Nacional de
Educação Infantil, em Brasília. A partir do final de 1994, contou com o apoio do Ministério de Educação e do
Desporto, que organizou um encontro de especialistas, em São Paulo, para discutir a segunda versão do
documento. Outros grupos e pessoas também colaboraram com críticas e sugestões durante todo o período de
elaboração do texto. (BRASIL, 2009, p. 8).
111
Quadro 2 - Critérios para um atendimento em creches, que respeite os direitos
fundamentais das crianças
Critérios para a unidade creche
Nossas crianças têm direito à brincadeira;
Nossas crianças têm direito à atenção individual;
Nossas crianças têm direito a um ambiente aconchegante, seguro e estimulante;
Nossas crianças têm direito ao contato com a natureza;
Nossas crianças têm direito a higiene e à saúde;
Nossas crianças têm direito a uma alimentação sadia;
Nossas crianças têm direito a desenvolver sua curiosidade, imaginação e capacidade de
expressão;
Nossas crianças têm direito ao movimento em espaços amplos;
Nossas crianças têm direito à proteção, ao afeto e à amizade;
Nossas crianças têm direito a expressar seus sentimentos;
Nossas crianças têm direito a uma especial atenção durante seu período de adaptação à creche;
Nossas crianças têm direito a desenvolver sua identidade cultural, racial e religiosa.
---------------------------------------------------
Critérios para políticas e programas de creche
A política de creche respeita os direitos fundamentais da criança;
A política de creche está comprometida com o bem-estar e o desenvolvimento da criança;
A política de creche reconhece que as crianças têm direito a um ambiente aconchegante,
seguro e estimulante;
A política de creche reconhece que as crianças têm direito à higiene e à saúde;
A política de creche reconhece que as crianças têm direito a uma alimentação saudável;
A política de creche reconhece que as crianças têm direito à brincadeira;
A política de creche reconhece que as crianças têm direito a ampliar seus conhecimentos;
A política de creche reconhece que as crianças têm direito ao contato com a natureza.
Fonte: BRASIL, 1995, p. 40.
A organização deste documento reflete uma mudança de concepção acerca das
creches. Em vez de serem consideradas como ação de assistência social ou de apoio às
mulheres trabalhadoras, estas instituições passam a fazer parte de um percurso educativo
que deve se articular com os outros níveis de ensino formal e se estender por toda a vida.
Didonet (2012, p. 8) ressalta que:
112
A leitura desse ―checklist‖ é, por si só, instigador de respostas sim ou não,
servindo para a professora apropriar-se de um conhecimento sobre a realidade em
que atua e decidir-se por melhorar sua atuação bem como buscar os meios
necessários para atender ao que ali está indicado como direito das crianças. Pode-
se dizer que é um instrumento de orientação e, simultaneamente, de avaliação da
educação infantil na creche.
Embora o documento reconheça os direitos das crianças e possa ser um instrumento
que aponte os princípios de uma oferta de qualidade para a comunidade escolar, parte-se do
princípio que cada instituição escolar deva construir seus próprios meios para atender aos
princípios propostos pelo documento. Outro fator que dificulta o seu emprego é que ele não
oferece subsídios e direções de como utilizá-lo, isto é, não apresenta uma metodologia para
sua aplicação. Isto se reflete com certeza em sua utilização, pois muitas escolas receberam
os livretos (documento) do Ministério da Educação e os mesmos acabaram ficando nas
estantes das creches. Poderia ser sim um rico instrumento de autoavaliação, uma vez que
apresenta diversos indicadores coerentes com as necessidades de um atendimento de
qualidade, tanto na parte pedagógica quanto administrativa. O documento respeita os
diversos estilos pedagógicos e a diversidade cultural brasileira.
3.3.2 Indicadores da Qualidade da Educação Infantil (Brasil, 2009)
Com o desafio de monitorar a avaliação da qualidade dos serviços prestados,
fortalecer a cultura de avaliação no âmbito do sistema educacional e implementar no
sistema de avaliação da educação nacional um instrumentos de avaliação da Educação
Infantil, o Ministério da Educação (MEC) num esforço conjunto com a Secretaria de
Educação Básica (SEB), da Ação Educativa, da Fundação Orsa, da União Nacional dos
Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) e do Fundo das Nações Unidas para a
Infância (UNICEF), bem como de um longo processo de discussões, revisões e testagens do
instrumento criaram o documento Indicadores da Qualidade na Educação Infantil.
Esse documento é um instrumento de autoavaliação das instituições de Educação Infantil
baseado em um processo participativo que ―possibilita a reflexão e a definição de um
caminho próprio para aperfeiçoar o trabalho pedagógico e social das instituições‖
(BRASIL, 2009, p. 12).
113
A mobilização da comunidade para participar da avaliação é o primeiro ponto
importante no uso dos indicadores. Quanto mais pessoas dos diversos segmentos
da comunidade se envolverem em ações para a melhoria da qualidade da
instituição de Educação Infantil, maiores serão os ganhos para as crianças, para a
sociedade e para a educação brasileira. Por isso que é tão importante que todos os
segmentos da comunidade escolar sejam convidados a participar, não somente
aqueles mais atuantes no dia a dia (BRASIL, 2009, p. 17).
É um instrumento flexível e com possibilidades de adequar-se de acordo com as
aspirações da comunidade escolar. No entanto, sugere uma metodologia para sua aplicação.
Os Indicadores para qualidade da Educação Infantil adotam uma concepção ampla
de qualidade, portanto, elegeu critérios de avaliação baseados nos parâmetros de qualidade
de uma boa Educação Infantil determinados pelo Ministério da Educação. Os resultados
devem servir como base para a elaboração de um plano de ação que busque melhorar cada
vez mais as creches e pré-escolas que atendem às crianças em idade pré-escolar.
O instrumento de avaliação (questionário com diversas perguntas que serão
aplicadas aos gestores, professores e familiares) irá basear-se em sete principais aspectos
considerados como parâmetros fundamentais que garantem uma boa qualidade na Educação
Infantil. São eles:
Quadro 3: Dimensões da Qualidade da Educação Infantil
1. Planejamento Institucional
1.1. Consolidação da proposta pedagógica
1.2. Planejamento, acompanhamento e avaliação
1.3. Registro da prática educativa
2. Multiplicidade de experiências e linguagens
2.1. Construção da autonomia
2.2. Relação da criança com o ambiente natural e social
2.3. Experiências para a construção do conhecimento do próprio corpo
2.4. Expressão por meio de diferentes linguagens plásticas, simbólicas, musicais e corporais
2.5. Experiências variadas e estimulantes com a linguagem oral e escrita
2.6. Identidade, valorização das diferenças e cooperação
3. Interações e Afetividade
114
3.1. Respeito à dignidade
3.2. Respeito ao ritmo
3.3. Respeito à identidade, desejos e interesses
3.4. Respeito às ideias, conquistas e produções
3.5. Interação entre crianças e crianças
3.6. Interação entre crianças e adultos
4. Promoção da saúde
4.1. Responsabilidade pela alimentação saudável
4.2. Limpeza, salubridade e conforto
4.3. Segurança
5. Espaços, materiais e mobiliários
5.1. Espaços e mobiliários que favorecem as experiências das crianças
5.2. Materiais variados e acessíveis
5.3. Espaços, materiais e mobiliários para responder aos interesses e necessidades dos adultos
6. Formação e condições de trabalho dos professores e demais profissionais da escola
6.1. Formação inicial dos professores
6.2. Extensão universitária dos professores
6.3. Formação continuada
6.4. Condições de trabalho adequadas
7. Cooperação e troca com as famílias e participação na rede de proteção social
7.1. Respeito e acolhimento
7.2. Garantia do direito das famílias de acompanhar as vivências e produções das crianças
7.3. Participação da instituição na rede de proteção dos direitos das crianças
Fonte: Brasil, 2009a.
No documento são apresentados as instruções detalhadas de como utilizar o
instrumento, sendo explicitadas questões metodológicas sobre como conduzir as discussões
do processo de avaliação e os materiais que serão utilizados para a sua realização. Para
avaliar cada dimensão são propostos indicadores e para cada indicador uma série de
questionamentos que os participantes da autoavaliação da instituição irão responder.
115
A proposta indica três cores para simbolizar a avaliação feita pelo grupo: a cor verde
para situação consolidada (bom), amarelo caso exija atenção (médio) e vermelho quando
for necessário atitudes emergenciais (ruim). Os dados e os resultados da avaliação após
várias discussões e consensos no grupo parte-se para a construção de um plano de ação com
o intuito de melhorar a qualidade dos serviços oferecidos.
Figura 3 - Representação do processo de avaliação – plenária de discussões
Fonte: BRASIL, 2009, p. 27
Este instrumento segue princípios processuais e não pontuais, por isso ―o
acompanhamento dos resultados, dos limites e das dificuldades encontradas na implantação
do plano de ação são fundamentais, bem como a reaplicação da autoavaliação a cada um ou
dois anos‖ (BRASIL, 2009a, p. 25).
116
Figura 4 - Amostra do documento- Indicadores da Qualidade na Educação Infantil
Fonte: BRASIL, 2000, p. 34.
Vale destacar uma crítica ao documento: o esvaziamento da dimensão gestão e
organização escolar. Essas funções são fundamentais para a construção coletiva de um
projeto de avaliação da qualidade, isto porque a figura do gestor escolar se constituiu como
uma função indispensável para articular processos e planejar ideias na busca de
transformações para a melhoria do atendimento a toda comunidade escolar. Para tal, o
diretor precisa ter liderança a fim de garantir a intencionalidade, os princípios pedagógicos
117
que vigoram as ações pedagógicas da escola e o compromisso com a Educação Infantil. Um
ponto positivo deste instrumento que vale a pena destacar é a participação de toda a
comunidade escolar, pois o princípio da autoavaliação que vigora neste processo fornece
bases para que todos os participantes tomem conhecimento e assumam responsabilidades
das problemáticas da instituição gerando negociações e ações com possibilidades de
promover impactos positivos para a melhoria da qualidade da oferta educacional.
3.3.3 Avaliação Participativa das Escolas de Educação Infantil do Governo do
Distrito Federal.
O instrumento de avaliação participativa das escolas de Educação Infantil do
Governo do Distrito Federal foi elaborado com base nos Referenciais Curriculares
Nacionais da Educação Infantil (RCNEI – 1996), nos Parâmetros Nacionais da Qualidade
da Educação Infantil do Brasil (2006), nos Indicadores da Qualidade da Educação Infantil
(2009), no Currículo das Instituições Educacionais de Educação Infantil do Governo do
Distrito Federal (2002) e nos princípios pedagógicos do Programa de Educação Infantil e
Ensino Fundamental (PROEPPRE) e nos resultados da ―Avaliação da Oferta da Educação
Infantil‖ (MANTOVANI DE ASSIS; CANTELLI; DAL COLETO, 2009) realizada com
uma amostra de escolas de Educação Infantil do Distrito Federal e divulgada em agosto de
2009, sob a coordenação conjunta da Equipe de Consultores da CESGRANRIO,
LPG/UNICAMP e SE/GDF14
.
A abordagem proposta desse instrumento de avaliação é compreendida a partir de
uma perspectiva processual e não como um evento que só ocorre nos dias destinados para
14 CESGRANRIO: Centro de Seleção de Candidatos ao Ensino Superior do Grande Rio - atuar fortemente junto às
universidades a Fundação tem uma importância singular nos assuntos relacionados à concursos públicos. A fundação é
extremamente reconhecida por produzir as provas de vários concursos públicos de peso em nosso país.
LPG: Laboratório de Psicologia Genética.
UNICAMP: Universidade de Campinas
SE/GDF: Secretaria de Educação do Governo do Distrito Federal
118
este fim. Procura envolver todos os que participam do processo educativo. Assume essa
perspectiva como direção e consolidação de um projeto educativo autônomo e
emancipatório. Reconhece a importância da participação de todos na construção de uma
escola de qualidade e sugere que o resultado do processo seja considerado tanto na sua
dimensão macro referente ao sistema como um todo quanto em sua dimensão micro que
corresponde às especificidades de cada instituição educacional.
Os princípios e fundamentos que são considerados para esse instrumento estão
expressos em sete dimensões:
Quadro 4: Sete dimensões da Qualidade da Educação Infantil
1 – planejamento institucional;
2 – currículo e experiências educativas;
3 – relações interpessoais;
4 – vida saudável;
5 – ambiente físico;
6 – formação e condições de trabalho da equipe escolar;
7 – cooperação com as famílias e outros parceiros educativos.
Fonte: Caderno de Avaliação Participativa das escolas de Educação Infantil do Governo do Distrito Federal,
2009, p. 9.
119
Figura 5 - As dimensões da qualidade da Educação Infantil.
Fonte: Caderno de Avaliação Participativa das escolas de Educação Infantil do Governo do Distrito Federal,
2009, p. 10.
Essas dimensões estão intrinsecamente relacionadas e expressam as
intencionalidades pedagógicas traduzindo os principais aspectos que compõem a realidade
educativa. Elas representam os pilares sobre os quais devem se apoiar as reflexões
referentes ao que deve ser levado em conta no processo de avaliar e aprimorar a qualidade
do trabalho realizado nas instituições de Educação Infantil.
Na sequência apresenta-se um exemplo de uma das dimensões com os indicadores:
120
Figura 6 - Amostra do quadro demonstrativo da Avaliação Participativa – Qualidade da
Educação Infantil
Fonte: Caderno de Avaliação Participativa das escolas de Educação Infantil do Governo do Distrito Federal,
2009, p. 40.
Todas as ações desenvolvidas no processo de Avaliação Participativa da Qualidade
da Educação Infantil do Distrito Federal são fundamentadas nos seguintes princípios
operacionais:
A Avaliação Participativa é um processo democrático e colaborativo;
O referencial da Avaliação Participativa apresenta critérios comuns, no entanto,
atende à diversidade de contextos educacionais;
Esse processo se destina a apoiar o desenvolvimento e a tomada de decisões dos
educadores e não a julgá-los ou ameaçá-los.
As dimensões são avaliadas por meio de indicadores. Estes são expressos por
perguntas que se referem a ações, atitudes ou situações que identificam como a
instituição se apresenta em relação a determinado aspecto.
121
Os pontos atribuídos a essas perguntas permitem aos participantes avaliar a qualidade
da Educação Infantil oferecida pela instituição no que se refere a um determinado
indicador. A pontuação obtida por um conjunto de indicadores reflete de forma simples
e acessível um quadro que possibilita identificar se o trabalho educativo da instituição
educacional é de boa qualidade ou se alguns aspectos precisam ser revistos e
melhorados.
Para realizar a avaliação, os participantes respondem às questões utilizando uma
escala de valores de 1 a 5 pontos como a descrição do Quadro 5:
Quadro 5 - Orientação para atribuição de pontos
CLASSIFICAÇÃO DEFINIÇÃO
1. Não Praticado Nenhum ou poucos dos indicadores desta área são praticados na
unidade.
2. Prática Mínima A unidade apresenta insuficiências e lacunas existentes nesta área, há
que se melhorar o aspecto abordado.
3. Prática Moderada A unidade está implementando os indicadores desta área, ainda
apresenta lacunas na prática e melhorias podem ser feitas.
4. Prática Efetiva A maioria dos indicadores neste aspecto se encontra implementada. A
prática deste indicador na unidade se apresenta sem grandes falhas.
5. Prática Exemplar A unidade já implementou todos os aspectos deste indicador.
A unidade apresenta as condições de qualidade.
Fonte: Caderno de Avaliação Participativa das escolas de Educação Infantil do Governo do Distrito Federal,
2009, p. 19.
O processo de escolha dos pontos deve ser negociado entre todos. Para se definir a
pontuação de uma questão é necessário refletir sobre a real situação da unidade frente ao
aspecto analisado e buscar coletivamente argumentos que justificam os valores atribuídos.
Para auxiliar o desenvolvimento do trabalho, os responsáveis pela aplicação do
instrumento passam por um processo de formação que têm os seguintes objetivos:
Instrumentalizá-los para o direcionamento e acompanhamento do processo de
Avaliação Participativa;
122
Sensibilizar os participantes para a compreensão do conceito de infância, Educação
Infantil e qualidade da educação;
Proporcionar informações sobre os princípios pedagógicos e organizacionais do
processo de Avaliação Participativa;
Sensibilizá-los sobre a importância de um bom relacionamento baseado na
cooperação, responsabilidade e reciprocidade.
Após a discussão de cada uma das dimensões e pontuação de todos os indicadores
chega-se a um retrato da qualidade da Educação Infantil da escola. A equipe de avaliadores
parte para a etapa da construção de um plano de ação.
Quadro 6 - Modelo do Plano de Ação
DIMENSÃO INDICADOR PROBLEMAS AÇÕES RESPONSÁVEIS PRAZO
Fonte: Caderno de Avaliação Participativa das escolas de Educação Infantil do Governo do Distrito Federal,
2009, p. 24.
Este instrumento favorece um processo participativo e democrático, envolvendo
grupos diferentes que incluem familiares e profissionais da educação permitindo a todos as
mesmas oportunidades de compartilhar, discutir e entender valores, ideias, conhecimentos e
experiências.
Entretanto, ainda se faz necessário ampliar a discussão quando aplicado em larga
escala, pois dificulta a consolidação dos princípios que vigoram o documento. Vale
ressaltar que a continuidade da aplicação anualmente como uma cultura do sistema
educacional contribui para a consolidação de um projeto educativo autônomo,
emancipatório e consequentemente favorece a construção de um projeto educativo de
qualidade para a Educação Infantil.
3.3.4 Early Childhood Environmental Rating Scale (ECERS) - Escala de
Avaliação de Ambientes da Educação Infantil e Early Childhood Environmental
Rating Scale – Revised Escala de Avaliação de Ambientes da Educação Infantil
- revisada (ECERS-R)
123
Souza e Campos-de-Carvalho (2005) relatam a Early Childhood Environmental
Rating Scale (ECERS) - Escala de Avaliação de Ambientes da Educação Infantil que foi
desenvolvido em 1980 por Harms, Clifford e Cryer (2008) em seu estudo referente a
instrumentos de avaliação deste segmento de ensino com o objetivo de contribuir para
conceituar e operacionalizar práticas avaliativas de um grupo de educadores, inseridos em
um novo modelo de gestão das escolas. A pesquisadora relata que este instrumento foi
desenvolvido para ser utilizado na observação e avaliação de ambientes e/ou programas
voltados ao atendimento de crianças com idade entre 2 anos e 7 meses e 5 anos. É uma
escala de avaliação global da qualidade da Educação Infantil que apresenta um roteiro de
observação direta de ambientes destinados a abrigar turmas de crianças, focalizando,
também, as atividades desenvolvidas pelo professor ou pela pessoa responsável pelo grupo-
classe.
A ECERS pretende obter uma medida que aponta a qualidade da escola e esta é
operacionalizada por meio das seguintes dimensões:
1. Segurança: cuidados com o espaço físico para prevenir acidentes; supervisão
constante para evitar problemas com a integridade física das crianças; planos e
treinamento do pessoal para intervenções de emergência;
2. Saúde: (alimentação adequada; períodos de sono e descanso apropriados às crianças;
medidas de higiene);
3. Organização do espaço físico: (espaços organizados para uma rotina equilibrada tanto
em espaços internos quanto nos externos, espaços para atividades em pequenos e
grandes grupos, preocupação cm organizar os espaços e os materiais disponíveis às
crianças de maneira que fiquem disponíveis e favoreçam a autonomia; equipamentos
adequados ao tamanho das crianças; facilidade de supervisão visual);
4. Horários: (adequados para atividades de rotinas e brincadeiras; períodos de atividades
na parte interna e externas equilibradas, transições graduais entre as atividades
iniciadas pelo adulto e atividades iniciadas pelas crianças);
124
5. Interação e supervisão: (afetividade e apoio emocional; comunicação verbal e
estimulação da linguagem; competências para lidar com comportamentos perturbadores;
expectativas apropriadas à idade das crianças);
6. Currículo/Atividades: (adequação à idade e às necessidades individuais das crianças;
utilização das rotinas para desenvolver competências de autonomia e integrar outras
aprendizagens; variedade de atividades – livros, jogos de linguagem, construções, arte,
música, culinária, natureza, passeios externos);
7. Envolvimento dos pais: (os pais são informados sobre as regras, os objetivos e das
atividades que serão propostas: trocas de informações entre a equipe pedagógica e os
familiares quer de maneira informal, ou mesmo, por meio de reuniões formalizadas: os
pais são convidados a participar como visitantes, a oferecer ajuda e tomar decisões);
8. Profissionais: (orientação do trabalho em equipe; biblioteca e centro de recursos;
oportunidades de desenvolvimento profissional);
9. Administração: (legislação relativa ao atendimento das crianças; legislação relativa aos
profissionais; avaliação periódica da equipe e das atividades; comunicação aberta entre
as administração e a equipe da escola; envolvimento da equipe e dos pais na avaliação e
nas tomadas de decisão).
A aplicação do instrumento se dá por meio da observação de vários aspectos do
ambiente de Educação Infantil, tais como as condições de segurança e saúde, a organização
do espaço físico e materiais, o planejamento de horários e atividades, a interação e
supervisão, o envolvimento dos pais, as condições para os profissionais no trabalho e a
administração. Esta escala é constituída por 37 itens que são organizados em 7 subescalas
em uma escala de tipo Likert de sete pontos com quatro itens, sendo que o 1 corresponde a
condições inadequadas, o 3 corresponde a condições mínimas, o 5 revela a existência de
boas condições e o 7 revela condições excelentes de qualidade (1- nunca; 3 -
ocasionalmente; 4 - frequentemente; 7 - a maior parte do tempo).
A escala reúne um conjunto de sete subescalas detalhadas a seguir:
125
1. Rotinas e cuidados pessoais: abrange todas as rotinas relacionadas ao conforto, saúde e
bem estar das crianças (Exemplo: condições sanitárias e de higiene, descanso e
refeições)
2. Materiais e mobiliários para as crianças: refere-se à maneira como o material e o
mobiliário estão organizados, à sua manutenção e ao modo como são utilizados com as
crianças.
3. Experiências e linguagem e raciocínio: refere-se à maneira como os materiais, as
atividades e as interações criança-criança ou criança-adulto são empregados na
promoção das competências de comunicação e na aprendizagem das relações básicas de
raciocínio.
4. Atividades de motricidade grossa e fina: refere-se às atividades que exercitam a
musculatura fina e grossa.
5. Atividades criativas: Abrange as atividades artísticas como teatro, criação e construção
com materiais diversos.
6. Desenvolvimento social: Refere-se a maneira como são trabalhadas as relações
interpessoais e a autoimagem das crianças.
7. Necessidades do adulto: Refere-se ao espaço e aos equipamentos disponíveis para os
adultos, educadores e pais referente às necessidades profissionais e de conforto a este
pessoal, assim como ao que é oferecido às necessidades dos pais.
De acordo com Souza e Campos de Carvalho (2005), esta escala foi revista por
diversos pesquisadores e apresentada em 1998, publicada com o nome de Escala de
Avaliação de Ambientes de Educação Infantil (ECERS-Revisada) ECERS-R. Os motivos
que levaram a revisão do instrumento inicial foram diversos, como por exemplo, atribuir
maior ênfase às necessidades individuais e a diversidade cultural das crianças.
A ECERS-R reúne um conjunto de sete subescalas, com 43 itens, compostos de 470
indicadores. A média das pontuações atribuídas ao conjunto de itens que compõem cada
subescala é utilizada como um indicador do nível de qualidade do atendimento oferecido
pela instituição.
126
Essas subescalas são: (1) Espaço e Mobília, (2) Rotinas de cuidados pessoais, (3)
Linguagem e raciocínio, (4) Atividades, (5) Interação, (6) Estrutura do programa, (7) Pais e
pessoal.
Quadro 7 - Perspectiva global das sub escalas e Itens da ECERS-R
Espaço e equipamentos
1. Espaço interior
2. Equipamentos para cuidados de rotina, jogo e
aprendizagem
3. Equipamentos para relaxamento e conforto
4. Instalação da sala para jogo
5. Espaço para privacidade
6. Dispositivos relacionados com a criança
7. Espaço para jogo de motricidade global
8. Equipamento para motricidade global
Rotinas de Cuidados Pessoais
9. Acolhimento/despedida
10. Refeições/pequenas refeições
11. Sesta/repouso
12. Utilização de sanitários/mudança de fraldas
13. Práticas de saúde
14. Práticas de segurança
Linguagem/Raciocínio
15. Livros e imagens
16. Encorajando as crianças a comunicar
17. Usando a linguagem para desenvolver
habilidades de raciocínio
18. Uso informal da linguagem
Atividades
19. Motricidade fina
20. Arte
21. Música/movimento
22. Blocos
23. Areia/água
24. Jogo dramático
25. Natureza/ciência
26. Matemática/ Conceito de número
27. Uso de TV, vídeo e/ou computadores
28. Promovendo a aceitação da diversidade
Interação
29. Supervisão de atividades de motricidade global
30. Supervisão geral das crianças (para além das
situações de motricidade global)
31. Disciplina
32. Interações entre o pessoal e as crianças
33. Interações entre as crianças
Estrutura do programa 34. Horário
35. Jogo livre
36. Tempo em grupo
127
37. Medidas para crianças com deficiência
Pais e Pessoal
38. Medidas para trabalho com pais
39. Medidas para atender as necessidades pessoais
dos elementos do pessoal
40. Medidas para atender as necessidades
profissionais dos elementos do pessoal
41. Interação e cooperação entre os elementos do
pessoal
42. Supervisão e avaliação do pessoal
43. Oportunidades para crescimento profissional
Fonte: Adaptado de Harms, Clifford e Cryer, 2008.
A revisão da escala feita pelos autores manteve o mesmo padrão e os mesmos
princípios e as dimensões são operacionalizadas por estes em duas variáveis: de estrutura
(espaço físico, equipamentos e organização dos recursos entre outros) e de processo,
assumindo três princípios:
1. A organização adequada do espaço e dos materiais permite às crianças a promoção
da sua autonomia e independência;
2. As crianças aprendem ativamente por meio das atividades que realizam, do que
fazem , ouvem, experimentam e pensam;
3. Aprendem por meio das interações com educadores e outros adultos, bem como
pelas interações com outras crianças. As interações verbais e não verbais
influenciam fortemente os processos de aprendizagem das crianças.
A ECERS-R revela-se um instrumento bastante útil quanto à formação e
desenvolvimento profissional, pode-se dizer que se trata de um instrumento que permite
obter uma visão geral do ambiente compartilhado por adultos e crianças em um contexto
formal de Educação Infantil. Consiste em uma escala simples e simultaneamente complexa
pela diversidade de informações que reúne, permitindo alcançar uma multiplicidade de
conclusões. Portanto, a ECERS é um instrumento muito completo e agrupa
minuciosamente uma enorme diversidade de aspectos específicos, relevantes na qualidade
que podem favorecer o desenvolvimento infantil.
128
Quadro 8 - Amostra de Early childhood environment rating scale – revised,
updated edition
Fonte: Adaptado de Harms, Clifford e Cryer, 2008.
3.3.5 A Infant/Toddler Environment Rating Scale Escala de avaliação para
Bebês e Crianças Pequenas (ITERS) e Infant/Toddler Environment Rating Scale
– Revised Edition Escala de avaliação para Bebês e Crianças Pequenas - Edição
revisada (ITERS-R)
Silveira (2009) apresenta em sua dissertação a escala norte-americana desenvolvida
por Harms, Cryer e Clifford, em 1990, a partir da adaptação da Early Childhood
Environmental Rating Scale (ECERS) e da Family Day Care Rating Scale (FDCRS).
129
A ITERS é apresentada como um instrumento de avaliação global da qualidade de
cuidados e educação de grupos de crianças com idades entre 0 a 30 meses. Essa escala tem
sido considerada, sobretudo, uma medida de avaliação da qualidade processual, isto é, um
instrumento que avalia o ambiente para crianças pequenas e que procuram desenvolver
ambientes que favoreçam a construção do conhecimento das crianças, pais e educadores.
A escala ITERS é composta de 35 itens agrupados em sete sub-escalas capazes de
oferecer uma definição ampla de ambiente, incluindo aspectos referentes ao
espaço físico, às interações, ao cuidado, à rotina, à programação, entre outras. Sua
avaliação é organizada em uma pontuação entre 1 a 7, que apontam,
respectivamente, ambientes de qualidade inadequado ou excelente. As
pontuações 1, 3, 5 ou 7 devem ser atribuídas quando todas as condições descritas
na escala são observadas na turma de crianças e as pontuações intermediárias (2,
4 e 6) quando todas as condições de pontuação inferior estão presentes e pelo
menos a metade das condições da pontuação superior (ESTRELA, 2008, p. 31).
Essa escala foi revisada e editada em 2003 nos Estados Unidos, passando a ser
denominada Infant/Toddler Environment Rating Scale Revised Edition – ITERS-R. Os
objetivos das revisões foram a alteração e o acréscimo de itens, o acréscimo de indicadores
de escores, a atualização dos conteúdos e dos formatos dos instrumentos, objetivando a
melhor adequação deles para a avaliação da qualidade dos ambientes em culturas
ocidentais.
A escala revisada (ITERS-R) é composta em sete subescalas: espaço e mobiliário;
rotinas de cuidado pessoal; falar e compreender; atividades; interação; estrutura do
programa; pais e equipe. Esta escala foi elaborada para ser utilizada em uma sala de aula,
ou uma turma por vez, com crianças de até 30 meses de idade.
A pontuação dos indicadores é organizada com sim (S), não (N) e não se aplica
(NA), sendo esta permitida apenas para indicadores selecionados; os escores de cada item
vão de 1 (inadequado) até 7 (excelente), e não se aplica (NA). Para calcular a pontuação
média de uma subescala, soma-se a pontuação de cada item nesta e divide-se pelo número
de itens pontuados. A média total da pontuação da escala é a soma da pontuação de todos
os itens da escala dividida pelo número de itens pontuados.
130
Quadro 9 - Escala Infant/Toddler Enviroment Rating Scale (ITERS-R)
Espaço e mobiliário:
Refere-se ao modo como o espaço e o
mobiliário são organizados, utilizados e
conservados.
1. Espaço interno;
2. Mobília para cuidados de rotina e
brincadeira;
3. Provisões para relaxamento e conforto;
4. Arranjo do espaço;
5. Exposição de materiais para crianças.
Rotina de cuidados pessoais:
Refere-se à organização do tempo e das
atividades nas rotinas de cuidado e educação das
crianças que se relacionam com conforto e bem-
estar.
6. Chegada / despedida;
7. Refeições / lanches;
8. Sono;
9. Troca de fraldas / toalete;
10. Práticas de saúde;
11. Práticas de segurança.
Falar e compreender:
Relaciona-se aos usos da linguagem e recursos
empregados no desenvolvimento e compreensão
da habilidade de comunicação.
12. Ajudando a criança a compreender a
linguagem;
13. Ajudando a criança a usar a linguagem;
14. Uso de livros.
Atividades:
Refere-se à inter-relação das atividades com as
formas de expressão e desenvolvimento da
motricidade.
15. Coordenação motora fina;
16. Atividade física;
17. Arte;
18. Música e movimentos;
19. Blocos;
20. Jogos dramáticos;
21. Brincadeiras com areia e água;
22. Natureza e ciência;
23. Uso de TV, vídeo ou computador;
24. Promoção da aceitação da diversidade.
Interações:
Relaciona-se com a promoção de interações
entre coletâneos iguais e adultos.
25. Supervisão, brincadeiras e ensino;
26. Interação entre pares;
27. Interação criança – equipe da escola.
28. Disciplina.
Estrutura do programa:
Refere-se ao planejamento e supervisão das
atividades de aprendizagem pelo adulto.
29. Esquema;
30. Brincadeira livre;
31. Atividades em grupo;
32. Provisões para crianças com deficiências.
Pais e equipe de trabalho:
Relaciona-se com as interações que ocorrem
entre a equipe e a família.
33. Provisão para pais;
34. Provisões para necessidades pessoais da
equipe;
35. Interação e cooperação da equipe;
36. Continuidade da equipe;
37. Supervisão e avaliação da equipe;
38. Oportunidades para crescimento profissional.
Fonte: Lima e Nunes (2006, p. 635).
Essa escala além de permitir a avaliação detalhada das creches que atendem crianças
de 0 a 30 meses pode favorecer a reflexão dos indicadores apresentados na ITERS-R pela
131
equipe pedagógica, podendo assim, indicar caminhos para investir e praticar mudanças para
a promoção da qualidade em contexto de creche.
Quadro 10 - Amostra da Escala Infant/Toddler Enviroment Rating Scale
(ITERS-R)
Fonte: Zucoloto (2011, p. 212).
No Brasil existem algumas pesquisas que utilizaram a ITERS-R, como também a
ECERS-R, tanto nas primeiras versões das escalas quanto nas versões revisadas. Souza e
Campos-de-Carvalho (2005) fizeram a análise de conteúdo da escala ITERS, a qual se
demonstrou pertinente para avaliar os ambientes educacionais infantis no contexto
brasileiro e afirmam que a reflexão dos indicadores se dá a partir da distinção de pontos
positivos e pontos a serem melhorados na instituição.
132
3.3.6 O Projeto Efective Early Learning/Desenvolvendo a Qualidade em
Parcerias (EEL/DQP)
Costa (2010) relata um estudo sobre o projeto Desenvolvendo a Qualidade em
Parcerias - DQP como instrumento de promover a qualidade das aprendizagens das crianças
e o desenvolvimento profissional e o empowerment dos profissionais, famílias e crianças.
O Projeto DQP teve origem no Reino Unido em 1993. Os seus autores foram os
investigadores Christine Pascal e Anthony Bertram do Centre for Research in
Early Childhood, University College, Worcester. Segundo os autores, teve como
ponto de partida a necessidade urgente de encontrar formas que facilitassem a
avaliação da melhoria da qualidade nos contextos de educação de infância no
Reino Unido. Os autores juntaram a necessidade de promoção da qualidade da
educação com a necessidade de cuidados para as crianças com menos de cinco
anos. (COSTA, 2010, p. 35).
Este instrumento foi apresentado por Christine Pascal e Tony Bertram em 1993 e
destacam dois objetivos principais deste:
1) desenvolver uma estratégia eficiente para avaliar o que se dispõe à crianças de
3 a 4 anos e assim, poder melhorar a qualidade e eficácia da aprendizagem em
uma grande variedade de contextos de educação pré-escolar;
2) implementar um processo colaborativo, sistemático e rigoroso de
autoavaliação que é apoiado e validado externamente, conduzindo diretamente ao
planejamento e melhoramento da ação.(PASCAL; BERTRAM, 1993, p. 35).
Todas as ações que envolvem a operacionalização do Projeto Desenvolvendo a
Qualidade em Parceria (DQP) seguem os seguintes princípios:
A avaliação e o desenvolvimento da qualidade são considerados
indissociáveis;
O processo de avaliação e desenvolvimento é partilhado, democrático e
colaborativo;
O processo é facultativo e não imposto;
O referencial da avaliação é rigoroso, mas flexível e isento de juízos de valor;
Os projetos de ação são apoiados e acompanhados;
O processo destina-se a apoiar o desenvolvimento e a tomada de decisões dos
educadores e não a julgá-los ou ameaçá-los. É um processo de capacitação
(―empowerment‖) (PASCAL; BERTRAM, 1993, p. 54).
O projeto é apresentado por meio de um manual do investigador, dividido em
etapas, o que permite criar uma estratégia que facilita a compreensão e sua aplicabilidade,
133
para que toda a equipe envolvida seja coerente nas análises que lhe são pedidas e, possua
uma visão global do que se pretende quando se fala de qualidade.
O projeto, embora dê maior ênfase em uma perspectiva qualitativa, também utiliza
algumas escalas no paradigma quantitativo. O desenvolvimento desse trabalho tem em sua
operacionalização quatro fases:
1º fase: Avaliação - investigadores e participantes trabalham em conjunto para realizar a
avaliação. Nesse processo são utilizadas as escalas de envolvimento da criança e do adulto.
A escala de envolvimento da criança é um instrumento que tem como objetivo
verificar o nível de envolvimento de uma criança em uma situação de atividade. Laevers
(1993 apud OLIVEIRA-FORMOSINHO, 2009, p. 12) definiu o envolvimento como:
Uma qualidade da atividade humana caracterizada pela persistência e pela
concentração, um elevado nível de motivação, percepções intensas e experiência
do significado, um poderoso fluxo de energia e um elevado grau de satisfação,
tendo por base o impulso exploratório e o desenvolvimento básico dos esquemas.
Os sinais de envolvimento incluem: concentração, energia, criatividade, expressão
facial e postura, persistência, precisão, tempo de reação, linguagem e satisfação. Portanto, o
contexto educativo deve proporcionar à criança bem-estar emocional, para que possa
favorecer o desenvolvimento da mesma.
Quanto à escala de envolvimento do adulto em interação com a criança, considerado
pelo autor um fator crítico para a eficácia das experiências pedagógicas. Pascal e Bertran
(2009, p. 30) apresentam os três elementos essenciais que pode definir a qualidade dessas
interações:
Sensibilidade: Trata-se neste caso da sensibilidade do adulto aos sentimentos e
bem estar da criança e inclui elementos de sinceridade, empatia, capacidade de
resposta e afeto.
Estimulação: Esta é a forma por que o adulto intervém num processo de
aprendizagem e o conteúdo de tais intervenções.
Autonomia: Este é o grau de liberdade que o adulto dá à criança para
experimentar, fazer juízos de valor, escolher atividades e expressar ideias. Inclui
também o modo como o adulto gere os conflitos, os regulamentos e as questões
comportamentais.
134
Para cada uma destas categorias de ação, o envolvimento do adulto é medido em
uma escala Likert (1 a 5). As observações classificadas no nível 1 representam um estilo
totalmente não facilitador e as classificações no nível 5 um estilo facilitador. A pontuação
no nível 3 representa um estilo de interação neutro.
2º fase: Planejamento das ações - os participantes reúnem-se para identificar as prioridades
e construir um plano de ação. Este plano é elaborado e desenvolvido de acordo com as
necessidades de cada estabelecimento educativo. Esta fase legitima a participação efetiva
de todos os envolvidos no processo de melhorias da qualidade, assim como, ajuda a garantir
o apoio de todos e a dividir funções sobre as mudanças requeridas.
3º fase: Aperfeiçoar a qualidade - implementação do plano de ação. Essa fase pode ser
curta ou consideravelmente longa, irá depender da extensão e necessidades das mudanças
propostas.
4º fase: Reflexão - os participantes são incentivados a refletir sobre o processo de
avaliação, desenvolvimento e a fazer uma crítica referente ao impacto do plano de ação no
contexto avaliado. Isto poderá eventualmente conduzir a outro ciclo de avaliação e
desenvolvimento.
135
Figura 7 - As quatro fases do DPQ sistematizadas abaixo
Fonte: Pascal e Bertran, (2009, p. 55).
O DQP adota uma abordagem democrática na medida em que promove o
envolvimento ativo de todos os participantes na definição e no desenvolvimento da
qualidade. Isto implica um diálogo intenso entre todos os participantes e uma busca da
qualidade construída em uma intensa parceria. ―A subjetividade da definição é, deste modo,
assumida e as percepções partilhadas tornam‐se o fulcro do debate sobre a qualidade da
136
educação que é prestada, em cada estabelecimento educativo.‖ (OLIVEIRA-
FORMOSINHO, 2009, p. 36).
Figura 8 - Diagrama do Quadro Teórico de Qualidade.
Fonte: Pascal; Bertram (1998, p. 25)
Este sistema comporta dez parâmetros de qualidade tal como são descritas no
Projeto DQP (PASCAL, 1998, p. 26):
1. Finalidades e Objetivos
2. Currículo/Experiências de Aprendizagem
3. Estratégias de Ensino e Aprendizagem
4. Planejamento, Avaliação e Registro.
5. Pessoal
6. Espaço educativo
7. Relações e Interações
8. Igualdade de oportunidades
9. Participação da Família e da Comunidade
10. Monitorização e Avaliação
Essas 10 dimensões constituem a base para uma Fase da Avaliação e foram
transformadas em um conjunto de questões de avaliação que se encontram detalhadas no
137
Quadro 11 - Dimensões da Qualidade
DEZ DIMENSÕES DA QUALIDADE
Dimensões Exemplos de Perguntas de investigação
1. Finalidades e Objetivos Quem elaborou o Projeto Educativo do Estabelecimento?
Como foi elaborado?
Quais são as suas finalidades e os objetivos?
Como são divulgados?
Até que ponto merece o acordo dos profissionais, dos pais e das
crianças?
Que objetivos foram definidos para as crianças com NEE?
Até que ponto estes objetivos são partilhados pelos educadores,
pais e crianças?
Como são comunicados?
2. Currículo/Experiências de
Aprendizagem
Quais os conteúdos curriculares?
Qual a gama de experiências que o currículo oferece?
De que modo é diversificado?
Como é estabelecida a progressão e a continuidade?
Fazem-se adaptações curriculares para as crianças com NEE?
Incluem as indicações dos terapeutas?
3. Estratégias de Ensino e
Aprendizagem Que oportunidades de diálogo são dadas às crianças?
Que oportunidades de jogar/brincar são oferecidas às crianças?
Quem participa nos jogos/brincadeiras?
Qual é o método e técnicas de ensino-aprendizagem?
Como estão organizadas as rotinas?
Quem faz as regras e como se utilizam?
Qual é o papel do adulto?
O pessoal consegue um equilíbrio entre promoção de autonomia e
intervenção estruturada junto das crianças com NEE?
4. Planejamento, Avaliação e
Registro. Como é planejada a aprendizagem?
Como é avaliada a aprendizagem?
Como é documentada a aprendizagem?
Quem está envolvido nestes processos?
Como é que estes processos se interligam?
O planeamento, a avaliação e o registo das aprendizagens têm
em consideração as crianças com NEE?
5. Pessoal Qual o rateio criança/adulto?
Qual a formação e a experiência do pessoal?
Como se encontra distribuído o pessoal?
Como é promovido o desenvolvimento profissional do pessoal?
Que papeis/funções são desempenhadas pelo pessoal?
Que formação tem para trabalhar com crianças com NEE?
As crianças com NEE são integradas em atividades de grupo?
6. Espaço educativo Qual a área existente?
Como é utilizado o espaço?
Que recursos e equipamento existem?
Qual o seu estado de conservação?
Como são utilizados?
138
As instalações e os materiais são adequados a todas as crianças
incluindo crianças com NEE?
7. Relações e Interações Qual o estilo das interações no estabelecimento?
Que tipo de relacionamento existe e como é estabelecido?
Como são cuidadas as pessoas?
Como é que o estabelecimento assegura que as crianças com
NEE são verdadeiramente incluídas?
8. Igualdade de
oportunidades Qual é a orientação seguida no que respeita às igualdades de
oportunidades?
Como são tratadas as questões relativas ao gênero?
Como são questionados os estereótipos?
De que modo o ambiente do estabelecimento reflete a diversidade
cultural e social? Como são combatidos os estereótipos?
Quais os recursos disponíveis?
Que preocupações existem para os pais que não falam português
ou tenham dificuldades em compreendê-lo sejam informados sobre
a educação dos seus filhos?
Como são identificadas e respondidas as necessidades de crianças
com NEE?
9. Participação da Família e
da Comunidade Quais os princípios orientadores da participação da família?
Como é que a família é envolvida no processo de ensino-
aprendizagem dos filhos?
Estabelecem-se relações e articulações com outros
estabelecimentos de educação afins?
Até que ponto as atividades de aprendizagem refletem o ambiente
familiar das crianças e o ambiente da comunidade local onde se
inserem?
Que tipo de apoios o estabelecimento oferece à família?
Que tipos de oportunidades são dadas aos pais para partilharem a
experiência de educação dos filhos com NEE?
10. Monitorização e
Avaliação
Que procedimentos existem para controlar a qualidade?
Quais as estratégias para monitorizar e avaliar a aprendizagem?
Com que frequência é realizada?
Quem participa?
Os contributos dos especialistas em NEE são integrados no
processo de avaliação e monitorização? São integrados os
contributos dos pais?
Fonte: Pascal e Bertram (1998, p. 41)
O instrumento DQP é um processo muito rico, capaz de promover mudanças, pois
se constitui em um processo questionador, participativo, dinâmico e valorativo. Propõe uma
perspectiva democrática de avaliação da qualidade como um processo em construção e em
permanente evolução. No entanto, o processo de implantação é árduo, difícil ser praticado,
devido as inúmeras exigências e requer um apoio externo, dificultando assim, sua
execução.
139
3.3.7 Aspectos-Chave de uma Educação Infantil de Qualidade criado por
Zabalza (1998)
O movimento da qualidade entrou no mundo da educação de infância por meio de
diversos pesquisadores, oriundos de domínios científicos. Desse conjunto de trabalhos
destaca-se Zabalza (1998) que não construiu um instrumento propriamente dito, no entanto,
o autor assinala a possibilidade de aplicação de princípios em qualquer modelo pedagógico
e que, diante das dificuldades de operacionalização da sua proposta, já seria suficiente se as
suas questões provocassem uma reflexão coletiva, pois o verdadeiro desafio da educação
infantil é o desafio da qualidade.
Zabalza (1998, p. 32) considerou muito importante dar uma concepção dinâmica à
qualidade, ou seja, ―a qualidade, pelo menos no que se refere às escolas, não é tanto um
repertório de traços que se possuam, mas sim algo que vai sendo alcançado. A qualidade é
algo dinâmico, algo que se constrói dia a dia e de maneira permanente‖.
O autor defende a existência de ―eixos semânticos‖ que permitem a aplicação e
análise do conceito de qualidade: qualidade está vinculada aos valores (modo como algo –
instituição, pessoa, situação - corresponde aos valores vigentes). Para o autor este é o
componente mais importante da qualidade em educação, na medida em que qualquer
intervenção neste domínio terá de considerar os valores dominantes da sociedade;
qualidade vinculada à afetividade (a atribuição de qualidade a uma determinada instituição
ou processo depende do julgamento sobre os seus bons resultados); qualidade vinculada à
satisfação dos participantes no processo e dos seus destinatários – remete para a questão da
―qualidade de vida‖, para a satisfação vivenciada quer pelos profissionais quer pelas
crianças e suas famílias.
Vale ressaltar os princípios sugeridos por Zabalza (1998, p. 56) que podem agir
como ideias matrizes capazes de dar origem a processos de aperfeiçoamento da qualidade
nas escolas infantis:
140
A possibilidade de participar individualmente no aperfeiçoamento das Escolas,
apresentando iniciativas e propostas a serem levadas em consideração;
O trabalho em grupos;
A existência de um propósito estável;
A coleta sistemática de dados e a pesquisa dos processos;
O investimento em formação;
A combinação entre prazer e trabalho;
As boas relações com o entorno;
A possibilidade de resolver se é necessário dedicar espaço e tempo ao
desenvolvimento de ―experiências fortes‖ no âmbito das aprendizagens.
A participação dos membros da instituição no processo de avaliação favorece o
comprometimento de todos no desenvolvimento de um projeto de ensino de qualidade
elevada, o envolvimento de todos em objetivos coletivos, favorece a busca por propósitos
institucionais claros e objetivos e isso requer tempo para que possam consolidar a
qualidade. O diálogo no processo de coleta de dados, isto é, a avaliação institucional exige
que os problemas sejam detalhados e isolados adequadamente.
Outro ponto relevante para a melhoria da qualidade é o investimento em formação
do pessoal que trabalha direta ou indiretamente com as crianças para que estes tragam
novas possibilidades de desenvolvimento pessoal e profissional, além de outros
conhecimentos, atitudes e valores, bem como o enriquecimento de experiências.
Os contextos educacionais que lidam com crianças pequenas necessitam ser plenos
para o ótimo desenvolvimento humano, para isso, faz-se necessário oferecer ótimas
condições de trabalho, um clima favorável capaz de promover uma boa relação com as
crianças e assegurar o bem-estar emocional de todos os membros da instituição.
Nesse sentido, Zabalza (1998) afirma que está comprovado que cada uma dessas
possibilidades (e melhor ainda se ocorrerem várias em conjunto) aprimoram
substancialmente o nível de qualidade daquilo que está sendo feito.
Ao analisar os desafios da Educação Infantil na Espanha, Zabalza (1998) elencou os
dez aspectos-chave de uma Educação Infantil de qualidade:
141
Quadro 12 - Dez aspectos-chave de uma Educação Infantil de qualidade.
ASPECTOS-CHAVE CONTEÚDOS
1. Organização dos
espaços
O espaço acaba se tornando um aspecto-chave, pois é
condição para outros aspectos. Na E.I. necessitamos de
espaços amplos, diferenciados e especializados, estabelecendo
uma dinâmica de trabalho com base na autonomia e na
atenção individual. (p. 50).
2. Equilíbrio entre
iniciativa infantil e trabalho
dirigido no momento de
planejar e desenvolver as
atividades
A ideia é combinar a autonomia com os períodos de trabalho-
dirigido. Ambos necessitam estar previstos na proposta
pedagógica da E.I. (p. 50).
3. Atenção privilegiada
aos aspectos emocionais
Constituem a base necessária para o desenvolvimento infantil
– psicomotor, intelectual, social, cultural. (p. 51). A emoção
age, principalmente, no nível da segurança das crianças, que é
a plataforma sobre a qual se constroem todos os
desenvolvimentos. Ligado à segurança está o prazer, o sentir-
se bem, o ser capaz de assumir riscos e enfrentar o desafio da
autonomia, poder assumir gradativamente o princípio de
realidade, aceitar as relações sociais, etc. (p. 51).
4. Utilização de uma
linguagem enriquecedora
É fundamental criar um ambiente onde a linguagem seja a
grande protagonista, estimulando as crianças a falarem, e
enriquecendo estas falas, interagindo com os educadores (p.
51).
5. Diferenciação de
atividades para abordar
todas as dimensões do
desenvolvimento e todas as
capacidades
Todas as capacidades estão vinculadas (neurológica,
intelectual, emocionalmente), mas pertencem a âmbitos
diferentes e requerem, portanto, processos (atividades,
materiais, orientações, etc.) bem diferenciados de ação
didática (p. 52).
6. Rotinas estáveis As rotinas atuam como as organizadoras estruturais das
experiências cotidianas, pois esclarecem a estrutura e
possibilitam o domínio do processo a ser seguido e, ainda,
substituem a incerteza do futuro (principalmente em relação
às crianças com dificuldade para construir um esquema
temporal de médio prazo) por um esquema fácil de assumir. O
quotidiano passa, então, a ser algo previsível, o que tem
importantes efeitos sobre a segurança e a autonomia (p. 52).
7. Materiais diversificados
e polivalentes
Uma sala de E.I. deve ser estimulante, facilitando e sugerindo
múltiplas possibilidades. Deve ter materiais de todos os tipos,
comerciais e construídos, de alta qualidade e outros
descartáveis, com várias formas e tamanhos. Este aspecto é
uma condição básica para os aspectos 3, 4, e 5 (p. 53).
142
8. Atenção
individualizada a cada
criança
É a base da cultura da diversidade; com um estilo de trabalho
que vise a atender individualmente cada criança, poderemos
realizar experiências de integração. (ZABALZA, 1998, p. 53).
9. Sistemas de avaliação,
anotações, etc., que
permitam o
acompanhamento global do
grupo e de cada uma das
crianças.
Propõem no mínimo dois tipos de análise: do funcionamento
do grupo em seu conjunto e do progresso individual de cada
criança (p. 54).
10. Trabalho com os pais e
as mães e com o meio
ambiente (escola aberta)
A participação das famílias enriquece o trabalho educativo,
além das próprias famílias. Enriquece também a ação
educativa que as famílias desenvolvem posteriormente em
suas casas. Professores aprendem muito com a presença das
famílias (p. 54).
Fonte: Adaptado de Zabalza (1998, p. 50).
Os aspectos-chave apresentados por Zabalza (1998) enfatizam a importância por
serem indicadores relevantes e objetivos para a construção de um instrumento de avaliação
ou mesmo para fazer uma reflexão sobre a qualidade dos serviços oferecidos às crianças e
aos familiares. Os aspectos-chave afirmam a posição de educação como direito da criança e
também para os pais terem um local seguro, onde tenham assegurados os cuidados com as
necessidades básicas garantidas para que possam trabalhar sossegados. Por isso, é possível
constatar que parece consenso a existência de uma relação intrínseca da avaliação com a
questão da qualidade, pois uma instituição que pensa na qualidade tem um ambiente
preparado especialmente para receber crianças de diversas culturas, com professores
devidamente formados, que façam planejamentos, deem significado ao ajudar a criança a
descobrir esse espaço e que estejam dispostos a propiciar um ensino agradável com a
melhor prática pedagógica possível.
3.3.8 Modelo tridimensional de M. Woodhead (1996)
Woodhead (1996) psicólogo e especialista em desenvolvimento infantil relata em
sua obra: Pathways to quality in large scale programmes for young disadvantaged children -
Caminhos para a qualidade em programas de grande escala para crianças desfavorecidas.
143
A qualidade da educação para Woodhead (1996, p. 7) traz um discurso social sobre
qualidade. O autor parte do princípio que as crianças são preciosas:
A primeira infância é um momento especial. Elas não são seres humanos
incompletos para serem moldadas pela sociedade. Elas têm necessidades e
desejos próprios, e direitos que devem ser respeitados. Acima de tudo, a infância
é uma oportunidade. Cada criança tem um potencial único para desenvolver suas
capacidades, de comunicação e cooperação, de habilidades e sentimentos, por
motivação e imaginação, para a determinação e compaixão.
Nessa perspectiva o autor coloca algumas questões referente à qualidade da
educação para crianças pequenas:
O que significa "qualidade" na vida das crianças? Como pode ser definida? Como
pode ser promovida?
Que indicadores de qualidade podem contribuir de maneira significativa para o
bem-estar das crianças, os cuidados e para o seu desenvolvimento?
Quais seriam as características de uma escola de Educação Infantil de qualidade?
O autor destaca o problema da qualidade referente aos serviços prestados às crianças
muito pequenas, que abrange a faixa etária de 0 a 3 anos, pois com o aumento da procura
por estas instituições educacionais, devido às necessidades das famílias, aumenta a
preocupação sobre a qualidade das creches. Muitas vezes depara-se com creches que são
frequentadas por muitas crianças desta faixa etária (0 a 3 anos) aglomeradas em um espaço
físico reduzido, com uma proporção adulto-criança desproporcional com as necessidades
dos pequenos, pois precisam de maior atenção. Outro aspecto falho relatado pelo autor é a
pouca ou nenhuma formação específica dos cuidadores que trabalham nas creches.
Woodhead (1996, p. 40), apresenta um modelo tridimensional de avaliação da
qualidade dos programas de Educação Infantil e que é representado graficamente por um
cubo:
A perspectiva das famílias (comunidade), isto é, ouvir os pais sobre suas
expectativas e satisfações em relação à escola;
A perspectiva das políticas públicas (sociedade) para que favoreça a eficácia dos
programas, assim como os custos para uma oferta de qualidade;
144
A perspectiva das próprias crianças (produtos), isto é, ouvi-las, em suas impressões
positivas e/ou negativas quanto às suas vivências na escola;
Figura 9 - Modelo tridimensional da qualidade adaptado por Woodhead,1996.
Fonte: Katz et al (1998, p. 48)
Segundo Woodhead (1996), o seu modelo pode incluir diversas visões de qualidade
que poderão ocupar várias faces de um cubo. A negociação é ponto de partida para este
modelo de avaliação, sendo que todos os atores interessados e envolvidos podem participar.
O processo de avaliação neste modelo é apresentada resumidamente em 10 fases
emergentes que podem auxiliar na promoção do desenvolvimento da qualidade:
145
Quadro 13 - Dez fases emergentes que podem auxiliar na promoção do desenvolvimento
da qualidade.
Fase 1. Definir a ecologia do desenvolvimento
- Quais são os principais contextos de cuidado/educação das crianças pequenas?
- Quais são as características dos espaços físicos?
- Quais são as expectativas de interações com as crianças?
- As características e as funções de cada um se inter-relacionam nesses contextos?
- Até que ponto eles são complementares? Onde estão os pontos de conflito? Até que ponto eles
cooperam ativamente?
- A comunidade percebe o impacto no desenvolvimento das crianças quanto às experiências
educacionais e de cuidados que vivenciam nestes contextos?
Fase 2. Analisar as partes interessadas
- Quem tem interesse no desenvolvimento da primeira infância?
- Qual é o seu interesse no desenvolvimento da primeira infância?
- Quais aspectos que estão interessados em e em que nível?
- Qual é o seu status e seu nível de influência?
Fase 3. Avaliar as múltiplas perspectivas
- Quais são as crenças dos interessados sobre os benefícios do programa, objetivos, necessidades, e
financiamento?
- Qual é a perspectiva para iniciar o processo de desenvolvimento da qualidade?
Fase 4. Contextualizar o conhecimento "científico"
- O que são relevantes em pesquisas, teorias, modelos e abordagens para o programa?
- Quais são os pressupostos implícitos e valores sobre a educação dos filhos e as metas para o
desenvolvimento?
Fase 5. Avaliar as oportunidades de recursos
- Quais são os custos e os recursos existentes: em relação às instalações, materiais, habilidades
humanas, infraestruturas e instalações para formação?
- Como os recursos da comunidade são aproveitados?
Fase 6. Negociar 'necessidades' contextualmente adequadas e prática
- Quais são as características de desenvolvimento ("necessidades") das crianças no contexto das
experiências familiares?
- Como os programas existentes se encaixam na ecologia do desenvolvimento das crianças?
- Quais são as metas do programa para o desenvolvimento/atendimento das crianças?
- Qual o tamanho apropriado de cada grupo? Qual o tipo de currículo, quais as oportunidades de
jogo, de ensino, estilos de disciplina e as formas de cooperação dos pais?
Fase 7. Garantir os direitos e necessidades básicas:
146
- A nutrição básica, saúde e segurança das crianças são protegidas?
- O programa respeita as características, as necessidades e os direitos fundamentais as
especificidades de cada idade das crianças durante todos os estágios de seu desenvolvimento?
- Como proteger e garantir que as crianças não sofrerão abusos?
Fase 8. Identificar os indicadores de qualidade
- Quais seriam os indicadores observáveis e as normas de boas práticas estão sendo alcançadas
durante o processo de avaliação?
- Quais os indicadores relevantes podem ser identificados/construídos, em termos de saúde,
adaptação escolar, entre outros?
Fase 9. Programar um sistema de avaliação
- Qual o sistema de baixo custo será melhor para monitorar os indicadores de qualidade, quanto a
entrada, ao processo e ao resultado?
- Como isso pode ser planejado no contexto local de uma forma simples, solidária, de forma não
burocrática?
- Que procedimento irá garantir que aqueles preocupados com a questão da qualidade estão
intimamente envolvidos no processo de avaliação da qualidade, incluindo a avaliação de suas
próprias funções?
Fase 10. Identificar áreas de crescimento e mudança
- Quais os aspectos do programa podem beneficiar e inovar o trabalho da escola?
- Quais as questões podem tornar-se catalisadores para a mudança?
- Como aproveitar o entusiasmo para uma mudança positiva?
- Quais são as implicações de recursos, treinamento, relacionamento com os pais e comunidade
entre outros?
- Como a mudança pode ser mais efetivamente implementada?
- Quais seriam as repercussões da mudança para os aspectos mais amplos do sistema na busca do
desenvolvimento da primeira infância?
Fonte: Adaptado de Katz et al (1998, p. 52)
Woodhead (1996) sugere três grandes categorias relevantes para organizar o
processo de avaliação de uma Escola de Educação Infantil de qualidade:
1. Indicadores de acesso que estabelecem a base para regular padrões básicos de
qualidade. Eles refletem as áreas mais estáveis nos programas e são fáceis de definir e
medir. Eles incluem:
147
• o prédio e seu entorno (tamanho do espaço por criança, aquecimento, iluminação,
banheiros, equipamentos e instalações entre outros);
• materiais e equipamentos (mobiliários, jogos, equipamentos, materiais de ensino e de
aprendizagem, equipamento audiovisual entre outros);
• a equipe (qualificações, experiência básica, salários, condições de trabalho e rateio
crianças por adultos entre outros).
2. Os indicadores de processo reflete o que acontece no cotidiano da instituição
educacional. Essas são as mais difíceis de identificar e padronizar. Alguns exemplos são:
• estilo de atendimento (se os adultos estão disponíveis para as crianças, a capacidade para
responder, consistência entre outros);
• experiência infantil (variedades, a organização, a possibilidade de escolhas, padrões de
atividade, refeições, descanso, brincadeiras entre outros);
• abordagem de ensino e aprendizagem (controle, apoio para as atividades das crianças,
tarefas definidas, sensibilidade às diferenças individuais entre outros);
• abordagem de controle e disciplina (limites e regras, regulação, gestão de grupo,
estratégias para disciplina entre outros);
• relações entre os adultos (dia-a-dia comunicação, cooperação entre outros);
• relações entre pais, educadores e outros (saudações, oportunidades para falar sobre as
crianças, o respeito mútuo, a cooperação, o respeito às diferenças entre outros)
3. Indicadores de saída, que lidam com o impacto causado pela experiência. Fato este que
reflete na esfera da eficácia e de custo-benefício e podem incluir:
• saúde da criança (crescimento e monitoramento, a lista de doenças entre outros);
148
• as habilidades das crianças (coordenação motora, linguagem, aspectos cognitivos,
relações sociais, introdução à matemática, leitura e escrita);
• adaptação das crianças à vida escolar (avanços nas dificuldades, o progresso por meio de
notas, conquistas entre outros);
• atitudes da família (apoio à aprendizagem das crianças, competências parentais, etc.)
Este modelo de avaliação da qualidade destaca o caráter social e cultural atribuído
ao processo. Percebe-se uma preocupação acentuada quanto a participação ativa de todos os
envolvidos na educação, direta ou indiretamente, levando em consideração até mesmo
aspectos financeiros para que possa viabilizar o processo de melhorias e modificações.
Mostra ser uma abordagem holística e amplamente aberto para discussões principalmente
no que tange à educação de crianças de 0 a 3 anos.
3.3.9 PIP - Perfil de Implementação do Programa - (High/Scope Educational
Research Foundation, 1989)
O Perfil de Implementação do Programa (PIP) apresentado por Oliveira (2011), foi
o primeiro instrumento desenvolvido pela Fundação de Investigação Educacional
High/Scope (High/Scope Educational Research Foundation, 1989) para avaliar a qualidade
da implementação do modelo High/Scope15
em contextos de educação pré-escolar. Os itens
15 O currículo High/Scope foi iniciado nos anos 60 por David Weikart, presidente da Fundação de Investigação
Educacional High/Scope, com sede em Ypsilanti, Michigan. David Weikart tinha trabalhado como psicólogo no
distrito escolar de Ypsilanti, nos finais da década de 50, no atendimento de crianças com necessidades educativas
especiais. Durante esta sua experiência, constatou que a maior parte das crianças selecionadas para o ensino
especial provinham das classes mais desfavorecidas, de baixo estatuto socioeconômico, o que o levou a procurar
uma solução para remediar este problema. A partir daí desenvolveu um programa de educação pré-escolar cujo
objetivo era preparar estas crianças para a entrada no 1º ciclo, esta seria uma tentativa, a longo prazo, de diminuir o
insucesso escolar e a consequente delinquência infantil. Nasce assim, em 1962, o Ypsilanti Perry Pre-School
Project, que representa o primeiro passo do que hoje conhecemos como currículo High/Scope. Este programa situa-
se no contexto do Movimento de Educação Compensatória dos anos 60, sendo suas primordiais preocupações: a
igualdade de oportunidades educacionais e o desenvolvimento intelectual de cada criança; apoiando a crença de que
a atividade das crianças desempenha um papel fulcral na ação educativa. O modelo curricular High/Scope para
149
do PIP refletem os elementos comuns
que definem as práticas de qualidade para a educação
pré-escolar. Assim sendo, este instrumento permite avaliar a qualidade dos contextos de
educação pré-escolar, independentemente de usarem, ou não, o modelo High/Scope e,
ainda, identificar as necessidades de formação das educadoras de infância e de outros
profissionais que trabalhem com crianças pequenas.
A literatura demonstra que a avaliação da qualidade clama por um modelo
multidimensional para coleta de dados. O modelo PIP cumpre este requisito, usando um
modelo de coleta de dados que combina a observação direta dos contextos educacionais e a
realização de entrevistas informais com às educadoras e diretores dos contextos avaliados.
O PIP permite avaliar os vários aspectos da implantação de um programa de
educação pré-escolar: a organização do ambiente físico, o espaço e os materiais, a rotina
diária, a natureza da interação adulto/criança, a organização do pessoal, o trabalho em
equipe e o envolvimento de pais.
O instrumento está organizado em quatro dimensões, com um total de trinta itens:
1 - Ambiente físico (10 itens).
2 - Rotinas diárias (5 itens).
3 - Interações adulto/criança (9 itens)
4 - Interações adulto/adulto (6 itens).
As três primeiras dimensões (ambiente físico, rotina diária e interação adulto-
criança) são preenchidas por meio da observação direta dos contextos educacionais. A
pontuação é baseada nas notas do observador que podem ser complementadas com outros
documentos (fotografias, desenhos, listas de materiais, etc.). A quarta seção é preenchida
bebês e crianças pequenas baseia-se na construção ativa da realidade por meio de uma metodologia de
aprendizagem pela descoberta, de resolução de problemas e de investigação, permitindo que a criança, mesmo de
tenra idade, construa as suas aprendizagens, estruture e dê significado às suas experiências, promovendo, desta
forma, a sua confiança e o seu desenvolvimento. Desse modo, à medida que os bebés e crianças pequenas
interagem com as pessoas e agem sobre materiais, constroem uma bagagem de conhecimentos básicos sobre o
modo como as pessoas e as coisas são, o que fazem e como respondem a determinadas ações e
aprender por meio da ação envolve encontrar e resolver problemas. (Trecho extraído da tese de Dalila Maria Brito
da Cunha Lino com o título: Da Formação Escolar à Formação em Contexto: Um Percurso de Inovação para a
Reconstrução da Pedagogia da Infância - Universidade do Minho, 2005, p.35).
150
com os registros de observação e por meio de entrevistas informais aos adultos
responsáveis pela sala observada.
Quadro 14 - Ambiente Físico.
I - AMBIENTE FÍSICO
1. A sala está dividida em áreas de trabalho bem definidas e localizadas de forma
lógica.
2. Há espaço de trabalho adequado em cada área de sala.
3. A sala é segura e bem conservada.
4. Os materiais são sistematicamente ordenados e claramente etiquetados.
5. Há materiais suficientes em cada área para várias crianças trabalharem
simultaneamente.
6. Há objetos reais, materiais para usar os sentidos e para ―fazer de conta‖, há materiais
para fazer representações a duas ou três dimensões disponíveis por toda a sala.
7. Os materiais estão ao alcance das crianças.
8. Existem materiais/equipamentos nos quais as crianças podem exercitar os grandes
músculos.
9. A variedade de materiais desenvolve a consciência das diferenças entre as pessoas e
as suas experiências.
10. A variedade de materiais dá às crianças oportunidades de trabalho ao nível da
linguagem, da representação, da classificação e seriação, da numeração da
movimentação, da noção de espaço, da noção de tempo, do desenvolvimento socio-
emocional.
Fonte: Adaptado de Oliveira (2011).
151
Quadro 15 - Rotina Diária.
II - ROTINA DIÁRIA
11. Os adultos programam uma rotina diária consistente.
12. A rotina diária inclui tempo adequado para planejar, trabalhar e relembrar.
13. Os adultos utilizam uma variedade de estratégias de planejamento baseadas nas
necessidades individuais das crianças e ajudam as crianças a concretizar os seus planos.
14. Os adultos utilizam uma variedade de estratégias de relembrar individualmente e com
pequenos grupos de crianças.
15. A rotina diária proporciona um equilíbrio entre atividades de grande e pequeno grupo.
16. Durante os períodos de tempo do dia orientados pelos adultos (por ex., tempo de pequeno
grupo, tempo de círculo), as crianças têm oportunidade de iniciar e concretizar as suas próprias
ideias.
Fonte: Adaptado de Oliveira (2011).
Quadro 16 - Interação adulto-criança
III - INTERAÇÃO ADULTO-CRIANÇA
17. Os adultos utilizam as estratégias de observar, de perguntar, de repetir e de expandir-se na
sua comunicação com as crianças.
18. Os adultos participam ativamente no jogo das crianças.
19. Os adultos mantêm um equilíbrio entre a fala do adulto e a fala da criança, falam em um
tom de voz natural e ouvem atentamente as crianças.
20. Os adultos encorajam as crianças a divertir-se com a linguagem falada e escrita.
21. As crianças são encorajadas a resolver os problemas e a agir de forma independente.
22. Os adultos encorajam a interação e cooperação entre as crianças.
23. Os adultos mantêm limites razoáveis ao dirigir comportamento inadequado relativamente a
situações de resolução de problemas.
24. Os adultos mantêm uma percepção da totalidade da sala mesmo quando trabalham
individualmente com uma criança ou com pequenos grupos de crianças.
Fonte: Adaptado de Oliveira (2011).
152
Quadro 17 - Interação adulto-adulto
IV. INTERAÇÃO ADULTO-ADULTO
23. Quando existe mais do que um adulto na sala (educadora e estagiária, educadora e
assistente técnico de apoio, educadora e auxiliar de ação educativa) é utilizado um
modelo de trabalho em equipe com os diferentes adultos a partilharem
responsabilidades na implementação do currículo.
26. Quando existe mais do que um membro adulto na sala (educadora e estagiária,
educadora e assistente técnico de apoio, educadora e auxiliar de ação educativa) é
usado um processo de planejamento e avaliação em equipe.
27. O pessoal docente faz regularmente anotações no Registro de Avaliação da Criança
(CAR - Child Assessment Record).
28. O pessoal docente completa o Registo de Observação da Criança (COR - Child
Observation Record) a intervalos regulares para documentar o desenvolvimento das
crianças e identificar necessidades e capacidades individuais.
29. O pessoal de ação educativa comunica com os pais e envolve-os no programa.
30. O pessoal docente está envolvido na formação contínua em serviço.
Fonte: Adaptado de Oliveira (2011).
Os itens do PIP são avaliados numa escala Likert de cinco pontos, que vão de uma
baixa qualidade (nível 1) a um nível de qualidade elevada (nível 5). Os níveis 1, 2 definem
uma qualidade insuficiente, o nível 3 suficiente, o nível 4 é considerado de qualidade e o
nível 5 qualidade elevada. O ponto 3.5 define a entrada na qualidade. São apresentados
exemplos para os pontos 1, 3 e 5. Os pontos intermediários, 2 e 4, sem exemplos, dão ao
observador uma flexibilidade na determinação dos resultados. Abaixo de cada item existe
um espaço para tomar notas que se consideram ser exemplificativas dos contextos
educacionais, das atividades, dos indivíduos e das interações observadas.
153
Figura 10 - Modelo do Protocolo de Implementação do Programa (PIP)
Fonte: Oliveira (2011, p. 306).
O modelo Perfil de Implementação do Programa (PIP) traz contribuições
importantes para o processo de formação em contexto que podem ser reveladas nas
observações, atividades realizadas pelas crianças, entrevistas e análise dos resultados da
avaliação. A aplicação deste instrumento pode promover mudanças a partir das
154
autorreflexões realizadas pelo grupo refletindo assim no desenvolvimento profissional dos
envolvidos no processo, assim como, superar os problemas da instituição. Outro fator
relevante é o diálogo proporcionado pelo processo junto aos familiares das crianças, as
trocas de experiências e ideias também podem ser promotoras de avanços na qualidade da
Educação Infantil.
3.3.10 Modelo l‘Échelle d‘évaluation de la qualité (EEQ) Escala de Avaliação
da Qualidade
O Modelo l’Échelle d’évaluation de la qualité (EEQ) - Escala de Avaliação da
Qualidade apresentado por Doherty (2000) de Ottawa em sua pesquisa com o título: Les
enjeux en matière de services de garde à l’enfance au Canada : Que nous apprend la
recherche? - Os problemas nos Serviços de Assistência à Criança no Canadá: O que a
pesquisa nos diz? Este instrumento é utilizado em vários países, incluindo Canadá, Estados
Unidos e o Reino Unido.
A seguir estão alguns dos principais indicadores da qualidade dos programas de
educação para a primeira infância para a Escala de Avaliação da Qualidade (EQA):
Um ambiente físico que protege a saúde e garante a segurança das crianças.
Uma equipe experiente, com formação específica em um período de dois anos ou
mais para trabalhar com a primeira infância.
Empregar pessoas altamente satisfeitas com sua função.
A direção da escola deve ter completado um programa de treinamento formal para
trabalhar em gestão de serviços educacionais para crianças e jovens.
Boa remuneração para os educadores (que reduz a rotatividade e promove a
estabilidade).
Um manual de treinamento relacionado ao desenvolvimento da criança e os
cuidados necessários à criança.
155
O tamanho do grupo de crianças, coerente com a idade e com a fase do
desenvolvimento, para que as crianças não fiquem inquietas.
Devido a idade e o estágio de desenvolvimento é necessário que o professor consiga
dar atenção individualizada às crianças.
As dimensões apresentadas na Escala de Avaliação da Qualidade (EQA) são as
seguintes:
1. Saúde, segurança e nutrição: Os diferentes ambientes dentro da instituição são
adequados ao nível de desenvolvimento, bem conservados, atraentes e seguro para as
crianças. A instituição promove a nutrição e a saúde das crianças respeitando as
preferências e a diversidade das famílias.
2. Avaliação: A instituição é regularmente avaliada a fim de determinar a que ponto ela
responde às necessidades das crianças, das famílias e dos funcionários. Todos os
membros da equipe fazem parte destas avaliações. Seus resultados são utilizados para
instaurar mudanças que favorecem o crescimento profissional e, portanto, uma
qualidade maior.
3. Ambiente: A instituição oferece diferentes ambientes apropriados, levando em
consideração a idade das crianças matriculadas no programa e favorecem a
aprendizagem ativa, tanto no interior quanto no exterior. Os funcionários também se
beneficiam de uma outra área distinta e confortável a qual as crianças não têm acesso
4. Competência e desenvolvimento profissional: O diretor da instituição e todos os
professores são qualificados e possuem as competências necessárias para oferecer um
ambiente de aprendizagem de qualidade que respondam as necessidades das crianças e
de suas famílias.
5. Relações com as famílias e com a comunidade: A linha de pensamento e das práticas
da instituição favorece a criação de relações positivas e receptivas entre os professores
e as famílias. A participação das famílias é privilegiada e deve ser feita em relação à
sua diversidade, estrutura, interesses e necessidades. Utilizando os recursos da
comunidade quando apropriado fazê-lo.
156
6. Interações entre os educadores da infância e as crianças: O programa está
estruturado de forma a favorecer a criação de relações positivas entre eles, bem como
alimentar entre eles o respeito e a aceitação.
7. Administração: O estabelecimento é administrado de modo que as crianças,
funcionários e famílias possam viver experiências de alta qualidade. Políticas,
procedimentos e sistemas estão disponíveis para apoiar o custeio do pessoal de maneira
competente e eficiente, bem como a prestação de contas e um programa de boa gestão.
8. Currículo: A abordagem para a Educação Infantil e os objetivos do programa a partir
da perspectiva das crianças são apresentados no currículo em conformidade. O
currículo promove a aprendizagem e desenvolvimento das crianças em todos os
aspectos. Ele leva em consideração a diversidade das famílias e das crianças. Com
eficiência, utiliza avaliações formais e informais de aprendizagem para que as crianças
possam ser avaliadas e promova o seu desenvolvimento. Estas avaliações são
planejadas para apoiar as crianças a identificar as mudanças necessárias para promover
experiências de aprendizagem e cuidados de alta qualidade.
Vale ressaltar que no processo de implantação a Escala de Avaliação da Qualidade
(EQA) é utilizada como uma ferramenta de autoavaliação de uma
instituição. Independentemente do tipo de instalação ou estrutura da escola, todos os
funcionários devem participar. A EQA auxilia a equipe a fazer uma análise objetiva de seu
papel nos vários ambientes organizados na instituição.
Os resultados da EQA permitem estabelecer as áreas em que a instituição está
conseguindo cumprir seu papel, assim como indica o que precisa ser modificado para
melhorar a qualidade. Este instrumento é uma ótima ferramenta de autoavaliação, assim
como pode ser utilizada em um processo de avaliação e reconhecimento da legitimidade da
instituição.
Os passos do processo de avaliação interna são:
1º Passo - Introdução do conceito
157
Este é geralmente o diretor que inicia o processo. Para que o processo de avaliação
seja bem sucedido todas as pessoas precisam ser chamadas, pais de alunos, professores,
dirigentes e funcionários.
2º Passo - Coletar informações sobre o programa
Cada classe ou grupo deve ser observado e avaliado usando o EQA por professores,
pessoal de apoio e do diretor (ou seu representante).
3º Passo - Cálculo dos critérios de classificação e a pontuação global
Depois de fornecer os seus comentários, as pessoas calculam seus critérios de
classificação, conforme descrito na seção "Instruções para o preenchimento da Escala de
Avaliação da qualidade‖.
4º Passo - Cálculo da classificação geral e priorização
Uma vez que os critérios de classificação foram estabelecidos, o pessoal
encarregado do grupo e o diretor devem reunir-se para comparar os seus resultados e
discutir. Eles devem usar folha resumo da avaliação da qualidade para determinar a
pontuação geral.
5º Passo 5 – Planejamento para melhorias e a introdução de alterações sempre que for
necessário
Um processo de avaliação interno traz à tona os pontos fortes e fracos de uma
instituição. O diretor e os funcionários podem identificar as áreas que precisam ser
melhoradas dentro da instituição e registram no plano de ação. É provável que sejam
necessárias modificações de dois tipos, incluindo: 1) alterações físicas ou técnicas, tais
como o desenvolvimento de novos procedimentos ou reformas de salas de aula e 2)
mudanças sociais ou comportamentais, tais como a implementação de um currículo mais
adequado para o desenvolvimento das crianças, ou estabelecer uma melhor comunicação
158
com as famílias, as relações mais cooperativas de trabalho ou de relações mais positivas
com as crianças.
Figura 11 - Modelo da ficha de Escala de Avaliação da Qualidade
Fonte: Doherty (2000).
A Escala de Avaliação da Qualidade (EQA) apresenta indicadores de qualidade que
podem promover resultados positivos para o desenvolvimento das crianças. A escala é bem
detalhada nos diversos aspectos que compõem uma instituição com atendimento a crianças
pequenas.
Vale ressaltar que este instrumento canadense faz exclusivamente a avaliação sobre
a qualidade dos serviços e não sobre os efeitos da creche sobre o desenvolvimento das
crianças. Diferentemente de outros instrumentos, esse traz indicadores que apontam o
159
salário dos profissionais que trabalham nas instituições como item que avalia a qualidade,
ainda quanto aos profissionais, há também uma preocupação em avaliar as condições de
trabalho. Com estes itens percebe-se o compromisso com a prestação de serviços de
qualidade que promova relações positivas entre as crianças, os professores, e os demais
profissionais, otimizando assim, a possibilidade de todos se beneficiarem do programa da
creche avaliada.
3.3.11 O Modelo Sics (Ziko), Well-Being and Involvement in Care. A Process-
Oriented Self-Evaluation Instrument for Care Settings
Apresentado por Estrela (2008) é um instrumento de monitorização do processo
educativo que está estruturado para ajudar os contextos a identificarem as suas forças e
fraquezas quando o objetivo é criar as melhores condições possíveis para as crianças
crescerem e se desenvolverem. Define linhas orientadoras pelas quais os educadores
poderão nortear as suas práticas, se autoavaliarem, refletirem e empreenderem ações que
em conjunto permitam otimizar todas as potencialidades do contexto educativo de Creche.
Foi desenvolvido por uma equipe do Centro de Pesquisa de Educação Experiencial
(Universidade Católica de Leuven) sob a supervisão de Laevers o ―Sics (Ziko)‖. Laevers
(2005) criaram este projeto com o intuito de ajudar os profissionais que exercem as suas
funções de cuidados e educação precoces, a criar contextos de qualidade baseados na
avaliação dos níveis de bem-estar e envolvimento. A Escala de Bem-Estar Emocional
(Sics) foi projetada, também, com vista a ajudar os educadores a determinar os pontos
fortes e fracos do contexto educativo para que, posteriormente, possam melhorar as
condições existentes com vista ao desenvolvimento das crianças.
Como referiu Laevers (2005, p. 3):
O uso deste instrumento conduz a mudanças significativas/ajustes da prática
educativa e ao desenvolvimento profissional dos adultos. Com este processo o
160
educador aprende a examinar e refletir na perspectiva da criança e,
consequentemente, a criar ótimas condições para o desenvolvimento social-
emocional e cognitivo desta.
O Sics funciona como um sistema de monitorização da prática educativa em Creche.
Ao realizar a avaliação dos níveis de bem-estar ele refere-se ao sentimento de querer e
sentir vontade em estar naquela instituição, à espontaneidade e um ambiente livre de
tensões emocionais é crucial para saúde mental das crianças. O envolvimento se refere a
estar intensamente envolvido nas atividades propostas, pois é considerada uma condição
necessária para o desenvolvimento e para aprendizagem.
Para desenvolver a aplicação do instrumento de maneira efetiva na creche, o Sics
(Ziko) segue 3 etapas: observação e avaliação do bem-estar e envolvimento das crianças;
análise reflexiva sobre as observações e avaliações e também a melhoria da ação educativa.
As explicações para os níveis observados (bons ou ruins) de bem-estar e
envolvimento presentes no contexto distinguem cinco componentes importantes:
- A oferta: O ambiente é "rico", estimulante e diversificado?
Observar a infraestrutura (organização e divisão das salas ou espaços); os materiais
disponíveis; as atividades que são oferecidas no cotidiano.
- O clima do grupo: Até que ponto as crianças se sentem à vontade na escola e no grupo?
Observar se o visual da sala causa boa impressão? É possível perceber os esforços
para que o ambiente favoreça os relacionamentos positivos? As crianças são amigas,
percebe-se sentimento de empatia entre elas? O ambiente é caótico? O ambiente é
agradável? Há o sentimento de pertença? As relações dos adultos com as crianças também
são positivas?
- Espaço para autonomia – O ambiente favorece a criança desenvolver a autonomia e ter
iniciativas?
161
Observar se as crianças têm oportunidades para decidir o que irão fazer, durante
quanto tempo, com que frequência, com quem; perceber de que forma é ouvida a sua
opinião a partir do planejamento, o tipo e momento de oferta das atividades; o grau em que
as crianças assumem responsabilidades em várias situações; e como as regras são
explicadas e elaboradas com as crianças;
- A organização: A rotina diária está bem organizada e leva-se em consideração as
necessidades de todas as crianças?
Observar: o plano ou as rotinas fornecem uma organização clara e com
flexibilidade? O ambiente oferece segurança para todas as crianças? As mudanças de
atividades na rotina são calmas? O conteúdo, a duração e a ordem dos diferentes momentos
do dia levam em consideração a idade da criança e as suas necessidades individuais? A boa
divisão de tarefas entre os adultos assegura o melhor uso dos recursos humanos, facilitando
as transições e garantem a necessidade de permanente supervisão?
- Estilo do adulto: Como é a empatia do adulto em relação às crianças?
Observar se as intervenções são estimulantes. O adulto é sensível aos interesses da
criança e introduz elementos que aumentam o envolvimento delas nas atividades? O
professor se relaciona com as crianças de maneira sensível? O adulto favorece a autonomia
às crianças? É dado espaço às crianças para se manifestarem, para persistirem em seus
interesses, experimentarem e explorarem, decidirem quanto ao término de uma atividade
para participar no estabelecimento de acordos, regras e para resolver conflitos?
O processo de autoavaliação começa com a pontuação dos níveis de bem-estar e de
envolvimento. Esse procedimento é executado através da observação (em um dia ―normal‖)
em que o educador atribui a cada criança uma pontuação para o bem-estar e o envolvimento
utilizando uma escala de cinco níveis, de 1 (extremamente baixo) até 5 (extremamente
elevado).
163
Figura 13 - Modelo da ficha do Questionário: Qualidade da Oferta na Creche
Fonte: Estrela (2008, p. 159).
De acordo com Laevers (2005), este modelo de avaliação da qualidade tem como
foco as necessidades e interesses das crianças e pode ser medida por meio de três tipos de
variáveis:
- A abordagem: focalizando-se no espaço disponível (como se encontra organizado e que
material é oferecido) e observando as atividades em oferta;
- O resultado: observando o efeito dos cuidados prestados no desenvolvimento das crianças.
- O processo vivido pela criança: aqui, o educador foca-se em como as crianças vivenciam
o período de permanência no grupo.
164
Quadro18 - Escala de Bem-Estar Emocional
NÍVEL BEM-ESTAR INDICADORES
1 Muito baixo
Durante o episódio de observação, a criança mostra
claramente sinais de desconforto:
- Lamurienta, queixosa, chorando, gritando, etc.
- Parece rejeitada/triste ou assustada, apavorada.
- Parece zangada ou furiosa.
- Há evidente tensão corporal: agita os braços e/ou bate com
os pés, atira com objetos, parte coisas, machuca os outros.
- Chupa o dedo, esfrega os olhos.
- Não tem reação ao meio envolvente, evita o contato, afasta-
se.
- Machuca-se a si mesma: bate com a cabeça, cai no chão
deliberadamente, etc.
2 Baixo
A postura, a expressão facial e as ações indicam que a
criança não se sente à vontade.
Contudo, os sinais são menos explícitos do que no nível 1, ou
não são expressos durante todo o tempo de observação.
3 Moderado
A criança dá uma impressão de apatia, tem uma postura
neutra.
Não há sinais indicando tristeza ou prazer, conforto ou
desconforto.
A expressão facial e a postura mostram pouca ou nenhuma
emoção.
4 Alto A criança mostra sinais de satisfação.
Contudo, os sinais que indicam prazer não estão
constantemente presentes no mesmo grau de intensidade.
5 Muito alto
Durante todo o período de observação, há sinais claros
indicando conforto, que a criança se sente ótima,
plenamente feliz:
− Sentindo-se feliz e bem-disposta: sorrindo radiante, gritando
de alegria, etc.
− Sendo espontânea, autêntica, expressiva.
− Conversando consigo mesma, fazendo jogos de sons vocais,
humming, cantando, etc.
− Estando relaxada, sem evidenciar quaisquer sinais de stress.
− Sendo aberta, tendo uma atitude de receptividade ao meio
envolvente, etc.
− Mostrando vivacidade, sendo radiante, reagindo
energicamente, etc.
− Expressando autoconfiança e segurança em si própria.
Fonte: Estrela (2008, p. 51).
165
Quadro 19 - Escala de Implicação NÍVEL BEM-ESTAR INDICADORES
1 Muito baixo
A criança dificilmente mostra qualquer atividade: - Não há concentração: a criança está pasmada, parece sonhar
acordada.
- Atitude passiva, ausente.
- Atividade não orientada para uma meta, ações sem objetivo, a
criança não produz nada.
- Não há sinais de exploração ou interesse.
- A criança não parece apanhar nada do que a envolve, não há
atividade mental.
2 Baixo
A criança mostra algum grau de atividade, mas que é
frequentemente interrompida:
− Concentração limitada: olha para outro lado, sem objetivo,
sonha acordada, etc.
− É facilmente distraída.
− Ação conduz apenas a resultados limitados.
3 Moderado
A criança está ocupada durante todo o tempo, mas sem muita
concentração:
− Ações rotineiras, atividades breves.
− Motivação limitada, não há real dedicação, não sente desafio,
que as suas capacidades sejam postas à prova.
− Não adquire experiências de nível profundo.
− Não está absorvida pela atividade.
− Não usa plenamente as suas capacidades.
− A atividade não desafia a imaginação e a capacidade mental da
criança.
4 Alto
Há sinais claros de Implicação, mas não estão presentes
sempre, em toda a sua dimensão:
− Em geral, a criança está envolvida pela atividade.
− Na maior parte do tempo, concentra-se, mas logo se distrai.
− A criança sente-se desafiada, há pouco entusiasmo.
− Usa as suas capacidades.
− Usa a sua imaginação e capacidade mental.
5 Muito alto
A criança está ocupada sem interrupção, e está completamente
envolvida na atividade: − Concentra-se sem interrupção, se envolve na atividade, e
esquece-se do tempo.
− Muito motivada, evidencia sentir-se fortemente atraída pelas
propostas disponíveis.
− Não se distrai.
− Percepção alerta, atenção aos detalhes, precisão.
− Recorre constantemente a todas as suas capacidades e
possibilidades.
− Forte atividade mental: imaginação e atividade mental em
máxima potência!
− Adquire experiências novas e de nível profundo.
− Aprecia estar totalmente envolvida.
Fonte: Estrela (2008, p. 52).
166
O Sics é um instrumento de autoavaliação projetado para ajudar as configurações e
obter os pontos fortes e fracos da instituição avaliada com o intuito de criar as melhores
condições possíveis para que as crianças se desenvolvam. O processo de reflexão e ação é
visto como responsabilidade de toda a equipe. O diferencial desse instrumento é a larga
preocupação com o aspecto afetivo, com crianças emocionalmente saudáveis. O aspecto
afetivo coloca-se em grande peso com os demais indicadores, como o sentimento das
crianças quanto à organização dos ambientes, as oportunidades de escolha e o respeito as
características individuais.
Seria impossível abordar neste trabalho todos os modelos de avaliação da qualidade
aplicáveis ao contexto da Educação Infantil. Foram apresentados nessa revisão
bibliográfica, modelos que têm princípios semelhantes ao desta pesquisa.
A partir das análises realizadas neste estudo foram encontrados diversos
instrumentos de avaliação da qualidade. Qualquer um possui limitações e imprecisões, visto
que não existe nenhum modelo perfeito, até porque não existe uma definição única de
qualidade. Todos estes modelos circulam entre os sistemas educacionais, nas instâncias
formativas de educadores, foram testados e validados, e pode-se afirmar que são úteis na
análise da qualidade em Educação Infantil em qualquer contexto cultural.
Programas de Educação Infantil precisam ter o potencial para produzir efeitos
positivos e duradouros no desenvolvimento infantil, mas esse potencial não será alcançado
a menos que mais atenção seja dada a garantia de que todos os programas atendam aos mais
altos padrões de qualidade.
Em resumo, alguns dos temas recorrentes dos vários modelos de natureza
participativa apresentados aqui são: preocupações com a organização do espaço e materiais,
a organização do tempo, a interação adulto-criança, as atividades e projetos, os processos
de observação e avaliação, gestão administrativa, envolvimento das crianças nas relações
interpessoais e atividades e as parcerias com as famílias.
167
É neste contexto que se situa o presente estudo que se pretende integrador de ideias
e modelos sobre a avaliação da qualidade. Segue-se a descrição das dimensões da qualidade
da Educação Infantil (0 a 3 anos) utilizadas nesta pesquisa.
169
CAPÍTULO IV
AS DIMENSÕES DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a
cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente
descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela
intimidade que temos com as coisas. Há de ser como
acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal
são sempre maiores do que as outras pedras do mundo.
Justo pelo motivo da intimidade. Manoel de Barros
170
No contexto da Educação Infantil com atendimento para crianças pequenas (0 a 3
anos) é relevante pontuar o conceito de qualidade em suas diversas dimensões. Conforme
apresenta Reis (2011), o termo qualidade é multidimensional, ou seja, a definição do termo
pode ser feita sob diferentes perspectivas e critérios relacionados aos valores e crenças das
pessoas envolvidas.
Segundo Zabalza (1998), para avaliar a qualidade é necessário que seja estabelecido
eixos organizacionais em torno do processo educativo que se vinculam à qualidade e aos
aspectos funcionais da escola, pois em um sistema há uma multidimensionalidade presente
com diversos sujeitos e aspectos envolvidos. Portanto, é necessário que se tenha uma visão
macro, de todo o sistema, de cada uma de suas partes, sobretudo, de como se articulam.
As dimensões foram escolhidas com base na revisão da literatura nacional e
internacional, por exibir as necessidades e especificidades das escolas com atendimento às
crianças de 0 a 3 anos. As dimensões estão relacionadas tanto no campo estrutural, isto é,
relacionada aos aspectos físicos e organizacionais das creches, quanto às ações
pedagógicas. Há também a preocupação com os aspectos relacionados às relações
interpessoais: adulto – crianças; crianças - crianças e a parceria escola / famílias.
Na busca de auxiliar na definição da qualidade da Educação Infantil serão
apresentados neste capítulo a conceituação dos diferentes elementos que constituem a
qualidade desta etapa apontados em oito dimensões que constituem o atendimento de 0 a 3
anos, que traduz a ampla concepção de qualidade educativa adotada por esta pesquisa:
Ambiente físico; Planos e rotinas; Interação adulto-criança; Interações entre as crianças;
Experiências educativas; Cuidados para uma vida saudável; Qualificação e
desenvolvimento profissional e Parceria escola-família.
171
4.1. AMBIENTE FÍSICO
A organização do espaço é constitutivo do fazer pedagógico, refletindo as
concepções do professor sobre a criança, educação, aprendizagem e desenvolvimento. A
organização dos espaços na Educação Infantil é fundamental para o desenvolvimento
integral da criança, podendo contribuir com todos os aspectos do desenvolvimento sejam
eles físicos, cognitivos, sociais e afetivos. Qualquer que seja o espaço para crianças
pequenas, é necessário que este fique preparado para ela e por ela, além de adequado para a
vivência de diversas emoções que a farão expressar sua maneira de pensar, bem como a
maneira como vivem e sua relação com o mundo.
O reconhecimento da relação do ambiente físico sobre o desenvolvimento infantil
de 0 a 3 anos é proeminente frente ao desafio entre o cuidar e o educar. O espaço o qual
vamos discutir não se restringe às salas de aula, mas a todo o ambiente que compõe a
escola. Portanto, os espaços externos e internos que acolhem as crianças e os familiares
revelam como os profissionais da educação que ali trabalham determinam a
intencionalidade educativa e a concepção de conhecimento. Sendo assim, espaço não deve
ser somente um local útil e seguro, mas também ser agradável e acolhedor, bonito e
colorido, revelador das atividades que nele as crianças protagonizam.
O referencial teórico de Jean Piaget afirma que a partir dos primeiros reflexos com
os quais a criança é dotada ao nascer vão se construindo pouco a pouco em interação com o
meio, as condições necessárias para todas as posteriores conquistas cognitivas.
As relações entre o sujeito e o seu meio consistem numa interação radical, de
modo tal que a consciência não começa pelo conhecimento dos objetos nem pelo
da atividade do sujeito, mas por um estado indiferenciado; e é deste estado que
derivam dois movimentos complementares, um de incorporação das coisas ao
sujeito, o outro de acomodação às próprias coisas (PIAGET, 1978, p. 386).
Portanto, o desenvolvimento cognitivo resulta da relação do sujeito com o meio,
porém, ele é individual. Neste sentido, Mantovani de Assis e Assis (2002, p. 16) ressaltam
que o verdadeiro sentido da Educação Infantil deve ser o de ―contribuir para o
172
desenvolvimento da criança, a fim de que esta realize todas as suas possibilidades humanas
características do período de desenvolvimento em que se encontra‖.
Conforme as reflexões desses autores, os ambientes das creches devem propiciar
diversas fontes de estímulos para a aprendizagem ativa para bebês e crianças de até 3 anos,
os espaços não são neutros, estes podem limitar ou incentivar certas atitudes, assim como,
favorecer ou dificultar certos comportamentos. Neste sentido, a maneira como será
organizado pode apoiar ou não o desenvolvimento infantil.
De acordo com o educador Greenman (1988, p. 55. apud, HOHMANN; POST,
2011, p. 100):
Uma pessoa deveria poder entrar na sala ao fim da tarde sem estar ninguém
presente e ficar maravilhada com o ambiente de aprendizagem, o mundo nas
mãos das crianças – as oportunidades construídas para a experiência motora e
sensorial, a variedade de locais onde podem existir diferentes estímulos visuais e
auditivos, o número de espaços protegidos para bebês pequenos e oportunidades
de resolução de problemas para pequenos detetives com diferentes interesses e
competências. Deitada no chão essa pessoa deverá ver caminhos e espaços
pequenos divididos – oportunidades de entrar e sair, subir e descer, de estar
sozinho, estar fechado entre três lados e de escalar paredes de um metro.
Dessa forma, a oferta de materiais e dos espaços favorece que as crianças
experimentem diversas experiências do mundo físico e social. Esse ambiente permite que
as crianças façam aquilo que querem, o que conseguem fazer e manifestem diferentes
sentimentos, como curiosidade, alegria, medo, coragem, entre outros, sozinhas ou com
adultos e com seus pares.
O documento Subsídio para Credenciamento e Funcionamento das Instituições de
Educação Infantil- (SCFIEI) instituído pelo MEC trata da especificidade dos espaços para a
Educação Infantil sendo criado por iniciativa da Secretaria de Ensino Fundamental (SEF),
Diretoria do Departamento de Política da Educação Fundamental (DPE) e pela
Coordenadoria Geral de Educação Infantil (COEDI) em 1998. No que diz respeito ao uso
da denominação ambiente, está dito no documento:
As crianças pequenas e suas famílias devem encontrar nos centros de educação
infantil um ambiente físico e humano, por intermédio de estruturas de
173
funcionamento adequados, como enfatizado em outros textos desta publicação,
que propiciem experiências e situações planejadas intencionalmente, de modo a
democratizar o acesso de todos, aos bens culturais e educacionais, que
proporcionam uma qualidade de vida mais justa, equânime e feliz. (BRASIL,
1998, p. 68).
Nesse sentido, o ambiente pode ser compreendido em conformidade com a noção de
ambiente apontada por Forneiro (1998, p. 232) que faz uma distinção entre ambiente e
espaço, apesar de considerar que estão intimamente relacionados.
O termo espaço refere-se ao espaço físico, ou seja, aos locais para a atividade
caracterizados pelos objetos, pelos materiais didáticos, pelo mobiliário e pela
decoração.
Já, o termo ambiente refere-se ao conjunto do espaço físico e às relações que se
estabelecem no mesmo (os afetos, as relações interpessoais entre as crianças,
entre crianças e adultos, entre crianças e sociedade em seu conjunto).
Essa diferenciação possibilita aprofundar compreensões que podem resultar na
adequação dos espaços pedagógicos na Educação Infantil, com isso, planejar uma estrutura
de oportunidades e de possibilidades como condição que favoreça o processo de
crescimento pessoal e o desenvolvimento das atividades instrutivas. O espaço não pode ser
um pano de fundo dos objetos, tampouco definido por uma distância linear, mas como um
espaço de relações interpessoais, entre essas e os objetos assim com o próprio espaço.
Portanto, o espaço não é neutro, ele permeia as relações estabelecidas, influenciando-as, na
medida em que chega até o sujeito e propõe suas mensagens implicitamente.
Para os autores, o espaço supera questões físicas ao apresentar quatro dimensões:
física, funcional, temporal e das relações, como apresentado na Figura 14:
174
Figura 14 - Relações interdependentes da organização dos ambientes segundo
Zabalza e Forneiro.
Fonte: A autora.
A partir dessas proposições, é possível assegurar que o ambiente da Creche não é
definitivo nem estático, pois o ambiente envolve inúmeros elementos que se revelam como
sendo constitutivos das ações pedagógicas. Os elementos que o compõem se relacionam
entre si, isto é, são interdependentes. Observar, planejar, avaliar, arrumar, modificar,
adquirir novos recursos materiais constitui um processo contínuo na busca de qualidade e
do que se melhor adequa às crianças desse contexto. O ambiente físico é apenas uma parte
de tudo aquilo que em conjunto faz a qualidade de um contexto (PORTUGAL, 1998).
Zabalza (1998, p. 50) afirma que uma escola de Educação Infantil de qualidade é
aquela capaz de atender as necessidades das crianças:
Na educação infantil é necessário que haja espaços amplos que sejam facilmente
diferenciados pelas crianças quanto a suas funções, com fácil acesso e
especializados para tarefas individuais ou em grupo. Este aspecto é condição
fundamental para que alguns outros aspectos possam acontecer.
Esses princípios devem nortear o trabalho das instituições educativas, para que
sejam espaços onde a criança, aprenda, se sinta bem, cresça e se desenvolva integralmente,
DIMENSÃO FÍSICA: Refere-se
ao aspecto material do
ambiente
DIMENSÃO FUNCIONAL: Refere-se com a
forma de utilização dos espaços
DIMENSÃO TEMPORAL:
Refere-se a organização do
tempo em que serão utilizados
DIMENSÃO RELAÇÕES: Refere-
se aos diferentes modos de acesso ,
normas e agrupamentos.
AMBIENTE
175
alcançando sua autonomia. Vale ressaltar que não basta a criança estar em um espaço
organizado e que promova inúmeros desafios, é necessário que a criança interaja com esse
espaço para poder vivê-lo intencionalmente. Assim como, é essencial compreender de que,
nos primeiros anos de vida, a criança apresenta reações descontínuas e esporádicas que
necessitam ser completadas e interpretadas. Por isso, segundo Horn (2004), a criança
estabelece uma reciprocidade entre ela e o ambiente que está inserida que o acompanhará
por toda sua vida, e, nesse aspecto, a união do sujeito com o ambiente desempenha um
papel fundamental para que o processo de desenvolvimento ocorra em sua plenitude.
Os primeiros anos de vida são essenciais para o desenvolvimento infantil. É neste
período que as crianças tentam, pela primeira vez, compreender e controlar o mundo que as
rodeia, esforçando-se para conquistar novos desafios por inúmeras tentativas e descobertas.
Muitas creches organizam os espaços infantis, inspirando-se no modelo escolar que
levam as crianças a passarem a maior parte do tempo em mesas e cadeiras, realizando
atividades em folhas de atividades estereotipadas, geralmente dirigidas pelo professor, em
detrimento dos momentos de brincadeiras livres (sem direcionamento do adulto), seja em
áreas internas ou ao ar livre. Isso ocorre não apenas pela falta de informação por parte dos
educadores com relação às necessidades infantis, mas também por acreditarem na
necessidade de preparar as crianças para a escola formal, desrespeitando assim uma série de
características do desenvolvimento desta faixa etária, tal como a necessidade de brincar e
movimenta-se, por meio de atividades livres, fora de mesas e cadeiras.
As crianças desde pequenas interagem com o ambiente, fazem escolhas com a ajuda
dos adultos a pensarem criativamente e a buscarem soluções aos desafios que os materiais
ou mesmo os adultos a colocam. Por isso, é necessário oferecer uma diversidade de
materiais nos vários espaços que constitui a matéria prima para a realização de experiências
que favoreçam a construção de novos conhecimentos por meio da ação e da reflexão.
A necessidade de explorar e brincar são características evidentes das crianças de 0 a
3 anos, por isso, os espaços precisam convidá-las a vivenciar desafios e sentirem-se
provocadas a resolvê-los, a explorar, criar e a interagir com seus pares. Nesse sentido, é
176
importante considerar que a organização dos espaços também propicie ações autônomas
como oferecer possibilidades de escolhas e a tomar decisões.
Este fato é destacado por Magnani (2012, p.141), em sua tese de doutorado,
referente a práxis ludo pedagógica do professor da Educação Infantil, que reconhece o
quanto é importante criar um ambiente lúdico, em que as brincadeiras sejam respeitadas de
um modo positivo e que ―ofereça à criança a possibilidade de compreender as coisas que
acontecem no seu cotidiano de forma afetiva e cognitiva, tanto na vida social quanto na
vida física‖.
Para isso, um arranjo interessante e coerente são as áreas circunscritas, isto é,
diferentes cantos das salas de aula são separados por estantes, prateleiras, móveis. Dessa
maneira, percebe-se que facilita à criança visualizar o educador nas diferentes atividades
que possa realizar, conforme explica Rossetti-Ferreira (2007, p. 151):
A característica principal das zonas circunscritas é seu fechamento em pelo
menos três lados, seja qual for o material que o educador coloca lá dentro, ou que
as próprias crianças levam para brincar. Dessa maneira, você pode delimitar essas
áreas usando mesinhas ou cadeirinhas. Elas também podem ser constituídas por
caixotes de madeira ou cabaninhas, desde que contenham aberturas. As
cabaninhas podem ser criadas aproveitando o espaço embaixo de uma mesa e
colocando por cima um pano que caia para os lados, contendo uma abertura, tipo
porta. As cortinas também podem ser úteis para delimitar um ou dois lados. É
importante que a criança possa ver facilmente a educadora, senão ela não ficará
muito tempo dentro dessas áreas circunscritas.
A organização do espaço em áreas reflete nas escolhas das crianças, nas interações
com outras crianças e no modo como utiliza os materiais. O espaço organizado dessa
forma, tais como: área da casinha, dos blocos, de atividades, de construção, dos livros, entre
outras, favorece o desenvolvimento da autonomia da criança. A postura dos educadores
nesse estilo de arranjo de espaço contribui para que eles possam visualizar e identificar o
local, bem como quem necessita mais de seu apoio, com isso, pode encorajar a criança para
resolver possíveis dificuldades ou conflitos, sem comprometer o desenvolvimento de sua
autonomia. Vale ressaltar a importância do adulto em manter as necessárias condições de
segurança e de acompanhamento no desenvolvimento das atividades realizadas pelas
mesmas.
177
O ideal é que as áreas sejam espaços amplos para que as crianças possam se
movimentar à vontade, utilizarem materiais e consigam interagir socialmente, mas
principalmente, favorecer o bem estar dos pequenos, assim como o dos adultos que se
ocupam delas. Forneiro (1998, p. 233) assegura que ―nesse modo de organizar o espaço,
existe a possibilidade de as crianças se descentrarem da figura do adulto, de sentirem
segurança e confiança ao explorarem o ambiente, de terem oportunidades para contato
social e momentos de privacidade‖.
Nesse cenário, constata-se que a organização dos espaços é um dos elementos que
compõem a concepção curricular da escola, por isso o educador não pode conformar-se
com o meio tal qual lhe é oferecido, mas precisa comprometer-se com ele, transformar,
personalizar o espaço fazendo deste um lugar onde a criança encontre o ambiente
necessário para desenvolver-se (ZABALZA, 1998). É importante destacar que nas
instituições de Educação Infantil não se deve privilegiar um espaço em detrimento do outro,
pois um destes, tanto sala, refeitório, pátio quanto banheiro, necessita ser um lugar alegre,
conservado, confortável bem como prático e que favoreça a convivência.
Nas creches, é comum encontrarmos paredes decoradas com personagens feitos de
isopor, colados ou pintados nas paredes. Esses desenhos costumam ser da Disney16
ou
outros estereótipos, sem nenhuma interferência das crianças.
Da mesma forma, nos deparamos com creches que ainda privilegiam ocupar
espaços de salas com imensos armários para guardar materiais como papéis, lápis,
cartolinas, dentre outros que apenas o professor terá acesso e que demonstra uma
concepção tradicional de ensino. Os materiais e os jogos precisam estar disponíveis e
acessíveis às crianças, fato este que irá depender da maneira como os materiais estarão
dispostos.
É necessário considerar a relevância em disponibilizar os materiais que explicitam o
jogo simbólico, devido serem convidativos às crianças desde os seus primeiros meses de
16
Filmes que compõem os clássicos de Walt Disney como por exemplo: Bambi, Peter Pan, Pequena sereia, A
bela adormecida, Peter Pan, entre outros.
178
vida. Chocalhos, cubos, argolas se transformam em brincadeiras barulhentas e ricas em
descobertas, jogos e invenções.
Oliveira-Formosinho e Araújo (2013, p. 234) descrevem a importância dos
―ambientes de Educação Infantil serem mais ideográficos‖, isto é, caracterizados pela
presença de marcas que revelam a identidade dos pequenos como a utilização de fotografias
das próprias crianças, de suas famílias e de suas criações.
Em uma perspectiva de educação que considera a criança competente e construtora
de conhecimentos os materiais precisam oferecer experiências intensas e que prenda a sua
atenção. Estes não precisam necessariamente ser comprados e de alto valor financeiro, pois
a atitude do professor ao apresentar o material à criança, isto é, uma intervenção que as
instiguem a interagir com os materiais que fará a diferença nestas interações. Pensar na
organização dos espaços é pensar em oportunidades e vivências em que as crianças possam
andar, mexer, explorar objetos pequenos e grandes, ler e trocar materiais e sentimentos, por
isso, as relações interpessoais também estão implícitas na organização dos ambientes da
escola.
Há também nas creches os espaços coletivos que reforçam projetos comuns entre
toda a comunidade escolar. Espaços como a recepção (local de acolhimento das crianças e
familiares), o refeitório, o pátio coberto, o parque entre outros permite o entendimento de
que eles, ao serem acolhedores e hospitaleiros, expressam a cultura do grupo e que mostrem
as necessidades dos educadores e das crianças, assim como os interesses dos pais e as
aspirações do Projeto Político Pedagógico.
As áreas de recreação (pátio coberto e parque) são espaços de ―liberação de
energias‖ (correr, subir, saltar, gritar) e de descobertas (exploração, observação,
manipulação de texturas, contato com a natureza – animais, plantas, semear, mexer na
terra). Certamente, os espaços exteriores são um prolongamento importante do ambiente
interior para exploração e brincadeiras, devem ser espaços potencialmente ricos para novas
e diversificadas experiências que possibilitam ampliar o repertório das vivências das
crianças.
179
A área de acolhimento (entrada) precisa dialogar com os familiares, por meio de
painéis ou boletim informativo que conte sobre o trabalho desenvolvido junto às crianças,
assim como convidá-los a discutirem sobre temas que estão diretamente ligados às
necessidades dos pequenos, como, por exemplo, as características e necessidades de cada
idade, dicas para a boa saúde, a construção da autonomia entre outros temas ricos e
interessantes aos familiares.
Em se tratando dos espaços dos bebês, chamados de berçários, vale a pena ressaltar
as especificidades necessárias que precisam compor estes espaços. O documento oficial
Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil, elaborado pelo
Ministério da Educação (MEC) e Secretaria de Educação Básica (SEB), em 2006, no seu
teor contém concepções, reformas e adaptações dos espaços de atendimento da etapa
supracitada, além de propostas para esses ambientes, variando de acordo com a faixa etária,
conforme fragmento abaixo que refere-se às crianças de 0 a 1 ano:
As crianças de 0 a 1 ano, com seus ritmos próprios, necessitam de espaços para
engatinhar, rolar, ensaiar os primeiros passos, explorar materiais diversos,
observar, brincar, tocar o outro, alimentar-se, tomar banho, repousar, dormir,
satisfazendo, assim, suas necessidades essenciais. Recomenda-se que o espaço a
elas destinado esteja situado em local silencioso, preservado das áreas de grande
movimentação e proporcione conforto térmico e acústico. Compõem este
ambiente: sala para repouso; sala para atividades; fraldário; lactário; solário.
(BRASIL, 2006b, p. 11).
A heterogeneidade dos rítimos dos bebês clama por espaços flexíveis,
aconchegantes e limpos. ―Na medida em que os bebês crescem e sua movimentação
permite que tenham maior autonomia, quando começam a se arrastar e a engatinhar, o
berço poderá ser substituído por colchonetes e colchões espalhados no chão na hora do
repouso‖ (ABRAMOWICZ; WAJSKOP, 1995, p. 38). Dessa forma, o espaço ficará mais
aberto para a exploração das crianças do mundo que a rodeia. O chão passa a ser seu campo
de conquistas.
A higiene, o banho, trocas, alimentação são atividades habituais nos berçários. Por
isso, a localização da pia, do chuveiro e do trocador precisam ser bem planejados para que
180
não exponham as crianças a odores desagradáveis e também ofereçam condições para o
bem estar dos profissionais, assim como mantê-los próximos à elas.
Blocos de espuma coloridos, móbiles à altura das crianças, sons, texturas, espelhos,
as barras horizontais fixadas nas paredes, na altura em que um bebê possa apoiar-se em pé,
auxiliam as crianças que começam a andar. É nesse cenário físico com materiais versáteis e
flexíveis que solicita a sua exploração sensório-motora. Por este motivo devem existir
brinquedos que preencham critérios como: coisas agradáveis que lembrem o lar; materiais
que apelem aos sentidos; materiais e equipamentos que encorajam o movimento; bolas;
veículos e brinquedos com rodas; bonecos de pano e animais de pelúcia; canto de livros
(bebeteca) em prateleiras abertas ou mesmo pendurados com prendedores, bonecos de
fantoches de diferentes tamanhos, figuras grandes, livros de tecido, de plástico, livros de
literatura infantil, revistas com muitas fotos, gibis, almofadas e tapete ou colcha de retalhos;
caixas de papelão; blocos leves; recipientes abertos com diferentes estilos de tampas, dentre
outros.
Os berçários devem ser salubres e saudáveis, mas não devem ser super-protetores. É
importante que haja um controle da limpeza, das temperaturas, do arejamento e que os
materiais e equipamentos não representem perigos, além de estarem sempre higienizados.
Estas preocupações não devem afetar o movimento de exploração, autonomia, a capacidade
de a criança confiar nela própria e no mundo que a rodeia. Por isso, o que importa não é o
espaço em si como finalidade, mas as possibilidades que o ambiente oferece.
As salas dos berçários devem estar organizadas em cantos de atividade fixos, que
periodicamente devem ser alimentados com novas propostas, de acordo com a observação
atenta pelas preferências das crianças e os desafios para as diferentes faixas etárias.
Portanto, a relação do bebê com o espaço físico com materiais atraentes e diversificados é
considerada um permanente desafio educacional, pois ―permite a ação independente e
estimulante com o mundo físico‖ (OLIVEIRA-FORMOSINHO, 1996, p. 67).e pode
favorecer a construção da imagem de si, do outro e do ambiente, o que possibilita as
interações e a progressiva construção de novos conhecimentos.
181
As crianças precisam dominar os ambientes da creche e serem capazes de fazer
coisas por si mesmas, sem ficar solicitando a assistência constante do adulto. Em
contrapartida, o espaço deve oferecer segurança e confiança para explorar os espaços e os
objetos que o compõem. A organização dos ambientes precisa levar em consideração as
necessidades e peculiaridades das crianças e de cada instituição, devendo favorecer a
realização de brincadeiras, interações sociais e privacidade, tendo em vista as necessidades
inerentes ao desenvolvimento integral dos pequenos.
4.2 PLANOS E ROTINAS
Os planos e as rotinas de uma instituição educacional são de total importância, pois
revelam as concepções e prioridades que cada creche privilegia no cotidiano de suas ações
educativas. As experiências vivenciadas pelas crianças concretizam as intencionalidades
que os aspectos do desenvolvimento contemplam, faz-se acerca de processos educativos
organizados e coesos com a faixa etária; nem tanto escolarizada, nem tampouco
espontaneísta.
A creche precisa ser um espaço de concretização de uma Proposta Pedagógica,
centrada no desenvolvimento das crianças e que este documento aponte com clareza as
características, necessidades das crianças pequenas e as ações que se devem realizar para
concretizar os objetivos almejados em um ambiente livre de pressões, coerções, tensões em
que não existam castigos nem tampouco recompensas e as relações entre professor – alunos
sejam baseados no respeito mútuo, gerando sentimentos de justiça, lealdade e cooperação
(MANTOVANI DE ASSIS; ASSIS 2010).
Todo o conjunto de decisões ou os princípios de ensino relativos à educação das
crianças deve estar contemplado na Proposta Pedagógica de cada instituição de ensino, aos
quais representam os objetivos da comunidade escolar. Este documento constitui um
instrumento para o planejamento das futuras ações educativas, pois nele encontram-se os
elementos de todo o trabalho que deve ser desenvolvido durante todo o ano.
182
A instituição de Educação Infantil com atendimento de 0 a 3 anos precisa criar
condições concretas para enfrentar o grande desafio de oferecer educação e cuidados de
forma indissociável. Segundo a perspectiva de Portugal (1998, p. 204):
Se a educação é uma preocupação básica na creche, se o educador educa e não é
apenas um guardador de crianças, importa que haja um currículo, isto é, um plano
de desenvolvimento e aprendizagem. Um currículo para a creche precisa ter
características diferentes de um currículo para crianças um pouco mais velhas. O
currículo da creche diz respeito a tudo o que acontece ao longo do programa e
que é concebido no sentido de responder a todos as necessidades da criança,
favorecendo o seu bem estar e alegria.
Para além do cuidar as crianças, educar precisa ser um dos princípios da creche,
para o qual se pressupõe fundamentos e fundamentos teóricos de sustentação no trabalho do
educador. Neste sentido, a proposta pedagógica é um plano para favorecer o processo do
desenvolvimento do indivíduo. Assim, considerando as especificidades que os bebês e
crianças muito pequenas manifestam em termos de desenvolvimento, uma proposta
pedagógica para esta faixa etária tem necessariamente características diferentes e muitas
especificidades.
Nesse sentido, Oliveira-Formosinho (2002) considera o posicionamento a favor de
ter a creche como o lócus de formação continuada dos professores e educadores, a partir do
diálogo, do trabalho coletivo, da troca de experiências e da reflexão fundamentada no
registro e na avaliação.
Vale destacar que é imprescindível que professores e educadores participem e
assumam um papel ativo nas discussões coletivas para a construção da proposta pedagógica
da creche para que possa haver uma verdadeira compreensão das concepções adotadas, e
também para que os profissionais que trabalham com este documento não sejam meros
executores.
Os planos, muitas vezes, não ultrapassam a ideia de ser um mero documento
burocrático para registrar objetivos pré-determinados, em que apenas o adulto comanda. A
183
Proposta Pedagógica sustenta os planos diários ou semanários17
que os professores
organizam em suas ações educativas que, por sua vez, contemplará uma rotina bem
planejada centrada nas necessidades infantis.
Figura 15 - Caminho dos Planos e Rotina
Fonte: A autora.
No contexto do dia-a-dia nas creches é fundamental que as situações sejam
planejadas de maneira a envolver todos os aspectos do desenvolvimento – físico, social,
cognitivo e afetivo. Conforme destaca Mantovani de Assis e Assis (2010, p.19):
Para isso é necessário utilizar materiais que despertam a curiosidade e o interesse
da criança e desencadeiam sua atividade espontânea. No planejamento das
situações é importante levar em consideração os seguintes critérios: que sejam
interessantes e significativas; que tenham um caráter lúdico, ao mesmo tempo em
que solicitam um esforço por parte da criança; que possibilitem a aquisição de
conhecimento sobre meio físico e social da criança e de outras realidades, a partir
do conhecimento que ela tem da sua; que apresentem desafios ao pensamento da
criança e que propiciem a oportunidade para a criança resolver problemas,
estabelecer relações e ter ideias novas.
Além disso, os bebés e as crianças muito pequenas precisam de atenção às suas
necessidades físicas e psicológicas, uma relação com adultos em quem confie um ambiente
seguro, saudável e adequado ao desenvolvimento, bem como oportunidades para
interagirem com outras crianças e liberdade para explorarem todos os seus sentidos.
Na creche o principal não são as atividades planejadas, ainda que adequadas, mas
sim as rotinas e os tempos de atividades livres. As crianças muito pequenas não
se desenvolvem bem em ambientes ‗escolarizados‘, onde realizam atividades em
grupo dirigidas por um adulto, mas em contextos calorosos e atentos às suas
necessidades individuais. (PORTUGAL, 2000, p. 88).
17
Diários os planos de aulas são planos que apresentam o que será realizado diariamente. Os semanários são
organizados pensando no que vai ser explorado junto às crianças durante toda a semana.
Proposta Pedagógica
Planos de Aula
Rotinas
184
Nesse contexto, cabe salientar que planejar a ação educativa significa refletir,
prever, organizar e programar todas as decisões do processo de aprendizagem para atender
as necessidades das crianças e proporcionar um ensino de qualidade.
Se a educação é uma preocupação básica na creche, se o educador educa e não é
apenas um guardador de crianças, importa que haja um currículo, isto é, um plano
de desenvolvimento e aprendizagem. Um currículo para a creche tem
características diferentes de um currículo para crianças um pouco mais velhas. O
currículo da creche diz respeito a tudo o que acontece ao longo do programa e
que é concebido no sentido de responder a todas as necessidades da criança,
favorecendo o seu bem estar e alegria. (PORTUGAL, 1998, p. 204).
Portanto, planejar permite ao educador estar consciente da intencionalidade que
preside a intervenção, a qual possibilita prever as condições mais adequadas para alcançar
os objetivos propostos. Tal perspectiva possibilita que a ação educativa seja mais reflexiva
e fundamentada, e desta forma, mais suscetível de ser analisada e melhorada, portanto,
planejar supõe a reflexão sobre o que se pretende, sobre como se faz e como se avalia.
Para tanto, é preciso ao educador três ações integradas:
Figura 16 - Tríade das ações educativas
Fonte: A autora.
Assim como o planejar, a avaliação insere-se no processo educativo, pois ao executar
Planejar
Executar Avaliar
185
o plano o professor realiza a avaliação de maneira atenta para que possa perceber os
progressos e dificuldades que a criança apresenta no seu processo de desenvolvimento.
Com isso, o professor pode ajustar ou mesmo modificar o que havia planejado,
acompanhando assim, as necessidades da criança.
Outro tipo de avaliação é a realizada pelas próprias crianças, em pequenos grupos,
individuais ou coletivamente. Nestes momentos todos manifestam suas percepções e
sentimentos sobre o que realizaram na rotina diária, ajudando-os a refletir sobre suas
próprias ações.
Nesta linha de pensamento, a ação desenvolvida em Creche tem necessariamente
uma dimensão educacional, em que o papel do adulto não é o de forçar o desenvolvimento,
mas garantir que as experiências e rotinas diárias sejam ancoradas de estimulação que
ofereçam à criança oportunidades para brincar, jogar, sentir, descobrir e aprender por meio
da sua atividade pessoal, para além da satisfação das necessidades básicas (alimentar,
mudar a fralda, lavar, dormir e vestir) promotoras de bem-estar.
A rotina diária estrutura e define os acontecimentos do dia. Contudo, não pretende
ditar os pormenores daquilo que as crianças farão em cada período de atividade. Esta rotina
inclui uma sequência previsível e bem coordenada, para que as crianças se sintam seguras e
confiantes.
Quando o dia avança seguindo um percurso conhecido, as crianças podem
sinalizar as suas necessidades individuais de alimentação, sono, higiene, mudar a
fralda ou ir ao banheiro e, depois de participarem nestas rotinas de cuidados,
podem juntar-se de novo ao decurso dos acontecimentos que interromperam. Ao
início do dia, se as crianças souberem o que vão fazer quando os pais os deixam,
a separação dos pais e a aproximação ao educador e aos colegas tornam-se mais
fácil. À medida que vivem os rituais e as repetições de uma programação diária
consistente, bebês e crianças ganham um sentido de continuidade e controle
(HOHMANN; POST, 2011, p. 195).
Embora seja um desafio organizar a rotina para todas as crianças, é, sem dúvida, um
suporte para o educador, uma vez que torna‐se muito mais fácil gerir o seu tempo da forma
apropriada. A organização das rotinas cria regularidades para atingir objetivos importantes
como estimular a participação das crianças nas pequenas decisões, interagir com seus
186
colegas, favorecer a compreensão de tempo, isto é, ajuda a criança a compreender a
estrutura temporal do que já foi feito e o que será feito, ajudar a criança a entender e saber
tudo o que irá acontecer no dia (ZABALZA, 1998).
Um momento importante para a consolidação da rotina é a hora do planejamento.
Este acontece diariamente desde os bebês, no qual o educador precisa verbalizar um pouco
antes da mudança de atividade informar para o pequeno o que estará acontecendo a seguir.
Com os maiores, é indicado organizar cartazes com fotos ou imagens que sinalizam todas
as atividades da rotina diária. Este momento é realizado no grande grupo, em que as
crianças com a ajuda do professor vão conversando sobre as atividades que serão
realizadas, tanto as de cuidados como as planejadas antecipadamente pelo professor.
Nesses momentos, as crianças estão sendo solicitadas a falar, prever, sequenciar,
resolver pequenos conflitos, expor suas opiniões e tomar decisões. Vale ressaltar que o
professor precisa alertar previamente as crianças quando está por chegar o tempo da
próxima atividade, para que se possa ter um ambiente tranquilo e que eles possam ajudar na
arrumação, assim como contribuir com o desenvolvimento sócio moral das crianças.
Mostra-se assim que a distribuição do tempo educativo faz‐se de modo flexível,
dando origem a uma rotina educativa, com previsibilidade e flexibilidade para garantir um
dia calmo centrado na criança. Durante o dia há determinadas atividades que são regulares:
a chegada, a partida, o tempo de banho de sol ou parque, além das atividades de cuidados
individuais (higiene e alimentação). Outros momentos compõe a rotina, mas que
necessitam ser planejados antecipadamente para que possa diversificar os tipos de
propostas, como por exemplo, atividades orientadas para cantar, movimentar, contar
histórias, em pequeno e grande grupo, atividades diversificadas e momentos para brincar
dentro da sala e nas áreas externas.
A rotina diária favorece manter o equilíbrio entre os limites e possibilidades de
escolha. Quando os limites são colocados de maneira clara as crianças sentem mais
segurança e também livres para realizar aquilo que é necessário de acordo com suas
possibilidades.
187
Nos momentos de atividades diversificadas são oferecidas atividades que as
crianças possam fazer escolhas da atividade que irá explorar. Elas estabelecem a sequência
do que irão fazer, quando a criança é muito pequena, é importante que o professor as
oriente (o que você gostaria de fazer agora: ir às bolas ou nas caixas?), com isso os adultos
contribuem com as crianças para anteciparem o que vai acontecer a seguir.
Muitas vezes nos deparamos com práticas contrárias a estas orientações, as crianças
ficam esperando ociosas por algo a acontecer durante vários momentos do dia. Chegam a
ficar encostadas em paredes como um ‗paredão‘ para serem executadas. Elas ficam muito
tempo esperando sentadas, sem brinquedos e sem poder locomover-se pelos espaços da
creche. Como consequência, muitas chegam a mexer umas com as outras, beliscar,
descumprir a ordem de esperar sentadas e ‗brincam‘ de fugir durante as insistentes
chamadas de atenção do professor.
Oliveira-Formosinho e Araújo (2011) alertam que a organização dos horários e das
rotinas diárias é de extrema importância, haja vista que contam com a participação ativa
dos pequenos. Tal fato pressupõe, no âmbito da ação do educador, a valorização das
características e necessidade das crianças, sendo, portanto, tempos pedagógicos com
oportunidades efetivas de ações educativas significativas que funcionem como facilitadoras
de interações diversificadas tanto com as pessoas quanto com os materiais, propiciando por
um lado a estimulação e pelo outro a exploração ativa pelas crianças.
4.3 INTERAÇÃO ADULTO-CRIANÇA
A qualidade das interações que o adulto desenvolve junto às crianças configura-se
em todo o ambiente que rodeia as mesmas e nas demais dimensões que compõem a
qualidade do atendimento da Educação Infantil, pois estas interações são cruciais nos
processos de desenvolvimento global da criança. As pequenas trocas do dia-a-dia são
decisivas para as relações de afeto e de confiança.
188
Para favorecer o desenvolvimento social das crianças, o contexto das ações
educativas nas creches deverá ser caracterizado pelo respeito aos sentimentos dos bebês e
das crianças pequenas. Piaget (1977) afirma que as relações que o adulto estabelece com as
crianças podem reforçar sua heteronomia ou contribuir para tornarem-se moral e
intelectualmente mais autônomas.
Enquanto a criança, dotada de uma liberdade de ação suficiente, sai
espontaneamente de seu egocentrismo para dirigir inteiramente seu ser para a
cooperação, o adulto age, a maior parte do tempo, de modo a reforçar o
egocentrismo infantil, sob seu duplo aspecto intelectual e moral. (PIAGET, 1977,
p. 167).
Neste sentido, o respeito mútuo não advém de uma relação baseada em coerção e
pressão por parte do adulto, pois este espera que a criança apenas o obedeça por medo da
punição. Esta relação seria diferente se o respeito mútuo fosse privilegiado, uma vez o
medo da relação não é apenas de ser castigado, mas há o medo de perder o amor do outro,
pois o que prevalece nesta relação é o sentimento do bem querer mútuo.
Quando a coerção prevalece, o autoritarismo impera na relação adulto-criança. O
respeito unilateral reforça a heteronomia e dificulta que a criança supere esta fase e
conquiste a autonomia. Muitas vezes os professores interveem nas relações entre as
crianças, impedindo-as de encontrarem soluções por si mesmas para seus conflitos,
deixando assim, de contribuir com seu desenvolvimento, dificultando a sua descentração, a
perceber o outro como uma pessoa diferente que tem diferentes gostos, ideias e opiniões.
Devido as condições de vulnerabilidade e dependência, características da criança
nessa faixa etária, o tipo de interação com os adultos é um meio poderoso na criação de um
ambiente de bem-estar para esta, indispensável para que ela se desenvolva de modo
saudável.
Na dimensão que está sendo analisada incluem-se as oportunidades de iniciativa
dadas às crianças e o estilo de intervenção dos adultos. A qualidade da interação entre a
criança e a educadora tem sido objeto de estudo de muitas pesquisas, como Portugal (1998),
Laevers (2000), Hohmann e Post (2011) e Grana (2011).
189
Portugal (1998) faz referência a teoria do attachment (ligação afetiva de uma pessoa
a outra durável e persistente as separações) sobre a interação adulto – criança. Para a autora
a qualidade dessa relação é uma das variáveis mais importantes, pois se a criança
estabelecer uma boa relação com o educador, a separação da mãe será facilitada.
Além disso, quando a criança fica perturbada com a ausência materna, o educador
com quem a criança estabeleceu uma boa relação pode funcionar como uma boa
base de segurança. Se as necessidades de ligação afetiva da criança são
devidamente preenchidas por um educador através de um comportamento
responsivo e empático, durante a ausência da mãe, é pouco provável que a criança
desencadeie processos defensivos ao lidar com a separação materna (Portugal
1998, p. 19).
Para melhor compreensão Portugal (1998, p. 41) destaca a teoria de Bowlby que
―refere-se a todo o comportamento que permite ao bebê estabelecer e manter a proximidade
ou contato com a mãe. Trata-se de um fenômeno vital para o bebê, como a respiração ou
satisfação de necessidades alimentares‖.
Em sequência será apresentado um quadro síntese do entendimento referente a
evolução da vinculação mencionada por Portugal (1998):
Quadro 20 - Adaptação dos períodos vitais de desenvolvimento do sistema de vinculação
apresentada por Portugal.
Faixa etária Característica de vinculação
2 – 3 meses Responsividade social indiscriminada. O Bebê não cria vínculos
únicos e direcionados, responde a qualquer pessoa.
Até os seis
meses
Responsividade social discriminada. O bebê distingue bem as pessoas
familiares das não familiares e interage com elas. Demonstra reações
diferentes com a mãe e outras duas pessoas.
Até os sete
meses
Iniciativa ativa na procura da proximidade e contato. Aparecimento
dos esquemas de vinculação. O bebê procura quem tem maior ligação
com ele. Utiliza-se do seu controle motor para buscar o que deseja
como erguer os braços para chamar a atenção.
Após os 2
anos.
Formação de uma relação recíproca (a criança desenvolve uma
vontade própria e uma compreensão das intenções do outro).
190
Afastamento da figura de vinculação.
Fonte: Portugal (1998, p. 43).
Os diferentes comportamentos que a criança vai apresentando ao longo da infância,
no seu relacionamento com adultos, estão interligados com os diferentes níveis de
capacidade para identificarem e coordenarem pontos de vista sociais. A criança vai
constituindo enquanto pessoa e compreendendo o mundo ao seu redor, sendo que a creche é
um espaço profícuo para a socialização de vivências e interações.
Por isso, vale ressaltar que o educador precisa criar estratégias e aproximar-se
afetuosamente dos pequenos para poder criar relações de confiança e de prazer, por meio de
atenção, palavras dóceis e atitudes alegres e ternas. É importante estabelecer limites claros
e seguros que permitam à criança sentir-se protegida de decisões e escolhas para as quais
ela ainda não tem suficiente maturidade, mas que ao mesmo tempo permitam o
desenvolvimento da autonomia e autoconfiança sempre que possível. ―Deve ser alguém
verbalmente estimulante, com capacidade de empatia e de expansividade, promovendo a
linguagem da criança através de interações recíprocas e o seu desenvolvimento sócio
emocional‖ (PORTUGAL, 1998, p. 198).
Segundo Portugal (2000, p. 92) o educador deve promover relações de confiança e
de prazer por meio dos seguintes comportamentos:
Atenção, gestos, palavras e atitudes;
Estabelecer limites claros e seguros que permitam à criança sentir-se protegida
de decisões e escolhas para as quais ela ainda não tem maturidade suficiente;
Permitir o desenvolvimento de autonomia e autoconfiança sempre que possível;
Ser verbalmente estimulante, com capacidade de empatia e de responsabilidade,
promovendo a linguagem da criança através de interações recíprocas e o seu
desenvolvimento sócio emocional;
Oferecer atividades interessantes e envolventes que permitam à criança
oportunidades de concentração, descoberta e de júbilo pelo sucesso e vitória;
Ser capaz de articular o jogo e as necessidades das crianças.
Os educadores que trabalham em creche necessitam de características muito
especiais, de conhecimentos e formação adequada para garantir experiências de
aprendizagem. O bem-estar e desenvolvimento das crianças da creche clamam por
191
profissionais com conhecimentos sobre elas, capazes de compreender e reconhecer as suas
diferentes necessidades, respeitando a sua curiosidade natural.
Ressalta-se que o educador compreenda e respeite as necessidades das crianças para
fazer o que realmente for necessário para contribuir com seu desenvolvimento. Nesta
perspectiva, é necessário o educador criar relações que favoreçam as crianças ter
iniciativas, autonomia, estabelecendo trocas de ideias por meio de uma comunicação
construtiva, criando assim um ambiente favorável para expor seus sentimentos, emoções de
forma espontânea.
Hohmann e Post (2011) ressaltam em seus estudos que as pessoas que participam de
ações educativas com bebês e crianças pequenas precisam desenvolver relações positivas e
recíprocas com elas – na qual prevaleça o encorajamento.
Abraçam, seguram, brincam e falam com as crianças de forma calorosa, não
apressada, do tipo dar-e-receber. Estabelecem um ambiente psicológico seguro,
onde as iniciativas das crianças são vistas como intencionais e não malévolas ou
problemáticas para os adultos. Orientados por teorias e práticas sobre o
desenvolvimento da criança, os educadores procuram ver as coisas do ponto de
vista da criança, encorajar e não contrariar os esforços e tentativas de
comunicação por parte da criança, estar atentos aos indícios das crianças em vez
de imporem as suas próprias ideias, e assumir uma abordagem de resolução de
problemas aos conflitos interpessoais das crianças em vez de castigar ou resolver
os problemas por elas. (HOHMANN; POST, 2011, p. 245).
Destaca-se, portanto, que a interação adulto–crianças influencia, consideravelmente,
a construção do autoconceito e autoestima dos pequenos. Os autores apresentam quatro
estratégias para que as relações entre estes sejam respeitosas: orientações para o cuidado e
equilíbrio dos educadores que trabalham com as crianças; criar um clima de confiança entre
todos; criar uma relação de cooperação, apoiar e reconhecer as intenções e escolhas dos
pequenos nas explorações durante as brincadeiras.
Com o desenvolvimento, as crianças vão manifestando suas vontades e desejos de
maneira mais imperiosa e grita: ―- É meu!‖. Envolvem-se em conflitos sociais, as disputas
levam ao choro, ao bater, morder, entre outras reações pouco positivas. Nestas situações, o
192
educador deve se valer de autoridade, sem ferir os sentimentos das crianças, legitimando-os
e mediando o conflito, não resolvê-los para elas.
Estrela (2008) afirma que uma das premissas básicas para que a dimensão interação
adulto-criança seja positiva é a quantidade de crianças por adulto, a verifica-se quando a
quantidade de crianças por grupo é pequena as crianças apresentam maior desenvolvimento
em situação de jogos, na linguagem e nas interações sociais. Há menos ansiedade,
agressividade, apatia, pois as crianças são mais calmas e demonstram mais interesse pelas
atividades propostas.
A proporção adulto/criança exerce uma notável influência na quantidade e qualidade
das interações com adultos, visto que, à medida que o número de crianças aumenta,
menores serão as oportunidades de interações, entre estes, assim como a qualidade das
interações também poderá ser afetada, pois o adulto tenderá a alterar a sua postura diante o
grupo ocupando-se mais no controle da disciplina em detrimento de atividades lúdicas,
tornando-se, consequentemente, mais restritivo e autoritário.
As relações de afetividade e empatia estabelecidas pelo educador com as crianças as
ajudam ganhar a sensação de confiança no mundo. ―Quando os adultos são meigos e
pacientes, as crianças aprendem a apreciar essas qualidades e, ao lidarem com os outros,
poderão elas próprias exibir essas qualidades‖ (HOHMAN; WEIKART, 2007, p. 75).
Nos dias atuais, as crianças pequenas passam cada vez mais tempo distantes da
família. Frente a essa realidade, os educadores tem um papel cada vez mais importante em
seu desenvolvimento afetivo e social. No entanto, vale lembrar que o educador não é pai
nem mãe da criança. Ele tem um papel distinto, caracterizado pelo saber profissional,
experiência, conhecimento da situação e oportunidades que poderá criar as quais serão
decisivas na formação integral da criança. Neste sentido, é fundamental que o educador
faça uma boa organização, planejamento e gestão dos espaços de sala e dos materiais, pois
um ambiente bem organizado promove o progresso das crianças quanto ao
desenvolvimento físico, afetivo, cognitivo e social.
193
4.4 INTERAÇÕES ENTRE AS CRIANÇAS
Na concepção teórica de Piaget (1973), o desenvolvimento pode ser compreendido
como resultado das múltiplas interações que desde o nascimento se estabelecem entre
organismo e o meio físico e social, ou seja, com os pares, com os adultos, e
particularmente, com aquelas pessoas com as quais mantém um maior vínculo afetivo.
De acordo com este autor, o meio social é preconizado enquanto fator de
interferência ativa na construção de conhecimentos. Piaget analisa o paralelismo entre as
relações intelectuais e as relações morais que a criança estabelece com o mundo que a
rodeia. Há que se salientar, para esse autor, o grande desafio da educação seria o de
favorecer o desenvolvimento intelectual em consonância com o desenvolvimento social
para que o sujeito conquiste progressivamente a autonomia intelectual, afetiva e moral. Ele
pesquisou o desenvolvimento da inteligência e das emoções nas relações com os outros
desde o período sensório motor que aparecem os sentimentos primitivos de gostar e não
gostar (PIAGET, 1981).
Ao nascer, até em média os dezoito aos vinte e quatro meses, o bebê não desenvolve
o sentimento de respeito pelo adulto e seu comportamento em relação aos outros é
egocêntrico. As necessidades básicas determinam as normas de conduta. Nessa fase,
chamada de anomia, as crianças não seguem regras coletivas, interessam-se pela
brincadeira, essencialmente por seus esquemas motores. O que prevalece nessa é a relação
de afeto com os adultos. A criança necessita de carinho, ternura, afeto, da compreensão do
não, dos limites claros, da coerência da afetividade a quem a ela se entrega.
Como afirma Grana (2011, p. 92):
Apesar de não existir ainda a cooperação, que define a troca social propriamente
dita, as interações presenciadas no período sensório-motor ocorre no âmbito da
ação e, assim como acontece com as noções de causalidade, tempo e espaço,
pode-se dizer que constituem a base sobre a qual as interações sociais dos níveis
posteriores serão construídas. Por isso a importância das interações positivas nos
primeiros anos de vida.
194
A superação da inteligência sensória motora para a conquista da representação nos
faz perceber que a criança vivencia não apenas mudanças no comportamento social, mas
também precisa aprender a lidar com o aparecimento dos sentimentos interindividuais
(afeições, simpatias e antipatias), dos sentimentos morais intuitivos e das regulações de
interesses e valores, ligadas às suas interações com seus iguais.
Mais tarde, a criança começa a perceber a si mesma e aos outros, além de que há
coisas que podem ou não serem feitas, ingressando no mundo da moral, das regras,
tornando-se heterônoma, submetendo-se às ordens do adulto da relação.
Neste período, as relações interpessoais são mais evidentes quanto a possibilidade
da criança em expressar sentimentos e emoções aos que estão ao seu redor:
Começam a se tornar verdadeiras trocas de relações entre si e outras pessoas.
Estas trocas tornam as apreciações possíveis mais importantes, mais estruturadas
e mais estáveis. Tais apreciações indicam o início dos sentimentos morais
interpessoais. (PIAGET, 1970b, p. 41).
Portanto, os sentimentos, que até então estavam relacionados ao sujeito e a sua
atividade diversificam-se e ampliam-se apresentando interações mais elaboradas com seus
pares.
Ao adaptar-se ao meio social, a criança vai, progressivamente, apropriando-se de
maiores possibilidades de estabelecer trocas sociais baseadas na cooperação e na igualdade
e, sobretudo, pela reciprocidade e isenção de pressões exteriores. A interação entre iguais
permite trocas interpessoais singulares, deste modo, podemos considerar que são os adultos
que determinam a natureza do ambiente sócio moral no qual a criança pequena vive, por
meio das experiências diárias. Salientam Devries e Zan (1998, p. 51):
O ambiente sócio moral da criança é formado, em grande parte, das ações e reações
do adulto para com a criança. As relações com outras crianças também contribuem,
mas o adulto frequentemente estabelece os limites e possibilidades dessas relações.
Ainda nesse período, a criança manifesta um respeito absoluto pelos adultos ou por
pessoas com maior autoridade. Os valores dos atos são julgados em função das suas
195
consequências e não das suas intenções. A criança acredita que existe uma justiça imanente
(própria da natureza) que se encarrega de punir todos os atos incorretos. A sua incapacidade
intelectual de reversibilidade dificulta que ela consiga coordenar pontos de vista, assim
como explicam Mantovani de Assis e Assis (2010, p. 184)
O pensamento lógico é inatingível para a criança pré-operatória porque suas
relações com o adulto se baseiam no respeito unilateral, fonte de obediência e
submissão. Desta forma, à heteronomia moral característica da criança desse
estágio, corresponde uma heteronomia intelectual. A criança é pré-lógica e,
portanto, não dispõe de instrumentos de raciocínio que lhe permitam analisar com
objetividade as influências sociais às quais é submetida. Para ela, o adulto é o
detentor da verdade à qual ela se submete sem comprovar.
Tortella (2001, p. 34), ilustra um quadro síntese referente as etapas do
desenvolvimento social. A seguir serão apresentadas as duas primeiras fases que
correspondem aos dois primeiros períodos investigados neste trabalho:
Quadro 21: Síntese das etapas do desenvolvimento em relação a socialização intelectual
segundo Tortella.
ESTÁGIO CARACTERÍSTICAS
Sensório-motor - Não se pode falar de socialização da inteligência (inteligência
puramente individual)
Pré-operatório - Começo significativo da socialização, com características
intermediárias entre o individual e a cooperação.
- Trocas interindividuais são caracterizadas por um
―egocentrismo‖ que permanece a meio caminho do individual e do
social.
- Pensamento intuitivo.
Fonte: Tortella (2001, p. 34).
Com o desenvolvimento social que está intrinsecamente relacionado com o
cognitivo, a criança começa a controlar cada vez mais as suas emoções e a diferenciá-las,
conseguindo manifestar seus sentimentos com maior controle da impulsividade e uma
maior diferenciação das emoções do que quando era bebê.
196
Assim que a criança ingressa em instituições sociais, como no caso das creches, ela
começa a conviver em grupo, entre iguais. Passa a apresentar interesse espontâneo pelas
pessoas, procura o contato, inicia interações e estabelece quase sempre relações positivas,
mas também em alguns momentos de disputas, empurrões e mordidas.
Este convívio social exerce uma força para que a criança adquira a aquisição de
regras e de conhecimentos sobre como é viver em sociedade. Os bebês trocam sons, gestos
com seus colegas, abraçam ou trazem os seus brinquedos para junto dos amigos, mostram
suas frustrações com um problema, comunicam suas emoções com risos e choros entre
outras manifestações acerca das relações sociais.
Os educadores precisam se valer de estratégias que ajudam as crianças a estabelecer
e manter relações tranquilas com seus pares, como por exemplo, oferecer uma quantidade
coerente de brinquedos para o número de crianças que há no grupo. Por exemplo, existe um
grande risco em provocar conflitos entre as crianças se o adulto colocar uma ou duas bolas
para um grupo de 6 crianças.
Tortella (1996) em sua pesquisa ―Amizade no contexto escolar‖ destaca a
importância da criança interagir com outras crianças para vivenciar situações que
colaboram com a compreensão da noção de amizade tanto em situações espontâneas quanto
em brincadeiras em pequenos grupos, possibilitando assim um ambiente favorável às
interações sociais de qualidade.
Grana (2011) aponta em sua pesquisa que as interações sociais entre bebês e
crianças pequenas podem ocorrer de modo rico e variado. Em sua investigação foram
identificados diversos tipos de condutas das crianças ao interagirem entre si, como, por
exemplo, a observação, disputa, imitação, expressão de contentamento e descontentamento,
colaboração, convite e compaixão que são apresentados no Quadro 22:
197
Quadro 22 - Categorias encontradas por Grana (2011)
CATEGORIAS CARACTERIZAÇÃO
Categoria 1: Conduta convidativa Ações, gestos, vocalizações, expressões faciais,
entre outras utilizadas para atrair a atenção da
outra criança ou a fim de manter a atenção da
outra criança para si.
Categoria 2: Conduta de contentamento Ações, gestos, vocalizações, expressões faciais,
entre outras que denotam alegria, felicidade,
entusiasmo provocadas (ou em resposta) pelas
ações de outras crianças.
Categoria 3: Conduta de observação Ações que evidenciam que o bebê observa as
ações de outra criança ou de um grupo de
crianças.
Categoria 4: Conduta de
descontentamento
Ações, gestos, vocalizações, expressões faciais
que denotam aborrecimento, raiva, tristeza,
entre outras provocados/em resposta pelas
ações de outra criança.
Categoria 5: Conduta colaborativa Ações que contribuem para a ação e/ou
brincadeira do outro. Em outras palavras, são
ações cuja finalidade comum.
Categoria 6: Conduta de imitação Ações que implicam a reprodução dos atos de
outra criança.
Categoria 7: conduta de disputa Ações que deflagram disputa por algum
brinquedo, espaço ou outros tipos de objetos.
Categoria 8: Conduta impositiva
Ações ou comportamentos que manifestam que
a criança está impondo a sua vontade sobre a da
outra. (querendo fazer alguma coisa ou quando
quer que o outro faça algo.)
Categoria 9: Condutas de compaixão Ações ou comportamentos que denotam a
sensibilização pelo sofrimento de outrem e
esforços para amenizá-lo. Fonte: Grana (2011, p. 120)
Estes estudos corroboram para o entendimento dos educadores sobre as interações
sociais entre os bebês e crianças pequenas, oferecendo-lhes informações importantes para
que estes reconheçam os tipos de interações que as crianças estão estabelecendo. Desta
forma, estas poderão organizar ambientes propícios para viverem relações solidárias e
amistosas.
Os bebês e as crianças pequenas estabelecem trocas por expressões verbais e não
verbais. Muitas vezes elas se entendem, porém em outras necessitam de uma tradução por
198
parte de um adulto, haja vista que este precisa estar sempre atento aos momentos de trocas
entre os pequenos, para que possa estreitar as possibilidades de cooperação a partir dos seus
próprios interesses.
Segundo Portugal (2006) e Laevers (2010), as crianças evidenciam o interesse
genuíno pelas dimensões sociais em diversas situações da rotina da creche. Os pequenos
gostam de interagir com outras crianças, de ouvi-las, de explorar o mundo dos sentimentos
dos outros e de expressar os seus. A postura do adulto precisa facilitar as interações entre as
crianças, para isso o ambiente necessita ser agradável, aconchegante, interessante e,
sobretudo, favorável para que as relações sejam positivas e que a ajudem a desenvolver
condições sociais de companheirismo, afetividade e respeito.
O contexto onde, por excelência, a criança exerce a sua iniciativa e interação entre
os iguais é durante as brincadeiras. Conforme aponta Portugal (2006, p. 31):
No brincar, as crianças estão totalmente implicadas na sua atividade, atuando ao
seu próprio nível de desenvolvimento e de desafio, em controle. A forma
entusiástica e concentrada como as crianças se implicam no jogo indica o valor
altamente de desenvolvimento de experiências. Quando as crianças brincam, elas
resolvem problemas, fazem descobertas, expressam-se de várias formas, utilizam
informações e conhecimentos em contexto significativo.
Por isso, o brincar é uma maneira de favorecer a interação social, por meio de um
processo de construção ativa do conhecimento em experiências compartilhadas que a
ajudam a perceber o que se passa com ela e com os outros a compreender as relações,
comportamentos e seus efeitos, valores que dão sentido à vida em comunidade. O educador
tem um importante papel ao ajudar as crianças a compreender os seus sentimentos e
experiências, assim como dos outros por meio de intervenções apropriadas.
Os educadores precisam preparar um ambiente favorável ao bem estar das crianças e
dos adultos para que as relações sejam as mais profícuas possíveis. Laevers (2010, p. 118)
cita as necessidades que contribuem para a efetivação deste ambiente:
Necessidades físicas (comer, beber, dormir, movimento, regulação da
temperatura, descanso); necessidade de afeto (de proximidade física, de ser
abraçado, de ligações afetivas, de conhecer relações calorosas e atentas);
necessidade de segurança (de clareza, referências e limites claros, de um contexto
199
previsível, saber o que se pode fazer, de confiança, poder contar com os outros
em caso de necessidade); necessidade de reconhecimento e de afirmação (de se
sentir aceito e apreciado, ser escutada, respeitada e ser tida em consideração, de
ser parte do grupo, sentimento de pertença); necessidade de se sentir competente
(de se sentir capaz e bem sucedida, experienciar sucesso, alcançar objetivos
ultrapassar a fronteira das atuais possibilidades, procurar o desafio, o novo e/ou
desconhecido, atualização de conhecimentos, capacidades); necessidade de
significados e de valores (de identificação de sentido e de objetivos na vida, de se
sentir bem consigo própria, em ligação com os outros e com o mundo).
Se um baixo nível de bem-estar prevalecer no ambiente em que a criança estiver
inserida, este pode provocar algumas dificuldades sócio emocionais e de comportamentos
negativos como ansiedade, agressividade, fuga e, consequentemente, comprometer o
desenvolvimento infantil.
Assim sendo, é imprescindível que o adulto encoraje as crianças a procurarem seus
parceiros para pedir ajuda para que possam construir relações autênticas e de confiança.
Para tanto, se faz necessário que o educador planeje brincadeiras cooperativas para que
sintam a necessidade de um colaborar com o outro, isto é, que tenham oportunidades de
trabalhar juntas e que sintam-se tranquilas, confiantes e que no seu decorrer, estabeleçam
relações positivas entre os seus iguais.
Essas experiências reiteram o preceito em que a creche deve ser um lugar do
cuidado, da educação, da convivência, sendo um lugar marcado como um espaço público
de encontros.
4.5 EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS
A criança do zero aos três anos tem as suas especificidades e, por isso, qualquer
programa educativo desenvolvido neste segmento de ensino terá de procurar integrar as
dimensões cuidar e educar de maneira planejada, consciente, refletida e com qualidade.
O trabalho com crianças nessa faixa etária pressupõe o cuidado e a educação como
intrínsecos à relação cotidiana. De um lado, as crianças necessitam de cuidados essenciais
200
ligados às questões de alimentação, vestuário, saúde, pelos quais todos os seres humanos
necessitam. Para cuidar é preciso estar atento, com a sua singularidade, ser solidário com as
suas necessidades, confiando em suas capacidades. Disso depende a construção de um
vínculo entre o cuidador e aquele que é cuidado. É preciso que o educador possa ajudar a
criança a identificar as suas necessidades e priorizá-las, assim como atendê-las de forma
adequada.
Nesta perspectiva, deve-se cuidar da criança como pessoa que está em um contínuo
crescimento e desenvolvimento, compreendendo as suas especificidades, identificando e
respondendo às suas necessidades. Do outro lado, as crianças precisam também da
interferência imediata, em especial, do adulto, que consiga integrar as funções de cuidar e
educar, que significa propiciar situações práticas e experiências ricas e adequadas ao
desenvolvimento infantil, fornecendo espaços e materiais adequados para que possam
interagir de maneira a desenvolver as suas possibilidades para avançar em seu
desenvolvimento e que apoiem as suas iniciativas, criatividade, autonomia e autoestima.
As experiências e vivências diárias desenvolvidas nas creches podem delinear-se
nos princípios apontados por Kamii (1992, p. 33), em que promovem ações educativas que
possam:
1. Encorajar a criança a tornar-se cada vez mais autônoma em relação aos
adultos.
2. Encorajar a criança a reagir com outras crianças e resolver os conflitos entre
elas mesmas.
3. Encorajar a criança a ser independente e curiosa, a usar iniciativa própria no
objetivo de suas curiosidades, ter confiança na habilidade de formar ideia própria
das coisas, a exprimir suas ideias com convicção e lutar construtivamente com
medos e angústias e não se desencorajar facilmente.
Frente a tais princípios, vale ressaltar a importância dos educadores e professores
terem conhecimentos sobre as características e necessidades específicas de cada fase do
desenvolvimento, para que possa organizar situações adequadas às necessidades e
interesses das crianças, assim como promover a construção de novos conhecimentos.
201
Pensar sobre isto pressupõe fundamentos e princípios de sustentação no trabalho dos
educadores e professores. Assim, considerando as especificidades que as crianças de 0 aos
3 anos de idade demonstram em termos de desenvolvimento, um currículo para esta faixa
etária, tem, necessariamente, características diferentes de um currículo para crianças
maiores.
Direcionado as instituições e aos profissionais de creches e pré‐escolas o
Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil (BRASIL, 1998a) apresenta-se em
um documento que serve como um guia de orientações que deve servir de base para
discussões entre os profissionais da educação na creche com vistas a auxiliar na elaboração
de seus projetos educativos.
A meta do trabalho pedagógico nas instituições de Educação Infantil é apoiar as
crianças, desde cedo e ao longo de todas as suas experiências cotidianas, no
estabelecimento de uma relação positiva com a instituição educacional, no
fortalecimento de sua autoestima, interesse e curiosidade pelo conhecimento do
mundo, na familiaridade com diferentes linguagens, e na aceitação e acolhimento
das diferenças entre as pessoas.
Para garantir às crianças seu direito de viver a infância e se desenvolver, creches
e pré-escolas devem organizar situações agradáveis, estimulantes, que ampliem as
possibilidades infantis de cuidar de si e de outrem, de se expressar, comunicar e
criar, de organizar pensamentos e ideias, de conviver, brincar e trabalhar em
grupo, de ter iniciativa e buscar soluções para os problemas e conflitos que se
apresentam às mais diferentes idades, desde muito cedo. O ambiente deve ser rico
de experiências para exploração ativa e compartilhada por crianças e professores,
que constroem significações nos diálogos que estabelecem (OLIVEIRA, 2010, p.
9).
A creche deverá, então, preconizar propostas de estimulação que deem à criança a
oportunidade de brincar, jogar, sentir, descobrir e aprender por meio da sua atividade
pessoal, para além da satisfação das necessidades básicas, promotoras de bem-estar.
Os bebês e as crianças pequenas, em sua condição de serem simultaneamente
dependentes dos cuidados dos adultos e independentes em seus processos interativos no e
com o mundo que o cerca, rompem a perspectiva de currículo fechado com objetivos e
―conteúdos‖ a serem ensinados. A creche em modelo construtivista exige pensar e praticar
ações no cotidiano diferente do modelo escolar organizado em ―aulas‖ e baseado na
202
―transmissão verbal de conteúdos‖, necessitando por isso, outras possibilidades de planejar,
organizar e avaliar suas propostas e vivências.
Os bebês e as crianças pequenas vivenciam nesses espaços suas primeiras
experiências educativas, como por exemplo, quando conversamos com eles e nos
respondem com balbucios, quando trocamos suas fraldas eles nos auxiliam esticando as
pernas, ou ao explorarem objetos para descobrir o que são e o que fazem. Todas as
vivências são educadoras nessa faixa etária.
A creche necessita organizar um espaço educacional rico em experiências que
favoreçam por meio da interlocução com as crianças e as famílias, explorações ativas
provocativas, desafiadoras e que contribuam para o seu desenvolvimento, para isso, exige-
se preparo e disponibilidade dos educadores e professores.
As crianças nessa faixa etária solicitam aos educadores uma pedagogia sustentada
nas relações, nas interações e em práticas educativas intencionalmente voltadas para suas
experiências lúdicas em seus processos de descobertas e invenções, diferente de uma
intencionalidade pedagógica voltada para resultados escolares individualizados e esperados.
Uma proposta curricular para crianças de 0 a 3 anos deve estar pautada em uma
concepção em que a criança é sujeito ativo no processo de construção do conhecimento,
para isso, faz- se valer que é necessário conhecer quem é aquele sujeito que faz parte de
uma determinada família que a matriculou naquele espaço educacional.
Ao contrário do que tem ocorrido com a inquietação em relação aos currículos para
a educação com atendimento de 4 – 5 anos, o da creche (0 a 3 anos) não tem sido objeto de
grande interesse por parte dos investigadores. Portanto, se o educar é uma inquietação nas
discussões nesse contexto educacional, se quem fica com as crianças durante todo o período
não é um mero guardador, ou pajem, o currículo é um documento imprescindível para que
haja um plano de ações voltadas para o desenvolvimento infantil em todos os aspectos.
4.5.1 Modelos curriculares para atendimento de 0 a 3 anos
203
Serão apresentados nesta dimensão dois modelos curriculares construtivistas para
creches com atendimento à crianças de 0 a 3 anos, baseados na teoria piagetiana que
permeia os pressupostos teóricos deste trabalho. Além disso, há em seu entendimento, uma
dimensão diretamente relacionada com a construção curricular, compreendida como
ingrediente fundamental no processo de intencionalidade educativa nas ações
desenvolvidas nessas instituições.
O modelo do currículo High/Scope segundo Hohmann e Post (2011, p. 2) ―tem
uma longa história no desenvolvimento curricular, formação e investigação na área do
desenvolvimento de bebês e crianças de tenra idade‖. Logo, apresenta alusões muito
pertinentes para os educadores da Educação Infantil que trabalham com os pequenos, sendo
este currículo dedicado somente a crianças dos 0 aos 3 anos de idade.
É por meio da aprendizagem ativa que surge um leque as referências essenciais do
High/Scope, como nos apresentam Hohmann e Post (2011, p. 11), tais como: a observação
da criança, interação adulto-criança, horários e rotinas, ambiente físico, apresentadas, no
que os autores chamam de ―Roda da Aprendizagem‖.
204
Figura 17 - Roda da Aprendizagem High/Scope para bebês e crianças.
Adaptado de Hohmann e Post .
Fonte : Hohmann e Post (2011, p. 11).
Baseado nas ideias de Piaget alusivo ao desenvolvimento infantil, o Currículo
High/Scope considera a criança como sujeito ativo que aprende melhor a partir das
atividades que ela mesma planeja, desenvolve e sobre as quais reflete. A aprendizagem
ativa é definida quando a criança, por meio da sua ação sobre os objetos e da sua interação
com as pessoas, chega à compreensão do mundo. Os adultos organizam as áreas de
interesse no ambiente de aprendizagem transformam as explorações em aprendizagens
significativas; mantém a rotina diária que permite às crianças o planejamento e busca de
suas próprias atividades; e juntam-se às atividades para ajudá-las a refletir. Os adultos
encorajam as crianças a envolverem-se em experiências-chave, ajudam-nas a aprender a
205
fazer escolhas, a resolver problemas e a engajar-se em atividades que promovam o
desenvolvimento intelectual, social e físico.
De acordo com essa perspectiva, o High/Scope leva em consideração quatro aspetos,
que definem como norteadores de um bom trabalho em creche como apresentam Hohmann
e Post (2011, p. 22) que afirmam:
Bebês e crianças até aos 3 anos aprendem com todo o seu corpo e todos os seus
sentidos.
Bebês e crianças até aos 3 anos aprendem porque querem.
Bebês e crianças até aos 3 anos comunicam aquilo que sabem.
Bebês e crianças até aos 3 anos aprendem num contexto de relações de confiança.
Desta forma, as experiências chave High/Scope, segundo Hohmann e Post (2011, p.
52) ―ajudam os educadores a organizarem, interpretarem e agirem sobre aquilo que as
crianças estão fazendo.‖ e, portanto, é uma boa estratégia para organizar um currículo
próprio para cada idade, ou melhor, para cada período de desenvolvimento da criança.
Partindo dos princípios orientadores apontados acima, os educadores nesta perspectiva
curricular devem conhecer, compreender e apoiar da melhor maneira possível cada criança,
por meio da atenção, observação e interação física e afetiva.
Neste caso, o processo de planejamento apresenta-se focado na organização de um
ambiente educativo que seja favorável à aprendizagem ativa, por meio da seleção de
materiais e de uma organização do espaço físico que apoiem as atividades de exploração e
de jogo.
O planejamento do High/Scope incide ainda na definição dos horários e das rotinas,
sendo a definição de um horário diário previsível, mas flexível, sendo espaços tranquilos,
considerados ingredientes fundamentais para a qualidade do programa, permitindo a
previsibilidade da experiência vivida pela criança. Os acontecimentos e as rotinas de
cuidados são também encarados como ocasiões para a aprendizagem ativa, devendo ser
explorados em função da perspectiva das experiências-chave.
As experiências apresentadas no currículo High/Scope estão organizadas em nove
domínios abrangentes da aprendizagem das crianças, enquadrando o conteúdo das
206
primeiras aprendizagens e do desenvolvimento precoce, conforme apresentado no Quadro
23:
Quadro 23 - Experiências - chave High/Scope para bebês e crianças pequenas
Sentido de si próprio
Expressar iniciativa
Distinguir ―eu‖ dos outros
Resolver problemas com que se depara ao
explorar e brincar
Fazer coisas por si próprias
Comunicação e Linguagem
Ouvir e responder
Comunicar não verbalmente
Participar na comunicação dar-e-receber
Comunicar verbalmente
Explorar livros de imagens e revistas
Apreciar histórias, lengalengas e canções.
Relações sociais
Estabelecer vinculação com a educadora
responsável
Estabelecer relações com outros adultos
Criar relações com os pares
Expressar emoções
Mostrar empatia pelos sentimentos e
necessidades dos outros
Desenvolver jogo social
Explorar Objetos
Explorar objetos com as mãos, pés, boca,
olhos, ouvidos e nariz.
Descobrir a permanência do objeto
Explorar e reparar em como as coisas
podem ser iguais ou diferentes
Representação Criativa
Imitar e brincar ao ―faz de conta‖
Explorar materiais de construção e de
expressão artística
Responder e identificar figuras e fotografias
Noção Precoce da Quantidade e de Número
Experimentar ―mais‖
Experimentar a correspondência de ―um
para um‖
Explorar o número de coisas
Movimento
Movimentar o corpo (virar a cabeça,
agarrar, dar pontapés)
Movimentar o corpo todo (rebolar-se,
deslocar-se, andar, correr, fazer equilíbrio)
Movimentar objetos
Sentir e expressar batimentos regulares
Espaço
Explorar e reparar na localização dos
objetos
Observar pessoas e coisas sob várias
perspectivas
Encher e esvaziar, pôr dentro e tirar para
fora.
Desmontar coisas e juntá-las de novo
Música
Ouvir música
Responder à música
Explorar e imitar sons
Explorar sons e tons vocais
Tempo
Antecipar acontecimentos familiares
Reparar no início e final de um intervalo de
tempo
Experimentar ―depressa‖ e ―devagar‖
Repetir uma ação para fazer com que algo
volte a acontecer, experimentando a sua causa
e efeito. Fonte: Hohmann e Post (2011, p. 39).
Vale destacar o contexto do currículo High/Scope, quanto a importância que é dada
às relações afetivas positivas entre os adultos e as crianças, o envolvimento precisa ser
carinhoso, consistente e que apoiem com criatividade o desejo natural das crianças para
207
aprenderem ativamente em ambientes que atendam suas necessidades sociais, emocionais,
de segurança, física, cognitiva e social.
O currículo do Programa de Educação Infantil e Ensino Fundamental –
PROEPRE é um programa de Educação que foi criado por Mantovani de Assis (1976), a
partir de sua tese de doutoramento intitulada ―A solicitação do meio e a construção das
estruturas lógicas elementares na criança”, cujo objetivo foi investigar os efeitos do
processo de solicitação na construção das estruturas de pensamento de crianças de cinco a
seis anos, pertencentes a escolas públicas e particulares do município de Campinas- SP.
A autora defende que as ações pedagógicas devem ser adequadas a um ambiente
isento de tensões, coerções ou pressões, no qual a criança seja ativa e inventiva. ―Nas
classes do PROEPRE a criança deve ter a oportunidade de tomar a iniciativa de promover
sua própria aprendizagem, escolher atividades, manifestar livremente seus sentimentos e
emoções, fazer perguntas sobre tudo o que quer saber‖ (MANTOVANI DE ASSIS; ASSIS,
1999, p. 9). O professor nessa dinâmica realiza uma observação atenta para intervir,
auxiliar, coordenar, propor, analisar, orientar e desafiar o grupo na construção do
conhecimento e da autonomia.
O currículo deste programa é permeado por ações educativas que sejam:
- interessantes e significativas;
- que tenham um caráter lúdico, ao mesmo tempo em que solicitam um esforço
por parte da criança;
- que possibilitem a aquisição de conhecimento sobre meio físico e social da
criança e de outras realidades, a partir do conhecimento que ela tem da sua.
- que apresentem desafios ao pensamento da criança.
- que propiciem a oportunidade para a criança resolver problemas, estabelecer
relações e ter ideias novas (MANTOVANI DE ASSIS; ASSIS, 2010, p. 1).
É importante dizer que o PROEPRE reconhece o desenvolvimento da criança de
zero a três anos e suas necessidades como descrevem Mantovani de Assis e Assis (2010, p.
11):
Necessidade de sentir-se aceita, de ter confiança, de ter segurança e
competência;
Necessidade de conhecer, de raciocinar e de resolver problemas;
208
Necessidade de ser criativa;
Necessidade para desenvolver a coordenação motora;
Necessidade de compartilhar experiências com outras crianças e adultos.
Diante a esta perspectiva, a organização do currículo para o atendimento às crianças
pequenas, neste modelo curricular, atende ao princípio da interação ativa da criança com o
espaço, com os outros e com os objetos para que possa explorar o mundo que a cerca e a si
própria. Portanto, as situações que são vivenciadas são muito semelhantes àquelas com as
quais a criança se defronta na vida cotidiana, sendo estas fontes inesgotáveis de situações.
―Com a diferença que são planejadas, organizadas e sistematizadas de maneira a suscitar a
solução de problemas que comumente o dia-a-dia apresenta à criança‖ (MANTOVANI DE
ASSIS; ASSIS, 1999, p. 3):
A aplicação desse programa também se faz através de atividades cuja realização
tem um interesse intrínseco para a criança por terem um caráter lúdico e por
permitirem a livre expressão de seus pensamentos e emoções. [...] Assim sendo,
os jogos simbólicos, os jogos de construção, o desenho, a pintura, e todas as
formas de expressão artística, o cultivo de plantas, a criação de animais, os jogos
inventados com o material pedagógico existente na Educação Infantil, as ati-
vidades físicas, a expressão corporal, a música, tocar instrumentos construídas
por si mesmas, as brincadeiras com areia ou água, são atividades fundamentais na
aplicação do PROEPRE, visto que desempenham um papel primordial no
desenvolvimento da criança. (MANTOVANI DE ASSIS; ASSIS, 1999, p. 3).
O reconhecimento do quanto essa fase inicial da vida da criança pequena é
necessária às primeiras construções da inteligência, da moralidade, dos primeiros vínculos
afetivos das relações sociais e dos hábitos, para trabalhar com o PROEPRE é necessário um
curso de formação para os educadores e professores à luz da psicologia genética de Jean
Piaget. Este curso tem como objetivo fundamentar os profissionais de educação que irão
lidar direta e indiretamente com as crianças. Conta com uma carga horária de 120 horas.
Em sua pesquisa de mestrado Costa (2006, p. 22) apresenta os objetivos deste curso:
Esse programa tem como finalidade, formar educadores capazes de favorecer o
desenvolvimento das crianças nos aspectos físico, intelectual, afetivo e
sociomoral, assegurando-lhes, assim, o direito à educação integral. Para atingir-se
tal meta, atua-se junto aos educadores de instituições a fim de propiciar-lhes a
formação e o aperfeiçoamento necessários ao desenvolvimento de uma prática
educativa de acordo com as teorias e princípios educacionais, mais condizentes
com os objetivos de uma educação transformadora, que considere as necessidades
socioculturais, as possibilidades e características das crianças.
209
As atividades propostas pelo PROEPRE18
valorizam as relações na escola e
recomendam que sejam baseadas no respeito mútuo, na cooperação e na solidariedade. Para
isso, promove diferentes tipos de atividades, abrangendo diversas áreas do currículo
dependendo dos objetivos a serem focalizados:
Atividades Coletivas:
Escolhidas e realizadas por toda classe;
Visam a objetivos comuns;
Propiciam a troca de pontos de vista e opiniões;
Favorecem a coordenação de pontos de vista;
Propiciam a experiência de vida democrática.
Atividades Diversificadas:
Livremente escolhidas;
Ocorrem simultaneamente, sob a coordenação do professor;
Possibilitam ao aluno seguir o seu próprio ritmo;
Contemplam diferentes objetivos;
Satisfazem os interesses e as necessidades dos alunos.
Atividades Individuais:
Escolhidas pelo aluno ou propostas pelo professor;
Possibilitam a interação direta professor-aluno;
Possibilitam ao professor acompanhar o raciocínio do aluno.
Atividades Independentes:
Livremente escolhidas;
Realizada individualmente, em pequenos grupos ou em grupos maiores;
Favorecem o desenvolvimento da responsabilidade, da iniciativa e da criatividade;
Possibilitam ao aluno aprender a trabalhar sem orientação direta do adulto;
A rotina diária do trabalho envolve períodos de atividades coletivas, diversificadas,
individuais e coletivas.
18
Orientações ilustradas no livro: PROEPRE: prática pedagógica/ Orly Z. Mantovani de Assis, Mucio
Camargo de Assis (organizadores) – 3ª ed. – Campinas, SP: Graf. FE; LPG, 2004.
210
As ideias apresentadas pelo PROEPRE reconhecem a importância da formação de
educadores e professores capazes de promover o desenvolvimento da criança. Para isso é
necessário que compreendam e vivam os princípios básicos dos pressupostos
construtivistas piagetiano e que consigam levá-los para sua prática pedagógica.
Os conteúdos explorados durante o curso são: breve histórico sobre creches; creche
como direito da criança pequena; a construção da inteligência na criança e os estágios do
desenvolvimento segundo Piaget; características e necessidades do bebê e da criança
pequena; os aspectos do desenvolvimento (físico, afetivo, cognitivo e social); os três tipos
de conhecimentos (físico, social e lógico-matemático); os processos de aquisição do
conhecimento; a organização do espaço físico; a estruturação do trabalho diário; a função
simbólica; o brincar heurístico; projetos de trabalho com a criança pequena;
psicomotricidade; desenvolvimento afetivo e as interações sociais – tipos de conduta;
planejamento e avaliação do desenvolvimento infantil; avaliação do programa e o
desenvolvimento da moralidade infantil.
Os objetivos que norteiam a prática pedagógica dos professores e educadores neste
programa de Educação Infantil e Ensino Fundamental refletem a concepção quanto ―a
natureza da aprendizagem, da inteligência, da afetividade, da socialização e sobre o valor
da educação. Eles visam ao desenvolvimento da criança em seus aspectos: cognitivo,
afetivo, social e físico‖ (MANTOVANI DE ASSIS; ASSIS, 1999, p. 11).
ASPECTO AFETIVO: Os objetivos que permeiam este aspecto são: curiosidade,
criatividade e motivação. Em toda a ação distinguem-se dois aspectos intimamente
relacionados: o afetivo e o intelectual. A afetividade é a energética da ação, isto é, ela
direciona a energia para executar qualquer atividade, manter-se interessada perseverar mela
até concluí-la. Por essa razão, o PROEPRE procura favorecer o desenvolvimento afetivo
em um ambiente que permita a criança adquirir confiança em si e nos outros, valorizando-
se positivamente. Vale ressaltar que a relação do professou ou educador sejam baseadas no
respeito mútuo, na compreensão, afeto, carinho entre outros. Situações como, por exemplo,
expressar seus sentimentos e emoções, vivências, participar do planejamento das
211
atividades, entre outras. No ambiente das salas do PROEPRE são valorizadas situações em
que as crianças tenham a sua disposição uma grande variedade de materiais, como blocos,
sucatas, jogos, coisas para seriar, tecidos, papéis de texturas diferentes e uma variedade de
coisas que estimulam a atividade espontânea e a criatividade.
ASPECTO SOCIAL: O PROEPRE tem em seus objetivos no que se refere ao aspecto
social que as crianças possam interagir com seus pares; interagir com adultos; aprender
normas de conduta que regem a interação social e a conquista da autonomia moral,
tornando-se apta para a cooperação e construindo normas e valores próprios. Para isso, o
programa ressalta a importância em que a relação professor-aluno seja baseada no respeito
mútuo. A criança precisa ter oportunidades em fazer escolhas, tomar pequenas decisões,
pequenas responsabilidades, poder opinar e criticar. As vivências em grupos para este
programa é essencial para que haja possibilidades de estabelecer trocas de ideias que
possam resolver seus conflitos com o acompanhamento da professora e construir regras
para o bom funcionamento do grupo.
ASPECTO COGNITIVO: Os objetivos referentes a este aspecto são: adquirir o
conhecimento do mundo físico; construir o lógico-matemático; o social e desenvolver a
capacidade de simbolização. Partindo do princípio que o conhecimento, segundo Piaget,
não é um puro registro de dados do mundo exterior e nem simples cópia da realidade. O
sujeito desempenha um papel ativo no processo de aquisição do conhecimento, pois para
conhecer um objeto é necessário agir sobre ele, transformá-lo de tal maneira que ele possa
ser incorporado a suas estruturas cognitivas. Há três tipos de conhecimentos: conhecimento
físico (descoberta das propriedades dos objetos: cor, forma, textura, consistência, odor –
sabor, temperatura, peso, animais e plantas), o conhecimento social (arbitrário e
fundamenta-se no consenso social: brincar juntas) e conhecimento lógico-matemático
(inventado pela coordenação das ações sobre os objetos: classificação, seriação,
conservação, espaço, tempo, causalidade e número). A função simbólica (capacidade de
representação) que também compõe este aspecto apresenta-se por meio das condutas do
jogo simbólico, da linguagem, da imagem mental, do desenho e da imitação.
212
ASPECTO FÍSICO: Na medida em que a criança se desenvolve, vai tornando-se cada vez
mais independente e capaz de coordenar seus movimentos. Os objetivos que o programa
apresenta quanto a este aspecto estão relacionados com a importância de criar condições
adequadas para que as crianças possam cada vez mais tomar consciência dos processos
orgânicos característicos do funcionamento do organismo humano e de como é possível
interferir sobre eles de modo a garantir uma vida saudável, bem como adquirir hábitos
higiênicos e alimentares indispensáveis à saúde e tomar consciência dos perigos aos quais
estamos expostos e aprender a evitá-los.
A Figura 18 demonstra o mapa do currículo do PROEPRE em que pode colaborar
com o planejamento das atividades de rotina do professor quanto aos objetivos e atividades
que irão desenvolver junto ao grupo de crianças, a fim de que estas rumem, gradativamente,
em direção à cooperação, autonomia individual e em grupo:
214
4.6 CUIDADOS PARA UMA VIDA SAUDÁVEL
Um ambiente adequado às necessidades primordiais do bebê e da criança pequena
como, por exemplo, alimentação, conforto, cuidados com higiene, práticas de segurança e
descanso/sono são ações imperiosas que devem compor o cotidiano das escolas de
Educação Infantil com atendimento de 0 a 3 anos. O cuidado e a educação das crianças em
creches é uma das dimensões imprescindíveis para um atendimento de alta qualidade, as
quais devem complementar as ações da família.
O bebê é extremamente dependente do adulto, por isso, necessita de cuidados
específicos para sua sobrevivência, para satisfazer tanto necessidades básicas elementares
como alimentação, hidratação e higiene quanto as mais elaboradas como estimulação e
amor. A discussão sobre a indissociabilidade entre o educar e o cuidar fica mais clara por
evidenciar que um atendimento de qualidade pode ser legítimo não apenas se há uma
preocupação com o ―onde‖ e ―o que cuidar‖, mas também em ―como‖ e ―por que‖ cuidar.
Rosemberg (1999) reconhece as necessidades de relações de proteção, segurança,
bem-estar e saúde da criança quando cita os propósitos do atendimento a este segmento da
Educação Infantil:
Atender às suas necessidades de proteção, segurança, bem-estar, saúde. Estar
atento a seus afetos, emoções e sentimentos, às relações com os outros, com as
coisas, com o ambiente. Planejar um espaço que estimule sua inteligência e
imaginação, que permita descobertas e aguce sua curiosidade (ROSEMBERG,
1999, p. 23).
Sendo assim, oferecer condições para uma vida saudável está relacionado com as
práticas de cuidar/educar por serem constituídas de afeto, de emoção, em atitudes e
comportamentos que demandam conhecimentos, habilidades no sentido de contribuir para o
desenvolvimento da criança.
A afetividade pode ser expressa por pequenas demonstrações de carinho ou mesmo
gestos sutis como um toque, o tom de voz, um olhar ou um sorriso nos momentos de troca,
banho e alimentação. No entanto, o cuidar com afetividade não pode ser eventual, esse
215
cuidar requer uma atitude constante de interesse e compromisso para com o bem-estar de
todos os envolvidos, crianças e adultos.
Considera-se de fundamental importância que professores, educadores e gestores
(prefeituras) tenham formações específicas quanto aos aspectos que envolvam os cuidados
de saúde e segurança de bebês e crianças pequenas para que possam cumprir as normas de
atendimento relativas tanto a adequação da edificação quanto aos procedimentos que
assegurem a proteção de crianças, educadores e professores (BRASIL, 2006a).
As instituições educacionais precisam promover boas condições de atendimento
como ter boa circulação de ar, temperatura adequada, luz natural e suave a partir de janelas
e lâmpadas com quebra de luz. Por razões de segurança, é necessário que os perigos
estejam fora da vista e alcance das crianças, cantos dos móveis arredondados, superfícies de
amortecimento do impacto/choque sob equipamentos para subir, deitar e rolar, pisos não
escorregadios, limpos e em bom estado de conservação são precauções necessárias.
As áreas de cuidados corporais e de preparação de alimentos precisam estar
separadas para que não haja nenhuma contaminação. Os produtos para a lavagem das mãos,
cuidados corporais e água quente precisam estar ao alcance dos adultos e bem organizados,
assim como as fichas de informações (anamnese) sobre o estado de saúde de cada criança,
materiais e procedimentos de primeiros socorros e as normas de higiene necessitam estar
afixadas em local visível.
Os locais onde as refeições acontecem variam de acordo com a idade da criança. É
importante que o adulto responsável ofereça a mamadeira segurando-o no colo com carinho
e confortavelmente. Hohmann e Post (2011, p. 219) esclareceram a importância deste ato:
As refeições dos bebês e das crianças vão para além da mera necessidade básica
de uma alimentação nutritiva. Para os bebês, as refeições proporcionam um
contato físico próximo com um adulto atento. Quando se responde ao choro de
fome de um bebê pequeno com um biberão cheio de leite e com os braços
reconfortantes de um educador simpático, a criança é capaz de crescer e de se
desenvolver porque aprende a confiar no mundo como um local onde as pessoas
reconhecem as suas necessidades.
216
As crianças que já se sentam livremente e consomem alimentos sólidos podem ficar
em mesas e cadeiras adequadas aos seus tamanhos para tomar as refeições em um local
calmo e confortável. Vale ressaltar da importância das boas condições e procedimentos
higiênicos na preparação de alimentos e na lavagem das louças.
Os momentos de descanso/sono são necessários para o crescimento e o
desenvolvimento das crianças. Assim como afirmam Hohmann e Post (2011, p. 241):
Em termos fisiológicos, o sono permite que o cérebro trabalhe no sentido de
consolidar as mudanças maturacionais do sistema nervoso central. Tal como os
adultos, as crianças cansadas estão muitas vezes rabugentas e ficam irritáveis; o
sono ajuda-as a ficarem com a sua boa disposição de volta. Também proporciona
uma retirada calma das exigências sociais intensas do contexto do grupo infantil.
Em suma, a sesta proporciona às crianças a oportunidade de recarregarem as suas
energias físicas e emocionais para a parte do dia que se segue.
À medida que as crianças vão crescendo diminui a necessidade de horários mais
longos de sono, optam por ocupar-se com outras atividades. Por isso, é importante que os
educadores e professores respeitem a resposta à necessidade que cada criança tem de
dormir ou de descansar. Os professores e educadores precisam ajudar as crianças para o
sono com estratégias específicas: sala calma e com baixa luminosidade, boas condições de
higiene na roupa de cama, programar a hora do sono segundo as necessidades individuais,
supervisionar o sono das crianças, ajudá-las a acalmarem-se em momentos precedentes para
o sono, organizar propostas alternativas para as crianças que não dormem e respeitar a
maneira como cada criança desperta do sono (HOHMANN; POST, 2011).
Enfatizar que é importante conhecer as necessidades específicas de cada criança,
com vistas a desenvolver ao máximo suas possiblidades, prevenir intercorrências e
proporcionar-lhe um viver mais feliz, seguro e saudável. Além disso, é necessário oferecer
condições satisfatórias para que possam brincar em segurança, tanto nos espaços (internos e
externos) quanto em brinquedos. As crianças precisam ter experiências para interagir com a
natureza. Para isso, é necessário incluir plantas e animais domésticos nas áreas externas que
não lhes ofereçam qualquer risco. Esses espaços devem ser separados de acordo com a
faixa etária dos grupos que frequentam a creche, por exemplo, locais separados para os
217
bebês das crianças maiores e os brinquedos necessitam ser de tamanhos coerentes ao
tamanho das crianças que irão utilizá-los.
A equipe pedagógica da creche deve dedicar esforços para que as crianças usufruam
de materiais, brinquedos e equipamentos em boas condições (segurança e limpeza), com
vista à sua segurança física, motivação e desfrute da função de cada um nos espaços da
creche. Este item também requer por parte dos educadores a criação de uma rotina para
manter os brinquedos limpos e preservados. Fica evidenciado que as atividades ligadas
estritamente ao ato do cuidado são de extrema importância e que este ato não pode estar
desvinculado do processo de desenvolvimento na concepção de atendimento às crianças.
4.7 QUALIFICAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
A formação dos profissionais que trabalham em creche é uma das principais
variáveis que influenciam a qualidade dos cuidados e educação da criança nesse segmento
de ensino. Nesta perspectiva, a formação dos educadores e professores de crianças
pequenas revela-se de extrema importância no desenvolvimento do contexto educacional.
Nesse sentido, vale citar a reflexão de Kramer (2002, p. 126) ao discutir o fato de
―como pode (o educador infantil) formar crianças a não estar se formando e transformando
esse processo?‖. Pois o educador formado deve contribuir e estimular o desenvolvimento
integral da criança nas creches e escolas de Educação Infantil, promovendo o atendimento
de qualidade, superando o caráter assistencial do apenas cuidar e partindo para o processo
educacional do cuidar e educar a criança pequena, haja vista que desenvolver atividades
junto às crianças pequenas requer a união de diferentes segmentos com objetivos comuns
em práticas complementares quanto as ações e funções educativas nas creches.
A LDBEN (9394/96) definiu o professor como profissional da creche e pré-escola e
apresentou a necessidade de formação específica para o exercício de sua profissão:
218
Artigo 62 – A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em
nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e
institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o
exercício do magistério na Educação Infantil e nas quatro primeiras séries do
Ensino Fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal.
(BRASIL, 1996, p. 22)
A profissionalização dos professores e educadores que trabalham com a primeira
infância legitima o direito das crianças de ser atendidas por profissionais com formação
específica, podendo assim contribuir para a efetivação de um atendimento de qualidade.
A formação dos educadores e professores de creches precisa ser realizada em três
níveis: no âmbito da formação inicial - na graduação, da formação especializada e da
formação continuada. Todo o processo de formação precisa se construir com bases que
respondam aos problemas do cotidiano profissional, como forma mais eficaz de garantir a
ascensão do desenvolvimento profissional e prepare-os para o trabalho junto às crianças e
consiga atribuir em sua ação pedagógica no binômio cuidar e educar.
Trabalhar para o desenvolvimento da primeira infância requer uma formação
específica, pois as crianças apresentam especificidades que marcam o diferencial deste
segmento de ensino, assim como afirma Tsuda (2008, p. 46):
A inserção de professores na Educação Infantil, em especial na creche, tem
gerado muitas controvérsias. Primeiro, no que se refere ao acesso ao cargo de
professor no poder público, e, segundo, na formação dos professores que atuam
com crianças de 0 a 5 anos. É relevante, mencionar essa questão, pois,
tradicionalmente, os cursos de formação de professores ofereciam apenas
formação para atuar com crianças de 4 a 6 anos; portanto, não formavam
professores para atuar com as crianças de 0 a 3 anos. As novas competências e
atribuições do profissional de Educação Infantil apontam para a necessidade de
reformulação dos programas de formação inicial e continuada, para formar
professores para atuar a partir do nascimento da criança.
Sendo assim, é fundamental que a formação dos profissionais de creche que atuam
direta ou indiretamente com os pequenos seja vista como um ato inacabado, precisando
sempre de novas inserções, novos recursos e tentativas de aprendizagens associadas a uma
prática curricular mais adequada. Ela deverá estar pautada sob a ótica da escolha de
materiais, organização de ambientes educativos que sejam acolhedores, estáveis e
219
aconchegantes para favorecer a organização de atividades consideradas apropriadas para o
desenvolvimento infantil.
A valorização da Educação Infantil com atendimento de 0 a 3 anos e a recente
incorporação das creches aos sistemas de ensino municipais acarretou em uma maior
preocupação com a formação dos educadores, bem como com a programação pedagógica.
Nesse contexto Tsuda (2008, p. 47) apresenta uma síntese das medidas para que as
instituições formadoras façam as adequações, de acordo com a nova realidade quanto à
formação profissional que possa garantir uma Educação Infantil de qualidade (cf anexo II p.
423).
No que tange a qualificação profissional entre as políticas adotadas, especialmente,
para o Ensino Fundamental e a Educação Infantil o governo federal implantou também o
Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR), que é
resultado da ação conjunta do Ministério da Educação (MEC), de Instituições Públicas de
Educação Superior (IPES) e das Secretarias de Educação dos Estados e Municípios, no
âmbito do PDE - Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação – que estabeleceu no
país um novo regime de colaboração da União com os estados e municípios, respeitando a
autonomia dos entes federados. Este programa oferece um espaço de formação continuada
em que se trabalha com profissionais da educação tendo em vista a articulação entre teoria
e prática (BRASIL, 2009a).
Mesmo com estas diversas políticas apontadas para a formação de educadores da
Educação Infantil têm ainda uma realidade diferente, em que pouco há formação específica
para professores e educadores atuarem especialmente nas creches, pois os cursos existentes
revelam uma inadequação quanto às necessidades peculiares de formação que devem estar
relacionadas com a indissociabilidade do cuidar e educar, a necessidade do
compartilhamento da educação com os pais e a importância do oferecimento de
oportunidades variadas de brincadeiras, por meio de uma organização adequada dos
espaços e dos materiais. Desta maneira, ao se trabalhar com a formação dos educadores e
220
mesmo em um trabalho de intervenção, é de suma importância que os educadores se
conscientizem desses aspectos e de sua real importância.
Oliveira-Formosinho e Kishimoto (2002, p. 139) corroboram com esse pensamento,
acrescentando que ―o educador da criança pequena necessita de um saber fazer que
incorpore, ao mesmo tempo, a globalidade e vulnerabilidade social das crianças e sua
competência‖. Consideramos a formação do educador infantil enquanto fator determinante
na qualidade do atendimento direcionado para crianças pequenas, por isso, enfatizamos que
faz-se necessário a superação de práticas respaldadas em ações ―leigas‖ e assistenciais de
guarda das crianças pequenas, tendo em vista a necessidade de uma formação inicial
apropriada e continuada em prol de uma prática educativa para o desenvolvimento integral
da criança, respaldadas em um sentimento de infância que respeite-a em suas necessidades
e peculiaridades (ZABALZA, 1998).
4.8 PARCERIA ESCOLA-FAMÍLIA
A participação, o diálogo e a escuta cotidiana das famílias, o respeito e a valorização
de suas formas de organização são maneiras de efetivar as parcerias entre a creche e toda a
comunidade escolar. A família representa o primeiro contexto social, no qual a criança
passa os primeiros anos de sua vida e tem como papel satisfazer as necessidades físicas,
afetivas e sociais da mesma, cumprindo, também, a função mediadora entre a criança e o
mundo social.
As crianças muito pequenas necessitam de sentir que o adulto é alguém que lhe dá
apoio e carinho nas interações com o mundo que a rodeia. Portugal (1998, p. 21).defende
que:
Do ponto de vista das crianças, as relações interpessoais afiguram-se como
determinantes: em grande parte, a sua vitalidade, a sua atitude perante o mundo e
a vida estão relacionadas com a forma como foi ou não amada desde o início da
sua existência. As pesquisas no campo do desenvolvimento destacam a
221
importância crucial das relações sociais como fonte primária de variação no
desenvolvimento sócio emocional.
É necessário que a família saiba proporcionar à criança um ambiente em que ela
sinta-se aceita e amada, ao passo que reconheçam as suas capacidades e as suas
necessidades, pois compete à ela iniciar a educação dos seus filhos. Se a família quiser
educar para a vida comunitária, terá de ter uma estrutura participativa e responsável.
Devido a nova realidade social e as novas organizações familiares que se distanciam
do modelo de família tradicional, hoje as mulheres saem de casa para o trabalho e outras
atividades e a procura por creches aumentou consideravelmente. No entanto, a creche não é
mais vista como lugar para deixar as crianças enquanto suas mães trabalham, mas uma
instituição educacional potencialmente oferecida a todas as crianças de 0 a 3 anos como
ação complementar, e não substituta da família, podendo, porém, ambas cooperarem entre
si.
A participação da família nos contextos educativos das creches apresentam as
seguintes funções:
A de ―informação‖ (estarem informados e acompanharem os seus filhos); a
―participação‖ (em associações de pais, projetos de escola, determinação dos
objetivos da escola, atividades escolares e extraescolares dos educandos); e a
―formação‖ (preocuparem-se em aprofundar conhecimentos que o possa levar a
estudar melhor os problemas dos seus filhos e da escola). (HENRIQUES, 2009,
p. 92).
A partir dessa perspectiva, participar implica em estar presente de alguma maneira
nas ações educativas da creche, será partilhar, conviver, e colaborar para atingir
determinados objetivos. Com a participação dos pais na escola, facilita mudar a estrutura
desta, adaptando-a aos interesses e necessidades de toda a comunidade envolvida, criando
assim uma escola para todos. O papel da creche é envolver todas as familiais, e, nesse
sentindo, muito pode ser feito.
Para Hohmann e Post (2011, p. 352) o envolvimento entre pais e a creche podem ser
guiadas por diversas relações:
222
Pais e educadores podem fortalecer a confiança e o respeito que têm uns pelos
outros e progredir em conjunto;
Pais e educadores podem aprender a compreender os temas e questões do
desenvolvimento da criança adotando o ponto de vista do outro e apreciarem o
tempo e a energia que leva desempenharem os papéis de cada um;
As crianças podem sentir-se tranquilizadas por verem os pais tão envolvidos;
Os pais ―experientes‖ podem apoiar os pais ―novos‖.
A parceria escola/família exige uma mudança de atitudes da equipe escolar que
terão de assumir os pais como educadores igualmente capazes de intervenções facilitadoras
do sucesso educativo que implica no consenso acerca dos objetivos educacionais como
condição essencial. Pretende-se obter uma escola com sucesso para todos, com a
colaboração de todos, em que a missão de educar é partilhada por professores, pais e
comunidade.
Zabalza (1998), que faz interessantes apontamentos acerca de quais seriam as
condições para se realizar uma Educação Infantil de qualidade, também menciona a relação
entre a escola e as famílias como uma dessas condições e a justifica da seguinte forma:
A questão é que a escola, por si mesma, possui capacidade de ação limitada (pelo
espaço, pelo tempo e pelas próprias dimensões suscetíveis de serem afetadas pelo
trabalho dos professores (as). Refiro-me, logicamente, a questões curriculares
importantes: dentro da sala de aula ou como continuação em casa de atividades
iniciadas dentro da sala de aula. Esse tipo de participação [das famílias] enriquece
o trabalho educativo que é desenvolvido na escola (a presença de outras pessoas
adultas permite organizar atividades mais ricas e desenvolver uma atenção mais
personalizada com as crianças), enriquece os próprios pais e mães (vão sendo
conhecidos aspectos do desenvolvimento infantil, descobrindo características
formativas em materiais e experiências, inclusive o jogo, conhecendo melhor os
filhos, aprendendo questões relacionadas com a forma de educar) e enriquece a
própria ação educativa que as famílias desenvolvem depois em suas casas.
Também os professores(as) aprendem muito com a presença dos pais e mães, ao
ver como eles enfrentam os dilemas básicos da relação com crianças pequenas
(ZABALZA, 1998, p. 54).
Ao matricular o filho na creche, o primeiro contato é estabelecido por uma
entrevista inicial (anamnese), em que se realiza uma entrevista para coletar informações
importantes da vida da criança desde o seu nascimento, assim como as características
evolutivas, aspectos de saúde, higiene e nutrição infantil. Vale destacar que esta entrevista
deve ser realizada em um clima de acolhimento, escuta e respeito, pois é fundamental
garantir um diálogo aberto e eficaz entre a família e a creche para que a adaptação da
223
criança a este contexto contribua para o seu desenvolvimento integral. Nesse primeiro
contato, também é necessário apresentar os espaços e os funcionários da creche para que os
primeiros vínculos sejam criados de maneira positiva.
A entrada da criança na creche é um momento marcante, fato este que ocasiona
ansiedade, tanto para as crianças quanto para os pais e educadores. Essa ansiedade pode
variar muito, pois depende das manifestações emocionais e o tempo de duração em que se
realiza todo o processo.
Portanto, é desejável que, no período de adaptação, a mãe/pai ou familiar mais
próximo fique junto à criança para auxiliar na exploração deste ambiente estranho e no
estabelecimento de novos relacionamentos com as educadoras e outras crianças.
O período de adaptação na creche pode ser muito mais complexo do que se poderia
supor. A separação da mãe ou de outra pessoa que cuide da criança, geralmente, provoca
diversas sensações associadas ao medo, insegurança, tristeza entre outros, como
consequência do rompimento dos laços afetivos. Tal separação é capaz de marcar para
sempre a sua vida adulta (PORTUGAL, 1998). Segundo Truchis (1988, apud Portugal,
1998, p. 183) ―É um quadro que se pode traduzir por diferentes sintomas: agitação ou
hipercontrole, recusas, modificação dos ritmos, perturbações do sono, problemas
alimentares e diversas manifestações somáticas‖. A entrada na creche envolve um conjunto
de fatores que influenciam a adaptação da criança. Entre eles podemos destacar os
sentimentos dos pais sobre a entrada do filho na instituição, a idade e o temperamento da
criança e a qualidade do atendimento da instituição. Na maioria das vezes, estes fatores
relacionam-se entre si sendo difícil examinar o papel específico de cada um no processo de
adaptação aos cuidados da criança.
Por isso, é necessário respeitar as reações de cada criança neste período tão
importante, considerar as manifestações de ansiedade e medo com paciência e respeito. A
transição gradual neste período favorece a diminuição desses sentimentos, tanto dos pais
quanto das crianças. Os pais e as mães devem ter o direito de circular nas dependências da
escola, recebendo todas as informações necessárias sobre a rotina desenvolvida naquela
224
instituição. Cabe à creche organizar, horários especiais para este período de adaptação
ocorra de acordo com as necessidades de cada criança, em que nos primeiros dias ela possa
ficar apenas algumas horas e aos poucos vá se acostumando àquele novo ambiente, até que
permaneça em tempo integral, se for o caso.
É fundamental que os pais não se atrasem para irem buscar os filhos, para que eles
não tenham a terrível sensação de que não voltarão para casa. As crianças sentem-se mais
seguras ao verem os pais na porta da sala de aula na hora da saída. Faltas frequentes ou
irregularidades nos horários de entrada e saída dificultam a adaptação, que tende a estender-
se por mais tempo. Os pais quando vão deixar a criança na creche nunca devem tentar
distraí-la para ir embora, é melhor que ela os vejam ir, mesmo que isso a faça chorar.
Durante o período de adaptação os pais não devem alterar os hábitos da criança, por
exemplo, deixar de usar fraldas ou a chupeta.
O período de adaptação demanda dos professores, educadores e gestores uma
atenção especial com as famílias e/ou responsáveis pelas crianças. Para Portugal (1998, p.
194) ―os pais também se relacionam melhor com os educadores dos seus filhos quando
percebem a natureza complexa do seu trabalho e apreciam os objetivos que os educadores
tentam cumprir‖.
Segundo Goldschimied e Jackson (2006, p. 229) o relacionamento creche/família
contribui para determinar a qualidade das experiências da criança, mas ―contém tensões
inerentes que devem ser reconhecidas e administradas‖. Qualquer que seja a participação
dos pais na creche é sempre bom que haja uma valorização. No entanto, não podemos
esquecer que cabe à escola abrir as suas portas e permitir que a colaboração entre ambos
funcione. Muitas vezes a família só é chamada para ouvir reclamações sobre seus filhos, ou
para pedir verbas para festas e eventos da creche, ficando distante a participação efetiva dos
pais, uma vez que eles apenas vão a reuniões ocasionais sem realmente se envolver no
processo educativo, ou mesmo para colaborar, ou discutir problemas reais da instituição
onde matricularam seus filhos.
225
É importante que os pais e a equipe da creche possam trabalhar em conjunto da
melhor maneira possível, uma vez que as crianças ainda na tenra idade apresentam muitas
necessidades afetivas, motoras e cognitivas, podendo assim, superar dificuldades e resolver
problemas existentes, contribuindo para construir uma creche capaz de satisfazer as
vontades e interesses das crianças envolvidas. Dessa forma, é nesse espaço, na prática
diária da instituição, que as famílias conhecem as ações educativas da creche, por meio do
contato direto com o ambiente, as atividades de rotina como horário de alimentação, sono e
brincadeira, e, de maneira indireta, percebem na relação com a própria criança o seu
desenvolvimento como, falar, cantar, ficar em pé, encaixar peças, e muitas outras
descobertas. Assim como afirma Oliveira-Formosinho (1998, p. 99): ―Uma educação ativa
baseia-se nas relações, de cooperação, colaboração e comunicação. Onde educadores,
famílias e crianças participam ativamente, partilhando ideias, dividindo tarefas e em
comum assumindo responsabilidades‖.
Para que a parceria seja legítima entre família e creche, todos os membros
envolvidos terão de enveredar esforços. Caso a intenção da creche é chamar os pais,
pedindo a sua participação, será necessário que a instituição utilize uma linguagem
acessível a todos, desconsiderando burocracias, criando estratégias motivadoras para que os
pais tornem parceiros da creche e que tenham um papel mais ativo, não só como elementos
representativos em associações de pais, mas também estando presentes na construção do
Projeto Político Pedagógico. Assim é que esses estarão contribuindo para a busca de
soluções adequadas às necessidades das crianças; organizar ações de formação de interesse
para os pais, conversar sobre o que poderão fazer com os filhos em casa e criar um
ambiente de confiança, diálogo e colaboração entre todos envolvidos no processo
educativo.
A grande maioria dos pais só participa na vida da creche quando é solicitado pela
educadora ou então participa em festas e reuniões anuais. Muitos educadores e professores
nem mesmo conhecem os pais das crianças. Esta situação verifica-se até ao momento em
que se faça uma reunião ou então uma festa. Neste momento, os pais procuram conhecer os
educadores ou professora do seu filho. Também vale salientar que os horários da creche e
226
dos pais são, muitas vezes, incompatíveis em encontros com caráter mais formal, como é o
caso de reuniões a qual os responsáveis das crianças não podem participar.
Outro aspecto relevante na parceria escola-família diz respeito a comunicação que
pode ser realizada por meio de murais informativos, reuniões e, também, pela agenda, a
qual se configura em um instrumento de registro diário de informações sobre a criança e a
rotina da instituição. Rizzo (2003), salienta que para todas as crianças com até três anos,
este meio deve ser um facilitador da comunicação entre família e escola a respeito de sua
saúde. No entanto, alerta que as crianças maiores podem utilizar um modelo que permita o
registro de outras informações, mais pertinentes do que os remédios e mamadeiras
administrados aos bebês. As agendas podem ser um instrumento para estreitar as relações
com a família, desde que sejam baseadas no respeito mútuo em um clima favorável de
relacionamento, por meio de partilha de informações e conhecimento/saberes, de sugestões
e de colaboração.
Cabe ressaltar que a instituição educativa não substitui a ação da família. Pelo
contrário, configura-se como um lugar de interação, desenvolvimento e socialização das
crianças, complementar à ação familiar e que por isso, necessita de uma relação de
confiança e de responsabilidade entre ambas. A participação dos pais pode enriquecer o
trabalho educativo que se desenvolve na creche.
O próximo capítulo será dirigido à metodologia de investigação aplicada, bem como
o problema a ser pesquisado, os objetivos do estudo e o método de investigação. Por fim,
será apresentado à análise estatística dos questionários e a discussão qualitativa das
respostas apresentadas em categorias. Além disso, serão analisados os indicadores
construídos pelas creches investigadas.
227
CAPÍTULO V
A PESQUISA
... é preciso ter ao alcance das mãos a linha o horizonte
para escrever poesia para passarinhos cantarem. E isso se
torna possível soltando o olhar para o bem depois das
montanhas, dos mares, deixando o carinho murmurar
rascunho de poema. Manoel de Barros
228
Esse capítulo tem por objetivo apresentar o percurso realizado ao longo do
desenvolvimento deste estudo no que se refere às opções metodológicas, a
contemporaneidade e importância do assunto para a sociedade e, principalmente, para
aqueles que se interessam pela Educação Infantil com atendimento de 0 a 3 anos.
Os procedimentos da pesquisa estão em conformidade com as exigências da
Resolução 196/96 - Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, Conselho Nacional de
Saúde, Ministério da Saúde (CONEP), e a mesma foi submetida ao Conselho de Ética e
Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas, parecer CEP: Nº 908/2011, obtendo análise
favorável a sua realização19
, também homologado.
19
Anexo 1 (p. ) Parecer favorável pela realização da pesquisa pelo Comitê de Ética e Pesquisa.
229
5.1 A PESQUISA
As discussões nos meios acadêmicos e políticos acerca da importância do
atendimento à criança da faixa etária de 0 aos 3 anos denota um avanço na concepção desse
segmento educacional que passou a ser considerada um direito de ter uma educação de
qualidade superando assim, uma visão assistencialista.
A qualidade da Educação Infantil constitui, em nossos dias, o grande desafio aos
sistemas educacionais por ser baseada em valores, crenças e interesses, e não em uma
realidade objetiva e universal. Por isso, pode-se afirmar que a avaliação da qualidade é um
processo inacabado e necessita da participação dos seus principais interlocutores:
professores, educadores, dirigentes e pais de alunos.
A avaliação do atendimento à criança de 0 a 3 anos não pode se limitar a
parâmetros fechados, advindos de instrumentos de avaliações externos e distantes da
realidade em que a instituição educacional está inserida. Esta pesquisa tem como
inspiração a perspectiva do processo de cooperação de Piaget (1932), no sentido em que os
envolvidos direta ou indiretamente da instituição educacional participem de uma ação
coletiva e, também é inspirado na perspectiva de Bondioli (2004) que propõe o processo de
negociação entre os atores sociais, com vistas a um acordo que resulte em um trabalho
participativo e produtivo.
Piaget enfoca o trabalho em grupo, ressaltando a importância da cooperação como
instrumento necessário para a formação do pensamento racional. Nesse sentido, o autor
afirma que:
A cooperação, com efeito, é um método característico da sociedade que se
constrói pela reciprocidade dos trabalhadores e a implica, ou seja, é precisamente
uma norma racional e moral indispensável para a formação das personalidades,
ao passo que a coerção, fundada apenas sobre a autoridade dos mais velhos ou do
costume, nada mais é que a cristalização da sociedade já construída. (PIAGET,
1998, p. 141).
230
Nesse contexto considera-se a cooperação imprescindível para a organização de um
ambiente que seja propício à construção da autonomia moral e intelectual de toda a
comunidade escolar (alunos, educadores, professores, dirigentes funcionários e pais de
alunos) que compartilham responsabilidades e os mesmos ideais, em um clima pautado no
respeito mútuo, na colaboração, na ação coletiva, no respeito à diversidade de pensar em
função de uma realidade comum.
Pela natureza operacional de um processo de avaliação participativa Bondioli
(2004, p. 15) menciona que:
Não há, portanto, qualidade sem participação, não apenas porque, como se
afirmou é um critério de intersubjetividade que garante a validade dos critérios
sobre os quais basear a qualidade, mas também porque é a sinergia das ações dos
diversos atores ao buscar fins compartilhados que torna efetiva a possibilidade de
realiza-los. Definir e produzir qualidade são uma tarefa política, um trabalho
democrático.
Para isso, o processo de avaliação deve garantir a participação e o envolvimento de
todos a fim de que promova a reflexão e a transformação da realidade presente. Neste
sentido é inadiável e urgente uma investigação e um conhecimento mais amplo sobre a
avaliação da qualidade das creches.
A proposta desta pesquisa pressupõe que o instrumento de avaliação da qualidade
desse segmento de ensino deve ser construído por aqueles que diretamente estão envolvidos
na instituição educacional em uma perspectiva formativa, pois a avaliação é um elemento
integrante e regulador da prática educativa, implicando princípios e procedimentos
adequados à especificidade de cada nível.
Além da importância da participação, esta pesquisa também leva em consideração a
relação entre o cuidar e o educar. Com base em critérios de qualidade definidos por
pesquisadores europeus e norte-americanos. Campos (1994) aponta que uma das
características básicas do atendimento de qualidade às crianças de zero a seis anos é a
integração das ações de cuidado e educação, sem privilegiar um aspecto em detrimento do
outro. Sobre isso, a mesma autora adverte que há necessidade de uma visão integrada de
Educação Infantil e também de um novo tipo de formação para as profissionais que não
231
hierarquize as atividades de educação e cuidado das crianças e não as segmente sob a
responsabilidade de profissionais diferentes.
5.2 O PROBLEMA
Considerando os pressupostos supracitados, definimos o problema norteador dessa
pesquisa:
- Quando as equipes das escolas investigadas elaboram indicadores para compor um
instrumento de avaliação interna da qualidade da Educação Infantil (0 a 3
anos) tais indicadores serão mais eficazes e próximos da realidade dessas instituições
e, esse processo de elaboração contribui para que amplie a reflexão sobre o atendimento às
crianças?
Para orientar todo o processo de investigação foram delineadas as seguintes
questões:
1. O IAPQEI - c (Instrumento de Avaliação Participativa da Qualidade da Educação
Infantil – creche) revela as características estruturais nos contextos, frequentados
por crianças entre 0 a 3 anos, determinando as dimensões da qualidade que se
apresentam problemáticas e as que se assumem como pontos fortes?
2. O IAPQEI – c (Instrumento de Avaliação Participativa da Qualidade da Educação
Infantil – creche) é acessível aos profissionais da Educação Infantil com as mais
diversas qualificações, desde os que não tenham formação específica até os que
possuem formação no Ensino Superior?
3. Qual o grau de satisfação dos professores, educadores, dirigentes e pais de alunos
em relação aos serviços prestados nas creches que atendem crianças de 0 a 3 anos?
232
4. Como as pessoas envolvidas nesse processo concebem a Qualidade da Educação
Infantil (creche)?
5.3 OBJETIVOS
Avaliar ambientes educativos para crianças pequenas é, além de um desafio, um
mecanismo de constante reflexão sobre elementos que compõem este ambiente e não
apenas um mecanismo para medir, julgar, comparar, ou selecionar contextos para as
crianças (BONDIOLI, 2004). Assumindo esse entendimento sobre avaliação da qualidade,
os objetivos desta pesquisa foram definidos em gerais e específicos. O objetivo geral está
vinculado diretamente com tema da pesquisa, no sentido de conhecer e analisar o fenômeno
e ideias estudadas. No sentido de delimitá-lo, os objetivos específicos corroboram para
atingir o objetivo geral, procura especificar o caminho metodológico do estudo.
5.3.1 Objetivo geral
Investigar a importância do processo participativo na construção de indicadores da
qualidade das instituições pesquisadas assim como as concepções e o grau de satisfação dos
dirigentes, professores, educadores e pais de alunos sobre a qualidade do atendimento da
Educação Infantil de 0 a 3 anos por meio de um instrumento de avaliação construído
especialmente para esse fim.
233
5.3.2 Objetivos específicos
1. Construir indicadores de Avaliação da Qualidade da Educação Infantil para o segmento
creches.
2. Analisar o processo participativo na construção de indicadores da Qualidade da
Educação Infantil como desencadeador de uma reflexão, a fim de orientar a tomada de
decisões no sentido do comprometimento na construção da melhoria da qualidade.
3. Conhecer as concepções das pessoas envolvidas direta e indiretamente na instituição de
atendimento à criança de 0 a 3 anos quanto à qualidade dos serviços prestados.
4. Conhecer o grau de satisfação das pessoas envolvidas direta e indiretamente nas
creches que constituem a amostra desta pesquisa.
5.4 PRESSUPOSTOS
Este estudo tem por pressupostos:
Quando as equipes das escolas elaboram indicadores para a construção de um
instrumento de avaliação da qualidade da Educação Infantil (0 a 3 anos) este
instrumento é mais eficaz e próximo da realidade.
A prática de estabelecer indicadores a partir de uma construção participativa
consiste em uma excelente oportunidade para que os profissionais envolvidos
possam refletir sobre a sua atuação pedagógica.
O questionário tipo escala Likert: Pesquisa da Qualidade da Educação Infantil pode
revelar características estruturais nos contextos frequentados por crianças entre 0 a 3
anos, determinando as dimensões da qualidade que se apresentam problemáticas e
as que são assumidas como pontos fortes.
234
O grau de satisfação e insatisfação dos professores, educadores, dirigentes e pais de
alunos revela as condições dos prédios e equipamentos, os materiais pedagógicos
utilizados, a formação dos educadores, os projetos pedagógicos, bem como a
relação escola-família.
As concepções da qualidade reveladas pelos participantes da pesquisa referem-se ao
―cuidar bem da criança‖ e o preparo para a escolaridade futura.
5.5 METODOLOGIA
Este estudo trata de uma pesquisa de natureza exploratória-descritiva e com
abordagem tanto qualitativa quanto quantitativa a partir da qual serão discutidos os
resultados.
A estratégia de pesquisa exploratória foi empregada como metodologia, pois
segundo Gil (1987, p. 44), este tipo de estudo ―têm como principal finalidade desenvolver,
esclarecer e modificar conceitos e ideias. Este tipo de pesquisa realizada especialmente
quando o tema escolhido é pouco explorado‖. O produto final deste processo passa a ser um
problema mais esclarecido, ―passível de investigação mediante procedimentos mais
sistematizados‖ (GIL 1987, p. 45). A pesquisa exploratória envolve levantamento
bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram (ou têm) experiências práticas com o
problema pesquisado, entrevistas e técnicas quantitativas de coleta de dados.
Considerando-se os pressupostos e objetivos já apresentados, esta pesquisa se deu
em duas etapas, a primeira refere-se a coleta de dados por meio de um instrumento
construído para este estudo em que o método adotado foi o estudo de levantamento,
também conhecido como survey, guiado por uma escala Likert. A segunda etapa teve como
propósito descrever a construção participativa de indicadores da qualidade da Educação
235
Infantil por meio da técnica do grupo focal em que teve como participantes representantes
das funções de professor, educador, pais de alunos e um dirigente.
Em seguida apresentamos a sequência de procedimentos adotados nesta
investigação. A Figura 19, ilustra a ordem pela qual se desenrolaram as diferentes etapas.
Figura 19 - Etapas do processo de investigação.
Fonte: A autora.
5.5.1 Amostra
Participaram deste estudo três Escolas de Educação Infantil com atendimento à
crianças de 0 a 3 anos – segmento creche. A constituição da amostra foi intencional.
Os principais critérios para a escolha do campo de pesquisa foram: ser uma
instituição de Educação Infantil que atenda crianças de 0 a 3 anos; pertencer a rede pública
de ensino e que aceitem participar da pesquisa. Outro critério utilizado para esta escolha foi
a acessibilidade e disponibilidade da pesquisadora nas unidades escolhidas. Isso só foi
possível porque a pesquisadora atuava como professora do Curso de Formação de
I. Coleta de Dados
Pesquisa da Qualidade da Educação Infantil :
- Dados demográficos
- Questionário tipo escala Likert
- Hierarquia da relevância das respostas
- Questionário estruturado
Análise qualitativa e quantitativa
II. Grupo Focal
Análise e elaboração do
instrumento de cada instituição
investigada
236
Professores do PROEPRE20
. Foram selecionadas três creches pelo fato de estarem
participando do início desse curso de formação promovido pelas secretarias de educação
daqueles municípios e pela Rede Conveniada de creches em parceria com o Centro de
Aperfeiçoamento em Educação (CAE). O referido curso tem a duração de 120 horas, e esta
pesquisa teve início antes que 60 horas de aulas fossem completadas.
No Quadro 24 encontra-se o registro da constituição das creches participantes da
pesquisa.
5.5.1.1 Caracterização das creches participantes
5.5.1.1.1 Creche I
A creche I é municipal e atende 70 alunos de 4 meses a 4 anos e 8 meses. O quadro
de profissionais que atuam junto às crianças tem a sua maioria com formação com nível
superior, seis estão cursando Pedagogia e apenas duas tem formação de nível médio, sem
pretensão de seguir nos estudos. O prédio da Escola é de alvenaria, amplo e está em boas
condições, foi pintado recentemente e necessita de manutenção. A área externa também é
ampla, dividida em três partes, onde, nos fundos, fica o parque de madeira, brinquedoteca e
depósito. Na parte da frente há o pátio livre para brincadeiras e recreações, tanque de areia
e um espaço que foi construído pelas crianças: um jardim e uma horta e na lateral um
gramado com árvores. Os recursos materiais da escola são disponibilizados pela Secretaria
Municipal de Educação e alguns são adquiridos com a verba do Programa Dinheiro Direto
na Escola (PDDE) e Associação de Pais e Mestres (APM) da escola. A creche atende
crianças de famílias de classes médias e baixas, por este motivo há uma grande diversidade
20
Programa de Educação Infantil e Ensino Fundamental (1976-1981) de autoria da Profa. Dra. Orly Z.
Mantovani de Assis, fundamentado nos resultados da pesquisa ―Estudo sobre a solicitação do meio e a
construção das estruturas lógicas elementares na criança‖.
237
de tipos e arranjos familiares. As crianças provêm de lares onde os pais são, na maioria,
casados e amasiados, alguns separados e a minoria das mães são solteiras. As condições de
moradia variam de regular à ótima, sendo que há famílias que possuem casas próprias e
outras moram em casas alugadas ou c°edidas. A unidade atende crianças do centro e de
bairros vizinhos.21
Quadro 24 - Constituição da Instituição que compõe a Creche I
Tipo
de
Creche
Atendime
nto
Número
de
alunos
Equipe Pedagógica (Professores, monitores e
dirigente).
Demais funcionários Pós
Graduaçã
o
Form.:
Superior
Form.:
Superior
incomp.
Form.: Ens.
Médio
Munici
pal
4 meses
a 4 anos
e 8
meses
70
alunos 05 10 06 04
1 Agente
administrativo
2 Merendeiras
2 serventes
Fonte: A autora.
5.5.1.1.2 Creche II
A creche II atende 129 crianças de 0 a 3 anos, a maioria de população formada por
alunos que pertencem à famílias de baixa renda. A maioria dos profissionais da educação
tem nível superior em Pedagogia e são efetivos da Rede Municipal de Ensino. É uma
população oriunda de vários bairros A estrutura física da creche foi organizada e planejada
para atender crianças de 0 a 5 anos. O prédio oferece segurança às crianças e demais
pessoas que nele trabalham, sendo totalmente cercado de alambrado, possuindo favoráveis
condições elétricas e hidráulicas. A creche necessita urgentemente de algumas adequações
no berçário, com a construção de um lactário e um fraldário com ventilação adequada;
construção de banheiros para o banho dos alunos que frequentam a creche em período
21
Dados extraídos do Projeto Político Pedagógico (P. P. P) da creche investigada.
238
integral. É necessário que os vasos sanitários sejam substituídos, pois a maioria é de
tamanho inadequado; assim como, fazer adequações nos banheiros para uso dos alunos com
necessidades especiais e da colocação de escovódromos nos banheiros. Será importante
fazer a aquisição de um parque infantil que propicie momentos de prazer e alegria aos
alunos, pois o existente é apenas uma adaptação grosseira construído com brinquedos
antigos. A escola conta com recursos advindos do Fundo Nacional do Desenvolvimento da
Educação Básica (FUNDEB) e de recursos do Tesouro Municipal (25%) para a compra de
materiais de custeio e capital, através de orçamentos aprovados pela Prefeitura Municipal.22
Quadro 25 - Constituição da instituição que compõe a Creche II Tipo de
Creche
Atendi-
mento Número
de
alunos
Equipe Pedagógica (Professores, monitores e
dirigente). Demais
funcionários
Pós
Graduação
Form.:
Superior
Form.:
Superior
incomp.
Form.:
Ens.
Médio
Munici-
pal
0 a 3
anos
129
alunos 5 8 4 4
01 Auxiliar de
secretaria
01 Auxiliar de
cozinha
01 Cozinheira
02 Serviços Gerais
Fonte: A autora.
5.5.1.1.3 Creche III
A creche III é mantida por uma Organização Não Governamental (ONG) e faz
parte da Rede conveniada com a Secretaria de Educação da qual recebe verbas originadas
do FUNDEB. Esta instituição atende 154 crianças, de 0 a 4 anos de idade. Está situada em
uma região periférica da cidade. As crianças atendidas moram em sua maioria em bairros
distantes. Apenas 28,57% das crianças moram no mesmo bairro da creche. Essa instituição
22
Dados extraídos do Projeto Político Pedagógico (P. P. P) da creche investigada.
239
educacional atende crianças de famílias de diferentes classes econômicas, há uma grande
diversidade de tipos e arranjos familiares. A grande maioria das famílias mora em casas
alugadas ou cedidas. Há mais mães desempregadas do que pais e que também têm menos
mães que pais que trabalham com carteira assinada. Em relação a faixa etária dos pais, a
maioria está ente 18 e 30 anos. O prédio da Creche é de alvenaria, amplo e apresenta
condições razoáveis, necessitando de pintura e alguns reparos. A área externa também é
ampla, com área verde. Na frente fica um parque de areia com brinquedos. Há um pátio
coberto onde estão instalados vários brinquedos para que as crianças tenham onde brincar
em períodos chuvosos.
Quadro 26 - constituição da instituição que compõe a Creche III
Tipo de
Creche
Atendime
nto
Número
de alunos
Equipe Pedagógica (Professores, monitores e
dirigente). Demais
funcionários Pós
Graduação
Form.:
Superior
Form.:
Superior
incomp.
Form.: Ens.
Médio
Rede
Conve
niada
0 a 4
anos
154
alunos 5 10 07 04
01 Auxiliar de
secretaria
01 Auxiliar de
cozinha
02 Cozinheira
02 Serviços
Gerais
Fonte: A autora.
5.6 PRIMEIRA ETAPA DA PESQUISA
A amostra dos participantes da primeira parte da coleta de dados (Pesquisa da
Qualidade da Educação Infantil) foi constituída por 71 sujeitos de 3 escolas de Educação
Infantil (0 a 3 anos) de duas cidades do interior do Estado de São Paulo e em uma cidade
do Sul do Estado de Minas Gerais, apresentado no Quadro 27. Todas as creches
participantes da pesquisa são públicas. Duas creches mantidas por prefeituras e uma creche
240
mantida em parceria com subsídios financeiro assistencialista - Organização não
Governamental (ONG) e convênio firmado com a Prefeitura Municipal.
Quadro 27 - Total dos participantes da pesquisa
Função Número
Pais 09
Dirigente 03
Monitor (a)/ Auxiliar 37
Professor (a) 22
Total 71
Fonte: A autora.
Nota-se que a distribuição da amostra não foi balanceada em relação à função do
respondente. A grande maioria da amostra é composta por Monitores (52,1%), seguida de
Professores (31,0%) e Pais (12,7%). Apenas 3 sujeitos que responderam as questões são
dirigentes (4,2%).
Figura 20 - Porcentagens da amostra por função
Fonte: A autora.
As comparações entre as funções a seguir não consideram estatisticamente o
resultado dos dirigentes, pelo fato de serem apenas três. O que resultou em um
desbalanceamento dos dados.
Dirigente: 4%
Monitor: 52% Pais:
13%
Professores: 31%
Dirigente
Monitor
Pais
Professores
241
5.6.1 Coleta de dados e instrumentos
A fim de atender aos objetivos propostos por esta pesquisa, o método adotado para
a coleta de dados deste estudo apresentam características de levantamento ou survey,
apropriando-se da escala de Likert, pois ―submeterá os objetos de estudo à influência de
certas variáveis, em condições controladas e conhecidas pelo investigador‖ (GIL, 1999, p.
33) e questionário estruturado com perguntas fechadas que permitiram aos sujeitos
responderem com suas próprias palavras.
A metodologia conhecida como survey, apresentada por Babbie (1999), segundo o
qual, esse procedimento metodológico é constituído de um questionário estruturado a partir
de uma amostra de uma população e destinado a gerar informações especificas dos
entrevistados. Por isso, os dados coletados podem ser representativos da população total da
qual foram retirados, além da vantagem de possibilitar a generalização de uma população
inteira a partir de uma amostra.
Nesta pesquisa, que se pretende investigar as concepções de qualidade do
atendimento às crianças de 0 a 3 anos em instituições educacionais, o método survey se
mostra mais adequado. A utilização dessa metodologia na opinião de Gil (1999, p. 73), ―se
caracteriza pela interrogação direta das pessoas cujas concepções se deseja conhecer‖.
Basicamente, procedeu-se a solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas
(composto de pais de alunos e profissionais) envolvidas com o problema estudado para em
seguida, mediante análise quantitativa e qualitativa, obter as conclusões correspondentes
aos dados coletados.
Vale ressaltar que para este estudo, optou-se por trabalhar somente com um
dirigente de cada instituição participante, professores, educadores e pais de alunos que
concordaram espontaneamente em responder ao questionário, não tendo havido
obrigatoriedade de participação.
242
A coleta de dados foi realizada por meio de um instrumento (Pesquisa da Qualidade
na Educação Infantil - PQI23
) construído especialmente para esta pesquisa com base em
estudos de instrumentos de avaliação da qualidade da Educação Infantil tanto em âmbito
nacional quanto internacional apresentados no capítulo III, levando em consideração as
especificidades e necessidades para o atendimento à criança de 0 a 3 anos. Esse
questionário foi entregue para direção de cada creche investigada e solicitado para que
entregassem para todos os professores e educadores que trabalhavam nas respectivas
instituições educacionais. Os diretores tiveram a liberdade de escolher aleatoriamente 10
pais interessados em participar da pesquisa, no entanto, nem todos (pais, professores e
educadores) responderam a mesma.
O instrumento ―Pesquisa da Qualidade na Educação Infantil – PQI‖ foi organizado
em três partes a saber:
A primeira parte do instrumento refere-se às questões que permitem identificar os
dados demográficos dos participantes: a função que exerce na escola e sua formação.
A segunda parte do instrumento é uma escala Likert em um questionário composto
por um conjunto de 44 questões assertivas, subdivididas em oito dimensões que apresentam
uma visão integrada da qualidade. As dimensões são os aspectos considerados
fundamentais que constituem o atendimento da Educação Infantil (0 a 3 anos) e coloca o
desenvolvimento da criança no centro do processo educativo para a avaliação da qualidade:
Ambiente físico; Planos e rotinas; Interação adulto-criança; Interações entre as crianças;
Experiências educativas; Cuidados para uma vida saudável; Qualificação e
desenvolvimento profissional; Parceria escola-família.
A escala elaborada permite a coleta de dados sobre o grau de satisfação e as
concepções de dirigentes, professores, educadores e pais de alunos sobre a qualidade do
atendimento da Educação Infantil (0 a 3 anos) através de um levantamento amostral
(survey), com escala Likert. Gil (1999) destaca que a escala de Likert é de elaboração
23
O instrumento consta como apêndice desta pesquisa.
243
simples e tem caráter ordinal e não mede quanto uma atitude é mais ou menos favorável. É
uma escala na qual os participantes registram sua concordância ou discordância com um
enunciado.
A escala desta pesquisa é composta por um conjunto de questões assertivas em que
os respondentes foram solicitados a apontar uma dentre 5 opções de resposta: discordo
totalmente, discordo, não concordo nem discordo, concordo e concordo totalmente. Para
que se possa tratá-las de forma quantitativa, foi atribuída uma pontuação que varia de 1 a 5,
sendo 1 = Discordo totalmente, 2 = Discordo, 3 = Não concordo nem discordo/Não sei, 4 =
Concordo e 5 = Concordo totalmente.
Ainda nesta parte do instrumento, após os participantes terem assinalado suas
opções de resposta no quadro da escala Likert, foram solicitados a escolher três de todos os
indicadores da dimensão apresentada de forma hierárquica quanto a sua importância.
Este instrumento teve como referência os diversos modelos de avaliação da
qualidade da Educação Infantil mencionados neste trabalho. O objetivo da aplicação do
instrumento é identificar as concepções e prioridades de professores, educadores, dirigentes
e pais de alunos quanto ao atendimento às crianças de 0 a 3 anos. O instrumento organiza-
se em oito dimensões, que são interligadas quanto ao contexto avaliado, considerando a
criança como o centro de todo o contexto educativo, como demonstra a Figura 21:
244
Figura 21 - Oito Dimensões da qualidade da Educação Infantil
Fonte: A autora.
Para analisar os itens Likert foram realizadas estatísticas descritivas (médias,
desvios padrão, frequências e porcentagens) e construídos gráficos de barras para melhor
visualização dos resultados. A comparação entre os itens e entre as escolas, para cada fator,
foi realizada através de modelos de Análise de Variância (ANOVA) seguidos do teste de
médias de Tukey. Os itens foram comparados no geral através do teste não paramétrico de
Friedman para a ordenação da importância. Os itens dos constructos (dimensões) foram
avaliados quanto sua consistência interna. Para tanto, foram estimados coeficientes alfa de
Cronbach (α), correlações item-total e correlações inter-item. O nível de confiança utilizado
nas análises foi de 95%. O software estatístico utilizado nas análises foi o XLSTAT 201324
.
A terceira parte do instrumento é um questionário, composto por duas questões
abertas, referentes ao conceito de qualidade do atendimento à criança de 0 a 3 anos e a
24
Análise de dados e estatísticas para o Microsoft Excel.
1. Ambiente Físico
2. Planos e Rotinas;
3. Interação Adulto – criança
4. Interações entre iguais
5. Experiências educativas
6. Cuidados para uma vida saudável
7. Qualificação e desenvolvimento
profissional
8. Parceria Escola- família
A CRIANÇA
245
opinião da utilidade da creche para o entrevistado. Como cabeçalho, colocamos as
instruções de resposta e, para aumentar a liberdade de expressão, não foi solicitada a
identificação da pessoa.
O Quadro 28, apresenta as questões:
Quadro28 - Questões dissertativas
a) O que seria uma creche de Qualidade da Educação Infantil de 0 a 3 anos?
b) Para que serve uma creche?
Fonte: A autora.
As respostas foram categorizadas à luz da análise de conteúdo de Bardin (2011). A
autora afirma que enquanto método, a categorização torna-se um conjunto de técnicas de
análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição
do conteúdo das mensagens.
De acordo com Bardin (2011, p. 85), a análise de conteúdo se organiza em três
fases: ―1) pré-análise, 2) exploração do material e 3) tratamento dos resultados, inferência e
interpretação‖.
A pré-análise consiste em uma fase em que se organiza o material a ser analisado,
para então, iniciar à interpretação de resultados e sistematizar as ideias iniciais. A
exploração do material alicerçou a segunda fase que consiste na operação de analisar o
texto sistematicamente com a definição de categorias, é a fase da descrição analítica,
portanto, a codificação, a classificação e a categorização são básicas nesta fase. Por fim, o
tratamento dos resultados inferência e interpretação. Essa fase tem como objetivo
condensar e destacar as informações para análise, culminando nas interpretações
inferenciais, é o momento da análise reflexiva e quantitativa por meio de estatísticas. As
respostas encontradas no questionário serão apresentadas em frequências simples e
percentuais.
246
5.6.2 Categorização das respostas
As perguntas estruturadas foram categorizadas de acordo com a teoria de Bardin
(2011, p. 147) que afirma que ―categorização é uma operação de classificação de elementos
constitutivos de um conjunto por diferenciação e, em seguida, por reagrupamento segundo
o gênero (analogia), os critérios previamente definidos‖.
O critério de categorização utilizado neste estudo foi semântico por categorias
temáticas, de acordo com seus significados, a partir das significações que a mensagem
fornece. O processo adotado para elaborar as categorias foi definido a priori, isto é,
sugeridas pelo próprio referencial teórico apresentado.
As categorias definidas previamente para a primeira pergunta são:
O que seria uma creche de Qualidade da Educação Infantil de 0 a 3 anos?
Quadro 29 - Categorias da primeira pergunta.
CATEGORIAS
Desenvolvimento infantil
Estrutura Física e Materiais
Formação do Pessoal
Quantidade de crianças por adulto
Apoio à Família
Fonte: A autora.
As categorias definidas previamente para a segunda pergunta são:
Para que serve uma creche?
247
Quadro 30 - Categorias da segunda pergunta.
CATEGORIAS
Educar e cuidar
Apoio às famílias enquanto trabalham
Socialização
Ensinar
Fonte: A autora.
5.7 SEGUNDA ETAPA DA PESQUISA
5.7.1 Grupo Focal
O cerne desta investigação está na utilização da técnica do grupo focal, como
principal instrumento de coleta de dados. Para Gomes e Barbosa (1999, p. 1), ―grupo focal
é um grupo de discussão informal e de tamanho reduzido, com o propósito de obter
informações de caráter qualitativo em profundidade‖. É uma técnica rápida e de baixo custo
para avaliação e obtenção de dados e informações qualitativas, fornecendo aos gerentes de
projetos ou instituições uma grande riqueza de informações qualitativas sobre o
desempenho de atividades desenvolvidas, prestação de serviços, novos produtos ou outras
questões.
O objetivo principal de um grupo focal é revelar as percepções, sentimentos,
atitudes e ideias dos participantes sobre o problema em discussão. Segundo Gomes e
Barbosa (1999), normalmente, os participantes possuem alguma característica em comum.
Por exemplo, participam das atividades de uma Escola de Educação Infantil (0 a 3 anos).
248
Os grupos focais são vistos como uma técnica de pesquisa que viabiliza a coleta de
dados por meio das interações grupais, a partir de uma temática sugerida por um
pesquisador. Os grupos focais têm a condição de reunir muitas informações sobre um tema
num curto espaço de tempo, a partir de discussões em grupos homogêneos, momento em
que se identificam os pontos de vista, experiências e opiniões dos participantes.
Gomes e Barbosa (1999, p. 2) apresentam as principais características de um grupo
focal:
- Cada sessão dura de uma a duas horas;
- A conversação concentra-se em poucos tópicos (no máximo 05 assuntos)
- Pode haver a presença de um observador externo (o qual não se manifesta) para
captar reações dos participantes.
- Utiliza questões e respostas não estruturadas, podendo contribuir trazendo novas
ideias sobre o assunto;
- Deve captar informações e não dar informações.
Ainda, segundo Gomes e Barbosa (1999, p. 3), os grupos focais são apropriados
quando:
- Se deseja ampliar a compreensão a respeito de um projeto, programa ou serviço;
- Existem grandes problemas de implementação, como em projetos complexos;
- Monitorar um serviço em execução, para verificar, por exemplo, o grau de
satisfação das pessoas que o utilizam, que mudanças gostariam de ver ou que
dificuldades estão encontrando;
- Programas de atividades estão sendo planejados e é importante para os gerentes
conhecerem preferências e necessidades de todos os envolvidos e/ou interessados.
Portanto, no grupo focal não há pretensão de buscar o consenso, mas a diversidade
de ideias e convicções. Nesse contexto, a ênfase está nas trocas entre os integrantes do
grupo que pode ter como ponto de partida temas oferecido pelo pesquisador que assume o
papel de moderador. Sendo assim, pode-se afirmar que essa metodologia favorece as trocas
de pontos de vistas diferentes, em um contexto cooperativo em que cada um tem
possibilidade de expor seu modo de pensar ou suas opiniões e até mesmo influenciar as
opiniões dos demais.
Gui (2003, p. 143) admite que no trabalho com o grupo focal devem ser observadas
as seguintes orientações:
1. Objetivo ou problema de pesquisa claramente definido;
249
2. Características do grupo, tais como a homogeneidade ou heterogeneidade de
seus membros e a adequação de sua composição para os propósitos da
pesquisa;
3. Qualidade da relação entre o pesquisador e os membros do grupo, clima de
confidencialidade em relação aos assuntos discutidos e facilitação da fala
espontânea dos participantes;
4. Facilitador preparado e bem organizado, que tenha clareza sobre as questões
a serem propostas para discussão;
5. Ouvir atento do facilitador, que permita a emergência de novos temas não
presentes no planejamento inicial;
6. Estrutura, direcionamento e contribuição restrita do facilitador para a
discussão do tema, evitando opiniões e comentários substantivos;
7. Assistente de pesquisa que ajude a elaborar notas sobre a dinâmica grupal, a
transcrever as falas ou lidar com os equipamentos de registro de voz ou
vídeo, quando permitidos e utilizados;
8. Registro sistemático das informações de maneira a permitir o uso de técnicas
de análise de conteúdo por quaisquer pessoas interessadas em elaborar
conclusões sobre os dados.
O grupo focal é uma técnica em que, conforme Gatti (2005, p. 07), ―privilegia-se a
seleção dos participantes, desde que eles possuam algumas características em comum que
os qualificam para a discussão em questão‖. No caso desta segunda parte da pesquisa
(Grupo Focal), a escolha dos participantes foi realizada de maneira intencional entre os
sujeitos que pertencem à amostra para responderem aos questionários. Partindo do princípio
que todos os sujeitos amostrados atendessem os critérios para participação da pesquisa
(apresentados a seguir), foi realizado um sorteio entre os respondentes do questionário. Os
grupos focais foram organizados como se segue: sendo 2 ou 3 professores, 2 ou 3
educadores, 1 dirigente, 2 pais de alunos; totalizando 7 ou 8 participantes.
A escolha dos pais foi realizada pela direção da escola, de forma aleatória, livre de
qualquer critério ou ideia pré-concebida, desde que tenha seu (sua) filho (filha) matriculado
(a) na escola estudada e concordassem em participar da pesquisa. Os professores e
educadores também foram escolhidos pela direção, a partir dos seguintes critérios: 1. Que
no período da realização do estudo, trabalhassem diretamente com crianças de 0 a 3 anos;
2. Que tivessem completado, pelo menos, 3 anos de serviço neste segmento de ensino; 3.
Que tivessem, pelo menos, 2 anos de serviço no atendimento à 0 a 3 anos na instituição
investigada e 4. Que concordassem em participar da pesquisa.
250
5.7.2 Grupo Focal como instrumento para construção dos indicadores
A técnica de grupo focal foi empregada nesta pesquisa por constituir estratégias em
que os participantes puderam evocar, isto é, manifestar indicadores que revelam suas
percepções, sentimentos, atitudes e ideias sobre o que seria necessário para uma creche de
alta qualidade, a partir das oito dimensões apresentadas pelo pesquisador. Outro importante
objetivo para a utilização dessa técnica, foi a importância de assegurar a participação ativa,
espontânea e corresponsável de todos pelo processo de avaliação da qualidade, desde a
construção dos indicadores.
A literatura aponta diversos significados e definições para indicadores, todos
guardando certa similaridade. No entendimento de Jannuzzi (2003) os indicadores se
referem a um determinado tema, realidade social em que se considera um conjunto de
critérios básicos, para garantir a sua posterior operacionalização.
O termo Indicador origina-se do latim "indicare", verbo que significa apontar,
portanto, os indicadores são sinais que chamam a atenção sobre determinados
comportamentos de um sistema. Como elucida Bottani, (1998, p. 54):
Os indicadores de ensino deveriam funcionar do mesmo modo e dar, assim, uma
informação precisa e aceitável sobre o estado de saúde dos sistemas escolares e
sobre os resultados dos investimentos educacionais. Uma escolha calibrada de
indicadores deveria permitir aos usuários da escola, às famílias, aos docentes, aos
jornalistas que se interessam por escola, aos empregadores e, sobretudo, a todos
aqueles que têm a responsabilidade de dirigir as instituições educacionais
adquirir, rapidamente, uma ideia correta sobre a qualidade da escola e do ensino.
Como se observa, o autor nos alerta que os indicadores atuam para sinalizar sobre o
fato de que ―alguma variável‖ pode estar influenciando, tanto de maneira positiva quanto
negativa o sistema escolar, não facultando a necessidade de se investigar todas as variáveis
envolvidas.
Há algumas características importantes a serem consideradas na definição dos
indicadores conforme Bottani (1998, p. 57).
O indicador deve:
• ser significativo para a avaliação do sistema;
• ter validade, objetividade e consistência;
251
• ter coerência e ser sensível a mudanças no tempo e no sistema;
• permitir enfoque integrador, ou seja, fornecer informações condensadas sobre
vários aspectos do sistema;
• permitir ampla participação dos atores envolvidos na sua definição.
Portanto, os indicadores são instrumentos fundamentais para avaliar e monitorar
determinadas realidades, pois eles podem apontar uma determinada situação, um certo
estado.
A taxonomia existente na literatura sobre os indicadores (JANNUZZI, 2003) aponta
várias formas e critérios de classificação dos mesmos, para os fins deste trabalho,
considerou-se os indicadores qualitativos/subjetivos pois são ―construídos a partir da
avaliação dos indivíduos e especialistas com relação a diferentes aspectos da realidade,
utilizam técnicas do tipo pesquisa de opinião, grupo focal ou grupo de discussão.‖
(JANNUZZI, 2003).
É oportuno destacar que os indicadores não permitem fornecer explicações causais
de fenômenos medidos, mas sugere o desdobramento da auto avaliação que pode contribuir
para elevar o debate sobre a Educação Infantil (0 a 3 anos), porque representam, nesse caso,
uma informação pertinente, clara, atualizada sobre os serviços prestados pelas creches.
A construção desses indicadores se dará a partir de dimensões que irão corresponder
a fatores considerados por professores e educadores desse nível de ensino como tendo
influência no seu trabalho na primeira parte da pesquisa.
Por essa razão, os indicadores construídos de forma participativa devem informar,
trazendo dados que favoreçam a reflexão de todos os participantes do processo, ajudando-
os na compreensão da complexidade das instituições e dos processos educacionais
específicos deste segmento de ensino.
Estabelecidos os indicadores para cada uma das dimensões, a equipe participante da
auto avaliação deverá pontuar em uma escala com cinco níveis de pontuação a fim de aferir
a situação da unidade frente aos indicadores. Os números representam a avaliação feita: a
252
situação do indicador é considerada exemplar quanto mais próximo do número 5 e
deficitária quando a ele forem atribuídos uma pontuação próxima de 1.
Os pontos atribuídos às perguntas ajudarão o grupo a ponderar e decidir qual
reflete com mais precisão a situação da instituição de Educação Infantil em relação a cada
indicador.
O processo de escolha dos pontos deve ser negociado entre todos. Para se definir
a pontuação de uma questão, é preciso refletir sobre a real situação da unidade frente ao
aspecto analisado e buscar coletivamente argumentos que justificam os valores atribuídos.
É necessário aproveitar o momento de discussão das questões para o diálogo; saber ouvir e
respeitar o que o outro tem a dizer.
Para a construção desses indicadores, foram utilizados os procedimentos da
metodologia do Grupo Focal que têm uma estreita relação com os princípios metodológicos
da avaliação institucional e se faz relevante quando a coleta e análise dos dados e
informações obtidas são provenientes da interação e da intervenção dos sujeitos da
realidade estudada.
Partindo do princípio que todos os sujeitos amostrados atenderam aos critérios para
participar dos grupos focais, apresenta-se, no Quadro a seguir, a organização dos grupos
focais por creche investigada.
Quadro 31 - Organização do grupo focal das creches participantes da pesquisa
Grupo Focal Participantes Número
Creche I 3 professores, 2 educadores, 1 dirigente, 2
pais de alunos.
8
Creche II 2 professores, 3 educadores, 1 dirigente, 1
pai de aluno.
7
Creche III 3 professores, 2 educadores, 1 dirigente, 2
pais de alunos.
8
Fonte: A autora.
253
A escolha dos temas para discussão nos grupos focais foi sugerida a partir dos
questionários aplicados no início da pesquisa.
Quadro 32 - Roteiro do pesquisador para realização do grupo focal
ITEM ASSUNTO TEMPO
Recepção
Apresentação do moderador e dos componentes do grupo.
Pontos a ressaltar antes de iniciar a discussão:
A finalidade do Grupo Focal: aprender com os participantes tudo
que sabem sobre aspectos importantes para garantir a Qualidade da
Educação Infantil com atendimento à criança de 0 a 3 anos (creche).
A importância de expressar a opinião individual independente do
fato de ser certa ou errada.
Garantir que não serão divulgados o que foi estabelecido ou
conversado no grupo e solicitar dos participantes que mantenham
também o sigilo.
A Gravação da conversa será necessária para facilitar as anotações.
A fita gravada somente poderá ser ouvida pelos participantes do
grupo.
5 min
Objetivo Explicação do Objetivo do Encontro 10 min
Discussão Início das discussões por dimensões:
PERGUNTAS:
1. Quais os indicadores de um ambiente seguro, em que não há
sinais evidentes de perigo?
10 min
2. Quais os indicadores de um ambiente físico saudável? 10 min
3. Quais os indicadores relevantes de que a creche possui materiais,
equipamentos e proporcione atividades adequadas às crianças?
10 min
4. Quais os indicadores que evidenciam o tipo de relação adulto-
criança?
10 min
5. Quais os indicadores que evidenciam o tipo de relação entre as
crianças?
10 min
6. Quais os indicadores que evidenciam os esforços para se
estabelecer relações produtivas com as famílias?
10 min
7. Quais os indicadores que evidenciam os tipos de experiências
pedagógicas vivenciadas pelas crianças?
10 min
8. Quais os indicadores que evidenciam a qualificação do pessoal
que trabalham com as crianças?
10 min
9. Quais os indicadores que evidenciam a importância de planos,
avaliações e rotinas na organização pedagógica?
10 min
Fonte: A autora.
A função do moderador foi exercida pela própria pesquisadora, seguindo um roteiro
planejado previamente (Quadro 29). Procurou-se incentivar a interação do grupo e manter
254
as discussões em torno dos objetivos da pesquisa. O papel do observador foi desempenhado
por uma professora/estudante do curso do Programa de Educação Infantil e Ensino
Fundamental (PROEPRE) ligado ao Laboratório de Psicologia Genética (LPG) da
Universidade de Campinas - UNICAMP como voluntária.
Os contatos com os participantes foram feitos com antecedência através de cartas
convites (apêndice B), explicando os objetivos da pesquisa e a importância da presença de
todos nos encontros. As sessões foram marcadas de acordo com a disponibilidade dos
participantes. As cartas-convite foram entregues pessoalmente e, naquele momento, foram
registrados os números dos telefones para contato, para facilitar a confirmação dos
participantes. Todos os encontros aconteceram em uma das salas de reunião das Escolas de
Educação Infantil investigadas com atendimento de 0 a 3 anos.
Ao final do encontro, o moderador solicitou a apreciação do grupo sobre a reunião.
De maneira geral, as participantes consideraram-no muito interessante e sugeriram que
outros deveriam acontecer com maior regularidade na creche. As professoras mencionaram
ainda que o encontro possibilitou uma autorreflexão acerca das suas práticas.
Considerando os princípios teóricos que fundamentam a metodologia da técnica de
grupo focal, e as intenções que permeiam esta pesquisa, esta metodologia foi escolhida
como instrumento de investigação na construção participativa dos indicadores da Qualidade
da Educação Infantil (0 a 3 anos).
5.8 CONDIÇÕES PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA
O processo de realização da pesquisa se deu a princípio pelo contato feito com as
Secretarias Municipais de Educação das cidades onde as creches estão localizadas, com a
finalidade de solicitar autorização para a realização da pesquisa nas Escolas de Educação
255
Infantil (0 a 3 anos), bem como a diretora da Organização não governamental (ONG) que
atende crianças de 0 a 3 anos25
.
Em um momento, previamente agendado, foi realizada uma reunião com os
dirigentes das creches que compõem a amostra para explicar os objetivos da pesquisa,
convidá-los e pedir que encaminhassem o convite aos professores, educadores e pais de
alunos para participarem das duas fases da pesquisa mediante a assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.26
Em uma data e horário previamente agendado pelas dirigentes das três creches
foram realizadas as reuniões do grupo focal nas dependências de cada instituição
educacional investigada, em aproximadamente (+ ou -) 120 minutos para a construção
participativa dos indicadores de Avaliação da Qualidade. Os indicadores constituem o
Instrumento de Avaliação da Qualidade da Educação Infantil – creche, nomeado também
de IAQEI – c.
Após os instrumentos prontos, cada creche recebeu o seu IAQEI – c construído pela
equipe representante da instituição educacional. As diretoras das creches investigadas
também receberam sugestões27
para a utilização do referido instrumento como ferramenta
de auto avaliação caso houvesse interesse e possibilidade para utilizá-lo.
No capítulo a seguir, serão apresentados os resultados e análises dessa pesquisa.
25
Apêndice A e B 26
Apêndice C 27
As sugestões seguem no apêndice do trabalho.
257
CAPÍTULO VI
RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO
...que a importância de uma coisa não se mede com fita
métrica nem com balanças nem barômetros etc.
Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo
encantamento que a coisa produza em nós.
Manoel de Barros
258
Neste capítulo, vamos apresentar os resultados das experiências em que os próprios
professores, educadores, dirigentes e pais de alunos participaram ativamente, no caso
concreto da situação de avaliação da qualidade da Educação Infantil a que esta pesquisa se
refere. Os participantes tiveram possibilidade de dar voz em um processo reflexivo que
permitiu conscientizarem-se dos caminhos percorridos, os efeitos gerados e, a partir deles,
delinearam sua continuação. Portanto, avaliar nesta perspectiva é antes de tudo, um
percurso pelo qual se descobrem as formas por onde passa a construção das mudanças em
um processo participativo que favorece condições para que todos se sintam implicados na
qualidade dos serviços prestados às instituições educacionais pesquisadas. Avaliar é assim
uma dinâmica contínua.
259
6.1 RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO
Este capítulo reporta-se à apresentação e análise dos dados obtidos que foram
interpretados e discutidos tendo por base o quadro conceitual construído neste trabalho. Os
materiais coletados advém do instrumento - Pesquisa da Qualidade na Educação Infantil –
PQI, que se compõe em três partes: dados demográficos dos participantes da pesquisa; um
questionário em escala likert e a escolha por ordem hierárquica de todos os indicadores de
cada dimensão quanto à importância e um questionário com duas questões abertas,
referentes ao conceito de qualidade no atendimento à criança de 0 a 3 anos.
Na primeira parte desse instrumento, foram analisadas a influência das variáveis
quanto as funções (dirigente, professor, monitor e pais de alunos) e a formação dos
participantes desse estudo.
A interpretação dos dados quantitativos apresentados na segunda parte da pesquisa,
foram articulados e analisados com o campo teórico que sustentou este estudo, buscando
analisar qualitativamente as diferenças dos pontos (quantitativos) mais elevados e os mais
incipientes apresentados pelos respondentes das creches investigadas em relação a
satisfação dos diversos indicadores apresentados nesse instrumento.
As duas perguntas que compõem a última parte do referido instrumento foram
analisadas por procedimentos que se basearam na Análise de Conteúdo, com o propósito de
apreender as singularidades das concepções reveladas nas respostas apresentadas. A análise
foi realizada por meio de uma descrição objetiva, sistemática, qualitativa e quantitativa dos
conteúdos manifestados nas respostas.
6.1 1 Caracterização demográfica - Primeira parte do Instrumento
260
A amostra foi constituída por 71 sujeitos de 3 Creches que responderam o
instrumento para avaliação da qualidade da Educação Infantil. O número e porcentagens da
amostra foram apresentados na amostra da pesquisa (ver p. 238). A seguir serão
apresentadas a caracterização dos participantes por Creche quanto à escolaridade.
6.1.1.1 Creche I
Figura 22 - Escolaridade dos sujeitos da creche I.
Fonte: A autora.
Na creche I a dirigente exerce as funções de direção e coordenação pedagógica,
possui pós-graduação em Gestão de Creche, dos 15 monitores participantes: 04 concluíram
o Ensino Superior em Pedagogia sendo que 01 já tem curso de pós graduação em
Psicopedagogia. Desses monitores que atuam nessa creche, 07 estão cursando Pedagogia e
quatro concluíram apenas o Ensino Médio. Todos os professores (10) são formados em
Pedagogia, sendo que destes 03 já possuem curso de pós-graduação. Dos 04 pais
participantes dessa creche um concluiu o ensino superior, 02 o Ensino Médio e um o
Ensino Fundamental.
6.1.1.2 Creche II
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Dirigente Monitor Pai Professor
Pós-Graduação
Superior Completo
Superior Incompleto
Médio
Fundamental
261
Figura 23 - Escolaridade dos sujeitos da creche II.
Fonte: A autora.
Na creche II a dirigente concluiu o curso superior em Letras concluiu e exerce as
funções de direção e coordenação pedagógica. Dentre os 12monitores participantes: 02
possuem o ensino superior completo, sendo um em Pedagogia e outro em Contabilidade,
04 deles estão cursando Pedagogia, 02 concluíram o curso de pós-graduação em
Psicopedagogia e quatro terminaram o Ensino Médio. Dentre os professores que constituem
a amostra, 8 são graduados em Pedagogia, sendo que destes, 02 já possuem curso de pós-
graduação. Os 02 pais participantes desta creche possuem apenas o Ensino Médio.
6.1.1.3 Creche III
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Dirigente Monitor Pai Professor
Pós-Graduação
Superior Completo
Superior Incompleto
Médio
Fundamental
262
Figura 24 - Escolaridade dos sujeitos da creche III
Fonte: A autora.
Na creche III, a dirigente também acumula as funções de direção e coordenação
pedagógica e é pós-graduada em Psicopedagogia. Dos 10 monitores que constituem a
amostra: 04 concluíram o ensino superior em Pedagogia, 05 estão fazendo a graduação em
Pedagogia e um concluiu apenas o Ensino Médio. Dos professores participante 04 são
formados em Pedagogia, sendo que destes, 2 possuem curso de pós-graduação em
Psicopedagogia. Dos 3 pais participantes desta creche um está cursando o ensino superior,
2 têm o Ensino Médio.
A Tabela 2 e a Figura 25 ilustram a escolaridade da totalidade dos sujeitos
participantes do estudo:
Tabela 2 - Escolaridade dos sujeitos por Creche e no total
Escolaridade
Creche 1 Creche 2 Creche 3 Total
n % n % n % n %
Fundamental 1 3,3 0 0,0 0 0,0 1 1,4
Médio 6 20,0 6 26,1 3 16,7 15 21,1
Superior Incompleto 7 23,3 4 17,4 7 38,9 18 25,4
Superior 11 36,7 8 34,8 5 27,8 24 33,8
Pós-Graduação 5 16,7 5 21,7 3 16,7 13 18,3
Fonte: A autora.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Dirigente Monitor Pai Professor
Pós-Graduação
Superior Completo
Superior Incompleto
Médio
Fundamental
263
Figura 25 - Escolaridade dos sujeitos por Creche.
Fonte: A autora.
A maioria dos professores das Creches investigadas possui curso superior completo
ou mesmo pós-graduação. Diferentemente dos monitores, que são os profissionais que
passam a maior parte do tempo junto às crianças, pois cumprem uma jornada de 40 horas
semanais na creche e o professor 24 horas semanais de trabalho junto às crianças.
Vale destacar que a grande maioria dos participantes de toda a pesquisa é composta
por Monitores (52,1%), seguida de Professores (31,0%). A função exercida pelo cargo de
Monitor é contratada por concurso público em duas das Creches pesquisadas, ambos os
concursos exigiam no edital apenas o nível médio apontando como atribuições ao cargo o
apoio nas ações de cuidar e educar, isto é, ajudar nas atividades pedagógicas de acordo com
a orientação da professora e ter aptidão no tratamento com crianças de 0 a 3 anos. Na
terceira instituição educacional, que é administrada em regime de Organização não
Governamental (ONG) mantida por subvenções e contribuições da sociedade civil e por
convênios com a Prefeitura Municipal, a seleção é feita pela própria coordenadora
pedagógica e diretora que procura escolher pessoas com formação específica em
Pedagogia. No entanto, essa prática acontece apenas desde 2010 anterior a este ano não
havia nenhuma preocupação com a formação dos profissionais contratados, apenas bastava
querer cuidar das crianças que frequentavam a creche. Muitas destas profissionais, sem
264
formação específica, ainda estão trabalhando na creche, pois a limitação financeira dificulta
a dispensa dos funcionários que trabalham há mais de oito anos no exercício da função.
Os profissionais que atuam nas creches – com denominação diversa: monitores,
educadores, auxiliares de desenvolvimento infantil (ADIs), recreacionistas, e outras são
mulheres com pouca idade, com salário reduzido e tempo de trabalho dilatado, das quais se
espera disposição para ―limpar, cuidar, alimentar e evitar riscos de quedas e machucados,
controlando e contendo um certo número de crianças‖ (CAMPOS, 1994, p. 32). Essa
prática reflete o modelo higienista de atendimento mesmo nos dias atuais, assim como é
apresentado no documento ‗Subsídios para credenciamento e funcionamento de instituições
de Educação Infantil‘ uma reflexão da contradição da realidade brasileira:
No Brasil, a formação dos profissionais que atuam em educação infantil,
principalmente em creches, praticamente inexiste como habilitação especifica.
Assinala-se que algumas pesquisas registram um expressivo número de
profissionais que lidam diretamente com crianças, cuja formação não atinge o
ensino fundamental completo. Outros concluíram o ensino médio, mas sem a
habilitação de magistério e, mesmo quem a concluiu, não está adequadamente
formado, pois esta habilitação não contempla as especificidades da educação
infantil. (BRASIL, 1988, p.18).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº 9.394/96, ao tratar
das instituições que integram o sistema de ensino declara que a ação pedagógica é tarefa de
docentes incluindo, também a Educação Infantil. Já o artigo 62 da referida Lei especifica:
A formação de docentes para atuar na Educação Básica far-se-á em nível
superior, em curso de licenciatura, de graduação plena em universidades e
institutos superiores de educação, admitida como formação mínima para o
exercício do magistério na Educação Infantil e nas quatro primeiras séries do
Ensino Fundamental a oferecida em nível médio, na modalidade Normal.
(BRASIL, 1996, p. 1).
Mesmo com essa legislação, as secretarias de educação continuam a contratar por
meio de concursos públicos, profissionais sem Ensino Superior para trabalhar diretamente
com crianças de 0 a 3 anos, que têm dentre as suas atribuições as funções: fazer
planejamento, relatórios reflexivos, registros de avaliação do desenvolvimento do aluno,
organização de materiais e de espaços físicos, entre outros, muito semelhantes, ou mesmo
iguais às funções exercidas pelos professores. Estes profissionais se caracterizam como
265
funcionários do quadro geral da educação ou da Prefeitura em que a exigência mínima de
formação para esses cargos é apenas de nível médio. Pela legislação, eles podem estar
lotados em Creches, mas não podem atuar como professores da Educação Infantil. Portanto,
não é a formação exigida que define a função, mas as funções exercidas, haja vista que,
como já dito, o ato de cuidar e educar são indissociáveis na Educação Infantil.
Quanto a este problema, a pesquisadora Kishimoto (2010) constatou que em 1999,
no Brasil apenas 9,5% dos profissionais de creche tinham formação em nível superior. Dez
anos após, em 2009 esse número foi elevado para 46% dos profissionais. Esses avanços são
significativos quanto à formação de professores que trabalham em creches. Porém, tal
formação pouco agrega as especificidades do atendimento à criança de 0 a 3 anos, ficando a
cargo das próprias Secretarias de Educação organizar e promover uma formação continuada
que possa dar subsídios teóricos e práticos para os profissionais que atuam neste segmento
de ensino.
O tradicional abandono e descaso é fruto de uma política da inexistência da garantia
dos direitos das crianças em terem uma educação de qualidade, além do descaso aos
profissionais, tal fato reflete no contingente de leigos, na grande maioria, das instituições
educacionais que trabalham com crianças de 0 a 3 anos. Mesmo nos grandes centros
urbanos, a qualificação requerida nos editais para trabalhar com essa faixa etária é, ainda,
de Ensino Médio. O pior é que há, certamente, na atualidade, um grande contingente que
sequer completou o Ensino Fundamental. A ausência de uma política de formação
profissional e aquisição e manutenção de tais recursos geram práticas educacionais de baixa
qualidade.
6.2 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS RESULTADOS
DO INSTRUMENTO – SEGUNDA PARTE: PESQUISA DA QUALIDADE
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Foram realizadas avaliações para 8 tipos de dimensões em escala de 5 pontos.
Quanto maior a nota da escala melhor a avaliação daquela dimensão. Essas dimensões estão
266
intrinsecamente relacionadas e expressam a intencionalidade pedagógica, traduzindo os
principais aspectos que compõem a realidade educativa. Elas representam os pilares sobre
os quais devem se apoiar as reflexões referentes aos fatores levados em conta no processo
de avaliar e aprimorar a qualidade do trabalho realizado nas instituições de Educação
Infantil com atendimento de 0 a 3 anos.
Na Tabela abaixo são apresentados os resultados gerais da avaliação dessas
dimensões.
Tabela 3 - Médias e desvios padrão para as 8 dimensões da escala
Dimensões Média Desvio
padrão
I. AMBIENTE FÍSICO 4,0 0,7
II. PLANOS E ROTINAS 4,1 0,7
III. INTERAÇÃO ADULTO – CRIANÇA 4,3 0,6
IV. INTERAÇÕES ENTRE IGUAIS 4,3 0,7
V. EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS 4,3 0,5
VI. CUIDADOS PARA UMA VIDA SAUDÁVEL 3,9 0,7
VII. QUALIFICAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL 3,9 0,5
VIII. RELAÇÃO COM A FAMÍLIA 4,2 0,7
Fonte: A autora.
As médias das dimensões podem ser observadas na tabela 4. Nota-se que as
menores médias referem-se às dimensões VI (cuidados para uma vida saudável) 3,9 (d.p
0,7) e VII (qualificação e desenvolvimento profissional) 3,9 (d.p 0,5) a leitura destes
resultados indica que, em média, não estão totalmente assegurados e necessitam de
melhorias. As dimensões III (currículos e experiências educativas) e IV (relações
interpessoais) e V (experiências educativas) apresentam as maiores médias (4,3), apontando
que, em média, estas apresentam boas condições de funcionamento nos indicadores em
questão.
Na Tabela 4 estão registradas as médias de desvios padrão para as oito dimensões
que para as quais os constituintes da amostra tiveram que atribuir uma nota de 1 a 5.
267
Tabela 4 - Médias e desvios padrão para as 8 dimensões da escala por função
Dimensão
Dirigente (n=3) Monitor
(n=37)
Professores
(n=22) Pais (n=9)
p-
valor
Média Desvio
padrão Média
Desvio
padrão Média
Desvio
padrão Média
Desvio
padrão
I. AMBIENTE FÍSICO 3,7 0,9 3,9 A 0,8 4,1 A 0,6 4,3 A 0,6 0,318
II. PLANOS E ROTINAS 3,5 0,4 4,1 A 0,8 4,0 A 0,7 4,3 A 0,7 0,656
III. INTERAÇÃO ADULTO/
CRIANÇA
3,8 0,9 4,3 A 0,6 4,4 A 0,5 4,5 A 0,5 0,460
IV. INTERAÇÕES ENTRE IGUAIS 3,9 1,1 4,4 A 0,7 4,2 A 0,6 4,5 A 0,6 0,434
V. EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS 3,6 0,4 4,4 A 0,5 4,2 A 0,5 4,5 A 0,5 0,269
VI. CUIDADOS PARA UMA
VIDA SAUDÁVEL 3,4 0,1 4,0 A 0,7 3,9 A 0,7 3,7 A 0,6 0,494
VII. QUALIFICAÇÃO E
DESENV. PROFISSIONAL
3,6 0,5 4,0 A 0,5 3,8 A 0,4 3,7 A 0,5 0,172
VIII. RELAÇÃO COM A FAMÍLIA
3,0 0,0 3,5 A 1,2 3,8 A 1,2 3,7 A 1,0 0,706
Fonte: A autora.
Nota: Médias seguidas de letra em comum, para uma mesma dimensão, não diferem significativamente entre
si.
Figura 26 - Médias por função e dimensão
Fonte: A autora.
268
Não foram encontradas diferenças significativas entre as funções para nenhuma
das oito dimensões avaliadas. Apesar de os resultados dos dirigentes não terem sido
computados no modelo estatístico para a comparação entre as funções, nota-se que as
médias foram ligeiramente inferiores das demais funções para todas as dimensões. As
médias dos monitores, professores e pais foram bastante similares entre si.
Para melhor compreensão do estudo realizado quanto a satisfação em relação à
qualidade da Educação Infantil das creches investigadas, será analisada cada uma das
dimensões e suas médias gerais.
Como já foi dito, as 8 dimensões que compuseram o instrumento Avaliação da
Qualidade da Educação Infantil em uma escala tipo Likert de 5 pontos, permitiu que os
entrevistados classificassem cada um deles como mais ou menos importante (discordo
totalmente, discordo, não concordo nem discordo, concordo e concordo totalmente).
6.2.1 Ambiente Físico
Para realizar a análise do ambiente físico de uma creche, foi necessário considerar
uma série de fatores: organização do espaço, condições de luminosidade e arejamento,
estética, espaço que favorece as interações entre as crianças, disponibilidade de materiais
com acessibilidade às crianças, segurança, adequação e funcionalidade dos ambientes e até
mesmo aspectos de promoção da saúde, necessidades especiais e bem estar das crianças
(higiene e salubridade) adequadas às crianças portadoras ou não de deficiência.
No Quadro que se segue, estão registrados os indicadores referentes a dimensão
Ambiente Físico aos quais, os constituintes da amostra foram convidados a atribuir as
pontuações:
269
Quadro 33: Indicadores referentes a dimensão Ambiente Físico
I. AMBIENTE FÍSICO
1. Ambiente seguro e bem cuidado
2. Brinquedos, livros infantis e jogos em bom estado, acessíveis e com quantidade suficiente
(ao alcance das crianças)
3. Organização dos materiais (etiquetados, visíveis, caixas)
4. Espaço organizado para favorecer as interações entre as crianças
5. Vias para acesso de pessoas com necessidades especiais
6. Espaços, materiais e mobiliários para responder aos interesses e necessidades dos adultos.
7. Local especialmente destinado para trocas de fraldas.
Fonte: A autora.
Tabela 5 - Frequências e porcentagens da ordenação de importância para a Dimensão I:
Ambiente Físico
Escala
Indicadores
1 2 3 4 5 6 7
n % n % n % n % n % n % n %
1 3 4,2 1 1,4 0 0,0 0 0,0 11 15,5 5 7,0 3 4,2
2 6 8,5 8 11,3 8 11,3 2 2,8 5 7,0 6 8,5 13 18,3
3 1 1,4 4 5,6 0 0,0 4 5,6 13 18,3 6 8,5 12 16,9
4 26 36,6 22 31,0 25 35,2 19 26,8 30 42,3 23 32,4 32 45,1
5 35 49,3 36 50,7 38 53,5 46 64,8 12 16,9 31 43,7 11 15,5
Média 4,2 4,2 4,3 4,5 3,4 4,0 3,5
D
.P
1,1 1,1 1,0 0,7 1,3 1,2 1,1
Fonte: A autora.
Nota: D.P.=Desvio Padrão
Os dados apresentados demonstram diferenças significativas entre os indicadores
em relação ao ambiente físico (p-valor<0,001):
O indicador 4 foi superior aos indicadores 5, 6 e 7;
Os indicadores 1, 2 e 3 foram superiores aos indicadores 5 e 7;
O indicador 6 foi superior ao indicador 5.
270
Os indicadores que apresentaram classificações mais baixas em uma escala de tipo
Likert de 1 a 5, e que merecem atenção são: I. 5 referente a vias para acesso de pessoas
com necessidades especiais com 42,3% e o Indicador I.7 local especialmente destinado
para trocas de fraldas com 45,1%.
No que diz respeito a um ambiente preparado para pessoas com necessidades
especiais, a partir do resultado obtido, aponta-se a necessidade dos sistemas educacionais
(federal e municipal) investirem na reestruturação das creches quanto a adaptação dos
ambientes, adequação de materiais, ou qualquer outra estratégia que assegure participação
ativa do aluno com necessidades educativas especiais, além de orientações sistemáticas
para educadores e familiares sobre como trabalhar com esses alunos.
Ao analisar a importância da organização dos ambientes de trocas, percebe-se que
por mais que a concepção assistencialista no atendimento a esta faixa etária seja acentuada,
não há o reconhecimento do imperativo quanto à organização de um ambiente que favoreça
práticas adequadas à saúde das crianças. Muitas vezes estes espaços dificultam o acesso a
materiais de higiene, até mesmo o bem estar do adulto que troca a criança, sendo que, as
bancadas são muito altas ou baixas. A integração educar e cuidar aparece nos discursos
como própria do trabalho em creche, mas dificultada pela precária formação para os
cuidados, principalmente, os de saúde e sobrecarga de atividades, levantando dúvidas sobre
a exequibilidade dessa integração.
271
Figura 27 - Porcentagens de respostas por Indicador para a Dimensão I – Ambiente Físico
Fonte: A autora.
Há uma elevada satisfação da qualidade dos serviços prestados pelos respondentes
(pais, dirigente, professores e monitores / auxiliares) no Indicador I.4 espaço organizado
para favorecer as interações entre as crianças com 64,8%. Esse dado denota que os
respondentes dessa pesquisa apreciam as relações interpessoais e permite predizer que os
educadores devem desenvolver ações educativas baseadas nos princípios da interação que
favorece trocas recíprocas entre todos os envolvidos no processo. De acordo com
Mantovani de Assis e Assis (2010), Tortella (2001) e Oliveira-Formosinho (1998) as
crianças que vivenciam contextos educativos de elevada qualidade desenvolvem
sentimentos mais positivos de autoestima, bem-estar, segurança, reunindo, assim, um
conjunto de fatores indispensáveis ao seu desenvolvimento integral.
Quando os participantes foram solicitados a hierarquizar a importância28
dos
indicadores da dimensão Ambiente Físico, foram encontradas diferenças significativas
entre eles (p-valor<0,001).
28
Foi realizada a ordenação dos três mais importantes por dimensão. Para comparação entre os itens, foi
atribuída a pontuação 3 para o mais importante (1º), dois para o segundo mais importante (2º) e um para o
terceiro mais importante (3º), sendo que os itens não citados entre os três mais importantes receberam
pontuação 0. Desta forma, quanto maior a pontuação do item, maior será a sua importância.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1 2 3 4 5 6 7
Item
1
2
3
4
5
Indicadores
272
O indicador 1 Ambiente seguro e bem cuidado apresentou uma porcentagem
significativa de 80,3% apontado com maior relevância entre os participantes da pesquisa.
Este resultado evidencia a preocupação dos respondentes quanto as condições
adequadas para que à criança esteja segura no ambiente em que passa a maior parte do dia.
O indicador 7 Local especialmente destinado para trocas de fraldas foi o Indicador que
não houve nenhuma pontuação quanto a sua relevância frente aos demais indicadores.
Este resultado confirma a análise apresentada na escala Likert em que os
respondentes também não contemplam este Indicador, ao qual está diretamente relacionado
com o bem estar tanto das crianças quanto dos adultos. Acredita-se que a falta de uma
formação específica dos professores, educadores e gestores dificulta a consolidação dos
cuidados necessários para um atendimento de qualidade de maneira saudável e dinâmica.
Figura 28 - Número de respostas para a ordenação dos 3 itens mais importantes e
resultados da soma das pontuações por Indicador da dimensão Ambiente Físico.
Fonte: A autora.
6.2.2 Planos e Rotinas
A organização do dia-a-dia na Creche transparece nas rotinas e nos planos diários
do professor, pois a disposição do tempo e do espaço educacional está inerentemente ligada
184
101
27
79
18 170
0
50
100
150
200
1 2 3 4 5 6 7
Som
a d
as P
on
tuaç
õe
s
ItemIndicadores Indicadores
273
às atividades que são propostas. É importante que a rotina seja produtiva, isto é, ofereça
segurança à criança sobre o que vai acontecer promovendo o bem estar de todos.
Vale ressaltar que a rotina da creche não pode ser dividida rigorosamente em partes,
isto é, fragmentada, separando o tempo de educar, de cuidar, de brincar, do de aprender, de
ensinar, entre outras. Um exemplo pertinente a este comentário é o que descreve Vitória
(2007, p. 125): ―O banho pode ser facilitado e enriquecido, oferecendo brinquedos, potes de
diversos tamanhos, buchas variadas. Podem ser organizadas algumas brincadeiras com
bolinhas de sabão, livros de plástico, retalhos de tecido etc.‖.
A previsão de atividades, como as que foram citadas acima, devem ser planejadas
antecipadamente, levando em conta o desenvolvimento integral das crianças. O
planejamento requer a sistematização cuidadosa das ações educativas que serão realizadas
com os pequenos, constituindo-se, portanto, em um rico instrumento de reflexão da prática
docente.
Os indicadores referentes a dimensão Planos e Rotinas encontra-se no Quadro 34:
Quadro 34: Indicadores referentes a dimensão Planos e Rotinas
II. PLANOS E ROTINAS
1. Participação ativa de todos (pais, funcionários, dirigentes, educadores e professores) na
construção do PPP.
2. O Plano de Ensino privilegia o desenvolvimento infantil
3. Plano de aula diário ou semanal é estruturado de modo a deixar claros os objetivos,
estratégias e procedimentos de avaliação utilizados cotidianamente.
4. Participação ativa das crianças em todos os momentos do dia
5. As crianças participam do planejamento do dia e tem oportunidades de escolher as
atividades que desejam realizar
Fonte: A autora.
Foram encontradas diferenças significativas entre os indicadores em relação aos
Planos e Rotinas (p-valor<0,001).
274
Os indicadores 2 e 4 foram superiores aos indicadores 1 e 5;
O indicador 3 foi superior ao indicador 1.
Tabela 6 - Frequências e porcentagens da ordenação de importância para a Dimensão II:
Planos e Rotinas
Escala
1 2 3 4 5
n % n % n % n % n %
1 8 11,3 0 0,0 1 1,4 1 1,4 2 2,8
2 8 11,3 0 0,0 3 4,2 2 2,8 10 14,1
3 12 16,9 9 12,7 6 8,5 8 11,3 13 18,3
4 27 38,0 27 38,0 27 38,0 22 31,0 18 25,4
5 16 22,5 35 49,3 34 47,9 38 53,5 28 39,4
Média 3,5 4,4 4,27 4,32 3,8
D.P 1,3 0,7 0,9 0,9 1,2
Fonte: A autora.
Nota: D.P.= Desvio Padrão
Figura 29 - Porcentagens de respostas por indicador para a Dimensão II –Planos e Rotinas
Fonte: A autora.
Quanto ao nível de satisfação dos participantes da pesquisa, os indicadores que
obtiveram maior porcentagem foram II. 2 O plano de ensino privilegia o desenvolvimento
infantil com 49,3% de anuência quanto a sua importância e o Indicador II.4 A participação
ativa das crianças em todos os momentos do dia que obteve 53,5% de satisfação.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1 2 3 4 5
Item
1
2
3
4
5
Indicadores
275
Perante esses resultados concluímos que os respondentes atribuem grande
relevância ao cuidar e o educar como função da creche. Por meio da análise do resultado
pode-se notar a preocupação com a intencionalidade pedagógica em sua organização de
planos e rotinas e a participação efetiva das crianças em todo o processo. A dinâmica de
planos favorece a prática de rotinas estáveis e adequadas que respeita as características e
necessidades dos bebês e crianças pequenas. Vale ressaltar que muitas creches tem
dificuldade de manter o equilíbrio entre os cuidados com alimentação e higiene e
incorporar práticas pedagógicas para o desenvolvimento infantil sem cair na escolarização29
e práticas tradicionais de ensino.
Pelos resultados apresentados, nota-se que os respondentes compreendem a
importância da participação da criança pequena, é possível verificar essa prática quando as
crianças vivenciam experiências diversificadas, rodas de conversa e nos demais momentos
em que é ouvida e respeitada.
O indicador que apresenta uma baixa satisfação dos participantes com 11,3% foi o
indicador II. 1 Participação ativa de todos (pais, funcionários, dirigentes, educadores e
professores) na construção do PPP.
O Projeto Político Pedagógico é o documento da instituição que define sua função
social, educativa em perspectiva emancipatória e democrática. O resultado desse indicador
aponta a limitação de esforços que as creches demandam para criar meios e possibilidades
da participação efetiva da família, professores, educadores e dos demais funcionários da
creche na construção deste documento tão importante que pode garantir uma educação de
qualidade.
No entanto, em contraposição ao resultado apresentado acima, o indicador
considerado pelos participantes da pesquisa como sendo o mais importante
hierarquicamente na dimensão plano e rotina foi o Indicador II. 1 participação ativa de
29
Essas práticas visavam sobretudo preparar a criança para ter êxito no Ensino Fundamental.
276
Indicadores
todos (pais, funcionários, dirigentes, educadores/professores) na construção do PPP,
obteve 49,3% de maior interesse.
Portanto, há consciência da importância da construção participativa com todos os
integrantes da comunidade escolar para este documento, todavia, sua construção configura
um percurso de difícil realização tanto nos aspectos operacionais quanto na completude na
formulação dos elementos necessários que compõe o projeto político pedagógico da
instituição.
Figura 30 - Número de respostas para a ordenação dos 3 itens mais importantes e
resultados da soma das pontuações por Indicador da dimensão Planos e Rotinas.
Fonte: A autora.
6.2.3 Interação adulto – criança
Na análise dos dados da pesquisa referente a dimensão Interação Adulto – Criança
não foram encontradas diferenças significativas (p-valor=0,447) entre os indicadores no
que se refere a maneira como o professor/educador trata as crianças, a utilização de elogios
descritivos, o reconhecimento de seus sentimentos, o favorecimento de um clima
cooperativo entre todos, o respeito à identidade, dignidade, desejos e interesses das
crianças, assim como pode-se perceber conforme Tabela abaixo.
No Quadro 36 estão registrados os indicadores referentes a essa dimensão:
Indicadores
277
Quadro 35: Indicadores referentes a dimensão Interação adulto – criança
III. INTERAÇÃO ADULTO – CRIANÇA
1. O educador sorri, conversa e é afetuoso com todas as crianças.
2. Os adultos acompanham e orientam os comportamentos das crianças utilizando o
encorajamento, sugestões e elogios descritivos.
3. Os adultos reconhecem e aceitam os sentimentos das crianças e permitem a sua expressão
de um modo cooperativo
4. Respeito à identidade, dignidade, desejos e interesses das crianças.
Fonte: A autora.
Tabela 7 - Frequências e porcentagens da ordenação de importância para a Dimensão III:
Interação Adulto - Criança
Escala
1 2 3 4
n % n % n % n %
1 1 1,4 0 0,0 0 0,0 0 0,0
2 3 4,2 1 1,4 3 4,2 1 1,4
3 5 7,0 4 5,6 10 14,1 5 7,0
4 24 33,8 33 46,5 28 39,4 31 43,7
5 38 53,5 33 46,5 30 42,3 34 47,9
Média 4,3 4,4 4,2 4,4
D.P 0,9 0,7 0,8 0,7
Fonte: A autora.
D.P.=Desvio Padrão
Figura 31 - Porcentagens de respostas por Indicador para a Dimensão III
Fonte: A autora.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1 2 3 4
Item
1
2
3
4
5
Indicadores
278
A equiparação entre os resultados do grau de satisfação quanto a interação adulto-
crianças reflete que os respondentes valorizam e asseguram que as relações afetivas sejam
estáveis, contribuindo assim para que as crianças tenham um referencial básico que lhe dê
suporte à construção da sua identidade e autonomia. Tendo em vista que o clima das
relações interpessoais da creche é constituído por um conjunto de efeitos subjetivos,
percebidos pelas pessoas que estão envolvidas em todo o processo educativo. Para que isso
ocorra é necessário que a instituição proporcione oportunidades para que haja interações
entre as crianças e adultos que valorizam e incentivam suas iniciativas e descobertas de
modo seguro e autônomo.
Como profissional não basta que o educador ―goste de crianças‖, mas sim que
conheça suas características e necessidades. Além disso, é preciso que se sinta bem com
elas e possam observá-las atentamente a fim de conseguir fazer ricas e produtivas
intervenções. Tendo a autonomia como finalidade da Educação Infantil, a postura do
professor deve ser pautada no respeito mútuo, como explicam Mantovani de Assis e Assis
(2002, p. 202) a partir dos estudos de Jean Piaget:
O respeito chamado unilateral implica a desigualdade entre o que respeita e
aquele que é respeitado, por exemplo, o respeito do menor pelo maior. O respeito
unilateral conduz a uma forma de relação social chamada "relação de pressão".
Há, em segundo lugar, o respeito mútuo, assim chamado porque os indivíduos
que se relacionam se consideram como iguais e se respeitam reciprocamente. As
relações entre os indivíduos se estabelecem sem pressões nem coações, gerando a
cooperação.
A atmosfera de respeito mútuo é fundamental para todo o contexto das relações
estabelecidas nas instituições educacionais, desde o tom de voz em que o educador dirige-
se às crianças, a maneira como chama sua atenção, o olhar, o brincar com ela, o
acolhimento, os gestos, as relações precisam ser positivas e recíprocas.
Quando os participantes do estudo foram solicitados a escolher três, de todos os
indicadores da dimensão apresentados de forma hierárquica, de acordo com a sua
importância, foi escolhido o item III. 4 respeito à identidade, dignidade, desejos e
interesses das crianças obteve 43,7%. Essa resposta nos remete a ponderar que os
279
respondentes acreditam na importância de um trabalho que valorize culturas variadas e
possibilite a ampliação do olhar sobre as diferenças, abrindo espaços para sua manifestação
de modo respeitoso e legítimo.
Figura 32 - Número de respostas para a ordenação dos 3 itens mais importantes e
resultados da soma das pontuações por Indicador da dimensão Interação Adulto - Criança
Fonte: A autora.
6.2.4 Interações entre iguais
Para que se estabeleçam relações interpessoais adequadas entre os pares, as crianças
devem ser incentivadas a trabalhar juntas e a importarem-se umas com as outras, ou seja, o
que significa o início do comportamento cooperativo. Se as crianças forem ajudadas a
compreender outros pontos de vista que não coincidem com os seus, bem como, a aceitar
diferenças individuais, poderão se tornar capazes de ver coisas de outra perspectiva, o que é
essencial para o êxito da convivência com sucesso em um grupo. É importante que os
educadores tenham conhecimento de como o desenvolvimento moral se processa para que
possam proporcionar às crianças experiências que lhes permitam cooperar e conviver em
um ambiente democrático.
Aqui são apresentados os indicadores que correspondem a essa dimensão:
18 20 18 15
7
24 28
12
22
12 631
0
10
20
30
40
50
60
70
1 2 3 4
Nú
me
ro d
e r
esp
ost
as
Item
1º
2º
3º
98104
92
132
0
20
40
60
80
100
120
140
1 2 3 4
Som
a d
as P
on
tuaç
õe
sItemIndicadores Indicadores
280
Quadro 36: Indicadores referentes a dimensão Interações entre iguais
IV. INTERAÇÕES ENTRE IGUAIS
1. As crianças demonstram estar felizes
2. As crianças interagem entre iguais de forma amigável e interessada
3. As crianças participam de espaços, brincadeiras e materiais acessíveis de modo a favorecer
a interação entre as crianças com necessidades especiais e as demais crianças.
Fonte: A autora.
No que diz respeito ao indicador que aponta as interações entre iguais foi
encontrado uma pequena diferença (p-valor=0,090) que teve o indicador IV.1 as crianças
demonstram estar felizes foi o de maior relevância para os respondentes da pesquisa,
contando com 57,7% denotando a relevância em proporcionar vivências enriquecedoras
que mobilizem envolvimento das crianças em todas as atividades que participa e que
promovam relações afetivas bem sucedidas.
Tabela 8 - Frequências e porcentagens da ordenação de importância para a Dimensão IV:
Interações entre iguais
Escala
1 2 3
n % n % n %
1 0 0,0 0 0,0 1 1,4
2 2 2,8 6 8,5 2 2,8
3 3 4,2 5 7,0 9 12,7
4 25 35,2 22 31,0 31 43,7
5 41 57,7 38 53,5 28 39,4
Média 4,5 4,3 4,2
D.P 0,7 0,9 0,9
Fonte: A autora. Nota: D.P.=Desvio Padrão
281
Figura 33 - Porcentagens de respostas por Indicador para a Dimensão IV
Fonte: A autora.
No que diz respeito a escolha do Indicador mais importante pelos entrevistados da
pesquisa na dimensão Interações entre iguais não foram encontradas diferenças
significativas entre os itens em relação a ordenação da importância para a Interação Adulto
- Criança (p-valor=0,062). O indicador IV. 1 As crianças demonstram estar felizes obteve
52,1% de escolha. É possível apontar a valorização que os respondentes deram a criança
participar de um ambiente no qual elas se sintam felizes ao brincar com pessoas que
auxiliam as suas conquistas e descobertas, e, que também, estabeleçam com elas ligações
afetivas positivas.
Figura 34 - Número de respostas para a ordenação dos 3 indicadores mais importantes e
resultados da soma das pontuações por Indicador da dimensão Interações entre iguais
Fonte: A autora.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1 2 3
Item
1
2
3
4
5
160142
124
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
1 2 3
Som
a d
as P
on
tuaç
õe
s
Item
Indicadores
Indicadores Indicadores
282
6.2.5 Experiências educativas
Compreender, conhecer e reconhecer as especificidades das crianças de 0 a 3 anos,
na Creche, é o grande desafio da Educação Infantil e de seus profissionais. As experiências
educativas devem estar organizadas em um ambiente rico em possibilidades para o
desenvolvimento e para a aprendizagem das crianças, no qual são proporcionadas
atividades e experiências diversas que lhes oferecem oportunidades para explorar, avaliar,
experimentar, transformar, criar, brincar e para encontrar respostas para suas curiosidades e
interesses. Nessa perspectiva, a criança é entendida como sujeito ativo no processo
pedagógico.
Com base nesses conhecimentos, as experiências educativas devem privilegiar a
interação constante das crianças com os elementos que necessitam conhecer, quer sejam
concretos ou representações. Nesse contexto, a criança é o sujeito da ação, capaz de tomar
iniciativas, construir respostas, experimentar sua autonomia, em um processo de
responsabilidade cooperada.
Nesse processo, os diferentes aspectos do desenvolvimento são articulados entre si
por meio de vivências que dão sentido aos conteúdos e são suficientemente interessantes e
desafiadores, de modo a estimular a atividade espontânea e lúdica da criança a partir das
quais ela se desenvolve.
No Quadro 37 estão expressos os indicadores correspondentes a dimensão
Experiências Educativas:
283
Quadro 37: Indicadores referentes a dimensão Experiências Educativas
V. EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS
1. Professores e educadores favorecem a conquista da autonomia da criança para a realização
dos cuidados diários (alcançar objetos, tirar as sandálias, lavar as mãos, usar o sanitário,
etc.).
2. São proporcionadas às crianças atividades e experiências de aprendizagem diversas,
abrangendo todos os aspectos do desenvolvimento (físico, afetivo, social e cognitivo)
3. Professores e educadores organizam brincadeiras com sons, ritmos e melodias com a voz e
com o corpo, oferecem instrumentos musicais e outros objetos sonoros para que sejam
explorados pelas crianças.
4. As crianças participam de Projetos de Trabalho (descobertas do mundo)
5. As crianças participam de situações que aprendem a cuidar de si e do próprio corpo
6. Professores e educadores organizam diariamente momentos para a atividade de contar
histórias
Fonte: A autora.
Foram encontradas diferenças significativas entre os pontos atribuídos a esse
indicador (p-valor<0,001).
Os itens 5 e 6 foram superiores aos itens 3 e 4;
A maior porcentagem dos participantes da pesquisa apresentou 67,6% de satisfação
referente ao indicador V. 5 As crianças participam de situações em que aprendem a cuidar
de si e do próprio corpo. Isso denota que há entendimento pelos respondentes quanto a
criar uma dinâmica baseada na autonomia e que conduz a criança a ter iniciativas próprias.
O indicador V. 6 - Professores e educadores organizam diariamente momentos
para a atividade de contar histórias apresentou 69,0% de satisfação pelos respondentes. A
partir do resultado percebe-se que há uma preocupação evidente em propiciar às crianças
pequenas um ambiente favorável ao desenvolvimento da função simbólica em que esta
tenha oportunidades para imaginar, expressar emoções e sentimentos de forma prazerosa e
significativa.
284
Tabela 9 - Frequências e porcentagens da ordenação de importância para a Dimensão V:
Experiências Educativas
Escala
1 2 3 4 5 6
n % n % n % n % n % n %
1 0 0,0 0 0,0 1 1,4 0 0,0 0 0,0 1 1,4
2 1 1,4 2 2,8 7 9,9 6 8,5 1 1,4 1 1,4
3 5 7,0 9 12,7 9 12,7 14 19,7 0 0,0 1 1,4
4 31 43,7 22 31,0 24 33,8 25 35,2 22 31,0 19 26,8
5 34 47,9 38 53,5 30 42,3 26 36,6 48 67,6 49 69,0
Média 4,4 4,4 4,1 4,0 4,6 4,6
D.P 0,7 0,8 1,0 1,0 0,6 0,7
Fonte: A autora.
Nota: D.P.=Desvio Padrão
Figura 35 - Porcentagens de respostas por Indicador para a Dimensão V- Experiências
Educativas
Fonte: A autora.
Os resultados demonstram que há diferenças significativas entre os itens dessa
dimensão no que se refere aos pontos atribuídos a ordenação de acordo com sua
importância (p-valor<0,001).
Os itens 1 e 2 foram considerados mais importantes do que os itens 3, 4, 5 e 6.
As respostas referentes ao grau de importância de todos os indicadores da dimensão
Experiências Educativas o indicador V. 1. - Professores e educadores favorecem a
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1 2 3 4 5 6
Item
1
2
3
4
5
Indicadores
285
conquista da autonomia da criança para a realização dos cuidados diários (alcançar
objetos, tirar as sandálias, lavar as mãos, usar o sanitário, etc.) obteve 52,1% de
preferência pelos constituintes da amostra da pesquisa e o indicador V. 2. São
proporcionadas às crianças atividades e experiências de aprendizagem diversas,
abrangendo todos os aspectos do desenvolvimento (físico, afetivo, social e cognitivo)
obteve 43,7% revelando que a prática relativa a estas dimensões são efetivas e valorizadas.
Figura 36 - Número de respostas para a ordenação dos 3 itens mais importantes e
resultados da soma das pontuações por Indicador da dimensão Experiências educativas
Fonte: A autora.
6.2.6 Cuidados para uma vida saudável
Torna-se imprescindível integrar os âmbitos cuidar e educar nas creches, no sentido
que estes são indissociáveis. A organização dos cuidados consiste num elemento
estruturador e se articula com a intenção educacional.
A promoção da saúde e do bem estar das crianças é uma das responsabilidades das
instituições educativas e começa pela aceitação do fato de que é impossível cuidar e educar
crianças sem influenciar ou ser influenciado por práticas saudáveis que promovam o bem-
estar dos envolvidos neste processo, como, por exemplo, a valorização de práticas
Indicadores Indicadores
286
alimentares adequadas, pois tendem a se manter como bons hábitos. Desse modo, evita-se
ou diminui a possibilidade de problemas de saúde. A higiene e a segurança também são
indicadores de um programa com qualidade, assim como a higienização dos espaços,
limpeza dos brinquedos, espaços arejados, sala para troca de fraldas separada, álcool gel
para desinfecção das mãos, bem como as medidas de segurança; brinquedos seguros,
profissionais com treinamento de primeiros socorros e crianças sempre no campo visual de
adultos. Dessa forma, a creche poderá atender às necessidades de bebês e crianças de até 3
anos de uma maneira saudável.
O Quadro 38 apresenta os oito indicadores relacionados a essa dimensão:
Quadro 38: Indicadores referentes a dimensão Cuidados para uma vida saudável
VI. CUIDADOS PARA UMA VIDA SAUDÁVEL
1. O tempo de descanso vai ao encontro das necessidades de sono de cada criança
2. Os brinquedos são lavados e higienizados regularmente
3. A instituição dispõe de um cardápio nutricional variado e rico que atenda às necessidades
das crianças, inclusive daquelas que necessitam de dietas especiais.
4. Os adultos passaram por treinamento de primeiros socorros
5. As salas de atividades e demais ambientes internos e externos são agradáveis, limpos,
ventilados e tranquilos, com acústica que permite uma boa comunicação.
6. Há material individual de higiene, de qualidade e em quantidade suficiente, guardado em
locais adequados (sabonetes, papel higiênico, escovas de dente e outros itens)
7. O ambiente da creche proporciona bem estar às crianças
8. O espaço para recreação está em boas condições de uso
Fonte: A autora.
Observando os dados expressos na Tabela 10, constata-se a existência de diferenças
significativas entre os indicadores em relação aos Cuidados para uma vida saudável (p-
valor<0,001).
O Indicador 7 foi superior aos itens 2, 4, 5 e 8;
Os itens 3 e 6 foram superiores aos itens 2, 4 e 5;
Os itens 1, 8, 2 e 5 foram superiores ao Indicador 4.
Na dimensão Cuidados para uma vida saudável, o indicador VI. 7 - O ambiente da
creche proporciona bem estar às crianças obteve a maior porcentagem com 54,9%. A
287
partir deste resultado evidencia-se que os respondentes: pais de alunos, educadores,
professores e dirigentes estão satisfeitos quanto à promoção de um ambiente que promova o
bem estar das crianças no sentido de oferecer experiências prazerosas que desperte o gosto
e a alegria em estar ali.
Tabela 10 - Frequências e porcentagens da ordenação de importância para a Dimensão VI:
Cuidados para uma vida saudável
Escala
1 2 3 4 5 6 7 8
n % n % n % n % n % n % n % n %
1 0 0,0 4 5,6 0 0,0 6 8,5 0 0,0 0 0,0 0 0,0 4 5,6
2 8 11,3 9 12,7 2 2,8 41 57,7 8 11,3 10 14,1 2 2,8 12 16,9
3 7 9,9 13 18,3 6 8,5 13 18,3 19 26,8 1 1,4 3 4,2 4 5,6
4 28 39,4 22 31,0 27 38,0 4 5,6 29 40,8 21 29,6 26 36,6 17 23,9
5 28 39,4 23 32,4 36 50,7 7 9,9 14 19,7 39 54,9 40 56,3 34 47,9
Média 4,1 3,7 4,4 2,5 3,7 4,3 4,5 3,9
D.P 1,0 1,2 0,8 1,1 0,9 1,0 0,7 1,3
Fonte: A autora. Nota: D.P.=Desvio Padrão
Figura 37 - Porcentagens de respostas por indicador para a Dimensão VI: Cuidados
para uma vida saudável
Fonte: A autora.
Na dimensão Cuidados para uma Vida Saudável os itens relacionados em ordem de
importância apresentaram diferenças significativas (p-valor<0,001).
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1 2 3 4 5 6 7 8
Item
1
2
3
4
5
Indicadores
288
O Indicador 3 foi mais importante do que os demais itens;
Os itens 5 e 7 foram mais importantes do que o Indicador 8.
O indicador VI. 3. A instituição dispõe de um cardápio nutricional variado e rico
que atenda às necessidades das crianças, inclusive daquelas que necessitam de dietas
especiais apresentou 29,6%. Isto revela que há uma preocupação de que a creche ofereça às
crianças uma alimentação saudável e adequada às necessidades infantis.
Figura 38 - Número de respostas para a ordenação dos 3 indicadores mais importantes e
resultados da soma das pontuações por indicador da dimensão Cuidados para uma vida
saudável
Fonte: A autora.
6.2.7 Qualificação e desenvolvimento profissional
A qualidade do processo educativo está associada à necessidade de valorizar o
desenvolvimento profissional por meio de formação continuada que deverá proporcionar as
oportunidades para reflexões constantes e tomadas de consciência das concepções
subjacentes à prática pedagógica, a fim de que seja possível avaliar quais são as que
permitem o alcance dos objetivos educacionais formulados.
Indicadores Indicadores
289
A participação em programas de educação continuada nos quais as questões ligadas
à Educação Infantil (0 a 3 anos) sejam trabalhadas em contexto (articulação teoria-prática)
é condição para a eficácia da ação docente.
Um dos aspectos da qualidade da Educação Infantil de maior relevância é a
formação dos professores e demais profissionais que atuam nas creches. O papel dos
professores das crianças pequenas é, em muitos momentos, similar ao papel dos outros
professores, mas é diferente em muitos outros aspectos, os quais configuram um
profissionalismo específico do trabalho das educadoras de infância que exige uma
formação específica (OLIVEIRA-FORMOSINHO, 2005).
Para a melhoria da qualidade da Educação Infantil, devem ser proporcionadas as
equipes pedagógicas que integram as creches cursos de formação continuada, reuniões
pedagógicas para troca de experiências, discussão de resultados de pesquisas educacionais,
grupos de estudos, palestras sobre temas escolhidos pelos profissionais da instituição
educacional (0 a 3 anos), participação em eventos educacionais, entre outros.
Os indicadores dessa dimensão estão registrados no Quadro que se segue:
Quadro 39: Indicadores referentes a dimensão Qualificação e desenvolvimento
profissional
VII. QUALIFICAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
1. Os educadores têm, no mínimo, a habilitação em nível médio na modalidade Normal ou
Magistério.
2. Os professores, dirigentes e educadores têm curso superior.
3. A formação continuada atualiza conhecimentos, promovendo a leitura e discussão de estudos
sobre a infância e sobre as práticas de Educação Infantil.
4. A instituição conhece e implementa procedimentos que visam prevenir problemas de saúde dos
professores, educadores e demais profissionais
Fonte: A autora.
Considerando a Tabela 11 verifica-se que há diferenças significativas entre os
indicadores da dimensão Qualificação e desenvolvimento profissional (p-valor<0,001).
Os itens 1 e 3 foram superiores aos itens 2 e 4;
290
Quanto ao indicador que os participantes apresentaram maior satisfação foi VII. 1.
Os educadores têm, no mínimo, a habilitação em nível médio na modalidade Normal ou
Magistério com 60,6%, indicando que os respondentes estão conscientes da importância da
formação dos profissionais que atuam junto às crianças para que haja um atendimento de
qualidade. O outro indicador que apresentou relevância foi o VII. 3 a formação continuada
atualiza conhecimentos, promovendo a leitura e discussão de estudos sobre a infância e
sobre as práticas de Educação Infantil com 52,1%, este resultado deve ser reflexo do
momento em que estavam participando do projeto de formação continuada de professores
do PROEPRE.
Tabela 11 - Frequências e porcentagens da ordenação de importância para a Dimensão VII:
Qualificação e desenvolvimento profissional
Escala
1 2 3 4
n % n % n % n %
1 0 0,0 0 0,0 0 0,0 6 8,5
2 1 1,4 26 36,6 0 0,0 12 16,9
3 2 2,8 14 19,7 1 1,4 26 36,6
4 25 35,2 17 23,9 33 46,5 20 28,2
5 43 60,6 14 19,7 37 52,1 7 9,9
Média 4,5 3,3 4,5 3,1
D.P 0,6 1,2 0,5 1,1
Fonte: A autora. Nota: D.P.=Desvio Padrão
291
Figura 39 - Porcentagens de respostas por Indicador para a Dimensão VII
Fonte: A autora.
Em relação à ordenação dos itens que correspondem a Qualificação e
Desenvolvimento Profissional os testes estatísticos utilizados demonstram não haver
diferenças significativas entre os itens ordenados de acordo com a sua importância (p-
valor=0,120).
Figura 40 - Número de respostas para a ordenação dos 3 indicadores mais importantes e
resultados da soma das pontuações por indicador da dimensão Qualificação e
desenvolvimento profissional
Fonte: A autora.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1 2 3 4
Item
1
2
3
4
5
Indicadores
Indicadores Indicadores
292
6.2.8 Parceria creche – família
Esta dimensão foca a natureza das parcerias com os pais e as famílias das crianças e
o modo como estes e outros membros da comunidade local participam no processo de
desenvolvimento infantil. Levando em conta as peculiaridades da Educação Infantil, a
relação estreita e positiva entre a Creche e as famílias assume maior importância nessa
etapa de vida. Isso acontece devido ao fato de as instituições dividirem e partilharem
responsabilidades com a família no que diz respeito à educação e a socialização das
crianças. O que nos parece mais interessante acentuar a esse respeito é que, apesar de a
creche ser, sobretudo, entendida como uma resposta às necessidades das famílias, ela deve
estar centrada na criança porque contribui com as experiências vivenciadas no lar
complementando-as.
É imperativo que a família participe do trabalho desenvolvido pela creche,
acompanhando-o e se envolvendo com ele, assim como, a instituição também conheça a
realidade das crianças e se mostre sensível às suas famílias.
Os indicadores dessa dimensão podem ser visualizados no Quadro 40:
Quadro 40: Indicadores referentes a dimensão Relação com a família
VIII. RELAÇÃO COM A FAMÍLIA
1. Os pais e as mães recebem uma atenção especial durante o período de acolhimento das
crianças.
2. Reuniões e entrevistas com os familiares são realizadas em horários adequados à participação
das famílias?
3. Os familiares das crianças com NE são bem acolhidos e conhecem o direito de seus filhos à
educação?
4. As atividades de aprendizagem se refletem no ambiente familiar das crianças e na comunidade
local onde a escola está inserida?
5. Familiares de crianças novatas são auxiliados e encorajados a ficar na instituição até que as
mesmas se sintam seguras?
6. A escola promove festas com a participação de pais, mães, crianças, professores (as) e
293
funcionários?
7. A Associação de Pais e Mestres é formada por representantes de toda a comunidade escolar e
sua composição é paritária, ou seja, possui o mesmo número de pessoas entre funcionários
(incluindo professores (as) e não funcionários?).
8. Pais e mães, professores (as) e funcionários (as) em geral discutem as dificuldades de gestão da
escola e participam da solução destes problemas.
Fonte: A autora.
A análise estatística dos dados que constam na Tabela 12 revela que há diferenças
significativas entre os pontos que os respondentes atribuíram aos indicadores que
constituem essa dimensão (p-valor<0,001).
Os itens 1 e 6 foram superiores aos itens 7 e 8;
Os itens 4 e 5 foram superiores aos itens 8;
O resultado apresentado na investigação quanto a essa dimensão apresentou o
indicador de maior satisfação o VIII. 6 A Creche promove festas com a participação de
pais, mães, crianças, professores(as) e funcionários com 64,8%. O indicador VIII. 1. - Os
pais e as mães recebem uma atenção especial durante o período de acolhimento das
crianças também foi bastante cotado com 63,4% de satisfação. Estes resultados
demonstram que a concepção sobre o que significa parceria Creche / família ainda é muito
incipiente, pois apenas ter contato com as famílias em festas e eventos ou mesmo no
horário de entrada das crianças não garantem a parceria.
294
Tabela 12 - Frequências e porcentagens da ordenação de importância para a Dimensão
VIII: Relação com a família
Escala
1 2 3 4 5 6 7 8
n % n % n % n % n % n % n % n %
1 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,4 2 2,8 2 2,8 2 2,8
2 3 4,2 8 11,3 7 9,9 4 5,6 4 5,6 1 1,4 4 5,6 13 18,3
3 4 5,6 10 14,1 14 19,7 6 8,5 5 7,0 2 2,8 13 18,3 16 22,5
4 19 26,8 24 33,8 18 25,4 25 35,2 22 31,0 20 28,2 31 43,7 20 28,2
5 45 63,4 29 40,8 32 45,1 36 50,7 39 54,9 46 64,8 21 29,6 20 28,2
Média 4,5 4,0 4,1 4,3 4,3 4,5 3,9 3,6
D.P 0,8 1,0 1,0 0,9 0,9 0,9 1,0 1,2
Fonte: A autora.
Nota: D.P.= Desvio Padrão
Figura 41 - Porcentagens de respostas por Indicador para o Indicador VIII: Relação com
a família
Fonte: A autora.
A hierarquização dos dados obtidos pelos vários indicadores dessa dimensão
comprovam a existência de diferenças significativas entre eles (p-valor<0,001).
Os itens 1, 2 e 8 foram mais importantes que os itens 3, 4, 5, 6 e 7;
Os itens 3 e 4 foram mais importantes que o Indicador 6.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1 2 3 4 5 6 7 8
Item
1
2
3
4
5
Indicadores
295
O indicador que apresentou maior importância para os participantes da pesquisa foi
o Indicador VIII. 1 com 40,8% Os pais e as mães recebem uma atenção especial durante o
período de acolhimento das crianças, isso denota que a equipe da Creche preocupa-se em
receber os pais e seus filhos de maneira agradável e organizada em um ambiente cordial e
calmo.
Figura 42 - Número de respostas para a ordenação dos 3 indicadores mais importantes e
resultados da soma das pontuações por indicador da dimensão Relação com a família.
Fonte: A autora.
6.3 COMPARAÇÕES ENTRE CRECHES
Considerando-se as três creches investigadas, foi possível fazer uma análise entre
todas as dimensões exploradas neste estudo. Foram encontradas diferenças significativas
entre as creches, com exceção da Dimensão V: Experiências educativas. Os resultados
foram os seguintes:
Dimensões I e II
A média da creche 1 foi significativamente superior em relação às creches 2 e 3;
A média da Creche 2 foi significativamente superior à creche 3.
Indicadores Indicadores
296
Dimensão III
A média da creche 1 foi significativamente superior em relação às creches 2 e 3.
Dimensão IV
A média da creche 1 foi significativamente superior em relação à creche 2.
Dimensão VI
A média das creches 1 e 2 foram significativamente superiores em relação à creche 3.
Dimensão VII
A média da creche 2 foi significativamente superior em relação às creches 1 e 3.
Figura 43 - Médias por creche e dimensão
Fonte: A autora.
Quando os dados foram considerados em conjunto, as médias alcançadas pelas
creches investigadas refletem o esforço das equipes em oferecer um serviço educacional
que atenda as necessidade e peculiaridades da criança de 0 a 3 anos de idade. A creche I
foi a que mais se destacou quanto ao grau de satisfação dos serviços oferecidos. Tal fato,
talvez ocorra por ser uma creche menor (atende 70 crianças), e portanto, a proporção
Creche 1
Creche 2
Creche 3
Dimensões
297
profissional/criança é maior do que nas outras. Além disso, esses profissionais possuem
níveis de formação superior aos dos que atuam nas outras creches.
Em posição contrária a creche III apareceu com menor média de satisfação. Esta
creche atende o maior número de crianças e a proporção adulto / crianças é a menor.
Enquanto a creche I atende 70 alunos e possui 25 funcionários a creche III atende 154
crianças e tem 26 funcionários. Esta é uma diferença muito significativa que certamente
traz prejuízos à qualidade do atendimento às crianças de 0 a 3 anos.
A creche III não é municipalizada. Faz parte de uma rede conveniada, isto é, recebe
subsídios da prefeitura. No entanto, necessita de doações da comunidade do bairro em que
está situada, por isso é mantida também por organização não governamental (ONG).
Observa-se que nessa creche ainda é muito presente a concepção assistencialista. Talvez
isso se explique por não ter vínculos diretos com o departamento da secretaria municipal de
educação. Os funcionários são contratados sem processo seletivo, ou mesmo sem requisitos
importantes como a formação em nível superior obrigatória.
Tabela 13 - Médias e desvios padrão para as 8 dimensões da escala por creche
Fonte: A autora.
Nota: Médias seguidas de letras em comum, para um mesma Dimensão, não diferem significativamente
entre si.
* Significativo ao nível de 5%.
6.4 COMPARAÇÕES ENTRE AS CRECHES QUANTO À ESCALA DE
ORDEM HIERÁRQUICA
298
O indicador mais importante para cada fator foi comparado descritivamente entre as
três creches por meio da frequência e porcentagem. As Tabelas e figuras seguintes ilustram
os resultados observados.
Nota-se que na dimensão I (Ambiente Físico) o indicador I. 1 Ambiente seguro e
bem cuidado foi citado como o mais importante das creches 1 e 2 em uma proporção maior
do que foi citado na creche 3. Os indicadores I. 2 Brinquedos, livros infantis e jogos em
bom estado, acessíveis e com quantidade suficiente (ao alcance das crianças) e I. 4 Espaço
organizado para favorecer as interações entre as crianças tiveram um destaque maior na
creche 3 em relação às creches 1 e 2.
Tabela 14 - Frequências e porcentagens do Indicador mais importante para as 8 dimensões
da escala por creche para a Dimensão I: Ambiente Físico
Indicador
Creche 1 Creche 2 Creche 3
n % n % n %
1 29 96,7 20 87,0 8 44,4
2 0 0,0 2 8,7 6 33,3
3 0 0,0 0 0,0 0 0,0
4 0 0,0 1 4,3 4 22,2
5 0 0,0 0 0,0 0 0,0
6 1 3,3 0 0,0 0 0,0
7 0 0,0 0 0,0 0 0,0
Fonte: A autora.
299
Figura 44 - Porcentagens para a escolha mais importante por creche para a Dimensão I
Fonte: A autora.
Para a dimensão II (Planos e Rotinas), o indicador II. 1 Participação ativa de
todos (pais, funcionários, dirigentes, educadores e professores) na construção do PPP foi
o mais citado nas creches 2 e 3, porém em uma maior proporção para a creche 3. Para a
creche 1 houve uma divisão na porcentagem mais citada para os indicadores II. 1
Participação ativa de todos (pais, funcionários, dirigentes, educadores e professores) na
construção do PPP e II. 2 O Plano de Ensino privilegia o desenvolvimento infantil.
Tabela 15 - Frequências e porcentagens do indicador mais importante para as 8 dimensões
da escala por creche para a Dimensão II: Planos e Rotinas
Indicador
Creche 1 Creche 2 Creche 3
n % n % n %
1 10 33,3 12 52,2 13 72,2
2 11 36,7 6 26,1 2 11,1
3 4 13,3 1 4,3 0 0,0
4 4 13,3 3 13,0 0 0,0
5 1 3,3 1 4,3 3 16,7
Fonte: A autora
Creche 1 Creche 2 Creche 3
Indicador 1
Indicador 2
Indicador 3
Indicador 4
Indicador 5
Indicador 6
Indicador 7
300
Figura 45 - Porcentagens para a escolha mais importante por Creche para a Dimensão II
Fonte: A autora.
Quanto a Dimensão III (Interação Adulto Criança) houve uma similaridade maior
entre as escolas em relação ao indicador citado como mais importante. No entanto, na
creche 2 o indicador III. 3 Os adultos reconhecem e aceitam os sentimentos das crianças e
permitem a sua expressão de um modo cooperativo não foi considerado dentre os mais
importantes, ao contrário, nas outras creches esse indicador figurou entre os mais
importantes.
Tabela 16 - Frequências e porcentagens do Indicador mais importante para as 8 dimensões
da escala por Creche para a Dimensão III: Interação Adulto Criança
Indicador
Creche 1 Creche 2 Creche 3
n % n % n %
1 7 23,3 9 39,1 6 33,3
2 5 16,7 4 17,4 3 16,7
3 3 10,0 0 0,0 3 16,7
4 15 50,0 10 43,5 6 33,3
Fonte: A autora.
Creche 1 Creche 2 Creche 3
Indicador 1
Indicador 2
Indicador 3
Indicador 4
Indicador 5
301
Figura 46 - Porcentagens para a escolha mais importante por Creche para a Dimensão III
Fonte: A autora.
Para a Dimensão IV (Interações entre iguais) também houve uma similaridade entre
as creches sendo que a creche 1 apresentou uma preferência ligeiramente maior para o
Indicador IV. 2 As crianças interagem entre iguais de forma amigável e interessada
principalmente em relação a creche 2. Ao indicador IV. 1 As crianças demonstram estar
felizes foi atribuída a maior importância em todas as Creches.
Tabela 17 - Frequências e porcentagens do Indicador mais importante para as 8 dimensões
da escala por creche para a Dimensão IV: Interações entre iguais
Indicador
Creche 1 Creche 2 Creche 3
n % n % n %
1 13 43,3 13 56,5 11 61,1
2 8 26,7 2 8,7 4 22,2
3 9 30,0 8 34,8 3 16,7
Fonte: A autora.
Indicador 1
Indicador 2
Indicador 3
Indicador 4
Creche 1 Creche 2 Creche 3
302
Figura 47 - Porcentagens para a escolha mais importante por Creche para a Dimensão IV
Fonte: A autora.
Para a Dimensão V (Experiências educativas) houve uma similaridade muito grande
entre as respostas dadas pelos profissionais das Creches 1 e 2. Os respondentes da Creche
3 conferiram uma importância um pouco maior para o Indicador V. 2 São proporcionadas
às crianças atividades e experiências de aprendizagem diversas, abrangendo todos os
aspectos do desenvolvimento (físico, afetivo, social e cognitivo) em comparação com o
Indicador V. 1 Professores e educadores favorecem a conquista da autonomia da criança
para a realização dos cuidados diários (alcançar objetos, tirar as sandálias, lavar as
mãos, usar o sanitário, etc.) quando comparada as respostas dos participantes das Creches
1 e 2.
Tabela 18 - Frequências e porcentagens do Indicador mais importante para as 8 dimensões
da escala por Creche para a Dimensão V: Experiências educativas
Indicador
Creche 1 Creche 2 Creche 3
n % n % n %
1 16 53,3 14 60,9 7 38,9
2 14 46,7 7 30,4 10 55,6
3 0 0,0 0 0,0 1 5,6
4 0 0,0 1 4,3 0 0,0
5 0 0,0 0 0,0 0 0,0
6 0 0,0 1 4,3 0 0,0
Fonte: A autora.
Indicador 1
Indicador 2
Indicador 3
Creche 1 Creche 2 Creche 3
303
Figura 48 - Porcentagens para a escolha mais importante por Creche para a Dimensão V
Fonte: A autora.
Para a Dimensão VI (Cuidados para uma vida saudável), diversos indicadores foram
citados como os mais importantes nas três Creches. Houve uma ligeira preferência para o
Indicador VI. 3 A instituição dispõe de um cardápio nutricional variado e rico que atenda
às necessidades das crianças, inclusive daquelas que necessitam de dietas especiais na
Creche 1, indicadores VI. 1 O tempo de descanso vai ao encontro das necessidades de sono
de cada criança e VI. 3 A instituição dispõe de um cardápio nutricional variado e rico que
atenda às necessidades das crianças, inclusive daquelas que necessitam de dietas especiais
na Creche 2 e Indicador V. 2 Os brinquedos são lavados e higienizados regularmente na
Creche 3.
Tabela 19 - Frequências e porcentagens do Indicador mais importante para as 8 dimensões
da escala por Creche para a Dimensão VI: para uma vida saudável
Indicador
Creche 1 Creche 2 Creche 3
n % n % n %
1 5 16,7 6 26,1 1 5,6
2 2 6,7 4 17,4 4 22,2
3 12 40,0 6 26,1 3 16,7
4 0 0,0 0 0,0 3 16,7
5 7 23,3 4 17,4 1 5,6
6 0 0,0 0 0,0 2 11,1
7 4 13,3 3 13,0 0 0,0
8 0 0,0 0 0,0 4 22,2
Fonte: A autora.
Indicador 1
Indicador 2
Indicador 3
Indicador 4
Indicador 5
Indicador 6
Creche 1 Creche 2 Creche 3
304
Figura 49 - Porcentagens para a escolha mais importante por Creche para a Dimensão VI
Fonte: A autora.
Semelhanças significativas foram observadas entre as respostas dos constituintes da
amostra para a Dimensão VII (Qualificação e desenvolvimento profissional). Os
respondentes da creche 2 não consideraram o Indicador VII. 3 A formação continuada
atualiza conhecimentos, promovendo a leitura e discussão de estudos sobre a infância e
sobre as práticas de Educação Infantil tão importante. Para a equipe da creche 1 o
indicador VII. 4 A instituição conhece e implementa procedimentos que visam prevenir
problemas de saúde dos professores, educadores e demais profissionais não foi
considerado importante.
Tabela 20 - Frequências e porcentagens do Indicador mais importante para as 8 dimensões
da escala por Creche para a Dimensão VII: Qualificação e desenvolvimento profissional
Indicador
Creche 1 Creche 2 Creche 3
n % n % n %
1 10 33,3 7 30,4 4 22,2
2 9 30,0 8 34,8 4 22,2
3 9 30,0 2 8,7 6 33,3
4 2 6,7 6 26,1 4 22,2
Fonte: A autora.
Indicador 1
Indicador 2
Indicador 3
Indicador 4
Indicador 5
Indicador 6
Indicador 7
Indicador 8 Creche 1 Creche 2 Creche 3
305
Figura 50 - Porcentagens para a escolha mais importante por Creche para a Dimensão VII
Fonte: A autora.
Os dados da Tabela 21 comprovam que quanto a última dimensão - Relação
com a família (VIII) houve uma diferença um pouco maior na importância que os sujeitos
da amostra atribuíram aos indicadores VIII. 1 Os pais e as mães recebem uma atenção
especial durante o período de acolhimento das crianças e VIII. 2 Reuniões e entrevistas
com os familiares são realizadas em horários adequados à participação das famílias,
sendo que a equipe da creche 3 atribuiu uma menor importância se comparada as demais no
que diz respeito ao indicador VIII. 1 Os pais e as mães recebem uma atenção especial
durante o período de acolhimento das crianças e uma maior importância para o Indicador
VIII. 2 Reuniões e entrevistas com os familiares são realizadas em horários adequados à
participação das famílias. O Indicador VIII. 8 Pais e mães, professores(as) e funcionários
(as) em geral discutem as dificuldades de gestão da escola e participam da solução destes
problemas também não foi citado, dentre os importantes, pela equipe da Creche 3 enquanto
que as porcentagens para as creches 1 e 2 foi de 16,7% e 21,7% respectivamente.
Indicador 1
Indicador 2
Indicador 3
Indicador 4
Creche 1 Creche 2 Creche 3
306
Tabela 21 - Frequências e porcentagens do Indicador mais importante para as 8 dimensões
da escala por Creche para a Dimensão VIII: Relação com a família
Indicador
Creche 1 Creche 2 Creche 3
n % n % n %
1 13 43,3 11 47,8 5 27,8
2 10 33,3 4 17,4 9 50,0
3 0 0,0 0 0,0 0 0,0
4 2 6,7 1 4,3 0 0,0
5 0 0,0 2 8,7 3 16,7
6 0 0,0 0 0,0 0 0,0
7 0 0,0 0 0,0 1 5,6
8 5 16,7 5 21,7 0 0,0
Fonte: A autora.
Figura 51 - Porcentagens para a escolha mais importante por Creche para a Dimensão VIII
Fonte: A autora.
Embora haja correlações estatísticas entre as respostas das três creches investigadas
quanto à ordenação hierárquica dos indicadores para cada dimensão, seria importante
refletir sobre algumas das dimensões analisadas que apresentaram uma estreita diferença
em seus resultados.
Considerando-se as respostas da dimensão I (ambiente físico) entre as creches
investigadas, pode-se constatar a polissemia do conceito de qualidade, enquanto uma
instituição privilegia mais a questão da segurança, outras consideram mais ter brinquedos,
livros e jogos em quantidade adequada ao número de crianças atendidas.
Indicador 1
Indicador 2
Indicador 3
Indicador 4
Indicador 5
Indicador 6
Indicador 7
Indicador 8 Creche 1 Creche 2 Creche 3
307
Outra resposta relevante nos resultados apresentados foi o destaque que a creche III
apresentou em uma maior proporção nos resultados da resposta da dimensão II (Planos e
Rotinas) quanto ao indicador referente a participação de todos (pais, educadores,
funcionários e dirigentes) na construção do Projeto Político Pedagógico da creche, fato este
que pode ser devido a esta ser uma Organização não Governamental (ONG) que tem
constantes encontros com a diretoria e conselheiros para decisões importantes na
manutenção, organização geral da instituição e por ser de caráter filantrópico.
Entre as creches investigadas houve uma considerável concordância no que diz
respeito ao indicador VII. 3: Professores e educadores organizam brincadeiras com sons,
ritmos e melodias com a voz e com o corpo, oferecem instrumentos musicais e outros
objetos sonoros para que sejam explorados pelas crianças. Vivenciar música com bebês e
crianças pequenas significa possibilitar, de forma lúdica, o seu contato com esta arte por
meio por meio do canto, da dança, tocando instrumentos e até mesmo ouvindo-a. Essas
vivências proporcionam ao bebê momentos de intensas explorações, percepções e
experimentações individuais e coletivas necessárias ao seu desenvolvimento.
Verificou-se na Dimensão III (Interação Adulto Criança) que as respostas dadas
pelas três creches demonstraram-se incipientes quanto a valorização do indicador III. 3 Os
adultos reconhecem e aceitam os sentimentos das crianças e permitem a sua expressão de
um modo cooperativo tal fato demonstra que os adultos precisam ser sensibilizados para
reconhecer a importância de valorizar os sentimentos e bem estar emocional das crianças.
Inclui também sinceridade, empatia, capacidade de resposta e afetividade tratando a criança
com carinho, cuidado e respeito. A creche é um contexto de vida de muitas crianças,
devendo cada vez mais tornar-se um lugar de excelência para favorecer o desenvolvimento
infantil. Assim sendo, não basta a preocupação com a alimentação e com os cuidados de
higiene e segurança, a intervenção educativa na creche deve fundamentar-se em relações
afetivas positivas.
Houve similaridades nas respostas quanto ao grau de importância aos indicadores da
Dimensão V (Experiências educativas) no qual são enunciados diversas preocupações com
a legitimidade da função de educar, isto é, garantir experiências educativas que favoreçam
308
o desenvolvimento da criança pequena. No entanto, vale ressaltar que estas experiências
precisam ser adequadas à etapa do desenvolvimento que a criança se encontra e que a ela
seja sempre ativa na construção com os novos conhecimentos, por meio de invenções e
descobertas.
6.5 COMPARAÇÕES ENTRE AS FUNÇÕES DOS RESPONDENTES
QUANTO À ESCALA DE ORDEM HIERÁRQUICA
Foram realizadas estatísticas descritivas (médias, desvios padrão, frequências e
porcentagens) e construídos gráficos de barras para melhor visualização dos resultados. A
comparação entre as funções para a escala Likert, em cada um dos fatores analisados foi
realizada por meio de modelos de ANOVA seguidos do teste de médias de Tukey.
O nível de confiança utilizado nas análises foi de 95%.
O software estatístico utilizado nas análises foi o XLSTAT 2013.
Dentre as oito dimensões avaliadas não foram encontradas diferenças
significativas entre nenhuma delas. Apesar de os resultados apresentados pelos dirigentes
não terem entrado no modelo estatístico para a comparação entre as funções nota-se que as
médias destes foram ligeiramente inferiores para todas as dimensões. As médias dos
monitores, professores e pais foram similares conforme exposto na Figura 52:
309
Figura 52 - Médias por função e Dimensões
Fonte: A autora.
As comparações entre as funções a seguir não consideram o resultado dos dirigentes
devido a este grande desbalanceamento.
Tabela 22 - Médias e desvios padrão para os 8 dimensões da escala por Creche
Fator
Dirigente (n=3) Monitor (n=37) Professores
(n=22) Pais (n=9)
p-
valor
Média Desvio
padrão Média
Desvio
padrão Média
Desvio
padrão Média
Desvio
padrão
I. AMBIENTE FÍSICO 3,7 0,9 3,9 A 0,8 4,1 A 0,6 4,3 A 0,6 0,318
II. PLANOS E ROTINAS 3,5 0,4 4,1 A 0,8 4,0 A 0,7 4,3 A 0,7 0,656
III. INTERAÇÃO ADULTO/
CRIANÇA
3,8 0,9 4,3 A 0,6 4,4 A 0,5 4,5 A 0,5 0,460
IV. INTERAÇÕES ENTRE IGUAIS 3,9 1,1 4,4 A 0,7 4,2 A 0,6 4,5 A 0,6 0,434
V. EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS 3,6 0,4 4,4 A 0,5 4,2 A 0,5 4,5 A 0,5 0,269
VI. CUIDADOS PARA UMA
VIDA SAUDÁVEL
3,4 0,1 4,0 A 0,7 3,9 A 0,7 3,7 A 0,6 0,494
VII. QUALIFICAÇÃO E
DESENV. PROFISSIONAL
3,6 0,5 4,0 A 0,5 3,8 A 0,4 3,7 A 0,5 0,172
VIII. RELAÇÃO COM A FAMÍLIA 3,0 0,0 3,5 A 1,2 3,8 A 1,2 3,7 A 1,0 0,706
Fonte: A autora.
Nota: Médias seguidas de letra em comum, para uma mesma Dimensão, não diferem significativamente
entre si.
310
Nota-se tanto na Tabela quanto na Figura 53 que na dimensão I (Ambiente Físico) o
indicador I. 1 Ambiente seguro e bem cuidado foi citado como o mais importante para todas
as funções.
Tabela 23 - Frequências e porcentagens do indicador mais importante para as 8 dimensões
da escala por função para a Dimensão I: Ambiente Físico
Indicador
Dirigente (n=3) Monitor (n=37) Pais (n=9) Professor (n=22)
n % n % n % n %
1 2 66,7 29 78,4 7 77,8 19 86,4
2 0 0,0 5 13,5 2 22,2 1 4,5
3 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0
4 1 33,3 2 5,4 0 0,0 2 9,1
5 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0
6 0 0,0 1 2,7 0 0,0 0 0,0
7 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0
Fonte: A autora.
Figura 53 - Porcentagens para a escolha mais importante por função para a Dimensão I.
Fonte: A autora.
Para a Dimensão II (Planos e Rotinas), o indicador II. 1 Participação ativa de
todos (pais, funcionários, dirigentes, educadores e professores) na construção do PPP foi
o mais valorizado pelos monitores, pais e professores, seguido pelo indicador II. 2. O
Indicador 1
Indicador 2
Indicador 3
Indicador 4
Indicador 5
Indicador 6
Indicador 7
311
Plano de Ensino privilegia o desenvolvimento infantil Na resposta dos três dirigentes,
prevaleceu o indicador II. 4 Participação ativa das crianças em todos os momentos do dia
para dois deles.
Tabela 24 - Frequências e porcentagens do indicador mais importante para as 8 dimensões
da escala por função para a Dimensão II: Planos e Rotinas
Indicador
Dirigente (n=3) Monitor (n=37) Pais (n=9) Professor (n=22)
n % n % n % n %
1 1 33,3 18 48,6 5 55,6 11 50,0
2 0 0,0 10 27,0 2 22,2 7 31,8
3 0 0,0 3 8,1 1 11,1 1 4,5
4 2 66,7 3 8,1 0 0,0 2 9,1
5 0 0,0 3 8,1 1 11,1 1 4,5
Fonte: A autora.
Figura 54 - Porcentagens para a escolha mais importante por função para a Dimensão II.
Fonte: A autora.
Indicador 1
Indicador 2
Indicador 3
Indicador 4
Indicador 5
312
Tabela 25 - Frequências e porcentagens do indicador mais importante as 8 dimensões da
escala por função para a Dimensão III: Interação Adulto Criança
Indicador
Dirigente (n=3) Monitor (n=37) Pais (n=9) Professor (n=22)
n % n % n % n %
1 0 0,0 15 40,5 2 22,2 5 22,7
2 2 66,7 3 8,1 3 33,3 4 18,2
3 0 0,0 2 5,4 1 11,1 3 13,6
4 1 33,3 17 45,9 3 33,3 10 45,5
Fonte: A autora.
Para a Dimensão III (Interação Adulto Criança) houve similaridade entre as
funções de monitor, pai e professor em relação ao indicador citado como mais importante.
No entanto, a proporção para o indicador III. 2 Os adultos acompanham e orientam os
comportamentos das crianças utilizando o encorajamento, sugestões e elogios descritivos
foi ligeiramente maior para pais e do indicador III. 1 O educador sorri, conversa e é
afetuoso com todas as crianças ligeiramente maior para monitores.
Figura 55 - Porcentagens para a escolha mais importante por função para a Dimensão III.
Fonte: A autora.
Para a Dimensão IV (Interações entre iguais), o indicador IV. 1 As crianças
demonstram estar felizes foi o mais citado para monitores, pais e professores, porém em
uma maior proporção para os pais. O indicador IV. 3 As crianças participam de espaços,
Indicador 1
Indicador 2
Indicador 3
Indicador 4
313
brincadeiras e materiais acessíveis de modo a favorecer a interação entre as crianças com
necessidades especiais e as demais crianças foi citado para monitores e professores por
35% e 27% e não fora mencionado pelos pais. Dos três dirigentes dois citaram o indicador
IV. 2 As crianças interagem entre iguais de forma amigável e interessada.
Tabela 26 - Frequências e porcentagens do indicador mais importante para as 8 dimensões
da escala por função para a Dimensão IV: Interações entre iguais
Indicador
Dirigente (n=3) Monitor (n=37) Pais (n=9) Professor (n=22)
n % n % n % n %
1 0 0,0 18 48,6 7 77,8 12 54,5
2 2 66,7 6 16,2 2 22,2 4 18,2
3 1 33,3 13 35,1 0 0,0 6 27,3
Fonte: A autora.
Figura 56 - Porcentagens para a escolha mais importante por função para a Dimensão IV.
Fonte: A autora.
Para a Dimensão V (Experiências educativas) houve uma similaridade grande entre
as funções sendo os indicadores V. 1 Professores e educadores favorecem a conquista da
autonomia da criança para a realização dos cuidados diários (alcançar objetos, tirar as
sandálias, lavar as mãos, usar o sanitário, etc.) e V. 2 São proporcionadas às crianças
atividades e experiências de aprendizagem diversas, abrangendo todos os aspectos do
desenvolvimento (físico, afetivo, social e cognitivo) os mais valorizados. Os três dirigentes
Indicador 1
Indicador 2
Indicador 3
314
valorizaram mais o indicador V. 1 Professores e educadores favorecem a conquista da
autonomia da criança para a realização dos cuidados diários (alcançar objetos, tirar as
sandálias, lavar as mãos, usar o sanitário, etc.).
Tabela 27 - Frequências e porcentagens do indicador mais importante para as 8 dimensões
da escala por função para a Dimensão V: Experiências educativas
Indicador
Dirigente (n=3) Monitor (n=37) Pais (n=9) Professor (n=22)
n % n % n % n %
1 3 100,0 21 56,8 4 44,4 9 40,9
2 0 0,0 14 37,8 5 55,6 12 54,5
3 0 0,0 1 2,7 0 0,0 0 0,0
4 0 0,0 1 2,7 0 0,0 0 0,0
5 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0
6 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 4,5
Fonte: A autora.
Figura 57 - Porcentagens para a escolha mais importante por função para a Dimensão V
Fonte: A autora.
Para a Dimensão VI (Cuidados para uma vida saudável), diversos indicadores foram
destacados como importantes. Houve uma ligeira preferência para o indicador VI. 3 A
instituição dispõe de um cardápio nutricional variado e rico que atenda às necessidades
das crianças, inclusive daquelas que necessitam de dietas especiais pelos pais e monitores,
e o indicador VI. 7 O ambiente da creche proporciona bem estar às crianças apareceu
como o considerado o mais importante dentre os professores. O indicador V. 4 Os adultos
passaram por treinamento de primeiros socorros também foi mencionado pelos
professores e não o fora pelas demais funções.
Indicador 1
Indicador 2
Indicador 3
Indicador 4
Indicador 5
Indicador 6
315
Tabela 28 - Frequências e porcentagens do indicador mais importante para as 8 dimensões
da escala por função para a Dimensão VI: Cuidados para uma vida saudável
Indicador
Dirigente (n=3) Monitor (n=37) Pais (n=9) Professor (n=22)
n % n % n % n %
1 0 0,0 7 18,9 2 22,2 3 13,6
2 0 0,0 6 16,2 1 11,1 3 13,6
3 1 33,3 12 32,4 4 44,4 4 18,2
4 0 0,0 0 0,0 0 0,0 3 13,6
5 1 33,3 7 18,9 1 11,1 3 13,6
6 0 0,0 2 5,4 0 0,0 0 0,0
7 0 0,0 2 5,4 0 0,0 5 22,7
8 1 33,3 1 2,7 1 11,1 1 4,5
Fonte: A autora.
Figura 58 - Porcentagens para a escolha mais importante por função para a Dimensão VI.
Fonte: A autora.
Novamente foi observada similaridade entre as funções para a Dimensão VII
(Qualificação e desenvolvimento profissional), sendo que os pais atribuíram maior valor
para o indicador VII. 1 Os educadores têm, no mínimo, a habilitação em nível médio na
modalidade Normal ou Magistério e menor para o indicador VII. 3 A formação continuada
atualiza conhecimentos, promovendo a leitura e discussão de estudos sobre a infância e
sobre as práticas de Educação Infantil.
Indicador 1
Indicador 2
Indicador 3
Indicador 4
Indicador 5
Indicador 6
Indicador 7
Indicador 8
316
Tabela 29 - Frequências e porcentagens do indicador mais importante para as 8 dimensões
da escala por função para a Dimensão VII: Qualificação e desenvolvimento profissional
Indicador
Dirigente (n=3) Monitor (n=37) Pais (n=9) Professor (n=22)
n % n % n % n %
1 1 33,3 11 29,7 4 44,4 5 22,7
2 1 33,3 11 29,7 2 22,2 7 31,8
3 1 33,3 9 24,3 1 11,1 6 27,3
4 0 0,0 6 16,2 2 22,2 4 18,2
Fonte: A autora.
Figura 59 - Porcentagens para a escolha mais importante por função para a Dimensão VII.
Fonte: A autora.
Na Dimensão VIII (Relação com a família) constatou-se, predominantemente, os
indicadores VIII. 1 Os pais e as mães recebem uma atenção especial durante o período de
acolhimento das crianças e VIII. 2 Reuniões e entrevistas com os familiares são realizadas
em horários adequados à participação das famílias como os mais importantes, sendo que o
indicador VIII. 8 Pais e mães, professores(as) e funcionários (as) em geral discutem as
dificuldades de gestão da escola e participam da solução destes problemas também se
destacou para os professores.
Indicador 1
Indicador 2
Indicador 3
Indicador 4
317
Tabela 30 - Frequências e porcentagens do indicador mais importante para as 8 dimensões da
escala por função para a Dimensão VIII: Relação com a família
Indicador
Dirigente (n=3) Monitor (n=37) Pais (n=9) Professor (n=22)
n % n % n % n %
1 1 33,3 16 43,2 5 55,6 7 31,8 2 1 33,3 12 32,4 2 22,2 8 36,4 3 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 4 0 0,0 2 5,4 0 0,0 1 4,5 5 1 33,3 3 8,1 1 11,1 0 0,0 6 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 7 0 0,0 1 2,7 0 0,0 0 0,0 8 0 0,0 3 8,1 1 11,1 6 27,3
Fonte: A autora.
Figura 60 - Porcentagens para a escolha mais importante por função para a Dimensão VIII.
Fonte: A autora.
Analisando os dados referentes as comparações entre as funções dos respondentes
quanto a escala de ordem hierárquica, constata-se que, as médias dos monitores,
professores e pais foram bastante similares entre si.
Por meio da observação dos dados do instrumento da ―Pesquisa da qualidade da
Educação Infantil‖ notamos que estes são semelhantes ao da afirmação que Campos e Cruz
(2006, p. 43) fazem: ―as pessoas consultadas apresentam uma tendência a concordar com as
afirmações propostas. A maioria das respostas tendeu a se concentrar em ‗Importante‘ e
Indicador 1
Indicador 2
Indicador 3
Indicador 4
Indicador 5
Indicador 6
Indicador 7
Indicador 8
318
‗Muito importante‘, com poucas exceções‖. No que se refere a esta pesquisa, as funções
dos respondentes (dirigentes, professores, educadores e pais) utilizaram muito as escalas 4
(concordo) e 5 (concordo muito) nos indicadores apresentados. Tal fato denota que mesmo
sendo apenas um discurso em alguns casos ‗vazios‘, demonstra que os participantes da
pesquisa tem consciência sobre o que é uma escola de Educação Infantil de qualidade. As
concepções mais informadas pelo discurso pedagógico foram transmitidas, principalmente,
pelos integrantes das equipes pedagógica das instituições fortalecidos por aspirações
ambiciosas e pelo desejo da creche ideal. As respostas dos pais demonstram o desejo em
ver seus filhos bem cuidados, tratados com carinho e recebendo boa orientação por parte
dos educadores e professores.
6.6 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DO RESULTADO DO
QUESTIONÁRIO – TERCEIRA PARTE
Tendo em vista ampliar a visibilidade do próprio processo de análise e na
impossibilidade de transferir para o corpo desta tese todo o volume dos dados recolhidos,
optou-se por organizar a apresentação das respostas em categorias que possam traduzir, a
nosso ver, a singularidade dos problemas, as crenças, valores e conhecimentos que
permeiam todo o contexto da comunidade educativa assim como afirma Bardin (2011, p.
119)
A categorização tem como primeiro objetivo, fornecer, por condensação, uma
representação simplificada dos dados brutos [para tanto] classificar elementos em
categorias, impõe a investigação do que cada um tem em comum aos outros. O
que vai permitir o seu agrupamento é parte comum existente entre eles.
As categorias foram previamente construídas a partir do referencial teórico
apresentado no corpo deste trabalho e também estão de acordo com os objetivos da
pesquisa. Bardin (2011) relata que uma análise pode ser realizada por meio dos seguintes
passos para classificação e construção das categorias: 1) leitura das respostas; 2)
identificação de temas; 3) demarcação de unidades de sentido a partir dos conteúdos; e 4)
geração de categorias.
319
As categorias foram definidas previamente e o critério de categorização foi
semântico. Esse tipo de categorização, segundo Bardin (2011), refere-se a recortes em nível
semântico de unidades de significação, segundo certos critérios relativos à teoria que serve
de guia à análise que, em algumas vezes, coincidem com unidades formais do texto
(palavras, frases etc.).
Seguindo os critérios para realização da Análise de Conteúdo, à luz do autor
supracitado as seguintes categorias que foram definidas previamente para a primeira
pergunta são: Desenvolvimento infantil; Formação do pessoal; Estrutura física e materiais;
Apoio à família e Quantidade de crianças por adulto. Quando os participantes da pesquisa
foram questionados na segunda questão sobre a utilidade da creche, eles apresentaram
respostas que se enquadram nas seguintes categorias: Assistencialista (atender a família);
Desenvolvimento infantil; Cuidar e educar e Brincar.
6.6.1 Primeira pergunta: O que seria uma creche de Qualidade da Educação
Infantil de 0 a 3 anos?
Ao fazermos a primeira pergunta: O que seria uma creche de Qualidade da
Educação Infantil de 0 a 3 anos? - em que teve como objetivo conhecer a concepção de
qualidade no atendimento das Escolas de Educação Infantil de 0 a 3 anos pelos
respondentes que participam dos trabalhos nas instituições educacionais pesquisadas.
Pode-se perceber por meio do Figura 61 que a categoria Desenvolvimento Infantil,
sobrepôs as demais com 48% da totalidade dos respondentes. Em seguida vem a categoria
Estrutura Física e Materiais com 20%, depois Formação do Pessoal com 14%, com 10%
Quantidade de crianças por adulto e com menor índice Apoio à Família 8%.
320
Figura 61 - Categorias das respostas da primeira questão: O que seria uma creche de
Qualidade da Educação Infantil de 0 a 3 anos?
Fonte: A autora.
Tabela 31 - Frequências e porcentagens das categorias referente a primeira pergunta Categorias Frequência (n) e %
Desenvolvimento Infantil 34 47,89%
Estrutura física e materiais 14 19,72%
Formação do pessoal 10 14,08%
Quantidade de criança por adulto 07 9,86%
Parceria com as famílias 06 8,45%
Fonte: A autora.
Tabela 32 - Frequências e porcentagens das categorias entre as funções referente a primeira
pergunta. Função Dirigente (n=3) Monitor (n=36) Professores (n=21) Pais (n=11)
Categorias Frequência e
%
Frequência e % Frequência e % Frequência e %
Desenvolvimento Infantil 3 100% 17 47,22 12 57,14 2 18,18
Estrutura física e materiais - - 6 16,66 2 9,52 6 54,54
Formação do pessoal - - 5 13,88 5 23,82 - -
Quantidade de criança por adulto - - 5 13,88 2 9,52 - -
Parceria com as famílias - - 3 8,36 - - 3 27,28
Fonte: A autora.
Será apresentada a seguir a discussão de cada categoria e a análise com a
porcentagem das respostas em comparação com as funções dos respondentes.
321
6.6.1.1 Categoria 1 - Desenvolvimento infantil
Nessa categoria foram reunidas as diferentes concepções de qualidade expostas nas
questões apresentadas. Ao definirem o que seria a qualidade no atendimento nas
instituições educacionais de 0 a 3 anos 48% dos participantes atribuíram maior relevância
ao desenvolvimento infantil, como alguns exemplos que se seguem:
“Uma creche onde o educar e o cuidar são indissociáveis, visando o desenvolvimento da criança
nos aspectos físico, afetivo, social e cognitivo”.
----------------
“Uma creche que ofereça um ambiente em que a criança se sinta segura e querida, que ofereça
condições para que ela desenvolva o cognitivo e o social, além de ser um lugar bem cuidado”.
----------------
“Uma instituição que considere a criança como centro do processo e contribua para o
desenvolvimento integral do aluno”.
----------------
“Um ambiente propício para o desenvolvimento infantil, no qual precisa abranger todos os
aspectos de forma a favorecer a interação, a participação e a aprendizagem das crianças de forma
global”.
----------------
“Que os profissionais que nela trabalham conheçam as especificidades para oferecer uma
educação que ajude a criança a se desenvolver integralmente”.
----------------
“Seria uma creche acolhedora que desenvolva os aspectos cognitivo, afetivo, social e físico e que
possua profissionais capacitados para respeitar as individualidades das crianças”.
O conceito de qualidade que transparece nas respostas apresentadas neste estudo
denota a importância das práticas na Educação Infantil alicerçadas em ações que propiciam
322
experiências ricas e adequadas para o avanço no desenvolvimento pleno das crianças.
Nesse sentido, o conceito de qualidade está entrelaçado com as ideias de Mantovani de
Assis (1993, p. 36).
Julgamos que o objetivo educacional da pré-escola que realmente venha atender
as necessidades psicossociais da criança deve ser o de criar as condições mais
adequadas ao seu desenvolvimento global. Em outras palavras, a educação
infantil deve visar, antes e, sobretudo, ao desenvolvimento harmonioso da criança
em seus aspectos físico, sócio emocional e intelectual, para que ela consiga ser
tudo o que poderia ser nesse período de sua vida. Na verdade, o ser humano é
uma totalidade não sendo possível separar o aspecto físico do sócio emocional e
do cognitivo. Portanto, a ênfase num desses aspectos do desenvolvimento pode
comprometer os outros. A educação infantil não pode se contentar apenas em
preparar a criança para enfrentar outra fase de sua vida. O verdadeiro sentido da
educação infantil deve ser o de contribuir para o desenvolvimento da criança a
fim de que esta realize todas as suas possibilidades humanas características do
período de desenvolvimento em que se encontra.
Assim, ao discutir a qualidade em contextos educativos destinados aos três
primeiros anos de vida, vale também considerar o nível de sensibilidade dos profissionais
às necessidades das crianças e o seu comprometimento em organizar oportunidades para
que a criança seja o centro do processo educativo, isto é, que as propostas tenham como
ponto de partida as características e necessidades da fase em que o pequeno se encontra
para apoiar o seu avanço para a fase seguinte.
Portanto, o desenvolvimento da criança não opera no vazio, há vários componentes
envolvidos nesta relação indissociável entre o cuidar e educar. Espera-se que a creche
ofereça, na sua essência, um ambiente educacional. As crianças têm maior possibilidade de
desenvolvimento em ambientes que respondem às necessidades individuais de cada uma e
também em ambientes acolhedores e calorosos.
De acordo com Portugal (2000, p. 87) uma creche de qualidade deve:
Oferecer à criança um ambiente de qualidade, facilitador do seu desenvolvimento
e aprendizagem é necessário: atender às suas necessidades físicas e psicológicas;
um ambiente seguro e saudável; uma relação de confiança com um adulto;
liberdade para exploração através dos sentidos e oportunidades de interação com
outras crianças.
323
Sendo assim, uma creche cuja principal função seja educativa deve atender a todos
estes elementos, bem como, ao desenvolvimento pleno das crianças para que possam
vivenciar um programa devidamente estruturado, e possível de atender e compreender as
dimensões: cuidar e educar indissociavelmente de maneira assídua.
Quando os participantes foram inquiridos sobre a sua opinião do que seria uma
creche de qualidade na educação infantil de 0 a 3 anos as funções dirigentes (n= 3 - 100%),
professores (n=21 – 57,14%) e monitores (n= 37 - 47,22%) obtiveram maior frequência
em relação ao número total de respondentes. Este resultado é significativo, pois revela a
consciência das pessoas que estão diretamente envolvidas nas instituições educacionais
quanto à importância dos primeiros anos de vida nesta faixa etária porque abrangem as suas
construções afetivas, sociais e cognitivas que constituirão a base para todos os períodos
posteriores do desenvolvimento.
Apenas 18,18% (9) na função pais apresentou o desenvolvimento infantil como
sendo um importante indicador de qualidade. Acredita-se que este resultado vem em
decorrência a serem leigos no assunto e com propósitos diferentes, muito mais para atender
suas próprias necessidades enquanto trabalham do que para contribuir com avanços no
desenvolvimento de seus filhos.
6.6.1.2 Categoria 2 – Estrutura Física e Materiais
Nesta categoria 20% dos respondentes consideraram a categoria Estrutura Física e
Materiais como determinante para a qualidade em um contexto de creche, valorizando
características de um espaço educativo bem organizado e que possa oferecer materiais ricos
para que as crianças possam explorá-los e realizarem inúmeras descobertas.
324
“Uma instituição que ofereça espaço e condições para o bem estar das crianças e funcionários”.
----------------
“Uma creche com salas bem estruturadas, banheiro anexo às salas, dormitório separado da sala
de aula e todos os espaços e materiais adequados. Com parque adequado e em boas condições de
segurança”.
----------------
“Um ambiente com boa estrutura e diversos recursos e onde se possa desenvolver diferentes e ricas
atividades”.
----------------
“Creche de qualidade é aquela que têm muitos brinquedos adequados à idade das crianças e em
quantidade boa para todos. A creche precisa ter salas bem montadas e decoradas. Os banheiros
precisam ser grandes e do tamanho das crianças”.
----------------
“Espaços apropriados, limpos e com brinquedos para todas as idades. Uma instituição que seja:
acolhedora, tranquila, confortável e segura”.
A estrutura física e os materiais foram preocupações manifestadas com maior ênfase
pelos monitores (n= 36 - 16,66%) em seguida vêm os professores (n= 21 - 9,52%) e com
menor índice de manifestação quanto a esta categoria foi a função pais (n= 11 - 54,54%).
Analisando o conjunto das respostas, constata-se que, sem dúvida, a organização do
espaço nas escolas de Educação Infantil é emergencial e fundamental uma vez que
influencia a qualidade das interações e das atividades desenvolvidas. Tal fato ocorre devido
o modo de como o espaço é administrado constitui-se em uma mensagem curricular que
reflete o modelo educativo da instituição.
6.6.1.3 Categoria 3 - Formação do Pessoal
Ao serem questionados referentes a qualidade dos serviços prestados à criança de 0
a 3 anos a categoria formação do pessoal na creche apareceu em 23% das respostas de
325
todos os participantes deste estudo. Apenas as funções monitor com 13.88% (n=36) e
professores com 23,8% (n=21) que apontaram esta categoria como relevante na qualidade
do atendimento nas creches.
As respostas apresentadas a seguir indicam a relevância que, neste caso, nas funções
professores e monitores conferem aos programas de formação continuada para os que
atuam no contexto creches, e que estes programas favoreçam a melhoria da qualidade das
práticas educativas:
“As creches precisam de pessoas capacitadas para desenvolver um trabalho com mais
qualidade”.
----------------
“Uma creche de qualidade é um espaço que tenha profissionais capacitados e em contínuo
processo de aperfeiçoamento”.
----------------
“Aquela em que respeita as particularidades das crianças e que tenham professores
envolvidos e preparados com formação específica”.
----------------
“A creche tem uma função muito além de apenas cuidar, para educar ela deve ter
profissionais em constante formação”.
----------------
“Um ambiente com professores qualificados e comprometidos para favorecer o
desenvolvimento infantil”.
A categoria Formação pessoal está diretamente ligada a anterior – Desenvolvimento
infantil – pois para que os profissionais tenham consciência da real importância de
promover um ambiente em que favoreça o desenvolvimento ele precisa estar em constante
formação, uma vez que os saberes docentes não são conquistados apenas com a formação
inicial. Desta maneira para a prática docente há necessidade de complementação em cursos
de formação continuada.
326
O Relatório Mundial da UNESCO (1997), ao analisar o futuro da educação para o
século XXI sublinhou a necessidade de a formação promover o desenvolvimento pessoal e
profissional devendo para tal privilegiar: o aprender a ser; o aprender a aprender; o
aprender a fazer e o aprender a viver com os outros.
É visível o reconhecimento de que a qualidade da educação depende em grande
parte da qualidade da formação dos educadores e professores. Oliveira-Formosinho (2001,
p. 37) apresenta o modelo de formação baseado em um conceito ecológico de
desenvolvimento profissional que:
Liga o desenvolvimento profissional ao desenvolvimento curricular e ao
desenvolvimento organizacional. Envolve os professores no desenvolvimento do
currículo, no envolvimento parental ou na melhoria da escola com o objetivo de
melhorar os métodos de ensino, o currículo, as estratégias de participação dos
pais, das famílias e das comunidades.
Com o avanço das políticas públicas quanto a formação necessária do profissional
que atua com a faixa etária de 0 a 3 anos a sociedade vem apresentando, cada vez mais, um
repensar sobre os saberes e fazeres necessários ao trabalho pedagógico (educar e cuidar)
com crianças pequenas. Essas mudanças marcam, de modo incisivo, a compreensão acerca
dos saberes que devem compor a competência técnica dos profissionais que atuam junto
aos pequenos.
Frente a esta perspectiva, ensinar é um processo contínuo de aprendizagem. É
necessário aprender para reconstruir, para ensinar e para ―ter o direito de ensinar é preciso
ter o direito de aprender‖ (OLIVEIRA-FORMOSINHO; ARAÚJO, 2004, p. 152).
6.6.1.4 Categoria 4 - Quantidade de criança por adulto
A quantidade de criança por adulto nas turmas das creches investigadas foi a opção
apresentada em algumas das respostas. De acordo com os Parâmetros Nacionais de
Qualidade para a Educação Infantil (BRASIL, 2006d, v. 2, p. 35) a proporção deve ser:
327
A relação entre o número de crianças por agrupamento ou turma e o número de
professoras ou professores de Educação Infantil por agrupamento varia de acordo
com a faixa etária: uma professora ou um professor para cada 6 a 8 crianças de 0
a 2 anos; uma professora ou um professor para cada 15 crianças de 3 anos.
Esta é uma afirmação de um documento oficial. No entanto, há um abismo entre as
orientações que são dadas pelo MEC e a realidade vivenciada pela grande maioria das
escolas de atendimento à criança de 0 a 3 anos. Percebe-se um descaso e, ao mesmo tempo,
uma preocupação pelos que estão diretamente envolvidos para que haja um olhar mais
comprometido com a construção de uma educação de qualidade.
A superlotação das creches é uma realidade comum, sendo um dos fatores
prejudiciais para um atendimento de qualidade na Educação Infantil (0 a 3 anos). Mesmo
vivendo esta realidade, poucos legitimam a ausência desta categoria como indicador de
qualidade, pois 10% das respostas evidenciaram a preocupação com o número de alunos;
as respostas correspondem em (n=36) 13,88% dos monitores e (n=21) 9,52% dos
professores respondentes da pesquisa.
A quantidade muito além do possível de crianças por adulto, com certeza, vem a ser
um obstáculo para a qualidade dos serviços prestados, as respostas abaixo denotam a
preocupação com este atributo:
“A quantidade de crianças por educador é o que faz a diferença, não dá para fazer um trabalho de
qualidade com 18 crianças de 4 meses a 1 ano com apenas um adulto”.
--------------
“A creche de qualidade precisa prezar pela segurança das crianças colocando no máximo cinco
por adulto, para que possamos fazer um trabalho como pedem: cuidar e educar”.
--------------
“Creche de qualidade é espaço de aprendizagem. Não é possível cuidar direito com muitas
crianças juntas, muito menos educar”.
--------------
“Fazer um trabalho bom depende do número de crianças. Tenho 24 de 2 a 3 anos, como posso
atender as necessidades de todos? Isto não é respeitar os direitos das crianças que é ter uma
educação de qualidade”!
328
6.6.1.5 Categoria 5 – Parceria com as famílias
A categoria 5 foca a natureza da parceria da creche com as famílias e o modo como
os pais participam das ações educativas vivenciadas pelas crianças. É de ciência que a
parceria e a cumplicidade entre pais, comunidade e escola são elementos de um processo de
construção de um conhecimento mútuo e contribuem para aprimorar o trabalho
desenvolvido.
Quanto à categoria Parceria com as famílias, apenas 8% dos respondentes estão de
acordo para que a creche seja de qualidade é necessário ter uma estreita relação com a
família. Apenas as funções monitores (n= 3 – 8,36%) e pais (n= 3 – 27,28%) manifestaram
esta concepção. Por meio das respostas é possível perceber que a creche é uma instituição
que complementa a educação familiar e, além de uma necessidade, é também uma opção
das famílias por melhores oportunidades educacionais para seus filhos desde muito
pequenos. A seguir são apresentadas algumas respostas:
“A qualidade da creche depende da relação com a família, eles precisam entender que não somos
os pais das crianças, apenas complementamos as funções”.
--------------
“Uma instituição que respeite as famílias e suas necessidades”.
--------------
“Uma unidade que trabalhe com a criança junto com a família. Não dá para fazer um bom
trabalho se cada um educar e cuidar de formas diferentes”.
-------------
“Quando as famílias colaboram é possível oferecer uma educação de qualidade, as mães vêm e
deixam seus filhos como se fosse uma trouxa de roupa suja. A família precisa entender o nosso
trabalho de cuidar e educar”.
Vale ressaltar a importância que a parceria Creche/família tem em assumir uma
cumplicidade nos cuidados e na educação que são destinados às crianças pequenas. Para
que isso ocorra, torna-se essencial a troca de informações entre essas duas instituições, a
329
fim de que o trabalho desenvolvido na creche, embora independente, seja complementar as
atribuições da família, sempre levando em consideração a natureza complexa dos
relacionamentos humanos.
6.6.2 Segunda pergunta: Para que serve uma creche?
A segunda pergunta: Para que serve uma creche? Teve como objetivo conhecer a
concepção da utilidade (função) das Escolas de Educação Infantil com atendimento de 0 a 3
anos pelos respondentes que participaram deste estudo.
As respostas mais frequentes estão relacionadas em quatro categorias: Educar e
cuidar; acolher às crianças enquanto os pais trabalham; Socialização e Ensinar. As
porcentagens transparecem na Figura 62 e nas Tabelas 33 e 34 tanto do grupo total de
participantes quanto entre as funções participantes.
Figura 62 - Categorias das respostas da segunda questão: Para que serve uma creche?
Fonte: A autora.
Tendo por base a figura apresentada denota-se que a categoria Educar e cuidar
sobrepôs as demais com 49% da totalidade dos respondentes. Em seguida vem a categoria
330
Acolher as crianças enquanto os pais trabalham com 31%, depois Socialização com 16%
e com 4% Ensinar.
Tabela 33 - Frequências e porcentagens das categorias referente a segunda pergunta Categorias Frequência (n) e %
Educar e cuidar 35 49,30%
Acolher as crianças enquanto os pais trabalham 22 30,99%
Socialização 11 15,49%
Ensinar 03 4,22 %
Fonte: A autora.
Tabela 34 - Frequências e porcentagens das categorias entre as funções referente a segunda
pergunta Função Dirigente (n=3) Monitor (n=36) Professores (n=21) Pais (n=11)
Categorias Frequência e % Frequência e % Frequência e % Frequência e %
Educar e cuidar 1 33,3% 14 38,8% 12 57,1% 2 18,1%
Acolher as crianças 2 66,6% 10 27,7% 6 28,5% 8 72,7%
Socialização - - 10 27,7% - - - -
Ensinar - - 2 5,56% 3 14,28% 1 9,09%
Fonte: A autora.
Será apresentado a seguir a discussão de cada categoria, bem como a análise com a
porcentagem das respostas em comparação com as funções dos respondentes.
6.6.2.1 Categoria 1 – Cuidar e educar
A categoria cuidar e educar apareceu nas respostas com maior frequência, pois
49,3% dos respondentes utilizaram este argumento como sendo a função das creches. O
cuidar e educar nas instituições de ensino com atendimento de 0 a 3 anos constitui uma das
especificidades mais importantes da Educação Infantil. Por isso, a creche deve preconizar
propostas de estimulação que deem à criança oportunidades para brincar, jogar, sentir,
331
descobrir e aprender por meio de atividades prazerosas, para além da satisfação das
necessidades básicas pessoais, promotoras de bem-estar.
A creche precisa estar organizada de maneira a potencializar o cuidar e o educar por
meio do brincar e pela exploração ativa das crianças em todos os espaços.
Quando as crianças brincam elas resolvem problemas, fazem descobertas,
expressam-se de várias formas, utilizam informações e conhecimentos em
contexto significativo. É tarefa do adulto envolver as crianças nas atividades,
procurando compreender o que é que realmente as mobiliza, que questões é que
se lhes levantam, o que é que é realmente importante para elas, que sentido dão às
atividades. (PORTUGAL, 2009, p. 280).
O brincar é uma estratégia para educadores sensíveis os quais podem por meio de
ricas interações e intervenções no brincar das crianças, provocar desafios que possam vir a
promover avanços na construção de novas estruturas cognitivas em seu desenvolvimento.
Os profissionais que trabalham com crianças muito pequenas não apenas necessitam de
qualidades muito especiais como também de conhecimentos para que possam contribuir
para uma educação de qualidade.
Foi possível constatar a Categoria 1 – Cuidar e educar - em todas as funções. A função que
mais apontou esta categoria foi a dos professores com (n=21) 57,1%. Os monitores
utilizaram este argumento em (n=36) 38,8%, os pais obtiveram 18,1% (n=11) e os
dirigentes 33,3% (n=3). Em sequência são apresentados alguns recortes das respostas
referentes a essa categoria:
“Uma creche para educar e cuidar, que seja um lugar que atenda todas as necessidades das
crianças”.
------------
“Para cuidar e educar indissociavelmente”.
------------
“Para mim, como educadora, a creche é um local onde todas as relações entre crianças e adultos
sejam voltados para proporcionar um ambiente educativo, em que a criança possa desenvolver
suas potencialidades de maneira lúdica e significativa”.
------------
332
“A creche serve para proporcionar situações pedagógicas que irão ajudar no desenvolvimento da
criança”.
A creche é, na sua essência, um ambiente educativo, um contexto no qual se
desenvolvem práticas e vivências que se constituem como oportunidades únicas para
muitas crianças. As ações de ‗educar‘ e ‗cuidar‘ precisam ser indissociáveis, sendo
necessário pensar e agir com a finalidade de proporcionar um desenvolvimento total e
harmonioso das crianças.
6.6.2.2 Categoria – Acolher as crianças enquanto os pais trabalham:
A ideia de que a creche tem meramente uma função assistencialista ainda aparece
em muitos discursos. Percebe-se na maneira de direcionar as atividades durante a rotina do
dia a dificuldade em associar o cuidar e o educar. Neste estudo a categoria Acolher as
crianças enquanto os pais trabalham apareceu em 30,99% entre todos os respondentes.
Na função pais apareceu em (n=11) 72,7% transparecendo uma valorização pelo
cuidar (higiene e alimentação) para satisfazer uma necessidade da família, enquanto a mãe
sai para o trabalho, ou não. Acredita-se que os pais desconhecem a verdadeira função da
creche para às crianças, é evidente que o significado relacionado ‗a um lugar para ficar‘,
onde elas vivenciam horários de alimentação, sono, higiene e brincadeiras. Neste estudo os
dirigentes (n=3) 66,6%, professores (n=21) 28,5% e monitores (n= 36) 27,7% também
utilizaram este argumento. Acredita-se que estas porcentagens são mais preocupantes que o
resultado da função pais. Isto porque todos estes profissionais da educação passam ou
passaram por algum tipo de formação continuada e continuam manifestando este tipo de
pensamento.
O reflexo deste tipo de concepção recai na pouca valorização a este atendimento de
ensino, se nem mesmo os profissionais que em sua maioria possuem formação específica
não reconhecem a creche como direito da criança para que possa desenvolver-se em todos
333
os aspectos de maneira ativa e afetuosa. Essas considerações fazem com que a creche, em
geral, como afirma Bondioli e Mantovani (1998, p. 93), apareçam como uma instituição em
que as crianças são pajeadas: ―a creche é vista como uma estrutura pouco orientada para
transmitir ao mundo exterior o saber e os conhecimentos que se constroem no seu interior‖.
São apresentadas a seguir algumas das respostas obtidas por meio desse
questionário:
“Para que os pais possam ir trabalhar e saber que seus filhos estão amparados e seguros por
educadores competentes”.
------------
“A creche serve para as crianças que as mães precisam trabalhar”.
------------
“Em minha opinião, uma creche serve para ajudar as mães que trabalham fora e não tem ninguém
para cuidar dos seus filhos”.
------------
“Um ambiente acolhedor para nossos filhos, para que eles estejam protegidos como se estivessem
em casa enquanto nós pais trabalhamos”.
Como se percebe, apesar do avanço na legislação sobre os direitos das crianças no
Brasil, muito há que ser feito. A creche não é um local de complementação ou mesmo de
educação compensatória, lugar que se considera um ‗depósito’ para deixar crianças
enquanto os pais trabalham. A ausência das intencionalidades pedagógicas se inicia neste
discurso, por isso, diante dessa situação o ambiente da creche nos lança um grande desafio:
compreender o desenvolvimento da criança pequena em um contexto coletivo, no qual
quem cuida dela durante a maior parte do dia são educadores que não tem o mesmo
envolvimento afetivo que a mãe para com ela e sendo que os parceiros mais disponíveis
para a interação são outras crianças da mesma idade. A instituição de Educação Infantil (0 a
3 anos) deve ser um lugar seguro, agradável e estimulante para a criança, mas,
principalmente um lugar propício para o desenvolvimento infantil para além da educação
familiar, pois a creche proporciona à criança estímulos que a família desconhece e oferece
possibilidades de socialização. Esta posição é reforçada por Castro e Pinho (2008, p. 23)
334
―na creche as crianças têm maiores oportunidades de aprender, de cooperar, de estabelecer
relações de amizade, de manifestar os seus sentimentos, de iniciar e exercer a sua
autonomia e de serem autossuficientes‖.
6.6.2.3 Categoria – Socialização
A importância conferida à Socialização como função da creche foi manifestada por
15,49% dos respondentes do estudo que reconheceram a importância da participação grupal
para a construção das respectivas regras de convivência são fatores de grande importância
para que a criança vá aos poucos tornando-se cada vez mais capaz de cooperar e caminha
progressivamente em direção à conquista da autonomia que supõe a construção de
princípios e valores próprios. Na medida em que se socializam sua inserção em grupos
sociais vai se ampliando.
Essa categoria é exemplificada por algumas frases apresentadas apenas por 27,7%
dos (n=36) monitores respondentes:
“A creche serve para as crianças interagirem socialmente com outras crianças, para que seu
desenvolvimento seja estimulado”.
------------
“Ajudar no desenvolvimento social da criança preparando para viver em comunidade com
autonomia de acordo com sua idade”.
------------
“Um local onde se prepara a criança para sua formação social e pedagógica”.
------------
“Um lugar onde ocorre interações sociais e que as crianças podem aprender regras de convivência
social”.
335
6.6.2.4 Categoria – Ensinar
Para 4% das respostas da totalidade desta pesquisa, sendo que (n=21) 14,28%
referente a função professores, (n=36) 5,56% da função monitores e (n=11) 9,09% de pais
apresentaram a resposta que revela a concepção em que a creche tem a função preparatória
para a futura escolaridade. A noção de que a Educação Infantil deve preparar crianças
pequenas para ingressar no Ensino Fundamental ainda transparece em nossa sociedade,
deixando assim, de concretizar uma prática comprometida com o direito ao pleno
desenvolvimento. Nessa perspectiva, os processos vivenciados na infância são condição
estruturante da vida mental do adulto.
Esta prática fragmentada do atendimento às crianças limita as ações educativas,
reduzindo-as a atividades de coordenação motora, atividades de colorir, desenhos
mimeografados, escrever o nome, entre outras. Portanto, não são propiciadas às crianças
experiências com livros, brinquedos, jogos, atividades ao ar livre, músicas, canções, enfim
as oportunidades para que elas sejam sempre ativa em seu processo de desenvolvimento.
Analisando o conjunto das respostas, constata-se que estes respondentes privilegiam
a escolarização precoce dos pequenos:
“A creche serve para oferecer às crianças condições de aprender muitas coisas como desenhar,
pintar e conhecer seu nome”.
-----------
“A creche serve para entreter e ensinar com estímulos constantes”.
-----------
“Não só para cuidar, mas também para formar o alicerce para sua vida futura, visando seu
desenvolvimento para estudos posteriores”.
-----------
“Creche é espaço de aprendizagem que leva em consideração a criança para o hoje e o amanhã”.
-----------
“É a primeira etapa da Educação Básica, é um local de aprendizagem”.
336
A seguir serão apresentados os resultados da pesquisa quanto às ―vozes‖ dos
sujeitos das Creches participantes da pesquisa nos grupos focais. No primeiro momento,
serão apresentados os resultados do questionário, no segundo, os resultados dos grupos
focais e as categorias evidenciadas.
6.7 A CONSTRUÇÃO PARTICIPATIVA DOS INDICADORES
Entre os desafios de se conseguir uma Educação Infantil com atendimento de 0 a 3
anos de qualidade está o de obter a promoção desse processo de transformação por meio do
diálogo. Apesar de esta pesquisa ter utilizado também outra metodologia para conhecer o
conceito de qualidade dos participantes de cada uma das três creches investigadas, o cerne
dessa investigação está no grupo focal, como um método que pode contribuir para a
construção dos indicadores de avaliação deste segmento de ensino.
Sendo o objetivo dessa pesquisa o de investigar o processo participativo na
construção de indicadores da qualidade, o método do grupo focal veio contribuir para
legitimar este propósito. A construção do instrumento de avaliação com a participação
direta e efetiva de representantes das funções que se articulam dentro do contexto de cada
creche aborda o instrumento de avaliação da qualidade a partir da realidade do próprio
cotidiano de cada instituição.
A utilização desta técnica (grupo focal) aproxima-se de um processo de formação,
pois todos tem a possibilidade de emitir suas opiniões, sentimentos, vivenciar situações
conflituosas, pensar, refletir em relação aos temas que fazem parte do cotidiano do grupo,
por isso, tem também um caráter pedagógico e formativo que pode potencializar o
desenvolvimento humano e institucional.
O grupo focal vem ao encontro do princípio da cooperação definido por Piaget
(1994), o qual fundamenta-se na reciprocidade, por considerar os sujeitos envolvidos na
337
interação como iguais. O grupo focal favorece as interações dentro de um grupo, em que os
participantes discutem e chegam a um consenso por meio da negociação e da cooperação
sobre o foco de temas de interesse mútuo que foram fornecidos neste caso, pelo
pesquisador, que assumiu o papel de moderador. Os dados fundamentais que os grupos
focais produziram foram transcritos das discussões constituídas para este estudo.
Com base nos objetivos da pesquisa e nas recomendações da literatura, foram
organizados três grupos focais que tiveram em sua composição representantes das funções:
pais, dirigentes, professores e monitores que contribuiu para que houvesse as condições
necessárias para gerar diálogos em torno de temas específicos referentes as dimensões da
qualidade apresentadas neste trabalho (Ambiente físico; Planos e rotinas; Interação adulto-
criança; Interações entre as crianças; Experiências educativas; Cuidados para uma vida
saudável; Qualificação e desenvolvimento profissional e Parceria escola-família).
Em todos os espaços houve uma ótima recepção e aceitação da proposta. Os
participantes conseguiram manifestar suas opiniões e demonstraram que se sentiam
integrantes ativos no processo de construção do instrumento de avaliação.
As sessões foram gravadas em registro de áudio (com a autorização de todos os
participantes), a gravação permitiu a transcrição completa da discussão, ampliando a
quantidade de dados disponíveis para a análise. Além deste registro, foram consideradas as
anotações dos aspetos mais relevantes durante a discussão.
A princípio cada participante fez sua apresentação pessoal, em seguida, a
pesquisadora, como mediadora, explicou os objetivos da pesquisa e como estaria
desenvolvendo aquela reunião. Como mencionado ao relatar a metodologia, foi explicado
que o encontro do grupo focal será realizado a partir de questões (Quadro 32) lançadas para
o grupo e cada um emitirá sua opinião sobre o assunto para se chegar a um ponto comum
em que todos ou a maioria concordassem.
Foram nove questões abertas, cada uma transformou-se em uma categoria para
facilitar a análise. As categorias estão diretamente relacionadas às dimensões apontadas no
Instrumento de Avaliação da Qualidade da Educação Infantil – creche, nomeado também
338
de IAQEI – c. Apenas as categorias: Segurança; Materiais e equipamentos diferem, no
entanto, estão relacionadas com ambiente físico e Cuidados para uma vida saudável, esta
alteração foi para facilitar o detalhamento de cada grupo de perguntas apresentadas no
grupo focal. Outra dimensão também alterada foi Planos e Rotinas, pois facilitaria a
abrangência das discussões sendo nomeada como Planejamento, avaliação e registro.
Na sequência serão apresentados, Quadros para cada dimensão e os indicadores
construídos nos grupos focais de cada creche investigada, bem como as análises.
6.7.1 As Vozes de muitos olhares
Com base nos pressupostos que o conceito de qualidade é uma construção cultural
e, portanto, coletiva, assim como afirma Dalberg, Moss e Pence (2003, p. 172):
Qualidade nos serviços dedicados à primeira infância é um conceito construído,
subjetivo em sua natureza e baseado em valores, crenças e interesses, ao invés de
uma realidade objetiva e universal. O cuidado infantil de qualidade está, em
grande parte, no olhar do observador.
Esta investigação oferece oportunidades para que os envolvidos no atendimento às
crianças: pais, professores, monitores e dirigentes participem ativamente no processo de
avaliação da qualidade da creche em que estão envolvidos. Esta prática permite pensar nos
possíveis indicadores de qualidade, não apenas sob o ponto de vista de documentos oficiais
e ou teóricos, mas, sobretudo pelas próprias vozes dos participantes do processo que podem
ser corresponsáveis por esse segmento educacional.
Serão apresentados a seguir os indicadores da qualidade da Educação Infantil (0 a 3
anos) construídos pelas três creches investigadas para os propósitos dessa pesquisa, bem
como as análises que revelam as expectativas e concepções a respeito dessa temática
seguindo a ordem das categorias que se seguem:
1. Segurança;
2. Ambiente físico saudável;
339
3. Materiais e equipamentos;
4. Relação adulto-criança;
5. Relação criança-criança;
6. Relação com a família;
7. Experiências pedagógicas;
8. Qualificação do pessoal;
9. Planejamento, avaliação e registro.
340
6.6.1.1. CATEGORIA 1 - Segurança
1. O que uma creche precisa para oferecer segurança?
IND
ICA
DO
RE
S
CRECHE I CRECHE II CRECHE III
1. Espaços externos fechados para não
expor as crianças;
2. Limpeza da área externa – mato;
3. Piso externo emborrachado;
4. Câmeras internas;
5. Rondas da guarda municipal nos
horários de entrada de saída das crianças;
6. Produtos de limpeza não acessíveis às
crianças;
7. Acesso restrito em ambientes
perigosos, como cozinha, lavanderia.
8. Limpeza da Creche em balde com água
fechado ou com o mínimo de água
possível;
9. Sinalização em locais com degraus;
10. Acesso restrito a materiais
pedagógicos como tesoura para crianças
muito pequenas.
11. Acesso restrito à TV;
12. Fiações de aparelhos eletrônicos
embutidos;
13. Tomadas em altura não acessível às
crianças;
14. Mobiliários fixos (prateleiras e
armários);
1. A maneira como a criança será recebida
(atenção das pessoas que recepcionam);
2. Especialista presente na escola para
atender as crianças quando necessário
(enfermeira);
3. Educador (cuidador) sempre atento e
consciente da importância da segurança,
ficando atento ao que irá oferecer ás crianças
(brinquedos, mobiliários);
4. Ambiente organizado;
5. Produtos de limpeza fora do alcance das
crianças;
6. Instrumentos de limpeza (como vassouras,
rodos fora do alcance das crianças);
7. Não ter objetos que possam ser ingeridos
pelas crianças;
8. Adultos atentos às crianças em todos os
momentos;
9. Piso emborrachado;
10. Tomadas / Fiação – fora do alcance das
crianças;
11. Câmeras de filmagem;
12. Banheiros de tamanhos adequados para
cada faixa etária;
1. Atenção de todos os adultos
(professores e auxiliares) às crianças;
2. Mobiliários adequados;
3. Espaços adequados;
4. Manutenção do prédio interno e
externo constante;
5. Parque cercado;
6. Ter um zelador cotidianamente para
vigiar e cuidar da creche;
7. Dedetização periódica;
8. Salas de berçário sem berços;
9. Brinquedos constantemente periciados
e renovados (manutenção e/ou trocas);
10. Número de crianças / adultos coerente
com as necessidades;
11. Banheiros com sanitários com
tamanhos adequados;
12. Materiais de primeiros socorros
disponíveis e de fácil acesso aos
educadores e professores;
13. Local para trocar os bebês com
proteção.
341
CATEGORIA 1 - Segurança
1. O que uma creche precisa para oferecer segurança?
IND
ICA
DO
RE
S
CRECHE I CRECHE II CRECHE III
15. A entrega da criança no horário da
saída realizada na porta da respectiva sala
de aula do aluno;
16. Os pais devem ter uma identificação
para entrar;
17. Portas dos banheiros com abertura
para não haver incidentes;
18. Conservação constante dos brinquedos
de parque;
19. Brinquedos adequados (tamanho e
peso) por faixa etária;
20. Limitação do acesso na área de
recreação (parque);
21. Barra na parede no local do banho;
22. Profundidade da banheira adequada à
altura do adulto;
23. Piso do banheiro antiderrapante;
24. Pia para escovar os dentes e higiene
das mãos na altura das crianças;
25. Atenção e cuidados ao alimentar
(leite) o bebê;
26. Lugar de troca com visibilidade para o
restante das crianças;
27. Encosto nos bancos do refeitório.
13. Lavatórios com altura adequada;
14. Impedimento de acessórios de cabelos
para meninas (presilhas tipo piranha
pequena);
15. Recipiente próprio para colocar remédios
na bolsa;
16. Atenção na entrega da criança aos pais ou
responsáveis;
17. Talheres e pratos de tamanhos e material
adequados;
18. Prateleiras fixadas nas paredes;
19. Livros de ocorrência sobre incidentes para
ser preenchidos se for necessário;
20. Atenção do adulto constante, em especial
na hora do sono das crianças;
21. Ter um sistema de segurança para
entregar as crianças para o responsável na
saída da creche;
22. Número de adultos compatível ao número
de crianças.
342
Observa-se que as creches I e II apresentaram, em suas manifestações referentes
à construção dos indicadores, um maior detalhamento dos itens que consideram
sinalizadores para avaliar a segurança dos ambientes que as crianças frequentam
cotidianamente.
Por sua vez, a creche III manifestou um menor número de sinalizadores para
avaliação, os que foram apresentados são significativos, no entanto, não demonstram
preocupação com detalhamentos que são muito importantes para o bem estar das
crianças e dos adultos. Desta forma, fica muito claro nos indicadores de cada instituição
educacional que as especificidades de cada realidade transparecem nos indicadores,
como, por exemplo, a creche I expõe a necessidade da presença da guarda municipal e
a identificação dos pais na hora da saída, isto se deve pelo fato de a creche estar
localizada na área central da cidade sendo que há uma maior concentração de pessoas
ao redor da instituição. A creche III apresentou em seus indicadores a necessidade de
ter um zelador cotidianamente para vigiar e cuidar da mesma, isto porque a creche é
invadida constantemente aos finais de semana por usuários de droga e também já foram
roubadas diversas vezes. Outra especificidade apresentada por esta creche é a
solicitação de dedetização periódica, pois está instalada em uma área muito arborizada,
há até um bosque ao lado em que as crianças sempre utilizam para passear e brincar, em
época de muito calor ou chuvas, animais peçonhentos entram com maior intensidade
nas salas de aula e na cozinha.
A creche III realçou uma preocupação muito relevante que não apareceu nas
outras duas que foi: Número de crianças / adultos coerente com as necessidades.
Acredita-se que este indicador faça uma grande diferença neste quesito, pois quando o
adulto têm um número menor de crianças que necessitam de maiores cuidados, como
por exemplo, os bebês até 18 meses a segurança pode ser mais efetiva.
Dessa forma, claramente percebe-se que é grande a responsabilidade dos
educadores e demais profissionais que atuam com a criança pequena, no ambiente da
creche. Devem ser perpetrados esforços para que as crianças usufruam de materiais e
equipamentos em boas condições, com vista à sua segurança física, motivação e
desfrute da função de cada um dos materiais e equipamentos existentes no espaço com
total segurança.
343
Segundo Portugal (1998, p. 25) “educação, formação e cuidados estão
interligados‖ em todos os aspetos do desenvolvimento da criança, das experiências e das
atividades lúdicas, por isso, é importante que professores, educadores e dirigentes
tenham conhecimentos referentes ao desenvolvimento e comportamentos das crianças
menores de 3 anos de idade, para que sejam capazes de compreender e refletir sobre as
diferentes necessidades de cada uma. Acredita-se que para cuidar é necessário ter
responsabilidade de modo a contribuir para o desenvolvimento infantil.
Este indicador também requer por parte dos educadores criatividade, imaginação
e empenho para que as áreas, materiais e mobília sejam sempre atrativos e estejam em
boas condições.
A segurança, ou melhor, a preocupação da sociedade em relação a este item, não
é apenas um dado que aparece ao falarmos das famílias de camadas populares mais
baixas, mas, sobretudo uma preocupação do mundo atual em todas as classes, credos e
raças e que, portanto, nesta pesquisa, não poderia ser diferente. Por isso, foi apontada
com tantos indicadores e tão fortemente nas falas dos participantes deste estudo.
A avaliação da qualidade da Educação Infantil (0 a 3 anos) deve conferir atenção
especial à saúde e ao bem-estar das crianças. Tal fato implica que as creches ofereçam
ambientes com boas condições de segurança, salubridade, saneamento, higiene,
luminosidade, ventilação e temperatura, de acordo com a diversidade climática regional,
além de levar em conta que os espaços internos e externos sejam organizados de modo a
atender às diferentes funções da unidade creche.
Os indicadores mais frequentes foram: Atenção de todos os adultos (professores
e auxiliares) às crianças e Mobiliários e sanitários com tamanhos adequados às crianças.
As creches destacaram com grande preocupação a questão da segurança e proteção das
instalações.
A partir dos modelos de avaliação da qualidade da educação infantil estudado, é
possível constatar que nesta dimensão as Creches poderiam acrescentar o indicador: -
sistema de emergência contra incêndios.
344
6.6.1.2. CATEGORIA 2 - AMBIENTE FÍSICO SAUDÁVEL
2. O que uma creche precisa para ter um ambiente físico saudável?
IND
ICA
DO
RE
S
CRECHE I CRECHE II CRECHE III
1. Paredes bem pintadas;
2. Limpeza em todos os ambientes em
vários momentos do dia;
3. Mobílias conservadas;
4. Vasos com plantas em lugares
estratégicos sem perigos às crianças;
5. Salas ventiladas;
6. Banheiros amplos;
7. Salas amplas, ventiladas, iluminadas e
bem equipadas.
1. Carteiras confortáveis;
2. Espaços de salas de aula amplos;
3. Espaço para recreação coberto (pátio);
4. Sala de movimento (atividades de expressão
corporal e outras atividades corporais);
5. Sala de vídeo;
6. Solário no berçário;
7. Espaço no berçário restrito para o lactário;
8. Lactário equipado com pia, fogão, geladeira,
micro-ondas e esterilizador;
9. Espaço no berçário restrito para o trocador
com visores nas divisões dos cômodos de forma
que o cuidador possa estar em um ambiente e
monitorar as demais crianças;
10. Banheiros em quantidade adequada para o
número de crianças;
11. Banheiros anexos em cada sala de aula;
12. Banheiro separado do lugar de tomar banho;
13. Sala de repouso para uso exclusivo das
crianças;
14. Espaços para organização de materiais
pedagógicos;
15. Almoxarifado organizado e acessível;
17. Acolhimento alegre e festivo;
18. Ambiente ventilado;
1. Relacionamentos afetivos;
2. Pessoas sorrindo;
3. Tom de voz moderado;
4. Crianças sempre limpas;
5. Áreas verdes com manutenção
constante;
6. Salas de aula com paredes pintadas
com cores claras;
7. Materiais que as crianças vão utilizar
acessíveis à elas;
8. Bebe conforto no berçário;
9. Almofadas;
10. Tatames em todas as salas;
11. Lençóis e travesseiros individuais e
trocados diariamente;
12. Brinquedos adequados a cada faixa
etária.
345
CATEGORIA 2 - AMBIENTE FÍSICO SAUDÁVEL
2. O que uma creche precisa para ter um ambiente físico saudável?
IND
ICA
DO
RE
S
CRECHE I CRECHE II CRECHE III
19. Ambientes limpos continuamente;
20. Refeições preparadas com zelo e que sejam
nutritivas.
21. Atender às necessidades das crianças que
demandam de alguma alimentação específica;
22. Toalha descartável utilizada para enxugar a
mão;
23. Utilizar álcool gel após a troca de fraldas;
24. Uso de luvas descartáveis nos momentos de
troca;
25. Uso de ‗pro pé‘ nos berçários;
26. Cada criança deve ter seu próprio lençol e
quando retirado, deverá ser guardado em um
saco protetor;
27. Forrar o trocador com papel descartável a
cada troca de fraldas;
28. Comunicação com as crianças em tom de
voz baixo e tranquilo;
29. Tempo adequado para criança dormir;
30. Ambiente isento de tensão e coerção;
31. Banheiros em constante manutenção;
346
CATEGORIA 2 - AMBIENTE FÍSICO SAUDÁVEL
2. O que uma creche precisa para ter um ambiente físico saudável?
IND
ICA
DO
RE
S
CRECHE I CRECHE II CRECHE III
32. Tanque de areia protegido (com tela);
33. Limpeza periódica dos brinquedos que as
crianças manipulam;
34. Local para repouso tranquilo, arejado e
limpo;
35. Cada criança deve ter seu próprio material de
higiene pessoal (sabonete, shampoo, bucha,
toalha);
36. Paredes pintadas com cores suaves e limpas;
37. Decoração da escola com cores suaves;
38. Procurar sempre o bem estar das crianças e
dos adultos.
347
O ambiente físico por si só revela o modo como a infância é valorizada, o modo
como o desenvolvimento dos bebês e crianças são estimulados. A organização do
ambiente físico reflete a concepção que os profissionais da educação que atuam em
creches têm do processo de construção do conhecimento e de infância.
Educar e cuidar de crianças é um processo complexo que envolve diferentes
fazeres, gestos, precauções, atenção e olhares. As creches devem planejar e oferecer
para os bebês e crianças pequenas as melhores condições de vivência, de modo que eles
possam satisfazer suas diferentes necessidades físicas e psicológicas e assim possam ter
uma vida saudável.
É possível verificar a significativa diferença entre os indicadores apontados
nesta categoria entre as creches investigadas. A creche II deu relevância muito maior a
este indicador que as creches I e III.
Os indicadores que os participantes das creches II e III consideraram as
relações afetivas positivas, como por exemplo, o modo como o adulto se relaciona com
as crianças. Parece que nesse caso, os participantes confundiram o ambiente físico
saudável com o ambiente sócio afetivo, uma vez que o modo em que acontece as
relações entre professor e aluno são referentes ao ambiente sócio afetivo da sala de aula
que deve ser um espaço em que relações de confiança, cooperativas e de respeito mútuo
devem estar presentes.
As creches I e III privilegiaram os espaços verdes para que as crianças tenham
contato e oportunidades e possam ampliar suas experiências no mundo da natureza. O
espaço externo das creches precisam ter áreas amplas, verdes e adequadas para as
necessidades de movimentação das mesmas, com facilidade de acesso e equipamentos
de recreação que estimulam o desenvolvimento da motricidade. É um ambiente
privilegiado para que as essas possam observar as transformações da natureza, as
mudanças climáticas. Além disso, esse ambiente deve oferecer oportunidades para
manipulação, descobertas e experimentações como, por exemplo, a mistura de água com
areia. O ambiente externo propicia ricas situações de interação social e de cooperação,
razão pela qual os ambientes externos são considerados como prolongamentos das
atividades do interior.
348
Os integrantes do grupo focal da creche II mostraram-se bem centrados em
enfatizar a relação e a amplitude da organização dos espaços com a sua salubridade.
Apenas o grupo da creche III mencionou o indicador: Materiais acessíveis aos
alunos, que revela a preocupação do grupo com o desenvolvimento da autonomia das
crianças. Este indicador é de fundamental importância para que as crianças desde muito
pequenas possam ter possibilidades de atuar livremente, isto pela facilidade do acesso
aos materiais ricos em possibilidades de descobertas, como, por exemplo, brinquedos,
areia, livros, tocos de madeira, garrafas pets coloridas, entre outros. Este item é também
contemplado no documento Subsídio para Credenciamento e Funcionamento das
Instituições de Educação Infantil - (SCFIEI) organizado pelo MEC destaca que os
ambientes internos devem ter mobiliários, equipamentos e espaços adequados para
possibilitar às crianças movimentarem-se com independência, segurança e autonomia:
Favorecer o processo de desenvolvimento a partir de sua interação com o
meio físico; a organização do layout deve permitir que as crianças possam se
ver mutuamente e possam estar sob o olhar dos educadores; quadros e painéis
devem ser colocados ―à altura das crianças (um metro e meio do chão); o que
lhes dá autonomia para pregar seus trabalhos ou se expressar personalizando
o ambiente: as crianças menores, buscam organizar-se em ambientes
pequenos ou em ambientes cheios de recantos menores, buscando segurança
aconchego e conforto pois necessitam de delimitação mais clara dos espaços
evitando o risco de se desorganizarem quando este é muito amplo e disperso.
(BRASIL, 2006a, p. 30).
Os participantes dos grupos focais das creches I e II apontaram indicadores
relacionados com a arquitetura das instituições educacionais para a avaliação da
qualidade, no entanto, isso dificulta muito, pois a estrutura física de um prédio, neste
caso, depende da intervenção da secretaria de obras da prefeitura juntamente com a
secretaria de educação para atender às necessidades. Infelizmente, de modo geral, os
engenheiros e arquitetos, não consultam os que estão diretamente envolvidos na
utilização daquele espaço, quem realmente têm conhecimentos específicos do público e
dos reais imperativos de sua função e acabam ficando à mercê de vontades políticas.
Apenas o grupo da creche II levantou indicadores referentes à alimentação
saudável. Vale ressaltar que a infância é o período em que os hábitos alimentares estão
sendo formados é a fase conhecida pelo intenso crescimento e desenvolvimento, por
isso, a alimentação saudável em creches implica na integração de ações em questões
fundamentais; ações de estímulo à valorização de hábitos alimentares saudáveis, por
meio de atividades educativas que informem e motivem escolhas individuais; ações de
349
apoio à adoção de práticas saudáveis por maio da oferta de uma alimentação
nutricionalmente equilibrada no ambiente escolar e ações de proteção à alimentação
saudável, por meio de medidas que evitem a exposição da comunidade escolar a práticas
alimentares inadequadas.
350
6.6.1.3. CATEGORIA 3 - MATERIAIS E EQUIPAMENTOS
3. O que a creche precisa para ter um ambiente rico em materiais e equipamentos?
IND
ICA
DO
RE
S
CRECHE I CRECHE II CRECHE III
1. Parque em bom estado de conservação;
2. Brinquedos de qualidade em
quantidade coerente como número de
crianças;
3. Livros coerentes à faixa etária e de
qualidade (exemplo: berçário ter livros -
brinquedos e sensoriais);
4. Materiais para psicomotricidade;
5. Materiais para jogo simbólico;
6. TV, DVD;
7. Aparelho de som para todas as salas;
8. Jogos adequados para diferentes faixas
etárias;
9. Brinquedos construídos com materiais
alternativos (sucata).
1. Brinquedos em quantidade adequada para
o número de crianças;
2. Livros adequados à faixa etária;
3. Biblioteca com rico acervo literário para
facilitar o atendimento de crianças de várias
faixas etárias;
4. Equipamentos e utensílios (industrial)
diversos para cozinha;
5. Equipamentos adequados (industrial) para
lavanderia e limpeza da creche;
6. Livros infantis;
7. Cadeiras e mesas;
8. Espelhos na sala de aula;
9. Barra de ferro em frente ao espelho nas
salas do berçário;
10. Parque adequado à idade das crianças;
11. Bolas, cordas;
12. Brinquedos confeccionados com materiais
alternativos;
13. Toca música (CD);
14. Fotos das crianças e seus familiares em
exposição.
1. Parque adequado as várias faixas
etárias;
2. Mobiliários adequados para cada faixa
etária;
3. Tatames nas salas de aula e nos
parques do berçário;
4. Prateleiras baixas para sala de aula e
fixadas nas paredes;
5. Brinquedos pedagógicos em
quantidades coerentes com o número de
crianças;
6. Rádio /CD;
7. Rolos de espuma para o berçário
(estimulação);
8. Livros de banho;
9. Baldes e outros brinquedos de areias;
10. Brinquedos construídos com materiais
alternativos (sucatas);
11. Caixas organizadoras transparentes;
12. Máquina de xerox;
13. Computador com acesso internet para
os professores utilizarem;
14. Câmera filmadora;
15. Máquina digital;
16. Livros didáticos para os professores.
351
CATEGORIA 3 - MATERIAIS E EQUIPAMENTOS
3. O que a creche precisa para ter um ambiente rico em materiais e equipamentos?
IND
ICA
DO
RE
S
CRECHE I CRECHE II CRECHE III
15. Materiais para estimulação motora;
16. Aparelhos para psicomotricidade;
17. Tinta, cola, giz, tesoura, papéis
18. TV, DVD, Computador para às crianças;
19. Computador para os professores com
acesso à internet;
20. Todas as salas com ventilador ou ar
condicionado;
21. Computadores a disposição das crianças.
352
Uma instituição pode ter um ambiente físico adequado e bons materiais
pedagógicos, todavia, se não houver profissionais capazes de fazer deste um ambiente
acolhedor e criar situações pedagógicas adequadas para o uso do espaço e dos materiais,
os mesmos terão pouca utilidade.
As respostas dos participantes dos grupos focais sugerem que os profissionais
que atuam junto às crianças observem cuidadosamente como elas interagem com tudo
aquilo que encontram no ambiente, para que possam organizá-los, equipá-los e
enriquecê-los e ajudar a transformá-lo em ambientes ricos em possibilidades para o
desenvolvimento infantil. Assim, é necessário que os materiais estejam classificados em
caixas transparentes para que as crianças possam saber o conteúdo de cada caixa, para
facilitar que as crianças os reconheçam e os aproveitem o máximo possível.
Os grupos das creches I, II e III manifestaram preocupação com a coerência da
quantidade de brinquedos e equipamentos com o número de crianças. Essa preocupação
se dá em relação a fase do desenvolvimento em que as crianças se encontram, o
egocentrismo exacerbado dificulta que elas consigam cooperar com as demais.
Outro item que foi privilegiado pelos três grupos, em maior ou menor número de
indicadores é a importância da variedade dos brinquedos e materiais que ficam
disponíveis às crianças o que se observa principalmente, por exemplo, nas salas de
berçário, em que os materiais e as atividades propostas devem promover a construção e
coordenação de esquemas ação e que possibilitam a construção do conhecimento físico,
ou seja, abstrair as propriedades dos objetos (textura, sabor, odor, etc.).
Considerando o desenvolvimento da capacidade simbólica, por volta do início do
segundo ano de vida, vale ressaltar a importância de oferecer materiais que envolvem o
faz de conta, como afirmam Mantovani de Assis e Assis (2002, p. 79):
Na criança de 2 a 6-7 anos o jogo simbólico é uma atividade espontânea em
que seu próprio corpo ou os objetos são usados como símbolo para
representar pessoas, animais ou outros objetos. Se o ambiente da instituição
de educação infantil for livre de tensões e de pressões, se a criança tiver
oportunidade de escolher as atividades que quer realizar, ela se sentirá livre
para entregar-se ao jogo simbólico intensamente. Uma arca ou baú contendo
roupas velhas, a casinha de bonecas, ferramentas, instrumentos e utensílios
de brinquedo e muitas vezes um simples cabo de vassoura ou caixas vazias,
são suficientes para desencadear o simbolismo lúdico, tão importante para ela
nesta fase de desenvolvimento.
353
Há duas ocorrências distintas apresentadas pelos componentes da creche II por ser
independentes ao atendimento direto às crianças, que são os indicadores: Equipamentos
e utensílios (industrial) diversos para cozinha, Equipamentos adequados (industrial)
para lavanderia e limpeza da creche; isto denota um reconhecimento da influência de
tudo o que acontece na creche reflete sim no bem estar das crianças e dos adultos, caso
falte panelas adequadas ou mesmo um fogão eficiente vai refletir nas refeições
oferecidas.
Os materiais eletrônicos como computador com acesso à internet, máquina
fotográfica, filmadora, aparelho de DVD, entre outros apareceram nos indicadores
construídos pelas creches I, II e III são materiais úteis tanto para enriquecer as
possibilidades de planejamento dos professores quanto de entretenimento das crianças,
mas também para ser instrumento para documentações do desenvolvimento infantil.
Constituintes das creches I, II e III contemplaram o brincar na construção dos
indicadores, logo, isso denota que há uma consciência da relevância em apresentar às
crianças um repertório de experiências lúdicas, atividades, materiais, e permitir que elas
criativamente interajam com o que for apresentado. O tempo da criança na creche deve
ser lúdico, portanto prazeroso. Para isso, o brincar precisa ser permeado de significado e
de atividade criadora por parte de quem brinca. Os materiais precisam ser variados e de
natureza diversa (comerciais, alternativos, naturais e outros) para permitir às crianças
concretizarem as suas ideias e projetos bem como as suas intenções de brincadeira e
jogo.
Verifica-se que nesta dimensão apesar de o grupo focal da creche II ter
relacionado um maior número de indicadores, os outros grupos focais pertencentes as
duas creches respectivamente apontaram tópicos importantes para oferecer um
atendimento de qualidade.
354
6.6.1.4. CATEGORIA 4 - RELAÇÃO ADULTO-CRIANÇA
4. Quais os indicadores que evidenciam o tipo de relação adulto-criança?
IND
ICA
DO
RE
S
CRECHE I CRECHE II CRECHE III
1. O acolhimento positivo tanto com a mãe
tanto com a criança,
2. Relação de carinho expressa pelo toque,
tom de voz;
3. Postura de respeito mútuo;
4. Vínculo afetivo demonstrado em simples
atitudes, como pegar no colo, dar um
abraço, olhar a criança com carinho;
5. A criança sente-se amada e valorizada;
6. Expressar os sentimentos com
espontaneidade e respeito (adulto e
criança);
7. Não privilegiar uma criança;
8. Tom de voz agradável e encorajador.
1. Comprometimento com as necessidades
das famílias;
2. Adultos sensíveis às necessidades
emocionais das crianças;
3. Nos momentos de troca estabelece uma
comunicação delicada e afetuosa;
4. Respeito às individualidades;
5. Carinhos e palavras ternas;
6. Favorecer as interações entre as
crianças;
7. Comunicação positiva;
8. Chamar a criança pelo nome;
9. Ouvir a criança;
10. Motivar as crianças com mais
dificuldades;
11. Adultos fazem a mediação dos conflitos.
1. Adultos carinhosos e afetuosos;
2. Relação baseada no respeito mútuo;
3. Pessoas educadas;
4. Paciência;
5. Saber ouvir as crianças;
6. Criar um clima amistoso nas turmas;
7. Adultos serem exemplos às crianças;
8. Adultos criativos;
9. Adultos abaixam ao falar com as
crianças.
355
Essa dimensão diz respeito aos tipos de interação entre os adultos e as crianças.
Nas instituições educativas com atendimento de 0 a 3 anos em que adultos e crianças
demonstram altos níveis de comprometimento e envolvimento, desenvolve-se um
processo de interações educativas positivas em que adultos e crianças se reconhecem
mutuamente e respondem às expectativas e ações uns dos outros.
Em um ambiente de aprendizagem ativa, o papel do adulto caracteriza-se por
uma atitude de constante apoio às experiências e descobertas, na formação de relações
autênticas, no apoio as brincadeiras e jogos até mesmo nas situações de resolução de
conflitos interpessoais (HOHMANN; POST, 2011).
A importância das interações foi evidenciada pelos grupos das creches I, II e
III, especialmente quanto à relação estabelecida entre adultos e crianças com
sensibilidade, alegria, carinho e afetividade. O adulto retém sempre a responsabilidade
na interação, ele é quem encoraja e permite à criança participar e tomar iniciativas para
enfrentar os desafios que lhe são propostos. O adulto precisa ficar atento em promover
sentimentos de bem estar à criança, para isso, é necessário empatia, sensibilidade e
respeito.
O indicador: Nos momentos de trocas estabelece uma comunicação delicada e
afetuosa; apontado pela creche II remete para a observação que o trabalho com crianças
pequenas necessita de características muito específicas, como a valorização do toque, do
olhar, das sensações, do carinho, do colo, do aconchego, nos cuidados com a higiene na
troca de fraldas e no banho, pois, nestes momentos, como no caso durante as trocas de
fraldas, é importante que o professor ou educador converse com o pequeno, olhe em
seus olhos, toque-o levemente quando necessário mudar sua posição, este é um
momento específico, não pode ser feito a ―toque de caixa‖ em instantes ou mesmo por
qualquer adulto. Estas especificidades são limitadas muitas vezes pelo número elevado
de crianças por adultos em cada turma.
356
6.6.1.5. CATEGORIA 5 - RELAÇÃO CRIANÇA-CRIANÇA
5. Quais os indicadores que evidenciam o tipo de relação criança-criança?
IND
ICA
DO
RE
S
CRECHE I CRECHE II CRECHE III
1. Relação de respeito;
2. Brinquem com todos;
3. Conviver com a diferença;
4. Compartilhar brinquedos;
5. Solidariedade.
1. Brinquem juntas;
2. As crianças expressam seus sentimentos;
3. Não permitimos qualquer agressão
física, como por exemplo, as mordidas.
1. Incentivar autonomia entre as crianças;
2. Incentivar a solidariedade;
3. Regras combinadas;
4. Socialização;
5. Amizade;
6. Respeito mútuo;
7. Conflitos mediados pelos adultos;
8. Adultos que conseguem diferenciar birras
de outros sentimentos;
9. Sentir-se útil para com os amigos.
357
Pensar a Educação Infantil com atendimento de 0 a 3 anos é necessário sempre
definir seu papel, sua função, suas ações e intenções. Como afirma Dahlberg, Moss e
Pencer (2003, p. 87), ―a questão do seu papel e do seu propósito, não são auto-
evidentes. Elas são o que nós, como uma comunidade de agentes humanos, fazemos
dela‖. Tal fato configura-se nas relações interpessoais, nas vivências e na atenção
organizadas por profissionais dentro deste ambiente. Nesse contexto, é importante que
educadores e professores estejam preparados para desenvolver uma prática de
qualidade.
O grupo focal da creche II apresentou indicadores que remete a uma
interpretação de relações autoritárias, que a criança é submetida apenas a ordens,
reforçando assim sua heteronomia. Perspectiva diferente apresentaram os grupos focais
das creches I e III evidenciando uma preocupação que as crianças vivenciem contextos
educativos de elevada qualidade para que possam desenvolver sentimentos mais
elevados de autoestima, bem-estar, segurança, auto eficácia, aspirações mais elevadas,
reunindo, assim, um conjunto de fatores indispensáveis ao desenvolvimento e a
aprendizagem.
Pode-se observar que as crianças mesmo as muito pequenas interagem e
expressam seus desejos e necessidades de diversas maneiras, ou seja, mesmo que não
dominem a linguagem oral, esta utiliza outras formas de comunicação com os adultos
e/ou com os seus pares.
Sobre esse aspecto Grana (2011, p. 189) argumenta:
Os bebês e as crianças pequenas são extremamente sensíveis e atentos aos
tons de voz, gestos e expressões faciais, bem como ao modo como são
tocados; portanto, é fundamental para a construção de laços afetivos que o
educador mantenha uma postura adequada ao interagir com os pequenos,
apresentando um tom de voz moderado, que transmita tranquilidade e
segurança, que evite gestos bruscos com os quais as crianças possam se
assustar, que, no momento de banhá-las, vesti-las ou trocá-las olhe em seus
olhos, converse com elas, explicando-lhes tudo o que será feito, tocando-as
com delicadeza, acarinhando-as e aconchegando-as sempre que precisarem.
Nesse sentido, a creche surge como um lugar onde é possível partilhar vidas e
relações interpessoais. Portanto, o professor deve favorecer e valorizar as relações de
amizade entre as crianças, e quando houver conflitos, atuar como mediador, para que
consigam lidar com estratégias de negociação da melhor maneira possível.
358
6.6.1.6. CATEGORIA 6 - RELAÇÃO COM A FAMÍLIA
6. Quais os indicadores que evidenciam o tipo de relação da creche com a família?
IND
ICA
DO
RE
S
CRECHE I CRECHE II CRECHE III
1. Relação de respeito;
2. Trocas de experiências vivenciadas
pela criança na creche (por exemplo:
músicas);
3. Comunicação clara e eficiente pela
agenda sobre o que aconteceu com a
criança;
4. Reuniões com temáticas diversas;
5. Os pais sentem-se acolhidos,
parceiros da Creche;
6. Participação dos pais na APM e na
construção do PPP;
7. Cartazes e painéis de comunicação
das atividades desenvolvidas na Creche
pelo filho;
8. Educadores e professores
pacienciosos com a família
principalmente no período de adaptação
da criança na creche;
9. Relatórios de avaliação com
informações sobre o que a Creche fez
para auxiliar o desenvolvimento da
criança na creche;
10. Conscientização dos pais que todos
os profissionais que trabalham
diretamente com as crianças são
capacitados para educar as crianças e
devem ser respeitados (sem distinção
entre as funções – ADI ou professor);
1. Pais participam de reuniões
administrativas (regras, regimentos, rotina da
escola);
2. Pais participam de reuniões pedagógicas
(temas relacionados com situações de sala de
aula);
3. Bilhetes (recados gerais e individuais);
4. Reuniões individuais quando há
necessidade;
5. Reuniões individuais em períodos
bimestrais ou semestrais sobre o
desenvolvimento infantil;
6. Os pais das crianças do berçário (até 12
meses) recebem registros diários (resumo
geral) sobre como foi o dia da criança na
creche (alimentação, sono e interações);
7. Participação efetiva dos pais no Projeto
Político Pedagógico;
8. Participação dos pais na APM;
9. Reuniões com temas diversos
(comportamento, saúde, artesanato);
10. Encontros informais (almoço, jantar);
11. Familiares conscientes e que valorizam o
trabalho da creche.
1. Participação ativa dos pais;
2. Pais interessados pelo que acontece na
escola;
3. Pais que confiam nos profissionais da
creche;
4. Pais entram e conversam dentro da
escola quando há problemas ou dúvidas;
5. Pais que valorizam os profissionais da
escola;
6. Pais cumprem seus papéis;
7. Participação ativa dos pais em reuniões;
8. Pais cumprem horários de entrada e
saída;
9. Pais participam ativamente dos eventos
tanto da organização como dos momentos
das festas;
10. Reuniões com temáticas que auxiliem os
pais a compreender a importância da creche
no desenvolvimento infantil;
11. Reuniões com diversas temáticas de
interesse e necessidades das famílias;
12. Comunicação positiva entre pais e
escola;
13. Papéis e responsabilidades esclarecidos
entre escola e família.
359
CATEGORIA 6 - RELAÇÃO COM A FAMÍLIA
6. Quais os indicadores que evidenciam o tipo de relação da creche com a família?
IND
ICA
DO
RE
S
CRECHE I CRECHE II CRECHE III
11. Reuniões para conscientizar a todos
os pais do trabalho pedagógico (cuidar e
educar) desenvolvido na creche;
12. Pais entram na sala para buscar o
filho;
13. Festa com os pais (situações
informais como, por exemplo – jantar)
360
É inegável a importância da parceria estreita, cordial e coerente entre a creche e
as famílias. Essa relação pode oferecer uma ampla contribuição para as instituições de
Educação Infantil (0 a 3 anos) e, consequentemente, para o desenvolvimento infantil e
da melhoria da educação ofertada para esta faixa etária.
Sobre isso, Bassedas, Huguet e Solé (2009, p. 283), enfatizam que:
Quando se faz referência à necessidade de que exista uma relação construtiva
e estável entre a escola e a família, relevamos a convivência, primeiro do
conhecimento mútuo e segundo, da possibilidade de compartilhar critérios
educativos capazes de eliminar essas discrepâncias que podem ser
prejudiciais à criança. Precisa ficar claro que a escola e a família são
contextos diferentes e que, nesses contextos, as crianças encontrarão coisas,
pessoas e relações diversas; nisso consiste em parte a sua riqueza e
possibilidade.
Por isso, considera-se o contato entre a família e a creche uma questão
primordial, que convém valorizar para facilitar a concretização dos objetivos
educacionais como, por exemplo, conhecer a criança, diálogos para ter informações de
critérios educativos comuns em um clima de respeito e valorização mútua.
Efetivamente os participantes dos grupos focais valorizam a participação das
famílias na creche, foram feitas várias propostas de indicadores pertinentes e relevantes
para a efetivação desta parceria. Vale ressaltar dois indicadores que foram destacados
pelos integrantes da amostra das creches I, II e III referentes às reuniões com as
famílias sobre o trabalho pedagógico que desenvolvem e reuniões para compartilhar o
desenvolvimento das crianças em um determinado período. As reuniões com as famílias
podem ser um importante veículo para aproximação entre pais e a equipe pedagógica da
instituição, para que conheçam e valorizem as atividades e intervenções que são
realizadas junto aos seus filhos. Há um conceito na sociedade que nas escolas de
Educação Infantil, as crianças vão apenas para brincar, ―e que não é preciso saber muito
para que joguem, brinquem, para trocá-las ou para dar-lhes o que comer, é preciso ter
paciência, boa disposição e gostar de crianças‖ (BASSEDAS; HUGUET; SOLÉ, 2009,
p. 290). Com certeza essas características são relevantes na atuação dos profissionais
que atuam junto a crianças muito pequenas, no entanto, pelo contrário, esta faixa etária
requer muito conhecimento e formação qualificada sobre o desenvolvimento infantil
para que as decisões que serão tomadas sejam profícuas para contribuir nos avanços
cognitivos, afetivos, físicos e sociais dos bebês e das crianças pequenas. Assim como
afirmam Goldschmied e Jackson (2006, p. 34):
361
Existe um trabalho ativo junto aos pais, para que estes se envolvam no
trabalho das creches e esse envolvimento não é visto como uma maneira de
permitir aos pais ter mais influência sobre a forma como seu filho é cuidado
na creche, mas sim como meio de mudar o jeito como se comportam em
relação à criança, ―melhorando suas habilidades parentais‖.
Os contatos diários entre os educadores da creche e os pais, favorecem o bom
relacionamento com as famílias. Várias instituições educacionais têm se esforçado para
abrir uma maior participação das mesmas no seu dia-a-dia reconhecendo assim, que a
creche é um dos contextos de desenvolvimento da criança, compartilhando com a
família a educação da mesma.
Um nível de colaboração que foi fomentado pelas equipes das creches I e II é a
participação dos pais na construção do Projeto Político Pedagógico – PPP - da creche
que deve ter como princípio a construção e debate coletivos envolvendo o maior
número possível de participantes que estão diretas ou indiretamente ligados à instituição
educacional. O PPP é o eixo norteador das ações educativas no ambiente da creche.
Esse documento apresenta uma visão macro do que a instituição educacional pretende
ou idealiza fazer, seus objetivos, metas e estratégias, tanto no que se refere às atividades
pedagógicas, como às funções administrativas. O desafio da construção deste
documento é antes de tudo, um trabalho que exige comprometimento de todos os
envolvidos no processo educativo, por isso, a participação da família neste processo é
essencial para que se reconheçam nele, compreendam um pouco mais o papel da creche
para a educação de seus filhos e para validá-lo como tal. O grupo da creche III não
apontou esse quesito importante para a construção dos indicadores para avaliação da
qualidade da creche em que estão envolvidos.
Apenas os componentes da amostra da creche I reconheceram a parceria com a
família no período de adaptação da criança na creche, pois o início desta relação que
poderá ser construído vínculos de confiança dos pais para com os profissionais que
trabalham nestas instituições educativas. Nesse contexto, é importante garantir que a
criança e a família se sintam bem recebidas na creche. Essa situação é fundamental para
garantir um atendimento de qualidade, capaz de possibilitar boas condições para um
desenvolvimento integral e saudável da criança, particularmente do ponto de vista
social.
362
6.6.1.7. CATEGORIA 7 - EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS
7. Quais os indicadores que evidenciam que as experiências pedagógicas sejam produtivas?
IND
ICA
DO
RE
S
CRECHE I CRECHE II CRECHE III
1. Desenvolve autonomia;
2. Experiências com materiais diversos
(guache, papéis de texturas diferentes,
entre outros);
3. Atividades adequadas pela faixa
etária;
4. Trabalho com músicas;
5. Participação em projetos de trabalho
(pesquisas);
6. Situações em que as crianças irão
descobrir o mundo;
7. Atividades com literatura, mesmo com
os bebes;
8. Experiências com o jogo simbólico;
9. Não evidenciar atividades de
linguagem escrita;
10. Atividades psicomotoras.
1. A criança demonstra que se
desenvolveu;
2. Atividades diversificadas planejadas
desde o berçário;
3. Intencionalidade pedagógica em toda a
rotina (banho, refeições, cuidados, higiene);
4. Diferentes brincadeiras com diversos
materiais;
5. Com mesmo material exploram
diferentes objetivos;
6. Brincadeiras em espaços livres de
correr, pular, saltar;
7. Os bebes e as crianças pequenas
participam de atividades com fotos;
8. As crianças brincam na areia e têm
contato com áreas verdes;
9. Trocas de experiências pedagógicas
entre os profissionais das instituições
(creches);
10. As crianças cuidam de hortas e jardins;
1. Acolhimento;
2. Hora da roda;
3. Planejamento (rotina) realizado junto
com as crianças;
4. Ambiente organizado para realização de
atividades sem interrupções;
5. Atividades diversificadas;
6. Rotina bem organizada;
7. Atividades que contemplem todos os
aspectos do desenvolvimento;
8. Atividades planejadas;
9. Cartazes de rotinas fixados na parede na
altura das crianças;
10. Professor planeja atividades coerentes
com as necessidades das crianças;
11. Intervenções e estimulações planejadas.
363
CATEGORIA 7 - EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS
8. Quais os indicadores que evidenciam que as experiências pedagógicas sejam produtivas?
IND
ICA
DO
RE
S
CRECHE I CRECHE II CRECHE III
11. Atividades com música;
12. Contação de histórias com diferentes
recursos e estratégias;
13. Vivencias com tintas, lápis de cor, giz
de cera, com ou sem interferência do
adulto;
14. Construções com sucatas;
15. Experiências físicas e lógico-
matemáticas;
16. Trabalho com projetos e com
conhecimento social permitindo que as
crianças descubram os novos
conhecimentos.
364
A qualidade dos contextos educativos destinados aos três primeiros anos de vida
consiste em promover condições adequadas para a promoção ao desenvolvimento
harmonioso da criança em seus aspectos físico, social, afetivo e cognitivo.
Os indicadores apontados pelas equipes dos grupos focais das creches I, II e III
correspondem a todas as experiências pedagógicas educativas que devem ser
organizadas em um ambiente facilitador para o desenvolvimento, para a aprendizagem
das crianças, a fim de proporcionar experiências diversas que lhes ofereçam
oportunidades para explorar, avaliar, experimentar, transformar, criar, brincar e para
encontrar respostas para suas curiosidades e interesses. Nessa perspectiva, a criança é
entendida como sujeito ativo no processo pedagógico, sendo capaz de construir
autonomamente significados por meio da experiência diária da vida quotidiana. Isto vale
também para os berçários, os bebês podem aprimorar e transformar seus esquemas de
agarrar, soltar, rasgar, amassar, sacudir, derrubar e tantos outros, ao mesmo tempo que
buscam soluções a problemas como sobrepor e encaixar objetos, abrir e fechar e
observar como eles reagem ―envolvendo-se em uma exploração cada vez mais
minuciosamente regulada‖ (KAMII; DEVRIES, 1991, p. 39).
As atividades organizadas nessa fase do desenvolvimento devem oferecer
oportunidades desafiadoras, que favoreça muitas descobertas, mas sem o
estabelecimento de direcionamento escolarizado e sistematizado que acabam por limitar
a espontaneidade e alegria das crianças.
Apenas os grupos das creches I e II apontaram indicadores que remetem ações
educativas com objetivos específicos ao desenvolvimento da função simbólica, por
exemplo, o faz de conta, músicas e o trabalho com a literatura infantil. Evidencia-se,
neste caso, a relevância de promover situações em que a função simbólica seja
explorada, para que as crianças tenham possibilidades de expressarem suas ideias,
sentimentos, desejos e emoções em momentos que elas possam ouvir músicas, histórias,
cantar, e inventar sons e ritmos.
Há uma sincronia entre os todos os grupos no que se refere aos indicadores que
valorizam a adequação de atividades que consideram o nível de desenvolvimento da
criança para que o interesse delas seja sempre suscitado. Multiplicam-se neste período a
necessidade de propor atividades exploratórias, como por exemplo, brincar com bolas
365
de tamanhos e pesos diferentes, fazer bolinhas de sabão e fazer ―massa de modelagem‖
com água e trigo ou de papel picado e esmagado.
As equipes das creches II e III expuseram indicadores da avaliação da
qualidade da Educação Infantil em que o planejamento de experiências educativas
contemple momentos de trabalho orientado, momentos de escolhas (diversificadas) e
momentos livres. Assim como ressaltam a importância de criar um ambiente em que as
crianças possam escolher, colocar em prática a ação desejada, compartilhar, refletir e
agir com autonomia; estes são alguns dos propósitos das vivências de instituições que
valorizam as iniciativas das crianças, suas curiosidades e a vontade de explorar para
favorecer a formação de sujeitos ativos no mundo em que vivem.
Os representantes das creches I e II destacaram o indicador quanto às ações
educativas que envolvem a participação das crianças em projetos de trabalho. A
metodologia do trabalho com projetos oferece oportunidades da criança mesmo
pequena (a partir de 2 anos), investigar temas significantes, eventos e fenômenos. Tal
fato permite que se conclua que a prioridade não é o conteúdo, mas sim, como será
desenvolvido e discutido pelo grupo. Desse modo, a cooperação, a autonomia e o
desenvolvimento cognitivo são aspectos de um processo único.
O envolvimento ativo do aluno no processo pela busca de novos conhecimentos
favorece que as crianças tenham oportunidades de fazer escolhas, assumir
responsabilidades, planejar ações e participarem do processo de votação, sendo assim, o
sujeito protagonista da aprendizagem.
O ponto de partida do projeto é o interesse do aluno, por isso, o papel do
professor é incitar a curiosidade da criança para que aquela seja uma temática que vale a
pena estudar. Agir sobre o objeto do conhecimento não basta, é apenas parte do
processo, os alunos precisam estabelecer relações entre as informações e construir
novos conhecimentos.
Outro indicador que o grupo da creche II apontou foi o trabalho com atividades
que envolvem o conhecimento físico e o lógico-matemático. É imprescindível que se
organize um ambiente que as crianças tenham acesso para explorarem
espontaneamente materiais que possibilitam a aquisição do conhecimento físico, como
por exemplo, cor, forma, textura, consistência, peso, odor e sabor. Mesmo sendo
366
pequenos, há de se revelar os prenúncios das operações intelectuais constitutivas do
pensamento lógico-matemático nas atividades em que ela possa reunir, observar
deslocamentos, comparar, construir seus conhecimentos espaciais e geométricos,
relacionar, ordenando-os, adquirindo desta forma, o conhecimento lógico-matemático.
367
6.6.1.8. CATEGORIA 8 - QUALIFICAÇÃO DO PESSOAL
8. Quais os indicadores evidenciam a qualificação do pessoal que trabalham com as crianças?
IND
ICA
DO
RE
S
CRECHE I CRECHE II CRECHE III
1. Professores com formação específica
para trabalhar com as crianças;
2. Cursos de formação continuada;
3. Reuniões semanais para todos os
profissionais, inclusive com a
participação das auxiliares;
4. Oficinas pedagógicas;
5. Profissionais comprometidos e
envolvidos em sua qualificação
profissional.
1. Professores e educadores com formação
em Pedagogia;
2. Funcionários que irão trabalhar com
crianças devem ter cursos com formação
específica para crianças;
3. Formação continuada para todos os
funcionários;
4. Cursos de formação continuada de
atividades específicas para a faixa etária
que está sendo trabalhada.
1. Avaliação de desempenho;
2. Formação específica em pedagogia;
3. Formação que traga especificidades
sobre o cuidar;
4. Cursos de formação continuada;
5. Grupos de estudos (reuniões
pedagógicas)
6. Professores interessados em estudar;
7. Reunião com toda a comunidade
escolar (serventes, merendeiras, etc.);
8. Trocas de experiências;
9. Relações interpessoais positivas entre
os colegas (companheirismo);
10. Parceria de trocas de materiais
confeccionados pelas professoras.
368
Os indicadores criados pelos representantes das creches I, II e III estão muito
próximo do ideal, pois compartilham o princípio de que a formação do educador e do
professor deve ser um processo dinâmico, contínuo e permanente, tendo como base um
conhecimento cada vez maior da criança que permitirá compreender melhores
estratégias e conhecimentos metodológicos que possibilitem conduzir satisfatoriamente
o desenvolvimento dos pequenos para adequar melhor a realidade educativa ao contexto
das creches.
O desenvolvimento de práticas educacionais de qualidade está relacionado com
a formação dos profissionais que nela atuam e foram valorizados em todos os
indicadores construídos nesta dimensão. A criança até aos três anos necessita ter
satisfeitas as suas necessidades físicas e psicológicas, tais como: relações de confiança
com adultos, de respeito pela sua individualidade, de ambientes seguros, saudáveis e
adequados ao seu nível de desenvolvimento, oportunidades de interação com outras
crianças, tempo para explorar ativamente, utilizando todos os seus sentidos, e de
oportunidades de aprendizagem significativas. Assim, uma creche cuja principal função
seja educativa, deve atender a todos estes elementos, bem como ao desenvolvimento
pleno das crianças, daí a necessidade de ter profissionais devidamente formados para
que possam atender, as dimensões: ‗cuidar‘ e ‗educar‘ presentes sistematicamente no
cotidiano das creches.
Os participantes dos grupos focais constituintes da amostra desta pesquisa
evidenciaram a importância de indicadores que apontam a participação dos educadores
e professores em oficinas pedagógicas de atividades específicas para cada faixa etária,
oferecendo subsídios sobre as especificidades, principalmente para quem atua nos
berçários. Peters (1988) destaca a necessidade de uma formação qualificada devido à
autonomia organizacional conferida ao professor da Educação Infantil (0 a 3 anos), uma
vez que, tradicionalmente, neste segmento de ensino não há imposição de currículos, o
que coloca o educador como um gestor autônomo do seu currículo em muito maior grau
do que é comum nos outros níveis de ensino, constituindo essa autonomia precisamente
uma característica de que os educadores se orgulham e lutam por manter.
O processo de profissionalização dos educadores de infância pode ainda ser
abordado sob o ângulo do desenvolvimento profissional, bem como a proposta
369
apresentada por Katz (1995) que consta quatro estágios de desenvolvimento:
sobrevivência, consolidação, renovação e maturidade.
No primeiro estádio, que corresponde fundamentalmente ao primeiro ano na
profissão, as preocupações do educador concentram-se na ideia de sobrevivência (―será
que chego ao fim?...‖), sendo o exercício profissional pautado por ansiedade, sentimento
de incompetência e de despreparo. O segundo estádio é marcado pela consolidação das
competências adquiridas e pela identificação das novas aquisições a realizar. O terceiro
estádio, com início em geral pelo terceiro ou quarto ano de atividade profissional, é
marcado pela disposição em alterar as rotinas e enfrentar a renovação das práticas.
Emerge a preocupação com o aprofundamento do valor educacional da sua ação, e as
necessidades de formação que levam o educador a procurar mais apoio fora do seu
contexto imediato, nomeadamente por meio de congressos ou de trocas de experiências
em grupos profissionais. Finalmente no quarto estádio, marcado pela aquisição de
maturidade, o educador tende a questionar as bases e o enquadramento das práticas que
desenvolve, bem como a colocar questões menos centradas na situação concreta em que
atua e mais orientadas para a reflexão sobre o valor ético e social da profissão. Para
além dos eventos científicos ou profissionais, ele procura nesta fase aprofundar a sua
formação, prosseguindo-a em programas de formação em pós-graduação.
370
6.6.1.9. CATEGORIA 9 - PLANEJAMENTO, AVALIAÇÃO E REGISTRO
9. Quais os indicadores evidenciam a importância de planos, avaliações e rotinas na organização pedagógica?
IND
ICA
DO
RE
S
CRECHE I CRECHE II CRECHE III
1. Professores e auxiliares organizam
planos semanais;
2. Ao planejar levam em consideração todos
os aspectos do desenvolvimento;
3. Professores e auxiliares organizam
registros sobre avanços e/ou dificuldades das
crianças;
4. As crianças participam do planejamento
do dia;
5. São realizados dois relatórios (semestral)
individuais descritivos sobre o
desenvolvimento da criança.
1. Ter plano de ensino destacando os
aspectos por faixa etária;
2. Plano de aula: objetivos, atividades que
serão desenvolvidas;
3. Registro reflexivo;
4. Registros da criança;
5. Rotina organizada de acordo com a
realidade da escola;
6. Projeto Político Pedagógico atualizado;
7. Organização para adequar a rotina com
as necessidades da escola.
1. Participação coletiva na construção do
Projeto Politico Pedagógico;
2. Planos de aulas que valorizem todos os
aspectos do desenvolvimento;
3. Atividades com objetivos eleitos de
maneira coerente;
4. Saber fazer modificações no planejamento
se for necessário;
5. Rotina adequada para cada sala;
6. Acompanhamento da coordenadora antes e
depois de executar o planejamento;
7. Relatório semanal reflexivo;
8. Relatórios oferecem subsídios para realizar
a avaliação da criança.
371
A Proposta Pedagógica é a base de todo o trabalho educativo da creche, orientando
os objetivos gerais, bem como os aspectos de cada etapa do desenvolvimento, os conteúdos
e as orientações didáticas. Portanto, o planejamento pedagógico deve ser entendido como o
primeiro passo para a organização dos processos de ensino e aprendizagem.
Foi possível verificar a importância dada pelos participantes dos grupos das creches
I, II e III quanto à organização pedagógica que deve ter no trabalho que é desenvolvido nas
instituições educativas.
O planejamento das ações educacionais precisa respeitar as características e
necessidades de cada faixa etária. Esse seria um princípio apontado na construção dos
indicadores da categoria - Planejamento, Avaliação e Registro pelas creches investigadas.
A organização de um planejamento pedagógico organizado em todos os aspectos do
desenvolvimento (social, afetivo, físico e cognitivo), em suas necessidades e interesses,
requer a criação de procedimentos para acompanhamento de ações educativas e para
avaliação do desenvolvimento das crianças, pois esses orientarão o olhar dos professores
sobre seu próprio trabalho e sobre o modo como as crianças estão se beneficiando ou não
das intervenções planejadas.
De acordo com as análises de dados, a equipe da creche III destacou a importância
do acompanhamento da coordenadora antes e depois de executar o planejamento diário ou
semanal. O coordenador deve ser um importante aliado dos professores e educadores no
acompanhamento dos planos de aula, na execução e na avaliação, agregando informações,
participando por meio de discussões e sugestões a coerência entre o que planejou e o que
conseguiu alcançar por meio dos diários/relatórios das aulas de forma a adequar a prática
educativa às necessidades das crianças. É a partir do planejamento que o professor, o
coordenador, o educador podem perscrutar sua atuação e possibilitar ao aluno um resultado
eficaz e eficiente. Sendo assim, é importante que o processo educacional garanta as
condições para o desenvolvimento da criança pequena em todos os seus aspectos. Contudo,
não se pretende que se centre na preparação da escolaridade obrigatória, mas que assegure
às crianças uma diversidade de experiências que constituem ricas oportunidades para o seu
desenvolvimeno.
372
Os representantes das creches I e III consideraram os registros de avaliação do
desenvolvimento infantil como uma prática que pode ser considerada bastante efetiva nos
indicadores de avaliação da qualidade. Bassedas, Huguet e Solé (2009) trazem diversas
contribuições a respeito da avaliação na Educação Infantil. As pesquisadoras sugerem que a
finalidade básica da avaliação nessa etapa da escolaridade é que ―sirva para intervir, para
tomar decisões educativas, para observar a evolução e o progresso da criança e para
planejar se é preciso intervir ou modificar determinadas situações, relações ou atividades na
aula‖ (BASSEDAS; HUGUET; SOLÉ, 2009, p. 173).
As pesquisadoras afirmam ainda que:
O mais importante não é emitir um juízo, definir uma situação, mas propor
hipóteses contrastá-las com outras pessoas adultas que se relacionam com a
criança, comprová-las e modificá-las quando se considerar que não correspondem
à evolução da criança. Quando avaliamos, não o fazemos somente em relação à
evolução da criança, mas também ao nosso programa, ao nosso projeto e à nossa
intervenção educativa. Desse ponto de vista, a avaliação serve para valorizar o
que acontece quando colocamos em prática o programa que planejamos
previamente e para verificarmos se é preciso modificar ou não determinadas
atuações. Nesse caso, a avaliação está sendo utilizada para recolher informações
que ajudam a melhorar as propostas que fizemos em aula. (BASSEDAS;
HUGUET; SOLÉ, 2009, p. 173).
Dessa forma, também para essas pesquisadoras, assim como para Mantovani de
Assis e Assis (2002), Portugal (1998), e Bondioli (2004) avaliar, na Educação Infantil, é
buscar elementos que orientem as práticas de cuidado e educação de modo que elas de fato
garantam o desenvolvimento integral das crianças.
A avaliação na Educação Infantil se constitui em um instrumento de reflexão sobre
a prática pedagógica na busca de melhores caminhos para favorecer o desenvolvimento das
crianças. Para tanto, a avaliação deve incidir sobre todo o contexto explorado e vivenciado,
como as atividades propostas, o modo como foram realizadas, as instruções e os apoios
oferecidos às crianças individualmente e no coletivo, a forma como o professor respondeu
as manifestações e as interações das crianças, as interações com seus pares, o material
oferecido, o espaço e o tempo garantidos para a realização das atividades. Espera-se, a
partir disso, que o professor possa pesquisar quais elementos estão contribuindo ou
dificultando os avanços no desenvolvimento da criança, e então fortalecer ou modificar a
situação de modo a efetivar a proposta pedagógica da instituição. Portanto, a avaliação é
373
essencial para melhorar o atendimento às necessidades de todos os alunos e fornecer os
elementos necessários para ajudar os professores a alcançarem os objetivos do currículo
deste nível de ensino.
Todos esses instrumentos destinados a garantir a qualidade do processo educativo
não podem ser vistos como documentos meramente burocráticos. Ao contrário, devem
constituir-se em instrumentos metodológicos, periodicamente revistos e consultados com
base nas experiências vividas na instituição, nas avaliações do trabalho desenvolvido e nos
novos desafios que surgem. Para isso, torna-se importante que as diversas atividades
realizadas com as crianças sejam registradas e documentadas, de forma a permitir troca de
informações dentro da equipe, acompanhamento dos progressos realizados pelos alunos e
comunicação com as famílias.
375
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Senhor, ajudai-nos a construir a nossa casa
Com janelas de aurora e árvores no quintal -
Árvores que na primavera fiquem cobertas de flores
E ao crepúsculo fiquem cinzentas
como a roupa dos pescadores.
O que desejo é apenas uma casa.
Em verdade, Não é necessário que seja azul,
nem que tenha cortinas de rendas.
Em verdade, nem é necessário que tenha cortinas.
Quero apenas uma casa em uma rua sem nome.
Manoel de Barros
376
Piaget (1973a), em sua obra discorre sobre o direito à educação e reconhece o papel
indispensável dos fatores sociais na própria formação do indivíduo como uma das
condições necessárias ao desenvolvimento. Ao afirmar este direito à criança de zero a três
anos de idade, pressupõe-se que o atendimento a essa fase deve oferecer contextos
educativos impregnados de consciência e pautados no entendimento dos processos do
desenvolvimento infantil.
De acordo com essa perspectiva, esta pesquisa procurou destacar a importância de
oferecer uma educação de qualidade pelo fato de ser nos primeiros anos de vida que se
estabelecem as bases para o desenvolvimento intelectual, afetivo, social e físico. Nessa fase
tão singular é imprescindível que o acompanhamento das crianças tenha uma
intencionalidade educativa e seja planejado com base nas necessidades dos bebês e das
crianças pequenas.
A creche tem sido, nos últimos anos, o segmento educacional mais procurado, sendo
vista como um espaço educativo por excelência. A sua função já não é mais unicamente e
tampouco exclusiva o cuidado de crianças enquanto suas mães trabalham, mas um local a
ser considerado um reduto no qual os bebês e crianças pequenas necessitam da satisfação
das suas necessidades físicas, afetivas, de relações de confiança com adultos, de respeito
pela sua individualidade, de ambientes seguros, saudáveis e adequados ao seu nível de
desenvolvimento, oportunidades de interação com outras crianças, tempo para explorar
diversos objetos ativamente, utilizando todos os seus sentidos, assim como oportunidades
de aprendizagens significativas. Desse modo, uma creche cuja principal função seja
educativa, deve atender a todos estes elementos, bem como ao desenvolvimento pleno das
crianças, o que passa pela adoção de um programa devidamente estruturado, atendendo,
então, às dimensões: ‗cuidar‘ e ‗educar‘ indissociáveis e presentes de forma assídua na
creche educativa.
Portanto, discutir a qualidade do atendimento da Educação Infantil (0 a 3 anos) é
relevante para a luta de novas políticas públicas e para a reflexão no que diz respeito a
importância que este trabalho representa para o desenvolvimento da criança como pessoa e
como cidadão de direitos.
377
O presente estudo teve como objetivo investigar a importância do processo
participativo na construção de indicadores da qualidade das instituições pesquisadas assim
como as concepções e o grau de satisfação dos dirigentes, professores, educadores e pais de
alunos sobre a qualidade do atendimento da Educação Infantil de 0 a 3 anos por meio de
um instrumento de avaliação construído especialmente para esse fim.
Para tanto, na primeira parte desta investigação foi realizada a aplicação de um
instrumento (Pesquisa da Qualidade da Educação Infantil) que teve como objetivo conhecer
as concepções, as características estruturais, funcionais, os direcionamentos pedagógicos e
o grau de satisfação das pessoas envolvidas direta e indiretamente em três instituições
investigadas quanto à qualidade dos serviços prestados.
O instrumento - Pesquisa da Qualidade da Educação Infantil - contribuiu com o
desenvolvimento da pesquisa, pois os participantes, tiveram a oportunidade em pensar
sobre a temática da qualidade dos serviços prestados nas creches em que estavam inseridos
e que posteriormente seria discutida por alguns desses respondentes em grupos focais
organizados para construir indicadores de qualidade.
Dentre as limitações que marcam esta pesquisa, não pode ficar sem menção a
primeira parte da mesma quanto ao número da amostra, fato que se justifica pela escolha de
instituições que atendem apenas a faixa etária de 0 a 3 - 4 anos, nesse sentido sendo creches
pequenas. O número de instituições investigadas poderia ser maior, no entanto, a
quantidade ficou comprometida pela falta de interesse dos outros espaços que foram
convidadas a participar deste estudo. A instituição particular procurada colocou muitos
empecilhos, principalmente quanto a fazer o grupo focal que deveria ser gravado para
facilitar a coleta dos dados. Por exigência do sindicato deste setor é vetado fazer gravações
de voz, sendo apenas permitido filmagens. Por isso, somente três creches aderiram a este
processo, e isso se deve pelo interesse dos dirigentes em promover momentos de reflexões
e ter interesse por mudanças no atendimento das creches que coordenam. Isso denota
envolvimento e comprometimento com a qualidade dos serviços oferecidos nessas
instituições.
378
A grande maioria dos participantes quanto à função de dirigentes e professores que
atuam diretamente com as crianças que frequentam as creches investigadas possuem curso
de Pedagogia em nível superior ou de pós graduação. No entanto, os monitores, que
participaram da pesquisa e são em maior número, dentre os demais constituintes da
amostra, ainda não concluíram o ensino superior. Esses profissionais, atuam com os
pequenos na maior parte do tempo dentre todas as atividades que acontecem nas creches
diariamente. Esses profissionais precisam muitas vezes cumprir os mesmos papéis que os
professores, como realizar planos de aula, relatórios de avaliação do desenvolvimento
infantil, organização dos espaços físicos, entre outras funções. Essa realidade, clama por
políticas e ações de orientações e supervisão pedagógica nessas instituições, como por
exemplo, cursos de formação continuada.
Vale ressaltar que, de maneira significativa, esses mesmos monitores que
participaram da pesquisa, declararam estar estudando. Isso também revela o desejo e a
conscientização desses profissionais quanto a melhoria da qualidade dos recursos humanos,
indicando possibilidades de mudanças que favoreçam a efetivação de ambientes educativos
que promovam o bem-estar das crianças e a satisfação de suas necessidades básicas.
Assim sendo, é possível considerar que a formação dos profissionais que atuam
nessas instituições infantis se reflete nas suas concepções e no atendimento oferecido às
crianças. Nesse sentido, acredita-se, assim como Zabalza (1998) que a formação continuada
do educador compõe um dos critérios do atendimento de qualidade da Educação Infantil.
Todavia, percebemos que a formação de professores para atuar neste segmento de ensino
ainda está longe de atingir o ideal, até mesmo porque, no Brasil são muito recentes as
discussões sobre esse tema devido a longos séculos de abandono da infância e exclusão dos
direitos das crianças de classes sociais desfavorecidas a terem acesso à Educação Infantil.
Para tanto, é necessário priorizar o investimento na formação inicial e continuada dos
professores, educadores e da equipe gestora, por meio de um processo permanente de
reflexão sobre a prática pedagógica, pois eles precisam de um espaço de produção e trocas
de diversos saberes referente ao desenvolvimento e às necessidades da criança pequena em
todos os aspectos.
379
Nessas circunstâncias, torna-se imprescindível privilegiar o papel da supervisão
pedagógica nos trabalhos realizados nas creches. A atuação do supervisor ou mesmo do
coordenador pedagógico precisa ser baseada em princípios que favoreçam o
acompanhamento do percurso das ações educativas junto às crianças para que se possa
oferecer suporte, apoiar e dar orientações aos professores e educadores nestes ambientes
educacionais. Oliveira-Formosinho (2002, p. 117) ressalta que, ―a supervisão é, assim, um
processo para promover processos.‖ É possível compreender este apoio do
supervisor/coordenador como um processo de formação em lócus, no qual exige
reconstruções de conceitos, posturas, finalidades e objetivos, por isso necessita do
reconhecimento de que se trata de um processo evolutivo e dinâmico.
O instrumento - Pesquisa da Qualidade da Educação Infantil - foi construído com
base em outros instrumentos tanto nacionais como internacionais. A intenção foi reunir os
principais indicadores de qualidade para o atendimento à criança de 0 a 3 anos que
poderiam revelar tanto os pontos fortes quanto os pontos problemáticos em relação as três
creches investigadas.
Todas as dimensões analisadas, como se pode constatar na Tabela 3: Ambiente
Físico, Planos e rotinas, Interação adulto-criança, Interações entre iguais, Experiências
educativas, Cuidados para uma vida saudável, Qualificação e desenvolvimento profissional
e Relação com a Família, não apresentaram diferenças significativas quanto a satisfação
dos respondentes quanto aos principais aspectos que compõem as realidades educativas
pesquisadas. Os resultados apresentados demonstraram algumas precariedades das
condições oferecidas para que as crianças tenham uma vida saudável, as condições dos
prédios, equipamentos, escassez de materiais pedagógicos, a insuficiência da formação dos
educadores, a ausência de projetos pedagógicos e as limitações nas parcerias com as
famílias.
A creche I foi a que apresentou maior satisfação dos serviços prestados pela
instituição educacional, talvez por ser uma creche menor e atender um número pequeno de
crianças. Em situação contrária, quanto ao número de crianças atendidas e ao número de
profissionais que atuam junto às crianças, a creche III foi a que revelou menor satisfação
quanto à qualidade oferecida. Não foram encontradas diferenças significativas no que se
380
refere as comparações entre as funções dos respondentes quanto à escala de ordem
hierárquica dos indicadores apresentados no questionário. Nesse cenário, é possível
estabelecer relações semelhantes com a opinião apresentada por Campos (2006, p. 78):
Concepções, opiniões e aspirações não são formuladas ao acaso, ou apenas de
acordo com diferenças individuais, mas dependem do ambiente social e cultural
onde vivem e trabalham os diferentes grupos, que compartilham crenças,
preconceitos, discursos e projetos, aspectos do senso comum que caracterizam
seu meio.
Assim as concepções da qualidade da Educação Infantil no atendimento às crianças
de 0 a 3 anos apresentadas de maneira geral pressupõem a necessidade de levar em
consideração a realidade na qual a instituição está inserida, a partir de discussões
socialmente compartilhadas entre os integrantes da instituição. As diferenças apresentadas
quanto a função dos respondentes pode-se inferir que não houve influência muito
significativa nas respostas quanto as dimensões analisadas. No entanto, foram encontradas
diferenças peculiares a respeito dos indicadores de algumas das dimensões, como, por
exemplo, as concepções mais relacionadas ao discurso pedagógico foram apresentadas,
principalmente, pelos integrantes das equipes pedagógicas das instituições. Os pais já
fazem uma relação entre a qualidade estrutural e a dos cuidados prestados pelos adultos
para seus filhos, como por exemplo, segurança e alimentação saudável.
Vale ressaltar um dos resultados de quando os respondentes foram solicitados a
assinalar o indicador mais importante da Dimensão II (Planos e Rotinas): Participação
ativa de todos (pais, funcionários, dirigentes, educadores e professores) na construção do
PPP foi apontado como o de maior relevância dentre outros dessa mesma dimensão e por
outro lado, o de menor satisfação. Este resultado denota que há consciência da importância
da participação, no entanto, a mesma não é efetivada no cotidiano das ações educativas das
creches investigadas. Este fato ocorreu porque na maioria das realidades educacionais esse
é um ‗documento de fachada‘ que pouco é utilizado em seus princípios reais, sendo apenas
construído para cumprir uma exigência legal ou cobranças das secretarias de educação.
Essa análise também é afirmada por Bondioli (2004, p. 26), quanto à natureza
operacional do projeto político pedagógico:
381
A necessidade de traduzi-lo na prática exige ser compartilhado por parte de todos
aqueles que, em diferentes funções, serão chamados a realizá-lo (não somente os
funcionários da creche, mas também as famílias e os responsáveis). O projeto
pedagógico não pode ser fruto de uma única ―mente pensante‖, nem se configurar
como ato burocrático – a pura e simples redação de um documento – sob pena de
sua inexequibilidade.
Assim, o projeto político pedagógico necessita estar articulado diretamente com o
fazer pedagógico do cotidiano da creche, tanto no âmbito estrutural quanto administrativo e
pedagógico. Esse documento precisa ser um estruturador da qualidade do atendimento nas
instituições educativas com atendimento de 0 a 3 anos.
A participação de toda a comunidade escolar no processo de construção do Projeto
Político Pedagógico, traz as mesmas possibilidades da avaliação participativa, para que
todos os envolvidos estabeleçam os parâmetros de qualidade desejada, assim como é
sugerida neste estudo na construção dos indicadores que podem avaliar a qualidade dos
serviços oferecidos às crianças de 0 a 3 anos.
Os resultados que emergiram desta parte da pesquisa, fornecem o contexto geral das
instituições investigadas, no entanto, percebe-se que apenas responder um questionário em
uma perspectiva externa e unilateral do processo avaliativo implica em uma estreita
influência para a construção da cultura da avaliação, assim como, pouco contribui para
mudanças reais em todo o contexto das instituições.
O aspecto da unilateralidade do ato de avaliar deve ser superado, seja da
responsabilidade de instituições públicas, mantidas pelos munícipios ou mesmo as
assistenciais (conveniadas). Isto porque, a avaliação da qualidade em uma perspectiva
unicamente externa, dificulta que as pessoas se apropriem de uma reflexão consciente que
sustente a tomada de decisões participativa e formadora. Assim, avaliar e ser avaliado são
ações que precisam ser indissociáveis num processo dessa natureza, implicando em uma
nova cultura avaliativa em que dada a variedade de realidades das instituições investigadas,
cada creche gerou a sua própria lista de indicadores para a avaliação em uma proposta de
autoavaliação participativa.
Por isso, antes de analisar o processo de construção dos indicadores, é necessário
refletir sobre a noção de qualidade apresentada pelos respondentes nessa pesquisa. Os
382
dados apresentados nas perguntas que solicitam opiniões referentes a utilidade das creches
e o que seria uma creche de Qualidade da Educação Infantil de 0 a 3 anos foram obtidas
uma diversidade de respostas, constatou-se que os diversos segmentos dos entrevistados
possuem ideias próprias sobre como seria uma boa creche, conectando-se com os diversos
conceitos apresentados no campo teórico que mostram a complexidade de sua
conceituação, por isso, o conceito de uma creche de qualidade pode ser definido por uma
multiplicidade de perspectivas e por diferentes critérios.
Nas respostas apresentadas, obtiveram maiores porcentagens duas grandes
categorias: Desenvolvimento Infantil e Educar e cuidar que estão interligadas em seus
pressupostos. Com este resultado é possível inferir que as concepções educativas foram
valorizadas pelos participantes dessa pesquisa. No entanto, vale ressaltar que muitas vezes
esse discurso não se reflete em suas práticas. Professores e educadores no cotidiano
apresentam dificuldades em articular o cuidar e educar, como por exemplo: reclamam ao ter
que acompanhar as crianças na hora do banho, alimentação e trocas. Quando o professor é
indagado sobre esta relação a resposta é: - tem o monitor/ auxiliar para realizar estas
atividades; desconsiderando assim, o papel de educar nos momentos de ‗cuidar‘. Quando o
educador/monitor é questionado sobre esses momentos específicos de cuidar, que conota
atenção e proteção, o argumento é que não dá tempo, são muitas crianças. Infelizmente a
prática do discurso da indissociabilidade do cuidar e educar ainda não é tão presentes nos
cotidianos das creches. A intencionalidade pedagógica precisa ser compreendida e
vivenciada pelos educadores para que consigam transformar os cuidados em momentos de
aprendizagem sejam planejados ou não.
Vale destacar que, os cuidados correspondem a momentos educativos e não devem
ser realizados mecanicamente, precisando ser ativamente fomentados como momentos de
interações sociais, de comunicação e de trocas afetivas e como oportunidade para promover
o desenvolvimento infantil. Portugal (2000, p. 92), define estes momentos como ―tempos
de qualidade‖, no sentido de ―tempos de qualidade em que se visa alguma coisa‖, na
medida em que eles estão ativamente envolvidos em uma tarefa, ocasião para uma
intervenção educativa de sucesso.
383
Portanto, o cuidado deve ser considerado tão importante como o educar, pois este
não pode ser visto como mais ou menos nobre. As relações de afeto, com os bebês nos
momentos de troca, banho, alimentação e sono são essenciais para garantir as interações
entre adultos e crianças de maneira positiva que acabam por refletir no desenvolvimento
infantil.
Isso porque compreendemos que falar em atendimento realizado na creche impõe
refletir sobre seu papel enquanto instituição educativa, caracterizada pelo desenvolvimento
de ações próprias direcionadas à luz de objetivos que favoreçam avanços no
desenvolvimento físico, afetivo, social e cognitivo nessa etapa de tão grande relevância
para o desenvolvimento do bebê e da criança pequena (0-3 anos) para a construção de sua
inteligência, dos vínculos afetivos, para o desenvolvimento moral e habilidades motoras,
tudo isso a partir de ações pedagógicas bem planejadas e apropriadas ao período que está
vivendo, contribuindo assim, para o desenvolvimento pleno da criança pequena. Estas ações
estão inter-relacionadas como um tudo no que é oferecido às crianças nas creches, desde a
organização dos espaços físicos (internos e externos), o clima afetivo e cooperativo, isento de
tensões e coerções e nas interações do adulto com as crianças. Enfim, até mesmo, a maneira
como se relacionam com os familiares vai interferir na qualidade dos serviços prestados nesse
segmento de ensino.
Nesse contexto, cabe ao professor conhecer o desenvolvimento infantil. Logo, a
teoria de Jean Piaget pode ser um profícuo quadro teórico para os problemas pedagógicos.
Sua teoria epistemológica, contribui para que o professor e educadores conheçam, as
características e necessidades de cada fase do desenvolvimento humano e,
consequentemente, tenham autonomia nas decisões de sala de aula no trabalho junto com as
crianças, mas acima de tudo, que apresente coerência entre as ações e o referido suporte
teórico.
Os dezoito meses de vida, são imprescindíveis para o desenvolvimento humano,
nessa primeira fase a criança coordena suas ações e percepções em esquemas sensório-
motores. Após superar este período, a criança começa a utilizar símbolos, e desenvolve os
esquema das representações, como a linguagem, a imagem mental, o desenho, o jogo
simbólico e a imitação diferida. A partir daí, todo o pensamento começa a ser reconstruído
384
em um novo plano, que ainda não é conceitual. O papel do adulto nessa evolução é planejar
propostas pedagógicas desafiadoras que auxiliem a criança superar cada fase, por meio
principalmente de livros, brinquedos, jogos, músicas entre outras propostas que deverão ser
cuidadosamente escolhidas pelo professor ou educador em um ambiente saudável para que
os pequenos sintam-se aceitos, tenham confiança e se desenvolvam plenamente em todas as
suas possibilidades físicas, motoras, sociais, afetivas e cognitivas.
Levando em consideração a criança como um ser ativo em seu processo de
desenvolvimento, faz-se necessário criar espaços e tempos pedagógicos nas creches, onde
haja ressonância do conceito de participação de todos os integrantes da comunidade escolar
para a construção da avaliação participativa da qualidade do atendimento nas creches.
Este trabalho, traz em seu aporte teórico, os conceitos da teoria piagetiana, que
valoriza a participação ativa de todos em um processo de construção, que promova
perturbações ou conflitos, que podem desencadear o processo de equilibração e que
desafiem os participantes a refletir sobre as melhores condições (indicadores) que irão
oferecer aos pequenos em ambientes de alta qualidade. Por isso, no contexto de avaliação
participativa da qualidade do atendimento à criança de 0 a 3 anos, é importante que haja a
tomada de consciência, a comparação e o estabelecimento de relações de todos os
envolvidos no processo; para que possam expor situações problemas e trocas de pontos de
vistas, criando assim, um clima de comprometimento e responsabilidades pelas decisões
tomadas pelos dirigentes, professores, monitores e pais de alunos.
De acordo com essa perspectiva, a organização do grupo focal teve um papel
primordial para nortear os objetivos dessa pesquisa. Essa técnica têm estreita relação com
os princípios da auto avaliação, isto é, assegura a participação ativa, auto reguladora e
corresponsável de toda a comunidade escolar no processo de avaliação da qualidade do
atendimento nas creches. Este conceito de auto regulação dialoga com o de autonomia, isto
é, o grupo consegue, a partir de um trabalho coletivo e cooperativo estabelecer acordos
mútuos, com consequente tomadas de decisões em um processo partilhado de reconstrução
de experiências, de atribuição de significados, de reflexão conjunta sobre a própria
realidade e suas reais necessidades.
385
A construção de indicadores para avaliação da qualidade da Educação Infantil (0 a 3
anos) realizada pelos participantes dos grupos focais organizados para este fim, mostrou ser
uma estratégia cooperativa e formadora. Foram momentos de intensas reflexões entre os
representantes de funções (pais, dirigente, professor e educador) que estão direta ou
indiretamente envolvidos no processo de educação das crianças. Um fator relevante nesse
processo foi o desejo dos participantes de verbalizarem o que pensavam em relação às
questões que eram feitas. Apontaram fatores importantes e muito próximos com da
realidade e necessidades de cada instituição. Essa estratégia também abriu caminhos a um
processo de formação dos participantes, e, consequentemente, para o desenvolvimento
qualitativo da própria instituição.
O que se percebeu é que, a construção dos indicadores trouxe às instituições de
Educação Infantil, participantes da pesquisa, o cenário de um "fórum", no qual as
experiências exitosas ou as dificuldades foram discutidas e negociadas coletivamente entre
representantes da comunidade escolar (pais, dirigentes, professores e educadores), mesmo
sendo apenas a construção dos indicadores e não a avaliação propriamente dita. Esse
percurso favoreceu uma interação intensa que contribuiu para delinear a direção da qual
seria possível caminhar. Dahlberg, Moss e Pence (2003, p. 56) propõem que as instituições
de Educação Infantil sejam entendidas como "fóruns públicos situados na sociedade civil,
onde todos participam coletivamente em projetos significativos dos pontos de vista social,
cultural, político e econômico‖.
Considerando que esse processo de construção dos indicadores implicou por parte
das creches investigadas o repensar de práticas e atitudes pedagógicas que estimulam e
promovem novas maneiras de participação e colaboração da comunidade escolar, tendo por
base conceitos tão importantes e distintos como a reflexão, a autonomia e a autoavaliação.
Isso porque, a própria vivência do grupo focal ofereceu a oportunidade e o espaço
necessário para que pudessem expressar o que pensavam e as percepções da própria
realidade que vivenciavam na instituição que estão inseridos. Muitas vezes os dirigentes
verbalizavam que desconheciam alguns problemas ou fatos mencionados nas sessões dos
grupos focais. Um exemplo referente a situação de indicar pontos, que eram da própria
realidade da creche, foi o indicador apontado pelo grupo da creche III sobre a necessidade
386
de ter dedetização periódica. Essa manifestação se deve pelo fato da creche estar situada em
uma área muito arborizada e, consequentemente, com muito mato, acabando por provocar a
vinda de animais peçonhentos constantemente dentro do prédio. Com certeza, é importante
que se faça a dedetização em todas as escolas, independentemente do segmento que esta
pertença, porém trazer este fato como um indicador de avaliação demonstra que se trata de
uma necessidade específica daquela realidade e, assim deve ser acompanhada com certo
rigor por parte da equipe gestora.
Houve também muitas preocupações em relação a segurança dos pequenos, desde a
limpeza até mesmo a disponibilidade e acessibilidade dos materiais às crianças pequenas.
Houve também muitas queixas nas creches que possuem espaços físicos mais limitados,
como por exemplo a creche II. Os pais clamavam muito pela higiene dos ambientes e a
qualidade da alimentação. Isso denota que o IAPQEI – c (Instrumento de Avaliação
Participativa da Qualidade da Educação Infantil – creche) revela as características
estruturais nos contextos frequentados por crianças entre 0 a 3 anos, determinando as
dimensões da qualidade que se apresentam problemáticas e as que se assumem como sendo
pontos fortes.
As manifestações e diálogos durante os grupos focais foram fatos recorrentes em
todas as instituições, todos demonstravam-se orgulhosos em poder participar daquele
momento e não intimidou ninguém. As questões realizadas para que pudessem expor os
indicadores, conforme o quadro 32 eram facilmente compreendidas por todos, até mesmo
pelos pais de alunos presentes, era possível perceber que estavam atentos a questões mais
específicas das dimensões pedagógicas, inclusive faziam questão de relatar fatos
específicos vivenciados pelos seus próprios filhos. Na creche I a mãe participante defendia
valores educacionais tanto quanto as profissionais da educação que constituíram os grupos
focais, de maneira simples demonstrava conhecer e valorizar intensamente o trabalho
educacional realizado naquela creche. A mãe participante da creche III, chegou a ficar
brava com uma das professoras quando manifestou que havia poucos brinquedos, dizia
fervorosamente que deveriam pedir aos pais, uma vez que eles não tinham conhecimento do
fato.
387
Sabemos que os indicadores construídos têm limitações, no entanto, constituem
representações e decisões de cada grupo, são susceptíveis às visões de quem as
construíram, logo, representam abstrações da realidade. Diante disso, não basta terem bons
indicadores, é importante que se tenha o envolvimento efetivo de dirigentes, pais de alunos,
professores e monitores com as questões da creche, essa prática, com certeza possibilitou a
todos os participantes o acesso a informações que dizem respeito ao contexto educativo,
como por exemplo, a qualidade dos espaços físicos (externos e internos), qualificação dos
profissionais que trabalham em cada instituição, entre outras.
A vivência dos grupos focais para a construção dos indicadores da qualidade da sua
respectiva instituição educacional, possibilitou a apreciação da creche, a interação dos
participantes do estudo, assim como puderam levantar questões, dúvidas e até mesmo
buscar os caminhos necessários para resolver alguns problemas que foram manifestados
durante o encontro.
Isso não significa que avaliar a qualidade do atendimento das creches não se pode
limitar apenas nas visões e desejos intimistas declaradas pelas instituições. É importante
que se tenha como pano de fundo, documentos oficiais ou mesmo uma orientação externa
para conduzir as reflexões de os envolvidos, com objetivos, metas claramente articuladas e
para que haja um aprofundamento destas percepções quanto às oportunidades oferecidas às
crianças.
Vale ressaltar que as oportunidades de experiências oferecidas aos bebês e crianças
pequenas referem-se ao trabalho do contexto geral da creche e, portanto, ao trabalho de
toda a comunidade escolar (pais, dirigentes, professores e educadores).
Deve-se lembrar, todavia, que o objetivo do grupo focal neste estudo foi construir
um instrumento desencadeador de percepções, sentimentos, atitudes e ideias dos
participantes sobre o atendimento oferecido às crianças de 0 a 3 anos. Isso foi necessário
para orientar a tomada de decisões no sentido do comprometimento na construção da
melhoria da qualidade. Tal objetivo apenas será exequível em um ambiente que promova a
escuta, a cooperação, disponibilidade e espaço para tempos de reflexões.
388
Os indicadores que foram apresentados pelos participantes oferecem pistas de uma
série de parâmetros que podem servir para orientar um trabalho de qualidade, portanto, o
grupo focal se constituiu em uma excelente oportunidade para todos expressarem porque
acreditam ser eficaz e conjugarem o dever ser e suas expectativas em relação às
possibilidades concretas de crescimento e aprimoramento de sua instituição (BONDIOLI;
BECH, 2003).
Portanto, faz-se necessário criar condições para desenvolver uma cultura de
avaliação que permita às creches e toda a comunidade escolar focarem-se sua atenção sobre
o processo de discussão. Uma vez que isso possibilitaria a construção de indicadores a
partir de reflexões acerca da sua realidade e possam, sobre ela, deliberar um plano de ação
para a busca coletiva de uma oferta de qualidade. Pode-se acrescentar a estas considerações
que este processo da construção dos indicadores por meio de um grupo focal vivenciado
nas creches investigadas tem vínculos estreitos com a teoria piagetiana: a cooperação,
coordenação de pontos de vista, autonomia, tomada de consciência e respeito mútuo.
Quanto à participação, Sordi (2006, p. 54) acena que ―é condição inegociável para
se viver o projeto e isso implica o aprendizado da escuta e do acolhimento do argumento
alheio, a horizontalização das relações de poder e a manutenção do diálogo plural‖.
Portanto, espaços em que as pessoas são convidadas a opinar como fazer o melhor, pode
provocar uma autocrítica em relação ao que se pode ou podem fazer melhor.
Todas as 3 creches investigadas obtiveram após o grupo focal um instrumento de
avaliação. Nesses constam todos os indicadores criados por eles e também outros sugeridos
por esta pesquisadora para que o mesmo ficasse mais completo frente ao objetivo de avaliar
a qualidade dos serviços oferecidos às crianças. Essas propostas foram acrescidas como
sugestões, para que caso concordassem poderiam acrescentar em seus próprios
instrumentos.
Além do instrumento, foi encaminhado o manual de orientação30
(para aplicação do
mesmo. Este, teve como referência os Indicadores da Qualidade da Educação Infantil
(BRASIL, 2009) e o instrumento da Avaliação Participativa das escolas de Educação
30
O manual de orientação está no anexo 1.
389
Infantil do Governo do Distrito Federal (2009) para que pudessem utilizar o instrumento
construído pelo próprio grupo. Esses instrumentos elaborados nos grupos focais poderão
ser uteis para um crescimento qualitativo da oferta de atendimento voltada para a infância.
As orientações oferecem formas possíveis de como conduzir o processo de
avaliação da qualidade que deve resultar de um diálogo aberto para que possam delinear a
avaliação por um processo colaborativo, sistemático, rigoroso, apoiado e validado por todos
os envolvidos no processo educativo. É indispensável que se tenha clareza sobre a
complexidade que compõe os indicadores de modo a possibilitar uma avaliação bastante
objetiva e cada vez mais realista da situação educacional das creches.
Posto isso, o processo de avaliação da qualidade da creche deve conduzir a
construção de um plano de ação, isto é, uma lista com os encaminhamentos dos problemas
detectados no processo de avaliação. Esse plano inclui os problemas, a determinação de
quem será o responsável pela condução de sua resolução, o prazo e as ações a curto ou a
longo prazo tendo em vista a melhoria dos serviços ofertados.
Esse formato de avaliação da qualidade do atendimento das crianças de 0 a 3 anos
foi considerado apropriado na visão dos dirigentes das unidades educacionais pesquisadas
desde a primeira parte em que precisaram responder ao questionário que, por sua vez,
mobilizou a equipe pedagógica e os pais escolhidos para participar e refletir sobre os
indicativos para a avaliação. No caso deste estudo, ter conhecimento das ideias que os
profissionais têm sobre o contexto de creche, assim como dos aspectos que fundamentam
essas instituições foi de grande utilidade, pois não seria possível analisar o processo de
construção de indicadores da qualidade das creches participantes sem conhecer, bem como
compreender os contextos que estão inseridas. Outro aspecto comentado pelas dirigentes foi
a presença positiva da pesquisadora para conduzir as ações do encaminhamento da
construção dos referidos indicadores e contribuir para a elaboração do plano de ação.
No entanto, é possível reconhecer que estes dados nos ajudaram a alcançar uma
melhor compreensão do processo de construção de indicadores para avaliação da qualidade,
assim como podem permitir a realização de novos estudos contribuindo para um maior
conhecimento deste fenômeno.
390
À luz de toda a trajetória desta pesquisa, é possível destacar que a Educação Infantil
com atendimento de 0 a 3 anos tem características peculiares, muito próprias e específicas,
diferente do atendimento de 4 e 5 anos. Desse modo, pode-se concluir que esforços devem
ser concentrados para que as creches ofereçam uma educação de qualidade em prol do
desenvolvimento integral da criança pequena.
Finaliza-se este trabalho na certeza de que muitos foram os aprendizados e que
torna-se indispensável refletir sobre as implicações que este estudo pode ter, incluindo
perspectivas de trabalhos futuros, como o estudo do impacto da utilização de um
instrumento em que os indicadores da avaliação da qualidade fossem construídos pela
própria comunidade escolar (pais, professores, educadores e dirigentes) e os efeitos que
esse estudo possa suscitar para a construção de conhecimentos e ampliação de ações
educativas de qualidade da Educação Infantil (0 a 3 anos).
392
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405
WOODHEAD, M. Em busca do arco-íris: caminhos para a qualidade em programas de
grande escala para jovens crianças desfavorecidas. Haia, CH: Fundação Bernard Van Leer,
1996.
ZABALZA, M. Qualidade em educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 1998.
ZUCOLOTO, K. A. Educação infantil em creches: uma experiência com a escala ITERS-
R. 2011, 308 f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade de São Paulo. São Paulo,
2011.
407
APÊNDICE A
Carta de encaminhamento às Secretárias de Educação das cidades às redes
públicas que foram investigadas, diretores das Escolas Particulares e o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido
408
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS - SP
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Sou aluna do programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação da Unicamp, no nível
de doutorado, e estou realizando uma pesquisa intitulada: Percursos para a construção de
indicadores da Qualidade da Educação Infantil, que tem como objetivo investigar as concepções e
o grau de satisfação dos dirigentes, professores, educadores e pais de alunos sobre a qualidade do
atendimento na Educação Infantil de 0 a 3 anos e o processo de aplicação de um instrumento de
Avaliação deste segmento de ensino.
O trabalho será realizado da seguinte forma: A primeira parte, consiste em coletar
informações quanto ao grau de satisfação dos participantes em relação aos serviços prestados nas
escolas que atendem crianças de 0 a 3 anos e a segunda parte o conceito de qualidade para este
segmento de ensino – pais de alunos, professores, educadores e dirigentes) escolhidas pela equipe
técnica desta Secretaria de Educação.
Não há nenhum tipo de avaliação, bem como teste, apenas serão consideradas as respostas
espontâneas dadas pelos pais, educadores, professores e dirigentes que, concordarem em participar
do estudo.
As informações obtidas através dessa pesquisa serão confidenciais e asseguramos o sigilo
sobre sua participação. Os dados não serão divulgados de forma a possibilitar sua identificação.
É importante que você saiba que a sua participação neste estudo é completamente voluntária. Em
caso de recusa você não será penalizado(a) de forma alguma.
Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e endereço da pesquisadora
principal e do comitê de ética, podendo tirar dúvidas do projeto e de sua participação.
Gostaria de contar com sua colaboração, através do seu consentimento, pois acredito que, os
resultados deste trabalho poderão auxiliar esta rede de ensino no oferecimento de uma Educação de
Qualidade.
Agradeço sua atenção. Se houver consentimento, peço-lhe a gentileza de assinar o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido.
Atenciosamente,
Andréa Patapoff Dal Coleto
___________________________________________________
Eu,______________________________________________,RG_________________, após a
leitura deste consentimento declaro que compreendi o objetivo deste estudo e confirmo meu
interesse em participar desta pesquisa.
Data ____/____/____
_______________________________
Pesquisadora: Andréa Patapoff Dal Coleto / [email protected]
Comitê de Ética em Pesquisa – Rua Tessália Vieira de Camargo, 126 – Caixa Postal 6111.
13.083-887. Campinas – SP. Fone: (19) 3521 8936 e-mail: [email protected]
Campinas, 16 de agosto de 2011.
Prezada Senhora,
409
Sou aluna do programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Unicamp, no nível
de doutorado, e estou realizando uma pesquisa intitulada Percursos para a construção de
indicadores da Qualidade da Educação Infantil, que tem como objetivo investigar o grau de
satisfação e as concepções dos dirigentes, professores, educadores e pais de alunos sobre a
qualidade do atendimento na Educação Infantil de 0 a 3 anos e o processo de construção e aplicação
de um instrumento de Avaliação da Qualidade deste segmento de ensino.
O trabalho será realizado da seguinte forma: faremos a aplicação de um questionário sobre
o conceito de Avaliação da Qualidade da Educação Infantil com atendimento de 0 a 3 anos. Este
questionário será aplicado em uma amostra composta por 24 professores, 24 educadores, 3
dirigentes e 20 pais de alunos.
As informações obtidas a partir deste questionário juntamente com outros estudos
realizados tanto em fontes internacionais como nacionais constituirão os pontos de partidas para as
discussões a serem desenvolvidas em grupos focais que serão formados por 8 pessoas (ligadas ao
atendimento à crianças de 0 a 3 anos – pais de alunos, professores, educadores e dirigentes)
escolhidas pela equipe técnica desta Secretaria de Educação.
O instrumento construído será aplicado nas escolas da respectiva rede municipal de
educação tanto por equipes das próprias escolas como por avaliadores externos, para que seja
possível confrontar os resultados e validar o instrumento.
Gostaria de contar com sua colaboração, através do seu consentimento, pois acredito que, os
resultados deste trabalho poderão auxiliar esta rede de ensino no oferecimento de uma Educação de
Qualidade.
Portanto, venho por meio desta solicitar sua autorização para realizar essa pesquisa com
pais de alunos, professores, educadores e dirigentes de Escolas de Educação Infantil com
atendimento de 0 a 3 anos
Agradeço sua atenção. Se houver consentimento, peço-lhe a gentileza de assinar o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido.
Atenciosamente,
Andréa Patapoff Dal Coleto
Contato: (19) 3462 7107 / (19) 9143 6021
[email protected] Comitê de Ética em Pesquisa – Rua Tessália Vieira de Camargo, 126 – Caixa Postal 6111. 13.083-
887. Campinas – SP. Fone: (19) 3521 8936 e-mail: [email protected]
410
AUTORIZAÇÃO
Eu,__________________________________________________________, portadora da
identidade nº _______________, órgão _______, Diretora da Creche, autorizo os professores da
Educação Infantil (0 a 3 anos) da Rede Municipal de Educação da Prefeitura Municipal de 0000
– SP, a participar das atividades propostas pela pesquisadora Andréa Patapoff Dal Coleto. Sabendo
que se trata de investigar o grau de satisfação e as concepções dos dirigentes, professores,
educadores e pais de alunos sobre a qualidade do atendimento na Educação Infantil de 0 a 3 anos e
o processo de construção e aplicação de um instrumento de Avaliação da Qualidade deste segmento
de ensino, bem como a utilizar as informações fornecidas pelo mesmo (a) na pesquisa científica em
desenvolvimento na Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, sob orientação da Profª. Drª.
Orly, Zucatto Mantovani de Assis. A presente autorização abrangerá os seguintes aspectos:
Autorizo Não
autorizo Aspecto da Autorização
Coleta de dados referentes ao grau de satisfação e as concepções dos
dirigentes, professores, educadores e pais de alunos sobre a
qualidade do atendimento na Educação Infantil de 0 a 3 anos.
Organização e desenvolvimento de grupos focais que serão
formados por 8 pessoas do segmento: dirigentes, professores,
educadores e pais de alunos desta instituição de ensino.
Gravação de voz nas reuniões de grupos focais.
Aplicação do Instrumento construído na própria instituição em
formato de auto-avaliação.
Campinas, ___ de __________ de 2011.
_____________________________________
Assinatura do(a) responsável
412
CONVITE
Prezado (a)
Nome:________________________________________________
É com imensa satisfação que estou lhe convidando para participar de um encontro
de pessoas envolvidas direta ou indiretamente no atendimento educacional à crianças de 0 a
3 anos com o objetivo de discutir as necessidades de uma Escola de Educação Infantil de
Qualidade e levando em conta a importância de ações que favoreçam negociar e
compartilhar concepções que possam promover a qualidade dos serviços prestados à
infância que são executadas nos espaços desta rede de ensino.
Dessa forma, esse processo precisa ser discutido com pessoas interessadas em
buscar o fortalecimento de uma avaliação que tenha as característica e identidade real.
Queremos contar com você como parceiro(a) nessa discussão.
Você pode colaborar participando do encontro que acontecerá no dia _______ às
17horas.
A sua identidade será preservada e suas opiniões serão utilizadas para a produção da
tese de doutorado. Se você estiver impossibilitado de participar, por favor, nos comunique
com antecedência, para que possamos em tempo hábil, convidar um suplente.
Email para contato: [email protected]
Tel: (19) 3462 7107 (19) 9143 6021
Grata pela colaboração,
Andréa Patapoff Dal Coleto
Doutoranda da Faculdade de Educação pela UNICAMP
415
PESQUISA DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO
INFANTIL
– DADOS DEMOGRÁFICOS -
As afirmações contidas nesse material serão sigilosas e utilizadas para uma pesquisa no curso de
Doutorado.
Dados pessoais (não é obrigatório colocar seu nome, mas peço que preencha os demais dados
solicitados):
Função: ( ) Pai/Mãe ( ) Professor ( ) Auxiliar / Monitor ( ) Dirigente
1.Nome:________________________________________________Idade:_________
2. Formação: ___________________________________________
RESPONDA AS QUESTÕES DA FORMA MAIS SINCERA POSSÍVEL
1. O que seria uma creche de Qualidade da Educação Infantil de 0 a 3 anos?
2. Para que serve uma creche?
416
PESQUISA DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL Instruções: Nas questões abaixo, assinale com um X a lacuna, o que mais está em concordância com o seu grau de
satisfação em relação ao atendimento à criança de 0 a 3 anos na instituição educacional que você trabalha, sendo que:
1 = discordo totalmente
2 = discordo
3 = não concordo nem discordo/ não sei
4 = concordo
5 = concordo totalmente
É muito importante que você responda a todas as questões. Não há necessidade de identificação do seu nome. MUITO
OBRIGADO!
I. AMBIENTE FÍSICO
1 2 3 4 5
1. Ambiente seguro e bem cuidado
2. Brinquedos, livros infantis e jogos em bom estado, acessíveis e com
quantidade suficiente (ao alcance das crianças)
3. Organização dos materiais (etiquetados, visíveis, caixas)
4. Espaço organizado para favorecer as interações entre as crianças
5. Vias para acesso de pessoas com necessidades especiais
6. Espaços, materiais e mobiliários para responder aos interesses e
necessidades dos adultos.
7. Local especialmente destinado para trocas de fraldas.
Em sua opinião, quais são os 3 itens mais importantes?
1º 2º 3º
II. PLANOS E ROTINAS
1 2 3 4 5
1. Participação ativa de todos (pais, funcionários, dirigentes, educadores e
professores) na construção do PPP
2. O Plano de Ensino privilegia o desenvolvimento infantil
3. Plano de aula diário ou semanal é estruturado de modo a deixar claros os
objetivos, estratégias e procedimentos de avaliação utilizados cotidianamente
4. Participação ativa das crianças em todos os momentos do dia
5. As crianças participam do planejamento do dia e tem oportunidades de
escolher as atividades que desejam realizar
Em sua opinião, quais são os 3 itens mais importantes?
1º 2º 3º
417
PESQUISA DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL Instruções: Nas questões abaixo, assinale com um X a lacuna, o que mais está em concordância com o seu grau de
satisfação em relação ao atendimento à criança de 0 a 3 anos na instituição educacional que você trabalha, sendo que:
1 = discordo totalmente
2 = discordo
3 = não concordo nem discordo/ não sei
4 = concordo
5 = concordo totalmente
É muito importante que você responda a todas as questões. Não há necessidade de identificação do seu nome. MUITO
OBRIGADO!
III. INTERAÇÃO ADULTO – CRIANÇA
1 2 3 4 5
1. O educador sorri, conversa e é afetuoso com todas as crianças
2. Os adultos acompanham e orientam os comportamentos das crianças
utilizando o encorajamento, sugestões e elogios descritivos
3. Os adultos reconhecem e aceitam os sentimentos das crianças e permitem a
sua expressão de um modo cooperativo
4. Respeito à identidade, dignidade, desejos e interesses das crianças.
Em sua opinião, quais são os 3 itens mais importantes?
1º 2º 3º
IV. INTERAÇÕES ENTRE IGUAIS
1 2 3 4 5
1. As crianças demonstram estar felizes
2. As crianças interagem entre iguais de forma amigável e interessada
3. As crianças participam de espaços, brincadeiras e materiais acessíveis de
modo a favorecer a interação entre as crianças com necessidades especiais e as
demais crianças
Em sua opinião, quais são os 3 itens mais importantes?
1º 2º 3º
418
PESQUISA DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL Instruções: Nas questões abaixo, assinale com um X a lacuna, o que mais está em concordância com o seu grau de satisfação em
relação ao atendimento à criança de 0 a 3 anos na instituição educacional que você trabalha, sendo que:
1 = discordo totalmente
2 = discordo
3 = não concordo nem discordo/ não sei
4 = concordo
5 = concordo totalmente
É muito importante que você responda a todas as questões. Não há necessidade de identificação do seu nome. MUITO
OBRIGADO!
V. EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS
1 2 3 4 5
1. Professores e educadores favorecem a conquista da autonomia da criança
para a realização dos cuidados diários (alcançar objetos, tirar as sandálias, lavar
as mãos, usar o sanitário, etc.)
2. São proporcionadas às crianças atividades e experiências de aprendizagem
diversas, abrangendo todos os aspectos do desenvolvimento (físico, afetivo,
social e cognitivo)
3. Professores e educadores organizam brincadeiras com sons, ritmos e
melodias com a voz e com o corpo, oferecem instrumentos musicais e outros
objetos sonoros para que sejam explorados pelas crianças
4. As crianças participam de Projetos de Trabalho (descobertas do mundo)
5. As crianças participam de situações que aprendem a cuidar de si e do próprio
corpo
6. Professores e educadores organizam diariamente momentos para a atividade
de contar histórias
Em sua opinião, quais são os 3 itens mais importantes?
1º 2º 3º
419
PESQUISA DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL Instruções: Nas questões abaixo, assinale com um X a lacuna, o que mais está em concordância com o seu grau de satisfação em
relação ao atendimento à criança de 0 a 3 anos na instituição educacional que você trabalha, sendo que:
1 = discordo totalmente
2 = discordo
3 = não concordo nem discordo/ não sei
4 = concordo
5 = concordo totalmente
É muito importante que você responda a todas as questões. Não há necessidade de identificação do seu nome. MUITO
OBRIGADO!
VI. CUIDADOS PARA UMA VIDA SAUDÁVEL
1 2 3 4 5
1. O tempo de descanso vai ao encontro das necessidades de sono de cada
criança
2. Os brinquedos são lavados e higienizados regularmente
3. A instituição dispõe de um cardápio nutricional variado e rico que atenda às
necessidades das crianças, inclusive daquelas que necessitam de dietas especiais
4. Os adultos passaram por treinamento de primeiros socorros
5. As salas de atividades e demais ambientes internos e externos são
agradáveis, limpos, ventilados e tranquilos, com acústica que permite uma boa
comunicação
6. Há material individual de higiene, de qualidade e em quantidade suficiente,
guardado em locais adequados (sabonetes, papel higiênico, escovas de dente e
outros itens)
7. O ambiente da creche proporciona bem estar às crianças
8. O espaço para recreação está em boas condições de uso
Em sua opinião, quais são os 3 itens mais importantes?
1º 2º 3º
VII. QUALIFICAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
1 2 3 4 5
1. Os educadores têm, no mínimo, a habilitação em nível médio na
modalidade Normal ou Magistério
2. Os professores, dirigentes e educadores têm curso superior
3. A formação continuada atualiza conhecimentos, promovendo a leitura e
discussão de estudos sobre a infância e sobre as práticas de Educação Infantil
4. A instituição conhece e implementa procedimentos que visam prevenir
problemas de saúde dos professores, educadores e demais profissionais
Em sua opinião, quais são os 3 itens mais importantes?
420
1º 2º 3º
PESQUISA DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL Instruções: Nas questões abaixo, assinale com um X a lacuna, o que mais está em concordância com o seu grau de
satisfação em relação ao atendimento à criança de 0 a 3 anos na instituição educacional que você trabalha, sendo que:
1 = discordo totalmente
2 = discordo
3 = não concordo nem discordo/ não sei
4 = concordo
5 = concordo totalmente
É muito importante que você responda a todas as questões. Não há necessidade de identificação do seu nome. MUITO
OBRIGADO!
VIII. RELAÇÃO COM A FAMÍLIA
1 2 3 4 5
1. Os pais e as mães recebem uma atenção especial durante o período de
acolhimento das crianças?
2. Reuniões e entrevistas com os familiares são realizadas em horários
adequados à participação das famílias?
3. Os familiares das crianças com NE são bem acolhidos e conhecem o
direito de seus filhos à educação?
4. As atividades de aprendizagem se refletem no ambiente familiar das
crianças e na comunidade local onde a escola está inserida?
5. Familiares de crianças novatas são auxiliados e encorajados a ficar na
instituição até que as mesmas se sintam seguras?
6. A escola promove festas com a participação de pais, mães, crianças,
professores(as) e funcionários?
7. A Associação de Pais e Mestres é formada por representantes de toda a
comunidade escolar e sua composição é paritária, ou seja, possui o mesmo
número de pessoas entre funcionários (incluindo professores(as)) e não
funcionários?
8. Pais e mães, professores(as) e funcionários (as) em geral discutem as
dificuldades de gestão da escola e participam da solução destes problemas?
Em sua opinião, quais são os 3 itens mais importantes?
1º 2º 3º
425
CADERNO DE ORIENTAÇÃO31
Recomendamos que Escolas de Educação Infantil com Atendimento de 0 a 3 anos
se organizem para que todos os integrantes da equipe escolar possam participar do processo
de avaliação. Para isso, se faz necessário planejar como será feita a mobilização da
comunidade, providenciar os materiais, estimar o tempo necessário para os trabalhos, além
de preparar espaços para as reuniões e plenária final.
Sugere-se que a organização desse
processo esteja a cargo de uma comissão
formada por representantes dos dirigentes, dos
docentes e dos pais. Esse grupo deve criar
estratégias de mobilização e envolvimento da
comunidade escolar, bem como preparar a
estrutura necessária.
É importante que todos os integrantes da creche
participem da avaliação participativa incluindo
professores, monitores/auxiliares, dirigentes e funcionários, bem como, representantes dos
pais. Para tanto, é necessário considerar o horário que melhor atenda às possibilidades do
grupo. Se não for possível, mantenha os integrantes de todas as categorias e façam um
sorteio.
Para possibilitar a participação de todos na discussão, é conveniente que os grupos
tenham no máximo vinte pessoas. No caso de grupos maiores sugere-se a divisão em dois
ou mais subgrupos. Lembrando que cada grupo deve ser composto por representantes tanto
da equipe escolar como das famílias e deve ter um coordenador e um relator, especialmente
31
Este material é um excerto do Caderno de orientação Caderno de Orientações de Autoavaliação da
Qualidade na Educação Infantil – CESGRANRIO - SE GDF Equipe técnica do projeto –Profa. Dra. Maria
Inês Fini Assessoras técnicas: Profa. Dra. Orly Zucatto Mantovani de Assis, Valéria C. Borsato Cantelli e
Andréa Patappof Dal Coleto – LPG/FE/UNICAMP – LPG/FE/UNICAMP
Cartas, convites, folders,
cartazes podem ser utilizados como
possibilidades de divulgação aos
participantes da avaliação
participativa. O entorno da escola deve
ser informado sobre o que estará
acontecendo.
426
escolhidos para desempenharem essas funções, previamente definidos antes do dia da
avaliação.
APLICAÇÃO DO IAPQEI – c (Instrumento de Avaliação Participativa da Qualidade da
Educação Infantil – creche)
No dia da avaliação participativa, sugere-se que todos os participantes da
comunidade escolar se reúnam em plenária, ou seja, em um único ambiente para discutir as
dimensões apresentadas que serão objeto de análise.
Ao coordenador cabe cuidar para que todas as perguntas sejam respondidas no
tempo previsto, buscando chegar, depois da discussão, a consensos sobre a situação da
creche em relação aos indicadores ou identificando as opiniões conflitantes quando não for
possível estabelecer um consenso. Além disso, ele ajudará o grupo a compreender como os
indicadores serão pontuados.
O relator será responsável por tomar nota, cuidar da elaboração do quadro síntese e
expor no final dos trabalhos os resultados da discussão do grupo, com base nesse
instrumento.
Cada participante da avaliação deve receber, pelo menos, uma cópia dos quadros de
avaliação, seus respectivos indicadores. O ideal é que todos disponham do conjunto
completo do material, mas, se isso não for possível, cada participante deve pelo menos ter
acesso à lista dos indicadores e das perguntas que serão discutidas no grupo.
Os participantes também devem receber caneta ou lápis para fazer suas anotações.
Fita adesiva e cartolina ou outro papel para a elaboração de um quadro-síntese que
possibilitará a visualização do resultado da avaliação na plenária também devem estar à
disposição dos grupos.
Para realizar a avaliação os participantes devem responder as questões utilizando
uma escala de valores de 1 a 5 pontos.
427
Quadro de orientação para atribuição de pontos
CLASSIFICAÇÃO DEFINIÇÃO
1
Não
Praticado
Nenhum ou poucos dos indicadores desta área são praticados na
unidade.
2
Prática
Mínima
A unidade apresenta insuficiências e lacunas existentes nesta
área, há que se melhorar o aspecto abordado.
3
Prática
Moderada
A unidade está implementando os indicadores desta área, ainda
apresenta lacunas na prática e melhorias podem ser feitas.
4
Prática
Efetiva
A maioria dos indicadores neste aspecto encontra-se
implementados. A prática deste indicador na unidade apresenta-
se sem grandes falhas.
5
Prática
Exemplar
A unidade já implementou todos os aspectos deste indicador.
A unidade apresenta as condições de qualidade.
A escala apresenta cinco níveis de pontuação que permitem avaliar a situação da
unidade frente aos indicadores. Os números representam a avaliação feita: a situação do
indicador é considerada exemplar quanto mais próximo do número 5 e deficitária
quando a ele forem atribuídos uma pontuação próxima de 1.
Os pontos atribuídos às perguntas ajudarão o grupo a ponderar e decidir qual
reflete com mais precisão a situação da instituição de Educação Infantil em relação a
cada indicador.
O processo de escolha dos pontos deve ser negociado entre todos. Para se definir
a pontuação de uma questão, é preciso refletir sobre a real situação da unidade frente ao
aspecto analisado e buscar coletivamente argumentos que justificam os valores
atribuídos.
É necessário aproveitar o momento de discussão das questões para o diálogo;
saber ouvir e respeitar o que o outro tem a dizer. Caso não haja consenso entre os
428
participantes, o grupo pode optar pela votação. Conflitos de opinião existem em toda
sociedade, por isso, reconhecê-los e lidar com eles de forma madura e negociada faz
parte do processo democrático.
A atribuição de pontos ao indicador é resultado da média dos pontos atribuídos, ou seja,
da soma dos pontos atribuídos às questões, dividido pelo número de questões.
2. Quadro demonstrativo para pontuação do indicador.
Considerando o esquema acima, foram atribuídos para as questões de 1 a 6 a
seguinte pontuação: 04, 04, 03, 04, 02, 03, respectivamente, chega-se a 20 pontos, que
dividido pelo número de questões (6) obtém-se 3,33 que corresponde ao 3 da escala de
valores. Neste caso, o indicador 1: Acompanhamento e registro da prática educativa
alcançou a pontuação 3,33.
Para o registro dos pontos, há um espaço em branco a ser preenchido ao lado de
cada pergunta e do indicador. No final de cada dimensão há também espaço para registro
das conclusões quanto aos pontos atribuídos a cada indicador.
Cabe ao relator a tarefa de anotar os pontos mais importantes do debate, explicando
por que o grupo atribuiu esta ou aquela pontuação a um determinado indicador. Essa é uma
tarefa fundamental e permitirá ao grupo fazer o quadro-síntese (usando cartolina ou outro
papel) para que os dados possam ser visualizados.
429
Nos casos em que a discussão ocorre em mais de um grupo, após concluídos os
trabalhos todos os participantes deverão se reunir em plenária para a socialização das
ideias e chegar às conclusões.
Nessa etapa, cada grupo (por meio de seu relator) irá expor aos demais presentes,
com base no quadro-síntese, os resultados da sua discussão. Feita as exposições, passar-se-á
então, para uma nova etapa do trabalho: discussão na plenária para tirar dúvidas e chegar a
um consenso referente ao conjunto de indicadores. Quando houver divergências de opiniões
sugere-se votação aberta.
Encerrada a discussão das sete dimensões o grupo deve preencher o quadro síntese
com os pontos atribuídos aos indicadores. O relator expõe os resultados à plenária.
Sugerimos que um painel com as pontuações definidas na plenária seja exposto, em
local visível, na creche. O quadro resumo da avaliação pode ser colocado no mural da
escola e/ou distribuído à comunidade e equipe. Assim, toda a comunidade acompanhará a
mudança dos sinais de qualidade da instituição à medida que o plano de ação for sendo
executado.
SOBRE A ELABORAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO
Após a discussão de cada uma das dimensões e pontuação de todos os indicadores
chega-se a um retrato da qualidade da Educação Infantil (0 a 3anos) da escola. Com base
nesses dados o grupo deve definir as prioridades de ação.
Com o objetivo de elaborar o plano de ação, sugerimos o agendamento de outra
data, para que o processo não seja cansativo. Pode-se também tirar uma comissão
representativa de todos os segmentos da equipe escolar e da comunidade, que se reunirá em
outro momento com o objetivo de elaborar o plano de ação.
A elaboração de um planejamento pode ajudar a definir e organizar as atividades
que serão colocadas em prática para alcançar os objetivos levantados. Além disso, o
planejamento poderá ser útil para decidir quem serão as pessoas responsáveis por essas
atividades e para prever o tempo a ser destinado a execução.
430
O primeiro passo é saber o que a creche quer alcançar. Em seguida, é preciso
identificar o que será realizado para alcançar os objetivos e quais recursos (financeiros,
humanos, materiais, entre outros) são necessários para executar o plano em ação. No caso
deste trabalho, o principal objetivo é a melhoria da qualidade da Educação Infantil (0 a 3
anos).
Uma vez definidas as ações, estabelecidos os prazos e os responsáveis pelas
atividades, é importante indicar se as ações são de curto prazo (até o fim do ano), médio
prazo (a serem realizadas no ano seguinte) ou longo prazo (a serem realizadas no ano
subsequente).
A elaboração do plano de ação poderá ser realizada conforme o modelo que se
segue:
MODELO DE PLANO DE AÇÃO
DIMENSÃO INDICADOR PROBLEMA AÇÕES RESPONS. PRAZO
Um bom planejamento exige acompanhamento e avaliação constantes. É preciso
estar atento, corrigindo o que não está tendo êxito e observando o que impulsiona o
processo de construção da qualidade. Uma comissão representativa pode ficar com a
responsabilidade de monitorar a realização do plano de ação. Reuniões periódicas ajudam a
verificar se as ações estão acontecendo como foram planejadas e no tempo determinado
anteriormente e também a replanejar ações que não estão ocorrendo ou não estão dando
certo.
Para avaliar se as ações planejadas estão solucionando os problemas detectados nas
dimensões discutidas, pode-se recorrer ao uso deste instrumental a cada um ou dois anos,
por exemplo. Se as pontuações que a comunidade escolar atribuiu aos indicadores
estiverem passando de valores inferiores para superiores, é sinal de que o plano de ação está
surtindo efeito.
431
ANEXO II
Síntese apresentada por Tsuda (2008, p. 47) quanto as medidas para que as instituições
formadoras façam as adequações necessárias quanto a formação profissional para que possa
garantir uma Educação Infantil de qualidade:
a. a Resolução CNE/CEB nº 2, de 19/04/1999 (BRASIL, 1999ª), que define as ―Diretrizes
Curriculares Nacionais para a formação de docentes da Educação Infantil e dos anos
iniciais do Ensino Fundamental‖, em nível médio, na modalidade normal, apresentando a
concepção de formação atualizada e definida nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil – DCNEI.
b. O Decreto 3.276/99 inicialmente determinou exclusivamente ao Curso Normal
Superior a formação dos professores para atuar na Educação Infantil e nos primeiros anos
do Ensino Fundamental nas Instituições de Ensino Superior. Tal proposição foi alterada
através do Parecer CNE/CEB 133/2001, justificando ferir o disposto no art. 62 da LDB n.
9.394/96.
c. As Resoluções CNE/CP nº 01 e 02/2002 – instituem, respectivamente, as Diretrizes
Curriculares Nacionais, a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de
graduação plena, em nível superior, para a formação de professores de educação básica e
estabelecem princípios, fundamentos e procedimentos a serem observados na organização
institucional e curricular de cada estabelecimento de ensino, buscando garantir a
especificidade de cada modalidade de Educação Básica articulando teoria e prática. Tais
resoluções indicam a necessidade de as instituições de ensino superior repensar seus
cursos de formação de professores.
d. O Programa de Formação Inicial para Professores em Exercício na Educação Infantil–
PROINFANTIL, criado pelo MEC, em nível médio na modalidade normal, mesclando o
uso da educação à distância, com encontros presenciais com a finalidade de proporcionar
aos professores sem habilitação mínima exigida pela legislação vigente e que atuam como
docentes nas instituições de Educação Infantil, o domínio dos conteúdos do Ensino Médio
432
e a formação pedagógica necessária para a melhoria da qualidade de sua prática
profissional (BRASIL, 2005).
e. A Resolução CNE/CP n.1/06 de 15 de maio de 2006 (BRASIL, 2006b), institui as
novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia e define a docência
como base da pedagogia. A formação possibilitará atuação no magistério da Educação
Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental, e para as matérias pedagógicas no
Curso Normal de nível médio e de cursos da Educação Profissional, bem como, a
participação, a organização e a gestão de sistemas e instituições de ensino, englobando:
I. planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas próprias
do setor da Educação;
II. planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de projetos e
experiências educativas não-escolares;
III. produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo educacional,
com o objetivo de estabelecer ações e metas para a qualificação de professores brasileiros
especialmente para o ensino fundamental e a educação infantil, que ainda não possuem a
formação considerada adequada ao trabalho que exercem.