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UNIVERSIDADE PONTIFÍCIA SALESIANA
Faculdade de Teologia
Mestrado em Pastoral Juvenil
MISSÃO JOVEM ESTIGMATINA NO BRASIL
Perspectivas Educativas ao Sentido da Vida
Dissertação de Elizeu DA CONCEIÇÃO
Relator: Prof. Damásio MEDEIROS
Roma, a.a. 2016-2017
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 2
“Ide, sem medo, para servir”
Papa Francisco
A motivação principal da pesquisa sobre a “Missão Jovem Estigmatina como educadora ao
sentido da vida” vem da experiência com tantos jovens que se doam a outros jovens para
que estes tenham vida e vida em abundância. A eles dedico esta tese e expresso meu
agradecimento, pois me impulsionaram a fundamentar teoricamente o que já fazem na
prática.
Agradeço à Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo
(Estigmatinos), principalmente à Província Santa Cruz, que investiu e confiou em mim.
Agradeço também àqueles estigmatinos que me acolheram em Roma.
Agradeço à minha comunidade de Vida Consagrada Estigmatina, da Paróquia “Santa Croce
al Flaminio” que entendeu minha ausência dos trabalhos pastorais e de alguns momentos
comunitários durante o período de estudo e pesquisa.
Agradeço aos professores e amigos da “Universidade Pontifícia Salesiana” de Roma que me
ajudaram a aprofundar o conhecimento da cultura atinente à juventude e a amar ainda mais
os jovens. Este agradecimento é, de modo especial, ao professor Damásio Medeiros, que se
dedicou a ler o meu trabalho e a orientar-me na pesquisa.
Agradeço aos meus amigos, de maneira especial àqueles que ficaram no Brasil torcendo por
mim; àqueles que me auxiliaram nas correções dos textos, no envio de materiais e de fonte
de pesquisa etc.
A todos, minha estima e admiração.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 3
ABREVIAÇÕES E SIGLAS
CEI = Conferência Episcopal Italiana
CELAM = Conferência Episcopal Latino-Americana
CF = Constituições do Fundador
CNBB = Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
DA = Documento de Aparecida
DG = Diretrizes Gerais
EN = Evangelii Nuntiandi
PJ = Pastoral da Juventude
PJEst = Pastoral da Juventude Estigmatina
SEJ = Secretaria de Juventude da Conferência Episcopal Latino-Americana
TdL = Teologia da Libertação
UCG = Universidade Católica de Goiás
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 4
INTRODUÇÃO
É importante iniciar a apresentação desta tese situando-a culturalmente, em vista da
qual se desenvolverão as reflexões e projeções, ou seja, entender que o discurso é cultural e
racionalmente situado. Trataremos da Missão Jovem Estigmatina situada no Brasil, país que
vive e participa da cultura Latino-Americana. Especificando ainda mais, podemos dizer que
a reflexão tem como referência a prática missionária dos jovens estigmatinos nas cidades
dos seguintes Estados: Bahia, São Paulo e Paraná, onde os estigmatinos estão presentes.
Como a Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo
(Estigmatinos) nasceu em Verona, Itália, em 1816, será necessário apresentar também,
elementos culturais e históricos daquele contexto, para, assim, compreendermos melhor a
atuação hodierna dos estigmatinos.
Partindo do pressuposto de que a Pastoral Juvenil tem a missão de atuar na educação
do jovem, levando-o à descoberta do sentido existencial, para o qual ele foi chamado, nos
questionamos: “Como a Missão Jovem Estigmatina pode ser um processo educativo para o
jovem na descoberta do sentido da sua vida, diante de uma realidade niilista, produtora de
superficialidades, banalidades e morte?”.
Esta pergunta, que norteará toda tese, exige um enquadramento teórico, assim como,
um caminho metodológico.
O “como”, da pergunta acima, requer uma indicação de elementos claros da atuação
gradual na vida da juventude. A indicação da “Missão Jovem Estigmatina” delimita de qual
jeito ou de qual missão estaremos tratando, já que esta é permeada por uma espiritualidade
bertoniana. O “processo educativo” especifica que a missão vai além de um evento com
jovens, mas é constituída por um conjunto de atividades, direcionadas essencialmente ao
processo educativo.
Vamos partir, então, de uma hipótese: a Missão Jovem Estigmatina é um espaço
educativo ao sentido da vida à medida que possibilita uma educação aos elementos
fundamentais que integram cada pessoa. O jovem está no centro de toda atividade
missionária, tanto como agente-protagonista, quanto como destinatário-protagonista. Por
isso, para ser educadora é necessário estabelecer um processo gradual no qual o jovem se
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 5
aperfeiçoe em construir a própria história e a história da humanidade baseada em valores
humanos indispensáveis para o crescimento da comunidade, uma vez que não é possível ser
feliz desejando apenas um crescimento pessoal, individualista, egoísta.
Como destacamos, pensar na educação ao sentido da vida é pensar no jovem como um
ser protagonista na história: “não basta assistir ao desfile do tempo. Há que agir
ousadamente. Há que planejar e criar nova humanidade”.1
Assim, o tema desta pesquisa será fundamentado em teorias e estudos de autores e de
documentos que, nas diferentes abordagens, apresentam elementos essenciais para
compreender a educação ao sentido da vida.
O teólogo Clodovis Boff em sua obra “O livro do sentido: crise e busca de sentido
hoje (parte crítico-analítica)”2, elenca diversos sintomas da falta de sentido: a depressão
crescente, os suicídios em alta (especialmente entre os jovens), a difusão das drogas, a
desnatalidade deliberada, a banalização do sexo, a violência difusa e o advento da
frivolidade. Segundo o autor, tudo isso configura esvaziamento dos valores e desamor pela
vida. E a razão para isso é porque atualmente está sendo eliminado a dimensão transcendente
da vida, de modo que nada mais tem transcendência, valor e encanto.
Já o escritor e teólogo brasileiro, João Batista Libanio, trata da temática do sentido da
vida para os jovens brasileiros, de forma específica referente ao período da pós modernidade.
No livro “Jovens em tempo de pós-modernidade, considerações socioculturais e pastorais”3
ele traça uma perspectiva geral da juventude e faz um apanhado interessante e abrangente
sobre o assunto, apresentando a juventude emoldurada pela modernidade e pela rebeldia
diante dela. A juventude é tempo de educação. Esta se constrói no duplo movimento de
oferta e descoberta. E, entre outras reflexões, o autor trata também dos lugares de educação
dos jovens. Lugares esses que nos ajudarão a descobrir onde os missionários devem se fazer
presentes.
1 J. ARDUINI, Antropologia. Ousar para reinventar a humanidade, São Paulo, Paulus, 2002, 15. 2 C. BOFF, O livro do sentido. Crise e busca de sentido hoje (parte crítico-analítica), vol. 1, São Paulo,
Paulus, 2014. 3 J. B. LIBANIO, Jovens em tempo de pós-modernidade. Considerações socioculturais e pastorais, São
Paulo, Loyola, 2004.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 6
Também o psicólogo Victor Frankl apresenta seu pensamento sobre o sentido da vida
ancorado em sua própria experiência de vida. Seu estudo sobre a alma humana o leva a
proclamar a dignidade inalienável de cada pessoa humana. Essa parte está centrada no
pensamento antropológico deste autor, que pontua a auto-transcendência como a essência da
existência. Por isso, o livro “Um Sentido para a vida: Psicoterapia e Humanismo”4 será uma
base importante para a presente pesquisa.
Já o educador Paulo Freire, através da sua obra Pedagogia do Oprimido5 mostra sua
preocupação com uma pedagogia que seja capaz de levar o ser humano à luta, como sujeito
da própria libertação. É uma pedagogia humanista e libertadora na medida em que os
oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão se comprometendo, na práxis, com a
sua transformação, modificando a realidade opressora. Esta pedagogia deixa de ser do
oprimido e passa a ser a pedagogia das pessoas em processo de permanente libertação. Este
modelo pedagógico dá suporte à organização pastoral, promovendo um processo educativo
ao sentido existencial.
O documento Civilização do Amor: Projeto e Missão, do Conselho Episcopal Latino
Americano (CELAM), foi elaborado mediante um grande processo entre 2007 e 2010, a
partir de uma equipe formada por representantes de vários países Latino-Americanos e
coordenada por Dom Mariano José Parra Sandoval, Bispo responsável pela Secretaria de
Juventude do CELAM (SEJ). É um documento essencial para pensar o horizonte, estabelecer
os caminhos e metodologias da Missão Jovem. Será importante este documento no que tange
à opção pedagógica própria da Pastoral Juvenil no continente Latino-americano e,
consequentemente, na Pastoral da Juventude Estigmatina.6
Essas obras citadas fazem parte do status quaestionis e nortearão a reflexão da presente
tese.
Por isso, o objetivo principal desta tese é o de “propor linhas educativas-pastorais para
a Missão Jovem Estigmatina, afim de que esta, sendo uma ação eclesial inspirada na
4 V. E. FRANKL, Um Sentido para a vida. Psicoterapia e Humanismo, Aparecida, Idéias & Letras,
162005. 5 P. FREIRE, Pedagogia do Oprimido, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 171987. 6 SECRETARIA DE JUVENTUDE DO CELAM - SEJ, Civilização do Amor – Projeto e Missão, Brasília,
CNBB, 2013.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 7
pedagogia do Mestre de Nazaré, seja educadora ao sentido pleno da vida”. Os objetivos
específicos são: analisar a realidade da juventude, principalmente no que concerne à
juventude estigmatina para detectar os desafios e as oportunidades na atuação da Pastoral
Juvenil, através da missão jovem; fundamentar teológica e pedagogicamente a Missão
Jovem Estigmatina como educadora o sentido da vida para a juventude; oportunizar linhas
de ação a favor da Pastoral da Juventude Estigmatina, no que concerne às perspectivas da
Missão Jovem como educadora ao sentido da vida.
A estrutura desta tese procurará responder à pergunta fundamental acima referida e,
ao mesmo tempo, atingir os objetivos propostos. Por isso, será elaborada em três capítulos.
1º. Tratará sobre a motivação inicial da Missão Jovem, ou seja, o trabalho de São Gaspar
Bertoni com a juventude e um olhar geral sobre a Congregação dos Estigmatinos a esse
respeito; em seguida, a motivação da “Missão Jovem” desenvolvida pela Província Santa
Cruz e de que modo ela é uma resposta educativa ao sentido da vida. Será analisado também
a realidade da juventude com o objetivo de detectar os desafios e as oportunidades para a
atuação da Pastoral Juvenil através da Missão Jovem visando a superação do drama
existencial.
2º. Far-se-á uma busca dos fundamentos teológicos-educativos da Missão Jovem,
principalmente nos documentos eclesiais; haverá também, uma apresentação do sentido da
vida através do pensamento do psicólogo Viktor Frankl e do teólogo Clodovis Boff, e uma
leitura da Teologia da Libertação sobre o tema. É um momento criteriológico que nos ajudará
a identificar as potencialidades da Missão Jovem, sua profundidade teológica e sua atual
validade no processo metodológico educativo desta faixa etária; será apresentada, ainda, a
opção pedagógica da Pastoral Juvenil, que deve ser formada por elementos de uma
eclesiologia de comunhão, de uma formação integral e de pedagogia dialógica.
3º. Apresentará horizontes da Missão Jovem Estigmatina na construção de caminhos
de sentido, ou seja, será uma exposição de critérios para a Missão Jovem oferecendo
elementos para o amadurecimento pessoal e grupal dos envolvidos na evangelização da
juventude, e de que modo a missão deve direcionar seu foco para a prioridade educativa ao
sentido da vida, na qual se encontram caminhos de maturidade e emancipação humana; tal
enfoque será a resposta ao apelo de uma Igreja em saída, saída das estruturas fechadas para
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 8
ser presença na cultura juvenil, ou seja, fazer-se presente nesta realidade como um bom
motivo para celebrar com os jovens a beleza e as dificuldades da vida. Enfim, será indicada
a amplitude do que significa educar ao sentido da vida, que passa pela educação ao
comunitário, ao protagonismo, à amizade, à fé e ao amor.
A tese será desenvolvida através do método “teológico, empírico, crítico, projetual”
que é formado por três fases: “kairológico” ou análise avaliativa da situação, “projetual” que
visa a projeção da práxis desejada, e o “estratégico” que programa a passagem da prática
vigente à prática desejada. É um método complexo e bem articulado. Além disso, é
qualificado como teológico porque tem como referência e avaliação os valores que vêm do
Evangelho; é empírico, porque se refere à analise ou descrição da situação em que se
encontram os fatores constitutivos de uma prática religiosa, cristã ou eclesial; é crítica na
medida em que desenvolve uma reflexão crítica sobre a experiência detectada; e é Projetual
porque articula um caminho em direção a uma nova realidade.
Quanto aos dados metodológicos, foram adotadas as orientações do livro “Invito alla
ricerca. Metodologia e tecniche del lavoro scientifico”,7 assim como as indicações do
orientador. Como opção, diante dos textos em outros idiomas, fizemos a tradução nossa,
procurando seguir fielmente ao texto original, sem indicação em nota no rodapé.
Com esta tese, como já salientamos, pretendemos oferecer metodologias e elementos
que auxiliem a Pastoral da Juventude Estigmatina na orientação educativa de jovens ao
sentido de vida, pois acreditamos que isso é fundamental no estudo e na práxis da Teologia
Pastoral. De fato, a Missão Jovem se apresenta como um método educativo ao sentido
existencial, uma vez que possibilita o encontro entre as diversas juventudes, do qual brota o
diálogo provocador que desperta para uma interlocução educativa.
7 J. M. PRELLEZO – J. M. GARCIA, Invito alla ricerca. Metodologia e tecniche del lavoro scientifico.
Roma, Las, 42007.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 9
CAPÍTULO I
A MISSÃO JOVEM ESTIGMATINA E O SENTIDO DA VIDA
Neste capítulo será apresentada a gênese da Missão Jovem Estigmatina, caracterizada
no apostolado de Padre Gaspar Bertoni, fundador da Congregação dos Sagrados Estigmas
de Nosso Senhor Jesus Cristo (Estigmatinos). Acreditamos que ampliar o olhar sobre a
Missão Jovem Estigmatina é resgatar as origens da evangelização para a juventude, presentes
no agir de nosso Padre Fundador. Dessa forma, será factível organizar, balizar, fundamentar
e projetar a atuação missionária-educativa em tempos hodiernos.
O pano de fundo desta exposição e da análise da realidade atinente à juventude será a
pergunta que pretendemos responder até o final desta tese: “Como a Missão Jovem
Estigmatina pode ser um processo educativo para o jovem na descoberta do sentido da sua
vida, diante de uma realidade niilista, produtora de superficialidades, banalidades e morte?”.
Inspirados em São Gaspar Bertoni, homem que empregou grande parte da sua vida em
estar a serviço da juventude, principalmente no que tange à educação cristã, os religiosos
estigmatinos balizam seu agir em três ministérios específicos: “Pregação da Palavra;
Assistência aos eclesiásticos e,; Educação cristã da juventude”.8 Aos estigmatinos conferem-
se, através dos ensinamentos do Fundador e das orientações de suas Constituições, estes três
ministérios específicos, os quais sempre receberam a mesma atenção tanto no planejamento
quanto na atuação pastoral. Convém salientar, entretanto, que o presente trabalho vai se
deter, especificamente, no terceiro ministério.
Olhar para a fonte estigmatina, explicitar a estrutura da missão e ler a realidade atinente
à juventude em tempos pós-modernos será o desafio deste capítulo. Assim, poderemos,
através da fonte teórica e prática deixada por São Gaspar, analisar o universo juvenil em
contexto brasileiro, principalmente no que concerne à busca do sentido da vida para, então,
detectar os desafios e oportunidades na atuação da pastoral através da Missão Jovem
Estigmatina.
8 CONGREGAÇÃO DOS SAGRADOS ESTIGMAS DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO - ESTIGMATINOS,
Constituições e Diretório Geral, Goiânia, UCG, 2008, n. 2.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 10
1. Os Estigmatinos e a Juventude
Os Estigmatinos consagram-se para vivenciar os votos religiosos e a vida comum,
procurando seguir o espírito do Fundador.
Aos 04 de novembro de 1816, Pe. Gaspar entrou, com alguns companheiros, na semi-
abandonada igreja dedicada aos Estigmas de São Francisco de Assis, para iniciar uma nova
Família de Vida Consagrada. Com renovada estrutura, apostolado e testemunho deste
sacerdote, esta Família cresceu e se espalhou por diversos países, (hoje, 16 ao todo), e conta
atualmente com aproximados 630 membros, entre professos, irmãos, diáconos e sacerdotes.
O carisma deixado pelo Padre Gaspar, é a clara expressão da sua experiência em
tempos vividos apostólica e comunitariamente. De fato, inspirado pela Santíssima Trindade,
ele fundou a Congregação com um carisma missionário: Missionarii Apostolici in obsequium
Episcoporum,9 isto é, prioritariamente, de “missionários que, com todas as suas forças e a
graça particular da própria vocação, tratam de realizar a missão apostólica”.10 Deste
mandato, brotaram também os demais ministérios específicos, que vivenciados na
experiência prática de vida, Pe. Gaspar transmitiu aos seus seguidores. O “anúncio da
Palavra de Deus”, é inspirado no título de missionário apostólico que ele recebeu da Santa
Sé (20-12-1817), após as Missões populares, pregadas, em 1816, na igreja de São Firmo
(Verona-Italia). Outro mandato, a “Assistência ao clero” vem da experiência na formação
dos seminaristas e nas orientações do clero diocesano a pedido do Bispo de Verona. Por
meio deste apostolado ele foi cognominado “Anjo do Conselho”. E o terceiro mandato, a
“Educação cristã da juventude” é inspirada no seu rico apostolado com os jovens, pelo qual
chegou a ser reconhecido como “Apóstolo da Juventude”.11
Desse modo, o envolvimento dos estigmatinos com a juventude vai além de uma
simples inclinação e motivação pessoal ou de um plano pastoral que visa aumentar o número
de fiéis católicos. Ao contrário, ele faz parte da gênese da Congregação Estigmatina. Sendo
assim, apresentaremos a relação de São Gaspar com a juventude para entendermos a atuação
9 Missionários Apostólicos em auxílio aos Bispos. 10 ESTIGMATINOS, CF n. 185; Constituições e Diretório Geral, n. 1; 9. 11 Cf. R. SIMONATO, Con mitezza e gioia. Profilo di Gaspare Bertoni, uomo del consiglio, Milano,
Ancora, 2016, 293.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 11
dos Estigmatinos na atualidade, principalmente, através da Missão Jovem. Ao final do
capítulo trataremos de alguns traços da juventude em tempos pós-modernos para evidenciar
os desafios vividos e enfrentados pelos jovens, assim como o que esta atividade missionária
pretende responder e, ao mesmo tempo, entender as forças que brotam da própria juventude
e que motivam e ajudam na atuação pastoral.
1.1. São Gaspar Bertoni e a Juventude
Padre Gaspar Bertoni12 nasceu no dia 09 de outubro de 1777, filho de uma família
burguesa, que contava com um patrimônio notável. A família Bertoni tinha nome respeitado
na cidade de Verona pois era formada por proprietários e administradores de fundos rurais,
notários e alguns sacerdotes.13 Isso lhes dava a segurança econômica e política necessária
para uma vida confortável e garantia um futuro promissor ao seu novo integrante.
A formação familiar do pequeno Gaspar, foi bem desenvolvida pela sua mãe Brunora
Ravelli, “educadora atenta, da qual Gaspar recebeu os princípios da religião. Por isso, ele foi
sempre grato e afetuoso a ela”.14 Seu pai, Francisco Luiz Bertoni, ao contrário, lhe causou
grandes constrangimentos, principalmente pelo seu modo intransigente de caráter, sua
incapacidade de administrar os bens familiares e suas atitudes imorais.15
A formação escolar de Gaspar foi jesuítica, a começar pela escola São Sebastião que
pertencia à Companhia de Jesus e desenvolvia um ensinamento fundamentado em regras
claras contidas na sua Ratio Studiorum.16 Nesse período participou também da Congregação
Mariana anexa ao Oratório do colégio, e foi orientado pelos professores a ter São Luiz
Gonzaga como modelo de jovem cristão ao qual se afeiçoou com muita piedade. Seguindo
a formação dos Jesuítas recebeu a primeira comunhão em 1788, evento que o marcou por
12 Gaspar Luiz Dionisio Bertoni. 13 Cf. Ibidem, 75. 14 R. CARCERERI, L’Oratorio Mariano del Beato Gaspare Bertoni, Pavia, Publicação Interna dos
Estigmatinos, 1986, 1. 15 Cf. SIMONATO, Con mitezza e gioia, 81. 16 Cf. A. M. M. NEGRÃO, O método pedagógico dos jesuítas: o “Ratio Studiorum”, in
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-24782000000200010 (Acessado: 10 dezembro
2016).
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 12
toda vida, já como sacerdote comenta: “Grandíssima devoção e afeto como no dia da
primeira Comunhão, e que nunca havia tido depois”.17
Com 15 anos começou a estudar, além das Letras, também Filosofia e Ciências; depois
frequentou a Teologia, morando com a família e ajudando na Paróquia, sobretudo no contato
com os jovens. Em novembro de 1795, aos 18 anos, Gaspar Bertoni decidiu ser padre e por
isso passou a frequentar o Seminário Diocesano de Verona como aluno externo, e aos 20 de
setembro de 1800 foi ordenado sacerdote.
O início de seu ministério sacerdotal foi marcado pelas lutas entre franceses e
austríacos na cidade de Verona. Era o período da Revolução Francesa, que causava grandes
estragos na cidade e na vida de seus habitantes. As consequências dessa guerra eram visíveis,
principalmente nos hospitais repletos de feridos, nas casas destruídas, nos jovens
perambulando pelas ruas sem trabalho ou escola.
Padre Gaspar, que assumiu o cuidado do mundo jovem da paróquia, encontrou-
se diante de uma realidade dramática. As contínuas devastações dos exércitos
haviam reduzido à miséria a maior parte da população. As promessas de
liberdade, de igualdade, fraternidade que chegavam de vez em quando de ambas
as partes, eram imediatamente desmentidas por uma situação de mal-estar
material e moral a que o povo estava obrigado. No meio de tudo isso quem mais
sofria eram os jovens: a falta de escolas e o fechamento de toda atividade
artesanal ou comercial haviam provocado desemprego e dificuldade de todo
gênero. A mendicância havia se tornado comum a muitos, mesmo aos mais
jovens; os “trombadinhas” não tinham mais número. Eram bandos de meninos e
meninas que se espalhavam pela cidade metendo medo. Foi um drama que agitou
Pe. Gaspar.18
Diante dessa descrição, podemos perceber que é um período cheio de acontecimentos,
envolvidos por uma crise de valores, tendo como causa a radical transformação iluminista,
as violências revolucionárias e as ocupações napoleônicas.19 Isso atingiu diretamente a
cidade onde vivia Padre Gaspar Bertoni, Verona, que foi dividida por cinco anos (1801 –
1805), entre os franceses e austríacos, depois foi dominada completamente pelos franceses
até 1814, e então voltou a ser submetida ao domínio austríaco. As descrições desse período,
portanto, apresentam uma cidade dominada e oprimida.
17 L. ZAUPA, São Gaspar Bertoni. Um santo para o nosso tempo, traduzido por Benedito Andrade
Bettini, Rio Claro, Publicação Interna dos Estigmatinos, 2002, 2. 18 Ibidem, 6. 19 Cf. N. DALLE VEDOVE, Vita e Pensiero del Beato Gaspare Bertoni. Agli albori dell’800 Veronese.
Postulazione Generale Stimmatini, Roma, Publicação Interna dos Estigmatinos, 1975, 7.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 13
O estudioso estigmatino, Pe. Nello Dalle Vedove descreve esse momento “como se
um rolo compressor tivesse passado por sobre a cidade esmagando todas as iniciativas
privadas ou públicas, acabando com todas as fontes de renda econômica e provocando uma
situação moral desastrosa com os contínuos atentados à consciência dos cidadãos e à
liberdade da Igreja em sua organização religiosa e divina autoridade”.20
A descrição acima é aspecto importante para ler a vida e obra de São Gaspar Bertoni,
pois ele “pode ser considerado um produto do seu ambiente e do seu tempo e, juntamente, a
sua chave de interpretação. (...) Um dos personagens que mais marcou sobre o cristianismo
veronês no início de 1800”.21 Entre as suas várias atividades desenvolvidas que marcaram
época, nos focalizaremos no serviço à juventude, pois, diante da realidade social, política e
religiosa descritas, ao Padre Gaspar “foi reservado o trabalho de penetração nas consciências
para curá-las do profundo...”.22 De fato, seu trabalho, para reverter essa situação foi
direcionado ao que se pode chamar de “pontos chave” de toda sociedade e da Igreja: a
juventude secular e a juventude eclesial, ou seja, os jovens e o clero.23
As soluções dadas à tal situação demonstram a sabedoria de um homem que é capaz
de ver além da realidade factível, e que ultrapassa a mera observação ou as atitudes
moralistas.
Padre Gaspar Bertoni recebe um convite do pároco Padre Girardi, da Paróquia San
Paolo, inicia um trabalho com um grupo de apenas 10 meninos: “Os primeiros rapazes que
começou a ter sob seus cuidados, eram quase todos analfabetos”,24 e isso influenciará futuras
organizações de seu trabalho juvenil, principalmente no âmbito das escolas.
É importante salientar algumas características deste homem que atraiam os jovens: sua
fineza no trato com as pessoas, seu jeito acolhedor de conversar, sua jovialidade intensa,
dotes naturais para a música, liderança convincente. Tudo isso fazia com que muitos jovens
se encantassem e o cercassem de todos os modos.25 Tais características chamavam a atenção
20 Ibidem, 8. 21 SIMONATO, Con mitezza e gioia, 16. 22 DALLE VEDOVE, Vita e Pensiero del Beato Gaspare Bertoni, 9. 23 Cf. Ibidem. 24 ZAUPA, São Gaspar Bertoni. Um santo para o nosso tempo, 6. 25 Cf. F. CAMPAGNER, Um Cristão Cem por Cento. Vida de São Gaspar Bertoni, Rio Claro, Publicação
Interna dos Estigmatinos, 1981, 6.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 14
dos jovens, pois estes estavam cercados pelo ódio, perseguição, intolerância e violência,
causadas pela guerra.
Em 1802 Padre Gaspar inicia os Oratórios Marianos, que em 5 anos se espalharam
pela diocese de Verona, devido à sua capacidade de atrair e formar jovens, pois ele era mais
do que um assistente social, mas um verdadeiro pai da juventude, “que se interessou pelos
seus problemas, deu-lhes um trabalho ou uma função, e os seguiu pessoalmente nas suas
várias empresas e profissões”.26 Por causa desses empreendimentos, o número de jovens
crescia continuamente e, assim, formavam-se novos Oratórios na cidade. Tal modelo de
acompanhamento e assistência à juventude prodigalizava segurança às famílias, ao clero e
aos empresários que precisavam de pessoas bem formadas para exercerem algumas funções
em suas empresas. Todos indicavam os oratórios como um lugar excelente para formação
da juventude e, ao mesmo tempo, procuravam copiá-los como modelos para novos grupos
de jovens.
Em 1816, Padre Gaspar, além de seu trabalho com a juventude, fundou, junto com
alguns companheiros, a Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo
(Estigmatinos) no convento anexo à igreja dos “Estigmas de São Francisco de Assis”, que,
até então, estava sendo utilizada como estrebaria para os cavalos do exército de Napoleão
Bonaparte. O local foi organizado e estruturado de forma simples, mas muito prático e com
ares de espiritualidade. Aí, também, teve inicio um Oratório Mariano e uma escola gratuita
para a juventude. Após longos anos de trabalho e de sofrimento com doenças, Padre Gaspar
morreu santamente aos 12 de junho de 1853.
1.2. Oratórios marianos
Diante da realidade provocadora de sofrimentos, sobretudo para os jovens, não bastava
uma atitude pessoal ou simplesmente uma posição contrária à situação, expressa através de
discursos. Padre Gaspar, a princípio, procurou fazer amizade com os rapazes e inteirar-se de
seus problemas, mas compreendeu logo que era necessário organizar instituições educativas
e formadoras estáveis, que enfrentassem de modo orgânico os problemas dos jovens.
26 DALLE VEDOVE, Vita e Pensiero del Beato Gaspare Bertoni, 9.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 15
Sua formação jesuítica desponta, de imediato, nos resultados neste momento
importante de sua vida. Ele cria os Oratórios Marianos, baseados em uma instituição de
antigo modelo jesuítico, mas reapresentada de modo novo, para responder aos problemas da
época.
O início foi muito simples. Um pequeno grupo, que após receber a Primeira Comunhão
em junho de 1802, começa a ser acompanhado pelo Padre Gaspar através de catequese, com
instruções, formação e prática de piedade. Em seguida, elaborou uma organização mais
sistemática com jogos, oficinas e formação humana e cristã. Os poucos jovens que
participavam deste início, se encarregaram de trazer outros e assim, formou-se um grupo de
jovens mais numeroso, o qual permaneceu por muitos anos na memória do povo veronês.27
A mudança de local, por causa do aumento do número de jovens foi necessária. Tendo em
vista que em poucos meses somavam-se 400 jovens.
Padre Gaspar, ao iniciar esse trabalho com os jovens, mediante Oratórios recreativos
sobe a forma de “Coorte Mariana”,
revelou imediatamente um caráter dinâmico e um gênio criativo para tornar-se
um verdadeiro precursor da Ação Católica e da organização escoteira com os seus
Oratórios-Recreativos, que constituíram-se com uma forma de ‘Coorte Mariana’.
Ele realizou uma formação completa dos jovens, responsabilizando-os nas suas
escolhas à luz que emanava da divina pessoa de Cristo. Não se contentou em
oferecer defesa da influência nefasta de uma sociedade em dissolução, e nem
mesmo se firmou a alimentar somente o espírito de piedade e de retidão. Se
dedicou, antes ainda de abrir as suas célebres escolas dos Estigmas, à instrução
de muitos jovens com cursos noturnos nos Oratórios (...) com endereço
artesanal.28
Percebe-se, assim, que o espírito que animava Padre Gaspar ultrapassava uma afeição
pessoal pela juventude, porque, conhecedor da realidade social, política e religiosa, olhava
além de seu tempo e, portanto, projetava através de estruturas orgânicas, uma realidade
social diferente daquela vivida até então. É por isso que, para atingir tais objetivos, passou a
priorizar o que ele considerava uma das grandes forças da sociedade, a juventude.
Com os Oratórios em plena expansão, Padre Gaspar foi obrigado a convidar
colaboradores e a escolher outros lugares para desenvolver suas atividades, já que o espaço
da Casa paroquial de San Paolo de Campo Marzo tornava-se pequeno para tantos jovens;
27 Cf. CARCERERI, L’Oratorio Mariano del Beato Gaspare Bertoni, 5. 28 DALLE VEDOVE, Vita e Pensiero del Beato Gaspare Bertoni, 9.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 16
passou, então, à paróquia San Fermo Magior. Como atesta uma carta pastoral de Dom Luigi
di Canossa, Bispo de Verona, posteriormente os Oratórios se expandiram às demais
paróquias da Diocese, com o ramo masculino e alguns Oratórios femininos.29
Quanto à estrutura e à fisionomia dos Oratórios, foram sendo projetados outros
aspectos no decorrer do tempo, de acordo com o número e a necessidade dos jovens. Assim,
Padre Gaspar procurou organizar grupos de formação que, além das atividades de catequese,
piedade e jogos, se empenhavam também no trabalho manual, principalmente no manejo de
utensílios básicos.
Sabendo da necessidade de uma pedagogia que envolvesse e que conduzisse os jovens
para uma formação integral, começou a redigir também algumas normas, de acordo com as
regras da Congregação Mariana30 dos jesuítas, acrescentando algumas pequenas
especificidades. Essas normas imprimiam um rosto apostólico e social, de modo que
tornavam, o Oratório Mariano, uma organização de grande importância na formação da
juventude de Verona.
O principal ideal dos oratórios era a formação global dos jovens.31 Isso abarcava um
modelo que comprometia a vida toda deles e seus interesses. Para tanto, foi constituída uma
hierarquia, que contava com o Diretor (Pe. Gaspar), e com 8 Coordenadores: para a
espiritualidade, hospitalidade, estudos, divertimentos, música, instruções, catequese e
caligrafia. Pela organização, é possível perceber que o governo era subdividido em 4 grupo:
Deliberativo, Consultivo, Executivo e Administrativo.32 Para fazer com que esta organização
funcionasse bem, contava-se com a colaboração de muitas pessoas que eram convidadas pelo
Padre Gaspar, principalmente sacerdotes e pais e, posteriormente, até por jovens que haviam
feito o processo de formação completo.
Essa organização demonstra o espírito de um líder autêntico, que sabia servir-se da
colaboração de outras pessoas, vencendo todo tipo de ciúme. Padre Gaspar não era
29 Cf. Ibidem, 161. 30 A Congregação Mariana iniciou com o Jesuíta Pe. Giovanni Leunis, professor no Colégio Romano
em 1560 com o seguinte regulamento: Confissão e comunhão frequente, reuniões na capela do colégio,
meditações, reuniões fraternas, visitas aos santuários, assistência aos pobres. Sua principal característica é a
devoção à Virgem Maria, da qual recebe o nome e à qual se consagram. A organização é composta por Diretor,
Prefeito e Assistente. Cf. CARCERERI, L’Oratorio Mariano del Beato Gaspare Bertoni, 1. 31 Cf. SIMONATO, Con mitezza e gioia, 291. 32 Cf. CARCERERI, L’Oratorio Mariano del Beato Gaspare Bertoni, 9.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 17
centralizador, por isso, sabia como cobrar dos colaboradores o sentido de desinteresse e de
gratuidade: “Quem for colocado num cargo, guardar-se-á de toda sombra de vaidade e de
ambição; não considerar-se-á de modo algum como superior aos outros, mas como irmão”.33
Mediante encontros formativos diários, durante anos, foi possível atingir os objetivos
principais e, fundamentalmente, o de dar aos jovens uma formação cristã profunda, afim de
que seguissem Cristo com bravura e perseverança. Certamente isto exigiu uma série de
cuidados e atividades que aos poucos foram sendo animados por meio de uma grande
devoção à Eucaristia e à Virgem Maria. Os jovens eram orientados também para enfrentar
sacrifícios e a desenvolver o zelo do apostolado, por isso, a união entre eles era importante
principalmente para que houvesse um ambiente de paz e alegria. Tudo isso demandava
reuniões frequentes, com objetivos e dinâmicas diversificadas, ou seja, Padre Gaspar usava
uma metodologia que agradava pela sua diversidade de atividades.
Aos domingos e dias santos, concentrava os seus jovens, no período da manhã, entre
práticas de piedade e instrução cristã, e, no período da tarde, para orientá-los nos
divertimentos; nos demais dias da semana, reencontrava-os, a fim de continuar as atividades
religiosas e de lazer, como também, para que não se esfriassem o ardor e o entusiasmo. A
gradualidade no caminho era vista como elemento importante para a formação juvenil. Por
isso Padre Gaspar acompanhava a conduta dos jovens no trabalho, nas aulas, direta ou
indiretamente, conforme as possibilidades. Desse modo, os seus jovens, apoiados e
orientados por ele e seus colaboradores, cresciam em número e em nível educativo. Os
patrões davam preferência para os rapazes do Oratório, preenchendo vagas na própria
empresa, pois conheciam a fama da boa formação dada pelo Padre Gaspar e seus
colaboradores. As famílias agradeciam a Deus, porque os filhos haviam melhorado
extraordinariamente após o seu ingresso no Oratório.34
Se observamos bem, podemos perceber que os Oratórios Marianos obedeciam a um
estilo de evangelização sistemática, orgânica e integral. “Sistemática por seguirem
calendário, programação e organização bem definidos; orgânica, enquanto integravam o
campo espiritual com práticas lúdicas e de cunho empregatício; integral enquanto visavam
33 DALLE VEDOVE, Vita e Pensiero del Beato Gaspare Bertoni, 323. 34 Cf. CAMPAGNER, Um Cristão Cem por Cento, 17.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 18
a formação espiritual do cristão e sua inserção na sociedade em ebulição por meio de uma
preparação profissional”.35 Esse estilo de evangelização e educação possibilitou um processo
de instrução aprimorada com efeito direto na vida dos jovens, que tinham dificuldades de
comportamento e aprendizagem.
Padre Gaspar procurou também adotar um dinamismo missionário com os jovens,
como sua biografia o atesta: era um homem que trilhava estritamente as orientações eclesiais.
Certamente seu dinamismo missionário era fruto das linhas e diretrizes do Magistério da
Igreja sugeridas pelas encíclicas papais, de modo particular as de Bento XIV e Pio VII, as
quais orientavam-no a recuperar o ardor da evangelização formando grupos de jovens
fervorosos, capazes de testemunharem uma autêntica existência cristã nos ambientes onde
acontecia a vida quotidiana (Bento XIV); e a recuperar a atenção prioritária de outros jovens
frente a necessidade de afrontar em modo adequado as representações distorcidas e
caricaturadas do cristianismo que circulavam através de jornais (Papa Pio VII em Diu satis
videmur).36 Nesse contexto, um grupo de estudo, entre jovens que frequentavam o Oratório,
foi organizado. Esse grupo procurava formar-se através das atividades práticas, do estudo na
escola e de um aprofundamento cultural mais aguçado através das leituras durante a noite.
Após a leitura, havia sempre um momento de reflexão e esclarecimento. “A todos Padre
Gaspar respondia prontamente e familiarmente para dissipar dúvidas e assegurar, em suas
mentes, exatas e sólidas noções”.37
Como a situação política em Verona era um verdadeiro caos, e tudo era visto como
suspeita de afronta ao exército, Padre Gaspar Bertoni acabou também entrando para o rol
dos suspeitos do governo e começou a ser observado de perto, até que em 1807, como atesta
Padre Lídio Zaupa, foi decretado que os Oratórios Marianos deveriam ser encerrados.
A experiência dos Oratórios sofreu uma brusca freada ainda em maio de 1807,
quando um decreto do governo italiano proibiu em todo o Reino “as confrarias,
as congregações, as companhias e em geral todas as sociedades religiosas
leigas...”. Pe. Gaspar teve de suprimir toda forma de organização externa e
continuar a atividade somente no âmbito paroquial, também porque surgiu uma
vigilância especial do Diretor de Polícia, Alexandre Torri, que não omitiu
35 ESTIGMATINOS, Plano Estigmatino de Evangelização. Adolescentes e jovens no Brasil, Rio Claro,
Publicação Interna dos Estigmatinos, 2007, 18. 36 Cf. SIMONATO, Con mitezza e gioia, 149. 37 DALLE VEDOVE, Vita e Pensiero del Beato Gaspare Bertoni, 521.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 19
“desconfianças, ameaças, suspeitas, ordem de vigilância particular sobre Pe.
Gaspar Bertoni”.38
Devido ao fato de ter, também, uma função social, os Oratórios eram vistos como
expressão de novas ideologias que alteravam o sentido proposto pelo governo napoleônico
e por isso faziam parte da relação de instituições suspeitas.
Mais tarde o trabalho com a juventude em forma de Oratório Mariano foi
reestabelecido na igreja dos Estigmas, porém não tinham mais o mesmo ritmo anterior
devido às situações sociais e políticas, como também à situação da saúde frágil de Padre
Gaspar.
A descrição acima sobre os Oratórios Marianos nos levam a compreender que Padre
Gaspar Bertoni fez uma escolha pastoral-educativa em âmbito juvenil, capaz de transformar
a realidade sóci-eclesial, ou seja, era necessário criar um ambiente que facilitasse a educação
aos valores humanos e cristãos. Por isso, envolveu todo ambiente que cercava a juventude,
ou seja, a família, a sociedade, o trabalho, a escola, os interesses, o tempo livre e a vida
espiritual. Assim, o Oratório Mariano tornou-se um método preventivo de educação, através
do qual Padre Gaspar ajudava o jovem a tomar consciência de como a imagem de cada
pessoa, querida por Deus, podia ser anulada por falsos valores e isso exigia ajudar os jovens
a serem livres, capacitados, responsáveis e verdadeiros cristãos: uma autêntica missão.
1.3. Atuação dos estigmatinos da Província Santa Cruz com a juventude na atualidade
Em contexto brasileiro, os estigmatinos se organizam pastoral e administrativamente
em duas províncias (Santa Cruz e São José).39 A Província Santa Cruz engloba atualmente,
no Brasil, as obras e paróquias do estado da Bahia, São Paulo e Paraná40, e projeta seu
38 ZAUPA, São Gaspar Bertoni. Um santo para o nosso tempo, 11. 39 Assim que a Congregação dos Estigmatinos começou a crescer e a se expandir pelo mundo, aportou
no Brasil em 1910. Aos poucos foram se estabelecendo no Paraná e em São Paulo e posteriormente se espalhou
por diversos Estados brasileiros. Em 1944 foi criada a primeira Província brasileira, Santa Cruz e em 1979 foi
criada a Província São José. A experiência missionária inspiradora da presente tese é a da Província Santa
Cruz. 40 A Província Santa Cruz, da Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo
(Estigmatinos), é uma organização administrativa e pastoral da Congregação que abrange às paróquias dos
Estados da Bahia, São Paulo e Paraná (Brasil), bem como as paróquias do Chile e do Paraguai que, devido à
sua diversidade cultural, não serão contempladas nesta pesquisa.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 20
trabalho com a juventude de forma a corresponder às urgências hodiernas, através da base
sólida deixada por São Gaspar Bertoni.
Esta atuação é orientada pelo “Plano Estigmatino de Evangelização”, que nasceu a
partir de um levantamento dos trabalhos realizados pelos sacerdotes, irmãos e leigos em
2003. Embasados no Processo de Educação na Fé,41 segundo as dimensões da Formação
Integral42, e nas Opções Pedagógicas43 da Pastoral da Juventude, caminhou-se por três anos
de acompanhamento dos grupos de jovens e sistematização do documento até que em 2006,
o “Encontro Interprovincial de Pastoral” retomou o tema para elaborar o Plano. No ano
seguinte foi divulgado o documento para toda a Província e, então, os trabalhos com a
juventude começaram a ganhar uma linha em comum identificadas com os estigmatinos.
Sabendo da necessidade de atrair, envolver e buscar os adolescentes e jovens com
metodologias adequadas às suas reais necessidades, formando lideranças e assessores para
acompanhá-los em sua articulação e organização enquanto juventude estigmatina, a
evangelização desse segmento fortaleceu-se através de uma Assessoria Provincial que se
tornou responsável por projetar e conduzir os trabalhos.
Os eixos fundamentais foram estabelecidos da seguinte forma: o Serviço, espelhando-
se no Setor Juventude da CNBB para favorecer uma eficaz intervenção na transformação da
realidade dos jovens inseridos nos grupos e na sociedade; O Diálogo (com os responsáveis
pela Igreja Local – Bispos, padres e líderes comunitários – junto à diversidade da juventude
e dos movimentos que atuam no universo jovem; Anúncio, do Cristo Libertador, capaz de
atingir a juventude nas diferentes formas e expressões específicas, respeitando sua
identidade, preferências e contextos; Testemunho de Comunhão, para mostrar uma Igreja
acolhedora, que testemunha o carisma do Espírito Santo e que seja espaço da diversidade.44
41 O processo de Educação na Fé é formado por etapas e visa a formação de jovens maduros para serem
verdadeiros discípulos missionários de Jesus Cristo. As etapas são: Convocação; Nucleação; Iniciação;
Militância. C. L. TEIXEIRA (ORG). Passos na Travessia da Fé: Metodologia e mística na Formação Integral da
Juventude. Col. Educação na Fé. São Paulo, CCJ, 2005, 36. 42 A Formação Integral contém cinco dimensões (psico-afetiva, psico-social, mística, sócio-política-
ecológica e capacitação técnica) que consideram o jovem como um todo, evitando assim reducionismos que
distorcem a proposta de educação na fé. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL - CNBB,
Evangelização da Juventude. Desafios e perspectivas pastorais, Brasília, Edições CNBB, 2007. 43 Espiritualidade, metodologia, organização, assessoria e acompanhamento. ESTIGMATINOS, Plano
Estigmatino de Evangelização. Adolescentes e jovens no Brasil, n. 5. 44 Cf. Ibidem, n. 12.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 21
Esses eixos são norteadores de uma formação integral capaz de fazer sair de si, ou seja,
de jovens que sejam agentes e sujeitos de uma formação através de atividades animados pelo
espírito missionário.
O programa, as linhas de ação e as pistas de ação a serem desenvolvidas pelos
agentes (Assessor Paroquial, Equipe de Coordenação, Delegado Regional,
Assessor Regional, Assessor Provincial, Assessor de Comunicação, Conselheiro
Pastoral) e sujeitos (adolescentes e jovens) são eminentemente missionários, com
sensibilidade às principais urgências do Reino de Deus, na diocese de pertença e
fora dela; tal característica exige preparação constante tanto em nível espiritual
como intelectual.45
Quanto à estrutura da Assessoria Provincial, ela compreende estigmatinos escolhidos
pelo Conselho Provincial e jovens eleitos em Assembleia da Juventude, que acontece
bienalmente.
É evidente que o contexto cultural e histórico pede sempre uma renovação na atuação
pastoral junto aos adolescentes e jovens. Se, no tempo de Padre Gaspar era necessário
resgatar os jovens da rua para dar-lhes o essencial, tendo em vista a sobrevivência, hoje é
necessário proporcionar-lhes um processo de formação humana e espiritual que os conduza
ao protagonismo e ao resgate dos valores humanos e cristãos, que os tornem capazes de
vislumbrar horizontes de sentido existencial. Muitos religiosos estigmatinos têm se dedicado
a iniciativas com Oratórios, Oficinas, Escolas, Missões e outras atividades com a juventude
que proporcionem um novo rumo àqueles que almejam uma vida cheia de sentido. No
entanto, conscientes que, como diz o documento Redemptoris Missio: “a missão de Cristo
Redentor, confiada à Igreja, ainda está bem longe do seu cumprimento”,46 da mesma forma,
a missão confiada aos estigmatinos também está longe de seu cumprimento, já que a
incumbência deles faz parte da mesma missão da Igreja, ou seja, a construção do Reino de
Deus, e, de modo específico, através da juventude.
Um dos caminhos da construção do Reino com a juventude acolhido e desenvolvido
pelos estigmatinos é a Missão Jovem, pois acreditam que a missão é o processo de formação,
de organização e de desenvolvimento de uma série de atividades que ultrapassam a dimensão
45 Ibidem, n. 19. 46 GIOVANNI PAOLO II, Lettera Enciclica Redemptoris Missio, 7 dicembre 1990, Città del Vaticano,
Libreria Editrice Vaticana, 1991, n. 1.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 22
de mero evento e atingem a função “educativa cristã”, como é específico do ministério
estigmatino.
2. Estrutura da Missão Jovem Estigmatina
A primeira Missão Jovem Estigmatina aconteceu em 2002, em Rio Claro, SP. Aos
poucos, ela foi sendo adaptada e complementada para atender a realidade da juventude.
Assim, tanto o processo de formação dos missionários como as atividades de Pré-Missão,
Missão e Pós-Missão foram sendo aprimorados.
O rosto jovem da missão se tornou uma característica fundamental, principalmente
porque é organizada sob o protagonismo de jovens, orientados por um ou mais estigmatinos.
Desta forma, os princípios estigmatinos começaram a se evidenciarem através da vivência
prática, que tendem a frutificar no contexto pós-moderno.
Vamos apresentar, então, a Missão Jovem Estigmatina no Brasil, de maneira específica
na Província Santa Cruz, quanto às etapas (Pré-Missão, Missão, Pós-Missão) e a formação
do jovem missionário. Este caminho nos ajudará a compreender a realidade atual visando
projetar um futuro educativo.
2.1. Missão Jovem Estigmatina no Brasil
Antes de tudo, é importante situar e contextualizar a experiência a ser descrita, porque
a Congregação Estigmatina realiza também outras experiências missionárias com a
juventude em outros países. Colocaremos em evidência aqui uma experiência desenvolvida
na Província Santa Cruz, em território brasileiro, não por ser considerada a melhor, mas
porque faz parte da experiência e do contexto dos jovens a serem aqui analisados.
Consideramos importante ressaltar alguns elementos que são próprios da juventude em
seu contexto para compreender a organização missionária em suas diversas etapas. Por isso,
ao referirmo-nos a respeito da Missão Jovem Estigmatina, procuraremos destacar
exatamente esses elementos específicos. Além disso, é importante contextualizar, também,
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 23
a Missão Jovem dentro da missão da Igreja para apresentar ao jovem o conjunto todo, e não
apenas como um grupo privilegiado que realiza e vive esta ação de modo exclusivista. De
fato, quando falamos em missão da Igreja estamos falando de algo mais amplo do que Missão
Jovem, porém é necessário que fique bem claro que a missão da pastoral juvenil é também
a missão da Igreja no anúncio e na opção preferencial pelos jovens.
O caminho percorrido pela Pastoral da Juventude Estigmatina no Brasil insiste na
consciência viva de pertença à Igreja por parte dos grupos de base, militantes e assessores,
pois, como jovens de fé, todos são chamados a realizar a mesma missão evangelizadora
confiada por Cristo aos seus discípulos e que foi mantida pela Igreja. Em síntese, a Pastoral
da Juventude Estigmatina quer experienciar a missão da Igreja em meio a um público bem
específico: a juventude.
Convém ainda lembrar que o Concílio Vaticano II já afirmava que “As alegrias e as
esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos
os que sofrem, são também as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de
Cristo”.47 Por isso, estar inserido na realidade da juventude é viver com os jovens as suas
alegrias e esperanças, as suas tristezas e as angústias, ou seja, é encarnar-se na sua realidade
e ajudá-los em um caminho que seja construído e trilhado para a descoberta e a construção
de um valor existencial.
A Missão Jovem Estigmatina foi projetada para ser e desenvolver uma função
educativa ao sentido da vida. É uma estrutura que olha para os horizontes da juventude, cujo
anseio é a plenitude de suas próprias existências48 e pleiteia a construção da civilização do
amor. Podemos afirmar que esta missão é uma organização evangelizadora junto aos jovens
empenhados a protagonizar o testemunho de comunhão e o anúncio querigmático. Sabemos
que os jovens “não são apenas destinatários da evangelização, mas dela devem tornar-se
sempre mais sujeitos ativos, protagonistas da evangelização e artífices da renovação
social”.49
47 PAOLO VI, Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo contemporâneo. Gaudium et Spes, 7 de
dezembro 1965, São Paulo, Paulinas, 171966, 1. 48 Cf. SEJ/CELAM, Civilização do Amor, n. 425. 49 CNBB, Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 1999-2002, São Paulo,
Paulinas, 1999, n. 233.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 24
Como já salientamos, os religiosos estigmatinos, que também têm como ministério
específico a “Educação Cristã da Juventude”, adotaram em sua organização pastoral, essa
opção pedagógica que conduz os jovens de suas estruturas eclesiais estabelecidas para um
encontro com outros tantos jovens em suas diversas realidades. Assim, entende-se que todos
eles terão melhores condições de anunciar o Cristo Ressuscitado, por meio desse ministério
revelado, ressaltando os valores humanos e cristãos que nascem de suas experiências, de
forma que possam sempre mais desenvolver as suas potencialidades e dons. Deste modo, a
Missão Jovem Estigmatina, constitui uma atividade organizada por eles e para eles, que
sempre são assessorados pelos estigmatinos.
Segundo nosso modo de ver, partir para o universo jovem exige um conhecimento
prévio de sua realidade e uma abertura para reconhecer que ele carrega uma vitalidade que
lhe é própria e um grande desejo de viver bem. Na seara da juventude, é possível perceber
com muita clareza que um dos aspectos da experiência humana é o “desejo de viver, e viver
em plenitude, ativamente presente em todos os seres humanos e, portanto, também nos
jovens. Antes, nestes, sentida geralmente em maneira mais intensa”.50 No entanto, sabemos
que esta realidade do desejo de viver contrasta com atitudes e sentimentos que, em tempo de
pós-modernidade,51 aparecem como ausência de credibilidade nas instituições e nas pessoas.
Isso acaba acentuando um espírito de insatisfação, desencanto, agressividade e apatia,
gerando assim, uma crise que ultrapassa a dimensão ética e acaba se tornando um valor
existencial nas juventudes,52 levando-as a questionarem o sentido da própria vida.
50 L. A. GALLO, Vita/Morte, in M. MIDALI - R. TONELLI (Edd), Dizionario di pastorale giovanile,
Leumann, Elle Di Ci, 21992, 1281–1284: 1281. 51 Quanto ao termo “pós-modernidade”, utilizaremos livremente sem entrar na discussão quanto ao
paradigma moderno. Sabemos que existem controversas em relação a esta questão. Como por exemplo, há
quem diga que não considera a pós-modernidade um novo paradigma de transição de época, “pois não
considero um novo paradigma, mas apenas um mero episódio – certamente muito importante – dentro do
paradigma global: não o substitui, ainda que obrigue a ser muito críticos com respeito a suas pretensões. Algo
que convém levar em contra para toda a reflexão. H. Kung, que deu muita atenção ao conceito de paradigma,
sobre ele estrutura sua visão do cristianismo (parece dar por suposto que a ‘pós- modernidade’ representa
paradigma novo): Cf. A. T. QUEIRUGA, Um Deus para hoje. São Paulo, Paulus, 2011, 11. 52 O termo “juventudes” no plural será utilizado, algumas vezes, por representar a realidade juvenil
contemporânea. Designa as diversas juventudes que coexistem nestas paróquias. Assim, será necessário, por
vezes, distinguir sobre qual juventude estamos nos referindo.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 25
Acreditamos, porém, que o ser humano deve autotranscender-se, para achar o seu
sentido,53 e entendemos que isso só será possível na medida em que ele vai se abrindo ao
encontro consigo mesmo, com o outro e com o Transcendente, que é, na verdade, “o integral
e último chegar a si mesmo do ser humano a partir de seu contato com o Deus vivo”.54 Para
este “chegar a si mesmo”, e transcender-se, há a necessidade de um percurso de
amadurecimento da fé; mas o caminho de fé não se faz sozinho, assim como não é possível
pensá-lo como um projeto de ação entre poucas pessoas. Nesse sentido, a pastoral juvenil,
através da Missão Jovem Estigmatina, pode ser vista como o lugar histórico onde Jesus se
oferece para um encontro pessoal com todos. Esse oferecer-se do Messias, quando encontra
acolhida no ser humano, é capaz de transformar a vida no seu todo e, tal transformação,
levará à superação de uma visão somente horizontal da vida, salientando que há também
uma dimensão transcendental da existência, pois “o sentido mingua quando mingua a
comunhão com a dimensão transcendente da existência”.55
Desta forma, a metodologia da Pastoral da Juventude conduzida pelos estigmatinos
entende que o potencial existente no jovem de descobrir e de construir uma razão existencial
é passível de uma formação gradual e integral “capaz de fazer com que os medos que os
jovens têm de fracassar, de estarem desconectados, de morrer, sejam superados pela
confiança na presença do Senhor que anuncia Boas Notícias”.56 Assim, a Missão Jovem
Estigmatina é a experiência concreta de onde se pode partir para a reflexão da realidade atual
da juventude e da sua busca de sentido existencial.
Historicamente, desde 2002, estão acontecendo Missões Jovens em diversas Paróquias
do Brasil, procurando evidenciar o protagonismo juvenil através da preparação e da
execução desta ação evangelizadora. Como é próprio da identidade missionária estigmatina
o “testemunho de comunhão”, acredita-se que mediante o testemunho comunitário, da
educação para o coletivo, é possível despertar os jovens para captar a pessoa e a proposta de
Jesus de Nazaré que posteriormente foi desvelado como o Cristo da fé. Essa missão é um
53 Cf. R. BLANK, Encontrar sentido na vida: propostas filosóficas, São Paulo, Paulus, 2008, 67. 54 A. T. QUEIRUGA, Repensar a revelação. A revelação divina na realização humana, São Paulo,
Paulinas, 2010, 196. 55 BOFF, O livro do sentido. Crise e busca de sentido hoje, 156. 56 SEJ/CELAM, Civilização do Amor, n. 516.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 26
processo pedagógico que possibilita um “encontro” que desperta, questiona e inspira o jovem
a abrir-se ao amor de Cristo, por meio do qual se alcança a verdadeira libertação conforme
afirma o documento Redemptoris Missio: “N’Ele, e só n'Ele, somos libertos de toda a
alienação e extravio, da escravidão ao poder do pecado e da morte. Cristo é verdadeiramente
‘a nossa paz’ (Ef 2,14), e ‘o amor de Cristo nos impele’ (2 Cor 5, 14), dando sentido e alegria
à nossa vida”.57
2.2. Atividade em três etapas: Pré-missão, Missão, Pós-missão
A organização da Missão Jovem Estigmatina inspirada pelo desejo de “fortalecer o
dinamismo missionário da juventude, destacando a necessidade que temos de ir em busca
dos jovens em seu próprio ambiente, escutá-los e caminhar juntamente com eles na
descoberta da ‘fonte de água viva’, que sacia nossa sede de sentido e de felicidade”58
desenvolve todas as atividades com um espírito missionário. Procura-se, portanto, atuar com
sensibilidade diante das principais urgências do Reino de Deus e atentos às realidades que
abarcam o universo jovem, principalmente, a cultura, as novas tecnologias, a família, a
educação, a pobreza, o desemprego, a violência, a afetividade e a religiosidade.
Como definição, podemos afirmar que a Missão Jovem Estigmatina é uma ação
evangelizadora, planejada e concretizada, a favor da juventude, na Igreja visando realçar o
testemunho de sua fé, indo ao encontro dos jovens em suas diversas realidades, para anunciar
o Cristo Ressuscitado, resgatando seus valores e ajudando-os a desenvolverem as suas
potencialidades e dons, para que sejam cidadãos e cristãos ativos e conscientes do seu papel
social e eclesial.
Alicerçando a construção deste sonho com experiências concretas, é possível inspirar-
se em muitos grupos de jovens do Brasil que vão a outras comunidades para fazer missões
juvenis. Passam dias visitando os jovens em suas casas, conhecendo a realidade e realizando
encontros com jovens, crianças, adultos e formando grupos. Há ainda experiências de
trabalhos dessa natureza feitos em escolas, com jovens estudantes.
57 GIOVANNI PAOLO II, Redemptoris Missio, n. 11. 58 SEJ/CELAM, Civilização do Amor, n. 10.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 27
Estas atividades missionários estão cada vez mais vivas no chão brasileiro e o projeto
de ajudar os jovens a serem discípulos missionários vai se tornando possível.
De fato, os Bispos do Brasil afirmam que “como pastores, convocamos toda a Igreja a
investir na evangelização da juventude para que seja dinamizadora do corpo eclesial e
social”.59 E assim, com uma Pastoral Juvenil sensível à necessidade de inserção concreta na
vida, no cotidiano e nos ambientes onde a juventude se manifesta, e com uma Igreja cada
vez mais comprometida com a “renovação social” e com a libertação integral do homem e
da mulher, é que a tenda do Deus Libertador vai se erguendo no meio do povo e o seu Reino
vai se corporificando com um rosto jovem.
Diante disso, não é viável pensar a Missão Jovem Estigmatina apenas como um evento,
mas urge encará-la como um processo que abrange as três etapas fundamentais. a) A Pré-
missão: período no qual os jovens que pertencem à paróquia a ser missionada (em parceria
com a comunidade paroquial) bem como as missionárias e missionários se preparam
espiritual, intelectual e tecnicamente (cadastro de todos os jovens em território paroquial,
infraestrutura para os missionários e para as atividades etc) visando o bom êxito da missão.
Os objetivos dessa etapa, na paróquia que será missionada, são: conhecer a programação de
cada etapa da Missão Jovem; despertar, preparar e envolver a juventude e a comunidade para
viver a missão; capacitar espiritual, intelectual e tecnicamente moças e rapazes para a pré-
missão; formar equipes para a pré-missão; organizar e distribuir tarefas; buscar recursos
materiais; firmar parcerias; divulgar a missão; conhecer a realidade local; envolver o
pároco, o assessor paroquial da juventude e a equipe de coordenação paroquial da juventude.
Os objetivos dessa etapa atinentes às paróquias que enviarão missionárias e
missionários são: conhecer a programação da etapa da missão; despertar, preparar e envolver
a juventude e a comunidade para que enviem missionárias e missionários; capacitar
espiritual, intelectual e tecnicamente antigas e novas missionárias e missionários para a
missão.
b) Missão: é período em que as atividades planejadas acontecem de fato por meio de
visitas às moças e rapazes em suas casas, orações comunitárias, encontros com jovens e
adolescentes, missas, celebrações, caminhadas e festas etc;
59 CNBB, Evangelização da Juventude, n. 250.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 28
Os objetivos da etapa são: despertar novas lideranças; despertar os jovens para serem
sujeitos e agentes da “Boa Notícia”; formar consciência crítica nos jovens; resgatar e
valorizar os costumes, valores e a cultura local; oferecer alternativas de lazer; despertar os
jovens para o sentido da vida.
c) Pós-missão: período em que as moças e rapazes que pertencem à paróquia que foi
missionada (em parceria com a comunidade paroquial) dão continuidade ao trabalho iniciado
pelas missionárias e missionários, a fim de que a semente lançada seja bem cuidada e
frutifique. Os objetivos desta etapa são: dar continuidade ao trabalho missionário;
desenvolver diferentes ações na comunidade; acompanhar os jovens despertados; elaborar
um projeto de formação para as novas lideranças; continuar o processo de assessoria à
comunidade; engajar os jovens nos diversos espaços e atividades da comunidade.60
As três etapas mencionadas contemplam e atingem um grande número de jovens visto
que geralmente participam em média de 200 missionários, os quais visitam milhares de
jovens durante o período de 04 ou 05 dias. Isso acontece duas ou três vezes durante o ano,
além do que, os missionários sabem muito bem que as visitas e os encontros destes dias
fazem parte de um processo educativo que será aprofundado no período da Pós-Missão.
2.3. A formação do jovem missionário
A formação dos missionários acontece durante o período da Pré-Missão. Uma equipe
formada ou indicada pela Assessoria Provincial percorre as paróquias que enviarão
missionários e realizam com eles encontros de formação. Além destes encontros, a equipe
indica caminhos de estudo e de vivência para uma melhor preparação pessoal.
O conteúdo e o caminho de formação são alicerçados nos documentos eclesiais,
procurando formar os jovens como discípulos missionários através da vivência da
espiritualidade que brota dos Estigmas de Cristo e que conduz o jovem a uma alegria de ser
discípulo missionário. Outro ponto fundamental na formação é o conhecimento da realidade
60 Cf. ESTIGMATINOS, Manual da Missão Jovem Estigmatina, Rio Claro, Publicação Interna dos
Estigmatinos, 2012, 17.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 29
sócio-cultural-religiosa da paróquia e da juventude onde acontecerá a missão. Isso coopera
muito para reconhecer que as sementes do Verbo já estão presentes na juventude.
Daí que, o primeiro objetivo é o de ajudá-los a se tornarem discípulos missionários. O
Papa Francisco diz que “Em virtude do Batismo recebido, cada membro do Povo de Deus se
torna discípulo missionário (Cf. Mt 28, 19)”.61 Isso implica uma preparação afim de se
tornarem “prontos para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em
vós” (Pd 3, 15), ou seja, um processo de formação que os desperte para um conhecimento
dos fundamentos de sua fé e ao mesmo tempo para uma consciência de que cada cristãos
deve ser missionário, pois
Cada um dos batizados, independente da própria função na Igreja e do grau de
instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização, e não seria apropriado
pensar em um esquema de evangelização realizado por agentes qualificados
enquanto o resto do povo fiel seria apenas receptor das suas ações. A nova
evangelização deve implicar um novo protagonismo de cada um dos batizados.62
Para serem conscientes de sua responsabilidade como batizados, os jovens vivem um
processo de formação que é, ao mesmo tempo, teórico e prático. É por isso que, como
estigmatinos, procuramos realizar uma formação integral inspirada no processo vivenciado
por São Gaspar Bertoni e nas orientações do documento da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil: “O discipulado começa com o convite pessoal de Jesus Cristo: ‘Vem e segue-me’
(Lc 18, 22). Na formação para o discípulo é necessário partir de uma formação integral”.63
O Papa Francisco reforça a ideia de fazer com que esta formação seja ligada com a prática,
Se uma pessoa experimentou verdadeiramente o amor de Deus que a salva, não
precisa de muito tempo de preparação para sair a anunciá-lo, não pode esperar
que lhe deem muitas lições ou longas instruções. Cada cristão é missionário na
medida em que se encontrou com o amor de Deus em Cristo Jesus; não digamos
mais que somos “discípulos” e “missionários”, mas sempre que somos
“discípulos missionários”. Se não estivermos convencidos disto, olhemos para os primeiros discípulos, que logo depois de terem conhecido o olhar de Jesus, saíram
proclamando cheios de alegria: “Encontramos o Messias” (Jo 1, 41).64
O primeiro aspecto dessa formação dos discípulos missionários é a fundamentação
bíblica, já que os profetas, descritos na Sagrada Escritura, proclamam a necessidade de um
61 FRANCISCO, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. A alegria do Evangelho. Sobre o anúncio do
Evangelho no mundo atual, 24 de novembro 2013, São Paulo, Loyola, 32015, n. 120. 62 Cf. Ibidem. 63 CNBB, Evangelização da Juventude. n. 97. 64 FRANCISCO, Evangelii Gaudium, n. 120.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 30
íntimo relacionamento com Deus e com as pessoas. Por isso, os missionários Estigmatinos
devem ter a Bíblia como instrumento principal para o anúncio missionário e para alimentar
a própria espiritualidade. São Gaspar Bertoni, passou sua vida ensinando a estudar, a viver
e a proclamar aos outros a Palavra de Deus, como critério fundamental para uma vida de fé.
Nesse caso, a formação tem que procurar abrir caminhos para uma compreensão de que esta
Palavra Divina é iluminadora para realidade atual e não pode ser imposta como lei ou como
receita de vida.
O segundo aspecto desta formação do discípulo missionário tem por base a vivência
da espiritualidade, que brota dos Estigmas de Cristo. “É dos Sagrados Estigmas de Nosso
Senhor Jesus Cristo, que emana nossa força para vivenciar o abandono em Deus, a
humildade, a caridade fraterna, a paciência, a pureza e a simplicidade de vida”.65
Como terceiro aspecto, São Gaspar Bertoni queria que sua Congregação tivesse
homens capazes de testemunharem o amor de Deus através da vida prática e da oração. “Não
se pode falar bem de Deus se não reza bem”.66 Nasceu daí uma indicação da vida dos
estigmatinos “monges em casa, apóstolos fora”.67
Este modelo de vida é transmitido aos jovens que querem viver uma espiritualidade
missionária bertoniana. Eles são convidados então, a alimentar sua vida espiritual através da
Eucaristia e da oração diante do Cristo Crucificado, no qual se contemplam os Estigmas de
Cristo. É, então, nos Estigmas de Cristo que se encontra o quarto aspecto da formação. Já
que pode contemplar a doação total de Jesus à humanidade e então partir para o universo
jovem.
Essa devoção aos Sagrados Estigmas introduz o cristão no mistério da Paixão, Morte
e Ressurreição de Cristo. É o mesmo que viver em constante caminho de imitação d’Aquele
que amou e que deu sua vida para liberar o seu povo do pecado e de todas as formas de
escravidão, doando-lhes uma vida nova de comunhão com Deus e com os outros. A
contemplação de Cristo Servo Sofredor torna-se um estímulo a viver com Ele o sofrimento
65 J. S. LEDO, Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ternura de Deus na vida humana,
Goiânia, Scala Editora, 2016, 14. 66 I. BONETTI, A Gramática de Padre Gaspar. Extraído dos escritos de São Gaspar, Goiânia, Católica
de Goiás, 2008, 350. 67 ESTIGMATINOS, Constituições e Diretório Geral, 31.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 31
pessoal e contemplar no próprio corpo a Paixão de Cristo. E o mistério da Ressurreição de
Cristo é um alegre convite à esperança e ao testemunho de uma vida nova. “A exemplo de
Jesus Cristo, devemos tomar as dolorosas feridas das pessoas, para transformá-las em
estigmas gloriosos”.68 Portanto, contemplar os Estigmas de Jesus não é contemplar somente
uma fonte que ajuda a rezar, mas uma fonte de onde emana coragem para imitá-Lo na doação
à juventude, de modo particular, àqueles que sofrem por causa de tantos problemas neste
mundo. Ir em direção a eles é testemunhar a existência de um Deus misericordioso, que não
espera, mas que caminha na direção de seus filhos.
Um quinto aspecto importante na formação missionária, é a jovialidade que demonstra
uma alegria de ser discípulo missionário. A alegria é própria de quem encontra Jesus e o
anuncia. Jesus veio porque precisamos de vida e vida em abundância (Cf. Jo 10, 10), e para
realizar este compromisso Ele instruiu os Doze antes de mandá-los a evangelizar, indicando
a eles os caminhos da missão: pobreza, mansidão, aceitação dos sofrimentos e perseguição,
desejo de justiça e de paz, caridade, ou seja, próprio às bem-aventuranças atuadas na vida
apostólica. Este modo de viver testemunha que o Reino de Deus já veio e o discípulo
missionário o acolheu. “A característica de cada vida missionária autêntica é a alegria
interior que vem da fé. Em um mundo angustiado e oprimido por tantos problemas, que
tende ao pessimismo, o anunciador da ‘boa notícia’ deve ser um homem que encontrou em
Cristo a verdadeira esperança”.69
Assim como aconteceu aos discípulos de Jesus, é difícil descrever a alegria dos
missionários que retornam de uma visita a outros jovens durante a Missão Jovem. Porém, a
equipe responsável pela missão trata de orientar e conscientizar o jovem missionário que só
foi possível este anúncio porque eles viveram primeiro a experiência de ser discípulo e que
não é mais possível separar a dimensão do discipulado com a do missionário.
O sexto aspecto a ser destacado na formação é o reconhecimento das sementes do
Verbo na juventude. Os jovens missionários devem acreditar que Deus é na juventude. Não
podem partir para missão acreditando que levarão Deus aos outros. “Se quisermos ser
portadores de uma Boa Nova, precisamos ser especialistas, também, na Boa Nova que a
68 A. F. J. NETO, Espiritualidade de São Gaspar Bertoni, Belo Horizonte, Edição Eletrônica, 2005, 10. 69 GIOVANNI PAOLO II, Redemptoris Missio, n. 91.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 32
realidade juvenil carrega em si”.70 Os jovens precisam descobrir um Deus que é neles, e não,
somente de um Deus que vem de fora. Os jovens missionários, abertos a esta realidade, são
capazes de viver uma profunda integração com aqueles que os recebem. A formação destes
missionários é justamente para comunicar os elementos da tradição religiosa e cultural da
paróquia onde acontecerá a missão, deste modo, eles poderão ser “capazes de descobrir e
prontos a respeitar aquelas sementes do Verbo que se encontram ocultas”.71
Além disso, o jovem é uma realidade teológica que o missionário precisa aprender a
ler e a descobrir. Entender o que Deus fala através deles é importante para quem quer ser
missionário. Aquele que tem essa consciência será capaz de viver como um semelhante sem
querer se impor, pronto para dialogar e com a tarefa principal de dar testemunho da sua fé.
3. O jovem na pós-modernidade e a busca do sentido da vida
Entre os muitos aspectos, para analisar a juventude, nos fixaremos nos socioculturais,
em uma perspectiva da pastoral-educativa. Procuraremos situar o jovem dentro desta
realidade pós-moderna, em contexto brasileiro. Alguns sociólogos e teólogos de outros
continentes nos ajudarão com suas teorias, na pretensão de iluminar está realidade concreta.
Quando falamos de jovens, é importante uma definição, ao menos básica, para
compreendermos claramente de quem estamos falando. Os critérios de distinção entre
adolescentes e jovens, e entre esses e os adultos são muito discutíveis e não são universais.
Procuraremos, então, falar daqueles que estão entre os 15 e 29 anos, os quais, para efeito de
políticas públicas, encontram-se na idade da juventude adotada no Brasil.72 O escritor e
teólogo João Batista Libanio, estabelecendo a distinção da juventude das demais fases da
vida afirma que “os sinais do início são mais claros que os do fim”.73 O início é marcado
70 H. DICK, O divino no jovem. Elementos teologais para a evangelização da cultura juvenil, São Paulo,
CCJ, 2009, 14. 71 PAOLO VI, Decreto do Concílio Vaticano II sobre a atividade missionária da Igreja: Ad Gentes, 7 de
dezembro 1975, São Paulo, Paulinas, 1966, n. 11. 72 Cf. CNBB, Evangelização da Juventude. Desafios e perspectivas pastorais, n. 27. 73 J. B. LIBANIO, Jovens em tempo de pós-modernidade. Considerações socioculturais e pastorais, São
Paulo, Loyola, 2004, 15.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 33
principalmente pelas mudanças físicas e psíquicas, já o fim da fase de juventude é mais
social, com a entrada ou estabilidade no mundo do trabalho, constituição familiar e encargos
cívicos.74
Estes jovens, que estão entrando no mundo do trabalho, que se sentem livres para
determinadas escolhas na vida, principalmente nos relacionamentos e estão inseridos em
uma realidade globalizada que tem ofertas de tudo e para tudo na vida e, tais ofertas são
apresentadas com uma roupagem de felicidade.
Hoje os homens se encontram diante de uma grande variedade de fornecedores e
ofertas de senso: As ofertas Wellness, que prometem mais do que simples bens;
a grande variedade de cursos de mediação e práticas esotéricas; mesmo várias
formas de consumismo, que prometem ao menos, em poucas palavras, a
satisfação dos profundos desejos e nostalgias.75
Essas ofertas propagam a ideia de satisfazer a busca constante e primária do ser
humano, que é a busca de uma realização pessoal ou, do sentido da vida.76 E como isso é
latente, de modo especial no jovem, que tem sede e coloca-se em constante busca da
felicidade, então o mercado se posta de forma muito sábia para seduzi-los. Com a realidade
da globalização em que vivemos, difundida, principalmente pela internet e pela televisão, o
jovem é massificado e padronizado, com grandes vantagens para as agências de publicidade
e a grupos comerciais.77
Assim, surgem diversas propagandas e ofertas de felicidade fácil. No entanto,
A sedução por caminhos evasivos reflete o problema fundamental da existência
humana da busca da felicidade. Quanto mais o jovem sente essa sede de felicidade
e quanto mais o futuro lhe aparece inseguro e ameaçador, tanto mais os prazeres,
as emoções e as paixões fortes e imediatas o atraem.78
Essa atração se dá também, pela mudança de época. Em dimensão sócio, religiosa,
podemos ver sociólogos que defendem a ideia de que entramos em uma época de um Deus
pessoal.79 E isso transforma uma lógica que passa do externo ao interno da pessoa, da
instituição ao sujeito, da oferta à pergunta de sentido, da ênfase sobre a lei à ênfase sobre a
74 Cf. Ibidem. 75 CONFERENZA EPISCOPALE AUSTRIACA, Annuncio e nuova evangelizzazione, in Annuncio e nuova
evangelizzazione nel mondo di oggi, Edizioni Dehoniane Bologna, 2013, 487–503: 490. 76 Cf. V. E. FRANKL, Em busca de Sentido, Petrópolis, Vozes, 382015, 124. 77 Cf. R. de OLIVEIRA, Pastoral da Juventude. E a Igreja se fez jovem, São Paulo, Paulinas, 2002, 59. 78 LIBANIO, Jovens em tempo de pós-modernidade, 31. 79 Cf. U. BECK, Il Dio personale. La nascita della religiosità secolare, Laterza, Bari, 2009.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 34
consciência, enfim, da obediência acrítica à liberdade de escolha.80 Tal passagem é evidente
no modo de viver da juventude que, geralmente, faz a escolha pelo imediato, pelo agora, e
tudo, inclusive Deus, pode ser alcançado nas prateleiras do supermercado.
Outro ponto importante a ser considerado nesta realidade da juventude na busca pelo
sentido é a diferença com a geração passada. Se a antiga geração buscava a felicidade como
estado de vida, como algo permanente, ou mesmo como um horizonte, sendo que este
poderia custar, por vezes, sacrifícios presentes, a geração atual tem a tendência de substituir
a felicidade que era vislumbrada no futuro, pelo anseio de momentos intensos de felicidade
sem preocupação com o futuro.81
Os desafios atuais, inerentes à busca de felicidade, passam pela influência da pós-
modernidade na vida da juventude, já que, como dizem muitos sociólogos, vivemos em
tempos de niilismo que contagia a todos, especialmente o jovem. Esta realidade produz um
estilo de vida que o transforma e o deixa existencialmente inquieto e insatisfeito levando-o,
por vezes, a negar o sentido existencial convencional, mas, sem perspectivas de novos
paradigmas de sentido.
Reconhecemos que o questionamento da juventude às instituições e aos paradigmas
não é uma realidade completamente negativa, pois há também seus pontos positivos,
principalmente na redescoberta de novos paradigmas e no ato exigente de reconstrução e
ressignificação dos comportamentos e das normas atuais. Por isso, focalizados nos desafios
desta “rebeldia” da juventude, projetamos uma Missão Jovem que responda, com
sensibilidade, à necessidade de caminho educativo rumo à felicidade.
3.1. A influência da pós-modernidade na formação da juventude
Considerando a diversidade de pensamentos e linhas, em relação à modernidade e à
pós modernidade, nos serviremos do pensamento de Zygmunt Bauman82 para a definição
80 Cf. R. SALA, Andate e fate discepoli tutti i giovani. Percorso di pastorale giovanile fondamentale,
dispense ad uso degli studenti, Roma, 2015, 110. 81 Cf. LIBANIO, Para onde vai a juventude? Reflexões pastorais, São Paulo, Paulus, 2011, 28. 82 Zygmunt Bauman (nasceu na Polônia em 1925) é um grande pensador atual, produz duras críticas à
pós-modernidade. Declara-se um sociólogo crítico e recusa o rótulo de “pós-modernista”. Para ele, “pós-
modernista” é aquele que reproduz a ideologia do pós-modernismo, que se recusa a qualquer tipo de debate,
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 35
destes termos, bem como de documentos do episcopado brasileiro. Para este pensador a
modernidade, que atingiu seu auge no século XIX, é caracterizada pela crença na
transformação do mundo através da ciência e da racionalidade. Enquanto que, para explicar
a pós-modernidade Bauman usa a imagem da sociedade líquida, que é a sociedade das
relações fluidas, das relações frágeis, é a sociedade em que a fixidez de uma amizade em
que ambas as partes matariam e morreriam pela outra já não existe mais. Não se trata mais
de uma sociedade em que os indivíduos sabem o seu destino desde o nascimento, agora
estamos imersos em um espaço social onde, teoricamente, escolhemos nosso futuro, optamos
pelo nosso destino, somos responsáveis pelo nosso fracasso. Não é mais necessário ser
asiático para ser um legítimo budista, basta comprar os livros certos e assistir às aulas certas.
Ninguém é, e sim está.83
Segundo outra fonte, podemos sustentar, ainda, o que estamos tratando, pois “uma das
características fundamentais da pós-modernidade é a sua radical pluralidade. É o
desenvolvimento, o fomento e a promoção da multiplicidade”.84 Essas definições são
bastante genéricas, mas já nos situam na realidade que influencia a vida da juventude. No
entanto, convém lembrar que
A pós-modernidade não substitui a modernidade. As duas culturas vivem juntas.
Os valores da modernidade continuam sendo importantes para os jovens: a
democracia, o diálogo, a busca de felicidade humana, a transparência, os direitos
individuais, a liberdade, a justiça, a sexualidade, a igualdade e o respeito à
diversidade. Uma Igreja que não acolhe esses valores encontra grandes
dificuldades para evangelizar os jovens.85
O documento da CNBB, por sua vez, ressalta a ação da modernidade e da pós-
modernidade nos jovens e na Igreja, já que esta influencia, através de alguns elementos
históricos, na mentalidade, nos valores e no comportamento de todas as pessoas.
que relativiza a vida ao máximo e que, dentro dessa superrelativização, não consegue estabelecer críticas e nem
formar regras para guiar a sociedade. Pós-modernista é aquele que foi construído dentro de uma condição pós-
moderna, ele a reproduz e é constituído por ela. É seu arauto, seu representante inconsciente e é este posto que
Bauman rejeita e nega fielmente. Cf. V. SIQUEIRA, a crítica de zygmunt bauman à pós-modernidade, in
http://obviousmag.org/archives/2014/01/a_critica_de_zygmunt_bauman_a_pos-modernidade.html
(Acessado: 7 janeiro 2017). 83 Cf. Ibidem. 84 L. ALFONSO, A pós-modernidade é um Renascimento ressignificado, in
http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5531&secao=445
(Acessado: 25 novembro 2016). 85 CNBB, Evangelização da Juventude, n. 13.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 36
Outro elemento extremamente importante a ser ressaltado em época de pós-
modernidade, quanto à realização pessoal, é o corpo. Este, influencia diretamente no modo
de pensar do jovem, sendo que para ele, o corpo tornar-se o centro das preocupações. “Os
jovens sofrem muito quando o desenvolvimento físico não segue o ritmo e a forma dos
colegas. Defeitos físicos ou de caráter nessa idade são altamente dolorosos. A visibilidade
masculina ou feminina, quando ofuscada, diminuída ou exagerada, gera problemas de auto-
identidade”.86 Por isso é que as clínicas de estética e as academias ganharam mais espaço no
cenário de organização social, enquanto que as praças públicas são substituídas por outras
praças, que estão no mundo virtual, pois nestas, o corpo pode ser mostrado conforme o gosto
e o desejo da pessoa.
Por fim, vale ressaltar que esta realidade chamada pós-modernidade “se coloca diante
dos olhos, não só resultados decepcionantes para questões negativas e não resolvidas, mas
também novas tarefas, pensamentos interessantes, atuações renovadas; enfim,
surpreendentes e inesperadas possiblidades”.87
3.2. O clima niilista que envolve a juventude
Sabemos que o clima quanto à identidade, em geral e predominantemente na cultura
atual afirma que os fins, os valores e os rumos da vida são incertos, inconsistentes, precários,
problemáticos. “No fundo essa identidade significa que o ser humano não se basta a si
mesmo e busca algo que vai além de si próprio, embora viva e exprima esta verdade em
configurações históricas diversas”.88 Isso é produzido pelo relativismo, que remete a uma
vida de valores relativos e que seria a filosofia mais difusa na realidade da juventude. Ela
sofre ao viver, mesmo que inconscientemente, um clima niilista, ou seja, onde os valores
supremos perdem toda sua importância.89 Essa realidade afeta a juventude brasileira que é
conhecida como juventude alegre, efusiva, espontânea, comunicativa, confiante, otimista90
86 LIBANIO, Jovens em tempo de pós-modernidade, 20. 87 R. SALA, L’Umano Possibile. Esplorazioni in uscita dalla modernità, Roma, LAS, 2012, 49. 88 M. F. MIRANDA, A salvação de Jesus Cristo. A doutrina da graça, São Paulo, Loyola, 2004, 10. 89 Cf. U. GALIMBERTI, L’ospite inquietante. Il Nichilismo e i Giovani, Milano, Feltrinelli, 2007, 19. 90 Cf. BOFF, O livro do sentido. Crise e busca de sentido hoje, 135.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 37
levando-a a uma dose de superficialidade, de inconstância e de angústia, uma vez que, como
é próprio da realidade global, está imersa em uma realidade secularizada.
Assim, podemos “entender a secularização com uma queda da fé e da prática religiosa
por parte das pessoas, fenômeno que também pode ser observado em nossos dias em alguns
países ocidentais”.91 As práticas institucionais parecem não responderem mais aos novos
anseios humanos. Galimberti, citando F. Volpi, diz que “as referências tradicionais - os
mitos, os deuses, a transcendência, valores - foram corroídos pelo desencantamento do
mundo. A racionalização técnico-científica produziu a indecisão das escolhas últimas no
plano somente da razão. O resultado é o politeísmo de valores e a impossibilidade de
decisões...”.92
A secularização, que se desenvolveu na modernidade, privilegia os recursos sobre os
valores,93 gerando uma inversão de importância ética no viver humano. Se antes os valores
éticos eram vistos como principais fundamentos do bem viver, agora a comodidade e os
prazeres oferecidos pela técnica são mais importantes. Como tudo é abarcado com o
fenômeno da globalização as mudanças de paradigmas são evidentes:
Oferece-se aos jovens um mundo onde o que era vital perdeu o sentido; onde se
vão dissipando a integralidade do ser humano e o que é solidário, justo, sonhador;
onde há uma acentuada carência de Deus, de Jesus, porque este mundo não
preenche as “expectativas”; não há ilusões, e a “felicidade” que se experimenta é
uma felicidade dissimulada, passageira, fictícia, opaca, lúdica e complexa,
própria de eventos, acontecimentos e fantasias que não provocam nem reflexão,
nem satisfação. Tudo isso como um obscuro cenário provocado por esse grande
fenômeno que os coloca em um pêndulo, levando-os a uma crise de sentido. Não
deixa de ser uma crise de busca, pois constitui, ao mesmo tempo, uma
oportunidade que deve ser utilizada para a evangelização da juventude.94
Essa descrição da realidade da juventude na América Latina provoca um olhar para a
integralidade da pessoa, embora o sentimento de incerteza com o futuro permaneça por
estarmos diante de uma sociedade que vive distanciada de Deus.
As mudanças aceleradas neste continente e em todo mundo, com as sucessivas
transformações em níveis sociais e culturais, desafiam e questionam constantemente a vida
e o modo de viver. A diversidade de ideias sobre a realidade atual é um sintoma desta
91 MIRANDA, Igreja e Sociedade, São Paulo, Paulinas, 2009, 110. 92 GALIMBERTI, L’ospite inquietante. Il Nichilismo e i Giovani, 17. 93 Cf. BOFF, O livro do sentido. Crise e busca de sentido hoje, 154. 94 SEJ/CELAM, Civilização do Amor, n. 52.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 38
transformação epocal. Entre as mudanças, a globalização é a principal regente de um novo
modo de conceber a vida. O que, por muitas vezes a conduz a uma realidade niilista.
Estamos insistindo nesta dimensão niilista porque esta problemática tem uma
importância vital na construção de horizontes para a Pastoral Juvenil. Vital por ser
antropológica-existencial.95 E isso deve ser a base de onde se parte para vislumbrar uma
realidade humana conforme o sonhado para a construção da Civilização do Amor, ou seja,
para o Reino de Deus.
Entendemos que esta realidade niilista influencia diretamente o modo de pensar das
novas gerações, pois, para grande maioria, não é possível pensar fora do condicionamento
social, ou melhor, o fator social interfere na formação da pessoa:
O fator social influi muito na formação do(a) jovem. Ele(a) passa a pensar sua
vida tomando por base aquilo que é na sociedade (...). A atuação na sociedade, e,
especialmente, nos meios de produção, torna-se desde cedo um fator
determinante na formação a personalidade. Conscientizar o jovem da cena social
e de seu papel nela é importantíssimo no processo de educação.96
Com toda essa influência, podemos nos questionar, aonde chegaremos, ou qual são as
principais consequências para o jovem nesta sociedade niilista? Segundo Clodovis Boff, o
niilismo é a doença de nosso tempo e se apresenta como “desesperança”. Essa atmosfera
causada pela desesperança se apresenta sob três aspectos: tédio de viver, angústia e
depressão. Para definir esses aspectos seguimos o mesmo autor, que afirma que o tédio é o
fastio de viver. É achar tudo sem graça, insosso, incolor. O tédio é a queda da vibração da
vida. Não à toa fala-se em “tédio mortal”. O tédio é sintoma e ao mesmo tempo efeito do
vazio atual. Quanto à angústia, é um sentimento difuso, que não tem um objeto definido.
Fala-se também em ansiedade genérica. É um medo estranho da existência como tal. É
sentida de modo mais claro e forte perante uma grande ameaça ou, então, em face de uma
decisão vital. Por último definimos a depressão que já por sua etimologia, evoca
“decadência” e “niilismo”. Conota perda da energia vital, abatimento, desânimo em se
relacionar com os outros e com o mundo em geral. 97
95 Cf. BOFF, O livro do sentido. Crise e busca de sentido hoje, 175. 96 OLIVEIRA, Pastoral da Juventude. E a Igreja se fez jovem, 57. 97 Cf. BOFF, O livro do sentido. Crise e busca de sentido hoje, 177-189.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 39
É importante também relacionar o que Victor Frankl apresenta como sintomas deste
clima do vazio existencial. Ele os denomina de “tríade da neurose de massa”, que é a
depressão, a agressão e a toxicodependência, mas não se limitam a esses sintomas, pois o
suicídio, a desnatalidade deliberada e a banalização do sexo, assim como a corrupção e a
frivolidade98 também fazem parte dos sintomas deste clima niilista reinantes na atualidade.
3.3. A negação do sentido em jovens existencialmente inquietos
Os sintomas do clima niilista apresentados fazem com que o desejo de sentido
permaneça insatisfeito. Mas, como é próprio do ser humano a procura de um significado
para sua vida, de estar movendo-se em busca de um sentido, facilmente ele pode ser seduzido
pelas diversas ofertas do mercado, conforme já ponderado acima. Mas vale aqui recordar
que em uma
cultura consumista como a nossa, que favorece o produto pronto para uso
imediato, o prazer passageiro, a satisfação instantânea, resultados que não exijam
esforços prolongados, receitas testadas, garantias de seguro total e devolução do
dinheiro. A promessa de aprender a arte de amar é a oferta (falsa, enganosa, mas
que se deseja ardentemente que seja verdadeira) de construir a “experiência
amorosa” à semelhança de outras mercadorias, que fascinam e seduzem exibindo
todas essas características e prometem desejo sem ansiedade, esforço sem suor e
resultados sem esforço.99
Isso nos leva a pensar que a agitação ou a falta de concentração por longo tempo são
causas desta cultura consumista e que levam o jovem a uma inquietação existencial.
Tal inquietação pode seguir dois caminhos: ou para o vazio existencial e a apatia diante
da realidade ou para a uma ressignificação da vida. Analisando estes fatores sob uma ótica
social e com uma perspectiva pastoral educativa, podemos concluir que há aí uma
oportunidade incomparável.100
Por isso, os desafios atuais requerem uma reflexão aprimorada do mundo juvenil.
Esses jovens que já nasceram em um mundo frenético, que “deixa de lado a preocupação
98 Cf. FRANKL, Um Sentido para a vida. Psicoterapia e Humanismo, 20–22. 99 Z. BAUMAN, Amore liquido. Sulla fragilità dei legami affettivi, Bari, Laterza, 22004, 12. 100 Cf. J. L. MORAL, Giovani senza fede? Manuale di pronto soccorso per ricostruire con i giovani la
fede e la religione, Leumann, Elledici, 2007, 6–7.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 40
pelo bem comum para dar lugar à realização imediata dos desejos dos indivíduos”.101 Através
da internet e da televisão “o jovem tem a sensação de estar presente em todos os eventos, o
que não significa, necessariamente, que ele compreenda todo processo que se passa”.102
Esses meios de comunicação dão a sensação de poder e liberdade de transitar livremente
pelo mundo todo. Basta um clique para viajar milhões de quilômetros em poucos segundos
e ver uma realidade completamente diferente da anterior. Embora, sabendo da riqueza desta
possibilidade, é necessário reconhecer também o quanto influencia na formação da
consciência imediatista, pois nem sempre a realidade corresponde com a ficção vista no
mundo virtual.
Muitos esperam dos pais, dos amigos, das instituições tudo aquilo que viram de belo
nos meios de comunicação, esquecendo-se que a vida real segue outro ritmo. As cores, a
mudança de cenário, da tela não são as mesmas do mundo concreto. Por isso, a mente que
estava completamente acelerada com a velocidade das informações e com a gama de
elementos virtuais não se acostuma com o processo lento da “realidade real”. Assim, muitos
se tornam completamente inquietos, como se uma angústia, uma sede de mudança de cenário
o empurrasse para fazer coisas diferentes a cada instante.
A inquietação do jovem, produzida pela realidade virtual o leva a uma redução do
maravilhar-se e do encantar-se com o processo natural das coisas. Se é fácil controlar a vida
e o mundo na realidade virtual, com os critérios que partem dos anseios e dos desejos
individualistas, surgem nele questionamentos e a rejeição a tudo que é estabelecido,
principalmente pelas instituições.
O teólogo Libanio afirma:
Por trás há uma degradação existencial que lhes reduz a capacidade de
maravilhar-se, de entusiasmar-se, de distinguir o importante do que não é, de
gozar intensamente, de realizar experiências que revelam sentido novo. Sofrem da incapacidade de provar sentimentos fundamentais de autenticidade existencial.
Banalizam a vida. No horizonte de muitos deles está a possibilidade do aborto no
caso de uma gravidez imprevista e indesejada. A morte, esta sim, é um tabu ou
se reduz a um lance de videogame.103
101 CONFERÊNCIA GERAL DO ESPISCOPADO LATINO-AMERICANO - CELAM, Documento de Aparecida,
Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, Brasília, CNBB,
2008, n. 44. 102 OLIVEIRA, Pastoral da Juventude. E a Igreja se fez jovem, 60. 103 LIBANIO, Jovens em tempo de pós-modernidade, 111.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 41
Esta afirmação está dentro de uma descrição de jovens entediados, céticos,
insatisfeitos, fragmentados que, com suas atitudes, fazem crescer o niilismo. Este é o grande
e pior perigo que pode sofrer a humanidade: “O perigo maior que pode correr a humanidade
não é nenhuma catástrofe, nem a fome, nem a peste, mas esta enfermidade espiritual, que é
a perda do gosto de viver”.104
Outra característica deste tempo niilista é a vivência desregrada da sexualidade. O
jovem não sente a necessidade do perguntar-se pelo sentido da relação, ou melhor, ignora
esta necessidade. O importante é viver novas experiências a cada dia, sentir-se livre para
desfrutar do prazer que o sexo lhes dá, sem se importar com o sentimento posterior do
parceiro ou com sua história. Viktor Frankl afirma que:
No vácuo existencial resultante dessa situação, a libido sexual é hipertrofiada, e
é esta hipertrofia que produz a inflação de sexo. Como outro tipo de inflação - a
inflação monetária, por exemplo, - ela é associada à desvalorização: o sexo é
desvalorizado na media em que desumanizado. Então, observamos uma tendência
para viver a vida sexual não integrada na vida pessoal, mas apenas como uma
busca de prazer. Tal despersonalização do sexo é um sintoma de frustração
existencial: a frustração da busca de sentido pelo homem.105
A negação do sentido pelos jovens, principalmente por aqueles que elencamos como
existencialmente inquietos, é mais do que uma negação, mas uma autoafirmação. Percebe-
se que ele não quer uma ideia moral e, principalmente, religiosa, pronta. Questiona para
mostrar, mesmo que inconscientemente, que tem o poder de dar o sentido que ele quer.
Exemplo claro é em relação à afetividade, como acabamos de tratar.
3.4. A nova forma de vivência do sagrado
Os elementos até aqui tratados dão conta do grande desafio existente, de maneira
especial, quanto a educação à fé da juventude atual.
Em contrapartida, apesar dos pontos evidenciados, que não são simplesmente uma
visão negativa mas uma realidade desafiadora, percebemos muitos elementos positivos da
juventude atual, tais como: a luta pela ética no campo administrativo/político, a coragem de
falar ou de expor sua opinião sem medo de retaliação, a mobilização social através das redes
104 P. T. de CHARDIN, La visión del pasado, Madri, Taurus, 31968, 229. 105 FRANKL, Um sentido para a vida, 76.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 42
virtuais, a ternura na relação de amizade que é capaz de proporcionar um bem estar etc.
Vamos nos deter aqui em um elemento importante a esse respeito: a nova forma de viver o
sagrado, principalmente em um momento onde esse protagonismo se desponta em âmbito
da juventude.
Libanio apresenta três modelos de jovens religiosos neste período pós-moderno: o
jovem fundamentalista; o jovem praticante; o jovem em crise de fé.106
O primeiro modelo é formado por aqueles que desejam seguir caminhos e balizas
seguras, onde possam se afirmar e buscar respostas para tudo. Muitos grupos
fundamentalistas se aproximam desses jovens com propostas claras, firmes e sólidas. Assim,
o jovem encontra a segurança que buscava, porém, com grande chance de se tornar fanático,
pois defende com força o grupo que o seduziu.
O segundo modelo compreende jovens religiosamente praticantes. Não são jovens
conservadores, nem fundamentalistas, mas que praticam sua fé. Geralmente tem uma vida
espiritual e religiosa serena, sem deixarem-se abalar com tantas coisas negativas da
atualidade. Frequentam catequese, grupos juvenis, ajudam a formar outros jovens, tem seus
momentos de oração pessoal, preocupam-se com a evangelização, mas sem proselitismo.
Esses jovens, não deixam de frequentar ambientes de diversão, mas sabem se colocar com
serenidade nos ambientes frequentados.
O terceiro modelo engloba jovens em crise de fé. Muitos entram em crise por causa da
experiência familiar, pois encontram nos pais uma vivência religiosa mais tradicional do que
pessoal, sem falar que muitas vezes os próprios pais não testemunham com atitudes o que
professam com a boca. Outro elemento que gera essa crise podem ser as leituras filosóficas
ou científicas com críticas à religião, ou mesmo pelo discurso de professores que lhes abalam
a fé. Daí que os dois pontos fundamentais que geram a crise são: posições cientificamente
insustentáveis que não se atualizaram e a defasagem dos ensinamentos morais e religiosos
com respeito às novas situações afetivas e sexuais.
Esses modelos, grosso modo, apresentam um pouco o cenário religioso em nosso
contexto atual. Convém, entretanto, ressaltar que ainda há uma busca por uma espiritualidade
visando uma unidade e gosto pela vida. Trata-se, entretanto, de uma religiosidade bastante
106 LIBANIO, Jovens em tempo de pós-modernidade, 89–102.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 43
individual. Mesmo assim, representa uma abertura para o transcendente, o que não significa
uma aceitação de religiões tradicionais. De fato, muitas vezes encanta mais uma
espiritualidade centrada na pessoa do que em uma vivência institucional, porque se busca
algo que satisfaça suas necessidades pessoais.107 Temos muitos exemplos de sacerdotes que
encantam os jovens com missas shows. Geralmente são cantores, tem um modo de falar que
toca o sentimento. Neles, a dimensão sócio-político-cultural é menos importante que a fé,
isso acaba se tornando uma espiritualidade desencarnada da realidade e centrada nos
sentimentos.
4. Conclusão parcial
No quadro da realidade social do século XVIII, no norte da Itália, de maneira
específica em Verona, apresentava-se grandes desafios a nível social e religioso, ao mesmo
tempo em que se verificavam grandes ocasiões para um modelo novo de evangelização,
principalmente direcionada aos jovens. Padre Gaspar soube ler estes sinais dos tempos e
oportunizar um caminho de educação à vida a favor da juventude. Caminho esse educativo,
que percorreu a história e foi sendo atualizado e adaptado conforme a realidade sociocultural
e chegou ao nosso tempo desdobrando-se em diversas atividades assumidas pelos
estigmatinos. No Brasil, especialmente na Província Santa Cruz, destacamos a Missão
Jovem.
A realidade atual brasileira vem exigindo atitudes que superem as iniciativas
meramente pessoais ou atitudes que sejam encantadoras a ponto de arrastarem multidões. A
realidade requer processos educativos ao sentido da vida. Estes processos devem estar
fundamentados nos valores evangélicos e atentos à realidade social, já que essa “marca os
jovens com suas características econômicas, políticas e sobretudo culturais. E o jovem
assimila esses elementos numa relação interativa”.108 Desta forma, ele é afetado, mas é
também capaz de afetar a realidade sócio-cultural-religiosa.
107 Cf. CNBB, Evangelização da Juventude, n. 19–21. 108 LIBANIO, Jovens em tempo de pós-modernidade, 39.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 44
É desafiante pensar em um modelo educativo, já que as instituições que são
responsáveis por isso, não conseguem darem respostas aos atuais questionamentos da
juventude. Se em tempos passados as respostas eram prontas, porque seguiam valores
fundamentais estabelecidos, hoje as respostas caem por terra, pois os valores mudam
constantemente. Nem mesmo os pais conseguem transmitir valores aos seus filhos. Por isso,
urge um repensar a Missão Jovem Estigmatina, dentro de um cenário de mudanças radicais
para que seja, acima de tudo, uma ponte entre valores fundamentais e a vida da juventude.
O jovem que vive dentro de uma área específica do Brasil (Bahia, São Paulo e Paraná),
deve ser visto e acolhido em meio ao seu contexto cultural. Por isso, abre-se um leque de
desafios, que nos propomos a iluminar e sugerir caminhos de saída nos capítulos sucessivos.
Estes desafios são:
1. A Missão Jovem Estigmatina deve corresponder aos anseios e às buscas da
juventude na realidade atual, respeitando a singularidade do jovem dentro de seu contexto
cultural.
2. Afirmar que o jovem busca constantemente um sentido da vida e que a missão pode
ajudá-lo nesta descoberta, requer uma leitura atenta do que é sentido da vida. Portanto, é
necessário oferecer elementos que possibilitem aos jovens de encontrar este sentido, sem a
pretensão de decidir por eles.
3. E, por último, como é possível estabelecer um diálogo existencial com os jovens,
para que a Missão Jovem Estigmatina seja um instrumento no processo educativo quanto ao
sentido da vida?
Tais desafios veem acompanhados de algumas riquezas ou forças:
1. A base metodológica deixada por São Gaspar Bertoni, da qual podemos utilizar para
iluminar a atual realidade.
2. A presença de tantos jovens nas decisões e execuções dos projetos missionários e
formativos existentes na Província Santa Cruz.
3. A Pastoral da Juventude Estigmatina, que conta com o apoio e a força de muitos
pais e educadores, o quais ajudam a formar uma pastoral orgânica.
4. A abertura de muitos jovens, mesmo aqueles que não participam ativamente da
Igreja, às novas experiências do sagrado.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 45
CAPÍTULO II
FUNDAMENTOS TEOLÓGICO-EDUCATIVOS DA MISSÃO JOVEM E DO SENTIDO DA VIDA
Neste segundo capítulo, de caráter criteriológico, vamos discorrer a respeito dos
fundamentos teológico-educativos da Missão Jovem Estigmatina e do sentido da vida.
A exposição será feita em três itens, de forma que no primeiro item se elucidará as
considerações querigmáticas da Missão Jovem, no segundo item se abordará as dimensões
do sentido da vida e, por último se explanará as opções pedagógicas da Pastoral Juvenil.
Tudo isso ajudará a identificar as potencialidades da Missão Jovem, sua profundidade
teológica e sua atual validade no processo metodológico educativo.
A ideia de que a Missão Jovem educa ao sentido da vida, provoca dois
questionamentos fundamentais: Qual é o sentido da vida? Qual é a pedagogia educativa
presente na Missão Jovem?
Esses questionamentos serão fundamentados e respondidos à luz de alguns
documentos eclesiais e de alguns teólogos, psicólogos e educadores.
Sendo assim, seguiremos a metodologia de olhar de modo amplo – a nível mundial,
para chegarmos a uma realidade mais continental e por fim fazermos uma leitura mais local
da pedagogia e do sentido da vida. Por isso adotaremos o seguinte esquema: Quanto ao
sentido da vida apresentaremos a visão de Viktor Frankl em dimensão global; os critérios da
Teologia da Libertação em dimensão continental (latino-americana); e o pensamento de
Clodovis Boff, em dimensão local, ou seja, realidade brasileira. No que tange à pedagogia,
trataremos da Pedagogia de Comunhão em dimensão global; da Formação Integral que foi
assumida em dimensão continental (latino-americana); e da Pedagogia da Dialogicidade em
dimensão local, realidade brasileira.
Embora não vamos entrar em detalhes fundamentais a respeito da imagem da Igreja
nos dias atuais, todavia sublinharemos que, diante de uma realidade onde a Igreja sofre com
uma imagem negativa, principalmente aos olhos da nova geração, será necessário rever o
modo de testemunhar a fé. Rossano Sala diz que “permanece a possibilidade de oferecer um
testemunho credível que interrogue os indivíduos e a sociedade no seu conjunto. Em resumo:
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 46
uma Igreja testemunha e também questionadora sobre as perguntas a respeito da realização
do ser humano”.109
Veremos então, como a Missão Jovem Estigmatina pode ser esta imagem da Igreja que
se aproxima da realidade cultural e existencial da juventude para testemunhar a fé e provocar
questionamentos sobre o valor de sua existência.
1. Dimensão querigmática da Missão Jovem Estigmatina
Neste primeiro item do segundo capítulo trataremos da Missão Jovem no seu sentido
querigmático, ou seja, quanto ao anúncio do Cristo Morto e Ressuscitado. “Aquilo que vimos
e ouvimos isso vos anunciamos” (1Jo 1, 3). A experiência que os discípulos tiveram com
Jesus os impulsionou a evangelizar. Constatamos, então, que Jesus se tornou o grande e atual
modelo da missão e do missionário. Ele é quem promove no ser humano a conversão
direcionada para a comunidade, pois não é possível fazer uma verdadeira experiência isolada
e individualista de encontro com Jesus, porque é próprio de todo encontro uma vivência
grupal. Em nosso caso, após a experiência de encontro e de vivência comunitária urge
responder ao chamado de Deus e retornar ao quotidiano da juventude mediante uma afetiva
e efetiva opção preferencial pelos jovens.
Sendo assim, a Missão Jovem Estigmatina existe para evangelizar uma porção
específica do povo de Deus, a juventude, mas sem ser exclusivista, pelo contrário, existe
para inserir o jovem dentro do sentido pleno de evangelização. E essa inserção tem o objetivo
de transformar o jovem em sua totalidade.
A exortação apostólica Evangelli Nuntiandi, apresenta a evangelização como
fundamental para transformar a humanidade a partir dela mesmo:
(...) levar a Boa Nova a todas as parcelas da humanidade, em qualquer meio e
latitude, e pelo seu influxo transformá-las a partir de dentro e tonar nova a própria
humanidade...converter ao mesmo tempo a consciência pessoal e coletiva dos
homens, a atividade em que eles se aplicam, e a vida e o meio concreto que lhes
são próprios...modificando os critérios de julgar, os valores que contam, os
centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos
109 SALA, L’Umano Possibile. Esplorazioni in uscita dalla modernità, 511.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 47
de vida da humanidade que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e
com o desígnio da Salvação...importa evangelizar, não de maneira decorativa,
como que aplicando um verniz superficial, mas de maneira vital, em
profundidade e isto até às suas raízes, a civilização e as culturas do homem, no
sentido pleno e amplo que estes termos têm.110
Essa leitura é essencial para a fundamentação teológica da Missão Jovem, tendo em
vista a “Educação cristã da juventude”111 para a descoberta do sentido da vida. E tal
formulação acontecerá a partir do anúncio querigmático, que desembocará em um processo
educativo mediante uma metodologia pedagógica visando clarificar o significado do
“sentido da vida” para os jovens.
1.1. Jesus como modelo da missão e do missionário
Pensar o anúncio querigmático, na Missão Jovem exige, primeiro, uma identificação
do jovem missionário com Jesus. Ele é o modelo da missão e do missionário. “Nota essencial
da espiritualidade missionária é a comunhão íntima com Cristo: não se pode compreender e
viver a missão, se não se referindo a Cristo como o enviado a evangelizar”.112 Assim, o
missionário estigmatino deve olhar primeiro a vida de Jesus de Nazaré, para conhecer a sua
realidade sócio-histórico-cultural e depois professar que Jesus é o Cristo. Isso porque,
Jesus Cristo, a plenitude da revelação de Deus, um tesouro incalculável, a “pérola
preciosa” (Cf. Mt 13,45-46), o Verbo de Deus feito carne, Caminho, Verdade e
Vida dos homens e das mulheres, aos quais abre um destino de plena justiça e
felicidade. Ele é o único libertador e Salvador que, com sua morte e ressurreição,
rompeu as cadeias opressivas do pecado e da morte, revelando o amor
misericordioso do Pai e a vocação, dignidade e destino da pessoa humana.113
É por isso que, conhecer a realidade de Jesus faz o missionário viver segundo o modelo
mais perfeito. Através do Apóstolo Paulo pode-se entender o caminho a ser seguido pelo
jovem missionário: “Tenham em vós os mesmos sentimentos que eram em Cristo Jesus, que,
sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si
mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achando na forma
110 PAOLO VI, Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi. A Evangelização no mundo Contemporâneo,
8 de dezembro 1975, São Paulo, Paulinas, 222006, n. 18–20. 111 Ministério específico da Congregação dos Estigmatinos, conforme as Constituições n. 2. 112 GIOVANNI PAOLO II, Redemptoris Missio, n. 88. 113 CELAM, Documento de Aparecida, n. 6.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 48
de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Fil 2,
5-8).
A partir dessa descoberta do caminho de identificação com Jesus, tornam-se mais
claros os pilares querigmáticos deste anúncio: A narração da história de Jesus; A afirmação
da presença pessoal de Jesus como o vivente hoje na Igreja, em perfeita continuidade com o
dado bíblico e com a tradição eclesial; A profissão de fé em Jesus como Salvador absoluto
e definitivo; e, a relevância da sua salvação na Igreja e no mundo de hoje.114 É importante
considerar que estes pilares não são uma elaboração teórica que deve ser transmitida durante
a missão, mas são pilares presentes no modo de viver e compartilhar com as pessoas.
Narrar a história de Jesus é levar em consideração a sua vida real, deixando de lado as
fantasias e as criações simbólicas em torno da figura “Jesus Cristo” e falar do acontecimento
Jesus de Nazaré. Isso foi o dado fundamental no anúncio feito pelos Apóstolos, pois eles
compreenderam que durante a vida de Jesus e com sua morte na cruz, Ele permaneceu fiel a
seu Pai e à sua vontade (Cf. Lc 22, 42). Ele “saiu ao encontro de pessoas em situações muito
diferente: homens e mulheres, pobres e ricos, judeus e estrangeiros, justos e pecadores...
convidando-os a segui-lo”.115 Este convite era transformador, pois possibilitava viver uma
experiência de Boa Nova que dava sentido à vida humana.
O segundo pilar fundamental do anúncio corresponde com à comunicação da presença
de Jesus na Igreja hoje, pois sabemos que a imagem de uma igreja-instituição, burocrática,
alheia à vida, atrasada... é muito forte na mentalidade da juventude, e por isso é fundamental
o paradigma da presença pessoal de Jesus como vivente hoje na Igreja, em perfeita
continuidade com o que está transcrito nas Sagradas Escrituras e com a tradição eclesial. No
Documento de Aparecida os bispos da América Latina e Caribe falam que Deus continua
caminhando com seu povo, deu seu próprio Filho, que veio anunciar a Boa Nova do Reino,
Por isso, nós, como discípulos e missionários de Jesus, queremos e devemos
proclamar o Evangelho, que é o próprio Cristo. Anunciamos a nossos povos que
Deus nos ama, que sua existência não é ameaça para o homem, que ele está perto
com o poder salvador e libertador de seu Reino, que ele nos acompanha na
114 A. AMATO, Gesu Cristo, in M. MIDALI – R. TONELLI (Edd), Dizionario di pastorale giovanile,
Leumann, Elle Di Ci, 21992, 433–440: 436. 115 CELAM, Documento de Aparecida, n. 147.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 49
tribulação, que alenta incessantemente nossa esperança em meio a todas as
provas.116
Este anúncio também está totalmente ligado ao Cristo apresentado nos Evangelhos e,
ao mesmo tempo, aos elementos que a Igreja viveu e ensinou através de seu Magistério.
Não se pode criar novos elementos sobre Jesus Cristo apenas para satisfazer uma ideia
ou para amenizar a radicalidade evangélica. Pelo contrário, é necessário e oportuno descobrir
esta presença de Jesus ao longo da história do cristianismo e que continua entre nós até hoje.
O terceiro pilar compreende a profissão de fé em Jesus Cristo como Salvador absoluto
e definitivo, isso implica reconhecer primeiro que o Reino anunciado por Ele é uma realidade
para todos, reconhecer também a íntima união de Jesus com o Pai, único Salvador. Esta
verdade pode ser compartilhada com os jovens na certeza de que “a pessoa de Jesus Cristo
leva à transformação, cria no jovem nova forma de pensar e de viver. Jesus Cristo transforma,
converte”.117 Por isso, o missionário ocupa-se do testemunho, confiando que Jesus age na
intimidade da pessoa e assim o anúncio querigmático transformar-se-á numa atitude divina
que passa pela ação humana.
O quarto pilar é o da relevância da salvação na Igreja e no mundo de hoje. Este ponto
é indispensável para mostrar que a salvação não é reservada para o futuro ou mesmo, algo
fora da realidade quotidiana, mas é oferecida por Jesus a todo ser humano que vive o presente
da história. O documento de Puebla, citando a Evangelii Nuntiandi afirma que “a
evangelização deve conter sempre uma proclamação clara de que em Jesus Cristo, Filho de
Deus feito homem, morto e ressuscitado, se oferece a salvação a todos os homens, como
dom da graça e misericórdia de Deus”,118 o documento retoma o tema da salvação dizendo:
“A salvação que Cristo nos oferece dá sentido a todas as aspirações e realizações humanas,
mas questiona-as e excede-as infinitamente”.119
Portanto, Jesus é modelo tanto para a missão, como para o missionário, provocando
um olhar convincente não só como modelo a seguir, mas também quanto à Boa Notícia de
116 Ibidem, n. 30. 117 SEJ/CELAM, Civilização do Amor, n. 823. 118 CELAM, Documento de Puebla. Evangelização no presente e no futuro da América Latina, 1979, in
Conclusões das Conferências do Rio de Janeiro, de Medellin, Puebla e Santo Domingo, São Paulo, Paulus,
2005, 225–584: n. 351. 119 Ibidem, n. 353.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 50
valor eterno (Ap 14, 6) a ser proclamada, pois Jesus é o mesmo ontem, hoje e pelos séculos
(Hb 13, 8), e “a sua riqueza e a sua beleza são infinitas. Ele é sempre jovem e fonte de
constante novidade”.120 À medida que o missionário se dispõe a segui-Lo com coragem, terá
a sua vida renovada pelo compromisso assumido e pelos ideais a serem alcançados “o
seguimento de Jesus é um exercício que inclui procedimentos próprios, fecundando o
coração do discípulo e discípula, gerando uma consciência ética própria para sustentar uma
conduta que no mundo aponte o compromisso com a vida do reino definitivo”.121 Ou seja, o
seguimento a Jesus Cristo como modelo, provoca uma mudança concreta na vida do ser
humano.
1.2. O anúncio gerador de conversão
O anúncio querigmático gera um encontro pessoal com Jesus e requer um processo de
conversão. Este anúncio que abrange a evangelização tem uma função primordial, que é a
de restaurar no ser humano a importância de Deus e a consciência da lei ética que já está
escrita no coração humano. Isso porque se sabe que muitos cristãos têm se afastado do
Evangelho, pois ele requer um estilo de vida simples, solidário, fiel à verdade e à caridade,
fundamentado nos valores do Reino.
Para viver tais valores é necessária uma profunda conversão. “A originalidade da
mensagem cristã não consiste tanto na afirmação da necessidade de uma mudança de
estruturas, quanto na insistência que devemos pôr na conversão do homem...não haverá
continente novo sem homens novos, que à luz do Evangelho saibam ser verdadeiramente
livres e responsáveis”.122
Esta conversão acontece à medida que o jovem estabelece uma relação de amizade
com Jesus123 e, crendo na existência de Deus, se torna capaz de ligar a própria existência a
120 FRANCISCO, Evangelii Gaudium, n. 11. 121 CNBB, Evangelização da Juventude, n. 59. 122 CELAM, Documento de Medellín, in Conclusões das Conferências do Rio de Janeiro, de Medellin,
Puebla e Santo Domingo, São Paulo, Paulus, 2005, 73–224: n. 1.3. 123 Cf. SEJ/CELAM, Civilização do Amor, n. 821.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 51
Ele. É um passo importantíssimo pois sai da ideia de que Deus não é necessário para viver e
passa para um relacionamento profundo de vida e de amizade com Ele.
No anúncio querigmático há ainda outra dimensão importante, que é o auxílio na
tomada de consciência da brevidade da nossa existência, ou seja, não somos eternos neste
mundo. Além desta finitude o ser humano carrega a impossibilidade de dar um sentido
definitivo a esta vida só com as forças disponíveis. A conversão se torna, portanto, o
reconhecimento de que Deus é a nossa eternidade e somente Ele é capaz de dar o sentido
completo da nossa existência, que começa aqui e se realiza plenamente no encontro
definitivo com Ele.
Queremos destacar também que, o reconhecimento da existência de Deus e da finitude
humana, impulsiona a fazer o bem e a opor-se ao mal. Este passo é importante na conversão
cristã pois, ligada a dimensão ética, ajuda o individuo a se apropriar de uma proposta moral
consistente. E este novo modo de viver, baseado nos valores do Reino, é que pode ser
considerado como conversão.
Assim, este processo de conversão, de fato, implica em um encontro com Jesus, uma
relação de amizade, uma consciência da nossa brevidade e uma opção pelo bem. A conversão
é, portanto
A resposta inicial de quem escutou o Senhor com admiração, crê nele pela ação
do Espírito, decide ser seu amigo e ir após ele, mudando sua forma de pensar e
viver, aceitando a cruz de Cristo, consciente de que morrer para o pecado é
alcançar a vida.124
Por conseguinte, o anúncio gera uma conversão que transforma toda a vida do jovem.
Embora não aconteça em um único momento e sim, em base a um processo que requer um
acompanhamento e disposição pessoal para um contato mais profundo com Jesus. Além
disso, a conversão, que brota do querigma, culmina na maturidade cristã, ou seja, mediante
esse processo de conversão a pessoa é convidada a ser missionária de outros jovens
realizando assim uma opção preferencial pelos jovens como fermento transformador da
sociedade.
124 CELAM, Documento de Aparecida, n. 278b.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 52
1.3. A opção preferencial pelos jovens
Olhando para as contribuições que a Igreja concedeu à juventude, vamos perceber que
a opção preferencial por essa parcela particular do Povo de Deus, impulsionou diversos
documentos e diversos instrumentos evangelizadores. Esta opção, feita em Puebla tem suas
bases em Medellín e ilumina as demais Conferências Episcopais Latino-Americanas.
No documento de Puebla, em 1979, o episcopado proclama a “opção preferencial pelos
jovens”, solicitando uma atenção evangelizadora toda especial às novas gerações. Tal atitude
da Igreja possibilitou, primeiro, uma releitura da palavra eclesial sobre os jovens e
consequentemente um novo modo de ver e interagir com a juventude em contexto latino-
americano. Os futuros documentos eclesiais fazem, sistematicamente referência a esta opção
“visando à missão evangelizadora e suas formas de concretização”.125
A opção preferencial pelos jovens em Puebla, mostra que
A Igreja confia nos jovens. Eles são a sua esperança. A Igreja vê na juventude da
América Latina um verdadeiro potencial e o futuro de sua evangelização. Por ser
verdadeira dinamizadora do corpo social e especialmente do corpo eclesial, com
vistas à sua missão evangelizadora no Continente.126
Esta opção tem suas raízes na Conferência de Medellín (1968), que já tinha sinalizado
o compromisso da Igreja com a juventude. De forma profética este documento afirma que
“a juventude é uma grande força nova de pressão” e como “novo corpo social, portador de
ideias próprias e valores inerentes ao seu próprio dinamismo interno”.127 Por isso, “a Igreja
deseja ter uma atitude de diálogo com a juventude, reconhecendo seu papel cada vez mais
insubstituível na missão profética que ela tem”.128
A diferença entre as duas conferências neste tema é que em Medellín a Igreja
demonstrou sua predileção pela juventude, em Puebla ela declara sua preferência.
Em 1992 aconteceu a IV Conferência em Santo Domingo e os bispos reafirmaram este
compromisso assumido em Puebla, mas completaram, desejando que, essa opção que não
125 CNBB, Juventude caminho aberto. Texto base da campanha da fraternidade de 1992, São Paulo,
Editora Salesiana Dom Bosco, 1991, n. 6. 126 CELAM, Documento de Puebla, n. 1186. 127 CELAM, Documento de Medellín, n. 5.1. 128 SEJ/CELAM, Civilização do Amor, n. 181.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 53
fosse somente afetiva, mas também efetiva.129 Ou seja, tem que ser um compromisso que
vise “uma pastoral da juventude orgânica, com acompanhamento, com apoio real, com
diálogo, com maiores recursos pessoais e materiais e com dimensão vocacional”.130
Já o documento de Aparecida, por sua vez, procura iluminar esta opção preferencial
pelos jovens recuperando a dimensão missionária e assumindo o acordo de sair dos limites
estabelecidos pelos próprios muros e ir até o povo. Neste documento contém uma importante
afirmação em relação à juventude: “Constituem a grande maioria da população da América
Latina e do Caribe. Representam enorme potencial para o presente e o futuro da Igreja e de
nossos povos, como discípulos e missionários do Senhor Jesus”.131
Todos esses documentos, em dimensão continental, inspiraram outros indicadores em
nível nacional. Puebla, entretanto, tornou-se o grande destaque por haver assumido a opção
preferencial pelos jovens e assim, inspirado o episcopado brasileiro a relembrar que a Igreja
tem predileção pelos jovens. O cuidado para efetivar tal preferência aparece nas diretrizes
Gerais dos Planos Bienais publicados em seguida pela CNBB. Já nas Diretrizes Gerais 1979-
1982 destaca-se a “juventude” como um dos seis Setores da primeira Linha de Ação Pastoral
e a registram assim no número 75:
O jovem tornou-se opção para a Pastoral Latino Americana, não apenas como um
grupo de pessoas de tal idade cronológica, e como uma atitude frente à vida, mas
também por constituir maioria da população pobre. Levando-se em conta o que
caracteriza a juventude com tudo o que são suas aspirações (Cf. P 11168), a
grande responsabilidade do setor é ‘desenvolver, de acordo com a pastoral
diferencial e orgânica, uma pastoral de juventude que leve em conta a realidade
social dos jovens..., atenda ao aprofundamento e crescimento da fé para a
comunhão com Deus e os homens; oriente a opção vocacional dos jovens; lhes
ofereça elementos para se converterem em fatores de transformação e lhes
proporcione canais eficazes para a participação ativa na Igreja e na transformação
da sociedade.132
Nas DGs sucessivas, o tema “juventude” esteve sempre presente, procurando atualizar
o compromisso assumido. Esta opção pelos jovens chama “a atenção para que a Igreja e as
129 CELAM, Documento de Santo Domingo. Nova Evangelização, promoção humana e cultura cristã,
1992, in Conclusões das Conferências do Rio de Janeiro, de Medellin, Puebla e Santo Domingo, São Paulo,
Paulus, 2005, 585–782: n. 114. 130 CNBB, Evangelização da Juventude, n. 91. 131 CELAM, Documento de Aparecida, n. 443. 132 CNBB, Pastoral Juvenil no Brasil. Identidade e Horizontes, Brasília, Edições CNBB, 2013, 28.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 54
pessoas de boa vontade comprometam-se com a juventude, como agentes de uma nova
Evangelização e como força transformadora da sociedade”.133
A CNBB lançou também um documento especial sobre a Evangelização da Juventude
e deixa claro que sua opção pelos jovens é de fato afetiva e efetiva pois este amor pela
juventude é gratuito, independente do que ela possa oferecer.
Portanto, aqui nos propusemos realçar o conteúdo sobre o anúncio querigmático da
Missão Jovem. Sentimos que é necessário assumir com responsabilidade a vida desta parcela
do Povo de Deus. Mais do que transmitir ideais, valores, conteúdos, urge comprometer-se
com os jovens em uma dinâmica de reconhecimento de seus valores, seus ideais e sua riqueza
de critérios, sem esperar algo em troca.
1.4. O anúncio que desperta à vocação
Anunciar Jesus Cristo é ter a consciência de que despertará uma relação de amizade
entre o jovem e Jesus e é nesta amizade que o chamado divino se torna perceptível e requer
uma resposta. Por isso é que, uma vocação é sempre o chamado para realizar na vida o plano
de Deus. Este chamado não exclui ninguém, é para todos e espera uma resposta.
Sendo assim, Podemos ver a vocação a partir de algumas dimensões: da
responsabilidade e do serviço; da autotranscendência; do serviço a Deus e aos irmãos e da
resposta a um impulso interior. E mais do que um chamado sacerdotal ou à Vida Consagrada,
o vocábulo “vocação” se refere a todo chamado de Deus aos seres humanos, particularmente
à juventude, a viver a plenitude dos filhos de Deus, ou seja, Ele que chama o ser humano
para a comunhão com Ele através da comunhão com os irmãos.
O Papa Bento XVI disse no seu discurso inaugural da Conferência de Aparecida que
“só quem reconhece a Deus, conhece a realidade e pode responder a ela de modo adequado
e realmente humano”.134 Sendo assim, é necessário, para reconhecer a Deus, dar abertura à
sua voz, uma voz que chama.
133 CNBB, Juventude caminho aberto, n. 1.1. 134 CELAM, Documento de Aparecida, n. 42.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 55
Este chamado é para todos. Deus não se esquece de ninguém, e chama cada um a
acolher o dom da própria vida – primeiro chamado. Podemos dizer que “trata-se do chamado
para ser humano. Isso quer dizer que, antes de qualquer coisa, o vocacionado tem que ser
gente, com todas as qualidades que caracterizam o ser humano”.135 Em seguida a pessoa é
chamada a ser cristã, ou seja, a reconhecer em Cristo o Caminho a Verdade e a Vida, através
do compromisso batismal, isto é, “viver em comunhão com Deus, na comunhão e na
cooperação com os demais irmãos e irmãs”.136 O terceiro chamado que todo ser humano
recebe é uma vocação específica, que se apresenta em uma variedade de ministérios
particulares, mas que culminam na vocação ministerial, religiosa, laical ou missionária.
Como salientamos, a vocação tem uma dimensão de “responsabilidade e de serviço”,
pois é “inserir-se na vida da comunidade, é tomar parte ativa na construção do Reino”.137
Para que isso aconteça conforme a vontade de Deus, é necessário conduzir a vida à luz de
valores éticos. Mais do que capacidade de realizar bem uma determinada função, “se trata
de projetar-se inteiramente em direção a busca de valores que superam os horizontes
materiais, do provisório e do finito”.138
A segunda dimensão exige superar os horizontes materiais e ver a vocação como
autotranscendência, pois vai além de simples projeto pessoal e entra na proposta de
colaboração com Deus na História da Salvação. Transcender os horizontes terrenos é buscar
e realizar os valores que não correspondem com à mundanidade, ou seja, ao poderio, à
dominação e à riqueza, mas que correspondem ao Reino anunciado e construído por Jesus.
A terceira dimensão da vocação engloba o fazer parte da construção deste reino
colocando-se a serviço de Deus e dos irmãos, pois “Deus chama para um encontro com Ele,
a partir das solicitações de um povo que sofre. A vocação é, portanto, uma sedução, uma
conquista do coração por parte de Deus para uma vida de comunidade, de comunhão com
135 P. V. FERREIRA, Dimensões da vocação, in A. R. do PRADO - V. FERREIRA (Edd), Capacitação de
acompanhantes de Adolescentes e Jovens, Brasília, CNBB, 2014, 255–256: 255. 136 Ibidem. 137 FERREIRA, Vocação: O que é? para quê? Para quem?, in A. R. do PRADO - V. FERREIRA (Edd),
Capacitação de acompanhantes de Adolescentes e Jovens, Brasília, CNBB, 2014, 253–254: 254. 138 S. de PIERI, Vocazione, in M. MIDALI - R. TONELLI (Edd), Dizionario di pastorale giovanile,
Leumann, Elle Di Ci, 21992, 1284–1296: 1287.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 56
Ele”.139 Essa comunhão com Deus não é exclusivista, mas é aberta à convivência com as
pessoas através do amor-serviço, ou do amor-comunhão.
A conquista de Deus acontece através de uma relação amigável e se apresenta como
um impulso ou apelo interior e requer uma resposta. Este impulso interior “é sentido como
uma intuição de natureza fundamentalmente emotiva e afetiva, que envolve e orienta a
pessoa a doar-se segundo os conteúdos, as modalidades e o estilo de uma opção radical em
vista de Deus e dos irmãos”.140 Em síntese, Deus provoca o ser humano a uma abertura ao
transcendente, através de uma vivência ética na imanência.
Para que tudo isso se torne realidade na vida da juventude é necessário um processo
de maturação que começa com uma adesão livre e responsável ao chamado divino e se
desenvolve por meio de um acompanhamento.
A Missão Jovem, portanto, tem a função primordial do anúncio querigmático, que é o
despertar ao encontro com Cristo, mas se preocupa com o acompanhamento da juventude no
Pós-missão. Isso acontece fundamentalmente nos grupos de jovens paroquiais.
Na prática, o despertar vocacional na Missão Jovem possibilita o chamado para o
horizonte divino, ou seja, um chamado que ultrapassa o empenho no trabalho pastoral e
comunitário e se estende pela vida toda da pessoa. Isso a ajudará na inserção comunitária e
no compromisso afetivo e efetivo com os irmãos e irmãs mais pobres, já que os valores do
Reino não se conformam com as injustiças existentes e impulsionam o jovem a olhar para o
Horizonte, mas, mantendo sempre, os pés e as mãos bem firmes na realidade presente.
2. O sentido da vida
A busca pela definição de sentido da vida é fundamental no presente trabalho, por isso,
nos basearemos em três linhas fundamentais: Primeiro, olharemos para o que o psiquiatra e
psicólogo Viktor Frankl entende como sentido da vida. A segunda linha desta definição se
baseará em algo mais próximo à nossa realidade, na teoria da Teologia da Libertação sobre
139 FERREIRA, Vocação: O que é? para quê? Para quem?, 253. 140 PIERI, Vocazione, 1289.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 57
o sentido da vida. O terceiro ponto importante desta definição se baseia na teoria do teólogo
brasileiro Clodovis Boff. Embora este teólogo reflita o sentido da vida de forma bastante
ampla, mas certamente com os pés em um contexto bem específico, o contexto brasileiro.
Juvenal Arduini, parafraseando Sartre, diz que “o ser humano está condenado a
superar-se, ou seja, a extrair afirmação de sua negatividade, a extrair emancipação de sua
dependência, a extrair audácia de sua timidez, a extrair clamor de seu silêncio, a extrair
criatividade de sua inércia, a extrair ser de seu nada, a extrair vida de sua agonia”.141 Em uma
palavra, o ser humano é capaz de ir além dos limites e das dificuldades, construindo-se
constantemente a ponto de surpreender a si próprio, tanto positivamente como
negativamente.
Portanto, buscar pelo sentido da vida é acreditar que “não é o tempo que define o rumo
da vida. É o ser humano que planeja e conduz a existência, bem ou mal”142 a partir da
descoberta do seu sentido existencial.
2.1. O sentido da vida à luz do pensamento de Viktor Frankl
O psiquiatra e psicólogo Viktor Frankl143 afirma que o ser humano deve construir as
bases do sentido para, então, ser capaz de enfrentar o sofrimento, os sacrifícios “a dar, se
necessário, a própria vida por amor daquele sentido”.144 Assim, este autor desenvolve um
141 ARDUINI, Antropologia. Ousar para reinventar a humanidade, 10. 142 Ibidem, 16. 143 Viktor Emil Krankl (1905-1997) nasceu em Viena, Áustria. Filho de pais judeus, sofreu com a
perseguição do exército alemão e foi levado, juntamente com sua família, para campos de concentração nazista
onde exerceu trabalhos forçados. “Viktor Frankl, como prisioneiro num campo de concentração, foi sofredor
de grandes dores; deparou-se com sua existência desnuda, como relata em seus escritos (...) Nos campos de
concentração, Frankl soube enfrentar a dor e o sofrimento com dignidade humana e reafirmar a
incondicionalidade do sentido da vida, chegando à conclusão de que ‘se é que a vida tem um sentido, também
o sofrimento necessariamente o terá’. Por ter participado da Resistência, a Gestapo o torturou e fixou sua
execução para o dia 03 de maio de 1945. Entretanto, julgando-se salvo por um milagre, foi libertado em 27 de
abril de 1945, data em que costumava ir à sinagoga demonstrar sua gratidão aos céus. Em 15 de agosto de
1945, Frankl voltou a Viena para reconstruir sua vida diante dos escombros que a guerra deixou”. T. A. A. de
AQUINO, Logoterapia e análise existencial. Uma introdução ao pensamento de Viktor Frankl, São Paulo,
Paulus, 2013, 25–27. 144 FRANKL, Um Sentido para a vida. Psicoterapia e Humanismo, 14.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 58
método de tratamento psicológico que denominou Logoterapia, o qual ele mesmo explica
como “terapia através do sentido”.145
Certamente sua teoria é fruto da própria experiência de sofrimento, pois durante três
anos Viktor Frankl foi prisioneiro nos campos de concentração, principalmente de
Auschwitz e Dachau. Enfrentou os trabalhos forçados, a dor da separação e morte de seus
familiares, a doença e as torturas “com a firme convicção de que o homem é capaz de manter-
se responsável para buscar a cada dia o sentido da vida, ainda que na situação mais adversa
e inumana.”146
Na nota de rodapé do seu livro “Um sentido para a vida” Frankl explica que se havia
alguma coisa para sustentar um homem naquela situação extrema dos campos de
concentração nazista, era a consciência de que a vida tem um sentido a ser realizado, mesmo
que seja no futuro. É certo que milhões morreram apesar de sua visão de sentido, no entanto,
foram capazes de enfrentar a morte de cabeça erguida.147 Ele mesmo enfrentou essa dor e
soube descobrir e viver o sentido da vida, “Frankl viveu uma vida plena de sentido,
realizando valores por meio de sua capacidade de suportar o sofrimento, de amar e de
criar”.148
O autor percebeu que não bastava satisfazer o sonho de realização em bem-estar sócio-
econômico para alcançar a felicidade. “De repente brota a pergunta: ‘Sobreviver? Mas para
quê?’ Em nossos dias um número cada vez maior de indivíduos dispõe de recursos para
viver, mas não de um sentido pelo qual viver”.149 Desta forma, é importante ressaltar que
“contrapondo-se às visões de Freud e Adler, que o ser humano possui mais do que uma
vontade de prazer e uma vontade de poder, constituindo-se por uma vontade de sentido como
o centro gravitacional da existência”.150
145 “Uma tradução literal do termo ‘logoterapia’ é ‘terapia através do sentido’. Naturalmente poderia ser
traduzido também como ‘cura através do significado’, mas isso implicaria num tom religioso alto demais que
não está necessariamente presente na logoterapia. Em todo o caso, a logoterapia é uma (psico)terapia centrada
no sentido.” Ibidem, 13. 146 E. M. MIGUEZ, Educação em busca de sentido. Pedagogia inspirada em Viktor Frankl, São Paulo,
Paulus, 2014, 20. 147 Cf. FRANKL, Um sentido para a vida, 28. 148 AQUINO, Logoterapia e análise existencial, 40. 149 FRANKL, Um sentido para a vida, 15. 150 AQUINO, Logoterapia e análise existencial, 42.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 59
O experimentum crucis dos campos de concentração e a atenta análise dos
comportamentos e experiências que ali pôde viver e observar, lhe deram a certeza de que,
quando há “para que”, a pessoa humana pode suportar qualquer gênero de condições, mesmo
as mais desumanizantes, sem perder a dignidade, a vontade de lutar, a capacidade de amar e
“dizer sim à vida: apesar de tudo”.151
Mesmo sendo natural ao ser humano o desejo de sentido e o de mover-se em busca
dele, esse desejo não é satisfeito na sociedade atual, pelo contrário, a sociedade é marcada
por elementos que desvirtuam o verdadeiro sentido existencial. “O niilismo pós-moderno
consagrou a possibilidade de viver negando aquilo que se apresenta como a necessidade
primária do ser humano: o sentido”.152 Por isso, a resposta à pergunta fundamental do sentido
não está na área social, mas no próprio indivíduo.
Viktor Frankl acredita na necessidade de orientar a vida em direção a um “para que
coisa” ou um “para quem”, ou seja a extrapolar a imanência e voltar-se para uma
transcendência.
Por isso compreendo o fato antropológico primordial que o ser humano deva
sempre estar endereçado, deva sempre apontar para qualquer coisa ou qualquer
um diverso dele próprio, ou seja, para um sentido a realizar ou para outro ser
humano a encontrar, para uma causa à qual consagrar-se ou para uma pessoa a
quem amar. Somente na medida em que consegue viver esta autotrascendência
da existência humana, alguém é autenticamente homem e autenticamente si
próprio. Assim o homem se realiza, não se preocupando com o realizar-se, mas
esquecendo a si mesmo e dando-se, descuidando de si e concentrando seus
pensamentos para além de si.153
Essa definição mostra que a descoberta de valores pelos quais se deve lutar faz o ser
humano autotranscender-se e, assim, a vida do homem não será empurrada pelos instintos,
mas impulsionada pelo que tem valor. “Há um relacionamento entre valores e sentidos, visto
que realizar sentido corresponde à realização de valores”.154
Portanto, Frankl defende a ideia de que o sentido não pode ser dado, mas deve ser
buscado. De igual maneira, o homem não pode produzir o sentido contido na realidade, mas
151 FRANKL, Em busca de Sentido, 161. 152 MIGUEZ, Educação em busca de sentido, 85. 153 FRANKL, Um sentido para a vida, 29. 154 AQUINO, Logoterapia e análise existencial, 60.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 60
pode achá-lo. Ele “des-cobre” o sentido encoberto, guiado pela sua consciência, que pode
enganar-se.
Assim, compreendemos três linhas mestras, segundo as quais cada pessoa pode achar
o seu sentido:
a. o sentido da vida, à medida que se concretiza alguma obra útil para algo ou que
tenha serventia a uma pessoa, ou seja, o trabalho, que ajuda o ser humano produzir algo
significante dá um significado diferente à vida.
b. o sentido de realizar experiências em dedicar-se a servir a uma causa ou a uma
pessoa – que pode chamar-se de amor.
c. o sentido se acha também no confronto com um destino impossível de ser mudado.
Esse destino pode ser uma doença incurável, uma morte ou uma catástrofe da natureza. Na
medida em que o homem, nestas situações de limite, não se deixa quebrar, até nelas pode
achar sentido.155
2.2. Uma teologia latino-americana que possibilita encontrar o sentido da vida
A Pastoral da Juventude teve, ao longo da história, várias fontes para o seu
desenvolvimento, entre elas a Teologia da Libertação. Esta influência se deu devido a própria
realidade da juventude no Brasil, na maioria eram jovens empobrecidos, que encontraram
nos pequenos grupos uma ferramenta para partilhar e celebrar a vida, as lutas e a fé. Este
modo de organização eclesial – pequenos grupos – é fruto da Teologia da Libertação que
aos poucos foi dando origem a uma nova consciência no povo brasileiro.
As reflexões produzidas, juntamente com a prática daqueles que encarnaram esta
teologia na realidade Latino Americana, suscitaram uma consciência a partir da perspectiva
das vítimas.
A começar pelos empobrecidos, é que foi se formando a ideia de que Deus não quer e
não aceita a pobreza desumanizante; ela contradiz os desígnios de Deus. Por isso, a causa
das dores provocadas pela pobreza está na exploração por parte dos enriquecidos. “A
pobreza é empobrecimento; a riqueza é enriquecimento. Há uma riqueza que se constitui
155 Cf. BLANK, Encontrar sentido na vida. Propostas filosóficas, 47–48.
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fazendo outros pobres, esbulhando-os, tirando-lhes a dignidade, roubando-lhes os bens e
com isso privando-os das condições materiais para serem dignamente homens”.156
A Bíblia, então, foi colocada nas mãos das pessoas, dando-lhes o direito de ler e
interpretar os textos sagrados à luz da própria realidade. Isso mudou completamente a
perspectiva de uma leitura bíblica que vinha a partir de cima, pronta. Agora se tornou
possível fazer uma leitura a partir de baixo, identificando-se com o povo de Deus descrito
na Sagrada Escritura. É evidente que as consequências deste novo modo de ler e interpretar
a realidade sob a luz da Bíblia são grandes, profundas e incômodas. “A consequência desse
fato é que agora são também esses ‘de baixo’ que, em nome de Deus, podem recuperar a sua
dignidade e desenvolver, na base da sua religiosidade, um novo caminho para achar o sentido
da sua vida”.157
É importante ressaltar também o enfoque solidário e comunitário que começou a surgir
a partir dessa referida teologia, pois pensar e compreender as preocupações com a realidade
de crise econômico-social ligadas à reflexão teológica é colocar tudo em relação com a fé
cristã e a luta em defesa da vida dos pobres. “Por trás de tudo isso está a noção de Deus da
Vida tão arduamente trabalhada e defendida por teólogos da libertação”.158 Mediante esta
nova consciência pode-se dizer que Deus se revela como um Deus da vida.
As Conferências do Episcopado Latino-Americano em Medellín, Puebla, Santo
Domingo e Aparecida tiveram um papel fundamental na formação da nova consciência do
povo latino-americano e consequentemente na consciência dos jovens brasileiros. Foi a
partir de Medellín que a TdL foi gestada inspirada pelo Concílio e sob o impacto dos
movimentos de libertação. A opção pelos pobres e pelos jovens aparece em Puebla e vai
ganhando força nas outras Conferências, que passam a descrever quem é o pobre na realidade
atual.
Todo este processo faz com que o jovem, que participa dos grupos de PJ se sinta como
sujeito e protagonista da história e não apenas massa de manipulação dos poderes
dominantes.
156 L. BOFF, Teologia do Cativeiro e da Libertação, Petrópolis, Vozes, 61998, 283. 157 BLANK, Encontrar sentido na vida, 80. 158 J. MO SUNG, Teologia e Economia. Repensando a Teologia da Libertação e Utopias, Petrópolis,
Vozes, 21995, 7.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 62
Assim, a consciência de sujeito e protagonista é muito ligada à “comunhão e
participação” superando uma redução individualista da busca de sentido da vida. O sentido
aqui está na solidariedade e na participação de um projeto global, cujo autor é Deus.159
A TdL foi, por isso, responsável por inserir uma categoria importante: um outro mundo
é possível. Para que isso aconteça é necessário transformar as estruturas injustas. Mas, como
afirma o documento de Medellín, não basta mudar as estruturas, “Não teremos um continente
novo sem novas e renovadas estruturas, mas sobretudo não haverá continente novo sem
homens novos, que à luz do Evangelho saibam ser verdadeiramente livres e responsáveis”.160
Por isso, as utopias suscitadas por esta teologia provocaram uma esperança nova no povo
latino-americano, pois sabia provoca-los a olhar para o horizonte sem se esquecer da vida
concreta e ao mesmo tempo, olhar para a realidade sem tirar os olhos do horizonte. Nesta
dialética a vida ganha um novo sabor e pode reencontrar o sentido, que mora no Deus da
Vida.
Portanto, a teologia latino-americana possibilita encontrar o sentido da vida porque
acena para um futuro vislumbrado como plenitude. Isso que podemos chamar de utopia.
“Sem a utopia a esperança é uma virtude vazia. É a utopia a topia da esperança. A esperança
é o alimento da utopia e esta sua mediação histórica”.161
Em síntese, essa utopia gera uma esperança que consiste no desejo de um bem futuro
e na tensão voltada para alcançá-lo. E essa virtude torna-se cristã quando o objeto desse
anseio é o Reino de Deus.
2.3. O sentido da vida à luz do pensamento de Clodovis Boff
O teólogo Clodovis Boff162 trata do “sentido da vida” como uma questão inerente ao
ser humano. Essa é uma temática que transcende todas as outras questões pois compreende
159 Cf. BLANK, Encontrar sentido na vida, 82. 160 CELAM, Documento de Medellín, n. 1.3. 161 A. BRIGHENTI, Esperança e Utopia. Estatuto Epistemológico e Formas de Relação, in J. COMBLIN,
“A Esperança dos pobres vive. Coletânea em homenagem aos 80 anos de José Comblin”, São Paulo, Paulus,
2003, 365–376: 366. 162 Clodovis Boff é teólogo e filósofo brasileiro. Nasceu em 1944 em Santa Catarina e faz parte da
Ordem dos Servos de Maria. É o teólogo latino-americano que mais se dedicou à problematização e elaboração
do método teológico em geral e do método da teologia da libertação em particular.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 63
ao fundamental da existência humana e, que em tempos de pós-modernidade, torna-se,
particularmente angustiante. Sabemos que “para viver uma vida verdadeiramente humana,
mais do que de dinheiro, sexo ou prestígio, precisamos de sentido”.163 Por isso, buscamos
neste teólogo os fundamentos de uma reflexão sobre o sentido existencial.
Clodovis iniciou uma série de volumes tratando especificamente sobre o significado
da vida. No primeiro, inicia analisando em nível semântico-filosófico o termo sentido, pois
quer evitar um erro de foco para não comprometer o encaminhamento correto das conclusões
possíveis.
Em uma entrevista, ao Instituto Humanitas Unissinus, o teólogo explica sua
preocupação na demonstração da relevância de uma pesquisa científica sobre sentido:
Agora, se perguntamos: Qual é o maior desafio da Igreja?, Devemos responder:
É o maior desafio do homem: o sentido de sua vida. Essa é uma questão que
transcende tanto as sociedades como os tempos. É uma questão eterna, que,
porém, hoje, nos pós-modernos, tornou-se, particularmente angustiante e
generalizada.
É, em primeiríssimo lugar, a essa questão, profundamente existencial e hoje
caracterizadamente cultural, que a Igreja precisa responder, como, aliás, todas as
religiões, pois são elas, a partir de sua essência, as “especialistas do sentido”.
Quem não viu a gravidade desse desafio, ao mesmo tempo existencial e histórico,
e insiste em ver na questão social “a grande questão”, está “desantenado” não só
da teologia, mas também da história.164
Por isso, vamos procurar desenvolver, a partir da teologia de Clodovis Boff, o tema
“sentido” colocada em três questões. Primeiro como “finalidade”, ou seja, ter uma finalidade
na vida. Em seguida Clodovis o apresenta em uma ótica de “valor”, isto é, a vida boa tem
um valor. Outro viés para tratar de sentido existencial é “direção”, ou seja, uma vida repleta
de sentido é o mesmo que saber para onde ir.
Mediante esses aspectos, vamos procurar lançar luzes sobre o significado da questão
“sentido”.
Sentido como finalidade é visto, geralmente, quando se usa a expressão sentido da vida
relacionada a “ter uma finalidade na vida”.165 O autor recorre, então, a Aristóteles para
163 L. GONZÁLES-QUEVEDO, Introdução, in L. GONZÁLES-QUEVEDO (Org.), Um sentido para a vida.
Princípio e fundamento, São Paulo, Loyola, 2007, 11. 164 BOFF, Só é possível uma Teologia da Libertação sob a condição de começar e acabar no horizonte
da fé, in http://www.ihu.unisinos.br/noticias/534115-frei-clodovis-boff-so-e-possivel-uma-teologia-da-
libertacao-sob-a-condicao-de-comecar-e-acabar-no-horizonte-da-fe (Acessado: 15 fevereiro 2017). 165 BOFF, O livro do sentido. Crise e busca de sentido hoje, 13.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 64
mostrar a ideia de Deus como fim supremo. A genialidade de Aristóteles, portanto, foi a de
colocar a “ideia de ‘fim’ na essência da ideia de ‘bem’: bem seria ‘o fim que cada coisa
busca’(...). Deus aparece então como a coroa gloriosa da totalidade existente, sem excluir
naturalmente o homem, chamado a imitar a Deus através de sua inteligência”.166 Isto é
essencial para Clodovis, uma vez que para ele, Deus é o fim último e negar o seu lugar no
universo é abrir as portas ao niilismo.
Outra conotação dada a sentido é “valor”, ou seja, está relacionado com o conceito de
bem. Utilizando-se, então, da filosofia aristotélica, o autor afirma que o “‘bem’ constitui o
fim (telos) do que se busca”.167 Na análise de Clodovis, pode-se dizer que a expressão a vida
tem valor quer dizer que ela é boa em si mesma e quando se usa a expressão a vida tem uma
finalidade, quer dizer que ela encaminha para algo bom.168
Além disso, “o valor da vida só se sustenta a partir de uma fonte superior”169 e por isso
existe a necessidade de uma inteligência metafisica, caso contrário, os olhos se fixarão
somente no físico das coisas, perdendo o sentido transcendental. Como afirma Libanio, “hoje
vemos tantos bens destruírem o Bem. As pessoas em busca de bens esquecem o Bem para o
qual foram criadas”.170 Isso acontece, justamente porque se fixaram os olhos apenas no lado
físico das coisas.
Finalmente, no estudo semântico de sentido, podemos vê-lo como direção, assim, “ter
um sentido na vida é ter uma direção, um rumo. É ter por onde ir. Numa metáfora, é ter um
caminho”.171 Isso porque na sua etimologia, sentido conota “direcionamento, inclinação
para, o estar voltado para”.172 Vemos então que direção aponta para o fim, pois “o fim não é
166 Ibidem, 15. 167 Ibidem, 19. 168 O autor sintetiza assim: “A vida boa tem ‘valor’ e a vida dura tem ‘finalidade’. Assim, a expressão
‘valor da vida’ aponta para o ‘já’ da plenitude, enquanto esta outra, ‘finalidade da vida’, aponta para o ‘ainda
não’”. Ibidem, 19. 169 Ibidem, 19. 170 J. B. LIBANIO, O sentido da vida na pós-modernidade, in
http://www.arquidiocesebh.org.br/site/opiniao_e_noticias.php?id_opiniao_e_noticias=6752 (Acessado: 20
fevereiro 2017). 171 BOFF, O livro do sentido. Crise e busca de sentido hoje, 23. 172 “Que ‘sentido’ conote ‘direção’ é o que mostra a própria etimologia de ‘sentido’. Esse termo tem um
radical indo-europeu sent, indicando a ideia de ‘para’, versus em latim. O verbo sent-ir e seus derivados (como
os verbos assente-ir, dissent-ir, pressent-ir, e ainda os substantivos sent-imento, sent-ença, sens-o, sens-ação,
sens-ibilidade etc.) conotam direcionamento, inclinação para, o estar voltado para”. Ibidem, 23.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 65
o sentido, mas dá o sentido”.173 Portanto, o “sentido” como “direção” e “finalidade”
dependem do “‘Valor dos valores’ ou o ‘Valor valorante’: Deus”.174
Inspirado, então, em São Tomás de Aquino, Clodovis fala que o Deus como fim, é a
causa das causas. Ele incide em tudo. Seu efeito mais importante em termos existenciais é
dar um direcionamento à existência. É a causa causarum. Ele põe em movimento todas as
outras causas, particularmente a causa eficiente.175
Entre as propostas atuais de “sentido” e como enfoque desta pesquisa, o autor
relembra, também, a questão da ética. Para ele, a ética enquanto vetor de sentido consiste
basicamente em dois aspectos: direitos humanos e o neo-estoicismo.176
Quanto aos direitos humanos, sublinha que os ideais humanitários têm a capacidade
de fornecer sentido enquanto finalidade da vida, uma vez que vidas, orientadas para o
combate à pobreza e as injustiças, são vistas como vidas cheias de sentido.
Todavia, apesar de terem a vida repleta de sentido, tanto os que lutam pelas causas
humanas quanto os destinatários desta luta possuem um impulso interior ainda maior, ou,
muito mais amplo. De fato, o ser humano “humanizado”, em condições e com recursos para
se desenvolver não encontra a plenitude da vida na ética pois a vida é mais do que social: ela
pertence também a sua esfera espiritual, na qual toda pessoa se abre ao infinito.
Por isso, não somente da ética, mas da espiritualidade é que veio a força para muitas
pessoas lutarem pelos seres humanos do século XX, muitos deles até martirizados.
Quanto ao neoestoicismo, o autor ressalta que a ética laica dos ateus e agnósticos
honestos, existe e merece crédito por causa dos exemplos de personalidades como Freud,
Bobbio e Oscar Niemeyer. Esses e muitos outros se inseriram na luta contra a injustiça e a
pobreza, e aí está a razão do crédito a favor desta ética.
Assim, embora não haja um fim último, para os laicistas, todavia, a vida continua tendo
valor se vivida moralmente e de forma digna. Conviver com o vazio da existência faz parte
173 Ibidem, 25. 174 Ibidem, 23. 175 Cf. Ibidem, 28–31. 176 Estes dois pontos são descritos a partir da leitura que Jefferson Zeferino faz da obra “O livro do
sentido” in J. ZEFERINO, O Conceito de Sentido em Clodovis Boff e suas Implicações para a Ética Cristã na
esfera publica, in FACULDADE EST, “Anais do Congresso Internacional da Faculdade EST” (2014), 1731–
1743: 1738.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 66
da vida do herói estoico. Assim, o homem moderno maduro é aquele que vive dignamente
uma vida absurda, tornando-se “grande” mesmo cônscio de que sucumbirá. Para Clodovis,
esta ética pode até enfrentar o absurdo, mas não superá-lo. Pois nenhuma ética supera a morte
se desassociada da espiritualidade.177
Segundo Jefferson Zeferino, a intenção de Clodovis Boff é a de
centrar o conceito de sentido em sua esfera existencial, a qual só é capaz de ser
Sentido maiúsculo se colocada sob a dimensão espiritual. Deus é o fundamento
do sentido, sendo ele mesmo sentido que confere sentido a todas as coisas. Desta
maneira, se pode compreender Deus como o fundamento da ética, pois sendo o
fundamento do ser também se faz o fundamento do agir do ser.178
Daí é que podemos destacar dois aspectos centrais no pensamento de Clodovis Boff
quanto ao sentido último da vida. O primeiro ponto se refere ao estar fora do ser humano, ou
seja, há a necessidade de um projetar-se para além do físico, do visível. O segundo ponto
central é que, falar de um bem absoluto na fundamentação da ética é falar de Deus, o qual é
capaz de nutrir espiritualmente o agir ético do ser humano.
Conclui-se então, que o que sustenta o sentido da vida está em Deus e não no ser
humano: “Assim, se a fundamentação do sentido da vida está fora do ser humano, isto o
obriga a olhar para fora de si em busca de sentido, e ao olhar para fora é capaz de relacionar-
se com Deus e com o próximo”.179 Essa relação promove o crescimento humano, pois supera
o egoísmo.
3. Opção pedagógica da pastoral juvenil
Pensar na Missão Jovem é pensar num processo educativo e buscar métodos capazes
de dar uma contribuição eficaz para a educação à fé e da fé nos jovens. Na missão é
importante criar um grupo bem formado que saiba para onde ir. Mas é, também, importante
traçar o caminho, o procedimento, a estratégia e as atividades eficazes que ajudam no
processo educativo. Este conjunto é denominado de metodologia.
177 Cf. BOFF, O livro do sentido. Crise e busca de sentido hoje, 440–448. 178 ZEFERINO, O Conceito de Sentido em Clodovis Boff e suas Implicações para a Ética Cristã na esfera
publica, 1740. 179 Ibidem, 1742.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 67
Acreditando em caminhos que favoreçam um processo educativo na Missão Jovem,
foi feita uma opção pedagógica visando dar ao jovem um suporte para integrar-se em uma
dimensão mais ampla de evangelização. Compreende:
A. “Eclesiologia de comunhão”, fundamentada no documento “Lumen Gentium”
(Concilio Vaticano II).
B. “Formação integral”, fundamentada no documento “Civilização do Amor –
Projeto e Missão” (Igreja da América latina
C. “Dialogicidade”, fundamentados no pensamento de Paolo Freire (educador
brasileiro).
Em síntese, esse modelo pedagógico que compõe a estratégia missionária, engloba
uma formação fundamentada na “‘escola’ de Jesus para o discipulado missionário, como
caminho para a formação dos jovens”.180
Vamos nos deter, então, de forma mais detalhada, em cada um destes três aspectos
importantes, procurando seguir uma ordem na exposição dos elementos desta pedagogia.
3.1. Uma pedagogia fundamentada na Eclesiologia de comunhão
Um elemento importante da pedagogia utilizada na Missão Jovem que ajuda no
processo educativo é o testemunho de comunhão. Baseado na eclesiologia preconizada pelo
Concílio Vaticano II e expressa na Constituição dogmática Lumen Gentium, na qual o
processo participativo deu condições aos batizados de exercerem sua missão evangelizadora.
Ela, mais do que promover a participação dos agentes, incentivou a formação de acordo com
um processo positivo, capaz de incluir e reconhecer os valores e dons presentes em todo
cristão.
O tema da Igreja Comunhão é apresentado em sua dupla dimensão:
a. comunhão de vida do homem com Deus, mediante Cristo e no Espirito Santo;
b. comunhão dos homens entre si na família humana e na família dos filhos de
Deus.181
180 SEJ/CELAM , Civilização do Amor, n. 472. 181 Cf. PAULO VI, Constituição dogmática Lumen gentium, sobre a Igreja, 21 de novembro 1964, São
Paulo, Paulinas, 1996, n. 1–3.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 68
A Congregação Estigmatina afirma que
é através do testemunho comunitário vivido em grupo, que é possível despertar
os/as jovens para a pessoa e a proposta de Jesus Cristo, desenvolvendo com
eles/as um processo de formação global, a partir da fé para formar líderes
capacitados/as para agirem na comunidade em outros ministros da Igreja, nos
diferentes meios como a escola, a universidade e a zona rural, comprometidos
com a libertação integral da pessoa e da sociedade, levando uma vida em
comunhão e participação.182
De fato, essa vivência em grupo ajuda no discernimento dos dons e da própria vocação,
vivenciando-os em comunidade a serviço dos irmãos e irmãs. Isso é um elemento importante
da Missão Jovem. Assim sendo, busca-se fundamentar esta opção metodológica em base aos
documentos eclesiais. A CNBB, inspirada no Concílio Vaticano II, tem iluminado esta
metodologia através de suas diretrizes. Para, então, compreendermos bem a Eclesiologia de
comunhão é necessário entender o conceito de eclesiologia, assim, como o de comunhão.
A Igreja do Novo Testamento será denominada como ekklesia tou theou, isto é,
como assembleia convocada por Deus. O conceito ekklesia indicava a
comunidade reunida para a liturgia, para ouvir a Palavra de Deus e celebrar a Ceia
(Cf. 1Cor 11,18); era empregado também para “comunidade doméstica”, isto é,
os cristãos que se reuniam nas casas para celebrar a liturgia (Cf. Rm 16,5);
expressava, igualmente, a comunidade local de todos os cristãos que viviam numa
determinada cidade (Cf. At 11,22); enfim, designava a comunidade inteira dos
cristãos, onde quer que residissem (Cf. At 9,31).183
Portanto, viver a Eclesiologia de comunhão é resgatar, nas primeiras comunidades
cristãs os princípios básicos de comunidade. Pois não existe um caminho de discipulado e
de missionariedade isolado ou individual. Todos são convocados à comunhão eclesial. A
partir da comunidade concreta é que o missionário pode sair para o anúncio, justamente
porque na vivência comunitária é possível resgatar valores cristãos da condivisão, do
enfrentamento, do crescimento mútuo e do testemunho na vida quotidiana.
Na Igreja-comunidade se valorizam todas as etapas humanas e estas são vistas como
valores. Dessa maneira, a Igreja-comunidade certamente depositará confiança na etapa
juvenil para dar-lhes a oportunidade de viver seu protagonismo evangelizador e tornar-se
um adulto na fé. Os jovens “têm seu jeito próprio de ser e se expressar e, por isso mesmo,
são a riqueza de uma comunidade. Eles têm ousadia e destemor para vencer a comodidade e
182 ESTIGMATINOS, Plano Estigmatino de Evangelização. Adolescentes e jovens no Brasil, n. 26. 183 CNBB, Comunidade de comunidades: uma nova paróquia. A conversão pastoral da paróquia,
Brasília, CNBB, 2014, n. 100.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 69
dar testemunho da vivência cristã numa sociedade de contrastes”.184 Esta ousadia juvenil é
capaz de transformar uma realidade de injustiça e de dor em Reino de Deus.
Pensar na Eclesial de comunhão é ter consciência que a unidade é formada por
indivíduos, com seus sonhos e com limites, ou seja, com sua totalidade. Por isso, é necessário
um processo que contemple uma participação fundamentada na força do batismo. É este
sacramento que dá origem e potência a um grupo de indivíduos rumo a uma comunidade de
irmãos que deseja viver sua vocação eclesial, através dos carismas recebidos do Espirito
Santo,185 apesar das dificuldades e resistências.
A dimensão prática desta opção pedagógica está justamente na vivência comunitária.
Como leigo, o primeiro lugar concreto de sua ação é a igreja local, com a situação
que esta apresenta em sua estruturação pastoral, social e econômica.
(preocupação com a igreja local sob a direção dos bispos). Nenhuma atividade
pode ser empreendida isoladamente na igreja local. Há necessidade de
participação ativa no plano diocesano, de tomar parte nas reuniões da diocese e
estar presente nas celebrações significativas da igreja local. Além disso, o diálogo
com os pastores (bispos) e outras instâncias diocesanas é indispensável para uma
programação harmoniosa, aberta e eficiente. 186
Tuto isso significa que a Eclesiologia de comunhão está fundamentada nos direitos e
nas responsabilidades de cada um dentro da Igreja. Ser um discípulo missionário é viver
plenamente a dimensão comunitária como ponto de partida e como horizonte missionário.
3.2. Uma pedagogia fundamentada na Formação Integral
A Missão Jovem, procurando ser um espaço articulado entre os jovens e que permite
viver um protagonismo no que tange à evangelização, a comunicação e a formação, faz a
opção pedagógica pela Formação Integral, em suas várias dimensões. Esta opção parte,
principalmente, do desejo de comunhão com toda Igreja da América Latina e do Caribe que
fez a mesma opção para formação da juventude.
184 Ibidem, n. 222. 185 Cf. PAULO VI, Lumen gentium, n. 12. 186 ESTIGMATINOS, Plano Estigmatino de Evangelização. Adolescentes e jovens no Brasil, n. 41.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 70
O documento Civilização do Amor – Projeto e Missão, salienta que o princípio desta
pedagogia, que é a integralidade, visando ajudar os jovens na construção de sua autonomia
e de sua felicidade:
A integralidade, como princípio, supõe que a ação de educação da fé, do
acompanhamento, resultado desse processo educativo, parta sempre do sujeito,
ou seja, do jovem e da jovem, e das perguntas que ele e ela fazem para entender
o mundo que lhes cabe viver e construir. Portanto, partimos do marco da
realidade. A integralidade implica toda pessoa, não somente as questões relativas
a um campo da vida ou do conhecimento.187
Olhar para o todo de cada pessoa exige contemplar e seguir todas as dimensões da
Formação Integral. São cinco: psico-afetiva, psico-social, mística, sócio-político-ecológica
e capacitação técnica.
Estas dimensões são organizadas de tal modo que cada pessoa possa corresponder a
uma relação com um determinado aspecto da vida, respondendo a interrogações de fundo as
quais todo ser humano faz consciente ou inconscientemente. “Trata-se de efetivar,
pedagogicamente, um conceito que se encaixa no contexto da sensibilidade da cultura jovem
e aponta para uma nova síntese que integra o racional com o simbólico, a afetividade, o
corpo, a fé e o universo”.188
Deste modo, esta opção pedagógica vê esse processo como fundamental, ou seja, é
ponto de partida e o ponto de chegada, passando por diversas etapas evolutivas.
O jovem se depara, neste caminho, com interrogações próprias de cada etapa, ou seja,
quanto ao relacionamento consigo mesmo, com o outro, com Deus e com a sociedade e
chegando a um ponto de questionar a própria ação.
O documento Civilização do Amor – Projeto e Missão, traz um resumo destas etapas
relacionadas com a vida do jovem:
Criada por dom gratuito de Deus, a pessoa humana tanto mais se realizará quanto
mais se entregar a Deus e aos outros. Do mesmo modo como Deus fez o mundo e se entregou a ele. Para entregar-se é necessário descobrir-se e possuir-se. Para
descobrir-se é preciso relacionar-se, comunicar-se, conviver. Supõe, também, a
descoberta do outro. Doar-se e amar, e amar com fatos implica fazer, construir.
O fazer eficaz supõe o saber “como” e o situar-se, ou seja, conhecer e assumir a
comunidade e a história concreta na qual se está inserido, não fugindo ao
187 SEJ/CELAM, Civilização do Amor, n. 473. 188 CNBB, Evangelização da Juventude. n. 97.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 71
compromisso com ela. Por outro lado, é preciso transcender a si mesmo e à
história para encontrar sua origem e seu fim.189
É importante também salientar que, para o jovem, a consciência de que faz parte de
uma Pastoral Orgânica e que trabalha com uma concepção que proporciona a continuidade
e a conscientização da caminhada, ajudá-lo-á muito quanto a motivação e a clareza do
caminho. Esta continuidade proporcionada pela Formação Integral visa “ajudar os membros
da Igreja a se encontrar sempre com Cristo, e assim reconhecer, acolher, interiorizar e
desenvolver a experiência e os valores que constituem a própria identidade e missão cristã
no mundo”.190 Para que isso se viabilize, é necessário ter um tempo de caminhada, ou seja,
viver um processo.
Por fim, é necessário destacar que este método pedagógico utilizado na Missão Jovem
acontece ao longo do processo que contempla as três etapas da missão – Pré-missão, Missão,
Pós-missão – como também no seio de uma comunidade. Esta comunidade, então, precisa
ter consciência do processo da Formação Integral e assumi-lo a favor de sua própria
formação. Desta forma o jovem estará envolvido em uma sequência de degraus que o
conduzem à maturidade humana e cristã. “A vida e educação se misturam no processo vital
e educacional; ou seja, enquanto a comunidade vivencia os seus valores, os jovens que
também fazem parte do conjunto da comunidade estão se educando, segundo os mesmos
valores propugnados pela comunidade”.191
Portanto, a Formação Integral, vivida pela comunidade alicerçada nos princípios de
acolhida, respeito e compromisso dará ao jovem, a possibilidade de traçar, de forma serena,
uma caminhada rumo ao discipulado e à missionariedade.
3.3. Uma pedagogia fundamentada na dialogicidade
A terceira opção pedagógica está fundamentada na teoria do educador brasileiro Paulo
Freire. Este educador apresenta a dialogicidade como essência do diálogo que aprofunda a
189 SEJ/CELAM, Civilização do Amor, n. 484. 190 CELAM, Documento de Aparecida, n. 279. 191 J. A. NOBRE – S. MENDONÇA, Desafios para a educação democrática e pública de qualidade no
Brasil, Curitiba, Appris, 2016, 79.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 72
educação como prática da liberdade. Vamos, então, explicitar este modelo pedagógico a
partir da Pedagogia do Oprimido, porém com os olhos voltados para a juventude,
principalmente no sentido de enxergar os jovens como aqueles que estão em processo de
aprendizagem. “O ser humano é, portanto, constitutivamente educável. E entende-se por
educabilidade justamente essa essencial abertura do homem à sua formação pessoal”.192 É
um aprender que se alicerça ainda numa pedagogia bancária, na qual há um educador que
sabe e transmite aos educandos o conteúdo de seu saber.
Mas o ideal, entretanto, a ser analisado, na presente pesquisa, é o da possibilidade de
entender a Missão Jovem como um espaço de aprendizado recíproco, onde os jovens não
são apenas passíveis de educação, mas são sujeitos e agentes desta educabilidade mútua.
Convencidos de um modelo educativo que a Pastoral Juvenil utiliza, principalmente
através da Missão Jovem, vamos refletir a respeito do poder do diálogo na educação ao
sentido da vida.
Paulo Freire sustenta que a palavra revelada no diálogo que é algo mais do que meio,
revela-se em duas dimensões importantes: a ação e a reflexão, ambas solidárias entre si. De
tal modo, a força que se encontra no fato de um jovem ir ao encontro do outro, aberto a
dialogar com ele, sabedor do valor de sua palavra, é transformador de realidade de ambos,
pois a palavra verdadeira já é práxis.193
Do mesmo modo que existe a palavra verdadeira, que é transformadora, existe a
palavra inautêntica que, segundo Freire, “resulta da dicotomia que se estabelece entre seus
elementos constituintes. Se transforma em palavreria, verbalismo. Alienada e alienante”.194
No campo religioso isso é muito fácil de acontecer, por que, às vezes o missionário perde-
se em conversas ou falas que são apenas palavras jogadas ao vento, pois não é precedida de
qualquer reflexão. Quando isso ocorre, a Missão Jovem torna-se apenas uma atividade, pois
não utilizou um instrumento poderoso, o diálogo, do qual brota uma práxis verdadeira.
Nossa existência, porque humana, não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco pode
nutrir-se de falsas palavras, tem que empregar palavras verdadeiras, com as quais as pessoas
transformam o mundo. Pronunciar o mundo é modifica-lo. O mundo pronunciado se volta
192 MIGUEZ, Educação em busca de sentido, 15. 193 Cf. FREIRE, Pedagogia do Oprimido, 45. 194 Ibidem.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 73
problematizado e exige novo pronunciar.195 Esta dialética é essencial no processo
missionário, que exige uma participação mútua, principalmente do missionário e daquele
que recebe a missão, afim de que esta tarefa não seja apenas um transmitir de verdades ou
de doutrinas, mas uma troca de experiências, capaz de reconstruir o mundo problematizado.
A dialogicidade, portanto, promove uma educação na qual “enquanto se ensina se
aprende. Em outras palavras, quem ensina, antes se dispôs a aprender, para após ensinar,
continuar a aprender, uma vez que a reconstrução da experiência proporciona isso”.196 Por
isso, o que se coloca em jogo são expressões “ensinar” e “aprender” com o significado de
transmitir e receber, para abrir-se à possibilidade de uma relação de conhecimento. Tal
“dimensão relacional se explica ainda mais na capacidade do discurso, de expressão através
da qual a palavra vem colocada a fundamento da comunidade, até constituir aquele grupo
simbólico que transforma uma agregação em um grupo social legitimado”.197
Diante disso, percebemos que se faz necessário, antes de tudo, uma pré-disposição
para esta relação de igualdade, utilizando o método da dialogicidade, por exemplo, em uma
missão. Sem a pré-disposição de ambas as partes não é possível um diálogo:
Não é possível o diálogo entre os que querem a pronúncia do mundo e os que não
a querem; entre os que negam aos demais o direito de dizer a palavra e os que se
acham negados deste direito. É preciso primeiro que, os que assim se encontram
negados no direito primordial de dizer a palavra, reconquistem esse direito,
proibindo que este assalto desumanizante continue.198
Nestas palavras de Paulo Freire vemos que apenas pré-disposição não basta, mas exige
uma opção de vida que coloque a vida e a realidade do ser humano em uma situação de
igualdade em todas as suas necessidades, pois a palavra verdadeira não é privilégio de alguns
e sim um direito de todos.
Inspirados em Freire, podemos dizer que um profundo amor ao mundo e aos homens
é fundamental para que aconteça o diálogo, já que o amor é diálogo. E amar o ser humano é
romper com as barreiras do medo e assumir um compromisso sério com a pessoa que está à
sua frente. Com muita humildade será possível estabelecer este diálogo, pois toda “auto-
195 Ibidem. 196 NOBRE – MENDONÇA, Desafios para a educação democrática e pública de qualidade no Brasil, 36. 197 M. C. D. ANGELIS, Praticare l’ospitalità per diventare uomini, in “Ricerca di Senso. Analisi
Esistenziale e Logoterapia Frankliana” (ottobre 2015) 3, 269–276: 270. 198 FREIRE, Pedagogia do Oprimido, 46.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 74
suficiência é incompatível com o diálogo. Os homens que não têm humildade ou a perdem,
não podem aproximar-se do povo. Não podem ser seus companheiros de pronúncia do
mundo. Neste lugar de encontro não há ignorantes absolutos, nem sábios absolutos: há
homens que, em comunhão, buscam saber mais”.199
Por último é necessário afirmar a importância da fé no ser humano para que aconteça
o diálogo. “O homem dialógico tem fé nos homens antes de encontrar-se frente a frente com
eles. Não é uma ingênua fé. O homem dialógico, que é crítico, sabe que, se o poder de fazer,
de criar, de transformar, é um poder dos homens... Sem essa fé nos homens o diálogo
transforma-se em manipulação adocicadamente paternalista”.200
Para um missionário jovem ir ao encontro de outro jovem é necessário então esta
abertura para uma vida em comum, através do método de dialogicidade, a mútua educação
à fé, ao sentido da vida e ao comunitário. Os elementos fundamentais desta pedagogia são
transformadores e libertadores porque mudam a realidade da juventude a partir dela mesmo.
4. Conclusão parcial
Como conclusão deste panorama geral sobre a fundamentação teológica-educativa da
Missão Jovem e do sentido da vida, podemos citar o documento Civilização do Amor –
Projeto e Missão, para demonstrar o valor deste critério e opção missionária, que os jovens
estigmatinos realizam, dentro da missão da Igreja:
O estilo de vida de Jesus faz-se estilo de vida nos jovens e nas jovens que fizeram
a opção por Cristo e seu Evangelho e, por isso, a espiritualidade juvenil se mostra
na vivência do anúncio da Boa Nova, na participação da vida de comunidade;
nesse sentido, como discípulos missionários de Cristo, tornam-se responsáveis pela construção do Reino, da Civilização do Amor. No chamado a sair das
fronteiras de seus grupos, comunidades, paróquias ou dioceses – inclusive de seus
países – a Igreja reconhece um sinal da confiança de Deus na capacidade dos
jovens e das jovens de entregar-se ao serviço do Evangelho.201
199 Ibidem, 47. 200 Ibidem. 201 SEJ/CELAM, Civilização do Amor, n. 858.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 75
O testemunho dos elementos de fé viva, de cada missionário, o faz ver que a fé cresce
à medida que é partilhada. Na seara da juventude, muitos estão sedentos por uma partilha da
Boa Nova, que seja capaz de ajudá-los a vislumbrar um sentido para a vida. Uma partilha
que ilustre e aponte caminhos novos.
A análise semântica do termo “sentido” nos ajudou a compreender o valor da vida e,
assim, se tornou mais fácil projetar alguns encaminhamentos educativos ao sentido da vida
através da Missão Jovem. Sentido esse que passa pela luta na conquista de justiça para os
empobrecidos e injustiçados, frente a uma causa que se possa dizer que vale a pena lutar,
mas que ao mesmo tempo ultrapasse a dimensão imanente e toque a dimensão divina, pois
somente Deus, valor dos valores, pode conferir o sentido à nossa vida.
Toda pessoa pode dar sentido a pequenas ações, mas é fundamental descobrir o sentido
da sua vida. Esta descoberta vai além do “dar” um significado, porque cada um poderia dar
o significado que quisesse.
Na leitura e elaboração deste Capítulo foi possível descobrir que a razão existencial da
vida é fundamental para cada pessoa, mas não existe uma teoria universal que explique seu
sentido, de modo que fosse necessário apenas ler e aprender de memória. Mas educar para o
sentido é ter presente os critérios fundamentais que regem essa razão existencial e preparar
a pessoa diante dos valores humanos para ter condições de ler sua realidade existencial e se
tornar protagonista da construção de sua história.
Saber como agir na educação dos jovens, é ter presente os elementos do valor
comunitário e da integralidade e do poder que o diálogo tem. Esses elementos compõem
fundamentalmente a pedagogia educativa da missão.
Nesta dimensão educativa está a pessoa do jovem que é colocada no centro de todas
as atividades missionária. Cuidar da pessoa é reconhecer a etapa em que cada um se encontra
e ajudá-la na progressão dentro dos valores fundamentais da vida. Para que isso se torne
possível é necessário seguir uma metodologia que clarifique caminhos para que o jovem
encontre luzes para as suas sombras existenciais. Esta metodologia deve ser formada por
elementos da pedagogia da Eclesiologia de comunhão, pela Formação Integral e pela
Dialogicidade.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 76
Os questionamentos que regeram este capítulo, que favoreceram uma iluminação do
que é a Missão Jovem Estigmatina, de qual é o sentido da vida e qual é a pedagogia educativa
na missão jovem, poderão encontrar saídas no capítulo sucessivo.
A iluminação teológica de missão mostrou que é uma ação eclesial com pessoas jovens
na construção do Reino de Deus, através do anúncio explícito de Jesus e de uma inserção
comunitária. Acreditar em Jesus é acreditar que a vida possui um significado e o modo de
pensar e refletir sobre este significado está no diálogo entre seres humanos e entre eles e
Deus.
As duas perguntas que constantemente fazem parte do viver humano são, por que
vivemos? e, para que vivemos? São perguntas que buscam a causa ou origem da vida e ao
mesmo tempo, buscam a finalidade ou meta última do nosso peregrinar terrestre. A primeira
pergunta está marcada pelo desejo insaciável de saber (conhecer), a segunda pergunta está
marcada pela inquietação frente ao sentido ou fim último. Ambas, porém, são sementes que
Deus coloca no ser humano como provocação à caminhada rumo ao relacionamento de
intimidade com Ele, através do relacionamento profundamente humana que se transforma
em divina.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 77
CAPÍTULO III
HORIZONTES DA MISSÃO JOVEM ESTIGMATINA COMO EDUCADORA AO SENTIDO DA VIDA
Este terceiro capítulo corresponde à fase projetual da presente tese. As dimensões
anteriores, kairológica e criteriológica, nos ajudaram a levantar dados desafiadores para
Missão Jovem e, ao mesmo tempo, apresentar opções metodológicas que facilitem a atuação
missionária na relação dialógica com a juventude. A fase projetual, então, pretende
concretizar opções de saídas diante dos desafios.
Em plena sintonia com o ministério apostólico do Papa Francisco, acreditamos que é
necessário o “cheiro das ovelhas”,202 para demonstrar que a Pastoral da Juventude
Estigmatina realmente é como o “bom pastor”. Para que isso aconteça é necessário misturar-
se com a juventude, sendo o fermento na massa que faz crescer o Reino entre os jovens.
Entender a evangelização assumida pela juventude como uma forma de concretizar a
“Igreja em saída”, é uma proposta que passa pelo movimento de ir em direção ao mundo da
juventude, com o compromisso de lutar para que os valores evangélicos sejam efetivados.
Para isso, é necessário celebrar com os jovens na sua própria realidade. A Missão Jovem, se
cumprir a função de educar a favor de uma vivência grupal, educar ao protagonismo, à
amizade, à fé e ao amor estará preparando e educando o jovem para descobrir o sentido da
sua vida.
Convém, portanto, elucidar esses aspectos educativos para que o anúncio do
Evangelho, durante o processo missionário, repercuta como Boa Notícia. Esta novidade do
Evangelho deve ser real e visível na vida cotidiana do jovem, oferecendo assim,
concretamente razões de esperança para a vida da juventude nos seus lugares de vivência.
Os missionários e as missionárias jovens serão a Igreja em saída, que possibilitarão
uma vivência celebradora da vida rumo à descoberta da beleza do viver. Serão também o
202 O Papa Francisco disse, na homilia durante a missa do Crisma na Basílica Vaticana: “O sacerdote
que sai pouco de si mesmo, que unge pouco, perde o melhor do nosso povo, aquilo que é capaz de ativar a
parte mais profunda do seu coração presbiteral. Quem não sai de si mesmo, em vez de ser mediador, torna-se
pouco a pouco um intermediário, um gestor. Daqui deriva precisamente a insatisfação de alguns, em vez de
serem pastores com o ‘cheiro das ovelhas’, pastores no meio do seu rebanho, e pescadores de homens.”
FRANCISCO, Homilia do Santo Padre Francisco. Santa Missa Crismal, in
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2013/documents/papa-francesco_20130328_messa-
crismale.html (Acessado: 3 março 2017).
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 78
meio de concretizar a educação, pois se farão presentes na vida de outros jovens. Os
missionários conscientes de estarem em um “mundo que muda” e que “é bem mais do que
um cenário em que a comunidade cristã se move: com as suas urgências e as suas
oportunidades, provoca a fé e a responsabilidade dos crentes”.203 Tal cenário será a grande
oportunidade de diálogo e de crescimento mútuo.
1. Evangelização da juventude: uma Igreja em saída
A evangelização da juventude passa pela inculturação da fé,204 pelo anúncio da
Palavra205 e pelo amor aos jovens.206 Conscientes deste caminho, é necessário confirmar,
renovar e revitalizar a novidade do Evangelho que já foi anunciado por tantos homens e
mulheres corajosos e apaixonados pela cultura juvenil. Apesar da tradição religiosa, a Boa
Nova do Evangelho continua nova, e precisa despertar o jovem a partir de um encontro
pessoal e comunitário com Jesus Cristo, para que aquele se torne discípulo missionário.
Sabemos que isso não depende tanto de grandes programas e estruturas, mas de jovens que
encarnem essa novidade como discípulos de Jesus Cristo e missionários de seu Reino,
protagonistas de uma vida nova.207
A proposta de uma Igreja em saída exige alguns elementos claros quanto ao processo
evangelizador, bem como quanto à cultura em que vivemos; caso contrário há um grande
risco, principalmente o de partirmos para uma realidade que não é aquela que temos em
203 CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA - CEI, Educare alla vita buona del Vangelo: orientamenti
pastorali dell’Episcopato italiano per il decennio 2010-2020, Leumann (TO), Elle Di Ci, 2010, n. 7. 204 “Não se deve esquecer que a cidade é um âmbito multicultural. Nas grandes cidades, pode-se
observar uma trama em que grupos de pessoas compartilham as mesmas formas de sonhar a vida e ilusões
semelhantes, constituindo-se em novos setores humanos, em territórios culturais, em cidades invisíveis...”
FRANCISCO, Evangelii Gaudium, n. 74. 205 “A primeira tarefa da Pastoral Juvenil é realizar o anúncio querigmatico, não pressupondo nos jovens
o conhecimento de Cristo. Ao contrário, essa mensagem deve ser sempre nova...” SEJ/CELAM, Civilização do
Amor, n. 706. 206 “Os jovens de todos os tempos e lugares buscam a felicidade. A Igreja continua olhando com amor
para os jovens, mostrando-lhes o verdadeiro Mestre – Caminho, Verdade e Vida – que os convida a viver com
ele”. CNBB, Evangelização da Juventude. n. 1. 207 Cf. CELAM, Documento de Aparecida, n. 11.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 79
mente, e o anúncio querigmático esbarrará, assim, em nossa fragilidade, pois podemos estar
anunciando em um determinado cenário, sendo que o contexto é outro.
Como atestam os documentos eclesiais, a Igreja não é fim em si mesma,208 ela sabe
que está a serviço do Reino. Por isso, estar em saída, faz referência a uma evangelização que
não é definida pelo anúncio de uma estrutura ou de uma doutrina, mas é “sair da própria
comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do
Evangelho”.209 Para que isso aconteça, a Missão Jovem Estigmatina é convocada a mover-
se ao lugar dos jovens para caminhar, escutar, dialogar e encontrar-se neles e anunciar a Boa
Nova.
Os movimentos que serão apresentados, exigem o conhecimento prévio do contexto
cultural e social, pois são passiveis de mudanças conforme a realidade e conforme a história
da pessoa. Não são normas missionárias ou educativas que conduzem, obrigatoriamente, a
um nível de conhecimento e ou a um nível de razões existenciais, mas é a relação com a
pessoa, através destes caminhos, que despertará ao transcendente da relação, abrindo sempre
a novos horizontes.
1.1. Mover-se ao lugar dos jovens
Pensar em uma Igreja em saída é pensar, logicamente no movimento, mas também,
nos ambientes da juventude – lá onde estão os jovens -, ou seja, em seu cotidiano. É no seu
dia a dia que a vida acontece naturalmente e que a oportunidade de ser uma presença
iluminadora se faz real. A Missão Jovem Estigmatina é convocada então, a deixar as
estruturas eclesiais e partir para os lugares vitais, ou seja, para as situações diárias da
juventude. Assim, vamos ver que é mais do que apenas partir, mas sim exercer um
movimento de saída de determinadas estruturas para abrir-se à novidade que tais lugares
juvenis oferecem.
208 Os Bispos reunidos nesta conferência afirmam: “Necessitamos sair ao encontro das pessoas, das
famílias, das comunidades e dos povos para lhes comunicar e compartilhar o dom do encontro com Cristo, que
tem preenchido nossas vidas de ‘sentido’, de verdade e de amor, de alegria e de esperança!” Ibidem, n. 548. 209 FRANCISCO, Evangelii Gaudium, n. 20.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 80
Este mover-se significa “colocar-se em dia com os jovens. Reconhecer e valorizar o
que são e o que fazem; estar com os jovens em seus ambientes cotidianos, aproximar-se dos
diversos mundos da juventude, reconhecendo e valorizando a diversidade de suas
culturas”.210 Neste reconhecimento das riquezas juvenis nos seus diversos mundos é que está
a oportunidade de um diálogo libertador pois parte da vida dos jovens, dos ambientes onde
eles estão e atuam para anunciar a presença do Deus da vida nesta mesma realidade.
Os missionários estigmatinos devem partir para os lugares existenciais e sociais
carregando uma bagagem de vida, vivenciada em comunidade. A riqueza existente nos
grupos da PJEst deve ser o alicerce do anúncio e do testemunho diante dos jovens. Com o
conhecimento da base deixada por São Gaspar Bertoni, principalmente do compromisso com
uma formação integral, será mais evangélico ir ao encontro do jovem como companhia que
se interessa pelo seu todo, pela sua integralidade. Isso possibilita a eles um jeito ou um
exemplo de aflorar a resposta de sentido que está dentro da sua própria realidade.
A experiência comunitária do missionário possibilita-o a encontrar o jovem em seus
ambientes para apresentar Jesus como modelo e referência. Este Jesus revela que “Deus ama
aos jovens e quer para eles futuro diferente sem frustrações nem marginalizações, onde a
vida plena seja fruto acessível a todos”.211 Assim, o modelo a ser seguido é Jesus em sua luta
e opção fundamental pela construção do Reino de Deus onde a vida é o referencial, mas uma
vida, como ensinou o próprio Jesus, em abundância, plena de sentido.
As paróquias atendidas pelos Religiosos Estigmatinos, na Província Santa Cruz, são
formadas, em algumas realidades, por grandes periferias sociais. Nestes ambientes, a vida é
mais ameaçada, principalmente para os jovens. Nestes lugares, mais desafiantes, devido à
cultura de morte, o compromisso é de anunciar o Cristo Libertador, que “deve alcançar toda
juventude nas mais diferentes formas e expressões juvenis, respeitando sua identidade,
preferências e contextos”.212 Diante disso, os jovens precisam saber que não estão sendo
esquecidos, que a presença do missionário reflete este reconhecimento do seu valor e ao
mesmo tempo que Deus é presente no cotidiano de suas vidas.
210 SEJ/CELAM, Civilização do Amor, n. 466. 211 CELAM, Documento de Santo Domingo. n. 118. 212 ESTIGMATINOS, Plano Estigmatino de Evangelização. Adolescentes e jovens no Brasil, n. 25.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 81
Buscar os mais distanciados é o grande desafio e a grande missão desta saída das
estruturas de “sacristias”. Esta busca faz referência ao encontro que aproxima o jovem do
seu sentido existencial. Certamente é desafiante porque exigirá uma nova linguagem e um
novo modo de expressar a fé.
Ir ao encontro dos jovens para valorizá-los e fazê-los desenvolver-se
integralmente através da convivência humana e a familiar conversação com eles.
Tal atitude favorece em muito o conhecimento, o estilo de vida, as perspectivas,
os anseios, os sonhos, as dificuldades, a linguagem e o momento histórico dos
jovens e adolescentes.213
A Missão Jovem Estigmatina exercerá sua função evangelizadora à medida que, indo
aos lugares onde está a juventude, demonstra o reconhecimento da riqueza do mundo jovem
e ao mesmo tempo seja capaz de anunciar a presença de Jesus que ama, não somente esta
realidade, mas o jovem em sua totalidade.
Portanto, mover-se rumo a tais lugares é mais do que fazer visitas às casas para um
momento de oração – atitude praticada atualmente –, mas é despir-se das ideias pré-
formuladas e abrir-se a uma novidade provocadora e estimulante visando anunciar Jesus
Cristo com base à realidade da cultura juvenil.
1.2. Caminhar com os jovens
O segundo passo importante da Missão Jovem Estigmatina na educação ao sentido da
vida é o caminhar com os jovens. Esta atitude é inspirada no mestre Jesus que demonstra o
grande valor de caminhar ao lado daqueles que questionam, que buscam, que se desanimam
e ao mesmo tempo que carregam grandes riquezas existenciais e culturais.
O missionário deve ser convocado a caminhar com os jovens mesmo quando não é
reconhecido por eles. Inicialmente precisa ter a persistência e a coragem para vencer a
estranheza. Geralmente o jovem não aceita de imediato um anúncio que venha através de
um discurso religioso tradicional. Por vezes não acolhe, nem mesmo, o missionário como
um companheiro de caminhada que pode ajudá-lo. Sendo assim, mais do que usar a
estratégia de se aproximar para ensinar algo, o grande objetivo deve ser o de estar presente
213 Ibidem, n. 45.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 82
como seta que aponta caminhos. O tempo da presença real na vida do jovem pode ser por
pouco tempo, mas como presença significativa pode se tornar eterna.
Por vezes, a insegurança do jovem em aceitar de imediato a presença de um
missionário é motivada por experiências negativas que teve com outras pessoas que se
aproximaram dele com objetivos escusos. Sendo assim, é necessário vencer a estranheza
inicial. Isso só será possível à medida que o jovem perceber que realmente o missionário se
interessa pela sua vida, pela sua história, pela sua condição existencial.
No horizonte da Missão Jovem Estigmatina deve estar o “caminhar junto” que
significa dividir a mesma estrada e não ter outro caminho privilegiado.214 Esse fator
igualitário é porta para uma integração e uma troca de experiência que enriquece tanto o
jovem missionário como o jovem missionado. Portanto, quando um jovem é convidado a
caminhar com o outro, significa estar ao lado e não à frente ou atrás. “Caminhar” é igual a
estar presente na vida, mesmo que em um pequeno momento, é descobrir juntos a estrada
que conduz a uma vida plena de sentido.
E esta vida plena de sentido passa pelo encontro com Jesus Cristo:
O encontro com Jesus Cristo não é algo abstrato. É necessário caminhar com os
jovens e fazer com eles a experiência de Jesus, Palavra eterna do Pai. Ele está
presente na Sagrada Escritura, na liturgia, sobretudo na Eucaristia; na
comunidade reunida em seu nome, nos irmãos e irmãs, especialmente nos mais
necessitados. Caminhos pastorais para suscitar este encontro são a oração pessoal,
o diálogo ecumênico e religioso, o cotidiano da vida (escola, bairro, trabalho,
família...), as artes (música, teatro, dança...) e toda a criação, numa relação
harmoniosa com as criaturas.215
Através dessa atitude missionária, de caminhar com os jovens, que passa pelas
dimensões mencionadas no documento da CNBB, é que nos aprofundaremos na cultura
juvenil e conheceremos o jovem em um contexto mais amplo. Só é possível amar o jovem à
medida que o conhecermos e só podemos conhecer à medida que caminhamos com ele.
214 Cf. L. PANDOLFI, Arte della comunicazione, prima evangelizzazione e catechesi. Sette passi sulla
via di Emmaus, in COLLEGIO MISSIONARIO INTERNAZIONALE SAN GIUSEPPE, L’identità del Laico Catechista
nell’evangelizzazione dei popoli, Bologna, EMI, 2010, 171–190: 176. 215 CNBB, Evangelização da Juventude, n. 64.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 83
1.3. Escutar os jovens
Como vimos, é preciso muita coragem para caminhar com os jovens e caminhar com
sua realidade. É necessário ser “humano” e reconhecer o humano no jovem. A partir disso
despontará outro paradigma fundamental no horizonte educativo da missão: o escutar.
Antes de querer ensinar, ou mesmo, falar, há a indispensável obrigatoriedade de
escutar. O jovem fala mediante seu modo de ser, seu estilo e, principalmente, sua palavra.
Escutá-lo, então, é reconhecer o valor de sua palavra. O missionário é capaz de exercer tal
missão à medida que reconhece estar com o outro,
A primeira implicação profunda e rigorosa que surge quando eu encarno que não
estou só, é exatamente o direito e o dever que eu tenho de respeitar em você o
direito de você dizer a palavra também. Isso significa então que é preciso também
saber ouvir.216
Exatamente porque tem que saber ouvir é que o missionário tem que respeitar, em suas
atitudes, a realidade e a condição do jovem. Escutar é uma atitude respeitosa e ao mesmo
tempo geradora de um ambiente de confiança. Quando uma pessoa se sente neste ambiente
é capaz de se abrir e construir um caminho mediante a partilha.
Escutar é muito mais do que ouvir. Ouvir diz respeito ao âmbito da informação;
escutar, ao invés, refere-se ao âmbito da comunicação e requer a proximidade. A
escuta permite-nos assumir a atitude justa, saindo da tranquila condição de
espectadores, usuários, consumidores. Escutar significa também ser capaz de
compartilhar questões e dúvidas, caminhar lado a lado, libertar-se de qualquer
presunção de onipotência e colocar, humildemente, as próprias capacidades e
dons ao serviço do bem comum.217
A novidade que o jovem deve revelar é sempre enriquecedora quando está dentro de
uma partilha e de um confronto com a novidade revelada na missão. Tanto a pessoa do
jovem, como a cultura juvenil, revelam uma mensagem divina. “A novidade que a cultura
juvenil nos apresenta neste momento, é sua teologia, isto é, o discurso que Deus nos faz
através da juventude”.218 Assim, é necessário ter os ouvidos bem atentos para escutar esta
grande novidade.
216 P. FREIRE, Para trabalhar com o povo, vol. 2, São Paulo, CCJ, 1992, 4. 217 FRANCISCO, Dia Mundial das Comunicações Sociais, 2016 - «Comunicação e Misericórdia: um
encontro fecundo», in https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/messages/communications/documents/papa-
francesco_20160124_messaggio-comunicazioni-sociali.html (Acessado: 14 março 2017). 218 DICK, O divino no jovem. 14.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 84
Daí que, como proposta à Missão Jovem Estigmatina, neste aspecto importante, está a
atitude concreta de “escutar as necessidades, os interesses, os sonhos, as angústias, os medos
e os desafios da juventude”.219 Isso deve ser vivido como uma atitude em todas as atividades
missionárias. Com a postura de escuta, certamente os jovens se sentirão acolhidos de forma
integral, com seus dons e com seus pecados.
Por outro lado, a transformação de uma realidade será eficaz à medida que as pessoas
daquela realidade se mobilizarem, conscientemente à mudança. Às vezes, é fundamental que
alguém os auxilie. Desta forma, o missionário e a missionária poderão partir das condições
concretas em que os jovens se encontram, ou seja, da maneira como eles se compreendem.
Jamais a partir de como os missionários, que vêm de outra cidade, compreendem aquela
realidade. Essa atitude de escuta favorecerá a organização das atividades missionárias em
todos os seus âmbitos.
Portanto, escutar é estar atendo para acolher todos os elementos que o outro oferece,
como diretriz. Esta mensagem determinará o andamento da missão, pois a razão principal
desta atividade missionária é a condição existencial do jovem.
1.4. Encontrar-se nos jovens e anunciar (comunicar) a Boa Nova
O gesto concreto de mover-se ao lugar dos jovens, caminhar com eles e escutá-los gera
duas novidades para a missão jovem: o encontrar-se na juventude e o dialogar com eles. São
critérios que se completam nesta atitude educativa da missão.
Encontrar-se, é ter na juventude o reflexo daquilo que a missão jovem é. Inicialmente,
parece ser natural essa identificação, mas na realidade nem sempre o é. Cabe à Missão Jovem
Estigmatina, então, se despir das pré-formulações doutrinais – até mesmo do jeito de rezar
– e optar pela abertura à novidade que as culturas juvenis apresentam. Dessa forma, será
visível o reconhecimento daquilo que já está presente na juventude. A juventude fala de Deus
com suas expressões, com suas palavras e com seus gestos. Da mesma forma a missão jovem,
tem que falar de Deus mediante suas expressões, palavras e gestos.
219 SEJ/CELAM, Civilização do Amor, n. 467.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 85
Quem foi ao encontro, caminhou lado a lado, escutou e encontrou-se no jovem, tem a
oportunidade de comunicar a Boa Nova. Os jovens esperam alguém para dialogar de igual
para igual. E, como Deus já está presente na juventude, é necessário então reconhecer-se
como parte desta revelação divina para, juntos, reconhecerem-se como comunidade cristã.
O fato de afirmar que Deus já está presente na juventude, não significa que o jovem
tenha consciência disso, ou mesmo consciência da força de sua palavra, justamente por isso
é que se deve pensar em uma educação como processo que revele ao jovem “a riqueza
infinita que mora nele. Ele precisa e sonha descobrir e aprender o que é Deus, Jesus Cristo,
Igreja, etc. mas aprender, igualmente, o que ele é, teologicamente, numa concepção de
liberdade e de vida”.220
Seguir os passos sugeridos na presente tese, envolve um profundo amor ao jovem. Até
mesmo porque não é possível um diálogo sem amor. “Não há diálogo, porém, se não há um
profundo amor ao mundo e aos homens...O amor é diálogo. Porque é um ato de coragem,
nunca de medo, o amor é compromisso com os homens”.221 O compromisso com os jovens,
através deste amor que dialoga, é a presença evangélica do missionário e da missionária na
vida daquele que o recebe. O diálogo vem da “convicção que o homem é capaz de resolver
os próprios problemas e de atuar no próprio plano de vida, porque há em si a energia e
critérios de avaliação, suficientes para atuar no desenvolvimento de si mesmo”.222
O fato de escutar antes de falar muda completamente a perspectiva missionária. Em
um antigo texto de Paulo Freire, entretanto com um valor atual, podemos ver essa mudança
de perspectiva:
Na medida, porém, em que eu parto do reconhecimento do teu direito de dizer a
palavra, quando eu falo porque te ouvi, eu faço mais do que falar a ti, eu falo
contigo. E veja bem, eu não estou fazendo jogo de palavras. Estou usando
palavras. Veja que eu usei a preposição A, “falar a ti”. Mas disse que o “falar A
ti só se converte no falar contigo, se eu te escuto.223
A Missão Jovem Estigmatina não parte para o mundo juvenil para fazer um discurso
aos jovens, mas para falar com os jovens. Para dialogar e comunicar. Esse diálogo é ponto
220 DICK, O divino no jovem, 24–25. 221 FREIRE, Pedagogia do Oprimido, 46. 222 B. GIORDANI, Dialogo, in M. MIDALI – R. TONELLI, (Edd), Dizionario di pastorale giovanile,
Leumann, Elle Di Ci, 21992, 231–240: 233. 223 FREIRE, Para trabalhar com o povo, 4.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 86
de partida e de chegada de um autoconhecimento da Missão Jovem como lugar histórico da
presença divina. Pois é neste “lugar” que os jovens dialogam entre si, e é neste lugar que o
diálogo de Deus com a juventude se mostra evidente. Comunicar não é transmitir, mas é
apresentar a novidade que os valores evangélicos continuam sendo para a realidade de hoje.
Durante a missão não se pode pressupor que o jovem já conheça Jesus Cristo. Por isso,
há a necessidade de comunicar ao jovem a Boa Nova que é Jesus.
Sendo assim, o missionário inspira-se no próprio Mestre de Nazaré que se aproximou
e anunciou àqueles discípulos entristecidos (discípulos de Emaús). Este anúncio deve
acontecer por meio de uma pregação continua e incansável da Palavra de Deus e ao mesmo
tempo, deve ser explicito e claro, da pessoa e missão de Jesus.
O querigma é um anúncio envolvente e provocador. Pede uma resposta na qual
se decide o rumo da vida do ouvinte. O querigma questiona a autossuficiência do
homem e, no momento em que este se decide a seguir o caminho de Cristo, lhe é
oferecida a possibilidade de uma vida plena. Este anúncio é a pregação a respeito
da cruz que é loucura para aqueles que se perdem, mas, para nós, que estamos no
caminho da salvação é força de Deus (cf. 1Cor 1,18). De um lado se relativiza o
poder deste mundo, de outro é dada uma resposta ao desejo de realização da
pessoa; agora de forma verdadeira ainda que inicial e, no futuro, de forma plena,
quando Deus for “tudo em todos” (cf. 1Cor 15,28; Cl 3,11).224
Desta forma é necessário realizar o anúncio a partir de Cristo, ajudando os jovens a
reconhecerem e seguirem sua presença. Esse reconhecimento é sempre questionador, pois
confronta o modo de vida do jovem com àquele sonhado e desejado por Jesus.
Portanto, o anúncio realizado na Missão Jovem, é fundamentalmente cristocentrico.
Jesus Cristo está no centro da palavra e da ação missionária. Assim, não será prioridade o
anúncio de estrutura eclesial ou, tampouco, de doutrinas religiosas, mas de um
acontecimento. Anunciar este acontecimento é comunicar uma palavra que seja uma Boa
Nova para os jovens, com os quais se está caminhando. Esta Boa Nova é contextual, inserida
nos processos históricos e populares reais. Capaz de aquecer o coração, justamente porque
fala à vida, aos problemas concretos e ao profundo do ser humano.
224 CNBB. Anúncio Querigmático e Evangelização Fundamental, Brasília, Edições CNBB,
2014. n. 34.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 87
2. A vivência celebrativa da missão
Pensar na dimensão celebrativa da missão é levar em consideração uma proposta que
envolva as ações juvenis em uma relação íntima com o projeto de Deus. Assim, esta
dimensão é tornar real, através de gestos, símbolos e palavras o encontro amigável entre o
jovem e Jesus Cristo.
A casa onde mora o jovem é, geralmente, seu ponto de segurança. Portanto, é ali que
a celebração deve ganhar uma dimensão de encontro cotidiano com o Senhor. O momento
da festa é outro lugar celebrativo, pois há alegria de rever amigos, de conhecer novas pessoas,
de se expressar através da dança, do canto, do afeto. O terceiro momento de celebrar a vida,
em uma dimensão de integração com a Igreja local, são os Sacramentos, especialmente o da
Eucaristia e o da Reconciliação, pois o jovem tem a oportunidade de se reconciliar com a
comunidade, consigo mesmo e com Deus através de uma comunhão que o projeta para um
horizonte de vida engajada comunitariamente.
Essa proposta evidencia que não existe uma dicotomia entre a vida real da juventude
e celebração de fé. O lugar, que era historicamente, estabelecido para a celebração agora se
expande para os lugares cotidianos, onde a vida acontece naturalmente. Assim, pode-se
educar o jovem a ver uma presença amigável de Deus no caminhar humano que é permeado
por luzes e sombras.
A liturgia é também ouro momento que ajuda a celebrar a Missão Jovem faz parte da
ação eclesial de “transmitir a fé que essa (a Igreja) vive, celebra, professa, testemunha (...)
reconhecendo à ação litúrgica o espaço onde a transmissão da fé não vem somente com
palavras, mas exige uma relação com Deus que é a mesma fé em ato, oração por
excelência”.225 Educar à dimensão celebrativa certamente passará pela prática da oração,
bem como, pelos símbolos.
225 D. MEDEIROS, La nuova evangelizzazione nella prospettiva della Pastorale Liturgica, in
“Salesianum” (2013) LXXV, 69–82: 70.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 88
2.1. A casa do jovem se torna lugar celebrativo da vida
Atualmente a Missão Jovem Estigmatina tem como principal objetivo visitar os jovens
em suas casas. Este objetivo é muito importante em âmbito evangelizador, porém, a
novidade desta reflexão é oferecer uma finalidade a esta visita. Não basta visitar, é necessário
ser uma presença iluminadora na vida dos jovens. Essa luz proposta pelo missionário é
significativa para permanecer no ambiente em que o jovem vive. Ou seja, procurar
transformar a visita em um ambiente celebrativo.
Resgatando o valor da celebração na vida do ser humano, vemos que:
Na história do homem a celebração constitui, portanto, o veículo e o conteúdo de
uma particular experiência espiritual. E tudo é mediado através aquele mundo dos
símbolos (ação, gestos, coisas...) que caracterizam em modo essencial o rito
religioso. Neste sentido a simbolicidade não entra mais na categoria do irreal, do
não real, do fútil, mas se torna um novo e mais profundo modo de ver e de
experimentar a realidade e de situar a si mesmo em uma relação mais construtiva
com as coisas, com os homens e com Deus.226
A atitude de chegar à casa, de entrar, de saudar, além dos símbolos que o missionário
carrega, como a Cruz, a Bíblia; as palavras pronunciadas, a oração; tudo ganha um valor
extraordinário à medida que isso é colocado em clima celebrativo.
Tal clima celebrativo é precedido pela mística vivida pelo missionário. Não se trata de
algo mágico ou sobrenatural, mas é a expressão daquilo que o missionário acredita e
apresenta como valor evangélico, unido a tudo o que o jovem carrega como valor humano,
envolvido então, pelo jeito e pelo clima celebrativo.
Certamente a casa do jovem ganha um valor diferente quando se torna espaço de
celebração. A casa que já é importante em si como espaço de referência.
Casa como lugar de referência, de refúgio, de bem-estar. Ambiente íntimo e
familiar, calor do que chamamos lar. Lugar onde o indivíduo é livre para ser ele
mesmo, para despir as muitas máscaras que é obrigado a usar na sociedade real
ou virtual. E para revelar sem medo nem vergonha a própria nudez, bem como a
fraqueza e debilidade que a todos nos fragiliza.227
226 M. SODI, Celebrazione, in M. MIDALI - R. TONELLI (Edd), Dizionario di pastorale giovanile,
Leumann, Elle Di Ci, 21992, 160–165: 160. 227 A. J. GONÇALVES, A liberdade e a casa, in http://www.ihu.unisinos.br/maisnoticias/noticias/
562806-a-liberdade-e-a-casa (Acessado: 16 março 2017).
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 89
Podemos completar essa descrição afirmando a casa como lugar de descanso, lugar de
receber amigos, de conviver com a família e, agora, como lugar celebrativo destes
acontecimentos cotidianos. Por isso, é fundamental, na missão jovem, o respeito pela casa
visitada. É o lugar de identificação e de referência do jovem, independente de sua
organização. Com a visita missionária a casa deve ser apresentada como “templo, edifício
sagrado, lugar santo, espaço de vida”.228 Isso não quer dizer que o missionário transforma o
ambiente, mas sim que pode desvelar essa realidade ao jovem, pois este, muitas vezes vê a
própria casa como lugar chato, tenso e pesado.
A conversa inicial com o jovem, durante a visita, deve ser descontraída, para quebrar
o gelo. Aos poucos demonstrar-se acolhido e envolvido por aquilo que o jovem fala. Esta é
a referência para viver a mística do encontro. Quando possível faz-se uma oração, pois é,
também, neste momento, que a casa entra como centro de referência celebrativo. Mas só é
importante porque acolhe pessoas, neste caso, o jovem e sua família e não como lugar
mágico que deve ser “exorcizado” de espíritos impuros. Assim, recordar, sutilmente, o
significado da casa para as pessoas que estão sendo visitadas, é importante para celebrarem
juntos como lar aconchegante de vidas e lugar onde Deus também habita.
Quando falamos de lugar celebrativo, estamos nos referindo ao significado especial
que se coloca no espaço físico. A celebração pode acontecer através da música que o jovem
costuma cantar, da oração simples e profunda que costuma fazer, do diálogo sobre os sonhos,
sobre os desafios, sobre a beleza e dificuldades da vida familiar. Assim, o lugar físico, se
tornará espaço significativo que acolhe a vida.
2.2. A festa como lugar evangelizador
Pensar a festa como lugar evangelizador é considerar inicialmente que a juventude é
marcada pela festa e pela celebração. Festa é “radicalmente, encontro, prazer e sentido. Além
disso, qualquer festa é memória e celebração, mesmo nos momentos de grande dor”.229
228 G. CAVAGNARI, La Famiglia “Chiesa Domestica”. Soggetto e oggetto dell’azione evangelizzatrice
al servizio del regno di Dio, Roma, LAS, 2015, 71. 229 DICK, O divino no jovem, 48.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 90
Quando se fala em “momento de dor” pode se referir à festa religiosa, por exemplo, à festa
da Páscoa, ou mesmo à memória do falecimento de alguém.
O jovem transpira o desejo pela celebração da vida, pela festa que o possibilite
reencontrar os amigos e de conhecer novas pessoas para partilhar algo de bom. A leitura que
o jovem faz da vida no momento da festa é sempre com os olhos voltados para os elementos
alegres e vivificantes. Não é possível fazer a festa sozinho, o jovem se encontra com o outro
para este momento celebrativo. Assim, a festa tem “capacidade generativa, exigindo
organização coletiva, responsabilidade coletiva e expressão coletiva”.230
Existem alguns elementos importantes para compreender a festa e concebê-la em
sintonia com o projeto divino para a humanidade:
a) a valorização de determinados acontecimentos como o aniversário, o
casamento, a assembleia, a avaliação, a conquista etc. É a “matéria” da festa. A
motivação. b) a expressão significativa, bonita e bem preparada que exige rito,
ornamentação. É o “discurso” da festa; a sua visibilização colorida e sonora. c) A
intercomunhão solidária. Não há festa se as relações das pessoas estiverem
envenenadas ou estiverem baseadas em interesses. A festa é um espaço de
gratuidade. Ela é uma “parada” de gozo e descanso. Ela tem fim em si mesmo.
Celebra-se para celebrar (...)231
É por isso que a Missão Jovem Estigmatina deve promover a festa, envolvendo a
juventude em todas as dimensões inerentes a esta celebração. A decisão do estilo da festa, a
organização, a busca por recurso, o momento da diversão, revisão final, todas as etapas da
festa são elementos importantes nesta relação juvenil.
Convém lembrar também que, este momento festivo é teológico, porque tem em vista
o que uma Comunidade Eclesial vive dominicalmente como festa litúrgica ao orientar os
cristãos a viverem a festa do cotidiano. Assim sendo, os jovens, em sintonia com toda
comunidade eclesial, serão convidados a viver a gratuidade, a generosidade, a alegria, a
relação amigável, a dança, a manifestação do corpo. É importante envolver toda comunidade
neste momento, já que a vida cristã é festa para todos, não somente para os jovens, mas não
podemos negar que, em uma festa, sem juventude, falta um aspecto importante, porque o
jovem é, pelo comportamento que tem e por tudo o que é e faz, uma presença especial. Uma
presença que pode transformar qualquer ambiente em festa.
230 SEJ/CELAM, Civilização do Amor, n. 795. 231 DICK, O divino no jovem, 49.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 91
O objetivo principal deste momento na missão, então, é viver com os jovens o sagrado
que se apresenta revestido de festa. Este clima celebrativo possibilita uma grande abertura
do mundo juvenil à relação profunda com a comunidade eclesial. O jovem traz para este
momento o que tem de melhor para expressar, e se sente livre para manifestar-se diante
daqueles que são e se tornam seus amigos. Por isso, no período de organização se deve pensar
bem no sujeito e protagonista da festa (o jovem), para quem está sendo organizado este
momento, bem como no seu objetivo, ou seja, o porquê se faz este período celebrativo.
Portanto, mesmo que o todo da Missão Jovem já seja organizado em um clima festivo,
deve ter um momento específico de “festa” para envolver todos. O rito que acontece neste
momento é conduzido pelos próprios jovens, de modo que o sorriso, o contato e o diálogo
sejam manifestados de maneira natural, porque são elementos fundamentais desta
celebração.
Por último, vale lembrar a dimensão utópica da festa. Ela faz parte realidade, mas não
de toda realidade juvenil. É evidente que a vida juvenil é mais ampla do que a festa, no
entanto, o jovem precisa da utopia, para enfrentar a dureza de tantas situações. Na festa o
jovem vive uma utopia específica, pois traz consigo a celebração do seu corpo de forma real
e utópica. Ele dança, perdoa, encontra-se com o outro e projeta a felicidade. Esta dimensão
fortalece a pessoa para voltar e enfrentar a sua realidade com mais ânimo, mais força, mais
alegria.
Afirmar que tudo isso é evangelizador significa dizer que a evangelização da juventude
é mais do que transmitir palavras bíblicas ou palavras de documentos eclesiais, mas é toda
ação eclesial voltada para a juventude. A festa será um excelente ambiente para viver a
alegria de ser jovem, para viver a alegria de ser cristão.
2.3. Os sacramentos (Eucaristia e Reconciliação) como lugar de reencontro com a vida
Os sacramentos exercem uma função relevante na dimensão educativa dos jovens. O
valor simbólico de cada sacramento insere o jovem no mistério divino expresso através do
gesto humano. Com essa inserção, se dá o encontro da pessoa com Deus e das pessoas entre
si. Este encontro é um progressivo amadurecer na compreensão de participação ativa à obra
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 92
salvífica de Deus. Essa chave de leitura educativa do sacramento nos ajudará a refletir e
propor os sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia como lugares de encontro com a
vida.
Os movimentos – ir ao encontro, escutar, caminhar, reconhecer-se e anunciar – feitos
na missão, são carregados de propostas implícitas e explicitas. Um convite ao jovem é
sempre o da inserção comunitária, abrangendo, ao mesmo tempo um reencontro consigo
mesmo passa por estes dois sacramentos que estão ligados a iniciação e à cura. Mas trata-se
de uma experiência que introduz o jovem numa profunda e feliz celebração destes dois
sacramentos, com toda a riqueza de seus sinais. Desse modo, a vida se transformará
progressivamente mediante os mistérios celebrados, capacitando os jovens a transformarem
o mundo e a descobrirem a beleza de uma vida em comunhão e doação.232
A inserção no valor da experiência destes sacramentos não se trata do cumprimento de
uma norma. O jovem tem sede de mistérios e encontra na Eucaristia a presença “misteriosa”
e edificante de Deus. Isso, paulatinamente, se transformará em uma comunhão mais plena
de alcance comunitário e de desejo de transformação de vida. Por isso, o sacramento da
Reconciliação é um momento importante para vivenciar a alegria da misericórdia e do
reencontro com Deus, com o próximo e consigo mesmo.
Os dois sacramentos, portanto, se interligam, na vida do jovem, pela visibilidade de
elementos concretos que conduzem à conversão. Um sacramento requer ou conduz ao outro,
ou seja, “o amor à Eucaristia leva também a apreciar cada vez mais o sacramento da
Reconciliação”233 e o sacramento da Reconciliação, por sua vez, purifica a pessoa para se
aproximar da Eucaristia.
Como já mencionamos anteriormente, na missão, o encontro com o jovem é sempre
transformador. Não é possível sair de um encontro sem as marcas daquele que o encontrou.
Um elemento importante dessa transformação é o reconhecimento da situação em que se
encontra e o desejo de mudança para um estilo de vida que corresponda, cada vez mais, aos
valores evangélicos. E é na missão que acontece esse momento que favorece a mudança. O
encontro do jovem com o sacramento da reconciliação é de forma livre e consciente. “O
232 Cf. CELAM, Documento de Aparecida, n. 290. 233 Ibidem, n. 177.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 93
sacramento da Reconciliação, preparado de maneira adequada e jovial, é capaz de envolver
e regenerar aquele que, nesta fase delicada da vida, se sente bastante agredido, atormentado,
seduzido por tantos contra-valores da sociedade comodista e hedonista”.234
Este sacramento repropõe, ao jovem, a alegria, pois a leveza diante da vida faz com
que se abra uma porta ao entusiasmo e ao gosto de viver. É por isso que a Missão Jovem
Estigmatina deve oferecer momentos específicos para que o jovem tenha a possibilidade de
participar deste sacramento, pois este é
(...) o lugar onde o pecador experimenta de maneira singular o encontro com Jesus
Cristo, que se compadece de nós e nos dá o dom de seu perdão misericordioso, nos faz sentir que o amor é mais forte que o pecado cometido, nos liberta de tudo
o que nos impede de permanecer em seu amor, e nos devolve a alegria e o
entusiasmo de anunciá-lo aos demais de coração aberto e generoso.235
O documento 85 da CNBB afirma que o “Deus que perdoa, também oferece um
alimento eficaz ao jovem fraco e frágil: o Corpo e o Sangue de seu amado Filho Jesus”.236
Este alimento fortalece a vida do cristão, uma vez que é possível penetrar no mistério divino.
Desta forma o jovem pode fortalecer a sua vocação cristã de crer, celebrar e viver o mistério
de Jesus de modo que sua existência adquira forma eucarística.
As celebrações eucarísticas na Missão Jovem, contém um jeito jovial, que possibilita
a vivência profunda deste mistério divino que se encontra com a realidade humana. Este
encontro é gerador de vida em abundância (Cf. Jo 10, 10). É o lugar privilegiado de encontro
com Cristo. Este encontro que nos faz descobrir a nós mesmos como pessoas, como filhos
de Deus, a descobrir nosso eu.237
A Eucaristia, que alimenta, é fonte de compromisso e de missão. Este sacramento
provoca nos jovens o sentimento de compartilhar com os seus amigos a experiência de Deus
que se pode fazer.
A Eucaristia sempre foi uma grande escola de caridade, de solidariedade, de amor
e de justiça para renovar em Cristo o mundo circundante. A Eucaristia converte-
se em fonte de compromisso cristão e de espírito missionário, e faz de cada jovem
não somente um amigo de Cristo Jesus, mas também um amigo que quer
234 CNBB, Evangelização da Juventude, n. 125. 235 CELAM, Documento de Aparecida, n. 254. 236 CNBB, Evangelização da Juventude, n. 125. 237 Cf. SEJ/CELAM, Civilização do Amor, n. 819.
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encontrar para ele outros amigos em seu ambiente de estudo, de lazer e de
trabalho.238
Por isso, a Missão Jovem Estigmatina deve estar sempre muito atenta quanto a esses
dois sacramentos para que os jovens possam vivenciá-los de forma profunda e libertadora,
assumindo esses momentos com zelo, conforme o jeito próprio da juventude e com intensa
espiritualidade.
3. Missão Jovem Estigmatina como educadora ao sentido da vida
A Missão Jovem tem o objetivo fundamental de despertar o jovem para a educação ao
sentido da vida. Isso acontece através de passos ou etapas que requer um processo. Na
verdade, este objetivo é o mesmo de toda pastoral juvenil que “não é absolvido através de
um genérico empenho de ‘humanização’, mas parte da convenção de que a forma prática
viva, vivaz e visível da humanização se dá concretamente através de um itinerário de
discipulado cristão”.239
Quando falamos de discipulado atinente ao jovem, entendemos que isso requer dois
aspectos importantes:
a. a presença de um educador que ajude e acompanhe o jovem.
b. a historicidade de um caminho pessoal.
Sendo assim, o educador deve ter uma experiência e autoridade de vida que seja
reconhecido e apreciado, enquanto que, a historicidade de um caminho pessoal deve ser
contínua, que se concretiza através de um projeto pessoal de vida. Este projeto deve ser capaz
de responder com criatividade e perseverança a vocação recebida.240
O primeiro critério da educação é a constatação de que educar não consiste apenas em
transmitir conhecimentos e conteúdos, mas implica na formação de hábitos e de valores
através do acompanhamento. Por isso, tanto a Pré-missão, Missão e Pós-missão devem estar
orientadas para inserção do jovem na vivência comunitária, tendo como perspectivas criar
238 Ibidem, n. 846. 239 SALA, Andate e fate discepoli tutti i giovani. Percorso di pastorale giovanile fondamentale, 228. 240 Cf. Ibidem, 229.
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atitude protagonista. Deve estar orientada também, para a formação de uma amizade
profunda, bem como para a formação na vivência do amor e da fé.
3.1. Missão como educadora à vivência comunitária
O ser humano tem uma tendência de viver em constante relacionamento com outro,
formando assim grupos de convivência. O grupo é importante, na missão jovem, justamente
porque é o lugar privilegiado da experiência educativa. É no confronto de ideias, na troca de
experiências que o jovem pode experimentar uma relação autêntica e profunda com o outro
e, ao mesmo tempo, alcançar um conhecimento e uma experiência crítica da relação que ele
tem consigo mesmo e com a cultura na qual habita.
O fundamento teológico deste objetivo missionário está no modelo assumido por Jesus
que “congrega ao seu redor um círculo de discípulos e discípulas que o seguem. É nesta vida
comunitária que vão aprender o sentido da vida. O relacionamento é diferente. Devem
reconhecer-se como irmãos (Mt 10, 24-25)”.241 Desta forma, privilegiar o grupo como lugar
de participação e formação é oferecer um espaço concreto ao jovem, para viver uma
dimensão primordial da construção de identidade e de felicidade.
É importante ter a consciência do processo de formação de um grupo para não cair no
risco de queimar etapas.
Um grupo não nasce pronto, nem nasce “grupo”. Como a pessoa, ele precisa ser
preparado e convocado à vida. Precisa ser gestado, para depois nascer como
grupo, passar pelas diversas etapas de crescimento até chegar à maturidade.
Como a gente, o grupo também morre um dia: alguns precocemente, outros
depois de cumprirem sua missão e darem frutos – “Se o grão de trigo não
morrer...” É preciso, pois, conhecer as etapas de um planejamento pelas quais
passa o grupo, a fim de poder, como assessor/a, orientar o processo. Faz-se
necessário, igualmente, um Plano de formação que oriente o processo e
possibilite o seu acompanhamento em cada etapa.242
Oferecer, para juventude, este espaço de participação é andar ao encontro dos anseios
de cada jovem que gosta de estar junto, de conversas, de festinhas que privilegiem o contato
241 CNBB, Evangelização da Juventude, n. 56. 242 As etapas do grupo são a convocação, a nucleação, a iniciação e a militância. TEIXEIRA (Org.), Passos
na Travessia da Fé. Metodologia e Mística na Formação Integral da Juventude, 34.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 96
com outros jovens. Por isso, o grupo de jovens que a missão propõe deve ser caraterizado
pelo jeito jovial e pela formação integral.
Além disso, a participação no grupo desenvolve em si um forte senso comunitário. A
partir do crescimento comunitário é que os relacionamentos com os outros ganham um
sentido diferente, assim como o a vida ganha um sentido novo. Falar em educar o jovem à
vivência comunitária é acreditar que grupo juvenil é uma etapa ao comunitário. Os jovens
procuram grupos e sonham com uma Igreja que seja comunitária. “O que a juventude sonha
é uma Igreja que celebra a vida, que seja um povo de irmãos, que seja comunhão e
participação, que tenha preferência pelos pobres, que seja profética e libertadora, que seja
solidária e evangelizadora, que seja capaz de confiar e desafiar, isto é, que seja
comunitária”.243
A participação do jovem na Igreja geralmente é motivada pelo senso comunitário que
ela oferece. Quando não encontra os elementos essenciais da comunidade o jovem desanima
e busca outros grupos que lhes ofereçam tais elementos, como a partilha, o respeito, a
igualdade, o diálogo etc.
É no grupo que a identidade pessoal se constrói, que a missão da pessoa neste mundo
se revela. “Uma das formas melhores de o jovem encontrar sua identidade e sua missão no
mundo é pertencer a uma organização que o leva a assumir responsabilidades,
planejamentos, pedagogias, relacionamentos...”.244 Assim, é pedagógico, para Missão Jovem
Estigmatina, insistir sobre a formação de grupos de jovens nas comunidades.
Em síntese, educar para a vivência em grupo é educar para sair de um ambiente
fechado em si mesmo e relacionar-se com o outro. Este outro pode ser a família, o ambiente
social, o grupo de jovens (amigos). Esta inserção e educação a partir do grupo tem um
objetivo específico, o de aprender a viver comunitariamente e dessa forma ter um sentido
comunitário para a vida.
243 DICK, O divino no jovem, 59. 244 Ibidem, 62.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 97
3.2. Missão como educadora para o protagonismo
Promover um amplo protagonismo na vida da juventude é uma grande incumbência
da PJEst. Por isso, a Missão Jovem se torna um instrumento forte de educação ao
protagonismo pois dá voz e vez aos jovens.
Protagonismo é o processo de protagonizar, de ser o principal ator, vem da língua
“protos”, que pode significar o principal, o primeiro, e de “agonistes”, que é lutador,
competidor. Por isso, educar ao protagonismo é colocar ao centro das atividades a pessoa do
jovem, para que participe ativamente com o objetivo de descobrir o caminho de protagonizar
a própria vida.
Imersos em um tempo no qual tudo já vem pronto para a vida, onde a “massa” é mais
importante que a pessoa, onde o ter é mais importante que o ser, onde o fazer é mais
importante que o pensar, a Missão Jovem Estigmatina oferece elementos ao protagonismo
juvenil, através de formações e práticas. Este protagonismo é amplo no sentido de mostrar a
força que o jovem tem quando se coloca como agente, capaz de transformar e conduzir a
realidade. Sendo assim, a Missão Jovem não se reduz a trazer pessoas para a Igreja, mas se
esforça para que os jovens descubram seu papel transformador da sociedade.
Pensando na Missão Jovem, os estigmatinos se atém ao documento 85 da CNBB, que
chama a atenção para formar jovens atentos a todas as dimensões da vida,
Há o desafio de trabalhar a dimensão social da fé com os jovens como um
elemento da missão do cristão. A luta pela justiça é um elemento constitutivo da
evangelização. O jovem cristão é desafiado a trabalhar com todas as pessoas de
boa vontade – independente da sua opção religiosa - para construir uma
sociedade justa e fraterna, uma sociedade querida por Deus. Participar da
construção de uma sociedade justa e solidária constitui um dos objetivos da ação
evangelizadora da Igreja no Brasil. Isto inclui também o engajamento político.245
Projetar a Missão Jovem é ter diante dos olhos essas dimensões comprometedoras de
vida, no sentido de resgatar os elementos ensinados por Jesus, que formava discípulos
comprometidos com a dimensão social da vida. Comprometer-se com a causa da vida, é
alimentar razões para viver.
245 CNBB, Evangelização da Juventude, n. 177.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 98
O protagonismo oferece ainda ao jovem, elementos para que forme e conheça cada vez
mais sua identidade como pessoa, como cristão e como cidadão. Para que isso aconteça a
pedagogia da formação de uma consciência crítica é fundamental. Ajudar os jovens a sair do
banal, do senso comum, para ter elementos importantes de uma consciência crítica. Esta
consciência deve ser libertadora de preconceitos e capaz de julgar sua realidade e sua posição
diante dos fatos e conceitos sociais.
Por isso, ao tratarmos aqui da identidade formada pela consciência crítica, queremos
afirmar que o jovem deve ser liberto das manipulações midiáticas, políticas e até mesmo
religiosas para ser ele mesmo protagonista das escolhas de seu caminho. Para isso a religião,
a sociedade, a política e a escola oferecem elementos fundamentais para ter uma maturidade
nas escolhas pessoais.
A juventude – mais e diferente de outra idade – busca sua identidade. Querer, por
isso, que o jovem seja protagonista de si ou de sua organização é querer que ele
seja ele, ficando evidente que uma identidade nunca vai contra a identidade do
outro. Para afirmar essa “identidade” é claro que o jovem vai negar submissões,
qualquer que ela seja.246
Educar para o protagonismo através de ações práticas e da formação teórica é uma das
grandes funções da Missão Jovem já que oferecerá elementos de libertação das amarras que
prendem o jovem em uma realidade fechada e restrita de ação e de criação. O sentido da
vida, portanto, se encontra, igualmente, na atitude livre, consciente e protagonista.
3.3. Missão como educadora à amizade
Um dos valores essenciais para o ser humano é a amizade. Acreditamos que educar,
visando este valor, é muito importante, à medida que concebemos falsa a ideia de que a
amizade surge de modo natural e espontâneo. É necessário então, distinguir as relações
superficiais e de simples convivência com as relações de amizade. Esta distinção favorecerá
uma apresentação de como cultivar a verdadeira amizade. E isso passa pela aprendizagem e
pela educação.
246 DICK, O divino no jovem, 37.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 99
Os jovens necessitam de uma ajuda educativa para aprenderem a serem pessoas
sociáveis, que conheçam a arte de conviver com todos, mesmo com os que são diferentes e
pensam de outro modo. Isso exige crescimento progressivo de qualidades, compreensão e
tolerância. Mas é necessário, também, orientar a capacidade para a vida de amizade, isto é,
para a convivência mais íntima dentro de um círculo reduzido de pessoas. Nem todas as
pessoas que estão no círculo de convivência fazem parte de um relacionamento mais
profundo. Convém lembrar que o relacionamento social deve ser para com todos, entretanto,
somente aqueles que se inserem em um quadro de intercâmbio de confidência, que exige
confiança, é que fazem parte do circulo de amizade.
A amizade verdadeira “trata-se de uma ação recíproca, não de uma paixão em comum.
Existe um intercâmbio de informações, não de atos de vida em comum”.247 Por isso, não
precisa ser igual, ter os mesmos gostos e paixões, mas a plena confiança da partilha, da
acolhida e do abrir-se ao outro. Educar, então, a este valor passa também pelo educar a ser
confiável, a ser porto seguro para a confidência do amigo.
Na relação educativa do missionário com o jovem deve estar presente a cordialidade e
a docilidade que acolhe a pessoa como ela é, e que se oferece como desejosa de ajudar no
crescimento do outro. Não é apenas um receber, mas é uma troca de bem. “A amizade, por
sua vez, implica o mútuo desejo do bem. O amigo não se limita a aceitar o bem que lhe é
proposto, mas propõe, por sua vez, o bem ao seu amigo. Deseja e oferece o bem ao outro”.248
Quanto ao aspecto teológico da amizade desenvolvida pela Missão Jovem Estigmatina,
está a transformação da convivência em um sacramento (= sinal divino) do novo, do
relacionamento, já que a amizade pode ser vista como “sacramento da relação para a qual o
ser humano foi criado, dom de Deus que vive em nós, mas que precisa ser descoberto. Deus
manifesta-se no jovem, na amizade. Poderíamos dizer que a amizade é um aspecto do
sagrado, pois é uma atitude que leva a sair de si, dando-se ao outro”.249 Assim como fez
Jesus, que teve uma relação de amizade com os seus discípulos: “já não vos chamo servos
(...), mas chamei-vos amigos” (Jo 15, 15), ensinou-os a serem amigos. No entanto, a beleza
247 G. CASTILLO, Educar para a amizade, São Paulo, Quadrante, 1999, 45. 248 Ibidem, 28. 249 SEJ/CELAM, Civilização do Amor, n. 791.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 100
de Jesus é que se doa a todos. Não privilegia alguns. Isso não exclui o valor de ter um grupo
mais próximo e nem a riqueza de ter a “roda” de amigos.
Educar à amizade exige um relacionamento amigável, que permita uma troca de
conhecimentos e de experiências. Sendo assim, o missionário não chega a um determinado
lugar para ensinar como ser amigo. Todavia, carrega consigo, elementos importantes do que
é amizade para, na relação com o jovem, ajuda-los a descobrir a beleza dessa relação e ao
mesmo tempo a aprender com o jovem a novidade de suas relações. Dessa forma o
missionário sabe que “é necessário descobrir na amizade do jovem o sagrado que ele é,
encarnando-se na juventude, ou seja, o divino que necessita ser descoberto”.250 Por isso a
amizade contém uma dimensão teológica.
A Missão Jovem Estigmatina deve ser educadora para a amizade ajudando no
aperfeiçoamento dos jovens em seus relacionamentos. Assim, precisa conhecê-los bem, com
suas virtudes e defeitos, sem instrumentalizá-los em ideais de amizade, mas orientá-los a
serem amigos. “Ser” amigo é mais importante que “ter” amigos. Ao mesmo tempo, é
necessário orientar para a vida real diante do virtual. Os instrumentos virtuais devem
favorecer à convivência. Portanto, a missão como educadora, se faz presente no momento
que oferece espaço de convivência profunda entre as pessoas, e ao mesmo tempo, quando
orienta para os elementos fundamentais251 de uma amizade autêntica.
3.4. Missão como educadora à fé
A fé é um dom divino para o qual o jovem pode ser educado a viver de forma profunda.
É uma dimensão essencial para encontrar o sentido existencial. É através dela que a relação
com o transcendente abre a possibilidade de um encontro maior com a Vida. Ou seja, um
encontro com Deus. Este encontro passa pela confiança, pela abertura ao transcendente, pelo
exercício da liberdade e responsabilidade, pela dimensão comunitária e inculturada. Por isso,
a Missão Jovem Estigmatina deve ser um espaço educativo à fé que os ajude a fazer uma
experiência de crescimento diante deste dom divino.
250 Ibidem, n. 794. 251 Quando nos referimos a educação aos elementos fundamentais da amizade, estamos nos referindo a
educação à acolhida, ao respeito, à generosidade, à confiança e a docilidade.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 101
O primeiro aspecto fundamental da educação à fé reside na tomada de consciência de
que não basta o conhecimento de Deus, do Evangelho ou de doutrinas religiosas para educar
à fé, mas implica no encontro e na vivência concreta de relação com a pessoa de Jesus.
Educar aos elementos citados significa educar a religiosidade da pessoa, mas, sobretudo,
educar ao encontro com Cristo significa dizer que é em Jesus que Deus se revela plenamente.
Por isso, o encontro com Jesus é o encontro com o caminho que conduz o jovem a Deus. O
Papa Francisco diz que “a fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o
seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir
solidamente a vida”.252 Sendo assim, a Missão Jovem deve ser o espaço de confluência com
o caminho para a plenitude da vida. Este espaço é formado, tanto pelas atividades como pelo
clima que nasce a partir da presença dos missionários em uma determinada área pastoral.
Convém lembrar que uma das bases fundamentais da fé é a confiança. O jovem precisa
ser orientado a viver a confiança em si mesmo, nos outros e em algo que é transcendente a
ele. A confiança ainda não é a fé, mas é um elemento essencial. A necessidade de confiar é
algo natural e, como dado antropológico, adquire uma importância muito grande no
desenvolvimento da relação de fé entre a humanidade e transcendência.
O terceiro ponto importante a ser destacado na educação à fé é a importância deste
elemento para iluminar as escolhas fundamentais da vida. Estas escolhas devem estar ligadas
aos valores humanos fundamentais. Esta luz, que é própria da fé, ilumina a existência
humana,
Por isso, urge recuperar o carácter de luz que é próprio da fé, pois, quando a sua
chama se apaga, todas as outras luzes acabam também por perder o seu vigor. De
facto, a luz da fé possui um carácter singular, sendo capaz de iluminar toda a
existência do homem. Ora, para que uma luz seja tão poderosa, não pode dimanar
de nós mesmos; tem de vir de uma fonte mais originária, deve porvir em última
análise de Deus.253
Essa luz que vem de Deus encontra em nós morada e impulsiona a iluminar a vida
daqueles que convivem conosco. Por isso, é necessário resgatar o caráter comunitário e
inculturado da fé. Diante da cultura individualista e virtual, é profético anunciar que a fé vem
de Deus Trindade, de Deus que é comunidade. Sendo assim, cada jovem é convidado a fazer
252 FRANCESCO, Lettera Enciclica, Lumen Fidei, 29 Giugno 2013, Città del Vaticano, Libreria Editrice
Vaticana, 2013, n. 4. 253 Ibidem.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 102
uma decisão livre e pessoal, mas vivê-la no seio de sua paróquia (comunidade). “A fé de
cada um alimenta a comunidade e é alimentada por ela”.254 Essa fé deve ser inculturada na
dinâmica e na realidade das cidades. Como orienta o documento de Santo Domingo
para realizar uma pastoral urbanamente inculturada com relação à catequese, à
liturgia, e à organização da Igreja, ela deverá inculturar o Evangelho na cidade e
no homem urbano. Discernir seus valores e antivalores; captar sua linguagem e
seus símbolos. O processo de inculturação abrange o anúncio, a assimilação e a
reexpressão da fé.255
Na realidade, os jovens vivem uma experiência que exige inculturação, pois diante da
presença multicultural nos centros urbanos, não é possível, nem evangélico separar-se da
realidade para viver a fé. Mas é necessário entrar ainda mais na realidade cultural para viver
estes valores, bem como para evitar os extremismos religiosos.
Devemos salientar que a fé é uma resposta pessoal, livre e responsável. Para educar a
esta decisão é necessária uma educação à liberdade e a responsabilidade, à solidariedade e à
acolhida. Essa educação começa no seio familiar, já que a família é a primeira escola da fé
de seus filhos. Assim, a Missão Jovem deve pensar na relação que estabelecerá com os pais
na educação à fé dos filhos. A família “oferece aos filhos um sentido cristão da existência e
os acompanha na elaboração de seus projetos de vida”.256 Assim, o cotidiano da vida se
transforma em escola educativa.
Portanto, educar à fé é possibilitar “uma relação pessoal com a Verdade, alimentada
de escuta e diálogo com o Deus vivo. A verdade não é algo que se possui, mas Alguém por
quem se deixar possuir, Aquele que é pessoalmente o universale concretum, o Cristo que
une em si o céu e a terra, a eternidade e o tempo”.257 Sendo assim, o jovem é convidado,
através das diversas atividades a alimentar sua fé para contemplar a realidade criada por
Deus, sem querer fugir do mundo. Educar, então, a uma fé arraigada na realidade cultural,
mas alimentada pela Sagrada Escritura, pelos Sacramentos e pela vivência comunitária.
254 LIBANIO, As lógicas da cidade. O impacto sobre a fé e sob o impacto da fé, São Paulo, Loyola, 22002,
138. 255 CELAM, Documento de Santo Domingo, n. 256. 256 CELAM, Documento de Aparecida, n. 302. 257 B. FORTE, Para onde vai o Cristianismo?, São Paulo, Loyola, 2003, 137.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 103
3.5. Missão como educadora para o amor
O centro da fé cristã está expresso nas palavras de João, na sua primeira carta “Deus é
amor: quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1Jo 4, 16). Este amor,
além de ser manifestado no relacionamento com Deus, também o é no relacionamento com
o ser humano. Jesus ensina a amar o próximo como a si mesmo (Cf. Mc 12, 31). A relação
de amor entre as pessoas, tão desejada pelos jovens, é que deve ser encaminhada em um
sentido sempre mais profundo, quanto ao significado do termo amor.
Em uma definição, Z. Bauman afirma que:
O amor, por outro lado, é a vontade de cuidar, e de preservar o objeto cuidado.
Um impulso centrífugo, ao contrário do centrípeto desejo. Um impulso de
expandir-se, ir além, alcançar o que “está lá fora”. Ingerir, absorver e assimilar o
sujeito no objeto, e não vice-versa, como no caso do desejo. Amar é contribuir
para o mundo, cada contribuição sendo o traço vivo do eu que amo. No amor, o
eu é, pedaço por pedaço, transplantado para o mundo. O eu que ama se expande
doando-se ao objeto amado. Amar diz respeito a auto-sobrevivência através da
alteridade. E assim o amor significa um estímulo a proteger, alimentar, abrigar; e
também à carícia, ao afago e ao mimo, ou a — ciumentamente — guardar, cercar,
encarcerar. Amar significa estar a serviço, colocar-se à disposição, aguardar a
ordem. Mas também pode significar expropriar e assumir a responsabilidade.258
Em uma realidade, na qual tudo corre muito veloz e tudo é feito muito às pressas, a
relação duradoura do amor é um elemento a ser comunicado com entusiasmo e com
perseverança. Tal relacionamento com o outro que se torna uma necessidade para auto
sobrevivência, precisa ser tratada na Missão Jovem como elemento antropológico e, ao
mesmo tempo, divino – teológico.
O Papa Bento XVI apresenta uma distinção entre o amor eros – amor entre homem e
mulher – amor philia – amor entre amigos – e amor ágape – amor divino.259 A integração
entre essas dimensões é que está no horizonte educativo da Missão Jovem Estigmatina.
Como afirma o Papa Bento XVI:
O homem torna-se realmente ele mesmo quando corpo e alma se encontram em
íntima unidade...Se o homem aspira ser somente espírito e quer rejeitar a carne
como uma herança apenas animalesca, então espírito e corpo perdem sua
dignidade. E se ele, por outro lado, renega o espírito e consequentemente
258 BAUMAN, Amore liquido. Sulla fragilità dei legami affettivi, 13. 259 BENTO XVI, Carta Encíclica Deus Caritas Est, 25 de dezembro 2005, São Paulo, Loyola, 2006, n.
3.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 104
considera a matéria, o corpo, como realidade exclusiva, perde igualmente sua
grandeza.260
Dessa forma, o reconhecimento do ser humano quanto ao seu todo e à sua integralidade
é fundamental. Não é possível falar de amor com o jovem, sem tratar de corpo, de relação
entre pessoas. Nesta relação humana, deve-se apresentar a semente divina, o amor que nasce
em Deus e se expande ao ser humano. Este amor que vem desde a criação, haja vista que,
fomos criados por amor e para amar.
Portanto, ser educadora para o amor, é ser uma comunidade de amor. Só assim, os
jovens se achegam com entusiasmo a esta comunidade para vivenciar uma troca de
experiências daquilo que acreditam que seja o verdadeiro amor. Como comunidade, a
Missão Jovem deve partir da realidade concreta do jovem, na qual o corpo, o desejo, a
atração e a relação são fundamentais. Esses elementos devem sair do rol de pecado natural
– basta sentir atração para estar pecando – e entrar no caminho da conjugação de todos os
elementos como chamado ao verdadeiro amor.
Ser uma comunidade de amor é ser uma comunidade de relações de igualdade na
diferença, de gratuidade transbordante, geradora e defensora de vida em todas suas
manifestações. É ser uma comunidade no sentido original que este termo emprega.
No íntimo das forças, que brotam de uma comunidade educativa e privilegia a relação
como instrumento fundamental na evangelização da juventude, está a educação que parte do
positivo e não do negativo. O lema da Missão Jovem Estigmatina já abre uma grande
possibilidade educativa a partir do positivo. “Uma canção de amor para o seu coração”,261
isso insere o jovem em uma dinâmica que tende sempre ao apelo para o relacionamento
amoroso e profundo entre pessoas.
Portanto, abrir espaços de debate; favorecer a expressão da juventude (arte); criar
momentos de celebração que coloca ao centro da oração o amor, são meios que provocam
uma mentalidade voltada para a construção de um relacionamento de amor entre as pessoas.
Essa dimensão positiva é o reconhecimento da beleza juvenil, ou seja, não parte dos “pré-
juízos ou pré-conceitos” da sua cultura.
260 Ibidem, n. 5. 261 Este é o atual lema da Missão Jovem Estigmatina.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 105
Educar, então, para o amor é ajudar a pessoa a abrir-se à relação harmoniosa com todos
os seres humanos. Como afirma o teólogo Vito Mancuso:
O sentido de estar no mundo é exatamente a relação harmoniosa, que se explicita
de diversos modos e que encontra o seu cumprimento no amor. Cada indivíduo é
chamado ao amor: este é o sentido da vida humana de acordo com o núcleo da
revelação cristã. De modo que ninguém deve ser excluído da possibilidade de um
amor pleno, total, até mesmo reconhecido publicamente.262
O jovem tem direito de sentir-se chamado ao amor, no que implica a benefícios e
compromissos. Direitos no que corresponde a ser amado, a viver a beleza do amor e a amar.
Compromissos no que corresponde ao cuidado com o outro, ao respeito, à acolhida e ao
reconhecimento do outro como pessoa na sua integralidade.
4. Conclusão Parcial
No horizonte da Missão Jovem Estigmatina está a pessoa do jovem preparada para
enfrentar os desafios da vida. Essa preparação vem da formação por meio dos elementos que
passam pelo comunitário, pelo protagonismo, pela amizade, pela fé e pelo amor.
Como a Missão Jovem é formada por etapas, deve-se privilegiar elementos formativos
inerentes a cada etapa. Elementos esses, que contemplem a razão existencial, pois, esta
abarca e envolve o ser humano no seu todo (ação, reflexão, existência...). O sentido da vida
aparece, em última instância, como sendo o grande desafio do ser humano na construção de
sua existência. Cada pessoa, especialmente o jovem, procura, ao seu modo e com as suas
possibilidades encontrar o sentido da sua vida, o significado da sua existência. Isso é comum
para todos. Por isso, a Missão Jovem se propõe como sendo um espaço educativo ao sentido
da vida a favor daqueles que estão na faixa etária juvenil. O modo educativo é através do
protagonismo, que prepara para ter uma visão mais ampla da própria existência e ao mesmo
tempo de conduzir e construir a própria história.
A evangelização da juventude, que engloba “testemunho de vida, anúncio de Jesus
Cristo e adesão a ele, adesão à comunidade, participação na missão da Igreja e transformação
262 V. MANCUSO, Os confins da misericórdia, in http://www.ihu.unisinos.br/noticias/551133-os-
confins-da-misericordia-artigo-de-vito-mancuso (Acessado: 4 abril 2017).
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 106
da sociedade”263 exige também uma Igreja em saída, para entrar no mundo juvenil. Após o
processo de contato com os jovens, vivencia-se a dimensão celebrativa, na qual a festa, a
casa do jovem e os sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia se tornam elementos
integrantes de evangelização. Nesta dimensão celebrativa, o jovem deve ter uma participação
ativa, para encontrar uma frutífera participação.264 Este envolvimento do jovem faz com que
enriqueça a ação comunitária do “celebrar” pois coloca em comum a participação de todos.
Mesmo com as limitações no jeito de se expressar, mas o fato de participar já se torna um
elemento fundamental no enriquecimento da celebração. Não são as belas palavras que
tornam o momento mais fecundo, mas o tornar “comum”, o estar juntos, o fazer “unidade”.
Por último, os elementos aos quais a missão se propõe como espaço educativo, são
essenciais para ajudar o jovem a descobrir o valor intrínseco na sua vida. Educa-se
inspirando-se na pedagogia divina. Como atesta a CEI no documento “Educare alla vita
Buona del Vangelo”:
No decorrer dos séculos Deus educou o seu povo, transformando as mudanças de
estações humanas em uma história de salvação: “Ele encontrou-o em uma terra
deserta, em um ermo solitário cheio de uivos; cercou-o, instruiu-o, e guardou-o
como a menina de seu olho. Como a águia desperta a sua ninhada, move-se sobre
os seus filhos, estende as suas asas, toma-os, e os leva sobre as suas asas, assim
só o senhor os guiou; e não havia com ele algum deus estranho (Dt 32, 10-12).265
Sendo assim, todo cuidado com o jovem é inspirado na ação divina. Deus cuidava do
seu povo e o educava para encontrar o caminho de sua própria liberdade. Da mesma forma,
a Missão Jovem Estigmatina se aproxima do jovem com a função educativa. Todos os passos
visam o desabrochar da capacidade de construção do caminho que já está presente na
juventude. Caminho este que conduz à descoberta do sentido da vida, que está no horizonte,
no transcendente.
Jamais será possível dizer que se encontrou plenamente o sentido, de forma a poder
viver estagnado, gozando daquilo que encontrou, já que o sentido está no horizonte. Isso
obriga a novos passos, impulsiona a estar sempre a caminho, estar sempre em procura, e em
novas descobertas. Mas tudo isso deve ser baseado em certos critérios. Critério esses que
263 CNBB, Evangelização da Juventude, n. 8. 264 Cf. MEDEIROS, La nuova evangelizzazione nella prospettiva della Pastorale Liturgica, 77. 265 CEI, Educare alla vita buona del Vangelo: orientamenti pastorali dell’Episcopato italiano per il
decennio 2010-2020, n. 1.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 107
tocam à compreensão, ao respeito e a acolhida da novidade já existente e apresentada pela
cultura da juventude.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 108
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O caminho percorrido nesta tese permitiu encontrar uma visão global para entender
que a vida deve ser vivida a partir do compromisso e do relacionamento com o outro. A
Missão Jovem provoca uma dialética importante, que é a saída do próprio mundo para andar
ao encontro do outro e este encontro faz com que o missionário retorne à própria vida para
repensá-la. Da mesma forma, o jovem que recebe um missionário, provocador de
interrogações sobre seus sonhos, entra em uma dialética de retomada da sua própria realidade
para transcendê-la através da descoberta ou da iluminação dos próprios sonhos.
O encontro com o outro leva a rever os próprios conceitos, o próprio modo de viver.
Abrir-se ao relacionamento com o outro, que traz sempre uma novidade, é oportunizar um
crescimento pessoal, e ao mesmo tempo comunitário. A comunidade – entende-se também
a sociedade – cresce à medida que seus membros crescem individualmente.
Pensar a Missão Jovem Estigmatina no Brasil, em uma perspectiva educativa ao
sentido da vida, exigiu percorrer a história de São Gaspar Bertoni, Fundador da Congregação
Estigmatina, buscando elementos de sua espiritualidade e de sua metodologia de ensino.
Nessa retomada da história é que se revelou que São Gaspar tinha como objetivo o
crescimento de cada jovem, e por isso dedicou sua vida àqueles que eram considerados, por
ele, como a principal força social.
Os Oratórios Marianos, por exemplo, eram organizados com a orientação de Padre
Gaspar, mas com a participação efetiva dos jovens, dos pais, professores e outros sacerdotes.
Dessa forma ele favorecia o protagonismo da juventude numa época em que a nova geração
era considerada apenas como necessitada de orientação e educação para se tornar, no futuro,
“alguém”. Em outras palavras, a juventude era considerada apenas como uma etapa de
transição. Sendo assim, Padre Gaspar vai além da mentalidade da época e leva em
consideração o ser humano em sua integralidade, na qual as etapas da vida não se sucedem
de maneira a decretar a falência da precedente, mas como um tempo fundamental da
existência humana, com suas características, riquezas e desafios. Isso significa que o tempo
da juventude deveria ser pensado como uma parte do todo da vida da pessoa, sempre em
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 109
relação com as idades que a precediam e a que a sucediam. Foi assim que Padre Gaspar
pensou e agiu.
O auxílio dos pais, professores e outros sacerdotes na educação cristã da juventude,
pode ser visto como a inserção na pastoral de conjunto ou orgânica. Não se educa sozinho,
mas a educação acontece quando se caminha juntos.
Os Oratórios Marianos se prestam, então, como inspiração e como fonte da
evangelização da juventude estigmatina em tempos hodiernos. Assim como o Fundador da
Congregação Estigmatina soube ler a situação de crise, mediante a ótica da oportunidade,
também os consagrados estigmatinos de hoje devem ver os desafios atuais com a juventude
fundamentalmente, como uma oportunidade. Oportunidade essa que requer uma educação
integral na qual o primeiro passo está na saída da estrutura eclesial, para entrar, conhecer e
estabelecer um diálogo com a cultura juvenil. Isso poderá ser feito através da Missão Jovem
Estigmatina.
Essa Missão precisa proporcionar alegria e satisfação ao jovem. Que se acrescente
algum sentido claro para o aqui e o agora. Que se fale do passado e do futuro, mas urgem
propostas concretas para o hoje do jovem. Propostas essas que carreguem a vida de esperança
pois “a esperança é congênita ao Cristianismo”266 e é um elemento próprio na vida da
juventude. Por isso, não é viável pensar em propostas para o presente que se encerrem ou
que objetivem apenas gozar do momento. Que sejam propostas que ajudem a experimentar
a alegria da vida agora, mas que também projetem e construam o futuro.
Os atuais desafios da juventude se afinam com a realidade pós-moderna que influencia
no seu ser e no seu agir. A Missão Jovem se propõe como educadora à medida que ajuda o
jovem a adquirir “a capacidade de discernimento, de autocontrole diante das situações da
vida. A autonomia do jovem significa esse crescente estatuto independente, achando em si e
não nos outros as razões do próprio agir, da auto-estima e da segurança interior”.267 Não
como algo intimista ou egoísta, mas como força interior, que vem da própria pessoa.
Quando falamos em “educação” ao sentido da vida, pensamos no seu significado
original, na ação de trazer para fora aquilo que já existe dentro da pessoa, e neste caso, dentro
266 LIBANIO, Olhando para o futuro. Prospectivas teológicas e pastorais do Cristianismo na América
Latina, 244. 267 LIBANIO, Jovens em tempo de pós-modernidade. 173.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 110
do jovem. É trazer à luz, desvelar, descobrir as riquezas que o criador já escondeu no coração
desta pessoa.268
Os questionamentos existenciais do “porquê” vivemos e do “para quê” vivemos, são
as sementes que visam uma constante busca pelo verdadeiro Sentido que é o sentido e a
causa de nosso existir. Sendo assim, a Missão Jovem Estigmatina deve instigar ainda mais
o jovem a questionar-se, e que esses questionamentos devem movê-lo a seguir em frente. E
o caminho a seguir pode ser o da inserção na comunidade, para caminhar juntos e para ser,
ao mesmo tempo, estrada.
O jovem, quando motivado e bem orientado, tem uma força enorme de transformação
social, pela própria vitalidade que carrega. Por isso, diante da conjuntura social e política
que estamos vivendo no Brasil, é urgente a participação na construção de um novo ambiente
social. “É urgente construir a história da justiça, em vez da história da miséria; construir a
história da dignidade, em vez da história da minoria falante. A história não está encerrada
nem lacrada. E a sociedade brasileira há de acelerar o ritmo de gênese. E ter ousadia para
reinventar-se”.269 Esse reinventar-se passa, obrigatoriamente pela juventude. Não é mais
possível pensar em um planejamento político e social sem abertura ao diálogo construtivo
com a nova geração.
É para isto que o jovem deve estar preparado, para dar uma razão à vida. Vida essa
que passa pelo outro, pela dignidade com que o outro é tratado, pela oportunidade e direitos
que competem a cada um. Lutar por isso é ter uma razão para viver.
Diante do questionamento do que o anúncio de Jesus Cristo, que é algo específico e
próprio da missão, tem a ver com a educação para o sentido da vida, nos apoiamos no
pensamento de Clodovis Boff, o qual afirma que
“o sentido tem sua fonte última no Transcendente. É daí que a vida haure seu
sentido pleno e definitivo. Se é assim, o niilismo só pode encontrar sua raiz mais
profunda na recusa de Deus. Tal recusa tomou, na modernidade, a forma do
imanentismo, cuja versão principal declinou para a incredulidade e, finalmente,
para o niilismo”.270
268 Cf. Ibidem. 269 ARDUINI, Antropologia. Ousar para reinventar a humanidade, 16. 270 BOFF, O livro do sentido. Crise e busca de sentido hoje, 392.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 111
Assim, anunciar Jesus Cristo é anunciar o “Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6).
É ajudar o jovem a entrar em si e refletir (Cf. Lc 15, 17a). E essa reflexão, que sempre
confronta a realidade e a possibilidade, a desilusão dos sentidos e o despertar ao sentido
essencial, faz com que o jovem se levante e retorne para “casa”, para o lar do sentido.
Diante do abismo do vazio, da ausência de uma razão existencial, da realidade niilista
o ser humano tende a retornar ao encontro do mistério de Deus. Esse retorno exige
humildade, reconhecimento da misericórdia do Pai e ao mesmo tempo uma persistência
humana no caminho da fé. O jovem que perde o sentido da vida, ou que perde a vontade de
viver, deve ser orientado à grande oportunidade que tem diante dos olhos, que passa pelo
entrar em si e refletir, levantar-se e voltar para o Pai. É neste reencontro com o Pai que será
formada uma nova cultura. Cultura essa que passa pela celebração da vida em comunidade,
pelo caminhar juntos, pelo cuidado com o outro, pela doação àquela vida que transcende à
própria realidade imanentista.
A evangelização da juventude, através da Missão Jovem Estigmatina será, então,
educadora ao sentido da vida se tiver consciência do processo que o jovem precisa percorrer
para chegar ao encontro desta nova cultura. Um processo de maturação humana em todas as
suas dimensões – pessoal, comunitária, sócio-politico-ecológica, espiritual, técnica. Sendo
assim, podemos afirmar que o jovem será despertado para amar o viver, a ter prazer nos dias
que completam sua vida, a se encantar pela vida que transcende à sua.
Desta forma, a presente tese pretendeu oferecer uma reflexão e um horizonte à Missão
Jovem Estigmatina da Província Santa Cruz, que está no Brasil, para que esta consiga
aprofundar ainda mais a beleza do processo educativo à vida. A abordagem feita nesta tese
foi eminentemente pastoral. Posto isso, abre-se a possibilidade de complemento ou de
interlocução em outras áreas, principalmente, no campo psicológico e pedagógico. Estamos
conscientes de que, mesmo em questões pastorais, há muitos elementos a serem
aprofundados. Mas os aspectos tratados aqui podem servir como base para uma estrutura
missionária mais atenta à realidade integral da pessoa jovem na busca constante pelo sentido
de sua vida.
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 112
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Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 117
ÍNDICE
ABREVIAÇÕES E SIGLAS ............................................................................................... 3
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 4
CAPÍTULO I
A MISSÃO JOVEM ESTIGMATINA E O SENTIDO DA VIDA .................................. 9
1. OS ESTIGMATINOS E A JUVENTUDE ........................................................................... 10 1.1. São Gaspar Bertoni e a Juventude .............................................................................. 11 1.2. Oratórios marianos ..................................................................................................... 14 1.3. Atuação dos estigmatinos da Província Santa Cruz com a juventude na atualidade. 19
2. ESTRUTURA DA MISSÃO JOVEM ESTIGMATINA ......................................................... 22 2.1. Missão Jovem Estigmatina no Brasil ........................................................................... 22 2.2. Atividade em três etapas: Pré-missão, Missão, Pós-missão ....................................... 26 2.3. A formação do jovem missionário .............................................................................. 28
3. O JOVEM NA PÓS-MODERNIDADE E A BUSCA DO SENTIDO DA VIDA ........................... 32 3.1. A influência da pós-modernidade na formação da juventude .................................... 34 3.2. O clima niilista que envolve a juventude..................................................................... 36 3.3. A negação do sentido em jovens existencialmente inquietos .................................... 39 3.4. A nova forma de vivência do sagrado ......................................................................... 41
4. CONCLUSÃO PARCIAL ............................................................................................... 43
CAPÍTULO II
FUNDAMENTOS TEOLÓGICO-EDUCATIVOS DA MISSÃO JOVEM E DO
SENTIDO DA VIDA ......................................................................................................... 45
1. DIMENSÃO QUERIGMÁTICA DA MISSÃO JOVEM ESTIGMATINA ................................. 46 1.1. Jesus como modelo da missão e do missionário ......................................................... 47 1.2. O anúncio gerador de conversão ................................................................................ 50 1.3. A opção preferencial pelos jovens ............................................................................... 52 1.4. O anúncio que desperta à vocação ............................................................................. 54
2. O SENTIDO DA VIDA .................................................................................................. 56 2.1. O sentido da vida à luz do pensamento de Viktor Frankl ........................................... 57 2.2. Uma teologia latino-americana que possibilita encontrar o sentido da vida............. 60 2.3. O sentido da vida à luz do pensamento de Clodovis Boff ........................................... 62
Missão Jovem Estigmatina no Brasil. Perspectivas educativas ao sentido da vida. 118
3. OPÇÃO PEDAGÓGICA DA PASTORAL JUVENIL ............................................................ 66 3.1. Uma pedagogia fundamentada na Eclesiologia de comunhão .................................. 67 3.2. Uma pedagogia fundamentada na Formação Integral .............................................. 69 3.3. Uma pedagogia fundamentada na dialogicidade ...................................................... 71
4. CONCLUSÃO PARCIAL ............................................................................................... 74
CAPÍTULO III
HORIZONTES DA MISSÃO JOVEM ESTIGMATINA COMO EDUCADORA AO
SENTIDO DA VIDA ......................................................................................................... 77
1. EVANGELIZAÇÃO DA JUVENTUDE: UMA IGREJA EM SAÍDA ........................................ 78 1.1. Mover-se ao lugar dos jovens ..................................................................................... 79 1.2. Caminhar com os jovens ............................................................................................. 81 1.3. Escutar os jovens ......................................................................................................... 83 1.4. Encontrar-se nos jovens e anunciar (comunicar) a Boa Nova .................................... 84
2. A VIVÊNCIA CELEBRATIVA DA MISSÃO...................................................................... 87 2.1. A casa do jovem se torna lugar celebrativo da vida ................................................... 88 2.2. A festa como lugar evangelizador............................................................................... 89 2.3. Os sacramentos (Eucaristia e Reconciliação) como lugar de reencontro com a vida. 91
3. MISSÃO JOVEM ESTIGMATINA COMO EDUCADORA AO SENTIDO DA VIDA ................. 94 3.1. Missão como educadora à vivência comunitária........................................................ 95 3.2. Missão como educadora para o protagonismo .......................................................... 97 3.3. Missão como educadora à amizade ........................................................................... 98 3.4. Missão como educadora à fé .................................................................................... 100 3.5. Missão como educadora para o amor ...................................................................... 103
4. CONCLUSÃO PARCIAL ............................................................................................. 105
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 108
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 112
DOCUMENTOS ECLESIAIS ................................................................................................ 112
ESTUDOS ......................................................................................................................... 113
ÍNDICE ............................................................................................................................. 117