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PROJEÇÕES PARA O SETOR SONDAGENS COM OS EMPRESÁRIOS POLÍTICA HABITACIONAL O LANÇAMENTO DO SITE CONSTRUDATA PERSPECTIVAS E DESAFIOS NO ANO QUE SE INICIA Ano IX | nº 4 | dezembro 2011

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  • Projeções Para o setor

    sondagens com os emPresários

    Política habitacional

    o lançamento do site construdata

    PersPectivase desafios no

    ano que se inicia

    Ano IX | nº 4 | dezembro 2011

  • eXPedienteíndice

    conjuntura da construção é uma publicação trimestral conjunta do sinduscon-sP e da fgv. É permitida a reprodução total ou parcial da publicação.

    vice-presidente de economia do sinduscon-sP: Eduardo May ZaidanEditores: Ana Maria Castelo e Edney Cielici Dias (executivo)Colaboraram nesta edição: Alexandre Guazzelli, Denise Inoue, Jussara Frazão, Lilia Lima, Roseane Petronilo, Robson Gonçalves e Sérgio Camara BandeiraProdução Gráfica: Lucia PaivaIlustração da capa e infográficos: Mario KannoMontagem: Carol KamakuraJornalista Responsável: Rafael Marko. MTE 12522Publicidade: Ana Maria Castelo, Tel.: (11) 3799 3295, Fax: (11) 3799 3620,e-mail: [email protected]. Av Paulista 548 - 6º andar, São Paulo - SP,01310-000, Tel.:(11) 3281 3254 / 3500

    Presidente: Sergio Tiaki Watanabevice-presidentes: Cristiano Goldstein, Eduardo May Zaidan, Francisco Antunesde Vasconcellos Neto, Haruo Ishikawa, João Claudio Robusti, João LemosTeixeira da Silva, Luiz Antonio Messias, Luiz Claudio Minniti Amoroso,Maristela Alves de Lima Honda, Maurício Linn Bianchi, Odair GarciaSenra, Paulo Rogério Luongo Sanchez, Yves Lucien de Melo VerçosaDiretores Regionais: José Batista Ferreira, José Roberto Alves, Luís GustavoRibeiro, Luiz Cláudio Minniti Amoroso, Paulo Piagentini, Renato Tadeu ParreiraPinto, Ricardo Beschizza, Ronaldo de Oliveira Leme, Emilio Carlos PinhatariSindusCon-SP: Rua Dona Veridiana 55, São Paulo - SP, 01238-010,Tel.:(11) 3334 5642, Fax: (11) 3224 0566 R. 306, www.sindusconsp.com.br

    Instituição de caráter técnico-científico, educativo e filantrópico, criada em 20 de dezembro de 1944, como pessoa jurídica de direito privado, tem por finalidade atuar no âmbito das Ciências Sociais, particularmente Economia e Administração, bem como contribuir para a proteção ambiental e o desenvolvimento sustentável.

    sede: Praia de Botafogo 190, Rio de Janeiro - RJ, CEP 22253-900 ou Caixa Postal 62.591 - CEP 22257-970, Tel.: (21) 2559 6000, www.fgv.brPrimeiro Presidente e fundador: Luiz Simões LopesPresidente: Carlos Ivan Simonsen LealVice-presidentes: Francisco Oswaldo Neves Dornelles, Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, Sergio Franklin QuintellaConselho DiretorPresidente: Carlos Ivan Simonsen LealVice-presidentes: Francisco Oswaldo Neves Dornelles, Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, Sergio Franklin QuintellaVogais: Armando Klabin, Carlos Alberto Pires de Carvalho e Albuquerque, Ernane Galvêas, José Luiz Miranda, Lindolpho de Carvalho Dias, Manoel Pio Corrêa Jr., Marcílio Marques Moreira, Roberto Paulo Cezar de AndradeSuplentes: Antonio Monteiro de Castro Filho, Cristiano Buarque Franco Neto, Eduardo Baptista Vianna, Gilberto Duarte Prado, Jacob Palis Júnior, José Ermírio de Moraes Neto, José Júlio de Almeida Senna, Marcelo José Basílio de Souza MarinhoConselho CuradorPresidente: Carlos Alberto Lenz César ProtásioVice-presidente: João Alfredo Dias Lins (Klabin Irmãos & Cia.)Vogais: Alexandre Koch Torres de Assis , Dante Letti (Souza Cruz S.A.), Carlos Moacyr Gomes de Almeida , Edmundo Penna Barbosa da Silva, Heitor Chagas de Oliveira, Jaques Wagner (Estado da Bahia), Jorge Gerdau Johannpeter (Gerdau S.A.), Lázaro de Mello Brandão (Banco Bradesco S.A.), Luiz Chor (Chozil Engenharia Ltda.), Marcelo Serfaty, Marcio João de Andrade Fortes, Maurício Matos Peixoto, Raquel Ferreira (Publicis Brasil Comunicação Ltda.), Raul Calfat (Votorantim Participações S.A.), Ronaldo Vilela (Sindicato das Empresas de Seguros Privados, de Previdência Complementar e de Capitalização nos Estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo), Angélica Moreira da Silva (Federação Brasileira de Bancos), Sandoval Carneiro Junior, Sérgio Ribeiro da Costa Werlang, Mauro Sérgio da Silva Cabral (IRB-Brasil Resseguros S.A.)Suplentes: Aldo Floris, José Luiz Marques Lino (VALE S.A.), Luiz Roberto Nascimento Silva, Karine Brandão (Brascan Brasil Ltda.), Ney Coe de Oliveira, Nilson Teixeira (Banco de Investimentos Crédit Suisse S.A.), Olavo Monteiro de Carvalho (Monteiro Aranha Participações S.A.), Patrick de Larragoiti Lucas (Sul América Companhia Nacional de Seguros), Pedro Henrique Mariani Bittencourt (Banco BBM S.A.), Rui Barreto (Café Solúvel Brasília S.A.), Sergio Lins Andrade (Andrade Gutierrez S.A.)

    instituto brasileiro de economiadiretoria: Luiz Guilherme Schymura de OliveiraVice-Diretoria: Vagner Laerte Ardeo Superintendência de Clientes Institucionais: Rodrigo de Moura TeixeiraSuperintendência de Produção de Bens Públicos: Vagner Laerte ArdeoSuperintendência de Estudos Econômicos: Marcio Lago CoutoSuperintendência de Planejamento e Organização: Vasco Medina Coeli Controladoria: Regina Célia Reis de Oliveira

    3 EditorialVisão de futuro

    4 ExpectativasCenários para 2012 e a confiança dos empresários da construção

    9 PerspectivasInvestimento em perspectiva e seus impactos na construção civilpor Marcelo Machado Nascimento

    11 Perfil setorialUma construção cada vez mais formalizada

    13 HabitaçãoAs perspectivas da política habitacional e os números do Minha Casa, Minha Vida

    15 Novos rumos da política habitacional paulista por Silvio Torres

    17 O perfil das famílias em déficit de moradia no Estado de São Paulo por Silvia Maria Schor

    19 ConstrudataA grande referência dos indicadores setoriais

    21 Indicadores

  • DEZEMBRO 2011 3Conjuntura da Construção

    Anuncia-se um 2012 pontuado de incertezas, mas também de confiança por parte dos em-presários da construção. O aprendizado no enfrentamento da crise financeira no período 2008-2009 fez com que as eventuais turbulências sejam en-caradas em uma perspectiva positiva, em uma con-junção de metas do governo e dos setores produtivos.

    Esta edição, neste contexto, analisa os cenários para os próximos meses. Tendo como referência as perspectivas para os Estados Unidos e para a Euro-pa, o desempenho brasileiro será melhor. A confian-ça do empresariado da construção fica, por sua vez, clara nas sondagens comentadas no artigo de aber-tura desta revista.

    O perfil da construção nos anos recentes, tendo como referência a última revisão das Contas Nacio-nais, mostra a importância cada vez maior das em-presas no PIB setorial. Esta edição conta também com uma análise dos investimentos em construção e seu impactos, elaborada por Marcelo Machado Nascimento, chefe do Departamento de Acompa-nhamento Econômico do BNDES. Os resultados evi-denciam a importância do setor no atual modelo de desenvolvimento.

    A questão habitacional é abordada tendo como re-ferência os últimos dados de execução do Programa Minha Casa, Minha Vida. O tema é enriquecido com um artigo do secretário estadual da Habitação, Silvio Torres, sobre as novas perspectivas da política habi-tacional em São Paulo, e por uma análise da profes-sora Silvia Schor (Fipe/USP) do perfil das famílias que compõem o déficit habitacional no Estado.

    Por fim, esta revista completa seu nono ano de exis-tência na certeza de, mais uma vez, trouxe temas rele-vantes para reflexão e para a tomada de decisões que envolvem a construção. Fiquem registrados nossos votos de um excelente 2012.

    Boa leitura.

    visão de futuro

    frases

    Na política da Europa, assim como na economia, parece que não há boas opções – apenas menos ruins.

    Dani Rodrik, professor de economia política de Harvard, no Valor de 14 de novembro.

    A despeito de a crise internacional, o volume de projetos sustentará uma expansão bastante robusta pela construção civil.

    Marcelo Machado Nascimento, chefe do Departamento de Acompanhamento Econômico do BNDES, nesta edição.

    O Estado não precisa necessariamente ser o incorporador e o construtor, mas tem, sim, a obrigação de viabilizar a moradia social.

    Silvio Torres, secretário da Habitação do Estado de São Paulo, nesta edição.

    horizonte

    confiança

    moradia social

    Projeções Para o setor

    sondagens com os emPresários

    Política habitacional

    o lançamento do site construdata

    PersPectivase desafios no

    ano que se inicia

    Ano IX | nº 4 | dezembro 2011

    editorial

  • 4 DEZEMBRO 2011Conjuntura da ConstruçãoeXPectativas

    robson Gonçalves, ana Maria Castelo e Edney Cielici dias

    cenários Para 2012 e a confiança dos emPresários da construção

    A economia brasileira tem um grande desafio em 2012. O motivo é conhecido por todos: a crise eu-ropeia combinada com a lenta recupera-ção da economia americana e os efeitos conjugados desses dois fatores nos mer-cados emergentes. Ao Brasil, cabe o de-safio de repetir a fórmula de sucesso ex-pressa pela conjugação de estabilidade com crescimento.

    A fórmula, assim enunciada, parece sim-ples, mas representa a síntese de apren-dizado do país democratizado, que refor-mulou o papel do Estado, que promoveu a estabilização e que, por fim, reencon-trou a rota do desenvolvimento, expresso como produto do crescimento econômi-co com inclusão social. Não é herança de um governo específico e, sobretudo, não é pouca coisa.

    Esse modelo, fruto de aprendizado acu-mulativo, foi colocado em xeque em fins de 2008, com a eclosão da crise financeira mundial. Uma concertação de ações dos governos federal com o setor privado pôs em prática com rapidez uma política an-ticíclica que seria bem-sucedida. O setor da construção, já privilegiado com o PAC, ganhou mais relevo com o Programa Mi-nha Casa, Minha Vida.

    As experiências passadas têm o poder de estruturar a confiança e a previsibilida-de, elementos vitais das instituições eco-nômicas. O aprendizado recente parece tranquilizar o empresariado, sobretudo o da construção, que passou a identificar no governo um aliado na busca de um bem comum, o desenvolvimento.

    Com essa perspectiva, tem-se pela fren-

    te um novo front anticíclico. Este artigo analisa as perspectivas para o próximo ano com base em projeções e nas avalia-ções dos empresários. O 2012 mais prová-vel, como será visto, não é um ano ruim e, principalmente, é encarado com confian-ça pelo setor.

    Números revisadosA revisão dos dados das Contas Nacio-

    nais, publicada pelo IBGE em novembro, lançou nova luz sobre a dinâmica recente da economia brasileira. A partir dos núme-ros definitivos para 2009, foi possível cons-tatar que o investimento produtivo está de-sempenhando um papel mais importan-te no crescimento do que se acreditava.

    Assim, a despeito da crise internacio-nal, a taxa de investimento foi de 17,9% do PIB, apenas 0,9 ponto percentual abaixo da registrada em 2008 e cerca de 1 ponto percentual acima da estimativa prelimi-nar. Apesar da pequena queda em relação ao ano anterior, a taxa de investimento de 2009 foi a segunda maior da série histó-rica desde 2000. Esse comportamento do investimento deveu-se, em boa medida, ao bom desempenho da construção civil, setor que reagiu de forma bastante favo-rável à política anticíclica.

    Papel do investimentoOs números definitivos das Contas Na-

    cionais de 2009 também lançam nova luz sobre a dinâmica recente da economia bra-sileira, com desdobramentos em relação às perspectivas para 2012. Depois do exce-lente desempenho de 2010, quando regis-trou crescimento de 7,5%, a taxa de cresci-

    mento do PIB brasileiro vem apresentando desaceleração. As estimativas para 2011 indicam uma evolução de aproximada-mente 3%. No entanto é possível afirmar que esse crescimento está se aprimorando qualitativamente, em razão do comporta-mento do investimento.

    Entre 2010 e 2011, o consumo das famí-lias teve papel fundamental para susten-tar a atividade econômica, tendo crescido quase sempre à frente do PIB, resultado da melhora contínua da distribuição de ren-da e da alta do nível de emprego. No en-tanto, um padrão de crescimento basea-do no consumo gera desconfianças sobre sua sustentabilidade, especialmente se o investimento produtivo não acompanha esse movimento.

    Apesar do sucesso da política econômica em deter os efeitos imediatos da crise inter-nacional, sua ênfase teria recaído excessi-vamente sobre a demanda. Os primeiros números para o investimento de 2009 re-forçavam as críticas feitas à condução da política econômica nesse período recen-te. No entanto, com os novos números do IBGE, estima-se que a taxa de investimen-to no Brasil encerre 2011 acima de 20% do PIB, tendo crescido de forma contínua a partir de 2009. Supondo que a economia cresça 3% neste ano, estima-se que o PIB da construção avance 4,8% e a produção de máquinas e equipamentos, 6%. Esses são números bastante favoráveis do pon-to de vista da sustentação do crescimento.

    visões de futuroA partir da revisão da trajetória da eco-

    nomia entre 2009 e 2011, foram estimados

  • DEZEMBRO 2011 5Conjuntura da Construção

    3 CENÁRIOS PARA 2012

    Os números recentes da economia(R$ bilhões de 2010)

    Comércio exterior de mercadorias e serviços como turismo e fretes internacionais

    Da análise dos números recentes da economia,projetam-se os cenários para 2012(taxas de crescimento em relação ao ano anterior)

    0

    200

    400

    600

    800

    1000

    Importações debens e serviços*

    Exportações debens e serviços*

    Máquinas e equipamentos

    ConstruçãoFormaçãobruta de capital

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    Gastos correntes do governoConsumo das famíliasPIB

    200920102011**

    O valor do PIB corresponde a toda a renda gerada na economia. Ao mesmo tempo, é uma estimativa do investimento e do gasto total de famílias e governos, incluindo o comércio externo, tudo mensurado em moeda nacional

    Gastos com aquisição de máquinas, equipamentos, obras de infraestrutura e edificações residenciais e não-residenciais

    Obras de infraestrutura e edificações

    Máquinas e equipamentos adquiridos pelas empresas e pelo governo

    Gastos das famílias com aquisição de bens e serviços de consumo

    Gastos do governo com pessoal e outros itens de custeio. Também chamado de "consumo do governo"

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    * Valores em moeda nacional ** Projeções

    3.418

    2.089

    725

    3.674

    2.283

    749

    3.784

    2.370

    765

    610

    258 306375 381

    743

    297389 418

    519

    783

    311412 441

    576

    2,0 2,03,2

    1,1

    3,55,0 5,2 4,94,5

    7,5

    5,5

    9,1

    PIB Formaçãobruta de capital

    Construção Máquinas e equipamentos

    Em %

    Cenário 2

    Cenário 3

    Cenário 1

    Cenário 1: simula impactos mais severos da crise internacional. O segmento de máquinas e equipamen-tos tende a se ressentir mais do que a construção com o menor crescimento da formação de capital

    Cenário 2: em princípio, é o mais provável. O investimento cresce à frente do PIB e os componentes da formação de capital evoluem de maneira mais uniforme

    Cenário 3: foi construído a partir das projeções do governo federal para a taxa de crescimento do PIB. O segmento de máquinas e equipamentos lidera a expansão do investimento. Mas a construção também cresce forte e à frente do PIB

    Principais componentes

  • 6 DEZEMBRO 2011Conjuntura da ConstruçãoeXPectativas

    três cenários para a atividade econômica em 2012. O cenário 1 simula efeitos mais severos da crise internacional sobre o país. O cenário 2 é o mais provável e tem como marca a consolidação de um padrão de crescimento sustentável. Por fim, o cená-rio 3 assume como hipótese que o PIB terá crescimento de 4,5%, o que corresponde às projeções do governo federal no início de dezembro.

    No cenário 1, a taxa de crescimento do PIB desacelera mais, encerrando o ano de 2012 em 2%. O agravamento da incerteza em razão da crise internacional desesti-mula a formação bruta de capital fixo, acentuando a desaceleração no final do ano. O crescimento do investimento recua de 5,5% em 2011 para 2% em 2012. Como é típico, nesse cenário a produção de má-quinas e equipamentos se ressente mais do que a construção civil, que permane-ce crescendo à frente do PIB. Para evitar a recessão, supõe-se que o governo esti-mule ainda mais o consumo das famílias e acelere seus gastos com custeio, fazendo com que ambos os componentes cresçam à frente do PIB. Nesse clima menos favo-rável, a taxa de investimento permanece nos mesmos níveis de 2011, sustentada, em boa medida, pelo desempenho mais favorável da construção.

    Tome-se em contraste o cenário 3, em que a taxa de crescimento do PIB é mais fa-vorável, atingindo 4,5%, conforme enun-ciava o governo no início de dezembro. Embora não estejam disponíveis proje-ções oficiais detalhadas quanto aos de-mais componentes da demanda agrega-da, é possível realizar um exercício de consistência a partir dessa taxa. Assim, o desempenho mais favorável nesse cená-rio ficaria por conta do investimento, que cresceria 7,5%. A construção civil perma-neceria com evolução à frente do PIB. Mas a produção de máquinas e equipamentos teria desempenho ainda maior, ampliando sua fatia no investimento como um todo. Tanto o consumo das famílias quanto os gastos do governo com custeio da máqui-na administrativa cresceriam menos que o PIB, apesar de apresentarem taxas de expansão acima de 3,5%. A taxa de inves-timento, nesse cenário, ultrapassaria os

    21% do PIB.No cenário 2, considerado mais factí-

    vel, o PIB registra crescimento moderado e um pouco acima do verificado em 2011. Assim como no cenário 3, o investimento lidera a expansão, crescendo 5%. Obser-va-se, ainda, maior equilíbrio entre seus componentes, com a construção e a pro-dução de máquinas e equipamentos cres-cendo a taxas próximas. Também como no cenário 3, o consumo das famílias e os gas-tos do governo crescem menos que o PIB. Nessas condições, a taxa de investimento fecharia o ano em 21% do PIB, um pouco abaixo do número relativo ao cenário 3.

    A leitura conjunta desses três exercícios permite extrair algumas mensagens. Em primeiro lugar, um padrão de crescimen-to baseado na demanda torna-se o cená-rio mais provável apenas em um contex-to de agravamento da crise externa, isto é, como resultado de ações de política eco-nômica de caráter anticíclico. Supondo que os efeitos da crise sobre a economia brasileira permaneçam restritos, é possí-vel esperar que, apesar de moderado em comparação ao que ocorreu em 2010, o crescimento torne-se menos dependente de estímulos focados no consumo e, por-tanto, mais sustentável.

    Além disso, nota-se que a construção deverá continuar tendo papel de desta-que em 2012. Em todos os três cenários, o PIB do setor cresce à frente do PIB total e, exceto no cenário 3, lidera a expansão do investimento. Em parte, isso se deve à continuidade das obras já em andamen-to, sobretudo no segmento habitacional. Mas, nos cenários de maior crescimento, sobretudo no cenário 3, derivado a par-tir da projeção do governo federal para o crescimento do PIB, o bom desempenho da construção deve-se também à acelera-ção das obras de infraestrutura.

    Por fim, tomando como referência as perspectivas dos países europeus e mes-mo dos Estados Unidos, a economia brasi-leira tenderá a se situar comparativamen-te melhor no cenário mundial.

    sondagensComo visto, a construção deverá seguir

    em ritmo superior ao do PIB. A posterga-

    ção de investimentos por parte das famílias ou das empresas terá, no entanto, impac-to nos resultados do próximo ano, o que certamente causa apreensão. Mas incerte-zas derivadas desse fato não afetam as ex-pectativas dominantes registradas pelas pesquisas realizadas com os empresários do setor. A experiência de 2009, quando a intervenção do governo por meio das me-didas anticíclicas se mostrou efetiva para assegurar a continuidade do crescimento da construção reforçam a confiança empre-sarial. Há as obras do Minha Casa, Minha Vida com parcela expressiva a ser execu-tada, os investimentos em infraestrutura e as obras dos eventos esportivos que de-verão aumentar o ritmo em 2012.

    Lidas em conjunto, as respostas dos em-presários para a sondagem da constru-ção (sinduscon-sP-FGV) refletem com clareza o atual momento vivido pelo setor, ou seja, marcado por um ritmo menor, mas firme, de crescimento. Revelam também algumas inquietações relacionadas ao rit-mo de expansão da demanda nos meses à frente, mas mantêm a confiança na sus-tentação do crescimento.

    De acordo com a Sondagem, o indicador de desempenho apresentou piora tanto na comparação com o trimestre anterior quan-to no confronto com novembro de 2010. No entanto, o indicador permaneceu no campo do otimismo (isto é, acima de 50). Nas palavras de Eduardo Zaidan, diretor do sinduscon-sP, “esse é um padrão na-tural e esperado de acomodação do sen-timento dos empresários da construção”. Isso porque, segundo ele, “ninguém ima-ginava que o ritmo de crescimento regis-trado em 2010 fosse se manter; estamos apenas menos otimistas, mas a expansão continua, sobretudo no que se refere ao emprego, só que em ritmo menos intenso”.

    Esse otimismo moderado, resultado de um processo de acomodação no qual a construção está encontrando um ritmo seguro de crescimento, também se reflete no indicador de evolução dos custos, que melhorou sensivelmente em ambas as ba-ses de comparação.

    No que diz respeito às perspectivas de de-sempenho das empresas, o movimento foi semelhante. Os empresários estão menos

  • DEZEMBRO 2011 7Conjuntura da Construção

    no final de 2010 no final de 2011Indústria da construção(SindusCon-SP e FGV-Ibre)

    Desempenho das empresas Melhor do que no ano anterior Positivo, mas abaixo do ano anterior

    Expectativas de desempenho para os próximos meses

    Otimistas, mas abaixo do observado em 2009

    Otimistas, mas abaixo do observado em 2010

    Expectativas para a evolução dos custos e inflação

    Pessimistas Menos pessimista em relação a custos setoriais

    Expectativas para o crescimento do país

    Otimistas Entra no campo pessimista

    Industria de materiais(FGV-Ibre)

    Nível de utilização da capacidade

    Acima da média histórica e do mesmo mês de 2009

    Acima da média histórica, mas abaixo do observado em 2010

    Nível da demanda interna Superior ao observado em 2009 Em elevação, mas abaixo do observado em 2010

    Expectativa quanto a situação dos negócios para os próximos 6 meses

    Superior a do mesmo período de 2009 Superior a do mesmo período de 2010 e em elevação

    Índice de confiança Superior ao observado em 2009 Inferior ao observado em 2010

    Comércio de materiais(FGV-Ibre)

    Indicador de percepção de demanda

    Positivo Desfavorável

    Principais limitações a melhoria dos negócios

    Competição e custos financeiros Competição e demanda insuficiente

    Índice de expectativas Otimista Otimista, mas inferior ao de 2010

    Índice de confiança Otimista Otimista, mas inferior ao de 2010

    Serviços de engenharia e arquitetura(FGV-Ibre)

    Indicador de percepção da situação atual dos negócios

    Ligeiramente favorável, mas inferior ao mesmo período de 2009

    Favorável e superior ao mesmo período de 2010

    Principais limitações a melhoria dos negócios

    Escassez de mão de obra e competição Escassez de mão de obra e competição

    Índice de expectativas Favorável, mas inferior ao de 2009 Favorável, mas inferior ao de 2010

    Índice de confiança Favorável, mas inferior ao de 2009 Positivo e superior ao de 2010

    * Os dados estão dispostos numa escala que vai de “0” a “100”, tendo o valor “50” como centro. Isso quer dizer que valores abaixo de “50” podem ser interpretados como um desempenho, ou perspectiva, não favorável.

    sondagem da construção - determinantes do crescimento*(SindusCon-SP e FGV/IBRE)

    2010 2011

    Créditoimobiliário

    Lançamentos para a baixa renda

    Dificuldades com mão-de-obra

    Dificuldades com o fornecimento de materiais

    Investimento em novas

    tecnologias

    Investimento em máquinas e equipamentos

    58,757,662,360,5

    40,649,5

    18,326,0

    69,161,664,1

    53,8

    EXPECtatIVas na CadEIa ProdutIVa da Construção

  • 8 DEZEMBRO 2011Conjuntura da ConstruçãoeXPectativas

    otimistas do que no final de 2010. Vale res-saltar menos otimistas, mas não pessimis-tas. Uma percepção que em menor medida também se estende ao âmbito macroeconô-mico. Apesar de preocupações crescentes com inflação e crescimento, os empresá-rios da construção permanecem otimistas quanto à condução da política econômica.

    João Claudio Robusti, ex-presidente do sinduscon-sP, afirma que esse sentimen-to é fruto de um importante patrimônio de credibilidade de que dispõe o governo. “A política econômica na gestão Dilma tem se mostrado comprometida com o desen-volvimento. Por isso os empresários redo-bram suas apostas na capacidade do go-verno de conduzir essa política, mesmo no atual contexto de crise externa. A pre-ocupação com a inflação é compreensível em nosso setor, mas não está afetando de forma negativa a confiança na gestão da política econômica.”

    Como em todos os anos, a edição de no-vembro da Sondagem da Construção agre-gou ao conjunto tradicional de questões feitas aos empresários do setor perguntas relacionadas às perspectivas para o pró-ximo ano. As questões extras, relaciona-das às perspectivas para o próximo ano, deixam claro o contraste atual entre a me-lhoria nas condições de oferta e a caute-la quanto ao comportamento futuro da demanda.

    Assim, melhoraram as expectativas dos empresários quanto ao fornecimento de materiais e à obtenção de mão de obra qualificada. No caso específico dos mate-riais, o indicador apurado pela sondagem voltou ao campo otimista (acima de 50) no caso do Estado de São Paulo, um resulta-do mais positivo que o da média nacional.

    No que se refere à obtenção de mão de obra, o sentimento ainda é de grande pes-simismo. Mas houve sensível melhora na comparação com novembro de 2010. Ain-da no que se refere à oferta, os empresários se mostram confiantes quanto às perspec-tivas de investimento, tanto em máquinas e equipamentos quanto em novas tecno-logias, apesar da queda desses indicado-res na comparação anual.

    As maiores inquietações com relação ao próximo ano se concentraram do lado

    da demanda. A queda nos indicadores de expectativas quanto ao crédito imobiliá-rio e a lançamentos para média e baixa renda superou os dois dígitos. No entan-to, mais uma vez, é preciso ler esses nú-meros com atenção. Os empresários do setor revelaram somente um nível menor de otimismo quanto a essas variáveis. Por-tanto, a melhor definição para seu senti-mento é cautela.

    Segundo Sergio Watanabe, presidente do sinduscon-sP, “os empresários espe-ram que, no próximo ano, o governo con-tinue atento às demandas do setor para

    .sustentar o crescimento; ainda há muito o que fazer, tanto no campo macroeconô-mico – caso típico dos programas habita-cionais – quanto no campo microeconô-mico – especialmente no que se refere aos estímulos à competitividade das empresas da construção”.

    Cadeia produtivaAs sondagens da FGV-ibre, realizadas

    com empresários da indústria de trans-formação, do comércio e de serviços, per-mitem captar as expectativas nos demais elos da cadeia. É possível perceber que tanto na indústria, como no comércio de materiais, o nível de confiança dos empre-sários também está abaixo do observado no mesmo período de 2010. No caso da in-dústria, o nível de utilização da capacida-de se mantém acima da média histórica, mas em patamar inferior ao registrado no final de 2010.

    De fato, a indústria como um todo perdeu mercado para os produtos importados. Na construção, a penetração dos importados é inferior à média da indústria de transfor-mação, mas tem crescido continuamente desde 2009. No caso do comércio, a queda na confiança está relacionada à desacele-ração do consumo das famílias. A redução na taxa de juros dos últimos meses e o au-mento do salário mínimo em 2012 podem mudar esse cenário nos próximos meses.

    Um importante indicador antecedente da construção é a atividade do segmen-to de serviços de engenharia e arquitetu-ra, que revela confiança em alta, mas de-terioração nas expectativas na compara-ção com 2010. No entanto vale notar que a disponibilidade de mão de obra continua como um dos principais impedimentos à melhoria dos negócios, o que revela um ritmo de atividade bastante forte.

    Enfim, a cadeia produtiva como um todo percebeu a mudança de ritmo na ativida-de da construção. De modo geral, houve redução na confiança na comparação com 2010, mas mesmo entre os empresários da indústria de materiais, não se pode falar de pessimismo, afinal as expectativa quanto à situação dos negócios para os próximos seis meses está alta e superior ao do mes-mo período de 2010.

    “Qualquer que seja o cenário para 2012, a construção civil deve crescer à frente do PIB, contribuindo uma vez mais para sustentar o desenvolvimento.”

    Sergio Watanabe, presidente do Sinduscon-SP.

    “No caso do Estado de São Paulo, já é possível identificar algum alívio na obtenção de mão de obra qualificada. Em parte, isso se deve a um movimento que, às vezes, não se nota. Com o ritmo de atividade na construção mantido forte por um longo período, a mão de obra está se tornando mais produtiva.”

    Eduardo Zaidan, vice-presidente de economia do SindusCon-SP.

    “A capacidade do governo de gerir a política macroeconômica está comprovada. As dificuldades estão sendo enfrentadas no tempo correto. Isso demonstra o compromisso do governo com o desenvolvimento. Não com surtos de crescimento de curto prazo, mas com um horizonte seguro de expansão.”

    João Claudio Robusti, ex-presidente do SindusCon-SP.

  • DEZEMBRO 2011 9Conjuntura da ConstruçãoPersPectivas

    Marcelo Machado nascimento*

    investimento em PersPectiva e seus imPactos na construção civilAinda que a crise internacional se alongue, o volume de projetos sustentará uma expansão bastante robusta por meio da construção civil

    A recente divulgação dos dados definitivos das contas nacionais de 2009 pelo IBGE revelou um re-sultado impressionante para a parcela dos investimentos representados pela constru-ção civil. A despeito da queda de 0,3% do PIB setorial e do recuo dos investimentos de 6,4%, a construção civil (investimento) apresentou avanço nominal de 17,6%. Cor-rigido pelo INCC, equivaleria a uma expan-são, em termos reais, de 9,9%. Resultado su-perior ao dos dois anos anteriores.

    Os dados relativos à expansão da cons-trução civil indicam a robustez do cres-cimento no setor. Entre 2006 e 2009, os investimentos em construção civil to-talizaram R$ 928,9 bilhões, a preços de 2010. Representaram mais de 39,3% da formação bruta de capital fixo do país. Os bons números do setor no passado re-cente parecem ter se mantido em 2010 e 2011, com indicadores ainda não defini-tivos apontando para importante expan-são. O sucesso do passado gera dúvidas quanto ao futuro. Tendo em vista diver-sos fatores que condicionarão os investi-mentos na construção, como essa parce-la dos investimentos se comportará nos próximos anos?

    Apesar das incertezas originárias no ce-nário externo, o ritmo dos investimentos no Brasil, ainda que tenham apresenta-do considerável desaceleração recente, apontam para crescimento superior ao

    do PIB nos próximos anos. Alguns fato-res permanecem presentes como platafor-ma para que esse investimento ocorra. O desenvolvimento dos poços do pré-sal, os eventos esportivos de 2014 e 2016, a conti-nuidade do processo de melhoria na dis-tribuição de renda e os programas públi-cos, nas três esferas de governo, que têm como objetivo a recuperação dos investi-mentos em infraestrutura.

    Um levantamento realizado pela Área de Pesquisa Econômica do BNDES em 2010 indicava que os investimentos cres-ceriam aproximadamente 10% ao ano no

    quadriênio 2010-2014. Nesse levantamen-to, destacava-se o fato de que os investi-mentos em edificações, que contemplam projeções para o mercado formal da cons-trução de residências, empreendimentos corporativos e demais estruturas não as-sociadas a projetos industriais ou de in-fraestrutura (como as arenas para a Copa do Mundo), cresceriam acima da média, a taxa de 11,5% ao ano.

    O Quadro 1 apresenta o resultado do le-vantamento em pauta, com abertura se-torial. Podemos verificar que os investi-mentos na indústria avançarão a taxa de

    Valores (R$ bilhões de 2010) Crescimento

    Setores 2006-2009 2011-2014 % % a.a.

    Petróleo e Gás 211,0 388,9 84,3 13,0Extrativa Mineral 61,6 64,3 4,3 0,9

    Siderurgia 28,8 33,7 16,8 3,2

    Química 23,0 41,1 78,3 12,3

    Veículos 25,8 33,9 31,4 5,6

    Eletroeletrônica 20,3 30,1 48,0 8,2Papel e Celulose 18,7 28,4 51,6 8,7

    Indústria 389,3 620,3 59,3 9,8

    Energia Elétrica 106,9 143,3 34,0 6,0Telecomunicações 64,2 73,7 14,9 2,8

    Saneamento 26,8 42,0 56,9 9,4

    Ferrovias 20,6 62,2 202,1 24,7Transp. Rodoviário 30,4 52,1 71,4 11,4

    Infraestrutura 248,9 373,4 50,0 8,5

    Edificações 363,6 625,2 72,0 11,5

    Total 1.001,8 1.618,9 61,6 10,1

    Quadro 1Investimentos mapeados 2011-2014

    Fonte: BNDES

  • 10 DEZEMBRO 2011Conjuntura da Construção

    9,8% e os investimentos em infraestru-tura a 8,5%, ao ano. Esses investimentos contemplam setores com participação re-levante nos investimentos totais da eco-nomia, como petróleo e gás e outros que possuem uma menor representativida-de, mas apresentarão taxa de crescimen-to substancialmente elevada.

    Esse volume de investimentos, quan-do realizado, terá profundas implicações sobre a demanda por serviços de constru-ção civil. Além dos investimentos em edi-ficações que são, em quase totalidade, investimentos relacionados à constru-ção (há serviços indiretos e equipamen-tos que estariam incorporados na parce-la restante), os investimentos em estru-turas também serão necessários para que projetos industriais e projetos de infraes-trutura se configurem.

    Impacto dos investimentosOs investimentos previstos para os di-

    versos setores contarão com diferentes participações de máquinas e equipamen-tos, estruturas e outros fatores. As infor-mações originais dos investimentos em perspectiva não contemplam essa decom-posição dos investimentos. Além disso, os dados disponíveis da composição do in-vestimento, divulgados pelo IBGE, con-templam a abertura da Formação Bruta de Capital Fixo agregada, sem o desdo-bramento setorial. Esses fatores implicam uma dificuldade para estimar, a partir de dados oficiais, a parcela da construção nos investimentos planejados.

    Entretanto um trabalho desenvolvido por um consórcio de universidades, com o apoio do BNDES, estimou a decompo-sição do investimento setorial para o ano de 2005. Esses dados estão disponíveis na chamada Matriz de Absorção de Investi-mentos, acessível a partir do portal do banco. A aplicação dos parâmetros dis-poníveis em tal matriz torna possível es-timar o conteúdo de construção civil dos investimentos em perspectiva.

    O resultado desse exercício é apresenta-do no Quadro 2. Os investimentos na in-dústria contemplam, com a distribuição estimada, aproximadamente 10% de con-teúdo em construção civil. Na infraestru-

    Quadro 2

    FBCF - Construção civil - projeções

    Investimentos mapeadosValores

    (R$ bilhões de 2010) Crescimento

    2006-2009 2011-2014 % %a.a.

    Indústria 36,6 58,3 59,3%Infraestrutura 79,1 118,7 50,0%Edificações 270,5 465,2 72,0%

    Total dos investimentos mapeados 386,2 642,2 66,3%

    Cenário 1Investimentos não mapeados* 542,7 902,3 66,3%

    Investimento total 928,9 1.544,4 66,3% 11,1%

    Cenário 2Investimentos não mapeados** 542,7 722,5 33,1%

    Investimento total 928,9 1.364,6 46,9% 6,4%* Crescimento não mapeados = mapeados | ** Crescimento não mapeados = metade da taxa de expansão dos mapeadosFonte: BNDES

    tura, esse percentual se eleva para 31,8% e, no caso de edificações, atinge 74,4%. A aplicação desses percentuais pelos res-pectivos valores previstos para o inves-timento implicaria um volume de gastos em construção civil de R$ 642,2 bilhões (a preços de 2010) para o período 2011-2014, considerando somente os investimentos mapeados. Esse valor representa um cres-cimento de 66,3% em relação ao valor rea-lizado no quadriênio 2006-2009.

    Se aplicássemos o percentual de cres-cimento dos gastos em construção nos projetos mapeados sobre os valores de construção da formação bruta no mesmo quadriênio de referência, poderíamos es-perar gastos da ordem de R$ 1,55 trilhão, a preços de 2010, para o período 2011-2014. Esse valor contemplaria, além dos investimentos formais em edificações, investimentos em estruturas industriais, infraestrutura e a parcela não formal da construção residencial, não contempla-da no mapeamento.

    Considerando que, nos últimos anos, a melhoria da renda das famílias mais po-bres teve impacto substancial sobre o in-vestimento residencial e que os efeitos desse processo tendem a ser menos in-tenso no futuro, o número pode ser con-siderado uma estimativa otimista. Caso consideremos o valor como está, devería-mos esperar um crescimento ao ano equi-valente a 11% ao ano para a construção ci-

    vil, no quadriênio 2011-2014. Consideran-do um caso extremo, no qual a construção civil não mapeada crescesse a metade da taxa prevista, o crescimento anual ficaria reduzido a 6,4% ao ano. Um pouco abaixo da taxa média de expansão anual no perí-odo 2006-2009: 7,1% ao ano.

    De qualquer forma, independente de variações relacionadas à imprecisão da estimativa (pelo fato de utilizar parâme-tros de 2005 ou por não ser possível mape-ar 100% dos investimentos), fica claro que os investimentos em curso ou planejados terão impacto substancial sobre a deman-da da indústria da construção.

    Como foi dito no início do texto, mui-tos dos fatores que serviriam de plata-forma para esses investimentos indicam que sua sustentação é bastante provável. A despeito de a crise internacional poder se deslocar no tempo, por alguns meses ou por um ou dois anos, uma parcela des-ses investimentos (ainda que uma parce-la substancial é inadiável), o volume de projetos sustentará uma expansão bas-tante robusta pela construção civil. Esse fato impõe um conjunto de desafios para o setor que vão desde a industrialização da produção à qualificação de trabalha-dores e à organização do financiamento.

    * marcelo machado nascimento é chefe do Departamento de Acompanhamento Econômico do BNDES.

  • DEZEMBRO 2011 11Conjuntura da ConstruçãoPerfil setorial

    ana Maria Castelo, alexandre Guazzelli e sergio Bandeira

    uma construção cada vez mais formalizadaAs empresas – em especial as maiores – passaram a responder pela maior parte do valor adicionado da construção, deixando para trás a informalidade

    AlGuns números falam por si e dis-pensam adjetivos, como é caso do crescimento do PIB da construção em 2009. A consolidação dos números de-finitivos das Contas Nacionais mostrou que o PIB do setor da construção naquele ano foi de R$ 146,8 bilhões, o que represen-tou um crescimento nominal de 16% na comparação com 2008. Desconsiderando a elevação de preços setoriais medida pelo INCC-DI médio do ano, os números indi-cam que em 2009, ano de maior impacto da crise econômico-financeira mundial, o PIB da construção registrou crescimen-to real de 8,3% na comparação com 2008.

    O resultado do PIB reflete o desempenho dos diversos agentes que participam do se-tor: empresas formalmente constituídas, empresas informais, profissionais autôno-mos, entre outros. No entanto, se o resulta-do definitivo do PIB de 2009 surpreendeu, os números das empresas formais mostram desempenho muito superior à média do se-tor. O PIB gerado por essas empresas cres-ceu 20,7% em 2009 – também desconside-rando a elevação de preços setoriais medi-

    da pelo INCC-DI médio do ano. O resultado consolidado de 2009 indica que as empre-sas vivenciaram a continuidade do ciclo de crescimento dos anos anteriores.

    Vale observar que, nos últimos seis anos, em apenas dois deles – 2005 e 2008 – o cres-cimento do PIB das empresas ficou abaixo do PIB médio do setor. Desde 2003, o setor experimentou expansão de 34% do valor adicionado (produto), enquanto as empre-sas praticamente dobraram o valor adicio-nado – aumento de 99%, acima do INCC-DI.

    A diferença de desempenho revela um modelo de desenvolvimento amparado claramente na produção formal. E o re-sultado é que as empresas ampliaram sua participação no PIB setorial, com reflexos positivos na qualidade dos postos de em-prego gerados, na produtividade do setor, no acesso ao crédito e na realização de in-vestimentos, além de beneficiar a arreca-dação de tributos.

    Evolução recenteO crescimento econômico da construção

    oscilou bastante nas duas últimas déca-

    das, mas a partir de 2004 o setor passou a sustentar taxas crescentes de expansão do produto.

    No que diz respeito às empresas, po-dem-se identificar duas fases distintas nesses últimos sete anos. A primeira que vai de 2004 a 2006, é quando ocorreram mudanças institucionais (Lei 10.931/04, em complemento à Lei 9.514/97) que ser-viram de fundamento para o período de maior crescimento do setor formal. O se-gundo período se inicia em 2006, com a consolidação das mudanças e forte expan-são dos recursos para o mercado imobili-ário e de infraestrutura. É nessa fase que se dá a criação de programas como o PAC e o Minha Casa, Minha Vida, que propi-ciaram um horizonte de maior previsibi-lidade aos investimentos e que permiti-ram que empresas do setor tivessem re-sultados mais expressivos. Junte-se a isso a acelerada expansão do crédito imobili-ário e o importante crescimento da renda das famílias e estão postas as condições que alavancaram os negócios das empre-sas de construção.

    É importante observar que o período imediatamente anterior – 2001 a 2003 – foram anos de retração e encolhimento do investimento. Em 2003, a taxa de in-vestimento do país atingiu 15,3%. O PIB da construção somou R$ 109,1 bilhões em valores de 2009 e as empresas formalmen-te constituídas responderam por apenas 43,8% desse total, ou R$ 47,8 bilhões em valores de 2009.

    Em 2009, a taxa de investimento passou para 18,1% do PIB. O PIB da construção to-

    “Os dados revelam um modelo de desenvolvimento amparado claramente na produção formal da construção. Nos últimos sete anos, houve aumento da participação das empresas no PIB setorial, com reflexos bastante importantes no mercado de trabalho e na arrecadação tributária”

  • 12 DEZEMBRO 2011Conjuntura da Construção

    talizou R$ 146,8 bilhões e o valor adiciona-do das empresas formais de construção so-mou R$ 95 bilhões, o que correspondeu a 63,5% do produto do setor em seu conjunto. Ou seja, as empresas tiveram participação majoritária na geração de renda do setor.

    Essa mudança de composição foi acom-panhada de importantes transformações no mercado de trabalho setorial. Entre 2003 e 2009, de cada três novos postos de trabalho abertos no setor da construção, dois foram com registro em carteira. Em 2003, apenas 19,5% dos trabalhadores da construção possuíam vínculo formal de emprego (com registro em carteira de tra-balho). Em 2009, esse indicador de for-malidade chegou a 30,1% da mão de obra.

    De todo modo, vale observar que, se a maior parte do valor adicionado advém das empresas, ainda é a produção por au-togestão que responde pela maior parcela

    da ocupação – 70% e o número de traba-lhadores com carteira na construção ain-da é relativamente reduzido na compara-ção com a média da economia, que atin-giu 47% em 2009.

    Um aspecto a ser destacado do cresci-mento desse período é o modo como ele atingiu empresas de diferentes portes. As empresas maiores, com 30 ou mais pesso-as ocupadas, apresentaram resultados su-periores. Entre 2003 e 2009, o valor adicio-nado por essas empresas registrou alta de 159%, enquanto o das empresas com 5 a 29 elevou-se 54%.

    arrecadação e carga tributáriaAo longo desses anos, além da expansão

    do crédito o setor foi favorecido por impor-tantes medidas de desoneração tributária. Houve a instituição do Regime Especial de Tributação para as obras do MCMV. Hou-

    ve ainda o fim da CPMF e reduções nas alí-quotas do IPI promovidas a partir de 2006.

    Em contrapartida, deu-se a implanta-ção do mecanismo de substituição tribu-tária na cobrança do ICMS em alguns Es-tados. Assim, entre 2003 e 2009, ocorreu redução na carga tributária sobre as em-presas, que passou de 37,3% do valor adi-cionado para 28,7%. No entanto, a des-peito da desoneração promovida, o cres-cimento econômico do setor possibilitou aumento real da arrecadação gerada pelas empresas que, em 2009, atingiu R$ 27,32 bilhões, ou seja, crescimento de 78% aci-ma do IPCA no período 2003 a 2009. Mas o menor crescimento do valor adicionado no segmento de produção por autogestão e autoconstrução e a instituição da substi-tuição tributária levaram a um aumento da carga, que foi de 7,9% do valor adicionado em 2003 para 13,4% em 2009.

    A DIMENSÃO DAS CONSTRUTORAS NO PIB SETORIALCrescimento do PIB da construção, em %

    Participação das empresas no PIB setorial Carga tributária na construção / VA

    0

    40

    TotalDemais atividadesEmpresas

    2009200820072006

    2005

    2004

    Fonte: FGV

    PIB das construtoras

    PIB das demais atividades

    2003 200937,3

    28,7

    13,4

    23,3

    7,9

    20,8

    10,7

    27,0

    -5,3

    3,7

    28,0

    3,1

    18,5

    -2,8

    1,4

    9,6

    3,9

    8,3

    TotalEmpresas

    56%44% 2003 2009 35%65%

  • DEZEMBRO 2011 13Conjuntura da Construçãohabitação

    Edney Cielici dias e ana Maria Castelo

    as PersPectivas da Política habitacional e os números Do MINhA CASA, MINhA VIDAMais coordenação e integração de iniciativas são alguns dos grandes desafios a serem superados

    As Políticas públicas, em seu pro-cesso de implantação, passam a ser produto em maior ou menor medi-da de um aprendizado baseado em tentati-va e erro. Nesse processo, a opção menos arriscada – ou mais racional, na medida em que o conhecimento que se tem da rea-lidade é limitado – reside em repetir o que tem dado certo. Essa é uma abordagem de políticas públicas que remonta aos anos 50 do século passado e que, de uma for-ma geral e a despeito de teorias mais atu-ais, ajuda ainda hoje a pensar os proces-sos de implementação.

    O Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) surgiu em contexto específico, em que o governo necessitava combater os efei-tos desaceleradores da crise mundial, e tinha como objeto um velho problema, um déficit habitacional, que ultrapassava 6 milhões de moradias. Portanto, a simples enuncia-ção do nascimento do programa traz dois objetivos conjugados: (1) combater os efei-tos da crise e (2) atendimento da demanda de moradia pelas famílias de baixa renda.

    A primeira necessidade anticíclica foi atendida e uma nova surge no horizonte, a depender do andamento da economia em 2012. O MCMV representou em seu nasci-mento um marco no desenho da política habitacional no país, com um volume iné-dito de subsídios e uma participação cen-tral das construtoras na produção das uni-dades. O cumprimento de metas de contra-tação da fase 1, no fim de 2010, representou

    um feito notável – a se destacar o esforço da Caixa Econômica Federal, em parceria com atores interessados, em dar conta da tarefa.

    Nesse processo, as lições de aprendiza-do são inevitáveis. Uma delas é a constan-te dificuldade de produção de moradias nos grandes centros urbanos, sobretudo, pela valorização dos terrenos. Outro fa-tor que tende a ser cada vez mais crucial é processo de cooperação entre as esferas de governo, pois passado o esforço inicial de decolagem do programa, este depende-rá cada vez mais do equacionamento de necessidades locais, que podem ser mais bem atendidas com harmonia de esforços.

    Por último, mas sem que se esgote a ques-tão, um programa com a dimensão do MCMV tende a moldar a política habitacional como um todo – seja pela estrutura montada para colocá-lo em prática, seja pelo know-how acumulado e mesmo pelos resultados obti-dos. Portanto acaba sendo mais “racional” seguir o modelo MCMV. Mas a política habi-tacional em um país com as diversidades e necessidades do Brasil não se resume e não poderia se limitar ao MCMV. Portanto, além da integração dos níveis de governo, é um desafio integrar também os programas de provisão de moradia.

    O acompanhamento dos números do MCMV, tendo em vista esses elementos constitutivos da política habitacional, ga-nham particular relevo. A próxima parte deste artigo comenta os números de exe-cução do MCMV atualizados até outubro.

    Evolução programaAo chegar a dezembro de 2010, com a con-

    tratação de pouco mais de 1 milhão de uni-dades, a fase 1 do MCMV conseguiu atendi-mento de suas metas. A partir daí as aten-ções se voltaram para o acompanhamen-to da entrega das unidades habitacionais.

    Os números consolidados mostram que o programa caminha para cumprir o maior percentual de suas entregas em 2012. Até 31 de outubro, 338 mil unidades habitacionais da fase 1, ou 34% do total, haviam sido en-tregues. As metas de atendimento às famí-lias de renda mais elevadas – nas faixas 2 e 3, que buscam recursos diretamente na CEF para imóveis já concluídos – foram plena-mente cumpridas. Nessas operações, as fa-mílias obtêm subsídio e financiamento que se enquadram nas condições do programa. Para as unidades que são produzidas pelas construtoras para o governo ou para as fa-mílias diretamente, o percentual de cum-primento da meta é de aproximadamente 15%, indicador que cresce para 22% na fai-xa 3. O tempo médio de produção dos em-preendimentos é de 20 meses.

    A fase 2 do programa tem um desafio maior, pois apenas 16% da meta de 2 mi-lhões foram contratados até 31 de outubro, o que representa investimentos de R$ 23,8 bilhões do orçamento total de R$ 125,7 bi-lhões. Diversos fatores afetaram o ritmo. A principal dificuldade esteve associada à definição dos novos valores das unidades habitacionais da faixa 1, que abrange 60%

  • 14 DEZEMBRO 2011Conjuntura da Construção

    da meta de 2 milhões. Ao final de 2010, de-pois de dois anos do início do programa, os valores ficaram bastante defasados. Na verdade, em algumas capitais como São Paulo e Belo Horizonte, por exemplo, os valores desde o início se mostraram de di-fícil atendimento e, de fato, muito pouco foi produzido nessas cidades.

    Apenas em outubro, os novos valores das unidades foram divulgados com re-ajuste de 31%. Além da defasagem dada pela evolução dos custos de construção e aumento dos preços dos terrenos, a fase 2 do programa introduziu algumas especi-ficações adicionais nas unidades da faixa 1, como ampliação da área construída, a colocação de azulejos nas paredes da cozi-nha e do banheiro, de piso cerâmico em to-dos os cômodos e portas e janelas maiores.

    Um reajuste maior implica também o au-mento do volume de subsídio para viabili-zar o cumprimento da meta de 1,2 milhão de moradias para a faixa 1. Assim, uma

    vez que não há perspectiva de aumento no volume de recursos destinado ao pro-grama, a contratação e execução de uni-dades habitacionais nos grandes centros ficam condicionadas à participação dos governos municipais e estaduais.

    Para viabilizar um aporte adicional de re-cursos dessas esferas, no início de dezem-bro, houve alteração na legislação que con-cede benefício tributário às empresas. An-tes restrito aos imóveis do programa de até R$ 65 mil, o benefício foi expandido para imóveis de até 85 mil, o que vai permitir que aportes dos governos locais mantenham o Regime Especial Tributário (RET).

    Outra mudança importante na segunda fase do MCMV diz respeito à necessidade de maior participação das prefeituras na apro-vação dos projetos, no atendimento da in-fraestrutura básica e no acompanhamen-to social dos empreendimentos realizados.

    É importante lembrar que a discussão para viabilizar o início da segunda fase do

    programa se deu em um momento em que boa parte das empresas ainda trabalhava para executar a primeira fase. Assim, a postergação desse início é, em dada ótica, compreensível. Com essas questões defini-das, pode–se esperar um ritmo mais for-te em 2012. No entanto, a necessidade de maior envolvimento dos poderes locais, seja com o aporte financeiro ou institu-cional, poderá contribuir para um ritmo mais lento no cumprimento das metas da faixa 1 do programa.

    A apreciação dos números ressalta a im-portância das ações coordenadas. Como visto na primeira parte deste artigo, a co-ordenação entre as esferas de governo é apenas um dos aspectos importantes do processo de aprendizado. Este último, parece fundamentado supor, deverá ser longo, tendo em perspectiva a obtenção de melhores resultados e a consecução de metas ainda mais ambiciosas de polí-tica habitacional.

    BALANÇO DO PROGRAMA HABITACIONALO que foi contratado e o que foi entregue até outubro de 2011

    ContratadoEntregue

    • O Programa Minha Casa, Minha Vida 1 encerrou a meta das contratações no fim de 2010. O número de unidades entegues atingiu 34% do volume contratado

    • O Programa Minha Casa, Minha Vida 2 contratou 16% de sua meta de 2 milhões de moradias até o final do atual governo. Foram entregues 6% da meta

    Total dos investimentos até agora

    R$ 23,8 biOrçamento para 2011/2014

    R$ 125,7 biSubsídios

    R$ 72,6 biFinanciamento

    R$ 53,1 bi

    A contratação do MCMV2Por região

    Por faixa (renda familiar)

    RegiãoNorteNordesteSudesteSulCentro-Oeste

    317.311Total no Brasil

    Faixa 1 8.744 5.202

    10.977 5.437 1.597

    Faixa 2 7.817

    49.338 98.044 66.448 35.965

    Faixa 3 1.443 3.472

    13.298 4.202 5.327

    Minha CasaMinha Vida 1

    Minha CasaMinha Vida 2

    1.005.128

    338.055 317.311

    118.085

    257.612Faixa 2

    De R$ 1.600,01 a R$ 3.100,00

    31.957Faixa 1Até R$ 1.600,00

    27.742Faixa 3De R$ 3.100,01 a R$ 5.000,00

    18.004Norte

    122.319Sudeste

    76.087Sul

    42.889 Centro-Oeste

    58.012 Nordeste

  • DEZEMBRO 2011 15Conjuntura da Construçãohabitação

    silvio torres*

    novos rumos da Política habitacional PaulistaO Estado não precisa necessariamente ser o incorporador e o construtor, mas tem, sim, a obrigação de viabilizar a moradia social

    O GoVerno de São Paulo criou, em setembro último, a Casa Paulista – Agência Paulista de Habitação So-cial, uma nova marca da política habita-cional do Estado. Com a criação da Casa Paulista, além de construir unidades ha-bitacionais por meio da CDHU, o Estado passa a ser também agente fomentador de habitação de interesse popular, o que é ino-vador em administração pública no Brasil.

    A iniciativa pode ser classificada como um marco substancial de mudança na política de habitação popular paulista, mostrando claramente que os gestores públicos estaduais acreditam que o Esta-do não precisa necessariamente ser o in-corporador e o construtor, mas tem, sim, a obrigação de fomentar e viabilizar mo-radias para famílias de baixa renda com eficácia. Com a Casa Paulista, recursos serão captados e destinados ao subsídio de unidades habitacionais para quem ganha de um a cinco salários míninos. A ideia é agitar o mercado de habitações populares, por meio de parceiros públi-cos e privados, e atender, com urgência, a demanda da população mais carente pela casa própria.

    Dentro da máxima “do correr atrás do prejuízo” (lembrando apenas que este é um prejuízo bem antigo), o governo e a Se-cretaria de Estado da Habitação, em espe-cial, resolveram adotar um plano no mí-nimo ousado, para redobrar a oferta de habitações populares. Afinal, se São Pau-lo atrai tanta gente por conta de sua ca-pacidade de produzir e distribuir rique-

    za, por consequência, apresenta também maior demanda e urgência na capacida-de de abrigar essa população. Calcula-se em torno de 1,2 milhão de moradias o atu-al déficit habitacional paulista.

    A Casa Paulista aparece, então, para oferecer à iniciativa privada garantias de crédito e aval, diversificar a oferta de subsídios e financiamentos e facilitar o acesso da população de baixíssima ren-da à casa própria. A proposta da agência é captar recursos totais da ordem de R$ 22 bilhões, muito além da verba aprova-da para a Secretaria de Estado da Habita-ção, de R$ 7,9 bilhões, para o período de 2012-2015, o que possibilitará a constru-ção de 150 mil novas unidades.

    Por meio do inovador instrumento das PPPs (parcerias público-privadas) na área da habitação, será possível ainda elevar esse número para 200 mil novas unidades, já que a união direta de forças e interesses entre a pasta e a iniciativa privada devem viabilizar 50 mil novas unidades – 10 mil no centro expandido da capital e 40 mil nas regiões metropolitanas, prioritariamente para atendimento da população do litoral e áreas de risco, favelas e cortiços.

    Governança e integraçãoA Casa Paulista baseia-se em um con-

    ceito moderno de governança corporati-va e fará a coordenação das verbas e dos investimentos estaduais na habitação po-pular para maximizar resultados sem, no entanto, interferir diretamente no setor da construção ou serviços especializados.

    Como é de conhecimento geral, existe uma grande dificuldade na produção de unidades habitacionais, especialmente nas regiões metropolitanas e nas cida-des paulistas mais populosas, em razão da escassez de terrenos e do custo mais alto de produção nessas localidades. A ideia é também superar essa dificuldade, recorrendo ao apoio da iniciativa priva-da, de instituições financeiras e de inves-tidores e empreendedores imobiliários, estimulados a participarem da habitação de interesse popular a partir das garan-tias de crédito.

    As PPPs na área habitacional devem viabilizar 50 mil novas unidades no Es-tado de uma só tacada. A Casa Paulista também oferecerá subsídios especiais a servidores públicos para a ocupação de lotes urbanizados, complementará recur-sos para viabilizar a implantação do Pro-grama Minha Casa, Minha Vida em São Paulo e para empréstimos para reforma e ampliação de unidades da CDHU.

    A integração entre os programas fede-rais e estaduais é um dos principais focos de ação da agência. A proposta é comple-mentar os recursos de investimento e sub-sídios necessários para a produção de mo-radias de qualidade nos municípios pau-listas com grande demanda habitacional.

    fundos habitacionaisA Casa Paulista será responsável ainda

    pela operação articulada dos fundos ha-bitacionais paulistas instalados recente-mente: o Fundo Paulista de Habitação de

  • 16 DEZEMBRO 2011Conjuntura da Construção

    Interesse Social (FPHIS) e o Fundo Garan-tidor Habitacional (FGH). Com o FPHIS, o Governo do Estado vai incrementar os in-vestimentos em habitação por meio do fo-mento e da articulação de outras fontes de financiamento. O FGH, por sua vez, é um instrumento que amplia as possibilida-des de acesso ao crédito habitacional da população de menor poder aquisitivo. Ele estimula a participação de instituições fi-nanceiras e outros parceiros no financia-mento dos investimentos habitacionais de interesse social. Além disso, essa fer-ramenta inovadora é capaz de alavancar recursos de agentes privados por meio da concessão de aval e garantias de crédito.

    A Casa Paulista mobilizará associações, cooperativas habitacionais e sindicatos. A agência também vai regular a aplicação dos subsídios públicos, garantir o risco para novos investimentos em habitação social e incentivar a construção de mora-dias sustentáveis e acessíveis. O resulta-do será o crédito habitacional facilitado e adequado à capacidade de pagamento das famílias de menor renda e a promoção de moradias de qualidade.

    Parcerias O governador Geraldo Alckmin autori-

    zou a Secretaria da Habitação a firmar par-ceria com 64 municípios para a constru-ção de moradias e ações de apoio à regu-larização fundiária pelo Programa Cidade Legal. Ao todo, 43 municípios assinaram convênios e protocolos de intenções para a construção de aproximadamente 4.000 moradias. Além disso, 21 prefeituras fir-maram convênio com o Programa Cidade Legal, da Secretaria da Habitação.

    A secretaria também assinou Protoco-lo de Cooperação com o Conselho Brasi-leiro de Construção Sustentável (CBCS). O objetivo é desenvolver estratégias e so-luções que assegurem a sustentabilida-de dos conjuntos habitacionais. Trata-se de um compromisso de união de esfor-ços na busca pela diminuição de impac-tos, prevenção de desperdício de recur-sos naturais e financeiros e busca de al-ternativas sustentáveis nos empreendi-mentos da CDHU.

    Em parceria com o Banco do Povo Pau-

    lista, a agência vai oferecer uma linha de crédito de até R$ 7.500 para reforma ou ampliação de moradias da CDHU. Os fi-nanciamentos serão oferecidos de for-ma articulada entre Estado, prefeituras e os proprietários. Nessa primeira etapa, o governo prevê cerca de 12 mil microcré-ditos para famílias com renda mensal de R$ 600 a R$ 3.100.

    Lotes regulares inseridos na malha ur-bana, desde que regularizados, de proprie-dade exclusiva, dotados de infraestrutura e equipamentos, podem ser ocupados por novas moradias. A Casa Paulista vai ofere-cer subsídio diretamente às famílias para a construção ou reforma em lotes próprios

    dos beneficiários. Nesses casos, as famílias poderão receber subsídio de até R$ 16 mil para acesso ao crédito imobiliário.

    Outra modalidade do programa será o repasse de recursos aos municípios para a urbanização dos lotes. A Casa Paulista destinará às prefeituras até R$ 10 mil por lote para obras de infraestrutura, pavi-mentação e tratamento das áreas livres e institucionais, com garantia de destina-ção dos lotes para demanda de interesse social. As famílias beneficiárias, com ren-da mensal de até R$ 3.100 mensais, terão um subsídio de até R$ 6 mil.

    Os servidores públicos estaduais po-derão receber subsídio para aumento do poder de compra da casa própria. O ser-vidor que obtiver crédito imobiliário jun-to a qualquer instituição financeira po-derá pleitear também subsídio comple-mentar de até R$ 34,5 mil da Casa Pau-lista para a aquisição de imóvel de até R$ 150 mil, novo ou usado, em área urbana de qualquer município. O servidor, da ati-va ou aposentado, deverá ter renda fami-liar mensal de até R$ 3.100, ainda não ter recebido atendimento habitacional pela CDHU e não possuir outro imóvel próprio ou outro financiamento imobiliário.

    A Casa Paulista é uma realidade, que veio para ficar e cumprir o seu papel de ampliar a oferta de moradias e a capta-ção de recursos.

    “A proposta da agência é captar recursos totais da ordem de R$ 22 bilhões, muito além da verba aprovada para a Secretaria de Estado da Habitação, de R$ 7,9 bilhões, para o período de 2012-2015”

    *Silvio Torres é secretário estadual da Habitação.

    Lu Santos

  • DEZEMBRO 2011 17Conjuntura da Construçãohabitação

    silvia Maria schor*

    o Perfil das famílias em dÉficit de moradia no estado de são PauloA adequação entre formato dos programas e características das famílias eleva a eficiência na utilização dos recursos públicos

    A redução da carência habitacio-nal vem ocupando crescente espa-ço na agenda do governo brasileiro, nos seus níveis federal, estadual e munici-pal, e o Programa Minha Casa, Minha Vida ilustra bem essa preocupação.

    Os resultados dos programas habita-cionais, e das políticas públicas em ge-ral, dependem de um conjunto de fatores conjugados, em que a focalização correta do público-alvo e a eficiência na alocação dos recursos se encontram entre os mais importantes. Nessa perspectiva, o exame cuidadoso das condições socioeconômi-cas das famílias que integram o déficit ha-bitacional se torna condição importante para a formulação de programas de provi-são de moradia. A maior adequação entre formato dos programas e perfil socioeco-nômico das famílias eleva a eficiência na utilização dos recursos públicos e possibi-lita obter, simultaneamente, maior equi-dade no tratamento do seu público-alvo.

    Entre os muitos aspectos da diversida-de socioeconômica das famílias, a capaci-dade de pagamento da moradia é crucial. A redução do déficit pressupõe programas de larga cobertura, em que a concessão de subsídios é indispensável. Assim, a corre-ta avaliação da capacidade de pagamen-

    to é elemento essencial para a estimativa dos recursos a serem alocados.

    A capacidade de pagamento das famí-lias tem sido estimada, no âmbito dos pro-gramas de provisão de moradia para bai-xa renda, como parcela da renda familiar. Apesar de constituir uma “regra de bolso” bastante prática, a estimativa da capaci-dade de pagamento como percentual da renda familiar não inclui dois importan-tes condicionantes do montante mensal que as famílias podem pagar: não leva em conta a composição do grupo familiar e as despesas com alimentação desses grupos.

    A composição do grupo familiar pode al-terar consideravelmente a capacidade de pagamento da família. Com renda mensal idênticas, duas famílias poderão dispor de capacidade de pagamento diferente, haja vista a inevitável constatação de que quan-to maior o grupo familiar, maior as despe-sas para sua reprodução. Entre as despe-sas para reprodução do grupo familiar, os gastos com alimentação não são substituí-veis. Ou seja, o trade-off entre itens de des-pesas orçamentárias irá sempre privilegiar os gastos com alimentação.

    Combinados, a composição do grupo familiar e o reconhecimento da importân-cia dos gastos com alimentação possibili-

    tam estimar o montante da renda familiar mensal alocado nessa despesa. Subtraí-da os gastos com alimentação da renda familiar mensal, obtem-se a “renda dis-ponível”, saldo que a família dispõe, de fato, para suas demais despesas, entre elas gastos com a moradia. A “renda dis-ponível” é, assim, referência mais realista para estimar a capacidade de pagamento dos grupos de baixa renda.

    A capacidade de pagamento das famí-lias, contudo, não é uma condição abso-luta, mas uma relação entre o valor dispo-nível para os gastos com moradia e o valor da prestação mensal a ser paga. A capa-cidade de pagamento se altera, portanto, com mudanças nos preços dos imóveis, nas taxas de juros, nos sistemas de finan-ciamento e nas demais condições do mo-delo de concessão de subsídios.

    Para identificar a diversidade de con-dições econômicas1 das famílias que in-tegram o déficit habitacional do Estado de São Paulo2, foi analisada a distribui-ção da “renda disponível” e estimada a capacidade de pagamento de cada uma delas.3 Para tanto, algumas condições ne-cessárias para calcular o valor da mensa-lidade a ser paga tiveram que ser fixadas: percentual de comprometimento máximo

    1 A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) fornece a renda familiar e a composição do grupo familiar; os gastos com alimentação são calculados a partir da “cesta de indigência” calculada e atualizada periodicamente pelo Instituto de Estudos do Trabalho e Social (Iets). Para obtenção dos gastos com alimentação, o custo da cesta de alimentos é ponderado por uma escala de equivalência para adultos do sexo masculino (peso 1), adulto do sexo feminino (peso 0,75) e crianças (peso 0,5). 2 PNAD, 20093 Trabalho realizado para a CDHU pela Fipe.

  • 18 DEZEMBRO 2011Conjuntura da Construção

    da renda disponível de 30%, juros de 3,5% ao ano, claramente inferiores aos pratica-dos pelo mercado, e Tabela Price para esti-mar o valor do financiamento em 30 anos. Os resultados foram simulados para imó-veis de R$ 65 mil, R$ 80 mil, R$ 100 mil e R$ 120 mil.

    Um critério adicional para concessão dos subsídios completou o modelo de fi-nanciamento. Foi fixado procurando uma adequada combinação entre eficiência e equidade, o que levou ao estabelecimen-to de um percentual máximo do valor da prestação a ser subsidiado de 50%. Enten-de-se que, excedendo esse limite, os sub-sídios a serem concedidos viabilizaria a aquisição de um imóvel cujas condições não são compatíveis com a condição eco-nômica da família.

    O exame da distribuição da “renda dis-ponível” sob as condições de concessão de subsídios e financiamento fixadas identificou quatro grupos no interior do déficit habitacional do Estado.

    O primeiro grupo inclui as famílias cujos rendimentos monetários são tão reduzidos que, depois de descontadas as despesas com alimentação, não conseguem pagar as mensalidades subsidiadas (em 50%) da casa própria, nem também mantê-las. São famílias cuja “renda disponível” é muito baixa, ou mesmo negativa. Constituem o maior grupo no interior do déficit habita-cional do Estado e foi batizado como “Gru-po de Atendimento Especial”.

    O segundo segmento refere-se às famí-lias cujos rendimentos monetários possi-bilitam o pagamento da mensalidade do financiamento, recebendo subsídios di-retos e demais benefícios dos programas habitacionais. Para elas, a relação entre a mensalidade a ser paga e o montante de subsídios necessários não ultrapassa o limite de 50%. O grupo foi denominado “Grupo de Subsídio Direto”.

    O terceiro grupo não necessita de sub-sídios diretos para complementar o paga-mento mensal da casa própria. São capa-zes de pagar a mensalidade integralmente em decorrência da fixação da taxa de juros bastante abaixo do valor de mercado. Ou seja, o subsídio indireto viabiliza o paga-mento a inclusão dessas famílias nos pro-

    gramas de aquisição da moradia própria. Constituem o grupo “Subsídios Indiretos”.

    O quarto e último grupo é composto pe-las famílias cuja “renda disponível’ per-mite acessar o mercado formal de mora-dia (SFH ou aquisição direta junto a incor-poradoras) e foram agrupadas sob a rubri-ca “Mercado”.

    Identificados os grupos, foi possível sua quantificação. Os dados da tabela refletem a diversidade de condições das famílias in-tegrantes do déficit habitacional do Esta-do. Em primeiro lugar, evidencia a gran-de presença do grupo “Atendimento Espe-cial”. Para esse grupo, programas de loca-ção social são mais adequados, em que o valor da mensalidade não guarda relação com os parâmetros de financiamento. A condição econômica dessas família sugere a conjugação de programas de geração de renda e emprego, por exemplo, aos progra-mas de provisão dos serviços de moradia.

    Os grupos “Subsídios Diretos” e “Subsí-dios Indiretos” constituem o público alvo

    por excelência dos programas para aquisi-ção da moradia. Para esses dois conjuntos, a definição da taxa de juros, o comprome-timento máximo da renda, o prazo e o sis-tema de amortização são variáveis estraté-gicas na definição dos programas que, sob diversas combinações, constituem o leque de alternativas da política habitacional.

    O grupo “Mercado”, embora com renda suficiente para procurar o SFH ou crédito junto a incorporadoras, deve ser tratado com cautela. A seleção de crédito pode im-possibilitar a obtenção do financiamento e colocar as famílias no pior dos mundos: não incluídos nos programas de subsídios e financiamento e excluídos do crédito via mercado. O Fundo Garantidor Paulista, entre outras possibilidades, poderá tor-nar mais viável o acesso ao crédito.

    A tabela mostra também que a capacida-de de pagamento se altera significantemen-te com a elevação do preço dos imóveis. A atual expansão da produção de moradia e conseqüente elevação do preço da terra, notadamente nas grandes cidades, se refle-tem sobre a trajetória futura da capacidade de pagamento das famílias colocadas nos primeiros decis da distribuição de renda. Fica a esperança de que o crescimento do emprego e da renda brasileira atue como contraponto positivo nesse processo.

    Preço do imóvel [R$] 65.000 80.000 100.000 120.000

    Prestação [R$] 323,49 398,15 497,68 597,22

    “Atendimento Especial” [número famílias] 638.866 796.655 945.243 1.036.595

    Participação no déficit do Estado [%] 51,2 63,9 75,8 83,1

    “Subsídio Direto” [número famílias] 429.352 324.472 214.052 144.051

    Participação no déficit do Estado [%] 34,4 26,0 17,2 11,6

    “Subsídio Indireto” [número famílias] 151.647 98.738 60.570 39.219

    Participação no déficit do Estado [%] 12,2% 7,9% 4,9% 3,1%

    “Mercado” [número famílias] 27.120 27.120 27.120 27.120

    Participação no déficit do Estado [%] 2,2% 2,2% 2,2% 2,2%

    Segmentação das famílias do déficit habitacional do Estado de São Paulo*

    “A ‘renda disponível’ é referência mais realista para estimar a capacidade de pagamento dos grupos de baixa renda”

    *Silvia Maria Schor é professora da Faculdade de Economia e Administração da USP e pesquisadora da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

    O total de famílias no déficit habitacional equivale a 1,247 milhão. Elas estão distribuídas por faixa de valor de imóvel.*PNAD 2009

  • DEZEMBRO 2011 19Conjuntura da Construçãoconstrudata

    ana Maria Castelo e Edney Cielici dias

    a grande referência dos indicadores setoriaisO SindusCon-SP lançou em parceria com a FGV-Ibre o site www.construdata.com.br Com o objetivo de consolidar uma ampla base de informações do setor

    OdestaQue da construção civil nos últimos anos fez aumentar a pro-cura por indicadores confiáveis de desempenho do setor – empresários, in-vestidores, pesquisadores e governos pas-saram a demandar mais informações qua-lificadas para embasar análises e tomadas de decisão. Nesse contexto, mais institui-ções passaram a produzir essas informa-ções, e a cadeia da construção já dispõe de uma quantidade importante de indicado-res. Aumentou, no entanto, a dificuldade dos interessados no setor em identificar

    as fontes de informação. Para consolidar uma referência abran-

    gente de pesquisa, o sinduscon-sP lançou em parceria com a FGV-ibre o site Cons-trudata, com o objetivo de consolidar da-dos produzidos pelas mais diversas insti-tuições, associações e sindicatos sobre a cadeia produtiva da construção. Além das estatísticas, o site apresenta análises se-toriais realizadas pela FGV-ibre e a con-juntura da construção – é possível tam-bém consultar os últimos números desta revista. Todo o conteúdo é livre e gratuito.

    Colocar um projeto como esse em prática é um grande desafio. É necessário o mape-amento dos dados, a consolidação das sé-ries históricas e, em determinados casos, obter a permissão da entidade responsável para divulgação. Assim, embora o site re-presente uma coleção estratégica de infor-mações, trata-se de um trabalho ainda em construção, que envolve necessariamente a parceria com muitas instituições e tam-bém com aqueles que consultam o site, na medida em que a experiência com a ferra-menta de pesquisa possibilitará seu aper-feiçoamento. Assim, logo na página inicial há um link para que os usuários possam en-viar suas dúvidas e sugestões.

    os dadosNo Construdata podem ser encontradas

    informações sobre a construção, sobre a in-dústria de materiais de construção, os servi-ços financeiros, a comercialização de imó-veis, o comércio de materiais, entre outros. As séries disponíveis estão organizadas em nove grandes temas, que se dividem em grupos e subgrupos dependendo da diver-sidade de fontes e de dados de cada tema.

    Por ordem de apresentação, o primeiro tema abrange as informações de emprego e renda. No grupo emprego estão as séries do IBGE relativas ao setor da construção para seis regiões metropolitanas do país e as séries produzidas pela FGV referen-tes ao emprego nas construtoras e na in-dústria de materiais a partir dos dados do sistema Rais/Caged. Essas séries possuem abertura por Estado. E para o emprego nas O site www.construdata.com.br

  • 20 DEZEMBRO 2011Conjuntura da Construção

    construtoras, tem-se também uma aber-tura por segmento de atividade. Os dados para o Estado de São Paulo possuem aber-tura por segmento e também para as nove regionais do sinduscon-sP. No grupo ren-da, estão as informações do IBGE para ren-da real e nominal na construção para as seis regiões metropolitanas.

    Os segundo e terceiro temas trazem sé-ries das Contas Nacionais e Regionais do IBGE. Para as Contas Nacionais, tem-se uma abertura que separa os dados de in-vestimento e os dados de PIB. Os dados de PIB são apresentados para todos os seto-res e componentes da demanda, tanto em valor como índices e taxas. Nas Contas Re-gionais são disponibilizadas apenas séries para a construção de todos os Estados re-ferentes a valor adicionado, valor da pro-dução e consumo intermediário.

    O quarto tema traz as estatísticas de dé-ficit habitacional produzidas pela FGV a partir da metodologia desenvolvida em parceria com o sinduscon-sP. Nesse caso, estão disponibilizadas as séries com dois recortes: um que considera o déficit total com todas as famílias em coabitação e ou-tro, calculado a partir de 2007, que consi-dera apenas as famílias em coabitação com intenção de mudar – o IBGE passou a divulgar dados discriminando as famí-lias que têm intenção de sair da coabita-ção apenas a partir de 2007.

    O quinto tema abrange os índices que acompanham a evolução da inflação e dos preços setoriais de diversas fontes – FGV, IBGE, Fipe e sinduscons. Vale ressaltar que entre os índices da FGV está o IGMI-C, índice que acompanha a valorização dos imóveis comerciais no país. No caso dos indicado-res do sinduscon-sP, são apresentados os dados da pesquisa completa realizada em São Paulo, que inclui a pesquisa de mate-riais e salários e todos os custos por metro quadrado pesquisados. Para o Rio de Janei-ro, tem-se a série referente ao projeto R8-N. Além dos índices de preços, nesse grupo está também o Imob, índice que acompa-nha a valorização das ações das empresas representativas do setor.

    O sexto tema inclui séries sobre crédito – volume e unidades financiadas, de acor-do com a fonte do recurso – e dados sobre

    lançamentos e vendas do mercado habi-tacional em São Paulo. Entre as séries so-bre crédito, estão os dados com os desem-bolsos do BNDES, destacando-se os de-sembolsos por área da infraestrutura, um dado inédito disponibilizado pelo banco.

    O sétimo tema compreende as principais informações da Pesquisa Anual da Indús-tria da Construção (Paic). A pesquisa, rea-lizada anualmente pelo IBGE, representa o mais completo levantamento das empresas da indústria da construção civil brasileira.

    No oitavo tema estão as séries de pro-dução, vendas e consumo da indústria e

    do comércio no país, que inclui as pes-quisas econômicas do IBGE para a indús-tria (PIM) e para o comércio (PME), além de dados produção física da indústria de materiais de construção.

    Por fim, o último grupo apresenta os da-dos das sondagens nacionais com empre-sários do setor. Uma das pesquisas é a rea-lizada pelo sinduscon-sP e a FGV, ouvin-do as construtoras em todo o país. Constam também do grupo os dados da sondagem da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Construção (Abramat), reali-zada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) com os empresários da indústria de materiais. Por fim, traz tam-bém os dados da sondagem empresarial da construção da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

    A coleta dos dados do Construdata é realizada a partir da divulgação da infor-mação nos site das entidades responsá-veis. Há dados que são divulgados men-salmente, outros trimestralmente e al-guns anualmente.

    como utilizarO sistema de pesquisa é simples. Ele

    pode ser realizado diretamente, por meio dos temas de interessante e com a escolha das séries desejadas. Por exemplo, se o usu-ário deseja a série do IGMI-C, ele selecio-na o tema Índices e Preços e escolhe entre as fontes disponíveis – FGV, Sinduscons, IBGE etc. Nesse caso, como é um índice da FGV, seleciona-se a fonte FGV e aparecem todos os índices disponíveis para essa fon-te, entre os quais está o IGMI-C.

    Com a escolha do IGMI-C, surgirão as séries relacionadas, ou seja, o índice de retorno total, o de retorno do capital, o de retorno da renda, com as respectivas va-riações trimestrais – por se tratar de índi-ce trimestral – e de 12 meses. Podem ser escolhidas várias séries ao mesmo tempo. Após serem selecionadas, marca-se a op-ção Ver registros e surgirá o relatório que pode ser impresso ou exportado. Para essa série, os dados estão disponíveis desde o primeiro trimestre de 2000 até o terceiro trimestre de 2011. Se o usuário desejar res-tringir o período, poderá fazê-lo usando o filtro. Nesse caso, onde aparece Série, há a opção de escolher o período de interesse.

    É possível também escolher séries de te-mas diferentes, por exemplo, o emprego nas construtoras no Estado de São Paulo e o ín-dice do CUB. Basta selecionar a série dese-jada no Emprego e Renda e depois em Índi-ces e Preços. Ou ainda, o INCC-N que está em Índices e Preços – FGV e o Edificações Fipe, que está também em Índices e preços – Fipe.

    A seleção de dados também pode ser realizada pelo sistema de busca avança-da por meio dos filtros. A tecla Ctrl do com-putador permite fixar as séries em cada ní-vel. O sistema avançado também permite digitar diretamente o nome da série. Por exemplo, ao se digitar PIB na janela série, aparecerão 74 séries para serem escolhi-das pelo usuário.

    Entre os ícones que aparecem na aber-tura do site, há o tutorial, onde se pode encontrar o mapa dos dados e um arqui-vo em PDF que apresenta o site de forma mais detalhada, com explicações de como acessar as informações. Há também três vídeos que explicam passo a passo formas diferentes de realizar a busca de dados.

    No site é possível também consultar os últimos números desta revista. Todo o conteúdo é livre e gratuito

  • 22 Materiais de construção – consumo e produção23 Mercado imobiliário24 Investimentos em habitação25 Rentabilidade do mercado brasileiro de imóveis comerciais26 Custo da construção residencial no Estado de São Paulo27 Preços de materiais de construção no Estado de São Paulo28 Emprego da construção por Estados29 Emprego da construção por Estados30 Emprego da construção brasileira por segmento31 Emprego da construção paulista por segmento

    ConstruçãoIndicadores da

    Lu S

    anto

    s

  • 22 DEZEMBRO 2011Conjuntura da Construção

    Materiais de construção – consumo e produção

    Período

    consumo de cimento vergalhões - brasil Produção brasileira

    de materiais de construção (índice: média

    de 2002 = 100)

    brasil são Paulo Produção consumo aparente

    mil t

    variação (%)

    mil t

    variação (%)

    mil t

    variação (%)

    mil t

    variação (%)

    No Mês no ano No Mês no ano No Mês no ano No Mês no ano

    2003 33.562 - -10,8 9.525 - -10,6 2.605 - -2,0 1.858 - -22,8 88,282004 33.923 - 1,1 9.129 - -4,2 2.718 - 4,3 2.145 - 15,5 94,472005 35.422 - 4,4 9.347 - 2,4 2.594 - -4,6 1.924 - -10,3 101,022006 40.775 - 15,1 10.520 - 12,6 2.982 - 15,0 2.283 - 18,6 100,542007 45.003 - 10,4 11.449 - 8,8 3.214 - 7,8 2.640 - 15,6 105,722008 51.358 - 14,1 13.446 - 17,4 3.746 - 16,6 3.435 - 30,1 100,972009 51.892 - 1,0 13.304 - -1,1 3.337 - -10,9 2.855 - -16,9 114,232010 59.735 - 15,1 14.475 - 8,8 3.763 - 12,8 3.603 - 26,2 122,352011 36.252 - 7,5 8.503 - 0,6 2.108 - 6,3 1.914 - 8,0 130,60

    2008 jul 4.821 14,5 16,1 1.283 12,3 20,6 347 16,2 17,1 311 7,8 33,1 130,69ago 4.625 -4,1 14,9 1.215 -5,3 18,3 375 8,1 20,1 338 8,7 34,4 130,50set 4.713 1,9 15,7 1.178 -3,1 18,1 369 -1,5 22,2 366 8,2 37,3 128,26out 4.822 2,3 15,2 1.283 9,0 17,9 414 12,3 24,8 369 0,7 37,3 132,22Nov 4.313 -10,6 14,3 1.155 -10,0 17,5 312 -24,7 22,3 257 -30,3 33,6 116,42dez 4.014 -6,9 14,1 998 -13,5 17,4 140 -55,1 16,6 200 -22,1 30,1 100,97

    2009 jan 3.961 -1,3 -2,1 990 -0,8 -3,5 240 70,8 -18,7 186 -7,3 -25,7 101,21Fev 3.588 -9,4 -2,6 943 -4,8 -5,2 241 0,8 -14,6 162 -12,5 -28,3 94,41mar 4.265 18,9 2,2 1.142 21,2 0,2 245 1,4 -16,8 208 28,0 -24,4 109,77abr 4.001 -6,2 0,9 1.092 -4,4 1,2 236 -3,5 -18,9 204 -2,1 -25,2 103,10mai 4.168 4,2 0,7 1.125 3,0 2,0 268 13,4 -17,5 219 7,7 -24,9 108,53jun 4.286 2,8 0,9 1.130 0,5 1,4 288 7,7 -15,1 235 7,2 -23,8 110,63jul 4.665 8,8 0,2 1.157 2,4 -0,5 286 -0,9 -15,5 256 9,0 -22,8 117,82ago 4.644 -0,4 0,2 1.183 2,2 -0,8 314 9,9 -15,6 279 8,8 -22,0 120,52set 4.672 0,6 0,1 1.155 -2,4 -0,9 316 0,5 -15,5 294 5,6 -21,7 120,15out 4.793 2,6 0,0 1.230 6,5 -1,3 360 14,0 -15,2 308 4,8 -21,0 125,80Nov 4.658 -2,8 0,8 1.178 -4,2 -1,0 319 -11,2 -13,7 273 -11,5 -18,9 121,62dez 4.190 -10,0 1,0 980 -16,8 -1,1 224 -29,9 -10,9 231 -15,5 -16,9 114,23

    2010 jan 4.336 3,5 9,5 1.053 7,5 6,3 311 39,0 30,0 260 12,7 40,1 111,84Fev 4.188 -3,4 12,9 1.063 0,9 9,5 305 -2,0 28,2 253 -2,7 47,4 108,52mar 5.129 22,5 15,6 1.311 23,4 11,4 317 4,0 28,7 318 25,4 49,4 131,52abr 4.581 -10,7 15,3 1.177 -10,2 10,5 322 1,6 30,6 304 -4,1 49,5 122,16mai 4.892 6,8 15,7 1.261 7,2 10,8 347 7,6 30,4 363 19,2 53,1 128,81jun 4.947 1,1 15,7 1.226 -2,8 10,4 341 -1,6 28,1 328 -9,7 50,4 126,19jul 5.217 5,4 15,1 1.214 -0,9 9,6 389 13,9 29,4 323 -1,4 46,2 128,85ago 5.486 5,2 15,5 1.335 10,0 10,0 300 -22,9 24,3 314 -2,6 40,9 133,40set 5.379 -2,0 15,4 1.296 -2,9 10,3 267 -11,0 19,2 308 -2,0 35,7 130,88out 5.286 -1,7 14,9 1.228 -5,2 9,1 341 27,8 16,1 300 -2,6 30,6 132,41Nov 5.257 -0,5 14,7 1.227 -0,1 8,7 299 -12,5 13,8 284 -5,3 27,9 130,87dez 5.038 -4,2 15,1 1.083 -11,7 8,8 222 -25,6 12,8 247 -12,9 26,2 122,35

    2011 jan 4.807 -4,6 10,9 1.059 -2,2 0,6 300 34,9 -3,7 294 18,7 12,8 118,8Fev 4.807 -0,0 12,8 1.135 7,2 3,7 344 14,7 4,5 306 4,3 16,8 121,8mar 5.093 5,9 7,7 1.194 5,1 -1,1 349 1,4 6,3 298 -2,8 8,0 130,6abr 4.893 -3,9 7,5 1.165 -2,4 -1,1 353 1,2 7,2 317 6,4 6,9 119,7mai 5.569 13,8 8,8 1.357 16,5 0,8 375 6,3 7,4 331 4,4 3,1 134,2jun 5.519 -0,9 9,3 1.289 -5,0 1,5 387 3,1 8,4 369 11,7 4,8 132,1jul 5.563 0,8 8,9 1.305 1,3 2,4 133,6ago 137,8set 136,0

    Fonte: SNIC, IABr e IBGE

  • DEZEMBRO 2011 23Conjuntura da Construç