personagem da cidade/entrevista
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Maria Emília BrumattiTRANSCRIPT
Colatina/ES, 15 de maio de 2011.
Blog do GAZ
PERSONAGEM DA CIDADE/ENTREVISTA
A colatinense Maria Emília Brumatti, 51 anos, tem suas raízes de pequena agricultora no
distrito de Boapaba, onde administra com mais sete irmãos um pequeno condomínio agrícola
que tem como destaque a cultura do abacaxi, permeada por pés de café e de algumas cabeças
de gado. Sempre voltada às questões do campo, Maria Emília é ligada às Comunidades
Eclesiais de Base (CEBs) da Igreja Católica e ao sindicalismo rural desde 1995. Filiada ao Partido
dos Trabalhadores - PT, cumpre mandato (2010/2013) de presidente do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Colatina (STR-Colatina), que abrange também os municípios de
Marilândia, São Domingos do Norte e Governador Lindenberg.
Nesta segunda-feira, dia 16, às 9 horas, ela estará em Brasília, na companhia de outros
diretores do sindicato e de milhares de camponeses de todo o País para participar da 16ª
MARIA EMÍLIA BRUMATTI
Texto e Foto Guilherme Augusto Zacharias
“Uma das grandes
reivindicações
deste ano é a
assistência técnica
aos agricultores”
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edição do mais importante evento dos trabalhadores rurais brasileiros: o Grito da Terra Brasil.
O movimento, lançado em 1995 pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
(Contag), conta também com participação das Federações dos Trabalhadores na Agricultura
(Fetags) e com os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais (STTRS). Milhares de pequenos
agricultores irão se reunir para cobrar do governo federal as reivindicações enumeradas nas
reuniões entre as entidades que representam os trabalhadores e os governos estaduais e
federal que antecedem ao encontro. Centrada em nove pontos, a pauta nacional de
reivindicações inclui ações emergenciais de combate à pobreza e à desigualdade no campo, o
fomento à geração de renda e à sustentabilidade econômica, social e ambiental, entre outras.
Antes de partir para a capital federal, Maria Emília falou ao Blog do GAZ sobre a expectativa
desse encontro, bem como de outras questões que envolvem os agricultores capixabas e
brasileiros em geral.
Blog do GAZ – Como o STR-Colatina se preparou para participar do 16º Grito da Terra Brasil?
Maria Emília – Começamos com o encaminhamento das nossas reivindicações ao governo do
Estado em abril; em seguida, tivemos várias reuniões com as secretarias de governo para saber
onde poderíamos avançar. No dia 1º de maio, Dia do Trabalhador, foi o fechamento, com uma
mobilização em Vitória.
Blog do GAZ – Houve algum avanço?
Maria Emília – Uma das grandes reivindicações deste ano é a assistência técnica aos
agricultores. Hoje a Incaper (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão
Rural) tem poucos técnicos agrícolas disponíveis, um pouco mais de 200; destes, 120 já estão a
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caminho da aposentadoria. Segundo a Secretaria de Agricultura, seria necessário, no mínimo,
um contingente de 400 técnicos para atender a demanda, principalmente da agricultura
familiar. O governo do Estado se comprometeu em abrir concurso até o final do ano, e nós
esperamos que a promessa seja cumprida.
Blog do GAZ – Além de técnicos agrícolas, quais são as outras demandas reivindicadas?
Maria Emília – Na pauta de reivindicações está também o aumento dos valores relativos ao
Pronaf Capixaba, que é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, do
governo federal, que o governo estadual implantou aqui, mas que ainda não está garantido em
lei. Nós estamos reivindicando que seja criada uma lei de reconhecimento do Pronaf Capixaba.
Isto vai garantir a continuidade do projeto, mesmo com a futura mudança de governo. O
secretário de Agricultura, Enio Bergoli da Costa, nos garantiu que já há uma equipe
trabalhando na formulação dessa lei, que será encaminhada ainda este ano à Assembléia
Legislativa.
Blog do GAZ – Hoje, qual é o valor repassado ao Pronaf Capixaba pelo governo do Estado?
Maria Emília – Atualmente cada município recebe em torno de R$ 200 mil,
independentemente do seu tamanho. É um recurso público que chega aos agricultores via
prefeitura, que por sua vez repassa esse valor aos grupos organizados: sindicatos,
cooperativas, associações... E nós estamos pleiteando o aumento desse valor porque existem
projetos que podem chegar, por exemplo, a R$ 500 mil.
Blog do GAZ – Onde são investidos esses recursos?
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Maria Emília – Alguns usam para comprar equipamentos, como caminhões para transportar
produtos agrícolas para as feiras e indústrias; outros, para comprar produtos de
beneficiamento de culturas como o café: um secador, uma máquina de pilar...
Blog do GAZ – Além das demandas voltadas para a política agrícola, como o crédito, o que
mais está presente na pauta de reivindicações?
Maria Emília – Melhorias na área social, como a política de saúde para os idosos, melhorias no
meio de transporte para a população em geral, a questão da violência doméstica contra as
mulheres, onde nós estamos pedindo a implantação de delegacias de mulheres e casas-abrigos
nos municípios... Nestes pontos, o governo do Estado acena com soluções em médio prazo.
Blog do GAZ – Como tem sido o relacionamento dos setores do campo com o governo do
Estado?
Maria Emília – Existe uma facilidade maior de entendimento com esse governo; com o Paulo
Hartung não foi difícil dialogar, mas nós já tínhamos uma identidade com o PT e o PSB, de
quem sempre fomos historicamente mais próximos, ainda que o PMDB seja um partido da
aliança com o governo de Renato Casagrande.
Blog do GAZ – Como a senhora vê a posição da chamada ‘grande imprensa’, que há décadas
aborda os movimentos sociais no Brasil como uma questão de polícia, sempre tentando passar
para a população que as ações reivindicatórias organizadas por parcelas excluídas da
sociedade são meros atos de baderna e banditismo, como as do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais sem Terra), por exemplo?
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Maria Emília – Os grandes veículos de comunicação, de um modo geral, não contribuem em
nada para que as diferenças sociais sejam diminuídas. Não fomentam o debate em torno das
causas sociais para tornar a população mais crítica na sua avaliação da realidade do País. Na
TV, por exemplo, os programas são feitos para que as pessoas não precisem pensar, dada a
banalidade de seus conteúdos. Mesmo nos noticiários, não há a preocupação em formar um
senso crítico no cidadão. Em relação aos movimentos sociais, muito menos ainda.