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Faculdade de Engenharia – NuGeo/Núcleo de Geotecnia Prof. M. Marangon
Mecânica dos Solos II – Edição 2018
COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO DOS SOLOS
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Capítulo 3 - COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO DOS SOLOS
3.1 - Introdução
Compressibilidade é uma característica de todos os materiais de quando submetidos
a forças externas (carregamentos) se deformarem. O que difere o solo dos outros materiais
é que ele é um material natural, com uma estrutura interna o qual pode ser alterada, pelo
carregamento, com deslocamento e/ou ruptura de partículas. Portanto, devido a estrutura
própria do solo (multifásica), possuindo uma fase sólida (grãos), uma fase fluída (água) e
uma fase gasosa (ar) confere-lhe um comportamento próprio, tensão-deformação, o qual
pode depender do tempo.
Define-se compressibilidade dos solos como sendo a diminuição do seu volume sob
a ação de cargas aplicadas.
Considere os exemplos de obras da Figura 3.1, que referem-se à construção de
aterros de grande extensão (carga distribuída com extensão muito maior que a
profundidade de subsolo). Ao executar os aterros há o lançamento de sobrecarga por sobre
o subsolo de cada um dos perfis de solo. A questão que se apresenta é: Como se
comportará estes solos quanto a deformação esperada ?
A Figura 3.2 ilustra a intensidade de carregamento para cada um dos casos.
Exemplos de Obras
Construção de aterro para extensão de pista
de aeroporto. H = 60m
Construção de aterro para implantação de via
de acesso. H = 4m
Imagens das obras
Formação geológico-geotécnico dos subsolos
Solo residual (Perfil de intemperismo) Solo sedimentar (aluvião argiloso)
Figura 3.1 – Exemplos de obras de aterros em Juiz de Fora-MG
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Seções transversais típicas
Sobrecargas aplicadas
σ = γ . Z = 18 . 60 = 1080 kN/m2
σ = γ . Z = 18 . 4 = 72 kN/m2
Figura 3.2 – Intensidade de carregamento para exemplos da figura 3.1
Sendo os solos compressíveis, característica de todos os materiais quando
submetidos a carregamentos externos se deformarem, pergunta-se:
Qual das situações apresentará maior RECALQUE (deformação) ?
Qual o condicionante que contribui significativamente para a ocorrência de
recalque, como no caso dos exemplos ?
Os carregamentos externos, como por exemplo, da construção de um aterro, são
transmitidas ao solo gerando uma redistribuição dos estados de tensão em cada ponto do
maciço (acréscimos de tensão), a qual irá provocar deformações em maior ou menor
intensidade.
A compressibilidade depende do tipo de solo, por exemplo: a compressibilidade
em areias (solos não-coesivos) devido a sua alta permeabilidade ocorrerá rapidamente,
pois a água poderá drenar facilmente. Em contrapartida, nas argilas (solos coesivos) a
saída de água é lenta devido à baixa permeabilidade, portanto, as variações volumétricas
(deformações/recalques) dependem do tempo, até que se conduza o solo a um novo estado
de equilíbrio, sob as cargas aplicadas. Essas variações volumétricas que ocorrem em solos
finos saturados, ao longo do tempo, constituem o processo de adensamento (GURGEL,
2018).
Definem-se então alguns conceitos importantes:
Compressão (ou expansão): É o processo pelo qual uma massa de solo, sob a ação
de cargas, varia de volume (“deforma”) mantendo sua forma.
Os processos de compressão podem ocorrer por compactação (redução de volume
devido ao ar contido nos vazios do solo) e pelo adensamento (redução do volume de água
contido nos vazios do solo).
Compressibilidade: Relação independente do tempo entre variação de volume
(deformação) e tensão efetiva. É a propriedade que os
solos têm de serem suscetíveis à compressão
Adensamento: Processo dependente do tempo de variação de volume
(deformação) do solo devido à drenagem da água dos
poros
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Para os exemplos das Figuras 3.1 e 3.2, apesar do “aterro de extensão de pista”
gerar um carregamento externo de 1080 kN/m2, muito maior que o da “via de acesso”, com
72 kN/m2, este segundo caso apresentará um recalque muito maior que o primeiro. Trata-se
de solo de “fundação” sedimentar argiloso, saturado, cuja compressibilidade é muito maior.
Neste caso, o “fechamento” dos vazios ocorrerá por fluxo de água que ocorrerá ao longo do
tempo, fenômeno típico de recalque por “adensamento”, a ser visto neste capítulo. No
primeiro caso é esperada deformação principalmente por saída de ar dos poros, considerado
como recalque “inicial ou imediato”.
3.2 – Compressibilidade dos solos
O solo é um sistema particulado composto de partículas sólidas e espaços vazios, os
quais podem estar parcialmente ou totalmente preenchidos com água. Os decréscimos de
volume (as deformações) dos solos podem ser atribuídos, de maneira genérica, a três
causas principais:
Compressão das partículas sólidas;
Compressão dos espaços vazios do solo, com a conseqüente expulsão da água (no
caso de solo saturado);
Compressão da água (ou do fluido) existente nos vazios do solo.
Para os níveis de tensões usuais aplicados na engenharia de solos, as deformações
que ocorrem na água e grãos sólidos são desprezadas (pois, são incompressíveis).
Calculam-se, portanto, as deformações volumétricas do solo a partir da variação do
índice de vazios (função da variação das tensões efetivas).
Em solos saturados (finos – elevado índice de vazios), a variação de volume é
devida à drenagem da água. Esta situação é verificada para o caso de ocorrência de argilas
sedimentares em que se tem S 100%. Estes solos se formam pelo transporte da água –
típicos de regiões “baixas” – topografia “plana”, em que o NA é elevado.
No caso de solos de formação não sedimentar, (formados no mesmo local da
rocha de origem) correspondente a situações de cotas mais “elevadas”, não se tem o NA
elevado, frequentemente se encontram não saturados. Desta forma não se esperam
adensamento destes solos, assim como em solos granulares que apresentam permeabilidade
elevada, não sendo submetidos ao processo de drenagem lenta como no caso dos solos
argilosos – “sujeitos ao efeito do adensamento”.
O fluxo (drenagem) da água no solo é governado pela lei de Darcy v = k.i a
variação de volume não é imediata, sendo função da velocidade com que ocorre o fluxo.
A compressibilidade de um solo irá depender do arranjo estrutural das partículas
que o compõe e do grau em que estas são mantidas uma em contato com a outra.
Variação de volume devido à variação das tensões efetivas
No caso do carregamento confinado a deformação volumétrica corresponde à
deformação específica vertical 0h
hV
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3.3 – Ensaio de adensamento ou de compressão confinada (oedométrico)
Dentre os parâmetros de compressibilidade que o engenheiro geotécnico necessita
para a execução de projetos e o estudo do comportamento dos solos, destacam-se a pressão
de pré-adensamento ’vm, o índice de compressão Cc, e o coeficiente de adensamento Cv.
A obtenção desses parâmetros se dá a partir da realização de ensaios de compressibilidade
do solo.
O estudo de compressibilidade dos solos é normalmente efetuado utilizando-se o
oedômetro, que foi desenvolvido por Terzaghi para o estudo das características de
compressibilidade e da taxa de compressão do solo com o tempo. A Figura 3.3 apresenta o
aspecto do recipiente do aparelho em que é colocada a amostra, utilizado nos ensaio de
compressão confinada.
A Figura 3.4 mostra a imagem de tubos “shelby” em câmara úmida (com amostra
interna de argila mole) e do equipamento de adensamento.
Figura 3.3 – Oedômetro utilizado nos ensaios de compressão confinada (de adensamento)
Figura 3.4 – Imagens de tubos “shelby” em câmara úmida e do equipamento de adensamento
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O ensaio de compressão oedométrica (também referido como ensaio de
compressão confinada ou ensaio de adensamento) é o mais antigo e mais conhecido para a
determinação de parâmetros de compressibilidade do solo. O ensaio consiste na
compressão de uma amostra de solo, compactada ou indeformada, pela aplicação de
valores crescentes de tensão vertical, sob a condição de deformação radial nula. As
condições de contorno estão apresentadas na Figura 3.5.
Figura 3.5 – Condições de contorno do ensaio de compressão confinada
O ensaio é realizado mantendo a amostra saturada (se for o caso) e utilizando duas
pedras porosas (uma no topo e uma na base) de modo a acelerar a velocidade dos recalques
na amostra e, conseqüentemente, diminuir o tempo de ensaio. Durante cada carregamento,
são efetuadas leituras dos deslocamentos verticais do topo da amostra e do tempo.
Procedimento do ensaio (resumido)
NBR 12007 MB 3336 (ABNT) – Solo – Determinação de Adensamento Unidirecional
Saturação da amostra (se for o caso)
Aplicação do carregamento
Leituras, geralmente efetuadas em uma progressão geométrica do tempo
(15s, 30s, 1min, 2min, 4min, 8min, ... 24hs), dos deslocamentos verticais do
topo da amostra através de um extensômetro
Plotar gráficos com as leituras efetuadas da variação da altura ou recalque
versus tensões aplicadas
A partir da interpretação dos gráficos, decidir se um novo carregamento
deve ser aplicado. Repetem-se os processos anteriores.
Última fase: descarregamento da amostra.
Seqüências usuais de cargas
(em kPa) : 10, 20, 40, 80, 160, 320, 640, etc
em geral são aplicados de 5 a 8 carregamentos podendo chegar a quase 2
semanas de ensaio
3.4 – Interpretação dos resultados de um ensaio de compressão confinada
Existem diversos modos de se representar os resultados do ensaio de adensamento.
A taxa de deformação do solo no início do ensaio é bem veloz, mas como o decorrer do
ensaio ela decresce. Depois de transcorrido o tempo necessário para que as leituras se
tornem constantes, os resultados de cada estágio são colocados em um gráfico, em função
do logaritmo do tempo. A curva de compressão do solo é normalmente representada em
função do índice de vazios versus o logaritmo da tensão vertical.
A deformação final (recalque) pode ser calculada em termos de índice de vazios, a partir
do ilustrado na Figura 3.6, como:
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O recalque é, portanto, o resultado do produto da variação do índice de vazios e da
altura de sólidos (Hs). Como Hs é constante, este valor pode se estabelecido em função das
condições iniciais da camada, conforme demonstrado na Figura 3.6.
Figura 3.6 – Subdivisão de fases de um solo e cálculo do recalque (GERSCOVICH, 2008)
Sendo 0h
hV então
e
eV
1
O valor do índice de vazios ao final de cada estágio de carregamento pode ser
obtido considerando-se a hipótese de carregamento confinado, a partir da relação da
deformação volumétrica com o índice de vazios:
Logo: 0
0
0 1. eh
hee f
Onde:
ef – índice de vazios ao final do estágio de carregamento atual
h – variação da altura do corpo de prova (acumulada) ao final do estágio
h0 – altura inicial do corpo de prova (antes do início do ensaio)
e0 – índice de vazios inicial do corpo de prova (antes do início do ensaio)
O índice de vazios inicial do corpo de prova (“e0”) pode ser obtido a partir da
relação:
e0 = - 1 = peso específico das partículas sólidas
s o s o = peso específico seco na condição inicial
Para a condição inicial da amostra, pode-se calcular o grau de saturação (“So”) a
partir da relação:
S0 = hi hi = teor de umidade na condição inicial
e0 e0 = índice de vazios inicial da argila
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Resultados do Ensaio
Os gráficos da Figura 3.7 mostram a representação dos resultados do ensaio de
compressão confinada.
Figura 3.7 – Representação dos resultados em termos de índice de vazios x tensão vertical
O valor da tensão a qual separa os trechos de recompressão e compressão virgem do
solo na curva de compressão do solo é normalmente denominado de tensão de pré-
adensamento, e representa, conceitualmente, o maior valor de tensão já sofrido pelo solo
em campo (no resultado mostrado na curva acima, se aproxima de 100 kPa). Corresponde
ao início do trecho virgem de compressão (em que se tem o comportamento linear do
índice de vazios com o log da tensão vertical aplicada).
Interpretação dos Resultados
Para o melhor entendimento de alguns conceitos do ensaio de compressão
confinada, analisaremos o exemplo dos gráficos da Figura 3.8 (resultados de ensaio
oedométrico realizado em uma argila normalmente adensada, com um descarregamento
no meio do ensaio e com tensão de carregamento inicial - 175 kPa - acima dos valores
correspondentes ao trecho não virgem), plotados no gráfico em escala semi-log (nota-se
que os resultados podem ser aproximados por dois trechos lineares) e no gráfico das
tensões em escala não logarítmica.
Figura 3.8 – Resultado do ensaio de adensamento de uma argila normalmente adensada
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Nota-se que a amostra foi comprimida, em primeiro carregamento, do ponto A até o
ponto B. Em seguida, sofreu um processo de descarregamento até o ponto D, para
finalmente ser recarregada até aproximadamente o ponto B, e novamente aplicado o
carregamento levou a amostra a atingir o ponto C.
A expressão primeiro carregamento significa que os carregamentos que ora se
impõem ao solo superam o maior valor por ele já sofrido em sua história de carregamento
prévia. É um conceito de grande importância, pois o solo (e todo material de
comportamento elastoplástico) guarda em sua estrutura indícios de carregamentos
anteriores. Assim, da curva apresentada na Figura 3.8, temos:
Trecho A-B: trecho de carregamento virgem, no sentido que a amostra ensaiada
nunca experimentara valores de tensão vertical daquela magnitude. Quando isto
ocorre, dizemos que a amostra está em níveis de tensões correspondente à condição
de “normalmente adensada (NA)”.
Trecho B-D-B (descarga/recarregamento): não é normalmente adensada, pois a
tensão a qual lhe é imposta é inferior à tensão máxima por ela experimentada (ponto
B), sendo classificado como solo “pré-adensado (PA)”.
Trecho B-C: apresenta um estado de tensão superior ao maior estado de tensão já
experimentado, sendo classificado como normalmente adensado.
A Tabela 3.1 apresenta um resumo do exposto anteriormente.
Tabela 3.1 – Comparação entre pressões atual ’v e máxima passada ’vm
PRESSÃO COMPORTAMENTO DA ARGILA
’v < ’vm Solo pré adensado (PA)
Deformações pequenas e reversíveis
Comportamento elástico
’v ’vm Solo normalmente adensado (NA)
Deformações grandes e irreversíveis
Comportamento plástico
Um outro exemplo que pode ser analisado refere-se a uma argila hipotética, cuja
relação índice de vazios em função da pressão de adensamento é indicada na Figura 3.9.
Esta argila foi adensada, no passado, segundo a curva tracejada na figura, até uma
tensão efetiva igual a aproximadamente o valor “3” – entre 2 e 4 (as tensões estão
indicadas por valores absolutos, independentes do sistema de unidades; 3 poderia ser 300
kPa, por exemplo). Veja que esta argila apresenta, atualmente (executado o ensaio de
laboratório), a curva de índice de vazios em função da tensão confinante indicada pela
linha contínua.
Considerando o nível de tensões de 4 a 8, estas tensões correspondem a valores
atuantes no solo argiloso na condição de argila normalmente adensada (ou seja, esta argila
ainda não tinha experimentado este nível de tensão, portanto não se pode atribuir à
condição de pré-adensada).
Considerando o nível de tensões de 0,5 a 2, estas tensões correspondem a valores
menores que a máxima tensão experimentada pelo solo (em sua história de vida –
geralmente atribuída a uma condição geológica do passado). Assim estes valores se
referem a uma condição de argila pré-adensada (ou seja, esta argila já foi submetida a valor
de tensão superior a estes valores).
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Figura 3.9 – Relação índice de vazios em função da pressão de adensamento
3.5 – Tensão de pré-adensamento
O valor da tensão a qual separa os trechos de recompressão e compressão virgem do
solo na curva de compressão do solo é normalmente denominado de tensão de pré-
adensamento, e representa, conceitualmente, o maior valor de tensão já sofrido pelo solo
em campo.
A determinação da tensão de pré-adensamento é feita por processos gráficos,
dentre os quais podemos citar o método de Casagrande e o método de Pacheco e Silva.
A) Método de Casagrande
Para a determinação de ’vm , segue-se os seguintes passos (Figura 3.10):
a) Obter na curva índice de vazios x logaritmo da tensão efetiva o ponto de maior
curvatura ou menor raio (R);
b) Traçar uma tangente (t) e uma horizontal (h) por R;
c) Determine e trace a bissetriz do ângulo formado entre (h) e (t);
d) A abscissa do ponto de intersecção, da bissetriz com o prolongamento da reta virgem
corresponde à pressão de pré-adensamento.
Figura 3.10 – Determinação da tensão de pré-adensamento por Casagrande
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B) Método de Pacheco e Silva
Para a determinação de ’vm , segue-se os seguintes passos (Figura 3.11):
a) Traçar uma horizontal passando pela ordenada correspondente ao índice de vazios
inicial;
b) Prolongar a reta virgem e determinar seu ponto de intersecção (p) com a reta definida
no item anterior;
c) Traçar uma reta vertical por (P) até interceptar a curva índice de vazios x logaritmo da
tensão efetiva (ponto Q);
d) Traçar uma horizontal por (Q) até interceptar o prolongamento da reta virgem (R). A
abscissa correspondente ao ponto (R) define a pressão de pré-adensamento.
Figura 3.11– Determinação da tensão de pré-adensamento por Pacheco e Silva
A Figura 3.12 ilustra a obtenção da tensão de pré-adensamento, para a mesma curva
obtida no ensaio de adensamento, pelos dois métodos apresentados.
Figura 3.12 - Tensão de pré-adensamento obtida por Casagrande e Pacheco e Silva
Efeito de amolgamento da amostra
A qualidade da amostra (Figura 3.13) a ser submetida ao ensaio de adensamento, no
que se refere ao seu possível amolgamento (perturbação) durante a sua coleta, transporte ao
laboratório ou ainda na sua preparação antes de ser submetida à prensa do oedômetro
(adensamento), influencia diretamente na qualidade dos resultados a serem obtidos.
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Moldagem de amostra indeformada para
ensaio de adensamento
Curva típica “e” x log tensão efetiva
(observe o efeito curvo na compressão)
Figura 3.13 – Moldagem de amostra e resultados típicos esperados (“e” x “log ’”)
A Figura 3.14 mostra resultados de ensaios para um mesmo material com diferentes
condições de amolgamento do corpo de prova. Observa-se o traçado diferenciado para a
mesma amostra, apresentando “com curva” a amostra indeformada de boa qualidade.
Figura 3.14 – Efeito do amolgamento de amostra, observado na curva “e” x “log ’”
3.6 – Determinação da condição de adensamento
história de tensões que “viveu” o solo
Em algumas situações de análise do comportamento dos solos em Engenharia
Geotécnica faz-se necessário determinar as condições de adensamento em que o solo se
encontra, ou seja, determinar a história de tensões que o solo já foi submetido.
A razão de pré-adensamento (OCR) de um solo é a relação entre a máxima tensão
efetiva vertical já experimentada pelo solo e a tensão efetiva vertical atual de campo, ou
seja, é a razão entre a tensão de pré-adensamento do solo (obtida em laboratório) e a sua
tensão efetiva vertical que atua hoje no solo, conforme ilustrado na Figura 3. 15. O OCR é
dado por:
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Vcampo
vm
Vcampo
VRCO'
max... , onde ’vm representa a tensão de pré-adensamento do solo
Ou ainda: '
0v
'
vmOCR razão de pré-adensamento (“overconsolidation ratio”)
Se OCR > 1 solo pré-adensado (ou sobre adensado)
Se OCR = 1 solo normalmente adensado
Se OCR < 1 solo sub-adensado (solo em processo de adensamento).
Figura 3.15 – Valor da tensão efetiva vertical in situ, que atua hoje no solo
As argilas sedimentares se formam sempre com elevados índices de vazios (são
solos muito compressíveis). Quando elas se apresentam com índices de vazios baixos,
estes são conseqüentes de um pré-adensamento. Em virtude disso, uma argila, com
diferentes índices de vazios iniciais apresentarão curvas tensão-deformação, após atingirem
a pressão de pré-adensamento correspondente, “fundidas” em uma única reta virgem.
Consequentemente a isto, tem-se que o comportamento de uma argila é
altamente dependente do índice de vazios em que ela se encontra, que é fruto das
tensões atuais e passadas, e da estrutura da argila. Assim o comportamento destes solos
é determinado pelas tensões efetivas que estiveram submetidos em relação ao nível de
tensão que se apresenta hoje, no material.
O valor da razão de pré-adensamento pode influenciar na determinação dos
diversos parâmetros que expressam o comportamento dos solos, como, por exemplo no
cálculo do coeficiente de empuxo no repouso K0 (relação entre as tensões efetivas
horizontal e vertical, a ser estudada no Capítulo 06 neste curso), representado pela equação:
'
v
'
h
0K
Para argila normalmente adensada (OCR = 1)
'sen95,00K equação empírica
Para argila pré-adensada (OCR > 1) '
0 .'95,0 senOCRsenK equação empírica
A expressão é função do parâmetro ’ - ângulo de atrito do solo, parâmetro
relacionado à resistência ao cisalhamento do solo, conforme será também estudado
posteriormente neste curso (Capítulos 04 e 05).
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3.7 – Parâmetros de compressibilidade por compressão primária
Realizado o ensaio de adensamento tem-se, a partir das curvas obtidas em função da
tensão efetiva vertical ( ’v) (plotado com log ou não) os coeficientes (compressibilidade -
Figura 3.16 e compressibilidade volumétrica - Figura 3.17), o Módulo de Elasticidade
oedométrico (Figura 3.17) e os índices (compressão, expansão e recompressão) - Figura
3.18:
- Coeficiente de Compressibilidade av
Figura 3.16 – Obtenção do coeficiente av, na curva ’v x e
- Coeficiente de Compressibilidade Volumétrica mv e Módulo Oedométrico E oed
Figura 3.17 – Obtenção do coeficiente mv e do módulo Eoed, na curva ’v x εv
- Índices de compressão (Cc), expansão (Cs) e recompressão (Cr)
Figura 3.18 – Obtenção dos índices Cc, Cs e Cr, na curva log ’v x e
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Podem-se se distinguir nesse gráfico, três partes distintas:
O primeiro trecho representa uma recompressão do solo, até um valor característico
da tensão de pré-adensamento ( ’vm). Tal reta apresenta um coeficiente angular
denominado índice de recompressão (Cr).
Ultrapassando o valor de ’vm o corpo de prova comprimi-se, sob tensões
superiores a esta, corresponde ao trecho reto do gráfico - reta virgem de adensamento. Tal
reta apresenta um coeficiente angular denominado índice de compressão (Cc).
O terceiro trecho corresponde à parte do ensaio, quando o corpo de prova é
descarregado gradativamente, e pode experimentar ligeiras expansões, denominado índice
de expansão (Cs).
São determinados pelas expressões a seguir apresentadas:
- Índice de Compressão, expansão ou recompressão: Cc = Cs = Cr = e
log ’v
Observa-se poder escrever:
vi
vf
if
rSC
eeCCC
log
E ainda: e = Ci . log ’v = Ci . vi
vflog
Esta última expressão, que corresponde à variação do índice de vazios ( e) é
extremamente útil para o cálculo de “recalques” como será visto.
3.8 – Recalque Total por Compressão Primária
O recalque primário ocorre durante o processo de Adensamento e equivale à
variação de altura da camada de solo, a qual pode ser representada pela variação da altura
de vazios, como visto no item 3.4:
Sendo:
(∆H) – valor do recalque do solo, em relação à superfície (referência)
e – variação do índice de vazios correspondente à nova tensão aplicada
e0 – índice de vazios inicial do solo
H0 – altura inicial da camada de solo compressível (ou da camada de solo para a
qual se quer calcular o recalque)
O valor acima pode ser expresso em função do índice de compressão “Cc” e/ou do
índice de recompressão “Cr” e da diferença dos logs das tensões efetivas consideradas
(igual “log” da divisão de tensões), bastando substituir o valor da diferença dos índices de
vazios, como se vê nas expressões apresentadas, dependendo de cada caso.