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04 - Editorial: Paulo Rocha06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Opinião: D. Manuel Clemente16 - A semana de... Octávio Carmo18 -Entrevista: D. António Carrilho30 - Dossier 500 anos da Diocese do Funchal

44 - Internacional52 - Estante54 - Agenda56 - Por estes dias58 - Programação Religiosa59 - Minuto YouCat60 - Liturgia62 - Fundação AIS64 - Lusofonias66 - Opinião: Manuel de Lemos

Foto da capa: DRFoto da contracapa: Agência ECCLESIA

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,.Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

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Opinião

Novo bispo chegaa Aveiro[ver+]

Misericórdia nocoração da Igreja[ver+]

500 anos daDiocese doFunchal[ver+]

Paulo Rocha | D. Manuel ClementeManuel Barbosa | Tony NevesManuel de Lemos

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Periferias

Paulo Rocha, Agência ECCLESIA

O Papa Francisco colocou no palco principal dosdebates sobre a missão da Igreja Católica naatualidade o tema das periferias. São recorrentesos apelos à “saída” para junto das “periferiasexistenciais e geográficas” e, no documentoprogramático para este pontificado, a ExortaçãoApostólica “A Alegria do Evangelho”, Franciscorefere-se em nove ocasiões à(s) “periferia(s)”. OPapa centra nesse imperativo missionário aprincipal atitude de quem é hoje portador da “luzdo Evangelho”.O escrutínio sobre o que já é passado comprovareiteradamente que opções prioritárias pelo queaparentemente é marginal consolida o percursoe a ação de pessoas e instituições. Estão aí osprincipais capítulos das suas histórias, escritoscom ousadia, desinstalação e determinação noromper com comportamentos acomodados. Masa produzir rapidamente efeitos positivos. Paraquem os inaugura e no ambiente ondeacontecem.O tema pode emergir, no contexto atual, comoresposta verbal a um desafio do Papa Francisco,referenciado com frequência, citado e atéaplaudido.

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Mas menos, muito menos, serão ascircunstâncias em que o vemos aacontecer, refugiados muitas vezesna dificuldade em descobrir ascircunstâncias em que podem ser ovetor principal de umprojeto pessoal ou institucional.Bastará dar o primeiro passo enunca olhar situações inesperadascomo o limite, mas o limiar.A História ensina que a atitudeagora lembrada pelo PapaFrancisco está na origem de muitosfeitos. Foi “em saída” que seconheceram novos mundo, seconstruíram projetos inovadores eaconteceu o melhor que o mundotem!As comemorações dos cincoséculos da criação da Diocese doFunchal e a realização doCongresso “A Primeira DioceseGlobal” estão a ser uma ocasiãopara novos encontros com arealidade madeirense,nomeadamente a que documentamo alcance do que aparentementepode parecer periférico.

A Madeira foi ponto de passagem denavegadores e comerciantes paranovos mundos. Por lá passou aprimeira globalização, em latitudesde rotas mercantis e sobretudo detransmissão de experiênciashumanas e de valores pelas vagasdos oceanos.Criada em 1514, a diocese doFunchal deixou para a História aprimeira experiência de organizaçãodas comunidades crentes nosterritórios “descobertos e adescobrir”, tendo por sede uma ilhasituada no meio do Atlântico e quese estendia, dessa forma, até àAmérica Latina, África e Ásia.Aparentemente periférico, oArquipélago da Madeira tornou-se ocentro. E assim acontece, outroracomo hoje, cada vez que umaporção de terra, nestas ou noutrasilhas, é bastante para ser ponto departida para outras periferias.Porque estar rodeado pelo mar ouchegar à ponta de uma ilha não é olimite, mas o limiar…

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Americanos recordaram vítimas do atentado terrorista ao World TradeCenter, em Nova Iorque, cometido a 11 de setembro de 2001 © Chang W.Lee /AFP

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- “Nestes tempos, em que a situaçãointernacional contra o terrorismo éainda muito complexa e estamoslonge de ter acabado com estegrave problema, que nos oferecenovas ameaças e novos desafios, éhora de cooperarmos uns com osoutros”.Porta-voz do Ministério dosNegócios Estrangeiros da China,Hua Chunying, sobre a situaçãono Iraque, Jornal de Notícias,11.09.2014 - “Posso garantir aos portuguesesque não aumentarei a carga fiscal, oIRS, o IRC, o IVA (…) nemsurpreenderei os portugueses,como os últimos quatro primeiros-ministros. Nós temos que honrar apalavra”. António José Seguro- “Os portugueses o que pedemnem é menos ritmo nem menosdose, é um caminho diferente ealternativo. E o PS foi somandosinais equívocos. Por exemplo,absteve-se na Assembleia daRepública nas propostas para oaumento do salário mínimonacional”. António CostaExcertos da entrevista aos doiscandidatos às eleições primáriasdo PS, TVI, 09.09.2014

- “Perto de 700 crianças forammortas e mutiladas no Iraque desdeo início deste ano, incluindo emexecuções sumárias”.Denúncia feita por LeilaZerrougui, representanteespecial das Nações Unidas paraas crianças e os conflitosarmados, Lusa, 08.09.2014 - Não queremos pôr o Estado adizer às pessoas para terem maisfilhos, o que queremos é remover osentraves às famílias que querem termais filhos e não veem condiçõespara os poder gerar “.Primeiro-ministro português,Pedro Passos Coelho, sobre umaestratégia dedicada à natalidadeque o Governo vai apresentaraté ao final de setembro, RádioRenascença, 7.09.2014

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Novo bispo de Aveiro apresenta-secomo homem do terrenoO novo bispo de Aveiro, D. AntónioMoiteiro, que vai tomar posse eentrar solenemente na diocese, emcerimónias no sábado e domingo,falou à Agência ECCLESIA do seupercurso de descoberta da vocaçãosacerdotal, as dúvidas e incertezasdeste chamamento e a importânciado seu trabalho como pároco naatual missão episcopal.“Neste momento e após dois anoscomo bispo auxiliar em Braga sintoque ter estado no seminário, dezanos como diretor espiritual, etambém ter sido pároco deparóquias grandes e ruraispequenas deram-me uma visãobastante fiel da realidade dasnossas dioceses o que ajuda defacto na missão e no exercício doministério episcopal”, revelou.Na Arquidiocese de Braga, oprelado visitou 114 paróquias e játinha planeado visitas a mais doisarciprestados, antes de sernomeado bispo de Aveiro. “Éevidente que para além da amizadecom os sacerdotes também procureifazer amizade com muitos leigos nasvisitas pastorais e uma preocupaçãoque tinha era dar continuidade àsvisitas”, explicou

o bispo que em várias paróquias,depois da missa crismal, deu início a“grupos de jovens”.Ao bispo que não se considera “demaneira nenhuma um intelectual”mas “um homem do terreno, dapastoral” que tem de ser feita comas pessoas é reconhecida acaracterística da proximidade.O novo bispo da Diocese de Aveiro,para além da licenciatura emTeologia, de uma licenciatura emCiências Religiosas e Catequéticatambém fez um doutoramento emTeologia Pastoral, “baseada noscatecismos desde 1952 até aos de1993”, na sequência do trabalhodesenvolvido na elaboração doprograma nacional de catecismos.Este sábado, D. António Moiteirotoma posse canónica numacerimónia privada junto ao Túmulode Santa Joana Princesa, perantedo Colégio dos Consultores, às11H00, e no domingo a celebraçãoeucarística que assinala a entradasolene realiza-se às 16H00 naCatedral de Aveiro.Foi vigário paroquial e com outrosacerdote desempenhou as funçõesde pároco: “Nunca vivi sozinho

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como padre e enquanto pároconunca estive sozinho. Sempreformamos uma comunidade de doisou três sacerdotes que tínhamosvárias paróquias”.Com lema episcopal ‘É preciso queJesus reine’ que retomou do“venerável D. João de OliveiraMatos”, bispo auxiliar da Guarda,cujo processo de beatificação está adecorrer na Santa Sé, D. António

Moiteiro revela que “foi algonatural” lembrar-se deste “servo deDeus” para viver este ministério.“O estilo dele das visitas pastoraistambém procurei que passasse paraa minha vida de bispo e possoafirmar que há uma semelhançamuito grande”, assinala o tambémvice-postulador desta causa decanonização.

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Por uma sociedade novaO arcebispo de Braga e presidenteda Comissão Episcopal da PastoralSocial afirmou que os católicos têmde estar presentes no mundo dapolítica e na praça pública, paraconstruir uma “sociedade nova”. “Háquem diga que a Igreja não podefazer política e use este argumentopara impedir que ela intervenha nosproblemas reais das pessoas, masela nunca será fiel ao seu fundadorse não for capaz de edificar Reinoatravés de palavras e de diversasiniciativas e de colaborar com todasas forças do bem presentes nasociedade”, disse D. Jorge Ortiga,em Fátima, no 29.º Encontro daPastoral Social, que hoje seconcluiu.O arcebispo primaz sustentou que aIgreja é chamada a pronunciar-sesobre as “situações complexas davida hodierna”. “O Evangelho nuncaserá Boa Nova sem esta visibilidade.Ele não pode ser colocado comodoutrina que favorece simplesmeditações intimistas, tem umaforça orientada para gerar umasociedade nova”, observou.O presidente da ComissãoEpiscopal da Pastoral Social eMobilidade Humana disse que alémda construção deste “mundo novo”,

é necessário denunciar as“negações da humanidade” e fazercom que “as forças da discriminaçãoe da opressão não impeçam afelicidade dos mais vulneráveis”.“Sair ao encontro das pessoas edos problemas que as afetam équanto o Papa Francisco nosdesafia. Ele não se contenta com osformalismos entrincheirados narotina que não vê e que passa aolado”, prosseguiu.D. Jorge Ortiga mostrou-se contrárioa uma “perspetiva legalista” erealçou que ninguém se deixafascinar por uma “caridade porreceita”. Nesse sentido, o arcebispode Braga deixou votos de que amensagem católica ajude à“contínua transformação” dasociedade e à “promoção inclusiva”das pessoas.

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Educação Cristã propõe alegriaem tempos de desânimoA Comissão Episcopal da EducaçãoCristã e Doutrina da Fé (CEECDF)convidou as comunidades católicasdo país a apresentarem amensagem de Jesus como umaproposta de “alegria” face a temposde “desânimo” em Portugal. “Narealidade, vivemos tempos dedesânimo, de tristeza e deresignação. Estes sentimentosestão relacionados com o forteindividualismo e consumismo danossa cultura. Abundam osdivertimentos mas escasseia aalegria interior e profunda”,assinalam os bispos na suamensagem para a Semana Nacionalda Educação Cristã que vaidecorrer de 27 de setembro a 5 deoutubro, com o tema ‘A Alegria deanunciar Jesus Cristo’.O documento convida a “educar naalegria da fé”, apresentando oEvangelho como “o caminho parauma vida plena e feliz”. “Oferecem-se hoje muitos bens da técnicamoderna que distraem, preenchemo tempo e os interesses imediatosmas alienam da vida real e criam ummundo próprio em que cada um sefecha e se isola dos outros”, alerta aCEECDF.A educação cristã, realça amensagem, incentiva cada um “asair de si para

a realidade, para o mundo, para osoutros, para Deus”. Os bispossublinham que a família é “oprimeiro lugar de educação humanae cristã”, que leva a superarproblemas como “o individualismo, aindiferença e a dispersão”.O documento fala ainda na“importância essencial da Escola” e,em particular, da disciplina deEducação Moral Religiosa Católica(EMRC) como “fonte de formaçãohumana e cristã”.A Comissão Episcopal conclui comuma reflexão sobre o papel dascomunidades cristãs e das suascelebrações no “ensino da memóriada fé da Igreja”, que passa pelo“encontro e experiência” vividos naliturgia e na piedade popular e pela“prática da solidariedade”.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt

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Conferência Episcopal solidária com cristãos do Iraque

Homenagem aos membros da delegação da Santa Sé na Comissão Paritáriada Concordata

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A dimensão social da evangelização(Uma leitura do capítulo quarto da Exortaçãoapostólica Evangelii Gaudium)

D. Manuel ClementePatriarca de Lisboa

Poderia alguém perguntar por que razão dedicao Papa Francisco uma parte substancial da suaexortação apostólica aos problemassocioeconómicos. Persistem, efetivamente,pessoas e grupos, por vezes com traduçãopolítica forte, a julgarem ainda que, se restaralgum campo à religião, será apenas paraconvicções e sentimentos tão íntimos comodesencarnados. Quando muito, com expressãopública simbólica, atuação cultural pouco mais doque folclórica e aplicação social que não passe aassistência aos necessitados, no sentido fracodos termos...Por outro lado, o século XX assistiu à falênciadas ideologias que, dum modo ou doutro, semprepretenderam mudar radicalmente a sociedade apartir de reflexões, análises e propostas que,politicamente ativadas, renovariam certamente omundo, mesmo sem excluir a violência contraquem resistisse a tal novidade.O Papa Francisco, por seu lado, estáprofundamente convicto de que, vistas as coisasa partir de Cristo, a dimensão social da religião –isto é da ligação a Deus e a tudo e a todos apartir de Deus – é fundamental e indispensável.Di-lo com particular força expressiva: «Oquerigma possui um conteúdo inevitavelmentesocial: no próprio coração do Evangelho,aparece a vida comunitária e o compromisso comos outros. O conteúdo do primeiro anúncio temuma repercussão

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moral imediata, cujo centro é acaridade» (Evangelii Gaudium, 177).(Diga-se, a propósito que éarbitrária a distinção, por vezesouvida, entre caridade esolidariedade, ou filantropia. Não setrata de distinção, mas deradicalização, pois a caridade incluiessoutros sentimentos, levados aoponto em que Cristo os viveu - e emque nós os podemos viver “noEspírito de Cristo”.) (…)Concluamos que o capítulo quartoda exortação do Papa Francisco éum convite insistente aconsiderarmos a verdade operativada nossa interdependência radical,pois somos frágeis e devemos serhumildes e acolhedores dafragilidade dos outros – e até daprópria “fragilidade” de Deus, comoem Jesus se revela. Assim tomada,a pobreza compartilhada converte-se em riqueza que chegará esobrará. Toda a lição bíblica vainesse

sentido, concluindo-se na Páscoade Cristo, que sobejamente retomoua vida que inteiramente doou. E acrise mundial evidencia-nos que ocontrário disso tem consequênciastremendas de miséria e frustração.Ligando muitas décadas demagistério papal, quase podemosdizer que, assim como Leão XIII, em1891 (Rerum Novarum), propunhauma sociedade de pequenosproprietários, em que cada umtivesse o suficiente para garantir aliberdade e a subsistência própria edos seus, Francisco, em 2013(Evangelii Gaudium), nos propõeuma sociedade em que ainterdependência geral, assumida ecorrespondida, nos faça realmentesolidários.

Fátima, XXIX Encontro da PastoralSocial, 9 de setembro de 2014

Texto na íntegra

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Em busca da memória

Octávio Carmo,Agência ECCLESIA

A semana noticiosa ficou marcada, para além doclima tropical, pela estreia dos debates entre oscandidatos à liderança do Partido Socialista,tendo em vistas as próximas eleições legislativas.Aparentemente, o formato não ajuda a uma trocaesclarecida de pontos de vista sobre osrespetivos projetos políticos, mas na verdade oque mais perturba a comunicação é a buscaincessante pelo ‘soundbite’, pelo título dosjornais no dia seguinte, pela frase que maisfacilmente possa ser partilhada nas redessociais. Num tempo comunicacional porexcelência, é paradoxal que seja cada vez menoro peso das palavras ditas para ficar e não paracorrer… Como é possível ler nesta edição, o trabalho dosúltimos dias passou de forma muito atenta pelascelebrações dos 500 anos da Diocese doFunchal. Um olhar histórico, que sublinha aimportância estratégica desta comunidade cristãpara o projeto de expansão portuguesa - doponto de vista religioso, certamente, mas tambémeconómico e cultural - e uma análise atentasobre a atualidade da Igreja neste arquipélago,que projeta o futuro. Sendo natural da Madeira,tive sempre interesse em conhecer este trajeto,com recurso ao contributo valioso de sacerdotes-historiadores como Fernando Augusto da Silva,Eduardo Clemente Nunes Pereira ou GasparFrutuoso, para além das humildes memórias enotas que muitos párocos foram redigindo nassuas igrejas, em “memórias” que se estendem aolongo dos séculos.Esta atenção serve também como tributo

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a quem, “entre a rocha dura”, comodiz o hino da Região Autónoma,construiu uma nova sociedade,numa luta aparentemente desigualcontra a natureza e o isolamento. Aprofunda religiosidade doshabitantes do arquipélago foi umaforça interior que os ajudou asuperar as dificuldades sem perdera esperança. A busca por esta “vida melhor”,expressão referida em muitosdocumentos relativos à emigraçãomadeirense, levou dezenas demilhares, ao longo dos últimos

dois séculos, a rumar para outrasregiões, algumas tão improváveiscomo o Havai ou Demerara. Viagensque, noutros tempos, eram umaverdadeira aventura nodesconhecido. É difícil esconder oespanto perante a decisão de quempartia para provavelmente nuncamais voltar. A história da Diocese doFunchal também é isto: a presençados seus filhos nos cincocontinentes, com a sua marcaprópria, levando consigo uma fé euma força nascidas do mar e damontanha.

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D. António Carrilho, bispo do Funchal

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Madeira: 500 anos de uma dioceseglobal, evangelizadora e departicipaçãoAgência Ecclesia (AE) – QueBalanço é que faz das celebraçõesque têm decorrido por ocasião dos500 anos da constituição daDiocese do Funchal?D. António Carrilho (AC) –Aapreciação que nos chega ébastante positiva nos diversosâmbitos e setores tanto da parte demuitos sacerdotes, como da partedos bispos que aqui estiveram epartiram e deixaram uma palavra demensagem, como da parte da nossagente que se cruzando connosco seaproxima, felicita e alegra pelo modocomo tudo decorreu.Eu alegro-me e dou graças a Deuspor aquilo que foram estascomemorações e até por aquilo queelas significaram em termos públicose sociais. Foram comemoraçõesque tiveram três celebraçõesreligiosas realmente marcantes, oPentecostes, o dia 12 de junho, diada assinatura da bula (‘Pro ExcelentiPraeminentia’ do Papa Leão X) dadiocese, como no dia 15 a grandeassembleia jubilar. Portanto, foramtrês assembleias, três celebraçõesnucleares

e muito participadas.Depois a preocupação de serpresença social e cultural. Fizemostrês concertos com muita qualidadee muita mensagem, a publicação deum livro que sobre a diocese, aedição filatélica com seis selos, emparceria com os Correios dePortugal (CTT), que ficam aassinalar esta data em aspetosimportantes porque as imagens queforam escolhidas são integradasnestes 500 anos desde o seu início,como a Bula ou a vinda do PapaJoão Paulo II, que foi um grandemomento histórico e eclesial danossa diocese.Nestes diversos aspetos, como naexposição de arte sacra tambémquisemos trazer 500 anos dehistória em 56 peças selecionadascom muito cuidado e que fossemsignificativas do desenvolvimento dafé da nossa gente ao longo destetempo, assim expresso com amor,dedicação e generosidade em obrase arte que espelham aquilo que foi ocrescimento da fé, das devoções eda vivência das própriascomunidades.

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AE – Foi uma oportunidade dadiocese dar-se a conhece melhor àsociedade?Em parte sim, porque não ocultamosnada e procuramos ser umapresença ativa e interventiva nasociedade, com as pessoas aintervirem, cada uma aos seusdiferentes níveis, nas suasdiferentes posições. Um dos meuslemas das preocupações eprincípios pastorais é o dacorresponsabilidade e participação,esta consciência que o bispo não étudo. Não é o bispo com os padrese com religiosos, a Igreja somostodos nós e por isso mesmo, cadaum no seu posto tem de assumir assuas responsabilidades. O bispotem responsabilidades que sãodele, que as assuma, os sacerdotestêm responsabilidades que sãodeles, que as assumam mas nãopodemos prescindir nem dosreligiosos nas suas posições, nemsobretudo dos leigos nestapresença social.O Papa Francisco, na linha do quevinha de trás, com a autoridade quetem, diz que é preciso que cada umassuma as responsabilidades naspróprias famílias, nos grupos, nasociedade, na ação social e política.Quer dizer, o cristão onde está temde ser cristão e a Igreja está comele e ele está na Igreja, assimrealmente

se reflita a grande mensagem daIgreja que é a sua mensagem social.Gosto de sublinhar este aspetoporque muitas vezes olha-se amensagem da Igreja como ocatecismo doutrina mas há umsegundo catecismo, consequênciassociais da doutrina que éexatamente o catecismo social. Osprincípios de ordem humana, osvalores da ética e o compromissosocial são princípios essenciais eque tornam a Igreja presenteatravés da totalidade e das diversasresponsabilidades dos seusmembros. AE – Na semana jubilar contaramsempre com entidades políticas,culturais, no fundo representantesda sociedade civil. Esta presença éfruto das boas relações que seestabelece entre Igreja e Estado,Igreja e a Cultura e a Igreja e aSociedade?AC – Existe um princípio que sempredefendi e na minha entrada afirmei,que foi o princípio da autonomia eda cooperação. Autonomia emrelação a todas as instituiçõespúblicas e privadas que nós temosde respeitar uns aos outros nanossa natureza, nos nossosobjetivos ma quando está em causao bem-comum temos de cooperar. Aboa articulação

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e a boa cooperação têm de fazer-secom todos na linha do bem-comume por isso mesmo nó tivemos destavez como sempre a preocupação decriar espaço e aberturaprecisamente para quem quiserparticipar. Evidentemente, nãopodemos esquecer aresponsabilidade

daqueles que tendo sido eleitos têmuma especial representatividade dopróprio povo e respeitando-nos unsaos outros, nos nossos objetivos, ena nossa natureza damos as mãos equeremos dá-las com todos parabem dom nosso povo.

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AE – Qual é o papel do bisponestes novos tempos, no séculoXXI?AC – É ser pastor, sendo muitodireto. O bispo tem de ser pastorque significa, olhando para Cristo obom pastor ser aquele que tornaJesus próximo de todos como Eleesteve próximo. Diz que Eleconhecia as suas ovelhas e queelas que o Conheciam, que estavadisposto a dar a vida por elas, eaquilo que tinha para lhes dar eracorresponder às suas

necessidades fundamentais,satisfazer as suas sedes, satisfazera necessidade de alimento paraprosseguir um caminho de vida comaquela força espiritual eunaturalmente terá que poderusufruir. Portanto, a presença de umbispo numa diocese, e o PapaFrancisco tem falado nisso muitasvezes, é exatamente o ser pastoratento, o ser pastor queacompanha, que se dá conta dasnecessidades, que não prescindede anunciar os

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valores que são aqueles que brotamdo Evangelho de Jesus, aliás, Elesempre o fez, nunca calou aquiloque tinha para dizer, tinhaprincípios, valores a anunciar edava-se por eles.A responsabilidade de um bispo éfundamentalmente esta, por isso éimportante um bispo próximo, aspessoas vêm isso no Papa ealegram-se com essa proximidade.Nós queremos estar próximos comuma palavra acessível, uma palavrade resposta, mas que se assumaexatamente naquilo que é específicoe é próprio. As responsabilidadessão participadas e partilhadas,evidentemente que o bispo nãopoderá fazer tudo nem a Igreja sedeve confundir com o bispo. O lugardo pastor é de pastor mas há lugardaqueles que acolhendo a palavra,deixando-se conduzir por elatambém com o bispo vão dando avida e é nesta comunhão comocorpo que é a Igreja que a nossamissão se vai realizando. AE – Qual a importância daformação cristã das comunidadesmadeirenses?AC - A questão da pastoral, daformação, do esclarecimento,

aprofundamento e transmissão da fée aqui na Madeira éfundamental porque estamos numasociedade não só pluricultural masmulticultural e religiosa pelacircunstância até de um turismo quecria mobilidade e traz por aquimilhares e milhares de pessoas e anossa gente está constantementeem relação com outras ideias,costumes e perspetivas de vida. E,portanto, queremos pessoas quetenham os seus próprios critérios,que tenham a sua formação própriaporque hoje as pessoas têm de agirem termos religiosos numa linha defé, como alguém que tem razões dasua fé e da sua esperança e crêconscientemente. Não é uma razãode costumes somente, embora astradições tenham muita força e nãodeixem de ter de um momento parao outro, e é bom que as tradiçõescontinuem a aflorar valores e aajudá-los até a repensar. Semdúvida nenhuma que queremos quecada um assuma conscientementeas suas próprias posições, otestemunho da sua fé porque sóisso é que se pode tornar positivo.Não é por costume, não é portradição mas é porque creio e assimo testemunho.

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AE – É uma educação na fé daprópria religiosidade popular?AC – Sem dúvida nenhuma quetemos de partir daquilo que temos eesclarecer e enriquecer em termosde projeto de vida cristã o que noschega como tradição. Existemtradições muito bonitas, que podemser enriquecidas e temosresponsabilidade de o fazer mas emtoda a Igreja esta preocupaçãoexiste ou deve existir porque atradição forma-se ao longo dostempos, entra numa prática quepode em algumas situações tornar-se rotineira, porque é o costume, éo que se faz, mas dar o sentidodaquilo que se faz e porque é quese faz em termos práticos econcretos das nossas tradições éfundamental. O esclarecimento, oaprofundamento e a transmissão dafé é exatamente nesta linha.Depois, é evidente que preocupa-me, e gostaria de chegar com muitoempenho, as famílias para quepossam quês e possam apresentarcomo verdadeiras famílias cristãsdentro do projeto da Igreja.Portanto, unidos pelo sacramentodo matrimónio, com as graçaspróprias desse sacramento ecaminharem para a comunhão devidas ao serviço da

vida mas ao serviço da felicidadedas próprias pessoas. Eu costumodizer que sobre a família muito jáestá escrito mas espero que muitomais se venha a escrever atravésdo sínodo dos bispos, em outubro.Em relação à família nós temos apreocupação de olhar a nossarealidade, do país e a dinâmica daIgreja universal, portanto existemprincípios que assumimos mas semnos deligarmos do que são osdinamismos, seja um projeto daConferência Episcopal Portuguesaou um projeto a partir do Papa. E oquestionário (preparatório dapróxima assembleia sinodalextraordinária sobre a família)envolveu-nos e esperamos dele.A Igreja e nós temos estapreocupação e queremos responderaos problemas das nossas famílias,dentro do possível, e apelamos queas famílias cristãs, alegres e felizes,deem este testemunho que valemais do que tudo aquilo que sepossa dizer como princípio, comoleitura ou reflexão porque é otestemunho concreto.Uma questão fundamental é avertente social. Nós felizmentetemos em grupos organizados, enão corresponde a toda a pastoral

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social porque existe muita atividadede presença, de apoio, de caridadee serviço fraterno que só Deusconhece porque as pessoas na suasimplicidade e descrição vãoprocurando fazer o bem a quempodem e há muito bem que se faz eque não conhece mas Deusconhece. Em grupos organizadostemos conferências vicentinas

em mais de 50 por cento dasparóquias e temos a CáritasDiocesana procurando estar sobreas situações mais criticas, sobre asdificuldades maiores e numasituação de crise é um alerta e umapreocupação constante de ajudar,dentro de uma orientação, mas deatenção e procurando caridade.

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AE – A questão da solidariedade, dacaridade é cada vez mais uma parteimportante do plano pastoral daIgreja?AC – É uma consequêncianecessária dos espírito cristão queé espírito de fraternidade. SãoTiago diz que “a fé sem obras émorta, as obras da fé são as obrasdo amor, as obras da caridade” emais do que solidariedade gosto dedizer fraternidade para dar o sentidode comunhão de irmãos que brotadesta relação de filhos de Deus.Não tiro nada à solidariedadeapenas acrescento esta dimensãode uma exigência de fé de quem crêrealmente nesta relação filial comDeus e na relação fraterna com osoutros.Não há dúvida nenhuma que é umaexigência de sempre e numaexigência de crise, pode em certassituações tornar mais exigente e sernecessário uma resposta maisgenerosa, mais delicada, maispronta, mais próxima. É verdademas é uma exigência de sempreporque “a fé sem obras é morta” e oamor, caridade tem de se traduzir naproximidade.

AE – De 17 a 20 de setembro vairealizar-se o congressointernacional ‘Diocese do Funchal, aPrimeira Diocese Global – História,Cultura e Espiritualidades”. Esteevento inserido nas comemoraçõesdos 500 anos da criação da Diocesedo Funchal vai ser um momentoimportante?A nossa programação teve umcrescente em diversas áreas. Oaspeto pastoral praticamente, aolongo destes três anos, em cada umtivemos um lema e um conjunto deobjetivos que analisados levaram-nos a rever quase toda a açãopastoral na nossa diocese e diantede um princípio que a paróquia devefazer as suas opções mediante assuas necessidades, osarciprestados devem também fazeras suas e a diocese também deveter as suas (garizações)organizações.Ao longo de três anos caminhamosassim procurando tocar aspetos daliturgia, da religião, dasmanifestações e expressões cultuaismas também na linha dam cultura,do património que são aspetos quenunca estiveram desligados e tudofoi convergindo para a hipótese deum grande congresso

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porque queremos conhecer melhora nossa realidade, queremosaprofundar esse conhecimento deum modo científico numa linha muitoaberta sem ocultar ou relevaraspetos. Nós queremos comsimplicidade assumir as nossasrealidades, aquilo que é o nossopassado, interpretá-lo no seucontexto, porque é extremamenteimportante que não

se faça com os olhos do presenteporque interpretamos mal, numcontexto desligado. Por issoconhecer a realidade, procuraraprofundá-la no seu contextoespecífico, próprio, de ocasião edepois tentar ver através disso osdinamismos que presentes naidentidade da nossa gente, comotambém nas exigências daquilo queo futuro apresenta.

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AC - Tem sido importante para aIgreja, e certamente que vamosprofundar no congresso, verificarcomo a sementeira de valoreshumanos, dos valores dasolidariedade e da fraternidade eoutros valores evangélicos, formamoldando o perfil do homem e damulher madeirenses. Querqueiramos, quer não queiramos, asmarcas ficaram e foi dentro destecontexto que desenvolvendo todauma ação cultural queremos aomesmo tempo verificar que osdinamismos que brotam do nossopassado se podem interpretar hoje,no seu significado mais autêntico.Este trabalho implica muita pesquisaque não estará ao alcance de todosfazê-lo mas poderemos contar commuita gente apta, capaz paraefetivamente o fazer.Queremos ir mais longe tanto nalinha humanista, esta aposta napessoa humana que marca a açãoda Igreja na nossa terra: Oshospitais que se fizeram, a respostaaos problemas da peste, a presençajunto de crianças, jovens e idosos.Tudo isso é evidentemente a apostana pessoa mas não apenas nosaspetos humanos e sociais masnaquilo que é mais intimo eprofundo em termos de

aspirações, em termos de projetos ehá princípios fundamentais quebrotam do Evangelho e que pensoque realmente abrem caminho aquer viver e ser feliz.Jesus disse “eu sou caminhoverdade e a vida, quem vai por mimvai bem”, e eu queria quepudéssemos, aprofundando aquiloque somos, descobrindo maisprofundamente dinamismo que nospodem relançar ou lançar para ofuturo e depois abrir caminhos defelicidade para as pessoas.Que as pessoas sejam felizes comDeus e a Igreja possa ser uminstrumento a que nós noscomprometemos, o bispo comopastor e a Igreja toda com o bisponesta comunhão procurando serviramando. AE – Celebrar 500 anos também éolhar o futuro. Quais são osgrandes desafios para esta Igrejamadeirense?Em termos de princípios repitoaqueles que nortearam à chegada.Quero contar com as pessoas edigo às pessoas que contem comigoe esta ideia de corpo e comunhão éfundamental como motor dequalquer ação pastoral. O daautonomia e da cooperação tambémé fundamental.

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Depois, a corresponsabilidade eparticipação, o bispo não é tudo,nem as suas instâncias, nem osseus órgãos são absolutos. Nessesentido, queremos pensar naquiloque podemos pensar juntos,delinear juntos as respostas quetêm de ser dadas e assumirmosconjuntamente, cada um com a suaparte, por isso é participação.A continuidade e a criatividadepastoral são fundamentais. Eu nãoposso criar descontinuidade,

eu tenho de saber de onde venho, oque tenho e para onde devo partirmas não posso parar diante de umpassado ou de um presente, eutenho de abrir os olhos e responderaquilo que são as novas questões,as exigências de um futuro. Nessesentido, considero que dentro destabase não tínhamos mais que fazer anão ser procurarmosgenerosamente discernir a realidadepara podermos prosseguir segundoas nossas responsabilidades.

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Congresso recorda «história grandee significativa» para Igreja esociedadeO congresso internacional que vaiassinalar os 500 anos da criação daDiocese do Funchal, de 17 a 20 desetembro, tem mais de 600 deinscritos e quer evocar a história“grande e significativa” desta Igreja.“É importante para a Igreja e para asociedade e cultura portuguesa oconhecimento de uma diocese tãoimportante e tão relevante”, assinalaJosé Eduardo Franco, presidente dacomissão organizadora docongresso internacional ‘Diocese doFunchal, a Primeira Diocese Global– História, Cultura eEspiritualidades”.O responsável disse à AgênciaECCLESIA que a Diocese doFunchal “se tornou um território deplataforma de lançamento doprocesso de expansão ultramarina”.“Do ponto de vista religioso foi umponto promotor de evangelização adgentes, de organização de novacristandade, de novas Igrejas enovas dioceses”, acrescentou.Nesse sentido, este congressocientífico “coroa as celebrações” dacriação da diocese madeirense queaté 12 de junho de 2014 “foram

essencialmente de caracterpastoral, litúrgico”, observou oentrevistado.Para congresso que se realiza de 17a 20 de setembro, no Funchal,foram convidados 130especialistas/investigadoresportugueses, europeus e decontinentes com quem a Diocese doFunchal “teve relação”, como“África, Oriente, Brasil”, das “maisvariadas óticas/áreas eproveniências científicas”. “Não éum congresso que interessa só aosmadeirenses e aos católicos daMadeira porque vamos estudar adiocese na relação com a históriaportuguesa, europeia e universal evai ser um momento paracompreender os dinamismosinstitucionais, políticos e religiososda história moderna”, alerta opresidente da comissãoorganizadora.O congresso internacional ‘Diocesedo Funchal, a Primeira DioceseGlobal – História, Cultura eEspiritualidades”, “uma espécie deuniversidade intensiva” está a serpreparado há tês anos. SegundoJosé Eduardo Franco, o desafioapresentado “a mais de duascentenasespecialistas/investigadores

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de vários países” vai ser editado nolivro “Uma nova história da Diocesedo Funchal, a primeira dioceseglobal” que vai deixar “um legado deconhecimento importante para aposteridade”.Vai ser também apresentada a obrapoética do padre madeirense InácioMonteiro, “como poeta importantedo período barroco que produziu umcanto à Arrábida, no século XVII” e“documentos inéditos ou pouco

conhecidos” descobertos por“muitos investigadores” convidadospara o congresso. O materialapresentado neste dossier resultade uma colaboração entre o Centrode Literaturas e Culturas Lusófonase Europeias da Faculdade de Letrasda Universidade de Lisboa(CLEPUL) e a ECCLESIA, queincluiu a produção de uma série dedocumentários televisivos sobre os500 anos da Diocese do Funchal.

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Uma história religiosaA história religiosa é a história daMadeira desde o primeiro ato oficialque fazem os primeirosdescobridores, ao celebrar umaMissa em Machico.O professor universitário NelsonVeríssimo recorda que a Igreja estápresente “desde o início dopovoamento da ilha”, mesmo“omnipresente” no quotidiano doarquipélago, sobretudo até aoséculo XIX, em áreas como o ensino,a saúde, ou a promoção social.“Os 500 anos da dioceserepresentam progresso, promoçãosocial, solidariedade entre ascomunidades e esses valores sãosempre de lembrar”, acrescenta.O historiador José Eduardo Francosublinha que a Madeira “foifundadora de uma Igreja nova,estruturada, uma diocese querecebeu em 1514, no momento dasua bula fundacional, jurisdiçãosobre todos os territóriosdescobertos e a descobrir”.Esta diocese foi assim“potenciadora” de um processo de“protoglobalização” que seencontrava no seu início, quer nasrelações económicas e culturaisentre os vários continentes, quer

no “processo de verdadeirauniversalização do Cristianismo”.O arquipélago da Madeira tornou-seo primeiro território descobertooficialmente no contexto daexpansão marítima portuguesa. Foium ponto estratégico, no meio dooceano, para a construção doimpério português ultramarino.Para Alberto Vieira, diretor doCentro de Estudos de História doAtlântico, a Madeira acaba por ser“o centro fora da Europa” onde secomeça a gerar “uma novasociedade, que vai ter uma novaestrutura política e tambémreligiosa”.O facto de ter sido a primeira ilhaocupada no espaço atlântico“projetou-a para uma posição chaveem termos de todo um projeto deexpansão portuguesa e europeianum mundo atlântico”.Um século depois da chegada dosprimeiros navegadores nasce aDiocese do Funchal, em 1514; aIgreja de Santa Maria foi elevada àcondição de Catedral e foi sagradaem 1516.O Funchal seria posteriormenteelevado à dignidade dearquidiocese, durante pouco maisde duas décadas, o que fez destaIgreja, no seu tempo, a maiorarquidiocese do mundo,

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tendo como sufragâneas asdioceses do império colonialportuguês nos Açores, Brasil, Áfricae Oriente.Com o crescimento da populaçãosurgem as primeiras ermidas, asprimeiras igrejas, as primeirasparóquias.Bruno Costa, historiador, observaque logo no inicio no século XVexistiriam 10 paroquias em toda ailha: Funchal, Câmara de Lobos,Ribeira Brava, Ponta do Sol,Calheta, São Vicente, Machico,Santa Cruz, Caniço e Porto Santo.“No final do século XVI já são 36, ouseja, no primeiro século de plenaexpansão existem logo mais 26paróquias, que no final do séculoXVII serão 42”, prossegue.A historiadora Cristina Trindade

sustenta que “a história religiosa é ahistória da Madeira, desde oprimeiro ato oficial que fazem osprimeiros descobridores ouredescobridores”, lembrando que“as armadas portuguesas, os barcosportugueses não navegavam semelementos do clero”.D. Teodoro Faria, bispo emérito doFunchal, observa que a grandeexpansão portuguesa destes 500anos permitiu que o Evangelhochegasse “a muitos lugares domundo”.“Os portugueses que para aquivieram foram extraordinários:trazendo as tradições doContinente, souberam adaptá-las aesta terra e criar cá uma formacultual muito bela”, sustenta.

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Património de féAo longo dos séculos o Cristianismofoi deixando as suas marcas naalma e no coração do povo doarquipélago madeirense, visíveis nopatrimónio cultural material eimaterial. A riqueza gerada pelosciclos económicos da Ilha foiconstruindo o esplendor da artereligiosa da Madeira patente nasinúmeras igrejas e capelas, que vãopontuando a paisagem madeirensee na beleza das coleções depintura, escultura ou ourivesaria.O Museu de Arte Sacra do Funchalé disso exemplo, como explica a suadiretora, Luiza Clode.“O Museu de Arte Sacra do Funchalé muito importante no contextomadeirense e também no contextonacional. Prima pela qualidade dassuas peças, em especial a grandecoleção de pintura e esculturaflamenga”, recorda.Da grandeza das telas flamengas aotrabalho minucioso da ourivesaria,inúmeros objetos de culto edevoção atestam a riqueza da Igrejamadeirense.João Henriques, diretor regional dosAssuntos Culturais, estima que 70por cento do património da Madeiraseja de caráter religioso, “ou seja,está na sua essência ligada àscomunidades

cristãs, paróquias e diocese”.Por entre capelas e igrejasdescobrem-se autenticas obras dearte que a exposição temporária9Madeira: do Atlântico aos confinsda Terra9 quis dar a conhecer, noâmbito da celebração dos 500 anosda Diocese. Do trabalho deinventariação pelas várias paróquiasresultou esta exposição patente aopúblico até finais de outubro.Luiza Clode revela que foi feita uma“inventariação pelas paróquias”,num processo de seleção “muitodifícil” dada a qualidade de muitaspeças ou, noutros casos, pelanecessidade de fazer umaintervenção profunda de restauro.O recém-restaurado retábulo de Séapresenta, segundo o historiadorRui Carita, elementos inéditos, comoo facto de o cadeiral e o coro semanterem no local original, antesdas alterações do Concílio deTrento.“A peça mais notável que a Madeiratem é o teto mudéjar, o maior tetoalguma vez montado em Portugalque tenha chegado até nós”,acrescenta.Nos últimos anos, tanto no restauroe na salvaguarda, como naedificação do novo património acooperação Igreja/Estado tem sidouma

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constante.João Henriques precisa que opatrimónio é da Igreja e foiconstruído “num contexto religioso epela inspiração da fé”, mas o Estado“tem, pela sua natureza eresponsabilidade política, o deverde salvaguarda desse património depreservação e restauro para ofuturo”.O património, prossegue, “tem a vercom a vida de uma comunidade,com as suas raízes, com as suahistórias”, por isso “salvaguardar edar a ver, dignificar esse patrimónioé cumprir um dever de memória eidentidade”.

O serviço aos fiéis e à populaçãoem geral é a palavra de ordem.João Cunha Paredes é responsável,nos últimos anos, pela criação deinúmeros templos madeirenses.Estabelecer pontes entre o passadoe o presente é a prioridade destearquiteto, procurando “pegar nosmodelos tradicionais da arquiteturamadeirense” e “estudar dentro dadiáspora os resultados dessaarquitetura religiosa pelo mundointeiro”.

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A experiência de fé moldada pelaMadeiraA experiência do sagrado cristãotransmite-se de geração emgeração e começa em tenra idade.Resulta do trabalho pastoral levadoa cabo em cada paróquia, em cadamovimento, em cada grupo eclesial.É no seio das 96 paróquias daDiocese que nascem e crescem oscristãos madeirenses numa terraque sempre foi de missão.“Eu caracterizo esta diocese dentroda linha missionaria como semprefoi ao longo destes 500 anos. OPapa diz que a ação pastoral deveestar sempre em comunhão, numalinha missionária, e eu posso dizerque esta diocese sempre atuou nasua maneira de transmitir a fé deuma forma missionária”, refere ocónego José Fiel, vigário-geral daDiocese do Funchal.A religiosidade cristã ganhacontornos específicos noarquipélago. A espiritualidadefranciscana que chegou com osprimeiros navegadores moldou a fédeste povo, como refere JoséEduardo Franco, historiador.Esta presença dos franciscanos,sublinha, moldou a forma “dasociedade da cultura e da Igrejamadeirense” com uma “caráterpróprio”.São inúmeras as formas de um povoexpressar a sua religiosidade:

às Missas do Parto e à devoção aoEspírito Santo e ao SantíssimoSacramento, por exemplo, juntam-seas festas dos padroeiros, asprocissões, as peregrinações, adevoção mariana.Graça Alves, do Centro de Estudosde História do Atlântico, destacaestas particularidades: “Estamos nomeio do mar, um pouco como umajangada, uma rocha estacionada.Não há nada que nos ajude, sóDeus, e o povo madeirense senteque só Deus e a Igreja Católica ovão direcionando e ajudando a lidarcom estas realidades”.O pároco do Estreito de Câmara deLobos, padre José Luís Sousa,refere que as pessoas do meio rural“se orientam por dois ritmos”“Primeiro é o litúrgico: toda a nossavida, não só espiritual mas tambémsocial, está em torno dasfestividades, nomeadamente oNatal, a Páscoa, as visitas doEspírito Santo, as grandes festas doverão e da própria natureza. Depois,a vida agrícola também determinaum pouco o ritmo da vida daspessoas nesta terra”, precisa.Um lugar de relevo merece NossaSenhora do Monte, como realça opároco local, padre Giselo Andrade,que fala numa devoção

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mariana que começou já nosprimórdios da colonização.“Essa imagem constituiu até aosdias de hoje uma riqueza muitogrande para nós, porque no fundo éa expressão de Maria. Enquanto noContinente temos Fátima e outrossantuários, aqui temos econcentramos toda a nossadevoção e o nosso amor marianopara Nossa Senhora do Monte”,precisa.

Hoje, como ontem, a Madeiracontinua a ser terra de emigração,mas continuará a ser missionária? Ocónego José Fiel lembra que muitagente está a deixar a ilha, por causada crise e espera que, como osseus antepassados, saibam levar assuas raízes e “toda a religiosidade”pela Europa e o mundo.

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A marca das ordens religiosasOs primeiros religiosos quechegaram à Madeira eramFranciscanos e acompanhavam ascaravelas portuguesas que aliaportaram. Do património edificadofranciscano resta apenas oConvento de São Bernardino hoje abeneficiar de obras de restauro.Mas o grande legado dosfranciscanos na Madeira não estános edifícios mas sim numpatrimónio imaterial patente nareligiosidade deste povo.D. António Montes, bispo emérito deBragança-Miranda e membro destaordem religiosa sustenta que “amarca principal que ficou dosfranciscanos não foi em edifícios, foino estado de espírito doCristianismo na Madeira,particularmente as devoções ligadasao presépio, ao Natal, bem como àSemana Santa e ao SantíssimoSacramento”.O desenvolvimento de novosnúcleos populacionais, nosprimeiros séculos do povoamento,tornou necessários novos agentesde pastoral, vindos de outrasordens.É neste contexto que os Jesuítaschegam à Madeira, como recorda ohistoriador José Eduardo Franco: “Apartir de 1569, a Companhia deJesus começa a projetar-se noFunchal,

com a construção de um grandecolégio que ainda hoje é areferência histórica da Madeira,essa grande instituição que eraquase universidade, à semelhançado que os jesuítas tinham emgrandes cidades de Portugal”.Já no século XVIII, foi a vez dospadres vicentinos chegarem pelaprimeira vez à Madeira: Foi a pedidodo bispo do Funchal D. GasparBrandão. Dois objetivos estavam pordetrás deste pedido: formação doclero e missões populares, comoexplica o padre Gil Pereira: “Para aformação do clero, embora nãohouvesse seminário, para fazerpregações, retiros para os futurospadres e ao mesmo tempo foram-sejuntando outras tarefas, comoencontros com religiosas para retiro,as confissões pelas aldeias daMadeira e as missões populares”.Outras congregações foram-seimplantando posteriormente nesteterritório. Uma delas foi a Ordem dosIrmãos de São João de Deus, quechegou à Madeira em 1924 e seinstalou no Trapiche, uma quintasituada numa das altas encostas doFunchal, com uma aposta nadignidade no cuidado dos doentesmentais.

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Algumas décadas mais tarde, em1950, chegaram os salesianos ecomeçaram por tomar conta da obrafundada pelo padre Laurindo LealPestana, um sacerdote seguidor deDom Bosco, que dedicou a vida aacolher jovens abandonados e adar-lhe formação na Casa de Artese Ofícios.Formação era a palavra de ordempara os Sacerdotes do Coração deJesus. Chegaram à Madeira em1947 a pedido do preladomadeirense D. Teodósio deGouveia, arcebispo de LourençoMarques, que anos antes viajarapor Roma em busca de missionáriospara Moçambique.A educação para a missão étambém uma prioridade do Institutodas Irmãs FranciscanasMissionárias de Maria, um Institutofundado na Índia, e que chegou àMadeira em 1898.

As Irmãs franciscanas de NossaSenhora das Vitorias são outracongregação que contribuiu paraque a Madeira fosse um viveiro devocações missionárias. Asvitorianas, também assim chamadas,têm a particularidade de teremnascido na Ilha, pela mão de MaryJane Wilson, uma anglicanaconvertida ao catolicismo.Além da marca deixada pelasordens e congregações naestruturação do tecido social, estastiveram e continuam a terem umimportante papel na evangelização ena promoção social e humana doarquipélago. Com um vasto trabalhonas áreas da saúde, educação eação social, as religiosas ereligiosas da Madeira continuam afazer da ilha um local de missão. Etambém daqui continuam a partirpara servir a Igreja Universal.

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Democracia na Madeiraé devedora à Igreja CatólicaO presidente do Governo Regionalda Madeira considera que a IgrejaCatólica é chamada a ter um “papelfundamental” no regime democráticocom participação nos domínios emque está “particularmentevocacionada” para atuar, como temacontecido no arquipélago nasúltimas décadas.“Costumo dizer que tive muita sorte,trabalhei com três grandes bispos:D. Francisco Santana (1924-1982),D. Teodoro de Faria e D. AntónioCarrilho. Foram bispos certos naaltura certa”, declara Alberto JoãoJardim.O responsável recorda D. FranciscoSantana como “um grandecombatente político”. “A opção pelademocracia que a Madeira fez logodesde o 25 de Abril deve-se a ele,sem dúvida, e eu não meenvergonho de dizer que, de certomodo, sou um produto de D.Francisco Santana”, prossegue.Em relação a D. Teodoro de Faria,bispo do Funchal entre 1982 e2007, o presidente do GovernoRegional valoriza o trabalho de“arrumar a casa” num período pós-revolucionário.“O bispo já não precisa de interferir,politicamente, mas é um bispomuito

atento, valorizando aquilo querepresenta a presença histórica eefetiva da diocese no territóriomadeirense”, recorda.Quanto a D. António Carrilho,Alberto João Jardim realça que oatual bispo diocesano chega nummomento em que a democracia estámais consolidada e “pode agora,nesta terceira fase, separar mais aIgreja do Estado”.“Seguimos caminhos paralelos, comvalores semelhantes. O governo daMadeira assenta no personalismocristão”, observa.O responsável sustenta que a Igrejae o Estado têm uma relação“complementar” e destaca doisplanos da ação católica que vãopara lá da esfera religiosa. “Nostempos de relativismo, que algunschamam pós-modernismo, de formacaricata, a Igreja tem um papel deformação, de fazer um esforçoenorme de transmitir valores àspessoas”, começa por dizer.“O Estado, por si só, não temcapacidade para atuar em todos oscampos, no sentido do bem comum,particularmente na saúde,

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na cultura, na conservação dopatrimónio?, acrescenta.Segundo Alberto João Jardim, oapoio do Governo à Igreja Católicaem vários campos não deve servisto como ?um favor?, mas como ocumprimento do dever democráticode responder aos ?direitos? dapopulação, como aconteceu nocaso da construção de igrejas.A esse respeito, deixa o exemplo daeducação, revelando que ?nosestabelecimentos que estão àresponsabilidade da Igreja Católica,o custo de gestão é um terço, porpessoa abrangida, em relação aosestabelecimentos oficiais públicos?.Nos 500 anos da criação daDiocese do Funchal, o presidentedo Governo Regional diz que estase ?confunde com a história daMadeira e de

Portugal, porque é a entidadereligiosa que dirige a expansão, sobeste ponto de vista?.O governante recorda o papel daMadeira como ?base? da expansãoportuguesa pelo Atlântico e adimensão invulgar que a dioceseatingiu, na sua jurisdição.Quanto ao futuro, Alberto JoãoJardim defende que a Igreja tem deser mais ?atrativa? e ir ao encontrodas pessoas, também através dasnovas tecnologias, renovando a suaLiturgia e falando ?sem medo? emrelação às ?grandes questõessociais?.?Sinto às vezes que a Igreja temreceio de que a confundam comqualquer proximidade a umacorrente política. Mas há princípiosque a Igreja defende e que oscristãos que estão na políticaseguem?, conclui.

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Percursos de santidadeEm 500 anos de existência, éimpossível falar da Igreja naMadeira sem nos determos noexemplo extraordinário de vida dealguns homens e mulheres queganharam muito justamente fama desantidade. Pessoas do seu tempo,procuraram dar um contributo paraa construção de uma sociedademais justa que refletisse os valoresdo Evangelho.D. Maurílio de Gouveia, arcebispoemérito de Évora, nasceu naMadeira e dedicou parte da sua vidaj a estudar a história destes cristãosque se destacaram pela bondade,caridade e profunda fé em JesusCristo. Um deles é o fradefranciscano Pedro da Guarda(1435-1505).“É talvez a figura mais destacada dofranciscanismo na Madeira. Veiopara cá ainda no século XVI. Umafigura extraordinária pela suasantidade e que marcou a Históriada Madeira durante séculos”,assinala o prelado.Tal como frei Pedro, há homens emulheres, consagradas ou não àvida religiosa, que impressionaramdesde sempre D. Maurílio Gouveia.Uma delas é a Madre Virgínia Britesda Paixão (1860-1929). Conhecidacomo a última abadessa doConvento das

Mercês, da Ordem de Santa Clara,viveu intensamente os temposconturbados da implantação daRepública e da perseguição à Igreja.Outra figura incontornável é a irmãMary Jane Wilson (1840-1916),inglesa convertida que iria ter umpapel muito ativo na vida da Madeirado seu tempo.O bispo emérito do Funchal, D.Teodoro de Faria, destaca agenerosidade de Mary Wilson queganhou dos pobres da Madeira oapelido de “boa mãe”, talvez asíntese mais feliz de toda a sua vida,dedicada à educação, ao cuidadodos doentes e à catequese. “Quemtem Deus dentro do seu coraçãonão para”, explica.O prelado gosta também desublinhar particularmente a históriado imperador Carlos da Áustria(1887-1922), beatificado noFunchal, que no seu exílio naMadeira impressionou o povo pelasua profunda fé e pela formaintensa como orava.Muito presente na memória está ahistória da irmã Maria do MontePereira (1897-1963), uma mulhermística, contemplativa, que levou asua vida a trabalhar com doentes doforo psiquiátrico. “Deus tinha-a

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escolhido para um campo especial,a mística do sofrimento, que é o quepurifica a Igreja por dentro”, precisaD. Teodoro de Faria.Houve outras figurasextraordinárias, como Maria Eugéniade Canavial (1863.1945), queprovavelmente serão menosconhecidas.

Para D. Maurílio de Gouveia, háainda que acrescentar dois nomes:monsenhor Manuel Joaquim dePaiva, “talvez o padre maisextraordinário que a Madeira teveno século XX” e o padre LaurindoLeal Pestana, fundador da Escolade Artes e Ofícios.

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Papa elogia exemplosde misericórdia da IgrejaO Papa elogiou no Vaticano osexemplos de “misericórdia” da Igrejajunto dos pobres, dos doentes, dospresos e de quem está a morrer,considerando que esta é umaquestão “essencial” na fé doscatólicos. “Assim, a Igreja comporta-se como Jesus: não dá liçõesteóricas sobre o amor, sobre amisericórdia, não difunde no mundouma filosofia, um caminho desabedoria”, afirmou, na catequeseda audiência geral que reuniudezenas de milhares de pessoas naPraça de São Pedro.A misericórdia, precisou Francisco,supera “qualquer barreira” e leva aprocurar “o rosto do homem”, sendopor isso capaz de mudar “o coraçãoe a vida”, de “regenerar umapessoa e permitir-lhe a reinserção,de modo novo, na sociedade”. OPapa sublinhou a importância do“exemplo”, que passa por “dar decomer e de beber” a quem precisa,como fizeram tantos santos e “pais emães que ensinam aos seus filhosque aquilo que sobre é para quemnão tem o necessário”.“Um bom educador aponta para oessencial, não se perde nosdetalhes, mas quer transmitir aquiloque

conta verdadeiramente”, observou,antes de frisar que “o essencial,segundo o Evangelho, é amisericórdia”.Francisco recordou depois atradição de “hospitalidade” nasfamílias cristãs mais simples,recordando uma conversa com umamãe, em Buenos Aires, que abriu asportas de casa, com os seus trêsfilhos, para dar de comer a quem lhepedia alimento, sugerindo àscrianças que oferecessem “metadedo seu bife”. “Dá do que é teu”,disse aos presentes.O Papa passou em revista váriasobras de Misericórdia, como visitaros doentes ou quem está na prisão,criticando quem considera osreclusos como “gente má”. “Cadaum de nós é capaz de fazer omesmo que aquele homem ouaquela mulher que está na cadeia”,advertiu.A intervenção recordou também oexemplo da Beata Madre Teresa deCalcutá no acompanhamento dequem estava abandonado ou morriasozinho, oferecendo-lhes “paz”.Estas lições, precisou, devem levaros católicos a “fazer o bem semesperar nada em troca”.

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“Que belo é viver na Igreja, nossamãe Igreja, que nos ensina estascoisas”, acrescentou.Como é tradição, o Papa deixouuma saudação aos grupos deperegrinos lusófonos que oacompanharam nesta audiênciapública. “Queridos amigos, as obrasde misericórdia são essenciais paraa nossa vida cristã. Olhai ao vossoredor, há sempre alguém queprecisa

de uma mão estendida, de umsorriso, de um gesto de amor”,declarou.Francisco dirigiu ainda uma palavrade esperança aos peregrinosprovenientes do Médio Oriente:“Que o Senhor recompensa a vossafidelidade, vos infunda coragem naluta contra as forças do maligno eabra os olhos a quem está cego porcausa mal”.

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Sínodo: Assembleia extraordináriavai ter 253 participantesA Santa Sé anunciou que 253pessoas, incluindo 25 mulheres, vãomarcar presença na terceiraassembleia extraordinária do Sínododos Bispos, dedicada às questõesda família, que vai decorrer noVaticano entre os dias 5 e 19 deoutubro.A lista inclui 114 presidentes deconferências episcopais, entre elesD. Manuel Clemente, patriarca deLisboa, que participam por direitopróprio, para além de 16 peritos, 14casais de vários países, incluindo oIraque, e representantes de outrasIgrejas cristãs.Entre os participantes estão ospresidentes dos dicastérios da CúriaRomana, bem como cardeais,bispos ou padres selecionados peloPapa, que aprova ainda a escolhade peritos (‘adiutores secretariispecialis’) e ouvintes (‘auditores’);nestes últimos grupos há 24 leigas euma religiosa.O Vaticano já divulgou o documentode trabalho (instrumentum laboris)da assembleia extraordinária doSínodo dos Bispos, no qual sealertou para o risco de uma“mentalidade reivindicativa” emrelação aos sacramentos.

O próximo Sínodo tem como tema os“desafios pastorais sobre a família”e será seguido por uma assembleiaordinária em 2015; só após aconclusão destes dois momentosserão apresentadas propostas aFrancisco, a partir das quais poderáredigir uma exortação apostólica.O Sínodo dos Bispos, convocadopelo Papa, pode ser definido emtermos gerais como uma assembleiaconsultiva de representantes dosepiscopados católicos de todo omundo.Até hoje houve 13 assembleiasgerais ordinárias e duasextraordinárias: a primeira emoutubro de 1969, para debater acooperação entre a Santa Sé e asConferências Episcopais; a segundaem 1985, pelo 20.º aniversário doencerramento do Concílio VaticanoII.

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Papa vai visitar Parlamento Europeu

O Papa Francisco vai visitarEstrasburgo, a 25 de novembro,para proferir um discurso noParlamento Europeu, anunciou hojea instituição comunitária, umainformação confirmada depois pelaSanta Sé. O presidente doParlamento, Martin Schulz, revelou anotícia aos líderes dos grupospolíticos esta manhã, depois de terrecebido uma resposta afirmativa aoconvite que dirigiu ao Papa numavisita ao Vaticano, a 11 de outubrode 2013.“A visita oficial vai decorrer a 25 denovembro, em Estrasburgo. Nestaocasião, o Papa vai dirigir-se aosmembros, durante uma sessãoformal”, assinala uma nota oficialdivulgada pela presidência doParlamento Europeu.O diretor da sala de imprensa da

Santa Sé, padre FedericoLombardi, confirmou que Franciscoaceitou o convite para “visitar oParlamento Europeu e dirigir umdiscurso aos seus membros”.O presidente da Comissão dosEpiscopados Católicos da UniãoEuropeia (COMECE), cardealReinhard Marx, reagiu aos anúncios,em comunicado, considerando quea visita é “uma notícia muito boa”num ano que apresenta “uma sériede inícios desafiantes para o projetoeuropeu”.“A decisão de ir a Estrasburgo antesde visitar individualmente um dosEstados-membros da UniãoEuropeia, enquanto tal, dá um fortesinal de que o Papa apoia eencoraja a busca da integração eunidade europeias”, acrescenta oarcebispo de Munique, em notaenviada à Agência ECCLESIA.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt

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«A guerra nunca é necessária nem inevitável»

Programa 70x7 (emissão 07-09-2014)

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Exigências éticase comportamentos saudáveisO monsenhor Vítor Feytor Pintoacaba de lançar uma obra sobre a“sexualidade humana”, as suas“exigências éticas ecomportamentos saudáveis”.Segundo um comunicado enviado àAgência ECCLESIA pela PAULUSEditora, responsável pela difusão dolivro, o objetivo do antigocoordenador da Comissão Nacionalda Pastoral da Saúde é“compreender a evolução doscomportamentos” das pessoasnesta área e sublinhar “aimportância da transmissãoresponsável da vida”.O projeto nasceu no seguimento datese de mestrado do sacerdote, naárea da Bioética, e da “consciênciade que a sexualidade humana é umproblema não estudado, de umamaneira formal e acessível a todos,na sociedade portuguesa”.No desempenho da sua missãopastoral, o monsenhor Feytor Pintoacompanhou “milhares de jovens ejovens casais” que manifestaram odesejo de “ter, no exercício dasexualidade e na afirmação do amorhumano, valores de referência queorientem os próprioscomportamentos”.

A grande dificuldade, aponta ocoordenador da Comissão Nacionalda Pastoral da Saúde entre 1985 e2013, era sempre “encontrarelementos de estudo e de reflexãosobre a matéria”.Por isso, o monsenhor Vítor FeytorPinto “dedica este trabalho a todosos jovens que desejam viver a suasexualidade inseridos num projetode amor e de vida, e aos casaisjovens que desejam orientar a suavida num quadro de unidade efidelidade e, também, defecundidade responsável”.Pretende ainda favorecer o debateacerca da influência da tecnologia edos avanços científicos para adesvirtuação da sexualidadeenquanto “dom”.“Por vezes, a ciência tem a tentaçãode ser ela a senhora da vida, quemarca as características de cadaser humano, que define o ritmo dasua multiplicação, que se permitenão respeitar a liberdade de cadaum quando esta não se sujeita aosseus interesses”, aponta osacerdote.O professor e médico WalterOsswald, especialista em Bioéticaque assina o prefácio do livro,salienta que os leitores vão poderencontrar

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um conjunto de “teses e opiniões,clara e metodicamente expostas, esempre confrontadas com odiscurso magisterial, muitoespecialmente com a notávelcatequese inicial de João Paulo IIsobre o corpo humano”.Ao longo de 192 páginas, “o autor

lembra-nos que a fecundidadecultural, artística, espiritual temsempre a sua raiz num ser humanosexuado”, frisa o antigo diretor doInstituto de Bioética da UniversidadeCatólica Portuguesa.

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Redentorista português sentiu ofervilhar dos debates conciliares

Depois de terminar o percurso no seminário ereceber a ordenação presbiteral em 1960, o padreAmérico M. Veiga, missionário redentorista, foienviado para Roma dois anos depois. Chegou àcapital italiana dois meses antes do início do IIConcílio do Vaticano.Ao dar o seu testemunho na XXVII Semana deEstudos de Vida Consagrada, o padre Américo Veigarecordou que a “grande maioria ou a totalidade dosprofessores” da Academia de Moral dosRedentoristas, a funcionar na casa onde residiaquando esteve em Roma, “eram consultores ouperitos do Concílio”.Em Roma, o fervilhar de debates, conferências,colóquios e testemunhos era constante. Paraentender isto, basta recordar que a capital italianaacolheu cerca de 2500 bispos, “um significativonúmero de peritos do Concílio e ainda numerososconselheiros ou consultores de cada bispo ou degrupos de bispos”, disse o padre redentorista eacrescenta: “Todos eles sentiam necessidade dedesabafar e dizer qualquer coisa”.Na casa onde residia este missionário português,estavam hospedados uns “25 bispos redentoristasde todo o mundo”.Quando os estudantes redentoristas que ali viviamsaiam para as diferentes universidades, os bisposconciliares diziam “com alguma graça: «Ide, que nóstambém vamos para a nossa [referiam-se aoConcílio]»”. Segundo o testemunho destemissionário, esta assembleia magna “foi umautêntico, amplo e profundo curso de reciclagem”.Na sua comunicação aos participantes na

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Semana de Estudos de VidaConsagrada, o padre Américo Veigarecorda que “a grande maioria dosbispos conciliares estava à margemdos grandes debates que ali serealizavam e dos grandes voosteológicos que supunham”. A Igreja“teve a sorte e a graça” de possuirnaquela época um número deteólogos “extraordinários” e umgrupo de bispos, “reduzido é certo,mas muito bem preparadoteologicamente, de grande aberturae experiência pastoral”.Para o padre Américo Veiga, o IIConcílio do Vaticano foi “umaexplosão de alegria” e oacontecimento mais marcante” dasua vida. E adianta: “Sempreinquieto e interrogativo, muito doque me tinham ensinado eaprendido não me convenciatotalmente, nem me deixavatranquilo”.Passados 50 anos do início (11 deoutubro de 1962) desta assembleiamagna convocada pelo Papa JoãoXXIII, o missionário português

confessa: “Não me imagino sem oconcílio nem quero imaginar o queseriam as relações da Igreja com omundo sem o concílio”. Esteacontecimento “foi a luz tãodesejada e ardentementeprocurada, a luz cheia de vida aofundo do túnel para muitasinterrogações que me dominavam”.Quando morre o Papa João XXIII (03de junho de 1963) coloca-se oproblema da sucessão e dacontinuação do concílio. O padreAmérico Veiga recorda umaconversa entre o cardeal Cerejeira eo redentorista Bernhard Haring(especialista na área da Moral).Nesse diálogo, o cardeal portuguêspergunta ao moralista quem eram oscardeais mais «papáveis». Na suaresposta, Bernhard Haring diz: “Oscardeais Lercaro, arcebispo deBolonha, e Montini, arcebispo deMilão”. As previsões de BernhardHaring estavam certas…

LFS

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Setembro 2014Dia 12* Lamego - Casa de São José -Colégio de arciprestes presidido porD. António Couto. * Braga - Abertura da fasediocesana do processo decanonização do cónego AdãoSalgado, fundador da Congregaçãoda Divina Providência e SagradaFamília. * Santarém – Sé - Inauguração doMuseu Diocesano de Santarém eestreia da «Cantata Mundi» deRodrigo Leão. * Braga - Igreja de Santa Cruz -Concerto das celebrações daExaltação de Santa Cruz com aatuação da orquestra «Sinfonieta deBraga». * Fátima - D. Manuel Linda preside àperegrinação aniversária desetembro que tem como tema«Quereis oferecer-vos a Deus emreparação?» (das ‘Memórias daIrmã Lúcia’). (12 e 13) * Vila Real - Alijó e Sanfins do Douro- Dois concertos orantes nas igrejasparoquiais de Alijó e Sanfins doDouro pelo grupo Dabar. (12 e 13)

Dia 13* Itália – Gorizia - O Papa Franciscodesloca-se à província de Gorizia,no norte de Itália para «rezar pelasvítimas de todas as guerras». * Braga - Santuário do Sameiro - Diaarquidiocesano do catequistapresidido por D. Jorge Ortiga. * Lisboa - Mosteiro de São Vicentede Fora - Concerto de órgão noMosteiro de São Vicente de Fora. * Lisboa - Visita guiada a Igrejas deLisboa com o tema «Itinerários daFé». * Coimbra - Colégio de São Teotónio- Assembleia diocesana decatequistas com reflexão sobre«Adolescentes hoje, espaçoseducativos, desafios para crescer»promovido Secretariado deEvangelização e Catequese. * Aveiro - Junto ao túmulo de SantaJoana - Tomada de posse de D.António Moiteiro Ramos como bispode Aveiro junto do colégio dosconsultores.

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* Braga - Seminário de NossaSenhora da Conceição - Fórum daUASP (União das Associações dosantigos alunos dos SemináriosPortugueses) com o tema «Olharessobre o II Concílio do Vaticano» (13e 14) Dia 14* Fátima - Peregrinação nacional daFundação Ajuda à Igreja que Sofre(FAIS) e vai promover uma jornadade oração pela paz no Iraque. * Vaticano - Basílica de São Pedro -O Papa Francisco preside aomatrimónio de 20 casais da Diocesede Roma. * Aveiro – Sé - Entrada solene de D.António Moiteiro Ramos na Diocesede Aveiro. Dia 15* Évora - Seminário Maior de Évora -Jornada geral do clero da diocesede Évora e apresentação do projetodo plano pastoral para 2014-2015.

* Porto - Salão Nobre Seminário -Celebração dos 150 anos doSeminário Maior do Porto presididapor D. António Francisco Santos. * Madrid - Casa de acolhimento eformação das Carmelitas Teresianasde São José - Seminário decomunicação sobre «Comocomunicar os grandes eventos daIgreja?» organizado pela FundaciónCarmen de Noriega. (15 a 17). * Vaticano - Reunião entre o PapaFrancisco e o Conselho deCardeais.

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Museu Diocesano de Santarém

O Museu Diocesano de Santarém vai ser inauguradoesta sexta-feira, uma ocasião assinalada com a estreiada Cantata Mundi ‘Todos somos terra e céu, todossomos mundo’, que tem música de Rodrigo Leão. Daautoria de Rui Baeta (cantor lírico e compositor) e AnaMargarida Encarnação (compositora), responsáveispela seleção dos temas, arranjos, orquestração ecomposição, a obra musical confere aos temas deRodrigo Leão “uma sonoridade diferente, maisclássica, solene e até celestial”, revela um comunicadoenviado à Agência ECCLESIA. Francisco visita o maior cemitério militar de ItáliaO papa Francisco vai viajar “como peregrino” aochamado Santuário militar de Redipuglia, em Gorizia,região próxima da fronteira de Itália com a Eslovénia, evisitar o cemitério inaugurado em 1938 para servir deúltima morada a 100 mil italianos que tombaram nodecurso da Primeira Grande Guerra. Aveiro acolhe o novo pastorO novo bispo de Aveiro, D. António Moiteiro vai tomarposse e entrar solenemente na diocese, emcerimónias no sábado e domingo. “Há dois camposfundamentais onde o bispo deve estar muito presente:na vida dos sacerdotes, porque o bispo sem umpresbitério dinâmico não é capaz de realizar a suamissão, e também leigos formados, que podem teruma formação melhor e mais aprofundada”. Papa vai presidir a 20 casamentosO Papa Francisco vai presidir ao matrimónio de 20casais da Diocese de Roma, este domingo, na Basílicade São Pedro. A celebração dos 20 casamentos vaiser a primeira do género no atual pontificado.

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h22Domingo, dia 14 de setembro:Origens e estrutura dadiocese do Funchal RTP2, 15h30Segunda-feira, dia 15 -Entrevista a José EduardoFranco sobre os 500 anos dadiocese do Funchal;Terça-feira, dia 16 -Informação e entrevista aJoão Paulo Oliveira e Costasobre os 500 anos da diocesedo Funchal;Quarta-feira, dia 17 - Informação e entrevista aGuilherme Silva sobre os 500 anos da diocese doFunchal;Quinta-feira, dia 18 - Informação e entrevista ao padreJosé Ornelas Carvalho sobre os 500 anos da diocesedo Funchal;Sexta-feira, dia 19 - Apresentação da liturgia dedomingo pelo cónego António Rego e frei José Nunes Antena 1Domingo, dia 14 de setembro, 06h00 - Diocese deAveiro: entrevista a D. António Moiteiro Ramos, bispode Aveiro Segunda a sexta-feira, 22h45 - 15 a 19 de setembro -500 anos da diocese do Funchal: Perspetivas dePaquete de Oliveira, Alberto Vieira, Cristina Trindade,João Henriques e Alberto João Jardim

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Que missão tem o Papa?

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Ano A – Festa da Exaltação da SantaCruz Contemplar aCruz, acolhero amor deDeus

A liturgia deste domingo, Festa da Exaltação da SantaCruz, convida-nos a contemplar a cruz de Jesus comoexpressão suprema do amor de um Deus que veio aonosso encontro, que aceitou partilhar a nossahumanidade, que quis fazer-se servo dos homens, quese deixou matar para que o egoísmo e o pecadofossem vencidos. Oferecendo a sua vida na cruz, emdom de amor, Jesus indicou-nos o caminho parachegar à vida plena.João é o evangelista abismado na contemplação doamor de Deus. Com João, o Evangelho deste domingoconvida-nos a contemplar esta incrível história deamor e a espantar-nos com o peso que nós, sereslimitados e finitos, pequenos grãos de pó na imensidãodas galáxias, adquirimos nos esquemas, nos projetose no coração de Deus.O amor de Deus traduz-se na oferta de vida plena edefinitiva. É uma oferta gratuita, incondicional,absoluta, válida para sempre e que não discriminaninguém. A todos nós, dotados de liberdade e decapacidade de opção, compete decidir se aceitamosou se rejeitamos o dom de Deus. Às vezes, acusa-seDeus pelas guerras, pelas injustiças, pelasarbitrariedades que trazem sofrimento, desespero emorte. O Evangelho é claro: Deus ama-nos e oferece-nos a vida. O sofrimento e a morte não vêm de Deus,mas são o resultado das escolhas erradas feitas pelohomem que se obstina na autossuficiência e queprescinde dos dons de Deus.João define claramente o caminho que todos devemosseguir para chegar à vida eterna: acreditar em Jesus.Acreditar em Jesus não é uma mera adesão intelectualou teórica a certas verdades da fé; mas é aderir à

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Pessoa de Jesus e escutá-lo,acolher a sua mensagem e os seusvalores, segui-lo nesse difícilcaminho do amor e da entrega aoPai e aos irmãos.Como diz o Papa Francisco na«Alegria do Evangelho», a féconserva sempre um aspeto decruz, certa obscuridade que não tirafirmeza à sua adesão. Há coisasque se compreendem e apreciam sóa partir desta adesão que é irmã doamor, para além da clareza com quese possam compreender as razõese os argumentos. Por isso, é precisorecordar-se de que cada

ensinamento da doutrina devesituar-se na atitude evangelizadoraque desperte a adesão do coraçãocom a proximidade, o amor e otestemunho».Que a liturgia da Festa da Exaltaçãoda Santa Cruz nos ajude apercorrer, com Jesus, esse caminhode amor, de dom, de entrega totalque Ele percorreu, com gestosconcretos que tragam alegria, vida eesperança aos irmãos quecaminham lado a lado connosco.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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A tragédia dos Cristãos no Iraque parece não ter fim

As lágrimas do Padre BehnamOs Cristãos vivem dias deapocalipse no Iraque. Sem nada,dependem apenas da caridade deinstituições como a Fundação AIS.Acossados pelos jihadistas, fogemdo terror. Um padre, que agora viveem Bartella, escreveu ao PapaFrancisco a contar toda estatragédia.Não se conhece o diálogo, masimaginam-se as palavras. O PadreBehnam Benoka, vice-reitor doseminário católico de Ankawa, e quevive agora numa tenda em Bartella,uma pequena cidade cristã nasimediações de Mossul, escreveu aoPapa Francisco. Este,profundamente comovido com aspalavras em lágrimas do padre,telefonou-lhe. Que escreveu oPadre Behnam Benoka nesta cartamanchada de lágrimas? Ele falou da“situação terrível” dos Cristãos emfuga da violência dos jihadistas, que“morrem e têm fome e os seus filhostêm medo e não aguentam mais”. OPadre Behnam disse também aoPapa que são poucos os padres,religiosos e religiosas que seencontram no Iraque. São poucosporque são cada vez mais os quelhes imploram ajuda.Primeiro, foi Mossul, cidade onde

viviam milhares de cristãos. No dia10 de Junho, as milícias jihadistasentraram na cidade com enormealvoroço. Ameaçaram toda a gente:ou se convertiam ao Islamismo oumorriam. Fotografias dos cadáverescorreram mundo e ampliaram, aindamais, a fama sanguinária desteshomens de negro. Os Cristãos viramas suas casas assinaladas, uma auma, tal como os nazis fizeram aosjudeus. Fugiram com o que tinhamvestido. Muitos não escaparam comvida. Há também notícias demulheres e jovens violadas evendidas como escravas sexuais.Os Cristãos fugiram para Qaraqosh,uma cidade cristã situada noCurdistão e defendida pelos seussoldados, os peshmerga. Números trágicosNo dia 6 de Agosto, a notícia correude boca em boca como um grito: Osjihadistas estavam às portas dacidade. Foi uma fuga imensa. Aos50 mil habitantes de Qaraqoshjuntaram-se os de Bartella eKaremlesh. Foram mais de 100 milpessoas. Os números são trágicos.Só no Curdistão, e segundoestimativas da ONU,

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haverá mais de 850 mil deslocados.As lágrimas do Padre Benokatambém falam de Yacoub. Vivia emMossul. Agora é apenas umrefugiado que depende da ajuda deemergência que a Fundação AISdisponibilizou para o Iraque. A suavida é uma tragédia. A perna, cheiade cicatrizes, não lhe permiteesquecer o atentado à bombacontra uma igreja em Mossul, em2008. Estava lá a rezar quando opetardo explodiu. Quando osjihadistas entraram na cidade,

Yacoub fugiu com as suas quatrofilhas. Foram para Al Qosh. Quandoos jihadistas começaram abombardear Al Qosh, fugiram paraDuok. Yacoub perdeu tudo o quetinha, mas não perdeu a fé. Aliás, foipor causa da fé que fugiu. “Antes amorte que a renúncia a Cristo”,costuma dizer. Como poderia oPadre Behnam Benoka ter escritoao Papa uma carta que nãoestivesse cheia de lágrimas?

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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A arte de ensinar e aprender…

Tony Neves

Tudo em Portugal anuncia o regresso às aulas.Os programas de rádio e tv falam dos preços doslivros, da ansiedade de alguns professores ealunos. No caso do Ensino Superior, publicam-seas médias exigidas por cada Universidade para aadmissão nos diferentes cursos. Enfim, o trânsitotambém aumenta com a ida para a estrada deprofessores, alunos e funcionários dasinstituições académicas, após prolongada pausade verão, em tempo de férias.A Escola é um lugar de aprendizagem porexcelência. A lógica do ler, escrever e fazercontas já passou de moda, mas a verdade é quea instituição escolar continua a ter lugar cativo navida das novas gerações. Não é por acaso que aescolaridade é obrigatória até certa idade,sentindo-se o Governo no direito de obrigarcrianças e adolescentes e chegar a um patamarmínimo de conhecimentos académicos.Há muito que se discute em Portugal sobre aqualidade do Ensino. Estruturas há muitas eboas. Os professores têm uma formação de elitee, pelo facto de serem muitos, acaba por haverescolha, permitindo mais qualidade, sobretudono Ensino Particular e Corporativo onde asdireções podem escolher à vontade os seusprofessores e funcionários, sem concurso.Este regresso às aulas faz-me sempre pensarnum contraste estranho entre a Europa e boaparte de África. Assim, as notícias que circulamna Europa apontam para Escolas que fechamtodos os anos por falta de alunos. Também nasUniversidades há cursos que não abrem portaspor falta de

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candidaturas. E é enorme aquantidade de professores atiradospara o desemprego. Em boa partedos países africanos, a realidade éexatamente a contrária: há uma faltaenorme de professores qualificadosporque é enormíssima a quantidadede crianças e jovens em idadeescolar. Também os edifícios eoutras estruturas escolares faltamou primam pela qualidade baixa dasconstruções.Numa era marcada pelas

tecnologias da comunicação quefazem crianças e jovens passarhoras agarrados a máquinas parajogos e divertimentos afins, há queinvestir muito numa escolaridadeque obrigue a pensar, a comunicar,a interpretar e a construir vidasmarcadas por um sentido decidadania responsável. Esta poderáser a Missão que levará a Escola deregresso ao número das instituiçõesde importância capital para associedades e para a vida de cadapessoa.

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ouem www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC –Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

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Encontrar as respostas certas

Manuel de LemosPresidente da União dasMisericórdiasPortuguesas

Em Portugal, as Misericórdias apoiamdiariamente mais de 58 mil idosos através derespostas sociais como lar residencial, centro dedia e serviço de apoio domiciliário, entre muitosoutros. O número não é novo. Há já algumasdécadas que as Santas Casas se dedicam acuidar da terceira idade no nosso país. Contudo,nos anos mais recentes temos vindo a perceber,cada vez mais claramente, que o perfil dosseniores tem-se vindo a alterar. São cada vezmais velhos os mais velhos da nossa sociedadee esse ganho civilizacional (sim, porque vivermuito e viver bem é uma conquista da nossasociedade) traz consigo um novo fenómeno: oaumento exponencial dos casos de demência. Asestimativas apontam para 160 mil pessoas,sendo que 90 mil sofrerão de Alzheimer.Esta nova realidade alterou a realidade dosserviços prestados pelas Misericórdias. Seja emlar ou outra resposta social, os idosos doentesrepresentam um novo desafio para dirigentes etécnicos empenhados em prestar um serviço deexcelência para todos, estejam a sofrer dedemências ou não. Acresce que, num quadro deescassez de recursos, importa contrariar atendência (tão portuguesa) de simplesmenteconstruir novos equipamentos para novosproblemas. Face ao cenário de contenção, éurgente e imprescindível que saibamos desenharrespostas eficazes e cientificamentecomprovadas de modo a garantir que o eráriopúblico seja bem investido.Foi por isso que a União das MisericórdiasPortuguesas (UMP) entendeu construir uma

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unidade especialmente concebidapara lidar com as demências.Pioneira no nosso país, a Unidadede Cuidados Continuados BentoXVI, construída em Fátima, teve ahonra de ter a sua primeira pedrabenzida pelo Papa, durante a suavisita a Portugal em 2010.Em ambiente controlado e a contarcom uma equipa técnicaespecializada, naquela unidade épossível estabilizar casos maisagudos para que os utentes possamser reintegrados nos seus lares,seja institucional ou junto da família.

Recordar ainda que antes dacerimónia oficial de inauguração,tivemos o gosto de receber a visita,a 12 de novembro do ano passado,do patriarca de Lisboa e dos bisposportugueses.Mas entendemos que, face àdimensão do problema, deveríamosexpandir a nossa atuação. Ou seja,não ficarmos limitados ao colhimentode pessoas na Unidade Bento XVI,mas partilhar com as Misericórdias,mas também com as IPSS e asMutualidades, o conhecimentoadquirido através do trabalhonaquele equipamento realizado.

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Foi assim que surgiu o projetoVIDAS – Valorização e Inovação emDemências. Apresentada emfevereiro, a iniciativa arrancouoficialmente há poucos dias, atravésde um seminário que teve lugar emFátima. Em breves linhas, o objetivodo VIDAS é, tendo como eixo centrala Unidade Bento XVI, identificar apopulação com demência que já seencontra a receber cuidadosinstitucionais e, depois, estabelecerpadrões de boas práticas com osrecursos existentes, adequando onível de cuidados às necessidadesespecíficas.Para o efeito, a primeira fase desteprojeto conta com 22 Misericórdiase uma IPSS. O arranque serámarcado pelo trabalho de umaequipa de psicólogos que, durantesos próximos meses, irá aplicartestes para determinar o grau dedemências dos utentes dasinstituições envolvidas. Com basesnos resultados, serão ministradasações de formação junto dosdiversos intervenientes quecompõem as equipas dos serviçosprestados aos idosos.Paralelamente será avaliada anecessidade e o

possível impacto de alteraçõesarquitetónicas no que respeita aoscuidados às pessoas com demência.Apoiado pelo governo e financiadono âmbito da rubrica “ProjetosInovadores” do ProgramaOperacional Potencial Humano (naordem dos 300 mil euros), o VIDASpretende aproveitar meios humanose equipamentos já instalados noterreno para melhorar o apoioprestado aos nossos idosos. Porisso o ministro Pedro Mota Soaresdestacou, na sessão de lançamentohá alguns meses, que “não é umprojeto de betão e tijolo, mas éfundamental para a qualidade devida das pessoas que sofrem dedemências”.Infelizmente na nossa sociedade hácada vez menos espaço e tempopara os idosos junto das suasfamílias. Mas para que essaspessoas possam viver comdignidade e qualidade, importatransformar os lares institucionaisem verdadeiros lares, onde aserenidade da expressão “lar docelar” esteja sempre presente. Hoje,por via dos avanços da medicina esem entrar em pormenoresdemasiado técnicos, sabemos queidosos a sofrer de

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demências podem representarfontes de stress para idosossaudáveis e não só: também elesprecisam de cuidados específicospara que possam estar tranquilos eestáveis. Daí que a palavra VIDAStenha especial conotação.Queremos com este projetomelhorar ainda mais as condiçõesde que dispomos para acolher osnossos idosos.Para levar a cabo este desiderato,que pessoalmente desejo ser comoa carta a Garcia, contamos comdiversos parceiros institucionaispara conceber o projeto e que, aolongo dos próximos meses,acompanharão connosco osresultados. Muito temos falado, emáreas diversas de atuação, danecessidade de estabelecermosredes de trabalho para solucionar,com baixo custo e alta eficácia, osproblemas dos portugueses. Porisso contamos com a Direção Geralde Saúde, a Alzheimer Portugal, aCNIS, o Hospital do Mar e o Hospitalde Magalhães Lemos, mas tambémcom universidades e investigadoresde renome, para dar mais estecontributo em prol do bem-estar dosidosos, mas também dos seusfamiliares.

Permitam-me apenas, para concluiresta reflexão, recordar que muitoantes de termos instalada uma RedeNacional de Cuidados ContinuadosIntegrados (RNCCI), já asMisericórdias discutiam a urgentenecessidade, sentida então, deserem criadas respostas para osidosos acamados que praticamentetodos os dias chegavam aos nossoslares, enviados, na maior parte doscasos, pelos hospitais. Muitos anosforam precisos para que aquelesalertas se transformassem emmedidas concretas. Felizmente, aRNCCI já existe e tende a crescer.Trabalhamos diariamente, comoreferi no início desta prosa, commais de 58 mil idosos. Sabemosquem são, sabemos o que precisam.Este conhecimento, adquirido aolongo de tantos anos de atividadejunto dos seniores, representa, porisso, motivo mais que suficiente paraque, também no que respeita àsdemências, as Misericórdias sejamouvidas quando chegar o momentoda implementação de medidasconcretas nesta área. Através doVIDAS, estamos já a trabalhar paraencontrar as respostascientificamente acertadas.

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