perfis empreendedores: análise comparativa das …livros01.livrosgratis.com.br/cp024443.pdf ·...

170
LIGIA GREATTI PERFIS EMPREENDEDORES: Análise comparativa das trajetórias de sucesso e do fracasso empresarial no Município de Maringá MARINGÁ 2003

Upload: doanhanh

Post on 01-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • LIGIA GREATTI

    PERFIS EMPREENDEDORES:Anlise comparativa das trajetrias de sucesso e do fracasso empresarial

    no Municpio de Maring

    MARING2003

  • Livros Grtis

    http://www.livrosgratis.com.br

    Milhares de livros grtis para download.

  • 1

    LIGIA GREATTI

    PERFIS EMPREENDEDORES:Anlise comparativa das trajetrias de sucesso e do fracasso empresarial

    no Municpio de Maring

    Dissertao apresentada como requisitoparcial obteno do grau de Mestre noPrograma de Ps-Graduao emAdministrao da Universidade Estadualde Maring e Universidade Estadual deLondrina consorciadas, sob a orientao doProf. Dr. Jos de Jesus Previdelli.

    MARING2003

  • 2

    LIGIA GREATTI

    PERFIS EMPREENDEDORES:Anlise comparativa das trajetrias de sucesso e fracasso empresarial

    Dissertao aprovada como requisitopara a obteno do grau de Mestre noPrograma de Ps-Graduao emAdministrao, Universidade Estadual deMaring e Universidade estadual de Londrina,pela seguinte banca examinadora

    Aprovada em 06/08/2003

    _______________________________________________Prof. Dr. Jos de Jesus Previdelli (PPA-UEM)

    _______________________________________________Prof. Dr. Fernando Antnio Prado Gimenez (PPA-UEM)

    _______________________________________________Prof. Dr. Mirian Palmeira (UFPR)

  • 3

    Ao meu filho, Brenno, que foi quem mais teveperdas com esta tarefa e que, mesmo sem entender,teve que renunciar, muitas vezes, a minha presena.

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    A Deus, que em anonimato me deu fora e coragem necessrias para vencer esta caminhada...

    Aos meus pais, Valdir e Joana, que me deram a vida e me ensinaram a viv-la com dignidade,

    iluminando meus caminhos obscuros com afeto e dedicao, para que os trilhasse sem medo e

    cheia de esperana..., que se doaram e renunciaram aos seus sonhos, para que, muitas vezes,

    pudesse realizar os meus...

    Ao meu esposo, Kelber, que sempre acreditou nos meus sonhos, apoiando todas as minhas

    decises e sabendo compreender os momentos em que fui ausente..., que com palavras de

    carinho me fez crescer e aprender a ser forte..., que com alegria compartilhou das minhas

    conquistas...

    Ao meu filho, Brenno, pelo seu sorriso que me deu foras para transpor barreiras, vencer

    desafios e seguir em frente..., pelas muitas vezes em que no estive presente na sua doce

    infncia...e pelas vezes que lhe faltei com minha ateno...

    Aos meus irmos, Alessandra e Maycon, que estiveram sempre comigo compartilhando no

    s os meus momentos de alegria, mas principalmente os de tristeza...

    minha famlia e amigos, que juntos formam uma base forte de confiana sobre a qual eu

    posso caminhar...

    Ao meu orientador, Jos de Jesus Previdelli, que me incentivou a no desanimar e a lutar

    pelos meus ideais..., que compartilhou comigo seus conhecimentos e jamais mediu esforos

    para me auxiliar na busca dos meus objetivos...

    Aos demais professores, que sustentaram em mim a maturidade de um profissional...

    banca qualificadora, Dr Fernando Antnio Prado Gimenez e Dr. Ivoneti Catharina Rigon

    Bastiani, pelos questionamentos e sugestes que contriburam para a melhora deste trabalho...

  • 5

    banca de defesa, Dr Fernando Antnio Prado Gimenez e Dr. Mirian Palmeira, pela

    participao e contribuio na finalizao desta tarefa...

    Aos funcionrios, em especial ao Bruhmer Csar Forone Canonice, pela compreenso,

    dedicao e pelas palavras amigas, s vezes duras, mas necessrias...

    Aos colegas, em especial Vilma Meurer, pelo companheirismo e por compartilhar os

    momentos difceis, tornando-os mais amenos...

    Enfim, a todas as pessoas que, de uma forma ou de outra, me ajudaram a vencer mais uma

    etapa.

  • 6

    Quem passou pela vida em branca nuvem e emplcido repouso adormeceu; quem no sentiu o frioda desgraa quem passou pela e no sofreu; foiespectro de homem, no foi homem, s passou pelavida, no viveu.

    Manuel Bandeira

  • 7

    SUMRIO

    Lista de quadros............................................................................................................... 9Lista de figuras........................................................................................................................................ 10Lista de tabelas........................................................................................................................................ 11Resumo............................................................................................................................. 12Abstract............................................................................................................................ 13CAPTULO 1: APRESENTAO DA PESQUISA.................................................. 141.1 INTRODUO.............................................................................................................................. 141.2 OBJETO DA PESQUISA........................................................................................................... 151.2.1 Problema da pesquisa.............................................................................................................. 151.2.2 Variveis da pesquisa.............................................................................................................. 161.3 OBJETIVOS DA PESQUISA.................................................................................................... 171.3.1 Objetivo geral............................................................................................................................. 171.3.2 Objetivos especficos................................................................................................................ 171.4 JUSTIFICATIVA E RELEVNCIA DA PESQUISA....................................................... 191.5 ESTRUTURA DA DISSERTAO........................................................................................ 21CAPTULO 2: FUNDAMENTAO TERICA...................................................... 242.1 A EVOLUO DO ESTUDO DO EMPREENDEDORISMO....................................... 242.1.1 Abordagens sobre o empreendedorismo......................................................................... 252.1.1.1 Abordagem econmica sobre o empreendedorismo..................................................... 262.1.1.2 Abordagem comportamentalista sobre o empreendedorismo.................................... 332.1.1.3 Abordagens ps-comportamentalistas sobre o empreendedorismo......................... 452.2 CONCEITUAO DE EMPREENDEDORISMO E EMPREENDEDOR.............. 482.3 O PERFIL EMPREENDEDOR................................................................................................. 542.4 A IMPORTNCIA DO PERFIL EMPREENDEDOR PARA O SUCESSO DO

    EMPREENDIMENTO............................................................................................... 592.4.1 O sucesso e o fracasso empresarial como fator resultante do perfil

    empreendedor........................................................................................................... 642.5 O AMBIENTE CULTURAL NA FORMAO DO EMPREENDEDOR.............. 702.5.1 Fatores que inibem o desenvolvimento do empreendedorismo........................ 742.6. CARACTERSTICAS EMPREENDEDORAS ANALISADAS NA PESQUISA.. 77CAPTULO 3: ASPECTOS METODOLGICOS.................................................... 833.1 MODELO TERICO DA PESQUISA................................................................................... 833.2 MTODO CIENTFICO DA PESQUISA.............................................................................. 853.2.1 Mtodos de abordagem........................................................................................................... 863.2.2 Mtodos de procedimento...................................................................................................... 883.3 INSTRUMENTOS DA PESQUISA......................................................................................... 923.4 TCNICAS DE PESQUISA....................................................................................................... 943.5 DELIMITAO DA PESQUISA............................................................................................. 1003.5.1 Unidade de anlise.................................................................................................................... 1003.5.2 Delimitao do universo da pesquisa................................................................................ 1013.5.3 Tipo de amostragem................................................................................................................ 1053.5.4 Limitaes da pesquisa......................................................................................... 108CAPTULO 4: RESULTADO DA PESQUISA........................................................... 1104.1 INFORMAES GERAIS SOBRE O EMPREENDEDOR.................................... 1114.1.1 Idade do empreendedor........................................................................................ 111

  • 8

    4.1.2 Sexo do empreendedor.......................................................................................... 1124.1.3 Nvel de escolaridade do empreendedor............................................................. 1134.2 AMBIENTE DE RELAO DO EMPREENDEDOR............................................. 1154.3 NVEL DE EXPERINCIA NA REA EMPRESARIAL E NO RAMO DO

    NEGCIO.................................................................................................................. 1164.4 COMPROMETIMENTO E DEDICAO AO EMPREENDIMENTO.................. 1194.5. CAPACIDADE DE INOVAO............................................................................ 1204.6 NVEL DE CENTRALIZAO E DELEGAO DE AUTORIDADE ............... 1224.7 EXIGNCIA DE QUALIDADE E EFICINCIA................................................... 1234.8 CAPACIDADE DE REAO.................................................................................. 1254.9 NVEL DE REALIZAO....................................................................................... 1264.10 PROCESSO DE CRIAO DA EMPRESA.......................................................... 1274.10.1 Motivo de abertura do empreendimento.......................................................... 1284.10.2 Processo de planejamento do negcio............................................................... 1304.10.3 Considerao do empreendedor sobre o principal fator de sucesso do

    empreendimento................................................................................................. 1354.11 ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES............................................................... 1385 CONSIDERAES FINAIS..................................................................................... 1436 RECOMENDAES E SUGESTES DE ESTUDOS FUTUROS...................... 1497 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...................................................................... 152ANEXOS......................................................................................................................... 157ANEXO 1: Questionrio aplicado nas empresas encerradas.......................................... 158ANEXO 2: Questionrio aplicado nas empresas em atividade..................................... 163

  • 9

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Desenvolvimento da teoria do empreendedorismo......................................... 24Quadro 2: Caractersticas mais freqente dos empreendedores viso

    comportamentalistas........................................................................................ 44Quadro 3: Temas principais da pesquisa sobre empreendedorismo................................ 47Quadro 4: Definies de empreendedor de acordo com especialistas de reas distintas. 52Quadro 5: Caractersticas do empreendedor segundo Hornaday (1982) e Timmons

    (1994)............................................................................................................. 57Quadro 6: Caractersticas histricas do empreendedor.................................................. 58Quadro 7: Causas do sucesso e fracasso das micro e pequenas empresas no estado do

    Paran.............................................................................................................. 60Quadro 8: Motivos de sucesso e fracasso do empreendimento........................................ 64Quadro 9: Fatores de sucesso e do empreendedor, segundo Timmons (1994)................ 67Quadro 10: Principais causas de fracasso de um empreendedor...................................... 68Quadro 11: Competncia de empreendedores bem sucedidos......................................... 69Quadro 12: Razes para disseminar a cultura empreendedora........................................ 73Quadro 13: Comparao entre as concepes bsicas de pesquisa.................................. 84Quadro 14: Questes que respondem aos objetivos da pesquisa..................................... 99

  • 10

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Estrutura da dissertao...................................................................................... 22Figura 2: Modelo metodolgico da pesquisa...................................................................... 91Figura 3: Desenho das tcnicas de pesquisa utilizadas neste estudo.................................. 97Figura 4: Idade do empreendedor....................................................................................... 112Figura 5: Sexo do empreendedor........................................................................................ 112Figura 6: Nvel de escolaridade do empreendedor............................................................. 113Figura 7: rea de formao em curso superior e ps-graduao..................................... 114Figura 8: Empreendedores com famlia ou amigos prximos envolvidos na rea

    empresarial....................................................................................................... 115Figura 9: Atividade anterior criao da empresa............................................................. 117Figura 10: Ramo de atividade da empresa anterior............................................................ 118Figura 11: Dedicao ao empreendimento......................................................................... 119Figura 12: Inovaes introduzidas na empresa.................................................................. 121Figura 13: Tomador de deciso.......................................................................................... 122Figura 14: Qualidade dos produtos e servios.................................................................... 124Figura 15: Qualidade do trabalho dos funcionrios........................................................... 124Figura 16: Tempo de reao situaes stressantes.......................................................... 125Figura 17: Nvel de realizao com o empreendimento..................................................... 127Figura 18: Nvel de planejamento antes da criao da empresa......................................... 132Figura 19: Nvel de planejamento durante as atividades da empresa................................. 134Figura 20: Empreendedores que reiniciariam seu negcio................................................. 140Figura 21: Empreendedores que fariam mudanas no empreendimento............................ 141

  • 11

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Relao das empresas e tamanho do universo da pesquisa................................ 103Tabela 2: Empresas validadas, abertas no Municpio de Maring, entre 1997 e

    1999.................................................................................................................. 104Tabela 3: Quantidade de empresas da amostra (empresas ativas e inativas)..................... 106Tabela 4: Quantidade de empresas da amostra (empresas ativas e inativas)..................... 110Tabela 5: Principal motivos de abertura da empresa.......................................................... 129Tabela 6: Tempo de planejamento para a criao da empresa........................................... 131Tabela 7: Principal fator para o sucesso do empreendimento sobre a perspectiva do

    empreendedor..................................................................................................... 136Tabela 8: Motivo pelo fechamento das empresas............................................................... 138

  • 12

    RESUMO

    Sob a nova tica de um mundo globalizado e sem fronteiras, a atividadeempreendedora de fundamental importncia para o processo de desenvolvimento econmicode uma comunidade e de uma nao, pois estimula o crescimento gerando novas tecnologias,produtos e servios. A atividade empreendedora realizada por indivduos que conseguemidentificar novas oportunidades de negcios atravs de um processo visionrio, combinarrecursos e habilidades de forma inovadora para a concretizao da idia e conduzir de formaeficaz o empreendimento, objetivando o relacionamento amistoso entre a empresa, seusmembros e o mercado, altamente competitivo. Considerando a necessidade de sobrevivnciadas empresas e a influncia que o empreendedor exerce sobre ela, esta pesquisa vem com oobjetivo de analisar e comparar o perfil dos empreendedores das micro e pequenas empresas,ativas e inativas, da cidade de Maring-PR. Buscando atingir os objetivos da pesquisa foirealizado um estudo de carter exploratrio e descritivo e utilizou-se o mtodo de abordagemindutivo e mtodos de procedimentos histrico, tipolgico e comparativo. A pesquisa foirealizada por meio da observao direta intensiva, usando como instrumento de coleta dedados a entrevista estruturada. Atravs da comparao e anlise dos dados coletados, pde-seperceber que os empreendedores das empresas em atividade apresentaram praticamente todasas caractersticas analisadas em propores maiores do que os empreendedores das empresasextintas. A considerao que se pode fazer que a falta de caractersticas empreendedoraspode ter sido um dos fatores que impulsionou o encerramento de tais empreendimentos, poisempresas abertas nos mesmos anos, com as mesmas condies de mercado tiveram destinostotalmente contrrios. No se pode dizer que o perfil empreendedor o fator condicionante damortalidade dessas empresas, pois so inmeras as variveis internas e externas, queinfluenciam na longevidade empresarial. Entretanto, fica evidente que, quando empresas socolocadas nas mesmas condies externas e tomam rumos diferentes, o causador pode ser umdos fatores internos. O fato que este fator interno que influencia no sucesso e no fracasso doempreendimento pode estar relacionado com as caractersticas individuais que formam operfil do empreendedor.

    Palavras-chaves: empreendedorismo, perfil empreendedor, longevidade empresarial.

  • 13

    ABSTRACT

    Under a new vision of a globalized world without frontiers, the entrepreneurial activity is veryimportant to the economical development of a community and of a nation, because it incitesgrowth creating new products, services and technologies. Those who are able to identify newbusiness opportunities through a visionary process, to associate resources and abilities in aninnovatory way in order to realize the project and to conduct the enterprise successfully,accomplish this activity aiming a friendly relationship between the company members and itshighly competitive market. Considering the survival needs of a company and the influence theentrepreneur has on it, this study aims to analyze and to compare the entrepreneurs profilefrom active or inactive small and micro companies in the city of Maring, Paran. Anexploratory and descriptive study was carried out to reach the purpose of this paper and theinductive approach was utilized as well as historical, typological and comparative procedures.This research was made through an intensive direct observation using structured interviews asa tool for data collection. By the analysis and comparison of the collected data, it was possibleto see that the entrepreneurs from the active companies have presented almost all of theanalyzed features in larger proportions than those from extinct companies. It can beconsidered that the lack of entrepreneurial characteristics could have been one of the factorswhich has led to these enterprises enclosing, for companies opened at the same time, with thesame market conditions have had completely contrary destinies. It cannot be affirmed that anentrepreneurial profile is the determinant factor of these companies ends, because there arenumbers of internal and external variables, which influence business longevity. However, it isclear that when companies are set in same external conditions and they take different ways,one of the internal factors may be the cause. Actually, this internal factor, which influencesthe success or failure of an undertaking, can be related to the individual features that make theentrepreneurial profile.

    Key words: entrepreneurship, entrepreneurial profile, business longevity.

  • 14

    CAPTULO 1

    APRESENTAO DA PESQUISA

    1.1 INTRODUO

    No atual contexto de desafios e incertezas, o desenvolvimento das organizaes e at

    mesmo sua sobrevivncia depende, em grande parte, da capacitao, das habilidades e das

    caractersticas individuais dos seus empreendedores. O empreendedor precisa ter

    competncias que possibilitem, no s inserir uma empresa no mundo dos negcios, como,

    tambm, manter sua sobrevivncia em um mercado altamente competitivo. Ele deve estar

    capacitado para criar e, tambm, para conduzir a implementao do processo criativo,

    elaborando estratgias que permitam o desenvolvimento da sua organizao. O empreendedor

    caracterizado como um indivduo que possui altos nveis de energia e altos graus de

    perseverana e imaginao que, combinados com a disposio para correr riscos moderados,

    o capacita a transformar o que freqentemente comea como uma idia (viso) simples e mal

    definida em algo concreto (KETS DE VRIES, 2001).

    O empreendedor uma pessoa criativa, marcada pela capacidade de estabelecer e

    atingir objetivos e que mantm um alto nvel de conscincia do ambiente em que vive,

    usando-o para detectar oportunidades de negcio (FILION, 1991). Por ser uma pessoa

    visionria e orientada para a realizao, se dispe a assumir riscos e responsvel por suas

    decises. Os principais traos que caracterizam o empreendedor so a iniciativa,

    independncia, autoconhecimento, autoconfiana, automotivao, criatividade, flexibilidade,

    energia, integridade, perseverana, otimismo, convencimento, planejamento, sensibilidade,

    resistncia frustrao, relacionamento interpessoal, comunicao, organizao,

  • 15

    conhecimento de mercado, capacidade de identificar oportunidades e disposio para assumir

    riscos, aptides empresariais, liderana, capacidade de negociao, entre inmeras outras, que

    em conjunto formam o perfil do empreendedor, determinando sua maneira de pensar e agir no

    propsito de criao de algo inesperado.

    De acordo com pesquisas efetuadas pelo Sebrae (1999) e tambm da colocao de

    vrios autores como Dolabela (1999a;b), Degen (1989) entre outros, muitas empresas morrem

    nos primeiros anos de existncia. A causa da mortalidade atribuda a inmeros fatores, como

    falta de planejamento, de capital de giro etc., mas at agora no relacionaram essas causas

    com a falta de caractersticas empreendedoras do empresrio. Assim, esta pesquisa tem a

    finalidade de analisar as habilidades, competncias, comportamento e caractersticas

    individuais que em conjunto formam o perfil empreendedor, a fim de elaborar um estudo

    comparativo do perfil do empreendedor de empresas ativas e inativas na cidade de Maring.

    1.2 OBJETO DA PESQUISA

    Definir o objeto da pesquisa consiste em definir o que realmente foi estudado, de

    forma bastante objetiva e especfica. Consiste em definir, primeiramente, o problema da

    pesquisa, ou seja, a questo que a pesquisa pretendeu estudar e responder. Em seqncia,

    apresentar as variveis da pesquisa, podendo ser entendido como os fenmenos que foram

    estudados.

    1.2.1 Problema da pesquisa

    O problema da pesquisa, segundo Lakatos e Marconi (1991), indica exatamente qual a

    dificuldade que se pretendeu resolver. Consiste em dizer de forma clara, explcita,

    compreensvel e operacional, qual a dificuldade com a qual o pesquisador estava se

  • 16

    defrontando e pretendia resolver. O problema da pesquisa , geralmente, formulado em forma

    de pergunta, com o intuito de torn-lo especfico, objetivo e inconfundvel. Desta forma, o

    problema desta pesquisa pde ser assim apresentado:

    Existe alguma diferena entre o perfil do empreendedor que mantm sua empresa ativa

    no mercado e o perfil do empreendedor que teve sua empresa extinta do mercado, no

    Municpio de Maring?

    Com a formulao deste problema, procurou-se descobrir se o perfil empreendedor

    exercia alguma influncia na mortalidade/sobrevivncia empresarial. Para isso, a pesquisa se

    serviu de uma anlise das caractersticas dos empresrios maringaenses que tiveram suas

    empresas extintas e dos empresrios maringaenses que mantinham suas empresas ativas no

    mercado, para termos de comparao.

    1.2.2 Variveis da pesquisa

    uma caracterstica ou um fenmeno que est sendo estudado (COOPER E

    SCHINDLER, 2000). um conceito que contm ou apresenta valores, tais como:

    caracterstica, qualidades, quantidades, traos etc (LAKATOS E MARCONI, 1991). Sendo

    assim, esta pesquisa apresentou duas variveis de estudo: a) o perfil do empreendedor que

    manteve sua empresa ativa no mercado por mais de trs anos; b) o perfil do empreendedor

    que teve sua empresa extinta do mercado com at trs anos de existncia. As duas variveis de

    anlise so totalmente independentes uma da outra, e foram utilizadas apenas para termos de

    comparao.

  • 17

    1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA

    1.3.1 Objetivo Geral

    Desenvolver uma anlise comparativa entre o perfil dos empreendedores que tiveram suas

    empresas extintas e o perfil dos empreendedores que mantinham suas empresas ativas no

    mercado, no Municpio de Maring.

    Para tal objetivo, perguntou-se:

    Existe alguma diferena entre o perfil dos empreendedores de empresas inativas e de

    empresas ativas no mercado, no Municpio de Maring?

    1.3.2 Objetivos Especficos

    1. Caracterizar os empreendedores maringaenses quanto ao sexo, idade e nvel de

    escolaridade;

    2. Analisar o nvel de conhecimento e experincia na rea empresarial e no ramo do negcio;

    3. Analisar o ambiente de relao do empreendedor maringaense;

    4. Analisar o nvel de comprometimento e dedicao do empreendedor com o seu

    empreendimento;

    5. Analisar a capacidade de inovao do empreendedor;

    6. Analisar o nvel de centralizao e delegao de autoridade do empreendimento;

    7. Analisar o nvel de exigncia de qualidade e eficincia do empreendedor;

    8. Analisar o nvel de realizao e satisfao com o trabalho por parte do empreendedor;

  • 18

    9. Analisar o processo de criao da empresa: motivos de abertura, busca de informaes,

    planejamento inicial e monitoramento;

    10. Estabelecer um comparativo entre os dois grupos de anlise, empreendedores das

    empresas ativas e das inativas, com relao a todos os fatores acima relacionados;

    11. Analisar os motivos do encerramento da empresa e o nvel de persistncia com relao a

    ele;

    Em busca de atingir tais objetivos especficos, definiu-se questes que foram respondidas no

    decorrer da pesquisa:

    1. Quais as caractersticas gerais dos empreendedores maringaenses quanto ao sexo, idade

    e nvel de escolaridade;

    2. Qual o nvel de conhecimento e experincia na rea empresarial e no ramo do negcio;

    3. Qual o ambiente de relao do empreendedor maringaense;

    4. Qual o nvel de comprometimento e dedicao do empreendedor com o seu

    empreendimento;

    5. Como se encontra a capacidade de inovao do empreendedor;

    6. Qual o nvel de centralizao e delegao de autoridade do empreendimento;

    7. Qual o nvel de qualidade e eficincia do empreendimento;

    8. Qual o nvel de realizao e satisfao com o trabalho por parte do empreendedor;

    9. Como foi o processo de criao da empresa: motivos de abertura, busca de informaes,

    planejamento inicial e monitoramento;

    10. Existem diferenas entre os dois grupos de anlise, empreendedores das empresas ativas

    e das inativas, com relao a todos os fatores acima relacionados;

    11. Quais os motivos do encerramento da empresa e o nvel de persistncia do empreendedor

    com relao a ele;

  • 19

    1.4 JUSTIFICATIVA E RELEVNCIA DA PESQUISA

    Segundo Dolabela (1999a,b), o ndice de mortalidade das micros e pequenas empresas

    bastante elevado nos trs anos seguintes sua criao cerca de 90%. Muitas pesquisas tm

    sido desenvolvidas no sentido de descobrir e analisar as causas de tantos encerramentos

    empresariais. Uma pesquisa realizada pelo Sebrae em 12 (doze) Unidades da Federao, no

    perodo de agosto de 1998 a junho de 1999, e em Minas Gerais, em 1997, apurou a taxa de

    mortalidade das empresas para at trs anos de criao das mesmas. Conforme a Unidade de

    Federao, essa taxa variou de cerca de 30% at 61%, no primeiro ano de existncia da

    empresa, de 40% at 68%, no segundo ano, e de 55% at 73%, no terceiro perodo do

    empreendimento (SEBRAE, 1999). Ao analisar os fatores condicionantes dessa mortalidade,

    comparando-se os resultados de entrevistas realizadas junto a empresas extintas e empresas

    em atividade, identificou-se que as principais causas era a falta de capital de giro, problemas

    financeiros, falta de clientes, carga tributria elevada, recesso econmica, como os principais

    fatores de extino (SEBRAE, 1999).

    Um outro estudo realizado por Previdelli & Senhorini (2001), sobre as causas da

    mortalidade das micros e pequenas empresas maringaenses, no estado do Paran, revelou que

    47,86% das empresas que tiveram suas portas fechadas entre 1998 e 2000 sobreviveram por

    menos de 1 ano no mercado, e 38,03% conseguiram se manter at os seus dois anos de vida.

    Neste estudo as causas foram atribudas a problemas financeiros, elevada carga tributria,

    concorrncia acirrada e falta de clientes.

    Pode-se notar que as causas so atribudas, geralmente, fatores externos (social,

    poltico, econmico) e fatores internos da empresa, como a falta de capital de giro, custos

    elevados, quedas nas vendas, entre outras. Quase nunca se relaciona a mortalidade das

    empresas com a sua administrao ou gerenciamento. Os fatores apontados como causa da

  • 20

    mortalidade das empresas podem ser decorrentes de um problema ainda maior: a falta de

    caractersticas para empreender, por parte do fundador da empresa. Segundo Dolabela

    (1999a,b), presume-se que, se uma pessoa tem caractersticas e aptides comumentes

    encontradas em empreendedores de sucesso, ter melhores condies para empreender. So

    nessas caractersticas comportamentais bsicas que o candidato a empreendedor deve se

    pautar, e sem tais caractersticas, o indivduo ter dificuldades em obter sucesso.

    Assim, esta pesquisa se justificou ao comparar o perfil do empreendedor de sucesso e

    de fracasso empresarial, tentando analisar se as causas da mortalidade e da sobrevivncia das

    micros e pequenas empresas de Maring podiam ter alguma relao com a falta de habilidades

    e caractersticas individuais desses empresrios, no sentido de terem ou no um perfil

    empreendedor. Uma anlise deste tipo pode trazer inmeros benefcios aos estudos do gnero

    e comunidade em geral. Sendo realizada no mbito da cidade de Maring, a pesquisa pode

    ser extendida para outras cidades e tambm para outras unidades federativas do Brasil. Se o

    fato for constatado, surge a necessidade de se investir na formao de empreendedores, ou

    seja, de criar uma forma de desenvolvimento das caractersticas empreendedoras no

    indivduo, ou, pelo menos, conscientizar os indivduos da importncia da existncia de tais

    caractersticas para se criar um empreendimento.

    Dolabela (1999a), coloca que no ensino profissionalizante e universitrio, predomina a

    cultura da grande empresa, e que no h o hbito de se falar na pequena empresa: Os

    cursos de Administrao, com raras excees, so voltados quase exclusivamente para o

    gerenciamento de grandes empresas (DOLABELA, 1999a). Vendo o rumo da educao

    administrativa no pas e constatando (ou no) alguma relao entre o perfil do empreendedor

    e a mortalidade/sobrevivncia das empresas, este estudo se justifica e mostra sua relevncia

    ao abrir caminho para a conscientizao de que desenvolver o potencial empreendedor um

  • 21

    dos principais fatores para o surgimento de negcios, gerando possibilidade de

    desenvolvimento econmico do pas.

    1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAO

    A dissertao foi dividida em cinco captulos: Apresentao da pesquisa,

    Fundamentao Terica, Aspectos Metodolgicos, Resultados da Pesquisa e Consideraes

    Finais, como mostra a figura 1. No primeiro captulo foi feita uma abordagem geral ao

    assunto, bem como se colocou a importncia de realizar tal pesquisa. Contextualizou-se o

    tema, definiu-se o objeto da pesquisa no qual estavam inseridos o problema da pesquisa e suas

    variveis de estudo, mostrou-se os objetivos a serem alcanados e a justificativa que ressaltou

    a relevncia da pesquisa.

    No segundo captulo, Fundamentao Terica, buscou-se identificar as estruturas

    conceituais existentes na literatura, tendo como finalidade apresentar a base de conhecimento

    que foi formada para realizar a pesquisa. Tratou-se de assuntos relevantes ao tema e que

    fundamentaram a pesquisa emprica. Os assuntos abordados foram a respeito das

    caractersticas individuais que formam o perfil do empreendedor de sucesso; a evoluo do

    conceito de empreendedorismo e suas abordagens, o perfil do empreendedor, os fatores de

    sucesso de um empreendimento e a cultura e o ambiente como um fator motivador do

    empreendedorismo.

    No terceiro captulo, trabalhou-se o modelo da pesquisa e sua metodologia. Foi

    explicado como a pesquisa foi realizada, destacando a classificao da pesquisa, o mtodo

    cientfico utilizado (mtodo de abordagem e de procedimento), as tcnicas de coleta e anlise

    dos dados, os instrumentos da pesquisa, a unidade de anlise, a delimitao da pesquisa e o

    tipo de amostragem utilizado.

  • 22

    Figura 1: Estrutura da dissertao

    O quarto captulo Resultados da Pesquisa consistiu na apresentao e anlise dos

    resultados da pesquisa. Esto contidos os dados coletados na pesquisa, seu tratamento e

    tambm as informaes que foram obtidas. Respondeu-se s perguntas enunciadas no objetivo

    da pesquisa, expostas na primeira parte da dissertao Apresentao da pesquisa.

    A ltima etapa fez uma comparao entre o estudo bibliogrfico e o emprico,

    analisando se concluses obtidas responderam s perguntas da pesquisa. Fez uma avaliao da

    pesquisa, colocando os problemas encontrados durante a fase de realizao, os pontos falhos,

    CAPTULO 1:

    Apresentao

    CAPTULO 2:

    Fundamentao Terica

    CAPTULO 3:

    Aspectos Metodolgicos

    CAPTULO 4:

    Resultados da Pesquisa

    CAPTULO 5:

    Consideraes Finais e Recomendaes

  • 23

    a contribuio do estudo para as partes envolvidas e deixando em aberto propostas para

    estudos futuros.

    Este foi um estudo de carter microeconmico, desenvolvido na cidade de Maring,

    situada na esfera regional do noroeste do Paran, Brasil. Restringiu-se a anlise comparativa

    do perfil dos empreendedores de sucesso e fracasso empresarial nesta regio. Ele no esgotou

    as possibilidades de novos estudos, ao contrrio, buscou abrir um campo para estudos

    posteriores de confirmao, comparao com perodos futuros ou com outras regies,

    buscando cada vez mais satisfazer a interdisciplinaridade e a complexidade que a rea de

    conhecimento exige.

  • 24

    CAPTULO 2

    FUNDAMENTAO TERICA

    2.1 EVOLUO DO ESTUDO DO EMPREENDEDORISMO

    Segundo Filion (1999a), Vrin (1982) foi quem estudou o desenvolvimento do termo

    entre-preneur atravs da histria e observou que no sculo XII ele era usado para referir-se

    quele que incentivava brigas e, no sculo XVII, descrevia uma pessoa que tomava a

    responsabilidade e coordenava uma operao militar. Verificou tambm que somente no final

    do sculo XVII e incio do sculo XVIII o termo foi usado para referir-se pessoa que criava

    e conduzia projetos ou empreendimentos (VRIN, 1982 apud FILION, 1999a:18). Segundo

    Logen (1997), este termo era utilizado tambm nessa poca, para denominar outros

    aventureiros tais como construtores de pontes, empreiteiros de estradas ou arquitetos. Desde

    ento o termo vem sofrendo evolues constantes, sendo introduzido novos conceitos e novas

    perspectivas na sua definio. O quadro abaixo mostra um resumo dos estudos elaborados

    sobre o desenvolvimento da teoria do empreendedorismo.

    Quadro 1: Desenvolvimento da teoria do empreendedorismo. Idade mdia: personagem (um grupo de guerreiros em ao) e um indivduo que administra projeto de

    produo em larga escala; Sculo XVII: indivduo com comportamento voltado para o risco, de ter lucro (prejuzo) na fixao de

    um preo num contrato com o governo; Richard Cantillon (1725): indivduo assumindo riscos, planejando, supervisionando e organizando; Jean Baptist Say (1803): separa os lucros do empreendedor do lucro do capitalista; Francis Walter (1876): estabelece distino entre os que fornecem fundos (capital) e recebem lucros

    gerados por sua capacidade gerencial; Joseph Schumpeter (1934): empreendedor um inovador e desenvolve tecnologia indita; David McClelland (1961): empreendedor um tomador de risco moderado; Peter Drucker (1964): empreendedor maximiza oportunidades; Albert Shapero (1975): empreendedor toma iniciativa, organiza alguns mecanismos scio-econmicos,

    e aceita risco de fracasso; Karl Vesper (1976): empreendedores parecem diferentes de economistas, engenheiros, gestores e

    polticos; Gifford Pinchot (1983): intrapreneur um empreendedor dentro de uma organizao j estabelecida;

    Fonte: Ibraihim, R & Goowin, J. R. (1986) apud LEITE, Emanuel Ferreira. O fenmeno doempreendedorismo criando riquezas. 3 Edio. Recife: Bagao, 2002

  • 25

    Esse quadro mostra que o empreendedorismo vem sendo um campo de estudo

    multidisciplinar, que recebeu contribuies de diversas reas de conhecimento. No entanto, o

    termo empreendedorismo foi marcado por duas grandes correntes de pensamentos, cada qual

    com suas abordagens e suas contribuies.

    2.1.1 Abordagens sobre o empreendedorismo

    O pensamento com relao ao empreendedorismo pode ser dividido em duas correntes

    principais: aquela que define o termo como uma funo econmica e aquela que identifica

    empreendedorismo com traos de personalidade, chamada behaviorista ou comportamental.

    Os economistas tendem a concordar que os empreendedores esto associados inovao e

    so vistos como foras direcionadas de desenvolvimento (FILION, 1999a, p.12). O termo

    comportamentalista refere-se aos psiclogos, psicoanalistas, socilogos e outros especialistas

    do comportamento humano. Eles atribuem ao empreendedor as caractersticas de necessidade

    de realizao, criatividade, persistncia, liderana, energia, autoconfiana, entre inmeras

    outras. Alm dessas duas correntes, existem outros estudos que tratam do tema sobre aspectos

    diferentes e diversos, como o ensino do empreendedorismo, a cultura empreendedora, intra-

    empreendedorismo, incubadoras de base tecnolgica, empreendedorismo na micro e pequena

    empreendedorismo, empresas familiares e processo de sucesso, trabalho autnomo, entre

    inmeros outros. Essa reunio de temas diversos foi chamada neste trabalho de abordagem

    ps-comportametalista, devido ao fato de terem sido pesquisadas depois da abordagem

    comportamental, o que no significa que uma linha de pensamento constante na literatura,

    mas apenas um agrupamento do que foi e est sendo pesquisado aps a abordagem

    comportamental.

  • 26

    2.1.1.1 Abordagem econmica sobre o empreendedorismo

    Por volta do sculo XVIII aflorou a escola do pensamento econmico que procura

    focar o papel do empreendedor dentro da economia e apresenta vrios seguidores. No sculo

    XVIII, Richard Cantillon ( + 16801734), um economista Britnico que vivia em Paris,

    descrevia o empreendedor como algum que investia e corria riscos com seu prprio dinheiro.

    Nasceu na Irlanda, provavelmente por volta de 1680, fundou um estabelecimento bancrio em

    Paris e morreu, assassinado, em Londres, em 1734 (SELDON & PENNANCE, 1968, p.90).

    Segundo Filion (1999a), os boatos so de que foi um cozinheiro que causou um incndio em

    sua casa, aps as constantes recusas de Cantillon em lhe dar um aumento. Cantillon j era

    conhecido por ser mo-fechada, chegando a ser chamado at mesmo de po duro.

    Filion (1999a), conta a vida pessoal de Cantillon e coloca que, mesmo no tendo se

    assentado em pas algum, por questes particulares, ele mostrou preocupao com as mesmas

    questes econmicas e necessidade de racionalizao que seus contemporneos europeus. A

    famlia Cantillon, originria da Normandia, emigrou para a Irlanda durante o reinado de

    William, o Conquistador, que nomeou membros da famlia para o governo de um pequeno

    territrio quase do tamanho de um municpio. Eram, portanto, pessoas de classe alta. Segundo

    Seldon e Pennance (1968, p.90) Richard fugiu da Irlanda para Paris, em 1716, aps a queda

    dos Stuarts na Gr-Betanha. A data de nascimento de Cantillon ignorada, e ele pode ser

    confundido com o tio, cavaleiro que tambm se chamava Richard Cantillon e que tambm

    viveu em Paris. Cantillon, o sobrinho, vivia de renda e buscava oportunidades de

    investimentos, sendo capaz de analisar uma operao e identificar nela aqueles elementos que

    j eram lucrativos e os que poderiam vir a ser ainda mais.

    Sua contribuio para a economia representada pelo seu Essai sur la Nature du

    Commerce em Gnral (Ensaio sobre a Natureza do Comrcio em Geral), escrito em 1725,

    mas publicado, postumamente, somente em 1755 com correes do editor e 20 anos depois de

  • 27

    ser amplamente distribuda em Paris e Londres (FILION, 1999a, p.7). Trata-se de uma

    vigorosa obra analtica, muito adiantada para o seu tempo, que expe as contradies do

    mercantilismo vigente (SANDRONI, 1994, p.39; SELDON & PENNANCE, 1968, p.90). A

    obra esteve por muito tempo esquecida e foi redescoberta por Stanley Jevons, no final do

    sculo XIX, sendo considerada a mais sistemtica exposio dos princpios econmicos que

    se fez antes de A Riqueza das Naes, de Adam Smith (SANDRONI, 1994, p.39). A obra de

    Cantillon foi uma das primeiras a definir a terra como a nica fonte de riqueza, o trabalho

    como fora geradora dessa riqueza e a mostrar ser o dinheiro apenas uma medida de riqueza

    que deriva da produo (SELDON & PENNANCE, 1968, p.90).

    A atividade de Cantillon, banqueiro, seria hoje qualificada como investidor de capital

    de risco. Seus escritos revelam um homem em busca de oportunidades de negcios,

    preocupado com o gerenciamento inteligente de negcios e a obteno de rendimentos

    otimizados para o capital investido (FILION,1999a, p.06). No Reino Unido nascia a

    Revoluo Industrial e ele defendia o pensamento liberal da poca que exigia liberdade plena

    para que cada um pudesse tirar o melhor proveito dos frutos de seu trabalho (KURATKO &

    HODGETTS, 2001; FILION, 2000). Segundo Filion (2000), Cantillon buscava nichos de

    mercado para investimentos lucrativos e considerava a anlise dos riscos o ponto central para

    a tomada de deciso. Para ele, o empreendedor era uma pessoa que comprava matria prima

    (insumo), processava-a e vendia para outra pessoa (FILION, 1999a, p.18) ou tambm, aquele

    que comprava matria-prima por um preo certo para revend-la a preo incerto (FILION,

    2000; SAHLMAN et al, 1999). Ele entendia, no fundo, que se o empreendedor lucrara alm

    do esperado, insto ocorrera porque ele havia inovado: fizera algo de novo e diferente

    (FILION, 2000, p.17). Para Cantillon, o empreendedor era ento uma pessoa que identificava

    uma oportunidade de negcio e assumia o risco inerente com a perspectiva de obter lucros.

    Essa foi a primeira apario do elemento risco na definio de empreendedorismo e Cantillon

  • 28

    foi o primeiro a oferecer clara concepo da funo empreendedora como um todo

    (FILION,1999a).

    A Inglaterra foi o pas que mais dedicou esforos para definir explicitamente a funo

    do empreendedor no desenvolvimento econmico. Dentre os ilustres tericos que ofereceram

    uma grande contribuio para o entendimento do fenmeno do empreendedorismo ressalta-se,

    Adam Smith e Alfred Marshall. Segundo Logen (1997), Adam Smith (1723-1790),

    economista escocs, caracterizou o empreendedor como um proprietrio capitalista, um

    fornecedor de capital e, ao mesmo tempo, um administrador que interpe-se entre o

    trabalhador e o consumidor. Atribuiu ao empreendedor o papel de criador de riquezas. O

    conceito de Smith, refletia uma tendncia da poca de considerar o empreendedor como

    algum que visava somente produzir dinheiro. Entretanto, o empreendedor foi caracterizado

    pelo economista ingls Alfred Marshall como algum que se aventura e assume riscos, que

    rene capital e o trabalho requeridos para o negcio e supervisiona seus mnimos detalhes,

    caracterizando-se pela convivncia com o risco, a inovao e a gerncia do negcio (Logen,

    1997).

    Jean Baptiste Say (17671832), industrial e economista clssico francs, no incio do

    sculo XIX, foi o segundo autor a demonstrar interesse pelos empreendedores, ampliando a

    definio de empreendedorismo para incluir no conceito os fatores de produo (SAHLMAN

    et al, 1999). Say considerado economista porque naquele tempo as cincias gerenciais no

    existiam e qualquer um que tivesse interesse em organizaes ou falasse sobre a criao e

    distribuio de riquezas seria classificado como economista.

    Inicialmente Say procurou seguir carreira comercial, mas, depois de ler a Riqueza das

    Naes, de Adam Smith, passou a se interessar pela Economia Poltica (SELDON &

    PENNANCE, 1969, p.524). Admirador de Adam Smith, divulgou sua obra e propagou suas

    idias e polticas por toda a vida. Elaborou em 1803 a Lei dos Mercados (Lei de Say),

  • 29

    segundo a qual a produo criaria sua prpria demanda, impossibilitando uma crise geral de

    superproduo (SANDRONI, 1994, p.317). Esta lei, que estabelece a concepo do equilbrio

    econmico, foi a base da teoria econmica neoclssica (SANDRONI, 1994, p. 317; SELDON

    & PENNANCE, 1969, p.524). Say elaborou ainda a teoria dos trs fatores de produo (terra,

    mo-de-obra e capital), partindo da idia de que a utilidade a grande determinante do valor,

    e tambm a teoria das funes do empresrio, introduzindo esse tema na economia poltica

    (SANDRONI, 1994, p.317).

    Em 1814, comissionado pelo governo francs, estudou as condies econmicas da

    Inglaterra, publicando em De lAnglaterre et des Anglais (Da Inglaterra e dos Ingleses) os

    resultados dos seus estudos. Em 1816, comeou a ensinar Economia, tendo fundado a cadeira

    de Economia Industrial no Conservatoire des Arts et Mtiers (Conservatrio de Artes e

    Ofcios), em 1819 (SELDON & PENNANCE, 1969, p.524). Foi nomeado professor de

    Economia Poltica no Collge de France, tendo como principais obras Trait dconomie

    Politique, 1803 (Tratado da Economia Poltica) e Cours Complet dconomie Politique

    Pratique, em 1828-30 (Curso Completo de Economia Poltica Prtica), que seguem a tradio

    de Cantillon e de Turgot (SANDRONI, 1994, p.317; SELDON & PENNANCE, 1969, p.524).

    Admirador da Revoluo Industrial Britnica e de Adam Smith, tentou estabelecer um

    corpo terico que possibilitaria a chegada da revoluo industrial na Frana, pois considerava

    o desenvolvimento econmico como resultado da criao de novos empreendimentos

    (FILION, 1999a). Ele pode ser identificado como o pai do que hoje se convencionou chamar

    de empreendedorismo, pois foi quem lanou os alicerces desse campo de estudo (FILION,

    2000). Ele foi o primeiro a explicar a diferena entre lucros do empreendedor e aqueles do

    capitalista, e dizia que empreendedor o indivduo que transfere recursos econmicos de um

    setor de baixa produtividade para um setor de alta produtividade e maior rendimento. Dizia

  • 30

    que empreendedor o indivduo que, na sua busca pelo xito, perturba e desorganiza o status

    quo do sistema econmico (SAY apud PEREIRA, 1995:05).

    Joseph A. Schumpeter (1883-1950), foi o primeiro economista de renome a retornar a

    Say e foi ele quem realmente consolidou o conceito de empreendedorismo associando-o

    claramente inovao (FILION, 2000, p.18; 1999a:7). Austraco, nascido na Morvia e

    educado em Viena, permaneceu um tempo no Egito e depois tornou-se professor de Economia

    em Czernowitz e, a seguir, em Graz (SELDON & PENNANCE, 1969, p.525). Depois da

    Primeira Guerra Mundial, foi nomeado ministro das Finanas da Repblica Austraca, mas

    logo renunciou para se tornar professor nos Estados Unidos, lecionando na Universidade de

    Bonn at 1932 quando se transferiu para Harvard (SANDRONI, 1994, p.318; SELDON &

    PENNANCE, 1969, p.525). Suas obras foram tomadas a srio desde o incio da sua carreira,

    pois abrangem todos os ramos da Economia. Entre as principais obras de Schumpeter,

    destacam-se seu primeiro livro, Theory of Economic Development, 1912 (Teoria do

    Desenvolvimento Econmico); Business Cycles, 1939 (Ciclos Econmicos); Capitalism,

    Socialism and Democracy, 1942 (Socialismo, Capitalismo e Democracia) e History of

    Economic Analysis (Histria da Anlise Econmica), uma obra inacabada e publicada

    postumamente, em 1954, que juntas do uma idia da sua versatilidade (SANDRONI, 1994,

    p.319; SELDON & PENNANCE, 1969, p.525).

    Foi em 1911 que adicionou o conceito de inovao para a definio de

    empreendedorismo, como sendo o ato de criar coisas novas e diferentes (FILION, 1999a,

    p.07; 2000b, p.18). Em sua obra, Business Cycles (1939), Schumpeter analisou o sistema

    capitalista e avanou a teoria de que as inovaes feitas pelos empresrios so o fator

    estratgico do desenvolvimento econmico e ocupam uma posio central no processo do

    ciclo comercial (SELDON & PENNANCE, 1969, p.525). Schumpeter admitia a existncia de

    ciclos longos (de vrios decnios), mdios (de dez anos) e curtos (de quarenta meses) e dizia

  • 31

    que o estmulo para o incio de um novo ciclo econmico viria principalmente das inovaes

    tecnolgicas introduzidas por empresrios empreendedores (SANDRONI, 1994, p.318).

    Segundo Sandroni (1994), para Schumpeter esse o ponto essencial, pois sem

    empreendedores e suas propostas de inovaes tecnolgicas, a economia manter-se-ia numa

    posio de equilbrio esttico, num crculo econmico fechado.

    Por inovaes tecnolgicas, Schumpeter entendia cinco categorias de fatores: a

    fabricao de um novo bem; a introduo de um novo mtodo de produo; a abertura de um

    novo mercado; a conquista de uma fonte de matrias-primas; a realizao de uma nova

    organizao econmica, tal como o estabelecimento de uma situao de monoplio

    (SANDRONI, 1994, p.319). Ele falava de vrios tipos de inovao, incluindo inovao nos

    processos, inovao mercadolgica, inovao na produo e at mesmo inovao

    organizacional (SAHLMAN et al, 1999), pois, segundo Schumpeter, o impulso fundamental

    que inicia e mantm o movimento da mquina capitalista decorre dos novos bens de consumo,

    dos novos mtodos de produo ou transporte, dos novos mercados, das novas formas de

    organizao industrial que a empresa capitalista cria (SCHUMPETER, 1976, p.112).

    Seu trabalho enfatizou o papel do empreendedor no processo de criao destrutiva que

    contribui para a descontinuidade da economia. Na viso de Schumpeter o empreendedor o

    agente de mudana, ou seja, aquele que destri a ordem econmica existente atravs da

    introduo de novos produtos e servios, atravs da criao de novas formas de organizao e

    tambm da explorao de novos recursos e materiais. Schumpeter postulava que o

    desequilbrio dinmico provocado pelo empreendedor inovador, em vez de equilbrio e

    otimizao, a norma de uma economia sadia e a realidade central para a teoria e a prtica

    econmicas (DRUCKER, 1987).

    Segundo Degen (1989), esse processo, chamado por Schumpeter de destruio

    criativa, o impulso fundamental que aciona e mantm em marcha o motor capitalista e

  • 32

    quem dirige esse motor o empreendedor. Tal processo responsvel pela substituio de

    produtos antigos por outros mais eficientes, mais baratos, mais geis, mais acessveis, de

    melhor qualidade e comodidade, como por exemplo, a substituio da mquina de escrever

    por computadores pessoais, o telgrafo pelo telefone, a caneta tinteiro pela esferogrfica, a

    viagem de navio pela viagem de avio, o trem a vapor pelo trem eltrico e pelo metr, o ferro

    a brasa pelo ferro eltrico, entre muitas outras destruies criativas que foram marcos no

    nosso desenvolvimento econmico. Nesse processo o empreendedor est constantemente

    utilizando sua capacidade visionria e sua criatividade para aprimorar os produtos, tornando-

    os melhores e mais acessveis para atender a necessidade e o bem-estar da populao.

    Esta constante busca por algo novo e diferente vem da necessidade de realizao do

    empreendedor, atravs da qual consegue colocar suas idias em prtica e fazer as coisas

    acontecerem. Schumpeter merece um lugar parte na Histria da Economia, e no somente

    pela sua facilidade discursiva e penetrao crtica, mas ainda pela qualidade da sua

    inteligncia, manifesta no seu mtodo analtico, que o singulariza entre os economistas seus

    contemporneos (SELDON & PENNANCE, 1969, p.524).

    Segundo Filion (1999a), Schumpeter no foi o nico a associar empreendedorismo

    inovao. Clark, em 1899, havia feito o mesmo de forma bem clara, Higgins (1959), Baumol

    (1968), Schloss (1968), Leibenstein (1978) e a maioria dos economistas que tinham interesse

    no campo tambm fizeram o mesmo algum tempo depois, pois todos os economistas estavam

    interessados na compreenso do papel do empreendedor como motor do sistema econmico.

    A partir da os economistas no se restringiram a desenvolver estudos no sentido de aprimorar

    a contextualizao de empreendedor. Filion (1999a) fez um apanhado das diversas

    contribuies dadas por alguns economistas que se interessavam pelo campo de

    empreendedorismo. Segundo ele, Knight (1921) mostrou que os empreendedores assumiam

    riscos por causa do estado de incerteza no qual trabalhavam e que eles eram recompensados

  • 33

    de acordo com os lucros obtidos com a atividade que iniciavam; Hayek (1937; 1959) mostrou

    que os empreendedores tinham o papel de informar o mercado a respeito de novos elementos;

    Hoselitz (1952; 1968) falava de um nvel mais alto de tolerncia que capacitava os

    empreendedores para o trabalho em condies de ambigidade e incerteza; Leibenstein (1979)

    j tinha estabelecido um modelo para medir os nveis de eficincia e ineficincia no uso de

    recursos por parte dos empreendedores; Casson (1982) fez uma interessante tentativa de

    desenvolver uma teoria ligando empreendedores ao desenvolvimento econmico. Ele insistia

    nos aspectos de coordenao de recursos e tomada de decises; Baumol (1993) estabeleceu a

    diferena clara entre empreendedor organizador de negcios e o empreendedor inovador. Os

    economistas se recusavam a aceitar modelos no-quantificveis e, portanto, no conseguiram

    criar uma cincia baseada no comportamento dos empreendedores. Isso foi o que acabou

    levando o universo do empreendedorismo a voltar-se para os comportamentalistas, na

    constante busca do entendimento do comportamento e atitude do empreendedor, bem como na

    identificao de suas principais caractersticas.

    2.1.1.2 Abordagem comportamentalista sobre o empreendedorismo

    Enquanto alguns analistas focam a funo econmica do empreendedorismo, outros

    concentram sua ateno voltada para pesquisar as caractersticas pessoais do empreendedor. O

    behaviorismo, segundo Braghirolli et al apud Lopes (2002, p.24), [...] um sistema terico

    da psicologia que prope um estudo completamente objetivo do homem, insistindo que o

    comportamento (behavior) deve ser a nica fonte dos dados psicolgicos. De acordo com o

    autor, esta perspectiva tenta explicar o que leva o indivduo a empreender e quais seriam as

    caractersticas de personalidade, comportamento, atitudes e valores presentes nos

    empreendedores de sucesso.

  • 34

    Em 1930 surgiu a linha comportamentalista sobre o empreendedorismo e, segundo

    Filion (1999a), um dos primeiros autores desse grupo a mostrar interesse pelos

    empreendedores foi Max Weber, em 1930, que identificou o sistema de valores como

    elemento fundamental para a explicao do comportamento empreendedor. Ele via os

    empreendedores como inovadores, pessoas independentes cujo papel de liderana nos

    negcios inferia uma fonte de autoridade formal (FILION, 1999a). Entretanto, David

    McClelland foi quem realmente deu incio contribuio das cincias do comportamento para

    o empreendedorismo.

    Segundo Filion (1999a, 2000), David McClelland levado a interrogar-se sobre o

    declnio relativo dos americanos em face dos soviticos durante os anos 50, estudou a histria

    em busca de explicaes para a existncia de grandes civilizaes e analisou os fatores que

    explicam o apogeu e o declnio das civilizaes. Concluiu que as geraes que precediam o

    apogeu foram fortemente influenciadas por heris que haviam sido personagens populares na

    literatura, com os quais os jovens se identificavam e tomavam como modelo, tendendo a

    imit-los em seu comportamento. O povo treinado sob tal influncia desenvolvia grande

    necessidade de realizao e associava essa necessidade aos empreendedores. A partir dessa

    pesquisa o papel do modelo ocupa um papel importante no estudo do empreendedorismo

    (FILION, 2000). Esta foi uma das primeiras e mais importantes pesquisa das razes

    psicolgicas sobre empreendedorismo, cuja teoria foi exposta no incio dos anos 60 por David

    McClelland e mostrava que as pessoas que seguem carreiras semelhantes a de

    empreendedores tem uma alta necessidade de realizao social alm de gostarem de correr

    riscos, fato que as levam a desprenderem maiores esforos.

    A grande contribuio desta linha de pensamento est firmada sobre a busca em

    identificar as caractersticas do perfil empreendedor. Segundo Bertoglio (1998), David

    McClelland, na sua pesquisa sobre perfil de empreendedores, identificou algumas

  • 35

    caractersticas constantes nos empreendedores bem sucedidos. Inicialmente foram

    identificadas vinte e trs caractersticas, que foram lapidadas e resumidas para quinze. Aps

    vrios anos de estudos e anlises algumas caractersticas se fundiram, outras foram

    descartadas e McClelland ficou ento com um conjunto de dez caractersticas, agrupadas em

    trs conjuntos distintos:

    1 Grupo - Conjunto de Realizao: Busca de oportunidade e iniciativa; Persistncia;

    Correr riscos calculados; Exigncia de qualidade e eficincia; Comprometimento.

    2 Grupo: Conjunto Planejamento: Busca de informaes; Estabelecimento de metas;

    Planejamento e monitoramento sistemtico.

    3 Grupo: Conjunto Poder: Persuaso e rede de contatos; Independncia e Autoconfiana.

    1 Grupo: Conjunto de realizao

    McClelland, na tentativa de descobrir a razo pela qual certas culturas tinham maior

    desempenho do que outras, observou um valor que chamou de necessidade de realizao. Viu

    que a necessidade de realizao variava de cultura para cultura, ou seja, cada cultura se

    realizava com aspectos e propores diferentes (LEITE, 2002, p.80). A necessidade de

    realizao leva o empreendedor a se dedicar ao trabalho constantemente, a estar sempre

    motivado pela vontade de fazer aquilo que gosta, com o mesmo entusiasmo de quem est

    comeando tudo, naquele exato momento.

    A necessidade de realizao dirige a ateno de um indivduo para que este execute, da

    melhor forma possvel, suas tarefas, de forma que possa atingir os seus objetivos, seja eficaz

    naquilo em que se prope a fazer, mas sempre dentro dos limites permitidos pela tica

    (LEITE, 2002, p. 83). Tal necessidade leva o indivduo a ter iniciativa, ser persistente, buscar

    qualidade e eficincia, ter comprometimento e tambm a correr riscos moderados em busca da

  • 36

    sua realizao. Essas e outras caractersticas que, segundo McClelland, formam o conjunto de

    realizao sero descritas a seguir:

    Busca de oportunidades e iniciativa: esta caracterstica envolve certas atitudes do

    empreendedor, como, fazer as coisas antes do solicitado; atuar para expandir o negcio; e

    aproveitar oportunidades fora do comum para iniciar um negcio (SEBRAE, 1990).

    Identificar oportunidades fundamental para quem deseja ser empreendedor, e consiste em

    aproveitar todo e qualquer ensejo para observar negcios. O empreendedor de sucesso

    aquele que no se cansa de observar, na constante procura de novas oportunidades, seja no

    caminho de casa, do trabalho, nas compras, nas frias, lendo revistas, jornais ou vendo

    televiso. Alm de identificar as oportunidades, o empreendedor deve ter iniciativa, que a

    capacidade de se antecipar s situaes, agindo de maneira oportuna e adequada sobre a

    realidade, apresentando solues e influenciando os acontecimentos. Sem iniciativa no pode

    haver empreendimento e sem vontade e persistncia no se pode atingir o sucesso.

    A oportunidade uma criatura amistosa e muitas vezes imperceptvel. Perigosa,

    somente quando ignorada pelos empreendedores. Ela precisa ser protegida, explorada,

    preservada, dinamizada e aumentada (LEITE, 2001, p.92). Segundo Degen (1989, p.21),

    existem frmulas para identificar oportunidades. A oportunidade pode aparecer atravs da

    identificao de necessidades, da observao de deficincias (quando se percebe que algo

    pode ser melhorado ou modificado), da observao de tendncias, da derivao da ocupao

    atual (quando destina um produto ou servio para uma finalidade que deriva da de origem),

    procura de outras aplicaes (quando procura outras finalidades para um produto ou servio),

    explorao de hobbies, lanamento de moda, e imitao do sucesso alheio.

    O processo de identificao de oportunidades, segundo Longhini & Sachuk (2000)

    no consiste apenas no estudo visando a colocao de um produto ou servio novo no

    mercado, ou ocupar um segmento que ningum tenha pensado, mas tambm na reduo de

  • 37

    custos, na melhoria da qualidade ou mesmo em oferecer servios mais rpidos que os da

    concorrncia. Oportunidade, pode ser vista ento, como a soma de uma necessidade (seja

    individual, grupal ou da sociedade) com as condies de satisfaz-la (condies ambientais,

    econmicas, sociais etc). Birley e Muzyka (2001) coloca que a capacidade empreendedora

    envolve a identificao de oportunidades e a agregao de valor, podendo ser encontrada

    tanto no setor pblico, quanto no privado ou em qualquer tipo de organizao. Isso leva

    reflexo de que alm do empreendedor ter a capacidade de detectar uma oportunidade ele

    deve ser capaz de colocar um adicional ou diferencial, para agregar valor ao produto ou

    servio.

    Persistncia: ser persistente significa agir diante de um obstculo significativo; agir

    repetidamente ou mudar de estratgia, a fim de enfrentar um desafio ou superar um obstculo;

    e assumir responsabilidade pessoal pelo desempenho necessrio ao atingimento de metas e

    objetivo (SEBRAE, 1990). Persistncia a energia que leva o empreendedor a agir de

    diferentes formas at alcanar aquilo que deseja. Tendo definido claramente seus objetivos e

    metas, o empreendedor aprende com seus fracassos, reformula estratgias e persiste no seu

    desejo, at ser alcanado. A persistncia no deve ser confundida com a teimosia, pois o

    indivduo teimoso busca alcanar seus objetivos sempre utilizando as mesmas estratgias,

    mesmo que no estejam dando certo. J o persistente no desiste dos objetivos, mas busca

    alcan-los de formas diferentes, ou seja, uma vez que uma estratgia no tenha dado certo ele

    muda a estratgia e comea tudo de novo, at conseguir atingir o esperado.

    Correr riscos calculados: essa caracterstica significa que o empreendedor capaz de

    avaliar alternativas e calcular riscos deliberadamente; agir para reduzir riscos ou controlar

    resultados; e colocar-se em situao que implicam desafios ou riscos moderados (SEBRAE,

    1990). Segundo Degen (1989), os riscos fazem parte de qualquer atividade e o sucesso do

    empreendedor est na sua capacidade de conviver com eles e sobreviver a eles. Para isso

  • 38

    preciso aprender a administr-los. O empreendedor no malsucedido nos seus negcios

    porque sofre revezes, mas porque no sabe super-los. Os riscos, por sua vez, podem ser, se

    no eliminados, reduzidos pelo planejamento inicial do negcio. A elaborao de um bom

    plano de negcios permite ao empreendedor levantar os possveis riscos que pode obter no

    decorrer da vida do seu empreendimento e procurar uma soluo previamente. Conseguir

    identificar os riscos previamente e antecipar-se a eles, buscando minimiz-los, a melhor

    maneira de o empreendedor administr-los.

    Exigncia de qualidade e eficincia: com isso o empreendedor encontra maneiras de

    fazer as coisas melhor, mais rpido, ou mais barato; age de maneira a fazer as coisas que

    satisfazem ou excedem padres de excelncia; e desenvolve ou utiliza procedimentos para

    assegurar que o trabalho seja terminado a tempo ou que o trabalho atenda padres de

    qualidade previamente combinados (SEBRAE, 1990). O empreendedor busca sempre fazer as

    coisas da melhor forma possvel, para que seja bem aceito pelo seu pblico-alvo. Faz parte

    do perfil do empreendedor a busca constante pela excelncia na qualidade de seus produtos e

    servios, da economia de tempo e recursos e do envolvimento e desenvolvimento da sua

    equipe de trabalho (PATI, 1995, p.50). Para ele, essencial estar constantemente buscando

    maneiras de realizar tarefas com maior rapidez, menor custo e maior qualidade, j que o

    empreendedor geralmente se destaca pelo nvel de qualidade mais alto de seus trabalhos,

    resultado de seus padres de excelncia e energia para trabalhar duro.

    Comprometimento: o comprometimento, que uma forte caracterstica do

    empreendedor, implica em fazer um sacrifcio pessoal ou despender um esforo

    extraordinrio para completar uma tarefa; colaborar com os empregados ou se colocar no

    lugar deles se necessrio para terminar um trabalho; e se esmerar em manter os clientes

    satisfeito, colocando em primeiro lugar a boa vontade a longo prazo, acima do lucro a curto

    prazo (SEBRAE, 1990). O empreendedor se compromete profundamente com seu

  • 39

    empreendimento e possui tambm o autocomprometimento, o que faz com que ele assuma

    responsabilidades consigo mesmo. Quando inicia uma tarefa vai at o fim, mesmo que para

    isso tenha que fazer alguns sacrifcios ou sacrificar a prpria famlia, quanto a ausncia e a

    falta de tempo.

    2 Grupo: Conjunto de planejamento

    Neste conjunto o indivduo apresenta um grupo de caractersticas que esto voltadas a

    lev-lo a pensar a respeito do empreendimento. No incio ele busca informaes sobre

    clientes, concorrentes, fornecedores, modelo de produo ou de execuo de um servio,

    formas administrativas, contbeis e jurdicas. Estabelece metas de longo prazo que sejam

    claras, realistas e especficas. A partir de ento, planeja as divises de tarefas e mantm um

    monitoramento sistemtico, comparando os resultados obtidos com aqueles que foram

    inicialmente esperados. A caractersticas que, segundo McClelland, formam esse conjunto

    sero descritas mais profundamente a seguir:

    Busca de informaes: o empreendedor dedica-se pessoalmente a obter informaes de

    clientes, fornecedores e concorrentes; investiga pessoalmente como fabricar um produto ou

    proporcionar um servio; e consulta especialistas para obter assessoria tcnica ou comercial

    (SEBRAE, 1990). A informao uma arma muito utilizada hoje em dia para sobressair-se no

    mercado. Empreendedor que se preze deve estar sempre atualizado sobre as ltimas

    tendncias do mercado, os mais novos conceitos de gesto, os lderes empresariais mais

    comentados, enfim, ele deve conhecer o mercado como um todo. Para planejar a futura

    empresa preciso ter informaes diversas sobre oportunidades de mercado, futuros clientes,

    custos e preos, tributos e taxas, custos de abertura e de legalizao da nova empresa,

    concorrentes, fornecedores e linhas de financiamentos, entre outras (SANTOS, 1995, p.24).

    Com essas informaes em mos, ele ter muito mais recursos para liderar pessoas, elaborar

  • 40

    estratgias e poder lanar-se com muito mais firmeza no novo empreendimento. Buscar e

    reunir tais informaes vai exigir um esforo pessoal do empreendedor.

    Com o auxlio da internet e o advento da globalizao, possvel ter acesso a uma

    gama de informaes sem sair de casa, como notcias, balanos financeiros de empresas,

    cotaes e ndices financeiros, entre outras informaes estratgicas de mercado. Uma boa

    alternativa na internet so as listas de discusso, que funcionam como fruns sobre temas

    especficos, onde os participantes trocam informaes e contatos entre si, alm de se formar

    uma rede de contatos atuante no mercado. Possibilidades de negcios, parcerias e amizades

    podem se formar, e isso sem dvida muito importante para o empreendedor que est

    comeando e precisa trocar idias com pessoas do mercado. Deve-se tomar cuidado com o

    excesso de informao, que to prejudicial quanto a falta de informao. Para Sheedy

    (1996) as informaes devem ser atuais, fatuais e precisas, alm do que precisam ser

    gerenciadas, monitoradas e avaliadas a fim de identificar aquelas que so realmente

    importantes para a empresa e das quais a empresa necessita. Assim, necessrio manter-se

    informado, mas tambm filtrar as informaes, colocando de lado o excesso e extraindo o que

    realmente importante.

    Estabelecimento de metas: essa caracterstica envolve certas atitudes do empreendedor,

    como: estabelecer metas e objetivos que so desafiantes e que tm significado pessoal; definir

    metas de longo prazo, claras e especficas; e estabelecer objetivos de curto prazo mensurveis

    (SEBRAE, 1990). O empreendedor sabe exatamente o que quer, por qu quer, quando quer e

    como fazer para conseguir, ou seja, sabe onde quer chegar e o caminho para chegar l. Sabe

    fixar metas e alcan-las. Luta contra padres impostos. Diferencia-se. Tem a capacidade de

    ocupar um espao no ocupado por outros no mercado, descobrir nichos. orientado para os

    resultados, para o futuro a longo prazo.

  • 41

    Estabelecer metas no significa fechar-se em um esquema rgido que impede de ver

    novas oportunidades. Significa apenas pensar profundamente no que se deseja da empresa e

    para a empresa e depois dirigir o tempo e energia para alcan-lo. Segundo Sheedy (1996,

    p.46) as metas devem fazer sentido e serem lgicas; devem valer o esforo; devem ser

    claramente definidas, concisas e especficas; devem estimular e manter o apoio do pessoal;

    devem exigir que se faa alguma coisa a mais do que est sendo feito no momento; devem ser

    priorizadas; atingveis, pois metas inatingveis podem causar frustrao; e mensurveis.

    Planejamento e monitoramento sistemtico: atravs dessa caracterstica, o

    empreendedor capaz de dividir tarefas de grande porte em sub-tarefas com prazos definidos;

    revisar seus planos constantemente levando em conta os resultados obtidos e mudanas

    circunstanciais; e mantm registros financeiros, os utilizando para tomar decises (SEBRAE,

    1990). O empreendedor tenta antecipar situaes e preparar-se para elas. algum com

    capacidade de observao e de planejamento. Capacidade para mapear o meio ambiente,

    analisar recursos e condies existentes, buscando estruturar uma viso de longo prazo dos

    rumos a serem seguidos para se atingir os objetivos. O empreendedor faz um planejamento

    atravs da elaborao do plano de negcios do seu empreendimento. Com esse documento

    consegue avaliar o negcio, monitorar atravs de um acompanhamento sistemtico e

    comparativo, e consegue atrair investidores para o seu projeto, ou seja, buscar recursos

    financeiros.

    3 Grupo: Conjunto de poder

    O conjunto de poder envolve o desejo de estar prximo dos outros, construindo slidas

    amizades e edificando bons relacionamentos. Envolve a necessidade que pessoas tm de

    influenciar ou dominar outras pessoas com as quais convive. a necessidade de convencer as

    outras pessoas sobre determinada opinio. Envolve tambm a independncia e autoconfiana,

  • 42

    atravs da qual o empreendedor busca sua autonomia, baseado na confiana em sua prpria

    capacidade. As caractersticas que, segundo McClelland, formam o conjunto de realizao

    sero descritas a seguir:

    Persuaso e rede de contatos: com tal caracterstica ele utiliza estratgias deliberadas

    para influenciar ou persuadir os outros; utiliza pessoas-chave como agentes para atingir seus

    prprios objetivos; e age para desenvolver e manter relaes comerciais (SEBRAE, 1990). O

    empreendedor busca ampliar sua rede de relaes e manter contato constante com todos os

    membros, pois nunca se sabe quando ir precisar deles. V nas pessoas uma das suas mais

    importantes fontes de aprendizagem, e no se prende, somente a fontes reconhecidas, como

    autores da literatura, cursos, profissionais especialistas etc. Busca tirar das pessoas

    informaes, aconselhamentos, experincias j vividas (para no cometer os mesmos erros),

    obter parcerias, influncias etc. O empreendedor capaz de aprender atravs da assimilao

    de experincias de pessoas comuns como ele.

    Segundo Dolabela (1999a), ele tem um alto grau de internalidade, o que significa a

    capacidade de influenciar ou persuadir as pessoas com as quais lida e a crena de que pode

    mudar algo no mundo. Ele tem a capacidade de manter uma boa convivncia e interao com

    outras pessoas, dentro e fora da empresa. Empresrios de sucesso so influenciados por

    empreendedores do seu crculo de relaes (famlia, amigos) ou por lderes ou figuras

    importantes, tomadas como modelos (DOLABELA, 1999a, p.33). por isso que pessoas

    empreendedoras procuram manter contato com o mximo de pessoas possvel, de todo o tipo

    e ramo de mercado. Ele tece redes de relaes (contatos, amizades) moderadas, mas utilizadas

    intensamente como suporte para alcanar os seus objetivos. Segundo Debelak (1999), para

    manter um relacionamento firme e contnuo com toda a rede de relao importante que o

    empreendedor mostre que: 1) possui sensibilidade, que precisa da ajuda e experincia de

    todos; 2) tem perseverana dedica tempo e esforo para idia; 3) est aberto a sugestes;

  • 43

    4) luta contra os problemas de forma aberta e transparente; 5) precisa do envolvimento de

    todos. A rede de relaes interna (com scios, colaboradores) para ele mais importante que a

    externa, pois atravs dos membros da organizao que ele consegue alcanar os seus

    objetivos.

    Independncia e Autoconfiana: o empreendedor busca autonomia em relao a normas

    e controles de outros; mantm seu ponto de vista mesmo diante da oposio ou de resultados

    desanimadores; e expressa confiana na sua prpria capacidade de completar uma tarefa

    difcil ou de enfrentar um desafio (SEBRAE, 1990). A iniciativa uma caracterstica que leva

    o empreendedor a trocar a segurana do assalariado pelo risco de um negcio prprio, em

    busca da sua independncia e realizao. Autoconfiana ter conscincia de seu valor, sentir-

    se seguro em relao a si mesmo e, com isso, poder agir com firmeza e tranqilidade. O

    empreendedor tem auto-confiana, isto , acredita em si mesmo. Se no acreditasse, seria

    difcil para ele tomar a iniciativa. A crena em si mesmo faz o indivduo arriscar mais, ousar,

    oferecer-se para realizar tarefas desafiadoras, enfim, torna-o mais empreendedor. O

    empreendedor precisa soltar as amarras e, sozinho, determinar seus prprios passos, abrir seus

    prprios caminhos, decidir o rumo de sua vida, enfim, ser seu prprio patro.

    Durante 20 anos os comportamentalistas dominaram o campo do empreendedorismo,

    com grande quantidade de pesquisas e publicaes procurando definir o que o

    empreendedor e suas caractersticas. Os comportamentalistas predominaram at no incio dos

    anos 80 e um considervel esforo foi e continua sendo empregado para entender as diversas

    fontes psicolgicas e sociolgicas que esto no perfil do empreendedor. Inmeras publicaes

    descrevem uma srie de caractersticas pessoais atribudas aos empreendedores, que foram

    resumidas por Filion (1999a) e podem ser analisadas no quadro que segue:

  • 44

    Quadro 2: Caractersticas mais freqentes dos empreendedores viso dos comportamentalistasCARACTERSTICAS DOS EMPREENDEDORES

    Inovao Otimismo Tolerncia ambiguidade e incerteza Liderana Orientao para resultados Iniciativa Riscos moderados Flexibilidade Capacidade de aprendizagem Independncia Habilidade para conduzir

    situaes Habilidade na utilizao de recursos

    Criatividade Necessidade de realizao Sensibilidade a outros Energia Autoconscincia Agressividade Tenacidade Autoconfiana Tendncia a confiar nas pessoas Originalidade Envolvimento a longo prazo Dinheiro como medida de desempenho

    Fonte: Hornaday (1982); Meredith, Nelson & Neck (1982); Timmons(1978) apud FILION, Louis Jaques.Empreendedorismo: empreendedores e proprietrios-gerentes de pequenos negcios. Revista deAdministrao. Universidade de So Paulo (USP). V. 34, n. 2, p. 05-28, abril/junho, 1999(a).

    Filion (1999a) traz as caractersticas mais freqentemente atribudas aos

    empreendedores e que esto em consenso entre os estudiosos da rea, como Ayres et a (2001),

    Barros et al (2001), Leite (2001;2002), Birley e Muzyka (2001), Dornelas (2001), Morais

    (2000), Dolabela (1999a,b), Degen (1989), Pichott III (1989), Drucker (1986), entre outros e

    ele prprio. Em adio, tais estudiosos comentam sobre uma determinada caracterstica, que

    no universalmente aceita, que o fato do empreendedor ser inato, ou seja, tratar o fator

    gentico como agente tipificador do empreendedor. Este estudo quando tomado como um

    todo , muitas vezes, conflituoso e inconcluso.

    Apesar de tantos estudos realizados e pesquisas sendo desenvolvidas no totalmente

    possvel traar um perfil psicolgico absolutamente cientfico e exato do empreendedor, pois

    segundo Filion (2000, p.18) as pessoas mudam segundo os contextos e as circunstncias s

    quais so expostas: os perfis de comportamento no so necessariamente estticos. Existem

    inmeras variveis que influenciam na formao, e assim, o perfil empreendedor certamente

    ser diferente em funo do tempo que est no mercado. Tambm influencia a experincia de

    trabalho, a regio de origem, o nvel de educao, a religio, a cultura familiar (DOLABELA,

    1999b). Portanto, no possvel avaliar um indivduo e afirmar se ele ser ou no bem-

    sucedido como empreendedor. O que se pode analisar se ele tem ou no algumas

    caractersticas e aptides mais comumente encontradas em empreendedores bem-sucedidos, o

  • 45

    que permite ao indivduo avaliar e identificar as caractersticas que precisam ser aperfeioadas

    ou desenvolvidas.

    2.1.1.3 Abordagens ps-comportamentalistas sobre o empreendedorismo

    Muitos so os autores que desenvolveram e muitos os que continuam desenvolvendo

    estudos a fim de conceituar o termo empreendedorismo. Apesar de ter sido mencionado h

    sculos, o empreendedorismo como campo de estudo acadmico bastante jovem. Segundo

    Dolabela (1999a), o termo s comeou a ser explorado em maior profundidade h mais ou

    menos 20 anos. Foi nos anos 80 que o campo do empreendedorismo cresceu e espalhou-se por

    quase todas as cincias humanas e gerenciais. Os primeiros doutorados surgiram nos anos 80

    e a grande maioria dos interessados vinham de outras reas de estudo, nas quais

    empreendedorismo no era o principal campo de atividade (FILION, 1999a). Cooper et al

    (2000), faz um relato do desenvolvimento acadmico do empreendedorismo. Ele coloca que

    Myles Mace ofereceu o primeiro curso em empreendedorismo, Management of New

    Enterprise, para a Harvard Business School em 1947. Peter Drucker comeou um curso em

    Empreemdedorismo e Inovao para a New York University em 1953.

    Patrocinada pelo Center for Venture Management, a primeira conferncia acadmica

    de pesquisa em empreendedorismo nos Estados Unidos foi realizada em Purdue University

    em 1970. Na Academy of Management, em 1974, Karl Vesper realizou um encontro

    organizacional para aqueles interessados em empreendedorismo. O encontro conduziu a

    formao de um Grupo de Interesse em Empreendedorismo, inicialmente parte da Diviso de

    Negcios Polticos e Planejamento. Este grupo no atingiu status mximo como uma diviso

    independente da Academy of Management at 1987. A primeira Conferncia Internacional na

    pesquisa de empreendedorismo foi realizada em Toronto em 1973. Ao mesmo tempo, havia

  • 46

    um esforo para organizar uma nova organizao profissional, a Society for Entrepreneurship

    Research and Application (SERA). Esta sociedade, nunca progrediu alm da original lista de

    42 membros (COOPER et al, 2000).

    Em 1975, o Simpsio Internacional de Empreendedorismo e Desenvolvimento de

    Empreendedorismo teve lugar em Cincinati, com a ambio de atrair participantes de todos os

    lados do mundo. O Babson College fez o principal papel no incio do desenvolvimento do

    campo de empreendedorismo, pois estabeleceu a Academy of Distinguished Entrepreneurs,

    em 1978, para reconhecer a classe de empreendedores no mundo (World-class entrepreneurs).

    Esta se tornou um prottipo de outros programas para reconhecer empreendedores, seus

    talentos e suas realizaes, incluindo a Ernst & Young Entrepreneur of the Year Awards, a

    National Federation of Independent Business, entre outras. Outra importante iniciativa foi o

    Small Business Intitute Program, que iniciou em 1972 na Texas Tech University e

    providenciou suporte para universidades que tinham cursos na consultoria para pequenos

    negcios. Este programa se desenvolveu rapidamente, com 396 universidades participando

    em 1976 (COOPER et al, 2000).

    Segundo Dolabela (1999a), os cursos na rea vem aumentando em volume e

    velocidade surpreendente: em 1975, nos EUA, havia cerca de 50 cursos, j hoje h mais de

    mil, em universidades e escolas de segundo grau, ensinando empreendedorismo. Mais de 100

    universidades tm estabelecido centros de empreendedorismo que servem como pontos para

    pesquisas e programas de discusso do tema (COOPER et al, 2000). Ao final dos anos 80 o

    empreendedorismo se tornou um tema de estudos em quase todas as reas de conhecimento,

    havendo em quase todas elas uma excepcional diversidade conceitual. O quadro 3 a seguir

    mostra as diversas reas pelas quais o estudo do empreendedorismo se propagou.

  • 47

    Quadro 3: Temas principais da pesquisa sobre empreendedorismo Caractersticas comportamentais dos empreendedores Caractersticas econmicas e demogrficas das PME Empreendedorismo e PME nos pases em desenvolvimento Caractersticas gerenciais dos empreendedores Processo empreendedor Criao de empresas Desenvolvimento de empresas Capitais de risco e financiamento das PME Administrao de empresas, levantamento, aquisies Empresas de alta tecnologia Estratgias de crescimento da empresa empreendedora Parceria estratgica Empreendedorismo corporativo ou intra-empreendedorismo Empresas familiares Trabalho autnomo Incubadoras e sistemas de apoio ao empreendedorismo Redes Fatores que influenciam a criao e o desenvolvimento de empresas Polticas governamentais e criao de empresas Mulheres, grupos minoritrios, grupos tnicos e o empreendedorismo Educao empreendedora Pesquisa e empreendedorismo Estudos culturais comparativos Empreendedorismo e sociedade Franquias

    Fonte: Filion (1997, p. 142) apud FILION, Louis Jaques O empreendedorismo como tema de EstudosSuperiores. In: Empreendedorismo: Cincia, Tcnica e Arte. Instituto Euvaldo Lodi. Braslia: CNI. IELNacional, 2000, 100 pgs. p. 15-42, (p.20).

    Esse quadro mostra o quo varivel est o estudo do empreendedorismo e que ainda h

    um campo vasto a ser estudado a respeito do tema. Na medida em que se l os itens do quadro

    novos temas de pesquisa vo surgindo, como por exemplo, empreendedorismo na sade,

    empreendedorismo artesanal, empreendedorismo artstico, empreendedorismo esportivo, alto

    ndice de criao de empresas versus alto ndice de mortalidade de empresas, relao entre

    mortalidade e perfil empreendedor, etc. Cooper et al (2000) coloca que no se pode deixar de

    mencionar que o estudo do empreendedorismo foi inicialmente realizado com estudos de

    pequenos negcios e criao de novos empreendimentos, mas se desenvolveu para incluir

    uma larga populao de firmas, incluindo organizaes slidas procurando se revitalizar. O

    empreendedorismo um dos poucos assuntos que atraem especialistas de diversas reas de

    conhecimento, gerando uma falta de consenso e, portanto, uma confuso na definio e

    conceituao do termo.

  • 48

    Apesar de serem vrios os estudiosos da rea - economistas, administradores,

    socilogos, psiclogos, entre outros e talvez seja este o motivo, h ainda muita discrdia

    com relao ao tema. Vrios tentaram teorizar em torno do fenmeno, mas no existe ainda

    nenhuma teoria econmica sobre o empreendedor que rena consenso, nem modelo

    econmico que explique o desenvolvimento a partir da funo empreendedora, pois est

    dificilmente quantificvel (FILION, 2000, p.18). Pesquisadores de diversas reas tendem a

    perceber e definir empreendedores usando premissas de suas prprias disciplinas. Assim, a

    confuso do que vem a ser empreendedor tende a se diluir e as semelhanas aparecerem na

    medida em que se analisa cada disciplina separadamente.

    2.2 CONCEITUAO DE EMPREENDEDORISMO E EMPREENDEDOR

    Nos estudos e pesquisas realizados sobre o fenmeno do empreendedorismo observa-

    se que no h consenso entre os estudiosos e pesquisadores a respeito da exata definio do

    conceito de empreendedor. Isto decorrente da amplitude de disciplinas envolvidas no campo

    do empreendedorismo. Os estudiosos das diversas linhas de estudo definem o termo, dando

    perspectivas condizentes com sua rea d