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LIGIA GREATTI
PERFIS EMPREENDEDORES:Anlise comparativa das trajetrias de sucesso e do fracasso empresarial
no Municpio de Maring
MARING2003
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LIGIA GREATTI
PERFIS EMPREENDEDORES:Anlise comparativa das trajetrias de sucesso e do fracasso empresarial
no Municpio de Maring
Dissertao apresentada como requisitoparcial obteno do grau de Mestre noPrograma de Ps-Graduao emAdministrao da Universidade Estadualde Maring e Universidade Estadual deLondrina consorciadas, sob a orientao doProf. Dr. Jos de Jesus Previdelli.
MARING2003
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LIGIA GREATTI
PERFIS EMPREENDEDORES:Anlise comparativa das trajetrias de sucesso e fracasso empresarial
Dissertao aprovada como requisitopara a obteno do grau de Mestre noPrograma de Ps-Graduao emAdministrao, Universidade Estadual deMaring e Universidade estadual de Londrina,pela seguinte banca examinadora
Aprovada em 06/08/2003
_______________________________________________Prof. Dr. Jos de Jesus Previdelli (PPA-UEM)
_______________________________________________Prof. Dr. Fernando Antnio Prado Gimenez (PPA-UEM)
_______________________________________________Prof. Dr. Mirian Palmeira (UFPR)
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Ao meu filho, Brenno, que foi quem mais teveperdas com esta tarefa e que, mesmo sem entender,teve que renunciar, muitas vezes, a minha presena.
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AGRADECIMENTOS
A Deus, que em anonimato me deu fora e coragem necessrias para vencer esta caminhada...
Aos meus pais, Valdir e Joana, que me deram a vida e me ensinaram a viv-la com dignidade,
iluminando meus caminhos obscuros com afeto e dedicao, para que os trilhasse sem medo e
cheia de esperana..., que se doaram e renunciaram aos seus sonhos, para que, muitas vezes,
pudesse realizar os meus...
Ao meu esposo, Kelber, que sempre acreditou nos meus sonhos, apoiando todas as minhas
decises e sabendo compreender os momentos em que fui ausente..., que com palavras de
carinho me fez crescer e aprender a ser forte..., que com alegria compartilhou das minhas
conquistas...
Ao meu filho, Brenno, pelo seu sorriso que me deu foras para transpor barreiras, vencer
desafios e seguir em frente..., pelas muitas vezes em que no estive presente na sua doce
infncia...e pelas vezes que lhe faltei com minha ateno...
Aos meus irmos, Alessandra e Maycon, que estiveram sempre comigo compartilhando no
s os meus momentos de alegria, mas principalmente os de tristeza...
minha famlia e amigos, que juntos formam uma base forte de confiana sobre a qual eu
posso caminhar...
Ao meu orientador, Jos de Jesus Previdelli, que me incentivou a no desanimar e a lutar
pelos meus ideais..., que compartilhou comigo seus conhecimentos e jamais mediu esforos
para me auxiliar na busca dos meus objetivos...
Aos demais professores, que sustentaram em mim a maturidade de um profissional...
banca qualificadora, Dr Fernando Antnio Prado Gimenez e Dr. Ivoneti Catharina Rigon
Bastiani, pelos questionamentos e sugestes que contriburam para a melhora deste trabalho...
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banca de defesa, Dr Fernando Antnio Prado Gimenez e Dr. Mirian Palmeira, pela
participao e contribuio na finalizao desta tarefa...
Aos funcionrios, em especial ao Bruhmer Csar Forone Canonice, pela compreenso,
dedicao e pelas palavras amigas, s vezes duras, mas necessrias...
Aos colegas, em especial Vilma Meurer, pelo companheirismo e por compartilhar os
momentos difceis, tornando-os mais amenos...
Enfim, a todas as pessoas que, de uma forma ou de outra, me ajudaram a vencer mais uma
etapa.
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Quem passou pela vida em branca nuvem e emplcido repouso adormeceu; quem no sentiu o frioda desgraa quem passou pela e no sofreu; foiespectro de homem, no foi homem, s passou pelavida, no viveu.
Manuel Bandeira
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SUMRIO
Lista de quadros............................................................................................................... 9Lista de figuras........................................................................................................................................ 10Lista de tabelas........................................................................................................................................ 11Resumo............................................................................................................................. 12Abstract............................................................................................................................ 13CAPTULO 1: APRESENTAO DA PESQUISA.................................................. 141.1 INTRODUO.............................................................................................................................. 141.2 OBJETO DA PESQUISA........................................................................................................... 151.2.1 Problema da pesquisa.............................................................................................................. 151.2.2 Variveis da pesquisa.............................................................................................................. 161.3 OBJETIVOS DA PESQUISA.................................................................................................... 171.3.1 Objetivo geral............................................................................................................................. 171.3.2 Objetivos especficos................................................................................................................ 171.4 JUSTIFICATIVA E RELEVNCIA DA PESQUISA....................................................... 191.5 ESTRUTURA DA DISSERTAO........................................................................................ 21CAPTULO 2: FUNDAMENTAO TERICA...................................................... 242.1 A EVOLUO DO ESTUDO DO EMPREENDEDORISMO....................................... 242.1.1 Abordagens sobre o empreendedorismo......................................................................... 252.1.1.1 Abordagem econmica sobre o empreendedorismo..................................................... 262.1.1.2 Abordagem comportamentalista sobre o empreendedorismo.................................... 332.1.1.3 Abordagens ps-comportamentalistas sobre o empreendedorismo......................... 452.2 CONCEITUAO DE EMPREENDEDORISMO E EMPREENDEDOR.............. 482.3 O PERFIL EMPREENDEDOR................................................................................................. 542.4 A IMPORTNCIA DO PERFIL EMPREENDEDOR PARA O SUCESSO DO
EMPREENDIMENTO............................................................................................... 592.4.1 O sucesso e o fracasso empresarial como fator resultante do perfil
empreendedor........................................................................................................... 642.5 O AMBIENTE CULTURAL NA FORMAO DO EMPREENDEDOR.............. 702.5.1 Fatores que inibem o desenvolvimento do empreendedorismo........................ 742.6. CARACTERSTICAS EMPREENDEDORAS ANALISADAS NA PESQUISA.. 77CAPTULO 3: ASPECTOS METODOLGICOS.................................................... 833.1 MODELO TERICO DA PESQUISA................................................................................... 833.2 MTODO CIENTFICO DA PESQUISA.............................................................................. 853.2.1 Mtodos de abordagem........................................................................................................... 863.2.2 Mtodos de procedimento...................................................................................................... 883.3 INSTRUMENTOS DA PESQUISA......................................................................................... 923.4 TCNICAS DE PESQUISA....................................................................................................... 943.5 DELIMITAO DA PESQUISA............................................................................................. 1003.5.1 Unidade de anlise.................................................................................................................... 1003.5.2 Delimitao do universo da pesquisa................................................................................ 1013.5.3 Tipo de amostragem................................................................................................................ 1053.5.4 Limitaes da pesquisa......................................................................................... 108CAPTULO 4: RESULTADO DA PESQUISA........................................................... 1104.1 INFORMAES GERAIS SOBRE O EMPREENDEDOR.................................... 1114.1.1 Idade do empreendedor........................................................................................ 111
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4.1.2 Sexo do empreendedor.......................................................................................... 1124.1.3 Nvel de escolaridade do empreendedor............................................................. 1134.2 AMBIENTE DE RELAO DO EMPREENDEDOR............................................. 1154.3 NVEL DE EXPERINCIA NA REA EMPRESARIAL E NO RAMO DO
NEGCIO.................................................................................................................. 1164.4 COMPROMETIMENTO E DEDICAO AO EMPREENDIMENTO.................. 1194.5. CAPACIDADE DE INOVAO............................................................................ 1204.6 NVEL DE CENTRALIZAO E DELEGAO DE AUTORIDADE ............... 1224.7 EXIGNCIA DE QUALIDADE E EFICINCIA................................................... 1234.8 CAPACIDADE DE REAO.................................................................................. 1254.9 NVEL DE REALIZAO....................................................................................... 1264.10 PROCESSO DE CRIAO DA EMPRESA.......................................................... 1274.10.1 Motivo de abertura do empreendimento.......................................................... 1284.10.2 Processo de planejamento do negcio............................................................... 1304.10.3 Considerao do empreendedor sobre o principal fator de sucesso do
empreendimento................................................................................................. 1354.11 ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES............................................................... 1385 CONSIDERAES FINAIS..................................................................................... 1436 RECOMENDAES E SUGESTES DE ESTUDOS FUTUROS...................... 1497 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...................................................................... 152ANEXOS......................................................................................................................... 157ANEXO 1: Questionrio aplicado nas empresas encerradas.......................................... 158ANEXO 2: Questionrio aplicado nas empresas em atividade..................................... 163
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Desenvolvimento da teoria do empreendedorismo......................................... 24Quadro 2: Caractersticas mais freqente dos empreendedores viso
comportamentalistas........................................................................................ 44Quadro 3: Temas principais da pesquisa sobre empreendedorismo................................ 47Quadro 4: Definies de empreendedor de acordo com especialistas de reas distintas. 52Quadro 5: Caractersticas do empreendedor segundo Hornaday (1982) e Timmons
(1994)............................................................................................................. 57Quadro 6: Caractersticas histricas do empreendedor.................................................. 58Quadro 7: Causas do sucesso e fracasso das micro e pequenas empresas no estado do
Paran.............................................................................................................. 60Quadro 8: Motivos de sucesso e fracasso do empreendimento........................................ 64Quadro 9: Fatores de sucesso e do empreendedor, segundo Timmons (1994)................ 67Quadro 10: Principais causas de fracasso de um empreendedor...................................... 68Quadro 11: Competncia de empreendedores bem sucedidos......................................... 69Quadro 12: Razes para disseminar a cultura empreendedora........................................ 73Quadro 13: Comparao entre as concepes bsicas de pesquisa.................................. 84Quadro 14: Questes que respondem aos objetivos da pesquisa..................................... 99
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Estrutura da dissertao...................................................................................... 22Figura 2: Modelo metodolgico da pesquisa...................................................................... 91Figura 3: Desenho das tcnicas de pesquisa utilizadas neste estudo.................................. 97Figura 4: Idade do empreendedor....................................................................................... 112Figura 5: Sexo do empreendedor........................................................................................ 112Figura 6: Nvel de escolaridade do empreendedor............................................................. 113Figura 7: rea de formao em curso superior e ps-graduao..................................... 114Figura 8: Empreendedores com famlia ou amigos prximos envolvidos na rea
empresarial....................................................................................................... 115Figura 9: Atividade anterior criao da empresa............................................................. 117Figura 10: Ramo de atividade da empresa anterior............................................................ 118Figura 11: Dedicao ao empreendimento......................................................................... 119Figura 12: Inovaes introduzidas na empresa.................................................................. 121Figura 13: Tomador de deciso.......................................................................................... 122Figura 14: Qualidade dos produtos e servios.................................................................... 124Figura 15: Qualidade do trabalho dos funcionrios........................................................... 124Figura 16: Tempo de reao situaes stressantes.......................................................... 125Figura 17: Nvel de realizao com o empreendimento..................................................... 127Figura 18: Nvel de planejamento antes da criao da empresa......................................... 132Figura 19: Nvel de planejamento durante as atividades da empresa................................. 134Figura 20: Empreendedores que reiniciariam seu negcio................................................. 140Figura 21: Empreendedores que fariam mudanas no empreendimento............................ 141
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Relao das empresas e tamanho do universo da pesquisa................................ 103Tabela 2: Empresas validadas, abertas no Municpio de Maring, entre 1997 e
1999.................................................................................................................. 104Tabela 3: Quantidade de empresas da amostra (empresas ativas e inativas)..................... 106Tabela 4: Quantidade de empresas da amostra (empresas ativas e inativas)..................... 110Tabela 5: Principal motivos de abertura da empresa.......................................................... 129Tabela 6: Tempo de planejamento para a criao da empresa........................................... 131Tabela 7: Principal fator para o sucesso do empreendimento sobre a perspectiva do
empreendedor..................................................................................................... 136Tabela 8: Motivo pelo fechamento das empresas............................................................... 138
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RESUMO
Sob a nova tica de um mundo globalizado e sem fronteiras, a atividadeempreendedora de fundamental importncia para o processo de desenvolvimento econmicode uma comunidade e de uma nao, pois estimula o crescimento gerando novas tecnologias,produtos e servios. A atividade empreendedora realizada por indivduos que conseguemidentificar novas oportunidades de negcios atravs de um processo visionrio, combinarrecursos e habilidades de forma inovadora para a concretizao da idia e conduzir de formaeficaz o empreendimento, objetivando o relacionamento amistoso entre a empresa, seusmembros e o mercado, altamente competitivo. Considerando a necessidade de sobrevivnciadas empresas e a influncia que o empreendedor exerce sobre ela, esta pesquisa vem com oobjetivo de analisar e comparar o perfil dos empreendedores das micro e pequenas empresas,ativas e inativas, da cidade de Maring-PR. Buscando atingir os objetivos da pesquisa foirealizado um estudo de carter exploratrio e descritivo e utilizou-se o mtodo de abordagemindutivo e mtodos de procedimentos histrico, tipolgico e comparativo. A pesquisa foirealizada por meio da observao direta intensiva, usando como instrumento de coleta dedados a entrevista estruturada. Atravs da comparao e anlise dos dados coletados, pde-seperceber que os empreendedores das empresas em atividade apresentaram praticamente todasas caractersticas analisadas em propores maiores do que os empreendedores das empresasextintas. A considerao que se pode fazer que a falta de caractersticas empreendedoraspode ter sido um dos fatores que impulsionou o encerramento de tais empreendimentos, poisempresas abertas nos mesmos anos, com as mesmas condies de mercado tiveram destinostotalmente contrrios. No se pode dizer que o perfil empreendedor o fator condicionante damortalidade dessas empresas, pois so inmeras as variveis internas e externas, queinfluenciam na longevidade empresarial. Entretanto, fica evidente que, quando empresas socolocadas nas mesmas condies externas e tomam rumos diferentes, o causador pode ser umdos fatores internos. O fato que este fator interno que influencia no sucesso e no fracasso doempreendimento pode estar relacionado com as caractersticas individuais que formam operfil do empreendedor.
Palavras-chaves: empreendedorismo, perfil empreendedor, longevidade empresarial.
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ABSTRACT
Under a new vision of a globalized world without frontiers, the entrepreneurial activity is veryimportant to the economical development of a community and of a nation, because it incitesgrowth creating new products, services and technologies. Those who are able to identify newbusiness opportunities through a visionary process, to associate resources and abilities in aninnovatory way in order to realize the project and to conduct the enterprise successfully,accomplish this activity aiming a friendly relationship between the company members and itshighly competitive market. Considering the survival needs of a company and the influence theentrepreneur has on it, this study aims to analyze and to compare the entrepreneurs profilefrom active or inactive small and micro companies in the city of Maring, Paran. Anexploratory and descriptive study was carried out to reach the purpose of this paper and theinductive approach was utilized as well as historical, typological and comparative procedures.This research was made through an intensive direct observation using structured interviews asa tool for data collection. By the analysis and comparison of the collected data, it was possibleto see that the entrepreneurs from the active companies have presented almost all of theanalyzed features in larger proportions than those from extinct companies. It can beconsidered that the lack of entrepreneurial characteristics could have been one of the factorswhich has led to these enterprises enclosing, for companies opened at the same time, with thesame market conditions have had completely contrary destinies. It cannot be affirmed that anentrepreneurial profile is the determinant factor of these companies ends, because there arenumbers of internal and external variables, which influence business longevity. However, it isclear that when companies are set in same external conditions and they take different ways,one of the internal factors may be the cause. Actually, this internal factor, which influencesthe success or failure of an undertaking, can be related to the individual features that make theentrepreneurial profile.
Key words: entrepreneurship, entrepreneurial profile, business longevity.
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CAPTULO 1
APRESENTAO DA PESQUISA
1.1 INTRODUO
No atual contexto de desafios e incertezas, o desenvolvimento das organizaes e at
mesmo sua sobrevivncia depende, em grande parte, da capacitao, das habilidades e das
caractersticas individuais dos seus empreendedores. O empreendedor precisa ter
competncias que possibilitem, no s inserir uma empresa no mundo dos negcios, como,
tambm, manter sua sobrevivncia em um mercado altamente competitivo. Ele deve estar
capacitado para criar e, tambm, para conduzir a implementao do processo criativo,
elaborando estratgias que permitam o desenvolvimento da sua organizao. O empreendedor
caracterizado como um indivduo que possui altos nveis de energia e altos graus de
perseverana e imaginao que, combinados com a disposio para correr riscos moderados,
o capacita a transformar o que freqentemente comea como uma idia (viso) simples e mal
definida em algo concreto (KETS DE VRIES, 2001).
O empreendedor uma pessoa criativa, marcada pela capacidade de estabelecer e
atingir objetivos e que mantm um alto nvel de conscincia do ambiente em que vive,
usando-o para detectar oportunidades de negcio (FILION, 1991). Por ser uma pessoa
visionria e orientada para a realizao, se dispe a assumir riscos e responsvel por suas
decises. Os principais traos que caracterizam o empreendedor so a iniciativa,
independncia, autoconhecimento, autoconfiana, automotivao, criatividade, flexibilidade,
energia, integridade, perseverana, otimismo, convencimento, planejamento, sensibilidade,
resistncia frustrao, relacionamento interpessoal, comunicao, organizao,
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conhecimento de mercado, capacidade de identificar oportunidades e disposio para assumir
riscos, aptides empresariais, liderana, capacidade de negociao, entre inmeras outras, que
em conjunto formam o perfil do empreendedor, determinando sua maneira de pensar e agir no
propsito de criao de algo inesperado.
De acordo com pesquisas efetuadas pelo Sebrae (1999) e tambm da colocao de
vrios autores como Dolabela (1999a;b), Degen (1989) entre outros, muitas empresas morrem
nos primeiros anos de existncia. A causa da mortalidade atribuda a inmeros fatores, como
falta de planejamento, de capital de giro etc., mas at agora no relacionaram essas causas
com a falta de caractersticas empreendedoras do empresrio. Assim, esta pesquisa tem a
finalidade de analisar as habilidades, competncias, comportamento e caractersticas
individuais que em conjunto formam o perfil empreendedor, a fim de elaborar um estudo
comparativo do perfil do empreendedor de empresas ativas e inativas na cidade de Maring.
1.2 OBJETO DA PESQUISA
Definir o objeto da pesquisa consiste em definir o que realmente foi estudado, de
forma bastante objetiva e especfica. Consiste em definir, primeiramente, o problema da
pesquisa, ou seja, a questo que a pesquisa pretendeu estudar e responder. Em seqncia,
apresentar as variveis da pesquisa, podendo ser entendido como os fenmenos que foram
estudados.
1.2.1 Problema da pesquisa
O problema da pesquisa, segundo Lakatos e Marconi (1991), indica exatamente qual a
dificuldade que se pretendeu resolver. Consiste em dizer de forma clara, explcita,
compreensvel e operacional, qual a dificuldade com a qual o pesquisador estava se
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defrontando e pretendia resolver. O problema da pesquisa , geralmente, formulado em forma
de pergunta, com o intuito de torn-lo especfico, objetivo e inconfundvel. Desta forma, o
problema desta pesquisa pde ser assim apresentado:
Existe alguma diferena entre o perfil do empreendedor que mantm sua empresa ativa
no mercado e o perfil do empreendedor que teve sua empresa extinta do mercado, no
Municpio de Maring?
Com a formulao deste problema, procurou-se descobrir se o perfil empreendedor
exercia alguma influncia na mortalidade/sobrevivncia empresarial. Para isso, a pesquisa se
serviu de uma anlise das caractersticas dos empresrios maringaenses que tiveram suas
empresas extintas e dos empresrios maringaenses que mantinham suas empresas ativas no
mercado, para termos de comparao.
1.2.2 Variveis da pesquisa
uma caracterstica ou um fenmeno que est sendo estudado (COOPER E
SCHINDLER, 2000). um conceito que contm ou apresenta valores, tais como:
caracterstica, qualidades, quantidades, traos etc (LAKATOS E MARCONI, 1991). Sendo
assim, esta pesquisa apresentou duas variveis de estudo: a) o perfil do empreendedor que
manteve sua empresa ativa no mercado por mais de trs anos; b) o perfil do empreendedor
que teve sua empresa extinta do mercado com at trs anos de existncia. As duas variveis de
anlise so totalmente independentes uma da outra, e foram utilizadas apenas para termos de
comparao.
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1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA
1.3.1 Objetivo Geral
Desenvolver uma anlise comparativa entre o perfil dos empreendedores que tiveram suas
empresas extintas e o perfil dos empreendedores que mantinham suas empresas ativas no
mercado, no Municpio de Maring.
Para tal objetivo, perguntou-se:
Existe alguma diferena entre o perfil dos empreendedores de empresas inativas e de
empresas ativas no mercado, no Municpio de Maring?
1.3.2 Objetivos Especficos
1. Caracterizar os empreendedores maringaenses quanto ao sexo, idade e nvel de
escolaridade;
2. Analisar o nvel de conhecimento e experincia na rea empresarial e no ramo do negcio;
3. Analisar o ambiente de relao do empreendedor maringaense;
4. Analisar o nvel de comprometimento e dedicao do empreendedor com o seu
empreendimento;
5. Analisar a capacidade de inovao do empreendedor;
6. Analisar o nvel de centralizao e delegao de autoridade do empreendimento;
7. Analisar o nvel de exigncia de qualidade e eficincia do empreendedor;
8. Analisar o nvel de realizao e satisfao com o trabalho por parte do empreendedor;
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9. Analisar o processo de criao da empresa: motivos de abertura, busca de informaes,
planejamento inicial e monitoramento;
10. Estabelecer um comparativo entre os dois grupos de anlise, empreendedores das
empresas ativas e das inativas, com relao a todos os fatores acima relacionados;
11. Analisar os motivos do encerramento da empresa e o nvel de persistncia com relao a
ele;
Em busca de atingir tais objetivos especficos, definiu-se questes que foram respondidas no
decorrer da pesquisa:
1. Quais as caractersticas gerais dos empreendedores maringaenses quanto ao sexo, idade
e nvel de escolaridade;
2. Qual o nvel de conhecimento e experincia na rea empresarial e no ramo do negcio;
3. Qual o ambiente de relao do empreendedor maringaense;
4. Qual o nvel de comprometimento e dedicao do empreendedor com o seu
empreendimento;
5. Como se encontra a capacidade de inovao do empreendedor;
6. Qual o nvel de centralizao e delegao de autoridade do empreendimento;
7. Qual o nvel de qualidade e eficincia do empreendimento;
8. Qual o nvel de realizao e satisfao com o trabalho por parte do empreendedor;
9. Como foi o processo de criao da empresa: motivos de abertura, busca de informaes,
planejamento inicial e monitoramento;
10. Existem diferenas entre os dois grupos de anlise, empreendedores das empresas ativas
e das inativas, com relao a todos os fatores acima relacionados;
11. Quais os motivos do encerramento da empresa e o nvel de persistncia do empreendedor
com relao a ele;
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1.4 JUSTIFICATIVA E RELEVNCIA DA PESQUISA
Segundo Dolabela (1999a,b), o ndice de mortalidade das micros e pequenas empresas
bastante elevado nos trs anos seguintes sua criao cerca de 90%. Muitas pesquisas tm
sido desenvolvidas no sentido de descobrir e analisar as causas de tantos encerramentos
empresariais. Uma pesquisa realizada pelo Sebrae em 12 (doze) Unidades da Federao, no
perodo de agosto de 1998 a junho de 1999, e em Minas Gerais, em 1997, apurou a taxa de
mortalidade das empresas para at trs anos de criao das mesmas. Conforme a Unidade de
Federao, essa taxa variou de cerca de 30% at 61%, no primeiro ano de existncia da
empresa, de 40% at 68%, no segundo ano, e de 55% at 73%, no terceiro perodo do
empreendimento (SEBRAE, 1999). Ao analisar os fatores condicionantes dessa mortalidade,
comparando-se os resultados de entrevistas realizadas junto a empresas extintas e empresas
em atividade, identificou-se que as principais causas era a falta de capital de giro, problemas
financeiros, falta de clientes, carga tributria elevada, recesso econmica, como os principais
fatores de extino (SEBRAE, 1999).
Um outro estudo realizado por Previdelli & Senhorini (2001), sobre as causas da
mortalidade das micros e pequenas empresas maringaenses, no estado do Paran, revelou que
47,86% das empresas que tiveram suas portas fechadas entre 1998 e 2000 sobreviveram por
menos de 1 ano no mercado, e 38,03% conseguiram se manter at os seus dois anos de vida.
Neste estudo as causas foram atribudas a problemas financeiros, elevada carga tributria,
concorrncia acirrada e falta de clientes.
Pode-se notar que as causas so atribudas, geralmente, fatores externos (social,
poltico, econmico) e fatores internos da empresa, como a falta de capital de giro, custos
elevados, quedas nas vendas, entre outras. Quase nunca se relaciona a mortalidade das
empresas com a sua administrao ou gerenciamento. Os fatores apontados como causa da
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mortalidade das empresas podem ser decorrentes de um problema ainda maior: a falta de
caractersticas para empreender, por parte do fundador da empresa. Segundo Dolabela
(1999a,b), presume-se que, se uma pessoa tem caractersticas e aptides comumentes
encontradas em empreendedores de sucesso, ter melhores condies para empreender. So
nessas caractersticas comportamentais bsicas que o candidato a empreendedor deve se
pautar, e sem tais caractersticas, o indivduo ter dificuldades em obter sucesso.
Assim, esta pesquisa se justificou ao comparar o perfil do empreendedor de sucesso e
de fracasso empresarial, tentando analisar se as causas da mortalidade e da sobrevivncia das
micros e pequenas empresas de Maring podiam ter alguma relao com a falta de habilidades
e caractersticas individuais desses empresrios, no sentido de terem ou no um perfil
empreendedor. Uma anlise deste tipo pode trazer inmeros benefcios aos estudos do gnero
e comunidade em geral. Sendo realizada no mbito da cidade de Maring, a pesquisa pode
ser extendida para outras cidades e tambm para outras unidades federativas do Brasil. Se o
fato for constatado, surge a necessidade de se investir na formao de empreendedores, ou
seja, de criar uma forma de desenvolvimento das caractersticas empreendedoras no
indivduo, ou, pelo menos, conscientizar os indivduos da importncia da existncia de tais
caractersticas para se criar um empreendimento.
Dolabela (1999a), coloca que no ensino profissionalizante e universitrio, predomina a
cultura da grande empresa, e que no h o hbito de se falar na pequena empresa: Os
cursos de Administrao, com raras excees, so voltados quase exclusivamente para o
gerenciamento de grandes empresas (DOLABELA, 1999a). Vendo o rumo da educao
administrativa no pas e constatando (ou no) alguma relao entre o perfil do empreendedor
e a mortalidade/sobrevivncia das empresas, este estudo se justifica e mostra sua relevncia
ao abrir caminho para a conscientizao de que desenvolver o potencial empreendedor um
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dos principais fatores para o surgimento de negcios, gerando possibilidade de
desenvolvimento econmico do pas.
1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAO
A dissertao foi dividida em cinco captulos: Apresentao da pesquisa,
Fundamentao Terica, Aspectos Metodolgicos, Resultados da Pesquisa e Consideraes
Finais, como mostra a figura 1. No primeiro captulo foi feita uma abordagem geral ao
assunto, bem como se colocou a importncia de realizar tal pesquisa. Contextualizou-se o
tema, definiu-se o objeto da pesquisa no qual estavam inseridos o problema da pesquisa e suas
variveis de estudo, mostrou-se os objetivos a serem alcanados e a justificativa que ressaltou
a relevncia da pesquisa.
No segundo captulo, Fundamentao Terica, buscou-se identificar as estruturas
conceituais existentes na literatura, tendo como finalidade apresentar a base de conhecimento
que foi formada para realizar a pesquisa. Tratou-se de assuntos relevantes ao tema e que
fundamentaram a pesquisa emprica. Os assuntos abordados foram a respeito das
caractersticas individuais que formam o perfil do empreendedor de sucesso; a evoluo do
conceito de empreendedorismo e suas abordagens, o perfil do empreendedor, os fatores de
sucesso de um empreendimento e a cultura e o ambiente como um fator motivador do
empreendedorismo.
No terceiro captulo, trabalhou-se o modelo da pesquisa e sua metodologia. Foi
explicado como a pesquisa foi realizada, destacando a classificao da pesquisa, o mtodo
cientfico utilizado (mtodo de abordagem e de procedimento), as tcnicas de coleta e anlise
dos dados, os instrumentos da pesquisa, a unidade de anlise, a delimitao da pesquisa e o
tipo de amostragem utilizado.
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Figura 1: Estrutura da dissertao
O quarto captulo Resultados da Pesquisa consistiu na apresentao e anlise dos
resultados da pesquisa. Esto contidos os dados coletados na pesquisa, seu tratamento e
tambm as informaes que foram obtidas. Respondeu-se s perguntas enunciadas no objetivo
da pesquisa, expostas na primeira parte da dissertao Apresentao da pesquisa.
A ltima etapa fez uma comparao entre o estudo bibliogrfico e o emprico,
analisando se concluses obtidas responderam s perguntas da pesquisa. Fez uma avaliao da
pesquisa, colocando os problemas encontrados durante a fase de realizao, os pontos falhos,
CAPTULO 1:
Apresentao
CAPTULO 2:
Fundamentao Terica
CAPTULO 3:
Aspectos Metodolgicos
CAPTULO 4:
Resultados da Pesquisa
CAPTULO 5:
Consideraes Finais e Recomendaes
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a contribuio do estudo para as partes envolvidas e deixando em aberto propostas para
estudos futuros.
Este foi um estudo de carter microeconmico, desenvolvido na cidade de Maring,
situada na esfera regional do noroeste do Paran, Brasil. Restringiu-se a anlise comparativa
do perfil dos empreendedores de sucesso e fracasso empresarial nesta regio. Ele no esgotou
as possibilidades de novos estudos, ao contrrio, buscou abrir um campo para estudos
posteriores de confirmao, comparao com perodos futuros ou com outras regies,
buscando cada vez mais satisfazer a interdisciplinaridade e a complexidade que a rea de
conhecimento exige.
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CAPTULO 2
FUNDAMENTAO TERICA
2.1 EVOLUO DO ESTUDO DO EMPREENDEDORISMO
Segundo Filion (1999a), Vrin (1982) foi quem estudou o desenvolvimento do termo
entre-preneur atravs da histria e observou que no sculo XII ele era usado para referir-se
quele que incentivava brigas e, no sculo XVII, descrevia uma pessoa que tomava a
responsabilidade e coordenava uma operao militar. Verificou tambm que somente no final
do sculo XVII e incio do sculo XVIII o termo foi usado para referir-se pessoa que criava
e conduzia projetos ou empreendimentos (VRIN, 1982 apud FILION, 1999a:18). Segundo
Logen (1997), este termo era utilizado tambm nessa poca, para denominar outros
aventureiros tais como construtores de pontes, empreiteiros de estradas ou arquitetos. Desde
ento o termo vem sofrendo evolues constantes, sendo introduzido novos conceitos e novas
perspectivas na sua definio. O quadro abaixo mostra um resumo dos estudos elaborados
sobre o desenvolvimento da teoria do empreendedorismo.
Quadro 1: Desenvolvimento da teoria do empreendedorismo. Idade mdia: personagem (um grupo de guerreiros em ao) e um indivduo que administra projeto de
produo em larga escala; Sculo XVII: indivduo com comportamento voltado para o risco, de ter lucro (prejuzo) na fixao de
um preo num contrato com o governo; Richard Cantillon (1725): indivduo assumindo riscos, planejando, supervisionando e organizando; Jean Baptist Say (1803): separa os lucros do empreendedor do lucro do capitalista; Francis Walter (1876): estabelece distino entre os que fornecem fundos (capital) e recebem lucros
gerados por sua capacidade gerencial; Joseph Schumpeter (1934): empreendedor um inovador e desenvolve tecnologia indita; David McClelland (1961): empreendedor um tomador de risco moderado; Peter Drucker (1964): empreendedor maximiza oportunidades; Albert Shapero (1975): empreendedor toma iniciativa, organiza alguns mecanismos scio-econmicos,
e aceita risco de fracasso; Karl Vesper (1976): empreendedores parecem diferentes de economistas, engenheiros, gestores e
polticos; Gifford Pinchot (1983): intrapreneur um empreendedor dentro de uma organizao j estabelecida;
Fonte: Ibraihim, R & Goowin, J. R. (1986) apud LEITE, Emanuel Ferreira. O fenmeno doempreendedorismo criando riquezas. 3 Edio. Recife: Bagao, 2002
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Esse quadro mostra que o empreendedorismo vem sendo um campo de estudo
multidisciplinar, que recebeu contribuies de diversas reas de conhecimento. No entanto, o
termo empreendedorismo foi marcado por duas grandes correntes de pensamentos, cada qual
com suas abordagens e suas contribuies.
2.1.1 Abordagens sobre o empreendedorismo
O pensamento com relao ao empreendedorismo pode ser dividido em duas correntes
principais: aquela que define o termo como uma funo econmica e aquela que identifica
empreendedorismo com traos de personalidade, chamada behaviorista ou comportamental.
Os economistas tendem a concordar que os empreendedores esto associados inovao e
so vistos como foras direcionadas de desenvolvimento (FILION, 1999a, p.12). O termo
comportamentalista refere-se aos psiclogos, psicoanalistas, socilogos e outros especialistas
do comportamento humano. Eles atribuem ao empreendedor as caractersticas de necessidade
de realizao, criatividade, persistncia, liderana, energia, autoconfiana, entre inmeras
outras. Alm dessas duas correntes, existem outros estudos que tratam do tema sobre aspectos
diferentes e diversos, como o ensino do empreendedorismo, a cultura empreendedora, intra-
empreendedorismo, incubadoras de base tecnolgica, empreendedorismo na micro e pequena
empreendedorismo, empresas familiares e processo de sucesso, trabalho autnomo, entre
inmeros outros. Essa reunio de temas diversos foi chamada neste trabalho de abordagem
ps-comportametalista, devido ao fato de terem sido pesquisadas depois da abordagem
comportamental, o que no significa que uma linha de pensamento constante na literatura,
mas apenas um agrupamento do que foi e est sendo pesquisado aps a abordagem
comportamental.
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2.1.1.1 Abordagem econmica sobre o empreendedorismo
Por volta do sculo XVIII aflorou a escola do pensamento econmico que procura
focar o papel do empreendedor dentro da economia e apresenta vrios seguidores. No sculo
XVIII, Richard Cantillon ( + 16801734), um economista Britnico que vivia em Paris,
descrevia o empreendedor como algum que investia e corria riscos com seu prprio dinheiro.
Nasceu na Irlanda, provavelmente por volta de 1680, fundou um estabelecimento bancrio em
Paris e morreu, assassinado, em Londres, em 1734 (SELDON & PENNANCE, 1968, p.90).
Segundo Filion (1999a), os boatos so de que foi um cozinheiro que causou um incndio em
sua casa, aps as constantes recusas de Cantillon em lhe dar um aumento. Cantillon j era
conhecido por ser mo-fechada, chegando a ser chamado at mesmo de po duro.
Filion (1999a), conta a vida pessoal de Cantillon e coloca que, mesmo no tendo se
assentado em pas algum, por questes particulares, ele mostrou preocupao com as mesmas
questes econmicas e necessidade de racionalizao que seus contemporneos europeus. A
famlia Cantillon, originria da Normandia, emigrou para a Irlanda durante o reinado de
William, o Conquistador, que nomeou membros da famlia para o governo de um pequeno
territrio quase do tamanho de um municpio. Eram, portanto, pessoas de classe alta. Segundo
Seldon e Pennance (1968, p.90) Richard fugiu da Irlanda para Paris, em 1716, aps a queda
dos Stuarts na Gr-Betanha. A data de nascimento de Cantillon ignorada, e ele pode ser
confundido com o tio, cavaleiro que tambm se chamava Richard Cantillon e que tambm
viveu em Paris. Cantillon, o sobrinho, vivia de renda e buscava oportunidades de
investimentos, sendo capaz de analisar uma operao e identificar nela aqueles elementos que
j eram lucrativos e os que poderiam vir a ser ainda mais.
Sua contribuio para a economia representada pelo seu Essai sur la Nature du
Commerce em Gnral (Ensaio sobre a Natureza do Comrcio em Geral), escrito em 1725,
mas publicado, postumamente, somente em 1755 com correes do editor e 20 anos depois de
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ser amplamente distribuda em Paris e Londres (FILION, 1999a, p.7). Trata-se de uma
vigorosa obra analtica, muito adiantada para o seu tempo, que expe as contradies do
mercantilismo vigente (SANDRONI, 1994, p.39; SELDON & PENNANCE, 1968, p.90). A
obra esteve por muito tempo esquecida e foi redescoberta por Stanley Jevons, no final do
sculo XIX, sendo considerada a mais sistemtica exposio dos princpios econmicos que
se fez antes de A Riqueza das Naes, de Adam Smith (SANDRONI, 1994, p.39). A obra de
Cantillon foi uma das primeiras a definir a terra como a nica fonte de riqueza, o trabalho
como fora geradora dessa riqueza e a mostrar ser o dinheiro apenas uma medida de riqueza
que deriva da produo (SELDON & PENNANCE, 1968, p.90).
A atividade de Cantillon, banqueiro, seria hoje qualificada como investidor de capital
de risco. Seus escritos revelam um homem em busca de oportunidades de negcios,
preocupado com o gerenciamento inteligente de negcios e a obteno de rendimentos
otimizados para o capital investido (FILION,1999a, p.06). No Reino Unido nascia a
Revoluo Industrial e ele defendia o pensamento liberal da poca que exigia liberdade plena
para que cada um pudesse tirar o melhor proveito dos frutos de seu trabalho (KURATKO &
HODGETTS, 2001; FILION, 2000). Segundo Filion (2000), Cantillon buscava nichos de
mercado para investimentos lucrativos e considerava a anlise dos riscos o ponto central para
a tomada de deciso. Para ele, o empreendedor era uma pessoa que comprava matria prima
(insumo), processava-a e vendia para outra pessoa (FILION, 1999a, p.18) ou tambm, aquele
que comprava matria-prima por um preo certo para revend-la a preo incerto (FILION,
2000; SAHLMAN et al, 1999). Ele entendia, no fundo, que se o empreendedor lucrara alm
do esperado, insto ocorrera porque ele havia inovado: fizera algo de novo e diferente
(FILION, 2000, p.17). Para Cantillon, o empreendedor era ento uma pessoa que identificava
uma oportunidade de negcio e assumia o risco inerente com a perspectiva de obter lucros.
Essa foi a primeira apario do elemento risco na definio de empreendedorismo e Cantillon
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foi o primeiro a oferecer clara concepo da funo empreendedora como um todo
(FILION,1999a).
A Inglaterra foi o pas que mais dedicou esforos para definir explicitamente a funo
do empreendedor no desenvolvimento econmico. Dentre os ilustres tericos que ofereceram
uma grande contribuio para o entendimento do fenmeno do empreendedorismo ressalta-se,
Adam Smith e Alfred Marshall. Segundo Logen (1997), Adam Smith (1723-1790),
economista escocs, caracterizou o empreendedor como um proprietrio capitalista, um
fornecedor de capital e, ao mesmo tempo, um administrador que interpe-se entre o
trabalhador e o consumidor. Atribuiu ao empreendedor o papel de criador de riquezas. O
conceito de Smith, refletia uma tendncia da poca de considerar o empreendedor como
algum que visava somente produzir dinheiro. Entretanto, o empreendedor foi caracterizado
pelo economista ingls Alfred Marshall como algum que se aventura e assume riscos, que
rene capital e o trabalho requeridos para o negcio e supervisiona seus mnimos detalhes,
caracterizando-se pela convivncia com o risco, a inovao e a gerncia do negcio (Logen,
1997).
Jean Baptiste Say (17671832), industrial e economista clssico francs, no incio do
sculo XIX, foi o segundo autor a demonstrar interesse pelos empreendedores, ampliando a
definio de empreendedorismo para incluir no conceito os fatores de produo (SAHLMAN
et al, 1999). Say considerado economista porque naquele tempo as cincias gerenciais no
existiam e qualquer um que tivesse interesse em organizaes ou falasse sobre a criao e
distribuio de riquezas seria classificado como economista.
Inicialmente Say procurou seguir carreira comercial, mas, depois de ler a Riqueza das
Naes, de Adam Smith, passou a se interessar pela Economia Poltica (SELDON &
PENNANCE, 1969, p.524). Admirador de Adam Smith, divulgou sua obra e propagou suas
idias e polticas por toda a vida. Elaborou em 1803 a Lei dos Mercados (Lei de Say),
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segundo a qual a produo criaria sua prpria demanda, impossibilitando uma crise geral de
superproduo (SANDRONI, 1994, p.317). Esta lei, que estabelece a concepo do equilbrio
econmico, foi a base da teoria econmica neoclssica (SANDRONI, 1994, p. 317; SELDON
& PENNANCE, 1969, p.524). Say elaborou ainda a teoria dos trs fatores de produo (terra,
mo-de-obra e capital), partindo da idia de que a utilidade a grande determinante do valor,
e tambm a teoria das funes do empresrio, introduzindo esse tema na economia poltica
(SANDRONI, 1994, p.317).
Em 1814, comissionado pelo governo francs, estudou as condies econmicas da
Inglaterra, publicando em De lAnglaterre et des Anglais (Da Inglaterra e dos Ingleses) os
resultados dos seus estudos. Em 1816, comeou a ensinar Economia, tendo fundado a cadeira
de Economia Industrial no Conservatoire des Arts et Mtiers (Conservatrio de Artes e
Ofcios), em 1819 (SELDON & PENNANCE, 1969, p.524). Foi nomeado professor de
Economia Poltica no Collge de France, tendo como principais obras Trait dconomie
Politique, 1803 (Tratado da Economia Poltica) e Cours Complet dconomie Politique
Pratique, em 1828-30 (Curso Completo de Economia Poltica Prtica), que seguem a tradio
de Cantillon e de Turgot (SANDRONI, 1994, p.317; SELDON & PENNANCE, 1969, p.524).
Admirador da Revoluo Industrial Britnica e de Adam Smith, tentou estabelecer um
corpo terico que possibilitaria a chegada da revoluo industrial na Frana, pois considerava
o desenvolvimento econmico como resultado da criao de novos empreendimentos
(FILION, 1999a). Ele pode ser identificado como o pai do que hoje se convencionou chamar
de empreendedorismo, pois foi quem lanou os alicerces desse campo de estudo (FILION,
2000). Ele foi o primeiro a explicar a diferena entre lucros do empreendedor e aqueles do
capitalista, e dizia que empreendedor o indivduo que transfere recursos econmicos de um
setor de baixa produtividade para um setor de alta produtividade e maior rendimento. Dizia
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que empreendedor o indivduo que, na sua busca pelo xito, perturba e desorganiza o status
quo do sistema econmico (SAY apud PEREIRA, 1995:05).
Joseph A. Schumpeter (1883-1950), foi o primeiro economista de renome a retornar a
Say e foi ele quem realmente consolidou o conceito de empreendedorismo associando-o
claramente inovao (FILION, 2000, p.18; 1999a:7). Austraco, nascido na Morvia e
educado em Viena, permaneceu um tempo no Egito e depois tornou-se professor de Economia
em Czernowitz e, a seguir, em Graz (SELDON & PENNANCE, 1969, p.525). Depois da
Primeira Guerra Mundial, foi nomeado ministro das Finanas da Repblica Austraca, mas
logo renunciou para se tornar professor nos Estados Unidos, lecionando na Universidade de
Bonn at 1932 quando se transferiu para Harvard (SANDRONI, 1994, p.318; SELDON &
PENNANCE, 1969, p.525). Suas obras foram tomadas a srio desde o incio da sua carreira,
pois abrangem todos os ramos da Economia. Entre as principais obras de Schumpeter,
destacam-se seu primeiro livro, Theory of Economic Development, 1912 (Teoria do
Desenvolvimento Econmico); Business Cycles, 1939 (Ciclos Econmicos); Capitalism,
Socialism and Democracy, 1942 (Socialismo, Capitalismo e Democracia) e History of
Economic Analysis (Histria da Anlise Econmica), uma obra inacabada e publicada
postumamente, em 1954, que juntas do uma idia da sua versatilidade (SANDRONI, 1994,
p.319; SELDON & PENNANCE, 1969, p.525).
Foi em 1911 que adicionou o conceito de inovao para a definio de
empreendedorismo, como sendo o ato de criar coisas novas e diferentes (FILION, 1999a,
p.07; 2000b, p.18). Em sua obra, Business Cycles (1939), Schumpeter analisou o sistema
capitalista e avanou a teoria de que as inovaes feitas pelos empresrios so o fator
estratgico do desenvolvimento econmico e ocupam uma posio central no processo do
ciclo comercial (SELDON & PENNANCE, 1969, p.525). Schumpeter admitia a existncia de
ciclos longos (de vrios decnios), mdios (de dez anos) e curtos (de quarenta meses) e dizia
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que o estmulo para o incio de um novo ciclo econmico viria principalmente das inovaes
tecnolgicas introduzidas por empresrios empreendedores (SANDRONI, 1994, p.318).
Segundo Sandroni (1994), para Schumpeter esse o ponto essencial, pois sem
empreendedores e suas propostas de inovaes tecnolgicas, a economia manter-se-ia numa
posio de equilbrio esttico, num crculo econmico fechado.
Por inovaes tecnolgicas, Schumpeter entendia cinco categorias de fatores: a
fabricao de um novo bem; a introduo de um novo mtodo de produo; a abertura de um
novo mercado; a conquista de uma fonte de matrias-primas; a realizao de uma nova
organizao econmica, tal como o estabelecimento de uma situao de monoplio
(SANDRONI, 1994, p.319). Ele falava de vrios tipos de inovao, incluindo inovao nos
processos, inovao mercadolgica, inovao na produo e at mesmo inovao
organizacional (SAHLMAN et al, 1999), pois, segundo Schumpeter, o impulso fundamental
que inicia e mantm o movimento da mquina capitalista decorre dos novos bens de consumo,
dos novos mtodos de produo ou transporte, dos novos mercados, das novas formas de
organizao industrial que a empresa capitalista cria (SCHUMPETER, 1976, p.112).
Seu trabalho enfatizou o papel do empreendedor no processo de criao destrutiva que
contribui para a descontinuidade da economia. Na viso de Schumpeter o empreendedor o
agente de mudana, ou seja, aquele que destri a ordem econmica existente atravs da
introduo de novos produtos e servios, atravs da criao de novas formas de organizao e
tambm da explorao de novos recursos e materiais. Schumpeter postulava que o
desequilbrio dinmico provocado pelo empreendedor inovador, em vez de equilbrio e
otimizao, a norma de uma economia sadia e a realidade central para a teoria e a prtica
econmicas (DRUCKER, 1987).
Segundo Degen (1989), esse processo, chamado por Schumpeter de destruio
criativa, o impulso fundamental que aciona e mantm em marcha o motor capitalista e
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quem dirige esse motor o empreendedor. Tal processo responsvel pela substituio de
produtos antigos por outros mais eficientes, mais baratos, mais geis, mais acessveis, de
melhor qualidade e comodidade, como por exemplo, a substituio da mquina de escrever
por computadores pessoais, o telgrafo pelo telefone, a caneta tinteiro pela esferogrfica, a
viagem de navio pela viagem de avio, o trem a vapor pelo trem eltrico e pelo metr, o ferro
a brasa pelo ferro eltrico, entre muitas outras destruies criativas que foram marcos no
nosso desenvolvimento econmico. Nesse processo o empreendedor est constantemente
utilizando sua capacidade visionria e sua criatividade para aprimorar os produtos, tornando-
os melhores e mais acessveis para atender a necessidade e o bem-estar da populao.
Esta constante busca por algo novo e diferente vem da necessidade de realizao do
empreendedor, atravs da qual consegue colocar suas idias em prtica e fazer as coisas
acontecerem. Schumpeter merece um lugar parte na Histria da Economia, e no somente
pela sua facilidade discursiva e penetrao crtica, mas ainda pela qualidade da sua
inteligncia, manifesta no seu mtodo analtico, que o singulariza entre os economistas seus
contemporneos (SELDON & PENNANCE, 1969, p.524).
Segundo Filion (1999a), Schumpeter no foi o nico a associar empreendedorismo
inovao. Clark, em 1899, havia feito o mesmo de forma bem clara, Higgins (1959), Baumol
(1968), Schloss (1968), Leibenstein (1978) e a maioria dos economistas que tinham interesse
no campo tambm fizeram o mesmo algum tempo depois, pois todos os economistas estavam
interessados na compreenso do papel do empreendedor como motor do sistema econmico.
A partir da os economistas no se restringiram a desenvolver estudos no sentido de aprimorar
a contextualizao de empreendedor. Filion (1999a) fez um apanhado das diversas
contribuies dadas por alguns economistas que se interessavam pelo campo de
empreendedorismo. Segundo ele, Knight (1921) mostrou que os empreendedores assumiam
riscos por causa do estado de incerteza no qual trabalhavam e que eles eram recompensados
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de acordo com os lucros obtidos com a atividade que iniciavam; Hayek (1937; 1959) mostrou
que os empreendedores tinham o papel de informar o mercado a respeito de novos elementos;
Hoselitz (1952; 1968) falava de um nvel mais alto de tolerncia que capacitava os
empreendedores para o trabalho em condies de ambigidade e incerteza; Leibenstein (1979)
j tinha estabelecido um modelo para medir os nveis de eficincia e ineficincia no uso de
recursos por parte dos empreendedores; Casson (1982) fez uma interessante tentativa de
desenvolver uma teoria ligando empreendedores ao desenvolvimento econmico. Ele insistia
nos aspectos de coordenao de recursos e tomada de decises; Baumol (1993) estabeleceu a
diferena clara entre empreendedor organizador de negcios e o empreendedor inovador. Os
economistas se recusavam a aceitar modelos no-quantificveis e, portanto, no conseguiram
criar uma cincia baseada no comportamento dos empreendedores. Isso foi o que acabou
levando o universo do empreendedorismo a voltar-se para os comportamentalistas, na
constante busca do entendimento do comportamento e atitude do empreendedor, bem como na
identificao de suas principais caractersticas.
2.1.1.2 Abordagem comportamentalista sobre o empreendedorismo
Enquanto alguns analistas focam a funo econmica do empreendedorismo, outros
concentram sua ateno voltada para pesquisar as caractersticas pessoais do empreendedor. O
behaviorismo, segundo Braghirolli et al apud Lopes (2002, p.24), [...] um sistema terico
da psicologia que prope um estudo completamente objetivo do homem, insistindo que o
comportamento (behavior) deve ser a nica fonte dos dados psicolgicos. De acordo com o
autor, esta perspectiva tenta explicar o que leva o indivduo a empreender e quais seriam as
caractersticas de personalidade, comportamento, atitudes e valores presentes nos
empreendedores de sucesso.
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Em 1930 surgiu a linha comportamentalista sobre o empreendedorismo e, segundo
Filion (1999a), um dos primeiros autores desse grupo a mostrar interesse pelos
empreendedores foi Max Weber, em 1930, que identificou o sistema de valores como
elemento fundamental para a explicao do comportamento empreendedor. Ele via os
empreendedores como inovadores, pessoas independentes cujo papel de liderana nos
negcios inferia uma fonte de autoridade formal (FILION, 1999a). Entretanto, David
McClelland foi quem realmente deu incio contribuio das cincias do comportamento para
o empreendedorismo.
Segundo Filion (1999a, 2000), David McClelland levado a interrogar-se sobre o
declnio relativo dos americanos em face dos soviticos durante os anos 50, estudou a histria
em busca de explicaes para a existncia de grandes civilizaes e analisou os fatores que
explicam o apogeu e o declnio das civilizaes. Concluiu que as geraes que precediam o
apogeu foram fortemente influenciadas por heris que haviam sido personagens populares na
literatura, com os quais os jovens se identificavam e tomavam como modelo, tendendo a
imit-los em seu comportamento. O povo treinado sob tal influncia desenvolvia grande
necessidade de realizao e associava essa necessidade aos empreendedores. A partir dessa
pesquisa o papel do modelo ocupa um papel importante no estudo do empreendedorismo
(FILION, 2000). Esta foi uma das primeiras e mais importantes pesquisa das razes
psicolgicas sobre empreendedorismo, cuja teoria foi exposta no incio dos anos 60 por David
McClelland e mostrava que as pessoas que seguem carreiras semelhantes a de
empreendedores tem uma alta necessidade de realizao social alm de gostarem de correr
riscos, fato que as levam a desprenderem maiores esforos.
A grande contribuio desta linha de pensamento est firmada sobre a busca em
identificar as caractersticas do perfil empreendedor. Segundo Bertoglio (1998), David
McClelland, na sua pesquisa sobre perfil de empreendedores, identificou algumas
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caractersticas constantes nos empreendedores bem sucedidos. Inicialmente foram
identificadas vinte e trs caractersticas, que foram lapidadas e resumidas para quinze. Aps
vrios anos de estudos e anlises algumas caractersticas se fundiram, outras foram
descartadas e McClelland ficou ento com um conjunto de dez caractersticas, agrupadas em
trs conjuntos distintos:
1 Grupo - Conjunto de Realizao: Busca de oportunidade e iniciativa; Persistncia;
Correr riscos calculados; Exigncia de qualidade e eficincia; Comprometimento.
2 Grupo: Conjunto Planejamento: Busca de informaes; Estabelecimento de metas;
Planejamento e monitoramento sistemtico.
3 Grupo: Conjunto Poder: Persuaso e rede de contatos; Independncia e Autoconfiana.
1 Grupo: Conjunto de realizao
McClelland, na tentativa de descobrir a razo pela qual certas culturas tinham maior
desempenho do que outras, observou um valor que chamou de necessidade de realizao. Viu
que a necessidade de realizao variava de cultura para cultura, ou seja, cada cultura se
realizava com aspectos e propores diferentes (LEITE, 2002, p.80). A necessidade de
realizao leva o empreendedor a se dedicar ao trabalho constantemente, a estar sempre
motivado pela vontade de fazer aquilo que gosta, com o mesmo entusiasmo de quem est
comeando tudo, naquele exato momento.
A necessidade de realizao dirige a ateno de um indivduo para que este execute, da
melhor forma possvel, suas tarefas, de forma que possa atingir os seus objetivos, seja eficaz
naquilo em que se prope a fazer, mas sempre dentro dos limites permitidos pela tica
(LEITE, 2002, p. 83). Tal necessidade leva o indivduo a ter iniciativa, ser persistente, buscar
qualidade e eficincia, ter comprometimento e tambm a correr riscos moderados em busca da
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sua realizao. Essas e outras caractersticas que, segundo McClelland, formam o conjunto de
realizao sero descritas a seguir:
Busca de oportunidades e iniciativa: esta caracterstica envolve certas atitudes do
empreendedor, como, fazer as coisas antes do solicitado; atuar para expandir o negcio; e
aproveitar oportunidades fora do comum para iniciar um negcio (SEBRAE, 1990).
Identificar oportunidades fundamental para quem deseja ser empreendedor, e consiste em
aproveitar todo e qualquer ensejo para observar negcios. O empreendedor de sucesso
aquele que no se cansa de observar, na constante procura de novas oportunidades, seja no
caminho de casa, do trabalho, nas compras, nas frias, lendo revistas, jornais ou vendo
televiso. Alm de identificar as oportunidades, o empreendedor deve ter iniciativa, que a
capacidade de se antecipar s situaes, agindo de maneira oportuna e adequada sobre a
realidade, apresentando solues e influenciando os acontecimentos. Sem iniciativa no pode
haver empreendimento e sem vontade e persistncia no se pode atingir o sucesso.
A oportunidade uma criatura amistosa e muitas vezes imperceptvel. Perigosa,
somente quando ignorada pelos empreendedores. Ela precisa ser protegida, explorada,
preservada, dinamizada e aumentada (LEITE, 2001, p.92). Segundo Degen (1989, p.21),
existem frmulas para identificar oportunidades. A oportunidade pode aparecer atravs da
identificao de necessidades, da observao de deficincias (quando se percebe que algo
pode ser melhorado ou modificado), da observao de tendncias, da derivao da ocupao
atual (quando destina um produto ou servio para uma finalidade que deriva da de origem),
procura de outras aplicaes (quando procura outras finalidades para um produto ou servio),
explorao de hobbies, lanamento de moda, e imitao do sucesso alheio.
O processo de identificao de oportunidades, segundo Longhini & Sachuk (2000)
no consiste apenas no estudo visando a colocao de um produto ou servio novo no
mercado, ou ocupar um segmento que ningum tenha pensado, mas tambm na reduo de
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custos, na melhoria da qualidade ou mesmo em oferecer servios mais rpidos que os da
concorrncia. Oportunidade, pode ser vista ento, como a soma de uma necessidade (seja
individual, grupal ou da sociedade) com as condies de satisfaz-la (condies ambientais,
econmicas, sociais etc). Birley e Muzyka (2001) coloca que a capacidade empreendedora
envolve a identificao de oportunidades e a agregao de valor, podendo ser encontrada
tanto no setor pblico, quanto no privado ou em qualquer tipo de organizao. Isso leva
reflexo de que alm do empreendedor ter a capacidade de detectar uma oportunidade ele
deve ser capaz de colocar um adicional ou diferencial, para agregar valor ao produto ou
servio.
Persistncia: ser persistente significa agir diante de um obstculo significativo; agir
repetidamente ou mudar de estratgia, a fim de enfrentar um desafio ou superar um obstculo;
e assumir responsabilidade pessoal pelo desempenho necessrio ao atingimento de metas e
objetivo (SEBRAE, 1990). Persistncia a energia que leva o empreendedor a agir de
diferentes formas at alcanar aquilo que deseja. Tendo definido claramente seus objetivos e
metas, o empreendedor aprende com seus fracassos, reformula estratgias e persiste no seu
desejo, at ser alcanado. A persistncia no deve ser confundida com a teimosia, pois o
indivduo teimoso busca alcanar seus objetivos sempre utilizando as mesmas estratgias,
mesmo que no estejam dando certo. J o persistente no desiste dos objetivos, mas busca
alcan-los de formas diferentes, ou seja, uma vez que uma estratgia no tenha dado certo ele
muda a estratgia e comea tudo de novo, at conseguir atingir o esperado.
Correr riscos calculados: essa caracterstica significa que o empreendedor capaz de
avaliar alternativas e calcular riscos deliberadamente; agir para reduzir riscos ou controlar
resultados; e colocar-se em situao que implicam desafios ou riscos moderados (SEBRAE,
1990). Segundo Degen (1989), os riscos fazem parte de qualquer atividade e o sucesso do
empreendedor est na sua capacidade de conviver com eles e sobreviver a eles. Para isso
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preciso aprender a administr-los. O empreendedor no malsucedido nos seus negcios
porque sofre revezes, mas porque no sabe super-los. Os riscos, por sua vez, podem ser, se
no eliminados, reduzidos pelo planejamento inicial do negcio. A elaborao de um bom
plano de negcios permite ao empreendedor levantar os possveis riscos que pode obter no
decorrer da vida do seu empreendimento e procurar uma soluo previamente. Conseguir
identificar os riscos previamente e antecipar-se a eles, buscando minimiz-los, a melhor
maneira de o empreendedor administr-los.
Exigncia de qualidade e eficincia: com isso o empreendedor encontra maneiras de
fazer as coisas melhor, mais rpido, ou mais barato; age de maneira a fazer as coisas que
satisfazem ou excedem padres de excelncia; e desenvolve ou utiliza procedimentos para
assegurar que o trabalho seja terminado a tempo ou que o trabalho atenda padres de
qualidade previamente combinados (SEBRAE, 1990). O empreendedor busca sempre fazer as
coisas da melhor forma possvel, para que seja bem aceito pelo seu pblico-alvo. Faz parte
do perfil do empreendedor a busca constante pela excelncia na qualidade de seus produtos e
servios, da economia de tempo e recursos e do envolvimento e desenvolvimento da sua
equipe de trabalho (PATI, 1995, p.50). Para ele, essencial estar constantemente buscando
maneiras de realizar tarefas com maior rapidez, menor custo e maior qualidade, j que o
empreendedor geralmente se destaca pelo nvel de qualidade mais alto de seus trabalhos,
resultado de seus padres de excelncia e energia para trabalhar duro.
Comprometimento: o comprometimento, que uma forte caracterstica do
empreendedor, implica em fazer um sacrifcio pessoal ou despender um esforo
extraordinrio para completar uma tarefa; colaborar com os empregados ou se colocar no
lugar deles se necessrio para terminar um trabalho; e se esmerar em manter os clientes
satisfeito, colocando em primeiro lugar a boa vontade a longo prazo, acima do lucro a curto
prazo (SEBRAE, 1990). O empreendedor se compromete profundamente com seu
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empreendimento e possui tambm o autocomprometimento, o que faz com que ele assuma
responsabilidades consigo mesmo. Quando inicia uma tarefa vai at o fim, mesmo que para
isso tenha que fazer alguns sacrifcios ou sacrificar a prpria famlia, quanto a ausncia e a
falta de tempo.
2 Grupo: Conjunto de planejamento
Neste conjunto o indivduo apresenta um grupo de caractersticas que esto voltadas a
lev-lo a pensar a respeito do empreendimento. No incio ele busca informaes sobre
clientes, concorrentes, fornecedores, modelo de produo ou de execuo de um servio,
formas administrativas, contbeis e jurdicas. Estabelece metas de longo prazo que sejam
claras, realistas e especficas. A partir de ento, planeja as divises de tarefas e mantm um
monitoramento sistemtico, comparando os resultados obtidos com aqueles que foram
inicialmente esperados. A caractersticas que, segundo McClelland, formam esse conjunto
sero descritas mais profundamente a seguir:
Busca de informaes: o empreendedor dedica-se pessoalmente a obter informaes de
clientes, fornecedores e concorrentes; investiga pessoalmente como fabricar um produto ou
proporcionar um servio; e consulta especialistas para obter assessoria tcnica ou comercial
(SEBRAE, 1990). A informao uma arma muito utilizada hoje em dia para sobressair-se no
mercado. Empreendedor que se preze deve estar sempre atualizado sobre as ltimas
tendncias do mercado, os mais novos conceitos de gesto, os lderes empresariais mais
comentados, enfim, ele deve conhecer o mercado como um todo. Para planejar a futura
empresa preciso ter informaes diversas sobre oportunidades de mercado, futuros clientes,
custos e preos, tributos e taxas, custos de abertura e de legalizao da nova empresa,
concorrentes, fornecedores e linhas de financiamentos, entre outras (SANTOS, 1995, p.24).
Com essas informaes em mos, ele ter muito mais recursos para liderar pessoas, elaborar
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estratgias e poder lanar-se com muito mais firmeza no novo empreendimento. Buscar e
reunir tais informaes vai exigir um esforo pessoal do empreendedor.
Com o auxlio da internet e o advento da globalizao, possvel ter acesso a uma
gama de informaes sem sair de casa, como notcias, balanos financeiros de empresas,
cotaes e ndices financeiros, entre outras informaes estratgicas de mercado. Uma boa
alternativa na internet so as listas de discusso, que funcionam como fruns sobre temas
especficos, onde os participantes trocam informaes e contatos entre si, alm de se formar
uma rede de contatos atuante no mercado. Possibilidades de negcios, parcerias e amizades
podem se formar, e isso sem dvida muito importante para o empreendedor que est
comeando e precisa trocar idias com pessoas do mercado. Deve-se tomar cuidado com o
excesso de informao, que to prejudicial quanto a falta de informao. Para Sheedy
(1996) as informaes devem ser atuais, fatuais e precisas, alm do que precisam ser
gerenciadas, monitoradas e avaliadas a fim de identificar aquelas que so realmente
importantes para a empresa e das quais a empresa necessita. Assim, necessrio manter-se
informado, mas tambm filtrar as informaes, colocando de lado o excesso e extraindo o que
realmente importante.
Estabelecimento de metas: essa caracterstica envolve certas atitudes do empreendedor,
como: estabelecer metas e objetivos que so desafiantes e que tm significado pessoal; definir
metas de longo prazo, claras e especficas; e estabelecer objetivos de curto prazo mensurveis
(SEBRAE, 1990). O empreendedor sabe exatamente o que quer, por qu quer, quando quer e
como fazer para conseguir, ou seja, sabe onde quer chegar e o caminho para chegar l. Sabe
fixar metas e alcan-las. Luta contra padres impostos. Diferencia-se. Tem a capacidade de
ocupar um espao no ocupado por outros no mercado, descobrir nichos. orientado para os
resultados, para o futuro a longo prazo.
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Estabelecer metas no significa fechar-se em um esquema rgido que impede de ver
novas oportunidades. Significa apenas pensar profundamente no que se deseja da empresa e
para a empresa e depois dirigir o tempo e energia para alcan-lo. Segundo Sheedy (1996,
p.46) as metas devem fazer sentido e serem lgicas; devem valer o esforo; devem ser
claramente definidas, concisas e especficas; devem estimular e manter o apoio do pessoal;
devem exigir que se faa alguma coisa a mais do que est sendo feito no momento; devem ser
priorizadas; atingveis, pois metas inatingveis podem causar frustrao; e mensurveis.
Planejamento e monitoramento sistemtico: atravs dessa caracterstica, o
empreendedor capaz de dividir tarefas de grande porte em sub-tarefas com prazos definidos;
revisar seus planos constantemente levando em conta os resultados obtidos e mudanas
circunstanciais; e mantm registros financeiros, os utilizando para tomar decises (SEBRAE,
1990). O empreendedor tenta antecipar situaes e preparar-se para elas. algum com
capacidade de observao e de planejamento. Capacidade para mapear o meio ambiente,
analisar recursos e condies existentes, buscando estruturar uma viso de longo prazo dos
rumos a serem seguidos para se atingir os objetivos. O empreendedor faz um planejamento
atravs da elaborao do plano de negcios do seu empreendimento. Com esse documento
consegue avaliar o negcio, monitorar atravs de um acompanhamento sistemtico e
comparativo, e consegue atrair investidores para o seu projeto, ou seja, buscar recursos
financeiros.
3 Grupo: Conjunto de poder
O conjunto de poder envolve o desejo de estar prximo dos outros, construindo slidas
amizades e edificando bons relacionamentos. Envolve a necessidade que pessoas tm de
influenciar ou dominar outras pessoas com as quais convive. a necessidade de convencer as
outras pessoas sobre determinada opinio. Envolve tambm a independncia e autoconfiana,
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atravs da qual o empreendedor busca sua autonomia, baseado na confiana em sua prpria
capacidade. As caractersticas que, segundo McClelland, formam o conjunto de realizao
sero descritas a seguir:
Persuaso e rede de contatos: com tal caracterstica ele utiliza estratgias deliberadas
para influenciar ou persuadir os outros; utiliza pessoas-chave como agentes para atingir seus
prprios objetivos; e age para desenvolver e manter relaes comerciais (SEBRAE, 1990). O
empreendedor busca ampliar sua rede de relaes e manter contato constante com todos os
membros, pois nunca se sabe quando ir precisar deles. V nas pessoas uma das suas mais
importantes fontes de aprendizagem, e no se prende, somente a fontes reconhecidas, como
autores da literatura, cursos, profissionais especialistas etc. Busca tirar das pessoas
informaes, aconselhamentos, experincias j vividas (para no cometer os mesmos erros),
obter parcerias, influncias etc. O empreendedor capaz de aprender atravs da assimilao
de experincias de pessoas comuns como ele.
Segundo Dolabela (1999a), ele tem um alto grau de internalidade, o que significa a
capacidade de influenciar ou persuadir as pessoas com as quais lida e a crena de que pode
mudar algo no mundo. Ele tem a capacidade de manter uma boa convivncia e interao com
outras pessoas, dentro e fora da empresa. Empresrios de sucesso so influenciados por
empreendedores do seu crculo de relaes (famlia, amigos) ou por lderes ou figuras
importantes, tomadas como modelos (DOLABELA, 1999a, p.33). por isso que pessoas
empreendedoras procuram manter contato com o mximo de pessoas possvel, de todo o tipo
e ramo de mercado. Ele tece redes de relaes (contatos, amizades) moderadas, mas utilizadas
intensamente como suporte para alcanar os seus objetivos. Segundo Debelak (1999), para
manter um relacionamento firme e contnuo com toda a rede de relao importante que o
empreendedor mostre que: 1) possui sensibilidade, que precisa da ajuda e experincia de
todos; 2) tem perseverana dedica tempo e esforo para idia; 3) est aberto a sugestes;
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4) luta contra os problemas de forma aberta e transparente; 5) precisa do envolvimento de
todos. A rede de relaes interna (com scios, colaboradores) para ele mais importante que a
externa, pois atravs dos membros da organizao que ele consegue alcanar os seus
objetivos.
Independncia e Autoconfiana: o empreendedor busca autonomia em relao a normas
e controles de outros; mantm seu ponto de vista mesmo diante da oposio ou de resultados
desanimadores; e expressa confiana na sua prpria capacidade de completar uma tarefa
difcil ou de enfrentar um desafio (SEBRAE, 1990). A iniciativa uma caracterstica que leva
o empreendedor a trocar a segurana do assalariado pelo risco de um negcio prprio, em
busca da sua independncia e realizao. Autoconfiana ter conscincia de seu valor, sentir-
se seguro em relao a si mesmo e, com isso, poder agir com firmeza e tranqilidade. O
empreendedor tem auto-confiana, isto , acredita em si mesmo. Se no acreditasse, seria
difcil para ele tomar a iniciativa. A crena em si mesmo faz o indivduo arriscar mais, ousar,
oferecer-se para realizar tarefas desafiadoras, enfim, torna-o mais empreendedor. O
empreendedor precisa soltar as amarras e, sozinho, determinar seus prprios passos, abrir seus
prprios caminhos, decidir o rumo de sua vida, enfim, ser seu prprio patro.
Durante 20 anos os comportamentalistas dominaram o campo do empreendedorismo,
com grande quantidade de pesquisas e publicaes procurando definir o que o
empreendedor e suas caractersticas. Os comportamentalistas predominaram at no incio dos
anos 80 e um considervel esforo foi e continua sendo empregado para entender as diversas
fontes psicolgicas e sociolgicas que esto no perfil do empreendedor. Inmeras publicaes
descrevem uma srie de caractersticas pessoais atribudas aos empreendedores, que foram
resumidas por Filion (1999a) e podem ser analisadas no quadro que segue:
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Quadro 2: Caractersticas mais freqentes dos empreendedores viso dos comportamentalistasCARACTERSTICAS DOS EMPREENDEDORES
Inovao Otimismo Tolerncia ambiguidade e incerteza Liderana Orientao para resultados Iniciativa Riscos moderados Flexibilidade Capacidade de aprendizagem Independncia Habilidade para conduzir
situaes Habilidade na utilizao de recursos
Criatividade Necessidade de realizao Sensibilidade a outros Energia Autoconscincia Agressividade Tenacidade Autoconfiana Tendncia a confiar nas pessoas Originalidade Envolvimento a longo prazo Dinheiro como medida de desempenho
Fonte: Hornaday (1982); Meredith, Nelson & Neck (1982); Timmons(1978) apud FILION, Louis Jaques.Empreendedorismo: empreendedores e proprietrios-gerentes de pequenos negcios. Revista deAdministrao. Universidade de So Paulo (USP). V. 34, n. 2, p. 05-28, abril/junho, 1999(a).
Filion (1999a) traz as caractersticas mais freqentemente atribudas aos
empreendedores e que esto em consenso entre os estudiosos da rea, como Ayres et a (2001),
Barros et al (2001), Leite (2001;2002), Birley e Muzyka (2001), Dornelas (2001), Morais
(2000), Dolabela (1999a,b), Degen (1989), Pichott III (1989), Drucker (1986), entre outros e
ele prprio. Em adio, tais estudiosos comentam sobre uma determinada caracterstica, que
no universalmente aceita, que o fato do empreendedor ser inato, ou seja, tratar o fator
gentico como agente tipificador do empreendedor. Este estudo quando tomado como um
todo , muitas vezes, conflituoso e inconcluso.
Apesar de tantos estudos realizados e pesquisas sendo desenvolvidas no totalmente
possvel traar um perfil psicolgico absolutamente cientfico e exato do empreendedor, pois
segundo Filion (2000, p.18) as pessoas mudam segundo os contextos e as circunstncias s
quais so expostas: os perfis de comportamento no so necessariamente estticos. Existem
inmeras variveis que influenciam na formao, e assim, o perfil empreendedor certamente
ser diferente em funo do tempo que est no mercado. Tambm influencia a experincia de
trabalho, a regio de origem, o nvel de educao, a religio, a cultura familiar (DOLABELA,
1999b). Portanto, no possvel avaliar um indivduo e afirmar se ele ser ou no bem-
sucedido como empreendedor. O que se pode analisar se ele tem ou no algumas
caractersticas e aptides mais comumente encontradas em empreendedores bem-sucedidos, o
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que permite ao indivduo avaliar e identificar as caractersticas que precisam ser aperfeioadas
ou desenvolvidas.
2.1.1.3 Abordagens ps-comportamentalistas sobre o empreendedorismo
Muitos so os autores que desenvolveram e muitos os que continuam desenvolvendo
estudos a fim de conceituar o termo empreendedorismo. Apesar de ter sido mencionado h
sculos, o empreendedorismo como campo de estudo acadmico bastante jovem. Segundo
Dolabela (1999a), o termo s comeou a ser explorado em maior profundidade h mais ou
menos 20 anos. Foi nos anos 80 que o campo do empreendedorismo cresceu e espalhou-se por
quase todas as cincias humanas e gerenciais. Os primeiros doutorados surgiram nos anos 80
e a grande maioria dos interessados vinham de outras reas de estudo, nas quais
empreendedorismo no era o principal campo de atividade (FILION, 1999a). Cooper et al
(2000), faz um relato do desenvolvimento acadmico do empreendedorismo. Ele coloca que
Myles Mace ofereceu o primeiro curso em empreendedorismo, Management of New
Enterprise, para a Harvard Business School em 1947. Peter Drucker comeou um curso em
Empreemdedorismo e Inovao para a New York University em 1953.
Patrocinada pelo Center for Venture Management, a primeira conferncia acadmica
de pesquisa em empreendedorismo nos Estados Unidos foi realizada em Purdue University
em 1970. Na Academy of Management, em 1974, Karl Vesper realizou um encontro
organizacional para aqueles interessados em empreendedorismo. O encontro conduziu a
formao de um Grupo de Interesse em Empreendedorismo, inicialmente parte da Diviso de
Negcios Polticos e Planejamento. Este grupo no atingiu status mximo como uma diviso
independente da Academy of Management at 1987. A primeira Conferncia Internacional na
pesquisa de empreendedorismo foi realizada em Toronto em 1973. Ao mesmo tempo, havia
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um esforo para organizar uma nova organizao profissional, a Society for Entrepreneurship
Research and Application (SERA). Esta sociedade, nunca progrediu alm da original lista de
42 membros (COOPER et al, 2000).
Em 1975, o Simpsio Internacional de Empreendedorismo e Desenvolvimento de
Empreendedorismo teve lugar em Cincinati, com a ambio de atrair participantes de todos os
lados do mundo. O Babson College fez o principal papel no incio do desenvolvimento do
campo de empreendedorismo, pois estabeleceu a Academy of Distinguished Entrepreneurs,
em 1978, para reconhecer a classe de empreendedores no mundo (World-class entrepreneurs).
Esta se tornou um prottipo de outros programas para reconhecer empreendedores, seus
talentos e suas realizaes, incluindo a Ernst & Young Entrepreneur of the Year Awards, a
National Federation of Independent Business, entre outras. Outra importante iniciativa foi o
Small Business Intitute Program, que iniciou em 1972 na Texas Tech University e
providenciou suporte para universidades que tinham cursos na consultoria para pequenos
negcios. Este programa se desenvolveu rapidamente, com 396 universidades participando
em 1976 (COOPER et al, 2000).
Segundo Dolabela (1999a), os cursos na rea vem aumentando em volume e
velocidade surpreendente: em 1975, nos EUA, havia cerca de 50 cursos, j hoje h mais de
mil, em universidades e escolas de segundo grau, ensinando empreendedorismo. Mais de 100
universidades tm estabelecido centros de empreendedorismo que servem como pontos para
pesquisas e programas de discusso do tema (COOPER et al, 2000). Ao final dos anos 80 o
empreendedorismo se tornou um tema de estudos em quase todas as reas de conhecimento,
havendo em quase todas elas uma excepcional diversidade conceitual. O quadro 3 a seguir
mostra as diversas reas pelas quais o estudo do empreendedorismo se propagou.
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Quadro 3: Temas principais da pesquisa sobre empreendedorismo Caractersticas comportamentais dos empreendedores Caractersticas econmicas e demogrficas das PME Empreendedorismo e PME nos pases em desenvolvimento Caractersticas gerenciais dos empreendedores Processo empreendedor Criao de empresas Desenvolvimento de empresas Capitais de risco e financiamento das PME Administrao de empresas, levantamento, aquisies Empresas de alta tecnologia Estratgias de crescimento da empresa empreendedora Parceria estratgica Empreendedorismo corporativo ou intra-empreendedorismo Empresas familiares Trabalho autnomo Incubadoras e sistemas de apoio ao empreendedorismo Redes Fatores que influenciam a criao e o desenvolvimento de empresas Polticas governamentais e criao de empresas Mulheres, grupos minoritrios, grupos tnicos e o empreendedorismo Educao empreendedora Pesquisa e empreendedorismo Estudos culturais comparativos Empreendedorismo e sociedade Franquias
Fonte: Filion (1997, p. 142) apud FILION, Louis Jaques O empreendedorismo como tema de EstudosSuperiores. In: Empreendedorismo: Cincia, Tcnica e Arte. Instituto Euvaldo Lodi. Braslia: CNI. IELNacional, 2000, 100 pgs. p. 15-42, (p.20).
Esse quadro mostra o quo varivel est o estudo do empreendedorismo e que ainda h
um campo vasto a ser estudado a respeito do tema. Na medida em que se l os itens do quadro
novos temas de pesquisa vo surgindo, como por exemplo, empreendedorismo na sade,
empreendedorismo artesanal, empreendedorismo artstico, empreendedorismo esportivo, alto
ndice de criao de empresas versus alto ndice de mortalidade de empresas, relao entre
mortalidade e perfil empreendedor, etc. Cooper et al (2000) coloca que no se pode deixar de
mencionar que o estudo do empreendedorismo foi inicialmente realizado com estudos de
pequenos negcios e criao de novos empreendimentos, mas se desenvolveu para incluir
uma larga populao de firmas, incluindo organizaes slidas procurando se revitalizar. O
empreendedorismo um dos poucos assuntos que atraem especialistas de diversas reas de
conhecimento, gerando uma falta de consenso e, portanto, uma confuso na definio e
conceituao do termo.
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Apesar de serem vrios os estudiosos da rea - economistas, administradores,
socilogos, psiclogos, entre outros e talvez seja este o motivo, h ainda muita discrdia
com relao ao tema. Vrios tentaram teorizar em torno do fenmeno, mas no existe ainda
nenhuma teoria econmica sobre o empreendedor que rena consenso, nem modelo
econmico que explique o desenvolvimento a partir da funo empreendedora, pois est
dificilmente quantificvel (FILION, 2000, p.18). Pesquisadores de diversas reas tendem a
perceber e definir empreendedores usando premissas de suas prprias disciplinas. Assim, a
confuso do que vem a ser empreendedor tende a se diluir e as semelhanas aparecerem na
medida em que se analisa cada disciplina separadamente.
2.2 CONCEITUAO DE EMPREENDEDORISMO E EMPREENDEDOR
Nos estudos e pesquisas realizados sobre o fenmeno do empreendedorismo observa-
se que no h consenso entre os estudiosos e pesquisadores a respeito da exata definio do
conceito de empreendedor. Isto decorrente da amplitude de disciplinas envolvidas no campo
do empreendedorismo. Os estudiosos das diversas linhas de estudo definem o termo, dando
perspectivas condizentes com sua rea d