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Economia de Empresas PERFIL DA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS NO BRASIL: /990 - 97 Geni Satlko Sato Engenheira de Alimentos, Mestre em Economia Agrícola, Doutoranda em Administração de Empresas na EAESPI FGV e pesquisadora do Instituto de Economia Agrícola. Professora do Departamento de Administração Geral e Recursos Humanos da EAESP/FGV. E-mail: [email protected] RESUMO: Esta pesquisa sobre o perfil da indústria de alimentos no Brasil, no período de 1990 à 1995, observou uma participação superior do grupo de produtos de maior valor agregado, com destaque para os laticínios. Ocorreu também um aumento do consumo de alimentos propiciado pelo aumento da renda real dos trabalhadores após o Plano Real. ABSTRACT: The analysis of Brasil's food production performance from 1990 to 1995 period has shown a stronger participation of the higher added value products groups, being particularly noticeable that of the dairy products. In addition, a higher general consumption of food has been verified as a result of the increase in the real income of workers after the stabilization plan. KEY WORDS: food industry, performance from 1990 to 1995, production. PALAVRAS-CHAVE: indústria de alimentos, desempenho de 1990 a 1995, produção. 56 RAE - Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 37, n. 3, p. 56-67 Jul./Set. 1997

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Page 1: PERFIL DA INDÚSTRIA DE - SciELO · PALAVRAS-CHAVE: indústria de alimentos, desempenho de 1990 a 1995, produção. 56 RAE - Revista de Administração de Empresas São Paulo, v

Economia de Empresas

PERFIL DA INDÚSTRIA DEALIMENTOS NO BRASIL: /990 - 97

Geni Satlko SatoEngenheira de Alimentos, Mestre em Economia Agrícola,Doutoranda em Administração de Empresas na EAESPIFGV e pesquisadora do Instituto de Economia Agrícola.Professora do Departamento de Administração Geral e

Recursos Humanos da EAESP/FGV.E-mail: [email protected]

RESUMO: Esta pesquisa sobre o perfil da indústria de alimentos no Brasil, no período de 1990 à 1995, observouuma participação superior do grupo de produtos de maior valor agregado, com destaque para os laticínios. Ocorreutambém um aumento do consumo de alimentos propiciado pelo aumento da renda real dos trabalhadores após oPlano Real.

ABSTRACT: The analysis of Brasil's food production performance from 1990 to 1995 period has shown a strongerparticipation of the higher added value products groups, being particularly noticeable that of the dairy products. Inaddition, a higher general consumption of food has been verified as a result of the increase in the real income ofworkers after the stabilization plan.

KEY WORDS: food industry, performance from 1990 to 1995, production.

PALAVRAS-CHAVE: indústria de alimentos, desempenho de 1990 a 1995, produção.

56 RAE - Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 37, n. 3, p. 56-67 Jul./Set. 1997

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PERFIL DA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS NO BRASil: /990 - 95

Os diversos setores industriais brasilei-ros vêm se reestruturando intensamente nosanos 90, frente a um novo contexto de com-petitividade e abertura de mercados. Váriasfusões e aquisições no setor de alimentos sãoindicativos de rearranjos estruturais.'

Por outro lado, o processo contínuo deurbanização, em curso nos países em desen-volvimento, e a crescente participação damulher no mercado de trabalho demandamcada vez mais uma adequação no tempo depreparo dos alimentos e crescentes adiçõesde serviços nos produtos oferecidos. A im-portância da indústria de alimentos está nacrescente participação de seus produtos nacesta básica do consumidor e na elaboraçãode alimentos com maior valor agregado.

Durante o período de estabilizaçãoviabilizado pelo Plano Real, o consumo dealimentos apresentou aumentos significati-vos. Por exemplo, com relação ao ano ante-rior, o segmento de bebidas lácteas apresen-tou expansão de 30%; carnes, 20%; e quei-jos, compotas e latarias, 15%. Outro segmen-to que apresentou forte aumento de vendas foio de fast food. Contrariamente, produtos commenores valores agregados e com elasticida-de/renda menores - como cereais, café, açú-car - apresentaram redução quanto ao incre-mento da produção e vendas.?

Em 1995, a participação da indústriade alimentos (inclusive bebidas) no PIBfoi de 9,23%.3 Apesar de apresentar-secomo um ramo da indústria de transfor-mação pouco dinâmico no que diz respei-to à taxa de crescimento anual, é um setorde impacto social grande e indicador demelhoria da capacidade de consumo dosextratos de rendas inferiores.

OBJETIVOS E METODOLOGIA

Este estudo pretende traçar o comporta-mento da indústria de alimentos no Brasil,no período de 1990-95, através da taxa decrescimento do setor, da análise da evoluçãode faturamento, vendas, produção física, pes-soal ocupado, total de salários, salário mé-dio, ocupação da capacidade instalada e ex-portações, e do desempenho dos seus diver-sos segmentos. Foram utilizados índicesmédios anuais da Pesquisa Conjuntural daIndústria de Alimentos (ABIA) e as taxasforam obtidas através da metodologia apre-sentada em Negri Neto, Coelho e Moreira."

INDÚSTRIA DE ALIMENTOS NOBRASIL: BREVE RETROSPECTIVA

Após a Segunda Guerra, o setor de alimen-tos - considerado como um ramo da indús-tria de transformação tradicional - assimcomo os setores têxtil, vestuário, madeira,mobiliário, bebidas, fumo e editorial gráficoapresentaram participação relativa decrescentena indústria de transformação, enquanto quecresceram as participações das indústrias de-nominadas dinâmicas, como as do ramo elé-trico, químico, farmacêutico, metalúrgico,mecânico e materiais de transporte.

Por meio de uma política de substituiçõesde importações, a industrialização brasileiradirecionou-se para a produção de bens de con-sumo duráveis, intermediários e de capital.No ano de 1949, a indústria alimentar par-ticipava com 20,5% em termos de valor adi-cionado, e respondia por 18% dos empregosno total da indústria de transformação sendoque, no início dos anos 70, essas participa-ções caem para 12,4% e 12,7%, respectiva-mente."

A perda na participação relativa refletesomente o resultado do processo de industria-lização estimulado pelo governo a partir daSegunda Guerra. A participação relativa cai;porém, em números absolutos, cresce signi-ficativamente. O número de estabelecimen-tos aumentou de 14.905 para 46.815, e de173.535 empregados para 372.401; ou seja,apresentou nesse período taxas de crescimen-to positivas, conforme mostra a tabela 1.

Tabela 1Taxas médias de crescimento anual

para a indústria de produtosalimentícios e indústria total de

transformação (1949 a 72)

10,31949-52 4,4

1952-57 3,2 4,4

1957-62 7,5 11,91962-67 1,8 2,7

12,18,71967-72Fonte: VINCENCONTI, Paulo Eduardo. O proces-so de industrialização brasileira. In: RAE - Re-vista de Administração de Empresas. São Paulo:Fundação Getulio Vargas, v. 17, n. 6, p. 40,1977.

© 1997, RAE - Revista de Administração de Empresas / EAESP / FGV, São Paulo, Brasil.

1. VEGRO, Celso L.R. & SATO, Geni S.Fusões e aquisições no setor de produtosalimentares. In: Revista de InformaçõesEconOmicas. São Paulo. v.25, n .5, maiol95, p, 9-21.

2. CONJUNTURA ECONÔMICA. ago. 1996,p.36-9.

3. ABIA. O mercado brasileiro dealimentos industrializados. 1994, 65p.

4. NEGRI NETO, COELHO, Paulo J. eMOREIRA, Irene R. Análise gráfica e taxade crescimento. In: Revista deInformações Econõmicas. v.23, n.10,p.99-108, out. 1993.

5. VICENCONTI, Paulo Eduardo V. Oprocesso da industrialização brasileira. In:RAE-Revista de Administração deEmpresas. São Paulo: Fundação GetúlioVargas, v. 17, n.6, p. 33-43, 1977.

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externa e interna. Sem uma política indus-trial clara, o setor industrial nãoincrementou investimentos entre 1980 e1992, implicando a redução da produção em7,4 %. Os setores mais afetados foram osde bens de capital e duráveis. Diferentemen-te, os setores de bens de consumo não du-ráveis (alimentos e têxtil) cresceram 8% noperíodo, revertendo a tendência da décadaanterior." Portanto, nos anos 80, ocorreu umdeslocamento produtivo em direção a pro-dutos que exigem menor poder de compra ede baixa elasticidade de renda.

Nos anos 90, as empresas brasileiras jáestavam em processo de reestruturação, pre-parando-se para a inevitável abertura domercado brasileiro e a internacionalizaçãodos padrões de qualidade e produtividade.Conseqüentemente, para serem competiti-vas, necessitavam apresentar eficiência eestarem atentas às necessidades e gostos domercado.

O período de estagnação que permaneceuna década de 80 persistiu até 1992 e somenteem 1993 o setor industrial apresentou cresci-mento. Esse crescimento foi resultado de pro-cessos de ajuste das empresas no planofínanceiro patrimonial e, posteriormente, nareestruturação produtiva. Alguns setores, parafocar suas atividades, reduziram o escopo dadiversificação, terceirizando atividades nãoprincipais e racionalizando processos produti-vos e administrativos com cortes de empregos.

Dados do Comitê Brasileiro de Qualidade- ABNT - indicavam que, até agosto de1996, foram emitidos 1.192 certificados daISO 9000 ( 900 empresas) sendo 35 paraprodução de alimentos, de bebidas e de fumo. 10

6. LIMA, Beatriz Melo F. O setor dealimentos e a polftica industrial. In:Conjllntllra EcontJmica. v. 33, n. 11, p.48-58, novo 1979.

7. RATINER, H. Gestão tecnológica. In:RAE-Revista de Administração deEmpresas. V. 18. n.3, jul-set 1978; ABIA,1986.

8. POMERANZ, Lenina. A demanda deprodutos alimentfcios industrializados noBrasil. In: RAE-Revisfa de AdministraçãodeEmpresas, v.17, n. 6. p. 81-101, 1977.

9. COUTINHO. Luciano e FERRAZ, JoãoCarlos. Estlldo da competitividade naindútria brasileira. São Paulo: Papirus.1994, 509p.

10.FOLHA DE S. PAULO. 25 ago. 1979.

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Mudanças estruturais são detectadas porLima" ao analisar a evolução do setor de ali-mentos nos anos 70, constatando mudançasnas participações de grupos de gêneros alimen-tícios. A autora ressaltou o aumento da con-tribuição do grupo de produtos mais elabora-dos (como leite pasteurizado e laticínios; con-servas de frutas, legumes; especiarias e con-dimentos, e conservas de pescados) em detri-mento dos produtos tradicionais. Esses qua-tro grupos em 1960 contribuíam com 20% dovalor da produção e em 1974 com 31,9%.

Outra constatação para os anos 70, utili-zando dados da pesquisa industrial de 1974,foi que os estabelecimentos médios de 50-499 pessoas respondiam por 46,35% do pes-soal ocupado e por 53,63 % do valor datransformação, apesar de representar somen-te 5,89 % dos estabelecimentos. Nos anos80, essa concentração aumenta: os estabele-cimentos médios são 3,50% dos estabeleci-mentos existentes e respondem por 57,90%do valor da transformação."

Com relação a demanda ou consumo deprodutos alimentares, Pomeranz" agrupou-os de acordo com a elasticidade de renda.No grupo de produtos elásticos, cujo consu-mo cresce com a renda estão: 1. produtosconservados; 2. doces, geléias e produtos de-rivados do cacau; 3. legumes em conserva;4. pescado industrializado e 5. laticínios. Nogrupo de produtos inelásticos tem-se: 1. pro-dutos beneficiados; 2. pães, massas e bis-coitos; 3. óleos e gorduras e 4. carnes pre-paradas. Desta forma, produtos com menorvalor agregado e inelásticos à renda depen-dem do crescimento do emprego, enquantoque produtos elásticos têm sua demanda in-fluenciada pelo crescimento do emprego,como também pela melhoria da renda real,ou da distribuição de renda.

Nos anos 80, o país atravessava um pe-ríodo de desordem econômica e política de-vido a problemas provenientes da dívida

A INDÚSTRIA DE ALIMENTOS: ANOS 90

O valor da produção da indústria de alimen-tos no período de 1990-95 contribuiu, em mé-dia, com 9,83 % do valor do Pffi e 17,04 % do

Tabela 2Participação do valor da produção da Indústria de alimentos no PIB e no total da

Indústria de transformação no Brasil, em % (1990-95).~""""''''''''''''''''''''''''''''!'I'

PIB 9,98 10,17 10,45Ind.Total 17,20 17,95 17,28

Fonte: ABIA (1994).

RAE· v. 37 • n. 3 • Jul./Set. 1997

10,2216.368,93

16,69

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PERFIL DA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS NO BRASIL: 1990 -9~

valor da indústria total (tabela 2). Em 1995, deacordo com a ABIA,lI a indústria era repre-sentada por 38 mil estabelecimentos, gerando775 mil empregos e com um faturamento deUS$ 52,9 bilhões.

Comparando as taxas de crescimento daindústria de alimentos e da indústria totalcom o PIB, constata-se que nos anos de1990-91-92, anos de recessão, o impactonegativo sobre a indústria em geral foi bemmaior do que na indústria de alimentos emparticular. Por outro lado, nos anos 93-94-95, anos de recuperação do crescimento eco-nômico, a indústria em geral apresenta ta-xas de crescimento superiores ao PIB e aindústria de alimentos taxas inferiores, in-dicando que os períodos de crescimento sãocarreados pelas denominadas indústrias di-nâmicas, eletro-eletrônicas, metal-mecâni-ca e transportes, conforme tabela 3.

Tabela 3Taxa de crescimento da indústria dealimentos, Indústria de transformaçãoe PIB no Brasil, em (%) aa (1990-95).

Com relação ao desempenho das expor-tações no período, a indústria de alimentosapresentou crescimento, elevando sua par-ticipação de 12,86 % em 1990, para 16,82 %em 1995 (tabela 4). Em 1995, os alimentossemi-elaborados ( carnes e derivados, sojae derivados, e suco e derivados) somam

13,69%, pouco mais que a metade da parti-cipação dos alimentos nas exportações, queé de 23,99%.12 Tradicionalmente, o Brasilvem exportando produtos tipo commodities(café e soja em grãos) e a tendência é expor-tar produtos com maior valor agregado. Aexportação de alimentos sofre uma série debarreiras tarifárias à sua entrada em outroscontinentes e países, de forma que o Brasilvem gradativamente aumentando sua atua-ção através de produtos nos quais ainda apre-senta vantagens comparativas - como noscasos do café, do açúcar, da carne e da soja- e vantagens competitivas, a exemplo dosuco de laranja.

No mercado interno existe um potenciala ser explorado pela indústria e é nesse espa-ço que ocorre a competição de grandes em-presas nacionais e transnacionais, aqui esta-belecidas.

No mercado interno, os anos 90 forammarcados por dois planos de estabilização(Plano Collor, de março /90, e o Plano Real,de junho /94). O Plano Collor apresentou ca-racterísticas peculiares ao congelar a utiliza-ção da poupança da população por um perío-do determinado, conjugado a um congelamen-to de preços.

No ano de 1991, com o retorno gradativoda inflação, o governo tomou novas medidasatravés do Plano Collor 11,com reajustes dastarifas públicas, congelamento de preços e sa-lários, aumento de preços para alguns pro-dutos alimentícios básicos, e uma nova tabe-la de deflação para vendas a prazo.

Nos anos 92 e 93, paralelamente às crisespolíticas no governo Collor, a inflação voltaa crescer, atingindo dois dígitos no mês. Emjunho de 94 é implementado o Plano Real.

No ano de 1995, primeiro ano após aimplementação do Plano Real, o setor dealimentos foi o que mais se beneficiou como crescimento da renda real. Alguns seg-mentos apresentaram aumento de 50% nasvendas, como foi o caso do segmento de

Tabela 4Percentual das exportações no valor da produção na indústria de

alimentos no Brasil (1990-95).

Fonte: ABIA, 1994.

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11. ABIA. Op. cil., 1994.

12. Idem, ibidem.

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A INDÚSTRIA DE ALIMENTOS:ANÁLISE DOS DIVERSOSSEGMENTOS

13. GAZETA MERCANTIL. 15 fev. 1996,Caderno Finanças e Mercados.

14.GAZETA MERCANTIL, 30 jul. 1996.

15. TROCOLLI, Irene R. Alimentação:padrões de consumo no Brasil. In: Rev.Ana/ysís, se1./96, p. 13-15.

16.A classe D tem renda anual familiarde US$ 356 a US$ 570, conformeTROCOLLI, Irene R. Op. cít,

17.GAZETA MERCANTIL. 03 jan. 1996.

18. POMERANZ, Lenina. Op. cil.

19. LIMA, Beatriz Melo F. Op. cil.

60

sorvetes, A Kibon aumentou suas vendas em47% (de 76 milhões para 112 milhões de li-tros)."

De acordo com o levantamento da Fun-dação IBGE, a evolução da renda no perío-do entre o início de 1990 até maio de 1996,indica um aumento de 25,2%, para os tra-balhadores, em geral (com carteira, semcarteira, autônomos e empregados) e oacréscimo é atribuído, principalmente, aosanos de 95 e 96.14 Trocolli,15 ao analisaralterações estruturais nos padrões de con-sumo na população brasileira, demonstraque dados de 1996 indicam forte expansãodo consumo nas faixas mais baixas de ren-da (D e E).16

De acordo com especialistas, outro ajus-te que ocorreu com as empresas em geral,após o Plano Real, foi a queda da margemlíquida média de 11,4% para 5,5%, a qualainda pode ser considerada alta se compa-rada à média de 2,7% da Fortune para as500 melhores empresas em 1994,17

Análise da produção por segmento

Os dados para os anos de 93, 94 e 95 daprodução física de produtos selecionados demaior valor agregado indicam crescimentosignificativo para leite longa vida (108,58%),para iogurtes (83,55 %), sorvetes (45,52 %),queijos (43, 62 %), biscoitos e bolachas(39,55%) e chocolates (35, 71 %), conformetabela 5.

Por outro lado, os produtos de menor va-lor agregado, também conhecidos como pro-dutos tradicionais, apresentaram taxa de va-riação média no período -8,14 % (tabela6). Esses dados confirmam a tendência, já ob-servada nos anos 80 por Pomeranz" e Lima",de aumento do consumo de produtos demaior valor agregado, principalmente emfunção do aumento de renda e do emprego.

Tabela 5Produção física de alimentos com maior valor agregado para os anos de 1993194195,

em 1000 toneladas.

Fonte: Elaborado com dados da ABIA.

Tabela 6Produção física de alimentos com

menor valor agregado para os anos de 1993/94195, em 1000 toneladas.

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PERFIL DA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS NO BRASIl: 1990 -95

Análise do faturamento porsegmento

Em termos de faturamento por segmentos,observa-se que o segmento de beneficiamentode café, chá e cereais, que em 1990 eraresponsável pela maior participação relativa(18,02%) do faturamento total, perde posiçãoem 1995 para o segmento de laticínios, quepassa a contribuir com 18,71%. Destacam-seainda os segmentos de derivados de carnes(11,90 %), óleos e gorduras (12,96 %) e deri-vados de trigo (12,57 %), conforme tabela 7.

óleos e gorduras, laticínios e derivados detrigo.

São identificadas através desses segmen-tos três grandes cadeias produtivas:

• cadeia produtiva carnes/grãos;• cadeia produtiva de trigo;

cadeia produtiva de laticínios.Segue uma breve caracterização de cada

cadeia produtiva:

Laticínios: Caracteriza-se como um oligo-pólio de empresas de capital nacional (Vigor eLeco) e transnacionais globais (Parmalat, Nestlé,

Tabela 7Participação percentual dos diversos segmentos no faturamento total da

indústria de alimentos (1990-95).

"i95

1.Beneficiamento de café, chá e cereais 18,02 16,30 17,10 16,92 16,40 15,70

2. Derivados de carne 10,70 11,34 11,27 12,46 14,23 11,90

3. Óleos e gorduras 14,85 14,57 13,94 15,09 14,22 12,96

4. Laticínios 16,25 16,52 14,15 16,16 16,60 18,71

5. Açúcares 7,62 8,20 9,05 8,78 7,84 7,89

6. Derivados de trigo 10,58 12,01 14,20 10,74 10,43 12,57

7. Derivados de frutas/vegetais 9,37 7,89 8,06 7,02 7,69 7,45

8. Chocolate, cacau e bala 3,78 4,11 3,62 3,39 9,47 3,42

9. Conserva de pescado 0,85 0,81 0,68 0,68 0,84 0,83

10. Diversos 7,97 8,29 7,91 8,74 8,26 8,55

Fonte: Elaborado com dados da ABIA.

A análise dos grupos selecionados por cri-tério de valor agregado constata uma tendên-cia de decréscimo de participação dos gru-pos tradicionais de menor valor agregado edos grupos intermediários no faturamentoglobal do setor de alimentos. Em 1995, o gru-po de produtos com alto valor agregado (óleose gorduras; derivados de carne; laticínios; de-rivados de trigo; chocolate, cacau e balas)atinge 59,56% do faturamento do setor, en-quanto o grupo de produtos tradicionais apre-senta queda de 25,64% para 23,59%, e ogrupo intermediário apresenta queda de10,2% para 8,28% (tabela 8).

Desempenho dos diversossegmentos

Os segmentos que se destacaram quantoà produção física e a participação no fatu-ramento geral foram: derivados de carne,

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Yakult e Danone), com a liderança do gruposuíço Nestlé. O segmento de laticínios passa por .um processo de reestruturação, com destaquepara a agressiva estratégia de expansão do gru-po Parmalat. O número de fusões e aquisiçõesdo grupo Parmalat indica um posicionamentoestratégico no Brasil para posterior expansãono Mercosul.

O grupo italiano Pannalat iniciou suas ati-vidades no Brasil em 1974. Sua entrada nomercado brasileiro deu-se com o objetivo deexplorar os nichos de mercado de leite longavida e o de leite in natura tipos B e C.

Para viabilizar sua estratégia de expansãoadquiriu as seguintes empresas: Via Láctea(SP); Laticínios Teixeira (SP); Alimbra (BA);Suprema (MG), 1991; Alpha (RJ), 1991; SantaHelena (GO), 1991; Go-go (GO), 1992;Mococa de Goiás (GO), 1992; Planalto (MG),1993; Lacesa (RJ), 1993; SPAM ( RJ), 1993.

Paralelamente, parte para uma diversifi-

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Tabela 8Participação de grupos de alimentos selecionados por critério de valor agregado,

no faturamento total da indústria de alimentos (1990-95).

- Diversos

20. VERGO, Celso L. R. & SATO, Geni S.Op. cil.

21. EXAME, 26 seI. 1979.

62

7,97 8,29 7,91 8,74 8,26

Fonte: Elaborado com dados da ABIA.

8,55

cação sinérgica, através da aquisição, paraatuar no segmento de massa e biscoitos, adqui-rindo: Petybon; Duchen (da General Biscuits).

A expansão do grupo Parmalat no Brasilpermitiu ampliação de seu faturamento que, em1989, era de US$ 39 milhões e, em 1994, deUS$ 750 milhões. 20 Atua também nesse segmen-to a líder Nestlé, de capital suíço. Seu desem-penho tem posicionado a empresa no rankingdas Maiores e Melhores durante anos seguidos.

A subsidiária brasileira da Néstlé foi ins-talada no Brasil em 1921 para produzir o leitecondensado Moça e outros derivados de lei-te. Atualmente, ela expandiu suas linhas pro-dutivas para café, chá, cacau, carnes, legu-mes, farinha, pescados, frutas e água mine-ral, utilizando as marcas Maggi, Findus,Chambourcy, Minalba, Yopa e São Luiz. Po-rém, sua liderança absoluta está na linha doleite em pó, sua atividade original. 21

Após o Plano Real, destacaram-se nessacadeia produtiva a expansão da produção econsumo do leite longa vida (108%) e deiogurtes (83,5%).

Carnes/Grãos: Esta cadeia produtiva envol-ve a produção de frangos, suínos, bovinos, cor-tes especiais, produtos cárneos industrializados,produção de grãos, ração, óleos e gorduras.

Atuam nessa cadeia empresas nacionais degrande porte, como os grupos Sadia, Perdi-

gão, Ceval Alimentos, Chapecó e Frangosul.As empresas líderes que exploram atividadesde carnes e derivados, sinergicamente explo-ram a produção de grãos (milho e soja) e di-versificam-se para a produção de rações,farelo, óleos e gorduras vegetais. Conjunta-mente os dois segmentos contribuíram, em1995, com 24,86% do faturamento global dosetor de alimentos. Atuam ainda no ramo dacadeia específica de óleos e gorduras multina-cionais como a Sambra, Cargill e Gessy Lever.

O ramo da cadeia de carnes caracteri-za-se como oligopólio competitivo pois,com as líderes de segmentos convivem em-presas de pequeno e médio porte que atuamregionalmente. O segmento de derivados decarnes vem gradativamente focando sua es-tratégia na agregação de valor.

Derivados de Trigo: Nesta cadeia, que nãoinclui o beneficiamento de cereais, estão pre-sentes empresas transnacionais globais comoNabisco, Nestlé e Parmalat, que gradativamentevêm adquirindo empresas e marcas nacionaise exploram a produção de biscoitos. Está in-cluso nesse segmento também a produção demassas alimentícias. Segue-se abaixo a relaçãodas principais aquisições ocorridas:

• Nestlé adquiriu a Tostines e Aliram eexplora a marca São Luiz;• Parmalat produz biscoitos com a marca

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PERFIL DA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS NO BRASIL: /990 -97

Parmalat e adquiriu a marca Duchen;Nabisco adquiriu a Júpiter e Aymoré;

• O grupo Bunge y Bom adquiriu aPetybon;

A Danone adquiriu a Campineira,marca Triunfo.Esse segmento contribuiu, em 1995, com

12,57% do faturamento global do setor dealimentos.

Análise das taxas de crescimentodas variáveis estruturais naindústria de alimentos, no períodode 1990-95.

Para análise mais detalhada das taxas decrescimento das variáveis estruturais da indús-tria de alimentos utilizamos, para efetuar o cál-culo dessas, uma metodologia com base em re-gressões lineares, dividindo em dois sub-perío-dos, 1990-93 e 1993-95. O primeiro refere-seao desempenho pós-Plano Collor e o segundo,pós Plano Real (tabela 9 e gráficos 1,2,3).

RESULTADOS OBTIDOS

Faturamento real: Para o período, todo ovalor da taxa obtida pela regressão não foi esta-

tisticamente significativa, o que indica que a taxade crescimento é igual a zero. Isso explica-sepelas fortes oscilações positivas e negativas.

Vendas reais: Vendas cresceram a taxas de1,85%, sendo esse valor significativo a 20%.

Produção física: Cresceram mais que ofaturamento, ou seja, 3,65%, sendo que nosub-período de 93-95 esse crescimento foimaior, 6,55%, provavelmente pelo aquecimen-to da demanda no primeiro ano pós-Plano Real.

Pessoal ocupado: A taxa para esse itemfoi de -2,77%, indicando que a indústria au-mentou a produção sem aumentar o númerode empregos e até diminuindo. Houve au-mento de produtividade, provavelmente viagerenciamento eficaz de processos ou ter-ceirização.

Total de salários reais: Cresceu cerca de2,55% sendo que a contribuição maior deve-se ao subperíodo de 93-95, (estabilização dainflação), quando ocorreu aumento de rendareal.

Salário real médio: Cresceu à taxa de4,75%.

Ocupação da capacidade instalada:Cresceu a taxa de 4,65% , devido ao aque-cimento da demanda nos períodos pós-planos.

Tabela 9Taxas de crescimento (%) das variáveis estruturais selecionadas da Indústria de

alimentos no Brasil (1990-95 e subperfodos: 90-93, 93-95).

Faturamento 90-95 2.41 1.11(ns) 90-93 5.22 21.27(30%)

real 93-95 -2.19 -O

Vendas reais 90-95 1.85 1.78(20%) 90-93 2.85 1.39(30%)

93-95 0.17 0.06(ns)

Produção 90-95 3.65 90-93 1.98 0.96(ns)

física 93-95 6.55

Pessoal 90-95 -2.77 90-93 -3.47

ocu 93-95 -1.60

Total de 90-95 2.55 90-93 3.02

salários 93-95 1.77 1

Salário médio 90-95 4.75 90-93 3.20 2.89(10%)

real 93-95 7.43 4

Ocupação da 90-95 4.65 6.67(1%) 90-93 3.23 3.04(10%)

capo instalada 93-95 7.09 4.33(4%)

Fonte: Calculado pela autora com dados da ABIA.Obs.: os valores entre parênteses são os níveis de significância para o teste (t), Método utilizado:regressão linear (ns) = não significativo.

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COMPORTAMENTO DAS VARIÁVEIS ESTRUTURAIS SELECIONADAS DAINDÚSTRIA DE ALIMENTOS NO BRASIL (1990 - 1995)

Gráfico 1Faturamento real, vendas e produção física (1990-95)

120

100

- Fat.real

- Vendas reais

- Prod, física

20

oo o o g; g; .- N N N M M M ...•. ...•. ...•. U') U') U')a> a> a> a> a> a> a> a> a> a> a> a> a> a> a> a>

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Gráfico 2Total de salários reais e salário médio real (1990-95)

_ 140 .lUCP~ 120'Õ'111 100~ aoCP

iã 60 - Prod. física~iã 40 - Pes, ocupadoUI'ia 20..e O

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PERFIL DA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS NO BRASIL: /990 - 97

140

Gráfico 3Produção física e pessoal ocupado (1990-95)

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""') ct ""') O ""') ct ""') O ""') ct ""') O ""') ct ""') O ""') ct ""') O ""') ct ""') oFonte: ABIA - Associação Brasileira de Indústria de Alimentos

120

100

80

60

- Prod. física

40

20

- Pesoocupado

De modo geral, pode-se inferir que ape-sar da produção física e vendas apresenta-rem taxas de crescimento positivas, o fatu-ramento das empresas na indústria de ali-mentos não cresceu, ou porque os custos au-mentaram, ou porque trabalharam com pre-ços mais baixos. De uma forma ou de outra,a margem de lucro foi comprimida nesse pe-ríodo. Outro aspecto interessante refere-se àredução do emprego, indicando mudançasnos processos de produção e reestruturaçãode gestão. Provavelmente foram introduzi-dos processos mais automatizados, terceiri-zados, serviços não essenciais e utilização demão-de-obra temporária.

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Indústria de alimentos: análise dasMaiores e Melhores

Nos anos de 91, 92 e 93, das 500 empre-sas pesquisadas muitas fecharam balançosno vermelho," refletindo o período derecessão. A rentabilidade sobre o patrimôniodo setor de alimentos apresentou índicesbaixos (ver tabela 10). Porém, no primeiroano pós-Plano Real, as grandes empresasconseguiram aumentar significativamentesuas vendas e desempenho global.

Sua participação em número de empre-sas, de 1991 a 1995, apresentou queda de19,69% (de 66 para 53), sendo mais sig-

22. FARINA, Elizabe1h M.M.O. Estudo decaso 001.94 Sadia. 1994, 31p.

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superiores à mediana do setor. Observaram-se nesse período movimentos de aquisiçõespor parte das multinacionais, como a aquisi-ção da Indasa (PA) pela Refinações de MilhoBrasil e da Cica pela Gessy Lever. 24

Com a abertura à importação e conse-qüente aumento da concorrência, as empre-sas do setor de alimentos continuaram ainvestir em lançamentos de novos produ-tos e a explorar novos segmentos de maiorvalor agregado. No ano de 1993, a J.B.Duarte, considerada a melhor do ano, au-mentou investimentos em óleos especiaiscomo de milho (Gilda), de girassol (Vida)e compostos de oliva mais soja (Maria)."

Em 1995, a Danone, considerada a me-lhor do setor, atribuiu o seu sucesso à rees-truturação organizacional e produtiva, comolocalização mais próxima dos fornecedores(mudou sua planta industrial para Poços deCaldas, MG), para trabalhar melhor a quali-dade da matéria-prima, e investimentos emescalas produtivas para redução de custos (oque permitiu trabalhar com preços mais bai-xos). Essas mudanças resultaram em aumen-to global de seu marketshare (de 30% para35%) principalmente devido ao aumento devendas do Danoninho e do iogurte de polpade fruta. Em 1994, adquiriu também o con-trole da Campineira (biscoitos) e participa-ção na Aymoré, em Minas Gerais.

As melhores do setor de alimentos no pe-ríodo foram: Nestlé (91), Nestlé (92), J.B.Duarte (93), Central Itambé (94) e Danone (95),predominando as grandes empresas do segmen-to de laticínios (um dos que mais se beneficiouno período pós-Plano Real), com destaque paraas empresas que responderam rapidamente àsmudanças conjunturais e estruturais que ocor-reram no primeiro quinqüênio dos anos 90.

23. 44,9% em 91; 44,2% em 1992;18,6% em 1993, conforme EXAME:Maiores e Melhores, 1996, p. 12.

24. EXAME. 1992, p, 117

25. EXAME, 1993, p. 132

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nificativa em 1995. Porém, as vendas dasmaiores do setor cresceram 78,9 %, indi-cando que algumas grandes empresas dosetor foram prejudicadas quanto ao desem-penho nos períodos de ajuste pós-plano deestabilização enquanto outras obtiveramfaturamento médio maior devido ao aque-cimento do consumo, conforme tabela 10.

Com relação ao desempenho financeiro dasempresas, podemos separar a análise em doisperíodos distintos: o primeiro, 91, 92, 93 -pós-Plano Collor; o segundo, 94 e 95 - pós-Plano Real. Serão utilizados os índices setoriaiselaborados pela revista Exame: 1. liderança demercado; 2. rentabilidade sobre patrimônio; 3.crescimento; 4. liquidez; 5. endividamento e 6.vendas/ emprego, conforme mostra a tabela 11.

Em 1991, o primeiro ano após o PlanoCollor, o setor apresenta índices baixos, mas,assim mesmo, as medianas dos indicadoresfinanceiros foram superiores à mediana glo-bal da amostra. Este período caracterizou-sepelo congelamento dos preços de produtos eabertura gradativa às importações. Algumasempresas do setor iniciaram reestruturaçõesinternas com enxugamento de níveis hierár-quicos, como foi o caso da Nestlé."

Em 92 e 93, com o fim do congelamento,o setor consegue recompor seu faturamento(vendas) mas a rentabilidade sobre opatrimônio cai. Nesse período, a produçãofísica continuou caindo, indicando que ocor-reu uma adequação do consumo aos novosníveis de preços. Das 20 maiores do setor,sei s registraram prejuízos: (PerdigãoAgroindustrial S.A., Frigobrás, Lacta, Ceval,Cargill e Swift-Armour), o que se refletiu naqueda da rentabilidade de 3,8%, em 91, para0,7 em 92. Por outro lado, empresas comoNestlé, Cica e União apresentaram lucros

Tabela 10Número de empresas e vendas (US$ bilhões) das empresas de alimentos

classificadas no ranking das Maiores e Melhores da Revista EXAME.

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PERFIL DA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS NO BRASIL: 1990 -97

Tabela 11Desempenho dos Maiores e Melhores do setor de alimentos e

desempenho geral - Período 1991·95

Liderança de 0,2 -7,4 7,0 7,7 12,4 14,6 3,8 5,1 3,9 -3,2mercado (%)

Rentabilidade 3,8 -2,3 0,7 0,3 1,1 3,7 8,0 11,7 8,0 4,3(%)

Crescimento 2,30 -0,7 2,24 0,3 2,23 1,3 7,1 6,3 5,6 2,6(%)

Vendas/

Empregos

(1.000 US$ aa)

151,077 15'2,5:1)159,545

Fonte: Elaborado com dados da Revista Exame Maiores e Melhores (1992 a 1996).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos anos de 1990-91-92, caracteriza-dos por baixo crescimento econômico, odesempenho da indústria de alimentos so-freu impacto menor que a indústria totale, nos anos de recuperação do crescimen-to 1993-94-95, seu desempenho, apesar depositivo, ficou abaixo da indústria total,confirmando-se hipótese já levantada pelaABIA,26 de que é um setor que atua como"amortecedor" em períodos de crises mas,por não se caracterizar como indústria di-nâmica, não apresenta taxas altas em perí-odos de crescimento.

Durante o período pós-Plano Real, oaumento da renda real propiciou aumen-tos no consumo de alimentos e caracte-rizou-se pelo maior consumo relativo deprodutos com maior valor agregado emais elásticos à renda.

Apesar das participações percentuaisda indústria de alimentos no PIB e nototal da indústria de transformação apre-sentarem ligeiro decréscimo, suas ex-portações vêm apresentando taxas decrescimento positivas.• Segmentos mais competitivos da in-dústria de alimentos, como laticínios,

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massas e biscoitos, vêm apresentandonovas configurações em função de movi-mentos de fusões e aquisições de multi-nacionais globais que, estrategicamente,procuram fortalecer-se através da forma-ção de oligopólios. Esses movimentos sãoimpulsionados pelo potencial do merca-do brasileiro e do Mercosul, que direcio-na para uma concentração mais intensada indústria de alimentos.

Em alguns segmentos da indústria dealimentos, consolidaram-se empresas na-cionais de grande porte, com níveis com-petitivos internacionais, como os seg-mentos de carnes industrializadas, sucode laranja e soja/derivados.• As taxas de crescimento das variáveisestruturais selecionadas indicam que, noprimeiro quinqüênio dos anos 90, as em-presas passaram por ajustes durante doisplanos de estabilização e a aberturagradativa do mercado, o que resultou nacompressão das margens, visto que a pro-dução física e as vendas cresceram a ta-xas superiores às do faturamento real.Além disso, as empresas de alimentosajustaram seus processos produtivos, oque se refletiu na diminuição do númerode pessoal ocupado. O 26. ABIA. Op. cil.,1986.

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