percepÇÃo das famÍlias de doadores de ÓrgÃos...

95
MARLÍ ELISA NASCIMENTO FERNANDES PERCEPÇÃO DAS FAMÍLIAS DE DOADORES DE ÓRGÃOS SOBRE O PROCESSO DE DOAÇÃO PERCEPTION OF ORGAN DONORS OF FAMILIES ABOUT THE PROCESS OF DONATION CAMPINAS 2015

Upload: truongdat

Post on 08-Feb-2019

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

MARLÍ ELISA NASCIMENTO FERNANDES

PERCEPÇÃO DAS FAMÍLIAS DE DOADORES DE ÓRGÃOS

SOBRE O PROCESSO DE DOAÇÃO

PERCEPTION OF ORGAN DONORS OF FAMILIES

ABOUT THE PROCESS OF DONATION

CAMPINAS

2015

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Ciências Médicas

MARLÍ ELISA NASCIMENTO FERNANDES

PERCEPÇÃO DAS FAMÍLIAS DE DOADORES DE ÓRGÃOS

SOBRE O PROCESSO DE DOAÇÃO

PERCEPTION OF ORGAN DONORS OF FAMILIES

ABOUT THE PROCESS OF DONATION

Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Ciências

Médicas da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP

como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de

Doutora em Ciências.

Thesis presented to the Faculty of Medical Sciences, State

University of Campinas as part of the requirements for obtaining

the title of Doctor of Science.

Orientador (a): Profa. Dra. Ilka de Fátima Santana Ferreira Boin

Co-orientadora: Profa. Dra. Zélia Zilda Lourenço de Camargo Bittencourt

Este exemplar corresponde à versão final da Tese defendida

pela aluna Marlí Elisa Nascimento Fernandes, orientada pela

Profa. Dra. Ilka De Fátima Santana Ferreira Boin.

_________________________

Assinatura da Orientadora

CAMPINAS

2015

RESUMO

A doação de órgãos para transplantes é um processo complexo e envolve um

conjunto de procedimentos gerenciados no Brasil pelo Sistema Nacional de

Transplante - Ministério da Saúde e regulamentado por leis e protocolos que

primam por ações efetivas dos serviços captadores visando o aumento de

doações de órgãos e tecidos para transplantes. Nos últimos anos, as taxas de

doação de órgãos tem crescido em diversos países, mas a desproporção entre

o número de doações e o número de doentes na fila de espera por um órgão é

preocupante em todo o mundo. O objetivo desta investigação foi identificar as

vivências e sentimentos dos familiares de doadores em uma unidade

transplantadora, frente ao processo de doação de órgãos. Método: Este estudo

exploratório com abordagem qualitativa foi realizado no período de março de

2012 a junho de 2013, a partir de levantamento no banco de dados de

doadores de órgãos da Organização de Procura de Órgãos para Transplante

do Hospital de Clínicas Unicamp. Aleatoriamente selecionou-se doze familiares

residentes em Campinas/SP e região metropolitana para participarem do

estudo. Os familiares foram contatados por telefone e convidados a participar

de uma entrevista gravada, agendada conforme a disponibilidade destes. Cinco

famílias recusaram a participar alegando falta de condições emocionais para

falar sobre a doação. Foram entrevistados sete familiares de diferentes

doadores, a maioria em domicilio, mediante questionário semiestruturado

contendo dados sociodemograficos e questões sobre a vivência do processo

de doação. O material de linguagem foi transcrito e submetido a análise de

conteúdo temático em quatro categorias: vivências sobre o consentimento para

a doação, sentimentos pós consentimento, motivação para a doação e

percepção das famílias pós doação. Observamos que os participantes

consideraram a pouca sensibilidade da equipe médica na comunicação da

morte encefálica do familiar - potencial doador - e a ausência de suporte

socioemocional diante da situação vivenciada pela família. Observamos que

houve impacto para a decisão das famílias participantes quanto as campanhas

utilizadas pelos meios de comunicação especialmente a televisão, no qual o

Sistema Nacional de Transplantes vem procurando sensibilizar e incentivar a

população brasileira ao consentimento para doação de órgãos. Observamos

que as famílias demonstraram serem incentivadoras para consentirem a

doação. A partir destes achados, outras práticas de atenção e gestão na saúde

poderão ser discutidas como: trabalho em rede da Organização de Procura de

Órgãos envolvendo as famílias de potenciais doadores e doadores efetivos, as

Unidades Básicas de Saúde e o Centro Referência de Assistência Social para

oferecer apoio psicossocial e assim impactar no fortalecimento dos vínculos

familiares pós-doação e nos índices de captação de órgãos. Concluímos que

há necessidade de se incluir na legislação da Política Nacional de Transplantes

o apoio socioemocional e transcultural aos familiares de potenciais doadores.

O papel do assistente social, do enfermeiro e do psicólogo neste processo foi

enfatizado e a inclusão destes no processo pós-doação deve ser repensada na

política de saúde. Sugere-se ainda um plano de capacitação intersetorial que

envolva os gestores de saúde, profissionais da rede, assistência social e

lideranças religiosas para possibilitar o acesso das famílias de doadores pós-

consentimento à rede de cuidados transcultural.

Palavras chaves: Família; Doadores de Órgãos; Humanização da Assistência;

Políticas, Planejamento e Administração em Saúde.

ABSTRACT

Organ donation for transplantation is a complex process involving a set of

procedures managed by the National Transplant System – Ministry of Health in

Brazil, and it is regulated by laws and protocols with the objective of carrying out

effective actions related to procurement organizations, in order to increase

organ and tissue donation for transplantation. Recently, organ donation rates

have grown in several countries but, despite this fact, the disproportion between

the number of donations and the number of patients on the waiting list for an

organ is of global concern. Objective: To identify the experiences and feelings

of the donor family in a Transplantation Unit of the organ donation process.

Method: This exploratory study using a qualitative approach was conducted

during the period of March 2012 to June 2013, using the organ donors’

database of the Organ Procurement Organization (OPO) for transplants of the

Clinical Hospital at the State University of Campinas (HC-Unicamp). Twelve

family members living in the Campinas / SP metropolitan area were randomly

selected from the database for the study. Family members were invited by

telephone to participate in an interview, which was scheduled according to their

availability. Five families refused to participate, indicating a lack of emotional

capability. Seven families from different donors were interviewed, most taking

place in the donor family’s home, using a semi-structured questionnaire

containing demographic aspects, the consent for donation data, and questions

about the experience of the donation process. Interviews were transcribed and

analyzed according to the qualitative methodological framework of content

analysis; in the pre-analysis, the material was read to identify categories that

clustered into four central themes: experiences on consent for organ donation,

feelings of family members after providing authorization, motivation for the

donation and post donation perception. We observed that the participants

considered the insensitivity of the medical staff in the communication of brain

death of a potential donor to the family - and the lack of socio-emotional support

before and after this situation experienced by the family. We observed an

impact on the decision of participating families when there are campaigns in the

media, especially television, in which the National Transplant System has

sought to raise awareness and encourage the population to consent to organ

donation. We noted that families proved to be incentivized for donation consent.

From these findings, other care practices and management in health can be

discussed such as networking of Organ Procurement Organization involving the

families of potential donors, Basic Health Units and the Social Assistance

Reference Center to provide psychosocial support and thus impact the

strengthening of post-donation family ties and organ uptake rates. We conclude

that there is need to include in the legislation the National Policy transplants and

cross-cultural social-emotional support to families of potential donors. The role

in this process of social workers, nurses and psychologists were reported and

the inclusion of post-donation process should be rethought as health policy. The

intersectoral training plan involving health managers, network professionals,

welfare and religious leaders to facilitate the access of donor families after the

consent of transcultural care network.

Keywords: Family; Organ donor; Humanization of Health; Health Policy.

AGRADECIMENTOS

Ao Deus Vivo, Pai Eterno e Poderoso para fazer infinitamente mais e além do

que pedimos ou pensamos segundo o poder que em nós opera, obrigado por

me ajudar a concretizar este sonho.

A Profa. Dra. Ilka de Fátima Santana Ferreira Boin pelo privilégio de ser sua

aluna, profissionalismo com expertise, pela oportunidade de aprendizado

durante esta caminhada, a amizade construída ao longo deste percurso. Que a

bênção de Deus seja sobre ti por toda sua vida.

A Profa. Dra. Zélia Zilda Lourenço de Camargo Bittencourt, pelo privilégio

de receber contribuições valiosas com expertise profissional, pelo

conhecimento alcançado, que Deus abençoe grandemente sua vida.

Às famílias dos doadores participantes desta pesquisa, meu respeito e

gratidão, por me receberem em suas casas e compartilharem sua experiência

de vida.

A Luzinete Galdino de Araújo, Rosangela Galdino de Araújo e Clarice Galdino

de Araújo pelo apoio e orações para que tudo desse certo.

A Maria Estela Bernadete da Rocha, Maria Helena Araújo, Maria Kiyo Aoki Kac

e Lenice de Souza do Departamento de Cirurgia da FCM-Unicamp.

A Profa. Dra. Maria de Lurdes Zanolli, Chefe do Departamento de Pediatria da

Unicamp, pelas valiosas contribuições dadas no início do projeto.

A Profa. Dra. Elizete Aparecida Lomazi, docente do Departamento de Pediatria

da Unicamp, orientadora do mestrado, sou eternamente grata pela

oportunidade de aprendizado que você me ofereceu investindo seus

conhecimentos.

A Profa. Dra. Flora Marta Bueno Giglio do HC-Unicamp pelas valiosas

contribuições.

A Simey de Lima Lopes Rodrigues, Márcia Raquel Panunto, Dr. Luiz Antônio C.

Sardinha, Dr. Helder José Lessa Zambelli, Eliete Bombarda Bachega Montone,

Maria Valéria Omena Athayde e Adriana Sampaio Barbosa, da Organização de

Procura de Órgãos do HC-Unicamp.

A Dra. Maria Izabel Warwar, Elizabete Udo, Fátima Trovato, Tereza Cristina

Bonaldo, Deuzelina Ventrili, Áurea Maria Oliveira da Silva, Profa. Dra. Raquel

Silveira Bello Stucchi, do Ambulatório de Transplante de Fígado do

Gastrocentro-Unicamp.

A Maria Rita Fraga, Selma Cesário, Marli Ferreira Rocha, Aparecida do Carmo

Miranda, Silvia Helena Gaudêncio, Ana Maria de Arruda Camargo, Cláudia

Gonzaga Pereira Cilla, Adriana Renata Ferrari Gasparoni pela colaboração nos

detalhes do cerimonial da defesa.

Ao Antônio Alberto Ravagnani Relações Públicas do HC-Unicamp pelo apoio

na divulgação dos trabalhos decorrentes desta pesquisa, apresentados no

exterior.

A amigas Luciene Teixeira de Oliveira do DAMPE e a Cleuza Aparecida

Antônio Santos do Laboratório de Citopatologia do CAISM – Hospital da Mulher

pelo apoio e orações no percurso deste estudo.

Ao Emilton Barbosa de Oliveira e equipe do Suporte Didático e Divulgação

Técnica Científica da Faculdade de Ciências Médicas-Unicamp.

A toda equipe da Pós-Graduação em Ciências da Cirurgia da Faculdade de

Ciências Médicas-Unicamp, em especial ao Prof. Dr. Orlando Petrucci Junior

pelo apoio recebido para apresentar a parte dos resultados desta tese em

Londres-UK.

“O MEU MANDAMENTO É ESTE: AMEM-SE UNS

AOS OUTROS COMO EU OS AMEI. NINGUÉM TEM

MAIOR AMOR DO QUE AQUELE QUE DÁ A SUA

VIDA PELOS SEUS AMIGOS”.

JESUS CRISTO

S. João 15:12-13.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Mapa da área de abrangência da OPO-HC-Unicamp.......................26

Figura 2. Rede de cuidado das famílias de potenciais e doadores de órgãos.56

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Distribuição dos motivos da recusa familiar......................................28

Tabela 2. Distribuição das características dos doadores de órgãos.................32

Tabela 3. Distribuição das características sociodemográficos dos familiares...33

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

SNT - Sistema Nacional de Transplantes

Unicamp - Universidade Estadual de Campinas

CIHDOTT - Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos

OPO - Organização de Procura de Órgãos

USP - Universidade de São Paulo

SUS - Sistema Único de Saúde

ONT - Organizacio´n Nacional de Trasplantes

OMS - Organização Mundial de Saúde (OMS)

ME - Morte encefálica

PD - Potencial doador

UTI - Unidade de Terapia Intensiva

PMP - Por milhão da população

HC - Hospital de Clínicas

Mp4 player - Gravador

CNDCO - Central de Notificação Captação e Distribuição Órgãos

CONEP - Conselho Nacional Ética Pesquisa

RF - Recusa Familiar

CEP - Comitê de Ética em Pesquisa

SES-SP - Secretaria de Estado da Saúde

FCM - Faculdade de Ciências Médicas

TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TV - Televisão

IML - Instituto Médico Legal

UBS - Unidade Básica de Saúde

CRAS - Centro de Referência de Assistência Social

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................17 OBJETIVO.........................................................................................................24

MÉTODO...........................................................................................................25

3.1.1. Desenho do estudo.......................................................................25

3.1.2. Campo da pesquisa......................................................................25

3.1.3. Coleta de dados...........................................................................26

3.1.4. Critérios de inclusão.....................................................................30

3.1.5. Critérios de exclusão....................................................................31

3.1.6. Aspectos éticos............................................................................31

3.1.7. Tratamento dos dados: categorização.........................................31

RESULTADO....................................................................................................32

DISCUSSÃO.....................................................................................................44

CONCLUSÃO...................................................................................................59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................60

ANEXOS..........................................................................................................72

Anexo 1. Termo de Doação de Órgãos e Tecidos Doador Falecido.....72

Anexo 2. Ficha de caracterização de doadores de órgãos...................73

Anexo 3. Instrumento de caracterização social....................................74

Anexo 4. Roteiro de entrevista semiestruturada...................................75

Anexo 5. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.......................76

Anexo 6. Resumo informativo..............................................................77

Anexo 7. Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa........................78

Anexo 8. Artigo publicado decorrente deste trabalho..........................79

SUMÁRIO

Anexo 9. Direitos autorais...................................................................87

Anexo 10. Organizacio’n Nacional de Trasplantes................................88

Anexo 11. Certificados de apresentação de trabalho em congressos...90

Anexo12. Normas da redação da tese...................................................95

17

INTRODUÇÃO

A doação de órgãos tem sido tema de amplo debate e sua abordagem

perpassa por vários aspectos legais do Sistema Nacional de Transplantes do

Ministério da Saúde, respaldando todo o processo de doação para

procedimentos de transplantes (1,2). É tema de relevância das políticas públicas

de saúde em todos os países, pois a doação de órgãos impacta na sobrevida

das pessoas que aguardam nas filas de espera por um órgão.

O Brasil institucionalizou o direito à saúde a todos os cidadãos

brasileiros com a promulgação da Constituição Federal, quando criou o

Sistema Único de Saúde (SUS). As discussões prévias, consolidadas na VIII

Conferência de Saúde e materializadas na Constituinte pela luta dos

sanitaristas, gestores e políticos comprometidos com a reforma do sistema

vigente ofereceram ao povo brasileiro a oportunidade de efetivar um sistema

integrado e gratuito que cuida da prevenção, promoção, cura e reabilitação da

saúde, fortalecendo a cidadania (3).

O SUS oferece um dos maiores programas públicos de transplantes de

órgãos e tecidos do mundo, tendo apresentando um desempenho crescente

desde sua criação. É também a política de inclusão social implementada para

assegurar a atenção a saúde da população (2,3).

O processo de doação envolve um conjunto de ações e procedimentos

que consegue transformar um potencial doador em um doador efetivo. O

potencial doador é aquele com diagnóstico de morte encefálica (ME), no qual

tenham sido descartadas contra-indicações clínicas. Embora haja um crescente

aumento de doadores vivos, o doador com morte encefálica, ainda é a principal

fonte de órgãos para transplante. A literatura (4,5) considera que o “doador

18

efetivo de tecidos: é o doador potencial com o diagnóstico de morte encefálica

ou coração parado, do qual a família autorizou a doação”.

A Política Nacional de Transplantes de Órgãos e Tecidos está

fundamentada pelo Ministério da Saúde tendo como diretrizes a gratuidade da

doação, a beneficência em relação aos receptores e não maleficência em

relação aos doadores vivos. Estabelece também garantias e direitos aos

pacientes que necessitam destes procedimentos e regula toda a rede

assistencial através de autorizações de funcionamento de equipes e

instituições captadoras de órgãos e procedimentos de transplantes (3-5).

Os dados do país sobre a doação revelam o ritmo de progressão, tendo

dobrado o número de doadores de órgãos nos últimos cinco anos, (de 6

doadores pmp para mais de 13,4 doadores por milhão de população) porém

em 2015 a taxa de doadores efetivos está estagnada em 29%, enquanto que o

esperado é de 32% para chegar-se ao índice de 17 doadores efetivos.

A meta nacional é chegar a 20 doadores pmp em 2017. Para tal,

observa-se empenho do SNT no aprimoramento dos programas de captação

de órgãos, visando a maior capacitação dos profissionais, investimento em

hospitais captadores, melhoria na notificação de diagnóstico de morte

encefálica e campanhas para sensibilizar a população a doar órgãos (5).

Nos países desenvolvidos a taxa de doação tem melhorado

progressivamente, como por exemplo no Canadá, a taxa de doadores está em

15,5 doadores por milhão de população, sendo que 77% das doações

ocorreram com mais de um órgão e tecidos (6).

O modelo considerado o mais exitoso para a doação e transplantes de

órgãos há muitos anos é o modelo da Espanha, cuja taxa é de 35 doadores por

milhão de população (pmp), bem acima da média na União Européia (19

doadores pmp). Este modelo busca a melhoria constante nos índices de

19

doação e a organização uniforme do sistema. O plano estratégico espanhol

pretende atingir a meta de 40 doadores (pmp) nos próximos anos (7-8).

O protocolo nacional da doação de órgãos preconizado pelo SNT segue

a seguinte ordem: a) identificação de pacientes com critérios clínicos de morte

encefálica (ME); b) diagnóstico de ME; c) notificação a CNCDO; d) avaliação

clínica e laboratorial; e) manutenção do potencial doador; f) entrevista familiar.

Todo o processo de doação só é possível quando há o diagnóstico de ME, a

notificação do potencial doador (PD) e o consentimento familiar (2,4,5,9).

Por se tratar de atendimento a pacientes graves internados em Unidade

de Terapia Intensiva (UTI) a literatura destaca a importância de ações

socioassistenciais realizadas por assistentes sociais. Este profissional

desenvolve uma escuta qualificada das necessidades das famílias, levando o

acolhimento e apoio necessário. A inclusão em programas sociais pode

minimizar os problemas, pois, o impacto de uma internação inesperada com

risco de morte é, muitas vezes traumático com reflexos em toda a dinâmica

familiar (10,11).

As políticas públicas enfatizam a centralidade da família na sua agenda

das políticas públicas partindo do pressuposto de que esta é o núcleo protetivo

e de sustento de seus membros. A centralidade recoloca a responsabilidade do

Estado no apoio as famílias para fornecer auxílio significativo para estas

necessidades de cuidado nos serviços de saúde (12-13).

A literatura ressalta que há dificuldades da população no entendimento

dos critérios de morte encefálica, sendo este tema atual em constante

discussão (14-18). O diagnóstico é estabelecido após dois exames clínicos, com

intervalo mínimo de seis horas entre eles, realizados por profissionais

diferentes e não vinculados à equipe de transplante. Quando a pessoa

apresenta o estado clínico irreversível com as funções cerebrais e do tronco

20

irremediavelmente comprometidas, constata-se a morte cerebral (2,4,9,19). É

neste momento, ao tomar ciência pela equipe médica que os familiares se

desestabilizam, as vezes não acreditando no diagnóstico informado uma vez

que as condições clinicas aparentes do paciente, por exemplo corpo aquecido,

os batimentos cardíacos ainda estão preservados ou ainda pode ser pelo fato

do nível cultural (19-23).

Estudos demonstraram as dificuldades na concretização dos

transplantes devido a recusa familiar para doação e levantaram os fatores que

interferiram neste contexto, como o descontentamento da família com o

atendimento hospitalar, a dúvida a respeito de morte encefálica, a demora na

liberação do corpo para o funeral, desconhecimento do desejo manifesto em

vida do doador ou por motivos religiosos relativos a manipulação do corpo do

doador (21,23-25).

Além dos fatores ora citados, há em alguns serviços captadores

problemas estruturais e logísticos, mas o que compromete efetivamente o

processo são: a conduta dos profissionais da captação relativa a entrevista

familiar, falhas no cuidado básicos e na manutenção do potencial doador como

o controle de temperatura central, as medidas para prevenção da hipotermia e

informações insuficientes as famílias sobre a evolução clínica do paciente

prestadas pela equipe médica, durante todo o processo de doação(22-25). Em

decorrência destes fatores a percepção negativa das famílias pode levar à

recusa da doação.

De acordo com os órgãos nacionais a taxa de recusa familiar ainda está

em torno de 44%, considerada elevada e preocupante quando comparada ao

número de pessoas em lista de espera por um órgão para transplante. A meta

nacional é a redução gradativa de 30% deste percentual de recusa familiar e

assim diminuir significativamente a lista de espera para transplante (5).

21

Dados da literatura (22) apontam que a avaliação da recusa familiar

nacional durante o período 1998 a 2012, ocorreu em 21.120 famílias

entrevistadas, o que torna mais grave o impacto em pacientes que

possivelmente podem ter morrido sem ter conseguido o transplante de órgãos.

Alguns dos fatores de recusa familiar foram relacionados a bioética e ao

status social decorrente do baixo nível de escolaridade das famílias, que

possivelmente pela representação que as famílias tiveram do processo, pela

desconfiança se a distribuição dos órgãos doados é eqüitativa pelo SNT

(17,22,26).

A composição interdisciplinar da Organização de Procura de Órgãos

para transplante geralmente constituído por médicos, enfermeiros e assistentes

sociais, tem um papel importante na condução do processo de doação, pela

relação de proximidade dos familiares do doador, mantendo sempre o diálogo

sincero e esclarecedor do significado da doação para outras pessoas

acometidas de doenças e que necessitam de um órgão. Neste contexto que

diversos saberes profissionais podem facilitar a melhoria nos índices de

consentimento e em todo o processo (14,27).

Os dados sociais de identificação do potencial doador e o histórico de

vida informado pelas famílias ao assistente social contribuem para determinar

as condutas e se constatar se há ou não viabilidade de se oferecer a família a

oportunidade de doação para transplante. Desde a internação é necessário

identificar as condições de vida da família relativa ao trabalho e de risco social

pois esta informação possibilita intervenção junto aos recursos sociais. Por se

tratar de questões mais detalhadas do contexto sociofamiliar o assistente social

geralmente estabelece maior vínculo com as famílias.

O processo de trabalho do assistente social da equipe da CIHDOTT -

Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes,

22

além do acolhimento social, consiste no cumprimento dos princípios éticos que

se pauta no respeito a qualquer que seja a decisão da família no momento de

morte encefálica dos pacientes internados (10,27).

A Politica Nacional de Doação de Órgãos para Transplantes estabelece

o consentimento familiar informado para a retirada dos órgãos, e nesta

perspectiva pelos atuais dados do Brasil de recusa familiar de 44% (5), estudos

sobre a percepção dos familiares após a experiência de consentimento,

poderão identificar peculiaridades apontadas pelas familias, os quais muitas

vezes não são identificadas no cotidiano das Organizações de Procura de

Órgãos, podendo impactar direto na população que depende do transplante,

refletindo nos índices da política de saúde pública.

As famílias de potenciais doadores são protagonistas na efetivação do

processo de doação de órgãos para transplantes. Na literatura vários estudos

buscam identificar os fatores que interferem no processo de doação (17,19,20,21,26).

A motivação que me levou a iniciar esta pesquisa ocorreu ao ingressar

na Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos do HC da Unicamp. Na

ocasião participei da capacitação promovida pela Secretaria do Estado de

Saúde do Estado de São Paulo, em 2007 através do curso para formação de

coordenadores de CIHDOTT.

A oportunidade de conhecimento sobre as fases do processo de

captação chamou a minha atenção quando prestava assistência as famílias de

potenciais doadores, que após o acolhimento social era oferecida a

oportunidade de doação. Observei como era difícil entrevistar as famílias e ver

seu sofrimento ao tomar a decisão de consentimento.

O incômodo levou-me a refletir sobre como estariam os familiares após a

experiência de doação, as quais havia prestado assistência no hospital.

23

Percebi a necessidade de se refletir sobre o que poderia ser realizado em

atenção a estas famílias após a finalização do processo.

O tema doação de órgãos para transplante, é mundialmente discutido

pelas implicações éticas e sociais que impactam na saúde coletiva.

Considerando-se os pressupostos apresentados e as barreiras limitantes

do processo de doação, que interferem na decisão da familia, esta pesquisa

pretendeu detectar fatores que possam contribuir para minimizar as

dificuldades na efetivação da doação, observadas após a mesma.

24

OBJETIVO

Geral

Identificar as vivências e sentimentos de familiares de doadores de

órgãos frente o processo de doação de órgãos para transplantes.

Específicos

Verificar na percepção dos familiares de doadores de órgãos as

peculiaridades que envolveram o processo de consentimento da

doação.

Identificar os fatores que contribuíram para a motivação da doação.

Descrever o perfil dos doadores de órgãos

Descrever o perfil sociodemograficos dos familiares participantes do

estudo

25

MÉTODO

3.1.1. Desenho do estudo:

Estudo exploratório com abordagem qualitativa apoiada no conceito de

análise de conteúdo (28-30).

O método qualitativo trata de uma investigação social na qual se baseia

em dados de texto de acordo com o objetivo proposto no estudo - a percepção

dos sujeitos que vivenciaram a doação de órgãos - visando se compreender o

significado da ação humana.

O estudo exploratório segundo a literatura (28,31-32) pode ser realizado

através de diversas técnicas, geralmente com uma pequena amostra,

permitindo a definição do problema da pesquisa, para decidir então sobre as

questões que mais necessitam de atenção e investigação detalhada.

3.1.2. Campo de Pesquisa

O estudo foi realizado no período de março de 2012 a junho de 2013, a

partir de levantamento no banco de dados de doadores de órgãos da

Organização de Procura de Órgãos (OPO) para Transplantes do Hospital de

Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (HC-Unicamp), situado na

região metropolitana de Campinas, no Estado de São Paulo, Brasil.

O HC é uma instituição pública, atuando no ensino, pesquisa e na

assistência integral a usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).

A OPO está situada no 3º andar do HC, sala E3 302B e funciona 24

horas ininterruptamente. Está subordinada a Central de Notificação, Captação

e Distribuição (CNCDO-2), sediada no Hospital das Clínicas da USP de

26

Ribeirão Preto/SP e atua uma área territorial de 124 municípios abrangendo

uma população de cerca de 8.000.000 habitantes (33).

A equipe foi composta por assistente social, enfermeiro, médico e

psicólogo.

Na Figura 1 pode ser visto a área de abrangência da OPO-HC-Unicamp.

Fonte: OPO-HC-UNICAMP

3.1.3. Coleta de dados

No período do estudo a OPO-HC-Unicamp contou com uma população

de 135 doadores efetivos e de modo aleatório foram sorteados 12 prontuários,

dos quais se analisaram os dados de comprovação da assinatura do familiar do

doador no Termo de Doação de Órgãos Doador Falecido (Anexo I); o tempo de

consentimento da doação, verificando-se se todos os dados do prontuário

estavam completos para localização das famílias.

População estimada

de 8.000.000

habitantes

27

Os familiares foram contatados por telefone e convidados a participar de

uma entrevista, agendada conforme a disponibilidade destes. Dos 12 familiares

selecionados, cinco se recusaram a participar alegando falta de condições

emocionais.

Foram entrevistados sete familiares de diferentes doadores, mediante

aplicação do questionário semiestruturado contendo dados sociodemograficos

com as seguintes variáveis: gênero, idade em anos, cor da pele declarada pelo

participante: branca, negra, parda e outras, grau de escolaridade, procedência,

estado civil, tipo de família, religião, profissão, vínculo com a Previdência

Social, número de pessoas da família, renda familiar per capita em salários

mínimos vigentes conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística(34), tipo de domicílio, relação de parentesco com o doador, tempo da

entrevista após o consentimento da doação e questões sobre a vivência do

processo de doação.

Com exceção de duas entrevistas realizadas na sala da família do HC-

Unicamp, as demais ocorreram no domicílio dos familiares do doador, em

tempo superior a dois meses após o consentimento da doação.

As seguintes variáveis de caracterização dos doadores foram

levantadas: gênero, idade, cor da pele, procedência e causa da morte: acidente

vascular cerebral (AVC), trauma crânio encefálico (TCE) e encefalopatia

anóxica (EA).

Os cinco familiares que se recusaram a participar do estudo informaram

os motivos da recusa sendo aqui representados como RF (recusa familiar)

seguida do número de ordem de 1 a 5 conforme a Tabela 1.

28

Tabela 1 - Distribuição dos motivos da recusa familiar

Famílias de

doadores

Motivos da Recusa Familiar

RF-1

Não queria falar sobre a doação, para não lembrar da morte.

RF-2

Um momento muito difícil para falar da doação dos órgãos do

filho.

RF-3

Choro desesperado, alegando falta de condições emocionais.

RF-4

Respondeu de forma hostil, não aceitaria falar a respeito da

doação.

RF-5

Alegou que não tinha coragem para falar da morte e da doação.

As entrevistas foram realizadas em tempo superior a dois meses, após o

consentimento da doação, respeitando o período de luto e considerando-se as

condições emocionais das famílias e as providências legais necessárias por

ocasião da morte. Embora não haja um tempo definido em que uma pessoa

elabore o luto após a dor da perda de um familiar, uma realidade difícil de ser

enfrentada, foi definido esse critério para viabilizar a investigação.

A entrevista estruturada foi guiada por cinco questões (Anexo IV). Para a

coleta de dados foram utilizados também os seguintes instrumentos:

29

a) Termo de Doação de Órgãos e Tecidos Doador Falecido (Anexo I)

b) Avaliação de prontuário e dados de identificação do doador (Anexo II)

c) Caracterização social da família (Anexo III)

d) Roteiro de entrevista semiestruturada (Anexo IV).

e) Termo de Consentimento Livre e Esclarecido -TCLE (Anexo V)

f) Resumo informativo da pesquisa (Anexo VI).

No momento da chegada ao domicilio das famílias tive a preocupação

de antes de iniciar a entrevista, reiterar à família do doador o tema e o objetivo

da pesquisa e de lhe assegurar o anonimato das suas informações. As

entrevistas foram gravadas mediante autorização dos participantes que

assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e receberam cópias

do TCLE e Resumo informativo da pesquisa (Anexos V e VI).

O gravador de voz Mp4 player modelo Dynamics foi utilizado durante a

entrevista para se garantir a qualidade do registro dos depoimentos

preservando-se o sigilo verbal. Foi realizada a escuta qualificada, restringindo

as intervenções na condução das entrevistas pela pesquisadora ao mínimo

para facilitar a fluência do discurso espontâneo da família entrevistada.

Durante e após a realização de cada entrevista foram realizadas

anotações no caderno de campo da pesquisadora como referido na

literatura(29,30) descrevendo as observações desde o contato inicial com os

familiares e, o que se apresentava no decorrer da coleta de dados, com ênfase

na verbalização de sentimentos ou silêncio durante a entrevista foram

registradas no caderno com o objetivo de ter outro meio de registro para

captação de dados não apreendidos na entrevista e agregar valor na leitura do

30

conteúdo possibilitando maior facilidade na transcrição e aproximação de todo

material produzido.

Para se compreender a dinâmica social e as relações estabelecidas

entre os sujeitos participantes e seus contextos, durante o processo de doação,

os dados qualitativos foram distribuídos em 4 categorias temáticas:

1) Vivências sobre o consentimento da doação,

2) Sentimentos após o consentimento da doação,

3) Motivação para doação,

4) Percepção das famílias pós-doação.

3.1.4. Critérios de Inclusão

Os critérios adotados para seleção dos participantes foram:

Ser familiar de doador de órgãos.

Ter a comprovação de assinatura no Termo da Doação de Órgãos

e Tecidos Doadores Falecido (Anexo I), da Secretaria de Estado

da Saúde (SES-SP), constante em prontuário médico da OPO-

HC-Unicamp.

Recuperação completa dos dados do prontuário da doação para

localização das famílias dos doadores.

Assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

concordando voluntariamente a participar do estudo.

31

3.1.5. Critérios de Exclusão

As famílias de doadores cujo tempo após a morte do doador e a

autorização para a doação de órgãos fosse inferior a 2 meses.

As famílias de doadores de órgãos convidadas para participar do estudo

pela pesquisadora as quais, após a explanação dos objetivos da pesquisa, se

recusaram a assinar o termo de consentimento livre e esclarecido.

3.1.6. Aspectos Éticos

Foram respeitados os aspectos éticos nas diversas etapas da pesquisa,

de acordo com as Normas da Resolução 466/12 do CONEP - Conselho

Nacional de Ética em Pesquisa e Conselho Nacional de Saúde, resguardando

o anonimato, o sigilo e a privacidade das famílias entrevistadas sendo aqui

apresentadas pela letra (F) seguida do número de ordem (1 a 7) das

entrevistas; dos doadores de órgãos estão representados pela letra (D) seguida

do número de ordem (1 a 7). Os motivos da recusa familiar estão

representados pelas letras (RF) seguida do número de ordem (1 a 5). A

pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de

Ciências Médicas da Unicamp, protocolo 1059/2011CAAE: 0958.0.146.000-11.

3.1.7. Tratamento dos dados: categorização e análise

As entrevistas foram transcritas na íntegra e analisadas segundo o

referencial metodológico qualitativo da análise de conteúdo (30,32), sendo que na

pré-análise realizou-se leitura flutuante do material para se identificar às

categorias e posterior agrupamento.

32

RESULTADOS

Os setes participantes do estudo eram procedentes dos municípios de

abrangência: Campinas, Cosmópolis Piracicaba, Sumaré e Artur Nogueira.

Duas das entrevistas foram realizadas na Sala da Família do HC-Unicamp e as

demais ocorreram no domicílio dos familiares do doador.

Na Tabela 2 são descritas as características dos doadores de órgãos,

onde se observa que a maioria foi constituída pelo gênero feminino, cor de pele

branca e negra, a idade dos doadores variou entre 03 e 43 anos e eram

procedentes do município de Campinas e região, sendo que as causas de

morte dos doadores foram: traumatismo crânio encefálico, encefalopatia

anóxica, acidente vascular cerebral.

Tabela 2. Distribuição das características dos doadores de órgãos.

Doadores

(D1)

(D2)

(D3)

(D4)

(D5)

(D6)

(D7)

Idade

43

30

29

3

36

24

23

Gênero

F

M

F

F

F

M

M

Cor da pele

Branca

Branca

Negra

Branca

Negra

Branca

Branca

Procedência

Campinas

Cosmópolis

Piracicaba

Campinas

Sumaré

Campinas

Artur Nogueira

Causa da Morte

AVC

TCE

Anoxia

Anoxia

AVC

TCE

TCE

F= feminino; M= masculino; AVC= acidente vascular cerebral; TCE=traumatismo crânio encefálico; EA= encefalopatia Anóxica.

33

As características sociodemográficos dos familiares participantes do

estudo estão apresentadas na Tabela 3.

Tabela 3. Distribuição das características sociodemográficos dos

familiares entrevistados.

Familiares dos

Doadores

(F1)

(F2)

(F3)

(F4)

(F5)

(F6)

(F7)

Gênero

M

M

M

M

M

F

M

Idade 26 64 31 25 39 45 56

Cor de pele Branca Branca Negra Branca Negra Branca Branca

Escolaridade EM EF EM EM EM EF EF

Procedência Campinas Cosmópolis Piracicaba Campinas Sumaré Campinas Artur

Nogueira

Estado civil Solteiro Casado Viúvo Casado Casado Casado Casado

Tipo de família Mono Casal Mono Nuclear Nuclear Nuclear Casal

Religião Espírita Católica Evangélica Mórmon Evangélica Evangélica Católica

Profissão

Vendedor

Motorista

Serviços

Gerais

Técnico em

Automação

Técnico de

Enfermagem

Babá

Agricultor

Vínculo com

Previdência Social

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

Sim

N. Pessoas da

família

2 2 5 2 4 4 2

Renda familiar per

capita

3 SM

1 SM

½ SM

3 SM

½ SM

4 SM

½ SM

Tipo de domicílio Alugado Próprio Cedido Próprio Próprio Próprio Próprio

Parentesco com o

doador

Filho Pai Cônjuge Pai Irmão Mãe Pai

Tempo da

entrevista familiar

após a doação

12 meses

05 meses

06 meses

14 meses

15 meses

13 meses

13 meses

F= feminino, Masculino, EF= Ensino fundamental, EM = Ensino médio, Mono=Monoparental

SM= Salário Mínimo. Fonte: O Estado de São Paulo – 06/01/2015 Salário Mínimo vigente = R$ 788,00.

34

Observa-se que a maioria dos familiares que aceitaram participar da

entrevista era constituída por homens, idade variando de 25 a 64 anos, cor

declarada branca e negra, o nível de escolaridade variou entre ensino

fundamental e ensino médio, ou seja famílias de baixa escolaridade.

O grau de parentesco com o doador variou entre filho, cônjuge, irmão e

pais. As entrevistas com os participantes foram realizadas entre 5 e 15 meses

após o consentimento da doação.

Os participantes da investigação eram constituídos por famílias

nucleares, monoparentais e casais. A composição familiar variou entre 2 e 5

pessoas, residindo em domicílio próprio. As religiões declaradas pelas famílias

foram: evangélica e católica, seguida de mórmon e espírita.

Quanto ao estado civil, eram casados e solteiros, exercendo variadas

atividades profissionais: como babá, agricultor, vendedor, motorista, atividades

técnicas de automação, enfermagem, cuja renda per capita variou entre ½

salário a 4 salários mínimos, no valor de R$ 1.182,00.

O status de trabalho dos familiares era assegurado pela proteção social,

ou seja, vinculados à Previdência Social. Considerando-se a faixa salarial, as

famílias entrevistadas foram classificadas como de baixa renda (34).

As análises qualitativas da dinâmica social e as relações estabelecidas

entre os sujeitos participantes estão descritas em 4 temáticas: vivências sobre

o consentimento da doação, sentimentos após consentimento da doação, a

motivação para a doação e percepção das famílias pós-doação.

35

1) Vivências sobre o consentimento da doação

Diante da comunicação do diagnóstico de morte encefálica de um

familiar, os achados apontaram para a falta de percepção da equipe médica em

antever o impacto gerado nos familiares que acabaram de perder o familiar:

[...] acho que teve um pouco de dificuldade né, um pouco acredito que poderia ser mais claro com a gente, explicar mais para a gente. Porque gostaria de ter maiores informações do processo de doação. Foi muito rápido, porque a pessoa recebe a notícia da morte do cérebro, acho que o médico não devia falar logo de cara sobre a doação. Devia esperar mais né não devia ser rápido assim entendeu. Naquela hora eu não tinha forças não queria ouvir mais, comecei a gritar... aí o médico parou de falar (F3). [...] eu fiquei numa revolta eu não achei certo, minha mãe ali no leito naquele momento ruim e todo mundo ali em cima de mim falando de doação. Acho que o que mais me marcou, que mais que eu não gostei foi de estar sozinho, pela situação que ocorreu no momento do comunicado da morte da minha mãe, a equipe devia sempre chamar mais de uma pessoa para falar para gente, pois é difícil receber uma notícia de morte e depois já falar sobre doação (F1). [...] eram uns seis médicos que falaram com a gente, sempre que nós íamos lá ao hospital eram médicos diferentes que falaram com a gente (F2).

Os familiares informaram que após a comunicação médica da morte

encefálica do potencial doador de órgãos, quais profissionais ofereceram a

oportunidade de decisão.

[...] foi o médico né, isso, mas eu não decidi na hora, depois eu resolvi, fui falar com os irmãos dela, a mãe, com todo mundo (F3). [...] o profissional foi à médica, mas eu não me lembro o nome, lembro que ela comunicou todos os procedimentos que seriam tomados, falou da morte e que a gente poderia estar ajudando doando os órgãos (F4). [...] o médico falou da morte e depois quem fez a abordagem final foi o assistente social (F5). [.. ] foi a médica, só que eu não sei o nome (F6). [...] eu agora não to lembrando de como chamava o médico que me falou da doação (F7).

[...] foi o médico neurologista sobre a possibilidade de doação e a assistente social depois me deu apoio (F1).

36

[...] então a iniciativa foi até nossa mesmo, nós procuramos a moça enfermeira que fica lá no hospital e eu falei para ela que queria doar os órgãos dele (F2).

Outra vivência manifestada pelos familiares refere-se à forma de

condução da entrevista pelos profissionais envolvidos no processo, e as

dúvidas suscitadas pelos familiares quanto à complexidade das características

da morte encefálica e do diagnóstico de coma:

[...] naquele momento, quando eles disseram que iam desligar os aparelhos eu fiquei desesperado, eu tive muita raiva, mas tive dúvidas se realmente minha mãe estava morta¸, pois ela estava com lábios rosados e o coração batendo, sei que os médicos neurologistas me explicaram que devido ao AVC o cérebro de minha mãe tinha explodido e não tinha jeito mais (F1). [...] os médicos já vinham advertindo que o caso era grave, a todo o momento o médico falando e que tinha varias possibilidades, que poderia viver, ela estava bem sedada em coma induzido, estavam tirando a medicação para ver se ela reagia. Poderia ficar com alguns traumas, sequelada e que se a gente acreditasse em algo superior para reverter o quadro e ela melhorar ficando sem seqüela ou também ela vir a morte (F4 ). [...] naquele dia quando eu cheguei lá a enfermeira começou a perguntar para mãe dela se tinha alguma doença contagiosa, anotou tudo e pediu para gente visitar, eu olhei minha mulher e vi que estava do mesmo jeito. A enfermeira nos disse que o médico queria falar com a gente, depois perguntou nos perguntou se nós sabíamos como estava a paciente, se sabíamos que o cérebro estava morto e não tinha o que fazer. Respondi não sei, eu to tendo esperança que ela vai voltar. No primeiro momento eu tinha esperança dela voltar, mas o médico disse: “ela não vai voltar mais, pois cérebro estava completamente morto, ela já tinha perdido a vista, eu fiquei desesperado, sem chão (F3 ).

Em alguns casos, antes do consentimento da doação, ainda houve a

esperança vivenciada pelos familiares de que o potencial doador poderia

reverter o quadro clínico expresso pelo médico:

[...] é um momento difícil né porque nós tínhamos esperança que ela ia ficar bem, recuperar. Ela estava internada desde início de dezembro e neste dia que aconteceu a morte encefálica a gente ainda tinha uma expectativa positiva (F5).

37

[...] então nós tínhamos esperança, pois a esperança é a última que morre, em todo momento esperamos que tudo ia dar certo (F4). [...] ali a gente não consegue pensar nada, fiquei sem dormir uns quatro dias, até que eu entendi tudo aquilo. Soube que estava acontecendo com minha mãe, ela era tão bonita, tinha lábios bem rosados, ali deitada naquela cama eu só queria que ela levantasse dali (F1).

Questionados sobre o acesso às informações sobre o processo de

doação e a atenção recebida da equipe multiprofissional que assistiu o doador,

os familiares expressaram que se sentiram contemplados com as informações

recebidas com ênfase na atenção dos profissionais da enfermagem e

assistente social:

[...] o carinho da equipe de captação também quando chegou com ela

no hospital ao local onde faria a captação dos órgãos. Nós ficamos esperando a equipe chegar com ela. Os enfermeiros permitiram a gente ficar até o momento de dar banho, ai nos saímos. Achei muito calorosa a atenção da equipe de captação, eles explicaram tudo, deu muita atenção para gente, foi gratificante o que eles fizeram (F5). [...] os profissionais de saúde são técnicos, são formados, e a gente

tem que confiar nessas pessoas porque se não confiar nelas, vai confiar em quem? (F1). [...] as enfermeiras, quando eu cheguei ao hospital, disseram que ele

estava mal. Eles, os médicos, chamaram a gente, aí eu cheguei lá no hospital onde foi transferido, e o médico pegou os papéis e disse que estava grave, que precisava esperar os resultados dos exames para ver. As enfermeiras me deram apoio (F7).

[...] a assistente social me ajudou dando apoio, mas acho que eles da captação deveriam esperar alguém estar comigo naquele momento do comunicado, foi muito difícil, frio (F2). [...] é, a questão assim da informação eu tive a todo o momento, eu ligava, sempre tinha informação. Eles da captação me passaram qual órgão que conseguiu doar dela me passaram tudo, não me deixaram sem informar nada (F4).

2) Sentimentos após consentimento da doação

Outros conteúdos manifestos pelos familiares que vieram de encontro

aos objetivos do estudo foram os sentimentos expressados após o

consentimento da doação dos órgãos de seus entes queridos.

38

Cabe ressaltar que os cinco familiares que se recusaram a participar do

estudo alegaram dificuldades emocionais para voltar a falar sobre o

consentimento da doação.

Os demais sete familiares expressaram seus sentimentos, como pode

ser observado nos excertos seguintes:

[...] não recebemos apoio nem amparo nenhum, de nenhum serviço ou profissional. Se a gente tivesse um acompanhamento por parte do hospital onde a gente doou, pois, a gente vai passando por este momento difícil, quando a gente precisasse de uma consulta até a gente melhorar da dor de perder um filho (F7). [...] veja só fez um ano que isto aconteceu e só agora que você veio. Ah, assim como depois que doa, eu acho que deveria ter um apoio do governo, faltou isto. Eu esperava um apoio. Recebi cartas de agradecimento da Unicamp, do Hospital de Sorocaba agradecendo as córneas. E só isso também ninguém veio, ninguém ligou. Eu acho importante. A gente não doa para receber dinheiro algum, a gente doa por amor. Acho que seria um conforto assim naquela hora difícil, por exemplo, o profissional dar apoio e acompanhar a gente durante uns 3 meses. Acho que o SUS devia proporcionar apoio da assistência e psicólogo, pois nós tivemos que pagar um psicólogo para meu filho e também eu paguei atendimento psiquiátrico. A gente ganha pouco não tem convênio. Eu até procurei ajuda no Postinho de Saúde a moça marcou com urgência atendimento com psicólogo e até hoje nada, se eu tivesse esperando, não recebi até hoje este apoio. Acho que é muito difícil doar. Além de ter passado por tudo isto difícil e ainda tem que pagar um tratamento psicológico particular. A gente pode incentivar outras famílias que estiver passando por isto e dizer: pode doar, pois vai receber todo apoio e amparo do governo (F6).

[...] na nossa família tivemos muitos problemas psicológicos. Porque pelo SUS acho que é difícil ter este tipo de acompanhamento. Geralmente nós, na maioria, não temos convênio, fica complicado até mesmo para estar reforçando a questão da doação. Porque isto reforça a importância as pessoas ter esta consciência, apesar da perda.... de estar relembrando. Recebemos a carta de agradecimento é a confirmação de que foi feita a captação. Assim faz as pessoas terem consciência, pois quem doa são pessoas jovens, então a gente (família) fica marcado. A família também fica relembrando, a pessoa (que assinou o termo) fica meio precisando assim de apoio psicológico. (F5). [...] eu me senti incomodado. Como sugestão é que o SUS deveria fazer um acompanhamento às famílias doadoras, que passa tudo sozinha com dor, angústia. As famílias carentes muitas vezes não podem pagar um apoio psicológico em conjunto com a assistência social para ver o ponto mais crítico que a família doadora tem. (F4).

39

Os depoimentos dos participantes têm relação com a bioética que pauta

pela beneficência e não maleficência aqueles que estão envolvidos no

processo de doação, pelos nossos resultados ficou claro que houve danos

emocionais nas famílias que trouxeram propostas de melhorias no processo, as

quais não podem ser ignoradas, haja vista os atuais índices de recusa familiar

e que na atual legislação de doação ainda não está incorporado o suporte

socioemocional as famílias de doadores, pós-doação.

Diante do exposto é preciso repensar a incorporação imediata para

mudança na legislação do Sistema Nacional de Transplantes para tornar como

parte da política de transplantes o oferecimento de suporte socioemocional aos

familiares de potenciais e doadores de órgãos Intra-hospitalar e na esfera da

saúde da família.

3) Motivação para a doação

Foi possível identificar que os participantes revelaram a relação que

tinham sobre o corpo do doador após a morte, de acordo com a sua crença

religiosa. E em alguns casos o desejo do doador em vida foi um fator de

motivação e respeito à vontade do doador para decisão favorável a doação:

[...] tem uma questão religiosa que nós acreditamos que depois que a pessoa morre o corpo fica, então, fica só o corpo, a alma vai para outro lugar. A gente acredita que o corpo após a morte não tem utilidade celestial. A gente acredita muito nisto aí (F5). [...] eu assim tenho a certeza que foi Deus sabe, que tocou no meu coração, para fazer a doação dos órgãos dele. Foi uma questão religiosa. Não é pecado. Eu estava chorando porque ele se foi, pois tem muita gente na fila esperando por um órgão, pois pensei muitas mães estão chorando por um órgão e não consegue. Eu já tinha ouvido falar da doação. Mas na nossa casa não havíamos falado sobre isto anteriormente, foi só no momento ali no hospital (F6).

40

[...] eu já tinha ouvido falar né da doação devido a publicidade que fala tudo, mas não havia passado por isso, não sabia como era os procedimentos não sabia como era feito. Com a organização que é eu não sabia neste sentido. A religião, foi fundamental para decidir doar (F4). [...] o desejo da minha mãe, ela dizia que quando a gente morre a alma ainda continua viva, espiritualmente. Ela dizia que gostaria de ser doadora, sabia que ela ficaria feliz se eu fizesse isto. Ela própria disse-me que se um dia eu morresse ela consentiria a doação (F1). [...] no primeiro momento eu não queria doar, mas depois lembrando que ela deixou sua vontade de ser doadora para ajudar a salvar outras vidas O que mais me incentivou em fazer a doação foi respeitar o desejo dela (F3).

Outras informações apresentadas pelos familiares referem-se à

influência e o impacto que as campanhas utilizadas pelos meios de

comunicação especialmente a televisão, no qual o SNT vem procurando

sensibilizar e incentivar a população brasileira ao consentimento para doação

de órgãos, conforme apresentado nos depoimentos:

[...] A mídia tem influência para doar, mas acho que passa muito pouco. Eu vi na TV e fiquei feliz eu pensei: fui doadora do meu filho, a gente só vê pessoa que recebeu órgãos falando a respeito. Acho que a família doadora é que deveria ser propaganda para incentivar a doação. Se me chamassem eu falava. Devia ser divulgado mais com a família que doou. Acho que é muito importante a gente pensa: eu doei e me sinto alegre que alguém está vivendo com o coração e órgãos dele. Tem alguém que está vendo a luz. Quantos familiares e parentes tão hoje bem (F6). [...] a gente vê na televisão todo dia as pessoas que precisam de um rim, de tanta coisa (órgãos). Já havia ouvido falar da doação porque até no cemitério todo mundo assina para doar as córneas. Nós resolvemos doar, assim servir para salvar vidas (F7). [...] porque a gente vê que faz muita falta de órgãos, por aí. A gente vê passar na TV as pessoas que podem doar e numa hora difícil para nós, pôde ajudar alguém. Por isso nós pensamos nisso na falta de órgãos e ajudar outros a viver (F2). [...] o que motivou a gente foi devido mais o desejo de poder ajudar, porque infelizmente para minha filha não teria mais nada o que fazer e ela poderia ajudar outras crianças da idade dela, a viver, caso que ela não tinha mais que prosseguir então poderia ajudar outra criança da idade dela a viver. Eu já tinha ouvido falar né da doação devido a publicidade que fala tudo, mas não havia passado por isso, não sabia como era os procedimentos não sabia como era feito, com a organização que é, eu não sabia neste sentido, mas já tinha ouvido falar sobre doação (F4).

41

[...] algumas vezes vimos em revista sobre este tema (F1). [...] O médico disse se eu queria doar os órgãos e eu disse que não, doutor, eu não doaria no princípio, eu queria deixar ela como ela nasceu. Pensei que não podia decidir sozinho naquela hora eu tinha que falar com alguém, com a mãe dela. Tinha que falar com outros irmãos, não tinha como decidir assim. Aí depois nós conversamos aqui em casa e daí eu autorizei a doação (F3). [...] então algumas famílias não têm esta experiência como eu tive. Deveria melhorar a propaganda para aumentar a doação, isto é muito bom. Outro lado importante é a família doadora poder falar na mídia sobre a doação, também tem um impacto importante para as pessoas tomarem consciência dessa experiência (F5).

Vale ressaltar que os familiares participantes quando questionadas

sobre qual postura teriam diante da informação de diagnóstico de morte

encefálica de alguma pessoa, a maioria ainda considerou importante o

consentimento para doação e ainda se mostraram incentivadoras para doar

órgãos para salvar vidas.

[...] mesmo sendo difícil, eu instruiria a fazer a doação, eu apoio, falaria sim da importância da doação (F4). [...] eu diria para ser doador, vai amenizar o sofrimento de muitos (F6). [...] em primeiro lugar eu ia tentar confortar esta pessoa né e explicar dessa possibilidade que existe da doação de órgãos, assim como eu gostaria de receber um órgão se tivesse numa situação desta, de uma família que tem um doador de órgãos, eu gostaria também de ser ajudado. Eu pensei desta forma também em ajudar uma pessoa. Me coloquei no lugar de uma família que tinha alguém necessitando dos órgãos (F5). [...] quanto à doação eu explicaria sim a respeito, eu incentivaria sim, com certeza a autorizar a doação (F1). [...] nossa eu incentivaria outras pessoas a fazerem a doação (F3). [...] eu falava para aquela pessoa para doar os órgãos desse ente querido porque vai se sentir muito bem depois, a gente não pode pensar só na gente (F2).

42

4) Percepção das famílias pós-doação

Esta temática envolve vários aspectos importantes do processo como

preconizado pelo SNT: aspectos éticos, a relação profissional de saúde x

famílias de doadores, impacto causados nas famílias e observados após a

doação.

[...] na hora eu sozinho com os médicos me senti indignado e, acabei descarregando neles toda a minha raiva. Poxa põe uma pessoa de 21 anos, embora maior de idade estava sozinho numa sala e os médicos começam a falar um monte de coisas que a gente não entende bem, poxa se eu pudesse eu socava a cara do médico. Era minha mãe cara, acho que eles deviam esperar confirmar a morte primeiro, depois vir falar sobre a doação. Sei que é o trabalho deles a frieza na maneira como me falaram e é o jeito deles (F1). [...] então a iniciativa foi até nossa mesmo, nós procuramos a moça (enfermeira) que fica lá no hospital e eu falei para ela que queria doar os órgãos dele. Aí depois o Dr. chamou no quarto dele e falou que já tinha acontecido a morte e como eu queria doar os órgãos do meu filho. Ele (o médico) conversou comigo explicando como é que funciona o processo de doação. Eram uns seis médicos que falaram com a gente, sempre que nós íamos lá ao hospital eram médicos diferentes que falaram com a gente (F2). [...] E, assim uma crítica que tenho a fazer eu só achei inconveniente do Órgão. É, um mês e 1/2 depois da doação eles me mandaram cartas né, acho que foi do SUS, falando quanto foi o procedimento de transplante, não me cobrando de mim, informando o custo de cada órgão doado de minha filha. O SUS poderia melhorar nisto, né às vezes nem mandar isto para família, mas uma carta de agradecimento, porque muito não tem este pensamento de ajudar. Para gente é uma falha, pois, para gente não importa o custeio. É uma situação difícil e não interessa para gente que doou os órgãos. É apenas para salvar vidas. Acho que o SUS deveria mandar uma carta de agradecimento. Não recebi nenhuma carta de agradecimento. E muitas pessoas não tem esta disposição de doar. Foi muito difícil doar, mas foi para salvar outras vidas (F4). [...] fiz contato com o médico que trabalhava no hospital que onde eu estava e também no hospital que minha irmã estava internada, para saber sobre o caso. Eu conversei com ele e ele me explicou todo o procedimento que era para ser feito. Quem fez a abordagem final foi a assistente social (F5).

A demora na liberação do corpo do doador para o sepultamento foi

considerada por algumas famílias como estressante e desconfortável após a

doação.

43

De acordo com o SNT o tempo em média para liberação do corpo do

doador varia em média entre 36h a 48 horas, após a retirada dos órgãos para

doação o corpo deve ser encaminhado ao (IML) Instituto Médico Legal.

[...] também achei que demorou muito, a liberação do corpo dela, porque eles da captação ligaram dizendo que seria depois ainda. Somente no outro dia que liberou o corpo, a gente ficou pensando esperando, esperando a ligação, é duro (F3). [...] achei que demorou muito para liberação do corpo, isto é ruim deveria ser mais rápido. Demora muito para chegar é duro, fazer o que, está morto mesmo, não tem alternativa né. A gente fica esperando, esperando e não vem, mas pensei, mas também a equipe de captação falou que chegaria a noite, mas não foi assim (F7). [...] assim ele ia ser sepultado num dia se não fosse doador, por ele ser doador foi sepultado no outro dia, então teve aquele processo né, demorou um pouco né, mas não foi muito não. Ela explicou que é um processo que tinha que passar, mas demorou um pouquinho só um dia depois (F6).

[...] para liberação do corpo não teve demora (F4).

44

DISCUSSÃO

O Processo de Procura de Órgãos

O processo de procura de órgãos para procedimentos de transplantes

na OPO HC-Unicamp se dá pela busca ativa para a identificação do potencial

doador, por meio de visitas sistemáticas de enfermagem nas unidades do HC e

em hospitais das cidades de atuação da OPO, e o deslocamento de até

140 km (33).

Seguindo as normas do SNT, após a detecção do potencial doador,

quando já realizado pelo menos, o primeiro teste clínico do protocolo para

diagnóstico de morte encefálica inicia-se a fase de avaliação clínica e

laboratorial do potencial doador visando assegurar as condições de segurança

biológica e viabilidade dos órgãos passíveis de serem transplantados. A

ausência de contraindicações que representem risco ao receptor configura a

existência de um potencial doador (33).

O profissional de serviço social neste contexto destaca-se pelo papel

que desempenha junto às famílias na internação hospitalar, através do

acolhimento social(27,35-38). Este atendimento social é documentado em

prontuário para permitir um olhar sistêmico do contexto familiar, social,

emocional e econômico que nortearão as condutas do profissional e servirem

de parâmetros a equipe de procura de órgãos.

Para o consentimento da doação é necessário seguir a legislação (39)

vigente que estabelece:

“A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica, depende da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida à linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive, firmado em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte”.

45

A entrevista familiar para oferta da possibilidade de doação é realizada

pela enfermeira da OPO em conjunto com a equipe multiprofissional

responsável pelo atendimento já deverá ter realizado toda a avaliação do

histórico do potencial doador, conhecer a causa da morte encefálica, bem

como o resultado dos exames laboratoriais e de imagem, e as opiniões da

equipe médica (27,33).

Vale ressaltar que a literatura que se refere ao modelo espanhol da

Organizacio’n Nacional de Trasplantes (ONT), há auditoria de qualidade que

busca a identificação das potencialidades, falhas do processo de identificação,

notificação e de captação de órgãos em parceria com as equipes dos hospitais

captadores espanhóis, além do treinamento constante das equipes de

captação. Percebe-se um clima social favorável para doação e de confiança da

população em relação ao modelo espanhol, que prima pelo aperfeiçoamento no

processo cujos resultados impactam favoravelmente no aumento da doação e

nos procedimentos de transplantes (40,41).

Na Espanha o consentimento é presumido para doação, ou seja,

qualquer pessoa que não declarou expressamente que ela se recusa a doar

seus órgãos, é considerado um doador de órgãos, no entanto ainda prevalece

a entrevista como forma de obtenção do consentimento para doação (40,41).

De acordo com a ONT a entrevista familiar sempre se realiza em um

contexto de absoluto respeito a decisão da família e baseado numa relação de

ajuda. O coordenador de transplante se oferece como referência para a família

no hospital e a possibilidade de conhecer o resultado da doação se assim a

família desejar. Este modelo de organização vem se refletindo no baixo índice

de recusa familiar para doação, em torno de 15 e 20% na Espanha, a

organização ainda não possuem prestação de atendimento psicossocial as

famílias pós doação de órgãos (7,8,40,41).

46

A Percepção dos Familiares de Doadores de Órgãos

O tema central deste estudo foi o sentimento dos familiares diante da

doação de órgãos. Apesar da complexidade da questão, a doação de órgãos

passou a ser mais enfatizada a partir da estruturação da política nacional de

transplante.

O Sistema Único de Saúde (SUS) enquanto política pública busca

fortalecer de forma concreta as novas demandas que se apresentam no campo

da saúde, em suas múltiplas dimensões, quanto à questão social. Em

conformidade com o regulamento técnico estabelecido, o Ministério da Saúde

tem investido, também, na capacitação das equipes de captação para

melhorias nos índices da doação.

Visando a ampliação da consciência social da população em torno da

importância da doação de órgãos, as Organizações de Procura de Órgãos

(OPOs) utilizam-se da linguagem da doação, trazendo provocações no seio da

família brasileira, fomentando discussões entre seus membros sobre a

possibilidade da doação. Apesar de toda normatização e regulamentação dos

procedimentos relativos à captação, alocação e distribuição de órgãos,

percebe-se ainda uma lacuna no processo com relação aos anseios dos

familiares de doadores.

A literatura internacional(42-47) que se dedica a temática de explorar as

experiências e necessidades de familiares dos doadores durante e pós-doação

de órgãos tem mostrado os fatores que interferiram neste processo.

Alguns autores enfatizaram a experiência das famílias sobre a condução

do processo de doação encontrou que as famílias alegaram suporte emocional

insuficiente associado a falta de informações claras após a morte encefálica de

seus entes queridos. Em outro resultado a influência religiosa foi considerada

47

como um fator de motivação e amparo às famílias após o consentimento da

doação (45,48-50-53).

O próprio conceito de morte encefálica é algo complexo e de difícil

compreensão pela população em todo o mundo e, em decorrência, os aspectos

socioculturais dos familiares devem ser considerados pela equipe no momento

da comunicação diagnóstica (45,54-55). Valorizar o tempo dispensado à família

para esclarecimento da morte encefálica e durante a comunicação da evolução

clínica do processo, aliadas à humanização no atendimento da equipe de

captação parecem facilitar a decisão positiva da família (56-60).

A internação de urgência de um ente querido, por si só traz consigo

impacto direto na dinâmica familiar e, especialmente em se tratando de

situação grave e risco de morte iminente, tal fato pode desencadear um

desequilíbrio emocional nos familiares. Neste momento delicado, é necessário

que o médico compreenda a necessidade de dedicar um tempo para família

poder assimilar os fatos que envolvem o potencial doador.

Quando se trata de consentimento para doação de órgãos, significa que

a família aceitou a morte do ente querido, mas muitas vezes ainda tem dúvidas

quanto ao diagnóstico e esperança da reversão do quadro clínico. Esta

ambigüidade de sentimentos expressa pelos familiares foi apontada na

literatura (45,61), sendo associada à falta de compreensão das diferenças entre

os diagnósticos de morte encefálica e o coma, pois o potencial doador tem

batimentos cardíacos preservados. Parece essencial que as equipes de

captação ofereçam, além das informações clínicas, o suporte psicológico a

família no momento da comunicação da morte, respeitando-se as

necessidades individuais.

Neste estudo ficou evidente a hegemonia dos profissionais médicos em

relação a entrevista familiar para a doação, além de terem comunicado a morte

48

encefálica do potencial doador no mesmo momento. É importante maior

inserção dos demais profissionais inclusive psicólogos, capacitados pelo SNT

para realizar entrevista e acolhimento familiar no processo doação. A relação

entre a equipe multiprofissional e a família do doador parece ser um indicador

importante do processo de doação.

As famílias participantes revelaram que suas crenças religiosas as

motivaram para decidirem pelo consentimento da doação. Segundo estudos

que investigaram as questões éticas, culturais e tradições religiosas

relacionadas a doação órgãos, observaram a necessidade os profissionais de

saúde considerarem estes fatores. As religiões monoteístas não são contrárias

a doação, no entanto para algumas populações multiculturais ainda a idéia do

corpo como sagrado, é um dos principais motivos da recusa familiar (61-63-67).

Estudos demonstraram a recusa familiar relacionada a religiosidade, foi

a razão mais comum para este fato, o desconhecimento da população sobre o

que as lideranças das instituições religiosas entendem sobre o tema doação.

Parece que este paradigma de aceitação religiosa em todo o mundo vem

sendo acrescentada gradativamente na motivação familiar para o

consentimento favorável como encontrado no nosso estudo (64,66).

Em contrapartida a literatura(63-65,67-70) aponta a relação entre a doação

de órgãos para transplantes de várias religiões do Reino Unido identificando

preocupações da população praticantes de alguma religião que poderá ser um

obstáculo para a doação, devido a não aceitação do transplante de órgãos.

Este resultado tem relação com o aumento da imigração da população, sendo

que os países ocidentais estão se tornando multiculturais, em detrimento disto,

as pessoas mantêm sua cultura em termos de língua, crença religiosa, usos e

costumes e sua relação com a morte e o corpo podem impactar na recusa

familiar da doação.

49

Alguns autores(59,61,62) sugerem maior ampliação nas investigações

qualitativas envolvendo esta temática, buscando o apoio das lideranças

religiosas e assim promover ações que contribuam para satisfação dos

familiares que vivenciaram o processo de doação.

Outros fatos apontados na literatura(66,68-71) relacionam a equipe de

profissionais da saúde em relação ao próprio significado da morte e doação

pautadas nas convicções pessoais, religiosas e que de uma forma ou outra

podem interferir na condução do processo.

A forma de comunicação feita aos familiares sobre os resultados de

exames utilizados nos programas de captação, e exigidos na forma da lei por

outros centros, para confirmação da morte encefálica, não foi suficiente para o

esclarecimento das dúvidas dos familiares – inerentes a esse processo - que

alegaram tempo insuficiente entre a informação recebida pelo médico e a

entrevista para doação, como observado no presente trabalho.

Estudos relacionados a bioética consideram como princípios

fundamentais que envolvem a temática da doação pelo SNT: a beneficência e

não maleficência na medida que ser doador ou não de órgãos envolve valores

morais e culturais de cada indivíduo, assim serve de campo garantia da

integridade do ser humano, e a defesa da dignidade humana (70-73).

Nesse estudo, embora as famílias tivessem autorizado a doação dos

órgãos, foram descritas condutas inadequadas relacionadas: ao excesso de

profissionais que abordaram os familiares; o tempo entre a comunicação da

morte e o pedido de doação; ao local inapropriado para a realização da

entrevista familiar. Este tipo de conduta deve ser evitado.

Os processos de doação de órgãos envolvem questões complexas,

éticas e sociais. O princípio de justiça preconizado pelo SNT é que seja

50

dispensada toda atenção, humanização, cuidado em todo o sistema de saúde

devem ser princípio de equidade.

É o princípio da justiça que garante a distribuição justa eqüitativa e

universal dos benefícios dos serviços de saúde. O SNT trabalha na

democratização e acesso dos pacientes em lista de espera. Por outro lado, é

encontrado em alguns resultados que sentimentos de desconfiança por parte

da população no processo e na lei de transplantes (9,39,63,65).

Com base na Política de Assistência Social (74), em decorrência das

transformações vivenciadas no âmbito dos arranjos familiares, a família é

entendida como o grupo de pessoas que se acham unidas por laços

consangüíneos, afetivos e/ou de solidariedade, independentemente das

características assumidas, além de ser fundamental na execução dos

cuidados, é a família, o elemento chave na superação de dificuldades mesmo

num modelo capitalista como o nosso.

Aos profissionais de saúde, cabe a compreensão deste contexto, em

toda sua configuração, para que as ações da saúde, à família, objeto de sua

prática, possibilitem minimização de danos como encontrado em nossa

investigação (75).

Seguindo o proposto nas atribuições dos/as assistentes sociais, cabe

então a realização da análise crítica da realidade do nosso estudo, as vivências

e sentimentos das famílias - dos possíveis danos causados durante o processo

de doação devido à falta de suporte da rede de saúde (76).

A partir deste contexto as competências que estão atribuídas ao

assistente social para ser propositiva e articulador nos diversos setores de sua

atuação para promoção de um trabalho interdisciplinar, respeitando os saberes

profissionais, utilizando os instrumentais adequados a cada situação social a

51

ser enfrentada, dando as respostas a seus usuários dos diversos serviços para

que impactem favoravelmente na vida de sujeitos e na sua dinâmica social (76).

Neste sentido a participação de profissionais do serviço social,

enfermagem e da psicologia podem ser uma forma de identificar possíveis

problemas, sejam de ordem social, físico ou emocional das famílias, desde o

processo inicial da doação, oferecendo o acolhimento aos familiares em todo o

processo. Foi também enfatizado por alguns autores(77-79) que os órgãos

governamentais deveriam investir mais na capacitação e no cuidado emocional

dos profissionais das OPOs para atuarem neste contexto da doação, buscando

também as ações que promovam melhorias, garantindo o compromisso da

humanização, a qualidade e segurança do processo de doação de órgãos,

sendo que estas ações devem ser rigorosamente perseguidas pelos

profissionais que trabalham na área.

Vale ressaltar a necessidade do SNT oferecer o cuidado transcultural e

suporte emocional aos profissionais da captação devido as próprias convicções

dos que atuam na saúde e ao cenário de conflitos, dilemas e contradições, que

os profissionais da saúde vivenciam no momento da morte de paciente por

exemplo potencial doador, em virtude das relações entre as famílias do doador

e entre a própria equipe de trabalho no cotidiano do hospital, a falta de

valorização profissional pode levar a sentirem desrespeitados na sua função.

O apoio oferecido pela enfermagem representou, no presente estudo,

um fator de satisfação por parte dos familiares entrevistados, contrapondo-se à

literatura que descreve atitude de desinteresse dos profissionais da captação

para elucidar as dúvidas dos familiares após a autorização da retirada dos

órgãos (45).

Durante o período de internação do potencial doador a equipe de

captação mantém contato direto com os familiares, com os quais acaba

52

estabelecendo vínculos. Assim sendo, no momento da perda é importante

disponibilizar a assistência psicológica à família, para minimizar o sofrimento,

preparando-a para uma aceitação gradual da morte inesperada de seu ente

querido. Nesse sentido, o cuidado para com a família em situação de luto foi

indicado por alguns autores(78-81), pois a morte repentina de um familiar é capaz

de desencadear reações de choque e perplexidade nos familiares,

comprometendo o contexto psicossocial como as atividades cotidianas e o

trabalho.

Avanços ocorreram nas ações e no modelo de atenção à saúde da

família, na medida em que se estabeleceu o núcleo familiar como o principal

foco de atenção e integralidade do cuidado, resgatando as múltiplas dimensões

da saúde atuando no próprio território do indivíduo; desta forma, pôde se

estabelecer a ampliação dos vínculos com as famílias e promover-se maior

corresponsabilização entre os profissionais de saúde e a população.

Vale ressaltar que a matricialidade familiar impacta no modelo idealizado

da família nuclear como estrutura legal baseada na definição sócia

antropológica definida pelos laços sanguíneos e vínculos conjugais, pelas

relações de aliança e comprometimento (77).

A literatura que enfatiza o núcleo familiar como espaço de intervenção

profissional, no entanto é preciso ressaltar, ainda, que lidar com famílias

significa superar preconceitos, desmistificar a ideologia de família como núcleo

natural e padronizado e aprofundar o conhecimento de sua realidade social,

adentrando suas vicissitudes, vulnerabilidades e potencialidades (13,77,81).

Outra necessidade que cabe a reflexão são as mudanças nos modelos

de arranjos familiares na sociedade brasileira que impactam no consentimento

informado no termo de doação de órgãos e tecidos. Atualmente a estrutura das

políticas públicas está definida e configurada pela família nuclear, porém a

53

realidade é outra e medidas futuras serão necessárias para se incluir famílias

que fogem a esse padrão (13,75,77).

Estudos sobre a estratégia de intervenção na família para incluí-las nas

políticas sociais impactam no trabalho social e em diversas dessas políticas

seja de saúde, de assistência social são canalizadas por segmentos da

população. A estratégia de intervenção na família, pelo Estado, como uma

unidade e forma de potencializar os efeitos entre seus membros também

transferem atribuições e responsabilidades e sobrecarga as famílias (75,81).

De acordo com a Política de Assistência Social, além de ser

fundamental na execução dos cuidados, a família é o elemento chave na

superação de dificuldades. Na área da saúde, então é necessária a

compreensão da família, em toda sua configuração, para que ações dos

profissionais da saúde, objeto de sua prática, sejam claras e impactem

favoravelmente (11-13,74-75).

Prestar cuidado tem o sentido de zelar pelo bem-estar de famílias de

potenciais doadores e este papel cabe as CIHDOTT. De acordo com o autor a

teoria do cuidado transcultural é um dos instrumentos metodológicos que ao

serem canalizadas nos serviços primários de saúde podem trazer excelentes

benefícios à população (79,81-83). Quanto o profissional é treinado para lidar com

temas ligados a morte e luto, podem potencializar os serviços e beneficiar os

usuários que dela necessitam.

O cuidado transcultural se constitui da teoria da diversidade e

universalidade baseado no conhecimento, compreensão e o cuidado do outro e

pode ser prestado pelos profissionais nos diversos serviços de saúde, na

própria comunidade, ou seja, no ambiente em que vivem também chamado de

território tendo como fundamentos os aspectos: social, cultural e de história de

54

vida das comunidades, buscando compreender a visão de mundo, os

conhecimentos e suas práticas como base para as decisões e ações de saúde

e socioassistenciais (81-83).

A literatura ainda aponta situações em que familiares alegaram menor

conflito em relação ao consentimento da doação, devido conhecerem

previamente, a vontade do doador, como encontrado nos nossos resultados

quando alguns dos participantes declararam terem respeitado a vontade do

doador e autorizaram a doação. Foi também observado que profissionais da

Organização de Procura de Órgãos que ofereceu aos familiares o suporte

socioassistencial e emocional durante o processo e após uma semana da

doação, esta iniciativa foi considerada por estes familiares como uma atitude

de satisfação por terem autorizado a doação, tendo o familiar informado à

equipe de captação o sentimento de alívio pelo fato de poderem verbalizar

suas experiências no processo (45,61,78-80). Nesse sentido, cabe manter o

incentivo em campanhas onde sejam veiculados os temas da doação, e que o

mesmo seja discutido nos lares por toda a família.

A utilização das mídias e rede sociais para promover sensibilização na

população quanto a consentimento de doação foi também citado(83-86) nos

estudos tem a possibilidade de influenciar na atitude favorável das famílias

como descrito pelos participantes. No entanto a negativa familiar em consentir

a doação de órgãos pode também ser um ponto crítico para o processo devido

informações obtidas em forma de campanhas com caráter negativo e

desfavorável à doação.

O SNT em suas ações educativas e de transparência para promover o

aumento na doação por meio de comunicação nas redes sociais (82-84),

procuram exibir alguns eixos temáticos do processo de doação como: número

de doentes em fila de espera devido à falta de órgãos; os benefícios dos

55

transplantes na qualidade de vida de doentes crônicos, porém para incentivar a

população a pensarem na possibilidade de consentimento, no entanto é

necessário uma linguagem acessível à população brasileira já que a maioria

possui baixa escolaridade, como encontrado nos resultados deste estudo, para

minimizar as dificuldades de entendimento da morte encefálica e a informação

possa atingir a maioria pois independe da classe social. Outra importância é a

melhoria no acesso da população aos serviços de saúde.

Estes achados contribuíram para identificar a limitação na capacidade

de atendimento no serviço de saúde, cabendo ao SNT e aos gestores de saúde

a responsabilidade de ações para melhoria nas condições de acesso da

população aos serviços da rede, iniciando pelo treinamento sobre as temáticas,

morte encefálica, doação de órgãos, luto, cuidado transcultural, envolvendo

todos os níveis de serviços de saúde e assistência social, incluindo vários

profissionais, gestores, lideranças religiosas e comunitárias.

Diante das atuais taxas nacionalmente falando de recusa familiar na

doação de órgãos, novas estratégias como implementação de plano de

capacitação dos profissionais das OPOs e da saúde da família, dos Centros de

Referência de Assistência Social, lideranças religiosas para prestar assistência

humanizada aos familiares de potenciais e doadores efetivos durante o

processo e pós sepultamento, possibilitando avanços nesse processo de

captação com o estabelecimento de um trabalho integrado entre os

profissionais dos hospitais captadores e a rede púbica para o suporte

adequado aos familiares pós-doação(5).

Diante deste contexto trago minha contribuição ao SNT para formação

da Rede de cuidado das famílias de potenciais e doadores de órgãos, como

representada na Figura 2.

56

Figura 2. Rede de cuidado das famílias de potenciais e doadores de órgãos.

A proposta piloto de rede de cuidado: inicia-se quando os hospitais

captadores identificam os potenciais doadores em morte encefálica,

independente se houver o consentimento familiar para a doação de órgãos.

Neste momento um dos profissionais da OPO que podem ser do serviço

social, enfermagem ou da psicologia deve ficar de referência para a família e

oferecer o apoio psicossocial transcultural.

57

Em seguida deve-se referenciar aos profissionais da enfermagem das

Unidades Básicas de Saúde informando sobre a morte encefálica do paciente,

solicitando avaliação das necessidades clínicas e emocionais das famílias dos

potenciais e doadores efetivos para incluí-las de imediato, no atendimento

psicológico, médico, se necessário, com enfoque na elaboração de luto e

visando a garantia de vínculos parentais, ideais.

O assistente social do hospital captador além do acolhimento social,

deverá verificar quais eram as condições sociais e previdenciárias do potencial

e ou do doador; bem como as relações afetivas, sócio familiares e ideologias

religiosas, utilizando-se dos dados sociais da OPO, para então fazer a contra

referência ao Centro de Referência de Assistência Social em concomitante com

a Unidade Básica de Saúde podendo, se a família assim desejar, também

buscar o apoio religioso no território de abrangência de moradia das famílias,

tendo como objetivos: o apoio transcultural, a intervenção nas demandas

sociais que se apresentarem, sempre pautando no respeito à vontade e na

autonomia das famílias.

Após a devolução do corpo, no caso do doador de órgãos e tecidos para

o sepultamento do doador o profissional do hospital realiza novo contato com a

família para saber como estão, confirmando se já estão sendo assistidas pela

UBS, agradecendo pelo ato de consentimento da doação e se colocando à

disposição para intervenções que se fizerem necessárias pela interlocução com

os profissionais da rede pública.

Sugere-se ao SNT a elaboração de um plano de investimento no

cuidado transcultural aos profissionais de saúde, incluindo gestores das redes

de apoio supracitadas neste estudo, promovendo a capacitação para melhoria

do processo, por exemplo discutir como os profissionais podem lidar com as

temáticas de más notícias, morte, luto, doação de órgãos. Incluir como

58

protocolo do SNT a proposta de cuidado multiprofissional na rede para

atendimento em grupos de autoajuda e socioeducativos direcionados as

famílias de potenciais doadores e doadores efetivos, para prestar uma atenção

humanizada e assim minimizar a dor da perda. Encaminhar a todos os

familiares uma carta de agradecimento. Estas ações poderão a médio prazo

impactar na visão que as famílias hoje têm sobre o processo de doação,

possibilitando tornarem-se agentes multiplicadores para estimular a população

sobre a doação. O SNT deve monitorar os indicadores de qualidade destes

serviços envolvidos nesta rede de cuidado e avaliar periodicamente os

impactos dessas ações nos índices de captação e doação.

Diante dos resultados apontados pelos participantes será que este

investimento nas famílias pós doação, não podem trazer melhorias ao SNT?

A partir destes achados, outras práticas de atenção e gestão na saúde

poderão ser discutidas como: trabalho em rede da OPO envolvendo as famílias

de potenciais e doadores efetivos, as unidades de saúde e assistência social, a

parceria das lideranças ecumênicas para oferecerem o apoio socioemocional e

religioso assim impactar no fortalecimento dos vínculos familiares pós-doação e

nos índices de captação de órgãos.

Recomendações

Estes achados podem dar suporte à equipe de captação para repensar o

processo de trabalho e a assistência à família de potenciais doadores

enfatizando a humanização no atendimento em saúde.

59

CONCLUSÃO

O estudo identificou a necessidade de inclusão na legislação da Política

Nacional de Transplantes o apoio socioemocional e transcultural aos familiares

de potenciais doadores.

O papel neste processo do assistente social, do enfermeiro e do

psicólogo foi assinalado e a inclusão destes no processo pós-doação deve ser

repensada como política de saúde.

O plano de capacitação intersetorial que envolva os gestores de saúde,

profissionais da rede, assistência social e lideranças religiosas para possibilitar

o acesso das famílias de doadores pós consentimento a rede de cuidados.

60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Fernandes MEN, Soares MA, Boin IF, Zambelli HJ. Efficacy of social

worker role in cornea donation in two different periods. Transplant Proc.

2010; 42(10):3927-8.

2. Ministério da Saúde (BR). Lei 10.211, de 23 de março de 2001. Altera os

dispositivos da Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, que “dispõe

sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins

de transplante e tratamento”. Disponível em: http://

dtr2001.saude.gov.br/sas/dsra/lei10211.htm.

3. Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS). Sistema Único de

Saúde/ Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Coleção para

entender a gestão do SUS. Brasília. 2011;1:291p.

4. Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP). Sistema

Estadual de Transplantes. Resolução SS–151, de 13 de agosto de

2010. Disponível: http:

www.saude.sp.gov.br/biblioteca/html/catalogo/catalogo_transplantes.

5. Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos - ABTO. Registro

Brasileiro de Transplante – Ano XXI, n.2 Jan-Jun/2015. Disponível em:

http://www.abto.org.br/abtov02/portugues/populacao/home.

6. Canadian Organ Replacement Register (CORR). Canadian Institute for

Health Information. (CIHI) 2013. Disponível em:

www.transplant.ca/pubinfo_orgtiss.htm.

61

7. Matesanz R. The Spanish national transplant organization reached a

record of 4,279 transplants in 2013. Spain Today, 2014 Feb 12.

Disponível em: http://www.marcaespana.es/en/espana-al-dia/348/the-

spanish-national-transplant-organization-reached.

8. Varela AS. International Service of the Swiss Broadcasting Corporation

Donación de órganos: El modelo español. El secreto del éxito es la

organización y la confianza. Disponível em:

www.swissinfo.ch/por/doação-de-órgãos. 2013.

9. Ministério da Saúde (BR). Portaria Ministério GM 2600/2009. Aprova o

Regulamento Técnico do Sistema Nacional de Transplantes.

Disposições das Leis no. 9.434/97, do Decreto no. 2.268/ 1997, lei

10.211/ 2001, lei n.11.521/2007.

10. Kinrade T, Jackson AC, Tomnay J. Social workers' perspectives on the

psychosocial needs of families during critical illness. Soc Work Health

Care. 2011; 50(9):661-681.

11. Martinelli ML.O trabalho do assistente social em contextos hospitalares:

desafios cotidianos. Serv Soc Sociedade. 2011;(107):497-508.

12. Gueiros DA, Santos TFS. Matricialidade Sociofamiliar: compromisso da

Política de Assistência Social e Direito da Família. Serv Soc & Saúde.

2011;10(12):73-97.

13. Teixeira SM. Política social contemporânea: a família como referência

para as políticas sociais e para o trabalho social. In Mioto (Orgs.)

Familismo, direitos e cidadania: contradições da política social. Cortez.

2015:211-239.

62

14. Lima AAF, Silva MJP, Pereira LL. Sufrimiento y contradicción: el

significado de la muerte y del morir para los enfermeros que trabajan en

el proceso de donación de órganos para trasplante. Enf

Global. 2009;(15):1-17.

15. Manuel A, Solberg S, MacDonald S. Solberg S, MacDonald S Organ

donation experiences of family members. Nephrol Nurs J. 2010;

37(3):229-36.

16. Brown CV, Foulkrod KH, Dworaczyk S, Thompson K, Elliot E, Cooper H,

et al. Barriers to obtaining family consent for potential organ donors. J

Trauma. 2010; 68(2):447-51.

17. Manzari ZS, Mohammadi E, Heydari A, Sharbaf HR, Azizi MJ, Khaleghi

E. Exploring families' experiences of an organ donation request after

brain death. Nurs Ethics. 2012; 19(5):654-65.

18. Santos MJ, Moraes EL, Massarollo MCKB. Comunicação de más

notícias: dilemas éticos frente à situação de morte encefálica. Mundo da

Saúde. 2012;36(1):34-40.

19. Kompanje EJ. Families and brain death. Semin Neurol. 2015; 35(2):169-

73.

20. Bousso RS. O processo de decisão familiar na doação de órgãos do

filho: uma teoria substantiva. Texto e Cont. 2008;17(1)45-54.

21. Santos MJ, Massarollo MC, Moraes EL. Family interview in the process

of donating organs and tissues for transplantation. Acta Paul Enferm.

2012; 25(5): 788-94.

63

22. Pessoa JLE, Schirmer J, Roza BA. Avaliação das causas de recusa

familiar a doação de órgãos e tecidos. Acta Paul Enferm. 2013;

26(4):323-330.

23. Jansen NE, van Leiden HA, Haase-Kromwijk BJ, Hoitsma AJ. Organ

donation performance in the Netherlands 2005-08; medical record review

in 64 hospitals. Nephrol Dial Transplant. 2010; 25(6):1992-7.

24. van Leiden HA, Jansen NE, Haase-Kromwijk BJ, Hoitsma AJ. Higher

refusal rates for organ donation among older potential donors in the

Netherlands: impact of the donor register and relatives. Transplantation.

2010; 90(6):677-82.

25. Thybo KH, Eskesen V. The most important reason for lack of organ

donation is family refusal. Dan Med J. 2013; 60(2) A4585.

26. Pessalacia JDR, Cortes VF, Ottoni A. Bioética e doação de órgãos no

Brasil: aspectos éticos abordagem à família do potencial doador. Rev

Bioética. 2011;19(3)671-82.

27. Fernandes MEN, Zambelli HJ, Boin IFSF, Oliveira MA, Zutin N,

Gasparoni ARF et al. New challenges for social workers in approaching

potential tissue and organ donor families in a public university hospital.

Organs, Tissues, and Cells. 2008;(1)11-13.

28. Turato ER. Introdução à metodologia da pesquisa clínico-qualitativa:

definição e principais características. Rev. Port Psico. 2000;2(1):93-108.

64

29. __________Tratado de metodologia da Pesquisa Clínica Qualitativa:

construção teórico-epistemológica discussão comparada e aplicação nas

áreas da saúde e humanas. RJ. Vozes, 2003:245-436.

30. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa (Port): Edições 70,1977.

31. Campos CJG, Turato ER. Content analysis in studies using the clinical-

qualitative method: application and perspectives. Rev. Latino-Am.

Enfermagem. 2009;17(2):259-264.

32. Turato ER. Métodos Qualitativos e Quantitativos na Área da Saúde:

definições, diferenças e seus objetos de pesquisa. Rev Saude Pub.

2005;39 (3): 507-14.

33. Bachega EB, Sardinha LA da C, Athayde MV de O, Zambelli HJ,

Pannuto MR, Rodrigues S de LL. Manual de processos de trabalho do

Serviço de Procura de Órgãos e Tecidos: SPOT Universidade Estadual

de Campinas. Hospital de Clínicas da Unicamp. 2ª.ed. Campinas, SP.

2014.41p.

34. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (IBGE). Censo

Demográfico: características da população e dos domicílios. Resultados do

universo, 2011a. Disponível em: http://

www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noti

cia.

35. Castro JSO, Andrade LS. Serviço Social e o SUS desafios na Prática do

Assistente Social. Serv. Soc. & Saude. 2014;13(1):111-116.

36. Martinelli ML. Serviço social em hospital escola: espaço diferenciado de

ação profissional. Serv. Soc. & Saúde. 2002;1,1-11.

65

37. Nogueira VMRN, Mioto RCT. Desafios atuais do Sistema Único de

Saúde – SUS e as exigências para os assistentes sociais. Serv Soc

Saúde: Formação e Trabalho Profissional. 2003:01-25.

38. Mioto RCT, Prá KRD. Serviços Sociais e responsabilização da família:

contradições da política social brasileira. In Mioto (Orgs.) Familismo,

direitos e cidadania: contradições da política social. 2015:147-178.

39. Ministério da Saúde. Sistema Estadual de Transplantes SES-SP. Curso

de Formação de Coordenadores Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e

Tecidos. Técnica de Entrevista familiar para captação de órgãos.2007.

40. Matesanz R, Dominguez-Gil B, Coll E, De La Rosa G, Marazuela R.

Spanish experience as a leading country: what kind of measures were

taken? Organizacio´n Nacional de Trasplantes. Madrid. Spain European

Society for Organ Transplantation. 2011(4): 333–343.

41. Scandroglio B, Domınguez-Gil B, Lopez JS, Valentın MO, Martın MJ,

Coll E, Martinez MJ, Miranda B, Jose MCS, Matesanz R. Analysis of the

attitudes and motivations of the Spanish population towards organ

donation after death. European Society for Organ Transplantation.

2011;(2):158-166.

42. Yousefi H, Roshani A, Nazari F. Experiences of the families concerning

organ donation of a family member with brain death. Iran J Nurs

Midwifery Res. 2014;19(3):323-330.

43. Ralph A, Chapman JR, Gillis J, Craig JC, Butow P, Howard K, et al.

Family perspectives on deceased organ donation: thematic synthesis of

qualitative studies. Am J Transplant. 2014;14(4):923-35.

66

44. Lima AAF. Doação de órgãos para transplante: conflitos éticos na

percepção do profissional. O Mundo da Saúde, São Paulo -

2012;36(1):27-33.

45. Berntzen H, Bjørk IT. Experiences of donor families after consenting to

organ donation: A qualitative study. Intensive Crit Care Nurs.

2014(5):266-74.

46. Irving MJ, Tong A, Jan S, Wong G. Cass A, Chadban S, et al. Factors

that influence the decision to be an organ donor: a systematic review of

the qualitative literature. Nephrol Dial Transplant. 2012; (6):2526-33.

47. Ghorbani F, Khoddami-Vishteh HR, Ghobadi O, Shafaghi S, Louyeh AR,

Najafizadeh K. Causes of family refusal for organ donation. Transplant

Proc. 2011; 43(2):405-6.

48. Marck CH, Neate SL, Skinner M, Dwyer B, Hickey B, D’Costa R, et al.

Factors relating to consent for organ donation: prospective data on

potential organ donors. Intern Med J. 2015; 45(1)40-7.

49. López Martínez JS, Martín López MJ, Scandroglio B, Martínez García

JM. Family perception of the process of organ donation. Qualitative

psychosocial analysis of the subjective interpretation of donor and

nondonor families. Span J Psychol. 2008; 11(1):125-136.

50. Kim HS, Yoo YS, Cho OH. Satisfaction with the organ donation process

of brain dead donors' families in Korea. Transplant Proc. 2014;

46(10):3253-6.

51. Manuel A, Solberg S, MacDonald S. Organ donation experiences of

family members. Nephrol Nurs J. 2010; 37(3):229-36.

67

52. Tawil I, Brown LH, Comfort D, Crandall CS, West SD, Rollstin AD, et al.

Family presence during brain death evaluation: a randomized controlled

trial. Crit Care Med. 2014; 42(4):934-42.

53. Bramstedt KA. Family refusals of registered consents: the disruption of

organ donation by double-standard surrogate decision-making. Intern

Med J. 2013; 43:120-123.

54. Kumar V, Ahlawat R, Gupta AK, Sharma RK, Minz M, Sakhujav V, et.al.

Potential of organ donation from deceased donors: study from a public

sector hospital in India.Transpl Int. 2014; 27(10):1007-14.

55. Mahdavi-Mazdeh M, Khodadadi A, Tirgar N, Riazi N. Rate of family

refusal of organ donation in dead-brain donors: the Iranian tissue bank

experience. Int J Organ Transplant Med. 2013; 4(2):72-6.

56. Tong A, Chapman JR, Wong G, Kanellis J, Mc Carthy G, Craig JC. The

motivations and experiences of living kidney donors: a thematic

synthesis. Am J Kidney Dis. 2012; 60 (1):15-26.

57. Le Nobin J, Pruvot FR, Villers A, Flamand V, Bouye S. Family refusal of

organ donation: a retrospective study in a French organ procurement

center. Prog Urol. 2014; 24(5):282-7.

58. Walker W, Broderick A, Sque M. Factor’s influencing bereaved families’

decisions about organ donation: an integrative literature review. West J

Nurs Res. 2013;35 (10):1339-1359.

59. Stouder DB, Schmid A, Ross SS, Ross LG, Stocks L. Family, friends,

and faith: how organ donor families heal. Prog Transplant. 2009; 19

(4):358-61.

68

60. Topbas M, Türkyilmaz S, Can G, Ulusoy S, Kalyoncu M, Kaynar K, et al.

Information, attitude, and behavior toward organ transplantation and

donation among health workers in the eastern Black Sea region of

Turkey. Transplant Proc. 2011;43(3):773-7.

61. Neate SL, Marck CH, Skinner M, Dwyer B, McGain F, Weiland TJ, et al.

Understanding australian families' organ donation decisions. Anaesth

Intensive Care. 2015; 43(1):42-50.

62. Wakefield CE, Reid J, Homewood J. Religious and ethnic influences on

willingness to donate organs and donor behavior: an Australian

perspective. Prog Transplant. 2011;21(2):161-8.

63. Roza BA, Garcia VD, Barbosa SFF, Mendes KDS, Schirmer J. Doação

de órgãos e tecidos: relação com o corpo em nossa sociedade. Acta

Paul Enferm. 2010;23(3):417-22.

64. Doggenweiler I, Guic E. Determinantes psicosociales de la intención de

donación de órganos en una muestra chilena. Rev Med Chile.

2014;142:27-33.

65. Robson NZ, Razack AH, Dublin N. Organ transplants: ethical, social, and

religious issues in a multicultural society. Asia Pac J Public Health. 2010;

22(3):271-8.

66. Vuković M, Moljević N, Katanić N, Krivokuća D, Vuković V, Milosevic Z.

Cadaveric organ transplantation and religion. Med Pregl. 2010; 63(7-

8):575-8.

69

67. Brown CV, Foulkrod KH, Dworaczyk S, Thompson K, Elliot E, Cooper H,

Coopwood B. Barriers to obtaining family consent for potential organ

donors. J Trauma. 2010; 68(2):447-51.

68. Oliver M, Woywodt A, Ahmd A, Saif I. Organ donation, transplantation

and religion Nephrol Dial Transplant. 2011; 26(2):437-444.

69. Fonouni H, Golriz M, Mehrari A, Oweira H, Schmied BM, Müller SA, et al.

The role of an interdisciplinary transplant team on living donation kidney

transplantation program. Transplant Proc. 2010;42(1):137-40.

70. Ferreira IR, Silva PLN, Filho WA, Gonçalves RPF, Souto SGT, Oliveira

VV. Doação e transplante de órgãos na concepção bioética: uma revisão

integrativa. Rev Univ Vale do Rio Verde, 2015;13(1):190-203.

71. Ferrazzo S, Vargas MAO. Mancia JR, Ramos FRS. Crença religiosa e

doação de órgãos e tecidos: revisão integrativa da literatura. Rev Enf

UFSM. 2011;1(3):449-460.

72. Oliver M, Ahmed A, Woywodt A. Donating in good faith or getting into

trouble? Religion and organ donation revisited. World J Transplant.

2012; 2(5): 69-73.

73. Siebelinka MJ, Albersb MIJI, Roodbolc PF, van de Wiel HBM. Estudio

exploratorio en línea sobre las opiniones de los padres respecto de la

donación de órganos: de las decisiones individuales a las

conversaciones en familia. Arch Argent Pediatr. 2014; 112(3):224-23.

74. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. (BR).

Secretaria Nacional de Assistência Social. PNAS. Brasília, 2004 p.34.

70

75. Silva MCLSR, Silva L, Bousso R. A abordagem à família na Estratégia

Saúde da Família: uma revisão integrativa da literatura Rev Esc Enferm.

2011; 45(5):1250-5.

76. Conselho Federal de Serviço Social - CFESS Atribuições privativas do/a

assistente social em questão. 1ª Edição Ampliada 2012.

77. Gelinski CRG, Moser L. Mudanças nas famílias brasileiras. In Mioto

(Orgs). Familismo, Direitos e Cidadania: contradições da política social.

São Paulo; Cortez. 2015:125-145.

78. Jacoby L, Crosier V, Pohl H. Providing support to families considering the

option of organ donation: an innovative training method. Prog Transplant.

2006;16(3):247-52.

79. Anker AE, Akey JE, Feeley TH. Providing social support in a persuasive

context: forms of social support reported by organ procurement

coordinators. Health Communication. 2013; 28(8):835-845.

80. Satoh A. Care and support for organ donor families. Japan Med Assoc

Journal. 2011;54(6):392-397.

81. Moura, MAV; Chamilco RASI; SILVA, LR da. Teoría transcultural y su

uso en algunas investigaciones de enfermería: una reflexión. Esc. Anna

Nery. 2005,9:(3):434-440.

82. Seima MD, MicheI T, Méier MJ, Wall ML, Lenardt MH. A produção

científica da enfermagem e a utilização da teoria de Madeleine Leininger:

revisão integrativa. Esc. Anna Nery. 2011; 15(4): 851-857.

71

83. Moura LC, Silva VS. Manual do núcleo de captação de órgãos: iniciando

uma Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para

Transplantes: CIHDOTT / coordenação Barueri, SP: Minha Editora,

2014.

84. Morais TR, Morais MR, Diógenes WM. Mais educação, mais doações de

órgãos. J Bras Transpl. 2007; 10(2):730-31.

85. Pruinelli L, Kruse MHL. The media and organ donations: the production

of donation subjects. Rev Gaúcha Enferm. 2012; 33(4):86-93.

86. Cameron Am, Massie AB, Alexander CE, Stewart B, Montgomery RA,

Benavides NR et al. Social media and organ registration: the facebook

effect. Am J Transplant. 2013;13(8):2059-65.

72

ANEXO I

Termo de Doação de Órgãos e Tecidos Doador Falecido

73

ANEXO II

Ficha de caracterização de doadores de órgãos

Título da Pesquisa: Percepção das Famílias de Doadores de Órgãos sobre o

Processo De Doação

Data da pesquisa:

Identificação do Doador

HC: Paciente doador: ________________________________

Idade:

Data óbito: __ /___/___

Gênero: masculino ( ) feminino ( )

Endereço:_______________________________________________________

Fones:____________________________

Nome do familiar:

Procedência: ( ) Campinas ( ) Outros municípios____________________( )

Estados Federação

Causa da Morte:____________________________

74

ANEXO III

Instrumento de Caracterização Social

Percepção das Famílias de Doadores de Órgãos sobre o Processo de Doação

Data da Entrevista: __/____/___

Entrevistado: ________ __________________________________ Idade: ____

1) Gênero: ( ) Masculino ( )Feminino

2) Cor/Etnia informada: parda, negro, amarela, branca ______________

3) Grau de parentesco com o doador: ______________

4) ( ) Campinas ( ) Outros municípios__________( ) Estados Federação

5) Estado civil: ( ) casado e/ou união consensual ( ) viúvo ( )divorciado ( )

solteiro

6) Tipo de arranjo familiar: ( ) nuclear com ou sem laços legais,

( ) Família extensa ( ) adotiva ( ) casais ( ) família monoparental

( ) casais homossexuais ( ) famílias reconstituídas.

7) Religião: ( ) católica ( ) protestante ( ) evangélica ( )

outras:____________especificar

8) Profissão: _____________________ ( ) Previdenciário ( ) Sem vínculo c/

Previdência Social ( ) Desempregado

9) Renda Familiar Total R$ _____________ e Número de pessoas ___________

10) Escolaridade:

Em anos completos_________________

. 9) Tipo de Domicílio: ( ) próprio ( )alugado ( ) cedido ( ) agregado( ) invadido

75

ANEXO IV

Roteiro de Entrevista semiestruturada

Percepção das Famílias de Doadores de Órgãos sobre o Processo de Doação

1ª.. Qual profissional do hospital entrevistou o Sr (a) após a comunicação da

morte encefálica do paciente e ofereceu oportunidade do Sr (a) autorizar a

doação de órgãos e quais sentimentos (de tristeza; negação, desespero,

decepção, susto, frustração, medo, revolta, vergonha, rejeição, culpa,

resignação, aceitação) o (a) Sr (a) teve naquele momento?

2 a.) O (a) Sr (a) entendeu a explicação que o profissional fez a respeito da

morte encefálica do paciente?

( ) sim, ficou claro ( ) sim, mas ainda tive dúvidas(quais);

( ) entendi um pouco; ( ) não entendi ( ) não informa, não lembra.

3ª.) O que o (a) motivou a autorizar a doação de órgãos de seu (sua) ente

querido (a)? Por que?

(4ª.). Como foi à experiência vivenciada (dificuldades: atraso na liberação do

corpo, falta de entrosamento da equipe da captação, falta de informações após

a doação no momento do consentimento da doação?

(5ª.) Se tivesse que falar com alguém que tem um ente querido em morte

encefálica, o que diria? Por quê?

76

ANEXO V

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Título da Pesquisa: Percepção das Famílias de Doadores de Órgãos sobre o Processo de Doação

Eu, MARLI ELISA NASCIMENTO FERNANDES, doutoranda do

Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, sob orientação do Profa. Dra. Ilka de Fátima Santana Ferreira Boin estou realizando uma pesquisa sobre Percepção das Famílias de Doadores de Órgãos sobre o Processo de Doação que tem como objetivos: - Identificar os significados da doação para transplantes para família doadora. - Conhecer como ocorreu a decisão e as experiências da família em relação à decisão tomada.

Para isso, o sr está sendo convidado a participar de uma entrevista que deverá ser gravada, respondendo a algumas questões sobre este assunto e outras sobre suas características pessoais. Após a utilização do conteúdo das fitas, o mesmo será apagado ou a fita será destruída. Todos os dados e informações coletados para este estudo serão estritamente confidenciais, serão mantidos em sigilo e privacidade de cada participante, garantindo com isso que a identidade dos pacientes e dos respondentes não será exposta. Os resultados deste estudo serão analisados e julgados de forma global. As respostas serão codificadas e se tornarão anônimas. Por se tratar de pesquisa acadêmica os resultados poderão ser apresentados em Congressos e Reuniões científicas além da publicação em revistas científicas com finalidade acadêmica sem a identificação do respondente, nem do paciente doador. Agradeço desde já a sua colaboração e coloco-me disponível para maiores informações e esclarecimentos que a que o (a) Sr (a) julgar necessário.

O (a) Sr (a) concorda em participar? Eu compreendo que minha participação é voluntária. Portanto, posso retirar ou recusar o meu consentimento a qualquer momento sem que prejudicar a minha pessoa. Eu confirmo que a pesquisadora me explicou com clareza os objetivos da pesquisa, o desenvolvimento do trabalho e a entrevista que serei submetida.

Diante disso, concordo em participar da pesquisa e para isto firmo o presente documento ou imprimo minha impressão digital, quando receberei uma cópia deste documento e do resumo informativo. Para eventuais esclarecimentos sobre a pesquisa poderei consultar a pesquisadora nos telefones: (19) 35217014 ou (19)38726786, outras informações ou reclamações referentes aos aspectos éticos da pesquisa poderei consultar o Comitê de Ética em Pesquisa da UNICAMP com endereço a Rua Tessália Vieira de Camargo, 126 Caixa Postal 6111, CEP 13083-887 Campinas/SP, telefones (19) 35218936, fax (19) 35217187 e e-mail [email protected].

Data: _____/_______20_____ Nome: __________________________________________________ Assinatura: ______________________________________________ Cidade: _________________________________________________ Assinatura da pesquisadora: _____________________________

77

ANEXO VI

RESUMO INFORMATIVO

Título da Pesquisa: Percepção das Famílias de Doadores de Órgãos sobre o Processo de Doação

O processo de doação é definido como um conjunto de ações e procedimentos que consegue transformar um potencial doador em um doador efetivo. O potencial doador é aquele com diagnóstico de morte encefálica, no qual tenham sido descartadas contraindicações clínicas. Doador efetivo de órgãos: é o doador potencial com o diagnóstico de morte encefálica ou coração parado, do qual a família autorizou a doação. A doação de órgãos está legitimada pelo Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde. Para que ocorra a doação de órgãos da pessoa com morte encefálica existem etapas a serem seguidas: a) identificação de pacientes com critérios clínicos de ME; b) diagnóstico de ME; c) avaliação clínica e laboratorial; d) manutenção do potencial doador; e) entrevista familiar. Todo o processo de doação só é possível quando há o diagnóstico de ME e a notificação do Potencial Doador (PD) e o consentimento familiar. Nosso país como em todo o mundo sofre de uma escassez crônica de doadores de órgãos. Considerando que ainda há barreiras limitantes do processo que interferem no consentimento da família pode-se através desta pesquisa serem levantadas pelas famílias que passaram pelo processo de doação propiciar as equipes de captação melhorias no processo e consequentemente incidir no aumento das taxas de consentimento de doação de órgãos. Os participantes da pesquisa poderão contribuir de forma significativa na medida em que sua experiência vivida de doação irá revelar situações que motivem ou indiquem peculiaridades muitas vezes não identificadas pelas comissões de captação com impacto direto na sociedade e nas políticas de saúde publica. Descrever os significados atribuídos e a percepção da família do doador a respeito da experiência vivida no processo de doação de órgãos para transplantes. Depois de identificados a saturação das respostas as entrevistas serão transcritas e codificados as observações gerais garantindo o sigilo ético em relação às informantes e instituições. As respostas dos familiares serão codificadas, agrupadas e analisadas de forma global.

78

ANEXO VII

Aprovação Comitê de Ética em Pesquisa

79

ANEXO VIII

Publicação do artigo da Revista Latino-Americana de Enfermagem

Preview

From: [email protected]

To: [email protected]

CC: [email protected]

Subject: Revista Latino-Americana de Enfermagem - Decision on Manuscript ID

RLAE-2014-0486.R2

Body: 11-Apr-2015 Dear Ms. Fernandes:

It is a pleasure to accept your manuscript entitled "Vivenciando a doação de órgãos: sentimentos de familiares pos consentimento" for publication in the

Revista Latino-Americana de Enfermagem. Thank you for your fine contribution. On behalf of the Editors of the Revista

Latino-Americana de Enfermagem, we look forward to your continued contributions to the Journal.

Please wait our next contact. Sincerely,

Ms. Maria Helena Marziale Editor-in-Chief, Revista Latino-Americana de Enfermagem

Date Sent: 11-Apr-2015

80

81

82

83

84

85

86

87

ANEXO IX

Direitos Autorais

Campinas, August 31, 2015.

Dear

Msc. MARIA HELENA PALUCCI MARZIALE

Editor Científico Chefe

RLAE - Revista Latino Americana de Enfermagem

Av. Bandeirantes, 3900 - CEP: 14040-902 - Ribeirão Preto - SP - Brasil Telefone: +55 (16)3315-3451 - FAX: +55 (16)3315-4407

e-mail: [email protected] To: Permissions Helpdesk

Subject: Copyright to Doctoral Thesis

Dear Sir,

I am the advisor to the Doctoral Postgraduate Program - State University of

Campinas. My student Marlí Elisa Nascimento Fernandes, is the first author of "

Vivenciando a Doação de Órgãos: sentimentos de familiares pos consentimento”

published in Revista Latino Americana de Enfermagem, vol.23 n.5, in Set, 2015 and I kindly

request the permission of the "RLAE" to use the article in her Doctoral Thesis, and according to

Brazilian law No. 9610/98, the copyright of the publisher requests your authorization to

incorporate the one article into the online/printed thesis. I thank you very much in advance.

Best regards.

Profa. Dra. Ilka de Fátima Santana Ferreira Boin

Faculty of Medical Sciences – UNICAMP

Profa. Dra. Ilka de Fátima Santana Ferreira Boin

Faculty of Medical Sciences – UNICAMP Department of Surgery - Unit Liver Transplant Adress: Rua Tessália Vieira de Camargo, 126. Cidade Universitária Zeferino Vaz. CEP 13083-887 – Campinas, SP, Brasil

Phone: 55 (19) 9771 5417; 55 (19) 3521 8579 / 8580 E-mail: [email protected] or [email protected] c/copy: [email protected]

88

89

Anexo X Organización Nacional Trasplantes

90

ANEXO XI Certificados de Apresentações em Congresso Internacional

91

92

93

94

95

ANEXO XII

Normas da redação da Tese

Esta Tese de Doutorado” PERCEPÇÃO DAS FAMÍLIAS DE DOADORES DE

ÓRGÃOS SOBRE O PROCESSO DE DOAÇÃO”, seguiu as normas da Pós-

Graduação da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), do programa Ciências

da Cirurgia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), conforme as

normas de Vancouver. http://www.fcm.Unicamp.br/fcm/pos-graduacao-em-

ciencias-da-cirurgia.