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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENFERMAGEM MILLENI SOUSA VIEIRA AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE NOTIFICAÇÃO, CAPTAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS NO PIAUÍ Teresina 2013

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENFERMAGEM

MILLENI SOUSA VIEIRA

AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE NOTIFICAÇÃO, CAPTAÇÃO E DIS TRIBUIÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS NO PIAUÍ

Teresina 2013

MILLENI SOUSA VIEIRA

AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE NOTIFICAÇÃO, CAPTAÇÃO E DIS TRIBUIÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS NO PIAUÍ

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí como requisito para a obtenção do título de mestre em Enfermagem.

Orientadora: Profa. Dra. Lídya Tolstenko Nogueira Área de Concentração: Enfermagem no contexto social brasileiro Linha de Pesquisa: Políticas e Práticas Sócio-educativas em Enfermagem

Teresina 2013

MILLENI SOUSA VIEIRA

AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE NOTIFICAÇÃO, CAPTAÇÃO E DIS TRIBUIÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS NO PIAUÍ

________________________________________________________

Profª Drª Lídya Tolstenko Nogueira

Universidade Federal do Piauí – Presidente

________________________________________________________

Profª Drª Bartira de Aguiar Roza

Universidade Federal de São Paulo – 1ª Examinadora

________________________________________________________

Profª Drª Telma Maria Evangelista de Araújo

Universidade Federal do Piauí – 2ª Examinadora

________________________________________________________

Prof Dr. José Ivo dos Santos Pedrosa

Universidade Federal do Piauí - Suplente

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí como requisito para obtenção do título de Mestre em Enfermagem. Linha de pesquisa: Políticas e Práticas Sócio-Educativas de Enfermagem.

À minha mãe, Maria Alice, exemplo de força e de fé, que sempre esteve ao meu lado e de minhas irmãs, com quem aprendi que conhecimento é o único patrimônio que temos Ao meu marido e companheiro de todas as horas, Marcus, pelo apoio e paciência pelo tempo roubado de nosso convívio À minha amada irmã, Mirelli, minha segunda mãe, que abdicou de seus sonhos para que os meus e os de nossa irmã pudessem ser realizados À Melina, minha também amada irmã, pela nossa união e cumplicidade de sempre

AGRADECIMENTOS

À DEUS, por existir, guiar a vida e me permitir viver essa experiência; À Universidade Federal do Piauí, por ser o berço dos meus estudos e formação profissional; À minha orientadora, professora Dra. Lídya Tolstenko Nogueira, pelo apoio fundamental nessa caminhada, pelo incentivo em todos os momentos e por ampliar os meus horizontes de conhecimento, corroborando que a aprendizagem é uma atividade infinita; À banca examinadora, profa. Dra. Bartira Roza, profa. Dra. Telma Evangelista e prof. Dr. José Ivo, pelo aceite em participar desta avaliação e pelas contribuições valiosas; Ao prof. Dr. José Machado Moita Neto, pela disponibilidade com que acolheu a pesquisa e pela valorosa colaboração na análise estatística desse estudo; Aos professores do Mestrado em Enfermagem, pelo suporte teórico e pelos conhecimentos compartilhados; Às instituições que participaram da pesquisa, por permitirem o acesso às informações necessárias à sua execução; Aos profissionais, médicos, enfermeiros, assistentes sociais e psicólogos, que colaboraram na concretização deste trabalho com competência e seriedade; À Zenira Martins Silva, pelo compromisso na gestão de Sistemas de Informação, pela disponibilidade e pelo carinho em atender a pesquisa; Aos amigos e amigas de Mestrado, pelo aprendizado e o compartilhamento de angústias e anseios nessa caminhada; Agradecimento carinhoso especialmente para as amigas, Marylane Viana, Lucyanna Campos, Jesus Mousinho, Amália Carvalho, Illoma Leite e Laís Carvalho, pela amizade e a convivência solidária em momentos difíceis de estudo; À acadêmica e bolsista do Programa de Iniciação Científica/ PIBIC, Railina Laura, pela contribuição na coleta criteriosa e responsável dos dados quantitativos da pesquisa; Ao meu sobrinho Lukas, que em momentos de coração apertado me fez abrir um sorriso; Aos meus cunhados, Robson e Álcio, pela presença e pelo apoio dispensado à minha família em momentos nos quais estive ausente;

À minha madrinha querida, Antonia de Carvalho, por quem alimento admiração imensa, meus sinceros agradecimentos pelo apoio e por acreditar que eu poderia chegar lá; Às minhas amigas, Gláucia, Nair, Éricka e Andreza, pela amizade de longa data, ombro amigo em horas difíceis e pela compreensão quanto à ausência; A todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para essa pesquisa.

“Transplante é muito mais do que uma simples cirurgia. É um procedimento que envolve a mais profunda conexão entre seres humanos.”

James F. Burdick

RESUMO

O presente estudo objetivou avaliar o desempenho do Sistema de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos no Piauí no período 2001 a 2011. Trata-se de um estudo avaliativo realizado por meio da triangulação de métodos, desenvolvido no município de Teresina. Quatro instrumentos de coleta de dados foram utilizados para contemplar a análise da estrutura, do processo de trabalho dos profissionais envolvidos e da evolução dos transplantes. A amostra foi constituída por 29 profissionais. Os principais achados foram: ausência do serviço de imagem disponível 24 horas no espaço público; ausência de transporte próprio para a Organização de Procura de Órgãos e o Banco de Tecidos Oculares; os elementos necessários para a atuação no processo doação/transplante, segundo os profissionais, são a equipe multiprofissional capacitada e integrada, o conhecimento técnico, os recursos físicos e materiais, as condições de trabalho adequadas, a família sensibilizada, a ética e a humanização; como barreiras a esse processo, os profissionais consideraram a ausência do exame complementar de imagem para diagnóstico de morte encefálica no serviço público, o desconhecimento e a falta de apoio dos profissionais da assistência e a falta de apoio político; no período de 2009 a 2011 houve aumento do número de potenciais doadores, doadores em parada cardiorrespiratória e do número de transplantes de córneas. Entretanto, não houve alteração significativa do número de doadores efetivos e doadores em morte encefálica, ocorrendo aumento do número de não efetivação das doações no mesmo período, bem como não houve alteração significativa do número de pacientes em fila de espera. Desse modo, desafios ainda se colocam ao Sistema, tais como a viabilização do aumento da taxa de efetivação das doações consequente ao aumento do número de doadores em morte encefálica, mudanças em aspectos relacionados à estrutura e a contínua sensibilização da população. Acredita-se que os resultados desse estudo possam contribuir com informações que subsidiem o aprimoramento de uma política de gestão que compreenda as especificidades dos transplantes no Piauí. Palavras-chaves: Transplantes; Avaliação em Saúde; Serviços de Saúde; Enfermagem

ABSTRACT

The present study aimed to evaluate performance the Notification, Capturing, and Distribution System for Organs and Tissues in Piauí between 2001 and 2011. This was an evaluative study carried out through a triangulation of methods and developed in the city of Teresina. Four data collection instruments were used in the analysis of the structure, working process of professionals involved, and evolution of transplants. The sample consisted of 29 professionals. The main findings were: absence of an image service available 24 hours to the public; absence of institutional transportation for the Organs Procurement Organization and Ocular Tissue Bank; according to the professionals involved, the elements needed for the operations in the donation/transplant process are a trained and integrated multidisciplinary team, technical knowledge, physical and material resources, appropriate working conditions, appreciative families, ethics, and humanization; the absence of additional examination of images for the diagnosis of brain death in the public service, ignorance and lack of support of assisting professionals, and lack of political support were considered barriers to this process by the professionals; an increase in the number of potential donors, donors in cardiopulmonary arrest, and corneal transplants was observed in the period between 2009 and 2011. No significant changes in the number of actual donors and donors in brain death were observed during this period. However, an increase in the number of incomplete donations and no significant changes in the number of patients in the waiting list were also observed during the same period. Thus, the System still faces challenges such as the feasibility of increasing the rate of effective donations resulting from an increase in the number of donors in brain death, and changes in aspects related to structure and population awareness. It is believed that the results of this study might contribute with information that will subsidize the improvement of a management policy that understands the specifics of transplants in Piauí.

Keywords: Transplants; Health Assessment; Health Services; Nursing

LISTA DE FIGURAS Quadro 1 - Matriz de análise por triangulação de métodos e resultados........... 39

Quadro 2 - Presença dos itens relacionados ao ambiente nas instituições

pesquisadas, Teresina, 2012.................................................................................................

41

Quadro 3 - Presença de materiais, equipamentos e insumos nas instituições pesquisadas, Teresina, 2012..........................................................

42

Quadro 4 - Presença dos itens relacionados à logística e meios diagnósticos nas instituições pesquisadas, Teresina, 2012.................................

42

Quadro 5 - Presença dos itens relacionados ao gerenciamento e organização do trabalho na CNCDO-PI, na OPO, na CIHDOTT-HUT e BTOC, Teresina, 2012.................................................................................

43

Quadro 6 - Número e tipo de profissionais existentes nas instituições pesquisadas, Teresina, 2012.................................................................................................

44

Gráfico 1 - Estimativa do número de potenciais doadores no Piauí no período de 2001 a 2011.................................................................................................

68

Gráfico 2 - Número de doadores efetivos no Piauí no período 2001 a 2011.................................................................................................

69

Gráfico 3 - Número de doadores em morte encefálica e de doadores em parada cardiorrespiratória por ano no Piauí, no período 2001-2011.................................................................................................

69

Gráfico 4 - Número de pacientes em fila de espera por tipo de transplante por ano no Piauí, no período 2001-2011.................................................................................................

75

Gráfico 5 - Distribuição dos transplantes renais realizados com doadores vivos e falecidos por ano no Piauí, no período 2001-2011.................................................................................................

76

Figura 1 - Modelo lógico do Sistema de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos........................................................................

83

Figura 2 - Influência dos fatores relevantes de contexto no Sistema de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos.............................................................................................

84

LISTA DE TABELAS Tabela 1: Distribuição quantitativa de potenciais doadores, doadores

efetivos, doadores em morte encefálica e doadores por parada cardiorrespiratória no Piauí no período de 2001 a 2011...................................................................................................

67

Tabela 2: Distribuição quantitativa de óbitos hospitalares em Teresina e no Piauí no período 2001 a 2011...................................................................................................

70

Tabela 3: Número e tipos de transplantes por ano no Piauí no período 2001 a 2011...................................................................................................

71

Tabela 4: Distribuição quantitativa por tipo de transplante por ano no Piauí no período 2001 a 2011...................................................................................................

71

Tabela 5: Número e causas de não-efetivação das doações no Piauí no período 2001 a 2011...................................................................................................

72

Tabela 6: Distribuição quantitativa das causas de não-efetivação de doações no Piauí no período 2001 a 2011.......................................................

73

Tabela 7: Distribuição quantitativa de instituições e equipes autorizadas a realizarem transplantes no Piauí no período 2001 a 2011...................................................................................................

73

Tabela 8: Número e tipos de transplantes realizados por instituições públicas e privadas por ano no Piauí no período 2001 a 2011........................

74

Tabela 9: Distribuição quantitativa dos tipos de transplantes realizados por instituições públicas e privadas no Piauí no período 2001 a 2011...................................................................................................

75

Tabela 10: Distribuição quantitativa de pacientes em fila de espera no Piauí no período 2001 a 2011...................................................................................................

76

Tabela 11: Distribuição quantitativa de doadores de rim falecidos e vivos no Piauí no período 2001 a 2011...................................................................................................

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LISTA DE SIGLAS

ABTO Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos

BTOC Banco de Tecidos Oculares

CFM Conselho Federal de Medicina

CIHDOTT Comissão Intra -hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes

CNCDO Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos

CNNCDO Central Nacional de Notificação, Captação e Distrib uição de Órgãos e Tecidos

HGV Hospital Getúlio Vargas

HUT Hospital de Urgências de Teresina

ME Morte encefálica

OPO Organização de Procura de Órgãos

PCR Parada cardiorrespiratória

SAMU Serviço de Atendimento Móvel de Urgência

SIM Sistema de Informação de Mortalidade

SNT Sistema Nacional de Transplantes

SUS Sistema Único de Saúde

UTI Unidade de Terapia Inten siva

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................. 14 1.1 Construção do Objeto de Estudo ........................................................... 14 1.2 Justificativa .............................................................................................. 18 1.3 Objetivos ................................................................................................... 19 2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................

21

2.1 Desenvolvimento dos Transplantes ....................................................... 21 2.2 Sistema Nacional de Transplantes ......................................................... 23 2.3 Avaliação em Saúde ................................................................................ 27 3 MATERIAL E MÉTODO ...........................................

32

3.1 Tipo de Estudo ......................................................................................... 32 3.2 Local do Estudo ....................................................................................... 32 3.3 População do Estudo ........................................................................... 33 3.4 Instrumentos para a Coleta de Dados .................................................... 33 3.5 Procedimentos para a Coleta de Dados ................................................ 34 3.6 Organização e Análise dos Dados ......................................................... 36 3.7 Triangulação dos métodos e resultados ............................................... 38

3.8 Aspectos Éticos ....................................................................................... 39 4 Aspectos Relacionados à Estrutura ..................................................................................................

41 4.1 A importância das características físicas e organizacionais da instituição para a atuação no processo doação/transplante............................

44

5 Aspectos Relacionados ao Processo de Trabalho dos

Profissionais ................................................................................................

52

5.1 A atuação no processo doação/transplante............................................ 52

5.2 Elementos necessários para a operacionalização do processo doação/transplante...........................................................................................

53

5.3 Fatores facilitadores e barreiras existentes à atuação no processo doação/transplante...........................................................................................

55

5.4 A contribuição da instituição para o desempenho do processo doação/transplante, sob a ótica dos profissionais...........................................

58

6 Evolução dos Transplantes no Piauí ........................................................

67

7 Modelo Lógico do Sistema de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos no Piauí .......................................................................

81

8 Conclusão: a triangulação dos resultados .............................................. 86

9 Implicações para a Enfermagem ............................................................... 88

REFERÊNCIAS............................................................................................... 89

APÊNDICES.................................................................................................... 95

ANEXOS.......................................................................................................... 102

14

1 INTRODUÇÃO

1.1 Construção do Objeto de Estudo

O desenvolvimento dos transplantes no mundo, certamente, é uma história

de sucesso, com incontestável avanço ao final do século XX. O transplante consiste

na remoção ou isolamento de um tecido orgânico de um organismo doador e a

implantação no mesmo organismo ou em um outro organismo, denominado receptor

(CINTRA; SANNA, 2005).

O termo transplante foi utilizado pela primeira vez por John Hunter, em 1778,

que descreveu seus experimentos com enxertos ovarianos e testiculares em

animais. Em 1933, foi realizado o primeiro transplante documentado em humanos

por Voronoy, na Ucrânia, tendo sido um transplante renal. O primeiro transplante de

pulmão ocorreu em 1963 nos Estados Unidos e, em 1967, foi realizado, na África do

Sul, o primeiro de coração de que se tem conhecimento. No Brasil, o primeiro

transplante de órgão sólido ocorreu em 1965, foi um renal realizado pela equipe

médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São

Paulo. E, em 1968, a mesma instituição sediou a realização do primeiro transplante

cardíaco no Brasil (PEREIRA, 2000). O primeiro transplante de córneas realizado no

país foi em 1964, no Rio de Janeiro e, no ano seguinte, teve início o primeiro

Programa de Transplante Renal na Universidade de São Paulo (NORONHA et al.,

1997).

Os transplantes de órgãos e tecidos tiveram impulso a partir das últimas

décadas do século XX, devido ao expressivo número de pesquisas cujos resultados

foram o desenvolvimento de drogas imunossupressoras, permitindo o aumento da

expectativa e da qualidade de vida dos receptores destes órgãos e tecidos (BOING,

2008).

A realização de transplantes é uma importante conquista do sistema de

saúde e da sociedade em geral (MARINHO; CARDOSO, 2007). Atualmente, este

procedimento constitui-se numa terapêutica bem estabelecida, sendo utilizado como

último recurso para o paciente, ou seja, quando não existem outras possibilidades

terapêuticas ou estas não alcançaram resultados. Desse modo, o transplante de

órgãos e tecidos impõe-se como a última alternativa para a sobrevida de milhares de

pacientes que se encontram em fila de espera. Ademais, a não realização dos

15

transplantes implica consequências negativas em relação às probabilidades de cura,

à sobrevida dos enxertos e dos pacientes, à natureza e a extensão das sequelas

nos pacientes, nos familiares e na sociedade. Os custos indiretos com a não

realização dos transplantes devem ser considerados, a exemplo das terapias renais

substitutivas que custam anualmente milhares de reais ao Estado (MARINHO;

CARDOSO; ALMEIDA, 2010).

Nos últimos anos, o Brasil vem apresentando um desenvolvimento notável

no setor de transplantes e possui atualmente o maior programa público de

transplantes de órgãos e tecidos do mundo, sendo o segundo em número de

transplantes realizados por ano, com mais de 90% financiados pelo sistema público

de saúde (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS, 2010).

Embora os Estados Unidos esteja em primeiro lugar em número de transplantes, é

válido ressaltar que os norte-americanos pagam pelos transplantes diretamente ou

por meio dos planos de saúde, com exceção da população muito pobre (MARINHO;

CARDOSO, 2007).

O desenvolvimento crescente do Brasil no setor de transplantes é fruto da

atuação do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) que regula a captação e

distribuição de órgãos nos Estados, através das Centrais Estaduais de Transplantes,

bem como da sensibilização da população em geral sobre a importância do

processo doação/transplantes.

A Política Nacional de Transplantes de órgãos e tecidos está regulamentada

pela Lei federal nº 9.434/97 e Lei nº 10.211/01, tendo como diretrizes a gratuidade

da doação, o benefício em relação ao receptor e o não prejuízo em relação ao

doador vivo (BRASIL, 1997; 2001).

O SNT constitui-se em uma coordenação do próprio Ministério e, portanto,

do Sistema Único de Saúde (SUS), cujo papel é operacionalizar esta política de

saúde em âmbito nacional, coordenando e regulando toda a rede assistencial de

transplantes através de autorizações de funcionamento de instituições e equipes.

Cada Estado possui uma Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos

e Tecidos (CNCDO), vinculada ao SNT e que coordena a notificação, captação e

distribuição de órgãos a nível estadual, bem como a lista única regional. A Central

Nacional de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos (CNNCDO)

realiza estas atividades em âmbito nacional. O SNT visa permitir a confiabilidade nas

ações envolvendo transplantes e, ao mesmo tempo, proporcionar assistência de

16

qualidade para doador/receptor. Para tanto, conta com 555 estabelecimentos de

saúde, realizando 798 modalidades de transplantes, e 1.376 equipes médicas

autorizados a realizarem transplantes (BRASIL, 2012).

De acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos – ABTO

(2010), em 2010 houve um crescimento contínuo na taxa de doação e transplantes

no país, atingindo 9,6 doadores efetivos com órgãos transplantados. Foram

realizados 4.630 transplantes renais, ocorrendo um aumento de 8% em relação a

2009, sendo 64,6% com doador falecido, a maior taxa já obtida no país. Foram

realizados 1.413 transplantes hepáticos, ocorrendo um aumento de 5,7% em relação

ao ano anterior. Ao todo foram realizados 50.873 transplantes incluindo os de

órgãos sólidos, tecidos e células.

Ainda segundo a ABTO (2011, 2012), em 2011, foram realizados 4.957

transplantes renais, 1.492 transplantes hepáticos, 160 transplantes de coração e,

com relação aos transplantes de tecidos, foram realizados 14.696 transplantes de

córneas. Foram totalizados 47.108 transplantes em 2011. Já no primeiro trimestre de

2012, a taxa de notificação de potenciais doadores foi de 42 por milhão da

população (pmp) e, a taxa de doadores efetivos foi de 13,1 pmp.

A Lei federal nº 9.434/97, que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e

partes do corpo humano para fins de transplantes e tratamento, estabelece em seu

artigo 2º que a realização de transplantes ou enxertos de órgãos e tecidos

provenientes do corpo humano apenas poderá ser realizada por estabelecimento de

saúde público ou privado e por equipes médico-cirúrgicas de remoção e transplante

autorizados previamente pelo órgão de gestão nacional do SUS.

A doação post mortem deve ser precedida pelo diagnóstico da morte

encefálica, de acordo com os critérios estabelecidos pela Resolução do Conselho

Federal de Medicina – CFM 1.480/97, exceto para doação de córneas, e a doação

por corpo humano vivo deverá ser precedida por autorização expressa do doador.

Ainda segundo a lei 9.434/97, os estabelecimentos de saúde são obrigados a

notificar às Centrais Estaduais de Transplantes (CNCDOs) o diagnóstico de morte

encefálica feito em pacientes por eles atendidos. Apesar dessa obrigatoriedade, a

ABTO estima que de cada oito potenciais doadores, apenas um é notificado.

Segundo Marinho (2006), dos potenciais doadores notificados apenas 20% são

utilizados como doadores de múltiplos órgãos. Guetti e Marques (2008) esclarecem

que um único potencial doador em boas condições pode beneficiar, através de

17

transplantes de diversos órgãos e tecidos, mais de 10 pacientes. E mesmo que um

potencial doador se torne um doador efetivo, não significa que todos os órgãos

poderão ser aproveitados, o que reforça a importância da busca ativa permanente.

É válido ressaltar que, antes da instituição da lei 9.434/97, o Brasil não

possuía nenhum dispositivo legal que regulamentasse a realização de transplantes

no país. A atividade de transplantes ocorria segundo os aspectos científicos, éticos e

morais da profissão médica. Para Roza et al. (2006), durante quase 30 anos no

Brasil, período de 1968 a 1997, os transplantes não foram regulamentados e os

critérios com relação à inscrição dos receptores, à ordem dos transplantes, à retirada

e alocação de órgãos captados eram desenvolvidos com bastante informalidade.

Dessa forma, a lei 9.434/97 contribuiu para a constituição da Política Nacional de

Transplantes e, principalmente, para a organização do processo de captação e

distribuição de órgãos e tecidos viabilizando melhorias para os usuários do sistema

que aguardam em lista de espera. Esta é constituída pelo conjunto de potenciais

receptores inscritos para o recebimento de cada tipo de órgão, tecido, célula ou

parte do corpo, e regulada por um conjunto de critérios específicos, assim

constituindo o Cadastro Técnico Único (BRASIL, 2009).

A atuação do SNT torna-se ampliada devido às limitações da realização de

transplantes com financiamento do sistema de saúde suplementar (privado). Os

planos de saúde são obrigados apenas a financiar transplantes de rim e córnea

(MARINHO; CARDOSO; ALMEIDA, 2010).

No Piauí, a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e

Tecidos foi inaugurada em 25 de setembro de 2000, três anos após a criação da lei

federal. De acordo com Oliveira et al. (2007), um dos fatores que contribuíram para a

implantação da Central de Transplantes no Piauí foi a instituição da política de

saúde direcionada aos transplantes. O Ministério da Saúde passou a exigir a

instalação de uma Central para as unidades federadas que trabalhassem com

transplantes. Desse modo, o Piauí não possuía um projeto relacionado à política de

transplantes. Seguindo o exemplo de outros estados, a Central de Transplantes do

Piauí está localizada na capital, Teresina, e funciona sob a gestão da Secretaria

Estadual de Saúde. Atualmente, o Piauí concentra a realização de transplantes no

referido município, único do Estado capacitado para tal.

No que tange à avaliação, segundo Contandriopoulos et al. (1997), consiste

na realização de um julgamento de valor a respeito de uma intervenção ou sobre um

18

de seus componentes, objetivando auxiliar na tomada de decisão. É um dispositivo

de produção de informação e fonte de poder para os atores que a controlam.

De acordo com Vieira-da-Silva (2005), ainda retomando a definição proposta

por Contandriopoulos, o conceito de intervenção pode ser substituído pelo de

práticas sociais, no qual as práticas de saúde estão inseridas. Frequentemente, as

práticas que constituem objeto de pesquisa avaliativa são políticas, programas e

serviços de saúde, considerados ação social planejada.

Para Minayo (2005), a avaliação de políticas ou programas de intervenção

social ou na área da saúde usualmente trabalha com instrumentos quantitativos,

analisa as estruturas dos programas, o processo operacional e os seus resultados. A

avaliação das estruturas contém informações tais como, recursos físicos, humanos,

materiais e formas de organização. A avaliação dos processos envolve as atividades

realizadas, incluindo-se os componentes técnicos e as relações interpessoais. E, a

análise dos resultados se refere aos efeitos e aos produtos que as ações e os

procedimentos provocam de acordo com a intervenção.

Diante das considerações expostas, o presente estudo tem como objeto a

avaliação do desempenho do Sistema de Notificação, Captação e Distribuição de

Órgãos e Tecidos no Piauí, no período 2001-2011.

1.2 Justificativa

O desenvolvimento dos transplantes de órgãos e tecidos é uma conquista

incontestável para a sociedade em geral e o sistema de saúde. Especificamente no

Brasil, esses procedimentos merecem destaque na medida em que mais de 90%

dos transplantes são financiados por um sistema público de saúde, o SUS.

A primeira aproximação da mestranda com o tema ocorreu ainda na

graduação quando, em uma unidade de terapia intensiva, houve a oportunidade de

assistir pacientes em estágio avançado de doença renal, aguardando em fila de

espera para o transplante. Nesse período, percebeu-se a vulnerabilidade dos

pacientes com sérias complicações renais, bem como a fragilidade do serviço de

saúde para o alcance da resolubilidade de suas ações diante da necessidade do

transplante.

Outro momento de aproximação com o tema ocorreu atuando como

enfermeira do serviço de urgência de um hospital de médio porte do município de

19

Teresina, vivenciando a experiência do óbito inevitável e o compromisso profissional

de contatar os serviços responsáveis pela notificação e captação de órgãos e

tecidos.

Quanto à avaliação de programas, a mestranda teve a experiência técnica

de implantar o processo de monitoramento e avaliação da Política de Saúde Mental

de um município no interior do Estado, advindo desta a afinidade com a avaliação

em saúde.

No Brasil, os transplantes fazem parte das políticas de Saúde Pública,

estando a distribuição de órgãos e tecidos sob o controle público. Desse modo, o

processo avaliativo dessa política torna-se relevante, contribuindo para a melhoria

dos mecanismos de gestão e da qualidade da assistência prestada.

A natureza complexa dos procedimentos envolvendo os transplantes exige a

disponibilidade de vários níveis de atividades e recursos humanos, necessitando

grandes investimentos de ordem política, financeira e logística. Entretanto, a maioria

das avaliações do setor de transplantes concentra o foco em um determinado

aspecto dessa política.

Existe uma carência de pesquisas avaliativas do setor de transplantes que

contemplem estrutura, processo e resultados, identificando fragilidades e

objetivando auxiliar para tornar o sistema mais efetivo.

Assim, tendo em vista o reconhecimento da magnitude das atividades

relacionadas aos transplantes, e que melhorias na dinâmica de funcionamento deste

serviço exercerão impactos significativos sobre a vida de milhares de pacientes, o

presente estudo poderá fornecer subsídios aos gestores, usuários do sistema e

sociedade com vistas ao fortalecimento e aprimoramento das ações voltadas para a

melhoria das práticas em saúde na área dos transplantes.

1.3 Objetivos

Geral

Avaliar o desempenho do Sistema de Notificação, Captação e Distribuição

de Órgãos e Tecidos no Piauí, no período 2001 a 2011.

20

Específicos

Avaliar aspectos relacionados à estrutura do Sistema de Notificação,

Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos no Piauí;

Avaliar os aspectos relacionados ao processo de trabalho dos profissionais

no Sistema de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos no Piauí;

Analisar a evolução dos transplantes realizados no Piauí no período 2001 a

2011;

Construir um modelo lógico de avaliação do Sistema Notificação, Captação e

Distribuição de Órgãos e Tecidos no Piauí.

21

2 REVISÃO DE LITERATURA

Para permitir o embasamento teórico ao estudo serão abordados os

seguintes temas na revisão de literatura: Desenvolvimento dos Transplantes,

Sistema Nacional de Transplantes e Avaliação em Saúde.

A escolha desses temas ocorreu em virtude da relevância no contexto da

temática abordada e da pertinência para o objeto do presente estudo.

2.1 Desenvolvimento dos Transplantes

Durante muitos anos, os cientistas pensaram sobre a possibilidade de

substituir um órgão doente por um saudável de um organismo doador. No entanto,

os primeiros experimentos não foram bem sucedidos e apresentavam altas taxas de

mortalidade.

Segundo Chaib et al. (2000), a prática da transfusão sanguínea e a

compreensão dos mecanismos de compatibilidade/incompatibilidade, desenvolvida

pela necessidade na Primeira Guerra Mundial, e os modelos experimentais de

cirurgia vascular realizada por Alexis Carrel, demonstrando viabilidade de

anastomoses arteriais e venosas, foram eventos importantes na história do

desenvolvimento dos transplantes.

Os transplantes de órgãos não vitais tiveram início no começo do século XX,

com enxertos de pele para casos de queimaduras e transplantes de córnea. Estes

últimos tiveram sua prática consolidada em 1944, com a inauguração do primeiro

banco de olhos, em Manhattan, nos Estados Unidos (PEREIRA, 2000). A primeira

experiência de transplante de medula óssea em humanos ocorreu em 1957, quando

cientistas infundiram sangue retirado de medula óssea em alguns pacientes já

tratados com quimioterapia e radioterapia. Em 1959, dois pacientes com leucemia

aguda linfoblástica foram tratados com infusão de medula óssea de seus irmãos

gêmeos e radioterapia. Os cientistas obtiveram êxito na constituição hematológica,

porém, ocorreu a recidiva da doença (FERREIRA et al., 2006).

Apenas em 1954, foi realizado um transplante renal com sucesso, por

Joseph Murray, em Boston, com gêmeos idênticos. E, em 1962, ocorreu o primeiro

transplante renal feito com um doador cadáver. O primeiro transplante cardíaco foi

realizado em 1967, pelo sul-africano Christian Barnard. Em 1965, foi realizado o

22

primeiro transplante de órgão sólido no Brasil, tendo sido um transplante renal, e em

1968, foi realizado o primeiro transplante cardíaco no país, sendo o 170 no mundo

deste tipo (PEREIRA, 2000).

Boing (2008) relata que a prática dos transplantes enfrentou inúmeras

dificuldades até a década de 80. Tais dificuldades consistiam em problemas na

seleção dos pacientes, dos doadores de órgãos, na manutenção dos órgãos, na

rejeição e nas taxas de infecção, a maioria dos pacientes transplantados morria no

pós-operatório. A importância da imunidade celular no processo de rejeição dos

enxertos foi identificada, juntamente com a necessidade do desenvolvimento dos

protocolos de imunossupressão. No final da década de 60 até o início da década de

80, as pesquisas nessa área objetivavam o desenvolvimento de novas drogas

imunossupressoras e os primeiros fármacos apresentavam uma ação

imunossupressora considerável, porém com efeitos colaterais expressivos, incluindo

a neurotoxicidade e a nefrotoxiciddade. Apenas em 1983, a ciclosporina, uma nova

droga mais seletiva e apresentando menos efeitos colaterais, tornou o transplante

um procedimento efetivo, aumentando a taxa de sobrevida e a qualidade de vida dos

pacientes.

Sendo assim, a década de 90 assistiu grandes avanços na área dos

transplantes e consequente aumento no número dos mesmos. O desenvolvimento

da imunossupressão, da preservação de órgãos e tecidos, o aperfeiçoamento das

técnicas cirúrgicas e medidas de suporte hemodinâmico e ventilatório foram fatores

que viabilizaram os transplantes como terapêutica eficaz, proporcionando esperança

para a vida de muitos pacientes com patologias crônicas e falência de órgãos

(BOING, 2008).

Paralelamente, os transplantes desenvolveram-se em meio a sérios

questionamentos éticos e morais. De um lado, a busca pela conduta terapêutica, por

outro, problemas de ordem ética suscitaram discussões pela comunidade científica,

religiosa e a sociedade em geral. Os transplantes não conseguiram ficar restritos às

discussões científicas entre profissionais de saúde e despertaram questões

fundamentais para toda a sociedade, tais como os anseios relacionados à

experiência de propiciar a vida após a morte, aos procedimentos experimentais, ao

direito de cidadania, incluindo o direito sobre o próprio corpo, o respeito à decisão

familiar, a fila de espera para transplantes (LAMB, 2000).

23

Atualmente, os transplantes tornaram-se procedimentos bem estabelecidos,

e o desenvolvimento de diversas áreas do conhecimento, tais como a imunologia, a

hematologia, a hemoterapia, a enfermagem, permitiu aos transplantes serem

considerados, muitas vezes, além de melhor a única alternativa para a vida do

paciente (ROZA et al., 2006). Estima-se que hoje mais de 80% dos transplantes são

realizados com sucesso, reintegrando o paciente à sociedade (ABTO, 2010).

Atualmente, os transplantes convivem com outros problemas e a oferta de

órgãos é um dos principais. Para Boing (2008), o número de pacientes necessitando

de transplantes aumentou, mas a oferta de órgãos não acompanhou esse

crescimento, tornando-se, assim, a escassez de órgãos um dos maiores problemas

para operacionalização dos transplantes.

2.2 Sistema Nacional de Transplantes

No Brasil, a sistematização das atividades envolvendo transplantes é

relativamente recente. A promulgação da Lei federal 9.434, em 1997, instituiu o

Sistema Nacional de Transplantes como coordenação do Ministério da Saúde

responsável pela operacionalização da Política Nacional de Transplantes em todo o

território nacional. Essa lei constitui a base do arcabouço legal para os transplantes,

e instrumentalizou estados e municípios para desenvolverem as ações relacionadas

a esses procedimentos (BRASIL, 2012).

A Lei 9.434/97 estabelece a proibição da comercialização de órgãos, a

autorização prévia para estabelecimentos de saúde, público ou privado, e para

equipes médico-cirúrgicas para a realização de transplantes e institui a

obrigatoriedade do diagnóstico de morte encefálica para a retirada post-mortem de

órgãos sólidos. Segundo a Resolução CFM n0 1.480/97, a morte encefálica é

definida como a situação irreversível das funções respiratória e circulatória ou

cessação irreversível de todas as funções cerebrais, incluindo o tronco cerebral

(CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 1997).

Adicionalmente, a lei n0 10.211/01 altera alguns dispositivos da lei no 9.434

tais como, institui a exigência do consentimento familiar para doação de órgãos e

tecidos e autorização judicial para transplantes intervivos não aparentados (BRASIL,

2001).

24

De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012), a Política Nacional de

Transplantes tem como diretrizes a gratuidade da doação, o benefício em relação ao

receptor e o não prejuízo em relação ao doador, estabelecendo garantias e direitos

aos pacientes que necessitam desses procedimentos. O SNT regula toda a rede

assistencial através de autorizações e credenciamentos para funcionamento de

equipes e instituições que realizam transplantes.

As Centrais de Transplantes Estaduais (CNCDO) e a Central Nacional

(CNNCDO) são responsáveis pelo gerenciamento e manutenção do cadastro dos

potenciais receptores em âmbito regional e nacional, respectivamente. A inscrição

dos pacientes deve ser realizada pelo estabelecimento de saúde e/ou pela equipe

responsável pelo seu atendimento (BRASIL, 2009). Segundo a Portaria no 3.407/98,

a fila para transplantes de cada órgão é única e obedece a critérios tais como, a

ordem de chegada de acordo com a data de inscrição, a compatibilidade, a

prioridade por urgência (BRASIL, 1998).

Para Marinho (2006), o SNT confere transparência aos transplantes de

órgãos e tecidos, registrando informações gerais sobre o sistema, incluindo número

de transplantes, equipes e instituições autorizadas, custos etc.

Os transplantes são um dos itens da lista de procedimentos de alta

complexidade, ou seja, que envolvem alta tecnologia e alto custo do SUS. Exemplos

de outros procedimentos que pertencem à esta lista são diálise, radioterapia,

quimioterapia, neurocirurgia, cirurgia cardiovascular, etc (DE LAVOR et al., 2011).

Com o objetivo de ampliar a captação de órgãos pelo sistema e

instrumentalizar as CNCDOs para articulação com as unidades hospitalares, a

Portaria n0 1.752/05 instituiu as Comissões Intra-hospitalares de Doação de Órgãos

e Tecidos (CIHDOTT). Estas devem estar presentes em todos os hospitais públicos,

privados e filantrópicos que possuam mais de 80 leitos. As principais atribuições da

CIHDOTT são: detecção precoce de doadores potenciais no hospital onde atua;

viabilização do diagnóstico de morte encefálica, de acordo com o preconizado pela

Resolução CFM 1.480/97; articulação com a CNCDO do respectivo estado e,

estabelecimento de rotinas para subsidiar os familiares de pacientes falecidos para a

possibilidade de doação de órgãos e tecidos (BRASIL, 2005). A CIHDOTT deve

realizar o registro de todos os potenciais doadores, ainda que a doação não seja

efetivada.

25

O SNT considera potencial doador o paciente com protocolo aberto para o

diagnóstico de morte encefálica; doador efetivo, o doador em morte encefálica do

qual foi removido pelo menos um órgão sólido, devendo ser excluídos doadores

apenas de tecidos: córnea, válvulas, ossos, etc; E, doador de tecidos, o doador em

parada cardiorrespiratória cuja captação de pelo menos um tecido foi realizada

(BRASIL, 2012).

Ainda considerando a necessidade de implementar estratégias para a

melhoria do processo de doação/transplante e a efetivação de doadores, as

Organizações de Procura de Órgãos e Tecidos (OPO) foram criadas pela Portaria n0

2.601/09. A OPO constitui-se em organismo supra-hospitalar responsável por

organizar e apoiar, no âmbito de sua atuação, atividades relacionadas à doação de

órgãos e tecidos, dentre elas a manutenção do possível doador, busca de solução e

a construção de parcerias quando identificadas fragilidades no processo de doação.

De acordo com esta portaria, cada OPO deve ter metas qualitativas e quantitativas

definidas anualmente, e estar presente em cada capital e nos principais

aglomerados urbanos do país, na razão aproximada de uma OPO para cada dois

milhões de habitantes, considerando a distribuição geográfica da população e o

perfil da rede assistencial existente (BRASIL, 2009).

O SNT visa permitir a confiabilidade nas ações envolvendo transplantes e,

simultaneamente, proporcionar uma assistência de qualidade e efetiva para

doador/receptor. Para isso considera a importância de promover mecanismos com

vistas à estruturação e funcionamento do sistema que viabilizem o aumento do

número de notificações, captações e doações de órgãos e tecidos (BRASIL, 2012).

De acordo com Marinho (2006), o SNT é uma conquista do sistema de

saúde brasileiro, e sua atuação torna-se ampliada quando considerado que é um

dos maiores sistemas públicos de transplantes do mundo. No entanto, o SNT

convive com problemas operacionais, existe um desperdício de órgãos e tecidos,

baixos índices de notificações e uma desproporção entre doadores de órgãos e

receptores aguardando em fila de espera.

Apesar dos desafios, o Brasil apresenta um crescimento sustentado no

número de transplantes realizados nos últimos anos. Em 2009, ocorreram 20.253

cirurgias de transplantes, significando um aumento de 59,2% em relação a 2003. O

transplante de medula óssea, realizado no Brasil desde 1979, teve um aumento de

57,51% em número de procedimentos entre 2003 e 2009. Isso ocorreu devido a

26

investimentos destinados à ampliação de centros de transplantes de medula óssea e

instalação de novos leitos para realização de cirurgias. Como resultado, o Registro

Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME) atingiu a marca de 1,9 milhão

de doadores registrados, sendo considerado o terceiro maior banco do gênero no

mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha. Desde de 2009 os

registros do REDOME foram integrados ao National Marrow Donor Program, maior

rede de registros de doadores de medula óssea do mundo (DE LAVOR et al., 2011).

Segundo a ABTO (2010), em 2010 o setor de transplantes atingiu a marca

de 9,6 doadores efetivos por milhão da população (pmp), ficando próximo ao

objetivo proposto de 10 doadores pmp, ocorrendo um aumento de 13,8% em relação

a 2009. A taxa de notificação de potenciais doadores foi de 36,5 pmp, e a de

efetivação da doação cresceu 3,5% em relação ao ano anterior. Os estados que se

destacaram na notificação de potenciais doadores foram Distrito Federal, com 77,4

pmp, e São Paulo, com 63,8 pmp. Nenhum estado atingiu a taxa de efetivação de

doação proposta de 40%. Dentre outros transplantes, foram realizados 4.630

transplantes renais, com a meta de 4.800, significando um aumento de 8% em

relação a 2009, sendo 64,6% com doador falecido, a maior taxa já obtida. Houve um

aumento de 17,2% na taxa de transplantes com doador falecido e queda de 5,7%

com doador vivo.

Em 2011, foram realizadas 7.238 notificações de potenciais doadores, o que

correspondeu a uma taxa de 37,9 pmp. No entanto, apenas 2.048 doadores efetivos

foram registrados, com uma taxa de 10,7 pmp. Destes, 73% foram doadores de

múltiplos órgãos e, 72% dos potenciais doadores não tiveram a doação efetivada.

Em relação aos transplantes, foram realizados 4.957 transplantes renais, 1.492

hepáticos, 160 de coração, 14.696 de córneas. Ao todo foram totalizados 47.108

transplantes considerando órgãos, tecidos e células (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA

DE TRANSPLANTES ÓRGÃOS, 2011).

No primeiro trimestre de 2012, a taxa de notificação de potenciais doadores

foi de 42 pmp, e sete estados alcançaram a marca de 50 notificações por milhão da

população, são eles: Distrito Federal, São Paulo, Espírito Santo, Santa Catarina,

Acre, Mato Grosso do Sul e Pernambuco. A taxa de doadores efetivos foi de 13,1

pmp e a taxa de doadores efetivos com órgãos transplantados foi de 12,5 pmp. Em

relação aos transplantes, houve um crescimento de 5,1% dos transplantes renais,

com aumento de 19% no número de transplantes com doador falecido e uma

27

redução de 21,7% com doador vivo. Os transplantes hepáticos cresceram 9,9% (8,6

pmp) e, nessa modalidade, se destacaram os estados de Santa Catarina, São

Paulo, Ceará e Pernambuco. Houve também um aumento significativo nos

transplantes de pulmão e de coração (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE

TRANSPLANTES ÓRGÃOS, 2012).

De acordo com Boing (2008), a carência de doadores de órgãos é um

grande obstáculo para a efetivação dos transplantes no Brasil. Fatores como

problemas estruturais de organização dos serviços de saúde, da dinâmica da

atuação dos profissionais de saúde, além de problemas culturais concorrem para

essa limitação.

Dessa forma, reconhecendo a enorme complexidade das tarefas do SNT em

um sistema público de saúde com grandes responsabilidades, afirma-se a

necessidade de avaliações permanentes (MARINHO; CARDOSO, 2007).

2.3 Avaliação em Saúde

Para Worthen et al. (2004), a história da avaliação formal, ou seja, o uso

sistematizado de informações e critérios para atribuir valores e juízos de valor, é

muito mais longa e respeitável do que se imagina. No setor público, esse tipo de

avaliação já era evidente desde 2.000 a.C, quando servidores públicos chineses

faziam provas com o objetivo de medir seu desempenho. No entanto, a avaliação

durante muitos anos restringiu-se a determinadas áreas, como a educacional. A

pesquisa social expandiu-se durante a Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de

examinar os programas governamentais para auxilio dos militares.

Segundo Contandriopoulos et al. (1997), após a Segunda Guerra Mundial

surgiu o conceito de avaliação dos programas públicos. Nesse período, o Estado

passou a substituir o mercado e procurava encontrar meios para que a alocação de

recursos fosse a mais eficaz possível. Os economistas, então, elaboraram métodos

para avaliar os programas públicos, sendo os pioneiros na avaliação de programas.

No entanto, as abordagens elaboradas pelos economistas mostraram-se

inadequadas para aplicação em programas sociais, de saúde e educação.

As pesquisas de avaliação na área de saúde surgiram de forma

sistematizada, na década de 70, inicialmente nos países desenvolvidos, associadas

à expansão da atenção em saúde e do desenvolvimento científico (NOVAES, 2000).

28

De acordo com Vieira-da-Silva (2005), a prática da avaliação expandiu-se

consideravelmente no final do século XX, com aumento significativo na produção

científica sobre o tema e na institucionalização da avaliação por parte dos

programas e serviços. O campo da avaliação possui como características a

diversidade conceitual e metodológica e a multiplicidade de questões pertinentes.

A transferência de metodologias de avaliação em saúde para os países em

desenvolvimento foi realizada através de intercâmbio científico com os países

desenvolvidos e de estímulo de organizações internacionais tais como, Organização

Mundial de Saúde, Organização Pan- Americana de Saúde e Banco Mundial, para a

realização de projetos de pesquisa com propostas metodológicas de avaliação

(NOVAES, 2000).

A avaliação consiste fundamentalmente em realizar um julgamento de valor

a respeito de uma intervenção ou sobre um de seus componentes, objetivando

ajudar na tomada de decisões. Esta avaliação pode ser normativa, resultante da

aplicação de critérios e normas ou uma pesquisa avaliativa, elaborada a partir de um

procedimento científico (CONTANDRIOPOULOS et al.,1997).

De acordo com Minayo (2005), avaliar significa julgar, estimar, medir,

classificar, analisar criticamente algo. Esse processo deve ser realizado

sistematicamente, enfatizando que a avaliação deve ser incluída no processo de

planejamento das ações e tem o papel de subsidiar a gestão visando melhorar o

desempenho das pessoas e instituições. A avaliação é um componente essencial

das práticas em saúde, especialmente a saúde pública, promovendo o levantamento

de informações pertinentes, relacionando-as com os resultados das ações em

saúde.

A avaliação é um conceito de múltiplas versões, não tendo uma definição

única, dispondo de uma imensa diversidade terminológica. Assim tem que ser

compreendida no contexto em que é pensada e a partir das perguntas avaliativas

que se pretende responder (VIEIRA-DA-SILVA, 2005).

Os serviços, por sua própria expansão, passaram a ser considerados

produtos a partir da década de 60, portanto, passíveis de serem avaliados quanto à

qualidade. Esse atributo, além da sua importância no setor privado, ganhou

visibilidade também nos serviços oferecidos pelo setor público, como conseqüência

do estabelecimento e fortalecimento dos direitos sociais do cidadão e dos

consumidores. Dessa forma, os serviços de saúde foram igualmente envolvidos

29

nesse movimento, quando a avaliação da qualidade associada à gestão passou a

ser desenvolvida com certa regularidade (NOVAES, 2000).

De acordo com Donabedian (1988), a idéia de qualidade deve estar presente

em todos os tipos de avaliação, considerando que um julgamento de valor positivo

está relacionado também com a qualidade. Para esse autor, a avaliação da

qualidade dos serviços deve ter como base aspectos conceituais e operacionais.

O ponto de partida para avaliação da qualidade consiste na definição do que

será considerado qualidade, a depender do contexto, da situação e das

particularidades do serviço. Desse modo, a qualidade deve ser construída em cada

avaliação por meio dos seguintes parâmetros, denominados pilares da qualidade,

que são: eficácia, efetividade, eficiência, otimização, aceitabilidade, legitimidade e a

equidade. A avaliação em saúde deveria, então, considerar esses aspectos

(DONABEDIAN, 1990).

A eficácia é a capacidade da ciência da medicina produzir melhoria na

saúde, significa o que melhor se pode fazer nas condições mais favoráveis; a

efetividade é a capacidade de produzir melhoria na saúde com base nas condições

usuais da prática cotidiana das ações de saúde; a eficiência é o componente da

qualidade que mede o custo com o qual uma das melhorias na saúde é alcançada; a

otimização é o componente que avalia os efeitos do cuidado em saúde relativamente

aos custos; a aceitabilidade trata da adaptação do cuidado aos desejos,

expectativas e valores dos pacientes e seus familiares, este componente inclui a

acessibilidade do cuidado, as características da relação médico-paciente e as

condições de conforto favorável à prestação do cuidado; a legitimidade diz respeito a

aceitabilidade do cuidado da forma como é visto pela sociedade em geral; e, a

equidade é o componente que determina a distribuição do cuidado e seus benefícios

de forma justa e proporcional entre a população (DONABEDIAN, 1990).

Segundo Worthen et al. (2004), deve-se distinguir a avaliação formativa da

avaliação somativa. A primeira é realizada para análise e produção de informações

úteis à melhoria do programa, voltando-se, frequentemente, para a fase de

implantação do programa. A segunda é realizada para análise e produção de

informações relacionadas ao período pós implantação do programa, objetivando

analisar os resultados. Tanto a avaliação formativa quanto a somativa são

essenciais e identificam informações necessárias durante os estágios de

desenvolvimento do programa.

30

A avaliação de resultados e efeitos deve ser realizada quando o programa já

está em funcionamento durante muito tempo, ou então, já encerrou suas atividades.

Apresenta relevância indiscutível visto que todas as atividades de um programa são

realizadas em função dos resultados (PASTANA, 2002).

De acordo com Viacava et al. (2004), o desempenho está relacionado ao

grau de alcance dos objetivos de um determinado programa ou serviço. É sempre

definido em relação ao cumprimento de objetivos e funções. Por sua vez, a

avaliação de desempenho de um serviço, incluindo os serviços de saúde, exige

clareza quanto aos princípios, objetivos e metas que se pretende avaliar. Esse tipo

de avaliação passou a ser um instrumento importante para a reestruturação de

programas públicos, notadamente, os serviços de saúde. Desse modo, houve uma

mudança do foco da avaliação, dos processos para os resultados ou produtos das

ações desenvolvidas. A avaliação de desempenho é relevante, visto que constitui

um instrumento de monitoramento de políticas. Deve ser esclarecido que os

objetivos constituem a situação que se pretende atingir com a realização das ações

e são estabelecidos antes do programa ser implantado. Por outro lado, os efeitos

constituem os resultados das ações durante ou após o programa.

Segundo Arreaza e Moraes (2010), os modelos de assistência à saúde são

considerados um modo de combinar tecnologias para intervir sobre problemas e

atender as demandas sociais de saúde, sendo uma maneira de organizar os meios

de trabalho utilizados nos serviços ou programas de saúde para o alcance dos

objetivos. A importância da teoria na avaliação em saúde deve ser ressaltada, pois

contribui para a elaboração de modelos lógicos. Estes permitem identificar a

complexidade das relações e das práticas envolvidas entre as etapas e os

componentes de determinado programa.

Segundo Medina et al. (2005), o modelo lógico de um programa representa

um esquema de sua constituição, seus componentes e operacionalização,

discrimina as etapas necessárias para transformar os objetivos do programa em

ações. É compreendido como um esquema visual que explicita como um programa

deve ser idealmente e que resultados são esperados, descrevendo o fundamento

lógico do programa ou política. Apresentar o modelo lógico de um programa permite

definir o que deve ser avaliado e qual a parcela de contribuição do programa nos

resultados esperados.

31

Em um modelo lógico devem constar os componentes do programa, os

serviços relacionados, as práticas requeridas e os resultados esperados, suas metas

e efeitos (MEDINA et al., 2005). Desse modo, deve incluir a população-alvo, as

condições do contexto, o conteúdo do programa ou atributos necessários. A

construção do modelo lógico pode derivar de várias fontes tais como, resultados de

pesquisas, normas técnicas, experiência de gestores e avaliadores (OLIVEIRA et al.,

2010).

Os avaliadores consideram os modelos lógicos extremamente práticos, pois

auxiliam não apenas no estabelecimento de metas e objetivos, mas também na

construção de um instrumento de avaliação adequado. Ao realizar uma explicação

das sequências causais que articulam meios e fins do programa, a construção do

modelo lógico constitui etapa fundamental para melhor compreender o foco da

avaliação (OLIVEIRA et al., 2010).

Ademais, as pesquisas de avaliação de políticas e programas permitem que

formuladores e gestores tomem decisões com maior qualidade, otimizando recursos

públicos no desenvolvimento das atividades, identificando fragilidades e destacando

as ações efetivas dos programas (OLIVEIRA et al., 2010).

Para Minayo (2005), a avaliação de políticas tradicionalmente analisa as

estruturas dos programas, como se processam e quais são seus resultados. A

avaliação das estruturas contempla informações a respeito de recursos físicos,

materiais, humanos e formas de organização e funcionamento, bem como as

tecnologias disponíveis. A avaliação dos processos refere-se às atividades

desenvolvidas pelos realizadores da intervenção, incluindo os componentes técnicos

e as relações interpessoais. E, a avaliação de resultados refere-se aos efeitos e aos

produtos que as ações e os procedimentos provocam.

Considerando o exposto, a avaliação em serviços de saúde é ou deve ser

um processo habitual e cotidiano na gestão, cujos elementos devem ser articulados

com as ações técnicas e administrativas. A avaliação é parte integrante do

planejamento e indispensável para subsidiar a tomada de decisões. É uma tarefa

que deve ser assumida por gestores e trabalhadores dos serviços de saúde

(TANAKA; MELO, 2004).

32

3 MATERIAL E MÉTODO

3.1 Tipo de Estudo

A presente pesquisa trata-se de um estudo avaliativo por triangulação de

métodos.

A pesquisa avaliativa consiste em fazer um julgamento de uma intervenção

usando métodos científicos. Analisa a pertinência, os fundamentos teóricos, a

produtividade, os efeitos, o rendimento, as relações existentes entre a intervenção e

o contexto no qual ela se situa (CONTANDRIOPOULOS et al., 1997). Corresponde

ao julgamento sobre as práticas sociais e suas características em um determinado

contexto, por meio de métodos e técnicas científicas (VIEIRA-DA-SILVA, 2005).

Segundo Minayo (2005), a avaliação por triangulação de métodos permite ir

além das duas formas conhecidas de abordagem, a quantitativa e a qualitativa.

Configura-se em uma metodologia que integra análise das estruturas, processos e

resultados e a compreensão das relações envolvidas nesses itens, identificando

múltiplos pontos de vista e utilizando uma variedade de técnicas de coleta de dados.

Na avaliação por triangulação de métodos, as abordagens, baseadas na

dialética, são complementares, combinando questões objetivas e subjetivas,

privilegiando a análise do contexto e das relações. A proposta de triangulação de

métodos amplia o espectro de contribuições teórico-metodológicas, de forma a

perceber as estruturas, a ação dos sujeitos, indicadores e relações entre as

realidades (MINAYO, 2005).

3.2 Local do Estudo

O estudo foi desenvolvido no município de Teresina-PI, nos espaços físicos

da Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos (CNCDO),

da Organização de Procura de Órgãos (OPO), da Comissão Intra-hospitalar de

Doação de Órgãos e Tecidos (CIHDOTT) do Hospital de Urgências de Teresina

(HUT), e do Banco de Tecidos Oculares (BTOC), unidades que atuam no Sistema de

Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos no Piauí. Ressalta-se que

a OPO e o BTOC funcionam no Hospital Getúlio Vargas (HGV), hospital público

estadual de alta complexidade.

33

3.3 População do Estudo

A população do estudo foi constituída pelos profissionais dos serviços aqui

referidos: enfermeiros, médicos, assistente sociais e psicólogos, totalizando 32

profissionais. Para a composição da amostra foram utilizados os seguintes critérios

de inclusão: estar vinculado à instituição e atuar no processo doação/transplante há

pelo menos um ano. A amostra foi constituída de 29 sujeitos (n=29), respeitando os

critérios de inclusão tendo em vista que 3 sujeitos não foram entrevistados por não

atenderem a esses critérios.

3.4 Instrumentos para Coleta de Dados

Para a coleta de dados foram utilizados quatro instrumentos, construídos

pela pesquisadora: o primeiro foi um formulário, tipo check list, contemplando

informações a respeito da dimensão estrutura do Sistema de Notificação, Captação

e Distribuição de Órgãos e Tecidos no Piauí (Apêndice A).

O segundo instrumento, também destinado à coleta de informações

relacionadas à estrutura, constituiu-se de um plano de observação (Apêndice B)

utilizado conjuntamente à aplicação do check list, no qual a observação sistemática

foi utilizada. Esta técnica é frequentemente utilizada em pesquisas que possuem

como objetivo a descrição precisa dos fenômenos. Para tanto deve ser elaborado

um plano que estabelece o que deve ser observado, levando em consideração os

objetivos da pesquisa.

Tanto o check list quanto o plano de observação sistemática utilizados

buscaram identificar as condições gerais de estrutura oferecidas pelos serviços,

baseado nas seguintes categorias: ambiente; materiais, equipamentos e insumos;

logística e meios diagnósticos; gerenciamento e organização do trabalho.

O terceiro instrumento consistiu de um roteiro semi-estruturado (Apêndice

C), no qual foi utilizada a entrevista como técnica para coleta de dados. O roteiro de

entrevista foi constituído de duas partes: a primeira, contendo informações a respeito

de características dos profissionais tais como, idade, sexo, tempo de atuação na

instituição e tempo de experiência no processo doação/transplante; e a segunda,

contendo questões referentes aos objetivos do estudo. Para as variáveis idade,

34

tempo de atuação na instituição e tempo de experiência no processo foram

considerados os anos completos.

O quarto instrumento consistiu em um formulário destinado à coleta de

dados do sistema de registro da CNCDO-PI e do Sistema de Informação de

Mortalidade (Apêndice D), caracterizando informações a respeito dos transplantes

desenvolvidos pelo Sistema de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e

Tecidos no Piauí no período 2001 a 2011, incluindo as seguintes variáveis: número

de potenciais doadores por ano; número de doadores efetivos por ano; tipos de

notificações a cada ano; número de não efetivação de doações por ano; causas da

não efetivação por ano; número de transplantes por ano; número de óbitos

hospitalares por ano; tipos de transplantes por ano; número de transplantes por

instituições públicas e privadas a cada ano; tipos de transplantes por instituições

públicas e privadas por ano; número de equipes e instituições autorizadas para

realizar transplantes por ano; número de pacientes em fila de espera a cada ano;

número de pacientes em fila de espera por tipo de transplante e tipos de doadores

falecidos ou intervivos por ano.

3.5 Procedimentos para Coleta de Dados

Considerando os objetivos pretendidos, o estudo contou com fontes de

informações diversas. Os dados relacionados à dimensão estrutura foram obtidos

mediante a aplicação do formulário tipo check list e do plano de observação,

necessário para atingir um nível de objetividade no registro do que foi observado.

Além desses, uma questão do roteiro de entrevista que contemplava a importância

das características físicas e organizacionais da instituição também foi utilizada para

a obtenção dos dados relacionados à estrutura. Foram realizadas também

anotações em diário de campo com o objetivo de contemplar informações

pertinentes ao processo de avaliação.

A aplicação do check list e do plano de observação nos quatro locais de

coleta foi realizada durante o turno diurno, em oito manhãs e oito tardes, totalizando

16 sessões de observação.

Os dados relacionados ao processo de trabalho foram obtidos mediante a

aplicação do roteiro de entrevista semi-estruturado aos profissionais que atuam nas

instituições que compõem o Sistema de Notificação, Captação e Distribuição de

35

Órgãos e Tecidos no Piauí. Não ocorreu recusa em conceder a entrevista por parte

de nenhum dos 29 profissionais, no entanto, quatro profissionais não aceitaram a

gravação. Desse modo, essas quatro entrevistas foram transcritas no momento da

coleta. Ressalta-se que um profissional cumpria escala de plantão tanto na Central

de Transplantes como na OPO, desse modo, esse profissional foi entrevistado uma

única vez, porém, referindo-se ao processo de trabalho da Central e da OPO.

Contemplando a evolução dos transplantes no período 2001-2011, foi

utilizado o formulário para coleta dos registros da CNCDO-PI e do SIM.

A coleta de dados teve início em 13 de outubro de 2011 e encerrou em 05

de maio de 2012, antecedendo-a, foi realizado um pré-teste com o objetivo de

avaliar a compreensão dos instrumentos aplicados e se todas as possibilidades de

respostas estavam presentes. O pré-teste para o roteiro de entrevista foi aplicado a

três profissionais, que não fizeram parte da amostra do estudo.

Para os dados secundários extraídos do sistema de registro da CNCDO-PI

no período 2001-2011 e do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) não foi

utilizado cálculo probabilístico de amostra, pois o estudo envolveu a totalidade dos

dados. Os dados relacionados ao número de óbitos hospitalares foram extraídos do

site do DataSUS (www.datasus.gov.br) e do SIM. Este último com o apoio da

Coordenação de Análise e Divulgação de Situação e Tendências em Saúde da

Secretaria Estadual de Saúde do Piauí.

Para os dados quantitativos foram suprimidas as variáveis: número de

notificações por ano; número de unidades hospitalares que notificaram por ano;

número de captações de órgãos e tecidos por ano; número de captações por

hospital por ano. A justificativa para essa alteração foi a inexistência de registros ou

inconsistência dos mesmos nos primeiros anos do período analisado. Diante dessa

limitação, optou-se também por alterar o período compreendido pelo estudo.

Outra limitação encontrada durante o pré-teste foi a discordância entre os

dados da CNCDO-PI e os dados disponibilizados pela Associação Brasileira de

Transplantes de Órgãos (ABTO) no que tange às causas de não-efetivação das

doações. Desse modo, optou-se por considerar os dados consolidados pela ABTO

na presente pesquisa para as seguintes variáveis: número de não-efetivação de

doações por não-autorização familiar; número de não-efetivação de doações por

contra-indicação médica; número de não-efetivação de doações por morte

encefálica não confirmada; número de não-efetivação de doações por infraestrutura

36

inadequada; número de não-efetivação de doações por parada cardiorrespiratória e

número de não-efetivação de doações por outros motivos. Assim, de um total de 36

variáveis, 6 foram retiradas do Registro Brasileiro de Transplantes, publicação oficial

e de domínio público da ABTO. E, 28 variáveis foram extraídas da CNCDO-PI. As

duas variáveis restantes foram coletadas, conforme já referido, do endereço

eletrônico do DATASUS e do SIM. Desse modo, constatou-se que todos os

instrumentos estavam adequados para a aplicação.

Ressalta-se que a classificação utilizada no Brasil para as causas de não

efetivação das doações possui um erro, já que considera a morte encefálica não

confirmada como uma das causas de não efetivação das doações de órgãos por

parte de um potencial doador. A Espanha, país cujo sistema de transplantes é

referência para outras nações, não adota essa classificação por considerar que não

existe potencial doador de órgãos com morte encefálica não confirmada

(ORGANIZACIÓN NACIONAL DE TRASPLANTES, 2012). As causas de não

efetivação para doação de órgãos existem em relação às pessoas que morreram.

No entanto, a classificação brasileira é utilizada pelas instituições oficiais, como o

SNT e a ABTO, sendo também adotada pela Central de Transplantes no Piauí.

Desse modo, esse estudo adotou a mesma classificação.

3.6 Organização e Análise dos Dados

Os dados provenientes do check list foram tabulados e os dados

provenientes do plano de observação foram organizados e dispostos na forma de

relatos das observações. Em seguida, essas informações foram analisadas

relacionando os itens observados aos teoricamente esperados.

As respostas da questão utilizada para a obtenção de dados sobre a

estrutura do sistema foram transcritas, classificadas e após foi elaborada uma

categoria para análise.

Com as entrevistas buscou-se compreender o processo de trabalho dos

profissionais envolvidos no Sistema de Notificação, Captação e Distribuição de

Órgãos e Tecidos.

Foi adotado no estudo o conceito de Faria et al. (2009) sobre processo de

trabalho. Este diz respeito ao modo como se realiza o trabalho ou o conjunto de

procedimentos pelos quais os trabalhadores atuam, por intermédio dos meios de

37

produção, sobre algum objeto para obterem determinado produto que possua uma

finalidade. Assim, os principais componentes do processo de trabalho são: os

objetivos ou finalidades, os meios, o objeto e os agentes. Os objetivos ou finalidades

definem a que se destina o processo de trabalho; os meios abrangem um amplo

espectro e podem ser divididos em meios materiais e não materiais. Os primeiros

contemplam os equipamentos, instrumentos, insumos e a estrutura física. Os

últimos se referem aos conhecimentos sistematizados ou não e as habilidades

utilizadas no processo de trabalho. As condições de trabalho são consideradas

meios. O objeto é algo sobre o qual se exerce a ação transformadora e os agentes

são os sujeitos ou profissionais que executam as ações.

Fazendo uma analogia com o processo doação/transplante, o objetivo é a

redução da fila de espera, obtida mediante o aumento de órgãos e tecidos

disponíveis para transplantes e o aumento do número de transplantes. Os meios

materiais são os insumos e equipamentos, tais como o transporte, o computador,

linha telefônica, internet, exames disponíveis. Os meios não materiais são o

conhecimento técnico sobre o processo. O objeto de trabalho é o potencial doador e

as famílias. E, os agentes, são todos os profissionais envolvidos no processo.

Desse modo, as entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra, e os

dados oriundos das entrevistas foram classificados. Após, foram elaboradas

categorias a partir dos depoimentos obtidos.

Os profissionais entrevistados foram designados na apresentação dos

resultados como A, se proveniente da CNCDO; B, se proveniente da OPO; C, se

proveniente da CIHDOTT e D, se proveniente do BTOC. Em seguida, foi colocado

um número arábico seguindo a ordem de realização da entrevista na respectiva

instituição. Exemplo: A1 designa o primeiro profissional entrevistado da CNCDO.

Durante o período analisado, dois acontecimentos marcaram a política de

transplantes no Piauí apresentando reflexos nas atividades envolvidas no processo

doação/transplante, especificamente na captação de tecidos oculares e na busca

ativa de potenciais doadores.

Assim, a instalação do BTOC em 2008, para a captação e armazenamento

de córneas, e a implantação da OPO e da CIHDOTT no HUT em 2009 foram

intervenções importantes no setor de transplantes no estado. A inauguração de um

banco de olhos permitiu, pela primeira vez no Piauí, a disponibilização de um serviço

de captação e armazenamento de tecidos oculares com funcionamento 24 horas.

38

Paralelamente, a OPO e a CIHDOTT viabilizaram a descentralização da

busca ativa de potenciais doadores. Desse modo, a busca que até então era

realizada pelos profissionais da Central de Transplantes passou a ser realizada por

essas comissões com o objetivo de sensibilizar as equipes hospitalares para a

doação.

Os dados evidenciam a atuação do BTOC e das comissões no setor de

transplantes. Para isso, o período de 2001 a 2011 foi dividido em duas fases

distintas: a primeira de 2001 a 2008, período que antecedeu a implantação do

BTOC, da OPO e da CIHDOTT, e a segunda de 2009 a 2011, período após a

implantação desses serviços. Desse modo, além da análise do período como um

todo, foi realizada a análise do período após a implantação do BTOC, da OPO e da

CIHDOTT no HUT.

Assim, os dados provenientes do formulário utilizado para o levantamento

dos registros relacionados à evolução dos transplantes foram codificados, tabulados

e transportados para o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS,

versão 15.0 for Windows), objetivando a realização das análises estatísticas

pertinentes ao estudo.

Além da estatística descritiva, as variáveis foram submetidas ao teste de

Kolmogorov-Smirnov para avaliação da normalidade. Para as variáveis não-

paramétricas foi aplicado o teste de Mann-Whitney. E, para as variáveis

paramétricas foi utilizado o teste t de Student. O nível de significância adotado para

os testes foi de 5%.

O modelo matemático de regressão linear foi utilizado para a análise

estatística da variável número de potenciais doadores no período 2001 a 2011. A

fórmula utilizada foi a seguinte: Y= A+B*X, onde Y é o número de potenciais

doadores, A é uma constante, B é a taxa de aumento de potenciais doadores por

ano, e X é o número de anos.

Esses resultados foram dispostos em tabelas e gráficos para melhor

visualização dos dados.

3.7 Triangulação dos métodos e resultados

Para a análise final foi necessário sistematizar todos os resultados a partir

das dimensões propostas para o estudo. Inicialmente, foram retomadas as

39

dimensões orientadoras da avaliação do desempenho do Sistema de Notificação,

Captação e Distribuição de órgãos e tecidos no Piauí. Em seguida, os resultados e

discussões foram lidos cuidadosamente tantas vezes quanto necessário e foi

realizada a correlação entre as dimensões considerando o desempenho do sistema.

Em cada um dos resultados foi destacado o conteúdo essencial abordado e,

então, foi elaborado transversalmente o conteúdo síntese apresentando as

semelhanças, diferenças e conflitos contidos nas abordagens. Para tal, a matriz de

análise por triangulação de métodos e resultados foi construída, adaptada do estudo

de Mendes (2009). As setas ilustram a transversalidade entre os resultados e as

dimensões avaliadas para a construção do conteúdo síntese.

Quadro 1 – Matriz de análise por triangulação de métodos e resultados

Análise por triangulação de resultados Dimensões Avaliações

Chek list/ Observação sistemática

Profissionais Registros do sistema

Estrutura

Processo de trabalho

Evolução dos transplantes

Conteúdo síntese da triangulação dos resultados Estrutura, processo de trabalho e evolução dos transplantes

3.8 Aspectos Éticos

Para atender aos aspectos éticos das pesquisas envolvendo seres

humanos, conforme o que preconiza a Resolução n0196/96 do Conselho Nacional de

Saúde foi elaborado o termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A),

estabelecendo o compromisso de preservar a privacidade dos dados coletados, bem

40

como garantir o sigilo e o anonimato dos participantes. Foi esclarecido aos mesmos

que os resultados do estudo teriam como finalidade a elaboração de uma pesquisa

científica e a desistência poderia ocorrer a qualquer tempo quando o participante

considerasse conveniente.

O projeto foi apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade

Federal do Piauí (UFPI) e aprovado em 17/06/2011 (CAAE n. 0159.0.045.000-11).

Os resultados da presente pesquisa serão apresentados à Universidade

Federal do Piauí sob a forma de apresentação oral e escrita e, à Secretaria Estadual

de Saúde, por meio do relatório final.

41

4 Aspectos Relacionados à Estrutura

Ao avaliar a estrutura do Sistema de Notificação, Captação e Distribuição de

Órgãos e Tecidos no Piauí, os seguintes aspectos foram analisados: ambiente;

materiais, insumos e equipamentos; logística e meios diagnósticos; e gerenciamento

e organização do trabalho.

A CNCDO é o local que possui o ambiente mais estruturado em relação aos

demais. Observou-se uma recepção conjugada à sala de espera, uma sala para a

coordenação, uma sala para os computadores e o arquivo. Além disso, a Central de

Transplantes possui uma localização de identificação clara e próxima dos principais

hospitais de nível terciário de Teresina (Quadro 2).

Quadro 2 – Presença de itens relacionados ao ambiente nas instituições pesquisadas, Teresina, 2012.

Ambiente

Instituições CNCDO OPO CIHDOTT

BTO

C Recepção Sim Não Não Não Sala de espera Sim Não Não Não Sala da coordenação Sim Sim Sim Sim Identificação clara da localização Sim Não Sim Sim

O BTOC, a OPO e a CIHDOTT localizam-se dentro de instituições

hospitalares. Dessa forma, a OPO e a CIHDOTT contam com apenas uma sala e,

portanto, não possuem recepção e sala de espera.

O BTOC possui um espaço físico maior que a OPO e a CIHDOTT pela

necessidade de sala de recepção, processamento e armazenamento dos tecidos

oculares. Não possui recepção e nem sala de espera.

Quanto aos materiais, equipamentos e insumos, a Central de Transplantes,

a OPO e o BTOC possuem todos os itens esperados (Quadro 3). Ressalta-se que a

Central é o serviço que possui mais de um computador disponível para o processo

de trabalho dos profissionais.

42

Quadro 3 - Presença de materiais, equipamentos e insumos nas instituições pesquisadas, Teresina, 2012.

Materiais/ Equipamentos/ Insumos

Instituições CNCDO OPO CIHDOTT

BTO

C Computadores Sim Sim Sim Sim Acesso à internet Sim Sim Sim Sim Materiais administrativos suficientes Sim Sim Sim Sim Arquivo para registros Sim Sim Não Sim Disponibilidade de linha telefônica Sim Sim Sim Sim Disponibilidade de fax Sim Sim Sim Sim Caixa térmica para material biológico Sim Sim Não Sim

Apenas na CIHDOTT não se observou a existência de um arquivo adequado

para os registros necessários e a caixa térmica para o transporte de material

biológico.

No que tange à logística e aos meios diagnósticos, a CNCDO é o único

serviço dos quatro analisados que possui transporte disponível com motorista 24

horas (Quadro 4). Embora a OPO, o BTOC e a CIHDOTT não possuam transporte,

contam com o apoio da Central de Transplantes. A busca ativa, realizada

diariamente pela OPO e o BTOC em vários hospitais da rede nos turnos manhã,

tarde e noite, ocorre com o transporte cedido pela Central. No entanto, se a equipe

da CNCDO precisar utilizar o transporte, a busca ativa fica prejudicada.

Quadro 4 - Presença dos itens relacionados à logística e meios diagnósticos nas instituições pesquisadas, Teresina, 2012.

Logística e meios diagnósticos

Instituições CNCDO OPO CIHDOTT

BTOC

Disponibilidade de transporte Sim Não Não Não Disponibilidade de laboratório Sim Sim Sim Sim Disponibilidade do serviço de imagem Sim* Sim* Sim* Não

* Disponibilidade limitada.

O laboratório de imunogenética e biotecnologia (LIB) da UFPI e o laboratório

central (LACEN) são credenciados e disponíveis para a realização dos exames

necessários do potencial doador, tais como as sorologias e o exame de

histocompatibilidade (HLA).

43

Quanto ao serviço de imagem, o exame complementar para o diagnóstico de

ME é realizado em uma clínica particular conveniada com o SUS. O mesmo é feito

apenas de segunda a sexta-feira em horário comercial.

No item gerenciamento e organização do trabalho, a CNCDO possui uma

organização compatível com as atividades desenvolvidas. O espaço físico é dividido

de forma que, além das salas já citadas na categoria ambiente, a CNCDO conta com

uma copa/cozinha, um repouso para os profissionais e dois banheiros, um destinado

aos usuários do serviço e o outro destinado aos profissionais. O BTOC também

apresenta organização do ambiente compatível com as atividades desenvolvidas

(Quadro 5).

Quadro 5 - Presença dos itens relacionados ao gerenciamento e organização do trabalho na CNCDO-PI, na OPO, na CIHDOTT-HUT e BTOC, Teresina, 2012. Gerenciamento e organização do trabalho

Instituições

CNCDO OPO CIHDOTT

BTOC

Organização do ambiente Sim Não Não Sim Higiene e limpeza satisfatória Sim Sim Sim Sim Número de profissionais suficiente Sim Sim Sim Sim Disponibilidade de repouso Sim Não Não Não

A OPO e a CIHDOTT, por funcionarem em espaços físicos de menores

dimensões e de apenas um cômodo, não possuem um ambiente organizado em

relação à CNCDO e o BTOC. Os profissionais não dispõem de repouso e apenas a

OPO conta com um banheiro anexo para os profissionais. Assim, para a OPO e a

CIHDOTT o mesmo espaço físico contém a recepção administrativa, a coordenação

e o repouso. Embora o BTOC não tenha repouso em sua estrutura, o funcionário do

BTOC utiliza o mesmo repouso dos funcionários do HGV.

Os quatro serviços observados apresentam condições de higiene e limpeza

satisfatórias. Porém, apesar da CNCDO e da OPO serem serviços autônomos, o

serviço de limpeza é realizado por funcionários do HGV. Alguns serviços para a

OPO e o BTOC estão administrativamente subordinados ao referido hospital, como

é o caso da limpeza do ambiente e do fornecimento de refeições para os

funcionários, por funcionarem dentro dessa instituição hospitalar.

O funcionamento da Central de Transplantes é em regime de plantões. O

plantão diurno conta com uma enfermeira, uma assistente social, uma técnica de

44

enfermagem e um motorista; o plantão noturno com uma enfermeira, uma técnica de

enfermagem e o motorista. De segunda a sexta-feira pela manhã estão presentes as

coordenadoras. O Quadro 6 demonstra o quantitativo de profissionais da CNCDO e

dos outros serviços aqui referidos.

Quadro 6 – Número e tipo de profissionais existentes nas instituições pesquisadas, Teresina, 2012.

Profissionais CNCDO OPO CIHDOTT

BTOC

Nível superior Assistente social 4 - 1 - Enfermeiro 9 9 3 2 Médico 1 1 1 1 Psicólogo - - 2 -

Nível médio Auxiliar administrativo 1 1 - 1 Técnico de Enfermagem 7 - - 6 Motorista 4 - - -

Na OPO os plantões, diurno e noturno, contam apenas com o profissional

enfermeiro. Quanto à equipe da CIHDOTT, de segunda a sexta-feira pela manhã

estão presentes uma enfermeira e um psicólogo. À tarde, a assistente social e um

psicólogo. O plantão noturno conta com apenas um profissional, que se alterna de

acordo com a escala.

O BTOC possui uma equipe composta por duas enfermeiras, sendo que

uma gerencia o serviço de enfermagem; uma médica, coordenadora responsável

técnica; seis técnicos de enfermagem e uma secretária administrativa. O plantão

noturno no BTOC conta apenas com o técnico de enfermagem.

4.1 A importância das características físicas e organizacionais da instituição para a

atuação no processo doação/transplante

Considerando as características físicas e organizacionais das instituições

como uma condição que pode influenciar o processo de trabalho, a importância

dessas características foi relatada pelos profissionais.

Para os profissionais da CNCDO, a estrutura física atende às necessidades

do serviço, porém, algumas deficiências foram citadas tais como a inexistência de

45

sala para atendimento individual do enfermeiro e do assistente social e repouso para

o motorista, conforme mostram as falas a seguir:

...o que precisamos para o nosso trabalho, aqui na central, precisamente é todo o Sistema de Informação, temos vários equipamentos, roteadores interligados diretamente com o Ministério da Saúde, nós temos um sistema que funciona 24 horas on-line, diretamente com todo o Brasil, isto é extremamente importante... todos os documentos que os pacientes assinam aceitando, a família doando, nós temos que guardar durante 20 anos. É extremamente importante que tenhamos este espaço e o espaço para as nossas equipes também que ficam aqui 24 horas de plantão. (A13)

... aqui, no momento, a gente tem uma equipe com motorista, nós temos todo o equipamento necessário para o bom andamento do serviço.(A1)

...eu acho que aqui deveria ter uma estrutura melhor, ter mais computador pra gente, tem pouco, muito ruim, muito lento e tudo que a gente faz aqui vai para Brasília... não temos uma sala pra ninguém aqui é tipo uma recepção... eu acho que tinha que ter o repouso para o motorista, uma sala para a enfermeira e para a assistente social que vive todo dia aqui, né, o dia a dia. (A4)

...até que o espaço é bom, mas não existe uma distribuição desse espaço... os computadores que tinham que estar na recepção para a gente atender os pacientes com o prontuário dele aberto, a gente corre lá na sala do computadores volta para a mesa, corre lá e vem para cá, corre lá e vai para a recepção, porque nós trabalhamos no lugar da recepcionista. As recepcionistas não têm onde sentar, os motoristas não têm onde dormir. Então, tudo isso causa um mal-estar... (A11)

Quanto aos aspectos organizacionais da instituição, os profissionais

consideraram adequados ao processo de trabalho e apenas uma profissional criticou

a dependência da CNCDO em relação aos serviços de limpeza e nutrição do

Hospital Getúlio Vargas, tendo em vista que os serviços referidos estão diretamente

ligados à administração do HGV.

Então, o espaço físico é bom, mas não tem funcionário de limpeza, não tem servente, não tem auxiliar de cantina, nada. Na boa vontade do Getúlio Vargas, no dia que eles não querem mandar, não manda. Isso daqui não é vinculado ao Getúlio Vargas, é por empréstimo. Os outros setores da secretaria têm, porque que nós não temos? (A11)

46

Os profissionais da OPO relataram a inexistência de equipamentos

essenciais para o processo de trabalho e dificuldades organizacionais da instituição,

como a dependência financeira da secretaria de saúde e a vinculação organizacional

com o HGV.

... a gente tem alguns equipamentos que são imprescindíveis para o funcionamento do serviço, mas eu acho que ainda está muito lento na forma de andar... precisamos de muitos equipamentos pra definir melhor o papel da OPO, como por exemplo, a condição de trabalho pra se agilizar o processo de confirmação de morte encefálica. (B6)

... a gente tem que cobrir um raio de dois milhões de habitantes e só ficamos na capital, a capital só são 800 mil... então, como os recursos não chegaram por completo aqui na OPO, vai atrapalhar... porque não tem um carro, o carro é da Central de Transplantes, a gente não tem um motorista que é próprio da OPO. (B1)

Nós estamos ainda vinculados a um hospital. O ideal é que tivesse fora, com um local mais apropriado, tanto para receber os familiares, os profissionais de fora, dar treinamentos... essa estrutura ainda deixa muito a desejar, é preciso que ela melhore! (B3)

Os profissionais da CIHDOTT, pela inserção no ambiente hospitalar,

referiram a importância da estrutura hospitalar para a manutenção do potencial

doador e diagnóstico da morte encefálica como determinante para a estruturação

física e organizacional da instituição.

...muitos dos pacientes que estão no setor de urgência e pela superlotação, pela escassez de profissionais ou pelo baixo conhecimento a respeito acabam realmente passando despercebido... A outra grande dificuldade de organização seria o próprio diagnóstico como eu falei, preciso deslocar o meu doente pra um outro serviço pra fazer isso, traz um prejuízo, traz um risco grande para um potencial doador, porque ele pode ter uma parada cardíaca e inviabilizar o transplante ... (C6)

...a estrutura física é importantíssima e na atualidade está funcionando como entrave, porque se eu não tenho uma sala de emergência adequada pra manter um paciente em morte encefálica, ele não vai chegar ao final do diagnóstico dele, então, no final eu não vou ter um potencial doador de órgãos. A infra-estrutura hoje não é adequada nas salas de emergência, na sala de recuperação por falta de material adequado pra eu manter aquele paciente. E também o exame complementar que eu não tenho dentro do hospital. (C1)

47

... eu acho que o HUT é complexo, a gente trabalha com uma capacidade muito além da nossa, então é muito difícil exigir do serviço que ele acolha bem seus usuários quando ele não tem condições de fazer isso... a nossa estrutura hoje ela deixa muito a desejar. Eu acho que boa vontade tem e muito, mas isso é uma realidade do sistema público de saúde, você sabe disso! A gente recebe pacientes de outros estados, e os estados estão lá, o Maranhão está lá recebendo o dinheiro e o quê que acontece? Os pacientes vêm pra cá. (C4)

Os profissionais do BTOC relataram a existência de uma estrutura física

adequada e apoio da gestão do HGV.

... nós temos uma infra-estrutura muito boa, não precisava ser do tamanho que é, mas com a compreensão da direção do hospital, que valoriza e está investindo no Banco de Olhos... nosso material aqui é de qualidade, o hospital investe em qualificação profissional... (D1)

Os resultados evidenciaram que a CNCDO-PI e o BTOC possuem espaço

físico adequado e organizado para suas atividades. Porém, a OPO e a CIHDOTT

funcionam em espaços físicos de dimensões pequenas e, a OPO em especial,

possui instalações físicas improvisadas. Talvez, esse cenário não influencie

sobremaneira as atividades dessas comissões visto que, a busca ativa nos hospitais

da rede de saúde e entre os setores do próprio HUT, no caso da CIHDOTT, bem

como a organização para a captação de órgãos e tecidos devem ocorrer

diariamente, nos turnos manhã, tarde e noite.

Segundo Medina-Pestana et al. (2011), a instituição das OPOs e das

CIHDOTTs contribuiu para o processo de notificação de potenciais doadores e

captação de órgãos e tecidos. Esses serviços estabeleceram uma proximidade

maior das equipes assistenciais em UTIs e pronto-socorros e estão direcionados

para a detecção precoce de potenciais doadores.

Quanto aos materiais, equipamentos e insumos, observou-se que apenas a

CIHDOTT não contempla todos os itens do check list. Não foi observada a existência

de um arquivo para os registros necessários e a caixa térmica para o transporte de

material biológico.

Durante a observação sistemática, foi constatado que a CIHDOTT

desenvolve suas atividades desde a busca ativa, a detecção precoce do potencial

doador, a notificação do potencial doador à CNCDO-PI, o acompanhamento e a

48

confirmação do diagnóstico de ME, a entrevista familiar. A OPO é acionada para

viabilizar o envio das amostras de material biológico para os laboratórios

credenciados, bem como o BTOC é comunicado para a captação de córneas e outra

equipe de captação é solicitada para a retirada dos rins.

Assim, a CIHDOTT não faz uso constante da caixa térmica para material

biológico, pois não realiza o transporte desse material. Ressalta-se que, atualmente,

no Piauí existem equipes credenciadas apenas para a captação de córneas e rins.

Por outro lado, a existência de computadores com acesso à internet e a

disponibilidade de linha telefônica e fax é imprescindível para o estabelecimento de

uma comunicação rápida e eficaz entre os serviços aqui analisados, e a articulação

entre estes e as equipes de captação e transplantes.

Segundo a Portaria n0 2.600/09, as CNCDOs devem contar com

infraestrutura que contenha equipamentos de informática e comunicação, que

garantam a agilidade, a segurança e a transparência dos processos de inclusão de

potenciais receptores e distribuição de órgãos, tecidos, células ou partes do corpo

(BRASIL, 2009).

A mesma portaria, apesar de não definir como deve ser a infraestrutura da

OPO, discorre sobre as instalações físicas da CIHDOTT e estabelece a

disponibilidade de equipamentos adequados para gerenciamento e armazenamento

de informações e documentos, intercomunicação entre os diversos participantes do

processo, além de conforto para profissionais e familiares dos potenciais doadores e

o seu pleno funcionamento. A CIHDOTT deve possuir área física definida dentro da

instituição hospitalar, podendo a OPO funcionar ou não dentro de hospitais. Não

existindo recomendação contrária (BRASIL, 2009).

Quanto ao Banco de Olhos, a Portaria n0 239/04 estabelece que o mesmo

deve ser instalado e funcionar em estabelecimento hospitalar credenciado junto ao

Ministério da Saúde. O Banco deve possuir um sistema de comunicação próprio

para atender aos chamados e contar com um sistema de transporte que permita o

atendimento efetivamente 24 horas por dia (BRASIL, 2004).

De acordo com Mattia et al. (2010), o número de transplantes realizados

também resulta do número de equipes efetivamente capacitadas no processo

doação/transplante, especialmente na captação de órgãos e tecidos. A

disponibilidade nas 24 horas de uma equipe de captação treinada tem contribuído

para o crescimento e para a efetivação das doações.

49

Todavia, essas atividades demandam tempo e investimento em recursos

humanos e materiais, o que corrobora a importância de uma estrutura eficaz para a

CNCDO, a OPO, a CIHDOTT e o BTOC.

No que tange à logística e aos meios diagnósticos foram evidenciadas

limitações na estrutura do sistema. Apenas a CNCDO-PI possui transporte

disponível, e esse mesmo transporte é utilizado para as atividades dos quatro

serviços analisados. Desse modo, existe pouca disponibilidade da equipe da OPO,

por exemplo, para realizar as atividades de educação permanente e sensibilização

dos profissionais de saúde da rede hospitalar atendida por essa comissão.

A educação contínua é necessária entre os profissionais de saúde,

especialmente, médicos e enfermeiros, a respeito do processo de doação de órgãos,

do protocolo de ME e da legislação dos transplantes (MATTIA et al., 2010). Além

disso, todas as instituições que participam do processo doação/transplante devem

estar envolvidas com a promoção de medidas para conscientização da sociedade

sobre a importância da doação.

Os laboratórios disponíveis para a realização dos exames necessários

pertencem à rede pública, porém, estão localizados distante da rede hospitalar,

aumentando o tempo com o transporte.

Contudo, a maior limitação encontrada na análise da estrutura diz respeito à

disponibilidade do serviço de imagem. No Piauí, o exame complementar realizado

para a confirmação da ME é a arteriografia que não está presente no serviço

público. Desse modo, existe um convênio entre a secretaria estadual de saúde e

uma clínica particular que permite oferecer a arteriografia para os pacientes

atendidos pelo SUS. No entanto, esse exame na clínica conveniada apenas é

realizado de segunda a sexta-feira até às 18 horas. Assim, a arteriografia não está

disponível em horário noturno, aos sábados, domingos e feriados. Na prática, isso

constitui barreira para viabilizar a confirmação de ME e transformar o potencial

doador em doador efetivo.

Segundo o CFM (1997), a ME deve ser diagnosticada por meio de exames

clínicos e complementares, com intervalos de tempo de acordo com a faixa etária.

Clinicamente, deve ser observado o coma arreativo e aperceptivo, a ausência de

atividade do tronco encefálico e a apneia. Para potencias doadores, acima de dois

anos de idade, os exames complementares deverão demonstrar inequivocamente

50

ausência de atividade elétrica cerebral ou ausência de atividade metabólica cerebral

ou ausência de perfusão sanguínea cerebral.

Assim, os exames complementares que podem ser realizados são:

angiografia cerebral ou arteriografia, cintilografia radioisotópica, Doppler

transcraniano, ressonância magnética de crânio, eletroencefalograma, potencial

evocado auditivo de tronco encefálico, extração cerebral de oxigênio e tomografia

por emissão de pósitrons (GUETTI; MARQUES, 2008). Dentre esses, o doppler

transcraniano é um exame de fácil realização com custo operacional baixo, podendo

ser realizado à beira do leito. No entanto, esse exame ainda não está disponível no

Piauí.

No que se refere ao item gerenciamento e organização do trabalho, a

CNCDO e o BTOC possuem o ambiente organizado, o que não ocorre com a OPO e

a CIHDOTT, por funcionarem em espaços físicos de pequenas dimensões. Para a

CNCDO, a OPO e o BTOC, algumas funções administrativas, como é o caso da

limpeza, dependem da estrutura administrativa do HGV. O repouso dos profissionais

da OPO e da CIHDOTT ocorre na mesma sala na qual acontece o atendimento.

No que tange ao número de profissionais, a CNCDO-PI, a OPO, a CIHDOTT

e o BTOC contam com profissionais em número suficiente para o funcionamento 24

horas por dia. Segundo Lacerda et al. (2003), o desenvolvimento e a consolidação

de um programa de transplantes, por se tratar de uma atividade multidisciplinar e de

alta complexidade, incorpora tecnologia e exige recursos humanos capacitados.

Nesse momento, destaca-se a presença majoritária do profissional

enfermeiro nos quatro serviços analisados. De 32 profissionais de nível superior, 22

são enfermeiros. Cintra e Sanna (2005) e Guetti e Marques (2008) reconhecem o

papel significativo do enfermeiro no setor de transplantes, evidenciando não apenas

a função assistencial ao potencial doador e à família, como também o envolvimento

com os aspectos gerenciais do processo doação/transplante.

Assim, o desenvolvimento do Sistema de Notificação, Captação e

Distribuição de Órgãos e Tecidos para transplantes envolve ações de planejamento

e organização que ocorrem mediante o fornecimento de condições mínimas de

estrutura.

O setor de transplantes requer uma infraestrutura de apoio complexa. Para

Cintra e Sanna (2005), um dos determinantes para o funcionamento adequado

51

desse programa é a existência de recursos físicos, materiais e humanos compatíveis

com as necessidades do processo doação/transplante.

Ademais, o avanço da legislação dos transplantes deve ser acompanhado

da disponibilidade de recursos físicos e humanos que favoreça o desenvolvimento

desse setor. O desempenho e a segurança do processo doação/transplante estão

diretamente relacionados à oferta de infraestrutura adequada (ROZA et al., 2010).

52

5 Aspectos Relacionados ao Processo de Trabalho dos Profissionais

Os 29 profissionais entrevistados possuíam idade entre 28 e 55 anos, com

média de 43 anos. Quanto à categoria profissional, a maioria era constituída por

enfermeiros (69%) e, em relação ao sexo predominou o feminino (82,8%).

Quanto ao tempo de atuação na instituição, os profissionais tinham entre um

e 11 anos, e tempo de experiência no processo doação/transplante entre um e 18

anos, com média de seis anos, sendo que 19 profissionais (65,5%) relataram não

possuir experiência anterior no setor de transplantes e, 10 (35,5%) afirmaram

possuir essa experiência.

Quatro categorias foram elaboradas após a análise das falas obtidas, que

são: a atuação no processo doação/transplante; elementos necessários para a

operacionalização do processo doação/transplante; fatores facilitadores e barreiras

existentes à atuação no processo doação/transplante; a contribuição da instituição

para o desempenho do processo doação/transplante, sob a ótica dos profissionais.

5.1 A atuação no processo doação/transplante

Para os profissionais da CNCDO, as atividades desenvolvidas se dividem

em dois momentos distintos: de 2001 a 2008, quando não existia a OPO e a

CIHDOTT no Estado e, de 2009 aos dias atuais, após a implantação desses

serviços e também do BTOC, conforme demonstram as falas a seguir:

...antes fazíamos todo o trabalho de notificação, de entrevista familiar... então a gente já participava desde o início, buscando, notificando, entrevistando... e hoje a Central tem a atribuição de regular todo esse processo... (A5) ... a partir de 2009, a Central fica mais restrita à distribuição, a alocação dos órgãos captados... hoje não se faz mais busca ativa, não se faz mais manutenção de potencial doador, não se participa mais efetivamente do processo de captação em si... mas todo o apoio logístico é fornecido pela Central. (A12)

Os profissionais da OPO e da CIHDOTT atuam realizando as atividades de

busca ativa, identificação e notificação do potencial doador e entrevista familiar,

antes realizadas pela CNCDO, conforme demonstrado pelas falas a seguir:

53

A gente atua fazendo a entrevista familiar com a captação do órgão...e também a busca ativa nos outros hospitais, em todas as UTIs, bem como ajudando o pessoal das UTIs na manutenção dos potenciais doadores de órgãos e tecidos. Além disso, a gente trabalha junto à instituições hospitalares ou de ensino em educação continuada, levando informações. (B3)

...a gente faz a entrevista, atua fazendo anotação de todos os óbitos que existem na instituição. Todos os óbitos que ocorrem aqui no hospital são notificados pela CIHDOTT. Quando a gente faz a notificação, vê se ele é um potencial doador, sendo um potencial doador, fazemos a entrevista familiar...a gente comunica a Central de Transplantes e o BTOC, e o banco de olhos comparece aqui com a equipe que faz a enucleação, aqui no HUT. (C5)

Os profissionais do BTOC participam da busca ativa realizada pela OPO e,

após a efetivação da doação de córneas, as atividades consistem na captação,

transporte, processamento e armazenamento dos tecidos oculares, conforme

ilustrado pela fala a seguir:

...fazemos a entrevista familiar dos parentes do potencial doador e fazemos a retirada quando há a doação de córnea... fazemos a retirada do tecido, no caso a córnea, o transporte, seu processamento e a sua guarda. Depois, a sua liberação conforme orientações da Central de Transplantes... (D1)

5.2 Elementos necessários para a operacionalização do processo

doação/transplante

As falas evidenciaram os meios de trabalho materiais e não materiais como

imprescindíveis para a atuação no processo doação/transplante. Os profissionais da

CNCDO relataram como elementos necessários à atuação no processo

doação/transplante a existência de uma equipe multiprofissional integrada e

capacitada, da família sensibilizada, do conhecimento técnico, da disponibilização de

recursos físicos e materiais e de condições de trabalho adequadas.

...é importante que nós tenhamos uma equipe treinada e consciente em todas as etapas do processo doação/transplante, então, os colegas da terapia intensiva têm que estar conscientes desse processo ... a família tem que ter uma conscientização prévia porque a família é extremamente importante, só ela vai decidir isso... precisamos ter profissionais extremamente qualificados...(A13)

54

Conhecimento da dinâmica do processo, condições de trabalho adequadas, equipe interdisciplinar integrada e interesse e identificação com as ações que envolvem o processo. (A10)

Hoje, é indispensável que a gente tenha o sistema de informação do Ministério da Saúde... esse computador que grava ... também o próprio telefone é uma peça fundamental, carro com motorista também é fundamental e a gente tem. Essa estrutura física também hoje ela é adequada. Não precisamos mais do que isso... (A3)

Para os profissionais da OPO e da CIHDOTT, além do trabalho em equipe,

do conhecimento técnico e dos recursos físicos e materiais, a ética e a humanização

foram citadas como necessárias para o processo doação/transplante.

Primeiro, eu diria que o conhecimento técnico sobre o processo doação/transplante, a ética profissional e, a partir daí, a questão também da humanização. Além dos insumos que se fazem necessários para o desenvolvimento desse trabalho. (B2)

... é um trabalho que começa com uma pessoa e envolve mais pessoas... fora a equipe técnica, a gente tem outras pessoas envolvidas, que são as pessoas da logística, a equipe que trabalha na distribuição dos órgãos, que é o pessoal da Central de Transplantes, na viabilização das equipes de rastreamento sorológico, de exames que são necessários fazer. E também as famílias, sem elas certamente tudo isso não seria possível. (B6)

...eu preciso de uma equipe capacitada, preciso ter profissionais de diversos setores, mas principalmente dos setores onde tem ventilação mecânica invasiva como a UTI, as emergências, e esses profissionais comprometidos com a manutenção do potencial doador... tenho que ter equipamento de tecnologia próprio pra isso, monitor cardíaco, oxímetro de pulso, medidor de pressão, bombas de infusão, uma equipe com fisioterapeuta, enfermeiro capacitado. (C6)

... seria além de todo apoio logístico, eu acho que o mais importante de tudo seria a adesão de todos os envolvidos no processo, desde os maqueiros, do porteiro, do profissional técnico de enfermagem, do profissional de nível superior de enfermagem, dos outros profissionais, do fisioterapeuta, do nutricionista, do serviço social, dos médicos, de todos os profissionais, todas as categorias de profissionais que atuam aqui dentro. A meu ver, esse seria o elemento chave. (C4)

Os profissionais do BTOC relataram como elementos necessários a

existência da equipe capacitada e de insumos necessários para viabilizar a

conservação dos tecidos oculares, conforme a fala a seguir:

55

É importante termos uma equipe de profissionais... e também a questão do nosso meio de preservação, nós trabalhamos com o Optisol ®, que é um dos meios de preservação para tecidos oculares, e ele é muito caro, então o hospital tem que fazer contrato, aquela coisa toda... dependendo do período, acaba e o hospital não tem comprado, aí a gente fica... enquanto não tem o Optisol, não tem busca.(D1)

Destaca-se a importância do trabalho em equipe referida pelos profissionais

dos serviços pesquisados.

O trabalho de equipe aqui neste serviço é essencial, porque o processo começa no momento que se identifica o potencial doador e aí a necessidade de ter alguém sensível e avisando, a fazer o primeiro alerta de um potencial doador. Há a necessidade desta equipe que faz a abordagem chegar em tempo hábil para que a doação se concretize se assim for permitido. A questão de ter uma equipe transplantadora que a gente possa acionar no momento quando surgir este potencial doador, até a questão do laboratório que fornece o suporte para fazer os exames para identificar quem realmente vai estar recebendo este órgão. Então, é uma rede que a gente só trabalha se a rede existir. (A6)

...aqui a gente tem médicos, enfermeiros, assistentes sociais e psicólogos, então aqui, a meu ver, é onde tem se configurado melhor, mais efetivamente essa questão da interdisciplinaridade. E porque isso? A complexidade do processo, desde a assistência ao paciente, aquele possível doador que poderá se tornar um potencial doador, até passando pela entrevista, captação, comunicação com o receptor, cirurgia de transplante, é de uma complexidade enorme, envolve muitas pessoas, envolve muitas tecnologias, envolve muitos saberes. Então, sem o trabalho em equipe, não dá, não se efetiva esse processo. E várias equipes que às vezes não sabem, como é o caso das equipes da assistência, de sua importância nesse processo de doação/transplante. (C2)

5.3 Fatores facilitadores e barreiras existentes à atuação no processo

doação/transplante

Como fatores facilitadores referidos pelos profissionais para a atuação no

processo doação/transplante destacaram-se o conhecimento sobre o processo, a

realização de treinamentos, a relação com a equipe interdisciplinar e a colaboração

das equipes assistenciais, bem como o apoio da gestão. As falas a seguir explicitam

esses resultados:

56

...o fato de conhecer e gerir o sistema facilita. Conhecer o programa facilita. Por exemplo, à noite a enfermeira fica sozinha, então ela também tem que conhecer. Outra coisa que facilita é o fato de a gente ter feito por um bom tempo o serviço de ponta, assistencial, de busca mesmo, de contato com o paciente (doador). (A8)

...são os conhecimentos que a gente vai adquirindo, não só através dos referenciais teóricos que a gente tem acesso, não só através das capacitações que a gente participa, mas até do nosso dia-a-dia, da nossa troca de figurinhas aqui dentro dessa equipe interdisciplinar, do nosso aprendizado com a família doadora, com o receptor que está numa fila. (A5)

O fator que eu acho facilitador, que ajuda muito o nosso trabalho, é a interação com os profissionais que trabalham nas urgências e UTIs. (B1)

...a compreensão dos profissionais, compreensão e posterior colaboração dos profissionais facilita muito o nosso trabalho, desde a notificação até um acolhimento inicial da família, um esclarecimento inicial de dúvidas para que a CIHDOTT possa chegar a intervir aí... um fator que a gente não pode deixar é a gestão, uma gestão que se mostre também entendedora desses processos da CIHDOTT, processos pertinentes ao SNT... (C2)

Dois profissionais se reportaram à existência da legislação que normatiza o

processo envolvendo os transplantes como um fator facilitador.

... temos o regulamento técnico que a gente pode recorrer, que facilita demais, temos a Central Nacional que também funciona 24 horas. (A3)

A questão que facilita são as normatizações. A gente tem um conjunto de leis e portarias, uma legislação extensa. Recentemente, houve uma iniciativa do Ministério de fazer um consolidado dessa legislação, e isto nos facilita para ter o domínio do que pode e o que não pode, para estar esclarecendo tanto o usuário quanto as equipes transplantadoras, em determinadas situações que ainda podem deixar margem de dúvidas. (A6)

Em relação às barreiras existentes para a atuação no processo

doação/transplante, os entrevistados relataram principalmente a existência de

dificuldades estruturais, como a falta do exame complementar para o diagnóstico de

ME disponível nas 24 horas no serviço público e o desconhecimento e falta de apoio

57

dos profissionais da assistência sobre o processo de doação de órgãos e tecidos,

conforme demonstram as falas a seguir:

... dependemos muito do apoio da Secretaria de Saúde do Estado, nós dependemos muito do fortalecimento das nossas redes hospitalares, principalmente dos hospitais de grande complexidade, porque para que nós possamos atuar, precisamos que os hospitais tenham equipamentos de alta complexidade, pra manter esses potenciais doadores. Então, precisamos de boa terapia intensiva, precisamos de equipamentos, como Dopplertranscraniano, Eletroencefalografia, equipamentos para fazer arteriografia cerebral dos quatro vasos e infelizmente, os nossos dois hospitais públicos do Estado do Piauí, nenhum faz estes exames. (A13)

...coloco em primeiro lugar a identificação tardia dos potenciais doadores, o retardo na abertura do protocolo e o nosso maior calo que é o exame complementar de imagem... existe um certo receio da parte dos profissionais em realizar o exame, ou seja, cumprir as etapas do protocolo clínico de morte encefálica. (A12)

... são muitas as barreiras que a gente tem dificuldade até de superá-las. Como, por exemplo, principalmente entre os profissionais, o desconhecimento do que é morte encefálica, do que é processo de doação de órgãos... a desinformação é muito grande entre profissionais, imprensa, comunidade, estudantes, professores... a falta de apoio também das instituições que a gente trabalha, dos próprios colegas de UTI que são contra por questões religiosas, por desinformação... (B3)

O nosso problema maior, excluindo esse aspecto mais social da coisa, é nossa dificuldade de fechar o protocolo aqui no HUT. Não realizamos a arteriografia ou outro exame complementar que feche o diagnóstico. Por conta disso, a gente perde potencial doador, torna o processo mais longo, mais doloroso e a falta de sensibilidade dos profissionais que abrem e fecham o protocolo. (C4)

Alguns profissionais referiram a falta de apoio político como barreira para a

atuação no processo doação/transplante, conforme ilustram as falas a seguir:

... eu acredito que o que pode melhorar ainda é realmente uma decisão política de fazer o transplante acontecer. Então, dependemos disso aí, porque o que está ao alcance dos profissionais que fazem a Central de Transplantes, isso tem sido feito. O que eu vejo, que falta mais assim... talvez seja mais uma decisão mesmo a nível de estado mesmo ... e... a nível federal... (A3)

...falta um apoio maior da SESAPI [Secretaria Estadual de Saúde do Piauí]. Nosso setor é de alta complexidade, mas eu ainda não

58

visualizei o interesse como política pública... um grande nó que temos aqui é a falta do aparelho de arteriografia no espaço público, que não temos, nós temos que remeter à empresa privada. É a política pública com o pé na empresa privada, não desmerecendo... se nós estivéssemos esperando pelo Estado até hoje não teria doação, porque não tem a arteriografia. (A9)

A intervenção negativa realizada pelos serviços funerários foi citada como

barreira por um profissional.

Mas, a principal barreira hoje que nós temos com relação à captação de córneas e de órgãos é a influência negativa que as funerárias causam...eles [empregados das funerárias] são os primeiros a chegar, não sei como eles conseguem chegar primeiro, muitas vezes, inviabilizam o processo dizendo para os familiares: “Não! Vai mutilar, demora muito!” Então, eles trabalham negativamente! Atrapalham! (B3)

Quanto ao Banco de Tecidos Oculares, por ser um serviço com um processo

de trabalho diferenciado dos outros três serviços analisados e realizar a captação de

tecidos oculares, a principal barreira referida foi o número insuficiente de

profissionais por plantão.

Temos um profissional por plantão, então, você sabe que as pessoas adoecem, as pessoas têm problemas particulares... às vezes, acontecem de faltar, de adoecer e por ser um serviço diferenciado não é qualquer pessoa que pode fazer esse serviço, tem que ser pessoas que entendam da dinâmica do Banco de Olhos... (D1)

5.4 A contribuição da instituição para o desempenho do processo

doação/transplante, sob a ótica dos profissionais

A CNCDO, segundo os profissionais entrevistados, contribui para o setor de

transplantes sendo o órgão regulador e coordenador do processo

doação/transplante em âmbito estadual. Ademais, o controle da lista de espera e da

distribuição de órgãos e tecidos são atribuições exclusivas da Central de

Transplantes, conforme ilustram as falas a seguir:

59

...é na verdade uma rede, eu considero uma rede porque estamos interligados a Brasília, a Central Nacional e consequentemente essa Central Nacional faz essa ligação de todas as estruturas que estão postas no Brasil e de todas as Centrais Estaduais. O próprio sistema, todas as OPO’s, todos os serviços voltados para a doação e o transplante é uma rede que tanto a gente disponibiliza órgãos e tecidos como a gente recebe de outros estados. Está disposto na Portaria, cada um com sua atribuição, sua missão, seu papel, inclusive hierarquicamente, nós enquanto Central coordenando todo o processo vinculado a Secretária de Saúde e a Secretaria de Saúde se vincula ao Ministério. (A5)

...sem a Central não seria possível o transplante acontecer, já que a gente regula a lista, sabemos para quem aquele órgão está sendo destinado, regulamos quem transplanta, quem são estas equipes, quem está autorizado a fazer ou não o transplante e a gente regula a oferta do órgão. Então, a Central tem um papel de suma importância para que realmente aconteça a doação e a nossa contribuição é fazer com que este papel seja executado a contento... (A6)

...é o centro regulador de todas as etapas do processo doação/transplante e foi a partir da Central que se criaram as CIHDOTTs, se criaram as OPOs, que as atribuições começaram a ser redistribuídas entre os novos órgãos... falando diretamente dos órgãos e tecidos é a alocação, a distribuição, mas de um modo geral ela é reguladora. Toda atividade de doação/transplante tem que passar pela Central obrigatoriamente. Para se cadastrar um profissional, para se credenciar uma equipe, para se credenciar um hospital... (A12)

Para os profissionais da OPO, a contribuição para o setor de transplantes

ocorre devido ao aumento das buscas ativas, das doações e captações com a

expansão do serviço para os hospitais da rede de saúde de Teresina.

Acho que com o surgimento da OPO, as estatísticas aumentaram, o número de doações, de transplantes... a gente faz internamente também um trabalho continuado de educação em saúde... (B2)

Ajudou muito com relação a procura, porque a gente trabalha fazendo a busca ativa, então, essa busca tem aumentado o número de captações de órgãos aqui no Estado com a OPO. Isso já foi reconhecido pela própria Central de Transplantes... (B5)

A OPO trabalha 24 horas, é um trabalho de busca ativa nos hospitais da rede municipal, estadual e privada... localizando os doadores para que funcione. (B7)

60

A CIHDOTT, de acordo com os profissionais entrevistados, tem sua

contribuição pautada na localização da instituição, próximo às equipes assistenciais,

na busca ativa, no acolhimento das famílias dos doadores e na promoção de um

processo educativo dos profissionais.

... mais de 50% das doações do Estado são daqui, então eu acho que a Comissão colabora demais, deu uma impulsionada no número de transplantes do Estado por estar no local onde acontece, por estar acompanhando mais de perto e por já ter se entrosado com a equipe, com todas as equipes do hospital... (C1)

...o HUT hoje responde pela maioria dessas doações, isso principalmente, depois da instalação, da criação da CIHDOTT... eu entrei e pude ver que os profissionais que trabalhavam já têm um compromisso muito grande com relação a isso, já têm uma experiência boa com relação a abordagem da família. (C6)

... então, a gente está nessa linha de frente para aumentar a oferta de órgãos e com qualidade, eu digo com qualidade, não a qualidade do órgão, a gente tem esse cuidado de avaliação, mas que aumente a oferta sem que cause dano ou maiores danos à família doadora que está num momento sensível, e também esse processo educativo dos profissionais... (C2)

Para os profissionais do BTOC, uma das principais contribuições para o

processo doação/transplante são as orientações e as atividades educativas

realizadas pela instituição.

... através das palestras informativas... a gente procura trabalhar com o povo, na associação de bairro, nas escolas de nível médio, nas universidades, orientando os profissionais que estão saindo e tudo... o Banco de Olhos contribui com a doação e os transplantes nessa parte de divulgação, de palestra, de orientação... (D1)

Em relação ao perfil dos profissionais entrevistados, que atuam no Sistema

de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos no Piauí, foi observado

o predomínio do profissional enfermeiro, do sexo feminino e tempo de experiência

com média de seis anos. Para Oliveira et al. (2012), o aumento do número de

mulheres no mercado de trabalho é algo irreversível e crescente nas duas últimas

décadas.

61

A Enfermagem, por sua vez, é a profissão que constitui o maior contingente

da força de trabalho em cuidados à saúde, amplamente distribuída e

desempenhando os mais diversos papéis, funções e responsabilidades. Os

enfermeiros prestam assistência aos indivíduos, famílias e comunidades nas mais

diversas instituições, desde espaços comunitários até ambientes hospitalares de alta

complexidade (ROCHA; ALMEIDA, 2000).

De acordo com a Portaria n0 2.600/09, que institui o Regulamento Técnico

do Sistema Nacional de Transplantes, as CNCDOs têm, dentre outras, as atribuições

de coordenar as atividades de transplantes em âmbito estadual, exercer controle e

fiscalização sobre essas atividades. Ainda, é competência exclusiva das Centrais de

Transplantes o gerenciamento do cadastro de potenciais receptores, a lista de

espera, o recebimento das notificações de morte encefálica e a organização da

logística e da distribuição de órgãos e tecidos removidos em sua área de atuação

(BRASIL, 2009). As atividades descritas pelos entrevistados da CNCDO-PI

corroboram o funcionamento conforme preconiza o Regulamento Técnico.

Segundo a Portaria n0 2.601/09, a OPO deve atuar na organização e apoio

às atividades relacionadas ao processo de doação de órgãos e tecidos. As suas

atribuições incluem a manutenção de possível doador, a identificação e a busca de

soluções para as fragilidades do processo, capacitação para identificação e

efetivação da doação de órgãos ou tecidos, apoio nas ações de entrevista familiar e

viabilização da retirada de órgãos e tecidos para transplantes (BRASIL, 2009). A

OPO atua em parceria com a CNCDO e a CIHDOTT que existem em sua área de

abrangência, em Teresina.

As CIHDOTTs, para permitirem melhor organização do processo de

captação de órgãos no hospital, têm como atribuições: detectar possíveis doadores,

viabilizar o diagnóstico de ME, oferecer aos familiares a possibilidade de doação,

responsabilizar-se pela educação continuada dos profissionais da instituição sobre a

doação e transplantes de órgãos e tecidos, bem como articular-se com a CNCDO

(BRASIL, 2005). Os depoimentos dos entrevistados da OPO e da CIHDOTT

evidenciam o desenvolvimento dessas atividades conjuntamente. Na prática, a OPO

abrange a rede hospitalar de Teresina, realizando as buscas ativas nos hospitais

desse município.

62

As atribuições comuns da OPO e da CIHDOTT devem ser exercidas de

maneira cooperativa e harmoniosa, ambas são corresponsáveis pelo desempenho

da rede de atenção à doação de órgãos na sua área de atuação (BRASIL, 2009).

A Portaria n0 239/04 define as atribuições dos Bancos de Tecidos Oculares

e, dentre elas, a de captar, transportar, avaliar e processar, e armazenar os tecidos

oculares de procedência humana para fins terapêuticos, de pesquisa ou de ensino

(BRASIL, 2004). Ressalta-se que o BTOC é o único Banco de Olhos do Estado e

possui a responsabilidade de garantir a qualidade dos tecidos oculares distribuídos.

Na segunda categoria analisada foram identificados os elementos

necessários para a atuação no processo doação/transplante, segundo os

profissionais. Nesta, dos depoimentos dos profissionais, destacaram-se os recursos

físicos e materiais e a existência de uma equipe multidisciplinar capacitada para

viabilizar o processo doação/transplante.

Para Tonetto e Gomes (2007), o interesse pelo trabalho em equipe

multidisciplinar tem se fortalecido, com base na aceitação do modelo biopsicossocial

de saúde. O trabalho interdisciplinar valoriza os diversos saberes e práticas na

perspectiva de uma abordagem integral. A articulação de equipes multidisciplinares

sistematiza o trabalho e proporciona melhorias nos resultados. Considerando a

natureza de seu objeto, o processo doação/transplante comporta o trabalho

multidisciplinar.

Frequentemente, o setor saúde tem que responder às demandas por

intervenções tecnológicas de alta complexidade e especialidade, que ocorrem nos

hospitais de atendimento terciário, bem como à outras demandas (ROCHA;

ALMEIDA, 2000). Como já mencionado no capítulo que analisa a estrutura dos

serviços que participam do Sistema de Notificação, Captação e Distribuição de

órgãos e tecidos, o processo doação/transplante é complexo e pressupõe a

disponibilidade e o investimento em recursos materiais e humanos.

A ética e a humanização também foram citadas como importantes

instrumentos de trabalho no processo doação/transplante. Segundo Barros, Araújo e

Lima (2009), a relevância dos aspectos éticos deve ser considerada no contexto dos

transplantes. Apesar do avanço técnico-científico e dos benefícios conquistados com

as doações e os transplantes para a saúde da população, os transplantes ainda

convivem com questionamentos éticos.

63

Dessa forma, os profissionais que atuam nesse processo devem estar

respaldados nos princípios da ética, da legalidade e da humanização. E ainda

devem considerar a família como um elemento chave no processo

doação/transplante. A família é fundamental e apenas ela devidamente acolhida,

informada e esclarecida é quem vai consentir ou não a doação (MORAES;

MASSAROLLO, 2009).

Na terceira categoria foram evidenciados como facilitadores o

conhecimento técnico, a realização de treinamentos, a existência da equipe

multiprofissional, o apoio das equipes assistenciais e da gestão.

Os treinamentos e capacitações proporcionam o desenvolvimento de

competências específicas e habilidades. De acordo com Pardal (2007), as

capacitações direcionam a prática dos profissionais e promovem o desenvolvimento

técnico. Assim, a educação continuada, por intermédio dos treinamentos e

capacitações, promove a organização do processo de trabalho.

Por sua vez, a existência de uma equipe multiprofissional integrada permite

a interação entre os agentes envolvidos com o reconhecimento recíproco dos

diferentes saberes, bem como da autonomia técnica de cada um (RIBEIRO; PIRES;

BLANK, 2004). Para viabilizar o processo doação/transplante é necessária a

existência de equipes multiprofissionais qualificadas (BARROS; ARAÚJO; LIMA,

2009).

A importância da colaboração das equipes assistenciais se deve ao fato de

estas serem responsáveis pela notificação de um possível doador às comissões ou

à Central, bem como pela condução e manuseio adequado do potencial doador

(GUETTI; MARQUES, 2008).

Segundo Guetti e Marques (2008), a manutenção do potencial doador inclui

desde o reconhecimento e a confirmação da ME até o conhecimento das

formalidades legais envolvidas no processo, além da prevenção, detecção precoce e

o manuseio das principais complicações advindas da ME, para garantir que os

órgãos e tecidos sejam captados nas melhores condições funcionais possíveis.

Ademais, o apoio da gestão torna-se relevante na medida em que o

processo de trabalho, considerando se tratar de política pública, é permeado por

conflitos e necessidades nos quais, de um lado se encontram os interesses políticos

e, de outro, os interesses dos profissionais, que devem ser equacionados para

atender aos objetivos e à finalidade da política em questão (BACKES et al., 2012).

64

A legislação sobre os transplantes também foi colocada como um fator

facilitador por alguns profissionais. De fato, existe uma extensa legislação que trata

sobre as doações e os transplantes. A Política de Transplantes no Brasil está

fundamentada nas leis federais n0 9.434/97 e n0 10.211/01 e contém as diretrizes

que norteiam todo o processo de transplantes no país.

Dentre outros dispositivos legais, deve-se ressaltar a importância da Portaria

n0 2.600/09 por constituir o Regulamento Técnico do SNT, estabelecendo normas

específicas para o seu funcionamento, das CNCDOs e demais instâncias do sistema

(BRASIL, 2009). A legislação, de um modo geral, normatiza e padroniza as

atividades envolvendo os transplantes, aprimorando o funcionamento e o

gerenciamento dessa política.

Para Medina-Pestana et al. (2011), a legislação brasileira de transplantes

tem sido aprimorada e regulamentada, e favorece a organização do setor com uma

logística justa de alocação de órgãos.

No que tange as barreiras elencadas pelos profissionais, Machado,

Cherchiglia e Acúrcio (2011) destacam que os principais obstáculos existentes para

a efetivação do processo doação/transplante são a falta de estrutura dos hospitais

para comprovar o diagnóstico de morte encefálica e para manter um potencial

doador, o conhecimento inadequado dos médicos responsáveis quanto ao protocolo

de ME e a legislação dos transplantes, e o atraso da notificação de ME.

Segundo Vieira, Sales e Nogueira (2012), no Piauí o exame complementar

utilizado para o diagnóstico de ME é a arteriografia, cuja realização ocorre em clínica

particular conveniada com o SUS. Na prática, isso implica o deslocamento do

potencial doador do hospital onde se encontra internado para essa clínica,

mobilizando vários profissionais e recursos simultaneamente.

Para Barros, Araújo e Lima (2009), existe um despreparo dos profissionais

de saúde no diagnóstico de ME, na identificação do potencial doador, na notificação

às Centrais de Transplantes, bem como na entrevista familiar para a solicitação da

doação, com reflexos importantes no número de óbitos na lista de espera.

O conhecimento inadequado dos profissionais, especialmente dos médicos

que atuam na terapia intensiva, quanto ao protocolo de ME deve ser alvo de

atividades educativas sobre o tema, objetivando proporcionar o aumento do número

de diagnósticos e condutas terapêuticas (SCHEIN et al., 2008).

65

Na quarta e última categoria, os profissionais referiram a contribuição da

instituição a qual pertencem para o desempenho do processo doação/transplante no

Piauí, e os depoimentos evidenciaram que os entrevistados estão cientes do papel e

das responsabilidades de cada um dos componentes do sistema.

Segundo os profissionais da CNCDO, a contribuição da Central para o

processo doação/transplante se dá pela atuação como coordenadora e reguladora

do setor de transplantes na sua área de abrangência. Para Medina-Pestana et al.

(2011), as Centrais são responsáveis pela coordenação das atividades de

transplantes em âmbito estadual, realizando o monitoramento das inscrições e o

acompanhamento dos receptores, as notificações de potenciais doadores no

sistema e viabilizando a logística de todo o processo de doação, desde o diagnóstico

de ME, a entrevista familiar até a retirada e a alocação dos órgãos e tecidos.

Ademais, a CNCDO deve atuar junto aos estabelecimentos de saúde por

meio das OPOs e das CIHDOTTs proporcionando a construção de uma rede de

apoio e regulação dos serviços de terapia intensiva, emergências e administrativos

(BRASIL, 2009).

Como contribuição da OPO, os profissionais relataram o aumento das

buscas ativas, das doações e captações de órgãos e tecidos. De acordo com

Medina-Pestana et al. (2011), a criação das OPOS e das CIHDOTTs constitui um

avanço significativo no processo de captação de órgãos. A OPO proporcionou a

extensão do território geográfico e populacional para a atuação do processo doação/

transplante. Já a CIHDOTT, com atuação intra-hospitalar, permitiu o direcionamento

para a detecção precoce de potenciais doadores.

É importante ressaltar que a OPO deve ter seus limites de atuação definidos

por critérios populacionais e geográficos, proporcionando a detecção e viabilização

do potencial doador de órgãos e tecidos para transplantes (BRASIL, 2009).

A CIHDOTT, segundo os profissionais entrevistados, contribui para o

processo doação/transplante com uma localização estratégica intra-hospitalar,

favorecendo as buscas ativas, o acolhimento das famílias e a promoção da

educação continuada.

Tanto a OPO como a CIHDOTT devem prover a educação permanente dos

profissionais das instituições onde atuam sobre acolhimento familiar, morte

encefálica, manutenção do potencial doador e demais aspectos do processo

(BRASIL, 2009).

66

Para os profissionais do BTOC, a realização de atividades educativas

contribui para o desempenho do processo doação/transplante. De acordo com a

Portaria n0 239/04, que estabelece normas específicas para o funcionamento dos

Bancos de Tecidos Oculares Humanos, uma de suas competências consiste em

participar, sob a coordenação da CNCDO do respectivo Estado, de ações de

promoção, divulgação e esclarecimento à população a respeito da importância da

doação de órgãos e tecidos, com o objetivo de aumentar o número de doações e

captações (BRASIL, 2004). As atividades educativas constituem parte integrante do

processo de doação de órgãos e tecidos para transplante.

67

6 Evolução dos Transplantes no Piauí

A análise evidencia aumento do número de potenciais doadores de 2009 a

2011 e esse aumento é estatisticamente significante, com valor de p=0,031 (Tabela

1). No entanto, para o número de doadores efetivos, quando comparadas ambas as

fases, não foi constatado aumento com significância estatística. O mesmo

comportamento pode ser observado para os tipos de doadores, no qual o número de

doadores em PCR teve aumento na segunda fase (p <0,001), porém o número de

doadores em ME não apresentou aumento com relevância estatística.

Tabela 1: Distribuição quantitativa de potenciais doadores, doadores efetivos, doadores em morte encefálica e doadores por parada cardiorrespiratória no Piauí no período de 2001 a 2011.

Doadores Fase Média Desvio

p-valor Padrão Potenciais 2001 a 2008 42,63 14,352 0,031 2009 a 2011 70,67 21,595 Efetivos 2001 a 2008 6,75 3,845 0,42 2009 a 2011 8 1 Em morte encefálica 2001 a 2008 6,75 3,845

0,42 2009 a 2011 8 1 Em parada cardiorrespiratória 2001 a 2008 19,63 8,831

<0,001 2009 a 2011 106,33 13,429

Após a aplicação da regressão linear sobre o número de potenciais

doadores no período 2001 a 2011 (p = 0,0046 e coeficiente de correlação igual a

0,09954) foi construída a estimativa que revelou como teria se comportado esta

variável se a mesma tivesse seguido o padrão de 2000 a 2004 (Gráfico 1). Estes

anos, 2000 a 2004, destacaram-se quanto ao número de notificações de potenciais

doadores.

68

Gráfico 1: Estimativa do número de potenciais doadores no Piauí no período de 2001 a 2011.

2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110 po tenc ia is doadores E s tim ativa (2001-2004)

Pot

enci

ais

doad

ores

ano

A análise do número de doadores efetivos no Piauí no período de 2001 a

2011 possibilitou a identificação de três momentos distintos em relação ao

comportamento desta variável, sem uma tendência definida. Os anos de 2002 a

2004 destacaram-se com média anual de 11 doadores efetivos, maior média do

período analisado. Os anos de 2005 a 2007 apresentaram uma redução com média

anual de 5 doadores efetivos. Na sequência, o ano de 2008 alcançou o menor valor

absoluto do período, apenas um doador efetivo. Os anos de 2009 a 2011 tiveram

uma média de 8 doadores efetivos por ano, número superior à média dos anos de

2005 a 2007, embora ainda inferior à média dos anos de 2002 a 2004 (Gráfico 2).

69

Gráfico 2: Número de doadores efetivos no Piauí no período 2001 a 2011.

Em relação ao número e ao tipo de doações, observou-se que os anos de

2002 a 2004 se destacaram quanto ao diagnóstico de morte encefálica (ME),

concentrando 42,3% do total de ME confirmada. Paralelamente, os anos de 2009 a

2011 apresentaram expressivo destaque quanto ao número de doações em parada

cardiorrespiratória (PCR), concentrando as doações de córneas no Estado, no

período estudado (Gráfico 3).

Gráfico 3 – Número de doadores em morte encefálica e de doadores em parada cardiorrespiratória por ano no Piauí, no período 2001-2011.

FONTE: CNCDO-PI, 2001-2011.

70

O número de óbitos hospitalares registrados tanto em Teresina como no

Piauí também apresentou crescimento no período de 2009 a 2011(Tabela 2). Esse

crescimento do número de óbitos em relação à primeira fase de 2001 a 2008 é

estatisticamente significante, com valor de p respectivamente 0,023 e 0,020.

Tabela 2: Distribuição quantitativa de óbitos hospitalares em Teresina e no Piauí no período 2001 a 2011.

Óbitos hospitalares Fase Média Desvio

p-valor Padrão Piauí 2001 a 2008 7926,75 873,33 0,023 2009 a 2011 9412,33 488,412 Teresina 2001 a 2008 5091,25 648,171

0,02 2009 a 2011 6228 344,527

Em relação ao número de transplantes realizados, os dados revelaram um

nítido crescimento a partir de 2009, correspondendo a 45,78% do total de

transplantes realizados no Estado de 2001 a 2011 (Tabela 3). Esse crescimento se

deve basicamente ao aumento do número de transplantes de córneas,

proporcionado pelo aumento das doações em PCR no período. Desse modo, o

transplante de córneas foi superior em número aos demais, correspondendo a

65,21% do total de transplantes no período. Em seguida, situa-se o transplante renal

(33,41%) e, por último, o transplante cardíaco com 17 (1,38%) transplantes

realizados de 2001 a 2011.

71

Tabela 3- Número e tipos de transplantes realizados por ano no Piauí, no período de 2001-2011.

Ano Coração Rim Córnea Total

n % n % n % n % 2001 1 0,08 36 2,92 27 2,20 64 5,20 2002 2 0,16 49 3,99 43 3,50 94 7,65 2003 6 0,49 45 3,66 37 3,00 88 7,15 2004 5 0,41 34 2,76 43 3,50 82 6,67 2005 2 0,16 36 2,93 65 5,28 103 8,37 2006 - - 36 2,93 39 3,17 75 6,10 2007 1 0,08 36 2,92 47 3,82 84 6,82 2008 - - 28 2,28 49 3,98 77 6,26 2009 - - 31 2,52 126 10,24 157 12,76 2010 - - 43 3,48 157 12,72 200 16,20 2011 - - 37 3,00 170 13,82 207 16,82 Total 17 1.38 411 33,41 803 65,21 1231 100

FONTE: CNCDO-PI, 2001-2011.

Constatou-se que houve aumento do número de transplantes na segunda

fase analisada, com valor de p<0,001(Tabela 4). A média do número de transplantes

de 2001 a 2008 foi de 83,38 e o desvio padrão 11,999, e de 2009 a 2011 a média e

o desvio padrão foram, respectivamente, 188,00 e 27,074. O número de transplantes

de córneas apresentou aumento com significância estatística (p <0,001) na segunda

fase, o que não ocorreu com o número de transplantes renais. O transplante de

coração foi realizado no Piauí apenas durante a primeira fase.

Tabela 4: Distribuição quantitativa por tipo de transplantes no Piauí no período 2001 a 2011.

Transplantes Fase Média Desvio

p-valor Padrão Córnea 2001 a 2008 43,75 10,951

<0,001 2009 a 2011 151 22,605 Rim 2001 a 2008 37,5 6,547

0,911 2009 a 2011 37 6 Coração 2001 a 2008 2,13 2,232

0,145 2009 a 2011 0 0 Total 2001 a 2008 83,38 11,999

<0,001 2009 a 2011 188 27,074

72

Em relação a não-efetivação das doações, os números apontaram para um

entrave no setor de transplantes no Piauí. Em todo o período, a média percentual de

não-efetivações foi de 85,56%, ou seja, em média, mais de 85% dos potenciais

doadores não se transformaram em doadores efetivos (Tabela 5). Dentre as causas

que contribuíram significativamente para a não-efetivação das doações, de 2001 a

2011, estão a não autorização familiar (56,7%) e as contra-indicações médicas

(28,3%), seguidas da parada cardiorrespiratória e outros eventos.

Tabela 5 – Número e causas de não-efetivação de doações por ano no Piauí, no período 2001-2011.

Ano NAF CIM ME NC IE I PCR OUTRAS TOTAL n % n % n % n % n % n % n %

2001 28 5,92 8 1,69 - - - - - - - - 36 7,61 2002 33 6,97 5 1,06 - - - - - - - - 38 8,03 2003 32 6,76 12 2,54 - - - - - - - - 44 9,30 2004 27 5,71 18 3,81 - - - - - - 2 0,42 47 9,94 2005 30 6,35 7 1,48 - - - - - - 3 0,63 40 8,46 2006 23 4,87 16 3,38 - - - - - - - - 39 8,25 2007 18 3,81 7 1,48 - - - - - - - - 25 5,29 2008 8 1,69 6 1,27 - - - - - - - - 14 2,96 2009 15 3,17 4 0,85 1 0,21 - - 4 0,85 17 3,59 41 8,67 2010 41 8,66 26 5,50 - - 3 0,63 11 2,33 2 0,42 83 17,54 2011 13 2,75 25 5,28 - - - - 17 3,59 11 2,33 66 13,95 Total 268 56,7 134 28,3 1 0,21 3 0,63 32 6,77 35 7,39 473 100

FONTE: ABTO, 2001-2011; CNCDO-PI, 2001-2011. LEGENDA: NAF- não autorização familiar; CIM- contra-indicação médica; ME NC- morte encefálica não confirmada; IE I- infraestrutura inadequada; PCR- parada cardiorrespiratória.

A segunda fase apresentou aumento relevante estatisticamente do número

de não-efetivação das doações, com valor de p =0,015 (Tabela 6). Dentre as causas

que contribuíram para a não-efetivação das doações, a ocorrência da parada

cardiorrespiratória antes de concluído o diagnóstico de ME teve aumento

significativo de 2009 a 2011 (p=0,002). As outras causas não apresentaram

alteração estatisticamente relevante quando comparadas as duas fases.

73

Tabela 6: Distribuição quantitativa das causas de não-efetivação de doações no Piauí no período 2001 a 2011.

Não-efetivação Fase Média Desvio

p-valor Padrão Não autorização familiar 2001 a 2008 24,88 8,391

0,797 2009 a 2011 23 15,62 Contra-indicação médica 2001 a 2008 9,88 4,883

0,359 2009 a 2011 18,33 12,423 Morte encefálica NC 2001 a 2008 0 0

0,102* 2009 a 2011 0,33 0,577 Infraestrutura inadequada 2001 a 2008 0 0

0,102* 2009 a 2011 1 1,732 Parada cardiorrespiratória 2001 a 2008 0 0

0,002* 2009 a 2011 10,67 6,506 Total 2001 a 2008 35,38 10,796

0,015 2009 a 2011 63,33 21,127 *Teste de Mann-Whitney

Observou-se aumento do número de instituições autorizadas a realizarem

transplantes no Piauí de 2009 a 2011, com valor de p=0,028 (Tabela 7). Quanto às

equipes autorizadas não foi constatado nenhuma diferença com significância

estatística entre as duas fases analisadas. Desde 2008 não há equipe e nem

instituição credenciada pelo Ministério da Saúde para realização do transplante de

coração no Estado.

Tabela 7: Distribuição quantitativa de instituições e equipes autorizadas a realizarem transplantes no Piauí no período 2001 a 2011.

Variáveis Fase Média Desvio

p-valor Padrão Instituições autorizadas 2001 a 2008 4,75 1,282

0,028 2009 a 2011 6 0 Equipes autorizadas 2001 a 2008 7,13 0,835

0,685 2009 a 2011 7 0 Equipes Córnea 2001 a 2008 3,88 1,356

0,594 2009 a 2011 4,33 0,577 Equipes Rim 2001 a 2008 2,38 0,518

0,438 2009 a 2011 2,67 0,577

74

Quanto às instituições que realizaram os transplantes, observou-se o

predomínio das instituições privadas em detrimento às instituições públicas. Durante

o período estudado, 68,38% dos transplantes realizados no Piauí foram efetuados

na rede privada de saúde (Tabela 8). De 2001 a 2011, as instituições privadas foram

responsáveis por 52,9% dos transplantes de córnea, 97,3% dos transplantes de rim

e 100% dos transplantes de coração, realizados no Piauí.

Tabela 8 - Número e tipos de transplantes realizados por instituições públicas e privadas por ano no Piauí, no período 2001-2011.

Ano Rim Inst.

Córnea Inst. Coração Rim Inst.

Córnea Inst. Coração TOTAL

Privada Privada Inst.

Privada Pública Pública Inst.

Pública n % n % n % n % n % n % n %

2001 36 2,93 5 0,41 1 0,07 - - 22 1,79 - - 64 5,20 2002 49 3,98 7 0,57 2 0,16 - - 36 2,93 - - 94 7,64 2003 45 3,66 8 0,65 6 0,48 - - 29 2,36 - - 88 7,15 2004 34 2,76 8 0,65 5 0,41 - - 35 2,84 - - 82 6,66 2005 36 2,93 28 2,28 2 0,16 - - 37 3 - - 103 8,37 2006 36 2,92 14 1,14 - - - - 25 2,03 - - 75 6,09 2007 36 2,92 42 3,40 1 0,10 - - 5 0,40 - - 84 6,82 2008 28 2,28 41 3,33 - - - - 8 0,65 - - 77 6,26 2009 31 2,51 63 5,12 - - - - 63 5,12 - - 157 12,75 2010 41 3,33 119 9,67 - - 2 0,16 38 3,09 - - 200 16,25 2011 28 2,27 90 7,31 - - 9 0,73 80 6,50 - - 207 16,81 Total 400 32,5 425 34,5 17 1,38 11 0,89 378 30,7 - - 1231 100

FONTE: CNCDO-PI, 2001-2011.

Todavia, constatou-se aumento significativo de 2009 a 2011 do número de

transplantes realizados em instituições públicas, com valor de p=0,005 (Tabela 9).

Os dados evidenciaram uma diferença estatisticamente relevante para o número de

transplantes renais realizados em instituições públicas, com aumento na segunda

fase (p=0,015). Foi constatado aumento no mesmo período em relação ao número

de transplantes de córneas realizados em instituições públicas (p=0,006) e o número

de transplantes de córneas realizados em instituições privadas (p <0,001).

75

Tabela 9: Distribuição quantitativa dos tipos de transplantes realizados por instituições públicas e privadas no Piauí no período 2001 a 2011.

Transplantes Fase Média Desvio

p-valor Padrão Instituições públicas 2001 a 2008 24,63 12,409

0,005 2009 a 2011 62 21,517 Instituições privadas 2001 a 2008 58,75 12,326

0,092 2009 a 2011 119,33 35,572 Rim instituições públicas 2001 a 2008 0 0

0,015* 2009 a 2011 1,67 1,528 Córnea instituições públicas 2001 a 2008 24,63 12,409

0,006 2009 a 2011 60,33 21,127 Rim instituições privadas 2001 a 2008 37,5 6,547

0,155 2009 a 2011 28 14,731 Córnea instituições privadas 2001 a 2008 19,13 15,588

<0,001 2009 a 2011 91,33 28,006 *Teste de Mann-Whitney

Apesar do aumento do número de transplantes constatado no período

estudado, o número de pacientes em fila de espera a cada ano, o qual caracteriza a

demanda por transplantes, ainda foi maior que a oferta dos mesmos. A fila de

espera por transplante de córnea é a maior em número de pacientes (Gráfico 4).

Gráfico 4- Número de pacientes em fila de espera por tipo de transplante por ano no Piauí, no período 2001-2011.

FONTE: CNCDO-PI, 2001-2011.

76

Com relação ao número de pacientes em fila de espera e o número de

pacientes em fila de espera de rim e de córnea não houve diferença significativa

estatisticamente entre as duas fases (Tabela 10).

Tabela 10: Distribuição quantitativa de pacientes em fila de espera no Piauí no período 2001 a 2011.

Fila de espera Fase Média Desvio

p-valor Padrão Córnea 2001 a 2008 588,75 123,503

0,507 2009 a 2011 650 154,444 Rim 2001 a 2008 406,5 34,029

0,983 2009 a 2011 407 32,696 Total 2001 a 2008 996 156,289

0,571 2009 a 2011 1057 142,38

A respeito do número de doadores de rim por ano, observou-se o

predomínio dos doadores vivos por corresponderem a 57,6% do total no período

2001-2011. Somente nos anos de 2004, 2009 e 2010, os números anuais de

doadores falecidos superam os números anuais de doadores vivos no Piauí (Gráfico

5).

Gráfico 5- Distribuição dos transplantes renais realizados com doadores vivos e falecidos por ano no Piauí, no período 2001-2011.

FONTE: CNCDO-PI, 2001-2011.

77

No que tange ao número de transplantes de rim por doador falecido e

doador vivo não foi constatado diferença com significância estatística entre as fases

analisadas (Tabela 11).

Tabela 11: Distribuição quantitativa de doadores de rim falecidos e vivos no Piauí no período 2001 a 2011.

Doadores de Rim Fase Média Desvio

p-valor Padrão Falecidos 2001 a 2008 14,88 6,468

0,428 2009 a 2011 18,33 4,933 Vivos 2001 a 2008 22,63 4,984

0,245 2009 a 2011 18,67 3,512

A análise dos dados expostos permitiu constatar que o aumento do número

de notificações de potenciais doadores de 2009 a 2011, fase marcada pela atuação

da OPO e da CIHDOTT, sinaliza melhorias na detecção do potencial doador. No

entanto, o número de doadores efetivos não apresentou o mesmo desempenho.

Desse modo, não foi constatada alteração para essa variável entre as duas fases.

Esse resultado demonstra que dificuldades ainda persistem para transformar o

potencial doador em doador efetivo.

Concomitantemente, observou-se aumento do número de doadores em

PCR, na segunda fase analisada. Esse tipo de doador permite apenas a retirada de

córneas, não sendo aproveitados órgãos sólidos. Segundo Mattia et al. (2010), a

organização de uma equipe de captação disponível 24 horas por dia tem contribuído

para o crescimento de doadores de órgãos e tecidos. Assim, a instalação do BTOC

contribuiu para o aumento da captação de tecidos oculares. Para Medina-Pastana et

al. (2011), outro fator que favorece o aumento da captação de córneas é o limite de

idade extenso para a doação, entre dois e 80 anos e a retirada podendo ser

realizada em até seis horas após a morte.

Quanto ao número de doadores em ME não foi constatado aumento de 2009

a 2011. De acordo com Marinho (2006), a ausência de infra-estrutura adequada,

recursos e profissionais suficientes para oferecer suporte aos pacientes em ME

limitam o aumento do número de doações e transplantes no SUS. Entre a

confirmação da doação e a localização de um doador compatível existe um tempo,

78

considerando o cumprimento de todas as exigências legais. E ainda, pode surgir a

difícil escolha entre a manutenção de um doador em ME ou a admissão de um

paciente vivo na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

O número de óbitos hospitalares registrados tanto em Teresina como no

Piauí teve aumento de 2009 a 2011. Esse resultado não difere das demais regiões

brasileiras. Segundo Mady (2007), o aumento das doenças crônico-degenerativas,

tais como doenças arteriais, diabetes mellitus e hipertensão têm contribuído para o

aumento dos óbitos hospitalares.

Ademais, as causas externas, especialmente os acidentes de trânsito,

respondem por uma parcela significativa de pacientes atendidos nos hospitais com

politraumatismo e traumatismo crânioencefálico, com alta mortalidade, também

contribuindo para o aumento dos óbitos hospitalares (CANOVA et al., 2010).

Todavia, o crescente número de óbitos hospitalares em todo o período analisado, na

capital e no interior do estado, não foi acompanhado por um aumento

correspondente no número de doadores efetivos.

Positivamente, o número de transplantes aumentou consequente ao número

de doações. De 2009 a 2011, com a atuação da OPO, da CIHDOTT e do BTOC, o

número de transplantes apresentou um crescimento significativo. A maior parte,

porém, representado pelos transplantes de córnea. Esse predomínio ocorre em todo

o período estudado. Em 2011, por exemplo, 82,1% dos transplantes realizados no

Piauí foram de córneas. É valido lembrar que, atualmente, apenas dois tipos de

transplantes são realizados no estado, o transplante de córnea e o de rim. De

acordo com a ABTO (2011), o número de transplantes de córnea apresentou uma

tendência crescente no Brasil, no período 2001 a 2011, atingindo 14.696

transplantes em 2011. A lista de espera para esse tecido tem diminuído, tendo

zerado em alguns estados, como é o caso do Rio Grande do Norte.

Embora os transplantes de rim tenham apresentado aumento no Brasil a

cada ano, atingindo 4.957 transplantes em 2011 (ABTO, 2011), isso não ocorreu no

estado do Piauí no período 2001 a 2011.

Os dados mostraram dificuldades significativas do setor de transplantes

para a efetivação da doação. O percentual de efetivação das doações foi de apenas

10,6% em 2011, significando que 89,4% dos potenciais doadores não foram

convertidos em doadores efetivos. Dentre as causas da não-efetivação teve

destaque, na segunda fase analisada, a ocorrência da parada cardiorrespiratória

79

antes de concluído o diagnóstico de ME. O processo doação/transplante requer uma

infra-estrutura de apoio bastante complexa e segundo Barros, Araújo e Lima (2009),

ainda existe a necessidade de um preparo adequado dos profissionais de saúde no

diagnóstico de ME e na identificação precoce de um possível doador. A

sensibilização desses profissionais é fundamental para a operacionalização do

processo doação/transplante.

Dificuldades tais como a falta de identificação do potencial doador,

manutenção inadequada do doador, necessidade de exame confirmatório de ME,

insucesso na entrevista familiar, dificuldades na captação de órgãos e no contato

com as equipes transplantadoras são fatores que limitam a efetivação da doação de

órgãos (MATTIA et al., 2010).

Soma-se a tais dificuldades o fato de que, no Piauí, o exame complementar

utilizado para o diagnóstico de ME, conforme preconiza a Resolução do CFM n0

1480/97, é a arteriografia, realizada em clínica particular conveniada pelo SUS. Na

prática, isso significa o deslocamento do potencial doador do hospital onde se

encontra internado para essa clínica, mobilizando vários profissionais e recursos

simultaneamente. Muitas vezes, esse transporte ocorre submetido à disponibilidade

da equipe avançada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU),

responsável por atender outras intercorrências, e à disponibilidade do profissional da

clínica, considerando que poucos profissionais no Estado são capacitados para

realizarem a arteriografia. Desse modo, pode-se inferir que, além dos fatores

relacionados à infra-estrutura, uma parcela das paradas cardiorrespiratórias que

ocorrem antes da conclusão da ME estão relacionadas também com as limitações

logísticas.

Ainda em 2011, 28 (42,4%) doações não foram efetivadas por fatores

ligados à infra-estrutura e a PCR, número que poderia ter sido minimizado se o

exame complementar para o diagnóstico de ME fosse realizado no próprio hospital

e, preferencialmente no leito do paciente. Para Amorim, Avelar e Brandão (2010), a

deficiência da rede hospitalar na agilidade do diagnóstico de perda das funções

cerebrais constitui obstáculo para a concretização da doação de órgãos.

No Piauí, outra realidade é a organização do setor de transplantes quanto ao

local de realização desses procedimentos cirúrgicos. Ao longo do período 2001-

2011, constatou-se que os transplantes foram realizados predominantemente em

instituições privadas. Isso se deve ao fato de o Piauí possuir apenas um hospital da

80

rede pública estadual, capacitado para a realização de transplantes em Teresina, as

outras instituições pertencem à rede privada (OLIVEIRA et al., 2007). No entanto, na

segunda fase analisada constatou-se aumento dos transplantes na rede pública,

com aumento correspondente tanto dos transplantes de córnea como dos

transplantes de rim na rede pública.

A exemplo de estados brasileiros, tais como Bahia, Pernambuco, Rio de

Janeiro, São Paulo e outros, a fila de espera para transplantes é superior à oferta

dos mesmos (ABTO, 2012). No caso do Piauí, tanto para córneas como para rins, o

número de pacientes em fila de espera supera o volume de transplantes. Segundo

Machado, Cherchiglia e Acúrcio (2011), uma das justificativas para as baixas taxas

de transplantes é a escassez de órgãos. Além das dificuldades em captar órgãos de

potenciais doadores, ainda predomina a falta de sensibilização da sociedade para a

importância da doação. Isso é evidenciado pelo alto índice de não autorização

familiar para doação em todo o período analisado, contribuindo para o aumento da

fila de espera e, simultaneamente, para a redução da sobrevida de muitos pacientes

à espera de um órgão.

Em 2011, entre os transplantes renais observou-se que 59,5% tiveram rins

provenientes de doadores vivos. No Brasil, a partir de 2008, os transplantes renais

com doador falecido são superiores em número aos transplantes renais com doador

vivo. Exceto em alguns anos isoladamente, essa tendência não se verifica no Piauí.

Assim, no referido Estado em 2011, os transplantes renais com doadores vivos por

milhão da população (pmp) foi de 7,1 e, com doadores falecidos foi de 4,8 (ABTO,

2011). Esses números corroboram as limitações em tornar o potencial doador em

doador efetivo.

81

7 Modelo Lógico do Sistema de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos

e Tecidos no Piauí

Para Frias, Lira e Hartz (2005), a elaboração do modelo lógico constitui

etapa fundamental na apreciação da avaliação de programas. Esse modelo

apresenta terminologia diversa: modelo hipotético causal, modelo explicativo,

modelo teórico, modelo teórico-lógico ou, simplesmente, modelo lógico (MEDINA et

al., 2005). Neste estudo será adotada a expressão modelo lógico, aceita pela

maioria dos pesquisadores em avaliação.

O modelo lógico constitui uma proposta para organização das ações de um

programa, permitindo a articulação com os resultados esperados. De acordo com

Cassiolato e Gueresi (2010), esse modelo pode ser considerado um instrumento

para explicar a teoria do programa, pois comunica a finalidade do programa.

O funcionamento do programa ou política deve estar desenhado no modelo

lógico e sua elaboração deve explicitar o objetivo, a população-alvo, o contexto, os

componentes essenciais, além da infra-estrutura necessária para a

operacionalização, incluindo os recursos, as atividades, os produtos e os resultados.

O Sistema de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos

para Transplantes pode ser considerado um programa ou política de saúde.

Ressalta-se que, no presente estudo, está sendo avaliado o recorte desse sistema,

restringindo a unidade de análise para a dimensão estadual, tendo em vista que é

uma política nacional.

Documentos oficiais e a legislação vigente relacionados aos transplantes

serviram de fonte de informações para a construção do modelo lógico, permitindo a

definição das etapas necessárias, bem como a explanação da teoria desse

programa.

Inicialmente, foram definidas as referências básicas do programa que,

segundo Cassiolato e Gueresi (2010), são o objetivo ou objetivos, o público-alvo e

os beneficiários. O objetivo desse sistema é diminuir o tempo de espera na fila dos

receptores, pacientes que necessitam de transplantes. O público-alvo são os

candidatos a transplantes e os potenciais doadores. E, os beneficiários do sistema

são os receptores já transplantados.

No modelo lógico construído (Figura 1), foram considerados recursos as

instalações físicas, os equipamentos, os insumos, as normas e os recursos

82

humanos capacitados necessários para a implantação e a operacionalização do

programa. Dessa forma, a coluna recursos foi colocada em primeiro, pois a

disponibilidade desses recursos influencia diretamente a concretização de todas as

outras etapas do Sistema de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e

Tecidos.

Como componentes foram considerados: a CNCDO, a OPO, a CIHDOTT-

HUT, o BTOC, as equipes assistenciais hospitalares e as equipes

transplantadoras/instituições autorizadas (Figura 1).

Na etapa processo, foram elencadas as principais atividades que devem ser

realizadas pelos respectivos componentes. Diretamente relacionados com as

atividades estão os produtos, que é a etapa seguinte. Para Bezerra, Cazarin e Alves

(2010), os produtos consistem na consequência imediata das atividades. Por sua

vez, os resultados são as mudanças que o programa ou a política pretende

proporcionar. Podem ser resultados intermediários, de curto e médio prazo, e

resultado final ou impacto, de longo prazo.

Ainda para Bezerra, Cazarin e Alves (2010), o diagrama do modelo lógico

deve descrever a cadeia de eventos que sustentam o funcionamento do programa.

Assim, os recursos necessários permitirão que os componentes do programa se

articulem por meio das atividades afins desenvolvidas que, juntamente com variáveis

externas favoráveis, atingirão os resultados esperados.

Desse modo, a Figura 1 explicita como cada componente do Sistema de

Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos transforma os recursos

em atividades e estas, em um contexto favorável, permitem gerar os produtos, os

resultados intermediários e o resultado final.

Exemplificando, os recursos necessários permitirão que a CNCDO

desempenhe suas atividades, sendo as principais: coordenação e regulação dos

transplantes no âmbito de sua atuação, controle e fiscalização, gerenciamento do

cadastro de receptores e organização da logística e distribuição de órgãos e tecidos.

Os produtos, como consequência imediata das atividades, serão o gerenciamento e

a supervisão das atividades envolvendo os transplantes e a atualização do sistema

de informações do SNT. O adequado funcionamento das atividades de transplantes

e melhoria do processo doação/transplante serão os resultados intermediários que,

em conjunto com os resultados dos outros componentes do sistema, contribuirão

para o alcance do resultado final que é a redução do tempo de espera na fila.

83

Figura 1 – Modelo lógico do Sistema de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos

Para finalizar a elaboração do modelo lógico, é necessário identificar as

variáveis do contexto que exercem influência sobre o funcionamento e, por

conseguinte, sobre o desempenho do programa ou política.

O desenho do modelo lógico deve considerar a complexidade da situação

representada e permitir a compreensão do papel que os fatores externos possuem

na produção dos resultados. De acordo com Cassiolato e Gueresi (2010), esses

fatores, denominados fatores relevantes de contexto, podem favorecer ou

84

comprometer o desenvolvimento das atividades, permitindo conhecer a

sustentabilidade do funcionamento do programa e sua realidade.

O contexto é a situação ou o meio no qual as ações ocorrem. Os fatores

contextuais são elementos políticos, sociais, econômicos, organizacionais,

institucionais (BEZERRA, CAZARIN, ALVES, 2010). Dessa maneira, para o Sistema

de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos em âmbito estadual, os

fatores sócio-político e econômicos e os fatores político-institucionais constituem

elementos externos que influenciam o processo doação/transplante.

Como fatores sociais, estão presentes a questão cultural, religiosa e

educacional que permeia a temática envolvendo a doação de órgãos e tecidos e os

transplantes. Os fatores políticos estão relacionados à existência ou não de

prioridades do gestor estadual contemplando o processo doação/transplante e toda

a estrutura pertinente. Os fatores econômicos dizem respeito aos investimentos

destinados ou não para esse sistema, seja em âmbito nacional, estadual ou

municipal. E, por fim, o fator político-institucional está relacionado ao grau de

autonomia técnica e financeira do programa. Não se pretende exaurir todas as

influências neste estudo por considerar o caráter dinâmico das políticas.

Os fatores contextuais devem ser continuamente atualizados, considerando

que o cenário sócio-político-econômico também apresenta dinamicidade e está

sujeito a mudanças que podem ser favoráveis ou desfavoráveis para determinado

programa ou política. A Figura 2 propõe um esquema visual da influência dos fatores

de contexto sobre o funcionamento do programa.

Figura 2 – Influência dos fatores relevantes de contexto no Sistema de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos.

RECURSOS COMPONENTES ATIVIDADES PRODUTOS RESULTADOS

CONTEXTO SÓCIO-POLÍTICO-ECONÔMICO-INSTITUCIONAL

85

Então, numa visão simplificada, um programa ou política deve ter objetivos,

recursos e atividades definidos para atingirem os resultados. No entanto, na

realidade concreta de operacionalização do programa, seus elementos, muitas

vezes, não funcionam da maneira ideal. Segundo Medina et al. (2005), uma das

principais explicações para um comportamento diferente do ideal é a natureza

descentralizada do programa, com a implantação e o funcionamento em diversos

contextos.

De acordo com Oliveira et al. (2010), para que a avaliação de políticas e

programas não se limite à visão dicotômica insumos/resultados e possibilite a

identificação das razões do êxito ou não da intervenção em contextos diversos, é

importante a construção de modelos lógicos.

O modelo lógico possibilita que gestores e avaliadores visualizem, de forma

clara, a racionalidade e o funcionamento do programa ou política, bem como os

pressupostos utilizados em sua elaboração. Por fim, esse modelo permite elucidar a

lógica interna do programa e contribui para identificar lacunas e resultados

inesperados.

86

8 Conclusão: a triangulação dos resultados

Ao avaliar o desempenho do Sistema de Notificação, Captação e

Distribuição de órgãos e tecidos no Piauí após uma década de atuação da Central

de Transplantes neste Estado, foram constatados avanços marcados pela instituição

da CIHDOTT no HUT, da OPO e do BTOC e o aumento do número de doações e

dos transplantes. Com a ressalva de que a maioria das doações corresponde à

doação em PCR, permitindo apenas o aumento dos transplantes de córneas.

No entanto, desafios ainda se colocam ao Sistema, dentre eles, um dos

principais é viabilizar o aumento da taxa de efetivação das doações consequente ao

aumento do número de doadores em ME. Apenas esse tipo de doador permite a

captação de órgãos sólidos, proporcionando aumento da oferta dos transplantes

renais, bem como da disponibilização de outros órgãos para a Central Nacional.

Melhorias na taxa de efetivação das doações pressupõem necessariamente

avaliação das causas da não efetivação. Como demonstrado pelos resultados, a não

autorização familiar figura como um dos principais obstáculos à oferta de órgãos no

período 2001 a 2011. Todavia, de 2009 a 2011, a ocorrência de PCR antes de

concluído o diagnóstico de ME teve aumento significativo.

O não consentimento familiar está relacionado a questões sociais, culturais e

até mesmo religiosas que, muitas vezes, permeiam a falta de diálogo na família.

Contudo, o desconhecimento sobre o processo doação/transplante também favorece

a negativa familiar. Assim, a divulgação de informações e o desenvolvimento de

ações educativas com vistas à sensibilização da população devem ser

contempladas em política setorial.

A ocorrência de PCR antes de concluído o diagnóstico de ME deve ser

objeto de análise específica no sentido de identificar e corrigir as fragilidades desse

processo. Para tanto, mudanças de aspectos relacionados à estrutura são

necessárias, tais como a definição de um transporte próprio para OPO e o BTOC e a

disponibilização do exame complementar para o diagnóstico de ME nas 24 horas e,

preferencialmente na rede pública, permitindo agilidade no diagnóstico de ME.

Para os profissionais do Sistema de Notificação, Captação e Distribuição de

órgãos e tecidos, além das lacunas estruturais, a falta de apoio dos profissionais da

assistência constitui barreira para atuação no processo doação/transplante. É

fundamental a efetiva implementação de atividades de educação permanente

87

direcionada aos profissionais de saúde a respeito do processo de doação de órgãos

e tecidos e da importância dos transplantes, objetivando a compreensão e a

colaboração desses profissionais na rede hospitalar, especialmente as emergências

e UTIs.

Ademais, os profissionais entrevistados demonstraram conhecimento e

compromisso com o processo doação/transplante, e referiram a importância do

trabalho em equipe para esse processo. Equipes multiprofissionais capacitadas e

disponíveis para colaborar com a doação e os transplantes constituem um dos

alicerces para o sucesso de cada etapa do processo.

No entanto, apesar do resultado positivo em termos de aumento do número

de transplantes na segunda fase analisada, o mesmo não proporcionou impacto no

que tange à redução do tempo na fila de espera, resultado final esperado dessa

política, bem como pelos receptores que aguardam por um transplante.

Nesse contexto, frente a relevância social que representa a doação de

órgãos e tecidos e a realização dos transplantes, acredita-se que os resultados

desse estudo possam contribuir com informações que subsidiem o aprimoramento

de uma política de gestão que compreenda as especificidades dos transplantes no

Piauí, considerando que o desempenho do processo doação/transplante depende da

articulação não apenas da prática dos profissionais e da sociedade em geral, mas

também de apoio político.

O presente estudo não contemplou a análise das equipes assistenciais

hospitalares e das equipes transplantadoras e instituições credenciadas para a

realização de transplantes. Desse modo, novos estudos são sugeridos para a

abordagem de tais elementos.

88

9 Implicações para a Enfermagem

Se o aumento da taxa de efetivação das doações e a redução do não

consentimento familiar pressupõem, dentre outros requisitos, o envolvimento dos

profissionais de saúde, de forma especial, esse envolvimento deve contemplar os

profissionais da Enfermagem.

A atuação do profissional enfermeiro está presente em todas as etapas do

processo doação/transplante, desde a identificação do potencial doador até o

acompanhamento pós-transplante. Essa presença demonstra a importância das

ações e da assistência de Enfermagem aos usuários do setor de transplantes.

Ressalta-se que, com a expansão do SUS e das políticas de saúde, o

enfermeiro adquiriu um papel fundamental no planejamento e organização dos

serviços de saúde em diferentes níveis de complexidade e, estrategicamente, tem

assumido um papel cada vez mais decisivo no que se refere às necessidades de

saúde da população, bem como na promoção, proteção, tratamento e recuperação

da saúde dos usuários do sistema, contribuindo para uma atenção integral e

humanizada.

Seja como parte da equipe de saúde ou individualmente, os enfermeiros

detêm a responsabilidade pela segurança e qualidade dos procedimentos

envolvendo os transplantes, com adequado conhecimento técnico-científico e

habilidades exigidos para essa área de atuação.

Por sua vez, o processo doação/transplante reveste-se de características

complexas quanto aos aspectos éticos e morais e as repercussões sociais, além de

possuir vários protagonistas: equipe de saúde, doador, família, receptor. A

compreensão dessa particularidade permitirá que a Enfermagem atue exercendo

seu papel social e político, de modo a contribuir com a melhoria contínua desse

processo e a sensibilização da sociedade para a doação de órgãos.

Por fim, é necessário ocorrer uma articulação crescente entre os aspectos

estruturais, a atuação dos profissionais de saúde e as decisões políticas com vistas

a superar as fragilidades e assegurar a continuidade e a resolubilidade do setor de

transplantes no Piauí.

89

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APÊNDICES

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APÊNDICE A

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO SISTEMA DE NOTIFICAÇÃO, CAPTAÇÃO E

DISTRIBUIÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS DO PIAUÍ

FORMULÁRIO I: Dados coletados da estrutura física da instituição Formulário nº: Data:__/___/_____ Instituição:

Ambiente

Sim Não

Recepção Sala de espera Sala da coordenação Identificação clara dos espaços

Materiais/ Equipamentos/ Insumos

Computadores Acesso à Internet Materiais administrativos suficientes Arquivo para registros Disponibilidade de linha telefônica Disponibilidade de Fax Caixa térmica para material biológico

Logística e meios diagnósticos

Disponibilidade de transporte Disponibilidade de laboratório Disponibilidade do serviço de imagem

Gerenciamento e organização do trabalho

Organização do ambiente Higiene e limpeza satisfatórios Número de profissionais suficiente Disponibilidade de repouso

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APÊNDICE B

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO SISTEMA DE NOTIFICAÇÃO, CAPTAÇÃO E

DISTRIBUIÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS DO PIAUÍ

ROTEIRO DA OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA (PLANO DE OBSERVA ÇÃO) INSTITUIÇÃO _______________________ Nº : _____ Data:__/___/_____

1. Ambiente de trabalho - Organização local; - Aspectos de higiene e limpeza; - Identificação. _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________

2. Materiais/Equipamentos/Insumos - Observação dos computadores; - Observação dos materiais administrativos; - Observação dos arquivos e registros; - Observação da presença de linha telefônica/fax; - Observação da presença de caixa térmica para material biológico. ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________

3. Logística e meios diagnósticos - Transporte; - Laboratório; - Serviço de imagem. _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________

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4. Gerenciamento e organização do trabalho

- Organização local; - Número de profissionais; - Presença de repouso para os profissionais. __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________

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APÊNDICE C

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO SISTEMA DE NOTIFICAÇÃO, CAPTAÇÃO E

DISTRIBUIÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS DO PIAUÍ ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA PROFISSIONAL _______________________ Data: ___/___/___ Nº : _____

1. Caracterização do Sujeito: Sexo M ( ) F ( ) Idade__________ Tempo de atuação na instituição___________ Tempo de experiência profissional no processo de doação/transplante___________ Experiência anterior no processo de doação/transplante Sim ( ) Não ( )

2. Questões:

2.1 Fale-me sobre a sua atuação no processo doação/transplante.

2.2 Fale-me quais são os elementos necessários para a sua prática no processo doação/transplante?

2.3 Para o senhor(a), quais as implicações do trabalho em equipe para o processo doação/transplante?

2.4 Fale-me quais os fatores funcionam como facilitadores para a sua atuação na instituição?

2.5 E quais funcionam como barreiras à sua atuação?

2.6 Em relação às características físicas e organizacionais da instituição, qual a importância para a sua prática?

2.7 Fale-me de que forma a sua instituição contribui para a resolubilidade do Sistema Estadual de Transplantes?

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APÊNDICE D

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO SISTEMA DE NOTIFICAÇÃO, CAPTAÇÃO E

DISTRIBUIÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS DO PIAUÍ FORMULÁRIO II: Dados coletados do sistema de registro da Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos – PI Data:__/___/_____ 1.Tipos de notificações por ano 2000 ME: PCR: 2006 ME: PCR: 2001 ME: PCR: 2007 ME: PCR: 2002 ME: PCR: 2008 ME: PCR: 2003 ME: PCR: 2009 ME: PCR: 2004 ME: PCR: 2010 ME: PCR: 2005 ME: PCR: 2011 ME: PCR: 2.Número de potenciais doadores e doadores efetivos por ano 2001 2007 2002 2008 2003 2009 2004 2010 2005 2011 2006 3.Número de não-efetivação de doações por ano 2001 2007 2002 2008 2003 2009 2004 2010 2005 2011 2006 4. Causas da não-efetivação por ano

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 NAF* CIM* ME NC* PCR* IE* OUTROS* 5. Tipos de doadores falecido ou intervivos por ano

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Falecido Intervivo

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6.Número de Transplantes por ano 2001 2007 2002 2008 2003 2009 2004 2010 2005 2011 2006 7. Tipos de transplantes por ano

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Córnea

Rim Coração Fígado

8. Número de transplantes por instituições públicas e privadas a cada ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Pública Privada 9. Tipos de transplantes por instituições públicas e privadas por ano 10.Número de equipes e instituições autorizadas para realizar transplantes por ano

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Equipes Instituições 11. Número de pacientes em fila de espera a cada ano

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Pacientes 12. Número de pacientes em fila de espera por tipo de transplante

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Rim Córnea Coração 13.Número de óbitos hospitalares registrados por ano 2001Piauí: Teresina: 2007 Piauí: Teresina: 2002 Piauí: Teresina: 2008 Piauí: Teresina: 2003 Piauí: Teresina: 2009 Piauí: Teresina: 2004 Piauí: Teresina: 2010 Piauí: Teresina: 2005 Piauí: Teresina: 2011 Piauí: Teresina: 2006 Piauí: Teresina: *ME: morte encefálica; PCR: parada cardiorrespiratória; NAF: não autorização familiar; CIM: contra-indicação médica; ME NC: morte encefálica não confirmada; IE: infra-estrutura; Outros: casos que não estão enquadrados nos demais.

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ANEXOS

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ANEXO A

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENFERMAGEM

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título do estudo: Avaliação do desempenho do Sistema de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos no Piauí, no período 2001a 2011. Pesquisador responsável: Lídya Tolstenko Nogueira Pesquisador Colaborador : Milleni Sousa Vieira Instituição/ Departamento: Universidade Federal do Piauí/ Departamento de Enfermagem Telefone para contato: (86)3215- 5558; (86) 3231-3743 Local de coleta de dados: CNCDO, OPO, CIHDOTT e Banco de Olhos. Prezado (a) Senhor (a):

Você está sendo convidado (a) a responder às perguntas desta entrevista de forma voluntária. Antes de concordar em participar desta pesquisa e responder este questionário, é muito importante que você compreenda as informações e instruções contidas neste documento. Os pesquisadores deverão responder todas as suas dúvidas antes que você decida participar. Você tem o direito de desistir de participar da pesquisa a qualquer momento, sem nenhuma penalidade e sem perder os benefícios aos quais tenha direito. Objetivo do estudo : Avaliar o desempenho do Sistema de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos no Piauí, no período 2001-2011. Procedimentos . A coleta de dados para a pesquisa será feita por meio da aplicação de um roteiro de entrevista com perguntas abertas, que abordam as ações dos profissionais que fazem parte do Sistema Estadual de Transplantes. Benefícios . Esta pesquisa trará maior conhecimento sobre o tema abordado, sem benefício direto para você. Riscos . O preenchimento deste roteiro de entrevista não representará qualquer risco para você. Sigilo . As informações fornecidas por você terão sua privacidade garantida pelos pesquisadores responsáveis. Os sujeitos da pesquisa não serão identificados em nenhum momento, mesmo quando os resultados desta pesquisa forem divulgados em qualquer forma. Gastos e/ou pagamento de indenização. A participação nesta pesquisa será voluntária sendo que o participante não terá gastos nem tampouco haverá pagamento de indenização por parte dos pesquisadores aos pesquisados por participarem do estudo.

CONSENTIMENTO: Ciente e de acordo com o que foi exposto anteriormente, eu, ___________________________ RG/CPF. _____________________, abaixo-

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assinado, autorizo a coleta de dados a partir da minha entrevista. Tive pleno conhecimento das informações descrevendo o estudo “Avaliação do desempenho do Sistema de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos no Piauí, no período 2001-2011.” Ficam claros para mim os propósitos do estudo, a ausência de riscos, a garantia de confidencialidade e esclarecimentos permanentes. Concordo, voluntariamente, em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento sem quaisquer prejuízos. Ficando com a posse de uma via deste consentimento. Teresina,___de______de 20__. _____________________________________ Nome completo _____________________________________ Assinatura ___________________________ Lídya Tolstenko Nogueira Pesquisadora responsável

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