pequeno manual de divulfação científica

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PEQUENO MANUAL DE DIVULGAO CIENTFICA - UM RESUMO Cssio Leite Vieira Julho 2004

Introduo Em 1999, publiquei um livreto de 50 pginas, o Pequeno Manual de Divulgao Cientfica Dicas para Cientistas e Divulgadores da Cincia (Cincia Hoje / USP, Rio de Janeiro / So Paulo). A iniciativa nasceu de meu trabalho na Cincia Hoje, revista de divulgao cientfica publicada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia desde 1982. A Cincia Hoje tem semelhanas com a Scientific American. A maior delas que grande parte do contedo de ambas formado por artigos escritos por pesquisadores. Porm, diferentemente de sua similar norte-americana, a Cincia Hoje tem como principal objetivo fazer com que os cientistas brasileiros escrevam para o grande pblico. Na ltima dcada, tenho trabalhado na Cincia Hoje como editor de textos da rea de cincias exatas. Nesse cargo, minha funo adequar contedo e linguagem dos originais enviados pelos cientistas para leitores no especializados. No entanto, o material que chegava s minhas mos era inadequado para o pblico da revista, em geral dotado de linguagem tcnica, incluindo, s vezes, frmulas complexas e jarges impenetrveis de certa forma, porm em proporo bem menor, essa situao persiste at hoje. Na poca, o fato de a revista no ter um 'manual com regras para os autores' complicava bastante meu trabalho. Portanto, decidi preparar um. O resultado foi o Pequeno Manual, uma relao de normas bsicas, baseadas no bom senso e voltadas para uma redao direcionada ao grande pblico. O resumo a seguir uma adaptao desse manual, ou seja, regras simples seguidas de explicaes concisas. Talvez, a simplicidade e mesmo a obviedade da maioria delas seja reflexo da situao na Amrica Latina, onde a cultura de se escrever sobre cincia para o grande pblico no to disseminada quanto na Europa e nos Estados Unidos. No entanto, espero que esse conjunto de regras seja til para pesquisadores, divulgadores da cincia e jornalistas de outros pases. LINGUAGEM Ateno para as diferenas de linguagem A linguagem para um artigo de divulgao cientfica deve ser diferente daquela empregada num artigo cientfico. Inacreditavelmente, alguns pesquisadores ainda no conseguiram perceber isso. "Fisgue" o leitor A introduo ou o primeiro pargrafo de um artigo de divulgao cientfica so cruciais para "fisgar" a ateno do leitor e motiv-lo a chegar at o fim do texto. Romances e contos, em geral, guardam o melhor para o final. Mas, no caso de um artigo de divulgao cientfica, prefervel que se comece com uma imagem de impacto, com uma passagem marcante. Enfim, algo que surpreenda o leitor. Evite espantar o leitor no primeiro pargrafo Um incio complicado, com frmulas e conceitos difceis, uma receita infalvel para fazer o leitor abandonar a leitura depois das primeiras linhas. Use e abuse das analogias Analogias so essenciais em um artigo de divulgao cientfica. Melhor usar aquelas que aproximem os conceitos cientficos de fenmenos do dia-a-dia do leitor. Mas, sempre que necessrio, aponte os limites da analogia empregada, para evitar que o leitor faa extrapolaes indevidas. Por exemplo, "Segundo a frmula mais famosa da cincia, E = mc 2 (E para energia, m para massa e c para velocidade da luz), um quilo de matria geraria cerca de 25 bilhes de kWh, energia suficiente para suprir, por 8 meses, o atual consumo de energia eltrica no Brasil. No entanto, os fsicos ainda no sabem como transformar matria em energia com 100% de eficincia, e, em termos prticos, esse percentual muito baixo. Mesmo em exploses de bombas atmicas,

essa taxa no chega a 1%." Seja preciso Qualquer informao (cientfica ou no) deve ser precisa. Sempre. Alm disso, em divulgao cientfica, vital distinguir especulaes de resultados comprovados. Mire no seu pblico Talvez, essa seja a regra mais importante apresentada aqui: sempre tenham em mente o seu pblico. At mesmo Einstein fez isso (veja o prefcio de Evoluo das Idias da Fsica). Esta regra vlida qualquer que seja seu pblico, de crianas a especialistas. Evite frmulas Sempre. Se voc tiver que us-las, inclua o significado dos termos. Mesmo frmulas famosas como E = mc2 devem ser explicadas. O mesmo alerta vale para equaes qumicas. Humor Humor pode tornar a leitura mais agradvel para o leitor, aumentando as chances de ele ir at o final do artigo. Porm, no exagere, para no ofend-lo. Sem rococs Use uma linguagem simples, direta e informal, sem rococs. Lembre-se: simplicidade da linguagem no incompatvel com a riqueza de contedo. Enxugue o texto Compare " expressamente proibido fumar nesta sala" com "No fume". fcil ver qual prefervel. Lembre-se: espao precioso em jornais e revistas (veja abaixo "Nem 8, nem 80"). Evite jarges Eles tornam o artigo "pesado". Mas, se for preciso us-los, explique-os entre parnteses ou num glossrio (veja prximo item). Explique sempre Dissemos para evitar jarges. Porm, quase impossvel evitar conceitos cientficos. Portanto, explique-os da forma mais simples possvel. Exemplos: cloreto de sdio (sal); hidrxido de sdio (soda custica); mitocndria (fbrica de energia da clula). Evite usar um termo cientfico para explicar outro: frmions (partculas que obedecem estatstica de Fermi-Dirac). Quando uma explicao parecer impossvel, esforce-se um pouco mais. Use uma analogia. Transmita o conceito de forma aproximada isso prefervel a mant-lo ininteligvel em nome do preciosismo. Boxes para o mais complicado Precisa descrever algo mais complicado ou tcnico? Ponha-o num boxe ou num texto parte. Mas no se esquea de simplificar os conceitos e passagens mais difceis. Quem , o que faz e onde nasceu Prefira "o fsico dinamarqus Niels Bohr (1885-1962)" em vez de "Bohr". Empregue "em 1998, o fsico britnico Joe Olmi, do Departamento de Inteligncia Artificial da Universidade do Reino Unido, publicou um artigo sobre nanorrobs no Journal of Robotics (vol. 20, n. 456, p. 457)..." em vez de "Segundo Olmi (J. of Rob. 1998)...". Siglas por extenso Ningum obrigado a conhecer siglas. Portanto, use, por exemplo, "Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia (SBPC)" em vez de apenas "SBPC". Nem rodaps, nem agradecimentos Em jornais e revistas, no h espao para notas de rodap nem agradecimentos. Evite tambm citaes bibliogrficas como (Science 43 (6543):53, 1992). Em geral, essa forma nada significa para o leitor no especializado. Caso seja necessrio citar um artigo, use algo como "[...] publicado na revista cientfica norte-americana Science (vol. 43, n. 6.543, 1992, p. 53)." No d falsas esperanas

Em artigos sobre temas mdicos, deixe claro, se for o caso, que os resultados apresentados esto longe de se tornarem um medicamento ou um tratamento para a cura da doena. Seu leitor (ou algum parente ou amigo dele) pode ser um portador da doena em questo. FORMA Obedea "ditadura do espao-tempo" A mdia sofre da chamada "ditadura do "espao (ou tempo)". Em jornais e revistas, por exemplo, o nmero de palavras escritas deve se adaptar ao espao reservado para o seu artigo. Portanto, seja conciso e se conforte com o fato de que nem mesmo a Enciclopdia Britannica contm toda a informao sobre um determinado assunto. Nem 8, nem 80 Escreva o nmero de palavras que o editor lhe pediu. Artigos longos precisam ser cortados. Os curtos devem ser encompridados e alguns jornalistas dizem que, pior que cortar um artigo de outro autor, ter que aument-lo. O melhor jeito de evitar surpresas pedir ao editor o nmero de palavras. Sugira ttulos Ttulos so a primeira coisa a ser lida. Cri-los um tipo de arte praticada por editores experientes em jornais, os ttulos obedecem a critrios rgidos em relao ao nmero de palavras. No entanto, sugestes so sempre bem-vindas por qualquer editor. D uma pausa ao leitor Pargrafos curtos so preferveis a longos. Jornais geralmente usam os curtos. Mas, mesmo escrevendo para revistas, evite os longos, pois melhor dar ao leitor uma pausa para que ele pense a respeito do que acabou de ler. Procure enviar imagens Tanto para jornais quanto revistas, tente enviar boas ilustraes ou, no mnimo, indicar ao editor onde elas podem ser encontradas. Imagens em alta resoluo (300 dpi) so preferveis. Evite enviar grficos, esquemas ou tabelas complicados, pois a maioria das pessoas tem dificuldade em interpret-las. Ponha legendas nas imagens Certa vez, enquanto editava um artigo, olhei para uma imagem que acompanhava o texto e escrevi na legenda que a criatura era uma lagarta. Era um peixe. Esse tipo de erro bem possvel quando imagens vm sem legendas. Portanto, no se esquea delas em suas fotos ou ilustraes. Lembre-se dos crditos Nunca, nunca se esquea de dar o crdito ao autor da foto. No caso de ilustraes, tabelas, diagramas, esquemas etc., cite a fonte. Em caso de dvida, consulte o editor, que provavelmente saber se uma imagem pode ou no ser reproduzida. Outro ponto de vista Se possvel, inclua um outro ponto de vista sobre o tema em discusso em seu artigo. A falta dele pode dar ao leitor a idia errada de que seu texto a palavra final sobre o assunto.

http://www.scidev.net/ms/sci_comm/index.cfm?pageid=310 acesso: 06/06/07