pensamentos sobre a sexualidade infantil

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1 Pensamentos sobre a sexualidade infantil Alice Marques i A abordagem à sexualidade em qualquer que seja a faixa etária sobrevive em meio a intensos conflitos: preocupações, dúvidas, crenças religiosas, idéias preconcebidas, experiências infelizes entre outros. Tanto pais quanto educadores são obrigados a lidar com a situação real de ouvir a pergunta de uma criança sobre alguma curiosidade sexual ou de vê-la atraída pelas partes íntimas de seu corpo ou de seu coleguinha provocando situações - seja por meio de gestos ou de palavras - de absoluto horror ou constrangimento entre pais em choque. Em um primeiro momento, pais e educadores, ainda sob choque, podem reagir baseando-se na abominação, rejeição, repressão, coação às atitudes mal vistas das crianças. Vários são os sentimentos que trazem tal repugnância. Um deles é a associação da sexualidade infantil à sexualidade adulta. Esta última é conhecida não somente por sua beleza e espaço de prazer, mas infelizmente por variadas ideias a ela relacionadas como por exemplo, prostituição, homosexualismo, depravação, pedofilia. Todos queremos o bem total de nossos filhos e principalmente preserva-los de qualquer desvio social ou psicológico. Desejamos filhos íntegros, bem vistos pela sociedade, que usufruam do sucesso em todos os setores e que persigam uma correção moral dentro de padrões cristãos na maioria das vezes. De modo independente, esse nosso sentimento do bem não evita que nossos pequenos se descubram seres com uma sexualidade que já brota seguramente desde cedo. Da infância à maturidade passamos i Alice Marques, mãe de Bruno, 4. [email protected]

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Pensamentos sobre a sexualidade infantil

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Page 1: Pensamentos Sobre a Sexualidade Infantil

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Pensamentos sobre a sexualidade infantilAlice Marquesi

A abordagem à sexualidade em qualquer que seja a faixa etária sobrevive em meio a

intensos conflitos: preocupações, dúvidas, crenças religiosas, idéias preconcebidas,

experiências infelizes entre outros. Tanto pais quanto educadores são obrigados a

lidar com a situação real de ouvir a pergunta de uma criança sobre alguma curiosidade

sexual ou de vê-la atraída pelas partes íntimas de seu corpo ou de seu coleguinha

provocando situações - seja por meio de gestos ou de palavras - de absoluto horror ou

constrangimento entre pais em choque. Em um primeiro momento, pais e educadores,

ainda sob choque, podem reagir baseando-se na abominação, rejeição, repressão,

coação às atitudes mal vistas das crianças.

Vários são os sentimentos que trazem tal repugnância. Um deles é a associação da

sexualidade infantil à sexualidade adulta. Esta última é conhecida não somente por

sua beleza e espaço de prazer, mas infelizmente por variadas ideias a ela

relacionadas como por exemplo, prostituição, homosexualismo, depravação, pedofilia.

Todos queremos o bem total de nossos filhos e principalmente preserva-los de

qualquer desvio social ou psicológico. Desejamos filhos íntegros, bem vistos pela

sociedade, que usufruam do sucesso em todos os setores e que persigam uma

correção moral dentro de padrões cristãos na maioria das vezes.

De modo independente, esse nosso sentimento do bem não evita que nossos

pequenos se descubram seres com uma sexualidade que já brota seguramente desde

cedo. Da infância à maturidade passamos por diversas fases sexuais. Não há como

rejeitar essa condição humana. Só nos resta buscar a melhor forma de lidar com esse

desafio respeitando o nosso pensamento do bem e simultaneamente considerando a

natureza humana.

Quem já buscou leituras sobre o assunto pode ter se deparado com informações que

apontam para grandes estragos psicológicos quando o assunto sexualidade (nas

faixas etárias, nas quais o ser humano está em processo básico de educação) é

tratado com menor valia, ou de modo repressivo. Um dos estragos é a compreensão

da sexualidade como algo sujo. Como não é possível eliminar essa característica em

nós, o adulto poderá trazer para a sua prática essa imagem de sujeira sexual, como

imagino ser aquela praticada por pedófilos.

i Alice Marques, mãe de Bruno, 4. [email protected]

Page 2: Pensamentos Sobre a Sexualidade Infantil

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Minha intenção e conduta com meu filho de 4 anos tem sido, como a de todos os pais

em relação a seus filhos, encaminhá-lo para o bem, dentro de princípios socialmente

aceitos. De forma nenhuma, entretanto, gostaria de assustá-lo ou traumatiza-lo com

repreensões que no futuro podem dar real dor de cabeça. Ocupo-me em buscar saber

o que dizer e o que fazer quando meu ex-bebê demonstrar suas dúvidas ou seu

interesse nas próprias partes íntimas em plena via pública.

Minha colocação é de que nos interessemos como pais e educadores de modo calmo,

nítido e prudente para tratar o assunto que a todos nós cabe. Não reproduzamos

simplesmente velhos comportamentos frente á sexualidade. Uma conduta adequada

com nossos filhos agora poderá contribuir para um adulto mais equilibrado e apoiado

na clareza, no respeito real pelo sexo e não na subversão; esta, fruto de repressões,

de imposições contrárias ao ser humano.