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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL DEPARTAMENTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO CURSO DE ARTES VISUAIS ESTUDO SOBRE O MERCADO DE ARTES PLÁSTICAS EM CAMPO GRANDE MS MONICA BRANDÃO OLIVEIRA PENNA Campo Grande MS 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL DEPARTAMENTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO

CURSO DE ARTES VISUAIS

ESTUDO SOBRE O MERCADO DE ARTES PLÁSTICAS EM CAMPO GRANDE – MS

MONICA BRANDÃO OLIVEIRA PENNA

Campo Grande – MS 2008

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MONICA BRANDÃO OLIVEIRA PENNA

ESTUDO SOBRE O MERCADO DE ARTES PLÁSTICAS EM CAMPO GRANDE – MS

Relatório apresentado como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Artes Visuais à Banca Examinadora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, sob a orientação do Prof. Ms. Darwin Antonio Longo de Oliveira.

Campo Grande – MS 2008

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Dedico este trabalho a Deus, à minha família e a todos que me ajudaram a amar as artes da forma como eu amo!

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AGRADECIMENTOS

Muitas pessoas colaboraram com este trabalho. Das formas mais

distintas, em momentos muito diversos, todas fizeram contribuições valiosas.

Entretanto, é sempre uma difícil tarefa lembrar-se de todos, tal é a quantidade de

dados, informações e opiniões que são prestados no decorrer da elaboração de um

trabalho.

Creio que essa dificuldade se torna maior pelo receio de, sem querer,

esquecer de alguém e, com isso deixar de transparecer que não houve

reconhecimento de alguma ajuda ou conselho.

Inicio, portanto, com um agradecimento genérico a todos aqueles

professores e colegas com os quais convivi no transcorrer do curso, com os quais

tive a oportunidade de trocar idéias, discuti-las e aprender.

Agradeço, de forma especial, ao meu orientador, Prof. Ms. Darwin Antonio

Longo de Oliveira, e à Profa. Ms. Marley Sigrist, com quem compartilhei minhas

dúvidas e anseios e de quem sempre obtive uma orientação segura e objetiva.

A todos os participantes da pesquisa de campo realizada, por dedicarem

seus preciosos tempos a responderem os diversos questionamentos que lhes fiz:

Alfredo Arruda, Américo Calheiros, Evandro Prado, Idara Duncan, Isaura Corbucci,

Izabella Mercante, Janine Menezes Tortorelli, Jean Lima, Rafael Maldonado, Maria

Raquel Gomes, Yara Penteado, dentre outros.

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Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.

Clarice Lispector

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RESUMO

Este trabalho apresenta um estudo sobre o mercado de artes plásticas de Campo Grande – MS e foi realizado com o objetivo de conhecer, pesquisar e analisar esse mercado. A metodologia utilizada para o desenvolvimento do trabalho envolveu, em um primeiro momento, a pesquisa exploratória e, após, a pesquisa descritiva. Foram necessárias, ainda, a pesquisa bibliográfica, para o suporte teórico, e a pesquisa de campo, feita por meio de entrevistas não-estruturadas feitas junto às pessoas escolhidas a partir do objetivo determinado para o trabalho. O enfoque dado ao estudo foi qualitativo. O mercado de arte em Campo Grande ainda é pequeno e sua dinâmica está restrita a poucos espaços e poucos distribuidores e consumidores, apesar do número significativo de artistas. As instituições governamentais incentivam por meios que disseminam a arte e os artistas junto ao público, assim como pessoas interessadas criam espaços alternativos para exposição e venda de arte. Ainda há muito a ser feito para que a arte e os artistas se tornem conhecidos de um público que compreenda a sua importância histórica, cultural e socioeconômica.

Palavras-Chave: Artes plásticas. Mercado. Campo Grande-MS.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Roteiro para descobrir as necessidades dos consumidores .............. 19

Figura 2 – Fatores que influenciam o comportamento de compra ...................... 22

Figura 3 – “O boiadeiro” – quadro de Jorapimo, artista plástico corumbaense,

homenageado pelos seus 70 anos, em 2007, com exposição no Centro Cultural

José Octávio Guizzo, Campo Grande – MS ........................................................ 32

Figura 4 – Casa do Artesão – Campo Grande – MS ........................................... 32

Figura 5 – MARCO – Campo Grande – MS ........................................................ 33

Figura 6 – Caminho Kadiwéu, obra de Therezinha Neder, em exposição no

MARCO ............................................................................................................... 33

Figura 7 – Art Galeria Mara Dolzan ..................................................................... 34

Figura 8 – Memorial da Cultura e da Cidadania Apolônio de Carvalho – Campo

Grande – MS ....................................................................................................... 35

Figura 9 – Serrana – óleo sobre tela de Ilton Silva .............................................. 36

Figura 10 – Sonho – óleo sobre tela e entalhe, de Ilton Silva ............................. 36

Figura 11 – Armazém Cultural – Campo Grande – MS ....................................... 37

Figura 12 – “Rodeio” – Humberto Espindola ....................................................... 40

Figura 13 – Da série Rosa-boi – Humberto Espindola ........................................ 40

Figura 14 – Imagem externa da Morada dos Bais ............................................... 42

Figura 15 - Quadro da Exposição Cores e Formas de Kátia D’Ângelo, na Morada

dos Baís .............................................................................................................. 43

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................... 08

CAPÍTULO I: ARTE: ORIGEM E NECESSIDADE ............................................. 10

CAPÍTULO II: MERCADO DE ARTE .................................................................. 14

2.1 A ARTE COMO PRODUTO .......................................................................... 14

2.2 A ARTE E O MARKETING ............................................................................ 18

2.2.1 O público-alvo e seu comportamento de compra ....................................... 21

2.2.2 Comunicação com o cliente ....................................................................... 24

2.2.3 Valoração de uma obra artística ................................................................. 25

CAPÍTULO III: METODOLOGIA ......................................................................... 28

3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................... 28

CAPITULO IV: MERCADO DE ARTE EM CAMPO GRANDE – MS .................. 31

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 48

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INTRODUÇÃO

“Numa dialética confusa, o julgamento estético se transforma em pretexto para uma operação comercial, e uma operação comercial bem-sucedida vira julgamento estético.”

Raymonde Moulin

O mercado de arte, ao longo do tempo, passou por muitas transformações

importantes e necessárias para chegar até onde chegou e com certeza

transformações ainda virão. Inserido neste, o mercado de artes plásticas, tema

desse trabalho, é considerado como um segmento de bens de luxo. Neste contexto,

as pessoas que adquirem peças artísticas passam a ser vistas como de um status

social distinto.

O próprio mercado de arte é estratificado, dividindo-se em circuitos, que

por sua vez se subdividem conforme as diferenças socioeconômicas em que estão

inseridos e o grau de reconhecimento perante o seu público e outros mercados, o

qual é avaliado pela representatividade de sua produção artística.

O mercado de arte é fundamental para a circulação das obras e, ainda

mais, conforme Moulin (2007), a constituição dos valores artísticos efetua-se com a

articulação do campo artístico e do mercado, onde no campo artístico são operadas

e revisadas as avaliações estéticas e no mercado se realizam as transações e se

elaboram os preços.

Tendo em vista, a importância de um mercado para a arte, optou-se pelo

desenvolvimento do tema nesse trabalho de conclusão de curso, a partir das

indagações: Existe mercado de arte em Campo Grande – MS? Como é

comercializada arte em Campo Grande? Qual a percepção dos componentes desse

universo estudado sobre o assunto?

Para o desenvolvimento do estudo foram necessárias as pesquisa

bibliográfica e a pesquisa de campo. A pesquisa bibliográfica foi realizada a partir de

um levantamento, em que se constatou que o material sobre o tema é escasso,

principalmente textos de conteúdo científico, como se desejava para esse trabalho.

Foram encontrados mais artigos sobre consumo de arte. Assim, foi utilizado o livro

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de João Carlos Lopes dos Santos, “Manual do mercado de arte”, complementado

com outros textos.

A pesquisa de campo foi realizada com a coleta de depoimentos de

pessoas do segmento artístico de Campo Grande, reconhecidas pelo seu trabalho,

experiência e conhecimento do tema em estudo.

Esse trabalho foi estruturado em capítulos, sendo o primeiro sobre a

origem e a necessidade da arte; o segundo versa sobre o mercado da arte, de uma

forma geral, em que são conceituadas as diversas partes de um mercado, que se

complementam para formar o todo.

O terceiro capítulo apresenta a metodologia utilizada para o

desenvolvimento do estudo e o quarto, trata do mercado de arte em Campo Grande,

onde são relatados os resultados da pesquisa bibliográfica e da pesquisa de campo.

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CAPÍTULO I

ARTE: ORIGEM E NECESSIDADE

Este capítulo traz uma breve análise da origem e necessidade da arte, a

partir da teoria de Ernst Fischer, em sua obra “A necessidade da arte” e de Néstor

Garcia Canclini, em “A socialização da arte: teoria e prática na América Latina.

A arte é quase tão antiga quanto o homem. Fischer (1981) diz que a arte é

uma forma de trabalho e este é característico do homem. O trabalho é uma

transformação da natureza, realizada para prover as necessidades humanas. Para

essa transformação foram necessárias ferramentas, ou utensílios, as quais o homem

criou e aperfeiçoou no decorrer do tempo.

Para a comunicação e expressão, o homem precisou da linguagem. Fischer

(1981) afirma que quanto mais o homem acumula experiência, quanto mais aprende

a conhecer as diferentes coisas em seus diferentes aspectos, tanto mais rica precisa

tornar-se a sua linguagem.

Porém, o homem necessitava de mais instrumentos, para tanto apreendeu o

conceito de semelhança. Com a fabricação de um segundo instrumento semelhante

ao primeiro, o homem produziu um novo instrumento, com a mesma utilidade. E,

com a criação de muitos outros, cópias do primeiro, deu nome aos instrumentos ou a

grupos deles, conforme eram conexos.

Foi dessa maneira que o homem evoluiu; com a utilização de instrumentos e

através do processo coletivo de trabalho. Foi ele, o primeiro a chegar a se defrontar

com o conjunto da natureza como um sujeito ativo. Porém, conforme evoluía se

distanciava da natureza da qual faz parte.

Por meio do seu trabalho, o homem transforma o mundo como um mágico;

objetos materiais são transformados em signos, em nomes, conceitos. O próprio

homem é transformado de animal em homem. Essa magia encontrada na própria

raiz da existência humana, criando, ao mesmo tempo, um senso de fraqueza e uma

consciência de força, um medo da natureza e uma habilidade para controlá-la, essa

magia é a verdadeira essência da arte.

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A descoberta de que os objetos naturais podiam ser transformados em

instrumentos capazes de agir sobre o mundo exterior e mudá-lo levou a mente do

homem primitivo, sempre experimentando e despertando aos poucos para o

pensamento, a outra idéia: de que o impossível também poderia ser conseguido com

instrumentos mágicos. Ou seja, a mágica de fazer instrumentos levou-o a tentativa

de estender a magia ao infinito. A arte era um instrumento mágico e servia ao

homem na dominação da natureza e no desenvolvimento das relações sociais.

Fischer (1981, p.11) escreve que:

A arte concebida como “substituto da vida”, a arte concebida como o meio de colocar o homem em estado de equilíbrio com o meio circundante – trata-se de uma idéia que contém o reconhecimento parcial da natureza da arte e da sua necessidade.

Para o autor, como esse equilíbrio não pode ser previsto, a arte sempre foi e

será necessária.

Porém a arte não pode ser concebida apenas como substituta. Ela é muito

mais que isso. Suas funções são inúmeras, tendo em vista os desejos e

necessidades do homem. O Homem quer ser mais do que ele mesmo, ou seja, quer

ser um homem total. E este desejo de se desenvolver e completar mostram que ele

é mais que um indivíduo, que somente pode atingir a plenitude ao apoderar-se das

experiências alheias que potencialmente lhe dizem respeito, que, conforme Fischer

(1981), inclui tudo aquilo que a humanidade, como um todo, é capaz. Somente a

arte pode realizar essa união do homem com o todo; somente ela reflete a

capacidade humana para a associação, para a circulação de experiências e idéias.

Na concepção do autor, para conseguir ser um artista é necessário dominar,

controlar e transformar a experiência em memória, a memória em expressão e a

matéria em forma. Para o artista, a emoção é essencial, portanto ela deve saber

tratá-la, transmiti-la, assim como conhecer todas as regras, técnicas, recursos,

formas e convenções com que a natureza pode ser dominada e submetida à

concentração da arte (Ibidem).

As exigências destinadas ao artista são necessárias porque a razão de ser

da arte não é permanente. A sua função, em uma sociedade onde existe a luta de

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classes é diferente, em muitos pontos, da função original da arte. Porém, a arte

mostra ser permanente em alguns aspectos, o que é comprovado com a comoção

causada por quadros e músicas, dentre outras expressões artísticas, de tempos

antigos.

O texto acima remete à verdade de que toda arte é condicionada ao seu

tempo e representa a humanidade em consonância com as idéias e aspirações, as

necessidades e as esperanças de determinada situação histórica. Mas, ao mesmo

tempo, a arte consegue superar essa limitação e cria também um momento de

humanidade que promete constância no desenvolvimento.

Acerca da contribuição da arte para o conhecimento, Canclini (1984) informa

que para verificar o valor dessa contribuição, primeiro deve se estabelecer como a

arte está inserida no contexto, em que medida sofre seus condicionamentos e em

que medida é capaz de tornar a agir sobre eles e produzir um conhecimento efetivo.

O autor diverge da colocação da arte e do conhecimento artístico como um norte

para o conhecimento da própria sociedade, ou mesmo, como um padrão de toda a

vida social. Para o autor, esta é uma visão idealista e romantizada da arte.

Na América Latina, por exemplo, a história da arte era marcada pelos estilos,

desconhecendo o contexto histórico-social de cada época. A mudança nesse padrão

ocorreu devido ao agravamento dos conflitos sociais que levaram à uma tomada de

consciência pelos artistas, assim como a expansão da sociologia no continente, que

influenciou o estudo da arte.

Fischer (1981) relata que no início, a arte era magia, com a função de ser

um auxílio mágico à dominação de um mundo ainda inexplorado. A arte, combinada

com a religião e a ciência, era uma forma primitiva de magia e viviam em um estado

latente. Com a evolução do tempo, esse papel mágico da arte foi cedendo lugar ao

papel de clarificação das relações sociais, da iluminação dos homens em

sociedades que se tornavam opacas, ao papel de auxiliar o homem a reconhecer e

transformar a realidade social.

Conforme a necessidade humana, ou melhor, do estágio alcançado pela

sociedade, predomina um dos dois elementos da arte. Pode ser o da racionalidade,

do esclarecimento; outras vezes o da magia, da intuição, do sonho, o desejo de

aguçar a percepção.

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Contudo, independente do seu papel na sociedade, a arte jamais é uma

simples descrição clínica do real. Sua função sempre tem relação com o homem

“total”, capacita o “Eu” a identificar-se com a vida dos outros, de incorporar a si

mesmo aquilo que ele não é, mas tem possibilidade de ser (FISCHER, 1981).

Pode ser questionado que a arte relacionada à magia, ao sonho, não serve

para uma classe destinada a transformar o mundo; para isso, a arte deve ser aquela

que esclarece e motiva à ação. Mas, o que é a arte sem um pouco de magia? Sem

esse resíduo mágico, vindo de sua natureza original, a arte deixa de ser arte. A arte

é necessária para que o homem seja capaz de conhecer e transformar o mundo.

Mas ela também é necessária pela magia que lhe é inerente.

Canclini (1984) fala sobre a arte de libertação, que caracteriza-se por

representar a realidade de forma crítica; com uma linguagem capaz de participar nas

transformações impulsionadas pelo povo, na produção de uma sociedade. A

verdadeira arte revolucionária é aquela que, por estar a serviço das lutas populares,

transcende o realismo. Não somente reproduz a realidade, mas está interessada em

imaginar os atos que a superem.

Os condicionamentos sociais são regidos por leis, pertencem ao campo

da necessidade; a ação da arte, como transformadora, busca ir além das leis, está

condicionada pela necessidade, mas abre nela um lugar para o possível. O que

diferencia a arte de outros modos de transformação é que ela procura mudar a

realidade, para participar da evolução história e, também, pelo simples prazer de

inventar.

A arte também deve divertir; o artista também deve trazer entretenimento

ao povo. Mas o que se percebe é que as obras de cunho popular são dramáticas,

solenes, descrevem trabalhadores angustiados e que estampam a indignação. Já

quando o artista se permite experimentar o jogo e o prazer em suas obras, estas são

dirigidas a um público especializado. Canclini (1984) entende que essa diferenciação

traduz a separação entre o trabalho e o ócio, característico do sistema social

burguês. Ao artista cabe mudar essa concepção, sendo também responsável pelo

entretenimento e não deixando somente que os meios de comunicação de massa

manipulem o povo. A arte deve se constituir em um instrumento capaz de reconstruir

as experiências sensíveis e imaginativas do povo. Socializar a arte significa também

redistribuir o acesso ao prazer e ao jogo.

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CAPÍTULO II

MERCADO DE ARTE

Este capítulo apresenta as noções básicas sobre o mercado de arte,

partindo da visão da arte como um produto e, após, aplicando os conceitos de

marketing para esse mercado, principalmente, a figura do consumidor.

2.1 A ARTE COMO PRODUTO

O termo mercado, originalmente, significava o local onde compradores e

vendedores se reuniam para trocar seus bens ou produtos, geralmente uma praça

de uma pequena vila. Já, os economistas utilizam o termo mercado para se referir a

um grupo de compradores e vendedores que realizam transações em torno de um

produto ou grupo de produtos. Kotler (1998) define mercado como todos os

consumidores potenciais que compartilham de uma necessidade ou desejo

específico, dispostos e habilitados para fazer uma troca que satisfaça essa

necessidade ou desejo.

Santos (1999) conceitua mercado de arte como a via processual pela qual

transita um segmento de pessoas físicas e jurídicas em torno do objetivo de

comercializar obras de arte que, com base na lei da oferta e da procura, determina

os relacionamentos e, principalmente, estabelece preços.

Braga (2008) afirma, de modo enfático, que arte, hoje, como tudo, é um

produto. Arte vende, e circula na medida em que vende. Os artistas são grandes

artistas e suas obras são primas na proporção quase exata de seu sucesso

comercial.

Quando se fala em mercado de arte e tudo o que isso significa: produção,

distribuição e consumo, ou seja, comercializar a criação artística, alguns

argumentam que isso pode distorcer a concepção da arte, tornando-a uma

mercadoria como outra qualquer. Pode torná-la banal.

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A arte como qualquer outro mercado divide-se em produtores,

distribuidores e consumidores, estes últimos com valor significativo dado pelo

capitalismo, que, na maioria dos casos, financiam a produção e a exibição,

monopolizando o processo.

Esse monopólio é antigo, vindo desde a troca dos artesanatos indígenas

por quinquilharias. Ao chegarem à cidade, enganam o consumidor, vendendo o

artesanato com alto valor e, inclusive, mentindo sobre a sua procedência. O que

significa que exploravam desde o produtor ao consumidor final.

Atualmente não é muito diferente. Em todos os tipos de arte existem os

distribuidores que exploram os artistas e os consumidores. Na pintura, os

marchands exigem que os artistas pintem o estilo que eles precisam, dominam a

publicidade, a crítica e o acesso dos grupos sociais.

Desta forma, os distribuidores privilegiam um grupo em detrimento ao

outro. O que demonstra não haver somente a liberdade de criação, mas uma

situação distorcida em que a manipulação do mercado resiste. Por isso, é muito

importante que haja canais de distribuição alternativos e democráticos entre os

produtores e os consumidores.

O fato de existir um mercado de arte manipulado faz com que a imagem

da produção artística de um país seja falsa, para aqueles que se atém aos meios

comerciais de exibição. Existe a arte disseminada de forma popular, em espaços

alternativos, como as associações de bairros e de classes; escolas; praças e outros

meios que oferecem acesso fácil e barato para o povo e os artistas.

Muitas experiências deste tipo são bem sucedidas e ampliou a exploração

de canais não convencionais, mas não basta. Para Canclini (1984), as estratégias

devem criar canais específicos e outros que tenham poder comercial que ensinem a

pensar e formar gosto e sensibilidade.

A arte não se torna popular apenas por ser consumida por muitas

pessoas, mas pela influência das pessoas em todos os seus processos: produção,

distribuição e consumo, ou seja, como as pessoas são incluídas ou excluídas

durante os processos. Essa influência pode ser percebida ao se julgarem as obras

com diferentes critérios de valor.

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A arte elitista privilegia a produção como criação individual, inclui a

burguesia e setores intelectuais da pequena burguesia. A sua distribuição é quase

inexistente, sem importância. O consumidor tem o papel de contemplar a criação do

artista. O valor supremo é a originalidade (CANCLINI, 1984).

A arte para as massas produzida pelas classes dominantes objetiva

transmitir às demais classes a sua ideologia e trazer lucros aos donos dos meios de

difusão. Desta forma, privilegia a distribuição. Quer atingir o maior público possível,

não interessando a originalidade da obra ou as necessidades do consumidor. Seu

valor supremo é a sujeição feliz (Ibidem).

A arte popular produzida pelos trabalhadores ou artistas que exprimem os

seus interesses e objetivos, privilegia o consumo não mercantil. Os seus objetivos

devem trazer utilidade prazerosa e produtiva, não interessando o lucro e

originalidade. O seu alcance está subordinado ao uso e à satisfação das

necessidades do consumidor, entendido como a coletividade. Seu valor supremo é a

representação e a satisfação solidária de desejos coletivos. A arte popular é a arte

da libertação.

Canclini (1984) entende que a arte analisada somente do ponto de vista

ideológico gerou dificuldades ao se alienar de sua vertente material, posto que é

fruto de um processo de produção, disseminação e consumo. Neste caso, foi

esquecido o lado econômico da produção, tendendo a separar o material do

espiritual no processo artístico e criando discussões sobre em que medida o

econômico influi sobre a arte e, conseqüentemente, na própria autonomia do artista.

Outra situação ocasionada pela visão ideológica da arte foi separar o

conteúdo da forma em uma obra, com privilégio do primeiro pela maior clareza com

que exibe os condicionamentos externos, e reduzir as diversas linguagens artísticas

às idéias que se acreditam encontrar nelas.

Canclini (1984) acredita que o mais adequado é vincular as obras às suas

próprias condições materiais de produção. A arte não representa somente as

relações de produção, ela as realiza. E o modo de representação e percepção são

conseqüências do modo de produção da arte e variam com ela. O sistema capitalista

modificou o modo de produzir arte. Enquanto em outros sistemas econômicos, a

prática artística integrava-se ao conjunto da produção, no capitalismo ela separa-se

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e cria objetos especiais para serem vendidos, por sua beleza formal, em lugares

diferenciados e o artista adéqua-se ao sistema para ser bem sucedido. No sistema

capitalista de produção artística, com produção e consumo organizados, o valor

mais alto é dado para a originalidade.

Outro aspecto do sistema capitalista, é que as obras de arte são tratadas

como mercadoria, em que o valor de troca prevalece sobre o valor de uso. Neste

caso, as qualidades valorizadas na seleção inicial acabam anuladas pelo mercado.

Neste ponto, a obra perde todo aspecto de criação pessoal do artista (produtor) e o

comprador (consumidor) recebem o que a concorrência econômica atribuiu à obra.

Essas características do capitalismo em relação à arte, principalmente

estar voltada ao lucro e não à satisfação das necessidades, trazem muitas

conseqüências, diferentes conforme o campo artístico. Por exemplo, na pintura e na

escultura os artistas não produzem em função das necessidades sensíveis ou

criativas dos espectadores, que na maioria dos casos não conhecem; o estilo e a

freqüência de suas criações são determinados pelas exigências do marchand ou do

empresário. Até mesmo as experiências criativas são limitadas pelo mercado e pela

rentabilidade do produto.

Por outro lado, Lisete Lagnado (2006) argumenta que, já é lugar-comum

responsabilizar a indústria cultural pela banalização da experiência estética. Mas

analisar o mercado de arte contemporânea é uma tarefa que exige um foco duplo:

ao mesmo tempo em que é preciso observar as características atuais da arte, é

indispensável também abandonar a visão idealista de um artista à margem dos

processos econômicos da sociedade.

E, ainda mais, sendo assim, o mercado não poderia deixar de ser parte

dessa trama. Afirmar que a “verdadeira arte” só pode tecer uma negação do

mercado (as galerias e feiras de arte) e das instituições que orbitam em torno dele

(os museus, centros culturais, coleções públicas, bolsas de pesquisa artística,

premiações, bienais de arte etc.) é um grito de alerta necessário, mas não se pode

ignorar a dimensão cultural da arte e eventuais êxitos nesse campo.

Porém, é consenso que a arte é necessária ao homem e faz parte da

sociedade, tendo que ser estendida a todos que dela faz parte, isto é, a todas as

classes sociais. Atualmente, se fala muito em inclusão de todos os tipos, mesmo a

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digital. A arte também deve fazer parte desse discurso e das mudanças que ele

provoca.

2.2 A ARTE E O MARKETING

Para Raymonde Moulin (2007), o mercado de arte é segmentado conforme

as obras, sendo a primeira segmentação é imposta pelas características das obras,

dividido entre a arte figurativa tradicional (nome dado pelas galerias) e o da arte

contemporânea, com múltiplas especialidades. A arte tradicional é criada sobre uma

tradição rotinizada e satisfaz um mercado relativamente homogêneo, além disso, é

amplo e estável. A arte contemporânea, por seu lado, alimenta um mercado

dinâmico e fragmentado, com diversos segmentos e é estreito e evolutivo.

Uma forma de levar a arte a todos é otimizar o seu mercado. Talvez o

processo de tratá-la como um tipo de mercadoria seja a melhor forma de torná-la

acessível a todos os tipos de público. Sem deixar de lado o artista, que é o produtor,

e deve ser recompensado de forma justa pelo seu trabalho. Para que isto ocorra, o

mercado de arte pode utilizar as ferramentas de marketing, como todos os demais

mercados.

Mostrando como o conceito de marketing vem evoluindo, Kotler (1998, p.27)

formulou uma nova definição: “marketing é um processo social e gerencial pelo qual

indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam através da criação, oferta e

troca de produtos de valor com outros”.

O marketing apóia-se nas necessidades humanas e, para tanto, é

necessário compreender o comportamento humano. Descobrir necessidades

envolve a procura cuidadosa de potenciais clientes e pesquisar atentamente as suas

necessidades, estudar as tendências do mercado, examinar os da concorrência e

até mesmo analisar as necessidades dos clientes, quando for o caso. A Figura 1, a

seguir, mostra um roteiro para descobrir as necessidades dos clientes.

Page 20: Penna; monica brandão oliveira   estudo sobre o mercado de artes plásticas em cg-ms

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Figura 1 – Roteiro para descobrir as necessidades dos consumidores

Fonte: Berkowitz et al. (2003)

Segundo Canclini (1984), a arte é produção porque consiste numa

apropriação e numa transformação da realidade material e cultural, mediante um

trabalho e para satisfazer uma necessidade social, de acordo com a ordem vigente

em cada sociedade. Ele considera a sua definição válida pela sua abrangência, pois

abarca todo o processo artístico, em todas as modalidades nos mais diferentes

sistemas culturais e econômicos.

O conceito de produção considera as obras de arte como trabalhos, que

podem ser analisados por meio das condições sociais, assim como as técnicas e os

procedimentos que podem modificar essas condições. O que diverge da visão de

arte como criações de indivíduos com poderes divinos para criar.

A arte abrange também a criação, com suas significações, percepções e

originalidade, mas não se resume ao aspecto criador. Neste sentido, os artistas que

se prendem ao que Canclini (1984) chama de dogma da imaculada concepção, não

desejam que a arte seja entendida como trabalho produtivo e perca o que tem de

sedutor. Porém, o autor salienta que a arte vista como fruto da capacidade produtiva

se aproxima mais do povo e, desta forma, se torna mais fascinante, criativa e

libertadora.

Departamento de Marketing da

organização

Descoberta das necessidades dos

consumidores

Informações sobre as necessidades

Potenciais consumidores: o mercado

Page 21: Penna; monica brandão oliveira   estudo sobre o mercado de artes plásticas em cg-ms

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Canclini (1984) explica que na América Latina a arte como produção e

aspecto lúdico gerou uma polêmica que se dividia em duas vertentes. Em uma

estavam aqueles que, a partir de leitura errada de Marx e Lenin, queriam os artistas

submissos à propaganda política; na outra, estavam os artistas que acreditavam ter

uma missão idealista e subtraiam sua prática à história, e alienavam suas obras de

toda a realidade externa, restringindo-as somente a uma verdade própria, acessível

somente a eles.

A obra de arte só passa a existir de forma efetiva se é consumida. A partir

da sua recepção pelo público, ela é transformada, conforme a classe social e a

cultura daquele que dela se apropria. O seu consumo faz parte do processo de

produção e a completa. Assim, ela deve ser avaliada de forma crítica, levando em

consideração critérios como o processo de produção, a sua percepção, como se

insere na história do gosto e como aceita ou modifica os códigos perceptivos

vigentes.

Partindo desse raciocínio, Canclini (1984) contraria dois dogmas da

estética das belas-artes. O primeiro, em nível ideológico, que determina a qualidade

da arte pelo valor imanente das obras ou do prestígio do autor; o segundo, em nível

de mercado, pelo sucesso econômico ditado pelos distribuidores e empresários de

arte. Todos os dois excluem o consumidor comum do processo, elevando a arte a

um patamar onde só tem acesso poucos privilegiados, contribuindo para a sua

elitização.

A arte é diferenciada conforme as classes sociais, pois se presume que

as classes sociais mais altas, por ser mais educada, mais culta e ter tempo para

cultivar o bom gosto, possui o domínio dos códigos estéticos e, de sua forma, dita o

que possui qualidade artística e o que não a possui.

Esse processo de exclusão social somente pode ser quebrado com a

autonomia do artista, que não deve seguir somente o que é dado como estético e de

qualidade em determinado histórico. Canclini (1984) comenta que foi a autonomia

das obras, em relação ao contexto social e o predomínio da forma sobre a função,

os fatos artísticos que contribuíram para a inserção da arte na cultura popular.

Page 22: Penna; monica brandão oliveira   estudo sobre o mercado de artes plásticas em cg-ms

21

Na contemporaneidade, a arte elitizada resulta do conflito entre as

tendências que buscam destruir seu fechamento e outras que sempre necessitam do

espectador mais culto. A abertura da arte para todos traz o muralismo, arte de rua,

desenho ambiental, dentre outras. A preferida pelo sistema mercantil e a estética

burguesa é aquela a qual dão maior valor estético e, conseqüentemente, de

mercado.

Os movimentos artísticos que procuram aproximar a arte do povo

possibilitam construir a interação entre o artista-povo, com maior igualdade entre as

partes, compartilhamento de experiências e de produção. Isto pode , ainda, terminar

ou minimizar com a dependência cultural com as metrópoles, que faz com que a arte

local seja espelhada naquela, com efeito retardado.

2.2.1 O público-alvo e seu comportamento de compra

Santos (1999) escreve que a idéia dominante entre os não-iniciados é que

marketing só tem a ver com a propaganda do produto ou do serviço, levando-se em

conta, e apenas, a indução à compra por parte dos consumidores do produto ou dos

utilizadores do serviço, e, muitas vezes, até criando neles uma necessidade que, na

verdade, sem aquela propaganda indutora, não existiria. Obviamente, ninguém pode

produzir e vender nenhum objeto ou serviço sem anunciá-lo ao universo dos seus

compradores finais.

O público jamais deve ser esquecido, ou seja, os artistas precisam se

comunicar sempre com a comunidade em seu entorno, com a mídia, com outras

pessoas do seu segmento. Assim como, deve acompanhar o que está acontecendo

no mundo. Se ele se fechar de forma exagerada, acaba por ser esquecido e se

tornar uma pessoa alienada, fora do mercado e, até mesmo, da sociedade.

Porém, a questão de se comunicar com o público não significa fazer

concessões para vender mais, pois o artista produz sua arte e compra quem dela

gostar. Porém, complementa o autor, os compradores de arte e o público em geral

devem receber atenção do artista, pois esta também é uma oportunidade do artista

passar sua mensagem, o que ele pensa, falar sobre determinadas obras, enfim, se

Page 23: Penna; monica brandão oliveira   estudo sobre o mercado de artes plásticas em cg-ms

22

tornar mais próximo do público, que entenderá melhor suas criações (SANTOS,

1999).

Faz parte da profissão de outros profissionais do mercado de arte, como os

galeristas e marchands, trabalhar corretamente com os clientes, até mesmo ter

comprometimento com as suas necessidades e desejos. A partir do momento que

esse profissional estiver ao lado do cliente, solucionando os seus problemas com a

aquisição de determinada obra de arte, acompanhando os mínimos detalhes, até

algum tempo depois da venda realizada, com certeza esse cliente se tornará fiel e o

recomendará para outras pessoas.

Outro fator positivo da proximidade com os clientes é conhecer o seu

comportamento de compra. A decisão de comprar é influenciada por diversos fatores

internos e externos.

Kotler (1998) explica que o processo pelo qual os consumidores compram

produtos e serviços começam com o reconhecimento de uma necessidade. Esse

processo de tomada de decisão começa com o consumidor reconhecendo um

problema a ser resolvido ou necessidade e/ou desejo a ser satisfeito, sendo

provocadas por estímulos externos (convite a um casamento, propagandas, outros)

e internos (fome, cansaço, sede, tristeza, felicidade, outros). As influências podem

ser psicológicas, pessoais, sociais e culturais. A Figura 2 traz o modelo de Kotler

(1998), que demonstra os fatores psicodinâmicos internos e externos que atuam

sobre o consumidor.

Figura 2 – Fatores que influenciam o comportamento de compra

Fonte: Kotler (1998)

Page 24: Penna; monica brandão oliveira   estudo sobre o mercado de artes plásticas em cg-ms

23

Os fatores culturais são os que exercem a mais ampla e profunda

influência sobre os consumidores e subdividem-se em três: cultura, subcultura e

classe social. Cultura consiste em acumulação de significados, rituais, normas e

tradições compartilhadas entre os membros de uma organização e é a lente por

meio das quais as pessoas enxergam os produtos.

Desta forma, a cultura determina as prioridades que ele vincula a

diferentes atividades e produtos. A experiência cultural é vista como a personalidade

de uma sociedade evidenciando e assimilando aprendizados, valores percepções e

preferências de uma organização ou sociedade. Nela incluem-se subculturas

(grupos com seus próprios modos de comportamentos) e classe social (pessoas

com valores, interesses e comportamentos similares). Assim, um conhecimento das

várias culturas, de uma sociedade, auxilia os profissionais de marketing a prever a

aceitação dos seus produtos pelo consumidor (SOLOMON, 2002).

Os valores culturais são enraizados no indivíduo, portanto, através de

uma compreensão de sua cultura, o artista e/ou profissional do mercado de artes

pode melhorar suas vendas e a posição das suas obras ou galeria no mercado.

Os fatores sociais, por sua vez, são os grupos de referência, família,

papéis e posições sociais que acabam por influenciar o comportamento de compra.

Os grupos de referência são os grupos de pessoas que influenciam os

pensamentos, os sentimentos e os comportamentos do consumidor.

Kotler (1998, p.164) relaciona grupos de afinidade denominados

“primários”, e os grupos de afinidade denominados “secundários”. Os grupos

primários são constituídos pela família, pelos amigos, pelos vizinhos e pelos colegas

de trabalho; com estes grupos a pessoa interage mais continuamente e são

informais. Já os grupos secundários são constituídos pelas religiões, sindicatos e

profissões, os quais tendem a ser mais formais e exigem interação menos contínua.

Com a diminuição da família tradicional, observa-se que as pessoas estão

colocando ênfase maior em irmãos, amigos íntimos e outros familiares (tios, primos,

para ter companhia e apoio social. Portanto, é essencial descobrir os papéis de cada

membro na compra, o que pode ser a chave do sucesso para aqueles que desejam

permanecer competitivas no mercado.

Page 25: Penna; monica brandão oliveira   estudo sobre o mercado de artes plásticas em cg-ms

24

Quanto aos fatores psicológicos, a compreensão do comportamento

humano é feito por meio da descoberta de suas necessidades, já que todo o

processo de tomada de decisão de compra baseia-se na percepção da pessoa de

que suas necessidades serão satisfeitas com determinada aquisição.

Para Kotler (1998) quando uma pessoa se encontra motivada, está pronta

para agir. Neste sentido, percepção significa a forma pela qual uma pessoa

seleciona, organiza e interpreta as informações para criar um quadro significativo do

mundo. Um motivo é uma necessidade que é suficientemente importante para levar

a pessoa a agir, a maneira como ela age é influenciada pela percepção que ela tem

da situação.

Enfim, o comprador mesmo que indiretamente possui influência em todas

as etapas do processo decisório de compra, assim, comunicação e planejamento de

vendas devem sempre buscar melhoramentos voltados à satisfação e fidelização do

cliente.

2.2.2 Comunicação com o cliente

Santos (1988) explica que não basta pendurar os quadros em uma galeria

e ficar esperando o comprador. O público precisa ser estimulado a visitar o local,

conhecer o acervo e comprar.

Em arte, quando se refere a “estar exposto” significa existir, pois sem

divulgação, circulação e exposição, a obra não existe. Neste segmento de mercado

existem instituições e meios que fazem com o artista seja visto, tais como: museus,

galerias, instituições culturais, livros, bienais e meios de comunicação.

A elaboração da imagem do artista é feita por agentes, como os críticos,

promotores de eventos, jornalistas, publicitários, donos de galerias e curadores.

Mesmo aqueles artistas que não desejam uma proximidade maior com o público ou

serem conhecidos, têm as suas obras e o seu nome visíveis para que sejam

conhecidas e adquiridas.

Page 26: Penna; monica brandão oliveira   estudo sobre o mercado de artes plásticas em cg-ms

25

Em relação aos vários meios disponíveis de mídia e propaganda, mais

uma vez o conhecimento do cliente em potencial é facilitador, para definir o público-

alvo da propaganda deve-se ter informações sobre qual sua classe social, os seus

hábitos, onde moram, dentre outras, quanto maior o conhecimento sobre o seu

público, mais chance existe de obter sucesso na divulgação do artista e suas obras

(Ibidem).

O público-alvo pode ser atraído por meio de eventos e, uma vez que

compareça ao local, deve ser muito bem recebido e tratado, deve ser fornecidas

todas as informações necessárias, proporcionar clima agradável e agradá-lo

plenamente para que se torne um comprador satisfeito e, se não comprar daquela

vez, com certeza fará boa propaganda do local e suas obras, assim como comprará

na primeira oportunidade.

A aquisição de uma obra de arte deve ser transformada em um momento

agradável, importante para o ciente e para o artista ou seu representante. O

comprador deve ser motivado a retornar mais vezes, fazer visitas e ver as

novidades. Após a compra, não deve ser esquecido. O ideal é manter um cadastro

sempre atualizado e fazer contatos com os clientes por meio de catálogos, folders,

convites, até mesmo cumprimentos pelo aniversário dele ou de casamento, por

exemplo. Se ele for sempre lembrado, com certeza não se esquecerá do artista ou

da galeria (Ibidem).

2.2.3 Valoração de uma obra artística

Santos (1999) diz que é difícil, para o artista, a sua entrada em seu

segmento de mercado, é necessário que o artista possua em primeiro lugar, aptidão

natural ou adquirida. Deve ter vocação, pois a profissão é das mais espinhosas; é

essencial ser criativo; dedicar-se ao estudo; ter muitas determinação e disciplina no

trabalho; e finalmente, saber fazer uma correta e adequada divulgação, sem se

esquecer das duas virtudes fundamentais: humildade e paciência.

O artista, além de suas obras, deve “vender” a sua imagem. É essencial

que ele seja visto e percebido como um artista.

Page 27: Penna; monica brandão oliveira   estudo sobre o mercado de artes plásticas em cg-ms

26

A esses fatores deve ser incluído, ainda, que “a obra colocada à venda

[...] é singular e única; ela é individual e insubstituível”, conforme Moulin (2007, p.13)

Os preços de venda ao consumidor final, que são sugeridos pelo artista

para a comercialização de suas obras nas galerias (tabela final do artista) e o preço

de mercado, que resulta da análise profissional, subjetiva, de um somatório de

valores, não são, necessariamente, a mesma coisa.

Santos (1988) acredita que o ideal é quando o artista consegue igualar o

seu preço ao de mercado, ou melhor ainda, quando consegue ter os preços de

mercado superiores aos seus.

O preço de um quadro não é determinado simplesmente pelo que se

gastou de materiais nele ou pelo tempo gasto para pintá-lo. Entre as variáveis para

formar o preço estão a qualidade da obra e a freqüência de sua demanda, ou seja,

se é muito procurada ou desejada.

A tabela de preços é convencionada entre as duas partes: o artista e o

galerista ou outro responsável pelas vendas. Santos (1988) relaciona tres preços

para uma mesma obras:

- o do ateliê: que os marchands pagam ao artista;

- o de galeria: aquele que é praticado por esses estabelecimentos;

- o de mercado: aquele que o mercado efetivamente paga.

O preço de mercado é formado por meio de um consenso entre

profissionais do mercado sobre vários aspectos: oferta e procura, criatividade do

artista, habilidade pictórica, padrão de regularidade dos trabalhos, inserção no

mercado, número equilibrado de trabalhos disponíveis, formação profissional,

curriculum, status da galeria e/ou do marchand que representam o artista, o

marketing adotado, qualidade intrínseca do material usado, projeção de

durabilidade, estado de conservação do trabalho, modismos do mercado, influencias

conjunturais e econômicas, dentre outros.

O preço de mercado é específico, em que cada objeto tem o seu próprio

valor. Tendo em vista os inúmeros aspectos que entram na formação de preço de

mercado, o mesmo quadro pode ter preços diferentes em épocas diferentes.

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27

Um bom começo para estipular o preço de mercado de uma obra é ter

uma tabela de preços equilibrada. Algumas vezes o artista argumenta consigo

mesmo que arte é uma coisa cara, só para ricos comprarem; ou que é supérflua, por

exemplo. Mas a melhor maneira de elaborar uma tabela de preços é com valores

acessíveis ao mercado, fazendo com que a obra seja sempre procurada, com

chances de ser vendida.

Os preços da tabela vão majorando conforme aumenta a demanda pela

obra. Porém, esse aumento deve ser bem dosado e planejado. Conforme Santos

(1988) ensina, a tabela de preços não pode ser baixada, pois o artista cai em

descrédito. É comum observar artistas iniciantes com tabelas de preços altos,

próximas daqueles que já estão reconhecidos no mercado e com aceitação pelo

público, o que faz com que não sejam vendidos.

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28

CAPÍTULO III

METODOLOGIA

Todo estudo necessita de uma seqüência lógica em seu desenvolvimento

e, para tanto, devem ser aplicados métodos científicos adequados. Este capítulo

apresenta a metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho.

3.1PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Foram utilizadas duas formas de pesquisas para desenvolver o trabalho. Em

um primeiro momento, foi feita a pesquisa exploratória, que visa proporcionar maior

familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito. Posteriormente, foi

utilizada a pesquisa descritiva, objetivando descrever as características do

fenômeno, isto é, relatar o que for sendo descoberto ao longo do trabalho. O

enfoque dado ao estudo foi qualitativo.

Conforme Mattar (1999, p. 80), “a pesquisa exploratória visa prover o

pesquisador de um maior conhecimento sobre o tema ou problema de pesquisa em

perspectiva”. Vergara (2000) indica a utilização da pesquisa exploratória quando há

pouco conhecimento acumulado e sistematizado sobre o tema, como é o caso deste

trabalho.

Em geral, a pesquisa exploratória é usada para gerar hipóteses ou

explicações prováveis e identificar áreas para um estudo mais aprofundado.

A pesquisa descritiva, de acordo com Mattar (1999, p.77), “tem o objetivo de

expor o fenômeno em estudo”.

Também foram feitas a pesquisa bibliográfica, em fontes como livros, artigos

e internet e a pesquisa de campo para coletar os dados relacionados ao mercado de

arte em Campo Grande.

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29

A pesquisa bibliográfica abrange toda a bibliografia pública em relação ao

tema estudado, desde livros, boletins, jornais, revistas, pesquisas, monografias,

teses, dentre outros (MARCONI; LAKATOS, 2002).

Vergara (2000, p.48) define pesquisa bibliográfica como “o estudo

sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas,

jornais, redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral”. Neste

estudo, esta pesquisa foi utilizada para a fundamentação teórica sobre assuntos

relacionados ao tema.

A pesquisa de campo é “investigação empírica realizada no local onde

ocorre ou ocorreu um fenômeno ou que dispõe de elementos para explicá-lo”,

conforme Vergara (2000, p.47). Neste trabalho esta pesquisa foi realizada por meio

de entrevista não-estruturada com artistas, galeristas, marchands e curadores

(figuras de vendedores, distribuidores, intermediadores) e compradores de arte,

entendida, para este trabalho, como pinturas.

A entrevista possibilita obter dados mais detalhados e abrangentes sobre o

objeto estudado. Trata-se de um método de coleta de dados que, entre outros

objetivos, possibilita captar os motivos conscientes para opiniões, sentimentos,

sistemas ou condutas (MARCONI; LAKATOS, 2002).

Como técnica de pesquisa, a entrevista é utilizada para a obtenção de

informações a respeito do que as pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou

desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram e também acerca das suas explicações

ou razões a respeito de coisas anteriores.

A entrevista não-estruturada é um modelo mais flexível, caracterizado pela

liberdade que o entrevistador tem para desenvolver cada situação em qualquer

direção que considere adequada para o estudo. Geralmente, é constituída por

perguntas abertas, respondidas durante uma conversação.

Gil (1999) divide a entrevista não-estruturada em três tipos:

- Por Pautas: o entrevistador se guia por uma relação de pontos de interesse

(pauta), que vai explorando no decorrer da entrevista; tem a liberdade explorá-los

fazendo as perguntas que julgar necessárias, na ordem e profundidade que quiser.

É utilizada quando os pesquisados não se sentem à vontade para responder a

perguntas formuladas com maior rigidez.

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30

- Focalizada: há um roteiro de tópicos relativos ao problema que se vai

estudar, e o entrevistado fala livremente à medida que se refere a eles. Ao

entrevistador cabe conduzir a entrevista não deixando que o entrevistado se desvie

do assunto.

- Não-dirigida: o entrevistado fala livremente a respeito do tema,

expressando suas opiniões e sentimentos; o entrevistador tem a função de

incentivar a entrevista, levando o informante a falar sobre o assunto, sem,

entretanto, lhe fazer perguntas. Esse tipo de entrevista é o menos estruturado

possível, sendo utilizado nos estudos exploratórios, que visam abordar realidades

pouco conhecidas pelo pesquisador.

Para esta pesquisa, foram utilizadas a focalizada e a não-dirigida.

As pessoas entrevistadas foram escolhidas a partir do objetivo determinado

para o trabalho, que foi conhecer, pesquisar e analisar o mercado de arte em Campo

Grande – MS, com o intuito de verificar se existe esse mercado e qual a sua

dinâmica.

Sendo assim, foram escolhidas pessoas:

- Moradoras de Campo Grande;

- Que detém conhecimentos sobre o tema;

- Que executa alguma das atividades de um mercado, no caso o de arte:

produz (artista), distribui (galerista, marchand, curadores) e consome (comprador).

O procedimento utilizado para as entrevista foi, inicialmente, contatar a

pessoa e explicar o trabalho que estava sendo desenvolvido; após, caso a pessoa

aceitava, fazer a entrevista da forma escolhida pela pessoa: por e-mail, gravador ou

por meio de uma conversação sobre o assunto.

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31

CAPITULO IV

MERCADO DE ARTE EM CAMPO GRANDE - MS

Este capítulo aponta os resultados encontrados na pesquisa de campo

realizada por meio de entrevista não-estruturada com artistas, marchands,

galeristas, curadores e compradores de arte (pinturas).

Buscou-se restringir a pesquisa ao período pós-1979, com a divisão do

Estado.

Em janeiro de 1979, Idara Duncan era responsável pela área de artes

plásticas da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, que tinha Maria da Glória

Sá Rosa como Diretora Executiva. Na época, foi realizado um levantamento da

realidade para serem traçadas as diretrizes para a proposta de política cultural do

Estado.

Segundo Idara Duncan, “Campo Grande, distante e isolada geográfica e

culturalmente da capital Cuiabá, recebia raros incentivos para as manifestações

artístico-culturais”. A justificativa para tal situação era a falta de espaços adequados,

que se restringiam aos teatros da UFMS e da FUCMAT (atual UCDB), clubes,

praças, escolas, dentre outros. As exposições artísticas eram realizadas em locais

inapropriados.

Essa situação foi vivenciada por artistas na época, como relata Maria

Raquel Gomes, artista plástica formada pela Faculdade de Belas Artes do Paraná,

que veio para Campo Grande em 1974. Ela percebeu a falta de espaços culturais e,

em 1976, uniu-se a um grupo de artistas locais na tentativa de criar uma estrutura

para melhorar o setor, chegaram, até mesmo, a instituir alguns salões de artes com

premiações. Mas o esforço foi em vão.

A artista conta que somente recomeçou em 1995, com a abertura de um

atelier próprio, onde ensina e faz o que mais gosta, que é criar. Na sua opinião “Não

é muito, nunca será muito, pois a arte é infinita”.

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32

A Fundação de Cultura buscou mudar esse cenário com a criação de

vários espaços, como: Casas do Artesão, no Estado, pela Casa da Cultura Luiz de

Albuquerque, em Corumbá e principalmente com a implantação do Centro Cultural

José Octávio Guizzo, em 1983, que passa a abrigar oficinas de arte, duas galerias, a

Wega Nery e a Ignes Correa da Costa e a Pinacoteca Estadual, cujo acervo deu

origem, posteriormente ao Museu de Arte Contemporânea - MARCO.

Figura 3 – “O boiadeiro” – quadro de Jorapimo, artista plástico corumbaense, homenageado pelos seus 70 anos, em 2007, com exposição no Centro Cultural José Octávio Guizzo, Campo Grande –

MS

Figura 4 – Casa do Artesão – Campo Grande – MS

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33

Figura 5 – MARCO – Campo Grande – MS

Figura 6 – Caminho Kadiwéu, obra de Therezinha Neder, em exposição no MARCO

Conforme Idara, as exposições de arte eram feitas em espaços

alternativos, como no jornal Diário da Serra e na Papelaria União, do artista

Demétrio Aralampides, D. Hard, que vendia materiais de pintura, cavaletes e

molduras. Depois surgiu a gelaria de arte da loja Mundo dos Quadros, de Marilza

Bissoli.

Idara Duncan coloca dois fatores significativos para o incremento das

artes plásticas no Estado: a criação da Associação Mato-grossense de Arte (AMA),

na década de 60, por Humberto Espindola, Aline Figueiredo e Adelaide Vieira e a

criação dos cursos de Educação Artística, no início da década de 80, na

Universidade Federal de MS, em Campo Grande e na UNIGRAN, de Dourados.

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As exposições continuaram a serem feitas em espaços informais, como

na Agencia de Turismo Tainá Tour, dirigida por Maira Rezende, assessorada por

Henrique Esplengler. Nesse local ocorreram as reuniões para criação da Unidade

Guaicuru de Cultura, a inauguração da Casa de Cultura em Três Lagoas.

A primeira galeria profissional do Estado foi a Art-Con, de Mara Dolzan.

Posteriormente, Arte Galeria Mara Dolzan, que é um espaço moderno dirigido à

comercialização de arte.

Figura 7 – Art Galeria Mara Dolzan

Idara Duncan prossegue em seu relato e escreve que a década de 90 é

marcada pelo surgimento do Museu de Arte Contemporânea Nelly Martins, o

MARCO - MS, fundado em 1991, vinculado à FCMS, instalado desde 2000, em

moderno prédio próprio, no Parque das Nações Indígenas; da Morada dos Bais,

sobrado onde residiu Lídia Bais, a 1ª artista plástica do Estado, prédio restaurado

pela Prefeitura, transformado em Centro Cultural; o Espaço de Arte Yara Penteado,

galeria de múltiplas atividades; com grande acervo; o Entrerartes de Meire Milan e o

Atelier 1881, de Kinho, Genessi e Hosana Ortiz, em Dourados; do Museu de Arte

Pantaneira, em Aquidauana, da Galeria Izulina Xavier, em Corumbá, e do Museu da

Imagem e do Som - MIS/MS, criado em 1998, vinculado à FCMS.

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35

A partir do ano 2000, são inauguradas dezenas de galerias de arte, e

espaços culturais, vinculados a instituições públicas e privadas, como as dos Banco

do Brasil e ITAÚ, SESC, EMBRATEL, Shopping Campo Grande, TVE, Armazém da

Estação da NOB, da Prefeitura Municipal e galerias particulares, de vários artistas

plásticos e o Memorial da Cultura e da Cidadania Apolônio de Carvalho, em prédio

moderno com espaços para múltiplas atividades culturais.

Figura 8 – Memorial da Cultura e da Cidadania Apolônio de Carvalho – Campo Grande – MS

A Fundação de Cultura do Estado prestou homenagem ao artista Ilton

Silva por meio da exposição “Celebração do Trabalhador”, realizada no período de

18/09 a 24/10/2008, no Memorial da Cultura e da Cidadania. Nascido em Ponta Porã

em 1944, Ilton Silva é filho de Conceição dos Bugres, consagrada escultora

primitivista que criou os bugrinhos em madeira que se tornaram referência cultural

de Mato Grosso do Sul.

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Figura 9 – Serrana – óleo sobre tela de Ilton Silva Fonte: Rosa; Duncan; Penteado (2005)

Figura 10 – Sonho – óleo sobre tela e entalhe, de Ilton Silva

Fonte: Rosa; Duncan; Penteado (2005)

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Figura 11 – Armazém Cultural – Campo Grande – MS

Américo Calheiros, diretor-presidente da Fundação de Cultura, acredita

que o mercado de arte em Campo Grande é incipiente, com poucas galerias que

trabalham de forma sistemática. Em relação ao Governo do Estado, estimula a

amostragem e a divulgação das obras produzidas no Estado, por meio de

instituições e promoções culturais. A venda serve para estimular a produção

artística, pois o artista é criador, trabalha e precisa viver de sua arte.

Conforme Américo Calheiros, ocorre vendas, mas, ainda, o mercado é

pequeno. Em sua opinião, esse mercado vai crescer, na proporção em que mudar

os costumes, a cultura de investimento dos campo-grandenses. As pessoas

freqüentam as exposições e Mostras, admiram as obras, e muitas não sabem que

estão à venda. E, quando descobrem que podem ser adquiridas, nota-se que existe

dificuldade de dispor de um determinado valor para um quadro, por exemplo.

Desta forma, nota-se que existe certa rejeição de ver a arte como

investimento, por parte da população, mesmo para potenciais compradores.

Evandro Prado, Bacharel em Artes Visuais pela UFMS, tem a mesma

visão, da falta de investimento em arte. Segundo Evandro, ainda há muito que

crescer,

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38

[...] uma vez que dependemos de um mercado de arte que praticamente inexiste por aqui. Tenho atuado como artista plástico e realizado exposições freqüentes em Campo Grande e pelo Brasil desde 2004 e percebo que não há a cultura de se comprar obras de arte. Ao contrário de outros estados ou outros países, não há uma idéia de comprar arte como investimento, e sim como decoração. Sendo ainda, que são pouquíssimas as pessoas que se interessam e compram obras pelo seu valor artístico. Existem muitos poucos colecionadores aqui, deixando nós, artistas plásticos, a mercê de ter que trabalhar em outras funções, muitas vezes ligadas à Licenciatura.

A questão do investimento em arte não é simples, não basta apenas

sentir empatia por determinado artista ou peça. Rafael Maldonado coloca esse

problema da seguinte forma,

O que precisa ser entendido é que nem tudo pode ser considerado como arte. Nem toda pintura é uma obra de arte. Há inúmeras questões em jogo, é preciso saber exatamente no que investir: quem são os artistas com carreira constituída, quem são os artistas emergentes, que tipo de coleção se quer formar, qual a obra certa para se adquirir. Definido isso já é um grande passo para que o público esteja apto a consumir arte como investimento, e, assim, podermos considerar um mercado eficiente.

Ao se enquadrar a compra de uma obra de arte como investimento, entra

em jogo várias questões futuras, pois a peça pode jamais se valorizar

financeiramente, apesar de possuir um valor artístico próprio.

Américo Calheiros relata que as artes plásticas possuem o menor público,

dentre as artes, em Mato Grosso do Sul. A demanda pelo mercado de arte ainda é

baixa, devido à própria cultura do Estado, o que deve ser mudado.

Alfredo Arruda, médico cardiologista em Campo Grande, comprador de

obras artísticas, relata que o universo local dos compradores de arte é similar ao de

outros lugares. A diferença está em que uma pequena parcela adquire pinturas, no

caso, porque gosta. Existem poucos colecionadores na cidade. Ele se considera um

colecionador e investidor, sente prazer em adquirir, mas não é um profissional.

Na seqüência, ele afirma que percebe que está surgindo uma elite cultural

em Campo Grande que separa a arte do dinheiro. Outro fato é a classe média,

constituída por uma maioria de profissionais liberais, que está se tornando mais

numerosa e são os novos consumidores de arte, ou seja, são os novos clientes.

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39

Em sua opinião, o que falta na cidade é um local mais descontraído, onde

se possa conhecer artistas consagrados e novos artistas, se possa conversar,

realizar um intercambio de idéias e propostas sobre arte e, também, comprar.

Izabella Mercante, também compradora de arte em Campo Grande, relata

que, no caso dela, ser consumidora de arte é um sonho antigo. Ela não de considera

propriamente uma consumidora, mas sim uma admiradora de arte, seja ela regional

ou universal. A aquisição é feita sempre que surge uma oportunidade financeira, o

que é realizado com paixão, se tornando um investimento prazeroso.

Comprar arte, para Izabella Mercante,

[...] é como adquirir uma parte solta da minha vida; compro em galerias (normalmente em exposições quando o artista está) e através de marchand, mais sempre que é possível quero fazer contato com o artista, gosto de conhecer a pessoa que criou a peça que admiro ao ponto de levar para minha vida. Tenho pelas obras de arte regionais uma paixão diferenciada, e sei da dificuldade que os artistas têm em expor e divulgar seus trabalhos, o que gera uma dificuldade de acesso a esse produto tão rico.

Isaura Corbucci, arquiteta em Campo Grande, também compra arte

porque gosta. Adquire de forma esporádica e quando se apaixona pelo objeto.

Compra todos os tipos: cerâmicas, cestarias, artesanatos de bom gosto, aqui ou em

viagens. Os valores variam dependendo da obra, podendo ser altos. Acredita que

por sua profissão, está muito atenta à estética e ao belo. Em seus trabalhos de

interiores, tem preferência por usar objetos ou obras de arte, porque valorizam os

ambientes, dão vida e aconchego, além de personalizar os espaços.

Como se observa, existe um público que deseja consumir arte,

comprando para si mesmo, para clientes, por prazer e/ou para investimento. Porém,

esse mercado pode e deve ser incrementado.

Para Calheiros, a mudança pode vir do próprio artista ao se posicionar

como artista e, a partir daí, vender as suas obras. O importante é ter uma visão

profissional. Como exemplo, ele cita o artista Humberto Espíndola que obteve

sucesso nacional e internacional.

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Figura 12 – “Rodeio” – Humberto Espíndola

Figura 13 – Da série Rosa-boi – Humberto Espíndola

O que Calheiros expõe remete ao pensamento de Santos (1997), de que o

artista deve se aproximar do público, pois ao isolar-se pode terminar esquecido e

alienado, conseqüentemente, fora do mercado e, até mesmo, da sociedade. Além

disso, os compradores de arte e o público em geral merecem atenção eé uma

oportunidade de o artista passar sua mensagem.

Neste sentido, Yara Penteado, antropóloga, relata em sua entrevista que,

as escolas de arte que aumentam em número em Campo Grande podem auxiliar na

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formação do artista ao cumprirem um papel em que, além de ensinar alguma forma

de arte,

[...] cumpram um papel paralelo de formadores de opinião, ao associar o ensino da técnica com algo fundamental, que é o conhecimento do papel da arte na sociedade, o artista e seu papel transformador, e a trajetória da arte através da história e sua relevância nela.

O papel do Governo é incentivar, criar oportunidades, com políticas

públicas e parcerias, para que a arte seja reconhecida e valorizada. Assim, o artista,

que é produtor dessa arte, seja valorizado. Nesse sentido, por exemplo, são criados

espaços, em busca de oferecer ao maior número de artistas a oportunidade de

mostrar suas obras, considerando a qualidade e a produção que possuem.

Maria Raquel confirma que, realmente, os órgãos governamentais

facilitam o acesso dos artistas ao público, por meio de exposições, apresentações,

entre outros eventos. Porém, o problema é a centralização da arte em um pequeno

grupo de pessoas, aliado ao preconceito em relação a determinados estilos de

manifestações artísticas. A arte pode ser bela e com excelente qualidade em

qualquer tipo de manifestação ou estilo, não precisa ser fruto de algum tipo de

contestação.

Sobre o que é arte e sua criação, Yara Penteado acredita que esse

conceito pode ser dado a partir do seu criador, do verdadeiro artista, que vai além do

pintor:

Aquele que pinta, que copia ou recria um trabalho, que chamarei de PINTOR e, aquele que CRIA, o ARTISTA, inspirado em sua visão de mundo e de sua época, retratando-a, recriando-a, criticando-a, transgredindo normas, técnicas conceitos, para construir o seu modelo, a sua linguagem e forma de se expressar e expressar seu modo de ser e estar no mundo, ao construir uma obra, que é única, de longe reconhecida como sua ou de sua época ou movimento. Essa historicidade da obra-de-arte é que tem que ser conhecida e difundida, para que os formadores de opinião, tenham eles próprios as suas, embasadas em um conhecimento que distingue a verdade da burla. Como a obra-de-arte envolve, ainda, um conceito subjacente, O BELO, fica ainda mais complicada a simplificação, pois

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a beleza pode ter interpretações variadas,subjetivas ou, ainda, formadas através da mídia, modismos e outros elementos mais.

Jean Lima acredita que o mercado de arte local tem demonstrado uma

melhora tímida, mas significativa, mas que há muito que melhorar nesse mercado.

Em sua opinião, Campo Grande tem hoje bons espaços para exposições de arte,

mas falta democratizar o acesso a esses espaços. Ele afirma que,

[...] existem jovens artistas interessantes, que precisam expor e provar sua competência em outros estados para receberem o devido valor em Campo Grande. Creio que isso não seja bom.

Janine Menezes Tortorelli, coordenadora da Morada dos Baís, da

Fundação de Cultura, informou que a Morada possui três salas temporárias voltadas

para a exposição de artistas regionais. Foi ressaltado que não são realizadas

vendas pelos funcionários (servidores públicos municipais).

Figura 14 – Imagem externa da Morada dos Bais

Segundo Janine, os artistas vendem cerca de 80% das telas nas

vernissages. Esse fato é devido ao trabalho de mídia, que é intenso, assim como, ao

público diferenciado que freqüenta o local, que é distribuído em moradores locais e

turistas.

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Santos (1997) entende que qualquer tipo de produto ou serviço somente é

vendido se for conhecido pelo público, ou seja, sem anunciá-lo ao universo dos seus

compradores finais.

A Morada dos Baís tem a função de expor as obras dos artistas e divulgar

as exposições. Apesar dos funcionários não venderem, fazem a recepção dos

freqüentadores, com informações sobre as exposições, colocação de etiqueta nas

peças e outras atividades para que o público se sinta bem no local.

Figura 15 - Quadro da Exposição Cores e Formas de Kátia D’Ângelo,

na Morada dos Baís

Janine observa que a postura dos artistas mudou ao longo do tempo,

mostrando maior profissionalidade e atenção com os detalhes de sua exposição,

seguindo, no caso da Morada dos Baís, as normas estipuladas pelo local. Nota-se

que são responsáveis com todos os aspectos, desde com a própria atitude pessoal

até a profissional, tornando-se um gestor de sua arte.

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Em relação aos consumidores, Campo Grande aumentou bastante os

locais de exposição, após 2003. O que se observa é que quando o artista se

preocupa com sua divulgação, com o preço acessível, com a qualidade dos seus

trabalhos, procurando agregar valor à sua criação, consegue resultados de venda

melhores.

Jean Lima “Mão” acredita que, além disso,

[..] hoje temos um novo público de arte e que esse público clama por pessoas concatenadas às demandas contemporâneas e mais observadoras em relação ao nosso quadro de jovens artistas, envolvidas na cadeia do mercado artístico local. Vejo com bons olhos o advento da internet, hoje um artista ligado às novas tecnologias, deve usar conscientemente as ferramentas da internet (fotolog, youtube, orkut, blog, my space, etc) para promover sua arte e desenvolver seu marketing pessoal.

Rafael Maldonado, por sua vez, acredita que o público de Campo Grande,

[...] ainda não tem uma educação para o consumo de arte, nem tampouco possui um perfil ideal para que isso aconteça, mas, com o trabalho efetivo de formação para o entendimento da arte contemporânea por parte de instituições referenciais, aos poucos vai se consolidando uma aprendizagem estética que poderá resultar em um futuro mercado local mais criterioso e recorrente.

Janine salienta que um diferencial significativo é a presença do artista na

exposição. Já foi notado que quando o artista está presente e fala sobre as suas

obras, quando solicitado, o visitante mostra um interesse maior em conhecer mais e

adquirir.

Observando as galerias, podem ser vistas obras de arte direcionadas

para uma camada social mais abastada, sendo obras muito especiais e artistas mais

consagrados que fazem o seu trabalho com a maior qualidade possível, desde a

produção (matéria-prima) até sua exposição, que sempre irá se valorizar. Esse tipo

de arte e evento é direcionado para consumidores que pertencem a uma classe

social privilegiada, pois são negociados valores altos.

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Esse fato vai de encontro ao pensamento de Canclini (1984), para quem

os dois dogmas da estética das artes, o ideológico e o mercado, excluem o

consumidor comum do processo, elevando a arte a um patamar onde só tem acesso

poucos privilegiados, tornando a arte elitista.

Nas vernissages encontram-se todo tipo de consumidores: profissionais

liberais, autoridades, apreciadores, investidores e colecionadores, sempre

interessados em conhecer os trabalhos e o artista mais de perto. Geralmente são

pessoas que gostam e acompanham os acontecimentos do universo das artes

plásticas. Para tanto, é exigido estudo mais profundo sobre o assunto para adquirir

conhecimento; conversas com pessoas da área, tudo voltado para este importante e

necessário segmento socioeconômico.

Algumas vezes, nas vernissages, é possível adquirir peças por preços

acessíveis de artistas talentosos, que terminam vendendo quase todas as suas

obras.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observa-se pelos relatos, que o mercado de artes plásticas em Campo

Grande é pequeno, restrito e estratificado. É um mercado extremamente territorial,

direcionado, ainda, a poucas pessoas, sejam artistas, distribuidores ou

compradores, girando em torno daqueles que possuem acesso a esse universo.

Os compradores optam por adquirir obras artísticas por ser um bom

investimento, por gosto próprio ou por escolha de profissionais (arquitetos,

decoradores).

Embora exista falta de mais espaços para exposição e venda de obras de

arte, o artista deve evitar vender suas obras em seu próprio atelier, gerando assim

alguns fatores que podem prejudicar sua carreira, como: preço inadequado, falta de

divulgação, pouca circulação das obras e falta de prática em comercializar, criando

mal entendidos entre o cliente e o artista.

Constata-se que em Campo Grande não existe somente falta de locais

destinados ao mercado de artes plásticas, mas de mão-de-obra especializada neste

tipo de comércio, tanto em compra como em venda. Esse profissional é uma pessoa

especial, que deve ser muito capacitada, conhecedora do que envolve comprar uma

pintura, por exemplo.

Como deve ser oferecida ao cliente, qual a necessidade do cliente, do

que ele gosta, do estilo do artista, da qualidade do que está oferecendo, como é

calculado o valor da peça, da segurança do investimento, entre outros detalhes

importantes.

Para se adquirir arte, por outro lado, é necessário que o cliente conheça e

goste daquele ou de outro determinado artista e que sua obra faça despertar o seu

interesse, em primeiro lugar. Para a maioria das pessoas, a obra deve trazer algum

tipo de emoção, até mesmo, de mudanças internas ao ser olhada.

E, também, importante aspecto, existem pessoas que compram pensando

na possibilidade de ter que vender a peça mais adiante, se será fácil ou não. Neste

ponto, entra a qualidade do investimento que foi realizado na compra. Se foi mal

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feito, encontram-se muitas dificuldades, pois o mercado é pequeno, mesmo para os

melhores artistas e obras, cresce de forma lenta e restrita a pequenos grupos.

As instituições governamentais voltados para a área artística criam meios

para disseminar a cultura, de uma forma geral. Promovem mostras itinerantes,

espaços alternativos, incentivos, e outras formas de tornar a arte e os artistas

conhecidos pelo povo. Mas o mercado precisa de mais do que isso, precisa ser

criada uma necessidade de arte, que faça com que ela seja mais produzida,

distribuída e comprada.

Para tanto, devem ocorrer mudanças mais profundas, oferecer mais

educação, promover mais conhecimentos solidificados, do que é bom e do que não

é. Não se trata de cercear ou impor ao povo o que gostar ou não gostar, mas de

oferecer oportunidades de escolha.

Percebe-se que certas músicas, filmes, vídeos, por exemplo, que podem

ser considerados de mau-gosto, tornam-se populares de forma rápida, por meio de

investimento maciço em marketing. E, em pouco tempo, a maioria cai no

esquecimento. Mas nesse intervalo foram vendidos de forma intensa.

Com a verdadeira arte, pode ser realizado um trabalho de marketing, mas

precisa existir um alicerce antes, que é o conhecimento do que é arte realmente; a

pessoa precisa entender porque ela é importante, de sua origem, de como é

produzida e porque deve ser valorizada.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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